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Valores e valoração
(Síntese)
O homem vive, toma partido, crê numa multiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim sentido à sua existência mediante opções que ultrapassam incessantemente as fronteiras do seu conhecimento efectivo. No homem que pensa, esta questão só pode ser raciocinada, no sentido em que, para fazer a síntese entre aquilo que ele crê e aquilo que ele sabe, ele só pode utilizar uma reflexão, quer prolongando o saber, quer opondo-se a ele num esforço crítico para determinar as suas fronteiras actuais e legitimar a hierarquização dos valores que o ultrapassam. Esta síntese raciocinada entre as crenças, quaisquer que elas sejam, e as condições do saber, constituí aquilo que nós chamamos uma "sabedoria" e é este que nos parece ser o objecto da filosofia.
Jean Piaget, Sageza e Ilusão da Filosofia
VALORES
1. Quando decidimos fazer algo, estamos a realizar uma escolha. Manifestamos certas preferências por umas coisas em vez de outras. Evocamos então certos motivos para justificar as nossas decisões.
2. Factos e valores
Todos estes motivos podem ser apoiados em factos, mas têm sempre implícitos certos valores que justificam ou legitimam as nossas preferências.
Exemplo: Cristiano Ronaldo é o melhor jogador de futebol.
Facto: Cristiano Ronaldo é de facto jogador de futebol.
Valor implícito: Cristiano Ronaldo é o melhor jogador de futebol
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3.Facto ( Juízo de facto)
Um facto é algo que algo que pode ser comprovado empiricamente. Podemos produzir afirmações verdadeiras ou falsas sobre eles( juízos de facto). Os factos são igualmente susceptíveis de gerarem consensos universais.
Ex. A maçã é um fruto.
4. Valor ( Juízo de valor)
Podemos definir os valores partindo das várias dimensões em que usamos:
a) os valores são critérios segundo os quais valorizamos ou desvalorizamos as coisas;
b) Os valores são as razões que justificam ou motivam as nossas acções, tornando-as preferíveis a outras.
Atribuímos valores às acções, às coisas (naturais ou fabricadas), aos sentimentos...
Exemplo: 1) Participar numa manifestação a favor do povo palestiniano, pode significar que alguém atribui à Solidariedade uma enorme importância. A solidariedade é neste caso o valor que justifica ou explica a acção.
2) A maçã é um fruto agradável. Neste caso formulamos um juízo de valor.
Juízo de facto Juízo de valorProposições/afirmações qu epretendem descrever a realidade;
São objectivos, não dependem da preferência ou apreciação do sujeito;
São empiricamente verificáveis;
Podem ser verdadeiros ou falsos;
Quando verdadeiros, é possível a aceitação por todos.
Expressões que pretendem avaliar a realidade;
São subjectivos,isto é, dependem da preferência ou apreciação do sujeito;
São empiricamente verificáveis;
Não são nem verdadeiros nem falsos;
Muitas vezes não são consensuais e permitem evidenciar as diferentes valorações.
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5.Tipos e hierarquização de valores
Os valores não são coisas nem simples ideias que adquirimos, mas conceitos que traduzem as nossas preferências. Existe uma enorme diversidade de valores, mas não atribuímos a todos os nossos valores a mesma importância. Na hora de tomar uma decisão, cada um de nós, hierarquiza os valores de forma muito diversa. A hierarquização é a propriedade que têm os valores de se subordinarem uns aos outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. As razões porque o fazemos são múltiplas.
Tábua de valores de Max Scheler, adaptada por Ortega y Gasset
capaz-incapaz1. Valores úteis caro-barato
abundate-escassonecesário-supérfluo
selecto-vulgar2. Valores vitais enérgico-inerte
forte-débil
conhecimento-erroIntelectuais exacto-aproximado
(lógicos) evidente-provável
bom-mau3. Valores bondoso-ardiloso
Espirituais Morais justo-injusto escrupuloso-desleixado
leal-desleal
belo-feioEstéticos gracioso-tosco
elegante-deseleganteharmonioso-desarmonioso
sagrado-profano4. Valores divino-demoníaco
religiosos supremo-derivado
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milagroso-mecânico
Ideia central: os autores propõem-nos uma hierarquia que começa nos valores básicos, num crescendo de transcendência até aos valores religiosos.
6. Polaridade dos Valores
Os nossos valores tendem a organizar-se em termos de oposição ou polaridade. Preferimos e opomos a Verdade à Mentira, a Justiça à Injustiça, o Bem ao Mal, a beleza à fealdade, a genorosidade à mesquinhês. A palavra valor costuma apenas ser aplicada num sentido positivo. Embora o valor seja tudo aquilo sobre o qual recaia o acto de estima positiva ou negativamente. Valor é tanto o Bem, como o Mal, o Justo como Injusto..
VALORAÇÃO
“ Só conhecemos os homens os critérios de valoração a que eles obedecem”J . Hessen
Cada sujeito constrói uma escala de valores de acordo com as suas esperiências de vida, que decorrem num espaço e tempo específicos, num contexto que, para além de pessoal, é também social e cultural. É neste contexto prático da vida em sociedade que o homem concreto manifesta os seus valores, de cada vez que tem de escolher esta ou aquela acção, tomar esta ou aquela decisão.
As nossas valorações não são aleatórias, fazem-se mediante critérios. Um critério valorativo é o princípio ou condição que serve de base à valoração e que permite distinguir as coisas valiosas das não valiosas e discernir, de entre as valiosas, as que são mais importantes das que são menos. Ao mesmo tempo, os critériosv valorativos permitem reconhecer a razão ou motivo pelos quais atribuímos um dado valor a um determinado objecto, situação ou pessoa e justificar a maneira como nos comportamos perante os mesmos.
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É pois a partir de critérios valorativos que podemos comprender o sentido das nossas acções e perceber melhor os comportamentos e atitudes dos outros.Os critérios, são de diversa ordem: ética, estética, religiosa, etc. . Podem exercer-se em diversos níveis:
a) pessoal – repotam-se à esfera íntima de cada sujeito com as suas características pessoais: os seus gostos, os seus interesses;
b) colectivo – considerando o sujeito do ponto de vista da sua dimensão social e cultural: os seus costumes, ideias ou formas de estar em grupo;
c) universal – reconhecendo o sujeito como um ser-no-mundo: sensível aos outros, que coabitam o planeta, bem como ao próprio espaço habitado.
Actualmente, alguns filósofos afirmam a necessidade de se encotrarem critérios transubjectivos, isto é, critérios que ultrapassem a barreira do individual e do colectivo culturalmente identificado, que permitam garantir e enriquecer a própria realidade humana na sua relação com os outros e com o planeta. Assim podemos identificar os seguintes critérios transubjectivos:
A Humanidade
O respeito pela dignidade humana surge como um critério que permite distiguir aquilo que é fundamental para o ser humano daquilo qu é reprovável ou indigno. A Declaração dos Direitos Humanos pretende ser a efectivação desse critério.
O que é que a dignidade humana implica? Em primeiro lugar, a inviolabilidade de cada pessoa, o reconhecimento de que não pode ser utilizada ou sacrificada pelos outros como um simples instrumento para a realização de fins gerais. Assim sendo, não há direitos «humanos» colectivos, pela mesma razão que não há seres «humanos» colectivos: a pessoa humana não pode existir fora da sociedade, mas não se esgota no serviço a ela. Daqui resulta a segunda característica da sua dignidade, o reconhecimento da autonomia de cada um para traçar os seus próprios planos de vida e as suas próprias normas de excelência, sem outros limites a não ser o direito semelhante dos outros à mesma autonomia. Em terceiro lugar, o reconhecimento de que cada um deve ser tratado socialmente de acordo com a sua conduta, mérito ou demérito pessoais, e não segundo os factores aleatórios que não são essenciais à sua humanidade: raça, etnia, sexo, classe social, etc. Em quarto e último lugar, a exigência de solidariedade com a infelicidade e sofrimento dos outros, o manter viva e activa a cumplicidade com os outros. A sociedade dos direitos humanos deve ser a instituição na qual ninguém fique abandonado.
Fernando Savater, As Perguntas da Vida - Uma Iniciação à Reflexão Filosófica
O Diálogo
O diálogo entre culturas, ou entre indivíduos e comunidades, é hoje considrerado como um meio de humanização fundamental. Quando dispostos a discutir as suas ideias, é
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possível aos homens discernir aquilo que é melhor para todos e o que de todo não é desejável para qualquer um.
“ Quando argumentam, os intervenientes têm de partir do princípio de que, em regra, todos os indivíduos em questão tomam parte, enquanto sujeitos livres e iguais, numa busca coopernte da verdade, na qual apenas interessa a força do melhor argumento.”
J. Habermas – Comentários à Ética do Discurso
A VIDA NO PLANETA:
As questões ambientais, o respeito pela vida de todos os seres que habitam o planeta, bem como a responsabilidade pela sgerações vindouras impõem-se de modo claro nos dias dew hoje. Será de valorizar tudo aquilo que fazemos pra preservar a Natureza e de reprovar aquilo que provoca a sua destruição.A este propósito é importante considerar o conceito de responsabilidade proposto por Hans Jonas.
“ Age de tal forma que as consequências da tua acção sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana na Terra; se fosse dito na negativa teríamos: Age de tal maneira que as consequências da tua acção não sejam destruidoras para a possibilidade futura de uma tal vida; ou ainda simplesmente: Não ponhas em perigo as condições de uma perpetuação indefinida da humanidadev na Terra.”
Hans Jonas, O Paradigma Bioético
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