entre o paraíso e o inferno: as múltiplas manifestações da divina comédia

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COLETIVO PUBLISHING HOUSE ENTRE O PARAÍSO E O INFERNO AS MULTIPLAS MANIFESTAÇÕES DA DIVINA COMEDIA São Paulo 2015

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Page 1: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

COLETIVO PUBLISHING HOUSE

ENTRE O PARAÍSO E O INFERNO

AS MULTIPLAS MANIFESTAÇÕES DA DIVINA COMEDIA

São Paulo

2015

Page 2: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

2

COLETIVO PUBLISHING HOUSE

Amanda Leite

Joyce Paixão

Luca Weingärtner

Lucas Fagundes

Sarah Yoshida

Tais Petrosino

Thais Maestrello

ENTRE O PARAÍSO E O INFERNO

AS MULTIPLAS MANIFESTAÇÕES DA DIVINA COMEDIA

Monografia apresentada como conclusão do terceiro semestre da

graduação em Produção Editorial com Ênfase em Multimeios, da

Universidade Anhembi Morumbi, especificamente para a docência de

Projeto em Produção Editorial em Hipermídia.

São Paulo

2015

Page 3: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 04

2 DANTE ALIGHIERI ...................................................................................................... 05

2.1 Biografia: Dante Alighieri ................................................................................................05

2.2 A Importância Social, Cultural e Histórica das Obras de Dante Alighieri....................... 07

2.3 Analise da Obra ‘A Divina Comédia’ de Dante Alighieri e Seu Impacto na Sociedade. 09

2.4 Adaptações da Obra ‘A Divina Comédia’ de Dante Alighieri.........................................12

3 DOMENICO DI MICHELINO....................................................................................... 15

3.1 Biografia: Domenico Di Michelino..................................................................................15

3.2 Analise da Obra ‘La Comedia Ilumina Firenze’ e Suas Relações com a Obra ‘A Divina

Comédia” de Dante Alighieri ................................................................................................ 16

3.3 ‘La Comedia Ilumina Firenze’ A Sinestesia e Ironia Presentes na Obra......................... 18

4 CONCLUSÃO................................................................................................................... 20

5 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 21

Page 4: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

4

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, em nossa sociedade é extremamente importante conhecermos a nossa

cultura, mas do que isso é importante conhecer a cultura exposta pelo mundo. Conhecer a

cultura não é somente ter acesso a mesma, de nada adianta conhece-la se não podemos

entende-la.

Quais as intenções do autor, suas referências, artistas que o inspirou, qual a época

em que ele vivia, tudo tem impacto nas obras, por isso a importância de conhecermos os

artistas antes de tentar entender a sua obra. O primeiro passo para conseguir entender a arte é

conhecer a sua essência. Assim como antigamente, os artistas continuam a usar como

referência outros artistas que os agradam para guiar seu trabalho. Depois de muitas gerações

chegamos em uma época onde todo o tipo de arte é bem definido e apreciado por certo grupo,

depois de algum tempo de apreciação das obras e conforme passão os anos, as obras, mesmo

que ainda levem temas atuais precisam receber uma nova roupagem para o melhor

entendimento de seu conteúdo e aproveitamento de sua obra.

Nos dias atuais podemos ver uma grande variedade e quantidade de adaptações de

obras clássicas, tanto nacionais quando internacionais, as releituras são um meio para que as

obras continuem vivas e conhecidas, principalmente pelos jovens. É valido lembrar que as

adaptações não substituem ou roubam os lugares dos clássicos, e sim, atraem maior público

para os mesmos, tornando as obras palpáveis. Este trabalho tem como objetivo mostrar a

importância de uma adaptação, no caso, da obra de Dante Alighieri ‘A Divina Comedia’ que

foi adaptada em forma de quadro pelo artista plástico Domenico di Michelino. Queremos com

isso mostrar a importância da adaptação e como ela, mesmo sendo derivada de outra obra, tem

seu próprio valor e carga histórica e artística para nos ensinar.

Page 5: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

5

2 DANTE ALIGHIERI

2.1 Biografia: Dante Alighieri.

Dante Alighieri nasceu na cidade de Florença na Itália em 1265. Deu início aos seus

estudos no convento de Santa Cruz, Padres Franciscanos e na Escola do Mestre Brunetto

Latini.

Aprofundou-se em literatura, retórica e filosófica, seguiu seus estudos na Universidade

de Bolonha e na Universidade de Paris. Também desenvolveu habilidades em desenho,

música e manejo de armas. Dante casou-se com Gemma Donati, mesmo sendo apaixonado

pela sua amiga de infância Beatrice Portinari, e tiveram três filhos.

Dante foi prometido aos 12 anos a Gemma, a mesma situação aconteceu com Beatrice

que foi prometida ao banqueiro Simone dei Bardi. Beatrice era sua musa inspiradora, tanto em

sua obra "Divina Comédia" quanto para ‘Vida Nova’.

Em sua carreira política, pertenceu ao Conselho dos Cem. Por conta de uma disputa de

famílias, dividiram-se entre Guelfos² brancos e Guelfos negros. Ao meio deste confronto,

Dante teve de agir e providenciou o exilio dos chefes das duas casas, em nome da concórdia

na cidade. Nesta lista havia seu grande amigo Guido Cavalcanti e um parente de sua esposa.

O Papa, para pacificar a cidade e arrebatar o poder, condenou Guelfos brancos ao exílio.

Dante estava entre os exilados. Com uma grandiosa multa estabelecida para os exilados,

Dante não pode voltar a sua terra natal, caso voltasse sem ter quitado a mesma, seria

condenado à morte.

Dante vagou pelas cidades da Itália sobrevivendo de favores, nesse período conquistou

a admiração de nobres pela sua arte como o Bartolomeu Della Scala, Duque de Milão e o

Senhor de Verona.

Entre 1310-1321 Dante escreveu sua obra-prima nomeada de "Comedia". O poema é

composto por três partes onde a primeira chama-se "Inferno", a segunda de "Purgatório" e a

terceira de "Paraíso". São 100 cantos no total, cada um com uma média de 120 versos, em

forma de tercetos de versos decassílabos e de rima alternada. Pelo motivo de começar pela

tristeza, no caso o Inferno, e terminar com alegria, o paraíso, e por utilizar uma linguagem

mais simples e popular em oposição à tragédia que costumava ser escrita em Latin, o título

“Comédia” foi criado.

Autores que mostraram influência do poema de Dante em suas próprias obras foram:

Geoffrey Chaucer, Percy Bysshe Shelley, Dante Gabriel Rossetti, William Butler Yeats,

James Joyce, Ezra Pound, T. S. Eliot, Jorge Luis Borges, Samuel Beckett e Giovanni

Boccacio. Esse último, autor de Decamerão³, acrescentou no século XIV o adjetivo “divina”

ao título "Comédia" se transformando para "Divina Comédia".

_______________________ 1 Conselho que governava a cidade. 2 Facções politicas do século XVII- XVII

3 Novelas escritas em 1348-1353 por Giovanni Bocaccio

Page 6: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

6

Dante faleceu na cidade de Ravena em 14 de Setembro de 1321. Além da ‘A Divina

Comedia’ também escreveu "Convívio", "Vita Nuova" e "De Monarchia"

Depois de sua morte, os cidadãos de Florença deram início a tentativa de sepultar o

maior escritor e poeta italiano de todos os tempos, mas os cidadãos de Ravena não

concordaram. O luxuoso túmulo florentino permaneceu vazio.

Page 7: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

7

2.2 A Importância social, cultural e histórica de Dante Alighieri.

Dante Alighieri é considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido

muito da época como ‘il sommo poeta’4. Dante foi muito mais do que apenas um literato; em

uma época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés

épico e teológico; que se tornou a base da língua italiana moderna e expõe modo medieval de

entender o mundo.

Durante os dez últimos anos da sua existência 1310-1321, que Dante escreve ‘A

Divina Comédia’. O longo poema tem sua estrutura composta de três partes (Inferno,

Purgatório e Paraíso), cada qual com 33 cantos, com exceção do Inferno, que tem 34 cantos,

sendo o primeiro uma introdução a toda a obra.

São cem cantos no total, com uma média de 120 versos cada um, na forma de tercetos

de versos decassílabos de rima alternada. O título Comédia deveu-se a duas razões: por se

tratar de uma narrativa que inicia na tristeza (Inferno) e termina com alegria (Paraíso) e por

utilizar um estilo simples e uma linguagem popular, que na época era o italiano, em oposição

à tragédia, normalmente escrita em latim.

Nesta obra considerada não só a mais importante do autor, mas de toda a literatura

italiana, Dante coloca a si próprio como personagem e lança mão da narração em primeira

pessoa. Exilado, peregrino, faz de si uma espécie de cidadão do mundo, representante do

homem medieval, espremido entre a cultura clássica e a cultura do cristianismo, em busca da

excelência moral e espiritual e da justiça social.

Levado pela mão do poeta latino Virgílio, autor da epopeia do povo latino, a Eneida,

Dante atravessa o mitológico Estige na barca de Caronte e é levado a conhecer o Inferno,

onde se depara com pecadores sendo castigados, em ordem progressiva de gravidade de

pecado cometido. No Purgatório, local de purificação, pessoas pagam penitência por dívidas

morais que são, no entanto, saldáveis. Ao final da jornada no Purgatório, a amada e católica

Beatriz substitui o pagão Virgílio e torna-se o guia e ajuda divina do poeta, acompanhando-o

até o Paraíso, onde repousam pessoas que pagaram a devida penitência de seus pecados,

governantes justos, estudiosos da teologia e praticantes do bem, entre outros.

Os cantos d’A Divina Comédia eram publicados e difundidos à medida que eram

escritos. Dante povoou o Inferno, o Purgatório e o Paraíso com personagens históricos,

conhecidos seus e homens públicos de Florença; desse modo a difusão da obra teve também

um caráter de acerto de contas. O poema mostra, de fato, a vida do povo italiano no final da

Idade Média, dividido em várias cidades-estado, em contínua luta pela sobrevivência política,

recorrendo á aliados estrangeiros, ou ao poder Papal. Por ser um painel completo da vida e

dos vícios da Itália da época, a ‘A Divina Comédia’ é considerada, também, um compêndio,

______________________

4 O Sumo Poeta

5 Poema épico romano escrito por Virgilio

Page 8: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

8

rigidamente estruturado, sobre a civilização medieval, uma suma poética da Idade Média,

tendo como fonte doutrinária as sumas teológica e filosófica de São Tomás de Aquino,

possuindo fonte estética a Eneida Virgiliana.

A maestria e o gênio do poeta superam e ressaltam os truques poéticos estruturais,

tornando menos perceptível a rigidez formal da obra; a força transformadora da arte de Dante

fez com que ele conseguisse expor problemas específicos de sua época e da sua cidade.

Do ponto de vista mais transcendental, a jornada do personagem é uma peregrinação

para alcançar os ideais cívicos da união, justiça e do amor. Dante, vivendo em um mundo que

considerava imerso em pecados e injustiças sociais, escreveu uma obra tão didática quanto

repleta de beleza poética, apontando a culpa e os pecados humanos como estando ligados a

bens materiais, alienantes. Por outro lado, aponta a valoração de bens espirituais como a única

maneira de se atingir a redenção moral do indivíduo (a primeira célula da sociedade),

condição necessária para a perfeição social, isto é, a harmonia da vida comunitária e a

excelência das instituições políticas e sociais. A obra é polêmica e agressiva, assumindo o que

Harold Bloom descreve como “função de um terceiro Testamento, de maneira nenhuma

subserviente ao Velho e ao Novo”. Dante estava convencido de que sua obra correspondia à

mais elevada verdade, daí o caráter educacionalmente positivo da mesma.

Além da Divina Comedia, Dante escreveu também as obras:

De Vulgari Eloquentia 6 - escrita, curiosamente, em latim

Vita Nova7 - onde insere sonetos, comentados, narrando a história do seu amor

por Beatriz. A língua utilizada é o Italiano da Toscana, tanto para os poemas,

sem grande novidade, já que muitas obras líricas tinham sido escritas em língua

vulgar como para os comentários que, pelo seu carácter mais teórico, já inovam

ao prescindir do latim.

Le Rime8 - também chamadas de Canzoniere (Cancioneiro), onde aparecem

vários textos de cariz lírico (sonetos, canções, baladas, sextinas...), onde,

novamente, canta o amor idealizado por Beatriz, bem como a Ciência, a

Filosofia e a Moral;

Il Convivio 9- de carácter filosófico, é apresentado pelo poeta como um

banquete com 14 pratos (simbolizando as canções), acompanhados do pão (os

comentários). Faz parte das obras que pretendem dignificar a língua vulgar,

tanto mais que Dante chega a citar autores tão importantes como Aristóteles ou

São Tomás de Aquino;

Monarchia ¹0 - onde ocorre a exposição das suas ideias políticas.

____________________________

6 Sobre a linguagem vulgar

7 Vida nova

8 As rimas

9 O convívio

10 Monarquia

Page 9: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

9

2.3 Analise da obra ‘A Divina Comédia” de Dante Alighieri e seu impacto na sociedade.

A ‘Comédia’ é a síntese da era medieval traduzida em poesia, além do seu relevo

cultural e poético, foi com ela que Dante Alighieri ajudou a dar forma a própria língua

italiana. Dado seu caráter universal, ler esta obra significa conhecer o que fomos e o que ainda

somos. Ler a Divina Comédia é reencontrar-se com Dante, no meio do caminho da vida e

descobrir com maior profundidade os sentidos do amor. O amor em sua multiplicidade de

objetos, dentre os quais a arte. A leitura é o exercício de amar um texto, de deixar o intelecto

envolver-se e emocionar-se com a obra escrita.

Dante nomeou a obra como Comédia, tendo o adjetivo Divina sido introduzido em

uma edição de 1555 por Bocaccio¹¹. Em seu artigo, Delcumeu descreve que “a obra trata de

amor, de política, de culturas e imaginários, de religião. Dante Alighieri a concluiu em 1321,

ano também de sua morte, após 14 anos de trabalho. Podemos situá-la no contexto das

filosofias escolásticas, dos grandes tratados demonológicos, do medo do Demônio e de suas

manifestações” já Le Goff , faz questão de ressaltar como a obra retratada as mudanças da

época, seu renascimento como Alta Idade Media e a reorganização burguesa.

Esse regime dualista pressupõe o alinhamento social em um dos lados, tendo em

vista o sofrimento e dor eternos daqueles que forem seduzidos pelas promessas terrenas do

Maligno e do Paraíso, oferecidas aos fiéis seguidores da Igreja e seus mandamentos. Embora

Dante Alighieri coloque em sua obra esses traços comuns do imaginário medieval, ele não se

abstém de tratar a sua realidade florentina do início do século XIV.

Em seu exílio em Pádua ¹², Dante, imaginou uma viagem ao reino do eterno na qual os

dilemas de sua existência se confundem com os do povo italiano. A inspiração vinha de fontes

diversas: das narrativas de Luciano, na Descida de Menipo ao Inferno e de Virgílio, na

Eneida, bem como das narrativas das relações entre os mundos dos vivos e dos mortos que

faziam parte de uma tradição conhecida por todo o continente europeu, como a do Purgatório

de São Patrício e a lenda Tundale ¹³. Esta última descrevia detalhadamente os domínios dos

reinos do inferno, Purgatório e Paraíso.

‘A Divina Comédia’ inicia-se com Dante, perdido em uma “selva escura”, encontrar-

se acossado por três feras: uma pantera, um leão e uma loba. Dante percebe, com uma dor

profunda, a sua morte civil – política, diríamos hoje – acossado, de acordo com Cristiano

Martins, pelos símbolos da luxúria, o governo de Florença, da violência, a Casa de França e

da avareza, a Cúria papal. Terá de vivenciar esta morte para lograr a recuperação do sentido

da vida, do que move a vida, o amor.

O grande motivo da “A Divina Comédia” é o amor. Dante termina o poema com os

versos ‘O Amor que move o sol, como as estrelas.’

____________________________

11 Poeta italiano especialista nas obras de Dante Alihieri

12 Cidade que fica no nordeste da Itália

13 Lendas sobre cavaleiros medievais

Page 10: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

10

O No Canto XVII do Purgatório, Virgílio define para ele tratar-se da tendência

humana para fazer o bem aos outros. O ser humano tende natural, espontaneamente ao bem, é

uma afirmação ousada que se afasta radicalmente do preceito cristão, pois para este, o homem

nasce em pecado porque se separou de Deus.

Dada por Deus às criaturas, o amor é da ordem natural, mas seu desenvolvimento

depende da vontade humana. O amor é, assim, uma “pulsão” que tende ao seu objeto (o bem

real ou imaginado) ora com exagerada força, ora com a falta dela. O amor se corrompe, por

excesso ou limitação. Assim, há quem por elevar-se mais, almeja do próximo à desgraça.

Um dos momentos mais sublimes de expressão desse amor excessivo ‘Amore

d’animo’ ¹4 é o encontro de Dante com Francesca e Paola, no Canto V do Inferno, círculo no

qual os condenados pela luxúria ficam incessantemente submetidos à ventania. A piedade

manifesta pelo sofrimento do casal que gira eternamente junto, sem poder comunicar-se, é

uma piedade infinita, projeção de um amor perdido.

Então se entende o sentido da inscrição no portal do Inferno. Mais do que ameaça,

uma advertência. A travessia do Inferno é a parte mais pungente da Divina Comédia porque o

poeta se defronta com seus próprios sentimentos, muitas vezes sente compaixão e deixa-se

tomar pelo sofrimento dos condenados daquela prisão sempiterna, sem saída.

Dante que não cometera pecados mortais, mas capitais, adentra na esfera onde o purga.

O anjo fere-lhe na testa a letra P sete vezes, para indicar os sete pecados capitais: a

negligência, a soberba, a inveja, a ira, a avareza, a gula e a luxúria.

Deve-se lembrar a recepção de Dante no Purgatório feita por Catão. Virgílio pede-lhe

o acolhimento do poeta. Ao pedir-lhe que o acolha, lembra a unidade de propósitos que une

Dante a Catão, a liberdade moral. É Catão quem deve admitir a sua entrada no Purgatório.

Já no Purgatório ali estão os seres destinados a libertar-se dos pecados e do sofrimento

por sua própria vontade: a liberdade moral é o seu valor supremo.

Dissemos a travessia poética do mundo eterno por Dante Alighieri tem o sentido de

representar uma interrogação e busca de resposta aos dilemas individuais e coletivos do

homem.

Autores como Skinner situam o poeta no medievalismo, sob os pressupostos

agostinianos do primado divino da Fortuna sobre a Virtú, o destino natural sobre a vontade

humana. Ao indivíduo, porém, atribui o livre-arbítrio, a vontade de poder escolher e fazer ou

deixar de fazer.

Exercitar a dúvida permite ao poeta questionar os rumos da Igreja junto a teólogos

como São Tomás de Aquino, afirmar os princípios do franciscaníssimo, resgatar a

contribuição dos antigos culpados de paganismo e discernir a sabedoria e a fé. Dante Alighieri

ao antever o fim de sua época, vislumbra o nascimento de outro mundo no qual o ser humano

tem o poder, em certas circunstâncias, de agir conforme sua vontade.

____________________________ 14 Humor de amor

Page 11: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

11

A provação, o moralismo de Dante colocando-se como alguém em destaque no meio

de sua confusão aos 35 anos, e o leitor representando a humanidade, numa metalinguagem

edificante. Todo aquele que pecar deve procurar a redenção de seus pecados, esse é o objetivo

escondido nas palavras. Não basta dizer que se arrependeu, é preciso ter fé e ser racional, na

sociedade do dogma.

A Obra é interessante por estabelecer uma hierarquia de pecados para condenação

final, fica definido que as almas que estão no Inferno não têm mais salvação. Já as que se

encontram no Purgatório podem ascender, aceita a expiação transitória que as libertará no

final com a premiação suprema, Deus no paraíso.

Alguns consideram a obra um marco da Cultura da Idade Média, uma enciclopédia

viva com termos e expressões específicas. Retrata a natureza filosófica, científica, poética,

política e histórica do mundo antigo - romano, grego, ocidental e religioso.

Page 12: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

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2.4 Adaptações de “A Divina Comédia”

Dante é, essencialmente, um criador de formas, um poeta-inventor, um pesquisador

incansável da linguagem. Em suma: um poeta experimental. Um poeta de vanguarda. Cuja

modernidade e cuja ousadia não foram amenizadas pela pátina do tempo, nem pela

canonização das Histórias Literárias, mas permanecem em toda a sua agressiva originalidade,

atravessando os séculos (Haroldo de Campos).

Um poeta que ficaria para a posteridade: assim se reconheceu o escritor italiano Dante

Alighieri (1265-1321) na sua opera singolare e unica (Croce, 1948, p.3), a Divina Commedia.

O poeta florentino jamais foi coroado na pia batismal de San Giovanni, mas sua obra

atravessou séculos, carregando consigo uma síntese enciclopédica do conhecimento filosófico

e científico da Idade Média.

A obra, que pode ser considerada imortal, possuí diversas adaptações que abrangem

literatura infanto-juvenil, quadrinhos, obras de arte, jogos de vídeo game e filmes.

A Importância destas adaptações é trazer a essência da “Commedia” para o mundo

contemporâneo, visando, assim, atrair diversos tipos de leitores e espectadores para a

atmosfera da obra que revolucionou a literatura mundial.

“A Commedia é uma alegoria de condenação, arrependimento e beatitude, e como tal

pode ser aplicada igualmente à convicção cristã e ao comportamento humano, assim como à

própria salvação de Dante; ou então algo como um grande sermão com acréscimos visuais e

efeitos sonoros. Mas também é uma diatribe contra Florença e outras cidades, contra o

papado, contra a monarquia da França e contra imperadores negligentes, que permitiram que a

Itália se degenerasse em discórdia.” (Barbara Reynolds 2011, p. 203).

Veremos a seguir algumas das adaptações da obra A Divina Comédia de Dante

Alighieri.

Nos quadrinhos: A Divina Comédia de Dante

Nessa versão do designer americano Seymour Chwast para o poema épico

renascentista, Dante e seu guia Virgílio vestem seus chapéus de feltro e vagam pelos domínios

de um Inferno, um Purgatório e um Paraíso em estilo noir. No caminho, eles deparam com

inúmeros pecadores e santos — muitos deles pessoas reais às quais Dante designa uma

punição horrível ou prazeres indescritíveis — e ficam frente a frente com Deus e Lúcifer.

Chwast cria uma fantasia visual a cada página, e suas ilustrações criativas resgatam a

complexidade delirante desse clássico do cânone ocidental.

A Divina Comédia Em Quadrinhos - Série Clássicos Em HQ

Esse grande clássico renova-se nas aquarelas de Piero Bagnariol, que se esmerou na

tradução em imagens da obra reconhecida como a mais rica fonte da cosmovisão medieval,

retratada por mestres como Botticelli, Doré e Dalí. Enquanto se dedicou à pesquisa

iconográfica, Piero contou com a parceria de seu pai, Giuseppe Bagnariol, para elaborar

roteiros de passagem entre trechos do texto original. Trechos que, por sua vez, foram

Page 13: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

13

escolhidos pela dupla com o suporte da especialista na obra dantesca Maria Teresa Arrigoni,

que também orientou a escolha das traduções - Jorge Wanderley para o Inferno e Haroldo de

Campos para o Paraíso. A tradução do Purgatório é de Henriqueta Lisboa, autora cuja obra

está nas mãos da Editora Peirópolis. Um grande encontro de talentos e esforços para oferecer

aos leitores a melhor tradução d'A Divina Comédia, em todos os sentidos.

No cinema: A Divina Comédia, 1991, Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira apresenta-nos uma parábola sobre a humanidade, sobre o bem e o

mal, sobre Cristo e o anti-Cristo, com base no 5º evangelho ainda não revelado.

Tendo por base as fortes raízes tradicionalistas e ocidentalizadas da ideologia cristã,

este é um filme de reflexão sobre o ser humano, enquanto agente da comédia humana ou

“Divina Comédia”: o bem e o mal, num mundo de tentações. Será esta dualidade a origem da

doença mental e consequente alienação?

O discurso entre crenças e descrenças cujo radicalismo recai na perca de razão, com

excelentes interpretações, pelos mais famosos atores de cinema e de teatro português, numa

peça em que a verossimilhança para com a realidade é intencionalmente substituída por um

dramatismo exacerbado e teatralizado na representação dos personagens. Falando de estilos, é

inevitável referir o fator tempo na obra de Manoel de Oliveira. Discurso que parece ter saído

da literatura descritiva ou da filosofia, de autores como José Régio, Dostoievsky e Nietzsche e

imagem que parece ter sido criada com tempo, para que possa vir a ser contemplada.

Planos interessantes como por exemplo, o plano de corpo inteiro sem cabeça, o plano

de reflexo de Maria João Pires (pianista portuguesa) no piano, e em homenagem, nesta banda

sonora, e algumas influências de filmes de suspense e de expressionismo alemão. Imagem

cinematográfica também com influência da literatura bíblica.

O filme venceu um Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza.

No teatro e televisão: Tutto Dante, Roberto Benigni

É um espetáculo teatral, baseado na obra A Divina Comedia de Dante Alighieri,

acompanhado de sátira.

Durante o espetáculo Roberto Benigni interpreta e recita trechos da obra. As 13

performances do espetáculo foram transmitidas pelo canal de TV RAI, ganhando

posteriormente uma versão em DVD. Após o sucesso do show na Itália, Roberto Benigni

também realizou suas performances internacionalmente.

Nos games: Dante´s Inferno

Dante's Inferno é um jogo eletrônico do gênero ação-aventura e Hack and slash. O

jogo foi desenvolvido pela Visceral Games foi publicado pela Eletronic Arts para Xbox

360 e PlayStation 3.

No jogo Dante’s Inferno, a Divina Commedia não apenas encena, mas está em cena,

em jogo, em ação. O tema, como o próprio título do jogo já evidencia, diz respeito à primeira

parte da Divina, o Inferno, onde o poeta/personagem, em sua peregrinação, encontra

Page 14: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

14

personagens históricos, figuras da mitologia antiga, do imaginário cristão e, inclusive,

personalidades de seu próprio tempo. O Inferno é composto por nove círculos que vão se

estreitando até o centro da Terra; cada um deles corresponde a um tipo de pecado que, no

jogo, Dante-personagem-jogador deve ultrapassar para seguir para a próxima fase. O objetivo

do jogo é salvar Beatriz, que foi raptada por Lúcifer. Para que isso aconteça, o jogador

(Dante) deve ultrapassar os obstáculos dos nove círculos do Inferno e enfrentar a criatura

diabólica no centro gelado do Inferno.

Page 15: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

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3. DOMENICO DI MICHELINO

3.1 Biografia: Domenico di Michelino

Domenico Di Francesco foi um pintor italiano da Escola De Florença, mesma cidade

onde nasce e morreu 1417-1491. Na época Florença era a cidade mais importante para a

classe artística da Europa, pioneira em diversas técnicas e reveladora dos maiores talentos que

conhecemos e estudamos até hoje.

Seguidor do estilo de Fra Angelico¹5, após sua entrada para o mundo artístico, ainda

jovem, Domenico trocou seu sobrenome para Di Michelino, em homenagem a seu professor.

Seu primeiro trabalho documentado data-se entre os anos de 1440-1446, denominado

‘Ospedale Degli Innocenti’¹6, que retrata a inocência sob o manto da Virgem Maria.

Sua importância para a época do Renascentismo da qual pertencia pode ser observada

por suas participações em diversas associações de grande renome, como a Compagnia di San

Luca¹7, da qual foi eleito para participar em 1442 e a Arte dei Medici e degli Speziali¹8, a

sétima maior corporação de artes de Florença. Ele realizava diversas esculturas e pinturas

para artistas parceiros, principalmente arquitetos, de tal forma que diversas obras e

participações suas podem ser encontradas em diferentes prédios de Florença. Sua reputação é

baseada na criação de trabalhos com grande poder, emoção e qualidade, em que suas criações

fantasiosas transcendem o mundo imaginário e se tornam quase reais.

Sua principal obra se encontra na Catedral de Santa Maria del Fiore em Florença,

denominada “La Commedia illumina Firenze”¹9, na qual retrata Dante Alighieri e sua

principal obra escrita,‘A Divina Comédia’ . Apesar de o trabalho ser a arte mais reconhecida

do artista, até o século passado se pensava que esta era de autoria de Mariotto di Nardo logo

depois foi encontrado o contrato de contratação de Domenico para o trabalho.

Tal arte foi pintada e realizada no ano de 1456, no qual Domenico Di Michelino casou

com Marsilia, irmã de outro artista de renome, o Domenico di Guido. O casal teve dois filhos

no matrimônio. Suas últimas obras são datadas no ano de 1484 e retratam São Lucas. O pintor

encontra-se enterrado na igreja de Sant’Ambrogio, em Florença.

____________________________

15 Pintor italiano, trabalha principalmente com cenas impactantes de origem bíblica.

16 Hospital dos Inocentes

17Companhia de São Lucas

18 A arte de médicos e boticários

19 A comedia ilumina Florença

Page 16: Entre o Paraíso e o Inferno: As Múltiplas Manifestações da Divina Comédia

16

3.2 Analise da obra ‘La Comedia Ilumina Firenze’ e suas relações com a obra ‘A Divina

Comedia’ de Dante Alighieri.

La commedia illumina Firenze encontra-se na parede oeste da Cattedrale de Santa

Maria del Fiore na cidade de Florença, Itália. A pintura foi encomendada para ser uma

homenagem ao autor e poeta Dante Alighieri e foi finalizada em apenas cinco meses em 1456,

apesar de seus diversos detalhes.

La Comedia Ilumina Firenze ( Domenico di Michelino, 1456)

Anteriormente, nenhum pintor havia feito obras em homenagem a Dante; a pintura se

espelha na obra mais famosa de Alighieri, ‘A Divina Comédia’. A tela foi dividida em três

partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Como pode ser visto, Dante se encontra no centro

da obra, vestindo um manto e um chapéu vermelho, sendo o último um típico adereço dos

homens da época do Renascimento que viviam em Florença.

Este está em sua mão esquerda segurando uma publicação de seu famoso poema e

com a direita, ele aponta a procissão dos pecadores pelos nove ciclos do Inferno criados pela

queda de Lúcifer, que podem ser vistos no canto esquerdo do quadro. Observa-se na parte de

baixo, centro-esquerda do quadro, o próprio Lúcifer. Entende-se que a procissão inicia-se pelo

Portal do Inferno, em que Virgílio acompanhou Dante, logo no inicio de sua obra, no Canto

III, e o qual o poeta descreve:

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“No existir, ser nenhum a mim se avança,

Não sendo eterno, e eu eternal perduro:

Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!”

Estas palavras, em letreiro escuro,

Eu vi, por cima de uma porta escrito.”

ALIGHIERI, Dante. 1321 D.C.

Como descrito no poema, atrás de Dante, encontra-se o Monte do Purgatório, com Eva

e Adão no topo, representando o Paraíso Terrestre ao que Dante se refere no trecho:

“Esse ato, com que assim Beatriz procede,

Meu se tornou nos olhos infundido,

E o fitei mais que a um homem se concede.

Muito do que é na terra defendido,

No Paraíso é dado à humana gente,

A quem fora por dote prometido.”

ALIGHIERI, Dante. 1321 D.C.

Acima destes, encontra-se o Sol, a lua e os sete planetas representando o Paraíso por

onde Beatriz guiou Dante no poema. O céu está dividido em diversas camadas, assim como o

autor o dividiu na publicação, onde este descreve o Paraíso dividido em nove esferas e a

última, o Empíreo.

No lado direito do quadro, está a cidade de nascença de Dante Alighieri, Florença.

Como pode ser visto, a própria Catedral onde se encontra a tela está representada no canto

direito, assim como a Torre do Sino, o Batistério de São João, o Bargello e a Torre do Palácio

Vecchio, os prédios mais icônicos e importantes da cidade de Florença. A cidade inteira está

sendo iluminada pelo livro segurado pelo poeta, de tal forma, que esta ação originou o nome

da pintura.

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3.3 ‘La Comedia Ilumina Firenze’ A Sinestesia e ironia presentes na obra.

Domenico di Michelino retratou em sua obra "La Commedia Illumina Firenze" o

sentido da "Divina Comédia" de Dante Alighieri em um só campo de visão. Retratando assim

o inferno, purgatório e o paraíso presente na obra de Dante Alighieri, o mesmo segurando a

"Divina Comédia."

Na época em que Michelino terminou sua obra, em 1945, o livro impresso já

completava pouco mais de 10 anos de existência. Este retrato ligou o público leitor na

concepção da imagem com o manuscrito e o público da imagem era ligado aos frequentadores

da igreja.

O significado de Dante Alighieri aparecer no quadro segurando sua obra é o fato de

que Dante se coloca como protagonista na "Divina Comédia" e que também ele é o criador do

mundo representado por Michelino. Esse raciocínio está ligado a "Divina Comédia" que

Dante esta segurando no "La Commedia Illumina Firenze" mostrando assim um único autor

para o livro daquele mundo que pode ser comparado com a bíblia. Também a mão esquerda

que realiza um gesto de convite para conhecer o mundo retratado na obra. Tudo isso se torna

uma apresentação geral, pode se considerar um trailer da obra de Dante.

No livro Dante é o protagonista, já citado no parágrafo anterior, onde realiza uma

viagem entre o inferno, purgatório e o paraíso. O poeta, perdido no bosque, conhece as

punições dos pecados e a plenitude das virtudes onde é resgato pelo espírito de Vírgilio que

foi enviado pelas forças divinas para que Dante consiga atravessar o inferno até a salvação

divina, o paraíso.

Isso dificulta o nosso olhar contemporâneo, pois o mesmo sobre o mundo está

grandiosamente diferente comparado com o tempo da teologia medieval que a imagem impõe.

Pela ideia de Hugo de São Vítor em Didascalicon de 2001. A luminosidade presente

na obra segue o conceito de iluminura. A visão distante dos féis. As tintas ouro, vermelho e

azul brilhavam como uma luz própria pela luz precária das velas, e por essa luminosidade

cada vez mais intensa que resgata sua bondade pela permissão de Deus.

A "Divina Comédia" se torna popular desde o primeiro instante, pois sua linguagem é

utilizada desde a história literal, da ética e da salvação, o divino. Uma leitura como uma

bíblia. Assim, Dante é uma imagem de salvação realizada pela leitura. Michelino retratou os

fatos presentes na " A Divina Comédia" com ironia e também com sinestesia.

Podemos observarque o inferno, na "La Commedia Illumina Firenze" não é somente

um lugar de punição, mas também é a poesia capaz de despertar aos humanos, em sua alma,

para o senso do pecado.

O pecado é o primeiro conhecimento do homem, nesse processo é aprendido o

sofrimento e a escuridão.

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Já no segundo o purgatório, que é o encontro do poeta consigo mesmo quando

encontra os soberbos que carregam pedras que matem os mesmos com uma postura dobrada.

É o lugar onde Dante conhece o sofrimento e encontra a função da poesia em seu resgate.

Por último o paraíso, é a expressão manifesta da luminosidade de Deus. Presente

também o conhecimento teológico, onde o poeta só encontra depois do aprendizado dos

percursos anteriores. Os pontos principais do poema de Dante estão fortemente presentes.

“A Divina Comedia” e mostra uma obra de um poeta, capaz de despertar o sentimento

mais profundo mas muitas vezes limitadas nas visões. O gesto de Dante está apontado para a

entrada do inferno, onde a paixão e a punição em excesso é compreendida pela poesia. Esse

caminho é ligado ao monte do purgatório. A visão é uma fileira das almas que estão a

caminho até o Éden. Arcos coloridos marcados por planetas ligado ao paraíso presente no

fundo da tela. Já citado no início, é utilizada desde a história literal, da ética e da salvação, o

divino. Todos presentes na imagem. Por último, representado na tela está a cidade de florença

em um espaço ético.

Giulia Crippa diz que A "La Commedia Illumina Firenze" representação de Domenico

di Michelino do livro "Divina Comédia" de Dante Alighieri é considerado um livro aberto

para o público de narradores e decorações de igrejas. O destino individual e o destino

coletivo se encontram na encruzilhada entre textualidade escrita e visualidade, entre leitura e

narração, componentes inseparáveis da prática da leitura da época.

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4 CONCLUSÃO

A Divina Comédia de Dante Alighieri é considerada a obra-prima do autor e também de

toda a literatura italiana. Um poema demasiadamente grande, escrito com uma linguagem

simples, na época o italiano, onde Dante conseguiu mostrar a vida do povo italiano no final da

Idade Media, tornando universal problemas exclusivos de sua época e de sua cidade; além de

ser um marco literário, a obra é um grande divisor de águas para a língua Italiana, Dante se

mostra um grande percursor da língua que anos mais tarde vem a ser conhecida com grande

influência de sua escrita.

O poema descreve uma viagem de Dante através do Inferno, Purgatório, e Paraíso,

primeiramente guiado por um símbolo da razão humana, através do Inferno e do Purgatório

lugares por onde as almas passam depois de sua morte , já no Paraíso, guiado por um símbolo

da graça divina, onde só entram seres que alcançaram elevação divina de suas almas. Vale

ratificar que o nome Comédia é dado devido a obra iniciar no inferno e terminar no paraíso e

também ser escrita em uma linguagem simples, como já foi dito, o que opõe-se as tragédias,

geralmente escritas em latim, ‘A Divina Comedia’ era acessível aos que queriam a consumir

já que sua linguagem era conhecida por todos, por sua isso sua popularidade elevada para

época.

É importante ressaltar que a obra tem grande destaque cultural e poético, Dante

conseguiu conflitar os problemas de uma sociedade e ainda expor seus sentimentos, a obra era

única e ousada, o que influenciou muitos outros artistas a criarem representações para a obra

ao longo dos séculos, como fez o pintor Domenico Di Michelino em ‘La Commedia illumina

Firenze’. Pintura encomendada para ser uma homenagem a Dante, onde o pintor relatou o

sentido “A Divina Comedia’ de Dante em um só campo de visão. Unindo Florença, o inferno,

o purgatório, o paraíso e o próprio Dante segurando a divina comedia, o que tornou essa

representação pioneira.

Em virtude do que foi mencionado esperamos que, ao longo deste trabalho, tenha ficado

clara a relevância que ‘A Divina Comedia’ de Dante tem até os tempos atuais, visto pelo

número de releituras e adaptações feitas ao longo dos séculos. Uma obra que permanece viva

até hoje e não só teve como em grande influência mundial em seu auge, mas, até os dias

atuais.

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apresentada à disciplina Orientação Monográfica II como requisito parcial à conclusão do

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Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Luiz Ernani Fritoli ,2005.

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São Paulo

2015