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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E DISCURSOS RACIAIS EM MUSEUS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO: COMO CONSTRUIR A INCLUSÃO?
Jéssica Maria de Vasconcellos Santana Hipolito14 Thaís Lisboa Soares15
Andréa Lopes da Costa Vieira16 Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação
Categoria: Pôster
A pesquisa integra o projeto PATRIMÔNIO, IDENTIDADE E AÇÕES AFIRMATIVAS:
A APROPRIAÇÃO DA NARRATIVA E RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA COMO
ESTRATÉGIA POLÍTICA NA CONTEMPORANEIDADE, que discute os processos de
produção da memória dentro do conceito de pós-modernidade, vinculados à percepção das
mudanças no campo das relações sociais, tendo como foco a ascensão dos valores de
identidade. Tal identidade se torna um importante instrumento de reconhecimento,
acarretando em ações políticas e sociais.
As identidades e culturas negras suprimidas em suas representações nas instituições
formais, sendo ressignificadas como cultura nacional, interiorizadas como brasileira e não
uma cultura negra em si, podem se refletir nos discursos empregados nos museus
brasileiros. Sendo estes uns dos principais espaços formadores e legitimador de opinião, é
papel do museu elucidar as relações de pertencimento que se mostram tão díspares.
14 Discente de Museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Integrante da pesquisa “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para o Ensino Superior (Publico e Privado). 15 Discente de Serviço Social na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Integrante da pesquisa “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para o Ensino Superior (Publico e Privado). 16 Doutora em Sociologia. Professora Adjunta no Departamento de Filosofia e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Professora permanente no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Coordenadora do Projeto: “Patrimônio, Identidade e Ações Afirmativas: Apropriação da Narrativa e Reconstrução da Memória como Estratégia Política na Contemporaneidade”, financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq (Edital Universal). Coordenadora do Projeto: “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para a inclusão no Ensino Superior (publico e privado) – Financiado pelo MEC/SESU – PET- Conexões de Saberes
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A busca pelo fortalecimento de uma identidade, ou identidades, muitas vezes está ligada
diretamente ao resgate do passado. No caso das identidades negras essa recuperação da
memória se mostra mais complexa se pensarmos em uma memória que se apresenta
posteriormente escrita, documentada. Sendo assim, a memória oral ainda tem sido a
principal forma, neste caso, de estabelecer esta ligação entre passado e presente da cultura
afro.
A construção de memórias e identidades tidas como negras, num país como o Brasil, não é
tão simples. Desde a década de 30, com Getúlio Vargas, que se tentou implementar o
ideário de um país sem preconceitos raciais, o que fora fortalecido nas décadas de 70 e 80,
pela ditadura militar que ainda estava em vigência no país. Os movimentos negros da
sociedade civil foram desestimulados e até combatidos por expor os vestígios de
segregação racial não institucionalizada, mas difundida e perpetuada, num Brasil que se
dizia não aceitar nem configurar um Estado de preconceitos. Crescemos e vivemos a maior
parte de nossas vidas ouvindo sobre uma democracia racial, sobre o fato de sermos um
povo miscigenado, composto por brancos, negros e índios. Enfim, um Brasil sem cor, um
local em que todas as raças convivem harmoniosamente e o preconceito racial é
inexistente. Todavia, o que a história e consequentemente os fatos nos mostram não remete
a este paraíso racial. Os negros tornaram-se a partir da Abolição cidadãos e, portanto,
inclusos no modelo brasileiro de nação. Adota-se, posteriormente, a imagem de um país
democrático racialmente. Contudo, é fato a tentativa de embranquecimento do povo
brasileiro através da mestiçagem, já que pensava-se num Brasil Moderno, pós-escravidão,
que país próspero é país branco. Alguns defensores do racismo científico, descrentes na
miscigenação em prol do embranquecimento, defendiam que a mistura entre as raças iria,
literalmente, “denegrir” o Brasil. Todo esse percurso se estende até os dias atuais e
consequentemente é refletido na sociedade em que estamos inseridos.
A criação de museus que se referem especificamente à identidade negra, em prol da
divulgação de uma nova forma de ver e mostrar o negro para o público, é de acordo com
Sepúlveda (2004) parte de um processo de racialização da cultura brasileira. Segundo a
autora, isto se dá devido à força de ações públicas voltadas ao combate das desigualdades
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raciais partindo de políticas afirmativas. Podemos elucidar o que ocorre nos museus, uma
exposição é o principal veículo transmissor de informação que os compõem, e, portanto, é
a responsável crucial pela transmissão dos conceitos que por ventura nela venham ser
estabelecidos. Levando em consideração que a escolha do ‘recorte expositivo’ se dá
arbitrariamente, de acordo com as propensões e decisões tomadas por seu idealizador, na
exposição será mostrada apenas uma parte do real, nunca sua totalidade. Ainda assim, será
apresentada ao público espectador como autêntica. Todavia, apresenta-se meramente como
uma das várias representações cabíveis à realidade. Neste sentido, a legitimação de grupos
hegemônicos se faz presente, construindo e reconstruindo dentro deste espaço a ‘realidade
social’ que lhes convém e consequentemente refletirá, no meio ao qual esta exposição está
inserida, o discurso das maiorias. Sendo assim, precisamos considerar que as construções
de identidade e da memória negra são integradas pelo subjetivo do coletivo. Apreciando as
novas formulações identitárias, observamos à idéia de miscigenação ou mestiçagem
perpassando pela composição da memória e cultura do negro, que está enraizada no
imaginário nacional.
Em se tratando de patrimônio, as eleições dos bens culturais passíveis de patrimonialização
não se dão de forma arbitrária. E estas escolhas elucidam as características da sociedade
em que tais bens estão inseridos. Vale salientar que estas decisões são responsáveis não
apenas por exaltações, mas principalmente por esquecimentos. Pertencentes a um mundo
em que o ideário racial predominante é o branco, consequentemente a memória coletiva
construída é baseada nos agentes principais deste ideário.
O museu, um dos principais disseminadores da memória e do patrimônio está de certa
forma envolvido com esta discussão. No caso da representação do negro neste espaço de
memória é comum a apresentação basicamente relacionada ao período da escravidão, onde
se mostram nas exposições os instrumentos de suplício, documentos como cartas de
alforria ou gravuras representando o trabalho escravo. São mencionados grandes nomes da
arte brasileira como Aleijadinho ou Mestre Valentim, negros, que por mais que fossem
excelentes artistas e feitores de grandes obras, jamais receberiam os louros de seus feitos,
justamente por serem negros. Com o surgimento dos museus etnográficos são apresentadas
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as sociedades tidas como primitivas e ainda é presente a ideia de por exemplo, Arte
Africana ou Indígena como sendo consideradas primitivas. Muitos dos objetos utilizados
em rituais e cerimônias foram mal interpretados e consequentemente apresentados ao
grande público fora de seu contexto sócio-cultural original e mostrados como meros
artefatos exóticos. Nestes casos, fica evidente a constante prática de inferiorização dos não
pertencentes às maiorias, das interpretações errôneas e principalmente da desconstrução de
uma memória.
Dentro da conjuntura da sociedade atual, de acordo com as transformações políticas e
econômicas que se constroem na nova disposição geopolítica, neste mundo globalizado,
sem fronteiras, em que as relações se dispõem de maneira mais dinâmica é que as culturas
e raças se aglutinam e interligam gerando a construção de novas ideias sobre identidade e
pertencimento. Sendo assim, essa ressignificação permite portanto a abordagem do campo
político dentro da questão identitária, tornando possível a desconstrução de conceitos como
o de homogeneidade e consequentemente dão vazão à concepções que possibilitam a
formação da luta pela identidade e pela legitimação da diversidade.
A memória, culturas e identidade negras no âmbito do museu se encontram permeadas
nestas discussões e precisam ser esclarecidas, em prol da maior valorização destas
memórias e identidades muitas vezes negligenciadas e portanto esquecidas.
REFERÊNCIAS
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