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1 TERRITÓRIOS DIGITAIS NO CAMPO: INTEGRAÇÃO COM O ENSINO DE GEOGRAFIA Silmara Barbosa Quinto Universidade Federal de Uberlândia – UFC Resumo As novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes em nossas vidas e adquire maior importância e abrangência social exigindo dos agentes educacionais uma posição crítica quanto a sua utilização em benefício da educação. Em 2008, o Ministério de Desenvolvimento Agrário, criou o Projeto Territórios Digitais para oferecer o acesso gratuito à informática e internet para populações rurais. O ensino de Geografia assume um papel de responsabilidade na formação de cidadãos. Este trabalho apresenta uma proposta para o ensino de Geografia através do uso das TICs na Escola Familiar Agrícola Dom Fragoso, no município de Independência/CE. A aplicação e o uso dos ambientes digitais e o direcionamento dos conteúdos para as realidades próximas aos interesses dos alunos, mudam de modo significativo às relações e autoestima dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Palavras Chave: Territórios Digitais. Ensino De Geografia, Tecnologia Da Informação E Comunicação. Introdução As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes em nossas vidas e adquire maior importância e abrangência social exigindo dos professores uma posição crítica quanto a sua utilização em benefício da educação, pois cada vez mais, parece impossível viver sem o uso dos equipamentos tecnológicos. Da soma entre tecnologia e conteúdos, nascem grandes oportunidades de ensino. E por que não tentarmos inseri-los como recurso pedagógico em sala de aula? Por ser relativamente nova, a relação entre a tecnologia e a escola ainda é bastante confusa e conflituosa. Atualmente existem políticas públicas no sentido de promover a inclusão digital e a melhoria do acesso da população a essas novas tecnologias. Nesse sentido, o Ministério do Desenvolvimento Agrário em 2008, criou o Projeto Territórios Digitais com o objetivo de levar acesso gratuito de informática e internet as populações rurais por meio da implantação de Casas Digitais nos Territórios da Cidadania. Esta pesquisa está sendo desenvolvido na Escola Familiar Agrícola (EFA) Dom Fragoso, localizada no município de Independência, no estado do Ceará. Surge na tentativa de incentivar o uso e aplicação das novas tecnologias de informação e comunicação, no laboratório de informática educativa da escola, ambiente equipado com máquinas e equipamentos tecnológicos utilizados como recursos pedagógicos para

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TERRITÓRIOS DIGITAIS NO CAMPO: INTEGRAÇÃO COM O ENSINO DE GEOGRAFIA

Silmara Barbosa Quinto Universidade Federal de Uberlândia – UFC

Resumo As novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes em nossas vidas e adquire maior importância e abrangência social exigindo dos agentes educacionais uma posição crítica quanto a sua utilização em benefício da educação. Em 2008, o Ministério de Desenvolvimento Agrário, criou o Projeto Territórios Digitais para oferecer o acesso gratuito à informática e internet para populações rurais. O ensino de Geografia assume um papel de responsabilidade na formação de cidadãos. Este trabalho apresenta uma proposta para o ensino de Geografia através do uso das TICs na Escola Familiar Agrícola Dom Fragoso, no município de Independência/CE. A aplicação e o uso dos ambientes digitais e o direcionamento dos conteúdos para as realidades próximas aos interesses dos alunos, mudam de modo significativo às relações e autoestima dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Palavras Chave: Territórios Digitais. Ensino De Geografia, Tecnologia Da Informação E Comunicação. Introdução As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais

presentes em nossas vidas e adquire maior importância e abrangência social exigindo

dos professores uma posição crítica quanto a sua utilização em benefício da educação,

pois cada vez mais, parece impossível viver sem o uso dos equipamentos tecnológicos.

Da soma entre tecnologia e conteúdos, nascem grandes oportunidades de ensino. E por

que não tentarmos inseri-los como recurso pedagógico em sala de aula?

Por ser relativamente nova, a relação entre a tecnologia e a escola ainda é bastante

confusa e conflituosa. Atualmente existem políticas públicas no sentido de promover a

inclusão digital e a melhoria do acesso da população a essas novas tecnologias. Nesse

sentido, o Ministério do Desenvolvimento Agrário em 2008, criou o Projeto Territórios

Digitais com o objetivo de levar acesso gratuito de informática e internet as populações

rurais por meio da implantação de Casas Digitais nos Territórios da Cidadania.

Esta pesquisa está sendo desenvolvido na Escola Familiar Agrícola (EFA) Dom

Fragoso, localizada no município de Independência, no estado do Ceará. Surge na

tentativa de incentivar o uso e aplicação das novas tecnologias de informação e

comunicação, no laboratório de informática educativa da escola, ambiente equipado

com máquinas e equipamentos tecnológicos utilizados como recursos pedagógicos para

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uso da comunidade escolar. Tem o papel de contribuir para que a população rural se

torne agente desse processo no meio rural brasileiro, levando inclusão social e digital no

ensino das mais diversas áreas do conhecimento.

O projeto Territórios Digitais consiste na implantação de Casas Digitais é coordenado

pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e integra o Programa Territórios

da Cidadania. Tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento rural sustentável,

fortalecimento da agricultura familiar e o reconhecimento do acesso legítimo a terra por

comunidades tradicionais. Por conseguinte, a metodologia das Casas Digitais no campo:

(...) é fundamentada na possibilidade de contribuir com a formação de multiplicadores críticos, participativos, autônomos, sujeitos da história, com consciência de gênero e de classe e comprometidos com a construção de outro modelo agrícola e agrário para o campo brasileiro. Assim promoverá diversas situações de aprendizagens que contemplem essa formação, garantindo sempre como ponto de partida o trabalho, a cultura, a pesquisa e as lutas sociais como matrizes formadoras, colocando-se a serviço da construção de um novo sujeito social do campo com ajuda da Cultural Digital. (PROJETO TERRITÓRIOS DIGITAIS, 2008).

O MDA entende que prover cidadania para o meio rural requer, incondicionalmente, a

integração das tecnologias de informação e comunicação disponíveis a todos. O uso de

novas tecnologias de ensino no ambiente escolar rural se faz necessária para o

desenvolvimento dos alunos e da sociedade contextualizando-os num sistema maior e

mundial de acesso a informação e democratização do conhecimento.

Este trabalho propõe abordar conceitos geográficos através do uso das TICs na EFA

Dom Fragoso. É uma proposta de educação que visa apresentar uma leitura a partir da

realidade das dinâmicas locais, resgatando, sobretudo a cultura e os valores das

comunidades rurais. Surge da necessidade de se pensar a utilização das TICs como

mecanismo para tornar a aprendizagem da Geografia mais significativa e aproximá-la

da realidade vivida pelo aluno fazendo que este identifique saberes geográficos

necessários na espacialização do seu cotidiano.

Além disso, é perceptível a carência de iniciativas de inserção dessas novas tecnologias

nas esferas mais elementares no ensino do campo, seja por falta de condições

estruturais, seja pela falta de capacitação por parte dos profissionais envolvidos. O fato

é que tais tecnologias não podem ser ignoradas, uma vez que direta ou indiretamente

exercem influência no meio social de alunos e professores.

Na perspectiva de motivar os alunos no estudo desses conteúdos e torná-la uma

experiência positiva, verifica-se que a forma tradicional, que enfatiza o conteúdo no

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ensino da Geografia traz resultados pouco significativos e satisfatórios, no sentido de

envolvimento dos alunos com os conteúdos.

O método de ensino tradicional onde o professor transmite os seus conhecimentos

acerca do assunto enquanto os alunos adquirem o conhecimento transmitido sem haver

comunicação entre eles é o que mais se aplica nas escolas. Segundo Cavalcanti (2006) o

método tradicional tem o professor como expositor do conteúdo que está posto no livro

didático e aluno como mero receptor de informações. Sendo sugerido pela mesma

autora o método de ensino sócio construtivista, que aqui descrito de forma sucinta,

valoriza o cotidiano do aluno e o tem como sujeito ativo no processo de ensino-

aprendizagem.

Uma das possibilidades de tornar o aluno sujeito ativo é o uso de ambientes digitais que

surgem como nova relação de ensino-aprendizagem criando condições para as

construções e desconstruções dentro e fora da sala de aula. Estas ações educacionais,

culturais e digitais deverão contribuir direta e indiretamente para o desenvolvimento

econômico, social e cultural do campo, possibilitando aos estudantes recursos materiais

e intelectuais bem como a inovação tecnológica necessária a geração de emprego e

renda.

Nesta perspectiva, Stahl (1997) acredita que:

Os professores precisam entender que a entrada da sociedade na era da informação exige habilidades que não têm sido desenvolvidas na escola, e que a capacidade das novas tecnologias de propiciar aquisição de conhecimento individual e independente implica num currículo mais flexível, desafia o currículo tradicional e a filosofia educacional predominante, e depende deles a condução das mudanças necessárias.

Procura-se, dentro desta proposta, analisar o ensino da Geografia e da educação do

campo sob a perspectiva das novas TICs com os alunos da Escola Familiar Agrícola

Dom Fragoso considerando o uso das novas tecnologias, pois antes dessa iniciativa, a

vivência com os ambientes digitais de aprendizagem encontravam-se restrita aos alunos

da zona urbana. Nesta proposta para o ensino de Geografia, procura-se ampliar as

metodologias que incentivem o uso das tecnologias de informação e comunicação,

visando promover o aprimoramento do aprendizado, inserindo o aluno do campo na

realidade contemporânea da sociedade.

A metodologia deste trabalho consiste nos seguintes procedimentos: revisão

bibliográfica a respeito do tema; coleta de informações e dados em jornais, revistas,

páginas da web; análise do material de apoio utilizado nas salas de aula (livro didático)

e aplicação de um roteiro de atividades com os alunos; observações técnicas e

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interpretação dos resultados.

Com o objetivo de ampliar as possibilidades do ensino e aprendizagem na disciplina de

Geografia e na educação do campo, pretende-se utilizar um ambiente digital para que os

alunos desenvolva a noção de espaço local e comparem com os diferentes tipos de

representações da superfície terrestre com mapas virtuais e imagens de satélite de sites

como o Google Mapas e programas como o Google Earth.

A carência de projetos e metodologias para a disciplina com o uso das TICs reforça a

importância desta proposta para o desenvolvimento de projetos pedagógicos necessários

para o ensino e aprendizagem da Geografia na educação do campo.

É um convite na forma de desafio, viável, acima de qualquer dificuldade ou obstáculo.

E o momento é propício para tornar a Geografia mais atraente, interessante e

indispensável como disciplina fundamental na formação de cidadãos. Sabemos que a

Geografia em conjunto com o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação tem

um importante papel nesta construção.

Ensino de Geografia e as tecnologias de informação e comunicação

As discursões sobre políticas de reforma agrária estabelecem relações com movimentos

sociais campesinos e com a construção de uma política diferenciada de educação do

campo. A Educação na Reforma Agrária e Educação no Campo nasceram

simultaneamente, são distintas e se complementam. Para Fernandes (2005):

A Educação na Reforma Agrária refere-se às políticas educacionais voltadas para o desenvolvimento dos assentamentos rurais. Neste sentido, a Educação na Reforma Agrária é parte da Educação do Campo, compreendida como um processo em construção que contempla em sua lógica a política que pensa a Educação como parte essencial para o desenvolvimento do Campo.

Pensar a prática geográfica nas escolas nos leva a refletir sobre as diversas abordagens

da Geografia e sua evolução metodológica. Este trabalho usou como base as correntes

humanísticas e críticas do pensamento geográfico.

A Geografia Humanista, segundo Tuan (1985 apud PINHEIRO, 2005): “reflete os

fenômenos geográficos com o propósito de alcançar melhor entendimento do homem e

de sua condição”. De acordo com o pensamento de Pinheiro (2005):

O conhecimento geográfico é desenvolvido em vários graus nas diferentes espécies. Considera que todos os grupos humanos têm ideias a respeito do

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espaço, localização, lugar e recurso, desenvolvendo um “mapa mental” na relação com o meio ambiente e seu contexto cultural. As noções de território e de lugar, também são essenciais para os grupos humanos, para o ser humano são carregados de emoção e de simbologias, resultando em uma conceituação.

O conceito de lugar nesta perspectiva adquire uma relação de identidade, a partir do

momento em que o homem desenvolve vínculos afetivos com o espaço e vivencia

experiências diretas que incluem todos os sentidos. É por meio dos lugares que se dá a

comunicação entre o homem e o mundo.

A Geografia Crítica busca recuperar o sentido do ensino baseado na realidade social.

Nesta perspectiva, o lugar passa a ser definido pelo o que é percebido/vivido,

considerando sua subjetividade e objetividade material.

Sob o enfoque do pensamento crítico reconhecemos a importância de pensarmos sobre

os procedimentos de ensino de Geografia, e a esse respeito, Lana Cavalcante diz:

O caminho mais adequado para desenvolver o tema de procedimentos no ensino da Geografia é o de uma reflexão inicial sobre objetivos de ensino. Ensino é um processo de conhecimento do aluno mediado pelo professor, no qual estão envolvidos, de forma interdependente, os objetivos, os conteúdos, os métodos e as formas organizativas de ensino. Nesse processo, os objetivos devem nortear os conteúdos e os métodos. E os procedimentos são as formas operacionais do método de ensino, isto é, são atividades para viabilizar o processo de ensino, tal como ele é concebido teórica e metodologicamente. (CAVALCANTE, 2002, p. 71)

Esse exercício de reflexão sobre a prática de ensino não é uma tarefa fácil, não podemos

pensar que a formação de bons professores depende simplesmente do aprendizado de

“técnicas infalíveis” de ensinar. É preciso estar ciente de que o processo de formação

vai muito além da esfera acadêmica, perpassando por caminhos e descaminhos, que

como diria Kaercher (2003) são constituídos por eternos recomeço. Dessa forma,

[...] Pensar sobre a educação, rever-se através da educação como aluno que foi e como professor que é apropriar-se do seu próprio caminhar através da educação, falar de si sem medo neste processo é na verdade, o educador se desvelar como sujeito, é um encontro consigo mesmo como sujeito. Encontro que é libertação, mas que também pode ser uma experiência dolorosa, sofrida.

É uma árdua tarefa tornar a Geografia mais próxima do aluno e do seu cotidiano. Nessa

perspectiva:

[...] A formação de uma consciência espacial no ensino requer do professor que ele considere o que os alunos pensam, desejam e conhecem. É preciso considerar os conhecimentos e a experiência que esses alunos trazem do seu cotidiano para serem confrontados com o saber geográfico mais sistematizado. [...] As representações sociais estão no nível do conhecimento vivido e sentido, nem sempre consciente, mas que contém elementos de um

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conceito já potencialmente existentes nos alunos, podendo assim, ser tomado como parâmetro de aprendizagem significativa. Esse procedimento metodológico é compatível com a proposta de Vygotsky de formar com os alunos uma Zona de Desenvolvimento Potencial ou Proximal. (CAVALCANTE, 1998, p.362)

Segundo a concepção de Vygotsky:

A aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do indivíduo com o mundo está sempre mediada pelo outro. Não há como aprender e apreender o mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. [...] o outro é quem nos orienta no processo de apropriação da cultura. (BOCK, 2002, p.124)

No que se refere à mediação do conhecimento é válido ressaltar a importância da

utilização das novas tecnologias de informação e comunicação que podem servir como

recurso para interligar as experiências do cotidiano do aluno ao saber geográfico. De

acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN):

É importante que os alunos tenham os recursos tecnológicos como alternativa possível para a realização de determinadas atividades. Por isso, a escola deve possibilitar e incentivar que os alunos usem seus conhecimentos sobre as tecnologias para comunicar-se e expressar-se, como utilizar imagens produzidas eletronicamente na ilustração de textos e trabalhos; pesquisar assuntos; confeccionar folhetos, mapas, gráficos etc. sem que a realização dessas atividades esteja necessariamente atrelada a uma situação didática planejada pelo professor. (PCN, 1998, p.153).

Ainda nesse contexto, os PCN sugerem ao professor:

O aluno poderá, na medida do possível e do acesso, aprender a utilizar a tecnologia como ferramenta intermediária da Geografia, a exemplo do computador como armazenador e organizador de dados empíricos, ou para construir simulações simples da realidade. [...] Outra possibilidade depende dos recursos, são as formas de registro e interpretação espacial, como o exercício de utilização das fotografias aéreas e imagens de satélites. (PCN, 1998, p.96-97)

Voges e Nascimento (2011) citam como exemplo de recurso pedagógico possível de ser

utilizado nas aulas de Geografia o programa Google Earth que disponibiliza imagens

interativas de satélites onde podem ser visualizadas várias partes da superfície da Terra

com diferentes ângulos.

No que diz respeito às formas de organização curricular, as Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCN) sistematizam os princípios e as diretrizes gerais da Educação Básica,

orienta a formulação do projeto político pedagógico da escola assegurando:

[...] estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos utilizando-se recursos tecnológicos de informação e comunicação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de superar a distância entre estudantes que aprendem a receber informações com rapidez a linguagem digital e professores que dela ainda não se apropriaram. (RESOLUÇÃO CNE/CEB 4/2010)

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Quanto aos critérios procedimentais é preciso construir por meio da linguagem escrita e

oral um discurso articulado sobre as diferenças entre o lugar próprio dos alunos e a

pluralidade de lugares que constituem o mundo. Para Pierre Levy (1993), o

conhecimento é categorizado por três diferentes formas: a oral, a escrita e a digital.

Embora essas formas tenham se originado em épocas diferentes, elas coexistem e estão

presentes na sociedade atual. No entanto, elas nos encaminham para percepções

diferentes, racionalidades múltiplas e comportamentos de aprendizagem diferenciados.

É preciso que os professores estabeleçam o que, como, porque e para que servem as

novas tecnologias e só então fazer uso delas, pois só vale levar a tecnologia para a

classe se ela estiver a serviço de conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser

ensinadas sem elas.

Tendo em vista que a simples incorporação das inovações tecnológicas não garante

melhoria da qualidade do ensino, o uso inadequado dessas tecnologias pode mascarar

uma prática tradicional de ensino baseado meramente na percepção e memorização das

informações.

Nesse sentido, esta pesquisa visa desenvolver práticas educacionais que aliem o uso das

tecnologias à construção do saber geográfico dos alunos do campo, partindo das práticas

observadas em sala de aula.

Para Oliveira (2011), o ensino de Geografia e as escolas do campo estabelecem um

papel relevante na compreensão das relações sociais com o semiárido:

A Geografia, como disciplina escolar, tem papel relevante no entendimento dos processos que envolvem a relação campesinato, ensino de geografia e reforma agrária; a pesquisa com extensão tem possibilitado um reconhecimento de nossa prática docente no trabalho com a disciplina no mundo da escola. A escola do campo é vista como uma proposta que nasceu de demandas dos movimentos camponeses na construção de uma política educacional para os acampamentos e assentamentos de reforma agrária. Essa interpretação é relevante na compreensão da realidade que envolve a escola do campo, que se encontra no processo de espacialização da luta camponesa.

Assim, foi realizado um trabalho de campo na Escola Familiar Agrícola Dom Fragoso

localizada no município de Independência, no estado do Ceará. De acordo com o Projeto

Político Pedagógico, a escola se propõe a dispor uma formação integral do jovem, a nível

humano-social, intelectual-profissional e ético-espiritual, a diminuir os índices de evasão e

repetência dos estudantes, a trabalhar a permanência dos ex-alunos no campo e a melhorar a

qualidade de vida dos trabalhadores rurais.

A pesquisa ainda está sendo desenvolvida na EFA Dom Fragoso e ocorrerá em três

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etapas. Primeira: exposição dialogada do conceito de lugar proposto pelo livro didático.

Segundo: observação e representação do espaço de vivência dos alunos. E terceira: a

confrontação entre as realidades observadas e sua representação virtual.

Na primeira etapa foram trabalhados com os alunos os conceitos das categorias de

análise da Geografia partindo da importância da localização espacial e temporal dos

fatos. Diante desta análise foi proposto aos alunos que tentassem identificar o

significado do lugar na construção da identidade social e relações cotidianas

considerando os elementos que compunham o lugar vivenciado por eles.

Diante do conteúdo trabalhado foi proposto aos alunos que representassem o seu espaço

de vivência ou algum lugar que concebesse algo importante, identificando pontos para a

localização e referência. O resultado foi à elaboração de alguns mapas mentais

ilustrando as observações feitas.

As ilustrações representam o seu espaço de vivência identificando aspectos naturais e

culturais da paisagem que estejam carregados de algum significado e simbologia como é

possível ver a seguir nas figuras 01 e 02.

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Figura 01 – Desenho retratando as características do semiárido realizado por um

aluno

Autor: SANTOS (2012).

Figura 02 – Desenho retratando as unidades produtivas da comunidade em que

vive um aluno

Autor: CAVALCANTE (2012). A terceira etapa da pesquisa está em andamento, mas é neste momento que se procede à

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comparação entre os ambientes vivenciados pelos alunos e sua representação virtual. O

objetivo é utilizado o laboratório de informática e como ferramenta pedagógica o site

Google Mapas, onde os alunos terão a oportunidade de consultar as imagens de satélites

identificando os lugares representados por eles. O aluno poderá visualizar a localização

em imagem real do seu espaço de vivência desenvolvendo a noção espacial e a

representação cartográfica.

Considerações finais

Diante das inúmeras mudanças e transformações tecnológicas que ocorreram nas

últimas décadas, a sociedade atual vem exigindo novos hábitos, um novo perfil, outros

conhecimentos, sendo assim, a escola e o professore não podem mais ficar indiferentes

a essas transformações.

Hoje, o aprendizado é diferente das gerações anteriores e a reforma no ensino trouxe

mudanças nas disciplinas, nos conteúdos e nas metodologias. Direcionando as

mudanças para o ensino da Geografia e para a educação do campo, existe a necessidade

de inserir o uso da tecnologia no ambiente escolar. Este é um desafio que muitos

educadores estão enfrentando, já que o uso das novas tecnologias de informação e

comunicação faz parte do cotidiano da maioria dos jovens estudantes.

Este trabalho propõe a partir dos conteúdos da Geografia, usar os ambientes digitais,

tais como computadores e internet e todas as suas possibilidades de uso e acesso a

informação, abrindo possibilidade de trocas entre os participantes do processo de ensino

e aprendizagem. Uma Geografia que não seja apenas centrada na descrição empírica das

paisagens, tampouco pautada exclusivamente pela explicação política e econômica do

mundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como os elementos

físicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles

estabelecidas na constituição dos lugares e espaços de vivência.

Na execução de atividades com o uso das TICs, o enriquecimento da disciplina e

envolvimento dos alunos com os conteúdos e assuntos é significativo e possibilita uma

experiência positiva para todos os participantes, desenvolvendo relações de trocas e

colaboração, que muitos ainda não haviam experimentado de maneira tão intensa na sua

formação.

A possibilidade de mediar às relações de ensino e aprendizagem para a educação do

campo e a inquietação inicial de fazer da disciplina uma experiência positiva e

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construtora de conhecimento está envolvida em um processo muito maior que se

expande além da sala de aula que é aprender e ensinar com o uso de novas tecnologias,

especificamente com o uso de ambientes digitais, incluindo na sociedade da informação

e comunicação os futuros cidadãos com uma consciência tecnológica e do seu uso em

benefício individual e da sociedade.

A presença do aparato tecnológico na sala de aula não garante mudanças na forma de

ensinar e aprender. A tecnologia deve servir para enriquecer o ambiente educacional,

propiciando a construção do conhecimento por meio da atuação crítica e criativa dos

professores.

Nesse sentido, acreditamos que ao trabalhar os conteúdos da Geografia em conjunto

com as TICs e o com o imaginário dos alunos no estudo do espaço agrário é facilitar a

interlocução com eles e compreender o significado que as diferentes paisagens, lugares

têm para os alunos. Isso significa dizer, valorizar os fatores culturais da vida cotidiana

do semiárido, permitindo compreender ao mesmo tempo a singularidade e a pluralidade

dos lugares no mundo. A aplicação e o uso dos ambientes digitais e o direcionamento

dos conteúdos para as realidades próximas aos conhecimentos, experiências e interesse

dos alunos, mudam de modo expressivo às relações, postura e autoestima dos

envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de Geografia. Desse modo, o uso das

TICs facilita o aprendizado e a compreensão dos conteúdos exposto em sala de aula.

Referências BOCK, A. M. B; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. A Psicologia da Aprendizagem. In: ______. (orgs.). Uma introdução ao ensino de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 114-130. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAVALCANTE, Lana de Souza. Geografia, escola e construção do conhecimento. Campinas: Papirus, 1998. ______. Geografia e Práticas de Ensino. Goiânia: Editora Autêntica, 2002.

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