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"ENSINO DE CONCEITOS QUÍMICOS BASEADOS EM UMA ABORDAGEM
TEMÁTICA LOCAL: ADUBAÇÃO ORGÂNICA".
José Valdemir Gimenes Alves1,
José Maria Maciel2.
Resumo
Este artigo descreve uma experiência que buscou conciliar ensino de Química com os saberes dos alunos da área rural que cursam o Ensino Médio em escola pública. Trata-se do programa “Implementação Escolar” desenvolvido no ano de 2008 junto à disciplina de Química. O presente trabalho apresenta a aproximação do ensino de Química ao contexto local dos estudantes, abordando como tema gerador a adubação orgânica, e com este, dar significado na vida dos educandos, abrangendo através deste, temas ambientais com conteúdos socioambientais significativos. Partindo do conhecimento da realidade concreta das situações vividas, e aproximando de uma forma crítica da própria realidade do educando. Ajudá-los a compreender, refletir, criticar e agir são os objetivos da proposta. As estratégias metodológicas de um processo de conscientização da realidade vivida nas sociedades desiguais, (urbana e rural), é o ponto de partida para o processo de construção do conhecimento e o desenvolvimento de sociedades sustentáveis.
Abstract
This article describes an experiment that seeks to associate Chemistry teaching activities with the knowledge of rural area students, who attend high school at public institutions. It is called “School Implementation” program, which was developed in the year 2008 along with the subject of Chemistry. The article introduces Chemistry teaching approaches in student's local context, approaching organic fertilization as a generator theme and with it, bring meaning to students’ lives, helping them deal with environmental issues in association with meaningful socio-environmental topics, having the situations that students go through as a starting point to help them understand, reflect, criticize and act in their environment. The methodology strategies of an awareness process about the reality faced in different societies (urban and rural) are the starting point for the knowledge-building process and development of sustainable societies.
1 Bacharel e Licenciatura em Química PUC-PR e Pós-Graduado em Qualidade na Educação e Arte na Educação FAC-PR
2 Doutor em Ciências, Professor do Departamento de Química da Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG, Ponta Grossa-PR.
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1- Introdução
O desenvolvimento da “Implementação Escolar” a princípio foi elaborado
pensando nos alunos da área rural do Colégio Estadual Rui Barbosa de Arapoti-
PR, um grupo que possui uma realidade distinta dos demais alunos porém não
menos importante que os ditos alunos de área urbana. Considerando esta
particularidade, elegeu-se a realidade destes alunos como campo de análise,
uma vez que se compreende que os conhecimentos práticos destes diferem
quase que totalmente dos demais e é justamente nesta diversidade que se pode
explorar seus conhecimentos, valorizando-os e suscitando interesse de todos
em conhecer a "outra" realidade vivida pelos colegas.
A idéia de desenvolver este trabalho junto aos alunos do Ensino Médio da
área rural (ou "do sítio" conforme uso coloquial dos alunos) na disciplina de
química surgiu devido à cidade de Arapoti possuir um grande número de
fazendas em seu entorno.
Outro fator observado é a depreciação por alguns colegas de área urbana
e/ou até mesmo os próprios se sentirem diferenciados e constrangidos por ser
do "sítio".
Não é difícil constatar pela observação as dificuldades de relacionamento
que surgem no convívio sócio educacional e muitas vezes isto é percebido
pelos professores que identificam alguns alunos com baixo rendimento e pouca
ou nenhuma participação em sala de aula. Mas como tratar destes problemas
sem fugir das atividades previstas no cronograma educacional? Identificar estas
situações em classe e formar um pensamento químico mediado pela ação do
professor constitui-se um grande desafio para o educador que está
comprometido não só em repassar conteúdos, mas também pensar no aluno
como um todo. A idéia do programa é identificar e dar significados aos
conceitos químicos em situações que compõem o meio próximo dos alunos da
área rural, que estes reflitam e possam formar seus pensamentos químicos de
acordo com sua realidade local, e com isto promover uma maior aproximação
dos alunos que ocorrerá naturalmente.
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A partir da pedagogia de Paulo Freire dos temas geradores1 e a
exploração da realidade local, os conceitos químicos tornam-se mais acessíveis
e com significado para os alunos.
Segundo o autor:
Num primeiro momento a realidade não se dá aos homens como objeto cognoscível por sua consciência crítica. Noutros termos, na aproximação espontânea que o homem faz do mundo, a posição normal fundamental não é uma posição crítica, mas uma posição ingênua. A este nível espontâneo, o homem ao aproximar-se da realidade faz simplesmente a experiência da realidade na qual está e procura. (1980, p. 26).
A estratégica pedagógica surgiu após a observação do comportamento
dos educandos em sala de aula e a baixa alto estima que alguns apresentavam.
Quando perguntado em sala quem era da área rural, alguns não se
manifestavam. "Qual o conhecimento destes alunos obtido em sua prática de
vida que pudesse ser aproveitado nas aulas de química"? Diante deste
questionamento, concorda-se com o que Maldaner afirma:
[...] identificar situações de alta vivência dos alunos para que, sobre elas, pudessem formar o seu pensamento químico mediado pela ação do professor e pela linguagem química. Era necessário, também, que as situações permitissem desenvolver um conjunto de conceitos químicos importantes e centrais na constituição do pensamento químico moderno junto aos alunos e que, por isso, passei a chamar de situações conceitualmente ricas. (2003, p. 286)
2- A prática investigativa
Estes questionamentos geraram a prática investigativa. Para evitar
problemas em como digerir as informações coletadas durante a fase da
investigação procurou se definir as etapas com clareza e como o trabalho iria
ser desenvolvido.
A análise e a sistematização das informações obtidas teriam que ser
trabalhadas de uma forma coesa e coerente para se evitar o que diz Alves, "sob
1 Metodologia fundamentada na epistemologia de Paulo Freire que desenvolve o concreto a partir de um tema que se desdobra de acordo com o contexto, interesse, condições concretas do aluno e professor.
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pena de se perder num emaranhado de dados dos quais não conseguirá extrair
qualquer significado" (1991, p. 56).
Assim, por meio de interação entre pesquisa e ensino, teoria e prática,
conhecimentos específicos e rudimentos pedagógicos, o aluno terá despertado
em si o pensamento reflexivo, no tocante às questões relacionadas á tecnologia,
sociedade, meio ambiente e ao ensino de Química, de modo específico.
Com base na investigação uma ação é proposta, ação que interferirá
direta e/ou indiretamente na redução das desigualdades sociais induzindo os
alunos da área rural a sentirem-se parte de igual modo importante na sociedade
e também co-responsáveis pelas mudanças causadas no meio social em que
vivem.
Realizo a minha parte de uma investigação da/na comunidade porque ela é parte do meu trabalho. Mas eu participo dela para alem da responsabilidade funcional porque quero acreditar que também ela é um instrumento a mais no trabalho solidário da aventura dos encontros de pessoas vistas e vividas, de um lado e de outro, como seres a quem toca a reduzir e destruir as desigualdades sociais...(BRANDÃO, 2005, p. 05).
Dar oportunidades aos educandos para que eles mesmos exponham os
seus conhecimentos adquiridos na sua prática ao meio sócio educacional
através de palestras, e reproduzam na escola atividades práticas vivenciadas em
seu cotidiano.
3- Produzindo reações
Partindo dessa perspectiva de análise, no ano de 2008 foi desenvolvido no
programa de implementação escolar atividades de pesquisa nas três séries do
ensino médio do Colégio Estadual Rui Barbosa envolvendo alunos dos três
turnos na disciplina de Química. Construiu-se o programa implementação
escolar com abordagem em adubação orgânica, que teve como objetivos:
Despertar os alunos da área rural para a valoração de suas
atividades vivenciadas em seu cotidiano;
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Apropriar-se do conhecimento de sua realidade e associar com
os saberes no que diz respeito á Química de um modo particular,
e de um modo geral, por meio de contato direto com essas
instâncias e por intermédio de bibliografia específica;
Proporcionar o aprendizado na construção de uma consciência
crítica em relação ao meio ambiente, bem como, promover o
conhecimento de métodos empregados na área de Ciências e
Tecnologia;
Desenvolver capacidades de planejamento, desenvolvimento e
segurança nas mais diversas atividades que venham apresentar;
promover o trabalho em equipe entre os colegas e interagir com
o meio sócio educacional, etc.;
Desenvolver uma postura crítica, responsável e ética no
desenvolvimento das atividades exigidas.
A obtenção de dados junto à secretaria do colégio nesse ano de 2008
indicou a presença de 109 alunos da área rural, 50 do Ensino Médio. O desafio
passou a ser então conhecer estes alunos. Onde moram? O que fazem? Qual o
grau de envolvimento deles com o meio rural? Verificar se conseguem
relacionar as suas atividades diárias, o meio em que vivem aos conceitos
químicos. Deste desafio construíu-se a prática pedagógica de investigação –
reflexão - ação. Freire afirma:
A tarefa do educador dialógico é trabalhando em equipe interdisciplinar este universo temático, recolhido na investigação, devolvê-lo, como problema, não como dissertação, aos homens de que recebeu. (1987, p.59)
A partir da análise dos dados obtidos, partiu-se para a construção do
conhecimento dos educandos, entendendo-se que a prática de pesquisa é uma
modalidade que pode propiciar uma vivência concreta das ações que
constituem as diretrizes para trabalho do educador - planejamento, execução,
avaliação. Em um processo de ação-reflexão-ação permanente. Com a prática
investigativa ocorre o desenvolvimento dos saberes e com estes interagimos.
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A interação dialógica entre campos, planos e sistemas de conhecimento serve ao adensamento e ao alargamento da compreensão de pessoas humanas a respeito do que importa: nós -mesmos, os círculos de vida social e de cultura que nos enlaçam de maneira inevitável, a vida que compartimos uns com os outros e todos os seres da vida, o mundo e os infinitos círculos de realização do cosmos de que somos nossa pessoa individual, nossas comunidades, a vida, o nosso mundo, parte e partilha. Compreendemos não apenas quando nos apropriamos de algo que nos é agora sabido, conhecido. Compreendemos algo quando passamos a fazer parte dos círculos de diálogos em que “aquilo que compreendemos” é compreendido. (BRANDÃO, 1995, p. 06)
4- Etapas da prática investigativa
O programa implementação escolar uma vez inserido na disciplina de
Química com alguns alunos do ensino médio concorreu durante um semestre
com um tema específico e dividido em subtemas, tendo envolvido os alunos da
primeira, segunda e terceira séries, e períodos da manhã, tarde e noite. A
implementação escolar foi desenvolvida considerando quatro etapas:
4.1 Identificação,
4.2 Investigação,
4.3 Reflexão,
4.4 Ação e análise final.
4.1 No “período de identificação” foram desenvolvidas as seguintes
atividades:
4.1.1 Identificação dos alunos da área rural para o desenvolvimento do
tema relacionado à atividade rural merecedora de estudos. Principais critérios
considerados:
Morador de área rural
Trabalha em área rural
Usa adubação orgânica
Manuseia adubo orgânico
Interesse em participar no projeto etc.
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4.1.2 Divisão do grande grupo em quatro subgrupos de acordo com o
perfil apresentado de cada participante.
Delimitação das atividades de pesquisa;
Apresentação de justificativa pertinente;
Elaboração dos objetivos do tema proposto;
Seleção das atividades a serem pesquisadas;
Elaboração de cronograma de atividades.
4.2 Na “investigação" estavam previstas as atividades abaixo-
relacionadas:
Levantamento bibliográfico. Pesquisa bibliográfica (revisão de
literatura, internet etc.) do tema escolhido;
Estudo de textos referentes aos temas;
Pesquisa de campo;
Distribuição de tarefas aos membros dos grupos;
Elaboração de cronograma de atividades;
Elaboração de instrumento(s) de coleta Pesquisa de dados
(entrevista, questionário, roteiro de observação, etc...);
Aplicação do instrumento de coleta de dados;
Construção propriamente dita;
Análise dos dados obtidos;
Articulação/confronto dos resultados obtidos com as
informações da pesquisa bibliográfica realizada;
4.3 Reflexão sobre a operacionalização das atividades práticas
concebidas e a sua relevância em relação ao tema
4.5 E, finalmente, na última etapa do projeto:
Produção de material para divulgação;
Divulgação;
Avaliação dos resultados;
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5- O processo e o produto
No primeiro semestre de 2008 foram identificados 50 alunos do Ensino
Médio morador de área rural. A princípio a idéia era selecionar 16, porém a
quantidade de candidatos que preenchiam os requisitos, os relatos das
experiências nos temas propostos e a insistência de muitos em participar fez
com que fossem contemplados 27, envolvendo alunos das 3 séries e períodos.
Um novo questionamento surgiu: Como um aluno da área rural do ensino
público iria desenvolver o trabalho escrito e apresentá-lo aos demais se há uma
distância muito grande entre a prática vivenciada e o conhecimento de normas e
regras para a escrita e apresentação ao público educacional?
Observando estas dificuldades para organizar as idéias e apresentá-las,
foram convidados á participarem, 3 alunos do Curso de Magistério para dar
orientação (escrita, oral, uso de recursos áudio visuais, etc.), e assim a
implementação passou a ter uma maior abrangência não envolvendo apenas
alunos de Química.
A partir destes 27 alunos selecionados, foi distribuído um total de quatro
projetos de pesquisa, quais sejam: “Compostagem”; “Adubação Orgânica”;
“Biodigestor”; “Elaboração de material didático sobre os temas". Os resultados
dos projetos foram expostos e apresentados para os alunos, professores e
alguns pais nos dias 9,10 e 11 de maio de 2008 nas dependências do Colégio
Estadual Rui Barbosa nos períodos da manhã tarde e noite.
Os grupos formados foram instigados a reagir diante do conhecimento
que possuíam e, que ficava oculto por acharem que seus conhecimentos não
teriam tanto valor quanto ao conhecimento de um aluno da área urbana.
Antes da apresentação final, todo o corpo docente e os funcionários
assistiram a uma exposição do projeto e foram convidados a participar do
mesmo.
Dado o início, a cada etapa do desenvolvimento do trabalho reuniam-se as
equipes, avaliava-se o progresso alcançado e então eram distribuídas novas
tarefas. Quando, algumas dificuldades atrapalhavam o cumprimento do
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cronograma, uma nova reunião era marcada para se restabelecer a ordem, e
depois de rediscutida, direcionava-se para novo encaminhamento.
Para fazer visita na fazenda onde uma aluna é moradora e que utiliza carne
de suínos mortos e dejetos para a compostagem, a visita teve que ser marcada
por 3 vezes, em uma data marcada o administrador estava dando assistência a
estagiários, a chuva atrapalhou, em outras, atividades escolares atrapalharam,
assim de dificuldades em dificuldades a muito custo determinada etapa era
concluída.
Devido à falta de tempo e oportunidades em reunir os grupos em horários
diversos às aulas, dentre outros aspectos, surgiu então a idéia de postar as
informações em um arquivo no computador da biblioteca da escola. Os alunos
dos três turnos puderam então acessar e/ou deixar informações sobre o tema
proposto encontrado na internet e/ou material didático, bem como deixar
recados para os membros do grupo.
No entanto, apesar das dificuldades os resultados foram satisfatórios,
pois tanto nas visitas como na exposição á comunidade escolar percebeu-se um
avanço muito grande no que diz respeito á desenvoltura, o descobrimento de
informações importantes que estavam "escondidas" em suas atividades rurais.
Um outro fator importante refere-se ao conhecimento prático de alguns
alunos. O que era novidade para os alunos de área urbana, não era para os de
área rural, que não perguntavam nada durante as visitas em campo, e quando
instigados á tirar dúvidas redescobriam a sua própria realidade que por vezes
ficava escondida, dizendo : "já sei como funciona, pois onde moro já utilizamos
isto".
Pesquisa feita entre os participantes revelou que grande parte passou a
entender a relação existente entre as suas atividades e o meio ambiente,
despertando a curiosidade tais como: Que gás era aquele produzido no
biodigestor, nas lagoas de estrumes etc.? Como este gás afetaria a vida no
planeta? O que é o Aquecimento Global? Porque no processo da compostagem
ocorre aquecimento? O que é crédito de carbono? Partindo destes
questionamentos entre outros, buscou-se dar significados aos conceitos
químicos, associando-os com as situações que compõem o meio dos alunos da
área rural, envolvendo as três séries do ensino médio, como ficou evidenciado
nos depoimentos dos próprios alunos:
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"Eu não sabia que o gás metano prejudicava a nossa atmosfera". (Equipe-
"Compostagem”).
"Eu não sabia várias coisas sobre a compostagem o biodigestor e adubação
orgânica mesmo morando na área rural". (Equipe-Biodigestor)
"Eu não sabia que dava para "fazer" biodigestor com estrume de vaca". (Equipe -
Adubação Orgânica).
"Eu não sabia da cooperação do gás metano para o efeito estufa" (Equipe -
Preparação do material didático).
Com o desenvolvimento do projeto os participantes direto ou indireto
entenderam que modificaram seu comportamento como alunos. Na opinião dos
participantes, ocorreram algumas mudanças no que se refere à maior interação
com colegas e/ou professor; maior interesse sobre as questões relacionadas ao
meio ambiente; maior envolvimento com a disciplina de química, e valorização
dos colegas da área rural.
Nas respostas dos alunos também ficam claras aprendizagens
significativas realizadas no decorrer do trabalho. Em relação ao conteúdo,
alguns depoimentos dos alunos evidenciam as temáticas:
"Este trabalho nos ajudou muito na escola, ex: A composteira, guardar restos de
comida para fazer adubo, a adubação orgânica, vamos deixar o colégio mais bonito
com um jardim etc." (equipe- Adubação Orgânica).
"O trabalho foi bom, pois trouxe o conhecimento do campo para a escola e
também aumentou o conhecimento dos alunos que já conhecem o dia-dia do campo"
(Equipe-Adubação Orgânica).
Ainda
"Com esse trabalho os alunos que não conhecem a área rural ficaram sabendo
como a química esta associada ao nosso meio, como por exemplo, a fermentação entre
outras. Acho que foi muito bom" (Equipe - Adubação Orgânica).
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Em relação às etapas do projeto e aos métodos empregados os alunos
também registraram a aquisição de novas aprendizagens e fortalecimento nas
relações humanas, o que ficou evidenciado em suas declarações.
"Foi muito bom, pois várias pessoas que moram na cidade não sabem que no
meio rural as coisas são diferentes e nos ensinam várias coisas" (Equipe - Adubação
Orgânica).
"O trabalho foi muito legal e muito importante para os alunos que não moram no
sítio, aprendemos outras coisas que não sabíamos" (Equipe - Biodigestor).
"É bom para levarmos o conhecimento do campo para os nossos amigos da
cidade" (Equipe - Biodigestor)
Durante o desenvolvimento do trabalho detectaram-se alguns problemas,
tais como: a timidez de alguns alunos, erros de português durante as
apresentações, e a dificuldade de expressão, montagem do trabalho escrito
segundo as normas etc. Devido à timidez alguns alunos desistiram do trabalho e
outros foram até a etapa da apresentação quando ficaram apenas observando e
não quiseram apresentar mesmo com muita insistência. Alguns alunos com
conhecimento prático do que estava sendo exposto, desistiram de apresentar ao
público. A dificuldade na montagem do trabalho escrito foi superada com a
ajuda de alguns alunos do magistério que foram convidados para dar suporte,
orientando e supervisionando a montagem do trabalho escrito.
Nessa perspectiva observa-se que as dificuldades apresentadas pelos
educandos tendem a desaparecer ou diminuir á medida que as relações
interpessoais vão se encurtando trazendo assim uma maior sociabilização entre
os indivíduos participantes da comunidade escolar. Conforme cita Brandão:
Um mundo relacional do dia-a-dia e, ao mesmo tempo, o complexo cenário histórico de experiência interpessoais que não podem existir anão ser através dos gestos de intercomunicação entre tipos de pessoas socializadas e em socialização. Isto é, educadas e inseridas ainda em algum momento da educação. (1995, p.04).
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Ao realizar esta atividade, os alunos sentiram-se despertados pelas ações do
cotidiano que até então eram vistas como ações corriqueiras sem muito
interesse. Ao aguçar sua curiosidade percebemos a riqueza de informações
contidas em suas práticas que estavam encobertas.
6- Considerações finais
Apesar de aflorados alguns problemas, no decorrer do processo,
sobretudo as dificuldades de expressão de alguns alunos, entende-se que a
iniciativa atingiu os objetivos esperados.
Destacou-se de modo especial à iniciativa e o empenho por parte dos
alunos que se envolveram, e com isso desmistificou a visão simplista das
atividades dos alunos da área rural que serviu como base para integrar e
sociabilizar seus conhecimentos, permitindo que os demais se envolvessem
com a realidade educacional a partir do tema escolhido para análise.
Observou-se também que o envolvimento se deu com maior criticidade e
reflexão em torno das questões educacionais, associando com temas
ambientais despertando tantos os apresentadores (alunos da área rural) como
os demais participantes do meio educacional.
Considera-se o que os alunos venham a reproduzir a curto ou médio prazo
os conhecimentos que os embasem e os levem a serem mais críticos,
participantes e co-responsáveis com o meio em que vivem. Ser estimulado a
desenvolver atitudes, privilegiando as reflexões e soluções para os problemas
sócio-ambientais, ultrapassando assim uma mera recepção passiva de
conhecimentos, e venham exercer seu papel como cidadãos.
Quanto ao educador o mesmo aproveitou diante das atividades explícitas
a riqueza destes conhecimentos dando significados aos conceitos químicos, se
apropriando de conhecimentos construídos de forma dinâmica, democrática e
coletiva, emergindo do saber popular concreto.
Não é simplesmente responder a estímulos, porém algo mais: é responder a desafios. A resposta do homem aos desafios do mundo, através dos quais vai modificando esse mundo, impregnando-o com seu espírito, mais do que um puro fazer, são que fazeres que contenham inseparavelmente ação e reflexão. (FREIRE, 1989, p.123).
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Ainda Freire:
O homem é práxis e, porque assim o é, não pode se reduzir a um mero espectador da realidade, nem tampouco a uma mera incidência da ação condutora de outros homens que o transformarão em “coisa". Sua vocação ontológica, que ele deve tornar existência, é a do sujeito que opera e transforma o mundo.(1989, p.123)
Referências Bibliográficas
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_____. A voz da esposa: a trajetória de Paulo Freire. Instituto Paulo Freire, ano s/d
Disponível em: http. www.paulofreire.org. Acesso em: 28 ago. 2008.
_____. A educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
_____. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1985.
_____. Pedagogia do oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
_____. Conscientização. São Paulo: Moraes, 1980.
ALVES, A. J. (org). O planejamento de pesquisas qualitativas em educação. Caderno de
pesquisa. São Paulo (77), maio/1991.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Sobre Teias e Tramas do Ensinar e Aprender. Texto 6,
página PDE. Disponível em: http://www.pde.pr.gov.br/modules. Acesso em 09 set. 2008
_____. Pesquisa na docência. Texto 3, página PDE.
Disponível em: http://www.pde.pr.gov.br/modules. Acesso em: 09 set. 2008.
MALDANER. Otavio Aloísio. A formação inicial e continuada de professores de química.
R.G. Sul. Ed. Unijui, 2003