elizangela jacon binatti grobel relatÓrio tÉcnico ...teve início os trabalhos de certificação,...
TRANSCRIPT
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
Diretoria Metropolitana – M
Unidade de Negócio Oeste – MO
Departamento de Engenharia – MOE
Divisão de Controle Sanitário Oeste - MOEC
ELIZANGELA JACON BINATTI GROBEL
RELATÓRIO TÉCNICO
Operation and Maintenance of Urban Water Supply System
(Water Quality and Purification)
Barueri – São Paulo
2019
2
ELIZANGELA JACON BINATTI GROBEL
Técnica em Sistemas de Saneamento
Divisão de Controle Sanitário Oeste - MOEC
Relatório técnico sobre o curso promovido pela JICA “Operation and
Maintenance of Urban Water Supply System (Water Quality and Purification),
realizado no período entre 26 de Junho e 01 de Agosto de 2019, em Osaka,
Japão.
3
ÍNDICE
1 Introdução ...................................................................................... 4
2 Abastecimento de Água no Japão ................................................. 6
2.2 Japan Waterworks Association ................................................. 9
3 Estações de Tratamento de Água .................................................. 10
3.1 Keage Purification Plant ............................................................ 10
3.2 Katayama Purification Plant ...................................................... 16
3.3 Midorigaoka Purification Plant ................................................... 18
3.4 Nakatsuhara Purification Plant .................................................. 20
3.5 Sengari Purification Plant .......................................................... 21
3.6 Kunijima Purification Plant ......................................................... 23
4 Controle de Qualidade da Água ..................................................... 28
5 Prevenção a Desastres Naturais .................................................... 32
6 Plano de Ação ................................................................................ 34
7 Conclusão ...................................................................................... 35
8 Agradecimentos ............................................................................. 36
9 Referências .................................................................................... 37
4
1. Introdução
JICA é o órgão do governo japonês responsável pela implementação da
Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA) que apoia o crescimento e a
estabilidade sócio econômica dos países em desenvolvimento, prestando
assistência a mais de 150 países no mundo todo.
Para o Japão, o Brasil é considerado um dos países mais importantes do
mundo nas questões de recursos naturais, porém atualmente o Brasil tem
enfrentado muitos desafios que acompanham a rápida urbanização, tais como
escassez de água e tratamento de resíduos.
Desse modo a JICA tem oferecido, desde 1959, várias atividades de
apoio ao Brasil e dentre elas está a cooperação técnica. Em 2015, foi criado o
JICA Knowledge Co-Creation Program (KCPP), que é um processo de mútua
aprendizagem a fim de promover relações recíprocas entre países em
desenvolvimento, através de diálogos e colaboração, onde todos possam
aprender, crescer e se desenvolver através do compartilhamento de experiências.
Em seu esforço para reconstrução e modernização do país após a
Segunda Guerra Mundial, o Japão acumulou várias experiências em operação e
manutenção em sistemas de abastecimento de água. Todas as técnicas e
conhecimento adquiridos podem contribuir para assegurar a sustentabilidade dos
sistemas de abastecimento de água potável em países em desenvolvimento.
O curso “Operation and Maintenance of Urban Water Supply System
(Water Quality and Purification)” faz parte deste programa de aprendizagem
mútua (KCCP) e tem como objetivo auxiliar organizações a desenvolver seus
processos para abastecimento de água potável, tendo como foco principal
qualidade da água e processos de purificação. Realizado no Japão no período
entre 26 de junho e 01 de agosto de 2019, o curso foi organizado, em parceria
com a JICA, por Osaka City Waterworks Bureau, que é uma companhia
municipal responsável pelo tratamento e distribuição de água da cidade de
Osaka, considerada a capital oeste do Japão, localizada na Região Kansai.
Foram nove participantes provenientes de oito países – Bangladesh,
Brasil, Egito, Laos, Nepal, Panamá, Sudão e Tanzânia – sendo o Brasil
representado por duas participantes (eu, em nome da Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo - SABESP e uma participante em nome da
Empresa Baiana de Saneamento – EMBASA). Em paralelo, também foi
realizado o curso “Operation and Maintenance of Urban Water Supply System
(Distribution and Service)”, que contou com onze participantes provenientes de
onze países – Bangladesh, Benin, Brasil, Camboja, Ilhas Maurício, Myanmar,
Paquistão, Papua Nova Guiné, Sudão, Turquia e Iêmen. Por serem cursos com
interesses próximos, em muitas ocasiões as turmas se fundiram.
O curso foi baseado em troca de experiências entre as diversas realidades
de cada país, além da apresentação de várias técnicas de tratamento praticadas
no Japão, com visitas às Estações de Tratamento de Água nas cidades de Kobe,
Kyoto, Osaka, Suita, Nara, Fukuyama e Hiroshima. Também foi apresentado um
panorama sobre toda a preparação das empresas de saneamento japonesas para
5
minimizar efeitos em caso de terremotos ou tsunamis, que infelizmente são
catástrofes naturais a que o Japão está constantemente exposto.
Ao final do curso, todos os participantes apresentaram um plano de ação
a ser desenvolvido em seus respectivos países, no âmbito de suas organizações,
a fim de compartilhar o conhecimento adquirido e implementar técnicas
apresentadas no curso e que sejam relevantes para o amadurecimento e plenitude
dos sistemas de abastecimento.
6
2. Abastecimento de Água no Japão
O Japão é um país formado por quatro grandes ilhas – Honshu, Shikoku,
Kyushu e Hokkaido e mais de três mil pequenas ilhas, que são circundadas pelo
Oceano Pacífico, Mar da China Oriental e Mar do Japão. Possui curtos rios de
inclinação íngreme por todo o país, o que faz a água fluir para o mar muito
rapidamente (por exemplo um rio de 100 Km de extensão leva apenas 20
minutos para chegar ao mar).
É um país cuja única riqueza natural é a água, o que proporciona uma
segurança para suprir as necessidades hídricas da população e das atividades
econômicas. O consumo é de 15 bilhões m3
/ ano (2018) e as fontes de água
estão assim divididas:
(Fonte: Ministry of Health, Labour and Welfare- MHLV-Japan)
No Japão, a administração das fontes de água e o subsequente abastecimento
público e industrial é regido por três leis principais: a lei proveniente dos Ministérios
(Nacional), a lei proveniente dos Gabinetes de Governo (Local) e a lei proveniente dos
Sistemas Municipais de Água (Técnica e Operacional).
A administração japonesa é composta por onze Ministérios, sendo que cinco
deles estão relacionados a gestão da água:
48%
25%
19%
4% 1% 3%
Fontes de captação para abastecimento de água
represas
rios
poços
leitos de rio
lagos
outros
7
Ministérios relacionados à água
1 Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Responsável pelo abastecimento de água
2 Ministério do Meio Ambiente Responsável pela preservação das reservas
3 Ministério das Cidades, Infra Estrutura, Responsável pelo controle da navegação fluvial,
Transporte e Turismo recursos hídricos e sistemas de esgoto
4 Ministério da Economia, Comércio e Indústria Responsável pelas águas para fins industriais
5 Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca Responsável pelas águas para fins agrícolas
A Lei dos Sistemas Municipais de Água tem a seguinte regência:
“Suprimento de água limpa e abundante, disponível a baixo preço, promovendo
o saneamento básico e o desenvolvimento sustentável, com ações que permitam a
melhoria contínua nos sistemas, com proteção e fomento do negócio de abastecimento
de água.”
O abastecimento é dividido em quatro categorias distintas.
1 - Sistemas de Abastecimento de Água: abastecimento para uso geral,
principalmente residências; é gerenciado pelos municípios, sob licença do Ministério da
Saúde, Trabalho e Bem-Estar.
2 – Abastecimento de Água a Granel: venda de água no atacado, podendo ser
água tratada ou semi tratada, de acordo com a finalidade; é geralmente para uso
industrial, sanitário ou artístico, como fontes decorativas e painéis com lâmina d’água.
É também gerenciado pelos municípios, porém sob licença do Ministério da Economia,
Comércio e Indústria.
3 – Sistemas Privados de Abastecimento de Água: também gerenciado pelos
municípios, é denominado privado por atender pequenas regiões que possuem entre 101
e 500 residentes. Se aplica a novos bairros e necessita de autorização do Ministério das
Cidades, Infra Estrutura, Transporte e Turismo para ser planejado e construído.
4 – Sistemas Privados de Pequena Escala – são as caixas d’água. O Japão é um
país que não tem por cultura reservar água e interrupções no abastecimento são muito
incomuns. Entretanto, por questões de segurança em casos de terremoto, prédios
governamentais e apartamentos residenciais possuem caixas d’água com capacidade
mínima de 10 m3
.
Desde 2008, a população total do Japão vem decrescendo. Embora seja um fator
positivo para a disponibilidade hídrica, é um fator negativo para a sustentabilidade do
setor de abastecimento de água, pois há uma diminuição recorde no total de receitas.
Os danos causados pelo Tsunami ocorrido em 2011 causou muitos estragos, seja
na tubulação ou na qualidade da água. Muitas redes se romperam e estão sendo
substituídas, porém não na velocidade que seria desejável. A substituição das redes é
8
um processo natural, pois a ação do tempo não permite que sejam utilizadas por um
prazo de tempo excessivamente longo (a legislação japonesa prevê 40 anos de uso).
Sendo assim, as redes atuais foram instaladas na década de 70, que coincide com um
período de grande crescimento econômico. O agravamento da situação devido ao
tsunami somado à diminuição de receita disponível fez com que a taxa de reposição de
redes diminuísse de de 1,54% em 2001 para 0,75% em 2018 1
.
A qualidade da água também foi comprometida, pois devido ao tsunami ter
atingido a usina nuclear de Fukushima, cidade 260 Km ao norte de Tóquio, o depósito e
infiltração de materiais radioativos no solo obrigou os sistemas de abastecimento a
intensificar os ensaios para verificação da qualidade da água, bem como investir em
equipamentos e novas tecnologias para garantir uma água segura à população. Os
municípios tiveram que recorrer a parcerias público privadas (PPP) para garantir a
compra de equipamentos e investir em pesquisa e desenvolvimento.
Desde 2013, os Sistemas de Água do Japão estão promovendo uma nova visão
sobre o saneamento, baseado nas palavras-chave Segurança, Sustentabilidade e
Resiliência.
O desafio de resolver os problemas futuros depende de uma cooperação entre a
população, governo e iniciativa privada. Para continuar mantendo um abastecimento de
água seguro, com um sistema de qualidade de água integrado e disseminação de
informações para a população, será necessário continuar com os investimentos em
tecnologias que proporcionem materiais resistentes a terremotos bem como os
investimentos em melhorias de reservatórios e estações de tratamento de água. A
estabilidade do negócio precisa sobreviver à diminuição da população, com uma melhor
gestão dos ativos e um reforço nas bases de financiamento sustentável.
1 taxa de reposição de redes de abastecimento: extensão total de tubulação substituída x 100
extensão total da rede
9
2.2 Japan WaterWorks Association (JWWA)
A JWWA é uma Associação Pública, estabelecida em 1932 com o objetivo de
implantar em todo o Japão um sistema de abastecimento de água bem como desenvolver
tecnologias nesta área.
Suas principais atividades incluem pesquisa e desenvolvimento, publicação de
literatura técnica, periódicos, manuais, metodologias, inspeção e certificação e também
intermediações junto ao governo para resolução de problemas relacionados ao
abastecimento de água, disposição de recursos hídricos e projeções sobre
sustentabilidade e futuro do saneamento.
Todos os sistemas de água visitados em Osaka, Kyoto e Kobe possuem a
acreditação “GLP for Water Supply” (Boas Práticas de Laboratório), que é concedido
pela JWWA e consiste em uma junção dos requisitos da ISO 9001 e ISO IEC 17025.
Entre 1868 e 1887, o Japão enfrentou uma pandemia de cólera causada pela má
qualidade da água ingerida pela população. Em 1888, em Yokohama, surgiu o primeiro
sistema de abastecimento de água nos moldes como conhecemos hoje, com tratamento
de água, distribuição e serviços. Entre 1890 e 1904, cidades como Hakodate, Nagasaki,
Osaka e Tóquio também implementaram seus sistemas, porém até esta data ainda não
havia leis e nem parâmetros que orientassem esses sistemas. As informações eram
disseminadas informalmente.
Em 1932, com a criação da JWWA, os primeiros estudos começaram a ser feitos
a partir de dez escritórios, sendo alguns localizados na China. Foi criado um comitê para
padronizar equipamentos e materiais, reduzindo a quantidade de inspeções em redes,
acessórios e válvulas utilizadas nas estações de tratamento.
Em 1946, devido à Segunda Guerra Mundial, foi necessária uma reestruturação e
a partir de 1955, sete escritórios estavam estabelecidos no país. Destes escritórios
saíram os primeiros programas de treinamentos técnicos e administrativos. Em 1975,
teve início os trabalhos de certificação, inspeção e registro (tubulações, válvulas,
hidrômetros, hidrantes, produtos químicos, materiais filtrantes, etc).
A JWWA está associada à JICA para promover o desenvolvimento do
saneamento em países em desenvolvimento e muitas vezes enviam especialistas para
avaliação in loco da situação de diversas regiões. Também prepara materiais para cursos
oferecidos pela JICA e que estejam relacionados ao abastecimento de água.
A associação é autorizada pelo governo a prestar assistência em casos de
desastres naturais, seja no suprimento emergencial de água, na construção de redes
temporárias de água e esgoto ou para assistência financeira para restaurações (baseado
em lei especial).
10
3.Estações de Tratamento de Água
Um dos objetivos do curso tinha por finalidade expor aos participantes os
métodos de tratamento de água mais utilizados no Japão, discutindo suas técnicas,
desafios e melhorias ao longo dos anos. Foram visitadas Estações de Tratamento de
Água que tinham como fonte de captação lagos, rios, represas e poços profundos e que
exigiam diferentes processos de tratamento.
3.1 Keage Purification Plant
Keage Purification Plant é uma Estação de Tratamento de Água (ETA)
localizada na cidade de Kyoto. Fundada em 1912, foi a primeira do Japão a inserir o
sistema de filtros rápidos, tratando à época 68 mil m3
/dia. Foi ampliada em 1962, 50
anos após sua construção, devido à crescente demanda por água em consequência do
rápido aumento populacional, sendo possível tratar 198 mil m3 /dia.
Keage Purification Plant
Infelizmente com a deterioração da qualidade da água bruta, em 1997 a
capacidade diária de tratamento teve de ser reduzida para 99 mil m3 / dia a fim de
garantir a qualidade da água tratada. Foram efetuadas melhorias em todas as etapas do
processo, tais como novos tanques de sedimentação, novos sistemas filtrantes,
automação total da planta e em 2012 foi restabelecida a capacidade total de tratamento,
198 mil m3 / dia.
Esta ETA trata a água proveniente do Lago Biwa, considerado o maior do Japão
com uma área de 670 Km2 . O lago está localizado na cidade de Shiga, vizinha à Kyoto,
e a água chega à cidade através de um aqueduto – Biwako Canal – considerado
patrimônio histórico.
11
Biwako Canal
Keage é uma ETA de tratamento convencional, com as tapas de mistura rápida,
floculção, sedimentação e filtração.
O Lago Biwa é um lago de baixa turbidez (máximo 5 NTU), porém ao seu redor
há muita atividade agrícola, o que favorece a floração de algas. O uso de pesticidas
também é um problema que foi se agravando nos últimos 30 anos e exigiu que a ETA
implantasse um sistema de dosagem de carvão ativado. O carvão é adicionado logo no
início do tratamento para prolongar o tempo de contato com a água bruta e aumentar sua
eficiência na adsorção de matéria orgânica, ajudando a reduzir odor. Essa etapa é
realizada sazonalmente, pois a presença de algas ocorre com maior frequência no
inverno. Também no início do tratamento é borbulhado CO2 (gás carbônico) para
correção do pH. O pH da água do Lago Biwa oscila entre 8 e 10. O pH ideal para o
tratamento na ETA Keage é 7. O uso do CO2 também diminui a concentração de
alumínio dissolvido.
12
Pontos de dosagem de carvão ativado
Ponto de dosagem de CO2
A água bruta segue então para a mistura rápida, onde são adicionados os
produtos químicos. Nesta etapa é feita uma pré cloração com hipoclorito de sódio (6
mg/L), a fim de oxidar ferro, manganês e matéria orgânica. É adicionado o coagulante –
PAC (policloreto de alumínio) para agregação das partículas.
Cada produto químico adicionado possui duas tubulações, pois há sempre dois reservatórios para
armazenagem, por questão de segurança. Funcionam em revezamento, por sistema automatizado de dosagem.
13
Após a adição dos químicos tem início o processo de floculação, que é feito em
quatro câmaras, em velocidades decrescentes, a fim de formar flocos consistentes.
Primeira câmara de floculação
Após a floculação tem início o processo de sedimentação, onde os flocos
formados vão se depositar, por gravidade, no fundo do tanque de sedimentação (ou
decantador). Na saída do tanque, é feita uma cloração intermediária com hipoclorito de
sódio (7 mg/L), para oxidar possíveis substâncias remanescentes.
Canais de decantação protegidos do sol, para evitar a suspensão de flocos
Após a sedimentação, tem início o processo de filtração. A ETA possui 14 filtros
rápidos com capacidade de filtração de 130 m3 cada, utilizando como meio filtrante
areia (camada superior de 70 cm) e cascalho (camada inferior de 20 cm). É necessário
um processo de retro lavagem a cada 48 horas para garantir a taxa de filtração. O leito
14
filtrante é reposto anualmente devido às perdas por expansão e a cada cinco anos, é
efetuada a troca total das camadas de areia e cascalho.
Visão de uma das catorze unidades de filtros rápidos
Após a saída dos filtros, á água recebe uma nova adição de hipoclorito de sódio
(pós cloração) para garantir o teor de cloro residual livre, que de acordo com o Japanese
Standard é de no mínimo 0,1 mg/L (não especifica valor máximo).
A ETA Keage abastece toda a cidade de Kyoto, que é dividida em três zonas de
abastecimento, de acordo com a altitude – zona baixa, que não precisa de bombas para a
distribuição de água pois esta é distribuída por gravidade; zona média e zona alta, que
necessitam de bombas. A fim de atender à legislação quanto ao teor de cloro residual
livre, a pós cloração é feita em dois pontos de aplicação. Para o abastecimento da zona
baixa, a dosagem de hipoclorito de sódio é de 0,6 mg/L. Para o abastecimento das zonas
média e alta, a dosagem de hipoclorito de sódio é de 1,0 mg/L. As duas concentrações
garantem um teor de cloro residual livre de 0,5 mg/L em toda a rede de abastecimento.
Todo o sistema de tratamento é automatizado. Ao longo dos processos, existem
20 medidores entre turbidímetros, turbidímetros de alta sensibilidade, pHmetros,
colorímetros, analisadores de sólidos suspensos e termômetros. O monitoramento é feito
24 horas por dia a partir de uma sala de operações, onde engenheiros e técnicos
observam a evolução dos processos e, se necessário, se deslocam até à planta para a
resolução de problemas pontuais. O controle de dosagem, abertura e fechamento de
válvulas, retro lavagem de filtros, tudo é comandado remotamente da sala de operações.
15
Apenas o processo de cloração (pré, intermediária e pós) possui uma checagem
manual a cada 2 horas, por ser considerado um ponto crítico do processo. Uma amostra
de água floculada, de água decantada e de água filtrada é coletada e efetuado um ensaio
com reagente DPD, que em contato com cloro adquire uma coloração rósea. A
intensidade de cor é comparada com uma escala de padrões a fim de conferir se o valor
reportado pelo medidor está correto.
A automação de todos os processos se deu de maneira gradual, iniciando-se
pelos turbidímetros, seguido dos analisadores de cloro residual livre e por último
pHmetros, termômetros e sondas para sólidos suspensos. Até este momento, a sala de
operações era pequena, pois toda a operação de válvulas ainda era feita manualmente.
Da instalação do primeiro turbidímetro até a consolidação do sistema que
permite um total controle desde a captação até a reservação foram necessários 25 anos.
16
3.2 Katayama Purification Plant
Katayama Purification Plant é uma Estação de Tratamento de Água (ETA) que
fica na cidade de Suita. Construída em 1951, trata água bruta originária de doze poços
profundos (300 m) e tem uma capacidade de tratamento de 10 mil m3/ dia.
Com o objetivo de não comprometer o lençol freático, esses doze poços operam
em sistema de revezamento, de forma que todos os dias estejam sete poços em operação
e cinco em descanso. Desde 2004, a área abastecida por essa ETA tem restrições quanto
ao crescimento, pois não há a possibilidade de operação dos doze poços todos os dias.
Na cidade de Suita existem duas Estações de Tratamento de Água, sendo que a outra
ETA, Izumi Treatment Plant, tem uma capacidade maior e trata água proveniente de
poços profundos e rios. Ainda assim, a cidade necessita de ajuda do Sistema de Água da
cidade de Osaka, que é vizinha, para poder suprir as necessidades de toda a população.
Os doze poços que são utilizados pela ETA Katayama têm como característica
marcante uma alta concentração de ferro (aproximadamente 10 mg/L), que conferem à
água um sabor e odor característicos.
A água é retirada dos poços através de bombas submersas, a uma temperatura
média de 18℃, e percorre por tubulações de 120 m até chegar ao início do tratamento.
Devido à alta concentração de ferro, essa tubulação apresenta inúmeras incrustações. A
cada seis meses, as tubulações necessitam de limpeza, que é feita utilizando ar
comprimido, num processo chamado Air Lift Method.
17
Esse método consiste em injetar ar comprimido na extremidade submersa da
tubulação, a fim de que bolhas se formem. Com o aumento da pressão, essas bolhas
formam um turbilhonamento do interior da tubulação e removem o material incrustado.
Ao chegar as ETA, a água bruta fica em um reservatório onde recebe o pré
tratamento. Esse pré tratamento consiste em um método que não utiliza produtos
químicos e sim bactérias (iron bacteria) que oxidam ferro. Mais de 75% do ferro
presente na água bruta é eliminado nesta etapa, atingindo uma concentração de 0,03
mg/L.
Tanque de contato com bactérias que oxidam ferro e esquema explicativo da atuação destas bactérias
Este pré tratamento é eficiente para a remoção de ferro, porém não muito para a
remoção de manganês. Por este motivo, após a saída do tanque de contato, a água vai
para um processo de filtração rápida onde o manganês é removido, bem como qualquer
ferro residual. A vantagem deste filtro é que a lavagem pode ser feita durante sua
operação, e a água descartada volta para o início do tratamento.
No processo de filtração, a água chega ao filtro e é dispersada uniformemente
em fluxo ascendente, em formato de “V” e passa por uma camada de sílica com
coeficiente de uniformidade igual a 1mm e areia filtrante contendo bactérias que oxidam
manganês. Para a lavagem, é injetado ar e invertido o sentido do fluxo, de ascendente
para descendente. Há uma remoção temporária no leito filtrante, que permite que a água
passe por entre as partículas de areia e sílica carregando as impurezas. Essa lavagem
demora no total 5 minutos, sendo 3 minutos para passagem de ar e água e 2 minutos
para o assentamento do leito filtrante.
18
À esquerda, filtro durante operação; à direita, filtro durante lavagem
Após a saída dos filtros, a água vai para um tanque onde fica em contato com
hipoclorito de sódio (0,5 mg/L, que é suficiente para garantir um teor de 0,1 mg/L de
cloro residual livre na rede, que é o mínimo exigido por lei).
Em seguida, passa por uma nova filtração semelhante à primeira, porém apenas
com a camada de sílica. Na saída dos filtros, é adicionado hidróxido de sódio para
correção do pH, que deve estar entre 7 e 8.
Todo o processo é automatizado e monitorado em uma sala de controle por
técnicos e engenheiros, 24 horas por dia.
3.3 Midorigaoka Purification Plant
Midorigaoka Purification Plant é uma Estação de Tratamento de Água (ETA)
localizada na cidade de Nara. É uma das poucas no Japão a ainda utilizar filtros lentos
de areia.
Nara é uma cidade histórica, pois acredita-se que o deus Takemikadzuchi
chegou a Nara montado em um cervo para proteger a recém construída capital (no
século VIII Nara foi a capital do Japão). Desde então, cervos andam livremente pela
cidade, o que atrai muitos turistas durante todo o ano, mas principalmente no outono
devido à coloração avermelhada que as árvores ao entorno do Nara Park adquirem.
A ETA Midorigaoka é uma das três Estações de Tratamento de Água da cidade
de Nara, pois a demanda por água é muito grande devido à enorme quantidade de
turistas. Todas elas tratam água proveniente do rio Kizu, que nasce ao sul da cidade de
Kyoto. Por atravessar muitas regiões montanhosas, o rio Kizu é muito limpo e apresenta
turbidez abaixo de 2 NTU, exceto em períodos extremamente chuvosos. Quando a
turbidez do rio Kizu está abaixo de 2 NTU, a ETA Midorigaoka pode utilizar o processo
de filtração lenta.
Após a captação, a água bruta é armazenada em um tanque onde fica em contato
com carvão ativado granular por 2 horas. Após esse tempo, a água segue para as quatro
19
unidades de filtros lentos, dispostos em uma área de 8000 m2. A água vai sendo filtrada
lentamente, pois se forma uma membrana biótica na superfície do filtro devido à
presença do carvão ativado. Essa membrana auxilia na retenção das partículas,
reduzindo a turbidez a 0,5 NTU.
A água filtrada é armazenada em um tanque, onde entra em contato com
hipoclorito de sódio, para desinfecção. É adicionado 1 mg/L de hipoclorito de sódio, o
que garante um teor de cloro residual livre de 0,4 mg/L na rede.
Em casos onde a turbidez da água bruta tem um valor entre 2 e 4 NTU, é
adicionado Policloreto de Alumínio (PAC) no início do tratamento, junto ao carvão
ativado. Turbidez acima de 4 NTU não permite o uso desse sistema de filtração lenta; é
necessário o tratamento convencional.
Uma vez ao mês, a areia da superfície dos filtros precisa ser removida, a fim de
retirar as impurezas retidas. Esse trabalho é feito manualmente, com o auxílio de pás e
rastelos. Mensalmente, a camada de areia diminui 2 mm. A cada 4 anos, todo o leito é
trocado.
Todas as vezes que a areia dos filtros é rastelada, é necessária uma retrolavagem.
O processo demora 4 horas para ser completado e o filtro fica indisponível por duas
semanas, que é o tempo necessário para a formação de uma nova membrana biótica na
superfície.
Embora seja um processo lento, a produção diária da ETA Midorigaoka é de 120
mil m3 / dia, devido à sua extensa área e à excelente qualidade da água do rio Kizu.
20
3.4 Nakatsuhara Purification Plant
Nakatsuhara Purification Plant é uma Estação de Tratamento de Água (ETA)
situada na cidade de Fukuyama, que pertence à prefeitura de Hiroshima. É uma ETA
que fornece água principalmente para a área industrial da cidade.
Foi fundada em 1619 (400 anos) e passou por quatro projetos de expansão. Sua
capacidade de tratamento é de 100 mil m3/dia, tratando água proveniente do rio Ashida.
O rio Ashida é um rio de média extensão possuindo 86 Km, com nascente na
cidade de Mihara; é um rio urbano, que cruza as cidades de Hiroshima e Fukuyama e
tem uma grande população ao seu redor. Tem uma turbidez elevada, o que dificulta o
tratamento. Também carrega muita matéria orgânica.
Rio Ashida, nas proximidades de Nakatsuhara Treatment Plant
Sistema de gradeamento na captação, para retenção de resíduos
21
A ETA Nakatsuhara é uma estação de tratamento convencional, que utiliza PAC
como coagulante e hipoclorito de sódio como desinfetante. Também é dosado carvão
ativado, a fim de remover odor.
No início do tratamento, são adicionados carvão ativado, coagulante PAC e gás
carbônico para correção de pH (deve estar em torno de 7 e a água do rio Ashida
apresenta pH em torno de 10). Após a mistura rápida, seguem para o tanque de
decantação, onde é adicionado hipoclorito de sódio (5 mg/L). Após a sedimentação, a
água vai para a etapa de filtração; são16 filtros rápidos. Após a filtração, é adicionado
hipoclorito de sódio novamente (2 mg/L).
Como a produção de água é majoritariamente voltada para fins industriais, após
a filtração a água tratada segue para três reservatórios distintos; passará por uma
cloração final com hipoclorito de sódio de acordo com a finalidade da água a ser
distribuída. Esta ETA é um exemplo de Sistema de Abastecimento de Água a Granel.
À esquerda, tanque de decantação; ao centro, uma unidade de filtro; à direita, um dos três reservatórios de água
tratada, aguardando cloração final.
3.5 Sengari Purification Plant
Sengari Purification Plant é uma Estação de Tratamento de Água (ETA) situada
na cidade de Kobe. Foi construída em 1976 em tem como principal característica a
geração de energia elétrica para consumo próprio, através de uma pequena hidroelétrica
que utiliza a pressão da água entre a represa Sengari e a ETA.
A energia gerada corresponde a aproximadamente 6% do total de energia
consumida pela planta. Essa pequena hidroelétrica foi construída em 2003, subsidiada
pela NEDO – New Energy and Industrial Technology Development Organization, uma
organização japonesa de pesquisa e desenvolvimento.
22
Entre os anos de 2005 e 2017, esta hidroelétrica gerou aproximadamente 520 mil
KWh, gerando uma economia de quase 90 mil dólares americanos e uma redução de
200 toneladas de CO2, que deixaram de ser emitidas na atmosfera.
Esquema da geração de energia
Barragem da Represa Sengari
23
Represa Sengari
A Represa Sengari é o maior reservatório de Kobe. A ETA Sengari capta água
desta represa para tratamento, principalmente da camada média (entre 5 e 15 metros
de profundidade) por ser o ponto que apresenta água de melhor qualidade. Desde
2009, a represa vem apresentando uma queda na concentração de oxigênio
dissolvido. Para contornar esta situação, o Sistema de Abastecimento de Kobe
instalou no fundo da represa, em determinados pontos, um sistema de geração de
oxigênio comprimido, que espalha esse oxigênio do fundo ao meio da represa, em
profundidade. Além de oxigenar a água, esse método também minimiza os efeitos
do excesso de manganês e fosfato no fundo da represa, que tornam a água mais
escura, ao oxidar essas substâncias.
É uma estação de tratamento convencional, mas que necessita de uma dosagem
muito alta de carvão ativado granular devido ao excesso de matéria orgânica
presente na represa e que causa um odor característico.
3.6 Kunijima Treatment Plant
Kunijima Treatment Plant é uma Estação de Tratamento de Água (ETA) que
se localiza na cidade de Osaka, a maior da Região Kansai. Construída em 1914, é a
maior ETA entre as três existentes na cidade de Osaka e sua capacidade de
tratamento é de 1.180.000 m3/dia.
A água bruta captada é do Rio Yodo, um dos maiores rios do Japão. Esse rio
cruza toda a cidade de Osaka, e por ser um rio urbano apresenta muita poluição e
contaminantes (industriais e domésticos). A captação se localiza próximo à Baía de
Osaka, onde o Rio Yodo deságua no mar. Por esse motivo, neste ponto está
24
concentrada toda a gama de poluentes e contaminantes que foram incorporados ao
rio durante seu fluxo.
A partir de 1981, a qualidade da água do Rio Yodo começou a se deteriorar
rapidamente e um odor desagradável passou a ser percebido na água das torneiras de
residências. A primeira medida tomada foi aumentar a dosagem de cloro, porém isso
aumentou a quantidade de subprodutos residuais da cloração, como os
trihalometanos. Nesta época ainda era usado cloro gás na maioria das estações de
tratamento de água de grande porte do Japão; foi substituído por hipoclorito de
sódio em meados da década de 90 por ser um produto mais seguro e apresentar
resultados tão satisfatórios quanto o cloro gás na desinfecção. Com a dificuldade em
remover tais substâncias da água pelo método convencional de tratamento
(sedimentação e filtração rápida), a ETA Kunijima passou a investir em tratamentos
avançados, com a utilização de ozônio.
O ozônio (O3) é um forte agente oxidante muito efetivo na quebra de cadeias
orgânicas e outras substâncias que podem causar gosto e odor, além de também ser
eficaz na oxidação de manganês. O uso de ozônio pode ser em conjunto com carvão
ativado granular, que tem uma superfície porosa que facilita a aderência de
substâncias orgânicas e micro-organismos.
Entre 1992 e 1999, essa tecnologia de uso de ozônio no tratamento de água
começou a ser testado e implementado na ETA Kunijima, apresentando excelentes
resultados. Em março de 2000, o sistema foi consolidado e desde então funciona
normalmente.
O ozônio é produzido artificialmente em um gerador através de ar e
eletricidade, que espalha “bolhas de ozônio” em uma câmara contendo água bruta; o
contato com a água permite a decomposição de materiais orgânicos e inorgânicos, e
após a reação o ozônio de converte em oxigênio novamente (O2), não deixando
resíduos indesejados.
Testes demonstraram que o ozônio é eficiente como oxidante, porém não tão
eficiente com desinfetante; sendo assim, o processo de cloração continua sendo
praticado no tratamento da água.
Kunijima Treatment Plant
25
Rio Yodo
Imagem de um gerador de ozônio
Modelo explicativo sobre o contato do ozônio com a água bruta, na câmara de ozonização
26
Após a captação, a água bruta é acondicionada em um tanque de sedimentação
primário, sem agentes químicos, para retenção de partículas intermediárias que não
foram retidas no gradeamento. Segue então para a mistura rápida, onde é dosado o
coagulante. A ETA Kunijima, diferente das outras ETAs apresentadas, utiliza como
coagulante o Sulfato de Alumínio. O motivo é uma redução de custos; como o
processo de ozonização tem custos elevados, a maneira encontrada para equilibrar
os gastos com o tratamento sem repassar para o valor da tarifa de água foi utilizar o
sulfato de alumínio, que não é um polímero como o PAC, o que permite controlar a
solubilidade de alumínio em água para correção de pH, sem ser necessário o uso de
um alcalinizante ou acidulante (como Hidróxido de Sódio ou CO2), reduzindo assim
os gastos com mais produtos químicos.
Após a mistura rápida e floculação, a água segue para o tanque de sedimentação.
Do tanque de sedimentação, a água flui lentamente para a primeira câmara de
ozonização, onde é feito o contato primário. Nessa etapa, a concentração de ozônio
dissolvido é de 0,10 mg/L, o que garante a oxidação de ferro e manganês.
Da câmara de ozonização, a água segue para a filtração, ainda com grandes
concentrações de ozônio (reagindo). O filtro possui 2 camadas de areia de diferentes
gravimetrias, e necessita de retro lavagem a cada 48 horas. Nesta etapa, a turbidez
da água filtrada é de 0,2 NTU (a turbidez da água bruta é em torno de 7 NTU em
períodos de seca e 12 NTU em períodos de chuva).
A água filtrada segue para a segunda câmara de ozonização, onde é feito o
contato final. Nesta etapa, a concentração de ozônio dissolvido é de 0,15 mg/L, o
que garante a decomposição de substâncias orgânicas que causam gosto e odor e
formam trihalometanos. Saindo deste tanque, a água passa por uma camada de
carvão ativado granular, que tem a função de adsorver substâncias residuais que
podem formar trihalometanos (no processo de cloração) e também possíveis micro-
organismos.
Após o contato com o carvão ativado, a água segue para um tanque de cloração
onde fica em contato com hipoclorito de sódio, o que garante a desinfecção da água
e ainda deixa um teor de cloro residual de 0,1 mg/L, que é o valor mínimo exigido
pela legislação japonesa.
À esquerda, filtro (fechado para evitar a dispersão de ozônio); ao centro, modelo explicativo da segunda
câmara de ozonização e posterior contato com carvão ativado; à direita, amostra de carvão ativado granular.
27
Na ETA Kunijima, fica um reservatório de água disponível para distribuição em
casos de desastres naturais, como terremotos. É deste reservatório também que sai a
água que alimenta todos os hidrantes fixos da cidade de Osaka.
Ponto de abastecimento de caminhões-pipa, dentro da ETA Kunijima
Um dos muitos conjuntos de hidrantes espalhados pela cidade de Osaka
28
4.Controle de Qualidade da Água
Em 1949, o Sistema de Abastecimento de Água de Osaka se tornou o primeiro
do Japão a ter um sistema próprio de monitoramento contínuo da qualidade da água
tratada e da água bruta utilizada por suas Estações de Tratamento. Desde esta data,
os laboratórios fazem inspeções em campo da qualidade do Rio Yodo e de rios
próximos a ele que podem interferir na qualidade de sua água, bem como um
monitoramento contínuo nas redes de abastecimento.
Em 2005, o laboratório do Sistema de Abastecimento de Água de Osaka recebeu
a acreditação “GLP for Water Supply” (Boas Práticas de Laboratório) e desde então
disponibiliza os resultados dos ensaios realizados na água potável para todos os
consumidores, no website da organização.
Para monitorar as redes de abastecimento, o laboratório coleta amostras diárias
em locais determinados estatisticamente, e realiza ensaios de cor, turbidez, pH,
condutividade elétrica, bactérias heterotróficas e coliformes totais. Há também 38
pontos de monitoramento remoto, com acompanhamento 24 horas, nos parâmetros
cloro residual livre, cor e turbidez.
O Japanese Water Quality Standards, que é similar à nossa Portaria de
Consolidação n° 5 – Anexo XX, determina o acompanhamento de 51 itens na água
potável, o que contempla micro-organismos, parâmetros orgânicos e inorgânicos,
subprodutos de desinfecção, surfactantes e parâmetros físico-químicos. Desde 2015,
foram incluídos a esta lista 26 itens complementares, que incluem pesticidas e
elementos radioativos (devido ao acidente nuclear da usina de Fukushima). Todos
os Sistemas de Abastecimento de Água do Japão estão realizando séries de
discussões com os Ministérios e a JWWA (Japan Water Works Association) para
chegar a um consenso sobre esses 26 itens para que possam ser incluídos
definitivamente na legislação e monitorados por todos os laboratórios.
Não há uma legislação específica para qualidade de água bruta. Os laboratórios
são independentes para realizarem os ensaios que acharem necessários para garantir
a qualidade da água a ser tratada nas ETAs e há uma mútua colaboração entre as
diversas cidades japonesas a fim de monitorar possíveis acidentes ou despejos
industriais ilegais que possam ocorrer nas fontes de água. Uma vez comprovada
qualquer alteração fora do normal ou esperada para determinado período do ano, os
laboratórios são autorizados a entrar em contato com as autoridades, para que seja
iniciada uma investigação e, comprovada qualquer ação que degrade os corpos
d’água, os responsáveis são notificados a fazer todas as compensações ambientais a
fim de mitigar os danos causados, bem como indenizar financeiramente todos os
indivíduos, empresas e instituições direta ou indiretamente atingidos pela má ação,
independentemente de ter sido comprovado um acidente.
Os Sistemas de Água têm o compromisso de oferecer à população uma água de
boa qualidade, e isso inclui uma água isenta de gosto e odor causado por matérias
orgânicas ou floração de algas. Embora não seja exigido pela legislação, os
laboratórios realizam semanalmente ensaios de Gosto e Odor em água tratada,
29
coletadas na saída do tratamento e também na rede de abastecimento, e ensaios de
Odor em água bruta, coletadas no ponto de captação das estações de tratamento.
Os resultados obtidos ajudam as ETAs a corrigirem suas dosagens de carvão
ativado ou hipoclorito de sódio caso sejam detectadas sensações desagradáveis na
ingestão ou inalação das amostras, além de ajudar o setor comercial a dialogar com
clientes insatisfeitos ou se adiantar, em caso de alguma anormalidade na água bruta
que possa ser de difícil remoção, alertando a população sobre esse período de
dificuldade, enviando técnicos às residências, distribuindo panfletos em vias de
grande circulação e, dependendo do caso, se pronunciando em canais de
comunicação.
Caixas para coleta de amostras de água
Laboratório de instrumentação analítica
30
Laboratório de Microbiologia
Demonstração de ensaio de Gosto e Odor
Também é realizado nos laboratórios ensaios de Jar Test, que consiste em um ensaio
para determinar a dosagem ideal de coagulante de acordo com a turbidez da água bruta.
É sabido que as fontes de água sofrem influência da chuva, das atividades humanas
realizadas ao entorno e da própria biótica. Sendo assim, o tratamento de água é um
processo dinâmico, que precisa de ajustes ao longo do tempo. Não há uma fórmula
pronta. É possível estabelecer padrões de comportamento em determinadas épocas do
ano, como inverno e verão; porém, um acompanhamento contínuo é sempre necessário.
31
O ensaio de Jar Test também possibilita uma economia em relação ao consumo de
produtos químicos utilizados na ETAs.
Ensaio de Jar Test
O objetivo do ensaio é encontrar a melhor dosagem de coagulante que clarifique a água para determinado valor
de turbidez
32
5. Prevenção a Desastres Naturais
Em 17 de Janeiro de 1995, às 5h46 da manhã (horário local) ocorreu na cidade
de Kobe um terremoto de magnitude 7.3 da Escala Richter, que atingiu 43.792
pessoas, das quais 6.434 morreram.
A cidade foi devastada, inúmeros edifícios foram atingidos, a rede ferroviária foi
destruída e o sistema de água foi diretamente atingido, com rompimento de
tubulações, queda de reservatórios elevados, destruição de Estações de Tratamento
de Água.
Após a reconstrução total da cidade, que demorou 12 anos, muitas lições foram
aprendidas. E uma delas foi um preparo para situações de emergências em toda a
Região Kansai, bem como um plano de modernização das instalações e tubulações,
a fim de minimizar os impactos causados por desastres naturais.
Foi adotado pelas cidades sete políticas básicas: melhorias na resistência à
terremoto de toda a infra-estrutura, desenvolvimento de uma rede de distribuição e
abastecimento específica para uso na ocorrência de um desastre, melhorias nas
relações mútuas entre os sistemas de abastecimento das cidades vizinhas, medidas
efetivas contra queda de energia, melhorias no sistema de manutenção,
desenvolvimento de um sistema de comunicação confiável, adoção de medidas
contra inundação em caso de tsunamis.
À esquerda, tubulação com junta comum; à direita, tubulação com junta resistente à terremotos (com função que
previne separação)
Entre as melhorias, destaque para as tubulações de ferro fundido dúctil, com
junções que previnem a separação em caso de terremoto. Essa tubulação começou a ser
introduzida nas cidades a partir do início de 1997, mas infelizmente ainda há muitos
trechos a serem substituídos (em 2017, faltavam 596 Km de extensão). Nestas regiões
33
há ao menos uma ramificação com essa tecnologia, para prevenir o desabastecimento
em caso de terremotos.
Tanques temporários (capacidade 4 m3)
Como destaque da colaboração mútua entre Sistemas de Abastecimento de
Água, está a adoção de tanques temporários, que são pequenas “caixas d’água”
infláveis, com capacidades que variam de 1 a 4 m3 e que são distribuídas para pequenos
grupos de pessoas em caso de desabastecimento (por qualquer que seja o motivo). Elas
são abastecidas por caminhões-pipa, que se abastecem em reservatórios específicos para
casos de desabastecimento (por exemplo, a ETA Kunijima, citada no capítulo 3.6).
Independente de qual cidade pertença o caminhão, ele pode se abastecer nestes pontos a
qualquer momento.
Uma medida amplamente divulgada é que todos os dias as pessoas devem ter em
suas casas uma quantidade mínima de 3 L/habitante de água potável armazenada em
qualquer lugar (garrafas é o mais comum). Essa quantidade é suficiente para que todos
sobrevivam por 30 horas em caso de algum desastre que interrompa o abastecimento.
Com a criação das redes específicas de abastecimento em casos de desastres e após
vários simulados de emergência, os Sistemas de Abastecimento de Água garantem o
abastecimento restabelecido em 24 horas. Entretanto, essa rede específica ainda não
chega a todos os lugares e onde não é possível disponibilizar um tanque temporário, são
disponibilizadas bolsas d’água, com capacidade de 3L, diariamente, para todos aqueles
que estão em situação de vulnerabilidade.
34
6. Plano de Ação
Ao final do curso, todos os participantes entregaram um plano de ação a ser
implementado em suas organizações. O plano tem por finalidade aplicar o
conhecimento adquirido durante o período no Japão além de disseminá-lo entre os
colegas do país de origem. Um dos requisitos para o plano de ação é que fosse
algum projeto que dependesse do esforço pessoal do participante sem ser necessário
grandes investimentos financeiros, o que poderia criar uma dependência que
tornasse a realização do plano inviável.
Cronograma do plano de ação apresentado durante o curso
Após a finalização das visitas às diferentes Estações de Tratamento de Água no
Japão, optei por fazer um plano de ação que permita um maior conhecimento da
qualidade da água bruta que tratamos nas 6 ETAs gerenciadas pela Divisão de Controle
Sanitário Oeste – MOEC: ETA Aldeia da Serra, Eta Bacuri, ETA Jardim Japão, ETA
Santana de Parnaíba (sede), ETA Sapiantã e ETA Vila Nova.
O plano de ação consiste primeiramente na implantação do ensaio de Odor em
água bruta (atualmente fazemos apenas em água tratada). Depois, iniciar uma batelada
de ensaios de Jar Test, a fim de montar um histórico de consumo de coagulante x
turbidez x pH da água bruta em cada ETA. Após a obtenção de uma série de resultados,
avaliar a eficiência do tratamento, a necessidade de troca de coagulante, a necessidade
de uso de carvão ativado, as fragilidades e/ou pontos fortes dos mananciais.
Paralelamente, durante a realização dos ensaios e avaliações repassar o
conhecimento adquirido, pois este será um trabalho em equipe. O conhecimento dos
nossos sistemas será construído com a participação de todos, gerência, encarregados,
equipe de coleta, equipe do laboratório e equipe das ETAs.
35
7. Conclusão
Se hoje os Sistemas de Abastecimento de Água do Japão estão consolidados,
automatizados, com perdas mínimas, foi devido à um grande esforço. O Japão é um país
que construiu sua identidade aos poucos, desde a época da influência chinesa até a
história recente, após a Segunda Guerra Mundial.
O Japão é um país sem riquezas minerais; sua única riqueza é a água abundante.
É um país que sofre com desastres naturais, tendo que se reconstruir a todo tempo. Mas
se engana quem pensa que eles encaram isso como um azar ou maldição. Para eles, é
um desafio. Um desafio de superação. De se reconstruir melhor do que eram antes. De
aprender. De se modernizar. De estar sempre à frente dos problemas.
O Japão sofreu com a cólera por anos a fio, sem ter um sistema de tratamento de
água eficaz. De nada adiantava ter água em abundância. Os Sistemas de Água foram se
criando e se aperfeiçoando aos poucos, um passo de cada vez. Primeiro supriram em
quantidade, depois em qualidade, depois em satisfação.
O Brasil é um país que enfrenta inúmeras dificuldades com desigualdade social e
falta de saneamento para todos. Esse era um ponto comum entre todos os países
participantes deste curso. Mas à sua maneira e com seus recursos, todos estão tentando
vencer esse desafio. E no caso do Brasil, mais especificamente da Sabesp, estamos
conseguindo com muito êxito. Se olharmos para trás, podemos ver tudo o que já
conquistamos. E isso nos dá forças para continuar batalhando, aprendendo, testando,
mudando, para chegar no tão sonhado futuro: água e esgoto para todos, de maneira
sustentável e sem prejudicar o meio ambiente.
36
8. Agradecimentos
Gratidão. Essa palavra simples mas tão importante é o resumo do sentimento que
tenho após essa jornada de 40 dias em um país que tem uma cultura tão diferente da
nossa. A começar pela escrita. Já no voo, o menu de refeições veio escrito em japonês.
São tantas pessoas a agradecer. Agradeço à minha gerente Fátima Ferraza
Bragante, que além de me inscrever para participar deste curso ainda me ajudou em
todas as etapas do processo, com um carinho acolhedor. Agradeço ao gerente
Alessandro Muniz Paixão, que aceitou a minha inscrição. Agradeço à minha supervisora
Silvana Morales de Azevedo, por todo o incentivo que me deu, por todas as frases de
“tenho certeza que vai ser você”. Agradeço a todos os amigos de trabalho do Controle
Sanitário, por todos os desejos de sucesso manifestados. Agradeço a todas as
“meninas”, como a gente se referia no nosso grupo de whatsapp, pelo apoio, pela
companhia, pelas sugestões, pelos ouvidos quando eu sentia o peso da distância de casa.
Agradeço à instrutora Sra. Yoko Yokoe (Yokoe-san), por todo o apoio desde a
chegada ao Japão, pela infinita paciência quando entrávamos no mercado apenas para
comprar “uma coisinha” e nunca mais saíamos, pelo empréstimo da sombrinha double-
side quando o sol nos castigava, pelos óleos essenciais mágicos que curavam todas as
dores.
Agradeço às companheiras brasileiras de curso, Jamile e Renata, por todas as
vezes em que nos apoiamos mutuamente e que tudo parecia extremamente difícil.
Agradeço por termos formado o trio incentivo, ponderação e medo, pois sem isso não
teríamos vivido nenhuma de nossas aventuras em trens, metrôs, ônibus, templos,
restaurantes, casas de chá.
Agradeço a todos os outros companheiros de curso, por dividirem comigo
momentos de angústia e alegria, por compartilharem suas comidas que já não são mais
tão exóticas assim, por me ensinarem ao menos como dizer bom dia na língua de seus
países, por aprenderem a dizer bom dia em português.
Agradeço ao meu marido Alexandre, por ter ficado 2 meses sozinho no Brasil,
por ter me mandado mensagem todos, todos os dias, mesmo com a diferença de 12
horas de fuso horário. Agradeço pelas dicas de informática e telecomunicações, essas
sim consideradas à longa distância.
Enfim, agradeço à Sabesp por possibilitar essa oportunidade ímpar em minha
vida. Agradeço à JICA e seu staff por elaborar esse curso de maneira tão perfeita.
Agradeço à Osaka Waterworks Bureau (especialmente à so lovely Nakamura-san) por
nos receber em suas instalações e compartilhar seu conhecimento.
A todos, meu sincero Muito Obrigado! Arigato gozaimasu!
37
9. Referências
HIROSHIMA CITY WATERWORKS BUREAU. Hiroshima´s Water Supply.
Hiroshima City:2019.
JAPAN WATERWORKS ASSOCIATION. Activities and Challenges. Tokio City:
2019.
KOBE CITY WATERWORKS BUREAU. Water Supply in Kobe. Kobe City:2018.
KYOTO CITY WATERWORKS BUREAU. Keage Purification Plant. Kyoto City:
2015.
OSAKA CITY WATERWORKS TECHNOLOGY. Specialist Information Magazine
for Improving Understanding of Waterworks Technology. Osaka City: 2015.