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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA “Ecologia alimentar de tartarugas-verdes, Chelonia mydas (Linnaeus 1758), em Ilhabela e Ubatuba – litoral norte de São Paulo, Brasil” Eduarda Romanini Monografia apresentada ao Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. RIBEIRÃO PRETO – SP 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

“Ecologia alimentar de tartarugas-verdes, Chelonia mydas (Linnaeus 1758), em Ilhabela e Ubatuba – litoral norte de São Paulo, Brasil”

Eduarda Romanini

Monografia apresentada ao Departamento de Biologia da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a

obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas.

RIBEIRÃO PRETO – SP

2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

“Ecologia alimentar de tartarugas-verdes, Chelonia mydas (Linnaeus 1758), em Ilhabela e Ubatuba – litoral norte de São Paulo, Brasil”

Eduarda Romanini

Monografia apresentada ao Departamento de Biologia da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a

obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientadora: Dra. Ana Cristina Vigliar Bondioli

RIBEIRÃO PRETO – SP

2014

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

1. Schistosoma mansoni. 2. Leucotrieno B4. 3. Praziquantel

Romanini, Eduarda, 1992-

Ecologia alimentar de tartarugas-verdes, Chelonia mydas (Linnaeus

1758), em Ilhabela e Ubatuba – litoral norte de São Paulo, Brasil. /

Eduarda Romanini. Ribeirão Preto: USP, FFCLRP, 2014.

VII + 52

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade de São

Paulo, Curso de Ciências Biológicas, 2014.

Orientadora: Ana Cristina Vigliar Bondioli

1. Alimentação. 2. Chelonia mydas. 3. Ilhabela. 4. Ubatuba. 5.

Material inorgânico. 6. Algas marinhas.

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À minha mãe e à minha avó,

por serem os melhores exemplos que eu poderia ter na vida

e por sempre apoiarem minhas escolhas profissionais. Amo vocês.

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ii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente à minha mãe, Guga, por ser a pessoa que mais me apoiou durante a

minha vida, mesmo quando as minhas escolhas significaram morar a mais de 700 km de

distância. Obrigada mãe, por acreditar nos meus sonhos e na minha capacidade, muitas vezes

mais do que eu mesma acreditei.

À minha avó Amélia, por ser a base sobre a qual eu pude construir a minha

personalidade. Obrigada vozinha, pelos conselhos, risadas, cuidados e muito, muito carinho!

À minha orientadora Dra. Ana Cristina Vigliar Bondioli, pela oportunidade de realizar

não só um trabalho, mas o sonho da minha vida. Obrigada Cris, por atender todas as minhas

dúvidas prontamente, pela confiança e apoio constante.

À equipe do Instituto Biodiversidade Austral, em especial minha amiga e companheira

de trabalho Amanda Fernandes, que contribuiu imensamente para meu conhecimento durante

nossas tantas conversas diárias. Sua colaboração no meu projeto foi essencial. Obrigada

Amandinha!!

À professora Dra. Valéria Cassano, pelo treinamento de identificação de algas, pelas

ajudas nas identificações e pela paciência para me ensinar tudo quanto foi possível durante

um dia todo de trabalho.

Ao Projeto TAMAR, pelo grande apoio a este trabalho e por contribuir para que ele

ficasse melhor e mais completo. Um agradecimento especial ao coordenador técnico José

Henrique Becker, pela ideia de adicionar Ubatuba como local de campo e pelos incentivos

que me deu para continuar firme na minha proposta de pesquisa, e ao médico veterinário

Renato Velloso da Silveira, por toda a paciência que teve ao me ensinar as técnicas de

necropsia e por contribuir enormemente nas coletas, sendo sempre atencioso quando precisei.

Também agradeço a todos os funcionários e aos estagiários que contribuíram para a

experiência engrandecedora que tive durante meu período de estágio, em especial aos grandes

amigos Matheus Conte Pereira, Michele Fanfa e Aline Biagi.

Ao CEBIMar, pela colaboração ao fornecer uma ótima estrutura para a parte

laboratorial do trabalho e também pelo atendimento eficiente de todos os técnicos enquanto

estive por lá.

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Ao Laboratório de Ecologia Química e Restauração Florestal (FFCLRP/USP), em

especial a professora Dra. Elenice Mouro Varanda, por me ceder um espaço em seu

laboratório e por todas as conversas e conselhos durante os anos da faculdade; o técnico

Ricardo, pelas conversas sempre ricas em conhecimento, e a Dra. Fabi, que teve muita

paciência para me ajudar na parte estatística e me passar muitas dicas para tornar o trabalho

mais bem estruturado.

À faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (Universidade de São

Paulo) pela minha excelente formação profissional.

Aos meus tios, tias e primos por sempre se entusiasmarem com as minhas conquistas e

apoiarem, mesmo que distante, minhas escolhas profissionais. Tenho a melhor família do

mundo. Em especial, agradeço meus primos Rafael, João Carlos, Bárbara, Aline e Ila, que

sempre foram as minhas melhores companhias, meus melhores amigos, minhas melhores

risadas e com quem passei momentos maravilhosos da minha vida. Eu amo vocês!

À minha amiga Maria Laura Perini, por ter me incentivado nos estudos desde o

fundamental, por acompanhar meus esforços para conquistar o almejado sonho de ser bióloga

e por ter ficado até mais feliz do que eu quando consegui passar no vestibular. Nunca vou

esquecer esse momento, obrigada amiga!

À minha grande amiga Nani, que foi minha melhor companheira de casa e contribuiu

muito para meu crescimento pessoal, me deu grande incentivo para encarar os desafios deste

trabalho e com certeza é detentora dos melhores conselhos.

À Alice, que cuidou de mim com tanto carinho e sempre me apoiou, desde quando ser

bióloga era apenas um sonho de criança, e é aquela pessoa que conhece meus gostos melhor

do que eu mesma.

Às minhas veteranas queridas Samantha, Loba e Nati, que tantas vezes me socorreram

nos trabalhos e estudos e me deram força para seguir em busca do sonho de ser bióloga.

À Bio 46, pelos melhores e mais incríveis anos, por termos passados por momentos

complicados sabendo que podíamos confiar em cada um dessa turma maravilhosa, porque

sabíamos que ali estávamos entre amigos verdadeiros. Em especial minha dupla, Guga, pelos

trabalhos de campo juntos, pelos estágios, pelas festas e pelo bom-humor que sempre tornava

meus dias divertidos, não importa quão cedo eles começassem; o melhor conselheiro Rafael

(Sptz); as amigas queridas Luanne, Talita e Nati; aos amigos inesquecíveis Pedro, Ity, Peagá,

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Lino, Xaxá e Murilo; e àquelas que se tornaram pessoas insubstituíveis na minha vida, Piri e

Manga.

À minha família de Ribeirão, Johnny, Cis, Lucas e Ju, por terem me acolhido desde os

meus primeiros momentos nessa cidade, pela paciência que tiveram comigo durante meus

primeiros anos tão difíceis, por me darem a atenção e o apoio que foram fundamentais para

que eu seguisse em frente em todos os momentos que pensei em desistir. Essa minha

conquista eu devo em grande parte a vocês. Infinitos agradecimentos, amo muito vocês!!

Às minhas amigas de rep. nessa reta final, Gabi, Iza e Criss, por me apoiarem e

entenderem as ausências decorrentes do processo de trabalho da monografia.

Em especial à minha família de Ilhabela, vó Jura, Seu Zé, mãe Rose, Ney, Néia,

Renato e Dani, que foram essenciais para que eu conseguisse realizar o meu trabalho nessa

cidade maravilhosa. Agradeço pela companhia, pelos conselhos, pelas conversas e pelos

melhores almoços de domingo. Este trabalho não existiria sem o apoio de vocês.

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“There is a pleasure in the pathless woods;

There is a rapture on the lonely shore;

There is a society, where none intrudes,

By the deep sea, and music in its roar:

I LOVE NOT MAN THE LASS, BUT NATURE MORE”

(Lord Byron)

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RESUMO

A tartaruga-verde é uma espécie cosmopolita que utiliza o litoral brasileiro para

reprodução e alimentação. Sua dieta varia ao longo do ciclo de vida, sendo inicialmente

onívora, tornando-se preferencialmente herbívora a partir da fase juvenil. Esses hábitos

alimentares podem estar associados à disponibilidade de alimento no local, bem como à

seletividade das tartarugas, digestibilidade dos alimentos e/ou tipo do habitat, sendo que a

dieta herbívora pode ser complementada com a ingestão de material de origem animal.

Devido a atual poluição das praias e o descarte de diversos materiais nos oceanos, o consumo

de lixo pode ocorrer, sendo esta ingestão bastante prejudicial às tartarugas marinhas e uma das

principais ameaças à espécie. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de descrever os

componentes da dieta de Chelonia mydas, em Ilhabela e Ubatuba, litoral norte paulista. Em

Ilhabela foram realizados monitoramentos das praias durante um ano e os animais

encontrados mortos foram necropsiados para a coleta do conteúdo dos sistemas digestórios.

Em Ubatuba, durante seis meses, os animais encontrados mortos e levados até a base do

TAMAR foram necropsiados pelo veterinário responsável e as amostras foram coletadas nos

meses de março, maio e junho. Este material foi triado, identificado e avaliado segundo sua

composição. Os materiais inorgânicos foram testados de acordo com sua abundância,

frequência de ocorrência e diferenças entre as classes estipuladas. Foram registrados 30 C.

mydas, com média de comprimento de carapaça igual a 39,21 (± 7,79) cm. Coletaram-se

amostras de 23 animais e o conteúdo encontrado foi separado em dez categorias. Foram

identificados, dentre as algas ingeridas, oito exemplares até o nível de espécie, dois até família

e 20 até gênero. Destaca-se o consumo de Rodophyta e Clorophyta, sendo que em Ilhabela o

gênero de maior frequência de ocorrência foi Ulva sp., seguido por Dictyopteris sp. e

Gelidiopsis sp. e no município de Ubatuba os mais frequentes foram Ulva sp. e Pterocladiella

sp., porém a análise de correspondência mostrou que a composição da dieta desses animais

varia muito pouco entre os municípios. Entre os animais estudados, 12 possuíam conteúdo

inorgânico em seu trato digestório, com a maioria do volume ocorrendo no intestino. Houve

predomínio dos materiais coloridos, os plásticos moles e os itens de pequeno tamanho. Esse

trabalho contribuiu para o entendimento da ecologia alimentar das tartarugas-verdes na

região, bem como para o entendimento das ameaças que elas sofrem, de modo que nossos

resultados podem ser utilizados para auxiliar a conservação destas espécies ameaçadas e pode

como ferramenta para conscientização ambiental.

Palavras-Chave: alimentação, Chelonia mydas , Ilhabela, Ubatuba, material inorgânico, algas

marinhas.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 8

2. OBJETIVOS .........................................................................................................................................13

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................14

3.1 Locais de estudo. ......................................................................................................................................... 14

3.2 Procedimentos. ............................................................................................................................................ 16

3.3 Análise dos resultados ................................................................................................................................ 18

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................................................................19

5. CONCLUSÃO .......................................................................................................................................45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................................46

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1. INTRODUÇÃO

As tartarugas marinhas são répteis (Classe Reptilia) da ordem Chelonia e subordem

Cryptodira (MÁRQUEZ, 1990), pertencentes a duas famílias: Dermochelyidae (Dermochelys

coriacea (Vandelli, 1761)) e Cheloniidae (Chelonia mydas (Linnaeus 1758), Caretta caretta

(Linnaeus 1758), Eretmochelys imbricata (Linnaeus 1766), Lepidochelys olivacea

(Eschscholtz 1829), Lepidochelys kempii (Garman 1880) e Natator depressus (Garman

1880)). A chave do sucesso da ordem é também uma característica que facilita a identificação

do grupo: uma carapaça óssea que recobre o corpo do animal, formada pela fusão dos ossos

das vértebras e as costelas. Estudos recentes determinaram que esta estrutura deriva

totalmente de tecidos endoesqueléticos (HIRASAWA et al., 2013). Esta estrutura é bastante

conservado dentro da ordem Chelonia, havendo poucas modificações desde seu surgimento,

durante o Triássico (ERNEST et al., 19891 apud. BONDIOLI, 2009). Essa característica

anatômica é bastante derivada entre os Reptilia, o que dificulta o estabelecimento das relações

destes animais com outros do mesmo grupo. Além disso, ainda existem lacunas na tentativa

de entender como essa característica derivada surgiu (LI et al.,2008).

Um fóssil recentemente descoberto na China pode representar um passo intermediário

na evolução da carapaça das tartarugas e de suas estruturas associadas. Trata-se de

Odontochelys semistestacea (LI et al., 2008), uma tartaruga de tamanho relativamente

pequeno e com mandíbula dotada de dentes. Este animal possuía uma carapaça incompleta,

formada apenas pelo plastrão, a porção ventral desta estrutura, totalmente desenvolvido e uma

carapaça dorsal constituída apenas por placas neurais. Isso indica a possibilidade do plastrão

ter evoluído antes mesmo da carapaça, bem como evidencia que as placas neurais são as

primeiras a evoluir entre os elementos que compõem a porção dorsal da carapaça. Esse

representante de 220 milhões de anos, através de estudos filogenéticos, foi posicionado como

espécie basal aos demais pertencentes da ordem, e suas características podem apontar para o

hábito aquático desta espécie, o que indica uma origem aquática para as tartarugas (LI et al.,

2008).

Todos os membros da ordem Chelonia são ovíparos, não apresentam cuidado parental

e a maioria é de vida longa, com crescimento lento e ciclo de vida complexo, envolvendo

diferentes habitats durante suas diferentes etapas (BOLTEN, 2003). Em relação às espécies

atuais, adaptações fisiológicas, anatômicas e comportamentais permitiram que as tartarugas

marinhas habitassem tanto ambientes marinhos quanto estuarinos (MUSICK;LIMPUS, 1996).

1 ERNEST, C. H.; BARBOUR, R. W. Turtles of the World. Washington, D.C. Smithsonian Institution Press, 313 p., 1989.

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Entre essas adaptações pode-se destacar o maior achatamento da carapaça, tornando os

animais mais leves e hidrodinâmicos (ICMBIO, 2011), permitindo um nado eficiente e,

portanto, que as migrações de longa distância tenham baixo custo energético (WYNEKEN,

1997), e a osmorregulação através da excreção do excesso de sal pelas glândulas de sal,

localizadas na cabeça desses animais (SCHMIDT-NIELSEN; FANGE, 1958). Estes animais

viajam longas distâncias, iniciando seus percursos no momento em que saem dos seus ninhos

(o desenvolvimento dos embriões é na areia) e entram no oceano. (LOHMANN; LOHMANN,

1996; LOHMAN et al., 1996; LOHMAN; LOHMAN, 1998). Neste momento, os filhotes

nadam freneticamente por até 24 horas, geralmente próximos da superfície da água (FRICK,

1976), ambiente que é propício para gerar benefícios térmicos (a partir da absorção de energia

solar) ou refúgio (por ficarem próximos dos recursos flutuantes (CARR, 1987)), e a uma

velocidade média de 1,57 km por hora, em direção perpendicular às ondas (Lohmann, 19902

apud BONDIOLI, 2009). Geralmente os filhotes não migram em águas da plataforma

continental (MANSFIELD et al., 2014).

Os mecanismos de orientação na fase inicial de migração parecem estar associados a

três fatores: luminosidade (filhotes vão em direção ao horizonte mais brilhante), movimento

das ondas (indicações visuais passam a ser menos importante quando o filhote já está no mar)

e campo magnético (LOHMAN, LOHMAN, 1996). Os filhotes de tartarugas não migram para

seus habitats oceânicos pelas rotas mais rápidas ou diretas e geralmente utilizam uma

variedade de caminhos, indicando que não há uniformidade durante esta dispersão inicial, mas

aparentemente há algumas restrições na escolha das rotas, sendo que eles evitam, por

exemplo, águas muito frias (MANSFIELD et al.,2014).

Nesta fase de vida oceânica, denominada “lost year” (CARR, 1987a), os filhotes

permanecem boiando nos sistemas de correntes, que servem como áreas de alimentação e

desenvolvimento, nos quais há uma baixa densidade e diversidade de predadores. O mesmo

autor indica que os filhotes parecem se camuflar e se alimentar do que encontram boiando,

principalmente nas regiões de convergência das correntes em direção ao fundo do mar. Ainda

sabe-se muito pouco sobre este período, mas um estudo utilizando isótopos estáveis das

carapaças de juvenis estimou que a duração da fase oceânica das tartarugas-verdes dura

geralmente de três a cinco anos e elas apresentam hábitos carnívoros, havendo uma mudança

rápida do habitat e dieta após este período (REICH et al., 2007). Esses filhotes (com cerca de

2 LOHMANN, K. J.; SALMON, M.; WYKENEN, J. Funtional autonomy of land and sea orientation systems in hatchlings.

Biological Bulletin, v. 179, p. 21-218, 1990.

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cinco centímetros) geralmente só voltam a serem vistos quando retornam para habitats

neríticos em sua fase juvenil, com mais de 20 centímetros (REICH et al., 2007).

Ao atingirem a maturidade sexual, que para C. mydas é em torno de 25 e 50 anos

(CHALOUPKA et al., 2004), migram novamente, indo das áreas de alimentação para as de

reprodução numa viagem que pode ser de centenas de milhares de quilômetros, estabelecidas

em intervalos regulares ou sazonais (LUSCHI et al., 2003; ; LOHMAN; LOHMAN, 1996;

PLOTKIN, 1996). Após o período de acasalamento, tanto fêmeas quanto os machos retornam

para áreas de alimentação (PLOTKIN, 1996). A capacidade de migração das tartarugas pode

estar associada aos odores das correntes do oceano, características químicas e físicas

provenientes de ventos e correntes (LOHMANN et al., 19973 apud BONDIOLI, 2009) e

parâmetros geomagnéticos (LOHMAN; LOHMAN, 1996; LOHMANN et al., 19973 apud

BONDIOLI, 2009). Essas distâncias e percursos dos movimentos migratórios podem ser

estudados e acompanhados utilizando-se a telemetria por satélite (GODLEY et al., 2003;

LUSCHI et al., 2003).

Para fazerem seus ninhos, as fêmeas migram à praia que nasceram (BOWEN et al.

19934, 1994

5, 1995

6 apud LOHMAN; LOHMAN, 1996), sendo este comportamento

conhecido como filopatria (homing) (ALMEIDA et al., 2011). O retorno acontece em cada

ciclo reprodutivo (LOHMAN et al., 1996; LOHMAN; LOHMAN, 1998), existindo

evidências que o retorno para as praias de desova das tartarugas-verdes geralmente ocorra a

cada 3 anos (GROSSMAN, 2001). As características físicas e químicas da praia onde os

filhotes nascem são registradas por eles através de um fenômeno conhecido como imprinting,

e estes sinais podem ser os responsáveis pelo retorno deles às praias de desova quando estão

adultos em idade reprodutiva (LOHMANN et al., 19973 apud BONDIOLI, 2009). Além

disso, o campo magnético da terra também permite que as tartarugas retornem a mesma praia

em que nasceram mesmo tantos anos após terem deixado o local (LOHMAN et al., 2001).

3 LOHMANN, K. J; WITHERINGTON, B. E.; LOHMANN, C. M. F.; SALMON, M. Orientation, Navigation and Natal

Beach Homing in Sea Turtle. In: LUTZ, P. L.; MUSICK, J. A. (eds). The Biology of Sea Turtles. CRC Press, 432 p., 1997.

4 BOWEN, B. W.; AVISE, J. C.; RICHARDSON, J. I.; MEYLAN, A. B.; MARGARITOULIS, D.; HOPKINS-MURPHY, S.

R. Population structure of loggerhead turtles (Caretta caretta) in the northwestern Atlantic Ocean and Mediterranean Sea.

Cons. Biol., v.7, p. 834–844, 1993.

5 BOWEN, B. W.; KAMEZAKI, N.; LIMPUS, C. J.; HUGHES, G. R.; MEYLAN, A. B.; AVISE, J. C. Global

phylogeography of the loggerhead turtle (Caretta caretta) as indicated by mitochondrial DNA haplotypes. Evolution, v. 48,

n.6, p. 1820–1828, 1994.

6 BOWEN, B. W.; ABREU-GROBOIS, F. A.; BALAZS, G. H.; KAMEZAKI, N.; LIMPUS, C. J.; FERL, R. J. Trans-Pacific

migrations of the loggerhead turtle (Caretta caretta) demonstrated with mitochondrial DNA markers. Proc. natn. Acad. Sci.

U.S.A., v. 92, p. 3731–3734, 1995.

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Considerando o fato que as tartarugas marinhas fêmeas retornam à praia onde

nasceram para desovarem, a postura dos ovos introduz nutrientes e energia nos ecossistemas

das praias, atuando assim como importantes transportadores energéticos entre as áreas de

alimentação e as praias de desova (BOUCHARD; BJORNDAL, 2000).

Das sete espécies de tartarugas marinhas encontradas no mundo, cinco estão presentes

no litoral do Brasil, Caretta caretta, Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivacea,

Chelonia mydas e Dermochelys coriacea (MÁRQUEZ, 1990). Todas elas apresentam algum

risco associado à extinção: D. coriacea e L. olivacea encontram-se vulneráveis, C. caretta e

C. mydas estão ameaçadas e E. imbricata apresenta perigo crítico de extinção (IUCN, 2014).

A tartaruga-verde (C. mydas), juntamente com a tartaruga-de-pente (E. Imbricata), é a

mais tropical das tartarugas marinhas, está amplamente distribuída e pode ser encontrada

próxima de regiões costeiras e ilhas, em águas tropicais e subtropicais, mas são raras em

águas temperadas (MÁRQUEZ, 1990). Na América do Sul, a distribuição da tartaruga-verde é

ampla e já foi registrada em toda extensão do litoral brasileiro (SANCHES, 19997 apud

GUEBERT, 2008), em toda costa do Uruguai (LÓPEZ-MENDILAHARSU et al., 20078 apud

GUEBERT, 2008) e da Argentina, havendo registros até o norte da Patagônia (CARMAN et

al., 20079 apud GUEBERT, 2008). No Brasil, C. mydas utiliza o litoral para a alimentação e

as ilhas oceânicas para reprodução (GUEBERT, 2008).

A dieta de C. mydas varia ao longo de sua vida. Em seus primeiros anos apresentam

hábitos alimentares onívoros, com uma tendência carnívora, o que parece garantir um rápido

crescimento, permitindo que evitem predadores. Ao atingir a fase juvenil, a tartaruga-verde

torna-se preferencialmente herbívora, a única espécie de tartaruga marinha a apresentar esse

tipo de dieta (MÁRQUEZ, 1990; BJORNDAL, 1997; MORTIMER, 1982; ROSS, 1985).

Nesta fase, C. mydas geralmente utiliza zonas rasas para se alimentar, enquanto prefere as

zonas mais profundas para descansar (REISSER et al., 2013). Os hábitos alimentares de C.

mydas estão amplamente associados à disponibilidade de alimento no local, seletividade das

7 SANCHES, T. M.; BELLINI, C. Juvenile Eretmochelys imbricata and Chelonia mydas in the Archipelago of Fernando de

Noronha, Brazil. Chelonian Conservation Biology, v. 3, n. 2, p. 308-311, 1999.

8 LÓPEZ-MENDILAHARSU, M.; SALES, G.; GIFFONI B.; MILLER, P.;FIEDLER, F. N.; DOMINGO, A. Distribuicíon y

composición de las tallas de las tortugas marinas (Caretta caretta y Dermochelys coriacea) que interactuan com el palangre

pelagico em el Atlantico Sur. Col. Vol. Sci. Pap. ICCAT., v. 60, n. 6, p. 2094-2109, 2007

9 CARMAN, V. G.; DELLACASA, R.; BRUNO, I.; INCHAURRAGA, M. C.; GAVENSKY, MOHAMED, N.; FAZIO, A.;

UHART, M.; ALBAREDA, D. Nuevos aportes a la distribuición de tortugas marinas em la Província de Buenos Aires y

Norte de la Patagonia Argentina. In: III JORNADA DE CONSERVACIÓN E INVESTIGACIÓN DE TORTUGAS

MARINAS EN EL ATLÂNTICO SUR OCCIDENTAL. Libro de Resumens. Piriápolis, Uruguay. 54. 2007.

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tartarugas e/ou tipo do habitat (ROSS, 1985; BJORNDAL 1980, GARNETT et al. 1985,

BRAND-GARDNER et al. 1999).

A tartaruga-verde é o único réptil que se alimenta de grama marinha (“seagrass”),

sendo sua maior consumidora em águas tropicais e subtropicais (BJORNDAL, 1980). As

gramas marinhas são angiospermas que crescem somente em ambientes marinhos e sua

extensão global, embora não definida com exatidão, parece ser de 0,6 x 106 km

2 (CHARPY-

ROUBAUD; SOURNIA 199010

apud DUARTE, 2002). Essas angiospermas tem papel

fundamental em ecossistemas costeiros: tem elevada produção primária, capturam carbono da

atmosfera, participam da ciclagem de nutrientes, são fonte de alimento nas teias alimentares

costeiras e servem como habitat para micróbios, invertebrados e vertebrados. Atualmente as

gramas marinhas encontram-se ameaçadas por fatores diretamente relacionados às praticas

humanas, como a pesca, a aquicultura e a efeitos diretamente relacionados com construções

realizadas nas áreas costeiras (associadas a alterações nos padrões de transporte de

sedimentos, aumento da erosão e acúmulo de sedimento ao longo da costa próxima a

construção), bem como por impactos humanos indiretos, como as alterações nas temperaturas

globais e aumento do nível do mar (DUARTE, 2002).

A dieta de tartarugas-verdes juvenis também pode ser composta de material animal

(geralmente invertebrados), podendo ser ocasional, com ingestão de material animal aderido

às algas e gramas marinhas. O que pode comprovar o fato dessa alimentação ser ocasional é a

baixa abundância de material animal encontrado nos conteúdos do sistema digestório

analisados (CASTELL, 2005). Mas esse consumo de material animal pode ocorrer devido às

oportunidades presentes no local da alimentação, desde que os invertebrados estejam em

elevada abundancia. Ainda sobre o consumo de material de origem animal, pode-se supor que

este complemente a dieta herbívora (SEMINOFF et al., 2002), contribuindo para a obtenção

de vitaminas, minerais e aminoácidos essenciais para as tartarugas (BJORNDAL et al. 199011

apud CASTELL, 2005; Hirth et al. 199212

apud CASTELL, 2005).

Um item alimentar bastante consumido pelas tartarugas-verdes são as águas vivas

(CASTELL, 2005), como já foi constatado na Grande Barreira de Coral, na Autrália

10 CHARPY-ROUBAUD, C.; SOURNIA, A. The comparative estimation of phytoplanktonic and microphytobenthic

production in the oceans. Marine Microbial Food Webs, v. 4, p. 31–57, 1990.

11 BJORNDAL, K. A.; BOLTEN, A. B.; MOORE, J. E. Digestive fermentation in herbivores: effect of food particle size.

Physiological Zoology, n. 63, p. 710–721, 1990.

12 HIRTH, H. F.; HUBER, M. T.; FROHM; MALA, T. A natural assemblage of immature green (Chelonia mydas) and

hawksbill (Eretmochelys imbricata) turtles on the fringing reef of Wuvulu Island, Papua New Guinea. Micronesica, n. 25, p.

145–153, 1992.

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13

(BUSTARD, 197213

apud CASTELL, 2005). Portanto, sabe-se que as medusas e algas estão

entre os elementos consumidos pelas tartarugas-verdes e, como os movimentos desses itens

são semelhantes aos de dejetos plásticos dentro da água, as tartarugas-verdes muitas vezes

podem ingerir acidentalmente esses resíduos por confundi-los com seu alimento usual

(BUGONI et al., 2001; MELO et al, 2010), mostrando que a presença de lixo nos oceanos

pode acarretar perigos aos animais marinhos, incluindo as tartarugas.

Além dessa interação com o ser humano por meio da deposição de lixo nas praias e

oceanos, há também outras atividades que auxiliam o declínio no número de indivíduos de

tartarugas marinhas: a intensa coleta de tartarugas e ovos e fatores associados a atividade

pesqueira, como a captura incidental, colisão com os barcos pesqueiros (que podem causar

ferimentos e morte) e ingestão ou estrangulamento pela rede de pesca (BUGONI et al., 2001;

LÓPEZ- MENDILAHARSU et al., 2005a; WALLACE et al, 2010). Além disso, pode haver

a poluição e perda dos habitats costeiros com a construção de portos e outras atividades

marítimas (LÓPEZ-MENDILAHARSU et al., 2008; MONTAGUE, 2008).

Como descrito acima e, tendo em vista a lacuna de informações que ainda existe sobre

a alimentação de C. mydas, o presente trabalho avaliou as tartarugas-verdes encontradas

mortas nas praias de Ilhabela e Ubatuba, litoral norte de São Paulo, sendo este o primeiro

estudo de análise da dieta de tartarugas-verdes para o município de Ilhabela, ampliando o

conhecimento sobre o assunto na região. Os resultados de nosso trabalho são valiosos para

auxiliar a compreensão do comportamento alimentar exibido pelas tartarugas-verdes na região

do litoral norte Paulista, avaliar as ameaças a elas relacionadas e contribuir para a preservação

tanto da região de estudo como das espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no local,

através de ações conservacionistas e educação ambiental.

2. OBJETIVOS

O presente trabalho teve como objetivo o estudo da ecologia alimentar da espécie

Chelonia mydas (tartaruga-verde) nas praias de Ilhabela e Ubatuba, São Paulo,

complementando e adicionando informações sobre a ecologia alimentar de C. Mydas na

região do litoral norte paulista. Buscou-se descrever os componentes de sua dieta, revelando

os recursos alimentares mais consumidos pelos animais nessa região.

13 BUSTARD, H.R. Sea turtles: their natural history and conservation. Collins, London, p. 220, 1972.

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14

Esse estudo também objetivou tratar sobre a ingestão de material inorgânico e os

impactos que este consumo pode acarretar para as tartarugas-verdes no local estudado,

considerando que as informações a respeito dos impactos causados pelo “lixo marinho” sobre

a sobrevivência de tartarugas é escassa para o litoral brasileiro.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Locais de estudo.

O trabalho foi desenvolvido nos municípios de Ilhabela e Ubatuba, que fazem parte do

Litoral Norte do Estado de São Paulo (figura 1), região que se estende do município de

Bertioga - SP até a divisa do estado de São Paulo com o Estado do Rio de Janeiro, totalizando

uma área de 1.927,88 km² (SOUZA E LUNA, 2008).

Figura 1. Mapa da área de estudo, evidenciando a região do litoral norte paulista.

Em Ilhabela o estudo esteve limitado à Ilha de São Sebastião, a maior ilha do

arquipélago de Ilhabela e a maior ilha do litoral sudeste brasileiro, com aproximadamente 336

km². Ela está localizada no litoral norte do Estado de São Paulo, a 220 km da capital e nas

coordenadas 23°51‟23”S e 45°19‟41”W (MARQUES; FORATTINI, 2005; YANO;

PERALTA, 2008). Juntamente com a Ilha de São Sebastião, as ilhas de Búzios, da Vitória e

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15

outras que integram a rede de Unidades de Conservação administrada pelo Instituto Florestal

da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, 85% do município de Ilhabela pertence ao

Parque Estadual da Ilhabela, totalizando cerca de 27.025 hectares de área (YANO;

PERALTA, 2008), enquanto a porção oceânica do município faz parte da Área de Proteção

Ambiental Marinha do Litoral Norte (APAMLN), setor Maembipe (VIANNA et al, 2011).

A Ilha de São Sebastião dista 2,5 km do continente e é separada pelo Canal de São

Sebastião (CSS), com extensão aproximada de 22 km (LIMA et al, 2008) e que possui

características ímpares, não só pela sua dimensão física, mas também por ser caracterizado

como um canal não estuarino, o que torna sua oceanografia física bastante específica (SILVA

et al, 2005).

Existem quatro massas de água que ocorrem no CSS durante o ano: massa de Águas

Costeiras, presente durante a maior parte do ano (SILVA et al, 2001); Águas Tropicais e

Águas Centrais do Atlântico Sul, ambas ocorrendo no verão, a primeira sendo uma massa de

águas quentes e a segunda de águas frias (SILVA et al, 2001; CAMPOS et al, 199614

apud

OLIVEIRA; MARQUES, 2007); e Águas Costeiras do Sul, que apenas ocasionalmente

adentra o CSS, nos meses mais frios. No inverno, as correntes de água tem fluxo

predominante para o NE (CASTRO-FILHO, 1990) e nos demais períodos do ano as correntes

sofrem reversões frequentes de sentido a cada dois a quatro dias (SILVA et al, 2001). Essa

dinâmica sazonal das massas de águas no canal possui grande influência na biota marinha do

local (OLIVEIRA; MARQUES, 2007).

Foi durante a década de 70 que Ilhabela passou a ser bastante procurada pelos turistas.

O aumento do fluxo de turismo trouxe benefícios para o município, mas também alguns

impactos ambientais e para a vida dos caiçaras. Hoje a pesca artesanal está bastante

dificultada, seja pelo fechamento das praias com a construção de casas de veraneio muradas

ou pela diminuição do pescado, causada por impactos ambientais como a pesca predatória e

derramamentos de petróleo no mar (CALVENTE, 1999).

Em Ubatuba (44º48‟ W e 23º22‟ S) o estudo se estendeu por todas as praias do

município, cuja área terrestre está inclusa no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo

Picinguaba (SANCHEZ et al, 1999), e área marinha dentro da Área de Proteção Ambiental

Marinha do Litoral Norte, setor Cunhambebe (VIANNA et al, 2011).

14 CAMPOS, E.J.D.; IKEDA, Y.; CASTRO, B.M.; GAETA, S.A.; LORENZZETI, J.A.; STEVENSON, M.R. Experiment

studies circulation in the western South Atlantic. Eos, Transactions American Geophysical Union, v. 77, n. 27, p. 253-259,

1996.

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16

As massas de águas encontradas na região de Ubatuba se assemelham àquelas

observadas em Ilhabela: Águas Costeiras, Águas Tropicais Água Central do Atlântico Sul

(CASTRO-FILHO et al, 1987).

Durante os últimos anos, está havendo uma crescente expansão dos investimentos do

ramo turístico na cidade de Ubatuba, com o aumento da introdução de produtos indesejados,

como esgoto doméstico não tratado, resíduos industriais e vazamento de óleos em águas

costeiras. Por esses fatores, Mantelatto e Fransozo (1998) sugerem que um monitoramento de

fatores químicos e físicos na região de Ubatuba tem elevada importância.

3.2 Procedimentos.

Em Ilhabela a coleta de material ocorreu de junho de 2013 a junho de 2014 e teve

início com um diagnóstico, a partir de informações obtidas através do contato com a

comunidade local, sobre quais praias são observados encalhes de tartarugas. Esse contato foi

mantido ao ser entregue um cartaz com informações sobre a pesquisa e contato telefônico,

bem como através de conversas que eventualmente ocorriam durante o trabalho, de modo que

os membros da comunidade avisavam caso encontrassem algum animal, contribuindo, dessa

forma para a amostragem. Alguns cartazes de divulgação do projeto também foram fixados

em mercados, colônia e associação dos pescadores, clínicas veterinárias e Secretaria do Meio

Ambiente do município.

A partir das informações obtidas nas conversas iniciais, foram realizados

monitoramentos de cinco praias onde existia maior ocorrência de encalhes: Portinho, Perequê,

Engenho d‟Água, Pedra do Sino e Prainha do Sérgio. Os monitoramentos foram conduzidos

semanalmente, geralmente no período da manhã, sendo as praias percorridas a pé.

Ao encontrar um animal encalhado, a biometria foi realizada de acordo com o método

adotado pelo Tamar-ICMBio, no qual foram tomadas medidas de comprimento curvilíneo da

carapaça (CCC), largura curvilínea da carapaça (LCC) e peso, bem como foram coletados

data, hora, local e forma de captura (figura 2). As medidas de CCC foram utilizadas para a

separação de classes de tamanho, de 10 em 10 cm, com o objetivo de testar possíveis

diferenças nos hábitos alimentares da espécie. Foi também verificada a presença de parasitas,

epibiontes, fibropapilomas e qualquer tipo de ferimento e alterações encontradas

externamente e internamente ao animal.

A dissecação foi feita no local onde o indivíduo foi encontrado (figura 2). Primeiro

realizou-se uma abertura na parte lateral do plastrão, da porção axilar à inguinal, utilizando

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um bisturi, que também foi utilizado para abertura do sistema digestório, junto com uma

tesoura. Houve a coleta do material encontrado no interior deste sistema. Durante a dissecação

foi utilizado, como guia da anatomia interna das tartarugas marinhas, o trabalho realizado por

Wyneken (2001). Os itens encontrados foram colocados em frascos contendo formol 4%

devidamente identificados com o local, data e o número de campo do animal encontrado. As

carcaças dos animais, após as necrópsias, foram enterradas nas praias onde eles foram

encontrados.

Figura 2. Biometria e necropsia realizadas na praia do Perequê, Ilhabela-SP.

Em Ubatuba as coletas foram realizadas de janeiro de 2014 a junho de 2014, os

procedimentos foram relativamente diferentes, pois houve a colaboração da equipe da base do

projeto TAMAR. Devido à tradição deste projeto na cidade, a população já tem o hábito de

entrar em contato com a base sempre que um animal é encontrado, vivo ou morto, e não

houve necessidade de divulgação do projeto de pesquisa. Quando há ocorrências, a equipe do

TAMAR se desloca até o local onde a tartaruga foi encontrada e leva o animal para o centro

de veterinária que possui dentro das suas instalações. Os animais que chegavam mortos eram

congelados até o dia em que era feita a necropsia, geralmente uma vez por semana. O

veterinário responsável por este procedimento coletou o material encontrado no sistema

digestório e armazenava em frascos contendo formol 4% até os dias em que fomos a Ubatuba

buscá-los (um dia no mês de março, outro em maio e o último em junho).

A análise do material coletado inicialmente foi realizada no Centro de Biologia

Marinha da USP (CEBIMar), localizado em São Sebastião e, posteriormente no Laboratório

de Ecologia Química e Restauração Florestal (departamento Biologia/FFCLRP – USP). Para

a triagem dos materiais utilizou-se uma peneira com malha fina sob água corrente.

Posteriormente, esse material foi mensurado pelo método do volume de água deslocado

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utilizando provetas e beckers com diferentes medidas, de acordo com a quantidade de cada

amostra. Em seguida, identificou-se, com a utilização de lupa e microscópio, a maioria dos

itens alimentares até o menor nível taxonômico possível. Identificaram-se as algas marinhas

utilizando-se chaves de identificação (JOLY, 1967), e contamos também com o auxílio da

especialista Prof. Dra. Valéria Cassano (departamento de Botânica, Instituto de

Biociências/USP) . Depois de triado e identificado, o material foi devolvido ao frasco de

origem e mantido em formol a 4%.

Os resíduos inorgânicos eventualmente encontrados foram registrados de acordo com

a parte do trato digestório em que foram encontrados, mensurou-se o volume total encontrado

em cada amostra, igualmente ao que foi realizado com o material orgânico (com auxílio de

provetas e beckers), e mediu-se o tamanho de cada item separadamente utilizando uma fita

métrica. Em seguida, esses itens inorgânicos foram separados de acordo com cor, tamanho e

por tipo de resíduo.

Quando possível, foram identificadas as causas das mortes das tartarugas-verdes,

separadas em quatro categorias: afogamento/interação com a pesca, trauma/choque com

embarcação, afecção do trato digestório e indeterminado.

3.3 Análise dos resultados

Os animais foram separados em classes de tamanho da carapaça, a fim de se

estabelecer a qual fase de vida os animais estudados pertencem. A representatividade dos

itens alimentares encontrados foi estabelecida com base na frequência de ocorrência (FO%),

sendo:

FOO (%) = No de animais que ingeriram o item * 100

No total de animais

Com o objetivo de testar a diferença de alimentação entre os municípios de Ilhabela e

Ubatuba foi realizada uma análise de correspondência utilizando o pacote ca (NENADIC;

GREENACRE, 2007) do programa R (R DEVELOPMENT CORE TEAM 2012).

Os materiais inorgânicos encontrados foram analisados de acordo com abundância de

cada resíduo no total de conteúdos (a partir do numero de pedaços ingeridos), classificados de

acordo com cor, tipo de material e tamanho, seguindo a fórmula:

F (%) = No de pedaços em cada categoria *100

No total de pedaços

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Para testar as diferenças no número de pedaços ingeridos por classe utilizou-se teste

de frequência Qui-quadrado (X2) utilizando-se o programa R (R DEVELOPMENT CORE

TEAM 2012).

Também foi obtida a frequência de ocorrência de cada item em relação ao número de

tartarugas analisadas (FO%), calculada pela fórmula:

FOI (%) = No de animais que ingeriram o item * 100

No total de animais

Neste caso, também foi realizado o teste de frequência Qui-quadrado (X2), pelo

programa R (R DEVELOPMENT CORE TEAM 2012), para se testar a diferença entre as

categorias.

As causas de mortes dos animais foram analisadas de acordo com a porcentagem de

ocorrência de cada uma em relação ao total de indivíduos estudados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registrados 32 animais durante o desenvolvimento do presente trabalho. Em

Ilhabela, no período de 17 de junho de 2013 a 19 de junho de 2014, foram encontrados 15

indivíduos, dois da espécie Caretta caretta e os demais da espécie Chelonia mydas. É válido

ressaltar que, apesar de E. imbricata não ter sido encontrada em nosso estudo, há evidência de

sua ocorrência no município de Ilhabela, através do trabalho realizado por Fernandes (em fase

de elaboração).

Em Ubatuba, no período de 27 de janeiro de 2014 a 19 de junho de 2014, 17 animais

foram registrado, todos da espécie Chelonia mydas. Apenas seis dos animais encontrados em

Ilhabela estavam em bom estado de conservação e os conteúdos digestivos foram coletados,

os dois indivíduos da espécie Caretta caretta apenas foram registrados como ocorrências de

encalhe, seis indivíduos da espécie Chelonia mydas possuíram seu interior oco e um deles foi

encontrado vivo, e por esses motivos não houve coleta de conteúdos dos sistemas digestivos.

Os animais registrados para o município de Ubatuba estavam todos em boa condição de

preservação e tiveram seus conteúdos coletados, os animais que estavam com seu sistema

digestivo repleto apenas de material inorgânico foram destinados, pelo projeto TAMAR, para

outros estudos.

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A média do tamanho das carapaças dos animais para os dois municípios (excluindo os

da espécie Caretta caretta que não entraram neste estudo) foi de 39,21 cm, variando de 30,2

cm a 74 cm, com desvio padrão de ± 7,79 cm, representados em classes na Figura 3. Quase a

totalidade dos animais (30 indivíduos) possuía comprimento entre 30 cm e 49 cm, sendo

classificados como juvenis de acordo com Bjorndal (1996). Apenas um animal possuía

medida de carapaça na categoria entre 70 cm e 79 cm. A média dos pesos foi de 8,19 kg, com

o menor peso igual a 4 kg e o maior uma estimativa de cerca de 50 kg (não houve medida

exata, pois ultrapassava o peso máximo da balança). Em sete dos animais registrados o peso

não foi determinado, pois estes se encontravam em estado avançado de decomposição e o

peso não correspondia ao real valor.

O fato da maioria dos animais estudados serem juvenis pode estar associada aos

nossos locais de estudo terem sido identificados como áreas de alimentação de tartarugas-

verdes que estão nesta fase do ciclo de vida.

Figura 3. Classes de tamanho das tartarugas-verdes coletadas em Ilhabela e Ubatuba, separadas em

classes pelo comprimento curvilíneo de carapaça (CCC).

O volume total analisado foi de 2973 mL, sendo a média de volume ingerido por

animal igual a 123,875 mL, com desvio padrão de ±123,2 mL. Deste volume, 1690 mL foram

correspondentes a matéria orgânica encontrada no Esôfago e Estômago e aproximadamente

dois mL de matéria inorgânica nesses mesmos órgãos, no intestino foram analisados 1262 mL

de matéria orgânica e, aproximadamente, 19 ml de inorgânica. O volume na categoria dos

materiais inorgânicos não é um número exato, pois alguns deles ficaram na categoria “menor

0

5

10

15

20

25

30 - 39 cm 40 - 49 cm 50 - 59 cm 60 - 69 cm 70 - 79 cm

mer

o d

e in

div

ídu

os

Classes de tamanho

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que um mL”, já que os instrumentos disponíveis para as análises não permitiam medir

volumes menores que um mL.

No material analisado, alguns itens permaneceram sem serem identificados, por

estarem muito fragmentados, devido aos processos digestivos ou por pertencerem a grupos

para os quais chaves de identificação não estavam disponíveis. Entre os itens identificados

foram classificados em 11 categorias, discriminadas na tabela 1. Houve um predomínio dos

três filos de alga, sendo destaque os grupos de algas verdes (Clorophyta) e vermelhas

(Rodophyta), ambas com frequência de ocorrência igual a 82,6%. Para melhor visualização,

as frequências de ocorrência de cada item estão representadas na figura 4.

Tabela 1. Valores do número de tartarugas-verdes que ingeriram os itens e frequência de ocorrência

(FOO%) de cada um, nos municípios de Ilhabela e Ubatuba. Os valores em negrito indicam os recursos

que obtiveram maiores valores de frequência de ocorrência.

Categorias Item Número de animais que consumiram

o item FOO (%)

Algas Verdes

(Clorophyta) 19 82,6

Algas Pardas

(Phaeophyta) 17 73,9

Algas Vermelhas

(Rodophyta) 19 82,6

Grama Marinha

Halodule sp. 1 4,35

Halophila sp. 3 13,04

Material Vegetal

Terrestre 4 17,4

Material de origem

Animal

Água Viva 2 8,7

Bisso de Bivalve 2 8,7

Bryozoa (Amathia

sp.) 4 17,4

Bryozoa (diversos) 2 8,7

Crustáceo 1 4,35

Pena de ave 1 4,35

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Escama de Peixe 1 4,35

Outros animais 7 30,43

Conchas 7 30,43

Substrato

3 13,04

Parasitas

8 34,78

Não identificado

9 39,13

Material Inorgânico

11 47,83

Figura 4. Frequência de ocorrência (FOO%) de cada um dos itens encontrados nos conteúdos

digestivos das tartarugas-verdes registradas para os municípios de Ilhabela e Ubatuba.

Dentro dos três itens mais representativos (os três filos de algas), foram identificados

30 grupos de algas (tabela 2), oito até o nível de espécie, duas até família e 20 até gênero.

Houve predomínio de algas vermelhas, com 16 grupos diferentes e 53% de ocorrência (figura

5). Os gêneros com maior frequência de ocorrência (FOO) total foram Ulva sp. (78,26%) e

Pterocladiella sp. (56,53%) (tabela 2) (figura 6). Quando analisados de acordo com o

município de ocorrência dos animais estudados, os três gêneros mais frequentes variaram,

sendo que em Ilhabela o de maior frequência de ocorrência foi Ulva sp. (17,39%), seguida por

Dictyopteris sp. e Gelidiopsis sp. (ambas com FOO = 13,04%) e no município de Ubatuba os

mais frequentes foram Ulva sp. (60,87%) e Pterocladiella sp. (56,52%) (tabela 2) (figura 6).

0102030405060708090

FO

(%

)

Categorias

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23

Porém, a análise de correspondência entre as espécies de algas registradas e o local onde as

tartarugas-verdes foram encontradas, mostrou que a composição da dieta desses animais varia

muito pouco de um município para outro, apesar do tamanho e tempo de amostragem não

serem suficientes para uma conclusão definitiva (figura 7).

Figura 5. Ocorrência dos três filos de alga encontrados no conteúdo digestivo de tartarugas-verdes em

Ilhabela e Ubatuba.

Algas Verdes

30%

Algas Pardas

17%

Algas

Vermelhas

53%

Ocorrência dos diferentes grupos de algas

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Tabela 2. Número de tartarugas-verdes que ingeriram os itens dentro dos filos de algas e frequência de

ocorrência (FOO%), nos municípios de Ilhabela, Ubatuba e o valor total. Os valores em negrito

indicam os recursos que obtiveram maiores valores de frequência de ocorrência.

Classificação Item

Número total de

animais que

consumiram o item

FOO

(%)

Ilhabela

FOO

(%)

Ubatuba

FOO

(%)

total

Clorophyta

Bryopsis plumosa 2 0 8,7 8,7

Bryopsis sp. 5 8,7 13,04 21,74

Caulerpa sp. 2 0 8,7 8,7

Chaetomorpha

anteninna 1 0 4,35 4,35

Chaetomorpha sp. 6 4,35 21,74 26,09

Cladophora sp. 10 4,35 39,13 43,48

Codium sp. 3 0 13,04 13,04

Rhizoclonium sp. 2 4,35 4,35 8,7

Ulva sp. 18 17,39 60,87 78,26

Phaeophyta

Dictyota sp. 1 0 4,35 4,35

Dictyopteris

delicatula 3 8,7 4,35 13,04

Dictyopteris

plagiogramma 2 4,35 4,35 8,7

Dictyopteris sp. 10 13,04 30,44 43,48

Sargassum sp. 10 4,35 39,13 43,48

Rodophyta

Acantophora sp. 1 4,35 0 4,35

Bryocladia sp. 4 0 17,39 17,39

Chondracanthus sp. 5 0 21,74 21,74

Corallinaceae 1 4,35 0 4,35

Gelidiaceae 2 0 8,7 8,7

Gelidiopsis sp. 12 13,04 39,13 52,17

Gelidium sp. 2 0 8,7 8,7

Grateloupia sp. 3 0 13,04 13,04

Gymnogongrus sp. 2 0 8,7 8,7

Halymenia sp. 1 0 4,35 4,35

Hypnea musciformis 4 4,35 13,04 17,39

Hypnea sp. 5 0 21,74 21,74

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Tabela 2. Continuação.

Classificação Item

Número total de

animais que

consumiram o item

FOO

(%)

Ilhabela

FOO

(%)

Ubatuba

FOO

(%)

total

Rodophyta

Plocamium brasiliense 4 4,35 13,04 17,39

Pterocladiella

capillaceae 2 0 8,7 8,7

Pterocladiella sp. 13 0 56,52 56,52

Rhodymenia

pseudopalmata 4 4,35 13,04 17,39

Figura 6. Algumas das algas mais abundantes encontradas no conteúdo estomacal de

Chelonia mydas registradas no litoral de Ilhabela e Ubatuba. A: Ulva sp.; B: Pterocladiella

sp.; C: Cladophora sp.; D: Sargassum sp.. Fotos: Eduarda Romanini

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Figura 7. Diagrama de ordenação dos locais de ocorrência das tartarugas-verdes em relação ao

conteúdo do sistema digestivo. O eixo horizontal explica 20,55% da variação dos dados. Os

círculos representam as espécies de algas encontradas no conteúdo digestivo dos animais. Os

triângulos representam os locais onde as tartarugas-verdes foram encontradas, aqueles

seguidos de letra I representam as praias de Ilhabela e os seguidos de U as praias de Ubatuba.

Triângulos próximos representam que a dieta das tartarugas-verdes nas áreas é similar.

A dieta da tartaruga-verde juvenil é preferencialmente herbívora e esta é a única

espécie de tartaruga marinha a apresentar esse tipo de dieta (MÁRQUEZ, 1990; BJORNDAL,

1997; MORTIMER, 1982; ROSS, 1985). As C. mydas geralmente quebram as algas em

pequenos pedaços enquanto forrageiam, sendo que seus bicos possuem adaptações que

permitem este comportamento e são eficientes na utilização dos recursos vegetais frequentas

na alimentação desta espécie (BALAZS, 1980; SAZIMA; SAZIMA, 1983). Reisser e

colaboradores (2013) observaram que as tartarugas-verdes fazem movimentos com a boca

enquanto se alimentam, macerando o alimento com o bico córneo serrilhado, o que auxilia no

rompimento da parede celular das algas, liberando conteúdos celulares que são facilmente

digeridos na porção inicial do trato digestório.

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Soma-se a isto o fato do trato digestório das tartarugas-verdes possuir diversas

adaptações que possibilitem seu hábito alimentar herbívoro. Um sistema digestório longo,

associado com a ampliação da superfície de absorção de nutrientes é observada nessa espécie,

já que a digestão de seu alimento preferencial é difícil. Entre as especializações encontradas

pode-se destacar a presença do divertículo esofágico (reservatório ou câmara de fermentação),

padrão de pregueamento e das vilosidades variando ao longo da mucosa intestinal (maior área

de contato) e comprimento médio do intestino grosso maior que do intestino delgado

(MAGALHÃES et al., 2010). As tartarugas-verdes possuem uma fermentação intestinal

bastante ativa, com a digestão de fibras, realizada por uma rica microflora fermentadora no

intestino (BJORNDAL, 1985), sendo pelo menos tão eficiente quanto a dos ruminantes

(BJORNDAL, 1978). A microflora também auxilia na quebra da parede celular dos vegetais

ingeridos e liberação do conteúdo de fácil digestão (BJORNDAL, 1980).

Nossos dados confirmaram nossa hipótese de hábitos preferencialmente herbívoros

para os juvenis de tartaruga-verde encontrados nos municípios de Ilhabela e Ubatuba, com

uma dieta baseada principalmente no consumo de algas, fato já anteriormente observado para

o município de Ubatuba (SAZIMA; SAZIMA, 1983). Do mesmo modo, outros trabalhos

evidenciaram uma dieta baseada no consumo de macroalgas, entre eles os desenvolvidos no

Rio de Janeiro (AWABDI, 2013), reserva do Arvoredo em Santa Catarina (REISSER et al.,

2013), Baía do Espírito Santo (SANTOS et al., 2011), litoral norte do Rio Grande do Sul

(NAKASHIMA, 2008), Ceará (FERREIRA, 196815

apud NAKASHIMA, 2008), México

(SEMINOFF et al., 2002; LÓPEZ-MENDILAHARSU et al., 2005b; LÓPEZ-

MENDILAHARSU et al., 2008), Cerro Verde (CASTELL, 2005; LÓPEZ-

MENDILAHARSU et al., 2005a), Hawaii (ARTHUR; BALAZS, 2008), Austrália (LIMPUS

et al, 1992), Arábia (ROSS, 1985) e em Ra‟s Al Haddad (Oman) (FERREIRA et al., 2006).

Houve prevalência do consumo de Clorophyta e Rhodophyta, com destaque para Ulva

sp. e Pterocladiella sp.. Diversos outros estudos igualmente apresentaram as algas vermelhas

como grupo mais consumido (SAZIMA; SAZIMA, 1985; AWABDI, 2013; REISSER et al.,

2013; SEMINOFF et al., 2002; ARTHUR; BALAZS, 2008; FUENTES et al., 2006;

BRAND-GARDNER et al., 1999), enquanto as algas verdes apareceram como destaque em

apenas um dos trabalhos estudados (SANTOS et al., 2011). A alga verde Ulva sp. também foi

a mais amplamente consumida no Espírito Santo (SANTOS et al., 2011), Rio Grande do Sul

(NAKASHIMA, 2008) e Uruguai (CASTELL, 2005; LÓPEZ-MENDILAHARSU et al.,

15 FERREIRA, M. M. Sobre a alimentação da aruanã, Chelonia mydas Linnaeus, ao longo da costa do estado do Ceará.

Arquivos Estação Biologia Marinha Universidade Federal Ceará, v. 8, n. 1, p. 83-86, 1968.

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2005a). O gênero Pterocladiella sp. foi também comumente consumido em Santa Catarina

(REISSER et al., 2013) e no Rio de Janeiro tanto Ulva sp. quanto uma espécie de

Pterocladiella (Pterocladiella capilaceae) estiveram entre os itens alimentares mais ingeridos

(AWABDI, 2013).

É possível que o grande consumo de Rodophyta e Clorophyta esteja associado ao fato

de que estes grupos são mais abundantes na costa Brasileira do que Phaeophyta (388 espécies

de algas vermelhas, 167 de algas verdes e 88 de algas pardas) (DE OLIVEIRA et al., dados

não publicados). O município de Ubatuba segue essa distribuição, com algas vermelhas sendo

encontradas em maior quantidade (41 espécies) (MACHADO et al., 2007; PEREIRA, 2007),

seguida pelas algas verdes (23 espécies) e por fim as algas pardas (12 espécies) (MACHADO

et al., 2007). Já em Ilhabela, as Rodophyta também são mais abundantes (36 espécies), mas

Clorophyta e Phaeophyta possuem quase a mesma diversidade (10 e 12 espécies,

respectivamente) (DE LAQUILA, 2006). Reisser e colaboradores (2013) e López-

Mendilaharsu (2005b/2008) também acreditam que a maior ocorrência de Rodophyta entre os

itens alimentares possa ser reflexo da alta abundância/diversidade deste grupo nos locais

estudados por eles. É valido ressaltar que a distribuição das algas na costa do Brasil é

resultante de fatores históricos e biogeográficos, das características das massas de águas,

disponibilidade de substrato consolidado, contato com grande volume de água doce e

interações bióticas (DE OLIVEIRA et al., dados não publicados).

Apesar de Ilhabela e Ubatuba, quando analisadas separadamente, apresentarem

diferentes algas como principais itens alimentares, o resultado da análise de correspondência

evidenciou que a dieta varia muito pouco entre os municípios. No estudo de López-

Mendilaharsu e colaboradores (2005b) dois locais foram amostrados, a Baía de Magdalena e a

costa do Pacífico adjacente, foram encontradas diferenças entre as espécies consumidas,

sendo que este contraste pode refletir diferenças na composição e diversidade da vegetação

marinha nas duas regiões, bem como um uso diversificado dos dois locais distantes poucos

quilômetros um do outro. Sendo assim, como em nosso estudo a diferença entre os locais

estudados foi muito pequena, é possível que os dois municípios possuam composição vegetal

e uso pelas tartarugas-verdes bastante semelhante. A ausência de diferença também pode estar

relacionada à proximidade dos dois locais, pois já foi sugerido que a área de vida para

algumas tartarugas-verdes que se alimentam de alga no ambiente nerítico brasileiro pode ser

ampla, atingindo cerca de 90 km de costa (GODLEY et al., 2003).

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A dieta preferencialmente herbívora também foi encontrada no litoral do Paraná

(GUEBERT, 2008) e em Cananéia (DO VALE, 2009), mas não houve predomínio de

ingestão de algas. No primeiro estudo encontrou-se um maior consumo de gramas marinhas

(Halodule wrightti) e no segundo destacou-se a ingestão não só de grama marinha, mas

também de propágulos de mangue. Em Cananéia, Nagaoka (2010) confirmou o encontrado

por Do Vale (2009), evidenciando a dieta herbívora baseada predominantemente em

angiospermas terrestres. Na Nicarágua (MORTIMER, 1981), ao norte da área de estudo,

houve predomínio de ingestão de grama marinha, enquanto ao sul, houve um predomínio de

algas vermelhas e na Austrália (FUENTES et al., 2006) a dieta encontrada baseava-se tanto

em algas como em gramas marinhas.

Alguns autores determinaram que as tartarugas-verdes alimentam-se seletivamente

(MORTIMER, 1981; SANTOS et al., 2011; DO VALE, 2009; FUENTES et al., 2006;

BRAND-GARDNER et al., 1999; BJORNDAL, 1980; LÓPEZ-MENDILAHARSU et al.,

2008), enquanto outros mostram que a dieta está ligada à disponibilidade e abundância dos

recursos alimentares (FORBES, 199616

apud ARTHUR; BALAZS, 2008; AWABDI, 2013;

CASTELL, 2005; FERREIRA et al., 2006; GARNETT et al., 1985, 2008).

Nagaoka (2010) encontrou que em um ambiente estuarino a dieta das tartarugas-

verdes aparenta ser determinada pela disponibilidade local, mas apresenta certa seletividade

por itens que proporcionem maior ganho nutricional. Dessa forma, as tartarugas-verdes

parecem consumir os alimentos de modo seletivo, mas também oportunista, selecionando

algumas espécies vegetais enquanto pastam, mas sendo influenciadas pela disponibilidade

local dos itens (ARTHUR; BALAZS, 2008).

Sazima e Sazima (1983) observaram um comportamento de inspeção da vegetação

enquanto as tartarugas-verdes pastam, o que pode ser uma evidência de escolha de alimento,

seja por necessidades nutricionais, palatabilidade ou composição calorífica. A preferência por

determinados recursos também foi evidenciada por Guebert (2008), sendo que na ausência do

alimento preferido as tartarugas-verdes tornam-se oportunistas e generalistas, utilizando os

alimentos que estão em maior abundância. Desse modo, no litoral paranaense observou-se que

existe sazonalidade na alimentação das tartarugas-verdes, na qual o alimento preferido (grama

marinha Halodule wrightii) é consumido principalmente no verão, quando é abundante no

local, e nas demais estações do ano ele é substituído por outras fontes principais de alimento

16 FORBES, G. A. The diet and feeding ecology of the green sea turtle (Chelonia mydas) in algal-based coral reef

community. Ph.D. diss., James Cook University, Townsville, Australia. 1996.

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que passam a ser mais abundantes (propágulo de mangue e Ulva sp.). Sazonalidade também

foi encontrada na Bahía Magdalena (México), onde mudanças na preferência e diversidade da

dieta variaram com as mudanças sazonais da biomassa vegetal (LÓPEZ-MENDILAHARSU

et al., 2008).

Brand-Gardner e seus colaboradores (1999) acreditam que a ingestão preferencial de

determinados alimentos pode estar ligada à composição nutricional dos mesmos: as espécies

com menor teor de fibras e maior quantidade de nitrogênio são mais frequentemente

selecionadas. É possível que as tartarugas-verdes escolham o alimento a ser ingerido com

base em características que demonstrem a idade ou saúde da planta, como dureza, suculência

textura ou sabor (MCDERMID et al., 2007). Bjorndal (1980) também propõe uma

seletividade baseada na composição dos alimentos, existindo preferência por aqueles com

maior conteúdo proteico e menores quantidades de lignina; estas últimas associadas com

melhor digestabilidade dos vegetais. Esta autora também propõe que a microflora intestinal

das tartarugas-verdes é responsável pela seletividade alimentar encontrada nesses animais,

resultando que tartarugas que se alimentam de algas possuem uma microflora muito diferente

daquelas que consomem grama marinha e a passagem de um tipo de alimentação para outra

requer uma mudança drástica da flora intestinal.

As algas mais amplamente consumidas em nossas áreas de estudo, Ulva sp. e

Pterocladiella sp., provavelmente possuem características que levem a uma seletividade

positiva sobre elas, ou seja, essas características permitiriam que elas fossem mais procuradas

e consumidas. Sabe-se que as algas do gênero Ulva sp. possuem conteúdo proteico

relativamente alto (YAICH et al., 2011) e foi estabelecido que tanto Ulva sp. quanto

Pterocladiella sp. estão entre as algas consumidas pelas tartarugas-verdes no Hawaii que

possuem os maiores valores energéticos, carboidratos solúveis, proteínas, vitamina A e certos

minerais (MCDERMID et al., 2007), o que pode ser um indício de que nossa suposição sobre

a seletividade em nosso local de estudo esteja correta.

Desta forma, a dieta das tartarugas-verdes pode ser influenciada pela qualidade

(GUEBERT-BARTHOLO et al., 2011), palatabilidade (SAZIMA; SAZIMA, 1983;

BJORNDAL, 1980) e digestibilidade do alimento, uma vez que parecem evitar determinados

tipos mesmo que eles sejam abundantes na área. (SEMINOFF et al., 2002; LÓPEZ-

MENDILAHARSU et al., 2005b). Outros fatores que podem ter influência são as marés nas

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áreas de alimentação, presença de predadores (HEITHAUS; DILL, 200217

apud FUENTES et

al., 2006; HEITHAUS, 200518

apud FUENTES et al., 2006) e interação, positiva ou negativa,

entre indivíduos da mesma espécie. (FUENTES et al. 2006).

Nosso estudo também mostrou uma significativa frequência da ocorrência de ingestão

de componentes animais, resultado também obtido em outros trabalhos (DO VALE, 2009;

NAKASHIMA, 2008; REISSER et al., 2013, SEMINOFF et al., 2002; GARNETT et al.,

1985). Este resultado evidência que, apesar de preferencialmente herbívora, esses animais

ainda possuem dieta onívora (GUEBERT, 2008; NAKASHIMA, 2008; BARROS et al.,

2007; NAGAOKA, 2010; CARMAN et al., 2014), fato que pode indicar que as tartarugas-

verdes estudadas estão passando por um período de mudança de hábitos alimentares, do

carnívoro para herbívoro (NAKASHIMA, 2008), o que era de se esperar, pois esta alteração

de dieta geralmente acontece na fase da vida juvenil, em que estão os animais encontrados em

nosso estudo.

O consumo de material animal pode ocorrer de modo esporádico, com a ingestão dos

animais que estão aderidos às algas e a gramas marinhas (NAKASHIMA, 2008;), ou pode ser

propositalmente ingeridos por estarem em alta densidade (SEMINOFF et al., 2002; BARROS

et al., 2007) ou ainda como uma forma de obtenção de vitaminas e aminoácidos essenciais,

complementando a dieta herbívora (BJORNDAL, 199019

apud SEMINOFF et al., 2002;

HIRTH et al, 199220

apud SEMINOFF et al., 2002; GUEBERT-BARTHOLO et al., 2011).

A dieta onívora pode oferecer benefícios energéticos em migrações de longa distância

para outros locais de desenvolvimento ou acasalamento e a mudança para este hábito

alimentar pode ser decorrente das contribuições energéticas que ele prove, necessárias para

crescimento e chegada mais rápida na fase de maturidade sexual (AMOROCHO; REINA,

2007).

17 HEITHAUS, M. R.; DILL, L. M. Food availability and tiger shark predation risk influence bottlenose dolphin habitat use.

Ecology, v. 83, p. 480–491, 2002.

18 HEITHAUS, M. R. Habitat use and group size of pied cormorants (Phalacrocorax varius) in a seagrass ecosystem:

possible effects of food abundance and predation risk. Marine Biology, v. 147, p. 27–35, 2005. doi:10.1007/s00227-004-

1534-0

19 BJORNAL, K. A. Digestibility of the sponge Chondrilla nucula in the green turtle, Chelonia mydas. Bulleti of Marine

Science, v. 47, p. 567–570, 1990.

20 HIRTH, H. F.; HUBER, M.; FROHM, T.; MALA, T. 1992. A natural assemblage of immature green (Chelonia mydas)

and hawksbill (Eretmochelys imbricata) turtles on the fringing reef of Wuvulu Island, Papua New Guinea. Micronesica, v.

25, p. 145–153, 1992.

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Nos estudos desenvolvidos no extremo sul do Brasil (BARROS et al., 2007), na

Colombia (AMOROCHO; REINA, 2007) e na Argentina (CARMAN et al., 2014) os itens

mais consumidos foram os animais. Tal ingestão, que difere do comumente, pode ocorrer em

consequência da abundância das presas animais no ambiente, baixa concentração de algas e

ausência de pastos de angiospermas marinhas (AMOROCHO; REINA, 2007), acontecendo

seletivamente ou de modo acidental (BUGONI et al., 200321

apud NAGAOKA 2010).

Não foi possível determinar preferências alimentares e sazonalidade no consumo das

tartarugas-verdes em nossas áreas de estudo, pois o período de coletas de dados não é

suficiente para análises desse tipo. Seria fundamental desenvolver um levantamento da

cobertura vegetal marinha nos locais estudados, permitindo, dessa forma, melhor avaliação da

existência ou não de seletividade na ingestão das algas encontradas em nossa análise da dieta

de C. mydas.

Foram registrados, entre os 30 animais estudados, 12 indivíduos (40% dos animais)

com material inorgânico no conteúdo do sistema digestório (figura 8). No total foram

encontrados 114 fragmentos de resíduos, correspondendo a 21 mL, ou seja, 0,71% do volume

total encontrado no sistema digestório das tartarugas-verdes analisadas, com um volume

médio de ingestão de material inorgânico de 1,75 mL, mostrando que, no geral, o consumo foi

pequeno para todos os animais que continham resíduos no seu trato digestório. A maior

frequência de volume do material inorgânico foi encontrada na porção intestinal dos animais

estudados, com 90,48% do total de volume de itens ocorrendo neste órgão.

21 BUGONI, L.; KRAUSE, L.; PETRY, M. V. Diet of sea turtles in Southern Brazil. Chelonian conservation and biology,

v. 4, n. 3, p. 685-688, 2003.

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Figura 8. Material inorgânico encontrado no interior do trato digestório do animal 32,

encontrado no município de Ilhabela.

O conteúdo inorgânico foi classificado em quatro categorias: náilon, plástico, plástico

duro e barbante. Essas quatro categorias foram ainda discriminadas de acordo com tamanho e

cor, como pode ser observado na tabela 3, que mostra a quantidade de pedaços encontrados

em cada divisão e a frequência em que ocorrem em relação ao total de fragmentos ingeridos.

Os dados mostram que há maior quantidade de fragmentos coloridos, com frequência

de 54,38%, seguido pelos brancos com 26,32% e transparentes com 19,3% (X2= 23,5789,

g.l.= 2, p= 7,584x10-6

). Com relação ao tipo de material, o de maior quantidade foi o plástico,

categoria que inclui materiais maleáveis (incluindo pedaços de sacolas plásticas), com 42,1%

e seguido pelo plástico duro, cuja frequência é de 30,7% (X2= 28,807, g.l.= 3, p= 2,459x10

-6).

Esta segunda categoria de materiais plásticos inclui aqueles que não são dobráveis. Os

tamanhos entre um e cinco centímetros predominaram em mais da metade dos fragmentos

encontrados, com frequência de 53,51%, seguido por aqueles itens inclusos no tamanho de

zero a um cm, com 24,56% (X2= 55,8947, g.l.= 3, p= 4,424x10

-12).

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Tabela 3. Detalhes de cada categoria de material inorgânico encontrado, especificado pela cor

e tamanho, com valores representados pelo número de fragmentos e a frequência de ingestão

(F%).

Categorias Cor Tamanho Número de

Fragmentos F (%)

Náilon

(F= 18,43%)

Branco

(F= 4,39%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 3 2,63

5,1-10 cm 2 1,75

> 10 cm 0 0

Total 5 4,38

Transparente

(F= 0,88%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 0 0

5,1-10 cm 1 0,88

> 10 cm 0 0

Total 1 0,88

Colorido

(F= 13,16%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 10 8,77

5,1-10 cm 1 0,88

> 10 cm 4 3,5

Total 15 13,15

Plástico

(F= 42,10%)

Branco

(F= 13,16%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 12 10,52

5,1-10 cm 3 2,63

> 10 cm 0 0

Total 15 13,15

Transparente

(F= 15,78%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 14 12,28

5,1-10 cm 4 3,5

> 10 cm 0 0

Total 18 15,78

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Tabela 3. Continuação.

Categorias Cor Tamanho Número de

Fragmentos F (%)

Plástico

(F= 42,10%)

Colorido

(F= 13,16%)

Até 1 cm 1 0,88

1,1-5 cm 11 9,65

5,1-10 cm 3 2,63

> 10 cm 0 0

Total 15 13,16

Plástico Duro

(F= 30,7%)

Branco (F= 0%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 0 0

5,1-10 cm 0 0

> 10 cm 0 0

Total 0 0

Transparente

(F= 2,63%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 3 2,63

5,1-10 cm 0 0

> 10 cm 0 0

Total 3 2,63

Colorido

(F= 28,07%)

Até 1 cm 27 23,68

1,1-5 cm 5 4,39

5,1-10 cm 0 0

> 10 cm 0 0

Total 32 28,07

Barbante

(F= 8,77%)

Branco

(F= 8,77%)

Até 1 cm 0 0

1,1-5 cm 3 2,63

5,1-10 cm 2 1,75

> 10 cm 5 4,39

Total 10 8,77

Quando analisada a frequência de ocorrência de ingestão (tabela 4), os materiais

plásticos foram os mais ingeridos (FOI= 83,34%), seguidos pelo náilon (58,34%) (X2= 6,0435,

g.l.= 3, p=0,1095). Quanto à coloração, houve maior frequência de ocorrência do material

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colorido (83,34%), com os materiais brancos na sequência (75%) (X2= 1,75, g.l.= 2, p=

0,4169). Em relação ao tamanho, todos os animais que consumiram algum tipo de material

inorgânico ingeriram fragmentos com tamanho de um a cinco centímetros (FOI= 100%) e

66,67% consumiram fragmentos de cinco a dez centímetros (X2= 10,36, g.l.= 3, p= 0,01574).

Tabela 4. Número de tartarugas-verdes que consumiram cada item e a frequência de

ocorrência de ingestão de cada um deles.

Número de tartarugas-verdes FOI (%)

Categorias

Náilon 7 58,34

Plástico 10 83,34

Plástico duro 3 25

Barbante 3 25

Cor

Branco 9 75

Transparente 5 41,67

Colorido 10 83,34

Tamanho

0-1 2 16,67

1,1-5 12 100

5,1-10 8 66,67

>10 3 25

Tartarugas juvenis são mais vulneráveis aos detritos trazidos pelas correntes marinhas

(CARR, 1987b). Balazs (198522

apud BJORNDAL et al., 1994) também constatou que as

tartarugas juvenis tendem a consumir mais resíduos sólidos que as adultas, sendo que essa

tendência diminui com o aumento do tamanho corporal (PLOTKIN; AMOS, 199023

apud

BJORNDAL et al., 1994).

Constatamos em nossos resultados que a maior frequência de volume do material

inorgânico foi encontrada no intestino dos animais analisados, dado também encontrado nos

estudos de Bjorndal e colaboradores (1994) na Flórida, Rigon (2012) e Tourinho (2007) no

Rio Grande do Sul e Guebert (2008) no Paraná, indicando que estudos que analisam apenas

22 BALAZS, G. H. (1985). Impact of ocean debris on marine turtles: entanglement and ingestion. In: SHOMURA, R. S.;

YOSHIDA H. O. (eds). Proceedings of the Workshop on the Fate and Impact of Marine Debris, Nov. 1984, Honolulu,

Hawaii (), p. 387-429. US Dept. Commerce, NOAA Tech. Memo. NMFS, NOAA-TMNMFS-SWFS-54.

23 PLOTKIN, P.; AMOS, A. E (1990). Effects of anthropogenic debris on sea turtles in the northwestern Gulf of Mexico. In:

SHOMURA; R. S.; M. L. GODFREY (eds). Proceedings of the Second International Conference on Marine Debris, 2-7

April 1989, Honolulu, Hawaii, p. 736-743. US Dept. Commerce, NOAA Tech. Memo. NMFS, NOAA-TMNMFS- SWFS-

154.

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37

as porções iniciais do sistema digestório (esôfago e estômago) podem subestimar a ocorrência

de ingestão de resíduos inorgânicos (BJORNDAL et al., 1994).

Materiais plásticos, juntamente com redes de pescas, anzóis, vidros, borracha, estão

inseridos na categoria de lixo marinho, cuja definição inclui qualquer resíduo sólido que tenha

sido introduzido no ambiente marinho por qualquer fonte (COE et al., 199724

apud MELO et

al, 2010). Esses resíduos sintéticos são materiais que duram por longo tempo no ambiente, e

por isso se acumulam nos ecossistemas marinhos costeiros e podem trazer diversos prejuízos

para as espécies viventes nesses habitats (WERNECK et al, 2003). Além desses resíduos que

atingem o oceano, materiais tóxicos de diversas origens, como petróleo e esgoto também

contaminam as praias e os mares e podem prejudicar os ecossistemas locais (Freitas, 200325

apud MELO et al, 2010).

A origem dos materiais encontrados no trato digestório das tartarugas marinhas pode

ser difícil de determinar, já que é possível que eles sejam provenientes tanto de atividades

relacionadas ao mar quanto de origem terrestre. Os resíduos associados às operações baseadas

no mar estão vinculados às plataformas de petróleo e gás, navios cruzeiros e atividades

pesqueiras, que podem incluir linhas, anzóis e outros artefatos lançados ao mar (WILLIAMS;

SIMMONS, 199526

apud GUEBERT, 2008).

A durabilidade de muitos dos resíduos encontrados em nosso trabalho é muito grande,

como o náilon, que demora de 30 a 40 anos para degradar, e as embalagens plásticas cujo

período de degradação chega a 200 anos (GRIPPI, 2001).

Neste trabalho, a porcentagem de animais que possuíram material inorgânico em seu

trato digestório foi de 40%, maior que a porcentagem encontrada por Werneck e

colaboradores (2003) em Ubatuba (uma de nossas áreas de estudo), que registrou presença de

lixo em 34,11% das tartarugas estudadas. Essa porcentagem varia em cada local de estudo,

mas em diversos trabalhos há registro desse tipo de consumo. No litoral do estado do Paraná

foi registrada uma taxa de ingestão de material inorgânico por tartarugas-verdes igual a 72,5%

(GUEBERT, 2008), em Cananéia 70% dos animais possuía itens sólidos no seu trato

digestório (BEZERRA, 2014), no Rio de Janeiro esse valor foi de 22% (AWABDI et

24 COE, J.M.; ROGERS, D.B. Marine Debris: sources, impacts and solutions. Nova York: Springer-Verlag, 431 p., 1997

25 FREITAS, P.D., 2003. Interdisciplinaridade, pesquisas científicas, envolvimento da comunidade, parcerias e

monitoramento constante fazem de projeto brasileiro de proteção às tartarugas marinhas modelo internacional. Disponível

em: http://www.univerciencia.ufscar.br/

26 WILLIAMS, A. T. & SIMMONS, S. L. Sources and sinks of litter. In Coastal and Riverine Litter: Problems and effective

solutions. Marine Enviroment Manegement and training. Candle Cottage, Kempley, Glos., UK. p. 14-18. 1995

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al.,2013) e na Paraíba os dois animais analisados em 2004 apresentavam resíduos em seu

organismo (MASCARENHAS et al, 2004). No litoral do Rio Grande do Sul este número foi

de 60,5% em 2001 (BUGONI et al, 2001) e passou a 100% em 2007 (TOURINHO, 2007),

100% para o litoral norte e médio leste do Rio grande do Sul em 2011 (RIGON; TRIGO,

2011) e 90% para a mesma região no ano de 2012 (RIGON, 2012), mostrando que nos

últimos anos pode ter ocorrido um aumento na disponibilidade dos resíduos inorgânicos no

litoral sul brasileiro.

Um trabalho desenvolvido por Bjorndal e seu colaboradores na Flórida (1994)

registrou uma ocorrência de consumo de detritos em 56% das tartarugas estudadas,

relacionando a morte de pelo menos duas delas a essa ingestão. A ingestão de lixo humano

também causou a morte de 13,2% da C. mydas analisadas no litoral do Rio Grande do Sul

(BUGONI et al, 2001), 3 animais em Cananéia (BEZERRA, 2014) e em 4 no litoral

paranaense (GUEBERT, 2008). As mortes de tartarugas relacionadas com o consumo de

material inorgânico podem ser causadas por ruptura ou obstrução do trato gastrointestinal

(WERNECK et al., 2003; LAIST, 1987; BJORNDAL et al, 1994).

No caso da obstrução do sistema digestório, mesmo pequenas quantidades de detritos

ingeridos podem ser fatal (BJORNDAL et al, 1994; BUGONI et al, 2001) e é válido ressaltar

que as tartarugas ingerem lixo marinho com grande frequência, mas geralmente em pequena

quantidade (BJORNDAL et al, 1994), porém mesmo assim estes resíduos podem afetar as

tartarugas significativamente na absorção de toxinas se eles permanecerem no interior do trato

digestivo por um período de até quatro meses (LUTZ, 1990).

Além dos efeitos letais diretos da ingestão de detritos, existem aqueles sub letais, que

possuem consequências negativas potencialmente grandes nas populações de tartarugas

marinhas (BJORNDAL et al., 1994), são mais difíceis de serem estimados e mais frequentes

(LAIST, 1987). Entre os efeitos sub letais estão inclusos os danos mecânicos à parede do

sistema gastrointestinal (LUTZ, 1990; LAIST, 1987; RIGON, 2012), redução da eficiência da

alimentação (WERNECK et al., 2003; LUTZ, 1990; RIGON, 2012) e perda gradual da

atividade dos tecidos com o animal ainda vivo (MELO et al., 2010). Além disso, o lixo

marinho pode ocupar espaço no sistema digestório das tartarugas e dar a falsa sensação de

saciedade (GUEBERT, 2008). As tartarugas podem tornarem-se anêmicas, gases podem

acumular-se no trato digestório, o que gera flutuabilidade positiva, tornando-as mais

vulneráveis, podendo ser atingidas por embarcações, e aumentando as chances de prenderem-

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se em redes de pesca (GUEBERT, 200427

apud GUEBERT, 2008), o que as impede de subir

para respirar e, dessa maneira, acabem morrendo afogadas.

Em nosso trabalho não houve um estudo sobre os efeitos sub letais da ingestão de

material inorgânico e a ausência de animais cuja morte esteve associada a este consumo de

detritos pode ser um dado subestimado, já que os animais provenientes da região de Ubatuba

que possuíam em seu interior somente resíduos inorgânicos foram destinados pela equipe do

Projeto TAMAR a outro projeto de pesquisa.

Diversos trabalhos também buscam entender se há preferência dos animais por

determinadas cores de resíduos. Os nossos resultados mostraram um maior consumo de

materiais coloridos (maior número de fragmentos), de maneira semelhante ao encontrado para

o estado do Paraná (GUEBERT, 2008), mas diferente do encontrado para o Rio Grande do

Sul (TOURINHO, 2007; BUGONI et al., 2001; RIGON; TRIGO, 2011; RIGON, 2012) e

Cananéia (BEZERRA, 2014). Em relação à frequência de ocorrência, nosso trabalho também

mostrou uma frequência maior de itens coloridos e, de acordo com este parâmetro, condiz

com o obtido por Rigon (2012) para o Rio Grande do Sul, no qual os materiais coloridos e os

brancos tiveram igual frequência.

Em seus experimentos, Lutz (1990) encontrou certa preferência por cores e uma baixa

taxa de aceitação para o plástico claro. Porém, Tourinho (2007) mostra não haver preferências

no momento da ingestão, sendo que os animais ingerem os resíduos conforme eles estão

disponíveis no ambiente. Bezerra (2014) também acredita que o consumo reflita

disponibilidade das cores no ambiente marinho e não preferência alimentar pela coloração dos

itens ingeridos.

Sobre o tipo de material ingerido pelas tartarugas, nossos resultados mostraram que o

item com maior frequência de fragmentos e de ocorrência foi o plástico, que também é um

resíduo muito comum nas praias e no mar (SANTOS, 200628

apud GUEBERT, 2008, CARR,

1987b). Balazs (198529

apud LUTZ, 1990) já destacava o plástico como material mais

ingerido pelas tartarugas marinhas, fato confirmado no litoral paranaense (GUEBERT 20008),

27 GUEBERT, F. M. Ecologia alimentar e mortalidade da tartaruga-verde, Chelonia mydas, no litoral do Estado do

Paraná. Monografia (Oceanografia). UFPR, Pontal do Paraná-PR. 36 f. 2004.

28 SANTOS H. F. Composição e estrutura da comunidade bêntica do entremarés rochoso da Ilha da Galheta, Baía de

Paranaguá, Paraná, Brasil. Monografia (Oceanografia). UFPR. Curitiba. 54 f. 2004

29 BALAZS, G. H. 1985. Impact of ocean debris on marine turtles: Entanglement and ingestion. In: SHOMURA, R. S.;

YOSHIDA H. 0. (eds). Proceedings of the Workshop on the Fate and Impact of Marine Debris, Nov 1984, Honolulu,

Hawaii, p. 387-429. U.S. Dep. Comer., NOAA Tech. Memo. NMFS, NOAA-TM-NMFS-SWFC-54

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nas praias de Cananéia (BEZERRA, 2014), na costa do Rio Grande do Sul (BUGONI et al.,

2001; TOURINHO, 2007; TOURINHO, et al., 2010; RIGON; TRIGO, 2011; RIGON, 2012),

no oeste da porção norte do oceano atlântico (WETZELL; TEAS, 1994) e na Flórida

(BJORNDAL et al., 1994).

Em seu trabalho, Laist (1987) aponta, entre os tipos de detritos plásticos que mais

ameaçam a vida marinha, as redes de pesca e fragmentos de rede, sacos de plástico, corda

sintética e linha, pequenos objetos de plástico, como os copos plásticos, que degradam em

pequenos fragmentos flutuantes e os chamados pellets, pequenas esferas de plástico bruto. No

trabalho que Bugoni e seus colaboradores (2001) desenvolveram no Rio Grande do Sul, os

materiais de maior ocorrência foram as sacolas e cordas plásticas. Outros estudos também

destacam, entre os itens mais encontrados após os plásticos, aqueles relacionados à pesca,

como redes, fios de nylon, entre outros, sendo que também há relatos de ingestão de óleo

pelas tartarugas-verdes (TOURINHO et al, 2010; BUGONI et al., 2001). Em nosso trabalho,

devido ao alto grau de degradação dos resíduos inorgânicos não foi possível determinar com

precisão a origem dos itens inorgânicos.

O grande destaque no consumo de plástico, tanto em nosso trabalho como nos demais,

pode ser decorrente do fato deste material ser o mais abundante lixo marinho no mundo

(DERRAIK, 2002; LAIST, 1987; IVAR DO SUL; COSTA, 2007; GREGORY; RYAN,

199730

apud RIGON, 2012), com proporção variando de 60-80% do total dos resíduos

encontrados no mar (GREGORY; RYAN, 199731

apud DERRAIK, 2002). Podem afetar 267

espécies em todo mundo: 86% das espécies de tartarugas, 44% de pássaros marinhos e 43%

de todas as espécies de mamíferos marinhos (LAIST, 199732

apud DERRAIK, 2002).

Plásticos são polímeros orgânicos sintéticos e um produto muito versátil, por isso houve um

grande aumento de seu uso nas ultimas três décadas, estando presentes no cotidiano de todas

as pessoas (HANSEN, 199033

apud DERRAIK, 2002; LAIST, 1987), como sacolas,

embalagens de diversos tamanhos e formatos, tampas, potes, garrafas, entre outros.

30

GREGORY, M. R.; RYAN, P.G. Pelagic plastics and other seaborne persistent synthetic debris: a review of Southern

Hemisphere perspectives. In: COE, J. M.; ROGERS, D. B. (eds.). Marine Debris–– Sources, Impacts and Solutions.

Springer-Verlag, New York, 1997, p. 49–66.

31 GREGORY, M. R.; RYAN, P.G. Pelagic plastics and other seaborne persistent synthetic debris: a review of Southern

Hemisphere perspectives. In: COE, J. M.; ROGERS, D. B. (eds.). Marine Debris–– Sources, Impacts and Solutions.

Springer-Verlag, New York, 1997, p. 49–66.

32 LAIST, D.W. Impacts of marine debris: entanglement of marine life in marine debris including a comprehensive list of

species with entanglement and ingestion records. In: COE, J. M.; ROGERS, D. B. (eds.), Marine Debris––Sources, Impacts

and Solutions. Springer-Verlag, New York, 1997, p. 99–139.

33 HANSEN, J. Draft position statement on plastic debris in marine environments. Fisheries, v. 15, p. 16–17, 1990.

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Dentro da categoria dos plásticos, encontramos maior frequência (de fragmentos e de

ocorrência) dos plásticos moles, seguido dos plásticos duros. Estes resultados estão de acordo

com o observado por Rigon e Trigo (2011) e Tourinho (2007) e os dados de frequência de

ocorrência de Rigon (2012) e Bezerra (2014), mas diverge dos resultados destes últimos

trabalhos, quando analisada a quantidade de itens ingeridos dentro de cada categoria. Mesmo

com a correspondência de resultados, é possível que a quantidade e a frequência de ocorrência

de cada categoria estejam mais relacionadas à disponibilidade de cada item, do que a uma real

seletividade das tartarugas-verdes.

Assim sendo, em nosso caso, seria interessante desenvolver um trabalho que mostre

quais são e quais as colorações dos materiais inorgânicos disponíveis na região estudada, para,

dessa forma, conseguirmos determinar se existe ou não seletividade na ingestão de resíduos

inorgânicos.

Os materiais encontrados em nosso trabalho eram, em sua grande maioria, de tamanho

pequeno, assim como o encontrado por Guebert (2008). Objetos maiores podem ser

quebrados ao longo do tempo até um tamanho ingerível (LAIS, 1987) ou estes pequenos

fragmentos podem ser resultado da atividade das tartarugas mastigarem e cortarem os

resíduos no momento da ingestão (GUEBERT, 2008), portanto estes pequenos pedaços

podem ter sido ingeridos já bastante fragmentados ou o processo de fragmentação pode ter

ocorrido no interior do trato digestório (BEZERRA, 2014). Essa ingestão de resíduos

inorgânicos pode ocorrer de forma acidental, ou seja, as tartarugas podem confundir o detrito

com seu alimento natural (GUEBERT, 2008; CARR, 1987b), como, por exemplo, as sacolas

plásticas que podem ser confundidas com algas e águas-vivas (CARR, 1987b; BUGONI et al.

2001; LAIST, 1987). Além disso, esses materiais podem ser consumidos juntamente com o

alimento flutuante na água (GUEBERT, 2008; CARR, 1987b; RIGON, 2012) ou podem estar

associados às pradarias de gramas marinhas, costões rochosos, enroscados nas algas ou

servindo de substrato para crescimento das algas que servem de fonte de alimento para as

tartarugas-verdes (GUEBERT, 2008).

Os resultados de Laist (1987) sugerem que muitas espécies podem interagir e serem

atraídas para os resíduos como resultados de padrões normais de comportamento (como a

busca de alimentos), com as espécies migratórias ou aquelas que forrageiam em áreas amplas

sendo mais afetadas. Também já se foi demonstrado que as tartarugas-verdes e cabeçudas não

discriminam o plástico da comida no momento em que estão se alimentando, bem como

procuram e consomem ativamente materiais inorgânicos, sendo que quando estes animais

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estão com fome ingerem qualquer item, que tenha tamanho e consistência apropriados, até a

saciedade (LUTZ, 1990).

Ainda em relação à ocorrência de ingestão de resíduos, Rigon (2012) supõe haver a

relação entre disponibilidade do material inorgânico e seu consumo pelas tartarugas marinhas.

Caso exista falta de alimento ou a diminuição dele pela sobrepesca, as tartarugas vão se

alimentar do que estiver disponível, que na região estudada por essa autora seriam os resíduos

sólidos abundantes.

As causas da morte foram determinadas para 83% das tartarugas-verdes estudadas,

sendo que o principal fator que acarretou estas mortes foi o afogamento, ocasionado pela

interação com a pesca, com 61% dos animais vindo a óbito por este motivo (figura 9). Pode-

se perceber que a grande maioria dos animais (70%) morreu de alguma forma associada às

atividades humanas, não só pela pesca, mas também pelo choque com embarcações e

ferimentos provocados pelas redes de pesca. Os animais que não tiveram sua causa mortis

identificada (17%) encontravam-se já no início da decomposição ou não possuíam

características que, durante a necropsia, permitissem a identificação desta causa.

Figura 9. Causas das mortes das tartarugas-verdes encontradas nos municípios de Ilhabela e

Ubatuba, mostrando a porcentagem de indivíduos em cada categoria em relação ao total de

animais estudados que tiveram sua causa de morte determinada (N=23).

A observação de que a grande maioria das mortes está associada com alguma ação

humana condiz com constatado por Seminoff e seus colaboradores (2003). Esses autores

61% 9%

17%

13%

Causas das mortes das tartarugas-verdes estudadas

Afogamento/interação com apesca

Trauma/choque comembarcação

Indeterminado

Afecção do trato digestório

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mostraram que a causas de morte dos juvenis podem ser tanto naturais quanto associadas com

fatores antrópicos, com a prevalência desta segunda categoria, sendo que no momento no qual

as tartarugas-verdes deixam uma área protegida e tornam-se expostas às atividades humanas,

sua probabilidade de sobrevivência diminui (BJORNDAL et al 2003).

A pesca incidental, de maneira semelhante ao encontrado neste trabalho para os

indivíduos estudados, é reconhecidamente a maior ameaça antrópica a todas as sete espécies

de tartarugas marinhas (WALLACE et al, 2010; MAGNUSON et al, 199034

apud EPPERLY

et al, 1996, MARCOVALDI et al, 2002). Alguns fatores podem influenciar na probabilidade

da interação destes animais com os artefatos de pesca. No caso da rede de emalhe, por

exemplo, o tamanho da malha utilizada, o local onde ela é colocada e o tempo em que a rede é

deixada na água podem alterar a probabilidade de captura e morte do animal (PUPO et al,

2006). Diversas ocorrências de tartarugas presas a equipamentos de pesca estão associadas ao

baixo esforço na observação destes (WALLACE et al, 2010) e Guebert (2008) aponta uma

relação entre o tamanho da malha da rede ser pequena e a captura desses animais somente na

fase juvenil, podendo ser considerada uma forma de mortalidade seletiva em sua área de

estudo (Baía de Paranaguá).

No Brasil, Marcovaldi e seus colaboradores (2006) identificaram 18 categorias de

pescas que possuem interação com esses as tartarugas marinhas, sendo maior número os tipos

costeiros (16 classes), e em menor quantidade as pescas de alto mar (duas categorias). As

redes de arrasto, espinhéis pelágicos e as redes de emalhe são as categorias de pesca

preponderantes na captura de tartarugas marinhas (BUGONI et al, 200835

apud ICMBIO –

INSTITUTO CHICO MENDES, 2011, MARCOVALDI et al., 2006). No litoral sul da Bahia,

Coelho (2009) observou que, dos encalhes que tiveram como causa a ação antrópica, a

maioria das mortes estava associada às redes de emalhe, fato também observado em nosso

trabalho, no qual 14 animais tiveram a morte relacionada às redes de emalhe, ou seja, 61% do

total de animais cuja causa de morte foi possível determinar. Um trabalho anterior também

desenvolvido em Ubatuba, teve a rede de emalhe como segundo método de pesca que mais

captura C. mydas, ficando o cerco-flutuante como o primeiro deles (GALLO et al, 2006).

34 MAGNUSON, J. J.; BJORNDAL, K. A.; DUPAUL, W D.; GRAHAM, G. L.; OWENS, D. W; PETERSON, C. H.;

PRITCHARD, P. C. H.; RICHARDSON, J. I.; SAUL G. E.; WEST. C. W. Decline of the sea turtles: causes and prevention.

Natl. Res. Council, Natl. Acad. Sci. Press, Washington, D.C., 1990, 190 p.

35 BUGONI, L; NEVES, T. S.; LEITE JR., N. O.; CARVALHO, D.; SALES, G.; FURNESS, R. W.; STEIN, C. E.; PEPPES,

F. V.; GIFONNI, B. B.; MONTEIRO, D. S. Potencial bicatch of sea birds and turtles in hook-and-line fisheries of the

Itaipava fleet, Brazil. Fisheries Research, v. 90, p. 217-224, 2008.

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Ainda, não é possível determinar se as tartarugas capturadas nos cercos entram neles

ao acaso ou à procura de alimento, mas é importante destacar que as tartarugas que ficam

presas nestes cercos não sofrem injúrias e são posteriormente liberadas com vida pelos

pescadores. Os cercos são importantes não somente em Ubatuba, mas em diversas outras

regiões do litoral brasileiro, como no Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia (NAGAOKA

et al, 2008).

Em Ilhabela, ainda não foi desenvolvido um trabalho que relacione a captura de

tartarugas marinhas com os tipos de pesca ali encontrados, mas sabe-se que as estratégias,

equipamentos e embarcações ali utilizados são característicos da pesca artesanal e há uma

variação nos apetrechos empregados, porém a rede de emalhe é o principal artefato usado,

seja nas comunidades oceânicas (RAMIRES et al, 2012) ou nas voltadas para o Canal de São

Sebastião (comunicação pessoal). Como as redes de emalhe estão entre as principais

categorias associadas à pesca incidental de tartarugas marinhas (BUGONI et al, 200837

apud

ICMBIO – INSTITUTO CHICO MENDES, 2011), caso não haja uma conscientização sobre

os riscos associados a captura desses indivíduos, é possível, caso novos estudos sejam

realizados, que se observe uma real associação entre os animais encontrados mortos e o tipo e

características de como a pesca está sendo realizada no litoral de Ilhabela.

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5. CONCLUSÃO

De acordo com as análises realizadas, pode-se concluir que a alimentação das

tartarugas-verdes em Ilhabela e Ubatuba é onívora, mas preferencialmente herbívora, com

maior consumo de algas, destacando-se os grupos Rodophyta e Clorophyta. Sugere-se que

para determinar a ocorrência de seletividade e sazonalidade dos itens ingeridos por C. mydas

sejam realizados estudos mais detalhados sobre as características químicas das algas mais

consumidas e a ocorrência delas na região.

Também foram registrados os impactos que a poluição marinha e a pesca possuem em

relação à tartaruga-verde, evidenciando uma necessidade de maior conscientização da

população local e visitante, através de atividades de educação ambiental, sobre a problemática

da conservação da espécie, que atualmente se encontra ameaçada de extinção.

Destaca-se que este trabalho foi pioneiro para o município de Ilhabela e pode, então,

ser utilizado como uma ferramenta adicional para a gestão de ambos os municípios estudados,

tendo em vista que estes se apresentaram como locais de alimentação de tartarugas-verdes e

devem ser percebidos como áreas prioritárias para proteção. A utilização desses dados visa a

conservação do local, da espécie e de todos os organismos associados ao habitat que as

tartarugas-verdes ocupam, podendo utilizar C. mydas como “espécie bandeira” nos projetos a

serem implantados destinados à preservação marinha.

É válido ressaltar que, devido ao tempo de estudo disponível ter sido curto e o número

amostral pequeno, a continuidade do trabalho por um período mais longo seria interessante

para corroborar os dados por nós encontrados e também preencher algumas lacunas do

conhecimento que não pudemos preencher por falta de dados.

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