drielle cerri
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Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.TRANSCRIPT
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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A FORMAÇÃO DA PERSONAGEM POLÍTICA ATRAVÉS DA IMAGEM FOTOGRÁFICA
Drielle Sá Cerri (IC) e Edson Capoano (Orientador)
Apoio: PIBIC e PIVIC Mackenzie
Resumo
Esta pesquisa analisa as fotografias publicadas pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo dos três principais candidatos à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2008, Marta Suplicy (PT), Gilberto Kassab (DEM) e Geraldo Alckmin (PSDB), durante sua disputa ao longo dos meses de setembro e outubro. A partir do levantamento dessas imagens, busca identificar símbolos que ajudem a formar uma personagem política de cada um dos três junto ao seu eleitorado, já que este público raramente tem contato direto com os prefeituráveis. A imagem que formam dos candidatos vem principalmente de modo indireto: por meio da aparição de cada um dos três na mídia. Para analisar esses símbolos sociais presentes nas fotografias, esta pesquisa seguiu a linha de estudos da Semiótica da Cultura, que entende que toda comunicação se dá por meio de trocas simbólicas entre quem emite e quem recebe uma mensagem. A pesquisa levou em conta a quantidade de fotografias publicadas em cada veículo e o contexto histórico dos meses estudados para compreender melhor as mensagens que poderiam ser passadas nas imagens estudadas, bem como fez um estudo simbólico das mesmas verificando as expressões faciais, ângulos e enquadramento das fotografias. Também foi utilizado o conceito de Harry Pross dos eixos horizontal / vertical, interior / exterior e claro / escuro provenientes das experiências pré-predicativas, comuns a todos os homens segundo esse autor. Além desses, o eixo direita / esquerda, estudado por Luciano Guimarães, serviu de base para a
análise.
Palavras-chave: simbologia; fotografia; imagem
Abstract
This research analyzes the photographs published in the newspapers O Estado de S. Paulo and Folha de S. Paulo of the three main candidates for mayor of São Paulo in the 2008 elections, Marta Suplicy (PT), Gilberto Kassab (DEM) and Geraldo Alckmin (PSDB), during their dispute over the months of September and October. From the survey of these images, it seeks to identify symbols that help to form a political character of each of the three candidates among their electorate, as this public rarely has direct contact with them. The image of the candidates is formed mainly indirectly: by the appearance of each of the three in the media. To analyze the social symbols in these photographs, this research followed the studies of Semiotics of Culture, which says that all communication is done through symbolic exchanges between who gives and who receives a message. The survey took into account the amount of photographs published in each vehicle and the historical context of the months studied to better understand the messages that could be passed in the images studied, as well as did a symbolic study by checking the facial expressions and angles of the photographs. It also used the concepts of Harry Pross’ axis horizontal / vertical, interior / exterior and dark / light from the pre-predicative experiences, common to all men according to the author. Besides these, the axis right / left, studied by Luciano Guimarães, also served as basis for this analysis.
Key-words: simbology; photography; image
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1- INTRODUÇÃO
As imagens estão constantemente presentes ao nosso redor, tão presentes que nem
sempre damos conta da enorme quantidade de informação que elas carregam. Vemos
cartazes, slogans, banners, textos, fotografias em ambientes públicos e privados, mas não
os enxergamos, não lhes dedicamos o devido tempo e atenção. Assim, deixamos também
de enxergar um pouco do que eles dizem sobre nossa própria maneira de viver e apreender
o mundo.
A presente pesquisa científica pretende explicar as razões e intenções de se estudar
fotografias dos candidatos à prefeitura de São Paulo, no pleito de 2008. Seu objetivo é,
emprestando as palavras de Renato Ortiz, identificar traços de uma “superestrutura de
valores, idéias, juízos, uma constelação de significados, consumidos na leitura ingênua de”
fotografias (ORTIZ, 2006, p. 155). Ou seja, encontrar nas fotografias símbolos culturais que,
mesmo quando não percebidos conscientemente pelos leitores, ajudam a formar a imagem
política dos prefeituráveis. Entretanto, a pesquisa proposta não visa julgar valores ou a
linha editorial dos veículos analisados, apenas entender como essa imagem é construída
na mídia e seus impactos sobre a percepção dos interlocutores.
Para buscar uma solução a esse problema, a escolha foi trabalhar com fotografias, imagens
mais precisas dos candidatos, publicadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S.
Paulo – os dois jornais de maior circulação na capital paulista (respectivamente, a 1ª maior
tiragem do país e a 5ª em 2009, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação), que
gozam de alto prestígio junto à sua população e cujo público-alvo é muito parecido, se não
o mesmo. Público este que engloba a classe média e a classe média alta paulistana.
Pretende-se mostrar como a construção dessas personagens políticas pode ser
apresentada através das imagens fotográficas – afinal, a fotografia é uma imagem técnica,
reproduzível, que nem por isso deixa de carregar em si símbolos e elementos cheios de
sentidos que às vezes escapam à nossa percepção inicial dessa imagem. E a escolha dos
dois jornais se dá exclusivamente pela grande possibilidade de encontrar recortes
diferentes de um mesmo fato, e pelo número de fotografias diferentes ser maior, já que
tanto Folha quanto Estado costumam produzir suas próprias imagens e dificilmente
dependem de agências de informação nesse tipo de cobertura.
A importância dessa pesquisa está exatamente em buscar transparecer conscientemente
os símbolos contidos nessas fotografias e no modo como são dispostas nas páginas dos
jornais. Isso possibilitará que os leitores passem a interpretar mais criticamente a imagem
que elas formam em nossa percepção imediata e superficial.
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2- REFERENCIAL TEÓRICO
Mas por que analisar fotografias e não textos ou reportagens televisivas? Por que escolher
imagens estáticas?
Na nossa época, mais do que em qualquer outra precedente, as imagens são mais
frequentes e mais procuradas. São superfícies (imagem), conforme denominação de Vilém
Flusser (2007), que levam vantagem sobre as linhas (texto escrito) por possibilitarem mais
fácil apreensão de seus significados. Suas informações levam menos tempo para serem
internalizadas, pois há mais liberdade na leitura da imagem. Nela, geralmente captamos a
mensagem como um todo na primeira fração de segundo em que colocamos os olhos em
suas formas, e apenas a decodificamos parte por parte, símbolo por símbolo num segundo
momento. Já no caso da escrita, temos uma ordem rígida de leitura: na maneira ocidental,
da esquerda para a direita e de cima para baixo. Podemos captar a mensagem superficial
transmitida por uma fotografia num piscar de olhos, mas devemos ler um texto até o final se
quisermos compreender seu conteúdo.
Entretanto, partindo dessa afirmativa de Flusser, por que não pensar que uma maior
liberdade para ler a imagem também demanda um tempo, uma atenção e uma perícia
maior pra compreendê-la profundamente? Afinal, não existem regras que ordenem a leitura
das mensagens imagéticas, tudo depende do indivíduo receptor e de suas preferências.
Mas aqui nos deparamos com um problema: o cidadão paulistano é reconhecido por sua
força de trabalho incessante e por sua intensa utilização do tempo. Com o tempo sempre
escasso ou insuficiente, como afirmar que o indivíduo irá despender dele para analisar mais
a fundo as implicações de uma fotografia de jornal? Mais do que isso, como saber se ele
terá informação suficiente para ler a imagem a fundo e compreender tudo a que ela
remete?
Captamos, geralmente, apenas o significado mais superficial da imagem, influenciado e
confirmado, inclusive, pelo texto que a acompanha na matéria – pois, nesse caso de tempo
escasso, a linha (escrita) torna-se um guia automático para a interpretação parcial da
imagem. Agrava-se essa falta de crédito consciente dedicado à imagem devido ao fato de
que “a epistemologia ocidental é baseada na premissa cartesiana de que pensar significa
seguir a linha escrita, e isso não dá crédito à fotografia como uma maneira de pensar”
(FLUSSER, 2007, p. 111).
Porém, ao mesmo tempo em que conscientemente não prestamos a devida atenção às
imagens – e no caso específico desta pesquisa, à fotografia – inconscientemente ela nos
diz muito mais e de maneira muito mais veloz do que a escrita. Além disso, elas, as
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imagens, são tantas e estão tão presentes que mal nos damos conta de tudo aquilo que
significam e transmitem.
Apresenta-se aí a temática da ofuscação pela desmesurada proliferação das imagens e do tempo acelerado gerado por sua reprodução. Assim, aceleração e inflação, por operarem no registro do excessivo, inevitavelmente geram perdas. [...] A produção massiva de imagens dirige-se aos nossos olhos que progressivamente se transformam em receptadores de superfícies planas. Uma vez que elas se dirigem aos nossos olhos e eles se tornam viciados em bidimensionalidades, desaparecem para eles as profundidades.” (BAITELLO JR., 2005, p. 47)
As vantagens da fotografia sobre outros tipos de imagem midiática são numerosas: em
primeiro lugar, por se tratar de uma mídia secundária, de acordo com a conceituação de
Harry Pross (PROSS apud BAITELLO JR., 1999), ela se vale de um único suporte entre o
receptor e o emissor da mensagem (no caso, o papel em que é ampliada ou impressa) que,
além disso, é de fácil transporte (é leve e maleável) e armazenamento (em pilhas, arquivos,
bibliotecas). Por seu fácil transporte e armazenamento, é possível parar para analisá-la
sempre que houver tempo disponível para os receptores, caso assim desejem fazer, e o
estudo pode ser feito a partir de onde se parou anteriormente, pois a imagem é estática e a
leitura somente dependerá do receptor. Vídeos ou imagens virtuais dependem de ao menos
dois aparatos intermediando a comunicação entre os interlocutores (todas as pessoas
envolvidas no processo comunicativo devem saber utilizar o aparato decodificador, no
exemplo a televisão ou o computador), dificultando o manuseio da informação. Essas
últimas imagens estão inseridas no conceito de mídia terciária, também de acordo com
Harry Pross.
E a escolha pelo estudo de imagens, de fotografias e não de textos foi pensada pois é
muito comum as pessoas encararem, ainda hoje, a fotografia como um “recorte da
realidade” sem levar em conta as implicações dessa afirmação. No entanto, “elas nos
mostram um fragmento selecionado da aparência das coisas, das pessoas, dos fatos, tal
como foram (estética/ideologicamente) congelados num dado momento de sua
existência/ocorrência” (KOSSOY, 2002).
Mais do que isso, a escolha foi feita ao se considerar que a fotografia, num contexto em
que a comunicação direta entre as pessoas, o corpo a corpo, é cada vez mais incomum,
passa não só a representar a realidade para nossa mente, mas a ser aceita como a própria
realidade.
Imagens são mediações entre homem e mundo. O homem “existe”, isto é, o mundo não lhe é acessível imediatamente. Imagens têm o propósito de representar o mundo. Mas, ao fazê-lo, interpõem-se entre mundo e homem. Seu propósito é serem mapas do mundo, mas passam a ser biombos. O homem, ao invés de se servir das imagens em função do
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mundo, passa a viver em função das imagens. Não mais decifra as cenas da imagem como significados do mundo, mas o próprio mundo vai sendo vivenciado como conjunto de cenas. (FLUSSER, 2002, pág. 9)
Falando da importância do texto para o homem quando acompanhado de imagens,
especificamente ao se tratar da relação texto-fotografia numa página de jornal impresso,
Flusser afirma:
O receptor pode recorrer ao artigo de jornal para dar nome ao que está vendo. Mas, ao ler o artigo, está sob a influência do fascínio mágico da fotografia. Não quer explicação sobre o que viu, apenas confirmação. [...] Não quer saber sobre causas ou efeitos da cena porque é esta e não o artigo que transmite realidade. E como tal realidade é mágica, a fotografia não a transmite; ela é a própria realidade. (FLUSSER, 2002, pág. 57)
Assim, conclui-se que a fotografia, no contexto da matéria jornalística, tem uma relação
muito íntima com o texto, mas essa relação em nada diminui sua importância. Pelo
contrário, de acordo com Flusser, a fotografia é confirmada e explicada pelo texto mais do
que o ilustra. Para ele, hoje é a fotografia que tem mais valor do que o texto em si quando
ambos se apresentam lado a lado numa página de jornal – mesmo que não nos demos
conta desse fato cotidianamente.
E, se levarmos em conta as condições da produção deste “recorte da realidade”,
perceberemos ainda mais a quantidade de conceitos que ele divulga implicitamente: em um
jornal, o trabalho dos fotógrafos não está apenas sujeito à interpretação desses
individualmente, mas às decisões tomadas (na maioria das vezes) antes mesmo de os
fatos ocorrerem. Essas decisões nada mais são do que a pauta que a matéria deve seguir,
a linha editorial que o veículo divulgador adota, entre outros detalhes. Desse modo, a
imagem criada não será só do fotógrafo, não seguirá apenas os seus conceitos enquanto
indivíduo autônomo, mas será criada coletivamente. Caberá ao fotógrafo a tarefa de
enquadrar o fato tal como se decidiu na redação.
Os símbolos contidos numa imagem são mais fortalecidos em fotografias por estas serem
imagens técnicas, de alta reprodutibilidade, em que o importante é a informação que
passam. Como afirma Norval Baitello Jr, “símbolos são grandes sínteses sociais,
resultantes da elaboração de grandes complexos de imagens e vivências de todos os tipos.
Por isso as imagens evocam os símbolos e ao invocá-los, os atualizam e os ritualizam”
(2005, pág. 17).
Nesta pesquisa, foram analisados símbolos que denotam uma interpretação padrão dos
homens. Ou seja, que encontrariam em mais pessoas uma compreensão comum, mesmo
que isso não ocorra conscientemente. Esta análise se pauta pelos estudos da Semiótica da
Cultura, linha que “pode ser definida como a ciência que trata dos signos e dos textos da
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cultura” (BYSTRINA, 1990, p. 1). Signos esses definidos por Harry Pross como “uma relação
de três membros: o meio, o objeto designado e a consciência que interpreta” (1974, p.14,
tradução própria). Logo, esse signo ou símbolo não se trata de um objeto propriamente dito,
mas de uma relação de interpretação de diferentes objetos.
Mas, então, como encontrar símbolos que são comuns à maioria das pessoas numa
metrópole tão diversificada quanto São Paulo?
A linha mestra de análise adotada nesta pesquisa segue as prerrogativas de Harry Pross,
que definiu os eixos de interpretação do homem segundo o que chamou de experiências
pré-predicativas. “Então são essas experiências primárias (...) adquiridas na ontogênese
humana, que determinam a base para a interpretação dos símbolos. São comuns a todos os
homens e a todas as gerações” explica Luciano Guimarães (BAITELLO JR et al, 2006, p.
190) sobre as experiências pré-predicativas. Harry Pross diz que
Lo que se revela como más duradero son las experiencias hechas en La primera infancia sobre la propia corporeidad y su relación con otra materialidad que no pertenece al organismo del recién nacido. El recién nacido experimenta el espacio circundante como una ampliación de la propia corporeidad. Las resistencias que encuentra el movimiento incipiente obligan a la diferenciación y, más tarde, a la formación de conceptos. (PROSS, 1974, p. 43)
Essas experiências que o homem tem logo que nasce delimitam os eixos cognitivos
interior/exterior, horizontal/vertical e claro/escuro. Essas dicotomias passam a representar
relações com o mundo por toda sua vida: quem está acima tem mais poder do que quem
está abaixo, é mais forte numa hierarquia (como o pai sobre o filho, que é pequeno e precisa
olhar para cima para encarar o progenitor); quem está dentro está mais protegido do que
quem está fora (como o bebê estava protegido dentro do útero materno, antes de sair para o
mundo exterior); quem enxerga tem mais informações do que quem nada vê (a luz permite
que o bebê saiba o que está ao seu redor e possa se proteger contra possíveis ameaças; no
escuro, isso fica mais difícil).
Também Luciano Guimarães contribuiu para a análise da presente pesquisa com o conceito
do eixo esquerdo/direito, referindo-se a ele como “a quarta experiência pré-predicativa”
(BAITELLO JR et al, 2006, p.189). Guimarães afirma que, a partir da ordem de leitura (no
caso a ocidental), o homem também faz juízo de valor em relação ao que fica disposto em
cada lado de uma imagem. “A positividade do direito, certo e correto, se opõe à negatividade
do esquerdo, sinistro” (p.191). Em outras palavras, o sentido de evolução da leitura vai da
esquerda para a direita, portanto, o que é esquerdo é passado em relação ao direito. Assim,
uma imagem, como um rosto, que olha para o lado esquerdo numa fotografia aponta para o
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passado, o retrocesso, enquanto um rosto que olha para a direita enxerga a frente, o futuro,
é visionário.
Por isso, o estudo apresentado nesse trabalho se aplica a toda a sociedade ocidental, mas a
pesquisa se atém, em última instância, à cultura paulistana. Cultura de uma metrópole que
se enquadra como uma das
Sociedades da modernidade tardia, (...) caracterizadas pela “diferença”; elas são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem uma variedade de diferentes “posições de sujeito” – isto é, identidades – para os indivíduos. Se tais sociedades não se desintegram totalmente não é porque elas são unificadas, mas porque seus diferentes elementos e identidades podem, sob certas circunstâncias, ser conjuntamente articulados. (LACLAU apud HALL, 2005, pág. 17)
Para os indivíduos dessa capital, cuja vida é cercada por imagens que se multiplicam de tal
forma que já se tornaram corriqueiras (mas nem por isso menos importantes), tudo acaba
por se transformar em imagem também. Se a imagem deixa de ser referência para a
realidade e se torna referência de realidade, também o real se transforma em imagem. O
cidadão paulistano se importa sobremaneira com sua apresentação visual, com os modelos
de conduta propagados em revistas de moda (imagem), em propagandas de produtos
alimentícios (imagem), em fotografias de personalidades reconhecidas (imagem). Acaba,
ele mesmo, tornando-se imagem.
Corpos de imagens e imagens de corpos já não se distinguem sob o imperativo compulsório de reprodutibilidade, abrindo caminho para uma outra ordem social. A nova sociedade não mais vive de pessoas, feitas de corpos e vínculos, ela se sustenta sobre os pilares de uma infinita “serial imagery”, uma seqüência infindável de imagens, sempre idênticas. (BAITELLO JR., 2005, pág. 51)
Ora, se consumimos essas imagens e somos consumidos por elas, acabamos nos
tornando nós mesmos imagens, personagens, estereótipos - conforme afirma Norval
Baitello Jr (2005). Isso fica ainda mais explícito quando se trata de personagens
cotidianamente expostas em veículos midiáticos, como as estudadas nesta pesquisa: os
candidatos à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2008.
A comunicação entre esses indivíduos e seus eleitores é feita principalmente via mídia
secundária e terciária. Esse tipo de mídia dá muito mais espaço para a comunicação
através do discurso do que do diálogo. Flusser (2007) denomina diálogo a maneira de lidar
com a informação de modo a debatê-la e, a partir dessa troca de ideias, criar uma
informação nova. Por outro lado, o discurso ocorre quando os homens decidem partilhar
uma informação a fim de fazê-la resistir por mais tempo – aqui há manutenção, não
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inovação. E há manutenção por parte daqueles que divulgam a notícia, não dos que a
recebem.
Uma personalidade política tem sua imagem construída na imaginação de seus eleitores
(em épocas de eleição) principalmente graças àquilo que dela é mostrado nos veículos
midiáticos (telejornais, jornais impressos, revistas, propagandas eleitorais). Quando há uma
interação corpo a corpo (mídia primária) entre candidato e eleitor, ela ocorre pontualmente,
em determinado local e durante determinado tempo, e só serve para que os eleitores
confirmem suas expectativas quanto ao prefeiturável, formadas previamente conforme o
indivíduo consome as informações midiáticas.
Na verdade, para os eleitores, os candidatos também são imagens (como já dito
anteriormente, a imagem passa a valer por si mesma e deixa sua função de “janela para o
real”). A campanha direta, corpo a corpo, agora serve não para ajudar a construir a
credibilidade do candidato, mas para validar a idéia já formada (por meio das outras mídias)
na mente do eleitor, para manter essa imagem e propagá-la – seja o verdadeiro candidato,
aquele feito de carne e osso, não o de luz e sombra, coerente com ela ou não.
A exemplo do artigo de Luciano Guimarães publicado no livro Mídia e Democracia
(GOULART, 2006), esta pesquisa propõe a análise de elementos que muitas vezes passam
ao largo de nossa percepção consciente, mesmo que façam muita diferença para nossas
escolhas inconscientemente. No artigo citado, O jornalismo visual e a formação do
imaginário político, o pesquisador estuda os movimentos dos candidatos à Presidência da
República (Alckmin e Lula) durante debate televisivo, e aponta como o bom uso da
comunicação corporal (mesmo através de mídia secundária ou terciária, que dependem do
corpo tanto quanto a primária) e imagética conta muitas vezes até mais do que as medidas
propostas e as perguntas feitas (linhas, e não superfícies; textos, não imagens) pelas
pessoas em disputa ali.
Eis a importância desta pesquisa. Se buscarmos os símbolos nas fotografias (como
Guimarães fez com imagens em movimento) que têm relação com o ideário social da
população em questão – a paulistana – e procurarmos as relações possíveis entre esses
símbolos e o que as imagens veiculam, talvez possamos entender com mais facilidade
como a personagem política de cada candidato é construída junto aos diferentes indivíduos.
Isso porque, no final das contas, conhecemos e votamos nessas imagens. O indivíduo
verdadeiro que assumirá as responsabilidades depois de eleito, nós, possivelmente, nem
chegaremos a conhecer. Nós nos satisfaremos em vê-lo, mais uma vez, estático numa
folha de jornal.
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3- MÉTODO
A pesquisa é explanatória, já que busca proporcionar maior familiaridade com o problema
pesquisado, aprimorando idéias ou comprovando intuições (GIL, 1996). Valeu-se de
levantamento bibliográfico em artigos científicos e livros de leitura corrente sobre os
estudos semióticos feitos com a imagem de políticos veiculada em diferentes meios de
comunicação.
É uma pesquisa qualitativa com descrições e diagnósticos sobre os objetos analisados (as
fotografias de Gilberto Kassab, Marta Suplicy e Geraldo Alckmin durante a disputa das
eleições para prefeito da cidade de São Paulo que foram publicadas entre setembro e
outubro de 2008 nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) partindo dos
conceitos de Harry Pross, com seus eixos determinados pelas experiências pré-
predicativas (horizontal/vertical; claro/escuro; interior/exterior), o eixo proposto por Luciano
Guimarães (esquerdo/direito) e outros elementos encontrados nas fotos com forte carga
simbólica (como bandeiras, padrinhos políticos, ângulo, foco e enquadramento, bem como
gestos dos candidatos).
Também é quantitativa, já que foi feito um levantamento do número de fotografias
publicadas no período e nos veículos estudados, a fim de conhecer qual deles apresentava
mais imagens e se havia favorecimento em relação a um candidato pela quantidade de
fotos divulgadas no jornal. O resultado desta análise aparece na seção destinada à
apresentação dos resultados desta pesquisa.
Os meses de setembro e outubro de 2008 foram escolhidos para ser possível analisar o
panorama histórico do final do primeiro turno e todo o tempo do segundo turno, de modo a
facilitar a averiguação do embate entre os candidatos representado nas fotografias. E a
escolha pelos três candidatos mais fortes (Marta Suplicy, Gilberto Kassab e Geraldo
Alckmin) se deu graças à grande quantidade de imagens feitas dessas figuras políticas
nesse período pelos dois veículos de comunicação analisados.
As fotografias foram obtidas no Arquivo Público do Estado de São Paulo, por esse motivo,
também podemos enquadrar esta pesquisa como exploratória e de campo.
4- RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para melhor compreender as mensagens presentes nas fotografias analisadas, foi
necessário antes buscar informações sobre o contexto histórico das eleições à prefeitura de
São Paulo em setembro e outubro de 2008. Primeiramente, foi levantada a quantidade de
vezes em que cada candidato apareceu em fotografias (sozinho ou acompanhado de seus
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adversários) ao longo de setembro e outubro nos dois jornais estudados. O resultado foi
compilado na tabela a seguir.
Candidato FSP / set FSP / out OESP / set OESP / out Total
G. Alckmin 30 17* 26 12* 85 G. Kassab 35 70 22 46 173 M. Supicy 30 61 24 40 155 Total 95 148 75 98 413 *o primeiro turno das eleições aconteceu no dia 05/10, e elegeu Gilberto Kassab e Marta Suplicy para seguir a disputa até o segundo turno. Isso acarretou uma menor exposição da imagem de Geraldo Alckmin no segundo mês analisado.
As imagens contadas nesse estudo não contemplam as fotografias repetitivamente
utilizadas para representar cada candidato nos gráficos que indicavam a preferência do
eleitorado, considerando-as apenas uma vez (em setembro). Também não foram analisadas
“imagens de imagens”, como fotografias publicadas nos jornais de livros com o rosto dos
candidatos estampando a capa; não foram consideradas as fotografias que compunham a
propaganda eleitoral de Marta e que em geral eram expostas, tomando um grande espaço,
logo atrás da candidata em suas entrevistas e comícios; também fotos dos mascotes de
campanha, como o “Kassabinho” não foram contadas. Considerou-se válidas para esse
estudo quantitativo apenas as fotografias tiradas diretamente dos candidatos nos atos
públicos de que participaram ao longo dos dois meses.
A partir dessas informações, pode-se afirmar que a veiculação das imagens dos candidatos
permaneceu com números próximos ao longo dos meses, mas pode-se ver que, na
somatória, Kassab foi quem mais ganhou destaque em número de fotografias. Marta,
considerando-se o contexto histórico de setembro (primeira colocada nas pesquisas de
intenção de voto) conquistou menos especo para sua imagem, como mostram esses
números. Alckmin gozava de mais espaço no ínicio de setembro, mas a quantidade de
vezes que suas fotografias aparecem nos jornais diminui conforme chega outubro – e
especialmente depois que o candidato deixa a disputa (derrota nas urnas no primeiro
turno).
Percebe-se, também, que Kassab já gozava de maior destaque na Folha de S. Paulo desde
setembro, antes mesmo de vencer o primeiro turno das eleições. No caso do Estado, o
candidato apareceu menos do que Marta ou Alckmin no primeiro mês, mas ganhou
bastante espaço em outubro após a primeira fase da votação e até vencer o segundo turno.
A variação do número de imagens mostradas, como é possível perceber, acontece
segundo o contexto histórico da eleição: durante o primeiro turno, Marta manteve sempre a
liderança nas pesquisas de intenção de voto, era figura certa para o segundo turno. A
dúvida ficava entre Kassab e Alckmin, cujo embate não se dava apenas pelo cargo de
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prefeito da cidade, mas também pelo apoio de membros do partido de Alckmin, o PSDB –
especialmente o apadrinhamento do governador do estado, José Serra (PSDB). Ao longo
de setembro e até o começo de outubro, a quantidade de imagens de Kassab aumenta
como também aumenta sua porcentagem nas pesquisas de intenção de voto, e como
também aumenta a rivalidade entre este e o candidato do PSDB pelo apoio interno desse
partido.
Logo no começo de outubro, quando Kassab vence o primeiro turno com ainda mais votos
do que Marta Suplicy, o destaque dado a ele cresce nos dois jornais, passando a ser
sempre o candidato mais presente nas imagens publicadas.
4.1- Focos de campanha de cada candidato
Uma sequência de fotografias que retrata claramente as imagens simbólicas em que cada
candidato se apoiou ao longo de sua campanha é a seguinte, publicada pelo Estado de S.
Paulo em 4 de outubro de 2008:
Figura 1 – OESP, 04/10/08, p. A1
Nela, temos Marta Suplicy ao lado da imagem do presidente Lula, que chega a tomar ainda
mais espaço na fotografia do que a própria candidata; analogamente, em sua campanha,
Marta apoiou-se muito em sua afinidade com o presidente para fortalecer sua própria
imagem. Em seguida, Gilberto Kassab abraça “a si mesmo” na figura do boneco
Kassabinho, mascote de sua campanha e um forma que seus assessores de marketing
encontraram para fazer propaganda eleitoral nas ruas. Da mesma forma Kassab, ao longo
dos dois meses, foi mostrado como um homem trabalhador e que se sustentava na própria
imagem para se promover. Por fim, Geraldo Alckmin, que teve sérios desentendimentos
dentro do PSDB, não podia contar com o apoio de seu próprio partido, cindido entre aqueles
que preferiam Kassab e aqueles que mantinham-se leais ao Partido Social Democrata. Sem
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fortes alianças políticas, a fotografia dá a entender que Alckmin só podia contar mesmo com
ajuda divina.
Analisemos as estratégias políticas de cada candidato com mais atenção.
4.1.1- Marta Suplicy
A candidata do PT (Partido dos Trabalhadores), que previamente já havia assumido a
prefeitura da cidade com mandato de 2000 a 2004, deu grande destaque à educação na
campanha de 2008. Propôs dar mais autonomia para as escolas municiais e criar mais
creches. Quanto aos transportes, pretendia investir para ampliar o metrô na cidade. Em
relação aos impostos, prometeu isentar completamente os profissionais autônomos de
pagar o ISS (Imposto sobre Serviços) numa tentativa de se desvencilhar da imagem
formada durante seu governo anterior, que lhe rendeu até mesmo o apelido de “Martaxa”
por ter aumentado a carga tributária na capital com os impostos sobre o lixo e a alíquota
progressiva do IPTU.
Mas o que mais se destaca em sua campanha é sua proximidade com o presidente da
federação, Luiz Inácio Lula da Silva, um dos fundadores e a figura pública mais conhecida
de seu partido, o PT. Marta chegou a assumir o Ministério do Turismo em 2007, a convite
do presidente, mas abdicou do cargo para concorrer à prefeitura de São Paulo no ano
seguinte.
Em declaração ao jornal O Estado de S. Paulo, na matéria “Marta admite meta diferenciada
de desempenho escolar na periferia” (escrita por Daniel Bramatti e Guilherme Scarance e
publicada dia 01/09/08 na página A9 de O Estado de S. Paulo), a candidata se referiu a
Lula dizendo
Nós temos projetos semelhantes, pensamos da mesma forma. Ele trabalha melhor comigo, não porque eu sou amiguinha dele. Ele trabalha melhor comigo porque construímos um partido juntos, com as mesmas propostas. Não vejo Kassab nem o Alckmin terem as mesmas preocupações que o presidente tem.
Essa afinidade e apoio do presidente e de outras figuras importantes do governo federal,
como a Ministra da Casa Civil Dilma Roussef (também petista) foi uma das marcas mais
fortes ao longo de toda a sua campanha, e foi demonstrada em algumas fotografias, como
as apresentadas abaixo.
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Fig. 2 – OESP, 06/09/08, p. A4 Fig. 3 – OESP, 21/09/08, p. A4 Fig. 4 – FSP, 19/10/08, p. A1
4.1.2- Gilberto Kassab
Filiado ao DEM (Democratas), Kassab era o então prefeito de São Paulo e tentava sua
reeleição. Havia assumido em 2006, quando José Serra (PSDB) abdicou do cargo para
disputar o governo do estado e deixou a prefeitura para Kassab, seu vice e aliado.
Em 2008, Kassab entrou no pleito como candidato de seu partido, e era até mesmo cotado
para ser o candidato do PSDB devido à histórica aliança entre os dois partidos e à grande
aprovação popular durante sua gestão naquele ano. No entanto, Geraldo Alckmin
concorreu oficialmente pelo PSDB, o que rendeu um sério embate durante o primeiro turno,
não só pela prefeitura, mas também pelo apoio dos membros desse partido a um ou outro
candidato. Mesmo o governador José Serra se viu em uma situação difícil, tendo que
oficialmente apoiar Alckmin, candidato de seu próprio partido, em detrimento de seu ex-
vice, Kassab.
Graças a isso, as imagens apresentadas de Kassab sempre fazem referência a seu foco
em si mesmo como um bom administrador e um homem confiante, até mesmo como um
self-made man. Seus símbolos mais fortes durante a campanha não eram outros políticos
influentes (apesar de aparecer ao lado de Serra em algumas fotografias, mais em condição
de prefeito da capital do estado do que como candidato à reeleição), mas a bandeira de seu
partido e o personagem Kassabinho, uma caricatura do próprio candidato que fazia
campanha nas ruas.
Fig. 5 – FSP, 08/09/08, p; A8 Fig. 6 – OESP, 19/09/08, p. A8 Fig. 7 – OESP, 27/09/08, p. A8
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
14
Também é mostrado como um lutador em algumas fotos, como nas apresentadas a seguir.
Fig. 8 – FSP, 11/09/08, p. A12 Fig. 9 – FSP, 26/10/08, p. Especial 3
O foco maior de sua campanha foi dado aos transportes. O candidato prometeu a
manutenção das tarifas de ônibus durante todo o primeiro ano de seu mandado se eleito,
ou seja, 2009; também deu ênfase aos investimentos feitos em sua atual gestão na
construção do Rodoanel, em corredores de ônibus, no rodízio que instaurou para os
caminhões no centro expandido de São Paulo e nas marginais como medidas para
desafogar o trânsito. Procurou dar destaque para os projetos bem sucedidos que estava
implantando no atual mandato, como a lei Cidade Limpa e o programa Ler e Escrever, que
colocava dois professores por sala de aula no ensino fundamental municipal. Também teve
propostas para preservação do meio ambiente, como a construção de mais ciclovias, de
parques e a implantação da coleta seletivo do lixo.
4.1.3- Geraldo Alckmin
Já o candidato do PSDB investiu na estrutura metropolitana como ponto forte de sua
campanha. Pretendia promover uma descentralização de serviços na capital, para que cada
área não fosse especializada em apenas um tipo de produto/serviço; revitalizar o centro de
São Paulo e urbanizar favelas era outra de suas propostas. Prometeu a instalação de mais
câmeras na cidade, maior presença da guarda metropolitana e também mais iluminação
nas ruas para garantir a segurança. Também falou em diminuição dos impostos, em
oferecer a pílula do dia seguinte na rede pública de saúde e em colocar na escola todas as
crianças a partir de quatro anos de idade.
Alckmin já havia sido governador do estado entre 2001 e 2006 (assumiu o final do mandato
de Mário Covas devido a problemas de saúde que posteriormente levaram o governador
eleito à morte. Alckmin era seu vice e foi reeleito para o governo em 2002). Em 2006,
disputou a presidência da república pelo PSDB e chegou ao segundo turno, mas perdeu
nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva. Devido a esse confronto e também ao embate
Universidade Presbiteriana Mackenzie
15
histórico entre PSDB e PT, Alckmin não contava com qualquer apreciação de sua
candidatura por parte do governo federal.
No início de setembro, quando ainda era o segundo colocado nas pesquisas de intenção de
voto e o mais cotado para disputar o segundo turno com Marta Suplicy no final de outubro,
o Estado de S. Paulo inclusive publicou mais fotos suas do que de qualquer outro
candidato. A Folha chegou mesmo a publicar uma imagem no dia 05 colocando Alckmin
como alguém superior, utilizando para isso um ângulo de fotografia que vem de baixo para
cima. Isso faz com que o fotografado pareça mais alto, mais poderoso (Figura 13). Se
levarmos em conta o posicionamento político de centro-direita de ambos os jornais, isso
pode ser interpretado como uma tentativa de fazer Alckmin crescer aos olhos da população.
No entanto, é na disputa interna que travava com seu partido que a mídia mais estava
interessada. Alckmin conseguiu o apoio de José Serra devido a uma determinação do
PSDB, do qual Serra também era filiado, mas mesmo assim o governador teve uma
participação pequena em sua campanha. Ficou claro nos veículos uma sensação de que
era uma tentativa forçada de aliança entre os dois, já que Serra também tinha como
compromisso ético dar apoio a Kassab, para quem havia entregado a prefeitura de São
Paulo dois anos antes.
Outro problema interno que Alckmin precisou enfrentar durante a campanha foi o apoio de
membros de seu partido ao prefeito Kassab já que, devido à prévia aliança dos partidos
DEM e PSDB nas eleições de 2004, muitos “tucanos” mantinham cargos dentro da gestão
em curso.
Essa disputa com Kassab fica clara em muitas fotografias, como a imagem seguinte que
mostra que Kassab e Alckmin “marcham” em rumos com direções diferentes. Se levarmos
em conta os eixos definidos por Luciano Guimarães (2006), Kassab caminha em direção ao
futuro (direita), enquanto Alckmin volta, caminha para o passado (esquerda).
Fig. 10 – FSP, 09/09/08, p. A4 Fig. 11 - FSP, 09/09/08, p. A4 Fig. 12 - FSP, 09/09/08, p. A4
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
16
Apesar de aparecer em fotografias com seus padrinhos políticos oficiais, como José Serra e
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (também do PSDB), Alckmin muitas vezes
aparece sozinho nas fotos que ilustram as matérias cuja pauta são suas críticas a Kassab.
Até mesmo na diagramação dos jornais, Alckmin é colocado à parte quando a crise interna
de seu partido fica mais forte, justamente na semana que antecede o primeiro turno das
eleições. Isso fica claro na edição do Estado do dia 02 de outubro.
Às vésperas da votação, Alckmin teve uma grande queda percentual nas pesquisas de
intenção de voto e passou do 2º para o 3º lugar nos levantamentos, em parte devido a sua
propaganda eleitoral cheia de críticas principalmente a Kassab, além da cisão partidária.
Nesse dia, a foto de Alckmin sequer aparece na mesma página que a de seus
concorrentes. Para vê-lo, o leitor precisa virar a folha, pois ele está no verso. Só a sua
imagem, junto com sua família, ilustra toda a página, de forma solitária. A foto mostra que
mesmo os carros em movimento continuam seu trânsito, sem parar para dar atenção ao
candidato. O título da matéria: “Sem PSDB, Alckmin vai à rua com mulher e filha” (O Estado
de S. Paulo, 02/10, p. A6).
Fig. 13 – FSP, 05/09/08, p. A8 Fig. 14 – OESP, 02/10/08, p. A6 Fig. 15 – OESP, 06/10/08, p. H8
Ao longo de toda a campanha e mesmo após deixar a disputa no primeiro turno, o
candidato mostrou-se como um defensor de seu partido, como se todos as decisões que
havia tomado nesse tempo tivessem sido em prol do PSDB. Isso fica bem claro na imagem
que ilustra a matéria “‘Como homem de partido, sigo a decisão partidária’, diz Alckmin” (O
Estado de S. Paulo, 06, caderno especial Eleições, p. H8), mostrado adiante na figura 31.
4.2- Histórico de setembro
Os candidatos entraram em setembro com as seguintes porcentagens de intenção de voto:
Marta com 41%, Alckmin com 26% e Kassab com 8%. Logo no dia 07 é divulgada uma
Universidade Presbiteriana Mackenzie
17
nova pesquisa que aponta Marta Suplicy em primeiro lugar (40%), Alckmin em segundo
(22%), com ligeira queda, e Kassab em terceiro (18%), mas em ascensão.
Com o crescimento de Kassab nas pesquisas, Marta Suplicy começa a dar mais atenção ao
concorrente e o ataca mais em sua campanha. Ainda assim, mantém a estratégia de
conservar sua imagem ao lado da do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em comícios e
em sua propaganda política na televisão.
No início do mês, Serra passa a apoiar oficialmente Alckmin por determinação de seu
partido, o PSDB. Nesse momento, a campanha desse candidato busca uma polarização
com Marta Suplicy, tanto que chegou inclusive a procurar apoio no eleitorado da periferia,
público em que Marta tem maior aceitação. Sem sucesso, volta a investir sua propaganda
na classe média, com a qual seu partido tem mais afinidade.
Um caso simbólico da campanha que marcou as diferenças entre a imagem de Alckmin e
Kassab se deu em matéria publicada no dia 8 de setembro em O Estado de S. Paulo.
Quando, no feriado da Independência do Brasil, durante desfile, Serra foi vaiado, Kassab
(que o acompanhava no evento por ser prefeito da cidade) o defendeu da desaprovação do
público. Na mesma página, segue uma matéria com o título de “Alckmin acusa tucanos
aliados de Kassab de só pensar em cargos” (escrita por Carlos Marchi e publicada na
página A4). Há ainda outra, do dia 11 do mesmo mês, com o título “Kassab vai às ruas com
tucanos” (de Ricardo Brandt na página p. A17 de O Estado de S. Paulo), onde se pode ler
que “grupo ignora crise interna do PSDB e prestigia agenda do prefeito”. Mostrou-se aí um
Kassab que não se interessava por partidos, mas pelas pessoas que compõem esses
partidos; já Alckmin, pelo contrário, parece precisar desesperadamente do apoio de seu
partido unido para se sentir forte. Essa é a imagem que mais fica clara com a leitura dessas
duas matérias e a análise das fotografias que as ilustram.
Com seu candidato caindo nas pesquisas, o PSDB decide contratar um novo profissional
de marketing para cuidar da campanha de Alckmin. A mudança de estratégia levou a uma
ofensiva muito mais forte, fazendo muitas comparações entre o tucano e os erros
cometidos por seus principais adversários, Marta e Kassab, em administrações passadas e
em casos vexaminosos. Entretanto, a estratégia desagradou a cúpula tanto do DEM quanto
do próprio PSDB, além de irritar José Serra; mesmo Fernando Henrique Cardoso, ex-
presidente, pede que os ataques cessem. Ainda assim, a campanha continua com seu tom
agressivo.
Em 27 de setembro é divulgada a última pesquisa do mês, que mostra que Kassab
avançara 4 pontos percentuais desde a última pesquisa de intenção de voto, divulgada no
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
18
dia 17, e agora estabelece apenas dez pontos de diferença com Marta, a primeira colocada
(35%). Alckmin amarga o terceiro lugar com 20%.
Nesse cenário, o PSDB já começa a falar em possível apoio a Kassab no segundo turno
para combater Marta.
4.3- Histórico de outubro
Com um fraco desempenho nas pesquisas, Alckmin passa a apostar até mesmo em
campanhas na rua contando apenas com a ajuda da mulher e da filha.
Apesar de Marta ser apontada como a favorita para vencer o primeiro turno (foi divulgado
em 04 de outubro que ela contava com 35% das intenções de voto, Kassab com 27% e
Alckmin com 17%), nas eleições do dia 05, Kassab surpreende ao vencer em primeiro lugar
essa etapa das eleições, superando a adversária com 0,8% dos votos.
Como previsto, o PSDB passa a apoiar o DEM – mesmo Alckmin se vê obrigado a apoiar o
ex-concorrente.
Durante a disputa pelo segundo turno, Kassab passa a contar com mais símbolos em sua
campanha: não só o boneco Kassabinho e a bandeira de seu partido (DEM), mas também
a imagem pública influente do governador José Serra e do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Já Marta, além de reforçar a presença de Lula em seus atos de campanha, também investe
numa estratégia agressiva contra Kassab. Chega mesmo a insinuar, em uma de suas
propagandas eleitorais, a possível homossexualidade do candidato. Isso lhe rende um
processo no Superior Tribunal Eleitoral e restrições em seu horário na propaganda eleitoral
gratuita – tempo esse que é utilizado por Kassab como punição à má estratégia dos
petistas.
Nos debates televisivos, os candidatos acabam se alfinetando e falando muito mais de
erros passados do que de suas propostas para o próximo governo. Enquanto isso, a
credibilidade do democrata junto ao eleitorado só aumenta. Em 23 de outubro, Kassab
conta com 53% das intenções de voto, enquanto Marta retém 36%.
Enfim, no dia 26, no segundo turno das eleições, Kassab é reeleito o prefeito da cidade de
São Paulo com 60,72% dos votos, o equivalente a 3,79 milhões de pessoas.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
19
4.4- Análise dos três candidatos em fotos no mesmo contexto: estudo por eixos
Para melhor perceber o embate que buscam mostrar as imagens divulgadas dos
candidatos nos jornais, esta seção se prestará a analisar somente os casos em que
fotografias dos três candidatos são mostradas numa mesma matéria ou em matérias
relacionadas e próximas nos jornais (ou seja, na mesma página ou dando continuidade à
pauta da eleição na página seguinte).
Seguindo o estudo segundo os eixos de interpretação que se formam com as experiências
pré-predicativas dos seres humanos, conforme explicado no referencial teórico, vemos que
muito da disposição das imagens nas matérias de Folha e Estado obedece a essas
relações e estabelecem, assim, juízos de valor quanto à posição dos candidatos na disputa
eleitoral. É o que se pode perceber, entre outras, nas imagens apresentadas a seguir.
Fig. 16 – FSP, 12/09/08, p. A7 Fig. 17 – OESP, 01/09/08, p. A7 Fig. 18 – OESP, 23/09/08, p. A7
Durante setembro, a disposição dessas fotografias respeitou dois princípios: ou eram
colocadas segundo a ordem de preferência do eleitorado (exposto pelas pesquisas de
opinião), ou segundo a disputa mais acirrada entre dois dos candidatos. No primeiro tipo de
sequência, colocava-se Marta em primeiro lugar – fosse de cima para baixo (mais poder
sobre menos poder) ou da esquerda para a direita (padrão ocidental de leitura), como
mostram as figuras 16, 17 e 18.
Na segunda forma (figuras 19, 20 e 21), é Kassab ou Alckmin que disputam os primeiros
lugares de cima ou da esquerda e Marta ganha menos destaque ocupando a terceira
posição na organização. Por vezes, suas fotografias nem mesmo eram colocadas na
mesma página do jornal em que se lia a matéria sobre a disputa entre Kassab e Alckmin.
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
20
Fig. 19 – FSP, 07/09/08, p. A12 Fig. 20 – OESP, 20/09/08, p. A4 Fig. 21 – OESP, 25/09/08, p. A8
Conforme a preferência do público por Kassab aumenta, mesmo que ele ainda permaneça
em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, sua imagem é cada vez mais
colocada em posição de confronto com a de Marta Suplicy, deixando Alckmin fora da
disputa. Isso é retratado não só pela posição das fotos feita na edição do jornal, mas
também dentro de uma mesma fotografia que o jornal escolhe para figurar como ilustração
de suas matérias.
Fig. 22 – OESP, 29/09/08, p. A6 Fig. 23 – FSP, 01, p. A1 Fig. 24 – FSP, 05/10/08, p. Especial 3
Nas mesmas sequências é possível enxergar a direção para a qual as cabeças e corpos
dos candidatos apontam. Considerando o conceito de Luciano Guimarães (2006) sobre o
eixo direito/esquerdo, vemos que o candidato Geraldo Alckmin em geral aparece em suas
fotos mirando a esquerda. Conforme a percepção que sugere esse eixo interpretativo, isso
significa que o candidato encara o passado, não olha para frente – por isso não tem futuro
(nessa disputa eleitoral), como mostram as figuras 18 e 20. Também pode-se dizer,
observando suas expressões faciais na figura 23, que o candidato parece profundamente
decepcionado com o resultado das pesquisas de intenção de voto, que naquele dia o
apontavam, pela primeira vez em meses de campanha, como a terceira opção dos
Universidade Presbiteriana Mackenzie
21
paulistanos para a prefeitura. Se o verdadeiro Alckmin teve realmente essa mesma
expressão facial quando soube o resultado das pesquisas, não sabemos. Mas a imagem
escolhida para retratá-lo naquele dia nos passa essa informação.
Já Kassab está quase sempre com o semblante ou o corpo inclinado para a direita, em
direção a uma provável reeleição (figuras 16; 18; 20; 21 e 24). Isso se inverte quando é o
embate entre o democrata e a petista o foco principal das matérias, como mostram as
figuras 19, 22 e 23. Aqui, Kassab e Marta parecem se encarar, posicionados com uma
proximidade apropriada para uma discussão. Assim como na figura 22, na imagem 25
Kassab e Marta se encaram (ou se cumprimentam) como os verdadeiros adversários nessa
disputa, deixando Alckmin de lado, falando sozinho. Essas fotos aparecem mais conforme
Kassab cresce em intenções de voto das pesquisas.
Fig. 25 – FSP, 29/09/08, p. A4
Uma das disposições simbólicas mais fortes das fotografias publicadas em ambos os
jornais aparecem no dia 06 de outubro, segunda-feira que sucede o primeiro turno. Com
todas as urnas apuradas, Kassab surpreende ao vencer a disputa em primeiro lugar,
superando até mesmo a candidata do PT, que era considerada favorita no primeiro turno.
Fig. 26 – FSP, 06/10/08, p. Esp. 2 Fig. 27 - FSP, 06/10/08, p. Esp. 3 Fig. 28 – FSP, 06/10/08, p. Esp. 5
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22
Fig. 29 – OESP, 06/10/08, p. H5 Fig. 30 – OESP, 06/10/08, p. H3 Fig. 31 – OESP, 06/10/08, p. H6
É possível perceber o clima de vitória do candidato do DEM, que aparece como um gigante
tanto em sua foto na Folha como no Estado. O ângulo em que a fotografia foi tirada vem de
baixo para cima, e esta posição de enquadramento reforça a sensação de que o candidato
é maior, mais alto, como se estivesse acima de seus adversários – e mesmo do povo que
pretende governar, assim como o pai sobre o filho. Seu semblante é simpático, sorridente e
isso passa uma imagem positiva de Kassab.
Já Marta é “encolhida”. Provavelmente pelo fato de ter sido a segunda colocada em número
de votos (enquanto durante toda a campanha para o primeiro turno se acreditava que ela
seria a favorita nas urnas), a candidata torna-se uma pessoa pequena nas fotos que a
retratam nesse dia. Na Figura 26, ela quase parece se esconder sob o rodapé da foto,
olhando para a imagem ao lado de Kassab, vitorioso. Resta-lhe apenas uma consoladora
palavra “vai” que assegura que, ao menos, se a quantidade de votos não foi a esperada, foi
suficiente para a petista seguir rumo ao segundo turno das eleições. Na fotografia utilizada
pelo Estado de S. Paulo, a imagem da imagem (fotografia de Marta ao fundo) da candidata
é muito maior do que ela. Está grande, alta – mas a “verdadeira” Marta (em outras palavras,
sua imagem no primeiro plano da fotografia) é pequena, menor do que a expectativa
construída sobre ela.
Alckmin é o único personagem tratado com grande diferença entre os jornais. Se para a
Folha ele sai derrotado (olha para a esquerda e, apesar de apontar para o “botton” com o
símbolo de seu partido, faz uma careta desgostosa), no Estado a imagem do candidato é a
de alguém que sai de cabeça erguida pronta para encarar os próximos desafios, mesmo
tendo perdido essa empreitada. Ele sai voltado para seu futuro à direita, deixando para trás
o “Fim” que as urnas da eleição lhe impuseram.
4.5- Análise das imagens de Marta e Kassab no segundo turno da campanha
Ao longo da campanha para o segundo turno, Kassab pode contar com o apoio oficial do
PSDB, o que lhe rendeu mais fotos com Serra, governador do estado, dessa vez deixando
Universidade Presbiteriana Mackenzie
23
claro seu apadrinhamento político (Figura 33). Mesmo assim, a imagem de Kassab não
parece depender da do tucano para mostrar-se forte. Dessa maneira, a estratégia do
democrata de se sustentar em sua própria figura permanece como ponto crucial da
campanha. Ele ainda é mostrado como um “grande” candidato, com fotografias seguindo a
angulação de baixo para cima e deixando-o alto (Figura 34). Quanto ao eixo interior/exterior,
ele é aplicado na análise das fotografias em que Kassab se mostra no meio de seus
eleitores. Ele parece efetivamente se embrenhar, se misturar com o eleitorado, segurando
crianças, brincando com as pessoas. O que mais passa essa sensação é que, nessas
fotografias, o democrata não está olhando para a câmera, mas para as pessoas a sua volta
(Figura 35). Ou seja, a impressão que fica é a de que Kassab está totalmente imerso no ato
de sua campanha, enfeitiçado pela população que o acompanha. Destina toda a sua
atenção a elas, e não à mídia que cobre o evento.
Fig. 33 – OESP, 08/10/08, p. A8 Fig. 34 – FSP, 11/10/08, p. A8 Fig. 35 – OESP, 10/10/08, p. A6
Marta, por sua vez, ainda mantém a proximidade com o presidente da república, Luiz Inácio
Lula da Silva. A figura 36 deixa isso bastante claro. A fotografia chega mesmo a brincar com
a repetição da estratégia, colocando a expressão “de novo” exatamente sobre a cabeça do
presidente que, como se estivesse numa história em quadrinhos, olha para cima com uma
expressão facial cansada, de quem mal pode acreditar que novamente terá que apoiar a
candidatura de Marta.
Fig. 36 – FSP, 11/10/08, p. A8 Fig. 37 – OESP, 08/10/08, p. A6 Fig. 38 – FSP, 07/10/08, Esp. 1 E, se Kassab se mostrava à vontade entre os cidadãos paulistanos durante os atos de
campanha, Marta é retratada sempre como alguém que não faz parte daquela realidade.
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
24
Suas expressões, em geral, demonstram incômodo; seus sorrisos parecem forçados (Figura
37). Na fotografia 38, Marta não está no meio das pessoas que a cercam; pela imagem, a
impressão é a de que a candidata mantém certa distância do eleitorado, como se não
quisesse precisar chegar mais perto das pessoas.
É relevante também informar que a maior parte das fotografias do democrata mostram-no
como um homem que trabalha (seja ao lado de Serra, seja com seus assessores ou
sozinho). Kassab é colocado, assim, como um gestor, um homem de negócios segundo as
imagens suas divulgadas pelos jornais.
Marta aparece junto à população, em palestras feitas em auditórios simples ou nas ruas –
mas sempre à distância das pessoas que querem abraçá-la e tirar fotos com ela. Mesmo na
figura 39, a petista parece manter-se longe da multidão ao seu redor (no entanto, sabemos
que a distância que ela mantém é a suficiente para que possam tirar uma fotografia sua com
a eleitora ao seu lado, como a foto mostra que estava acontecendo).
Fig. 39 – OESP, 09/10/08, p. A4 Fig. 40 – OESP, 07/10/08, p. A1
Ao longo de todo o segundo turno, a disputa entre Kassab e Marta ficou aparente na maioria
das imagens que os retratavam, por vezes segundo a posição em que suas fotografias eram
dispostas nas páginas, por outras numa mesma fotografia que apresentasse a cisão entre
os dois candidatos, uma barreira, um limite entre eles. Essas estratégias imagéticas podem
ser vistas claramente nas imagens a seguir:
Fig. 41 – FSP, 20/10/08, p. A4/A5 Fig. 42 – FSP, 13/10/08, p. A4 Fig. 43 – FSP, 13/10/08, p. A4
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25
Fig. 44 – FSP, 24/10/08, p. A4 FIg. 45 – FSP, 24/10/08, p. A4 Fig. 46 – OESP, 13/10/08, p. A1
FIg. 47 – OESP, 25/10/08, p. A1
Por vezes, a oposição entre os dois fica clara por seu posicionamento e o de suas fotos,
como mostram as figuras 42 e 46, em que os candidatos mantêm os dedos em riste em
posição de acusação. Nas outras imagens, Marta e Kassab estão sempre separados por
uma linha divisória: seja ela um jornalista no meio deles, seja a coluna de texto, seja o
fundo que muda de cor atrás de cada candidato (preto no “território” de Kassab e azul no de
Marta).
5- CONCLUSÕES
Em primeiro lugar, cabe explicar que esta pesquisa poderia ter sido feita segundo outras
linhas de pensamento que não a semiótica da cultura. A psicologia, a neurociência ou
mesmo um estudo feito sobre os métodos de design dos jornais também poderiam dar
conta de uma análise aprofundada sobre o tema. Entretanto, a escolha se deu pelo desejo
de encontrar símbolos culturais nas imagens estudadas, e foi considerado que a semiótica,
ciência que procura exatamente interpretar todas as linguagens culturais como um
emaranhado de símbolos e signos, seria a linha de pesquisa mais adequada.
Também é necessário ressaltar que, assim como nos jornais é feita uma garimpagem de
material antes da escolha das imagens que ilustrarão cada matéria, também essa pesquisa
está ilustrada com as fotografias escolhidas por sua autora entre todas as que foram
analisadas. Certamente, não foram todas as imagens analisadas que trouxeram as
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
26
características que essa pesquisa pretendia encontrar – como a organização seguindo os
eixos denominados por Harry Pross ou Luciano Guimarães.
No entanto, não só as imagens aqui colocadas atendem a essas especificações como
também foi possível constatar que a maioria das fotografias publicadas apresentava um ou
outro critério de avaliação de acordo com os conceitos dos autores referidos, especialmente
durante a campanha para o primeiro turno. Nesse período (todo o mês de setembro e até o
dia 5 de outubro), os símbolos mais claros nas fotografias, por sua escolha e posição nas
páginas dos dois jornais, mostravam a disputa entre Alckmin e Kassab pelo apoio do PSDB
e sua acirrada briga pela preferência do eleitorado paulistano mostrado nas pesquisas de
intenção de voto.
Também o crescimento da porcentagem de Kassab nessas pesquisas foi sendo retratada
conforme as fotografias do candidato passavam a traçar relações com as fotografias de
Marta Suplicy, primeira colocada nas enquetes. Na medida em que Kassab crescia, suas
imagens passavam a ser colocadas ao lado das de Marta, seu rosto e seu corpo passavam
a rivalizar com o da adversária segundo a posição e a direção para que apontavam nas
fotografias. Ao mesmo tempo, Alckmin é deixado “para trás” e “de lado”; suas fotografias
não fazem mais parte do embate entre os principais candidatos. Suas imagens ficam
posicionadas fora do jogo que agora é de Marta e Kassab. Ele chega mesmo a perder
espaço na mesma folha que os outros dois, sendo relegado à folha seguinte do jornal.
Durante o segundo turno, também é possível perceber como as fotografias passam uma
mensagem clara, colocando Kassab e Marta em posição de combate, um de frente para o
outro, um ao lado do outro com barreiras entre os dois (sejam sombras, o espaço entre as
fotografias ou a presença de pessoas que se colocam no meio dos dois como que
representando, nessa imagem, onde acaba e onde tem início o território de cada um nos
debates).
Todas essas posições e fotografias não são escolhidas à toa, nem somente por sua
qualidade gráfica, pelos jornais. Em primeiro lugar, por serem parte de um contexto
jornalístico, elas devem colocar em destaque a informação da forma mais objetiva possível.
Mas, por se tratar de imagem feita por pessoas, ela nunca deixará de carregar consigo
certa subjetividade – seja por seguir as intenções do fotógrafo, as dos públicos leitores dos
jornais ou mesmo aquelas da linha editorial adotada pelo veículo.
Mesmo que o leitor não capte todas as mensagens que essas fotografias podem passar
conscientemente, essas informações estão na imagem e são processadas pelo cérebro.
O que se pode perceber é que as imagens apresentadas pelos dois jornais seguiram o
contexto das eleições, variando seu posicionamento, enfoque e enquadramento de acordo
Universidade Presbiteriana Mackenzie
27
com as mudanças no cenário da disputa eleitoral. Elas serviram para adicionar informações
(de forma subjetiva) às matérias que ilustraram, e por vezes explicavam melhor do que as
palavras do texto qual a pauta do jornal em sua cobertura.
Portanto, como um meio de representação da realidade que se torna a própria realidade
aos olhos dos leitores (que, em geral, têm pouco ou nenhum contato direto com os
candidatos, apenas via televisão, jornal ou outros veículos que divulguem suas imagens),
essas fotografias acabam por criar uma personagem política tanto de Marta Suplicy quanto
de Gilberto Kassab ou Geraldo Alckmin no imaginário do público receptor dessas imagens.
Enquanto Alckmin passou de um candidato forte e bem cotado junto ao público a uma
imagem solitária, abandonada e fraca nas semanas em que a crise interna do PSDB estava
em seu auge e o apoio ao candidato estava balançado, temos Kassab crescendo como um
self-made man que contava não somente com o pleno respeito de seu próprio partido, o
DEM, como também tinha a seu lado integrantes de outros partidos, especialmente do
PSDB. Sua imagem se fortalece mostrando que o prefeito tem capacidade de gerir as
divergências por, na realidade, confiar em si próprio. É essa a imagem que é passada dele
por meio das fotografias que essa pesquisa analisou. Por fim, Marta é mostrada como uma
candidata que se fia muito mais na imagem de terceiros que na própria como estratégia de
campanha. Em fotografias e matérias, foram várias as vezes em que importantes figuras de
seu partido, o PT, apareceram junto a ela – especialmente o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. No entanto, quanto à sua própria imagem, os jornais mostram uma candidata que
não se mistura ao seu eleitorado efetivamente. Boa parte das fotografias mostrava Marta
sobre/acima da população, separada dos eleitores por palanques, e quando a candidata
“descia” até o eleitorado, ficava estampada nas imagens uma sensação de
despertencimento e falta de empatia.
Não cabe a essa pesquisa descobrir se a publicação dessas imagens teve considerável
influência no resultado das urnas, mas elas certamente expuseram ao público
personagens, estereótipos de pessoas que pretendiam gerir a capital paulista e interferir na
vida de seus habitantes. Coube, no entanto, a essa população efetivar de fato o seu voto e
a sua escolha, não ao jornal.
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