eru 300 - apostila

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1 Universidade Universidade Universidade Universidade Federal de Viçosa Federal de Viçosa Federal de Viçosa Federal de Viçosa Centro de Ci Centro de Ci Centro de Ci Centro de Ciências Agr ências Agr ências Agr ências Agrárias árias árias árias Depar Depar Depar Departamento de tamento de tamento de tamento de Economia Rural Economia Rural Economia Rural Economia Rural ECONOMIA RURAL ECONOMIA RURAL ECONOMIA RURAL ECONOMIA RURAL ERU 300 ERU 300 ERU 300 ERU 300 2009

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ECONOMIA RURAL ECONOMIA RURAL ECONOMIA RURAL ECONOMIA RURAL

ERU 300ERU 300ERU 300ERU 300

2009

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Sumário

ECONOMIA RURAL ........................................................................................................7

PARTE I – INTRODUÇÃO .............. ...............................................................................7

01. O CONCEITO DE ECONOMIA .................................................................................7

1.1. Economia - definição............................................................................................................. 9

1.2. Economia: Macro e Micro..................................................................................................... 9

1.3. Os Bens econômicos ............................................................................................................... 9

1.4. Recursos ou fatores de produção ........................................................................................ 10

1.5. A necessidade de optar ........................................................................................................ 12 1.5.1 A curva ou fronteira de possibilidades de produção..................................................................13

02. OS AGENTES ECONÔMICOS.................................................................................15

2.1. Setores econômicos.............................................................................................................. 15

2.2. As empresas .......................................................................................................................... 15

2.3. As famílias ou unidades familiares ..................................................................................... 16

2.4. O Setor público..................................................................................................................... 16

03. O SISTEMA ECONÔMICO ......................................................................................17 ( a ) Determinação do que se deve produzir: ...........................................................................................18 ( b ) Organização da produção:................................................................................................................18 ( c ) Distribuição do produto:...................................................................................................................18 ( d ) Racionamento no curto prazo...........................................................................................................18 ( e ) Manutenção do crescimento do sistema econômico.........................................................................18

3.1. Os sistemas econômicos e as trocas..................................................................................... 19

04. O SISTEMA DE ECONOMIA DE MERCADO ........................................................20

4.1. Base de funcionamento ........................................................................................................ 20 4.1.1. Os mercados e o dinheiro...............................................................................................................22 Tabela 4.1. Esquema do fluxo circular ....................................................................................................23

Mercado de Bens e Serviços ....................................................................................................... 23

Mercado de Recursos.................................................................................................................. 23

Fluxo Real .................................................................................................................................... 23

Fluxo Monetário.......................................................................................................................... 23

Oferta ........................................................................................................................................... 23

Exercida pelas empresas ............................................................................................................... 23

Exercida pelas famílias ................................................................................................................. 23

Demanda ou Procura .................................................................................................................. 23

Exercida pelas famílias ................................................................................................................. 23

Exercida pelas empresas ............................................................................................................... 23

Interação ...................................................................................................................................... 23

Através dos preços dos produtos................................................................................................... 23

3

Através do preço dos recursos....................................................................................................... 23

4.2. Concorrência Pura ............................................................................................................... 23 4.2.1. Pressupostos básicos da concorrência pura....................................................................................23 4.2.2. Conclusões.....................................................................................................................................24

4.3. A demanda ........................................................................................................................... 24 4.3.2. A Teoria das Curvas de Indiferença...............................................................................................25

4.4. A Oferta ................................................................................................................................ 28

4.5. Equilíbrio de Mercado......................................................................................................... 29

PARTE II -TEORIA DOS PREÇOS................................................................................30

1. A DEMANDA ..............................................................................................................30

1.1. Tabelas e curva de demanda ............................................................................................... 30

1.2. Mudança na quantidade demandada versus mudança na demanda .............................. 31

1.3. Função de demanda ............................................................................................................. 34

1.4. Elasticidade preço da demanda .......................................................................................... 35

1.5. Demanda de mercado .......................................................................................................... 37

1.6. Formas de curvas de demanda e elasticidade.................................................................... 37

1.7. Elasticidade-renda da demanda.......................................................................................... 39

1.8. Elasticidade-preço-cruzada da demanda........................................................................... 39

1.9. Fatores que afetam a demanda por produtos agrícolas.................................................... 39

1.10. Relação entre elasticidade-preço da demanda e receita total......................................... 40

2.OFERTA.......................................................................................................................41 2.1. Relação numérica entre o preço de um produto e a sua quantidade ofertada ...................................42 2.2. Mudanças na curva de oferta x mudanças da curva de oferta...........................................................42 2.3. Elasticidade-preço da oferta..............................................................................................................47 2.4. Formas de curvas de oferta e elasticidade.........................................................................................47

PARTE III - TEORIA DA FIRMA..................................................................................53

CONCEITOS ECONÔMICOS BÁSICOS.......................................................................53

1. A ABORDAGEM TRADICIONAL (FATOR-PRODUTO) ......................................53

1.1. A função de produção ........................................................................................................ 53

1.2. Produtividade dos fatores .................................................................................................. 56

1.3. Estágios de produção.......................................................................................................... 60

1.4. Nível ótimo de uso do insumo.............................................................................................. 61

2. A ABORDADEM FATOR-FATOR .........................................................................65

3. CUSTOS...................................................................................................................66

3.1. Curto prazo e longo prazo ................................................................................................. 67

3.2. Tipos de custos .................................................................................................................... 67 3.2.1. Custos explícitos, contábeis ou diretos......................................................................................67 3.2.2. Custos implícitos, indiretos ou econômicos ..............................................................................68 3.2.3. Custos fixos ...............................................................................................................................68

4

3.2.4. Custos Variáveis........................................................................................................................69 3.2.5. Custo total .................................................................................................................................70 3.2.6. Custo marginal ..........................................................................................................................71 3.2.7. Custo operacional ......................................................................................................................71

3.3. Forma das curvas de custo ................................................................................................ 72

3.4. Equilíbrio da firma em um mercado de competição perfeita......................................... 74

3.5. Lucro normal e supernormal ............................................................................................ 74

3.6. O nível ótimo de produção da firma................................................................................... 77

3.6. Curvas de custo no longo prazo (LP)................................................................................ 77

Exercícios: .......................................................................................................................80

1. Introdução à economia ........................................................................................................... 80

2. Teoria dos Preços .................................................................................................................... 80 2.1. A Demanda .......................................................................................................................................80 2.2. Oferta ................................................................................................................................................83 2.3. Equilíbrio de mercado.......................................................................................................................84

3. Teoria da firma........................................................................................................................ 85 1.1. Teoria da Produção ........................................................................................................................85 1.2. Teoria dos custos............................................................................................................................87

PARTE IV - PREÇOS AGRÍCOLAS...............................................................................89

1. FORMAÇÃO E ANÁLISE DOS PREÇOS AGRÍCOLAS .......................................89

1.1. Introdução............................................................................................................................. 89

1.2. Principais características dos preços de produtos agrícolas........................................... 91

2. ÍNDICES DE PREÇOS / NÚMEROS ÍNDICES ....................................................94

2.1. Introdução............................................................................................................................. 94

2.2. Tipos de números-índices .................................................................................................. 94 2.2.1.Índice relativo de preços .................................................................................................................95 2.2.2. Índice simples de preços agregados e a média aritmética dos preços relativos .............................96 2.2.3. Índices de paridade ........................................................................................................................98

2.3. Valores reais ou deflacionados .......................................................................................... 99

2.4. Mudança de base de um número índice ......................................................................... 102

3. A ECONOMIA DOS MERCADOS AGRÍCOLAS .................................................103

3.1. Os problemas de mercado para a agricultura ................................................................. 103 3.1.1. O paradoxo do mercado agrícola .................................................................................................106

3.2. Duas alternativas para os problemas agrícolas de mercado......................................... 108 3.2.1. Efeito do armazenamento sobre os preços ..............................................................................108 3.2.2. O dilema das cooperativas de produtores ................................................................................110

3.3. Políticas de suporte e estabilização de preços ................................................................ 111 3.3.1. Política de preços mínimos......................................................................................................111 3.3.2. Controle da produção (oferta)..................................................................................................114 3.3.3. Política de estoques reguladores..............................................................................................116

4. INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL NOS MERCADOS AGRÍCOLAS ..............118

5

4.1. Política de subsídios.......................................................................................................... 118 4.1.1. Subsídio na produção ..............................................................................................................118 4.1.2. Subsídios na comercialização..................................................................................................121

4.2. Política de impostos .......................................................................................................... 121 4.2.1. Imposto específico...................................................................................................................122 4.2.2. Imposto “ad valorem” .............................................................................................................127

4.3. Política de preços máximos.............................................................................................. 127

PARTE V – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA..................................130

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................130

1.1. A questão da comercialização dos produtos agrícolas .................................................. 130

1.2. Principais características da produção e consumo agrícolas........................................ 131

2. ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS..........................135

2.1. Estrutura de mercados agroindustriais.......................................................................... 135

2.2. Integração vertical............................................................................................................ 138

2.3. Cooperativas agrícolas ..................................................................................................... 141

2.4. Riscos na comercialização e mercados futuros .............................................................. 144

3. CUSTOS NA COMERCIALIZAÇÃO ....................................................................149

5. COMERCIALIZAÇÃO NO AGRONEGÓCIO ......................................................150

5.1. Introdução......................................................................................................................... 150

5.2. A comercialização no agronegócio.................................................................................... 150 5.2.1. Visão mercadológica ...................................................................................................................151 5.2.2. Visão administrativa ....................................................................................................................153 5.2.3. Comercialização, utilidade e valor agregado ...............................................................................155 5.2.4. Visão sistêmica ............................................................................................................................156

7. GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA E COMÉRCIO INTERNACIONAL............157

7.1. Mercado doméstico ‘versus’ mercado externo .............................................................. 157

7.2. Visões da globalização...................................................................................................... 158

7.3. Os blocos econômicos ....................................................................................................... 159

7.4. O Brasil frente à globalização dos mercados ................................................................. 162

PARTE VI – MERCADOS IMPERFEITOS .................................................................166

1. REVISÃO DO MODELO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA.............................166

1.1. Introdução......................................................................................................................... 166 1.1.1 Condições básicas para a existência de concorrência pura......................................................166

1.2. A demanda ........................................................................................................................ 167

1.3. Oferta................................................................................................................................. 168

1.4. Determinação do preço e da quantidade de equilíbrio ................................................. 168

2. FORMAÇÃO DE PREÇOS E PRODUÇÃO EM MONOPÓLIO PURO...............169

6

2.1. Introdução......................................................................................................................... 169

3. FORMAÇÃO DE PREÇOS E PRODUÇÃO EM OLIGOPÓLIO..........................172

4. FORMAÇÃO DE PREÇOS E PRODUÇÃO EM CONCORÊNCIA MONOPOLÍSTICA .......................................................................................................177

PARTE VII – O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL ....................................................178

1. SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS: DEFINIÇÕES E CORRENTES METODOLÓGICAS......................................................................................................178

1.1. A noção de “Commodity Sistem Aproach” , Filières e o conceito de agribusiness ...... 178

1.2. Níveis de análise de Sistema Agroindustrial .................................................................. 180

7

ERU 300 - ECONOMIA RURAL

PARTE I – INTRODUÇÃO (BIBLIOGRAFIA 8,10)

01. O CONCEITO DE ECONOMIA

No contexto de um sistema econômico, o problema central gira em torno da

escassez. As pessoas e a sociedade têm necessidades, mas como os recursos são

escassos, é preciso desenvolver uma maneira de alocá-los convenientemente, sob pena

de não haver disponibilidade dos mesmos para todos os indivíduos. Assim, pode-se

dizer que os principais elementos da atividade econômica são as necessidades humanas,

os fatores de produção e a tecnologia disponível.

No que diz respeito às necessidades humanas, é importante salientar que estas

possuem duas características principais: são diversificadas e insaciáveis. É claro que não

se pretende com isso dizer que o desejo de um indivíduo em consumir um determinado

tipo de bem é ilimitado, mas que, no agregado, suas necessidades não têm limitações.

Isso decorre tanto do volume disponível de bens quanto da capacidade humana em

desenvolver necessidades.

Tal insaciabilidade torna-se ainda mais clara se tomarmos por base alguns outro

fatores como cultura, status ou ambiente social. No que diz respeito às necessidades

encontramos, primeiro lugar as relativas à satisfação de exigências orgânicas que, além

de múltiplas, diferenciam-se de acordo com as preferências individuais. Em seguida às

necessidades biológicas encontramos aquelas relacionadas às atividades desenvolvidas

pelo indivíduo, suas exigências psíquicas etc... Além do exposto, é preciso ter em mente

que a sociedade como um todo também possui necessidades, ditas coletivas, como as de

transporte, educação, ordem pública, etc...

Nesse sentido, um outro ponto importante refere-se à relação existente entre a

capacidade de satisfação das necessidades e nível de vida, entendidos, no contexto

social, como sinônimos. A interpretação de nível (ou padrão) de vida é bastante

abstrato, e está estreitamente relacionado com o contexto histórico pelo qual passa uma

sociedade; assim, o que pode ser considerado um padrão de vida satisfatório em uma

determinada época, pode não sê-lo em um período posterior. Da mesma forma, esta

definição varia entre as comunidades, sendo que o que é considerado ‘bom’ para uma

estrutura social, pode ser ‘ruim’ para uma mais desenvolvida. Deve-se lembrar, ainda,

que à medida em que a capacidade produtiva da economia se amplia o padrão

8

considerado satisfatório para um sociedade se eleva, deslocando-se para cima. Assim,

segundo LEFTWITCH (1979) “a insaciabilidade das necessidades humanas,

juntamente com os aumentos seculares da capacidade produtiva, conduz à contínua

mudança no conceito do que constitui um nível de vida satisfatório.

Contudo, ainda que sejam consideradas essas questões do ponto de vista da

eficiência, o desempenho da economia não deve ser avaliado apenas em virtude de estar

conseguindo, ou não , proporcionar um padrão de vida satisfatório. Tal julgamento

deveria considerar se está sendo obtido o maior nível de vida possível, dadas as

limitações de fatores e técnicas de produção, poupando-se uma parcela dos recursos

para posterior aumento da capacidade produtiva, a fim de que sempre exista uma

expactativa de aumento do nível de vida da sociedade.

O Quadro 1.1 permite uma melhor visualização do que foi exposto até o

momento:

Necessidade Humana: é a sensação de carência de algo aliada ao desejo de

satisfazê-la.

Quadro 1.1 - Tipos de necessidades:

(a) Segundo o requerente:

(a.1) Necessidades do indivíduo:

- natural: comer ou dormir.

- social: convívio social.

(a.2) Necessidades da sociedade:

- Coletivas: transporte, educação.

- Públicas: ordem pública ou defesa nacional.

(b) Segundo a natureza:

(b.1) Necessidades vitais ou primárias: conservação da vida.

(b.2) Necessidades civilizadas/secundárias: aumentam o bem-estar do

indivíduo.

A necessidade de satisfazer às exigências materiais (sobrevivência e bem-estar)

faz com que a sociedade engendre seus membros de tal forma que seja possível a

produção do que é necessário. Nesse processo são detectados dois segmentos básicos:

produção e consumo. Na produção a empresa deve decidir quais insumos utilizar

9

(recursos produtivos ou fatores de produção), quanto produzir (o que se sujeita à

disponibilidade) e o que produzir, bem como os mecanismos pelos quais se dará a

alocação de tais recursos (padrão tecnológico vigente). Na órbita do consumo,

empresas e famílias decidem como alocar os recursos de que dispõem a fim de

satisfazer suas necessidades

1.1. Economia - definição

Em síntese, pode-se dizer que “a economia estuda a maneira como se

administram os recursos escassos com o objetivo de produzir bens e serviços e

distribuí-los para seu consumo, entre os membros da sociedade.”

1.2. Economia: Macro e Micro

Uma questão importante , que surge na esfera do estudo econômico, diz respeito

às distinções entre as preocupações macro e microeconômicas. Contudo, vale salientar

que, embora aparentemente díspares, no fundo ambas tratam do mesmo objeto: o

sistema econômico:

A Microeconomia trata do comportamento das unidades econômicas, enquanto

a Macroeconomia trata do conjunto da economia - para tanto sempre são feitas

abstrações.

1.3. Os Bens econômicos

Os bens econômicos caracterizam-se pela sua utilidade, sua escassez e por serem

transferíveis. Basicamente podem ser tipificados como a seguir:

Tipos de bens:

( a ) Segundo seu caráter

(a.1) Livres

(a.2) Econômicos

( b ) Segundo sua natureza

(b.1) De capital

(b.2) De consumo * Durável

* Não durável

( c ) Segundo sua função

(c.1) Intermediários

(c.2) Finais

10

Segundo o caráter, os bens ditos livres são aqueles cujo consumo não possui

restrições, ou seja, existem com tal abundância que não se submetem a um sistema de

preços. Os bens classificados como econômicos, por sua vez, são de consumo restrito e

têm preço, sendo esse, a princípio, estipulado pelas leis de mercado vigentes

A classificação seguinte, de acordo com a natureza, distingue inicialmente os

bens, como sendo de capital ou de consumo. Os bens de capital são os que permitem a

ampliação da capacidade produtiva, ou seja, engendram o próprio funcionamento do

sistema econômico, enquanto que os bens de consumo são aqueles que destinam-se ao

consumo final por parte dos indivíduos. Cabe destacar que um mesmo bem pode ser

considerado de capital ou de consumo de acordo com a sua utilização; se for usado

como insumo, é um bem de capital, do contrário, pode ser considerado um bem de

consumo. Como exemplo, pode-se citar um automóvel. No caso de ser utilizado

estritamente como instrumento de prestação de serviços é um bem de capital, contudo,

se o mesmo veículo presta-se exclusivamente ao uso doméstico, para lazer de uma

família, é um bem de consumo – no caso, bem de consumo durável.

Os bens de consumo podem ser classificados como duráveis ou não duráveis.

Como a própria denominação sugere, os bens de consumo duráveis têm maior tempo de

utilização como é o caso de veículo de uso particular, eletrodomésticos etc. Já os não

duráveis são os de curta vida útil, como os alimentos e vestuário, dentre outros.

A classificação posterior – segundo a função – distingue os bem como

intermediários, caso estes devam ser submetidos a transformações antes de se

converterem em bens de capital ou em produto final de consumo para os indivíduos; ou

como finais, quando o bem já encontra-se nas condições necessárias de uso ou

consumo social.

Existem ainda, na economia um tipo de atividade que não gera bens físicos: os

serviços. Atualmente, este segmento vem crescendo e ocupando grande parte da parcela

produtiva da economia, envolvendo grande parcela de trabalhadores.

1.4. Recursos ou fatores de produção

Podem ser definidos como os fatores ou elementos básicos utilizados na

produção de bens e/ou serviços. Eles possuem três características essenciais: são

normalmente limitados na quantidade, são versáteis e podem ser combinados em

proporções variáveis.

11

A maioria dos recursos é dita escassa em relação ao desejo ilimitado pelos bens

que eles podem produzir, ou seja, no sentido de que necessitam ser alocados

convenientemente para atender a uma exigência social, de forma que é justamente esta

escassez que torna necessária a avaliação cuidadosa de quais necessidades devem ser

satisfeitas, em que medida e em que ordenação.

A versatilidade dos recursos refere-se à possibilidade de seu aproveitamento nos

mais variados usos. Como exemplo, tomemos o fator trabalho; ele pode ser empregado

em quase todos os tipos de produção. Entretanto, quanto mais especializado for, maiores

serão as restrições ao seu uso. Em outras palavras quanto maior a especificidade de um

fator de produção maiores serão suas limitações de utilização.

Por fim, na maioria das vezes, é possível produzir um mesmo bem combinando

de formas diferentes os fatores de produção. Poucos são os bens que exigem uma

combinação a proporções fixas de insumos. Como pode ser notado, essa terceira

característica está intimamente relacionada à anterior, versatilidade.

Os fatores produtivos podem ser classificados, basicamente, em três grandes

segmentos:

( a ) Terra

( b ) Capital

( c ) Trabalho

O fator terra deve ser entendido em um sentido amplo, uma vez que os recursos

oriundos da natureza estão na base de todos os bens produzidos em um sistema

econômico. O recurso capital (Quadro 1.2), indica a participação de instrumentos de

transformação dos recursos primários de produção, e envolvem toda a gama de

máquinas e equipamentos destinados a tal finalidade - não deve , portanto, ser

confundido com o capital financeiro.

Quadro 1.2 – Tipos de Capital

(a) Capital físico ou real

(a1) Capital fixo: engloba os elementos utilizados na produção e dura vários

ciclos produtivos;

(a2) Capital circulante: consiste em bens em processo de preparação para o

consumo – matéria-prima e estoques disponíveis;

(b) Capital humano: envolve tudo o que diz respeito à elevação da capacidade

produtiva dos seres humanos.

12

Por fim, o fator trabalho (Quadro 1.3) relaciona-se com a capacidade produtiva

dos trabalhadores, presente direta ou indiretamente, na produção de todo tipo de bens.

Mesmo aqueles que aparentemente não o envolvem, por terem uma produção

extremamente mecanizada, têm, na sua origem o trabalho intelectual humano como

fonte de elaboração.

Quadro 1.3 – Fator trabalho

Fator trabalho: parte da população que desenvolve tarefas produtivas.

População

(a) População ativa: intervém no processo produtivo;

(a1) empregados: engloba a parcela da população ativa empregada, quer seja

em empresas, com salário fixo, ainda que afastado por questões diversas,

quer seja os empregados ativos marginais, que fazem trabalhos periódicos.

(a2) desempregados: reúnem todas as qualidades exigidas para

empregabilidade, mas não encontram-se empregados.

(b) População inativa: parcela da população que apenas consome: aposentados,

estudantes, incapacitados ao trabalho etc.

Sendo assim, os fatores de produção acima descritos, tendo por característica a

possibilidade de combinação múltipla, são associados das mais diversas maneiras a fim

de proporcionarem a satisfação das exigências humanas em uma sociedade, em um

determinado período histórico.

1.5. A necessidade de optar

Continuamente os agentes têm que optar entre o que consumir / o que produzir

etc. Nesse contexto, gera-se o conceito de custo de oportunidade de um bem

ou serviço, que deve ser entendido como equivalente à quantidade/valor de outro bens

aos quais se deve renunciar para obtê-lo.

13

1.5.1 A curva ou fronteira de possibilidades de produção

A fronteira de possibilidades de produção reflete as opções que são fornecidas à

sociedade e a necessidade de se optar entre elas. Uma economia está situada sobre a

fronteira quando todos os fatores de que esta dispõe estão sendo utilizados para a

produção de bens e serviços.

Para uma melhor visualização, imaginemos uma determinada economia, com

uma certa tecnologia disponível dada e com uma dotação fixa de recursos produtivos.

Nessa economia podem ser produzidos dois tipos de bens: milho ou soja. Se, em um

determinado momento, opta-se por produzir mais milho, é preciso que se desloquem

fatores produtivos da outra atividade – produção de soja – para que seja possível tal

expansão. Portanto, aumentar a produção de milho tem um custo para a sociedade em

termos da soja que se deixou de produzir.

As diversas possibilidades que se apresentam como opções a uma economia

podem ser demonstradas a partir de um exemplo numérico. As diferentes opções são as

diversas combinações possíveis de trigo e algodão (Tabela 01), cujos valores podem ser

plotados em um gráfico, a fim de possibilitar uma melhor visualização do exposto

(Gráfico 01).

Tabela 1.1 – Possibilidades de produção

Opção

Milho

Soja

Custo de oportunidade*

A 0 7,5 -

B 1 7,0 0,5

C 2 6,0 1,0

D 3 4,5 1,5

E 4 2,5 2,0

F 5 0 2.5

* Unidades de soja que não devem ser produzidas para obter-se uma unidade adicional de milho.

Graficamente a tabela acima pode ser expressa como segue:

14

Gráfico 1.1 – Curva de possibilidades de produção

Soja

7,5

7,0

6,0

4,5

2,5

1 2 3 4 5 Milho

Essa curva reflete as opções oferecidas à sociedade e a necessidade de escolha entre

elas. Como pode ser notado, um aumento na produção de milho implica,

necessariamente em uma redução na produção de soja, e vice-versa. Se a produção é

eficiente, ou seja os recursos são empregados eficientemente, a economia situar-se-á

sobre os limites da curva.

15

02. OS AGENTES ECONÔMICOS As atividades econômicas desenvolvidas por uma sociedade são realizadas por

meio de numerosas unidades (ou agentes) de produção, que empregam os diversos

recursos produtivos – terra, capital e trabalho – na elaboração de tais bens. É através

destas unidades produtivas que se faz possível o fenômeno da divisão do trabalho.

Os agentes econômicos – as famílias, as empresas e o setor público – são os

responsáveis pela atividade econômica. Supõe-se que eles agem racionalmente, ou seja,

são sempre coerentes quando tomam decisões.

2.1. Setores econômicos

Os agentes econômicos responsáveis pela produção podem ser agrupados em

três grandes setores:

( a ) Primário: engloba as atividades que se realizam próximas às bases dos

recursos naturais, isto é, atividades extrativistas, de pesca, agrícola etc.

( b ) Secundário: Envolve as atividades de transformação (industriais) como a

indústria e a construção.

( c ) Terciário ou de serviços: agrupa as atividades direcionadas à satisfação das

necessidades de serviços produtivos que não envolvem produto físico, como o

comércio, o setor transporte, os bancos, etc.

2.2. As empresas

Nas sociedades mais primitivas a produção era feita de modo artesanal e muitas

vezes realizada individualmente. Atualmente, praticamente toda a produção é

desenvolvida por empresas dos mais variados tipos e estruturas. Assim sendo, pode-se

dizer que a empresa é a unidade de produção básica que contrata trabalho e compra

fatores com o fim de fabricar e vender bens e serviços. Além disso, as empresas

modernas contam com possibilidades de organizar complexos processos de produção e

distribuição, exigidos pelas sociedades atuais, contando cada vez mais com as

possibilidades de produção de massa e ganhos de escala.

As sociedades , a fim de conseguirem fundos que financiem sua expansão

buscam, continuamente, mecanismos de crédito e empréstimos além de buscarem o

autofinanciamento através do reinvestimento dos lucros obtidos. No caso do

16

empréstimo, a empresa recebe , de imediato da instituição financiadora, o montante

solicitado; no caso do crédito, a empresa retira, dentro do limite máximo combinado, o

capital necessário, podendo realizar diversas retiradas e pagamentos de forma que

somente pague os juros relativos ao capital efetivamente utilizado.

Além das formas descritas de financiamento, a empresa, se for uma sociedade

anônima, pode emitir ações e obrigações. Quando a empresa emite ações ela está,

automaticamente, aceitando uma nova participação societária, já que as ações concedem

aos seus proprietários direitos políticos, como a participação nas assembléias gerais de

acionistas, e econômicos, através do recebimento de dividendos. Além da emissão de

ações a empresa pode optar por emitir obrigações e bônus, contraindo para si uma

dívida junto ao detentos do título, mas sem admitir um novo sócio em seu quadro.

2.3. As famílias ou unidades familiares

Dentro de um sistema econômico, os agentes podem ser classificados,

basicamente, como econômicos e privados. Os agentes econômicos privados básicos

são as empresas, tratadas no item anterior, e as unidades familiares.

As atribuições essenciais das famílias consistem em, de um lado, consumir os

bens e serviços oferecidos pelas empresas, dentro dos limites de sua disponibilidade

financeira (orçamento) e, de outro, oferecer seus recursos produtivos, quase sempre a

sua força de trabalho, às empresas.

2.4. O Setor público

A esfera governamental composta de órgãos e administrações públicas podem

ser classificadas em pelo menos três esferas: as administrações municipais, estaduais e a

central (federal). Além dessa classificação básica, existe outra, um pouco mais

abrangente, descrita no Quadro 2.1.

Quadro 2.1 – Setor público

(a) Setor público produtivo

(a1) Empresas estatais financeiras

(a2) Empresas estatais não-financeiras

17

(b) Administração pública

(b1)Entes territoriais : estados, municípios e territórios;

(b2)Previdência social: Sistema de previdência social e outras

administrações;

(b3) Administração central: Governo da União e demais organismosde

caráter nacional.

As funções do setor público, qualquer que seja a sua instância, são muito

relevantes. Nos dias de hoje a participação Estatal na vida da sociedade desenvolve-se

das mais variadas formas, estendendo-se para além da função de guardião do bom

desempenho da atividade econômica para converter-se em verdadeiro agente

econômico. Como empresário o setor público oferece à comunidade certos bens com

características particulares, os bens públicos. Tais bens podem ser entendidos como

aqueles que são proporcionados a todas as pessoas a um custo que não é maior que o

seu fornecimento para um único indivíduo – como exemplo podemos citar a defesa

nacional.

O Estado desempenha, ainda, um papel regulador na economia, procurando

através de políticas econômicas permitir o crescimento estável e contínuo da economia,

pleno aproveitamento dos recursos etc.

03. O SISTEMA ECONÔMICO

Um sistema econômico pode ser entendido como o conjunto de relações

técnicas, básicas e institucionais que caracterizam a organização econômica de uma

sociedade. Independentemente do seu tipo, todo sistema econômico deve, de algum

modo, desempenhar cinco funções básicas, determinando:

( a ) O que se deve produzir;

( b ) Como se deve organizar a produção;

( c ) Como devem se distribuir os produtos;

( d ) Como se devem racionar os bens no período em que a oferta é fixa;

( e ) Como se deve sustentar expandir a capacidade produtiva.

18

( a ) Determinação do que se deve produzir:

É, basicamente, uma questão de determinar quais são as necessidades dos

consumidores; em essência, a economia deve estabelecer um conjunto de valores para

os diferentes tipos de bens e serviços considerando, essencialmente, sua escassez e sua

utilidade para os consumidores.

( b ) Organização da produção:

A organização da produção envolve:

1. procurar canalizar os recursos disponíveis para as atividades produtoras dos

bens mais desejados;

2. usar os recursos eficientemente.

( c ) Distribuição do produto:

1. A questão da renda: a renda de um indivíduo depende de duas coisas:

* das quantidades dos diferentes recursos que pode empregar no sistema

produtivo;

* do quanto recebe por eles.

2. A distribuição total da renda depende, pois, da forma como os indivíduos podem

dispor os recursos que possuem.

( d ) Racionamento no curto prazo

( e ) Manutenção do crescimento do sistema econômico

Assim, em síntese, pode-se afirmar que a economia deve responde a três grandes

questionamentos:

1. O que produzir e em que quantidade? Deve-se escolher entre as possibilidades

de produção de uma economia de modo a satisfazer o mais adequadamente à sociedade.

2. Como produzir tais bens e serviços? Toda sociedade deve determinar quem

vai ser o responsável pela produção, qual a tecnologia a ser empregada, qual o tipo de

organização da produção etc.

3. Para quem produzir, ou em outras palavras, quem será o consumidor?

Devem ser definidos o público-alvo e as maneiras através das quais o produto deverá

atingi-lo.

19

3.1. Os sistemas econômicos e as trocas

Simultânea às funções de produção e consumo características básicas do sistema

econômico, existe um terceira de grande importância que intermedia as duas anteriores:

as trocas. É de certa forma intuitivo que, se um indivíduo age isoladamente, ele é o

único responsável pelo suprimento de suas necessidades. Contudo, a partir do momento

em que se insere em uma sociedade passam a ser observadas as características de todos

os indivíduos a fim de que se possam estabelecer as participações relativas de cada um ,

mais eficazes para o desenvolvimento do sistema econômico. Assim, como cada

indivíduo tem habilidades diferentes, existe uma tendência natural para que os

diferentes agentes se busquem a fim de trocarem seus excedentes de produção. Tal

intercâmbio é vantajoso na medida em que torna possível a especialização que contribui

para a eficiência da produção individual. A divisão do trabalho, surgida nesse contexto,

permite:

(a) a especialização;

(b) maior capacidade de cada operário;

(c) introdução de ferramentas e maquinarias específicas.

Todos esses fatores aumentam a produção por pessoa.

Na antigüidade, nos primórdios do desenvolvimento da economia, como entendida

atualmente, o meio de troca era o escambo, mecanismo através do qual eram trocados os

excedentes de produção em espécie, ou seja, de acordo com as necessidades os

indívíduos procuravam trocar suas mercadorias. Assim, se um produtor de trigo

necessitava de carne para sua sobrevivência ele procurava encontrar-se com um criador

a fim de trocar parte do seu trigo pela quantidade de proteína necessária. Nesse processo

não havia moeda envolvida e o ‘preço’ da mercadoria era relativo à necessidade de seu

uso.

Esquema 3.1 – O escambo Trigo Agricultor Criador Carne

A troca realizada somente através do escambo trazia sérios inconvenientes pois, de

um lado, era muito demorada, na medida em que era preciso encontrar um indivíduo

que possuísse a mercadoria desejada e quisesse realizar a troca. Por outro a

indivisibilidade de algumas mercadorias trazia problemas na hora da efetivação da

20

troca. Quando haviam muitos participantes as trocas tornavam-se ainda mais complexas

e as limitações – coincidência de necessidades e indivisibilidade – tornavam-nas

praticamente inviáveis.

Esquema 3.2. Intercâmbio com dinheiro

Agricultor Criador

Necessita vender trigo e Trigo Necessita vender

carne e

comprar um arado. Fluxo monetário e comprar trigo.

A C

r Ferreiro a

a Necessita vender um arado e r

d comprar carne. n

o e

-------- Fluxo monetário

_____ Fluxo real

04. O SISTEMA DE ECONOMIA DE MERCADO 4.1. Base de funcionamento

As regras básicas de funcionamento de um sistema lastreado na economia de

mercado é um conjunto de regras que envolvem os mecanismos de compra e venda de

mercadorias. O mercado não deve ser entendido apenas de forma geográfica, e sim pela

amplitude da interferência dos preços em uma determinada região:

Mercado é toda instituição social na qual bens e serviços, na qual bens e serviços,

assim como os fatores produtivos, são trocados livremente.

21

Esquema 4.1. Diagrama do Fluxo circular de bens e serviços e dos fatores

produtivos e dos pagamentos monetários

Mercado de Bens de Consumo e Serviços

(1) Custo de Vida (2) Receita dos

Negócios

Famílias: Empresas:

1. Consomem bens e produtos finais 1. Fornecem bens e serviços para

produzidos pelas empresas; consumo;

2. Fornecem fatores produtivos. 2. Utilizam fatores fornecidos

pelas famílias

(3) Renda dos (4) Custos

Consumidores de Produção

Mercado de Recursos

O Fluxo classifica as unidades econômicas em:

* famílias

* empresas

Classifica os mercados em:

* mercado de bens de consumo e serviços;

* mercado de recursos.

* Em termos monetários os dois fluxos são iguais

* O fluxo monetário assume quatro aspectos correntes:

* Custo de vida do consumidor;

22

* Receita auferida com os negócios;

* Custo de produção;

* Renda dos consumidores.

4.1.1. Os mercados e o dinheiro

Como já dito anteriormente, foi graças à existência do dinheiro que o

intercâmbio mais amplo das mercadorias tornou-se possível, na medida em que cada

mercadoria é inicialmente trocada por dinheiro e, a seguir, trocado este por outra

mercadoria.

Nesse contexto cada mercadoria passou a ‘valer’ um determinado montante de

dinheiro, de acordo com a sua valorização junto à sociedade, em outras palavras, cada

mercadoria passou a ter um preço determinado pela interação entre compradores

(demandantes) e vendedores (ofertantes). Conceitualmente pode-se dizer que o preço de

um bem é a sua relação de troca pelo dinheiro, isso é, o número de unidades monetárias

necessárias para obter em troca uma unidade do referido bem.

23

Tabela 4.1. Esquema do fluxo circular

Atividade Mercado de Bens e

Serviços

Mercado de Recursos

Fluxo Real

Produtos das empresas para

satisfazer as necessidades dos

consumidores em alimentação,

vestuário, educação, saúde...

Os principais fatores de

produção são: recursos da

natureza; trabalho, capacidade

empresarial, capacidade

tecnológica...

Fluxo Monetário As famílias transferem parte de

suas rendas para as empresas ao

adquirirem seus produtos.

As empresas remuneram as

famílias pelo uso dos recursos

através de salários, aluguéis,

lucros...

Oferta Exercida pelas empresas Exercida pelas famílias

Demanda ou Procura Exercida pelas famílias Exercida pelas empresas

Interação Através dos preços dos

produtos

Através do preço dos recursos

4.2. Concorrência Pura

Em economia, o termo concorrência contém, basicamente, a idéia de

insignificância da unidade econômica, quando comparada ao grupo maior, no qual

opera. O mercado é impessoal e opera sem rivalidade.

Def.: A Concorrência perfeita define um mercado no qual existe uma ausência de

concorrência direta entre os agentes econômicos.

4.2.1. Pressupostos básicos da concorrência pura

1. Grande número de pequenas empresas

2. Produto homogêneo

3. Livre mobilidade dos recursos

4. Perfeito conhecimento

24

4.2.2. Conclusões

* Não há um mercado perfeito que satisfaça estas exigências ( o mercado agrícola se

aproxima);

* As conclusões que têm por base esse modelo servem de suporte a outros mais

específicos e minuciosos.

4.3. A demanda

A demanda por um bem pode ser entendida como as várias quantidades deste,

que os consumidores retirarão do mercado, a todos os possíveis preços alternativos,

tudo o mais permanecendo constante. É, portanto, um conceito de máximo.

A demanda pode ser influenciada por vários fatores, contudo, a quantidade que o

indivíduo demandará de um bem (dada uma renda disponível) depende, basicamente, do

preço da mercadoria. São fatores que influenciam a procura:

1. Preço;

2. Gostos dos consumidores;

3. Número de consumidores considerado;

4. Renda dos consumidores;

5. Preços dos bens relacionados;

6. Variedade dos bens disponíveis.

Para melhor compreender o conceito de demanda, faz-se necessário mostrar a

origem das curvas de demanda ( ou procura ) cuja derivação se baseia na Teoria do

comportamento do consumidor individual. Para tanto, dispõe-se de duas aproximações:

a primeira delas é a teoria de utilidade, e a segunda é a das curvas de indiferença.

Ambas as alternativas chegam ao mesmo resultado, normalmente as curvas de procura

são negativamente inclinadas.

No estudo da teoria do consumidor, algumas características são levadas em

consideração:

1. Desconsiderando-se a poupança, os consumidores gastam todos os recursos

disponíveis no consumo de bens e serviços;

2. Eles não gastam toda a sua renda em somente um bem;

3. Quase nunca adquirem a satisfação plena (saturação) do consumo de um bem;

25

4. Eles procuram maximizar a satisfação total, sujeita a uma restrição (limite) de renda

e dos preços dos bens disponíveis.

A Utilidade Marginal Decrescente Def.: Pelo termo utilidade entende-se a satisfação psicológica resultante do consumo de

uma ou mais unidades de um determinado produto ou serviço.

Uma das características mais importantes dessa abordagem está contida na

chamada lei da UTILIDADE MARGINAL DECRESCENTE, segundo a qual, quando

um indivíduo consome unidades adicionais de um produto, mantido constante o

consumo de outros produtos e serviços, a quantidade de satisfação, obtida a cada

unidade adicional daquele produto, decresce ( marginal = adicional ). Ex.: Sedento no

deserto.

Gráfico 4.1. Curvas de utilidade total e marginal

UT

Curva de Utilidade Total

X

Umg

Assim, uma das explicações da inclinação para baixo da curva de demanda do

consumidor individual, origina-se na utilidade decrescente que ele obtém de cada

unidade adicional consumida.

4.3.2. A Teoria das Curvas de Indiferença

26

É uma teoria que complementa a da abordagem da Utilidade (é uma alternativa

neoclássica). Nessa perspectiva a demanda do consumidor é analisada em dois

componentes:

1. Através das curvas de indiferença, descreve-se teoricamente o desejo dos

consumidores para comprar diferentes combinações de produtos (o que ele gostaria

de fazer);

2. Através da restrição de orçamento (renda), desenvolve-se uma descrição teórica das

condições que o consumidor possui de comprar diferentes combinações dos bens (o

que ele realmente pode realizar).

Integrando-se estes dois componentes pode-se derivar a curva de demanda do

consumidor individual.

Def.: Uma curva de Indiferença (CI) mostra as várias combinações de dois

produtos que proporcionam o mesmo nível de satisfação ao consumidor, para as

quais (cestas diferenciadas) ele é indiferente. Portanto, a utilidade é constante em

todos os pontos da curva de indiferença.

Normalmente, as curvas de indiferença apresentam duas características:

1. As curvas são inclinadas para baixo e para a direita, significando que há uma taxa

decrescente de substituição entre os dois produtos;

2. As curvas não se interceptam;

Em relação ao formato:

1. Para produtos substitutos perfeitos são linhas retas que declinam para a direita;

Y

X

2. Para produtos complementares perfeitos, a convexidade das curvas é de 90º

Y

X

27

3. A convexidade das curvas de bens que têm alguma substitubilidade (imperfeita)

apresentam algum grau de convexidade.

Y

X

A restrição orçamentária do consumidor individual, é representada por uma reta

que indica as taxas de troca que o mercado estabelece entre os dois bens (considerando

a presença de apenas dois produtos), ou seja, indica a relação de preços entre os bens.

Y

Curva de indiferença

Restrição orçamentária (px/py)

X

Pelo exposto, conclui-se, então que, normalmente, preço e quantidade

demandada variam de forma inversamente proporcional.

Def.: ( a ) Curva de demanda individual

( b ) Curva de demanda de mercado: a curva de demanda de mercado mostra a

relação entre preço e quantidade demanda por todos os indivíduos a seu preço,

mantendo constantes os demais fatores (gostos, renda, preços de bens

relacionados).

28

Preço de X

Quantidade de X

Preço de X Quantidade de X

10

1

9 2

8 3

7 4

6 5

5 6

4 7

3 8

2 9

1 10

4.4. A Oferta

A oferta de um bem depende de vários fatores, dentre eles:

- da tecnologia;

- do preço dos fatores produtivos;

- do preço do bem que se deseja oferecer.

Def.: A curva de oferta de mercado mostra a relação entre a quantidade de um bem

oferecida por todos os produtores a seu preço, mantendo constantes os outros fatores

(tecnologia, preço de fatores, etc.)

Curva de Oferta Individual: a relação numérica entre preço e quantidade fornece a

base para a construção da curva de oferta individual;

29

Curva de Oferta de Mercado: mostra a relação entre quantidade de um bem oderecida

por todos os produtores e seus preços, mantendo constantes os outros fatores

(tecnologia, preço dos insumos...)

Preço de x

Quantidade de x

4.5. Equilíbrio de Mercado

Def.: Preço e quantidade de equilíbrio

P

Excedente

Equilíbrio

Escassez

Quantidade de X/ut X2 X1 X X1’ X2’

Ao preço P1, os ofertantes estão dispostos a ofertar X1’, mas o consumidores

demandarão apenas X1, indicando que haverá um excesso de oferta , que, por sua vez

fará com que o preço se reduza e exista uma volta ao equilíbrio. Já ao preço P2, os

consumidores estariam dispostos a consumir X2’, contudo, a este preço, os produtores

estariam somente ofertariam X2, o que ocasionaria um excesso de demanda sobre a

oferta, o que elevaria os preços, retornando-os ao ponto de equilíbrio.

30

PARTE II -TEORIA DOS PREÇOS (BIBLIOGRAFIA 4,8,11)

1. A DEMANDA

Definição: São as várias quantidades de um bem ou serviço que os consumidores estão

dispostos a retirar do mercado a um conjunto de preços alternativos, tudo o mais

permanecendo constante.

1.1. Tabelas e curva de demanda

Definição: Uma tabela de demanda descreve as diferentes quantidades de bens e

serviços que os consumidores adquirirão aos vários preços alternativos (Tabela1.1 e

Gráfico 1.1)

Tabela 1.1. Preço e quantidade de carne de frango

Preço (R$/kg) Quant. (kg/semana)

5 1 4 2 3 3 2 4 1 5

Gráfico 1.1. Curva de demanda de carne de frango

P

5

1

1 5 Q

A representação gráfica da relação entre a quantidade demandada de um bem, num dado

período de tempo, e o seu preço é dado pela curva de demanda.

31

1.2. Mudança na quantidade demandada versus mudança na demanda

(a) Mudança na quantidade demandada

Definição: O efeito no preço de um produto, no caso, a carne de frango, tudo o mais

permanecendo constante pode ser mostrado como um movimento ao longo da curva de

demanda.

Gráfico 1.2. Curva de demanda de frango

Qd = 2 - 4P

P

4

2

2 4 Q

(b) Mudanças na curva de demanda

Definição: Quando alguns dos fatores, que estavam sendo mantidos constantes na

definição da curva de demanda, sofrem alterações, há mudanças na própria curva de

demanda. Os fatores que influenciam a posição da curva de demanda são:

1. renda do consumidor; 2. gosto e preferência; 3. preços dos produtos relacionados;

4.expectativa de preço.

32

1. Exemplo de alteração na renda do consumidor

Gráfico 1.3. Deslocamento da curva de demanda por um aumento na renda do

consumidor para um bem normal ou superior e para um bem inferior

P D1

Bem normal ou superior

P0

D0

Q0 Q1 Q

P

D0

Bem inferior

P0

D1

Q1 Q0 Q

Definições:

(a) Bem normal ou superior: é um bem cujo aumento na renda do consumidor resulta

em acréscimos na demanda;

(b) Bem inferior: é um bem cujo aumento na renda do consumidor resulta em

decréscimos na demanda.

33

2. Mudança na preferência ou gosto ( Gráfico 1.4) P D0 D1 P0 Q0 Q1 Q (Produtos dietéticos) 3. Mudança nos preços dos bens relacionados (Gráfico 1.5)

Definições:

(a) Bens substitutos: dois bens são ditos substitutos se eles desempenham funções

similares para o consumidor. O aumento no preço de um bem X desloca a curva de

demanda do bem Y para a direita, se X e Y são substitutos. Ex.: Carne de boi e porco;

manteiga e margarina.

(b) Bens complementares: dois bens são complementares se eles são usados em

conjunto um com o outro. Se eles são complementares o aumento no preço de um bem

X, reduz a quantidade consumida de Y, ou seja, desloca para a esquerda a curva de

demanda de Y Ex.: Pão e manteiga.

4. Mudanças nas expectativas de preços

Se existe a expectativa do aumento do preço de um bem X, pode haver um

deslocamento da sua curva de demanda para a direita, na tentativa dos consumidores

anteciparem a compra deste bem.

34

1.3. Função de demanda

Definição: expressa matematicamente a relação entre a quantidade demandada por um

bem ou serviço , em dado período de tempo, e os vários fatores que a afetam.

É expressa como:

X = f (PX, R, PC, PS)

Em que:

PX = Preço do bem em questão;

R = Renda disponível;

PC = Preço do bem complementar;

PS = Preço do bem substituto;

Ex 1.: Função de demanda por carne

QX = 4 - 18 PX + 0,7 R + 0,6 PS - 0,2 PC

Fazendo:

PX = R$12,00

R = R$ 300,00

PS = R$11,00

PC = R$ 9,00

Então:

QX = 4 - 18 (12) + 0,7 (300 ) + 0,6 (11) - 0,2 (9) = 2,8 kg de carne.

35

Exemplo 2.: Função de demanda por manteiga

QX = 2 - 15 PX + 0,5 R + 0,8 PS - 0,3 PC

Fazendo:

PX = R$10,00

R = R$ 300,00

PS = R$12,00

PC = R$ 8,00

Então: QX = 2 - 15 (10) + 0,5 (300) + 0,8 (12) - 0,3 (8) = 9,2 Kg de manteiga.

1.4. Elasticidade preço da demanda

Definição: Indica a mudança percentual na quantidade demandada em resposta à

mudança percentual nos preços.

Ep = é definida como a mudança percentual da quantidade demandada dividida pela

mudança percentual do preço

Seja Q = f (Pq)

Ep = ∆∆∆∆ Q / Q / ∆∆∆∆ P/P = ∆∆∆∆Q/∆∆∆∆P . P/Q

Há duas maneiras de calcular a elasticidade-preço da demanda: através do cálculo da

elasticidade-arco e da elasticidade-ponto;

36

Gráfico 1.6. Elasticidade-arco

R$ 3 A 2 B 1 2 Q/u.t. Calculada de A para B: Ep = -3

Calculada de B para A: Ep = -1

Logo, utiliza-se uma fórmula mais precisa:

Ep = (Q2 - Q1 / P2 - P1) . (P2 + P1 / Q2 + Q1)

Assim, no exemplo acima, Ep = 5/-3 = -1,67, que é a elasticidade média entre A e B.

Gráfico 1.7. Elasticidade-ponto - pode ser determinada matemática e geometricamente

P P0 E>1 L, E = 1 E < 1 0 M T Q/u.t Geometricamente:

A inclinação da curva de demanda linear é LM/MT = ∆P/∆Q

ou seja: ∆Q/∆P = MT/LM

P = LM e Q = OM, então

37

Ep = ∆Q/∆P . P/Q ou então Ep = MT/LM. LM/OM = MT/OM

No ponto L, E = 1 = elasticidade-preço da demanda unitária

à direita de L, E <1 = elasticidade-preço da demanda inelástica

à esquerda de L, E>1 = elasticidade-preço da demanda elástica

Quando se diz que a elasticidade-preço da demanda é unitária, quer-se

evidenciar que uma mudança de 1% no preço desta mercadoria gera uma variação de

sentido inverso e magnitude igual na sua quantidade demandada. Se a demanda é

inelástica, tem-se que, frente a uma determinada variação nos preços, a quantidade

demandada caminha em sentido contrário, e o impacto se dá em menor proporção. Se a

demanda é elástica, por sua vez, uma variação de 1% no preço dessa mercadoria gera

uma queda superior a esse percentual na sua quantidade demandada.

1.5. Demanda de mercado

Definição: Resulta da soma horizontal de todas as curvas de demanda individuais para

determinado produto. A cada preço, a quantidade demandada no mercado é a soma das

quantidades de cada indivíduo. A curva de demanda de mercado é mais elástica, ou seja,

menos inclinada do que a curva de demanda de um indivíduo.

1.6. Formas de curvas de demanda e elasticidade

Gráfico 1.8. Perfeitamente elástica P P0 Q0 Q1 Q/u.t Gráfico 1.9. Perfeitamente inelástica P P0 P1

38

Q0 Q/u.t Gráfico 1.10. Elasticidade constante P P0 Q0 Q1 Q/u.t Gráfico 1.11. Elasticidade Variável P P0 E>1 L, E = 1 E < 1 0 M T Q/u.t Gráfico 1.12 Elasticidade Variável e diferenciada P P0 P1 Q0 Q1 Q2 Q Questões relevantes:

* Qual a importância em se saber acerca da elasticidade?

* Os produtos agrícolas, em geral são mais inelásticos.

39

Importante: fatores que afetam a elasticidade-preço da demanda

1. Disponibilidade de produtos substitutos;

2. Número de usos que se pode dar ao produto;

3. Proporção da renda gasta com o produto;

4. Grau de essencialidade do produto;

5. O período do tempo.

1.7. Elasticidade-renda da demanda

Definição: A elasticidade-renda da demanda é a mudança percentual na quantidade

demandada dividida pela mudança percentual na renda; matematicamente é expressa

como:

Eγ = ∆Q/∆Y . Y/Q

Sendo assim, se:

Eγ > 1, o bem é dito superior

0 ≤ Eγ ≤ 1, o bem é dito normal

Eγ < 0, o bem é dito inferior

A elasticidade-renda dos alimento é muito baixa.

1.8. Elasticidade-preço-cruzada da demanda

Definição: é a variação proporcional na quantidade demandada de um bem dividida pela

variação proporcional no preço do outro bem.

EXY = (∆ QX / ∆ PY) . (PY / QX)

Se EXY > 0 os bens são substitutos;

Se EXY < 0 os bens são complementares.

1.9. Fatores que afetam a demanda por produtos agrícolas

40

Foram apresentados anteriormente os fatores que são responsáveis pelo deslocamento

da curva de demanda por um produto qualquer. Contudo, existem ainda outros fatores

que afetam a demanda por produtos agrícolas, como:

1. Demografia: o aumento da população gera um deslocamento para a direita da curva de demanda;

2. Geografia e clima: determinados produtos são mais demandados em regiões mais frias, por exemplo;

3. Nacionalidade e etnia: de acordo com os ‘gostos culturais’ de determinada região ou população poderemos ter um tipo de demanda.

1.10. Relação entre elasticidade-preço da demanda e receita total

Definição: Receita total = Quantidade vendida (Q) x Preço de Venda (P) P Ep = 1 Ep>1 Receita total Ep<1 Demanda Q/u.t. Receita marginal Sintetizando:

Preço/elasticidade Ep > 1 Ep = 1 Ep < 1

P aumenta RT cai RT mantém RT aumenta

P diminui RT aumenta RT mantém RT cai

41

2.OFERTA

Definição: É definida como as várias quantidades de um bem ou serviço que os

vendedores desejam e são capazes de vender durante dado período de tempo, a todos os

possíveis preços alternativos, tudo o mais permanecendo constante.

Curva de Oferta: Mostra as quantidades máximas que os vendedores colocarão no

mercado, por unidade de tempo, aos vários preços.

Diferentemente da curva de demanda, a curva de oferta é positivamente inclinada,

indicando que quanto maior o preço, maior a quantidade de bens que os produtores

estarão dispostos a colocar no mercado.

Portanto, a lei da oferta diz que: “A quantidade ofertada de um produto cresce se o

preço dele aumenta, e cai se o preço diminui”. Assim, se há uma relação indireta entre

preço e quantidade demandada, há uma relação direta entre preço e quantidade ofertada.

Função de Oferta: é a expressão matemática da relação entre a quantidade ofertada do

produto e os fatores que a afetam.

QS = f (PS, I, T) ou seja, a quantidade ofertada é influenciada, de forma geral, pelos

impostos (I), pela tecnologia (T) e pelo preço do produto em questão (PS). Na realidade,

muitos outros fatores podem ser incorporados na determinação da quantidade ofertada,

como será visto posteriormente.

42

2.1. Relação numérica entre o preço de um produto e a sua quantidade ofertada

Gráfico 2.1 P

Preço (R$/kg) Quantidade

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1

2.2. Mudanças na curva de oferta x mudanças da curva de oferta

a) Mudanças na curva de oferta: somente as variações no preço do produto em questão

podem gerar deslocamentos ao longo da curva de oferta.

Gráfico 2.2

P P1

P0 Q0 Q1 Q/u.t.

b) Mudança da curva de oferta = deslocamento da curva.

Fatores que levam ao deslocamento:

b.1. Tecnologia - Uma inovação tecnológica, geralmente reduz o custo de produção, o

que gera um aumento da quantidade ofertada.

43

Ex.: Uma firma dispõe de certa quantidade de dinheiro para produzir certa quantidade

de uma mercadoria; quando uma inovação tecnológica reduz o custo de produção, a

fima poderá, com os mesmos recursos, produzir mais unidades do referido bem.

Gráfico 2.3 S0 P S1 P0 Q0 Q1 Q b.2. Impostos e/ou subsídios AUMENTO DOS IMPOSTOS ⇒ AUMENTO DOS CUSTOS ⇒ REDUÇÃO DA OFERTA REDUÇÃO DOS SUBSÍDIOS Gráfico 2.5 P S1 S0 P0

Q1 Q0 Q/u.t.

44

REDUÇÃO DOS IMPOSTOS ⇒ REDUÇÃO DOS CUSTOS ⇒ AUMENTO DA OFERTA AUMENTO DOS SUBSÍDIOS Gráfico 2.6 P S0 S1 P0

Q0 Q1 Q/u.t.

b.3. Preços dos fatores de produção AUMENTO DO PREÇO DOS FATORES ⇒ REDUÇÃO DA OFERTA Gráfico 2.7 P S1 S0 P0

Q1 Q0 Q/u.t.

REDUÇÃO DOS PREÇOS DOS FATORES ⇒ AUMENTO DA OFERTA Gráfico 2.8 P S0 S1 P0

Q0 Q1 Q/u.t.

45

b.4. Preços dos bens relacionados - competitivos AUMENTO DO PREÇO DOS BENS RELACIONADOS ⇒ PRESSÃO DA DEMANDA ⇒ AUMENTO DA OFERTA Gráfico 2.9 P S0 S1 P0

Q0 Q1 Q/u.t.

REDUÇÃO DO PREÇO DOS BENS COMPETITIVOS ⇒ REDUÇÃO DA OFERTA DOS BENS CONSIDERADOS Gráfico 2.10 P S1 S0 P0

Q1 Q0 Q/u.t.

46

b.5. Expectativa de mudança no preço EXPECTATIVA DE AUMENTO NO PREÇO ⇒ AUMENTO DA OFERTA Gráfico 2.11 P S0 S1 P0

Q0 Q1 Q/u.t.

EXPECTATIVA DE REDUÇÃO DE PREÇO ⇒ REDUÇÃO NA OFERTA Gráfico 2.12 P S1 S0 P0

Q1 Q0 Q/u.t.

b.6. Mudanças no clima - um clima ruim pode gerar uma quebra de safra e reduzir a oferta de algum bem agrícola, por exemplo. (Gráfico 2.13) P S1 S0 P0

Q1 Q0 Q/u.t.

47

2.3. Elasticidade-preço da oferta

Definição: é a variação percentual na quantidade ofertada de um bem, em resposta a

variações percentuais em seu preço.

Matematicamente:

Es = (∆Q/Q) / (∆P/P)

Es = ∆QS/∆P . P/QS

Elasticidade-arco da oferta

Es = (∆Q/∆P) . (P0+ P1/Q0+Q1)

Elasticidade-ponto da oferta

Es = dQS/dP . P/QS

2.4. Formas de curvas de oferta e elasticidade

Es = 1 ⇒ oferta unitária

Es < 1 ⇒ oferta inelástica

Es > 1 ⇒ oferta elástica

A curva de oferta pode ser classificada, em relação à elasticidade, da mesma forma que

a curva de demanda.

S1 Análise gráfica S2 P S3 A P0 E 0 C B Q

48

a) Curva S1 (corta o eixo das quantidades)

Inclinação da curva = AB/CB = ∆Q/∆P ou seja, ∆Q/∆P = CB/AB

P = AB

Q = OB

Es1 = ∆Q/∆P.P/Q = CB/AB. AB/OB

Es1 = CB/OB, e como CB < OB, Es2 < 1

b) Curva S2 (passa pela origem)

Inclinação da curva = cateto oposto / cateto adjacente

= AB/OB = ∆P/∆Q , logo, ∆Q/∆P = OB/AB

P = AB e Q = OB

Logo, Es2 = ∆Q/∆P . P/Q = OB/AB . AB.OB = 1

c) Curva S3 (corta o eixo dos preços)

Inclinação da curva = AB/EB = ∆Q/∆P ou seja, ∆Q/∆P = EB/AB

P = AB

Q = OB

Es1 = ∆Q/∆P.P/Q = EB/AB. AB/OB

Es1 = EB/OB, e como EB > OB, Es3 > 1

Portanto, no que diz respeito às curvas de oferta:

P S1 P1 S2 P0 Q1 Q2 Q

49

A curva S1 é mais inelástica do que a curva S2, mas ambas são elásticas. P S1 S2 P” P A curva S2 é mais elástica do que a curva S1, mas ambas são inelásticas.

50

3. EQUILÍBRIO DE MERCADO

Embora seja relevante o estudo, em separado, da oferta e demanda, com vistas a

compreender com maior profundidade os fatores que as afetam, é de extrema relevância

analisar os dois lados (do vendedor e do comprador) conjuntamente, a fim de determinar

o preço e a quantidade de equilíbrio - Gráfico 2.15.

0 qa qc qe qd qb q(u.t)

O gráfico 2.15, acima representado, ilustra a determinação do preço de mercado.

Observe-se que ao preço P1 (acima do preço de equilíbrio P), os vendedores estão

dispostos a vender 0qb da mercadoria, mas os compradores somente comprarão 0qa. O

diferencial representado pela linha pontilhada ‘ab’ representa um excesso de oferta no

mercado, e a tendência, nesse caso, é a de queda do preço do produto. Por outro lado, ao

preço P2, os consumidores estarão dispostos a comprar 0qd, mas somente encontrarão

0qc no mercado. Analogamente à análise precedente, o diferencial ‘cd’ representa um

escassez do produto (ou excesso de demanda), o que propicia uma elevação de perço.

Assim, o preço P é o chamado preço de equilíbrio. Segundo LEFTWITCH

(1991:37), ele pode ser definido como se segue

“ dadas as condições de oferta e demanda do produto X, é o preço que , se

alcançado, será mantido. Se o preço se desviar de P, surgirão forças em ação para

razê-lo de volta àquele nível [...] Ao preço de equilíbrio para as quantidades levadas

Oferta

Demanda

P1

P0

P2

e

a b

c d

51

pelos fornecedores no mercado é tal que seu preço e avaliação pelos consumidores, de

uma unidade do produto, coincidem.”

3.1. Efeitos de uma mudança na curva de demanda sobre o preço e quantidade de

equilíbrio

q (u.t.)

Como pode ser observado no gráfico acima, deslocamentos positivos da curva

de demanda, mantida constante a curva de oferta, geram aumentos tanto no preço

quanto na quantidade de equilíbrio, enquanto reduções sucessivas na demanda trariam

efeitos contrários.

3.2. Efeitos de uma mudança na curva de oferta sobre o preço e a quantidade de

equilíbrio

q1 q2 q3 q(u.t.) Como pode-se perceber, aumentos sucessivos na oferta, mantida constante a

demanda, levam, simultaneamente, a aumentos na quantidade ofertada e queda de

preço. Tal fato é previsível, uma vez que inalteração da demanda frente a um aumento

na disponibilidade de produto no mercado gera queda no preço do mesmo.

S

D3 D2

D1

P

P3

P2

P1

q1 q2 q3

D

S1 S2 S3

P1 P2 P3

52

3.3. Efeitos de um deslocamento simultâneo das curvas de oferte e demanda sobre

o nível de preço e quantidade de equilíbrio

a) Deslocamentos de ambas as curvas no mesmo sentido: Pode-se inferir apenas que

há um aumento na quantidade se os deslocamentos são positivos e retração na

quantidade se os deslocamentos são negativos. Nada se pode afirmar sobre os preços.

P

0 q1 q2 q/ut 0 q2 q1 q/ut

b) Deslocamento de ambas as curvas em sentido contrário: Se houver deslocamento

positivo da oferta e negativo da demanda o preço cairá (Caso 1); se a demanda cresceer

e a oferta retrair-se, o preço irá subir (Caso 2). Entretanto, nada se pode inferir sobre a

quantidade disponível no mercado.

Caso 1 Caso 2

P P

0 q/ut 0 q/ut

P1

P2

P2

P1

53

PARTE III - TEORIA DA FIRMA (BIBLIOGRAFIA 4,8,12)

CONCEITOS ECONÔMICOS BÁSICOS

Diariamente os agentes econômicos se deparam com a necessidade de optar pelo

tipo de produção a ser realizada, como deve ser elaborada e em que quantidade. Essas

três questões fundamentais fazem parte constante do processo de tomada de decisão dos

agentes e, por conseguinte são úteis nesse processo decisório, conhecimentos acerca da

função de produção, lei dos rendimentos marginais decrescentes, estágios de produção e

marginalidade.

Em muitos aspectos a Teoria da Firma se assemelha à Teoria do Consumidor. A

unidade econômica analisada é, por exemplo a firma, ao invés do indivíduo, e enquanto

o consumidor tenta maximizar a sua satisfação dentro de uma determinada restrição

orçamentária, a empresa tenta maximizar os seus lucros tendo por restrições o custo dos

fatores de produção, o preço do produto e a fronteira tecnológica de produção.

Assim como na abordagem da teoria da procura, existem diferentes formas de

analisar a teoria da produção. A primeira delas, mais tradicional, desenvolve-se paralela

à teoria neoclássica da utilidade. A segunda é o tratamento isoproduto-isocusto, que é

similar à abordagem das curvas de indiferença. O tratamento tradicional inicia pela

avaliação da função de produção, passa pela lei dos rendimentos decrescentes e analisa,

posteriormente a curva de fator –produto para, finalmente definir a escolha que

minimiza os custos da firma.

1. A ABORDAGEM TRADICIONAL (FATOR-PRODUTO)

1.1. A função de produção

A função de produção descreve uma relação física entre os recursos de uma

determinada firma e a quantidade de produto produzida por ela, por unidade de tempo,

sem considerar os preços. Matematicamente, pode ser expressa como:

Y = f (X1/X2,X3...)

54

Em que a quantidade de produto Y é produzida a partir da combinação dos recursos

X1,X2,X3..., sendo que a barra após o primeiro fator indica que somente ele poderá ter

sua quantidade variada ao longo do tempo. Em outras palavras, no caso exposto, se a

firma deseja aumentar ou reduzir o volume produzido deve variar apenas o fator X1,

mantendo constante todos os demais recursos utilizados. O montante de produto

depende, além dos recursos empregados, da tecnologia em vigor.

A função de produção neoclássica considera apenas um fator variável podendo

ser expressa como:

Y = f (X1)

Supondo uma relação entre ganho de preso de aves e quantidade de ração

utilizada, descrita como uma função de produção (Tabela 1.1) podemos esboçar o

gráfico de uma função de produção simples como sendo:

Gráfico 1.1

Y

PFT

X1/u.t

Tabela 1.1 Resposta do ganho de peso do frango face a diferentes quantidades de ração

Fator X1: Consumo de ração (kg) Y: Ganho de peso do frango (kg) 0 - 1 0.156 2 0.560 3 1.116 4 1.728 5 2.300 6 2.736 7 2.940

A função de produção que expressa matematicamente os dados apresentados na

Tabela 1.1 é:

Y = 0,172 X12 – 0,016 X1

3 (1)

55

Em que Y é o peso total do frango (em kg) e X 1 é a quantidade de ração

consumida (em kg). A equação estimada possui algumas vantagens em relação à função

apresentada na forma tabular, uma vez que permite a análise de forma contínua, e não

apenas discreta como no caso apresentado na forma de tabela. Assim, tendo em mãos a

função de produção em sua forma matemática, é possível calcular o ganho de peso

considerando quantidades de ração não constantes na tabela. Imagine-se, assim, uma

quantidade de ração igual a 3,5 kg; a quantidade equivalente de ganho de peso seria:

0,172 (3,5)2 – 0,016 (3,5)3 = 2,10 – 0,69 = 1,41 kg de frango.

Utilizando os dados fornecidos pela tabela 1.1 é também possível calcular essa

mesma informação através da interpolação de valores conhecidos. Assim, se 3 kg de

ração produzem 1,100 kg de frango, e 4kg de ração produzem 1,700 kg de frango, 3,5

kg de ração irão produzir (1,100 + 1,700)/2 = 1,400 kg de frango. Deve-se reparar no

fato de que os valores obtidos através da interpolação não são necessariamente os

mesmos obtidos através da equação (1).

A Tabela 1.2 mostra a função de produção (equação 1) em termos de ganho de

peso de frango. Pode-se notar que os retornos apresentados mostram-se primeiro

crescentes, passando posteriormente a constantes e depois decrescentes. Isso ocorre em

virtude da Lei dos rendimentos marginais decrescentes, segundo a qual unidades

adicionais de um fator variável , mantidos todos os demais constantes, geram primeiro

ganhos de produtividade, passa por um ponto de retorno constante para, posteriormente

decrescer.

Assim, a relação entre a quantidade de insumo variável e a quantidade de

produto produzida pode assumir três formas gerais, como já citado:

1. Os retornos constantes ocorrem quando cada unidade adicional do fator

variável, aplicada aos fatores fixos, aumenta a produção em iguais

quantidades;

2. Os retornos decrescentes ocorrem quando cada unidade adicional do fator

variável aumenta a produção total menos do que a unidade de fator variável

anterior;

3. Os retornos crescentes acontecem quando o acréscimo na produção,

resultante da adição do fator variável, é maior do que o provocado pelo

emprego da unidade anterior.

56

Tabela 1.2 Ganho de peso de frango (kg), consumo de ração (kg) e os retornos

proporcionados à produção pelo fator variável.

X1

Consumo de ração (kg)

Y (PFT)

Ganho de peso de frango (kg)

Retorno

(kg)

0,00 0,000 -

0,50 0,041 (0,041-0,00)/(0,50-0,00) = 0,082

1,00 0,156 (0,156-0,041)/(1,00-0,50) = 0,230

1,50 0,333 0,354

2,00 0,560 0,454

2,50 0,825 0,530

3,00 1,116 0,582

3,50 1,421 0,610

4,00 1,728 0,614

4,50 2,025 0,594

5,00 2,300 0,550

5,50 2,541 0,482

6,00 2,736 0,390

6,50 2,873 0,274

7,00 2,940 0,134

7,50 2,925 -0,030

1.2. Produtividade dos fatores

Do produto físico total (PFT), que vem a ser a produção (Y), duas importantes

relações podem ser derivadas, o Produto Físico Médio (PFMe) e o Produto Físico

marginal (PFMa). O PFMe é o PFT dividido pela quantidade empregada de insumo

variável, ou seja:

PFMeX1 = PFT/X1 = Y/X1

57

O PFMa, por sua vez, é a variação no produto físico total, decorrente da variação

de uma unidade na quantidade empregada do insumo variável, sendo matematicamente

representado por:

PFMaX1 = ∆PFT/∆X1 = ∆Y/∆X1 ou, para valores infinitesimais, = dY/dX1

Aplicando as fórmulas de PFMeX1 e PFMaX1 na equação (1) tem-se:

Y = 0,172 X12 – 0,016 X1

3 (1)

PFMeX1 = (0,172 X12 – 0,016 X1

3)/X1 = 0,172 X1 – 0,016 X12 (2)

PFMaX1 = 0,344X1 – 0,048X12 (3)

O PFMeX1 apresentado na Tabela 1.3, foi estimado a partir dos dados discretos X1 e

Y, que se encontram nas duas primeiras colunas desta mesma tabela. A produtividade

média pode ser obtida para cada nível de ração consumida pelas aves. No exemplo

tabulado o produto físico médio cresce, atinge um ponto máximo e decresce, não

atingindo, contudo, valores negativos.

O produto físico marginal é obtida aplicando-se a fórmula apresentada na equação

(3), substituindo X1 pelos valores fornecidos pela Tabela 1.3. O comportamento do

produto físico marginal é o seguinte: cresce, apresenta um ponto de máximo e, a partir

deste ponto, decresce, chegando a zero e passando a ser negativo.

58

Tabela 1.3. Ganho de peso de frango, consumo de ração, produto físico médio e

produto físico marginal

X1

Consumo de ração

(kg)

Y (PFT)

Ganho de peso de

frango (kg)

PFMeX1

Y/X1

PFMaX1

dY/dX1

0,00 0,000 - -

0,50 0,041 0.082 0.160

1,00 0,156 0.156 0.296

1,50 0,333 0.222 0.408

2,00 0,560 0.280 0.496

2,50 0,825 0.330 0.560

3,00 1,116 0.372 0.600

3,50 1,421 0.406 0.616

4,00 1,728 0.432 0.608

4,50 2,025 0.450 0.576

5,00 2,300 0.460 0.520

5,50 2,541 0.462 0.440

6,00 2,736 0.456 0.336

6,50 2,873 0.442 0.208

7,00 2,940 0.420 0.056

7,50 2,925 0.390 -0.120

Caso se deseje saber a quantidade de insumo variável que proporciona

incremento nulo, ou seja o ponto exato onde o acréscimo de X1 gera um PFMa = 0,

basta proceder da seguinte maneira:

PFMaX1 = 0,344X1 – 0,048X12 = 0

Ou seja:

X1 (0,344 – 0,048 X1) = 0

X1 = 0,344/0,048 = 7,166

Assim, conclui-se que quando são utilizados 7,166 kg de ração o PFMaX1 = 0.

Graficamente, as curvas de produto físico total, produto físico médio e produto

físico marginal assumem as seguintes formas:

59

Gráfico 1.2 – Produto Físico Total

Y

I II III PFT

PFMe

PFMa

Gráfico 1.3 – Produto Físico Médio e Produto Físico Marginal

O Gráfico 1.2 representa uma função de produção neoclássica e demonstra a lei

dos rendimentos marginais decrescentes. Essa lei estabelece que, à medida em que se

empregam mais quantidades de insumo variável, enquanto a quantidade dos demais

insumos permanece constante, a produção total aumenta, a princípio, a taxas crescentes,

depois a taxas decrescentes, atinge um máximo e, finalmente, decresce.

A lei dos rendimentos marginais decrescentes pode também ser descrita em

termos do produto físico marginal, dado que esse é a taxa de crescimento do PFT. O

PFMa cresce, atinge um máximo, posteriormente decresce, anula-se e, por fim, torna-se

negativo.

60

Em termos práticos, a lei dos rendimentos marginais decrescentes pode ser

melhor visualizada por meio da análise da resposta do ganho de peso do frango frente a

diferentes níveis de consumo de ração. Cada unidade de ração consumida aumenta o

peso do frango, inicialmente, a taxas crescentes, de pois, o faz de forma menos que

proporcional, atinge um máximo e, finalmente, decresce.

A análise conjunta dos Gráficos 1.2. e 1.3 permite ainda tecer algumas

considerações a respeito das curvas de PFT, PFMe e PFMa. A construção geométrica da

curva de PFMa se dá pela união dos sucessivos pontos de tangência sobre a curva PFT,

sendo que é possível perceber que o PFMa é máximo no ponto de inflexão da curva

PFT, e o PFMa é nulo quando o PFT é máximo. A curva de PFMe, por sua vez,

representa a sucessão dos ângulos formados por uma reta (suposta) que parte da origem

e toca sucessivamente os pontos que forma a curva PFT; a curva apresenta primeiro um

crescimento, atinge um máximo e decresce, não sendo, contudo nula em nenhuma

circunstância.

Vale ainda observar que é possível fazer comparações entre as curvas de PFMe e

PFMa. O ponto de máximo do PFMa é anterior ao ponto máximo do PFMe e, onde o

PFMe é máximo, ele se iguala ao PFMa.

1.3. Estágios de produção

Os três estágios de produção podem ser definidos a partir das relações entre o PFT,

PFMe e PFMa (Gráficos 1.2 e 1.3).

O primeiro estágio de produção corresponde àquele em que o PFMe é sempre

crescente. Nesse estágio o PFMa é sempre maior do que o PFMe, e ambos são

positivos; o PFT também apresenta-se crescente. Esse estágio é considerado um estágio

irracional de produção, porque os insumos são alocados ineficientemente. Um produtor

irracional jamais operaria nesse estágio de produção porque ele estaria limitando o uso

do insumo variável, dado que maior produtividade média poderia ser atingida pelo

maior uso desse insumo. O limite entre o primeiro e o segundo estágio de produção

ocorre no ponto onde o PFMe é máximo, ou seja, no ponto onde o PFMe = PFMa.

O terceiro estágio é caracterizado, principalmente, por apresentar um produto físico

total decrescente, PFMa negativo e PFMe também decrescente. Esse estágio também é

considerado irracional da produção, visto que o emprego de unidades adicionais do

61

insumo variável resultaria na redução do produto físico total, ou seja, tais acréscimos

contribuem para o crescimento do custo e redução da receita.

O segundo estágio de produção apresenta PFMe decrescente, assim como o produto

físico marginal, mas ambos são positivos. Nesse estágio o PFMe é sempre superior ao

PFMa e esse é considerado o estágio racional de produção. O limite entre o segundo e o

terceiro estágios ocorre no ponto onde o PFT é máximo, ou seja, onde o PFMa é nulo.

Sendo esse o único estágio racional, e sendo os seus limites o ponto onde o PFMe é

máximo e o ponto onde o PFMa é nulo, deduz-se que o ponto ótimo de produção estará

sempre à esquerda ou, no limite, coincidirá com o ponto de máxima produção física.

Voltando à Tabela 1.3 tem-se que o limite entre os dois primeiros estágios

encontra-se entre 5,000 e 5,500 kg de ração. O limite entre o segundo e o terceiro

estágios está entre 7,000 e 7,500 kg de ração. Os valores exatos podem ser obtidos

fazendo a primeira derivada do PFT (que é o PFMa) e a primeira derivada do PFMe

iguais a zero. Assim, o limite entre o primeiro e o segundo estágio será, exatamente:

PFMeX1 = (0,172 X12 – 0,016 X1

3)/X1 = 0,172 X1 – 0,016 X12

d PFMeX1/d X1 = 0,172 – 0,032 X1 = 0

Logo, X1 = 5,375 (ponto de consumo de X1 que proporciona o PFMe máximo)

Fazendo PFMaX1 = 0 tem-se o limite entre o 2º e o 3º estágios:

PFMaX1 = 0,344X1 – 0,048X12 = 0

Ou seja:

X1 (0,344 – 0,048 X1) = 0

X1 = 7,166 (ponto de consumo de X1 que proporciona o PFT máximo, ou

PFMa nulo).

1.4. Nível ótimo de uso do insumo

A premissa básica que norteia o comportamento do empresário é o de que ele

busca a maximização dos lucros da empresa (π), ou da sua receita líquida. Na

determinação do nível de insumo variável que maximiza o lucro, o uso da análise

62

marginal é o mais apropriado. Essa análise é utilizada para comparar o custo do insumo

variável com a receita do produto.

Um insumo variável deve ser adicionado ao processo produtivo até o ponto onde

a mudança na renda, devido ao uso da última unidade de insumo, for maior ou igual à

mudança no custo resultante da última unidade empregada desse fator. Se a última

unidade do insumo variável empregada aumentar mais a receita do que o custo, mais

desse fator deve ser utilizado. Contudo, se a última unidade de insumo aumentar mais

os custos do que a receita, menor quantidade desse fator deve ser empregada.

Em síntese, um fator variável deve ser empregado até o ponto onde o valor

adicional do produto for maior ou igual ao total adicional do custo do insumo, isso é, o

ponto onde o PFMa do insumo, multiplicado pelo preço do produto for maior ou igual

ao preço do insumo: PFMaX1 . PY ≥ PX1. De outra forma, desde que o valor do produto

marginal (VPFMa = PFMaX1 . PY) do insumo for maior ou igual ao preço do insumo:

VPFMa ≥ PX1.

A derivação matemática dessa regra de ‘tomada de decisão’ é apresentada a

seguir:

Max π = RT – CT (4)

O lucro é dado pela diferença entre a receita total (RT) e o custo total (CT). Na

determinação do lucro é necessário, portanto, conhecer a receita e os custos. Os preços

dos insumos de produção e a tecnologia constituem-se os determinantes basicos do

custo. Uma vez estabelecida a tecnologia, o total de cada insumo necessário para

produzir qualquer nível de produto pode ser determinado.

O custo total é dado pela soma dos insumos variável e fixo:

CT = X1. PX1 + K (5)

Em que X1 é a quantidade de insumo variável utilizada e PX1 é o seu preço; e

onde K é o custo dos insumos fixos.

A receita total é obtida pelo produto da quantidade total vendida e preço de

venda.

63

RT = Y.PY (6)

Em que Y é a quantidade total do produto produzido e PY é o preço de venda do

mesmo.

Assim, para maximizar o lucro tem-se que diferenciar a função π com relação ao

insumo variável X1, assumindo-se que os preços do produto e do insumo sejam

constantes.

π = RT – CT

π = Y. PY – X1.PX1 – K

ϕπ/ϕX1 = (ϕPY/ϕX1). Y + (ϕY/ϕX1). PY – (ϕPX1/ϕX1).X1 - (ϕX1/ϕX1).PX1 -

ϕK/ϕX1 = 0

ϕπ/ϕX1 = 0 + (ϕY/ϕX1). PY + 0 - (ϕX1/ϕX1).PX1 + 0 = 0

ϕϕϕϕππππ/ϕϕϕϕX1 = (ϕϕϕϕY/ϕϕϕϕX1). PY - (ϕϕϕϕX1/ϕϕϕϕX1).PX1 = 0

Logo, tem-se:

(ϕY/ϕX1). PY - PX1 = 0

VPFMaX1 – PX1 = 0

VPFMaX1 = Px1

Se voltarmos à análise dos dados presentes na tabela 1.3, é possível determinar o

peso ótimo de abate do frango. Para tanto, é preciso introduzir o preço do frango (kg) e

o preço da ração (kg). Supondo, por exemplo que o kg de ração custe R$ 0,30 e o kg do

frango custe R$ 0, 60 o peso ótimo de abate do frango seria de 2,3845 kg e a quantidade

ótima de utilização do insumo seria de 5,140 kg de ração. Esses dados são obtidos da

seguinte forma:

Definindo a quantidade ótima de insumo

PY.PFMaX1 = PX1

0,60 . PFMaX1 = 0,30

0,60. (0,344 X1 – 0,048 X12) = 0,30

64

0,2064 X1 – 0,0288 X12 – 0,30 = 0

∆ = (0,2064)2 – 4(-0,0288. –0,30)

∆ = 0,04260096 – 0,03456 = 0,00804096

Logo:

X1 = [-(0,2064) ± (0,00804096)1/2]/ 2 (-0,0288)

X1 = -0,2064 ± 0,089667/ -0,0576

X1 = 5,140 Kg de ração

Definindo o peso ótimo do frango

Y = 0,172 X12 – 0,016 X1

3

Y = 0,172 (26,4196) – 0,016 ( 135, 796)

Y = 4,557312 – 2,17274

Y = 2,385 Kg de frango

Utilizando as equações de PFT e PFMa anteriormente definidas é possível ainda,

definir o nível de ração que maximiza a produção (e não o lucro). Para tanto, como já

dito, basta igualarmos a equação do PFMa a zero. Assim, tem-se:

PFMaX1 = 0,344X1 – 0,048X12 = 0

Ou seja:

X1 (0,344 – 0,048 X1) = 0

X1 = 7,166 Kg de ração(ponto de consumo de X1 que proporciona o PFT máximo,

ou

PFMa nulo).

O Gráfico 1.3 ilustra a evolução do ganho de peso do frango frente às diversas

quantidades utilizadas de ração. Ilustra, ainda, o comportamento dos produtos físicos

médio e marginal. Os dados são originados da Tabela 1.3.

Gráfico 1.3

65

2. A ABORDADEM FATOR-FATOR

A abordagem fator-fator constitui uma alternativa à fator-produto. Possui, em seu

contexto, algumas similaridades com a abordagem das curvas de indiferença estudadas

na Teoria do Consumidor. Aqui, entretanto, são considerados dois insumos X1 e X2,

dentre os quais o produtor opta por diferentes tipos de combinações a fim de produzir

um determinado nível de produto. Lembremos que na Teoria do Consumidor, o agente

escolhia entre diferentes combinações de produtos que lhe proporcionava um mesmo

nível de satisfação.

Também de forma similar à abordagem das curvas de indiferença, temos que,

enquanto o indivíduo maximizava sua satisfação optando por diferentes cestas de bens

sujeitas a um determinado orçamento, o produtor opta por combinar insumo

considerando a disponibilidade de recursos e o custos dos fatores.

Enquanto na Teoria do Consumidor a curva de indiferença representava o ‘locus’

dos pontos representantes das diferentes combinações de bens que proporcionavam a

mesma utilidade, na Teoria da Firma, a curva que mostra os diferentes pontos de

combinação de insumos que geram um mesmo nível de produção é denominada

isocusto. Por sua vez, a linha que limita os gastos possíveis, denominada de reta

Evolução dos Produto Físico Total (Y), Produto Físico Médio(PFMe) e Marginal(PFMa)

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5

Quantidade de insumo utilizada

Y PFMeX1 PFMaX1

66

orçamentaria na T.C., é aqui denominada de linha de isocusto. O produtor, segundo essa

abordagem, maximiza o seu lucro no ponto onde a tangente da mais alta isoquanta se

sobrepõe à linha de isocusto. Em outras palavras, quanto as duas curvas são tangentes.

Graficamente, tem-se:

Gráfico 2.1. Maximização do lucro do produtor segundo a abordagem do modelo fator-

fator

X2

Isoquanta

Isocusto

X1

3. CUSTOS

Existem vários e diferentes tipos de custos, e vários significados são atribuídos à

expressão custo de produção. Portanto, simplesmente o termo ‘custo’ tem pouco

significado para os propósitos aqui desenvolvidos.

O termo custo significa, para os fins da análise econômica, a compensação que os

donos que os detentores dos fatores de produção, utilizados por uma firma para produzir

determinado bem, devem receber para que eles continuem fornecendo esses fatores à

empresa. O termo compensação é aqui utilizado – e não pagamento – porque existem

casos onde tal ‘remuneração’ não acontece de modo formal. Segundo HOFFMANN et

al (1987) existe ainda a possibilidade de alguns donos dos fatores de produção

fornecerem seu fatores ainda que pouco ou nada ganhem com isso. Segundo esses

autores “os proprietários de um negócio que não esteja fornecendo um rendimento

normal sobre o investimento continuarão, muitas vezes, a operá-los por vários anos,

porque eles não podem, rapidamente, retirar o seu capital investido em bens de

67

produção especializados, com duração de vários anos. Contudo, uma vez desagastados

os bens de capital, o capital-dinheiro não será reinvestido nesse negócio”.

3.1. Curto prazo e longo prazo

O curto e o longo prazos são conceitos temporais (envolvem tempo), mas eles não

são definidos como períodos fixos no calendário Sendo assim, pode-se entender o curto

prazo como sendo aquele período de tempo no qual pelo menos um insumo é fixo,

enquanto que no longo prazo, todos os fatores utilizados são variáveis. Em

consequência, no curto prazo existem custos variáveis e custos fixos (já que existem

fatores fixos e variáveis), porém, no longo prazo, existem apenas custos variáveis, ou

seja apenas custos que dependem do volume de produção.

Custos fixos são os custos dos fatores fixos da empresa , portanto, no curto prazo,

independem do nível de produção. Os custos variáveis, ao contrário, dependem da

quantidade empregada dos fatores variáveis e, portanto, varia de acordo com o volume

da produção. Os custos totais da empresa são representados pela soma dos custos fixos

com os custos variáveis.

Como exemplo, imaginemos uma empresa têxtil que produz camisas. Os custos

fixos são os custos do edifício, da maquinaria e da iluminação; eles independem do

volume de camisas produzido e somente podem ser evitados se a fábrica deixa de

funcionar. Ainda assim, muitas vezes o proprietário continua tendo custos com a

manutenção das máquinas (ou com sua depreciação) e com as demais instalações. Os

custos variáveis dessa empresa podem ser representados, basicamente, pelo trabalho –

número de empregados – e matéria-prima envolvidos na produção, e irão variar de

acordo com o volume produzido, aumentando com um acréscimo na produção e

reduzindo, caso a produção seja diminuída.

3.2. Tipos de custos

3.2.1. Custos explícitos, contábeis ou diretos

Para um economista, o conceito relevante de mercado pode ser captado pelas

alternativas de mercado. Muitos fatores de produção são comprados no mercado e

68

utilizados imediatamente na produção da empresa. Uma vez que estes insumos são

oferecidos para venda em um mercado aberto, o custo alternativo (custo de

oportunidade), para qualquer uso específico será igual ao seu preço de mercado. Por

exemplo, suponha que uma empresa rural compre milho, soja, vitaminas, minerais e

outros insumos para a alimentação do seu rebanho. Esses insumos, comprados em um

mercado aberto, têm preços específicos. Esses preços, multiplicados pela quantidade,

podem então ser utilizados no cômputo do custo de produção daquela atividade

específica. Esses custos dos insumos que são diretamente determinados pelo produto

final, são denominados custos explícitos.

3.2.2. Custos implícitos, indiretos ou econômicos

Os custos implícitos constam dos custos dos fatores que a empresa já possui,

quase sempre não registrados pela contabilidade, por não constituírem despesas pagas,

em dinheiro, durante o processo produtivo (por exemplo, aluguel não recebido por uma

propriedade possuída e utilizada pela firma). Nessa abordagem dos custos, os fatores

pertencentes à empresa e utilizados no processo produtivo têm custo associado, medido

pelo seu preço em uso alternativo, ou seja, preço relativo ao que o empresário está

deixando de receber ao alocar os recursos produtivos em sua empresa. Vale salientar a

necessidade de se verificar a existência de oportunidade relacionada aos recursos, pois,

nem sempre os recursos próprios devem ter custos implícitos.

3.2.3. Custos fixos

Os custos fixos são aqueles que permanecem inalteráveis durante um período de

tempo (curto prazo) e independentes do nível de produção. Esses custos ocorrem,

mesmo que o recurso não seja utilizado. No longo prazo, como todos os insumos podem

Ter suas quantidades variadas, os custos fixos são inexistentes.

Outra característica dos custos fixos é que eles não estão sob o controle do

administrador no curto prazo; eles existem no mesmo nível, independente de quanto do

recurso é utilizado. Outra maneira de conceituar os custos fixos, e que facilita o seu

entendimento é apresentado por REIS e GUIMARÃES (1986), que os consideram como

sendo aqueles correspondentes aos recursos que:

69

a) têm duração superior ao curto prazo, portanto sua renovação só acontece no

longo prazo;

b) não se incorporam totalmente no produto no curto prazo, fazendo-o em

tantos ciclos quanto permitir a sua vida útil;

c) não são facilmente alteráveis no curto prazo, e o seu conjunto determina a

capacidade de produção da atividade, ou seja, sua escala de produção;

O custo fico total (CFT) é simplesmente a soma dos vários tipos de custos fixos

e inclui, usualmente os componentes: depreciação, seguros, impostos e juros.

O custo fixo médio (CFMe) , que expressa o custo fixo por unidade de produto

(Y) é determinado pela equação:

CFMe = CFT / Y

Em que o produto é medido em unidades físicas. Uma vez que, por definição, o

custo fixo total é um valor fixo ou constante, independente do nível de produção, o

CFMe irá decrescer continuamente, com o aumento da produção. A tabela 3.1 apresenta

os custos fixos e os custos fixos médios de uma firma hipotética.

3.2.4. Custos Variáveis

Os custos variáveis são aqueles sobre os quais o administrador exerce controle

no curto prazo. Eles podem ser aumentados ou diminuídos pala ação direta do

administrador e irão variar no mesmo sentido das mudanças na produção. Itens como

semente, fertilizantes, produtos químicos, gastos com sanidade de rebanho, com

serviços de máquinas e com mão-de-obra, em geral, são exemplos de custos variáveis.

Se nenhum produto for produzido, o custo variável pode ser evitado.

De acordo com REIS e GUIMARÃES (1986), os custos variáveis são os custos

com recursos que apresentam as seguintes características:

a) têm duração inferior ou igual ao curto prazo, sendo, portanto, sua

recomposição feita a cada ciclo do processo produtivo;

b) incorporam-se totalmente ao produto no curto prazo, não sendo aproveitados

(pelo menos não claramente) para outro ciclo;

c) são alteráveis no curto prazo e estas provocam variações na quantidade e na

qualidade do produto dentro do ciclo. Essas variações se verificam em certos

níveis permitidos pelo conjunto dos recursos fixos e pelas técnicas de

produção.

70

O custo variável total (CVT) pode ser encontrado pela soma de cada custo

variável individual, que é igual à quantidade do recurso comprada, multiplicada pelo

preço. O custos variável médio (CVMe) é o custo variável total dividido pelo produto, e

é calculado pela equação:

CVMe = CVT / Y

O custos variável existe tanto no curto, quanto no longo prazo, sendo que, neste

último, todos os recursos são considerados variáveis. Assim, a distinção entre custos

fixos e variáveis também depende do exato ponto no tempo, no qual a próxima decisão

será tomada. Gastos com fertilizantes são, geralmente, considerados custos variáveis.

No entanto, uma vez que ele tenha sido comprado e aplicado, o administrador não tem

mais controle sobre esse gasto. Esse custo deve ser, então, considerado como fixo para o

restante do ciclo de produção desse produto e futuras decisões devem considerar esse

fato. O custo com trabalho e o custo de arrendamento da terra são exemplos similares.

Após a contratação da mão de obra e o contrato de arrendamento Ter sido assinado o

administrador não pode alterar o valor e seus custos devem ser considerados como fixos

durante o contrato. Os custos variáveis totais e os variáveis médios hipotéticos para um

empresa fictícia, são apresentados na tabela 3.1.

3.2.5. Custo total

O custo total é a soma do custo fixo total e do custo variável total (CT = CVT +

CFT). No curto prazo, ele irá aumentar somente com o aumento do CVT, uma vez que o

CFT é um valor constante. O custo total médio (CTMe) para um determinado nível de

produto é igual à soma do CVMe e CFMe ou, ainda, igual a:

CTMe = CT / Y

O custo total médio é tipicamente decrescente, em baixos níveis de produção,

uma vez que o CFMe decresce rapidamente, e o CVMe pode também ser decrescente. A

elevados níveis de produção, o CFMe irá decrescer menos rapidamente e o CVMe irá

aumentar e será maior mais rapidamente do que a taxa de decréscimo do CFMe. Essa

combinação faz com que o CTMe aumente. A tabela 3.1 apresenta os custos totais e os

totais médios hipotéticos.

71

3.2.6. Custo marginal

O custo marginal (CMa) é definido como a variação no custo total dividido pela

variação do produto:

CMa = ∆ CT / ∆ Y, ou ainda como CFT não varia CMa = ∆ CVT/ ∆ Y

O custo marginal é também apresentado na tabela 3.1.

3.2.7. Custo operacional

Pode ser definido como o custo de todos os recursos de produção que exigem

desembolso por parte da empresa para sua recomposição. Esquematicamente, o custo

operacional compõe-se de todos os itens de custo considerados variáveis adicionado de

uma parcela dos custos fixos, e ainda pela parcela da mão de obra familiar que, embora

não remunerada, realiza serviços básicos imprescindíveis ao desenvolvimento da

atividade.

A finalidade do uso desse custo é mostrar, caso a empresa não tenha

remuneração igual ou superior ao custo alternativo, se e quanto ela tem de resíduo que

remunera em parte o capita;, o tempo, a administração e recursos auto-renováveis.

Tabela 3.1. CFT, CVT, CT, CMa, CTMe, CVMe e CFMe para uma empresa hipotética.

Produto (Y)

CFT CVT CT Cma CTMe CVMe CFMe

(a) (b) ( c) (d) (e) (f) (g) (h) $ $ $ $ (d/a) (c/a) (b/a) 0 10,00 0,00 10,00 1 10,00 4,00 14,00 4,00 14,00 4,00 10,00 2 10,00 7,50 17,50 3,50 8,75 3,75 5,00 3 10,00 10,75 20,75 3,25 6,92 3,58 3,33 4 10,00 13,80 23,80 3,05 5,95 3,45 2,50 5 10,00 16,70 26,70 2,90 5,34 3,34 2,00 6 10,00 19,50 29,50 2,80 4,92 3,25 1,67 7 10,00 22,25 32,25 2,75 4,61 3,18 1,43 8 10,00 25,10 35,10 2,85 4,39 3,14 1,25 9 10,00 28,30 38,30 3,20 4,26 3,14 1,11 10 10,00 32,30 42,30 4,00 4,23 3,23 1,00 11 10,00 38,30 48,30 6,00 4,39 3,48 0,91 12 10,00 47,30 57,30 9,00 4,78 3,94 0,83 13 10,00 60,30 70,30 13,00 5,41 4,64 0,77 14 10,00 78,30 88,30 18,00 6,31 5,59 0,71 15 10,00 102,30 112,30 24,00 7,49 6,82 0,67

72

3.3. Forma das curvas de custo

O Gráfico 3.1 mostra a forma das curvas de custo total convencionais (CT, CVT e CF).

$ CT

CVT

CFT

Quant. ofertada

A curva de custo fixo total é paralela ao eixo das quantidades, uma vez que

independe do nível de produção. Situa-se acima do eixo das quantidades por sua

distância equivalente aos custos fixos. Por sua vez, o custo variável total, que depende

do nível da produção, cresce à medida em que maior quantidade de produto é produzida,

isto é, maior quantidade de insumo variável está sendo utilizada. Inicialmente, a curva

de custo variável total cresce a uma taxa decrescente e depois a uma taxa crescente.

Enfim, a curva de custo total é paralela à curva de custo variável total, e são separadas

por uma distância equivalente ao custo fixo total.

O Gráfico 3.2 abaixo apresenta as curvas de custo fixo médio, custo variável

médio, custo total médio e custo marginal.

CMe

$ CMa

CVMe

CFMe

Gráfico 3.2. Curvas de custos médios e custo marginal

73

A curva de custo fixo médio inclina-se para baixo e para a direita em toda a sua

extensão não interceptando o eixo horizontal ou o vertical. É uma hipérbole retangular.

A curva de custo variável médio, geralmente tem a forma de “U”. Inicialmente,

apresenta uma inclinação descendente e depois passa a Ter uma inclinação ascendente.

O mesmo formato é observado nas curvas de custo total médio e, vale ressaltar, tal

forma depende da eficiência com que ambos os recursos, fixos e variáveis, são

utilizados.

Geralmente, a curva de custo marginal também apresenta uma forma “U”,

consequência do formato da curva de custo total.

As formas das curvas de custo marginal e custo variável médio estão

estritamente relacionadas com a função de produção. A inter-relação das curvas de

custo marginal e produto físico marginal, custo variável médio e produto físico médio é

mostrada no Gráfico 3.3., abaixo relacionado.

PFMe

PFMa

PFMe

PFMa X1

CMa

CVMe CMa

CVMe

Y

Gráfico 3.3. Relação entre as curvas PFMe e CVMe, e PFMa e Cma.

74

Matematicamente, as relações entre as curvas explicitadas no Gráfico acina são:

CVMeX1 = CVT/Y = X1. PX1/Y = 1/ PFMeX1 . PX1

CmaX1 = ∆CT/∆Y = ∆X1/∆Y. PX1 = 1/PmaX1. Px1

Deve-se notar que o produto físico médio se eleva a um máximo e depois

diminui, e que o custo variável médio reduz a um mínimo e depois se eleva; o produto

marginal eleva-se para um máximo, e continua a decrescer, enquanto o custo marginal

baixa, atinge um mínimo, depois sobe, interceptando o custo variável médio em seu

ponto de mínimo, continuando a crescer depois.

3.4. Equilíbrio da firma em um mercado de competição perfeita

Em competição perfeita, a firma estará em equilíbrio quando o custo marginal do

insumo utilizado na produção igualar-se à receita marginal auferida com a venda da

mercadoria, que deve ser igual ao preço de mercado do bem. Assim:

Cma = Rma = Py

3.5. Lucro normal e supernormal

O gráfico abaixo ilustra situações de lucro normal, supernormal, prejuízo e ponto de

fechamento da firma no curto prazo.

$

CMa CVMe

Y

Gráfico 3.4. Lucro e prejuízo da firma no curto prazo

Lucro supernormal

Lucro normal

Ponto de Fechamento

Prejuízo – a firma não atua

CMe

75

Analisando individualmente cada um dos casos, tem-se:

$

CMa CVMe

Em que

AOEC = Receita total

BOED = Custo total

AOEC – BOED = ABDC = Lucro positivo

$

CMa CVMe

Em que

ABCO = Receita total

ABCO = Custo total

ABCO – ABCO = ABCO = Lucro nulo ou normal (A firma oferta)

CMe

A

O

B

C

CMe

A

B

O

C

D

E

76

$

CMa CVMe

Em que

DOEC = Receita total

AOEB = Custo total

DOEC – AOEB = ABCD = Prejuízo (Cobre CVMe e parte do CFMe)

A firma ainda produz

$

CMa CVMe

Em que

DOEC = Receita total

AOEB = Custo total

DOEC – AOEB = ABCD = Prejuízo (Cobre apenas CFMe)

A firma ainda produz, mas deixará de fazê-lo a partir deste ponto, uma vez que será

incapaz de cobrir até mesmo os custos fixos médios. Esse é o ponto de fechamento da

firma.

CMe

A

O

B

C

Prejuízo D

E

CMe

A

O

B

Prejuízo

D

E

77

3.6. O nível ótimo de produção da firma

Segundo LEFTWITCH (1991:192)

“ O nível de produção em que o custo médio a curto prazo é o mínimo é aquele em

que o tamanho da firma é o mais eficiente. Aqui, o valor dos investimentos nos

recursos, por unidade de produto, é mínimo. Esta quantidade de produto é

chamado nível ótimo de produção. O termo ótimo significa “mais eficiente”.

Qualquer que seja o tamanho da empresa, a produção de custo médio mínimo é o

nível ótimo de produção para aquele tamanho de firma.

Vale salientar que o nível ótimo para dado tamanho de firma não é,

necessariamente, aquele em que a firma obtém o maior lucro. A existência de lucro

e a sua magnitude depende tanto da receita quanto do custo.

3.6. Curvas de custo no longo prazo (LP)

No longo prazo, em virtude da inexistência de custos fixos, todos os ajustamento de

escala (tamanho) são passíveis de serem realizados. A análise é feita considerando o LP

como uma sucessão de situações de curto prazo.

Gráfico 3.5. Curvas de custo médio de longo prazo.

Como pode-se imaginar, os possíveis tamanhos de firma são infinitos. Para cada

tamanho imaginado haverá um imediatamente um pouco maior ou um pouco menor.

Como a curva de custo médio no LP é formada por pequenos segmentos de cusrvas de

$/unid.x

CmeL1

CmeL2

CmeL3

Y

X

Y3

X

Y1 Y’

78

custo médio no CP, a CmeL pode ser construída como sendo a linha tangente a todas as

possíveis curvas de CmeCP, que representam os possíveis tamanhos da firma.

Matematicamente, é chamada de “curva envelope” das curvas de CP.

$/Y

Economias de escala Y* Deseconomias de escala Y/ut

Gráfico 3.6. Representação da curva envelope, economias e deseconomias de escala

Economias e deseconomias de escala de escala

Normalmente, a curva de custo médio de longo prazo tem forma de “U”. Isso

ocorre, segundo LEFTWITCH (1991), se a firma tornar-se sucessivamente mais

eficiente até um determinado ponto (um tamanho limite) e, a partir de então, tornar-se

sucessivamente menos efidiente.

Eficiência crescente associada a tamanhos cada vez maiores de planta reflete-se

por curvas de custo médio de curto prazo situadas sucessivamente em níveis mais

baixos e mais à direita. A eficiência decrescente é demonstrada pelo movimento

inverso, resultando em uma curva CmeLP também em formato de “U”.

“As forças que levam a curva CMeLP a decrescer em maiores níveis de

produção e dimensões da empresa são chamadas “economias de escala”. Duas

importantes economias, nesse sentido são:

a) Crescente possibilidade de divisão e especialização da produção;

b) Crescentes possibilidades de uso e desenvolvimento tecnológico avançado e,

ou, equipamento maiores.

[...] Mesmo considerando tais questões, existem limitações à eficiência em

administrar e controlar (coordenar) uma só firma com grandes proporções. Estas

limitações são denominadas “deseconomias de escala” LEFTWITCH (1991:195,196)

CMeLP

79

Tamanho ótimo da firma

O tamanho ótimo da firma refere-se à planta mais eficiente de todas as que a

firma pode estabelecer. Em outras palavras, o tamanho ótimo da firma é aquele que faz

com que a curva de custo médio de curto prazo atinja o ponto mínimo no mesmo nível

de produ’~ao que o custo médio de longo prazo.

$/Y

Y* Y/ut

Gráfico 3.7. Tamanho ótimo da firma.

CMeLP

80

Exercícios:

1. Introdução à economia

1. Comente: O problema econômico básico é o da escassez.

2. Diferencie, em rápidas palavras, a Macroeconomia da Microeconomia.

3. Como podem ser classificados os bens econômicos (cite exemplos).

4. Como podem ser classificados os fatores de produção (cite exemplos)

5. O que se pode entender por ‘custo de oportunidade’?

6. Quais são as funções básicas de um sistema econômico (discorra, e não apenas cite).

7. Comente: O mercado pode ser entendido como uma instituição social na qual bens, serviços e fatores produtivos são trocados livremente.

8. Interprete o fluxo circular de bens e serviços e dos fatores produtivos, e dos pagamentos monetários - Complete o diagrama e comente.

9. Quais as vantagens da elaboração de uma teoria que não reflete com precisão a realidade?

10. Quais os principais pressupostos da Teoria da Concorrência Pura?

2. Teoria dos Preços

2.1. A Demanda

1. Comente: A demanda é um conceito de máximo.

2. Quais os principais fatores que podem influenciar a demanda?

3. As duas maneiras mais conhecidas de se mostrar que a curva de demanda apresenta a relação inversa entre preço e quantidade são: através a abordagem da utilidade e pelo emprego das curvas de indiferença. Comente.

4. Mostre, graficamente e textualmente, a lei dos rendimentos marginais decrescentes.

81

5. Conceitue elasticidade-preço, elasticidade-preço-cruzada e elasticidade-renda da demanda. 6. Construa a curva de demanda por carne bovina, dado o consumo mensal de uma dona de casa representada na tabela a seguir:

Preço (R$/kg)

Quantidade (kg)

3 24 4 20 5 16 6 12 7 8

a) Caso o preço aumentasse de R$ 3,00 para R$ 6,00, a dona de casa iria alterar suas compras em quantos quilos de carne bovina? b) A visita de amigos que gostam de carne bovina fez com que a dona de casa passasse a comprar uma quantidade maior de carne, aos mesmos preços vigentes. Houve um movimento ao longo da curva ou um deslocamento da curva de demanda? Mostre este movimento graficamente. c) Calcule a elasticidade-preço (arco) da demanda entre os pontos A e B, isto é, quando o preço cai de R$ 6,00 para R$ 3,00. Classifique e interprete esse coeficiente. 7. Considere a seguinte equação de demanda do bem x. X = 300 - 0,2Px - 0,5Py + 0,8R Em que X = quantidade demandada do bem x por unidade de tempo; Px = preço do bem x; Py = preço do bem y; R = renda dos consumidores. a) Considerando Py = 500; R = 1000 e Px = 750, determine o coeficiente de elasticidade-preço da demanda, interprete e classifique-o. b) Com os mesmos dados da letra “a” determine o coeficiente de elasticidade-renda da demanda, interprete e classifique-o. c) Considere o coeficiente da elasticidade-preço da demanda encontrado em “a”. Se os vendedores desejarem aumentar suas receitas neste mercado, que política de preços deveriam adotar, isto é, aumentar ou reduzir o preço de Px? d) Com os mesmos dados da letra “a” determine a elasticidade-preço cruzada da demanda, interprete e classifique-a .

82

8. Seja a seguinte equação de demanda para o bem X: X = 130 – 2Px Em que Px = preço do bem X; X = quantidade demandada do bem X. a) Calcule as elasticidades-preço da demanda pelo bem X considerando os seguintes

níveis de preço: Px = R$15,00, Px= R$ 50,00 e Px=R$60,00. Como você pode interpretar os diferentes coeficientes calculados?

b) Por que a elasticidade-preço se altera ao longo da curva de demanda pelo bem X? 9. Seja a seguinte equação de demanda para o bem X: QX = 10 – 5Px Em que Px = preço do bem X; QX = quantidade demandada do bem X. a) Calcule as elasticidades-preço da demanda pelo bem X considerando os seguintes

níveis de preço: Px = R$1,50 e Px= R$0,50. Como você pode interpretar os diferentes coeficientes calculados?

b) Quais preço e quantidade do bem X tornariam unitária a elasticidade por este bem? c) Com base na teoria, explique o que aconteceria com a elasticidade preço da

demanda por este bem se o preço sofresse um acréscimo de 58%. 10. A atual carência de carne bovina no Rio de Janeiro está resultando em aumento da demanda. O aumento da demanda causará aumento da oferta. O aumento da oferta reduzirá os preços. Dada essas informações, você confirma a redução no preço da carne bovina? Avalie, cuidadosamente, o texto acima e faça o seu comentário. 11. Os valores da tabela abaixo referem-se à variação no consumo de manteiga e margarina de um consumidor quando o preço de manteiga sobe, Ceteris Paribus. Antes Depois Preço Quantidade Preço Quantidade R$/kg kg/mês R$/kg kg/mês Manteiga 2,5 2 2,8 1 Margarina 2,0 2 2,0 3

83

a) Desenhe uma figura mostrando essas mudanças. b) Explicar a figura desenhada. 12. Uma mercearia vendia café a R$1,98/kg. Precisando aumentar a receita e reduzir estoques, resolveu fazer uma promoção e vender café 10% abaixo do preço normal. Ao preço de R$1,98, vendia 50kg/semana. Com a promoção passou a vender 54kg/semana. Com base nessas considerações, responda: a) Qual é o coeficiente da elasticidade-preço da demanda de café nessa faixa de preços

(arco)? Classifique-o e interprete-o . b) Com essa promoção, a mercearia conseguiu o aumento desejado da receita? Sim?

Não? De quanto? Explique o resultado? c) Se, ao invés de reduzir o preço, a mercearia tivesse aumentado o mesmo, qual seria

o impacto sobre a receita. Comente.

2.2. Oferta 1. Conceitue o termo “oferta” explicitando o fato de ser este um conceito de mínimo. 2. Seja a seguinte equação de oferta para o bem X: X = 200 + 3Px + 0,4 T – 0,2 I Em que Px = preço do bem X; T = tecnologia; I = impostos que incidem sobre a produção de X; X = quantidade ofertada de X. a) Considere, inicialmente, Px = R$300,00, T = 20 e I = 40. Com estes dados,

determine a elasticidade-preço da oferta, interprete e classifique-a . b) Considere, agora, que a alíquota da tributação que incide sobre a produção aumente

de 0,2 para 0,5. Nesta condição, qual a nova elasticidade preço da oferta? c) Mantidos os dados da letra “a”, como seria afetada a elasticidade-preço da oferta

caso o preço do bem X caísse em 20%? d) A curva de oferta descrita na letra “a” corta o eixo horizontal ou o eixo vertical? Por

que? Esboce graficamente. e) Existe algum nível de preço que poderia alterar a classificação da elasticidade-preço da oferta calculada nas letras anteriores. Responda com base na teoria microeconômica.

84

3.Considere a seguinte equação de oferta simplificada do bem X Qx = 10 + 30 Px Em que Qx é a quantidade ofertada do bem X Px é o preço do bem X a) Essa equação representa uma curva de oferta elástica, unitária ou inelástica?

Justifique a sua resposta. b) Desenhe o gráfico representativo dessa equação, para o intervalo de preços

[$0,00;$5,00]. c) Calcule a elasticidade-preço da oferta no ponto onde Px = $4,00 (classifique-a e

interprete-a). d) Se o coeficiente de inclinação aumentar de 30 para 50, espera-se que a elasticidade-

preço da oferta aumente ou diminua? Justifique a sua resposta com base nos

argumentos da teoria econômica.

e) Que fatores poderiam aumentar a quantidade ofertada, ainda que o preço do produto permanecesse constante? Esboce no gráfico acima, esse deslocamento.

2.3. Equilíbrio de mercado 17. Considere as seguintes equações de oferta e demanda para o bem X:

QDx = 130 – 2Px

QSx = 100 + Px

Em que QD

x = Quantidade demandada do bem X; QS

x = Quantidade ofertada do bem X;

85

Px = Preço do bem X. a) Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio para o bem X e esboce graficamente.

Calcule, ainda a elasticidade-preço da demanda e interprete-a. b) Suponha um incremento na demanda de X, onde a quantidade demandada passa

para QDx = 160 – 2Px. Considerando a mesma equação de oferta inicial, qual o novo

preço e quantidade de equilíbrio? Mostre graficamente o deslocamento. Calcule a nova elasticidade-preço da demanda e interprete-a .

c) Suponha uma retração na demanda de X, onde a quantidade demandada passa para

QDx = 109 – 2Px. Considerando a mesma equação de oferta inicial, qual o novo

preço e quantidade de equilíbrio. Mostre graficamente o deslocamento. Calcule a nova elasticidade-preço da demanda.

d) Considere, agora, uma retração na oferta de X, onde a quantidade ofertada passa

para Qsx = 40 + Px. Considerando a mesma equação de demanda inicial, qual o novo

preço e quantidade de equilíbrio? Mostre graficamente o deslocamento. Calcule a nova elasticidade-preço da oferta e interprete-a .

e) Considere, uma expansão na oferta de X, onde a quantidade ofertada passa para

Qsx = 112 + Px. Considerando a mesma equação de demanda inicial, qual o novo

preço e quantidade de equilíbrio? Mostre graficamente o deslocamento. Calcule a nova elasticidade-preço da oferta e interprete-a .

f) Suponha que simultaneamente se alterem a oferta e a demanda de X, onde a equação

de oferta passa a ser Qsx = 112 + Px e a equação de demanda QD

x = 160 – 2Px. Neste caso, qual o novo preço e quantidade de equilíbrio? Mostre graficamente o duplo deslocamento.

g) Considere novamente um deslocamento simultâneo da oferta e da demanda de X,

onde a equação de oferta passa a ser Qsx = 40 + Px e a equação de demanda QD

x = 160 – 2Px. Neste caso, qual o novo preço e quantidade de equilíbrio? Mostre graficamente o duplo deslocamento.

3. Teoria da firma

1.1. Teoria da Produção 1. O quadro abaixo apresenta uma função de produção de trigo, utilizando diferentes níveis de uso de mão-de-obra.

Mão-de-Obra PFT PFMe PFMa (dh) (kg) (kg) (kg)

0 0 1 50 2 150

86

3 300 4 400 5 475 6 540 7 560 8 560 9 540 10 500

a) Que nível de mão-de-obra limitaria o 1.o e 2.o estágios de produção e o 2.o e 3.o

estágios de produção? Esboce graficamente a delimitação dos estágios. Como você justificaria sua resposta?

b) O produtor racional jamais operaria no primeiro estágio de produção. Você aceita

ou rejeita esta afirmação? Comente.

c) Qual o intervalo em que este produtor poderia usar do recurso variável e estar agindo racionalmente.

2. Seja a função de produção Y = 12 X2 - X3 , em que Y é a produção de trigo em kg/ha, e X, a quantidade do fator m.d.o utilizado no processo produtivo. Pede-se: a) Determinar as expressões algébricas das funções de produto físico médio e do

produto físico marginal. b) Determinar o ponto de máxima produção física. c) Delimitar os diferentes estágios da função de produção.

d) Determinar a quantidade de m.d.o que maximiza a receita líquida,

sabendo que o preço do fator é R$ 42,00, e do produto, R$ 2,00.

3. Considere a seguinte função de produção: Q = 30 X2 – X3 Em que: Q = quantidade produzida

X = fator de produção variável Pede-se: a) A quantidade empregada do fator variável que maximiza a produção. b) A produção máxima. c) A equação do produto físico médio.

87

d) A equação do produto marginal. e) A quantidade de fator variável que permite ao produtor obter a máxima eficiência

técnica. f) Se o preço do fator é $1,00 e o preço do produto é $2,00, qual a quantidade de fator

variável que leva o agricultor a obter a máxima eficiência econômica. 4. Imagine uma empresa agrícola produtora de milho. O fator fixo é representado pela área de terra disponível associada ao equipamento existente. O fator variável é representado pela mão-de-obra utilizada, ou seja, pelo número de empregados contratados. Os dados relativos à produção são dados por:

Terra (fator fixo)

Mão-de-obra (fator variável)

Produto Total Produtividade Média

Produtividade Marginal

10 1 6 10 2 14 10 3 24 10 4 32 10 5 38 10 6 42 10 7 44 10 8 44 10 9 42

Pede-se: a) As produtividades média e marginal. b) O número de empregados no limite do estágio I para o estágio II, e do II para o III. c) O número de empregados que faz com que a empresa esteja agindo irracionalmente.

1.2. Teoria dos custos 1. Suponha que você seja administrador de uma empresa fabricante de tratores pequenos, operando em um mercado competitivo. Seu custo de produção é expresso pela equação: C= 500 + Q2 + 4Q , em que Q é o nível de produção e C é o custo total de produção. a) Esta é uma função de curto ou de longo prazo? b) Qual é o custo fixo dessa empresa? c) Quais as equações que representam os custos totais médios e variáveis médios? d) Se o preço do trator no mercado for de R$ 2004,00, quantos tratores deveriam ser

produzidos para a empresa maximizar lucros? 2. Comente: a) No longo prazo todos os custos são variáveis.

88

b) A verificação de funções com retornos crescentes, constantes ou decrescentes explicitam conceito de curto prazo.

c) Que fatores justificam a existência de economias e deseconomias de escala?

89

PARTE IV - PREÇOS AGRÍCOLAS (6,9, TEXTOS AVULSOS)

1. FORMAÇÃO E ANÁLISE DOS PREÇOS AGRÍCOLAS

1.1. Introdução

Dentre os mercados reais que se aproximam da construção teórica da Concorrência

Perfeita, o mercado agrícola destaca-se como de maior equiparação. Isso porque traz,

dentre suas características, a pulverização dos agentes partícipes, a flexibilidade, em

muitos casos, da combinação dos insumos utilizados e outras especificidades que fazem

com que a oferta e a demanda por produtos agrícolas sejam os principais fatores

determinantes dos preços nesse segmento. Os preços agrícolas regulam, dessa maneira,

os níveis de produção e de consumo.

Segundo MARQUES e AGUIAR (1993), o preço que se consegue por um produto

ao nível do consumidor, em um mercado competitivo, reflete a satisfação que este

espera conseguir através do consumo daquele produto; significando, ao mesmo tempo, o

nível de equilíbrio onde o máximo que os consumidores estão dispostos a pagar

coincide com o mínimo que os produtores concordam em receber pela produção daquela

quantidade de produto.

Contudo, atingir tal equilíbrio não é tarefa fácil, pois envolve o ‘acerto’ de interesses

diferentes acerca de uma mesma questão: ao produtor interessa maior lucro, onde o

preço tem papel fundamental; ao consumidor interessa maior satisfação, onde preço e

quantidade são quesitos determinantes.

Os preços das mercadorias podem ser formados, basicamente, de duas formas. Pela

interação das curvas de oferta e demanda , como dito acima, ou através de mecanismos

que adicionam ao custo de produção margens referentes às despesas com transporte e

armazenamento, e lucro do vendedor final. Quanto maior o controle sobre o nível dos

estoques - de insumo e de produto – maiores as chances de influência de outros fatores,

que não procura e oferta, nos preços dos bens.

90

Gráfico 1.1. Determinação dos preços pela interação das curvas de oferta e

demanda

P

Quantidade Ofertada

PE

Quantidade Demandada

QE Quantidade

No caso específico dos produtos agrícolas isso pode ser observado relativa

facilidade. Embora o mecanismo básico de determinação de preços seja o real equilíbrio

de mercado, de acordo com o produto agrícola negociado os preços tornam-se mais ou

menos voláteis frente à demanda. É por isso que, produtores que lidam com

hortifrutigranjeiros presenciam grandes flutuações nos preços de suas mercadorias, uma

vez que são muito pequenas as possibilidades de armazenamento e, não vender a

produção, significa, normalmente, um prejuízo maio do que vendê-la a um preço mais

baixo. No caso dos produtores de grãos, no entanto, é possível arcar com os custos de

armazenamento se houver a expectativa de melhora futura de preços.

Um exemplo típico dessa diferença na volatilidade dos preços agrícolas é percebido

em visitas a centrais estaduais de abastecimento – CEASAs. Nas ‘alas ’responsáveis

pela comercialização de hortiftutigranjeiros, existe uma grande movimentação, muita

negociação de preços e grande pressão da demanda por parte dos intermediários. O

impacto do aumento da oferta sobre os preços é impressionante e as cotações sofrem

constantes ajustes ao longo das horas. À medida em que nos afastamos desse setor e nos

dirigimos ao espaço reservado à negociação de raízes e tubérculo, tal ‘alvoroço’ diminui

substancialmente e, ao nos depararmos com o setor de negociação de grãos, os critérios

de negociação mostram-se já muito distintos, sendo notória a redução da volatilidade

dos preços.

91

1.2. Principais características dos preços de produtos agrícolas

Além do já exposto, pode-se salientar, ainda, algumas importantes características

dos preços agrícolas, como a sazonalidade, ciclos de preços, impactos defasados sobre a

produção e influência dos custos de transporte.

Algumas variações periódicas de preços estão associadas às estações do ano. Essas

variações, denominadas sazonais, existem por variações específicas na demanda

(aumento no consumo de peixe na semana Santa), na oferta de fatores de produção (na

época da colheita de cana-de-açúcar em uma determinada região, pode faltar mão de

obra para a horticultura, por exemplo), ou na oferta dos produtos agrícolas (em virtude

de períodos de entressafra). Graficamente pode-se representar tais deslocamentos como

segue:

Gráfico 1.2. Variações sazonais de preços

P S* P S* P S

P* S S

D*

P

D D D

Q* Q Q* Q Q Q*

(a) (b) (c)

Em que S* significa a ‘nova’ oferta, S a oferta inicial, D* a nova demanda e D a

demanda inicial.

(a) Retração da oferta e consequente aumento dos preços em período de entressafra;

(b) Retração da oferta e consequente aumento dos preços por redução da

disponibilidade de insumo (fator de produção);

(c) Expansão da demanda e consequente aumento do preço por questões culturais

periódicas.

Além das variações sazonais podem ser ainda observadas a presença das tendências

e dos ciclos de preços. As tendências são variações ao longo do tempo que refletem a

perspectiva contínua de crescimento, estabilidade ou diminuição nos dados de alguma

92

variável analisada ( normalmente preços, quantidade etc...). Os ciclos, ao contrário das

tendências, podem ser ascendentes ou descendentes apresentando, contudo, repetição

periódica de seus movimento. Um exemplo clássico é o do ciclo de preços do boi gordo,

que apresenta periodicidade de sete anos. Essas variações cíclicas são provocadas,

principalmente, pelo abate indiscriminado de matrizes no período de baixa do ciclo. Os

motivos que levam os produtores a variar o número de matrizes está principalmente

associado ao preço recebido. Na fase de preços declinantes, devido à expectativa de

uma retração ainda maior dos mesmos e às necessidade de recursos dos pecuaristas, os

produtores incrementam o abate, gerando uma superoferta de carne , forçando o seu

preço ainda mais para baixo.

As matrizes abatidas nessa primeira fase provocarão uma redução na oferta futura de

animais gordos, o que iniciará uma nova fase de crescimento dos preços.

Gráfico 1.3. Esboço gráfico de tendência, ciclo e sazonalidade.

Tendência

Ciclo

Variação sazonal

O impacto de alterações nos preços agrícolas sobre a quantidade ofertada não é,

na maioria dos casos, um imediato. Isso porque uma vez efetivado o plantio, a cultura

segue o seu curso natural (ciclo biológico) ao fim do qual dar-se-á a colheita. Caso os

preços não estejam compatíveis com as expectativas dos produtores (por uma

93

superssafra oriunda de ótimas condições climáticas, por exemplo), a não ser que ele

opte por estocar a produção – se possível – ou que ocorram interferências de compras

governamentais, uma retração na oferta só será possível no próximo período agrícola,

quando então ele fará uma redução na sua área plantada ou fará o cultivo de outro

produto.

Desconsiderada a possibilidade da estocagem ou das compras governamentais

compensatórias, o que geralmente acontece com produtos de maior perecibilidade, é

bastante freqüente que uma alta nos preços em uma safra atraia maior número de

produtores o que, no período seguinte, gera um excesso de oferta e uma queda nos

preços. Tal retração, uma vez observada pelos produtores cujo cultivo do produto em

questão não é tradicional, faz com que estes busquem novas opções, levando a um novo

ajuste positivo dos preços.

Esses pequenos ciclos, embora ocorram em curtos intervalos de tempo não são

fruto da sazonalidade, uma vez que não derivam de períodos de safra ou entressafra.

No caso de culturas destinadas à exportação existem outros fatores que

influenciam fortemente os preços e, em consequência, a quantidade ofertada. Dentre

eles pode-se citar os preços mundiais, as preferências externas, a qualidade de produtos

similares ofertados por concorrentes internacionais e mesmo as políticas comerciais

externas adotadas pelo governo.

Por fim, vale ressaltar o peso relativo dos custos com transporte e

armazenamento sobre os preços agrícolas. No que diz respeito a esses dois itens, a

primeira consideração refere-se ao grande desperdício observado em muitos casos,

decorrente de armazenamento e transporte inadequado, o que leva a grandes perdas da

produção. Além disso, estradas mal conservadas, dificuldade de escoamento da

produção e acesso a insumos, dentre outros fatores, são responsáveis por parcela

significativa do encarecimento de alguns produtos agrícolas.

No caso brasileiro, os índices de perda de alguns produtos por más condições de

transporte e acondicionamento chegam a 25% no caso do tomate, 20% na soja e mais de

40% no caso do transporte das bananas.

94

2. ÍNDICES DE PREÇOS / NÚMEROS ÍNDICES

2.1. Introdução

Em razão da necessidade de dar uma expressão quantitativa global a um

conjunto de medidas individuais, com diferentes unidades de medidas físicas, surge a

importância de se trabalhar com números-índices. Eles funcionam como instrumentos

importantes para medir e comparar mudanças na magnitude de um grupo de variáveis

associadas. Essas diferenças podem ser entre bens produzidos, comercializados ou

consumidos, e a comparação delas pode ser estabelecida entre variações ocorridas ao

longo do tempo, bem como entre diferenças entre lugares e entre categorias

semelhantes, como pessoas, produtos, organizações, etc...

Os números-índices são muito utilizados em vários campos do conhecimento

humano, e dentro da esfera econômico-administrativa, talvez o mais conhecido índice é

o que reflete a mudança no nível de preço para determinado período de tempo.

Segundo STEVENSON (1981), os números –índices são usados para “indicar

variações relativas em quantidades, preços ou valores de um artigo, em determinado

período de tempo. Assim, se a análise, quer no âmbito interno de uma empresa, quer

fora dela, envolve o fator monetário, a utilização de números-índices torna-se

indispensável.

Muitas organizações acumulam números-índices, comparando mudanças físicas

em um período de tempo. Tal procedimento é muito útil para o histórico de tendência,

variação sazonal e flutuações cíclicas, e indispensável às pessoas que desejam

acompanhar as mudanças ocorridas na economia.

2.2. Tipos de números-índices

Na construção dos números-índices, devem ser considerados três itens

fundamentais:

a) a seleção da amostra;

b) a escolha do período-base;

c) a seleção do método de cálculo.

95

Na seleção da amostra, deve-se optar por aquela que é mais representativa da

população, uma vez que raramente é possível dispor de todo o universo de elementos

para a análise pretendida. Além disso, no caso de um índice de preços específico é

importante considerar os produtos, uma vez que é preciso evitar que alterações na

qualidade estejam sendo responsáveis por variações nos preços. No caso da escolha do

período base, esta deve ser cautelosa, evitando escolher períodos atípicos. Por fim,

quanto à escolha do tipo de índice a ser utilizado, devem ser observadas a finalidade e a

precisão do estudo, a fim de que a opção seja a mais acertada possível.

2.2.1.Índice relativo de preços

O preço relativo, o índice relativo de preços ou o número-índice simples de

preço constituem a relação percentual entre o preço de um determinado período e o

preço em um período escolhido como base. Este índice se destina a acompanhar a

evolução do preço de determinado produto.

Considerando P0 o preço de uma mercadoria em um determinado período base e

Pt o seu preço em um período t qualquer, então o índice relativo de preços para essa

mercadoria no ano t será assim obtido:

P0 __________ 100

Pt __________ It em que It é o índice relativo de preços (1)

Como exemplo, imaginemos uma evolução fictícia de preços para o quilo de

feijão, como mostrado na Tabela 2.1.

Tabela 2.1. Evolução dos preços do feijão e respectiva variação

Período (t) Preço (R$/kg) Variação dos preços

Junho 1,00 83,33

Julho 1,20 100,00

Agosto 1,30 108,33

Setembro 1,35 112,50

Tomando como base o mês de julho, o preço relativo desse produto será:

96

1. Em junho: (1,00/1,20) x 100 = 83,33

2. Em julho : (1,20/1,20) x 100 = 100,00

3. Em agosto: (1,30/1,20) x 100 = 108,33

4. Em setembro: (1,35/1,20) x 100 = 112,50

Assim, da terceira coluna, que mostra a variação nos preços, podemos auferir que os

preços do feijão cresceram entre junho e julho, 16,67%, entre julho e agosto 8,33% e

entre julho e setembro, 12,50%.

2.2.2. Índice simples de preços agregados e a média aritmética dos preços relativos O preço relativo mostra, como visto anteriormente, como está evoluindo o preço

do produto separadamente. Entretanto, ao analisar um conjunto de mercadorias, pode

ser do interesse do estudioso obter um único índice, que mostre a evolução do nível

geral de preços dessas mercadorias. Para um não t qualquer, o índice simples de preços

agregados pode ser calculado da forma como se segue:

ΣP0 __________ 100

ΣPt __________ It

It + ( ΣPt / ΣP0) x 100 (2)

Em que ΣPt é a soma dos preços no ano considerado e ΣP0 é a soma dos preços

no ano-base. Para exemplificar, suponhamos dados hipotéticos para os preços de uma

cesta com três produtos, no período 1991 – 1994.

Tabela 2.2. Preços dos produtos 1, 2 e 3, no período de 1991 a 1994.

Produtos 1 2 3

Período P P P Índice 1991 14 7 22 76,79 1992 17 12 27 100,00 1993 19 22 37 139,29 1994 26 32 47 187,50

97

De acordo com (2) e tomando por base o ano de 1992, o índice simples de

preços agregados para os três produtos, em 1994, é:

I1991 = [(14+7+22)/(17+12+27)]x100 = 76,78

I1992 = [(17+12+27)/(17+12+27)]x100 = 100,00

I1993 = [(19+22+37)/(17+12+27)]x100 = 139,29

I1994 = [(26+32+47)/(17+12+27)]x100 = 187,50

Este índice possui duas sérias limitações. A primeira é a influência das unidades

em que os preços são referidos e, a Segunda, é a atribuição de pesos idênticos a todos os

produtos do conjunto.

A média aritmética dos preços relativos é um índice geral de preços obtido a

partir do cálculo da média aritmética dos preços relativos de determinados produtos. Na

construção desse índice, calcula-se, inicialmente, o índice relativo de preços para cada

produto (a partir da tabela 2.2), tomando-se por base o ano de 1992 e, posteriormente,

calcula-se a média dos mesmos.

Tabela 2.3. Índices relativos de preços e a média aritmética dos preços relativos

Anos Produto 1 Produto 2 Produto 3 Somatório Média aritmética

1991 82.35 58.33 81.48 222.16 74.05

1992 100.00 100.00 100.00 300.00 100.00

1993 111.76 183.33 137.04 432.13 144.04

1994 152.94 266.66 174.07 593.67 197.89

Para o ano de 1991, por exemplo, tem-se:

I = (82,35 + 58,33 + 81,48 / 3 = 222, 16 / 3 = 74,05

98

O cálculo para os demais anos dá-se pelo mesmo mecanismo

2.2.3. Índices de paridade Os índices de paridade (IP) utilizados para medir variações no poder de compra

do produtor rural por unidade de produto agrícola são definidos como:

IP = (IPR/IPP) x 100

Em que o IPR é o índice de preços recebidos e o IPP é o índice de preços pagos. Os dois

índices devem ser construídos considerando a mesma origem de tempo. Se o índice de

paridade (IP) assumir valor maior do que 100, significa que o IPR cresce acima do IPP;

por outro lado, se o IP é menor do que 100, significa que o IPR cresce em proporção

menor do que o IPP, indicando uma transferência de renda de um setor da economia

para o outro.

A Tabela 2.4 mostra um exemplo que utiliza os preços pagos por ração e os

recebidos pelos produtores de frango no estado de São Paulo, entre julho de 1993 e

junho de 1994. Pelos resultados obtidos é possível perceber que a quase totalidade dos

valores do IP foram superiores a 100 (à exceção de fev.94 = 99,87), refletindo um

crescimento do poder aquisitivo dos produtores de frango, se considerado apenas a

ração como insumo base da produção, do estado de São Paulo, no período analisado.

Tabela 2.4. Preços recebidos e pagos pelos produtores de frango no estado de São

Paulo, IPR, IPP e IP.

Mês Preço do

frango

(R$/Kg)

Preço da

Ração

(R$/Kg)

IPR

IPP

IP

Jul/93 0.0154 0.0098 51.68 43.56 118.64

Ago/93 0.0210 0.0124 70.47 55.11 127.92

Set/93 0.0298 0.0225 100.00 100.00 100.00

Out/93 0.0371 0.0276 124.50 122.66 101.50

Nov/93 0.0510 0.0375 171.14 166.67 102.68

Dez/93 0.0733 0.0469 245.97 208.44 118.01

Jan/94 0.0890 0.0593 298.66 263.55 113.32

Fev/94 0.1328 0.1004 445.64 446.22 99.87

Mar/94 0.1906 0.0960 639.60 426.67 149.91

99

Abr/94 0.2502 0.1324 839.60 588.44 142.68

Mai/94 0.3527 0.2087 1183.56 927.55 127.51

Jun/94 0.4901 0.3033 1644.63 1348.00 122.01

2.3. Valores reais ou deflacionados

Em geral, antes de se fazer qualquer comparação ou operação aritmética

envolvendo unidades diferentes de medida, é preciso padronizá-las a fim de que se

possa expressar os diferentes valores em uma única unidade. No caso específico dos

preços, cujos valores são expressos em moeda corrente , a comparação pode ser

efetuada a partir do momento em que todos os valores são expressos em moeda de um

mesmo período. Esse período selecionado é denominado período-base.

Para transformar valores corrente (nominais) em valores constantes (reais), é

necessário utilizar um deflator. O deflacionamento de preços é um artifício usualmente

adotado em razão da desvalorização da moeda, resultante de um processo de inflação.

Assim, é possível saber se, por exemplo, o salário recebido por uma pessoa, em 1980, é

maior ou menor do que o recebido hoje.

Entende-se por preço real aquele que é ajustado para mudanças no valor da moeda.

Essa uniformização da unidade de medida é feita a través de um índice de preços que

possa ser utilizado como uma medida da desvalorização da moeda, e esta é uma das

principais aplicações dos números índices em uma economia com inflação.

O índice de preços utilizado como medida da inflação da moeda é denominado

deflator. Os valores da produção medidos na moeda da data em que o pagamento é

efetuado são denominados Valores nominais, ou valores em moeda corrente, que é o

preço que se registra nas operações de compra e venda.

No Brasil, utiliza-se, normalmente, como deflator, o índice geral de preços ou o

“índice 2”calculado pela FGV, e publicado pela revista Conjuntura Econômica. Esse

índice resulta da agregação do Índice de Preços por atacado (IPA), que entra na

composição do Índice Geral de Preços (IGP) com 60% ; do Índice de Preços ao

Consumidor do Município do Rio de Janeiro (IPC – RJ), com o peso de 30% do IGP; e

do Índice Nacional de Custo da Construção Civil (INCC), que participa com 10%do

IGP.

100

É claro que nem sempre o IGP é o deflator mais apropriado mas, de forma geral,

atende às expectativas de uso ao qual se destina.

O valor real ou deflacionado (Vd) correspondente a um valor em moeda corrente

(Vc), é obtido pelo quociente entre o índice de preço do ano i (ano base) e o índice de

preço do ano j, multiplicado pelo valor corrente do ano j. Assim:

Ij __________ Ii

Vc _________ Vd

O valor deflacionado é então expresso como:

Vd = (Ii/Ij) x Vc

O deflacionamento pode envolver duas situações conceitualmente distintas.

Primeiramente, pode-se calcular os valores reais ou deflacionados em relaçãoao

período-base do deflator, para simplificação dos cálculos. A Tabela 2.5 fornece os

dados dos preços correntes recebidos pelos produtores de cana-de-açúcar em Cr$/ton, e

a respectiva evolução do IGP – M (Índice geral de Preços de Mercado) da FGV, com

base em dez/92.

Tabela 2.5. Valor corrente e valor real da cana-de-açúcar no período de junho de 1992 a

maio de 1993.

Mês Preços recebidos (Cr$) IGP - M Valor real (Cr$)

Jun/92 28.593,64 26,285 106.434,54

Jul/92 36.002,31 32,731 109.994,53

Ago/92 45.695,07 40,792 112.019,69

Set/92 53.911,06 51,100 105.501,10

Out/92 65.943,26 64,776 101.801,99

Nov/92 69.177,15 79,952 86.523,10

Dez/92 83.289,28 100,000 83.289,28

Jan/93 114.290,25 125,826 90.831,98

Fev/93 151.599,43 161,584 93.820,82

Mar/93 177.436,92 204,000 86.978,88

Abr/93 222.400,39 262,818 84.621,45

Mai/93 289.447,83 340,879 84.912,19

101

O cálculo do valor real para junho de 1992, ou seja, o valor expresso em moeda

de dezembro de 1992, é dado por:

Vd = 100/26,865 x 28.593,64 = 106.434,54

Do mesmo modo calculam-se os valores deflacionados para os demais meses.

Por outro lado, podem-se calcular os valores reais ou deflacionados em relação a

qualquer período, diferente do período base do deflator. Por exemplo, dados os preços

do boi gordo, mostrados na Tabela 2.6, deseja-se determinar os preços reais expressos

em cruzeiros de outubro de 1994.

Com o auxílio de uma regra de três simples, obtém-se o valor real para

novembro de 1993, como indicado na coluna 2.5 da tabela acima. Para novembro de 93

tem-se:

6,600 ________103,827

1,86 ________ Vd

Os demais valores da coluna 5 foram calculados segundo o mesmo critério

Tabela 2.6. Valor corrente e valor deflacionado do preço do boi gordo, São Paulo,

nov/93 a out/94.

Mês Valor nominal1 IGP – DI (ago/94) Valor nominal (R$)2 Valor real (R$)

Nov/93 5.124,52 6,600 1,86 29,26

Dez/93 6.884,58 8,990 2,50 28,87

Jan/94 9.498,96 12,782 3,45 28,03

Fev/94 12.675,56 18,204 4,61 26,29

Mar/94 18.443,58 26,364 6,71 26,43

Abr/94 26.223,83 37,557 9,54 26,37

Mai/94 35.070,05 52,937 12,75 25,00

Jun/94 48.008,84 77,594 17,46 23,36

Jul/94 22,42 96,768 22,42 24,06

Ago/94 24,02 100,000 24,02 24,94

Set/94 25,33 101,549 25,33 25,90

Out/94 31,31 103,827 31,31 31,31

1 Valores em Cr$ até jun/94 e em R$ a partir de jul/94.

2 Valores nominais expressos em reais (coluna 2 dividida por 2.750,00)

102

2.4. Mudança de base de um número índice

A base é o ponto de referência para a análise e comparação ou medida de índices.

É, portanto, a época com a qual são comparadas as variações de índices, em intervalos

de tempos iguais, razão porque pode-se falar em índices anuais, semestrais ou até

mensais. Dessa forma, a base será aquele período comparativo que melhor convenha à

medida do fenômeno em estudo.

Quem trabalha com números-índices freqüentemente tem a necessidade de mudar a

base de uma série, de um período de tempo para outro. Isso pode ocorrer, por exemplo,

se os números-índices de uma série tiverem que ser comparados com os de outra.

Duas considerações devem ser feitas quanto à questão da escolha da base. Em

primeiro lugar, deve-se, como já dito anteriormente, evitar anos atípicos (anormais)

onde sejam marcantes as alterações de caráter conjuntural. Um outro aspecto diz

respeito ao fato de que, quanto maior for o espaço de tempo transcorrido entre a época

de comparação e o período tomado como base, maior será o perigo de que a importância

relativa dos itens tenha-se alterado e, portanto, de que o sistema de ponderação tenha

perdido a sua representatividade.

A maior parte dos pesquisadores trabalha com números-índices calculados por

outros pesquisadores e, assim, só raramente têm acesso aos dados originais que

serviram de base para o cálculo. Em tais situações, é necessário utilizar um método

abreviado para mudar a base do número índice.

O método abreviado, comumente utilizado, consiste em dividir todos os números

índices da série original pelo número índice correspondente ao novo período base, e

multiplicar o resultado por 100. Para ilustrar essa situação, observem-se os dados

hipotéticos constantes na Tabela 2.7.

Como é possível observar, todos os índices da coluna 2 têm relação com o ano base

1988 = 100. Na forma como estão colocados os dados, pode-se visualizar a intensidade

da evolução do fenômeno, que foi substancial em relação a 1988, atingindo 32,53% em

1989 e refletindo um crescimento, no período 1988 a 1994, de 89,32%.

Com essa tabela, pode-se mudar a base de 1988 = 100 para, por exemplo, 1991 =

100, cujo índice correspondente é 109,20. Pode-se mudar a base estimando-se os novos

índices sobre os anteriores, sem se preocupar com as grandezas reais ou absolutas.

103

Tabela 2.7. Exemplo hipotético de mudança de base

Ano Índice – 1988 =100 Índice – 1991 = 100

1988 100.00 91.58

1989 132.52 121.36

1990 125.86 115.26

1991 109.20 100.00

1992 122.90 112.55

1993 162.55 148.86

1994 189.32 173.37

Com o auxílio de uma regra de três simples, obtém-se os novos índices

apresentados na coluna 3 da Tabela 2.7.

Para 1988 tem-se: 109,20_________100

100,00_________ x

Logo, x = 91,58

Para 1989, tem-se: 109,20_________100

132,52_________ x

Logo, x = 121,36

3. A ECONOMIA DOS MERCADOS AGRÍCOLAS

3.1. Os problemas de mercado para a agricultura

O setor agrícola é importante tanto do ponto de vista social quanto sob o prisma

econômico. Cerca de 5 milhões de famílias, em todo o Brasil, exercem atividades

ligadas ao setor agrícola. Esse imenso contingente humano enfrenta, entre muitos

problemas, alguns derivados do próprio mercado agrícola, dentre os quais podem ser

destacados a instabilidade de preços dos produtos, a queda real desses preços, a

descapitalização do setor e a forte tendência à redução da participação relativa das

atividade na formação do Produto Interno Bruto (PIB).

104

Antes de abordar a questão específica da instabilidade de preços, o que demanda

um esforço adicional de análise, podemos tecer algumas considerações acerca dos três

outro itens citados.

A queda real nos preços dos produtos agroindustriais, notadamente nos últimos

dez anos, pode ser melhor constatada a partir da informação de que a maioria dos onze

principais produtos da agricultura do estado do Paraná apresentou, como tendência, uma

taxa negativa de crescimento, à exceção do algodão, do milho e do boi gordo. Tal

informação, com variações nos produtos analisados, pode ser estendida para a quase

totalidade do território nacional.

Quanto à descapitalização do setor rural, medida pelo índice de paridade (IP),

constata-se que, devido à presença, de um lado, de oligopólios na venda dos insumos

necessários para as atividades agrícolas, e, de outro, de oligopsônios na aquisição dos

produtos, os preços dos produtos têm aumentado menos do que os preços dos insumos.

Isso ocorre, geralmente, porque os oligopólios cobram relativamente mais pelos seus

produtos do que os oligopsônios pagam pelos produtos agropecuários.

Com relação à participação decrescente da agricultura na formação do PIB, esse

é um fenômeno próprio do processo de crescimento econômico, e ocorre também em

outros países. No Brasil, nos últimos 40 anos, a participação agrícola caiu de cerca de

27% em 1947 para 12% em 1988. A pauta de exportações agrícolas também sofreu

profundas modificações, sendo que, nos últimos 15 anos houve intensa redução nas

exportações de produtos de baixo valor agregado (in natura) e aumento nas vendas

externas de produtos agroindustriais mais elaborados. Esse fato, e também a crescente

participação da indústria no PIB em detrimento da agricultura se deve a alguns fatores:

concentração da renda, que combinado com a inelasticidade-renda dos produtos

agrícolas, resulta no crescimento menos da demanda por esses últimos produtos,

alterações nos mercados externos, política econômica voltada para o setor industrial e,

por fim, a presença acentuada, nos últimos 15 anos de oligopólios e oligopsônios no

setor agrícola, com efeitos perversos sobre a agricultura.

Retornando à questão da instabilidade dos preços e, conseqüentemente da renda

agrícola, avaliemos os principais fatores que fazem com que os preços agrícolas sejam

mais voláteis do que os preços industriais. Em primeiro lugar cabe ressaltar que, quanto

menor o preço menor tende a ser sua variabilidade. Além disso, a agricultura envolve

riscos de produção, e esse mais risco se deve a dois fatores combinados. De um lado, a

105

demanda por esses produtos é relativamente inelástica a preços (principalmente para

reduções nos mesmos) e, de outro, sua oferta é fortemente instável ou sazonal. Essa

variação na oferta decorre do fato de que a agricultura encontra-se sujeita a oscilações

que não estão sob o controle do produtos, como doenças, inundações, secas, geadas, e

mesmo condições climáticas excepcionalmente favoráveis, que podem gerar

superssafras. Como já visto anteriormente, essas flutuações são menores quanto maiores

forem as possibilidades de armazenamento da produção e processamento do produto.

O Gráfico 3.1 explicita o fato de que, uma retração nos preços dos produtos não

é, no caso de uma grande inelasticidade, compensada por aumentos na quantidade

ofertada, de forma que no caso particular dos produtos agrícolas, variações dessa

natureza não são favoráveis.

Gráfico 3.1. Variações diferenciadas na quantidade demanda de um produto mais

elástico e um menos elástico, considerando variações não planejadas na oferta.

P Oferta real

Oferta planejada

Pr

Pp

Demanda mais elástica

Demanda menos elástica

qpe,i qr

i qre q/un.t

Quanto aos efeitos de possíveis aumentos de preços convém ressaltar que

embora no geral, os produtos agrícolas apresentem inelasticidade-preço, ela é mais

evidente para produtos com baixa substitubilidade. As possibilidades da formação de

106

diferente combinações de alimentos que geram um mesmo nível calórico-proteico-

vitamínico, faz com que exista inelasticidade por alimento, mas que, entre eles possa

existir grande substitubilidade. Assim, uma quebra na safra setorial de alface pode ser

compensada com um aumento no consumo de outra verdura; o aumento na carne de boi

por ser adapatada a uma elevação no consumo de outra proteína, e assim por diante.

3.1.1. O paradoxo do mercado agrícola O título acima serve apenas para identificar a dificuldade presente para os

indivíduos que atuam simultaneamente em mercados de concorrência perfeita (para

venda) e oligopolizados (para compra), como é o caso do produtor rural. De um lado,

ele enfrenta as agruras de não poder, isoladamente, negociar reduções nos preços dos

insumos utilizados e, de outro encontra-se impossibilitado de provocar variações nos

preços dos seus produtos sem consequências indesejáveis sobre a quantidade ofertada.

Mesmo quando organizados - o que é raro, principalmente em alguns segmentos desse

setor – os produtores dificilmente conseguem estabelecer relações

favoráveis...normalmente minimizam as perdas.

Além do exposto, a grande facilidade que existe no acesso a diferentes tipos de

cultura faz com que qualquer lucro excedente no segmento seja rapidamente dissolvido

pela presença de outras firmas no setor.

3.1.2. Mudanças na oferta e na demanda de longo prazo e o custo de vida

No curto ou no longo prazo, os movimentos de preços resultam de alterações na

oferta e/ou na demanda. As situações anteriores de variações de preços (até aqui

consideradas)ocorriam em um contexto de curto prazo. A partir do momento em é

considerado o longo prazo, realça-se o fato de que a renda dos consumidores e a

tecnologia são os dois fatores mais importantes no deslocamento das curvas de demanda

e oferta de logo prazo.

Dependendo da magnitude de mudança da oferta ou da demanda, os preços

podem apresentar uma tendência à queda ou aumento. Se a tecnologia apresentar um

incremento positivo ao longo dos anos, de tal modo que supere a taxa de crescimento

da demanda, os preços apresentarão uma tendência à queda. Por outro lado, se a

demanda crescer a taxas elevadas, devido ao crescimento populacional e da renda, por

107

exemplo, é provável que os preços tenham perspectiva de crescimento ao longo dos

anos.

No Brasil, embora tenha ocorrido um decréscimo nos preços reais pagos ao

produtor – Gráfico 3.2 – a nível de consumidor, a maioria dos produtos tem sofrido

elevação de preços, indicando um aumento do custo de vida. Nos últimos anos,

entretanto (a partir de 1992) esse quadro tem se mostrado mais estável, mas os estudos a

esse respeito encontram-se ainda em andamento e carecem de maior tempo de

maturação. Contudo, é certo que até o final da década de noventa os preços no varejo

apresentavam taxas crescentes.

Gráfico 3.2. Esboço da evolução dos preços pagos ao produtor , 1965 -1985.

P S65

S70

S75

P5

P4 S80

P3

S85

P2

P1

TENDÊNCIA

Q65 Q70 Q75 Q80 Q85 Q/u.t.

O que explica, então, a simultânea elevação de preços ao consumidor e queda

junto ao produtor? Durante um largo período de tempo, notadamente os anos

compreendidos entre 1975 e 1985, ocorreu um sistemático incremento da demanda, que

não foi plenamente compensado pelos incrementos tecnológicos, uma vez que as altas

taxas inflacionárias corroíam parte dos benefícios advindos de tal avanço. Além disso, a

cada dia encontram-se mais processados os alimentos disponíveis ao consumidor,

108

fazendo com que exista, entre o preço pago ao produtor e o preço pago pelo consumidor

final, considerável margem de agregação de valor.

Gráfico 3.3 . Esboço do comportamento histórico dos preços pagos no varejo, 1965-

1985.

P S65 S70 S75

S80 S85

P85 TENDÊNCIA

P80

P75

P70 D80 D85

P65 D75

D70

D65

Q65 Q70 Q75 Q80 Q85 Q/u.t

3.2. Duas alternativas para os problemas agrícolas de mercado

3.2.1. Efeito do armazenamento sobre os preços

Pelo que foi exposto até o momento, pode-se perceber que as flutuações dos

preços dos produtos agrícolas decorrem, principalmente, da demanda inelástica dos

mesmos, da oferta instável e das variações sazonais. O fato da produção agrícola

encontrar-se submetida à sazonalidade provoca uma acentuada variação nos preços ao

longo dos meses do ano, de tal modo que, durante e logo após a colheita (período da

safra) os preços ficam a níveis muito baixos, mas sobem muito na época da entressafra,

período em que, normalmente, os produtores já não dispõem mais da sua produção.

109

Devido a essa característica da sazonalidade na produção, enquanto o consumo

de produtos agrícolas é relativamente constante ao longo dos meses do ano, o

armazenamento de parcela da produção na época da colheita, para ser consumida na

entressafra, permite reduzir as flutuações de preço desses produtos. A função do

armazenamento é produzir a utilidade de tempo, tornando a mercadoria disponível no

momento desejado pelos consumidores.

O armazenamento do ‘excesso’ da produção, ao ‘ajustar’ a oferta ao nível de

consumo normal, reduz a variabilidade dos preços do produto no mercado trazendo, em

consequência, efeitos positivos sobre a receita e a renda dos agricultores. E o produtor,

por ter aversão ao risco, ao receber uma renda mais estável, se sente estimulado a

expandir a produção nos anos seguintes.

Graficamente, é possível analisar o efeito econômica do armazenamento –

Gráfico 3.4 – de forma relativamente simplificada.

Gráfico 3.4. Oferta de produtos agrícolas nos períodos de safra e entressafra (com e

sem a formação de estoques)

P Oferta na entressafra

Oferta na safra com estoques

Pe Oferta na safra, sem

estoques

Ps

Qe Qs Q/u.t

Suponhamos, de acordo com o gráfico acima, que Ps seja o preço de

determinado produto agrícola no período de safra e Pe o seu preço na entressafra. Como

110

é possível observar, Pe > Ps, o que era esperado, uma vez que no período de safra existe

uma oferta bem maior de produto no mercado e, além disso, os produtos agrícolas são

inelásticos em relação aos seus preços. Assim, ma das formas de reduzir a variação de

preços sofrida pela questão da sazonalidade envolve, justamente, a formação de

estoques, que embora onerosos permitem uma volta a patamares de preços mais

adequados. Em outras palavras, o armazenamento de uma mercadoria, mesmo a um

custo relativamente elevado, possibilita distribuir melhor a oferta disponível, evita a

acentuada queda nos preços na safra, e assegura maior nível de renda para o produtor.

De certa forma, esse resultado é compatível também com o desejo dos consumidores,

que preferem pagar um pouco mais pelo produto tendo-o disponível o ano inteiro.

3.2.2. O dilema das cooperativas de produtores

A motivação existente “por trás” da ação coletiva é de fácil percepção. A

posição de equilíbrio em um setor perfeitamente competitivo é invariavelmente aquela

em que uma restrição de produção e um consequente aumento nos preços aumentaria o

lucro de todos os produtores. Isso é particularmente óbvio quando a demanda é

inelástica em relação aos preços – o que é justamente o caso dos produtos agrícolas.

Nesse caso, a tendência é de que uma redução na produção não apenas aumente as

receitas, como também reduza os custos, o que eleva necessariamente os lucros. Assim,

pode-se afirmar que, do ponto de vista do produtor agrícola, será sempre benéfico

participar de qualquer tipo de associação que reduza a produção global.

Embora, por um lado, haja incentivo, sob a competição perfeita, para que todos

os produtores concordem em restringir a produção, infelizmente, de outro, há também

um estímulo para que cada produtor viole qualquer acordo de restrição da produção.

Obviamente, se cada um responde a esse segundo incentivo, os ganhos que adviriam de

um comportamento cooperativo deixam de existir. É nesse sentido que se entende o

dilema cooperativista; cada produtor estará efetivamente melhor se a cooperativa for

implantada, mas, simultaneamente, sente-se tentado a driblar os mecanismos de controle

da oferta, de modo a auferir ganhos individuais mais elevados, uma vez que os preços

encontram-se a níveis mais elevados.

111

3.3. Políticas de suporte e estabilização de preços

Devido às constantes variações nos preços e na renda agrícola, os governos têm

adotado algumas políticas que contribuem para manter mais estáveis os preços e,

conseqüentemente, as rendas dos agricultores. Entre essas políticas estão a de preços

mínimos, a de controle da oferta e a de estoques reguladores.

3.3.1. Política de preços mínimos

Dois bons exemplos de política em que o governo intervém com o intuito de

impedir a transação comercial abaixo de um determinado valor são a Política de

Garantia de Preços Mínimos (PGPM) aos produtos agrícolas e a Política de Salário

Mínimo para os trabalhadores. Enfatizemos, pois, a primeira delas.

Com a extinção da política de crédito rural subsidiado, notadamente a partir do

início da década de 80, por força de contenção dos gastos do governo, esse começou a

pensar em um modelo que buscasse trocar o subsídio ao crédito pelo preço – deve-se

ressaltar que a política de crédito rural subsidiado nem sempre beneficia o produtor, em

virtude dos grandes viesamentos e tendenciosidades existente, enquanto que a política

de preços mínimos tem uma ação mais eficaz para quem produz.

Devido a essa mudança de postura, a PGPM tem se tornado o principal

instrumento de política agrícola e sustentação da renda do setor rural. Através dessa

política o governo federal sustenta que determinados produtos agrícolas não deverão ser

comercializados, a nível do produtos, por preços abaixo de um determinado patamar

previamente estipulado, já que esse teto mínimo é o preço ao qual o governo garante a

compra destes bens.

A PGPM, que visa assegurar um nível mínimo de renda para o produtor, é

fundamental para a agricultura, por ser um setor cuja produção é instável e cujo produto

tem demanda, como já dito, inelástica. Os preços mínimos podem ser utilizados como

instrumento de política agrícola para atingir os seguintes objetivos:

1. proteger a renda do setor agrícola;

2. aumentar a produção da agricultura;

3. reduzir o risco de preço enfrentado pelo agricultor;

O Gráfico 3.5 ilustra a atuação da PGPM junto ao produtor rural

112

P D S

S’ E A PREÇO MÍNIMO EFETIVO D’

Pm

PE

S

D

Qdm QE Qsm

Gráfico 3.5. Fixação do preço mínimo para um determinado produto agrícola

O gráfico acima ilustra os efeitos do estabelecimento de um preço mínimo para

determinado produto agrícola, onde as curvas relevante (de mercado) de oferta e

demanda passam a ser SAS’ e DED’, é não mais SS e DD. Ao preço mínimo

estabelecido ocorre, normalmente um excesso de produção, na medida em que Pm

estimula os produtores e desestimula a aquisição do produto, de modo que há a

necessidade de um controle efetivo da quantidade produzida a fim de que não ocorra um

contínuo aumento do estoque excedente.

Outra conclusão possível é a de que a fixação de preços terá efeito ineficaz se os

preços de mercado estiverem acima dos preços mínimos oferecidos pelo governo, e

sempre gera um estímulo ao excesso de produção de quando Pm encontra-se mais alto

que PE. Tal excedente pode, eventualmente, ser destinado ao mercado externo; caso

contrário, se o produto se destina ao consumo exclusivamente doméstico, a sustentação

de um preço Pm muito elevado implicará em um custo adicional para o governo, porque

ele terá que adquirir, e ainda armazenar a quantidade (Q2 –Q1).

Normalmente, o governo adquire toda a produção Q2 – Q1 para, em momentos

de desabastecimento, ou safras insuficientes, colocar à disposição do público os seus

estoques. Tendo em vista que a política de PGPM tem um custo financeiro para os

cofre públicos, é importante que ela seja ‘ideal’ e ‘eficiente’. O objetivo final da PGPM

seria o de conseguir uma estrutura tal que o preço mínimo projetado pelo governo fosse

113

a real antecipação do preço de mercado, pois ainda assim beneficiaria o produtor (é uma

defesa contra possíveis quedas nos preços) isentando de custos o governo.

O gráfico 3.7 ilustra de forma esquemática os efeitos da PGPM sobre as

variações sazonais de preços, onde a curva cheia representa as oscilações nos preços de

mercado e a pontilhada os preços mínimos estabelecidos pelo governo.

Gráfico 3.7. Efeitos da PGPM sobre a sazonalidade de preços dos produtos amparados

P

r

e

ç

o

s

S

a

z

o SAFRA ENTRESSAFRA

n

Meses

Uma outra finalidade da política de preços mínimos é o aumento da produção,

via redução dos riscos de preço envolvidos. As decisões de produção são tomadas pelo

agricultor meses antes da venda da colheita, época em que nada garante que o preço de

mercado seja o mesmo que vigorava na época do plantio. Assim, mesmo atuando em

concorrência, onde o preço é um dado que o produtor não consegue alterar, na época em

que decido o que e quanto produzir, essa variável não é uma incógnita. Assim, a curva

de oferta que incorpora a presença de preços mínimos – no Gráfico 3.8, a curva S1 – é

mais à direita do que a curva de oferta que se atém somente às informações do mercado

(S0).

114

Gráfico 3.8. Ação da PGPM sobre a oferta de um determinado produto agrícola

P S0 S1

P’

q0 q1 Q

3.3.2. Controle da produção (oferta) A política de controle da produção e, por conseguinte, da oferta, é uma Segunda

alternativa de suporte de preço para o produtor. A limitação ou restrição da produção

agrícola, embora traga resultados altamente positivos em termos econômicos, torna

extremamente difícil de ser operacionalizada, devido ao grande número de produtores e

aos fatores não controláveis, como clima, pregas e doenças.

No Brasil, existe um produto cuja produção apresenta condições favoráveis de

controle e cujos resultados tem sido positivos, apesar da política de preços

administrados. Esse produto é a cana-de-açúcar, de que é fácil restringir a produção,

porque a mesma se concentra em determinadas regiões do país 9COMO São Paulo,

Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná) e ao mesmo empo toda a

produção comercial tem um destino certo, que é a industrialização via usinas e

destilarias. Assim, a adoção de quotas de produção distribuídas pelo Governo, em

termos de açúcar e álcool, resultará, necessariamente , na redução da área a ser plantada

com esta cultura.

115

Esta política é praticamente impossível de ser aplicada para um produto como o

milho, por ser cultivado por mais de 2,8 milhões de produtores, distribuídos por mais de

4 mil municípios e pelos múltiplos usos e destinos da produção.

Além desse controle direto da oferta pela distribuição de cotas de produção, um

controle indireto pode ser feito através da restrição do uso de um fator estratégico

(terra, por exemplo) como acontece nos Estados Unidos, cujo governo paga ao produtor

para reduzir a área destinada ao plantio. O Gráfico 3.9, ilustra os efeitos de tal política

sobre a oferta.

Gráfico 3.9. Impacto econômico do controle da produção sobre o nível de preços

P

S2 S1

P2 A

P1 B

Q2 Q1 Q/ u t

Sob o ponto de vista econômico, a justificativa para o controle da produção se

baseia na inelasticidade –preço da demanda para produtos agrícolas. Por essa política, o

governo limita a produção e “força” um deslocamento da oferta de S1 para S2, como no

gráfico acima.

Se os agricultores produzirem uma quantidade total menor, cada um deles

receberá um preço maior (P2). Como a demanda por produtos agrícolas é geralmente

inelástica a redução na quantidade ofertada leva a um aumento na receita total recebida

pelos produtores – ela passa de OP1BQ1 para OP2AQ2.

Esse procedimento resulta em má alocação de recursos, uma vez que os

consumidores são forçados a pagar mais pelos produtos agrícolas, mas o principal

objetivo dos produtores é manter os preços próximos a P2.

116

3.3.3. Política de estoques reguladores

Já foi discutido anteriormente os efeitos do armazenamento sobre os preços,

tendo como preocupação as flutuações dos mesmos ao longo dos meses do ano, ou seja,

o armazenamento na época da colheita contribui para reduzir a sazonalidade de preço,

que é uma característica dos produtos agrícolas. Por outro lado, a política de estoques

reguladores visa ajustar a oferta e a demanda ao longo dos anos, funcionando como uma

política de ajuste e estabilização de preços. Assim, nos anos de safra excepcional, o

Governo entraria comprando o produto e, nos anos de baixa safra, ele entraria vendendo

a mercadoria.

É importante notar, contudo, que para uma política de estoques reguladores ser

eficiente, é preciso que vise essencialmente a eliminação das variações aleatórias da

renda do setor agrícola. Sob o prisma da alocação de recursos essa política seria

altamente ineficiente se buscasse impedir as variações ou tendências impostas pelas

forças de mercado a longo prazo.

O gráfico 3.10 ilustra o funcionamento desta política considerando a oferta nos

anos de produção “normal”, em anos de clima favorável (“bom”) e em anos de

frustração de safra (“ruim”). Como já foi visto, a instabilidade da produção agrícola, de

vido a fatores físicos e biológicos, associada a uma curva de demanda relativamente

inelástica a preços, gera grandes flutuações de preços dos produtos agrícolas. Esta

instabilidade de preços prejudica tanto os produtores como os consumidores, e é nesse

sentido que se dá a ação da política dos estoques reguladores: funciona no sentido de

garantir, ao longo dos anos, tal volatilidade dos preços agrícolas.

Suponhamos, a partir do gráfico acima, que houve um anos de safra excepcional

(SB). Sem a intervenção governamental, o preço seria reduzido de PN para PB, o que

acarretaria uma redução na receita total auferida pelos produtores ( passaria de OPNBQN

para OPBCQB). Com a participação do Governo, este entra comprando a quantidade QB

– QN, a estoca e, em períodos ruins, como o representado graficamente pela oferta SR,

desova o estoque, a fim de evita a subida de preços de PN para PR.

117

Gráfico 3.10. Efeitos econômicos da política de estoques reguladores para um

determinado produto agrícola

P

SR SN SB

PR A

PN B

PB C

O QR QN QB Q/ u t

O Gráfico 3.111 ilustra o impacto da política de estoques reguladores sobre a

receita do produtor. A linha preta representa a receita sem estoque regulador a azul, a

receita com estoque regulador. A área relativa à perda ilustra o quanto o produtor deixa

de ganhar em períodos de safra ruim pelo fato da política de estoques impedir a

elevação dos preços do produto, pela desova de estoques, enquanto a área de ganho

representa o quanto o produtor ganha em virtude de se manter um preço acima do de

equilíbrio de mercado em períodos de safra excelente (acima do normal).

Gráfico 3.11. Impacto positivo da política de estoques reguladores sobre a receita do

produtor.

RT

Perda

Ganho

QE

118

4. INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL NOS MERCADOS AGRÍCOLAS

4.1. Política de subsídios

Um mecanismo econômico pelo qual o governo acredita poder ajudar os

agricultores é adoção de subsídios. Esta política consiste na ação governamental em

fornecer aos produtores um incentivo econômico maior do que aquele originado

exclusivamente via mercado. Há muitos tipos de subsídios e distintas formas de aplicá-

los, sendo que as duas formas mais importantes são:

a) na produção, via redução no preço de determinado insumo ou através da

diminuição nas taxas de juros dos financiamentos contraídos pelos agricultores

(crédito rural);

b) na venda, via comercialização da mercadoria, por preço inferior ao custo de

aquisição adicionado dos demais custos de comercialização, como: transporte,

armazenagem, embalagem classificação, entre outros.

4.1.1. Subsídio na produção

No Brasil, o mecanismo do crédito rural subsidiado foi muito utilizado entre o

período de 1965 a 1980 - a partir de 1984, ele foi drasticamente reduzido, por

necessidade de contenção de gastos governamentais.

O subsídio constitui para o produtor, na realidade, em uma redução nos custos de

produção, desde que os recursos oriundos desse mecanismo de “ajuda” seja realmente

direcionados por exemplo, para inovações tecnológicas. Graficamente, a política de

subsídios via crédito rural pode ser vista no gráfico 4.1.

119

Gráfico 4.1. Efeito do subsídio sobre a oferta

P

S0 S1

P0

PE

P1

D

0 Q0 QE Q1 Q

Suponhamos, inicialmente, que a oferta seja S0, vendida ao preço P0. Do lado do

produtor, o que se vê é que uma intervenção governamental via crédito subsidiado

atuaria diretamente nos custos de produção, reduzindo-os, tornando possível ao

produtor ofertar, ao preço P0 o nível Q1 de produto, ou, mantendo a oferta em Q0,

reduzir o preço para P1. Por outro lado, ao considerarmos a interação coma curva de

demanda, pode-se observar que, provavelmente, estabelecer-se-á uma quantidade

intermediária QE, a um preço igualmente intermediário PE. É claro que os efeitos da

política de subsídios sobre a oferta dependerá da elasticidade das curvas de oferta e de

demanda de mercado – quanto mais elásticas as curvas, maior o impacto.

Estas análises são muito importantes para efeito de previsão de uma política de

subsídios para a produção agrícola. Considerando que a demanda por produtos agrícolas

é, de modo geral, inelástica, pode-se supor que uma política de subsídios nem sempre

será eficaz para aumentar a quantidade demandada. Isso significa dizer que é provável

que o governo gaste recursos vultosos em subsídios e os resultados sobre a demanda

não sejam os melhores esperados. Contribuem, entretanto para uma considerável queda

no preço dos produtos agrícolas junto aos consumidores.1

Imaginemos o seguinte exemplo: admita-se a existência de 100 agricultores que

produzem um determinado produto e cada um com a seguinte função de custo:

1 Convém ressaltar que os produtos agroindustrializados, por terem eslasticidade-preço maior respondem mais intensamente na produção aos estímulos dos subsídios.

120

Ci = 0,1 qi2 + qi + 10

A condição para a maximização do lucro requer que cada agricultor reduza no nível em

que o custo marginal do insumo (CMa) seja igual ao preço do produto (P), já que CMa

= VPFMa. Assim:

CMai = 0,2 qi + 1 = P

Logo: qi = 5P – 5

As funções de demanda e de oferta agregadas, ou de mercado são:

(Oferta) S = 500 P – 500

(Demanda) D = -400 P + 4000

Nessas condições o equilíbrio de mercado acontece onde S = D, logo:

Sendo P = 5, Q = 2000

Supondo , agora, um subsídio do governo de “x” reais por unidade para a produção

dessa mercadoria; a função de custo de cada agricultor passaria a ser:

Ci = 0,1 qi2 + (1 – x) qi + 10

E o custo marginal equivalente seria: CMai = 0,2 qi + 1 - x = P

Logo, nesse caso, qi = 5 (P + x).

A curva de oferta de mercado seria: S1 = 500 (P + x) – 500

Mantida a curva de demanda, o novo preço de mercado de equilíbrio seria:

P1 = 5 – 5/9 x

Assim, se o subsídio fosse de, por exemplo, R$ 0,90, o novo preço seria R$ 4,50 e a

nova quantidade produzida igual a 2.200 unidades.

121

4.1.2. Subsídios na comercialização

Esse tipo de subsídio ocorre por ocasião da venda do produto e, portanto, após a

produção. Ele envolve o pagamento de um preço artificialmente elevado para os

produtores com a posterior revenda aos consumidores a um preço menor. Por esse

mecanismo o governo paga aos agricultores a diferença entre o preço baixo para os

consumidores e o elevado ( de suporte ) para os produtores. O preço aos consumidores

cai ao nível competitivo PV (resultante da interação da curva de demanda com a de

oferta S1), mas para os agricultores o Governo garante o preço de garantia, ou de

suporte (PP). O Gráfico 4.2 ilustra os efeitos do subsídio na comercialização.

Gráfico 4.2. Efeitos do subsídio na comercialização

P S

PP F

PV E

D

0 Q0 Q/ut

Na figura acima, o custo total do governo é dado pela área PPPVFE. Ressalte-se

que, sem a intervenção do governo a quantidade ofertada seria Q0 ao preço Pv, logo a

sua receita seria dada pela área PV0Q0E, e não por PPFQ00.

4.2. Política de impostos

Uma medida de política governamental de grande incidência na comercialização

são os impostos sobre a venda dos bens e serviços, os quais são importantes exemplos

de impostos indiretos.

Um imposto indireto é aquele que recai sobre os bens e serviços, ao contrário dos

impostos diretos, que incidem diretamente sobre a renda das pessoas ou o lucro das

empresas como, por exemplo, o imposto de renda. De um modo geral pode-se afirmar

que enquanto o Governo Federal conta notadamente com os impostos diretos, os estados

122

tendem a contar mais com os impostos indiretos, como principal alternativa de geração

de receitas.

O efeito de um imposto sobre a venda de um produto pode ser avaliado através do

diagrama de oferta e demanda. Um imposto pode corresponder a um dado valor

monetário por unidade do produto (como , por exemplo, um imposto sobre a gasolina e

o álcool) ou pode, também, ser uma porcentagem sobre o preço de venda do produto

(como acontece com o ICMS). O primeiro é denominado imposto específico e o

segundo, imposto ad valorem.

4.2.1. Imposto específico

Um imposto específico é aquele em que o valor monetário definido deve ser

pago ao Estado para cada unidade de produto vendida, independente do preço da

mercadoria. Uma maneira interessante de pensar num imposto sobre a venda, é que ele

aumenta, de um dado valor, o preço do bem taxado; e deve-se ressaltar dois aspectos:

a) O valor do imposto é normalmente repassado tanto para os consumidores

como para os vendedores, embora não necessariamente em parcelas iguais.

b) A incidência será a mesma, se o imposto é arrecadado dos compradores, ao

invés de dos vendedores.

Considere-se primeiro a situação em que o imposto “t” é arrecadado dos

vendedores cuja curva de oferta é dada na forma tradicional P = a + bQ. Se o Governo

dispõe de t reais para cada unidade vendida pelos produtores, o preço efetivo para os

vendedores passa a ser P – t. Então, a função deve ser alterada para:

P –t = a + bQ, ou P = (a + t) + bQ

A adoção do imposto sobre o vendedor desloca o intercepto da curva de oferta

pelo valor do imposto, reduzindo a quantidade ofertada sobre qualquer nível de preço,

conform mostra o Gráfico 4.3.Assim, se os vendedores forem induzidos a colocar Q0

unidades no mercado, eles precisam receber um preço P0 por unidade; ou seja, existe a

necessidade de eles receberem P0 + t dos consumidores. Dessa forma, para qualquer

preço pago pelos consumidores, os produtores estarão desejando vender menos do que

antes, pois irão receber não o preço que o consumidor paga, mas o preço menos o valor

do imposto.

123

Gráfico 4.3. Efeito de um imposto específico arrecadado do vendedor

P

S1

P0 + t S0

P1 + t Et t

P0

E0

P1

D

0 Q1 Qt Q0

Q

Contudo, os consumidores não comprarão Q0 unidades ao valor P0 + t uma vez

que a curva de demanda mostra que a este valor eles adquirirão apenas a quantidade Q1,

resultando, em consequência, em um excedente Q0 – Q1. Nesse caso, os vendedores

devem tomar a iniciativa de baixar o preço ao nível P1 + t, ao qual os consumidores

adquirirão a quantidade Qt. Assim, a diferença entre P0 e P1 + t refere-se ao valor do

imposto unitário que é repassado aos consumidores, enquanto a diferença entre P0 e P1

mostra a parcela do imposto unitário que incide sobre os vendedores. Portanto, o

imposto t é repartido, embora não necessariamente em parcelas iguais, entre produtores

e consumidores. O resultado final é que, regra geral, os consumidores pagarão mais caro

e os produtores receberão menos, e o volume negociado será menor.

A incidência será a mesma se o imposto for arrecadado sobre os consumidores,

ao invés dos vendedores. Nessa situação, partindo-se de uma curva de demanda dada

por P = a – bQ, se o governo impõe um imposto de “t” reais sobre cada unidade

adquirida, o preço efetivo para os consumidores passa a ser P + t, e a função de

demanda é novamente alterada para P = (a – t) – bQ.

124

A adoção de um imposto constante t sobre o comprador desloca o

intercepto da curva de demanda pelo valor do imposto, reduzindo a quantidade

demandada para qualquer nível de preço, ou seja, a curva de demanda desloca-se de D0

para D1 (Gráfico 4.4). Do ponto de vista dos consumidores, a curva de demanda não é

afetada pela adoção do imposto t, mas do ponto de vista dos vendedores a curva de

demanda se desloca para baixo, pelo valor do imposto. Isso significa dizer que para

adquirir a quantidade Q0 os consumidores estarão disposto a pagar um preço P0, mas

com a imposição do imposto, o preço que seria repassado aos vendedores, para esse

volume de negócio (Q0) seria apenas P0 – t. Contudo, a esse nível de preços as

quantidades oferecidas pelos vendedores seria de Q1, resultando em uma escassez de Q0

– Q1. Devido à escassez, os consumidores “forçam” o preço a subir para P1, e, a esse

preço, a quantidade negociada será Qt, e os compradores estarão pagando P1 + t por

cada unidade. Assim, o efeito do imposto é o mesmo demonstrado no gráfico anterior.

Em ambas as situações o resultado do imposto muda a posição do ponto de

equilíbrio de E0 para Et. A produção cairá, o preço pago pelos consumidores será maior

e o preço pago pelos vendedores será menor. A carga tributária é distribuída entre os

dois de acordo com as elasticidades – preço da demanda e da oferta. Do mesmo modo, o

impacto sobre a produção do produto, depende, também, destas elasticidades.

Gráfico 4.4. Efeito de um imposto específico arrecadado do comprador

P

S

P1 - t

P0 E0

Pt Et t

P0 - t

D0

Dt

0 Q1 Qt Q0 Q

125

Os diagramas que compões o total do gráfico 4.5., com elasticidades-preço de

demanda e oferta diferentes, possibilitam um melhor entendimento do efeito do imposto

sobre a produção e sobre a distribuição da carga tributária . Da análise desses diagramas

pode-se afirmar que:

a) Se a demanda for perfeitamente inelástica (no caso do produto ser extremamente

essencial) o encargo tributário recairá inteiramente sobre os consumidores (figura

4.5.a), e, nesse caso a adoção de um imposto não ocasionará uma redução de

produção;

b) Se a oferta for perfeitamente inelástica (condições de produção tão adversas que

resultam em custos marginais elevadíssimos), o encargo cairá totalmente sobre os

vendedores (figura 4.5.b) e não haverá alteração na produção;

c) Se a demanda for relativamente inelástica (como acontece com a maioria dos

produtos agrícolas) a aplicação de um imposto arrecadado diretamente dos

vendedores provocará uma redução da produção proporcionalmente pequena, mas o

preço aumentará muito mais para os consumidores, do que cairá para os produtores

(figura 4.5.c);

d) Caso contrário, se a demanda for relativamente elástica, o imposto resultará numa

grande redução da produção, uma vez que o preço cairá proporcionalmente mais

para os produtores do que aumentará para os consumidores (figura 4.5.d);

e) Se a oferta for relativamente inelástica, (feijão) a adoção de um imposto de t reais

por unidade (saca, por exemplo) fará com que a produção caia pouco, embora a

queda nos preços dos produtores seja proporcionalmente maior do que o aumento no

preço para os compradores;

f) Se a oferta for relativamente elástica (soja) a imposição de um imposto resulta em

uma substancial queda de produção, muito embora a redução relativa de preço para

a produção seja menor do que o aumento de preço para os compradores.

Em conclusão, quanto mais inelásticas forem as curvas de oferta e procura de um

bem, tanto menor será a redução na produção, ocasionada por qualquer imposto. Isso

explica porque tais produtos devem ser tributados, uma vez que os impostos

normalmente apenas causam reduções em sua produção.

126

Gráficos 4.5 Efeitos da aplicação de um imposto segundo a magnitude das

elasticidades-preço da demanda e da oferta.

P D P S

St

P1

P0

P0

P1

0 Q0 = Qt 0 Q0 = Qt

Figura 4.5.a – “D” inelástica Figura 4.5.b – “S” inelástica

P P

St St

S0 Et S0

P1 + t Et P1 + t

P0 D

P0

P1 D P1

0 Qt Q0 Q 0 Qt Q0 Q

Figura 4.5.c – “D” relativamente Figura 4.5.d – “D” relativamente

inelástica elástica

127

P St P

S0

Et Et St

P1 + t P1 + t

P0 E0 P0 E0 S0

P1 D P1

D

0 Qt Q0 0 Qt Q0 Q

Figura 4.5.e – “S” relativamente Figura 4.5.f – “S” relativamente

inelástica elástica

4.2.2. Imposto “ad valorem”

Um imposto ‘ad valorem’ é aquele em que o valor do tributo pago em cada

unidade do produto negociado não é fixo (constante), mas um percentual fixo

(proporcional) sobre o preço de venda do produto. O Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS) é um imposto ‘ad valorem’ uma vez que consiste em

uma alíquota sobre o preço do bem, de forma que, quanto maior o preço do produto no

mercado, maior o valor do imposto. Via de regra, o que se pode dizer de um imposto

‘ad valorem’ é que a arrecadação feita sob este critério cresce mais rapidamente do que

um imposto específico, na medida em que o volume das vendas aumenta.

4.3. Política de preços máximos

Sob o nome “preços máximos” estão englobadas todas as políticas de controle de

preços (à exceção da política de preços mínimos) tais como as políticas de

congelamento de preço, preço-teto e tabelamento de preço, partindo do pressuposto de

que ele só tem influência no mercado se o preço estabelecido situar-se abaixo do preço

normal de equilíbrio em um mercado livre. Normalmente o governo estabelece controle

de preços quanto existem produtos de grande necessidade que estão com preços muito

elevados, ou quanto existem períodos de grande inflação.

128

Quando os preços são congelados, ou quando são estabelecidos preços-teto, todo o

funcionamento do mecanismo de preços deixa de existir. Em termos do impacto sobre a

curva de demanda de mercado, congelando o preço reduz-se a demanda a uma única

combinação (ponto) de preço-quantidade sobre a curva de demanda. O impacto do

congelamento sobre a disponibilidade (oferta) do produto irá depender da relação entre

o preço de congelamento e o preço de equilíbrio de mercado. Como normalmente essa

política é adotada quando há preços de mercado elevados, normalmente haverá, com o

congelamento um excesso de demanda sobre a oferta.

4.2.1. Alternativas de curto prazo A política de preços máximos pode ser economicamente aceitável apenas por um

período relativamente pequeno (meses) uma vez que sua fixação gera sérias distorções

entre a oferta de a demanda. O governo possui, contudo, algumas alternativas de curto

prazo que podem corroborar uma tentativa de equilibrar os níveis ofertados e

demandados de determinado bem.

A venda de estoques gerados em safras anteriores (estoques reguladores) pode

cobrir total ou parcialmente a escassez do produto, minimizando problemas de

insatisfação da demanda e, consequentemente evitando a pressão da mesma sobre a

oferta, o que poderia gerar um estímulo à quebra do limite de preços. O Gráfico 4.6

ilustra os impactos do congelamento.

Gráfico 4.6. Impacto de um congelamento de preços abaixo do preço de equilíbrio

P

S

S’ = S + I ou S + Estoques

P0 E

Pt

D

0 Qs Q0 Qd Q

129

O gráfico acima mostra que o preço imposto Pt encontra-se abaixo do preço de

equilíbrio P0, o que gera uma escassez de produção (dada por Qd – Qs). Nesse caso o

governo poderia tentar utilizar-se de um dos citados recursos de curto prazo, a fim de

deslocar, ainda que temporariamente, a oferta de S para S’evitando pressões da

demanda sobre os preços.

Uma outra alternativa de curto prazo do governo são as importações.

Entretanto, ela somente deve ser utilizada em um prazo curto, uma vez que tende a

desestimular a produção doméstica e mesmo levar a uma dependência de outros países

no que diz respeito ao abastecimento interno de alguma mercadoria.

Por fim, o governo pode valer-se do racionamento, ou seja do controle da

demanda. Assim, através da restrição das compras é possível promover uma melhor

distribuição do produto, já escasso, entre as diversas regiões e/ou segmentos sociais. O

Gráfico 4.7 ilustra essa situação.

Gráfico 4.6. Impacto de um congelamento de preços abaixo do preço de equilíbrio com

a alternativa do racionamento

P

S

P0 E

Pt

D’ D

0 Qs Q0 Qd Q

130

PARTE V – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA

(BIBLIOGRAFIA – AGUIAR D. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS)

1. INTRODUÇÃO

1.1. A questão da comercialização dos produtos agrícolas

O termo ‘comercialização agrícola’ tem encontrado as mais diversas definições

na literatura. Dentre elas encontra-se a de Barros (1987), citada por AGUIAR (1993),

que mostra-se uma das mais interessante. O autor entende a comercialização agrícola

como sendo uma série de funções ou atividades de transformação e adição de utilidade,

onde bens e serviços são transferidos dos produtores aos consumidores. Nesse contexto,

cabe maior destaque é o processo produtivo da atividade, onde se percebe a

transformação de produtos agrícolas em seu estado natural, em mercadorias prontas para

o consumo final. Essas transformações pode ser divididas em quatro categorias, a saber:

alterações de posse, de forma, de tempo e de espaço.

A primeira dessas transformações diz respeito apenas ao fato de que o produto,

da sua origem ao consumo final, tem sua propriedade transferida a diversos agentes. A

segunda se reporta ao fato de que esse mesmo produto normalmente sofre

beneficiamentos do seu estado original até o consumo; a terceira indica a presença da

sazonalidade no setor agropecuário e, por fim, a quarta alteração diz respeito ao

deslocamento da produção (escoamento), uma vez que quase sempre há uma distância

entre a localização do cultivo e as regiões de consumo.

É importante ressaltar, contudo, que um produto agrícola pode encontrar-se

submetido a todas ou apenas algumas destas transformações. Por exemplo, quando uma

bebida láctea, produzida em Minas Gerais no mês de setembro, é consumida em

outubro, em São Paulo, tem-se a presença de todas as alterações citadas, pois o leite foi

extraído, passou a beneficiamento, deslocou-se para outro estado e, nesse meio tempo,

houve passagem de um mês. Contudo, se uma manga é colhida de um pomar no interior

do Rio de Janeiro, levada no mesmo dia para venda na feira local e é consumida por

determinado indivíduo, temos apenas alterações de posse e espaço, uma vez que o

produto não sofreu alterações em sua forma e tampouco houve alterações temporais.

131

O mercado

A atividade de comercialização envolve a troca de bens e/ou serviços por

dinheiro, e isso se dá em um ‘local’ denominado mercado. Embora o mercado possa ser

entendido como uma área circunscrita a um determinado espaço geográfico (centrais de

abastecimento, por exemplo), essa não é a sua melhor interpretação. Deve-se entender

mercado como a área de abrangência (influência) de um determinado produto. Assim

sendo, pode-se entender o mercado de carne de São José do Rio Preto como a região

onde vigora o preço da arroba do boi gordo naquela região, tendo por base o preço do

município citado.

Essa determinação, entretanto, não é definitiva. Alterações na infra-estrutura, por

exemplo, podem vir a ser fatores determinantes na mudança da área de abrangência de

um produto. Imagine-se um município “X” relativamente isolado, por questões de infra

estrutura, de algum centro de produção de arroz “Y”. Ele poderia encontrar-se fora

desse mercado, mas quando são construídas estradas adequadas ao intercâmbio entre as

duas localidades, pode haver a ampliação do campo de influência de “Y”.

Dentro do mercado podem ser encontrado diferentes níveis. O nível do produtor

é aquele que onde os produtores vendem a sua produção aos intermediários; o nível de

atacado é onde ocorrem as transações mais volumosas2. Por fim, o nível de varejo é

aquele onde encontra-se o último elo da ligação, e é o nível mais próximo ao

consumidor – esse é um nível de grande diversificação de mercadorias.

1.2. Principais características da produção e consumo agrícolas

Algumas características intrínsecas aos produtos e às atividades agrícolas

interferem diretamente no processo de comercialização. As principais peculiaridades

dos produtos agrícolas são a sua produção na forma bruta, sua perecibilidade e o seu

volume. Quanto à produção merecem se destacados a variabilidade da produção anual, a

sazonalidade, a distribuição geográfica da produção, a atomização da produção, a

presença de variações qualitativas, as dificuldades de ajustamento e as estruturas de

mercado enfrentadas.

2 É importante destacar que, no nível de atacado, existe relativa especialização da produção, o que permite aos agentes um bom conhecimento do mercado onde atuam.

132

Características dos produtos agrícolas

a) Produtos agrícolas são produzidos na forma bruta: os produtos agrícolas sempre

necessitam de algum tipo de ajuste para consumo final, que pode variar desde uma

simples lavagem (como é o caso da couve), até uma total transformação no produto

(como é o caso do extrato de tomate).

b) Produtos agrícolas são perecíveis: todos os produtos agrícolas, em maior ou menor

grau, são perecíveis. Isso indica que produtores que não têm condições de armazenar

e conservar devidamente seus produtos devem comercializá-los rapidamente – a

exemplo tem-se os feirantes que tendem a baixar os preços de seus produtos no final

da feira.

c) Produtos agrícolas são volumosos: o grande volume ocupado pelos produtos de

origem agrícola encarecem bastante os gastos em transporte e armazenamento da

produção.

Características da produção agrícola

a) Variabilidade da produção anual: o fato de a produção agrícola depender de fatores

que não estão totalmente sob controle do produtor (clima e pragas, por exemplo),

faz com que exista grande possibilidade de alterações nas safra de uma ano agrícola

para o outro. Deste fato surge a necessidade de estocagem de produtos essenciais

para a população para ‘desova’ em períodos de escassez.

b) Sazonalidade: as variações na safra ocorrem também ao longo do ano (efeito

sazonal) em função do ciclo das culturas e das estações. Assim, além dos estoques

formados com a finalidade de se manter uma margem de segurança entre os anos,

também é feito um armazenamento ao longo do ano, a fim de abastecer o mercado

nos períodos de entressafra.

c) Distribuição geográfica da produção: o fato da produção agrícola encontrar-se

distribuída por diversas regiões torna importante o serviço de transporte nas

atividades de comercialização. Essa diversificação das áreas ocupadas pela produção

se dá, algumas vezes em virtude de ganhos com a proximidade e disponibilidade dos

fatores de produção. Por outro lado, produtos muito volumosos, cujo transporte

133

encarece sobremaneira seu custo de produção, tendem a ser produzidos mais

próximos às regiões de consumo.

d) Atomização da produção: Além da produção der pulverizada geograficamente, no

Brasil, uma das principais características da produção agrícola é a atomização da

produção. Ela diz respeito ao fato de que pequenas quantidades do produto tendem a

ser produzidas por diversos pequenos agricultores. Muitos deles, na verdade,

produzem para autoconsumo e vendem somente os excedentes de sua safra.

e) Variações na qualidade dos produtos: Já foi afirmado que existem variações nas

quantidades dos produtos agrícolas, mas, além desse fato, merece destaque a

variação qualitativa a que se encontram sujeitos, principalmente em virtude de

problemas climáticos. Tais variações são relevante na medida em que influenciam

diretamente o preço obtido no mercado, principalmente em regiões onde o consumo

é mais exigente.

f) Dificuldade de ajustamento: A agricultura não é uma indústria que pode, num

determinado momento, por questões particulares, ajustar a sua produção de forma

imediata. O planejamento da produção é feito com meses de antecedência o que

torna maior o risco assumido pelos produtores rurais.

g) Estruturas de mercado enfrentadas: No mercado agrícola existe um alto grau de

concorrência e grande dificuldade de interferência no preço. Por outro lado, o

mercado de insumos é bastante concentrado, o que gera dificuldades adicionais de

manutenção dos ganhos dos produtores.

Além das características dos produtos e da produção agrícola, é importante ressaltar

os pontos mais relevantes na diferenciação do consumo de produtos agrícolas, uma vez

que fatores bastante subjetivos como os hábitos alimentares de cada grupo social podem

variar bastante de região para região e de período de tempo para período de tempo. De

modo geral os hábitos alimentares são consequência de quatro influências:

a) Valores psicológicos e funcionais da alimentação – contribuição nutricional;

b) Valores sociopsicológicos – status, religião, estilo de vida;

c) Disponibilidade e preço dos alimentos;

d) Conhecimento e informações obre o produto em questão;

134

Além desses fatore, que influenciam consideravelmente o consumo através do

impacto sobre os hábitos alimentares, existem outros que devem ser lembrados.

Modernização da sociedade e consumo de alimentos

Quanto mais ‘moderna’ é uma sociedade, mais exigente ela se torna quanto ao

beneficiamento feito no produto. Assim, o frango que antigamente era comprado vivo

na feira, hoje é adquirido semi-pronto nos supermercados. Essa alteração na demanda

leva a uma consequ6encia importantíssima: o incremento no pagamento de serviços

dentro das cadeias de produção agroalimentares.

Preço e consumo de produtos agrícolas

A demanda por produtos agrícolas é, de maneira geral, inelástica a preços. Isso

quer dizer, como já visto anteriormente, que uma queda na quantidade oferecida pelo

produtor gera um aumento na receita do agricultor mais que proporcional, enquanto que

um incremento na quantidade ofertada não consegue compensações na rende auferida

frente à queda nos preços. Contudo, pode-se perceber, dentro da categoria ‘produtos

agrícolas’, variações nas elasticidades dos produtos: quanto mais necessário, menor a

elasticidade; quanto mais supérfluo, mais elástico ele é em relação aos preços.

Renda e consumo de produtos agrícolas

Da mesma forma que os produtos agrícolas são pouco sensíveis a variações nos

preços, eles também não se mostram muito influenciados por alterações na renda. É

claro que este ponto merece algumas ressalvas. Em primeiro lugar tem-se que nas

sociedade onde existe extrema carência alimentar, alterações na renda tendem a

aumentar a demanda, necessariamente. Contudo, excluída essa hipótese, os aumentos

(ou redução) na disponibilidade de recursos não refletem na mesma medida sobre a

elevação (ou queda) do consumo de alimentos. Assim, se um trabalhador vê seu salário

aumentado em 50%, dificilmente ele aumentaria o consumo de algum produto alimentar

nessa mesma magnitude.

Existem ainda casos onde o aumento da renda pode levar à diminuição do

consumo de determinado tipo de bem (são os bens ditos inferiores). Imagine-se o caso

de uma comunidade que, por carência de recursos, consuma um alto nível de arroz e

quase nenhuma carne. Na medida em que o padrão de renda se eleva provavelmente as

135

pessoas não comprarão mais arroz; do contrário, passarão a diminuir a quantidade

consumida deste produto e procurarão aumenta o consumo proteínas.

2. ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS

2.1. Estrutura de mercados agroindustriais

Na maioria das vezes o produtor rural encontra-se em situação desvantajosa junto

aos mercado onde atua. De um lado, vende em um mercado onde quase sempre não tem

poder de influenciar o preço – que seja o de competição perfeita, quer seja ele

oligopsonista. De outro, compra seus insumos em um mercado concentrado, onde sua

ação é, em geral, pequena o suficiente para não se fazer notar em termos de influência

real nos preços de mercado.

Nesse contexto, um conhecimento mais preciso acerca das estruturas de mercado

pode ser um instrumento importante no auxílio aos produtores, no sentido de lhes

permitir conviver com mais adequação em ambiente adverso. Basicamente existem

quatro tipos de mercado: o de concorrência pura, o monopólio, o oligopólio e a

concorrência monopolística. É claro que existem inúmeras variações entre essas

definições padronizadas, mas essas estruturas fornecem uma base suficientemente sólida

para o que será aqui desenvolvido. Embora esses mercado venham a ser melhor

estudados na seqüência desse texto, é importante destacar algumas características que

lhe são mais particulares.

Um mercado em concorrência perfeita caracteriza-se pela ausência de competição

parcial, pelo grande número de agentes partícipes, pela homogeneidade do produto e

pela total facilidade que os agentes encontram de entrar e sair desse mercado. O

monopólio, ao contrário se caracteriza pela existência de um único vendedor, que

controla totalmente o mercado, sendo o seu surgimento fruto das condições naturais

existentes no momento ou advindo da imposição de barreiras político-financeiras. Os

oligopólios são estruturas onde pouco e influentes participantes ‘dividem’ o mercado e

efetuam acordos, explícitos ou implícitos, de atuação. Por fim, a concorrência

monopolística se caracteriza pela presença de muitos agentes que se destacam via

diferenciação do produto.

136

Independente, contudo, do mercado em questão, o conhecimento das suas estruturas

é sempre ferramenta eficaz na melhoria da ação produtiva. A estrutura de mercado pode

ser entendida como o conjunto dos elementos estratégicos do meio ambiente que

influenciam e são influenciados pela conduta e pelo desempenho da firma no mercado

em que ela opera (AGUIAR, 1993).

O quadro 1.1 a seguir descreve a estrutura de análise e as possíveis variáveis a serem

consideradas na avaliação de um mercado.

Quadro 1.1. Estrutura de análise e possíveis variáveis para a avaliação de mercados

CONDIÇÕES BÁSICAS DE MERCADO

Oferta Demanda

Elasticidade (própria e cruzada) Elasticidade-preço Origem da matéria básica Taxa de crescimento Tecnologia Tipo de mercado Durabilidade do produto Método de compra Valor/peso Caracteres cíclico/estacionais Atitudes comerciais Localização Localização

ESTRUTURAS DE MERCADO

Maturidade da indústria Participação do governo Diferenciação do produto Distribuição Barreiras à entrada Estruturas de custo Número de agentes Integração vertical Economias de escala

CONDUTA DA EMPRESA

Colusão Estratégia de preço Estratégia de produto Táticas legais Flexibilidade Propaganda Pesquisa e desenvolvimento

DESEMPENHO E EFICIÊNCIA DAS EMPRESAS

Produto Crescimento do produto Emprego Equidade Avanços tecnológicos Eficiência alocativa

Barreiras à entrada de novas firmas

Uma das principais conclusões da teoria econômica é a de que as imperfeições

de mercado (ausência da competição perfeita) leva à possibilidade da existência de

lucros supernormais, ou seja, à presença de remuneração atrativa no mercado, para os

agentes que dele participam. Essa situação tende a despertar o interesse de outros

participantes potenciais que se vêm estimulados pela possibilidade dos ganhos

adicionais.

137

A entrada de tais concorrente não acontece em virtude da existência de

‘barreiras’ à sua entrada, mecanismos de proteção contra o aumento de concorrência

dentro dos mercados. Algumas das barreiras possíveis são:

1. Condições de demanda (exigência por diferenciação do produto, lealdade dos

consumidores a uma determinada marca etc...);

2. Controle sobre a oferta de insumos;

3. Fatores legais e institucionais;

4. Economia de escala;

5. Requerimentos de capital;

6. Fatores tecnológicos.

Desempenho das empresas no mercado

As avaliações de mercado devem levar em consideração os objetivos de

qualquer sistema econômico, quais sejam:

1. Fazer a completa utilização dos recursos disponíveis, utilizando-os no limite da

tecnologia existente;

2. Propiciar, através dessa utilização, a máxima satisfação para a sociedade de forma a

impedir que tal satisfação social se dê às custas do rebaixamento do padrão de vida

de quaisquer de seus membros;

3. Deve haver progresso, isto é, deve-se sempre tentar manter a disponibilidade e

aumentar a qualidade das mercadorias disponíveis no mercado.

Para mensurar o desempenho, é importante conceituar o que venha a ser eficiência

de mercado, que pode ser basicamente entendida como o alcance do objetivo de utilizar

os recursos segundo uma combinação, a mais rentável possível, tal que seja produzida a

maior quantidade de produto minimizando os custos. Esse conceito envolve ainda dois

outros:

1. Eficiência-preço: indica o sucesso das firmas em maximizar lucros, isto é, em

igualar o valor do produto marginal ao seu preço;

2. Eficiência-técnica: indica o sucesso das firmas em produzir maiores quantidades do

produto a partir de um conjunto de insumos mensuráveis;

Em consequência disso, ter-se-á:

138

1. Uma firma será preço-eficiente se receber de cada fator de produção exatamente

aquilo que paga para utilizar o mesmo;

2. Uma firma será considerada tecnicamente mais eficiente que outra que utiliza a

mesma tecnologia se, dadas as mesmas quantidades de insumo conseguir um mais

alto nível de produto.

2.2. Integração vertical

Quanto mais modernas são as sociedades, mais exigentes elas se tornam no que diz

respeito à elaboração do produto agrícola consumido. Isso quer dizer que a participação

do produto não agrícola (serviços por exemplo) é cada vez mais avançada. Como

consequência, surgiu a necessidade de homogeneização da produção e a certeza da

manutenção de um fluxo contínuo de produto para alimentar as atividades industriais.

Nesse contexto surge a figura da firma – cada vez mais presente – que coleta o

insumo diretamente junto ao produtor, o processa e o coloca no mercado. Essa empresa,

denominada integradora passou a Ter importância fundamental em certos setores da

agricultura. Ela está associada ao desenvolvimento técnico, ao crescimento de alguns

setores e ao deslocamento da produção para outras regiões. Existem diversas culturas

intimamente ligadas ao processo de integração, como o fumo, a seda, semente e suínos,

dentre outros; contudo, é na avicultura de corte que a integração assume maior impacto.

O conceito de integração

Segundo (AGUIAR,1993),o termo integração é geralmente utilizado para

descrever um aspecto organizacional da produção. Existem, basicamente, dois tipos de

integração:

1. Integração horizontal, quando há a combinação de duas ou mais firmas atuando no

mesmo estágio do mesmo processo produtivo;

2. Integração vertical, que ocorre no caso de duas ou mais firmas colocadas sob a

mesma organização atuarem em estágios separados do mesmo processo produtivo.

A firma é então definida como a unidade individual de tomada de decisão, no

sentido de planejar e colocar juntos, no tempo e no espaço, suprimentos e materiais que

darão origem a um determinado tipo específico de bem.. Cada estágio de produção deve

139

ser entendido como uma das diferentes fases do processamento produtor-consumidor

em que existe troca da propriedade do produto sem que o bem seja consumido.

A integração vertical ainda pode ser subdividida em integração para trás e/ou

integração para frente, estas sendo entendidas como:

1. Integração para trás: ocorre na direção dos insumos e é feita de forma a permitir

maior controle sobre a matéria prima, assegurando o seu fluxo em tempo e

qualidade desejados;

2. Integração para frente: se dá em direção ao consumidor final do produto, permitindo

organizar melhor a produção.

Os ganhos para a firma, advindos da integração vertical advém principalmente dos

ganhos de eficiência obtidos em:

1. Redução de custos (ganhos de escala);

2. Evitam-se custos associados com o mecanismo de preços de mercado, ou seja, a

própria empresa se apropria de ganhos normalmente auferidos por setores

econômicos intermediários.

3. Redução do grau de incerteza associado à qualidade e pontualidade na entrega dos

produtos agrícolas utilizados como matéria-prima.

A figura 1.1 fornece uma descrição gráfica do processo de integração vertical na

indústria de frango de corte, demonstrando a interdependência relativa dos diversos

agentes e evidenciando os diferentes processos existentes no trajeto produtor-

consumidor.

Um freqüente questionamento a respeito dos benefícios da integração vertical

para o produtor, principalmente o de pequeno porte, refere-se ao fato de que a empresa

integradora pode obter ganhos consideravelmente mais elevados pela sua posição

relativamente monopolística. Em outras palavras, uma vez integrado, o produtor se vê

afastado dos mecanismos tradicionais de formação de preços via mercado, de forma

que, em algumas situações, depara-se com preços menos atraentes junto à empresa com

a qual se encontra integrado.

140

Figura 1.1. Descrição da integração vertical na indústria de frango de corte

Frango vendido no varejo

(frango abatido)

Frigoríficos

(frango vivo)

Integrados

(criação de pintos)

Fábrica de ração

Incubadora (ração)

Ovos

Matrizeiro

Pintos

Mas, sendo assim, o que leva o produtos a aceitar, e mesmo optar pela

integração? O principal motivo, sem dúvida é a redução nos riscos de preço propiciada

pelo processo integrativo. O pequeno produtor, em particular, por não possuir condições

de enfrentar grandes variações nos preços, é extremamente avesso ao risco. Sendo

assim, escolhe integrar-se pois, se eventualmente perde alguma coisa, no geral ganha

pela estabilidade proporcionada pelos contratos. Além disso, a integradora, pelo fato de

possuir interesse na homogeneização do produto e na qualidade do mesmo, quase

sempre fornece razoável infra-estrutura de assistência técnica e saneamento.

É preciso lembrar, ainda, que os contratos de integração nem sempre são totais,

ou seja, muitas vezes exige a garantia do fornecimento de apenas parte da produção

total, podendo o produtor vender o restante a preços de mercado, se assim o desejar.

141

2.3. Cooperativas agrícolas

Há mais de sessenta anos o modelo cooperativista participa ativamente da

estrutura produtiva brasileira. Tendo suas origens nas necessidades individuais e de

grupos que viam nesta alternativa a solução para vários de seus problemas - através da

convergência de interesses e ações num objetivo comum -, as cooperativas foram

ganhando espaço crescente principalmente nas atividades agropecuárias brasileiras.

A partir de meados dos anos trinta, podemos notar a expansão desse movimento

sob o influxo dos incentivos governamentais. Tal ocorrência não se deu apenas pela

visualização por parte do Estado, de que os pequenos produtores deveriam buscar

alternativas que lhes permitissem aumentar a sua rentabilidade e superar problemas de

condução da sua atividade. Esse apoio governamental se dava também pelo fato de que

la se comparado a estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais as cooperativas

poderiam alavancar o crescimento da produção agrária e solucionar - ainda que

parcialmente - um grave problema de então : o abastecimento urbano.

Dessa maneira o movimento cooperativista cresceu e sustentou seus objetivos

durante cerca de quatro décadas. A partir de 1970 com a chegada de multinacionais de

porte no ramo dos alimentos, as cooperativas passaram a enfrentar algumas dificuldades

em manter seu controle de mercado e expansão.

Atualmente a participação das cooperativas na produção e comercialização de

produtos agrícolas ainda é grande. Como em todo país, elas vêm enfrentando o desafio

de diversificar sua linha de produção, aumentar sua flexibilidade e poder de

adaptação, e competir num mercado dinâmico e de estratégias mais agressivas, ainda

que com mecanismos de atuação aquém das requisitadas .

Como já dito, modelo de organização e funcionamento das cooperativas atendeu,

durante um bom período de tempo - até fins da década de 60 - , a quase totalidade das

expectativas traçadas a seu respeito. Isso porque, desde o seu surgimento oficial nos

anos 30 até por volta de 1970, seus objetivos de facilitar e aumentar a rentabilidade dos

produtores pareciam estar sendo satisfatoriamente atingidos.

Dentro do segmento agropecuário o movimento cooperativista

conseguiu ganhar um espaço considerável. Isso decorre do fato de que

haviam inúmeros pequenos produtores que encontravam na união de esforços

a alternativa para o bem comum. Entretanto as características desse mercado nos

anos 30 não são as mesmas observadas nos anos 70, e tampouco se equiparam às dos

142

dias atuais. Com isso não deseja-se rechaçar a idéia de que várias pessoas com um

único propósito tenham maiores chances que agindo de modo individual. Pretendemos

apenas destacar que estudos recentes mostram que as cooperativas têm demonstrado

uma certa dificuldade em acompanhar o dinamismo atual do setor. As que conseguem

êxito, o fazem justamente por terem procurado se adequar à filosofia de funcionamento

das cooperativas às exigências do mercado , principalmente no que tange à competência

administrativa.

"O ambiente concorrencial não se define fundamentalmente em torno da

questão tecnológica. A falta de atualização tecnológica detectada em alguns estudos

reflete as condições do mercado doméstico , mais do que barreiras em relação ao

acesso. No entanto, a conjuntura atual exige novas competências que apontam para a

necessidade de medidas para acelerar o profissionalismo das estruturas gerenciais

das cooperativas, bem como mecanismos que flexibilizem sua estrutura

organizacional.3

Com a consolidação da presença das multinacionais a partir de meados de 1970

as cooperativas puderam sentir o impacto de uma nova ordem de coisas , a necessidade

de se ajustarem ao processo de alteração dos padrões concorrenciais.

A partir de então as multinacionais aqui presentes adotaram estratégias

agressivas de crescimento com aquisições subsequentes e lançamentos de novos

produtos. Ao mesmo tempo se instala um panorama mundial de subsídios e

concorrência via preços , requisitando maior eficiência administrativa e um melhor

gerenciamento de custos .

"Nesse ambiente a situação das cooperativas mostra-se a mais vulnerável.

Estratégias agroindustriais determinadas prioritariamente por interesses agrícolas e

uma certa fragilidade gerencial e financeira colocam a estrutura cooperativa em

desvantagem face a padrões de concorrência baseados em take overs e capacidade

mercadológica. Uma avaliação da reestruturação do setor nos EUA e na CEE aponta

para um declínio na participação do setor cooperativista, onde este convive com um

forte setor de capital aberto." 4

Um avanço importante na organização das cooperativas foi a consolidação em

centrais, que permitiu maior capacitação para atender a demanda dos centros urbanos ,

através da expansão de seus parques e da diversificação de seus produtos. Atualmente,

3Wilkinson, 1993,pag.08.

143

além de tentar manter sob controle as conquistas já realizadas, as cooperativas vêm se

empenhando em participar de segmentos mais dinâmicos que os seus mercados

tradicionais.

Três fatores se mostram como os mais relevantes nesse processo de ajuste

cooperativista ao novo contexto de competitividade. Em primeiro lugar é preciso

fomentar as ações de concentração de atuação no mercado - como as que se vêm

realizando através da união em Centrais - e mais ainda, é preciso definir estratégias

que tornem mais as ágeis. A adoção do modelo europeu, com a formação de sociedades

anônimas subsidiárias parece ser uma alternativa viável, pois esse modelo permite uma

maior autonomia , tendo a empresa, por finalidade o seu crescimento e lucratividade,

enquanto que a estrutura básica da cooperativa prevê que o objetivo desta deverão ser

ela própria, mas seus associados.

Em segundo lugar é preciso que se dê atenção especial à questão gerencial.

Embora alguns avanços nesse sentido já possam ser notados - principalmente pela

utilização de planejamento estratégico - em algumas centrais cooperativas, é preciso

melhorar a definição de como atingir este aprimoramento administrativo. O panorama

atual, onde não há tabelamento de preços, existe uma maior abertura de mercados - a

nível nacional e mundial -, e com uma dinâmica explícita exige que se faça uma

profissionalização dos quadros gerenciais das cooperativas.

"Alguns aspectos dessa profissionalização dizem respeito à ordem jurídica das

cooperativas, à natureza de sua diretoria e as suas relações com o Estado."5

Por fim vale ressaltar que a própria estrutura das cooperativas - principalmente

as mais antigas e que não se modernizaram - quer Centrais ou individuais - , representa

um entrave à integração dos diversos níveis de sua estrutura. Essa afirmação é valida

tanto internamente, quanto para o processo de integração das cooperativas com as

Centrais e das Centrais entre si.

Pelo que se pode concluir , o problema da manutenção da estrutura

cooperativista como empreendimento viável e competitivo , principalmente nos

segmentos mais dinâmicos do mercado de alimentos, depende da sua adequação aos

padrões concorrenciais vigentes. Sua filosofia de funcionamento, conquanto positiva

em seus objetivos e fundamentos , deve ser trabalhada de forma a dar espaço para que

se desenvolvam, paralelas a ela, mecanismos que as tornem mais competitivas.

4Wilkinson, 1993, pag.02.

144

Para tanto, é preciso reestruturar o modelo de funcionamento cooperativista,

buscando alternativas de fazê-lo capaz de fazer frente a empresas dinâmicas e

realmente dispostas a disputar o mercado.

2.4. Riscos na comercialização e mercados futuros

Praticamente toda atividade econômica incorre em algum tipo de risco, uma vez

que nem todas as variáveis envolvidas em um processo produtivo encontram-se sob o

controle dos agentes responsáveis pela produção. Com relação à comercialização de

produtos agrícolas, a amplitude dessa variabilidade depende do tipo de mercado

utilizado e do produto comercializado. De qualquer forma, os principais tipos de riscos

envolvidos são:

1. Destruição da produção por desastres naturais;

2. Deterioração do valor do produto que pode ocorrer por deterioração da qualidade ou

por bruscas variações nos preços.

Embora o risco de perda por agentes naturais seja praticamente impossível de ser

eliminado, existem, atualmente, mecanismos que os minimizam, como é o caso dos

seguros. No Brasil, o seguro sobre a produção agrícola vem sendo feito exclusivamente

pelo Estado. No caso das perdas oriundas por deterioração física do produto, a única

forma de preveni-la é através de um adequado processo de armazenamento e transporte

(principalmente no caso de hortifrutigranjeiros) e, quanto à perda por quedas nos preços,

a alternativa poderia ser uma eficaz política governamental de preços agrícolas.

Introdução aos mercados futuros

Os mercados futuros, como são conhecidos, constituem o instrumento de

mercado mais eficaz para eliminar o risco de preço dos bens econômicos. Toda

atividade econômica está sujeita a riscos que podem, como já dito anteriormente, advir

de dois fatores: do risco intrínseco ao negócio em si e o relacionado a fatores externos.

Um agricultor, por exemplo, no desenvolvimento de sua atividade, corre o risco de não

ter uma colheita bem sucedida, em função de uma série de fatores – variação climática,

má preparação da mão-de-obra, más condições de estocagem etc. Esses aspectos,

5Wilkinson, 1993, pag. 47.

145

entretanto, constituem o risco inerente a sua atividade econômica. Por correr esse risco

o agricultor demanda uma rentabilidade para o seu negócio.

Contudo, ele sabe que, devido a outros fatores sobre os quais não tem controle

e/ou conhecimento, sua rentabilidade pode ficar comprometida. Esses fatores adicionais

implicam incerteza quanto ao preço pelo qual conseguirá vender seus produtos quando

estiverem disponíveis Evidentemente esse risco pode ser benéfico ao agricultor, ou seja,

ele pode conseguir vender a sua colheita a um preço melhor do que o esperado. Porém,

ele poderia estar disposto a abrir mão dessa possibilidade, em troca de não precisar

correr o risco de realizar a venda por preço inferiores ao que lhe traria uma rentabilidade

compensadora.

Inversamente, outros agentes econômicos, além dos riscos inerentes às suas

atividades, correm um risco adicional exatamente oposto: comerciantes e distribuidores,

ou processadores dos produtos vendidos pelo agricultor gostariam de se ver livres do

risco de uma alta abrupta nos preços dos bens que lhes serão necessários. Para tanto,

abrem mão da possibilidade de adquiri-los, no futuro, por preços mais baixos.

É em permitir a permuta desses riscos que se insere a função básica dos

mercados futuros.

Embora o surgimento dos mercados futuros esteja ligado aos produtos agrícolas,

atualmente as operações a futuro nas bolsas de commodities de todo o mundo são

realizadas com uma variada gama de bens, incluindo metais (ouro, prata) , produtos

agropecuários (café, milho, soja), ativos financeiros , moedas e índices.

Embora as transações a futuro sejam muito difundidas em alguns países mais

desenvolvidos, esse tipo de negociação ainda é relativamente pouco utilizado no Brasil.

As compras e vendas de contratos ocorrem nas bolsas de mercadorias. Essas

bolsas têm a função de padronizar quantidade, qualidade, época e local de entrega dos

produtos. Como exemplo pode-se citar que na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)

de São Paulo, cada lote de café corresponde a cem sacas de 60kg líquidos de bebida tipo

6, para melhor, livre de gosto “Rio” ou “Rio Zona”, para entrega em março, maio, julho,

setembro ou dezembro.

As negociações, dentro da bolsa ocorrem de maneira bastante aberta, de modo

que a sua apresentação aproxima-se bastante de um mercado em concorrência perfeita.

Além disso, qualquer pessoa, física ou jurídica, pode participar da bolsa, desde que

preencha os requisitos por ela estabelecidos.

146

Os participantes das operações a futuro podem ser classificados em dois grupos:

os “hedgers” e os especuladores. Os primeiros são agentes que têm ou desejam Ter o

produto (físico) e buscam proteção contra flutuações nos preços; eles utilizam o

mercado futuro como meio de apoio para suas atividades no mercado e não como

atividade fim. Por outro lado, os especuladores são agentes que quase sempre não têm o

menor interesse no produto físico. Eles buscam apenas os lucros resultantes das

sucessivas operações de compra e venda dos contratos futuros.

Para o bom funcionamento do mercado é preciso a existência de ambos os

agentes. A função dos especuladores, longe de ser adversa, é benéfica no sentido de

conferir maior liquidez ao mercado. A especulação proporciona um número muito

maior de propostas de compra e venda, o que facilita a estabilização dos preços e torna

mais fácil a entrada e saída dos demais agentes.

O mercado de opções

Recentemente o governo federal lançou os Contratos de Opção como um

mecanismo de sustentação dos preços agrícolas, ou seja, uma nova alternativa para a

comercialização de sua produção. Trata-se de uma modalidade de seguro de preços

bastante difundida em alguns países, como os Estados Unidos.

O Contrato que o governo federal lança é o de Opção de Venda, que dá ao

produtor o direito – mas não a obrigação – de vender a sua produção para o Governo,

numa data futura, a um preço previamente fixado. Serve para proteger o produtor contra

riscos de queda nos preços de seu produto.

Como é do conhecimento da maioria dos produtores, os recursos para o Governo

Federal comprar ou financiar a estocagem de produtos agrícolas, através da Política de

Preços Mínimos, estão ficando cada vez mais escassos. Tem sido frequente os preços de

mercado ficarem abaixo dos preços mínimos por insuficiência de recursos para garantir

o preço mínimo a todos os produtores em todas as regiões produtoras.

Daqui por diante, se ocorrer essa hipótese, o Governo terá a alternativa de

oferecer aos produtores o Contrato de Opção. Ele não viabiliza a venda imediata da

produção, mas dá ao produtor a certeza de que o seu produto poderá ser vendido ao

Governo, numaa data mais à frente, previamente conhecida, a um preço superior ao

preço mínimo.

147

De posse da garantia dada por esse contrato formal, o produtor ganhará fôlego

para buscar no mercado um preço melhor para seu produto e, ao mesmo tempo, terá

mais facilidade na obtenção de financiamento bancário para estocagem da produção, até

o momento adequado à venda.

Embora esteja sendo implementado o mecanismo das Opções o preço mínimo

não deixará de existir. Ele é um mecanismo previsto em lei e não será substituído, mas

complementado pelo Contrato de Opção. Assim, o Contrato de Opção será interessante

para o produtor sempre que, diante da escassez de recursos para sustentar os preços de

mercado no nível dos preços mínimos, sua única alternativa seja a venda da produção a

preços abaixo do mínimo fixado pelo Governo. Nessa hipótese, adquirir o Contrato de

Opção será o mesmo que fazer um seguro para o preço da mercadoria ou seja, garantir

que o preço da produção não cairá abaixo do preço previsto naquele contrato. Se, até a

data de vencimento da Opção, o mercado não pagar um preço melhor do que o

oferecido no Contrato, o produtor poderá vender a sua produção ao governo, pelo preço

previamente contratdo e, nesse caso, estará exercendo a sua opção de venda.

Nem todos os produtos agrícolas estão amparados por esse mecanismo.

Inicialmente, apenas o arroz (agulhinha) em casca, o milho em grãos, o trigo em grãos e

o algodão em pluma serão beneficiados. Uma outra exigência feita pelo Governo é a de

a primeira compra seja feita pelo produtor. A partir daí o contrato poderá ser livremente

negociado pelo produtor com qualquer outro agente de mercado ou parte interessada em

adquiri-la.

Como esse contrato funciona como um seguro (seguro de preços), o acesso a

esse benefício não será gratuito. Ele será vendido em Bolsas de Mercadorias ou de

Futuros, através de leilões públicos a serem feitos pela Companhia Nacional de

Abastecimento/CONAB e os produtores participam através das corretoras credenciadas

na Bolsa. Para a aquisição do direito de vender a sua produção para o Governo (compra

do contrato de Opção) o produtor terá de oferecer, no leilão da CONAB, o preço que ele

julga poder pagar para ter direito a esse seguro de preços. O valor a ser pago para a

aquisição do Contrato é chamado de prêmio, e os Contratos oferecidos serão

arrematados pelos produtores que oferecerem os maiores prêmios.

Quanto ao pagamento do produto pela CONAB, este será feito a um valor

definido como peço de exercício, que será divulgado antes do leilão, através de um

aviso específico, publicado em jornais e enviado às Bolsas participantes da operação.

148

Quanto às possibilidades de desistência tem-se que, por parte do produtor, caso

optem por não vender o Contrato ao Governo, não precisará tomar nenhuma

providência, bastando não manifestar interesse pela venda dentro do prazo exigido para

tal. Já o Governo, caso decida pela não formação de estoques do produto ou por poupar

recursos pode fazer leilões específicos para tentar recomprar os Contratos vendidos. Se

o produtor (ou outro titular) se interessar pelo prêmio que o Governo lhe oferecer para

desfazer o negócio, o contrato poderá ser recomprado e a operação desfeita. É claro que

essa operação somente irá interessar ao produtor se o valor oferecido pelo governo,

somado ao preço que o seu produto alcança no mercado, for igual ou superior ao valor

de aquisição previsto no Contrato (preço de exercício).

Por fim, vale destacar as principais diferenças entre o mecanismo das Opções e

a Política de preços mínimos , já que estes podem ser confundidos - tabela 2.1. abaixo.

Tabela 2.1. Principais diferenças entre a Política de Preços Mínimos e o Contrato de

Opção

Preço Mínimo Contrato de Opção

O preço mínimo é um direito previsto na lei, cuja

efetividade fica limitada aos recursos alocados

anualmente no Orçamento Geral da União.

O Contrato de Opção é um instrumento jurídico que

dá uma garantia objetiva ao produtor, com cláusulas

específicas sobre datas, valores, etc...

O valor do Preço Mínimo é fixo, independente do

mês em que o produtor venda a sua produção ao

Governo.

O Contrato de Opção tem um valor (preço de

exercício) geralmente maior do que o preço mínimo,

pois é projetado para a época do vencimento, podendo

variar de acordo com o prazo do contrato.

O Preço Mínimo é pago na data da contratação da

operação, seja como Aquisição do Governo Federal -

AGF -, seja como Empréstimo do Governo Federal –

EGF .

O preço de exercício previsto no Contrato de Opção

somente é pago na época de seu vencimento (venda

ao governo)

Quando o produtor consegue acesso aos preços

mínimos, não lhe é cobrado qualquer custo.

Para ter direito de vender o seu produto ao Governo,

via Opção, o produtor tem que pagar um prêmio de

aquisição.

A garantia do Preço mínimo é obtida através do

sistema bancário.

A compra do Contrato de Opção é feita através das

Bolsa de Mercadorias e Futuros.

A efetividade da Política de Preços Mínimos depende

da disponibilidade de recursos no Orçamento da

União, quando os preços mínimos da safra de verão

Os Contratos de Opção serão vendidos na época da

colheita; no caso da safra de verão da região Centro-

Sul, por exemplo, isso significa que já se saberá o

149

são anunciados, ainda que não exista um orçamento

aprovado para o ano em que a produção será colhida.

valor previsto no Orçamento para essa finalidade.

3. CUSTOS NA COMERCIALIZAÇÃO

Entre o produtor e o consumidor de produtos agrícolas existe um grande número de

agentes intermediários. Quando esses atores exercem suas atividades, incorrem em uma

série de despesas, como salários, aluguéis, impostos, depreciações etc., gatos esses que

são definidos como ‘custos de comercialização’. A mensuração de tais custos é

complexa porque envolve o levantamento sistemático de todas as atividades envolvidas

por cada um dos intermediários. Em virtude disso, define-se, então, a chamada margem

de comercialização, que é a diferença no preço do produto nos diversos níveis de

mercado expressos em unidades equivalentes. Ela é calculada a partir do levantamento

dos preços nos diferentes níveis, o que é bem mais simples do que efetuar o

levantamento de todos os ítens envolvidos no processamento da produção. Sendo assim,

conceitualmente a margem pode ser entendida como:

M = C + L, onde C é o custo e L o lucro (positivo ou negativo)

A principal vantagem no cálculo das margens consiste no acompanhamento de sua

evolução para a avaliação do desempenho dos mercados. No entanto, algumas

considerações devem ser realizadas:

1. Para produtos idênticos, quanto mais competitivo o mercado, menor deve ser a

margem de comercialização;

2. Quanto maior o processamento e manuseio do produto, maior deve ser a margem de

comercialização;

3. Quanto maior o risco envolvido, maior a margem de comercialização;

4. Certas alterações na tecnologia tendem a diminuir as margens, enquanto outras

tendem a aumentá-la;

150

5. COMERCIALIZAÇÃO NO AGRONEGÓCIO

5.1. Introdução

Atualmente está cada vez mais difícil para o produtor rural responde às clássicas

perguntas do sistema econômico: o quê? Quanto? Como? E para quem produzir? Saber

o que produzir tornou-se uma tarefa tão cheia de ameaças e/ou riscos que exige do

produtor um planejamento, o mais preciso possível, para remunerar suficientemente os

recursos investidos e permanecer na atividade com sucesso.

A principal dificuldade que o produtor rural encontra hoje é interpretar os desejos e

as necessidades do consumidor moderno num contexto de mudanças contínuas dos

hábitos e preferências dos consumidores. Cada vez mais exigentes, esses consumidores

exigem uma atenção redobrada do produtor para acompanhar e atender seus desejos.

Um fato importante para o produtor rural, decorrente da necessidade de

atendimento rápido e eficiente ao consumidor moderno citado acima, é a mudança

ocorrida na forma de organização do sistema de distribuição dos produtos. O sistema

tradicional de produção-distribuição dos produtos. Tal sistema se transformou em um

mecanismo mais moderno de produção-agroindustrialização-distribuição, para

conseguir atender as necessidades dos consumidores em tempo, forma e lugar de modo

mais efetivos. O produtor, antes isolado, passa a fazer parte de um sistema mais

complexo e mais integrado, que é o agronegócio. Nesse novo sistema, a

comercialização passa a Ter um papel muito mais relevante do que antes, ela não só

exerce a função de levar o produto do produtor ao consumidor, mas assume uma

abrangência muito maior que é a de dirigir todo o processo de produção-

agroindustrialização, além da distribuição, como era entendido.

5.2. A comercialização no agronegócio

O agronegócio pode ser visto como um conjunto de subsetores ou segmentos

interrelacionados que trabalham juntos formal ou informalmente para produzir bens e

serviços. De um modo geral pode-se dizer que, sob o novo sistema de organização da

produção-agroindustrialização, a comercialização exige do produtor e/ou dos

empresários pertencentes ao sistema uma visão mercadológica, uma visão

administrativa e uma visão sistêmica para gerenciar o mesmo adequadamente.

151

5.2.1. Visão mercadológica

O modo de praticar ou fazer a comercialização, para muitos, é uma habilidade

inata, um dom para os negócios, uma questão de bom sendo. Entretanto, como ciência, a

comercialização apresenta várias técnicas que, combinadas a uma ‘filosofia’ de como

administrar adequadamente as questões, podem ampliar, substancialmente, o sucesso da

atividade.

O termo ‘marketing’, traduzido por comercialização na maioria dos livros-texto

no Brasil, tem sido percebido ou interpretado de maneiras diversas. Ora como um

conjunto de atividades, principalmente físicas, voltadas para a movimentação de

mercadorias; ora como uma maneira ou ‘know-how’ de fazer vendas bem feitas,

associada, principalmente, à idéia de propaganda ou imagem de produtos ou serviços.

Essas e outras visões são, em geral, equivocadas: as organizações podem Ter uma

percepção ampla da comercialização, seja como um instrumento de influenciar pessoas

ou de servir pessoas, seja como uma pequena parte de seu negócio ou grande parte, seja

como uma tarefa de bom senso ou como uma prática treinada. A figura 5.1. mostra a

diferencá entre os conceitos de comercialização-venda e comercialização-marketing.

Figura 5.1. Contras te entre os conceitos de comercialização-venda e comercialização-

marketing

FOCO MEIO FIM

Produto técnicas de Venda Lucro através de Influenciar

propaganda, promoção maior volume de vendas hoje. pessoas

(a) Comercialização-venda

FOCO MEIO FIM

Desejos do Componentes do Lucro através de Influenciar

consumidor marketing satisfação do consumidor + pessoas

maior volume de vendas

no longo prazo

(b) Comercialização-marketing

152

O conceito de ‘comercialização-venda’ começa com os produtos existentes na firma

e considera a tarefa de comercialização como a de usar a venda e a promoção, para

estimar um volume de vendas lucrativas. O conceito de ‘comercialização-marketing’

começa com os clientes existentes e potenciais e suas necessidades; e considera a tarefa

da comercialização como um conjunto planejado de produtos e programas para servir ou

atender a essas necessidades, e espera obter seus lucros na criação de valiosas e

significativas satisfações para o consumidor. Desse modo pode-se dizer que o conceito

de comercialização-marketing é uma orientação voltada para o consumidor por meio da

comercialização integrada, com o objetivo de gerar a satisfação do consumidor como

chave para satisfazer os objetivos de lucros e os propósitos da organização.

A diferença entre comercialização-venda e marketing está mais do que na

semântica. A venda focaliza a necessidade do vendedor, o marketing a necessidade do

consumidor. A comercialização-venda está preocupada com a necessidade do vendedor

em converter o seu produto em dinheiro, enquanto que a comercialização-marketing

com a idéias de satisfazer à necessidade do consumidor por meio do produto e de todo

o conjunto de atividades associada à sua criação, entrega e consumo final.

Em uma organização orientada para a comercialização-marketing, os produtos, os

canais de distribuição usados e as promoções de venda estão todos relacionados, como

meios de se atingirem as necessidades dos consumidores com lucro. A comercialização

assim entendida está relacionada com três atividades: 1. Reconhecimento da demanda

(ou demanda potencial); 2. Estimulação da demanda pela promoção e venda ; e 3.

Satisfação da demanda, em grande parte, pelo produto em si mesmo e pelos meios de

distribuição que o torne disponível. Do ponto de vista da firma, isso pode ser visto na

figura 5.2.

153

Figura 5.2. Componentes do marketing

Cada elemento da figura acima, em uma maior ou menor extensão, dependendo

do caso específico, desempenha o papel de persuadir o consumidor a comprar. Os itens

individuais estão interrelacionados, não podem ser considerados isoladamente, por isso

é a combinação deles, e não cada um, que resultará na venda.

5.2.2. Visão administrativa A essência do trabalho do indivíduo pela comercialização é ser capaz de

balancear os vários componentes do marketing, de tal modo a maximizar as vendas.

Para alguns estudiosos, a comercialização agrícola é uma atividade específica, em que

aspectos políticos e sociais são inerentes a ela. Trataria dos negócios, da política e do

aspecto social. Contudo, no que diz respeito à comercialização de produtos agrícolas,

tem havido cada vez mais a preocupação de redefini-la nos termos da filosofia de

Venda

Produtor

Preço

Satisfação do Consumidor

Propaganda

Embalagem

Distribuição

Marca

Promoção

154

comercialização-marketing ou, como comumente conhecida, pelo termo de marketing

rural ou marketing de produtos agrícolas.

Se assume que os desejos das pessoas, com relação aos itens específicos de bens

são criados por fatores ambientais, e que os bens não podem ser produzidos em

condições de produção de massa, para atender a todas as diferentes especificações dos

consumidores, então se torna tarefa principal da comercialização reconciliar os desejos

dos consumidores potenciais com os produtos reais que os produtores e empresários têm

a oferecer. Isso significa, por um lado, que bens devem ser encontrados ou criados para

que, o mais próximo possível, sejam atendidas as expectativas dos consumidores, em

natureza, qualidade e preço, e que esses bens devem ser apresentados no tempo próprio

e sob condições das mais atraentes ou simpáticas aos consumidores. Por outro lado, isso

significa que os consumidores potenciais devem ser condicionados a aceitar os bens

com o melhor comprometimento possível entre o que eles pensam e o que eles podem

obter.

Desse ponto de vista, a tarefa da administração da comercialização agrícola ou

marketing dos produtos agrícolas pode ser feita pelo desempenho dos seis diferentes

grupos de funções, cada uma das quais contribui para o propósito geral expresso acima.

Cada função, ou grupo de funções atende, em geral, aos seguintes propósitos:

1. Função contatual: Engloba as funções de compra e venda; o processo de achar o

mercado e de descobrir compradores e vendedores potenciais de um produto e fazer

contato com eles.

2. Função mercadológica: Refere-se ao ajustamento feito aos bens para atender às

exigências do mercado. Inclui o planejamento e o preparo do produto para o

mercado. Envolve a seleção do produto a ser produzido ou estocado e decisões sobre

detalhes como tamanho, aparência, apresentação, forma, embalagem, quantidades

compradas eóu produzidas, época de produção ou compra etc.. Constitui-se em

funções de beneficiamento, classificação padronização e embalagem; envolve ainda

a coordenação do setor venda com o setor compra.

155

3. Função de propaganda: Responsável pela criação de demanda ou do

condicionamento de compradores para influenciar compradores e vendedores,

respectivamente.

4. Função de estabelecimento de preço: Refere-se à busca do melhor preço. Um

preço deve ser alto o suficiente para compensar a sua produção e baixo o suficiente

para induzir os compradores a aceitá-lo. Os preços não são somente simples função

da oferta e da procura; dependem também de outros fatores, como demanda

esperada, custo da produção e venda, e preços dos competidores.

5. Função de distribuição física: Refere-se à colocação de bens no mercado no tempo

e lugar certo. É o suporte físico à movimentação do fluxo ou mercadorias e inclui o

estudo das funções de transporte e armazenamento.

6. Função de terminação: Uma vez estabelecido o contato entre vendedores e

compradores, torna-se necessário negociar, chegar a um acordo sobre [elo menos

três pontos essenciais: a) qualidade, b) preço, c) quantidade. Assim, a função de

terminação refere-se à conservação do processo de comercialização ou efetivação

da transação comercial. Todavia, essa função envolve um aspecto mais amplo de

crédito, garantias e assistência; envolve também os aspectos morais e legais do

vendedor, com relação aos compromissos assumidos sobre o produto e sobre a

transferência de sua posse.

5.2.3. Comercialização, utilidade e valor agregado

Os desejos dos consumidores reais e potenciais podem ser traduzidos em termos

das utilidades que a comercialização incorpora aos bens e serviços. A utilidade é a

qualidade que faz com que um bem seja desejado ou procurado; é a capacidade que

possui um bem ou serviço de satisfazer a uma necessidade ou a um desejo. Nesse

aspecto, a definição de comercialização como o “processo que cria e transfere

utilidades” é particularmente significativa, principalmente do ponto de vista didático e

funcional. O processo que cria e transfere utilidades é a própria função da

comercialização. Já o conceito de utilidade envolvido nessa definição torna mais

156

concreto o significado da função de comercialização, à medida que cada uma das

funções possui uma utilidade específica ou grupo de utilidades.

O conceito de utilidade também pode ser entendido na prática como o conceito

de valor adicionado ou agregado. Ou seja, quando se incorpora uma utilidade ao

produto, através de uma função de comercialização, o produto tem o seu valor

aumentado, que pode ser igual ou maior que o custo de fazer tal função de

comercialização. Há vários tipos de utilidades de comercialização, tais como:

1. Utilidade de forma: é a satisfação que o consumidor tem da forma como o produto

se apresenta para o consumo. Ex. Leite pasteurizado, leite em pó, leite aromatizado

etc.

2. Utilidade de tempo: é a satisfação do consumidor advinda do fato de poder contar

com aquele produto na hora em que deseja – o armazenamento desempenha essa

função;

3. Utilidade de lugar: é a satisfação que o consumidor tem de encontrar um produto ou

serviço no lugar onde ele deseja ou procura.

4. Utilidade de posse: é a satisfação advinda de possuir um bem ou serviço. Dar

utilidade de posse ao produto é fazer tudo o que facilite a sua aquisição pelo

consumidor, e esta é uma função da comercialização que é desempenhada por meio

de várias outras funções, como a função de financiamento ou um sistema de crédito

ao consumidor;

5. Utilidade social: é a satisfação que o consumidor tem de consumir um produto ou

serviço que proporciona bem-estar para toda a comunidade. Dar utilidade social a

um produto é colocar alguma qualidade no mesmo, que resulte em bem-estar como,

por exemplo, optar por uma embalagem biodegradável.

6. Utilidade de segurança na expectativa: é a satisfação que o consumidor tem na

segurança de expectativa com relação a um ato qualquer na comercialização de um

produto ou serviço, como qualidade prometida, assit6encia técnica etc.

5.2.4. Visão sistêmica A visão sistêmica na comercialização decorre da própria forma de organização

do sistema em que fazem parte a integração dos segmentos e a inter-relação entre os

mesmos. Na integração, os agentes, os produtores, atacadistas e varejistas negociam sob

157

o controle de uma gerência central programada, buscando economia de operação e

máximo impacto na comercialização. Constituem os chamados complexos

agroindustriais, na medida em que a integração forma elos de uma cadeia agroalimentar.

Os canais integrados subdividem-se nos controlados pelo produtor, controlados pelo

atacadista ou controlados pelo varejista.

É interessante notar as principais estratégias que as firmas utilizam para

conseguir a integração parcial ou total, as quais podem ser enumeradas da seguinte

forma:

1. A firma controladora pode adquirir e administrar todas as unidades envolvidas no

canal de comercialização;

2. Controle pela compra das patentes da maquinaria básica usada no processo de

produção e comercialização ou através de controle legal sobre um produto ou grupo

de produtos;

3. Controle financeiro-organizacional;

4. Controle informal através de agressiva promoção de venda, o qual cria preferência

por uma marca e força o controle de uma firma sobre outras no canal;

5. Expansão dos arranjos creditícios;

6. Acordos sobre a manutenção dos preços de revenda;

7. Formação de cartéis ou compartilhamentos de mercado.

7. GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA E COMÉRCIO INTERNACIONAL

7.1. Mercado doméstico ‘versus’ mercado externo

O processo da globalização passou a ser, nos últimos anos, tema freqüente nos

mais diversos debates acerca das tendências atuais e futuras do comportamento do

comércio internacional. Embora sua conceituação não deva ser restrita a um âmbito

meramente econômico, para fins de realização desse estudo, torna-se imperioso

proceder a tal limitação, uma vez que questões de outra natureza fogem ao escopo de

análise do trabalho. Ainda assim, lidar com a idéia da inexorabilidade de tal fenômeno,

é tarefa que demanda esforços adicionais no que diz respeito à plena compreensão de

seus impactos e das formas alternativas de coordenação por ele requisitadas.

158

Na realidade, em uma perspectiva histórica, podem ser identificados quatro

processos de globalização (Campos, 1997). O primeiro deles remonta à época do

Império Romano, quando este, através de suas conquistas, conseguiu impor o uso de

uma moeda única e de estruturar a defesa de seu “patrimônio” contra a ação dos piratas.

Posteriormente, o segundo momento de globalização ocorreu à época das grandes

descobertas, quando foram abertos os caminhos para a China e a Índia, reforçando o

estabelecimento de rotas comerciais navegáveis e estimulando aventuras além-mar,

rumo a novas possibilidades de intercâmbio.

O terceiro processo ocorreria somente no século XIX, com o fim das guerras

napoleônicas, quando, segundo Campos (1997), o mercantilismo foi sobrepujado pelo

liberalismo e a democracia política começou a prosperar. Vários fatores constituíram

conjuntura favorável ao comércio nesse período e, dentre eles, podem ser citados: o

tratado de livre comércio estabelecido entre a França e a Inglaterra, em 1860; a

colonização européia da Ásia e da África; e as grandes migrações humanas rumo aos

novos continentes.

O quarto movimento ocorreu somente após a Segunda Guerra, período no qual

foram criados diversos organismos internacionais com vistas à regulamentação do

comércio mundial e, simultaneamente, proliferaram as empresas transnacionais,

favorecidas pela ampliação dos mercados financeiros e pelo aumento do intercâmbio

econômico entre as nações. Contudo, embora as origens do desenvolvimento dessa

quarta etapa encontrem-se na década de quarenta, este processo somente atingiu o seu

apogeu após o colapso socialista de 1989/91.

7.2. Visões da globalização

Segundo Bauman (1996), nesse contexto, pelo menos cinco esferas importantes

devem ser abordadas: uma perspectiva estritamente financeira, uma comercial, o ponto

de vista do setor produtivo, uma visão institucional e, por fim, o aspecto que envolve a

política econômica.

Sob um prisma estritamente financeiro a globalização corresponde, ainda que

em diferentes graus de composição e níveis, a um aumento do volume de recursos

transacionados e a um incremento da velocidade de sua circulação. Uma perspectiva

comercial, por sua vez, explicita uma tendência à similarização das demandas entre os

159

diferentes países, o que fomenta ganhos de escala, a uniformização dos procedimentos

administrativos e de produção, e mesmo uma redução do ciclo de vida do produto. Tais

fenômenos, além de chamarem a atenção para um firme deslocamento do enfoque

central da produção (da concorrência em termos de produto para a competição via

processos), realça o fato de que a competição ocorre, agora, em escala mundial, com

consequente aumento das exigências por flexibilidade, adaptação e resistência à

obsolescência.

Do ponto de vista do setor produtivo, ao contrário dos demais, não há um

consenso quanto aos efeitos da globalização. Boa parte da literatura argumenta que ela

poderia estimular a incidência de oligopólios internacionais, ao que se contrapõem

alguns autores, quando afirmam que embora factível, essa perspectiva não encontra

respaldo nas evidências empíricas.

Sob uma visão institucional, a expectativa é de que sejam crescentes as

semelhanças nas diversas configurações dos sistemas nacionais, bem como se tornem

análogas as formas de regulamentação em diversas áreas, o que permitiria uma maior

homogeneidade entre países, além de aumentar as possibilidades de cooperação entre os

mesmos.

Por fim, do ponto de vista da política econômica, a principal polêmica gira em

torno do fato de que a globalização reduz graus de liberdade da soberania econômica e

mesmo política das nações.

7.3. Os blocos econômicos

Nesse contexto, a década de noventa veio consolidar a tendência mundial da

formação dos blocos regionais, que decorre, em certa medida, da própria globalização.

A proposta central dessa unificação é a aglutinação de forças e a compensação de

vulnerabilidades individuais, a fim de que a participação no mercado global se dê de

maneira mais efetiva e duradoura. Segundo dados do Banco Mundial, cerca de 41,4%

do comércio internacional se dá em esquemas regionais, demonstrando que o mundo

passa a funcionar, em grande parte, com base na economia de blocos.

Embora os acordo comerciais entre blocos não sejam exatamente recentes (há

muito tempo os países efetuam preferências comerciais e parcerias), foi a partir da

estruturação e do êxito da integração européia que o processo da integração regional

ganhou maior impulso, ficando clara a viabilidade dos países se agruparem em blocos

160

econômicos unificados e, além disso, explicitando a idéia de que a globalização não se

caracteriza apenas por uma intensificação dos fluxos comerciais entre países, mas que

isso representa mudanças qualitativas nas relações internacionais.

Normalmente, a formação dos blocos regionais se dá em etapas, num processo

gradativo que culmina com a harmonização das políticas macroeconômicas dos países

membros e a adoção de uma moeda comum. A Política Agrícola Comum (PAC),

vigente na Europa, foi uma decorrência do Tratado de Roma, em 1957, e, embora não se

possam precisar as suas raízes diretas, é certo que a França e a Alemanha tiveram um

papel relevante na sua estruturação, principalmente no que se refere à imposição das

formas de intervenção. Cinco anos depois, a PAC já era implementada e tinha por

princípios básicos6: a criação de um único mercado; garantia de acesso preferencial do

países membros aos mercados dos demais partícipes; estabelecimento de um

mecanismo de subsídio às exportações; e , por fim, a ajuda financeira, consolidada pela

formação do Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA) pelo

deslocamento do processo decisório do nível individual para o comunitário

A respeito da integração norte-americana, pode-se dizer que esta é ainda recente,

pelo menos em termos oficiais. O anúncio das negociações entre México, Canadá e

Estados Unidos, com o objetivo de formar uma área de livre comércio, data de

fevereiro de 1991. Pouco mais de dois anos depois, em novembro de 1993, o Congresso

Americano ratificou a participação dos EUA no NAFTA (Acordo de Livre Comércio da

América do Norte), um megabloco com um PIB (Produto Interno Bruto) conjunto de

cerca de três trilhões de dólares e mais de 360 milhões de consumidores potenciais.

Atualmente, não apenas o NAFTA, mas a nova política agrícola dos Estados Unidos - a

FAIR - merece atenção ao se pretender traçar as perspectivas de participação do Brasil

no mercado internacional. Nesse sentido, é importante realçar a necessidade de se

consolidarem as propostas sul-americanas de regionalização, com ênfase no

MERCOSUL.

O fortalecimento dos mercados interno e regional latino-americanos teve seu

início em fins da década de 50, com a formação da Comissão Econômica para América

Latina e Caribe. Na década posterior foi criada a ALALC - Associação Latino-

americana de Livre Comércio, com o objetivo de criar as bases de sustentação para o

estabelecimento de um mercado comum, contudo, seus objetivos não tiveram pleno

6 ABREU & LOYO, 1994.

161

êxito. Em 1980, a ALALC foi substituída pela ALADI - Associação Latino Americana

de Desenvolvimento e Integração, que procurava ter uma visão mais realista do

processo de integração, estimulando inicialmente os arranjos bilaterais de comércio.

Cinco anos depois, na Declaração de Iguaçu, foi formada uma comissão para estudar as

potencialidades da integração econômica entre Brasil e Argentina, que resultou na

implementação do PICE - Programa de Integração e Cooperação Econômica -, em 1986,

com o objetivo de “criar um espaço comum com estímulos à complementação dos

setores econômicos dos dois países. Nessa fase, uma série de protocolos foram

assinados em diversas áreas: biotecnologia, bens de capital, cooperação nuclear, trigo,

siderurgia, industria automotriz e outros”7.

O processo de integração Brasil/Argentina continuou com o tratado de

Integração, Cooperação e Desenvolvimento (1988), e , em julho de1990, os dois países

assinaram a Ata de Buenos Aires, que fixou com prazo limite para a definitiva

implantação do MERCOSUL, 31 de dezembro de 1994. Um 26 de março de 1991, os

presidentes do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai assinaram o Tratado de Assunção -

base para a consolidação do Mercado Comum do Sul8.

As bases constitutivas desse mercado comum são9:

a) livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, através da eliminação

gradativa de quaisquer mecanismos de restrições ao livre comércio - sejam elas

tarifárias ou não;

b) estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC) e a adoção de uma

política em relação a terceiros países ou agrupamentos de países, bem como a

coordenação de foros econômico-comerciais regionais e internacionais;

c) permitir novas adesões visando a liberação do comércio, a plenitude

demográfica, o fortalecimento da livre iniciativa e a presença da

estabilidade macroeconômica, ao menos em relação às políticas

adotadas com esta finalidade

O estabelecimento do MERCOSUL traz, além do exposto, a necessidade de se

coordenar as políticas macroeconômicas e setoriais de comércio exterior, agrícola,

industrial, fiscal, monetária, cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de

transporte e comunicações, dentre outras. Nesse sentido, vale ressaltar que todos os

7 ‘Perspectivas de integração do Cone Sul”- 1992. 8 Atualmente , desde outubro de 1996, já participa do Mercosul o Chile; e a participação boliviana está prevista para breve.

162

países membros do MERCOSUL estão passando por um rápido processo de

liberalização comercial; no caso particular do Brasil, três medidas explicitaram essa

ocorrência: redução das tarifas aduaneiras, eliminação dos controles prévios

administrativos, e a extinção de órgãos como a CACEX e a CONCEX.

A agricultura tem sido considerada o ponto mais sensível na integração do Brasil

ao MERCOSUL, em decorrência de dois fatores: em primeiro lugar, os produtos de

origem agrícola representam 60% do total das importações provenientes dos parceiros, e

, em segundo, a maior parte dos produtos de origem agrícola, provenientes do

MERCOSUL, é produzida no pampa úmido (Argentina), uma região de excelente

qualidade edafoclimática. Os principais produtos dessa região, dentre os quais o leite, o

trigo, o arroz, a carne bovina e algumas frutas, competem diretamente com a produção

brasileira, e possuem expressivas vantagens de custo. Assim, o impacto do

MERCOSUL é diferenciado, de acordo com o segmento produtivo e também o será em

relação às regiões, já que o Brasil tem proporções continentais.

Como já citado anteriormente, o setor agrícola é especialmente sensível para o

Brasil, em relação ao de manufaturados. Assim, a expectativa e o desejo de muitos

produtores brasileiros é o estabelecimento de um prazo de ajuste que permita a

reestruturação da estrutura produtiva brasileira, nos segmentos mais afetados pela

integração; na realidade, a integração regional irá explicitar uma série de ineficiências e

dificuldades presentes na produção brasileira, além de acirrar a competição - existe um

maior temor em relação aos cereais, frutas de clima temperado, vinhos, laticínios e

algodão em pluma.

7.4. O Brasil frente à globalização dos mercados

O Brasil está vivenciando um acelerado processo de internacionalização de sua

economia, e, nesse contexto, é preciso repensar a participação das políticas públicas em

um cenário ainda sem regulamentação definida e onde vigora a iniciativa privada.

Durante muito tempo, o setor agropecuário brasileiro foi discriminado sob a alegação da

necessidade de barateamento da alimentação e manutenção do abastecimento; as

ferramentas utilizadas foram o tabelamento, o congelamento de preços, especulação

com estoques e, até mesmo, restrições drásticas às exportações agrícolas. Se, por um

9 ibid, 1992.

163

lado, as ações compensatórias do governo - em forma de crédito subsidiado -

favoreceram a modernização de uma parcela da agricultura brasileira, os mecanismos

pelos quais foi estabelecida essa compensação foram por demais paternalistas,

favorecendo a presença de ineficiências que hoje se mostram em toda a sua extensão.

Além disso, a dificuldade de gerenciamento apresentada pela grande maioria de nossos

produtores, a inadaptação a inovações e a visão de curto prazo, são características que

também tendem a dificultar a competitividade brasileira.

Hoje, a participação do Brasil no cenário internacional a níveis satisfatórios

depende muito mais de políticas macroeconômicas bem conduzidas do que de decisões

segmentadas, que visem satisfazer a grupos específicos e não o todo do setor agrícola

nacional. Segundo JANK ( ),

“além da tão difícil liberdade de preços, a agricultura precisa de juros

baixos, de taxa de câmbio em equilíbrio [......] que seja eficiente sobre a entrada de

produtos agrícolas subsidiados e, finalmente, de impostos mais baixos. Assim, ao

invés de implorar um subsídio que não existe, o setor privado agrícola brasileiro

deveria exigir uma política macroeconômica estável, não discriminatória e igualitária

no MERCOSUL (cobrando menos a igualdade de tratamento tarifário em relação às

agroindústria correlatas e mecanismos eficientes de defesa contra subsídios e outras

práticas desleais de comércio).

É importante salientar , ainda, que numa economia de livre mercado três

atributos são essenciais: organização, representatividade e poder de negociação.

Tendo em vista a reduzida participação prevista do Estado nesse processo, os

complexos agroindustriais somente serão competitivos se contarem com uma maior

organização dos produtores, com maior atenção na formulação dos contratos sobre a

agricultura, e maior ênfase no agronegócio internacional e nas novas exigências

mercadológicas.

O comércio internacional é responsável, pelo menos, pela quinta parte da renda

das cadeias agroindustriais. Esse fato, aliado às dificuldades que as exportações

brasileiras estão encontrando de se sustentarem no mercado mundial, estabelece a

necessidade de se proceder a um estudo mais acurado das possibilidades de reverter

esse quadro. A tabela 1 mostra o crescimento das exportações brasileiras de produtos

básicos, manufaturados e semimanufaturados entre 1985 e 1995.

164

Desde a implantação do Plano Real, existe a argumentação de que as

exportações brasileiras estariam sendo frontalmente prejudicadas pela sobrevalorização

da moeda nacional. Entretanto, a maior parte das dificuldades enfrentadas pelo setor

exportador brasileiro está muito mais ligada a dificuldades intrínsecas a ele , do que a

questões cambiais. Segundo este autor, a redução do ritmo de crescimento das

exportações nacionais é anterior à implantação do Real;

“Em síntese, o comportamento não satisfatório das exportações

brasileiras existia muito antes da implementação do plano Real, e a evidência

permite pensar que os problemas não estão vinculados pura e exclusivamente a

uma valorização do câmbio. Com uma expansão da demanda doméstica e, portanto

da atividade econômica, as exportações diminuíram mesmo com taxas de câmbio

atrativas. [ ... ] existe um problema de queda de ritmo de crescimento que pode

indicar, além da perda de competitividade, uma insuficiente expansão da

capacidade produtiva para exportação”.

Nos últimos dez anos, uma importante inversão pode ser percebida na pauta de

exportações agrícolas brasileiras, não somente do ponto de vista quantitativo mas,

principalmente, sob o prisma qualitativo. Nesse período foi clara a perda de participação

relativa dos produtos agrícolas mais tradicionais, e simultaneamente, o ganho relativo

dos de maior valor agregado. A esse fenômeno agrega-se um outro, de igual relevância:

a diversificação da pauta de exportações brasileiras.

O cenário no qual se desenvolvem tais transformações é dinâmico e incorpora

importantes modificações no conceito de competitividade. Na visão de Dias (1996), as

forças motoras dessas transformações, quais sejam, a revolução tecnológica e

organizacional, propiciada pela difusão quase irrestrita de conhecimento tecnológico e

de formas de gestão; e a globalização dos mercados, onde as empresas transnacionais

representam o principal canal de inversão externa direta, criam novos padrões de

comércio.

Assim, as vantagens comparativas tradicionais deixam de ser os determinantes

fundamentais da produção e exportação, cedendo lugar a uma análise de

competitividade onde os fatores determinantes podem ser caracterizados como internos

e externos à empresa. Os primeiros envolvem condições de eficiência que a empresa

possui para suprir seu mercado como preços, a qualidade e produtividade da empresa,

conhecimento das necessidades e exigências do mercado etc. Os fatores externos dizem

165

respeito à infra-estrutura existente no país, às tendências de comércio mundial e

políticas de comércio exterior, políticas macroeconômicas adotadas (políticas comercial,

monetária, cambial, fiscal), apoio existente à pesquisa, distribuição espacial da

produção, políticas regulatórias de proteção à propriedade industrial e de preservação

ambiental e situação de qualificação da mão-de-obra.

Segundo Ferreira (1997), a maior polêmica encontra-se quanto à influência da

política governamental sobre a competitividade. A maior parte dos fatores externos

anteriormente descritos encontra-se, de uma forma ou de outra, vinculados à postura

governamental, cuja ação se faz sentir sobre a competitividade da nação.

Além do exposto, sobre esse tema, algumas considerações relevantes não podem

ser esquecidas. A primeira delas diz respeito à noção convencional de política

econômica que, segundo este autor, está associada ao Estado-nação, onde grande parte

das decisões que afetam objetivos, como o crescimento econômico e padrão de

distribuição de renda são considerados, normalmente, decorrência direta da interação

entre as políticas dos países e a ação dos agentes econômicos no espaço nacional.

Contudo, em um sistema globalizado,

“a diferença dessa concepção tradicional - a relação entre unidades

nacionais passa a não ser limitada às transações nos mercados de bens e fatores. O

processo produtivo adquirre uma racionalidade distinta, na medida em que diversas

unidades nacionais passam a ser componentes da mesma estrutura integrada de

geração de valor, ao mesmo tempo em que aumenta a fluidez de transmissão de

normas, valores e rotinas operativas, condição necessária à crescente

homogeinização produtiva.”

Em outros termos, a novidade encontra-se no fato de que, uma vez inserido em

um mercado globalizado, a ação do Estado e dos demais agentes envolvidos na

produção nacional é orientada para viabilizar o alcance e a manutenção de níveis

internacionais de competitividade em termos sistêmicos. Surge, cada vez mais explícita,

a necessidade de do país comportar-se como “global trader”, ou seja, concentrar

esforços na diversificação da produção e das exportações, minimizando riscos frente às

cada vez mais freqüentes crises internacionais. O risco de preço envolvido no cenário

internacional é maior em alguns segmentos, muitas vezes bastante atrativos, e a

participação setorial nesses nichos pressupõe a existência de recursos outros que

garantam resistência às possíveis flutuações de demanda.

166

PARTE VI – MERCADOS IMPERFEITOS BIBLIOGRAFIA: 8, 13, NOTAS DE AULA)

1. REVISÃO DO MODELO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA

1.1. Introdução

Como já visto anteriormente, o termo ‘concorrência’ tem sentido múltiplo. Em

economia, acompanhado da palavra ‘pura’, significa justamente a inexistência de

competição, no sentido parcial da mesma. Em outras palavras, emm um mercado onde

vigora a concorrência puta, os competidores não têm rivalidade entre si.

1.1.1 Condições básicas para a existência de concorrência pura a) Homogeneidade do produto: um requisito da concorrência pura é que todos os

vendedores de um dado produto vendam unidades homogêneas do mesmo, e os

compradores também consideram o produto homogêneo;

b) Insignificância de cada comprador ou vendedor diante do mercado: cada comprador

e/ou vendedor precisa ser pequeno o suficiente para não ser capaz de influenciar,

sozinho, o preço de mercado;

c) Ausência de restrições artificiais: não devem existir restrições artificiais à procura, à

oferta ou aos preços. Em outros termos, é preciso que os preços sejam livres para

oscilar de acordo com as exigências de mercado;

d) Mobilidade: é preciso que haja mobilidade de bens, serviços e recursos. Novas

firmas devem poder entrar sem dificuldade nesse mercado, assim como não devem

existir impedimento à saída.

e) Pleno conhecimento (atributo da palavra ‘perfeita’): a concorrência perfeita

incorpora o pleno conhecimento do sistema econômico e de todas as suas

interrelações por parte dos agentes partícipes desse mercado.

167

1.2. A demanda

A demanda por um bem pode ser entendida como sendo as várias quantidades

deste, por unidade de tempo, que os consumidores estarão dispostos a adquirir no

mercado, a todos os possíveis preços alternativos, tudo o mais permanecendo constante.

As quantidades que os consumidores estarão dispostos a adquirir depende, basicamente:

1. do preço do bem;

2. dos gostos e das preferências dos consumidores;

3. do número de consumidores considerado;

4. da renda dos consumidores;

5. dos preços dos bens relacionados;

6. da variedade de bens disponíveis;

7. das expectativas sobre os preços dos produtos.10

É importante lembrar que variações no preço do bem em questão provocam

deslocamentos ao longo da curva de demanda, enquanto que as demais possibilidades

citadas provocam deslocamentos da curva.

Normalmente, como já visto, preço de um bem e a sua quantidade demandada

caminham em sentidos opostos. Assim, quanto maior o preço, menor tende a ser a

quantidade demandada. Assim, o formato genérico de uma curva de demanda é o

apresentado no gráfico 1.1. abaixo:

Gráfico 1.1. Curva de demanda por um produto ‘X’

P

P1

P2

Q1 Q2 Q/ u.t.

10 Quaisquer dúvidas, retorne à parte dois desta apostila.

168

1.3. Oferta

A oferta de um bem pode ser definida como as várias quantidades desse bem que

os vendedores colocam em um mercado, a todos os possíveis preços alternativos,

quando todas as demais coisas permanecem constantes. É, em outras palavras, a relação

preço/quantidade em disponibilidade para venda, por unidade de tempo.

A ‘curva de oferta’, por sua vez, deve ser entendida como expressão gráfica da

relação numérica existente entre preço do bem e quantidade ofertada do mesmo.

Normalmente tal relação é positiva, indicando que, a preços mais elevados os

produtores estariam dispostos a ofertar mais.

Os principais fatores a afetar a oferta são:

1. o preço do produto;

2. a escala dos preços dos recursos utilizados na produção;

3. a quantidade de técnica de produção disponível;

sendo que o primeiro desses fatores gera deslocamento ao longo da curva de oferta, e os

demais, deslocamentos da própria curva.Graficamente, tem-se:

Gráfico 1.2. Curva de oferta de um bem ‘X’

P

P1

P2

Q1 Q2 Q/ u.t.

1.4. Determinação do preço e da quantidade de equilíbrio

Representando, em um gráfico, as curvas de oferta e demanda de um determinado

bem, é possível visualisar o preço e a quantidade de equilíbrio desse bem, nesse

169

mercado. Como já visto na parte II, uma vez definido o preço de equilíbrio, uma

situação onde o preço vigore acima do valor de mercado gera excesso de oferta,

enquanto que se o preço encontra-se abaixo do valor de equilíbrio, haverá escassez, ou

excesso de demanda. Graficamente, tem-se a seguinte representação (gráfico 1.3.)

Gráfico 1.3. Determinação do preço e da quantidade de equilíbrio de mercado

P

Excedente

Equilíbrio

Escassez

Quantidade de X/ut X2 X1 X X1’ X2’

2. FORMAÇÃO DE PREÇOS E PRODUÇÃO EM MONOPÓLIO PURO

2.1. Introdução

O monopólio puro é uma situação de mercado em que há um só vendedor de um

produto, para o qual não existem substitutos. O produto vendido pelo monopolista deve

ser nitidamente diferente dos demais, e as mudanças nos preços e na produção de outros

bens não devem afetar o monopolista, sendo a recíproca totalmente verdadeira.

No mundo real, o monopólio puro é muito raro. Aproximam-se dele as indústrias

locais de utilidade pública e outras, como grandes empresas extrativistas e de porte

muitíssimo elevado.

Contudo, quer exista ou não o monopólio puro, seus princípios proporcionam um

instrumental indispensável para analisar problemas de formação de preços, produção,

utilização de recursos e bem-estar.

170

Barreiras à entrada

A existência de um monopólio, bem como a sua sobrevivência no longo prazo,

está vinculada à existência de barreiras à entrada de novos competidores, ou seja, à

vigência de mecanismos que impedem, ou ao menos dificultam, que outros parceiros

potenciais se vejam estimulados a entrar neste mercado.

1. Propriedade dos recursos sem substitutos próximos;

2. Problema do levantamento do capital adequado;

3. Licenças, franquias e certificados de conveniência;

4. Patentes;

5. Economias de escala;

6. Capacidade excessiva.

Curva de demanda do monopólio

O monopólio é a única firma na indústria; a curva de demanda do monopólio é a

curva de demanda da indústria ou do mercado. Supondo que a lei da demanda

permaneça válida, a curva de demanda da indústria terá inclinação descendente e sua

elasticidade estará entre -∞ e 0 (ver gráfico 2.1.).

Normalmente imagina-se que o monopolista enfrenta uma curva de demanda

inelástica; o que, entretanto, não é verdade. A curva de demanda mostrada no gráfico

2.1. é linear e, portanto tem uma elasticidade preço de demanda que vai de ∞ a 0,

conforme os movimentos feitos ao longo da curva de demanda. Na verdade pouco se

pode dizer sobre a elasticidade da curva de demanda do monopolista. O que se pode

afirmar é que ela será mais elástica quanto mais baratos e numerosos forem os

substitutos próximos e potenciais disponíveis no mercado.

Outras informações podem ainda ser extraídas do gráfico 2.1. acima. Pode-se

perceber que, nele, a receita total é zero quando as vendas unitárias são zero, o que faz

com que a curva de receita total comece na origem. Numa situação como a ilustrada

pelo gráfico 2.1., fica claro que o monopolista não atuaria no segmento onde a

elasticidade encontra-se entre zero e um, pois, aí, a receita marginal é negativa. Em

outras palavras, o monopolista nunca operaria na parte inelástica da curva de demanda

171

Gráfico 2.1. Elasticidade e renda total

P,RMg Ep entre ∞ e 1; Ep=1; Ep entre 1 e 0

Curva de demanda

Curva de receita marginal

Curva de receita total

Uma outra curiosidade sobre monopólios diz respeito à sua curva de oferta.

Define-se curva de oferta como sendo o lugar geométrico das diferentes combinações de

preço e quantidade ofertada, por uma determinada firma, em certo período de tempo,

mantidos constantes os demais fatores. Sendo assim, partindo dessa definição, pode-se

dizer que o monopolista não tem curva de oferta, na medida em que não existe uma

relação única entre preços e quantidades, o que seria essencial para a construção de uma

curva.

Lucro no monopólio

O termo ‘monopólio’ evoca a noção de uma firma que explora o público e obtém

lucros exorbitantes. Entretanto, a mera existência de um monopólio não garante lucros

monopolísticos. Um exemplo de fácil visualização é imaginarmos um inventor cujo

172

invento, patenteado, seja de produção econômica inviável, o que torna impossível a

existência de lucros na produção, ainda que exclusiva, daquele produto.

Discriminação de preços

Em um mercado perfeitamente competitivo, cada comprador paga o mesmo

preço pela mercadoria, uma vez que alterações no seu preço não são capazes de alterar

quaisquer elementos neste mercado. Contudo, um monopolista pode ser capaz de cobrar

preços diferenciados de acordo com os seus consumidores ou, de outra forma, cobrar

diferentes preços unitários para unidades sucessivas compradas por um mesmo

consumidor. A isso denomina-se discriminação de preço. Deve estar claro que os

diferentes preços cobrados de diferentes pessoas, que refletem diferenças no custo de

serviço para estas determinadas pessoas, não é discriminação de preço, ou seja,

diferenças no preço que refletem diferentes custos marginais não caracterizam

diferenciação.

É importante ressaltar, também, que um preço uniforme não indica

necessariamente ausência de discriminação. Se os custos marginais são diferentes e os

preços são iguais pode estar havendo discriminação de preços.

3. FORMAÇÃO DE PREÇOS E PRODUÇÃO EM OLIGOPÓLIO

Normalmente, entende-se oligopólio como sendo o tipo de mercado onde existem

um número restrito de empresas, cujas ações são interdependentes e onde, graças à

existência de barreiras à entrada de novos participantes, são garantidas algumas

condições intermediárias entre a concorrência perfeita e monopólio.

Dentre as várias terminologias presentes na literatura econômica, referentes ao

estudo do mercado, entretanto, o entendimento acerca das estruturas de mercado se

destaca como peça fundamental. Embora tendo sido tratadas por outros autores, é nas

considerações desenvolvidas por Possas11 que encontramos o referencial de que iremos

nos valer, dado o seu maior dinamismo em relação às demais propostas.

11Possas, 1985.

173

Baseados então no estudo supracitado, podemos classificar as estruturas de

mercado em três grupos, com enfoques distintos quanto à fundamentação e

abrangência. O primeiro deles, bastante restrito, se limita a avaliar as características

aparentes dos mercados quanto ao número de participantes - indo do Monopólio.

passando pelo Oligopólio e chegando ao modelo de plena Concorrência -, e a discernir

os produtos que se prestam à diferenciação daqueles que são homogêneos.

A segunda abordagem, conquanto não se contraponha diretamente à anterior, a

complementa, centralizando esforços no modelo estrutura - conduta - desempenho . Os

seus pontos centrais são: i ) a concentração do mercado; ii ) a existência da

substitubilidade dos produtos ; e iii ) as variáveis que limitam a entrada de novos

concorrentes - as barreiras à entrada. Este item, embora aqui ainda apresentado em

caráter estático, se constitui peça fundamental no estudo que pretendemos elaborar. Ele

incorpora o fato de que mercados distintos apresentam formas diferentes de tentar

impedir o surgimento de novos competidores e, uma vez assumindo um caráter mais

interativo, se torna peça fundamental na definição das formas de competição a serem

estabelecidas.

A última análise se encarrega de dinamizar a proposta anterior, agregando a ela a

idéia de que as estruturas de mercado se redefinem de acordo com os acontecimentos.

As barreiras à entrada passam, a partir daí, a não mais representar apenas uma

característica - evoluem conceitualmente -, se tornando fundamentais à discussão sobre

os padrões concorrenciais estabelecidos no mercado em questão. É esta a conceituação

que mais se adequa ao propósito deste trabalho devido, principalmente, à necessidade de

se compreender a evolução do processo de concentração das economias e as

consequências do mesmo.

O fenômeno da concentração dos mercados, nos mais diversos

setores e níveis, vêm se tornando, ao longo do tempo uma característica

marcante das economias, à medida que se modernizam. O modelo inicial, calcado na

concorrência plena, foi gradativamente cedendo lugar a formas diferentes de

174

estruturação, e o grau de concentração se tornava progressivamente maior onde o

acúmulo de barreiras à entrada e à sobrevivência eram maiores, e onde ficava claro que

a existência de pequenos competidores era inviável.

Essa tendência à concentração já pode ser detectada desde as origens do

Capitalismo, mas foi em fins do século passado que se pode notar sua presença de

forma mais ostensiva. As origens desse movimento se encontram principalmente nas

profundas revoluções sofridas pelos mercados, em decorrência das alterações ocorridas

nos padrões tecnológicos de até então.

O progresso dos meios de transporte e comunicações, que antes se constituiam

fatores determinantes quando da definição da viabilidade - ou não - de um

empreendimento, passaram a dividir espaço com outros componentes, não apenas no

que diz respeito à evolução dos mecanismos de produção, mas também aos incentivos

oferecidos pelo governo - principalmente as políticas protecionistas -, e a componentes

tais como a proximidade do local de fornecimento de matéria prima ou de mercados

consumidores mais expressivos.

Essa tendência , porém, não se firma sob a forma monopolística; é o Oligopólio

que passa, paulatinamente, a responder pela maioria dos mercados existentes. De modo

algum se pretende com isso dizer que os modelos de Monopólio e de Concorrência

estejam abolidos. Pequenas empresas se estruturam em nichos específicos do mercado,

geralmente atuando em função de outras maiores, em regime de livre concorrência. Por

outro lado, ainda são encontrados setores onde o monopólio se sustenta - embora com

maior dificuldade - , indo os motivos disto desde à existência de barreiras à entrada

muito expressivas, até a participação em um mercado cuja demanda assim o permite.

Ocorre, no entanto, que na maioria dos mercados o Oligopólio surge como a

estrutura mais presente, entendido ele "não como sendo um pequeno número de

grandes empresas em um mercado altamente concentrado, mas a partir da existência

175

de uma classe produtiva portadora de um número significativo de barreiras à entrada."

12

Os mercados oligopolizados, conquanto tenham como ponto de convergência a

definição supracitada, Têm características intrínsecas referentes ao setor no qual se

inserem. A partir dessa conceituação genérica, podemos traçar uma tipologia de

mercados, qual seja:

i ) Oligopólio Concentrado

ii ) Oligopólio Misto

iii) Oligopólio Diferenciado

iv ) Oligopólio Competitivo

v ) Mercado Competitivo

i ) Oligopólio Concentrado : Como deduz-se com facilidade, se trata de um

mercado altamente concentrado, que conta com poucos participantes e com grandes

barreiras à entrada. Uma das principais características desse tipo de mercado é a

presença de produtos unidimensionais, ou seja, produtos que não se prestam à

diferenciação.

Em decorrência disto deve ser classificado segundo os padrões de concorrência

que estabelece e pelas barreiras que apresenta. Dentre elas podemos destacar a escala

mínima de capital exigida, dificuldade de acesso à tecnologia necessária, produção de

escala, e a necessidade de obter-se licença governamental para exploração de lavras. As

empresas que participam deste mercado são de porte considerável, relacionadas à

exploração de jazidas, e disputam mercados segundo formas particulares de

concorrência, tais como definição da estratégia de investimento, incremento tecnológico

- englobando aí a descoberta de novas formas de produção e melhoria na qualidade do

produto ofertado, de onde se percebe a prioridade dos investimentos em P&D .

ii ) Oligopólio Misto : Ainda que se mostre bastante concentrado, já não se

verifica nele a presença de produtos unidimensionais, incorporando o processo de

12Possas, 1985.

176

diferenciação do produto. Impondo grandes barreiras à entrada tais como magnitude

mínima de capital inicial, planta, produção de escala, acesso à tecnologia e capacitação

de pessoal, muitas dessas em consonância com o Oligopólio Concentrado, agrega a elas

a necessidade de se arcar com as despesas decorrentes de uma forma concorrencial que

englobe a diferenciação de produto.

iii ) Oligopólio Diferenciado : Caracteriza-se pela existência de produtos

eminentemente multidimencionais. Nele, a idéia de que seus produtos possuem outros

similares, substitutos próximos, e que esta existência é uma constante ameaça, que exige

um esforço de diferenciação constante, se constitui ponto de fundamental importância.

A principal barreira à entrada é a diferenciação, mas se aliam a ela os

investimentos em tecnologia e melhorias nas formas de produção, gastos em Pesquisa e

Desenvolvimento, aprimoramento da capacitação gerencial e dispêndios com

propaganda - item intrinsecamente ligado ao sucesso no campo da diferenciação.

iv ) Oligopólio Competitivo : Já bastante desconcentrado , conta com grande

número de pequenas e médias empresas, que disputam mercado utilizando-se, inclusive

da competição via preços. Como barreiras, encontramos, além do desenvolvimento de

meios produtivos e de distribuição mais baratos, gastos com diferenciação, pesquisa de

novos produtos e propaganda - sendo que este último vem gradativamente tomando

vulto e se expressando de forma cada vez mais definitiva.

Considera-se esta estrutura um Oligopólio dada a existência de empresas -

líderes que direcionam o setor, determinando os níveis de competitividade.

v ) Mercado Competitivo : Vem progressivamente se tornando uma exceção .

Tendo barreiras à entrada praticamente inexistentes, se constitui principalmente de

pequenas empresas que disputam mercado usualmente via preços, e pela qualidade do

produto oferecido. Ainda pode ser observada a sua existência em alguns setores da

economia, e de forma mais marcante nos segmentos de prestação de serviços. Dentro do estudo acerca dos oligopólios, um tema sempre polêmico é o que diz

respeito à formação de cartéis e/ou à existência de acordos, explícitos ou implícitos,

entre as firmas oligopolistas. É certo que tais mecanismos existem e, da mesma forma, é

177

sabida a existência de mecanismos legais de controle e tentativa de regulamentação de

tais procedimentos. Não raras vezes sabe-se, através da imprensa, de denúncias sobre a

formação de cartéis em prejuízo do consumidor. Entretanto, tais situações são de difícil

controle e de comprovação nem sempre simples.

4. FORMAÇÃO DE PREÇOS E PRODUÇÃO EM CONCORÊNCIA MONOPOLÍSTICA

A teoria sobre a concorrência monopolística data da década de trinta, período no

qual os estudiosos estavam buscando uma alternativa que não fossem as considerações

extremistas do monopólio e concorrência perfeita e que, ao mesmo tempo, não tivesse a

suposição das barreiras à entrada de forma tão explícita, como acontecia na teoria

oligopolista.

Características fundamentais

1. Diferenciação de produtos;

2. Promoção de vendas – propaganda;

3. Grupos de produtos

178

PARTE VII – O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL

(BIBLIOGRAFIA 14, TEXTOS AVULSOS)

1. SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS: DEFINIÇÕES E CORRENTES METODOLÓGICAS

1.1. A noção de “Commodity Sistem Aproach” , Filières e o conceito de agribusiness

Nos anos 50, mais especificamente no ano de 1957,os professores Ray Goldberg

e John Davis, da Universidade de Harvard - EUA, perceberam que as atividades rurais e

as que a ela achavam-se relacionadas não deveriam ser analisadas de forma isolada. A

partir desta constatação, explicitaram o conceito de agribusiness como sendo “a soma

de operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de

produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos

produtos agrícolas e ítens produzidos a partir deles.”

Segundo os autores, a agricultura não poderia ser entendida convenientemente

sem que fossem consideradas as interrelações com os outros agentes, responsáveis por

atividades que garantem a produção, transformação, distribuição e consumo dos

alimentos (BATALHA et al., 1997). Nesse contexto, começou a ganhar relevância uma

visão mais ampla e sistêmica, que percebia e avaliava todos os elementos partícipes do

processo, ou seja, desde o “antes da porteira” até o “após a porteira” - tal evolução de

análise permitiu a obtenção de informações preciosas para os tomadores de decisão,

responsáveis pela conduta da economia, facilitando as ações e favorecendo acertos.

Em 1968, Godberg fez uso da idéia de Commodity System Approach (CSA) em

um estudo sobre o comportamento dos sistemas de produção de trigo, laranja e soja nos

Estados Unidos, que tinha como referência um corte vertical na economia, e buscava

perceber as alterações ocorridas ao longo do tempo. Como resultado ele obteve, além de

grande adequação do aparato teórico às necessidades da pesquisa, um elevado grau de

acerto nas previsões.

Existe ainda uma metodologia, dentre as várias existentes sobre os negócios

agroindustriais, que merece destaque: a das filières. A idéia das filières teve origem na

179

Escola Francesa de Organização Industrial, que as definiu como sendo “uma sequência

de operações que conduzem à produção de bens, cuja articulação é amplamente

influenciada pelas possibilidades tecnológicas e definidas pelas estratégias dos

agentes”.

Embora surgidos em épocas e locais distintos, faz-se importante compreender

os principais pontos de contato e distinções presentes entre os dois posicionamentos. As

principais convergências percebidas entre ambos são:

1. Nas duas abordagens, observa-se toda a sequência de transformações pelas quais

passa o produto, realçando a visão sitêmica;

2. Utiliza-se, em maior ou menor grau, da matriz insumo-produto;

3. O conceito de estratégia é abordado, embora distintamente, nas duas visões, sendo

mais próximo à firma no caso da CSA e mais ligado ao escopo governamental no

prisma das filières;

4. Consideram importante o conceito de tecnologia (sem contudo entendê-la sob o

mesmo significado);

5. Têm como objeto principal de estudo o sistema de produção, com a análise

orientada para o sistema produtivo de um determinado produto;

6. Evoluem, ambas, para uma análise dinâmica, na medida em que entendem que as

instituições não são neutras.

Dentre as distinções que podem ser observadas, as mais relevantes são o fato de

que a abordagem das cadeias de produção não é muito centrada na matriz insumo-

produto, considerando, simultaneamente, conceitos como barreiras à entrada e

dominância induzida pelo domínio de nós estratégicos do sistema. Além disso, a

abordagem das filières considera três subsistemas: produção (indústria de insumos,

produção agrícola e processamento de alimentos), transferência (sistema de transportes

e de armazenagem) e consumo (análise da demanda, preferência dos consumidores

etc.); enquanto a ótica do CSA é mais ligada ao consumo final realçando o papel cada

vez mais determinante do comportamento do consumidor.

Independente do enfoque, contudo, o que se destaca é o fato de que a cadeia do

“agribusiness” é atualmente responsável por cerca de metade dos empregos e envolve

aproximadamente 50% dos ativos empregados na atividade econômica internacional.

180

No Brasil, o “agribusiness” representa 35% do PIB, 40% das exportações e 65% do

saldo da balança comercial, além de empregar considerável parcela da população.

1.2. Níveis de análise de Sistema Agroindustrial

A literatura que trata da problemática agroindustrial no Brasil tem feito muita

confusão entre as expressões ‘Sistema Agroindustrial’, ‘Complexo Agroindustrial’,

‘Cadeia de Produção’ e ‘Agribusiness’. Essas expressões, embora circunscrita a um

mesmo espaço de análise, apresentam diferenças. Na verdade, cada uma delas reflete

um nível de análise do Sistema Agroindustrial (SAI).

SISTEMA AGROINDUSTRIAL(SAI)

O SAI pode ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para a

produção de produtos agroindustriais, desde a produção de insumos até o produto final,

dedicado ao consumidor. Ele não está associado a nenhuma matéria-prima ou produto

específico e pode ser visto como composto de seis conjuntos de atores:

1. agricultura, pecuária e pesca;

2. indústrias agroalimentares (IAA);

3. distribuição agrícola e alimentar;

4. comércio internacional;

5. consumidor;

6. indústria e serviços de apoio.

181

A figura 1.1 ilustra o citado acima, ou seja, o SAI e suas divisões.

Figura 1.1. Sistema Agroindustrial

INDÚSTRIAS S.A I.

DE APOIO

ALIMENTAR NÃO ALIMENTAR

TRANSPORTES

COMBUSTÍVEIS

INDÚSTRIA QUÍMICA PRODUÇÃO TRANSFORMAÇÃO DISTRIBUIÇÃO

EXPLORAÇÃO

INDÚSTRIA MECÂNICA AGRICULTURA FLORESTAL

INDÚSTRIA ELETROD. PECUÁRIA VAREJO IND. FUMO

EMBALAGENS PESCA ATACADO COUROS

OUTROS SERVIÇOS RESTAURANTES MÓVEIS

HOTÉIS PAPEL

COMPLEXO AGROINDUSTRIAL

Um Complexo agroindustrial, tal como é entendido nesse trabalho, tem como

ponto de partida uma determinada matéria-prima de base. Desta forma poder-se-ia, por

exemplo, fazer alusão ao complexo leite, ao complexo soja, ao complexo café etc. A

arquitetura deste complexo agroindustrial seria ditada pela ‘explosão’ da matéria prima

principal que o originou, segundo os diferentes processo industriais e comerciais que ela

pode sofrer até se transformar em diferentes produtos agroindustriais e comerciais que

ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Assim, a formação de

um complexo agroindustrial exige a participação de um conjunto de cadeias de

produção, cada uma delas associada a um produto ou família de produtos.

CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL

O conceito de cadeia de produção agroindustrial já foi apresentado

anteriormente. Cabe somente destacar que, ao contrário do complexo agroindustrial,

uma cadeia é definida a partir de um determinado produto final. Após essa

identificação, cabe ir encadeando de jusante a montante, as várias operações técnicas,

comerciais e logísticas necessárias à sua produção.

182

AGRIBUSINESS

O termo ‘agribusiness’, quando transcrito para o português, deve vir

necessariamente acompanhado de um complemento delimitador. Assim, o termo

‘agribusiness’ não está particularmente associada a nenhum dos níveis de análise

apresentados anteriormente. O enfoque pode ser mais global – o ‘agribusiness’

brasileiro – ou mais específico – o ‘agribusiness’ do suco de laranja.

Existe ainda um nível de análise representado pelas Unidades Socioeconômicas

de Produção (USEP) que participam em cada cadeia. São as unidades que asseguram o

funcionamento do sistema; elas têm capacidade de influenciar e serem influenciadas

pelo meio no qual estão inseridas.