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2018 ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS Prof. ª Adriana Prado Santana Santos Prof. Luiz Henrique Milani Queriquelli

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Page 1: E da tradução E I Língua dE s - UNIASSELVI

2018

Estudos da tradução E IntErprEtação Em Língua dE sInaIs

Prof.ª Adriana Prado Santana SantosProf. Luiz Henrique Milani Queriquelli

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Copyright © UNIASSELVI 2018

Elaboração:

Prof.ª Adriana Prado Santana Santos

Prof. Luiz Henrique Milani Queriquelli

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

SA237e

Santos, Adriana Prado Santana Estudos da tradução e interpretação em língua de sinais. / Adriana Prado

Santana Santos, Luiz Henrique Milani Queriquelli– Indaial: UNIASSELVI, 2018.

230 p.; il. ISBN 978-85-515-0173-3

1.Surdos – Meios de comunicação – Brasil. 2.Interpretes para surdos - Treinamento – Brasil. 3.Língua de sinais – Estudo e ensino – Brasil. I. Queriquelli, Luiz Henrique Milani. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 419

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III

aprEsEntação

Caro acadêmico! É com grande entusiasmo que apresentamos a você a disciplina Estudos da Tradução e Interpretação em Língua de Sinais.

O livro de estudos foi desenvolvido com muito estudo e dedicação para apresentar as orientações teóricas e recursos que servirão como base para conduzi-lo ao conhecimento acerca das questões e debates que envolvem a Tradução e Interpretação em Língua de Sinais.

A tradução e a interpretação estão envolvidas diretamente na vida social da comunidade surda, na sua escolarização e letramento. O material aborda diferentes concepções teóricas, com o intuito de problematizar o tema e possibilitar uma visão ampla dos diversos aspectos relacionados ao processo de tradução e interpretação das línguas em geral, dando ênfase para a Língua de Sinais do nosso país: a Língua Brasileira de Sinais – Libras ou LSB – (Língua de Sinais Brasileira).

Os estudos relacionados com a tradução e interpretação em Língua de Sinais têm tido muito destaque pela modalidade visual/espacial das Línguas de Sinais, que foi desenvolvida pelas comunidades surdas, por meio de aspectos culturais e de identidade.

Assim como toda língua, as Línguas de Sinais são dinâmicas e estão sempre em processo de desenvolvimento e ampliação. Assim, é necessário conhecermos e nos aprofundarmos no campo dos estudos de Tradução e Interpretação dessa língua, a fim de discutirmos o conceito e tipos de tradução que integram a cultura da comunidade surda.

Na Unidade 1 do livro, vamos buscar compreender o que é tradução, veremos quais são os tipos de tradução conforme a tipologia definida por Roman Jakobson e confrontaremos os conceitos de tradução e interpretação segundo autores como Schleiermacher, Mounin, Maria Cristina Pires Pereira, dentre outros.

Na Unidade 2, vamos entender os problemas teóricos e práticos da Tradução e Interpretação em diversos ambientes, os tipos discursivos e gêneros textuais envolvidos na tradução e interpretação em Língua de Sinais, o processo cognitivo (memória, inferências, soluções de problemas) e a aplicação aos estudos da tradução e interpretação. Ainda, problematizar e orientar a atividade tradutória e interpretatória, para uma tradução e interpretação fidedigna e ética.

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

Na Unidade 3, apresentaremos políticas e propostas vigentes na área de tradução e interpretação, criadas pelo Ministério da Educação e pelas associações de Tradutores Intérpretes no âmbito nacional. Ainda, as tecnologias como apoio para formação do Tradutor Intérprete de Língua de Sinais, o trabalho do profissional Tradutor Intérprete com o aluno surdo e o professor regente.

Finalizaremos o livro com um minidicionário, com alguns sinais em Libras, para que você, acadêmico, aprenda e treine no cotidiano, oportunizando um aprendizado básico para desenvolver habilidades na Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de Sinais – Libras.

Bons estudos!

Prof.ª Adriana Prado Santana Santos

Prof. Luiz Henrique Milani Queriquelli

NOTA

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V

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VI

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VII

UNIDADE 1 – ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS ..................................................................................................................... 1

TÓPICO 1 – TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO .............................................................................. 31 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 32 QUESTÕES GERAIS SOBRE A TRADUÇÃO ................................................................................ 43 DIVERSIDADE LINGUÍSTICA ........................................................................................................ 6LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 84 NEGOCIAÇÃO ENTRE TEXTOS E ENTRE CULTURAS ............................................................ 10RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15

TÓPICO 2 – TIPOS DE TRADUÇÃO .................................................................................................. 171 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 172 TRADUÇÃO INTRALINGUAL ........................................................................................................ 17

2.1 O PAPEL DA TRADUÇÃO INTRALINGUAL PARA A HISTÓRIA DA LÍNGUA .............. 213 TRADUÇÃO INTERLINGUAL ......................................................................................................... 24

3.1 A TRADUÇÃO INTERLINGUAL RELIGIOSA E O FOCO NO TEXTO DE PARTIDA ....... 263.2 A TRADUÇÃO INTERLINGUAL LITERÁRIA E O FOCO NO TEXTO DE CHEGADA .... 29

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 314 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA ................................................................................................... 33LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 38RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 40AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 41

TÓPICO 3 – FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE .................................................... 431 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 432 INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA E INTERPRETAÇÃO CONSECUTIVA ........................... 433 ESPECIFICIDADES DE CADA PAPEL ............................................................................................ 46LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 49RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 51AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52

UNIDADE 2 – TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS ...................................................................................... 55

TÓPICO 1 – LINGUAGEM E TEORIA ............................................................................................... 571 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 572 MODALIDADES DAS LÍNGUAS: UM BREVE OLHAR ........................................................... 61

2.1 SISTEMA GRAMATICAL DA LÍNGUA ORAL AUDITIVA ..................................................... 632.2 SISTEMA GRAMATICAL EM LÍNGUA DE SINAIS ................................................................. 67

2.2.1 Locação/ponto de articulação ............................................................................................... 762.2.2 Movimento (M) ....................................................................................................................... 762.2.3 Configuração de mãos (CM) ................................................................................................ 77

sumárIo

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VIII

2.2.4 Não manuais/expressões faciais e corporais ....................................................................792.2.5 Orientação/direção ...............................................................................................................872.2.6 Sintáticos ...............................................................................................................................902.2.7 Semântica e pragmática .......................................................................................................90

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................94RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................96AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................98

TÓPICO 2 – ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................992 A TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ....101

2.1 A TRADUÇÃO COMO PROCESSO ...........................................................................................1042.2 TÉCNICAS PARA INTERPRETAÇÃO .......................................................................................109

3 MODELOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ...................................................................116LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................121RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................125AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127

TÓPICO 3 – ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ..........................................1291 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1292 PROBLEMATIZAÇÃO E A ÉTICA PROFISSIONAL .................................................................131

2.1 O PROFISSIONAL TRADUTOR INTÉRPRETE E SUAS ATRIBUIÇÕES .............................1362.2 CÓDIGO DE ÉTICA BRASILEIRO .............................................................................................141

3 HABILIDADES NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ...........................................................1443.1 O TRADUTOR INTÉRPRETE EDUCACIONAL ......................................................................1463.2 O GUIA-INTÉRPRETE .................................................................................................................149

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................155RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................157AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159

UNIDADE 3 – POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO .....................................................................................................161

TÓPICO 1 – LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS ....................................................................1631 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1632 A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE ....................................................................165

2.1 ESFERA NACIONAL ....................................................................................................................1663 FORMAÇÃO NA ESFERA INTERNACIONAL ...........................................................................177LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................179RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................184AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................185

TÓPICO 2 – TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP ............................1871 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1872 USO DA TECNOLOGIA COMO SUBSÍDIOS ............................................................................188

2.1 TIPOS DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ................................1892.1.1 Aplicativos tradutores ..........................................................................................................1892.1.2 Luvas que transformam textos em Língua de Sinais .......................................................1932.1.3 Glossários ...............................................................................................................................1942.1.4 Youtube ..................................................................................................................................195

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IX

2.1.5 WhatsApp/Skype/Imo .........................................................................................................1952.1.6 Ensino a distância .................................................................................................................1952.1.7 Revista de vídeo registro .....................................................................................................196

3 RELAÇÃO COM SEUS INTERLOCUTORES ..............................................................................1973.1 O PROFISSIONAL TILSP E O ALUNO SURDO ......................................................................1983.2 O PROFISSIONAL TILSP E O PROFESSOR ..............................................................................1993.3 O PROFESSOR REGENTE E O ALUNO SURDO .....................................................................200

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................202RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................203AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................204

TÓPICO 3 – TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL .........................................................2051 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................2052 INCLUSÃO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL TILSP ........................2063 VOCÁBULOS USADOS POR TILSP .............................................................................................209LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................214RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................219AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................220

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................221

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X

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1

Esta unidade tem por objetivos:

• identificar diferentes conceitos de tradução;

• compreender operações de tradução entre duas línguas ou no interior de uma mesma língua;

• distinguir as conotações que a atividade tradutória já ganhou na história;

• identificar causas para a diversidade linguística, o fenômeno fundante da tradução;

• discernir características dos tipos de tradução: intralingual, interlingual e intersemiótica e sociolinguística;

• compreender as implicações de uma tradução com foco sobre o texto-fonte ou o texto-alvo;

• reconhecer especificidades da interpretação em relação à tradução lato sensu.

UNIDADE 1

ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE

SINAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade está dividida em três tópicos. Durante seus estudos ou no final de cada unidade, você encontrará atividades que contribuirão para seu conhecimento e aprendizado dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

TÓPICO 2 – TIPOS DE TRADUÇÃO

TÓPICO 3 – FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE

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TÓPICO 1UNIDADE 1

TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Você já parou para pensar que grande parte da vida moderna seria impensável sem a tradução? Como você pode imaginar, é uma das atividades mais antigas da humanidade e, em um mundo cada vez mais diverso como o nosso, continua sendo mais necessária do que nunca.

Em um sentido amplo, ou seja, entendendo tradução como interpretação, podemos afirmar que não há atividade linguística sem tradução. Como veremos adiante, podemos admitir que o aprendizado de qualquer língua passa necessariamente pela tradução.

Ainda, pensando no propósito específico do material em questão, cabe acrescentar que a atividade tradutória, na cultura dos surdos, ocupa um lugar igualmente central, pois ela se faz presente tanto na comunicação destes com os ouvintes, como entre os próprios surdos.

Ao que parece, são muitas as implicações da tradução na nossa vida, certo? Você verá, porém, que elas vão muito mais além do que podemos imaginar. Na próxima seção, vamos abordar a definição de tradução, percorrendo uma relativa variedade conceitual.

Na seção seguinte, vamos discutir a diversidade linguística como fenômeno que confere razão de ser a essa atividade. E, na última seção, enfim, pretendemos defender a definição de tradução como uma negociação entre textos e culturas.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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2 QUESTÕES GERAIS SOBRE A TRADUÇÃO

O conceito de tradução vem sendo objeto de debate há muito tempo. Em termos diacrônicos, sabemos que a palavra portuguesa deriva do vocábulo latino traducere, que significava levar/conduzir (ducere) além (tra).

Hoje, no entanto, o sentido empregado pelos latinos já evoluiu para uma diversidade de outros sentidos. Não é incomum vermos, por exemplo, alguém falando em traduzir com o sentido de “revelar, explicar, manifestar, explanar, representar, simbolizar”, dentre outros usos.

Como Guerini e Costa (2006) argumentam, o sentido de passar de uma língua para outra é uma metáfora do ato físico de transferir. Concluímos que os demais sentidos atribuídos às palavras “traduzir” e “tradução” são gerados a partir de extensão metafórica, ou seja, em todos eles, pressupõe-se o ato de transferir, de passar algo de um lado para outro.

Nos termos dos autores, “traduzir designa, de modo restrito, uma operação de transferência linguística e, de modo amplo, qualquer operação de transferência entre códigos ou, inclusive, dentro de códigos” (GUERINI; COSTA, 2006, p. 4).

IMPORTANTE

Há pouco, falamos que a prática tradutória está presente tanto na comunicação dos surdos com os ouvintes, como entre os próprios surdos e também vale para o interior de qualquer língua. Paz (2012, p. 9) radicaliza a importância da tradução intralingual para a constituição da linguagem, ao considerar o processo essencial para os estágios iniciais de aquisição:

Aprender a falar é aprender a traduzir: quando uma criança pergunta à sua mãe o significado desta ou daquela palavra, o que realmente pede é que traduza para a sua linguagem a palavra desconhecida. A tradução dentro de uma língua não é, nesse sentido, essencialmente diferente da tradução entre duas línguas, e a história de todos os povos repete a experiência infantil.

Podemos assumir que não existe linguagem sem tradução. Logo, reputamos como algo normal para a antiguidade do fenômeno, embora devamos ressalvar que, ao longo dos tempos, seu status mudou por diversas vezes. Ora a translação de textos era considerada uma atividade nobre, equivalente ao processo criativo, ora era considerada uma atividade vil, decorrente dos vícios humanos.

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TÓPICO 1 | TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

5

A primeira e mais positiva das visões, a visão de tradução como criação, pode ser bem observada entre os antigos romanos. A gênese da literatura e da ciência latina está na tradução e imitação de modelos gregos, sendo que o conceito clássico de imitação significava essencialmente recriação e superação do modelo. Uma prova de como a tradução estava no centro da inventividade latina é a quantidade de termos que os romanos tinham para a atividade.

Para diferentes nuances do fenômeno, dávamos diferentes nomes, como “verter”, “converter”, “transverter”, “imitar”, “explicar”, “interpretar”, “exprimir”, “render”, “transferir”, “transladar”; nomes que vêm de “translação” e “translator”. Eis o que explica Furlan (2001, p. 13):

Na tradução artística, com uma invenção latina, houve a produção de uma romanização não só da expressão, mas também do conteúdo, com ênfase no texto de chegada, e o novo valor se denominou com os verbos uertere e o composto conuertere, transuertere e imitari. Explicare também compartilha as noções, mas em São Jerônimo assume o significado de acentuação sobre a funcionalidade semântica mais que sobre o ornato retórico. Outras acepções latinas oferecem os verbos interpretari, que parece colocar a atenção sobre o conteúdo, a dependência e o esforço de fidelidade da cópia; exprimere, que parece enfatizar a marca formal do calco; e reddere, que indicaria a correspondência formal não literal entre original e tradução. No latim tardio e na Idade Média vai predominar o termo transferre e, ainda mais, de seu derivado participial, o verbo translatare, que oferece o substantivo translatio e o agente translator.

A segunda e mais negativa das visões foi produzida, paralelamente ao paganismo, no pensamento judaico-cristão que, até a Idade Média, promoveu a visão da tradução como deturpação da palavra.

Uma das causas da visão pejorativa deriva do mito bíblico da Torre de Babel, segundo o qual, Deus, para obstruir o trabalho dos homens, que tentaram construir uma torre tão alta quanto os céus, originou a diversidade de línguas entre si, levando-os ao desentendimento e ao fracasso no projeto. Consequentemente, a tradução, que derivaria da necessidade surgida com a punição divina, era comumente mal vista no antigo mundo judaico-cristão.

NOTA

Bassnett (2003, p. 1) corrobora o entendimento ao observar que, até o medievo, a tradução era “considerada uma atividade marginal, que só começou a ser vista como um ato fundamental do intercâmbio humano no século XX”.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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A função de mediação cultural, franqueada por Bassnett (2003), é um aspecto fundamental da atividade em discussão. Analogamente, Rónai (1976, p. 3-4) comenta que, em geral, as definições dadas à tradução disfarçam a natureza transcultural. Em seus termos:

Ao definirem “tradução”, os dicionários escamoteiam prudentemente o aspecto e limitam-se a dizer que traduzir é passar para outra língua. A comparação mais óbvia é fornecida pela etimologia: em latim, traducere é levar alguém pela mão para o outro lado, para outro lugar. O sujeito do verbo é o tradutor, o objeto direto, o autor do original a quem o tradutor introduz em um ambiente novo [...]. Mas a imagem pode ser entendida também de outra maneira, considerando-se que é ao leitor que o tradutor pega pela mão para levá-lo para outro meio linguístico que não o seu.

Do ponto de vista cultural, existiriam duas perspectivas distintas do ato tradutório: a do tradutor conduzindo o autor para a outra língua, e a do translator que leva, não o autor, mas o leitor para o outro “lado”, ou seja, para a cultura alheia. Assim, na primeira perspectiva, aquela que Rónai (1976, p. 4) chama de “tradução naturalizadora”, o tradutor “conduz uma obra estrangeira para outro ambiente linguístico, adaptando-a ao máximo aos costumes do novo meio”.

Há a retirada das características exóticas, o esquecimento que reflete uma realidade longínqua, essencialmente diversa. Na segunda perspectiva, que o autor chama de “tradução identificadora”, o intérprete “conduz o leitor para o país da obra que lê e mantém cuidadosamente o que tem de estranho, de genuíno, e acentua a cada instante a sua origem alienígena” (RÓNAI, 1976, p. 4).

Perceba que as definições dão destaque ao papel do tradutor e do leitor como sujeitos ativos no processo. Pereira (2008), no entanto, observa que não são raras algumas tentativas de definir a tradução que deixam de lado elementos essenciais dela. Tais tentativas acabam reduzindo o conceito de tradução para a mera substituição de material textual em uma língua-fonte por material textual equivalente em outra língua-meta, ou à simples transferência do conteúdo de um texto para os meios próprios de outra língua.

Embora não sejam inteiramente erradas, as definições deixam lacunas importantes, pois descrevem um processo somente entre línguas, esquecendo-se de dois elementos essenciais: os sujeitos envolvidos e a situação (o contexto). Assim, nas abordagens redutivistas, o tradutor é encarado como um mero reprodutor de textos, uma espécie de adaptador de voltagem entre línguas, sem nunca alçar a posição de autor.

Em dissonância ao tipo de visão em questão, declaramos que procuraremos sempre abordar a tradução em uma perspectiva que inclui não só os códigos linguísticos, mas também os sujeitos envolvidos no processo e no contexto em que atuam.

3 DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

Para Guerini e Costa (2006), o mito da Torre de Babel, que mencionamos há pouco, pode ser interpretado como uma expressão da interminável tarefa

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TÓPICO 1 | TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

7

É importante ressaltar que a variedade linguística existe dentro de uma mesma língua, e essa variação, na medida que se intensifica, pode levar ao surgimento de novas línguas, o que torna a operação tradutória sempre necessária e atual.

IMPORTANTE

A língua portuguesa, por exemplo, por muitos considerada uma só, tem variedades díspares a ponto de seus falantes não as reconhecerem mais como variedades de um mesmo sistema. Estamos falando do português europeu e do português brasileiro, variedades diatópicas que já guardam profundas diferenças, não só no léxico (vocabulário), mas também na fonologia (regras para a articulação dos sons), na prosódia (entonação, acentuação e atração de clíticos) e na morfossintaxe (regras de concordância, sistema pronominal etc.). Muitas edições de obras estrangeiras têm uma tradução no Brasil e outra, sensivelmente diferente, em Portugal.

Para saber um pouco mais sobre as causas da diversidade linguística, leia, a seguir, o texto de Fábio de Oliveira, que é um breve artigo que aborda a questão de uma forma leve e informativa.

do tradutor, que decorre de um fenômeno primordial: a grande diversidade de línguas existentes.

Steiner (2005) entende que a diversidade é uma consequência da própria individualidade dos seres humanos, ou seja, cada um de nós é naturalmente diferente, e é natural que nos expressemos de modos singulares. Embora negociemos nossas diferenças com vistas à comunicação, os limites das diferenças se tornam cada vez mais salientes, na medida em que os limites sociais também se alargam. Nos termos de Steiner (2005, p. 72):

[...] o fato de que milhares e milhares de línguas diferentes e mutuamente incompreensíveis foram e são faladas em nosso pequeno planeta é uma expressão clara do enigma profundo da individualidade humana, da evidência biogenética e bissocial de que não existem dois seres humanos inteiramente iguais.

Quando Steiner (2005) afirma que milhares de línguas diferentes foram e são faladas por razões biogenéticas e biossociais, ele chama a nossa atenção para o fato de que, desde que o ser humano desenvolveu a faculdade da linguagem, as línguas variaram e mudaram por inúmeros fatores, como sexo dos falantes, idade, classe social, região geográfica, registro (culto ou informal) etc.

Com tantos fatores condicionando o comportamento das línguas e sua mudança, é natural que quanto mais a população humana se multiplica e suas diferenças biológicas e culturais se agravam no tempo e no espaço, mais as línguas se diferenciam e se multiplicam.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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POR QUE TODO MUNDO NÃO FALA A MESMA LÍNGUA?

Fábio de Oliveira

As línguas foram surgindo nas várias regiões do mundo de forma independente. Algumas têm a mesma origem, como o hindu, o sueco, o inglês e o português. Vieram de uma grande língua comum, chamada protoindo-europeu, que há milhares de anos era falada na Ásia.

O idioma deu origem a quase todas as línguas ocidentais e algumas orientais. “Supõe-se que o indo-europeu tenha sido uma língua só, que foi se diferenciando com o tempo”, explica o professor de linguística Paulo Chagas de Souza, da Universidade de São Paulo.

É que as línguas são vivas – elas se transformam com o uso. Mesmo as que vieram de uma raiz comum, foram sendo modificadas pouco a pouco pela prática de cada grupo falante, que seleciona os termos adequados ao seu ambiente e à cultura. Os esquimós, por exemplo, criaram palavras capazes de descrever 40 tons de branco. Os termos não fazem o menor sentido para um povo que mora no deserto, concorda?

O Império Romano teve uma forte função na difusão e na construção de muitas das línguas que são faladas hoje. Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim, uma língua derivada do protoindo-europeu, que floresceu na região do Lácio.

Na medida em que o império avançava, conquistando novos territórios, o idioma foi sendo imposto aos povos dominados, mas não sem sofrer influência das línguas locais, com mudanças de pronúncia e enxertos de palavras. Com o enfraquecimento do domínio dos césares, as diferenças foram se intensificando e construindo dialetos, que se transformaram em idiomas próprios. Foi assim que surgiu o português, o italiano e o francês, por exemplo.

Hoje são faladas 7.099 línguas ao redor do mundo, segundo o compêndio Ethnologue, um livro que cataloga os idiomas do nosso planeta desde 1950. Entretanto, a gente não ouve a maioria delas. Mais de 90% das línguas estão na boca de apenas 6% dos habitantes da Terra. O restante da população mundial usa menos de 400 idiomas.

O português brasileiro

O português demorou mais de 200 anos para se consolidar no Brasil. No final do século 17, o tupinambá, um dos dialetos do tupi, era o que mais se escutava por aqui. Para não perder o predomínio político na colônia, Portugal proibiu que crianças, filhos de portugueses e indígenas aprendessem outra língua

LEITURA COMPLEMENTAR

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TÓPICO 1 | TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

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que não fosse o português. Entretanto, a língua que falamos hoje não é idêntica à língua que se fala em Portugal.

O “português brasileiro” também é resultado de um amplo e complexo processo de transformação sofrido ao longo dos anos, com importantes contribuições dos escravos africanos e de imigrantes que vieram de vários cantos do mundo. Ainda hoje, 237 línguas são faladas no país. Do total, 216 estão vivas. Delas, 201 são indígenas e 153 correm risco de ser extintas.

4 coisas que você não sabia sobre idiomas

1 O Ethnologue lista 237 línguas no Brasil. 216 estão vivas e 21, extintas. Das vivas, 201 são indígenas e 15, não indígenas. 56 estão em perigo e 97, morrendo.

2 Na Espanha, são 15 no total, entre elas o basco e o catalão. Na ditadura de Franco, as línguas foram proibidas, mas o decreto caiu no fim dos anos 1970.

3 Na Índia, um país com mais de 1 bilhão de habitantes, o número de línguas catalogadas chega a 462. Do montante, 448 estão vivas e 14, extintas.

4 Nos Estados Unidos, o número de línguas catalogadas chega a 231. 220 estão vivas e 11, extintas. Das vivas, 196 são indígenas e 24, não indígenas.

Mãe de (quase) todas

Muitas das línguas que você sabe que existem vieram de uma raiz comum.

FONTE: Dossiê 376/Superinteressante.

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O protoindo-europeu

Boa parte da população mundial, incluindo países das Américas, da Europa e até a Índia, fala línguas que se agrupam no que os linguistas chamam de filo protoindo-europeu. A origem é incerta: há os que defendem que tenha surgido na Anatólia, atual Turquia, há 9 mil anos, e outros, ao norte do Mar Negro, há 5 mil anos.

Rumo ao Norte

Um dos ramos diretos do indo-europeu é o germânico. Engloba as línguas de povos do norte da Europa, muitos dos quais ficavam fora dos limites do Império Romano (os bárbaros, que, na primeira acepção da palavra, queria dizer estrangeiro). Da lista, são incluídos o inglês, o alemão, o holandês, o sueco e o dinamarquês.

“Quo vadis?”

A frase citada significa “para onde vais” em latim, língua que nasceu no Lácio, região próxima a Roma. Com a expansão do Império Romano, migrou para regiões onde hoje estão países como Espanha, França e Portugal. Com o declínio dos romanos, cada um dos locais começou a falar o latim do seu jeito. Surgiram o português e seus coirmãos.

FONTE: Superinteressante. São Paulo, n. 376, jun. 2017, p. 31-33.

4 NEGOCIAÇÃO ENTRE TEXTOS E ENTRE CULTURAS

Há pouco, dissemos que a atividade linguística consiste em negociar nossas diferenças em relação à comunicação, sendo que os limites das diferenças se tornam cada vez mais salientes na medida em que os limites sociais também se alargam. A tradução, portanto, pode ser entendida como uma negociação entre textos e entre culturas.

Eco (2007) enxerga a tradução como negociação, em vários níveis e entre vários atores: o autor, seu texto original, as culturas de saída e chegada, os leitores prováveis, as editoras e, naturalmente, o tradutor – o maior dos negociadores. Segundo Eco (2007), para o tradutor profissional, há muito a negociar. Ele negocia, por exemplo:

• uma estratégia de tradução (influenciada, possivelmente, pelo autor, pela editora, pelos leitores potenciais ou almejados);

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TÓPICO 1 | TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

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• a noção de fidelidade que se pretende, ou que se julga mais adequada à situação;

• o tamanho do texto e outras idiossincrasias editoriais (não raramente, frase por frase, palavra por palavra).

Eco (2007) defende que a noção de negociação, em certa medida, depõe a obsoleta noção de fidelidade. Ele, que antes de tradutor é autor de obras originais, não só aceita a negociação de sentidos nas traduções dos seus textos autorais, como também estimula sua alteração, desde que se tencione recriar a mesma sensação estética, a mesma emoção, quem sabe a mesma surpresa que ele pretendeu em princípio. Eco (2007), portanto, afirma ser tolerável e geralmente inevitável em relação à deformação da superfície do texto em proveito de seu significado profundo, de seu núcleo expressivo.

Assim, falamos de tradução entre línguas e de tradução entre variedades de uma mesma língua, que podem ser sutis ou abissais. No entanto, também podemos traduzir de um meio para outro, de um gênero para outro, ou de um sistema semiótico para outro, sendo a negociação mais controversa.

Chamamos de tradução intersemiótica quando, por exemplo, uma obra literária é adaptada para o cinema, ou para quadrinhos, ou ainda quando um poema é transformado em canção. Gostaríamos de abordar uma operação que talvez esteja no meio de dois polos, entre a tradução entre línguas fônicas e a tradução intersemiótica: a tradução entre línguas fônicas e línguas gestuais.

Desde que a linguística moderna varreu uma série de preconceitos históricos, frutos do fonocentrismo, que pairavam sobre as línguas gestuais, equiparando o status destas ao de todos os demais sistemas de signos linguísticos humanos (cf. QUERIQUELLI, 2018), a tradução envolvendo línguas gestuais e línguas fônicas se tornou um terreno extremamente fértil.

Um exemplo da fertilidade é o trabalho de Klamt (2014), que encarou a tarefa de traduzir para o português o poema “Voo sobre o Rio”, composto por Fernanda Machado em Libras – Língua Brasileira de Sinais. Nele, a poetisa descreve suas percepções ao sobrevoar a cidade do Rio de Janeiro. Nos primeiros versos, a autora coloca o leitor na perspectiva de alguém que se aproxima da Terra e a vê primeiro bem pequena, ao longe, depois mais próxima, até que ela preencha todo o campo de visão. A imagem a seguir reproduz a parte do poema:

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FIGURA 1 – INÍCIO DO POEMA “VOO SOBRE O RIO”

FONTE: Klamt (2014, p. 115)

PLANETA-TERRA-PEQUENO

PLANETA-TERRA-MÉDIO

PLANETA-TERRA-GRANDE

A tradutora assim explica suas estratégias tradutórias (ou negociais) para o trecho:

Os sinais mostram as três dimensões referidas anteriormente. Na ponta do dedo da poetisa, o planeta terra é minúsculo e distante; quando polegar e demais dedos se juntam em letra “o” (“grávidos no espaço”), já está mais próximo; por fim, quando o efeito de aproximação da câmera chega ao seu máximo nível, o planeta Terra é grande e próximo e a configuração das mãos lembra o embalar de um ser frágil. Assim, no início do poema, estes três sinais foram traduzidos como: O astro distante: terra. / (gotícula de terra viaja na ponta do dedo) / O planeta de percorrer com as mãos: terra. / (o tamanho da terra quando polegar e dedos se encontram grávidos no espaço) / O chão coberto de terra (mãos de embalar um ser frágil) (KLAMT, 2014, p. 115).

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TÓPICO 1 | TEORIA GERAL DA TRADUÇÃO

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Perceba que a tradutora toma o cuidado de não impor soluções familiares ao falante nativo de português. Talvez seria mais cômodo recriar um poema mostrando a descida ao planeta Terra, com elocuções típicas do português brasileiro, mas a tradutora cede à negociação e traz a língua alheia para dentro da sua: “o astro distante: terra/gotícula de terra viaja na ponta do dedo”; “o tamanho da terra quando polegar e dedos se encontram grávidos no espaço”. Repare que é uma negociação não apenas entre soluções textuais bilaterais, mas entre convenções e perspectivas culturais.

Mais adiante, no poema, há um trecho em que é apresentado um diálogo entre um casal de pássaros, utilizando um recurso típico da Libras: as chamadas boias, ou seja, a suspensão de um enunciado com uma das mãos para a intercalação de um segundo enunciado com a outra mão. Tal trecho é reproduzido na imagem a seguir:

FONTE: Klamt (2014, p. 116)

A tradutora, por sua vez, comenta as opções feitas em relação à parte do poema:

Nos trechos II e III, ocorre um diálogo entre os dois pássaros: a mão direita sempre representa o pássaro-fêmea e a mão esquerda o pássaro-macho. Uma mão é suspensa, sem movimento, representando um dos pássaros que é o receptor da mensagem, enquanto a outra representa o pássaro produtor da mensagem, que realiza uma ação ou fala por meio do movimento e dos sinais não manuais. É interessante, ainda, notar que todos os sinais foram produzidos com a mesma configuração de mão, que assume a forma, ao mesmo tempo, da cabeça e da asa das aves. Traz-se aqui, então, um trecho do texto de chegada, em Português, para mostrar como a dualidade entre o feminino e o masculino foi representada graficamente: [...] O de corpaço busca. / A de corpóreo sorri, se enfeita. / Ela espia, gira o corpo de vergonha. / Ele não compreende. / Põe-se esbelto, ele dirige a vista e investe. / Ela não nota, não se vira. / Ele fala no dorso; ela não vira as costas (KLAMT, 2014, p. 116).

Assim, temos em Klamt (2014) um bom exemplo de tradução como negociação, ao mesmo tempo, entre textos e entre culturas. Não é uma negociação convencional que se faz entre textos de línguas fônicas modernas; não é uma negociação radical que se faz entre sistemas semióticos diferentes, mas é uma negociação delicada, entre línguas de natureza sensivelmente diferentes, que exige, com a licença da analogia, uma destreza diplomática do tradutor para não ferir as propriedades poéticas do texto-fonte, que é gestual, e para recriá-lo na língua alvo, também respeitando suas propriedades linguísticas e suas particularidades culturais.

FIGURA 2 – DIÁLOGO ENTRE PÁSSAROS NO POEMA “VOO SOBRE O RIO”

PÁSSARO-MACHO-OLHAR-DÚVIDA

PÁSSARO-OLHARPÁSSARO-MACHO-ARRUMAR

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Abordamos diferentes nuances do conceito de tradução. Começamos por uma definição mais geral, a de levar um significado para além de uma língua em direção à outra língua e, em seguida, vimos como o conceito se desdobrou em outros, como “revelar, explicar, manifestar, explanar, representar, simbolizar” etc.

• Vimos também que a tradução pode acontecer entre duas línguas ou no interior de uma mesma língua. Em última instância, não há atividade linguística sem tradução.

• Discutimos também as diferentes conotações que a atividade tradutória já ganhou na história, extremamente positiva na antiguidade clássica, por exemplo, símbolo de invenção, criação e engenhosidade e extremamente pejorativa na tradição judaico-cristã, símbolo de discórdia, obscuridade e degeneração da verdade.

• Discutimos que a tarefa do tradutor decorre de um fenômeno primordial: a grande diversidade de línguas existentes. Tal diversidade, por sua vez, advém de razões biogenéticas e biossociais (sexo dos falantes, idade, classe social, região geográfica, registro culto ou informal etc.) e, com tantos fatores condicionando o comportamento das línguas e sua mudança, é natural que quanto mais a população humana aumenta e suas diferenças se agravam, mais as línguas se diferenciam e se multiplicam. Assim, a diversidade das línguas é, por excelência, a razão de ser da tradução.

• Debatemos a tradução vista como um ato de negociação entre textos e entre culturas. Tal negociação acontece em vários níveis e entre vários atores: o autor, seu texto original, as culturas de saída e chegada, os leitores prováveis, as editoras e, naturalmente, o tradutor – o maior dos negociadores.

• Analisamos os argumentos de Eco (2007), segundo o qual a noção de negociação depõe a obsoleta noção de fidelidade. Mencionamos o caso da tradução intersemiótica, em que a negociação se torna crítica, e ainda discutimos um caso intermediário: a tradução entre uma língua fônica e uma língua gestual.

• Comentamos a experiência de tradução para o português de um poema composto em Libras, sugerindo que a tradutora procedeu para uma negociação delicada, respeitando as propriedades poéticas do texto-fonte, que é gestual, e também buscando trazer as idiossincrasias da cultura que o produziu, permeando o texto em português de uma estranheza positiva, fruto de um sincretismo cultural bem-sucedido.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Relacione os itens com as afirmações a seguir:

I- Visão da tradução na antiguidade clássica.II- Visão da tradução na antiga tradição judaico-cristã.III- Tradução como atividade linguística básica.IV- Causa primordial da necessidade da tradução.V- Tradução como negociação entre textos.VI- Tradução como negociação entre culturas.

( ) Um texto não reflete apenas as propriedades estritamente linguísticas de uma língua (léxico e gramática, por exemplo), mas também espelha convenções muito particulares à cultura do seu autor. A tradução envolve equalizar as diferenças entre o mundo do autor e o mundo do leitor.

( ) Em termos estritamente linguísticos (léxico, morfologia, sintaxe etc.), as línguas são invariavelmente distintas. Portanto, na versão de um texto de uma língua para outra, o tradutor tem perdas e ganhos em termos de escolhas vocabulares, construções sintáticas, equivalências morfológicas etc.

( ) As pessoas são naturalmente diversas entre si, e a diversidade se estende à linguagem, fazendo com que, quanto mais as diferenças se agravam, mais as diferenças linguísticas se acentuam.

( ) Estamos operando traduções a todo momento, quando explicamos algo para alguém, quando mudamos de contexto, quando mudamos de veículo de comunicação ou gênero discursivo, quando estamos adquirindo linguagem, quando lidamos com línguas estrangeiras.

( ) A tradução era vista como uma deturpação do sentido original das palavras e como causa primordial da discórdia entre os homens.

( ) A tradução era vista como um processo criativo, assumindo sentidos como os de criar, verter, converter, transverter, imitar, explicar, interpretar, exprimir, render, transferir, transladar, dentre outros.

2 Diante do que foi apresentado no primeiro tópico, como você explicaria a seguinte afirmação: “quanto mais as diferenças entre seres humanos se aprofundam, mais a tradução se faz necessária”?

3 (Adapt. de concurso para tradutor/intérprete de Libras da UFSJ/2016). Existem tentativas de simplificar o conceito do que é uma tradução, como sendo a substituição de material textual em uma língua-fonte (LF) por material textual equivalente em outra língua-meta (LM) ou a transferência do conteúdo de um texto para os meios próprios de outra língua. Apesar de sucintos, ainda existem pontos não explicitados nas definições, pois descrevem um processo somente entre línguas, em que os sujeitos envolvidos e a situação (contexto) nem são mencionados. Com base no enunciado, marque a opção INCORRETA:

AUTOATIVIDADE

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a) ( ) O tradutor ora é encarado como um mero reprodutor de textos, uma espécie de adaptador de voltagem entre línguas, ora alça a posição de autor.

b) ( ) A tradução é o termo geral que define a ação de transformar um texto a partir da língua-fonte, por meio de vocalização, escrita ou sinalização, em outra língua-meta.

c) ( ) É aceitável que a tradução procure uma correspondência de aspectos linguísticos, porém seus objetivos de interação podem ser perdidos em uma busca obsessiva de equivalência entre as línguas.

d) ( ) A tradução é uma atividade que abrange a interpretação do significado de um texto em uma língua – o texto-fonte – e a produção de um novo texto em outra língua, sendo que tal texto resultante também é chamado de tradução.

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TÓPICO 2

TIPOS DE TRADUÇÃO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

No primeiro tópico, você deve recordar que já abordamos alguns tipos de tradução. Falamos em traduções que acontecem dentro da própria língua (intralingual), traduções que acontecem entre línguas diferentes (interlingual) e também comentamos, quando falávamos sobre a negociação entre textos, traduções entre veículos ou gêneros diferentes, ou entre sistemas semióticos diferentes (intersemiótica).

A divisão corresponde à clássica tipologia proposta por Jakobson (1969) em seu ensaio “Aspectos linguísticos da tradução”. No presente tópico, portanto, vamos aprofundar a tipologia.

2 TRADUÇÃO INTRALINGUAL

Jakobson (1969) abre seu ensaio relativizando um preceito da filosofia da linguagem proposto por Russell, o qual, levado às últimas consequências, impossibilitaria a tradução. Russell (1950 apud JAKOBSON, 1969) sugere que ninguém poderá compreender a palavra “queijo”, por exemplo, se não tiver um conhecimento não linguístico do queijo.

Entretanto, argumenta que, se seguirmos o preceito russelliano, seremos então obrigados a dizer que ninguém poderá compreender a palavra queijo se não conhecer o significado atribuído à palavra no código lexical do português. Na verdade, porém, qualquer representante de uma cultura culinária que desconheça o queijo compreenderá tranquilamente a palavra portuguesa se souber que, na língua, ela significa “alimento obtido pela coagulação do leite” e se tiver, ao menos, um conhecimento linguístico de leite coalhado.

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Jakobson (1969) faz a digressão para defender que o significado de um signo linguístico não é mais que sua tradução por um outro signo correspondente, especialmente um signo no qual ele se ache desenvolvido de modo mais completo, como afirmou Peirce (1946 apud JAKOBSON, 1969). Feita a defesa, o autor distingue as três maneiras de interpretar um signo verbal que já conhecemos. Ele pode ser traduzido em outros signos da mesma língua, em outra língua, ou em outro sistema de símbolos não-verbais. O linguista assim define em seus termos os três tipos em questão:

• A tradução intralingual ou reformulação (rewording) consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.

• A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua.

• A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais.

A tradução intralingual envolve os fenômenos da sinonímia e da paráfrase. Segundo Jakobson (1969, p. 65), “a tradução intralingual de uma palavra utiliza outra palavra, mais ou menos sinônima, ou recorre ao circunlóquio. Entretanto, via de regra, quem diz sinonímia não diz equivalência completa”.

A impossibilidade da sinonímia perfeita apresentada pelo autor é uma marca da abordagem que representa: o funcionalismo. Na perspectiva funcionalista, cada palavra guarda, em alguma medida, um significado único. Assim, uma palavra como “calor”, embora possa ser tomada como sinônimo relativo de “quentura”, tem nuances semânticas particulares.

Contudo, é inegável que estamos a todo momento fazendo operações de sinonímia e paráfrase quando usamos a língua, ora com finalidades pontuais e espontâneas, ora de modo metódico. Pense, por exemplo, quando você fala sobre algo complicado para alguém e a pessoa não entende. O que você faz? Provavelmente vai explicar de outra forma para ela, com outras palavras, certo? É um procedimento de tradução intralingual.

Frequentemente, fazemos tal tipo de operação para nós mesmos, quando queremos clarear o nosso pensamento. Rónai (1976, p. 1) faz o seguinte comentário:

[...] ao vazarmos em palavras um conteúdo que em nosso pensamento existia apenas em estado de nebulosa, fenômeno constante em todos os momentos conscientes da vida, estamos também traduzindo, mas praticamos a tradução intralingual, operação esta que tem as próprias dificuldades e cujo resultado muitas vezes nos deixa insatisfeitos.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Muitas vezes, quando lemos textos antigos escritos na nossa própria língua, temos de fazer um certo esforço para entendermos algumas palavras, construções, elocuções específicas. O tipo de esforço também pode ser visto como uma tradução intralingual.

Steiner (2005, p. 54) a chama de tradução diacrônica no interior da própria língua que, para ele, é um fenômeno “tão constante, que nós o realizamos tão inconscientemente, que raramente paramos para observar seja sua complexidade formal, seja o papel decisivo que exerce na própria existência da civilização”.

O que acontece naturalmente na leitura ou no pensamento pode, muitas vezes, se tornar um projeto editorial. É o que ocorre, por exemplo, quando algumas editoras resolvem retextualizar alguns clássicos literários para leitores modernos, ou popularizar alguns ícones da ciência e da filosofia.

Temos muitas edições que apresentam “Hamlet, de Shakespeare, para crianças”, “A eletrodinâmica dos corpos em movimento, de Einstein, para os leigos”, “O discurso do método, de Descartes, para não iniciados”. Tal tipo de tradução intralingual recebe o nome de “adaptação”.

O maior épico da literatura portuguesa, por exemplo, “Os Lusíadas”, de Camões, já foi adaptado muitas vezes. No Brasil, uma das mais conhecidas é a adaptação na forma de um romance em prosa feita por Rubem Braga. Compare, a seguir, os textos de Camões e Braga, correspondentes à parte da narrativa em que Baco, por inveja, tenta impedir o sucesso dos navegantes portugueses:

Versos das estrofes 30 e 32 do Canto I dos Lusíadas:

O padre Baco ali não consentiaNo que Júpiter disse, conhecendoQue esquecerão seus feitos no Oriente,Se lá passar a Lusitana gente.[...]Teme agora que seja sepultadoSeu tão célebre nome em negro vasoD'água do esquecimento, se lá chegamOs fortes Portugueses, que navegam.

Tradução intralingual de Rubem Braga (1997, p. 13):

Ele [Baco] não se conformava: – Por que eu, filho de Júpiter, tenho de deixar que outros usurpem minha fama? Que um povinho arrogante tome o lugar conquistado por mim, por Alexandre da Macedônia e pelos romanos? Não, não permitirei que isso aconteça. Essa frota jamais chegará ao Oriente.

No primeiro tópico, mencionamos que as línguas são diversas por conta de vários fatores. Um deles, ao menos, as diferenças decorrentes das idades dos falantes, já apareceu no segundo tópico indiretamente, quando falamos em tradução intralingual diacrônica.

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Os outros fatores de variação, contudo, também induzem operações de tradução interna para uma língua: classes sociais, comunidades de fala, região, sexo, dentre outros. Steiner (2005, p. 70-71) faz a seguinte reflexão:

Não há duas épocas históricas, duas classes sociais, duas localidades que usem as palavras e a sintaxe para expressar as mesmas coisas [...]. Nem dois seres humanos. Cada uma das pessoas se serve, deliberadamente ou por costume espontâneo, de duas fontes de suprimento linguístico: a língua corrente que corresponde ao seu grau de letramento e um tesouro privado [...]. A língua de uma comunidade, por mais uniformes que sejam seus contornos sociais, é um agregado inesgotavelmente múltiplo de átomos de fala, de significados pessoais em último caso irredutíveis.

Guerini e Costa (2006, p. 9), por sua vez, corroboram a posição de Steiner ao afirmar que:

As diferentes camadas das sociedades humanas também costumam usar um idioma diferente, embora a diferença varie bastante de sociedade para sociedade. Exemplos não faltam: há comunidades que usam uma língua para a religião, outra para o governo, outra para literatura, outra para a comunicação do cotidiano [...]. Junto com uma língua comum para uma dada comunidade, teríamos, portanto, inevitavelmente, um grande leque de variantes segundo a época histórica, a localização geográfica, a classe social, a faixa etária, até chegar ao próprio indivíduo.

Normalmente, crescemos com a ilusão de que, no ambiente lusófono, por exemplo, todos falam a mesma língua, embora sintamos um estranhamento quando temos que traduzir certos enunciados do nosso idioleto para a língua de outras pessoas com quem convivemos.

A causa de tal estranhamento fica, portanto, bem esclarecida diante das reflexões que vimos aqui: em um país em que supostamente todos falam a mesma língua, a verdade é que há muitas línguas coexistindo. Elas são chamadas erroneamente de sotaques, mas deveríamos nos referir a elas como dialetos ou mesmo línguas, motivo pelo qual faz todo o sentido falarmos em tradução. Pereira (2008) refere-se ao processo como tradução sociolinguística.

IMPORTANTE

Para ilustrar como a tradução passa a ser mais necessária na medida em que as variedades linguísticas de uma mesma língua se emancipam em direção a novas línguas, traremos aqui um caso ilustrativo para a língua portuguesa: as chamadas versões (ou cópias) do Testamento de Afonso II.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Notamos, de forma geral, dois movimentos aparentemente antagônicos produzidos pelos processos tradutórios: um centrífugo, que motiva a estratificação de uma língua, produzindo variedades linguísticas; e outro centrípeto, que condiciona a normatização e estabilização de uma língua.

IMPORTANTE

2.1 O PAPEL DA TRADUÇÃO INTRALINGUAL PARA A HISTÓRIA DA LÍNGUA

Na história das línguas, podemos encontrar diferentes casos de traduções que exerceram um papel crucial na consolidação política, identitária e cultural das línguas. Podemos citar, por exemplo, a tradução do grego para o latim da Odisseia de Homero feita por Lívio Andrônico, em 240 a.C., que inaugurou a literatura latina e serviu de modelo de língua para muitos poetas latinos e falantes de latim que vieram depois; a tradução do Antigo Testamento do hebraico para o latim feita por São Jerônimo, em cerca de 400 d.C., que serviria de modelo para o latim eclesiástico praticado dali em diante; e, principalmente, a tradução da Bíblia feita por Martinho Lutero, em 1534, que notoriamente contribuiu para estabelecer o alemão moderno.

Também, devemos considerar o papel político desempenhado pelas traduções no período de colonização, fato que produziu efeitos sobre os modos de circulação, normatização e consolidação das línguas e das culturas nos diferentes espaços geopolíticos colonizados.

Exemplificando, na história da língua portuguesa, um caso de movimento centrífugo diz respeito ao Testamento de Afonso II, de 1214, um documento de grande valor, considerado o primeiro documento real escrito em português. Do documento, restaram duas das 13 cópias feitas e distribuídas por diferentes entidades. Cada uma das 13 cópias originais era destinada para uma região específica do reino.

As duas cópias que restaram, em muitos momentos, parecem estar escritas em línguas diferentes, embora tratem de uma estratificação da língua portuguesa em variedades diferentes. Como veremos adiante, as cópias consistiram em translações conscientes de textos, visando a línguas-alvo específicas.

Já o movimento centrípeto pode ser exemplificado com os casos mencionados anteriormente, de tradução da Odisseia de Homero por Lívio Andrônico, do Antigo Testamento por São Jerônimo e da Bíblia por Lutero.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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Conforme argumentamos em Severo e Queriquelli (2012, p. 214-215),

Tanto naqueles casos em que traduções constituem marcos na promoção da diversidade linguística, quanto nos casos em que a tradução motiva a normatização de línguas, temos a figura do tradutor e o papel da tradução como implicados em processos de estabilização, variação e mudança das línguas.

O Testamento de Afonso II, datado de 27 de junho de 1214, é o primeiro documento real conhecido escrito em língua portuguesa. Conforme Costa (1979), seu autor, D. Afonso II, quando escreveu, tinha apenas 28 anos de idade e pouco mais de três anos de reinado. Ele era, porém, uma pessoa muito doente e decidiu fazer o testamento para garantir a paz e a tranquilidade da família e do reino, no caso de morrer prematuramente.

Afonso II tomou providências para garantir a sucessão pela via masculina ou, na falta desta, pela filha mais velha. Ainda, no caso de uma possível menoridade do herdeiro, ele confiou ao Papa a proteção de seus irmãos e do reino. Segundo Costa (1979, p. 308):

Na disposição dos bens, além da rainha, dos filhos e filhas, contempla o Papa, as dioceses galegas de Santiago de Compostela e de Tui, alguns mosteiros e Ordens militares. Das dioceses portuguesas contemplou apenas a de Idanha, bispos de Coimbra, Évora, Lamego, Lisboa, Porto e Viseu, além de outras pessoas, de executarem as suas disposições testamentárias.

As 13 cópias do testamento destinavam-se, portanto, aos herdeiros das diferentes regiões do reino. As duas cópias remanescentes eram destinadas ao arcebispo de Braga e ao arcebispo de Toledo. Afonso II fez ainda outros dois testamentos, ambos redigidos em latim, um datado de 1218, e o outro, de 1221.

As duas cópias escritas no vernáculo apresentam diferenças consideráveis:

• Ambas foram escritas por mãos diferentes, como se pode observar pelo tipo e corpo de letra que em cada uma delas aparece (não estão identificados os copistas).

• A cópia de Braga (doravante B) tem 27 linhas, e a de Toledo (doravante T), 37 linhas.

• Alguns sons são representados com grafias diferentes em uma e outra.

• Também divergem certas formas linguísticas (ordem de palavras, sinônimos etc.).

Costa (1979, p. 311) defende que as cópias foram feitas a partir de um ditado simultâneo: “as variantes entre os exemplares [...] levam a supor que o original do testamento foi ditado para serem simultaneamente escritos vários exemplares por diferentes notários”.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Castro (1991) não descarta a hipótese de Costa (1979), mas, considerando uma série de diferenças radicais entre os dois textos, defende que derivam de uma tradução a partir de um original em latim ou a partir de um original escrito no vernáculo então falado na capital do Reino (Coimbra). Algumas das diferenças destacadas por Castro (1991, p. 194-196) são as seguintes:

a) Variação na ordem das palavras:(linha 2) B meu reino e me(us) uassalosT meus uassalos e meu reino(linha 9) B todas mias devidasT mias deuidas todas(linha 21) B out(ras) cousasT cousas outras;

b) Variação entre vocábulos e sua ausência:(linha 6 ) B do arcebispo de SantiagoT do de Santiago(linha 8) B se a raina morrerT se a reina dona Vrr(aca) morrer(linha 8) B Da out(ra) meiadadeT Da outra mia meiadade(linha 8) B fazã desta guisaT facan ende desta guisa(linha 12) B no diaT en dia(linha 12) B ssi eu enT se en(linha 13) B en’os out(ro)s logaresT en outros logares(linha 18) B q(ue) os de ... aq(ue)stesT q(ue) os de ... a aq(ue)stes(linha 18) B todos nõ poderemT nõ pode(er)en(linha 24) L mãdo aq(ue)lesB mãdo a aq(ue)les(linha 25) B come outraT como a outra(linha 26) B facer guardaT faco eu aguardar;

c) Variação entre vocábulos:(linha 7) B como uirẽ por derectoT como uiren por guisado(linha 8) B aq(ue)stasT estas(linha 16) B e ditoT e nomeado(linha 17) B se alguus de me(us) flios ouuerẽT se alguno de meus flios ouuer(linha 20) B no meu logarT no meu logo(linha 26) B noueaT nona

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Em relação às preferências pessoais de um e outro copista, certas variações de formas linguísticas atestam a existência de dialetos significativamente diferentes, tão diferentes entre si quanto o galego, o português, o espanhol e o catalão. É interessante observar que Braga se encontra no extremo norte do território português, na divisa com a Galícia, próxima de Guimarães e ao Porto, e Toledo fica no centro do território, entre Coimbra e Lisboa.

Pouco tempo antes do momento em que é escrito o Testamento, a capital tinha sido transferida de Guimarães para Coimbra. Significou a independência política de Portugal e também a independência linguística em relação ao galego-português. Podemos inferir que a cópia destinada para Braga é escrita em um dialeto mais próximo do galego-português do que a cópia destinada para Toledo, fato que ilustra a promoção da estratificação linguística de uma língua, com variedades e variantes linguísticas emergindo no processo tradutório.

De um modo geral, a língua da cópia destinada para Toledo é muito mais próxima do atual português brasileiro do que a língua da cópia destinada para Braga, seja em aspectos fonético-fonológicos, morfológicos, sintáticos, lexicais e semânticos, seja em aspectos discursivos.

Análises aprofundadas das diferenças podem ser encontradas não apenas em Avelino de Jesus da Costa (1979) e Ivo Castro (1991), mas também em Edwin Willians ([1938] 1975), Joseph Huber ([1933] 1986), Ana Maria Martins (1985), Anthony Naro ([1971]1973) e Joseph Maria Piel (1942).

A partir das análises, o que podemos afirmar é que, em relação às cópias feitas a partir de um ditado, a partir de um original latino, ou partir de um esboço escrito em um dialeto vernáculo (provavelmente de Coimbra), estamos diante de um caso de tradução deliberada pelo copista-tradutor. Cada um dos copistas-tradutores evidentemente sabia que o público-alvo da sua cópia falava uma língua distinta e respeitou as particularidades dessa língua.

3 TRADUÇÃO INTERLINGUAL

Como já definimos brevemente, a tradução interlingual envolve dois códigos: a língua de partida e a língua de chegada, também chamadas de língua-fonte e língua-alvo. Trata-se do conceito mais comum de tradução que o senso comum manipula no cotidiano.

Ao conceituar tal tipo de operação, Jakobson (1969, p. 64) observa que “no nível da tradução interlingual, não há comumente equivalência completa entre as unidades de código”. Ao traduzir de uma língua para outra, o foco da atividade recai sobre a mensagem e não sobre suas partes constituintes. Nas palavras do autor:

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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[...] ao traduzir de uma língua para outra, substituem-se mensagens em uma das línguas, não por unidades de códigos separadas, mas por mensagens inteiras de outra língua. Tal tradução é uma forma de discurso indireto: o tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida de outra fonte. Assim, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos diferentes (JAKOBSON, 1969, p. 64).

Já ressaltamos a importância da tradução em muitos âmbitos da experiência humana, no entanto, não é exagero acrescentar que a difusão do conhecimento e das instituições em geral não teria atingido níveis globais de expansão sem o recurso à tradução.

Guerini e Costa (2006, p. 11) aludem ao fato quando consideram que “com frequência, não avaliamos bem sua importância. Na prática, [porém], a própria existência da civilização humana em escala mundial depende muito da tradução contínua dos diferentes tipos de texto [técnicos, literários, esportivos, religiosos, políticos]”. Trazendo a discussão para questões mais contemporâneas, os autores ainda apresentam um dado surpreendente:

No Brasil, por exemplo, calcula-se que a tradução interlingual representa cerca de 60 a 80% dos textos publicados e que 75% do saber científico e tecnológico provém das traduções, alimentando vários setores da vida nacional. Sem a tradução, muitos setores simplesmente não funcionariam, por exemplo, o de softwares, medicamentos, automobilístico etc (GUERINI; COSTA, 2006, p. 11).

No Tópico 1 da unidade, discutimos a importância dada à atividade na antiguidade clássica, especialmente entre os romanos. Os escritores Cícero (106 a.C - 43 a.C) e Horácio (65 a.C - 8 a.C) foram os primeiros a discutir a distinção entre “tradução literal” e “tradução do sentido”. Considerando que, como já discutimos, a tradução para aquela cultura era entendida como recriação, ambos advogavam em favor da tradução do sentido, em detrimento de verter palavra por palavra. Bassnett (2003, p. 81) relembra que

As posições de Cícero e Horácio sobre tradução tiveram grande influência em gerações sucessivas de tradutores e ambos entendem a tradução dentro do contexto alargado das duas funções principais do poeta: o dever humano universal de adquirir e disseminar a sabedoria, e a arte especial de fazer e dar forma ao poema.

Podemos pontuar pelo menos dois grandes momentos da tradução interlingual na história: aquele que nasce entre os romanos e é retomado mais tarde pelo moderno, que imprime uma abordagem científica sobre a tradução com vista aos textos literários, passando a admitir uma rica diversidade na translação entre línguas; e aquele que se instala nos tempos medievais, quando as intermináveis disputas sobre a tradução de textos religiosos focavam a preservação da palavra original.

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3.1 A TRADUÇÃO INTERLINGUAL RELIGIOSA E O FOCO NO TEXTO DE PARTIDA

Como avaliam Guerini e Costa (2006, p. 12):

Se a ênfase de Cícero e Horácio era no texto de chegada para o enriquecimento da língua e da literatura latina, com a tradução da Bíblia, por exemplo, temos uma mudança de foco e a preocupação era com o texto de partida, pois o objetivo era o de “espalhar a palavra de Deus” e estar o mais próximo possível da palavra divina.

Procurando semear suas doutrinas sem perverter os sentidos originais, as religiões sempre tiveram a tradução como atividade essencial para a sua disseminação entre os povos. As principais religiões do mundo, dentre elas o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo e a religião tradicional chinesa, em certa medida, podem creditar o seu sucesso às contínuas traduções de seus textos doutrinários.

A saga da história tradutória da Bíblia, por exemplo, começa no século 3 a.C., quando o Antigo Testamento foi vertido do hebraico para o grego, em um projeto coletivo que envolveu mais de 70 tradutores de 12 tribos judaicas. A edição ficou conhecida como Septuaginta (ou versão dos setenta).

Mais tarde, a Septuaginta seria transvertida para o copta (língua dos cristãos egípcios), o etíope e o gótico. Todas as traduções foram marcadas por uma preocupação explícita de manter a essência do texto original judaico a despeito das demais línguas destinadas e suas respectivas culturas (uma evidente falta de equilíbrio na negociação). No entanto, na translação ao latim, a postura começa a mudar.

Em latim, a Bíblia passou por pelo menos duas traduções. A primeira delas foi feita de forma fragmentária e coletiva, e reflete variedades do latim vernacular. Trata-se da Vetus Latina, também conhecida como a Bíblia dos Pais da Igreja, versão que se associa à doutrina patrística. A segunda delas, a mais famosa de todas, é atribuída ao São Jerônimo e ficou conhecida como Vulgata, acabada por volta de 1400 d.C.

A Vulgata viria a ser, a partir de então, o texto basilar para todas as demais traduções que se fariam posteriormente. E não foram poucas: “se em 1450 existiam já 33 diferentes traduções, e em 1800 o número tinha saltado para 71, no final do século XX havia edições integrais em mais de 250 línguas e edições parciais em cerca de 1.300 outras línguas” (GUERINI; COSTA, 2006, p. 13).

A disputa sobre a melhor forma de traduzir a palavra sagrada naturalmente avivou a controvérsia entre tradução literal e tradução livre.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Enquanto que, historicamente, defendia-se que a Bíblia deveria ficar sempre próxima das raízes hebraicas (porque seriam contíguas à palavra de Deus), São Jerônimo, especialmente na tradução do Novo Testamento, afirmou ter preferido o sentido à palavra. Significou uma guinada em direção a uma maior atenção ao texto de chegada, algo que vinha sendo preterido na história das traduções do cristianismo.

IMPORTANTE

Guerini e Costa (2006) também salientam que, na Umbanda, São Jerônimo é o sincretismo de Xangô, deus associado às leis e à sabedoria, o que sugere uma interpretação da tradução como instrumento de acesso ao saber.

São Jerônimo foi um dos primeiros a se preocupar com os surdos ao afirmar, em um comentário na Epístola de Paulo aos Gálatas (I, 3), que “os surdos podem aprender o Evangelho através dos sinais”. É o primeiro documento que cita os sinais como meio para a instrução dos surdos.

NOTA

Ao lado da Vulgata, a versão de Lutero (publicada em 1534) é outra tradução bíblica que abalou os paradigmas medievais e merece uma consideração especial. Entretanto, não ignoramos que, não apenas o texto de Lutero, mas toda tradução da Bíblia para outras línguas teve um valor político e cultural singular, especialmente no Ocidente:

O Ocidente dedicou muita atenção às traduções, pois o seu texto central, a Bíblia, foi escrito em uma língua que não podia ser compreendida prontamente e, por isso, [os estados teocráticos] foram obrigados a confiar nos tradutores para legitimar seu poder (LEFEVERE, 2003, p. 3).

Seriam dignas de atenção, por exemplo, a tradução para francês, publicada em 1528 por Jacques Lefevre d’Étaples (ou Faber Stapulensis); a tradução para o espanhol, publicada na Basileia em 1569 por Casiodoro de Reina (Biblia del Oso); a tradução para o tcheco, publicada em Kralice entre 1579-1593; a tradução para o inglês, conhecida como Bíblia do Rei James, publicada em 1611; e a tradução para o holandês, conhecida como The States Bible, publicada em 1637.

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Todas as traduções, guardadas as devidas proporções, causaram muito impacto cultural e linguístico em seus países. Entretanto, a tradução de Lutero para o alemão merece algum destaque particular, principalmente pelas declarações e explicações que ele deixou a respeito das suas escolhas.

Em uma das anotações feitas por seus alunos e colaboradores durante encontros informais (as chamadas “Conversas à mesa”), Martinho Lutero (1532 apud FURLAN, 2004, p. 13) afirma que “a verdadeira tradução é a adaptação do que foi dito em uma língua estrangeira à própria língua”. Ocorre que a “própria língua” de Lutero não estava bem consolidada quando ele se propôs a traduzir a Bíblia. Naquela época, o que hoje conhecemos como alto-alemão era um conjunto de dialetos distintos, nem sempre compreensíveis entre si.

Ciente da importância política e religiosa de unificar a língua, Lutero se comprometeu a compor um alemão standart a partir daqueles dialetos existentes, a fim de que o povo pudesse se identificar com aquela língua e, por tabela, com aquela Bíblia. Assim, na sua “Carta Aberta sobre a Tradução”, publicada em 1530, ao criticar traduções anteriores, decalcadas do latim, Lutero afirma:

Assim, quando Cristo fala: Ex abundantia cordis os loquitur. Se eu fosse seguir esses asnos, eles me apresentariam a letra e traduziriam assim: Aus dem Überfuss des Herzens redet der Mund [Da abundância do coração fala a boca]. Diga-me: isso é falar alemão? Que alemão entenderia uma coisa dessas? Que coisa é abundância do coração? Nenhum alemão poderia dizer isso, a não ser que quisesse dizer que alguém tem um coração demasiado grande ou tem coração demais; embora isto também não seja correto. Pois, abundância do coração não é alemão, assim como não é alemão abundância da casa, abundância da estufa, abundância do banco, porém assim fala a mãe em casa e o homem comum: We das Herz voll ist, des gehet der Mund über [A boca fala daquilo de que o coração está cheio]. Isto é falar um bom alemão, pelo que eu me esforcei, e infelizmente nem sempre consegui ou o encontrei. Pois as letras latinas dificultam muito a formulação para se falar em bom alemão (LUTERO, [1530] 2006, p. 105).

As declarações e explicações de Lutero sobre as suas opções tradutórias são repletas de comentários do tipo, marcados por um humor ácido. Interessa ressaltar que, do projeto de tradução de Lutero, sobressai uma evidente insinuação: de modo semelhante a Jerônimo, Lutero indica uma mudança de foco, que se desloca do texto de partida para o texto de chegada. A alternância de foco promovida pelos dois tradutores ventilou as concepções sobre tradução no Ocidente e gerou efeitos principalmente no âmbito da tradução literária, como veremos a seguir.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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3.2 A TRADUÇÃO INTERLINGUAL LITERÁRIA E O FOCO NO TEXTO DE CHEGADA

Até o século XIX, a literatura monopolizou um espaço na sociedade que acumulava as funções de árbitro de costumes, veículo do conhecimento e meio de entretenimento. Assim, a tradução literária foi até então um tópico de amplo debate teórico e, consequentemente, um campo de muita experimentação. Todo o movimento de inflexão, crítica, experimentação e reflexão sobre a tradução, iniciado no embalo das revoluções modernas, deixou um vasto legado, o qual pretendemos explorar aqui.

Entre os tradutólogos mais relevantes do período, podemos destacar Etienne Dolet, John Dryden e Friedrich Schleiermacher. Todos teorizaram a tradução interlingual, mostrando problemas em seus dois polos: o foco no texto de partida e no texto de chegada. Vejamos algumas de suas proposições.

Em seu clássico ensaio “A maneira de bem traduzir de uma língua para outra”, Dolet menciona os seguintes princípios:

1. o tradutor deve entender perfeitamente o sentido e a matéria do autor a ser traduzido;

2. o tradutor deve conhecer perfeitamente a língua do autor que ele traduz; e que ele seja igualmente excelente na língua na qual se propõe traduzir;

3. o tradutor não deve traduzir palavra por palavra;4. o tradutor deve usar palavras de uso corrente; 5. o tradutor deve observar a harmonia do discurso (DOLET, 2004

[1540], p. 15-19 apud GUERINI; COSTA, 2006, p. 14).

Bassnett (2003, p. 98) entende que, embora os princípios de Dolet acentuem a importância da compreensão do texto de partida, sobressai a preocupação com “a percepção do lugar que a tradução pretende ocupar no sistema da língua de chegada”. Cabe observar que ele é, de certo modo, pioneiro por prenunciar certos entendimentos acerca da tradução interlingual que seus sucessores viriam a reforçar séculos mais tarde, sob influência das ideias renascentistas.

Um dos sucessores é o inglês John Dryden, que traduziu o poeta latino Ovídio e, no ensaio de introdução à publicação da sua tradução, teorizou sobre a tradução e diferenciou três tipos: a metáfrase (palavra por palavra), a imitação (recriação) e a paráfrase (tradução do sentido), defendendo abertamente o último método.

Para Dryden (1680 apud GUERINI; COSTA, 2006), a tradução do sentido (paráfrase), que enfatiza o texto de chegada, é o método mais sensato, por permitir extrair do original minúcias do estilo e da forma, e reelaborá-las na tradução.

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Outro sucessor de Dolet no debate sobre a tradução é o alemão Friedrich Schleiermacher, que, em seu clássico “Sobre os diferentes métodos de tradução”, de 1813, propõe uma tipologia enxuta, reduzindo a questão da tradução para duas possibilidades: ou o tradutor deixa o autor em paz e leva o leitor até ele; ou o tradutor deixa o leitor em paz e leva o autor até ele.

Ainda que a visão de Schleiermacher possa parecer simplista em primeira vista, sua classificação foi uma das mais prósperas no debate, tendo sido retomada mais tarde, no século XX, por teóricos como Walter Benjamin e Lawrence Venuti. Este último reformulou a divisão schleiermacheriana na dicotomia “tradução estrangeirizadora versus tradução domesticadora” (VENUTI, 1992). Ainda, outro tradutólogo contemporâneo que também se vale da dicotomia é Rónai (1976), em termos de “tradução naturalizadora” e “tradução identificadora”.

Assim, temos a seguinte diversidade terminológica para se referir à posição de uma tradução em relação aos textos de partida e de chegada:

QUADRO 1 – TERMINOLOGIAS TRADUTÓRIAS

Teórico Foco no texto de partida Foco no texto de chegadaSchleiermacher Trad. que leva o leitor ao autor Trad. que leva o autor ao leitorVenuti Tradução estrangeirizadora Tradução domesticadoraRónai Tradução identificadora Tradução naturalizadora

FONTE: O autor (2018)

Como você pode perceber, ao longo da história, a maior parte das abordagens sobre a tradução acabou, de uma forma ou de outra, tangenciando a questão do foco sobre o texto-fonte ou o texto-alvo. Se o escopo do trabalho não fosse reduzido, poderíamos ainda aprofundar aqui outras tipologias, como a “criação paralela” de Haroldo de Campos, ou a “tradução totalizadora” de August Willemsen. Acreditamos, porém, que a dicotomia em questão é uma maneira útil e simplificada de compreender os problemas que incidem sobre a tradução interlingual.

De todo modo, a fim de que você possa aprofundar o tema e aceder a nuances mais sutis que subjazem à polarização, oferecemos a seguinte leitura complementar.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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LEITURA COMPLEMENTAR

AS TEORIAS DA TRADUÇÃO SEGUNDO STEINER, BORGES E LEOPARDI

Andrea Guerini e Walter Costa

Diante da variedade de teorizações, vamos agora ver como o professor, crítico e teórico George Steiner agrupa as teorias da tradução. Para ele, a produção teórica ocidental sobre o assunto pode ser dividida em quatro grandes períodos:

1 o primeiro caracteriza-se como o mais empírico e abarcaria de 46 a. C. a 1804, de Cicero a Hölderlin. Entre as duas datas, figuram São Jerônimo, Leonardo Bruni, Montaigne, Dryden, dentre outros;

2 o segundo período, de teoria e investigação hermenêutica, dá ao problema da tradução um caráter mais filosófico, iniciando-se com os escritos de Tytler e Schleiermacher passando por Schlegel e Humboldt. Já os textos de Goethe, Schopenhauer, Paul Valéry, Pound, Croce, Benjamin e Ortega y Gasset refletem as descrições da atividade do tradutor e das relações entre as línguas. A época comporta uma historiografia da tradução e se estende até Valery Larbaud (1946);

3 o terceiro momento é o da corrente moderna. No final da década de 40 aparecem artigos sobre tradução automática. Os pesquisadores russos e tchecos aplicam a teoria linguística e os métodos estatísticos à tradução;

4 no quarto momento, por volta da década de 60, há o redescobrimento de “A tarefa do tradutor”, texto de Walter Benjamin, publicado em 1923, que dará nova vida aos estudos hermenêuticos, quase filosóficos, sobre a tradução e a interpretação. Decai a confiança que inspirava a tradução automática. Na época, o estudo da teoria e da prática da tradução torna-se interdisciplinar, com contribuições, dentre outros, da psicologia, antropologia, sociologia e etnografia. Assim, a filologia clássica, a literatura comparada, a estatística lexical e etnográfica, a sociolinguística, a retórica formal, a poética e o estudo da gramática confluem no propósito de esclarecer o ato de tradução e os mecanismos da vida entre as línguas (2005, p. 259-262).

Como podemos perceber, muito tem se falado sobre a tradução entre línguas diferentes, além da teoria sobre o assunto debate:

1 tradução literal; 2 tradução intermediária, que se dá com a ajuda de um enunciado que procura

ser fiel e, no entanto, autônomo; 3 imitação, recriação, variação ou interpretação paralela.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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Steiner vai observar, por exemplo, que embora a história da tradução seja muito rica, o número de ideias originais e significativas sobre o assunto permanece limitado, porque as reflexões sempre tendem a falar ou da tradução literal, ou da tradução livre.

Entretanto, há autores como Jorge Luis Borges, por exemplo, que vão além desse tipo de classificação e que dão uma nova dimensão à tradução, valorizando-a por contribuir para a discussão estética. Na concepção borgiana, as traduções são vistas não apenas como derivadas de um original necessariamente superior, mas como atualizações do original que podem, eventualmente, ser tão ou mais significativas do que este.

Assim, um conjunto de traduções realizadas para diferentes línguas pertencentes a sistemas literários sofisticados pode representar para seu leitor mais riqueza estética do que para o leitor monolíngue do original. Borges ilustra o aparente paradoxo de as traduções oferecerem mais prazer estético que o original, dizendo que pelo fato de não conhecer grego, pôde ler a Odisseia em várias traduções para diferentes línguas.

Para Borges, que era um grande conhecedor de línguas estrangeiras, a sua leitura de um conjunto de Odisseias em inglês, francês, alemão, representando diferentes estilos e épocas, constituiu uma experiência literária mais rica do que sua leitura de Dom Quixote, feita apenas em espanhol. A tradução interlingual também serve como exercício de escrita e como meio de desenvolver e/ou aprimorar o próprio estilo.

Aliás, muitos escritores, por exemplo, o italiano Giacomo Leopardi (1798-1837), defendem a prática da tradução para o escritor iniciante. É traduzindo que se aprende a compor com estilo. Convém frisar que quando Leopardi fala que é traduzindo que se aprende a escrever, ele se refere à tradução de excelentes autores clássicos gregos e latinos, como Homero, Virgílio e Horácio. Entretanto, no caso de ser escritor e escrever bem, a probabilidade de uma boa tradução é bastante alta, pois a tradução de qualidade é obra do escritor maduro.

Assim, em uma de suas primeiras observações sobre tradução, que é encontrada em uma carta de 29 de dezembro de 1817 endereçada ao amigo e escritor Pietro Giordani, ele diz: [...] dou-me conta de que traduzir, assim por exercício, deve realmente preceder a atividade de compor, sendo útil e necessário para os que querem tornar-se escritores insignes; mas para tornar-se um grande tradutor convém antes haver composto e ter sido bom escritor: enfim, uma tradução perfeita é obra mais da maturidade que da juventude (1996, p. 730).

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Leopardi coloca a prática da tradução como requisito para se tornar um bom escritor porque, para o escritor italiano, a tradução possibilita o mais íntimo e profundo contato com determinados textos literários, com suas formas, mas também com o conteúdo das obras dos escritores que estão sendo traduzidos.

Com as ideias trazidas, Leopardi lança as bases da relevância do traduzir, estabelecendo a relação tradutor-escritor e escritor-tradutor, afirmando que somente um bom escritor pode ser um bom tradutor. Claro que a ideia pode ser contestada e há muitos autores que defenderam uma ou outra posição, embora a balança pareça pender mais para o lado de Leopardi.

FONTE: GUERINI, Andréia; COSTA, Walter. Introdução aos estudos de tradução. Florianópolis: CCE/UFSC, 2006. p. 16-18.

4 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

Conforme já indicamos no início do tópico, Jakobson (1969) entende a tradução intersemiótica como a transmutação de uma obra de um sistema de signos a outro. Rónai (1976, p. 2), por sua vez, oferece um conceito mais amplo, afirmando que a tradução intersemiótica é

[...] aquela a que nos entregamos ao procurarmos interpretar o significado de uma expressão fisionômica, um gesto, um ato simbólico mesmo desacompanhado de palavras. É em virtude da tradução que uma pessoa se ofende quando outra não lhe aperta a mão estendida ou se sente à vontade quando lhe indicam uma cadeira ou lhe oferecem um cafezinho.

Frequentemente, uma tradução intersemiótica ocorre entre um sistema verbal e um não verbal. Exemplos clássicos do tipo de percurso são:

• a passagem da ficção literária ao cinema, ao vídeo e aos quadrinhos; • ilustração de livros; • passagem do texto à publicidade.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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FIGURA 3 – A DIVINA COMÉDIA DE DANTE EM QUADRINHOS: EXEMPLO DE TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

FONTE: Casa Guilherme de Almeida sedia lançamento de “Odisseia em Quadrinhos” Disponível em: <http://www.casaguilhermedealmeida.org.br/noticias/ver-noticia.php?id=24>. Acesso em : 07 jun 2018.

Todavia, a tradução intersemiótica também pode acontecer entre dois sistemas não verbais. Como exemplo, temos translações entre:

• música e dança;• música e pintura;• etc.

FIGURA 4 – A MÚSICA DE ERNESTO LECUONA TRADUZIDA EM DANÇA PELO GRUPO CORPO, DE BELO HORIZONTE: EXEMPLO DE TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

FONTE: PAULA, Mônica de. Grupo Corpo em BH. 2016. Disponível em: <ameixajaponesa.com.br/2016/12/grupo-corpo-em-bh/>. Acesso em: 15 maio 2018.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Assim, de acordo com Guerini e Costa (2009, p. 23), na passagem de texto para outro sistema, podemos observar o seguinte percurso:

QUADRO 2 - CAMINHO DO TEXTO EM UMA TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

texto de partida → intérprete → ícone de chegada

através de códigos diferentes, isto é

texto = imagem estática: desenho, foto, pintura

ou

texto = imagem animada através de vídeo, cinema

FONTE: Guerini e Costa (2009, p. 23)

A tradução intersemiótica guarda semelhanças em relação aos outros dois tipos. No entendimento de Diniz (1998), de modo similar às traduções intralingual e interlingual, a intersemiótica também busca equivalentes, ou seja, procura em outro sistema de signos elementos formais cujas funções se assemelhem às dos elementos originais. Segundo a autora, tal busca por equivalentes deve dar conta de transportar também o sentido da obra original, o que torna a tarefa bastante delicada.

Diniz (1998, p. 320) argumenta que “mesmo que se estabeleçam equivalentes semânticos para os elementos de dois sistemas de signos diferentes, não se pode abranger todas as nuances de cada um dos sistemas”. O raciocínio da autora nos parece bastante plausível, já que, em se tratando de tradução, seja a mais literal delas ou a mais transvertida, jamais haverá correspondência total entre dois textos. Assim,

[...] toda tradução irá [...] oferecer sempre algo além ou aquém do chamado original, e o sucesso não dependerá apenas da criatividade nem da habilidade, mas das decisões tomadas pelo tradutor, seja sacrificando algo, ou encontrando a todo custo um equivalente. Se nos lembrarmos de que o sentido é o resultado de uma interpretação, de uma leitura, e da função que o texto/tradução terá para a audiência a que se destina, nunca poderemos avaliar uma tradução com critérios de fidelidade (DINIZ, 1998, p. 330).

O exercício de decomposição em uma tradução intersemiótica pode ser facilmente observado se pensarmos na transposição de um texto escrito para o cinema. Como sabemos, uma parte ínfima do texto escrito se converte em falas de personagens no cinema.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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A maior parte se transforma em gestos, sons, ambientação, trilha sonora, montagem, enquadramento, iluminação, cor, plano, perspectiva etc. Como observa Osimo (2004), para realizar a tradução fílmica de um texto verbal, é imprescindível fazer uma subdivisão racional do original para decidir quais elementos da composição fílmica são confiáveis para tradução de determinados elementos estilísticos ou narratológicos do original.

FIGURA 5 – CENA DO FILME TROIA (2004), DE WOLFGANG PETERSEN, VERSÃO CINEMATOGRÁFICA DA ILÍADA DE HOMERO: EXEMPLO DE TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

FONTE: AMC Network Entertainment LLC (2008)

Uma abordagem que defende abertamente tal processo de decomposição do texto em “unidades tradutórias” é a chamada teoria da funcionalidade, representada por Nord (2012 apud PONTES; PEREIRA, 2017). Conforme a visão, o tradutor sabe intuitivamente que a tradução de um texto é feita por partes e, em princípio, busca reconstruir tais partes sequencialmente no texto de chegada, tomando por base a estrutura de partida.

Ao fazê-lo, porém, depara-se com itens lexicais desconhecidos, estruturas sintáticas incompreensíveis e ambiguidades semânticas de difícil solução. Modifica o ritmo sequencial do trabalho do tradutor, levando-o a retroceder, formular novas possibilidades, fazer novas escolhas, suspender problemas não solucionados etc. Para sair de tal labirinto, a teoria da funcionalidade defende que o tradutor abandone as literalidades lexicais e sintáticas, e: (1) decomponha o texto em unidades tradutórias, identificando a função de cada uma; e (2) oriente-se por uma contextualização mais adequada na língua e cultura de chegada.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Segundo Pontes e Pereira (2017), as unidades de tradução podem variar de acordo com a compreensão do texto pelo tradutor, e é absolutamente legítimo. Transpondo tal teoria para o contexto da tradução intersemiótica, vemos que tal tipo recorre justamente à seleção de unidades tradutórias a fim de reconstruí-las ou recombiná-las no sistema de chegada, com base na função de cada uma.

Feitas as considerações, podemos assumir que a tradução intersemiótica não é tão diferente das demais quanto parece à primeira vista. Sua dificuldade e particularidade residem no fato de que o seu praticante precisa se desprender das palavras e fazer um exercício mais intenso de abstração em direção aos signos e suas funcionalidades.

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LEITURA COMPLEMENTAR

A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

Bruno Osimo

A tradução de um sistema de signos (por exemplo, o sistema verbal) para outro (por exemplo, um sistema não verbal), e vice-versa, pertence sem dúvida ao campo dos estudos da tradutologia. O fato de, no início ou no fim do processo, não se ter um texto verbal, não lhe tira importância; pelo contrário, devido a algumas implicações, torna-se fundamental para a descrição do processo tradutivo em geral.

Em lugar de considerar uma tradução intersemiótica como um caso fronteiriço que Jakobson, por alguma razão, incluiu em seu clássico ensaio sobre os aspectos linguísticos da tradução (talvez o ensaio tradutológico mais citado de todos os tempos), seria melhor considerá-la como uma atividade que nos permite conceber o processo tradutivo do ponto de vista das novidades e, portanto, muito interessantes.

Segre afirma:No uso comum, texto, que deriva do latim textus, 'tecido', desenvolve uma metáfora na qual são visíveis as palavras que formam uma obra e os elementos que as unem, como ao se tratar de uma trama. A metáfora, que antecipa as observações sobre a coesão do texto, alude em particular ao conteúdo, ao que está escrito em uma obra.

Se interpretarmos em seu sentido mais amplo, sem ter em conta que Segre fala de "palavras" e "escrito", podemos transferir o conceito de texto para qualquer obra de tipo musical, pictórico, cinematográfico, dentre outros. A obra é também um tecido consistente e coeso, um sistema de estruturas coimplicadas em diferentes níveis, de maneira que cada elemento adquire um valor em relação aos demais.

Steiner também concorda com aqueles que incluem a tradução intersemiótica na ciência mais ampla da tradução:

Uma "teoria" da tradução, uma "teoria" da transferência semântica, deve significar uma de duas coisas: ou se trata de uma manifestação aguçada intencionalmente, orientada hermeneuticamente, da totalidade da comunicação semântica - incluída a tradução intersemiótica ou "transmutação" de Jakobson -, ou é um apartado de tal modelo, com referência específica aos intercâmbios intralinguísticos, à emissão e recepção de mensagens significativas entre linguagens diferentes [...]. A designação "totalizadora" é ainda mais instrutiva porque discute o fato de que todos os procedimentos de articulação expressiva e recepção interpretativa sejam translacionais, de maneira intra ou interlinguística.

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TÓPICO 2 | TIPOS DE TRADUÇÃO

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Tentaremos agora demonstrar, do ponto de vista metodológico, a utilidade de incluir a tradução intersemiótica na busca de uma descrição do processo tradutivo.

Em primeiro lugar, é necessário destacar que existem algumas diferenças entre as linguagens verbais, que são discretas, e as linguagens icônicas (como a pintura ou as artes figurativas em geral), que são contínuas.

Nas linguagens discretas, podemos distinguir um signo e outro, mas nas linguagens contínuas o texto não é divisível em signos discretos. Se uma pintura representa uma árvore, não é fácil dividir o texto em signos separados.

Lotman explicou com eficácia:

A impossibilidade de realizar uma tradução exata de linguagens discretas para não discretas, e vice-versa, tem raiz em suas naturezas claramente diferentes: nos sistemas linguísticos discretos, o texto é secundário em relação ao signo, ou seja, divide-se claramente em signos. O isolamento do signo como unidade elementar inicial não representa dificuldade alguma. Nas linguagens contínuas, o texto é fundamental: não se divide em signos, mas é um signo em si mesmo, ou é isomórfico para um signo.

Temos repetido que todo tipo de ato comunicativo, inclusive todo processo tradutivo, nunca é completo, pois sempre existe resíduo, ou seja, uma parte da mensagem não chega ao destino.

FONTE: OSIMO, Bruno. Tradução intersemiótica (primeira parte). Logos Group, 2008. Disponível em: <courses.logos.it/plscourses/linguistic_resources.cap_1_36?lang=bp>. Acesso em: 15 maio 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Retomamos para a clássica tipologia do linguista Jackobson, que divide a tradução em três tipos: intralingual, interlingual e intersemiótica. A tradução intralingual ou reformulação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua. A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua. Ainda, a tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.

• Também mencionamos uma quarta tipificação, conforme Pereira (2008), que é a tradução sociolinguística, quando procedemos a traduções dialetais, decorrentes de diferenças de classes sociais, comunidades de fala, região, sexo, dentre outros fatores.

• Salientamos que, ao longo da história, a maior parte das abordagens sobre a tradução acabou, de uma forma ou de outra, tangenciando a questão do foco sobre o texto-fonte ou o texto-alvo, e que a dicotomia é uma maneira útil e simplificada de compreender os problemas que incidem sobre a tradução interlingual.

• Ao debater a tradução intersemiótica, aproximamo-la da teoria da funcionalidade, que defende abertamente a decomposição do texto-fonte em unidades tradutórias, recomendando que o tradutor abandone as literalidades lexicais e sintáticas, a fim de decompor o texto em unidades funcionais e contextualizá-lo na língua e cultura de chegada.

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1 Reflita sobre a dicotomia “foco no texto de partida vs foco no texto de chegada”, destacada na discussão sobre a tradução interlingual. Em que situações, como futuro tradutor ou intérprete de Libras, você se posicionaria em favor do foco no texto de partida e em que situações você se posicionaria no foco no texto de chegada? Explique, por exemplo, qual seria a sua postura diante dos seguintes contextos:

a) Alguém está falando sobre qualidades formais de um poema escrito em língua portuguesa. Na tradução para Libras, você focaria no texto de partida ou no texto de chegada? Explique.

b) Alguém está simplesmente passando orientações, em português, sobre como se comportar em uma situação específica (uma entrevista de emprego, por exemplo). Na tradução para Libras, você focaria no texto de partida ou no texto de chegada? Explique.

2 (Adapt. de concurso para tradutor/intérprete de Libras da UFSJ/2016). Relacione os tipos de tradução elencados com as definições dadas a seguir, a partir de Pereira (2008).

a) Tradução interlingual.b) Tradução intralingual.c) Tradução sociolinguística. d) Tradução intersemiótica.

( ) Ocorre quando há a reformulação entre signos verbais dentro de uma mesma língua; por exemplo, no caso da paráfrase.

( ) Ocorre quando signos não verbais são transformados em linguagem verbal.

( ) Envolve duas línguas, quando há a reformulação de um texto em uma língua diferente daquela em que foi inicialmente enunciada.

( ) Aquela em que a intenção do interlocutor é traduzida com base nos padrões de formação sociocultural existentes no meio da comunidade onde a interação linguística ocorre.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) a, d, b, c.b) ( ) b, d, c, a.c) ( ) b, d, a, c.d) ( ) c, d, b, a.

AUTOATIVIDADE

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3 (Adapt. de concurso para tradutor/intérprete de Libras da UFSJ/2016). Sabe-se intuitivamente que a tradução de um texto se faz por partes. Em princípio, as partes podem ser construídas sequencialmente no texto de chegada, tomando-se por base a estrutura do texto de partida. Em situações práticas, porém, nem sempre uma tradução transcorre tão naturalmente. Depara-se com itens lexicais desconhecidos, estruturas sintáticas incompreensíveis e ambuiguidades semânticas de difícil solução.

Com base no enunciado, analise as afirmativas a seguir:

I- Os conhecimentos modificam o ritmo sequencial do trabalho de um tradutor, levando-o a retroceder com o intuito de buscar explicações por meio de passagens já traduzidas e/ou a avançar no texto. Assim, deixa temporariamente de lado problemas não solucionados.

II- A Teoria da Funcionalidade vê a função de uma tradução como sendo objeto primordial e defende que o tradutor não abandone as literalidades lexicais e sintáticas, e descarte a tradução que se oriente pela contextualização mais adequada na língua e cultura de chegada.

III- Segundo pesquisadores da área, as Unidades de Tradução (UTs) podem variar de acordo com a compreensão do texto pelo tradutor. Conhecimentos linguísticos, tanto na língua de partida quanto na língua de chegada, e o conhecimento prévio sobre o assunto tratado, são fatores essenciais para essa prática.

Sobre as afirmativas citadas, é possível afirmar que:

a) ( ) I e II estão corretas.b) ( ) I e III estão corretas.c) ( ) todas estão corretas.d) ( ) nenhuma das afirmativas está correta.

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TÓPICO 3

FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Você já refletiu sobre as diferenças entre o tradutor e o intérprete? Como cada um surgiu, em que situações atuam, que especificidades cada papel pressupõe? Neste último tópico, vamos abordar determinada distinção, discutindo a importância dos dois atores para a comunicação.

Para iniciar a nossa conversa, cremos que seja conveniente apresentar uma breve introdução à tarefa da interpretação.

2 INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA E INTERPRETAÇÃO CONSECUTIVA

Também chamada de “tradução oral” ou “tradução simultânea”, é uma atividade extremamente antiga na história e remonta aos diplomatas, embaixadores e negociadores que moderaram e viabilizaram o contato entre os povos em diversas épocas. Tais sujeitos foram essenciais não só em trocas comerciais e culturais, mas também na solução de problemas bélicos e políticos.

No mundo moderno, o papel ganha novas funções, com a multiplicação de eventos sociais em que a presença passa a ser necessária, e adquire especificidades, com sua contínua demarcação em relação à figura do tradutor. É o que Guerini e Costa (2006, p. 30) comentam na seguinte observação:

Nos tempos modernos, com a chamada globalização, ocorre um verdadeiro florescimento da interpretação com a multiplicação de colóquios e congressos internacionais. Cabe recordar a diferenciação paulatina entre a figura do intérprete e a do tradutor. Até o século XI, aproximadamente, era chamado intérprete quem fazia tradução, tanto oral quanto escrita. A partir do século XII, começa-se a falar de intérprete como aquele que faz tradução oral, ou seja, interpretação, e de tradutor, como aquele que faz tradução escrita.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

Além da vinculação do intérprete à oralidade ou à gestualidade, e do tradutor à escrita, as condições de trabalho de um e outro também são frequentemente usadas como diferenciadores. Mounin (1965, p. 179), por exemplo, chama a atenção para o fato de o intérprete ter de trabalhar de forma instantânea, comparando-o a um orador ou a um ator, enquanto que o tradutor tem mais tempo para se planejar e elaborar seu trabalho:

O intérprete atua com a forma oral ou gestual e instantânea ou consecutiva de tradução, já o tradutor, que trabalha com o texto escrito, sempre terá mais tempo para consultar os instrumentos do ofício, diferentemente do intérprete. O intérprete deve ser um orador e até mesmo um ator: um virtuoso, um artista.

Segundo Magalhães Jr. (2007), há pelo menos dois tipos de interpretação: a simultânea e a consecutiva. Na primeira, “o intérprete vai repetindo na língua de chegada cada palavra ou ideia apresentada pelo palestrante na língua de partida” (MAGALHÃES JR., 2007, p. 44). A modalidade exige uma capacidade extraordinária de memorização e intuição. Ainda, demanda recursos técnicos, como uma cabine para o intérprete e fones de ouvido para os assistentes.

Já na tradução consecutiva, “a pessoa que tem a palavra faz pausas periódicas em sua fala, a fim de permitir que o intérprete faça o translado da língua original (língua-fonte ou língua de partida) à língua dos ouvintes (língua-meta ou língua de chegada)” (MAGALHÃES JR., 2007, p. 44).

Ainda que a tarefa do intérprete-orador demande improvisação, como pontuamos, não é raro que ele receba o texto a ser interpretado previamente, a fim de se familiarizar com o tema, o vocabulário e a fim de pensar em soluções para formulações mais complexas daquele texto. Seria, ao menos, a situação ideal, conquanto nem sempre seja possível.

IMPORTANTE

A imagem a seguir, por exemplo, ilustra uma interpretação durante uma assembleia, situação em que não é possível prever os discursos que serão proferidos pelos interlocutores.

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TÓPICO 3 | FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE

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FIGURA 6 – INTÉRPRETE DURANTE UMA ASSEMBLEIA

FONTE: English for Business (2018)

Convém lembrar o filósofo Schleiermacher (2001) que, ainda no século XIX, no ensaio “Sobre os diferentes métodos da tradução”, apontou outra distinção: segundo ele, o intérprete seria mais propenso a atuar no campo dos negócios, e o tradutor, no campo da ciência e da arte.

Schleiermacher (2001, p. 29) também faz outra afirmação, de certa forma controversa. Segundo ele,

[...] a tradução de escritos narrativos e descritivos pode ter também muito da função do intérprete, mas o tradutor se sobrepõe ao intérprete quando chega ao seu ramo mais próprio, ou seja, o poder de combinar livremente as produções intelectuais da arte e da ciência com o espírito da língua, a forma de ver o mundo e a matriz do estado da alma.

Segundo Guerini e Costa (2006), o filósofo alemão valoriza o tradutor em detrimento do intérprete, porque acredita que somente por meio da tradução de grandes textos clássicos da literatura ocidental e oriental, e de textos filosóficos e religiosos, será possível fortalecer (renovar, ampliar) a língua e a cultura nacional. Portanto, por trás do movimento, há uma preocupação política historicamente contextualizada.

De fato, como ressalvam os autores, os tradutores têm um mérito particular, uma vez que foram figuras centrais no desenvolvimento das civilizações, pois

[...] sempre contribuíram para a emergência, o enriquecimento e a promoção das línguas e literaturas nacionais, para o despertar de uma consciência coletiva de grupos étnicos e linguísticos, para importar novas ideias e valores, além de colaborar para a preservação do patrimônio cultural da humanidade (GUERINI; COSTA, 2006, p. 31).

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

Entretanto, hoje, tal preocupação ainda faz sentido? É cabível a valorização do tradutor em detrimento do intérprete? No contexto das línguas de sinais, por exemplo, o que você acha?

Antes de tirar suas conclusões, vamos aprofundar um pouco mais o nosso conhecimento sobre as especificidades de cada papel.

3 ESPECIFICIDADES DE CADA PAPEL

Embora já tenhamos esboçado algumas respostas para a questão, é importante nos determos um pouco mais sobre ela: afinal, o que diferencia o intérprete e o tradutor?

Em relação aos requisitos comuns, podemos dizer que, tanto a um quanto a outro, é imprescindível transitar bem entre os dois códigos, ou seja, é indispensável possuir competência comunicativa nas duas línguas, embora ao intérprete particularmente não seja necessária a chamada competência tradutória. Por sua vez, é um saber especializado, formado por um conjunto de conhecimentos e habilidades, que singulariza o tradutor e o diferencia de outros falantes bilíngues não tradutores.

A fim de simplificar a diferença, podemos dizer que tanto um quanto outro precisam estar aptos para o uso das duas línguas, mas o tradutor deve, em última instância, ser capaz de entregar um texto que possa chamar de tradução.

IMPORTANTE

E o que torna o intérprete singular? Um primeiro aspecto que provavelmente lhe vem à mente é o fato de o intérprete interagir em eventos sociais e demandar uma capacidade de improviso. Ainda, segundo Quadros (2004), o intérprete se singulariza ao combinar três competências: a linguística, a técnica e a metodológica. A competência linguística, reiterando, é a habilidade de lidar com as línguas envolvidas no processo de interpretação. Mais uma vez: os intérpretes precisam ser bilíngues e precisam possuir um excelente conhecimento dos dois idiomas envolvidos.

A competência técnica diz respeito, por exemplo, à habilidade de posicionar-se apropriadamente para interpretar, para usar microfone, para usar fones quando necessário, para modular a voz ou a intensidade dos gestos. Ainda, a competência metodológica é a habilidade de usar diferentes modos de interpretação, escolher aquele mais apropriado diante das circunstâncias e encontrar o item lexical e a terminologia adequada.

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TÓPICO 3 | FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE

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Para Mounin (1965, p. 129), a função do intérprete se diferencia por critérios históricos e políticos:

[...] a tradução diplomática, pela sua utilidade prática, existe há mais de quatro milênios. Os tratados de paz criavam a exigência de tradutores já́ em épocas em que as religiões eram propriedade de uma única comunidade ética, e não se exportavam. Apenas com o desenvolvimento das religiões universais, a tradução religiosa se torna o mais importante gênero de tradução.

Magalhães Jr. (2007, p. 19), por sua vez, aborda a especificidade do intérprete, em contraposição ao tradutor, comparando-o a um artista:

É como mágica. Vista de perto, [a interpretação] parece loucura. O intérprete tem que ouvir e falar ao mesmo tempo, repetindo em outra língua palavras e ideias que não são suas, sem perder de vista o conteúdo, a intenção, o sentido, o ritmo e o tom da mensagem transmitida por seu intermédio.

Pereira (2008) traz a discussão para o domínio das línguas de sinais, mostrando que a interpretação tem, historicamente, muito mais relevância que a tradução stricto sensu. Com a exceção de iniciativas mais modernas, como a de Klamt (2014), que vimos no Tópico 1, em que há um projeto de tradução a longo prazo e bem delimitado, grande parte das translações envolvendo a Libras sempre recorreu à interpretação simultânea.

Por essas razões, a autora reserva o termo “tradução” especificamente para operações que partem da língua sinalizada para uma língua escrita e estabelece que o termo “interpretação” se destina a operações que partem da língua escrita em direção à língua sinalizada. Em seus termos:

[...] a tradução é o termo geral que se refere a transformar um texto a partir de uma língua fonte, por meio de vocalização, escrita ou sinalização, em outra língua meta. A diferenciação é feita, em um nível posterior de especialização, quando se considera a modalidade da língua para a qual está sendo transformado o texto. Se a língua meta estiver na modalidade escrita, trata-se de uma tradução; se estiver na modalidade vocal (também chamada de oral) ou sinalizada (presenciais ou de interação imediata), o termo utilizado é interpretação (PEREIRA, 2008, p. 136).

A distinção é, em parte, semelhante à da Fundação Rio-Grandense de Atendimento ao Excepcional - FADERS, a qual em seu site indica que a tradução envolve pelo menos uma língua escrita no processo.

Pereira (2008) também chama a nossa atenção para um estigma dramático que marca a vida do intérprete. Para ela, sua profissão é atormentada por estereótipos como o velho e surrado traduttori, tradittori (tradutor, traidor), fazendo com que a culpa de qualquer incompreensão recaia em primeiro lugar sobre o intérprete.

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

Ser intérprete é ser, intrinsecamente, um profissional atormentado por ter que estar presente e fingir-se invisível, algo ainda mais impensável para um intérprete de uma língua que é percebida prioritariamente pelo canal visual, como uma língua de sinais; e por não poder ser o ‘eu’ nem o ‘tu’ plenamente, por estar sempre em uma posição instável e escorregadia de um simbiótico locutor-interlocutor (PEREIRA, 2008, p. 138).

Outra particularidade inerente ao intérprete de línguas sinalizadas, trazida por Pereira (2008), diz respeito ao surgimento no contexto social e à conquista da sua importância. Segundo a autora, a atividade de intérprete no meio surdo surge no meio familiar e, aos poucos, foi se estendendo aos professores de crianças surdas e ao âmbito religioso.

Assim, podemos pontuar que o tradutor e o intérprete se especificam de diferentes maneiras: mediante aspectos técnicos, mediante a relação com o texto escrito, mediante o seu papel na sociedade, mediante as situações em que atua e, por fim, mediante o tipo de línguas que manipula.

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TÓPICO 3 | FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE

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LEITURA COMPLEMENTAR

ENTREVISTA COM MARIA CRISTINA SILVA, PROFESSORA E INTÉRPRETE DE LIBRAS

Rosângela Fressato

A Libras (Língua Brasileira de Sinais) é uma importante ferramenta de inclusão social e não poderia deixar de ser inserida no aprendizado oferecido pela UNIFENAS. A Universidade instituiu a disciplina curricular de Libras no curso de Pedagogia desde 2007 e, nos demais cursos, nos anos seguintes, como disciplina optativa. A responsável pela disciplina é a professora Maria Cristina da Silva, que recentemente foi certificada pelo MEC como Proficiente na Tradução e Interpretação de Libras Língua Portuguesa (PROLIBRAS) e que nesta entrevista explica a real importância do trabalho nas salas de aula.

Como a senhora define a importância de um profissional saber a língua de sinais?

Com o conhecimento da Libras, mais oportunidades o profissional terá, uma vez que os atendimentos, prestação de serviços e as demais interações sociais ainda não contemplam totalmente o atendimento à pessoa surda. Compreender a importância e garantir o acesso e permanência de pessoas em condições diversas nas escolas implica novos conhecimentos e posturas. O acesso e a permanência de pessoas surdas nas escolas estão intrinsecamente ligados à língua de sinais, salvo em casos em que a tecnologia, por exemplo, aparelho de amplificação sonora individual ou implante coclear são adotados, o que nem sempre é possível.

Os acadêmicos da UNIFENAS têm a consciência da necessidade da ferramenta para a inclusão social?

Certamente. Graças às mudanças de consciência, eles entendem que a educação é a principal forma de promoção humana. Sendo assim, a escola (solo fértil para transformações e desconstruções) é o lugar ideal para novos olhares de inclusão. Assim, o professor (substrato fundamental no processo) precisa conhecer para atuar na construção de tantas pontes.

Para compreender que práticas inclusivas devem ser transformadoras, o curso de Pedagogia desenvolverá, na disciplina de Educação Inclusiva, um projeto que visa a orientar as indústrias e empresas sobre a convivência no trabalho com pessoas com necessidades especiais. E a UNIFENAS prima pela acessibilidade: vagas destinadas à pessoa com mobilidade reduzida, banheiros adaptados, elevador, intérprete de Libras... são as barreiras dando lugar para as rampas...

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UNIDADE 1 | ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

Além das suas colações, que aparato a auxilia nas aulas?

O curso de Pedagogia recebe convidados com os quais compartilha da confecção de material adaptado para alfabetização do aluno surdo. A biblioteca da Universidade dispõe de vasto material para consulta, como, por exemplo, dicionários ilustrados. Outros materiais são disponibilizados no blog: wwwlibras.blogspot.com (Libras – Sinais de Inclusão), no qual podem ser encontrados alguns trabalhos produzidos pelos alunos.

A UNIFENAS também organiza alguns eventos que promovem a disseminação da Língua de Sinais em Alfenas e região, como o Fórum de Libras.

Todos os anos realizamos o Fórum de Libras, quando são apresentados

alguns projetos de alunos do curso de Extensão em Libras e de acadêmicos do campus Alfenas. O Fórum recebe convidados que são especialistas envolvidos na área da surdez: fonoaudiólogos, educadores, familiares de pessoas surdas e surdos, para a troca de experiências e depoimentos. A APAE do Município de Areado tem sido nossa parceira todos os anos, presente no Fórum e compartilhando dos nossos ideais no sentido de conhecer e divulgar a importância da Libras para inclusão de surdos. No segundo semestre deste ano haverá a quinta edição do Fórum de Libras.

Em sua opinião, a falta de professores qualificados em sala de aula pode prejudicar o aprendizado de um aluno surdo nas escolas?

A Libras deve estar presente não só na sala de aula em que há o aluno surdo (via intérprete), mas também na convivência com professores e amigos, afinal, é por meio da verbalização e expressão de nossos pensamentos que interagimos e construímos nossa identidade.

Ainda, a língua é um dos instrumentos fundamentais na percepção de nós mesmos e do outro. A presença de um aluno surdo em escolas que não adotam o bilinguismo (Libras e língua portuguesa escrita), direito postulado em documentos nacionais e internacionais, equivale a abrir mão da acessibilidade e, consequentemente, do direito à cidadania.

A Libras possui estrutura gramatical própria?

Sim. A Libras é visual-gestual; é uma língua pronunciada pelo corpo. Os sinais são formados por meio da combinação de formas e de movimentos das mãos e de pontos de referência no corpo ou no espaço, ou seja, parâmetros. Segundo a legislação vigente, Libras constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas com surdez no Brasil. Há uma forma de comunicação e expressão, de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria.

Fonte: UNIFENAS. Entrevista com Maria Cristina Silva, professora e intérprete de Libras. Libras na Universidade: uma inclusão social. Portal Unifenas, Notícias, 29 abr. 2013. Disponível em: <www.unifenas.br/noticia.asp?note=uni_1020>. Acesso em: 15 maio 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem, pelo menos, dois tipos de interpretação: a simultânea e a consecutiva. Na primeira, o intérprete repete na língua de chegada cada palavra ou ideia apresentada pelo palestrante na língua de partida. A modalidade exige uma capacidade extraordinária de memorização e intuição. Ainda, demanda recursos técnicos, como uma cabine para o intérprete e fones de ouvido para os assistentes.

• Na tradução consecutiva, a pessoa que tem a palavra faz pausas periódicas em sua fala, a fim de permitir que o intérprete faça o translado da língua original (língua-fonte ou língua de partida) à língua dos ouvintes (língua-meta ou língua de chegada).

• É comum que o intérprete disponha do texto a ser interpretado previamente, a fim de se familiarizar com o tema, com o vocabulário e pensar em soluções para formulações mais complexas daquele texto. Embora seja a situação ideal, nem sempre é possível. Há ocasiões, como assembleias e eventos esportivos, que impossibilitam a preparação prévia.

• O tradutor e o intérprete se especificam de diferentes maneiras: por meio de aspectos técnicos, relação com o texto escrito, papel na sociedade, situações em que atua e tipo de línguas que manipula.

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1 Por que, no contexto das línguas de sinais, a interpretação tem, historicamente, mais relevância que a tradução stricto sensu? Que especificidades envolvendo esse tipo de língua confere à interpretação um status diferenciado?

2 (Adapt. de concurso para tradutor/intérprete de Libras da UFSC/2018). Diante de diversas situações e contextos, o intérprete de Libras poderá optar pela interpretação consecutiva ou simultânea. Qual alternativa se refere APENAS às características de uma interpretação consecutiva?

a) ( ) Exige do intérprete mais tempo para processar a mensagem-fonte para em seguida interpretar, podendo lançar mão de notas para possíveis retomadas.

b) ( ) É realizada com a mensagem-fonte em andamento, devendo ser interpretada até que sofra uma pausa.

c) ( ) É uma modalidade de interpretação nova para as línguas orais, sendo recorrente nas línguas de sinais.

d) ( ) Essa modalidade de interpretação possibilita às pessoas de diferentes línguas participarem em tempo real de reuniões, palestras e cursos sem barreiras.

e) ( ) Foi usada pela primeira vez, após a Segunda Guerra Mundial, nos julgamentos de nazistas. A modalidade de interpretação, usada até então, era apenas simultânea; no entanto, pela presença de quatro idiomas nos julgamentos, passou a ser uma modalidade viável.

3 (Adapt. de concurso para tradutor/intérprete de Libras da UFSJ/2016). Embora qualquer falante bilíngue possua competência comunicativa nas línguas que domina, nem todo bilíngue possui competência tradutória. A competência tradutória é um conhecimento especializado, integrado por um conjunto de _________________ e _________________, que singulariza o tradutor e o diferencia de outros falantes bilíngues não tradutores.

Os termos que completam a frase CORRETAMENTE são:

a) ( ) conhecimentos linguísticos – culturais.b) ( ) atos tradutórios - de interpretação.c) ( ) conhecimentos – habilidades.d) ( ) habilidades linguísticas – culturais.

AUTOATIVIDADE

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4 (Adapt. de concurso para tradutor/intérprete de Libras da UFSJ/2016). Conforme Quadros (2004), os itens a seguir se referem aos modelos de tradução e de interpretação:

I- Competência linguística é a habilidade de manipular com as línguas envolvidas no processo de interpretação. Os intérpretes precisam ter um excelente conhecimento de ambas as línguas envolvidas.

II- Competência técnica é a habilidade de posicionar-se apropriadamente para interpretar, para usar microfone e para interpretar usando fones, quando necessário.

III- Competência metodológica é a habilidade de usar diferentes modos de interpretação, escolher o modo apropriado diante das circunstâncias e encontrar o item lexical e a terminologia adequada.

Sobre esses itens, pode-se afirmar que:

a) ( ) I e II estão corretos.b) ( ) I e III estão corretos.c) ( ) todos estão corretos.d) ( ) nenhum dos itens está correto.

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A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:

• compreender teorias e práticas referentes à tradução e à interpretação em LS;

• entender o sistema comunicativo da LO e LS;

• compreender estratégias aplicadas na tradução e interpretação em LS;

• conhecer os modelos de tradução e interpretação em LS;

• identificar atividades tradutórias e interpretativas;

• problematizar a ética profissional;

UNIDADE 2

TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS,

COGNITIVAS E PRÁTICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade está dividida em três tópicos. Durante seus estudos ou no final de cada unidade, você encontrará atividades que contribuirão para seu co-nhecimento e aprendizado dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – LINGUAGEM E TEORIA

TÓPICO 2 – ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

TÓPICO 3 – ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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TÓPICO 1

LINGUAGEM E TEORIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

“A estrutura da língua que uma pessoa fala influencia a maneira com que esta pessoa percebe o universo” (VYGOTSKY, 1934, p. 5).

Nesta unidade, iremos considerar algumas teorias e reflexões relacionadas à prática da tradução e interpretação, associadas à língua de sinais. Os estudos da Tradução e Interpretação em Língua de Sinais têm tido muito destaque pela modalidade visual/espacial das Línguas de Sinais (LS), por meio de aspectos culturais e de identidade.

Assim como as Línguas Orais (LO), as Línguas de Sinais (LS) são dinâmicas e estão sempre em processo de desenvolvimento e ampliação. Assim, é necessário conhecer e se aprofundar no campo dos Estudos de Tradução e Interpretação da língua, a fim de discutirmos o conceito e os tipos de tradução que integram a cultura da comunidade surda.

Na Unidade 1 tivemos uma visão antropológica, resultante dos estudos da tradução e interpretação das línguas, das diversidades e da linguística, e algumas características do papel do profissional atuante.

A partir de agora, refletiremos brevemente sobre os sistemas de línguas orais e de sinais, problematizar questões ligadas às teorias e às práticas do profissional Tradutor Intérprete de Línguas de Sinais, que atua na atividade de traduzir e interpretar, sobretudo no que diz respeito ao par linguístico Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais – Libras.

Discutiremos algumas considerações teóricas e práticas a respeito da

área da tradução e interpretação. É necessário destacar a atenção para um dos principais canais de comunicação: o olhar. Assim, veja os elementos necessários para a comunicação: emissor: emite, codifica a mensagem; receptor: recebe, decodifica a mensagem; mensagem: conteúdo transmitido pelo emissor; código: conjunto de signos usados na transmissão e recepção das mensagens; referente: contexto relacionado ao emissor; canal: meio que circula a mensagem. No que diz respeito à comunicação das línguas de sinais, o olhar se torna ainda mais imprescindível, devido à modalidade, que é visual-espacial.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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FIGURA 1 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

Elementos da comunicação

EMISSOR RECEPTOR

CONTEXTO

REFERENTEMENSAGEM

CANALCÓDIGO

FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/CiceroLuciano/interpretao-de-texto-31362813>. Acesso em: 18 mar. 2018.

Vygotsky (1998, p. 8) fez algumas relações entre o pensamento e a linguagem, destacando que a “mais importante de todas é a relação entre o aspecto fonético da linguagem e o significado”. Para o autor, “a linguística moderna utiliza o fonema, a menor unidade fonética indizível pertinente para o significado, unidade essa que, portanto, é característica da linguagem humana distinta de outros sons”.

Demonstra que existe um sistema dinâmico de significados, em que o afetivo e o emocional se unem. Assim, para conseguirmos uma linguagem significativa entre o emissor e o receptor, o fonema produz significados, que estimulam e ativam o processo cognitivo do sujeito.

Segundo estudos de Quadros, Pizzio e Rezende (2009), o fonema é a unidade mínima sem significado de uma determinada língua. Um fonema pode ter alofones, ou seja, realizações variadas de um mesmo fonema.

No português, em alguns contextos linguísticos, o /t/ pode ser produzido como /tch/ em algumas regiões do Brasil, mas não implica em mudança de significado. Por exemplo, /tia/ e /tchia/. FONTE: Disponível em: <http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/linguaBrasileiraDeSinaisI/assets/459/Texto_base.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2018.

IMPORTANTE

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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Os sinais, nas línguas de sinais, são equivalentes às palavras nas línguas orais.

IMPORTANTE

Embora o termo “fonema” esteja ligado às línguas orais auditivas, pois a palavra está relacionada com a fonologia, que classifica fonema como sons/fala ou fone, o termo também é usado para se referir aos estudos dos elementos básicos das línguas de sinais.

A linguística é uma área de estudos do conhecimento humano complexa. Ela formula uma teoria a respeito das línguas e como elas funcionam. Ao longo dos anos, vem sofrendo transformações, por meio de estudos e mudanças culturais e sociais.

Sem dúvida, um dos estudiosos que se destacou nos estudos da linguística foi Saussure, considerado um revolucionário nos estudos da linguagem. Considerou a linguagem como um sistema de signos, estudo que se tornou fundamental para entender as línguas naturais.

DICAS

Marcos Bagno é professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador. Escritor, poeta e tradutor, dedica-se à pesquisa e à ação no campo da educação linguística, com interesse particular no impacto da sociolinguística no ensino. Colabora em diversos meios de comunicação. Quer saber mais sobre o autor e suas obras? Acesse: <https://marcosbagno.wordpress.com/sobre/>. Acesso: 20 mar. 2018.

A partir dos minuciosos estudos, a linguagem não é vista como abstrata, mas algo vivo, que sofre transformações por meio de combinações de sons ou signos (palavras) emitidos pelas pessoas, que se unem para produzir significados e pela comunicação humana. Da mesma forma, há a implicação na língua de sinais, ou seja, as combinações de sinais/palavras resultam em uma comunicação não verbal entre os sujeitos que a usam.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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Segundo Rodrigues (2008), Saussure, na sua definição de língua como objeto de estudos, menciona que o signo linguístico é fruto da associação entre uma imagem acústica, o chamado significante, e um conceito, chamado de significado. A imagem acústica seria uma espécie de representação psíquica dos fonemas que compõem o signo. Já o conceito está relacionado ao processo de construção do significado no pensamento. Veja a figura a seguir.

FIGURA 2 – SIGNO DA LINGUAGEM

FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/CiceroLuciano/interpretao-de-texto-31362813>. Acesso em: 18 mar. 2018.

Para entendermos melhor a imagem, representada pela palavra M-E-S-A, devemos fazer uma conexão entre o pensamento e a linguagem. Veja a explicação exposta por Tafner e Oliveira (2016, p. 10), que nos dizem que

a junção das vogais e consoantes M-E-S-A não tem qualquer associação com o objeto que está na imagem. Não há como olhar para a palavra e ver nela qualquer elemento que represente o objeto [...]. No entanto, ao ouvirmos ou lermos a palavra “mesa”, geramos, em nosso cérebro, uma imagem acústica que se associa aos conhecimentos que temos e se atrela ao significado, fazendo-nos imediatamente identificar sobre o que se está falando/escrevendo”.

DICAS

Assista ao vídeo do professor Wallas Cabral, da USP, que faz uma boa introdução sobre o nível morfológico na língua portuguesa. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ght_GZZmo_U>. Acesso em: 22 maio 2018.

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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Como a língua de sinais, a associação é bem parecida, principalmente em relação ao aspecto fonológico dentro da gramática, porém, sem verbalizar o fonema/fala, como em um sinal feito pelo sinalizante, que faz com que o interlocutor faça uma imagem visual no pensamento daquele sinal/palavra e do seu significado. Entenda melhor com a imagem a seguir:

FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO MENTAL

FONTE: Disponível em: <http://confrariadosdespertos.blogspot.com.br/2011/10/verdade-nao-e-uma-construcao-mental.html>. Acesso em: 4 abr. 2018.

2 MODALIDADES DAS LÍNGUAS: UM BREVE OLHAR

Durante os estudos, você observou que as línguas possuem sistemas regidos por regras. Assim, Saussurre (2006) nos diz que a qualquer época que remontemos, por mais antiga que seja, a língua aparece sempre como uma herança da época precedente.

Saussure (2006, p.86) continua mostrando que “nenhuma sociedade conhece e nem conheceu jamais a língua de outro modo que não fosse como um produto herdado de gerações anteriores e que cumpre receber como tal”.

Quando refletimos a respeito da fala do autor, passamos a distinguir uma linguagem da outra e, em consequência, a nos relacionar com a comunidade com a qual queremos compartilhar nossos pensamentos e experiências, além dos diversos contextos em que aquela comunidade, aquele povo está inserido.

[...] As línguas de sinais assemelham-se às línguas orais em todos os aspectos principais, mostrando que verdadeiramente há universais da linguagem, apesar das diferenças na modalidade em que a língua é realizada” (FROMKIN; RODMAN, 1993, p. 12).

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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Sabemos que a Língua Portuguesa é a língua oficial do Brasil, porém ela não é a única encontrada e falada em todo o território nacional. Temos as línguas de migração, indígenas, além dos dialetos e variações encontradas, além da Língua Brasileira de Sinais – Libras, regulamentada como língua pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que está entre as línguas faladas no Brasil.

Em seus estudos, você já pesquisou que Quadros (2004) fez referência ao estudioso linguista Stokoe, em 1960, que comprovou que as línguas de sinais atendiam a todos os critérios linguísticos de uma língua genuína. Mostraremos um breve estudo sobre as modalidades de duas línguas, a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais - Libras, com o intuito de compreendermos como atuar no campo da tradução e interpretação das duas línguas, como língua fonte e língua alvo. Segundo Quadros (2004, p. 51):

É interessante observar que, enquanto a comunidade surda não constitui um grupo com identidade sociocultural-política, o intérprete não se constitui enquanto profissional. Para pensarmos em formação de intérpretes, precisamos, portanto, estar atentos ao nível de participação da comunidade surda na sociedade. Dependendo do nível de participação, a comunidade surda estará mais ou menos envolvida na formação dos intérpretes, implicando no sucesso ou não da implementação.

Assim, a atuação do tradutor e intérprete de língua de sinais está diretamente

relacionada à cultura e à língua da comunidade surda daquele país, uma vez que a interpretação de línguas sinalizadas envolve receber e transmitir informações em diferentes modalidades, ou seja, da falada para sinalizada e vice-versa.

A diferença das duas línguas não está somente na utilização dos canais de comunicação, como já vimos anteriormente, mas também nas estruturas gramaticais, conforme veremos a partir de agora.

FIGURA 4 – ESTUDO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA

FONTE: Disponível em: <http://estacio.webaula.com.br/cursos/cee042/aula2.html>. Acesso em: 4 abr. 2018.

SemânticaFonologia

Que trata dos fonemas. Que trata das classes de palavras.

Que trata das funções e das relações das

palavras nas sentenças.

Que trata dos significadosdas palavras.

morFologia Sintaxe

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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2.1 SISTEMA GRAMATICAL DA LÍNGUA ORAL AUDITIVA

Nenhuma língua é superior ou inferior a outra, mas ela se desenvolve a partir do uso dos seus usuários. O hemisfério esquerdo do cérebro é o responsável pela linguagem. Existem duas áreas: a broca, considerada a sede da produção da linguagem, e a área de Wernicke, considerada a sede da recepção da linguagem. Assim, a dominância do hemisfério esquerdo se faz presente na linguagem.

A principal diferença entre as línguas faladas e as línguas de sinais está na estrutura sintática das sentenças, nas línguas de sinais com o uso das mãos no espaço. Nas línguas orais, os termos são expostos na sequência linear da fala e no uso do aparelho fonador.

Karnopp (2006), tratando a respeito do estudo da fonética e da fonologia no campo da linguística, destaca o aparelho fonador, os segmentos consonantais e os segmentos vocálicos.

FIGURA 5 – FISIOLOGIA DA VOZ

FONTE: Disponível em: <http://www.eav.eng.br/tech/fisiologia/Constituiiodoaparelhofonadorhumano.html>. Acesso: 21 mar. 2018.

Além do aparelho fonador, as línguas orais auditivas utilizam os ouvidos para se comunicarem, pois levam o ouvinte à direção dos sons. A necessidade de ouvir vem entrelaçada à necessidade de falar. O ouvido consiste em três partes: o ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno. O ouvido médio é como uma pequena câmara, que começa com o tímpano e forma um emaranhado de canais que constitui o ouvido interno.

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O ouvido humano detecta os sons em uma faixa de frequência de cerca de 20 a 20.000 ciclos por segundo. Os ouvidos de muitos animais são sensíveis a tons de frequência maior, tons inaudíveis para os ouvidos humanos. Se os ouvidos fossem mais aguçados, captariam os incessantes movimentos moleculares das próprias partículas de ar. Disponível em: <https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200001236?q=ouvido+humano&p=par#h=3>. Acesso em: 23 mar. 2018.

NOTA

Nos estudos das línguas, é importante observar alguns aspectos em relação aos níveis que apresentam. Devem estar associados ao contexto comunicacional em que estamos inseridos, uma vez que quando usamos esses aspectos ou recursos como o fônico, uma troca de letras/omissão pode mudar o sentido da informação que queremos transmitir ou interpretar.

O nosso objetivo não é nos aprofundarmos no sistema de comunicação da Língua Portuguesa por meio dos estudos da sociolinguística, mas pelo menos conhecermos um pouco, para que você tenha conhecimento do sistema linguístico das línguas envolvidas. Assim, não adentraremos nas teorias e autores linguistas da área, mas é interessante considerarmos o que dizem, a seguir, Tafner e Oliveira (2016).

Vejamos os níveis ou planos da Língua Portuguesa, sendo: fônico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. Vamos conhecer brevemente cada um deles:

• Nível ou plano fônico: Valente e Alves (2009) afirmam que o plano fônico está diretamente relacionado à consciência fonológica, por ser uma habilidade do ser humano em refletir, dentre outros aspectos, sobre os sons da língua.

É o plano fônico, também, o primeiro nível de estruturação da língua, seja em termos de língua falada ou escrita. Estão inclusos: fonema e grafema e suas relações; consoantes; vogais e semivogais; formação de sílabas e palavras; encontros consonantais; dígrafos; as aliterações e mesmo as rimas, porque elas constituem um aspecto fônico importante para a escrita poética, por exemplo. As autoras nos alertam que em tal nível, a simples troca de uma letra pode desvirtuar a mensagem escrita ou falada.

• Nível morfológico: diz respeito à formação das palavras, à classe que pertencem, que gênero e número representam. Cabe analisar: flexão de substantivos, gênero, número e grau; flexão verbal, pessoa, tempo e modo; derivação.

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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A unidade de estudo é o morfema, considerado o menor signo da língua, porque é uma unidade mínima significativa. Existem os morfemas gramaticais e os morfemas lexicais. Os primeiros têm um significado que se restringe ao campo linguístico. As flexões de gênero, número, grau, pessoa etc. são exemplos de morfemas gramaticais.

Já o segundo diz respeito aos morfemas que extrapolam o campo linguístico, possuindo um significado extralinguístico. As palavras, de modo geral, são exemplos de morfemas lexicais, porque possuem um radical + tema que confere um significado no mundo comunicativo. Observe o exemplo que segue:

A menina chorou

Em uma análise morfológica, temos:

A: artigo definido feminino - (a) indicativo de classe gramatical - morfema gramatical.

Menina: substantivo simples concreto feminino - (menin) radical + (a) vogal temática do nome e indicativo de feminino - morfema lexical (seu significado não está apenas no linguístico, mas transpõe às situações comunicativas).

Chorou: verbo no pretérito perfeito do indicativo - (chor) radical + (ou) define modo indicativo, tempo pretérito perfeito - morfema lexical.

FIGURA 6 – ANÁLISE MORFOLÓGICA

FONTE: Tafner e Oliveira (2016, p. 20)

Quando lidamos com o nível morfológico, precisamos nos lembrar das chamadas classes gramaticais, nas quais as palavras de nossa língua portuguesa são distribuídas. São elas: Substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, consideradas classes gramaticais variáveis; e preposição, conjunção, interjeição e advérbio, classes gramaticais invariáveis.

IMPORTANTE

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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• Nível sintático: o nível sintático diz respeito à função que os termos (palavras e expressões) assumem em uma oração. Ele é o responsável pela organização das frases e discursos. Quando observamos o nível, devemos considerar a relação entre determinantes, substantivos e adjetivos; a organização do período simples; a organização do período composto; a organização do parágrafo; a coesão gramatical (conectores, referências, elipses).

• Nível semântico: diz respeito aos sentidos atribuídos às organizações textuais. Quando um texto é produzido, esperamos que haja uma harmonia entre as partes, que permita a atribuição de significados, de sentidos, ao todo. Assim, quando se analisa este nível, devemos levar em consideração o sentido e a adequação dos vocabulários; coesão lexical; coerência.

Segundo Tafner e Oliveira (2016), no plano semântico, destacam-se três propriedades: sinonímia (palavras que apresentam a mesma significação); antonímia (palavras que apresentam significações distintas ou opostas); polissemia (palavras que possuem múltiplos significados, ou seja, podem variar de significado de acordo com o contexto comunicativo). Acompanhe um dos exemplos considerados pelas autoras:

A garota invadiu a sala do diretor.

A jovem invadiu a sala do diretor.

Note que a garota e jovem funcionam como sinônimos.

FIGURA 7 – EXEMPLO NO NÍVEL SEMÂNTICO

FONTE: Tafner e Oliveira (2016, p. 26)

• Nível pragmático O plano pragmático se refere ao uso da linguagem nas situações comunicativas. Observamos quem fala/escreve; para quem; sobre o quê; quando; como; onde. A pragmática se dedica a estudar o significado que as palavras adquirem no contexto comunicacional em que são proferidas, levando em consideração os diversos aspectos da cadeia comunicativa (enunciador, enunciatário, mensagem, intenção, contexto etc).

Observe a seguinte situação:

Um grupo de pessoas entra em uma sala e uma delas diz:

- Como está escuro aqui!

Alguém se dirige à parede em que está o interruptor e acende a luz.

FIGURA 8 – NÍVEL PRAGMÁTICO

FONTE: Tafner e Oliveira (2016, p. 29)

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Além dos níveis considerados, sabemos que por ser uma língua natural, ela sofre variações, adaptações ao longo do tempo. Assim, acontece o mesmo com a língua de sinais dentro de sua gramática própria, conforme já estudado.

Ao mencionarmos os níveis de análise da língua portuguesa, estamos brevemente considerando questões pertinentes ao ensino de nossa língua. Nosso objetivo é compreender como funciona a linguagem verbal, a fim de associá-la ao trabalho do profissional tradutor intérprete de Libras.

NOTA

2.2 SISTEMA GRAMATICAL EM LÍNGUA DE SINAIS

Historicamente, conhecemos o sistema de linguagem humana por meio de registros de signos/sinais na tentativa de comunicação, até evoluirmos ou chegarmos à fala e à escrita como conhecemos hoje.

O cartunista estadunidense surdo e autor Matt Daigle retrata, com humor, cenas do cotidiano, corriqueiras no universo da surdez. Ele menciona que seus cartuns não são apenas para provocar risos, mas também servem para permitir que as pessoas entendam a cultura surda. Assim, ao refletirmos sobre a língua de sinais, devemos pensar na evolução, por se tratar de uma língua viva e autônoma.

FIGURA 9 – CENAS ATRAVÉS DO CARTUM

FONTE: Disponível em: <https://culturasurda.net/2011/12/11/in-deaf-culture/>. Acesso em: 4 abr. 2018.

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Quando contextualizamos a história da língua de sinais, encontramos os primeiros estudos iniciados no século XIV, com o inglês Bulwer J. B. que, em 1644, escreveu o livro de língua de sinais inglesa “Chirologia: on the natural language of the hand” (Chirologia: na linguagem natural da mão), segundo Campello (2011).

O livro do autor esclarece que a quirologia é como se fosse um dicionário de gestos manuais, citando o significado e o uso de uma ampla gama de fontes literárias, fontes religiosas e médicas. O mesmo livro continha um minidicionário com gestos de palavras literárias, religiosas e médicas usadas naquela época.

Sabemos que muitos outros autores contribuíram para os estudos da língua de sinais, porém Campello (2011) nos diz que é importante compreendermos que muitas pesquisas e estudos na língua de sinais, no mundo todo, partiram dos estudos de Bulwer. Outro ponto importante a mencionar, na história da comunidade surda versus língua de sinais, são os conflitos de ideologia, que culminaram em alguns períodos da imposição oralista e da proibição da língua de sinais.

Quirologia: vem do grego quiro = mão e logia = + estudo, ou seja, é o estudo ou conhecimento adquirido através das mãos. Assim, encontramos a DACTILOLOGIA, que é a técnica de conversação dos sinais feita nas mãos (exemplo: o alfabeto manual).

Quirema: segundo Stokoe (1960), são as unidades formacionais dos sinais quando combinadas (configuração de mãos, locação e movimento). Fonte: Campello (2011).

IMPORTANTE

Ainda, a partir dos estudos feitos principalmente sobre a Língua de Sinais Americana - ASL, alavancou o interesse dos estudiosos em línguas de sinais no mundo todo, como o estudioso professor de inglês Willian Stokoe (1961). Campello (2011) diz que percebeu a diferença na gramática linguística utilizada pelos alunos surdos da Gallaudet University, da qual ele era professor.

Assim, seu interesse em pesquisar a Língua de Sinais Americana - ASL resultou em formar uma equipe composta de pessoas surdas e ouvintes para atuarem em pesquisas, inclusive publicando vários artigos na área, dentre eles o “Sign Language Structure: an outline of the visual communication system of the American Deaf”, na revista Studies in Linguistics, Occasional Papers 8

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FIGURA 10 – QUIROLOGIA

Stokoe (1960)

QUIROLOGIA (DO GREGO MÃO)

QUEREMA FONEMA

FONOLOGIA

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/3642969/>. Acesso em: 21 mar. 2018.

Podemos dizer que a Língua de Sinais Americana – ASL continua sendo a língua que mais recebe incentivo por parte do governo para suas pesquisas.

Segundo Stokoe (1986), as sistematicidades presentes na linguagem de sinais teriam sido consequências tanto do convívio social como das interações comunicativas particulares que os surdos estabeleceram entre si por sinais que, em decorrência do uso e de sua penetração social, tornaram-se mais simbólicos e menos icônicos. Em seu estágio atual, interagem um sistema completo de linguagem: um sistema de ajuntamento de elementos menores em palavras e um sistema de construção de sentenças a partir daquelas palavras (SOUZA, 1998, p. 190).

DICAS

A TV INES faz um resumo da história do linguista Willian Stokoe, em Libras e legendado. Aproveite para socializar um trabalho em grupo sobre o chamado “pai da linguística em Língua de Sinais”. Vale a pena! Acesse e assista! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WoO7x4AYcfM>. Acesso em: 22 maio 2018.

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A Língua Brasileira de Sinais – Libras é dotada de uma gramática própria composta por itens lexicais. Quadros e Karnopp (2004) mostram que assim como nas línguas orais, ela se estrutura a partir de determinados mecanismos:

• fonológicos: identificação da estrutura e da organização dos constituintes fonológicos, propondo descrições e explicações;

• morfológicos: estudo da estrutura interna das palavras/sinais;• sintáticos: estudo das estruturas das frases; • semânticos: estudo do sentido/significado das palavras/sinais de uma língua;• pragmáticos: consideração do contexto linguístico.

Um fato importante a destacar em LS é que no mecanismo da estrutura pragmática encontramos componentes convencionais, codificados no léxico, que permitem a geração de implícitos, sentidos metafóricos, ironias, dentre outros significados não literais. Segundo McCleary e Viotti (2009, p. 48),

teorias linguísticas modernas têm preferido entender que o estudo do significado linguístico é semântico e pragmático ao mesmo tempo, na medida em que as conceitualizações que fazemos de palavras, de sentenças e de textos são sempre alicerçadas em nossa experiência e em nosso conhecimento enciclopédico.

Por meio da semântica e da pragmática, seus usuários podem utilizar estruturas nos diferentes contextos na língua de sinais, para corresponderem às diversas funções linguísticas, seguindo todas as especificidades de uma língua natural.

Os princípios são usados na geração de estruturas linguísticas de forma produtiva, possibilitando um número infinito de construções a partir de um número finito de regras. Observe a figura a seguir:

FIGURA 11 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/10455490/>. Acesso em: 4 abr. 2018.

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Campello (2011) demonstra que a introdução do sistema linguístico no Brasil, de língua de sinais, foi realizada pela linguista Lucinda Ferreira de Brito (1982), que desde então vem sofrendo adaptações por meio de pesquisas e metodologias feitas por vários estudiosos surdos e ouvintes, sendo contemporâneos de pesquisadores europeus.

Existem muitos autores e pesquisadores em Língua Brasileira de Sinais - Libras, e cada pesquisa demonstra algum aspecto relevante para a gramática. Atualmente, temos uma gama de material disponível para pesquisas, o que é excelente para o profissional Tradutor Intérprete de Libras – TILS, a fim de explorar e fixar determinado conhecimento.

Relacionaremos alguns dos pesquisadores e autores, como as professoras Myrna Salerno, Ana Regina e Souza Campello, Heloise Gripp, Nayara de Almeida Adriano, Audrei Gesser, Sueli Ramalho Segala, Karin Strobel e Ronice Muller de Quadros, além dos professores Fernando César Capovilla, Rimar Ramalho Segala e Antônio Campos de Abreu. Poderíamos descrever vários deles, porém iremos destacar apenas alguns.

A professora Shirley Vilhalva, mestre em linguística, é grande precursora nos estudos de língua de sinais indígenas brasileiras, como exemplo a língua Kaapor, uma língua da família Tupi-Guarani.

A tribo possui uma língua de sinais própria (Língua de sinais Kaapor brasileira – LSKB). Também temos a professora Marianne Stumpf, doutora em Informática da Educação, com pós-doutorado na Universidade Católica Portuguesa, líder do grupo de pesquisa de estudos sobre o SignWriting, registrado no CNPq.

FIGURA 12 – PESQUISADORAS EM LIBRAS - MARIANNE STUMPF (ESQUERDA); SHIRLEY VILHALVA (DIREITA)

FONTE: Disponível em: <http://karinfeneis.blogspot.com.br/2009/06/>. Acesso em: 21 mar. 2018.

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DICAS

Conheça mais pesquisadores na área de Língua Brasileira de Sinais – Libras, bem como líderes nas lutas políticas e educacionais, por meio do Manuário do INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos. Você também encontrará um dicionário em Libras. Disponível em: <http://www.manuario.com.br/sobre>. Acesso em: 22 maio 2018.

Observamos que os estudiosos e pesquisadores linguistas precisam saber muito sobre as línguas envolvidas e a cultura na qual estão inseridos, para poderem difundir seus estudos. Logo, compreendemos a responsabilidade e comprometimento envolvido em ser um pesquisador das línguas.

Alguns estudiosos também usam o termo Língua Brasileira de Sinais – Libras ou Língua de Sinais Brasileira – LSB. É usado para a identificação de línguas de sinais, seguindo o padrão internacional.

NOTA

Temos certeza de que você, acadêmico, já deve conhecer vários alfabetos em línguas de sinais. É considerável lembrarmos alguns alfabetos, criados pelas comunidades surdas de cada país, com o objetivo de refletirmos sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, devido ao fato da nossa língua se originar da Língua de Sinais Francesa – LSF. Veja a seguir:

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FIGURA 13 – ALFABETO MANUAL FRANCÊS

FONTE: AudioVisual UNIASSELVI.

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FIGURA 14 – ALFABETO MANUAL BRASILEIRO

FONTE: AudioVisual UNIASSELVI.

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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DICAS

Quer conhecer mais sobre os alfabetos em língua de sinais pelo mundo? Faça uma viagem e visite alguns blogs. Disponível em: <http://enflibras.blogspot.com.br/2009/03/alfabeto-manual-em-varios-idiomas-na.html> e <http://ensinesuasmaosafalar.blogspot.com.br/2015/04/alfabeto-manual-pelo-mundo.html>. Acesso em: 21 mar. 2018. Boa pesquisa!

Vamos lembrar brevemente a respeito dos parâmetros fonológicos na Língua Brasileira de Sinais, ou seja, o conjunto de unidades mínimas, de uma forma mais sucinta e, ao mesmo tempo, com informações complementares.

Assim, preste atenção aos pormenores considerados e pesquisados especialmente para o seu avanço na aprendizagem. Vamos dar início relembrando os parâmetros primários, segundo Quadros e Karnopp (2004).

FIGURA 15 – PARÂMETROS PRIMÁRIOS EM LIBRAS

FONTE: AudioVisual UNIASSELVI.

Parâmetros principaisOs parâmetros principais são:

a) configuração da mão (CM)b) ponto de articulação (PA)c) movimento (M)

MovimentoM

Configuração de mãoCM

Ponto de ArticulaçãoPA

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2.2.1 Locação/ponto de articulação

É um parâmetro caracterizado pelo espaço utilizado durante a produção do sinal/palavra. Há o lugar onde a mão predominante configurada toca ou não alguma parte do corpo. O espaço se divide em dois tipos: os que se articulam no espaço neutro, diante do corpo, e os que se aproximam de uma determinada região do corpo, como cabeça, cintura, ombros, por exemplo.

O parâmetro de locação/ponto de articulação torna possível fazermos diferentes sinais com a mesma CM. Acontece devido ao processo de mudança locativa.

IMPORTANTE

2.2.2 Movimento (M)

É um parâmetro muito importante, pois acontece no momento da sinalização, se o movimento é parado ou não. Os tipos de movimento abrangem as mãos, pulsos e antebraço.

Quanto à direção, os movimentos podem ser unidirecionais, bidirecionais ou multidirecionais. Outros conceitos utilizados são de categoria e frequência, sendo que a categoria descreve a qualidade, a tensão e a velocidade do movimento, além da frequência e o número de movimentos repetitivos.

FIGURA 16 – TIPOS DE MOVIMENTO (M)

Categorias de movimento

Tipo Direcionalidade Maneira Frequência

Contorno ou formaGeométrica- retilíneo- circular- semicircular-sinuoso- angular - pontual

Interação- alternado- de aproximação- de separação- de inserção- cruzado

Direcional- unidirecional(para cima)(para baixo)(para direita)(para esquerda)(para dentro)(para fora)(para o centro)(para lateral inferior esquerda)(para lateral inferior direita)(para lateral superior esquerda)

Qualidade, tensão e velocidade- continuo- de retenção- refreado

Repetição- simples- repetido

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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Contato- de ligação- de agarrar- de deslizamento- de toque(início, final, duplo)- de esfregar- de riscar- de escovar oupincelar

Torcedura do Pulso- rotação(p/dir. e p/esq.)- com refreamento(p/direita oup/esquerda)

Dobramento do pulso- para cima ('supinte')- para baixo ('pronate')- aberturasimultânea/agrativa- fechamentosimult./agrativo-curvamentosimult./alternado- dobramentisimult./alternado

(para lateral superior direita)(para especifico ponto referencial)- bidirecional:(p/cima e baixo)(p/esquerda e direita)(p/dentro e fora(p/laterais opostas - superior direita e inferior esquerda)- multidirecional

Não direcional

FONTE: Junior (2013, p. 70)

2.2.3 Configuração de mãos (CM)

Sem dúvida, durante sua atuação comunicacional, seja como profissional tradutor intérprete de libras ou nas conversas entre surdos, você já conhece muitas configurações de mãos no momento da sinalização. Assim, não retrataremos todas as criadas e usadas no Brasil. Entretanto, pesquisas mostram que existem mais de 60 CM.

ATENCAO

Para mais pesquisas sobre o tema, recomendamos o vídeo da TV INES em Libras e legendando, com o professor surdo Everaldo, que explica sobre cada parâmetro de Libras e suas características, citando exemplos visuais. Vamos lá! Aprofunde seus estudos! Disponível em: <http://tvines.ines.gov.br/?p=707>. Acesso em: 23 maio 2018.

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Segundo Junior (2013, pg. 54) afirma que, o primeiro modelo complexo com ênfase na configuração da mão foi proposto por Sandler (1987 e 1989, apud ISRAEL&SANDLER).

Houve a seleção de um conjunto de cinco características, uma para cada dedo. Se uma determinada configuração da mão seleciona o dedo indicador e polegar, então a especificação subjacente da seleção dedo para a configuração da mão é [+polegar/+indicador]. O modelo representa a economia na explicação fonológica e a possibilidade de melhor poder explicativo.

A anatomia da mão permite a flexão das articulações metacarpo falangeanas (ou “articulação base”) nas interfalangeanas proximais e distais (também referidas como articulações não base), ou ainda, a base e a não base podem ser articuladas ao mesmo tempo. Observe as quatro flexões de CM apresentadas.

FIGURA 17 – EXEMPLOS DE 4 FLEXÕES DE CM - POSIÇÃO DAS MÃOS

(estendida) (achatada) (enganchada) (curvada)

FONTE: Junior (2013, p. 54)

Durante nossos estudos, é pertinente trazer um exemplo retirado das pesquisas do professor Junior (2013), em sua dissertação de mestrado intitulada “Produções em Libras como segunda língua por ouvintes não fluentes e fluentes: um olhar atento para os parâmetros fonológicos”.

Demonstra uma breve síntese desse parâmetro em Libras. Destacamos que o estudo aborda os elementos fonológicos básicos na produção de sinais, e não na criação de modelos desses elementos.

QUADRO 1 – SUBCATEGORIA DA CONFIGURAÇÃO DE MÃOS

Dedos selecionados Indicador, médio anelar, polegar e combinação de dedos.

Flexão Estendido, achatado, enganchado e curvado.Abertura Aberta e fechadaEspalhado Espalhados ou nãoSeleção dos dedos Aberta e fechadaPolegar Estendido, oposição, cruzado.Orientação Em cima, embaixo, dentro, fora contralateral.

FONTE: Junior (2013, p. 54)

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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ATENCAO

As configurações de mãos são criadas na medida em que novos sinais vão sendo criados pela comunidade surda.

O dicionário digital de Língua Brasileira de Sinais, organizado pela Acessibilidade Brasil, apresenta 73 configurações. Disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br>. Acesso em: 21 mar. 2018.

2.2.4 Não manuais/expressões faciais e corporais

Referem-se ao movimento de face, dos olhos, da cabeça ou do tronco. As autoras continuam nos informando que expressões não manuais formam os componentes lexicais, que marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto (QUADROS; KARNOPP, 2004).

FIGURA 18 – CARACTERÍSTICAS DAS EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

Expressões não manuais da Língua de Sinais Brasileira

RostoParte superior

Sobrancelhas franzidas Olhos arregalados Lance de olhos

Parte inferior Bochechas inflamadas Bochechas contraídas Lábios contraídos e projetados e

sobrancelhas franzidas Correr de língua contra a parte inferior

interna da bochecha Apenas bochecha direita inflada Contração do lábio superior Franzir do nariz

Cabeça

Balanceamento para frente e para trás (sim) Balanceamento para os lados (não) Inclinação para frente Inclinação para o lado Inclinação trás Rosto e cabeça

Cabeça projetada para frente, olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidas Cabeça projetada para trás e olhos arregaladosTronco

Para frente Para trás Balanceamento alternado dos ombros Balanceamento simultâneo dos ombros Balanceamento de um único ombro

FONTE: Junior (2013, p. 54)

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ATENCAO

Podemos dizer que a face é a janela dos nossos sentimentos. Por meio dela são evidenciadas a tristeza, alegria, orgulho, submissão, rebeldia, entonação das palavras etc. O corpo fala, afirma, nega, direciona, intensifica, dramatiza.

Refletiremos um pouco mais sobre as expressões não manuais, tendo em vista que os surdos as utilizam de maneira sutil e enfática. Assim, é um parâmetro que não deveria ser aprendido em livros, mas nem sempre o profissional TILSP tem essa habilidade aguçada. Portanto, deverá ser um parâmetro bem explorado pelo profissional TILSP.

É pertinente trazermos análises de estudos a respeito do que chamamos de marcas fonológicas e morfológicas no momento em que estamos sinalizando. Preste atenção!

Destacamos, para você, a contribuição de Felipe (2013, p.11-18), em um artigo intitulado: “O discurso verbo-visual na língua brasileira de sinais – Libras”. A autora faz uma separação, destacando níveis fonológicos. Selecionamos alguns para seu entendimento.

• Marcas Fonológicas:

a) Gestos bucais (mouth gesture): são realizados concomitantemente com um sinal, mas não apresentam relação com a palavra oral correspondente à língua oral, podendo ser uma característica icônica do conceito representado pelo sinal.

Veja os exemplos a seguir:

FIGURA 19 – GESTOS BUCAIS

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 79)

bruuuHELICÓPTERO

pupupuFOGOS-DE-ARTIFÍCIO

fuuuuuuFOGUETE

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b) Imagem visual da palavra (Mouthings: mouth pictures ou word pictures): articulação da boca com base na pronúncia da palavra de uma língua oral auditiva, mas que se articula de maneira peculiar, não representando, de fato, a prolação da palavra de uma língua oral-auditiva.

FIGURA 20 – IMAGEM VISUAL DA PALAVRA

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 79)

cmCOMO

quQUAL

UFA

pqPARA QUÊ

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• Marcas Morfológicas:

c) Morfema adjetivo: movimento da cabeça e a direcionalidade do olhar, simultâneos ao sinal manual, marcam uma qualidade para o substantivo ou intensificador para um advérbio ou adjetivo.

FIGURA 21 – MORFEMA ADJETIVO

muitoLONGE

muitoALT@

EST@ LÁ

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 80)

d) Morfemas dêiticos: a direcionalidade do olhar e da cabeça, simultânea a um sinal pronominal ou locativo, marca uma referência espacial específica para os referentes indicados através de apontações

FIGURA 22 – MORFEMAS DÊITICOS

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TE@

EL@FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 80)

e) Morfema adverbial intensificador: uma expressão facial específica, através do levantar ou do franzir das sobrancelhas, às vezes, também com as bochechas infladas e com o arregalar dos olhos, simultânea a um adjetivo, substantivo ou verbo, marca um intensificador.

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FIGURA 23 – MORFEMAS ADVERBIAIS

continuadamenteTRABALHAR

TRABALHAR muito 11

TRABALHAR

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 80)

f) Caso modal: uma expressão facial específica, sinalizada pela boca e com a sinalização de um verbo, marca um caso modal.

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FIGURA 24 – CASO MODAL

FALAR demasiadamenteFALAR

ANDAR apressadamenteANDAR

lentamenteANDAR

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 81)

g) Negação, reprovação: a marcação não manual (MNM) pode ser uma expressão específica, sinalizada pela cabeça, movimentando-se repetidamente para os lados e com a testa franzida, simultaneamente para um determinado sinal. A cabeça levemente inclinada, as sobrancelhas baixas, os lábios estendidos lateralmente ou arredondados, o olhar com movimentos para as laterais (squinting eyes). Exemplos:

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FIGURA 25 – NEGAÇÃO/REPROVAÇÃO

nãoPODER-NÃO

nãoPRECISAR

NÃO

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 81)

f) Morfema para grau de adjetivo: a intensidade no arregalar ou diminuir as pálpebras, simultânea ao levantar ou franzir as sobrancelhas e ao inflar ou contrair as bochechas, marca os graus aumentativo, diminutivo e superlativo.

Segundo Campello (2011), para preservar e defender a língua de sinais no contexto político e linguístico, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS denominou a língua de sinais como LIBRAS – Língua de Sinais Brasileira, em 1988.

NOTA

FIGURA 26 – GRAU AUMENTATIVO

FONTE: Áudio Visual Uniasselvi

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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A forma afirmativa é neutra, quando não há uma MNM para ênfase afirmativa. A marca de negação, através da MNM, é obrigatória para as frases negativas. No entanto, o balançar da cabeça é opcional e a sua utilização pode caracterizar uma ênfase. Veja:

FIGURA 27 – ÊNFASE AFIRMATIVA

focoCASAD@

interrogativaEU

nãoNÃO

FONTE: Adaptado: Felipe (2013, p. 82)

Seguiremos agora relacionando, nos estudos fonológicos, o quinto e último parâmetro:

2.2.5 Orientação/direção

É a direção para qual a palma da mão aponta e o corpo se movimenta, conforme o local ao fazer o sinal. Brito (1995) enumera seis tipos de orientação, na palma da mão, na Língua de Sinais Brasileira (LSB), sendo “para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita ou para a esquerda”.

Tais parâmetros primários, combinados com os parâmetros secundários, resultam na palavra/sinal. Veja um exemplo de sinal criado a partir das unidades mínimas com os usos dos parâmetros primários:

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FIGURA 28 – USO DE PARÂMETROS

Palavra: Pesquisar – Junção das três unidades mínimas

CM: Punho aberto indicador estendido.

Movimento: Direcional para fora

Locação: palma das mãos.

Sinal/palavra: Pesquisar

FONTE: Adaptado: Disponível em: <http://www.acessibilidadebrasil.org.br/libras/>. Acesso em: 21 mar. 2018.

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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DICAS

Considere, na íntegra, o artigo da autora Felipe (2013) e aprofunde seus estudos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/bak/v8n2/05.pdf>. Acesso em: 22 maio 2018.

AUTOATIVIDADE

Liste alguns sinais/palavras que se opõem ou se assemelham quanto aos parâmetros fonológicos apresentados anteriormente:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Faremos uma breve abordagem sobre os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos da Língua Brasileira de Sinais – Libras, com o objetivo de explanar, para você, a necessidade dos estudos na área e sua importância para a atuação com TILSP. Assim, veja um resumo da linguagem e seus componentes gramaticais:

FIGURA 29 – COMPONENTES DA LINGUAGEM

Linguagem

Forma

Fonologia Semântica Pragmática

Componentesda Linguagem

Morfologia

Sintaxe

Conteúdo Uso

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/11791305/>. Acesso: 4 abr. 2018.

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2.2.6 Sintáticos

Assim como nas línguas orais, a sintaxe é a parte da gramática que estuda as relações entre as palavras dentro de uma frase, bem como as regras que as regem. Diferentemente das (LO) em (LS), é estudada a partir da organização dos sinais no espaço. Assim, o uso de expressões faciais se encontra de forma intuitiva nas estruturas de frase.

Os aspectos não manuais também são relevantes na sintaxe da Libras, visto que os enunciados possuidores de verbos com concordância na sua formação obrigatoriamente devem ter a marca (QUADRO; KARNOPP, 2004, p.163).

2.2.7 Semântica e pragmática

Estão relacionadas aos signos e seus significados. É importante relembrarmos o exemplo dado no início do tópico, sobre signo/palavras, dada a palavra “mesa”. Cleary e Viotti (2009, p. 70) fazem uma relação entre a semântica e a pragmática, ao dizerem que:

significado é uma entidade abstrata. Nós estávamos falando sobre o signo ‘mesa’. Existem milhões de mesas no mundo, cada uma diferente da outra: algumas maiores, outras menores, algumas de madeira, outras de metal, algumas redondas, outras retangulares. Se o signo ‘mesa’ associasse uma pronúncia para uma mesa específica, nós teríamos que dizer que o signo ‘mesa’ tem um significado diferente para cada objeto mesa que existe no mundo [...].

Assim, é pertinente seguirmos as mesmas correntes de estudo, relacionando esses dois aspectos, estendendo e objetivando o conhecimento e a formação. Assim, vamos considerar outro exemplo com relação ao significante versus significado.

De forma simples, o significado é a ideia criada no cérebro da pessoa com base em um estímulo sonoro, no caso das línguas (LO), e estímulos visuais, no caso da (LS), gerando o significante real. Entenda melhor por meio da figura a seguir:

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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FIGURA 30 – O SIGNIFICANTE E O SIGNIFICADO

FONTE: Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/gramatica-comunicacao-humana/>. Acesso em: 4 abr. 2018.

Signolinguístico =

substitui

significado

significante

Referente(real)

visual/acústico

mental

Vamos continuar fazendo nossa reflexão sobre os estudos da Semântica e da Pragmática, já relacionada anteriormente, um ramo da linguística que estuda a linguagem no contexto de seu uso na comunicação. Podemos dizer que enquanto a semântica e a sintaxe conjugadas constituem a construção teórica, a semântica conjuga a pragmática e procura mostrar que o significado linguístico depende, em grande parte, de conhecimentos extralinguísticos e do contexto em (LS).

Durante nossos estudos, notamos que as palavras, em sua significação comum, assumem muitas vezes outros significados distintos. Entenda melhor a partir do exemplo de sinais dado pelos autores Xavier e Barbosa (2014), no artigo intitulado “Diferentes pronúncias em uma língua não sonora? Um estudo da variação na produção de sinais das libras”. Os autores colocam os pares mínimos em que o contraste semântico se estabelece com base (a) na configuração, (b) na localização e (c) no movimento.

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FIGURA 31 – PARES MÍNIMOS

vs(a) CANADÁ PALMEIRAS (time)

vs

vs

(b) SACRIFÍCIO SANTA-CRUZ (bairro)

(c) SOGR@ SOLTEIR@FONTE: Adaptado: Xavier e Barbosa (2017, p.4)

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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DICAS

Para melhor fixação do seu conhecimento, leia o artigo na íntegra. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502014000200371>. Acesso em: 23 maio 2018. Tire proveito!

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LEITURA COMPLEMENTAR

MINIDICIONÁRIO DOS INTÉRPRETES DE LÍNGUA DE SINAIS

Conheça alguns termos utilizados pelos profissionais Tradutores Intérpretes de Língua de Sinais.

Intérprete: pessoa que interpreta de uma língua (língua fonte) para outra (língua alvo) o que foi dito.

Intérprete de língua de sinais: pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais.

Língua fonte: é a língua que o intérprete ouve ou vê para, a partir dela, fazer a tradução e interpretação para a outra língua (a língua alvo).

Língua alvo: é a língua na qual será feita a tradução ou interpretação.

Modalidades de tradução-interpretação: língua brasileira de sinais para português oral, sinais para escrita, português para a língua de sinais oral, escrita para sinais. Uma tradução sempre envolve uma língua escrita. Assim, poder-se-á ter uma tradução de uma língua de sinais para a língua escrita de uma língua falada, da língua escrita de sinais para a língua falada, da escrita da língua falada para a língua de sinais, da língua de sinais para a escrita da língua falada, da escrita da língua de sinais para a escrita da língua falada e da escrita da língua falada para a escrita da língua de sinais.

A interpretação sempre envolve as línguas faladas/sinalizadas, ou seja, nas modalidades orais-auditivas e visuais-espaciais. Assim, poder-se-á ter a interpretação da língua de sinais para a língua falada e vice-versa, da língua falada para a língua de sinais. Vale destacar que o termo tradutor é usado de forma mais generalizada e inclui o termo interpretação.

Tradutor: pessoa que traduz de uma língua para outra. Tecnicamente, tradução refere-se ao processo envolvendo pelo menos uma língua escrita. Assim, tradutor é aquele que traduz um texto escrito de uma língua para a outra. Tradutor-intérprete: pessoa que traduz e interpreta o que foi dito e/ou escrito.

Tradutor-intérprete de língua de sinais: pessoa que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa, em quaisquer modalidades que se apresentarem (oral ou escrita).

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TÓPICO 1 | LINGUAGEM E TEORIA

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Tradução-interpretação simultânea: é o processo de tradução e interpretação de uma língua para outra que acontece simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo. Significa que o tradutor-intérprete precisa ouvir/ver a enunciação em uma língua (língua fonte), processá-la e passar para a outra língua (língua alvo) no tempo da enunciação.

Tradução-interpretação consecutiva: é o processo de tradução e interpretação de uma língua para outra, que acontece de forma consecutiva, ou seja, o tradutor-intérprete ouve/vê o enunciado em uma língua (língua fonte), processa a informação e, posteriormente, faz a passagem para a outra língua (língua alvo).

FONTE: QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2004.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A linguística envolve a área de estudos do conhecimento humano das línguas e como elas funcionam. Analisamos algumas teorias e reflexões, relacionadas à prática da tradução e à interpretação relacionadas à língua de sinais.

• As modalidades das línguas orais e de sinais, bem como seus sistemas gramaticais, regidos por regras, e a importância de compreendê-los a fim de decodificar sua linguagem e atuar como TILSP.

• Há a história da língua de sinais por meio de estudos iniciados no século XIV, com o inglês Bulwer J. B. que, em 1644, escreveu o livro de língua de sinais inglesa “Chirologia: on the natural language of the hand” (Chirologia: na linguagem natural da mão).

• Há relação dos aspectos no que diz respeito aos níveis fonológicos e morfológicos, que devem estar associados ao contexto comunicacional em que estamos inseridos, uma vez que quando usamos esses aspectos ou recursos, como o fônico, uma troca de letras/omissão pode mudar o sentido da informação que queremos transmitir ou interpretar.

• Os parâmetros de expressão não manuais/faciais e corporais são importantes durante a passagem das mensagens na língua alvo para a língua fonte.

• Há alguns autores pesquisadores em Língua Brasileira de Sinais - Libras, com pesquisas relevantes para a gramática da língua. Como resultado, temos uma gama de material disponível para a pesquisa do profissional Tradutor Intérprete de Libras – TILS.

• Refletimos sobre o contexto do TILS, fazendo uma definição sobre tradutores de modo geral e, especificamente, sobre o profissional que atua com (LS), denominado Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS).

• Observamos que o usuário de LS não redunda necessariamente ser um profissional habilitado para atuar como tradutor intérprete de Língua de Sinais, mas como mediador de conteúdo, sobretudo se ele estiver atuando em sala de aula.

• Entendemos alguns termos importantes utilizados na área, a saber: Intérprete de língua de sinais: pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais.

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• O tradutor-intérprete de língua de sinais: pessoa que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa em quaisquer modalidades que se apresentarem (oral ou escrita). Intérprete de língua de sinais: pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais.

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AUTOATIVIDADE

1 Ao refletir sobre as modalidades e sistemas de línguas orais e de sinais, encontramos elementos de comunicação, necessários para efetuar uma conversação. Diante desse contexto, descreva tais elementos comunicacionais, dando ênfase à (LS).

2 Já sabemos que a Língua de Sinais LS permite que seus usuários utilizem estruturas nos diferentes contextos, e que as diversas funções linguísticas sejam correspondidas. Explique como acontece, citando pelo menos três exemplos, e utilizando os parâmetros primários e secundários.

3 Sobre as marcas morfológicas em Língua de Sinais:

I- Morfema adjetivo: um tipo de movimento da cabeça e a direcionalidade do olhar, simultâneos ao sinal manual, marca uma qualidade para o substantivo ou intensificador para um advérbio ou adjetivo.

II- Morfemas dêiticos: a direcionalidade do olhar e da cabeça, simultânea a um sinal pronominal ou locativo, marca uma referência espacial específica para os referentes indicados através de apontações.

III- Morfema adverbial: sinalizada pela cabeça, movimentando-se repetidamente para os lados e testa franzida, simultaneamente a determinado sinal, a cabeça levemente inclinada, as sobrancelhas baixas, os lábios estendidos lateralmente ou arredondados, o olhar com movimentos para as laterais (squinting eyes).

IV- Morfema para grau de adjetivo: a intensidade no arregalar ou diminuir as pálpebras, simultânea ao levantar ou franzir as sobrancelhas e ao inflar ou contrair as bochechas, marca os graus aumentativo, diminutivo e superlativo.

Assinale as alternativas corretas:

( ) As sentenças I, II e III estão corretas( ) As sentenças I e III estão corretas( ) As sentenças I, II e IV estão corretas( ) As sentenças II e III estão corretas

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TÓPICO 2

ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E

INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

“Observo os lábios com atenção e consigo entender algumas ideias, mas, na maioria das vezes, desanimo pelo cansaço e pela chateação [...]. Não há saídas a não ser quando se tem um intérprete perto” (PERLIN, 1998, p. 2).

A partir de agora, impulsionaremos algumas estratégias aplicadas na tradução e na interpretação em Língua de Sinais (LS). É digno notar que, para muitos surdos, os intérpretes de língua de sinais representam a possibilidade de comunicação com a língua auditiva, o dizer do pensamento aos ouvintes que não os conhecem, de contar histórias, de negociar com sujeitos que nem sempre ousam se aproximar e que temem a dificuldade na comunicação.

Segundo Perlin (1998), o intérprete também conhece a pessoa surda, as crenças e práticas de sua cultura e da comunidade, conforme o testemunho da atriz surda Laborit (1994): “Tenho minha intérprete, Dominique Hoff, aquela de sempre, aquela que me conhece de cor e salteado, que adivinha pelo primeiro sinal o que vou dizer”.

Ainda menciona que alguns consideram o surdo uma minoria excluída, já outros não entendem a mensagem e interpretam, erradamente, seu jeito. Assim, há a necessidade de o profissional estar atento à profissionalização, à busca pelo conhecimento, estratégias e atualizações à medida que novos sinais são criados.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

100

FIGURA 32 – INTÉRPRETE DE LIBRAS

Terra

FONTE: Disponível em: <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao/classificacaolinguasinais.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2018.

Perlin (1998) continua nos dizendo que a discussão ainda é incipiente e polêmica, pois instaura uma nova dinâmica interacional nas escolas (aluno-intérprete-professor), onde a demanda é significativa, como em outros contextos em que os surdos estão inseridos na nossa sociedade. A formação do profissional deve ser pensada tanto para a sua atuação dentro da sala de aula como também para além dos muros da escola.

Assim, faremos um breve retorno ao debate desse profissional inserido em contextos variados, porém com a proposta de pensarmos em outros elementos na atuação dos tradutores e intérpretes de língua de sinais/língua portuguesa (TILSP), incentivando a busca do fazer profissional, ampliando o conhecimento. Segundo Perlin (1998, p. 7):

Nos meios sociais, ouvintes persistem a ideia pré-ordenada da representação iluminista do normal, do perfeito, do ouvinte. A sociedade, a família e a escola seguem traçando outras representações para o surdo, que são colocadas em prova de qualquer contestação. Para adentrar o meio, a pessoa se depara com conceitos, valores e significados estabelecidos a partir de uma época, história, situação social, etc [...].

Pensar nos ambientes citados nos faz apontar para o profissional como um produto versátil. Ainda, não podemos ignorar a existência de diferentes graus de capacitações, idade, dentre outras características, que podem comprometer a inserção e divulgação da língua de sinais.

Embora já tenhamos muitos estudos a respeito, a área da interpretação e tradução de (LS) está em processo de construção. Assim, colocamos, neste livro, sugestões baseadas em estudos passados e atuais. Incentivamos que continue pela busca da melhoria do seu conhecimento e profissionalismo.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

101

DICAS

Acessando o link, você poderá baixar um livro organizado pela Secretaria Nacional de Justiça intitulado “A Classificação Indicativa na Língua Brasileira de Sinais”. Nele, você encontrará várias orientações oportunas a respeito das leis e postura do profissional. Disponível em: <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao/classificacaolinguasinais.pdf>. Acesso em: 22 maio 2018.

2 A TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

Dentre as diversas questões, conceitos e saberes que permeiam a profissão do TILSP, temos a difícil tarefa de fazer as melhores escolhas para que se tenha a melhor clareza possível entre as línguas que estão sendo traduzidas ou interpretadas.

Atingimos um estágio que, segundo Quadros (2004, p. 9) e Lacerda (2009, p. 14), “as tarefas de tradução e interpretação são distintas. A primeira envolve uma língua escrita, a segunda envolve línguas orais/sinalizadas”. Entretanto, durante seus estudos, você verá que as duas atividades estarão sempre interligadas no processo.

A própria lei que regulamenta a profissão, no ano de 2013, que você verá na Unidade 3, utiliza os dois termos para designar um só profissional: Art. 1o Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS.

NOTA

FIGURA 33 – TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.allblossomsidioms.com.br/traducao-e-interpretacao.php>. Acesso em: 23 mar. 2018.

Tradução e

Interpretação

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

102

A fim de que você tenha uma compreensão clara sobre a diferença entre as duas atividades, baseadas nos estudos a respeito do TILSP, conceituamos e identificamos de forma a diferenciá-las no que diz respeito à (LS) e à (LO), mostrando que tradução/interpretação se distinguem pelo seu contexto situacional:

a) Interpretar: pode ser feita de forma simultânea ou consecutiva, seja um discurso de um ouvinte ou de surdo.

b) Traduzir: o profissional pega o texto original/fonte, na (LS) ou (LO), pesquisa e analisa profundamente a estrutura gramatical que melhor se adapta àquele texto.

ATENCAO

Fique atento à Unidade 3. Você analisará a Lei n° 12.319, de 1° de setembro de 2010. Desde o início, ela usa os dois termos para designar um só profissional. Observe alguns trechos da lei:

As práticas de tradução/interpretação, entre uma língua oral (LO) e uma língua sinalizada (LS), apresentam características diferentes, uma vez que o profissional precisa trabalhar com um par linguístico que envolve duas modalidades diferentes, conforme exposto anteriormente. Assim, o livro de estudos abordará questões a fim de identificar algumas das características, pois sabemos que a passagem da mensagem de forma "precisa e apropriada" não é uma questão tão simples assim.

Conforme Quadros (2004, p. 79):

O objetivo da tradução-interpretação tem sido centrado neste aspecto [...]. O foco está no vocabulário e nas frases. Decisões sobre o significado estão baseadas nas palavras [...]. Pensa-se no intérprete como um reprodutor do texto – sinais, palavras, sentenças. Os falantes jogam o papel principal neste caso e os ouvintes são anônimos. A ideia é de que o papel do intérprete deva ser secundário.

Pense nas palavras citadas “tradução” e “a interpretação”, e dê foco no vocabulário e nas frases, como uma “reprodução” de um texto. Embora os dois processos estejam cunhados na translação de material linguístico-cultural de uma língua a outra, percebemos que são campos disciplinares interdependentes.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

103

Entretanto, quando se trata de LS, sua coexistência é inevitável e, ao mesmo tempo, distinta e singular em relação à especificidade de seu foco de estudos. Para continuar nossa análise, veja uma tabela com algumas características envolvidas nas duas atividades:

• Tradução • Interpretação-Tempo: ditado pelo tradutor.-Registro: com suporte.-Modalidade: escrita.

-Tempo: ditado pelo discurso/sinalizante.-Registro: desvanescente/pretensão.-Modalidade: oralidade.

Em geral, na área da tradução/interpretação de línguas de sinais, não conseguimos demarcar nitidamente as diferenças, assim como nas línguas orais, entre essas duas modalidades, porque na maioria das interlocuções, seja com textos escritos, seja com orais, estará em jogo a expressão “sinalizada” da língua de sinais.

NOTA

Várias publicações recentes e de renomados estudiosos mencionam a língua de sinais, tecendo importantes considerações e reflexões, evidenciando e afirmando a ascensão das pesquisas envolvendo a tradução e a interpretação em língua de sinais pelo mundo e os desafios envolvidos nas atividades.

Campello (2011) desenvolveu uma pesquisa, comparando a performance na tradução da música “Imagine”, escrita por John Lennon, realizada por dois tradutores: um de Língua Brasileira de Sinais e outro de Língua Americana de Sinais (ASL). Campello (2011) constatou que a tradutora de Libras usou mais os itens lexicais na tradução e a outra tradutora de ASL preservou muitas das características imagéticas das línguas.

DICAS

Assista ao vídeo do seriado americano Glee. Um grupo de surdos apresenta a música “Imagine” em ASL, legendado e em português. No vídeo, a figura de uma TILSP faz a tradução para a Libras. Acesse e veja as duas versões! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PzTD4g6vL34>. Acesso em: 22 maio 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

104

Como TILSP, você concorda que a LS transforma vidas?

Gostaríamos de fazer uma homogenia que cabe tanto ao sujeito surdo quanto ao ouvinte: pense em um grão de milho de pipoca. Se você o colocar em cima de qualquer lugar e não o tirar dali, ele continua sendo um grão de milho de pipoca, certo? Agora tire-o dali e coloque dentro de uma panela com óleo quente, no que ele se transformará? Sua resposta é clara, em uma pipoca! Conseguiu entender? O mesmo acontece quando há interação entre ambas as partes. No momento da tradução e interpretação, você está fazendo uma transformação na vida dos seus interlocutores.

2.1 A TRADUÇÃO COMO PROCESSO

Nas línguas orais (LO), a diferença sobre o processo de tradução está bem materializada, como mencionado na Unidade 1, que especificou claramente o papel do profissional tradutor. Entretanto, no caso de (LS), como visto anteriormente, acontece um paradigma pelo fato do mesmo profissional abranger as duas atividades, muitas vezes ao mesmo tempo, até porque a língua de sinais ainda não tem uma escrita socialmente constituída.

Na maioria, o TILSP não trabalha fazendo a tradução da escrita em LS, SignWriting para língua portuguesa. A tarefa da tradução aparece geralmente nos contextos escolares/universitários/empresariais, e o profissional traduz para a escrita na língua portuguesa (L2) o que o surdo sinaliza na (L1). Durante nossos estudos, vamos procurar especificar melhor como se dá o processo de tradução na LS.

SignWriting (escrita gestual, escrita de sinais) é um sistema de escrita das línguas gestuais  (no Brasil, línguas de sinais). Disponível em: <http://www.signwriting.org/brazil/>. Acesso em: 22 maio 2018.

NOTA

Se você ainda não conhece o processo de escrita da língua de sinais, familiarize-se brevemente com ele, segundo a pesquisadora que trouxe determinado sistema de escrita de sinais para o Brasil, Marianne Rossi Stumpf, no seu trabalho intitulado “SignWriting: as implicações e possibilidades para o futuro dos surdos”, no ano de 2011.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

105

FIGURA 34 – (CM) EM SIGNIWRITING (2011)

FONTE: AudioVisual UNIASSELVI.

Punho fechado de

frente

Punho berto de

perfil

Mão plana de frente

Mão curva de perfil

Punho fechado,

indicandor estendido de frente

Punho aberto,

indicador estendido de perfil

Mão plana aberta -

forma com 5 de frente

Mão curvado de

perfil

DICAS

Assista ao vídeo apresentado pela autora criadora da SignWriting, Valerie Sutton. Trata-se de um vídeo rápido, traduzido em (ASL) e legendado em português, que aproximará você da escrita de sinais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tFE3xkt-Rng>. Acesso em: 22 maio 2018.

Destacamos que, para traduzir da língua de sinais para língua portuguesa, é importante entender o sentido figurado das palavras e frases. Além do estudo da gramática da LS, é fundamental que o profissional TILSP procure conhecer a cultura e conviver com a comunidade surda, identificando elementos contextuais usados entre eles. Assim, seu cérebro fará as ligações necessárias a fim de fazer a tradução, envolvendo as expressões e palavras equivalentes em cada língua.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

106

FIGURA 35 – SIMULADO ENEM

FONTE: Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/linguagem-conotativa-denotativa-e-figuras-de-linguagem-simulado-enem/>. Acesso em: 23 mar. 2018.

Simulado Enem de Literatura

LINGUAGEM DENOTATIVA, CONOTATIVA E FIGURAS DE LINGUAGEM

Entretanto, se no momento da tradução você não encontrar palavras/frases que constituem a equivalência de uma língua para outra, e que acabam por nos distanciar da (LS), tenha em mente que temos que estudar de fato. Assim, destacamos algumas armadilhas e estratégias:

• Utilizar o bimodalismo: usar a estrutura de uma língua em outra, pensar na palavra na língua portuguesa e traduzir para (LS). Você estará condicionando o seu cérebro a continuar pensando na gramática da língua portuguesa.

• Pensar em GLOSA: JOÃO IR CASA MARIA. Em resultado, não conjugamos os verbos ou usamos os conectivos necessários para produção de frases. Cuidado! No momento da sinalização, acabamos incorporando mesmo que inconscientemente determinados conectivos.

• Utilizar muitos classificadores: para contação de histórias é muito eficaz, mas ficar fazendo apenas quadros mentais das frases, durante sua atuação como TILSP, pode haver a perda de contexto.

• Sinalização rápida: nos preocupar em sinalizar rápido demais para não perder, temendo perder parte do discurso. Seja humilde! Reconheça seu nível de conhecimento. Se possível, atue como TILSP em contextos que você realmente conhece, e caso não seja, busque auxílio e conhecimento.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

107

ATENCAO

GLOSA: Tipo de anotação, comentário para esclarecer um sentido de uma palavra ou passagem de uma mensagem. Uma ferramenta cujo símbolo (@) é usado no ensino de uma segunda língua escrita.

Note o exemplo a seguir de partes de uma história infantil na (LO) escrita. O profissional TILSP faz a tradução de forma fiel, respeitando a gramática da (LS).

FIGURA 36 – COMPARAÇÃO ENTRE MATERIAL LINGUÍSTICO EM (LO)/(LS)

Materiallinguístico em Português

" uma moça que trabalhava lá tentou botá-lo para fora mas o cachorro escapou... e escondeu-se em um canto"

Material linguístico em Libras

Narrador - MESA + Cachorro incorporado (esconde-se embaixo da mesa quietinho)T12T11T10T9

Moça incorporada - (segurando o cachorro) + Cachorro incorporado (escpa e vai para o chão)

T8T7T6

Moça incorporada - (enxota o cachorro e o pega no colo)T5T4T3T2T1

FONTE: Disponível em: Adaptado: <http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=16&idart=483>. Acesso em: 4 abr. 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

108

DICAS

Prezado acadêmico, veja os parâmetros em prática. Assim, aprenda mais, acessando o link do vídeo. Disponível em: <feitopelashttps://www.youtube.com/watch?v=kZ8XVCJelwc>. Acesso em: 22 maio 2018.

Preste atenção na frase a seguir: “Esse mundo é muito pequeno hein!”. Em geral, entre os ouvintes, a frase é usada quando encontramos alguém que já não víamos há muito tempo. Como ficaria a frase em Libras? Faríamos a tradução palavra por palavra? Usaríamos somente classificadores? Note a tradução feita pelo TILSP e também por um dos pesquisadores da escrita de sinais no Brasil, Madson Barreto:

FIGURA 37 – EXPRESSÃO EM LIBRAS: MUNDO É PEQUENO

FONTE: Disponível em: Adaptado: <https://www.youtube.com/watch?v=YIDAivuZZ-c&t=7s>. Acesso em: 23 mar. 2018

O uso simultâneo dos parâmetros (CM/LO/M/O/ENM) corretamente tornou possível a tradução sem perdas de conteúdo. Assimilou e expôs a essência da frase, e a mensagem foi passada sem prejuízos para seus interlocutores.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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Acadêmico, perceba que em nossos comentários, durante o tópico discursivo, estamos destacando a atividade da tradução em (LS), com o objetivo de diferenciarmos a tradução de interpretação. Em geral, as duas atividades coexistem entrelaçadas, quando se referem à Língua de Sinais.

NOTA

2.2 TÉCNICAS PARA INTERPRETAÇÃO

A interpretação para uma língua de sinais é um processo cognitivo semelhante ao que acontece com a interpretação entre línguas orais. Entretanto, devido às diferenças na modalidade, há uma característica a ponderar, com respeito à energia física e cognitiva que demanda a prática de interpretação, na qual as sentenças são construídas espacialmente. Salientaremos alguns autores, com a finalidade de entender a arte da interpretação para o profissional TISLP.

O trabalho de interpretação é dividido em dois tipos, simultânea e consecutiva, os quais são descritos por Rosa (2008, p. 115) da seguinte forma:

Na interpretação consecutiva, o intérprete senta-se junto à pessoa, ouve uma longa parte do discurso e, depois, verte-o para outra língua, geralmente com a ajuda de notas [...]. Todavia, o mais comum é o TILS fazer uso da interpretação simultânea, ou seja, sinaliza a fala do ouvinte em tempo real, acompanhando, em frações de segundos, o discurso produzido em português”.

São descritas as diferenças entre a interpretação simultânea e consecutiva. Ainda, na interpretação simultânea, além de conhecer o tema que será interpretado, o TILSP precisa saber em que tipo de evento atuará e qual a duração deste, conhecer previamente o local onde trabalhará para organizar o espaço de atuação. O orador discursa em português e a TILSP interpreta simultaneamente para Libras.

A interpretação simultânea é a mais requisitada. Observe algumas sugestões para sua prática:

• Antes de iniciar, é preciso marcar onde o intérprete se posicionará, verificar os aparelhos de som e imagem, a iluminação e temperatura do ambiente, além de deixar água à disposição do TILSP.

• Reserve assentos aos profissionais e surdos em um lugar em que as pessoas surdas tenham plena visão da interpretação, sem que haja interferência.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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• Caso o orador seja surdo, é fundamental que este fique em evidência e o intérprete se posicione de frente ao enunciador, munido ou não de microfone, para que haja contato visual de qualidade entre ambos e o TILSP possa fazer a interpretação de voz.

A interpretação consecutiva é usada em ocasiões mais restritas, bem como em seminários etc. Os oradores, sejam eles ouvintes ou surdos, proferem seus discursos em períodos completos e interrompem para permitir a interpretação. Ainda, o intérprete toma nota enquanto ouve, e faz a interpretação durante aquela pausa.

Existe também a interpretação sussurrada, que é uma versão da interpretação consecutiva ou simultânea, porém realizada em um tom de voz mais baixo, apenas para uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas em um ambiente.

É como se fosse uma variante desses dois modelos, executada por um intérprete que sussurra a informação no ouvido de outro profissional que chega até o TILSP, que está executando a interpretação. No caso, é o sistema de apoio (trabalho em equipe) que faz toda a diferença, para a mensagem chegar de forma fidedigna.

Diferentemente da interpretação consecutiva, no caso da interpretação simultânea, é recomendável um tempo de atraso da fala até a sinalização, de três a oito segundos, ou seja, você tem que ouvir no mínimo entre três e oito segundos, a fim de internalizar/contextualizar e interpretar a mensagem.

DICAS

O professor TILSP, da UFSC, montou um roteiro de como fazer uma interpretação simultânea no contexto político. Ele está totalmente em (LS), faça um esforço e o traduza para a (LO). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pmaRripJr74>. Acesso em: 22 maio 2018.

Veja mais exemplos de interpretações:

Interpretação de voz com intérprete em cabine: sendo mais comum em congressos e conferências, o orador sinalizante surdo fica no palco e o intérprete dentro da cabine fazendo sua fala. Ainda, existe a interpretação de voz sem a cabine, e o intérprete fica com o microfone sentado na primeira fileira, fazendo a voz do orador surdo sinalizante.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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ATENCAO

No tipo de interpretação em questão, o destaque vai para o orador e não para o profissional TILSP. Ainda, o profissional que faz a voz precisa ter uma entonação de voz clara e condizente com as expressões emitidas pelo orador, por exemplo, dar entonação quando necessário.

FIGURA 38 – INTÉRPRETE DE VOZ CABINE

FONTE: Disponível em: <http://jcr.ifsp.edu.br/html/wordpress/wp-content/uploads/2017/02/O-Tradutor-Int%C3%A9rprete-de-Libras-e-Portugu%C3%AAs-no-IFSP.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2018.

FIGURA 39 – INTÉRPRETE DE VOZ

FONTE: Disponível em: <http://jcr.ifsp.edu.br/html/wordpress/wp-content/uploads/2017/02/O-Tradutor-Int%C3%A9rprete-de-Libras-e-Portugu%C3%AAs-no-IFSP.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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Durante nossos estudos, deparamo-nos com as pesquisas da professora e pesquisadora Neiva de Aquino Albres, no seu artigo “Mesclagem de voz e tipos de discurso no processo de interpretação da língua de sinais para o português oral”, publicado no ano de 2010, pela revista Cadernos de tradução v. 2, nº 26. p. 292-306. Embora não seja necessário pontuar todas elas, é necessária uma análise de alguns pormenores:

• Altura da voz: corresponde ao volume da emissão, ou seja, ao grau de energia que é empregado. O intérprete deve conhecer seu próprio potencial vocal. Importante conhecer o local onde desenvolverá a interpretação. Verificar acústica, propagação do som, saber se haverá microfone ou não. Posicionar o microfone um pouco abaixo da boca, mais ou menos na altura do queixo, entre 5 e 10 centímetros da boca, pois se assim não o fizer, será desagradável ouvi-lo com uma voz mais abafada.

• Articulação: deve expressar-se com clareza e propriedade em português, levando em conta os aspectos culturais e linguísticos, respeitando o registro usado no discurso original. Assim, dicção significa a clareza, beleza, sensibilidade de comunicação da língua.

• A velocidade da fala: não há velocidade padrão para falar. Entretanto, o intérprete deve acompanhar o ritmo do conferencista, que faz uso da língua de sinais (emissor), a depender da característica, que pode utilizar alguns recursos que serão importantes para melhorar a qualidade de sua comunicação. Por exemplo: O emissor fala mais rápido, o intérprete deve aprimorar a dicção. Pode fazer uma leve pausa ao final do pensamento. Assim, os receptores terão mais facilidade para compreender. Outro exemplo: O emissor fala mais devagar, pois parece que o intérprete teria mais facilidade. Deve cuidar com a inflexão da voz de encerramento quando ainda estão no meio da frase, ou de continuidade.

• Trabalho em equipe: O trabalho em equipe na interpretação da (LS) para (LO) é diferente da (LO) para (LS). O intérprete de apoio deve estar sentado ao lado do intérprete da vez, e atento acompanhando a sinalização do conferencista e, ao mesmo tempo, a interpretação do colega para quando o intérprete da vez necessitar. Os dois devem combinar um leve toque na perna quando precisarem de ajuda. Se o de apoio perceber que o intérprete da vez se perdeu, é necessário um toque.

ATENCAO

É importante ressaltar que, independentemente das atividades, sejam elas de tradução ou de interpretação, o ideal é que haja mais de um profissional como apoio, para que faça um revezamento sempre que necessário.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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Rudner, Pereira e Paterno (2010, p. 4) mostram a interpretação entre duas línguas como um desafio mental:

Entender os processos envolvidos na interpretação.Estar ciente das escolhas linguísticas presentes em uma situação interpretativa.Tomar decisões intencionais e não automáticas na realização da interpretação.Proporcionar um entendimento da mecânica da interpretação para que o intérprete possa agir propositalmente e não apenas sendo guiado pela intuição.

No artigo “Teoria interpretativa da tradução e teoria dos modelos dos esforços na interpretação: proposições fundamentais e inter-relações”, Freire (2008, p.159-160) destaca os estudos de Gile (2015), indicando que o processo de interpretação compreende quatro esforços, denominados:

1) esforço de audição e análise (A): refere-se à escuta do intérprete do discurso fonte;

2) esforço de produção (P): produção de fala simultânea; produções de anotações; automonitorização e autocorreção;

3) esforço da memória de curto prazo (M): operações de memórias a partir do momento em que um segmento de voz é ouvido, até que seja reformulado no discurso-alvo.

4) esforço de coordenação (C): necessário para coordenar e direcionar a atenção entre os três esforços.

FIGURA 40 – SISTEMA SIMBÓLICO DO PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO

AFigura

(RA)

ERealizar sinal

em Libras

DSequenciar letras em

Língua Port.

CAnimação do

sinal da palavra em Libras

BPalavra

Língua Port.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/rbee/v23n2//1413-6538-rbee-23-02-0215-gf01.jpg>. Acesso em: 4 abr. 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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O nível de esforço cognitivo para interpretar é mais intenso que o de traduzir. Gile (2015) menciona que a interpretação requer uma espécie de “energia” mental, cuja reserva disponível é limitada. Ela consome praticamente toda a energia mental e, algumas vezes, a demanda vai além da reserva disponível. No caso, a performance do intérprete se deteriora (GILE, 2015).

Assim, a partir dos modelos de esforços interpretativos, queremos mostrar a importância e o que está envolvido, incorporando e dando sentido ao que está sendo dito de maneira fiel. Já entendemos que, na interpretação, geralmente o grau de dificuldade é maior que na tradução, pois o profissional tem pouco tempo para executar sua função e fazer suas escolhas lexicais, e nem sempre conta com algum apoio no momento de exercer seu papel.

DICAS

Que tal ampliar suas pesquisas? No link a seguir, você encontrará vários livros da professora pesquisadora Neiva Albres de Aquino. Disponível em: <http://neivaalbres.paginas.ufsc.br/livros-e-capitulos/>. Acesso em: 22 maio 2018.

Para complementar nossos estudos, considere as menções de Quadros (2004) sobre alguns tipos de discursos existentes, para os quais o profissional intérprete de (LS) está constantemente exposto, segundo Callow (1974).

• Narrativo: reconta uma série de eventos ordenados mais ou menos de forma cronológica. É um discurso muito usado entre as comunidades surdas, pois explora muito a visualidade e incorporação dos personagens. Assim, o TILSP deve estar atento aos detalhes, para uma boa atuação do discurso.

• Persuasivo: objetiva influenciar a conduta de alguém.• Explicativo: oferece informações requeridas em determinado contexto.• Argumentativo: objetiva provar alguma coisa para a audiência.• Conversacional: envolve a conversação entre duas ou mais pessoas.• Procedural: dá instruções para executar uma atividade ou usar algum objeto.

Após a exposição sobre os tipos de discursos, podemos concluir que o intérprete, quando bem constituído, tem condições de identificar os elementos que serão apresentados, o que possibilita preparar-se de antemão para sua atuação.

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DICAS

Acesse o vídeo da TV INES, intitulado “Manuário - Ronice Quadros”. Preste atenção ao trabalho interpretativo maravilhoso da TILSP, contando a história da autora Ronice Quadros Muller. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zOc80LCVN1o>. Acesso em: 22 maio 2018.

A partir do que já estudamos, podemos apresentar alguns fatores importantes para uma boa interpretação:

• Público-alvo.• Conhecer as convenções linguísticas, sociais e interativas.• Ter clareza, qual a intenção do emissor.• Uso da pragmática: analisando o uso concreto da linguagem dos falantes. • Contextualização.• Adaptação à cultura surda (metáfora, provérbios).• Classificadores.• Fuga do bimodalismo.• Fidelidade da interpretação.• Incorporação do personagem.• Respeito e busca pelo conhecimento sobre os parâmetros de LS.

Que tal interagir mais sobre o assunto, acessando o link do Instituto Santa Terezinha –IST? Você encontrará e coletará vários materiais relacionados com a tradução e interpretação em Libras. Disponível em: <http://www.institutosantateresinha.org.br/links/>. Acesso em: 22 maio 2018.

NOTA

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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3 MODELOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Abrimos alguns precedentes para os estudos envolvendo a tradução e interpretação em língua de sinais versus língua portuguesa. A partir de agora, analisaremos alguns modelos de tradução e interpretação, indispensáveis ao profissional TILSP. Gesser (2011, p. 26) no diz que

em quaisquer processos de interpretação, estão relacionados fatores tais como: memória, tomada de decisões, categorização e estratégias de interpretação, por exemplo. Assim sendo, cada uma das modalidades supracitadas exige habilidades e técnicas distintas do tradutor intérprete.

Há os princípios de alguns modelos de processamento, conforme apresentados em Quadros (2004, p. 75-78). Acompanhe os modelos a partir de agora:

• COGNITIVO: 1) entendimento da mensagem na língua fonte; 2) capacidade de internalizar o significado na língua alvo; 3) capacidade de expressar a mensagem na língua alvo sem comprometer a mensagem que chega na língua fonte. O processo seria:

Mensagem original > Recepção e compreensão > Análise e internalização > Expressão e avaliação > Mensagem interpretada para a língua alvo.

FIGURA 41 – MODELO COGNITIVO

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/3284139/>. Acesso em: 21 abr. 2018.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

117

ATENCAO

Assista ao vídeo do programa Fantástico, que demonstra uma reportagem sobre acessibilidade. Preste atenção como a profissional expressa esse processo cognitivo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eBAqpNV_74U>. Acesso em: 22 maio 2018.

• INTERATIVO: aponta os componentes que afetam a interpretação: a) participantes: iniciador; receptor e o intérprete. Talvez, ainda, o relay/

revezamento; b) mensagem;c) ambiente (contexto físico e psicológico);d) interações: os efeitos de cada categoria dependem demais, implicam na

interpretação.

Os intérpretes devem considerar alguns aspectos. Quadros (2004) considera que são elementos importantes para refletirmos, como:

• a mensagem está sendo interpretada (simultaneamente ou consecutivamente); • o espaço de sinalização que está sendo usado (amplo ou reduzido, de acordo

com a audiência);• fatores físicos (como iluminação e ruídos); • feedback da audiência (movimento da cabeça e linguagem corporal); • decisões em nível lexical, sintático e semântico.

ATENCAO

Um exemplo do modelo está no vídeo “Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de Sinais – Campus São Carlos. No primeiro momento, a professora surda dá seu depoimento e o vídeo segue com uma profissional TILSP, fazendo a tradução e interpretação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m2KkavKyqbw>. Acesso em: 22 maio 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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• INTERPRETATIVO: entender as palavras/sinais para expressar seus significados corretamente na língua alvo. O foco está exclusivamente para o sentido da mensagem. Vamos fazer um exercício rápido! Preste atenção! Leia a frase a seguir, escolhida intencionalmente. Você consegue perceber onde está o foco?

FIGURA 42 – FALTA DE INTÉRPRETES

" O que falta nas Universidades são apenas intérpretes em linguagem de sinais".

FONTE: Disponível: <https://empautaufs.wordpress.com/2009/06/03/se-tiver-interprete-eu-agradeco/>. Acesso em: 4 abr. 2018.

O foco está na palavra “linguagem”, pois sabemos que a terminologia correta é “língua de sinais” e não “linguagem de sinais”. Da mesma forma, o modelo fica evidente durante a atuação do profissional TILSP.

• COMUNICATIVO: a mensagem é codificada para a transmissão. O código pode ser em português, a língua de sinais ou qualquer outra forma de comunicação. A mensagem é transmitida através de um CANAL e quando recebida é CODIFICADA.

• SOCIOLINGUÍSTICO

Quadros (2004) menciona que, nesse modelo, o aspecto fundamental do processo de tradução e interpretação se baseia nas interações entre os participantes. O intérprete deve reconhecer o contexto, os participantes, os objetivos e a mensagem. Podem ser consideradas as seguintes categorias:

a) a recepção da mensagem;b) processamento preliminar (reconhecimento inicial);c) retenção da mensagem na memória de curto prazo (a mensagem deve ser

retida em porções suficientes para então passar ao próximo passo);d) reconhecimento da intenção semântica (o intérprete adianta a intenção do

falante); e) determinação da equivalência semântica (encontrar a tradução apropriada da

língua); formulação sintática da mensagem apropriada;f) produção da mensagem (o último passo do processo da interpretação).

Nesse modelo, é como se naquele momento o cérebro efetuasse uma trilha de compartilhamentos a fim de fazer a interpretação. Note a figura a seguir:

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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FIGURA 43 – CONEXÃO CEREBRAL

FONTE: Disponível em: <https://www.mdig.com.br/index.php?itemid=11467>. Acesso em: 4 abr. 2018.

• BILÍNGUE E BICULTURAL: Há uma consideração especial quanto à postura do intérprete e seu comportamento em relação às línguas e culturas envolvidas. O intérprete tem a autonomia de definir seu papel com base em cada contexto. É necessário considerar o contato e convívio com a comunidade surda, com o objetivo de se conhecer o grupo com o qual trabalha. Por fim, Quadros (2004, p. 78) faz algumas considerações com base nos modelos apresentados:

1) ênfase no significado e não nas palavras; 2) cultura e contexto apresentam um papel importante em qualquer

mensagem.3) tempo é considerado o problema crítico (a atividade é exercida em

tempo real, envolvendo processos mentais de curto e longo prazo). 4) interpretação adequada é definida em termos de como a mensagem

original é retida e passada para a língua alvo, considerando também a reação da plateia. Os intérpretes devem saber as línguas envolvidas, entender as culturas em jogo, ter familiaridade com cada tipo de interpretação e com o assunto.

Ao analisarmos a mensagem da língua fonte para compormos a mensagem da língua alvo, Quadros (2004) chama a atenção para o modelo do processo da interpretação que aqui adaptamos, fazendo a dicotomia/ramificação para seu melhor esclarecimento: a análise da mensagem fonte e a composição da mensagem alvo.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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Devemos considerar os seguintes aspectos:

• habilidade processual (habilidade de compreender a mensagem e construir a mensagem na língua alvo);

• organização processual (monitoramento do tempo, estoque da mensagem em partes, busca de esclarecimento);

• competência linguística e cultural;• conhecimento (experiência e formação profissional); • preparação; • ambiente (físico e psicológico); • filtros (hábitos do intérprete, crenças, personalidade e influências).

AUTOATIVIDADE

Acesse o link do desenho intitulado “Berni na Ilha”. É a história de um urso perdido em uma ilha, que passa por algumas adversidades. Faça a tradução escrita em (LO) e, após a interpretação em (LS), coloque em prática as estratégias e conselhos sugeridos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KK21I-nCEr4>. Acesso em: 22 maio 2018.

DICAS

No livro “Intérprete de Libras”, as autoras Cristiane Seimetz Rodrigues e Flávia Regina Valente abordam o panorama e perspectivas da tradução e interpretação em Libras até as contribuições do tradutor e intérprete no desenvolvimento das libras.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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LEITURA COMPLEMENTAR

PESQUISA TILSP – VISÃO DA FORMAÇÃO E PRÁTICA Ao longo dos nossos estudos, fizemos algumas pesquisas relacionadas ao

profissional. Vamos dividir com você duas delas, observe as respostas dadas às mesmas perguntas, e veja se você se identifica nelas.

PROFESSOR 1: ENTREVISTADO: TILSP: IFC/SC

1 HÁ QUANTO TEMPO ATUA NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA? E EM QUE CONTEXTO?

Desde 2009, logo, nove anos. Na maior parte em contexto educacional, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior. Atuei também em seminários e contextos midiáticos.

2 COMO VOCÊ SE PROFISSIONALIZOU NA ÁREA? E QUAIS OS CURSOS QUE FEZ? FAÇA UM BREVE RELATO.

O primeiro curso que fiz foi em 2006, quando eu ainda era menor de idade. Em seguida, fiz os cursos básico, intermediário e avançado, dentre outros, oferecidos pela rede estadual de educação, particulares em grupo e particulares individualmente também, curso preparatório para Prolibras, diversos cursos à distância e pós-graduação lato sensu em Libras. Na busca de conhecer melhor a língua encantadora, fiz muitos estudos não dirigidos, além de revisão bibliográfica, assisti a incontáveis vídeos no Youtube sobre/de surdos, além de contato com a comunidade surda.

3 EM SUA OPINIÃO, QUAL A DIFERENÇA ENTRE A TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO?

A tradução é feita tendo por base um registro, nas línguas orais o texto escrito, nas línguas de sinais por vídeo ou escrita de sinais.

A interpretação é feita de forma simultânea ou consecutiva, tendo pouquíssimo tempo (questão de segundos) para fazer escolhas interpretativas e correções.

Tradução e interpretação consistem em trazer a mensagem de uma língua para outra, buscando a mesma equivalência de sentido da língua fonte para a língua alvo.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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4 NO MOMENTO DE SUA ATUAÇÃO COMO PROFISSIONAL, QUAIS AS DIFICULDADES QUE VOCÊ ENCONTRA?

No contexto educacional: dificuldades em ter um trabalho de qualidade com os professores, pois eles precisam passar seu plano de aula ao intérprete com antecedência, e isso é raro; pouco tempo para fazer o devido estudo das disciplinas; o aluno/acadêmico surdo geralmente tem uma grande defasagem de conhecimentos em relação aos demais alunos/acadêmicos, e isso dificulta muito que ele acompanhe as aulas no mesmo ritmo dos demais.

No contexto interpretativo: dificuldade para buscar termos equivalentes; em alguns casos, dificuldade para adaptar, da língua fonte para a língua alvo, de forma com que o público-alvo compreenda o discurso; cansaço mental depois de horas ininterruptas interpretando.

5 COMO VOCÊ RESOLVE ESSAS DIFICULDADES? QUE RECURSO UTILIZA? BREVE RELATO.

No contexto educacional, busco me aproximar dos professores e relatar as minhas necessidades como intérprete de Libras e deixar claro que não tenho domínio de todos os conteúdos de todas as disciplinas. Peço que me entreguem seus planos de aula e eventualmente façam explicações de questões pontuais. Com relação às dificuldades do aluno/acadêmico surdo, faço o máximo para deixar claro aos envolvidos as especificidades desse sujeito (sua experiência visual), sua língua e sua cultura.

No contexto interpretativo: faço anotações assim que eu termino de interpretar ou quando tive algum termo que senti muita dificuldade de encontrar um equivalente; fiz datilologia ou omiti, anoto e busco seu significado ou penso em uma estratégia, para que assim, na próxima vez, não tenha esse entrave. Para diminuir o cansaço mental, procuro me hidratar e me alimentar bem.

6 EM SUA OPINIÃO, O QUE É PRECISO PARA SER UM TILSP?

Conhecer a cultura surda, ter domínio da língua de sinais e seus recursos, ter habilidades para aplicar as estratégias de tradução/interpretação. Ter a humildade de dizer que não possui competência referencial de todos os assuntos. Estudar sempre. Manter-se atualizado. Reconhecer que é um mediador da comunicação.

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TÓPICO 2 | ESTRATÉGIAS APLICADAS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAIS

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PROFESSOR 2:

1 HÁ QUANTO TEMPO ATUA NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM (LS) E EM QUE CONTEXTO?

R.: Atuo na área de tradução e interpretação há três anos, no contexto educacional.

2 COMO VOCÊ SE PROFISSIONALIZOU NA ÁREA? E QUAIS OS CURSOS QUE FEZ? FAÇA UM BREVE RELATO.

R.: Realizei vários cursos de Libras, do básico ao avançado, diversos cursos específicos, de formação em Tradução/Interpretação de Libras, como de Intérprete Educacional, Interpretação Jurídica, Procedimentos Técnicos da Tradução e sou pós-graduada em Tradução e Interpretação em Línguas de Sinais. Bem como, é claro, da formação informal através do contato com a comunidade surda.

3 EM SUA OPINIÃO, QUAL A DIFERENÇA ENTRE A TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO?

R.: A interpretação está ligada à ORALIDADE do discurso e é realizada em tempo real para a criação. Já a tradução parte de um texto escrito, com tempo disponível de registro, podendo ser analisada, revisada ao longo de um período. O que diferencia é o processo e o fator tempo.

4 NO MOMENTO DE SUA ATUAÇÃO COMO PROFISSIONAL, QUAIS AS DIFICULDADES QUE VOCÊ ENCONTRA?

R.: Professores despreparados para receber o aluno surdo, planejando aulas pensando somente no aluno ouvinte, sem realizar nenhuma adaptação do conteúdo e que não disponibilizam o conteúdo com antecedência ao intérprete. Professores que atribuem ao intérprete a responsabilidade do processo ensino-aprendizagem dos alunos surdos. Surdos que não sabem Libras, usam apenas sinais caseiros e, muitas vezes, a falta de companheirismo entre os intérpretes.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

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5 COMO RESOLVE ESSAS DIFICULDADES? QUE RECURSO UTILIZA? BREVE RELATO

R.: Solicito à direção no início do ano, geralmente na primeira reunião pedagógica, um momento para esclarecer as atribuições do intérprete, e sobre a cultura surda. Procuro sempre me apresentar como um aliado, um parceiro para os professores e não um rival. Quanto ao fato do aluno surdo não saber Libras, procuro sempre informar os especialistas da escola sobre o fato, para que orientem os familiares e encaminhem o aluno para o SAPS (serviço de atendimento à pessoa surda), serviço realizado na proximidade da cidade onde atuo. Bem como no momento da explicação, e ciente da dificuldade do aluno, vou introduzindo os sinais em Libras aos poucos, assim o aluno vai substituindo os sinais caseiros pelos sinais em Libras.

6 EM SUA OPINIÃO, O QUE É PRECISO PARA SER UM TILSP?

R.: Primeiramente, precisa ter fluência em Libras, deve ser uma pessoa íntegra, que respeite o código de ética da profissão, e disposta a realizar uma busca constante pelo conhecimento da Libras, pois é uma língua viva e está em constante transformação. Com a inserção da pessoa surda nos diversos setores da sociedade, vão surgindo novos sinais e o intérprete deve acompanhar o ritmo das mudanças. Assim como, participar de cursos específicos de interpretação e tradução para aperfeiçoar suas habilidades e estratégias.

FONTE: SANTOS, S. P. Adriana. Pesquisa tradutores e intérpretes de Libras e língua portuguesa – SC. Blumenau, 2017

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Consideramos algumas estratégias aplicadas na Tradução e Interpretação em Língua de Sinais (LS). Vimos como os TILSP representam a possibilidade de comunicação com os sujeitos surdos, como também a responsabilidade envolvida nas atividades.

• Contextualizamos as teorias que distinguem o tradutor do intérprete e suas

funções que, embora distintas, coexistem juntas, evidenciando diferenças e semelhanças.

• Nas línguas orais (LO), a diferença sobre o processo de tradução está bem materializada, porém, no caso de língua de sinais (LS), a maioria dos teóricos e até mesmo os profissionais da área utilizam os dois termos para definir duas atividades distintas, porém com paradigmas iguais.

• Destacamos que, para traduzir da língua de sinais para a língua portuguesa, é importante entender o sentido figurado das palavras e frases. Assim, é fundamental conhecer a cultura, conviver com a comunidade surda e identificar elementos contextuais.

• A tarefa de interpretação para uma língua de sinais é um processo cognitivo semelhante ao que acontece com a interpretação entre línguas orais. Entretanto, devido às diferenças de modalidade, a prática é mais exaustiva.

• Existe ainda a interpretação sussurrada, porém é uma versão da interpretação consecutiva ou simultânea, realizada em um tom de voz mais baixo, apenas para uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas em um ambiente.

• Destacamos algumas armadilhas e estratégias que poderão ser úteis. Utilizar o bimodalismo: ou seja, usar a estrutura de uma língua em outra; pensar em GLOSA: exemplo: JOÃO IR CASA MARIA (não conjugamos os verbos ou não usamos os conectivos necessários para produção de frases); sinalização rápida (preocupar-se em sinalizar rápido demais para não perder, temendo perder parte do discurso); seja humilde e reconheça seu nível de conhecimento.

• Analisamos os tipos de discursos existentes e pesquisados por alguns autores, os quais estão presentes ao profissional intérprete de LS: narrativo, persuasivo, explicativo, argumentativo, conversacional, procedural.

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• Estudamos alguns modelos de tradução, interpretação e a forma como acontecem no momento da atuação: cognitivo, interativo, interpretativo, sociolinguístico, comunicativo, bilíngue e bicultural.

• Destacamos uma breve pesquisa feita com dois profissionais TILSP. Eles deixam claro a importância de uma boa formação e a busca incansável pelo conhecimento, em traduzir e interpretar da língua fonte para a língua alvo.

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AUTOATIVIDADE

1 Destaque as principais semelhanças e diferenças nas atividades de tradução e interpretação da língua fonte (LO) para língua alvo (LS).

2 O trabalho de interpretação é dividido basicamente em dois tipos: simultânea e consecutiva, os quais são descritos por Rosa (2008, p. 115). Sobre esses modelos, descreva cada um deles.

3 Durante seus estudos, você observou muitas ações e recursos para uma boa atuação. Assim, apresente alguns fatores importantes para uma boa tradução e interpretação.

4 Sobre alguns tipos de discursos existentes, marque a alternativa correta: I- Narrativo: objetiva provar alguma coisa para a audiência.II- Persuasivo: objetiva influenciar a conduta de alguém e procedural: dá

instruções para executar uma atividade ou usar algum objeto.III- Explicativo: oferece informações requeridas em determinado contexto.IV- Argumentativo: reconta uma série de eventos ordenados mais ou menos

de forma cronológica.

Assinale as alternativas corretas:

( ) As sentenças I, II e III estão corretas.( ) As sentenças I e III estão corretas.( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.( ) As sentenças II e III estão corretas.

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TÓPICO 3

ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

[...] à medida que os surdos ampliam suas atividades e participam nas atividades políticas e culturais da sociedade, o tradutor intérprete de língua de sinais é mais qualificado e reconhecido profissionalmente (QUADROS, 2004, p. 16).

Sabemos que os surdos possuem uma diferença linguística em relação aos ouvintes, diferença que precisa ser respeitada em todos os aspectos. Para os estudos anteriores, atentamos para a responsabilidade e comprometimento do TILSP com respeito à tradução/interpretação.

Podemos dizer que é como se ele estivesse criando algo novo em suas próprias mãos quando explica, explana, dialoga da língua fonte para a língua alvo. Notamos muitas características, estratégias e possibilidades do profissional e, acima de tudo, a fidelidade como indispensável nos diversos momentos. Novamente, encontramos reflexões sobre as demandas dos dois profissionais:

De fato, o tradutor e o intérprete, independentemente do par linguístico em que atuam, por exemplo, português-inglês ou português-libras, desenvolvem habilidades distintas na sua profissão. Algumas das habilidades perpassam pelos dois campos de atuação, mas a interpretação cria uma demanda maior para o profissional, se considerarmos que as suas escolhas são feitas no momento e no contexto imediato das produções linguísticas (GESSER, 2009, p. 23)

Embora os campos da tradução e da interpretação fiquem entrelaçados, ou como disse a autora, perpassam pelos dois campos, é notório que, na atividade da tradução, temos um tempo maior para a execução, enquanto as atividades de interpretar precisam ser mais elaboradas, assistidas, articuladas, até por serem mais visíveis, ocasionando muitos questionamentos com relação à passagem da mensagem.

Nosso objetivo não é identificar prejuízos para a saúde física e emocional relacionados à profissão, como a exaustão, causada pelo esforço, cognitivo e corporal, mas poderá ser uma problemática para algumas pessoas. Para entendermos melhor, faça um teste rápido com seu cérebro com a imagem a seguir:

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

FIGURA 44 – EXERCITE SEU CÉREBRO

FONTE: Disponível: <https://meucerebro.com/pensamento-ativo-ou-passivo/>. Acesso em: 21 abr. 2018.

Foi rápido e fácil fazer a leitura? São exercícios que a neurociência incentiva para haver a melhora e para mantermos a saúde do nosso cérebro, independentemente da língua que falamos. Agora, reflita sobre a arte de traduzir e interpretar em Língua Brasileira de Sinais - Libras, quanto à precisão e rapidez para transmissão de mensagens. Vamos nos deparar com algumas situações parecidas.

Assim, como nosso cérebro e nosso corpo reagem? No Tópico 1 da unidade, relacionamos o nosso pensamento ao uso da nossa expressão corporal e facial. Assim, treine alguns exercícios a fim de melhorar suas atividades cerebrais e, em consequência, ter uma boa expressão corporal facial durante suas atividades profissionais.

Cada um poderá fazer uma reflexão dentro de suas experiências e em suas atividades de tradução e interpretação, além de concluir como pessoalmente é afetado. Várias são as oportunidades de trabalho que poderão surgir, advindas dos espaços em que os surdos estão inseridos, mas você deverá ter a percepção de estar atento e preocupado em melhorar a cada dia. Conforme Gesser (2009, p. 15), “a ética tem que ver também com a perspectiva da superação individual, de buscar melhorar a fase de sua vida, aprendendo e/ou experimentando novas formas de exercer as atividades”.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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DICAS

Veja um vídeo sobre a professora Sueli Ramalho, professora da UNINOVE e tradutora intérprete de teatro. Ela discursa em Libras sobre o tema “A função do intérprete surdo e sua importância, experiência e história”. No vídeo, ela se identifica como tendo uma identidade surda, mesmo fazendo uso da oralização. Preste atenção aos sinais utilizados por ela, incorporando o discurso. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OttxVQJfDTE>. Acesso em: 23 maio 2018.

2 PROBLEMATIZAÇÃO E A ÉTICA PROFISSIONAL

A ética está presente em qualquer situação. Entretanto, vivemos em um mundo globalizado e essa qualidade é tida por muitos como desnecessária, visto que muitas vezes fazemos uso das mídias para divulgações de conteúdos informativos importantes para a sociedade. Mesmo assim, é exigida certa cautela, a fim de preservar ou não prejudicar as partes envolvidas. Algumas pessoas mencionam que agir com ética depende da situação a qual cada pessoa é exposta. Outros talvez digam que a ética está acima de tudo.

Entretanto, tratando-se de tradução e interpretação em LS, significa fornecer acesso ao conhecimento necessário para aquele grupo em específico. Há o envolvimento da polidez e delicadeza e muito comprometimento. Assim, podem surgir algumas problemáticas envolvendo a ética necessária para atuação desses profissionais para com os contratantes, seja em nível individual ou institucional.

FIGURA 45 – ÉTICA

FONTE: Disponível em: <http://veganagente.com.br/voce-que-se-diz-vegan-e-realmente-uma-pessoa-etica/>. Acesso em: 21 abr. 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

ATENCAO

Segundo o Dicionário Aurélio, ética é "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Fonte: Disponível em: <http://etica.pbworks.com/w/page/10402063/Conceito>. Acesso em: 21 abr. 2018.

Assim, partimos do ponto de que, quando o profissional não realiza as suas atividades com baixa qualidade e sem compromisso ético, poderá reproduzir circunstâncias de exclusão em relação à comunidade surda como grupo minoritário perante a sociedade.

A cada dia, uma nova situação é criada ou vivenciada dependendo do campo de atuação do profissional. Dada a importância do contexto, precisamos relacionar algumas delas, citando alguns estudiosos, para contribuírem significativamente para sua compreensão e estudos.

Sobre o profissional intérprete, Quadros (2004, p. 25) demonstra alguns papéis do intérprete no que diz respeito aos preceitos éticos:

a) confiabilidade: sigilo profissional; b) imparcialidade: o intérprete deve ser neutro e não interferir com

opiniões próprias; c) discrição: o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento

durante a atuação; d) distância profissional: o profissional intérprete e sua vida pessoal

são separados; e) fidelidade: a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar

a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto. O objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito.

A autora destaca a atuação do intérprete, que deverá ser permeada por preceitos éticos. Destacamos que as mesmas considerações são repassadas para o tradutor. Gesser (2011, p. 14) continua propondo uma discussão para nos fazer refletir com a pergunta: em sua opinião, os preceitos éticos sobre os papéis do intérprete de Libras estão em conformidade com a sua visão? Quais itens você concorda e/ou discorda? Acrescenta ainda que, para sermos profissionais éticos, temos que ser capazes de:

a) compreender o conceito de justiça; b) adotar atitudes de respeito pelas pessoas;c) compreender a profissão que escolhemos em seu sentido histórico,

aplicando os conhecimentos construídos e aprendidos; d) lançar mão do diálogo como meio de esclarecer conflitos; e) pautar as nossas ações vistas para uma sociedade.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Reflita, na figura a seguir, sobre o profissional TILSP realizando sua atividade no consultório médico, em um tribunal, ambiente religioso; situações em que coloca alguns preceitos éticos como base para as atividades. Podemos citar o sigilo profissional, discrição e a confiabilidade de que toda a informação está sendo passada fielmente.

FIGURA 46 – TRADUTOR/INTÉRPRETE E A ÉTICA

FONTE: Disponível em: <http://comunicardicionariolibras.blogspot.com.br/2015/03/codigo-de-etica-dos-interpretes-de.html>. Acesso em: 21 abr. 2018.

FIGURA 47 – TRADUTOR/INTÉRPRETE E A ÉTICA NO TRIBUNAL

FONTE: Disponível em: <https://pt.depositphotos.com/14136023/stock-illustration-courtroom-objects-sketch.html>. Acesso em: 21 abr. 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

São inúmeras as situações em que o profissional mostrará se é ético ou não, e temos certeza de que você já vivenciou muitas delas durante sua atuação. Entretanto, quando agimos eticamente, nosso trabalho é confiável e reconhecido.

Quadros (2004) discute sobre a problemática que permeia a vida dos TILSP. A autora menciona “que os treinamentos dos profissionais se voltavam para exercícios em que o foco é no vocabulário e nas frases. As decisões sobre o significado estão baseadas nas palavras” (QUADROS, 2004, p. 79).

Assim, os preceitos éticos não envolvem somente a postura física ao

traduzir e interpretar, mas todo o vocabulário utilizado na tomada de decisão.

DICAS

Veja o vídeo da professora Renata Romera. Ela explica, em Libras, e sem legendas na língua portuguesa, sobre algumas questões relacionadas à ética do TILSP, segundo o código da FENEIS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=A3xfYOnCj44>. Acesso em: 23 maio 2018.

Albres (2017, p. 112) nos mostra que a respeito do Código de Ética, “o intérprete deve ser fiel, mas não pauta como essa fidelidade que deve ser exercida, e a quem deve ser fiel”. Ao analisar o documento da Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais – Febrapils, encontramos um norte para com o conceito de fidelidade à língua, que nos ajuda a pensar na questão ética e o uso dos vocábulos:

Art. 6º. É dever dos TILS/GI: III. Assegurar a equivalência linguística e extralinguística nos atos de tradução e interpretação e guia-interpretação (FEBRAPILS, 2011).

ATENCAO

A Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais – Febrapils é uma entidade profissional autônoma, sem fins lucrativos ou econômicos, fundada em 22 de setembro de 2008, de duração indeterminada, com personalidade jurídica de direito privado, qualificável como de interesse público e pertencente ao território brasileiro.  Disponível em: <http://febrapils.org.br/quem-somos/>. Acesso em: 23 maio 2018.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

135

Tendo em mente que não é apenas chegar e passar a mensagem, mas de que forma ele irá fazer, e por quê? O exemplo poderia citar o fato de ser um trabalho voluntário, que permite que não levemos em consideração tais preceitos? Assim, é importante mencionar Gesser (2009, p. 15):

Lembre-se de que para ser um profissional eticamente bom, a reflexão tem que estar incorporada no seu cotidiano. Faça você um serviço voluntário ou um serviço remunerado, sempre atue de forma comprometida, seguindo preceitos éticos. Afinal, se a atividade é voluntária, foi sua opção realizá-la e isto não lhe exime de fazer com capricho e competência.

Dentro de todo o contexto de preceitos éticos e atribuições, podemos ir além, falando sobre a importância da vestimenta e adorno durante as atividades de tradução e interpretação. Não estamos inserindo regras de moda, ou padronizando a forma como esse profissional tem que se adornar. Entretanto, é relevante entender que faz parte de nossa vida em sociedade, de nossos comportamentos, reconhecer que é preciso estar vestido de acordo com a situação e lugar.

Não iríamos de terno e gravata para a praia, certo? Assim como não iríamos de roupas de praia para se apresentar perante o juiz. Hoje, existem sites para darem dicas importantes de como se vestir, principalmente em locais de trabalho, além das empresas criarem seus manuais sobre o assunto.

FIGURA 48 – VESTUÁRIO/LIBRAS

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABAVgAD/cartilha-libras-tv?part=3>. Acesso em: 21 abr. 2018.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

Diante de todos os preceitos éticos já comentados, temos que usar critérios e bom senso no momento de tradução e interpretação, com o propósito de passar a mensagem de uma forma correta. Gesser (2011, p. 18-19) destaca sobre o assunto, sobre o código de ética da APILSPESP (Associação Profissional dos Intérpretes e Guia-Intérpretes da Língua de Sinais Brasileira do Estado de São Paulo):

Art. 6º - O Intérprete deve ser discreto no uso de sua roupa, para uma atuação. Deve sempre usar roupas lisas (de uma cor só), e que contrastem com sua pele. Da mesma forma, evitar o uso de enfeites e ornatos pessoais (no cabelo, brincos salientes, colares, anéis, relógios etc). Ainda, ele deve saber o seu lugar no ambiente em que atuará – qual o melhor lugar para ele se posicionar, sendo confortavelmente visível para o público surdo, sem atrapalhar as pessoas que não dependem dele. Estas normas gerais de bom senso e de padrão mundial valem também ao Guia-intérprete, sendo que este tem maior liberdade quanto ao vestuário e à posição de atuação.

DICAS

Faça uma pesquisa, conheça as normas que permeiam o assunto. Disponível em: <http://www.apilsbesp.org/etica.asp> e <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-description%5D_17.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. Você encontrará os documentos na íntegra.

2.1 O PROFISSIONAL TRADUTOR INTÉRPRETE E SUAS ATRIBUIÇÕES

Refletiremos brevemente sobre as atribuições do profissional TILSP, já que para ele é sobreposta a responsabilidade de um trabalho fiel e ético, repensando em todas as demandas da própria profissão e de algumas problemáticas já destacadas.

Entendemos que toda a tradução envolve sempre uma língua escrita/grafada e a interpretação sempre envolverá línguas faladas/sinalizadas, destacando o que diz Quadros (2004, p. 9), que “o termo tradutor é usado de forma mais generalizada e inclui o termo interpretação”. Assim, nos perguntamos: quais realmente são as atribuições do profissional? Somente ser mediador do conhecimento? Como popularmente designada “ponte” entre os interlocutores? Observe a charge a seguir:

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FIGURA 49 – O QUE É UM INTÉPRETE?

FONTE: Disponível em: <http://ghmarcon.blogspot.com.br/2015/03/the-translator-and-interpreter-and.html>. Acesso em: 21 abr. 2018.

Você notou como a charge expressa as atribuições do profissional? Talvez um tanto divertida, não é mesmo? Entretanto, sabemos que, em alguns casos, pode acontecer, devido à falta de conhecimento por parte do profissional e dos contratantes. Afinal, quem deveria ser o mais interessado em saber as atribuições? O próprio profissional? Precisamos de um alicerce ou uma base para refletirmos melhor e não nos sobrecarregarmos. Por outro lado, não podemos deixar de cumprir com nossas atribuições.

Com o intuito de cumprir a Lei n° 10.436/2002 sobre a regulamentação da Língua Brasileira de Sinais - Libras, o direito da comunidade surda de ter acessibilidade em toda a sociedade por meio de sua língua, como bem cumprir com as competências do profissional (tradutor/intérprete), algumas instituições criaram e organizaram documentos internos com regimentos e regulações próprias para determinado profissional. A Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, no ano de 2012, diante da necessidade de contratar e manter os profissionais, criou a resolução normativa N º 01/Conselho da Unidade/CCE, de 29 de novembro de 2012.

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QUADRO 2 – CAPÍTULO IV DOS TILSP E DE SUAS COMPETÊNCIAS

CAPÍTULO IV DOS TILSP E DE SUAS COMPETÊNCIAS Art. 11. Compete aos Tradutores Intérpretes de Libras/Português:I – respeitar os horários estabelecidos na escala semanal ou mensal gerenciada pelo assistente administrativo da equipe, informando antecipadamente sobre sua ausência; II – aprimorar sua competência referencial, metodológica e tradutória; III – dominar os requisitos básicos de informática necessários ao exercício de sua profissão, desenvolvendo competências sobre ferramentas de buscas a sites especializados e levantamentos de terminologia da área a ser traduzida e/ou interpretada; IV – prestar o serviço de interpretação para seus solicitantes independentemente de suas preferências com relação a cor, raça, religião, orientação sexual, idade ou qualquer outro traço social envolvido na atividade de tradução e interpretação; V – trabalhar de forma colaborativa com os membros da equipe, auxiliando os colegas sempre que necessário nas dificuldades tradutórias, de proficiência linguística e cultural, a fim de garantir a qualidade dos serviços; VI – quando na função de apoio de interpretação/tradução, o TILSP deverá acordar com seu colega sobre a melhor forma de auxiliá-lo.

FONTE: UFSC (2012, p. 4)

ATENCAO

Destacamos que os regimentos, por serem um conjunto de regras ou normas estabelecidas por um grupo, poderão ser modificados e atualizados de acordo com a necessidade da instituição.

Notamos que, com a tentativa e com muitos acertos, neste caso específico, a instituição coloca as atribuições do profissional como: respeitar os horários estabelecidos, trabalhar de forma colaborativa, buscar sites especializados para se atualizar, além de alguns direitos e deveres e sua relação com a comunidade universitária e surda. Quer conhecer mais sobre o regimento a fim de aumentar seu conhecimento? Observe o UNI NOTA a seguir:

Baixe o regimento interno do TILPS proposto pela UFSC, acessando o documento na íntegra. Aproveite para tê-lo em suas pesquisas. Disponível em: <http://interpretes.paginas.ufsc.br/files/2014/04/Regimento-Coordenadoria-de-Tradutores-e-Int%C3%A9rpretes-UFSC.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018.

NOTA

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Em esfera federal, trazemos as considerações da Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-intérpretes de Língua de Sinais – Febrapils. Por meio de uma assembleia geral, em 2014, aprovou as seguintes atribuições no Capítulo III.

QUADRO 3 – CAPÍTULO III DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL ART. 10

CAPÍTULO III DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

Art. 10 - É de responsabilidade do TILS e do GI: I. Manterem-se informados e atualizados sobre quaisquer assuntos concernentes à profissão.II. Buscar formação continuada e aperfeiçoamento profissional. III. Apresentar-se adequadamente com relação à postura e à aparência. IV. Utilizar todos os conhecimentos linguísticos, técnicos, científicos ou outros a seu alcance, para o melhor desempenho de sua função. V. Solidarizar-se com as iniciativas em favor dos interesses de sua categoria, ainda que não lhe tragam benefício direto. Art. 14 - É vedado ao TILSe ao GI:I. Dar conselhos ou opiniões pessoais, exceto quando requerido e com anuência do Solicitante ou Beneficiário. II. Executar qualquer ato que caracterize concorrência desleal ou exploração do trabalho de colegas.III. Usar informações confidenciais traduzidas ou interpretadas para benefício próprio ou para ganho profissional.IV. Usar de qualquer propaganda pessoal no exercício de sua função.V. O uso de substâncias que alterem o estado psicoemocional de modo não a prejudicar o desempenho profissional.

FONTE: FEBRAPILS (2014, p. 4-5)

Poderíamos dizer que as considerações ou atribuições podem ser usadas para qualquer profissão, não é mesmo? Entretanto, cada profissão possui seu código de ética, e é certo que devemos tomar atitudes variadas e específicas. Gesser (2011, p. 14) destaca que algumas poderiam ser universais, como “a generosidade, espírito de cooperação e respeito”.

Ela continua dizendo que significa que você pode ir além das suas tarefas, ajudando a equipe ou um colega a resolver problemas e desenvolver tarefas que não foram dadas exclusivamente a você. Perceba que são ações principalmente colocadas para o bom trabalho em equipe, tão importantes para as atividades.

Por fim, chegamos à Lei federal n° 12.319/2010 que, mais adiante, veremos na íntegra, que regulamenta as atribuições do profissional Tradutor Intérprete de Língua de Sinais-Libras, que passa a vigorar em todo território nacional. No artigo 6º:

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QUADRO 4 – ATRIBUIÇÕES DO TRADUTOR/INTÉRPRETE

São atribuições do tradutor/intérprete, no exercício de suas competências: I – efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdocegos, surdocegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; II – interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III – atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV – atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; V – prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais; Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial: I – pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida; II – pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III – pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; IV – pela postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V – pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI – pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.

FONTE: BRASIL (2010)

Assim, em todos os documentos, buscamos refletir na importância e na promoção dessas atribuições, pautadas em uma legislação tão importante, para consolidar e contribuir para as práticas e o agir inerentes do TILSP em todas as áreas.

Gostaríamos de destacar que, em todas elas, é exposta a questão da ética e da efetivação da comunicação entre surdos e ouvintes, mostrando que não é uma questão de perfil de cada um, mas de suas atribuições dentro de suas especificidades de atuação, seja ela religiosa, educacional, dentre outras.

DICAS

Assista ao vídeo de profissionais (TILSP) e professores do curso Letras Libras da UFRG, divulgado pela TV INES. Eles consideram algumas atribuições do professor docente/regente e do profissional (TILSP). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lspxp8xq-aY>. Acesso em: 23 maio 2018.

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2.2 CÓDIGO DE ÉTICA BRASILEIRO

É de suma importância o profissional TILSP assimilar o Código de Conduta Ética. Ele irá nortear muitas ações para seu trabalho. Gesser (2011, p. 15) menciona que:

Os códigos de ética são elaborados com o objetivo de orientar as ações de seus participantes. Trata-se de um texto redigido, analisado e aprovado pela organização e/ou instituição competente, em que são apresentadas as diretrizes referentes aos seus princípios, visão e missão. Neles ficam impressas as posturas e atitudes esperadas – e estas devem estar em conformidade com as condutas moralmente aceitas pela sociedade. O conteúdo dos códigos de ética é de suma importância, pois reflete aquilo que é esperado das pessoas, além de também respaldá-las na empresa frente a situações vivenciadas.

A autora continua mostrando que “se trata de um documento convencionado entre os pares profissionais, com o objetivo de pautar os princípios e, até mesmo, as normas de condutas [...] para seu ofício” (p. 41). Em conformidade com as necessidades, Quadros (2004) foi pioneira e criou, junto ao Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS), do Estado do Rio Grande do Sul, um código de ética como um instrumento que orienta os profissionais intérpretes brasileiros, pois ainda não tinha sido regulamentada a lei da profissão do tradutor Intérprete de Língua de Sinais – Libras.

FIGURA 50 – FENEIS/CÓDIGO DE ÉTICA

FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=A3xfYOnCj44>. Acesso em: 21 abr. 2018.

Destacamos, para você, alguns itens importantes para seu conhecimento no exercício da profissão:

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QUADRO 5 – REGULAMENTO DOS INTÉRPRETES DA FENEIS-RS

REGULAMENTO DOS INTÉRPRETES DA FENEIS-RS

A Língua Brasileira de Sinais (Libras), oficializada no Estado do Rio Grande do Sul, em 2 de janeiro de 2000, necessita ser urgentemente regulamentada, pois a Lei n° 12.319/2010, que regulamentou de fato o profissional Tradutor Intérprete de Língua de Sinais – Libras, ainda estava em construção. Assim, o presente documento tem por objetivo subsidiar a discussão sobre a oficialização da profissão de intérprete e regulamentar as atividades deste profissional. Conceituação 1) Este regulamento diz respeito aos intérpretes da Libras da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, FENEIS-RS e está fundamentado no Código de Ética. 2) Intérprete é o profissional capaz de possibilitar comunicação entre surdos e ouvintes através da Libras (Língua Brasileira de Sinais) para o português e vice-versa; ou entre outras línguas de sinais e línguas orais. 3) Haverá três tipos de intérpretes: o profissional, o com atestado e o temporário.

a) O intérprete profissional deverá ter realizado o curso de intérprete pela FENEIS-RS e ter recebido o certificado emitido, que o reconhece como profissional intérprete. b) O intérprete com atestado ainda não tem o certificado, mas é fluente em Libras e reconhecido pela FENEIS-RS como profissional intérprete. O atestado terá validade até o próximo curso de intérprete promovido pela FENEIS-RS.

c) Os intérpretes temporários são aqueles que atuarão em determinadas situações, com o respaldo de um certificado emitido pela FENEIS-RS para determinada situação. Após, seu certificado não será mais válido.

4) Todo o intérprete deverá ser fluente em Libras e Português (expressão e recepção). Deverá ser capaz de traduzir ou interpretar e de fazer versão de e para Libras, de e para Português. Sugere-se que o intérprete aprenda outras línguas (sinais e/ou orais).

FONTE: Quadros (2004, p. 38)

QUADRO 6 – ÉTICA DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE

Da Ética do Profissional Intérprete

5) Todo intérprete deverá sempre usar o bom senso, de um alto caráter moral e de ética em sua atuação profissional. 6) Uma postura ética e profissionalmente aceita, sempre quando atuando, deve ser a atitude do intérprete. a) Ser imparcial: o quanto mais imparcial, melhor. Não poderá emitir opiniões ou comentários que ele próprio está interpretando, a não ser que perguntem sua opinião. O intérprete deverá ter somente o cuidado de passar a informação para Libras e/ou Português. Não é ele que está falando. Ele é apenas a ponte de ligação entre os dois lados.b) Ser discreto em sua forma de atuar. Não mastigar chicletes, nem usar roupas e adereços que distraem os que dependem dele, não chamando a atenção para si mesmo, dificultando a interpretação.

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c) Ter postura quanto ao local da atuação. Não sentar em uma mesa, ou escorar-se em parede para traduzir ou ficar em uma posição desvantajosa para o surdo ou para o ouvinte. Se não souber, pergunte ao surdo. Ele é nosso cliente e sua opinião deverá sempre ser consultada. Ser fiel tanto em Libras quanto no Português, quanto ao uso. Isto é, conhecer bem ambas e usar a estrutura gramatical própria de cada uma. Não criar ou inventar sinais. Usar os sinais da comunidade surda local e perguntar se o nível de interpretação está bom e claro para todos. d) Espaço: o intérprete deve providenciar as adaptações necessárias no espaço para que a percepção visual seja adequada

FONTE: Quadros (2004, p. 40)

QUADRO 7 – POSTURA ÉTICA NA HORA DO CONTRATO

Da Postura Ética na Hora do Contrato

11) O contrato tem dois lados: o contratante (pessoa ou entidade que solicita o serviço de intérprete) e o contratado (a pessoa do intérprete). O contrato poderá estar registrado (escrito) e ser assinado por ambas as partes, ou simplesmente ser oral (contrato oral). 12) Para qualquer tipo de contrato, o pagamento será de uma hora interpretada, no mínimo, seguindo a tabela da FENEIS-RS. Se o trabalho durar 10 minutos, o intérprete receberá UMA hora cheia.13) Todo intérprete, quando contratado, receberá pagamento por seu trabalho, mas também deverá se dispor quando lhe é solicitado trabalho voluntário. Este último diz respeito às exceções e não à regra.14) Quando a FENEIS-RS intermediar a contratação de um profissional intérprete, do total do pagamento será descontado 10%, obedecendo o critério do número 11. Destes 10%, 5% serão destinados para o caixa dos intérpretes e 5% para o caixa da FENEIS-RS. 15) Todo intérprete deverá saber o seu limite de interpretar. Se o assunto a ser interpretado não é do conhecimento, nem da área do intérprete, ou mesmo se o nível a ser interpretado não corresponde ao nível do próprio intérprete, ele deverá ter a humildade e a ética de comunicar ao surdo/ouvinte ou de recusar o trabalho.

FONTE: Quadros (2004, p. 45)

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O regulamento foi criado a partir da FENEIS do Rio Grande do Sul, mas se estendeu como parâmetro a todos os estados brasileiros. É necessário trazê-lo para seu conhecimento na íntegra, pois suas orientações estão presentes nas orientações de regimentos e regulações de várias instituições.

Baixe o livro “O tradutor e Intérprete da língua de Sinais e Língua Portuguesa”, e entenda mais a respeito do código. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018.

NOTA

3 HABILIDADES NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Diante da concepção moderna da tarefa tradutória e interpretativa, há implicação no reconhecimento de complexas relações entre os elementos envolvidos no processo, e nos deparamos com a qualidade e habilidade do trabalho final. Em concordância com Quadros (2004, p. 69):

Traduzir um texto em uma língua falada para uma língua sinalizada ou vice-versa é traduzir um texto vivo, uma língua viva. Acima de tudo, deve haver um conhecimento coloquial da língua para dar ao texto fluidez e naturalidade ou solenidade e sobriedade, se ele for desse jeito.

FIGURA 51 – HABILIDADES DO TILSP

FONTE: Disponível: <https://br.pinterest.com/pin/260294053432833792/>. Acesso em: 21 abr. 2018.

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Quadros (2004, p. 73) apresenta pesquisas de Roberts (1992), que aponta seis categorias para analisar o processo de interpretação, que serão destacadas a seguir, por apresentarem as competências/habilidades de um profissional tradutor-intérprete:

1) competência linguística - habilidade em manipular com as línguas envolvidas no processo de interpretação (habilidades em entender o objetivo da linguagem usada em todas as suas nuanças e habilidade em expressar corretamente, fluentemente e claramente a mesma informação na língua alvo). Os intérpretes precisam ter um excelente conhecimento de ambas as línguas envolvidas na interpretação (ter habilidade para distinguir as ideias principais das ideias secundárias e determinar os elos que determinam a coesão do discurso).

2) competência para transferência - não é qualquer um que conhece duas línguas que tem capacidade para transferir a linguagem de uma língua para outra. A competência envolve habilidade para compreender a articulação do significado no discurso da língua fonte, habilidade para interpretar o significado da língua fonte para a língua alvo (sem distorções, adições ou omissões), habilidade para transferir uma mensagem na língua fonte para língua alvo, sem influência da língua fonte e, habilidade para transferir da língua fonte para língua alvo de forma apropriada do ponto de vista do estilo.

3) competência metodológica - habilidade em usar diferentes modos de interpretação (simultâneo, consecutivo, etc), habilidade para escolher o modo apropriado diante das circunstâncias, habilidade para retransmitir a interpretação, quando necessário, habilidade para encontrar o item lexical e a terminologia adequada, avaliando e usando-os com bom senso e, habilidade para recordar itens lexicais e terminologias para uso no futuro.

4) competência na área - conhecimento requerido para compreender o conteúdo de uma mensagem que está sendo interpretada. 5) competência bicultural - profundo conhecimento das culturas que subjazem as línguas envolvidas no processo de interpretação (conhecimento das crenças, valores, experiências e comportamentos dos utentes da língua fonte e da língua alvo e apreciação das diferenças entre a cultura da língua fonte e a cultura da língua alvo).

6) competência técnica - habilidade para se posicionar apropriadamente para interpretar, habilidade para usar microfone e habilidade para interpretar usando fones, quando necessário.

A lista de habilidades/competências dependerá do conhecimento que buscarmos e que construiremos ao longo de nossas carreiras. Assim, reflita sobre as habilidades, fazendo uma autoanálise no que precisa evoluir.

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3.1 O TRADUTOR INTÉRPRETE EDUCACIONAL

A introdução do intérprete educacional, como um serviço pedagógico para a perspectiva inclusiva de educação, foi uma das primeiras áreas em que o profissional foi inserido.

Podemos dizer que lhe cai a responsabilidade de dar acessibilidade linguística diante da necessidade de se comunicar, de mediar os conhecimentos produzidos dentro das instituições educacionais, sendo elas básicas ou superiores. Assim, a obrigatoriedade legal da presença do intérprete de língua de sinais nos espaços acadêmicos vem crescendo, especialmente com as demandas no Ensino Superior (ES). Albres (2014, p. 4) menciona que:

Os surdos desejam uma educação bilíngue para além da simples contratação de intérpretes, de uma escola que tenha um currículo que contemple a diversidade sociocultural e linguística peculiar aos surdos, que se consolidem propostas específicas de educação bilíngue Libras/Português.

Quadros (2006, p. 17) enfatiza que a “educação bilíngue envolve,

pelo menos, duas línguas no contexto educacional”. As diferentes formas de proporcionar uma educação bilíngue para uma criança, em uma escola, dependem de decisões político-pedagógicas.

A autora continua explanando que, “ao optar-se em oferecer uma educação bilíngue, a escola está assumindo uma política linguística em que duas línguas passarão a coexistir no espaço escolar” (p. 17).

Assim, passam a coexistir também alguns paradoxos entre o que o profissional pode ou não realizar, ou seja, quanto ao seu papel e possibilidades sobre as atitudes dos professores regentes. O profissional precisa construir uma relação com o aluno e professor, mas recai sobre a instituição o dever de saber sobre o que a autora Albres (2014) destaca quanto à área, a saber: a formação desse novo profissional e a seleção de profissionais para atuarem nas escolas da rede regular de ensino.

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FIGURA 52 – TRADUTOR INTÉRPRETE EDUCACIONAL

FONTE: Disponível em: <http://danianepereira.blogspot.com.br/2013/10/>. Acesso em: 21 abr. 2018.

Bons Estudos!

Brasil

Quanto à formação, antes da Lei n° 10.436/2002, não tínhamos muita clareza sobre tal aspecto. Muitos profissionais vieram de trabalhos voluntários em igrejas ou porque tinham familiares surdos e foram inseridos para dentro das instituições escolares. Ainda, como fazer seleção desses profissionais como sendo capazes de exercer a função? Assim, há uma década que ficou instituída a sua formação, conforme reza parte da lei, no Capítulo V, em que destacaremos apenas dois artigos.

QUADRO 8 – FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS – LÍNGUA PORTUGUESA

DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA – Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa

deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa.

– Art. 18. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III.

FONTE: BRASIL (2005)

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Embora já existissem muitas ONGS e associações que ministravam cursos na área, sem dúvida, posteriormente ao Decreto 5.626/2005, houve o impulsionamento dos cursos de formação por instituições credenciadas ao MEC para professores, bem como o profissional (TILSP), que com as suas experiências de anos, consolidou sua fluência e competência na área por meio dessas formações, passando a atuar com embasamento e segurança profissional.

Podemos destacar que a falta de conhecimento de toda a equipe pedagógica de algumas instituições, sobre qual o papel do (TILSP), fez com que situações adversas surgissem, e que hoje, tendo conhecimento, são evitadas com o objetivo de orientar ambas as partes.

Ao relembrarmos sobre o código de ética, devemos levar em consideração a menção de Quadros (2004, p. 28), que “considera ser antiético exigir que o (TILPS) tutore os alunos surdos em qualquer circunstância ou realize atividades que não façam parte de suas atribuições”.

Sabemos que muitas são as situações vivenciadas no cotidiano dos profissionais no contexto escolar. Assim, vamos dar alguns exemplos reais.

a) PRIMEIRA SITUAÇÃO:

“Em uma aula de História, cujo tema era a “Fuga da família real para o Brasil colônia”, a dinâmica estabelecida foi: cada aluno designado iria ler alguns parágrafos de um texto e a leitura seria entremeada por comentários da professora sobre o conteúdo. Enquanto a docente organizava os alunos para fazerem a leitura, o intérprete chegou à sala e cumprimentou a todos.

Conversou rapidamente com o aluno surdo, ambientou-se sobre o que iria ser tratado na aula, fez anotações no caderno que trazia consigo, pegou uma cadeira e se sentou de costas para o quadro, na lateral posterior à carteira onde estava o surdo. Assim que uma aluna foi designada para ler, ele começou a realizar uma interpretação simultânea.

Ao mesmo tempo em que os alunos liam ou a professora fornecia explicações, João fazia a interpretação para Guilherme. João permaneceu na aula até o fim da leitura e da explanação da professora. Concluída a atividade, a professora orientou os alunos a copiarem no caderno algumas perguntas que estavam no livro e responderem. Assim que Guilherme começou a realizar a tarefa, o intérprete se ausentou para continuar o trabalho de interpretação em outra sala de aula” (Diário de Campo, 21 out. 2010).

b) SEGUNDA SITUAÇÃO:

Em uma sala de aula de uma escola estadual no 7º ano do Ensino Fundamental, durante uma aula de língua portuguesa, a professora leu o poema “As borboletas”, de Vinicius de Moraes. Durante sua leitura, a professora enfatizava algumas palavras, pedindo para que os alunos prestassem detida atenção.

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Enquanto isso, o profissional TILSP fazia a interpretação simultânea. Ao final, a professora pediu para que os alunos produzissem um texto em forma de poema, usando palavras que rimassem. O intérprete explicou para aluna, que, durante alguns minutos, ficou tentando escrever o texto. Antes de finalizar a aula, a aluna explicou para o intérprete que não estava conseguindo fazer a atividade.

O intérprete pediu para que ela levantasse a mão, e a professora veio atendê-la. Enquanto a aluna explicava em LS sua dificuldade de grafar seus pensamentos escritos, o intérprete fazia a voz em LP para a professora.

Ao final, a professora permitiu que ela fizesse um vídeo com um poema que ela gostasse e trouxesse na próxima aula.

Assim, nas duas situações citadas, conseguimos analisar a postura dos profissionais diante do professor regente, bem como dos alunos. Cada um cumpriu seu papel em ser o transmissor do conhecimento naquele momento.

Nos dois casos, houve interpretação simultânea, e em um deles foi feita a tradução para a língua portuguesa. Ainda, cada uma teve um desfecho diferente. Serão inúmeras as situações, mas em todas elas a passagem fidedigna da mensagem deve ser a prioridade.

DICAS

O livro “Intérprete Educacional – Políticas e Práticas em sala de aula inclusiva”, produzido por Neiva Albres de Aquino, analisa as políticas educacionais e os papéis dos intérpretes que atuam nas escolas inclusivas.

A obra traz uma análise documental e de discursos e colabora no entendimento de que mudanças nas designações para o intérprete educacional e de orientações sobre seus papéis são, sobretudo, mudanças nas relações de poder e de controle que regem as práticas no contexto educacional.

3.2 O GUIA-INTÉRPRETE

Para vivermos em sociedade, precisamos interagir com todos, seja de forma individual ou grupal, respeitando a individualidade de cada um, sua cultura e linguagem, seja ela por meio de sinais ou oral. O profissional guia-intérprete, dentro da condição de tradutor Intérprete de Libras, pode se estender a fim de fazer a mediação para o sujeito surdocego. Segundo Quadros (2004, p. 10):

Uma definição funcional se refere ao surdocego como aquele que tem uma perda substancial da visão e da audição, de tal modo que a combinação das suas deficiências cause extrema dificuldade na conquista de habilidades educacionais, vocacionais, de lazer e sociais.

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ATENCAO

A Associação Brasileira de Surdocegos – AABRASC foi criada para mediar as ONGS e entidades pelo Brasil, que trabalham com a acessibilidade de pessoas com Surdocegueira. Acesse o site e saiba mais. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/85277353/associacao-brasileira-de-surdocego-abrasc>. Acesso em: 23 maio 2018.

Objetivando uma compreensão melhor da condição, é necessária uma explicação sobre a grafia. Conforme Lagati (2002, p. 306).

Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo.

O fascículo cinco: Surdocegueira e Deficiência Múltipla (2010) traz as considerações de McInnes (1999), indicando a premissa básica de que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar o suporte. O referido autor subdivide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias:

• Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos. • Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos.• Indivíduos que se tornaram surdocegos.• Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente, ou

seja, não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas, nem base conceitual, sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo.

McInnes (1999) relata que muitos indivíduos com surdocegueira congênita ou que a adquiram precocemente têm deficiências associadas, como: físicas e intelectuais.

As quatro categorias podem ser agrupadas em: Surdocegos Congênitos ou Surdocegos Adquiridos. Dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu, podemos classificá-la em: Surdocegos pré-linguísticos ou Surdocegos pós-linguísticos.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Contextualizamos algumas nomenclaturas que você encontrará em suas pesquisas em algumas literaturas e vídeos:

• Surdo-cegueira: é uma condição apresentada pela cegueira e pela surdez.• Surdocegueira: sem hífen, apresenta outras dificuldades além das causadas

pela cegueira e pela surdez, por exemplo.• Surdocego: perda substancial da visão e da audição.• Libras Tátil: comunicação que ocorre através das mãos.• Tadoma: é o nome que é dado à linguagem que utilizamos na língua de sinais

com experiências táteis.

ATENCAO

Acesse o vídeo e veja como a professora Rosani Suzin explica em Libras qual a maneira correta de sinalizar o termo Surdocego. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FmZPq-2lpiA>. Acesso em: 23 maio 2018.

FIGURA 53 – MÃO SOBRE MÃO E MÃO SOB MÃO

FONTE: MEC (2010, p. 9)

Observe a foto anterior, retirada do caderno do MEC sobre o tema. A seguir, mostraremos que ele traz uma descrição do que está acontecendo na foto. Leia atentamente, se houver necessidade, leia mais de uma vez, após essa leitura. Feche os olhos e tente lembrar dos detalhes da foto. Ao realizar o exercício, você participa do mundo da pessoa com surdocegueira, o modo como ela vê o mundo.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

Crianças com três anos, uma que está sentada ao lado do professor, com deficiência Múltipla [deficiência visual e deficiência intelectual] e uma que está sentada no colo da professora com surdocegueira. Elas estão sentadas em um tanque de areia em um parque que fica próximo à comunidade escolar. A menina com surdocegueira, que está sentada no colo da professora, apresenta defesa tátil.

Podemos entender melhor como um indivíduo com surdocegueira enxerga o mundo à sua volta, por meio do que se chama “defesa tátil”, ou seja, a comunicação feita exclusivamente através das mãos. São as informações sensoriais responsáveis pelo transporte ao mundo dos sentimentos, sejam negativos ou positivos. Assim, podemos dizer que o profissional guia-intérprete é um dos meios ou a passagem para entrada desse indivíduo para o transporte de sentimentos.

A professora Natalia Almeida fala que uma das funções do guia-intérprete, muito importante, é a contextualização, que informa para a pessoa surdocega as condições do ambiente, as pessoas presentes, a descrição de objetos e pessoas. E que deve respeitar o tempo e a importância e a finalidade para a qual será empregada. Acesse e aumente suas pesquisas a respeito do tema. Disponível em: <http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=16&idart=182>. Acesso em: 23 maio 2018.

NOTA

Almeida (2012, p. 4), no seu artigo “Guia-Intérprete de Libras: Formação e atuação deste profissional na cidade de Fortaleza”, diz a nós que:

O guia-intérprete deve ser apto a realizar a guia-interpretação, sendo este um trabalho muito importante e, para ser eficiente, é necessário que seja encarado com respeito e ética. O guia-intérprete é o elo do surdocego com o mundo. As pessoas com surdocegueira necessitam de formas específicas de comunicação para terem acesso à educação, lazer, trabalho, vida social, dentre outros.

Sendo o guia-intérprete o elo entre o processo de comunicação, tem função de antecipar o que vai acontecer, seja uma atividade no cotidiano, como na escola. Por exemplo: o local onde acontecerá o evento na escola, será na quadra de esportes? Ou vai mudar de uma sala para outra para uma aula de química?

Ao refletir sobre, o guia-intérprete proporcionará estímulos para que o aluno se comunique e tenha curiosidade de explorar o ambiente, tendo a facilidade da passagem da mensagem.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Conforme o fascículo cinco: Surdocegueira e Deficiência Múltipla (2010, p. 10)

Se uma comunicação efetiva não for estabelecida na infância, a pessoa pode, ao crescer, tornar-se um jovem ou adulto com comportamentos inadequados para se comunicar. Pode utilizar, assim, às vezes, de força física para poder dizer que não quer algo, por exemplo: empurrar a pessoa ou retirar da mão de uma pessoa algo que deseja.

Almeida (2012, p. 5) continua explicando a definição da forma de interpretação ou transliteração:

a) Transliteração: quando o guia-intérprete recebe a mensagem em uma determinada língua e transmite à pessoa surdocega na mesma língua, porém usa uma forma de comunicação diferente e acessível ao surdocego, por exemplo: o guia-intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e transmite em braile.

b) Interpretação: quando o guia-intérprete recebe a mensagem em uma língua e deve transmiti-la em outra língua, por exemplo, o guia-intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e transmite em Libras tátil.

DICAS

Emocione-se! Nascida surda e cega em 1885, Marie Heurtin, de 14 anos, é incapaz de se comunicar. O pai, um artesão modesto, em desespero, dirige-se a um convento onde as religiosas providenciam apoio a jovens meninas surdas. Apesar do ceticismo da Madre Superiora, uma jovem freira, a Irmã Margarida crê que consegue lidar com o "pequeno animal selvagem" que Marie é.

Destacamos que a mesma ética profissional, imposta ao TILSP, é incorporada ao guia-intérprete. Assim, falamos um pouco sobre o Código da FEBRAPILS, as atribuições ou responsabilidades dos profissionais TILSP e o profissional guia-intérprete, que está inserido no contexto. Veja no capítulo III:

QUADRO 9 – ART. 13

Art. 13 - É dever, exclusivamente, do GI:

I. Conhecer as diferentes formas de comunicação utilizadas pelas pessoas surdocegas e conhecer as tecnologias assistivas. II. Ter conhecimento das especificidades atribuídas às pessoas surdocegas, descrever todos os aspectos visuais e auditivos durante o processo de tradução e interpretação e facilitar sua mobilidade.

FONTE: FEBRAPILS (2014)

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

Com a demanda de alunos e pessoas com surdocegueira na sociedade, o profissional guia-intérprete está cada vez mais presente. Hoje, temos feito cursos e palestras a fim de formar profissionais na área. Muitas vezes, o próprio surdo tem buscado a profissionalização, já que tem propriedade para usar a LS gramaticalmente correta, o que auxilia no momento da comunicação por meio das mãos.

DICAS

A professora universitária Rosani Suzin, surdocega, que abraçou o movimento junto com outros professores, explica sobre o guia-intérprete surdo x ouvinte para surdocegos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Qv_7dVoiX54&t=25s>. Acesso em: 23 maio 2018.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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LEITURA COMPLEMENTAR

MUNDO SEM LUZ E SEM SOM – COMO É A VIDA DE UM SURDOCEGO?

Acompanhe uma entrevista feita pela ativista Claudia Sofia, coordenadora da Associação Brasileira de Apoio ao Surdocego, do Grupo Brasil de Apoio aos Deficientes Múltiplos.

Mundo sem luz e sem som – Como é a vida de um surdocego?“Como vamos interagir no mundo sem a comunicação?”

Cláudia Sofia em palestra para o TED, em 2011.

A visão é um dos mais importantes – talvez o mais importante – sentido que temos. Vivemos em um mundo em que a comunicação privilegia a imagem. Nas redes sociais é o grande formato de comunicação. Os produtos audiovisuais, como filmes e os pequenos vídeos que circulam pela internet, desempenham um importante papel na comunicação social.

Imagine como é o mundo em que a comunicação se dá majoritariamente por formatos audiovisuais para deficientes físicos como os cegos e os surdos? Poucos programas de televisão têm intérpretes ou legendas.

Os filmes de produção nacional, por exemplo, em sua maioria, não têm legendas em português, de modo que dificilmente os surdos terão acesso ao conteúdo caso não contem com a ajuda de um intérprete.

Como se dá a inclusão de determinada população? Quais são os esforços promovidos pelo poder público para a garantia dos direitos elementares para a minoria?

Segundo o Censo de 2010, há no Brasil 9,7 milhões de deficientes auditivos. Destes, 2,147,366 apresentam deficiência auditiva severa. O número de pessoas com deficiência visual – contabilizado pelo mesmo Censo – é de 6,5 milhões de pessoas. Destas, meio milhão de pessoas cegas.

Há também aqueles que são surdos e cegos. Na cidade de São Paulo, segundo dados da prefeitura, existem 250 pessoas nas condições.

Imaginar a vida de um surdocego é algo que nos causa estranhamento. Pensar em todas as dificuldades e barreiras. Chegamos a pensar que não há vida sem esses dois sentidos.

Claudia Sofia, ativista dos direitos dos surdoscegos, coordenadora da Associação Brasileira de Apoio ao Surdo Cego do Grupo Brasil de Apoio aos Deficientes Múltiplos, é um exemplo de que é possível viver com a surdocegueira e que é possível ter uma vida normal.

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UNIDADE 2 | TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, COGNITIVAS E PRÁTICAS

Claudia é casada com um surdocego. Carlos Jorge é instrutor assistente de mergulho, diretor geral da Associação Brasileira de Apoio ao Surdo Cego (ABRASC). Ambos vivem em São Paulo. Eles formam o primeiro casal de surdoscegos da América Latina.

Eles trabalham e vivem sozinhos, de forma independente. Para algumas tarefas, como idas ao supermercado, precisam da ajuda de um intérprete, mas de modo geral conseguem manter uma vida como a de qualquer outro casal.

Claudia usa o tadoma, uma forma de comunicação em que se coloca a mão nos lábios de uma pessoa e consegue-se fazer uma leitura labial pelo toque. Carlos usa a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Libras tátil para se comunicar.

Além do uso da Libras tátil e do tadoma, uma outra tecnologia tem ganhado terreno e ajudado na comunicação de surdocegos e pessoas com múltiplas deficiências. O Eye Tracking, que é basicamente o uso de tecnologias, como câmeras e softwares, cria uma forma de comunicação baseada no movimento dos olhos.

No Brasil, o ensino especial voltado para pessoas com deficiência é precário. Os professores, mesmo em boas universidades, não são formados para conseguirem se comunicar de forma plena com essas populações.

Devemos abandonar a visão construída dos cegos, surdos e surdocegos como meros coitados. Eles têm direitos e devem ter uma vida normal, com suas devidas adaptações, desfrutando das mesmas coisas que uma pessoa não deficiente desfruta. Como o acesso ao emprego, estudo, relacionamentos e tudo mais que a vida pode trazer, eles não devem ficar reclusos em suas casas, devem ocupar o espaço público.

O caso de Janinne Pires Farias, estudante de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, é um exemplo de como o poder público não investe no acesso de pessoas com deficiências. Janinne teve problemas para ter acesso às aulas, por conta do atraso do pagamento dos salários dos intérpretes.

FONTE: Mundo sem luz e sem som – como é a vida de um surdocego? 2017. Disponível em: <https://www.pressenza.com/pt-pt/2017/09/mundo-sem-luz-sem-som-vida-um-surdo-cego/>. Redação São Paulo. Acesso em: 21 abr. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• As atividades de interpretar precisam ser mais elaboradas, assistidas, articuladas, até por serem mais visíveis, podendo causar muitos infortúnios com relação à passagem da mensagem, e até mesmo alguns prejuízos para a saúde física e emocional, devido à exaustão causada pelo esforço cognitivo e corporal.

• Várias oportunidades de trabalho poderão surgir, advindas dos espaços em que os surdos estão inseridos, mas você deverá ter a percepção de estar atento e preocupado em melhorar a cada dia em suas atividades de Tradução e Interpretação em Libras.

• A ética é uma qualidade indispensável para as atividades de tradução e interpretação em (LS), pois se trata de integrar e fornecer acesso ao conhecimento necessário para o sujeito surdo e realizar um trabalho de baixa qualidade, sem compromisso ético. O TILSP perpetua a situação excludente da comunidade surda como grupo minoritário perante a sociedade.

• Quadros (2004), junto com a FENEIS-RS, mostrou alguns tipos de intérpretes com atestados, ou seja, que passaram por uma banca atestando sua fluência, além dos os intérpretes temporários, que atuarão em determinadas situações, com o respaldo de um certificado emitido pela FENEIS-RS.

• Com base na Lei n° 10.436/2002 e Lei n° 12.310/2010, para cumprir com as competências e responsabilidades do profissional (tradutor/intérprete), algumas instituições criaram e organizaram documentos internos com regimentos e regulações próprias.

• A perspectiva inclusiva de educação foi uma das primeiras áreas em que o profissional TILSP foi inserido. A partir daí, foi se estendendo para outras áreas e contextos.

• Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo.

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• Sobre algumas nomenclaturas, a saber: surdo-cegueira (condição apresentada pela cegueira e pela surdez.); surdocegueira sem hífen (condição que apresenta outras dificuldades, além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez); surdocego (perda substancial da visão e da audição); Libras tátil (comunicação que ocorre através das mãos); tadoma (nome que se dá para a linguagem que utilizamos na língua de sinais com experiências táteis).

• Sendo o guia-intérprete o elo entre o processo de comunicação, ele tem função de antecipar o que vai acontecer, seja em uma atividade no cotidiano, como na escola. Proporcionará estímulos para que o aluno/pessoa se comunique e tenha curiosidade de explorar o ambiente, o que facilitará a passagem da mensagem.

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1 No início do tópico, analisamos como o profissional TILSP deve se comportar diante de algumas situações, levando em consideração os preceitos éticos. Assim, descreva, em suas palavras, o que seria “sigilo profissional”, “imparcialidade” e “fidelidade” durante as atividades de tradução e interpretação. Cite exemplos.

2 As competências do profissional TILSP e guia-intérprete são descritas na Lei federal n° 12.319/2010, que regulamenta suas atribuições nos artigos 6º e 7º. Assim, marque a resposta correta:

I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdocegos, surdocegos e ouvintes por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; o intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo;

II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;

III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero;

IV - atuar sem imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir, não havendo a necessidade de ter solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem.

Assinale as alternativas corretas:

( ) As sentenças I, II e III estão corretas( ) As sentenças I e III estão corretas( ) As sentenças I, II e IV estão corretas( ) As sentenças II e III estão corretas

3 Quanto à atuação do profissional Intérprete Educacional, foi destacado que, por falta de conhecimento dos profissionais envolvidos e até da própria instituição, costumam acontecer alguns paradoxos. Assim, observe a imagem e responda qual realmente é o papel do TILSP no contexto educacional:

AUTOATIVIDADE

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FIGURA 54 – COMO AGIR DIANTE DE UM SURDO

FONTE: Disponível em: <http://caroldiversidade.blogspot.com.br/2013/06/como-agir-diante-de-um-surdo.html>. Acesso em: 21 abr. 2018.

4 Durante nossos estudos, podemos entender melhor como um indivíduo com surdocegueira enxerga o mundo à sua volta, por meio do que se chama “defesa tátil”, e a responsabilidade do profissional guia-intérprete em passar a informação precisamente através das mãos.

Você foi incentivado a se sentir como determinado sujeito. Assim, com a imagem a seguir, feche os olhos e peça para que alguém descreva para você o que está vendo na figura. Após, sem olhar para a figura, descreva o que entendeu e compare com a imagem.

FIGURA 55 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA ESPECIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.ipemig.com.br/educacao-infantil-e-educacao-inclusiva-especial/>. Acesso em: 21 abr. 2018.

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UNIDADE 3

POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E

INTERPRETAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:

• identificar as legislações referentes ao profissional TILSP;

• compreender a importância de sua formação;

• entender brevemente a formação do TILS no âmbito internacional;

• explorar e conhecer as tecnologias como apoio;

• identificar desafios e possibilidades da profissão;

• apreciar e aprender alguns vocábulos empregados.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada tópico, você en-contrará atividades que possibilitarão o aprofundamento de conteúdos na área, propiciando o conhecimento acerca da legislação na formação do pro-fissional da língua de sinais, além das tecnologias e a inclusão do profissional no uso de vocábulos.

TÓPICO 1 – LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

TÓPICO 2 – TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

TÓPICO 3 – TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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TÓPICO 1

LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL -

TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Há vários níveis de formação de intérpretes para surdos no mundo. Desde o nível secundário ao nível de mestrado, podemos encontrar pessoas se especializando para se tornarem profissionais mais qualificados (QUADROS, 2004, p. 47).

Nas unidades anteriores, refletimos sobre teorias e estudos da tradução e interpretação das línguas orais e de sinais e fizemos brevemente um paralelo entre as semelhanças gramaticais. Estudamos sobre a importância do profissional TILSP estar sempre se atualizando, e a ética envolvida durante sua atuação.

Agora, iremos refletir sobre a legitimação da profissão na esfera nacional e brevemente sobre a formação do profissional na esfera internacional. Ainda, consideraremos algumas tecnologias que têm contribuído grandemente para o ensino e aprendizagem tanto do TILSP como da comunidade surda, e que têm facilitado muito a comunicação entre as duas comunidades. Abordaremos ainda sobre a inclusão, de forma a atender às necessidades da comunidade surda em contextos variados.

Como já considerada anteriormente na Unidade 2, a história mostra que os profissionais TILSP foram se construindo na medida em que a comunidade surda participava na sociedade. Aconteceu por meio de pessoas que mantinham contato com os surdos, seja no ambiente familiar, bem como no ambiente religioso, aprendendo no cotidiano, na prática, buscando técnicas para a melhoria da comunicação com os sujeitos surdos.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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FIGURA 1 – EDUCAÇÃO PÚBLICA

FONTE: Disponível em: <http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/artigos/desafios-e-possibilidades-no-processo-de-avaliacao-doa-alunoa-surdoa>. Acesso em: 4 maio 2018.

Assim, quando refletimos sobre o desenvolvimento na formação do profissional TILSP, entendemos que há o envolvimento por parte dos governantes com as políticas públicas inclusivas e com a evolução histórica e social de duas comunidades distintas, que se homogeneízam no momento da comunicação. A reflexão nos remete novamente aos estudos de Quadros (2004, p. 51), que fala sobre o desenvolvimento do profissional TILSP, quando explica que:

A variação em níveis de qualificação reflete um desenvolvimento sociocultural da comunidade surda. A preocupação em formar intérpretes surge a partir da participação ativa da comunidade surda na comunidade em que está inserida.

Assim, a autora nos conduz a pensar na formação do profissional de acordo

com vertentes que se unem na acessibilidade em prol de resultados pragmáticos e na tomada de decisão por ambas as partes, o que muitas vezes acontece durante e após uma tradução e interpretação.

ATENCAO

Assista a matéria exibida pela TV TST do DF, feita em homenagem ao Dia do Trabalhador. A matéria retrata a atuação do intérprete de Libras no Brasil e no DF, além de explicar sobre a importância de um sindicato e seus direitos. Aproveite para saber mais sobre a realidade. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sLu_fuXHp9Y>. Acesso em: 4 maio 2018.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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2 A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE

Quando articulamos a profissão e a formação do profissional TILSP, consideramos que, no âmbito nacional, o profissional é previsto no Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, na Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010 e na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.

De acordo com as legislações, o TILSP é responsável por dar acessibilidade linguística aos alunos surdos da Educação Básica e do Ensino Superior, e em outros ambientes, interpretando da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a Língua Portuguesa (LP) e vice-versa. A relação é muito bem descrita por Pagura (2003, p. 185):

Mais uma semelhança entre o tradutor e o intérprete é que ambos os profissionais devem ser pessoas capazes de compreender e expressar ideias relacionadas às mais diferentes áreas de conhecimento humano, sem ser especialistas nessa área, como são seus leitores ou ouvintes.

Assim, as leis vêm para acordar e assegurar a relação de formação, competência e acessibilidade para a comunidade surda em diferentes contextos. Nossa pretensão, ao pesquisarmos sobre as leis, é reconhecermos que a educação de surdos faz parte de uma prática inclusiva proposta pelo Ministério de Educação - MEC e Secretaria de Educação Especial - SEESP.

Salientamos também que são vários os espaços escolares que defendem a educação e inclusão de surdos, quebrando a barreira da comunicação.

FIGURA 2 – LEI

FONTE: Disponível em: Adaptado: <https://danilomarcheti.com/2017/09/11/lei-libras/>. Acesso em: 4 maio 2018.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Vamos retomar algumas das leis, ponderando em ordem cronológica, destacando parágrafos específicos sobre o profissional TILSP e sua formação, fazendo sínteses a respeito, buscando um maior entendimento sobre o universo das leis, dando-lhe informações necessárias como subsídios para seu fazer profissional, embasadas na garantia legal.

2.1 ESFERA NACIONAL

Ao refletirmos as leis referentes à inclusão em geral, não podemos deixar de relembrar da Declaração de Salamanca, na Espanha, que aconteceu de 7 a 10 de junho, em 1994. Ela é considerada um dos principais documentos mundiais que objetivam a inclusão social e educacional. Veja o item C do parágrafo 39:

39. Treinamento pré-profissional deveria fornecer, para todos os estudantes de pedagogia de ensino primário ou secundário, orientação positiva frente à deficiência, desenvolvendo um entendimento daquilo que pode ser alcançado nas escolas através dos serviços de apoio disponíveis na localidade [...]. Apliquem suas habilidades na adaptação do currículo e da instrução no sentido de atender às necessidades especiais dos alunos, bem como no sentido de colaborar com os especialistas e cooperar com os pais (UNESCO, 1994).

Notamos que o parágrafo oferece estratégias para as escolas e para o profissional, seja ele professor regente ou professor de apoio, envolvido no atendimento de alunos com Necessidades Educativas Especiais - NEE, nomenclatura usada na época. Embora a declaração não fale diretamente do profissional TILSP, quando abordamos os fragmentos da Declaração de Salamanca percebemos o prenúncio do profissional TILSP, porém ainda sem nomenclatura.

Quer conhecer e fazer uma leitura da Declaração de Salamanca? Baixe a lei na íntegra. Disponível em: <http://redeinclusao.pt/media/fl_9.pdf>. Acesso em: 4 maio 2018.

NOTA

Depois de relembrarmos uma das leis mais importantes com respeito à inclusão, em âmbito mundial, falaremos das leis brasileiras que dão destaque à inclusão. Uma delas é a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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Veja a seguir: CAPÍTULO VIIDA ACESSIBILIDADE NOS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃOArt. 17. O poder público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. Art. 18. O poder público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo previstos em regulamento (BRASIL, 2000, s.p.).

Notamos que a lei assegura que o poder público promova a eliminação de barreiras na comunicação de pessoas com deficiências sensoriais (deficientes auditivos/surdos) e estabeleça mecanismos e alternativas.

DICAS

Baixe a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, e tenha nos seus arquivos para seus futuros estudos na área de inclusão. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2000/lei-10098-19-dezembro-2000-377651-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 8 maio 2018.

Devemos atentar também para o Art. 19, da Lei n° 10.098/dez./2000, que garante o direito ao acesso à informação nos meios de comunicação para a comunidade surda. Hoje existem muitos profissionais TILSP que se especializaram em atividades de tradução televisiva, ou seja, (janela em Libras).

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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FIGURA 3 – ATIVIDADE TILSP/JANELA EM LIBRAS

FONTE: Brasil (2009, p. 17)

Existem várias ferramentas que podem facilitar o acesso das pessoas com deficiência aos meios de comunicação. No entanto, nem todos os recursos são disponibilizados pelas emissoras de TV. A acessibilidade na TV facilita a obtenção de serviços, o uso de dispositivos e sistemas ou acesso aos meios de comunicação e de informação, para pessoas com qualquer tipo de deficiência.

O livro ainda traz a Portaria da Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT), que criou uma norma específica para acessibilidade em comunicação na televisão, apresentada a seguir:

A NBR 15.290, que dispõe sobre a acessibilidade em comunicação na televisão, foi elaborada em 2005 pela Comissão de Estudo de Acessibilidade em Comunicação. A norma estabelece diretrizes gerais aplicáveis a todas as emissoras e programadoras, públicas ou privadas, em transmissões nas frequências de UHF, VHF, a cabo, por satélite e por meio de protocolo IP, para que a programação televisiva seja acessível a todas as pessoas com deficiência auditiva, visual ou cognitiva, assegurando os direitos de cidadania estabelecidos pela Constituição Federal. A NBR 15.290 estabelece diretrizes e regras específicas para a janela de Libras (BRASIL, 2009, p. 18).

Acesse os slides explicativos, mencionando como a ABNT descreve as características de enquadramento da janela televisiva em Libras. Disponível em: <file:///D:/Downloads/Apresentacao%20Sra.%20Patricia%20Tuxi%20(3).pdf>. Acesso em: 8 maio 2018.

NOTA

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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É de nosso conhecimento que a Lei nº 10.436/2002 foi um marco divisor no Brasil para a comunidade surda e para os ouvintes engajados na luta da comunidade, pois ela reconhece Libras como língua da comunidade surda, garantindo sua difusão por meio de empresas, serviços públicos e nos sistemas educacionais. Veja os artigos da lei a seguir:

Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente (BRASIL, 2002, s.p.).

Embora a lei não dê indicação direta do profissional TILSP, seus artigos

asseguram o direito da Libras como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda, ficando evidente a necessidade das atividades do profissional TILSP, em todos os contextos em que a comunidade surda está inserida.

Com a publicação do Decreto n° 5.626/2005, que regulamenta a Lei n° 10.436/2002, chamada Lei de Libras, ficam determinados oficialmente os níveis de formação e as atribuições do profissional. De acordo com o capítulo V:

Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005Capítulo VIII - de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa.Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto.Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa.Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:I - cursos de educação profissional;II - cursos de extensão universitária; III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de Educação.

Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III (BRASIL, 2005, s.p.).

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

170

Considerando a realidade educacional do país, o Decreto n° 5.626/2005 determina a formação do TILSP:

• Nível médio, que poderá ser realizado por meio de instituições credenciadas, por secretarias de Educação (escolas, associações e organizações governamentais).

• Nível superior, neste caso, o profissional deve ingressar em curso superior de Tradução e Interpretação em Libras/Língua Portuguesa para estar habilitado a atuar no Ensino Superior.

Ainda, o decreto dá o prazo de dez anos para as instituições federais, de Ensino Médio e Superior, se adequarem aos termos. Destacamos a importância das instituições se deterem às áreas em que os profissionais atuarão.

Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil: I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior (BRASIL, 2005, s.p.).

Diante da reflexão sobre os dispositivos do decreto, a habilitação do TILSP para atuar no Ensino Superior, até termos profissionais habilitados, passa a ter dois perfis:

• formação em curso superior em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa;

• formação em curso em nível superior e com a certificação de Proficiência em Libras para tradução e interpretação.

No caso de atuação no Ensino Superior, o profissional deve ter formação bilíngue (Português/Libras) ou por meio de qualquer curso de nível superior, juntamente com a certificação de Proficiência em Libras para tradução e interpretação.

Foi instituído o Programa Nacional para a Certificação de Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa – Prolibras.

Ficou interessado em saber mais sobre o Prolibras? Entre no site da Comissão Permanente do Vestibular da UFSC- Coperve, que realizou sete Prolibras. Veja a relação das provas e seus gabaritos, além da relação de aprovados pelos estados brasileiros. Disponível em: <http://coperve.ufsc.br/prolibras/>. Acesso em: 29 maio 2018.

IMPORTANTE

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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O Decreto n º 5.626, de 22 de dezembro de 2005, também destaca a importância de serem criados instrumentos de avaliações por parte das instituições contratantes para o profissional, a fim de obtermos resultados satisfatórios para os clientes/alunos surdos, além desses instrumentos servirem para repensar na qualidade dos serviços a serem oferecidos. Note o capítulo VIII:

Art. 27. No âmbito da administração pública federal, direta e indireta, bem como das empresas que detêm concessão e permissão de serviços públicos federais, os serviços prestados por servidores e empregados capacitados para utilizar a Libras e realizar a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa estão sujeitos aos padrões de controle de atendimento e à avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em conformidade com o Decreto no 3.507, de 13 de junho de 2000 (BRASIL, 2005, s.p.).

FIGURA 4 – EXAME PROLIBRAS

PROLIBRASPROFICIÊNCIAS DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

FONTE: Disponível em: Adaptado: <http://www.surdosol.com.br/tag/prolibras/>. Acesso em: 4 maio 2018.

O exame Prolibras ficou sob a responsabilidade do Ministério da Educação – MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Foi organizado em nível federal durante dez anos. No ano 2006, a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC foi credenciada para realização do exame, e a partir do ano de 2007, outras instituições passaram a ser credenciadas. Segundo o site do portal de MEC, quando houve o início do exame no ano de 2006, tínhamos o seguinte critério: que o diploma de certificação seria expedido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A instituição foi selecionada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), autarquia responsável pelo exame, por meio de chamada pública.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Conforme Quadros et al. (2009, p. 28), a prova objetiva em Libras deveria ser gravada em DVD, apresentar caráter eliminatório comum para os dois grupos de participantes, ser constituída de questões de múltipla escolha, que envolvessem a compreensão da Libras, legislação específica da Libras e ética profissional. As provas práticas deveriam ser elaboradas observando-se dois níveis de exigência em cada categoria:

Categoria Ensino de Libras:

a) Instrutor de Libras – nível médio;b) Professor de Libras – nível superior.

Categoria Tradução e Interpretação da Libras-Língua Portuguesa:

c) Tradutor e intérprete de Libras-Língua Portuguesa – nível médio;d) Tradutor e intérprete de Libras-Língua Portuguesa – nível superior.

Quadros et al. (2009) ainda explicam como deverá ser a segunda fase do exame. Para a categoria Ensino de Libras, o candidato deveria realizar uma prova didática em Libras (sobre temas sorteados no dia da prova objetiva) com 15 minutos de duração para cada participante. Para a categoria Tradução e Interpretação da Libras-Língua Portuguesa-Libras, o candidato deveria realizar uma prova prática de tradução e interpretação da Libras-Língua/Portuguesa-Libras, com temáticas relacionadas à educação, com dez minutos de duração para cada participante.

ATENCAO

Acesse e tenha um breve entendimento de como era realizada a primeira fase da prova do Prolibras com questões de múltipla escolha, em Libras. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=h-x_hXX74f0>. Acesso em: 29 maio 2018.

Assim, após a UFSC realizar sete exames, no ano de 2010 saiu uma nova portaria do MEC, afirmando que a partir do ano de 2011, o Programa Nacional para a Certificação de Proficiência em Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa - Prolibras seria realizado não mais pela UFSC, mas sim sob a incumbência do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES.

PORTARIA NORMATIVA MEC 20/2010 – DOU: 08.10.2010 Dispõe sobre o Programa Nacional para a Certificação de Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa – Prolibras.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições, e: Considerando a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais; considerando o Decreto nº 5.626, de 22 dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e o artigo 18 da Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000;

Considerando o Decreto nº 6.320, de 20 de dezembro de 2007, que dispõe, dentre outras, sobre as competências do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES;

Considerando a Lei nº 12.319, 1º de setembro de 2010, que regulamenta a profissão de Tradutor Intérprete de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS; resolve:

Art. 1º O Programa Nacional para a Certificação de Proficiência em Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa – Prolibras será realizado a partir de 2011, sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES. § 1º O objetivo do Prolibras é viabilizar, por meio de exames de âmbito nacional, a certificação de proficiência no uso e ensino da Libras e de proficiência na tradução e interpretação da Libras. § 2º Os exames do Prolibras serão realizados, anualmente, nos Estados e no Distrito Federal, até 2015. § 3º O Prolibras será desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação Especial/SEESP e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Art. 2º Caberá à SEESP analisar e emitir parecer sobre o plano anual de execução do Prolibras.Art. 3º Caberá ao INEP subsidiar as ações do INES, no que diz respeito à concepção e metodologias de avaliação. Art. 4º Caberá ao INES a realização do Plano Anual de Execução do Prolibras (BRASIL, 2010, s.p.).

Conforme a portaria, no Art. 1º., Parágrafo 2º, o exame de Proficiência em Libras e a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa – Prolibras seriam realizados até o ano de 2015, de acordo com o 2º parágrafo do Art. 1º da portaria normativa MEC 20/2010 – DOU: 08.10.2010.

O MEC publicou, por meio de uma nota técnica, no ano de 2008, que o Prolibras surgiu como alternativa para se ter professor para o ensino da disciplina de Libras, até que as universidades consigam formar professores em cursos de pedagogia bilíngue ou de licenciatura em Libras. Acesse e confira o documento. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/minuta.pdf>. Acesso em: 4 maio 2018.

IMPORTANTE

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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FIGURA 5 – LEI TRADUTOR/INTÉRPRETE

FONTE: Disponível em: <http://www.libras.com.br/images/sinais/libras-sinal-lei.png>. Acesso em: 4 maio 2018.

Em 2010 foi sancionada a Lei Federal nº 12.319, de 1º de setembro, que regulamenta a profissão do TILSP e define a atuação do profissional. Note que o artigo 5º explicita novamente a duração do exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras – Língua Portuguesa. Ainda, menciona a composição e formação da banca examinadora para TILSP em nível médio.

A Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – Feneis, por meio de algumas regionais, forma bancas examinadoras. Acesse o documento a seguir e conheça como funciona uma banca examinadora. Disponível em: <http://pr.feneis.org.br/wp-content/uploads/2017/05/27-de-Jan-CRONOGRAMA-DA-BANCA-Feneis-PR-.pdf>. Acesso em: 29 maio 2018.

NOTA

Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou;II - cursos de extensão universitária;III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III.Art. 5o Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente ou por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras – Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento da função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior (BRASIL, 2010, s.p.).

FIGURA 6 – LBI

FONTE: Disponível em: <http://www.claudiamatarazzo.com.br/vai-encarar/educacao-inclusiva-licao-para-a-nossa-patria-educadora/>. Acesso em: 4 maio 2018.

No dia 6 de julho de 2015 é aprovada a Lei nº 13.146, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e nela, o compromisso na passagem da informação para a pessoa com deficiência, não devendo haver nenhuma barreira que impeça a transmissão.

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 3o Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: IV:d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação;V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, dentre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o braile, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações (BRASIL, 2005, s.p.).

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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A aprovação da Lei Brasileira de Inclusão – LBI atende às reivindicações antigas, que vieram complementar muitas leis e decretos já publicados na área da inclusão brasileira. A nova lei, portanto, consolida em um só diploma boa parte da legislação.

Dá destaque por regulamentar na esfera da legislação infraconstitucional a sistemática jurídica disposta na Convenção da ONU. No início era visto como “Estatuto da Pessoa com Deficiência” e, após passar por diversas revisões, torna-se Lei Brasileira de Inclusão, também chamada de LBI, que passou a valer em 2016.

Note que a LBI, assim como o Decreto n. 5.626/2005, dão ênfase quanto à formação do profissional TILSP, tanto em nível médio como nível superior. O poder público deve: assegurar, criar, desenvolver, além de acompanhar e avaliar.

Do mesmo modo, garante o direito do sujeito surdo ter acesso aos editais em sua língua materna, bem como a oferta da educação bilíngue. Assim, em todos os casos, notamos a importância da participação efetiva do TILSP.

CAPÍTULO IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃOXI - formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias-intérpretes e de profissionais de apoio;§ 2o Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se observar o seguinte:I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir Ensino Médio completo e certificado de proficiência na Libras II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras.Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas;VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da língua portuguesa; VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Libras (BRASIL, 2015, s.p.).

É relevante destacarmos Albres (2011, p. 2152), ao mencionar que “consideramos que a comunidade de surdos é detentora da concessão e aceitação do agente que desenvolve tal função”. A fala nos mostra a importância das instituições vinculadas à formação do TILSP, a importância de terem professores surdos em sua equipe, a fim de ministrarem tais formações.

Diante das conquistas e ganhos, esperamos a continuidade de projetos governamentais em esfera federal, estadual ou municipal, que busque valorizar a acessibilidade para a comunidade surda, bem como a continuidade da formação e acreditação do profissional TILSP.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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DICAS

Confira e baixe o Estatuto da pessoa com deficiência/Lei n° 13.146/15a LBI. Disponível em: <http://maragabrilli.com.br/wp-content/uploads/2016/03/Guia-sobre-a-LBI-digital.pdf>. Acesso em: 29 maio 2018.

3 FORMAÇÃO NA ESFERA INTERNACIONAL

Conforme já vimos, a LS está em todo o mundo, cada país possui sua própria Língua de Sinais, com suas respectivas comunidades surdas. Na Unidade 2 falamos especialmente da Língua de Sinais Americana – ASL, que tem os estudos mais avançados. Em todos os países, o profissional tradutor intérprete de LS está em constante formação pela inserção das comunidades surdas em vários contextos.

Quadros (2004, p. 47) tece algumas considerações sobre a formação do profissional pelo mundo, inclusive falando das leis vigentes em alguns países.

QUADRO 1 – FORMAÇÃO DE INTÉRPRETES

No ano de 2001 foi realizado um encontro internacional sobre a formação de intérpretes de língua de sinais na América Latina. O evento foi realizado em Montevidéu, Uruguai, no período de 13 a 17 de novembro de 2001, com o apoio da Federação Mundial de Surdos. A seguir, são apresentadas as principais conclusões e recomendações feitas por ocasião do encontro. Respeitando as características e situação de cada um dos países participantes, conclui-se, em primeiro lugar, que é necessário, principalmente:

a) Que a comunidade de pessoas surdas seja consciente da importância de sua própria língua e dos intérpretes profissionais.b) Que as associações e federações de pessoas surdas sejam fortalecidas em todos os aspectos, por si mesmas, e com o apoio de organismos públicos e internacionais.c) Que em todos os países se reconheça a Língua de Sinais, reconhecimento da profissão e titulação de Intérprete de Língua de Sinais e que exista reconhecimento da profissão e titulação de formador de intérpretes de Língua de Sinais.

FONTE: Quadros (2004, p. 44)

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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DICAS

O livro da professora Ronice Muller de Quadros aborda a língua de sinais de alguns países, baixe e faça uma pesquisa. Disponível em: <https://www.librasgerais.com.br/materiais-inclusivos/downloads/Estudo-Surdos-IV-SITE.pdf>. Acesso em: 29 maio 2018.

DICAS

Assista ao vídeo feito pelo Programa Especial, no ano de 2014. A equipe de reportagem entrevista profissionais ligados à educação de surdos fora do Brasil, que dão detalhes sobre a língua de sinais de seus respectivos países. Assista e conheça mais sobre a língua de sinais francesa, portuguesa e americana. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XFhxlL1ohn0>. Acesso em: 29 maio 2018.

Quadros (2004, p. 48) continua nos dando uma dimensão de como acontece a formação do profissional:

[...] os quatro países que atualmente dispõem de cursos de Língua de Sinais e de formação de intérpretes (Argentina, Brasil, Colômbia e Uruguai) prestem seu apoio aos países que ainda não contam com estes cursos (Bolívia, Paraguai, Chile, Equador, Peru e Venezuela) para o qual cada um dos primeiros quatro designará a duas pessoas: uma ouvinte e outra surda, especialistas em formação, que sirvam como formadores, assessores e consultores dos futuros agentes multiplicadores de cada um dos seis países.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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LEITURA COMPLEMENTAR

A FORMAÇÃO DE INTÉRPRETES NA EUROPA

• Frequentemente, a formação de intérpretes envolve cursos em finais de tarde ou nos fins de semana, promovidos pelas associações de surdos. A maioria dos programas é de curta duração (por volta de seis meses) e não apresenta um currículo amplo.

• A França, a Dinamarca e a Alemanha têm cursos de dois anos de duração. Nesses países, a formação está formalizada. Frequentemente, não requer domínio da língua de sinais como pré-requisito para ingresso no curso.

• A Itália, a Holanda, a Inglaterra e a Dinamarca dispõem de recursos financeiros públicos para a formação de intérpretes, ao contrário da Bélgica, da França, da Grécia, da Irlanda e da Espanha.

• Habilidades e conhecimentos desenvolvidos nos cursos:

- Bélgica: conhecimento da língua de sinais e leitura labial; maior ênfase no significado da comunicação; conhecimento a respeito do mundo dos surdos; conhecimento sobre história, gramática, psicologia etc.

- Inglaterra: excelente fluência na BSL, primeiro lugar no nível comunicativo e depois no nível da interpretação; os intérpretes devem usar a língua de sinais e não o inglês sinalizado; é dada a mesma ênfase aos estudos das línguas envolvidas no processo de interpretação: o inglês e a BSL; especialização dos intérpretes (educação, medicina, recursos humanos etc.); exercício da interpretação de uma língua para a outra. Os cursos são em tempo integral.

- França: exige-se um perfeito conhecimento da FSL; domínio da língua falada, dos diferentes níveis e nuanças; conhecimento sobre a profissão de intérprete.

- Alemanha: conhecimento do código de ética; prática de tradução e interpretação; psicologia do surdo; treinamento da língua de sinais e técnicas de interpretação. Seguintes prioridades: qualificação dos professores dos cursos de formação de intérpretes; elaboração de um currículo; qualificação dos alunos.

• O registro dos intérpretes: normalmente, é feito por organizações de intérpretes informais. Inglaterra, Dinamarca, Holanda e Espanha têm um registro reconhecido que qualifica o intérprete. A Bélgica, a Dinamarca e a Alemanha têm um registro parcial ou está sendo criada uma forma de registro. A Grécia, a Irlanda, a Itália e Portugal não dispõem de nenhuma forma de registro. Somente a Espanha exige a qualificação do intérprete. Os demais países incluem intérpretes sem qualificação. Tais intérpretes, na maioria dos casos, são pessoas com experiência em interpretação e reconhecidas como competentes para assumir a função.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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• Pagamento: o pagamento pelos serviços de intérprete normalmente é feito pelos próprios surdos e por verbas governamentais. Em função dos direitos à cidadania, o governo deve prever intérpretes em órgãos públicos e serviços, tais como: delegacias de polícia, ambulâncias, bombeiros, hospitais, órgãos administrativos, bibliotecas etc.

Formação de intérpretes na Finlândia

• Formação básica: prestar serviços de interpretação para surdos, surdocegos e pessoas ensurdecidas na Finlândia.

• Cursos de curta duração para formação de intérpretes: eram realizados pela Associação de Surdos, perfazendo o total de 170 horas.

• Conteúdos desenvolvidos nos cursos de curta duração: informação teórica sobre surdez, reabilitação e serviços sociais para o surdo; princípios éticos da interpretação e sobre a língua de sinais e como é usada na interpretação. Durante o curso, a interpretação é praticada e avaliada em pequenos grupos com a presença de intérpretes e instrutores surdos.

• Cursos de longa duração: são realizados por uma escola (Christian Community College in Turku) desde 1988. Exigem como pré-requisito a realização de outros cursos. A parte teórica é muito mais longa que nos cursos de curta duração.

• Conteúdos desenvolvidos no curso de longa duração: inicialmente, há várias aulas de língua de sinais. O treinamento inclui teoria e prática. A parte teórica inclui informações sobre surdez, língua de sinais, interpretação, aspectos sociopolíticos e aspectos psicológicos. A parte prática inclui encontros com pessoas surdas e a prática de interpretação. Os estudantes também aprendem como ensinar a língua de sinais e métodos especiais de comunicação com pessoas surdas, cegas e ensurdecidas.

• Problemas encontrados: (a) ajustar o nível da língua ao grupo atendido; (b) desconhecimento da língua de sinais pelos próprios surdos; (c) os cursos não estavam sendo suficientes para trabalhar todas as modalidades de interpretação (soletração, leitura labial, sistema tato-manual, espaço-visual, oral-auditivo); (d) necessidade de conscientizar a pessoa surda que quer ser intérprete de que, apesar de falar muito bem e ser um usuário nativo da língua de sinais, ela não ouve a fala e o tom de voz da pessoa.

• Observação: as condições éticas e o Código do Profissional Intérprete são os mesmos para quaisquer tipos de intérprete, independentemente da modalidade e do fato do profissional ser surdo ou não.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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Formação de intérpretes na Dinamarca

• Necessidade de intérpretes: em 1973, 10.000 horas de interpretação foram realizadas; em 1980, 20.000 horas; em 1982, 43.000 horas e em 1985, 55.000 horas. Os serviços beneficiaram aproximadamente 2.500 pessoas surdas com um custo em torno de $ 1.500.000,00 por ano.

• Cursos de formação de intérpretes: são oferecidos pelo Centro de Comunicação Total em cooperação com o Colégio do Comércio; inclui dois anos de tempo integral; admite 20 alunos por ano. Os alunos entram no curso sem conhecimento da língua de sinais.

• Currículo do curso:

Primeiro ano:

1.200 horas de aulas expositivas e 800 horas de língua de sinais. Língua de Sinais:

- comunicação – exercícios gramaticais; - exercícios tato-manuais e soletração.

Tópicos gerais:

- Linguística Geral.- Bilinguismo.- Correntes educacionais.

Na Suécia, o curso é de dois anos, mas os alunos devem passar por um teste de proficiência na língua de sinais para sua admissão. São selecionados 50 alunos por ano. Na Noruega, desde 1989, há um curso de formação de intérpretes de um ano na Escola de Educação Especial, admitindo somente alunos com o domínio da língua de sinais.

- Organizações para surdos (nacionais e internacionais). - História da comunidade surda e sua cultura.- Línguas de sinais estrangeiras e internacional. - Gramática da língua de sinais. - Notação de sinais.- Desenvolvimento histórico da língua de sinais e dos sinais.- Causas e consequências da surdez.

Segundo ano: ensino sobre a língua de sinais, interpretação, ética, métodos de interpretação, processos envolvidos na interpretação, além de aulas em laboratórios equipados com mesas, vídeo, fones e câmaras individuais para treinamento intensivo.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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• Metodologia: exercícios em vídeos (análise da produção dos alunos; exemplos de tradução); diálogos; relato de estórias; tradução de partes de artigos de revistas; discussões em grupos e em seminários; jogos de tomada de papéis; exercícios de tradução; exercícios gramaticais; encontros com surdos; avaliações e críticas individuais e gerais.

• Língua de sinais: é dada por oito professores surdos envolvidos em projetos de pesquisa e de elaboração de materiais didáticos para o ensino da língua de sinais. É usada como a língua para a instrução no curso desde o primeiro dia.

• Atividades extras: várias atividades com surdos fora da relação professor surdo e aluno (clube, esportes, restaurante etc.) são incentivadas.

• Avaliação: Para o primeiro ano, o exame inclui a tradução do texto em dinamarquês para língua de sinais dinamarquesa (vídeo) e a tradução de um texto na língua de sinais (em vídeo) para o dinamarquês; uma seção de comunicação com pessoas surdas usando a língua de sinais e, finalmente, a elaboração de um ensaio com os tópicos relacionados à língua de sinais, à linguística e à cultura da surdez. Para o segundo ano, o exame consiste de interpretação do dinamarquês para língua de sinais dinamarquesa e a interpretação da língua de sinais para o dinamarquês; interpretação de um diálogo entre uma pessoa surda e uma pessoa ouvinte; ensaio sobre ética.

Formação de intérpretes nos EUA

• Proposta do mestrado em interpretação: o Departamento de Linguística e Interpretação da Universidade de Gallaudet instituiu um programa de mestrado para intérpretes com ênfase na interpretação da língua de sinais, com a proposta de oferecer qualidade na formação do intérprete através de um programa interdisciplinar e multidisciplinar baseado nas habilidades de comunicação.

• Duração: O programa de mestrado requer dois anos em tempo integral, mais um verão. Requer que sejam completados de 52 a 58 créditos.

• Conteúdo: Estudos com base em pesquisas sobre interpretação; ensino de princípios básicos de linguagem e comunicação; habilidades de tradução e técnicas para ensino de tradução e interpretação. O ensino inicia com atividades de tradução consecutiva e passa para tradução simultânea, observando vários graus de exigência até atingir o nível proposto pelo curso.

• Programa: (1) intensivo e avançado treinamento na língua de sinais; (2) fundamentos de interpretação (habilidades e técnicas; conhecimento sobre os tipos de interpretação; treinamentos de interpretação contextualizados; extensiva experiência prática, incluindo observações de profissionais e contatos com agências de serviços de interpretação); (3) sólida fundamentação teórica em linguística e teoria de comunicação.

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TÓPICO 1 | LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS

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Não existem fórmulas para formarmos intérpretes. Entretanto, um processo constante de reflexão e avaliação se tornará real para a formação do profissional no Brasil. Diante das diferentes experiências apresentadas sobre a formação de intérpretes nos países, apresentar-se-ão algumas das questões que devem ser consideradas ao propormos cursos de formação no Brasil:

1 Qual o nível de aceitação da língua de sinais na comunidade em geral (órgãos governamentais, escolas, igrejas, associações de surdos, instituições que atendem os surdos, famílias, professores, os próprios surdos)?

2 Quais as oportunidades sociais que a comunidade surda encontra em seu meio? Os surdos são incentivados a se organizarem? É dado espaço aos surdos para se manifestarem?

3 Qual a atitude da comunidade em geral diante do intérprete (órgãos governamentais, escolas, igrejas, associações de surdos, instituições que atendem os surdos, famílias, professores, os surdos, os próprios intérpretes)?

4 Os surdos sabem usar todas as possibilidades de atuação de um intérprete? Existe preocupação em oferecer tais informações?

5 Qual o nível de integração existente entre os surdos e os intérpretes?6 Quem são os intérpretes de língua de sinais? 7 Quais as condições que são oferecidas aos intérpretes para atuarem? 8 Qual o nível de formação dos intérpretes?9 Quais são os objetivos em um curso de formação de intérpretes? 10 Quem forma os intérpretes do futuro? 11 Quem oferece a certificação dos intérpretes?12 Em que nível deve ser a formação dos intérpretes no Brasil?13 Quem formará tais intérpretes?

FONTE: QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2004.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Tivemos uma breve pesquisa sobre as leis referentes à inclusão do surdo e à formação do profissional TILSP, bem como para a importância das leis para sua formação.

• A Lei n° 10.436/2002 é um marco divisor no Brasil para a comunidade surda e para os ouvintes engajados na luta da comunidade.

• Para atuar no Ensino Superior, o profissional deve ter formação especificamente bilíngue (Português/Libras), ou por meio de qualquer curso em nível superior, juntamente com a certificação de Proficiência em Libras para tradução e interpretação.

• O Programa Nacional para a Certificação de Proficiência em Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa - Prolibras, descrito no Decreto 5.626/2005, é o primeiro realizado pela UFSC no ano de 2007 e, mais tarde, outras instituições também foram credenciadas.

• Consideramos que, em 2010, foi sancionada a Lei Federal nº 12.319, de 1º de setembro, que regulamenta a profissão do TILSP e define os meios de atuação do profissional.

• Analisamos o profissional tradutor intérprete de LS com ênfase no âmbito nacional, além de brevemente considerarmos como se dá sua formação no âmbito internacional.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Diante do que foi exposto sobre as legislações vigentes sobre a formação do profissional TILSP, explique a importância do envolvimento dos governantes, sociedade e comunidade surda e ouvinte.

2 Em 2010 foi sancionada a Lei Federal nº 12.319, de 1º de setembro, que regulamenta a profissão do TILSP e define a atuação do profissional. Sobre a lei, marque a alternativa correta:

I- Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - cursos de extensão universitária; III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de Ensino Superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação.

II- Art. 2o Devem ser garantidas, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

III- Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento da função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior.

IV- Art. 1º O Programa Nacional para a Certificação de Proficiência em Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa - Prolibras será realizado, a partir de 2011, sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES.

Assinale as alternativas corretas:

( ) As sentenças I, II e III estão corretas( ) As sentenças I e III estão corretas( ) As sentenças I, II e IV estão corretas( ) As sentenças II e III estão corretas

3 Durante a leitura complementar, Quadros (2004) menciona que não existem fórmulas para formarmos intérpretes. Entretanto, um processo constante de reflexão e avaliação tornará realidade a formação do profissional no Brasil. Observe a figura a seguir e responda fazendo sua própria reflexão sobre as questões propostas:

AUTOATIVIDADE

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a) Os surdos sabem usar todas as possibilidades de atuação de um intérprete? Existe preocupação em oferecer tais informações?

b) Quais são os objetivos em um curso de formação de intérpretes? Quem forma os intérpretes do futuro?

FONTE: Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-e-midia/um-olhar-sobre-o-surdo-clinico-ou-social/>. Acesso em: 8 maio 2018.

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TÓPICO 2

TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL

TILSP

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Utilizar as novas tecnologias não garante à escola um avanço de qualidade [...]. É preciso utilizá-las como ferramentas de trocas cognitivas. E, no caso dos surdos, a língua a ancorar essas práticas precisa ser a Libras. Mais importante do que a informação é saber buscar e trabalhar com ela (STUMPF, 2009, p. 3).

Neste tópico, iremos entender o quão importante foi e tem sido para a comunidade surda e para o profissional TILSP, o avanço nas tecnologias da comunicação. Claro, não podemos negar que para todos, com a internet e as redes sociais, podemos diminuir a distância e quebrar barreiras.

Para os ouvintes, o repasse de informações antes da popularização da internet para entretenimento (por meio do computador pessoal) era ainda mais eficiente do que para os surdos, pois tínhamos o telefone, o jornal, o rádio.

Então, seguindo a linha de pensamento, existiam pessoas surdas sem contato com outros surdos e a LS; suas famílias os viam como incapazes, não sabiam das notícias, das atualidades e eles não tinham clareza dos acontecimentos, do que poderiam aprender e ser, pois até do acesso à educação estavam privados.

Felizmente, a história dos surdos passou por muitos altos e baixos, desde o reconhecimento da capacidade de aprenderem por meio da LS, até a proibição do uso da mesma língua. A luta do povo foi incansável para ter o reconhecimento linguístico conquistado. No caminho dos estudos das LS, encontramos inúmeras problemáticas, por exemplo: como fazer um registro escrito dos sinais?

Assim, entramos com o conceito de tecnologia, segundo o Dicionário Michaelis:

1- Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à arte, indústria, educação etc. [...]; 2- Conhecimento técnico e científico e suas aplicações a um campo particular [...]; 3- Tudo o que é novo em matéria de conhecimento técnico e científico. 4- Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático; 5- Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral [...].

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

FIGURA 7 – TECNOLOGIA E OS SURDOS

FONTE: Disponível em: <http://tron-edu.com/blog/120-tecnologia-para-surdos>. Acesso em: 8 maio 2018.

Podemos dizer que as tecnologias voltadas ao desenvolvimento das LS perpassam desde o registro escrito das LS, até o uso de aplicativos que possibilitam videochamadas.

O avanço nas tecnologias da informação trouxe aos surdos e ao profissional TILSP uma facilidade enorme em fazer contato, repassar informações, estudar e fazer registros, e até nos arriscamos em dizer que trouxe a independência para o povo surdo. Na sequência, mostraremos a grande importância dos recursos visuais para o aprendizado do aluno surdo.

2 USO DA TECNOLOGIA COMO SUBSÍDIOS

A modalidade de comunicação dos surdos é visual-espacial e, por vezes, o aluno surdo não tem domínio da língua de sinais. Com o auxílio dos recursos visuais trazidos pelo professor, o TILSP pode introduzir aos poucos sinais novos no vocabulário do aluno, além de favorecer a contextualização do assunto tratado.

A facilidade de comunicação que temos hoje em dia possibilita que tenhamos contato com pessoas usuárias de Libras das mais diversas partes do país, ampliando diariamente o vocabulário linguístico, trocando experiências da prática e compartilhando estratégias de tradução nos mais variados contextos.

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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2.1 TIPOS DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Por muito tempo, temos falado que a informática transformaria nossa sociedade e, de fato, saber usar tais ferramentas é essencial, desde as atividades mais corriqueiras, como entrar no e-mail e Facebook, até as mais complexas, como fazer a declaração do imposto de renda, dentre outros.

Para os TILSP, conhecer os funcionamentos dos recursos das tecnologias de comunicação e informação não é um luxo, mas sim uma necessidade, pois os meios trazem subsídios para a formação continuada. O que antes era uma enorme dificuldade, por exemplo, estudar os sinais e adquirir fluência na língua, tornou-se algo possível e acessível a todos.

A língua natural dos surdos é a Língua de Sinais, sendo muito comum

que eles tenham dificuldades para aprender a língua, a LP escrita, já que é baseada em fonemas/sons. Os recursos que possibilitam gravar/transmitir vídeos fortaleceram imensamente a comunidade surda, pois eles podem se expressar naturalmente sem a barreira da LP escrita. A seguir, vamos elencar os aplicativos que subsidiam a informação dos profissionais TILSP e surdos do Brasil.

2.1.1 Aplicativos tradutores

Já imaginou você sair na rua e se deparar com uma pessoa surda lhe pedindo alguma informação e você não entender por não ser fluente em Libras? Os surdos, muitas vezes, dependem de intérpretes para a solução de situações do cotidiano, como solicitar um serviço ou pedir uma informação. Depois que surgiram alguns aplicativos para smartphone e tablet, houve muito mais facilidade na tradução de Libras para o português. Funcionam com áudio, texto ou fotos. Apresentaremos o Hand Talk e o ProDeaf.

Temos os grupos criados no WhatsApp, e surdos e ouvintes compartilham sinais, documentos, o regionalismo deixa de ser uma barreira e passa a ser uma diversidade.

A seguir, veremos quais tecnologias estão mais presentes na vida dos surdos e TILSP, bem como suas aplicabilidades.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

O site do aplicativo explica que hoje o aplicativo, uma das soluções mais conhecidas da Hand Talk, funciona como um tradutor de bolso para Libras, a Língua Brasileira de Sinais, mas o futuro promete um trabalho de alcance mundial, e a ASL, a Língua Americana de Sinais, é o próximo passo dos empreendedores alagoanos. Desde 2012, a Startup vem escrevendo uma história de sucesso, com mais de 1 milhão de downloads do aplicativo. O reconhecimento veio de várias partes do Brasil e do mundo. Foram dezenas de prêmios, dentre eles o de Melhor Aplicativo Social do Mundo em 2013, entregue pela ONU – Organização das Nações Unidas, no Prêmio World Summit Mobile Award, em Abu-Dhabi.

FIGURA 8 – HAND TALK

FONTE: Disponível em: <https://itunes.apple.com/br/app/hand-talk/id659816995?mt=8>. Acesso em: 12 mai. 2018.

QUADRO 2 – HAND TALK

FONTE: Disponível em: <https://blog.handtalk.me/mit-brasileiro-35-inovadores-mundo/>. Acesso em: 12 maio 2018.

A Hand Talk é uma startup social, que tem como missão diminuir distâncias entre surdos e ouvintes. Através da iniciativa do trio de amigos e sócios Ronaldo Tenório (CEO e publicitário), Carlos Wanderlan (CTO e desenvolvedor) e Thadeu Luz (COO e animador 3D), nasceu o Hugo, um simpático intérprete virtual que traduz automaticamente o conteúdo escrito e falado para Língua de Sinais em diversas plataformas. FONTE: Disponível em: <https://blog.handtalk.me/mit-brasileiro-35-inovadores-mundo/>. Acesso em: 12 maio 2018.

NOTA

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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O ProDeaf é um conjunto de softwares capazes de traduzir texto e voz de português para Libras, com o objetivo de permitir a comunicação entre surdos e ouvintes. Nossas soluções foram desenvolvidas para que as empresas possam promover acessibilidade e inclusão social a seus clientes e colaboradores. Disponível em: <http://www.prodeaf.net/>. Acesso em: 12 maio 2018.

NOTA

FIGURA 9 – PRODEAF

FONTE: Disponível em: <http://albertoventura.com/portfolios/prodeaf-movel/>. Acesso em: 12 mai. 2018.

QUADRO 3 – PRODEAF

O ProDeaf nasceu na Universidade Federal de Pernambuco, onde alunos do curso de Ciência da Computação deveriam criar um projeto juntos, mas tinham imensa dificuldade, pois não conseguiam se entender! Sim, a história é verídica. Surdos e ouvintes desenvolveram uma solução global para um problema percebido em sala de aula. Assim nasceu a empresa Proativa Soluções e Negócios, que conta com o apoio e parceria da Wayra Brasil - Telefônica, Microsoft, SEBRAE e CNPq.

FONTE: Disponível em: <http://www.prodeaf.net/>. Acesso em: 12 maio 2018.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Além dos aplicativos listados anteriormente, em maio do ano de 2016, o governo lançou o VLIBRAS, a fim de reduzir as barreiras de comunicação por meio da web. Ele foi apresentado durante a Conferência Nacional de Libras – Conali em 2017. Segundo o site surdo sol, possui atualmente um dicionário com mais de 11 mil termos, que pode ser ampliado e aperfeiçoado pela comunidade de deficientes auditivos. O conjunto de soluções públicas permite ainda a tradução de vídeos digitais para a Língua de Sinais pela ferramenta. Disponível em: <http://www.surdosol.com.br/planejamento-tem-nova-solucao-para-facilitar-acesso-de-surdos-a-conteudos-digitais/>. Acesso em: 29 maio 2018.

FIGURA 10 – V LIBRAS

FONTE: Disponível em: <https://softwarepublico.gov.br/social/suite-vlibras/suite-vlibras>. Acesso em: 12 maio 2018.

A VLibras contém um conjunto de ferramentas que promovem a acessibilidade: a plataforma WikiLibras, que permite à comunidade interessada criar e validar sinais em Libras para ambientes digitais; o Vlibras-Vídeo, que permite ao usuário traduzir vídeos digitais para a língua de sinais; a disponibilidade das ferramentas Vlibras-Desktop, Vlibras-Plugin para vários navegadores; e, por último, o aplicativo Vlibras-Móvel para smartphones. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/ipcd/noticias/acessibilidade-digital-lancamento-da-suite-vlibras>. Acesso em: 12 maio 2018.

NOTA

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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2.1.2 Luvas que transformam textos em Língua de Sinais

FIGURA 11 – LUVAS QUE TRADUZEM

FONTE: Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2015/07/cientistas-mexicanos-criam-luva-que-traduz-linguagem-dos-surdos-mudos.html>. Acesso em: 12 maio 2018.

A comunidade surda, em conjunto com ouvintes, tem desenvolvido muitas tecnologias para a acessibilidade na comunicação. Para seu conhecimento, citaremos uma tecnologia que vem do México. Um grupo de cientistas mexicanos desenvolveu uma luva que transforma em texto e sons os sinais produzidos por meio das mãos do usuário de Língua de Sinais Mexicana – LSM. Veja como funciona:

QUADRO 4 – LUVA TRANSFORMADORA

São formadas palavras e frases que são transmitidas por Bluetooth a um dispositivo móvel com um aplicativo pré-carregado que mostra e lê os sinais das pessoas que usam a luva e querem transmitir uma mensagem.

Para detectar se os dedos estão abertos ou fechados foi utilizado um inovador material empregado na construção de tecnologia para vestimentas, um fio condutor feito à base de aço, mais grosso que o fio convencional de algodão e que se pode costurar com agulha e inclusive com máquina.

A base da luva foi costurada à mão com poliéster e nylon, inclui molas e sensores para dar-lhe força, com a finalidade de que sigam a estrutura pelas mãos. Uma vez que a mensagem chega ao dispositivo, esta é reproduzida em voz e a pessoa que fala com o usuário da luva pode escutar o que este quer lhe dizer.

FONTE: Disponível em: <http://www.surdosol.com.br/cientistas-criam-luva-que-traduz-lingua-de-sinais/>. Acesso em: 12 maio 2018.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

ATENCAO

No Brasil, temos uma tecnologia parecida, é uma braçadeira que capta movimentos musculares que está facilitando a comunicação de pessoas com deficiência auditiva no Amazonas. Tecnologia pioneira na área, desenvolvida pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o projeto “Giullia – Mãos que Falam”. Disponível em: <http://portaldalibras.blogspot.com.br/2015/11/pulseira-eletronica-ja-ira substituir.html.>. Acesso em: 29 maio 2018.

2.1.3 Glossários

Vindos da necessidade de compartilhar os sinais específicos e padronizá-los, surgiram os glossários de Libras. Podemos encontrá-los por diversos meios, como materiais didáticos, no Youtube, em blogs, em dicionários de Libras, dentre outros. Basta pesquisar no Google.

FIGURA 12 – MANUÁRIO ACADÊMICO INES

FONTE: Disponível em: <http://www.manuario.com.br/dicionario-onomastico>. Acesso em: 12 maio 2018.

DICAS

Conheça mais glossários em Libras e aumente seu conhecimento no seu aprendizado em sinais. São da Universidade de São Paulo – USP. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/mod/glossary/view.php?id=197645&mode=letter&hook=A&sortkey=&sortorder=>. Acesso em: 12 maio 2018.

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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2.1.4 Youtube

Podemos dizer que o Youtube trouxe uma mudança muito impactante na disseminação da Libras e da cultura surda. O Youtube e o ensino a distância trouxeram uma facilidade enorme em aprender Libras, buscar informações em Libras, compartilhar experiências da cultura surda, dentre outros.

Antes da invenção do Youtube, podíamos aprender sinais novos apenas tendo contato direto com pessoas usuárias da língua. Agora, com o Youtube, podemos ter o acesso mesmo sem ter contato diário com surdos. Pesquise no Youtube “Libras” e veja quantos vídeos de surdos aparecerão!

FIGURA 13 – YOUTUBE

FONTE: Disponível em: Adaptado: <https://www.youtube.com/watch?v=fYaXJXf60gU>. Acesso em: 12 maio 2018.

2.1.5 WhatsApp/Skype/Imo

São aplicativos de mensagens instantâneas mais usados pelo povo surdo, pois permitem ligações por vídeos, algo que era muito futurista e que hoje utilizamos no cotidiano.

O WhatsApp possibilita criar grupos de interesses em comum. Atualmente, existem milhares de grupos de Libras, e os surdos e intérpretes podem trocar informações sobre sinais, experiências, enfim, trocar conhecimento.

2.1.6 Ensino a distância

Diversas plataformas virtuais destinadas ao ensino a distância trouxeram mais facilidade e possibilidades de acesso à formação dos interessados em Libras. Através do EaD e dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, podemos nos manter atualizados e sem sair de casa.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

ATENCAO

O site surdo SOL está voltado para a acessibilidade da comunidade surda brasileira. Lá, você encontrará mais exemplos de tecnologias e como usá-las. Disponível em: <http://www.surdosol.com.br/downloads/>. Acesso em: 29 maio 2018.

FIGURA 14 – ENSINO LIBRAS EAD

FONTE: Disponível em: <https://psicologiaacessivel.net/2016/01/16/aprenda-libras-pela-usp-online-e-gratuitamente/>. Acesso em: 12 maio 2018.

2.1.7 Revista de vídeo registro

Uma curiosidade e novidade para os acadêmicos surdos é a Revista Brasileira de Vídeo Registro, para a possibilidade e postagem de artigos em Libras, sendo um subsídio excelente para o acadêmico surdo se expressar na sua língua natural e para o profissional TILSP se familiarizar com muitos sinais.

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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FIGURA 15 – VESTUÁRIO

FONTE: Disponível em: Adaptado: <http://revistabrasileiravrlibras.paginas.ufsc.br/normas-de-publicacao/vi-vestuario/>. Acesso em: 12 maio 2018.

Claro que existem outras tecnologias não abordadas no livro de estudos em questão, mas você pode ter uma noção de como está o caminho da tecnologia da informação e comunicação com relação à comunidade surda.

A Revista de Vídeo Registro é uma iniciativa da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. O site informa que é necessário enviar o vídeo do artigo com o título em português e nome completo dos autores. Disponível em: <http://revistabrasileiravrlibras.paginas.ufsc.br/>. Acesso em: 29 maio 2018.

NOTA

3 RELAÇÃO COM SEUS INTERLOCUTORES

Na Unidade 2, relacionamos brevemente o papel do Tradutor Intérprete Educacional – IE, de uma forma geral. Considerando que você está cursando Licenciatura, e com certeza terá contato com uma variedade de pessoas, vamos enfatizar a relação do professor regente em todos os ambientes educacionais, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Ainda, a relação entre o aluno surdo e TILSP, para que, na prática, você saiba se posicionar caso atue como professor regente ou como TILSP.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Na sala inclusiva, poderá haver uma confusão entre o papel do professor e do TILSP. Ouvimos muitos relatos de posturas inadequadas tanto do TILSP, quanto de professores. Para lhe ajudar, vamos falar das funções do professor e do TILSP nos contextos educacionais.

É importante ressaltarmos que muitos referenciais não encontram um consenso em buscar esclarecer e entender as implicações de ter TILSP em sala de aula. Enquanto os documentos norteadores da Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE (2013, p. 27) dizem que “[...] a função do intérprete não é pedagógica, e sim, puramente técnica, as capacitações na escola desse cunho, pedagógicas, não se aplicam ao profissional”, Lacerda (2014, p. 33) discorda e diz que a função do intérprete educacional:

[...] não se trata de ocupar o lugar do professor ou ter a tarefa de ensinar, mas sua atuação em sala de aula, envolvendo tarefas educativas, certamente o levará a práticas diferenciadas, já que o objetivo não é o de apenas traduzir, mas também o de favorecer a aprendizagem do aluno surdo.

O TILSP tem a liberdade de escolher qual será sua postura profissional

dentro do contexto educacional, desde que esteja dentro dos conceitos da ética profissional elencados anteriormente na Unidade 2. Ainda, há funções específicas para o professor e para o TILSP, que não podem ser confundidas.

3.1 O PROFISSIONAL TILSP E O ALUNO SURDO

Em relação aos mais diversos contextos de escolas inclusivas (salas regulares onde estão frequentando alunos sem deficiência junto a alunos com deficiência) e as mais variadas realidades, é inegável que existe uma relação muito forte entre o TILSP e o aluno surdo.

Acontece devido ao fato de que no ato interpretativo há o contato visual direto e, muitas vezes, o aluno surdo pode se confundir e pensar que quem está emitindo o discurso é o intérprete e não o professor. Orientamos que o TILSP siga as diretrizes da ética profissional, que aconselha o distanciamento profissional do aluno surdo e deixe bem claro que está ali interpretando a voz do professor.

Outro motivo para a forte relação é a língua em comum. Na maioria dos casos, as escolas não estão preparadas para receber alunos surdos, e o único que pode ter uma efetiva conversa é o TILSP. Então, o profissional precisa saber qual seu limite na relação, para não interferir de maneira a prejudicar o surdo e o professor no processo de ensino-aprendizagem.

Entretanto, por outro lado, o intérprete precisa conhecer o aluno surdo, bem como o seu nível de sinalização, seus conhecimentos de mundo, e fazer as escolhas interpretativas mais adequadas, que se encaixem com os conhecimentos prévios do aluno. A seguir, vamos pontuar as responsabilidades do TILSP e do professor regente.

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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3.2 O PROFISSIONAL TILSP E O PROFESSOR

Na sala de aula regular, o professor é o responsável por mediar os conhecimentos entre os alunos e os conteúdos, sendo o aluno surdo de responsabilidade do professor e não do TILSP.

“O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes” (QUADROS, 2004, p. 60).

Logo, não é papel do intérprete preparar aulas, ensinar o conteúdo aos alunos, criar materiais adaptados, tutorar os alunos surdos, cuidar do caderno, liberar para ir ao banheiro, responder dúvidas a respeito do conteúdo, cobrar tarefa, copiar matéria do quadro, disciplinar os alunos.

O aluno surdo precisa ter autonomia. O intérprete não ajuda o surdo a fazer a tarefa, ele faz a tradução do texto que está em português para a Libras. O intérprete não é “quebra-galho” da escola caso algum professor falte. O lugar do IE é em sala de aula, junto ao aluno, para mediar a comunicação.

O IE não dá nota e não é “ajudante” do professor. Para interpretar de uma língua para a outra não basta “só” saber a língua-alvo, mas sim compreender os assuntos/conteúdos.

Você precisa dominar os conteúdos escolares, desde as aulas de gramática da Língua Portuguesa à Física Quântica, de História à Biologia e todas as demais disciplinas para fazer uma interpretação adequada. Pois é, não é uma tarefa simples! Também, em todos os eventos da escola que o surdo participará, o TILSP deve estar atuando (palestras, apresentação de trabalhos, reuniões, homenagens cívicas, seminários, dentre outros).

Ainda assim, saber a língua de sinais e os conteúdos não é suficiente. O profissional precisa conhecer as estratégias de tradução, buscar sinais específicos, adaptar-se ao público-alvo, fazer escolhas interpretativas em poucos segundos e desenvolver o modelo dos esforços da tradução.

Assim, compete ao professor preparar as aulas pensando no aluno surdo, pensando em como avaliar o aluno. O TILSP é seu aliado para realizar a mediação, mas é o professor quem sabe dos objetivos a serem alcançados. Seria prudente o professor passar com antecedência o plano de aula para o TILSP, assim poderá otimizar os estudos e possivelmente auxiliar o professor quanto à metodologia, caso o professor peça sua opinião.

É essencial que o docente conheça as especificidades comunicativas de seu aluno surdo, avaliando-o sem compará-lo aos demais alunos e levando em consideração os prejuízos linguísticos que ele sofreu durante a vida, por viver em um ambiente de maioria ouvinte.

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200

UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

3.3 O PROFESSOR REGENTE E O ALUNO SURDO

Vou relatar aqui um triste fato vivido por um surdo e um intérprete em sala de aula: em um primeiro dia de aula de uma disciplina do Ensino Médio, o novo professor da escola, como de costume, pede que os alunos se apresentem falando o nome, a idade e qual o sonho para o futuro (estudos/profissão). A sala de aula, disposta de maneira tradicional, com as carteiras enfileiradas em frente ao quadro, o aluno surdo alocado na primeira carteira. Após a introdução, o professor, ao passar a palavra para os alunos, inicia pelo segundo da fila, ignorando completamente seu aluno surdo. Você pode imaginar tamanha decepção e frustração do aluno em relação ao seu professor? E o profissional TILSP já explicando para o aluno como ele teria que se apresentar? (AUTORA).

Diante do acontecido, reflitamos! Provavelmente, o rendimento e participação do aluno surdo nas aulas não serão satisfatórios. É notório que o professor tem um papel muito importante no processo e desenvolvimento da aprendizagem dos seus alunos, seja ele ouvinte ou surdo. O professor é visto como um exemplo. De acordo com Pinto (2008, p.2):

[...] o professor ideal é aquele que cria situações para desenvolver o olhar crítico e o pensamento reflexivo. Não permanece preso a livros, vai além da transmissão de conteúdos. Permite a troca, tem o olhar além do que é óbvio, aceita a aproximação com o aluno (afetividade), demonstra preocupação por ele e o orienta. Valoriza e propicia situações que aumentam a autoestima. Motiva as aulas. Procura conhecer o aluno. Não fica preso a uma única estratégia. Está constantemente se atualizando. Educa para a vida, como cidadão crítico. Valoriza, assim, o diálogo e permite a integração do grupo. Ama a profissão.

Ao professor cabe pensar e adaptar suas metodologias para atender às especificidades de todos os seus alunos, respeitando o direito de todos à acessibilidade, preocupando-se em remodelar suas aulas se necessário, para adequar-se à cultura surda, uma pedagogia (visual).

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TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS COMO APOIO AO PROFISSIONAL TILSP

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FIGURA 16 – PEDAGOGIA VISUAL

FONTE: Disponível em: <f i le:///D:/Downloads/LIBRAS-UMA%20INTRODU%C3%87%C3%83O.pdf>. Acesso em: 12 maio 2018.

Os protozoários são seres vivos unicelulares, eucariantes e

desprovidos de clorofila

Os protozoários são seres vivos de uma só célula.Olhem a figura! Vou explicar com mais detalhes e onde

encontramos estes seres.

AUTOATIVIDADE

Diante do que foi exposto sobre a relação entre o profissional TILSP e o aluno surdo, pense na seguinte situação: você está interpretando em sala de aula, e o professor regente pede para você preparar uma avaliação sobre um conteúdo em específico, o que você faria?

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

AS TRADUÇÕES AUTOMÁTICAS PODEM SUBSTITUIR O INTÉRPRETE HUMANO?

É bastante improvável. Apesar de estarem melhorando continuamente, os computadores que realizam traduções automáticas oferecem uma tradução razoável de uma língua para outra, mas não podem fornecer uma tradução perfeita o tempo todo. O principal intuito das traduções automáticas é fazer com que uma mensagem chegue para outra língua, de forma compreensível.

Uma pessoa, diferentemente de uma máquina, tem a sensibilidade de identificar o melhor jeito de transmitir determinada mensagem, considerando diferentes contextos e culturas. Por mais bem programado que um software possa ser, ele jamais terá o mesmo conhecimento linguístico de uma pessoa experiente em interpretar diferentes idiomas.

Quanto mais curtas forem as expressões, maior é a probabilidade de o sistema traduzir com mais qualidade. E, por sua vez, quanto mais complexo for o assunto, mais dificuldade o tradutor automático enfrentará para realizar a tradução.

No cenário, a Hand Talk surge como uma potente ferramenta complementar ao trabalho do intérprete de Libras.

Um dos pontos positivos da tradução automática é que o conteúdo acessível pode ser propagado de forma bastante escalável. Na internet, por exemplo, é impossível atualmente os humanos interpretarem em Língua de Sinais as bilhões de novas notícias diárias dentro de milhões de sites espalhados pelo mundo, automaticamente. Já o Hugo consegue estar presente em todos os sites, ao mesmo tempo, levando acessibilidade para milhões de surdos, instantaneamente.

Para eventos ao vivo, por exemplo, como aulas e palestras, a Hand Talk indica a contratação de intérpretes para realizar o trabalho.

FONTE: HAND TALK. As traduções automáticas podem substituir o intérprete humano? 2016. Disponível em: <http://suporte.handtalk.me/hc/pt-br/articles/215753797-As-tradu%C3%A7%C3%B5es-autom%C3%A1ticas-podem-substituir-o-int%C3%A9rprete-humano->. Acesso em: 13 maio 2018.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Estudamos que a facilidade de comunicação que temos hoje em dia possibilita que tenhamos contato com pessoas usuárias de Libras das mais diversas partes do país, ampliando diariamente o vocabulário linguístico, trocando experiências da prática e compartilhando estratégias de tradução nos mais variados contextos.

• Para os TILSP, conhecer os funcionamentos dos recursos das tecnologias de comunicação e informação não é um luxo, mas sim uma necessidade, pois os meios trazem subsídios para a formação continuada, estudo dos sinais e fluência na língua.

• Hand Talk é um dos aplicativos mais conhecidos no Brasil, sendo uma das soluções rápidas para comunicação com a comunidade surda. Funciona como um tradutor de bolso para Libras.

• Conhecemos também o aplicativo de bolso ProDeaf, muito usado pelas comunidades ouvintes, além do uso de ferramentas como o Youtube, aplicativos de grupos para conversação, como WhatsApp/Skype/Imo e a Revista de Vídeo Registro. São avanços tecnológicos cujo intuito é viabilizar a comunicação entre surdos e ouvintes.

• Enfatizamos a relação entre alguns interlocutores em convivência com os surdos, como o professor, aluno surdo e TILSP, para que, na prática, você saiba se posicionar caso atue como professor regente ou de Intérprete Educacional - IE. Destacamos que o TILSP tem a liberdade de escolher qual será sua postura profissional dentro do contexto educacional, desde que esteja dentro dos conceitos da ética.

• Destacamos, na leitura complementar, que os aplicativos não substituem os profissionais TILSP. Uma pessoa, diferentemente de uma máquina, tem a sensibilidade de identificar o melhor jeito de transmitir determinada mensagem, considerando diferentes contextos e culturas. Por mais bem programado que um software possa ser, ele jamais terá o mesmo conhecimento linguístico de uma pessoa experiente em interpretar diferentes idiomas.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

1 Diante das tecnologias destacadas nesta unidade, notamos que elas vieram para facilitar a relação e a comunicação entre os ouvintes usuários de Libras e surdos, nas mais diversas partes do país. Você pessoalmente já fez uso de alguma delas? Assim, relacione algumas delas, explicando sua importância.

2 Sobre o papel do professor regente e o papel do IE:

I- O IE não acompanha os alunos surdos em todos os momentos, como na hora do intervalo ou para ir ao banheiro. O aluno surdo precisa ter autonomia.

II- O intérprete tem que substituir o professor caso falte, pois o lugar do IE é em sala de aula, junto ao aluno surdo para mediar a comunicação.

III- Ao professor regente cabe pensar e adaptar suas metodologias para atender às especificidades de todos os seus alunos.

IV- Cabe ao professor regente respeitar o direito de todos à acessibilidade, preocupando-se em remodelar suas aulas para adequar-se à cultura.

Assinale as alternativas corretas:

( ) As sentenças I, II e III estão corretas.( ) As sentenças I e III estão corretas.( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.( ) As sentenças II e III estão corretas.

3 De acordo com a figura a seguir, e após sua leitura durante o tópico, sobre os aplicativos para tradução em Libras, faça uma síntese sobre a seguinte pergunta: o aplicativo de acessibilidade para a comunicação entre surdos e ouvintes poderá substituir os profissionais TILSP no futuro?

FIGURA 17 – MÃOS QUE FALAM

FONTE: Disponível em: <http://e-ipol.org/melhor-aplicativo-social-do-mundo-ajuda-na-comunicacao-com-surdos/>. Acesso em: 18 maio 2018.

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TÓPICO 3

TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E

VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Durante nossos estudos, consideramos o protagonismo do profissional tradutor e intérprete de LS no cenário nacional e brevemente no cenário internacional, principalmente por meio das políticas públicas educacionais, que oportunizam garantir a acessibilidade linguística às comunidades surdas no processo inclusivo.

Há os desafios e possibilidades para o profissional, que não se restringem somente às áreas educacionais ou aos entraves políticos com implementações de adaptações institucionais, ou mesmo ao seu fazer profissional, na demonstração das suas habilidades e competências durante sua atuação.

FIGURA 18 – COMUNIDADE SURDA

FONTE: Disponível em: <http://blog.handtalk.me/5-fatos-comunidade-surda-libras/>. Acesso em: 18 maio 2018.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Destacamos a importância dos conhecimentos adquiridos por meio da prática e cursos profissionalizantes para sua formação. Toda a movimentação provoca, em primeiro lugar, como já visto, a exposição da LS como língua materna de uma comunidade que antes, para muitos, era desconhecida, além de colocar em visibilidade as situações desafiantes, demonstrando a fragilidade do profissional quanto a certos contextos e, simultaneamente, com várias possibilidades de participar cada vez mais nos processos de inclusão.

É necessária a criação de estratégias que propiciem o pleno alcance de suas potencialidades através de parcerias entre associações, sindicatos, instituições, debates envolvendo os atores TILSP e sujeitos surdos em todos os processos.

Assim, durante este tópico, abordaremos algumas condições desafiantes impostas ao TILSP, bem como as possibilidades em ter êxito e garantir sua laboriosidade em espaços conquistados por eles, seja por meio de processos seletivos, ou nomeação.

2 INCLUSÃO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL TILSP

Ao longo de nosso diálogo, discorremos sobre alguns desafios advindos da inclusão e a práxis do profissional nos espaços frequentados pela comunidade surda. Articulamos orientações para o seu saber profissional com embasamento teórico e prático.

Entretanto, temos a certeza de que existem inúmeras situações desafiantes que ficam sem resolução na tomada de decisões, lacunas que ficam sem respostas satisfatórias após suas atividades tradutórias e interpretativas, além dos insucessos depois de tantos estudos e pesquisas. Como identificar e sanar todas essas questões? A legislação veio como conquista para regulamentar a profissão e fomentar sua formação, porém ainda longe de abranger todos os cenários.

FIGURA 19 – POSSIBILIDADES

FONTE: Disponível em: <http://www.luzdegaia.net/despertar/gillian/possibilidades.html>. Acesso em: 18 maio 2018.

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TÓPICO 3 | TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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Com o objetivo de nos concentrarmos no cenário nacional do profissional TILSP, para tanto, é importante conceituarmos duas palavras, tão significativas para nossas vidas em qualquer contexto. Segundo o Dicionário Michaelis, a palavra “desafios” se remete ao “ato de pensar. Convite para participar de um confronto [...] situação ou problema cujo enfrentamento demanda esforço e disposição [...]”. Já “possibilidades” menciona “a qualidade do que é possível”, a tentativa, a expectativa de um evento ou ação que almejamos concretizar.

Note como os significados das palavras “Desafios” e “Possibilidades”, descritos pelo dicionário, fazem parte do cotidiano do profissional TILSP.

Segundo Nicoloso e Heberle (2010, p. 5), “o meio em que o TILSP transita é um ambiente repleto de diferenças culturais, identidades, normas, relações de poder, ou seja, um ambiente onde as relações sociais entre surdos e ouvintes, homens e mulheres, ocorrem frequentemente e o TILSP é o mediador das relações comunicativas”.

Compreendemos que elementos como cultura e identidade, entrelaçados nas comunidades surdas de todo o país, com suas regionalidades, têm aumentado consideravelmente as possibilidades de trocas entre profissionais TILSP, e entre professionais surdos. De acordo com Santos (2006, p. 26):

As mudanças sociais, institucionais, culturais impulsionam os sujeitos a duvidar e ter incertezas sobre suas identidades, ou seja, elas deixam de ser estáveis e passam a se deslocar, fragmentam-se e tornam possível ao sujeito identificar-se com múltiplas identidades. A escolha pode ser temporária, pois vai depender do espaço social e cultural em que o sujeito se encontra. As identidades são produzidas dentro das culturas, motivo este que justifica o porquê das mesmas serem culturais. No caso dos intérpretes de Língua de Sinais, a transição entre duas culturas (espaços surdos e espaços ouvintes) multifacetadas, os fazem flutuar entre esses meios, tornando-a uma produção cultural e criando novas significações a partir das relações desencadeadas.

Por vários motivos, muitos são os sujeitos que iniciam na área e descontinuam, devido à falta de conhecimento ou mesmo porque reconhecem que não conseguirão ter as habilidades e competências necessárias para seu fazer profissional.

Então, como reconhecer os desafios em relação à profissão e às possibilidades resultantes? Por que não relacionar até mesmo desafios ao nível administrativo, que deveriam ser conduzidos para a boa atuação do TILSP? Segundo Soares (2017, p. 23):

É necessário que se promovam mudanças, uma vez que ainda temos intérprete de Libras como um cargo administrativo em alguns municípios e, às vezes, precisam ser convidados especificamente por coordenadores de Ensino Especial, visto que nos horários de reunião estão sendo aproveitados em outras funções nas escolas, não participando destes importantes planejamentos.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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Ao analisarmos o contexto, notamos o resultado de uma sociedade que precisa demonstrar produtividade, ser polivalente, uma vez que são muitas as possibilidades e diversificações oferecidas pelos contratantes.

Nessas circunstâncias, alguns se acomodam em um contexto ou em outro em seu fazer profissional, somente produzindo material, com o risco de perderem a prática advinda de traduzir/interpretar, mas a situação inversa também pode acontecer, e acabam não conseguindo realizar um produto final escrito, resultante de suas memórias e pesquisas. Nos dois eixos, os profissionais devem saber lidar com conteúdos e dinâmicas desconhecidas.

É apenas uma das realidades de muitos TILSP, pois, dependendo do

currículo, da formação inicial e continuada, sendo a área da inclusão vasta, o indivíduo estará ou não apto para exercer as duas funções.

Entretanto, a questão é centrada na produção de materiais escritos, alguns se acomodam no seu fazer profissional na área de tradução e interpretação, mas a situação inversa também pode acontecer, resultado de uma sociedade de profissionais que precisam demonstrar produtividade, ser polivalentes.

Assim, o desafio proposto pela instituição acaba sendo uma oportunidade para a ampliação das possibilidades profissionais daquele indivíduo que, se bem administradas, os resultados serão positivos.

Rodrigues (2010, p. 2) descreve o contexto considerando que “tal perspectiva nos conduz para uma reflexão além de aspectos específicos à competência do TILSP, fazendo com que questionemos se tal profissional seria um especialista (formando-se para atuar em um campo específico da sociedade ou do conhecimento) ou um generalista (formando-se para atuar em qualquer campo da sociedade ou do conhecimento), visto que lidar com a diversidade do público é um requisito que não há como alterar”.

Tais enfrentamentos são necessários para o crescimento profissional que, por meio de formação inicial e continuada, busca uma profissionalização que estimule as suas potencialidades e que assegure seu aprendizado sem ignorar seus limites frente aos desafios e anseios para novas possibilidades, respeitando as pluralidades tanto do TILSP como da comunidade surda.

DICAS

Assista ao vídeo que mostra, de forma divertida e satirizada, alguns desafios e o uso da ética profissional. Acesse e dê boas risadas! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8UQCwM5rk4s&t=5s>. Acesso em: 30 maio 2018.

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TÓPICO 3 | TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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FIGURA 20 – PESQUISAS

FONTE: Disponível em: <https://eventosllufam.wixsite.com/semanallibras>. Acesso em: 4 maio 2018.

Devemos continuar no desenvolvimento de pesquisas, estudos por meio de registros escritos, congressos, dentre outros, para darmos subsídios necessários e relevantes para quem já está na área e para aqueles que estão iniciando sua formação, tanto na práxis pedagógica, como também em outros contextos.

Assim, diante de todas as considerações, é possível notarmos mudanças que contribuíram para a visão que temos do TILSP, não mais como apenas sabendo se comunicar em LS com a comunidade surda, mas como um agente modificador, aquele que busca sua profissionalização para realizar um trabalho de qualidade e, acima de tudo, ético.

3 VOCÁBULOS USADOS POR TILSP

Enquanto seres humanos, somos eternos aprendizes, estamos sempre em busca do conhecimento. A aquisição de um bom vocabulário, advindo de uma formação cultural e social, inclui boas leituras, convívio com pessoas que se expressam de maneira correta, junto com a prática de nossa grafia/escrita. Segundo Oliveira (2010, p. 6),

Com o aprofundamento das discussões e investigações, consolidou-se o entendimento de que as línguas estão em constante renovação e a criação de neologismos. Além disso, assim como nas línguas orais, uma pessoa ou grupo não pode determinar o que deve ou não fazer parte do léxico da língua, no máximo pode-se sugerir, pois será sempre a comunidade de falantes da língua que decidirá se o neologismo proposto será incorporado ao léxico.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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De acordo com a reflexão, para obtermos um bom vocabulário em qualquer língua, deve haver esforço e estudos associados à cultura e à socialização das pessoas falantes daquela língua, no nosso caso, pessoas surdas. Determinado esforço é ainda mais urgente diante do cenário onde muitos sujeitos surdos têm ingressado. Assim, selecionamos alguns sinais relacionados aos tipos de tradução. Bons estudos!

Prezado acadêmico, iniciamos com os sinais que podem ser usados isoladamente quando nos referimos à profissão/ou profissional (tradutor/tradução e intérprete/interpretação). Quando usados em união com alguns sinais, estarão formando um novo vocábulo. Assim, fique atento!

FIGURA 21 – TRADUÇÃO/TRADUTOR

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FONTE: Adaptado: Capovilla (2002, p. 2140)

FIGURA 22 – INTERPRETAÇÃO/INTÉRPRETE

FONTE:Adaptado: Capovilla (2002, p. 764)

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TÓPICO 3 | TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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FIGURA 23 – GUIA-INTÉRPRETE DE LIBRAS

Mão dominante: dedos unidos curvados, em cima da mão passiva que está com a palma da mão para baixo e dedos abertos. Movimento para frente, ao mesmo tempo tremulando os dedos da mão passiva

FONTE: A autora

FONTE: A autora

FONTE: A autora

FIGURA 24 – TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO CONSECUTIVA

Iniciar com sinais de tradução ou interpretação. Somente com uma mão dominante em letra L (considerando se é destro ou canhoto), alternar lado esquerdo e direito uma vez.

Movimento (2º) Iniciar com os sinais de tradução ou interpretação com as duas mãos dominantes, em letra G. Palma para baixo, vire para o lado direito as duas mãos.

FIGURA 25 – TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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FIGURA 26 – TRADUÇÃO INTERMODAL

Iniciar com o sinal de tradução. Segundo movimento, mão dominante em 5 invertido, passando de lado para outro (sem tocar) por trás da mão passiva que está na posição vertical como se fosse em B.

FIGURA 27 – TRADUÇÃO INTERLINGUAL

FONTE: A autora

FONTE: A autora

Movimento (2º) Iniciar com o sinal de tradução. Neste sinal, no segundo movimento (interlíngual), as duas mãos se tornam dominantes, pois os movimentos são iguais para as duas e feitos ao mesmo tempo. Mãos em V na horizontal, para os lados esquerdo/direito, dedos tremulando para fora.

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TÓPICO 3 | TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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FONTE: A autora

FONTE: A autora

Movimento (2°) Iniciar com o sinal de tradução. Neste sinal, no segundo movimento (intralingual), as duas mãos se tornam dominantes, pois os movimentos são iguais para as duas e feitos ao mesmo tempo. Mãos em V, na vertical, dedos tremulando para cima.

Movimento (2º) Iniciar com o sinal de tradução. Sinal (1): as duas mãos dominantes em V, na vertical, enconstando (contato) nos dedos (polegar, anelar e minimo). Sinal (2): mãos fechadas, punhos encostados (contato) um acima da outro.

ATENCAO

As expressões “mão dominante” e “mão passiva” referem-se às posições quirêmicas para representar o sinal com as (CM) corretas. De forma simples, a mão dominante conduz o movimento determinante para articular o sinal. Já a mão passiva aguarda o movimento feito pela mão dominante, uma articula com a outra, que ao final produz o sinal. Obs.: Em alguns casos, os sinais são articulados com as duas mãos dominantes, o que é o caso do sinal de INTERLÌNGUAL E INTRALÍNGUAL.

FIGURA 28 – TRADUÇÃO INTRALINGUAL

FIGURA 29 – TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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LEITURA COMPLEMENTAR

Intérprete surdo de língua de sinais brasileira: o novo campo de tradução/interpretação cultural e seu desafio

Ana Regina Campello

1 O SURGIMENTO DE INTÉRPRETE SURDO DE LÍNGUA DE SINAIS

O papel de intérprete surdo de Língua de Sinais Brasileira e seu exercício já vêm desde 1875, quando Flausino Gama era “repetidor” (FELIPE, 2000) na sala de aula do Imperial Instituto de Surdos Mudos. Durante o trajeto do papel de intérprete surdo, o destino é obscuro, já que a produção sobre a função está localizada nos arquivos raros da Biblioteca do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, no Rio de Janeiro.

Fora do contexto educacional, muitos surdos já exerceram suas funções fora das situações educacionais, tais como: tradução/interpretação aos surdos no Serviço Social/Psicologia, em CABERJ do BANERJ. No entanto, somente em 1993 há o reconhecimento do uso do Intérprete surdo da modalidade interlingual (JAKOBSON, 1992).

Acontece na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, quando foram promovidos os cursos no pré – II Congresso Latino Americano de Bilinguismo (Língua de Sinais / Língua Oral) para surdos. Os cursos elaborados pelos professores surdos americano Ken Mikos e sueco Mats Jonsson foram traduzidos/interpretados pelo intérprete surdo de ASL/Libras, Nelson Pimenta de Castro.

Também tivemos tal tipo de atuação em 2010, por ocasião do V Congresso Deaf Academics, realizado na UFSC. Na ocasião, tivemos vários intérpretes fazendo a interpretação simultânea da ASL para a Libras, assim como também da LSI para a Libras. A LSI é um sistema de sinais internacionais com o objetivo de melhor entendimento do uso de várias línguas de sinais, para a criação de uma língua fácil de aprender e de se comunicar. É uma língua que surgiu a partir dos encontros das lideranças surdas europeias e passou a ser usada sistematicamente em eventos internacionais.

Com o surgimento do Curso de Letras Libras, a atividade de tradutor/ator de língua de sinais (QUADROS, 2008; AVELAR, 2009; SOUZA, 2010) propulsionou a carreira de tradução no AVEA, produzindo Normas Surdas de Tradução – Deaf Translation Norm (STONE, 2009 apud SOUZA, 2010) em nível acadêmico, desempenhadas quase que exclusivamente pelos tradutores/atores surdos bilíngues para o Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem – AVEA e para os DVDs.

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TÓPICO 3 | TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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Ainda, no desenvolvimento de algumas disciplinas, também houve a tradução/interpretação nas modalidades, por exemplo, a atuação pioneira de uma intérprete surda na disciplina de Análise do Discurso, de Letras Libras, turma 2006. A adequação de normas, função e de novo campo de trabalho foi tomando corpo e passou a ser reconhecida, culminando na inclusão de candidatos surdos para a realização do Exame Prolibras na qualidade de tradutores/intérpretes de línguas de sinais, a partir de 2009.

2 IDENTIFICAÇÃO LINGUÍSTICA

A definição da comunidade surda reforça os sentidos histórico, linguístico e cultural, constituídos de pessoas surdas, inseridas em várias áreas, pois os surdos ocupam vários espaços. Assim, objetiva-se também que todos conheçam para que possam se integrar à comunidade e deixarão de ser minoria e serão um todo.

A comunidade está dividida em vários setores, mas os espaços que mais ocupam são os três principais: familiar, escolar e social. As pessoas ouvintes usam a audição como funcionamento auditivo pela habilidade nos atos do ouvir e do falar. Acontece o mesmo com as pessoas surdas que usam as mãos como funcionamento visual pela habilidade nos atos do ver e do sinalizar.

Os surdos usam a língua de sinais brasileira envolvendo o corpo todo no ato da comunicação. Sua comunicação é do viso-gestual e produz inúmeras formas de apreensão, interpretação e narração do mundo a partir de uma cultura visual. A cultura visual vem da experiência visual (PERLIN, 1998), que é um espaço de produção (QUADROS, 2007) da constituição dos surdos, que apresenta seus diversos artefatos, como: língua de sinais, história cultural, identidade, pedagogia, literatura, artes, trabalho, tecnologia, teatro, pintura, dentre outros. Segundo Luklin (2005, p. 44):

Escutar uma comunidade que usa um código linguístico distinto do nosso, buscando uma imersão nos aspectos culturais que cercam o diálogo, o monólogo, as narrativas em grupo, as arquiteturas da justiça e do rumor, as expressões peculiares, a gíria, a definição de gêneros não é tarefa que possa ser cumprida pelo sentido exclusivo do ouvir. O olhar passa a ser fundamental. Colabora para o descentramento do sujeito moderno, obrigando o uso do corpo de forma diferente dos nossos códigos cotidianos. Implica uma mobilidade dos olhos, da cabeça, do rosto, das mãos, dos braços, organizados de forma diferente. Solicita uma agilidade de percepção, uma plasticidade do cérebro.

Ao interpretar/traduzir, o tradutor e o intérprete transportam a experiência visual daquilo que foi vivenciado ou conhecido por meio da língua de sinais, selecionando o “final” da história para dar ao “ponto de partida” no começo da fragmentação através de tradução cultural, que tratarei a seguir.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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A tradução cultural, segundo Walter Benjamin (1980), define como um reenquadramento conceitual da tradução na sua relação com língua, texto e cultura, assumida como metáfora que designa o problema central da condição pós-colonial. Quer dizer que a cultura passa a ser um elemento de identificação linguística (MARTINS, 2004), como um lugar ou um espaço que não é constante de passagem entre as duas línguas, falada e sinalizada, de passagem de identidades surdas, de desestabilização das referências culturais orais e visuais, um espaço de intervalo de tempo antes do qual determinado ato não pode efetuar-se na negociação de sinais, não uma totalidade fechada.

Sobre cultura, a palavra vem do latim, que significa “cultivo agrícola” e, para a comunidade surda, o sentido pode ser traduzido para o cultivo da linguagem, da identidade e da língua de sinais. Há muitas discussões para o conceito de cultura, e escolhemos uma definição por Strobel (2008) e de Echeverria (1998), que dizem:

[...] da mesma forma, um ser humano, em contato com o seu espaço cultural, reage, cresce e desenvolve sua identidade. Significa que os cultivos que fazemos são coletivos e não isolados. A cultura não vem pronta, daí porque ela sempre se modifica e se atualiza, expressando claramente que não surge com o homem sozinho e sim das produções coletivas que decorrem do desenvolvimento cultural experimentado por suas gerações passadas (STROBEL, 2008, p.19).

[...] mediada ou indireta que cultiva a dimensão formal e dramática das ocupações próprias da vida cotidiana (ECHEVERRIA, 1998, p. 132).

A cultura é uma construção de identidade e de língua comunitária, de reprodução de gerações passadas através da dimensão meta-visual da existência, que passa pelo natural, mas o transforma, sendo uma entranhável. A construção é política e identitária, em um sentido amplo de polis, de grupos mais ou menos coesos de seres humanos, que criam iconicidade e de sinalários próprios e convencionados e que serão percebidos como parte arraigada durante a sua existência.

Como fazer uma tradução cultural com os sinais e sua expressão? Quanto de uma cultura da fonte pode ser traduzida através de sinais que originaram em outra cultura diferente do alvo? Em que sentido a teoria da tradução pode ser aplicada e performances culturais que incluem, além das expressões que são produto de outros níveis de linguagem? Por que os interlocutores surdos se interessam mais com as expressões e informações dos intérpretes surdos?

Como em “A tarefa do tradutor”, de Benjamin (1980), o que é essencial de uma cultura não é o enunciado que se comunica, mas aquilo que excede a comunicação. Na tradução cultural na abordagem de Masutti (2008), há a cultura como significantes abertos, ou seja, as percepções de corpo, movimento e olhar como fundamentos constitutivos do tradutor/intérprete de língua de sinais.

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TÓPICO 3 | TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS: INCLUSÃO E VOCÁBULOS EMPREGADOS PARA USO PROFISSIONAL

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A outra abordagem é desenvolvida por Segala (2010), que descreve o papel do tradutor intermodal e intersemiótico pelas raízes culturais e uma boa experiência na vida social em ambas as línguas, e que deve conhecer profundamente as várias nuances das duas culturas, encarando não só a estrutura linguística, mas também a vida cultural de uma sociedade. Para complementar, Quadros e Souza (2008, p.1) explicitam que:

Pretendemos considerar também a relevância da tradução para construirmos espaços híbridos interculturais, pois, no caso desse curso, a Língua Brasileira de Sinais é a língua de instrução, embora ainda os textos-fonte estejam na versão escrita da Língua Portuguesa.

Segundo Walter Benjamin (1980, p. 9-21), em uma cultura, não somente se busca a tradução da língua, mas amplia-se o leque e busca-se traduzir a cultura do interlocutor nos seus distintos níveis de habilidades. O que importa é a busca do outro espaço, ou seja, tentar intermediar o entre-lugar, o espaço entre as duas culturas em questão para que as informações possam chegar ao público-alvo.

Assim, na tradução cultural entre fonte-alvo há uma ligação evidente no uso da semântica e a tradução. O autor Schogt (1992) explica que há transferência do significado da fonte e a outra do significado do alvo. Entretanto, as teorias da semântica e da tradução ainda estão em estudo sobre significado, seu nível da comunicação entre indivíduos que falam a mesma língua.

O interesse do interlocutor pelo intérprete surdo e seu desempenho/performance só acontece quando o intérprete recebe uma mensagem e a interpreta. Se seguir as regras gramaticais, utilizar as expressões faciais/corporais e houver o mesmo sinalário, a mensagem chega sem grandes mudanças, mas caso existam mudanças de elementos estranháveis (dependendo do contexto cultural), a tradução/interpretação pode ser inserida em outros aspectos da gramática da língua de sinais, como descrição imagética, exemplificação, com a finalidade de esclarecimento do conteúdo da tradução.

A metodologia será baseada nas estratégias metodológicas por Williams e Chesterman (2002 apud SOUZA, 2010) que, na investigação, procuram por novos dados, novas informações derivadas da observação de dados e do trabalho experimental e, ainda, procuram evidências que deem suporte ou não confirmem hipóteses, ou gerem outras. A metodologia é aplicada como caso observacional, descritivo e analítico em tradução, com o objetivo de descrever o nosso caso: desempenho da tradução/interpretação cultural do tradutor/intérprete surdo.

Consiste na avaliação dos dois intérpretes/tradutores surdos na sala de aula através de videoconferência no ato da tradução/interpretação de língua de sinais brasileira para língua de sinais americana e vice-versa. As ferramentas serão utilizadas através de gravação de vídeo por câmeras digitais, sala de aula (ou estúdio, onde será realizada a videoconferência) e presença dos professores-mediadores.

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UNIDADE 3 | POLÍTICAS E CONTRIBUIÇÕES NA ÁREA DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

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3 FORMA DE TRADUÇÃO / INTERPRETAÇÃO

As narrativas pessoais serão recolhidas dos intérpretes surdos que, normalmente, falam sobre o quanto os tradutores surdos são hábeis na comunicação da informação para surdos. Ainda, eles mencionam, de forma recorrente, o contraste entre os tradutores e intérpretes surdos e os tradutores e intérpretes ouvintes. Entre os aspectos comumente ressaltados, listo os seguintes:

a) o conflito de entender a tradução “aportuguesada”;b) não possuir os aspectos culturais da comunidade surda;c) os intérpretes não surdos não têm base da língua de sinais americana, nem da

língua de sinais internacionais e apresentam dificuldade em relação à tradução cultural da comunidade surda;

d) não têm base completa da língua de sinais da comunidade surda;e) dificuldade de entender a soletração rítmica;f) os intérpretes não surdos têm dificuldade de usar as descrições imagéticas.

O artigo coletou as narrativas dos tradutores surdos para verificar as razões que os levam a falar sobre isso dessa forma. A tradução/interpretação exige formação, pois envolve vários fatores, como o fato de estarmos diante de línguas de diferentes modalidades. Devemos levar em consideração também a performance do intérprete surdo, conforme o depoimento de Sueli Ramalho (abril, 2011), quando presenciou a tradutora/intérprete na disciplina de Sintaxe do EAD – Letras-Libras na UFSC:

A atuação da profa. Ana Regina, sendo surda, tranquilamente passou a ter seu papel de mediadora na comunicação com as pessoas surdas, demonstrando a capacidade, qualidade e a habilidade natural com conhecimento da estrutura gramatical da língua de sinais, sem perder valores culturais e costumes da comunidade surda.

FONTE: CAMPELLO, Ana Regina. Intérprete surdo de língua de sinais brasileira: o novo campo de tradução/interpretação cultural e seu desafio. 2014. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-7968.2014v1n33p143/27499>. Acesso em: 30 maio 2018.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Destacamos a importância dos conhecimentos adquiridos por meio da prática e cursos profissionalizantes para sua formação. Uma exposição da LS como língua materna de uma comunidade que antes, para muitos, era desconhecida.

• Consideramos alguns desafios e possibilidades da profissão, como diversificação de trabalhos oferecidos, condições impostas, além dos sucessos e insucessos. Por vários motivos, muitos são os sujeitos que iniciam na área e, posteriormente, desistem.

• Destacamos a importância dos conhecimentos adquiridos por meio da prática e cursos profissionalizantes para sua formação.

• A importância de estudos, pesquisas sobre as ações, bem como a busca de informações atualizadas sobre as comunidades surdas permitem a criação de estratégias que propiciem o pleno alcance de suas potencialidades.

• Muitos profissionais precisam demonstrar produtividade, precisam ser polivalentes, uma vez que são muitas as possibilidades e diversificações oferecidas pelos contratantes na medida que novas situações vão surgindo, tornando-se um desafio para muitos TILSP.

• Analisamos a inserção do surdo como profissional tradutor intérprete, sendo uma atividade que cada vez mais vem criando visibilidade por meio dos cursos, especialmente de Letras-Libras.

• Compreendemos alguns tipos de sinais que foram explanados e exemplificados nas unidades anteriores, com características quirêmicas baseadas no dicionário do professor Capovilla, como tradução, interpretação, tradução simultânea, tradução consecutiva, tradução semiótica, dentre outras.

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

1 Como já considerado, o TILSP ganha protagonismo no cenário mundial, surgem também os desafios e possibilidades durante sua atuação em variados contextos. Assim, descreva alguns desafios e possibilidades vivenciadas por você, além do que está descrito no seu livro de estudos.

2 Depois de ler parte do artigo da professora Draª Ana Regina Campello, responda: será que somente ouvintes podem atuar como TILSP? Como podemos relacionar o profissional surdo em determinado contexto?

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