ervylene trevenzoli de sousa

73
Associação da Leishmaniose Tegumentar Americana com variáveis meteorológicas no município do Rio de Janeiro de 1996 até 2008 por Ervylene Trevenzoli de Sousa Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. André Reynaldo Santos Périssé Rio de Janeiro, março de 2011.

Upload: others

Post on 16-Oct-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Associação da Leishmaniose Tegumentar Americana com variáveis

meteorológicas no município do Rio de Janeiro de 1996 até 2008

por

Ervylene Trevenzoli de Sousa

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em

Ciências na área de Saúde Pública.

Orientador: Prof. Dr. André Reynaldo Santos Périssé

Rio de Janeiro, março de 2011.

Catalogação na fonte

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

Esta dissertação, intitulada

S725 Sousa, Ervylene Trevenzoli de

Associação da Leishmaniose Tegumentar Americana com variáveis

meteorológicas no município do Rio de Janeiro de 1996 até 2008. /

Ervylene Trevenzoli de Sousa. Rio de Janeiro: s.n., 2011.

xvii, 73 f. : il. ; tab. ; graf. ; mapas

Orientador: Périssé, André Reynaldo Santos

Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio

Arouca, Rio de Janeiro, 2011

1. Leishmaniose Cutânea - epidemiologia. 2. Leishmaniose cutânea -

transmissão. 3. Leishmaniose cutânea - diagnóstico. 4. Leishmaniose

cutânea - terapia. 5. Variabilidade do Clima. 6. Vetores de Doenças.

I. Título.

Associação da Leishmaniose Tegumentar Americana com

variáveis meteorológicas no município do Rio de Janeiro de 1996 até

2008

apresentada por

Ervylene Trevenzoli de Sousa

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes

membros:

Prof.ª Dr.ª Martha Macedo de Lima Barata

Prof. Dr.Valmir Laurentino Silva

Prof. Dr. André Reynaldo Santos Périssé – Orientador

Dissertação defendida e aprovada em 21 de março de 2011.

DEDICATÓRIA:

Dedico esta dissertação a minha família, minha tão querida

mãe, Eva Trevenzoli, meu noivo amado, Clodoaldo Lucio de

Oliveira, ambos são meu apoio e meu porto seguro. E em especial

a minha amada irmã Aparecida Trevenzoli e minha avó Jacira

Almeida Varoto, que onde estiverem, junto de Deus, sei que estão

felizes por essa conquista.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por todas as maravilhas que faz em minha

vida. A minha família que é tudo para mim, minha mãe e meu noivo.

Ao meu querido orientador, Dr. André Reynaldo Santos Périssé, pelo desafio

proposto quando solicitou uma dissertação com esse tema, pela orientação, pelo

incentivo e os ―puxões de orelha‖. A Mestra Diana Pinheiro Marinho, pelo apoio e pelas

palavras tão sábias, que ensinava com um grande toque materno. E a Mestre Cristina

Costa Neto, que foi a peça fundamental na finalização deste trabalho, obrigada por me

ceder o seu conhecimento, atenção e paciência.

Agradeço a ―quadrilha‖, que são as queridas amigas que fiz quando entrei nesta

Escola: Andréia Santos, Fernanda Castelan e Shenia Novo. Obrigada pelas conversas,

pelo companheirismo, pela amizade, pelos conselhos, pelo carinho. Espero que a nossa

amizade continue superando as barreiras da distância e do tempo.

Agradeço a Drª. Joseli Nogueira pelo incentivo, carinho, paciência e

principalmente por ter acreditado na minha capacidade, até mesmo nos momentos em

que eu mesma não acreditava que era capaz.

A todos os professores, mestres e doutores que contribuíram para que eu

aumentasse o meu conhecimento cedendo um pouco de seus saberes, em especial

recordo a Drª Elizabeth Gloria Oliveira Barbosa dos Santos e Dr. Valmir Laurentino

Silva, por todo carinho entregue, em especial no primeiro ano de mestrado. Agradeço a

todos: familiares, amigos e professores, a todos que passaram e os que ficaram na minha

vida. Obrigada por terem acreditado em mim e terem contribuído de alguma forma para

que eu hoje finalizasse esse trabalho.

À Deus

Eu pedi força - e Deus me deu dificuldades para me fazer forte.

Eu pedi sabedoria - e Deus me deu problemas para resolver.

Eu pedi prosperidade - e Deus me deu cérebro e músculo para trabalhar.

Eu pedi coragem - e Deus me deu perigo para superar.

Eu pedi favores - e Deus me deu oportunidades.

Eu não recebi nada do que pedi - Mas recebi tudo o que precisava.

Autor Desconhecido

SUMÁRIO

LISTA DE ANEXOS ................................................................................................. viii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................... X

LISTA DE TABELA .................................................................................................. XI

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................. XII

RESUMO ................................................................................................................ XIV

ABSTRACT ............................................................................................................ XVI

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 18

2. REFERENCIAL TEÓRICO: ................................................................................. 19

2.1. Leishmanioses: ............................................................................................... 19

2.2. LTA: ......................................................................................................................... 20

2.2.1. Histórico:..................................................................................................... 24

2.2.2. Vetor ........................................................................................................... 27

2.2.3. Ciclo de transmissão .................................................................................... 28

2.2.4. Clínica ......................................................................................................... 29

2.2.5. Diagnóstico/ Tratamento .............................................................................. 30

2.3. Variáveis metereológicas: ........................................................................................ 31

2.4. Clima e doenças causadas por outros vetores .......................................................... 32

2.4.1. Clima e doenças causadas por vetores - Malária ........................................... 33

2.4.2. Clima e doenças causadas por vetores - Dengue ........................................... 35

2.5. Variáveis climáticas e Leishmanioses ....................................................................... 36

3. JUSTIFICATIVA: ................................................................................................. 39

4. OBJETIVO ........................................................................................................... 40

4.1. Objetivo geral: ......................................................................................................... 40

4.2. Objetivos específicos: ............................................................................................... 40

5. METODOLOGIA ................................................................................................. 40

5.1.Área de estudo: ........................................................................................................ 40

5.2. Desenho de estudo: ................................................................................................. 41

5.3. Fonte de dados: ....................................................................................................... 41

5.3.1. LTA: ........................................................................................................... 42

5.3.2. Clima: ......................................................................................................... 42

5.3.3. Vetor: .......................................................................................................... 43

5.4. Análise estatística .................................................................................................... 43

5.5. Aspectos éticos: ....................................................................................................... 45

6. ARTIGO: Associação da Leishmaniose Tegumentar Americana com variáveis

meteorológicas no município do Rio de Janeiro ..................................................... 46

Resumo .......................................................................................................................... 46

Introdução ..................................................................................................................... 47

Metodologia................................................................................................................... 48

Desenho de estudo: ............................................................................................... 48

Área de estudo: ..................................................................................................... 48

Fonte de dados: ..................................................................................................... 49

Análise estatística .................................................................................................. 49

Resultados ..................................................................................................................... 51

Discussão ....................................................................................................................... 52

Conclusão e considerações gerais ................................................................................... 54

Referência bibliográfica .................................................................................................. 56

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO DA DENSIDADE VETORIAL (L. intermedia) E

AS VARIÁVEIS METEOROLOGICAS ............................................................... 64

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 66

9. ANEXO ................................................................................................................ 72

VIII

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 Estatísticas descritivas das variáveis estudadas .............................................. 72

IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição geográfica da leishmaniose visceral no Velho e Novo Mundo. . 20

Figura 3. Circuitos de produção de casos de LTA (2000-2002) e casos de LTA por

estados. Brasil. ...................................................................................................... 21

Figura 4. Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana por Estado, Brasil. ............. 22

Figura 5. Distribuição de espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão da

LTA, Brasil – 2005. ............................................................................................... 23

Figura 6. Histórico da LTA no Brasil. ......................................................................... 26

Figura 7. Distribuição das principais espécies de flebotomíneos vetor da LTA no Brasil,

2005. ..................................................................................................................... 28

Figura 8. Distribuição geográfica da leishmaniose cutânea e mucocutânea no Novo

Mundo. .................................................................................................................. 30

Figura 9. Influências no surgimento e difusão da LTA e LVA. .................................... 37

Figura 10. Localização do Município do Rio de Janeiro .............................................. 41

X

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Taxa de incidência de LTA no município do RJ de 1996 até 2008 .............. 58

Gráfico 2. Número de casos de LTA no município do RJ de 1996 até 2008 ................. 58

Gráfico 3. Previsão e tendência de LTA pelos próximos três anos. .............................. 62

XI

LISTA DE TABELA

Tabela 1. Relação da taxa de incidência de LTA e a média do número de casos no

município do Rio de Janeiro com as médias das variáveis climáticas dos anos de

1996 até 2008. ....................................................................................................... 59

Tabela 2. Relação dos números de casos mensais de LTA no município do Rio de

Janeiro com as variáveis climáticas. ....................................................................... 60

Tabela 3. Avaliação do modelo de série temporal. ....................................................... 61

Tabela 4. Correlação do número de vetor mensal, com número de casos de LTA e as

variáveis climáticas no município do Rio de Janeiro entre 2003 e 2005. ................ 64

XII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AR – Auto regressiva

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CH4 – Metano

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CO2 – Dióxido de Carbono

DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

DCB – Departamento de Ciências Biológicas

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

GEE - Gases do Efeito Estufa

INFRAERO - Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária

INMET – Instituto Nacional de Meteorologia

IPA - Índice Parasitário Anual

IPP – Instituto Pereira Passos

Irr – Irregularidade

L – Nivel (Level)

LM – Leishmaniose Mucosa

LT – Leishmaniose Tegumentar

XIII

LTA – Leishmaniose Tegumentar Americana

LV - Leishmaniose Visceral

LVA – Leishmaniose Visceral Americana

MS – Ministério da Saúde

N2O – Óxido Nitroso

NDVI – Índice de Vegetação por Diferença Normalizada

PMAGS – Programa de Mudanças Ambientais Globais e Saúde

PRP - Precipitação

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde

STAMP - Structural Time Series Analyser, Modeller and Predictor

TMax – Temperatura Máxima

TMin – Temperatura Mínima

TSM – Temperatura da superfície do mar

UR – Umindade Relativa

XIV

RESUMO

As leishmanioses estão entre as doenças emergentes que preocupam o mundo. São

subdividida, nas Américas em: Leishmaniose Visceral Americana (LVA) e

Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA). Entre 1990 e 2008, foram notificados no

Brasil 528.180 casos de LTA. Entre todas as doenças que poderão ser influenciadas pelo

clima, as que são transmitidas por vetores são as mais afetadas. Essas alterações no

ambiente podem favorecer, ou não, a proliferação do vetor da Leishmania e,

consequentemente a quantificação da doença, alterando o seu ciclo e afetando o

Homem. O presente estudo buscou correlacionar algumas variáveis referentes à

ecologia da LTA, como dados climáticos e do vetor transmissor. Avaliando a

associação de variáveis metereológicas com o número de casos notificados de LTA no

município do Rio de Janeiro de 1996 até 2008, agrupados por mês do ano. Nos anos de

2003 até 2005, foram agrupados os dados de vetor. Além da correlação de Pearson, foi

utilizada a técnica de Modelos Estruturais para Série Temporais, a fim de avaliar as

componentes da série do número de casos e também a significância das variáveis

climáticas que explicariam esse número de casos. Analisou-se essa relação através do

software Structural Time Series Analyser, Modeller and Predictor (Stamp). Com o

modelo foi realizado a previsão da tendência dos números de casos utilizando as

variáveis climáticas pelos próximos três anos, ou seja, nos anos de 2009, 2010 e 2011.

No período de 1996 a 2008, a média de número de casos de LTA foi de 6,61casos. Na

correlação entre a taxa de incidência e a média anual de número de casos de LTA,

notificados com as variáveis climáticas, não foi encontrada correlação significativa. Já

correlação com o número de casos notificados mensalmente com as variáveis

climáticas, observamos uma correlação positiva (r2=0,182; p-valor=0,024)),

significativa com a temperatura máxima, e com temperatura mínima (r2=0,208;p-

valor=0,010) significativa ao nível de 5% de significância. Na correlação da quantidade

de L. intermedia e as variáveis climáticas encontrou-se uma correlação negativa

significativa, considerando um nível de significância de 5%, inversamente proporcional

com a temperatura máxima (R2

=- 0,372) p=0,04, com a temperatura mínima (R2=-

0,420) p= 0,02, com a precipitação (R2=-0,431) p=0,015 e com o dia de chuva (R

2=-

XV

0,525) p= 0,002. No modelo de série temporal as variáveis que apresentaram

significância estatística foram precipitação e dias de precipitação, sendo somente estas

utilizadas para prever a tendência de casos. No estudo da tendência, dos casos de LTA

para os anos de 2009, 2010 e 2011, observou-se um aumento no número de casos de

LTA. O que nos define a existência de uma relação do clima com a produção de casos

de LTA, porém, não temos como dizer o quanto essa relação é importante e o quanto as

outras variáveis podem influenciar nessa relação. Encontramos correlações

significativas entre as variáveis climáticas e casos de LTA possibilitando assim, um

aumento no número de casos de LTA em função da variabilidade do clima, o que

poderia causar um problema de saúde pública. As evidências apresentadas são apenas

uma primeira referência para nortear o caminho do planejamento de novos estudos, e

salientamos que a previsão não constitui um fim em si, mas apenas um meio de fornecer

informações para futuras decisões.

XVI

ABSTRACT

The leishmaniases are among the emerging diseases of concern to the world. They are

subdivided in the Americas: American Visceral Leishmaniasis (AVL) and Cutaneous

Leishmaniasis (ACL). Between 1990 and 2008 were reported in Brazil, 528,180 cases

of ACL. Among all the diseases that can be influenced by climate, which are

transmitted by vectors are most affected. These changes in the environment can support

or not the proliferation of vectors of Leishmania, and consequently the quantification of

the disease, altering your cycle and affect humans. This study tried to correlate some

variables related to the ecology of LTA, as climatic data and the transmission vector.

Evaluating the combination of meteorological variables with the number of reported

cases of leishmaniasis in the municipality of Rio de Janeiro from 1996 to 2008, grouped

by month of the year. In the years 2003 to 2005 were grouped vector data. In addition to

the Pearson correlation technique was used to Structural Models for Time-Series in

order to evaluate the components of the serial number of cases and also the significance

of climate variables that explain the number of cases. We analyzed this relationship

using software Structural Time Series Analyser, Modeller and Predictor (Stamp). With

the model was constructed to forecast the trend in the number of cases using climate

variables for the next three years, ie in the years 2009, 2010 and 2011. In the period

1996 to 2008, the average number of ACL cases was 6.61 cases. In the correlation

between the incidence rate and the average annual number of ACL cases reported at the

climatic variables, we found no significant correlation. Already correlation with the

number of cases reported monthly with the climatic variables, we observed a positive

correlation (r2 = 0.182, p-value = 0.024)), significant with the maximum temperature,

and minimum temperature (r2 = 0.208, p-value = 0.010) significant at 5% level of

significance. When correlating the amount of L. intermedia and climatic variables found

a significant negative correlation, considering a significance level of 5%, inversely

proportional to the maximum temperature (R 2 =- 0.372) p = 0.04, with minimum

temperature (R 2 =- 0.420) p = 0.02, with rainfall (R2 =- 0.431) p = 0.015 and with the

rainy day (R2 =- 0.525) p = 0.002. In the series model variables that were statistically

significant rainfall and rainy days, and only those used to predict the trend of cases.

Studying the trend of ACL cases for the years 2009, 2010 and 2011, there was an

XVII

increase in the number of ACL cases. What defines us the existence of a relationship of

climate to the production of ACL cases, however, we can not say how this relationship

is important and how the other variables can affect this relationship. We found

significant correlations between climatic variables and ACL cases thus enabling an

increase in the number of ACL cases in light of climate variability, which could cause a

public health problem. The evidence presented is only a first reference guide to the path

planning new studies, and emphasize that the prediction is not an end in itself but a

means of providing information for future decisions.

18

1. INTRODUÇÃO

As leishmanioses estão entre as doenças emergentes que preocupam o mundo.

São subdivididas nas Américas em: Leishmaniose Visceral Americana (LVA) e

Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA)1.

Estudos diversos relacionam diretamente o clima à saúde humana. Dentre as

preocupações encontra-se o clima agindo nas doenças transmitidas por vetores como

dengue, febre amarela, malária, as leishmanioses entre outras2. A distribuição das

populações de vetores, como os flebotomíneos, é influenciada principalmente pela

umidade, temperatura e luminosidade3.

As leishmanioses são zoonoses causadas por várias espécies do protozoário

digenético da ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e gênero Leishmania.

Estima-se que haja cerca de 350 milhões de pessoas em risco no mundo, distribuídas em

88 países em quatro continentes 4,5

.

Existem no Brasil dois subgêneros causadores de leishmaniose: Leishmania e

Viannia. Estes se subdividem em seis espécies: Leishmania (Leishmania) amazonensis;

Leishmania (Viannia) braziliensis; Leishmania (Viannia) guyanensis; Leishmania

(Viannia) lainsoni; Leishmania (Viannia) naiffi e Leishmania (Viannia) shawi6.

O vetor é um flebotomíneo, da ordem Díptera, família Psychodidae, subfamília

Phlebotominae6. Mede cerca de dois a três mm, é de cor parda, com o corpo e as asas

cobertas de cerdas, as asas são elevadas, de pontas anguladas e o tronco curto e giboso.

Possui vôos curtos e baixos, com aspecto saltitante de um raio não superior a 200m e as

fêmeas utilizam da hematofagia, em seu hábito alimentar, para o amadurecimento de

seus ovos. Estes vetores preferem solos úmidos e ricos em materiais em decomposição6.

A leishmaniose tegumentar tem ampliado sua incidência e distribuição

geográfica7. As variáveis do clima atuam no parasita, no vetor e na população humana,

intensificando o contato humano com o ciclo da LTA8.

19

2. REFERENCIAL TEÓRICO:

2.1. Leishmanioses:

Apenas cinco países, Bangladesh, Índia, Nepal, Sudão e Brasil, concentram

90% dos casos de leishmaniose visceral (LV) do mundo, enquanto sete países,

Afeganistão, Arábia Saudita, Argélia, Brasil, Irã, Peru e Síria, concentram a mesma

percentagem para leishmaniose tegumentar (LT)4. Estima-se que haja no mundo

aproximadamente 12 milhões de casos de leishmanioses. Destes, cerca de dois milhões

seriam de casos novos, sendo entre um a 1,5 milhões de LT e 500.000 de LV1. Na

região das Américas, ocorre desde o sul dos Estados Unidos da América até o norte da

Argentina, poupando Uruguai e Chile9.

No Brasil, a LTA tem sido notificada nas cinco regiões geográficas. Em 2010 a

região Norte apresenta o maior número de casos (40%), seguido pelas regiões Nordeste

(31%), Centro-Oeste (16%), Sudeste (10%) e Sul (3%)10

. Entre 1990 e 2008, foram

notificados no Brasil 528.180 casos de LTA, com coeficientes de detecção variando de

acordo com a região estudada10

. A região Norte foi a que mais detectou casos nos anos

avaliados, tendo apresentado coeficientes que variaram entre 51,2/100.000 habitantes

em 1998 e 117,6 por 100.000 habitantes em 1995. Já a região Sudeste notificou, para o

mesmo período, 52.208 casos, com coeficiente de detecção variando de 2,4/100.000

habitantes em 2007 a 7,4/100.000 habitantes em 199310

. Dados do Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN) indicavam a existência de 21.407

casos de LTA no Brasil em 2007, sendo 1.898 casos confirmados na Região Sudeste,

dos quais 119 encontravam-se no estado do Rio de Janeiro10

.

A LVA, ou Calazar, consiste em uma infecção do sistema fagocitário

mononuclear, causada pela Leishmania chagasi, que possui tropismo para tecidos11

. O

seu período de incubação varia de 3 a 8 meses e o aparecimento dos primeiros sintomas

pode ocorrer de 10 dias até 34 meses. Os sintomas incluem febre, perda de peso,

hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, pancitopenia e hipergamaglobulinemia.

Geralmente, cursa cronicamente, podendo levar a morte do paciente, no entanto, pode,

também, ser assintomático e alcançar a cura. O óbito ocorre, principalmente, devido às

infecções secundárias, oportunistas, geralmente causadas por bactérias, quando não é

tratado. Há relatos da leishmaniose visceral atingindo pulmões, pleura, mucosa oral,

20

laringe, esôfago, estômago, intestino e medula óssea12

. Seu diagnóstico é baseado na

detecção de amastigotas, em esfregaços de tecidos aspirados ou biópsia. O tratamento

mais utilizado é o uso de antimoniais pentavalentes12

.

Figura 1. Distribuição geográfica da leishmaniose visceral no Velho e Novo Mundo.

Fonte de dados e mapeamento da produção: WHO / DTN / IDM HIV / AIDS, Tuberculose e Malária

(HTM) Organização Mundial da Saúde13.

A LTA é uma infecção no sistema fagocítico mononuclear da derme e mucosa,

sendo esta o foco deste estudo. Sua transmissão ocorre por ocasião da hematofagia de

várias espécies de flebotomíneos11

.

2.2. LTA:

Considerada como uma das seis doenças infecciosas mais importantes do

mundo, por sua incidência e pelas deformidades que causa ao indivíduo14,16

. Esta

patologia tem sido grosseiramente subestimada proporcionando grande impacto na

Saúde Pública8. Observam-se picos de transmissão a cada cinco anos e, a média

nacional anual entre 1985 a 2005 foi de 28.568 de casos autóctones, o coeficiente de

detecção médio de 18,5 casos/100.000 habitantes (Figura 2)16

.

21

Figura 2. Casos notificados de LTA, Brasil – 1980 a 2005.

Fonte: SVS/MS

14

Figura 3. Circuitos de produção de casos de LTA (2000-2002) e casos de LTA por

estados. Brasil.

Fonte: Fiocruz/Ensp/Desnp, SVS/MS

14

22

Figura 4. Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana por Estado, Brasil.

Fonte: SVS/MS

14

Aproximadamente, 4.904 casos de LTA foram notificados pelo SINAN no

Estado do Rio de Janeiro de 1990 a 200817

. Esta doença era caracterizada por ser

restritamente silvestre e/ou rural, atingindo somente os homens em idade adulta, porém,

a LTA tem se tornado uma doença periurbana, que atinge tanto homens quanto

mulheres, independente da idade18

.

A Leishmania (Leishmania) amazonensis é distribuída nas florestas primárias e

secundárias da Amazônia, nos estados do Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e

sudoeste do Maranhão, principalmente em áreas com igapó e de floresta tipo ―várzea‖.

Sua presença foi detectada no Nordeste (Bahia), sudeste, em Minas Gerais e São Paulo,

e Centro-Oeste (Goiás)14

.

A Leishmania (Viannia) guyanensis parece limitar-se ao norte da Bacia

Amazônica. Ela é encontrada nos estados do Amapá, Roraima, Amazonas e Pará,

principalmente nas florestas de terra firme que não se alagam no período de chuvas14

.

2003 2004

1 PONTO = 5 CASOS

23

Leishmania (Viannia) braziliensis distribui-se do sul do Pará ao Nordeste,

chegando ao centro-sul do país e em algumas áreas da Amazônia Oriental. Na

Amazônia, também se caracteriza por ser encontrada em áreas de terra firme14

.

Existem outras espécies de Leishmania descritas: L.(V) lainsoni, L.(V) naiffi,

encontrada em poucos casos humanos no Pará; L.(V) shawi com casos humanos

encontrados no Pará e no Maranhão14

(Figura 5).

Figura 5. Distribuição de espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão da

LTA, Brasil – 2005.

Fonte: SVS/MS

14

No ambiente silvestre a LTA tem, como reservatórios, roedores, marsupiais,

macacos, raposas, cães selvagens, preguiças, tamanduás, pacas e quatis. No ambiente

peridomiciliar, os cães domésticos são os principais reservatórios, podendo também ser

cavalos, jumentos e gatos6,8,19,20

.

A importância do reservatório, no ciclo da doença, varia para cada espécie de

Leishmania: Leishmania (Leishmania) amazonensis é encontrada em hospedeiros

naturais como os marsupiais e roedores, como o ―rato-soiá‖ (Proechymis) e do

Oryzomys que pode apresentar o parasita na pele sem ter lesões cutâneas. A Leishmania

(Viannia) guyanensis é vista em vários mamíferos silvestres como a preguiça

(Choloepus didactilus), o tamanduá (Tamandua tetradactyla), os marsupiais e os

24

roedores14

. No animal, a infecção é geralmente assintomática, apresentando o parasita

na pele e nas vísceras. Leishmania (Viannia) braziliensis foi encontrada em roedores

silvestres como Bolomyslasiurus e Nectomyssquamipes no estado de Pernambuco,

porém, nos estados do Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo

encontrou-se Leishmania (Viannia) braziliensis em animais domésticos, como o cão, e

no Ceará, Bahia e Rio de Janeiro já foram identificadas grandes quantidades de parasita

em equinos e mulas14

.

2.2.1. Histórico:

A LTA teve seu primeiro relato em 1580, em que foi denominada, pelo

espanhol Balthasar Ramirez, como o ―mal de los Andes‖. Em 1586, Fray Rodrigo de

Loayza observou as lesões nasais nos índios e nas pessoas que adentravam na região das

Cordilheiras dos Andes21

. Fray Don Hipólito Sanchez descreveu tal doença em 1827 na

Amazônia (Figura 06). No estado de São Paulo, fora detectada em italianos no ano de

1884. A observação na Bahia foi feita em 1885, sendo identificada como ―botão do

Oriente‖ por Alexandre Cerqueira e, acredita-se que, no mesmo ano, descobriram-se os

parasitas da doença. No Rio de Janeiro, a existência de LTA foi vista desde 1897. Nas

pessoas, que estavam com o ―botão do Oriente‖, identificou-se em 1903 como

Leishmania tropica por Wright e Ross que definiu o gênero como Leishmania. No

estado de São Paulo, em 1908, ocorreu uma epidemia da doença, justamente quando

houve um desmatamento no norte paulista a fim de construir a Estrada de Ferro

Noroeste. Em 1911, o parasita causador da doença no Brasil foi diferenciado, por

Gaspar Vianna, dos protozoários isolados no Velho Mundo, e assim foi denominado

como Leishmania brasiliensis21

.

No ano de 1913, Rabello relatou um caso de Leishmaniose Mucosa (LM) no

estado do Rio de Janeiro21

. Já em 1915, observaram-se casos nos município de Campos

dos Goytacazes , Cantagalo, Itaocora, Itacuruçá, Macaé, Maricá, Mangaratiba, Porto das

Flores, São José da Boa Morte e na cidade do Rio de Janeiro (nos bairros de Realengo,

Jacarepaguá e Gávea)18

. Em 1922 ocorreu o primeiro surto de leishmaniose no Rio de

Janeiro (nos bairros de Santa Teresa e Cosme Velho), associado à densidade de

25

flebotomíneos. O parasita encontrado era L. braziliensis; o vetor infectado com

leishmânias no interior dos domicílios foi L. intermedia. Todos os casos eram situados

próximos as encostas da vertente atlântica do maciço da Tijuca18

. Ocorreu em 1974 um

novo surto de leishmaniose no município Rio de Janeiro, no bairro de Jacarepaguá,

atingindo regiões próximas do maciço da Pedra Branca, com 162 casos notificados18

.

Desde 1976, a leishmaniose fez parte do grupo das doenças tropicais de estudo

prioritários da OMS, devido à gravidade da doença nas fases avançadas21

.

26

Figura 6. Histórico da LTA no Brasil.

27

2.2.2. Vetor

No Brasil o flebotomíneo é conhecido popularmente como: cangalhinha,

cangalha, ligeirinho, péla-égua, arrupiado, birigui, mosquito-palha, asa dura, asa branca,

catuqui, catuquira, escangalhado, marutinga dentre outros6,11

. Os gêneros responsáveis

pela transmissão de LTA, nas Américas, são a Lutzomyia e o Psychodopigus. Estes

possuem as seguintes espécies: L. flaviscutllata, L. olmeca, L. whitmani, L. migonei, L.

pessoai, L. intermedia, L. carrerai, L. umbratilis, L. anduzei, L. ubiquitalis, P.

paraensis, P. ayrozai, P. squamiventris e P. wellcomei22

(Figura 07).

O vetor também possui afinidade por cada espécie de Leishmania, sendo que

pode ser alterado de acordo com as mudanças ambientais. Leishmania (Leishmania)

amazonensis tem como principais vetores a Lutzomyia flaviscutellata, Lutzomyia

reducta e Lutzomyia olmeca nociva (encontrados em especial no estado da Amazonas e

Rondônia), são mais noturnos, possuem voo baixo e são pouco antropofílicos.

Leishmania (Viannia) guyanensis prefere a Lutzomyia anduzei, Lutzomyia whitmani e

Lutzomyia umbratilis, sendo este último o principal vetor, pousa durante o dia em

troncos de árvores e ataca o homem vorazmente ao ser perturbado. Leishmania

(Viannia) braziliensis em área silvestre é encontrada no Psychodopigus wellcomei,

localizado na Serra dos Carajás. Ele é altamente antropofílico, picando o homem,

independente do horário, e aumentando sua atividade na estação das chuvas. Já

Lutzomyia whitmani, Lutzomyia intermedia e Lutzomyia migonei são mais encontradas

em ambientes modificados, em ambientes rurais e no peridomiciliar14

.

28

Figura 7. Distribuição das principais espécies de flebotomíneos vetor da LTA no

Brasil, 2005.

Fonte: SVS/MS

14

2.2.3. Ciclo de transmissão

O ciclo se inicia com a hematofagia do vetor no animal infectado. O sangue é

sugado com amastigotas, que são formas arredondadas ou ovaladas sem flagelos, e se

alojam no intestino do flebótomo, transformam-se em formas promastigotas, com

formato alongado, flagelos longos e livres, multiplicando-se por divisão simples e

assexuada. Após 4 a 5 dias migram para a probóscide do inseto, bloqueiam o seu

proventrículo, sendo inoculadas na pele do hospedeiro, juntamente com a saliva do

vetor. Estas serão englobadas por células fagocitárias do hospedeiro onde se

transformarão em amastigostas e se multiplicarão 6,11

.

As leishmânias encontram-se na forma de amastigota em seus hospedeiros

vertebrados, alojam-se nos fagolisossomos do sistema fagocitário mononuclear

29

(monócitos, histiócitos e macrófagos) e ali realizam divisão assexuada, até romperem as

células, disseminando suas formas por toda a corrente sanguínea e linfática, o que leva a

uma reação inflamatória, atraindo outros macrófagos, que continuam em um ciclo

vicioso6.

2.2.4. Clínica

A LTA é de evolução crônica, atinge a pele e a cartilagem da nasofaringe. Pode

ser localizada (única ou múltipla), disseminada ou difusa11

.

A forma localizada é caracterizada por úlceras com bordas elevadas em

moldura, o fundo é granuloso com ou sem exsudação e em geral indolores11

. Pode

demorar meses para cicatrizar, o que ocorre em cerca de 90% dos casos. Normalmente,

o período de incubação varia no mínimo de duas semanas podendo chegar até em

meses. Porém, no Velho Mundo, a leishmaniose cutânea tem apresentado em até 3 anos

e no Novo Mundo, chega de 2 até 8 semanas de incubação12

.

A forma cutânea disseminada dispõe de lesões ulceradas pequenas, distribuídas

por todo o corpo11

. Normalmente apresenta baixa contagem de parasitas na biópsia e a

infecção tende a ser resistente ao tratamento12

.

A LTA cutânea difusa é rara e se apresenta com mácula, pápula ou nódulo no

local da picada, evoluindo com o aparecimento de outras lesões semelhantes próximo à

inoculação. Posteriormente, ocorre a disseminação do parasita e o surgimento de mais

lesões em outras partes do corpo11

. Comumente encontrada no Novo Mundo, bem como

também apresenta casos na África12

.

LTA mucocutânea, possui o período de incubação de 1 a 3 meses, no entanto,

pode ocorrer muitos anos após a cura da primeira úlcera cutânea. Há relatos de casos na

América do Sul afetando as mucosas do nariz, da cavidade oral e da faringe, o que

favorece a ocorrência de infecções secundárias devido à dificuldade de alimentação do

paciente12

.

A distribuição das formas clínicas cutâneas e mucocutâneas no Novo Mundo

estão apresentadas na figura 08.

30

Figura 8. Distribuição geográfica da leishmaniose cutânea e mucocutânea no Novo

Mundo.

Fonte de dados e mapeamento da produção: WHO / DTN / IDM HIV / AIDS,

Tuberculose e Malária (HTM) Organização Mundial da Saúde13

.

2.2.5. Diagnóstico/ Tratamento

O diagnóstico de LTA geralmente é realizado através de exame microscópico

da pele, extraídos da borda da lesão. Este exame possui baixo custo e baixa

sensibilidade, especialmente em lesões crônicas. A cultura das lesões possui alta

sensibilidade e alto custo. O teste de Montenegro, sendo ainda o teste que auxilia o

diagnóstico, possui ampla utilização. Consiste na aplicação intradérmica de antígeno de

diferentes espécies de LTA, que resulta em uma reação inflamatória local. Contém a

limitação de não diferenciar infecções atuais e as passadas e índices elevados de falsos

positivos12

.

Para a escolha do melhor tratamento para leishmaniose cutânea, deve-se

observar se a doença evoluirá para uma forma mais grave, que colocará em risco a vida

31

do paciente. As opções de tratamento incluem o de ação local e/ou de ação sistêmica.

Ação local tem como opção: crioterapia, com o sucesso de 77% até 100% em quatro

semanas; calor produzido por luz infravermelho; Aminosidine com cloreto

metilbenzethonium e taxa de cura de 74-85%, porém, produz reações inflamatórias

severas no local de administração. Ação sistêmica pode utilizar-se: imunomodulador

tópico associado com antimoniato de meglumina, que possui a taxa de cura de 91%;

Pentamidina com cura de 96%; Imidazois, triazois, fluconazol oral que tem se

observado a taxa de cura de 79% em infecções graves; Cetoconazol com eficácia de

74%; Anfotericina B lipossomal não tem sido estudada para leishmaniose cutânea,

porém pode ser utilizada com eficácia em pacientes resistentes12

.

2.3. Variáveis metereológicas:

O clima é a frequência e padrões do tempo ao longo de anos, décadas, séculos

e eras7. O efeito estufa é um processo natural originado do acúmulo de gases na

atmosfera que são responsáveis pelo equilíbrio da temperatura do planeta. Alteração na

concentração natural dos gases, formadores do efeito estufa, afeta o equilíbrio da

temperatura global7. Os principais gases que intensificam o efeito estufa são: Dióxido

de Carbono (CO2), Metano (CH4) e Óxido Nitroso (N2O)22

. O ciclo do carbono vem

sendo acelerado principalmente pelas ações antrópicas como o uso dos combustíveis

fósseis, o carvão, as queimadas das florestas e as emissões de metano pelas plantações

de arroz e pelos rebanhos de gado, entre outros23, 24

.

O aumento reflete diretamente no clima do planeta, resultando no aumento da

temperatura e na irregularidade nas precipitações23,24

. Os efeitos das alterações

climáticas na saúde estão cada vez mais evidentes, podendo ter consequências

devastadoras na saúde mundial nas próximas décadas25

. As mudanças de temperatura,

irregularidade das precipitações e eventos meteorológicos extremos (ex.: tufões,

furacões, ciclones, entre outros) estão cada vez mais frequentes e influenciando na

saúde da humanidade24

. Tais eventos resultam em um estresse adicional nos problemas

já existentes da saúde26

. Estudos epidemiológicos mostram que os impactos negativos

sobre a saúde são variados, podendo citar o aumento na incidência de doenças causadas

por vetores24, 25

.

32

As alterações do ciclo hidrológico exercem diferentes efeitos na saúde humana.

Os eventos meteorológicos extremos (inundações, enchentes, entre outros) causam

morbidade e mortalidade, principalmente nos países mais pobres. As enchentes, a

escassez de água limpa e o aumento na temperatura ambiente podem levar a um

deslocamento populacional, destruição da infraestrutura e aumento da incidência de

varias doenças 26,27

.

2.4. Clima e doenças causadas por outros vetores

As doenças infecciosas, transmitidas por vetores, podem ser influenciadas por

diversos fatores relacionados com o ambiente e o clima. Segundo Confalonieri et al,

(2002), o desmatamento afeta os micro-climas, influenciando o diversos ciclos de

transmissão das doenças infecciosas. As alterações climáticas atuam diretamente nos

vetores e nos reservatórios, o que propicia um rearranjo importante na distribuição

geográfica e na abundância das espécies. O aumento na temperatura poderá deslocar

habitats de muitas espécies para altitudes e latitudes mais elevadas, modificando as

características de muitas doenças restritas a algumas regiões25, 27,28

.

O clima atua: no Homem, influenciando diretamente em seu comportamento

(exemplo: estimulando as migrações, em busca de melhor qualidade de vida); nos

parasitas, os fatores climáticos possuem impactos diretos no seu ciclo de vida

(possibilitando que o seu desenvolvimento seja acelerado ou incompleto); e nos vetores,

o aumento da temperatura a um nível aceitável pelo vetor, pode acelerar a taxa

metabólica do inseto, que aumentará a sua reprodutividade e a frequência do seu repasto

sanguíneo. Já a precipitação afeta a longevidade do vetor, agindo na umidade, podendo

criar condições favoráveis para o habitat, abundância da população, reprodução e

distribuição do vetor. No entanto, o excesso de chuvas pode desfavorecer a reprodução

e agir em seus criadouros29

. Ou seja, a dinâmica ambiental dos ecossistemas influencia

fortemente o ciclo de vida dos vetores, reservatórios e hospedeiros de diversas doenças

infecciosas, destacam-se a malária, a dengue, as leishmanioses, entre outras, além de

inúmeras arboviroses, por apresentarem grande importância sanitária em diferentes

países em todos os continentes7.

33

2.4.1. Clima e doenças causadas por vetores - Malária

A malária continua sendo um dos maiores problemas de saúde pública na

África, ao sul do deserto do Saara, no sudeste asiático e nos países amazônicos da

América do Sul7. A transmissão da malária é parcialmente controlada pelas condições

ambientais, com isso, a variação espacial e temporal da malária, assim como a

intensidade da transmissão, pode ser explicada pelas mudanças no ambiente25

. Tem

como vetor Anopheles sp., um mosquito que depende da disponibilidade de água para

sua evolução. Isso pode justificar a grande dependência desta doença com os fatores

climáticos, pois, possui forte relação com a temperatura e a altitude por interferir no

desenvolvimento e distribuição geográfica do parasita e do vetor30,31

. A temperatura

mínima necessária para o desenvolvimento do parasita Plasmodium vivax nos

anofelinos é de 14,5-16,5 ºC e para o Plasmodium falciparum 16,5-18 ºC, o que reduz

de 55 para 7 dias a conclusão do ciclo de esporogonia28

. O aumento da temperatura

acelera o desenvolvimento do mosquito e do parasita (incubação extrínseca), no entanto,

uma temperatura no limiar de 40ºC favorece a morte do vetor30

.

Estudos como os realizados por Bauma et al. (1997), Bomblies & Eltahir

(2010), Tanga et al (2010), Nkurunziza et al. (2010), Zhang et al. (2010) e Lindsay et

al. (2010) identificaram grande relação do clima e o ambiente com a evolução e o

surgimento de casos de malária.

Foi identificado por Bauma et al. (1997) um aumento de 17,3% de casos

durante o primeiro ano de El Niño e, um aumento de 35,1% nos pós-anos ao El Niño.

Ao estudar a variação anual dos casos de malária na Colômbia, no período de 1960 até

1992, associando a IPA (Índice Parasitário Anual) de malária com o El Niño e a

temperatura da superfície do mar (TSM) - que é um parâmetro para o El Niño32

.

Bomblies & Eltahir (2010) analisaram em Sahel na Àfrica Ocidental, a ação da

variabilidade climática na transmissão da malária utilizando um simulador da

hidrologia, de entomologia e transmissão da Malária (HYDREMATS), que utiliza como

variáveis climáticas a precipitação, temperatura, umidade relativa, radiação, velocidade

e direção dos ventos; como componente da hidrologia, a distribuição do solo e os tipos

de vegetações, que podem favorecer o acúmulo de água propiciando criadouros do

34

vetor; e, na capacidade vetorial foi identificada como a taxa diária de hematofagia

infectante realizada por um hospedeiro no ser humano; o modelo destacou a complexa

manifestação da malária com o clima, mudanças nos padrões de chuva e precipitação

que afetam diretamente a abundância do vetor de uma forma não linear, influenciando,

através de chuvas frequentes, o tempo de formação da população vetorial e de sua

persistência, já o ambiente mais úmido aumenta a duração do ciclo do vetor, que eleva a

sobrevivência dos mosquitos, aumentando a sua abundância. Porém, o ambiente mais

quente resulta em condições mais secas e reduz a capacidade do vetor30

.

Tanga et al (2010), no período de outubro de 2004 até setembro de 2005, em

Camarões na África, realizou coletas do vetor da malária durante o dia e a noite, com o

objetivo de levantar dados entomológicos da região, avaliar o impacto da agricultura e a

altitude na distribuição do vetor, relacionando aos dados climáticos. Observaram uma

correlação positiva entre a abundância das espécies de Anopheles sp. e a média das

temperaturas mínimas e, concluíram que a transmissão pode ocorrer em altitudes mais

elevadas das já conhecidas. Este estudo fornece evidências que as espécies de

Anopheles sp. são capazes de se adaptar a diferentes altitudes onde as florestas primárias

foram substituídas por grandes plantações31

.

Nkurunziza et al. (2010) investigaram os efeitos do clima sobre a malária, no

período de 1996 até 2007, em Burundi na África. Através da análise longitudinal,

usando dados mensais da epidemiologia da malária e do clima. Concluíram que a

incidência de malária, em um determinado mês no Burundi, está associada

positivamente com a temperatura mínima do mês anterior, porém, as chuvas e a

temperatura máxima possuem efeitos negativos na incidência da malária33

.

Zhang et al. (2010) analisaram o impacto das variações climáticas sobre a

malária em uma região de clima temperado, de 1959 até 1979, em Jinan, localizada no

norte da China. Como variáveis meteorológicas utilizaram a temperatura máxima e

mínima, precipitação, umidade e como variáveis da doença usaram o número de casos

de malária. Nos resultados observaram que um aumento de 1ºC na temperatura máxima

poderá estar relacionado a um aumento de 7,7% até 12,7% no número de casos de

malária. E um aumento de 1ºC na temperatura mínima resulta em cerca de 11,8% até

15,8% no aumento do número de casos da doença. Não foram encontradas relação com

35

outras variáveis meteorológicas. Reforçando o conceito que a temperatura desempenha

um papel importante na transmissão da malária em regiões temperadas, como na

China34

.

Lindsay et al.(2010) exploraram o risco de desenvolvimento de malária no

Reino Unido, através de dois modelos. Primeiro, utilizaram a temperatura como

dependente para a transmissão da malária pelo Anopheles atroparvus. E no segundo,

usaram o modelo estatístico de regressão logística para procurar evidências das

condições ambientais atuando na incidência da malária, utilizando a série histórica de

1971 até 1981 e as bases de dados demográficos e ambientais. Com o resultado destes

modelos, foram criados mapas de riscos futuros para a malária no Reino Unido. O

modelo de adequação climática apresentou boa correspondência com os registros

históricos dos casos de malária. A análise dos modelos estatísticos apresentou uma

relação na distribuição da malária com a temperatura média do mês mais quente do ano.

Os mapas de riscos indicaram que áreas do centro e do sul da Inglaterra favoreciam a

transmissão da malária e que esta extensão poderia ser aumentada futuramente35

.

2.4.2. Clima e doenças causadas por vetores - Dengue

A dengue é causada pelo vírus flavivírus e incluem os sorotipos 1,2,3 e 436

.Tem

infectado milhões de pessoas a cada ano e leva a uma morbidade significativa e até a

milhares de mortes. Os vírus e o vetor da dengue são endêmicos em muitos países

tropicais e subtropicais. A transmissão segue um padrão sazonal, com epidemias

pontuais, justificada pela interação dos vírus com o vetor e, principalmente, pelos

sorotipos, imunidade da população e por fatores extrínsecos, como as mudanças nos

padrões climáticos37

. A dengue é considerada uma doença reemergente nos países

tropicais e subtropicais7. Os casos de dengue e dengue hemorrágica têm sido associados

diretamente, e indiretamente, com a precipitação, temperatura e umidade, sugerindo

uma influência de tais fatores climáticos na biologia do patógeno e do vetor25,29

. A

precipitação influencia na transmissão da dengue por causar impacto na população do

vetor, regulando a densidade populacional do Aedes aegypti, favorecendo criadouros e

estimulando a evolução dos ovos. Sendo assim, a temperatura, influencia na capacidade

de sobrevivência e na reprodução do vetor, o aumento da temperatura poderá aumentar

a frequência do repasto sanguíneo e diminuir o tempo de evolução do mosquito e do

36

vírus37

. A temperatura mínima necessária para a sobrevivência do vírus da dengue, no

mosquito, é de 11.9 °C, e o vírus tem necessidade de 18 °C para realizar a multiplicação

e temperaturas acima de 42 °C. Isso se torna inviável para a sobrevivência do

mosquito28

.

Alguns estudos como o realizado por Câmara et al. (2009), Johansson et al.

(2009) e Hii et al.(2009) observaram a interação do clima com a dengue.

Em estudos no município do Rio de Janeiro, realizado por Câmara et al.

(2009), observaram a interação do clima com as epidemias de dengue, utilizaram dados

de temperaturas máximas e mínimas, pluviometria e casos notificados de dengue entre

1983 até 2003 como variáveis. Contudo, concluíram que quando a média da temperatura

mínima era superior a 22ºC e o volume das chuvas inferior a 200 mm no mês,

observava um aumento no número de casos de dengue. Chegaram à análise que verões

secos e quentes poderiam propiciar um aumento na incidência da dengue na cidade do

Rio de Janeiro37

. No entanto, o estudo não analisou a influência do surgimento dos

diversos tipos do vírus da dengue nas epidemias relatadas.

Johansson et al.(2009) analisaram a relação do El Niño, o clima local e a

incidência de dengue de 1985 até 2006, em Porto Rico, México, em comparação com

estudos realizados na Tailândia. Como variável climática, utilizou-se temperatura e

precipitação. Observaram associação da temperatura com a incidência de dengue. Não

possuindo evidências concretas, da relação do El Niño, e o clima com a incidência de

dengue38

.

Hii et al. (2009) analisaram a associação da incidência de dengue com a

temperatura média e a precipitação no período de 2000 até 2007, em Cingapura.

Empregaram, para tal análise, o modelo de regressão de Poisson. Encontraram

associação estatisticamente significativa entre o aumento da incidência de dengue, em

Cingapura, e a média de temperatura e precipitação. Observou um aumento linear da

incidência de dengue em relação à temperatura e as chuvas39

.

2.5. Variáveis climáticas e Leishmanioses

37

As leishmanioses, tegumentar e visceral, têm ampliado sua incidência e

distribuição geográfica7. O clima atua no desenvolvimento do parasita, na capacidade

vetorial das populações de flebotomíneos e nas mudanças socioeconômicas da

população humana, intensificando o contato humano com o ciclo da LTA8. Sendo

assim, aspectos ambientais (vegetação, clima e hidrologia), socioeconômicos

(migrações e densidade populacional), biológicos (ciclo vital dos insetos vetores de

agentes infecciosos), médico-sociais (ex.: estado imunológico da população e

efetividade dos sistemas locais de saúde e dos programas específicos de controle de

doenças) e a história da doença no lugar, uma vez que exercem uma enorme influência

no surgimento e difusão desta doença, modificando suas manifestações e dificultando o

seu tratamento40

(figura 9).

Figura 9. Influências no surgimento e difusão da LTA e LVA.

Prever os efeitos das alterações climáticas, para a leishmaniose, é difícil devido

a grande variedade de vetores, de reservatórios vertebrados, e das diferentes reações que

estes poderão apresentar frente à alteração do clima. Contudo, há indicações de que as

38

leishmanioses estejam associadas com as condições de seca, alta umidade, temperaturas

frias e tipo específico de solo, que propiciariam a proliferação do flebotomíneo39

.

Segundo Rangel et al. (1987), no estudo para avaliar a influência da luz e da

temperatura, na duração do ciclo evolutivo da L. intermedia e L. longipalpis, verificou

que quando maior a intensidade de luz, mais demorado se tornava o ciclo evolutivo da

L. intermedia e quanto maior a temperatura, mais rápida era a evolução da

L. intermedia, não sendo observado diferença entre a intensidade da luz e da

temperatura no ciclo de evolução da L. longipalpis, estes estudos foram feitos em

ambientes criados em laboratório42

.

Franke et al. (2002) analisaram no estado da Bahia, Brasil, a incidência de

LVA correlacionada com o El Niño. Na análise utilizou-se a média mensal da

temperatura TSM, nos anos de 1980 a 1998, e a incidência anual de LVA nos anos de

1985 a 1999. A LVA apresentou uma incidência diminuída no primeiro ano após o El

Niño e começou a aumentar no segundo ano. Acredita-se que com a escassez de chuvas,

no período do El Niño, se favoreça uma vulnerabilidade imunológica da população ali

residente e, aumente o deslocamento populacional. Com a chegada da estação chuvosa

no primeiro ano após o El Niño, ocorrerá um aumento na densidade vetorial,

aumentando a taxa de infecção, porém, como o período de incubação é de

aproximadamente de dois a seis meses, somados ao tempo necessário para a

apresentação dos sintomas e a realização do diagnóstico (cerca de mais três meses)

influenciando na notificação dos casos novos no segundo ano após o El Niño43

.

Werneck et al. (2005) utilizou uma análise multivariada dicotômica para

analisar na cidade de Teresina, Brasil, no período de 1991 até 2000, a relação entre a

incidência de LVA, dados socioeconômicos (retirados dos censos 1991 e 2000) e dados

ambientais, fornecidos através do NDVI (“Normalized Difference Vegetation Index”/

Índice de Vegetação por Diferença Normalizada). Seus resultados apresentaram uma

forte relação da incidência anual de LVA, com os dados socioeconômicos e os dados de

NDVI44

.

Cardenas et al. (2006) estudaram o efeito da variabilidade climática na

incidência das leishmanioses (LTA e LVA) na Colômbia. Os autores avaliaram tal

39

efeito por meio da análise de uma série histórica dos casos de leishmaniose em duas

províncias no noroeste da Colômbia, entre os anos de 1985 a 2002. O NDVI foi

utilizado como medida indireta de impacto do El Niño e da La Niña na ocorrência desta

doença nas áreas estudadas. Sumariamente, valores negativos de NDVI podem

demonstrar diminuição da vegetação na área estudada indicando ação antrópica,

enquanto valores positivos podem apontar áreas pouco modificadas e com manutenção

da vegetação nativa. Os autores concluíram que valores de NDVI <0,06, que ocorreram

durante períodos de El Niño (estações secas), favoreciam a ocorrência de casos de

leishmaniose. Já o NDVI >0,06, durante La Niña (estações úmidas), apontava para uma

diminuição dos casos desta doença neste período. Por fim, os autores discutem, como

possíveis limitações no estudo, a indisponibilidade de dados pluviométricos e de

temperatura para o período estudado e a falta de avaliação do impacto da variabilidade

climática na fauna de flebotomíneos41

.

Chaves & Pascual (2006) observaram a variação climática atuando na

incidência de LTA, na Costa Rica. Para a observação utilizaram dados mensais, do

período de 1991 até 2001, de LTA e das variáveis climáticas como: TSM, temperatura

média na Costa Rica e do MEI (trata-se de um conjunto de medidas de temperatura e

pressão do ar que avalia quando o El Niño irá acorrer). Os resultados apresentaram um

aumento na incidência LTA a cada três anos, coincidindo com as variáveis climáticas

investigadas. Segundo os autores, o modelo possuía uma precisão aproximada de 75%

para prever a incidência de LTA em até doze meses futuros45

.

3. JUSTIFICATIVA:

Segundo Luna (2002), a variabilidade do clima, em especial as pluviométricas,

apresentam relação com as emergências e re-emergências de doenças transmitidas por

vetores, alterando os padrões epidemiológicos das doenças46

.

Entre todas as doenças que poderão ser influenciadas pelo clima, as que são

transmitidas por vetores serão as mais afetadas. Essas alterações no ambiente podem

favorecer (ou não) a proliferação do vetor de Leishmania e consequentemente a

quantificação da doença, alterando o seu ciclo e afetando o Homem. Diversos estudos

apresentam resultados, porém, possuem grandes limitações, por faltar dados completos

40

que definam as variáveis relacionadas com a ecologia da LTA. No presente estudo

buscou-se correlacionar algumas variáveis referentes à ecologia da LTA, como dados

climáticos e do vetor transmissor.

4. OBJETIVO

4.1. Objetivo geral:

Avaliar a associação de variáveis metereológicas com LTA no município do

Rio de Janeiro.

4.2. Objetivos específicos:

Avaliar a correlação entre temperatura máxima, temperatura mínima,

precipitação, dias de chuvas e umidade relativa com o número de casos de LTA, entre

os anos 1996 e 2008.

Utilizar um modelo de série temporal para avaliar a tendência dos

casos para os próximos três anos, considerando as variáveis climáticas significativas,

segundo o modelo.

Avaliar a correlação entre temperatura máxima, temperatura mínima,

precipitação, dias de chuvas e umidade relativa com densidade do vetor (L. intermedia),

de 2003 até 2005, em alguns pontos de coleta no município do Rio de Janeiro.

5. METODOLOGIA

5.1.Área de estudo:

O Estado do Rio de Janeiro é localizado na região sudeste do Brasil, próxima

ao trópico de Capricórnio é composto por 160 municípios.

41

Figura 10. Localização do Município do Rio de Janeiro

Fonte: maps.google.com.br

A Cidade do Rio de Janeiro (RJ), capital do estado, é a nossa área de estudo,

fica entre a Baía de Sepetiba e a Baía de Guanabara. Com latitude 22°54’S, longitude

43°14W, altitude média de 2 metros, com área aproximada de 1.224,56 Km2, banhada

pelo oceano Atlântico e com clima tropical37, 47

. Com uma população estimada, no

censo de 2000, de 5.857.904 pessoas47

. (Figura 10)

5.2. Desenho de estudo:

Realizou-se um estudo ecológico com dados de casos de LTA e de variáveis do

clima, organizadas anualmente e mensalmente, no período de 1996 até 2008. E no

período 2003 até 2005, utilizamos dados da abundância de L. intermedia, coletada em

áreas específicas do município do Rio de Janeiro, comparando com os números de casos

de LTA e com as variáveis climáticas.

5.3. Fonte de dados:

42

5.3.1. LTA:

O número de casos notificados de LTA do município do Rio de Janeiro foi

agrupado por mês do ano de 1996 até 2008. Os dados são oriundos da Secretaria

Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Saúde

e Defesa Civil do Rio de Janeiro.

5.3.2. Clima:

As variáveis são agrupadas por média mensal ao longo da série histórica

selecionada. Os dados de 1996 até 2003 foram fornecidos pelo Programa de Mudanças

Ambientais Globais e Saúde (PMAGS), tendo sido adquiridos por meio da compra

efetuada junto à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO)

latitude 22º 59’ 16‖ S, longitude 043º 22’ 13‖ W e altitude de 3 metros. O Instituto

Nacional de Meteorologia (INMET), latitude 22° 53' S, longitude 043° 11' W e altitude

11,1 m, cedeu os dados de 2004 até 2008. Ambas as estações são localizadas em

Jacarepaguá. As duas estações meteorológicas foram selecionadas e baseadas na

completitude dos dados para os períodos analisados e proximidade com as áreas de

maior prevalência na cidade do Rio de Janeiro.

Os dados utilizados são:

Temperatura máxima (ºC) e temperatura mínima (ºC) – apresentam a variação

de temperatura do ar a dois metros da superfície ao longo dos dias em graus Celsius48

.

A precipitação consiste em todas as formas de água, líquida ou sólida que caem

das nuvens por mm 48

.

Dias de chuva – é o número absoluto que representa a quantidade de dias de

precipitação por mês 48

.

Umidade relativa – é a relação entre a umidade existente no ar e a

temperatura48

.

43

5.3.3. Vetor:

Os dados vetoriais foram adquiridos junto ao Laboratório de Vetores do

Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da Escola Nacional de Saúde Pública

Sérgio Arouca (ENSP) / FIOCRUZ. Este laboratório avaliou a presença de vetores em

áreas da cidade do Rio de Janeiro que havia notificação de casos. Realizou-se a coleta

em 27 pontos divididos em quatro localidades da zona oeste do Rio de Janeiro:

Jacarepaguá, Campo Grande, Pedra Branca e Mendanha. Isso aconteceu uma vez a cada

mês, entre maio de 2003 e dezembro de 2005, usando a armadilha CDC. Estes dados

nos forneciam informações da densidade vetorial.

5.4. Análise estatística

Consideraram-se como variáveis epidemiológicas a taxa de incidência de LTA, a

média anual dos casos de LTA, o número de casos de LTA, a abundância do vetor e

como variáveis climáticas (precipitação, temperatura máxima e mínima, dias de chuva e

umidade relativa do ar). Optamos por iniciar com um estudo descritivo das variáveis,

assim como as possíveis correlações diretas entre elas. Posteriormente, foi desenvolvido

um modelo de série temporal, a fim de considerar todas as componentes (Tendência,

auto-regressiva, Sazonalidade e ciclos, e variáveis explanatórias), envolvidas e

possivelmente determinantes do número de casos ou da incidência.

Inicialmente, obtivemos medidas de tendência central e de dispersão das

variáveis epidemiológicas e climáticas. Avaliamos com essas medidas, em que níveis se

encontram essas variáveis e se são dispersas.

Posteriormente, a fim de investigar a associação de uma variável

epidemiológica com as variáveis climáticas, optamos por duas alternativas: o cálculo do

coeficiente de correlação de Pearson e a modelagem paramétrica.

O coeficiente de correlação de Pearson indica a associação bivariada. Para os

cálculos estatísticos utilizou-se o SPSS v. 17. Sendo considerado estatisticamente

significativo o nível de significância de 5%.

44

Os dados anuais de LTA foram transformados em taxas de incidência (x

100.000 habitantes), levando-se em conta a população anual residente na cidade do Rio

de Janeiro nos anos de 1996 até 2008 (Fonte: MS/SVS - Sistema de Informação de

Agravos de Notificação – SINAN).

Para avaliar a associação entre a taxa de incidência e a média anual do número

de casos com a média anual das variáveis climáticas, usou-se medidas de associação;

posteriormente, fizeram a mesma correlação com o número de casos de LTA,

mensalmente, ambos dados referentes a janeiro de 1998 até dezembro de 2008;

relacionou-se a densidade vetorial, especificamente, da espécie L. intermedia com as

variáveis climáticas e o número de casos mensais, entre maio de 2003 e dezembro de

2005.

Para a modelagem propriamente dita, consideramos a técnica de Modelos

Estruturais para Séries Temporais, a fim de avaliar as componentes da série do número

de casos e também a significância das variáveis climáticas que explicariam esse número

de casos. Analisamos essa relação através do software Structural Time Series Analyser,

Modeller and Predictor (Stamp), sendo desenvolvido especificamente para trabalhar

com a modelagem estrutural de séries temporais. As séries temporais são observações

de uma variável disposta ao longo do tempo sequencialmente, e especialmente, nesta

modelagem (chamada de série estocástica) os seus valores podem ser escritos através de

uma função matemática e pelo termo de aleatoriedade, representada pela equação

y=f(tempo). Sendo os seus principais movimentos descritos pela tendência, ciclo,

sazonalidade e variações aleatórias.

A equação referente a este trabalho é apresentada da seguinte forma:

Modelo: CasosLTA = Tendência + AR(1) + Variáveis explanatórias+ Intervenções +

Irregularidade

Nos valores ausentes (―missing values‖) o modelo utiliza o artifício de pegar a

média truncada dos quatro valores mais próximos, para preencher esse ―missing‖.

Sendo I referente à irregular, que representa os valores extremos e entra no modelo

45

como intervenção e L (Level) referente a nível, que é a medida central onde a série varia

de nível.

Juntamente com o modelo realizou-se a previsão da tendência dos números de

casos utilizando as variáveis climáticas pelos próximos três anos, ou seja, nos anos de

2009, 2010 e 2011.

5.5. Aspectos éticos:

O estudo foi conduzido em concordância com as recomendações e requisitos

da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e foi submetido ao Comitê

de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola Nacional de Saúde Pública (CEP/ENSP-

FIOCRUZ). E aprovado em novembro de 2010 com o protocolo número 217/10.

46

6. ARTIGO: Associação da Leishmaniose Tegumentar Americana com variáveis

meteorológicas no município do Rio de Janeiro

Association of American cutaneous leishmaniasis with meteorological variables in

the municipality of Rio de Janeiro

Ervylene Trevenzoli de Sousa1; Cristina Costa Neto

1; Diana Pinheiro Marinho

1; André

Reynaldo Santos Périssé1

1Departamento de Ciências Biológicas, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Fundação

Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Resumo

Entre 1990 e 2008, notificaram-se no Brasil 528.180 casos de LTA. O presente

estudo buscou correlacionar algumas variáveis referentes à ecologia da LTA, como os

dados climáticos e os do vetor transmissor. O objetivo foi avaliar a associação de

variáveis metereológicas com LTA no município do Rio de Janeiro entre 1996 e 2008.

Os dados foram compostos por número de casos notificados de LTA no município do

Rio de Janeiro. Os dados climatológicos foram temperatura máxima (ºC), temperatura

mínima (ºC), precipitação (mm), dias de chuva e umidade relativa, agrupados por mês

do ano. Durante o período de 1990 a 2008, a média de número de casos de LTA foi de

6,61casos, chegando ao máximo de 52 casos por mês. Descobriu-se uma correlação

significativa entre o número de casos notificados e as variáveis climáticas, utilizando a

correlação de Pearson, encontrou-se uma correlação negativa, inversamente

proporcional, com a temperatura máxima, temperatura mínima, precipitação e dias de

chuva considerando um nível de significância de 5%. E no estudo de Série Temporal,

encontramos a correlação entre números de casos notificados, precipitação e dias de

precipitação, podendo prever uma tendência de aumento dos casos de LTA nos

próximos três anos. No entanto, considera-se que esta doença é influenciada por

multifatores e que isso interferirá nos casos futuros, não sendo somente o clima a

variável determinante para o aparecimento de LTA. Este trabalho por si só não se torna

conclusivo, o que representando um grande desafio e orienta para trabalhos futuros, com

maior especificidade. Pode-se dizer que existe uma relação do clima com a produção de

casos de LTA, porém, não foi possível afirmar o quanto essa relação é significante a

47

nível nacional. As evidências apresentadas são apenas uma primeira referência a fim de

nortear o caminho do planejamento de novos estudos. Vale ressaltar que a previsão no

constitui um fim em si, mas, apenas um meio de fornecer informações para futuras

decisões.

Introdução

A leishmaniose é uma zoonose causada por um protozoário digenético da

ordem Kinetoplastida, da família Trypanosomatidae e do gênero Leishmania. Estima-se

que haja cerca de 350 milhões de pessoas em risco no mundo distribuídas em 88 países

em quatro continentes1,2

. Apenas cinco países concentram 90% dos casos de

leishmaniose visceral (LV) no mundo, enquanto sete países, concentram a mesma

percentagem para leishmaniose tegumentar (LT)1. Estima-se que haja no mundo

aproximadamente 12 milhões de casos de leishmanioses. Destes, cerca de dois milhões

seriam de casos novos, sendo entre um a 1,5 milhões de LT e 500.000 de LV3. Na

região das Américas ocorre desde o sul dos Estados Unidos da América até o norte da

Argentina, poupando Uruguai e Chile4.

No Brasil, a LTA tem sido notificada nas cinco regiões geográficas. A região

Norte apresenta o maior número de casos (40%), seguido pelas regiões Nordeste (31%),

Centro-Oeste (16%), Sudeste (10%) e Sul (3%)5. Entre 1990 e 2008, notificaram-se no

Brasil cerca de 528.180 casos de LTA, com coeficientes de detecção variando de acordo

com a região estudada5. A região Norte foi a que mais detectou casos nos anos

avaliados, tendo apresentado coeficientes que variaram entre 51,2/100.000 habitantes

em 1998 e 117,6/100.000 habitantes em 1995. Já a região Sudeste notificou, para o

mesmo período, 52.208 casos, com coeficiente de detecção variando de 2,4/100.000

habitantes em 2007 a 7,4/100.000 habitantes em 1993. Dados do Sistema de Informação

de Agravos de Notificação (SINAN) indicavam a existência de 21.407 casos de LTA no

Brasil em 2007, sendo 1.898 casos confirmados na Região Sudeste, dos quais 119

encontravam-se no estado do Rio de Janeiro. Aproximadamente 4.904 casos de LTA

foram reconhecidos pelo SINAN no Estado do Rio de Janeiro, de 1990 a 20088. Esta

doença era caracterizada por ser restritamente silvestre e/ou rural, atingindo somente os

homens em idade adulta, porém, a LTA tem se tornado uma doença periurbana que

atinge tanto homens quanto mulheres, independente da idade9.

48

Existem no Brasil dois subgêneros causadores de leishmaniose: a Leishmania e

Viannia. Estes se subdividem em seis espécies: Leishmania (Leishmania) amazonensis;

Leishmania (Viannia) braziliensis; Leishmania (Viannia) guyanensis; Leishmania

(Viannia) lainsoni; Leishmania (Viannia) naiffi e Leishmania (Viannia) shawi7.

A LTA é uma infecção no sistema fagocítico mononuclear da derme e mucosa.

Sua transmissão ocorre através da hematofagia de várias espécies de flebotomíneos6. O

vetor é um flebotomíneo, da ordem Díptera, família Psychodidae, subfamília

Phlebotominae7. Mede cerca de dois a três mm, é de cor parda, com o corpo e as asas

cobertas de cerdas, as asas são elevadas, de pontas anguladas, e o tronco curto e giboso.

Possui voos curtos e baixos, com aspecto saltitante de um raio não superior a 200m, e as

fêmeas utilizam da hematofagia em seu hábito alimentar para o amadurecimento de seus

ovos. Estes vetores preferem solos úmidos e ricos em materiais em decomposição7.

As doenças infecciosas transmitidas por vetores podem ser influenciadas por

diversos fatores relacionados com o ambiente e o clima. Segundo Confalonieri et al,

(2002), o desmatamento afeta os micro-climas, influenciando em diversos ciclos de

transmissão das doenças infecciosas10

. As alterações climáticas atuam diretamente nos

vetores e nos reservatórios, o que propicia um rearranjo importante na distribuição

geográfica e na abundância das espécies10

. O aumento na temperatura poderá deslocar

habitats de muitas espécies para altitudes e latitudes mais altas, modificando as

características de muitas doenças restritas a algumas regiões10, 11,12

. O Objetivo do

estudo foi avaliar a associação das variáveis metereológicas com o número de casos

notificados de LTA no município do Rio de Janeiro, no período de 1996 a 2008.

Metodologia

Desenho de estudo:

Realizou-se um estudo ecológico, dos casos de LTA e de variáveis do clima,

organizadas mensalmente, no período de 1996 até 2008.

Área de estudo:

O Estado do Rio de Janeiro é localizado na região sudeste do Brasil, próxima

ao trópico de Capricórnio13

. A Cidade do Rio de Janeiro (RJ), capital do estado do Rio

49

de janeiro, é a nossa área de estudo, fica entre a Baía de Sepetiba e a Baía de

Guanabara. Com latitude 22°54’S, longitude 43°14W, altitude média de 2 metros, com

área aproximada de 1.224,56 Km2, banhada pelo oceano Atlântico e com clima

tropical37, 47

. Com uma população estimada, no censo de 2000, de 5.857.904 pessoas47

.

Fonte de dados:

Considerou-se neste estudo, como variáveis epidemiológicas a taxa de incidência de

LTA e o número de casos LTA. E como variáveis climáticas: temperatura máxima e

mínima, precipitação, dias de chuva e umidade relativa do ar.

O número de casos notificados de LTA do município do Rio de Janeiro foi

agrupado por mês do ano de 1996 até 2008. Estes oriundos da Secretaria Municipal de

Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil

do Rio de Janeiro.

As variáveis climáticas, também agrupadas por média mensal, ao longo da

série histórica selecionada. Os dados de 1996 até 2003 foram fornecidos pelo Programa

de Mudanças Ambientais Globais e Saúde (PMAGS), tendo sido adquiridos por meio da

compra efetuada junto à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária

(INFRAERO). O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) cedeu os dados de 2004

até 2008. Ambas as estações localizadas em Jacarepaguá.

Análise estatística

Iniciou-se o estudo descritivo das variáveis, casos de LTA, taxa de incidência e

clima, e analisou-se as possíveis correlações diretas entre elas. Posteriormente, foi

desenvolvido um modelo temporal, a fim de considerar todas as componentes

(Tendência, auto-regressiva, Sazonalidade e ciclos, e variáveis climáticas

(explanatórias), envolvidas e possivelmente determinantes do número de casos, ou da

incidência. Inicialmente, obteve-se medidas de tendência central e dispersão das

variáveis epidemiológicas e climáticas.

Posteriormente, a fim de investigar a associação de uma variável

epidemiológica com as variáveis climáticas, optou-se por duas alternativas: o cálculo do

coeficiente de correlação de Pearson, e a modelagem paramétrica. O coeficiente de

50

correlação de Pearson indica a associação bivariada. Considerou-se o nível de

significância de 5%. Para os cálculos estatísticos utilizou-se o SPSS v. 17.

Os dados anuais de LTA transformaram-se em taxas de incidência (x100.000

habitantes), levando-se em conta a população residente na cidade do Rio de Janeiro nos

anos de 1996 - 2008 (Fonte: MS/SVS - Sistema de Informação de Agravos de

Notificação – SINAN).

Nas medidas de associação, a taxa de incidência e a média anual do número de

casos foram relacionadas com as médias anuais das variáveis climáticas; posteriormente

fez-se a mesma correlação com o número de casos de LTA, mensalmente, ambos dados

referentes a janeiro de 1998 até dezembro de 2008.

Para a modelagem propriamente dita, consideramos a técnica de Modelos

Estruturais para Séries Temporais, a fim de avaliar as componentes da série do número

de casos e também a significância das variáveis climáticas que explicariam esse número

de casos. Analisou-se essa relação através do software Structural Time Series Analyser,

Modeller and Predictor (Stamp),

A equação da série temporal referente a este trabalho é apresentada da seguinte

forma:

Modelo: CasosLTA = Tendência + AR(1) + Variáveis explanatórias+ Intervenções +

Irregular

Nos valores ausentes, o modelo utiliza o artifício de pegar a média truncada

dos quatro valores mais próximos. Sendo I referente à irregular, que representa os

valores extremos e entra no modelo como intervenção e L (Level) referente a nível, que

é ao medida central onde a série varia de nível.

Com o modelo, realizou-se a previsão da tendência dos números de casos

utilizando as variáveis climáticas pelos próximos três anos, ou seja, nos anos de 2009,

2010, 2011.

51

O estudo conduziu-se em concordância com as recomendações e requisitos da

Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e submeteu-se ao Comitê de

Ética em Pesquisa (CEP) da Escola Nacional de Saúde Pública (CEP/ENSP-

FIOCRUZ). Aprovado em novembro de 2010 com o protocolo número 217/10

Resultados

Ao analisar os treze anos de notificações de LTA no município do Rio de

Janeiro, a média de número de casos de LTA totalizou 6,61casos por mês. As taxas de

incidência e a média de casos anual apresentaram variações iguais ao longo dos anos de

estudo. Comparando o primeiro e o último ano de estudo observou-se a diminuição na

taxa de incidência (de 1996 taxa de incidência = 1,95 a 2008 taxa de incidência = 0,31).

No entanto, durante esse período observamos dois grandes picos de incidência, no ano

de 1997 com a taxa de incidência igual a 3,86 e com 215 casos notificados e em 2005

com taxa de incidência de 2,66 e 162 casos de LTA notificados (Gráfico 1).

Na correlação entre a taxa de incidência e a média anual de número de casos de

LTA notificados com as variáveis climáticas, não se encontrou nenhuma correlação

significativa. As correlações (r2) taxa de incidência com temperatura máxima (r

2 = -

0,095), dias de chuva (r2=-0,190) e precipitação (r

2=-0,227) são negativas, sugerindo

que o aumento em cada uma dessas variáveis favoreça uma redução na taxa de

incidência, embora essa afirmativa não seja estatisticamente significativa ao nível

escolhido (Tabela 2).

Na correlação de Pearson do número de casos notificados mensalmente com as

variáveis climáticas, observamos uma correlação positiva (r2=0,182; p-valor=0,024))

significativa com a temperatura máxima, e com temperatura mínima (r2=0,208;

p-valor=0,010) significativa ao nível de 5% de significância (Tabela 3). Com as demais

variáveis não houve significância da correlação.

Resultado da anállise de serie temporal:

O modelo estrutural utilizado adquiriu a seguinte forma:

52

Casos LTA (Yt)= Tendência(µ+β X t (mês)) + (Yt -1 ) +diasPRP t-1 +PRP t-1 + (-14,03)

L1997 , 3 + 41,27 I 1997,8+23,08 I 1997,9 +15,43 I 1998,1 + (-22,61) L 1998,3 + 14,29 I 1999,2 +

15,47 L 2004,12 + 15,04 I 2005,11 + Irr (ε)

As variáveis que apresentaram significância estatística no modelo foram

precipitação e dias de precipitação, sendo somente estas utilizadas para prever a

tendência de casos. Sendo os Casos de LTA descritos através de uma tendência, uma

componente autorregressiva, indicando a dependência no tempo t-1, as variáveis

explanatórias significativas ―dias de precipitação‖ (coeficiente = 0,22261) e

―precipitação‖ (coeficiente = -0,020018) e, as intervenções como ―outliers‖ ou de nível

(Tabela 3).

Foram observados ―outliers‖ ou intervenções em: agosto/1997, setembro/1997,

janeiro/1998, fevereiro/1999 e novembro/2005. E em março/1997, março/1998,

dezembro/2004 encontrados mudanças de nível (Tabela 3).

Os indicadores de desvios de normalidade dos resíduos apresentaram-se não

significativos e o coeficiente de determinação do modelo (R2) foi 0,81, indicativo de um

bom ajuste do modelo.

Considerando as variáveis explanatórias significativas do modelo (precipitação

e o número de dias de precipitação) fez-se um estudo de tendência dos casos de LTA

para os anos de 2009, 2010 e 2011. Observou-se nestes resultados uma tendência ao

aumento no número de casos (Gráfico 2).

Discussão

A produção da doença é envolvida diretamente por um ciclo, que vai além da

conhecida tríade de infecção, em que temos os fatores ambientais, fatores

socioeconômicos, fatores biológicos, características médicos-hospitalares da região e

seu histórico. Para explicar uma doença é necessário ter todas essas variáveis, algo

custoso de se conseguir, por isso, tornou-se uma das maiores limitações deste trabalho.

Porém, neste trabalho procurou-se utilizar os dados que se encontravam disponíveis e os

mais confiáveis.

53

Observou-se em vários estudos a grande relação das doenças transmitidas por

vetores com as variáveis climáticas, e as principais variáveis utilizadas por eles foram:

temperatura máxima, temperatura mínima, umidade relativa, dias de chuva e

precipitação, justamente as variáveis observadas neste trabalho.

No município do Rio de Janeiro, já se observou a interação do clima com a

dengue, e detectaram uma relação positiva entre a temperatura mínima e o volume de

chuva menor que 200 mm (Câmara et al.2009). Entretanto no México constatou-se a

associação dos números de casos com as variáveis climáticas, porém, a relação não foi

explicitada (Johansson et al. 2009). Já em Cingapura, observou-se o aumento da

temperatura média e a precipitação relacionando linearmente com os casos de dengue

(Hii et al. 2009).

Baseado em Cardenas et al., 2006, observou-se na Colômbia o aumento dos

casos de leishmanioses em período de seca, dados analisados através do NDVI.

Em nosso trabalho não observamos uma relação estatisticamente significativa

entre as variáveis climáticas e a taxa de incidência de LTA (anual), no período estudado.

Considerando as variáveis climáticas com o número de casos notificados

mensalmente, observou-se uma relação positiva significativa, em nível de significância

de 0,05 com a temperatura máxima e com a temperatura mínima, podendo-se dizer que

quanto maior a temperatura máxima e a temperatura mínima, maior o número de casos

notificados, algo parecido com o estudo de dengue realizado por Câmara et al.(2009).

A análise de série temporal é a descrição do comportamento da série, a

identificação de periodicidades embutidas nos dados e a projeção de valores futuros, ou

seja, analisar a série temporal é um estudo de busca das características o comportamento

sistemático da série, sendo capaz de construir um modelo que descreva os movimentos

passados de uma variável e predizer os futuros movimentos da mesma. Na análise de

série temporal realizada nesse estudo encontramos um bom ajuste, todavia, pelo modelo

utilizado as variáveis que apresentaram significância foram somente a precipitação e os

dias de precipitação, diferente da análise de correlação de Pearson. No entanto, com

essas variáveis, observou-se uma favorável combinação para um modelo de tendência

54

que prevê um aumento no número de casos de LTA. Porém, ao se trabalhar com uma

doença multifatorial, provavelmente estes valores e previsões poderiam ser

influenciados por variáveis que não foram estudadas. Consideramos ainda que a série

temporal utilizada era do tipo estocástica significando que seus valores só puderam ser

expostos em termos probabilísticos, considerando a série baseada em uma relação

funcional, envolvendo o tempo e as variáveis significativas.

Como todo estudo, este também possui algumas limitações, principalmente por

tratar-se de uma doença causada por um parasita que necessita diretamente de um vetor

para causar a enfermidade em humanos. Enfim, dentre as principais limitações

encontramos a indisponibilidade de diversos dados que poderiam fechar o ciclo

biológico da doença, como a inexistência de ajustar os dados socioeconômicos a série

histórica escolhida e a necessidade uniformizar os dados utilizados para o município do

Rio de Janeiro, como um todo, fato contraditório, pois, encontramos grande diversidade

de clima, de densidade populacional e de cuidados com a saúde no município. O que

pode justificar a utilização destes quantitativos é que os dados climáticos, coletados em

estações em Jacarepaguá (oriundos da INFRAERO e do INMET), e, por mais diluída

sejam essas informações, encontram-se por todo o município e estão relacionadas com

as regiões onde houve os casos. Outra limitação encontrada é a diversidade dos bancos

de dados, cada dado oriundo de uma instituição, pois, não temos conhecimento da

junção dessas informações em um só banco de dados.

Este trabalho, nos apresenta um grande desafio e nos orienta a trabalhos

futuros, com maior especificidade.

Conclusão e considerações gerais

Podemos afirmar que há relação do clima com a produção de casos de LTA,

porém, não temos como dizer o quanto essa relação é importante e o quanto as outras

variáveis podem influenciar nessa relação e principalmente o quanto a ação antropica

pode influenciar positiva ou negativamente.

Conclui-se que encontramos correlações significativas entre as variáveis

climáticas (temperaturas máxima, temperatura mínima, dias de chuva e precipitação) e

casos de LTA, possibilitando assim um aumento no número de casos de LTA em função

55

a variabilidade do clima, podendo causar um problema de saúde pública, uma vez que

causa grande deformidade no paciente. O tratamento é de difícil adesão e aumentaria os

custos da saúde no financiamento do tratamento.

As evidências apresentadas são apenas uma primeira referência para nortear o

caminho do planejamento de novos estudos, e salientamos que a previsão não constitui

um fim em si, mas, apenas um meio de fornecer informações para futuras decisões

56

Referência bibliográfica

1. DESJEUX P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives.

CompImmunolMicrobiolInfectDis2004; 27: 305-318.

2. CENTRO DE CONTROLE DE DOENÇAS (CDC).

HTTP//www.dpd.cdc.gov/dpdx/HTML/Leishmaniasis.htm, acessado em

27/05/09.

3. JÚNIOR RD N, PINHEIRO FG, NAIFF MF, SOUZA IS, CASTRO LM,

MENEZES MP, FRANCO AMR. Estudo de uma série de casos de Leishmaniose

Tegumentar Americana no município de Rio Preto da Eva, Amazonas, Brasil.

Revista de Patologia Tropical, 2009. 38:103-114.

4. GONTIJO B. & CARVALHO M. L. R. Leishmaniose tegumentar americana.

Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2003; 36(1):71-80

5. MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASIL.

http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1560

consultado em 20 de setembro de 2010.

6. MARZOCHI MCA, SCHUBACH AO, MARZOCHI KBF. Leishmaniose

Tegumentar Americana. In CINEMAN B, CINEMAN S. Parasitologia Humana e

Seus Fundamentos Gerais, Atheneu, 1999. 39-64.

7. BASANO AS, CAMARGO LMA. Leishmaniose tegumentar americana:

histórico, epidemiologia e perspectivas de controle. Rev. Bras. Epidemiol. 2004;

7:328-337.

8. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO,

Sinan/SVS/MS - consultado em 09/09/09.

9. KAWA H, SABROZA PC. Espacialização da leishmaniose tegumentar na cidade

do Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública 2002; 18:853-865.

10. CONFALONIERI UEC, CHAME M, NAJAR A, CHAVES SAM, KRUG T,

NOBRE C, MIGUEZ JDG, CORTESÃO J, HACON S. Mudanças Globais e

Desenvolvimento: Importância para a Saúde. Informe Epidemiológico do SUS

2002; 11: 139-154.

11. CONFALONIERI UEC, MARINHO DP. Mudança Climática Global e Saúde:

Perspectivas para o Brasil. Revista Multiciência 2007; 8: 48-64.

12. DHIMAN RC, PAHWA S, DHILLON GPS & DASH AP. Climate change and

57

threat of vector-borne diseases in India: are we prepared? Parasitol Res 2010;

106:763–773

13. INSTITUTO PEREIRA PASSOS. http://www0.rio.rj.gov.br/ipp/, acessado em 19

de maio de 2010.

14. CÂMARA FP, GOMES AF, SANTOS GT, CÂMARA DCP. Clima e epidemia

de dengue no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Medicina Tropical

2009; 42: 137-140.

58

Gráfico 1. Taxa de incidência de LTA no município do RJ de 1996 até 2008

Gráfico 2. Número de casos de LTA no município do RJ de 1996 até 2008

Legenda: TI=Casos LTAxPop / 100.000

59

Tabela 1. Relação da taxa de incidência de LTA e a média do número de casos no

município do Rio de Janeiro com as médias das variáveis climáticas dos anos de 1996

até 2008.

Média

Temperatura

Máxima

Média

Temperatura

Mínima

Média

de dias

de

chuva

Média de

Precipitação

Média da

Umidade

Relativa

Taxa de

Incidência

Correlação de Pearson -0,095 0,055 -0,190 -0,227 0,011

p-valor (bilateral) 0,758 0,858 0,535 0,456 0,971

N 13 13 13 13 13

Média de

Casos LTA

Correlação de Pearson 0,080 0,250 0,055 0,140 -0,011

p-valor (bilateral) 0,795 0,411 0,858 0,647 0,970

N 13 13 13 13 13

60

Tabela 2. Relação dos números de casos mensais de LTA no município do Rio de

Janeiro com as variáveis climáticas.

Temperatura

Máxima

Temperatura

Mínima

Dias de

chuva

Precipitação

(mm)

Umidade

relativa

Casos

LTA

Correlação

de Pearson 0,182 0,208 0,041 0,049 -0,097

p-valor

(bilateral) 0,024 0,010 0,614 0,549 0,252

N 154 154 155 155 142

61

Tabela 3. Avaliação do modelo de série temporal.

Variável Coeficiente Erro quadrático

médio Valor do Teste T P-Valor

TMax 0.0053628 0.54503 0.0098395 0.9922

TMin 0.36214 0.55699 0.65017 0.5166

DiasPRP 0.22261 0.095943 2.3203 0.0216

PRP -0.020018 0.0062397 -3.2082 0.0016

UR -0.10020 0.12926 -0.7752 0.4394

Lvl 1997. 3 -14.028 3.3153 -4.2313 0.0000

Irr 1997. 8 41.273 3.1821 12.97 0.0000

Irr 1997. 9 23.075 3.1253 7.3833 0.0000

Irr 1998. 1 15.428 3.3792 4.5656 0.0000

Lvl 1998. 3 -22.610 3.4859 -6.4861 0.0000

Irr 1999. 2 14.286 3.1516 4.5328 0.0000

Lvl 2004.12 15.471 3.2960 4.6937 0.0000

Irr 2005.11 15.043 3.0437 4.9425 0.0000

Legenda: TMax=Temperatura Máxima; TMin=Temperatura Mínimo; DiasPRP=Dias de precipitação;

PRP=Precipitação; UR=Umidade Relativa; Lvl=Level, nível; e Irr=Intervenções.

62

Gráfico 3. Previsão e tendência de LTA pelos próximos três anos.

63

64

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO DA DENSIDADE VETORIAL (L. intermedia)

E AS VARIÁVEIS METEOROLOGICAS

Correlacionando a quantidade de vetor coletado (por mês) e as variáveis climáticas

estipuladas, utilizando a correlação de Pearson, encontrou-se uma correlação negativa

significativa, considerando um nível de significância de 5%, inversamente proporcional,

com a temperatura máxima (R2

=- 0,372) p=0,04, com a temperatura mínima

(R2=-0,420) p= 0,02, com a precipitação (R

2=-0,431) p=0,015 e com o dia de chuva

(R2=-0,525) p= 0,002 (Tabela 5).

Tabela 4. Correlação do número de vetor mensal, com número de casos de LTA e as

variáveis climáticas no município do Rio de Janeiro entre 2003 e 2005.

Temperatura

Máxima

Temperatura

Mínima

Dias de

chuva

Precipitação

(mm)

Umidade

relativa

Casos

LTA

Densidade

vetorial (L.intermedia)

Correlação

de Pearson -0,372 -0,420 -0,525 -0,431 0,202 -0,194

p-valor

(bilateral) 0,039 0,019 0,002 0,015 0,276 0,295

N 31 31 31 31 31 31

Não se observou forte relação entre a quantidade de vetor e o número de casos

de LTA no município do Rio de Janeiro.

Na maioria dos estudos relacionados à variáveis meteorológicas e doenças

transmitidas por vetores observa-se uma relação mais forte entre a temperatura mínima

e a abundância do vetor da malária. Como o feito por Bauma et al. (1997) que

relacionou o aumento de 35,1% nos casos de malária na Colômbia com a variação do El

Niño. Na África Ocidental com Bomblies & Eltahir (2010) observou-se a influência das

chuvas no vetor da malária, de uma forma não linear, e a redução da capacidade

vetorial, causada por temperaturas mais altas por propiciar condições mais secas,

observando-se assim uma correlação negativa da temperatura com esse vetor. Já Tanga

et al.(2010) relata uma relação desse vetor com a média da temperatura mínima, em

Camarões na África, apresenta evidências da adaptação do vetor a altitudes antes não

vista. Novamente, a temperatura mínima é relacionada com a abundância do vetor,

65

contudo, a temperatura máxima e as chuvas apresentam um efeito negativo na

população do vetor em Burundi na África, por Nkurunziza et al.(2010).

Em laboratório evidenciou-se a interferência da luminosidade e da temperatura

na biologia da L. intermedia, um dos principais vetores da LTA, observou-se que a

luminosidade influencia negativamente a população do vetor e a temperatura afeta

positivamente o ciclo do mesmo (Rangel et al. 1987).

Observado uma relação significativa entre as variáveis climáticas e a

quantidade de vetor coletado, durante os três anos. Segundo a correlação de Pearson,

percebe-se uma relação da quantidade de vetor inversamente proporcional com a

temperatura máxima, temperatura mínima, dias de chuvas e com a precipitação, com o

nível de significância de 0,05. Fato que se torna diferente ao encontrado nos estudos já

realizados, onde a temperatura mínima possuía uma relação positiva com a quantidade

de vetores.

Por mais que os vetores dessas doenças sejam diferentes, observou-se grande

relação do clima com a população de vetor, como a malária e a dengue, o que pode

servir de base para relacionarmos o clima com a LTA. Afetando a população do vetor

poderá afetar positivamente ou negativamente a incidência da doença, influenciando na

saúde pública.

66

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. JÚNIOR RD N, PINHEIRO FG, NAIFF MF, SOUZA IS, CASTRO LM, MENEZES

MP, FRANCO AMR. Estudo de uma série de casos de Leishmaniose Tegumentar

Americana no município de Rio Preto da Eva, Amazonas, Brasil. Revista de Patologia

Tropical, 2009. 38:103-114.

2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos na saúde:

cenários e incertezas para o Brasil/BRASIL. Ministério da Saúde; Organização Pan-

Americana da Saúde. – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008. 40p

3. APARICIO C & BITENCOURT MD. Modelagem espacial de zonas de risco da

Leishmaniose tegumentar americana. Rev. Saúde Pública, 2004. 38:511-516.

4. DESJEUX P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives.

CompImmunolMicrobiolInfectDis2004; 27: 305-318.

5. CENTRO DE CONTROLE DE DOENÇAS (CDC).

HTTP//www.dpd.cdc.gov/dpdx/HTML/Leishmaniasis.htm, acessado em 27/05/09.

6. BASANO AS, CAMARGO LMA. Leishmaniose tegumentar americana: histórico,

epidemiologia e perspectivas de controle. Rev. Bras. Epidemiol. 2004; 7:328-337.

7. CONFALONIERI UEC, CHAME M, NAJAR A, CHAVES SAM, KRUG T, NOBRE

C, MIGUEZ JDG, CORTESÃO J, HACON S. Mudanças Globais e Desenvolvimento:

Importância para a Saúde. Informe Epidemiológico do SUS 2002; 11: 139-154.

8. READY PD. Leishmaniasis emergence and climate change. Rev. Sci. Tech. Off. Int.

Epiz 2008; 27:399-412.

9. GONTIJO B. & CARVALHO M. L. R. Leishmaniose tegumentar americana. Revista

da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2003; 36(1):71-80

10. MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASIL.

http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1560 consultado

em 20 de setembro de 2010.

11. MARZOCHI MCA, SCHUBACH AO, MARZOCHI KBF. Leishmaniose Tegumentar

Americana. In CINEMAN B, CINEMAN S. Parasitologia Humana e Seus

Fundamentos Gerais, Atheneu, 1999. 39-64.

12. PISCOPO TV & MALLIA AC. Leishmaniasis. PostgradMed J 2006;82:649–657

67

13. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE,

http://www.who.int/leishmaniasis/leishmaniasis_maps/en/index.html&prev=/search%3

Fq%3DLeishmaniasis%2B-%2BOMS%26hl%3Dpt-BR%26safe%3Doff&rurl –

Acessado em 20 de agosto de 2010.

14. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância

Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica. 6ª edição, Série A, Normas e

Manuais Técnicos, Brasília – DF, 2005.

15. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de Controle de Leishmaniose

Tegumentar Americana. Ministério da Saúde 2000.

16. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Manual de vigilância da Leishmaniose Tegumentar

Americana, Brasília – DF, 2007. 2.ª edição, p182

17. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO, Sinan/SVS/MS

- consultado em 09/09/09.

18. KAWA H, SABROZA PC. Espacialização da leishmaniose tegumentar na cidade do

Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública 2002; 18:853-865.

19. MADEIRA MF, SCHUBACH AO, SCHUBACH TMP, LEAL CA, MARZOCHI

MCA. Identification of Leishmania (Leishmania) chagasi Isolated from Healthy Skin

of Symptomatic and Asymptomatic Dogs Seropositive for Leishmaniasis in the

Municipality of Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Infectious Diseases 2004;8:440-444

20. FIGUEIREDO FB, PEREIRA AS, MADEIRA MF, SANTOS IB, ANDRADE MV,

CUZZI T, MARZOCHI MCA, SCHUBACH A. American cutaneous leishmaniasis in

two cats from Rio de Janeiro, Brazil: firstreportof natural infection with Leishmania

(Viannia) braziliensis. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and

Hygiene, 2004; 98: 165-167

21. DA-CRUZ AM, PIRMEZ C. Leishmaniose tegumentar americana.In JR Coura,

Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,

2005, p. 697-712

22. YOUNG DG & DUNCAN MA. 1994. Guide to the identification and geographic

distribution of Lutzomyia sand flies in México. The west indies, central and south

America. Memoirs of the Am. EntomologicalInstitute, 54: 1-881; Gainesville FL,

Associated Publishers, 881p.

23. CONRADO D, MUNHOZ DEA, SANTOS MC, MELLO RFL, SILVA VB.

68

Vulnerabilidade às mudanças climáticas. Disponível em:

<http://www.iieb.org.br/arquivos/artigo_vulnerabilidades.pdf> acesso em: 29 de

Janeiro de 2010.

24. IOM (Institute of Medicine). 2008. Global climate change and extreme weather events:

understanding the contributions to infectious disease emergence. Washington, DC: The

National Academies Press.

25. ST LOUIS ME&HESS JJ. Climate change: impacts on and implications for global

health. Am. J. Prev. Med. 2008; 35: 527-538.

26. WORLD HEALTH ORGANIZATION Library Cataloguing. Protecting health from

climate change: connecting science, policy and people, 2009.

27. CONFALONIERI UEC, MARINHO DP. Mudança Climática Global e Saúde:

Perspectivas para o Brasil. Revista Multiciência 2007; 8: 48-64.

28. DHIMAN RC, PAHWA S, DHILLON GPS & DASH AP. Climate change and threat

of vector-borne diseases in India: are we prepared? Parasitol Res 2010; 106:763–773

29. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Using climate to predict infectious disease

epidemics – Geneva 2005.

30. BOMBLIES A. & ELTAHIR EAB. Assessment of the Impact of Climate Shifts on

Malaria Transmission in the Sahel. EcoHealth 2010; 12p

31. TANGA MC, NGUNDUC WI, JUDITH N, MBUH J, TENDONGFOR N, SIMARD F

& WANJI S. Climate change and altitudinal structuring of malaria vectors in south-

western Cameroon: their relation to malaria transmission. Trans R SocTropMedHyg

2010; 1-8

32. BAUMA MJ, POVEDA G, ROJAS W, CHAVASSE D, QUIÑORES M, COX J,

PATZ J. Predicting high-risk years for malaria in Colombia using parameters of El

Niño Southern Oscillation. Tropical Medicine andInternational Health, 1997: 2; 1122-

1127.

33. NKURUNZIZA H, GEBHARDT A & PILZ J. Bayesian modelling of the effect of

climate on malaria in Burundi. Malaria Journal 2010, 9:114

34. ZHANG Y, BI P & HILLER JE. Meteorological variables and malaria in a Chinese

temperate city: A twenty-year time-series data analysis. Environ Int 2010; 1-7.

35. LINDSAY SW, HOLE DG, HUTCHINSON RA, RICHARDS SA & WILLIS SG.

Assessing the future threat from vivax malaria in the United Kingdom using two

69

markedly different modelling approaches. MalariaJournal2010, 9:70

36. PETERSONAT & SHAW J. Lutzomyia vectors for cutaneous leishmaniasis in

Southern Brazil: ecological niche models, predicted geographic distributions, and

climate change effects. InternationalJournal for Parasitology 2003; 33:919–931.

37. CÂMARA FP, GOMES AF, SANTOS GT, CÂMARA DCP. Clima e epidemia de

dengue no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Medicina Tropical 2009; 42:

137-140.

38. JOHANSSON1 MA, CUMMINGS DAT & GLASS GE. Multiyear Climate Variability

and Dengue—El Niño Southern Oscillation, Weather, and Dengue Incidence in Puerto

Rico, Mexico, and Thailand: A Longitudinal Data Analysis. PLoS Medicine 2009; 6:

1-9.

39. HII YL, ROCKLO J & NG N, TANG CS, PANG FY & SAUERBORN R. Climate

variability and increase in intensity and magnitude of dengue incidence in Singapore.

Global Health Action 2009; 1-9.

40. BARROS M. Clima e endemias tropicais. Estudos Avançados 2006; 20: 297-306.

41. CARDENAS R, SANDOLVA CM, MORALES AJR, FRANCO-PAREDES C. Impact

of climate variability in the occurrence of leishmaniasis in Northeastern Colombia. Am.

J. Trop. Med. Hyg 2006; 75:273-277.

42. RANGEL EF, SOUSA NA, WERMELIGER ED & BARBOSA AF. Biologia de

Lutzomyia intermedia (LUTZ & NEIVA, 1912) e Lutzomyia longipalpis (LUTZ &

NEIVA, 1912) (DIPTERA, PSYCHODIDAE) em condições experimentais II.

Influência de fatores ambientais no comportamento das formas imaturas e adultas.

Mem. Inst. Oswaldo Cruz 1987; 82: 385-394.

43. FRANKE CR, ZILLER M, STAUBACH C, LATIF M. Impact of the El Niño/Southern

Oscillation on ViceralLeishmaniasis, Brasil. Emerging Infectious Diseases 2002;

8:914-916.

44. WERNECK GL, NETO JC, COSTA CHN. Applications of remote sensing imagery to

the study of the epidemiology of visceral Leishmaniasis in Teresina, Brasil. In

CONFALONIERI UEC & MARINHO DP. Remote Sensing and the control of

infectious diseases: Proceedings from na Interamerican Workshop. Rio de Janeiro,

ENSP/FIOCRUZ, 2005. 59-69.

70

45. CHAVES L.F. & PASCUAL M. 2006. Climate Cycles and Forecasts of Cutaneous

Leishmaniasis, a Nonstationary Vector-Borne Disease. PLOS Medicine, v3, p1320-

1328, 2006.

46. LUNA EJA. A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas

emergentes e reemergentes no Brasil. Rev.Bras. Epidemiol 2002; 5: 229-243.

47. INSTITUTO PEREIRA PASSOS. http://www0.rio.rj.gov.br/ipp/, acessado em 19 de

maio de 2010.

48. CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS - CPTEC/INPE.

www.cptec.inpe.br acessado em 05 de maio de 2010.

49. GAGE KL, BURKOT TR, EISEN RJ, HAYES EB. Climate and Vectorbone Diseases.

Am J Prev Med 2008. 35:436-450.

50. GURGEL HC, BAVIA ME, CARNEIRO DDMT, SILVA CEP, FILHO CM, RIOS

RB, BARBOSA MG. A contribuição do NDVI para o estudo epidemiológico da

Leishmaniose Visceral Americana, no interior da Bahia. Anais XII Simpósio Brasileiro

de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 2005; INPE p2673-2880.

51. FECHINE JAL, GALVÍNCIO JD. Índice de vegetação por Diferença Normalizada das

cidades de Salgueiro, Mirandiba, Carnaubeira da Penha e Floresta – Localizadas no

Semi-árido Pernambucano. Rev. Geogr. Acadêmica 2008. 2:60-67.

52. AGUIAR AM, MEDEIROS WM, MARCO TS, SANTOS SC, GAMBARDELLA S.

Ecologia dos flebotomíneos da Serra do Mar, Itaguaí, Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

I- A fauna flebotomínica e prevalência pelo local e tipo de captura (Diptera,

Psychodidae, Phlebotominae). Cad. Saúde Pública 1996; 12:195-206.

53. CAMARGO-NEVES VLF, GOMES AC, ANTUNES JLF. Correlação da presença de

espécie de flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) com registros de casos da

leishmaniose tegumentar americana no Estado de São Paulo. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical 2002; 34:299-306.

54. MARCONDES CB, LOZOVEI AL, VILELA JH. Distribuição geográfica de

flebotomíneo do complexo Lutzomya intermedia (Lutz&Neiva, 1912) (Diptera,

Psychodidae). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 1998; 31:51-58.

55. TONNANG HEZ, KANGALAWE RYM & YANDA PZ. Predicting and mapping

malaria under climate change scenarios: the potential redistribution of malaria vectors

in Africa. Malaria Journal2010, 9:11.

71

56. COSTELLO A, ABBAS M, ALLEN A, BALL S, BELL S, BELLAMY R, FRIEL S,

GROCE N, JOHNSON A, KETT M, LEE M, LEVY C, MASLIN M, MCCOY D,

MCGUIRE B, MONTGOMERY H, NAPIER D, PAGEL C, PATEL J, ANTONIO J,

OLIVEIRA P, REDCLIFT N, REES H, ROGGER D, SCOTT J, STEPHENSON J,

TWIGG J, WOLFF J & PATTERSON CRAIG. Managing the health effects of

climate change. Lancet 2009; 373: 1693–733.

72

9. ANEXO

Anexo 1 Estatísticas descritivas das variáveis estudadas

N Mínimo Máximo Média Desvio

Casos LTA 156 0 52,00 6,610 7,811

Temperatura

Máxima 154 21,50 35,30 29,003 2,593

Temperatura

Mínima 154 13,70 25,30 21,261 2,375

Dias de chuva 155 1,00 22,00 9,860 4,112

Precipitação (mm) 155 0,50 233,30 73,512 57,201

Umidade relativa 142 64,00 84,00 73,650 3,386