economia aplicada e cenários econômicos globais_simão davi silber_2014

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1 ECONOMIA APLICADA E CENÁRIOS ECONÔMICOS GLOBAIS SIMÃO DAVI SILBER 2014

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ECONOMIA APLICADA E CENÁRIOS ECONÔMICOS GLOBAIS

SIMÃO DAVI SILBER

2014

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SUMÁRIO

página

1. Evolução da Economia Mundial e Suas Perspectivas 3

2. A Globalização dos Mercados 6

3. As Principais Características e Conseqüências da Globalização 9

4. Oportunidades e Conseqüências da Globalização para o Brasil 12

5. Comércio Internacional e Blocos Regionais 13

6. Perspectivas da Economia Mundial 18

7. O Desempenho Recente da Economia Brasileira e as Perspectivas para

os Próximos Anos 22

8. Os Desafios de Longo Prazo: Manter a Estabilização, Retomar o

Crescimento e Minorar os Problemas Distributivos. 44

9. Diretrizes Gerais para a Política Macroeconômica Brasileira de Longo

Prazo. 47

10. Desregulamentação e Privatização 48

11. Referências 50

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1. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL E SUAS PERSPECTIVAS

A evolução da economia mundial, desde a I Revolução Industrial e até os dias

de hoje, tem se caracterizado pela gradual abertura das economias nacionais às

transações internacionais, tanto comerciais como financeiras e de investimento direto.

Este fenômeno, que hoje é conhecido como o da “globalização dos mercados”, consiste

na exposição crescente das economias nacionais aos eventos e a concorrência mundial.

A globalização caminhou basicamente por três rotas: a primeira pela crescente abertura

do mercado mundial às exportações e importações (hoje em dia as transações

comerciais representam 30% do PIB mundial); a segunda através da rápida expansão

do mercado financeiro internacional na esteira da desregulamentação e da revolução

tecnológica representada pelas tecnologias de informação e; finalmente, pela

internacionalização das decisões de produção, investimento e de tecnologia, com a

ampliação da presença das empresas multinacionais no mercado mundial.

Após a II Guerra Mundial, o comércio internacional voltou a ser um "motor do

desenvolvimento econômico" mundial. A redução das barreiras tarifárias, negociadas no

âmbito do GATT, foi capaz de reduzir a tarifa média de importação nos países

industrializados de 35 para 4%. Esta liberalização comercial concentrou-se basicamente

no setor industrial, sendo que só recentemente (com a Rodada do Uruguai) a agricultura

e serviços foram incorporados nas negociações para a abertura do mercado mundial

destes setores. Além disto, o tratamento multilateral e não discriminatório das regras de

comércio, possibilitaram o crescimento das transações internacionais a taxas bem

superiores ao do crescimento da produção mundial.

Entre 1953 a 1973 para um crescimento da renda mundial de 4,8% ao ano o

comércio cresceu em 7,8%. São também importantes para a obtenção deste resultado a

vigência de taxas de câmbio fixas, os pequenos movimentos especulativos de capital e a

harmonia de políticas macroeconômicas implícita no sistema de câmbio fixo de Bretton

Woods. Essa reorganização da economia mundial representou uma reação institucional

contra os efeitos da escalada protecionista e de desvalorizações cambiais competitivas,

observadas nos anos 30, e que haviam se mostrado extremamente danosas ao comércio

e ao crescimento mundial.

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A partir de meados dos anos 70 inicia-se uma nova fase da evolução da

economia mundial. Os choques do petróleo e das taxas de juros, a ruptura do sistema

de taxas de câmbio fixo, a maior mobilidade de capital e o aparecimento dos países

emergentes como importantes competidores no mercado mundial, são fatores que

contribuem para o aparecimento de uma nova forma de protecionismo, nos países

desenvolvidos e em desenvolvimento, contra a concorrência externa: as restrições não

tarifárias (RNT).

As RNT assumiram diversas formas: ações antidumping, direitos

compensatórios, quotas, subsídios, acordos voluntários de restrição às exportações,

direitos alfandegários variáveis, licenças não automáticas de importação etc., e atuaram

como amortecedores ao crescimento do comércio internacional.

Para reverter esta escalada protecionista é que se criou - -durante a Rodada do

Uruguai - a OMC (Organização Mundial do Comércio), com poderes maiores que o do

GATT. A Rodada do Uruguai foi constituída de um conjunto complexo de temas. O

principal objetivo das negociações era o de incorporar os "novos temas", isto são os

serviços, propriedade intelectual e investimentos nas relações internacionais. Foram 7

anos de negociação, encerradas em dezembro de 1993, e ainda existem enormes

obstáculos, para a implementação dos resultados da negociação.

Uma das principais funções da OMC tem sido a administração do sistema de

solução de controvérsias, considerado um dos principais ganhos para os países em

desenvolvimento, mais vulneráveis a violações comerciais praticadas pelos países

desenvolvidos. Dentro dos novos procedimentos, reduziu-se o poder de barganha dos

países ricos, já que o elemento dominante na avaliação das medidas aplicadas passa a

ser a compatibilidade com os textos legais. Com isto é possível definir violações e

compensações de modo objetivo o que inibe possíveis infratores, principalmente entre

os países ricos. A partir de 1995 entraram em vigor as principais cláusulas negociadas,

que incluem: acesso a mercados (redução das barreiras à importação), com importantes

reduções tarifárias, que em alguns casos chegam a 50% nos países desenvolvidos. Na

área agrícola acordou-se uma redução de 20% no subsídio à produção doméstica;

redução média de tarifa de importação de 36% e redução nesta mesma magnitude dos

subsídios à exportação. Embora longe do ideal, reduz-se com estes mecanismos a

tendência protecionista nos países ricos e estabelecem-se regras específicas para os

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produtos agrícolas. Foram feitos alguns progressos com relação à aplicação da legislação

antidumping e de praticas desleais de comércio, que passam por um escrutínio de

arbitragens multilaterais. Na área de serviços, o texto final do acordo satisfez as

expectativas dos países em desenvolvimento, pois preservou a flexibilidade para que

estes assumam internacionalmente somente os compromissos compatíveis com a

situação jurídica e política interna. Com relação à propriedade intelectual, foram

definidas normas detalhadas de proteção a toda gama de direitos de propriedade

intelectual, indo muito além das Convenções de Berna e Paris. O espaço de manobra

existente para as legislações nacionais adotarem regras distintas foi reduzido de forma

significativa.

A negociação em andamento na OMC, iniciada em Doha-Katar, em novembro

de 2001, veio ampliar a possibilidade de novas negociações multilaterais, nas áreas de

comércio de produtos agrícolas, propriedade intelectual e ações antidumping, de grande

interesse para o Brasil, em decorrência da atual política de inserção do país no mercado

mundial. Infelizmente, em nenhuma destas frentes há perspectivas de avanços

importantes, no curto prazo. Em nível da OMC, a coalizão União Européia/USA para

protelar a redução dos subsídios agrícolas e relutância dos países em desenvolvimento

de avançar nos “novos temas” (serviços, propriedade intelectual, proteção aos

investimentos e compras governamentais) e nas salvaguardas para as importações

agrícolas levaram as negociações a um impasse a partir de 2008. A crise financeira

mundial também contribuiu para colocar a agenda comercial em plano secundário além

de contribuir para uma nova ameaça protecionista. A Rodada Doha só foi iniciada

quando os “novos temas” foram retirados da negociação, permanecendo os temas mais

tradicionais (velhos temas) sobre tarifas e subsídios de produtos agrícolas e industriais.

Após as turbulências dos anos 70 e início dos anos 80 (choques do petróleo,

juros reais elevados e crise da dívida externa dos países em desenvolvimento), que

comprometeram o crescimento das transações internacionais, observa-se à retomada do

crescimento do comércio mundial a partir de meados dos anos 80. Atualmente o

comércio internacional voltou a crescer a uma taxa superior a do crescimento do PIB

mundial.

Deve-se destacar, no entanto, que para o período mais recente, o dinamismo

do comércio mundial está muito mais vinculado a arranjos regionais de comércio e com

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uma nova característica: os principais atores do regionalismo são os países

desenvolvidos. Estima-se que atualmente 50% do comércio mundial se realizem dentro

de blocos regionais. Em particular, o principal defensor do multilateralismo no passado,

os Estados Unidos, também caminhou na direção da formação de um bloco regional de

comércio, fazendo com que o mundo desenvolvido venha a ser dividido em 3 grandes

blocos.

2. A GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS

A economia mundial está presenciando um período de transformações radicais;

em particular houve uma dramática internacionalização (globalização) da atividade

econômica nas quatro últimas décadas com profundas conseqüências econômicas,

políticas e sociais. Um conjunto de forças poderosas comanda o processo de

globalização. De um lado existem as políticas governamentais de abertura econômica e

de outro um conjunto de forças independentes comandadas pelo progresso tecnológico,

particularmente na área de transporte e comunicações. Os benefícios de tal processo

não estão distribuídos universalmente por todos os países, embora um número

crescente de nações venha desfrutando da prosperidade econômica associada à

globalização. O grande desafio brasileiro é o de fazer parte deste grupo de países que se

integram competitivamente na economia mundial.

Com a globalização, as decisões de produção e comércio internacional ficaram

intimamente interligadas: a internacionalização de empresas se espalhou pelo mundo e

uma parte maior dos novos produtos que chegam ao mercado é transacionável

internacionalmente (traded goods) ou dependem pesadamente de componentes

transacionáveis. Enquanto a produção mundial cresceu cinco vezes nos últimos quarenta

e cinco anos, os fluxos comerciais cresceram doze vezes. No período 1985-2010, em

função da liberalização comercial multilateral e regional houve uma expansão sem

precedentes do comércio mundial, ultrapassando o crescimento do PIB mundial. Os

países em desenvolvimento aumentaram sua participação no mercado mundial de 23%

em 1985 para 37% em 2009. Entre estes dois anos a participação das exportações de

manufaturados destes países no total de suas exportações passou de 47% para 86%.

Uma parcela significativa do comércio mundial é intrafirma, comandados pelo

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investimento externo, na medida em que as empresas procuram aumentar suas escalas

de operação, reduzir custos e ampliar suas participações nos mercados nacionais e

internacionais. Este fenômeno da “desverticalização“ da atividade produtiva está no

âmago da estratégia das empresas multinacionais, que procuram distribuir suas

atividades produtivas em escala mundial, selecionando os países de acordo com as

vantagens comparativas em relação a determinados segmentos da produção.

A tendência de uma crescente abertura comercial mundial tem sido

acompanhada por uma dramática mudança do volume e natureza do fluxo de capitais

para os países em desenvolvimento, com os capitais privados assumindo o papel

anteriormente ocupado pelos financiamentos oficiais. O crescimento espetacular do

investimento direto externo (IDE) acompanhado pela expansão dos capitais de portfólio

constitui - hoje em dia - quase a totalidade dos fluxos de capital para os países em

desenvolvimento. Entre 1983 e 2012, o ingresso líquido de capital dobrou como

proporção do PIB destes países, representando atualmente 3,6% do PIB. Deve-se

destacar, no entanto, que o ingresso de capital esteve concentrado em poucos países

com elevadas taxas de crescimento do PIB: na última década, 2/3 do IDE teve como

destino 8 países em desenvolvimento. O IDE contribui de inúmeras maneiras para

acelerar o crescimento econômico dos países receptores: aumenta a produtividade da

mão de obra, possibilitam escalas de produção compatíveis padrões internacionais,

aumentam a concorrência e a difusão de tecnologia no mercado interno.

A expansão do investimento direto externo e do comércio internacional são dois

grandes motores da globalização. Eles facilitam a divisão internacional do trabalho, é a

forma mais eficiente de difusão de conhecimento tecnológico, de capital, de criação de

riqueza e podem possibilitar a incorporação da capacidade produtiva potencial dos

países no processo de desenvolvimento econômico e abrindo novos mercados para

produtos e serviços de alto valor adicionado e possibilitam oportunidades de empregos

melhor remunerados.

Os avanços na área dos transportes e telecomunicações também foram

decisivos para a globalização, na medida em que reduziram dramaticamente os custos

das transações. O custo de uma chamada telefônica caiu por um fator de 60 vezes

desde 1930 e o coeficiente passageiros/quilometro per capita de viagens internacionais

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cresceu 15 vezes nos últimos 30 anos. O advento das redes globais de computadores

também contribuiu decisivamente para aquilo que hoje é denominado “o fim da

geografia”. Isto foi fundamental para a globalização financeira. Hoje em dia, o principal

mercado internacional é o financeiro, na esteira da revolução tecnológica,

desregulamentação e desenvolvimento de novos produtos financeiros (particularmente o

de derivativos financeiros). Algumas informações estatísticas sobre este fenômeno são

apresentadas a seguir.

Custo do Transporte Aéreo, Chamadas Telefônicas Internacionais e Deflator de Preços

de Computadores.

(em US$ de 1990)

ANO Receita Média por passageiro/km. no transporte aéreo

Custo de uma chamada telefônica de 3 minutos

entre N.Ye Londres

Deflator de preço de computadores do Depto. de Comércio dos USA.

(1990 = 1000)

1930 0.68 244.65

1940 0.46 188.51

1950 0.30 053.20

1960 0.24 045.86 125.000

1970 0.16 031.58 019.474

1980 0.10 004.80 003.620

1990 0,11 003,32 001.000

1999 0.09 000.12 000.150

Fonte: FMI (1997/1999), “World Economic Outlook”, maio

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3. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E CONSEQÜÊNCIAS DA GLOBALIZAÇÃO

Em função do crescente impacto da integração econômica global, é

fundamental discutir as suas principais características e conseqüências.

Em primeiro lugar, a globalização não pode ser retardada nem ignorada. As

poderosas forças que comandam a globalização – ligadas aos avanços tecnológicos em

transporte e comunicações - têm vida própria e são independentes dos governos.

Portanto, participar ou não da globalização não é uma opção, dadas às mudanças

irreversíveis no ambiente internacional. Na era da tecnologia da informação, é

impossível a um país se isolar do mercado mundial, a não ser a um custo social muito

elevado, já que ele se marginalizaria da prosperidade material aberta a um número

crescente de nações.

Em segundo lugar, a globalização implica que algumas das antigas distinções

entre políticas domésticas se tornem crescentemente irrelevante. Inseridos

crescentemente no mercado mundial, os países necessitam ter políticas consistentes

para garantir a confiança do mercado financeiro internacional e o influxo de IDE. Por

outro lado, existe uma margem pequena para o governo implementar políticas que

ignoram as restrições externas e a concorrência mundial. Um exemplo típico é o da

política tributária: em uma economia globalizada, não existe lugar para um sistema

tributário anacrônico e anticompetitivo como o brasileiro que, ao penalizar a atividade

produtiva doméstica, em uma era em que a mobilidade de fatores é elevada, reduz (e

pode marginalizar) a participação do país das decisões relevantes de investimento

produtivo no mundo. Outro exemplo, que o Brasil sofreu até a última década, decorre

da crescente inserção do país no mercado financeiro internacional: dada à volatilidade

deste mercado, são necessárias políticas fiscais e cambiais consistentes com a

capacidade de financiamento externo, sob pena de o país ter de enfrentar ataques

especulativos recorrentes contra sua moeda, o qual tem efeitos devastadores sobre a

economia.

Em terceiro lugar, a integração crescente na economia mundial tem custos

econômicos e sociais na etapa de transição bem definidos, devido à exposição de

setores protegidos à concorrência internacional e as necessidades das empresas se

adaptarem a escalas compatíveis com o mercado aberto. Isto se torna mais importante,

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quando o país inverte a seqüência de reformas estruturais: o ideal é inicialmente

avançar na estabilização e reformas domésticas para depois avançar na inserção

internacional; o Brasil fez exatamente o oposto e com isto teve que utilizar instrumentos

mais adequados ao equilíbrio externo e a competitividade internacional (taxa de câmbio)

para consolidar a estabilização interna, aumentando a vulnerabilidade da economia a

ataques especulativos e magnificando os custos econômicos e sociais da transição para

uma economia mais inserida na economia mundial. Mesmo em condições ideais, existe

um período de transição em que alguns setores reduzem sua importância na economia,

antes que outros setores mais competitivos se desenvolvam, mais do que compensando

as perdas iniciais. Mas no curto prazo, sempre existirão ganhadores e perdedores. A

globalização expõe as disparidades entre aqueles que têm condições de crescer em um

ambiente dinâmico, competitivo e aberto e aqueles que só sobreviveriam em uma

economia fechada e protegida. Rodrik (1997) 1 argumenta que a economia mundial se

defronta com um grande desafio de assegurar que a integração econômica mundial não

aumente a desintegração social interna. Em termos sociais, o governo deve ter o

objetivo de conduzir a abertura minimizando os efeitos distributivos da transição. Para

isto são necessárias políticas governamentais tais como a coordenação na fusão de

empresas domésticas para ganharem escala e competitividade, programas de

treinamento de mão de obra, assistência técnica para a difusão de tecnologia e linhas de

crédito preferencial para facilitar o ajuste. Deve ser enfatizado que esta preocupação

difere marcadamente dos argumentos falaciosos daqueles que advogam medidas

protecionistas para evitar os custos associados à globalização. O protecionismo não é a

resposta adequada, como mostra a experiência recente brasileira e internacional,

criando tensões sociais ainda maiores devido à marginalização do progresso material

mundial e a polarização do conflito distributivo. A abertura econômica não é um jogo de

soma zero e o crescimento da renda per capita no longo prazo depende basicamente do

crescimento da produtividade da mão de obra e isto só será atingido em um ambiente

econômico aberto.

Finalmente, o ambiente econômico mundial oferece grandes oportunidades de

integração, mas cada país tem que aproveitá-las. Uma participação crescente na

1 Rodrik, Dani (1997) “Trade, Social Insurance, and the Limits to Globalization”, National Bureau of Economic Research, Working Paper # 5905.

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economia internacional possibilita inúmeros benefícios: ela permite uma melhor alocação

dos recursos em direção aos setores onde o país tenha vantagens competitivas,

aumenta a eficiência através da concorrência entre as empresas e favorece a difusão

tecnológica e do conhecimento. Com isto deverá aumentar a convergência de renda

entre as nações, na medida em que os países em desenvolvimento terão taxas de

crescimento superiores às observadas nos países ricos. O Brasil teve, durante as duas

últimas décadas, uma taxa de crescimento do PIB abaixo da média mundial e

significativamente inferior a dos países em desenvolvimento, mesmo quando comparado

com a América Latina. O mesmo se pode dizer do pequeno dinamismo das exportações

brasileiras, refletindo a redução da competitividade do produto brasileiro no mercado

mundial, quer pelo isolamento crescente de nossa economia do cenário mundial durante

os anos 80, quer por políticas macroeconômicas pouco favoráveis à expansão das

exportações. Talvez esta seja a grande herança negativa que o país herdou do período

de grande exclusão mundial e seu maior desafio atual: o de aumentar, diversificar e

sofisticar as exportações para poder acelerar sua taxa de crescimento sem se

transformar em refém do mercado financeiro internacional. Não se deve esquecer, no

entanto, que as exportações brasileiras (como a de outros países em desenvolvimento)

enfrentam importantes barreiras tarifárias e não tarifárias no mercado mundial. Quotas,

direitos compensatórios, restrições voluntárias as exportações, normas fitossanitárias,

normas técnicas, processos antidumping e de salvaguarda tem sido utilizados com

grande freqüência contra as exportações brasileiras, reduzindo as possibilidades de

expansão de nossas vendas externas.

A inserção do Brasil na economia mundial ainda é pequena e alguns indicadores

podem dar uma idéia da trajetória que o país terá ainda que percorrer para participar

mais ativamente da globalização. Quanto mais um país está integrado na economia

mundial maior é a exposição à concorrência internacional, maior a absorção de

tecnologias modernas, maiores as opções para os consumidores finais e de obter

recursos financeiros a custos menores no mercado mundial, tudo isto contribuindo para

melhorar a alocação de recursos e atingir padrões mundiais de eficiência. Existem várias

formas para expressar o grau de integração de um país na economia mundial e aqui são

utilizados o grau de abertura da economia e a estabilidade da política de importações

como indicadores da exposição do país à concorrência mundial e a participação dos

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manufaturados no total das exportações, como uma medida da capacidade do país em

produzir dentro dos padrões mundiais e absorver níveis mais sofisticados de tecnologia.

O Brasil ainda tem um dos menores graus de exposição à concorrência internacional,

embora, a partir de 1990 haja uma reversão do fechamento exagerado do país que se

estendeu por toda a década de 80. Mesmo assim, a política de abertura não é linear e

consistente; os retrocessos têm sido freqüentes, particularmente depois do Plano Real,

introduzindo uma grande instabilidade nas regras de importação e nos preços relativos e

dificultando o planejamento de longo prazo das empresas. Restrições às importações

são importantes barreiras à difusão de tecnologia e ao aumento da produtividade total

dos fatores de produção além de introduzirem distorções na alocação dos fatores de

produção e no padrão de concorrência.

O que esta análise indica é que a reaproximação do Brasil à economia mundial

ainda está em uma etapa incipiente e que uma maior participação do país na

globalização dos mercados ainda tem um longo caminho a ser trilhado. O isolamento

radical do país do cenário mundial durante os anos 80, com a conseqüente perda de

dinamismo da economia brasileira, representa um grande obstáculo e um grande

desafio para a sociedade brasileira, o qual começou a ser enfrentado durante os anos

90. A grande tarefa a frente é a de conseguir aumentar a inserção internacional do

Brasil na economia mundial, para que isto se transforme em um motor do

desenvolvimento econômico nacional.

4. OPORTUNIDADES E DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO PARA O BRASIL

As quatro últimas décadas presenciaram uma radical transformação na divisão

do trabalho em escala mundial, sendo que uma dezena de países em desenvolvimento

aproveitou este fenômeno para acelerar o seu ritmo de crescimento econômico e se

aproximar dos padrões de opulência dos países afluentes. Isto foi possível em função da

grande integração destes países na economia mundial, ausência de distorções

relevantes que afetavam as decisões de investimento e pela estabilidade

macroeconômica. Crescimento econômico e participação crescente na economia mundial

são forças que se complementam e a grande oportunidade que o Brasil tem a frente é a

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de reverter seu isolamento da economia mundial e aproveitar as oportunidades

oferecidas pela globalização para acelerar seu crescimento econômico. A globalização

oferece grandes chances de aumentar a capacidade produtiva doméstica através do

investimento direto estrangeiro e pela sua capacidade de ampliar o acesso ao mercado

externo em produtos em que o Brasil tem vantagens comparativas, dada à alta

propensão exportadora das empresas multinacionais. Considerado um dos grandes

mercados “emergentes” do mundo (juntamente com China, Índia e Rússia), o Brasil

enfrenta hoje o grande desafio de manter um conjunto de políticas econômicas

coerentes para que o país possa aproveitar as oportunidades que a globalização dos

mercados lhe oferece e retornar ao seu padrão histórico de crescimento acelerado

interrompido no final dos anos 70. Para isto é necessário que o país mantenha políticas

macroeconômicas estáveis, crie condições favoráveis aos investimentos em capital físico

e humano e mantenha a abertura ao exterior.

5. COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS REGIONAIS

São três os grandes projetos de integração regional que se materializaram no

mundo: a criação de uma zona de livre comércio entre os EUA, Canadá e México iniciado

em 1994 e implementado em 15 anos; a criação de um mercado interno único na

Europa e a formação de um "bloco asiático" comandado por Japão, China e Coréia do

Sul, incluindo os países de industrialização recente asiáticos.

Com relação à liberalização do comércio entre EUA, Canadá e México, deve-se

destacar que a maioria do comércio entre estes países já era livre de tarifas antes do

início do acordo. Com relação ao comércio entre Canadá e EUA, 65% das exportações

americanas e 80% das canadenses eram isentas de impostos de importação. Com a

integração, ocorreram efeitos importantes de realocação econômica, principalmente no

Canadá, em função da diferença de tamanho de mercado das duas economias (em 2013

o PIB americano foi de US $ 16,7 trilhões, enquanto que o canadense se situou em US $

1,8 trilhões). O Canadá aumentou suas exportações de manufaturas leves, intensivas

em mão-de-obra, como calçado e vestuário, de produtos de tecnologia padronizada,

como aço e automóveis, e dos intensivos em recursos naturais, como açúcar, cobre e

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petroquímicos. As vantagens comparativas dos EUA se situam em produtos de

tecnologia de ponta, serviços e produtos agrícolas.

O livre acesso ao mercado americano trouxe ganhos de escala importantes à

indústria canadense: estima-se um aumento da produtividade da mão-de-obra de 5 a

20% com o aumento da integração regional, e um ganho de renda real entre 3 a 7% do

PIB. Não se deve esquecer que 72% das exportações canadenses se destinam aos EUA

em 2012, contra os 19% das exportações americanas para o Canadá. Além disto, o grau

de abertura das duas economias ao comércio internacional difere marcadamente: na

canadense se situa em 32% do PIB, contra os 15,9% nos EUA.

Ambos os países recorreram extensivamente a RNT nos anos 80 para controlar

suas importações. A criação de uma região de livre comércio necessitou harmonizar

estas medidas, para evitar que terceiros países utilizem as diferenças de tratamento

para aumentar suas exportações para a zona de livre comércio. Tal processo implica em

desvio de comércio, discriminando as exportações do resto do mundo. Para o Brasil, em

particular, está havendo maior dificuldade em exportar para os EUA produtos como

ferro, aço, produtos químicos e açúcar, produtos que o país concorre diretamente com o

Canadá nos suprimento do mercado americano. Por outro lado, os efeitos dinâmicos da

integração, que se reflete em aumento de renda e da demanda por importações

poderão compensar os efeitos anticomércio anteriormente apontados, e apresentar um

efeito líquido favorável à expansão do comércio mundial.

O México também já tem um nível de integração comercial elevada com os

EUA. Das exportações globais de 371 bilhões de dólares em 2012, 75% se destinaram

ao mercado americano; das importações mexicanas 216 bilhões de dólares, 76 % são

oriundas dos EUA. Portanto, os efeitos sobre a economia mexicana da criação de uma

zona de livre comércio dependem fundamentalmente do relacionamento bilateral destes

dois países. Das exportações mexicanas para os EUA, 84% são de produtos

industrializados, com destaque para equipamentos e material de transporte e

eletrônicos, enquanto que 16% são de produtos primários e recursos minerais. Dada a

grande dimensão do mercado americano, tem-se observado um significativo aumento

das exportações mexicanas para este mercado, representando este o principal ganho do

país na criação da zona de livre comércio.

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A criação de um mercado interno unificado na Europa, onde o principal

ingrediente foi à introdução da moeda única a partir de 2002, tem também efeitos

importantes na reorientação da atividade econômica regional e sobre o comércio

internacional. Ela representa uma reação da União Européia à redução das taxas de

crescimento observadas a partir dos anos 70, e uma tentativa de dar uma melhor base

competitiva para as empresas européias em sua concorrência com empresas americanas

e japonesas. Alem disto, em maio de 2004, a União Européia aceitou dez novos

membros, elevando para vinte e sete o número de países caminhando em direção a um

mercado unificado. Em 2013 foi incorporado o 28º membro: A Croácia.

O nível de integração atual das economias nacionais européias já é bastante

elevado. Mesmo assim, ocorreram impactos importantes das medidas que foram

implantadas na nova fase de integração: a taxa de crescimento passou dos 1,8% a.a.

observados na primeira metade dos anos 90, para 2,8% na última década. A União

Européia estimou que os ganhos de renda real para o período 1999-2008 são de US $

350 bilhões, com a criação de 2 milhões de novos empregos. O comércio regional

cresceu significativamente com a eliminação de controles nas fronteiras sobre os

movimentos de bens e serviços, a adoção de padrões industriais uniformes, a

harmonização das taxas do imposto sobre o valor adicionado, a liberalização do

movimento de capital e dos serviços financeiros e a abertura das concorrências públicas,

em condições de igualdade, para as empresas da União Européia. Todas estas medidas

representam desvio de comércio, já que discriminam os países não membros. Além

disto, existem atualmente 700 restrições quantitativas nacionais e em complexo sistema

para definir índices de nacionalização para o comércio inter-regional que foi

harmonizado com a criação de um mercado único. Com isto, espera-se um aumento da

proteção na Europa, com o projeto de unificação do mercado. Não é sem razão que os

investimentos de empresas americanas, japonesas, coreanas, canadenses, etc.

aumentaram significativamente nos últimos anos, na Europa.

Deve-se destacar, no entanto, que a integração européia iniciada em 1957,

manteve até aqui um grau de abertura da sua economia semelhante a dos EUA e a do

Japão. Para o ano de 2011 o grau de abertura da União Européia era de 12 % do PIB,

contra 15,9 % dos EUA e 15,7% do Japão.

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Em síntese, o que se pode afirmar é que a próxima etapa do processo de

integração Européia tem características desfavoráveis ao crescimento do comércio

internacional, que poderão ser minorados pela aceleração da taxa de crescimento da

renda regional e conseqüente aumento das importações.

Com relação à formação do "Bloco Asiático", não existe acordo formalizado,

mas a interdependência regional aumentou sensivelmente nas últimas décadas. A

perspectiva de que os EUA não poderiam indefinidamente absorver os superávits do

leste asiático, colocou em redefinição o papel do Japão, China e Coréia na região, e sua

integração com os países emergentes altamente dependentes da exportação. O

comércio regional, a partir de 1985, apresenta um crescimento da ordem de 9% ao ano.

Portanto, mesmo sem ter um aparato institucional definido, a integração regional

asiática tem caminhado rapidamente. Com a desvalorização do dólar americano nos

últimos anos, os EUA deixarão de ser um absorvedor tão importante das exportações

asiáticas e deverá se acelerar ainda mais o crescimento do comércio regional.

Além dos acordos regionais acima mencionados, deve-se destacar que hoje

existe uma proliferação de acordos preferenciais no mundo e entre eles está o

MERCOSUL (Mercado Comum do Cone Sul, envolvendo 6 países e que previa um prazo

de implementação plena ainda indefinido).

O esforço integracionista ao nível do MERCOSUL foi definido em 1991, através

do "Tratado de Assunção". As negociações levaram ao estabelecimento de um

cronograma que especifica o ano 2000 para se atingir o livre comércio e o ano de 2006

para a convergência da tarifa externa comum. A eliminação das barreiras tarifárias e não

tarifárias nas transações intra-regionais, a definição de uma tarifa externa comum, a

coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais e harmonização de legislação

envolvida, seriam os principais instrumentos para implementar o mercado comum.

Destes, o principal instrumento da integração passou a ser a rápida redução das

alíquotas de importação, em detrimento dos demais instrumentos, que passaram a ter

menor relevância, quer em função das políticas macroeconômicas domésticas, quer pela

redução do papel ativo do Estado na alocação de fatores. Com isto as preferências

tarifárias passaram a ser importante - associada à proximidade geográfica - na

determinação da realocação da produção a nível regional.

Page 17: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

17

A experiência com a integração até aqui indica que existe espaço para uma

maior especialização regional: uma vez definidos os mecanismos institucionais

apropriados pode se acelerar o crescimento do comércio regional. Além disto, todos os

países caminharam no sentido da liberalização unilateral de suas transações

internacionais, eliminando restrições não tarifárias e reservando às alíquotas de

importação o papel de sinalizar as preferências estratégicas de industrialização. Passa-se

a atribuir ao sistema de preços uma parcela maior da alocação de recursos diminuindo o

caráter discricionário e instável da política comercial vigorante até o final dos anos 80.

Não existe uma coordenação de política macroeconômica entre os membros do Mercosul

e até recentemente a grande discrepância se localizava na política cambial, com a

Argentina adotando um regime de taxas de câmbio fixa em termos nominais, enquanto

que os demais países seguem uma regra que se aproxima de um regime de taxa de

câmbio flutuante com interferência governamental. Alias, aqui reside uma importante

restrição ao processo de integração: como Brasil e Argentina não completaram seus

programas de reforma macroeconômica, sem dúvida alguma tal objetivo ainda é

prioritário, se sobrepondo (e conflitando) ao objetivo de integração regional. Os eventos

da desvalorização do real e de moratória da Argentina dão uma demonstração clara da

inviabilidade de uma integração profunda, quando persistem diferenças

macroeconômicas tão radicais entre os países.

Alterações no volume de comércio têm ocorrido desde o início do processo de

integração comercial ao nível do MERCOSUL. As informações disponíveis indicam que o

grau de especialização regional aumentou, levando a expansão dos fluxos comerciais.

Vários setores produtivos foram afetados com o incremento das transações regionais,

dependendo os resultados do grau de competitividade das indústrias de cada país. A

magnitude do mercado regional (PIB da ordem de 2,8 trilhões de US$ em 2013)

possibilitou redefinir a distribuição espacial de várias atividades, aumentando a

competitividade destes setores a nível mundial. Aliás, esta seria uma razão primordial

para a implementação do MERCOSUL: em um cenário de crescente globalização e de

concorrência em escala mundial, o processo de criação de um mercado comum não

poderá ser protecionista, sob o risco de comprometer a competitividade internacional da

região.

Page 18: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

18

12. 6. PERSPECTIVAS DA ECONOMIA MUNDIAL

Dada à interdependência das economias nacionais, as mudanças recentes que

estão ocorrendo nos países desenvolvidos já estão afetando a trajetória da economia

mundial para os próximos anos. As informações divulgadas até o final de 2013 dão uma

indicação cada vez mais clara que as economias dos países desenvolvidos estão

passando por um processo de gradual do nível de crescimento.

Existem vários fatores para explicar essa mudança de rumo da economia

mundial: em primeiro lugar, a magnitude da crise financeira dos Estados Unidos, Reino

Unido, Espanha, Portugal, Grécia, Bélgica e Irlanda reduziram o dinamismo da economia

dos países desenvolvidos. Somente em 2014 é que se projeta uma gradual recuperação

do crescimento mundial. Quando se acreditava que as medidas de estimulo monetário e

fiscal na economia americana e européia poderiam ter eliminado o pior da crise, eclodiu

o problema da crise das dívidas soberanas dos países da área do euro e dos EUA.

Uma das características importantes da economia mundial do período pós II

Guerra Mundial é a recorrência de flutuações cíclicas, que a política macroeconômica é

incapaz de controlar. Os ciclos econômicos não tem um padrão definido, o que torna a

muito difícil à tarefa de prever o comportamento futuro da economia mundial. O ponto

central a ser destacado é que após a desaceleração econômica mundial do ano de 2001,

a economia mundial passou por uma forte recuperação e entre 2003 e 2007, o

crescimento foi superior a média histórica, porem a partir do segundo semestre de

2008, começou a reversão do crescimento da economia mundial. Essa diminuição do

dinamismo do crescimento mundial teve três causas: há um importante desequilíbrio

macroeconômico no mundo durou quase que uma década. Em segundo lugar, o próprio

crescimento acelerada do PIB mundial, pressionou o preço das commodities no mundo e

em terceiro lugar, eclodiu a crise de crédito nos Estados Unidos que se espalhou

rapidamente pelo mercado financeiro dos países industrializados e em desenvolvimento.

Na virada dos anos noventa para a primeira década do século XXI se acentuam

inicialmente o déficit de balanço de pagamentos dos EUA e após o ataque terrorista de

11 de setembro de 2001, o esforço bélico americano com a invasão do Iraque,

Afeganistão e defesa interna ampliaram o déficit governamental. As conseqüências dos

“déficits gêmeos” americanos foram de um lado o aumento das taxas de juros longas

Page 19: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

19

nos Estados Unidos e uma desvalorização sistemática da moeda americana no mercado

cambial mundial.

A depreciação do dólar e o aumento do preço das commodities geraram pressões

inflacionárias e o FED reagiu aumentando a taxa básica de juros (Taxa dos Fundos

Federais) e o resultado foi à redução de ritmo de crescimento da economia americana.

Se adicionarmos a crise hipotecária de 2007, temos o conjunto de fatores que explicam

a desaceleração do crescimento do PIB americano e que teve efeitos adversos nos

demais países ricos.

A partir do mês de julho de 2007, o mercado financeiro internacional começou a

passar por um período de maior volatilidade que persiste até o momento atual. No início

da crise o principal foco das preocupações ficou concentrado com as perspectivas do

comportamento do mercado imobiliário americano e os efeitos colaterais sobre retração

de crédito bancário nos Estados Unidos e das repercussões sobre a economia mundial,

particularmente a União Européia. As bolsas de valores passaram a ter oscilações

maiores, o risco soberano dos países em desenvolvimento aumentou significativamente,

houve maior flutuação da taxa de câmbio e houve uma realocação de carteiras em

direção a aplicações mais seguras (fuga para a qualidade). Um bom termômetro dessa

mudança é o aumento do preço dos títulos do tesouro americanos mais longos e

consequente queda de juros desses papeis. Outro indicador da mudança de humor do

mercado financeiro foi o comportamento das bolsas de valores mundiais. Cinco anos

após a eclosão da crise do “sub-prime”, a volatilidade dos preços das ações continua

elevada e houve um aumento generalizado do preço das ações no mundo.

Houve uma retração significativa da atividade de construção de residências nos

Estados Unidos: comparado com o início de 2006, as informações disponíveis até início

de 2014 indicam uma queda de 61% nas construções de residências. Os preços dos

imóveis começaram a cair a partir de 2006, contabilizando uma redução de 34% no

preço dos imóveis residenciais e criando problemas de liquidez e insolvência para os

mutuários. Entre 2006 e 2013 foram executadas 4,5 milhões de hipotecas nos Estados

Unidos.

O prejuízo reportado por bancos na área de crédito imobiliário e securitização de

recebíveis em hipotecas deixou o mercado financeiro internacional extremamente volátil

durante três anos. O segmento imobiliário em qualquer economia com aprofundamento

Page 20: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

20

financeiro é muito grande e a queda do nível de atividade desse setor usualmente leva a

uma desaceleração do crescimento do PIB. Só para se ter uma idéia das magnitudes

envolvidas, o valor do crédito hipotecário nos Estados Unidos é de US$ 12 trilhões, ou

80% do PIB americano. Um problema de inadimplência no segmento mais arriscado

desencadeou um ajuste no mercado de capitais americano e mundial de grandes

proporções. Aqui, o papel dos Bancos Centrais e do Tesouro dos países desenvolvidos

foi decisivo para evitar que o problema financeiro contaminasse a economia mundial

como um todo.

Na verdade deve-se lembrar que a economia dos Estados Unidos já dava sinais

de redução do seu crescimento a partir de 2004, em função da política monetária

restritiva praticada pelo FED, dada à ameaça inflacionária que começava a rondar a

economia americana. Não se deve esquecer que até setembro de 2007, a taxa básica de

juros nos Estados Unidos estava em 5,25% ao ano. A partir de agosto de 2008, o

cenário mudou muito rapidamente quando se percebeu a extensão da crise financeira e

a prioridade do banco central americano passou a ser o nível de atividade econômica.

Apesar da agressividade de atuação do FED em aumentar a liquidez real da economia,

isso não tem sido suficiente para sustentar os preços dos ativos e a queda da atividade

econômica acabou ocorrendo . A economia americana teve uma queda do PIB de 2,7%

em 2009 e no período de 2010 a 2013, foram necessários estímulos monetários e fiscais

excepcionais para que houvesse um crescimento de 2%.

A retração do nível de atividade econômica se acentuou com a crise do “sub-

prime”. Rapidamente o mercado imobiliário se ajustou ao excesso de oferta e o nível de

atividade na construção civil está hoje próximo de 35% do exibido em 2006, quando se

atingiu o pico da produção de imóveis residenciais. Alem de representar por si só uma

forte redução da demanda por componentes e de mão de obra, a queda no preço dos

imóveis trouxe uma diminuição patrimonial estimada em US$ 2 trilhões aos

proprietários. Se adicionarmos a redução do preço médio das ações a partir de meados

de 2007, estima-se que os americanos passaram por uma redução no valor de mercado

de seu patrimônio de aproximadamente US$ 4 trilhões. Trata-se de um “efeito riqueza”

negativo, que transformou o consumidor e o investidor americano em um agente

econômico mais cauteloso no planejamento de suas despesas, o que deverá sancionar

um crescimento moderado para a economia americana - apesar dos estímulos

Page 21: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

21

monetários e fiscais utilizados. O crédito está muito mais seletivo e a perda patrimonial

dos bancos americanos exigiu uma restrição de crédito que passou a ser um fator

adicional a reduzir a demanda agregada. Do lado europeu, o panorama não é muito

diferente. A exposição dos bancos europeus foi elevada aos ativos financeiros

americanos, o que levou a uma retração do crédito na região. Com isso a Europa entrou

em recessão, fenômeno idêntico ocorreu no Japão.

Como é possível que países de dimensão econômica minúscula como as da Grécia,

Irlanda e Portugal conseguiram trazer uma grande incerteza com relação ao futuro do

Euro e da própria União Européia? A resposta é que a crise europeia reflete um

problema amplo que atinge o âmago da arquitetura econômica e política do projeto de

integração europeu. o problema não é específico de um país ou do conjunto de países

que foi identificado como PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), mas da

sobrevivência da moeda única frente a dois choques adversos: a crise financeira de

2007/2008 e a deterioração fiscal e creditícia decorrente da profunda recessão de 2009,

que levou a queda da arrecadação, aumento das despesas do governo e uma trajetória

insustentável da dívida pública de vários países europeus.

A grande incógnita que surgiu em 2010 é se o acordo anunciado em 5 de maio de €$

110 bilhões entre a União Européia e o Fundo Monetário Internacional para evitar que a

Grécia decretasse moratória na sua dívida seria suficiente para garantir a transição até

2015 e se o fundo de estabilização de €$ 750 bilhões anunciado em 10 de maio de 2010

garantirá apoio aos demais países que tenham dificuldades de financiamento de suas

dívidas no mercado financeiro internacional. Em fevereiro de 2012 foram necessárias

medidas adicionais de apoio à Grécia para evitar uma moratória da dívida do governo e

foram criados novos mecanismos para que o mesmo não ocorresse com Portugal e

Irlanda. O segundo “pacote” de ajuda à Grécia foi de €$ 130 bilhões, envolvendo novos

empréstimos, redução de juros da dívida, alongamento de prazos e uma contribuição

voluntária dos bancos privados na reestruturação da dívida do governo grego. Dada à

interdependência das economias nacionais, as mudanças recentes que estão ocorrendo

nos países industrializados afetarão a trajetória da economia mundial para os próximos

anos. As informações divulgadas até 2013 dão uma indicação cada vez mais clara que

Page 22: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

22

as economias dos países desenvolvidos estão passando por um processo de recuperação

do nível de crescimento, caminhando para um crescimento mais modesto. Esse é o caso

da União Européia, onde a inexistência de uma política monetária e cambial a nível

nacional levou a uma recessão em 2012 e 2013. Os ajustes fiscais anunciados para os

próximos anos são grandes e deverão contribuir para um crescimento de 1% ao ano.

Contrariando o Tratado de Maastricht (1991) e o Pacto de Estabilidade e Crescimento

(1997) os países da área do Euro passaram a apresentar importantes divergências

inflacionárias, fiscais e de balanço de pagamentos. Um primeiro critério de convergência

em uma are a monetária ótima deve ser a pequena diferença de inflação entre países,

para não alterar a competitividade da produção nacional. No caso europeu isso não

ocorreu. Diferenças de inflação entre países afetam os custos unitários de mão de obra

e levam a uma apreciação da taxa de câmbio real dentro da região do euro. Espanha,

Portugal e Grécia durante a última década tiveram uma taxa de inflação

sistematicamente superior da Alemanha em função do excesso de demanda, comandado

por uma ampliação dos gastos públicos e expansão desordenada do crédito doméstico.

A conseqüência foram déficits de balanço de pagamentos em transações correntes

elevados.

A credibilidade no Euro permitiu que os países deficitários financiassem seus balanços

de pagamentos com créditos internacionais, na esteira da desregulamentação e

expansão do crédito que já ocorria desde os anos oitenta. Mas claramente, isso era

insustentável, já que nenhum país pode-se endividar indefinidamente, com um déficit de

balanço de pagamentos que chegou a atingir 15% do PIB (no caso da Grécia em 2007).

A recessão mostrou a outra fragilidade da área do Euro: o déficit público disparou e as

dívidas do governo passaram a ter uma trajetória que, rapidamente, sinalizavam a

insolvência de vários Estados europeus. A rápida queda do nível de atividade, o

aumento do gasto público e a queda na arrecadação levaram o déficit fiscal para

patamares insustentáveis e o caso mais dramático foi o do governo grego, aonde o

déficit público chegou a 9,5% do PIB em 2010. Com uma divida externa em trajetória

explosiva, rapidamente o mercado financeiro passou a exigir spreads altíssimos na

renovação na dívida do governo grego, chegando tais spreads a atingir 2500 pontos

Page 23: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

23

(25%) com relação ao titulo do tesouro alemão. Estava fechado o mercado para novas

emissões de dívidas do governo grego e a crise na área do euro atinge seu ápice,

culminando com o acordo com o FMI, Banco Central Europeu e União Europeia para

evitar uma moratória grega. Fenômeno semelhante ocorreu com a Irlanda em dezembro

de 2010 e novamente com a Grécia em julho e outubro de 2011.

Portanto o dinamismo da economia mundial passou a depender do crescimento

dos países em desenvolvimento. Em 2010 houve um teste importante se os países em

desenvolvimento se desacoplaram dos ciclos das economias dos países desenvolvidos.

Pelas informações disponíveis para 2013, o PIB da União Européia, Estados Unidos e

Japão conjuntamente representavam 56% do PIB mundial e a probabilidade de uma

retração de demanda nessas regiões afetar o desempenho das economias em

desenvolvimento era muito alta. Mas a política a política monetária e fiscal adotada nos

países emergentes conseguiu rapidamente reverter os efeitos da queda da demanda

externa e a expansão do mercado interno possibilitou um crescimento do PIB da ordem

de 6% ao ano, inferior ao observado antes da crise financeira.

7. O DESEMPENHO RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA E AS PERSPECTIVAS PARA OS

PRÓXIMOS ANOS.

Introdução

O objetivo dessa seção é o de analisar as principais transformações ocorridas

na política macroeconômica brasileira nas duas últimas décadas e avaliar as perspectivas

futuras em função das opções de política econômica disponíveis. A experiência recente

pode ser dividida em dois períodos: o primeiro que compreende os anos 1988-1998, foi

caracterizado por duas transformações estruturais que mudaram o modelo econômico

brasileiro: a abertura ao exterior e a estabilização dos preços. Estas mudanças foram

acompanhadas de dois desequilíbrios básicos que passaram a restringir a trajetória

futura de crescimento da economia brasileira: o rápido crescimento da dívida do

governo e a necessidade crescente de poupança externa. Em um ambiente externo de

crises recorrentes tal vulnerabilidade tinha dias contados. A partir de 1999 e até os dias

Page 24: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

24

de hoje, foram tomadas medidas para reduzir os desequilíbrios das contas públicas e do

balanço de pagamentos e do resultado das medidas dependerá a trajetória futura da

economia brasileira. A ênfase da análise está concentrada neste segundo período,

embora uma análise do período anterior seja essencial para o entendimento das

transformações recentes de política econômica implementadas no país a partir de 1999.

Duas grandes mudanças alteraram o modelo econômico brasileiro nos anos

noventa:

Em primeiro lugar, houve uma transição do modelo fechado dos anos setenta e

oitenta, para um regime mais aberto do ponto de vista comercial, financeiro e de

investimento direto. Foram reduzidas as barreiras às importações, o mercado financeiro

foi desregulamentado e foram eliminadas restrições institucionais a uma maior

participação do capital estrangeiro em investimentos em setores de infraestrutura. Uma

discussão dos resultados de tais mudanças é essencial para uma análise dos efeitos da

abertura na economia brasileira.

Em segundo lugar, o governo conseguiu – depois de muitas tentativas mal

sucedidas – reduzir a inflação para patamares de um dígito ao ano, tendo sido a

abertura uma pré-condição para a estabilização. O país estava caminhando

inexoravelmente para a hiperinflação, mas conseguiu implementar um programa

coerente de combate a inflação, que trouxe a taxa de inflação para patamares

semelhante aos observados na média dos países em desenvolvimento.

Acreditava-se que, em um ambiente mais aberto e estável, a economia

passasse a experimentar um crescimento significativo, o que não aconteceu em função

de turbulências internacionais e as inconsistências da política macroeconômica interna.

O país continuou a apresentar um crescimento modesto quando comparado com o ser

padrão histórico, onde o país teve - no período 1900-1980 - a segunda maior taxa de

crescimento do PIB do mundo, só sendo suplantado pelo Japão.

A abertura e a estabilização foram acompanhadas de importantes desequilíbrios

nas contas públicas e no balanço de pagamentos que se apresentavam como os grandes

desafios que o país tinha pela frente para consolidar a transição e criar condições para a

retomada do crescimento econômico.

Page 25: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

25

A Política Brasileira de Abertura da Economia ao Exterior

O país ao optar por uma política de industrialização rápida passou por

diferentes fases de política econômica, as quais condicionaram o perfil produtivo do

país. Na história recente, podem-se destacar dois períodos na política brasileira de

inserção internacional:

O primeiro (fechamento da economia), que se estende pelo período 1974 a

1988 - é caracterizado pelo aumento das tarifas de importação e das restrições não

tarifárias (RTN) às importações, o que transforma o país em uma das economias mais

fechadas do mundo. Neste período houve uma verticalização excessiva da economia,

quer em decorrência dos choques externos, quer por decisão de política industrial de

atingir autonomia a qualquer custo; houve, adicionalmente, pouca ênfase na formação

de recursos humanos, e em pesquisa básica e aplicada essenciais para a criação e

transferência do progresso tecnológico. Houve, também, ênfase em proteger setores de

alta tecnologia, setores que usam intensivamente mão de obra qualificada em pesquisa

e desenvolvimento (P&D), fator escasso na economia brasileira e de pequena prioridade

nos investimentos governamentais. A concentração dos incentivos para as vendas no

mercado interno e externo em poucas firmas de grande porte favoreceu a formação e

preservação de uma estrutura oligopolista, pouco afeita à concorrência e à mudança

tecnológica.

Não se pode esquecer que, durante os anos 80, reduziu-se dramaticamente a

inserção do Brasil no comércio mundial, com importantes resultados sobre a

competitividade da economia brasileira e o papel a ser desempenhado pelo setor

externo em uma estratégia de retomada do desenvolvimento econômico. Basta indicar,

que entre 1980 e 1987, o grau de abertura da economia brasileira ao comércio mundial

se reduziu em 42% (de 9,4% do PIB em 1980 para 6,6% em 1987).

Para que isto se modificasse, foi necessário que o país liberalizasse seu

comércio exterior com a eliminação da variância da proteção e dos incentivos,

diminuísse a verticalização excessiva da economia, eliminando as barreiras à competição

e o sistema de incentivos concentrados em empresas que tem poder de mercado. Com

isto, está sendo possível obter os ganhos de produtividade necessários à ampliação do

Page 26: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

26

poder competitivo do país, em um mercado mundial cada vez mais determinado pelo

ritmo do progresso tecnológico.

Este segundo período iniciou-se em 1988 (abertura da economia).

Os benefícios de um programa de abertura da economia, baseado no sistema

de preços e com regras estáveis e não discriminatórias de acesso aos agentes

econômicos são:

a) Criar um ambiente competitivo que possibilite uma melhor alocação de recursos

entre setores, com um mínimo de distorções. Em uma economia com níveis de

proteção elevada, as empresas tendem a ser menos eficientes, já que lhes são

impostas uma série de restrições na alocação de fatores de produção e na

escolha da composição do produto final. A inexistência da concorrência externa e

as imperfeições do mercado de capitais doméstico possibilitam a manutenção de

estruturas de mercado oligopolizadas, com elevadas barreiras ao ingresso de

novas firmas;

b) Incentivar os aumentos de produtividade e possibilitar a especialização da

produção compatível com escalas mínimas ótimas;

c) Acelerar o ritmo de criação, importação e difusão tecnológica, compatível com a

expansão da competitividade das empresas brasileiras, tão comprometida nos

anos 80;

d) Aumentar a taxa de crescimento do produto quer através da diminuição da

restrição externa, quer pela ampliação do mercado interno e externo;

e) Favorecer uma diminuição da concentração de renda, já que a estratégia de

maior abertura beneficia o fator abundante da economia (mão de obra, terra e

recursos naturais).

Com a entrada em vigor, em 15 de fevereiro de 1991, do cronograma de

redução gradual das alíquotas de importação, completou-se um conjunto de medidas

iniciadas em março de 1990, visando à liberalização do comércio exterior brasileiro. As

principais mudanças da política de importação ocorreram em março de 1990, quando

foram eliminados os regimes especiais de importação (à exceção do drawback, acordos

internacionais e Zona Franca de Manaus) e os controles administrativos sobre as

Page 27: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

27

importações (restrições não tarifárias). Além disto, extinguiu-se a exigência de

financiamento compulsório das importações e alterou-se o regime cambial do país.

O objetivo básico destas alterações foi o de eliminar os critérios altamente

discricionários, subjetivos e instáveis da política de importação e atribuir ao sistema de

preços, via tarifas de importação e taxa de câmbio, o controle das importações. Toda a

parafernália de intervenções no setor externo atrapalhava o funcionamento dos

mercados, gerando ineficiências na produção interna, aumentava o custo da burocracia

para o Estado e levava a importante transferência de renda entre os segmentos da

sociedade brasileira. Além disto, tal sistema desacreditava o país como um parceiro

comercial confiável e transparente, gerando imprevisibilidades e inibindo os

investimentos nacionais e estrangeiros.

A reforma da tarifa aduaneira estabelecida para o período 1991-1994 teve

como objetivo atribuir ao sistema tarifário o papel de principal instrumento de controle

das importações. Ao se diminuir o nível e a dispersão da proteção nominal procurou-se

estimular a concorrência e uma maior especialização internacional do país no médio e

longo prazo, compatível com maior eficiência alocativa e retomada do crescimento

econômico.

A tarifa nominal tem um valor mais freqüente de 20%, com um mínimo de 0%

para os seguintes casos: produtos em que o país tem claras vantagens comparativas;

para produtos sem produção nacional e produtos com pequeno valor adicionado e

elevados custos de transporte internacional. As tarifas mais elevadas foram fixadas para

bens de consumo durável, sendo que a proteção nominal máxima é atualmente de 35%.

Pelo compromisso que o Brasil assumiu durante a Rodada do Uruguai, a alíquota

máxima passou a ser de 35% a partir de 2000.

Houve uma significativa redução da tarifa nominal entre 1988 (ano

imediatamente anterior à reforma) e 1994. A tarifa média era de aproximadamente 1/3

da vigente em 1989, fazendo com que haja uma maior homogeneidade na estrutura

tarifária. Com o Plano Real, houve uma reversão parcial da abertura comercial, com

aumentos significativos nas tarifas de importação de autos, eletroeletrônicos, calçados,

tecidos e brinquedos. Com a abertura comercial, as importações passaram de um

patamar de US $ 20 bilhões ao ano, para 220 bilhões em 2012.

Page 28: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

28

As mudanças efetuadas tiveram um impacto importante na inserção

internacional e na estrutura produtiva do país. Em primeiro lugar, o grau de abertura

comercial, possibilitou reduzir o grande isolamento do país do comércio e da tecnologia

mundial disponível. Em 1990, o Brasil era um dos países com o mercado interno mais

isolado do planeta e conseguiu reverter tal resultado na última década.

Esta abertura comercial possibilitou uma parcial desverticalização do processo

produtivo doméstico, a descontinuidade de atividades produtivas incompatíveis com

condições de custo de produção internacional, a modernização do parque produtivo

doméstico e ganhos de escala importantes para a ampliação do comércio intra-indústria

e intrafirma, tão importante no comércio mundial contemporâneo. De uma maneira

abrangente, para todos os setores industriais brasileiros, houve uma significativa

reordenação da produção de um caso de quase autarquia para uma maior inserção no

comércio internacional.

Estas modificações da estrutura industrial brasileira foram acompanhadas de

alteração da produtividade média da mão de obra. Após uma década de isolamento do

mercado mundial, inflação e estagnação, a abertura ao exterior, a estabilização e a

perspectiva de um crescimento mais consistente da renda per-capita, criaram condições

mais favoráveis ao investimento direto. Neste novo ambiente, os ganhos de

produtividade foram maiores, embora ao final da década já dessem sinais de

esgotamento, em função das turbulências domésticas e internacionais.

Mesmo com ganhos importantes de produtividade, o desempenho exportador

brasileiro foi modesto e o país não conseguiu recuperar a perda relativa no mercado

mundial observada a partir da segunda metade dos anos setenta. A forte valorização

cambial da segunda metade da década de noventa, um sistema tributário que penaliza a

atividade produtiva doméstica, juros reais elevados e logística deficiente explicam o

pequeno crescimento das exportações e o aumento da vulnerabilidade externa do país

às turbulências econômicas domésticas e internacionais. Entre os países em

desenvolvimento, o crescimento das exportações brasileiras foi o menor durante os anos

noventa. Este fenômeno começou a ser revertido a partir de 2001, em conseqüência da

desvalorização cambial ocorrida a partir de 1999, dos ganhos de produtividade

decorrentes da abertura da economia e do aumento da demanda internacional por

commodities brasileiras.

Page 29: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

29

Além da abertura comercial, o governo promoveu uma integração maior do país ao

mercado financeiro internacional e aos fluxos de investimento direto estrangeiro. Uma

série de medidas foi tomada para reduzir o isolamento do país aos principais

movimentos de capital financeiro e produtivo internacional. Com relação aos

movimentos de capital financeiro são relevantes as seguintes medidas: o término da

renegociação da dívida externa do governo em 1994, normalizando o relacionamento do

país com os credores internacionais e a desregulamentação dos fluxos de capital

financeiro internacional em direção ao mercado brasileiro. Neste último tópico deve-se

destacar a simplificação da legislação do Anexo IV (facilitando a entrada e saída de

capitais de portfólio nas Bolsas de Valores brasileiras) e a liberdade para aplicação de

recursos externos em títulos de renda fixa no mercado financeiro doméstico. A

desregulamentação também facilitou os bancos e empresas instaladas no país captar

recursos no mercado internacional, através de notes e bonds. A abertura financeira

possibilitou que se triplicasse a partir dos anos 90 o ingresso líquido de capital financeiro

no país. Com relação ao investimento direto estrangeiro, as principais mudanças que

ocorreram no país durante os anos 90 e explicam o grande crescimento dos

investimentos diretos estrangeiros na economia brasileira: as mudanças na Constituição

de 1988 que passaram a permitir a presença do capital estrangeiro em setores como e

de infraestrutura e bancário; a aceleração do programa de privatização e a própria

estabilidade macroeconômica, que passou a sinalizar a importância do mercado

brasileiro na estratégia de investimento das grandes corporações transnacionais. O

Brasil, que no inicio dos anos 90, captava US $ 1 bilhão de investimentos diretos,

terminou nos últimos anos com captações no nível de US $ 60 bilhões e manteve-se

entre os principais hospedeiros de investimento direto estrangeiro entre os países

emergentes.

O balanço de pagamentos do Brasil apresentou modificações importantes a

partir dos anos 90. Com a abertura comercial, financeira e ao investimento direto,

acompanhado e aumento do nível de atividade econômica interna decorrente do Plano

Real, deterioram-se rapidamente as contas externas. O país que apresentava superávits

comerciais elevados, suficientes para financiar os déficits na conta de serviços, passa a

apresentar déficits crescentes, que passam a ser financiados pela entrada de

investimentos diretos e financiamentos/empréstimos internacionais, suficientes para

Page 30: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

30

manter elevado o estoque de reservas necessários para manter a credibilidade na

“ancora“ cambial. Este padrão é mantido até o ano de 1996, porém a partir de 1997,

com os impactos da crise asiática e russa, o país não conseguiu atrair capitais

suficientes para financiar o balanço de pagamentos e passa a perder reservas que

culminaram com o abandono do regime de bandas cambiais em janeiro de 1999. A

mudança do regime cambial e a forte desvalorização cambial que a seguiu, passaram a

sinalizar uma nova fase para as contas externas. As perspectivas para o setor externo

da economia brasileira ficaram bem mais favoráveis do que as observadas a partir de

1999. Em primeiro lugar, o crescimento da economia mundial, que havia se reduzido em

função da crise que assolou os mercados emergentes, se acelerou a partir de 2003

acima de seu padrão histórico. Como as exportações brasileiras são diversificadas

geograficamente, um crescimento mundial maior foi favorável ao desempenho das

exportações brasileiras. Em segundo lugar, o crescimento dos preços das commodities,

completaram um mercado internacional mais favorável ao ajuste externo da economia

brasileira.

Para o balanço comercial do Brasil, além de um efeito renda mundial positivo,

deve-se adicionar o efeito preço relativo associado à desvalorização cambial, cujos

resultados foram expressivos na forma de superávits comerciais. Na conta de serviços,

ocorreram reduções nas despesas, particularmente no item viagens internacionais

embora a conta lucros e dividendos apresente uma trajetória de crescimento expressivo.

Adicionando-se as transferências unilaterais, o déficit em transações correntes

desapareceu e se transformou em superávit. A partir de 2008 o país volta a apresentar

déficits no balanço de pagamentos em transações correntes em função da apreciação

cambial que se consolidou a partir de 2004 e de um maior crescimento do mercado

interno, que aumentou a demanda por importações.

A Estabilização: O Plano Real

Antecedentes

O Plano Real apresentou uma inovação significativa na política de estabilização,

na medida em que pode utilizar novos instrumentos macroeconômicos que não estavam

Page 31: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

31

disponíveis nos planos anteriores. Como se sabe, desde o Plano Cruzado, os elementos

utilizados para interromper a aceleração inflacionaria foram: reformas monetárias, a

desindexação dos contratos, o congelamento de preços e o seqüestro de ativos

financeiros. Todos os planos (Cruzado, Bresser, Verão e Collor) tiveram duração efêmera

e o país conviveu durante quase uma década com o fenômeno da “inflação extrema”.

Durante todos estes episódios a economia brasileira estava extremamente isolada dos

fluxos internacionais de comércio e de capitais, o que dificultava a utilização da

disciplina dos preços mundiais e o impossibilitava de atrair poupança externa como

instrumento coadjuvante de um programa de estabilização macroeconômica. O imposto

inflacionário era utilizado intensamente para financiar o déficit público, contribuindo para

a expansão acelerada dos preços.

O Plano Real representa um “divisor de águas” com relação a estes

procedimentos na medida em que passa a utilizar a taxa de câmbio e a poupança

externa como instrumentos chaves para a estabilização. A abertura comercial e

financeira ao exterior, iniciada no final dos anos 80, já estava suficientemente avançada

em meados de 1994, viabilizando a utilização de “uma âncora cambial” na disciplina dos

preços dos ”tradeables”, e a utilização do ingresso de capital externo para financiar o

déficit público (em substituição ao imposto inflacionário). São estas inovações que

possibilitam a drástica redução da inflação observada nos últimos anos e que consolidam

a manutenção de uma inflação moderada no país. Deve-se destacar, adicionalmente,

que o sucesso do plano de estabilização esteve associado à utilização da URV, no

período anterior à reforma monetária e a desindexação dos contratos a partir de 1996.

Page 32: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

32

Retrospectiva e Perspectivas do Plano Real

Existem duas fases no Plano Real desde a sua implementação em meados de

1994: a primeira fase se estende até janeiro de 1999 e apresenta características bem

definidas. Inicialmente, há uma rápida expansão da demanda interna associada à

drástica redução do imposto inflacionário e pela valorização da taxa de câmbio.

Observa-se um crescimento rápido das importações, fenômeno típico de economias que

tenham certa abertura às importações e experimentam rápida expansão de demanda.

As restrições iniciais ao crédito e o crescimento da taxa de juros não foram suficientes

para controlar a rápida expansão do nível de atividade da economia e no setor externo o

que se observou foi à transformação do superávit em déficit comercial.

Esta situação não representava nenhuma ameaça ao Plano Real, na medida em

que a disponibilidade de recursos financeiros no mercado internacional viabilizou o

financiamento do déficit de transações correntes. Desde a crise do México, em

dezembro de 1994, a brusca reversão do fluxo de capitais externos, começa a colocar

em xeque a estratégia inicial de estabilização do plano real, já que a rápida diminuição

das reservas externas poderia sinalizar para os agentes econômicos a eminência de uma

mudança da regra cambial necessária para evitar o colapso das contas externas.

Assim, iniciam-se já em 1995 alguns ajustes no Plano Real com a utilização de

uma série de instrumentos para o equilíbrio externo e interno de curto prazo da

economia: taxas de juros reais elevadas, a utilização da “banda cambial deslizante“ (que

nada mais é do que um sistema de minidesvalorizações disfarçado) e dos controles

tarifários e não tarifários sobre as importações. Com estes expedientes, foi possível

administrar a restrição externa, reduzir a demanda interna, porém poucos avanços

foram feitos em direção ao equilíbrio das contas públicas, passando este a ser o

elemento chave da inconsistência intertemporal do Plano Real.

A partir do primeiro trimestre de 1996, com a forte redução do nível de

atividade (o PIB apresentava uma queda de 2,1% neste período), passa o governo a

reduzir a restrição ao crédito, e gradualmente há uma recuperação da taxa de

crescimento, fazendo com que se feche o ano com um crescimento positivo da ordem

de 3%. Neste ano, houve uma deterioração das contas externas, e as perspectivas de

equilíbrio ou pequeno superávit comercial que o governo previa no início do ano, foi

Page 33: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

33

substituído por uma de déficit de US $ 4,5 bilhões. Adicionando-se o déficit de serviços e

as transferências unilaterais atingiu-se - no ano de 1996 - um déficit em transações

correntes de US $ 24,3 bilhões (3,5% do PIB). O movimento de capital manteve-se

superavitário, mantendo o nível de reservas externas próximos aos US $ 60 bilhões. Esta

situação se altera em meados de 1997, quando a crise asiática se alastra para vários

países, inclusive o Brasil, levando a uma mudança brusca da política monetária para

preservar o nível de reservas internacionais e a regra cambial vigente. As promessas não

cumpridas de um ajuste fiscal anunciadas no famoso “Pacote 51” colocam o país a partir

de 1998 em uma posição externa cada vez mais vulnerável a choques externos.

A regra cambial, inaugurada em março de 1995, foi a de administrar uma

desvalorização cambial que grosso modo, seguia a taxa de variação do índice de preços

por atacado. Isto permitiu uma parcial recuperação da taxa de câmbio real, após a

enorme valorização que ocorreu logo no início do plano, passando a sinalizar que o

governo não iria manter um regime cambial tão rígido como o adotado pela Argentina.

De qualquer forma, taxas de juros reais elevadas, desvalorizações cambiais

homeopáticas e utilização de poupança externa para financiar o déficit público foram

elementos essenciais para os resultados macroeconômicos de curto prazo: balanço de

pagamentos equilibrado (porém, com forte déficit em transações correntes financiado

pela entrada de capitais externos), nível de atividade econômica com moderada

expansão e taxas de inflação no patamar de um dígito ao ano. O calcanhar de Aquiles

de tal estratégia está claramente na impossibilidade de eliminar o déficit público, o que

colocava o Plano Real em uma trajetória inconsistente em médio prazo. A manutenção

de uma inflação moderada na ausência do equilíbrio das contas públicas só foi possível

pela atração de recursos externos, que financiou o déficit das transações correntes e as

necessidades de financiamento do setor público. A dificuldade de tal política era clara:

existem limites à expansão acelerada do endividamento interno e externo.

A segunda fase, iniciada em janeiro de 1999, quando o Banco Central não

conseguiu controlar um ataque especulativo fulminante à moeda brasileira e foi obrigado

a mudar o regime cambial em direção a taxas flutuantes. A partir daí, acaba a “âncora

cambial” e o país passa a contar com a consistência da política fiscal e monetária para

garantir uma inflação de um dígito no país e reduzir as turbulências da área externa.

Page 34: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

34

As mudanças que ocorreram a partir de 1999, procuraram alterar a trajetória

da economia e recuperar a capacidade de financiamento externo e do governo. As três

grandes alterações de política econômica, que passaram a condicionar os cenários

futuros da economia brasileira, foram:

a. Modificação do regime cambial, que culminou com uma desvalorização

cambial real, passando a sinalizar que a magnitude do déficit externo seria de

magnitude inferior ao observado antes do abandono da “âncora cambial”. As mudanças

de política cambial introduzidas em janeiro de 1999 demoraram a surtir efeitos

substanciais sobre o balanço de pagamentos. O primeiro superávit comercial só

apareceu em 2001 e o primeiro grande superávit só ocorreu em 2003. Em 1998, no

auge da aversão ao risco a empréstimos a mercados emergentes, a Brasil tinha uma

necessidade de recursos externos impossível de ser financiado. O déficit de transações

correntes era de US$ 33 bilhões e as amortizações de empréstimos atingiam US$ 34

bilhões.

Nos três primeiros anos os resultados não foram significativos. Em 2001, o

déficit externo ainda era de US$ 23 bilhões, uma redução modesta, quando comparado

ao pico de 1998. Nos anos de 2002 a 2007 é que há a grande guinada e o déficit

externo se transformou em um superávit. As informações estatísticas do balanço de

pagamentos indicam que o ajuste foi na balança comercial e não na conta serviços e

rendas. De um modesto superávit comercial de US$ 2,6 bilhões em 2001, chega-se a

um mega superávit de US$ 40 bilhões em 2007. O déficit em serviços e rendas não

diminuiu, já que boa parte das despesas é contratual e o passivo externo líquido do país

é elevado. Portanto não ocorreram mudanças radicais nas despesas com juros da dívida

externa, nem de remessas de lucros e dividendos. No agregado, o déficit em serviços e

rendas aumentou de US$ 30 bilhões de 1998, para o patamar dos US$ 75 bilhões em

2013. A partir de 2008 o país volta a ter déficits crescentes em transações correntes da

ordem de US$ 81 bilhões em 2013.

Com relação ao balanço de pagamentos deve-se analisar, finalmente, o

comportamento do movimento de capitais. Aqui ocorreram algumas transformações

importantes. Em primeiro lugar, houve uma oscilação importante no ingresso de

investimento direto. Isto se deve a um comportamento cíclico do investimento direto

estrangeiro no mundo (IDE). O auge da expansão do IDE ocorreu em 2000, quando se

Page 35: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

35

desfez a bolha especulativa das “empresas ponto com”; houve uma redução do ritmo de

crescimento das principais economias do mundo; foi descoberto o escândalo da

maquiagem de balanços em grandes empresas; houve o ataque terrorista aos Estados

Unidos e para finalizar a moratória argentina. Dentro deste contexto, não havia clima

para a manutenção do IDE e ele foi reduzido à metade no mundo. No Brasil, a queda foi

mais significativa ainda, o IDE caiu a um terço de seu pico, de US$ 30 bilhões para US$

10 bilhões. A redução do escopo do Programa de Privatização, o “apagão”, as incertezas

regulatórias e o baixo dinamismo do crescimento econômico podem ser apontados para

explicar esta queda mais acentuada do IDE no país. Nos anos de 2007 a 2013 há um

significativo crescimento do IDE, atingindo o patamar dos US$ 64 bilhões em 2013.

b. Programa de metas inflacionarias, inaugurado em meados de 1999, após a

mudança do regime cambial, onde o poder discricionário do Banco Central passa a ser

direcionado para coordenar as expectativas dos agentes econômicos através de metas

inflacionarias declinantes, que apontam uma meta básica de 4,5% ao ano, com um

limite de tolerância até 6,5 fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

O Programa de Metas Inflacionarias tem sobrevivido a vários testes. Foram

quatro grandes choques de oferta: câmbio (1999, 2001 e 2002) e um de racionamento

de energia (2001). Alem disto, a transição política de 2002 e a “marcação a mercado”

trouxe certa aversão à aplicação em títulos públicos federais e o BC foi obrigado a

monetizar parte da dívida, aumentando a liquidez da economia no segundo semestre de

2002. Estes acidentes de percurso levaram a inflação a patamares elevados e dada a

grande desvalorização cambial de 2002, a inflação chegou ao nível de dois dígitos,

aumentando muito a responsabilidade do Banco Central em 2003 para reduzir a inflação

e evitar a indexação de contratos. Isto foi conseguido, porem com um custo elevado,

em termos do nível de atividade. O crescimento do PIB foi de apenas 0,2% e a inflação

terminou o ano em 9,3%, acima da meta de inflação, que era de 8,5% ao ano, porem

dentro do limite de tolerância de 11%. O programa implementado conseguiu manter a

inflação dentro dos limites da meta somente nos dois primeiros anos. A partir de 2001, a

inflação ultrapassou o limite superior da meta e somente a partir de 2006 é que se tem

uma taxa abaixo do limite superior da meta.

Este resultado mostra a impossibilidade da política monetária isoladamente

controlar a inflação; a dominância é claramente da política fiscal. Em um choque de

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36

oferta adverso de grandes proporções, o Banco Central não tem condições de alterar

drasticamente a taxa de juros, pois levaria o governo à insolvência e a inflação se

acelera rapidamente. Ou seja, existem limites à política monetária e os choques de

oferta serão acomodados por mais inflação. Ultrapassado estes acidentes de percurso, a

inflação entre 2006 e 2008 permaneceu dentro dos limites da meta. A partir de 2011,

com uma política monetária e fiscal expansionista, a inflação passou a se fixar no

patamar de 6% ao ano e com a recente depreciação cambial (a partir de maio de 2013)

a inflação tem se mantida próxima a 6% ao ano.

A trajetória da taxa de juros real no período recente mostra menores

oscilações, quando comparada com períodos anteriores e corrobora uma visão de

política monetária com menor poder discricionário. Embora o período recente mostre

juros reais menores aos observados no período da âncora cambial, eles continuam um

dos mais altos do mundo. Um governo que promete pagar juros reais elevados terá uma

trajetória de redução da dívida menor. Para reduzir juros o governo terá que avançar

ainda mais na disciplina fiscal para criar espaço para uma redução consistente da taxa

de juros, sem acelerar a inflação.

c. Programa de ajuste fiscal, destinado a reverter à trajetória explosiva do

déficit e da dívida pública interna. Com este programa, conseguiu-se reduzir a relação

dívida líquida/PIB e manter um superávit primário elevado durante muitos anos. Além

disto, as reformas na área fiscal poderão garantir – no longo prazo – a capacidade de

financiamento do governo. A implementação da reforma da previdência, federativa,

administrativa, tributária e o programa de privatização possibilitarão uma recuperação

das contas públicas, compatíveis com o aumento da taxa de poupança doméstica

necessária para acelerar a taxa de crescimento do PIB. É importante salientar que a

aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal em maio de 2000 e com a sua plena

implementação a partir de 2003, instituiu-se uma regra de austeridade fiscal para todas

as esferas de governo e para todos os poderes.

Alguns comentários adicionais sobre as mudanças na política fiscal brasileira são

pertinentes. O ajuste fiscal observado nos últimos anos foi importante para controlar a

trajetória da dívida interna, mas a qualidade do ajuste fiscal deixa muito a desejar. Foi

feito pelo caminho mais fácil, aumento da carga tributária bruta e redução dos

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37

investimentos públicos e não por controle sobre as despesas. No início dos anos noventa

a carga tributária estava próxima de 25% do PIB, hoje se situa em 36% do PIB a mais

alta do mundo para países de renda per-capita intermediária. Este aumento de carga

tributária reduziu a capacidade de poupança e investimento do setor privado, passando

a ser um dos principais entraves ao crescimento de longo prazo.

Estas três mudanças são decisivas para o futuro da economia brasileira, e as

linhas gerais podem ser identificadas pela seguinte trajetória: com o ajuste fiscal e a

desvalorização cambial ocorrida a partir de 1999, diminui drasticamente a necessidade

de taxas de juros elevados para manter a regra cambial. Com a queda da taxa de juros

nominais e reais, há um impacto favorável sobre o déficit público. A recuperação do

nível de atividade doméstica decorrente de uma política monetária menos restritiva e um

pouco mais de inflação aumentam a arrecadação tributária e, portanto contribuem para

o ajuste fiscal. Iniciou-se, portanto, um novo ciclo para a economia brasileira,

libertando-se das amarras do período 1997-98, onde a necessidade de manter um fluxo

de recursos financeiros elevados para financiar um déficit crescente de balanço de

pagamentos, obrigava a utilização de taxas de juros extremamente elevadas, o que

comprometia, internamente, a trajetória do déficit e da dívida pública e o crescimento

do país. Portanto, os ingredientes básicos da economia passaram a ser: déficit externo

reduzindo-se ao longo do tempo, taxas de juros domésticas menores, controle do déficit

público e crescimento moderado da economia com inflação de um dígito ao ano. Estes

resultados foram obtidos em 2000.

Este cenário foi alterado drasticamente a partir de 2001: a forte redução do

crescimento dos países ricos, o ataque terrorista aos EUA, a queda nas bolsas de valores

mundiais, a descoberta das fraudes contábeis em grandes corporações, o default da

Argentina, a crise energética brasileira e a transição política do país, mudaram

drasticamente as perspectivas da economia, neutralizando os avanços na administração

macroeconômica. As turbulências externas e internas tiveram fortes repercussões sobre

a desvalorização cambial. As pressões inflacionárias daí advindas forçaram o Banco

Central a aumentar a taxa de juros. Estes dois efeitos, aliados a redução do crescimento

do PIB, levaram a uma trajetória de rápida expansão da dívida interna e ao temor de

uma nova moratória na dívida interna e externa. O desafio de curto prazo foi atravessar

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38

as turbulências sem rupturas de contratos e concentrar-se, depois, nos grandes

problemas de longo prazo.

No período 1994-2003, a economia brasileira apresentou ciclos econômicos de curta

duração com uma tendência de crescimento moderado. Todas as crises ocorridas nesse

período tiveram fortes impactos sobre a economia brasileira.

Esses choques produziram um conjunto desfavorável de indicadores da liquidez

internacional e da solvência do país, que repercutem em alta volatilidade da taxa de

câmbio, do prêmio de risco país e das taxas domésticas de juro. Nessas condições,

choques adversos causam reações amplas no mercado financeiro, que incidem

imediatamente nessas variáveis. Essa volatilidade causa impactos na taxa de inflação e

no nível de produção e de emprego.

A política monetária em particular foi passiva, respondendo aos choques depois que

eles ocorrem. A adoção do regime de metas de inflação agravou o problema, na medida

em que o Banco Central, para manter a taxa de inflação dentro da meta, aumenta a

taxa de juros, comprometendo o crescimento da economia e a trajetória da dívida do

Governo. O ciclo econômico foi extremamente curto no Brasil - de aproximadamente um

ano e meio entre o pico e o piso - sendo que a tendência de crescimento da economia

convergiu para modestos 2,5% ao ano.

O que explicava a grande vulnerabilidade do país a choques externos, quando

já se observa uma década de políticas macroeconômicas mais consistentes? A resposta

é a magnitude dos passivos externo e interno herdados de períodos anteriores. Existem

dois parâmetros chaves para a avaliação do risco país:

a) Relação Dívida Líquida do Governo/PIB (1) e

b) Relação Dívida Externa Líquida/Exportações (2)

Embora estejam reduzindo de magnitude ao longo dos últimos anos, tais

parâmetros foram muito elevados no passado recente, fazendo com que as incertezas

sobre a trajetória da política macroeconômica brasileira aumentassem quando acontecia

uma turbulência no ambiente externo ou interno, contaminando rapidamente o risco

país e desencadeando uma série de impactos negativos sobre o desempenho da

economia brasileira. Países que já eram “grau de investimento” na América Latina, como

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39

o Chile e México tinham parâmetros de dívida considerados seguros para enfrentar

volatilidades de curto prazo, sem comprometer os resultados de longo prazo: para o

parâmetro (1) Relação Dívida Total do Governo/PIB, as porcentagens para estes dois

países estavam abaixo de 30%, enquanto que para o Brasil ele estava acima de 55%;

com relação ao segundo parâmetro, ele está respectivamente, abaixo de um no Chile e

México e em 2007, também ficou abaixo de um no Brasil. Existe um grande desafio para

o Brasil nos próximos anos: persistir no superávit primário para que a relação Divida do

Governo/PIB se situe abaixo de 30%; caminhando nesta direção, finalmente, o país

chegou à classificação de “grau de investimento” e poderá ter taxas de juros reais

compatíveis com a sustentabilidade da dívida do governo e um crescimento com menor

variação cíclica.

A dívida líquida do governo atingiu seu máximo em setembro de 2002, com uma

porcentagem de 57,6% do PIB e hoje se situa em 35% do PIB. Trata-se de um recuo

importante, mas ainda é considerada elevada por padrões internacionais para mercados

emergentes. Além disso, é uma dívida de curto prazo (30% da dívida interna vence em

um ano) e muito cara. Esta é uma das razões pela qual o Risco Brasil é maior que a do

México e Chile. A sustentabilidade da divida externa líquida teve uma mudança mais

significativa que a observada na dívida interna, graças ao crescimento das exportações e

aumento das reservas. Na última década a receita de exportações quase que

quadruplicou, reduzindo a relação divida externa/exportações do nível crítico de

insolvência (quatro), para os 0,3 atuais.

Embora estes parâmetros chaves para a avaliação do Risco Brasil tenham

apresentado tendências na direção correta, os indicadores fiscais ainda são

inadequados, indicando que o pais deverá consolidar estes resultados nos próximos

anos para ser considerado um país de baixo risco de crédito e, portanto menos

vulnerável às vicissitudes das turbulências da economia mundial e doméstica. Para

discutir este aspecto crucial na explicação do comportamento da economia brasileira da

última década, deve-se adotar como ponto de partida para a análise a equação de

arbitragem de juros internacionais, válida para uma economia que esteja inserida no

mercado financeiro internacional e apresentada a seguir:

DFEEERR e

USABR 00 /

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40

Onde:

RUSA = Taxa de juros dos USA, para uma aplicação financeira de um ano;

RBR = Taxa de juros do Brasil, para uma aplicação financeira de um ano;

Ee = Taxa de câmbio esperada para um ano;

E0 = Taxa de câmbio a vista;

F = Risco Brasil

D = Dívida Líquida do Governo brasileiro

A equação anterior especifica a condição de equilíbrio da taxa de câmbio de

curto prazo, equalizando a remuneração esperada de uma aplicação financeira no

mercado interno com uma aplicação financeira semelhante no mercado externo e ela

determina o nível e a composição da taxa de juros doméstica. Colocado de outra forma,

torna-se indiferente ao aplicador financeiro colocar seus recursos no mercado interno ou

externo se a igualdade se verificar. Ou seja, a taxa de juros doméstica tem quatro

componentes: os juros externos, o risco cambial, o risco Brasil e o IOF.

A vulnerabilidade da economia brasileira a choques externos verificada no

período 1999-2003 pode ser explicitada pela seguinte seqüência de eventos:

inicialmente há uma rápida deterioração das expectativas que se reflete imediatamente

sobre o risco país. Em um regime de câmbio flutuante, o impacto mais forte do aumento

do Risco Brasil é sobre a taxa de câmbio, já que o Banco Central não tem condições de

restaurar a igualdade na equação de arbitragem, pois isto implicaria em um grande

aumento da taxa de juros, o que comprometeria a solvência do governo. Portanto, a

trajetória da taxa de câmbio será idêntica a do risco país.

Desvalorizações cambiais significativas são repassadas (pass through) para a

inflação e as expectativas com relação a preços futuros trocam de patamar. A seqüência

de eventos já tem três componentes: aumento do risco, desvalorização cambial e

mudança da trajetória da inflação. A cada desvalorização cambial significativa, segue-se

uma mudança na taxa de inflação até que se chegue a um caso dramático como a

desvalorização cambial de 2002, que chegou a ameaçar a própria política de metas de

inflação. Uma inflação de dois dígitos não consegue ser debelada somente por juros

altos: a queda do nível de atividade e a trajetória explosiva da dívida impedem o Banco

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Central de elevar drasticamente a taxa de juros e um aumento do superávit primário

torna-se necessário. Mesmo assim, o Banco Central não pode manter-se imóvel: um

aumento significativo da taxa de juros nominal torna-se necessário para acomodar o

aumento do risco país e as pressões inflacionárias. Ou seja, dado o aumento do risco e

a desvalorização cambial, não há como manter juros reais cadentes e o Banco Central se

comporta reativamente.

A sequência final de eventos se completa pela variação do nível de atividade.

Com o aumento da taxa de juros há um desaquecimento rápido do crescimento do PIB e

a introdução de ciclos reais de curto prazo de grande amplitude. Com isto reduz-se a

média de crescimento da economia e aumenta-se drasticamente o desvio padrão. Desde

o início do Plano Real, qualquer turbulência externa ou interna ao se refletir em juros

altos reduz o nível de atividade fazendo com que a tendência de crescimento da

economia caminhe para uma taxa muito modesta (2% a 3% ao ano).

Portanto, a vulnerabilidade da economia brasileira a choques exógenos foi

muito acentuada e somente a persistência e aprimoramento da política macroeconômica

atual é que garantiram a diminuição da volatilidade do nível de atividade, criando um

ambiente propício para o aumento dos investimentos e um crescimento com menores

flutuações cíclicas. Um bom teste para a credibilidade da política macroeconômica atual

pode ser observado a partir das turbulências do mercado financeiro internacional

iniciadas em agosto de 2007.

Perspectivas de Curto Prazo para a Economia Brasileira.

A estrutura da política macroeconômica brasileira tem se mantido praticamente

inalterada desde janeiro de 1999, quando foi inaugurado o regime de câmbio flutuante

no país. Logo em seguida (março) foi aprovado no Congresso Nacional um conjunto de

medidas para aumentar a carga tributária do governo federal visando à manutenção de

superávits primários elevados e finalmente em junho de 1999 foi instituído o regime de

metas de inflação dando autonomia para o Banco Central na condução da política

monetária. Depois de um período inicial onde os efeitos dessa mudança não se fizeram

sentir, devido a turbulências externas, como a desaceleração econômica mundial, o

ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, a moratória argentina e a própria

Page 42: Economia Aplicada e Cenários Econômicos Globais_Simão Davi Silber_2014

42

transição política no Brasil em 2002, começa um período de forte expansão da economia

mundial que, com a manutenção da mesma política macroeconômica interna começam a

alterar uma série de parâmetros que contribuíam para a grande vulnerabilidade do país

a choques externos. Até meados dessa década, os grandes problemas do país eram a

elevada divida externa líquida e trajetória explosiva de crescimento da dívida interna do

Governo. Na medida em que esses problemas foram contornados, o país passa a

desfrutar de um ambiente econômico de maior estabilidade e de maior crescimento do

PIB.

A partir de meados dos anos oitenta, quando a inflação se acelerou, vários

planos foram implementados para combater a inflação e um dos instrumentos utilizados

foi o congelamento da taxa de câmbio. Desde o Plano Cruzado até o Plano Real, a

trajetória da taxa de câmbio foi de uma continua apreciação, tendo como resultado

déficits crescentes do balanço de pagamentos. Somente após a adoção do regime de

câmbio flutuante é que se observa a reversão na apreciação da moeda brasileira.

Ocorreram três grandes depreciações do Real: a primeira, logo após a mudança do

regime cambial em 1999; a segunda decorrente da grande turbulência da economia

mundial de 2001 e a terceira devido às incertezas com relação às possíveis mudanças de

política econômica que poderiam advir da transição política de 2002. A partir de 2003, a

trajetória da taxa de câmbio foi a de contínua apreciação até os dias de hoje. Quais os

fatores subjacentes a esta tendência inexorável de apreciação cambial? Em primeiro

lugar, deve ser apontar que a própria melhoria das contas externas contribuiu para a

percepção de um menor risco e deixou de pressionar a taxa de câmbio. Basta

acompanhar a trajetória da taxa de câmbio e do spread dos títulos brasileiros no

exterior na última década para se constatar que a trajetória do câmbio foi à trajetória do

risco. As grandes desvalorizações cambiais de 1999, 2001 e 2002 coincidem com a

rápida deterioração da confiança no país, levando a drásticas desvalorizações cambiais.

Além disso, a revisão das contas nacionais brasileiras mostrou alguns aspectos

mais favoráveis da economia brasileira: o tamanho e o crescimento do PIB eram

maiores do que estimativas anteriores e a relação dívida/PIB do Governo foi reduzida

para um patamar de 40%. O crescimento médio da economia não era de 2,7%, mas sim

3,9%. Com fundamentos macroeconômicos mais sólidos e na ausência de turbulências

internacionais, houve uma redução adicional do risco país, contribuindo para a

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apreciação cambial. Em segundo lugar, a redução do risco não foi acompanhada no

mesmo ritmo pela redução da taxa SELIC. Dada à condição de arbitragem de juros

internacional, o Banco Central poderia ter sido menos conservador na política de juros.

A depreciação cambial, associada à forte expansão da renda mundial,

gradualmente foi alterando o panorama das contas externas do Brasil. De um déficit de

transações correntes de US$ 33 bilhões, em 1998, o país passou por cinco anos

consecutivos de superávits e volta novamente para a posição de déficit a partir de 2008.

Nos últimos anos, houve uma mudança importante no comportamento das

contas externas do país: de um lado houve uma sistemática redução do superávit

comercial e do outro se acentuou uma entrada maciça de capital financeiro. Explicam

essas mudanças a forte expansão do nível de atividade econômica no país, a sistemática

apreciação da taxa de câmbio e uma taxa de juros interna ainda elevada, suficiente para

atrair capitais externos através de arbitragem internacional de juros. Em termos de

taxas anualizadas, a crescimento do PIB estava em 2% no início de 2014. Houve uma

expansão importante do consumo das famílias como um todo, que cresce atualmente a

taxas anualizadas de 3% e a formação bruta de capital fixo não está crescendo a uma

taxa compatível com o crescimento da demanda. Existem limitações e incertezas

institucionais no país para os investimentos produtivos, comprometendo o

comportamento das empresas com relação à ampliação da capacidade produtiva no

atual ciclo econômico e que pode perdurar por alguns anos.

O crescimento da economia foi comandado pela demanda interna, já que a

apreciação cambial tem propiciado uma maior expansão da importação comparada com

a exportação, fazendo com que a contribuição do setor externo para o crescimento da

economia seja negativa. Por outro lado, esse crescimento maior das importações tem

contribuído para arrefecer pressões inflacionárias decorrentes da expansão da demanda

interna. Para se ter uma idéia da rápida expansão das importações, pode-se destacar as

seguintes estatísticas para 2013: as importações de bens de capital cresceram a uma

taxa de 33% ao ano; a importação de bens de consumo durável cresceu 55% e a

importação de bens de consumo não duráveis cresceu a uma taxa de 18%.

A expansão de demanda agregada não está mais contribuindo para um crescimento

significativo da produção interna. Nessas condições, é necessário que o crescimento das

exportações seja bem menor que o das importações para evitar pressões inflacionárias

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relevantes. Ou seja, uma parcela do crescimento da demanda interna tem que ser

satisfeita pelas importações de bens e serviços. Isso efetivamente ocorreu a partir de

2008: o superávit comercial reduziu-se para US$ 20 bilhões em 2012 e atingiu somente

US$ 2,6 bilhõesem 2013. Nessa condição, apareceu um déficit crescente em transações

correntes. Trata-se de um resultado consistente do ponto de vista do modelo econômico

atual que estimula o consumo. Com a carência de poupança interna, esta tem que ser

complementada por poupança externa, ou seja, um déficit em balanço de pagamentos

em transações correntes, atualmente, de 3,4% do PIB..

Os parâmetros chaves para a avaliação do Risco Brasil passaram a apresentar

tendências na direção correta, fazendo com que o país passasse a ser considerado de

baixo risco de crédito e, portanto menos vulnerável às vicissitudes das turbulências da

economia mundial e doméstica. Tanto é que entre abril e maio de 2008, duas agencias

internacionais de avaliação de risco (Standard &P Poor´s e Fitch), elevaram a

classificação do país para “Grau de Investimento”.

A redução e estabilização do Risco Brasil a partir de 2003, passou a ter uma influencia

importante na trajetória da economia. O país está menos vulnerável a choques externos

como pode ser constatado pelo pequeno efeito da crise do “sub-prime” no Brasil em

2009. Reverte-se finalmente a seqüência de verificada no período 1999-2003 quando

uma rápida deterioração das expectativas que se refletia imediatamente sobre o risco

país.

Foram dezoito trimestres em que a taxa de crescimento da formação bruta de capital

fixo é positiva e idêntico movimento de expansão é observado no investimento direto

estrangeiro. Adicionalmente, deve-se destacar o crescimento consistente do consumo

privado, estimulado pelo aumento da massa salarial real e do crédito. O país caminhou

para uma taxa de investimento de 20% do PIB e junto com a estabilização econômica

esses fatores tem contribuído para o aumento da produtividade do trabalho. As

estimativas recentes de crescimento potencial do país indicam um crescimento de 3%

ao ano. Trata-se de um patamar modesto e o Brasil continua com a menor taxa de

crescimento dos BRICs. Para crescer mais, o país tem que avançar em reformas que

aumentem a poupança necessária para financiar um nível mais elevado de

investimentos internos. Em um ambiente externo adverso que voltou as ficar mais

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adverso e uma inflação maior, as perspectivas para a economia brasileira no curto prazo

são de baixo crescimento.

8. Os Desafios de Longo Prazo: Manter a Estabilização, Aumentar a taxa de Crescimento

e Minorar os Problemas Distributivos.

O crescimento do PIB brasileiro ao longo do século XX foi um dos mais altos do

mundo. Com uma taxa média anual de 5,5% ao ano, no período 1920-1980, foi a

segunda maior taxa de crescimento do mundo, só suplantado pela do Japão. Porém, a

partir de 1980, esta tendência de crescimento rápido desaparece e o país passa a

conviver com um padrão modesto de crescimento, com a estagnação do crescimento da

renda per capita. Contribuíram para este fenômeno: o desaparecimento da poupança

externa, na esteira da crise da dívida, a aceleração inflacionaria, decorrente do

desequilíbrio das contas públicas, o isolamento exagerado da economia mundial e o

clima de grande incerteza decorrente dos vários programas de estabilização de resultado

efêmero. Porém, as mudanças estruturais, que começam a ser implementadas a partir

do final dos anos 80, passam a influenciar positivamente o crescimento da produção.

Em um ambiente econômico mais aberto ao mercado mundial, inflação declinante e

reforma fiscal, o crescimento do PIB atingirá patamares mais elevados do que os

observados nos anos 80 e 90.

A redução do crescimento no período 1998/2005 esteve associada aos impactos

negativos da crise financeira internacional sobre a economia brasileira e a superação

destas dificuldades poderá possibilitar um crescimento do PIB no patamar dos 4,5% ao

ano. Para ter um crescimento consistente de longo prazo, uma pré-condição é preservar

a estabilização e ampliar a abertura ao exterior. O grande desafio é o de completar a

reforma fiscal. Qualquer país tem a sua disposição três políticas macroeconômicas para

caminhar em direção de objetivos de longo prazo: a política cambial, a política

monetária e a política fiscal. No caso brasileiro, não existem grandes inovações a fazer

nas duas primeiras políticas: câmbio flutuante é adequado a um país de grandes

dimensões como o Brasil; o sistema de metas inflacionárias é compatível com flutuação

cambial e a desindexação de contratos já está implementada há quinze anos. O grande

desafio é fiscal, para completar a transição para políticas econômicas consistentes com o

desempenho de longo prazo.

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A reforma fiscal é fundamental para que a sociedade brasileira consiga atingir

os seus grandes objetivos econômicos:

Consolidar a estabilização econômica; o “Plano Real” garantiu uma inflação de

um dígito ao ano, porém não se pode indefinidamente controlar a inflação com

base em um ajuste fiscal provisório apoiado, basicamente, em aumento em

impostos em cascata. É necessário eliminar o déficit público no médio e longo

prazo, caso contrário, a inflação reaparecerá no futuro, quando se esgotar a

capacidade de endividamento interno do governo e este recorrer à emissão de

moeda para se financiar;

Retomar o crescimento econômico a taxas elevadas; o crescimento atual da

economia é muito modesto e abaixo do padrão histórico e para acelerar o

crescimento é necessário aumentar a taxa de poupança e de investimentos da

economia e o grande instrumento para promover a expansão da poupança

interna é a reforma fiscal;

Promover uma melhor distribuição de Renda; o país tem uma distribuição de

renda muito desigual, herança da inflação elevada do passado,

abandono/distorção dos investimentos na área social e uma reformulação nas

receitas e despesas de governo poderá contribuir decisivamente para melhorar a

distribuição de renda;

Geração de empregos; a desregulamentação do mercado do trabalho e redução

de encargos sobre a folha de pagamentos e os investimentos governamentais

em infra-estrutura (construção civil, saúde e educação) associados à redefinição

do papel do Estado, poderão contribuir para aumentar a absorção da mão de

obra no mercado formal de trabalho.

A reforma fiscal envolve várias mudanças constitucionais para aprimorar o

sistema tributário e federativo brasileiro, reformar o sistema de aposentadorias,

reduzirem despesas de custeio e promover uma reforma patrimonial do setor público

através da privatização e redução da dívida interna. Os principais pontos da reforma

fiscal são a seguir destacados:

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Reforma Tributária: a carga tributária no Brasil se situou em 2010 no patamar de

36% do PIB, portanto relativamente elevada em termos internacionais para

países em estágio semelhante de desenvolvimento. O que diferencia o Brasil dos

demais países é o reduzido universo de contribuintes, o grande número de

impostos e contribuições para-fiscais, as alíquotas elevadas e a existência de

impostos “em cascata”. O sistema tributário brasileiro penaliza indevidamente a

produção e o emprego e é considerado um dos principais fatores do chamado

“custo Brasil”. O Governo e o Congresso deverão discutir uma nova proposta de

reforma tributária para reduzir as distorções existentes. Deve-se procurar reduzir

o número de alíquotas do ICMS, unificá-las a nível nacional para reduzir a

“guerra fiscal” e transformar os impostos em cascata em impostos sobre o valor

adicionado.

Reforma Administrativa e do Federalismo Fiscal: a reforma administrativa tem

como objetivo aumentar a eficiência no setor público e reduzir despesas com

pessoal em esferas do governo onde há excesso de funcionários. Para isto já foi

votada no Congresso Nacional uma emenda que acaba com a estabilidade no

emprego no setor público e atualmente já existem limites à remuneração no

setor público (Emenda Constitucional nº. 19 de 04/06/1998). Esta medida

possibilita adequar às despesas das diversas esferas de governo a Lei de

Responsabilidade Fiscal, que impõe o limite de 60% de gastos com pessoal sobre

a receita líquida. Este é um passo decisivo para reduzir uma grande distorção do

federalismo fiscal brasileiro, onde o excesso de gastos correntes dos estados e

municípios é financiado com transferências do governo federal. A Lei de

Responsabilidade Fiscal aprovada no ano 2000 é essencial para o controle destas

despesas, incluindo, tetos para despesas com pessoal ativo e inativo nas três

esferas de governo: federal, estadual e municipal. Esta restrição vale para o

executivo, legislativa e judiciária.

Reforma da Previdência; constitui-se na mais importante reforma de longo prazo,

pois viabilizará a expansão da poupança privada para financiar o

desenvolvimento econômico nacional e reduzirá os encargos trabalhistas sobre a

folha de pagamentos favorecendo a geração de novos empregos. A

aposentadoria no Brasil era por tempo de serviço (35 anos para homens e 30

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para mulheres) sem especificar anos de contribuição e idade mínima. Com a

reforma aprovada para o regime geral (INSS),em 1998, o critério passou para o

tempo de contribuição (35 anos para homens e 30 para mulheres). Foi instituído

o Fator Previdenciário, que criou princípios atuariais no cálculo das

aposentadorias no regime celetista. O grande desafio do governo atual será o de

aprovar um plano de reforma da previdência dos estatutários, que reduza

despesas, aumente receitas e na margem incentive a ampliação da previdência

capitalizada. As distorções são tão grandes que uma reforma mais ampla não

terá apoio político para a sua implementação. De qualquer forma, a instituição

da idade mínima para aposentaria, a contribuição dos inativos, a instituição do

fator previdenciário no setor público e o aumento das contribuições são medidas

que poderão reduzir em aproximadamente 20% o déficit previdenciário do setor

público.

9. DIRETRIZES GERAIS PARA A POLÍTICA MACROECONÔMICA BRASILEIRA DE LONGO

PRAZO.

A política econômica atual é uma extensão das políticas implementadas no segundo

mandato do governo Fernando Henrique Cardoso: regime de câmbio flutuante, metas

inflacionárias para o Banco Central e Superávit primário para evitar uma trajetória

inconsistente da dívida pública. Embora seja superior à política implementada

anteriormente, ela ainda é insuficiente para um desempenho de longo prazo adequado.

O grande desafio é fiscal e não existe na experiência do pós-guerra nenhum caso de

crescimento econômico sustentado que não tenha sido acompanhado de um consistente

equilíbrio fiscal intertemporal. Mais ainda, na história recente mundial, os casos bem

sucedidos de ajuste fiscal foram obtidos por redução de despesa e não por aumento de

receitas. Dadas as atuais condições das finanças públicas brasileiras, não se pode

afirmar - -com toda certeza – que estamos nesta trajetória. Os aumentos de receita são

provisórios, a trajetória das despesas futuras ainda é indefinida e o teste definitivo para

a Lei de Responsabilidade Fiscal ajustar as despesas de todas as esferas do governo

ainda não foi feito.

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A variável de controle do governo é a trajetória de sua dívida através do superávit

primário. Isto pode desencadear um circulo virtuoso ou um circulo vicioso na economia.

Quanto mais ambiciosa e persistente no tempo a política de superávit primário, menor o

risco soberano; maiores as possibilidades de o Banco Central reduzir juros, sem disparar

as expectativas inflacionárias. Com juros menores é possível expandir a demanda

agregada, sem uma monetização do déficit do governo e inflação. O oposto ocorreria

caso o governo não consiga estancar a trajetória de expansão da relação dívida/PIB: o

Banco Central não conseguirá conter a desvalorização cambial, que acarretará pressões

inflacionárias e monetização do déficit do governo. O resultado será uma inflação maior.

Em síntese: o país tem duas opções de longo prazo:

a. Uma saída pela austeridade fiscal, inflação cadente (em direção a 3% ao ano)

e crescimento moderado nos próximos anos (4% a 5% ao ano de crescimento

do PIB).

b. Uma saída pela inflação (acima de 5% ao ano) e crescimento modesto (algo

em torno de 3% ao ano), com maior volatilidade nas variáveis reais e nominais

da economia.

Claramente a primeira solução é a mais adequada e ela depende de três fatores: uma

economia mundial caminhando para sua taxa de crescimento “natural” (4% ao ano),

sem nenhuma grande turbulência de mercado financeiro internacional; apoio político

interno para a implementação das reformas e persistência de austeridade fiscal no longo

prazo. Se isto se materializar, a importância da dívida do governo era se reduzindo ao

longo do tempo, abrindo espaço para um crescimento moderado da economia brasileira.

10. DESREGULAMENTAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO

Uma importante transformação institucional que ocorreu no Brasil diz respeito

ao papel do Estado na economia. Desde o final dos anos 80 houve uma tentativa de

corrigir a excessiva participação do governo e dar uma maior ênfase na economia de

mercado. De um lado, se procurou reduzir a excessiva regulamentação dos mercados,

de outro reduzir a figura do “Estado Empresário” além de controlar o déficit público

através do ajuste fiscal.

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Com relação à desregulamentação várias medidas importantes foram

implementadas: através de emenda constitucional de 1995, eliminou-se a distinção

entre capital nacional e estrangeiro que operam no país, que era uma das principais

discriminações contra o investimento estrangeiro; está sendo feita uma gradual abertura

do mercado financeiro/serviços domésticos a concorrência internacional (os casos mais

recentes são o de serviços bancários e o de seguros de saúde); houve algum avanço na

desregulamentação do mercado de trabalho, com a redução de encargos para contratos

de trabalho por tempo limitado e o programa de privatização/concessões em setores

estratégicos de infra-estrutura (energia elétrica, telecomunicações, portos, estradas,

etc.) tem eliminado monopólios estatais e instituído regimes competitivos e menos

regulamentados.

O Programa de Privatização é uma parte essencial das reformas que foram

implementadas pelo governo visando à modernização da economia. Os objetivos do

programa são:

o Permitir uma mudança do papel do Estado, redirecionando suas ações

e recurso para as áreas sociais;

o Reduzir a dívida pública interna, contribuindo para o ajuste fiscal do

governo;

o Estimular a competição nos mercados,

o Permitir a retomada dos investimentos nas empresas e atividades

desestatizadas, com os recursos de seus novos proprietários;

o Fortalecer o mercado acionário, com maior pulverização do capital.

Desde a criação do Programa Nacional de Desestatização (PND), em 1990, já

foram privatizadas 68 empresas e participações acionárias estatais federais, a maioria

nos setores de siderurgia, química e petroquímica, fertilizantes, energia elétrica e

telecomunicações. Além dessas, foram repassados à iniciativa privada, por concessão, 7

(sete) trechos da Rede Ferroviária Federal S.A., Porto de Santos, Porto de Sepetiba,

GERASUL, Porto de Angra dos Reis, Malha Paulista e Datamec. O valor total das

privatizações já atingiu US$ 105 bilhões.

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Referências e sites de atualização:

Academia Pearson: “Economia Brasileira”, Pearson Education do Brasil, 2011.

Banco Central do Brasil – (http://www.bcb.gov.br)

Relatório de Mercado – semanal.

http://www.bcb.gov.br/?FOCUSRELMERC/

Atas do COPOM – a cada 45 dias.

Baumann, Renato (organizador): “Brasil, Uma Década em Transição”, Editora Campus,

2000.

Giambiagi, Fábio, Villela André, Castro, Lavínia e Hermann, Jennifer (organizadores):

“Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2010” 2ª. Edição. Editora Campus, 2011.

Fishlow, Albert “O Novo Brasil”, Saint Paul Editora, 2011.

FMI- (http://www.imf.org):

World Economic Outlook – semestral;

Global Financial Stability Report – semestral;

IPEA (http://www.ipea.gov.br)

IPEADATA – Banco de Dados do IPEA.

Carta de Conjuntura – trimestral.

OMC – Organização Mundial do Comércio (http://www.wto.org) :

International Trade Statistics - anual.

World Trade Report. - anual.

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento -

(http://www.unctad.org);

World Investment Report – anual.