editorial muitas paleotocas novas paleotocas em evento 1 feliz … · feliz natal e um prÓspero...
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EDITORIAL
Ao final de mais um ano de intensas
atividades de pesquisa envolvendo paleotocas,
a Equipe do Projeto Paleotocas deseja
agradecer a todos pelo apoio que tem
recebido, sem o qual seria impossível realizar
as pesquisas. Um agradecimento especial se
dirige a todos os proprietários de áreas com
paleotocas, que confiaram na equipe e
autorizaram o trabalho no local. A todos, pois,
muita paz, muita saúde, muita felicidade, um
FELIZ NATAL e um
PRÓSPERO ANO NOVO !
PALEOTOCAS NA MÍDIA
Nos últimos meses, principalmente na
segunda metade de novembro, saíram várias
notícias sobre a Paleotoca de Erechim nos
jornais Bom Dia e Boa Vista, daquela região.
Além disso, uma matéria curta no Jornal do
Almoço da RBS na região de Erechim.
Outras matérias serão publicadas na região de
Sapiranga após contato com um jornalista de
um jornal da cidade.
Essa divulgação das paleotocas
continua muito interessante, pois as pessoas
acabam comunicando o surgimento de novas
paleotocas à nossa equipe.
MUITAS PALEOTOCAS NOVAS
Fizemos bastante trabalho de campo e
temos várias ocorrências novas, tanto no Rio
Grande do Sul como em Santa Catarina.
Apresentamos a partir da página 3 um
texto sobre a paleotoca de Erechim.
PALEOTOCAS EM EVENTO 1
No final de setembro transcorreu, no
Campus I da Universidade de Passo Fundo
(UPF), o II Congresso Internacional de
História Regional, no qual foi apresentado um
trabalho conjunto do Arqueólogo Fabrício
Vicroski e do Geólogo Heinrich Frank, sobre
“A Problemática das Galerias Subterrâneas na
Arqueologia do Sul do Brasil”.
Inicialmente, trata-se de definir o que
é “galeria subterrânea”: são cavernas mais ou
menos em formato de túnel, diferentes dos
“abrigos subterrâneos” e das “cavernas”.
Depois é abordado o fato de que tais
galerias podem ter várias origens, uma das
quais é a partir de paleotocas. Finalmente,
define-se que uma galeria subterrânea apenas
será um sítio arqueológico se houver
evidentes sinais de ocupação humana, como
arte rupestre ou artefatos líticos/cerâmicos.
Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas
Número 28 – dezembro de 2013
Responsável: Prof. Heinrich Frank Site: www.ufrgs.br/paleotocas
Contato: [email protected]
PALEOTOCAS EM EVENTO 2
O maior evento científico de 2014 foi o Congresso Brasileiro de Paleontologia em Gramado,
em outubro. Foi um evento muito bem organizado, com em torno de 800 pesquisadores inscritos,
apresentando um grande número de trabalhos orais, trabalhos em pôster, palestras, mini-cursos e
outros, com 4 salas funcionando ao mesmo tempo. O tempo colaborou e realmente foi muito bom.
O Projeto Paleotocas apresentou 5 trabalhos, todos disponíveis para download na página
www.ufrgs.br/paleotocas/Producao.htm. Além dos nossos trabalhos, havia apenas mais um trabalho
sobre paleotocas, de uma nova ocorrência em Rio Negrinho, SC. Abaixo algumas imagens do
evento.
A Paleotoca da Rua Florinda Fink, Erechim, RS 1. Introdução
O objetivo do presente texto é de transmitir aos interessados em geral as informações
pertinentes à paleotoca que foi encontrada em outubro de 2013 em uma escavação realizada na
Rua Florinda Fink, em Erechim, RS. Em novembro de 2013 uma equipe liderada por Heinrich
Frank (geólogo – UFRGS) e Fabrício Vicroski (arqueólogo - UPF) se reuniu para medir e
fotografar a paleotoca e alguns resultados são aqui apresentados.
2. Descrição da Paleotoca
A paleotoca apresentou-se composta basicamente de 2 túneis, conforme planta baixa
abaixo. O túnel da entrada até a extremidade direita inferior vamos chamar de “Corredor de
Passagem”. O túnel em semicírculo à esquerda vamos chamar de “Corredor dos Dormitórios”.
A atual entrada da paleotoca localiza-se no topo da imagem, junto à escavação.
Provavelmente o túnel estendia-se originalmente até o limite da coxilha. Isso representa da atual
entrada mais 15 metros até o limite da rua, mais pelo menos 8 metros até o outro lado da rua e
mais um trecho no restante da coxilha. No outro extremo, junto ao limite à direita em baixo, onde
atualmente está um desmoronamento, o túnel provavelmente continuava, bem como no túnel
pequeno desmoronado marcado com um ponto de interrogação. O sistema de túneis, portanto,
somava muito provavelmente pelo menos 100 metros de túneis. Paleotocas gigantescas desse
porte são uma exclusividade Sul-Americana, pois não ocorrem em outros continentes.
Esse é o local em que a paleotoca surgiu na escavação (abaixo da árvore junto à casa
rosa). Muito tipicamente, trata-se de uma encosta de coxilha voltada para um arroio, que hoje foi
canalizado e não mais pode ser visto. Essa proximidade das entradas das paleotocas a corpos de
água é quase constante e é uma das indicações de que os túneis foram escavados em um clima
muito mais seco (quente ou frio).
A entrada da paleotoca é o buraco maior. À direita da entrada observa-se uma reentrância
menor e, bem à esquerda, uma outra reentrância. Ambas são túneis preenchidos, cuja escavação
se mostrou muito difícil a impossível. Mas isso é típico de paleotocas: nunca surgem isolados,
sempre são redes de túneis; podem ocorrem 15 a 30 túneis juntos em um barranco extenso.
A rocha na qual a paleotoca foi escavada é uma “brecha vulcânica”, como são chamadas
as camadas constituídas de fragmentos angulosos de rochas vulcânicas cimentados ou por areia
(“brecha basáltica arenosa”) ou por silte (“brecha basáltica siltosa”) ou por argila (“brecha basáltica
argilosa”). Esse último é o caso aqui: uma argila vermelha une os blocos angulares de rochas
vulcânicas. Na imagem percebe-se, logo acima do teto do túnel, um bloco grande marrom de
rocha vulcânica, cheio de cavidades alinhadas (= vesículas = antigas bolhas de gás da lava).
Essas camadas de brecha podem ser encontradas com certa freqüência entre os derrames de
lava empilhados que formam o Planalto gaúcho; às vezes as camadas de brecha atingem 20 m de
espessura. Sua origem é algo controversa, pois não existem eventos vulcânicos atuais que
possam nos servir de exemplo.
Na região essa situação aparentemente é comum: na entrada Leste de São Valentim do
Sul, no corte situado atrás da empresa de terraplenagem ali localizada, ocorre exatamente a
mesma situação: ali se visualiza várias paleotocas completamente preenchidas e um resto de
paleotoca aberto (apenas um metro) escavadas em uma brecha basáltica argilosa. Acima da
brecha há um derrame de lava com rocha maciça.
Rocha maciça há nessa ocorrência de Erechim também: dentro da paleotoca há
desabamentos de rocha maciça alterada. Portanto aqui os bichos cavaram ou abaixo da rocha
maciça, dentro da brecha, ou na própria rocha alterada, como parece ser às vezes.
Imagem da porção inicial do túnel (veja seta vermelha na planta baixa). A largura do túnel
aqui é de 2,4 m. Essa largura exclui como cavadores dos túneis os tatus gigantes da chamada
Megafauna Pleistocênica. A Megafauna era composta por animais de grande porte que habitavam
a América do Sul até sua extinção aproximadamente 10.000 anos atrás. Havia elefantes, uma
espécie de camelo, uma espécie de rinoceronte sem chifre, cavalos, lhamas, ursos, tigres de
dentes-de-sabre, gliptodontes (parece um tatu, mas a sua carapaça é rígida e o bicho é do
tamanho de um fusca), tatus gigantes (com até 270 kg de peso) e preguiças gigantes (com pesos
entre 800 kg e 5 toneladas). Sempre várias espécies de cada tipo. Por mais gigante que seja um
tatu, com 270 kg possui uma largura de corpo de aproximadamente 80 cm e não tem a menor
necessidade de cavar um túnel onde entram 3 de sua espécie lado a lado. Portanto, temos que
admitir a possibilidade do túnel ter sido cavado por uma das várias espécies de preguiças
gigantes: na imagem, um Mylodon. Um bicho com garras enormes, do tamanho de picaretas. Ágil
como um urso grande, nunca subindo em árvores como as preguiças atuais.
Nessa imagem a pessoa dá uma idéia do tamanho desse trecho da paleotoca: é enorme.
Aquele monte de terra à esquerda da pessoa é uma “fatia” da parede lateral que desabou,
desmoronou. Importante nessa imagem são dois aspectos: a bifurcação e o teto liso.
Paleotocas raramente são túneis simples. Via de regra, constituem um sistema de túneis,
com túneis que se bifurcam, túneis que se encontram em um salão; pode haver pilares e tal. E
aqui também: temos uma bifurcação com um túnel maior que é a continuidade do “Corredor de
Passagem” e um túnel menor que vai dar no “Corredor dos Dormitórios”.
E porque um teto liso? Levamos um certo tempo para entender esses tetos quase polidos
das paleotocas – em rocha arenítica a superfície da rocha também fica extremamente lisa. É que
as preguiças, em sucessivas gerações, usaram esses túneis durante décadas, talvez séculos. De
tanto passar esfregando as costas no teto do túnel, o teto ficou polido. Tem até a marca dos pelos
no teto, como veremos adiante.
Nesse trecho da paleotoca, aqui com 2,25 m de largura, temos 3 elementos: à esquerda, a
“fatia” de rocha da parede que desabou para dentro do túnel, o que pode ter acontecido há
centenas de anos. À direita, o túnel está com sua morfologia original, com as superfícies polidas,
algumas marcas e tal. A altura deve ser aproximadamente original: algo como um metro de altura,
talvez um pouco mais. E, é claro, nesse trecho está tudo escuro, todas a fotos aqui apresentadas
foram obtidas com uma máquina fotográfica semi-profissional, montada em tripé, acionada com
controle remoto e com a captação de luz aberta, iluminando o túnel com uma lâmpada especial
LED. A foto foi repetida pelo menos 10 vezes, essa é uma das imagens que ficou melhor.
Ao fundo, no 10º metro a partir da entrada, o primeiro grande desabamento de rocha:
observam-se grandes blocos de rocha angulares, algo alterados, formando uma pilha por sobre a
qual é necessário passar para seguir para dentro da paleotoca.
Aqui se faz necessário um comentário sobre o trabalho na paleotoca: é uma das mais
perigosas na qual já trabalhamos. Enquanto os poucos trechos originais são relativamente
seguros, as muitas porções com teto desabado se apresentam assim: é necessário rastejar sobre
grandes blocos angulares de rocha, com o teto formado por outros grandes blocos, muito
rachados, quase caindo e com um pouco de água percolando. Dentro da paleotoca, a tempo todo
a equipe ficava lembrando uns aos outros: “cuidado em cima, não bater nas pedras, cuidado
aquele bloco solto, olha a cabeça”. Um esbarro mais forte no lugar errado e a pessoa talvez seja
soterrada por centenas de quilos de rocha decomposta. E evidentemente estávamos trabalhando
o tempo todo com um duto de ar acionado por um exaustor de grande porte; caso contrário o
oxigênio dentro da paleotoca acaba e a pessoa pode desmaiar e morrer. Nesse caso até o
resgate do cadáver é complicado. Em função disso, desaconselhamos completamente uma visita
à paleotoca por questões de segurança.
A planta baixa que elaboramos da paleotoca, devido às condições do túnel (baixinho,
perigoso, muitos desabamentos), não foi feita com um teodolito, mas usando trena e bússola. Em
função disso, uma certa imprecisão está implícita: desvios de 2-3º nos alinhamentos, erros de 5 a
20 cm nas medidas. Mas a função da planta baixa é dar um retrato satisfatoriamente fiel da
estrutura, esse objetivo ela atinge sem problemas.
Essa imagem é do teto da paleotoca entre o 7º e o 10º metro a partir da entrada. Percebe-
se o teto completamente liso, todo ele riscado com umas ranhuras finas que sempre ocorrem em
grupos paralelos como logo à esquerda da mão. Essas marcas muito provavelmente são as
marcas da pelagem dos animaIs: como os animais eram grandes, raspavam as costas no teto. E
como eram peludos (foi encontrado um pelo de preguiça gigante em uma caverna fria e seca do
Chile), as marcas do pelo ficavam impressos. Essas marcas, portanto, devem ter milhares de
anos de idade.
Alguém poderia argumentar que são marcas de ferramentas humanas. Bem, o arqueólogo
Fabrício Vicroski, que integrou a equipe, confirmou que realmente não há qualquer vestígio
antropogênico na paleotoca. Já foram encontradas paleotocas reocupadas por indígenas, mas
nestas paleotocas há arte rupestre na parede e/ou artefatos líticos ou cerâmicos no piso. Nessa
paleotoca de Erechim nada disso foi constatado, por isso a interpretação dessas marquinhas
como marcas de pelo é bem confiável.
E aqui estão elas: as marcas de garra. A régua possui 15 cm de comprimento e essa
porção do teto está no ponto indicado pela seta vermelha. Como sempre nessas paleotocas
enormes, provavelmente usadas durante décadas e séculos por sucessivas gerações de grupos
familiares de preguiças gigantes, na maior parte das paredes e do teto o alisamento promovido
pelas preguiças destruiu todas as marcas. Mas nesse ponto elas sobreviveram e são um
testemunho da escavação da paleotoca pelas preguiças.
Já foi argumentado que as marcas podem ser de ferramentas. Nós já vimos, nas paredes
de outras cavernas, marcas de picareta, marcas de enxada e marcas de facão. Nenhuma delas se
parece com essas marcas de garra. O padrão é diferente, não há como confundir. E marcas no
teto são mais um testemunho da escavação da paleotoca por preguiças gigantes. Ou você
consegue imaginar um tatu deixando marcas de garra no teto do túnel? Viradinho de barriga para
cima?
Mais uma feição das paredes, mais ou menos perto das marcas de garra: uma crosta fina
de argila com fendas de ressecamento (rachadurinhas). Essa feição pode ter duas explicações:
geralmente ela se forma quando a paleotoca afoga com água da chuva que infiltrou por
rachaduras nas rochas, preenchendo a paleotoca completamente. Nesses casos a argila
deposita-se também nas paredes e depois, quando a água infiltrou mais para baixo ou escorreu
para fora, seca e acaba rachando, como a argila de uma poça de água de chuva em uma estrada
de chão.
Uma outra possibilidade é que a argila foi transportada pela água infiltrada e escorreu
lentamente pelas paredes, depositando-se através de um movimento basicamente descendente.
De qualquer maneira, mostra que as águas das chuvas em períodos muito úmidos infiltram na
paleotoca e acabam deixando suas feições.
Uma outra feição que ocorre em vários pontos das paredes são essas rochas com sulcos
verticais finamente espaçados, podendo chegar a 5 mm de profundidade. Ocorrem sempre em
paredes que não são mais originais, mas que são paredes formadas por desabamentos.
Analisando as feições, chegamos à conclusão de são marcas de escorrimento deixadas
por águas da chuva infiltradas que escorreram ao longo dessas rochas expostas. Como as rochas
estão bastante alteradas, as águas conseguiram sulcar a superfície erodindo o material que forma
as rochas.
Essas feições evidenciam que os desabamentos ocorreram há muito tempo, talvez
séculos. Já vimos esse tipo de sulcos em paleotocas escavados em arenitos e sempre ficamos
com a impressão que a geração dos sulcos implica em águas escorrendo pelas paredes por
longos anos e anos.
Pausa para esfriar o motor do exaustor e beber uma água.
Esse corredor entre a segunda bifurcação e o túnel pequeno de trás está cheio de blocos
desabados – alguns caíram de um desabamento na bifurcação, outros são do próprio túnel
naquele trecho e outros caíram da porção dos fundos. Em alguns pontos observam-se feições
originais como paredes lisas – quase polidas, mas de uma maneira geral nem as medidas são
muito confiáveis nem as paredes fornecem muito informação científica.
O que impressiona sempre de novo é o trabalho imenso que esses bichos tiveram para
escavar uma toca tão longa. Não podemos esquecer que se trata de rocha alterada, mas ainda
assim muito dura. Tocas atuais, cavadas por animais como o aardvark (na África), raposas e
texugos (no Hemisfério Norte), tartarugas (na Flórida, USA) e crocodilos (na África e nos USA)
nunca passam dos 15 metros de comprimento. Essa paleotoca de Erechim muito provavelmente
passava dos 100 metros....
Quase 30 metros dentro da coxilha encontramos um túnel menor, disposto quase
perpendicularmente ao “Corredor de Passagem”. O túnel está com muitos blocos desabados e
parcialmente entulhado, em função do grande perigo não investigamos em detalhe.
Na imagem observa-se nitidamente uma superfície original lisa à esquerda, enquanto o
resto das paredes é formado por grandes blocos desabados, evidenciando o perigo do trabalho
nessa paleotoca. Como o final da paleotoca também é um enorme desabado (veja na página
seguinte) não ficou claro se esse túnel pequeno era a saída da paleotoca desse lado da coxilha ou
se era apenas uma das várias saídas existentes para esse lado.
Assim se apresenta o final do “Corredor de Passagem”: um enorme desabamento entulhou
a possível saída ali existente, são blocos de rocha alterada por baixo, por cima e pelos lados. As
dimensões não são mais originais, as paredes não são mais originais, trabalhar ali é muito
perigoso – enfim, não há muito por fazer aqui. E, é claro, tudo completamente no escuro: por
vezes a equipe apagava todas as luzes para ter uma impressão do local – é uma escuridão
completa, nenhuma réstia de luz penetra nesse espaço. E você ali, rastejando de quatro ou
sentado com a cabeça quase encostando no teto formado por rochas rachadas. Não é um
ambiente recomendado para pessoas com claustrofobia!
Tendo percorrido o “Corredor de Passagem”, vamos agora inspecionar o “Corredor dos
Dormitórios”.
O “Corredor dos Dormitórios” possui dois acessos: o Acesso Norte e o Acesso Sul. Essa
imagem é do Acesso Norte: após poucos metros de túnel com superfícies originais lisas, um
enorme desabamento obstrui o túnel.
Inicialmente acreditávamos que não havia como passar, mas uma inspeção mais
cuidadosa revelou que, removendo alguns blocos, era possível subir por uma abertura de meio
metro de diâmetro para cima do monte de rochas desabadas. Uma passagem estreita, difícil e
perigosa. Sempre acompanhado do duto de ar, suprindo oxigênio para o espaço fechado que se
formou em cima do desabamento. Pela planta baixa dá para perceber que se formou um espaço
muito grande devido ao desabamento.
Esse é um aspecto do “salão”, como chamamos o espaço sobre o desabamento. Não há
uma única parede original lisa, não há marcas de garra, nada. Apenas blocos de rocha desabados
em baixo e blocos expostos no teto. Analisando a ocorrência, chegamos à conclusão que
provavelmente um trecho longo do corredor desabou, como representado na página seguinte.
O que chama muito a atenção nesse ponto é a existência de 3 túneis curtos sem saída que
existem nos limites do desabamento. Esses túneis curtos provavelmente são os dormitórios, onde
os bichos se acomodavam para dormir. Por isso o nome “Corredor dos Dormitórios”. Na página
seguinte apresentamos uma reconstrução desse trecho da paleotoca e as imagens de dois
desses dormitórios.
A situação original no “Corredor dos Dormitórios” provavelmente era essa: um túnel que
dava passagem aos três dormitórios, que são os túneis curtos sem saída no interior do complexo
de túneis que formam a paleotoca.
C
A
Dormitório C:
A boca possui 1,74 m de largura
e sua profundidade é de 3,0 m.
O monte de terra à esquerda foi
lentamente lavado para dentro
desse espaço através da água da
chuva que infiltrou por uma
fratura na rocha.
Dormitório A:
Apresenta a forma típica, com
1,2 m de largura e 1,5 m de
profundidade, inclusive
preservando várias marcas de
garra nas paredes.
B
O Acesso Sul do “Corredor dos Dormitórios” é o segmento mais típico, mais preservado e
mais bonito da paleotoca. As paredes são praticamente originais e muito polidas devido ao
constante uso. A altura atual é de um metro; o piso está um pouco aterrado com argila.
Fica muito nítido nesse trecho que as paredes possuem alguns “arcos” sucessivos. Tanto
as paredes laterais como o teto não são retas, mas formadas por uma sucessão de superfícies
côncavas; o encontro de duas superfícies côncavas forma um arco como se fosse um reforço na
estrutura do túnel.
Os arcos muito provavelmente representam etapas de escavação, porque os bichos
certamente não cavavam um túnel desse tamanho de uma vez só, mas aos poucos. O bicho
cavava um trecho e depois tinha que tirar da paleotoca ao redor de 2 toneladas de rocha por
metro cúbico escavado. Depois de tanto trabalho, ele fazia uma pausa (semanas?, meses?,
anos?) e depois retomava a escavação. Cada arco representa uma pausa, como na figura abaixo.
Pois são esses os principais aspectos da paleotoca da Rua Florinda Fink. Sem se expor a
perigos, sem sujar a roupa, sem ficar se arrastando ou engatinhando por espaços escuros e
tortuosos, você acaba de realizar um passeio na paleotoca.
Com a quantidade de dados que coletamos, podemos escrever sem problemas um artigo
científico de boa qualidade; isso será feito quando tivermos o tempo necessário. Artigos científicos
são um trabalho demorado: meses para escrever, meses para fazer a revisão pelos especialistas
procurados pela editoria da revista, meses esperando até o artigo sair publicado. Se tudo for muito
rápido, um ano, provavelmente mais. Mas o processo é uma garantia de uma certa qualidade,
pois vários especialistas lêem seu texto antes dele ser publicado; os principais erros são filtrados.
3. Agradecimentos
Agradecimentos são devidos a Doglas Pavan, proprietário da área e que permitiu o acesso
sem restrições à paleotoca. Também agradecemos à equipe que possibilitou o trabalho: Bruna
Thaís Campos de Oliveira, Alysson Bündchen, Júnior Bündchen, Anselmo Bündchen e Rosana
Bündchen.
4. Declaração
As informações e as imagens contidas no presente texto apenas foram obtidas devido a
um investimento maciço de verbas públicas, materializadas no salário dos professores
universitários do Projeto Paleotocas, nas verbas de manutenção das respectivas universidades e
na verba de pesquisa (CNPq) que adquiriu alguns dos equipamentos usados. Em função disso, as
informações e imagens são públicas e podem ser usadas sem qualquer restrição. Diga não às
revistas que apenas disponibilizam seus artigos através de pagamento
(www.thecostofknowledge.com).
5. Contato
Qualquer dúvida, pergunta ou comentário pode ser encaminhado pelo email
[email protected] que responderemos em seguida.