É importante observar que os problemas alimentares e...
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É importante observar que os problemas alimentares e nutricionais das sociedades possuem causas diversas, que por sua vez se situam em diferentes níveis de análise. Paraentender o significado disto, vamos tomar como exemplo o problema da desnutrição.
As causas imediatas são aquelas mais diretamente ligadas à desnutrição, no que diz respeito ao indivíduo ou àfamília. Por exemplo, ter quantidade insuficiente de comida para consumir em casa é uma das maiores causas da desnutrição em crianças, gestantes e outros membros da família.
As causas mediatas estão ligadas às condições de vida das diferentes classes sociais. Por exemplo, ter pouco ou nenhum acesso à informação ou aos serviços de saúde e educação é, muitas vezes, uma causa mediadora da ocorrência da desnutrição, uma vez que pode representar um obstáculo na capacidade da família em poder melhorar a sua nutrição.
As causas básicas têm a ver com a estrutura global da sociedade. Por exemplo, uma
política econômica que esteja gerando desemprego e aumento de preços dos alimentos pode
ser considerada uma causa básica da desnutrição. Assim também, toda a política de uma
sociedade, que esteja gerando a exclusão social, é considerada uma causa básica da
desnutrição.
Ainda: para que se possa ter noção de como resolver ou atacar cada problema
identificado como principal, é preciso descrever passo a passo como ele acontece. Com isso se
pode ver a cadeia de acontecimentos que estão provocando os principais problemas.
Idéia:
Crianças pequenas estão tendo
mais diarréia porque são desmamadas muito cedo.
Diarréia: problema ou conseqüência
Desmame precoce: causa imediata
A organização da idéia em cadeia fica assim:
Passo 3
Calendário de Risco
Nutricional da Comunidade:
um alerta para os períodos
de insegurança alimentar
e nutricional local
Depois de desenharmos a árvore, identificando os problemas que a comunidade
enfrenta quanto à segurança alimentar e nutricional das famílias e as suas causas imediatas, vamos
construir um calendário de risco nutricional.
Ao longo dos meses do ano será listada a presença de fatores de risco para a nutrição
das famílias ou de grupos específicos da comunidade, com base na análise de causas e
conseqüências da Árvore de Problemas construída no passo 2.
Fatores de risco são todas as situações vividas na comunidade no decorrer do ano,
que podem levar as famílias a terem comida insuficiente e/ou nutrição inadequada. Por exemplo,
seca, inundações, subida de preços dos alimentos básicos, entressafra de alimentos, períodos de
maior ocorrência de um tipo de doença, desemprego, término da oferta de frentes de trabalho, etc.
Os meses em que ocorre a maior presença de fatores de risco, são considerados os
períodos críticos de abalo do estado nutricional da população que podem gerar uma situação de
insegurança alimentar e nutricional na comunidade.
Para quê?
O calendário de risco nutricional facilita a identificação visual destes períodos
críticos ao longo de todo o ano. Este instrumento facilita o planejamento de ações pelo grupo de
trabalho, dando o alerta adequado para que as conseqüências possam ser evitadas. Também
ajuda as pessoas da comunidade aterem uma atitude de vigilância do estado nutricional das
famílias com uma visão ampla dos fatores locais ou externos que contribuem para a existência
de abalos neste setor.
Calendário de Risco Nutricional da Comunidade
Ano: _______
Exemplo:
Ano: 2.000
Neste exemplo, os meses críticos são junho e julho. Portanto, é nesse período,
onde foi identificado o maior número de fatores de risco à segurança alimentar e nutricional, que
a comunidade deve estar mais alerta e se mobilizar para prevenir as conseqüências desses
fatores.
Roteiro de Discussão 3Sensibilização sobre a visão
individual e a visão coletiva noenfrentamento da insegurança alimentar
e nutricional na comunidade
Vamos à história de João Paulo e o gráfico de peso dele:
João Paulo nasceu em abril de 2.000 pesando três quilos. João não mamava no
peito. A mãe usava mamadeira para alimentar o menino. Aos cinco meses de idade, João
pesava seis quilos e quinhentas gramas. Neste mês, o menino teve muita diarréia. Aos seis
meses, João estava com o mesmo peso que no mês anterior. Também no sexto mês o menino
teve muita diarréia, chegando a ser internado por desidratação. Quando João foi pesado aos
sete meses tinha perdido meio quilo. Estava com seis quilos."
Monitor! Discuta com o grupo:
• o gráfico de peso mostra se a criança ganhou, perdeu ou continuou com o mesmo
peso, quando e porque isto ocorreu. Vemos, a partir das anotações no Cartão de João
Paulo que a diarréia foi um fator importante para a perda de peso do menino. Então,
toda vez que João Paulo tiver diarréia (fator de risco), sua mãe deve ficar ALERTA, pois
já sabe que quando isso acontece, ele perde peso. Temos aí a situação de uma criança
- situação individual.
A partir da construção das informações sobre uma criança (preenchimento do
Cartão), temos o modelo para compreender e usar o Calendário proposto. Ou seja, o
Calendário de Risco Nutricional é um instrumento que relaciona os fatores que podem
colocar em risco a segurança alimentar e nutricional da comunidade com os meses do ano
em que eles ocorrem, colocando a comunidade em ALERTA e possibilitando que ela formule
um plano de ação eficaz para evitar as conseqüências dos fatores de risco identificados.
Passo 4 - A quem atender primeiro?
A identificação das famílias e grupos em risco nutricional
Depois de reconhecer os períodos críticos ao longo do ano, quando podem ocorrer
abalos na alimentação e nutrição das pessoas da comunidade, é preciso identificar e saber
quais as famílias ou grupos mais atingidos pelos fatores de risco relacionados no passo 3.
Pessoas ou famílias consideradas em risco alimentar ou nutricional são aquelas
que não estão conseguindo atender as suas necessidades alimentares. Alguns dos principais
fatores que contribuem para isso são: a baixa renda, o desemprego do chefe da família, as
precárias condições ambientais e de moradia e o número de membros da família.
Nestas famílias, também é importante identificar os grupos mais fragilizados pela
alimentação e nutrição inadequada (crianças, adolescentes, gestantes, nutrizes, idosos, etc.) e
observar as suas características. Quanto mais detalhado for o conhecimento destas famílias e
grupos, melhor pode ser a qualidade das ações planejadas para a sua proteção contra a
insegurança alimentar e nutricional.
Para esta atividade, vamos responder a um roteiro de perguntas que ajudam a
identificar estas famílias ou grupos de pessoas.
Dez perguntas importantes para caracterizar famílias em risco nutricional na comunidade
Lembramos que esse roteiro apresenta uma variedade de questões que podem ser utilizadas de forma flexível, de acordo com a necessidade e a condição de cada local.
* Na opinião do grupo de trabalho, quais são as famílias ou grupos de pessoas mais afetadas pela alimentação e/ou nutrição inadequada?Por quê?
* Onde moram (caracterizar região, bairro, endereço, etc.)
* Qual o número de filhos?
* Quem é o respons ável pela família?
* Mais de uma família mora na mesma casa?
* Como é o ambiente onde vivem (tipo de moradia – quantos cômodos as crianças dormem junto com adultos, tipo de sanitário; tipo de águaque usam , tipo de esgoto, onde jogam o lixo)?
* De onde obtêm renda ou outros recursos para seu sustento (tipo detrabalho/ geração de renda)?
* Qual é a situação destas famílias ou grupos quanto à religião acesso à escola, à informação?
* Que tipo de serviços (luz,água, saúde, transporte) chega até essafamílias?
* Que tipo de problema alimentar enfrentam (falta de alimentos falta deágua potável, alimentação inadequada, etc)? De que forma ocorrem?
Quadro das Famílias e Grupos em Risco Nutricional
1) Número de famílias ou pessoas em risco
2) Lugares de maior risco na comunidade
3) Principais problemas das famílias ou grupo
4) Principais problemas do ambiente
5) Principais problemas de acesso a serviços, renda:
6) Principais problemas alimentares
Passo 5 - O que temos nacomunidade para começar a agir?A identificação dos recursos locais
existentes
Para quê?
Este passo é muito importante porque serve para identificar todos os recursos que
a comunidade já possui e com os quais pode contar para executar ações e enfrentar seus
principais problemas. Com esse levantamento, podemos ter uma noção realista das ações que
serão planejadas.
Esta análise também serve para verificar que outros recursos são necessários e
que não estão disponíveis, quais os caminhos possíveis de serem obtidos e o que isto
representa em relação aos custos do plano de ações que a comunidade quer executar.
Esse é um dos pontos que também ajuda a comunidade a refletir, a respeito
da necessidade de contar com parceiros para o trabalho.
Passo 6 - Se precisarmos de apoio, comquem podemos contar?
A formação da Rede de Parceiros
Algumas atividades necessárias para a resolução dos problemas detectados
pela comunidade podem estar além do alcance dos recursos que a comunidade já possui
e de ações que já são desenvolvidas na comunidade. Como já discutido, os problemas de
alimentação e nutrição têm diferentes causas. A solução ou diminuição desses problemas
pode necessitar da participação de pessoas ou instituições que desenvolvem atividades em
setores como: a saúde, a agricultura, a educação e a ação social.
Neste caso, é preciso que o grupo de trabalho identifique parceiros que
possam apoiar o desenvolvimento das ações planejadas pelo grupo. Estes parceiros
podem ser diferentes instituições (serviços públicos ou organizações não-governamentais)
ou pessoas voluntárias que prestem serviço na comunidade ou proximidades. O grupo de
trabalho, junto com os coordenadores e líderes da Pastoral da Criança, pode ajudar como
facilitador do contato entre a comunidade e seus parceiros.
Cabe à comunidade demonstrar claramente as suas necessidades ao solicitar
qualquer auxílio externo. A partir do contato com a instituição parceira, precisam ficar
firmemente identificados os papéis e responsabilidades de cada pessoa em cada atividade,
bem como as formas de acompanhamento do desenrolar de todo o processo.
Mapa de Parceiros para a Segurança Alimentar e Nutricional da Comunidade
(Cadastro de Parceiros)
Período de ____________a _________de
Passo 7 - É hora de planejar o que fazer!
A construção do Plano Participativo de
Segurança Alimentar da Comunidade
Para chegar até aqui, o grupo precisou:
1. organizar informações sobre a disponibilidade e a qualidade de acesso aos alimentos pelas
famílias;
2. discutir as causas e conseqüências dos principais problemas levantados de insegurança
alimentar local;
3. visualizar períodos críticos durante o ano, bem como as famílias ou grupos em risco
nutricional;
4. identificar o que temos na comunidade para poder agir;
5. construir uma rede de cooperação com parceiros.
A partir destes passos, o grupo teve condições de conhecer melhor a realidade onde
vive. Agora é preciso pensar sobre o que está ao alcance da comunidade para atacar as
dificuldades e resolver os problemas identificados como prioridades. Por isso, é hora de
elaborar um plano de ação.
Plano Participativo de Segurança Alimentar daComunidade(o grupo deve elaborar um quadro para cada ação planejada)
Ação Planejada
Para quem? (beneficiados)
Fases da ação
Parceiros
Tempo planejado para realizar a ação
Quem coordena a ação?
Materiais necessários
Pessoas envolvidas
Resultados esperados
Como avaliar o que estamos conseguindo fazer?
Todo o desenvolvimento do Plano Participativo de Segurança Alimentar daComunidade precisa ser bastante flexível, prevendo maneiras de seguir e avaliarconstantemente cada uma das atividades planejada.
A avaliação participativa do grupo de trabalho, juntamente com os beneficiados
pelo Plano, é também muito importante quando este Plano envolve parceiros e/ou
financiamento externo, tendo como principal objetivo a discussão dos progressos alcançados e
dos resultados obtidos, a reavaliação de certos aspectos do plano ou o surgimento de novas
necessidades na comunidade. É preciso levar em conta que as novas necessidades detectadas
na comunidade podem inclusive modificar o Plano inicialmente previsto. Por isso, o cuidado
contínuo na avaliação do que se está fazendo é fundamental!
É preciso manter a consciência de que, às vezes, as situações não melhoram
necessariamente com as primeiras medidas e ações tomadas. Contudo, as atividades podem
estar contribuindo para uma nova situação, que seja mais favorável à realização de ações que
antes eram inviáveis.
A avaliação do progresso
Para avaliar o progresso de cada fase da ação que estamos realizando, umasugestão para organizar esta atividade é o quadro que se apresenta a seguir:
Avaliação do progresso das ações
Fonte: Adaptado de FAO. Guia para projetos participativos de nutrição. Roma, 1997.
Os Critérios de Qualificação "E", "S", "M" e "D" do quadro acima se referem a:
E = excelente, quando a comunidade e os parceiros estiveram envolvidos e integrados narealização da ação, o tempo de ação foi realizado conforme o esperado, os materiais necessários foram conseguidos, os resultados esperados foram obtidos...;
S = satisfatório, quando houve participação relativa (falta às reuniões, desestímulo, omissão, pouca discussão...) da comunidade e parceiros na ação programada; houve atrasono tempo de realização da ação, os resultados esperados foram conseguidos comatraso. Neste caso, há necessidade de rever as estratégias organizadas pelacomunidade para esta ação;
M = mínimo, quando houve pouco ou nenhum envolvimento da comunidade e dos parceiros na ação programada; o tempo para a realização da ação foi muito maior que oesperado; houve dificuldades com pessoal e materiais necessários, e muito pouco doresultado esperado foi conseguido. Neste caso há necessidade de rever se a açãoprogramada é realmente prioritária e quais as causas do pouco interesse;
D = decepcionante, quando a ação planejada não pôde ser desenvolvida. Neste caso, hánecessidade de rever todo o planejamento da ação pretendida.
Estes critérios também servem para os outros quadros de avaliação desteCaderno, incluindo os quadros do Anexo 5 (Relatório Semestral de Acompanhamento eAvaliação do Plano Participativo de Segurança Alimentar da Comunidade).
A avaliação dos resultados
Ao planejar as atividades, devemos pensar nos resultados que queremos obter
com cada uma delas, bem como, nas reais possibilidades de executá-las. Estas possibilidades
são mais concretas, quanto mais próximos e disponíveis são os recursos que permitem a sua
realização.
Para evitar desarticulações, perda da credibilidade e frustrações na realização
deste Plano, é preciso estarmos conscientes de um bom dito popular: "não podemos dar passos
maiores que nossas próprias pernas!"
Seguindo o modelo de avaliação do progresso que vem sendo obtido com a ação
realizada, podemos agora analisar cada um dos resultados que foram ou estão sendo
alcançados. O quadro a seguir nos ajuda na organização e visualização desta atividade: