encontro edição 62 aefh

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ESPAÇO DE MEMÓRIAS p5 ENCONTRO DE GERAÇÕES p12 PRÉMIOS DE MÉRITO E DE EXCELÊNCIA p24 ENCONTRO DE MÃOS DADAS p26 MEMÓRIAS E DESAFIOS p32 AEFH FORA DE PORTAS p39 Nº 62 Março de 2015 AE Francisco de Holanda ENCONTRO

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Page 1: Encontro edição 62 aefh

ESPAÇO DE MEMÓRIAS p5

ENCONTRO DE GERAÇÕES p12

PRÉMIOS DE MÉRITO E DE

EXCELÊNCIA p24

ENCONTRO DE MÃOS DADAS p26

MEMÓRIAS E DESAFIOS p32

AEFH FORA DE PORTAS p39

Nº 62 Março de 2015 AE Francisco de Holanda

ENCONTRO

Page 2: Encontro edição 62 aefh

Ficha Técnica:

Coordenadores: António Oliveira, Agostinho Ferreira, Helena Ferreira Paula Marinho

Redação: Agostinho Ferreira, António Oliveira, Helena Ferreira, Paula Marinho,

Ana Macedo (10CSE1)

Ana Rita Silva (12LH1)

Anabela Mendes (12LH4)

André Marques (10AV2)

Ângela Moura (11LH3)

Beatriz Mateus (10CSE1)

Carina Baptista (11CT2)

Cláudia Coelho (11CT2)

Eva Faria (12CT6)

Fátima Abreu (10CSE1)

Inês Fernandes (11CT2)

João Pedro Pinto (11CT2)

Margarida Castro Mendes (11CSE1)

Maria Inês Faria (11CT2)

Sofia Macedo (10 CT2)

Pedro Fernandes (12CT6)

Verónica Gomes (12 CSE1)

Revisão Ortográfica: Professores An-tónio Oliveira e Agostinho Ferreira

Maquetagem : Professora Helena Ferreira

Cartoons: Professor Viana Paredes

Ilustrações: Bruna Vieira, Margarida Saldanha e Miguel Ângelo (12AV1)

Capa: Bruna Vieira e Miguel Ângelo (12AV1)

Fotografia: Sr. Cunha

Propriedade: AE Francisco de Holan-da

Impressão: Gráfica Diário do Minho

Tiragem : 500 exemplares

Depósito Legal: 49073/91

EDITORIALEncontro de

Gerações

No dia 14 de janeiro de

1885, o professor An-

tónio Augusto da Silva

Cardoso deu a primeira

aula da Escola Francisco

de Holanda que teve,

como primeira deno-

minação, Escola de De-

senho Industrial. Para

assinalar a efeméride, a

Comissão Coordenado-

ra das Comemorações

dos 130 anos de exis-

tência da escola, abriu

as portas das salas

aulas, no dia 14 de ja-

neiro deste ano (2015)

para receber antigos

alunos (foram mais de

cinquenta) e pediu-lhes

que dessem o seu tes-

temunho de estudantes

da Escola Industrial e

Comercial de Guima-

rães, atual Escola Se-

cundária Francisco de

Holanda. A esta inicia-

tiva, a Comissão, coor-

denada pela professora

Célia Gama Lobo Xavier,

deu-lhe a designação

de Encontro de Gera-

ções. De facto, nesse

dia 14 janeiro passaram

pela escola alunos de

várias gerações, de vá-

rias décadas do século

XX (de 1944 a 2000) e

das duas do século XXI.

Passaram, sobretudo,

cidadãos (homens e

mulheres) que, desde

os bancos da escola até

à sua aposentação se

empenharam na cons-

trução da identidade

desta cidade e do con-

celho de Guimarães.

Nas mais diversas ativi-

dades que abraçaram,

contribuíram para o

desenvolvimento eco-

nómico, social e cul-

tural da região. Todos

(empresários, trabalha-

dores das indústrias, do

comércio, dos serviços,

médicos, advogados,

professores, vereado-

res e presidentes da

Câmara Municipal) fize-

ram cidadania. E a jul-

gar pelos testemunhos

que até nós chegaram,

justificam, com toda a

justeza e coerência, o

lema das nossas come-

morações - 130 anos a

educar em cidadania.

Nas páginas desta edi-

ção de Encontro, são

apresentados alguns

testemunhos dos

cidadãos que a Escola

ajudou a formar ao

longo de muitos anos.

Encontramos algumas

lições de vida, mas o

que mais nos sensibili-

zou foram as palavras

sentidas de gratidão,

o reconhecimento, na

sua dimensão de agra-

decimento, para a esco-

la e os professores. Há,

também, o reconheci-

mento, na sua vertente,

de admiração, de ava-

liação da competência

profissional e humana

dos antigos professores

da escola, recordados

com saudade. Houve

até quem sugerisse que

se fizesse uma festa de

homenagem aos “mes-

tres”, ternamente re-

cordados.

Os testemunhos que

chegaram a Encontro

de cidadãos de Portugal

e do Mundo são, tam-

bém, o reconhecimen-

to de que a Escola vale

a pena e são um apelo à

reflexão de que não se

pode adormecer à som-

bra da fama ou das con-

quistas alcançadas por

outros. Não podemos

dispersar o privilégio

de andar na escola. Os

alunos de hoje devem

aprender com os tes-

temunhos dos antigos

alunos que frequen-

taram esta escola em

tempos muito difíceis,

em condições muito

complicadas, com difi-

culdades económicas.

Muitos trabalhavam de

dia e estudavam à noite.

Mas tinham vontade de

aprender, de crescer, de

ampliar-se, de ser mais,

a “febre d’Além” que

fez dos Portugueses os

grandes pioneiros dos

Descobrimentos. Dos

seus testemunhos intui-

-se que desenvolveram

competências sociais:

a responsabilidade, o

espírito de iniciativa, a

empatia, a compaixão,

a simpatia, o respeito

pelos outros e a solida-

riedade. Tornaram-se

homens e mulheres,

cidadãos de verdade

que fizeram a história e

a sociedade. Obrigado.

Bem hajam.

Os Coordenadores do

Encontro

2 Março de 2015

Page 3: Encontro edição 62 aefh

André Marques, 10AV2

No dia 26 de janeiro reu-niu o Conselho Geral do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda. To-maram posse os três ele-mentos da comunidade, cooptados pelos outros conselheiros, por unani-midade, na reunião de dezembro de 2014 que, a saber, são engenhei-ro Manuel Martins, pela Associação Comercial e Industrial de Guima-rães, professor Fernando Ribeiro, representante da Universidade do Mi-nho e professor Antero Ferreira, representante da Sociedade Martins Sarmento. Assegurada a constituição plena do Conselho Geral, proce-deu-se à eleição do seu presidente. Apurados os resultados do escrutínio secreto, a eleição recaiu sobre o professor Rui Ví-tor Costa com 20 votos a favor, num universo de 20 votantes. O Conselho foi unânime na eleição do seu Presidente.

Na sequência da apro-vação do Plano Anual de Atividades, houve ain-da tempo para refletir sobre os resultados da avaliação interna da es-cola. Deliberou-se que, na próxima reunião deste órgão, será apresentada uma análise dos resulta-dos da avaliação interna e externa do ano letivo de 2014-2015, o que sus-citará uma reflexão mais profunda sobre o desem-penho da escola, no pla-no educativo.

O Jornal da Escola foi ao Encontro do professor Rui Vítor Costa para sa-ber mais sobre o Conse-lho Geral e as suas moti-vações.

Encontro – Antes de mais, queremos apresentar as nossas felicitações por ter merecido a confiança de todos os elementos do Conselho Geral. Efetiva-mente, houve unanimi-dade na sua eleição como presidente deste órgão. Agora, perguntamos: o que é exatamente o Con-selho Geral e quais são as suas competências?

Prof. Rui Vítor – O Con-

selho Geral é o órgão central de uma escola ou agrupamento de escolas. É por ele que as decisões mais importantes pas-sam. A eleição do diretor, o regulamento interno, o projeto educativo, entre outros documentos e re-soluções que moldam o presente e o futuro das escolas. E pode ir um pou-co mais além como, julgo, temos tentado fazer no Conselho Geral do Agru-pamento, fazendo jus à réstia de democraticidade que o Conselho Geral ain-da representa nas escolas portuguesas.

Encontro – Esta é a ter-ceira vez que vai ser Pre-sidente do Conselho Ge-ral. O que é que o motiva a assumir a liderança de um órgão tão importan-te, dado que tem muitas responsabilidades como, por exemplo,a de eleger e avaliar o Diretor da Es-cola?

Prof. Rui Vítor – Alguma inconsciência minha cer-tamente (risos). Em bom rigor, o que me motiva é ter, ao meu lado, um con-junto de pessoas que eu admiro e que têm esta-do dispostas a dar o seu tempo e a sua inteligência na causa comum do agru-pamento. E são muitas e suficientemente interes-santes para eu me manter motivado. Não só os meus colegas do atual Conselho Geral, mas muitos outros que, em alturas diferen-tes, deram, também, o seu contributo e que, ainda, o dão mesmo não fazendo parte do órgão. Sempre me senti bem em fazer parte de uma equipa. Liderá-la é que sempre foi meramente circunstancial. E recorda-ria que só voltei a liderar o Conselho Geral – e este poderia ser naturalmente bem liderado por outros colegas meus – porque o presidente do Conselho Geral anterior, o profes-sor António Oliveira, en-tendeu que eu deveria tomar a responsabilidade que ele desempenhara. A colaboração e humil-dade que sinto nos meus colegas leva-me, natural-mente, a tentar merecer a confiança depositada e

a dar o meu melhor para não os defraudar e hon-rar, assim, a história da Escola.

Encontro – Como é que tem sido o desempenho dos seus colegas profes-sores no seio deste ór-gão? Cooperantes, proa-tivos? Ou limitam-se ao papel que, em tempos, certos deputados da As-sembleia da República desempenhavam que era o de ouvir e votar?

Prof. Rui Vítor – Confor-me te referi, há pouco, o que realmente me motiva é fazer parte de um gru-po de pessoas que está disponível para pensar, para refletir e, sobretu-do, para partilhar o que pensam mesmo que isso seja susceptível de ser contraditado e retorica-mente derrotado. Inde-pendentemente do bom contributo de todos os setores representados no Conselho Geral, o dos professores continua a ser muito especial e bem sustentado. O facto de funcionarmos como agru-pamento, agora, permi-tiu trazer para dentro do Conselho Geral, por força das circunstâncias, é cla-ro, novas visões e práti-cas que enriqueceram o debate e forçaram uma visão mais vertical da educação. Tem sido, para mim, especialmente gra-tificante conhecer outras realidades, novas pes-soas, cruzar experiências entre as escolas do agru-pamento e discutir outras visões sobre o processo

educativo. Não estou a defender a agregação, note-se. A agregação foi feita apenas por questões economicistas discutíveis, sem qualquer visão espe-cífica de conjunto que a sustentasse. Estou apenas a tentar encontrar pontos positivos num facto con-sumado, aprender e tirar partido da nova realidade e olhar em frente.

Encontro – O Conselho Geral deve limitar-se às suas competências, isto

é, às que estão consigna-das na lei ou deve ir mais além, fazer estudos, aná-lises, reflexões que abram horizontes para a vida es-colar?

Prof. Rui Vítor – Se enca-rarmos o Conselho Geral como um carimbo, esta-remos a limitar-lhe o ho-rizonte. É evidente que o Conselho Geral deve analisar, elaborar, corri-gir, aprovar ou reprovar os documentos nos quais tem competências espe-cíficas. Mas há sempre o perigo de nos encaixar-mos demasiado no pre-ceituado legalmente e ficarmos sem visão nem ambição para fazer me-lhor. Aquilo que temos procurado, mesmo num mandato tão complexo e curto como o anterior, é alargar a perspetiva do Conselho Geral. Por isso, foi feito e discutido um documento que, entre outras coisas, coligia e analisava os resultados dos rankings, a evolução das escolas ao nível de re-sultados e de matrículas,

que permitiu perceber como melhor articular as escolas e quais os fogos mais prementes a ata-car. Aliás, os documentos produzidos pelo Conse-lho Geral encontram-se numa página própria que pode ser consultada em cgeralaefh.weebly.com. Neste mandato, com mais algum tempo disponível que o anterior, vamos ser ainda mais ambiciosos, vamos continuar esse caminho de análise de dados, de perceber sem

medo o que os dados pú-blicos nos trazem, de não ter qualquer complexo com esses mesmos da-dos. Ao Amaro das Neves, que liderou o processo no mandato anterior, juntar--se-á, este ano, o Ricardo Garrido para alargar e enriquecer a análise so-bre os dados disponíveis. Vamos, certamente, de-senvolver, ainda, algum trabalho no âmbito do debate sobre a munici-palização da educação, sobre a empregabilidade, sobre a afirmação dos cursos profissionalizan-tes, que mesmo entrando em domínios pedagógicos não inibiráo nosso traba-lho, pelo contrário só o tornará mais abrangente. Todos estes temas foram levantados, em jeito de reflexão estratégica, no último Conselho Geral, por vários elementos e serão tratados com a pro-fundidade e dignidade que merecem. É, assim, duma forma larga e não afunilada que vemos o nosso papel.

Encontro – O Conselho Geral, atendendo à sua composição, é um órgão plural. Está lá tudo. Re-presentantes dos profes-sores, dos alunos, dos assistentes, dos pais/en-carregados de educação, da autarquia, das forças vivas da cidade. Concor-da com esta composição? Entendem-se ou não ha-verá conflitos de interes-ses?

Prof. Rui Vítor – Quando nos acostumamos a uma coisa, perdemos, muitas vezes, a noção do con-texto. Esta composição já é assim há tantos anos que eu, pessoalmente, já me acostumei a ela e não a questiono, confesso. O que eu acho importan-te no Conselho Geral, e essa é a matriz que eu acho fundamental, é que cada um dos seus mem-bros tem uma forte le-gitimidade democrática. Os professores têm tido – pelo menos nos últimos atos eleitorais – uma for-tíssima participação que nem a existência de listas únicas (nos dois últimos mandatos) tem retirado. E ainda bem. Os funcioná-rios são também eleitos no seu universo respeti-vo. Os alunos, e o anterior Conselho Geral procedeu a essa modificação, são agora eleitos, e bem, no âmbito das eleições para a associação de estudan-tes, o que lhes dá uma força acrescida. Os pais são eleitos pelas assem-bleias gerais e os elemen-tos da Câmara Municipal nomeados após delibe-ração do executivo mu-nicipal cuja composição resultou do voto popular. Ou seja, há uma forte legitimidade democrática e este Conselho Geral tem essa consciência e não é fácil manietar ou ludibriar quem tem essa legitimidade e sabe que a tem. Quanto ao conflito de interesses, isso pode manifestar-se pontual-mente. Normalmente, quem o tem escusa-se a discutir e a votar deter-minado tema e, se não o fizer, o Conselho Geral lembrar-lhe-á.

Encontro – Fala-se para aí de municipalização da

3Março de 2015

CONSELHO GERAL DO AEFH

Page 4: Encontro edição 62 aefh

educação. O que é isso? Não teme que a ir para à frente venha a esvaziar o Conselho Geral das suas funções?

Prof. Rui Vítor – Since-ramente, não sei. No entanto, é preciso estar atento e discutir estas questões, pelo menos não perder por falta de comparência, já que a educação tem sido um laboratório contínuo de experiências legislativas a coberto das dificuldades orçamentais. Quando ini-ciei profissionalmente a minha carreira, trabalhei no tratamento de águas residuais de empresas e tive a oportunidade de testar alguns sistemas de lamas ativadas, com micro-organismos, e exa-gerava sempre na dose de um determinado poluen-te para ver qual a capa-cidade de resiliência das bactérias. Quando elas morriam, eu apontava a dose letal de efluente in-dustrial, sabia que não poderia passar daquele ponto para otimizar o fun-

cionamento da estação e renovava os micro-orga-nismos para fazer variar qualquer outro parâme-tro que ainda não houves-se testado. Com a educa-ção, apesar de, às vezes, não parecer, as coisas são bastante diferentes. Quando a dose legislativa é exagerada não é tão fácil, como com as bactérias, renovar a população e os estragos na fauna educativa são, muitas vezes irreversíveis e prejudicam o futuro do país.

Encontro – Que opinião tem sobre a iniciativa da escola celebrar os “130 anos: a educar em cida-dania”? Acha que está a correr bem?

Prof. Rui Vítor – Muito bem. A história da Escola Francisco de Holanda é algo que é fundamental na história de Guimarães e da região. Eu sei que é um lugar-comum, mas é muito importante conhe-cer a história de uma es-cola, a sua importância no tecido económico, social

e cultural de uma comuni-dade, para saber alicerçar o futuro. A multiplicidade de iniciativas, a qualidade dos intervenientes con-vidados para muitas des-sas iniciativas, o facto de celebrarmos o presente, neste contexto, é muito importante e, com a cola-boração de todos, está a ser bem conseguido.

Encontro – Para terminar, acha que, ao longo de 130 anos de história, hou-ve sempre educação em ou para a cidadania. Não terá havido alguns hiatos, algumas interrupções?

Prof. Rui Vítor – Certa-mente que sim. Mas mui-to mais importante do que as frases que procu-ram definir uma visão das coisas, o mais importante é que cada um cumpra devidamente o seu papel. E o Conselho Geral está, naturalmente, disposto a cumprir o seu.

Encontro – Muito obri-gado, professor Rui Vítor. Felicidades para seu man-dato.

4 Março de 2015

A questão que hoje se coloca prende-se com a possibilidade de os jovens conseguirem levar avante as suas vidas, não só ao nível das suas relações in-terpessoais, mas também ao nível social e acadé-mico, sem o uso daquilo a que chamamos novas tecnologias da informa-ção e da comunicação. Seremos, possivelmen-te, se assim o pudermos apelidar, “a nova geração HiTech” ou “a nova socie-dade da informação e da comunicação”. Considera--se que o advento destas novas tecnologias (e a for-ma como foram utilizadas por governos, empresas, indivíduos e setores so-ciais) possibilitou o apare-cimento da “sociedade da informação.”

Com a evolução dos tem-pos, ao nível da ciência e da tecnologia, fomo-nos familiarizando com os dispositivos facilitadores de acesso à informação, através dos denominados computadores topo de gama, os Ipods, Iphones, e também com as redes socias, através da inter-net, o correio eletrónico, o facebook ou o twitter. É, por certo, extraordiná-rio, como hoje podemos encontrar alguém a quem perdemos o rasto, alguém que partilhou connosco um dia as vivências da nossa infância. “Filha”, di-zia no outro dia a minha mãe, “sabes quem desco-bri no facebook?” Aquela minha companheira de carteira na escola primá-ria, tão caladinha, sempre tão obediente, a Luzia!, falei-te dela quando en-contrei no meu baú de recordações um bilhete que me escreveu e que dizia que seríamos amigas para sempre! Fiquei sem palavras, quando pude, depois de tantos anos, perceber que se tornou avó! “

É absolutamente excecio-nal perceber o caminho percorrido desde então!

A educação, hoje, afigura--se-nos mais exigente, obriga-nos a acompanhar a evolução dos tempos. Nas escolas, o conhe-

cimento é-nos exigido, quiçá imposto, através de normas preconizadas nos critérios de avaliação, não só na apresentação de trabalhos, como na reali-zação de fichas de leitura ou portefólios, sendo que será de todo impensável a resolução de uma qual-quer tarefa de pesquisa, sem uma apresentação informática com referên-cia ao esquema de pági-na, tipo de letra, formas, notas de rodapé, cabeça-lho, número de páginas ou referências bibliográ-ficas.

Na verdade, a facilidade de encontrarmos qual-quer tema ou assunto, em sites de procura, fa-cilita significativamente a realização de trabalhos académicos. A título de exemplo, apresenta-se--nos a vantagem da exis-tência de motores de bus-ca como o “Google”, que é utilizado por milhões de pessoas em todo o mun-do, que se nos afigura como uma mais-valia para elucidação e compreen-são de temas a trabalhar.

Contudo, esta evolução ao nível da alta tecnolo-gia apresenta também desvantagens nesta que é considerada uma nova geração de jovens estu-dantes e jovens à procu-ra do seu novo emprego, que se revela de “geração à rasca”. À rasca, porque, decerto, já não se “de-senrascam” sem os tais apoios que as novas tec-nologias nos oferecem. À rasca, porque esses dispositivos facilitadores da aprendizagem vieram, sobremaneira, substituir a mão-de-obra, o exercí-cio e desenvolvimento do

raciocínio, o desenvolvi-mento duma escrita cria-tiva, a facilidade de resol-ver muitos dos problemas ao nível das instituições, empresas…

O facilitismo criado por todos os mecanismos de que hoje esses jovens dis-põem, gerou neles grande resistência na procura de locais de aprendizagem únicos como são as biblio-tecas, a pesquisa e leitura de documentos “in loco”, a leitura de obras de leitu-ra obrigatória, consoante as áreas e disciplinas em estudo. Ao invés desta lei-tura, os referidos motores de busca substituíram a análise dos manuais e li-vros por resumos que se copiam, que são utiliza-dos para apresentação de trabalhos nas várias disci-plinas.

Em tese, esta realidade poderá ser chamada de “Novas tecnologias – uma realidade virtual” que nos poderá tornar depen-dentes, tal como outras dependências (álcool, ta-baco, jogo, drogas, etc.) e que é utilizada de forma compulsiva e sem contro-lo…que poderá reduzir a liberdade e alterar o com-portamento social das crianças e jovens!

Urge uma utilização des-tes facilitadores da co-municação, informação e aprendizagem, não como bloqueadores da liberda-de e criadores de depen-dência, mas como meca-nismos auxiliadores duma vida sã, de aprendizagem e de empreendedorismo.

Francisca, 11LH3

A GERAÇÃO DE HOJE: NOVAS TECNOLOGIAS OU REALIDADE VIRTUAL?!

Page 5: Encontro edição 62 aefh

5Março de 2015

Entrevista a Manuel Fer-reira, ex- aluno da Escola e presidente da Câmara Municipal de Guimarães

Por Verónica Gomes, 12CSE1

A escola é, também, um espaço de memórias. Mas é e foi um espaço de formação, tendo uma elevada importância na educação para a cidada-nia. Encontro descobriu que a maioria dos presi-dentes da Câmara Muni-cipal de Guimarães foram alunos da Escola Secun-dária Francisco de Ho-landa/Escola Industrial e Comercial de Guimarães. Marcou “Encontro” com o senhor Manuel Ferreira que foi presidente da Câ-mara Municipal de Gui-marães de 1982 a 1985. Fez-se a entrevista pos-sível.

Encontro – A sua infância decorreu nos anos que se seguiram à 2ª Guerra Mundial. Estamos a falar de tempos muito difíceis e conturbados. O Sr. Ma-nuel Ferreira tem algumas imagens desse período?

Manuel Ferreira - As co-munidades eram pobres, paupérrimas, passava-se fome. Como os meus pais eram trabalhadores, as coisas aguentaram-se em minha casa. Depois aos 10 anos “fecharam-me” no seminário em Braga. Durante sete anos, eu não tive grande contacto com o mundo exterior, só nas férias. Mas é evidente que depois a situação co-meçou a melhorar, princi-palmente, na década de 60, apesar da guerra colo-nial em África. Mas hoje, sobretudo nos países africanos há muita fome. Aí sim, as pessoas lutam de forma dramática pela sobrevivência. Os jovens de cá não têm a noção dos sacrifícios dos povos africanos. Recentemente, estive na Guiné-Bissau, que foi colónia portu-guesa, numa missão de solidariedade, e convivi com situações que me deixaram muito sensibi-lizado. Arrepia ver tanta fome. Tem toda a razão o papa Francisco que não se cansa de fazer apelos para que a Igreja (Pa-

dres) deixem a sacristia e as casas paroquiais para irem ao encontro das pessoas, para que sejam verdadeiros missionários no meio dos povos. É o papa que eu mais admiro pela sua sensibilidade aos problemas dos pobres, dos excluídos.

Encontro – Pudemos apurar que foi aluno da Secundária Francisco de Holanda, na altura tinha a designação de Escola Industrial e Comercial de Guimarães. Em que anos frequentou esta escola?

Manuel Ferreira – Eu fiz o exame de admissão para o seminário de Braga, salvo erro, em 1954 ou 1955. Saí de lá em 1962 (frequentava o curso de Filosofia na altura, que não cheguei a acabar…). Depois fui para a Reparti-ção de Finanças em Viana do Castelo, e mais tarde concorri para a Secretaria da Câmara Municipal de Guimarães (isto em 1963, salvo erro). Durante al-guns anos trabalhei como funcionário da Câmara e aos 20/21 anos fui para a tropa (mais precisamente para a força aérea). Ainda não tinha acabado o servi-ço militar, quando concor-ri para um lugar no Banco Ultramarino em Vizela, e como consegui o lugar, fui dispensado. Mais tar-de, vim trabalhar para o Banco em Guimarães. E foi nesse período que al-guém me disse que havia a possibilidade de fazer um exame (o chamado exame Adoc) e um curso que viabilizava a entrada na universidade. Passei no exame. Frequentei um curso complementar de secretariado/comércio, à noite, aqui, na Francisco de Holanda (entre 1972-

1973). Na verdade, pouco tempo estive aqui na es-cola…

Encontro – Como via as diferenças entre o Liceu e a Escola Técnica?

Manuel Ferreira – Havia uma diferença notória entre as duas escolas… Quem queria ir para mé-

dico, para engenheiro, para arquiteto, etc., ia para o Liceu. Por outro lado, esta era uma escola de formação de técnicos e profissionais.

Encontro – Qual era o limite da escolaridade obrigatória? Achava sufi-ciente?

Manuel Ferreira – A es-colaridade obrigatória era a 4ª classe. Não era nada suficiente.

Encontro – É do tempo em havia Escolas para rapazes, escolas para ra-parigas… Era mesmo ver-dade isto? Os próprios conteúdos programáticos também diferiam?

Manuel Ferreira – Sim, os

rapazes entravam por um lado e as raparigas entra-vam por outro; o recreio era separado. Havia um curso de formação femi-nina, apenas para rapari-gas: estudavam matemá-tica, português, francês… E havia inclusive uma disciplina que se chamava economia doméstica.

Encontro – Houve algum professor que o tivesse marcado positiva ou ne-gativamente? E alguma disciplina de que gostasse mais?

Manuel Ferreira – Lem-bro-me do professor Hélio, de inglês, que me marcou muito; tínhamos

inclusive amigos em co-mum. E tive uma discipli-na de que gostava muito, a estenografia.

Encontro – Na qualidade de presidente da Câma-ra estabeleceu relações institucionais com a Fran-cisco de Holanda. Como foram? Boas, complica-das?...

Manuel Ferreira – Eram boas. Lembro-me de ter

ESPAÇO DE MEMÓRIASsido convidado para a co-memoração do centená-rio desta escola, isto em 1984. O Dr. Santos Simões organizou aqui uma con-ferência sobre a Funda-ção de Portugal, com pre-sença do Professor José Hermano Saraiva.

Encontro – Na sua ótica, é preferível o ensino da atualidade ou o ensino de há mais de 50 anos? Como vê o ensino/educa-ção da atualidade?

Manuel Ferreira – Eu acho que a qualidade do ensino de há 50 anos era boa, era excelente, tive professores de categoria, nomeadamente na escola primária! A expansão do ensino, do ciclo prepara-tório, da sexta classe, para todos, aparece com o professor Veiga Simão em 68/69. Eu conheço ótimos empresários desta região que saíram daqui com cursos técnicos; era uma autêntica licenciatura! Os graus de licenciatura de hoje não se comparam ao que era antigamente… Havia jovens que saíam

daqui e que sabiam mais do que muitos engenhei-ros da atualidade.

Encontro – Permita-me a seguinte questão: sentiu--se realizado com o seu percurso escolar na Esco-la Francisco de Holanda? E como presidente da Câ-mara?

Manuel Ferreira – Eu fiz parte de uma espécie de “revolução”, de um movi-

mento cívico que envol-via vários jovens (rapazes e raparigas) e que teve origem em Fermentões, e que deu origem àquilo que é hoje a Casa do Povo de Fermentões. Baralhá-mos a cabeça de muita gente nessa altura. Fazía-mos peças de teatro, tí-nhamos reuniões em que debatíamos vários assun-tos, falávamos da vida… Era um centro cultural, por assim dizer. E por in-crível que pareça, chega-ram a fazer queixa à PIDE. Mas nós na altura nem sabíamos da gravidade de ser denunciado à PIDE.

Mais tarde, já depois de ter sido Presidente da Câ-mara, fiz parte da Asso-ciação de Municípios do Vale do Ave, em que nos reuníamos para debater assuntos específicos que afetavam os municípios. Mas, enquanto, Presi-dente da Câmara, apesar de o ter sido numa época de muitas dificuldades, recorde-se que estáva-mos sob a intervenção do FMI (Fundo Monetário Internacional), não havia dinheiro para nada, con-seguimos fazer obra. Tí-nhamos uma rede elétri-ca precária, conseguimos melhorá-la e levá-la às freguesias. Com exíguos recursos financeiros, de-mos os primeiros passos para a requalificação do Centro Histórico da Cida-de de Guimarães. Na al-tura, candidatámo-nos ao prémio “Europa Nostra” pela recuperação do cen-tro histórico e ganhamos. Nós já tínhamos começa-do a fazer algumas coisas nesse sentido, entre elas, o lançamento do Gabine-te Técnico para a Recupe-ração do Centro Histórico (GTEL). Foi inclusive a pri-meira vez que fizémos um acordo com o Governo e que conseguimos algum dinheiro para isso. E foi nessa base que começa-mos com programa.

Mas é na dedicação a cau-sas sociais que me sinto mais realizado.

Encontro – Muito obriga-do, Sr. Manuel Ferreira, pelo seu excelente teste-munho.

Page 6: Encontro edição 62 aefh

A Escola Secundária Francisco de Holanda, ao longo dos seus 130 anos de existência que celebra, este ano letivo, foi um espaço de aprendizagem, de sabedoria e de afetos. Foi e é, também, um espaço de memória(s). O jornal Encontro e, através dele, a Escola pretende organizar e dar forma a esse espaço de memória. Por isso, apelou a todos os antigos alunos, professores, assistentes técnicos e assistentes operacionais que nos contassem a sua história de vida escolar.

De França chegou-nos o testemunho de Joaquim de Freitas Pereira, aluno do Curso Comercial Noturno, de 1944 a 1947. É o testemunho de alguém que a agradece à Escola que lhe deu a formação para iniciar a sua vida profissional. Analisando o curriculum vitae do nosso colaborador, Joaquim Freitas, pode-se intuir que vale a pena encarar a escola a sério.

CURRICULUM VITAE DE JOAQUIM FREITAS

1944-1947: Curso Comercial na Escola Francisco de Holanda (Curso da Noite) e marçano durante o dia (Drogaria e Vidraria)

1947 -1950: Fábrica de Acabamentos Xavieres Lda e Fábrica de Tecidos de Vila Pouca

1950-1954: Empregado comercial Alberto Pimenta Machado & Filhos

1954 -1955: Serviço militar - Aluno Escola de Milicianos de Tavira

1956-1958:Viajante em Moçambique pela Alberto Pimenta Machado & Filhos

1959:Emigração para França, com a família

1960-1962: Faculdade de Letras de Grenoble - França, disciplina de Francês e Filologia, em paralelo com trabalho noturno no laboratório de pesquisas de alumínio, como operário

especializado. Curso intensivo (eletricidade, mecânica, hidráulica.

1962-1963:Técnico comercial / Société Anonyme Machines Electrostatiques. (SAMES SA) 280 colaboradores.

- Engenharia, Produção e Instalação de materiais e robótica, pintura industrial por via eletrostática.

- Venda de materiais de pintura eletrostáticos. Zona França.

1964:1986: Diretor Comercial Exportação (Línguas: Português, Francês, Inglês, Alemão e Italiano)

- Mercados: China, Japão, Austrália, Indonésia, Índia, Coreia, Taiwan, Sudeste Asiático, América Latina e África do Sul.

-Diretor da filial na Alemanha (Darmstadt)

-Responsável pela Primeira Exposição Industrial Francesa de Pequim. (1964)

-Criação da filial americana em Detroit. Desenvolvimento do mercado americano.

-Conselho de Administração Binks Manufacturing C°- Chicago - USA

1987:1994:Presidente, Diretor Geral e Administrador da SAMES SA Grenoble - França

1995:Reforma.

Memórias da Minha Escola, Memórias da minha vida, na Escola Francisco de Holanda, de 1944 a 1947.

A notícia do aniversário da fundação, há 130 anos, desta venerável Escola Industrial e Comercial Francisco de Holanda, que li cá longe num jornal vimaranense, acordou na minha memória os momentos mais exaltantes da minha vida.

Longe da minha Terra de Guimarães pensei materializar aqui algumas recordações desses tempos distantes, mas sempre presentes no meu espírito, pela grande influência que esta Escola e sobretudo os meus

Mestres tiveram no meu destino.

Este é o ato de gratidão do octogenário que sou, àqueles que ajudaram o jovem que fui, a ser um Homem, nesses anos de 1944 a 1947, nos últimos anos duma guerra atroz que, sem ter a certeza disso, talvez tivesse podido ser evitada, se a instrução e a cultura fossem universais e se os homens se conhecessem melhor uns aos outros.

Mas, antes de mais, é tempo de pedir perdão aos meus Mestres de Português, pelos inevitáveis erros desta prosa, escrita na nossa bela língua que, pelas necessidades da vida não pratiquei durante meio século, substituída por quatro outras línguas que me permitiram exercer a

minha profissão comercial no mundo inteiro.

Foi escutando os meus Mestres que, um dia, disse a mim mesmo, como outros certamente antes de mim: “Quero escrever”.

Como sei que entre Mestres a solidariedade existe, não posso esquecer aquela bondosa Senhora que, na Escola de Santa Luzia, onde dei os primeiros passos, me ensinou, primeiro, a ler, escrever e contar.

A Senhora D. Maria da Natividade Simões e Silva Menezes era esposa daquele que seria mais tarde, já nesta escola Francisco de Holanda, o

meu professor de Francês, o Dr. Mário Menezes, homem elegante e dum grande humanismo. A língua que me ensinou seria um dia a alavanca indispensàvel do meu progresso social e da minha cultura no país de Victor Hugo e Molière.

Sem poder mencionar todos os Mestres, vêm-me alguns ao espírito, entre os quais, o Dr. Daniel Nunes de Sá, antigo Director desta Escola, que me ensinou os caminhos do mundo, na aula de Geografia, caminhos que – mas eu não o sabia ainda – iria percorrer durante 35 anos, em todos os continentes, numa função comercial e numa direção empresarial para o exercício das quais, recebi aqui, as primeiras luzes.

Conservo dele a recordação duma inflexível autoridade. Da minha admiração de adolescente por este homem, ao olhar severo por trás dos ses óculos, nasceu o meu amor por esta cultura que ele respirava. E daí a minha convicção, que o bom professor é antes de mais aquele que, habilitado dum saber que lhe é consubstancial, o restitui com paixão, numa classe bem disciplinada, com a solenidade e a autoridade que impõem.

E se evoquei os Mestres de Português, de Francês, de Geografia, que dizer do Mestre de História, que fez vibrar, pela primeira vez, a minha

fibra Portuguesa quando evocava a batalha de Aljubarrota, fundadora da nossa independência, ou aquela mais próxima da nossa terra, a de São Mamede, fundadora da nossa nacionalidade.

E pois que falo de História, uma pequena história: Recordo com saudade, o meu regresso ao perímetro desta Escola, então já “diplomado”, e as noites que passei aqui mesmo ao lado, na confeção do Carro da Cidade, onde algumas vezes, na noite da Marcha Gualteriana, todo de branco vestido, para que as meninas me vissem bem (!), gritava ao microfone, do alto do Carro, junto ao velho Castelo colorido: “ Guimarães, terra de santos e heróis, terra onde pela primeira vez,

no coração do Primeiro Rei, bateu o coração de Portugal”! Da autoria dum Vimaranense ilustre, estas palavras acompanham-me ainda hoje nas longas noites de insónia.

Mesmo a disciplina que me parecia supérflua nesse tempo, a Estenografia, me foi útil, quando negociava contratos de milhões de dólares nos países longínquos, anotando o essencial das discussões em estenografia, por questões de segredo comercial! A aula de Direito Comercial e Economia Política abriu-me o caminho para a compreensão de fatores, hoje mais que nunca úteis num mundo

globalizado, no qual a Economia desempenha um papel preponderante submetendo mesmo a Política ao seu poder universal.

E se na função de direcção que foi a minha nos últimos anos, a Contabilidade era feita por profissionais e era computorizada, os princípios fundamentais dum balanço e a importância de cada linha antes do resultado final, respondiam ao mesmo critério daquilo que aqui aprendi. A formação complementar que recebi no país de emigração, onde vivo, formação onde foi questão de vóltio, ampere, watt, alta tensão, eletrostática, das máquinas que comercializava, não teria sido possível sem os ensinamentos recebidos

6 Março de 2015

ESPAÇO DE MEMÓRIAS

Page 7: Encontro edição 62 aefh

nesses anos essenciais do Curso de Comércio da Francisco de Holanda.

A minha gratidão eterna vai, por conseguinte, para todos eles, os Mestres de todas as disciplinas, num mundo – e lamento-o – onde é de bom-tom hoje de os esquecer, como se esquecem os valores que eles nos ensinam. São eles, os Mestres, que nos iniciam aos mistérios, aqueles que decidem dum caminho, caminho que eu encontrei aqui nesta Escola.

Sim, eles foram os maiores pedagogos, porque o seu saber era imenso e porque sabiam transmiti-lo. A transmissão, a educação e a instrução, em todas as suas formas, são as condições da sobrevivência de toda civilização, único meio de nos premunir contra a barbaria.

Porque é neste templo de saberes, onde se cruzam os Mestres e os condiscípulos, os alunos e os professores, os pais e os filhos, a cultura e a memória, onde se prepara o cidadão. Nunca se dará à Escola toda a importância que é a sua

na preparação cívica e profissional do cidadão. A sociedade será tanto mais rica e equilibrada que a escola terá os meios de exercer a sua missão. Por isso, penso que em todo regime político que se preza, a Educação Nacional deve ter a mais alta prioridade e merece todos os sacrifícios.

Estas linhas não têm por objetivo de cantar uma idade de ouro que o presente deveria reencontrar. Mestres como aqueles do meu tempo, a época contemporânea conta tantos como nesses anos idos. Se escrevi no passado, é porque não se compreende que muito mais tarde o que devemos a essas mulheres e a esses homens que cruzamos no início da nossa vida.

Esta minha visita aqui, hoje, através deste singelo testemunho, faz subir aos meus olhos uma emoção indefinida, composta de nostalgia da infância ou da juventude, cada vez mais longínquas, e da evocação de algumas figuras tutelares, desde há muito escondidas num recanto privilegiado da minha alma, mas nunca

apagadas.

Claro que apesar do tempo que voa, as recordações da escola nunca se esquecem. Estas recordações contêm um gemido surdo, uma lamentação implícita, um canto de nostalgia retida. Confesso-o.

O que me conserva ligado a esta Escola é a gratidão, a felicidade de saber que venho de longe, iluminado por estrelas que não morrem, que me ensinaram tudo o que sei, que me indicaram o caminho. Foi o maná oferecido na idade tenra aos famintos, aos mendigos, todos aqueles à procura dum lugar ao sol.

Creio que sem ter sido um aluno modelo, fui um aluno feliz, porque gostava de aprender, apesar do trabalho de marçano que exercia durante o dia. Os resultados compensaram-me no fim de cada trimestre. E sobretudo no fim do curso.

Mas que o diga desde já: Não é necessário ter sido um bom aluno para que estas palavras sejam a verdade. Não, o elogio

MEMÓRIAS Dos poucos acontecimen-tos que fazem parte da minha vida, lembro-me de um em particular, de-vido à sua cómica e mo-mentânea vividez.

Lembro-me que quando tinha sete anos, houve um dia em que todos ti-vemos uma desculpa para escapar às aborrecidas sessões de Português e Estudo do Meio. Tínha-mos uma visita de estu-do no Porto, num museu qualquer que agora não recordo o nome. Nenhum de nós, em seu perfeito espírito juvenil e saltitan-te, estava minimamen-te interessado em ouvir uma qualquer empregada

melancólica a citar textos para si mesma e para a professora.

A determinada altura, na grande ansiedade de começarmos a visita ao museu, nós, cá fora, falá-vamos de assuntos inde-terminados no nosso pe-queno grupo de amigos. Num certo momento, o Pedro tagarelava efusiva-mente sobre algo que lhe havia acontecido. De re-pente, como num clarão eclodindo à velocidade da luz, o Pedro tornou-se alvo do mais nojento e ini-maginável cocó de pomba e este, no seu mais madu-ro e adulto cariz de crian-ça de sete anos, desatou a chorar. Como ele, tam-bém eu chorei, mas foi

por outro motivo, e vergo-nha não foi de certeza! As lágrimas escorreram-me pelo rosto enrugado do sorriso. As minhas mãos, trémulas, agarraram-me a barriga numa tentativa desesperada de conter o vómito. As minhas per-nas perderam quase toda a força para sustentar o meu corpo e, assim, caí no relvado, rebolando no meu próprio riso. As gar-galhadas rasgavam o ar. Hoje, não sei o que foi mais embaraçoso: se o Pedro “pintado à pistola”, pelo podre excremento da ave ou se a minha fi-gura de parvo em frente à minha entretida turma.

João Pinto, 10CT7

A memória da minha pro-messa escutista é-me tão clara como a chuva que caiu nesse dia. Não foi o clima ideal, é certo, mas mal eu sabia o quão agra-decida ficaria por aquele fenómeno atmosférico.

Acordei mais cedo que o normal nessa manhã dominical de fevereiro. O ponteiro dos segundos saltitava à velocidade com que tomava o peque-no-almoço. Exalava um cheiro de paragens entre longos tragos.

O guião que o meu chefe me fornecera tremia nas minhas mãos (geladas como sempre!). Eu não precisava dele, já o havia decorado há semanas, mas tornou-se uma som-

bra de segurança à luz da minha ansiedade, uma espécie de “meu abrigo à chuva” de suposições so-bre o que poderia correr mal. Aquela foi uma das raras vezes em que che-guei atempadamente a algum compromisso! Ali-nhei-me com todos os ou-tros escutas que estavam visivelmente mais calmos que eu, feito que não era de todo difícil, já que os nervos eram tantos que eu começava a duvidar se estava doente. Lembro--me de ter verificado a gloriosa insígnia com a flor-de-lis a cada cinco se-gundos, estava tudo cer-to e nada poderia correr mal. E nada correu mal. Apesar do pesado frio que se fazia sentir na igre-

ja (ao qual a simples farda me expunha cruelmente), a minha voz saiu tão firme como a minha vontade de pertencer ao movimento.

A parte que me havia pe-trificado quando soube dela, a praxe, foi cance-lada graças à chuva, para frustração de todos à ex-ceção dos noviços. A feli-cidade que senti quando o lenço verde abraçou, pela primeira vez, o meu pescoço num misto de or-gulho e responsabilidade anestesiou-me e todas as palavras proferidas após esse momento se des-vaneceram, mas o senti-mento permaneceu até os dias de hoje.

Ana Gonçalves, 10CT7

dos Mestres não é uma estigmatização elitista e disfarçada dos alunos infelizes dos fracassos escolares. Posso só lamentar que estes não tenham tido a sorte de encontrar um dia aquela ou aquele que lhes teria aberto a porta do jardim maravilhoso.

Mas também é certo que o Mestre da era antes do audiovisual e da internet não tinha muitos concorrentes. Hoje os seus principais concorrentes são os jogos vídeo, a omnipresença das imagens, a internet, a televisão, o cinema e a indústria do divertimento em geral. Os alunos, submetidos quotidianamente ao bulício ambiente e ao dilúvio das imagens, têm talvez mais dificuldade a interessar-se aos conhecimentos transmitidos pelos seus Mestres... Mas espero enganar-me. Porque o mundo atual e mais ainda o que se aproxima é e será um mundo concorrencial, no qual a luta pelos primeiros lugares será renhida. Não será a quantidade, mas a qualidade que

fará a diferença. Num mundo onde temos mais informação por dia que alguém na idade média toda a sua vida, o espírito analítico, crítico e seletivo impõe-se. Aos meus colegas alunos desejo boa sorte e muita coragem.

E antes de terminar, permitam que lhes conte uma história verídica. Meu Pai, homem muito politizado, considerava que a educação era um investimento importante que convinha respeitar. Assim, quando alguns alunos daquela camada social que na altura qualificava de “burgueses” ou “filhos de ricos” (e para ser mais ricos que eu, não precisavam de muito!) faziam greve ou criavam distúrbios, impedindo aqueles que queriam estudar de entrar na escola, o meu Pai acompanhava-me até à Escola, com um martelo do ofício na mão, bem visível! O contínuo Senhor Manuel, homem de grande estatura, encarregado de manter a ordem, conhecia o meu Pai, e assegurava a “passagem do testemunho” a partir da porta de entrada! Os

recalcitrantes estavam avisados... E eu lá estudava sob alta proteção, com alguns outros!

O destino quis, na sua imprevisibilidade, que um dia, nos anos 60, um dos grevistas, desamparado em país estrangeiro, viesse bater à porta dos meus Pais. Eles albergaram-no.

Agora que chego ao fim do meu ciclo de vida, posso garantir que tudo o que aqui aprendi foi uma espécie de passaporte para a carreira profissional rica de experiências que tive. Tudo o que fui e sou ainda hoje é a esta Escola que o devo. Sim, tenho uma grande dívida e não sei como fazer para lhe agradecer. Simplesmente, é a eles que dedico estas linhas.

A esses caros desaparecidos, que me conduziram até aqui hoje, a todos os Mestres aqui presentes que continuam entretanto a missão nobre entre todas de educar, a todos, o meu MUITO OBRIGADO.

Joaquim de Freitas Pereira, aluno do Curso Comercial noturno, de 1944 a 1947.

7Março de 2015

Page 8: Encontro edição 62 aefh

8 Março de 2015

No âmbito das celebra-ções dos 130 anos da ESFH, o jornal Encontro quis ouvir as memórias de antigos diretores da Escola…

Margarida Castro Mendes, 11CSE1

PROFESSOR

ANTÓNIO SOARES

António Fernando Dias Carneiro Soares, licen-ciado em Engenharia de Produção, é professor de Matemática. Lecionou nas Escolas Industrial e Comercial de Guimarães, Escola Técnica de Serpa, Escola Secundária da Vei-ga (Guimarães), Escola Secundária Francisco de Holanda (Guimarães), onde continua a sua ativi-dade docente. Pertenceu à Comissão Instaladora da Escola Secundária da Veiga. Foi Presidente do Conselho Diretivo da Es-cola Francisco de Holan-da de 1975 a 1977.

Encontro – Foi Presiden-te do Conselho Diretivo da Escola Francisco de Holanda de 1975 a 1977. Mas, perguntamos há quantos anos é professor nesta Escola?

António Soares - Comecei a dar aulas no ano letivo 1972/73, todavia, nem sempre exerci em Guima-rães. Iniciei a minha car-reira aqui e, de seguida, em 78/79 fui para Serpa, no Baixo Alentejo. Após algum tempo regressei, sem intenções de voltar para a educação. Contu-do, foi-me pedido pela Escola Secundária Fran-cisco de Holanda, na altu-ra a Escola Industrial, que substituísse o professor António Augusto Men-des de Oliveira. Feitas as contas todas, estarei aqui há mais de trinta anos. É muitíssimo tempo, mas parece que foi ontem que comecei em 72/73. Foi já no século passado!

Encontro – Assumiu a presidência do Conselho Diretivo, o que correspon-de à função de Diretor, em 1975. Vivia-se uma

época agitada, a do PREC (Processo Revolucionário em Curso), com muita agitação nas ruas, lutas políticas muito duras, com ameaça de guerra ci-vil. Houve o 11 de Março e o 25 de Novembro, com tentativas de uma espécie de golpe de estado, quer à esquerda, quer à direi-ta. Acha que toda essa instabilidade política teve repercussões na vida da escola?

António Soares- Obvia-mente que sim! Teve re-percussões na vida toda, na da escola sem exce-ção. Lembro-me perfeita-mente que começaram a emergir os movimentos estudantis ligados aos partidos políticos. É até com um certo orgulho que refiro que aqui na Escola, eu e os meus cole-gas da direção, consegui-mos manter um ambiente estável e de respeito, ou seja, todos os partidos políticos tinham um espa-ço acordado, predefinido para realizar a sua pro-paganda. Quando havia problemas relacionados com as propagandas, a di-reção intervinha no senti-do de pacificar a situação e relembrar que a escola é de todos. Recordo-me também que lia nos jor-nais com frequência que em várias escolas aqui no norte, nomeadamente o Porto, ocorriam muitos desacordos entre alunos. O facto de que aqui na escola não se observaram essas situações é real-mente motivo de orgulho, como já disse antes, por-que vivíamos sem dúvida alguma, num período ex-tremamente conturbado.

Apesar de ser apenas um miúdo de 25 anos, os alunos tinham uma re-presentação no conselho diretivo idêntica à dos professores. Sempre hou-ve uma certa diplomacia, no sentido de não ferir suscetibilidades e tentar apoiar ao máximo os alu-nos de toda a escola, de forma a evitar conflitos. Existiam sempre alguns pequenos desentendi-mentos, contudo conse-

guíamos harmonizar a situação.

Um episódio bastante caricato que se sucedeu no 11 de março. Estava a dar uma aula, quando me apareceu um aluno do conselho diretivo a gritar- “Temos de parar as aulas! Estamos a ser sobrevoados por aviões! Ainda nos mandam uma bomba!”. Perante este cenário, viro-me para o rapaz, cujo nome ainda me lembro muito bem e digo: “Oh Hélder, tem calma. Vamo-nos tranqui-lizar, eu vou acabar a mi-nha aulinha, depois vou para o conselho diretivo e aí conversamos, está bem?” Assim se sucedeu e lá consegui convencer o Hélder de que não havia motivo para alarme. O 25 de novembro também foi muito semelhante. Havia igualmente, muita con-fusão que por sua vez foi tratada com serenidade.

Encontro – Apesar de toda a instabilidade polí-tica e social, teve a cora-gem de assumir a direção da Escola. Que razões o levaram a assumir tão grande responsabilidade?

António Soares – Em pri-meiro lugar, nós tínhamos a juventude, a irreverên-cia… Éramos um tanto desligados das forças or-ganizadas e tradicionais que existiam em oposição do que se passava com o antigo diretor. Existia aqui uma série de pro-fessores da velha guarda e grandes opositores que reclamavam uma certa herança histórica e acha-vam que deviam ser eles que deviam ir para a fren-te da escola. Nós jovens, decidimos que devíamos enfrentá-los em eleições. Contra todas as expecta-tivas, a nossa lista saiu vi-toriosa, o que gerou uma certa turbulência, porque os antigos professores nunca aceitaram muito bem o facto de se verem derrotados pelos miúdos.

Foi a nossa vontade de participar ativamente e a manifestação de afirma-

ção que nos fez querer ir à luta. Nós, com o 25 de abril, aproveitamos a vál-vula que se abriu e que permitiu que as pessoas começassem pensar de forma diferente, a pensar

que deviam assumir as suas posições.

Foi um certo romantismo que me levou a avançar com os meus colegas. Nós representávamos a vaga nova, irreverente, apai-xonada, de certo modo ingénua, no entanto, não afetada por nada, mas so-mente pela generosidade da geração de jovens com garra de se quererem afir-mar.

Encontro – Em 1976 hou-ve eleições legislativas que o Partido Socialista ganhou, vindo a formar o 1º Governo Constitucio-nal, com Mário Soares a primeiro-ministro. Depois foi a eleição do General Ramalho Eanes, como Presidente da República, o primeiro eleito por su-frágio universal, depois do 25 de Abril de 1974, a designada Revolução dos Cravos. Estes acon-tecimentos diminuíram a instabilidade social. (Se estiver a dizer asneiras corrija-me). Mas, no En-sino/Educação havia mui-to coisa para resolver. É capaz de referir algumas medidas tomadas pelo

Ministério da Educação, liderado por Sottomayor Cardia e se a aceitação dessas orientações do go-verno foi pacífica ou ge-rou muita polémica.

António Soares – Os con-selhos diretivos forma-ram-se e tinham capaci-dade para gerir a escola. Mas é evidente que o Mi-nistério não ficou muito feliz com o facto de não poder controlar tudo, porque no fundo se es-tava a fazer uma grande descentralização. O que aconteceu foi que o Dr. Sottomayor Cardia resol-veu controlar as escolas através de uma legislação que visava diminuir a sua área de atuação, contro-lando e condicionando-a. O governo e o Ministério da Educação no fundo pretendiam controlar a ação do conselho direti-vo. De facto, quando foi criado havia uma grande autonomia, o que chocou os senhores do centralis-mo que criaram leis no sentido de poderem con-trolar as escolas. Foi isto que se assistiu: o assalto ao controlo da gestão das escolas pela via Adminis-trativa.

Lembro-me perfeitamen-te que eu achava que o pior ministro de educação que Portugal teve no pe-ríodo pós 25 de abril tinha

sido o Dr. Sottomayor Car-dia. Infelizmente apare-ceu o atual que lhe tomou o lugar.

Encontro – Creio que, du-rante o seu mandato ain-da havia ainda o ensino liceal e o ensino técnico. Como via as diferenças entre o Liceu e a Esco-la Técnica? Além disso, considera que a posterior criação do ensino unifi-cado foi benéfica para a sociedade? Não terá sido um grande golpe na for-mação profissional dos cidadãos, na preparação para a integração no mer-cado de trabalho, isto é, nas empresas e noutras instituições empregado-ras.

António Soares - De fac-to, o ensino técnico e o ensino liceal eram duas vias completamente dis-tintas. Os alunos que iam para o Liceu, eram os que provavelmente seguiriam para a universidade, os da escola técnica, eram os que seguiam para os institutos. Embora de-pois, numa fase posterior, fossem criados também os cursos complementa-res que davam uma es-pécie de equivalência ao sétimo ano do Liceu. O que já possibilitava aos alunos o acesso à univer-sidade, isto já numa fase pós 25 de abril. Aliás, este tipo de ensino manteve--se ainda durante muito tempo, mesmo quando foi implementado pelos suecos o ensino unifica-do. Em 1975, vieram di-retamente aqui à escola implementar os cursos unificados que ainda hoje se mantêm. Deixou de haver a via técnica e li-ceal e passou a haver um tronco comum, depois no décimo ano as disci-plinas ramificavam-se. É evidente que os cursos profissionais ainda conti-nuaram alguns anos - não é de um momento para o outro que se ia fechar a cortina. Os jovens que já se tinham inscrito nos cursos, liceal ou técnico, acabaram os seus estu-dos. Assim como à noite, no período pós-laboral,

MEMÓRIAS DOS ANTIGOS DIRETORES DA FRANCISCO DE HOLANDA

Page 9: Encontro edição 62 aefh

9Março de 2015

havia cursos profissionais para aquelas pessoas que já possuíam uma vida ativa com diferentes pro-fissões. Vinham à escola adquirir conhecimentos científicos que enrique-cessem os seus currícu-los de forma a poderem responder às solicitações diárias de forma mais teó-rica e não tão empirica-mente.

Devo dizer, com máxi-mo de orgulho, que a única escola que teve a coragem de sozinha as-sumir o início dos cursos unificados foi mais uma vez a escola Francisco de Holanda. Na altura, as restantes escolas de Gui-marães encolheram-se e tiveram medo, mas nós fomos para a cabeça do touro. Aqui, a escola tinha 37 turmas do sétimo ano unificado!

A minha camisola perten-ce a esta escola. É bom que as gerações atuais e algumas gerações que se calhar não se lembram de tudo isto que foi feito sai-bam que a E.S.F.H é uma escola de tradições, muito antiga, muito rica e muito determinada. Não tem medo de enfrentar desa-fios e na altura não teve medo de enfrentar o de-safio, que era fazer uma rutura completa num sis-tema que estava vigente. Posso dizer, em jeito de conclusão, que esta esco-la arrisca, porque não tem medo dos desafios!

Encontro – Qual era o limite da escolaridade obrigatória? Achava sufi-ciente?

António Soares – Já não estou bem certo se o limi-te de escolaridade obri-gatória era o sexto ano ou a 4ª classe. Creio que em 1975 ainda era a 4ª classe, mais tarde passou para o sexto ano, o segun-do ano do 2º ciclo.

É evidente que não acha-va suficiente. Até por-que com o 25 de abril, a sociedade portuguesa começou a evoluir mui-to. A necessidade de co-nhecimento começou a ser maior: o ignorante não tem necessidade de conhecer, mas quan-do começa a saber, tem necessidade de adquirir

mais conhecimento. A evolução funciona nessa base, quando uma pessoa dá um passo, está logo a pensar no passo seguin-te. O passo que deu per-mitiu-lhe ver mais além, essa nova perspetiva vai--lhe despertar novas ne-cessidades.

Encontro – No período em questão, de que for-ma se apresentava um professor numa aula? Que relação estabelecia com os seus alunos?

António Soares – Como já disse, os professores eram figuras dóceis. Mas os alunos também! Se os estudantes da atualidade vissem uma aula de anti-gamente, apesar da tur-bulência que existia fora da sala de aula, ficavam admirados. Os alunos era muito mais cordatos, afá-veis, respeitadores… Na evolução não é tudo po-sitivo: a gente conquista coisas boas e más. É a lei da vida.

Um professor tinha um posicionamento um bo-cadinho mais distante dos alunos. Não era muito o meu caso, uma vez que tentava fazer precisa-mente o contrário. Mas normalmente o professor tinha aquele palanque na sala de aula. Estava a um nível superior dos alunos, a secretária do profes-sor estava colocada num púlpito. Esta disposição física fazia com que hou-vesse uma sobreposição. Os alunos estavam um pouco longe e o professor era um sujeito austero, distante... Não era toda a gente igual, como é óbvio. Tal como agora, todos os professores têm aspetos divergentes.

Encontro – E como era a relação dos professores com a direção da escola? Reativa ou proativa?

António Soares – Na al-tura não se falava em proatividades, era mais reatividades. Claro que nós tínhamos, fruto da eleição que vencemos, uma parte de uma fação que era maioritária com quem nós tínhamos uma certa tranquilidade em conversar. A outra par-te dos professores, que nunca nos viu com muito

bons olhos, via-nos como uns miúdos e, portanto, havia uma certa sobran-ceria. Nós, também devi-do à nossa inexperiência, tínhamos um certo cuida-do na maneira como os tratávamos. Até porque eles eram os senhores doutores da época! Ha-via então um certo dis-tanciamento que o tem-po ajudou a desvanecer gradualmente. Isto foi paulatinamente ficando cada vez mais tranquilo, as pessoas começaram a perceber que de facto tínhamos um projeto co-mum. Isso era mais im-portante do que todas a eventuais diferenças que naturalmente existiam e continuam a existir. Nós somos todos iguais e to-dos diferentes, isso é nor-mal. Agora, há uma coisa que pode e deve nortear a nossa ação: a escola e os seus objetivos.

No meu tempo, a manei-ra como nós acedemos ao poder, ajudou ao tal distanciamento. Criou al-guns anticorpos, alguns desconfortos em ter-mos relacionais. Primei-ro quando se tinham de dirigir a nós, estavam-se a dirigir a um superior hierárquico que era um “puto”. Dirigiam-se com um misto de superiorida-de e subjeção. Esse clima não era saudável. No en-tanto, eu e os meus cole-gas tentávamos amenizar o ambiente.

Encontro - Após a revolu-ção de 74, a escolaridade sofreu alterações bruscas ou isso apenas aconteceu gradualmente?

António Soares – Não direi que foram bruscas, mas também não foram muito paulatinas. Diga-mos que as coisas co-meçaram a acontecer ao sabor da corrente. Vocês jovens não têm a perce-ção do que era o antes do 25 de abril. Vou dar um exemplo caricato: antes do 25 de abril, a coca-cola era proibida em Portugal! Lembro-me de ir a Espa-nha comprar coca-cola. Chegava lá, comprava uma ou duas garrafas, bebia um bocado, depois, quando chegava a Portu-gal telefonava aos meus amigos todo contente e dizia: “Anda até a minha

casa beber uma coca--cola!”. Imagino que um testemunho destes pos-sa parecer extraordinário para os jovens, mas isto aconteceu de verdade! Na altura, as coisas esta-vam muito paradas muito lentas, hoje tudo evolui muito depressa. À luz da atualidade posso dizer que aconteceu tudo mui-to lento, muito devagari-nho. À luz da altura que estava a falar, a coisa já andou com um bocadinho de velocidade.

Encontro – Na sua ótica, é preferível o ensino da atualidade ou o ensino de há mais de 40 anos?

António Soares – É muito difícil fazer comparações. O ensino de há 40 anos não tem cabimento ago-ra, não havia tecnologias. Uma máquina de calcular, tão ordinária de ter hoje em dia, na altura não exis-tia. Na faculdade, utilizava uma régua de cálculo. Só no meu último ano é que começaram a aparecer as primeiras calculadoras, com contas muito bási-cas: multiplicar, dividir, somar e subtrair. De resto não havia nada disso.

Observando que as reali-dades mudaram tanto, é muito difícil fazer compa-rações. Os materiais e da-dos a que se tem acesso hoje, eram na altura con-siderados quase ficção científica! Ninguém ima-ginaria poder trabalhar com tal objeto como um computador.

Eu acho que hoje é assim para o bem e para o mal, não quer dizer que esteja tudo bem. Hoje em dia, também quero deixar esta mensagem, quem quiser ser alguém na vida tem que ser bom! Não se pode ser q.b., não se pode ser assim-assim. O assim--assim não tem hipótese nenhuma no mundo do trabalho. Tem de ser bom ou muito bom. Por isso: façam-se à vida, estudem muito, tenham boas no-tas, tenham bons conhe-cimentos, porque doutro modo, o que lhes espera não é nada meigo. Agora que há mais meios para chegar ao conhecimen-to, a exigência aumenta. Agora futuro é já ali ao virar da esquina, enquan-

to há 40 anos, as coisas eram muito mais lentas, o processo era muito mais estratificado, calmo. Não havia tantas oportunida-des...

Aconselhava muitos alu-nos meus a enredarem na profissão de profes-sor de matemática. Hoje, não aconselho ninguém a fazê-lo. As coisas mu-dam, aquilo que dantes era uma boa saída pro-fissional, hoje pode ser uma péssima. O ensino já teve prestígio e já teve qualidade para apaixonar uma pessoa. Hoje em dia os jovens trabalham, es-forçam-se e no fim olham para o canudo lá em casa pendurado e perguntam--se o que fazer com ele. Acabam por aceitar um trabalho qualquer porque têm de ter rendimentos. Enfim, é mesmo assim.

Encontro – Permita-me a seguinte questão: sentiu--se realizado como Pre-sidente do Conselho Di-retivo e, agora, sente-se realizado no exercício da docência?

António Soares – Sou um indivíduo profissional-mente muito feliz. Ao lon-go da minha extensa car-reira, tive experiências de vida extremamente ricas e diversificadas, não só no ensino como também na indústria. É portanto com um certo conhecimento de causa que eu digo que os alunos têm de ser mui-to bons, uma vez que a exigência é muito grande. Sei porque sempre estive habituado a esse tipo de exigências.

Fui muito feliz nas funções que desempenhei, devido à sua realização com em-penho, dedicação e amor. Quando venho para a es-cola, é um momento de libertação, não me pesa, sinto-me bem na escola. Agora, mais que nunca, dado as condições mara-vilhosas que temos! Nun-ca constituiu para mim um fardo, nunca tive pen-samentos do género: “Oh pá, está a chegar a hora, tenho que ir trabalhar…”. Entro no portão com pra-zer, paixão, gosto, visto que eu vivo muito a esco-la. Se calhar, às vezes, de forma demasiadamente apaixonada.

Encontro – Há episódios que queira destacar? E obras ou grandes iniciati-vas?

António Soares – Já referi o episódio da Coca-cola, o do 11 de março. É assim não tenho assim nada de espetacular para contar.

Tenho algumas histórias que demonstram o em-penho e a dedicação que os professores tinham pela Escola. Recordo que em 75, havia um campo de futebol exterior muito fraco e que a escola con-seguiu melhorá-lo. Na al-tura, o professor Ruvina ajudou nesta iniciativa, somente com o dinheiro angariado pela criação do bar da escola! O ministé-rio não fornecia dinheiro nenhum para este tipo de situação e, apesar dos preços no bar serem bai-xos, conseguimos juntar a quantia suficiente para fazer algumas mudanças. Na altura, era a minha colega Olga que estava a frente da parte contabi-lística do bar, “Nós temos aqui 90 contos de lucro, temos de os devolver ao ministério” dizia-me ela. A minha resposta era logo “Temos o quê?! Nós va-mos é gastá-lo todo em equipamento! Quem jun-tou este dinheiro foram os alunos! Porque é que o ministério vai receber o dinheiro que foi gerado pelos alunos desta esco-la?!” Na altura, 90 contos era muito dinheiro, 450 euros, hoje até dá vonta-de de rir. Não obstante, tinha de ser gasto de for-ma a beneficiar os alunos, pesquisamos o que falta-va de equipamento aos alunos e gastamos nisso. Na altura, ninguém nos dava nada, a gente tinha de construir com o nos-so dinamismo, vontade e aproveitando as pou-cas coisas que tínhamos para ver se conseguíamos aquilo de que precisáva-mos. E pronto, foi isso que aconteceu mais ou menos nessa altura.

Encontro – Muito obriga-do, senhor professor, pelo rico testemunho que nos dá.

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10 Março de 2015

PROFESSOR JOÃO SILVA PEREIRA

Por Inês Pedro Fernandes, 11CT2

É licenciado em Enge-nharia Eletrónica e de Computadores pela Uni-versidade do Porto e professor do Quadro do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda. Le-cionou na Escola Indus-trial e Comercial de Gui-marães, atual Francisco de Holanda. Foi Presiden-te do Conselho Diretivo, de 1981 a 1984; de 2001 a 2003, foi Presidente do Conselho Executivo. Enquanto membro inte-grante do Conselho Di-retivo, em 1980, propõe o lançamento da primei-ra Semana Aberta. Foi o primeiro Presidente da Assembleia de Escola, da Escola Secundária Fran-cisco de Holanda. É for-mador na área das novas tecnologias. Destacou-se como impulsionador da instalação das novas tec-nologias na Escola Fran-cisco de Holanda, donde advieram significativos proveitos, em termos da modernização adminis-trativa e pedagógica da Escola.

Encontro – Foi Presiden-te do Conselho Diretivo da Escola Francisco de Holanda de 1981 a 1984. Sendo, depois, de 2001 a 2003. Mas, pergunta-mos, há quantos anos é professor nesta Escola?

João Silva Pereira - Ini-ciei funções em 1973/74, há mais de 40 anos, por-tanto. Já sou da prata da casa.

Encontro – No primeiro momento em que foi Pre-sidente do Conselho Dire-tivo (se fosse hoje, seria Diretor), já não havia a distinção entre ensino li-ceal e ensino técnico. O ensino a nível do 7º, 8º e 9º ano tinha sido unifica-do. Como é que viu essa alteração? Não foi um grande golpe na formação profissional dos cidadãos, na preparação para a in-tegração no mercado de trabalho, isto é, nas em-

presas e noutras institui-ções empregadoras?

João Silva Pereira – Pro-vavelmente fazem-me essa pergunta por ser engenheiro e, portanto, estar mais ligado aos cur-sos profissionais. A mi-nha perceção, à época, era que o ensino a nível profissional tinha de ser profundamente reformu-lado. De resto, havia um projeto de reformulação do sistema, que vinha já do Governo anterior, ain-da ditatorial, mas que não foi continuado em virtude de todas as vicissitudes inerentes ao processo re-volucionário dessa altura.

Os cursos técnicos que existiam nessa época ti-nham início no atual 7º ano de escolaridade, em que os jovens ainda não tinham a maturidade ne-cessária para poderem fazer escolhas, quanto ao seu futuro profissio-nal. Por outro lado, uma formação profissional de qualidade exige (e já exigia na época) conhe-cimentos sólidos nos domínios sociocultural e científico; eram neces-sários conhecimentos de Matemática e Física, por exemplo, que os alunos ainda não possuíam. Não fazia muito sentido, pen-so eu, obrigar um aluno do 7º ano a fazer a esco-lha de uma profissão em tão tenra idade. Portanto, esse sistema estava irre-mediavelmente condena-do, acabando por o ser.

Além disso, como os cur-sos de caráter técnico eram urna opção que, na época, se considerava “inferior”, o poder po-lítico de então concluiu que o melhor seria, pura e simplesmente, acabar com eles, sem cuidar de apresentar qualquer al-ternativa. O que é agora e sempre foi criticável foi precisamente o facto de os cursos serem extintos ao invés de substituídos.

Durante muitos anos, até 1983, não houve oferta formativa nas escolas e isso acabou por ter refle-xos no meio laboral, que

começou a sentir falta de técnicos especializados.

Embora esta questão seja muito complexa, na mi-nha opinião, deveriam ser equacionadas todas as al-ternativas para os alunos que não têm motivação para fazer o 7º, 8.9 e 9.9 anos com o curriculum de todos.

Para esses alunos, o Es-tado poderia apresentar soluções mais práticas e motivadoras. As soluções que atualmente existem (CEFs ou cursos vocacio-nais) não têm dado a me-lhor resposta para miúdos que não se enquadram na escola e na vida esco-lar tradicional. Nunca foi criado nada de raiz e com qualidade para esses alu-nos, o que é uma pena, porque não são tão pou-cos, quanto isso, aqueles jovens cujas capacidades nunca foram devidamen-te exploradas.

Encontro – Qual seria, en-tão, na sua ótica, a solu-ção para este problema?

João Silva Pereira – É difí-cil responder a essa ques-tão, até porque já muita gente antes de mim se preocupou com este di-lema. Ainda assim, penso que não têm sido feitos todos os possíveis para encontrar uma alterna-tiva viável e ajudar estes alunos. De facto, não é possível manter um alu-no sem motivação para aprender dentro de uma sala de aula, pois acaba por ser um fator de per-turbação não só naquela sala de aula, mas também na escola toda.

Soluções “pronto-a-ves-tir” não encontro, mas tenho algumas ideias. Por exemplo, seria possí-vel encontrar instituições que se dispusessem a co-laborar com as escolas, no sentido de acolher, desde logo, antes desses jovens entrarem no pro-cesso de estigmatização, alunos que fizessem uma formação, em muitos paí-ses chamada de dual, em que passariam uma gran-de parte do tempo na

empresa e viriam à escola menos tempo para apren-der aquilo que só ela sabe ensinar.

Claro que isto não é fácil de aplicar na prática, por-que se assim o fosse, pro-vavelmente até já estaria a funcionar.

Encontro – Tem estado ligado ao Ensino Profis-sional (Escolas Profissio-nais), desde 1991. Mas, durante a década de 80 do século passado (o que é um passado não muito distante) o Ensino Profis-sional quase que foi var-rido das escolas públicas (se estivermos errados, corrija-nos por favor). Com tal situação, esta es-cola quase perdia a sua identidade de estabeleci-mento de ensino vocacio-nado, desde a sua funda-ção (nasceu como escola de Desenho Industrial). Não acha que houve uma desvalorização do ensino profissional e que, ain-da hoje, estamos a pagar por isso. Parece que se criaram estigmas ou pre-conceitos em relação ao ensino profissional. Não acha?

João Silva Pereira – Se olharmos para esta ques-tão de um prisma mais generalista, concordo. Contudo, julgo que aqui,

na nossa escola, isso não chegou a acontecer. O ensino de caráter técnico e/ou profissional sem-pre teve muita procura

e reconhecimento social e um forte apoio da di-reção, dos professores e dos funcionários. É por isso que, enquanto outras escolas têm dificuldade em criar turmas de cursos profissionais, já que não têm alunos suficientes, a nossa sempre teve facilidade em fazê-lo.

Uma demonstração do orgulho da nossa escola em relação ao seu pas-sado é que manteve na fachada a designação an-tiga “Escola Industrial e Comercial de Guimarães”, mesmo depois de ter pas-sado a designar-se “Esco-la Secundária Francisco de Holanda”. Outro exem-plo que vai de encontro à minha tese é que foi aqui, na nossa escola, em 1983, que teve lugar a cerimónia de relançamento do Ensi-no técnico/profissional (os cursos tecnológicos). O ministro da educação da época, José Augusto Seabra, fez o seu discurso através da comunicação social, tendo como fundo as instalações oficinais da nossa escola.

Encontro – Voltemos ao primeiro momento em que foi Presidente do

MEMÓRIAS DOS ANTIGOS DIRETORES DA FRANCISCO DE HOLANDA

Conselho Diretivo da Es-cola – de 1981 a 1984. Foi naturalmente um tem-po difícil, uma vez que por essa altura Portugal teve a assistência do FMI (Fundo do Fomento Inter-nacional), era primeiro--ministro Mário Soares que mandou a todos os portugueses apertarem o cinto. Perguntamos, as escolas, também, tiveram que apertar o cinto? Es-ses constrangimentos de financiamento, se os hou-ve, não complicaram a gestão e a administração da escola?

João Silva Pereira – É ver-dade. Tivemos de lidar com situações muito de-sagradáveis que afetaram o normal funcionamento da escola. Porém, a esco-la sempre soube respon-der muito bem aos pro-blemas e dar apoio aos jovens que precisavam dele e, portanto, a esco-la não foi, no seu projeto educativo, fortemente penalizada pelo facto de ter existido essa crise, ao contrário da sociedade em que nos inserimos. Na época, tínhamos uma po-pulação escolar de cerca de 3000 alunos e muitos adultos a frequentar os cursos noturnos. Tratava--se de trabalhadores que ficavam desempregados e regressavam à escola para se requalificarem ou de trabalhadores que tinham receio de ser despedidos, por não terem a escolari-dade básica. Sublinho que tínhamos cerca de 1000 alunos, que, em regime diurno, tinham o seu tur-no de trabalho normal e que, à noite, vinham fre-quentar os cursos notur-nos, que eram de caráter industrial e comercial, até por volta das 23 horas. A nossa escola contribuiu, portanto, para o desen-volvimento profissional e pessoal dos trabalhado-res da região do Vale do Ave, que, à época, tinham qualificações baixíssimas.

Encontro – No período em questão, de que forma se apresentava um professor numa aula? Que relação estabelecia com os seus alunos?

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11Março de 2015

João Silva Pereira – Na nossa escola nunca hou-ve uma grande distância professor-aluno nem uma grande formalidade do trato. Mas havia um res-peito muito grande que se impunha com natura-lidade. Convém sublinhar que esta escola sempre teve grandes professores. Estou a lembrar-me de alguns já falecidos: o Dr. José Craveiro, o Dr. Hélio Osvaldo Alves, o Dr. San-tos Simões, o Dr. Álvaro Cohen, e tantos outros.

Encontro – De 1993 a 1996, teve um papel re-levante na estruturação do Centro de Formação Francisco de Holanda e, por consequência, na for-mação contínua de pro-fessores. Neste âmbito, quer destacar as suas ini-ciativas?

João Silva Pereira – Como era eu o diretor e o cen-tro de formação estava a ser criado do zero, o meu papel principal foi o de organizar a estrutura de formação, que era ainda uma novidade. Come-çamos por perceber as necessidades de forma-ção dos professores das escolas associadas (havia cerca de 1000 professores nessas escolas) e organi-zar as ações de formação mais adequadas às suas expectativas, nas moda-lidades mais inovadoras. Na altura, investimos, sobretudo, nas oficinas de formação, em que, tal como o próprio nome in-dica, os professores eram agentes do seu próprio processo formativo, fican-do o papel do formador limitado a uma função facilitadora da aprendiza-gem e não propriamente transmissora de conhe-cimentos. Na minha opi-nião, esta modalidade de formação é, claramente a melhor, uma vez que um professor não é um alu-no, ainda que necessite de estar em permanente formação e de ser orien-tado nessa formação. Por exemplo, na época, es-tavam a ser introduzidas na escola novas tecnolo-gias e os professores não sabiam que uso dar-lhes dentro da sala de aula. De facto, precisavam de aju-da, de quem os ensinasse, manuseando esses instru-mentos inovadores, mas

não de alguém que lhes explicasse a teoria.

Como sentimos a necessi-dade de divulgar as ativi-dades que realizávamos, criamos um boletim cha-mado ELO, que foi evo-luindo até à atual revista com projeção internacio-nal.

Para além disso, criamos o seminário, que também se mantém, com caráter anual, que trazia ao cen-tro de formação especia-listas em educação, que auxiliavam no debate dos temas mais atuais. O se-minário sempre teve uma grande procura: primeira-mente, ocupava várias sa-las aqui da escola, mas foi sucessivamente toman-do espaços mais amplos. Tudo isto graças à dinâmi-ca da comissão pedagógi-ca do centro de formação que era excecional.

Dois projetos que se man-tiveram até aos dias de hoje, sinal de que os co-legas que se seguiram no centro de formação consi-deraram que valia a pena continuá-los.

Encontro - Como era a re-lação dos professores face aos modelos de formação que se foram impondo? Reativa ou proativa?

João Silva Pereira – Como sempre, havia de tudo, é natural. Mas a esmaga-dora maioria era proativa e, no geral, gostavam de melhoras as suas capaci-dades e, por isso, as ações de formação, na época, eram muito procuradas. Sublinho que, nas ações de formação mais inova-doras, havia professores em lista de espera para a eventualidade de alguém desistir e os critérios de seleção dos professores para essas ações eram muito exigentes.

A nossa preocupação era sempre a de criar ações de formação em que eles fossem os principais agentes dessa ação, isto é, em que eles fossem proativos.

Encontro - Destacou-se como impulsionador da instalação das novas tec-nologias na Escola Fran-cisco de Holanda, donde advieram significativos proveitos, em termos da modernização adminis-

trativa e pedagógica da Escola. Acha que os pro-fessores, hoje, exploram de forma eficaz essas no-vas ferramentas para be-nefício do processo de en-sino e de aprendizagem?

João Silva Pereira – Sem-pre houve e haverá pro-fessores mais propensos à utilização das novas tecnologias (não apenas as TIC) na educação. A minha resposta à vossa pergunta é afirmativa, embora entenda que ain-da há muita margem de progressão. De notar que, embora o professor tenha esses recursos à disposi-ção, não deve, contudo, ficar dependente deles.

O que está a faltar, do meu ponto de vista, é uma plataforma de apoio à aprendizagem, que per-

mita prolongar as aulas para além da escola, pro-movendo a partilha e o trabalho colaborativo. Por exemplo, se um aluno qui-ser continuar a debater um dado tema, ele pode fazê-lo através da plata-forma de auxílio ao en-sino, comunicando com professores e/ou outros colegas, ou, ainda, sendo direcionado para pesqui-sas complementares, o que é muito positivo. Mas também aí tem de haver moderação; a utilização destes recursos não pode ser obsessiva.

Encontro – De 2001 a 2003 voltou a exercer as funções de Presidente do Conselho Diretivo da Escola. Encontrou uma escola totalmente trans-formada ou estava quase

tudo igual, na generali-dade? E relativamente ao Ensino Profissional, houve evolução. Parece que houve, em determi-nado momento, uns Cur-sos Tecnológicos. Tinham qualidade esses cursos? Se sim, por que razão aca-baram com eles?

João Silva Pereira – Os cursos tecnológicos ti-nham qualidade e a ver-dade é que tivemos alu-nos nesses cursos que hoje são quadros muito qualificados em empresas nacionais e multinacio-nais. No entanto, estes cursos tinham um proble-ma muito grande: a taxa de insucesso era muito elevada. A sua substitui-ção por cursos profissio-nais, que funcionavam em escolas profissionais com muito sucesso, pre-

tendeu aproveitar os fun-dos comunitários dispo-níveis para a formação. Além disso, como adora-vam uma estrutura orga-nizativa do currículo e o modelo de avaliação era diferente, os decisores políticos entenderam que eram mais adequados às necessidades dos jovens que desejavam apenas concluir o 12º ano.

Encontro – Na sua ótica, é preferível o ensino da atualidade ou o ensino de 1981?

João Silva Pereira – Eu prefiro, sem hesitação, o ensino da atualidade. Hoje os recursos e as condições de trabalho são melhores e tanto os professores como

os alunos estão melhor preparados.

Encontro – Permita-me a seguinte questão: sentiu--se realizado como Pre-sidente do Conselho Di-retivo e, agora, sente-se realizado no exercício da docência?

João Silva Pereira – Sem dúvida, o que mais gosto é de lidar com alunos e participar no seu proces-so formativo. Considero isso bastante gratificante. Porém, também gostei de trabalhar com muitos colegas na direção da es-cola.

Encontro – Há episódios que queira destacar? E obras ou grandes iniciati-vas?

João Silva Pereira – Devo

admitir que as obras de reformulação do espaço físico da escola beneficia-ram-na. A escola é hoje mais airosa, mais moder-na, tem um aspeto mais agradável e há melhores condições de trabalho. Queria, ainda, destacar a elevadíssima qualidade dos recursos humanos desta escola, sejam eles alunos, pais, funcionários ou professores.

Encontro – Só para termi-nar, mais uma pergunta. Que relevância tem este jornal para si? Já existia, quando foi Presidente do Conselho Diretivo de 2001 a 2003? Não terá sido neste seu mandato que este jornal recebeu grandes prémios no âmbi-to de concursos nacionais

de jornais escolares?

João Silva Pereira – Este jornal já existia em 2001, mas precisava de ser engrandecido para conseguir corresponder à nossa comunidade educativa. Felizmente, o jornal que começou por ser apenas uma folha policopiada, fotocópias, cresceu e passou a ser um jornal com um pro-jeto de divulgação, com objetivos, uma equipa redatorial, uma equipa de maquetagem, enfim, um jornal escolar muito acima daquilo que eram os outros, na época e ainda hoje.

Foi e é graças ao empe-nho de alguns docentes e muitos alunos que o jornal ganhou e conti-nua a ganhar prémios nos concursos a que se submete.

Queria destacar que o enorme prestígio con-quistado pelo jornal se deveu e deve à ávida participação dos alunos e dos docentes na sua edificação, o que, na minha opinião, é fan-tástico e é aquilo que faz com que o jornal se mantenha.

De facto, o vosso jornal é um projeto pedagógi-co extraordinário, des-de logo porque coloca alunos a fazer um tipo de trabalho que não es-tão habituados a reali-zar e não teriam a opor-tunidade de fazer, mas com o qual aprendem imenso.

É ainda importante dizer que nada seria possível sem as fortes equipas de liderança do jornal, que foram mudando, mas que sempre foram empe-nhadas e que sempre apostaram no envolvi-mento dos alunos na organização do jornal.

Analisando a qualida-de dos últimos números que foram produzidos, as expectativas man-têm-se elevadíssimas.

Encontro – Muito obriga-do, senhor engenheiro, pelo seu valioso testemu-nho.

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ENCONTRO DE GERAÇÕES- Um dia especial12 Março de 2015

No dia 14 de janeiro (foi há 130 anos a primeira aula), os antigos alunos da Escola Industrial e Co-mercial de Guimarães-Es-cola Secundária Francis-co de Holanda vieram dar aos atuais alunos o seu testemunho de estudan-tes. Foram convidados antigos alunos de várias gerações, desde a déca-da de 40 do século XX até aos de 2011-2012. Encon-tro pediu o testemunho escrito aos convidados. Recolhemos os testemu-nhos de Abílio Fernandes Lemos (anos 1950/1960), de António Magalhães (década de 70) e de José Diogo Silva que foi aluno desta escola, já no século XXI.

Testemunho de Abílio Fernandes Lemos

Recebi o convite da Drª Helena Oliveira, para dar o meu testemunho da passagem que tive por esta Escola que no meu tempo se chamava Escola Industrial e Comercial de Guimarães e agora se cha-ma ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO DE HOLAN-DA, a propósito da come-moração dos 130 anos do seu aniversário, que se realizou no passado dia 14/01/2015.

Foi-me pedido que con-tasse histórias da minha vida escolar, experiên-cias boas ou menos boas, episódios engraçados e sobretudo o valor que a Escola me retribuiu por ter frequentado um curso (Geral do Comércio) que estava vocacionado para o mundo do trabalho.

Pois bem, aconteceu que a minha intervenção foi dirigida a duas turmas: uma foi do 12º ano (12

CT8) e outra do 10º ano (10 CT4).

Comecei por lhes contar um episódio que conside-rei muito engraçado, que foi o seguinte: Enquanto estudei, fiz parte como ator de um grupo de tea-tro que existia na escola. O meu papel era de uma pessoa idosa, bastante forte, e que era o pai da personagem principal. Como eu era muito ma-gro, o Professor encar-regado da maquilhagem (Professor Craveiro), de-pois de me colocar traves-seiros em volta do meu corpo e de me maquilhar devidamente, disse-me “estás pronto”. Logo de seguida, foi procurar um

grande espelho para ver a minha figura e não é que fiquei muito assustado, pois não me reconheci, tal foram as transforma-ções que me fizeram.

Depois, contei-lhes a his-tória da minha vida de es-tudante.

Comecei por dizer-lhes que meus pais não tinha possibilidades para me pôr a estudar, dado que a minha família era bas-tante pobre, mas depois de muita de insistência, consegui que me matri-culassem. Infelizmente só consegui andar um ano e, embora tenha passado de

ano, tive que sair por falta de meios.

Fui trabalhar, tinha ape-nas 12 anos. Como queria mesmo estudar, vim ma-

tricular-me na Escola da noite, mas não me acei-taram a minha matrícula porque não tinha 14 anos. Tive que esperar cerca de dois anos para poder matricular-me como estu-dante-trabalhador. O fac-to de a matrícula ter sido feita por minha iniciati-va foi muito importante para mim. Não tinha que dar satisfação a ninguém senão a mim mesmo e, portanto, estudei porque

queria aprender. É evi-dente que os frutos vie-ram mais tarde, pois tive muita mais facilidade em me empregar naquilo que gostava e que era ser em-

pregado de escritório.

Infelizmente, tive um in-tervalo de quatro anos com o Serviço Militar e quando de lá regressei, não tive dificuldade ne-nhuma em arranjar em-prego, pois tinha o aval de ter sido aluno deste esta-belecimento de ensino, que à epoca era o melhor que havia para colocar as pessoas no mercado de trabalho.

A vida correu-me sempre dentro das minhas expec-tativas e como sempre gostei daquilo que fazia, fui progredindo na minha profissão.

Agora sou reformado e levo uma vida tranquila.

Para terminar, queria dizer-vos simplesmen-te uma coisa: se eu não tivesse insistido comigo mesmo não teria tido a vida que sempre quis.

Por isso vos digo: estudar é o melhor investimento que cada um pode fazer por si mesmo. Notem uma coisa muito impor-tante, se vocês não olha-rem por vocês mesmos, mais ninguém mais o irá fazer. Nem os vossos pais que vos querem bem vos dão tudo. Lembrem-se que eles não vão durar para sempre. Mais tarde ou mais cedo eles não irão poder ajudar-vos. Por isso, se querem ser alguém, estudem. Não tenham medo da crise, pois a crise mais cedo ou mais tarde, mais ano me-nos ano, vai passar, e os que tiverem melhores ha-bilitações vão ser aqueles que mais facilidade irão ter para obterem um bom emprego.

Termino, agradecendo a atenção que me dispen-saram ao mesmo tempo que espero que tenham muito êxito na vida. Felicidades para todos.

Parabéns a todos os que colaboram nesta iniciati-va. Seria bom que even-tos como estes, ainda que com outros intervenien-tes, deveriam ser feitos,

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ENCONTRO DE GERAÇÕES- Um dia especial

13Março de 2015

pelo menos uma vez por ano.

Obrigado a todos pelos momentos que me pro-porcionaram e bem ha-jam.

Abílio Fernandes Lemos, antigo aluno ESFH

Testemunho de António Magalhães

Era Abril de 1974, sexta--feira, dia 26

Lanço o meu olhar até onde a memória me per-mite reconstruir aquele dia em que tudo se ino-vou, desconhecendo, en-tão, o quanto nos iria con-duzir a novos caminhos a notícia que, alvoroçada-mente, ia chegando na-quele final de manhã.

Julgava ser mais um dia como tantos outros. Igual na previsibilidade aos que já se tinham corrido, nes-se ambicionado caminhar para o ano final que mar-caria a saída do tempo de estudante da Escola Industrial e Comercial de Guimarães e a entrada no mundo de trabalho. Esta-va-se em finais de Abril e, tanto quanto a lembrança me deixa regressar, o dia apresentava-se cinzento com nuvens altas a impe-dir a entrada do sol. Era uma quinta feira. Não que a memória seja tão mag-nânima que me favoreça

com a perfeita noção do tempo a quase quarenta e um anos de distância. Não. Tenho-o bem pre-sente porque a grande descoberta seria na ma-nhã seguinte, sexta-feira, dia da feira semanal. Na-quele espaço aberto, se-guinte à escola, onde, a partir da balaustrada do recreio masculino podía-mos acompanhar a dança dos compradores entre as diferentes tendas, ouvir os pregões dos vendedo-res de banha da cobra, remédio eficaz para qual-quer maleita, ou, aquele que era, talvez, o mais atrevido anúncio desses tempos. Louvavam-se as moderníssimas pro-priedades elásticas das “meias de vidro” que en-tão moldavam as pernas de jovens, e de algumas não tão jovens, mulhe-res. “Comprem meninas! Comprem! A moderna meia Baiona que chega da ponta do pé até à pon-ta da… Comprem, meni-nas! Comprem!», gritava o tendeiro, procurando forçar a venda.

Porém, nessa final sexta--feira de Abril de 1974, os pregões seriam outros, as curas que se anunciavam seriam rapidamente aba-fadas pelos gritos dos que exigiam, sem muito bem se saber quê, e o regatear do melhor preço seria ra-pidamente ultrapassado

pela reivindicação do que sempre fora negado.

Contudo, era ainda quin-ta-feira da data que até hoje se mantém como dia único.

A meio da manhã, colegas mais informados falavam já de algo de muito rele-vante que poderia estar a acontecer lá por Lisboa, a cidade onde tudo se decidia, mesmo nos dias das mais conservadoras rotinas. “Golpe de Esta-do”, sussurravam uns;

“revolução”, proclama-vam outros. Perigo, calava eu, nessa minha precoce alergia a fardas e vozes de comando, ao saber que teriam sido militares a dar o primeiro passo.

Após o almoço no refei-tório da escola, desisti da habitual caminhada pelas ruas da cidade e deixei--me ficar pelo Toural, es-cutando aqui e além as informações que saíam do auto rádio de taxista mais destemido. E procu-rava compreender o que

então se dizia.

Na minha incipiente for-mação política, a ima-gem de militares na rua conduzia-me até à Grécia dos coronéis ou ao então recente Chile de Pino-chet. À tarde, numa aula de Economia, abordou-se o que se estaria a passar pela “capital do Império” e, um pouco a medo, re-solvi botar figura de en-tendido, manifestando a minha convicção de o país poder resvalar para uma ditadura. Mais a mais, mi-litar! A reação do docente confundiu-me. Não pelo tom desabrido com que me respondeu, já que, em boa verdade, não era pro-priamente um modelo de afabilidade, mas pelo que disse. “Uma ditadura? Mas o que o país vive não é uma ditadura? Cale-se porque você não sabe o que está a dizer!”

Mais que a humilhação da pública descompostura, marcou-me a confusão em que mergulhei, num conjunto de perguntas para as quais julgava ter respostas seguras. Vivia--se uma ditadura em Por-tugal? Mas o ano anterior não tinha sido de intensa atividade política? A opo-sição democrática não tinha reunido em Aveiro, em Abril? Não houvera eleições em Outubro? Nesses dias, o adolescen-te criado no seio de uma

família humilde, temen-te a Deus e obediente ao “Governo da Nação”, não conseguia perceber como o Dr. R… podia afirmar que Portugal era uma di-tadura. Os próximos tem-pos iriam aclarar tama-nhas dúvidas.

À noite, em casa, o velho rádio de pilhas mais uma vez foi o meu companheiro das primeiras horas sem sono. Esqueci a Onda Curta por onde geralmente viajava na procura de outros sons e vozes que não o cinzentismo emproado que marcava por esse tempo as ondas lusas. Na época, o aparelho de televisão estava ainda reservado a escassas famílias e, numa casa onde todos os tostões eram minuciosamente contados, nem se pensava em semelhante luxo. Assim, nessa noite, foi através da rádio que pude acompanhar as últimas novidades que chegavam de Lisboa.

Na manhã seguinte, ape-sar das rígidas normas que marcavam o dia-a--dia da escola, notava-se já um ambiente algo dife-rente, num misto de ten-são e vontade de infringir. Uma ou outra voz mais in-formada, ou que se fazia reconhecer em tal estatu-to, dizia que no Liceu não

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ENCONTRO DE GERAÇÕES- Um dia especial14 Março de 2015

haveria aulas e que os alunos iriam realizar uma manifestação. Apesar de tudo, à hora marcada, o soar da campainha mar-cou a entrada nas salas de aula, interrompendo con-versas e planos dos mais arrojados. Por escassas horas.

A meio da manhã, um enorme alarido vindo do espaço fronteiro à entra-da da escola, nessa época partilhado pelo quartel dos Bombeiros da cidade, lançou o alvoroço entre os alunos. A princípio não se percebia muito bem o que se passava mas, ra-pidamente, os mais ex-peditos em cada turma traduziram o brado que chegava da rua e desafia-vam os colegas a sair da sala e engrossar o coro de

vozes que não cessava de aumentar.

Passados os instantes ini-ciais de alguma apreen-são, e seguindo o exemplo dos mais audazes, as salas esvaziaram-se e também os alunos da “Escola In-dustrial” vieram para a rua dar vivas à liberdade e gritar a sua adesão ao MFA!

Eu mantive-me fora de confusões e procurei um lugar de onde pudesse assistir a tudo. Já nessa época tinha alguma resis-tência a “movimentos de massas” e, acima de tudo, como me iria justificar lá em casa se a “coisa desse para o torto”?

A balaustrada que dava para o recinto da feira

semanal pareceu-me a melhor posição e foi daí que assisti ao engrossar da manifestação, às vozes de comando, um pouco descomandadas, diga-se em abono da verdade, dos que assumiam a li-derança. Todavia, o que mais me marcou foi o que de repente aconteceu na feira. Quando o barulho das palavras de ordem se tornou mais forte e orga-nizado, o movimento de feirantes e compradores como que congelou. A feira emudeceu. O que se seguiu foi uma espécie de antecâmara da tempesta-de.

Como que por divina im-posição, calaram-se os pregões, interrompeu-se

o regateio do melhor pre-ço, silenciaram-se as con-versa de ocasião. Ainda hoje, tantos anos passa-dos, tenho bem presente aquele silêncio inespera-do. Durou breves instan-tes. Apenas os suficientes para cada um antever um perigo iminente e, rapida-mente, ganhar o caminho que o levasse dali para fora numa confusão de passos apressados.

Era Abril de 1974, sexta--feira, dia 26. E hoje, ape-lando à benevolência da minha memória, tantas vezes cruel adulteradora do que julgo ter presen-ciado e que, pelo contí-nuo rememorar do pas-sado, reconstrói, e por vezes ficciona, espaços,

tempos e gentes que re-clamo como reais, faço--me recuar até esse dia e aqui deixo a pública parti-lha de um tempo em que também me cresci.

Era Abril de 1974, sexta--feira, dia 26. O dia se-guinte ao que tudo fez mudar.

António Magalhães, aluno do Curso Geral de Administração e Comér-

cio nos anos letivos de 1971 a 1974.

Testemunho de José Diogo Silva

EU SOU DO TEMPO

Eu sou do tempo em que existia apenas um átrio

para os alunos. Eu sou do tempo em que a dona Dores não nos deixava falar na biblioteca. Eu sou do tempo em que a Dona Celeste nos servia o almoço com todo o amor na cantina. Eu sou do tempo em que o professor Filipe andava de um lado para o outro. Eu sou do tempo em que o senhor Ribeiro não nos deixava fumar. Eu sou do tempo em que o senhor Pinto nos berrava sempre por causa das fotocópias. Eu sou do tempo da Rosinha e do senhor Sebastião. Eu sou do tempo em que tudo fazia parte do meu tempo.

Não, não sou do vosso tempo. Não, não pertenço

a estas paredes. E não, não me sinto especial por isso. Sinto-me especial por ter feito parte desta escola. Escola essa onde professores eram amigos, e funcionários eram da família. Escola que simplesmente não era uma escola.

Tive a oportunidade de visitar as novas instalações da escola e noto que, para mim, e de mim tem muito pouco.

São velhas as memórias que permanecem. São velhas essas paredes agora pintadas de branco. São velhos os caminhos que definem a organização do novo

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ENCONTRO DE GERAÇÕES- Um dia especial15Março de 2015

UM ENCONTRO MUITO ESPECIAL

No dia catorze de janeiro, antigos alunos da Esco-la Francisco de Holanda reentraram nas salas de aula e tornaram-se eles,

desta vez, os professores. A partilha das suas histó-rias de estudantes - lições de vida sempre bem-vin-das - conseguiram cativar os alunos a ouvir, o que estas pessoas de cabelos brancos - cada ruga, cada ano - contavam.

As memórias foram in-vocadas com carinho e nostalgia: a Mocidade Portuguesa e os valores que propagava; os muitos casamentos resultantes de namoricos entre os rapazes e raparigas que cá estudaram há sete décadas, apesar da ine-xistência de contacto en-tre ambos; as condições rudimentares, propícias a um frio congelante de qualquer movimento; a

época em que a nossa es-cola pública, não passava de uma “tentativa de edu-car os pobres”. A Escola Francisco de Holanda, foi, no passado, identifica-dora de estatuto, por ser acessível a todos, mesmo

àqueles com poucas pos-ses, e por isso mal vista. Daí os pais ameaçarem os filhos: em caso de não obterem bons resultados, seriam transferidos para esta escola.

No entanto, esta perspe-tiva rapidamente mudou, pois a escola provou aqui-lo de que era capaz. Com um corpo docente genial, integrado por professores e artistas reconhecidos em todo o mundo, como António de Azevedo e Adelino Ângelo, entre ou-tros.

A Escola Francisco de Ho-landa alcançou uma gran-de reputação. Os alunos facilmente perceberam que a “Chico” não era cer-

tamente um castigo.

Estes professores de 30 minutos ensinam! Ensi-nam que “o conhecimen-to não pesa na cabeça”; que as condições de tra-balho não transmitem os

resultados; que devemos ter um e um só medo: não de agir, não de reagir, mas da vinda de um dia em que sintamos medo.

No fim destas conversas inspiradoras e realistas, depois de ouvirmos con-vidados bem sucedidos, que recordam a Esco-la Francisco de Holanda como um importante degrau na enormíssima escada das suas vidas e personalidades, decidin-do apostar e usufruir do gosto do saber, eles pe-dem-nos algo. Pedem-nos com sinceridade:

— Por favor, nunca digais que uma aula é uma seca!

Bárbara Peixoto, 11AV1

estabelecimento. São velhas as pessoas que lá caminham. Mas como velhos são os trapos, tudo isto são apenas memórias e pensamentos passados.

Durante quatro anos da minha vida vivi dentro destas quatro paredes. Não viver como se vive a vida, mas viver como se vive o mundo. Aí, ou ali, aprendi a ser quem sou. Não a nível profissional, mas a nível pessoal. Dentro da Francisco de Holanda aprendi a ser pessoa, não aluno. Aprendi a respeitar, não

a obedecer. Aprendi, não decorei. Portanto, escola não é bem o nome que lhe queria dar, mas é com esse nome que eu caminho para sempre. Escola da vida nunca foi porque eu já antes tinha vida. Escola da minha vida também não porque foram apenas quatro anos. Foi escola de mim próprio. Escola da educação, do respeito e do amor. Amor à arte, à música, ao pensamento. Amor ao ensino que era transmitido pelos

professores. Amor ao trabalho que nos era demonstrado pelos funcionários. Amor ao estabelecimento que nos era reconhecido pelos alunos.

Portanto, colegas de paredes, sejamos apenas colegas. Colegas de paredes e de livros. Nunca seremos amigos de uma escola porque a minha era bem diferente da vossa. Peço desculpa mas não era de todo melhor que a vossa, mas era minha, era dos meus amigos e dos meus professores. Criem

a vossa escola, façam dela vossa e dos vossos. Podem, agora não ter carros onde se encostar para namorar, mas têm auxílio tecnológico que vos permite namorar a escola e o ensino. De ensino pouco tive, porque foi com os erros que aprendi. Aprendi a ser eu, a ser humano, e ser sobretudo aluno de uma vida que, para sempre, me irá acompanhar. Aluno de uma escola que me permitiu ser quem

sou. A todos vós, desejo grande força e grande vontade de caminhar nesses corredores. Aos professores e funcionários, o meu obrigado. Não só por mim mas por todos aqueles que vocês criaram e que hoje são quem são, porque tiveram o privilégio de conhecer e de aprender com quem mais gosta de nós.

Obrigado Francisco de Holanda. Caminho hoje por trilhos que nesta escola eram apenas o nosso dia-a-dia. O sucesso

faz parte desta estrutura, não da que caiu, mas sim daquela que ainda se mantem em pé. E essa, meus amigos, nunca irá cair porque a parte humana permanecerá para sempre dentro dessas quatro paredes, por muito que as deitem a baixo.

José Diogo Silva, antigo aluno da ESFH

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Como era andar na escola em 1944/45?

Eva Faria, 12CT6

Neste ano letivo, a esco-la celebra os 130 anos de existência. Em 1944/45 celebraria 60 anos. Não sabemos se houve festa para celebrar a efeméri-de. Sabemos, no entanto, que em Portugal e na Eu-ropa se viveram tempos difíceis. Apesar de Portu-gal ter escapado a uma intervenção direta nas operações da Segunda Grande Guerra Mundial, dado o seu estatuto de país neutral, o povo por-tuguês sofreu bem na pele uma das terríveis conse-quências de seis anos de guerra à escala mundial: a fome. Tal como nos países beligerantes, em Portu-gal, houve um progres-sivo racionamento dos alimentos que se esgota-vam num abrir e fechar de olhos. Formavam-se filas enormes para obter as se-nhas de racionamento do açúcar, do arroz, do baca-lhau, das massas, do sa-bão, do azeite, dos óleos alimentares, do leite, da manteiga, do café, do ca-cau, do grão, dos cereais e das farinhas, assim como do pão (reduzido o bran-co a 180 gramas por dia e por pessoa ou, em alter-nativa, o escuro a 290) e até as batatas viriam a ser condicionadas a meio qui-lo por semana e por pes-soa. É certo que a guerra termina em 1945. No dia 8 de maio deste mesmo ano, perante a notícia da rendição alemã, milhares de pessoas saíram para rua. Nas grandes cidades e na província, cantou-se a vitória dos aliados. Em Lisboa, a multidão percor-reu a Baixa e concentrou--se frente às embaixadas aliadas. Os germanófilos desapareceram, sorratei-ramente. Pela noite den-tro, tocou-se e cantou-se a Marselhesa (hino de França) e a Portuguesa (Hino de Portugal). Hou-ve quem se atrevesse a vitoriar a URSS e, por isso, foi preso. No dia seguinte, tudo foi proibi-do: as manifestações, a exibição de bandeiras e

os vivas à liberdade e às Nações Unidas. Tudo vol-tou à normalidade que o regime ditatorial de António Oliveira Salazar impunha. O povo voltou para as filas do raciona-mento dos bens alimen-tares que se prolongou para lá da guerra, às ve-zes mais agravado, como para o pão. Enganava-se a fome, ouvindo o Fado, que ganhara estatuto de canção nacional, na Tele-fonia, isto é, na Rádio que conhecera francos pro-gressos durante a guerra. Num país assim, como seria andar na escola? En-contro ouviu o testemu-nho de Lucília de Castro Silva Guimarães, que fre-quentou a escola nesses tempos difíceis.

Encontro – Frequentou a Escola Comercial e In-dustrial de Guimarães (atual Escola Secundária Francisco de Holanda) em tempos bastante difíceis (de 1946 a 1952), pois ti-nha terminado há pouco a Segunda Grande Guer-ra Mundial. Pode dar-nos uma ideia das dificulda-des que sentiu ou obser-vou?

Dona Lucília – Naque-le tempo e exatamente porque foi após ter ter-minado a Segunda Guer-ra Mundial, havia muitas dificuldades até porque nem todas as pessoas podiam estudar, devido a dificuldades económicas. Eu tive o prazer de o po-der fazer.

Encontro – Que cursos frequentou?

Dona Lucília – Frequentei o curso de desenhadora--bordadora em simultâ-neo com o curso geral de comércio, que conclui em 1949.

Encontro – Os cursos ti-nham muitas disciplinas?

Dona Lucília – Algumas. No curso geral de comér-cio tinha português, fran-cês, aritmética, contabili-dade, desenho, educação religiosa e ginástica. Em relação ao curso de dese-nhadora-bordadora tinha disciplinas em comum

com o outro curso.

Encontro – Tudo isso re-sultava em quantas horas de aulas por dia?

Dona Lucília – Eu entra-va na escola às 08:30 da manhã e tinha uma hora para almoçar. Da parte da tarde, entrava às 13:30, saía as 16:30 e depois vol-tava a ter aulas das 17:00 às 19:15. Todos os dias. No intervalo das 16:30 às 17:00 ainda andei com um explicador a tentar fa-zer o curso do liceu. Não cheguei a fazer esse curso porque apanhei o prin-cípio de uma anemia e o médico aconselhou-me que deixasse pelo menos esse curso para descansar um pouco. Posso também dizer que frequentava o “curso do namoro”, que ainda me sobrava tempo para namorar (risos).

Encontro – Com que ida-de concluiu os cursos que frequentou?

Dona Lucília – Com 15 anos conclui o curso geral de comércio e saía com capacidade e competên-cia para tomar conta da contabilidade de uma fir-ma de grupo A. Quanto ao curso de desenhadora – bordadora, terminei-o com 19 anos.

Encontro – Podia dar-nos mais informações sobre o curso de desenhadora – bordadora? O que apren-deu nesse curso foi-lhe útil para a vida?

Dona Lucília – Sem dúvi-da que sim. Aliás, o meu enxoval foi todo feito por mim, empregando os co-nhecimentos que aprendi na escola. Fiz um enxoval de “menina rica”. Levei cinquenta lençóis e vin-te eram bordados. Levei também toalhas de chá, aventais… Tudo feito por mim. Parecendo que não, também obtive conheci-mentos mais ou menos elementares que me le-varam, depois a outros conhecimentos e que me serviu muito para a vida futura. Porque eu sou au-todidata num campo que é quase impensável, mas a verdade é que sou por-

que tenho a carteira pro-fissional.

Encontro – Podemos sa-ber qual é?

Dona Lucília – Aos 40 anos estudei, sem ir à Universidade e tenho a carteira profissional de ajudante técnica de far-mácia. Mas, foi muito complicado porque exerci a atividade de farmacêu-tica como diretora técnica de farmácia numa terra em que não havia sequer um médico. E eu fui mé-dica, fui farmacêutica, fui enfermeira, fui parteira, fui tudo naquela terra. Em Moçambique. Fui para lá com 22 anos, solteira e oito dias depois estava casada com um namora-do que já conhecia de cá. Agora, com a experiência de vida que tenho, consi-dero que foi quase uma aventura inconsciente.

Encontro – Foram tempos difíceis?

Dona Lucília – Foram, sem dúvida. A adapta-ção foi muito dolorosa, na medida em que saí de Guimarães, onde tinha uma vida social com um certa intensidade devido aos meus pais que eram pessoas muitas respeita-das.

Encontro – E depois do 25 de Abril? Não sentiu que era o “fim do mundo”?

Dona Lucília – Para mim não foi. Eu e o meu mari-do não tivemos problema nenhum, pois nós tínha-mos uma forma muito especial de estar em Mo-çambique. Para nós, um negro era um ser huma-no. E sempre os tratamos com essa humanidade e criamos uma situação de respeito absoluto. Como se costuma dizer, com uma mão dava-se a re-preensão, quando eles erravam e com a outra dava-se aquilo que eles precisavam, quando eles

precisavam. Ainda hoje perguntam quando é que eu volto.

Encontro – Voltando aos seus tempos de escola, frequentou o curso de formação feminina?

Dona Lucília – Não. O curso de formação femi-nina tinha como objetivo formar boas mães e boas esposas. Embora também tivesse a componente do bordado, eu não frequen-tei esse curso. O ser boa mãe e boa dona de casa, foi adquirido na mocida-de portuguesa feminina. Devo muito da minha formação de caráter à esmerada educação que recebi do meu pai e da minha mãe complemen-tada com a educação que recebi na escola, através da mocidade portuguesa feminina, que eu frequen-tava aos sábados. É uma pena que tivesse deixado de existir, porque aí nós tínhamos as aulas de cos-

ENCONTRO DE GERAÇÕESTEMPOS DÍFICEIS

16 Março de 2015

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tura, de educação física e de formação de caráter. E, por acaso, com 19 anos fui aluna e professora em simultâneo porque a dele-gada da mocidade portu-guesa, que era professora de bordados, adoeceu e como eu já estava no fim do curso, ela pediu-me para eu dar essas aulas.

Encontro – No seu tem-po, não haveria muitas raparigas a estudar. Como eram as turmas? Mistas? Só rapazes? Só raparigas?

Dona Lucília – As turmas eram mistas. Exceto no curso de desenhadora--bordadora. Nesse caso, existia um curso equiva-lente para os rapazes que era o curso de debuxa-dores que servia para os preparar para a indústria têxtil que era muito abun-dante na altura. Até tenho uma fotografia dos alunos desse curso com o diretor da escola e o professor de debuxo em que os alu-nos estão vestidos com um fato de macaco, cujo pano foi tecido aqui nas oficinas da escola.

Encontro – Então quer di-zer que as pessoas que a escola formava saíam da-qui a saber trabalhar.

Dona Lucília – Sem dúvi-da nenhuma. Os bons alu-nos foram para as gran-des indústrias que havia em Guimarães e, poste-riormente, foram os che-fes das grandes fábricas

de Guimarães. Eu com-pararia os cursos daque-le tempo, embora com algumas limitações, a um curso universitário da atualidade. Aliás, a meu ver, o polo de Guimarães da Universidade do Mi-nho peca por não ter um curso de Engenharia Têx-til, dado que Guimarães é toda ela uma zona têxtil.

Encontro – Como era Gui-marães nessa época?

Dona Lucília – Era uma ci-dade pacata. Havia o tea-tro Jordão, havia cinema. Vi alguns filmes portugue-ses. Aliás o filho de Vasco Santana foi meu hóspede em Moçambique, porque as revistas que andavam aqui nos coliseus de Lis-boa e do Porto também iam à terra onde eu es-tava. E como não havia hotel, os artistas ficavam hospedados na casa dos particulares. Havia tam-bém concertos musicais na Sociedade Martins Sarmento e na Associa-ção Comercial. Grandes sopranos aqui vieram. Eu ia pela mão do meu pai assistir. Assim, comecei a frequentar esses círculos culturais.

Encontro – E já se faziam as festas Nicolinas com o cortejo do Pinheiro?

Dona Lucília – Claro que sim. E eu lá estava. Aliás, tenho o fato académico e, ainda hoje, quando há festas com espírito Nico-

lino, e se se justificar, eu visto o meu traje acadé-mico e vou.

Encontro – Conheceu a D. Aninhas?

Dona Lucília – Muito bem. Estive muitas vezes sentada à beira dela. Até tenho um álbum de foto-grafias exclusivamente do espírito Nicolino. Vivi a juventude de forma mui-to intensa, mas sempre apostando na cultura.

Encontro – Nessa época, havia um bom relaciona-mento entre professores e alunos? Quais os pro-fessores que mais a mar-caram?

Dona Lucília – Os profes-sores eram muito bons. Eu tinha um bom relacio-namento com os meus professores, de tal manei-

ra que, quando chegou a altura de me casar, quem fez o meu pedido de casa-mento foi um antigo pro-fessor de francês, Mário Menezes. E falo francês tão fluentemente como falo português. Até fui para Paris 9 ou 10 anos depois e não tive qual-quer problema. Na altura, o francês era como agora é o inglês. Por isso, agora, sou autodidata também em inglês.

Encontro – Quais os pro-fessores que mais a mar-caram?

Dona Lucília – Para além do professor Mário Me-nezes, foi a professora de bordados Filomena de Jesus Capela, o professor de Geografia Dr. Daniel, que veio a ser diretor da escola.

Encontro – Quem era o diretor na altura?

Dona Lucília – Era o es-cultor António Azevedo. Recentemente a Câmara fez-lhe uma homenagem vergonhosa. Para o gran-de homem que ele foi e a obra que ele deixou em Guimarães, merecia uma grande homenagem. É es-candaloso. Está num sítio onde ninguém passa. Uma placa, com o seu retrato e uns pequenos dizeres. Ti-nha mais dignidade não terem feito nada do que terem feito isto. É um in-sulto. Ele merecia que lhe tivessem feito uma ho-menagem à altura do ho-mem que ele foi. E nunca lha fizeram por uma razão muito simples: ele era um antissalazarista. E ainda permanece na mente de muitos que quem foi a fa-vor e contra o Salazar está na lista dos indesejáveis. A começar por mim, por-que eu vivi no tempo de Salazar e digo com toda a honestidade: tinha coisas que eram inadmissíveis, sem dúvida nenhuma. Mas tinha outras que eram muito boas e que estão a fazer falta agora. Por exemplo, a educação e o respeito de uns pelos outros.

Encontro – Como era a escola em 1946? Que edi-fícios tinha?

Dona Lucília – O edifício era o mais rudimentar que se pode imaginar. O piso era de cimento, as salas eram de um des-conforto impressionante. Naquele tempo não havia botas impermeáveis, não havia gabardinas, na es-cola não havia vestiários, não havia aquecimento,

não havia ginásio, não havia recreios… Era um desconforto total. E tira-vam-se boas notas. Os jo-vens, hoje em dia, devem aproveitar aquilo que lhes dão. No nosso tempo não havia nada disto. Lembro--me de uma vez que o frio era tanto que gelaram-me os pés e as mãos e eu que-ria pegar numa caneta e não conseguia. O diretor mandou-me para casa.

Encontro – Como é que os jovens ocupavam os tempos livres, se não ha-via televisão, muito me-nos internet?

Dona Lucília – Bem como já disse, eu costumava ir ao teatro, ao cinema, aos concertos. Sempre procu-rei muito a cultura. Hoje em dia, os jovens têm outras ocupações, como o desporto ou as artes plásticas. Mas também é preciso complemen-tar isso com a formação de caráter. Não é só o profissional que está em causa para o vosso futu-ro. É a vossa formação de caráter e isso é fácil de adquirir, basta que quei-ram. E agora vou provocar um pouco a juventude: aproximai-vos dos mais velhos porque eles têm muito para vos ensinar e querem aprender muito convosco. Porque temos de ter esta troca de ex-periências e conhecimen-tos. Por exemplo, eu hoje sinto-me uma analfabeta: falo três línguas, sei fazer contas sem usar uma cal-culadora, sei a tabuada de princípio ao fim, mas não sei trabalhar com um computador. Portanto, eu poderei ensinar-vos a ta-buada, mas preciso que me ensinem a trabalhar com um computador. Nós temos de tomar consciên-cia de uma coisa: cada um de nós tem o seu próprio valor. É preciso é saber empregá-lo e desenvolvê--lo… e não gastar a nossa inteligência com coisas fúteis, sem interesse e que não possam repre-sentar a valorização do que está à nossa frente. E assim termino com um pensamento meu: “apro-veitai o tempo, porque já começa a ser demasiado tarde para ser cedo”.

Encontro - Muito obriga-do, Dona Lucília, pelo seu valioso contributo e com-preensão.

17Março de 2015

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No ano letivo de 1954/1955 a Escola In-dustrial e Comercial de Guimarães, atual escola Secundária Francisco de Holanda teria o direito de fazer a festa dos seus 70 anos de existência. Não sabemos se o fez. Como seria a Escola? E como seria a vida das pessoas? Nesse tempo, persistiam as dificuldades da déca-da anterior. A fome era o terrível flagelo do povo português, pois segundo a Organização para a Ali-mentação e a Agricultura das Nações Unidas, cada português vivia em média com 2400 calorias diárias, menos 100 que o mínimo considerado indispensá-vel para a sobrevivência. Ora esta subnutrição era uma das causas da ele-vada taxa de mortalidade infantil e da persistência da tuberculose, sobre-tudo no Norte. Perante esta situação, o chefe do governo António Salazar, empenhava-se mais em calar, eliminar os oposi-tores ao seu regime di-tatorial, que não admitia partidos políticos e sindi-catos livres, do que tomar medidas para dar outro rumo ao país, no plano económico e social. Aliás, agarrado a um bucólico idealismo que primava pela consagração de uma agricultura de subsistên-cia, tornava-se evidente que resistia à industriali-zação do país e defendia «A agricultura, pela sua maior estabilidade, pelo seu enraizamento natu-ral no solo e mais estreita ligação com a produção de alimentos, constitui a garantia por excelência da própria vida, e, devi-do à formação que impri-me nas almas, manancial inesgotável de forças de resistência social», - de-claração do chefe do Es-tado Novo numa confe-rência em 1953. Para ele, seguir o desenvolvimento do pós guerra que se ve-rificava na Alemanha e na França era quase um sacrilégio, a ponto de em 1958, num comício po-lítico declarar «Por mim preferia ir um pouco mais lentamente no âmbito de

uma vida modesta que sujeitar o país a novas formas de colonização es-trangeira.». Tal vida mo-desta ia mantendo o país no imobilismo, na estag-nação. Apesar desta polí-tica antissocial, em janei-ro de 1954 o Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde), destino de muitos presos políticos, foi encerrado e a 14 de dezembro de 1955 Por-tugal torna-se membro de pleno direito da ONU. Mas a repressão nos cam-pos e nas ruas continuou. No ano 1954, o bispo da Beira (Moçambique), em carta pastoral, condenava os abusos sobre traba-lhadores africanos. A 19 de maio de 1954, Catari-na Eufémia, camponesa alentejana, é assassinada pela GNR, numa manifes-

tação de trabalhadores agrícolas. A comediante Laura Alves tornava-se es-trela no Teatro de Revista. O fado-canção triunfava com Amália Rodrigues, os quatro grandes clubes de futebol (Benfica, Bele-nenses, Porto e Sporting) iam alegrando os seus adeptos e inauguraram os seus novos estádios, a Fátima acorriam cada vez mais peregrinos. Portugal consolidou-se definitiva-mente como o país dos 4 Fs: Fado, Futebol, Fáti-ma, Fome. Nas escolas, à noite, davam-se cursos a adultos para, envergo-nhadamente, se comba-ter o analfabetismo. Pou-cos divertimentos havia.

A televisão só chegaria em 1958, ano em que, indignado, D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, em carta a Salazar, escreveria “Sinto ter de pensar que não estamos a caminhar a não ser do avesso”. Foi forçado ao exílio. O mesmo destino tiveram o general Hum-berto Delgado, candidato da oposição à Presidência da República em 1958, e Henrique Galvão, primei-ro presidente da Emissora Nacional e célebre dissi-dente do regime que, em tom de revolta, escrevera a Salazar “Toda a gente tem medo – medo de al-guém ou de qualquer coi-sa, medo de V. Ex. cia e da sua gente”. A sua gente eram a PIDE e a Legião Portuguesa. Como seria andar na escola, no país

do medo e da fome?

Em 1964/65 a Escola Co-mercial e Industrial de Guimarães fez 80 anos. Foram oitenta anos duros para Portugal, com acon-tecimentos dramáticos que tiveram os seus refle-xos na escola: a bancarro-ta de 1890, as guerras civis da 1ª República, a Primei-ra Grande Guerra Mun-dial, a imposição de regi-me ditatorial, a Segunda Grande Guerra Mundial. Contudo, os países da Europa Democrática, no pós-guerra, tiveram um desenvolvimento econó-mico e social que fazia in-veja aos portugueses mais esclarecidos e ávidos de progresso. Todavia, con-

tra a corrente do regime de Salazar que em 1963 declarava ao seu minis-tro dos negócios estran-geiros, Franco Nogueira: “Quero este país pobre, mas independente; não o quero colonizado por ca-pital americano.”, houve alguma industrialização que atraiu centenas de milhares de camponeses para as periferias urba-nas/cinturas industriais. O regime não conseguiu travar a emigração – um milhão de emigrantes partira para o estrangeiro. O regime não conseguiu impedir a guerra colonial (Guiné, Angola e Moçam-bique) que, em cada ano, envolvia 150 mil milita-res, sendo dois terços da metrópole. A teimosia do regime, que à força queria manter o seu império co-

lonial, contra tudo e con-tra todos, mesmo contra os países, outrora coloni-zadores que iam reconhe-cendo a independência às suas colónias, forçava cada jovem português a passar dois anos terríveis na floresta africana. Mui-tos partiram e não vol-taram. Muitos voltaram numa “caixa de pinho” e, então, pais, irmãos, noi-vas, esposas choravam a morte do soldado – era a confirmação do vati-cínio do grande chefe do Estado Novo – “Sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros [portugueses] vitoriosos ou mortos” – António Oli-veira Salazar, dezembro

de 1961. A história have-ria de confirmar que os sacrifícios dos jovens fo-ram inúteis. A guerra co-lonial nem sequer chegou a ser vã glória. Contudo, o regime, com censura e PIDE, resiste. Prende-se, tortura-se, mata-se. O caso mais paradigmático é o assassinato de gene-ral Humberto Delgado. No dia 13 de fevereiro

de 1965, a PIDE que, ar-dilosamente, o atraíra a Badajoz (Espanha) para um encontro de políticos resistentes ao regime, mata-o com dois tiros na localidade de Vila Nueva del Fresno. Na altura pou-cos souberam a verdade, pois a censura só deixou à

imprensa divulgar a tese oficiosa de que o general Humberto Delgado tinha sido morto num ajuste de contas entre oposicio-nistas. Contudo, apesar da repressão exercida, o regime não conseguiu eli-minar a inquietação estu-dantil. Em março de 1962 realiza-se o I Encontro Na-cional de Estudantes em que se debateram pro-blemas sociais e pedagó-gicos. Semanas depois, os estudantes reunidos em protesto na Cidade Uni-versitária de Lisboa são barbaramente agredidos pela polícia de choque, há detenções, greves de fome. Em Coimbra decla-ra-se o luto académico e a recusa de ir a exames. Doravante haveria, quase todos os anos, inquieta-ção estudantil no ensino superior e em algumas escolas do ensino secun-dário e médio. Em 1965, os estudantes, em Lis-boa, distribuem panfletos contra a guerra colonial e manifestam-se “Por Uma Universidade Livre”. No âmbito das inundações de Lisboa, em 1967, os estudantes fazem campa-nhas de apoio às vítimas, ampliando a sua cons-ciência social. No início do ano letivo de 1967-68, o Instituto Superior Téc-nico de Lisboa é conside-rado centro subversivo, pois havia sido distribuído um folheto com o título “Os estudantes do Técni-co decretam a Revolução Sexual, com ocupação de instalações”. O ano leti-vo seguinte é perturbado com incidentes que im-plicaram o encerramento da Faculdade de Direito de Lisboa. Na universida-de do Porto, há, também, agitação estudantil. Os jovens portugueses são

ENCONTRO DE GERAÇÕESDOS TEMPOS DE IMOBILISMO E DE MEDO AOS TEMPOS DE INQUIETAÇÃO JUVENIL

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18 Março de 2015

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fortemente influencia-dos pelo Maio 68 fran-cês. Mas seria em 1969, na Academia de Coimbra que os protestos estudan-tis contra o regime mais se fizeram sentir o que implicou o encerramento da Associação Académica de Coimbra, carga policial sobre as manifestações estudantis e a integração compulsiva nas Forças Armadas, rumo à guerra colonial, de meia centena de dirigentes estudantis.

Se o Maio 68 francês in-fluenciou os jovens nos domínios sociopolítico e cultural, a influência an-glo-saxónica manifestou--se no campo musical, pois a música pop e a mú-sica rock (ou ié-ié, como se dizia) seduziram os jo-vens. No campo da moda, as raparigas marcariam a sua irreverência aderindo, quase em massa, à moda da minissaia. A moda das calças de boca de sino, também, triunfaria, sen-do usadas por rapazes e raparigas. Os movimentos hippies, também, tiveram os seus simpatizantes. A censura que controlava jornais, rádios e televisão não conseguiu impedir a anglo-saxonização da ju-ventude portuguesa.

E como era andar na Es-cola Comercial e Indus-trial de Guimarães? En-contro ouviu uma aluna desses tempos, Maria do Céu Freitas que frequen-tou a Escola Comercial e Industrial de Guimarães (atual Escola Secundária Francisco de Holanda) na década de 60.

Maria do Céu Freitas, atualmente é professora aposentada, mas con-tinua a dar formação, a animar workshops na área dos bordados, tece-lagem e tapeçaria, sen-do bastante requisitada. Tem prestado excelente colaboração ao Museu da ESFH, na área do bor-dado de Guimarães e Te-celagem.

Encontro – Que curso fre-quentou?

Maria do Céu Freitas – Na década de 1960, fiz o Cur-so de Formação Femini-na, não o de quatro, mas sim o de seis anos. Ainda nesta escola viria a fazer o Curso Complementar de Artes dos Tecidos e o

12º Ano de Desenho Têx-til (via profissional). De-pois na Escola Aurélia de Sousa (Porto) viria a fazer o Curso de Bordado Ren-dilhado. Depois de uma passagem por uma em-presa, cujo trabalho não me seduziu muito, optei por me dedicar ao ensino – tornei-me professora. Tive ainda a oportunida-de de fazer o Bacharelato em Educação Tecnológica e a Licenciatura em Admi-nistração Escolar.

Encontro – O curso que fez na década de 60, For-

mação Feminina, tinha muitas disciplinas. Quan-tas horas de aula tinha por dia?

Maria do Céu Freitas – Ti-nha mesmo muitas. Tinha todas as disciplinas de formação geral (Portu-guês, Matemática, Fran-cês, Geografia, História, Ciências…) e as discipli-nas específicas como, por exemplo, Desenho, Ofici-nas (Bordado), Economia Doméstica, Culinária… Passávamos o dia na es-cola, de manhã à noite, com aulas.

Encontro – Quais eram as disciplinas que mais apre-ciava?

Maria do Céu Freitas – A disciplina de Desenho e as Oficinas.

Encontro – O que apren-deu na escola foi-lhe útil para a vida?

Maria do Céu Freitas – Muito. O Curso de Forma-ção Feminina não serviu só para formar boas do-

nas de casa, as “fadas do lar, como se dizia. Muitas mulheres, com esta for-mação, fizeram carreiras profissionais de muito su-cesso, mas mais variadas áreas.

Encontro – Como eram as turmas? Mistas? Só rapa-zes? Só raparigas?

Maria do Céu Freitas – No Curso de Formação Femi-nina, só havia turmas de raparigas, com bastantes alunas, mais ou menos, trinta.

Encontro – Houve profes-sores que, naturalmente, estimou. Quer falar de al-gum, em especial?

Maria do Céu Freitas – Apreciei muito a conduta de um professor de Por-tuguês que sabia estimu-lar os alunos. Nunca dizia um “Está mal!” redondo, mas sim “Não está lá mui-to bem!”, incentivando o aperfeiçoamento. Mas, havia um outro que, quan-do detetava alguma aluna com os olhos pintados, mandava-a para a casa de banho lavar os olhos. Este mesmo professor punha de joelhos as alunas que se riam. Era muito rígido. Mas os outros, na gene-ralidade, eram bons pro-fessores. Boas pessoas e ensinavam bem.

Encontro – E como foi com a minissaia? Muita polémica.

Maria do Céu Freitas – Ainda não se usava. Usa-va-se já saia curta, mas a bata cobria.

Encontro – Como era a es-cola? Que edifícios tinha? Havia oficinas? Havia can-tina escolar?

Maria do Céu Freitas – Neste edifício, onde está o museu, era quase tudo sala de aulas. Por exem-plo, as aulas do Curso de Formação Feminina eram quase todas aqui. No ou-tro lado, havia, apenas, as oficinas dos mais variados cursos para rapazes: Car-pintaria, Serralharia, Ele-tricidade.

Encontro – Como é que os

jovens ocupavam os tem-pos livres, se havia pouco tempo de televisão?

Maria do Céu Freitas - Havia pouco tempo livre. Contudo, na Escola havia muitas festas. Havia até um grupo musical que fa-zia inveja aos estudantes do liceu que uma vez, re-velando essa inveja, colo-caram na entrada da nos-sa escola (esta) o letreiro da casa dos pobres.

Encontro - Muito obriga-do, professora Maria do Céu, pelo seu contributo e compreensão.

ENTREVISTA A ANTIGO ALUNO DA DÉCADA DE 60

Encontro ouviu, também, um aluno desses tempos de inquietação juvenil que frequentou a Escola Comercial e Industrial de Guimarães, Carlos Vale que recordou tempos de escola e da sua experiên-cia de militar em Timor, antiga colónia portugue-sa.

Encontro – Frequentou a Escola Comercial e Indus-trial de Guimarães (atual Escola Secundária Fran-cisco de Holanda) na dé-cada de 60. No ano letivo de 1964-65, a escola fez 80 anos. Recorda-se de se ter feito alguma coisa para celebrar esta efemé-ride.

Carlos Vale – Sincera-mente não me recordo de alguma vez ter come-morado esta efeméride. Lembro-me de ter visto exposições alusivas à vida da Escola desde a sua fun-

dação, mas não consigo associá-las a este evento.

Encontro – Que curso ou cursos frequentou? Em que anos letivos?

Carlos Vale – Considero--me um dos poucos pri-vilegiados daquela época na freguesia onde nasci e vivi a minha infância, já que apenas uma minoria tinha possibilidades de ir além do ensino básico. O meu sonho, em termos profissionais, passava por ser dono e gestor do meu próprio negócio e daí a opção tomada. Frequen-tei o Curso Geral do Co-mércio após ter passado o Ciclo Preparatório, des-de o ano letivo de 1961-62 até à conclusão em 1968-69. Frequentei ain-da a Secção Preparatória ao Instituto Comercial no ano letivo de 1969-70.

Encontro – Os cursos ti-nham muitas disciplinas. Quantas horas de aulas tinha por dia?

Carlos Vale - A carga horá-

ria era bastante elevada, cerca de 7 horas/dia, con-tando ainda com as aulas da Mocidade Portuguesa ao Sábado.

Encontro – O que apren-deu na escola foi-lhe útil para a vida?

Carlos Vale – Foi, sem dúvida! Consegui o meu primeiro emprego pou-cos meses após terminar o curso, no escritório de uma empresa do ramo alimentar no centro da ci-dade de Guimarães.

Dois anos depois fui cha-mado a cumprir o serviço militar ingressando, por via da minha formação académica, na escola de sargentos do exército nas Caldas da Rainha. Mais tarde, embarquei para Ti-mor Leste onde cumpri a minha comissão de servi-ço, durante dois anos até dezembro de 1974.

Encontro – No seu tem-po, não haveria muitas raparigas a estudar. Como eram as turmas? Mistas? Só rapazes? Só raparigas?

Carlos Vale – No meu tempo, as turmas não eram mistas, salvo mui-to raras exceções, isto é, as únicas turmas mis-tas aconteciam quando a quantidade de alunos para formar a turma era insuficiente e, neste caso, era constituída uma tur-ma mista com os rapazes e raparigas que sobravam após a elaboração das turmas. Curiosamente, devo referir que a grande parte destes alunos eram repetentes.

Encontro – Como era a es-cola em 1965? Que edifí-cios tinha? Havia oficinas? Havia cantina escolar?

Carlos Vale – A estrutura física da escola em 1965 era sensivelmente a mes-ma que existia antes das grandes obras de remo-delação que ocorreram já no século XXI, duran-te a vigência do governo chefiado pelo Eng.º José Sócrates. Era constituída pelo edifício principal, que ainda hoje existe, pe-las oficinas, dois ginásios (masculino e feminino), pelo refeitório, cantina escolar, era assim que na época era designada a papelaria, bons vestiários e amplos espaços de re-creio.

19Março de 2015

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Encontro – Como era Guimarães nessa época? Como é que a juventude se divertia? A música pop e a música rock (ou ié-ié, como se dizia) surgiu nes-sa altura. Havia bailes?

Carlos Vale – Eu vivia numa freguesia que dista cerca de 6 kms do centro da cidade e só a partir da época em que comecei a preparar o meu ingresso na Escola Industrial e Co-mercial de Guimarães é que comecei a conhecer mais profundamente a ci-dade.

Em termos de diversão passei, como toda a gen-te, por diversas fases. Nos primeiros anos, recordo--me que as minhas prefe-rências iam para o acom-panhamento dos treinos do Vitória, no campo da Amorosa, onde atualmen-te estão implantados os edifícios do IHRU, quando estes coincidiam com os ‘furos/feriados’. Outros dos meus passatempos favoritos eram sem dúvi-da o Bilhar no café Mile-nário e os matraquilhos no Sr. Gualdino (ao lado da antiga CARDAN, frente ao estádio D. Afonso Hen-riques).

Uns anos mais tarde, aí sim, começaram a surgir outros motivos de inte-resse, tais como a revo-lução musical com o apa-recimento dos ‘Beatles’ , o milagre da minissaia e, por consequência, os bai-les em tudo o que eram salões públicos e gara-gens particulares.

Encontro – E na escola? Havia festas? Grupos mu-sicais, grupos de teatro? Fez parte de algum?

Carlos Vale – Recordo com saudade dois gran-des eventos anuais rela-cionados com a Escola Industrial e Comercial de Guimarães. O primeiro, e também o mais influente na vida estudantil, era o aniversário do Diretor na época (Dr. Daniel Nunes de Sá) cujo ponto alto era, sem dúvida, o baile abrilhantado pelo grupo musical, formado pelos antigos alunos e que se prolongava pela noite dentro. O segundo, e não menos importante, já que se realizava fora das pare-des da Escola, permitia o

desfile das beldades até à Igreja de S. Francisco, local da nossa Comunhão Pascal.

A Escola, para além de grupos musicais, também possuía grupos de teatro, formados esporadica-mente pelas turmas de finalistas e normalmente com o intuito de angariar fundos para o Almoço e/ou Passeio dos Finalistas. Tive a felicidade e a opor-tunidade de fazer parte de um destes grupos, quando fui finalista e re-cordo inclusive que, a pe-dido de várias entidades, fizemos representação em algumas freguesias do Concelho.

Encontro – Nessa épo-ca, houve muita agitação estudantil nas universi-

dades. Houve reflexos dessa agitação na Escola Comercial e Industrial de Guimarães? Ou era assun-to tabu.

Carlos Vale – Recordo que nessa época quando um grupo de estudantes se reunia nas imediações da escola logo surgia um indivíduo que, segundo opinião generalizada, se tratava de um agente da PIDE, polícia política do Estado Novo, disfarçado. Penso que nunca se con-firmou oficialmente este facto porque como se tratava de assunto evitá-vel, ninguém se mostrava interessado em discuti-lo.

Encontro – Havia a Moci-dade Portuguesa. O que era, como era e o que fa-

ziam?

Carlos Vale - A Mocidade Portuguesa destinava-se a crianças entre os 7 e os 14 anos de idade, escolariza-das ou não, e a frequên-cia das suas atividades ti-nha carácter obrigatório. A Mocidade Portuguesa visava a preparação da juventude dentro de um espírito militarista. A ins-trução era ministrada aos sábados e era constituída essencialmente por para-das e exercícios do tipo militar envergando uma farda própria.

Encontro – E sobre guerra colonial, falava-se?

Carlos Vale – Uma das nossas grandes preocupa-ções, e que aumentava à medida que os anos pas-

savam uma vez que não se vislumbrava solução, era sem dúvida a guerra colonial. Preocupava-nos o facto de conseguir aca-bar o Curso a tempo da Inspeção/incorporação militar, já que dava acesso ao ingresso no Curso de Sargentos Milicianos, o que permitia usufruir de várias regalias relativamente ao contingente geral, como era o caso do vencimento. Todos sa-bíamos, à exceção de alguns privilegiados com forte influência nas altas instâncias das forças armadas, que o nosso destino mais provável era sem dúvida o Ultramar e mais concretamente Guiné, Angola ou

Moçambique que eram as províncias onde a guerra era mais intensa.

Encontro - Foi para a tro-pa. Viveu a experiência da guerra colonial? Conte--nos como foi.

Carlos Vale – Chegou o dia da inspeção militar em meados de Junho de 1971, no edifício onde hoje está instalada a Polícia Municipal, tinha eu quase vinte anos e, como era expectável, quer da minha parte, quer da parte dos outros camaradas que me acompanhavam, fomos dados como aptos para todo o serviço militar, não obstante entre eles existirem alguns com altura e peso considerados insuficientes, antes do

início da guerra. Sabíamos que, em qualquer dia a partir do início do ano seguinte (1972), seríamos de certeza chamados a integrar as fileiras do Exército e a fazer parte da longa lista de potenciais candidatos a regressar num sobretudo de pau de pinho. Durante o mês de outubro deste mesmo ano de 1971, sou infor-mado através de edital afixado na sede da Junta de Freguesia da minha terra, que devo apresen-tar-me no dia 5 de janeiro de 1972 no Regimento de Infantaria Nr. 5 nas Cal-das da Rainha. Após pro-ceder ao levantamento do bilhete de comboio, e juntamente com alguns camaradas nas mesmas

condições, rumámos às Caldas da Rainha onde tem início um dos pe-ríodos mais marcantes na minha vida e, conse-quentemente, dos meus familiares. Para além das Caldas da Rainha, recebi ainda instrução em Tavi-ra e colaborei na prepa-ração de outros militares em Vila Real. Em finais de Setembro de 1972, rece-bo uma das maiores sur-presas de todo o percurso militar por se tratar de algo que nunca fez parte das minhas melhores pre-visões, i.e., sempre ima-ginei ser mobilizado para uma das três províncias onde a guerra era mais in-tensa, que, como já referi, eram Guiné, Angola e Mo-çambique. Fui mobilizado para TIMOR !!!

Aquela que eu considera-va a parte mais difícil des-te trajeto era sem dúvida dar em casa a notícia da minha mobilização o que, felizmente, se tornou bem mais fácil, já que se tratava de uma província que, embora longínqua, não havia notícias de con-flitos.

Lá parti, juntamente com mais três compa-nheiros de percurso, em 5.11.1972, de Lisboa (Cais de Alcântara) em dire-ção a Timor e num na-vio com o mesmo nome, onde cheguei no dia 23.12.1972, numa viagem de 48 dias que decorreu sem incidentes, após es-calas em Funchal, Luanda, Beira e Nacala.

Durou cerca de dois anos, a minha comissão de ser-viço em Timor, na locali-dade de Maubisse, junto à cordilheira do Ramelau. Foram tempos que me marcaram profundamen-te pela positiva e onde deixei boas amizades.

A minha ‘guerra’ foi es-sencialmente psicológica, tendo dedicado grande parte do meu tempo em contacto com as popula-ções, ajudando na divul-gação de informação dis-ponível para o efeito, bem como com a minha expe-riência de vida e, ao mes-mo tempo, aproveitando para conhecer toda a ilha repleta de magníficas pai-sagens naturais. Tenho pena que Timor fique tão longe…

Encontro – Há muitos antigos alunos da escola, que para relembrarem ve-lhos tempos, promovem encontros, convívios. Fez parte de alguma Comis-são de Antigos Alunos da Escola Industrial? Como são esses convívios, se é que esteve envolvido em algum?

Carlos Vale – Os primei-ros encontros convívio tiveram como alvo pri-vilegiado os antigos alu-nos que frequentaram a escola entre a década de 50 e 60 e a provar a gran-de aceitação que tiveram está o facto de o número de participantes aumen-tar todos os anos. Sensi-velmente a partir do dé-cimo convívio, o interesse foi-se esvanecendo e, em minha opinião, se nada for feito, a tendência, la-mentavelmente é acabar. Tive o grato prazer de fa-zer parte de uma comis-são organizadora, a sexta, no ano de 1990.

Encontro – O que faz, atualmente?

Carlos Vale – Atualmen-te, ainda no ativo, com 63 anos de idade e com o sentimento do dever cumprido, reitero mais uma vez que a formação, moral e académica, foram muito importantes duran-te a minha carreira profis-sional. Como disse atrás, o meu sonho era dirigir o meu próprio negócio, o que não foi possível por várias razões, entre elas com certeza o cumpri-mento do serviço militar, sem no entanto alguma vez me ter arrependido. Faço parte desde 1975 de um grupo de trabalho que sempre me deu grandes alegrias, quer pela qua-lidade das pessoas, quer pelo tipo de trabalho de-senvolvido. Aproveito a oportunidade para agra-decer a amizade e deixar um forte abraço a todos os meus amigos da esco-la, da tropa e da empresa onde trabalho há 40 anos e prestar homenagem àqueles que partiram e que recordo com muita saudade.

Deixo aqui os meus para-béns à Escola Industrial e Comercial de Guimarães pelos 130 anos de vida e os meus agradecimen-tos ao Jornal ENCONTRO

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20 Março de 2015

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pela oportunidade que me proporcionou de revi-ver grandes momentos da minha vida.

BEM HAJAM!

Encontro -Muito obriga-do, Sr. Carlos Vale, pelo seu contributo e com-preensão.

ENTREVISTA A ANTIGA ALUNA DA DÉCADA DE 60

Encontro ouviu mais uma aluna dos tempos em que as famílias faziam um grande esforço para pôr os seus filhos a es-tudar no Ensino Médio e Secundário, Ana do Céu Magalhães (Nininha para os amigos) que frequen-tou a Escola Comercial e Industrial de Guimarães (atual Escola Secundária Francisco de Holanda) na década de 60.

Encontro – Que curso fre-quentou?

Ana do Céu Magalhães – Frequentei o Curso Geral do Comércio.

Encontro – O curso que fez na década de 60 tinha muitas disciplinas. Quan-tas horas de aulas tinha por dia?

Ana do Céu Magalhães – Sinceramente, não me recordo de quantas aulas tinha por dia. Lembro-me que a carga horária era bem pesada e que passá-vamos muitas horas, na escola.

Encontro – Quais eram as disciplinas que mais apre-ciava?

Ana do Céu Magalhães – Gostava, essencialmen-te, de letras. Adorava a disciplina de Língua Por-tuguesa, de Francês e de Inglês. O pior mesmo, era a matemática e a Físico Química.

Encontro – O que apren-deu na escola foi-lhe útil para a vida?

Ana do Céu Magalhães – A Escola Industrial e Comercial de Guimarães foi fundamental na for-mação da pessoa que sou hoje. Foi nela que estudei e aprendi os valores da amizade, da camarada-gem, do respeito mútuo, da importância do saber

ser e saber estar. Nela, adquiri valores, conciliei atitudes e vinquei o meu caráter e, o curso que fiz foi fundamental para a minha realização pessoal e profissional.

A vida, em casa, não era fácil. As dificuldades eram imensas e nós sentíamos uma responsabilidade acrescida pelo facto de termos consciência da despesa e sacrifícios que nossos pais faziam, para que nós estudássemos. Nessa linha, acrescia a responsabilização do cumprimento do dever, da obrigação da atenção, nas aulas, bem como da exigência do respeito que toda a Escola e todas as pessoas que faziam parte dela nos mereciam.

Assim, a ânsia de apren-der era imensa e a con-cretização dos nossos so-nhos, passava, também, pelo cumprimento, em rigor, de todas as tarefas que nos eram recomen-dadas e propostas.

Encontro – Como eram as turmas? Mistas? Só rapa-zes? Só raparigas?

Ana do Céu Magalhães- As turmas não eram mis-tas. Havia turmas consti-tuídas só por meninas e outras, formadas só por rapazes. A entrada, na escola, era uma só, mas havia, logo, ali, uma se-paração absoluta. Os ra-pazes iam por um lado, as meninas, por outro. Nos corredores da escola, não havias misturas. As me-ninas frequentavam uma ala da Escola. Os rapazes movimentavam-se numa outra.

Encontro – Houve profes-sores que, naturalmente, estimou. Quer falar de al-gum, em especial?

Ana do Céu Magalhães – Havia professores muito bons. A relação humana, com alguns, era muito es-pecial. Com outros, nem por isso. Quero recordar, aqui, com muito carinho, a Dra. Açucena, excelente profissional e excelente ser humano. Para a épo-ca, já era diferente, pelo seu jeito especial e cari-nhoso de ser. Boa amiga, boa professora. Outro professor maravilhoso foi o Dr. Hélio, também,

professor de Inglês. Um sábio, um bom comuni-cador, um grande amigo. Recordo a professora Dra. Maria do Rosário, esposa do Dr. Guedes, rigorosa, belíssima profissional, mas com um tom de voz, que se adivinhava ami-go e acolhedor. Da Dra. Maria Emília Abreu, Dra. Luísa Saavedra, professo-ras competentes, a nível científico e a nível de rela-ções humanas, tão doces, tão meigas. A Dra. Virgínia tinha um ar maternal que me encantava, apesar da disciplina que ministrava, ser, para mim, uma das mais difíceis. Não posso esquecer, também, a Dra. Maria Luísa Abreu, nossa professora de Português. Era de um rigor a nível de educação e atitude que, ainda hoje, recordo, com muita dedicação. De mo-mento, não me recordo de mais ninguém. Have-rá, com certeza, algumas falhas, o que lamento. A passagem dos anos não me permite ser tão ri-gorosa como gostaria. Enfim, passados tantos anos, é com muita nos-talgia que recordo todas estas pessoas que me marcaram de forma tão positiva. Propunha, aqui, a possibilidade futura de uma festa de homenagem a todos eles.

Encontro – Como era a

escola? Que edifícios ti-nha? Havia oficinas? Ha-via cantina escolar?

Ana do Céu Magalhães – A escola era muito boa. Tinha ótimas condições. As salas muito cuidadas, confortáveis, muito lim-pas e asseadas. Todo o edifício era muito bom. Lembro-me de haver ofi-cinas, sim, e muitas má-quinas.

Havia uma boa cantina. Comia-se muito bem e em quantidade. Havia uma senha, vendida pelo Sr. Correia, penso que custava 5 escudos. O Sr. Marques era o responsá-vel pela cantina. Lembro--me de estar a almoçar e ele passeava-se pela sala, talvez numa atitude de supervisão. Carinhosa-mente, colocava no nos-so prato, um punhado de azeitonas, que retirava, diretamente, do bolso, das calças. Que bem me sabiam aquelas azeitoni-nhas. O gesto não seria o mais adequado, nem a mais aconselhado mas, recordo-o com alegria e emoção. Um mimo, que, volvidos tantos anos, revi-vo, com ternura. A inten-ção era boa e as memó-rias também são.

Encontro – Como é que os jovens ocupavam os tem-pos livres, se havia pouco tempo de televisão?

Ana do Céu Magalhães – A juventude da época tinha uma forma muito peculiar de se divertir. Tí-nhamos conhecimento de bailes de garagem, mas os nossos pais não nos deixavam partilhar des-ses entretenimentos. Isso era-nos vedado. Quando estávamos juntas, brincá-vamos e ríamos de tudo, por tudo e por nada. Na escola, havia o baile do Sr. Diretor, momento de imensa alegria, que con-tribuía para um convívio são e amistoso com os colegas, homens, que não tínhamos em nenhuma outra ocasião.

Encontro – Como era a ci-dade de Guimarães, nes-sa época?

Ana do Céu Magalhães – Guimarães era uma cida-de cheia de preconceitos, muito fechada, fruto da política vigente, da época. Na escola, não se falava de nada relacionado com a política e das dificulda-des em que todos nós vi-víamos. Era assunto tabu. Em casa, já havia perce-ção de alguns problemas, mas era-nos expressa-mente proibida qualquer manifestação, sobre o assunto, na rua. Vivíamos assustados e oprimidos. O povo cada vez mais po-bre e Salazar, indiferente, ignorando a forma degra-dada em que o país se en-

contrava. O estado salaza-rista era autoritário e sua atuação muito repressiva. Todos sabiam da existên-cia da polícia política, a Pide, que prendia e vio-lentava quem se opusesse ao regime vigente.

O nível de vida era muito baixo e o poder de com-pra, praticamente nulo. O regime político favore-cia um pequeno grupo que controlava a maior parte do rendimento na-cional, favorecendo, as-sim, a existência de uma sociedade desequilibra-da, onde alguns tinham tudo e uma grande faixa, vivia num verdadeiro limi-te de pobreza. O número de analfabetos era mui-to elevado. Muito pou-ca gente ia estudar. Para mim, foi um privilégio poder estudar na Esco-la Industrial e Comercial de Guimarães. Muitas meninas, que fizeram a 4ª classe, no mesmo ano que eu, foram, logo, tra-balhar, para as fábricas, responsáveis por grandes teares, onde passavam o dia inteiro de pé, perante máquinas, maiores que a sua pequena altura.

A política económica, so-cial e educativa da época, dificultou o desenvolvi-mento do país. Salazar su-jeitou todos os interesses económicos aos interes-ses das finanças públicas.

Podia falar, também, no movimento migratório, que atingiu níveis mui-to elevados, na década de 60. De Guimarães, a monte, saíam, diariamen-te, muitos homens, que procuravam melhorar a vida, fora de Portugal. Guimarães era o conce-lho com o mais alto nível de mortalidade de recém nascidos. A França, é o país de acolhimento, en-tre outros. Nos anos de 64 e 65, atinge-se o auge da emigração.

A emigração veio a al-terar profundamente as mentalidades, os usos e costumes, os hábitos e os modos de vida da po-pulação rural de Portugal, favorecendo o aumento da escolaridade e a dimi-nuição do analfabetismo.

Encontro- Muito obriga-do pelo seu contributo e compreensão.

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21Março de 2015

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Como era andar na es-cola em 1974/75?

Em 1974/75 a Escola Co-mercial e Industrial de Guimarães fez 90 anos. Possivelmente nem se pensou na celebração da efeméride, uma vez que se estava no rescaldo do 25 de Abril, da designa-da Revolução dos Cravos. O Movimento das Forças Armadas derrubara o re-gime ditatorial que vigo-rou em Portugal de 1926 a 1974. Mas de 28 de se-tembro de 1974 a 25 de novembro de 1975, num clima de duras lutas parti-dárias e até assustadoras entre partidos da esquer-da e da direita, Portugal viveu dias decisivos para o seu futuro. Foram os 14 meses mais agitados do Portugal democrático que quase levaram à guerra civil. Houve seis Governos Provisórios, ora liderados por gente de direita, ora liderados por gente de esquerda, ou por todos ao mesmo tempo. Foram tempos de equívocos: nas fábricas os operários ex-pulsavam os seus patrões e reclamavam a gestão das empresas; no Alente-jo e no Ribatejo, os assa-lariados ocupavam as her-dades; o Estado, sem um programa pré-definido, passou a exercer um po-der quase absoluto sobre a economia, nacionalizan-do setores vitais, incluin-do os bancos. O escalar da guerra entre os movimen-tos africanos, conduziu à descolonização - “Sair de Angola, rapidamente e em força” tornou-se pala-vra de ordem para os cer-ca de 500 mil portugueses que (ainda) permaneciam na ex-colónia, no verão de 1975. De repente, o país teve de alojar mi-lhares e milhares de re-tornados das ex-colónias que fugiram ao pesadelo africano, perdendo todos os seus bens, o emprego, as poupanças… A canção política marcou 1975, até a Internacional con-seguiu ser um hit do ve-rão (quente). Na maioria das escolas secundárias, a agitação era excessiva. Em muitas escolas, não

havia aulas, havia Reu-niões Gerais de Alunos e comícios a toda a hora... adeus programas. Havia excessos e utopias como, por exemplo, a socieda-de sem classes. As lutas políticas de rua entravam na escola. Um ano depois da Revolução dos Cravos, a primeira eleição livre (para a Assembleia Cons-tituinte), a 25 de abril de 1975, deu a vitória aos partidos moderados. Através do voto, o povo deu sinal para um novo rumo da democracia que seria consolidado a 25 de novembro, por uma ação militar, em que Ramalho Eanes teve um papel re-levante. O país começava a serenar e a preparar-se para mais eleições livres:

Assembleia da República e Presidência da Repú-blica. As primeiras foram ganhas pelo partido so-cialista que viria a formar o I Governo Constitucio-nal. Ramalho Eanes, que teve um papel de relevo na consolidação da de-mocracia, foi o primeiro Presidente da República, pós 25 Abril, sufragado em liberdade pelo povo português.

E como era na Escola Co-mercial e Industrial de Guimarães? Encontro ouviu o testemunho de Eduardo Balinha que fre-quentou a Escola, nessa época.

Um pouco idêntico ao que se vivia no país. Des-tituição do Diretor e de todos os símbolos que

representavam o “Estado Novo”, algum descontrolo emocional por parte dos alunos, aparecimento de várias correntes de opi-nião “aparecimento dos partidos políticos nas Es-colas com maior incidên-cia para o MRPP, pedidos de saneamento de alguns professores e funcioná-rios, etc.…

Encontro – Frequentou a Escola Comercial e Indus-trial de Guimarães (atual Escola Secundária Fran-cisco de Holanda) na dé-cada de 70. No ano letivo de 1974-75, a escola fez 90 anos. Recorda-se de se ter feito alguma coisa para celebrar esta efemé-ride?

Eduardo Balinha – Nas minhas memórias nada tenho registado. Havia protestos nas casas de banho contra a ditadura e uma das palavras-chave era “Nem mais um solda-do para o Ultramar”

Encontro – Que curso fre-quentou?

Eduardo Balinha – Entrei na Escola com dez anos e comecei no curso geral de eletricidade, terminando o Curso Complementar de Eletrotecnia.

Encontro – Os cursos ti-nham muitas disciplinas. Quantas horas de aulas tinha por dia?

Eduardo Balinha – Sim, bastantes. Talvez oito ho-ras, com a quarta-feira de tarde livre (era aproveita-

da para ver os treinos do Vitória de Guimarães). Aos sábados tínhamos de tarde a Mocidade Portu-guesa.

Encontro – Como eram as turmas? Mistas? Só rapa-zes? Só raparigas?

Eduardo Balinha – No meu tempo eram só rapa-zes ou só raparigas. Havia recreios para rapazes e para raparigas. Ainda me lembro de ir para um anfi-teatro abrir a janela (tinha um ferro que só nos per-mitia ver parte do recreio das raparigas). Quando tocava, primeiro subiam as raparigas e só depois subiam os rapazes (ficá-vamos com o nariz colado ao vidro).

Encontro – Como era a re-lação entre rapazes e ra-parigas, na escola? Livre, aberta ou condicionada.

Eduardo Balinha – A mi-nha resposta anterior diz muito de como eram as relações entre os diversos sexos. Fechadas e proibi-tivas.

Encontro – Quais eram as disciplinas que mais apre-ciava?

Eduardo Balinha – As da área de “Eletricidade”, Matemática e Educação Física (era a libertação).

Encontro – O que apren-deu na escola foi-lhe útil para a vida.

Eduardo Balinha – De todo. Costumo dizer que foi a minha “Universida-

de”. A verdadeira Escola da minha vida. Foi aí que me transformei, como ho-mem e como pessoa e fiz amigos para toda a vida. Em suma fui muito feliz nesta Escola.

Encontro – Houve profes-sores que, naturalmente, estimou. Quer falar de al-gum, em especial?

Eduardo Balinha – Tive muitos e infelizmente muitos deles já não estão entre nós. Destaco alguns e desde já peço descul-pa a muitos outros: Eng. Mota Vieira; Eng. Araújo (mais conhecido por bar-bas, não o do Benfica); Eng. Souto Mayor; Prof. Vitorino Costa; Prof. Antó-nio Magalhães (esse mes-

mo, o antigo Presidente da Câmara Municipal); Prof. Alberto Costa; Prof. Madalena Montenegro e por último o Eng. Silva Pereira.

Encontro – Como era a escola em 1974-75? Que edifícios tinha? Havia ofi-cinas? Havia cantina esco-lar?

Eduardo Balinha – Esse foi o ano em que saí, mas tinha os mesmos edifícios antes da última interven-ção. Oficinas várias (têx-teis, eletricidade, etc.). Havia cantina escolar li-derada pelo lendário Sr. Marques. Gostaria tam-bém de lembrar que havia na nossa escola um espa-ço onde existiam muitos animais nomeadamente macacos (verdadeiros).

Encontro – Conta-se que, em 1975, na maioria das escolas secundárias e universidades, a agitação era excessiva. Em muitas escolas, não havia aulas, havia Reuniões Gerais de Alunos e comícios a toda a hora. Havia muita polí-tica, confrontos entre o MRPP e a UEC (União dos Estudantes Comunistas). Também foi assim na Es-cola Comercial e Indus-trial de Guimarães?

Eduardo Balinha – Já não vivi esse tempo na Escola, mas vivi e senti essa agita-ção quando frequentava o Serviço Cívico. Foi um mo-mento marcante uma vez que os jovens estudantes começaram a apropriar--se do que realmente se estava a passar.

Encontro – Como era? Como foi o seu serviço cí-vico?

Eduardo Balinha – Fiz o serviço cívico no CICP (Centro Infantil e Cultura Popular – situado na rua Dr. Bento Cardoso). Expe-riência única que muito me enriqueceu. Desde o contacto com a popula-ção até às experiências vi-vidas com as crianças des-sas ruas, passando pelo atendimento aos futuros professores do 1º ciclo que iam aí beber algumas experiências (orientadas pelo meu grande amigo Prof. Vitorino Costa).

Encontro – Como era Guimarães nessa época? Uma cidade pacata ou uma cidade que não pas-sou ao lado dos combates políticos e confrontos so-ciais, vividos nas grandes áreas urbanas do país?

Eduardo Balinha – Gui-marães sempre viveu in-tensamente os momen-tos mais importantes da história. Ainda me recor-do que, no dia seguinte ao 25 de Abril, o movimento de capitães na varanda do Toural (praça de excelên-cia) fez uma intervenção à população, explicando o que se estava a passar.

Recordo outro episódio marcante na sociedade vimaranense (todos os

ENCONTRO DE GERAÇÕESTEMPOS DE EXCESSOS E UTOPIAS…

22 Março de 2015

Page 23: Encontro edição 62 aefh

quadrantes políticos se uniram) aquando da ins-talação da Universidade do Minho, exigindo um polo para Guimarães.

Como vimaranense e vito-riano ainda me lembro da manifestação de repúdio quando castigaram, um jogador do Vitória, injus-tamente (Jeremias).

Encontro – Como é que viu a queda do regime ditatorial Salazar-Marcelo Caetano? E o fim da guer-ra colonial?

Eduardo Balinha - Como um marco histórico im-portante na vida do país. Ainda estudante tinha a consciência de que algo devia mudar. Nunca mais esquecerei que era nas casas de banho que es-crevíamos palavras de ordem contra a ditadura. Tinha-mos sempre um co-lega fora para nos avisar da aproximação dos “con-tínuos” que eram instruí-dos pelo Diretor para anu-lar essas manifestações.

Como tive irmãos na Gui-né, o fim da guerra colo-nial, foi talvez a que me tocou mais particular-mente até pelos relatos que me faziam.

Encontro – Foi feliz na Escola Comercial e Indus-trial de Guimarães? O que faz agora?

Eduardo Balinha – Mui-to feliz. Apesar de todos os condicionalismos para a época, fiz amigos, tive ótimos professores e for-mei-me como homem e pessoa.

Sou professor e tento des-pertar nos meus alunos o conhecimento do que hoje é a Escola e a Esco-la do meu tempo. Muito poucos tinham acesso ao ensino.

Encontro – Muito obriga-do, professor Balinha, por toda a colaboração que nos prestou e pelo seu rico testemunho.

Encontro ouviu ainda o testemunho de Maria Augusta Aguiar Ferreira (Migu) que frequentou a Escola, antes de depois do 25 de Abril de 1974.

Encontro – Frequentou a Escola Comercial e Indus-trial de Guimarães (atual

Escola Secundária Fran-cisco de Holanda) na dé-cada de 70. No ano letivo de 1974-75, a escola fez 90 anos. Recorda-se de se ter feito alguma coisa para celebrar esta efemé-ride?

Migu – Não. A celebração dos 90 anos não existiu, nem nos anos anteriores em que a frequentei. Se o corpo docente assinalou a efeméride, fê-lo sem envolver os alunos, muito comum na época.

Encontro – Que curso fre-quentou?

Migu – Frequentei nos anos letivos 71/72, 72/73 e 73/74 o curso geral de administração e comér-cio. Nos dois anos letivos subsequentes, frequentei o curso de secretariado e relações públicas

Encontro – Os cursos ti-nham muitas disciplinas. Quantas horas de aulas tinha por dia?

Migu – Os cursos tinham realmente muitas discipli-nas, as teóricas, também comuns aos cursos liceais, e as práticas de acordo com a designação do cur-so. As aulas decorriam das 9 às 17h/18h.

Encontro – Como eram as turmas? Mistas? Só rapa-zes? Só raparigas?

Migu – Até ao final do ano letivo 73/74 as turmas eram constituídas por género, só de raparigas e só de rapazes. A partir do ano letivo a seguir à revolução de 25 de abril, 74/75, as turmas passa-ram a ser mistas.

Encontro – Como era a re-lação entre rapazes e ra-parigas, na escola? Livre, aberta ou condicionada? Consta-se que, para as salas de aulas, havia aces-sos diferentes: uma para rapazes, outro para rapa-rigas. Era mesmo assim?

Migu – A relação entre rapazes e raparigas, no espaço escolar, iniciava-se logo no ensino primário, com um afastamento físi-co e, consequentemente, relacional entre os pa-res. Quando ingressámos na escola “industrial” já tínhamos frequentado o “ciclo” e, em todos es-tes contextos escolares,

prepararam-nos para a aceitação do condiciona-mento da circulação dos alunos, nomeadamente nos recreios, escadarias, ginásios e salas de aula. Estes espaços funciona-vam para as raparigas e rapazes separadamente e à época, naturalmente….,

Encontro – Quais eram as disciplinas que mais apre-ciava?

Migu – Ah! Apreciei mui-

tas disciplinas, quase todas. No entanto, guar-do na minha memória a disciplina de matemática e culinária. Matemática acontecia logo ao 1º tem-po da manhã, de segunda--feira, não nos era permi-tido pela Prof.ª entrar sem bata e com maquilhagem. Este condicionamento era muito bem aceite, por-que a aula não terminava sem todas sabermos os conteúdos dados. A culi-nária era uma disciplina semanal, às sextas-feiras e com espaço próprio, um pavilhão nas traseiras do ginásio, aprendemos a preparar e confecionar refeições, especialmente doçaria.

Encontro – O que apren-deu na escola foi-lhe útil para a vida.

Migu – Tudo o que apren-demos na escola é-nos útil para a vida, e muito do que sei alicerçam-se nas aprendizagens que fiz na escola industrial, assim como nas outras que fre-quentei.

Encontro – Houve profes-sores que, naturalmente, estimou. Quer falar de al-gum, em especial?

Migu – Recordo com já referi anteriormente a minha professora de Ma-temática, (nos anos que hoje correspondem ao 7º, 8º e 9º anos), Drª Ma-dalena Montenegro que com a sua assertividade e exigência no cumprimen-to de regras, nunca termi-nava a aula sem todas re-ferirmos que entendemos a matéria. Apesar do seu ar autoritário, voz aguda e postura altiva gostava muito das suas alunas e

queria que todas fossem umas “boas matemáti-cas”

Encontro – Como era a escola em 1974-75? Que edifícios tinha? Havia ofi-cinas? Havia cantina esco-lar?

Migu – Em 74/75 existia o bloco principal, as ofici-nas e a cantina ficava no rés-do-chão do ginásio masculino, a “casinha” da culinária nas traseiras do pavilhão dos ginásios. Penso que todas estas estruturas ficaram até ao momento da requa-lificação, exceto o bloco central que ainda hoje se mantém.

Encontro – Conta-se que, em 1975, na maioria das escolas secundárias e universidades, a agitação era excessiva. Em muitas escolas, não havia aulas, havia Reuniões Gerais de Alunos e comícios a toda a hora. Havia muita polí-tica, confrontos entre o MRPP e a UEC (União dos Estudantes Comunistas). Também foi assim na Es-cola Comercial e Indus-trial de Guimarães?

Migu – Havia agitação sim, mas não excessiva, pelo menos na “indus-

trial”. Não me recordo da suspensão de aulas. No entanto, decorreram reu-niões gerais de alunos e manifestações serenas, e os alunos afetos ao MRPP e à UEC intervinham, mas com civismo, abordando--nos pessoalmente ou em pequenos grupos no espaço escolar para nos “politizar”.

Encontro – Mas, quando foi o 25 de Abril de 1974, houve movimentação

dos estudantes, na esco-la Francisco de Holanda? Como é que foi recebida a notícia do derrube da ditadura?

Migu – A notícia do der-rube da ditadura caiu- nos “do céu”, vivíamos na ignorância política e a compreensão do objeti-vo da revolução foi sendo construída por momentos que íamos vivendo, no-meadamente nos blocos informativos televisivos. Só na manifestação do 1º de maio no toural tivemos a real perceção de 48 anos de obscurantismo e aprendemos uma nova palavra ”DEMOCRACIA” e o “POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO”!

Encontro – Antes do 25 de Abril de 1974, havia agita-ção estudantil, sobretudo nas Universidades. Sentiu alguma agitação na Fran-cisco de Holanda ou os es-tudantes eram controlado politicamente?

Migu – Controlados po-liticamente, sem dúvida! No 1º aniversário da mor-te de Ribeiro dos Santos, outubro de 73, foram dis-tribuídos à socapa pan-fletos comemorativos da sua morte com palavras

de ordem contra a PIDE, Fascismo e guerra colo-nial, nos corredores do bloco central da escola. Entre outras alunas pe-guei num e tendo feito uma leitura transversal de imediato senti que era um documento proibido, não só pelo conteúdo, mas também porque os funcionários, caciques do regime, lançaram-se sobre nós para impedir a posse dos mesmos. Claro que fui denunciada e, no dia seguinte, chamada ao Diretor que me exigiu a devolução do panfle-to após um interrogató-rio de avaliação política e ameaças de expulsão. Nunca o devolvi, pois re-feri que o deitei ao lixo. A verdade é que o guardei religiosamente nos meus pertences até mudar de casa, 1987, afinal Ribeiro dos Santos tinha morrido por nós!

Encontro – Como era Guimarães nessa época? Uma cidade pacata ou uma cidade que não pas-sou ao lado dos combates políticos e confrontos so-ciais, vividos nas grandes áreas urbanas do país?

Migu – Guimarães era uma cidade pacata. No entanto, não passou ao lado dos confrontos sociais e políticos. Estes foram vividos ativamen-te, nos comícios, nas ma-nifestações, nos grafites com palavras de ordem, nos conflitos laborais, nas datas comemorativas. Fo-mos vimaranenses revo-lucionários…

Encontro – Foi feliz na Escola Comercial e Indus-trial de Guimarães? O que faz agora?

Migu – Fui feliz, tive um percurso escolar de su-cesso, recheado de boas memórias, bons professo-res, bons amigos e muitas aprendizagens que con-solidaram a profissional que sou hoje, docente da educação pré-escolar, desempenhando desde 2001 a função de direto-ra adjunta da direção do Agrupamento de Escolas das Taipas.

Encontro – Obrigado, por toda a colaboração que nos prestou e pelo seu rico testemunho.

25 de abril 30 anos - 100 cartazes Diário de Notícias

23Março de 2015

Page 24: Encontro edição 62 aefh

24 Março de 2015

No dia catorze do mês de janeiro, a Direção da Es-cola promoveu a cerimó-nia de entrega dos Pré-mios de Mérito, Prémios de Excelência e Prémio Francisco de Holanda, dos alunos do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda do 2º e do 3.°ci-clos do ensino básico e do 10º e do 11º ano do ensi-no secundário referentes ao ano letivo 2013/2014.

Depois da exibição do ví-deo de introdução, pro-duzido pelo professor Fernando Macedo. Os apresentadores da ceri-mónia - João Manuel Si-mões (12TSE) e Catarina Lopes (11TCM) fizeram a declaração de boas vin-das e com a autorização da Exma. Sra. Diretora do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda, de-clararam aberta a sessão, lembrando “ Encontramo--nos hoje aqui, dia 14 de janeiro, visto tratar-se de uma data particularmen-te querida para nós, já que, há 130 anos atrás, mais concretamente no dia 14 de Janeiro de 1885 foi lecionada a primeira aula desta escola.” e re-lembraram “ (…) celebra-mos este ano 130 anos de existência da nossa es-cola”. De seguida, o coro dos alunos da Academia de Música Valentim Mo-reira de Sá, que integra alunos que frequentam a ESFH, no regime de ensi-no articulado, cantou o hino da escola. Depois, seguiram as comunica-ções dos elementos da Comissão de Honra das Comemorações dos 130 anos da Escola Francisco de Holanda: Diretora do Agrupamento de Esco-las Francisco de Holanda - Dra. Rosalina Pinheiro, Presidente da Sociedade Martins Sarmento- Dr. Paulo Vieira de Castro Presidente da Câmara Municipal de Guimarães- Dr. Domingos Bragança, que felicitaram os premia-dos e respetivas famílias.

Após a entrega dos pré-mios de mérito dos alu-nos do 2º e do 3º ciclo, Nuno Cachada (guitarra)

e Rui Ferreira (piano) de-liciaram alunos, professo-res e pais, que encheram o polidesportivo da Es-cola Francisco de Holan-da, com duas excelentes composições musicais.

A seguir à entrega dos prémios de mérito dos alunos 10º e 11º ano, a aluna, Linda Inês do 12LH3, interpretou a can-ção “Tentei Sonhar”.

Depois, a professora Cé-lia Gama Lobo entregou o diploma de excelência às alunas Inês de Lemos Pinheiro do 10AV1 (média de 18,1 valores) valores e Joana Maria Oliveira Ro-drigues do 10AV1 (média de 18,3 valores). Recebe-ram, também, o diploma de excelência Gabriela Francisca Alves Miran-da Henriques do 10CSE2 (média de 18,4 valores), Rui Manuel Lima Freitas do 10CSE2 (média de 18 valores) – entregues pelo Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Dr. Domingos Bragança; Tiago Fernando Abreu Ro-drigues do 10CT1 (média de 18,3 valores) que foi entregue pela Vereadora do Pelouro da Educação da Câmara Municipal de Guimarães, Dra. Adeli-na Paula; Cláudia de Al-meida Coelho do 10CT2 (média de 18,1 valores), Inês Pedro Fernandes do 10 CT2 (média de 19 valores), João Pedro Nu-nes Alves Pinto do 10CT2 (média de 18,3 valores), José Pedro Rocha Abreu do 10CT2 (média de 18,6 valores) que foram entre-gues pelo Presidente da Sociedade Martins Sar-mento, Dr. Paulo Vieira de Castro; Alexandra Pe-reira Fonseca do 10CT5 (média de 18,1 valores), entregue pela Diretora do Centro de Formação Francisco de Holanda, Dra. Lucinda Palhares; Ve-rónica Salgado de Oliveira Gomes do 11CSE1 (média de 18 valores),entregue pelo Presidente do Con-selho Geral, Dr. Rui Vítor Costa; Lucas Fernandes Nogueira do 11CT1 (mé-dia de 19 valores), entre-gue pela Subdiretora do

Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda, Dra. Olívia Canedo; Ma-falda Guimarães Nunes do 11CT3 (média de 18,3 valores), Pedro Miguel Lo-pes Fernandes do 11CT3 (média de 18,9 valores) que foram entregues pelo Engenheiro António Soa-res, Presidente do Con-selho Diretivo da Escola Secundária Francisco de Holanda de 1975 a 1977; Diogo Ricardo Castro Gonçalves do 11CT4 (mé-dia de 18,6 valores), Filipa Maria Duarte e Costa do 11CT4 (média de 19 valo-

res), Maria Francisca Fon-seca Gonçalves Arantes do 11CT4 (média de 19,4 valores), Miguel Pereira Correia Natal do 11CT4 (média de 18,7 valores), que foram entregues pelo Engenheiro João Silva Pe-reira, Presidente do Con-selho Diretivo da Escola Secundária Francisco de Holanda de 1981 a 1984 e de 2001 a 2003; Rui Filipe Martins Castro do 11CT5 (média de 18,6 valores), entregue pelo Dr. Manuel Carvalho da Mota, Presi-dente do Conselho Dire-tivo e Diretor da Escola

Secundária Francisco de Holanda de 2003 a 2012; José Gonçalo Torrinha Ferreira Teixeira Alves do 11CT6 (média de 18,7 va-lores), entregue por Fran-cisco Ferreira, Presidente da Associação de Pais da Escola Secundária Fran-cisco de Holanda; Ana Margarida Freitas Mon-teiro do 11CT9 (média de 18,3 valores), Joana Maria Ferreira Mota do 11CT10 (média de 18,3 valores),entregues por Paulo Diogo Gonçalves, Presidente da Associação de Estudantes da Escola

Secundária Francisco de Holanda. Para a ovação final, a Diretora do Agru-pamento de Escolas Fran-cisco de Holanda, Dra. Rosalina Pinheiro, entre-gou o prémio Francisco de Holanda e de Mérito Desportivo a Inês Francis-ca Ribeiro Cardoso Pinto Jorge, aluna da Turma C do 8º Ano pelo seu de-sempenho e êxitos alcan-çados nos campeonatos regionais e nacionais de ténis.

No passado dia 20 de dezembro, realizou-se a

PRÉMIOS DE MÉRITO E DE EXCELÊNCIAPRÉMIO FRANCISCO DE HOLANDA

Page 25: Encontro edição 62 aefh

25Março de 2015

sessão solene de entrega dos diplomas, prémios de mérito e de excelên-cia dos alunos do 1º ciclo do Ensino Básico (Esco-las EB1 de Santa Luzia e da Pegada) e do 12º ano do Ensino Secundário do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda, re-ferentes ao ano letivo de 2013-2014. Mais uma vez alunos, professores e pais encheram a polidespor-tivo da Francisco de Ho-landa para a assistirem a uma festa bonita em que os pequeninos do 1º ciclo fizeram a animação, inter-pretando, com afinação e alegria, lindas canções. A escolha da data não podia ser mais oportuna, uma vez que o dia 20 de de-zembro de 1864 é outra data muito importante para a história da Esco-la Francisco de Holanda. Foi há 150 anos que, por decreto régio, se reco-nheceu a necessidade de criar uma escola indus-trial na cidade de Guima-rães, tal como enuncia o artigo 9º do referido texto “Estabelecer-se-ão desde já as escolas industriais de Guimarães, Covilhã e Portalegre e no futuro

nas mais terras do reino que pela sua importância fabril carecem delas”. De facto, a cidade, pela sua intensa atividade fabril, no domínio dos têxteis e das cutelarias, carecia de uma escola industrial que

teve a sua primeira aula, vinte anos mais tarde, no dia 14 de janeiro de 1885.

O que pensam os alunos sobre os prémios de mé-rito e excelência.

Encontro- No dia 14 de janeiro foste chamado à Escola para receber o di-ploma de excelência, por teres tido no ano letivo transato a média de 18 valores ou superior. Está de acordo com a inicia-tiva de fazer uma festa para a entrega de pré-mios de mérito escolar?

Inês Pedro, 11 CT2 – Cla-ro. Deve-se premiar o esforço daqueles que tra-balharam para obter bons resultados e esta é uma boa maneira de o fazer.

João Pedro Pinto, 11CT2 - Sim, estou plenamente de acordo, uma vez que eu vejo estes prémios como um reconhecimento do trabalho e esforço que os alunos fizeram durante o ano letivo passado, dan-do uma motivação ainda maior para continuarem a estudar e a aprender nesta escola, sentindo-se

motivados para fazer cada vez melhor.

Pedro Miguel, 12CT6 - A meu ver, uma iniciativa como esta, que visa sobre-tudo reconhecer o esfor-ço continuado, a dedica-

ção incessante e o ótimo trabalho desenvolvido, ao longo dos anos, por parte dos alunos, deve ser sem-pre vista com bons olhos. Apesar de estar comple-tamente de acordo com as celebrações realiza-das, é minha opinião de que, infelizmente no nos-so país, falta muito em termos de incentivo aos jovens de modo a estes continuarem a trabalhar para obterem os bons re-sultados pretendidos por todos nós.

Encontro - Podes referir os teus sentimentos, ao receberes, no palco, o teu diploma de excelên-cia?

Inês Pedro, 11 CT2 – Pen-so que aquilo que todos sentimos foi maioritaria-mente orgulho por ver o nosso trabalho reconhe-cido.

João Pedro Pinto, 11CT2 - Quando subi ao palco, senti uma grande felici-dade por ter sido reco-nhecido o meu trabalho árduo que realizei no ano letivo passado. Para além disso, senti-me orgulhoso de estudar nesta escola,

a qual possui um grande número de alunos de ex-celência e de mérito, para os quais os bons profes-sores que aqui lecionam contribuem para a sua formação.

Pedro Miguel, 12CT6 - Para mim, é sempre uma honra receber um prémio como o deste tipo. Por um lado, sentimos um orgulho enorme por ver aquilo que alcançamos, mas também devemos ter a humildade de mostrar aos outros que também eles o podem conseguir, se a tal se propuserem. Ainda assim, a melhor sensação que retiro é a de poder sentir que sou ca-paz de atingir tal patamar de desempenho, assegu-rando para mim mesmo de que o melhor ainda está para vir.

Encontro - O que é que um aluno tem que fazer para ter uma média glo-bal de 18 valores? Sacri-fícios? Abdicar dos jogos de computador e das dis-cotecas? Programar bem o tempo? Estudar muito, com muitas pesquisas? Ler muito?

Inês Pedro, 11 CT2 – Claro que uma média igual ou superior a 18 valores exi-ge muito estudo, mas isso não significa que tenha-mos de abdicar das ativi-dades que nos dão prazer. O segredo está no equilí-

brio entre o trabalho e a diversão, ou seja, numa boa gestão do tempo.

João Pedro Pinto,11CT2 – Na minha opinião, eu penso que, para um alu-no ter uma média global

de 18 valores, é necessá-rio fazer vários sacrifícios e estudar bastante. Para além disso, é essencial es-tar extremamente atento nas aulas, participando, sendo interventivo e rea-lizar sempre os trabalhos de casa, pois estes dão--nos a noção se entende-mos ou não a matéria le-

cionada na aula anterior, de forma a não se acu-mular dúvidas. Também, de forma a ser possível ter tempo livre, aquele tempo só nosso, é preciso programar-se bem o tem-po. Só assim poderemos

fazer o que nós gostamos, algumas atividades de la-zer e não apenas estudar. Por fim, afirmo que se ti-vermos gosto na matéria que estudamos, nas dis-ciplinas, torna-se muito mais fácil o estudo.

Pedro Miguel, 12CT6 - Eu acho que isso depende muito da personalidade de cada aluno, e, no fun-do, “cada um é como cada qual” como se costuma dizer. No meu caso, o “se-gredo” reside numa ra-zoável gestão do tempo. Admito que, por vezes, um pouco mais de estu-do não fizesse mal, mas é certo, ou pelo menos, é a minha opinião, que fre-quentar atividades extra-curriculares, quer sejam desportivas, culturais e/ou de outro tipo qual-quer, enriquecem em va-riadíssimos aspetos a vida académica de um aluno. Não nos esqueçamos que para além da escola, um estudante deve aprovei-tar a sua juventude, com toda a irreverência a ela associada e, portanto, as noitadas, os jantares com os amigos, e tudo o que daí se compreende deve ser vivido ao máximo, dentro dos limites da res-ponsabilidade é certo. Em suma, o que se deve ter em consideração é que quanto mais bem suce-didos formos nos nossos estudos agora, maior será o leque de oportunidades que nos surgirá no futuro.

Page 26: Encontro edição 62 aefh

26 Março de 2015

1º ano EB1 da Pegada

Suplemento das Escolas EB1 3º ano EB1 da Pegada

Ser pai é…Tirar o medo ao filho e ligar a luz. (João)

Fazer companhia. (Zé)

Cuidar do filho quando está doente. (Margarida Cas-

tro)

Ver filmes. (Andreia)

Andar de mota. (Cristiano)

Ir para a piscina juntos. (Gonçalo)

Dar abraços. (Vitória Mendes)

Fazer cócegas e dar beijinhos. (Francisca e Ana)

Lavar os dentes com o filho (Diogo)

Trabalhar juntos. (Rodrigo)

Ajudar nos trabalhos de casa. (Alba e Vitória)

Passear juntos. (Margarida)

A Brincar com as Palavras

Este ano letivo, a nossa sala é dedicada a Luísa Ducla Soares. Escolhemos esta escritora por gostarmos da forma ligeira, divertida e cativante como escreve. Analisamos já vários textos da autora e decidimos

seguir, de uma forma muito modesta, claro, a sua forma de escrever.

Dormir e acordar

Durmo de diaÀ noite estou a acordarPara ir para a escolaÀ luz da lua estudar Enquanto os meus pais dormemEu estou acordadoQuando eles acordamEu estou deitado Sonho acordadoAndo a dormirEstou todo trocadoQuem me pode acudir?

Que confusão

Comi a pera do meu paiE barbeei a frutaO meu pai berrou-meE começamos à luta

Fui ao banco da cozinhaLevantar o meu dinheiroNo multibanco me fui sentarE magoei o traseiro

Peguei no quadro do pintorPara escrever leiturasNo quadro da escolaFiz várias texturas

Usei uma folha de árvorePara nela desenharE a folha do cadernoPara a jarra enfeitar.

Tudo ao contrário

O crocodilo toca pianoO livro dá um soco à InêsO elefante usa cuecasO pato fala chinês O homem só tem um olhoA árvore usa um cintoO tubarão tem um piercingO gorila choca um pinto O cavalo joga às cartasO porco chuta a bolaA tartaruga cozinhaA foca usa a consola O caracol pinta a casaA aranha assoa o narizNascem os dentes a um velhoO coelho é juiz Adormeço pela manhãÀ noite estou a acordarTomo um banho na camaNa banheira me vou deitar.

A força das palavras

Estraguei o sapatoLevei-o ao sapateiro. Encontrei uma pinhaCaiu do pinheiro. Chegou uma cartaEscreveu-a o carteiro. Caiu-me cabeloFui ao cabeleireiro. Atirei-me ao marFiquei marinheiro. Tenho saúde de ferroPorque a levei ao ferreiro. Será que com fêverasEu faço o fevereiro?

Que confusão

Peguei no ratoPara no computador jogarEle fugiu-me da mãoE um susto me foi pregar

Tenho um vestido rosaQue me costuma picarNesse vestidoNunca mais vou pegar

Fui apanharA Ilha da MadeiraPara na minha casaAcender a lareira

Fui escrever no quadroDo mais famoso pintorE fui pintarNo quadro do extintor

Usei o cabo militarPara pôr na televisãoDeu-me um choqueE houve um apagão

Sementeira

Semeei na minha quintaUm livro da escolaNasceram folhas novasTodas dentro da sacola.

Semeei na minha quintaUma nova lancheiraNasceu uma mulherQue ia para a feira.

Page 27: Encontro edição 62 aefh

27Março de 2015

4º A EB1 da Pegada

Suplemento das Escolas EB1

Os CastelosNa área de Português elaborámos um texto informativo sobre os castelos, a partir

de um mapa concetual.

Texto informativo

A Palavra castelo provém do latim “Castellum” que significa forte, portanto um castelo é um lugar forte, cercado de muralhas.

Estes foram verdadeiras sentinelas da nossa história. As suas muralhas foram testemunhas de batalhas e façanhas. Observavam e comparti-

lhavam alegrias e tristezas. As principais funções foram:

- Controlar o território; - Defender as fronteiras;

- Dar segurança aos reis que nele habitavam; - Delimitar um lugar onde viviam as classes sociais mais altas.Temos a obrigação de conhecer e ajudar a preservar os monumentos. É aqui na escola o primeiro lugar onde o aprendemos. Estamos, assim a resguardar a nossa história e

cultura nacional.

A Associação de Pais e Encarregados de Educa-ção da Pegada tem, este ano letivo, procurado re-formular a sua verdadeira identidade. Tem estado em busca de um novo alento no qual estejam consagradas relações sa-lutares entre várias en-tidades, de modo a pro-

mover a união e a coesão entre toda a sua comuni-dade.

A Associação tem traba-lhado ativamente num processo de renovação baseado em três pila-res, designadamente, na educação, na saúde e na cultura através da concre-

tização de diversas ativi-dades.

Assim, destacamos a cria-ção de um site institucio-nal (http://apeepegada5.webnode.pt/) de modo a manter informados e atualizados os nossos as-sociados e de uma “Ofi-cina de Artes” com o ob-jetivo de acompanhar de forma lúdica as crianças no desenvolvimento da sua criatividade, sensi-

bilidade e concentração. Realizamos também um rastreio de terapia da fala e de terapia ocupa-cional, estando agendado um rastreio dentário para o mês de março.

Este ano, organizamos em conjunto com o Jardim de Infância de S. Pedro de Azurém uma “Festa de Natal” que culminou num agradável convívio à volta de um lanche partilhado.

O ATL também foi atingi-do por essa nova dinâmi-ca e as nossas crianças têm percorrido diversos destinos tais como visitas à Biblioteca Municipal Raúl Brandão; à Oficina do programa “Vai e Vem” promovida pelo CIAJG; à sede da Pastelaria Silva, em Azurém; ao Museu Alberto Sampaio e uma inesquecível viagem até “Perlim: Uma Quinta de Sonhos” em Stª Maria da

Feira.

Em breve, iremos organi-zar um “Piquenique Fa-miliar” e as nossas crian-ças continuarão a viajar, a experienciar, a enriquecer e a estimular o seu desen-volvimento e aprendiza-gem por meio de ativida-des lúdico-pedagógicas.

A Presidente da Direção,

Vanessa Fonseca

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28 Março de 2015

JI Sala “Nascer do Sol”- EB1/JI Santa Luzia

JI Sala “Arco-Íris”- EB1/JI Santa Luzia

1º B EB1/JI Santa Luzia

Suplemento das Escolas EB1

BRINCAR COM O NASCER DO SOLÉ bom pensar no Jardim de Infância, no tempo em que a criança brinca no espaço livre e ao ar livre,….Com os irmãos, onde cada um desempenha o seu papel, ora na esfera familiar, … faz de conta,… heróis da imaginação, que sempre levam em aventura, …,ora para o monte, que simboliza a montanha, a descoberta de …ervas, de caminhos, do cuidado para não cair, o proibido, … na imaginação sem limites,… associam-se outros amigos, mais novos, mais velhos, e…festa é mesmo, quando um adulto se associa e brinca mesmo a sério….Quem não tem estas recordações de infância?

Infância linda,… livre,… com experiências de água, terra,… rolar na erva, experimentar, …, ultrapassar o limite do permitido, do espaço de conforto,…, um desafio sempre presente, no aqui e no agora, com a

possibilidade de descobrir uma nova habilidade, de desafiar a ordem, de …, a Vida sem limites…Vivências de infância, simples e marcantes na força afetiva, que alimenta os interesses, os afetos, os sentimentos, do dia-a-dia de tantas pessoas felizes.

Crianças a brincar!… Olhar cheio de sonho, de força, de determinação, de felicidade, de segurança, de…, a palavra que chama, o som do cavalo a galope, o riso de satisfação por ter conseguido, o sorriso de quem quer a aventura de vencer mais um desafio, todo o corpo é expressão,…quanta sabedoria,… quanta partilha de afetos, de conhecimentos, …Crianças tão diferentes

VISITA À

BIBLIOTECA

MUNICIPAL

RAÚL BRANDÃO

No passado dia 23 de ja-neiro, as crianças da sala Arco-Íris, do Jardim de Infância de Santa Luzia, visitaram a Biblioteca Mu-nicipal Raúl Brandão. Esta atividade consistiu, numa primeira fase, na sessão

da “Hora do Conto” com a história “Chico Fantástico, Super Herói de Plástico” do escritor Pedro Sero-menho, alusiva ao tema da reciclagem.

Numa segunda fase, as crianças tiveram a opor-tunidade de confecionar o boneco Chico (com uma garrafa de plástico, tiras de revista, olhos e um pe-daço de tecido de feltro), num ateliê de expressão

e tão iguais a tantas outras,…aos avós, aos pais, aos irmãos, aos amigos,…Brincar!...

Brincar com o Nascer do Sol, é caminhar pelo conhecimento, simples, descontraído e complexo. No Sistema Solar, entre estrelas e planetas, a luz e a escuridão, a proximidade e a distância, a dimensão e particularidades, os movimentos de rotação e de translação, o tempo destes movimentos e o tempo atmosférico.

Vida em três dimensões? Cinco? É vida que jorra saberes científicos, ….Saberes de relação com as destrezas manuais, com o ritmo da subjetividade, com a melodia do coração, onde a música na Alegria de Viver é Bela.

plástica, para consolida-ção da história explorada. As crianças levaram o bo-neco para casa juntamen-te com um folheto alusi-vo à atividade, contendo neste um espaço para fa-zerem o desenho sobre a história.

Esta atividade permitiu às crianças conhecer o espa-ço da biblioteca pública, dedicada aos mais novos, com o objetivo de promo-

ver e divulgar o livro como fonte de prazer e cultura, estimulando desde cedo, o gosto pela leitura.

As crianças mostraram-se bastante empenhadas e motivadas durante toda a atividade, demonstrando satisfação com o resulta-do desta visita.

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29Março de 2015

2º B EB1/JISanta Luzia

2º A EB1/JISanta Luzia

Suplemento das Escolas EB1

O Carnaval no 1º CNo dia 13 de fevereiro, foi o Carnaval na nossa escola. Como não podia deixar de ser fomos todos disfarçados e a professora aproveitou esta oportunidade

para nos tirar fotografias muito engraçadas.

Com corujinhas tão simpáticas só podia ser um Carnaval muito divertido!

1º C EB1/JI Santa Luzia

Um professor muito estranho

O professor muito estranho

com o agrafador tomava banho.

Escrevia com o apagador

e apagava com lápis de cor.

Punha os livros no chão

e varria com lápis de carvão.

Metia as canetas no nariz ´

e limpava os óculos com giz.

Fazia corridas de borrachas

enquanto enchia a boca de bolachas.

Colava os cadernos no quadro

e pela janela atirava o esquadro.

Fazia malabarismos com a afia

e isso fazia rir a professora Sofia.

Cada dia é uma aventura,A nossa vida fica especialRoupas divertidas usamosNada se leva a mal.Adoramos brincar com serpentinasVamos todos divertir-nosAlegria e sorrisos pairam no arLuzes coloridas sempre a brilhar

Nós muito animadosAndamos mascarados

Entre risos e gargalhadas, Saltamos no recreioCantamos lindas cantigas,Ouvimos muitos aplausosLá desfilamos no polivalenteAdoramos ver toda a gente

CARNAVAL

SimetriasCiência a Brincar

O país da cara-metade — Do outro lado do espelho

«No país da cara-metade, todos os seres são metade opacos, metade

transparentes.»

Assim começa a história do Casimiro, e da irmã Mirita que vivem neste país

fantástico. Mas certo dia conhecem o Vidal que lhes oferece um espelho.

Imaginem o que acontece a seguir aos nossos amigos

Os nossos polícias sem-pre prontos a intervir.

O Sr. Doutor a auscul-tar o coração do nosso “esqueleto” A saúde acima de tudo!

Não faltou um piloto e um futebolista.

A “nossa” coruja de asas coloridas ...

Carnaval sem princesas e heróis ...não é Carnaval!

O amor não podia faltar. Pudera com uma boneca tão gira!

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30 Março de 2015

2º C EB1/JISanta Luzia 3º A EB1/JISanta Luzia 3º B EB1/JISanta Luzia

Suplemento das Escolas EB1

Exposição de Máscaras e Fantoches no

Guimarães Shopping

Os alunos do 2º. Ano – Turma C, da Escola EB1/JI de Santa Luzia viram o trabalho da turma expos-to no Guimarães Shop-ping, no âmbito do 20º. aniversário daquele espa-ço comercial.O projeto das máscaras e fantoches começou com um workshop, realizado com o encenador Mon-cho Rodrigues, no teatro de Fafe, em fevereiro do ano passado.

Este workshop teve a par-ticipação dos pais e alu-nos da turma, que se reu-niram na oficina do teatro

Neste segundo mês do anoO frio triunfa também

Os meninos pequenos na ruaAgasalham-se muito bem.

Neste mês pequenoHá alegria e amorTem muitas festasMas falta o calor.

O fevereiro traz chuvaE veste roupa quenteA chuva fica gelada

E o ar muito reluzente.

Nos dias dezassete e catorzeTodos vamos celebrar

No primeiro é o CarnavalE no outro vamos namorar.

No mês de fevereiroVestimos fatos engraçados

E também celebramosO dia dos namorados.

Fevereiro, fevereiroO mês dos namorados

Vamos festejarCom amigos e casados.

No dia de S. ValentimEstamos todos apaixonadosVamos ser muito amorososCom os nossos namorados.

Fevereiro é CarnavalNinjas, futebolistas

Princesas e bailarinasPalhaços, malabaristas.

Animais e plantas

Era uma vez uma plantaQue tão alto ali à espera Dá umas belas sementinhasNo seu berço de primavera.

Ela tem pétalas bonitasUmas folhas verdes, é a rosa Cheira muito bem E é maravilhosa.

O girassol é uma plantaGrande e amarelaMuito esbelta e eleganteQuem me dera ser igual a ela.

O girassolTem pétalas amarelas A sua raiz é profunda E as suas flores são muito belas.

Os cães são animais vertebradosE respiram pelos pulmõesCorrem, ladram e saltamEles são uns brincalhões.

É fiel ao homemTem um grande coraçãoGosta de brincarCom o meu amigo cão.

O gato nasce do ventre da mãe É um animal vertebrado Gosta de carinhoE também de ser amado.

O grande réptil jacaréNão tem inteligência para pensarTem uma pata que cheira a chuléE grandes dentes para trincar.

O cão é um animal domésticoÉ meigo e simpáticoSe for de boa raça e corPoderá ser um cão labrador

e, com a orientação do encenador, trabalharam com materiais recicláveis. Foram feitos bonecos a

partir de garrafas de plás-tico que deram origem aos fantoches e máscaras de carnaval. No fim, tudo foi revestido com várias camadas de pasta de pa-pel.De janeiro a fevereiro deste ano, os pais con-cluíram o trabalho na sala de aulas, com os alunos. Pintaram e decoraram as máscaras com teci-dos, botões, lãs, rendas, brilhantes, purpurinas, papéis, etc. Os bonecos, foram distribuídos por alguns pais que se ofere-ceram para lhes dar vida de acordo com as perso-nagens do teatro escrito pelos alunos da turma. O teatro de fantoches “A aventura misteriosa” será representado pelos pais para os alunos, no dia 14 de março, pelas 19h, no Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda.

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31Março de 2015

Suplemento das Escolas EB1

“Na sequência das várias reuniões promovidas entre a Associação de Pais, a

Direção do Agrupamento, a Junta de Freguesia de Azurém e a Câmara Muni-

cipal, é com satisfação que informamos que se prevê que durante o mês de

Março se iniciem diversas obras na nossa escola.

Estas representarão a requalificação e manutenção de diversos espaços in-

teriores, nomeadamente a substituição do piso do polivalente, a remodela-

ção de todas as casas de banho, pinturas e diversas correções de infiltrações

que se verificam.

Em termos exteriores, a principal intervenção resultará da alteração do

acesso exterior, que permitirá criar melhores condições de acessibilidade

à escola, bem como aumentar significativamente a segurança de todos os

alunos e pais no acesso e saída do recinto da escola”.

4º A EB1/JISanta Luzia 4º B EB1/JISanta LuziaA nossa professora pediu-

-nos para criarmos um texto sobre o inverno, mas com imaginação, sem ser aquele texto tradicional “ O inverno é uma estação do ano…”, então saíram textos muito engraçados. Escolhemos o da Matilde para pôr neste jornal.

A Mãe Natureza

Toda a gente sabe que o

inverno está a chegar e o

outono a terminar…

A Mãe Natureza está an-

siosa por ter este bebé,

vai-se chamar Inverno.

Enquanto o Outono, o

outro filho da Mãe Natu-

reza, aproveita o tempo

que lhe resta a soprar as

árvores e a pintar as suas

folhas, que vão nadando

nos ribeiros de águas cris-

talinas e reluzentes.

A Mãe Natureza continua

à espera que o seu quar-

to filho nasça. Passou se-

gunda, terça, quarta e na

quinta, dia 21 de dezem-

bro, nasceu.

Mãe Natureza e os seus

três filhos celebraram o

nascimento. A mãe, pro-

tetora, logo o aconselhou:

-Agasalha-te bem, porque

vais governar durante

doze semanas e tu pró-

prio ficas gelado e doente

com a tua estação!

Enquanto a Primavera e o

Verão falavam com a mãe

sobre coisas da vida, o In-

verno arrastou o Outono

para um canto e pergun-

tou-lhe:

- Maninho, posso pergun-

tar-te algumas coisas?

- Claro que sim! Já ago-

ra aproveito para matar

a minha curiosidade e

dizes-me o que fazes na

época em que governas.

- Ok! E que tal se falásse-

mos sobre o que fazemos

quando governamos?

Então falaram durante

muito, muito tempo.

-…deixo cair chuva mo-

lhada e refrescante, dispo

as árvores, pinto as folhas

de várias cores, as minhas

cores, vermelho, amarelo,

laranja, castanho… E tu, o

que fazes?

- Eu ponho as pessoas

quase congeladas, têm

que andar com diversas

peças de roupa. Enchar-

co a terra e a relva, coi-

tadinhas das crianças! As

árvores continuam despi-

das, à espera da Primave-

ra, a nossa mana.

Os irmãos conversaram,

conversaram, até que a

mãe chamou o Outono e

foi-se embora com os três

irmãos mais velhos para

deixarem o Inverno go-

vernar em paz.

Universo

Há muito, muito tempo...

Uma grande explosão aconteceu

Poeiras, rochas e luz libertou

Depois parou

Nunca mais voltou

E “Big Bang” se chamou

Era uma vez...

E assim vida se fez!

Neste belo planeta

A viagem começou

E milhões de anos depois

Uma imensidão de espécies

Criou...

Era uma vez...

E assim vida se fez!

As cintilantes estrelinhas

Tu consegues ver

O Sol é a rainha

Para te iluminar e aquecer

Era uma vez...

E assim vida se fez!

Há ainda os asteróides

E os luminosos cometas

É bom que não os confundas

Com os diferentes planetas

Era uma vez...

E assim vida se fez!

Podes também admirar

O satélite natural

Tem crateras e planícies

E o seu luar fatal

Era uma vez...

E assim vida se fez!

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32 Março de 2015

“Memórias e Desafios” é a designação de um Ciclo de Seminários, promovi-do pelo Centro de Forma-ção Francisco de Holanda, associado às comemo-rações dos 130 anos da Escola Francisco de Ho-landa.

No dia 12 de janeiro, realizou-se o primeiro se-minário que teve como tema “A(s) memória(s) da Escola Secundária Fran-cisco de Holanda – cami-nhos percorridos”, sendo os formadores o Dr. Ama-ro da Neves e a Dra. Isabel Machado, professores da Escola Secundária Fran-cisco de Holanda.

O Seminário sobre “O ensino profissional em Portugal: contributos da Escola Secundária Fran-cisco de Holanda” ocor-reu no dia 26 de janeiro e teve como formadores o Professor Doutor Joaquim Azevedo da Universida-de Católica e Dra. Sandra Machado, professora da ESFH.

No dia 9 de fevereiro, ocorreu o 3º Seminário, com a coordenação da Dra. Célia Gama Lobo Xavier, em que a Dra. Maria José Meireles do Museu Alberto Sampaio apresentou a história do Bordado de Guimarães, vincando o papel da Es-cola Francisco de Holan-da no renovar desta arte genuinamente vimara-nense. Com arte, mas no domínio musical, abriu este seminário com a participação da Ana Elisa, ex-aluna da escola, que executou dois temas clás-sicos de guitarra. Este se-minário teve como com-plemento uma exposição de Bordados, Desenhos de Bordados, Trabalhos de antigas alunas da Esco-la, quer do Curso de Bor-dadoras, quer do Curso de Formação Feminina. Para saber mais sobre o Bordado de Guimarães, três alunas da Equipa do Jornal Encontro entrevis-taram a Dra. Maria José Meireles.

O papel da ESFH no reno-var do Bordado de Gui-marães

Entrevista à Dra. Maria José Queirós Meireles

Por Ana Macedo, Beatriz Mateus e Fátima Abreu ,10 CSE1

A Dra. Maria José Quei-rós Meireles é licen-ciada em História pela Universidade do Porto e pós- graduada em Ciên-cias Documentais (UM) e mestre em Arqueologia pela Universidade do Mi-nho. Desempenha a sua atividade na Secção de Gestão de Coleções do Museu Alberto Sampaio. Colaborou em diversos projetos, entre os quais “O Bordado de Guima-rães, passado e futuro”.

Encontro – Sendo a for-mação da Dra. Maria José em História e Arqueolo-gia, como é que aparece a colaborar num projeto “O Bordado de Guima-rães, passado e futuro”. Tem assim tanto interes-se conhecer a história do bordado de Guimarães? É que parece ser assunto de senhoras que tiraram o antigo curso de Formação Feminina, na Escola Fran-cisco de Holanda ou que fizeram parte do Clube de Bordados da escola, na década de 80.

Dra. Maria José Meireles – Ora cá está uma pergun-ta um bocadinho difícil… Bem… eu tirei o Curso de História, e a história estu-da o homem e estuda o seu passado. E não só… uma das particularidades de estudar o homem é estudar tudo o que fez, incluindo o seu trabalho. Ora, ao vir para o museu, nós trabalhamos com peças de arte, e muitas das peças de arte anti-ga, que são testemunhos do passado, têm borda-do, porque antigamente qualquer peça que fosse de maior cerimónia tinha de ser em seda e, muitas vezes, bordadas a fio de ouro e a fio de seda. Re-parem… o museu Alberto Sampaio possui grande parte da coleção das al-faias litúrgicas da cidade Guimarães que, após a instauração da república, foram transferidas para o Estado. E algumas das pe-ças mais bonitas e delica-

das que nós temos são os vestidos da Nossa Senho-ra da Oliveira. A imagem que vocês vêm no altar é uma imagem de roca, uma imagem para ser vestida. Ela tem um ves-tido que lhe foi dado por D. João V que é todo em seda creme, bordado a ouro. Portanto, nós temos de estudar o bordado. E tem o outro vestido que é todo em seda, bordado com fio de seda, com flo-res em fio de seda. Sendo assim, é importante para uma pessoa que está no museu conhecer as dife-rentes técnicas de traba-lho do passado, porque nós estudamos o passado com objetivo de preparar o futuro. É importante para nós, por exemplo, do ponto de vista didático, estudar o bordado, por-que no século XIX o bor-dado era quase uma for-ma de ensino, de ensinar, de educar as meninas. Porque lhes dava discipli-na, paciência, persistên-cia. Tem de haver persis-tência para se acabar o bordado que se está a fa-zer. É uma forma também de educação, porque o ensino feminino começou muito mais tarde. Geral-mente, eram os rapazes, considerados os chefes de família, eram eles que iam trabalhar, as senho-ras ficavam em casa. O

ensino-aprendizagem do bordado era uma maneira de educar as jovens e, ao mesmo tempo, também faz parte do passado, da história de uma determi-nada cultura (portuguesa, feminina).

Encontro – Como e quan-do é que surgiu o bordado de Guimarães?

Dra. Maria José Meireles - Não se sabe exatamen-te quando é que surgiu o bordado de Guimarães, o bordado já existe há mui-tos séculos. Não chegou tudo até nós, porque ele é feito de material pere-cível e, portanto, desapa-rece com o tempo. Mas, ao longo do tempo, foi-se fazendo bordado, sobre-tudo na versão mascu-lina, porque os homens faziam bordados a ouro, como já disse, com fio de ouro, que eram muito trabalhosos. Nós temos aqui, no Museu Alberto Sampaio, não só esse tal bordado do vestido de nossa Senhora da Olivei-ra, mas também temos os paramentos de Santo Es-tevão, que têm pequenos bordados com pequenos santos. Este tipo de bor-dado, por vezes, quando era mais delicado era fei-to no estrangeiro. Pensa-mos que é o caso daquele que veio para cá, precisa-

mente, para a capela de Santo Estevão, que era na colegiada de Guimarães.

O bordado já existe há muito tempo e foi-se es-pecializando até atingir a sua época de apogeu. Era destinado essencialmen-te ao vestuário de nobres, dos reis e, também, dos membros do clero, pois a partir do século XVI, o consílio de Trento deter-minou que os paramen-tos dos padres, que fazem a ligação entre Deus e os homens, nos ritos reli-giosos, teriam que usar, de preferência, tecido de seda e, muitas vezes, bordados com símbolos eucarísticos. Portanto, ve-mos que o bordado se foi implementando, ao longo do tempo, para melhorar não só o vestuário, mas também outras peças. Teve o seu período de auge e o de decadência. Sabemos que o bordado deixou, praticamente, de ser feito por homens, a partir da Revolução Fran-cesa, para começar a ser feito na intimidade do lar. Como vos disse, como prova da educação femi-nina. E, nessa altura, as meninas, às vezes, eram educadas nos conventos. E o bordado fazia, muitas vezes, parte da sua edu-cação. Elas aprendiam a bordar e levavam, muitas

vezes, a criada/emprega-da com elas que, também, aprendiam aqueles pon-tos, pois tinham de as aju-dar a fazer o enxoval que exigia muita dedicação e muito trabalho. Após a extinção dos conventos, as meninas continuaram a fazer os bordados na intimidade dos seus lares e as empregadas quando casavam, regressavam à sua terra, para tratar dos filhos e da sua casa, passavam a usar o que aprenderam, pensamos nós, de uma forma ao seu gosto. Como elas são minhotas, gostam muito do encarnado, já que é a cor da alegria, vão usar as cores mais vivas, ge-ralmente vermelho, bran-co e preto. Esta porque, no século XIX, o luto era muito carregado. Faziam os coletes que usavam, pondo uma cor de que elas gostavam. Geralmen-te, as raparigas solteiras, porque gostavam do colo-rido, das cores vivas, com muito relevo, usavam o vermelho. E depois, já ca-sadas, bordavam a cami-sa do marido que levava o peitilho com o borda-do de Guimarães. Neste caso, usavam o branco e pensamos que era por causa das lavagens que se faziam antigamente, chamadas barrelas - jun-tavam água com produtos

MEMÓRIAS E DESAFIOSO papel da ESFH no renovar do Bordado de Guimarães

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33Março de 2015

químicos fortes e aque-ciam aquilo tudo e faziam grandes barrelas, quando começava a primavera, que era a altura em que faziam a grande limpe-za da casa e das roupas. Deste modo, as roupas não perdiam a cor. Com o vermelho corria-se o risco de perder a cor. Elas ten-tavam aproveitar tudo ao máximo. Chegava a fase em que a camisa já não tinha conserto. Então, retiravam o peitilho para o aplicar noutra roupa. Muitas vezes, a roupa até passava por herança. Nós pensamos que o bordado de Guimarães começou por volta do século XIX, mas não temos documentos. Nós, na his-tória, temos de ter sem-pre documentos que pro-vem o que dizemos, como noutra ciência qualquer, mas aqui não temos, é só o que nos parece. Quando o museu fez este trabalho de recolha, pediu à comu-nidade que emprestasse ou deixasse fotografar as peças que tinham borda-do de Guimarães. E nós, a partir da comparação e de estudos já realizados, fizemos esta teoria.

Encontro – Ao longo da história, houve natural-mente altos e baixos na afirmação do bordado de Guimarães. Poderia dizer--nos quais foram as fases do seu desenvolvimento?

Dra. Maria José Meireles – O bordado de Guima-rães, realmente, teve fa-ses de grande importân-cia, de grande expoente, de esplendor. E outras fases em que teve prati-camente uma crise. Isto é como tudo… nas institui-ções, na vida das pessoas, há sempre altos e baixos e o bordado de Guimarães, também, teve os seus al-tos e baixos. Ora, uma das épocas bastante difícil situa-se nos finais do se-culo XIX, quando houve a industrialização de Gui-marães. Muitas das mu-lheres rurais que borda-vam em casa começaram a empregar-se nas fábri-cas. Embora continuasse a haver bordadeiras, há uma queda do bordado de Guimarães. Depois vai ressurgir em grande força e vai ter uma grande cri-se nos anos 70, porque a revolução do 25 de abril gerou igualdade de géne-

ros. Quando Guimarães se candidatou a patrimó-nio histórico da humani-dade, criaram-se cursos de património e um dos cursos foi o do bordado que teve muito sucesso. Foram antigas alunas da escola Francisco de Ho-landa que conceberam estes cursos, que foram as professoras destes cursos, porque até aí não havia um ensino rigoroso, com normas. A partir daí, passa a haver normas, o bordado tem de ter de-terminadas cores, um de-terminado desenho, tem que ser perfeito. Acho que esta época em que estamos é que o bordado de Guimarães chegou ao seu auge, a época em que é mais bonito, que tem o desenho mais perfeito, que espelha a beleza, a elegância, evidenciando a ternura e o cuidado fe-minino.

Encontro – A peça mais antiga está associada a que data?

Dra. Maria José Meire-les - Não temos a certe-za, sabemos que naquela época, no século XIX co-meçou a aparecer as pri-meiras peças. Aliás, vão desenvolver-se mais no início do século XX, mas não há certeza absoluta.

Encontro – Quando co-meçou a ser usada a cor azul?

Dra. Maria José Meireles - A cor azul pensa-se que surgiu mais tarde. O bor-dado de Guimarães tem seis cores, agora. Pensa-mos que surgiu numa fase em que o bordado de Gui-marães se afirma e passa a ser conhecido.

Encontro - Então as três cores iniciais são o bran-co, vermelho e preto?

Dra. Maria José Meireles - Penso que sim. Lá está, como vos digo é tudo uma teoria. O branco por-que é mais fácil de lavar, o vermelho porque é vivo e o preto, devido ao culto da época.

Encontro – Quais são as principais características do bordado de Guima-rães, a nível de pontos e de cores?

Dra. Maria José Meireles - Eu conheço o bordado de Guimarães, sei bordar,

mas só umas coisinhas muito simples. Não sou bordadeira especializada como são as professoras do bordado de Guima-rães. O bordado de Gui-marães tem de ter um desenho de qualidade que pode ser geométrico ou vegetalista. O bordado de Guimarães tinha de ser feito sobre um suporte que era, geralmente, o te-cido de linho. Houve uma renovação do bordado de Guimarães e tentou--se aplicá-lo na roupa. E geralmente quando se faz um bordado, porque ain-da são muito caros, tem de se adaptar a vestidos de cerimónia. É feito em seda ou em vestidos de

lã fina. O suporte mudou um bocadinho. Mas o desenho tem continuado dentro dos cânones, den-tro das regras. A técnica é muito perfeita, em que a parte de cima e a de baixo têm de ser perfeitas, não se pode virar o bordado e o avesso ser muito mal feito. Tem de ter seis co-res diferentes que são: o vermelho, o branco, o azul, o preto o cinza e o bege. São as seis cores que se podem usar, mas tem se manter sempre

o tom monocromático, sempre uma única cor de cada vez. Se se mistura, como aqui há uns anos se fazia, já não é bordado de Guimarães. Era este o tipo de bordados que se fazia antes do Curso de Formação Feminina, pois não havia regras. Havia pessoas que eram tec-nicamente muito perfei-tas, que faziam desenhos bonitos e misturavam as cores. Isso não é bordado de Guimarães. Pode ter uns certos animaizinhos, mas o normal é ser mais

vegetalista e geométrico. São seis cores, mas elas têm um registo, o borda-do tem de ser monocro-mático, ter um tom fixo. Estas são as regras mais importantes do bordado de Guimarães.

Encontro – Era utilizado para embelezar os têxteis lar como, por exemplo, lençóis e toalhas de mesa ou em peças de vestuá-rio?

Dra. Maria José Meireles - Começou pelas peças

de vestuário, no bordado popular. O bordado cita-dino era mais para têxteis de lar. O antepassado do bordado de Guimarães é considerado o bordado a branco, porque era o que se usava mais. No século XIX, há um grande desen-volvimento da higiene e um grande cuidado com a saúde. Por isso, usava--se o branco como símbo-lo de limpeza. Na cidade bordava-se muito a bran-co e no campo mais co-lorido. Depois, uns anos mais tarde, juntaram-se as duas facetas. Devemos registar que o bordado depende da época. Uma época faz-se mais para vestuário e noutra para têxteis de lar. Neste mo-mento, vemos que para vender a nível comercial faz-se mais têxteis lar, pequenas peças porque são mais rápidas de fa-zer e não implicam um investimento tão grande. O vestuário é muito mais dispendioso.

Encontro – Qual foi o pa-pel da Escola Francisco de Holanda na consolidação

O papel da ESFH no renovar do Bordado de Guimarães

Miguel Ângelo, 12 AV1

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34 Março de 2015

do bordado de Guima-rães?

Dra. Maria José Meire-les – O papel da Escola Francisco de Holanda foi muito importante desde o princípio, desde que foi criado, porque antes, como eu vos disse, não era bonito uma senhora sair de casa sem compa-nhia, portanto estavam muito presas em casa. Guimarães teve, em mea-dos do século XIX, um grande desenvolvimento industrial e começou a notar-se que havia várias deficiências nesse desen-volvimento. Em 1884, devido a Guimarães ser muito industrializada, realizou-se uma exposi-ção industrial. Ora, para combater estas deficiên-cias, já se tinha pensado que tinha de haver um ensino apropriado, dado que a base de qualquer indústria é o desenho. Havia uma noção nas pes-soas de que tinha de ha-ver formação. Mas foi na segunda metade do secu-lo XIX que se começou a implementar a formação. Antes era nas igrejas, com os padres. Com o libera-lismo, a responsabilida-de de formação passou para o Estado, passou a ser um dever do Estado dar formação a todos os portugueses, embora os rapazes fossem mais im-portantes. Com a exposi-ção industrial, viu-se que Guimarães tinha muita in-dústria e que tinha muitos bordados. Houve pessoas que fizeram uma crítica construtiva do bordado e uma dessas críticas re-clamou a formação para as pessoas saberem dese-nhar com qualidade. Ora, quando a Escola Francisco

de Holanda abriu, é en-graçado, quase um terço dos estudantes eram ra-parigas, porque já esta-vam sensibilizadas que para fazer um bom bor-dado não é preciso só téc-nica, não é só as mãos, é preciso também um dese-nho que dê beleza e ele-gância ao bordado. Então, matricularam-se na Esco-la de Desenho Francisco de Holanda e tentaram fazer um curso feminino de bordados, mas nunca se conseguiu um que fos-se mesmo específico para raparigas. Esse curso foi criado em 1958 e o que vai ser importante é que elas já tinham aperfei-çoado o desenho do bor-dado, mas este curso vai dar a normalização, que são estas regras. Vai dar a noção às raparigas de que há certas regras que é preciso cumprir para ter o bordado regional. O Curso de Formação Femi-nina, também, obrigou, a uma investigação do bor-dado antigo. Essas alu-nas como ficaram com a noção de norma, de nor-malização, que é preciso respeitar, mais tarde, no novo curso do bordado de Guimarães, souberam impor essas normas. E é por isso que o bordado de Guimarães tem, hoje, uma grande qualidade, reflete a identidade de Guimarães. E foi este Cur-so de Formação Feminina, na Francisco de Holanda, que as mentalizou para regras que interiorizaram. Todas as antigas alunas da escola Francisco de Holanda que tiraram este curso são excelentes. E é bom que elas ensinem, porque é muito fácil uma pessoa sair das regras,

das normas… reparem… hoje temos muita oferta e como temos muita oferta, queremos muito inovar e, às vezes, ultrapassa-se um bocadinho a inovação que pretendemos. Mas, para manter uma identi-dade, é preciso ter regras. Essas regras têm que se manter.

Encontro - Terá sido im-portante para a econo-mia da região? Para o turismo? Em que época ou épocas da história se fez sentir mais a sua im-portância, no domínio so-cioeconómico e turístico.

Dra. Maria José Meireles - Há vários ciclos de im-portância do bordado de Guimarães. Foi no século XIX, quando as senhoras quase que não podiam trabalhar fora, no início do bordado, porque o borda-do de Guimarães só se começa a chamar assim a partir dos anos 40. Antes era bordado. Portanto,

quando elas começaram a fazer bordado, dado que não podiam trabalhar fora de casa, diziam que bordavam para os seus alfinetes. Vendiam, às ve-zes, para as lojas comer-ciais, mas era uma indús-tria doméstica. Esta época foi importante. Volta a ser importante nos anos 30 e 40, quando apareceu mesmo o bordado de Gui-marães, porque é uma época em que há um cer-to nacionalismo. Vai ser o auge dos grupos folclóri-cos, das tradições. As pes-soas, que tinham casas de campo, decoravam as suas casas com bordados tradicionais, vestiam-se à maneira tradicional para festas regionais. Por isso, tinham de fazer camisas bordadas com o antigo bordado, o que gera um certo desenvolvimento do bordado de Guimarães que é muito comprado, até as bordadoras da Lixa faziam bordados para as lojas de Guimarães. Esta

foi uma época de grande esplendor. Atualmente, vemos grandes casas de bordados em que se ven-de o bordado de Guima-rães que conseguiu a sua certificação. Do ponto de vista turístico, é muito im-portante. Sendo Guima-rães património da huma-nidade, a cidade abriu-se, há muito mais turistas e uma das procuras é o bor-dado de Guimarães.

Encontro – Acha que o bordado de Guimarães está vivo ou é, apenas, uma relíquia de baú, que só desperta o interesse de

saudosistas?

Dra. Maria José Meire-les - O bordado de Gui-marães está vivo, mas tem de se cumprir sem-pre determinadas regras, porque sem elas perde a identidade, deixa de ser ele, passando a ser um bordado vulgar. Nos nossos dias, o bordado de Guimarães não é uma relíquia de baú, como veem, pessoas de todas as idades fazem bordado de Guimarães. Nós, no museu, tínhamos meni-nas de seis anos a apren-derem a enfiar a agulha e a começar a bordar. Acho mesmo que, hoje, o bor-dado de Guimarães está no seu auge.

Encontro – Acha que Es-cola Francisco de Holan-da tem meios técnicos e logísticos para desempe-nhar um papel importan-te na preservação do bor-dado de Guimarães?

Dra. Maria José Meireles – Começou desde 1884. Desde o princípio come-çou a trabalhar, a tentar incentivar o bordado e a tentar melhorar a sua qualidade. E ao longo de todo o tempo, embora a especificidade só venha em 1958 com esse curso, procurou ensinar as rapa-rigas, havendo, também, aulas práticas de lavores. Ao longo de todo tempo, fez com que o bordado de Guimarães evoluísse com qualidade. Nessa época, o bordado de Guimarães encontrou a sua identida-de, pois até aí ainda não se tinha bem a noção de

identidade, ainda se mis-turavam as cores, havia muitos problemas. O Cur-so de Formação Feminina foi muito importante para fixar a identidade do bor-dado de Guimarães.

Encontro – Há alguma re-lação entre o bordado de Guimarães e o Museu Al-berto Sampaio? Tem inte-resse para o museu?

Dra. Maria José Meire-les – Tem muito interes-se, porque faz parte da história de Guimarães. O bordado de Guimarães começou por ser feito em Guimarães e é o local da sua comercialização, sen-do um dos testemunhos da atividade feminina e de todo o percurso que tem história de Guima-rães. A história é feita pelos homens. Sendo o bordado de Guimarães um produto humano tem interesse para a história da cidade de Guimarães, faz parte da sua identida-de. Mostra a delicadeza, a ternura e todo traba-lho que a mulher vima-ranense teve, ao longo do tempo, porque ela sempre procurou bordar, era quase um lazer, elas faziam-no por lazer, para decorar a sua casa, para decorar a roupa dos seus filhos, a roupa do seu ma-rido. Portanto, representa uma parte da sociedade vimaranense, bastante relacionada com a mu-lher. Eu acho que o bor-dado de Guimarães é das coisas mais femininas que existe. É importante para o Museu Alberto Sampaio porque permite estudar o trabalho feminino, como vão sendo decorados os têxteis. No museu temos uma coleção de têxteis de muito valor, com borda-dos, desde o século XVI. Mas, os bordados deste século são masculinos. Temos, depois, bordados, a partir de finais do sécu-lo XIX que nos permitem conhecer a sua evolução, do século XIX até aos anos 40. O estudo do bordado potencia a relação do mu-seu Alberto Sampaio com a comunidade. Procura-se desenvolver essa ligação.

Encontro - Muito obriga-do, Dra. Maria José, pelo seu contributo e com-preensão.

O papel da ESFH no renovar do Bordado de Guimarães

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Page 35: Encontro edição 62 aefh

35Março de 2015

No âmbito das comemo-rações dos 130 anos da escola Francisco de Ho-landa, realizou-se no dia 26 de janeiro uma ses-são subordinada ao tema “Ensino Profissional – O Contributo da ESFH”. O tema foi abordado pelo Professor Joaquim Azeve-do, professor catedrático da Universidade Católica, investigador do Centro de Estudos do Desenvolvi-mento Humano, membro do Conselho Nacional de Educação, onde dirige as Políticas Públicas e Desen-volvimento do Sistema Educativo. Um marco im-portante do seu percurso biográfico foi a sua liga-ção ao GETAP (Gabinete De Educação Tecnológica, Artística e Profissional), organismo responsável pela regulamentação e pelo (re)lançamento dos Cursos Profissionais.

A contextualização e aná-lise dos Contributos da ESFH para o ensino pro-fissional obrigam a um recuo ao primórdios da criação da escola, visto que nasce, precisamente, com o objectivo de “[…]responder a solicitações e necessidades de prepara-ção e formação profissio-nal dos industriais (operá-rios das indústrias)[…]”.

Mas, nesta sessão recuou--se apenas à história mais contemporânea da ESFH. Os cursos Técnico-Profis-sionais foram relançados na ESFH em 1983, acom-panhando a imposição legal/administrativa (Des-pacho Normativo nº.194--A/83, de 21/10), depois de um período de inter-regno, desde 1975 aquan-do da unificação dos ensinos técnico e liceal, decorrente de mudanças significativas no modelo educativo e na sociedade. Gozando de um patrimó-nio riquíssimo na área do ensino técnico, a Escola Secundária Francisco de Holanda abraça a abertu-ra legal e lança sete cur-sos técnico-profissionais, nas áreas de sempre: - Técnico de Secretariado; Técnico de Electrónica; Técnico de Instalações Eléctricas; Técnico de

Construções Mecânicas; Técnico de Manutenção Mecânica; Técnico de Têx-til e de Produção; Técnico de Contabilidade. Num total que variou entre 7 a 8 turmas, ao longo do seu funcionamento (cerca de 210 a 240 alunos). A ESFH tinha, à data, pouco mais de 2600 alunos, mas ape-nas cerca de metade no ensino secundário (10º ao 12º ano), pelo que os cursos técnico-profissio-nais representaram cerca de 20% dos alunos que frequentavam o ensino secundário.

Foi com a mesma moti-vação e abertura que, em 2005-2006, a ESFH par-ticipou numa experiên-cia piloto proposta pela tutela e passou a incluir na sua oferta formativa os cursos profissionais, que desde a sua criação até àquela data, tinham apenas funcionado em escolas profissionais, ou seja, fora do sistema re-gular de ensino público. Nesta nova experiência (embora por caminhos já muito bem conhecidos pela escola e pelos seus docentes) aposta-se nas áreas da mecânica e da electrónica, onde existia um vasto quadro docente e recursos físicos adequa-dos, bem como uma gran-de apetência de profis-sionais pelo mercado de trabalho. Arranca assim o curso de Técnico de Frio e Climatização com uma turma.

Em 2006/2007 os cursos profissionais generali-zam-se por praticamente todas as escolas secun-dárias. Na Francisco de Holanda, são propostos quatro novos cursos pro-fissionais, nas áreas de sempre: Design, Mecâ-nica, Eletrónica e Eletro-tecnia, Contabilidade e Administração. A repre-sentatividade dos cursos profissionais na escola passa de apenas residual a cerca de 15% do total de alunos inscritos. Nos dois anos letivos iniciais e, apesar da oferta for-mativa ser novidade na escola, as inscrições sur-gem naturalmente. Es-

tatísticas informais em sala de aula permitiram concluir que os jovens escolhem naturalmente um curso profissional na ESFH, devido à imagem de “escola industrial e co-mercial”, ou até de forma mais abrangente: ESCOLA TÉCNICA, de que a escola ainda beneficia (e muito bem!). Do ponto de vista da comunidade docente, os cursos profissionais implicaram um fortíssimo acréscimo de procedi-mentos administrativos e uma significativa altera-ção de hábitos pedagógi-cos (mudança radical do paradigma essencialmen-te liceal) que originaram, por vezes, reações um pouco hostis. A adoção da estrutura modular de organização dos cursos e da avaliação dos alunos foi, contudo, rapidamente interiorizada.

Em todo o percurso, do qual se retrata o início, até aos nossos dias, a es-cola tem mantido firme-mente os critérios que definiu como necessários à manutenção da qualida-de do ensino profissional. A oferta formativa incide sobre as áreas que são pri-meiramente aquelas que refletem o interesse do meio laboral envolvente

e onde simultaneamente pode garantir condições físicas e de equipamentos e massa crítica (docentes) motivada. Também aqui seria possível recuar aos primórdios da história de escola e encontrar para-lelo nas motivações dos fundadores para a esco-lha das aulas ministradas.

Como em todos os qua-drantes da sociedade e do funcionamento das escolas, a evolução tem sido grande e permanen-te. Tem-se mantido, ape-sar dos constrangimen-tos, as áreas de sempre e tem-se feito um esfor-ço grande em manter a massa crítica afeta a es-sas áreas, não deixando esmorecer a vitalidade dos cursos profissionais pelos quais a escola já é conhecida. Tem-se reali-zado um enorme esforço financeiro na aquisição de materiais, consumíveis e equipamentos, de modo a garantir a qualidade da formação ministrada; isto acontece particularmen-te em áreas de grande volatilidade tecnológica. Aproveitou-se o melhor possível a oportunidade que surgiu com a inter-venção da Parque Escolar: as instalações específicas afetas aos cursos profis-

sionais foram, em grande parte, intervencionadas com a colaboração dos docentes da escola; fo-ram adquiridos equipa-mentos cuja necessida-de era sentida há muito tempo, mas que, de outro modo, não seria fácil de adquirir; foram moderni-zados áreas e espaços de trabalho de forma ade-quada às exigências dos conteúdos e dos cursos ministrados. Os docentes das áreas técnicas têm feito um enorme esforço (sempre com a melhor colaboração do Centro de Formação) no sentido de atualizarem a sua forma-ção em áreas específicas e conteúdos a abordar. A massa crítica de docentes envolvidos na lecionação dos cursos profissionais tem crescido, o que im-plica maior discussão pe-dagógica; mais troca de experiências; maior inte-ração e entreajuda. Tem existido grande debate em torno de componen-tes de formação de base, como é o caso da discipli-na de Área de Integração de importância capital para a formação integral dos jovens, mas também de enorme dificuldade na atribuição de servi-ço docente, dado que agrega saberes de várias

áreas, como a história, a geografia, a filosofia, ci-dadania, o exercício ativo e livre do pensamento, da análise, da crítica, a inte-gração plena na comuni-dade local; o bom senso… O desafio foi entregue ao departamento de filoso-fia, que passou a planear, a gerir e dinamizar os seus conteúdos, em equipa.

Mas, por outro lado, é também necessário notar que os cursos profissio-nais e o ensino profissio-nal, também, têm con-tribuído para a evolução natural e positiva da esco-la. Desde o seu início, têm contribuído para reduzir o abandono escolar, inte-grando e dando formação a alunos que, pelo menos até ao ano lectivo 2013-2014, não frequentariam o ensino secundário, se não fosse por esta via. Em muitos casos, foi flagran-te o valor da formação recebida para o aumento da autoestima e para o desenvolvimento social, cultural e cívico dos alu-nos. Importa, no entanto, e tem sido feito grande esforço nesse sentido, não associar diretamen-te a opção pelos cursos profissionais a percursos escolares mal sucedidos.

A escola tem aproveita-

MEMÓRIAS E DESAFIOS ENSINO PROFISSIONAL – OS CONTRIBUTOS DA ESFH

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36 Março de 2015

VISITA DE

ESTUDO

À

AMTROL-ALFANo dia 27 de janeiro, os alunos da turma 11TMC do curso técnico de meca-trónica (um curso de me-cânica que também tem eletrónica) realizaram uma visita de estudo/ses-são de trabalho à unidade fabril da AMTROL-ALFA, uma empresa de refe-rência a nível mundial, da área da metalurgia, que se situa nos arredores do

do as oportunidades que os cursos profissionais oferecem para estabele-cer parcerias estratégicas com empresas relevantes do concelho de Guima-rães, através de protoco-los de estágio; protocolos de colaboração estraté-gica, como a realização de projetos e trabalhos, a realização de sessões de trabalho ou outras ati-vidades. A presença de alunos nas empresas per-mite, não só divulgar a for-mação e as competências adquiridas; mas também fazer a realimentação dos processos e dos métodos usados nas empresas e demais instituições e rever os processos, métodos e abordagens aos conteúdos realizados pelos docentes. Permite ainda estabelecer uma relação de serviço à co-munidade local e perce-ção das suas necessidades e potencialidades no âmbito da formação. Os cursos profissionais têm exercido um papel impor-tante na abertura (ou rea-bertura, porque esteve na sua génese) da escola; do seu ensino; e das funções docentes à comunidade local.

O Professor Joaquim de Azevedo relembrou aos presentes as motivações humanistas associadas à criação dos cursos profis-sionais: integrar e permi-tir a integração de alunos no ensino secundário cujo objetivo não fosse o do in-gresso no ensino superior, resolvendo e colmatando a falta de respostas do ensino secundário, de na-tureza meramente liceal, que visava unicamente a preparação dos alunos para o ingresso no ensi-no superior; responder a inquietações e angús-tias dos adolescentes e jovens sujeitos a repro-vações sucessivas no en-sino básico e secundário, particularmente neste último; abandono escolar precoce, sem formação profissional; responder a inquietações das famílias que viam os seus jovens a braços com a recusa da escola e com falta de ferramentas sólidas de inserção socioprofissio-nal; dotar os jovens de autoestima e ferramentas

de exercício de uma cida-dania responsável e ativa, no seio das suas comuni-dades; responder a ne-cessidades concretas das diferentes comunidades locais, diferentes e con-cretos tecidos empresa-riais e instituições.

No âmbito da legislação e implantação dos cur-sos profissionais, os seus responsáveis assumiram opções inovadoras como, por exemplo, a criação de escolas privadas e marginais ao sistema de ensino regular; o envol-vimento de forças vivas das diferentes comunida-des locais, como câmaras municipais, associações empresariais, associa-ções profissionais, entre outras; um currículo di-ferenciado e adaptado às diferentes necessidades dos meios envolventes às escolas, através da cria-ção de uma ampla gama de ofertas de cursos pro-fissionais; a avaliação modular; a possibilidade de permitir o acesso ao ensino superior aos seus diplomados.

O balanço de quase 30 anos de ensino profissio-nal apresenta como ban-deira o sucesso escolar que permitiu alcançar. Este foi até o argumento apresentado pela tutela para a integração dos cur-sos profissionais nas esco-las secundárias públicas.

O caminho dos cursos profissionais continua-rá e foram levantadas na sessão questões e desa-fios prementes a que as escolas terão de dar res-posta, nomeadamente a crescente dificuldade que os alunos provenientes dos cursos profissionais têm sentido no acesso ao ensino superior, devi-do ao facto de se verem defrontados com provas de acesso que integram conteúdos que não vi-ram abordados, ao longo da sua formação. Uma outra questão sempre presente é a integração correta e digna dos cursos profissionais nas escolas públicas. Foi proferida pelo convidado uma frase eloquente: “Aquelas que amam os cursos profis-sionais, deverão mantê-

-los. Às restantes deverão ser-lhes retirados”. Ficou também a questão da diversificação do ensino secundário, que passando a ser obrigatório, herdou também a obrigação de dar resposta a todos os alunos!

Apresentamos, agora, um quadro que pretende comparar as motivações da sociedade local, ao lu-tar pela criação da Escola Francisco de Holanda e as motivações do GETAP ao criar o ensino profissio-nal.

Motivações do GETAP Motivações de Criação da Escola Industrial de Francisco de Holanda (Sociedade Martins

Sarmento)

Resolver e colmatar a falta de respostas do ensino secundário, de natureza meramente liceal, que visa unicamente a preparação dos alunos para o ingres-so no ensino superior;

Diagnosticar e resolver os problemas do ensino básico e secundário no concelho de Guimarães;

Responder a inquietações e angústias dos adoles-centes e jovens: reprovações sucessivas no ensino básico e secundário, particularmente neste último; abandono escolar precoce, sem formação profis-sional;

Responder a solicitações e necessidades de prepa-ração e formação profissional dos industriais (ope-rários das indústrias). Refira-se que só no primeiro ano de actividade a Escola Industrial teve 152 alunos, 14 dos quais mulheres, havendo muitos em lista de espera;

Responder a inquietações das famílias que viam os seus jovens a braços com a recusa da escola e com falta de ferramentas sólidas de inserção sociopro-fissional;

Dotar os industriais (operários) e os jovens do con-celho de ferramentas que lhes permitissem o exer-cício das suas funções profissionais, mas também o uso pleno da sua liberdade;

Dotar os jovens de autoestima e ferramentas de exercício de uma cidadania responsável e ativa, no seio das suas comunidades;

Responder a necessidades concretas das diferentes comunidades locais, diferentes e concretos tecidos empresariais e instituições.

Responder às necessidades diagnosticadas, nas indústrias e nos serviços de Guimarães, de operá-rios especializados.

Sandra Machado, Professora do Ensino Profissional

concelho de Guimarães. A sessão de trabalho insere--se num protocolo de coo-peração entre a AMTROL e a Escola Secundária Francisco de Holanda.

O técnico de mecatrónica é o profissional qualifica-do apto a desempenhar tarefas de caráter técnico relacionadas com a manu-tenção, reparação e adap-tação de equipamentos diversos, nas áreas de eletricidade, eletrónica, controlo automático, ro-bótica e mecânica

A visita foi muito pro-veitosa para os alunos que puderam assistir à realização de processos industriais inovadores,

como a soldadura laser e o controlo de qualidade de soldadura por Raio-X, bem como contactar com profissionais da sua área de formação. É de realçar ainda a oportunidade fa-cultada aos alunos e pro-fessores participantes, de conhecimento e contacto com todo o processo de produção de um produto altamente inovador - a produção de uma nova garrafa de gás, em chapa de espessura equivalente a um terço da espessura da garrafa tradicional, em aço especial de elevada resistência, reforçada por revestimento em fibra de carbono, e, que, submeti-da a ensaio destrutivo de pressão interna, resiste

a pressões de aproxima-damente 1.000 kg/cm2, dez vezes uma superior à pressão suportada por garrafa tradicional.

A visita contribuiu posi-tivamente para a forma-ção técnica dos alunos e para o seu crescimento cultural, proporcionando meios de aprendizagem alternativos à clássica sala de aula. Este tipo de atividades permite ain-da aos alunos mostrar as suas potencialidades e perceber a cultura das or-ganizações da sua área de formação.

Sandra Machado, Professo-ra do Ensino Profissional

ENSINO PROFISSIONAL – OS CONTRIBUTOS DA ESFH

Page 37: Encontro edição 62 aefh

37Março de 2015

A Secção Regional do Nor-te da Ordem dos Arqui-tectos (OASRN) convidou todas as Instituições de Ensino da Região Norte, a participar numa ação de sensibilização/ divulga-ção, intitulada de “Vamos procurar a Arquitectura”, integrada nas Comemo-

rações do mês da Arqui-tectura, que decorreu em outubro. Pretendia-se, com a realização desta ação, sensibilizar a popu-lação mais jovem para a necessidade e respeito pela Arquitetura e pelo trabalho do Arquiteto, com vista à sua valoriza-ção, dando corpo a um programa académico que

pretende contribuir para a educação estética, para o desenvolvimento da criatividade pluridimen-sional e plurisensorial, com gramáticas próprias, que importa descobrir desde cedo.

Tendo conhecimento des-te concurso pelo nosso aluno e arquiteto Tiago Bragança Borges, o de-partamento de Matemá-tica do Agrupamento de Escolas Francisco de Ho-landa decide integrar no seu plano de atividades a sua participação. O traba-lho, intitulado “A Escola Francisco de Holanda e a cidade à sua volta” apre-sentado em três momen-tos, enquadramentos, posters e vídeo, foi apre-ciado como um todo e selecionando pelo júri por unanimidade.

Neste trabalho estiveram

VAMOS PROCURAR A ARQUITETURAenvolvidos 42 alunos de diferentes áreas: 10.º ano dos cursos científico--humanísticos de Artes Visuais e Ciências Socioe-conómicas, 11.ºano do curso científico-humanís-tico de Artes Visuais, 11.º ano do Curso Profissional Técnico de Design e Ensi-no Especial, seis professo-res e seis assistentes ope-racionais.

A exposição dos traba-lhos culminou com a rea-lização de uma sessão de encerramento no dia 26 de janeiro pelas 10 horas no auditório da Escola Secundária Francisco de Holanda, na qual foi pro-ferida uma palestra so-bre o tema apresentado, com várias intervenções: Arquiteto Tiago Bragan-ça Borges, antigo aluno da ESFH, Drª Maria José Meireles do Museu Al-berto Sampaio, Dr. Antó-

nio Emílio Ribeiro, antigo professor da ESFH, Dr. Carlos Falcão e Dr. Viana Paredes, professores da ESFH e Arquiteta Cláudia Costa Santos, Presidente da Ordem dos Arquitetos da Secção Regional Norte.

Aqui fica um reconhecido agradecimento da escola à Associação Muralha, ao Museu Alberto Sampaio, à Sociedade Martins Sar-mento e às empresas RTL e Cristêxtil pelo apoio que deram à organização des-ta atividade.

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38 Março de 2015

UM PRESENTE

POR UM

SORRISO A Campanha de solida-riedade a favor do Lar de Santa Estefânia é uma atividade que se vem de-senvolvendo na nossa escola há mais de uma década e tem como prin-cipal objetivo a sensibili-zação dos nossos alunos para os problemas sociais que envolvem as crian-ças e jovens em risco. A campanha de divulga-ção e sensibilização feita pelos professores Alice Alves, Armandina Silva, Célia Gama Lobo, Cristina Tomé, Fátima Sarmento, Fernanda Salgado, Glória Cardoso, Leonor Castro, Manuela Campos, Mário Roque, Rosa Marinho, Ro-sário Ferreira, junto dos nossos alunos decorreu

durante o mês de dezem-bro. As turmas envolvi-das foram 10AV1, 10AV2, 10CSE1, 10LH1, 10LH2, 10LH3, 10LH4, 11AV1, 11AV2, 11CSE2, 11CT2, 11CT3, 11CT5, 11CT6, 11CT7, 11LH2, 11LH3, 11LH4, 12CT1. 12CT2, 12CT3, 12CT4, 12CT6, 12CT8, 12TDS, reunindo cerca de 600 alunos. A en-trega dos presentes reali-zou-se no dia 7 de janeiro no Lar de Santa Estefânia, acompanhado de um can-tar de reis coordenado pelos alunos da turma 12CT6 e um coro formado pelos alunos e professo-res envolvidos, momento que se torna inesquecível para quem visita e para

quem acolhe.

Maria Inês e Carina, 11CT2

Testemunho do professor Mário Roque

Em bom rigor, não vos posso dizer a partir de quando se começou a ir ao Lar de Santa Estefânia de forma sistemática, “le-vando” os reis e as pren-dinhas... As coisas foram evoluindo e, de há bas-tante tempo a esta parte,

é a professora Célia quem coordena a atividade.

Apenas vos posso dizer o que terá estado na ori-gem destas visitas.

No ano letivo de 96-97,

fui orientador de um gru-po de estágio de Matemá-tica, da Universidade do Minho. Eram três as es-tagiárias: a Ângela, a Cris-tina e a Sónia. Uma das atividades em que nos envolvemos, logo no iní-cio do ano, junto de toda a comunidade escolar, foi a da recolha de presentes para entregarmos a crian-ças de instituições caren-ciadas do nosso concelho, na época natalícia. Cha-

mamos-lhe “Um presente por um sorriso”... Foram feitos cartazes por alu-nos de artes e em vários pontos da Escola estavam “caixotes de recolha” (vão em anexo algumas fotos). A adesão foi enorme... e

VISITA DE

ESTUDO

A COIMBRA

No passado dia 9 de janei-ro, todas as turmas do 11º ano do curso de Ciências e Tecnologias da Esco-la Secundária Francisco de Holanda participaram numa visita de estudo a Coimbra, mais propria-mente à Universidade de Coimbra “Alta e Sofia”, Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Esta visita foi organizada pelos professores das dis-ciplinas de Física e Quími-ca A, Biologia e Geologia e Português.

Esta deslocação dividiu--se, essencialmente, em duas partes: na parte da manhã, metade das tur-mas visitou a zona histó-rica da Universidade de Coimbra, enquanto a ou-tra metade se dirigiu ao Museu das Ciências da Universidade, tendo, de tarde, estas trocado os lo-cais de visita.

Na Universidade de Coim-bra, os alunos foram acompanhados por uma guia que explicou a histó-ria da universidade, dan-do informações. Assim, à medida que os alunos foram visitando os vários pontos de interesse da Universidade – Biblioteca Joanina, Prisão Académi-ca, Capela de São Miguel, Sala dos Capelos, etc. – a guia ia informando os alu-nos de várias curiosidades acerca desses locais. Num primeiro momento, ainda no espaço exterior, os alu-nos tiveram a oportunida-de de contemplar os edifí-cios emblemáticos, assim como, a tão famosa Torre da Universidade de Coim-bra, com a “cabra” no seu

com maior ou menor difi-culdade, lá fomos contac-tando diferentes institui-ções e procurando deixar um presente para cada miúdo ou, pelo menos, ajudar nas ofertas das suas festinhas de Natal! É claro que apareceram ou-tras ofertas (roupas, por

exemplo), que também distribuímos. Nos anos se-guintes, já com a ajuda da professora Célia e envol-vendo turmas no trabalho de recolha e distribuição, fomos procurando repetir a distribuição de prendi-nhas, tentando abranger o maior número possível de instituições. Sempre numa perspetiva de en-tregar mesmo uma pren-dinha às crianças e aos

AEFH FORA DE PORTASVISITA DE SOLIDARIEDADE AO LAR DE SANTA ESTEFÂNIA

jovens. O Lar de Santa Es-tefânia foi um dos locais a que fomos, desde sem-pre e... talvez por termos sentido a importância do gesto para com aquelas crianças e jovens, nunca deixou de ser “contem-plado”.

E é isto... Parece-me tal-vez exagerado dizer que o que se faz agora partiu de facto do que foi feito naquelas alturas. Mas o espírito, sim. Esse parece--me inalterado. E ainda bem.

Testemunho da aluna Inês Fernandes, 11CT2

Acerca da visita ao lar de Sta. Estefânia tenho ape-nas uma coisa a dizer: adoro a iniciativa.

Já tinha participado o ano passado e, se para o ano a escola continuar com o projeto, com certeza lá estarei. Não há palavras para descrever a felicida-de que trazemos todos os Natais àquelas crianças e adolescentes e que trans-parece sempre tão noto-riamente pelos sorrisos, olhares de cumplicidade e obrigadas com que os alunos da Francisco de Holanda são recebidos.

É ainda de destacar o envolvimento não só dos alunos na atividade, mas também dos professores, o que me agradou bastante.

Em jeito de conclusão, considero que a iniciati-va é uma mais valia para aqueles que a ela aderem e deve continuar a ser promovida.

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VISITA AO GRUPO SANTIAGO

39Março de 2015

interior (sino), o Pórtico Manuelino da Capela de São Miguel e a vista sobre o Rio Mondego que refle-tia a luz do Sol brilhante e o céu extremamente azul daquele dia.

Para além disso, os estu-dantes apreciaram o mag-nífico interior da Bibliote-ca Joanina – século XVIII –, as suas pinturas no teto, o grande retrato de D. João V, a coleção de cerca de 60 000 livros antiquíssi-mos e o restante espólio, acompanhados da expli-cação da guia. Nesta ex-posição, foi salientado o contributo dos morcegos

residentes na bibliote-ca, os quais contribuem para a sua manutenção, alimentando-se das tra-ças e outros insetos que danificariam os livros. Também, foi explicado que as madeiras exóticas utilizadas na construção das estantes e prateleiras, entre outros elementos, provêm do Brasil, tendo algumas revestimento em talha dourada. A espes-sura de cerca de dois me-tros das paredes de pedra da biblioteca constitui também uma forma de controlo da temperatura no interior, uma vez que diminui as transferências de energia com o exterior.

De seguida, o grupo teve a oportunidade de passar pela Prisão Académica, onde eram presos alunos, funcionários e professo-

res que desrespeitassem as leis da própria univer-sidade. A guia salientou também o facto de este estabelecimento de en-sino superior possuir po-lícia própria que é a pri-meira a atuar, caso haja incidentes dentro da uni-versidade ou até mesmo nas repúblicas – habita-ções dos estudantes.

De seguida, os alunos vi-sitaram o interior da ca-pela de São Miguel da Universidade de Coimbra, que sofreu várias modi-ficações desde a data da sua construção – século XI. No seu púlpito, já pre-gou Padre António Viei-ra e é também de notar que nesta capela podem casar-se apenas alunos, professores ou funcioná-rios da respetiva univer-sidade.

Por fim, ainda na universi-dade, os estudantes desta escola visitaram um dos principais locais de inte-resse, a Sala dos Capelos. Este espaço apresenta uma grande história, vis-to que nela se reuniram as cortes para aclamar D. João, Mestre de Avis, como rei de Portugal. Além disso, nela foi pos-sível observar-se os re-tratos de todos os reis de Portugal, à exceção dos da dinastia Filipina. Esta é uma das salas mais im-portantes da universida-de, já que é aí que decor-rem as apresentações das teses de doutoramento e os doutoramentos Hono-ris Causa.

Depois disso, ainda hou-ve a oportunidade de os

alunos darem um peque-no passeio pela cidade de Coimbra, passando, no-meadamente, pela Sé Ve-lha, pelo Arco Almedina, pela Rua Ferreira Borges e pelo Largo da Portagem.

Durante esta visita, a ou-tra metade dos alunos exploraram o fantásti-co Museu da Ciência da Universidade de Coim-bra. Este museu dividia--se em duas partes. No antigo “Laboratorio Chi-mico”, situava-se parte do espólio, mas também um conjunto de disposi-tivos interativos, sendo os próprios visitantes a manusearem e a obser-varem diretamente os fe-nómenos físico-químicos. Os alunos consideraram esta parte do museu de tal forma interessante e atrativa que demonstra-ram uma grande vontade de aí permanecerem mais algum tempo! Para além desta parte da exposição, os estudantes tiveram a oportunidade de obser-var, acompanhados dos esclarecimentos de uma guia, um vasto conjunto de instrumentos cientí-fico-históricos, a grande maioria do século XVIII. Entre esses instrumentos

e outros objetos relacio-nados, principalmente, com a Física e a Química, estavam um termóme-tro primitivo, radióme-tros, telégrafos, ampolas de raio-X e fluoroscópio, uma pistola destinada a estudar a mudança de direção de uma bala lan-çada sobre a superfície da água, um espelho cônca-vo, balanças, máquinas eletrostáticas, pilhas e ba-terias primitivas, etc.

No âmbito do Núcleo Ge-rador 1 “Equipamentos e Sistemas Técnicos”, um grupo de formandos e formadores das turmas A, B e C - nível secundário, dos cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA), realizaram uma visita de estudo à Rádio Santiago, nos dias 3 e 5 de fevereiro, durante o pe-ríodo da noite, de modo a conhecerem o trabalho desenvolvido pelos seus profissionais e acompa-nharem a sua transfor-mação e evolução, bem

como os seus contributos para o desenvolvimento do concelho de Guima-rães.

O grupo foi acolhido pelo respetivo diretor, Joa-quim António Fernandes, tendo a oportunidade de conhecer o património dos órgãos de comunica-ção social do Grupo San-tiago. Também visitaram a redação do jornal e os estúdios da rádio, onde lhes foi dado a conhecer, entre outros, o novo gra-fismo do jornal e os novos processos de trabalho do-

VISISTA DE ESTUDO À UNIVERSIDADE DE COIMBRA

AEFH FORA DE PORTASDeste modo, terminou a visita inesquecível à ci-dade de Coimbra, apesar de não ter havido tempo para visitar o Jardim Bo-tânico, local que fora pre-visto, inicialmente, para o passeio. É também de no-tar que os alunos almoça-ram em duas cantinas da universidade: Cantina das Químicas e Cantina de S.

minados pelas novas tec-nologias da comunicação e informação. Revelando sempre muito interesse, o grupo teve ainda a possi-bilidade de assistir a uma parte da emissão do pro-grama “Escolha é Sua”. Os visitantes ficaram cons-cientes de que a sua fina-lidade é a de prestar um serviço público que vise a formação e informação dos seus públicos.

Ângela Costa, Professora de

Português

Jerónimo.

A meio da tarde, já um pouco nostálgicos, todos os alunos tiveram de re-gressar à cidade berço, que se tornou mais dis-tante para os que via-javam na camioneta nº 2, devido aos furos nos seus dois pneus de trás em plena A1, na zona de São João da Madeira. De-

vido a este incidente, es-tes estudantes chegaram duas horas mais tarde à escola, após um valente susto e um longo tempo de espera na berma da autoestrada. Apesar dis-so, os alunos fizeram um balanço muito positivo da visita, da qual terão boas recordações.

João Pedro Pinto, 11CT2

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O ORÇAMENTO DE ESTADO DE 2015 E A FISCALIDADE VERDE

40 Março de 2015

Chegou o ano de 2015 e, com efeito, cada um de nós vai-se mentalizando, da já muito habitual, prá-tica do ritual “Este vai ser o ano em que eu …”. Em boa verdade, traçamos novos objetivos e deli-neamos quais as melho-res formas de os alcançar. Todavia uma das coisas de que provavelmente não nos lembremos é a se-guinte: o que o Governo tem reservado para mim neste novo ano?

Pois bem, relativamente a este aspeto, podemos estar tranquilamente descansados, porque o Governo não se esquece de nós, pelo menos, nes-tas alturas e em certas e determinadas circunstân-cias. E aí muitos ou até mesmo a maioria da po-pulação iria afirmar que se podemos estar “des-cansados”, pois não vale a pena a preocupação de o saber.

A menos que não se im-porte de ver os seus direi-tos violados e não queira fazer valer a sua opinião como cidadão pertencen-te a um estado de direito democrático, pois então esqueça o que foi escrito até então, feche o jornal, pois este texto não lhe é direcionado.

A saber, o principal ins-trumento de intervenção económica e social do Es-tado para o presente ano, elaborado pelo Ministério das Finanças, foi apresen-tado pelo Governo aos deputados da Assembleia da República em finais do ano transato. Refiro-me ao Orçamento de Estado para 2015, documento que garantiu a aprovação dos partidos da maioria, nomeadamente PSD e CDS-PP, e a promulgação do Presidente da Repúbli-ca, tendo muito embora recebido o voto contra dos restantes partidos com representação parla-mentar.

Pouco se ouviu acerca das linhas gerais deste diploma, porém o que é visível são as contesta-ções acerca deste novo programa, ou não fosse o próximo ano um ano de eleições legislativas, onde os partidos tentam

ao máximo arrecadar os votos dos eleitores.

Mas ainda assim, que po-demos verdadeiramente esperar destas medidas que estão aí? Serão so-mente aumentos de im-postos, cobrança de taxas e sobretaxas com o intui-to de se vencer aquele que é retratado como o bicho-papão da econo-mia portuguesa, o défice orçamental? Ou haverá ainda esperança para o surgimento de novos in-centivos à natalidade, à formação e à educação, à

cultura, em suma a um fu-turo quiçá mais risonho?

Paralelamente, e sobre a alçada dos Ministérios das Finanças e do Ambiente, foi criada uma nova Co-missão para a Reforma da Fiscalidade Verde que teve em mãos a tarefa de rever as bases do sistema português de tributação ambiental e energética. Durante o seu mandato e, logo após a publicação do Anteprojeto de Reforma da Fiscalidade Verde, o grupo de trabalho solici-tou, através de consulta e discussão pública que de-correu entre os dias 30 de junho e 15 de agosto de 2014, a apresentação de sugestões de simplifica-ção e melhoria da tributa-ção verde. Esta equipa in-dependente recebeu um total de 111 contributos, que se encontram dispo-níveis para consulta onli-ne, provenientes maiori-tariamente de entidades, de entre as quais a DECO, a Quercus e a GALP.

Posteriormente, o Projeto

de Reforma da Fiscalidade Verde, que visa a “simpli-ficação dessa tributação e a revisão dos respetivos elementos essenciais, de forma a promover a com-petitividade económica, a sustentabilidade am-biental e a eficiente uti-lização dos recursos, no âmbito de um modelo de crescimento sustentável mais eficaz”, foi recebido pelo Governo, no dia 15 de setembro de 2014, e já entrou em vigor des-de início deste novo ano. As propostas, que neste se inserem, referem-se

maioritariamente ao se-tor da energia e ao dos transportes, abrangendo do mesmo modo os seto-res da água, dos resíduos, do urbanismo e planea-mento do território, das florestas e da biodiversi-dade. Mas que benefícios traz a fiscalidade verde? Irá introduzir, somente, maior pressão fiscal sobre os contribuintes ou gera-rá maior racionalidade no consumo? Favorecerá ou prejudicará a competitivi-dade do nosso país? Algu-mas das grandes preocu-pações residem no facto de ser possível garantir a neutralidade fiscal das medidas adotadas, assim como o reforço da trans-parência da gestão dos fundos ambientais.

No cômputo geral, a opi-nião do Ministro do Am-biente, Jorge Moreira da Silva, manifestada em di-versas entrevistas e deba-tes públicos, é a de que “ a função da fiscalidade ver-de não é a de aumentar impostos” e que é “atra-vés da neutralidade fiscal

que conseguimos uma forma mais justa de dis-tribuição dos encargos”. Afirma ainda “existirem verdadeiras vantagens nas medidas da fiscalida-de verde”. Provavelmente esteja a referir-se ao facto de a receita fiscal, obtida a partir desta, servir para compensar o desagrava-mento que se verifica no IRS provocado pelo quo-ciente familiar (uma joga-da de mestre …).

Assegura, porém, que “o poder de decisão e esco-lha reside no cidadão e

que deve ser este a optar por pagar o imposto dos sacos plásticos, dos com-bustíveis, da água, entre outros ou que então mo-dere os seus hábitos de forma a tornar-se mais sustentável”. Refere ainda que “existe muito desper-dício, sobretudo nos pro-cessos industriais e que a eficiência pode ser alcan-çada através da reorienta-ção de comportamentos, o que será bom para a economia, para o empre-go e equilíbrio das contas públicas”.

Mas vejamos. Será razoá-vel ir a pé para o local de trabalho, que fica a vários quilómetros da residên-cia, só para simplesmente não ter de utilizar com-bustível? Ou então ir ao supermercado e trazer as compras no bolso das cal-ças e do casaco? Alguns hábitos simplesmente não podem ser alterados. No entanto, deve-se dar apreço à “conscienciali-zação do ambiente” por parte do nosso Governo.

Uma das moções mais contestadas até ao mo-mento é a cobrança de uma taxa especial sobre o carbono. Por exemplo, no caso dos produtos petro-líferos e energéticos, esta medida traduz-se espe-cialmente e irrevogavel-mente (neste caso, con-sidera-se o sentido exato do termo) num aumento dos preços dos combus-tíveis fósseis pagos pelos contribuintes. Na sua es-sência, o Governo quer explorar a “nova mina de ouro” - os cidadãos que têm carro e que o

usam como ferramenta essencial de trabalho, e não como objeto de luxo conduzido por um dis-pendioso motorista até às ilustres celebrações de estado.

Do outro lado da barri-cada, as principais em-presas petrolíferas por-tuguesas defendem-se, dizendo que são obri-gadas a onerar o preço dos combustíveis, pois se trata de “aritmética sim-ples”. Estas corporações afirmam que, juntamen-te com outros fatores indiretos como o IVA, a contribuição do serviço rodoviário e o decreto--lei de incremento de bio-combustíveis, bem mais caros que os fósseis, esta taxa irá simplesmente prejudicar o consumidor final. O facto que, por-ventura, a grande maioria dos cidadãos desconhece, é que as pessoas, quando compram combustíveis, estão essencialmente a pagar impostos, nomea-damente cerca de 50%

do preço final do gasóleo e 60% no caso da gasoli-na. É, geralmente, devido a isto que a redução do valor da matéria-prima não é acompanhada pro-porcionalmente por uma diminuição dos preços praticados no mercado, acabando por existir uma larga margem entre os preços de referência dos combustíveis e os preços a retalho.

Porém, estas instituições não se ficam pela defesa, alegando que estas medi-das ilustram o “oportunis-mo e populismo” que o atual Governo apresenta perto de eleições. Um outro aspeto que estas muito bem realçam é a nossa “assimetria com Espanha”. Cada vez mais, os portugueses vão en-cher os seus depósitos lá fora em vez de contribuí-rem para o estado portu-guês. Por exemplo, se o setor dos transportes es-tiver mal, todos os outros irão estar, porque este intervém em praticamen-te todos eles. E tudo é re-percutido no consumidor final. O governo deve as-sim negociar diretamen-te com as empresas de transporte para que elas venham encher depósitos a Portugal e não lá fora. Só assim se consegue me-lhorar a atual situação.

Infelizmente, os combus-tíveis fósseis irão gover-nar ainda durante as pró-ximas décadas. Contudo, estas instituições dizem serem capazes de redu-zir as suas emissões, sem qualquer interferência do governo, para além de que a sua ação comercial diminuiu as importações de petróleo e aumentou a exportação de produtos petrolíferos, ao longo dos últimos anos.

Acelerar a transição para uma economia de baixo consumo de carbono é de facto importante num país desenvolvido como o nosso, mas tentar evitar as perdas de água e de energia elétrica, que não se observam na indústria petrolífera, pois desse modo não existiria os tais afamados lucros que nes-ta se verificam, seja a for-ma atual mais sustentável

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O ORÇAMENTO DE ESTADO DE 2015 E A FISCALIDADE VERDE

41Março de 2015

e prática de o Governo intervir em outros setores que não este.

Já a nível dos resíduos, esta “reforma verde” ma-nifesta-se através de uma contribuição, no valor de 8 cêntimos, por cada saco plástico adquirido, por exemplo, nos supermer-cados. A Comissão defen-deu esta restruturação, argumentando existir o intuito principal de se re-duzir a utilização destas embalagens para um ní-vel máximo de 35 sacos per capita por ano. Um objetivo bastante longín-quo, tendo em conta que a mesma estimou a atual utilização, por parte da população portuguesa, de uns impressionantes 400 sacos per capita por ano.

Para a Indústria de Plásti-cos, tais “medidas verdes” surgem como uma forma de banir o produto do mercado, para além pro-vocarem o aumento do desemprego, a falência e encerramento de empre-sas do setor. Na opinião destas, a própria reci-clagem do plástico será afetada, não só devido à redução da atividade. In-compreensivelmente, são precisamente os sacos de plástico os que apresen-tam melhor desempenho reciclável.

Por oposição o Ministério do Ambiente esclarece que devem ser as empre-sas do setor a adequar--se às necessidades do consumidor, propondo a produção de embalagens reutilizáveis, como é o caso dos sacos de tecido. No entanto, não é econo-micamente viável fabricar em Portugal os tecidos reutilizáveis, devido ao elevado custo da mão--de-obra necessária, em comparação com países menos desenvolvidos, so-bretudo asiáticos e africa-nos, onde as pessoas são desumanamente explora-das.

Assim, esta taxa irá evi-dentemente penalizar o plástico sobre outros ma-teriais, contribuindo para um aumento desnecessá-rio das importações.

Mas é imprescindível in-tervir. É necessário ter preocupação por esta in-dústria geradora de muito emprego em Portugal. Ao invés de serem aplicados mais impostos, por que não alterar estes sacos plásticos leves de modo a estarem de acordo com características mais “amigas do ambiente”? Não existia necessidade de importar sacos do estrangeiro e a indústria poderia sobreviver em Portugal. É importante al-terar-se certos hábitos de consumo, mas obrigar um cidadão a pagar cerca de 10 cêntimos por um saco plástico? Oxalá os nossos governantes fossem tão preocupados com os seus gastos.

No que diz respeito aos

transportes, não há muito a dizer. Ao que parece não vivemos em Portugal, mas sim num país muito mais saudável e forte em ter-mos financeiros. E o por-quê esta afirmação? Bem, porque aqui entra nova-mente o tema dos veícu-los elétricos. Sejamos sin-ceros e assertivos de uma vez por todas. Existe ain-da um grande desperdício de energia por parte da maioria dos automóveis que circulam nas nossas

via públicas, mas a reali-dade do país não permi-te a mudança radical no sentido da compra de veí-culos movidos a energia elétrica. Que tal alguma neutralidade e consciên-cia social? Uma melhoria da eficiência dos automó-veis de transporte, que vão utilizar sempre fontes de energia não renová-veis, certamente conduzi-ria a uma menor poluição, sem se necessitar de uma transição brusca para car-ros elétricos.

Ou então, porque não, são criadas políticas de trans-porte que beneficiem, ou pelo menos auxiliem, a utilização dos transpor-tes públicos pelo público em geral? A falta destas, levou à sucessiva dimi-nuição do uso deste sis-

tema de mobilidade “ami-go do ambiente”, muito por culpa dos governos, quer do atual, quer dos anteriores. Já que estes meios de transporte não beneficiam das ajudas dadas a veículos a gás e elétricos porque a maio-ria deles são movidos a combustíveis fósseis. Só desta maneira é que se possibilita a inversão da tendência de aumento do uso de automóveis e do decréscimo na utilização

dos transportes públicos.

É certo que manter tudo como está, irá conservar ou até mesmo potenciar o declínio das nossas contas públicas e do am-biente português. A fis-calidade verde pode não resolver todos os proble-mas de Portugal, mas já é algum princípio.

Ainda assim, esta reforma deve passar por dar op-ções, mas falha em certos aspetos nestas escolhas. Por vezes, as medidas atuam como uma espé-cie de IVA e, nesses casos, não se pode fugir e tem de se pagar.

O Jornal “Encontro” pro-curou saber junto da comunidade educativa quais as opiniões acerca deste tema relacionado

com a Ecologia e o Orça-mento de Estado. Estare-mos nós de acordo com tais tomadas de decisão? Será esta fiscalidade ver-de uma nova forma ardi-losa de obter mais dinhei-ro dos contribuintes ou vai muito mais para além disso?

A implementação de qualquer reforma que incida sobre questões es-truturais carece de duas coisas essenciais: de uma

alargada base consensual e de uma aceitação clara da competência dos pro-ponentes.

Nada disto existe, hoje.

De verde teremos, por isso, a cor do dinheiro, que acabará nas mãos dos mesmos virtuosos do costume. E nas das suas famílias. Até que reben-tem com o próximo brin-quedo e nos mandem a conta da reparação.

De verde teremos, por isso, a cor dos mesmos papagaios do costume. Estes encherão os deba-tes com frases feitas que aconselhadores especia-listas lhes segredaram ao ouvido. Eventualmente traduzidas do alemão.

Professor Mário Roque

Nunca, uma reforma fiscal verde deteve tanta aten-ção. Quer concordemos, ou não, o orçamento de 2015, prima, em algumas medidas, pelo incentivo à mobilidade elétrica e aos comportamentos desig-nados ‘’verdes’’, o que é bom, mas que por vezes sobrecarregam a popula-ção com ainda mais gas-tos como, por exemplo, a taxa adicional aos sacos plásticos ou sobre os pro-dutos petrolíferos.

Uma coisa que me intri-ga é o facto de o governo se contrariar um pouco. Ora vejamos, incentivam à compra de carros elé-tricos, mas continuam a cativar as pessoas com grandes máquinas auto-móveis, em sorteios como a fatura da sorte. Porque será que não colocam, em sorteio, carros elétricos? Será pelo facto de sabe-rem que um Audi ou um Mercedes atraem muito mais a população? Mas afinal não querem imple-mentar comportamentos ‘‘verdes’’? E porque não, não trocarem eles os seus belos, caros e poluentes carros, por carros 100% elétricos? Será importan-te refletir sobre esta ques-tão.

Filipa Fernandes 12º CSE2

Penso que com as medi-das propostas na reforma da fiscalidade verde vão sobrecarregar, mais uma vez, os portugueses com impostos, esquecendo os verdadeiros causadores dos problemas ambien-tais. De facto, tudo isto pode não passar de uma “sessão de propaganda” utilizando o ambiente como pretexto para au-mentar impostos sobre a utilização de transpor-tes públicos, por exem-plo, não é um incentivo à melhoria do ambiente, porque dificulta a sua uti-lização.

Devia ser resposto o prin-cípio sagrado de que quem polui é que deve pagar e não quem sofre as consequências da po-luição. Assim, embora os portugueses devam ter preocupações com a defesa do ambiente, o princípio do “poluidor-pa-gador” deve permanecer válido.

Professora Leocádia Rodri-gues

A meu ver, os países para crescer necessitam de criar condições que per-mitam gerar valor econó-mico e social a partir do ambiente e da energia. Portugal possui talento, recursos, infraestruturas, gente bastante compe-tente e metas ambientais. Tudo ótimos ingredientes mas que se transformam

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MEMÓRIA DO HOLOCAUSTOCIDADANIA E

EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

A educação ambien-tal tem como objetivo formar uma população consciente e preocupada com o meio ambiente e os seus problemas futu-ros. Desse meio ambiente dependerão as próximas gerações e, se nada for feito, virão a sofrer fortes consequências.

Por isso, é urgente to-mar medidas e práticas preventivas, alertando, educando e informando as populações de modo a que seja notória a sua in-tervenção.

É necessária a criação de estratégias, no âmbito governamental ou não governamental, no senti-do de se identificarem as ações tomadas que cor-respondam a um equilí-brio por parte do ser hu-mano, fazendo com que este se torne responsável e amigo do meio ambien-te, face às regras e leis de interação e fundamento a pôr em prática, tanto em geral como em particular.

Já várias medidas de pre-venção foram implemen-tadas, não resultando daí grandes melhorias, visto que os interesses se foca-ram mais no desenvolvi-mento económico do que no equilíbrio ambiental.

Sendo assim, é necessária uma educação global de desaceleração e estagna-ção destes problemas que levam à destruição da fauna e flora e à extinção de muitas espécies.

Por isso, a Educação Am-biental é importante para que os resultados negati-vos que, cada vez mais, se verificam no que respeita aos índices de degrada-ção do ambiente, sejam invertidos, quer em ter-mos nacionais, quer em termos planetários.

Nuno Miguel Martins, 12 RLH1 /Ensino Recorrente Noturno

42 Março de 2015

Exposição nas escolas Egas Moniz e Francisco de Holanda

No dia 27 de janeiro de 2015 realizou-se na Escola EB2,3 Egas Moniz e na Es-cola Secundária Francisco de Holanda, uma exposi-ção sobre o Holocausto, realizada pelo departa-mento de História e pelos alunos da turma 12LH1.

A exposição teve por fi-nalidade demonstrar e sensibilizar os alunos para um acontecimento que teve impacto em todo o mundo e que este ano comemora 70 anos, após a libertação da população dos campos de concen-tração.

O Holocausto foi sobre-tudo a eliminação dos ju-deus, em todas as regiões da Europa, dominadas por alemães, nos campos de concentração e de ex-termínio, empreendidas pelo regime nazi de Adolf Hitler, durante a II Guerra Mundial.

O ponto fundamental do nazismo era o racismo, segundo esta ideologia, os alemães pertenciam a uma raça superior, a aria-na, que sem se misturar a outras raças, deveria comandar o mundo. Os judeus eram considera-dos os seus principais ini-migos.

A Alemanha culpava os judeus pelo caos que vivia após a I Guerra Mundial, da qual foi considerada a culpada, e também de-vido aos tratados de paz, nos quais teriam de pagar grandes indemnizações aos países vencedores. Além disso, Hitler e seus seguidores defendiam a tese de que os judeus eram de uma raça inferior e deviam ser eliminados. Mas, além dos judeus, os homossexuais, os asso-ciais (aqueles que tinham algum problema físico ou mental), ciganos, teste-munhas de jeová eram eliminados para assim purificarem a raça supe-rior. Criaram-se os cam-pos de concentração e de extermínio, para que eliminassem a população que não era pura. Todos

os que eram para lá le-vados eram identificados com um símbolo na sua farda às riscas para assim os guardas saberem as ra-zões da sua detenção. Por exemplo, a estrela de Davi era a identificação dos ju-deus, o triângulo cor-de--rosa era o símbolo dos homossexuais.

Nos campos de concen-tração, as pessoas eram levadas a acreditar que “ARBEIT MACHT FREI “ (numa tradução literal o Trabalho Liberta), ou seja, quanto mais trabalhas-sem, mais rápido eram libertados. Isso não era

verdade, porque eles fi-cavam presos até à sua morte. Crianças, mulhe-res, adultos eram força-dos a trabalhar, em condi-ções deploráveis, muitas vezes, com um simples prato de sopa para um dia inteiro e, por vezes, mor-riam desnutridos ou com doenças. Também nos campos de concentração as pessoas com deficiên-cias, até mesmo gémeos, eram levados para faze-rem experiências científi-cas nos seus corpos. Nos campos de extermínio, as pessoas mal chega-vam eram imediatamente mortas, em câmaras de

gás ou cremados.

No campo de concen-tração de Auschwitz, na Polónia, em apenas três dias, foram assassinados, nas câmaras de gás e cre-mados 22 mil judeus. En-tre vários outros campos que lembram o horror do genocídio estão: Dachau e Buchenwald (Alema-nha) e Treblinka na Poló-nia.

Estima-se que a estraté-gia de extermínio progra-mado levou à morte cerca de seis milhões de pes-soas nos campos de con-centração, sem contar as que morreram nos guetos (cidades dominadas pe-los nazistas, cercadas de altos muros e arame far-pado, destinadas ao con-finamento dos judeus).

Com o enfraquecimento da Alemanha, no dia 27 de janeiro de 1945, os mi-litares da URSS chegaram ao campo de Auschwitz e libertaram os primeiros prisioneiros. O mundo ce-lebra, no dia 27 de janei-ro, o Dia Internacional da Memória do Holocausto, instituído em 2005 por uma resolução das Na-ções Unidas e adotado pela União Europeia, no mesmo ano.

Ao longo de toda a expo-sição, pudemos encontrar toda a história do holo-causto, desde o seu iní-cio até ao seu fim, com o acompanhamento de imagens e testemunhos verdadeiros por quem passou este período de horror, que irá ser sempre relembrado.

Ana Rita Silva, 12 LH1

em péssimos pratos con-fecionados por inaptos “chefs”…

Ainda assim, a fiscalidade verde é um bom princí-pio, quer queiram, quer não. O princípio é que está de certa forma a ser subvertido, pois a fisca-lidade verde não pode servir para pagar calotes dos sucessivos governos. É obrigatório reinjetar na economia toda a recei-ta adicional que se reti-ra destes impostos, caso contrário o efeito é per-verso, quer para o cresci-mento económico, quer para criação de emprego.

Para além das dívidas que estes vão deixando, algo que é muitíssimo real é a mudança climática, apesar de alguns não a quererem ver. As metas europeias de diminuição de emissões devem ser cumpridas por todos os países da zona euro e Por-tugal não deve ser exce-ção. Dessa forma, para se ser mais competitivo, não pode haver tanta depen-dência do petróleo. No entanto, esconder carga fiscal por detrás destas preocupações ambien-tais, através de orçamen-to de estado, IRS e refor-ma da fiscalidade verde, isso já se trata de um puro ato de malabarismo. Nem todos nós somos iludidos por essas trocas e baldro-cas, para aparente infeli-cidade dos nossos gover-nantes.

No meu entender, é im-portante frisar que o am-biente deve ser indubi-tavelmente preservado, mas nunca misturado com impostos, pois não pode ser sempre o zé-povinho a ficar com a fava. Para terminar, e numa men-sagem mais direcionada aos jovens, somos nós (ou pelo menos devemos ser) quem possui uma maior consciência de mudança global, sendo por conse-guinte crucial fazer valer os nossos direitos, ques-tionando orientações, e sobretudo sermos ativos na apresentação de ca-minhos, opções e alterna-tivas. Pois de regimes to-talitários já o mundo está farto.

Pedro Fernandes, 12CT6

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43Março de 2015

O Departamento de Filo-sofia e Religiões da Escola Secundária Francisco de Holanda, em colaboração com a APEF - Associa-ção Portuguesa de Ética e Filosofia Prática - co-memorou, no passado dia 26 de novembro de 2014, pelas 10 horas da manhã, o Dia Mundial da Filosofia. O auditório da Escola Secundária Fran-cisco de Holanda acolheu o workshop “Filosofia com humor – uma intro-dução à Filosofia através do Gato Fedorento”, di-namizado pelo Dr. Miguel Coimbra, da Universidade Nova de Lisboa, professor desde 2013, licenciado na Universidade de Braga em Filosofia, com mestrado na Universidade de Lisboa e aluno de Erasmus em Madrid. Esta palestra vi-sionou “passar uma ideia de Filosofia como algo valioso e de grande im-portância independente-mente da profissão futura de cada um”. Para além disso, pretendeu, ainda, ligar a Filosofia à “arte de argumentar”, apresentan-do como conceito-chave as palavras “pensamen-to crítico” e enraizar na mente dos ouvintes a ideia de que “é essencial procurarmos as nossas próprias respostas e não aceitar a primeira que nos oferecem”, sendo que essa procura não tem fim.

Miguel Coimbra começa por dar a conhecer ao au-ditório o exemplo de uma resposta original, porém, descabida, elaborada por um aluno quando con-frontado com a pergunta: “Qual o papel da escola?” O discente, por não ter compreendido o cerne da questão, ao invés de se referir ao papel da esco-la, no sentido conotativo da palavra, alude ao seu sentido denotativo para transmitir o seu ponto de vista, abarcando todos os tipos de papéis usados nesta instituição.

Partindo deste caso, o pa-lestrante explica que, de forma a responder corre-tamente às interrogações com que nos defrontamos no dia a dia, é preciso, pri-meiro, compreendê-las

bem, para que haja evo-lução de pensamento. De seguida, Miguel Coimbra parte para a explanação do espírito da Filosofia, referindo-se a esta como “a disciplina mais demo-crática e pluralista, que estabelece como objetivo compreender os outros e justificar as diferenças que se verificam entre todos os seres humanos, bem como investigar as suas causas e fundamen-tar as nossas crenças.”

Segue-se, então, a apre-sentação do primeiro sketch dos Gato Fedoren-to, referente a Ezequiel

Valadas, presidente da autarquia da mítica Vila Nova da Rabona, o qual argumenta sobre as obras que tenciona edificar na sua terra. No seu discur-so, rico em diversas fa-lácias, como a falácia do apelo à força, do apelo à autoridade e da petição de princípio, este afirma preferir demolir o hospi-tal visto que este “dá má vizinhança” e construir, em detrimento deste, um estádio de futebol. Para além disso, explica que as construções que tem em mente pretendem beneficiar tanto a sua fa-mília como a ele mesmo, aproveitando-se, assim, da sua posição de poder

para fins pouco sensatos.

Com base no paradigma anteriormente exposto, o doutorado reivindica que ser coerente e se-guir as regras da lógica formal não é suficiente para argumentar de for-ma correta, oferecendo uma razão para o facto de as pessoas se afastarem dos bons argumentos: “é difícil construí-los”. Apre-senta, então, o significado da palavra-chave acima mencionada: “pensamen-to crítico é a análise e ava-liação do raciocínio dos argumentos, das ideias e crenças”. Acrescenta,

também, que o debate é necessário para chegar a uma conclusão, ou seja “ é um erro tentar encon-trar logo uma resposta sem antes a discutir, e argumentar não resolve todos os problemas”. Mi-guel Coimbra parte, as-sim, para a distinção de validade e verdade e dos argumentos em válidos, sólidos e persuasivos, fazendo a ponte para a apresentação do conceito de Filosofia e o seu valor.

Defende o “poder das ideias”, afirmando que, as ideias de cada um, nomeadamente os seus objetivos e os seus pen-samentos interferem na

nossa vida quotidiana e que, para além da arte de argumentar, a Filoso-fia é algo prático que se relaciona com as crenças de cada um. De forma a reforçar este facto, o pa-lestrante, compara o es-tatuto das mulheres no passado e no presente. Segundo Arthur Scho-penhauer, a mulher não passa de “um ser de ca-belos compridos e ideias curtas”. Kant dizia que “a particularidade do ho-mem é dizer «eu penso» e a da mulher é dizer «ele pensa» ”, mostrando-nos que a noção de mulher que possuímos e que, ob-

viamente, interfere com a nossa realidade, evoluiu ao longo dos tempos.

Passando ao segundo ske-tch, protagonizado pelo Professor Chibanga, o qual, adivinhando o futu-ro numa bola de cristal, vulgo, “no candeeiro de vidro do Jorge”, prevê a continuação do mundo e finge comunicar com o espírito de D. Afonso Henriques e da avó do seu cliente, de modo a extor-quir-lhe dinheiro, sendo este o exemplo do mero ser humano com o tão vulgar desejo de saber.

Dá, então, a conhecer ao auditório os três dese-jos básicos do Homem

que estão na origem dos nossos comportamentos, nomeadamente o prazer, a aprovação e o sentido, estando todos eles interli-gados entre si. Distingue, também, o que é ser ami-go da sabedoria da pró-pria sabedoria, sendo que o primeiro define “aquele que não possui o saber mas que o procura” e o segundo, “a sabedoria di-vina, o mito e a tradição”, introduzindo uma nova definição de Filosofia: “estar a caminho”.

Recorrendo à ajuda de um outro sketch do Eze-quiel Valadas, o orador reforça, uma vez mais, a relação estreita entre Fi-losofia e argumentação coerente, ajudando-nos a perceber como avaliá-la. Primeiramente, devemos analisar a coerência do argumento, em seguida, indicar e discutir as pre-missas e, por último, de-tetar possíveis falácias. Ao analisar os argumen-tos de Ezequiel Valadas, percebemos que as suas tomadas de decisão se re-lacionam sempre com os seus interesses pessoais e a incoerência em que se afunda o seu discurso está relacionada com o simples facto de, apesar do seu estatuto de autar-ca, ele apenas pensar em si.

Por último, de forma a ex-plicitar algumas falácias informais e a justificar ou-tros dos contributos da Fi-losofia: “fazer jus à desig-nação «homo sapiens» e ensinar-nos a discutir com maior nível e substância”, Miguel Coimbra recor-re à paródia do famoso programa “Casa dos Se-gredos”, pela Mixórdia de Temáticas. Através deste, percebemos que a amos-tra utilizada para ilustrar o caso, isto é, as pessoas que figuram no programa, estão constantemente a entrar em contradição, sendo que a falácia a que recorrem mais frequente-mente é a Ad Nauseum, que consiste em repetir uma ideia até à exaustão. O orador aproveita a dei-xa para explicitar outros erros de raciocínio, como a falácia do recurso à for-

ça, do apelo à maioria, da falsa autoridade e do ata-que pessoal.

No final, foram colocadas duas perguntas ao pales-trante. A primeira consis-tia apenas numa dúvida sobre o que havia sido dito sobre os desejos hu-manos, porém, a segun-da exigiu uma resposta mais elaborada. Quando questionado sobre o pro-grama da disciplina, Mi-guel Coimbra refuta que “os próprios professores sentem que não há liber-dade para escolher o que lecionam. Mas há propos-tas para criar a disciplina de «discussão crítica», que deixa mais oportu-nidade de melhorar a ar-gumentação. Porém, não se pode concentrar só na argumentação, senão não teríamos tempo para completar o programa. Essa disciplina já existe em duas universidades portuguesas.”

Em jeito de conclusão, esta palestra teve como fim transmitir, àqueles que estiveram presentes no auditório, a conceção de uma Filosofia que nos incentiva a questionar o sentido das nossas ações, a não nos contentarmos com qualquer resposta que nos apresentam e a fundamentar as nos-sas ideias, descobrindo, assim, algo com valor prático. “Todos os dias argumentamos para ten-tar convencer os outros”, afirma Miguel Coimbra, “por isso, é que a Filoso-fia vinga todos os dias”, cabendo-nos a nós re-conhecer-lhe a devida importância e dar-lhe o respetivo uso. Por fim, lança-nos um pequeno grande desafio: duvidar e questionar as nossas pró-prias convicções.

Na nossa opinião, este co-lóquio auxiliou os alunos não só a nível académico, mas também nas suas vi-das pessoais e na evolu-ção do seu estado cogni-tivo.

Cláudia Coelho e Inês Fer-nandes, 11CT2

FILOSOFIA PRÁTICA E COM UM TOQUE DE HUMOR: A PERSPETIVA DOS OUVINTES

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JE SERAI CHARLIE?

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44 Março de 2015

santemente defendido e não só quando ocorrem catástrofes como aquela de Paris.

Apesar de tudo, e em meu entender, um dos aspetos

mais negativos a realçar em toda esta discussão é o simples facto de existi-rem obtusos que consi-deram que a culpa destes atentados, ocorridos em Paris, reside nos cartoo-nistas do semanário Char-lie Hebdo. Opiniões do tipo “eles chateavam os muçulmanos, afrontavam a sua religião e, por isso, estavam a pedi-las”, ou então do tipo “eles é que se puseram a jeito com aquelas suas caricaturas ofensivas”, causam-me uma sensação de repulsa pelos seres abomináveis que proferem tais asser-ções. Estabelecer limites

Certamente, palavras como Charlie Hebdo, Es-tado Islâmico e liberdade de expressão são algumas das que mais nos correm nos ouvidos nos últimos tempos. Caros leitores, porventura a maioria de vós, neste preciso mo-mento, sabe o que se avi-zinha ao longo deste tex-to de apreciação crítica, e, por outro lado, outros já devem estar a pensar o seguinte: “Vem mais outro diletante tentar explicar-nos o porquê do conflito de religiões e de estados de direito, só que agora em formato de “jo-vem estudante” que não sabe o que é a vida e que não viu ainda nada do que é o mundo real”. Contudo, não quer isto dizer que eu esteja completamen-te em desacordo com tal afirmação, pois é verdade que existe um número infindável de realidades e perceções do mundo que eu tenho pretensão de descobrir no meu futu-ro. Só penso que escutar a opinião de um simples “jovem estudante” pos-sa ser bastante enrique-cedor porque, no fundo, se pode compreender o que vai na mente daque-les que serão o futuro da nossa pátria. E além disso, a liberdade de ex-pressão é isto mesmo. É ter o direito de exprimir e divulgar livremente o nosso pensamento, sem impedimentos nem dis-criminações, através, por exemplo, da palavra. Ou será que não?

Num primeiro momento, gostaria de me debru-çar sobre o tema Je suis Charlie. Apesar de não ser minha intenção entrar em exacerbantes ironias, vou ainda assim fazer uso das palavras de um dos maiores prodígios do humorismo português, Bruno Nogueira. Este, no programa “Tubo de En-saio” da rádio TSF do pas-sado dia 9 de janeiro, deu a perceber que de facto nós, portugueses, não so-mos assim tão “Charlie” quanto o dizemos. De fac-to, como ele muito bem realça, “num país onde não há um único progra-

para aquilo com que se pode fazer humor seria dar razão aos que dizem que o terrorismo existe por causa dos que usam a liberdade de expressão para fazer rir. Ainda as-

sim, visto nos encontrar-mos afortunadamente num país onde vigora a liberdade de opinião, de-vemos respeitar tais to-madas de posição, apesar de serem completamente infundadas e descabidas.

Contudo, para extinguir-mos tais preconceitos, podemos sempre ensinar ao nosso povo, o que para mim são dois aspetos fundamentais relaciona-dos com este ponto. Em primeiro lugar, a irreve-rência dos atuais órgãos de comunicação social não pode ser mutilada, dado ser esse mesmo estilo um dos elementos

ma de humor nas televi-sões generalistas sobre política”, dizer que “ago-ra somos todos Charlie” é no mínimo idiota. Isto porque, a meu ver, ter a consciência de que não se é “algo”, mas ainda assim tentar iludir-se a si mes-mo, e aos outros, ao invés de alterar mentalidades no sentido de alcançar esse “algo”, é ainda mais ridículo do que não o ser sem o saber. Talvez esta última ideia tenha sido expressa de uma forma um pouco complexa e fi-losófica, mas, como aqui há dias ouvi, “para dese-nhar imbecis, há que ser muito preciso”.

Um outro aspeto que Bruno Nogueira ilustra na sua crónica surge sob a forma de pergunta retó-rica: “ Quantas semanas é que durava um Charlie Hebdo em Portugal, an-tes de ser cancelado por causa de chatices com a Igreja, com Angola, com o Governo, etc ?”. Parece--me que, para além des-tas “chatices”, também grande parte do público português não iria inte-ressar-se por o ler, não só porque para uma parte da população portuguesa é cultura a mais ler um jor-nal, como ver caricaturas a gozar com convicções religiosas, por exemplo, é pecado. Deve ser explica-do a esses acéfalos que o que é antes pecado é não conseguir encontrar a pia-da e a graça naquilo que, muitas vezes nos é mais comuns, é nem conseguir distinguir o humor do in-sulto, pois, quer se queira quer não, existe sempre, em tudo, um lado que nos faz rir, e ainda bem que assim o é.

É tempo de dizer àqueles que se dizem Charlie, mas que não o praticam, para ganharem juízo. Se o querem mesmo ser, que o demonstrem, ma-nifestando livremente as suas opiniões, sem medo das retaliações ou receio de irem contra as ideias impostas às massas. O direito à liberdade de expressão deve ser per-manentemente e inces-

caracterizadores do nos-so estado democrático e republicano. Em segundo lugar, caso os ofendidos, nomeadamente grupos religiosos, se sintam le-sados por estes meios de

imprensa, existem formas jurídicas de os processar e de, em última estância, ser feita justiça. O recurso à violência não é opção para a alcançar.

De igual forma, o facto de estes fundamentalis-tas radicais serem mais “sensíveis à sua religião”, não pode ser desculpa para estes desrespeita-rem todos os princípios de humanidade existen-tes. Seja qual for a reli-gião, nenhuma merece ter qualquer proteção especial, nem em relação ao humor nem à liberda-de de expressão. Nestes casos, não pode ser dada

qualquer margem de ma-nobra aos terroristas, que pretendem, através do medo e da agressão dos direitos humanos, impor as suas “leis absolutis-tas”. Para além demais, não é de todo aceitável que sejam os fanáticos a definir o que os países democráticos podem e não podem ridicularizar.

Um excelente exemplo do princípio da reciprocida-de foi a decisão tomada, aqui há anos, pelo gover-no da Noruega de proi-bir a Arábia Saudita de financiar a construção de mais mesquitas em ter-ritório norueguês. “Seria um paradoxo antinatural aceitar essas fontes de fi-nanciamento de um país, onde não existe liberda-de religiosa. A aceitação desse dinheiro seria um contrassenso”, disse Jo-nas Gahr Støre, na altu-ra, ministro dos Negócios Estrangeiros do governo da Noruega. Na verdade, as autoridades sauditas não autorizam a constru-ção de igrejas e impõem restrições ao evangelis-mo no seu país, pelo que esta medida é justificativa e merecedora de debate pelos países da União Eu-ropeia.

É muitas vezes a falta deste tipo de coerência que leva os países mais desenvolvidos, onde ge-ralmente vigora um es-tado de direito democrá-tico, a desembocarem numa espécie de espiral de contradições. Por ve-zes, a democracia vivida nestes não é totalmente respeitada, mas existe, no entanto, espaço para ha-ver a queixa de que “ou-tros mais selvagens” não a respeitam. É o caso dos principais países líderes europeus virem dizer--se “chocados com este ataque às regras funda-mentais da democracia europeia”, experienciado pelos atentados de Paris, (sublinhando, sem som-bra de dúvida, de que se trata de uma gravíssi-ma violação dos direitos humanos), enquanto a chanceler alemã Ângela Merkel “avisava” que os

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mundo caracterizado es-sencialmente por guerras, ataques e atentados con-tra tudo e todos. Se já ago-ra vão acontecendo coi-sas assim protagonizadas por diferentes pessoas e de diferentes religiões, que não aceitam outras religiões e pensamentos e se cingem àquilo que a sua religião e o seu profe-ta dizem, seria muito pior se o fundamentalismo se estendesse a todo o mun-do. Viveríamos num mun-do desprovido de ideias próprias e um mundo pautado essencialmente

pelo medo e pela discór-dia entre religiões.

O fundamentalismo, em qualquer que seja a re-ligião, priva os seus pra-ticantes de tomarem as suas decisões, contrarian-do a lei humana.

Somos todos livres e te-mos os mesmos direitos mas, num país como o meu, o único direito que tenho é ter uma religião, mas mesmo essa é-me imposta por terceiros.

Ainda assim continuo com esperança, ainda que pouca, em que um dia acorde e tudo isto seja diferente. Um dia em que possa finalmente usufruir de todos os direitos que nos são continuamente retirados e não tenha al-guém a decidir a minha vida por mim. E talvez nesse dia seja feliz.

Inshallah

Até breve,

Uma sobrevivente de um país fundamentalista.

Anabela Mendes, 12LH4

Esta carta é um exercício de fic-ção.

Terá sido escrita por uma rapariga síria em 2017.

Salaam aleikum!

Antes de mais quero pe-dir-vos desculpa por não me poder apresentar de-vidamente, mas tendo em conta aquilo que vou dizer, talvez seja melhor manter o anonimato para evitar ser punida.

Sou uma rapariga, tenho 17 anos e, para meu infor-túnio, nasci e vivo na Síria.

Estamos no Ramadão e escrevo-vos para ajudar a passar estas intermináveis horas em que não posso comer. Durante os 29 ou 30 dias do 9º mês do ano, nós, muçulmanos, somos obrigados a jejuar desde o nascer ao pôr-do-sol. Tal como diz o livro sagrado, é um tempo de renovação da fé, da vivência profun-da da fraternidade e da valorização da vida fami-liar. Neste período, esta-mos mais próximos dos valores sagrados e da re-ligião pelo que é um mês marcado pela leitura assí-dua do Alcorão, idas mais frequentes à mesquita sa-grada e da exploração dos nossos limites pessoais. Apenas podem praticar este costume as pessoas

que não estão doentes, adultos e mulheres que não estejam grávidas ou a amamentar. Já jejuo desde os 13 anos, idade em que os meus pais me autorizaram a fazê-lo, marcando assim a minha passagem para a vida adulta.

Assim sendo, decidi apro-veitar todo o tempo livre que tenho, neste momen-to, para vos explicar como é viver num país sob um regime fundamentalista.

Desde que me lembro de ser gente que recordo a Síria com graves proble-mas económicos, a taxa de desemprego elevada, a carência de apoio por parte do governo aos mais necessitados, o se-tor industrial instável...

Estas condições deplorá-veis e a falta de interesse do governo para resolver estes problemas levaram a que, para além de se refugiarem na religião, a população se revoltasse contra a chefia de Bashar Al-Assad pelo que em 2011, com a implantação de regimes antigoverna-mentais na Síria, começa-ram a aparecer grupos de oposição ao governo mais numerosos e, no mesmo ano, foi aplicada a Lei Sharia no nosso país pela Irmandade Muçulmana, pondo assim fim a qual-quer liberdade que tivés-semos, principalmente as mulheres.

Para quem não sabe, a Lei Sharia é a lei islâmica, ou seja, é um conjunto de leis que rege a vida de todas as pessoas dentro do Islão. Mais que uma simples lista de regras, a Lei Sharia controla total-mente a nossa vida. Nós, mulheres, somos sub-metidas a um código de vestuário pelo que somos obrigadas a usar o hijab e os homens têm de usar barba com um tamanho mínimo de um punho fechado. Só podemos comer carne halal, isto é, tem de ser abatida por um muçulmano e o animal não pode ser morto por meios cruéis ou prolongados; as bebi-das alcoólicas são proibi-das, pois diz-se que alte-ram a consciência do ser

humano; o testemunho de um homem vale o do-bro do de uma mulher, sendo que somos vistas como o elo mais fraco; as mulheres são proprie-dade sexual dos maridos que podem ter até qua-tro esposas... Em caso de desrespeito de alguma destas regras, a pessoa em questão é condenada a uma pena como lincha-mentos públicos, envene-namentos, amputação de membros, apedrejamen-tos e, em casos extremos, a pessoa é executada em praça pública.

Quase todos os dias ve-mos alguém ser punido através destes castigos por crimes que provavel-mente nem aconteceram, mas ali está, mais uma mulher, acusada de ter traído o marido, a ser ví-tima de uma violação co-letiva.

Porém, tudo agravou quando um dos grupos opositores ao gover-no, ligado à Al-Qaeda, os Jihadistas, começaram a ganhar mais poder e no-toriedade, afirmando te-rem-se unido para formar uma “Aliança Islâmica”, com o objetivo de criar um Estado na Síria, sob a Lei Sharia, levando-a ao extremo.

Se já antes a vida aqui não era fácil, a partir do mo-mento em que os Jihadis-tas ganharam destaque tudo se tornou mais com-plicado. Tiros, bombas, guerra, destruição. A cada dia que passa, a réstia de esperança que ainda tinha em conseguir sair daqui, formar-me em jornalismo e ter um emprego algures pela Europa, onde quan-do acordava ouvia pássa-

ros a cantar e o frenesim de pessoas apressadas para os seus trabalhos, ao invés de acordar sobres-saltada com o barulho de tiros, vai-se desvanecen-do. Aqui sou obrigada a estudar o livro sagrado na escola até à exaustão e não podemos aprender nada que não esteja escri-to no mesmo.

Eu, como tantas outras pessoas que vivem em países, onde o fundamen-talismo religioso chega a ter mais influência que a política e onde a morte é uma realidade com que

lidamos diariamente, es-tou presa dentro de mim própria. Todo o meu cor-po está acorrentado e por muito que sonhe, que te-nha uma mente aberta e que a vontade de me ex-primir livremente e fazer aquilo que quero e acho correto seja enorme, sou impedida de o fazer.

Não posso dizer o que penso, não sei se posso sequer pensar o que que-ro. Num país como o meu, o Afeganistão ou o Líbano somos controlados a to-dos os níveis, quem sabe um dia não viremos a ser punidos até por aquilo que pensamos.

É bom ter uma religião e acreditar num ser superior, seja ele qual for, pois ajuda-nos a ultrapassar certos obstáculos, mas a partir do momento em que pas-sa de crença a fanatismo, é obsessão.

O que seria do mundo se todos levássemos o livro sagrado da nossa religião à letra e não permitísse-mos que cada um decidis-se o que fazer? Seria um

gregos poderiam sair da zona euro, caso estes vo-tassem no partido de es-querda radical Syriza nas eleições legislativas do país, ocorridas a 25 de ja-neiro deste presente ano.

Do mesmo modo, um outro aspeto que por-ventura estará a ser me-nosprezado é o facto de atentados como os que se verificaram em Paris, ou até com maior núme-ro de vítimas, ocorrerem quase diariamente em países débeis, onde o Es-tado Islâmico inflige o seu “veneno”. Nesses casos, a atenção dada e o socorro prestado não são os ne-cessários. Agora, quando acontecem em território europeu já é uma história completamente diferente … Só porque os massacres se sucedem no outro lado do mundo, não deixam de ser isso mesmo: massa-cres!

Assim, caso se queira aca-bar com tais ideias reli-giosas fundamentalistas há que ser coerente para com aqueles países, onde estas situações macabras ocorrem mais regular-mente e cortar o mal pela raiz. Ir ao cerne do proble-ma e tratar de o resolver, antes que se alastre de tal forma que seja impossível uma solução pacífica a ní-vel mundial.

Em suma, e tentando ser o mais sucinto e cru pos-sível, têm de ser tomadas medidas concretas, ba-seadas nos direitos demo-cráticos consagrados, que combatam efetivamente este tipo de fundamenta-lismo islâmico que amea-ça a estabilidade dos po-vos de todas as partes do mundo. Ainda assim, não devemos deixar que sur-jam ideais xenófobos ou antissemitas contra aque-les que professam a fé muçulmana, não só por-que “não deve ser o justo a pagar pelo pecador”, mas também porque, não nos esqueçamos que, na antiguidade, a nossa reli-gião mais próxima, o cris-tianismo, sobretudo asso-ciado à Europa, também participou na chacina dum incontável número de crianças, mulheres e homens, pelo simples fac-to de professarem uma

diferente crença. E, ver-dade seja dita, este últi-mo ponto é um dos aspe-tos que está na origem da violência praticada pelo Estado Islâmico.

Logo, devem-se fazer to-dos os esforços no senti-do do diálogo e da com-preensão, com o objetivo último de se alcançar uma ampla base de entendi-mento e de pacificação entre culturas e religiões diferentes.

Pedro Miguel

Fernandes, 12CT6

http://expresso.sapo.pt

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46 Março de 2015

SUGESTÕES

DE LEITURA

Livro: Mulherzinhas

Autor: Louisa May Alcoo

Mulherzinhas é um fa-moso livro de Louisa May Alcoot que retrata a histó-ria de quatro irmãs – Jo, Amy, Beth e Meg – que, após a partida do pai para a guerra, são con-frontadas com inúmeras dificuldades na família. Juntamente com a mãe, as quatro raparigas veem--se frente-a-frente com problemas económicos e são obrigadas a crescer rapidamente, sem nunca perder a alegria e positi-vidade características da família. Esta obra carrega várias lições de vida, que Alcoot capta e transmite com clareza num modo de escrever sublime.

Livro: O Código Da Vinci

Autor: Dan Brown

O Código Da Vinci é um dos livros mais famosos e vendidos do século XXI, tendo conquistado nume-rosos topos de vendas e encontrando-se traduzi-do em mais de quarenta línguas. Este êxito de Dan Brown fala sobre a jor-nada de um prestigiado simbologista de Harvard, Robert Langdon, na in-vestigação de um cura-dor do museu do Louvre. Acompanhado por Sophie Neveu, Langdon descobre pistas escondidas que o levam à descoberta de alguns dos maiores se-gredos da Igreja cristã. O livro de Dan Brown tem a capacidade de fazer o leitor pensar, com a sua escrita arrebatadora e sô-frega, prendendo-o desde o primeiro momento.

Sofia Macedo, 10CT2

Nem todo o funda-mentalismo é islâ-mico e nem todo o islamismo é funda-

mentalista

Penso que todos nós já ouvimos falar dos temas “fundamentalismo” e “islamismo” e é comum que estes sejam asso-ciados, mas a verdade é que “nem todo o funda-mentalismo é islâmico e nem todo o islamismo é fundamentalista”. Esta expressão significa mui-to, pois a realidade é que todos temos tendência para, automaticamente, relacionarmos estes dois conceitos e, posterior-mente, os associarmos ao terrorismo.

A verdade é que existi-ram e, infelizmente, ain-da existem momentos em que estes temas es-tão associados, como por exemplo o que aconteceu

no Afeganistão, em 1989, que, devido a fundamen-talistas religiosos, através do terrorismo com a “1ª guerra do Afeganistão” foi implementado o islamis-mo como lei, um “Estado Islâmico”, ou seja, deixou de existir a separação en-tre a religião e o direito, sendo portanto a nação governada, consoante as leis do livro sagrado, neste caso o Corão, ou lei sharia, cujas característi-cas são bastante severas. Também no Irão foi im-plementado esse regime em 1979 e, na Síria, hoje existem cada vez mais conflitos, pois existem fundamentalistas que pretendem implementar este tipo de lei.

Mas, na realidade, estes três conceitos têm uma definição distinta. Por exemplo, com o conceito

de islamismo referimo-nos a um sistema religio-so, monoteísta, fundado no início do século VII por um homem chamado Maomé. Os seguidores da religião islâmica têm o nome de “muçulma-nos”, estes seguem os ensinamentos do Corão e tentam seguir os cinco pilares; já com terroris-mo referimo-nos ao uso da violência, física ou psi-cológica, com o objetivo de provocar num inimigo uma mudança de com-portamento; com funda-mentalismo chegamos a um ponto bastante mais complexo, os fundamen-talistas são pessoas que só aceitam os seus ideais, desprezando qualquer outro ideal. É natural as-sociarmos o fundamen-talismo à religião, que consiste na interpretação literal do livro sagrado de uma determinada reli-gião, mas na realidade o

fundamentalismo não é apenas religioso, é tam-bém político, que pode ser representado por qualquer regime político que seja extremo como, por exemplo, um partido fascista ou comunista, ou até económico como, por exemplo, os EUA, que pa-recem só aceitar os seus ideais capitalistas, des-prezando qualquer outro modo de “fazer dinheiro”.

Assim, após algumas pes-quisas, apercebi-me de que por causa dos EUA, eu mesma e, provavel-mente, o recetor da mi-nha mensagem vivemos num mundo fundamen-talista, pois todos nós so-mos regidos pelas regras capitalistas implementa-das pelas grandes potên-cias, como os EUA. É tris-te, mas a verdade que nós vivemos num mundo em

que países como os EUA não só cometem, como auxiliam países a cometer as maiores atrocidades a povos e pessoas inocen-tes, como é o exemplo da guerra do Vietname ou o conflito israelo-palestinia-no, com a morte de imen-sas pessoas, e o mundo parece não ser capaz de fazer nada para o impedir.

O que é um facto, é que nós somos extremamente manipulados pelos media que nos “cegam” e nos transmitem informação que nos distrai do que é realmente importante e grave, como os crimes que são cometidos em prol dos interesses eco-nómicos, como o petróleo e o capital. A maior parte dos países, incluindo, para tristeza minha, o nosso pequeno país, compactua com estes interesses e es-tas atrocidades em vez de as contrariarem. Assim,

quando me perguntam “como é viver num mun-do fundamentalista?” eu posso responder: exa-tamente como eu e os habitantes do meu país parecemos viver, fechan-do os olhos às maiores e mais diversas atrocidades contra os seres vivos, mas como somos egoístas e fúteis, preocupamos-nos mais em ver as notícias que não nos deixam in-comodados e programas que não interessam a nin-guém, mas simplesmente nos fazem mais ignoran-tes.

Paula Freitas, 12LH4

Como é viver num mundo fundamen-

talista?

O fundamentalismo sem-pre existiu e sempre vai existir. Mas afinal o que

Islamismo /Fundamentalismoé o fundamentalismo? Basicamente, é levar os nossos ideais ao extremo. No caso do fundamenta-lismo religioso, é a inter-pretação e prática literal das escrituras sagradas (Bíblia, Corão, Tóra…). Há fundamentalismo em to-das as religiões.

Ora, ao lermos esta defi-nição, presumimos, ins-tantaneamente, que isto não deve ser “coisa boa”. Primeiro, porque tudo o que é levado ao extremo não é bom, podendo ser até mesmo muito peri-goso. No entanto, não devemos ver preto so-bre branco. É necessário encontrar um equilíbrio. Segundo, porque as reli-giões e suas respetivas es-crituras têm muito que se lhes diga. Aparentemente são defensoras da paz, da harmonia, do amor entre todos… No entanto, se explorarmos as escritu-ras, interpretando-as lite-ralmente como fazem os fundamentalistas, vemos crueldade, desumanida-de e desrespeito pelos povos. Um dos exemplos é a Lei Sharia (lei do Co-rão) que comete atroci-dades desumanas a cada dia que passa nos lugares onde é implantada. As-sim, estas ideias levadas ao extremo custam, sis-tematicamente, a vida de milhares de pessoas, que são na sua maioria ino-centes.

Ultimamente, o funda-mentalismo islâmico tem dado que falar. Talvez porque seja o que tem cometido as piores bar-baridades, pretenden-do impôr-se ao máximo. Teve início no Afeganis-tão. Após a guerra, em 1989, os mujaheedin (guerrilheiros islâmicos) juntaram-se à Al Qaeda e formaram os Talibãs. Es-tes subiram ao poder no

Afeganistão, defendendo um Estado, onde a lei fos-se corânica. Atualmente, existe um grupo terro-rista – Estado Islâmico do Iraque e do Levante – que defende os mesmos ideais. Este grupo ainda é mais radical do que a Al Qaeda. O Estado Islâ-mico controla o norte do Iraque, a Síria e tenta en-trar no sul da Turquia. Po-rém, pretendem expandir a sua ideologia por mais territórios como a Jordâ-nia, Líbano, Israel, entre outros. Para isso, estão dispostos a qualquer coi-sa… Matar, para eles, é ro-tina. Os fundamentalistas islâmicos não têm o míni-mo de consideração pelas mulheres, por exemplo. Elas não têm quaisquer direitos. São tratadas in-dignamente, como pro-priedades dos homens.

É urgente alterar este modo de vida. Dar espe-rança às pessoas que vi-vem no meio desta cruel-dade. O problema é que os fundamentalistas/ter-roristas são (quase) inal-cançáveis. Eles não tole-ram que os critiquem ou que ponham em causa as suas convicções. Quando isso acontece, fazem jus-tiça pelas próprias mãos, como foi o caso dos aten-tados mais recentes em Paris, França. Por causa disso, a Europa está em alerta terrorista. Eles de-têm o poder, causando o medo entre a população.

Assim, o poder terrorista sobrepõe-se a qualquer um dos poderes – polí-tico, económico, militar – impedindo os governos de fazer alguma coisa. Mesmo assim, não nos devemos conformar com o que acontece à nossa volta e não podemos de-sistir de lutar contra este tipo de convicções.

Helena, 12LH2

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47Março de 2015

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Quando era pequena e não tinha a noção das coisas, pensava que a violência doméstica acontecia quando se tropeçava no aspirador ou quando se batia com o cotovelo na ponta da mesa. Agora, acho que a minha antiga maneira de ver as coisas era muito

melhor do que a violência doméstica é na realidade .Entrevistei uma senhora, tem os seus 71 anos, D.Maria (pseudónimo) que se ofereceu para contar a sua história e foi

seguinte :“Conheci o meu homem faz este ano 65 primaveras, era meu vizinho e quase que crescemos juntos . Namoramos desde os doze e casamos aos dezanove, pois fiquei grávida cedo . Se quer que lhe diga já me tinha dado um estalo nesse tempo, mas foi uma coisa passageira e desculpei . Os anos foram passando, tivemos seis filhos, três rapazes e três raparigas

e dois abortos . Fui muito trabalhadora, tanto eu como o meu marido, pois tínhamos uma casa cheia para alimentar e, graças a Deus, nunca faltou nada .A violência começou,

UM GRITO DE ALERTAAlgumas mentiras tor-nam-se na verdade dos nossos dias, quando ape-nas a ignorância nos diz como viver.

A ignorância tem um elevado número de con-sequências preocupan-tes. Tudo começa por aí: a falta de escolaridade que leva à falta de informa-ção faz com que proble-mas como a SIDA, assim como outras Doenças Se-xualmente Transmissíveis (DST) ou a gravidez na adolescência aconteçam com mais frequência por desconhecimento dos

quando tinha quarenta anos. A crise alastrava-se e estavamos a passar dificuldades. O meu homem foi ao café e chegou embriagado e, sem eu fazer nada, deu-me um estalo e puxou-me os cabelos, empurrou-me e acabou por adormecer no sofá.Nesse dia, começou um ciclo vicioso, podemos assim dizer, minha jovem.Deixou de trabalhar, de estar com os miúdos

que também já eram crescidos, deixou de ser esposo, deixou de ser chefe de família e passou a ser o melhor cliente dos cafés da zona.Não estaria a mentir se

dissesse que quase todos os dias apanhava na cara e que ficava com marcas .Mas, um dia, o meu homem chegou mais bêbado que o costume e bateu-me de semelhante maneira que conseguiu pôr-me numa cama de hospital . Foi nessa altura que disse aos meus filhos, pois estava na hora de saberem o que era o pai deles. Claro que eles não ficaram indiferentes e resolveram o assunto .Custou-lhes imenso como deve prever menina, ao fim ao cabo foi ele que os criou também, mas assim teve de ser. Eu e o meu homem decidimos arranjar um tal de divórcio , coisa que antes não havia e foi a melhor coisa para mim, porque consegui refazer a minha vida e, neste momento, até já tenho bisnetos e um companheiro. Veja lá minha querida!” Este depoimento serve para todas as mulheres e não nos podemos esquecer dos homens. Sempre que haja alguma situação destas, inferiores ou superiores, denunciem-na, quer sejam familiares, amigos ou até vizinhos. A união faz a força.

Ângela Moura, 11LH3

métodos contracetivos existentes.

Ninguém merece que acontecimentos como o incesto, a promiscuidade, a violação e até mesmo a prostituição façam par-te da sua vida, enquanto seres humanos. E, espe-cialmente que isso não os prenda ao passado e os impeça de ver a vida fu-tura da forma como real-mente deve ser vista.

Nunca a afirmação de que “a masturbação par-tilhada em família é algo normal” deve ser aceite, e pedimos que sempre que surjam dúvidas em relação àquilo que é nor-mal (ou não) contactem

os serviços da Segurança Social, que foram criados para nos ajudar enquanto comunidade.

A utilização de drogas e álcool, apenas, agrava qualquer que seja a situa-ção em que nos encontra-mos e leva-nos, também, a uma maior intolerância no que toca a tentar re-solver alguns problemas. Os tabús são também um problema. Tudo isto leva a uma maior falta de higie-ne, quando esta é essen-cial para que nos sintamos bem com nós próprios. O que realmente nos pertence, independente-mente de tudo, é o amor e o afeto que nos é mere-

cido por aqueles de quem mais gostamos e nun-ca o medo no seu lugar. Todos as vidas são valiosas e tratar delas não é um cuidado, é uma obrigação.

Cláudia, Sara, Vítor,11LH2

Este texto foi elaborado, no âmbito da disciplina de Geografia A, no pro-jeto de Educação Sexual da turma 11LH2, subor-dinado ao tema “Com-portamentos sexuais nos bairros de população com baixos recursos eco-nómicos”.

certas palavras ou frases que nos digam, não com-preender a ironia (o que, às vezes, é bom), ter di-ficuldades na escola ou em certas tarefas que nos propõem. Somos seres solitários, mas crianças extremamente simpáti-cas e afáveis, apenas com problemas em comunicar com vocês e em com-preender-vos

Por isso, sempre que ve-jam alguém sozinho, man-dem-no entrar no vosso grupo, brincar, jogar à bola… conversem com ele de assuntos do seu agra-do. Umas das coisas que nós detestamos é que gozem connosco! Quan-do virem alguém que não tenha comportamentos iguais ao vosso ou que os

tenha fora do normal, não julguem as pessoas antes de as conhecer, pois vão ver que essa criança pode ser uma criança muito simpática e que quer ser vossa amiga.

Juntos podem fazer toda a diferença e, se todos ajudarem, essas crianças ficarão muito felizes e vão sentir uma alegria enor-me em viver! Simplesmente eu

AutismoSíndrome de Asperger

Olá! Sou uma criança que vim ao mundo com Síndrome de Asperger. Não se preocupem! Não é uma doença que se apega, é algo mais rela-cionado com o compor-tamento dessas crianças.

O Síndrome de Asperger pertence ao grupo do au-tismo. Nesse grupo, exis-tem outras síndromes, por exemplo, a Síndrome de X-frágil. Esta síndro-me não é diagnosticada logo que se nasce, mas sim com o crescimento e com os comportamentos da criança.

Vocês sabiam que há bastantes famosos com Síndrome de Asperger? Lionel Messi, Albert Einstein, Steve Jobs (criador da Microsoft), Sheldon Cooper (prota-gonista da série “The Big Bang”), entre outros.

Somos crianças normais, fazemos tudo de forma igual aos outros, mas te-mos dificuldade na par-te da socialização: fazer amigos, não entender

Opiniões

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Page 48: Encontro edição 62 aefh

XXXIV SEMANA ABERTA09:00H

BIBLIOTECA“ATELIER DE BRAILLE”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

10:00H BIBLIOTECA

“OS PODEROSOS”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

10:10H -13:20HAUDITÓRIO

“GAP YEAR/VOLUNTEERIS”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

15:20H -17:00HAUDITÓRIO

“ENTRE FOLHAS, MAÇÃS E CORAIS...AS GEOMETRIAS

DO MUNDO BIOLÓGICO”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

DO 9º ANO E ENSINO SECUNDÁRIO

09:00H BIBLIOTECA

“ATELIER DE BRAILLE”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

09:30H -18:30HZONA DO BAR

“MOSTRA DE ENSINO SUPERIOR”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO

10:00H BIBLIOTECA

“AMIGOS IMPROVÁVEIS”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

09:30H- 12:30HPAVILHÃO E CAMPO DE

JOGOS DA ESC. EB2,3 EGAS MONIZ

“TORNEIO DE BASQUETEBOL”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DOS 7º E 8º ANO

10:10H-11:40HAUDITÓRIO

“HISTÓRIAS DENTRO DA HISTÓRIA”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO

POLIVALENTE“AS AMEAÇAS E OS LIMITES

À LIBERDADE DE EXPRESSÃO”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 9º ANO E ENSINO SECUN-

DÁRIO

14:30H-18:30H“VISITAS À XICO”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 9º ANO

16:00H-17:00HAUDITÓRIO

“COMO PENSAS AGIR NO 10ºANO?”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 9º ANO

17:30H-18:30HAUDITÓRIO

“CONHECER ALGUMAS PROFISSÕES”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO

09:30H -18:30HZONA DO BAR

“MOSTRA DE ENSINO SUPE-RIOR”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO

PAVILHÃO“II TORNEIO DE FUTSAL

INTER-ESCOLAS”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS AO

ABRIGO DO DL3/2008

10:00H BIBLIOTECA

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS“LITERATURA E SÉTIMA

ARTE– UMA EXPERIÊNCIA PARTILHADA”

10:00H-11:40HPOLIVALENTE

“SHOW DA FÍSICA”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 9º ANO E 11ºANO DO

ENSINO SECUNDÁRIO

10:00H-11:40HAUDITÓRIO

“EUROPASS—CURRICULUM VITAE”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO

PROFISSIONAL E EFA

14:30H-16:30HCENTRO CULTURAL VILA

FLOR“ESPETÁCULO DE DANÇA

CAIR”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO

1º CICLO (2º ANO)

16:00H - 18:00HAUDITÓRIO DA UNIVERSI-

DADE DO MINHO“CONCERTO VIVALDI E AS

QUATRO ESTAÇÕES”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO

1º CICLO

09:30H -18:30HLB-FQ-ELE-MEC-INF

“LABORATÓRIOS ABERTOS”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE

9ºANO

08:30H-13:00HPAVILHÃO E CAMPO DE

JOGOS DA ESC. EB2,3 EGAS MONIZ

“TORNEIO DE FUTSAL”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE

5º E 6ºANO

09:00H-17:30HESC. EB1 DE SANTA LUZIA“DIA DO PAI DA ESCOLA”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE 2ºC

CASTELO DE GUIMARÃES“VISITA AO CASTELO DE

GUIMARÃES”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE

5º ANO

10:00H BIBLIOTECA

“ADORÁVEL PROFESSOR”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

10:10H -11:40HAUDITÓRIO

“QUÍMICA E/OU FÍSICA NO 12.º ANO…UMA BOA

ESCOLHA?PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE

11º ANO ENSINO SECUN-DÁRIO

14:30H-16:30HCENTRO CULTURAL VILA

FLOR“ESPETÁCULO DE DANÇA

CAIR”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO

1º CICLO (2º ANO)

15:20H-17:00HSALAS C41- C42

“CANGURU MATEMÁTICO”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DE

SECUNDÁRIO

18:00HAUDITÓRIO

“DÉFICE DE ATENÇÃO E A HIPERATIVIDADE: A CON-

CENTRAÇÃO PODE SER TRABALHADA”

09:30H-16:30HPAVILHÃO DA ESFH

“TORNEIO DE BASQUETE-BOL”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

10:00H BIBLIOTECA

“O MENINO SELVAGEM”PÚBLICO-ALVO: ALUNOS

10:30HIGREJA DE NOSSA SENHORA

DA CONCEIÇÃO“EUCARISTIA PASCAL”

PÚBLICO-ALVO: COMUNIDA-DE EDUCATIVA

21:00HAUDITÓRIO

“AÇÃO PARA EE/PAIS”

LB-FQ-ELE-MEC-INF“LABORATÓRIOS ABERTOS”

AUDITÓRIO DA UNIVERSI-DADE DO MINHO

“FESTA DE PRIMAVERA”

16 de março 17 de março 18 de março 19 de março

20 de março

ATIVIDADES PERMANENTES

ÁTRIO DO 2º PISO: 16 E 17 DE MARÇO“FEIRA DE MINERAIS, ROCHAS E FÓSSEIS”

ÁTRIO E CORREDOR DO 2º PISO:16 A 20 DE MARÇO“EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS”

BIBLIOTECA: 16 A 20 DE MARÇO –09:45H“CORDAS”

ÁTRIO: DIVULGAÇÃO DA OFERTA EDUCATIVA

PALACETE S.TIAGO—EXTENSÃO DO MUSEU ALBERTO SAM-PAIO: 17 A 20 DE MARÇO

09:30-12:30 E 14:30-17:30“HOMO NUMERICUS”

“DE QUE É FEITA A CIÊNCIA”“PONTO A PONTO ENCHE A CIÊNCIA O ESPAÇO”

PÚBLICO-ALVO: ALUNOS DO 3º CICLO ENSINO BÁSICO E EN-SINO SECUNDÁRIO, COMUNIDADE EDUCATIVA E PÚBLICO,

EM GERAL