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ServioPblicoFederal
UniversidadeFederaldoParInstitutodeFilosofiaeCinciasHumanas
ProgramadePsGraduaoemTeoriaePesquisadoComportamento
ECOLOGIADOCUIDADO:
EcologiadoCuidado:
Interaesentreacriana,oambiente,
osadultoseseuspareseminstituiodeAbrigo.
LliaIdaChavesCavalcante
BelmPar
Maro,2008
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ServioPblicoFederal
UniversidadeFederaldoParCentrodeFilosofiaeCinciasHumanas
ProgramadePsGraduaoemTeoriaePesquisadoComportamento
ECOLOGIADOCUIDADO:
EcologiadoCuidado:
Interaesentreacriana,oambiente,
osadultoseseuspareseminstituiodeAbrigo.
LliaIdaChavesCavalcanteTese apresentada ao Programa de PsGraduaoem Teoria e Pesquisa do Comportamento, daUniversidadeFederaldoPar,comorequisitoparcialpara obteno do Grau de Doutor em Teoria ePesquisadoComportamento.readeConcentrao:Ecoetologia.Orientadora:Prof.Dr.CelinaMariaColinoMagalhes
BelmPar
Maro,2008
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Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP) (Biblioteca de Ps-Graduao do IFCH/UFPA, Belm-PA)
Cavalcante, Llia Ida Chaves Ecologia do cuidado: interaes entre a criana, o ambiente, os adultos e seus pares em instituio de abrigo / Llia Ida Chaves Cavalcante ; orientadora, Celina Maria Colino Magalhes. - Belm, 2008 Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Par, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Programa de Ps-Graduao em Teoria de Pesquisa do Comportamento, Belm, 2008. 1. Crianas - Assistncia em instituies. 2. Crianas - Cuidado e tratamento. 3. Crianas - Desenvolvimento. 4. Educadores. I. Ttulo.
CDD - 22. ed. 155.4
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PraentenderoEr...TemquetmolequeTemqueconquistaralgumEaconscincialeve...OEr,acriana,sinceraconvicoFazendoavidacomoquesolnostraz.
OmundovistodeumajanelaPelosolhosdeumacriana..(CidadeNegraOEr)
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DEDICATRIA
scrianasdoEspaodeAcolhimentoProvisrioInfantil,
pravocseporvocsestetrabalho,porquenos
mostramtodososdiascomofazeravidacomoquesol
nostraz,mas,certamente,damaneiramaisamorosa,
corajosaeldicapossvel.
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AGRADECIMENTOS
Diante da impossibilidade de agradecer expressamente a cada um que colaborou com arealizao deste trabalho, o fao ento na figura de algumas pessoas que acompanharam demodoespecialolongocaminhopercorridoataqui,comapoio,estmulo,oraesecolaborao.Comgratidoeterna... Juliana,GiovannaeFranciscoCavalcante,minhas filhasemarido,porseremoqueso:meusamores,minhafamlia,minhasrazes,meumaioraprendizado:cadaumcarregaemsiodomdesercapazeserfeliz. Prof Dr CelinaMagalhes,minha orientadora, por ser (e ter querido ser)minha base desegurana, enquanto, com liberdade e avidez, aceito o convite para explorar o mundo dapsicologia,da (eco)etologia,enfim...omundo.Obrigada,por tudo.Mil vezes,obrigada.O teuolharmelhoraomeu...jdizumacano. urea Flix Souza, gerente do EAPI no perodo em que a pesquisa foi realizada, meusagradecimentos pelas portas abertas, o interesse e a disponibilidade que tornaram possvel odesenvolvimento deste trabalho. Em seu nome, agradeo os educadores, tcnicos, familiares,voluntrios,funcionriosdoabrigoemgeral,quediretaouindiretamentecolaboraramcomesteestudo,oferecendooquepodehaverdemelhor emns:disposiopara construirmosnovossabereseprticasacercadoquejconhecemosedoquejfazemos.AoMatheus,oEr,acriana,ascrianas,pormefazerentenderquecuidar(tambm)...segurarnamo,transpormuroseporteselevarpraverorio,apraiaeobarcoazul.Merci.Aos docentes do Programa de PsGraduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento daUniversidade Federal do Par, grata pela oportunidade de conviver com profissionais todedicadosecompetentesnaquiloqueescolheramfazereofazemmuitobem:debruarsesobreosenigmasdocomportamentoedodesenvolvimentohumano.Ao Prof. Dr. Fernando Pontes e Prof Dr Simone Silva, professores e amigos, obrigada,obrigada,obrigada,pelo respeito,pela confiana,mas, sobretudo,porme fazerem sonhar... Esonhar,bom!Celi Silva, amigaquerida, comquem vivencio (comomostra a literatura)o valordo cuidadomtuo, das relaes entre coetneos, das amizadesmaduras, uma experincia sempre rara edifcil,masquefaztobem. Laiane Corra, bolsista do Programa Iniciao de Cientfica PIBIC, por contribuir comsensibilidade,dedicaoecompetnciaparaarealizaodestetrabalho.Obrigada,querida. Daniele Lameira, Mirna Lisboa, Altair Klautau, Shirleny Santiago, Darlene Cardoso, SamiaLoraschi, Joo Pontes, profissionais e estudantes que colaboraram com a realizao destapesquisaemespaosetemposdiferentes.Muitoobrigada.
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RosanaBarros,SmiaMonteiro,ElianaChiaradia,PatriziaGarotti,FtimaTeixeira,entreoutrosamigoseparceiros,porcompartilharmosidias,realizaeseconquistas...Mas,principalmente,osonhodevertodacriananascer,cresceresedesenvolveremfamlia.Saibam,vocsestonaspginasdestetrabalho.AoDr.EdmarPereiraeLuizOtvioMoreira,MMJuzesdeDireitoda3VaraCvelda InfnciaeJuventude,ComarcadeBelm,porteremapoiadoarealizaodestapesquisa.LuizaLamaro,pelosdezanosdeamizadeecompanheirismoetantosoutrosqueaindaviro,porestarcomigo,mesmodistncia.memriadeStelaMenezes,lembranaeternaentrens,peloexemploemvidadededicaoaotrabalho em prolda convivncia familiar comoum direitode todos epara todos crianas eadultos.NelmaCecimesuaequipedetrabalho,RosaeLliam,porcuidaremdens.Aos meus familiares e amigos, irmos/, tios/as, primos/as, cunhados/as, sobrinhos/as,afilhados/asporteremestadoemminhavidadamelhorformaquealgumpodeseguirao ladodooutro:comprontidoecarinho.Obrigada.
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CAVALCANTE,LliaIdaChaves.Ecologiadocuidado:interaesentreacriana,oambiente,osadultose
seus pares em instituio de Abrigo. Belm, Par. 2008. 510 p. Tese (doutorado). Programa de Ps
GraduaoemTeoriaePesquisadoComportamento.UniversidadeFederaldoPar.
RESUMO
Ao longodossculos,crianas tmsidocuidadasem instituiesasilares,privadasdoconvvio familiarecomunitrio, submetidas a atendimentomassificado e despersonalizado. Em parte porque o cuidado crianaeminstituiodeabrigotidocomoumaimportantemedidasocialdeproteochamadainfnciaemrisco.Esteestudoanalisouaspectosdocuidadocrianaemabrigoinfantilapartirdeumaperspectivaecolgica, o que significa pensar em termos dos subsistemas que o constituem como contexto dedesenvolvimentodacriana,asaber,oambientefsicoesocial,apsicologiaeasprticasdoscuidadores.Otrabalhodiscuteaspectosdoacolhimentoeocuidadodecrianasdezeroaseisanosemumabrigopblicode Belm, entre 2004 e 2005.Os dados foram coletados pormeio de consulta a fontes documentais,aplicaodeescalaavaliao(ITERS/InfantToddlerEnvironmentRatingScale),entrevistasemiestruturadae observaes comportamentais. Os participantes foram todas as crianas acolhidas no perodoconsiderado,102educadorese19outros funcionriosdoabrigo,almde10 sujeitos focais com idadesentreumanoe11mesesetrsanosetrsmeses.Osprincipaisresultadospodemserassimrelacionados:1)Dototalde287crianas,9,4%faziamdoabrigoseulocaldemoradiadehumaseisanosemaisdeumteroforamencaminhadas instituiocommenosdeumanode idade(34,84%);2)Nouniversode102educadores, a maioria trabalhava no abrigo h no mximo 12 meses (75,48%), sendo que 45,09%consideravamquesuasexpectativasiniciaiscomotrabalhonoabrigonohaviamsidorealizadas,umavezquepoucaounenhumaorientao foradadaquandodoseu ingressona instituioepermaneciamsemsupervisoeapoio institucionalsatividadesdiriasapsoprimeiroano;3)Com relaoavaliaodoambiente,osresultadosapuradospela ITERSmostramque,emgrandemedida,oselementoscontextuaiscapazes deproporcionar cuidado estruturante e estvel criana no estavam sendo assegurados pelainstituio.Emquasetodosositensavaliados,verificasequeascondiesparaocuidadodecrianasnessafaixaetriasoinadequadasouminimamentesatisfatrias(escore1e2naescaladeavaliao);4)Noqueserefereaoscomportamentosobservadosapartirdas interaesdossujeitos focaiscomseusparceiros,foram registrados3.977 eventos,posteriormenteorganizados em tornodas seguintes categorias: apego(32,89%), cuidado (24,06%), brincadeira (18,64%), agresso (12,42%) e autotoque (11,99%). Aps aaplicaode testeestatstico (Quiquadrado),observasequea freqncia comqueos comportamentosforamemitidoseaquemelesforamdirigidossofreuforteinflunciadevariveiscomosexo,idade,tempodepermanncia, relaodeparentescoe tipodoambienteonde foramgerados.Esses resultados foramdiscutidosemtermosdasuafreqncianasinteraescrianacrianaecrianaadultoeasuarelaocomossubsistemasqueconstituemaecologiadavidainstitucional.Nombitogeral,osresultadosdesteestudodemonstraram o perfil das crianas cuidadas no abrigo traduz as condies de privao material eemocionalaqueestavamsubmetidas,porvezes,desdeonascimento.Oacolhimentoinstitucional,apesardesuprirempartesuasnecessidades fsicas,reduzaschancesdeatenosdemandasdeordemscioafetivaecognitiva,porumaconjunodefatorescontextuais investigados,comoosistemadeturnosdetrabalho,aproporocriana/adulto inadequada (superiora4:1),entreoutros.A literaturanacionalquereconheceas instituiesdeabrigocomoambientecoletivodecuidadoecontextodedesenvolvimentoaindainsipiente.Epoucosestudosinvestigamouniversorelacionalqueenvolvecrianaseeducadoresemambiente de abrigo. Outrossim, os resultados permitem notar que, semelhana do que mostra aliteratura, a ecologia do cuidadono abrigo reflete a existncia de condies aindapouco favorveis aodesenvolvimentoinfantil,comoregistrofreqentedeprticasdecuidadoemquehpoucocontatontimoe afetuoso, interaes contnuas e positivas, sensibilidade sdemandas de cada criana, embora sejammuitos os episdios envolvendo interaes em que a criana busca, estimula e propicia o cuidado emrelaoaosadultoseseuspares.
Palavraschave:crianainstitucionalizada;abrigo;ecologiadodesenvolvimentohumano;contextodedesenvolvimento;educadores;comportamentodecuidado.
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CAVALCANTE,LliaIedaChaves.EcologyofCare:interactionsamongthechild,theenvironment,theadults
and the peers in shelter institutions. Belm, Par 2008. 510p. (Doctorate Thesis). Programa de Ps
GraduaoemTeoriaePesquisadoComportamento.UniversidadeFederaldoPar.
ABSTRACT
Throughoutthecenturies,childrenhavebeencaredininstitutions,separatedfromlifeinfamilyandamongcomunity,submittedtomassandunpersonalizedcare.Partiallybecausechildcareinshelterinstitutionsisseen as an important socialmeasureofprotection towhatpeople call childhood in risk.This studyhasanalizedaspectsofchildcareinchildshelterfromanecologicalperspective,whatmeansthinkingintermsof subsystems that make it as context of child development, like social and physical environment,psychologyandpracticalofcaregivers.Theworkdebatesaspectsofwelcomingandcaretochildrenfromzerotosixyearsold inapublicshelter inBelm,amongtheyearsof2004and2005.Datawerecollectedthrough lookingupdocuments,applicationofassessmentscale (ITERS/InfantToddlerEnvironmentRatingScale),semistructuredinterviewandbehavioralobservations.Theparticipantswereallchildrenwhowereshelteredatthattime,102educatorsand19otherpeoplewhoworkedatthatshelterinstitution,beyond10focalsubjectswhowereamongoneyearand11monthsoldandthreeyearsandthreemonthsold.Themainresultscanberelatedthisway:1)From287children,9,4%reallylivedintheshelterfromonetosixyearsandmoreonethirdhadbeentakentotheinstitutionwhentheywerelessthanoneyearold(34,84%);2)Fromallthe102educators,themajorityusedtoworkattheshelterforatmost12months(75,48%),andfromthisamount45,09%consideredthatwhattheyexpectedatthebeginingabouttheworkintheshelterhadnotcametrue,onceafewornoneorientationhadbeengivenwhentheyfirstcameintotheinstitutionandtheyhadnthadneithersupervisionnorinstitutionalsupporttodailyactivitiesafterthefirstyear;3)Inrelationtotheenvironment,theresultscountedthroughITERSshowthatthecontextualelementsthatcangivestructuredandstablecaretothechildwerenotbeingassuredbytheinstitution.Inalmostallassesseditems,we verify that the conditions to children care in this age areneither appropriatednorminimallysatisfactory (score 1 and 2 in the assessment scale); 4) In relation to the observed behaviors frominteraction among the focal subjects and their partners, we registered 3.977 events, later organizedaccording to the following categories: attachment (32,89%), care (24,06%); play (18,64%); agression(12,42%)andselftouch(11,99%).Aftertheapplicationofstatisticaltest(squareQui),wecanobservethatthefrequencywithwhichbehaviorswereshowedandtowhotheyweredirectedtowasstronglyinfluencedbyvariables suchas sex,age, timeof remainingat the institution, relationshipandkindofenvironmentwheretheyhadbeengenerated.Theseresultsweredebatedintermsoftheirfrequencyiniterationschildchild and childadult and its relationshipwith subsystems that build the ecology of institutional life. Ingeneral,thisstudyresultsdemonstratedthattheprofileofchildrenwhohadbeentakencareatthesheltertranslatesthematerialandemotionalprivationconditionstowhichtheyhadbeensubmitted,sometimes,sincetheywereborn.Althoughthe institutionalcaresuppliespartiallytheirphysicalneeds, itreducesthechancesofattention to the social,affectiveand cognitiveneeds,becauseofa conjunctionofcontextualfactorsinvestigated,suchasshiftwork,theinappropriatedproportionofchildren/adults(morethan4:1),amongothers.Thenational literature thataccepts shelter institutionsasenvironmentsofcollectivecareanddevelopmentcontext isstillweak.Anda fewstudies investigatetherelationaluniversethat involveschildrenandeducatorsinshelterenvironment.Thus,theresultsallowustorealizethat,thesamewayourliteratureshows,theecologyofcareattheshelterreflectstheexistenceofconditionsstilllessfavorabletochild development, with frequent registration of care practices in which there is a few intimate andaffectionatecontact,continuousandpositiveinteractions,sensibilitytowhateachchildneeds,althoughwecanrealizemanyepisodesinvolvinginteractionsthatchildlooksfor,stimulatesanddemonstratethecareinrelationtoadultsandtheirpeers.Keywords:institutionalizedchild;shelterinstitution;ecologyofhumandevelopment;developmentcontext;caregivers;carebehavior.
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SUMRIO
CaptuloI.INTRODUO 02
1.1. O Cuidado Institucional: Conceitos, Modalidades e Implicaes para o
DesenvolvimentodaCriana.
02
1.2. OAbrigocomoInstituiodeCuidadoInfantileOutrasDefinies. 28
1.2.1. OAbrigocomopolticasocialemedidadeproteoespecialinfncia. 29
1.2.2. O Abrigo como instituio que reproduz traos das instituies totais ou
fechadas
34
1.2.3. OAbrigocomoambientecoletivodecuidado 36
1.2.4. OAbrigocomoinstituiodecuidadoinfantil 39
1.2.5.OAbrigocomocontextododesenvolvimentodacriana 42
1.3.AEcologiadoDesenvolvimentodaCrianaCuidadaemInstituiodeAbrigo. 44
1.3.1.AAnliseEcolgicadoDesenvolvimentoHumano 44
1.3.2. OambientefsicoesocialdoAbrigocomosistemaecolgico 55
1.3.3. ApsicologiadoscuidadoresnocontextoecolgicodeinstituiesdeAbrigo 58
1.3.4.Asprticasdoscuidadoresnaecologiadavidainstitucional 66
1.4. OComportamentodeCuidadonas InteraesCrianaCrianaem Instituiode
Abrigo.
70
1.4.1. Ainteraosocialnodesenvolvimentodacriana 70
1.4.2. Ouniversodasinteraescrianacriana 78
1.4.3. Asrazesdocomportamentoprsocialnainfncia 83
1.4.4. Ocomportamentodecuidadocomomodalidadedocomportamentoprsocial. 99
1.4.5. Ocomportamentodecuidadonodesenvolvimentodacrianainstitucionalizada 101
1.4.6. As formas de manifestao do comportamento de cuidado entre crianas
institucionalizadas
108
1.4.7. Propostadetrabalho 116
1.5. Objetivos 119
1.5.1.ObjetivoGeral 119
-
1.5.2.ObjetivosEspecficos 120
CaptuloII.MTODO 121
2.1.Caracterizaodainstituio 121
2.2.Participantes 130
2.3.Ambientefsico 132
2.4.Instrumentosemateriais 142
2.5.Procedimento 152
2.5.1. AutorizaojudicialeaprovaonoComitdetica 152
2.5.2. Reconhecimentodoambienteinstitucionaledossujeitosdapesquisa 153
2.5.3. Perododehabituao 153
2.5.4. ColetadeDados: 153
2.5.4.1. AplicaodaInfant/ToddlerEnvironmentRatingScaleITERS 153
2.5.4.2. Preenchimentodoformulrioparacaracterizaodascrianas. 154
2.5.4.3. Realizaodeentrevista com tcnicosdoSetorPsicossocialeSetorMdicoda
instituio.
157
2.5.4.4. Realizao de entrevista pessoal e estruturada com educadores, tcnicos e
outrascategoriasdefuncionrios.
158
2.5.4.5. Realizao de entrevista coletiva e focalizada com funcionrios do Setor
Pedaggicodainstituio.
159
2.5.4.6. Preenchimentodequestionriopelagernciaparacaracterizaoinstitucional 160
2.5.4.7. Realizaodassessesdeobservaodascrianasdefinidascomosujeitofocal 161
2.5.5. AnlisedosDados: 162
2.5.5.1. Anlisedosdadosreferentesavaliaodoambiente 162
2.5.5.2. Anlisedosdadosrelativoscaracterizaodascrianas 163
2.5.5.3. Anlisedosdados referentes aoperfile trajetriade trabalhodeeducadores,
tcnicoseoutrascategoriasdefuncionriosdoAbrigo
163
2.5.5.4. Anlisedosdadosobservacionaisecomportamentais. 164
Captulo III. AS CRIANAS CUIDADAS EM ABRIGO: CARACTERSTICAS SCIO
DEMOGRFICAS,PROCESSODEINSTITUCIONALIZAOECONDIODESADE.
178
3.1.Perfilsciodemogrficodascrianaseseuspais 178
3.2.Aspectosdoprocessodeinstitucionalizao 200
3.3.Condiodesade 215
-
Captulo IV. OSEDUCADORESDEABRIGO:ASPECTOSDAPSICOLOGIAEPRTICASDE
CUIDADOCRIANA.
233
4.1.Perfilsciodemogrficodoseducadoresdoabrigo 233
4.2.Aspectosdaformaoprofissionaletrajetriadetrabalho 245
4.3.AtividadesdesenvolvidascomascrianasnoAbrigo 258
4.4.Aspectossatisfatriosdotrabalho 262
4.5.Percepoacercadacondiopsicossocialdacrianainstitucionalizada,aspectosdo
seudesenvolvimentoerelaocomoscuidadores
273
4.6.Percepodoseducadoresacercadograudeinflunciadotrabalhonoabrigosobre
odesenvolvimentodacriana
285
4.7.Percepoacercadadimensoafetivadotrabalhocomcrianasemabrigo 289
Captulo V. O ABRIGO COMO AMBIENTE COLETIVO DE CUIDADO INFANTIL: UMA
AVALIAONECESSRIA
299
5.1.AvaliaodoAbrigocomoambientecoletivodecuidado:discutindo resultadosda
ITERS.
299
5.2. Satisfao pessoal de educadores, tcnicos e funcionrios de apoio com as
caractersticasdoambientefsicoesocialdainstituio
329
CaptuloVI.OCUIDADOEOUTRASCATEGORIASCOMPORTAMENTAISNA INTERAO
ADULTOCRIANAECRIANACRIANAEMINSTITUIODEABRIGO
361
6.1.Ascategoriascomportamentaisapego,cuidado,brincadeira,agressoeautotoquee
suas subcategorias: anlises das freqncias e episdios de interao com os sujeitos
focais
361
6.1.1.Freqnciadascategoriascomportamentaisporsujeitofocal 384
6.1.2. Freqncia das categorias comportamentais por sexo, idade, tempo de
permanncianoabrigodosujeitofocal
389
6.1.3.Freqnciadascategoriascomportamentaisportipodeinterao 392
6.1.4.Freqnciadascategoriascomportamentaisportipodereceptor 393
6.1.5. Freqncia das categorias comportamentais por tipo de resposta dada pelo
receptor
402
6.1.6.Freqnciadascategoriascomportamentaisportipodeambiente 403
6.2. O comportamento de cuidado e as subcategorias ajudar, brincar de cuidar, 408
-
entreter,estabelecercontatoafetuoso:anlisesdasfreqncias.
6.2.1.Freqnciadassubcategoriasdocomportamentodecuidadoporsujeitofocalou
agentedocuidado
409
6.2.2. Freqncia das subcategorias do comportamento de cuidado por sexo, idade,
tempodepermanncianoabrigodosujeitofocalouagentedocuidado
411
6.2.3.Freqnciadassubcategoriasdocomportamentodecuidadoportipodeinterao
dosujeitofocalcomseusparceiros
416
6.2.4.Freqnciadassubcategoriasdocomportamentodecuidadoportipodereceptor
oualvodocuidado
417
6.2.5. Freqncia das subcategorias do comportamento de cuidado de acordo com
caractersticasdoreceptoroualvodocuidado
421
6.2.6.Freqnciadassubcategoriasdocomportamentodecuidadoportipoderesposta
dadapeloreceptoroualvodocuidado
424
6.2.7.Freqnciadassubcategoriasdocomportamentodecuidadoportipodeambiente 426
ConsideraesFinais 429
RefernciasBibliogrficas 443
Anexos 467
-
LISTADETABELAS
Tabela1.Proporodecrianasporcaractersticassciodemogrficasdospais,segundodadoscoletadosnoEspaodeAcolhimentoProvisrioInfantil(EAPI).Belm,20042005.
190
Tabela2.Proporodecrianasporcaractersticasdamoradiadafamlia,segundodadoscoletadosnoEspaodeAcolhimentoProvisrioInfantil(EAPI).Belm,20042005.
197
Tabela3.Porcentagemdecrianasporcondiodesadeaonascimento,segundodadoscoletadosnoEspaodeAcolhimentoProvisrioInfantil(EAPI).Belm,20042005.
216
-
LISTADEGRFICOS
Grfico1.Porcentagemdecrianasporidadeemmesespocadoencaminhamentoaoabrigo
179
Grfico2.Porcentagemdecrianasporidade,segundosexo
180
Grfico3.Porcentagemdecrianasporlocaldenascimento
181
Grfico4.Porcentagemdecrianasporpessoadereferncianafamlia
183
Grfico5.PorcentagemdecrianascompaternidadereconhecidanoRegistroCivil
187
Grfico6.Porcentagemdecrianaspormotivoparaoabrigamento
201
Grfico7.Porcentagemdecrianasporidade,segundomotivodoabrigamento
204
Grfico8.Porcentagemdecrianasporidade,segundotempodepermanncianoabrigo.
206
Grfico9.Porcentagemdecrianasportadorasdedistrbiosedeficincias,segundomotivoparaoabrigamento
207
Grfico10.Porcentagemdecrianaspornmerodeirmos,segundocontextofamiliareinstitucional
208
Grfico11.Porcentagemdecrianasporpessoaqueavisitanoabrigo
210
Grfico12.Porcentagemdecrianaspordestinonoperododopsabrigamento
211
Grfico13.Porcentagemdecrianasporfiguradereferncianafamlia,segundoperodosdescritoscomoantes,duranteeapsoacolhimentopeloabrigo.
212
Grfico14.Porcentagemdecrianasportadorasdedeficinciaedistrbiosnodesenvolvimento,segundomotivoparaoabrigamento
223
Grfico15.Porcentagemdecrianaspordoenaeproblemadesadeapresentadosaoingressonainstituio.
224
Grfico16.Porcentagemdecrianaspordoenaeproblemadesadeapresentadosduranteapermanncianoabrigo.
226
Grfico17.Porcentagemdecrianaspordoenaseproblemasdesaderemanescentesdocontextofamiliaremanifestadosduranteapermannciana
228
-
instituioGrfico18.Porcentagemdecrianaspormanifestaodesofrimentoemocionalnoperododeadaptaoaoabrigo.
230
Grfico19.Porcentagemdeeducadoresporidadeemanos
235
Grfico20.Porcentagemdeeducadoresporescolaridade,segundoidadeemanos.
237
Grfico21.Porcentagemdeeducadoresporformaoprofissionaldenvelsuperior
237
Grfico22.Porcentagemdeeducadorespornmerodefilhos,segundoidade
240
Grfico23.Porcentagemdeeducadorespornmerodefilhos,segundoestadocivil
243
Grfico24.Porcentagemdeeducadoresporidadedosfilhos,segundoaprpriaidade
243
Grfico25.Porcentagemdeeducadoresportempodetrabalhonoabrigo
245
Grfico26.Porcentagemdeeducadoresportempodetrabalhonoabrigo,segundoidade
246
Grfico27.Porcentagemdeeducadoresporexperinciasanterioresdetrabalhocomcrianasdezeroaseisanos,segundoidade
248
Grfico28.Porcentagemdeeducadorespormotivoparatrabalharnoabrigo
250
Grfico29.Porcentagemdeeducadoresporfonteutilizadaparacapacitaoeaprimoramentodotrabalho,segundoordemdeimportncia
254
Grfico30.Porcentagemdeeducadoresporfonteutilizadaparacapacitaoeaprimoramentodotrabalho,segundoidade
256
Grfico31.Porcentagemdeeducadoresportipodeatividadedesenvolvidacomascrianasnoabrigo
259
Grfico32.Porcentagemdeeducadoresportipodeatividadedesenvolvidacomascrianasnoabrigo,segundoidade
260
Grfico33.Porcentagemdeeducadoresquantosatisfaodasexpectativasapresentadasnoinciodotrabalhonoabrigo
262
Grfico34.Porcentagemdeeducadoresquantosatisfaocomcaractersticadotrabalhonoabrigo
269
-
Grfico35.Porcentagemdeeducadoressegundoordemdeimportnciadosaspectoscansativosdotrabalhonoabrigo
270
Grfico36.Porcentagemdeeducadoressegundograudeconcordnciacomassertivasacercadacondiopsicossocialdacrianainstitucionalizada
274
Grfico37.Porcentagemdeeducadoresporconcordnciacomassertivasacercadacondiosciofamiliardacrianainstitucionalizada,segundoidade
275
Grfico38.Porcentagemdeeducadoresporconcordnciacomassertivassobreoprocessodedesenvolvimentodacrianainstitucionalizada,segundoidade
277
Grfico39.Porcentagemdeeducadoresporconcordnciacomassertivassobrecaractersticasdoambientesocialondeconviveacrianainstitucionalizada,segundoidade
278
Grfico40.Porcentagemdeeducadoresporconcordnciacomassertivassobreinteraoerelaodacrianainstitucionalizadacomadultos,segundoidade
280
Grfico41.Porcentagemdeeducadoresporconcordnciacomassertivassobreinteraoerelaodacrianainstitucionalizadacomseuspares,segundoidade
282
Grfico42.Porcentagemdeeducadoresporconcordnciacomassertivasemrelaoaosefeitosdocuidadoeminstituiodeabrigoparaodesenvolvimentodacriana,segundoidade
284
Grfico43.PorcentagemdeeducadoressegundopercepoacercadograudeinflunciadotrabalhorealizadonoAbrigoparaodesenvolvimentodacriana
285
Grfico44.Porcentagemdeeducadoressegundosignificadodadoaoapegonotrabalhocomcrianasemambientedeabrigo.
289
Grfico45.Porcentagemdeeducadorespornveldeescolaridade,idadeepresenadefilhos,segundosignificadodadoaoapegonotrabalhocomcrianasemambientedeabrigo
297
Grfico46.EscoresporsubescaladaITERS,segundovalorestotaisobtidospelodormitrioA.
300
Grfico47.EscoresporsubescaladaITERS,segundovalorestotaisobtidospelodormitrioB.
301
Grfico48.EscoresporitemdasubescalaIMaterialeMobilirioparaasCrianas
303
Grfico49.EscoresporitemdasubescalaIIRotinaeCuidadosPessoais
307
Grfico50.EscoresporitemdasubescalaIIIUsodaLinguagemOraleCompreenso 315
-
Grfico51.EscoresporitemdasubescalaIVAtividadesdeAprendizagem
316
Grfico52.EscoresporitemdasubescalaVInterao
321
Grfico53.EscoresporitemdasubescalaVIEstruturadoPrograma
323
Grfico54.EscoresporitemdasubescalaVIINecessidadesdosAdultos
327
Grfico55.Porcentagemdeeducadores,tcnicoseoutrosfuncionriosdoabrigo,segundoacondiodeestarsatisfeitooumuitosatisfeitocomcaractersticasambientaisrelacionadassnecessidadesfsicasdacrianadezeroaseisanos
331
Grfico56.Porcentagemdeeducadores,tcnicoseoutrosfuncionriosdoabrigo,segundoacondiodeestarsatisfeitooumuitosatisfeitocomcaractersticasambientaisrelacionadassnecessidadescognitivasdacrianadezeroaseisanos
346
Grfico57.Porcentagemdeeducadores,tcnicoseoutrosfuncionriosdoabrigo,segundoacondiodeestarsatisfeitooumuitosatisfeitocomcaractersticasambientaisrelacionadassnecessidadesemocionaisdacrianadezeroaseisanosemsituaesespeciais
349
Grfico58.Porcentagemdeeducadores,tcnicoseoutrosfuncionriosdoabrigo,segundoacondiodeestarsatisfeitooumuitosatisfeitocomcaractersticasambientaisrelacionadasaaspectosorganizacionaisdainstituio
357
Grfico59.Porcentagemdeeventosporcategoriacomportamental(n=3977)
362
Grfico60.Porcentagemdeeventosporsubcategoriasdocomportamentodeapego(n=1308)
363
Grfico61.Porcentagemdeeventosporsubcategoriasdocomportamentodecuidado(n=957)
367
Grfico62.Porcentagemdeeventosporsubcategoriasdocomportamentodebrincadeira(n=741)
372
Grfico63.Porcentagemdeeventosporsubcategoriasdocomportamentodeagresso(n=494)
378
Grfico64.Porcentagemdeeventosporsubcategoriasdocomportamentodeautotoque(n=477)
382
Grfico65.Porcentagemdeeventosporsujeitofocal,segundocategoriascomportamentais
386
-
Grfico66.Porcentagemdeeventosporsexo,idadeetempodepermanncianoabrigodossujeitosfocais,segundocategoriascomportamentais
391
Grfico67.Porcentagemdeeventosportipodeinterao
394
Grfico68.Porcentagemdeeventosportipodereceptordocomportamento,segundocategoriascomportamentais
395
Grfico69.Porcentagemdeeventosportipodereceptordocomportamentodeapego,segundosubcategoriascomportamentais
396
Grfico70.Porcentagemdeeventosportipodereceptordocomportamentodecuidado,segundosubcategoriascomportamentais
397
Grfico71.Porcentagemdeeventosportipodereceptordocomportamentodebrincadeira,segundosubcategoriascomportamentais
399
Grfico72.Porcentagemdeeventosportipodereceptordocomportamentodeagresso,segundosubcategoriascomportamentais
401
Grfico73.Porcentagemdeeventosporcategoriadeapego,cuidado,brincadeiraeagresso,segundocondioetriadoreceptordocomportamento
402
Grfico74.Porcentagemdeeventosportipoderespostadadapeloreceptor,segundocategoriascomportamentais
404
Grfico75.Porcentagemdeeventosportipodeambiente,segundocategoriascomportamentaiscomfreqnciasuperiora1%
405
Grfico76.Porcentagemdeeventosporsujeitofocal,segundosubcategoriasdocomportamentodecuidado
410
Grfico77.Porcentagemdeeventosporsexo,idadeetempodepermanncianoabrigodosujeitofocalouagentedocuidado,segundosubcategoriasdocomportamentodecuidado
413
Grfico78.Porcentagemdeeventosdeacordocomotipodeinteraodosujeitofocalcomseusparceirosoualvosdocuidado,segundosubcategoriasdocomportamentodecuidado
418
Grfico79.Porcentagemdeeventosportipodereceptoroualvodocuidado,segundosubcategoriasdocomportamentodecuidado
419
Grfico80.Porcentagemdeeventosdeacordocomgrupoetriodoreceptoroualvo 421
-
docuidado,segundosubcategoriascomportamentaisGrfico81.Porcentagemdeeventosporsexo,idade,tempodepermanncianoabrigoeparentescodosujeitofocalalvodocuidado,segundosubcategoriascomportamentais
422
Grfico82.Porcentagemdeeventosporsexo,idade,tempodepermanncianoabrigoeparentescodosujeitofocaleoutrascrianasalvosdocuidado,segundosubcategoriascomportamentais
423
Grfico83.Porcentagemdeeventosporsexo,idade,tempodepermanncianoabrigoeparentescodoeducadoralvodocuidado,segundosubcategoriascomportamentais
424
Grfico84.Porcentagemdeeventosporsexo,idade,tempodepermanncianoabrigodoeducadoreoutrosadultosalvosdocuidado,segundosubcategoriascomportamentais
425
Grfico85.Porcentagemdeeventosportipoderespostadosreceptores,segundosubcategoriasdocomportamentodecuidado
426
Grfico86.Porcentagemdeeventosporambientecomfreqnciatotalsuperiora1%,segundosubcategoriasdocomportamentodecuidado
428
-
LISTADEFIGURAS
Figura1.Ecossistemasdacrianainstitucionalizada
48
Figura2.Fachadadoprdioondefuncionaoabrigo
122
Figura3.Quadrocomdadosdascrianasqueparticiparamcomosujeitofocaldassessesdeobservaorealizadasnoperododesetembroadezembrode2005
131
Figura4.Entradasocial
133
Figura5.Jardim
133
Figura6.realocalizadaatrsdobarraco(ptio)
134
Figura7.Quintal
134
Figura8.Banheiroinfantil
135
Figura9.Barraco(ptio)
135
Figura10.Corredor
135
Figura11.Dormitrioparacrianas18a24meses(A)
136
Figura12.Dormitrioparacrianas24a48meses(B)
136
Figura13.Playground
137
Figura14.Prdioemconstruo
137
Figura15.Recepo
138
Figura16.Refeitrioinfantil
138
Figura17.Refeitriodosadultos
139
Figura18.Ruadoentornodoabrigo
139
Figura19.Ruadoentornodoabrigo
139
Figura20.SaladeAtividades
140
-
Figura21.SaladeEnfermagem
140
Figura22.SaladeEstimulao
141
Figura23.SaladeEstimulao
141
Figura24.ImagemdaSaladeVdeo
142
Figura25.Solrio
142
Figura26.Subcategoriadocomportamentodeapego:Demonstrarclarapreferncia
165
Figura27.Subcategoriadocomportamentodeapego:Buscare/oumanterproximidade
166
Figura28.Subcategoriadocomportamentodeapego:Saudar
166
Figura29.Subcategoriadocomportamentodeapego:Protestar
167
Figura30.Subcategoriadocomportamentodecuidado:Ajudar
168
Figura31.Subcategoriadocomportamentodecuidado:Brincardecuidar(exemplo1)
169
Figura32.Subcategoriadocomportamentodecuidado:Brincardecuidar(exemplo2)
169
Figura33.Subcategoriadocomportamentodecuidado:Entreter
170
Figura34.Subcategoriadocomportamentodecuidado:Estabelecercontatoafetuoso
170
Figura35.Subcategoriadocomportamentodebrincadeira:Brincadeiratemtica
171
Figura36.Subcategoriadocomportamentodebrincadeira:Brincadeiramotora
171
Figura37.Subcategoriadocomportamentodebrincadeira:Brincadeiracomobjeto
172
Figura38.Subcategoriadocomportamentodeagresso:Agredirfisicamente
173
Figura39.Subcategoriadocomportamentodeagresso:Agredirverbalmente
173
Figura40.Subcategoriadocomportamentodeagresso:Agredircomgestos
174
Figura41.Subcategoriadocomportamentodeautotoque:Autoproteo
175
Figura42.Refeitrioinfantil
333
-
Figura43.Espaodestinadosrefeiesdosbebs
333
Figura44.Brinquedoseoutrosobjetosdoadosecompradospeloabrigo
335
Figura45.Quadrosquedecoramaparededocorredorexternocomtemticasinfantis
336
Figura46.Alimentoseoutrosmateriaisarmazenadosnadespensa
339
Figura47.Dormitrioinfantilantesdareformarealizadanainstituioem2005
341
Figura48.Dormitrioinfantildepoisdareformarealizadanainstituioem2005
341
Figura49.Quadroconfeccionadoparaapresentardadosdascrianasacolhidaspeloabrigo
352
Figura50.Banheirodosadultos
361
Figura51.Episdiointerativon1:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeapego
365
Figura52.Episdiointerativon2:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeapego
366
Figura53.Episdiointerativon3:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeapego
366
Figura54.Episdiointerativon4:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
369
Figura55.Episdiointerativon5:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
369
Figura56.Episdiointerativon6:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
370
Figura57.Episdiointerativon7:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
370
Figura58.Episdiointerativon8:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
371
Figura59.Episdiointerativon9:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
371
-
Figura60.Episdiointerativon10:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodecuidado
372
Figura61.Episdiointerativon11:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodebrincadeira
375
Figura62.Episdiointerativon12:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodebrincadeira
376
Figura63.Episdiointerativon13:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodebrincadeira
376
Figura64.Episdiointerativon14:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodebrincadeira
377
Figura65.Episdiointerativon15:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeagresso
380
Figura66.Episdiointerativon16:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeagresso
381
Figura67.Episdiointerativon17:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeagresso
381
Figura68.Episdiointerativon18:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeautotoque
384
Figura69.Episdiointerativon19:imagemilustrativadesubcategoriadocomportamentodeautotoque
385
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EcologiadoCuidado:InteraesentreaCriana,oAmbiente,osAdultoseseusParesemInstituiodeAbrigo.
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1.1. OCuidadoInstitucional:Conceitos,ModalidadeseImplicaesparaoDesenvolvimento
Infantil.
Emdiferentespocasecontextosculturais,associedadessedeparamcomodesafiode
pensar formasalternativasdecuidadoscrianascujospaisbiolgicosporrazesdiversas,no
puderamcumprircomatribuiesrelacionadasaosustento,criaoeeducaodosfilhos.
No dias atuais, estimativas divulgadas pelo UNICEF (2004) mostram que milhes de
crianasem todoomundoesto sendo cuidadas forade casa,mantidaspor longoperodode
tempoemorfanatos,abrigose instituiessimilares.Nafrica,siaeAmricaLatina,calculase
que 9,5 milhes de crianas so rfos da HIV/AIDS e/ou permanecem sob os cuidados de
instituies e arranjos comunitrios.Mesmo em regies da Europa e Estados Unidos,muitas
crianasestoprivadasdocuidadoparentaledemandamcolocaoemlaressubstitutos,umavez
queseuspaisnoestodisponveisparaassumirencargoseresponsabilidades inerentesaoato
de cuidareprotegeros filhos.Osnmerosmais recentes indicamque1,5milhode crianas,
nascidasempasesdoLesteEuropeucrescem longeda famliadeorigemporqueseuspaisno
estoemcondiesdeassistilasemsuasnecessidadesbsicaseespeciais.
Asrazesparaaexistnciadetantascrianasprivadasdocuidadoparentalemantidasem
instituies so muitas, mas, entre elas, possvel destacar: 1) a morte do cuidadores que
possuamaguardaouaresponsabilidadeparentalpelacriana(rfos);2)aperdatemporriaou
definitivadocontatocomafamliadeorigem(refugiadosdeguerra,desabrigadosporcatstrofes
naturais);3)oimpedimentoouoafastamentoinvoluntriodame,dopaiouqualquerumdeles
do convvio familiar (filhos de pais presidirios, doentes crnicos, imigrantes, mendigos,
andarilhos);e4)acolocaopordecisoadministrativaou judicialcomoobjetivodeassegurar
proteo especial em situaes nas quais h grave risco sua integridade fsica, psicolgica e
sexual.
No mundo inteiro (UNICEF, 2004), mas, de modo peculiar, no Brasil (IPEA, 2004), a
separao involuntriadospaisouaexposioviolncia,doena,aoabusoeexplorao,
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Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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dentro e fora do lar, so situaes freqentes e tm servido como justificativa para a
permannciaprolongadadecrianaseminstituiesabertasoufechadas,aexemplodosabrigos,
orfanatos,internatos,hospitaiseunidadespsiquitricas.
De acordo com Roy, Rutter e Pickles (2000), a despeito do relativo consenso entre os
especialistasdequeaprivaodo cuidadoparentalnosprimeirosanosde vidapodeoferecer
riscosaodesenvolvimentoinfantil,observasequeassociedadesemgeralaindareforamaidia
dequeacolocaodacrianaem instituiesdeabrigopodeseranicae,svezes,amelhor
alternativaemregiesatingidasporguerras,epidemias,catstrofesnaturais,nveisabsurdosde
pobrezaeprecariedadedasredessociais.
ParaWolffeFesseha(1999),oencaminhamento,oacolhimentoeocuidadodecrianas
emambienteinstitucionalsoprticassociaisaindapresentesnosdiaisatuais,especialmenteno
chamado Terceiro Mundo, onde alternativas como a colocao da criana em instituies
residenciaisouem laresadotivos,porvezesestoemdissonnciacoma realidadeeconmica,
poltica e cultural de alguns desses pases. Por essa razo, prosseguem esses autores, as
diferenas existentes entre caractersticas do cuidado em ambiente familiar e institucional
merecemserinvestigadademaneiracontextualizada,sobretudoemtermosdassuasimplicaes
paraodesenvolvimentodacriana.
Lee(2000)consideraqueocuidadoinstitucionalsediferenciadocuidadoemfamliasob
vriosaspectos,masespecialmentenoquesereferequalidadedainteraoentreacrianaeo
cuidador.Eletomacomorefernciaopadrodechoropresenteentrecrianasinstitucionalizadas
e crianas cuidadasem lar familiar.Parao autor, a literaturamostraque as caractersticasdo
cuidado infantil exercem forte influncia sobre a durao do choro entre as crianas. Em
contextosfamiliaresinscritosemsociedadespoucoindustrializadas,nosquaisaculturavalorizao
contatocontnuoentimoentreameeacriananosprimeirosanosdevida,almdaprontido
na resposta smanifestaes de desconforto e insegurana do beb, os episdios de choro
prolongadoforampoucosoumesmonenhum.Lee(2000),emexperimentoprpriorealizadono
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Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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mesmocontextoculturaldasociedadecoreana,verificouqueaduraodochoroentrecrianas
institucionalizadasfoipraticamenteodobrodoquefoiapuradoentreasquecresciamemfamlia
(86 versus 45minutos/dia). interessante notar que a diferena entre asmdias obtidas no
ambiente familiare institucional foiconsideradasignificativa,aindaquea tradiocoreanaque
levaocuidadorprimrioacarregarobebamarradossuascostastenhasidoregistradaaolongo
do experimento. Em outras palavras, mesmo quando submetidas a um padro de cuidado
humanoqueaumentao contato corporaleextensivo,ativao comportamentodeproteodo
cuidadoremrelaocrianae,porconseguinte,ajudaareduzirafreqnciaeaintensidadedo
choro infantil, as crianas institucionalizadas choraram pormuitomais tempo do que as que
haviamsidomantidasemcasa.
Peloexposto,considerasequeocuidado infantilem instituiespoderepresentaruma
formadeprivaoseveraaodesenvolvimentoglobaldacriana.Noentanto,nosprimeirosanos
devida,asseqelasfsicas,cognitivas,afetivasesociaispodemseraindamaisgraves,postoquea
crianaafastadadoseuambientenaturalepassaaconviverdemaneiraintensacompessoase
situaesestranhas.
Experimentosquedivulgadosapartirdemeadosdosculopassado,comoostrabalhosde
Bowlby (1979/1997, 1976/1995), Bronfenbrenner (1994/1996), Freud e Burlingham (1960),
Goldfarb (1949),Provencee Lipton (1962),Spitz (1965/1998),TizardeHodges (1978),Tizarde
Rees (1974) e Winnicott (1984/2002), guardam importncia histrica na medida em que
impulsionaram o debate sobre os efeitos do cuidado institucional precoce para amaturao
cognitiva,emocionalesocial.
Entreosprecursoresdessedebate,Spitz (1965/1998)demonstrouquenaetiologiados
transtornospsquicosentrecrianasquecresciamafastadasdolaremumainstituioinfantilnos
EUA,estavampresentes fatoresde riscoque resultariammenosde traosdapersonalidadeda
meemaisdasuaausnciafsica,sejapordoena,morte, institucionalizaoouhospitalizao,
principalmente quando no existia um adulto que a substitusse na prestao dos cuidados
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Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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maternos. Para ele, situaes de privao afetiva, total ou parcial, levammuitas das crianas
cuidadas em instituies amanifestaruma espciede sndrome,um conjuntode sintomasde
naturezafsicaepsquica,queafetanegativamenteodesenvolvimentoglobaldacriana.
Em seus primeiros estudos, Spitz (1965/1998) observou que a ocorrncia da sndrome
modifica o estado geral da criana, sobretudo o seu comportamento social, debilitandoa
fisicamenteao longodemaisoumenos trsmeses.O trabalhoafirmaque,noprimeiroms,a
criana, retrada,apresentava choropersistenteeapegavaseaoobservadorquandomantinha
algum tipo de proximidade. No segundo ms, havia perda gradual de peso, o choro sofria
alteraes e havia gemidos como forma de lamento por parte da criana. Em geral, quando
desnutrida,acrianadiminuaoritmodeseucrescimentofsicoeamadurecimentopsicomotor.
No terceiroms,acrianacomeavaaevitarea recusarocontatocompessoasaoseu redor,
ficavadurantemuitotempodebruosnacama,quaseinerte,apresentavaperturbaesnoritmo
dosonoeficavamaisvulnerveladoenasinfectocontagiosasgraves.Emcasosextremos,houve
registrodemanifestaoderigidezfacialcomoindciodeproblemasneurolgicos.
De imediato, a polmica gerada em torno desse trabalho despertou a ateno de
autoridades,governantesepesquisadoresdediversasreas,servindocomo refernciaaoutras
investigaes que lhes sucederam, inclusive uma especfica sobre a situao dos rfos da II
GuerraMundial que haviam sido acolhidos e cuidados por instituies infantis em razo do
desaparecimentooumortedospais.
Freud e Burlingham (1960) realizaram estudo em berrios que acolhiam crianas que
sem lareprivadasdoconvviocomospaisem funodaeclosodaguerraemseuspasesde
origem. Esse e outros trabalhos das autoras se tornaram referncia para estudos sobre essa
modalidadedecuidadoinfantilaodiscutiremaspectosdaqualidadedoatendimentoprestadoem
enfermarias e berrios de instituies residenciais e as particularidades da infncia vivia em
temposdeguerra.Entretanto,dedicaramespecialatenoaoestudodosefeitosdostressgerado
pelaprivaoprecoceparaodesenvolvimentodoschamadosrfosdaguerra,analisandocom
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Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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propriedade a extenso dessas seqelas psicolgicas e os recursos oferecidos pela terapia
psicanalticainfantilparasuareparao.
Em 1948, James Robertson realizou avaliao diagnstica sobre a situao da sade
mentalinfantil,querecebeuapoiodaOrganizaoMundialdaSade.Oestudoenvolveucrianas
deambosossexos,maisoumenosentre2e3anos,quetinhamemcomumofatodeteremsido
cuidadas fora do lar porum determinado tempo. Ele as observou antes, durante e depois do
retornoaoconvviocomame.Ascrianasqueparticiparamdapesquisapermaneceramdurante
semanasouatmesesemambientes institucionais,comohospitaisouentidadesdeassistncia
social, sempre em regimede internao,mas sem apresenadeumamesubstituta estvel.
Nesseestudo,opesquisadorretratacomriquezadedetalhesaintensidadedaaflioeoquadro
dedesolaodascrianasnoperodoemqueforaminstitucionalizadas,capturandoimagensque
denunciavamaexistnciadeumambientecujatristezaeangstiaeramevidentes.
Como era de se esperar, tambm esses registros provocaram grande comoo,
mobilizaram a opinio pblica,mas principalmentemotivaram novas reflexes e crticas aos
mtodos de pesquisa sobre o problema da privao dos cuidados maternos e o convvio
prolongadoeminstituiesparaasadefsicaementaldascrianas.
Naesteiradessapolmica,em1952,JohnBowlbypublicouobraqueapresentaediscute
questes relacionadas privaodo contato fsico entreme e filho e as implicaes afetivas
dessaseparaonosprimeirosanosdainfncia,lanandoluzessobreainvestigaodesituaes
nasquaisacriana recebeoscuidadosprimriosemambiente institucional,masnoconsegue
estabelecertrocasafetivasecontnuascomoscuidadoressubstitutos,procurandoalertarassim
paraosprejuzosdeixadosporessaexperinciaaodesenvolvimentoinfantil.
De incio, Bowlby (1976/1995) e seus colaboradores consideraram a privao dos
cuidadosmaternosumavariveldeterminanteparaamanifestaodeproblemaspsiquitricos.
Mas,aospoucos,redefiniramasbasesdessadiscussoepassaramatratlacomoumavarivel
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Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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muito importanteemestudossobrea incidnciadedoenasmentaisna infncia,masqueno
poderiasertomadaparaanlisedemaneiraisolada.
Bronfenbrenner(1994/1996)tambmtraz importantescontribuiesparaessedebatee
discorda das posies anteriormente assumidas por Spitz (1965/1998) e Bowlby (1976/1995),
naquiloquedizrespeitoaoperododa infnciaemqueasseqelaspsicolgicasdaprivaodos
cuidadosemfamliapodemsemanifestardeformamaisintensaepraticamenteirreversvel.
Spitz (1965/1998) considerada que o perodo crtico para a formao do apego est
situado na segundametade do primeiro ano de vida, por ser uma fase em que as ligaes
primrias se consolidam e a criana comea a distinguir figuras de preferncia entre os
cuidadores.Paraele,quandoaexperinciadaprivaodoscuidadosmaternosocorressenesse
perodo sensvel, a longa conivncia em ambiente institucional poderia ser particularmente
traumticacriana.
J Bowlby (1976/1995) afirma que o processo de vinculao e o desenvolvimento do
apego so experincias decisivas nos primeiros novemeses de vida, ainda que a disposio
internadacrianaparase ligaraquem lhedispensaamaiorpartedoscuidadosmaternospossa
semanterativapelomenosatofinaldoterceiroano.Nessesentido,quandoacrianaprivada
detoimportanteexperinciaafetivaasuacapacidadedesevinculareseapegaraalgumpode
ficarempartecomprometida.
Para Bronfenbrenner (1994/1996), os efeitos imediatos da privao dos cuidados
maternosapsosextomsdevidatrazemseguramentedanosaodesenvolvimentoinfantil,mas
consideraqueasconseqnciasemlongoprazopodemsersuperadasoureparadasemrazode
vriosfatores,comoaqualidadedocuidadoinstitucional,otempodeconvivncianainstituio,
oambientepsinstitucionalizao,entreoutros.Detodomodo,ressaltaque,quandoaprivao
ocorre nos primeiros seismeses, fase em que as interaes da criana com ame somais
intensas e as ferramentas que possibilitam a aprendizagem e o conhecimento do mundo
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Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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comeamaserexperimentadas,osprejuzosemocionaisecognitivostendemasermaisseverose
persistentese,conseqentemente,apossibilidadedereparaodessesdficitssermenor.
Nessesentido,argumentaBronfenbrenner(1994/1996),opotencialdesenvolvimentaldas
crianascuidadaseminstituiesaumentanarazodiretaemqueomeiofsicoesocialapermite
eamotivaaassimilarpadresde interaorecprocacomseusparesecuidadores,assimcomo
possibilitarelacionamentosdidicosprimrioscadavezmaiscomplexos,quetenhamapresena
deumadultonodesempenhodopapelparental.
Emquepesecrticassofridasao longodo tempo,oconjuntodos trabalhosacimaserve
ainda como referncia para estudos contemporneos sobre questes relacionadas condio
psicossocialdacriana institucionalizada,masprincipalmenteaos limitesespossibilidadesdo
desenvolvimento humano em condies adversas, definidas como contextos marcados pela
privaomaterialeafetiva.
Opioneirismodessesprimeirostrabalhostevecertamenteomritodelevantarquestes
que permanecem atuais entre pesquisadores contemporneos: Quais as implicaes da
interrupo dos cuidados em famlia e a longa permanncia em ambiente institucional para a
formaodeumpadrodeapegoemocionalmenteseguroduranteosprimeirosanosdevida?
Para Hrdy (2000), os humanos, assim como outras espcies animais, sobretudo os
primatas,nascembiologicamentepreparadosparaestabeleceremanterumaligaoemocional,
forteeduradoura,comameouqualqueroutrafiguradeapegoprimrio.Ascrianasjnascem
comanecessidadedeseapegar.Ossereshumanosso,porassimdizer,nascidosparaoapego.
o que de pode considerar a dimenso biolgica do vnculo.Das ligaes primrias depende a
sobrevivnciadofilhotehumano,sobretudonosprimeirosanosdevida,poisrequerajudapara
seralimentado,protegidodofrioecalorexcessivos,mantidoprximoeasalvodeestranhosque
possamoferecerriscosuasegurana.
-
Ecologia do Cuidado: Interaes entre a Criana, o Ambiente, os Adultos e seus Pares em Instituio de Abrigo.
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Dessepontodevista,ficamarcadoo lugarea importnciadas ligaesprimriasparao
desenvolvimentoda criana eodebate acercadosdanos resultantesdaprivao afetiva edo
cuidadoinstitucionalprolongadoeexclusivo,ganhaproporoatmaisacentuada.
Para Zeanah, Nelson, Fox, Smyke,Marshall, Parker e Koga (2003), o perodo que se
estendedaconcepoataidadede3anosdecisivoparaodesenvolvimentoinfantil,umavez
querpidas,complexaseprofundasmudanassoprocessadasnaformaodamentedacriana.
precisamentenesseperodoqueacrianapassadeumquadrodecompletadependnciado
cuidadoresprimriosemrazodelimitaesdeordemmotora,verbalecognitiva,aumarefinada
capacidade de entendimento e participao ativa em situaes regidas por regras sociais. Em
razodisso,oafastamentodafamliaeapermannciaeminstituioqueofereapoucoestmulo
aofuncionamentodasestruturascerebraispodemlimitarosnotveisavanosdesenvolvimentais
esperadosnessafasedavida.
Dozier, Stovall, Albus e Bates (2001), por sua vez, entendem que a institucionalizao
precocepode resultar em riscos aodesenvolvimento globalda criana,principalmenteporque
compromete a capacidade de criar e manter relaes estveis e duradouras em razo das
interrupesexperimentadasnosrelacionamentoscomasfigurasdeapegoprimriasnafamlia
(experinciasanterioresde separaoeperdaafetiva),na instituioouno laradotivo (estado
mentaledisponibilidadeafetivadequemofereceocuidadosubstituto).
Na presente dcada, pesquisas tambm comparam diferentes aspectos do
desenvolvimentodecrianasque,emseusprimeirosmesesouanosdevida,foramcuidadasem
instituiesedepoisemlaresadotivos.Emsuamaioriasoestudoscomparativoselongitudinais
quetrabalhamcomamostrasdecrianascomhistricodeinstitucionalizaoprecoceoumesmo
cuidadas exclusivamente em ambiente familiar, como resgatam Sigal, Perry, Christopher,
RossignoleOuimet(2003)apartirdeminuciosarevisodaliteraturadisponvelsobreotema.
Para esses autores, na atualidade, pesquisas sobre as conseqncias do cuidado
institucionalnainfnciaversamorasobreosdficitsduradourosnofuncionamentopsicolgicoda
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criana institucionalizada,ora sobreosefeitosnegativosdasprticasde cuidadopresentesem
orfanatose similaresparaa segundagerao.Nessa segunda linhadepesquisa, comentamos
autores,estotrabalhosqueanalisamocomportamentodemulheresqueviveramaexperincia
do abandono e da institucionalizao no incio da vida e na fase adulta,mas que, diante da
responsabilidadedecuidareprotegerseusfilhosprovmcuidados inadequadosaosseusbebs
(Dowdney, Skuse, Rutter,Quinton&Mrazek, 1985) e/ou os tratam demodo agressivo (Sigal,
Meislova,Beltempo&Silver,1988).
Outrosestudos,examinadosporSigalecols.(2003),mostramquenecessrioconsiderar
aimportnciadeoutrasvariveisquepodemagircomofatoresdeproteoaodesenvolvimento
infantil, atenuando ou prevenindo riscos e agravos relacionadosmais diretamente ao cuidado
infantil. Entre os fatores a serem observados, temse o temperamento, a idade da criana
entradanainstituio,otempodepermanncianessetipodeambiente,aqualidadedocuidado
institucional, omeio de convvio no psinstitucionalizao e amanifestao de experincias
positivasnainfnciaeanossubseqentes.
De outro modo, estudos analisados por Sigal e cols. (2003) demonstram que certas
experincias podem contribuir para uma adaptao positiva da criana com histrico de
institucionalizao na fase adulta: 1) presena de um adulto cuidador interessado e atencioso
durante a adolescncia; 2) experincias como competncia acadmica ou atltica; 3)
envolvimento com um companheiro estvel no incio damaioridade (Rutter&Quinton, 1984
citadoporSilgal&cols.,2003);4)amadurecimentodedefesaspessoais(Vaillant,1993citadopor
Sigal&cols.2003).
Sigalecols. (2003) investigaramosefeitosda institucionalizaonosprimeirosanosda
infncia em adultos demeiaidade. A pesquisa envolveu homens emulheres que viveram a
experinciadaorfandadenainfnciahmaisoumenos50anosatrs.Nainfncia,todoshaviam
sidoacolhidosporinstituiessituadasemQuebec,noCanad.Combasenosresultadosobtidos
em suasprprias investigaes,essesautoresconcluramqueogrupoderfosestudoucinco
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anosamenosdoqueogrupodecomparao.Entreos institucionalizados,amdia foide3,46
anos.Nogrupodecomparaoamdiachegoua9,46anos.Aproporodehomensemulheres
rfosquenuncacasoumaiordoqueadogrupodecomparao.A relaoentreonvelde
satisfao com a vida social e o valor e a presena de crenas e prticas espirituais entre os
homensrfosestatisticamentesignificativa.Omesmono foiencontradoentreasmulheres
envolvidas no estudo. Os homens rfos faziam uso de analgsicos com mais freqncia e
representavam 37,5% contra 15% do grupo de comparao. Alm disso, usavam mais
tranqilizantes(22,5%)doqueogrupodecomparao(10%).Entreasmulheres,ospercentuais
foramsemelhantes.
Deacordo comSigale cols. (2003),possivelmenteessesdadosguardam relao coma
incidncia significativa de doenas crnicas entre adultos que foram institucionalizados na
infncia.No rol dos problemas de sade apontados pelos entrevistados, homens emulheres,
respectivamente, fizeram refernciadepresso (12,5%e17,1%),bronquiteouasma (20%e
26,8%),enxaquecaedoresdecabea(20%e24%),artriteereumatismo(15%e9,8%),lcera
estomacal(25%e31%)ereincidnciadedoenasdiversas(35%e41,5%).
Aindanaliteraturainternacional,vriosestudosestabelecemrelaescomparativasentre
diferentesaspectosdodesenvolvimentode crianasqueem seusprimeirosmesesouanosde
vida foram cuidadas em instituies e depois em lares adotivos, apresentado, contudo, uma
margemmaioroumenordetempoentreumaexperinciaeoutra.Emsuamaioriasoestudos
comparativos e longitudinais que trabalham com amostras de crianas com histrico de
institucionalizaoprecoceeoutrasquesempreforamcuidadasemambientefamiliar.Ouainda,
trabalhosemqueincluemamostrasdecrianascuidadaseminstituiesresidenciais,modalidade
decuidadosubstitutonaqualexisteapreocupaoemsereproduzircaractersticasdoambiente
fsicoesocialquesoprpriasdoconvvioemfamlia,masondeapermannciadacrianaprecisa
tercarterobrigatoriamenteprovisrio,comoesclarecemDozier,Stovall,AlbuseBates(2001).
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Dentre os estudos longitudinais reconhecidos como experimentos naturais que tinham
comoobjetivoexaminarosefeitosdocuidado institucionalparaodesenvolvimentodacriana,
destacamseasprimeiras iniciativasrealizadasem instituiesresidenciaissediadasemLondres,
entreosanos60e70.Emumdessesexperimentosnaturais,TizardeRees(1974)observaram65
crianasquepermanecerammuitotempoemberriosconsideradosdealtaqualidade(limpos,
arejados,coloridos,confortveis,commuitosbrinquedoselivrosdisponveis).Noentanto,aalta
rotatividade e o horrio de trabalho dos funcionrios no propiciavam a formao de
relacionamentos ntimos e estveis entre as crianas e seus cuidadores. Os pesquisadores
decidiram ento trabalhar com trs grupos de sujeitos: 1) crianas institucionalizadas que
retornaram ao convvio com a famlia de origem (geralmente muito pobres, que foram
reconstitudasouondeshaviaapresenadeumdoscnjuges);2)crianas institucionalizadas
queforamadotadasporoutrasfamlias(freqentementecomboasituaofinanceira,casaiscom
relao duradoura e sem filhos); 3) crianas que permaneceram no ambiente institucional. A
equipedepesquisadoresaplicouaEscalaWechlerdeInteligncia,comoobjetivodepromovera
discussodediferentesaspectosdodesenvolvimentocognitivoentrecrianasqueparticiparam
dapesquisa.Ao final,osresultadosobtidoscolocaramnocentrodadiscussoa importnciada
qualidadedoambientedocuidadoinfantil.
Os resultados mostram que as crianas que voltaram famlia de origem, foram
entreguesquasesempremebiolgica,apsumperododemaisoumenosquatroanosemeio.
Quandocomparadasscrianasquepermaneceraminstitucionalizadas,apresentaramresultados
mdios inferiores, provavelmente em funo de que haviam perdido algumas vantagens
ambientais: fcil acesso a brinquedos, livros e passeios.Os estmulos ambientais no estavam
presentesnamesmaproporoemseuslares,umavezqueamaioriadascrianaseraoriundade
famliasmuitopobreseseuspaistinhampoucosrecursoseducacionais.
J as crianas institucionalizadas e em seguida adotadas, passaram a conviver em um
ambiente familiar que apresentava caractersticas contextuais muito diferentes daquelas
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encontradasnas instituies infantisoumesmoemsua famliadeorigem.Porvoltadosquatro
anos e meio, essas crianas apresentaram escores mais elevados em todos os critrios de
avaliaoadotadospelospesquisadores, inclusiveemrelaoaostestesde inteligncia,quando
comparadas s que integravam os outros dois grupos. As razes que explicam o seumelhor
desempenho, segundoTizardeRees (1974),provavelmenteesto relacionadasao fatodeque
passaram a receber cuidadosmaternos demodo sistemtico e a conviver em um ambiente
intelectualmentemaisestimulante,commaisrecursosfinanceiros,acessogarantidoaensinode
qualidadeeoutrasatividadesqueestimulamhabilidadescognitivas.Porsuavez,ascrianasque
permaneceram privadas da convivncia familiar, submetidas a tratamento massificado e
despersonalizado,aindaqueemumambiente repletodeestmulos fsicos (cores,sons, formas,
texturas),apresentaramresultados inferiores,principalmentequandorelacionadasaosegressos
encaminhados para uma famlia adotiva. No entanto, quando as crianas que permaneceram
institucionalizadas foram comparadas quelas que retornaram ao convvio com a famlia
biolgica, os escores apresentados por estas foram ligeiramente inferiores ao obtidos por
aquelas.
Desse modo, Tizard e Rees (1974) concluram que qualquer que seja o ambiente
institucionaloufamiliarondeacrianaestejacrescendoesedesenvolvendo,desdeosprimeiros
diasdevida,precisareceberestmulosvariadosparaquepossaaguarointeressepelomeioque
a cerca e desenvolver diferentes habilidades e competncias ao longo da vida.Nesse estudo,
deixou claro que a experincia da desinstitucionalizao teve um efeito positivo bem mais
evidenteentreascrianasquedeixaramainstituioeretornaramaoconvviofamiliaremlares
adotivos,sobretudoquandoospesquisadoresavaliaramoaspectoscioafetivoemsuatrajetria
dedesenvolvimento.Quandoospesquisadorescompararamosresultadosdosgruposentresi,as
crianasadotadasapresentaramrendimentomelhoremtestesdedesempenhointelectual,e,em
atividadescomleituradetextos,demonstrarammaiorflunciaqueasdemais.Tambmentreas
crianasadotadasopercentual referentepresenadevnculosmtuosentrepaise filhos foi
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superior ao encontrado nos integrantes dos dois outros grupos. Em razo dos resultados
alcanados, Tizard e Rees (1974) concluram que a qualidade do ambiente e do cuidado
institucionalpodeimpulsionarodesenvolvimentodecrianasinstitucionalizadas.
Nos dias atuais, outros estudos avaliam aspectos do desenvolvimento de crianas
submetidas ao cuidado institucional precoce, exclusivo e prolongado. Em estudo longitudinal
realizado por OConnor, Rutter, Beckett, Keaveney, Kreppner (2000), em conjunto com
pesquisadoresdoEnglishRomanianAdopteesStudyTeam(ERA),avaliamaextensodosefeitos
daprivaoseverasobreodesenvolvimentodacriananosprimeirosanosdevida.Nesseestudo,
emparticular,essaequipedepesquisadorestrabalharamcomtrsamostrasdecrianasadotadas
porfamliasresidentesnoReinoUnido,entre1990e1992.Noprimeirogrupo,selecionaram165
crianas (deum totalde324)comhistricodeprivao severa tantodeordemmaterialcomo
emocional. Aps rigorosa avaliao dos pesquisadores, a amostra final totalizou 111 crianas
adotadas, com idades entre 0 e 24meses, sendo 51% do sexomasculino.No segundo grupo
estavam48crianasromenasadotadasporfamliasdoReinoUnido,comidadesnafaixaetriade
24 a 42meses, com predomnio do sexo feminino (65%). Esse grupo, formado por crianas
adotadastardiamente,foiavaliadosomenteaos6anosdeidade.Oterceirogrupoeraconstitudo
porumcontingentede52crianas,oriundasdoReinoUnido,quenopossuamexperinciade
privaoseveraanterior.Amaioriadascrianasselecionadas foiencaminhada instituionas
primeiras semanas de vida, apenas um pequeno nmero convivera em ambiente familiar. Em
geral, as crianas estavam severamente desnutridas e apresentavam as marcas do cuidado
negligentenopasdeorigem.
Os procedimentos da pesquisa que tinham como objetivo submeter avaliao o
desenvolvimento global das crianas e comparar resultados apresentados pelas amostras, tais
como:1)medidas antropomrficas (registrapeso, alturae circunfernciada cabea);2) ndice
Global Cognitivo (analisa aspectos como percepo,memria, expresso verbal e quantitativa
atravsdaEscaladeMcCarthy,1972eMerrilPalmer,ANO);3)QuestionrioRevisadodeDenver
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(recupera relatos parentais quanto a alteraes nos comportamentos sociais, linguagem,
psicomotricidade fina e grossa). Outras medidas foram ainda utilizadas pelos pesquisadores:
percepodospaisadotivosquantomanifestaodeproblemascomportamentaisnafasepr
escolar,afreqnciasaulaseotipodeinstituiodeensinoqueacrianapassouafreqentar
noReinoUnido(pblicaouprivada).
Oexperimentorevelouavanosnaevoluodosdadosantropomrficosenaaquisiode
habilidades cognitivas entre as crianas que compunham os trs grupos de adotados, quando
considerada a avaliao feita ao seu ingresso no Reino Unido e os escores apresentados aos
quatroeseisanosapartirdeumabateriade testese relatosparentais.Entretanto,quandoos
pesquisadores observaram o desempenho das crianas em todas asmedidas de avaliao do
desenvolvimento,ascrianasqueforamcolocadastardiamenteem laradotivo,ouseja,apsos
dois anos de idade, apresentaram sempre os escoresmais baixos. Na Escala de Denver, por
exemplo,18%dascrianasexpostashmaistempoaosriscosprpriosdocuidado institucional
alcanarampontuaoinferiora70.
Osresultadosindicamqueforteahiptesedequecrianasexpostasprivaosevera
no inciodavidaapresentemdficitscognitivosmaiselevadosdoqueasquenoviveramessa
experincia, aindaque tenha sido registradaexpressiva variabilidadedasdiferenas individuais
nosescores referentes idadede seisanos, fatoquepoderia serexplicadopelaexistnciade
cuidadonoprnataleinflunciasgenticas.
Entretanto,paraOConnorecols.(2000),assimcomopesquisadoresdoEnglishRomanian
AdopteesStudy,noseriapossvelafirmardeformaconclusivaqueadeterioraoeosavanos
no desenvolvimento fsico e cognitivo entre as crianas avaliadas guardavam correlao
significativa com a durao da privao e o tempo de permanncia em lar adotivo. Outras
variveisprecisariamserconsideradasparaexplicaralteraesnocursododesenvolvimentode
crianas com histrico de cuidado institucional e privao severa.No mbito dessa discusso,
recuperamotrabalhode (Ames,1997),umestudo longitudinalcomcrianasromenasadotadas
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em British Columbia, entre 1990 e 1991. A autora considera que o contato das crianas com
brinquedos e atividades ldicas na instituio foi decisivo para a melhoria da qualidade do
cuidadoinstitucionale,dessemodo,paraaprevenodegravesseqelascognitivaseemocionais
napopulaoestudada.
Nesses termos, OConnor e cols. (2000) e (Ames, 1997) oferecem subsdios para
compreensodequestesrelacionadasinflunciadeexperinciasanterioresdeprivaosevera
noajustamentoposteriordacrianaem laradotivo,assimcomosdificuldadesdecorrentesda
superao dos efeitos prejudiciais da exposio prolongada pobreza e convivncia em um
ambientecompoucaofertadeestmulofsicoesocial.
DeacordocomOConnorecols.(2000),adiscussosobreosefeitosdaprivaosevera
paraoajustamentoposteriordo indivduodeveenvolveroutrasquestes importantes,comoo
reconhecimentodaexistnciadeperodoscrticosdodesenvolvimento,os limitesda resilincia
infantilemcontextosmarcadosporcondiesadversas,osmecanismospelosquaisexperincias
precocespodemseconstituiremfatoresderiscoparaoamadurecimentopsicolgicodacriana.
Cinco anos depois, Beckett, Maughan, Rutter, Castle, Colvert, Groothues, Kreppner,
Stevens,OConnor,eSonugaBarke(2006)publicaramosresultadosde investigaesquederam
continuidadeaoestudo longitudinalqueenvolveucrianascomhistricodeprivaoseverana
infncia,masquehaviamsidoadotadasporfamliasqueresidemnoReinoUnido.Oexperimento
tevecomoobjetivoverificaragravidadeeapersistnciadosefeitosdaprivaoprecocesobreo
desenvolvimento cognitivode adolescentesque foram cuidados em ambiente familiar apsos
seismesesde idadeouno segundoanodevida,apresentando,portanto,um tempomaiorde
convvioeminstituiesouemfamliasexpostasdiariamentepobrezaeviolncia.
Entreos achadosdesseestudo longitudinal,Beckette cols. (2006) constataramqueos
efeitosdaprivaoprecocepuderamserpercebidosataidadede11anos,aindaqueascrianas
daamostratenhamestadosoboscuidadosdepaisadotivosemmdiapor7,5anos.Entretanto,
prosseguem eles, crianas que foram colocadas em lar adotivo aps os 6 meses de vida
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apresentaram15pontos amenos em escores cognitivosdoque asque foram adotadas antes
dessaidade.
Entre outras explicaes para a persistncia de danos cognitivos at a adolescncia,
Beckettecols. (2006)citam trabalhosquemostramevidnciasanimaisdequeexperinciasde
stressseveroeprecocepodemprovocardanosnocrebro,principalmentenofuncionamentodo
hipocampo, ainda que no seja possvel precisar por meio de exames tomogrficos as
intercorrncias desses achados para o desenvolvimento infantil. Com bases nos resultados
obtidos, os pesquisadores concluem que existe a possibilidade real de reparao dos danos
cognitivos impostos pela privao precoce ao longo do desenvolvimento, mesmo que esses
ganhos tenham sido bastante limitados em vrios casos, especialmente naqueles em que a
persistnciadosprejuzosfoinotadaemavaliaorealizadaaos6anosenovamenteaos11anos.
Nesses casos,hevidnciasdeumnvel significativode comprometimentoneurocerebralque
podereduziraschancesdessesadolescentesaproveitaremasoportunidadesoferecidasporum
ambientefamiliaresocialmaisricoeestimulantequeaquelequemarcouosseusprimeirosanos
devida.
Roy, Rutter e Pickles (2000) desenvolveram estudo que objetivou comparar o
desempenhodecrianasquehaviamrecebidocuidadoresidencialgrupaleminstituieseoutras
que experimentaram cuidado individual em famlias substitutas, procurando verificar se as
dificuldades de ordem emocional e os nveis de hiperatividade apresentados pelos escolares
estavammaisrelacionadosaoscontextos familiaresadversosno inciodavidaouaopadrode
cuidadosubstitutoexperimentadonopresente.
Os pesquisadores trabalharam com quatro grupos de crianas. O primeiro grupo foi
formadopor19escolarescuidadosem instituiesdesdeantesdoprimeiroanodevida(mdia
da idade=79,8meses).Osegundogrupoeracompostotambmpor19escolares,pormeram
crianascuidadasemfamliassubstitutas,masquenoseconstituramemlaresadotivos(mdia
daidade=81,3meses).Osdoisgrupossediferenciavamentresiemfunodoestilodecriaoe
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cuidado oferecido aos escolares, mas possuam uma caracterstica em comum no perfil das
amostras: as famlias biolgicas apresentavam altas taxas de psicopatologias e problemas de
conduta social.Em seguida, foram criadosdoisgruposde controle com crianasque recebiam
cuidadoparentaldemaneiracontnuaeestvel.
Os procedimentos envolveram a coleta de dados sobre a origem das crianas que
permaneceramem famliasque seocupavam temporariamenteda suas rotinasde cuidado.As
informaesforam levantadasemarquivosdotrabalhosocial,queregistravamemdocumentos
diversosaocorrnciadecomportamentosocialinadequadoporpartedemembrosdafamliade
origem(histricodeneglignciacrnica,episdiosdeabuso,desempregoconstante,alcoolismo,
entreoutros).
Os pesquisadores realizaram ainda a aplicao de questionrios especficos junto aos
professores e aos pais dos escolares envolvidos na pesquisa. Tambm as crianas dos quatro
grupos foram avaliadas por meio da aplicao de testes psicomtricos (Escala Wechler de
IntelignciaparaCrianas,1949;AnliseNealedeLeituraeHabilidade,1996),comdestaquepara
a investigaodenveisdehiperatividadee insociabilidade(estadodeagitao,dificuldadepara
permanecersentadopormuitotempo,reduzidacapacidadedeconcentraoparaconclusode
umatarefa,conflitosebrigascomospares,tendnciaafazerascoisassozinhas).Oinstrumento
utilizadonessaetapanapesquisa foipropostoporSchachar,RuttereSmith (1981).Almdisso,
doisoutrosprocedimentos foram realizados: entrevista comosprofessorespara checagemde
informaes sobre a origem e o perfil scioeconmico das famlias dos quatro grupos
(institucional,familiarecontrole)eobservaodiretafeitanasaladeaulapelospesquisadores,
comdestaqueparaoacompanhamentodeatividadesformaisemqueosescolaresnocontavam
comsupervisodireta.
Os principais resultados indicam que as crianas cuidadas por famlias substitutas
apresentaram nveis significativos de comportamento interrompido e hiperatividade, porm,
aindasim,bemmenoresdoqueosescolaresquerecebiamexclusivamentecuidadoinstitucional.
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Segundoospesquisadores,58%dogrupoinstitucionale26%dascrianasquerecebiamcuidados
substitutosemambiente familiarmarcaram trsoumaispontosnaescaladestinadaaaferiro
nvel de hiperatividade, elaborada por Schachar,Rutter e Smith (1981). J entre os grupos de
controleessapontuaofoiobtidaporapenas8%dascrianas.Adiferenafoievidentetantonas
medidasobservacionais feitaspelospesquisadoresquantoosdadosapuradospelosprofessores
naescola.Entreospais,adiferenamaisacentuadaentreosgruposcomparadosestassociada
maisaonveldeinsociabilidadedoquedehiperatividade.
Comaconclusodapesquisa,Roy,RutterePickles(2000)questionaramseosriscospara
o desenvolvimento de distrbios como a hiperatividade estariam mais associados
descontinuidade do cuidado individual s crianas ou presena de estigma e atitudes
prejudiciais no ambiente institucional. Eles apoiaram seus questionamentos no fato que as
instituies em geral caracterizaramse por grandes unidades residenciais, cuidado impessoal,
mudanas constantes no quadro de cuidadores, maior mobilidade de crianas, mas, em
contrapartida,maiscontatocomasfamliasbiolgicas,aindaqueessesmomentosfossempouco
freqentesegerassemsofrimentoemocional.
Osresultadosreforamoquealiteraturavemdiscutindoemtrabalhosanterioressobreo
tema. Notase que crianas com histrico de privao do cuidado parental e acolhimento
institucional precoce apresentam freqentemente estado permanente de agitao,
hiperatividade, pouca concentrao nas tarefas dirias e relacionamento pobre com os pares,
comtendnciaaoisolamentosocial,entreoutrosdistrbiosemocionaisecomportamentais.
Emtrabalhomaisrecente,RoyeRutter(2006)apresentamachadosreferentespesquisa
queavaliouodesempenhodecrianaspara leituraprecocecomhistricode institucionalizao
nos primeiros anos de vida. Os resultados desse novo estudo corroboram o que haviam
constatadoRoy,RutterePickles(2000).Aoquetudo indica,ascrianasquereceberamcuidado
institucionalapresentarammaisdificuldadesnoaprendizadoenaprticadaleituranoperododa
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prescola,provavelmenteemrazodoquadrodedesatenocomumenteassociadosseqelas
prpriasdocuidadoinstitucionalnainfncia.
Namesmalinhadeinvestigao,Zeanah,Smyke,KogaeCarlson(2005)realizaramestudo
queexaminouaqualidadedoapegoemdoisgruposdecrianasqueresidiamemBucharest,na
Romnia. O primeiro era formado por 95 crianas cuidadas exclusivamente em ambiente
institucional.Ooutrogruporeunia50crianasquenuncahaviamsido institucionalizadas,tendo
convividoemfamliadesdeonascimentoAscrianasselecionadaseramdeambosossexosecom
idades entre 12 e 31meses. Ao longo da durao da pesquisa, foram realizadas entrevistas
estruturadascomoscuidadoresprimriosdessascrianaseprocedimentosdeumexperimento
elaborado por Ainsworth, Bell e Donelda (1983), mundialmente conhecido como Situao
Estranha.
Nesseestudo,naausnciadospais,ospesquisadoresprocuraramidentificarquemeram
os cuidadoreshabituaisporquemas crianasmanifestavam clarapreferncia, considerandose
para tanto a avaliao feita por funcionrios da instituio.Quando essa identificao no foi
possvel, os pesquisadores apontaram um grupo constitudo de cuidadores que conheciam as
crianasemantinhamcomelasestreitarelaodeconvvio.
Os resultados demonstraram que crianas que recebiam cuidados primrios em
instituies compunham o grupo que apresentoumaior dificuldade para se vincular aos seus
cuidadores e distrbios na formao e organizao do apego, corroborando com pesquisas
realizadas ao longo de meio sculo. Zeanah e cols. (2005) verificaram que apenas 22% das
crianas que se encontravam institucionalizadas por ocasio do experimento desenvolvem
estratgiasdeapegoem situaesde interao com cuidadoresporquemdemonstramalgum
nvel de proximidade ou preferncia. J entre as crianas que eram cuidadas em ambiente
familiar, esse percentual foi significativamente mais elevado, aproximadamente 78%
desenvolveramestratgiasparaa formaodoapego.Ascrianasqueconviviamcomseuspais
apresentaram diferenas significativas na quantidade e na qualidade do contato com seus
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cuidadores,oquedevetersidodecisivodopontodevistaemocionalparaaformaodopadro
deapegoseguroemndicesmaiselevadosdoqueosencontradosnogrupoquerecebiaateno
somentedecuidadoresprofissionais.
Empublicaorecente,Beckett,Maughan,Rutter,Castle,Colvert,Groothues,Kreppner,
Stevens,OConnor,eSonugaBarke(2006),apsaanlisedeestudosrealizadosporelesmesmos
e outros autores, constataram que a observao clnica e os estudos experimentais tm sido
mtodosprivilegiadosempesquisasqueobjetivamverificaro impactodaprivaofsicaesocial
sobreodesenvolvimentopsicolgiconosprimeirosanosdevida.Emgrandeparte,osestudos
examinados pretendem avaliar o nvel de influncia para o desenvolvimento de mudanas
processadasnascaractersticasestruturaisecircunstanciaisdocuidadooferecidocriana,tanto
emambiente institucionalquantoemfamiliar(freqentemente,um laradotivo).Nessesentido,
pesquisadorestmconcordadocoma idiadequeparecesercomplexaatarefadeprecisarat
quepontoosganhossubseqentesnoplanodashabilidadescognitivas,afetivasesociaisentre
crianascomhistricodeprivaoprecocepodemestarrelacionadosfortementeamelhoriasna
qualidade dos cuidados fsicos e relacionamentos experimentados em lares adotivos, por
exemplo.Adificuldadeemsechegararesultadosmaisconclusivossobreaquesto,reconhecem
osautores,deveseanaturezacomplexadasquestesquepassaramaserinvestigadascommais
rigorapenasapartirdasegundametadedosculopassado.
Entreaspesquisasqueapontamnessadireo,fazserefernciaaosestudosqueavaliam
o curso do desenvolvimento de crianas adotadas a partir de instituies sediadas no Leste
Europeu, Rssia e outros pases onde famlias enfrentam adversidades sociais graves, mas
tambm,por tratarsedeumapopulaoqueapresentaum lequedeproblemas relacionados,
oraprivaodocuidadoparental,orascaractersticashostisquemarcamavidainstitucional.
De acordo com Zeanah, Nelson, Fox, Smyke,Marshall, Parker e Koga (2003), estudos
recentes revelam evidncias de que deficincias e problemas mdicos, cognitivos,
comportamentais graves so freqentes nessa populao, alm de retardos na fala e na
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linguagem,desatenoehiperatividade,dificuldadesnosensodeintegraosocial,manifestao
deesteretipos,distrbiosnaformaodoapego,entreoutros.
NoBrasil,estudosqueabordamouniversodacrianacuidadaeminstituioaospoucos
passamasermaispresentesnaliteraturanacionaledosinaisdavitalidadedessetemanomeio
cientfico.Comoexemplodaproduodivulgadanosltimosquinzeanos,perodo referente
implantaodosabrigosemterritrionacional,fazserefernciaaumconjuntodetrabalhosque
possuem semelhanas e diferenas entre si: 1) Enfatizam aspectos sciohistricos da
institucionalizaodecrianasnopas(Alto,1985;Bernal(2004);Freitas,1997;IEE,1999;Leite,
1996;Marin(1999);Marclio,1998;RizzinieRizzini,2004;Silva,2004;Silva,1997,1996;Trindade,
1999; Venncio (1999); Weber & Kossobudzki, 1996); 2) Discutem aspectos do cuidado
institucional em abrigos infantis e suas implicaes para o desenvolvimento fsico, cognitivo,
afetivoesocial(Arola,2000;Bazon&BiasoliAlves,2000;Cariola&Jaehn,1985;Carvalho,2002,
1996, 1991; Castanho, 2003; Cavalcante,Brito & Magalhes, 2005; Dornelles, 1997; Freiberg
(2000); Jotz (1997); Martins & Szymanski, 2004a; Morais, Leito, Koller & Campos, 2004;
Nogueira,2004;Parreira&Justo,2005;Prada,2002;Rotondaro,2002;Rutilia,1998;Santos,2004;
Siqueira&DellAglio,2006;SouzaFilho,2000;Yunes,Miranda&Cuello,2004);3)Focalizamos
padresde interaoeaqualidadedas relaesentredadesdo tipoadultocrianae criana
crianaemambientedeabrigo(Alexandre&Vieira,2004;Barros&Fiamenghi(2007);Boff,2002;
Carvalho,2000,1996,1991;Guirado,1986;Nogueira,2004;Santos&Basto,2002).
Peloexposto,otomparadoxalquemarcaarelaoentreproteoerisconasprticase
polticasdeinstitucionalizaodecrianasvemseconstituindoemumconviterealizaodeum
maior nmero de pesquisas no mbito dos cursos de psgraduao em diferentes reas do
conhecimento (psicologia, psicanlise, educao, histria, sociologia, servio social, nutrio,
medicina,odontologia,fonaudiologia).
Entretanto,dadaacomplexidadedaquestoem foco,quandoseconsideraaproduo
no contexto brasileiro, verificase que estudos como os citados neste trabalho ainda so
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insipientes, principalmente quando se observa o nvel de preocupao de organismos
internacionaiscomaurgnciadodebatesobreacondiodemilharesemilharesdecrianasno
mundoque estoprivadasdo cuidadoparental, comodemonstram estatsticasdivulgadaspor
UNICEF(2004).
Detodomodo,iniciativasquecontribuemparaadiscussoacercadeaspectoscognitivos,
afetivosesociaisdodesenvolvimentodessesegmentodapopulao infantil,estopresentesna
literaturanacionalealgunssodestacadosnestetrabalho.
WebereKossobudzki(1996)descrevemeanalisamaspectosrelacionadosaoprocessode
institucionalizaode1.350crianasencaminhadasaabrigos,orfanatose instituiessimilares.
Entre outros resultados obtidos por meio de entrevistas e anlise de material documental,
constataram que do total de crianas envolvidas na pesquisa, apenas 14% tinham os pais
morandojuntosquandodoencaminhamentoparaa instituio.Entretanto,somente8%tinham
paisqueforamefetivamentedestitudosdoPtrioPoder,condioparaqueseefetiveaadoo.
Talvez, por isso, 8,41% das crianas nunca haviam recebido uma nica visita de seus pais ou
demaisfamiliares.Dasqueviviamnainstituiohpelomenosumano,emtornode67%nunca
foramvisitadasporqualquerdospais.Aofinaldoestudo,asautorassereportamcomapreenso
aofuturoafetivodecrianasqueestocrescendoeminstituiesdeabrigo,umavezque,nesses
ambientes, so muitas as dificuldades para a expresso de sentimentos que favorecem a
formao e/ou manuteno dos vnculos familiares. Em funo disso, entendem que
preocupante o fato de que, para 53% das crianas, o retorno famlia de origem e o
restabelecimentodaconvivnciacomospaise/ouresponsveisnoeram tidoscomoumaboa
medidaparasuasvidas,lembrandoquetodososentrevistadoshaviampassadopelaexperincia
demorarcomospaisbiolgicosouno.Eainda,oqueparaaspesquisadorasparecesermais
grave:79%dascrianasdascrianasgostariamdeseradotadaepoderconviveremumafamlia
quenofosseasuadeorigem.
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Os resultados desse estudo indicaram que, a despeito de qualquer esforo de
humanizaodas instituiesdo tipoasilar, soainda inmerososobstculosque impedemo
reconhecimentoefetivodaconvivnciafamiliarcomoumdireitofundamental,oquegeragraves
implicaesparaodesenvolvimentodacriana.Nessesentido,trabalhasecomaperspectivade
que,entreosefeitosmaisnocivosdessaexperinciadeprivaoparaodesenvolvimento,devese
dirigirumolharespecialaoriscoeminentederupturadosvnculoscomafamliadeorigemeas
dificuldadescolocadasparaaformaodenovoslaosdenaturezaafetiva,emquepeseaintensa
convivnciacomadultosecoetneosnoabrigo.
Outros estudos realizados por pesquisadores brasileiros tambm esto centrados no
papeleosignificadodafamlianoprocessodesocializaodecrianasinstitucionalizadas,como
o caso da pesquisa desenvolvida porMartins e Szymanski (2004a). Esse estudo investigou a
construoda idiade famliaapartirdesituaesdebrincadeiraentrecrianasmantidaspela
FundaodoBemEstardoMenor(FEBEM),emSoPaulo.Paraessaspesquisadoras,aanlisedas
interaesmantidasentreascrianasqueparticiparamdapesquisa,assimcomoacoordenaoe
o desempenho de papis durante situaes de brincadeira do tipo fazdeconta, oferecem
subsdiosanlisedosprocessospelosquaisaidiadefamliaconstrudaporcrianasafastadas
do seumeio de origem.Nomundo do fazdeconta, gestos, falas e expresses demeninos e
meninasconstruramtantoumaimagemrealdacasaedafamliaquepossuemquantoumaviso
idealizadadaconvivnciafamiliar.Asbrincadeirasquereproduziamcenascomunsconvivncia
emfamliarefletiamascontradiesevidentesentreorealvividoeorealpensado,entrea
famliavividaea famliapensada.Asautoras concluramqueas representaesde famlia
construdas ao longo das brincadeiras e o esforo empreendido para assegurar o processo de
individuaono contextoda vida institucionaloferecem indicaes importantesparaodebate
sobre aspectosdodesenvolvimentoda criana institucionalizada e ajudam apensarpropostas
educacionais dirigidas a esse segmento especfico, que valorizem a experincia do ldico nas
interaesinfantis.
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Sobreaspectosrelativosalimentaoenutriodecrianasquevivememinstituies
de abrigo no Brasil, estudos destacam a presena de distrbios nutricionais graves como a
desnutrioinfantil.
Rutlia (1990) investigou a incidncia de quadros graves de desnutrio e doenas
infecciosas entre crianas internadas em tempo integral na Fundao de Estadual doMenor
(FEEM),sediadanoRiodeJaneiro.Oobjetivodoestudoeradiscutirarelaoentreoestadode
sade e a incidncia de doenas entre crianas institucionalizadas no contexto das condies
sociais de vida