entrevista-lobão

8/18/2019 Entrevista-Lobão

1/6

Lobão ainda canta; e fala sobre isso. “Na minha cabeça, minhahistória musical se inicia com esse disco. O resto foi ensaio”

[foto lobão]

O ano era 1999, e Lobão vivia o que muitos poderiam considerar o pior momento da suacarreira. De membro fundador da Blitz no incio da d!cada de "# e $itma%er nacional,emplacando &'e ($ama), &*ssa +oite, +ão) e tantas outras, Lobão vivia uma era devendas minuando e poucos sucessos. Depois de sair da -( /ictor, ravadora em quelan0ou seus (Ds mais populares, ele se aventurou na /irin e na niversal para soltar,respectivamente, os discos Nostalgia da Modernidade 219934 e Noite 2199"4, ambos que,apesar da recep0ão positiva da crtica, passaram lone de ter boas vendas. +o fim dascontas, o m5sico se viu sem qualquer apoio das randes ravadoras e partiu para o reistrode seu 96 disco solo de est5dio, aora totalmente independente 7 na seu pr8prio selo, oniverso aralelo 7 e de uma forma que, mesmo não sendo completamente in!dita, erabastante inovadora para um artista como ele. *m setembro daquele ano, Lobão lan0ava o A Vida é Doce


2/6

roc% setentista se=a nos seus timbres, na conversa com o fol%, o proressivo e a m5sicaac5stica ou na sua mi?aem cristalina. Nunto com o disco, o artista seue a tradi0ão de falar bastante com +$ ,usca do Rigor e da iseric!rdia - Re%ees De 0$ +r$it1o0rbaos vezes no reistro dos sons eescol$a de instrumentos, >s vezes nos acordes e nas $armonias escol$idas e escritas.(laro, Lobão tamb!m fala de poltica, mesclando discursos mais abranentes, de f:cilentendimento para qualquer leitor, e aluma partes visivelmente feitas para &iniciados), com

v:rias referncias aos seus dois best7sellers, 50 Anos a Mil e Mani"esto do Nada na #errado Nunca. Lobão tamb!m faz uma mini biorafia dos seus 5ltimos seis anos, destacando ecomentando o epis8dio do lan0amento dO Mani"esto, sua ida a 2ras3lia em de4embro de'01, loo depois das &otaç5es da Lei de 6iretri4esOrçamentrias!!http"##7771.folha.uol.com.br#mercado#'01#1'#1%%8(9)$apesar$de$manifestantes$barrados$lobao$e$liberado$para$&otacao$de$manobra$fiscal.shtml etamb!m alumas de suas rusas p5blicas, como a com o :ornalista acho il&a!!https"##777.faceboo?.com#Lobaooficial#posts#%(9(*119)8*8).! Busca se divide entre biorafia, manifesto e livro de acompan$amento para o novodisco, e as $ist8rias de muitas fai?as surpreendem. &0ão Cantasma8rica > DistEncia), pore?emplo, foi a primeira a ser reistrada e nasceu num momento m:ico para o m5sico, emque ele sentiu uma cone?ão emocional e?trema com as mem8rias de seu pai, como contano livro &*stava possudo de um dese=o intenso de abra0ar meu pai e de uma tremendavontade de cantar a m5sica inteira sem fraque=ar. p8s dezenas de tentativas, trmulo dee?austão, respirei fundo e finalmente conseui. ma aleria descomunal tomou conta demim. *u bei=ava a viola caipira, bei=ava o teclado, bei=ava meus bra0os, min$as mãos, meuscotovelos). Outro destaque ! &luma (oisa \ualquer), composta oriinalmente na d!cadade 9# para a interpreta0ão de (:ssia *ller e que tem uma $ist8ria emocionante contadapelo m5sico.e o cora0ão de O Rigor e a Misericórdia est: e?posto no livro, Lobão nos revelou por e7mail v:rios detal$es do disco que aconteceram posteriormente ao fim de ! Busca e

alumas de suas opinies mais fortes sobre o pr8prio trabal$o. pesar de =: produzir o queveio a ser o novo :lbum desde J#1V, e de ter feito tudo sozin$o e em casa, desde as letras

http://www.saraiva.com.br/em-busca-do-rigor-e-da-misericordia-reflexoes-de-um-ermitao-urbano-9202951.htmlhttp://www.saraiva.com.br/em-busca-do-rigor-e-da-misericordia-reflexoes-de-um-ermitao-urbano-9202951.htmlhttp://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/12/1556973-apesar-de-manifestantes-barrados-lobao-e-liberado-para-votacao-de-manobra-fiscal.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/12/1556973-apesar-de-manifestantes-barrados-lobao-e-liberado-para-votacao-de-manobra-fiscal.shtmlhttps://www.facebook.com/Lobaooficial/posts/459798117436863http://www.saraiva.com.br/em-busca-do-rigor-e-da-misericordia-reflexoes-de-um-ermitao-urbano-9202951.htmlhttp://www.saraiva.com.br/em-busca-do-rigor-e-da-misericordia-reflexoes-de-um-ermitao-urbano-9202951.htmlhttp://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/12/1556973-apesar-de-manifestantes-barrados-lobao-e-liberado-para-votacao-de-manobra-fiscal.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/12/1556973-apesar-de-manifestantes-barrados-lobao-e-liberado-para-votacao-de-manobra-fiscal.shtmlhttps://www.facebook.com/Lobaooficial/posts/459798117436863


3/6

at! as composi0es, os instrumentais e as rava0es, o artista lan0ou um cro7dfundinno site @ic?ante!!http"##777.?ic?ante.com.br#campanhas#participe$do$no&o$cd$do$lobao em maio de J#13 para finalizar de vez o disco. Coi com essa a=uda que o m5sicoconseuiu um equipamento de qualidade para reravar o :lbum praticamente por inteiro.&99U do :lbum foi todo refeito depois do livro ser escrito. Desde que c$eou a placa de

:udio nova que comprei com a a=uda dos apoiadores do croYdfundin, pois a diferen0a desom era brutal. Ai&e +ue respirar fundo e refa4er tudo e isso me custou mais um ms emeio pra rera&ar o +ue realmente precisa&a" uitarras, baiBo, baterias, teclados etodas as &o4es.) obre a mi?aem e masteriza0ão do :lbum, Lobão revela que tamb!mforam feitas na sua casa, mas com a a=uda de Diovainne 'oreira, respons:vel por instalar aplaca de som e, desde então, amio do m5sico. &prendi muito com ele nesse processo econtinuo aprendendo. ma fiura rara e providencial.)

+esse merul$o solit:rio dentro do seu pr8prio mundo sonoro, Lobão traz em O Rigor e aMisericórdia um disco diverso e com ideias surpreendentes at! para quem ! fã antio do

cantor. O Rigor ! um trabal$o de roc%, com uma queda para os anos H#, mas que o pr8prioartista classifica como tendo um &timbre absolutamente pr8prio). l!m da bateria e uitarra,instrumentos que fizeram parte da forma0ão de Lobão, o cantor se aventurou no bai?o, naviola caipira e nos teclados, esses 5ltimos com presen0a marcante atrav!s de diversostimbres. +ão ! por acaso que, muitas vezes, $: a impressão de estarmos ouvindo umarran=o de cordas, num clima semel$ante ao roc% proressivo. \uando comentamos sobreisso, Lobão confirma &O fato do disco novo soar virtuoso ! porque voc ouve realmente osinstrumentos que, desta feita, e?ecutam com perfei0ão as min$as inten0es de autor). nesse ponto que evocamos a compara0ão com A Vida é Doce, o $ist8rico :lbum que !descrito no incio do te?to. Lobão diz ter um profundo amor pelo repert8rio do disco de 1999,

mas que o resultado que saiu em (D não o arada por suas mi?aem e masteriza0ão&p!ssimas), detal$es que pode corriir com o tempo, nas apresenta0es ao vivo^ e tamb!mcomenta não ter orul$o da tentativa de soar moderno na sonoridade, &pois ela ! posti0a,afetada). “Creio +ue o conceito de misturar &iolas caipiras, &iol5es seresta, combaterias, teclados e uitarras uma fusão muito mais criati&a e possante do +ue astentati&as ?itsch da sonoridade trip$hop de A Vida 5 Doce”, completa.

Piframe Yidt$QR3K#R $ei$tQRV13R srcQR$ttps


4/6

compF$lo, ra&$lo, toc$lo e arran:$lo. Gsso sim foi o +ue me tomou tempo”, e?plana,não dei?ando de falar que, claro, >s vezes pequenas inspira0es surem no meio dotrabal$o duro. or!m, ele define com for0a &fi4 o disco com o mesmo empenho edisciplina de um aluno +ue D obriado a fa4er uma redação no colDio" sentar7sediante do papel em branco, violão, uitarra ou viola caipira no colo, ou debru0ado no piano a

queimar a mufa dia e noite.)

* o resultado de todos esses fatos ! um Lobão renovado, um artista que, nas suas pr8priaspalavras, se sente come0ando de novo. \uando peruntamos se, depois de O Rigor , elesente vontade de continuar fazendo m5sica, a reposta ! positiva e c$ea at! em tom decelebra0ão. &Eela primeira &e4 em toda a minha carreira eu termino um disco com asensação de +ue a brincadeira acabou de começar. Na &erdade, na minha cabeça,minha história musical se inicia com esse disco. O resto foi ensaio.” Calando sobre A$olid%o e! $er!os Nós, fai?a divulada como poema em portuus $: alum tempo, masque an$a versão em espan$ol no disco com &O \ue *s la oledad en ermos +osotros),

Lobão revela que est: plane=ando um lan0amento em vinil duplo com e?tras para O Rigor , eque a rava0ão em portuus para a can0ão provavelmente estar: na edi0ão. (omo Lobãotransparece em toda a entrevista, as palavras e o tratamento para O Rigor e a Misericórdia são de lu?o, de um artista realmente orul$oso de seu trabal$o.

*m certo ponto do livro, Lobão tamb!m e?plica a oriem do ttulo &O -ior e a 'iseric8rdia),e ele ! um conceito de um dos randes urus e amios de Lobão desde a sua &uinada >direita) Olavo de (arval$o. *m uma e?plica0ão muito simplificada, o &rior) e a&miseric8rdia) seriam a rela0ão do $omem com o con$ecimento e a poesia. O ser $umanotraria o seu rior para com o esprito atrav!s do estudo e da pesquisa, para se apro?imar

cada vez mais de uma sabedoria. O esprito, então, devolveria a poesia como miseric8rdia,em resposta ao rior. O conceito traz um vi!s muito forte de um pensamento de plenitudeartstica, de uma arte ideal. * assim peruntamos para o artista, se ele titulava O Rigor assim por consider:7lo seu mel$or trabal$o, sua obra7prima. 'as a resposta ! neativa. &mais simples eu precisa&a de um t3tulo +ue representasse a forte dualidade +ue habitaseu repertório, como delicade4a#fria, acstico#elDtrico, escuridão#lu4,morte#eternidade. Huando descobri o teBto do Ola&o, achei perfeito o t3tulo para umconceito +ue se desen&ol&eria com &ida própria e identidade própria no uni&erso dodisco.” p8s isso, Lobão ainda revela &confesso que senti estar fazendo alo muitoespecial apenas no final do disco. +o incio, não tin$a a menor no0ão do que estavafazendo. 'al sabia liar o ro ools. Ioi como pear uma cara&ela sem manual deinstruç5es e me lançar ao mar desconhecido.)



5/6

eBpectati&as eBternas são 4ero), comenta, antes de conversarmos sobre a ca0ada&inclemente e contnua) > sua pessoa que Lobão v na mdia e na sociedade. eruntamosse ele ac$a que ! mais perseuido $o=e do que em outros tempos, e o cantor nea &nãoconsio imainar que em alum momento da min$a carreira min$a e?posi0ão ten$a sidomais amena.) ara Lobão, o Brasil não permitiria uma personalidade como ele ter &alum

tipo de sosseo ou sequer alum respeito), e sua resposta para os ataques da mdia e dasociedade viria em suas obras, com o novo :lbum como e?emplo. &O meu ob:eti&o emreistrar O Rigor na história foi poder de&ol&er a misDria +ue nos D imposta por &i&ernum pa3s tão colapsado em sua ci&ili4ação, com uma produção cultural tão feia emes+uinha, com um disco de uma bele4a ineBplic&el, cruel, +uase indecente.) indafalando sobre a cena cultural brasileira, comentamos sobre propostas como ransfusão+oise -ecords, @era0ão erdida de 'inas @erais e \uintavant, selos e movimentos querepresentam certa independncia ao mercado e tamb!m ao overno, que Lobão tantoabomina. O artista revela não con$ecer essas propostas, mas as parabeniza desde =:, poisse identifica com suas ideias. &*?isto dentro desses mesmos cEnones. +ão temos mais

espa0o para pensar em mainstream, ravadoras, r:dios, etc.)

ssim como no conte5do de certas m5sicas, os ataques de Lobão > esquerda no livro sãopesados, tentando atinir com for0a tamb!m os artistas e intelectuais que e?pressampensamentos liados ao socialismo. ! Busca não dei?a de ser um s$oY de aforismos,aluns que os mais sensveis podem considerar at! ofensivos. &+ão ! de ra0a que a atualprodu0ão musical do pas ! a mais ine?pressiva e desimportante de toda a $ist8ria dam5sica popular brasileira), declara, entre as p:inas 1J1 e 1JJ. * quase todo coment:riopoltico ! acompan$ado de compara0es e sacadin$as com estere8tipos da esquerda atual,principalmente a universit:ria. *, nas peruntas relacionadas a poltica, Lobão não foe

muito desse vi!s apocalptico. &*stamos vivendo o apoeu de um perverso totalitarismocultural. en$o a sensa0ão que nunca produzimos tanta porcaria. 'in$a sensa0ão ! de queestamos em pleno colapso civilizacional. =inha sensação D +ue tudo me indica um2rasil podendo se e&aporar do mapa, se estilhaçar por inteiro a +ual+uer instante. em e?aeros, pode crer), comenta sobre a mesma frase citada acima. Lobão amplia ae?plica0ão sobre esse &totalitarismo cultural) comentando que vivemos &numa civiliza0ãopatrimonialista, em um coronelato que se estende a toda produ0ão intelectual e quesempre teve uma presen0a dominante do pensamento esteticista inclinado > esquerda.) * oarumento do m5sico ! de que isso simplesmente não faz bem ao pas, pois o coronelatode &s:bios), intelectuais, formaria uma rede de coopta0ão ideol8ica sedimentada com omodernismo e que controla o pensamento nacional 2de forma totalit:ria4 desde o *stado+ovo. &*m outras palavras foi o momento em que a classe artstica e os intelectuaiscome0aram a mamar rana do poder e ditar normas de comportamento), comenta. pesarde contar no livro que sua apro?ima0ão aos pensamentos de direita veio, em parte, darea0ão neativa que os militantes de esquerda tiveram com um discurso em que criticara a(omissão da /erdade e defendera anistia para todos os envolvidos em crimes durante aditadura, at! mesmo torturadores e demais interantes do reime, Lobão c$ama ae?pressão &uinada > direita) de &souvenir e brinde desse totalitarismo cultural de que estoufalando. \uem não se alin$a aos s:bios e coron!is ! reacion:rio, direitista e a favor daditadura militar). +esse ponto, ! bom lembrar que o artista =amais se disse a favor daditadura, mas sim como liberal e defensor do *stado mnimo.


6/6


entrevista-lobão

Documents