efeito da deficiÊncia estrogÊnica no suporte...

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100 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN0103-9393 Braz J Periodontol - December 2011 - volume 21 - issue 04 INTRODUÇÃO A doença periodontal tem como etiologia o biofilme dental, sendo este o iniciador do processo. As reações inflamatória e imunológica associadas a presença bacteriana representam os mecanismos pelos quais o hospedeiro responde a essa agressão, resultando em alterações patológicas nos tecidos periodontais. Histologicamente verifica-se o envolvimento da porção coronal da crista óssea, dano extenso às fibras do ligamento periodontal, migração apical do epitélio juncional a partir da junção cemento- esmalte, além da disseminação dos danos inflamatórios e imunológicos aos tecidos adjacentes à bolsa periodontal (Kinane, 2001). Segundo Weinberg & Bral (1999) modelos animais têm sido utilizados em periodontia para compreensão dos fenômenos envolvidos no processo de etiopatogenia da doença, para avaliar várias modalidades de tratamento (Anbinder et al., 2007). A indução da doença periodontal em animais pode ser obtida por meio de vários métodos, entre os quais se verifica a colocação de ligadura de algodão ao redor da coroa dentária ou do primeiro molar mandibular (Souza et al., 2006; Anbinder et al., 2007; Holzhausen et al. 2004; Bjornsson et al., 2003). O método radiográfico, capaz de detectar defeitos intra-ósseos, foi proposto por Klausen et al. (1989), no qual se obtém o percentual de suporte ósseo existente no elemento dentário. Esta metodologia foi avaliada em diferentes localizações e o percentual de SOP não diferiu EFEITO DA DEFICIÊNCIA ESTROGÊNICA NO SUPORTE ÓSSEO PERIODONTAL EM PERIODONTITE EXPERIMENTAL EM RATAS The effect of estrogen deficiency on periodontal bone support in experimental periodontitis in rats Susana Ungaro Amadei 1 , Daniela Martins de Souza 1 , Renata Falchete do Prado 2 , Alexandre Prado Scherma 1,3 , Rosilene Fernandes da Rocha 4 1 Professor Assistente Doutor – FUNVIC-FAPI, Faculdade de Pindamonhangaba, Pindamonhangaba, SP 2 Cirurgião-dentista, Doutora em Biopatologia Bucal 3 Professor de Pós-Graduação em Odontologia, Departamento de Biologia Odontológica / Unitau 4 Professora Adjunta – UNESP, Universidade Estadual Paulista, SJ dos Campos, SP Recebimento: 29/07/11 - Correção: 19/09/11 - Aceite: 07/11/11 RESUM0 Este estudo avaliou o efeito de diferentes tempos de deficiência estrogênica no suporte ósseo periodontal (SOP) em periodontite induzida experimentalmente em ratas. Foram utilizados 80 animais, divididos randomicamente em dois grupos: ovariectomizado (OVZ) e cirurgia simulada (SHAM). Os grupos foram subdivididos (n=10 cada) de acordo com o período de deficiência ou suficiência estrogênica (30, 60, 90 e 120 dias). Nos últimos 30 dias do experimento todos os grupos foram submetidos à indução de periodontite com fio de algodão ao redor do primeiro molar inferior direito. Finalizado o período experimental, as ratas foram submetidas a eutanázia e as mandíbulas foram removidas para análise radiográfica do SOP. Os resultados indicaram influência da deficiência estrogênica na redução do percentual de SOP, tanto na presença quanto na ausência de ligadura, exceto no período de 30 dias sem indução de periodontite. Na presença de ligadura, verificou-se menor percentual de SOP (p<0,05) no período de 90 dias após ovariectomia, em relação aos demais grupos. Concluiu-se que a deficiência estrogênica de 30 a 120 dias pode agravar a perda óssea alveolar em periodontite experimental, sendo esta perda superior no período de 90 dias. UNITERMOS: Ovariectomia; osteoporose, doenças periodontais, perda óssea alveolar, deficiência estrogênica. R Periodontia 2011; 21:100-105.

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100 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN0103-9393

Braz J Periodontol - December 2011 - volume 21 - issue 04

INTRODUÇÃO

A doença periodontal tem como etiologia o biofilme dental, sendo este o iniciador do processo. As reações inflamatória e imunológica associadas a presença bacteriana representam os mecanismos pelos quais o hospedeiro responde a essa agressão, resultando em alterações patológicas nos tecidos periodontais. Histologicamente verifica-se o envolvimento da porção coronal da crista óssea, dano extenso às fibras do ligamento periodontal, migração apical do epitélio juncional a partir da junção cemento-esmalte, além da disseminação dos danos inflamatórios e imunológicos aos tecidos adjacentes à bolsa periodontal (Kinane, 2001).

Segundo Weinberg & Bral (1999) modelos animais

têm sido utilizados em periodontia para compreensão dos fenômenos envolvidos no processo de etiopatogenia da doença, para avaliar várias modalidades de tratamento (Anbinder et al., 2007).

A indução da doença periodontal em animais pode ser obtida por meio de vários métodos, entre os quais se verifica a colocação de ligadura de algodão ao redor da coroa dentária ou do primeiro molar mandibular (Souza et al., 2006; Anbinder et al., 2007; Holzhausen et al. 2004; Bjornsson et al., 2003).

O método radiográfico, capaz de detectar defeitos intra-ósseos, foi proposto por Klausen et al. (1989), no qual se obtém o percentual de suporte ósseo existente no elemento dentário. Esta metodologia foi avaliada em diferentes localizações e o percentual de SOP não diferiu

EFEITO DA DEFICIÊNCIA ESTROGÊNICA NO SUPORTE ÓSSEO PERIODONTAL EM PERIODONTITE ExPERIMENTAL EM RATASThe effect of estrogen deficiency on periodontal bone support in experimental periodontitis in rats

Susana Ungaro Amadei1, Daniela Martins de Souza1, Renata Falchete do Prado2, Alexandre Prado Scherma1,3, Rosilene Fernandes da Rocha4

1 Professor Assistente Doutor – FUNVIC-FAPI, Faculdade de Pindamonhangaba, Pindamonhangaba, SP

2 Cirurgião-dentista, Doutora em Biopatologia Bucal

3 Professor de Pós-Graduação em Odontologia, Departamento de Biologia Odontológica / Unitau

4 Professora Adjunta – UNESP, Universidade Estadual Paulista, SJ dos Campos, SP

Recebimento: 29/07/11 - Correção: 19/09/11 - Aceite: 07/11/11

RESUM0

Este estudo avaliou o efeito de diferentes tempos de deficiência estrogênica no suporte ósseo periodontal (SOP) em periodontite induzida experimentalmente em ratas. Foram utilizados 80 animais, divididos randomicamente em dois grupos: ovariectomizado (OVZ) e cirurgia simulada (SHAM). Os grupos foram subdivididos (n=10 cada) de acordo com o período de deficiência ou suficiência estrogênica (30, 60, 90 e 120 dias). Nos últimos 30 dias do experimento todos os grupos foram submetidos à indução de periodontite com fio de algodão ao redor do primeiro molar inferior direito. Finalizado o período experimental, as ratas foram submetidas a eutanázia e as mandíbulas foram removidas para análise radiográfica do SOP. Os resultados indicaram influência da deficiência estrogênica na redução do percentual de SOP, tanto na presença quanto na ausência de ligadura, exceto no período de 30 dias sem indução de periodontite. Na presença de ligadura, verificou-se menor percentual de SOP (p<0,05) no período de 90 dias após ovariectomia, em relação aos demais grupos. Concluiu-se que a deficiência estrogênica de 30 a 120 dias pode agravar a perda óssea alveolar em periodontite experimental, sendo esta perda superior no período de 90 dias.

UNITERMOS: Ovariectomia; osteoporose, doenças periodontais, perda óssea alveolar, deficiência estrogênica. R Periodontia 2011; 21:100-105.

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estatisticamente nem entre as raízes mesial e distal nem entre os arcos (Souza et al., 2005). Este método foi utilizado em outros trabalhos, empregando radiografias de molares localizados na maxila mensurando o aspecto distal do 1° e 2° molares (Bjornsson et al., 2003) e na mandíbula avaliando o aspecto distal do 1° molar (Souza et al., 2006; Anbinder et al., 2006).

Alterações no periodonto têm sido também relacionadas com a osteoporose. Ambas as doenças são multifatoriais e apresentam inúmeros fatores de risco em comum, como fumo, deficiências nutricionais, idade e disfunção do sistema imune. Assim, a dificuldade de isolamento dos fatores tem sido uma das principais limitações dos estudos em humanos que correlacionam osteoporose e doença periodontal (Wactawski-Wende et al., 1996).

Alguns estudos com animais foram encontrados avaliando o efeito da osteoporose sobre os maxilares (Elovic et al., 1995; Tanaka et al., 2002; Tanaka et al., 1998; Tanaka et al., 2003). Os achados mais frequentes incluem menor densidade óssea mandibular (Elovic et al., 1995); severa reabsorção do rebordo residual (von Wowern & Kollerup, 1992); maior número de dentes perdidos e alterações na região condilar (Tanaka et al., 1998).

Acredita-se que a deficiência estrogênica cause alterações tanto na remodelação óssea (Amadei et al, 2006) quanto no osso alveolar o que poderia resultar no agravamento de uma doença periodontal pré-existente (Johnson et al., 1997; Kribbs, 1990).

O verdadeiro papel da osteoporose na etiopatogenia da doença periodontal ainda não está completamente esclarecido. Dessa forma, os resultados encontrados nesse estudo poderão trazer benefícios aplicáveis tanto em estudo experimentais quanto na realidade clínica com mulheres que se encontram na menopausa. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de diferentes tempos de deficiência estrogênica no suporte ósseo resultante da periodontite induzida experimentalmente em ratas.

MATERIAL E MÉTODO

AnimaisPara a realização deste trabalho foram utilizadas 80 ratas

adultas (Rattus norvegicus, variação albinus, Wistar ) com aproximadamente noventa dias de idade e massa corpórea de 300gramas. Todas as ratas foram submetidas as mesmas condições experimentais recebendo ração (Guabi Nutrilador,– Mogiana Alimentos, Campinas, SP, Brazil) e água ad libitum.

Este estudo foi realizado de acordo com os Princípios Éticos para a Experimentação Animal, adotado pelo Colégio

Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,com o protocolo no 019/2006.

Procedimentos experimentaisAs ratas foram anestesiadas com uma solução de 13mg/

kg de cloridrato de 2-(2,6-xilidino)-5,6-dihidro-4H-1,3-tiazina (Anasedan- Bayer do Brasil), substância com propriedades sedativas, analgésicas e relaxante muscular e 33mg/kg de Ketamina base (Dopalen – Agribands do Brasil LTDA), anestésico geral, via intramuscular. Ovariectomia bilateral foi realizada nas 40 ratas pertencentes ao grupo OVZ, metade da amostra selecionada aleatoriamente. As ratas remanescentes foram submetidas a cirurgia simulada (SHAM), nas quais os ovários foram identificados e retornados intactos as posições originais.

Os grupos OVZ e SHAM com quarenta ratas em cada foram randomicamente distribuídos em quatro subgrupos de 10 animais, considerando o período de estrógeno deficiência (OVZ) ou estrógeno suficiência (SHAM). Os períodos considerados foram 30, 60, 90 e 120 dias após as cirurgias.

Em todos os grupos, nos últimos 30 dias do experimento foi induzida periodontite. Para tanto a mesma anestesia geral foi administrada intramuscularmente e ligaduras de algodão foram localizadas em torno da cervical do primeiro molar inferior direito, mantendo o dente contralateral sem ligadura. A ligadura foi amarrada com o nó voltado para a face vestibular do dente.

Depois de transcorrido o período experimental estabelecido por grupo, as ratas foram eutanaziadas por excesso de anestésico, as ligaduras foram retiradas e as mandíbulas removidas e fixadas em formol a 10%.

Análise radiográfica do suporte ósseo periodontalAs hemi-mandíbulas foram radiografadas pelo sistema de

imagem radiográfica intra-oral digital RVG (RadioVisioGraphy – Trofhy radiology inc. –Marietta / USA), o qual emprega dispositivos de carga acoplada (sensor-CCD ) para captura direta das imagens.

As tomadas radiográficas foram realizadas utilizando aparelho de raios-X digital Gendex 765DC (Gendex, Dentsply, Internacional, USA) com 65kv, 7mA e tempo de exposição de 0,08seg. O sensor CCD foi fixado em uma mesa e o cilindro posicionado com distância focal de 30cm. As hemi-mandíbulas, com a face lingual voltada para o cilindro de raios-X, foram fixadas na porção central do sensor com auxílio de cera utilidade. As peças foram posicionadas objetivando-se o paralelismo entre as cúspides linguais e vestibulares, as

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Tabela 1

quais deveriam estar sobrepostas na imagem radiográfica. O sensor apresentou relação de paralelismo com as faces livres dos dentes e de perpendicularismo com as faces oclusais.

O sistema de análise de imagem Image Tool v.3.0 (UTHSCSA, San Antonio, TX, USA) foi empregado para as medições lineares, sendo realizadas análises cegas três vezes por um examinador treinado. Nas radiografias digitais, foram considerados três pontos no primeiro molar selecionado: ápice da raiz distal (A), ponta da cúspide distal (C) e o fundo do defeito na distal do dente (B). O ápice radicular foi definido como o ponto mais apical do dente e o fundo do defeito representado como a posição mais apical do tecido ósseo proximal, sendo mensuradas as distâncias lineares entre os pontos AC e AB (Figura 1).

Portanto, o suporte ósseo periodontal (SOP) foi calculado pela fórmula: SOP=AB/AC x 100. A média das três medidas foi utilizada para expressar o SOP em cada animal, sendo que os maiores valores indicaram menor destruição óssea periodontal.

Análise estatísticaInicialmente, o teste t pareado (p<0,05) foi utilizado para

comparar os percentuais médios de SOP entre dentes com e sem ligadura no mesmo animal.

Posteriormente, considerando presença ou ausência de ligadura a análise radiográfica comparou as médias (teste t independente; p<0,05) entre os grupos OVZ e SHAM nos diferentes períodos analisados. Análise de variância (ANOVA e Tukey; p<0,05) foi empregada para determinar a presença de diferença significativa entre as médias do percentual de SOP entre os diferentes tempos de deficiência/suficiência nos grupos SHAM e OVZ.

RESULTADOS

A análise intragrupo revelou inferioridade estatística (p<0,05) nos percentuais de SOP para as condições de presença de ligadura em relação à ausência de ligadura para todos os grupos experimentais.

Observa-se nas Tabela 1 e 2 a influência da deficiência estrogênica na redução do percentual de SOP remanescente, tanto na presença quanto na ausência de ligadura, indicando perdas ósseas significativamente maiores devido a ovariectomia, exceto no período de 30 dias sem indução de periodontite.

Considerando o período de deficiência estrogênica, observou-se na ausência de ligadura valor significante menor (p<0,05) de SOP no período de 30 dias após simulação da ovarectomia em relação aos demais períodos (Tabela 1). Na presença de ligadura, verificou-se remanescente de suporte ósseo inferior estatisticamente no grupo que recebeu ligadura após 90 dias da cirurgia de ovariectomia em relação aos demais períodos (Tabela 2).

méDias e Desvio PaDRão Dos PeRcenTuais De soP RemanescenTe na ausência De ligaDuRa nos DiFeRenTes PeRíoDos exPeRimenTais.

Sem ligaduraOVZ SHAM

p value(independent t test)Período/dias

30 62,13 ± 1,68 62,39 ± 2,28* 0,4637

60 62,57 ± 1,20 63,82 ± 1,63 0, 0291

90 61,56 ± 1,78 64,34 ± 1,25 0, 0007

120 61,43 ± 0,82 64,10 ± 2,13 0, 0008

Figura 1 - Pontos utilizados para mensuração das distâncias lineares entre os pontos AC e AB no primeiro molar selecionado: ápice da raiz distal (A), ponta da cúspide distal (C) e o fundo do defeito na distal do dente (B).

* Análise de variância nas colunas OVZ e SHAM (ANOVA e Tukey; p<0,05).

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Tabela 2

DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou o efeito de diferentes períodos de deficiência estrogênica no suporte ósseo periodontal (SOP) em ratas ovariectomizadas e os resultados demonstraram que houve uma associação entre deficiênica estrogênica e doença periodontal. Este foi um dos primeiros estudos da literatura que não somente avaliou diferentes tempos de deficiência estrogênica, como também evidenciou menor SOP aos 90 dias após ovariectomia.

Estudos encontrados na literatura mostram resultados conflitantes decorrentes da grande variabilidade de metodologias empregadas para avaliar a relação existente entre a doença periodontal e a osteoporose.

Diferenças no tamanho da amostra, na população examinada e na idade da mesma, impedem a interpretação e comparação dos resultados originados destes trabalhos, sendo necessário, portanto, o desenvolvimento de estudos longitudinais para o esclarecimento da real natureza de ambas. Além disso, na maioria das pesquisas os estudos são transversais, limitando assim a disponibilidade de informações sobre qual das duas doenças estudadas poderia ter precedido o exame, pois, tanto a osteoporose como a doença periodontal, doenças crônicas multifatoriais, resultam em reabsorção óssea, sempre existindo a possibilidade de uma delas já estar presente previamente ao início da pesquisa (Garcia, 2001; Weinberg & Bral, 1999).

Portanto, para sobrepujarmos tais limitações, obstáculos e dificuldades, empregamos o rato como modelo animal osteopênico (Oliveira et al., 2010). A escolha do rato como modelo deve-se pela conveniência de diminuirmos o período de pesquisa obtendo resultados confiáveis em um intervalo de tempo menor, uma vez que em seres humanos as transformações ósseas podem demorar anos, dificultando

assim a avaliação. Além disso, há predominância de estudos envolvendo a deficiência estrogênica nesse animal, facilidade de execução da ovariectomia, baixo custo, o fato de não ser necessário longos períodos de experimentação e à simulação de um quadro ósseo semelhante ao observado na menopausa, com rápida perda óssea e aumento na taxa de remodelação (Kalu, 1991; Mosekilde, 1995; Wronski et al.; 1988).

De acordo com a literatura, a osteoporose pode afetar o curso da doença periodontal, pela redução da densidade mineral óssea e quantidade do trabeculado ósseo oral. Há ainda, a hipótese de que a osteoporose pode ocasionar uma diminuição na densidade do osso alveolar, perda óssea alveolar na região de furca tornando-o mais susceptível à reabsorção (Duarte et al. 2004; Johnson et al. 1997; Wronski et al.; 1988). Contribuindo para confirmar a veracidade deste fato, notou-se que na análise radiográfica, na qual se avaliou a altura do osso remanescente na face distal da raiz do primeiro molar inferior, que as médias de altura da crista alveolar foram estatisticamente mais baixas nos grupos ovariectomizados tanto na presença quanto na ausência de ligadura, mostrando que a deficiência estrogênica interfere no suporte ósseo periodontal, pois o estrógeno é fundamental na preservação da massa óssea.

É bem estabelecido que a perda de massa óssea decorrente da deficiência estrogênica em ratas ovariectomizadas ocorre gradualmente, apresenta um pico e estabiliza-se. Entretanto, os picos encontrados nos trabalhos nem sempre são coincidentes (Johnson et al., 1997; Tanaka et al., 2002; Tanaka et al., 2003; Wronski et al., 1988).

Estes dados estão de acordo com Johnson et al.(1997), que averiguaram, utilizando ovelhas ovariectomizadas, que a doença periodontal foi exacerbada pela deficiência estrogênica.

méDias e Desvio PaDRão Dos PeRcenTuais De soP RemanescenTe na PResença De ligaDuRa nos DiFeRenTes PeRíoDos exPeRimenTais.

Com ligaduraOVZ SHAM

p value(independent t test)Período/dias

30 50,61 ± 2,90 54,32 ± 3,14 0,0000

60 51,55 ± 2,04 53,18 ± 1,43 0,0144

90 47,82 ± 2, 96* 54,52 ± 1,80 0,0000

120 50,87 ± 1,54 54,47 ± 1,73 0,0000

* Análise de variância nas colunas OVZ e SHAM (ANOVA e Tukey; p<0,05).

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Diante do exposto, os resultados obtidos no trabalho foram coerentes e permitiram uma adequada análise da influência de diferentes tempos de deficiência estrogênica na perda óssea decorrente da periodontite e evidenciaram a relação da doença periodontal com a ovariectomia, que aos noventa dias agravou a perda óssea alveolar.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que deficiência estrogênica de 30 a 120 dias pode agravar a perda óssea alveolar em periodontite experimental, sendo esta mais exacerbada associada ao período de 90 dias.

ABSTRACT

This study assesed how estrogen deficiency affected periodontal bone support (PBS) in rats with experimentally induced periodontitis in different periods of time (30, 60, 90 and 120 days). Eighty female rats were used in the reasearch,

randomly divided into two groups: ovariectomized (OVZ) and surgery sham (SHAM). The groups were then subdivided (n = 10) according to the period of estrogen deficiency or estrogen sufficiency. In the last 30 days of the experiment, all groups were subjected to periodontitis induction by the insertion of a cotton thread around the lower right first molar. After the experimental period, all rats were euthanized and had their jaws removed for radiographic analysis of PBS. Results indicated that estrogen deficiency influenced the reduction in the percentage of PBS, both with and without ligature, except in the 30 days prior to periodontitis induction. In rats with ligature, the percentage of PBS was lower (p <0.05) in the 90 day period after ovariectomy, when compared to the other groups. Authors concluded that 30 to 120 day estrogen deficiency may worsen alveolar bone loss in experimental periodontitis and that this loss is higher in the 90 day period.

UNITERMS: Ovariectomy, osteoporosis, periodontal diseases, alveolar bone loss, estrogen deficiency.

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Endereço de correspondência:

Susana Ungaro Amadei

Rua Irmã Luíza Basília, 326 - Independência

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