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Energia Arquipélago dos Açores é palco de projecto realizado através do MIT Portugal Engenheiros e antropólogos juntam-se para criar nos Açores um laboratório em tempo real sobre energia limpa Inês Sequeira Projecto Green Islands, no âmbito do MIT Portugal, está pronto para avançar para a segunda fase, com duração de cinco anos. a O Green Islands, projecto que vai agora entrar na segunda fase, é muito mais do que estudar o aproveitamen- to das energias renováveis nas ilhas açorianas. Ernest Moniz, director do MIT Energy Iniciative (Massachuset- ts Institute of Technology), sublinha que as ilhas do arquipélago vão ser uma espécie de laboratório em tempo real, onde os cientistas podem inovar ao nível da energia e da mobilidade, estudando ao mesmo tempo a reac- ção dos habitantes. A investigação no Green Islands passa por vários domínios, mas to- dos baseados no ap roveitamento das novas tecnologias de informação para a procura e fornecimento de energia eléctrica — as chamadas redes inteli- gentes. “Hoje a informação do con- sumo é muito pobre. Se numa família o consumo e a procura de energia estiverem integrados [numa rede in- teligente], quais serão as vantagens? Qual será a redução de custos?”, per- gunta Ernest Moniz, descendente de açorianos emigrados nos EUA. Inicialmente, o projecto concen- trou-se na recolha intensa de dados, desde o clima, os sistemas de energia, o território, até ao comportamento das populações. Ainda este Verão, uma estudante foi fi nanciada para ir aos Açores “tentar compreender Ernest Moniz, director do MIT Energy Iniciative PEDRO CUNHA o comportamento dos consumido- res”. “Era supervisionada por um en- genheiro electrotécnico e por um an- tropólogo do MIT”, ri-se este docente de Física e Engenharia de Sistemas. Os dados recolhidos na primeira etapa irão servir de base para a fase que se inicia a partir de 2012, com du- ração prevista de cinco anos. O objec- tivo do Governo açoriano é conseguir uma penetração de 80% das renová- veis em 2020, mas Ernest Moniz pre- fere centrar-se nas vantagens a obter, “mais importantes do que números”. “O mais importante é que as ilhas se possam tornar muito mais indepen- dentes dos fornecimentos de petróleo, com fontes de produção energética quase totalmente limpas”, sublinha. Ao MIT e outras universidades e empresas portuguesas, em parceria no âmbito do MIT Portugal, compe- te descobrir a melhor forma para se chegar lá. Mas a aplicação dos resul- tados fi cará sob a responsabilidade do Governo e das empresas parceiras (EDP, EDA-Electricidade dos Açores, PT, Novabase e EFACEC), adianta. Até porque, no futuro, as conclusões do Green Islands poderão ajudar as fi r- mas participantes a ganhar vantagens no mercado internacional. Outra das etapas do projecto, aliás, é perceber quais são os serviços que mais inte- resse criam na população. Corvo em primeiro O Corvo foi escolhido para ser a pri- meira ilha do projecto. As vantagens são muitas: pequena superfície, dis- tâncias curtas que permitem utilizar melhor os carros eléctricos, apenas 500 habitantes concentrados prati- camente numa única vila. Já se sabe que as únicas fontes de energia no Corvo deverão ser o sol e o vento. Por nem sempre estarem disponíveis, o desafi o é maior na gestão da procura e fornecimento. “Queremos ver como é que integra- mos também os veículos eléctricos e o armazenamento de energia co- mo parte da rede. Isto é realmente interessante, material realmente novo.” Ainda em 2012, deverá seguir-se São Miguel. “Já tem 45% de produ- ção energética de origem renovável, tem muito boa geotermia, biomassa e possibilidades de eólica e solar”, destaca o investigador, numa entre- vista ao PÚBLICO. Nas duas ilhas, também os compor- tamentos vão continuar sob análise — com respeito pela privacidade, su- blinha. “Vamos precisar de sistemas de medida para perceber como o for- necimento de energia está a mudar ao longo do tempo, mas também a utilização dos electrodomésticos nas casas. Temos de respeitar a privaci- dade, claro, mas vamos precisar de dados de informação. Sobre os mo- vimentos das pessoas dentro da ilha, por exemplo”, refere. Para já, o MIT vai apresentar o pro- jecto da segunda fase à União Euro- peia, ao Governo e às empresas. Está também em contacto com outros po- tenciais parceiros a nível empresarial, incluindo a mobilidade eléctrica. “Es- tamos a criar um grande consórcio, nos próximos seis a nove meses, mas os actores-chave do projecto já estão colocados”, indica o docente, que é também director do Laboratório de Energia e Ambiente do Departamen- to de Física.

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E.Moniz in interview to the newspaper Público (10-10-2011), regarding the MIT Portugal Project Green Islands. Moniz was in Portugal for a workshop on the project that aims to develop new methodologies to identify cost-effective sustainable energy solutions and options utilizing natural resources that are endogenous to Azores. E. Moniz is a Cecil and Ida Green Professor of Physics and Engineering Systems, Director of the MIT Energy Initiative and a former U.S. Undersecretary of Energy.

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Energia Arquipélago dos Açores é palco de projecto realizado através do MIT Portugal

Engenheiros e antropólogos juntam-se para criar nos Açores um laboratório em tempo real sobre energia limpa Inês Sequeira

Projecto Green Islands, no âmbito do MIT Portugal, está pronto para avançar para a segunda fase, com duração de cinco anos.

a O Green Islands, projecto que vai agora entrar na segunda fase, é muito mais do que estudar o aproveitamen-to das energias renováveis nas ilhas açorianas. Ernest Moniz, director do MIT Energy Iniciative (Massachuset-ts Institute of Technology), sublinha que as ilhas do arquipélago vão ser uma espécie de laboratório em tempo real, onde os cientistas podem inovar ao nível da energia e da mobilidade, estudando ao mesmo tempo a reac-ção dos habitantes.

A investigação no Green Islands passa por vários domínios, mas to-dos baseados no ap roveitamento das novas tecnologias de informação para a procura e fornecimento de energia eléctrica — as chamadas redes inteli-gentes. “Hoje a informação do con-sumo é muito pobre. Se numa família o consumo e a procura de energia estiverem integrados [numa rede in-teligente], quais serão as vantagens? Qual será a redução de custos?”, per-gunta Ernest Moniz, descendente de açorianos emigrados nos EUA.

Inicialmente, o projecto concen-trou-se na recolha intensa de dados, desde o clima, os sistemas de energia, o território, até ao comportamento das populações. Ainda este Verão, uma estudante foi fi nanciada para ir aos Açores “tentar compreender Ernest Moniz, director do MIT Energy Iniciative

PEDRO CUNHAo comportamento dos consumido-res”. “Era supervisionada por um en-genheiro electrotécnico e por um an-tropólogo do MIT”, ri-se este docente de Física e Engenharia de Sistemas.

Os dados recolhidos na primeira etapa irão servir de base para a fase que se inicia a partir de 2012, com du-ração prevista de cinco anos. O objec-tivo do Governo açoriano é conseguir uma penetração de 80% das renová-veis em 2020, mas Ernest Moniz pre-fere centrar-se nas vantagens a obter, “mais importantes do que números”. “O mais importante é que as ilhas se possam tornar muito mais indepen-dentes dos fornecimentos de petróleo, com fontes de produção energética quase totalmente limpas”, sublinha.

Ao MIT e outras universidades e empresas portuguesas, em parceria no âmbito do MIT Portugal, compe-te descobrir a melhor forma para se chegar lá. Mas a aplicação dos resul-tados fi cará sob a responsabilidade do Governo e das empresas parceiras (EDP, EDA-Electricidade dos Açores, PT, Novabase e EFACEC), adianta. Até porque, no futuro, as conclusões do Green Islands poderão ajudar as fi r-mas participantes a ganhar vantagens no mercado internacional. Outra das etapas do projecto, aliás, é perceber quais são os serviços que mais inte-resse criam na população.

Corvo em primeiroO Corvo foi escolhido para ser a pri-meira ilha do projecto. As vantagens são muitas: pequena superfície, dis-tâncias curtas que permitem utilizar melhor os carros eléctricos, apenas 500 habitantes concentrados prati-camente numa única vila.

Já se sabe que as únicas fontes de energia no Corvo deverão ser o sol e o vento. Por nem sempre estarem disponíveis, o desafi o é maior na gestão da procura e fornecimento. “Queremos ver como é que integra-mos também os veículos eléctricos e o armazenamento de energia co-mo parte da rede. Isto é realmente interessante, material realmente novo.”

Ainda em 2012, deverá seguir-se São Miguel. “Já tem 45% de produ-ção energética de origem renovável, tem muito boa geotermia, biomassa e possibilidades de eólica e solar”, destaca o investigador, numa entre-vista ao PÚBLICO.

Nas duas ilhas, também os compor-tamentos vão continuar sob análise — com respeito pela privacidade, su-blinha. “Vamos precisar de sistemas de medida para perceber como o for-necimento de energia está a mudar ao longo do tempo, mas também a utilização dos electrodomésticos nas casas. Temos de respeitar a privaci-dade, claro, mas vamos precisar de dados de informação. Sobre os mo-vimentos das pessoas dentro da ilha, por exemplo”, refere.

Para já, o MIT vai apresentar o pro-jecto da segunda fase à União Euro-peia, ao Governo e às empresas. Está também em contacto com outros po-tenciais parceiros a nível empresarial, incluindo a mobilidade eléctrica. “Es-tamos a criar um grande consórcio, nos próximos seis a nove meses, mas os actores-chave do projecto já estão colocados”, indica o docente, que é também director do Laboratório de Energia e Ambiente do Departamen-to de Física.