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Rio de Janeiro 2018 TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA SUL-AMERICANA. ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

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Rio de Janeiro

2018

TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

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TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA

SUL-AMERICANA.

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA

SUL-AMERICANA.

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA

SUL-AMERICANA.

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA

SUL-AMERICANA.

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA

SUL-AMERICANA.

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO,

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

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TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da defesa sul-americana.

Orientador: Cel. (Dr.) Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon

Rio de Janeiro – RJ 2018

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.

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T266m Teixeira, Alexandre Gueiros

Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção

da defesa sul-americana. / Alexandre Gueiros Teixeira. 一2020.

187 f. : il. ; 30 cm.

Orientação: Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon

Tese (Doutorado em Ciências Militares)一Escola de Comando e Estado-Maior do

Exército, Rio de Janeiro, 2020. Bibliografia: f. 179-187.

1. PODER DO ESTADO. 2. FÓRMULAS DO PODER. 3. CENÁRIO POLÍTICO. I.

Título.

CDD 327.1

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TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA

Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da defesa sul-americana

Aprovado em _____/______/______

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ EDUARDO XAVIER FERREIRA GLASER MIGON – Cel. (Dr.) – Presidente

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME

_________________________________________________ WANDERLEY MESSIAS DA COSTA – Prof. Dr. – Membro

Universidade de São Paulo – USP

_________________________________________________ PAULO EVANDRO DA COSTA PINTO – CMG (Dr.) – Membro

Ministério da Defesa

_______________________________________________________________ FRANCISCO MIGUEL GOUVEIA PINTO PROENÇA GARCIA – Ten. Cor. (Dr.)

– Membro Universidade Católica Portuguesa

__________________________________________________ TASSIO FRANCHI – Prof. Dr. – Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME

__________________________________________________

HELIO CAETANO FARIAS – Prof. Dr. – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.

Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-

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Dedico à minha esposa Danielle e aos meus

filhos Carolina e Daniel, com todo meu amor,

pela paciência sem fim, pelo incentivo

constante e pelo apoio incondicional. Amo

vocês!

Dedico à minha esposa Danielle e aos meus

filhos Carolina e Daniel, com todo meu amor,

pela paciência sem fim, pelo incentivo

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AGRADECIMENTOS

Como reconhecimento pelo apoio recebido, durante a realização deste

trabalho, desejo agradecer a todos aqueles que, de forma direta ou indireta,

contribuíram para a conclusão do mesmo.

Primeiramente, agradeço a Deus pela saúde, força e Fé, que me permitiram

chegar até o final desta tarefa.

A minha família, pelo apoio incondicional, pelo amor constante, pela

compreensão e pelo incentivo nos momentos difíceis. Sem vocês nada disso seria

possível.

A meus pais, pelas orientações de hoje e sempre, pela torcida, total apoio e

orações.

Ao meu orientador, Cel. Migon, pela confiança em todos os momentos, pela

confiança, pelo incentivo, pelas orientações precisas e pela paciência nas diversas

fases desta pesquisa.

A minha irmã, Suzana, pelo exemplo, incentivo e orientações.

Aos Professores e auxiliares do Instituto Meira Mattos (IMM), meus

agradecimentos pela retirada de dúvidas, pelo incentivo hodierno, pelo apoio nas

aulas e atividades diversas.

Aos irmãos-de-arma - superiores, pares e subordinados - meus

agradecimentos pela paciência, apoio e incentivo durante todo o período em que me

dediquei a este trabalho.

Aos amigos do CCEM 13-14, bem como integrantes do programa de pós-

graduação do IMM, pelo apoio no preenchimento das diversas pesquisas aplicadas,

bem como pela paciência e ajuda nas diversas atividades deste doutorado.

A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, compartilharam comigo essa

caminhada, meus sinceros agradecimentos.

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Nothing in life is to be feared, it is only to be

understood. Now is the time to understand more, so

that we may fear less. Marie Curie

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RESUMO

TEIXEIRA, A. G. Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da

defesa sul-americana 2018. 187 fls. Tese (Doutorado). Escola de Comando e

Estado-Maior do Exército, Instituto Meira Mattos, Rio de Janeiro, 2018.

A presente Tese visa à obtenção de um modelo teórico do poder do Estado,

segundo a percepção da defesa sul-americana, que expresse as peculiaridades do

Sistema Internacional do Século XXI. Para tanto, valendo-se de abordagem

multidisciplinar, tem-se uma sequência de três estudos. O primeiro tem por foco a

base filosófico-conceitual acerca do poder, com o objetivo de analisar seus

diferentes matizes, compreendendo-o e definindo-o. O segundo avança para o

estudo da estrutura do poder, seus fatores e subfatores componentes. Valendo-se

de um estudo de caso, onde 52 modelos teóricos e fórmulas do poder foram

analisados, obteve-se uma estrutura resultante; um modelo teórico com dez fatores

e quarenta subfatores. Por fim, no terceiro, ajusta-se o modelo obtido na fase

anterior, por meio de uma modelagem de equações estruturais. De forma a captar a

percepção da defesa sul-americana, foram ouvidos, por meio de questionário tipo

survey, mais de mil indivíduos, civis e militares, representantes de todo o

subcontinente, com exceção do Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Ao final, além

de se obter um modelo final ajustado de seis fatores, tem-se uma análise

multigrupos, em que se podem identificar as aproximações e afastamentos acerca

do tema entre brasileiros e estrangeiros / civis e militares, contribuindo para ampliar

as discussões e cooperar para a formulação de políticas e estratégicas relacionadas

ao incremento do poder dos Estados, tanto no nível individual como no coletivo.

Palavras-chave: Poder. Estratégia. Complexidade. Fórmula do Poder. Modelagem

de Equações Estruturais.

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ABSTRACT

TEIXEIRA, A. G.Theoretical model of State power according to the percepction

of the south american defense 2018. 187 fls. Tese (Doutorado). Escola de

Comando e Estado-Maior do Exército, Instituto Meira Mattos, Rio de Janeiro, 2018.

This thesis aims to obtain a theoretical model of state power, according to the

perception of the south american defense, that expresses the peculiarities of the

International System of the 21st Century. To do so, using a multidisciplinary

approach, we have a sequence of three studies. The first focuses on the

philosophical-conceptual basis of power, with the aim of analyzing its different

nuances, understanding and defining it. The second advances to the study of the

structure of power, its factors and subfactors components. Using a Case Study,

where 52 theoretical models and power formulas were analyzed, a resulting structure

was obtained; a theoretical model with ten factors and forty subfactors. Finally, in the

third, the model obtained in the previous phase is adjusted by means of a structural

equation modeling. In order to capture the perception of the south american defense,

more than a thousand individuals, civil and military, representing the entire

subcontinent, except Suriname, Guyana and French Guiana, were heard through a

survey questionnaire. Finally, in addition to obtaining an adjusted final model of six

factors, we have a multi-group analysis, in which one can identify the approximations

and departures about the subject between Brazilian and foreign / civilian and military,

contributing to broaden the discussions and cooperate for the formulation of policies

and strategies related to the increase of the power of the States, at the individual as

well as the collective level.

Keywords: Power. Strategy. Complexity. Power Formulas. Structural Equation

Modeling.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11

2 REFERENCIAL METODOLÓGICO ........................................................................... 13

2.1 O PROBLEMA ......................................................................................................... 13

2.2 EPISTEMOLOGIA ................................................................................................... 14

2.3 OBJETIVOS ............................................................................................................ 16

2.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 16

2.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 16

2.4 SUPOSIÇÃO ........................................................................................................... 16

2.5 METODOLOGIA ...................................................................................................... 17

2.6 ESTUDOS ............................................................................................................... 21

2.6.1 Estudo 1 .............................................................................................................. 21

2.6.2 Estudo 2 .............................................................................................................. 22

2.6.3 Estudo 3 .............................................................................................................. 23

2.7 LIMITAÇÕES ........................................................................................................... 24

3 ARTIGO 1 REVISITANDO O CONCEITO DE PODER À LUZ DA TEORIA DA

COMPLEXIDADE .......................................................................................................... 27

4 ARTIGO 2 ESTIMAÇÃO DO PODER DOS ESTADOS: ESTUDO QUALITATIVO

DOS FATORES COMPONENTES ................................................................................ 53

5 ARTIGO 3 MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO

APERCEPÇÃO DA DEFESA SUL-

AMERICANA………………………………………..104

6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 179

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 183

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11

1 INTRODUÇÃO

O estudo e as reflexões sobre o poder permeiam amplo espectro disciplinar,

particularmente nas ciências dedicadas ao aprofundamento e à compreensão das

relações estatais, tanto no âmbito interno, como no externo. Como resultado, tem-se

vasta gama de teorias que buscaram compreendê-lo e conceituá-lo, tornando-se

imperioso debruçar-se sobre o tema com uma visão holística, empreendendo análise

plural e integrada do constructo.

O poder é fenômeno complexo e relacional, consubstanciando-se, assim, em

componente “chave” das interações sociais, seja entre indivíduos, seja entre

estados. Compreendê-lo - seu conceito, sua composição e o inter-relacionamento de

seus fatores -, é, portanto, tarefa essencial aos estudos da Paz e da Guerra, das

Relações Internacionais ou da Política e Estratégia.

Não é mera coincidência que, no decorrer da História, identificam-se inúmeros

estudos com o escopo de analisá-lo e utilizá-lo de maneira sistematizada, com fins

políticos e estratégicos. Interessante notar que cada tentativa incorpora as

peculiaridades de uma conjuntura específica, sob influência de determinado contexto

histórico-cultural. Assim, o cálculo estratégico de Sun Tzu difere da fórmula do poder

perceptível de Ray Cline, que contém especificidades próprias quando comparado

ao Indian National Security Index (NSI).

Para sua melhor compreensão, inicialmente, há de se buscar o pleno

entendimento de suas bases filosóficas e conceituais; definindo-o, identificando sua

gênese e percebendo a forma como se exerce. Após, de forma a avançar rumo a

sua instrumentalização operacional, torna-se imprescindível desvendar sua

composição: quais elementos o compõe? Como interagem entre si? Qual o grau de

“rigidez” de sua estrutura e/ou sua “flexibilidade”?

Fórmulas ou modelos teóricos do poder constituem-se em excepcional

ferramenta no nível político-estratégico para analisar o status quo de determinado

Estado, dentro de um contexto específico, permitindo o planejamento e a execução

de ações, endógenas ou exógenas, voltadas ao incremento de suas capacidades

objetivas ou subjetivas.

Importante destacar que, nas Ciências Militares, a decomposição do poder do

Estado alinha-se com a Política Nacional de Defesa (PND), que aponta para a

ampliação do conceito de segurança. Hoje, segurança e defesa (S&D) extrapola o

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campo militar, alcançando também o político, econômico, psicossocial, científico-

tecnológico e outros (BRASIL, 2012; BRASIL 2012a; BRASIL, 2012b).

Considerando-se a volatilidade e a não-linearidade fenomenológica do

presente século, os formuladores de políticas que possuírem a capacidade de

modelar cenários, analisar conjunturas e projetar o futuro com a maior objetividade

possível trarão enormes vantagens comparativas aos seus Estados no “tabuleiro

global”. Nesse sentido, o presente estudo visou à elaboração de um modelo teórico

do poder do Estado, contendo os fatores e os subfatores que representassem as

peculiaridades conjunturais do século XXI, captando a percepção da defesa sul-

americana.

Para tanto, à luz do paradigma da complexidade, optou-se por metodologia

mista, baseada em métodos qualitativos e quantitativos, adotando-se o modelo de

tese por artigos. O primeiro artigo tem por objetivo principal estudar o conceito de

poder, a partir de visões antagônicas e complementares, procurando estabelecer a

base filosófico-conceitual necessária para a fluidez dos passos subsequentes.

No segundo, busca-se avançar além da definição de “o que é poder”, para

desvendar sua estrutura. Valendo-se de um estudo de caso e empregando-se a

técnica de análise de conteúdo, identificam-se os fatores e subfatores componentes

do poder do Estado mais perenes e representativos através dos tempos, bem como

ressaltam-se os que identificam as idiossincrasias do presente. Por fim, ainda no

segundo artigo, chega-se a um modelo, que se considera capaz de espelhar o poder

do Estado na atualidade.

Na sequência, um terceiro artigo, de caráter quantitativo, emprega a técnica

estatística de modelagem de equações estruturais, para confirmar o modelo anterior

e ajustá-lo, obtendo-se, ao final, um modelo ajustado segundo a percepção da

defesa sul-americana. Além desta introdução, também compõe o estudo, além dos

três artigos mencionados, um capítulo tecendo considerações metodológicas gerais

e uma conclusão, apresentando os resultados de uma maneira global.

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2 REFERENCIAL METODOLÓGICO

2.1 O PROBLEMA

A capacidade de um Estado de fazer preponderar seus interesses na arena

internacional relaciona-se diretamente a sua sobrevivência (ARON, 1985). O

conceito de poder, portanto, ocupa lugar de destaque no estudo das relações

internacionais, da ciência política, das ciências militares, e outros, suscitando

reflexão e indagações como: qual o seu dimensionamento ótimo? Quais as variáveis

que o influenciam direta ou indiretamente? Como se inter-relacionam os

componentes de sua equação? Tais inquietações, de caráter, aparentemente,

simples, trazem em si a complexidade da natureza e da conformação do poder

estatal:

A complexidade do conceito de poder parece evidente. A natureza e a variedade dos seus pressupostos, [...] nem sempre previsível dos mesmos, as induções automáticas da sua mútua e natural interação, os desvios de percepção que podem acompanhar a sua observação, determinam a dinâmica fluidez do fenômeno e, por isso, a sua ostensiva complexidade. (FONTOURA, 2007, p.6).

As incertezas da exata compleição do poder não devem, no entanto,

constituírem-se em obstáculos ao avanço das tentativas em quantificá-lo, uma vez

que dimensioná-lo é fundamental na busca por seu contínuo aperfeiçoamento.

Hwang (2008) observa que modelos de quantificação do poder visam a um novo

paradigma para o problema de definir, entender e perceber as dinâmicas entre seus

componentes e determinado contexto. Segundo o autor, isso imprime maior precisão

ao processo de tomada de decisão, uma vez que permite um correlacionamento de

dados mais veloz e eficaz, com feedbacks automáticos, que permitem o

aprimoramento sistêmico contínuo.

A dinâmica global do presente século caracteriza-se por volatilidades e

incertezas, onde se observa a ascensão de novos atores (estatais e não-estatais)

que almejam por maior participação e influência, ao passo que aqueles tradicionais

buscam meios de se manterem efetivos e influentes na condução dos rumos da

política internacional. Nesse sentido, o incremento de suas capacidades, sejam elas

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econômicas, militares, políticas ou científico-tecnológicas, reveste-se de fundamental

importância à obtenção das vantagens comparativas necessárias.

O problema clássico da escolha entre “armas e manteiga” descortina o dilema

dos planejadores da política e estratégia nacional ao buscarem esse incremento do

poder do Estado. Como saber, com menor grau de erro, que setor necessita maior

atenção e esforço governamental para ampliar o poder nacional?

Faz-se mister, então, que, cada vez mais, as decisões políticas e estratégicas

que impactem o poder estatal estejam embasadas em processos metodológicos

claros e precisos, que justifiquem as mudanças apresentadas, minimizando

questionamentos e maximizando os resultados da aplicação dos recursos

orçamentários.

Torna-se evidente que, na atualidade, não estão claros quais os fatores mais

importantes na moldagem deste poder, como interagem entre si e em que medida

interferem no resultado final de sua conformação. Assim, levanta-se a seguinte

situação-problema:

Qual o modelo teórico que melhor representaria o poder do Estado na

atual conjuntura internacional?

2.2 EPISTEMOLOGIA

Entende-se por epistemologia como a teoria responsável pela validação do

conhecimento científico, uma vez que descortina sua origem e natureza, imprimindo-

lhe relevância e coerência. Trata-se do conjunto de crenças que norteiam a ação e

que precisam ser identificadas, já que interferem na prática da pesquisa, ainda que

de forma subjetiva (CRESWELL, 2013).

A produção do conhecimento, segundo Kuhn (1970), é dinâmica e complexa,

advindo da integração de processos reflexivos e investigativos em diversos níveis,

ao contrário de acumulação pura e simples. No transcurso investigativo, cada autor

e cada disciplina devem possuir liberdade para escolher o melhor caminho rumo à

construção de um saber específico, adotando pressupostos epistemológicos

próprios.

Apesar do amplo espectro de interpretações possíveis, há de se ter em conta

que a realidade analisada é única. Diferentes observadores, porém, hão de

interpretá-la distintamente, denotando a pluralidade do sistema: há um mundo único,

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15

entretanto, existem múltiplas óticas para analisá-lo e compreendê-lo. O saber

decorre de “rumo” próprio, pelo que o pesquisador intentará descrever, explicar,

inter-relacionar e até prever os fenômenos objetos de análise.

Para a presente pesquisa, optou-se pelo paradigma da complexidade, pelo

qual resultados são produtos da reorganização de um sistema em entropia, fruto da

ação desordenada de inúmeros fatores em constante interação endógena e

exógena. Buscou-se, assim, afastamento de concepções lineares, baseadas

meramente no binômio causa-efeito; ou seja, um alinhamento entre o viés

epistemológico e a realidade da dinâmica internacional do presente.

A partir dos conceitos físicos postulados por Einstein, entende-se que as

estruturas tradicionais do racionalismo newtoniano foram abaladas, uma vez que se

fortaleceu a ideia de que uma realidade pode se explicar por diversas perspectivas.

Pela Teoria da Relatividade, a previsibilidade dos fenômenos deu lugar à

aleatoriedade.

Sistemas complexos, quando em situações de desequilíbrio, próximos ao

caos, desencadeiam processos de auto-organização. São períodos de instabilidade

e de inovação, que conduzem ao aprimoramento e à adaptabilidade dos sistemas,

ampliando ainda mais sua complexidade. Em suma, redes de agentes, por meio da

interação, desenvolvem comportamentos com alto grau de imprevisibilidade, mas

que são reincorporados, tornando os sistemas mais flexíveis e adaptados às

evoluções do meio (NICOLIS; PRIGOGINE, 1977).

Na conjuntura do pós-Guerra Fria, nota-se claramente a explicitação dos

conceitos da teoria do caos e da relatividade, onde a conformação do sistema

internacional, bem como as dinâmicas intraestatais, são caracterizadas pela

incerteza e reorganização constante. O desenvolvimento tecnológico exponencial; a

ascensão de novos atores no sistema internacional (tradicionais e não tradicionais);

a expansão dos ilícitos transnacionais; a assimetria socioeconômica entre os

Estados; as questões ambientais, étnicas e religiosas e seus reflexos, tudo impacta

a estrutura do poder dos Estados, seus fatores, variáveis e resultantes.

Diante de tal quadro, as ciências militares, defendendo a não-linearidade da

interação entre as forças globais, intra ou infraestatais, apontam para um paradigma

de pesquisa que permita melhor representar a complexidade conjuntural do século

XXI. Segundo Guba (1990), torna-se primordial a legitimação de métodos

alternativos de produção de conhecimento, uma vez que estes são respaldados por

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16

paradigmas depositários de crenças basilares, norteadores da investigação

disciplinada.

Optou-se, portanto, por um paradigma que valorizasse amplo espectro

acadêmico-disciplinar e que imprimisse o máximo de pluralidade no processo de

aquisição cognitiva, de forma a adequar-se às concepções filosóficas do cenário

global contemporâneo.

2.3 OBJETIVOS

2.3.1 Objetivo Geral

Tendo em vista o problema formulado e a delimitação do tema, o objetivo

geral deste estudo é:

- Elaborar um modelo teórico representativo do poder do Estado, que

espelhe as idiossincrasias do sistema internacional contemporâneo, segundo

a percepção da defesa sul-americana.

2.3.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são:

1. Estudar as abordagens teórico-filosóficas referentes ao conceito de poder;

2. analisar modelos teóricos do poder do Estado, identificando seus fatores e

subfatores componentes;

3. elaborar um modelo teórico contendo os fatores mais relevantes para a

composição do poder do Estado na atual conjuntura global;

4. captar a percepção da defesa sul-americana acerca desse modelo,

ajustando-o.

2.4 SUPOSIÇÃO

As suposições são a antecipação da resposta ao problema. Todo o estudo e a

pesquisa concorrerão para ratificá-las ou retificá-las ao final. No início do presente

capítulo propôs-se o seguinte problema: qual o modelo teórico que melhor

representaria o poder do Estado na atual conjuntura internacional?

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Sob o escopo do acima apresentado, formulou-se a seguinte suposição: o

poder nacional pode ser expresso a partir de modelo teórico que contemple as

especificidades do cenário internacional contemporâneo, contendo fatores

tradicionais e outros típicos da conjuntura atual.

2.5 METODOLOGIA

Creswell (2013) destaca a busca por um enquadramento teórico geral como

ponto chave do início do planejamento de uma pesquisa. Tal visão orientará o

pesquisador durante todas as fases do estudo, desde a fundamentação filosófica da

teoria, até as fases mais avançadas do processo investigativo, como a coleta de

dados e sua análise. Esta moldura permite também que o pesquisador organize e

acomode suas ideias e pensamentos de forma ordenada e coerente, encontrando

afinidade com a literatura e obtendo o reconhecimento de audiência específica.

O autor aponta para três molduras básicas para os desenhos de pesquisa:

quantitativa, qualitativa e métodos mistos. Este estudo se aterá mais à terceira

opção, mais recente e ainda em processo de consolidação. Para explicar melhor tal

metodologia, Creswell (2013) sugere que a analisemos a partir de seus

pressupostos, que seriam a presunção filosófica do saber (visão de mundo),

estratégias de investigação e métodos de coleta e análise de dados (figura 1). A

pesquisa, na prática, dependerá, acima de tudo, da perfeita integração entre as

ideias, estratégias e procedimentos.

Figura 1 – Desenhos de pesquisa.

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Fonte: Creswell (2013).

Os métodos mistos podem ser sequenciais, quando partem de uma das

abordagens (quali ou quanti) e, em seguida, ampliam seus resultados por meio de

outra; concomitantes, quando iniciam-se ambas as abordagens, de forma

convergente, buscando-se uma análise mais abrangente do problema, coletando

dados e analisando-os simultaneamente; transformadores, quando se utiliza da

teoria como perspectiva integradora em meio a projetos quali e quantitativos.

No que tange às estratégias de investigação, Creswell (2013) observa que,

conforme a abordagem do problema, o pesquisador poderá aproximar-se das

estratégias quantitativas (experimentos, pesquisas de opinião) ou qualitativas

(estudo de caso, fenomenologia, etnografia, etc.). Uma terceira via se dá quando se

opta tanto por uma, como por outra, adotando-se, portanto, estratégias mistas que

compreendem juntas as abordagens qualitativas e quantitativas (figura 2).

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Figura 2 – Estratégias de investigação.

Fonte: Creswell (2013).

Sobre os métodos específicos de coleta e análise de dados, a pesquisa mista

considera todas as possibilidades: emprego de questões abertas e fechadas,

questionários, entrevistas, análises estatísticas ou textuais.

Neste estudo em concreto, tem-se como ponto de partida de alegação de

conhecimento a complexidade, na qual se entende que os fenômenos se afastam da

tradicional linearidade, advindo de complexas interações, cuja real dimensão só

pode ser captada por lentes pluridisciplinares. A partir daí optou-se pelo emprego

dos métodos mistos, por entender-se que a composição do poder será melhor

compreendida a partir de abordagens distintas, qualitativas e quantitativas.

A teoria será o ponto de partida para a identificação das variáveis mais

significativas do poder nacional (endógenas e exógenas) em conformidade com a

evolução do cenário mundial contemporâneo, seguindo-se abordagens quantitativa,

qualitativa e, por fim, quantitativa, cada uma compondo um estudo; dois realizados

no Brasil; outros dois no exterior (figura 3).

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Figura 3 – Modelo geral de pesquisa.

Fonte: o autor.

Anl, Discussão,

Ajuste

FASE I FASE II

Anl, Discussão, Ajuste

Conceito filosófico

Pesquisa Qualitativa

Revisão Bibliográfica

Pesquisa Qualitativa

Dados: Fórmulas existentes

Técnica: Anal Contd

Modelo 4

Modelo 5

Pesquisa Quantitativa

FASE III

Dados: questionário Técnica: Anal

Fatorial

Modelo Final

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2.6 ESTUDOS

2.6.1 Estudo 1

A primeira fase do trabalho empregou abordagem qualitativa e tem como

objetivo precípuo apresentar revisão teórico-conceitual acerca da definição do

constructo poder.

Valendo-se de referencial teórico tradicional à filosofia e à ciência política,

selecionou-se rol de autores clássicos e com visões antagônicas, de forma a se

buscar maior amplitude de análise. Assim, inicialmente, foram estudadas as

definições de poder sob a visão de Max Weber e Hannah Arendt, baseadas no

conflito e consenso, respectivamente.

Após, a análise do pensamento foucaultiano imprimiu uma terceira dimensão

conceitual e filosófica ao tema, buscando-se evoluir de uma análise linear e binária

para uma interpretação tridimensional, mais complexa e sistêmica.

A partir deste estudo, chegou-se à uma visão holística acerca das bases

filosóficas do poder, compreendendo as diversas matizes conceituais que envolvem

o tema e percebendo como impactam a modelagem desse constructo.

Figura 4 – Estudo 1.

Fonte: o autor.

Conceito filosófico

Pesquisa

Qualitativa

Revisão

Bibliográfica

FASE I

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2.6.2 Estudo 2

A segunda fase do trabalho também adotou abordagem qualitativa e tem por

objetivo apresentar um modelo teórico representativo do poder do Estado, contendo

os fatores que melhor espelhem as peculiaridades do cenário global do século XXI.

Para isso, realizou-se revisão teórica acerca de teorias existentes que

buscaram elaborar modelos representativos do poder estatal. Ainda, buscou-se,

paralelamente, analisar as peculiaridades da política internacional, de forma a captar

suas nuances e sua correlação entre a busca pelo incremento do poder dos

Estados, de maneira a compreender sua composição sob enfoques antagônicos.

Por fim, foi realizado um estudo de caso, tendo por dados iniciais modelos

teóricos de amplo espectro espaço-temporal, empregando a análise de conteúdo

para a interpretação dos dados. Dentro do corpo de dados pesquisado, buscou-se

extrair os fatores mais relevantes à constituição do poder do Estado, bem como

aqueles típicos da conjuntura global do presente, correlacionando-os com os

aspectos teóricos pertinentes à evolução do sistema internacional e seus variados

paradigmas e com as nuances das bases filosóficas de poder estudadas.

Figura 5 – Estudo 2.

Fonte: o autor.

Modelo 1

Pesquisa

Qualitativa

Dados: Fórmulas existentes

Técnica: Anal Contd

FASE II

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2.6.3 Estudo 3

Em uma segunda fase, adotou-se abordagem quantitativa, com a realização

de pesquisa de campo, tendo-se por objetivo ajustar o modelo teórico obtido no

estudo 2, segundo a percepção da defesa sul-americana.

Para tanto, foi considerada a seguinte população como representante da

“defesa sul-americana”: militares das Forças Armadas (Brasil e demais países da

América do Sul) com curso de Estado-Maior ou pós-graduação stricto sensu (ativa

ou reserva) e civis ligados à defesa (Brasil e demais países da América do Sul)

(diplomatas, membros do legislativo vinculados às Comissões de Relações

Exteriores e Defesa Nacional, Agências Nacionais de Inteligência, Policiais Federais,

acadêmicos estudiosos do tema, membros da justiça militar, empresários e

funcionários ligados à Base Industrial de Defesa, etc.) (ativa ou aposentados).

Tendo-se em conta a impossibilidade de mensurar com precisão o universo,

adotou-se o tipo de amostra não-probabilística por quotas, cuja seleção dos

participantes se deu por acessibilidade. No caso dos militares brasileiros, utilizou-se

o banco de dados do Departamento Geral de Pessoal do Exército e das Escolas de

Estado-Maior das três forças. Para os militares estrangeiros, o acesso se deu por

intermédio dos adidos militares, das Escolas de Curso de Estado-Maior e Altos

Estudos. Para os civis, empregou-se a consulta à mídia social Linkedin, buscando-

se alcançar aqueles que se relacionam ao universo selecionado.

Em todos os casos, valeu-se de web survey, contendo perguntas fechadas,

estruturadas em escala likert, cujo link de acesso foi enviado por meio de correio

eletrônico. Para a análise dos dados, intentou-se realizar uma Modelagem de

Equações Estruturais, utilizando análise fatorial exploratória e confirmatória por meio

do software AMOS (v. 22, SPSS, An IBM Company, Chicago, IL). Ao logo de todo o

processo de ajustamento estatístico, valeu-se, também, dos conceitos teóricos e

filosóficos dos estudos prévios.

Como resultado, esperou-se obter um modelo final ajustado estatisticamente,

e em consonância com as bases teórico-filosóficas pertinentes ao tema, que

efetivamente represente o poder do Estado do século XXI, sob a percepção da

defesa sul-americana.

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Figura 6 – Estudo 3.

Fonte: o autor.

2.7 LIMITAÇÕES

Uma das críticas ao método dedutivo é a de que a dedutibilidade não seria

suficiente para a elucidação, não sendo, portanto, necessária, uma vez que há

explicações que não possuem qualquer lei como premissa (MARCONI; LAKATOS,

2010). Logo, as teorias que regem a relação entre as variáveis podem não ser

suficientes para explicar o constructo poder. Mesmo assim, acredita-se que o

aprofundamento da pesquisa será suficiente para corrigir uma possível distorção

dessa ordem.

O método estatístico, por permitir obter, de conjuntos complexos,

representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relação

entre si, apresenta uma limitação que é a possibilidade de falha na seleção amostral.

Para minimizar esse problema, a obtenção da amostra seguiu rigidamente os

critérios que a metodologia impõe.

Anl, Discussão,

Ajuste

Conceito filosófico Modelo 5

Pesquisa Quantitativa

FASE III

Dados: questionário Técnica: Anal Fatorial

Modelo Final

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Além disso, também devem ser consideradas as seguintes limitações:

a) dificuldade de comunicação entre entrevistado e entrevistador;

b) incompreensão do significado das perguntas formuladas;

c) possibilidade do entrevistado sofrer influência por parte do questionador;

d) falta de disposição do entrevistado em fornecer informações necessárias;

e) retenção de dados importantes, com receio de revelação da identidade do

entrevistado;

f) pequeno grau de controle por parte do entrevistador dos métodos de coleta

de dados;

g) a entrevista ocupa muito tempo, depende da disponibilidade das pessoas e

é difícil de ser realizada;

h) não disponibilidade ou difícil acesso a documentação de interesse; e

i) baixo índice de retorno dos questionários enviados.

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3 ARTIGO 1

REVISITANDO O CONCEITO DE PODER À LUZ DA TEORIA DA COMPLEXIDADE

REVISTING THE CONCEPT OF POWER IN THE LIGHT OF THE COMPLEXITY

PARADIGM

Alexandre Gueiros Teixeira1 Exército Brasileiro

[email protected]

Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon2 Exército Brasileiro

[email protected]

Artigo submetido em julho de 2017

1 Doutorando em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do

Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME). 2 Doutor em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do

Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME). Pesquisador do Laboratório de Estudos de Defesa (LED/ECEME) e do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do Instituto de Estudos Superiores Militares (CISDI/IESM).

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Resumo

O presente artigo se propõe a revisitar os fundamentos teóricos e conceituais do

constructo poder, entendendo-o como elemento fundamental na Política. Partindo-se

de referencial teórico da filosofia e ciência política, e tendo por base epistemológica

o paradigma da complexidade, apresentou-se revisão dos pensamentos de Max

Weber, Hannah Arendt e Michel Foucault, analisando-os, em um primeiro momento,

individualmente, para, após, identificar as dinâmicas entre si. Para atingir o objetivo

proposto, a análise foi dividida em seis seções: introdução, discussão

epistemológica à luz das ciências militares, metodologia, as três perspectivas do

poder selecionadas, discussão da teoria e conclusão. Ao longo da análise,

buscaram-se as respostas para os seguintes questionamentos: o que é poder?

quem o detém? por que meios é exercido? Ao final, fica patente o caráter complexo

do objeto de estudo, seus matizes voláteis e relacionais, que impactam diretamente

as dinâmicas e fenômenos políticos.

Palavras-chave: Poder, Ciências Militares, Complexidade, Força, Consenso.

Abstract

The present article proposes to revisit the theoretical and conceptual foundations of

the power construct, assuming it as a fundamental element in the Politics. Initially, it

was presented a review of thoughts of Max Weber, Hannah Arendt and Michel

Foucault. It was held based on the theoretical framework of philosophy and political

science, and based also on the epistemological basis of the complexity paradigma.

First, the three scholars were analized separately, after what the dynamics between

them where the main object of study. To reach the proposed goal, the analysis was

divided into six sections: introduction, methodological discussion in light of the

military sciences, methodology, the three perspectives of the power, analysis and

conclusion. Throughout the analysis, we sought the answers to the following

questions: What is power? Who holds it? By what means is it exercised? In the end,

the complex nature of the object of study, its volatile and relational nuances, which

directly affect the dynamics and political phenomena, becomes evident.

Key words: Power, Military Science, Complexity, Strengh, Consensus.

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1 Introdução3,4,5

O vocábulo poder, indubitavelmente, consiste em verdadeiro “caleidoscópio

conceitual”, por apresentar múltiplas acepções e matizes. O rol de possibilidades é

tamanho que o termo se confunde com a própria existência da humanidade,

coexistindo com a mitologia e a ciência, e despertando o interesse e a curiosidade

em muitos. Permeia as dinâmicas sociais e, em alguns casos, como na Política, nas

Ciências Militares e na Estratégia, consiste na origem das forças do complexo

dinamismo estatal. Seu estudo e análise permitem melhor compreensão dos

acontecimentos políticos do passado, da evolução dos fenômenos da Paz e da

Guerra e das assimetrias e volatilidades do sistema político do século XXI.

Por esta importância, da antiguidade aos tempos modernos, são muitos

aqueles que buscaram compreendê-lo, defini-lo e exercê-lo, cada qual com sua

ótica, dentro de sua própria realidade histórico-cultural. Uns associam-no ao conflito;

outros, à conjunção de vontades; alguns, à ação exclusiva do Estado; outra parcela,

a variados atores; ora considerando-o como fator de potência, ou seja, mera

capacidade intrínseca; ora, como ação propriamente dita, dinâmica e objetiva.

Por esta razão, para discorrer sobre poder, faz-se mister considerar múltiplas

fontes, analisando as características e as peculiaridades das variadas correlações

de força expostas em cada teoria. Sobretudo em um mundo no qual a diversidade

vigora, a relevância do poder e de sua correta análise, para cada contexto, é de

extrema relevância.

O presente estudo, portanto, tem por motivação revisitar os fundamentos

conceituais e filosóficos do constructo poder, tendo, por base, referencial teórico

3 A presente comunicação de resultados é parte dos esforços dos autores no âmbito do projeto “A

condução da política de defesa no Brasil e em perspectiva comparada”, sob incentivo do Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Assuntos Estratégicos de Interesse Nacional (Pró-Estratégia – SAE/CAPES). Também, e no caso específico do 2º autor, de pesquisa realizada no contexto dos projetos “A Inserção Brasileira em um Sistema Internacional em Transformação”, sob incentivo do Programa de apoio ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica em Defesa (Pró-Defesa – MD/CAPES) e “Rede Nacional de Estudos Estratégicos” (Pró-Estratégia). Os esforços de pesquisa do 1º autor foram conduzidos em conjunto com a frequência ao curso de Doutorado em Ciências Militares (PPGCM/ECEME), no período 2013-2016, sendo parte da tese doutoral associada. 4 Conforme orientação recente da The Scientific Electronic Library Online (SCIELO/FAPESP),

particulariza-se a participação autoral, como segue. O 1º autor participou da concepção da pesquisa, da análise e interpretação dos dados e da redação preliminar e final do texto. O 2º autor participou da concepção da pesquisa, da análise e interpretação dos dados, da revisão crítica do texto e da redação final do mesmo. 5 Os autores agradecem o apoio institucional recebido no âmbito do Instituto Meira Mattos / Escola de

Comando e Estado-Maior do Exército.

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tradicional à filosofia e ciência política. Norteado pelo paradigma da complexidade,

apresentou-se revisão dos pensamentos de Max Weber, Hannah Arendt e Michel

Foucault, buscando-se analisá-los individualmente para, em seguida, identificar as

dinâmicas entre cada teoria.

Para o desenvolvimento da proposta, foi adotada uma abordagem dividida em

seis seções. Após esta introdução, segue-se breve discussão epistemológica, tendo

por base a complexidade como paradigma balizador das análises. Na sequência,

apresenta-se o caminho metodológico seguido, após o que, tem-se o estudo

propriamente dito das perspectivas do poder dos três autores citados. Avançando-

se, discute-se o referencial teórico apresentado, identificando-se as aproximações e

afastamentos entre os conceitos analisados. Por fim, tecem-se considerações finais

sobre a revisão apresentada.

2 Complexidade: novo paradigma para as ciências militares

A base epistemológica constitui-se em alicerce fundamental, sob o qual se

constrói determinado conhecimento científico. Trata-se de teoria validadora,

entendida, também, como conjunto de crenças que norteiam as práticas, e cuja

correta identificação é vital, pois impactam diretamente, mesmo que de forma

subjetiva, o transcurso investigativo (Bachelard, 1973; Creswell, 2013).

Importante destacar que, a despeito das múltiplas interpretações possíveis, a

realidade analisada é uma só. Diferentes pessoas acabam por interpretá-la de forma

variada, agrupando percepções distintas, evidenciando uma pluralidade inerente ao

sistema: existe um mundo único, mas diversas óticas de análise. O saber advém,

portanto, de “caminho” específico a ser trilhado, por meio do qual o indivíduo

buscará descrever, explicar, inter-relacionar e até prever os fenômenos objetos de

análise.

Kuhn (1970) aponta para o caráter dinâmico do processo de aquisição do

conhecimento e a sua prevalência sobre a estrutura lógica da pesquisa científica,

negando que o progresso científico se dê por pura e simples acumulação. O autor

introduziu o conceito de paradigma e, assim, reforçou a liberdade da busca pelo

conhecimento, pela qual cada disciplina científica é livre para buscar soluções aos

seus problemas por meio de pressupostos epistemológicos próprios, jargões

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específicos e experimentos comuns. Segundo ele, nas ciências humanas e sociais,

inexiste modelo único de paradigma de pesquisa.

As convicções existentes antes da investigação propriamente dita tornam-se,

portanto, em pressupostos para que o processo científico avance. A escolha de

determinado paradigma, de visão epistemológica específica, corresponde a uma

maneira particular de ver o mundo e praticar a ciência, e, nesse sentido, mostra-se

fundamental, definindo problemas e a natureza das soluções aceitáveis a estes.

Essa adesão profunda à maneira de observar e investigar a natureza traz

respostas a questionamentos básicos como: que entidades compõem o Universo?

Como se comportam? Como se relacionam? Permitirá ao cientista identificar onde

deve procurar, o porquê e como fazê-lo. Assim, o conhecimento advirá dentre

crenças e verdades justificadas sob fundamento lógico (Kuhn, 1970).

O presente estudo dar-se-á sob o prisma da Complexidade, entendendo esta

como visão epistêmica que, como o pós-positivismo, desponta como meio de reduzir

os desequilíbrios advindos da rigidez do empirismo positivista, marcado pelo

domínio da abordagem quantitativa, pelo controle de variáveis, tudo sob o

pressuposto da existência de relações lineares de causa e efeito.

Segundo Guba (1990), identifica-se nesses paradigmas tendência à busca

por ambientes mais naturais e o afastamento do rigor extremado com a

quantificação, reforçando-se, dessa maneira, a riqueza qualitativa. A descoberta,

juntamente com a verificação, passa a assumir papel relevante em um processo

investigativo sequencial; e a não-linearidade sobrepõe-se à linearidade na

formulação do conhecimento, uma vez que se reconhece a falibilidade dos

mecanismos de análise do pesquisador (sensitivos e cognitivos). Assim, resultados

baseados no maior número possível de fontes (teorias, métodos, especialistas e

dados) têm sua importância destacada.

Como compreender e justificar o colapso soviético de quarenta anos de

hegemonia sobre a Europa Oriental em apenas alguns meses? O que é de fato a

mente humana, o cérebro com suas conexões infinitas produzindo sensações,

memórias, consciência, pensamentos? Como se processa todo este mecanismo?

Por fim, por que existe algo além do nada? O que governa a tendência inexorável de

desordem e deterioração do Universo desde o Big Bang?

Waldrop (1992) afirma que todos estes questionamentos possuem em comum

a incerteza na busca por respostas, constituindo-se em sistemas complexos, ou

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seja, uma combinação de inúmeros agentes interagindo entre si de diferentes

maneiras, conduzindo o conjunto a uma auto-organização espontânea. Tais grupos,

buscando mutuamente acomodação e consistência, de alguma forma, transcendem

sua própria essência, adquirindo propriedades coletivas, que jamais possuiriam

individualmente. São, portanto, adaptativos, espontâneos, possuindo um dinamismo

intrínseco, que os torna qualitativamente distintos de objetos estáticos.

A partir da não-linearidade deste novo paradigma, o todo, de fato, poderia

efetivamente mostrar-se muito maior que a soma das partes. Por exemplo, o cérebro

humano pode captar sons de distintos instrumentos de uma orquestra

separadamente. Ao se somarem, o conjunto desencadeará reações em cadeia, que

vão muito além da mera identificação de cada instrumento, produzindo emoções

variadas e reativando memórias.

Na Complexidade, portanto, tudo se encontra conectado e extremamente

suscetível às mínimas variações. Pequenas perturbações e incertezas, podem,

conforme determinado ambiente e circunstâncias, conduzir a elevado grau de

imprevisibilidade e caos, seguido por processos de auto-organização. Tal ciclo

promove a inovação e a adaptabilidade, tornando os sistemas mais flexíveis e

evoluídos (Nicolis, Prigogine, 1977).

A esta altura, surge o questionamento: diante de tamanhas incertezas, tantos

padrões de transformações e redes de conexões possíveis, como prever algo? E se

não se pode prever/inferir algo concretamente, como o conhecimento buscado sob

este paradigma pode ser considerado ciência? À luz do mecanicismo newtoniano,

certamente a resposta seria “de maneira alguma!”. Waldrop (1992), porém, reforça

que, a despeito de as predições serem sempre bem-vindas, a essência da ciência

reside no esclarecimento, que desvenda os mecanismos fundamentais da natureza.

Outra importante característica dos sistemas complexos adaptativos, segundo

Holland (1992, cit. por Waldrop, 1992), é sua estruturação por diversos níveis

organizacionais, com agentes de um nível servindo de base para outros em níveis

mais elevados. Indivíduos agrupam-se em bairros, que se agrupam em municípios, e

assim por diante, até se chegar a uma intrincada rede social, cultural e política entre

Estados.

O autor complementa, reforçando os conceitos de Nicolis e Prigogine (1977),

e afirma que tais sistemas estão constantemente revisando e reordenando sua

composição, de acordo com a evolução de sua experiência. Exemplo prático são os

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países que revisarão alianças e acordos, buscando adaptar-se e evoluir de acordo

com o momento vigente, antecipando-se a possíveis cenários futuros.

A realidade do século XXI, a concepção dos fenômenos, internos e externos,

e seu inter-relacionamento no contexto global parecem encaixar-se a este

paradigma. A evolução tecnológica sem precedentes, a ascensão de novos atores

no sistema internacional (tradicionais e não tradicionais), o enfraquecimento do

Estado (ou não), a multiplicação de ilícitos transnacionais, a crescente assimetria

socioeconômica, as questões ambientais e seus reflexos, tudo enquadra-se no

cenário do pós-Guerra Fria, consequências, diretas ou não, do processo de

globalização.

Na prática, identificam-se, explicitamente, os conceitos da Teoria do Caos e

da Relatividade aplicados à conformação tanto do sistema internacional como dos

cenários intraestatais, nos quais a incerteza e a volatilidade conjuntural passaram a

despontar como característica marcante.

As ciências militares, no geral, e especialmente os Estudos de S&D do século

XXI, norteados pelo pensamento de Kuhn e pela defesa da não-linearidade da

interação entre variáveis, demandam paradigma6 de pesquisa que permita melhor

representar a complexidade inerente ao processo de interação entre os atores

globais.

No passado, o objetivo dos comandantes e estrategistas era preservar, ao

máximo, a ordem, a organização e a coerência de emprego durante o caos

estabelecido no campo de batalha. Keegan (1976) observa que os treinamentos

militares, reduzindo as ações de combate a um conjunto de regras e procedimentos,

visavam tão somente impor uma ordem sobre o caos.

Hoje, nenhuma resposta automática e predeterminada prevalecerá em um

mundo marcado pela incerteza e dinamismo. Entende-se que as estratégias e

planejamentos do presente, incorporando os aspectos da não-linearidade, ao invés

de tentar impor e manter a ordem, devem entender cada peça do campo de batalha

como organismos vivos, nunca em estado pleno de equilíbrio, mas em constante

adaptação ao ambiente operacional (Bousquet, 2008).

A adoção da complexidade como base epistemológica da presente análise vai

ao encontro do objeto de estudo: o poder do Estado. Por um lado, assume-se que

6 Para considerações adicionais acerca da complexidade como paradigma das Ciências Militares e

Estudos de Defesa, ver Ferreira e Migon (2015).

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poder é tanto um constructo quanto um elemento relacional, isto é, dependente da

existência de duas ou mais entidades para existir, necessitando de abordagem

multidisciplinar.

O que é poder? De que maneira se decompõe? Como se manifesta? Ao se

buscar as respostas a tais questionamentos, fica patente a necessidade de se

enxergar o problema sob um enfoque não-linear, que tente captar o ajustamento do

objeto de investigação à realidade do presente, ou seja, sua adaptabilidade e

evolução ante o caos e desordem do sistema.

Da mesma forma, ao se refazer as mesmas indagações concernentes ao

conceito de Estado, notar-se-á uma imensa riqueza de complexas interações,

endógenas e exógenas, que se adaptam e evoluem, conforme uma escala

assimétrica no espaço/tempo internacional. Optou-se, portanto, por um paradigma

que priorize uma visão acadêmica plural nos processos de aquisição cognitiva, de

maneira a atender às demandas da atual visão de mundo que se descortina.

3 Considerações metodológicas

Uma vez apresentada a visão epistemológica que norteou a presente

investigação, faz-se mister discorrer um pouco acerca da maneira como o problema

foi abordado, bem como o caminho (ou a forma) pelo qual se buscaram as

respostas.

Trata-se de estudo qualitativo, baseado na interpretação e compreensão do

objeto de pesquisa poder, sempre com a finalidade de explicá-lo enquanto fenômeno

de destaque nas Ciências Sociais. Para tanto, o trabalho consistiu

fundamentalmente em pesquisa bibliográfica, cujo principal interesse foi descrever

visões distintas acerca do tema, para posterior interpretação e compreensão

segundo contexto específico (Quezada, 1997).

Segundo Erickson (1976), o ponto forte da pesquisa qualitativa reside em

imprimir relevância funcional a questões chave de caráter subjetivo, situando-as (e

inter-relacionando-as) dentro de contexto social amplo e abstrato. Não existe uma

realidade única e inconteste, mas aquela que se explicita no decorrer da

investigação, segundo a própria ótica e experiência subjetiva do autor. Portanto, as

ideias aqui apresentadas não se constituem em premissas incontestes, mas visam,

tão somente, a ampliar o espectro das discussões sobre poder.

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Tendo por base as dinâmicas (endógenas e exógenas) que regem os

Estados, e, consequentemente, sua capacidade efetiva de ação, o conceito de poder

desponta como ponto focal da análise, consubstanciando-se em ponto de partida à

definição do problema de pesquisa, linha-mestra das etapas posteriores.

Sua complexidade é evidente, existindo grande variedade de percepções

acerca de sua natureza, seus pressupostos e suas interações. Trata-se de

fenômeno fluido e dinâmico, que nos leva aos seguintes questionamentos: o que é

poder? Como se explicita? No que se funda?

Diante da evidência deste problema, tomou-se por objetivo geral a realização

de estudo comparativo entre distintas visões acerca do objeto pesquisado. Surge,

neste ponto, importante questão metodológica: diante de imensa multiplicidade de

teorias e autores que estudam o fenômeno do poder, quais aqueles a serem

destacados para a pretensa discussão?

Optou-se, inicialmente, dentre aqueles que discorreram sobre o poder, pelo

universo de autores considerados clássicos7 à Filosofia e Ciência Política. A partir

daí, buscou-se selecionar os que possuíssem visões antagônicas, de forma a

imprimir maior amplitude à discussão. Nesse sentido, elencaram-se as concorrentes

de pensamento de Max Weber e Hannah Arendt, consagradas e hegemônicas cada

qual em sua linha teórica.

O primeiro alinha-se ao pessimismo de Hobbes, tendo por base a máxima da

“guerra de todos contra todos” (Hobbes, 1974), associando poder à violência. A

segunda, por outro lado, pauta sua teoria a partir do otimismo kantiano da “paz

perpétua”, considerando que os seres-humanos são capazes não apenas de agir,

mas também de se unirem uns aos outros para “gerar” poder a partir do consenso.

Foucault encerra o rol dos autores escolhidos, trazendo uma terceira

dimensão ao estudo. Entendeu-se que mais um “eixo” de investigação enriqueceria

a discussão, uma vez que se afastaria a linearidade binária de ideias opostas para

um sistema tridimensional, com maiores possibilidades de comparações e análises.

A inclusão do autor francês deveu-se, dentre outros fatores, a sua perspectiva única

e holística acerca do objeto de estudo, distanciando-se da tradicional associação

poder x Estado (público).

7 Para definição de clássico, consideraram-se aqueles autores cuja obra e pensamento revestem-se

de caráter atemporal e universalista. Aqueles que, mesmo tendo suas reflexões datadas em passado longínquo, comunicam-se com o presente de forma criativa e singular, permanecendo sempre atuais e sustentados por premissas sólidas e verdadeiras (Calvino, 2007; Heidegger, 2007).

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No que concerne à escolha das obras, tem-se que nenhum dos autores

selecionados apresentou seu conceito de poder (ou esgotou a questão) em um

compêndio específico. Ao contrário, o tópico surge ora de forma explícita, ora

subjacente, ao longo da vasta produção científica de cada um. Sendo assim, esta

revisão procurou destacar os principais aspectos de suas teorias, a partir de

publicações diversas, não se atendo a nenhum trabalho em particular.

Por fim, adotou-se um desenho de pesquisa que permitisse atender aos

seguintes objetivos específicos: (i) apresentar as principais características do

conceito weberiano de poder; (ii) apresentar as principais características do conceito

arendtiano de poder; (iii) apresentar as principais características do conceito

foucaultiano de poder; (iv) analisar comparativamente as três teorias, destacando

suas aproximações e seus afastamentos.

4 O Poder

4.1 O Poder em Arendt

O estudo do poder destaca-se como temática central no pensamento de

Hannah Arendt, caracterizando-se, de maneira geral, pela notória crítica à tradição

política ocidental. A reflexão do tema surge, principalmente, como resultado dos

questionamentos advindos da experiência totalitária8, pelos quais a autora busca a

compreensão e o entendimento dos acontecimentos que não se explicavam mais

pela linha mestra do pensamento político tradicional.

Segundo Arendt (2006), a ideia do comum, da ação compartilhada, assume

papel basilar ao exercício pleno e legítimo da política, consubstanciando-se em um

dos elementos gênesis do poder. O espaço público, portanto, é tido como o locus

efetivo da democracia participativa, da liberdade, da ética e da transparência, pois é

nele onde o poder é exercido; não como uma qualidade individual, mas por meio da

ação coletiva.

8 A experiência de Arendt com os campos de concentração e demais arbitrariedades da Alemanha

Nazista impactaram de maneira estrutural o pensamento e a obra da autora. Em Origens do totalitarismo (1990), a autora explicita a emergência de nova modalidade de controle e dominação, crivada pela lógica da violência, da guerra e da morte. O governo totalitário conduz a alteração da essência política propriamente dita, uma vez que abandona a ideia do comum, o agir compartilhado entre os homens, evidenciando clara distensão entre ética e política.

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Defende-se o respeito aos espaços de livre-circulação, onde os homens

possam sentir-se amparados pela presença dos iguais e, também, dos diferentes.

Nesse ambiente, a qualidade da organização da vida comum passa a ter mais valor

do que a eficácia dos aparelhos burocráticos do Estado.

Para a autora, o espaço público, origem e sustentáculo do poder, não deve se

burocratizar e se enrijecer a despeito do bem-comum. Ao contrário, necessita buscar

adequada separação entre liberdade e soberania. Fica assim evidenciada a

importância do Estado-Nação flexível, que se afasta do ideal de ação ilimitada e

soberana do Estado como instância legítima e uníssona das iniciativas públicas

(Arendt,1970; 2006).

A tradição greco-romana é tida como referência, na qual poder relaciona-se a

consentimento e não à violência. Seja nas Cidades-Estado gregas ou na Roma

antiga, a ideia de poder vinculava-se à obediência às normas coletivas. O que se

buscava era o apoio às leis, cujo consentimento havia sido dado pelo povo, ou seja,

pelo conjunto, legitimando a ação política no espaço público (Arendt, Kohn, 2008).

Ao inter-relacionar poder e bem-comum, Arendt firmava a teoria de que o

primeiro se legitima por meio do contínuo consentimento de todos ao “momento

fundacional” de certa comunidade. O poder emerge a partir da gênese das leis

consentidas, que servem de sólido fundamento à manutenção das instituições. Para

a autora, “a forma extrema de poder é o todos contra um, a forma extrema da

violência é o um contra todos” (Arendt, 2001, p.35).

Neste ponto, fica patente a necessidade de aprofundamento e clarificação

conceitual das diferenças entre poder, vigor, força, violência e autoridade.

O poder, conforme já mencionado anteriormente, advém da capacidade de

agir concertadamente, a partir de uma base legal, estabelecida e ratificada por toda

a coletividade. Ele nunca será exercido por um indivíduo, mas emanará de um

grupo, enquanto perdurarem as razões que o mantém unido; ou seja, o poder

“nasce” a partir da formação de certa coletividade e “morre” ao seu

desaparecimento, reforçando a tese de que está fortemente ligado ao momento da

fundação. Dizer que “alguém” está no poder implica dizer que foi empossado pela

comunidade para atuar em seu nome, enquanto perdurar o interesse do grupo, não

se tratando de fenômeno meramente estrutural, relacionado à posse de recursos

e/ou capacidades.

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A partir desta definição, nota-se claramente a distinção entre poder e vigor.

Ao contrário da essência coletiva do primeiro, vigor, segundo a ótica da autora

(Arednt, 2001), explicita individualismo e realidade apolítica, constituindo-se em

atributo afeto a uma pessoa ou coisa, que pode ou não ser empregado na relação

com outros indivíduos. O que ocorre, normalmente, é que o poder se levanta contra

o vigor do mais forte, contra sua propriedade individualista.

No caso da força, não se trata de sinônimo de violência, mas da energia

advinda dos movimentos físicos e sociais; seus impactos sobre certa sociedade,

sobre o poder daquele grupo. Vê-se aí nítida diferença entre força e violência. Esta,

por sua vez, vincula-se à coação, estando relacionada à ação agressiva sobre

outrem, sendo também identificada com o ato de “matar” e “violar”. Não diz respeito

a qualquer ato coativo, mas aos que agem sobre o corpo físico do oponente, no

caso das relações sociais.

Por fim, o conceito de autoridade surge como um dos mais suscetíveis a

interpretações errôneas, fruto de seu viés aparentemente paradoxal. Se, por um

lado, não se pode falar em persuasão, por tratar-se de relacionamento

hierarquizado; por outro, tem-se o respeito e o consenso como fundamentos da

relação de mando-obediência, e não a violência (Arendt, 1963; 2002).

No modelo Arendtiano, o binômio poder-autoridade desempenha papel cíclico

e fundamental para o exercício do poder. Se retirarmos o hidrogênio da molécula de

água, esta perderá sua característica, deixando de existir como tal. Da mesma

forma, o poder só será exercido por meio da autoridade. Mas como se dá essa

relação?

Como já apresentado, o poder emerge do concerto do grupo; uma ação

coletiva, de troca de opiniões plurais e igualitárias, estabelecendo um marco

fundacional, que acaba por tornar-se o legitimador das ações subsequentes. Isto é,

as normas e regras são definidas e aceitas no momento inicial de concertação,

dentro das quais a autoridade será reconhecida e exercida.

Sobre tal aspecto, Lafer (2002, p.24) afirma: “o princípio (início) da ação

conjunta estabelece os princípios (preceitos) que inspiram os feitos e

acontecimentos da ação futura”. Para Arendt (1981, pp.212-213), o poder pode ser

considerado um “momento fugaz”, que não garante, por si só, a perenidade da

comunidade política. Mas é a autoridade que permitirá o prosseguimento cronológico

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ao ato de obediência e o respeito às normas pré-estabelecidas, firmando-se como a

institucionalização do poder (Arendt, 2002).

Em síntese, a construção conceitual de Arendt acerca do poder procurará

refutar o elo estabelecido pelo pensamento político tradicional entre poder x

violência, contrapondo o binômio poder x consenso: “poder e violência são opostos;

onde um domina absolutamente, o outro está ausente” (Arendt, 2001, p. 44). A

substituição do poder pela violência, talvez, pode até conduzir à vitória, mas sob alto

custo, a ser “pago” tanto pelo vencido quanto pelo vencedor, em termos de seu

próprio poder (Arendt, 1970). O poder arendtiano relaciona-se, dessa forma, à

legitimidade, à autoridade, potência e constituição política, advinda do espaço

público.

4.2 O Poder em Weber

Max Weber desenvolveu uma das teorias mais consagradas acerca do poder,

evidenciando seu caráter multidimensional. Como teórico político representante da

tradição clássica, entendia poder como relação de mando e obediência, como ação

estratégica de determinado agente, que visa a empregar, com máxima eficiência, os

meios disponíveis para atingir o fim desejado: fazer valer suas vontades e intenções.

Tem-se, então, um processo peculiar ao pensamento weberiano, no qual

determinado grupo, originariamente fundado na tradição e nos sentimentos

subjetivos (afetivos ou tradicionais), transforma-se em organismo balizado pelo

cálculo compensatório de ações e pela objetividade racional.

Da racionalização e do cálculo estratégico para se impor a vontade de A a B,

ou seja, para A exercer poder sobre B, surge um conceito central na teoria de

Weber: DOMINAÇÃO, que seria toda probabilidade de um mandato obter obediência

entre interlocutores. Assim, o domínio conduz ao poder, manifestando-se de

diferentes maneiras: seja pelo triunfo de um indivíduo de fazer triunfar seus

interesses contra resistências; seja pela oportunidade de encontrar aqueles

dispostos a obedecer ao que lhes é imposto (Weber, 1978).

Em Weber (1983), o processo de racionalização conduz a um Estado forte,

soberano em suas ações, que exerce o poder calcado no domínio. Para tanto, vale-

se de estruturas burocráticas robustas, marcadas por sólido ordenamento jurídico,

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administrativo e militar e pelo monopólio do poder sobre todos os que nasceram

naquela comunidade, ou que se encontram nas fronteiras do território.

A consolidação dos interesses estatais - seja no plano interno, seja no externo

- se dará, portanto, sempre, sob matizes de violência e conflito. A força seria a base

para a manutenção do Estado e, sem ela, as estruturas sociais se perderiam ante a

“anarquia”. A violência, apesar de não ser o único instrumento de que se vale o

Estado, lhe é específico, é seu “monopólio”; e o poder, por meio dela, efetiva-se

dentro dos limites de determinado espaço. Em Weber, a violência é “legítima”, não

por mera suposição, mas assim “considerada”, efetivamente, por todos aqueles que

se submetem à autoridade do Estado Moderno (Weber, 1979).

O elemento central do poder weberiano é, portanto, caracterizado pela

conjugação da imposição da vontade com resistência, gerando o conflito. A

superação desta é a evidência empírica do poder de fato, que, semanticamente,

acaba por se equivaler (e complementar) ao conceito de luta. Sobre isto, Weber

(1978, p. 31) afirma que “uma relação social é de luta quando a ação se orienta pelo

propósito de impor a própria vontade contra a resistência de outras das partes. É por

intermédio da luta que o poder se torna efetivo, reforçando seu caráter relacional”.

Há de se recordar que tal luta pode ser pacífica, sem a manifestação de

nenhum tipo de violência física efetiva. É fato que a luta poderá redundar em

violência, mas não existe vínculo necessário entre elas. Assim, o que caracteriza a

luta, isto é, o exercício do poder, não é o meio utilizado, mas a natureza de conflito

imanente. Autores da tradição política corroboram o pensamento de Weber,

considerando que a maioria das relações de poder baseiam-se em uma

antecipação, por parte de B, de possíveis ações negativas que poderia sofrer, caso

contrariasse os interesses e vontades de A9 (Bachrach, Baratz, 1962; Bachrach,

Baratz, 1963; Dahl, 1957).

Outro aspecto importante no estudo do poder, em Max Weber, é sua

abordagem multidimensional. Para o autor, o poder pode ser visto como uma força

que, em um processo continuado, estabelece relações e alianças com outras forças

9 Referência à definição de Robert Dahl (1957, pp.202-203): “A tem poder sobre B na medida em que

ele consegue fazer com que B faça algo que B de outro modo não faria” (tradução nossa). Para os autores, um elemento central das relações de poder é o cálculo que gera expectativas com base nas quais os atores agem.

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históricas e valores, fazendo emergir um conflito multiespectral presente na

sociedade contemporânea (Weber, 1979).

Em sua teoria das esferas da vida social, o autor identifica seis diferentes

domínios (esferas sociais), consideradas por ele como as formas mais racionais da

realidade. São elas: a religião, o erotismo, a economia, a política, a estética e o

conhecimento científico.

Cada esfera possui suas próprias regras, valores e lógica cultural, com os

quais molda sua realidade. Se consideradas isoladamente, o resultado social seria

de normalidade, com apenas uma ou outra divergência. Porém, na prática, apesar

de autônomas, não são independentes, interagindo entre si, normalmente de forma

conflituosa.

Por exemplo, religião e conhecimento científico podem chocar-se em tempos

modernos, assim como política e economia; erotismo e religião. Enquanto violência

e poder circulam pela esfera política, a da religião as rejeita, impondo fraternidade e

amor ao próximo como valores absolutos.

Da tentativa de equacionar esferas e valores incongruentes, o conflito se

explicita por meio de tensões entre grupos sociais e forças históricas, ou, até

mesmo, de dilemas a serem enfrentados pelos próprios indivíduos. Evidencia-se, de

forma clara, a multidimensionalidade da conformação do poder e a condição de

hostilidade sempre presente.

Para Weber (1979), o advento da modernidade ampliou o conflito inerente às

dinâmicas da vida social. A despeito de ações e convicções que individualmente se

possa ter, o conflito e a culpa sempre estarão presentes.

Na prática, o autor compara a racionalidade das ações do político moderno

com a fraternidade prevista no “Sermão da montanha”. Enquanto Cristo pede que se

dê a outra face, quando se é agredido de um lado, e que se “reparta o pão” e

compartilhe seus bens com o próximo; o líder político, ao contrário, empregará força

militar em resposta às ameaças que se apresentem contra seus recursos e pessoas.

Na perspectiva de Weber, o poder emerge do conflito inerente ao próprio

dinamismo da vida em sociedade. Os homens, e a humanidade como um todo,

pautam suas ações por seus interesses, não por ideais. Na política, a “ética da

responsabilidade” se sobreporá à “ética da convicção”, tornando o conflito inevitável.

A luta, seguida de dominação, chancela o pleno e efetivo exercício do poder.

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4.3 O Poder em Foucault

O filósofo francês Michel Foucault, em suas críticas à teoria política moderna,

buscou empreender uma análise diferenciada do fenômeno poder, ao qual atribuiu

caráter mais abrangente e complexo, ampliando os limites teóricos e as discussões

acerca do tema.

Ao invés de se colocar como objeto central o fato de que alguns indivíduos

(ou grupos) possuem um poder, que a outros falta, dever-se-ia focar nos

instrumentos, estratégias e técnicas que afetam o fenômeno da submissão nas

sociedades contemporâneas. Ele abandonou a crença no equilíbrio do poder e

afastou-se do culto à autonomia do indivíduo, concentrando-se nos mecanismos que

afetam a regularização dos corpos, da conduta e da vida (Foucault, 2003; Foucault,

2010; 2013).

A despeito da variedade metodológica e temática do autor, poder em Foucault

pode ser analisado sob uma linha mestra de pensamento, descrita como princípio da

ubiquidade do poder. Trata-se de ótica universalista, que aponta, dentre outras

coisas, para uma característica marcante do constructo: o dinamismo relacional.

Poder não se exerce diretamente - nem de imediato - sobre outros, mas age

sobre suas ações, só se manifestando após o início de um processo cinético. Não

há de se falar, portanto, em o poder; mas sim em relações de poder, que não se

originam de um ponto focal, do centro, mas de verdadeiro emaranhado de forças em

constante mutação. Segundo o filósofo francês, “o poder está em todos os lugares”,

não porque abarca todas as coisas, mas porque advém de “todas de as partes”

(Foucault, 1998, p.93; Foucault, 1982; 2013).

O poder em Foucault ultrapassa barreiras espaciais e temporais, podendo ser

considerado um princípio fundamental para a vida em sociedade. Para ele, a

humanidade não evolui rumo a um estado de direito, que substituiria as guerras. Ao

contrário, estabelece um sistema de regras pautado no conflito, seguindo de

“dominação em dominação” (Foucault, 1977, p.151).

Surge, neste ponto, outro componente da “equação do poder”, o conflito,

considerado pelo autor como “pedra fundamental” das interações sociais e políticas

na história da humanidade. Importante destacar a distinção entre conflito e violência.

O primeiro remete ao choque entre forças ou interesses antagônicos, tratando-se de

algo no campo abstrato; o segundo, por sua vez, aponta para a ação real e efetiva

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sobre um corpo ou objeto, para dobrá-lo, forçá-lo ou destruí-lo. Para Foucault, a

violência plena anula o conflito, extinguindo o exercício do poder.

Para melhor compreender o fenômeno do conflito e seu papel nas relações de

poder, o autor propõe o estudo das resistências. Torna-se mister o reconhecimento

(pleno e contínuo) da capacidade de ação (e reação) daquele sobre quem se exerce

o poder, e a consciência de que, uma vez iniciada aquela relação, os resultados

possíveis são inúmeros e aleatórios.

O poder se exerce apenas sobre indivíduos ou grupos livres. No coração das

relações de poder, diante das inúmeras e complexas possibilidades de combinações

comportamentais possíveis, encontra-se presente certa insubordinação e

obstinação, motivadas pelos princípios de liberdade.

O problema crucial do estudo do poder não reside, portanto, na servidão

voluntária, mas no conflito permanente (e paradoxal) da vontade recalcitrante e

intransigente da liberdade, que se levanta contra à relação de poder estabelecida.

Esta não existiria sem as insubordinações, sem as tentativas de se escapar da

influência deste poder, e, até mesmo, “virar o jogo”.

Ao destacar a relevância do conflito para o “DNA” do poder, Foucault, no

entanto, não exclui o consenso. Tanto um como o outro acabam por se constituir em

instrumento (causa) e resultado (consequência), confirmando a essência dinâmica e

complexa do poder, que se renova e se adapta, independentemente de cada um

desses fatores.

Percebe-se que as relações de poder se dão de forma transversal, não

estando limitadas à esta ou aquela classe, a este ou aquele grupo social, país ou

governo. A resistência aos efeitos do poder - o conflito inerente ao processo - será

sempre omnidirecional (Foucault, 1982).

O autor prossegue, destacando que o poder incita, seduz, dificulta, sempre

atuando de forma cinética. Seu exercício consiste em conduzir um processo voltado

à obtenção de resultados específicos, envolvendo não apenas estruturas políticas

oficiais, mas um campo amplo de possíveis vetores. Um tentará impor limites às

ações do outro, não se tratando, simplesmente, de um jogo de soma-zero.

Sob esta ótica, pode-se afirmar que o exercício do poder corresponde

também a um cálculo estratégico, tendo sempre em mente a efetividade dos

instrumentos empregados em relação aos possíveis custos. Não se trata de fato

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consumado, estanque; tampouco um direito institucional, mas opera por meio de

processos dinâmicos, ajustáveis à cada conjuntura específica.

Conclui-se, por fim, que o poder em Foucault atinge uma amplitude máxima

de atuação. Conforme o autor, “it seems [...] power is ‘always already there, that one

is never ‘outside’ it”10 (Foucault, 1980, p.141).

Não se trata de algo estático, isolado, mas de um complexo conjunto de

relações, profundamente arraigadas no nexus social, perpassando o nível estatal até

atingir as disparidades individuais, seus múltiplos interesse e reações. Por isso,

devem ser entendidas com base na evolução histórica de determinada sociedade,

sob o perfeito entendimento das origens de sua força ou fragilidade.

5 Discussão da teoria

As discussões acerca do constructo poder evidenciam, conforme estudado,

múltiplas óticas de interpretação e análise. De cada um dos autores, extraem-se

modelos teórico-conceituais distintos, que servirão de base para uma melhor

compreensão do fenômeno à luz da complexidade.

As análises de Arendt, Weber e Foucault, cada qual com nítidos pontos de

aproximação e afastamento entre si, ratificam o entendimento de poder como uma

conjugação não-linear de fatores e subfatores, que se conformam e buscam o

equilíbrio em meio à incerteza e à volatilidade situacional. Mas, afinal, quem detém o

poder? Qual sua origem, sua fonte?

Em Arendt, tem-se o “consenso” como o grande “epicentro” do poder. É,

portanto, o GRUPO (de indivíduos, de entidades, órgãos, Estados, etc.) aquele que

efetivamente o possui. No plano interno, o apoio “do povo” mostra sua elevada

capacidade de gerar poder, mesmo em países totalitários. Massas, unidas pelo

descontentamento contra o status quo, imprimem dinâmicas sociopolíticas próprias

e, por meio de ondas de protestos e revoltas, acabam por impactar e alterar cenários

tradicionais.

Questões socioeconômicas, como desemprego, qualidade de vida, segurança

pública, direitos humanos, dentre outros, passam, mesmo que de forma indireta, a

se oporem aos tradicionais aspectos de “força” e “vigor”, seja de caráter militar,

10

“Parece que [...] o poder sempre está presente, aquele (o indivíduo) nunca está ‘fora’ dele”(tradução nossa).

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econômico ou político. Segundo a visão arendtiana, o aparato militar e a repressão

política dos regimes totalitários não são capazes de conformar o poder de forma

perene e legítima, como o consenso coletivo.

No plano externo, o pensamento de Arendt acerca do “consenso”, formador e

legitimador do poder de um Estado, reforça-se ante teoria do “poder estrutural de

rede” (Kim, 2010). Segundo o autor, trata-se de novo enfoque nas discussões

relativas à construção do poder, diretamente relacionado à capacidade de certo

Estado de ascender de posicionamento na estrutura internacional, fruto de suas

conexões e das redes a que pertence.

Países de maior centralidade, ou seja, aqueles com o maior número de

conexões no sistema internacional, seriam, essencialmente, os mais poderosos, seja

por sua capacidade de influenciar outros agentes, seja pela possibilidade de controle

da maior quantidade de recursos disponíveis em toda a rede. Por exemplo, países

com maior participação em organismos multilaterais, com elevada capacidade de

atração (soft power), seriam, portanto, os de maior centralidade, aqueles detentores

de maior poder.

Já em Weber, ao invés do “consenso” arendtiano, o poder se explicita pela

dominação exercida no ambiente conflituoso. A “fonte de poder” não é coletiva, mas

singular e unidirecional, não importando o interesse do grupo, mas apenas a

vontade e o cálculo racional do ator.

Tanto no campo interno como no externo, a racionalidade estratégica conduz

ao acúmulo de capacidades e ao (re)ordenamento estrutural necessários para que

se estabeleçam os devidos meios de coerção. Como explicar as intervenções

(militares ou não) de certos Estados, ou grupos de Estados, em questões internas

de terceiros? Por que certos atores optam pela demonstração ou imposição de força

ao invés da cooperação e do diálogo? Como entender censuras e controles internos

impostos por certos governos? Qual o interesse de determinados Estados sobre

territórios de localização estratégica ou ricos em matérias primas?

Endogenamente, o “poder do povo” estará limitado pelo rigor burocrático do

Estado forte; exogenamente, prevalecerá o acúmulo de força stricto sensu, ou seja,

o vigor do agente. A visão weberiana de poder evidencia, portanto, de forma

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explícita, o pensamento da Raison d’Etat11 francesa, onde os fins justificam os

meios, importando sobremaneira o acúmulo/desenvolvimento de capacidades,

indispensáveis para a prevalência do interesse de A ante o conflito com B.

Ao passo que Arendt, inspirada pelo imperativo categórico12 kantiano, funda

seu pensamento na liberdade e ética do espaço público; o pensamento weberiano

se estrutura a partir da visão pessimista de Hobbes, segundo a qual, todos os

homens são inimigos entre si, conduzindo-se constantemente em meio à luta e ao

caos pela sobrevivência e reconhecimento no mundo natural.

Em Weber, a autoridade de A em relação a B (ou C, ou D, ou ambos, etc.), ou

seja, a legitimação de seu poder, não se dá pelo concerto entre as partes (visão

arendtiana), mas pela capacidade de coerção, pelos meios de que se dispõe para

fazer valer seus interesses, segundo a análise estratégica e racional.

Por outro lado, em Foucault, tem-se o caráter omnipresente do poder: sua

gênese não está meramente no consenso coletivo, tampouco nas capacidades

individuais de A ou B; está em tudo, emergindo como resultante de processo -

dinâmico e aleatório -, de interação de forças e vontades diversas. Na teoria do autor

francês, o constructo analisado atinge o máximo de seu viés relacional.

Em comparação com os conceitos da física moderna, o poder, segundo

Foucault, equivaler-se-ia, a grosso modo, aos postulados acerca da energia.

Segundo a Teoria da Relatividade de Einstein, um corpo parado e não submetido à

força alguma já possui uma energia intrínseca pelo simples fato de possuir massa. A

relação energia x massa se alterará conforme varie a velocidade, e, segundo a

famosa fórmula E=MC2 13, quanto maior a velocidade, maior a energia liberada.

Cada ator possui características e capacidades próprias, uma espécie de

poder “potencial”, latente, que se explicitará a medida que a dinâmica entre os

agentes avance. Como a energia, o poder está presente em todas as coisas; e, a

cada resposta à determinada ação, novo cenário se apresenta e, portanto, novos

fatores, subfatores e variáveis se explicitam, interagindo entre si e com o meio de

11

Razão do Estado (tradução do autor): conceito criado por Richelieu, em substituição aos valores morais e universais da Idade Média, segundo o qual, para se promover o bem-estar do Estado, quaisquer meios eram válidos (Bobbio, 1986; Kissinger, 1994; Blanchard, 2011). 12

Teoria desenvolvida por Emmanuel Kant, segundo a qual, há uma obrigação moral geral e única, que explica e norteia todas as demais. Trata-se de dever incondicional ou obrigação, independentemente de vontade ou desejos pessoais (Kant, 1997). 13

Em 1905, Einstein publicou o artigo sobre a Teoria da Relatividade Especial, no qual estabeleceu a famosa equação E = mc

2, sendo E a energia relativística, M, sua massa e C a velocidade da luz

(Einstein, Minkowski, 1983).

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forma cíclica e extremamente suscetível a variações. Em Foucault, o poder potencial

se tornará em poder efetivo à medida em que se ampliarem as relações de

determinado sistema.

Deste dinamismo advém traço marcante das relações de poder sob a ótica de

Foucault: o elevado grau de imprevisibilidade. É fenômeno complexo, no qual rede

intrincada de agentes reagem diferentemente a diversos estímulos interativos,

desenvolvendo comportamentos incertos e instáveis dentro de uma moldura espaço-

temporal específica. Em Foucault, as relações de poder se darão em todas as

direções. O estatal, o social, o econômico, o político, o militar, o cultural, o ambiental,

etc.; tudo se relacionará, conformando-se em uma sequência adaptativa sem-fim de

forças resultantes.

Importante destacar que, se a imprevisibilidade é total em Foucault, ela é

relativa em Arendt e Weber. Se, por um lado, a interação das variáveis para a

obtenção do consenso arendtiano ou do conflito/domínio weberiano dá-se de forma

incerta e aleatória; por outro, ambos (consenso e conflito/domínio) constituem-se em

pressupostos essenciais para o exercício do poder em suas respectivas teorias,

imprimindo-lhes certo grau de previsibilidade.

Por fim, o pensamento de Foucault se unirá ao de Arendt na crítica à ação

única e suprema do Estado e à rigidez dos limites da burocracia estatal weberiana.

Ambos reforçam o quadro atual de exaurimento do modelo consagrado do Estado-

Nação, advogando o exercício do poder através de espaços de livre-circulação, sob

o escopo da flexibilização do conceito tradicional de soberania.

Hoje, fenômenos transnacionais (terrorismo, crime organizado, deslocados e

refugiados, meio-ambiente, mídias sociais) desafiam a noção clássica de fronteiras e

apontam para uma multiplicidade de agentes capazes de impactar de maneira

complexa a análise do poder dos Estados.

Em Foucault, a “resultante” das relações de poder representa, na prática, algo

como uma síntese da visão de cada autor discutido. Por exemplo, dependerá da

opinião pública de determinada unidade política (ou a nível internacional), uma vez

que se fundamenta sob consensos, constituindo-se em fenômeno coletivo. Isso

exclui da concepção de poder a posse, pura e simples, de determinada riqueza ou

bem que, isoladamente, em nada cooperam ao seu exercício sem a vontade comum

da sociedade.

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Porém, se, por um lado, a sustentação do poder advém do consenso, é fato

que, vez por outra, prevalecerão o conflito e as visões divergentes. Nestes instantes,

as capacidades militar e econômica, por exemplo, têm seu valor ressaltado, uma vez

que uma das partes conflitantes poderá ceder (ou se sujeitar) aos interesses do mais

“poderoso”, por imposição ou dissuasão.

Sob as lentes dos três autores estudados, a despeito das divergências

naturais, fruto de distintas e anacrônicas experiências pessoais, identifica-se um

núcleo comum de pensamento, de onde extraem-se as seguintes premissas: poder,

stricto ou lato sensu, é, indubitavelmente, um fenômeno complexo; seu pleno

exercício implica consubstanciação de vontade e liberdade para agir; é fenômeno

relacional e, por fim, contará sempre com a presença do Estado em sua composição

e/ou exercício.

6 Considerações finais

O poder é um dos componentes essenciais à Política. É o catalisador de

inúmeras ações e reações, que acaba por moldar cada sistema, interno ou externo,

sempre marcado pela imprevisibilidade e caos. Suas fontes são inúmeras, e sua

conformação, caracterizada pela adaptatividade espontânea, explicita-se como

extremamente suscetível às mínimas variações conjunturais.

Trata-se de conceito difuso, complexo e, muitas vezes, controverso, que, no

avançar da História, revestiu-se de diversas matizes. Seu entendimento implica

perceber as intrincadas dinâmicas das relações sociais, que acabam por moldar

todo o conjunto (de pessoas, Estados, etc.). Sua multiplicidade semântica exige,

portanto, mudança de paradigma no sentido de se abandonar a fidelização a essa

ou aquela teoria, buscando-se uma análise mais holística do constructo.

Norteado por este pensamento, bem como pela importância da clarificação do

conceito de poder à Ciência Política e às Ciências Militares, o presente estudo visou

a ampliar a discussão sobre o tema, buscando respostas para os seguintes

questionamentos: O que é poder? Quem o detém? Por que meios é exercido? Para

tanto, optou-se pela realização de análise comparativa das ideias de Max Weber,

Hanna Arendt e Michel Foucault, tendo por fundamento epistemológico a

complexidade.

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Em Arendt, o consenso desponta como elemento chave, responsável pela

gênese da autoridade, fundamental para a efetivação do poder e sua perenidade

através do tempo. Segundo a autora, o espaço público assume papel de destaque,

afirmando-se como o verdadeiro e o único locus fundacional do poder. O princípio da

ação conjunta, dessa forma, supera qualquer vigor individual; e a capacidade de

atração de determinado ator supera a de coação.

No polo oposto, Weber reforça o elo entre poder, conflito e coação. Aqui, ao

contrário do idealismo kantiano de Arendt, o singular prepondera sobre o plural,

tendo a racionalização e o cálculo estratégico papel de destaque para a “salvação”

do indivíduo em meio ao ambiente beligerante. A luta inerente à própria natureza

dos sistemas (endógenos ou exógenos) é o meio pelo qual o poder se manifestará

em sua plenitude, importando, acima de tudo, o fortalecimento de capacidades

estruturais indispensáveis à imposição da vontade.

Foucault, em uma terceira via de pensamento, apresenta visão mais

abrangente, segundo a qual, poder assume caráter omnipresente e dinâmico.

Segundo o autor, é elemento relacional, não existindo per si, mas como fruto da

interação de múltiplas forças em determinado universo espaço-temporal. Advém do

Estado, mas também dos indivíduos; reside no público, mas reage, similarmente, ao

privado. A visão foucaultiana aproxima-se de weber ao ratificar o conflito e o cálculo

racional como elementos comuns das múltiplas relações de poder; por outro lado,

considera que sua fonte transpassa a omnipotência estatal, residindo também no

processo de síntese da vontade coletiva, como Arendt.

Na resultante das teorias estudadas, tem-se um quadro claro daquilo que

parece ser, não importando o autor ou corrente de pensamento, a essência do

constructo poder. A incerteza advinda de seu cinetismo e sua não-linearidade causal

tornam-no, indubitavelmente, um fenômeno complexo, cujas fontes e resultantes

estarão sempre em constante mutação autorregulatória. Em sequência, conclui-se

que a liberdade de ação é pressuposto básico para seu exercício, estando para o

poder como o oxigênio está para o fogo. Daí, depreende-se outro aspecto

fundamental para a compreensão do objeto deste estudo, que é seu viés relacional,

segundo o qual, o poder se explicitará a partir da existência de dois ou mais atores,

interagindo sob amplo espectro de variáveis intervenientes. Por fim, para todos os

autores, o Estado será sempre elemento presente, ora representando papel

indispensável, ora subsidiário.

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Ao vislumbrarem-se as evoluções do cenário político do presente século,

identifica-se um quadro de elevada complexidade, no qual questões antigas e

tradicionais alinham-se a novas perspectivas e conjunturas. Estrategistas, políticos e

militares surpreendem-se em face das ações Russas na Ucrânia e na Síria; assim

como acompanham com apreensão o impacto do fenômeno de refugiados e

deslocados por todo o globo, e, da mesma forma, a ampliação e exacerbação de

questões étnicas-religiosas no cenário mundial, a ameaça terrorista crescente, os

crimes transnacionais e as questões ambientais reforçam a incerteza e a

insegurança do presente e das conjunturas vindouras.

A percepção - nacional e internacional - de tal quadro requer maior

sensibilidade da academia e dos “agentes do Estado”, voltada para reavaliar os

aspectos que, no presente, melhor representam a composição do poder. Para tanto,

compreendê-lo segundo uma visão ampla e livre das amarras impostas pela

fidelização teórico-conceitual, torna-se vital para melhor entender o presente e

vislumbrar o futuro de forma menos incerta.

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53

4 ARTIGO 2

ESTIMAÇÃO DO PODER DOS ESTADOS: ESTUDO QUALITATIVO DOS FATORES COMPONENTES

STATE POWER ESTIMATION: A QUALITATIVE STUDY OF THE COMPONENT

FACTORS

Alexandre Gueiros Teixeira14 Exército Brasileiro

[email protected]

Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon15 Exército Brasileiro

[email protected]

14

Doutorando em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME). 15 Doutor em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do

Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) Pesquisador do Laboratório de Estudos de Defesa (LED/ECEME) e do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do Instituto de Estudos Superiores Militares (CISDI/IESM).

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54

Resumo

O presente artigo se propõe a estudar e analisar a composição e a estrutura

fundamental do constructo poder, entendendo-o como elemento fundamental das

dinâmicas sociais. Partindo-se de referencial teórico multidisciplinar, e norteado pelo

paradigma da complexidade, apresenta-se revisão de correntes antagônicas das

Relações Internacionais, bem como revisita-se, de maneira genérica, o tema das

“fórmulas do poder”, tudo com o intuito de ambientar o leitor para as sessões

subsequentes. De maneira a atingir o objetivo principal de analisar os componentes

do poder estatal, o estudo é dividido em seis seções: introdução, visão

epistemológica, considerações metodológicas, referencial teórico, análise de

conteúdo e considerações finais. Trata-se de um estudo de caso, tendo por foco 52

modelos teóricos/fórmulas do poder, empregando-se a técnica de Análise de

Conteúdo para a interpretação dos dados. Ao final, obtém-se, como resultado, um

modelo teórico representativo do poder contendo 10 fatores e 40 subfatores.

Palavras-chave: Poder, Ciências Militares, Complexidade, Modelo Teórico,

Relações Internacionais.

Abstract

The present article proposes to study and analyze the composition and the

fundamental structure of the power construct, understanding it as a fundamental

element of the social dynamics. Based on a multidisciplinary theoretical framework,

and guided by the complexity paradigm, an antagonistic current revision of

International Relations is presented, as well as a general revision of the "formulas of

power" theme, all with the aim of environment for the subsequent sessions. In order

to reach the main objective of analyzing the components of state power, the study is

divided into six sections: introduction, epistemological vision, methodological

considerations, theoretical reference, content analysis and final considerations. It is a

Case Study, focusing on 52 theoretical models / formulas of power, using the

technique of Content Analysis for the interpretation of data. At the end, we obtain, as

a result, a theoretical representative model of power containing 10 factors and 40

subfactors.

Key words: Power, Military Science, Complexity, Theoretical Model, International

Relations.

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1 INTRODUÇÃO

As discussões acerca do poder ocupam local de destaque nos estudos

voltados à compreensão do inter-relacionamento estatal. Seja na Ciência Política,

nas Relações Internacionais ou, ainda, nas Ciências Militares, compreender a

complexa dinâmica do Sistema Internacional (SI) implica considerar todos os

aspectos da política do poder.

O poder permeia as relações sociais, sejam elas entre indivíduos, sejam entre

Estados, e sua maior compreensão clarifica os fenômenos da Paz e da Guerra. Do

cálculo estratégico-militar chinês, passando pelo “Equilíbrio de Poder”, de

Richelieu16, até à guerra assimétrica e o combate ao terrorismo do século XXI, ficam

evidentes suas múltiplas matizes e seu caráter relacional.

Ao longo da História, são diversas as tentativas de compreendê-lo, analisá-lo

e empregá-lo de maneira sistematizada, cada uma impactada por conceitos teórico-

filosóficos distintos e variadas conjunturas histórico-culturais.

Evidencia multiplicidade semântica, oscilando entre o conflito e o consenso,

entre o estatal e o privado, conforme cada corrente teórico-filosófica17. No atual

quadro de incertezas e transformações aceleradas, analisá-lo de maneira holística e

livre de amarras conceituais permite maior entendimento do presente e dos cenários

prospectivos.

Para além de desvendar a essência de “o que é poder” e “como é

exercido?”18, torna-se essencial maior aprofundamento investigativo sobre o tema,

partindo-se para o estudo de sua composição: quais seus fatores e subfatores

componentes? Como se relacionam entre si? Trata-se de avançar rumo à

instrumentalização metodológica da teoria pura e simples, imprimindo-lhe

concretude e aplicabilidade operacional.

Poder é fenômeno complexo, cujas variáveis estão interligadas, interagindo

entre si, de forma não-linear e evolutiva. Sua estruturação em diversos níveis

organizacionais reforça seu caráter omnipresente, em que a resultante final de suas

16

Para maior aprofundamento sobre o tema, ver Talleyrand (1975), Aron (1985), Schimitt (1988; 1989) e Kissinger (1994). 17

Para maiores detalhes acerca da conceituação teórico-filosófica do construto poder, ver Teixeira e Migon (2017). 18

A discussão mais aprofundada sobre tais questionamentos pode ser encontrada em Teixeira e Migon (2017).

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forças componentes transforma “poder potencial” em “poder efetivo” na busca pelo

equilíbrio sistêmico.

A volatilidade e a não-linearidade do momento político presente (nacional e

internacional) impõem a necessidade de ferramentas metodológicas eficazes e

eficientes, que permitam uma análise mais objetiva acerca da capacidade dos

Estados. Nessa direção, os modelos teóricos19 do poder têm se mostrado excelentes

opções aos cientistas políticos e estrategos, quando de sua incessante busca pela

interpretação dos fenômenos políticos do presente e sua projeção no futuro.

Este estudo, dessa forma, objetivou explicitar a composição do poder do

Estado, a partir da identificação de seus fatores e subfatores mais representativos,

propondo um modelo teórico final. Sob a ótica da epistemologia da complexidade,

apresentou-se uma revisão da literatura calcada em dois pontos fundamentais:

primeiro, na relação entre poder e visões dicotômicas das Relações Internacionais e

sua decorrência filosófico-conceitual; segundo, na apresentação de modelos teóricos

do poder do Estado, como forma de revisitar o tema e preparar o leitor para o

avanço da pesquisa.

Para o atendimento do proposto, adotou-se abordagem dividida em seis

seções. Subsequente a esta introdução, discorre-se sumariamente acerca da teoria

da complexidade, paradigma norteador desta investigação. Após, discute-se a

metodologia adotada, e, em sequência, apresenta-se o referencial teórico elencado.

A partir daí, tem-se a análise de conteúdo propriamente dita, com as inferências e os

resultados pertinentes. Por fim, tecem-se as considerações finais sobre a

investigação como um todo.

2 VISÃO EPISTEMOLÓGICA

A busca, a produção e a evolução do conhecimento científico dão-se a partir

dos pressupostos filosóficos compartilhados por determinada comunidade científica.

A base epistemológica, portanto, é o fundamento sobre o qual se darão as

19

Algumas literaturas utilizam a nomenclatura “fórmulas do poder” ou “equação do poder”. Entendendo que a conformação do poder é algo volátil, subjetivo e dinâmico, não cabendo uma formulação matemática exata, optou-se pelo termo “modelo teórico”. A despeito de diversos modelos/fórmulas/ equações do poder já testados em teorias prévias (matemática e estatisticamente), os autores entendem que seus resultados são uma impressão aproximada da complexa realidade do SI. Trata-se, portanto, de ferramenta para auxílio nos estudos das dinâmicas estatais, não uma realidade exata do cenário global.

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dinâmicas do processo investigativo, estabelecendo “trilha” específica para

descrever, explicar, inter-relacionar e até prever fenômenos (KUHN, 1970; GUBA;

LINCOLN, 1994).

É a partir dessa premissa que Kuhn (1970) destaca a liberdade de cada

disciplina para buscar respostas às suas questões, valendo-se de epistemologia

própria, linguagem e métodos específicos. Indivíduos, grupos e comunidades,

balizados por suas crenças, culturas e convicções, refletem visões ímpares sobre a

construção do saber. Apesar dos múltiplos espectros de interpretação possíveis, a

realidade que envolve um problema é única; há um mundo singular, mas de análise

plural. Denzin e Lincoln (1994) ratificam essa questão, afirmando que o processo

investigativo implica distintos objetos e momentos, colocando o observador em um

“mundo de práticas interpretativas” por meio das quais pesquisadores procuram

compreender os fenômenos no seu contexto natural, captando o seu significado do

ponto de vista dos sujeitos que neles se encontram implicados.

No campo das ciências sociais e humanas, o processo investigativo espelha a

multiplicidade de aspectos inerente ao seu objeto de estudo. Cada indivíduo, ou

coletividade, contém, em si, padrões únicos, frutos da diversidade étnica-cultural e

espaço-temporal, sendo, assim, vedada ao cientista social a dissociação de

contextos socioculturais específicos. Tal diversidade se reflete nas abordagens e

paradigmas adotados, constatando-se opções epistemológicas diversas.

O mundo atual observa a emergência de cenários complexos e voláteis, nos

quais os objetos de análise das ciências sociais transformam-se exponencialmente.

Processos e relações tornam-se, a cada dia, mais dependentes das estruturas

políticas, socioeconômicas e étnico-culturais, desafiando as convicções

paradigmáticas das ciências.

Nesse sentido, torna-se fundamental ter em mente que a compreensão dos

fenômenos sociais e políticos afasta-se da linearidade newtoniana, evidenciando

matizes dos sistemas complexos e não-lineares: mudanças pequenas em elementos

de um sistema não produzirão, necessariamente, alterações na mesma intensidade

e tempo esperado em outros aspectos ou no sistema como um todo, sendo todo o

processo marcado pela incerteza de resultados.

Importante, neste momento, clarificar conceitos como “complexidade” e

“caos”. Hayles (1991) chama a atenção para o fato de que, tanto na literatura como

na ciência, o conceito de “caos” vai muito além da “não-ordem” ou “antiordem”. Por

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um lado, tem-no como sinônimo a aleatoriedade; por outro, o estágio que antecede a

uma determinada ordem, ou, ainda, possuidor de uma ordem intrínseca em meio à

desordem. Já a “complexidade” pode ser entendida como uma “teia” de fatores e

subfatores, verdadeira combinação de múltiplos agentes, que interagem entre si de

diferentes maneiras, conduzindo a uma auto-organização espontânea (HYLES,

1991; WALDROP, 1992).

Morin, Le Moigne e Duarte (2000) destacam o caráter sistêmico do

pensamento complexo, que se afasta de análises reducionistas de unidades

simplificadas – ou de totalizações generalizantes - para voltar-se para as intrincadas

relações entre as partes que compõem o todo. Para os autores, a visão complexa é

ampla, entendendo os fenômenos como conjunto de ações, interações, retroações e

acaso. O mundo é, em verdade, um todo indissociável, carecendo de abordagem

multidisciplinar para a construção de um conhecimento fidedigno.

Outro ponto de destaque acerca dos sistemas complexos é sua capacidade

de auto-organização. Prigogine e Stengers (1997), valendo-se de conceitos atípicos

em meio às ciências sociais, destacam que, em meio às incertezas

fenomenológicas, o sistema buscará, sempre, auto-organizar-se, visando ao

(re)estabelecimento do equilíbrio. Isso reforça a imprevisibilidade situacional, por

meio da incerteza dos padrões comportamentais dos múltiplos agentes durante o

processo adaptativo.

Todo esse processo dá-se em níveis organizacionais variados. Um ser vivo

compõe-se de estrutura óssea, tecidos, sistema nervoso, músculos, órgãos,

estruturas celulares e vasculares, tudo interligado, reagindo diferentemente a

diferentes estímulos. O homem reúne-se em grupos, comunidades, cidades,

Estados, conformando-se em sistemas complexos por si só, que se encontram, a

todo instante, revisando e reordenando sua conformação, fruto de eventos ocorridos

e em vista a prospecções futuras.

A adoção do paradigma da complexidade, dessa forma, serve como facilitador

ao esclarecimento dos processos políticos dos Estados, internos e externos, com

destaque para a temática relacionada ao estudo do poder. Todo o conjunto está

interligado e interdependente, de forma que mínimas alterações de um único

componente sistêmico podem alterar significativamente o status quo e empreender

completa transformação conjuntural nos cenários futuros. Qual o impacto de

possível processo de impeachment no Brasil para a política sul-americana? Qual o

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desfecho da questão dos refugiados do Oriente-Médio para a União Europeia?

Como o acirramento de questões étnico-culturais e nacionalismos impactará a

política internacional e até mesmo a política interna dos Estados?

Tais questionamentos trazem, implícita, a incerteza, a “ordem em meio à

desordem”, a multiplicidade de agentes, todas típicas aos sistemas complexos.

Compreender os problemas sociopolíticos sob a ótica da complexidade implica

enxergar o “sistema vivo”, ou seja, não há de se “dissecar” as partes, analisando-as

em separado, mas sim contextualizá-las em seu meio-ambiente, físico e temporal,

tendo em conta as inúmeras possibilidades de inter-relacionamento de variáveis

(HYLES, 1991; WALDROP, 1992; BYRNE, 1998).

O viés complexo do objeto de estudo desta pesquisa explicita-se pela

observação de Foucault (1980, 1998 e 2013), que afirma ser o constructo poder

elemento de elevado dinamismo relacional, que não se origina em ponto focal

específico, mas emerge de intrincada rede de forças, atuante em diversos níveis (e

momentos) de determinada estrutura. Ele está em todos os lugares; em tudo. Para o

autor, o poder vai além de barreiras espaço-temporais, consubstanciando-se em

princípio holístico e fundamental da vida social do homem, cujos resultados são

inúmeros e aleatórios.

Se é fato que o conceito de poder per se reveste-se de imenso caráter

complexo, as tentativas de sua mensuração, por sua vez, potencializam ainda mais

esse perfil. Quais são seus componentes? Como clarificar seu inter-relacionamento?

Como evoluem ao longo da evolução de cenários? Qual sua representação atual?

Tudo remete, mais uma vez, a um emaranhado de vetores, interagindo, com certa

ordem, em meio ao “caos” do sistema político contemporâneo.

A opção do paradigma da complexidade como matriz filosófica norteadora

deste trabalho atende à necessidade de se tratar tais fenômenos sob ótica plural,

não-linear, capaz de visualizar o problema de maneira ampla e não-reducionista,

com o foco na construção de um conhecimento adaptado às dinâmicas evolutivas da

sociedade moderna.

3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Após apresentados e discutidos os fundamentos epistemológicos norteadores

do presente estudo, torna-se essencial discorrer acerca da opção metodológica

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adotada para análise do problema. Segundo Vigotski (2001), a escolha de um

método consiste em um dos pontos de maior relevância em todo o empreendimento

investigativo, consubstanciando-se simultaneamente em pré-requisito e produto;

instrumento e resultado.

Trata-se de pesquisa qualitativa, considerando-se, para tal, algumas

características fundamentais deste tipo de investigação. Primeiramente, tem-se a

participação do pesquisador tida como instrumento fundamental do processo, por

meio da qual se deu a seleção e a coleta dos múltiplos dados analisados, sempre

em ambiente natural. Ainda, ao buscarem-se as respostas para os questionamentos

propostos, procurou-se fazer a partir de embasamento teórico específico, voltado à

melhor compreensão e interpretação do tema. Ao final, optou-se por relato holístico,

por meio do qual múltiplas perspectivas e fatores relacionados ao objeto estudado

puderam ser discutidos (LECOMPTE, 2000; HATCH, 2002; CRESWELL, 2013;

MARSHALL; ROSSMANN, 2014).

O constructo poder ocupou posição central durante todo o processo

investigativo, tendo em conta sua elevada importância multidisciplinar para o inter-

relacionamento estatal ao longo dos tempos. Entretanto, importante registrar

mudança de foco, segundo a qual afastou-se das tentativas em conceituá-lo rumo às

questões relacionadas à sua mensuração: qual seria seu dimensionamento ótimo?

Quais fatores e subfatores melhor o representam?

A partir destes questionamentos, tomou-se, por objetivo geral de pesquisa,

elaborar um modelo teórico do poder do estado, contendo fatores e subfatores de

destaque, representativos das idiossincrasias do cenário global. Nesse sentido,

adotou-se, como ponto de partida, a premissa de que, a despeito da diversidade

conceitual, do caráter evolutivo e das distintas visões acerca da relação poder x

política internacional, há elementos constitutivos do poder que podem ser

considerados como essenciais, mostrando-se perenes no espectro espaço-temporal;

assim como outros que identificam determinado momento histórico e/ou corrente

teórica.

Na quarta seção do estudo, apresentou-se breve referencial teórico com a

finalidade de proporcionar arcabouço teórico-conceitual capaz de orientar a

pesquisa, tanto com relação a posicionamentos quanto ao estabelecimento de ponte

entre dados empíricos e teoria. Complementarmente, a revisão da literatura visou ao

compartilhamento de estudos diretamente relacionados ao tema, de forma a facilitar

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a compreensão do problema, assim como todas as demais etapas do processo

investigativo (COOPER, 1984; CRESWELL, 2013; MARSHALL; ROSSMANN, 2014).

A revisão da literatura deu-se por meio de dois tópicos, ambos destacados

por sua importância em relação ao estudo: poder e política internacional; e

“formulando” o poder. No primeiro, apresentaram-se, de forma sucinta, as

peculiaridades da política mundial e da relação entre seus múltiplos atores. Em meio

à pluralidade epistemológica das relações internacionais, elencaram-se correntes de

pensamento que possuíssem visões antagônicas, de forma a imprimir caráter

dialético ao estudo e propiciar maior amplitude à discussão.

Inicialmente, caracterizou-se a ordem internacional segundo o pensamento

realista clássico, centrando-se, preponderantemente, no conceito de anarquia

internacional, na maximização do poder, no militarismo e no sistema de autoajuda

dos Estados diante dos dilemas de segurança. Após, a análise deu-se sob o escopo

da tradição kantiana e grociana, fundada na noção de que os indivíduos se

constituem no elemento central de um SI matizado por valores morais e pelo

respeito aos direitos naturais do homem, vitais à construção de uma sociedade bem

ordenada que assegure o exercício da liberdade dos indivíduos. O objetivo precípuo

de ambos os tópicos foi caracterizar a visão peculiar de cada corrente no que tange

ao inter-relacionamento dos Estados e à conformação do poder, de maneira a

estabelecer estrutura basilar às discussões posteriores e à análise de resultados.

Para Cooper (1984), a revisão da literatura pode constituir-se em resumo

integrativo, seja para preparar às sessões futuras, seja para comparar, contrastar e

ajustar resultados. No caso do tópico “formulando” o poder, intencionou-se chamar a

atenção para a temática da mensuração do poder, como forma de revisitar o tema e

introduzi-lo ao leitor, despertando sua curiosidade e interesse e ambientando-o à

sequência da pesquisa. Para tanto, optou-se por exposição breve de algumas

fórmulas, tendo, como principal critério de seleção, a amplitude espaço-temporal

aliada à acessibilidade à bibliografia pertinente. Há de se ressaltar que não foi

objetivo dessa sessão apresentar todos os modelos empregados na análise de

conteúdo, mas apenas motivar o estudo dessa temática.

De acordo com Creswell (2013), a pesquisa qualitativa tem por objetivo

captar, explorar e compreender o significado peculiar que indivíduos (ou grupos)

consignam a problemáticas políticas, sociais e humanas, tendo por base

pressupostos filosóficos próprios, práticas culturais particulares e visões específicas

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acerca da conjuntura mundial.

Similarmente, variações e multiplicidades decorrentes das evoluções

conjunturais da História enriquecem o processo investigativo, ampliando as fontes

de dados e o processo de análise. Interpretar o passado consiste em ferramenta

metodológica essencial à construção do conhecimento, uma vez que permite lançar

o olhar para aquilo que se julga conhecido, buscando ratificações ou retificações

indispensáveis ao avanço da ciência.

Na esteira destas concepções, foram selecionadas as formulações de Sun

Tzu, Hwang e National Security Council Secretariat, como representantes orientais;

Süßmilch, Cline e Beckman, como ocidentais; e, finalmente, Hafeznia, do Oriente-

Médio. No que tange ao aspecto histórico, os modelos apresentados

compreenderam vasto espectro temporal, incluindo elementos de vários períodos,

desde a antiguidade, com Sun Tzu, passando pelos séculos XVIII (Süßmilch), XX

(Cline e Beckman), incorporando, por fim, visões do presente século. Intencionou-se,

portanto, conferir maior amplitude ao estudo por meio da diversidade histórico-

cultural do rol de autores.

Prosseguindo na descrição dos aspectos metodológicos, Creswell (2013,

p.27) observa a importância de se integrar três elementos base da constituição de

um projeto: a concepção filosófica20, as estratégias de investigação21 vinculadas ao

paradigma selecionado e os procedimentos específicos que imprimem caráter

prático à pesquisa.

A adoção de desenho de pesquisa qualitativo alinhou-se às concepções e

visão de mundo da complexidade, uma vez que não se considera a existência de

verdade única e irrefutável, mas aquela que emerge no decurso investigativo, pela

interação de múltiplas variáveis subjetivas, como a experiência e ótica do autor e

dos demais participantes (ERICKSON, 1976).

No que tange às estratégias de investigação, decidiu-se pelo estudo de caso,

considerando-se ser este capaz de captar as complexidades de um fenômeno

específico, particularmente, a tentativa de identificar fatores e subfatores que

componham o modelo teórico do poder do Estado. A opção por este viés

metodológico justifica-se pelo grau de importância do problema de pesquisa, bem

20

Por concepção filosófica, entende-se também epistemologia ou paradigma (CRESWELL, 2013; GUBA,1990). 21

Por estratégias de investigação, entende-se também abordagens de investigação ou metodologias de pesquisa (CRESWELL, 2013; MERTENS, 1998).

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como pelo interesse científico que desperta (STAKE, 1995). As singularidades em

torno do constructo poder, no geral, e, em especial, das tentativas de sua

mensuração, ratificam per se a adoção desta estratégia, que, para Eisenhardt

(1989), Merriam (1988) e Yin (2010), permite centrar o foco nas peculiaridades do

objeto investigado, explicitando suas dinâmicas em destacados cenários. Ao final,

buscar-se-á como resultado a compreensão holística de todas as perspectivas e

significados envolvidos na análise.

Conforme a tipificação explicitada por Yin (2010), trata-se de projeto integrado

de casos múltiplos, uma vez que foram elencados vários modelos teóricos do poder,

analisados em diversos níveis, por meio do estudo de seus fatores e subfatores

componentes. Já pela caracterização de Stake (1995), o estudo foi coletivo,

considerando-se que o objetivo da pesquisa foi realizar a introspecção sobre o tema

da mensuração do poder por meio de vários casos, facilitando a identificação dos

seus elementos constitutivos por comparações e aprofundamento do conhecimento

acerca do constructo.

Quanto à disponibilidade de fontes de evidências, o estudo de caso admite a

obtenção de informações a partir de múltiplas origens (BARRAT; CHOI; LI, 2011).

De acordo com Yin (2010), os dados podem advir de seis fontes: documentos,

registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e

artefatos físicos. Para o estudo em tela, a coleta de dados deu-se, inicialmente, a

partir de registros em arquivos22, tendo as fórmulas selecionadas sido consideradas

como dados de levantamento / diversos. Posteriormente, em fase final, foi

incorporada a coleta em documentos (emails e anotações) e entrevistas não

estruturadas.

A escolha das fórmulas a serem consideradas como fontes primárias de

dados deu-se por seleção intencional (CRESWELL, 2013), balizada pelos seguintes

critérios: acessibilidade e amplitude espaço-temporal. Não foi imposto recorte

temporal específico, ao contrário, buscou-se a maior amplitude histórica possível, da

antiguidade até o presente século, tendo apenas como fator limitador a

disponibilidade e o acesso às fontes de informação. Valendo-se de pesquisa

bibliográfica, por meio de consulta a livros (próprios, de bibliotecas e da internet),

periódicos científicos e websites específicos, foram selecionados cinquenta e dois

22

Yin (2010) considera como pertencentes a esta categoria arquivos de registro público, mapas, gráficos, dados de levantamento e/ou diversos, censos, registros organizacionais, dentre outros.

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modelos teóricos. Essencial destacar que, conforme afirma Creswell (2013), a fase

da coleta consiste em processo permanente e cíclico, que implica reflexão contínua

durante todo o estudo, desde o planejamento da coleta, passando pelas

interpretações empreendidas, até a redação dos relatórios, não se limitando a um

momento específico e estático.

A decisão de estender o espectro amostral ao máximo, incluindo fórmulas

representativas do poder de tantos períodos históricos quanto possível, justifica-se

pelo entendimento de que a avaliação do passado complementa a configuração do

novo. A análise do conhecimento antigo, à luz das reflexões atuais, permite a

identificação de falhas e/ou a confirmação de premissas e teorias, ações cruciais ao

ciclo evolutivo da ciência.

Para a interpretação dos dados, fez-se a opção pela técnica de análise de

conteúdo, empregando-se o programa microsoft excel for Mac, 2011. Como

unidades sintáticas de análise23, adotaram-se os fatores, subfatores e variáveis

coletados das fórmulas do banco de dados. Bauer (2008) afirma que codificar e

classificar é tarefa de construção, a partir do inter-relacionamento entre o material

disponível e a teoria. Nesse sentido, vasto referencial teórico multidisciplinar compôs

o referencial de codificação24, compreendendo aspectos conceituais relacionados às

Ciências Militares, Ciência Política, Relações Internacionais, Sociologia, Economia e

outros.

Para a categorização, buscou-se grupar os elementos em conjuntos

homogêneos, segundo critério de codificação semântico. Chegou-se a onze grupos,

sendo um descartado por se constituir de elementos não enquadrados em nenhuma

outra categoria e que, por outro lado, não foram considerados suficientes para a

composição de nenhuma categoria própria.

No que tange à validade dos resultados, Creswell (2013) assevera que, a

despeito dela ocorrer ao longo de todas as etapas do processo investigativo, faz-se

mister destacar as ações tomadas a fim de se obter dados mais precisos e de maior

credibilidade. O autor destaca, ainda, a diferença entre o conceito de validade nas

pesquisas quantitativa e qualitativa. Nesta, a validade se dá por intermédio da

23

Para maiores detalhes acerca dos tipos de unidades de amostragem/registro, ver Klaus (1980) e Bauer (2008). 24

Bauer (2008) define referencial de codificação como modo sistemático de comparação, com o qual o material de pesquisa é tratado, facilitando a interpretação e a obtenção de respostas, constituindo-se em seleção teórica voltada ao objetivo da pesquisa.

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adoção de ações específicas, que visam ao incremento da precisão dos resultados.

Na pesquisa em tela, adotou-se estratégia de validação baseada em

procedimentos múltiplos (GIBBS, 2007; YIN, 2010; CRESWELL, 2013): registro

completo e descrição detalhada de cada passo do estudo de caso e revisão por

auditor externo. No primeiro, buscou-se seguir um protocolo de ação para o estudo

de caso e para a análise de conteúdo, segundo o qual, cada ação deveria ser

registrada, bem como os resultados obtidos (intermediários e finais). Tal

detalhamento é explicitado, principalmente, ao longo do item quinto deste trabalho

(A Análise de Conteúdo).

No caso da revisão por auditores externos, a seleção deu-se pelo critério de

capacitação acadêmica e afinidade com o tema. Assim, o julgamento foi feito por

pares experientes, do Instituto Meira Mattos, vinculados a projetos de pesquisas

afetos à Estratégia e Estudos de Defesa, bem como por profissionais militares com

Curso de Estado-Maior, com mais de 25 anos de vivência em temas de S&D. Cada

um avaliou a pertinência entre o “corpus” adotado e o objetivo da pesquisa, a

coerência e a precisão da análise dos dados (categorização, codificação, inferências

e resultados). Ao final, após ratificações e retificações propostas pelos auditores,

confirmou-se o modelo final de onze fatores componentes, com algumas adaptações

nos subfatores.

Ainda, no tocante à validade do estudo, Woodside (2010) ressalta que uma

análise sob múltiplos métodos proporciona maior confiabilidade e precisão aos

resultados, com compreensão holística do tema pesquisado. De acordo com o autor,

combinar a observação direta do pesquisador com a análise externa de pares e sua

pertinência com documentos e teoria amplia a complexidade/abrangência do estudo,

reforça sua precisão e credibilidade. Assim, ao longo de todo o processo

investigativo, além das observações dos autores e auditores externos, buscou-se

confrontar os resultados (parciais ou finais) com vasto arcabouço teórico conceitual

relacionado aos estudos do poder, que ratificaram a pertinência do produto final.

Quanto à possibilidade de generalização dos resultados, Leedy e Ormrod

(2005) asseveram que o estudo de caso, uma vez que identifica as nuances do

contexto do caso analisado, permite a ampliação dos resultados para outras

situações. Segundo os autores, ao longo do processo de análise, o estudo de caso

permite avaliar variações em torno do objeto de estudo através de um tempo

determinado, facilitando a identificação do core que se mantém perene. Sobre

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generalizações em métodos qualitativos, Yin (2010) e Creswell (2013) também

reforçam a importância de um registro detalhado de procedimentos e de um banco

de dados consistente e o mais abrangente possível.

Acredita-se que o desenho de pesquisa adotado permitiu atingir os seguintes

objetivos específicos: (i) levantar e estudar autores que trataram acerca da

mensuração do poder; (ii) analisar os modelos teóricos de cada um dos autores

elencados, destacando seus fatores, subfatores e variáveis; (iii) levantar os fatores

perenes na composição do poder; (iv) identificar os fatores relacionados ao atual

cenário global; (v) elaborar um modelo teórico do poder do Estado que incorpore

seus principais fatores representativos.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 POLÍTICA INTERNACIONAL E PODER

4.1.1 A ordem anárquica

A visão de um ambiente internacional anárquico, no qual Estados digladiam-

se entre si por sua sobrevivência, é clássica em meio aos estudos das relações

internacionais. Autores tradicionais como Tucídides, Maquiavel e Hobbes, cada qual

em sua época, vislumbraram a política internacional caracterizada pela rivalidade,

conflitos e guerras, onde se evidencia ciclo contínuo pela prevalência do interesse

de cada agente.

Para Tucídides (1972), a desigualdade é característica marcante do inter-

relacionamento estatal. No ambiente volátil e incerto, poucos fortes sobrepujam

muitos fracos, conforme se explicita no diálogo entre atenienses e melianos: “[...]. O

padrão de justiça depende da igualdade de poder para coagir e, de fato, os fortes

fazem o que têm o poder de fazer e os fracos aceitam o que têm de aceitar [...]”

(TUCÍDIDES, 1972, p. 406). Como na natureza, cada “ser político” difere de seus

semelhantes em termos de poder, capacidade de dominação e autodefesa, devendo

estar apto aos enfrentamentos no ambiente assimétrico.

Maquiavel (1961) corrobora esse pessimismo, mas destaca que, a despeito

dos perigos e incertezas intrínsecos ao âmbito global, são vastas as oportunidades

que se apresentam àqueles mais preparados. Para sobreviver, é imperioso estar

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cônscio das ameaças, antecipando-se a elas ou reagindo com a maior prontidão

possível. A presteza, fundamental à obtenção das vantagens necessárias para

prosperar e angariar poder, depende, basicamente, de dois quesitos fundamentais:

força e astúcia. A primeira é a responsável pela imposição da vontade do mais forte

sobre o mais fraco. A segunda propicia aos operadores do sistema internacional a

capacidade de prever oportunidades vantajosas, bem como perceber ameaças e

perigos.

Ainda sobre a natureza e características básicas da vida política, Hobbes

(1974) observa que a criação dos Estados, cujo objetivo seria anular o estado de

natureza25, acaba por conduzir a outro estado de natureza, agora não mais entre

indivíduos, mas entre Estados, gerando o dilema da segurança26: a busca pela

segurança e paz individual no seio das Nações é, incontestavelmente,

acompanhada pela insegurança internacional, inerente à anarquia do sistema

estatal. O autor destaca que o estado de natureza internacional evidencia condição

de guerra real ou potencial, sendo utópica a paz entre Estados soberanos.

Morgenthau (1965) reforça o pensamento hobbesiano afirmando que os seres

humanos possuem um animus dominandi27 inato, almejando vantagens que

permitam sua liberdade política em relação ao domínio de outrem, sendo este o

grande motivo para organizarem-se em torno de Estados fortes e capazes de

prover-lhes sua segurança face ao caos. Por meio de seus “seis princípios do

realismo político”, Morgenthau (1985) destaca características fundamentais da

ordem anárquica.

Inicialmente, atesta que as leis que regem a política são objetivas e refletem a

natureza humana. Tal objetividade evidencia o caráter imutável dos fenômenos

políticos, que externam, em conjunto, todo o egoísmo inerente aos indivíduos. Outro

princípio aponta para a autonomia da ação política dos Estados (e dos estadistas),

que não se limita por esferas sociais, morais ou econômicas, mas destaca-se por

seu racionalismo. Como consequência, as expressões do poder e da vontade de

25

Segundo Hobbes (1974), o estado de natureza é a condição pré-civil, extremamente adversa, na qual o estado de guerra é constante de cada indivíduo contra cada indivíduo: todos contra todos, sendo a vida caracterizada pelo risco constante. 26

Termo cunhado por Herz (1950), referente ao ciclo vicioso desencadeado quando determinado ator toma ações voltadas ao seu fortalecimento (ampliação de suas capacidades militares ou alianças diplomáticas com terceiros) em prol de sua segurança, desencadeando reações similares em outros, o que conduz ao acirramento de tensões e ao conflito. Para maiores detalhes, ver Herz (1950), Jervis (1978), Huth (1999). 27

“Desejo pelo poder” (MORGENTHAU, 1965).

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cada ator revestem-se de dinamismo ímpar, motivadas pelas transformações de

cenários.

Sobre a moral e a ética na política internacional, Morgenthau considera-as

como referências circunstanciais. Isto é, devem ser buscadas, mas nunca

oferecendo risco à segurança da nação, que está acima de quaisquer princípios

universais. A verdadeira ética realista do Estado é aquela que visa à prudência e ao

melhor desempenho rumo à sobrevivência.

Daí advém outra premissa importante da ordem anárquica: a autoajuda. Cada

agente deve ser responsável por sua própria segurança, jamais delegando-a ou

confiando-a plenamente (ou mesmo parcialmente) a alianças e/ou países. O aliado

de hoje pode tornar-se, em curto prazo, o inimigo de amanhã e, dessa forma, a

vigilância e a busca pela potencialização de capacidades tornam-se características

precípuas da política internacional. Porém, o fato dos Estados só poderem contar de

forma integral e plena com suas próprias capacidades não exclui a opção de

alianças e cooperações voltadas ao atendimento dos objetivos e interesses

nacionais, que compõem a estrutura do poder de cada unidade (WIGHT, 2002).

O dinamismo da política internacional imprime ininterrupta busca pela

ampliação do poder dos Estados, evidenciando fluxo intenso de interações regionais

ou globais. A única forma de sobreviver e destacar-se em meio à volatilidade e à

anarquia é definir com precisão e oportunidade os interesses nacionais a serem

buscados, ampliando capacidades e alinhando forças necessárias ao incremento do

poder, cujos fluxos de exercício tornam-se cada vez mais multifacetados e

assimétricos.

4.1.2 A ordem construída

A relação de intercâmbio entre os atores internacionais passa a ser vista por

outro ângulo a partir das teorias liberais. A visão pessimista do sistema passa a dar

lugar a um otimismo que desconsidera a imutabilidade das relações de conflito entre

Estados.

À frente das preocupações políticas mais relevantes, está a construção de

sociedade bem ordenada, capaz de prover e assegurar os “direitos naturais”. O foco

central passa ser o indivíduo, sendo este um dos maiores responsáveis pela

configuração da sociedade internacional, impregnada por política externa promotora

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da paz, e capaz de apaziguar o estado de conflito potencial do sistema de nações

(KANT,1995; LOCKE, 2006; SMITH, 2008).

Importante ressaltar, porém, que o pensamento liberal, como o realista,

também entende que o conflito e a anarquia são características primárias, afetas à

política internacional. A diferença, entretanto, consiste em que, para o primeiro, o

progresso (comércio), as instituições e a democracia seriam capazes de extrapolar o

quadro pessimista, estabelecendo sistema de Estados cooperativo e integrado.

Corroborando a assertiva acerca da visão liberal, Montesquieu (1996)

assevera que a paz é o resultado natural das relações comerciais, promovendo

relações de interdependência entre as nações. Na mesma linha, Kant (1995) afirma

que o incremento de trocas comerciais entre os países levaria ao desenvolvimento

do princípio de hospitalidade, agente catalisador de uma paz cosmopolita. As

transações, acordos e negociações passariam, pouco a pouco, a substituir o conflito

e as guerras, considerados entraves à geração do progresso. Ao final, as

sociedades mais evoluídas seriam cada vez mais relutantes em arriscar esforços

belicistas em detrimento de soluções pacíficas, reforçando a tese kantiana de que o

progresso se revestia de função civilizatória no seio internacional, já que estimula o

contato e a tolerância entre os povos e imprime a interdependência na arena global.

A democracia seria outra importante e eficiente força motriz capaz de alterar o

caos e a beligerância. Segundo a tradição liberal clássica, os Estados democráticos

apresentam maiores tendências a manterem relações pacíficas entre si. Por outro

lado, formas imperfeitas de governo não respeitariam os valores28 cultuados pelas

repúblicas democráticas modernas, originando desavenças e conduzindo à guerra.

O respeito a um regime jurídico e seu arcabouço legislativo extrapolariam o

âmbito interno dos países, incentivando a todos a reforçarem suas crenças no direito

internacional e a buscarem soluções norteadas pelo compromisso legal e respeito às

instituições, o que reduziria a probabilidade de agressões armadas. Uma vez

fortalecidas a nível mundial, as instituições políticas contribuiriam para facilitar os

diversos fluxos (econômico, cultural, político) internacionais, gerando um ciclo

virtuoso de paz e prosperidade (NYE Jr., 1993; MORAVCSIK, 1997; GROTIUS,

2004).

Sobre o papel das instituições, Keohane, Nye Jr. e Hoffmann (1993)

28

Proteção dos direitos individuais, estado de direito, legitimidade de governo com base na representatividade e consenso, transparência e publicidade das ações do Estado.

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observam que elevado nível institucional é capaz de reduzir enormemente os efeitos

da anarquia multipolar, apresentando o caso europeu como exemplo concreto. Para

os autores, elas agiram como amortecedores, auxiliando os países do continente a

absorverem os impactos das transformações ali ocorridas com o fim da Guerra Fria

e com a reunificação da Alemanha. Seriam, pois, responsáveis por amenizar a falta

de confiança entre os Estados, imprimindo maior transparência nas interações, além

de se constituírem em foros para discussões e soluções de controvérsias.

A política internacional é, desta feita, “socialmente construída” a partir da

natureza racional e cooperativa do homem, cerne de todo o ciclo. A base das

estruturas sociais humanas está nas ideias e subjetivismos compartilhados, e não

nas forças materiais, como pregado pela tradição realista. Os interesses e as

identidades de cada ator são construídos de acordo com esse intercâmbio de ideias

e conceitos, em oposição ao pensamento de que a “psiqué” dos Estados seria de

composição inata e imutável, sempre voltada para dominar e subjugar (WENDT,

1987; 1999; FINNEMORE, 1996).

O mundo tal qual existe e as interações que nele ocorrem só fazem sentido

quando entendidos como o resultado das complexas e dinâmicas interações

socioculturais da humanidade. Ao mesmo tempo em que os indivíduos moldam a

estrutura, esta acaba por agir sobre aqueles, imprimindo ciclo mutagênico constante

na configuração do ambiente global. O poder, na ordem construída, afasta-se do

mero acúmulo racional de capacidades, da objetiva medição de forças, emergindo

nas subjetividades dos aspectos culturais e sociais que matizam as interações da

política internacional.

4.2 FORMULANDO O PODER

Modelos e fórmulas voltados à mensuração das capacidades de uma nação,

povo ou Estado não são privilégio dos estrategistas modernos, mas retrocedem por

milênios, a despeito de seu caráter controverso, que divide opiniões na academia29.

29

Se, para alguns, o constructo poder foi (tem sido) considerado como passível de alguma forma de

quantificação, para outros, reveste-se de grande subjetividade que, aliada a seu elevado grau relacional, tornam-no impossível de ser mensurado. A presente sessão deste trabalho não visa a discutir ambas as correntes, mas apenas apresentar, de forma sucinta, algumas tentativas (remotas e atuais) de formulação do poder de estudiosos da primeira linha de pensamento. Conforme já mencionado nas considerações metodológicas, o foco não é apresentar volume significativo de

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Este estudo inicia apresentando um dos modelos mais antigos de

mensuração e avaliação estratégica do poder nacional. Há mais de dois mil anos,

Tzu (1996) afirmou que a “arte da guerra” dos governantes e estrategistas chineses

(militares ou não) consistia em método de análise de risco, cujo objetivo era prever

cenários de risco. O general chinês descreve cinco fatores responsáveis por

influenciar diretamente a vitória ou a derrota. Grosso modo, pode-se traduzir seu

modelo estratégico, a capacidade (ou poder) de uma nação para a guerra, na

seguinte formulação:

Poder (vitória na guerra) = Lm + C + T + L + Met & Discpl

Sendo: Lm – Lei moral

C – Céu

T – Terra

L – Líder

Met & Discpl - Método e Disciplina

A lei moral (Lm) diz respeito à autoridade do governante; sua trajetória e força

moral capaz de amalgamar os súditos em torno de uma causa. Trata-se, portanto,

de uma liderança política, sustentada por princípios e valores inspirados pelo

soberano, por seu exemplo pessoal, fazendo com que o povo siga seus desígnios

acima de sua própria vida. O céu (C) remete às condições físicas como o dia, a

noite, as condições atmosféricas e as estações. A terra (T) refere-se a distâncias, ao

relevo e à soberania. O líder (L) aponta para o chefe militar, o general, e sua cadeia

de comando, não apenas para suas qualidades técnicas e profissionais, mas

também para suas virtudes, como sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e

retidão. Por fim, no último fator, Método e Disciplina (Met & Discpl), Sun Tzu

enquadrou o adequado ordenamento das Forças, a manutenção das estradas de

suprimento, o controle dos gastos e a disciplina militar.

Dessa forma, os estrategistas chineses ponderavam os cinco fatores,

calculando o peso relativo de cada oponente como ação crucial à conquista da

fórmulas existentes, ou discuti-las em profundidade teórica, mas tão somente informar o leitor acerca deste viés dos estudos do poder, por meio de alguns exemplos ilustrativos.

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prevalência sobre eles. O autor reforça a importância de tal método de mensuração

afirmando:

O general que vence uma batalha fez muitos cálculos no seu templo, antes de ser travado o combate. O general que perde uma batalha fez poucos cálculos antes. Então, fazer muitos cálculos conduz à vitória e poucos à derrota; até onde mais, levará a falta de cálculo! É graças a esse ponto que podemos prever quem, provavelmente, vencerá ou perderá (TZU, 1996, p. 20).

No modelo de Tzu, fica notória a existência tanto de fatores objetivos como de

subjetivos, evidenciando, desde tempos remotos, a capacidade e a importância da

inclusão de variáveis não-empíricas na construção de modelos de poder/capacidade

nacional. Condições climáticas, distâncias e topografia, por exemplo, interagem

simultaneamente com valores volitivos, como autoridade moral, eficácia militar e

habilidade estratégica dos generais.

Após a descrição do modelo proposto por Sun Tzu, destaca-se a formulação

proposta por Johann Peter Süßmilch em 1741. Em “Die göttliche Ordnung”30, o autor

germânico afirmou que a reputação, a segurança e o poder de um país estão

diretamente relacionados à sua população. A relação habitante x dimensão é

fundamental para a prevalência de A sobre B. Hwang explicitou que o pensamento

de Süßmilch poderia, portanto, ser resumido na seguinte fórmula:

Poder nacional = Pop x Denspop

ou

Poder nacional = Pop x Pop

Terras habitáveis

Sendo:

Pop – População

Denspop – Densidade populacional

Nos fundamentos dessa teoria, tem-se o conceito de que elevada densidade

populacional indicava elevado grau de desenvolvimento. Ainda, considerou-se como

premissa básica a ideia de que vazios demográficos seriam atrativos para conquista

30

“A ordem divina” (tradução do autor); obra de Süßmilch (1741) que trata a respeito das questões demográficas sob o conflito da visão intelectual e religiosa.

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devido à dispersão do povo e dos meios de defesa (SÜßMILCH, 1741 apud

HWANG, 2008).

Süßmilch observou que grandes territórios implicavam maior número de

fronteiras interestatais, o que se constituiria em maior potencial de conflitos. Além

disso, reforçou que, em um país pequeno com elevada população, ações e

estratégias seriam implementadas com muito mais efetividade do que naqueles de

grande extensão e com poucos habitantes.

Importante ressaltar que, apesar de valorizar diretamente a questão

populacional x territorial, o autor também considerava, ainda que de forma indireta e

implícita, a importância de valores intangíveis como fatores impactantes do poder de

um povo. Por exemplo, segundo seu pensamento, grandes adensamentos de

pessoas facilitariam a preservação de costumes e virtudes de determinado grupo,

como a bravura e a disciplina, essenciais à vitória na guerra (HÖHN, 2011).

Já no século XX, em plena Guerra Fria, Cline (1975) explicita a seguinte

formulação:

Poder = (C + E + M) × (S + W)

Sendo:

C - Massa crítica = população + território E - Capacidade econômica M - Capacidade militar S - Coeficiente de estratégia nacional W - Vontade nacional

Em sua íntegra, a equação acima fundou-se no “núcleo duro” dos fatores

componentes do poder nacional: os meios econômicos (e neste contexto inclui-se a

população e o território; mão-de-obra/mercado consumidor, recursos disponíveis) e

os militares. Identifica-se, também, parcela de caráter qualitativo, cuja definição das

variáveis evidencia avaliações com considerável grau de subjetividade (vontade

nacional).

Cline (1975) ressaltou a importância da fórmula como meio de se identificar a

situação do Estado (no caso, os Estados Unidos) em termos de equilíbrio de forças,

desvendando ameaças e oportunidades que se apresentavam no sistema

internacional à época. O autor reforça que a tentativa de quantificação é eficaz em

se medir o poder percebido pelos governos, muitas vezes influenciados por

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conceitos e doutrinas populares, o que os afasta do poder real. Percepções são

voláteis, implicando, assim, em constantes atualizações na medida do poder

calculado.

Com relação aos fatores componentes da fórmula, Cline (1975) denominou

“massa crítica” a soma das variáveis população e território. Para a primeira,

elaborou-se uma lista de ordem decrescente dos Estados mais populosos, atribuindo

pontuações por faixas de habitantes. Para o território, similarmente, estabeleceram-

se pontuações, levando-se em consideração a área, a localização geográfica e as

potencialidades de cada país. No caso da capacidade econômica, o autor destacou

os aspectos renda (Produto Nacional Bruto), energia, minerais estratégicos,

capacidade industrial, capacidade alimentar e comércio internacional; na militar,

balanço estratégico, capacidades para o combate e bônus por desempenho. Com

relação ao fator Vontade Nacional, de alto valor subjetivo, Cline (1975) destacou,

como variáveis a serem consideradas, o nível da integração nacional (cultural e

territorial), a força da liderança nacional e a coerência entre a estratégia e o

interesse nacional.

Já em meio ao complexo cenário do século XXI, têm-se também várias

iniciativas no sentido de se buscarem modelos representativos do poder dos

Estados. Em 2002, o National Security Council Secretariat, da Índia, elaborou o

National Security Index (NSI), com periodicidade anual (aproximadamente). Em

2007, o ‘poder econômico’ correspondia a 25% da fórmula final; a ‘capacidade de

defesa’, 25%; a ‘segurança energética’, 20%; o ‘poder tecnológico’, 15%; e a

‘população efetiva’, 15%.

Poder (NSI) = 0,25PE + 025CD + 0,20SE + 0,15PT + 0,15Pop

Sendo: NSI - National Security Index PE - Poder Econômico CD - Capacidade de Defesa SE - Segurança Energética PT - Poder Tecnológico Pop - População efetiva

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Em outro estudo, Hwang (2008) estipulou que o ‘tamanho da economia’, a

‘expectativa de vida’, a ‘educação’ e ‘integridade’ (índice de corrupção) respondem

por 6,25% da fórmula de PN cada um; ‘os gastos militares’ e a ‘produção de armas’,

por 12,50% cada; e a ‘produção energética’ e ‘armas nucleares’, por 25% cada. Para

o autor, o equilíbrio entre todos os fatores é o melhor resultado. Seu Integrated State

Power (ISP) apresenta a seguinte composição:

Poder = 0,25En+0,25AN+0,125GM+0,125PA+

0,0625Ec+0,0625EV+0,0625Ed+0,625Int

Sendo: En - Produção energética AN - Armas Nucleares GM - Gastos Militares PA - Produção de Armas Ec - Tamanho da economia EV - Expectativa de Vida Ed - Educação

Int - Integridade (índice de corrupção)

Por fim, Hafeznia (2008) incorporou variáveis que reforçam a importância do

culturalismo, das idiossincrasias étnicas, religiosas e socioculturais na conformação

das novas estruturas do poder mundial, chegando à seguinte proposta:

P=f (E+S+C+P+M+AS+T+STT)

Sendo: E – Fator Econômico S – Fator Social C – Fator Cultural P – Fator Político M – Fator Militar AS – Fator Aeroespacial T – Fator Transnacional STT – Fator Científico-tecnológico

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Seja qual for a equação, há de se destacar que a seleção de seus fatores

componentes e suas dinâmicas relacionais refletem a complexidade inerente à

conformação do poder, bem como explicitam as características de determinado

contexto espaço-temporal. Assim sendo, tem-se que as fórmulas do poder

constituem-se em ferramentas de apoio tanto aos estudos teóricos como aos

diversos processos decisórios e de planejamento de políticas públicas do Estado.

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5 A ANÁLISE DE CONTEÚDO

5.1 PREPARAÇÃO DO CORPUS31

Antes da análise propriamente dita, faz-se necessário um período de

planejamento e organização, cujo objetivo é sistematizar e operacionalizar as ideias

iniciais por meio de um plano de ação flexível. Segundo Bardin (2010, p. 95), é na

“pré-análise” onde se selecionam os documentos, formulam-se hipóteses e objetivos

e elaboram-se indicadores, base da interpretação.

Para a seleção dos documentos, buscou-se levar em consideração alguns

critérios, como representatividade, homogeneidade e pertinência. Sob o escopo dos

objetivos geral e específicos da pesquisa, de elaborar um modelo teórico do poder

do Estado, elencando aqueles de maior relevância e perenidade ao longo dos

tempos, bem como identificando aqueles que representam determinado período

histórico específico, vislumbrou-se a necessidade de ampliar ao máximo o universo

de pesquisa no quesito espaço-tempo.

A partir desta constatação, partiu-se para o trabalho de pesquisa bibliográfica

e documental, elencando a maior quantidade de obras e documentos que

versassem sobre o tema de estudo. Considerando-se as limitações impostas pelo

critério da acessibilidade, entendeu-se que, ainda que não se obtivesse a totalidade

dos modelos teóricos existentes, seria imperiosa a composição de uma amostra

verdadeiramente representativa da pluralidade espaço-temporal pretendida.

Ainda na fase da pré-análise, iniciou-se o trabalho de referenciação de índices

e indicadores, assim como a realização de recortes nos documentos, ações que já

apontam para os procedimentos da análise propriamente dita (codificação e

categorização). Como índice, elencou-se a menção explícita dos fatores, subfatores

e variáveis componentes dos modelos/fórmulas; como indicadores, considerou-se

sua frequência de aparição.

Ao final, obteve-se um conjunto de cinquenta e dois modelos

teóricos/fórmulas, que compunham um amplo conjunto amostral, incorporando

autores da antiguidade até a presente década, orientais e ocidentais, dos

hemisférios norte e sul. A despeito da diversidade de conteúdo, uma vez tendo sido

31

Para Bardin (2010), considera-se corpus o conjunto de documentos selecionados para o processo de análise.

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submetidos ao mesmo critério de escolha e estando em perfeito alinhamento com o

objeto de análise, imprimem homogeneidade e pertinência ao corpus (BARDIN,

2010).

5.2 CODIFICAÇÃO E CATEGORIZAÇÃO

Para descrever o início da análise propriamente dita, torna-se necessário

discorrer acerca das ações que envolvem a codificação.

Para Bardin (2010), esta envolve três passos: a escolha das unidades, as

regras de contagem e a escolha das categorias. Para a escolha das unidades de

análise, considerou-se o valor semântico das palavras e expressões que

representassem os componentes do Poder do Estado. Para a definição das regras

de contagem, levou-se em consideração um sistema frequencial simples. A partir do

objetivo específico de levantar os componentes de destaque do poder do Estado e

sua perenidade, o que se buscou foi a frequência da aparição dos fatores

encontrados nos modelos teóricos do corpus. Para isso, como ferramenta de apoio,

utilizou-se o software microsoft excel for Mac, 2011.

Inicialmente, listaram-se, em uma coluna (B) da tabela do excel, todos os

fatores, subfatores e indicadores encontrados, associando-os aos seus respectivos

autores, postados na parte superior da tabela (figura 1), perfazendo um total de 229

componentes do Poder do Estado.

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Figura 1 - Etapa 1: registro dos fatores, subfatores, indicadores e autores

correspondentes.

Fonte: o autor.

Após, iniciou-se a categorização, na qual buscou-se grupar os elementos da

coluna B em conjuntos homogêneos, segundo critério de categorização semântico.

Para Bardin (2010), esta fase, resumidamente, subdivide-se no inventário e na

classificação.

Na primeira etapa, dá-se a passagem dos dados brutos para dados

organizados. Dessa forma, primeiramente, identificaram-se as aproximações

temáticas entre os fatores, subfatores e indicadores, reagrupando-os conforme sua

afinidade semântica. De maneira a facilitar a perfeita distinção entre os grupos e o

prosseguimento do inventário, utilizou-se um código de cores como meio de

codificação (figura 2). É significativo reforçar que a categorização tem por objetivo

precípuo proporcionar uma representação simplificada dos dados brutos. Decompor

o corpus, e sua subsequente reconstrução temática, permite identificar as

correspondências entre as mensagens e a realidade subjacente.

Ao final, após a análise dos 229 elementos, foi possível classificá-los em 11

grupos, sendo 10 homogêneos e 1 heterogêneo, neste, os elementos não foram

enquadrados em nenhuma das outras categorias e, por outro lado, não foram

considerados suficientes para a composição de uma categoria própria.

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Tendo-se em conta o processo de categorização por “milha”32, chegou-se às

seguintes categorias terminais, correspondentes aos fatores componentes do poder:

Político, Econômico, Populacional, Militar, Territorial, Social, C&T, Cultural, Vontade

e Ambiental (figura 3).

Figura 2 – Categorização por cores (semântica).

Fonte: o autor.

Figura 3 – Definição de cada categoria (nomeclatura).

Fonte: o autor.

32

Bardin (2010) considera o processo de categorização por “milha” aquele cujo sistema de categorias não é fornecido previamente, mas, ao contrário, resulta de classificação analógica e progressiva dos elementos.

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Na sequência, partiu-se para subcategorização, buscando-se realizar o

agrupamento de elementos (dentro de cada fator) analogamente ao procedimento

feito acima, em conjuntos semanticamente homogêneos. Como exemplo, nota-se,

nas figuras 4 e 5, o caso específico do fator C&T: primeiro, valendo-se de código de

cores, aproximaram-se os itens tematicamente similares (figura 4, coluna B).

Segundo, após ajustes realizados, nomearam-se as subcategorias (figura 5, coluna

D) e buscou-se elencar indicadores objetivos (figura 5, coluna C) que

representassem cada subfator. Durante o processo, conforme nota-se na figura 5,

procurou-se registrar a frequência simples de cada subfator e/ou indicador (numeral

entre parênteses), de maneira a facilitar conclusões futuras. Ao término, foram

elencados 40 subfatores (figura 6).

Figura 4 – Subcategorização.

Fonte: o autor.

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Figura 5 – Definição de indicadores.

Fonte: o autor.

Figura 6 – Categorias e subcategorias finais.

Fonte: o autor.

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Destaca-se que a análise, no geral - e a categorização, no particular -, não

segue padrões procedimentais rígidos e estáticos. A todo momento, conforme o

estudo avança, há um dinamismo complexo de descobertas, inferências e reajustes,

como o citado acima. Sobre isto, Bardin (2010) assevera que a análise de conteúdo

pode se dar em mais de uma dimensão, implicando em constantes avaliações e, por

vezes, mudanças. Para a autora, “é possível [...] que outros critérios insistam

noutros aspectos de analogia, talvez modificando consideravelmente a repartição

anterior.” (BARDIN, 2010, p. 118).

5.3 VALIDAÇÃO E AJUSTES

A validação dos procedimentos e resultados obtidos no estudo reveste-se de

significativa importância, uma vez que imprime maior precisão e confiabilidade no

processo investigativo. Para os estudos qualitativos, a validade e a confiabilidade

dos resultados, apesar de distintos, estão intimamente ligados.

Conforme já explicitado na parte metodológica, adotou-se estratégia de

validação apoiada em procedimentos múltiplos, fundada basicamente na descrição

detalhada de procedimentos, na manutenção de banco de dados e na análise de

auditor externo.

Yin (2010) assevera que este registro detalhado de cada passo da

investigação, juntamente com o estabelecimento de um banco de dados apropriado,

elevará o grau de confiabilidade e a consistência do processo investigativo. Nesse

sentido, na presente pesquisa, adotaram-se as seguintes ações: planejamento

prévio do estudo de caso e da análise, com o estabelecimento de protocolo de

ações a ser seguido; registro contínuo e sistemático de resultados em banco de

dados eletrônico; transcrição do passo-a-passo de cada fase, claramente observada

no item 5, “A Análise de Conteúdo”. Sobre a descrição detalhada das ações,

Creswell (2013) reforça sua importância, afirmando que, quanto maior o número de

perspectivas apresentadas, mais realistas e ricos serão os resultados.

Com relação à revisão por auditores externos, adotou-se a seguinte

sequência de ações: planejamento das ações, preparação do material para a

análise, seleção dos auditores, entrevistas, análise das observações e ajustes.

Na fase do planejamento, visualizou-se o processo como um todo,

identificando-se os principais condicionantes das etapas subsequentes, como, por

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exemplo, as possibilidades e limitações para a escolha de auditores em termos de

distância geográfica; o tempo disponível para a obtenção de respostas; os meios de

envio do material, seja em sua totalidade, seja em parte; dentre outros.

Após análise preliminar, tendo-se em conta a dificuldade de se apresentar a

totalidade dos dados brutos aos auditores externos, optou-se pela preparação de

uma descrição metodológica sumária, de forma a permitir uma avaliação objetiva e

rápida, porém consistente. Confeccionou-se, também, uma tabela contendo a

descrição de cada fator e subfator. Complementando o material a ser enviado a

cada auditor, juntou-se, aos documentos anteriores, a tabela excel, contendo cada

fase da análise e seus respectivos resultados, e um mapa mental com todos os

fatores e subfatores encontrados.

Para a seleção dos auditores, considerou-se o critério de capacitação

acadêmica, afinidade com o tema de estudo, além da facilidade de acesso. Assim,

selecionaram-se cinco auditores externos. Destes, três eram militares, dois civis;

todos doutores, pesquisadores do Instituto Meira Mattos, vinculados a projetos de

pesquisas afetos à Estratégia e aos Estudos de Defesa. Individualmente, avaliaram

a pertinência entre o corpus adotado e o objetivo da pesquisa, a coerência e a

precisão da análise dos dados (categorização, codificação, inferências e resultados).

Três foram ouvidos pessoalmente, e dois, por meio de ligação telefônica,

devido à incompatibilidade de agenda para encontro in loco. Ressalta-se que, antes

das entrevistas, além de contato telefônico, foram enviadas mensagens eletrônicas

(e-mail) com informações iniciais e com o material preparado anexo.

Na comunicação inicial remetida a todos por meio eletrônico, solicitou-se a

cada um que analisassem o material enviado, concluindo acerca dos seguintes

questionamentos: a) os fatores e subfatores elencados no final do Estudo

(constantes do esquema distribuído) representam, com coerência e de forma

abrangente, as 229 variáveis levantadas das teorias existentes?; b) a metodologia

empregada (análise de conteúdo) foi aplicada com pertinência, agrupando os fatores

e subfatores com coerência dentro de categorias de mesmo valor semântico?; c) os

nomes atribuídos aos fatores e subfatores estão coerentes?; d) a descrição dos

fatores e subfatores está clara?; e) outras observações que se fizerem necessárias.

Os auditores “A” (civil), “B” (militar) e “E” (civil) foram ouvidos

presencialmente, confirmaram a aplicação correta da metodologia, entendendo que

os fatores e subfatores encontrados representavam com propriedade as 229

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variáveis encontradas. Ainda, concordaram integralmente com as descrições

apresentadas.

O auditor “C” (militar), devido à incompatibilidade de agenda para entrevista

presencial, foi ouvido por telefone. Em sua análise, considerou correto todo o

procedimento metodológico, bem como entendeu serem pertinentes as descrições

dos fatores e subfatores apresentados. Entretanto, fez observações acerca dos

indicadores constantes dos subfatores, mas que não impactavam em sua descrição

objetiva.

O auditor “D” (militar), também por incompatibilidade de agenda, não foi

entrevistado, nem pessoalmente, nem por telefone. Porém, enviou observações

escritas, de próprio punho, nos documentos do material enviado eletronicamente.

Concordou com o passo-a-passo metodológico e entendeu que os dez fatores e

quarenta subfatores representavam plenamente, e com coerência, as 229 variáveis

iniciais. Propôs dois ajustes de nomenclatura nos subfatores e um acréscimo

conceitual na descrição de um subfator.

Ao final, após ratificações e retificações propostas pelos auditores, confirmou-

se o modelo final de dez fatores componentes, com algumas adaptações nos

subfatores.

Sobre a validade da categorização, Bardin (2010) explicita a necessidade de

que se busquem as seguintes qualidades no estabelecimento das categorias (e

subcategorias): exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade (e

fidelidade) e produtividade.

No caso da primeira, entende-se que cada elemento não pode existir em mais

de uma categoria, evitando-se ambiguidades. Nesse sentido, ao longo de todo o

processo de categorização, os elementos de todas as categorias e subcategorias

foram analisados e confrontados entre si, buscando-se identificar aspectos de valor

semântico similar que tivessem sido classificados em duas ou mais categorias

(multicodificação).

Exemplificando, o elemento “taxa de desemprego”, inicialmente associado ao

fator Econômico, evidenciou ambiguidade com o elemento “percentual de inflação,

desemprego e índice de criminalidade”, do fator Social. Neste caso específico,

optou-se pela exclusão do elemento “taxa de desemprego” do fator Econômico,

entendendo-se que tal medida estaria mais próxima do fator Social. O mesmo deu-

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se com outros elementos, como “urbanização”, do fator Territorial, e “população

urbana”, do fator Populacional; eliminou-se “urbanização”.

A homogeneidade, por sua vez, implica que cada categorização se dá em

uma mesma dimensão, ou seja, diferentes níveis de análise devem ser separados

em análises sucessivas. A análise, além de ter sido realizada segundo um único

princípio de classificação, separou os diferentes patamares de avaliação: primeiro,

categorizaram-se os fatores, para, em seguida, classificarem-se os subfatores.

Para a pertinência de uma categoria, ter-se-á em conta sua coerência com o

quadro teórico da pesquisa; um sistema de categorias deve, portanto, refletir o cerne

da investigação, estar alinhado com os objetivos da análise. Tal qualidade foi

constatada ao confrontarem-se todas as 10 categorias (e as 40 subcategorias)

encontradas no decorrer do estudo tanto com os objetivos de pesquisa como com o

referencial teórico, ficando patente seu pleno alinhamento e pertinência com o objeto

e com as intenções de investigação.

A objetividade e a fidelidade são as qualidades que garantem que as distintas

partes de um mesmo material devem ser categorizadas da mesma forma. Os

mesmos critérios de categorização devem ser seguidos, assim como devem-se

buscar índices precisos para a entrada de um elemento em determinada categoria.

Neste quesito, comprovou-se que, para cada classificação categorial implementada

(nos diversos níveis de análise), observou-se a adoção dos mesmos princípios,

índices, códigos e critérios, buscando-se minimizar distorções relativas à

subjetividade do processo.

Por fim, a produtividade refere-se à real capacidade que um sistema

categorial possui de fornecer resultados efetivos (inferências variadas, questões de

estudo novas, dados diversos e outros). Reforçado pela pertinência com o tema de

estudo, nota-se que o processo de categorização desta pesquisa, ao final,

apresentou os resultados pretendidos e explicitados nos objetivos de pesquisa. Após

analisar os 52 modelos teóricos do poder do Estado constantes do corpus inicial, foi

possível identificar aqueles fatores componentes (e subfatores) mais

representativos. Além disso, os dados finais também permitiram a realização de

inferências adicionais sobre o tema, analisadas no subitem a seguir.

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5.4 INFERÊNCIAS E RESULTADOS

De acordo com Bardin (2010), toda a sistematização de procedimentos e

técnicas da análise de conteúdo visa a identificar as mensagens e conteúdos ocultos

em cada comunicação. O que se busca é explicitar as condições de produção

daquela informação, ou seja, por meio de um processo dedutivo, obter a relação

entre a “superfície dos textos” (ou dados) e os “fatores que determinaram estas

características”. Por meio de deduções lógicas, buscar-se-á compreender “o que”

levou a determinado enunciado? E, ainda, “quais os efeitos desse enunciado?”

(BARDIN, 2010, pp. 39-41).

Para fins didáticos de exposição dos resultados, cabem algumas

considerações para sistematizar a análise. Sabe-se que o processo inferencial não

ocorre em um momento específico e/ou isolado. Na verdade, a identificação dos

significados ocultos dá-se de forma contínua, desde o momento da coleta dos dados

e da montagem do corpus, passando pela fase de codificação e categorização, até,

finalmente, o ordenamento dos resultados finais. Tudo, a todo instante, é objeto de

interpretação, desconstrução e reconstrução.

Neste subitem serão discutidas as inferências afetas ao produto final da

análise, bem como os resultados objetivos alcançados. Considerou-se que as

inferências realizadas durante a montagem do corpus, codificação e categorização

já foram discutidas nos respectivos tópicos.

A primeira observação acerca da tabela final diz respeito à análise do

conjunto de modelos teóricos elencados. Ao dividi-lo nos três períodos históricos,

percebe-se, com clareza, que o emprego de fórmulas, equações ou modelos

teóricos como ferramenta de análise comparativa das capacidades entre dois

Estados é fenômeno antigo, mas que se intensificou, principalmente, a partir do

século XX.

Apesar de não se tratar do objeto central deste estudo, a identificação de

possíveis causas desta constatação acaba por trazer evidências relevantes. A

despeito das diversas teses acerca do surgimento do Estado Moderno, tem-se, a

partir do final do século XVIII, um incremento da complexidade no inter-

relacionamento estatal. As transformações políticas advindas da derrocada dos

sistemas absolutistas, as revoluções burguesas, o nacionalismo, tudo incrementou

as variáveis intervenientes do jogo do poder.

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Ao analisarmos o conjunto dos 52 modelos selecionados, percebe-se que

98% deles estão compreendidos dentro do período de surgimento do Estado

Moderno. Destes, a quase totalidade (98% também) insere-se no século XX, que

caracteriza-se por um período de grande volume de instabilidade no “tabuleiro

internacional”. Neste período, a simples “equação” Rei – Exército – Riqueza tornou-

se muito mais complexa: crescimento da influência e da participação “do povo”, com

a potencialização da importância das questões sociais; crescimento de variáveis

econômicas advindas da Revolução Industrial; o colonialismo, com seus aspectos

geográficos, étnicos, políticos e econômicos, dentre outros. É natural e evidente que

a ciência buscasse ferramentas metodológicas capazes de facilitar o cálculo

estratégico e incrementar o poder dos atores internacionais.

Dessa análise, infere-se, portanto, o elevado grau de importância dos

modelos do poder como instrumentos facilitadores tanto da compreensão do quadro

global como do incremento da capacidade e da transformação do “poder potencial”

em “poder efetivo”. No que tange às inferências advindas da observação dos fatores

propriamente ditos, o gráfico abaixo (figura 7) evidencia um panorama da evolução

dos fatores ao longo dos períodos elencados.

Figura 7 – Evolução dos fatores por período.

Fonte: o autor.

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Inicialmente, no período que antecedeu à Guerra-Fria, identifica-se o fator

Territorial como sendo o de maior destaque, seguido pelos fatores Econômicos,

Populacional e Militar. Em menor grau de importância em relação aos demais,

porém presentes nos modelos analisados, estão os fatores Político e C&T.

Em uma análise geral, verifica-se o predomínio da concepção weberiana33 de

poder, cuja “fonte” advém da vontade unidirecional e do cálculo racional dos

agentes. Ou seja, o objetivo precípuo é o acúmulo de capacidades essenciais para

a imposição da vontade de A sobre B em um contexto de racionalidade estratégica

pura. O destaque do fator Territorial no gráfico fica claro quando contextualizado:

territórios e suas riquezas, bem como suas vantagens geoestratégicas estavam,

sem dúvida, dentre os grandes “epicentros” dos embates do período. São inúmeros

os casos em concreto: a expansão dos Impérios Romano, Inglês e Napoleônico; o

controle da estratégica região dos balcãs; o expansionismo turco-otomano e sua

derrocada; o imperialismo europeu e americano, e tantos outros.

Os fatores que se seguem (Econômico, Militar e Populacional), da mesma

forma, ratificam o viés weberiano, segundo o qual, quem possuísse mais meios de

coerção prevaleceria sobre os demais. Partindo-se da “visão de mundo” da “Ordem

Anárquica”34, onde a incerteza e o conflito inerentes conduzem à busca pela força35,

compreende-se melhor o destaque dado àqueles fatores. Quanto maior a população

de um Estado, maior sua capacidade de possuir numerosas forças militares. Quanto

maior forem seus recursos econômicos, mais fácil será armá-lo e mantê-lo.

Nota-se, também, ainda que em menor grau de importância, a presença do

fator C&T, ressaltando a importância do desenvolvimento científico-tecnológico para

as inovações militares e para a Revolução nos Assuntos Militares (RAM)36,

diretamente ligadas ao conceito de “autoajuda” realista. As catapultas medievais, a

pólvora, os canhões raiados, as aeronaves e veículos blindados são a prova de

como o fator C&T teve sua importância para o acúmulo de capacidades, neste caso

militares. Na economia, seus reflexos vão desde o desenvolvimento de instrumentos

33

Para maior aprofundamento filosófico-conceitual acerca das concepções de poder segundo Weber, Arendt e Foucault ver Teixeira e Migon (2017). 34

Descrita com maiores detalhes no item 4.1.1, A ordem anarquica, dentro do Referencial Teórico deste estudo, página 66. 35

Aqui, entende-se por força as capacidades necessárias para impor a vontade de A sobre B. 36

Para maior aprofundamento acerca dos conceitos de RAM e inovações militares, ver Krepinevich (1994); Gray (1998); Murray (1997); Murray e Knox (2001).

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que impulsionaram às Grandes Navegações ao desenvolvimento das máquinas que

alavancaram a Revolução Industrial.

Sob a perspectiva das Ciências Militares, o episódio da Primeira Guerra

Mundial é um ótimo exemplo das dinâmicas entre os fatores da primeira parte do

gráfico da figura 7, onde se destacam as compleições weberianas da conformação

do poder. Dentre as causas do conflito, sobressaem-se a busca pela expansão

territorial e o imperialismo (fator Territorial); a corrida armamentista e o

desenvolvimento tecnológico (fatores Militar e C&T); a formação de alianças e as

derrocadas do sistema diplomático (fator Político); a busca por mercados e fontes de

matéria-prima (fator Econômico). Tratou-se de um “conflito de massas”, da “era

industrial”37, sustentado por grandes efetivos e imensos recursos econômico-

financeiros (fatores Populacional, Militar e Econômico) (KISSINGER, 1994; GRAY,

2013).

A análise da segunda parte do gráfico, Guerra-Fria, da mesma forma, aponta

para a presença de fatores predominantemente afetos às relações de poder de

Weber. Nesse período, identifica-se, claramente, um dos elementos essenciais ao

exercício do poder weberiano: o conflito, explicitado pela partição bipolar do SI entre

os Estados Unidos (EUA) e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(URSS).

Neste período, nota-se que o fator Territorial perde a importância do período

anterior, dando lugar de destaque aos fatores Econômico e Militar. A objetividade

racional daquela conjuntura conduzia ao incremento das capacidades militares,

cruciais à busca pela hegemonia. O crescimento do fator Militar no gráfico explicita

nitidamente a “corrida armamentista” do período, inclusive com o incremento dos

arsenais nucleares. Nesse contexto, o componente econômico evidencia-se como a

base sólida indispensável para o incremento dos arsenais bélicos. Quanto mais

sólida e dinâmica a economia, maior o potencial de sustentação do crescimento do

potencial militar.

37

Refere-se aqui à definição de Toffler (1994), segundo a qual, o homem, através dos tempos, tem vivenciado uma sucessão de eras, cada qual com características próprias que conduzem a seu futuro. A “Era Industrial” correspondeu a um período de aproximadamente 300 anos, que deu lugar à atual “Era da Informação”. A Guerra da Era Industrial dava-se em um cenário de plena mecanização, produção em larga escala e divisão dos trabalhos, cujo objetivo estratégico precípuo era a redução e a limitação dos recursos de produção do oponente. Caracterizava-se pelos grandes efetivos e pelo massivo emprego de forças e armamentos convencionais. Para maiores detalhes, ver Toffler (1980; 1994).

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Observa-se, também, crescimento destacado dos fatores Político e

Populacional. Este último diretamente relacionado ao fortalecimento econômico

(mão-de-obra e mercado consumidor) e à ampliação dos efetivos militares, com

reflexos diretos no campo militar. Por sua vez, a Política consubstanciou-se no

verdadeiro “campo de batalha” do período. Diante do eminente “apocalipse nuclear”,

o que se constatou foi uma “guerra” político-ideológica, em que ambas as

superpotências manipulavam as demais “peças” do tabuleiro internacional,

buscando desequilibrar o “jogo” a seu favor.

O fator C&T seguiu crescendo, sendo crucial ao incremento do fator

Econômico e, principalmente, do Militar. São provas o avanço na tecnologia nuclear,

as conquistas nos campos aeroespacial e o desenvolvimento das telecomunicações.

O fator Territorial, a despeito da perda de seu “status” face aos fatores Econômico,

Militar, Político e Populacional, ainda manteve papel relevante na equação final.

Chama a atenção, porém, o surgimento de três novos fatores: Social, Cultural e

Vontade Nacional. Aqui, já se pode identificar uma discreta mudança na concepção

da existência de um poder hobbesiano puro e simples. Os três fatores emergentes

relacionam-se diretamente às concepções arendtianas38, que atribuem às ações

coletivas e ao concerto uma das forças motrizes para o efetivo exercício do poder.

Para Arendt, é a autoridade consentida que dá perenidade à relação de mando-

obediência (TEIXEIRA; MIGON, 2017).

Em outras palavras, valendo-se do momento histórico analisado, era preciso

“conquistar corações e mentes” para vencer o embate ideológico. A propaganda

comunista e a divulgação do “American Way of Life” / “American Dream” são

exemplos claros. No plano interno, era preciso obter o apoio da população, o “marco

fundacional do poder” de Arendt, unindo-os para a “guerra” contra o comunismo (ou

capitalismo). No plano externo, cada potência envidava todos os esforços possíveis

para atrair o maior número possível de Estados para seu “campo gravitacional”.

Nessa conjuntura, ter em conta as questões sociais e culturais, ambas impactando a

vontade nacional, tornava-se essencial na composição final do poder do Estado.

A análise da composição do poder do Estado no pós-Guerra Fria já descortina

uma nova conjuntura. O fator Econômico seguiu crescendo, destacando-se dos

demais. Trata-se do período da globalização onde os fluxos informacionais e

38

Para maior aprofundamento acerca do Poder segundo Hanna Arendt, ver Teixeira e Migon (2017).

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logísticos, potencializados pelo avanço tecnológico, intensificaram o comércio global.

Trata-se de uma era de domínio do mercado financeiro e da formação de blocos

econômicos, onde os atores privados e transnacionais passam a interferir cada vez

mais na força resultante das dinâmicas internacionais.

Pela análise da figura 7, no último período estudado, o fator Militar também

ampliou sua participação na equação final do poder do Estado, tendo, inclusive, um

crescimento relativo maior que o fator Econômico em relação ao período anterior,

apesar de ainda estar atrás desse em termos absolutos. A despeito da ausência de

Grandes Guerras Mundiais, o que se percebe na prática é a existência de inúmeros

conflitos de amplo espectro no contexto global, que incorporam características

complexas, inerentes à Era Informacional. Conflitos tradicionais, baseados em

Exércitos numerosos, com armamentos pesados e convencionais, travados entre

dois partidos beligerantes, claramente identificáveis, passam a ser substituídos por

embates híbridos, com novos atores, motivados por questões variadas e múltiplos

partidos.

As “novas ameaças”39 transformaram a composição do fator Militar do poder

do Estado, incorporando-lhe aspectos étnicos, culturais, socioeconômicos e

tecnológicos, ampliando sua complexidade e sua importância relativa. Tal quadro

fica evidente quando observamos as ações de combate em torno do Islamic State of

Iraq and Syria (ISIS), envolvendo diversos Estados e milícias regionais, o emprego

de Forças Armadas brasileiras em combate ao crime organizado no Rio de Janeiro,

ao mesmo tempo em que a Rússia expande seu “Hard Power”40 com operações

militares convencionais e com o incremento de seu arsenal bélico.

O fator Político acompanhou o crescimento, mantendo sua posição relativa

em relação aos fatores Econômico e Militar. Concertações no âmbito dos

Organismos Internacionais tradicionais, a criação de blocos e fóruns político-

econômicos regionais e as movimentações diplomáticas bilaterais, regionais e

globais são evidências práticas da manutenção da importância do fator Político. No

atual período, a globalização extrapola o campo econômico e, em um cenário agora

39

Aqui, faz-se referência ao afastamento da Guerra Clausewitziana tradicional, sob a tríade exército-população-governo, para a incorporação de novos atores não-tradicionais e não-estatais. Crescem de importância questões de segurança humana, ambiental e aspectos étnicos-culturais, interferindo de forma complexa na conformação de novas ameaças. Para maior aprofundamento sobre o tema, ver Buzan, Waever e De Wilde (1998); Kaldor (2013). 40

Para maior aprofundamento acerca dos conceitos de “hard power” e “soft power”, ver Art (1996); Nye Jr. (1999; 2009); Cooper (2004); Wilson III (2008) e Gray (2011).

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multipolar, alcança, endogenamente e exogenamente, o campo da política. No novo

tabuleiro, não atuam mais tão somente Estados-Nação, mais organizações não-

governamentais, instituições religiosas, associações e até mesmo indivíduos, todos

interferindo na parcela política do poder estatal.

O fator Populacional manteve-se no mesmo patamar absoluto, perdendo

importância relativa em relação aos três primeiros já mencionados. Por outro lado, o

fator C&T mais do que dobrou sua importância relativa em relação ao período da

Guerra Fria. Na Era da Informação, as tecnologias (armas inteligentes, drones e a

cibernética) reduziram a necessidade de grandes efetivos “on the ground”, a

despeito de que o tamanho de um mercado consumidor segue sendo variável

importante.

Nota-se um quadro de evolução dos fatores Social e Cultural, que mostra

grande crescimento em relação ao período anterior. No século XXI, a Segurança

Humana, gradualmente, vem ocupando espaço nas discussões e nos planejamentos

das políticas públicas nacionais e internacionais. Epidemias e pandemias, fome,

deslocados e refugiados, conflitos étnicos e religiosos e crimes transnacionais, de

forma crescente, consubstanciam-se em uma rede complexa de variáveis

intervenientes do poder do Estado, conformando uma nova realidade conjuntural. A

internet, o cinema e as mídias sociais despontam como novos vetores, capazes de

desestabilizar governos e alterar o “status quo” regional, como, por exemplo, na

“Primavera Árabe”41.

O fator Territorial, apesar de ainda se caracterizar como um componente

perene, seguiu a tendência de perda de importância na formulação total do poder. A

despeito do real valor do acesso ao mar e de posicionamentos estratégicos (vide a

questão boliviana, o interesse Russo na Criméia e a presença militar chinesa e

americana no Oceano Índico e no Mar do Sul da China), bem como da vantagem

comparativa da posse de terras agricultáveis, a questão territorial tem sido

sobrepujada pelas novas tecnologias e pelos desenvolvimentos na logística e

comunicações, que encurtam as distâncias, reduzem os fretes e facilitam o acesso

aos pontos mais longínquos do Globo.

41

Protestos, manifestações e conflitos internos ocorridos a partir de 2010 em Países do Oriente Médio e norte da África de motivação social e política. As mídias sociais e a internet tiveram papel fundamental na difusão de ideias revolucionárias. Para maior aprofundamento, ver Anderson (2011), Joffé (2011) e Visentini (2012).

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Vontade nacional é outro fator que permanece identificável na composição do

poder do Estado no período pós-Guerra Fria. Entretanto, como o fator Territorial,

decai de importância, principalmente como resultado do fim do modelo bipolar e do

surgimento de um sistema multipolarizado. Com o fenômeno da globalização, o

“nacional” sofre um esvaecimento em detrimento do “global”, com impacto direto nas

percepções de ameaça e vontades locais. A despeito disso, na última década, os

fenômenos migratórios e o terrorismo, por exemplo, têm amalgamado a opinião

pública dos Estados entorno das questões nacionais e regionais.

A maior novidade da análise dos fatores no último período estudado é o

surgimento do fator Ambiental. A despeito das preocupações com o meio-ambiente

serem tema já recorrente nas discussões científicas, é a partir do século XXI que a

sustentabilidade passa a assumir papel relevante nas Relações Intraestatais. A

segurança ambiental surge vinculando-se diretamente a questões de Segurança

Humana e, por conseguinte, à Segurança Internacional.

Fenômenos como desertificação e falta de recursos hídricos geram

movimentos migratórios, impactando negativamente as políticas públicas dos

Estados e conduzindo ao exacerbamento de questões fronteiriças entre Países.

Fontes renováveis de energia, por exemplo, além de diminuir o custo de vida,

melhorando a qualidade de vida de determinada população, proporcionam

segurança energética e liberdade de ação a Estados, que se veem livres da

dependência do mercado de hidrocarbonetos. Em resumo, as variáveis, subfatores e

fatores ambientais acabam por atuar transversalmente no cômputo total do poder do

Estado, potencializando ou depreciando os demais fatores.

Ao se analisar a composição do poder do Estado ao longo dos três períodos

elencados, constata-se, então, a existência de uma conformação dinâmica e

evolutiva. Verificou-se que, a partir de uma gênese claramente realista, o modelo

teórico do poder evoluiu, incorporando matizes mais holísticas. A partir do término

da Segunda Grande Guerra, a atenção a aspectos socioculturais e a preocupação

com o consenso (parcerias, alianças), interno ou externo, descaracterizou o “DNA”

meramente weberiano dos componentes do poder estatal, fazendo-se notar a

presença parcial da ótica arendtiana. Porém, ao se adentrar no Novo Século, o que

se tem é uma intrincada rede de variáveis, clássicas e outras inéditas, totalmente

interligadas entre si, com características estatais e/ou não. Percebe-se, então, uma

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base filosófica diferente das demais, o poder foucaultiano, onde o constructo poder

atinge amplitude e complexidade máxima (TEIXEIRA; MIGON, 2017).

Sob a visão do filósofo francês, o poder atinge o máximo de seu viés

relacional: o poder está presente em tudo e emerge a partir das mínimas interações,

endógenas e exógenas. Assim, fatores tradicionalmente “hard power” coexistem e

interagem com aqueles “soft power”, produzindo um modelo teórico do poder

peculiar da Era Informacional. O estatal e o não-estatal coexistem e interagem entre

si, em diferentes níveis, relacionando-se transversalmente com o social, o

econômico, o político, o militar, o cultural, o ambiental e outros, adaptando-se em

uma sequência sem-fim de forças resultantes.

Portanto, o que se obteve, ao final deste estudo e suas inferências, foi um

modelo teórico do poder do Estado, representado graficamente na figura 8,

composto por 10 fatores (e 40 subfatores), conforme se segue:

Poder = ß1.Pol + ß2.Eco + ß3.Ter + ß4.Pop+ ß5.C&T + ß6.Soc + ß7.Cult + ß8.

Mil+ ß9.Von + ß10.Amb + ε

Sendo:

Pol - Fator Político Terr - Fator Territorial

Eco - Fator Econômico C&T - Fator Ciência e Tecnologia

Pop - Fator Populacional Von - Fator Vontade

Mil - Fator Militar Amb - Fator Ambiental

Soc – Fator Social ß (1-n) - Pesos Relativos

Cult - Fator Cultural ε - Erro

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Figura 8 – Figura esquemática do Poder do Estado.

Fonte: o autor.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do constructo poder é ferramenta-chave à melhor compreensão das

dinâmicas políticas, infra ou supranacionais. De natureza complexa e investindo

múltiplas matizes conceituais, trata-se de conceito basilar às Ciências Sociais,

consubstanciando-se no “epicentro” de infinitas e imprevisíveis ações e reações

responsáveis por moldar os sistemas estatais endógenos e exógenos.

Prova de sua importância é a constatação, ao longo da História, de inúmeras

teorias que visaram a estudá-lo, compreendê-lo e defini-lo. Tal extratemporalidade

de análise, bem como sua multiplicidade semântica demandam postura diferenciada

do pesquisador, rompendo com a adesão a esta ou aquela teoria específica. Como

um legista, buscando o pleno domínio de determinado “corpus”, estudar o poder vai

além de sua definição conceitual, sendo necessário “dissecá-lo” e compreendê-lo a

partir de seus componentes, sua interação não-linear entre si e com o meio.

Tendo por base esta reflexão, e norteado pela importância do

aprofundamento dos estudos do poder no âmbito da Ciência Política e das Ciências

Militares, principalmente no que se refere à sua composição, o presente estudo

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buscou respostas para os seguintes questionamentos: quais os fatores e subfatores

componentes do poder do Estado? Como se relacionam entre si? Objetivou-se,

portanto, explicitar a conformação do poder do Estado a partir da identificação de

seus elementos mais representativos, propondo um modelo teórico final.

Para tanto, sob o enfoque do paradigma da complexidade, realizou-se revisão

da literatura, orientada, inicialmente, para o estudo do poder em pensamentos

antagônicos das Relações Internacionais, com destaque para aspectos filosóficos e

conceituais. Posteriormente, revisitou-se o tema das “fórmulas do poder” (modelos

teóricos), visando a ambientar o leitor e despertar sua curiosidade para as ações

subsequentes da pesquisa.

Verificou-se, sob a ótica realista, que o poder do Estado se manifesta

segundo a concepção weberiana, incorporando as nuances de conflito e coação.

Nesse viés, o pensamento racional e o planejamento estratégico conduzem à busca

por meios e capacidades que resultem na supremacia em um sistema assimétrico

de forças. Identificou-se, também, um entendimento de poder com matizes liberais,

que considera o SI como uma estrutura resultante das dinâmicas socioculturais da

humanidade. Aqui, o poder assume as características arendtianas, emergindo do

consenso e da racionalidade cooperativa de grupos sociais.

Ainda durante o referencial teórico, discutiu-se, mesmo que sumariamente, o

tema das fórmulas e modelos voltados à mensuração do poder dos Estados,

valendo-se de um conjunto amostral amplo e variado. Constatou-se tratar-se de

valioso instrumento de análise político-estratégica desde a antiguidade e,

independentemente da equação ou modelo, seus fatores constituintes refletirão a

complexidade inerente do constructo poder, incorporando as características de

determinado contexto espaço-temporal.

Valendo-se do estudo de caso como estratégia de investigação, procurou-se

o alinhamento entre o paradigma adotado e o desenho de pesquisa qualitativo,

entendendo-se ser este modelo o mais apropriado a captar as complexidades do

elemento central da investigação. Como técnica de análise dos dados, optou-se pela

análise de conteúdo, partindo-se de um “corpus” inicial de 52 modelos

teóricos/fórmulas, representativos de um conjunto amostral amplo, contendo teorias

da antiguidade ao presente século, orientais e ocidentais, e de ambos os

hemisférios. De forma a ordenar a análise e facilitar as inferências decorrentes, os

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dados foram separados por períodos históricos: até a II Guerra Mundial, Guerra Fria

e pós-Guerra Fria.

O estudo revelou que, durante o primeiro período, os fatores componentes do

poder mostraram-se, basicamente, de caráter weberiano. Apresentavam elementos

diretamente ligados ao “hard power”, evidenciando a importância do acúmulo de

capacidade para permitir a imposição da vontade em meio ao conflito. No período da

Guerra Fria, a despeito do predomínio de elementos realistas, já foi possível

identificar alguns elementos de viés arendtiano, compondo um modelo misto. Por

fim, o último conjunto de fatores refletiu a complexidade da conjuntura internacional

do presente século. Notou-se a existência de um modelo híbrido, composto por uma

rede de elementos de relação não-linear, típica da visão foucaultiana e

representativa do “smart power”.

Como resultado final, chegou-se a um modelo que contém os fatores mais

perenes e tradicionais das diversas teorias de formulação do poder, como o

econômico, o militar, o político, o territorial, o científico-tecnológico e o populacional;

e outros, que refletem as idiossincrasias do SI presente, como o social, o cultural e o

ambiental. No total, a equação final compôs-se de dez fatores e quarenta subfatores.

Concluindo o estudo, torna-se relevante destacar que a busca pela

compreensão do poder e seu impacto nos sistemas estatais é, ao mesmo tempo,

fenômeno antigo, que auxilia no entendimento de fenômenos políticos pretéritos e na

evolução dos fenômenos da Paz e da Guerra, mas que, por outro lado, segue, no

presente, propiciando as ferramentas essenciais para a análise da conjuntura

política volátil e assimétrica do século XXI. A organização de modelos e fórmulas

que representem o poder do Estado não visam a uma mera simplificação desse

construto complexo e relacional, mas conformam-se como excelente instrumento de

análise e planejamento para cientistas e estrategos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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104

5 ARTIGO 3

MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA

DEFESA SUL-AMERICANA

THEORETICAL MODEL OF STATE POWER ACCORDING TO THE PERCEPCTION OF

THE SOUTH AMERICAN DEFENSE

Alexandre Gueiros Teixeira42 Exército Brasileiro

[email protected]

Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon43

Exército Brasileiro

[email protected]

42

Doutorando em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) 43

Doutor em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) Pesquisador do Laboratório de Estudos de Defesa (LED/ECEME) e do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do Instituto de Estudos Superiores Militares (CISDI/IESM).

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105

Resumo

O presente artigo se propõe a captar a percepção da defesa sul-americana acerca da

estrutura componente do poder do Estado. Partindo-se de referencial teórico

multidisciplinar, e tendo por base epistemológica o paradigma da complexidade,

empregou-se técnicas estatísticas de maneira a verificar o grau de ajustamento de

modelo teórico do poder previamente levantado em estudo qualitativo. Foram ouvidos,

por meio de questionário eletrônico tipo survey, mais de 1.131 indivíduos, civis e

militares ligados à Defesa, de todos os países da América do Sul, salvo Suriname,

Guiana e Guiana Francesa. Por meio de análise fatorial exploratória e confirmatória,

chegou-se a um modelo final, ajustado, de 6 fatores. Ainda, por meio de uma análise

multigrupos, foi possível verificar as aproximações e os afastamentos das percepções

entre civis e militares / brasileiros e estrangeiros acerca do grau de importância dos

componentes do poder. Ao final, fica patente o caráter complexo do objeto de estudo,

seus matizes voláteis e relacionais, principalmente no presente século, com impacto

direto nas dinâmicas e fenômenos sociopolíticos.

Palavras-chave: Poder, Ciências Militares, Complexidade, Modelo Teórico, Modelagem

de Equações Estruturais.

Abstract

This article aims to capture the perception of South American defense on the component

structure of state power. Based on a multidisciplinary theoretical framework, and based

on the epistemological basis of the complexity paradigm, statistical techniques were

used to verify the degree of adjustment of the theoretical model of power previously

raised in a qualitative study. Over 1,000 civilian and military personnel from the South

American countries, except for Suriname, Guyana and French Guiana, were interviewed

through an electronic survey questionnaire. By means of Exploratory and Confirmatory

Factor Analysis, we reached a final, adjusted model of 6 factors. Also, through a multi-

group analysis, it was possible to verify the approximations and the withdrawal of

perceptions between civilians and military / Brazilian and foreigners about the degree of

importance of the components of power. In the end, the complex nature of the object of

study, its volatile and relational nuances, especially in the present century, has a direct

impact on socio-political dynamics and phenomena.

Key words: Power, Military Science, Complexity, Theoretical Model, Structural Equation

Modeling.

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1 INTRODUÇÃO

Os estudos do poder permeiam amplo espectro de disciplinas, ocupando

lugar destacado no âmbito da investigação científica. Sua importância advém de seu

viés dinâmico e relacional, que o torna verdadeira “força motriz” para as relações

sociais, entre grupos ou indivíduos, Estados ou estruturas privadas. Conceituá-lo,

compreendê-lo e “dissecá-lo”, portanto, torna-se tarefa essencial e primária para

todos quanto se voltam para a análise dos sistemas estatais endógenos e exógenos.

Poder é fenômeno complexo, isto é, não-linear e adaptativo, cujos

componentes interagem e evoluem conforme determinada moldura espaço-

temporal, ampliando os desafios de sua plena compreensão. Nesse sentido, os

modelos teóricos e fórmulas constituem-se em instrumento valioso para sistematizar

a análise desse constructo em cenários diversos. Por meio deles, pode-se modelar a

interação dos múltiplos atores, auxiliando a compreensão do presente e o

planejamento para o futuro.

Dada sua importância para o planejamento político-estratégico, são inúmeras

as tentativas de mensurar o poder de Estados e Nações através dos tempos. Do

modelo estratégico de Sun Tzu (1996) à fórmula do poder de Ray Cline (1975), cada

qual captou um viés filosófico do constructo, balizando sua análise de acordo com

cenário estratégico de sua época.

Perceber o contexto geopolítico, suas peculiaridades e reflexos é, por isso,

tarefa fundamental para o estudo das dinâmicas do poder. Nessa direção, o século

XXI desafia as teorias clássicas que tentam explicar o comportamento dos Estados,

adicionando novos atores e novas variáveis à intrincada rede de relacionamento dos

sistemas. Os conflitos extrapolam os limites estatais, passando a envolver grupos,

etnias e credos; o espectro cibernético desponta como novo desafio aos

especialistas da Paz e da Guerra; as questões ambientais impactam diretamente o

campo sociopolítico e econômico da conjuntura mundial e tantas outras

transformações que alteram o status quo mundial de maneira exponencial.

Norteado por essas constatações, este estudo teve por objetivo propor um

modelo teórico do poder do Estado que captasse a percepção da defesa sul-

americana e espelhasse as características do momento atual. Sob a ótica da

epistemologia da complexidade, apresentou-se uma revisão da literatura calcada em

dois pontos fundamentais: primeiro, na explicitação do conceito de poder segundo

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Foucault, base filosófica para a construção do conhecimento desta investigação;

segundo, na apresentação das características da formulação do poder no século

XXI, como forma de revisitar o tema e preparar o leitor para o avanço da pesquisa.

Para o atendimento do proposto, adotou-se abordagem dividida em cinco

seções. Após esta introdução, discorre-se sumariamente acerca de questões

epistemológicas e metodológicas. Subsequentemente, apresenta-se o referencial

teórico elencado. A partir daí, tem-se a análise propriamente dita, com as inferências

e os resultados pertinentes. Por fim, tecem-se as considerações finais sobre a

investigação como um todo.

2 METODOLOGIA

Antes de discorrer sobre os passos metodológicos adotados, faz-se

necessário apresentar, ainda que sumariamente, a visão epistemológica que norteou

a presente investigação, entendendo-a como “pedra fundamental”, sob a qual se

construiu todo o conhecimento científico. Trata-se do conjunto das convicções que

balizam as práticas, impactando diretamente todo o processo investigativo

(Bachelard 1973; Creswell 2013).

Considerando-se as peculiaridades do objeto de análise, optou-se pelo

paradigma da complexidade, onde a não-linearidade sobrepõe-se à linearidade na

formulação do conhecimento. Sistemas complexos podem ser definidos como uma

combinação de inúmeras partes, que interagem entre si de maneiras diversas,

gerando uma auto-organização espontânea. Nesse processo, transformam-se,

moldam-se, deixando de lado suas singularidades em prol de propriedades

coletivas. São espontâneos e adaptativos, de grande dinamismo intrínseco,

diferenciando-os, qualitativamente, de objetos estáticos (Waldrop 1992; Prigogine e

Stengers 1997).

Outra constatação acerca dos sistemas complexos adaptativos é sua

estruturação em múltiplos níveis organizacionais, com agentes de um nível servindo

de base para outros em níveis mais elevados (Holland 1992). Dessa maneira, o

estudo do poder, sua composição e o inter-relacionamento de sua estrutura,

indubitavelmente, demandam abordagem multidisciplinar e relacional, sob a qual se

tenta captar o ajustamento do core de investigação à realidade do século XXI, ou

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108

seja, sua adaptabilidade e evolução ante o caos e desordem do sistema

internacional.

Uma vez apresentada a visão epistemológica, torna-se necessário discorrer

sobre a forma de abordagem do problema, explicitando a opção metodológica

adotada. Trata-se de pesquisa quantitativa, segundo a qual buscou-se apresentar

descrição quantitativa de tendência de determinada população por meio de uma

amostra. Entende-se que, uma vez conhecidas as dimensões de um objeto, bem

como suas características, por meios qualitativos, a pesquisa de natureza

quantitativa complementará os dados, permitindo aprofundamento na estrutura

latente de modelos, esclarecendo as dinâmicas de suas variáveis, ratificando ou

retificando-os (Edwards 1983; Babbie 1990; Pestana e Gageiro 2003; Creswell

2013).

O objetivo geral da pesquisa foi captar a percepção da defesa sul-americana

acerca de modelo teórico do poder do Estado (seus fatores e subfatores),

previamente levantado, que representasse as peculiaridades do quadro global44

presente.

Partindo-se para a seleção do universo, considerou-se, como representantes

da “defesa sul-americana”, a seguinte população: militares das Forças Armadas

(Brasil e demais países da América do Sul) com curso de Estado-Maior ou pós-

graduação stricto sensu (ativa ou reserva) e civis ligados à defesa (Brasil e demais

países da América do Sul) (diplomatas, membros do legislativo vinculados às

Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Agências Nacionais de

Inteligência, Policiais Federais, acadêmicos estudiosos do tema, membros da justiça

militar, empresários e funcionários ligados à Base Industrial de Defesa etc.) (Ativa ou

aposentados).

Entendendo-se não ser possível mensurar com precisão o tamanho da

população, inicialmente, adotou-se o tipo de amostra não-probabilística por quotas.

Como segmentação, optou-se por brasileiros e estrangeiros (demais sul-

americanos) e também civis e militares.

A seleção dos participantes deu-se pelo critério de acessibilidade. No caso

dos militares brasileiros, buscou-se o banco de dados do Departamento Geral de

Pessoal do Exército e das Escolas de Estado-Maior das três forças. Para os

44

Para maiores detalhes, ver Teixeira e Migon 2019.

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109

militares estrangeiros, buscou-se o acesso por intermédio dos adidos militares das

Escolas de Curso de Estado-Maior e Altos Estudos. Para os civis, utilizou-se

consulta à mídia social Linkedin, buscando-se alcançar aqueles que se relacionavam

ao universo estudado.

Ao final, 1131 respondentes participaram da coleta de dados, sendo 803

brasileiros e 328 estrangeiros; 782 militares e 349 civis. Dos estrangeiros, 6,4% são

colombianos; 18,9%, argentinos; 7,3%, venezuelanos; 17,1%, peruanos; 14,3%,

chilenos; 7,9%, equatorianos; 6,4%, bolivianos; 13,1%, paraguaios; 8,5%, uruguaios.

Não houve respondentes do Suriname, da Guiana e da Guiana Francesa. O mapa a

seguir ilustra a abrangência da amostra.

Figura 1 - Países sul-americanos com respondentes.

Fonte: o autor

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Ainda sobre o tamanho da amostra, considera-se que a modelagem de

equações estruturais (SEM) requer entre cinco a dez respondentes para cada

indicador (Hair et al. 2009; Byrne 2010; DeVellis 2011). Na presente pesquisa, o

modelo a ser testado possuía dez fatores e quarenta subfatores. Utilizando-se o

número dos subfatores, quarenta, ter-se-ia, pela métrica acima, a necessidade de

uma amostra de 400 indivíduos, inferior ao número de respostas obtidas.

Há de se ter em conta, também, que, além do atributo quantitativo, a amostra

deve possuir qualidade, ou seja, representar bem a população (Mourão Jr. 2009). Ao

se observar a distribuição dos respondentes, tanto por países como por extratos

profissionais (civis e militares), notar-se-á coerência e proporcionalidade das cotas

amostrais em relação à população como um todo. Com exceção do Suriname, da

Guiana e da Guiana Francesa, todos os demais países foram significativamente

representados na amostra. Qualitativamente, ainda há de se considerar presença

expressiva de respondentes do alto escalão da defesa sul-americana (vinte e dois

oficiais generais brasileiros, quinze oficiais generais dos demais países, dezenove

embaixadores brasileiros e três embaixadores dos demais países), cujo elevado

conhecimento teórico e prático sobre o tema agrega grande valor à pesquisa.

Como meio de coleta de dados, optou-se por questionário de perguntas

fechadas, estruturado em escala Likert, constituído de cinco alternativas de

resposta. Para a sua montagem, partiu-se do modelo resultante de estudo qualitativo

prévio45, composto por dez fatores e quarenta subfatores componentes do poder do

Estado.

No que concerne a sua estrutura, foi dividido em quatro partes: uma

introdução, onde se explicava a finalidade do questionário e se forneciam

orientações gerais para o seu preenchimento; questões acerca dos fatores

componentes do poder; questões acerca dos subfatores; e, na parte final, questões

gerais sobre o respondente (nacionalidade, idade e profissão/formação). Após sua

montagem, foi submetido à análise de três especialistas da Escola de Comando e

Estado-Maior do Exército (professores doutores, civis e militares, das áreas das

Ciências Militares, Relações Internacionais e Economia).

45

Ver Teixeira e Migon 2018.

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111

Seguido à confecção do questionário, e antes de sua aplicação, realizou-se

um pré-teste com trinta e cinco indivíduos do universo amostral, de maneira a checar

se as perguntas estavam semanticamente compatíveis, se foram adequadamente

respondidas ou qualquer outro ponto que demandasse ajustes. Ao final, foram

realizados ajustes no layout do questionário, nas informações iniciais e nas

informações gerais dos respondentes (Goode e Hatt 1972).

Tendo em vista o estudo abranger todo o continente sul-americano, de

maneira a alcançar maior número de participantes, com redução de encargos

financeiros e em curto espaço de tempo, optou-se pela coleta por meio de web

survey, utilizando-se a plataforma de formulários da Google (Google Forms). O link

do questionário on-line foi enviado por e-mail, antecedido de breve explicação sobre

a pesquisa (Stanton 1998; Couper 2000; Dillman 2000; Andrews, Nonnecke e

Preece 2003).

Uma vez coletados os dados, realizou-se, inicialmente, uma Análise Fatorial

Confirmatória (AFC) com o objetivo de avaliar a qualidade de ajustamento do

modelo de medida teórico à estrutura correlacional observada entre as variáveis

manifestas. Sobre isso, Marôco (2014) assevera que a AFC pode constituir-se no

primeiro passo da avaliação de um modelo no âmbito da Modelagem de Equações

Estruturais (SEM).

Consideraram-se, portanto, todas as correlações possíveis entre os dez

fatores do modelo proposto, conforme procedimento usual numa AFC de 1º Ordem

(Byrne 2010; Kline 2011; Marôco 2014). A qualidade de ajustamento global do

modelo fatorial foi feita de acordo com os índices e respectivos valores de referência

descritos em Marôco (2014), a saber: X2/df, CFI, GFI, RMSEA, P[rmsea≤0.05] e

MECVI46. O modelo de dez fatores estimado revelou uma baixa qualidade de

ajustamento, mesmo depois de avaliados os índices de modificação e procedidos os

ajustes nos itens saturados em fatores diferentes daqueles sugeridos na versão

original da escala.

No entanto, os outputs do modelo inicial, e mesmo o ajustado conforme os

índices de modificação, indicaram que existem altas correlações entre os dez

fatores: nenhuma abaixo de 0,75; de forma a sugerir uma estrutura fatorial de 2º

46

Não se avançou na análise dos outliers normalidade, fiabilidade compósita e individual, ajustamento local e dos índices de modificação, pois a qualidade de ajustamento global do modelo de dez fatores foi muito fraca e não havia muitas opções de melhora, a não ser, tentando outra estrutura fatorial.

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112

Ordem. Nesse sentido, um modelo de 2º Ordem foi avaliado na amostra da pesquisa

com o software AMOS (v. 22, SPSS, An IBM Company, Chicago, IL) de acordo com

os índices e respectivos valores de referência descritos em Marôco (2014). Mesmo

após a AFC de 2º Ordem, o modelo seguiu apresentando baixa qualidade de

ajustamento, o que indicou a necessidade de busca de novos modelos com outra

estrutura fatorial por meio de uma Análise Fatorial Exploratória (AFE) (Aranha e

Zambaldi 2008).

Uma vez obtido novo modelo de seis fatores por meio da AFE, partiu-se para

a execução de uma AFC de 2º Ordem, mais uma vez, com o intuito de avaliar a

qualidade do ajustamento do modelo. Finalizando o processo investigativo, após

realizados substanciais ajustes ao modelo teórico original, executou-se uma análise

multigrupos, cujo objetivo foi averiguar a invariância do modelo final entre brasileiros

e estrangeiros e militares e civis.

Acredita-se que o desenho de pesquisa adotado permitiu atingir os seguintes

objetivos específicos: (i) refletir sobre a base filosófica da composição do poder no

século XXI; (ii) captar a percepção da defesa sul-americana acerca dos fatores e

subfatores componentes do poder na atualidade; (iii) testar e ajustar o modelo

teórico de 10 fatores previamente elaborado em pesquisa qualitativa; (v) elaborar um

modelo teórico do poder do Estado segundo a percepção da defesa sul-americana.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O PODER FOUCAULTIANO

Dentre as diversas matizes e acepções do conceito de poder, a de Michel

Foucault caracteriza-se pela crítica aberta aos conceitos tradicionais da teoria

política moderna. Sob ótica ampla e diferenciada, o autor francês imprimiu viés

abrangente e complexo, afastando-se da mera constatação da posse (ou não) do

poder com o foco nos mecanismos e dinâmicas de submissão das sociedades

contemporâneas (Foucault 2003; 2010; 2013).

Para o autor francês, o poder é dinâmico e sua gênese depende do início de

um processo cinético. O autor destaca seu viés relacional, refutando o conceito de

poder estático e simplista. O que existe, de fato, são relações de poder, originárias

de complexo emaranhado de forças, que se alteram a cada instante, imprimindo

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imprevisibilidade à resultante final. A “fonte do poder” não estará, portanto, apenas

no consenso ou, exclusivamente, nas capacidades individuais, mas no resultado da

interação de forças e vontades diversas, marcado pela aleatoriedade e incerteza

(Teixeira e Migon 2017).

O poder em Foucault alcança viés universalista, partindo-se da premissa de

que “está em todos os lugares” e “advém de todas as partes”. As relações de poder,

portanto, perpassam fronteiras espaço-temporais, interagindo de forma transversal,

não se limitando a esta ou aquela classe, a este ou aquele grupo social, país ou

governo (Foucault 1998, 2003; 1980; 1982; 2013).

Assim, cada agente possui um “poder potencial”, latente, que se evidenciará a

partir da interação entre os atores. Pelo “princípio da ubiquidade do poder”, ele está

presente em tudo; e, a cada reação a determinada ação, novo cenário se descortina,

explicitando novos fatores, subfatores e variáveis, que interagem entre si e com o

meio em uma infinidade de possíveis equações e resultantes, onde o “poder

potencial” se transforma em “poder efetivo”.

Seu grau de imprevisibilidade é máximo, tendo-se que a interação de rede

complexa de agentes conduzirá a reações diversas a múltiplos estímulos,

evidenciando comportamentos incertos e instáveis dentro de uma moldura espaço-

temporal específica. Em Foucault, as relações de poder são omnidirecionais. Os

aspectos sociais, privados, públicos, políticos, socioculturais, militares, econômicos e

ambientais, tudo se relacionará, conduzindo a uma sequência adaptativa infinita de

resultantes.

Outro “ingrediente” essencial do poder foucaultiano é o conflito. Foucault não

comungava dos ideais kantianos de que a humanidade avança rumo a um estado de

direito, superando as desavenças e guerras entre os povos. Para ele, as sociedades

interagem sob sistema de regras fundado no conflito, avançando de “dominação em

dominação” (Foucault 1977, 151).

Para a melhor compreensão entre conflito x poder, faz-se importante ter em

mente o conceito de resistência. Para a física, a resistência surge do atrito resultante

da fricção entre dois corpos, onde se tem perda energética. Da mesma forma,

indivíduos (ou Estados), em suas interações socioculturais, políticas ou econômicas,

por exemplo, produzem certo grau de fricção, resultante do choque entre forças e

interesses antagônicos. “A” agirá, levando “B” a (re)agir conforme o meio/cenário

específico.

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Neste ponto, torna-se imperioso apontar a distinção entre conflito e violência.

O primeiro diz respeito à oposição de interesses; o segundo, refere-se à ação real

sobre um corpo (ou Estado) para forçá-lo ou destruí-lo. Dessa forma, a violência

pura extingue o conflito, anulando o exercício do poder; ou seja, para Foucault, o

poder se explicitará tão somente nas ações sobre indivíduos, grupos ou Estados

livres capazes de (re)agir. No centro das relações de poder, em meio às complexas

e múltiplas combinações comportamentais possíveis, ter-se-á, sempre, a

insubordinação e a obstinação, ambas motivadas pelo livre-arbítrio e pela

capacidade de ação.

A questão basilar do estudo do poder não está, assim, na “servidão

voluntária”, mas no conflito constante (e controverso) do querer inflexível e obstinado

da liberdade, que se opõe à relação de poder em curso. Não existiria o “exercício do

poder” sem as tentativas de “virar o jogo”, de insubordinar-se para escapar de sua

influência. Faz-se digno de nota, porém, que, a despeito de ressaltar a relevância do

conflito para a estrutura do poder, Foucault não desconsidera o consenso. Ambos se

constituem, simultaneamente, em instrumento (causa) e resultado (consequência),

ratificando a natureza dinâmica e complexa do poder, que evolui,

independentemente de cada um desses fatores.

O exercício do poder, segundo Foucault, corresponde a um cálculo

estratégico, que visa à obtenção de resultados específicos a partir da análise do

custo x benefício entre a efetividade dos instrumentos empregados e os custos

possíveis. Para ele, não se deve considerar apenas as estruturas políticas oficiais,

mas um vasto espectro de possíveis atores, que tentarão interferir nas ações uns

dos outros, afastando-se da simplicidade binária do jogo de soma-zero.

Poder, portanto, implica complexo conjunto de relações, profundamente

enraizadas em determinado nexus sociopolítico, ultrapassando os níveis estatais e

alcançando as idiossincrasias de grupos e indivíduos. São interações que devem ser

compreendidas a partir da evolução histórica de determinada sociedade, sob o

perfeito entendimento das origens de sua força ou fragilidade; ou seja: seu

dinamismo.

3.2 FORMULANDO O PODER NO SÉCULO XXI

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Modelos e fórmulas relacionados à mensuração das capacidades de uma

nação, povo ou Estado, há muito, constituem-se em ferramenta de grande

relevância para a análise de cenários e construção de políticas e estratégias. Por

meio dessas ferramentas, tem-se buscado imprimir relativo grau de empirismo a

questões meramente teóricas e especulativas, compreendendo-se a composição do

poder dos Estados a partir da análise de seus fatores e subfatores componentes,

seus pesos e seu inter-relacionamento.

É fato que o conceito de poder implica considerável grau de subjetividade,

despertando inúmeros questionamentos quanto à possibilidade de sua mensuração.

Sobre isso, porém, Höhn (2014) afirma que, mesmo assim, pode ser bastante útil ao

estrategista aprofundar-se em como o conceito de poder evolui no tempo e espaço,

de acordo com cada cultura, avaliando resultados e considerando as razões para

tais mudanças.

O entendimento de como múltiplos atores possuem percepções diversas da

composição do poder e como tais diferenças impactam as relações interestatais

pode levar a uma melhor compreensão sobre o comportamento de um Estado

beligerante, por exemplo, permitindo traçar estratégias mais eficazes. A mensuração

do poder, portanto, é essencial para a modelagem do comportamento estatal –

endógeno e exógeno –, constituindo-se em elo entre a teoria e a prática.

De Sun Tzu (aproximadamente II a.c.) a Sulek (2010), dentre outros, nota-se

expressiva diversidade dos modelos, marcada pela variedade de fatores e

subfatores componentes, todos explicitando características geopolíticas específicas,

típicas de determinada moldura espaço-temporal.

Teixeira e Migon (2019) apontam para essa evolução, analisando modelos

teóricos do poder de três períodos distintos: período pré-Segunda Guerra Mundial;

período da Guerra Fria e período pós-Guerra Fria. Durante o estudo, fica patente a

influência de cada conjuntura na conformação do poder, seus fatores e subfatores. A

medida em que o Sistema Internacional evoluiu, alterou-se também a base filosófica

da compreensão/percepção do poder e, consequentemente, sua composição e

estrutura.

Tratando-se especificamente da conjuntura internacional do século XXI, o que

se tem é um cenário difuso, onde as concepções clássicas acerca do poder já não

se mostram mais tão eficazes e válidas para explicar os fenômenos globais e

regionais.

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Sobre isso, Zakaria (2008; 2013; 2016) descortina algumas características do

período que se apresentam como novos desafios para políticos e estrategistas. A

revolução tecnológica, aliada a dos meios informacionais, provocou profundas

mudanças nos fluxos globais, não só nas finanças e na terceirização de serviços,

mas também na difusão de ideias, propaganda e marketing, trazendo consigo

“novos atores” e “novas variáveis” aos estudos das dinâmicas do poder. Questões

demográficas agravadas pelo crescente fluxo de imigrantes, refugiados e

deslocados têm colocado o neonacionalismo como uma das principais pautas das

grandes Nações. Na esteira desse movimento, como consequência, tem-se o

agravamento de tensões étnicas e socioculturais, com o crescimento da xenofobia e

racismo.

Na mesma direção, Kaldor (2013) explicita o surgimento de novos desafios

em questões de segurança e de defesa, um novo tipo de violência organizada: as

“novas guerras”, revestidas de características peculiares que mesclam matizes das

guerras tradicionais com as peculiaridades do crime organizado, conflitos étnicos e

religiosos e violações aos direitos humanos em larga escala, lançando imenso

desafio aos estrategistas e tomadores de decisão da atualidade.

A evolução tecnológica sem precedentes, a ascensão de novos atores no

sistema internacional (tradicionais e não tradicionais), o enfraquecimento do Estado,

a multiplicação de ilícitos transnacionais, a crescente assimetria socioeconômica

entre os Estados, as questões ambientais e seus reflexos, tudo enquadra-se neste

cenário incerto de reordenamento da arena global, consequências, diretas ou não,

do processo de globalização. Tais assuntos evidenciaram o despreparo

tradicionalista para lidar com fatores que perpassam a fronteira estatal, conduzindo a

uma ampliação e aprofundamento dos Estudos de Segurança. Hansen e Buzan

(2012) asseveram que tal processo implicou no alargamento dos setores e áreas

que deveriam ser securitizados, com a inclusão de questões de desenvolvimento,

meio ambiente, economia e bem-estar social.

Nye Jr. (2009a; 2009b; 2011), ao discorrer sobre o “novo século”, reforça a

visão de um mundo complexo e multidimensional. Para o autor, há de se considerar

que o entendimento da distribuição do poder não é mais um fenômeno binário, mas

abrange inúmeros fatores de análise: Militar, Cultural, Social, Econômico, Político,

envolvendo atores estatais e não-estatais, ambos influenciando igualmente o

redimensionamento do Sistema.

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O autor cita também o terrorismo, o pânico financeiro, as pandemias, os

crimes transnacionais, as ameaças cibernéticas e as questões culturais como novos

desafios aos dirigentes nacionais, a quem cabe a perspicácia de combinar os fatores

tradicionais da aplicação do poder do Estado (hard power)47 com aqueles não-

tradicionais, que visam a atingir os objetivos finais por meio da cooperação e do

convencimento (soft power), buscando-se, ao final, a aplicação de uma “fonte

inteligente” de poder (smart power).

Ratificando as teorias acima, Teixeira e Migon (2019) apresentam modelo

teórico do poder do Estado que representa as peculiaridades do atual cenário

internacional. Após analisar e estudar cinquenta e dois modelos/fórmulas de

períodos distintos (bem como de múltiplas origens regionais), chegou-se a um

resultado que contém os fatores mais perenes e tradicionais das diversas teorias de

formulação do poder, como o econômico, o militar, o político, o territorial, o científico-

tecnológico e o populacional; e outros que refletem as idiossincrasias do SI

presente, como o social, o cultural e o ambiental. No total, a equação final compôs-

se de dez fatores e quarenta subfatores.

Conclui-se apontando-se para o perfeito alinhamento da composição do poder

do século XXI com a base filosófica e conceitual do poder segundo Foucault. O

poder em Foucault agirá como resultante de forças múltiplas, omnidirecionais, que

transpassam governos, Estados, grupos ou indivíduos. Na conjuntura política volátil

e assimétrica do presente, as tentativas de mensuração do poder dos Estados

refletirão a complexidade e adaptabilidade do constructo, aliando “hard power” e

“soft power”, conflito e consenso, em uma nova concepção estrutural (Teixeira e

Migon 2017; 2019; Foucault 1980; 1998; 2013).

4 ANÁLISE MULTIVARIADA

4.1 MODELO ORIGINAL E ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA

Conforme já explicitado anteriormente, o objetivo geral do presente estudo foi

apresentar, segundo a perspectiva da defesa sul-americana, um modelo teórico do

poder do Estado que representasse as peculiaridades do presente século.

47

Para maior aprofundamento acerca do conceitos de “hard power” e “soft power”, ver Art (1996); Nye Jr. (1999; 2009); Gray (2011); Cooper (2004) e Wilson III (2008).

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Após estudo qualitativo prévio (Teixeira e Migon 2019), chegou-se a um

modelo teórico de dez fatores e quarenta subfatores, conforme a fórmula a seguir e

os quadros subsequentes:

Poder = ß1.Pol + ß2.Eco + ß3.Ter + ß4.Pop+ ß5.C&T + ß6.Soc + ß7.Cult + ß8. Mil +

ß9.Von + ß10.Amb + ε

Sendo:

Quad

ro 1

Desc

rição dos fatores.

FATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO

POLÍTICO Político

Engloba todos os aspectos relacionados às instituições formais que regem governos e Estados, alcançando desde questões internas, como a estabilidade política e a governabilidade do País, até externas, relacionadas com sua interação internacional.

ECONÔMICO Econômico

Diz respeito às atividades relacionadas à produção, distribuição e consumo de bens e serviços, compreendendo diversos aspectos macro e microeconômicos, como infraestrutura, energia, indústria, recursos naturais e financeiros.

TERRITORIAL Territorial Relaciona-se aos aspectos vinculados ao território: área total, localização geográfica, disponibilidade de terras e integração regional.

POPULACIONAL Populaciona

l Abarca as questões relacionadas à população dos Estados, qualitativamente e quantitativamente.

C&T CT

Engloba os campos da Ciência e da Tecnologia, incluindo as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), capacidade de inovação, assim como o desenvolvimento de tecnologias estratégicas (astroespaciais, tecnologias da informação e comunicações).

CULTURAL Cultural

Compreende os aspectos relacionados aos costumes, crenças, traços étnicos e religiosos, manifestações culturais e história de uma sociedade, levando-se em consideração seus reflexos internos e impacto em outras sociedades.

MILITAR Militar

Trata da capacidade militar dos Estados, sejam elas tangíveis (materiais e equipamentos, efetivos, indústria de defesa, capacidade nuclear), sejam intangíveis, como liderança militar e moral.

VONTADE Vontade Diz respeito à efetiva participação e ao interesse do povo nas questões do Estado, englobando aspectos como satisfação,

Pol - Fator Político Terr - Fator Territorial

Eco - Fator Econômico C&T - Fator Científico-Tecnológico

Pop – Fator Populacional Von - Fator Vontade

Mil - Fator Militar Amb - Fator Ambiental

Soc – Fator Social ß (1-n) - Pesos relativos

Cult- Fator Cultural ε - Erro

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orgulho nacional, engajamento e coesão.

AMBIENTAL Ambiental

Considera seus reflexos (políticos, econômicos e sociais) internos e externos. Desenvolvimento de energia limpa e renovável, reservas de água doce, poluição do ar, biodiversidade, são exemplos de aspectos que compõem esse fator.

CULTURAL Cultural

Compreende os aspectos relacionados aos costumes, crenças, traços étnicos e religiosos, manifestações culturais e história de uma sociedade, levando-se em consideração seus reflexos internos e impacto em outras sociedades.

Fonte: o autor.

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Quadro 2 – Descrição dos Subfatores. (Continua...)

FATOR SUBFATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO

POLÍTICO

Política Internacional

POL_INT

Refere-se aos aspectos de política externa de um Estado, considerando sua participação em organismos internacionais, seu grau de cooperação externa e alianças.

Governabilidade POL_GOV

Compreende as capacidades administrativas do Estado, considerando-se a fluidez de processos, o nível de corrupção, divergências ou convergências partidárias.

Estabilidade Política

POL_EST

Aponta para a regularidade institucional do Estado, dentro de um quadro democrático, levando-se também em consideração a existência de conflitos internos de baixa intensidade ou terrorismo.

ECONÔMICO

Recursos Naturais

ECO_RN Aponta para as matérias primas existentes,

particularmente minerais e produção agropecuária.

Recursos Financeiros

ECO_RF

Engloba os temas relacionados ao comércio, balança de pagamentos, confiança financeira, PIB, dentre outros indicativos econômicos e financeiros.

Indústria ECO_IND Trata da capacidade de produção industrial de um Estado.

Infraestrutura ECO_INF

Engloba a questão da infraestrutura disponível de um determinado Estado, levando-se em conta portos, terminais, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias, rotas aéreas, elementos de Tecnologias da Informação e Comunicação e redes de transmissão.

Energia ECO_ENE

Refere-se aos aspectos relacionados à capacidade energética do Estado, considerando-se a produção total, o consumo e as reservas de hidrocarbonetos.

TERRITORIAL

Área Total TER_AREA Refere-se à dimensão absoluta do território ocupado por um Estado.

Capacidade Alimentar

TER_CAP Diz respeito às terras disponíveis para a produção de alimentos.

Integração Territorial

TER_INT Capacidade de ligação entre as diversas Regiões de um Estado, evitando-se áreas isoladas ou vazios demográficos.

Localização TER_LOC Compreende os aspectos geográficos relacionados à existência ou não de acesso ao mar e dimensões costeiras.

POPULACIONAL

População Urbana

POP_URB Considera o percentual da população urbana em relação ao total.

População Total POP_TOT Refere-se ao número total de habitantes.

PEA POP_PEA Parcela do total da população que está inserida no mercado de trabalho e/ou está procurando inserir-se nele.

CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO

Inovação CT_INO Refere-se às atividades de P&D, relacionadas ao número de pesquisadores, patentes, publicações científicas, dentre outros.

TI & Comunicações

CT_TI Diz respeito à capacidade de um estado em desenvolver tecnologias da informação e comunicação.

Tecnologias Espaciais

CT_ESP Engloba a capacidade de desenvolvimento e lançamentos de foguetes e satélites.

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(Continuação...)

FATOR SUBFATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO

SOCIAL

Educação SOC_EDU Espelha o nível educacional de um Estado, desde o grau de alfabetização até a quantidade de estudantes universitários existentes.

Saúde SOC_SAU

Refere-se ao grau de saúde dos habitantes de determinada sociedade, sua promoção e assistência, considerando-se desde o número de profissionais de saúde até a expectativa de vida da população.

Qualidade de Vida

SOC_QV

Implica um conjunto de critérios que impactam diretamente na qualidade de vida da população, como saneamento básico, pobreza, inflação, desemprego, criminalidade, acesso à água potável e questões habitacionais.

Tensões Externas

SOC_TEN Trata-se da existência (ou não) de questões externas que tragam reflexos no território de determinado Estado, como refugiados.

CULTURAL

Integração Cultural

CUL_INT Refere-se ao grau de unidade étnica, religiosa e linguística da sociedade de um Estado.

Cinema CUL_CIN Aponta para a capacidade de um Estado de produzir filmes longa-metragem e programação televisiva de repercussão internacional.

Turismo CUL_TUR Trata-se da capacidade de atração de visitantes estrangeiros.

História CUL_HIS Compreende o grau de maturidade de um Estado a importância de seu patrimônio histórico-cultural.

Mídia CUL_MID Diz respeito ao acesso à informação, bem como à capacidade de produção e divulgação de notícias a nível internacional.

MILITAR

Capacidade Nuclear

MIL_NUC Refere-se à posse ou não de ogivas nucleares e seus meios de lançamento.

Material de Emprego Militar

MIL_MAT Engloba os armamentos e equipamentos das Forças Armadas de determinado Estado.

Base Industrial de Defesa

MIL_DEF Diz respeito à existência de uma indústria de defesa nacional e, consequentemente, o grau de

autonomia estratégico-militar de um Estado.

Efetivos MIL_EFE Aponta para o efetivo das Forças Armadas e a capacidade de mobilização de um Estado.

Gastos Militares MIL_GAS Trata-se do percentual de gastos militares em relação ao PIB.

VONTADE

Percepção de Ameaças

VON_AME

Engloba a existência ou não, em graus de intensidade variados, de ameaças externas a determinado Estado, como questões fronteiriças, conflitos interestatais, ameaças terroristas e outros.

Coesão Nacional

VON_COE Implica unidade de pensamento dos integrantes do governo e da sociedade de um Estado em torno das questões nacionais.

Orgulho Nacional

VON_ORG

Referente à forma positiva que a sociedade de determinado Estado o percebe e seu grau de satisfação com sua Pátria. Trata-se de uma “autoestima” coletiva dos integrantes do País, onde destaca-se uma identificação com os valores nacionais.

(Conclusão).

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FATOR SUBFATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO

VONTADE Engajamento VON_ENG

Diz respeito ao grau de interesse e participação efetiva da sociedade nas questões do Estado, refletindo-se no comparecimento às eleições, convocações populares e outros.

AMBIENTAL

Energia Renovável

AMB_ENE

Aborda a existência de fontes de energia renovável em determinado Estado, levando-se em consideração seu percentual em relação à produção total de energia.

Sistemas AMB_SIS

Diz respeito ao grau de sustentabilidade de um conjunto de sistemas, como qualidade do ar e reservas de água doce (qualidade e

quantidade).

Engajamento Global

AMB_ENG Trata da participação de um Estado em fóruns e acordos relativos à questão ambiental.

Biodiversidade AMB_BIO Relaciona-se ao nível de riqueza das espécies animais e vegetais.

Fonte: o autor.

Dessa forma, como parâmetro para os questionamentos feitos na pesquisa,

utilizou-se a lista de fatores e subfatores acima, os quais deveriam ser quantificados

por meio de escala Likert (1 = Muito pouco importante; 2 = Pouco importante; 3 =

Importante; 4 = Muito importante; 5 = Extremamente importante), conforme as

perguntas constantes do quadro a seguir:

Quadro 3 - Perguntas referentes aos fatores.

Perguntas para os Fatores

1) Qual o grau de importância do fator Político na composição do poder do Estado?

2) Qual o grau de importância do fator Econômico na composição do poder do Estado?

3) Qual o grau de importância do fator Populacional na composição do poder do Estado?

4) Qual o grau de importância do fator Territorial na composição do poder do Estado?

5) Qual o grau de importância do fator Militar na composição do poder do Estado?

6) Qual o grau de importância do fator Científico-tecnológico na composição do poder do Estado?

7) Qual o grau de importância do fator Social na composição do poder do Estado?

8) Qual o grau de importância do fator Cultural na composição do poder do Estado?

9) Qual o grau de importância do fator Ambiental na composição do poder do Estado?

10) Qual o grau de importância do fator Vontade na composição do poder do Estado?

Fonte: o autor.

Quadro 4 – Perguntas referentes os subfatores.

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(Continua...)

Perguntas para os subfatores

1) Qual o grau de importância do subfator Política Internacional na composição do poder do Estado?

2) Qual o grau de importância do subfator Governabilidade na composição do poder do Estado?

3) Qual o grau de importância do subfator Estabilidade Política na composição do poder do Estado?

4) Qual o grau de importância do subfator Recursos Naturais na composição do poder do Estado?

5) Qual o grau de importância do subfator Recursos Financeiros na composição do poder do Estado?

6) Qual o grau de importância do subfator Indústria na composição do poder do Estado?

7) Qual o grau de importância do subfator Infraestrutura na composição do poder do Estado?

8) Qual o grau de importância do subfator Energia na composição do poder do Estado?

9) Qual o grau de importância do subfator Área Total na composição do poder do Estado?

10) Qual o grau de importância do subfator Capacidade Alimentar na composição do poder do Estado?

11) Qual o grau de importância do subfator Integração Territorial na composição do poder do Estado?

12) Qual o grau de importância do subfator Localização na composição do poder do Estado?

13) Qual o grau de importância do subfator População Urbana na composição do poder do Estado?

14) Qual o grau de importância do subfator População Total na composição do poder do Estado?

15) Qual o grau de importância do subfator População Economicamente Ativa na composição do poder do Estado?

16) Qual o grau de importância do subfator Inovação na composição do poder do Estado?

17) Qual o grau de importância do subfator TI & Comunicações na composição do poder do Estado?

18) Qual o grau de importância do subfator Tecnologias Espaciais na composição do poder do Estado?

19) Qual o grau de importância do subfator Educação na composição do poder do Estado?

20) Qual o grau de importância do subfator Saúde na composição do poder do Estado?

(Conclusão).

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Perguntas para os subfatores

21) Qual o grau de importância do subfator Qualidade de Vida na composição do poder do Estado?

22) Qual o grau de importância do subfator Tensões Externas na composição do poder do Estado?

23) Qual o grau de importância do subfator Integração Cultural na composição do poder do Estado?

24) Qual o grau de importância do subfator Cinema na composição do poder do Estado?

25) Qual o grau de importância do subfator Turismo na composição do poder do Estado?

26) Qual o grau de importância do subfator História na composição do poder do Estado?

27) Qual o grau de importância do subfator Mídia na composição do poder do Estado?

28) Qual o grau de importância do subfator Capacidade Nuclear na composição do poder do Estado?

29) Qual o grau de importância do subfator Material de Emprego Militar na composição do poder do Estado?

30) Qual o grau de importância do subfator Base Industrial de Defesa na composição do poder do Estado?

31) Qual o grau de importância do subfator Efetivos na composição do poder do Estado?

32) Qual o grau de importância do subfator Gastos Militares na composição do poder do Estado?

33) Qual o grau de importância do subfator Percepção de Ameaças na composição do poder do Estado?

34) Qual o grau de importância do subfator Coesão Nacional na composição do poder do Estado?

35) Qual o grau de importância do subfator Orgulho Nacional na composição do poder do Estado?

36) Qual o grau de importância do subfator Engajamento Nacional na composição do poder do Estado?

37) Qual o grau de importância do subfator Energia Renovável na composição do poder do Estado?

38) Qual o grau de importância do subfator Sistemas na composição do poder do Estado?

39) Qual o grau de importância do subfator Engajamento Global na composição do poder do Estado?

40) Qual o grau de importância do subfator Biodiversidade na composição do poder do Estado?

Fonte: o autor.

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125

Antes de discorrer sobre a AFE, importante relembrar que, seguindo-se o

prescrito em Marôco (2014), primeiramente, realizou-se uma AFC (1a e 2a ordem),

de forma a testar o ajustamento do modelo teórico inicial. Após todos os testes, não

se alcançando boa qualidade de ajustamento do modelo de dez fatores, optou-se

pela busca de modelos com outra estrutura por meio de uma AFE que, portanto, foi

utilizada como mecanismo de construção e validação de escala (Aranha e Zambaldi

2008).

Em essência, como se trata de estudo de um constructo complexo - poder -,

captando a percepção da defesa sul-americana sob a ótica das Ciências Militares,

procurou-se explorar os dados de forma menos conservadora nos parâmetros de

estimação do modelo e inferência (Byrne 2010). Para estimativas dos fatores,

seguiram-se as orientações apresentadas em Bezerra (2007) e Hair et al. (2009),

que recomendam atenção sobre as seguintes estatísticas de ajuste: a) Medida

Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) > 0,70; b) Teste de esfericidade de Bartlett significativo;

c) Medidas de Adequação de Amostragem (MSA) > 0,50; d) Comunalidades > 0,40;

e e) porcentagem da Variância Explicada entre 60% e 70% em estudo exploratório.

De maneira geral, podemos concluir que não houve problemas com as

estimativas dos fatores, sendo que algumas colocações merecem destaques:

1. A extração por Componentes Principais e rotação Varimax para

interpretação dos fatores mostraram-se mais adequadas para os propósitos;

2. A primeira solução indicou uma estrutura de seis fatores, no entanto, dois

itens (SOC_TEN e CUL_MID) apresentaram comunalidades baixas (<0.4), e

um fator com apenas dois itens (CUL_CIN e CUL_TUR);

3. O passo seguinte foi rodar a AFE com a exclusão dos itens SOC_TEN e

CUL_MID, de forma que o procedimento retornou uma solução com cinco

fatores, no entanto, o item CUL_CIN ficou carregado num fator sem sentido

teórico. Como esse item já havia apresentado problemas no passo anterior,

optou-se pela sua exclusão;

4. Sem o item CUL_CIN, a AFE continuou retornando um modelo com cinco

fatores com medidas de ajustes aceitáveis/boas: a) KMO = 0,972; b) Teste

de esfericidade de Bartlett = 25.111,37 (p-valor<0,000); c) MAS’s > 0,50; d)

Comunalidades > 0,40; e e) porcentagem da Variância Explicada = 59,70%;

conforme pode ser evidenciado no apêndice 1.1.

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As diferenças entre o modelo de seis fatores e cinco fatores são muito

pequenas do ponto de vista estatístico, e a decisão sobre qual utilizar baseou-se na

fundamentação teórica. Apesar de todos os fatores no modelo de cinco fatores

apresentarem confiabilidade muito boa (Alfa de Cronbach > 0,80, vide apêndice 1.2),

nessa estrutura fatorial existe um fator carregado com muitos itens, englobando as

dimensões política, econômica, social e tecnológica. Nesse sentido, com objetivo de

tornar a solução mais adequada do ponto de vista teórico, optou-se por dividir esse

fator em dois: Político/Social e Econômico/Tecnológico. Esses dois fatores

separados apresentaram índices de confiabilidades (Alfa de Cronbach) maiores do

que o fator original (apêndice 1.2.6 e 1.2.7).

4.2 ANÁLISE FATORIAL CONFIRMATÓRIA

A partir das evidências anteriores, cogitou-se testar o modelo de seis fatores

explorado na AFE por meio de uma AFC de 2º Ordem, como visualizado na figura 2.

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127

Figura 2 - Modelo de seis fatores para AFC 2 º Ordem.

Fonte: o autor.

A validade fatorial do modelo na amostra da pesquisa foi avaliada como

descrito em Marôco (2014): i) a fiabilidade compósita e a variância extraída média

para cada fator foram analisadas; ii) a existência de outliers foi avaliada pela

distância quadrada de Mahalanobis (D2) e a normalidade das variáveis foi avaliada

pelos coeficientes de assimetria (Sk) e curtose (Ku) uni- e multivariada; iii) a

qualidade de ajustamento global do modelo fatorial foi feita de acordo com os

índices e respectivos valores de referência descritos em Marôco (2014) a saber:

X2/df, CFI, GFI, RMSEA, P[rmsea≤0.05] e MECVI; iv) a qualidade do ajustamento

local foi avaliada pelos pesos fatoriais e pela fiabilidade individual dos itens; e v) o

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ajustamento do modelo foi feito a partir dos índices de modificação (superiores a 11;

p<0,000) produzidos pelo AMOS e com base em considerações teóricas.

Figura 3 - Modelo estimado de seis fatores (AFC 2º Ordem).

Fonte: o autor.

O modelo hexa-fatorial estimado a partir da amostra, cujas principais medidas

de ajustamento e parâmetros padronizados apresentam-se na figura 3, revelou

pouca qualidade de ajustamento. Partiu-se, assim, para a avaliação dos índices de

modificação produzidos pelo AMOS, obtendo-se um modelo final com melhor

ajustamento (figura 4), que será analisado na sequência (Brown 2006).

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129

Figura 4 - Modelo ajustado de seis fatores (AFC 2º Ordem).

Fonte: o autor.

Antes da análise, porém, faz-se mister discorrer brevemente sobre as

alterações ocorridas na estrutura do modelo original (de dez fatores e quarenta

subfatores). No que diz respeito aos fatores, ainda no passo da AFE, verificou-se a

necessidade de agrupar os fatores Político e Social (sociopolítico); e Econômico e

C&T (econômico, científico-tecnológico), que perdeu os subfatores Tecnologias

Espaciais (C&T) e Recursos Naturais (Econômico), recebendo o subfator População

Economicamente Ativa.

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O fator Vontade Nacional foi extinto, sendo seus subfatores incorporados aos

fatores (originais) Cultural e Militar. No primeiro caso, os subfatores Engajamento,

Orgulho Nacional e Coesão juntaram-se aos subfatores remanescentes do fator

Cultural, Integração Cultural e História48, formando o novo fator Ideológico-Cultural.

O subfator Percepção de Ameaças, inicialmente vinculado ao extinto fator Vontade,

integrou-se ao novo fator Segurança Nacional, que incorporou todos os subfatores

do fator Militar do modelo inicial mais o subfator Tecnologias Espaciais, que

inicialmente compunha o fator C&T. Por fim, fundiram-se também os fatores

Territorial e Populacional, recebendo o subfator Recursos Naturais e perdendo o

subfator População Economicamente Ativa.

Retomando as observações estatísticas, nota-se que distância quadrada de

Mahalanobis (D2) indicou diversos outliers. Com a sua exclusão e a subsequente re-

estimação do modelo, surgiram diversos outros, e assim sucessivamente, o que

poderia levar a um superajustamento. Uma vez que a exclusão dos outliers requer

considerações teóricas e avaliação caso-a-caso, optou-se por trabalhar com a

amostra original (N=1.131), sem exclusão de nenhuma observação.

Os coeficientes de assimetria (Sk) e curtose (Ku) uni- e multivariada

rejeitaram fortemente a hipótese de normalidade multivariada, mesmo que a maioria

das variáveis possuam normalidade univariada (ver apêndice 1.3.1). Como a

estimação dá-se por Máxima Verossimilhança (MV), mesmo com um tamanho de

amostra relativamente grande, optou-se por estimar os parâmetros do modelo final

por bootstrap (N=2000), conforme recomenda Byrne (2010), e comparar seus

valores e significâncias pelos dois métodos de estimação. Os valores estimados

(covariâncias, variâncias e pesos fatoriais) por ambos os métodos (MV e bootstrap)

foram praticamente os mesmos, com viés médio da ordem de 0,001, e tudo que foi

significativo pelo método MV também foi significativo pelo método bootstrap. Dessa

forma, para as análises subsequentes, considerou-se o método MV devido sua

maior parcimônia49.

A qualidade de ajustamento global do modelo hexa-fatorial final pode ser

considerada muito boa pelo índice PCFI (>0,80) e boa pelos índices CFI (>0,90),

48

Os subfatores Mídia e Cinema foram excluídos já na AFE, conforme explicitado anteriormente. O subfator Turismo acabou incorporado ao fator Ambiental para o início da AFC. 49

Por bootstrap haveria diversos outros outputs a serem verificados, sobrecarregando a avaliação dos dados (tempo e travamento do programa). Além disso, algumas análises importantes na Avaliação Multigrupo tornar-se-iam inviáveis.

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PGFI (>0,60) e RMSEA ([0,05; 0,10] com p-valor>0,05) (apêndice 1.3.9). Ao

comparar a medida MECVI (=2,161) com as dos modelos anteriores também se nota

a superioridade do modelo final (MECVI menor). Apesar das estatísticas X2 (p-

valor<0,05) e X2/df ([2;5]) indicarem um modelo fraco, em grandes amostras, essas

medidas devem ser relevadas devido suas sensibilidades ao tamanho da amostra

(Byrne 2010).

Ao se comparar a figura 3 com a figura 4, percebe-se que o item CUL_TUR

foi excluído do modelo final hexa-fatorial da CPE: a AFE, na seção anterior, já

apontava problemas com esse item, o que se confirmou na AFC. Importante

ressaltar que, na figura 4, tornou-se necessário fixar diversas covariâncias para

aprimorar o ajustamento do modelo. As correlações entre os erros em um mesmo

fator são quase sempre justificáveis, já que se propõem captar a mesma dimensão.

No entanto, as correlações entre os erros dos itens de fatores diferentes demandam

análise e aporte teórico mais cuidadosos, o que será discutido posteriormente.

Cabe salientar que, mesmo depois de ajustar o modelo da figura 4, ainda se

observaram diversos índices de modificação superiores a 11 (apêndice 1.3.8).

Poder-se-ia considerar os caminhos sugeridos por todos os índices de modificação

significativos, porém há de se ter a percepção do momento de parar, pois, em tese,

é possível ajustar um modelo estrutural artificialmente até que fique perfeito na

amostra em questão. Como o que se busca é a generalização dos achados, o

investigador deverá ter a perspicácia de considerar apenas mudanças justificáveis

do ponto de vista teórico, que tornem o modelo aceitável/bom em termos de

ajustamento (Byrne 2010).

Como pode ser observado no apêndice 1.3.3, houve, também, boa qualidade

de ajustamento local (fiabilidade individual): praticamente todos os pesos fatoriais

padronizados são superiores a 0,50, exceto no caso dos itens MIL_NUC e

TER_AREA, que foram muito próximos de 0,50 (0,495 e 0,493, respectivamente).

A fiabilidade compósita (FC) dos fatores, conforme tabela 1, revelou-se

adequada, pois todos os valores foram superiores a 0,70 como recomenda Marôco

(2014)50. Na maioria das situações, a variância média explicada (VME) mostrou-se

50

Ver Marôco (2014, p.183) para como calcular a fiabilidade compósita (FC) e a variância média explicada (VME). A FC substitui o Alfa de Cronbach (α) na AFC devido às fortes críticas que o α tem obtido nos últimos tempos.

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adequada (VME>0,50), exceto no caso do fator Ambiental, que apresentou VME

muito próximo do recomendado (VME=0,49).

A validade discriminante pode avaliar-se comparando as VME de cada fator

com o quadrado da correlação entre os fatores cuja validade discriminante se

pretende avaliar. Esses valores constam na tabela 2. Assim, sendo VMEEco_Tec =

0,85 e a VMESeg_Nac = 0,76 maiores do que r2 Eco_Tec | Seg_Nac = 0,70, pode-se afirmar

que os dois fatores têm validade discriminante. De forma semelhante, pode-se

demonstrar a validade discriminante de alguns outros fatores, mas não todos, por

exemplo: VMEEco_Tec = 0,85 e a VMEPol_Soc = 0,80 menores do que r2 Eco_Tec | Pol_Soc =

0,97.

A validade discriminante ocorre quando o constructo sob estudo não se

encontra correlacionado, consideravelmente, com constructos que operacionalizam

variáveis latentes diferentes daquela operacionalizada pelo constructo sob estudo

(os dois fatores propõem operacionalizar variáveis latentes diferentes). Nesse caso,

quando não há validade discriminante, como no caso dos fatores Pol_Soc e

Eco_Tec, os dois fatores podem estar mensurando a mesma percepção, que, nesse

caso, é perfeitamente justificável, até porque na AFE os itens pertencentes a esses

dois fatores encontravam-se em um único fator, o que demonstra a forte relação

entre as fontes econômicas, políticas, sociais e tecnológicas do poder do Estado.

Tabela 1 - Fiabilidade compósita (FC) e variância média explicada (VME)

Ambiental Cul_Ide Eco_Tec Poder Pol_Soc Seg_Nac Ter_Pop

FC 0.79 0.82 0.91 0.96 0.88 0.86 0.82

VME 0.49 0.69 0.85 0.95 0.80 0.76 0.66

Fonte: o autor.

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Tabela 2 - Correlações (r) e correlações ao quadrado (r2) entre os fatores

r r2

Ambiental <--> Pol_Soc 0.77 0.59

Ambiental <--> Eco_Tec 0.74 0.54

Cul_Ide <--> Pol_Soc 0.87 0.75

Cul_Ide <--> Ambiental 0.76 0.58

Cul_Ide <--> Seg_Nac 0.76 0.58

Cul_Ide <--> Eco_Tec 0.86 0.74

Pol_Soc <--> Eco_Tec 0.98 0.97

Seg_Nac <--> Pol_Soc 0.75 0.57

Seg_Nac <--> Eco_Tec 0.83 0.70

Seg_Nac <--> Ambiental 0.59 0.35

Ter_Pop <--> Pol_Soc 0.84 0.71

Ter_Pop <--> Cul_Ide 0.83 0.68

Ter_Pop <--> Ambiental 0.76 0.58

Ter_Pop <--> Seg_Nac 0.73 0.53

Ter_Pop <--> Eco_Tec 0.84 0.71

Fonte: o autor.

4.3 ANÁLISE MULTIGRUPOS

A análise multigrupos tem como objetivo avaliar se a estrutura do modelo

SEM é equivalente ou invariante em diferentes grupos ou populações com

características diferentes (Marôco 2014). Na presente pesquisa, julgou-se

interessante investigar também as percepções de substratos da amostra - militares

versus civis e brasileiros versus estrangeiros – buscando identificar aproximações e

afastamentos de sua ótica acerca do poder do Estado.

O primeiro passo numa análise multigrupo foi procedida nas seções

anteriores, qual seja: ajustamento do modelo aos diferentes grupos em simultâneo.

Na sequência, dado o objetivo primordial da pesquisa, examinou-se a invariância do

modelo ajustado em três aspectos:

1. Invariância configuracional: avaliação da estrutura configuracional dos

fatores e dos itens reflexos dos fatores nos militares versus civis e brasileiros versus

estrangeiros (grupos do estudo);

2. Invariância do modelo de medida: verificação dos pesos fatoriais e as

médias dos itens nos diferentes grupos do estudo;

3. Invariância estrutural: exame dos coeficientes estruturais do modelo

estrutural, com objetivo de avaliar se as pretensas relações causais são invariantes

entre os grupos do estudo.

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Em termos operacionais, a avaliação da equivalência entre grupos dá-se pela

comparação de um modelo restrito (R) e outro não restrito (U) por um teste Qui-

quadrado (omnibus). Por exemplo, para avaliar a invariância de medida, a estatística

de teste é dada pela diferença dos Qui-quadrado (χ2) do modelo com pesos fatoriais

fixos (iguais) (χ2R) e do modelo com pesos fatoriais livres (χ2

U), com distribuição

assintótica χ2 com graus de liberdade calculados pela diferença dos graus de

liberdade dos dois modelos (número de parâmetros que variam entre os dois

modelos). Caso rejeite-se a hipótese nula, conclui-se que os pesos fatoriais diferem

entre os grupos e o processo de análise de invariância fatorial termina nesse passo:

não faz sentido continuar avaliando os outros aspectos de invariância, tais como a

diferença de interceptos de todos os itens em todos os grupos51.

Adicionalmente ao teste χ2, devido a sua sensibilidade à dimensão da amostra

e a diferentes níveis de especificação errônea do modelo, sugere-se a utilização do

ΔCFI, com redução do CFI superior a 0,01 (ΔCFI < -0,01) indicativo da não

invariância do modelo (Marôco 2014).

4.3.1 Brasileiros versus estrangeiros

Na amostra tem-se 803 brasileiros e 328 indivíduos de outras nacionalidades

latino-americanas. As figuras 5 e 6 apresentam as estimativas estandardizadas do

modelo final ajustado em simultâneo para brasileiros e estrangeiros. Nota-se que os

índices de qualidade de ajustamento são referentes ao modelo ajustado em

simultâneo aos dois grupos, mas que as estimativas dos pesos fatoriais e das

correlações entre fatores são específicas de cada grupo.

De acordo com os índices de ajustamento, o modelo fatorial proposto

apresenta um bom ajustamento, em simultâneo, a brasileiros e estrangeiros,

demonstrando a invariância configuracional do modelo fatorial. Contudo, os pesos

fatoriais e as correlações são invariantes entre os dois grupos? Isto é, a importância

de cada fator em cada um dos itens manifestos é a mesma? Ou não difere,

significativamente, entre os dois grupos? Ou seja, será que o modelo livre tem um

melhor ajustamento do que o modelo com pesos fatoriais fixos (restrito)?

51

Ver Marôco (2014, p.291) sobre a estratégia stepwise de restrições crescentes para avaliar a invariância do modelo fatorial

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135

Na sequência (figuras 7 e 8), mostra-se o segundo passo na Análise

Multigrupos, qual seja, a análise da invariância de medida fraca. Mais uma vez, os

índices de qualidade de ajustamento mostrados nas figuras são referentes ao

modelo ajustado em simultâneo aos dois grupos com as estimativas dos pesos

fatoriais fixos. O teste de diferença de χ2 retorna uma estatística de 69,467, com 30

graus de liberdade e p-valor < 0,001 (tabela 3). Nesse caso, pode-se inferir que os

pesos fatoriais diferem entre os brasileiros e estrangeiros e não devem seguir com a

análise das outras invariâncias. A mesma conclusão teríamos pela utilização da

variação do CFI, que, no modelo irrestrito, é de 0,921 e, no modelo com pesos

fatoriais fixos, é de 0,921, ou seja, uma redução do CFI de apenas 0,01, indicando a

invariância de medida fraca do modelo.

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136

Figura 5 - Invariância configuracional: Brasileiros.

Fonte: o autor.

Quando comparamos os pesos estandartizados nas figuras 5 e 6, as

diferenças entre os grupos ficam bem nítidas, por exemplo, o peso do item SOC_QV

no fator Pol_Soc do grupo de brasileiros é de 0,62, e do grupo de estrangeiros é de

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137

0,79 (Z = 2,265; p-valor =0,011)52, indicando que os estrangeiros dão maior

importância nesse quesito do que os brasileiros como componente do poder do

estado.

Figura 6 - Invariância configuracional: Estrangeiros.

Fonte: o autor.

52

Qualquer Z superior a 1,96 pode ser indicativo de diferenças estatisticamente significativas (5% de confiança).

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138

Figura 7 - Invariância de medida fraca: Brasileiros.

Fonte: o autor.

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139

Figura 8: Invariância de medida fraca: Estrangeiros.

Fonte: o autor.

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140

Tabela 3 - Comparação dos modelos fatoriais: Brasileiros versus Estrangeiros.

Assuming model Unconstrained to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Measurement weights 30 69,647 ,000 ,003 ,003 ,000 -,001

Structural weights 36 124,703 ,000 ,005 ,005 ,001 ,001

Structural residuals 43 154,942 ,000 ,006 ,006 ,002 ,002

Measurement residuals 108 350,928 ,000 ,014 ,014 ,002 ,003

Assuming model Measurement weights to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Structural weights 6 55,057 ,000 ,002 ,002 ,002 ,002

Structural residuals 13 85,296 ,000 ,003 ,004 ,002 ,002

Measurement residuals 78 281,282 ,000 ,011 ,012 ,003 ,003

Assuming model Structural weights to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Structural residuals 7 30,239 ,000 ,001 ,001 ,000 ,001

Measurement residuals 72 226,225 ,000 ,009 ,009 ,001 ,001

Assuming model Structural

residuals to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Measurement residuals 65 195,986 ,000 ,008 ,008 ,001 ,001

Fonte: o autor.

4.3.2 Civis versus Militares

Na amostra tem-se 349 civis e 782 militares. As figuras 9 e 10 apresentam as

estimativas estandartizadas do modelo final ajustado em simultâneo para civis e

militares. De acordo com os índices de ajustamento, o modelo fatorial proposto

apresenta um bom ajustamento, em simultâneo, a civis e militares, demonstrando a

invariância configuracional do modelo fatorial. Contudo, os pesos fatoriais e as

correlações são invariantes entre militares e civis? A importância de cada fator em

cada um dos itens manifestos é a mesma? Ou não diferem, significativamente, entre

civis e militares? Será que o modelo livre tem um melhor ajustamento do que o

modelo com pesos fatoriais fixos (restrito)?

Nas figuras 11 e 12 mostra-se o segundo passo na Análise Multigrupos entre

militares e civis, qual seja, a análise da invariância de medida fraca. O teste de

diferença de χ2 retorna uma estatística de 54,678 com 30 graus de liberdade e p-

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141

valor < 0,004 (tabela 4). Nesse caso, pode-se inferir que os pesos fatoriais diferem

entre os civis e militares e não deve seguir com a análise das outras invariâncias. A

mesma conclusão ter-se-ia pela utilização da variação do CFI, que, no modelo

irrestrito, é de 0,927 e, no modelo com pesos fatoriais fixos, é de 0,926, ou seja, uma

redução do CFI de apenas 0,01, indicando a invariância de medida fraca do modelo.

Figura 9 - Invariância configuracional: Civis.

Fonte: o autor.

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142

Apenas para exemplificar, vamos avaliar o peso do fator Sec_Nac no

componente de 2º Ordem do Poder, pois, a priori, cogita-se que os militares possam

dar maior importância nesse componente do poder do Estado do que os civis. Note

que, comparando esses pesos nas figuras 9 e 10, encontra-se um valor de 0,623

para os civis e de 0,912 para os militares, que são estatisticamente diferentes ao

nível de 5% (Z = 2,165; p-valor < 0,05) e permite inferir que os militares dão maior

importância do que os civis à Segurança Nacional enquanto componente do poder

do estado.

Figura 10 - Invariância configuracional: Militares.

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143

Fonte:o autor.

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144

Figura 11 – Invariância de medida fraca: Civis.

Fonte: o autor.

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145

Figura 12 - Invariância de medida fraca: Militares.

Fonte: o autor.

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Tabela 4 – Comparações dos modelos fatoriais: Civis versus Militares.

Assuming model Unconstrained to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Measurement weights 30 54,678 ,004 ,002 ,002 -,001 -,001

Structural weights 36 68,449 ,001 ,003 ,003 -,001 -,001

Structural residuals 43 246,688 ,000 ,009 ,010 ,006 ,006

Measurement residuals 108 739,063 ,000 ,028 ,030 ,018 ,019

Assuming model Measurement weights to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Structural weights 6 13,771 ,032 ,001 ,001 ,000 ,000

Structural residuals 13 192,010 ,000 ,007 ,008 ,007 ,007

Measurement residuals 78 684,385 ,000 ,026 ,027 ,019 ,020

Assuming model Structural weights to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Structural residuals 7 178,239 ,000 ,007 ,007 ,007 ,007

Measurement residuals 72 670,614 ,000 ,026 ,027 ,019 ,020

Assuming model Structural

residuals to be correct:

Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI

Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2

Measurement residuals 65 492,375 ,000 ,019 ,020 ,012 ,013

Fonte: o autor.

4.4 RESULTADOS E INFERÊNCIAS

Segundo Creswell (2013), completada a análise técnica dos dados, cabe ao

observador, como último passo do experimento, interpretá-los à luz das questões de

estudo previamente explicitadas, analisando a significância dos resultados, bem

como relacionando-os com a teoria previamente estudada.

Inicialmente, torna-se imperioso discorrer acerca das diferenças entre o

modelo inicial, obtido por meio de pesquisa qualitativa, e o final, resultado de ajustes

quantitativos a partir da percepção da defesa sul-americana. Nota-se que o modelo

de dez fatores (Político, Econômico, Militar, Social, Vontade Nacional, Ambiental,

Científico-Tecnológico, Populacional, Territorial e Cultural) evoluiu para um de 6

fatores (Sociopolítico, Econômico e Científico-Tecnológico, Segurança Nacional,

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Ideológico-Cultural, Populacional e Territorial, e Ambiental), após ouvidos os 1.131

respondentes de todo o continente.

A primeira razão para a diferença entre ambos os modelos acaba por tornar-

se um tanto quanto óbvia: o primeiro funda-se prioritariamente em conceitos e

teorias, onde há relativa independência entre os fatores, ainda que se entenda que

interagem entre si na conformação do poder do Estado; o segundo, por sua vez, já

explicita maior caráter prático, onde se captou a visão do universo selecionado.

Ficou evidente e comprovada a base filosófica de poder segundo Foucault,

reforçada pela ótica do paradigma da complexidade. O poder, segundo o autor,

advém de interações não-lineares entre seus fatores, subfatores e variáveis, onde se

estabelecem relações multidimensionais (Teixeira e Migon 2017; 2019). De acordo

com Morin (1991), os sistemas complexos afastam-se de análises reducionistas de

unidades simplificadas, voltando-se para as intrincadas relações entre as partes que

compõem o todo.

Após a realização das AFE e AFC, verificou-se que diversos subfatores foram

realocados em outros fatores, distintos do modelo teórico original, explicitando o

elevado grau de inter-relacionamento entre os componentes do poder no presente

século sob a ótica do universo estudado. Observou-se que, no caso da América do

Sul, em particular, sob a visão da Defesa, os fatores políticos e sociais apresentam

grande correlação, levando a uma fusão de seus subfatores em uma única

dimensão sociopolítica. De fato, na prática, nota-se o grande impacto dos aspectos

sociais na conformação da política dos Estados, tanto no campo interno como no

externo. Isto fica evidente, por exemplo, na atual conjuntura venezuelana: a queda

de índices sociais, como qualidade de vida, por exemplo, perpassou o campo social,

levando reflexos na estabilidade política interna, na governabilidade e na política

externa regional.

O mesmo fenômeno de fusão de fatores e subfatores ocorreu com os fatores

Econômico e Científico-Tecnológico, Militar e Vontade Nacional, Cultural e Vontade

Nacional, Populacional e Territorial, reforçando o caráter dinâmico e complexo do

constructo poder na atual conjuntura sul-americana. No caso do campo econômico e

científico-tecnológico, fica notória a característica da Era Informacional, onde a

tecnologia e a inovação impactam diretamente a produtividade das empresas, os

fluxos financeiros e até mesmo a potencialização da população economicamente

ativa. A título de exemplificação, os meios informacionais e o desenvolvimento

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tecnológico permitem terceirizações de serviços à distância; diminuem os custos

logísticos e operacionais, reduzindo custos e alavancando o ciclo econômico.

A união entre os fatores Populacional e Territorial reflete o elevado grau de

inter-relacionamento entre as dimensões representadas por seus subfatores,

conforme evidenciado no modelo ajustado da AFC 2a ordem (figura 3). De fato, a

população total de um Estado, bem como sua distribuição no campo ou na cidade,

está intimamente relacionada à área do território disponível para acomodar tais

indivíduos, sua integração e a disponibilidade de recursos (alimentares, minerais,

outros).

No caso dos novos fatores Segurança Nacional e Ideológico-cultural, ambos

surgiram a partir da incorporação dos subfatores do antigo fator Vontade Nacional

pelos fatores Militar e Cultural, respectivamente. No primeiro, o subfator Percepção

de Ameaças acrescentou caráter intangível ao core tradicional do Poder Militar. Na

prática, surgem neste item as dimensões não-estatais de S&D, como os conflitos

assimétricos, os crimes transnacionais, o crime organizado interno, as questões de

refugiados e deslocados, o terrorismo e outros, tudo somado às ameaças externas

tradicionais. Ainda, integrou-se, ao fator Segurança Nacional, o subfator Tecnologias

Espaciais, que diz respeito às capacidades de desenvolvimento e lançamento de

foguetes e satélites, de considerável correlacionamento com as questões de

Segurança & Defesa, vide, por exemplo, o Programa Estratégico do Exército

Brasileiro ASTROS 202053.

Os demais subfatores do fator original Vontade Nacional (Engajamento,

Orgulho e Coesão Nacionais) somaram-se aos remanescentes do fator Cultural

(História e Integração), amalgamando-se no novo fator Ideológico-cultural. Neste

ponto, tornar-se importante clarificar que se trata do conceito clássico do termo

“ideológico”, que aponta para o conjunto de ideias e reflexões específicas de

indivíduos, grupos e sociedades. Trata-se, portanto, da “visão de mundo” pura e

original de um povo, que orienta ações e políticas, ao contrário da noção de

“ideologia” da Teoria Crítica, entendida como uma ação que mascara o objeto, uma

falsa consciência no âmbito das relações de dominação.

Identificar a influência e a correlação da construção histórica de um povo com

sua coesão e orgulho nacionais, bem como seu reflexo na “equação do poder” de

53

Programa que objetiva a pesquisa e o desenvolvimento de um projeto de Míssil Tático de Cruzeiro de 300 km e de Foguete Guiado SS-40.

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um Estado, não é tarefa complexa. Como exemplo claro e evidente, têm-se os

estudos acerca da formação da nacionalidade brasileira. Diversas questões

histórico-culturais contribuíram para a manutenção da unidade do Brasil através dos

tempos: a miscigenação racial, a unidade linguística, a figura do governo central

forte, materializada na figura do imperador, dentre outros.

Aqui, cabe uma observação acerca dos subfatores originais Cinema, Mídia e

Turismo, que acabaram excluídos devido a sua pouca relevância e capacidade de

ajustamento no aprimoramento estatístico do modelo final. Não se pode afirmar que

tais itens não possuem impacto no cômputo final do poder em termos globais.

Porém, para o espectro analisado, defesa sul-americana, não explicitaram

importância suficiente para integrarem a composição final do constructo.

O único fator que se manteve conforme o modelo original foi o fator

Ambiental, mas que, no modelo final, evidenciou relativo nível de integração com o

fator Eco, C&T. Pode-se afirmar que a inclusão do fator Ambiental é mudança de

paradigma nas teorias que estudam a composição do poder, observado,

particularmente, nas formulações do presente século. O fator Ambiental reflete a

crescente importância das questões de meio ambiente e sustentabilidade no âmbito

das discussões sociopolíticas, científico-tecnológicas e econômicas, e que, na

atualidade, alcançam, até mesmo, temas relacionados à S&D (Jacobi 1999; Becker

2005).

Sem dúvida que o contínuo crescimento demográfico global, combinado com

a busca pelo crescimento econômico e a limitação dos recursos naturais, conduz a

maior atenção a temas relacionados à ocupação ordenada do espaço geográfico, ao

uso sustentável da biodiversidade e ao desenvolvimento de “tecnologias limpas”.

Nesse contexto, o “capital natural” cresce de importância na resultante final do poder

dos Estados, impactando outros fatores, como o Sociopolítico e Econômico. Becker

(2005), por exemplo, destaca o valor da água, considerada como “ouro azul do

século XXI”, cuja escassez, aliada ao consumo crescente em termos globais, aponta

para a previsão de disputas e, até mesmo, conflitos armados. Além de sua

importância como meio essencial de vida, a autora chama a atenção para as

pesquisas voltadas para seu emprego como fonte de energia, em razão dos isótopos

de hidrogênio.

Acerca dos inter-relacionamentos entre fatores e subfatores, mais uma vez,

tem-se que as correlações exógenas e endógenas explicitadas no modelo da figura

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3 reforçam as evidências do poder foucaultiano no modelo final encontrado, segundo

o qual, a resultante sistêmica é fruto de intrincada e complexa estrutura de fatores e

subfatores que interagem entre si em diferentes níveis, adaptando-se e evoluindo.

Portanto, de maneira ilustrativa, a educação impactará a inovação científico-

tecnológica, que, por sua vez, atingirá o desenvolvimento de energias limpas e

renováveis, tudo alterando a composição final do poder estatal, negativamente ou

positivamente.

Prosseguindo na análise do modelo final, observa-se em sua composição a

presença de elementos tangíveis (efetivos militares, população total, área total,

indústria, dentre outros) e intangíveis (orgulho nacional, coesão e história); fatores

tipicamente vinculados ao hard power (Segurança Nacional; Econômico, Científico e

Tecnológico; Populacional e Territorial), como aqueles relacionados ao soft power

(Ambiental, Ideológico-cultural, Sociopolítico), o que aponta para pleno alinhamento

com a configuração do sistema internacional do século XXI. Nele, o grande desafio

para a política e a estratégia é saber empregar o smart power, ou seja, conciliar a

aplicação do “poder da força” e do “poder da atração”, entendendo que o poder se

exercerá tanto no conflito como no consenso (Nye Jr. 1999; 2009a; 2009b; Teixeira

e Migon, 2017; 2019).

Na prática, por exemplo, a “força militar” de um Estado pode ser empregada

como meio dissuasório, ameaça direta ou, ainda, meio de cooperação, como o caso

da “diplomacia militar”. Similarmente, a “força econômico-financeira” aproxima, por

meio de tratados de cooperação e desenvolvimento econômico, zonas de livre

comércio ou construção de infraestruturas; ou impõe interesses pela aplicação de

sanções e restrições econômicas.

Quando se passa a estudar as percepções da composição do poder focando-

se os substratos amostrais, é possível identificar algumas peculiaridades de cada

grupo (civis, militares, brasileiros e demais sul-americanos). Com relação aos

fatores, nota-se unidade de percepção entre brasileiros e demais sul-americanos no

que tange o grau de importância dos fatores. Para ambos, os mais importantes, em

ordem decrescente, são: Econômico, Científico e Tecnológico; Sociopolítico;

Segurança Nacional; Populacional-territorial; Ideológico-cultural e Ambiental.

Importante ressaltar, porém, que, a despeito dos dois grupos possuírem a mesma

valoração relativa dos fatores dentro do modelo, brasileiros consideram os três

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últimos - Populacional-territorial; Ideológico-cultural e Ambiental - menos importante

que os demais países do continente.

A investigação das diferenças dos subfatores nesse substrato da amostra

apontou para algumas variações significativas em todos os fatores, menos no

Cultural-ideológico. A maior quantidade de variações relevantes pode ser

encontrada no fator Populacional-territorial. Neste, com exceção da integração

territorial, os demais sul-americanos valorizam mais todos os outros subfatores do

que os brasileiros. A maior diferença foi observada nos índices dos subfatores

População Urbana, Área Total e População Total, considerados mais significativos

pelos estrangeiros.

Na sequência, no âmbito do fator Sociopolítico, os sul-americanos denotaram

maior preocupação que os brasileiros no que se refere aos subfatores Política

Internacional, Qualidade de Vida e Saúde. No fator Segurança Nacional, encontra-se

o subfator de maior diferença entre os dois grupos, Efetivos Militares, tido como mais

expressivo pelos demais sul-americanos do que pelos brasileiros. Aqueles,

consideraram, também, como mais significativos, ainda que em menor intensidade,

os subfatores Gastos Militares e Tecnologias Espaciais. Por fim, finalizando a

análise dos subfatores entre brasileiros e demais sul-americanos, estes atribuíram

mais valor aos subfatores Recursos Financeiros (fator Econômico, Científico e

Tecnológico) e Engajamento Global (Ambiental) do que os brasileiros.

Por outro lado, a comparação entre civis e militares já evidencia algumas

percepções diferentes. Ambos compartilham do mesmo entendimento com relação

aos três de maior importância (na ordem decrescente): Econômico, Científico e

Tecnológico; Sociopolítico e Populacional-territorial. Para os demais, explicita-se

divergência de pensamento. Para os civis, após os três fatores acima elencados,

viriam os fatores Ideológico-cultural, Ambiental e Segurança Nacional. Para os

militares, a sequência seria: Segurança Nacional, Ideológico-cultural e Ambiental.

Em ternos de valores absolutos, os militares atribuíram, de maneira relevante, mais

importância que os civis aos fatores Segurança Nacional, Ambiental, Ideológico-

cultural e Populacional-territorial.

Sobre a observação dos subfatores, na comparação entre civis e militares, as

maiores divergências de percepção se dão no grau absoluto atribuído a cada

subfator, principalmente naqueles contidos nos fatores Econômico, Científico e

Tecnológico; Populacional-territorial e Ideológico-cultural. No campo econômico,

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científico e tecnológico, militares atribuíram valores mais elevados aos subfatores TI

& Comunicações, População Economicamente Ativa e Indústria, evidenciando maior

preocupação com tais temas. Dentro do fator Ideológico-cultural, militares julgam

mais relevantes que os civis54 os subfatores História, Integração Cultural e Orgulho

Nacional, sendo este último a maior diferença de percepção de todos os subfatores

do modelo. Por fim, no escopo do fator Populacional-territorial, militares consideram

mais importantes os subfatores Integração Territorial e Localização.

Em síntese, conclui-se que, de maneira geral, há uniformidade de

pensamento entre todos os representantes da defesa sul-americana, sejam

brasileiros, sejam estrangeiros, em relação ao grau de importância dos fatores

componentes do poder do Estado. Porém, por outro lado, fica evidente relativa

diferença de percepção entre civis e militares sobre o tema. Além das naturais

diferenças de princípios e valores, bem como distinções na estrutura e pensamento

organizacional, as relações civis-militares55, na América do Sul, carregam bastante

influência da evolução política de suas Repúblicas.

Não restam dúvidas que os períodos denominados de “regimes militares”

impactaram diretamente as relações civis-militares da região, conduzindo a visões

político-estratégicas distintas em relação a alguns fatores da composição do poder

do Estado. Tal quadro explica o porquê de os civis sul-americanos considerarem o

fator Segurança Nacional, marcado pela expressão militar do poder, como o de

menos importância, ao passo que, para os militares, o menos relevante seria o

Ambiental. Ressalta-se que, além do fator Segurança Nacional ser o de menor

relevância para os civis em termos relativos dentre os demais, há grande diferença

em termos absolutos entre os índices fatoriais atribuídos, constituindo-se a maior

diferença de toda a análise multigrupos.

Encerra-se esta análise, apresentando o modelo teórico final abaixo,

representativo do poder do Estado no século XXI, segundo a percepção da defesa

sul-americana:

Poder = 0,98 Socpol + 0,99. Eco,C&T + 0,87. Pop-Ter + 0,82. Seg Nac + 0,77 Amb +

0,80 Ideo-Cult + ε

54

A maioria dos subfatores divergem entre os dois subgrupos. Entretanto, para as conclusões apresentadas, selecionaram-se aqueles cuja diferença entre os valores fatoriais ultrapassavam 0,10. 55

Para maior aprofundamento acerca das relações civis-militares, ver Huntington (2016), Feaver (1999) e Lovell e Albright (1997).

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Sendo:

Socpol - Fator Político

Eco,C&T - Fator Econômico, Científico-tecnológico

Pop-Ter – Fator Populacional-Territorial

Ideo-Cult – Fator Ideológico-cultural

Seg Nac – Fator Segurança Nacional

Amb - Fator Ambiental

ε - Erro

Torna-se imperioso reforçar que não se busca, com a presente formulação,

estigmatizar o poder sul-americano de forma objetiva e imutável. Conforme

explicitou-se previamente, poder é fenômeno complexo, que evolui e adapta-se em

diversas dimensões e estruturas. Assim, o modelo final apresentado constitui-se

apenas em ferramenta de apoio às análises e conclusões político-estratégicas da

conjuntura regional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo do poder é essencial para melhor captar o cinetismo da política

internacional. Considerando-o como fenômeno complexo, torna-se necessário ir

além de sua simples conceituação, buscando identificar seus componentes e suas

dinâmicas. Ter a capacidade de mensurá-lo, portanto, torna-se essencial para

modelar o sistema estatal, no âmbito interno ou externo, constituindo-se em

ferramenta valiosa para formuladores de políticas e estratégias.

Partindo dessa premissa, a presente investigação teve por objetivo geral obter

um modelo teórico do poder do Estado, a partir da percepção da defesa sul-

americana, que espelhasse as peculiaridades do cenário global do presente século.

Para tanto, partiu-se de um modelo teórico de dez fatores, obtido em estudo

qualitativo, que, em tese, espelhava os fatores e subfatores mais representativos do

constructo. A partir deste ponto, com o foco no universo selecionado, buscou-se

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resposta às seguintes questões: todos os fatores e subfatores do modelo inicial

verdadeiramente representam as características do sistema internacional do século

XXI? Qual a relação entre eles e qual sua importância, relativa e absoluta?

Adotou-se, como visão epistemológica, o paradigma da complexidade, uma

vez que se entendeu que o objeto de estudo deveria ser analisado de forma não-

linear e plural, refletindo as singularidades e incertezas de cenários. Assim, sob tal

enfoque, realizou-se revisão da literatura, inicialmente, discorrendo-se acerca do

conceito filosófico de poder sob a ótica de Michel Foucault, segundo o qual, o

constructo atinge o máximo de seu viés relacional e complexidade. Em seguida,

revisitou-se o tema das “fórmulas do poder” (modelos teóricos), visando reforçar a

importância desses instrumentos para a análise de cenários e destacar as

características principais da composição do poder no século XXI.

Verificou-se que, segundo Foucault, o poder se manifesta em diversos níveis,

sendo resultado de interações de múltiplas forças, o que lhe imprime elevado grau

de aleatoriedade e incerteza. Para o autor, o poder está em todas as partes,

evoluindo de poder potencial para poder efetivo, em uma cadeia adaptativa de

resultantes. Ele se exercerá em meios ao consenso, mas também no conflito; estará

presente nas dinâmicas dos Estados, porém contemplará também o privado e não-

estatal.

Em sequência, explicitou-se que modelos teóricos do poder são ferramentas

cruciais para a construção de políticas e estratégias, uma vez que conferem certo

nível de empirismo à subjetividade dos estudos meramente teóricos. Observou-se,

ainda, que se trata de instrumento antigo e que acaba por incorporar as

características espaço-temporais dos sistemas em que se deseja mensurar. Nesse

particular, apresentaram-se as peculiaridade do período atual, marcado por

assimetrias, novos atores e novas ameaças, conformando-se em uma conjuntura

volátil e complexa.

Após revisitar aspectos teóricos fundamentais para a presente análise, partiu-

se para as ações metodológicas devidas, em consonância com o desenho de

pesquisa pretendido: pesquisa quantitativa. Como universo, considerou-se a defesa

sul-americana, composta por militares e civis relacionados a temas de S&D. Por

meio de web survey, contendo perguntas fechadas com respostas baseadas em

escala likert, chegou-se a uma amostra de 1.131 respondentes, entre civis e

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militares, representantes de todos os países da América do Sul, com exceção do

Suriname, da Guiana e da Guiana Francesa.

Com o objetivo de verificar o grau de ajustamento do modelo de dez fatores

obtido por meio de pesquisa qualitativa anterior (análise de conteúdo), intentou-se

verificar o grau de ajustamento de seus fatores e subfatores por meio de uma

análise fatorial confirmatória. Como o modelo inicial não apresentou boa qualidade

de ajustamento, partiu-se para a realização de uma análise fatorial exploratória, de

forma a verificar a real estrutura da escala, validando-a.

Ao final do procedimento, obteve-se um modelo de seis fatores, que foram

submetidos a uma análise fatorial confirmatória para a checagem de seu

ajustamento. Como resultado, confirmou-se o modelo de seis fatores, com o ajuste

da distribuição de subfatores, que passaram de quarenta a trinta e sete. A fusão dos

fatores e subfatores originais evidenciou claramente a expressão foucaultiana do

poder e suas complexidades, alinhando teoria ao resultado empírico.

Concluindo a investigação, faz-se mister destacar, mais uma vez, que a busca

pela compreensão do poder e sua modelagem são ferramentas essenciais à

compreensão dos sistemas estatais, endógenos e exógenos. A visão de poder sob a

ótica sul-americana, em particular, dos representantes de sua Defesa, espelha as

volatilidades do século XXI e afasta-se de conceitos rígidos e absolutos sobre o

tema. De maneira homogênea, o modelo de poder segundo a defesa do continente

aponta para o exercício do “smart power”, conjugando fatores tradicionais do “hard

power” com aqueles que expressam a vertente do consenso e atração do “soft

power”.

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159

1 APÊNDICE

1.1 AFE

Teste de KMO e Bartlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem. .972

Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 25116.376

df 666

Sig. 0.000

Comunalidades

Inicial Extração

POL_INT 1.000 .522

POL_GOV 1.000 .607

POL_EST 1.000 .558

ECO_RN 1.000 .548

ECO_RF 1.000 .543

ECO_IND 1.000 .623

ECO_INF 1.000 .728

ECO_ENE 1.000 .618

TER_AREA 1.000 .644

TER_CAP 1.000 .547

TER_INT 1.000 .585

TER_LOC 1.000 .452

POP_URB 1.000 .523

POP_TOT 1.000 .635

POP_PEA 1.000 .639

CT_INO 1.000 .668

CT_TI 1.000 .652

CT_ESP 1.000 .454

SOC_EDU 1.000 .777

SOC_SAU 1.000 .669

SOC_QV 1.000 .589

CUL_INT 1.000 .571

CUL_TUR 1.000 .518

CUL_HIS 1.000 .537

MIL_NUC 1.000 .465

MIL_MAT 1.000 .710

MIL_DEF 1.000 .698

MIL_EFE 1.000 .577

MIL_GAS 1.000 .644

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160

VON_AME 1.000 .516

VON_COE 1.000 .682

VON_ORG 1.000 .642

VON_ENG 1.000 .575

AMB_ENE 1.000 .563

AMB_SIS 1.000 .608

AMB_ENG 1.000 .590

AMB_BIO 1.000 .613

Variância total explicada

Componente

Valores próprios iniciais

Somas de extração de

carregamentos ao quadrado

Somas rotativas de

carregamentos ao quadrado

Total

% de

variância

%

cumulativa Total

% de

variância

%

cumulativa Total

% de

variância

%

cumulativa

1 15.879 42.916 42.916 15.879 42.916 42.916 8.114 21.929 21.929

2 2.183 5.901 48.817 2.183 5.901 48.817 4.446 12.017 33.946

3 1.738 4.696 53.513 1.738 4.696 53.513 3.609 9.753 43.699

4 1.151 3.111 56.624 1.151 3.111 56.624 3.016 8.152 51.851

5 1.139 3.077 59.701 1.139 3.077 59.701 2.904 7.849 59.701

6 .971 2.624 62.325

7 .800 2.163 64.487

8 .759 2.053 66.540

9 .721 1.949 68.489

10 .661 1.788 70.277

11 .632 1.709 71.986

12 .617 1.669 73.655

13 .581 1.571 75.226

14 .558 1.508 76.734

15 .541 1.462 78.196

16 .528 1.427 79.623

17 .512 1.383 81.006

18 .505 1.366 82.371

19 .486 1.315 83.686

20 .471 1.273 84.959

21 .442 1.194 86.154

22 .441 1.191 87.345

23 .412 1.113 88.458

24 .390 1.054 89.512

25 .386 1.044 90.557

26 .368 .995 91.551

27 .359 .969 92.520

28 .338 .912 93.433

29 .326 .881 94.314

30 .319 .861 95.175

31 .308 .832 96.007

32 .292 .788 96.795

33 .271 .732 97.527

34 .260 .703 98.230

35 .244 .658 98.888

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161

36 .230 .622 99.510

37 .181 .490 100.000

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162

Matriz de componente rotativa

Componente

1 2 3 4 5

POL_INT .521

POL_GOV .677

POL_EST .665

ECO_RN .409 .456

ECO_RF .630

ECO_IND .629 .404

ECO_INF .751

ECO_ENE .669

TER_AREA .720

TER_CAP .445 .457

TER_INT .527

TER_LOC .476

POP_URB .603

POP_TOT .706

POP_PEA .625

CT_INO .728

CT_TI .702

CT_ESP .562

SOC_EDU .792

SOC_SAU .631 .410

SOC_QV .586 .422

CUL_INT .635

CUL_TUR .621

CUL_HIS .511

MIL_NUC .590

MIL_MAT .716

MIL_DEF .465 .636

MIL_EFE .632

MIL_GAS .719

VON_AME .562

VON_COE .438 .590

VON_ORG .604

VON_ENG .536

AMB_ENE .439 .548

AMB_SIS .411 .581

AMB_ENG .706

AMB_BIO .716

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163

1.2 CONFIABILIDADE

1.2.1 Eco_Pol_Soc_Tec

Estatísticas de confiabilidade

Alfa de Cronbach N de itens

.944 13

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

POL_INT 51.98 75.024 .603 .943

POL_GOV 51.68 73.179 .735 .939

POL_EST 51.68 73.876 .699 .940

ECO_RF 51.80 74.025 .685 .941

ECO_IND 51.78 73.373 .725 .940

ECO_INF 51.62 72.224 .798 .937

ECO_ENE 51.62 73.420 .723 .940

POP_PEA 51.75 72.461 .723 .940

CT_INO 51.63 71.999 .762 .938

CT_TI 51.65 73.248 .760 .939

SOC_EDU 51.41 71.737 .839 .936

SOC_SAU 51.80 72.875 .743 .939

SOC_QV 51.97 74.205 .675 .941

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

POL_INT 4.05 .923 1131

POL_GOV 4.35 .914 1131

POL_EST 4.35 .901 1131

ECO_RF 4.23 .906 1131

ECO_IND 4.25 .911 1131

ECO_INF 4.41 .917 1131

ECO_ENE 4.41 .909 1131

POP_PEA 4.28 .982 1131

CT_INO 4.40 .972 1131

CT_TI 4.38 .882 1131

SOC_EDU 4.62 .911 1131

SOC_SAU 4.23 .929 1131

SOC_QV 4.06 .902 1131

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164

1.2.2 Seg_Nac

Estatísticas de confiabilidade

Alfa de Cronbach N de itens

.857 7

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

CT_ESP 3.90 1.010 1131

MIL_NUC 3.82 1.248 1131

MIL_MAT 4.11 .960 1131

MIL_DEF 4.32 1.005 1131

MIL_EFE 3.84 .972 1131

MIL_GAS 3.88 .958 1131

VON_AME 4.00 .959 1131

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

CT_ESP 23.98 21.250 .555 .846

MIL_NUC 24.05 20.190 .507 .859

MIL_MAT 23.76 19.952 .765 .817

MIL_DEF 23.55 19.927 .724 .822

MIL_EFE 24.03 21.180 .593 .840

MIL_GAS 24.00 20.666 .672 .830

VON_AME 23.87 21.288 .590 .841

1.2.3 Amb

Estatísticas de confiabilidade

Alfa de Cronbach N de itens

.806 5

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

CUL_TUR 3.21 1.011 1131

AMB_ENE 4.10 1.017 1131

AMB_SIS 3.93 .958 1131

AMB_ENG 3.47 .989 1131

AMB_BIO 3.65 1.033 1131

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165

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

CUL_TUR 15.16 10.143 .460 .808

AMB_ENE 14.27 9.264 .619 .760

AMB_SIS 14.44 9.483 .632 .757

AMB_ENG 14.89 9.507 .597 .767

AMB_BIO 14.72 9.001 .655 .748

1.2.4 Ter_Pop

Estatísticas de confiabilidade

Alfa de Cronbach N de itens

.835 7

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

ECO_RN 3.91 .987 1131

TER_AREA 3.49 1.029 1131

TER_CAP 3.90 .937 1131

TER_INT 4.14 1.004 1131

TER_LOC 3.91 .983 1131

POP_URB 3.50 .867 1131

POP_TOT 3.54 .954 1131

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

ECO_RN 22.48 17.319 .572 .814

TER_AREA 22.89 16.953 .588 .812

TER_CAP 22.49 17.241 .627 .806

TER_INT 22.25 17.179 .577 .813

TER_LOC 22.48 17.517 .548 .818

POP_URB 22.89 18.149 .554 .817

POP_TOT 22.85 17.146 .625 .806

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166

1.2.5 Cul_Ide

Estatísticas de confiabilidade

Alfa de Cronbach N de itens

.830 5

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

CUL_INT 3.79 1.048 1131

CUL_HIS 3.88 1.055 1131

VON_COE 4.23 .989 1131

VON_ORG 4.06 1.063 1131

VON_ENG 4.07 .985 1131

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

CUL_INT 16.25 10.951 .534 .823

CUL_HIS 16.16 10.608 .587 .808

VON_COE 15.81 10.262 .712 .773

VON_ORG 15.98 10.018 .685 .780

VON_ENG 15.97 10.712 .632 .796

1.2.6 Pol_Soc

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

POL_INT 4.05 .923 1131

POL_GOV 4.35 .914 1131

POL_EST 4.35 .901 1131

SOC_EDU 4.62 .911 1131

SOC_SAU 4.23 .929 1131

SOC_QV 4.06 .902 1131

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

POL_INT 21.62 14.198 .571 .884

POL_GOV 21.32 13.386 .718 .861

POL_EST 21.32 13.670 .682 .866

SOC_EDU 21.05 13.042 .783 .850

SOC_SAU 21.44 13.128 .748 .855

SOC_QV 21.61 13.677 .679 .867

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167

1.2.7 Eco_Tec

Estatísticas de confiabilidade

Alfa de Cronbach N de itens

.911 7

Estatísticas de item

Média Desvio Padrão N

ECO_RF 4.23 .906 1131

ECO_IND 4.25 .911 1131

ECO_INF 4.41 .917 1131

ECO_ENE 4.41 .909 1131

POP_PEA 4.28 .982 1131

CT_INO 4.40 .972 1131

CT_TI 4.38 .882 1131

Estatísticas de item-total

Média de escala se o

item for excluído

Variância de escala se o

item for excluído

Correlação de item

total corrigida

Alfa de Cronbach se o

item for excluído

ECO_RF 26.13 21.037 .662 .904

ECO_IND 26.11 20.459 .736 .896

ECO_INF 25.95 19.986 .795 .890

ECO_ENE 25.95 20.659 .710 .899

POP_PEA 26.08 20.199 .701 .901

CT_INO 25.95 19.872 .755 .894

CT_TI 25.98 20.555 .752 .895

1.3 AFC

1.3.1 Assessment of normality

Variable min max skew c.r. kurtosis c.r.

SOC_QV 1,000 5,000 -,886 -12,164 ,589 4,046

SOC_SAU 1,000 5,000 -1,441 -19,780 2,175 14,932

SOC_EDU 1,000 5,000 -2,884 -39,602 7,993 54,871

CT_TI 1,000 5,000 -1,879 -25,803 4,008 27,512

CT_INO 1,000 5,000 -1,976 -27,133 3,701 25,408

POP_PEA 1,000 5,000 -1,631 -22,386 2,515 17,262

ECO_ENE 1,000 5,000 -1,990 -27,322 4,172 28,642

ECO_INF 1,000 5,000 -1,966 -26,991 4,026 27,635

ECO_IND 1,000 5,000 -1,544 -21,193 2,728 18,728

ECO_RF 1,000 5,000 -1,364 -18,726 2,004 13,756

POL_EST 1,000 5,000 -1,677 -23,026 2,936 20,157

POL_INT 1,000 5,000 -1,020 -14,003 1,079 7,407

POL_GOV 1,000 5,000 -1,830 -25,120 3,649 25,049

CUL_HIS 1,000 5,000 -,799 -10,973 ,094 ,646

VON_AME 1,000 5,000 -,906 -12,432 ,556 3,817

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168

CT_ESP 1,000 5,000 -,642 -8,816 -,199 -1,364

ECO_RN 1,000 5,000 -,821 -11,277 ,458 3,142

MIL_NUC 1,000 5,000 -,775 -10,637 -,449 -3,079

MIL_MAT 1,000 5,000 -1,170 -16,066 1,216 8,347

AMB_ENE 1,000 5,000 -1,207 -16,569 1,090 7,480

CUL_INT 1,000 5,000 -,696 -9,555 -,039 -,268

AMB_SIS 1,000 5,000 -,869 -11,929 ,549 3,771

AMB_ENG 1,000 5,000 -,323 -4,429 -,180 -1,239

AMB_BIO 1,000 5,000 -,515 -7,077 -,255 -1,751

MIL_DEF 1,000 5,000 -1,652 -22,683 2,296 15,762

MIL_EFE 1,000 5,000 -,679 -9,317 ,162 1,114

MIL_GAS 1,000 5,000 -,761 -10,443 ,381 2,616

VON_ENG 1,000 5,000 -1,145 -15,716 1,096 7,524

VON_ORG 1,000 5,000 -1,121 -15,393 ,674 4,627

VON_COE 1,000 5,000 -1,391 -19,100 1,595 10,953

POP_TOT 1,000 5,000 -,338 -4,636 -,161 -1,107

POP_URB 1,000 5,000 -,492 -6,760 ,349 2,395

TER_LOC 1,000 5,000 -,827 -11,350 ,403 2,769

TER_INT 1,000 5,000 -1,240 -17,021 1,227 8,425

TER_CAP 1,000 5,000 -,760 -10,436 ,529 3,633

TER_AREA 1,000 5,000 -,292 -4,005 -,351 -2,411

Multivariate 348,910 112,165

1.3.2 Regression Weights

Estimate S.E. C.R. p-valor

Cul_Ide <--- Poder ,614 ,026 23,373 ***

Ambiental <--- Poder ,516 ,027 19,073 ***

Ter_Pop <--- Poder ,513 ,026 19,591 ***

Seg_Nac <--- Poder ,535 ,025 21,703 ***

Pol_Soc <--- Poder ,681 ,024 28,976 ***

Eco_Tec <--- Poder ,626 ,024 26,090 ***

TER_AREA <--- Ter_Pop ,857 ,059 14,568 ***

TER_CAP <--- Ter_Pop 1,120 ,059 19,008 ***

TER_INT <--- Ter_Pop 1,353 ,068 20,016 ***

TER_LOC <--- Ter_Pop 1,000

VON_COE <--- Cul_Ide 1,134 ,048 23,560 ***

VON_ORG <--- Cul_Ide 1,082 ,047 23,173 ***

VON_ENG <--- Cul_Ide 1,000

MIL_GAS <--- Seg_Nac 1,000

MIL_EFE <--- Seg_Nac ,957 ,041 23,481 ***

MIL_DEF <--- Seg_Nac 1,293 ,052 24,949 ***

AMB_BIO <--- Ambiental 1,000

AMB_ENG <--- Ambiental ,849 ,044 19,340 ***

AMB_SIS <--- Ambiental 1,118 ,053 20,919 ***

CUL_INT <--- Cul_Ide ,902 ,050 18,108 ***

AMB_ENE <--- Ambiental 1,167 ,056 20,724 ***

MIL_MAT <--- Seg_Nac 1,232 ,049 24,933 ***

MIL_NUC <--- Seg_Nac ,945 ,061 15,387 ***

POP_TOT <--- Ter_Pop ,978 ,059 16,507 ***

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169

POP_URB <--- Ter_Pop ,850 ,053 15,942 ***

ECO_RN <--- Ter_Pop 1,075 ,062 17,354 ***

CT_ESP <--- Seg_Nac ,856 ,049 17,531 ***

VON_AME <--- Seg_Nac 1,051 ,051 20,616 ***

CUL_HIS <--- Cul_Ide 1,032 ,051 20,422 ***

SOC_EDU <--- Pol_Soc 1,113 ,036 30,512 ***

SOC_SAU <--- Pol_Soc 1,020 ,038 26,815 ***

SOC_QV <--- Pol_Soc ,904 ,037 24,180 ***

POL_EST <--- Pol_Soc ,931 ,034 27,218 ***

POL_INT <--- Pol_Soc ,832 ,039 21,489 ***

POL_GOV <--- Pol_Soc 1,000

CT_INO <--- Eco_Tec 1,180 ,048 24,567 ***

CT_TI <--- Eco_Tec 1,082 ,044 24,825 ***

POP_PEA <--- Eco_Tec 1,196 ,049 24,522 ***

ECO_ENE <--- Eco_Tec 1,078 ,045 23,903 ***

ECO_INF <--- Eco_Tec 1,181 ,046 25,832 ***

ECO_IND <--- Eco_Tec 1,086 ,042 25,592 ***

ECO_RF <--- Eco_Tec 1,000

1.3.3 Standardized Regression Weights

Estimate

Cul_Ide <--- Poder ,896

Ambiental <--- Poder ,766

Ter_Pop <--- Poder ,869

Seg_Nac <--- Poder ,818

Pol_Soc <--- Poder ,979

Eco_Tec <--- Poder ,994

TER_AREA <--- Ter_Pop ,493

TER_CAP <--- Ter_Pop ,706

TER_INT <--- Ter_Pop ,795

TER_LOC <--- Ter_Pop ,600

VON_COE <--- Cul_Ide ,789

VON_ORG <--- Cul_Ide ,698

VON_ENG <--- Cul_Ide ,696

MIL_GAS <--- Seg_Nac ,683

MIL_EFE <--- Seg_Nac ,644

MIL_DEF <--- Seg_Nac ,841

AMB_BIO <--- Ambiental ,652

AMB_ENG <--- Ambiental ,578

AMB_SIS <--- Ambiental ,786

CUL_INT <--- Cul_Ide ,590

AMB_ENE <--- Ambiental ,774

MIL_MAT <--- Seg_Nac ,840

MIL_NUC <--- Seg_Nac ,495

POP_TOT <--- Ter_Pop ,605

POP_URB <--- Ter_Pop ,579

ECO_RN <--- Ter_Pop ,643

CT_ESP <--- Seg_Nac ,556

VON_AME <--- Seg_Nac ,717

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170

CUL_HIS <--- Cul_Ide ,671

SOC_EDU <--- Pol_Soc ,851

SOC_SAU <--- Pol_Soc ,765

SOC_QV <--- Pol_Soc ,697

POL_EST <--- Pol_Soc ,719

POL_INT <--- Pol_Soc ,627

POL_GOV <--- Pol_Soc ,762

CT_INO <--- Eco_Tec ,770

CT_TI <--- Eco_Tec ,777

POP_PEA <--- Eco_Tec ,768

ECO_ENE <--- Eco_Tec ,748

ECO_INF <--- Eco_Tec ,812

ECO_IND <--- Eco_Tec ,752

ECO_RF <--- Eco_Tec ,696

1.3.4 Covariances

Estimate S.E. C.R. p-valor

ter <--> amb ,038 ,007 5,396 ***

e2 <--> e3 ,133 ,013 10,165 ***

e26 <--> e27 ,140 ,018 7,915 ***

e19 <--> e20 ,070 ,011 6,158 ***

e23 <--> e22 ,058 ,011 5,405 ***

e24 <--> e23 ,055 ,011 5,222 ***

e6 <--> e4 ,055 ,013 4,376 ***

e31 <--> e20 ,101 ,015 6,932 ***

e30 <--> e31 ,209 ,028 7,597 ***

e33 <--> e34 ,167 ,023 7,335 ***

e12 <--> e11 ,111 ,018 5,983 ***

e8 <--> e13 -,126 ,018 -7,105 ***

e8 <--> e12 -,055 ,016 -3,398 ***

e8 <--> e11 -,093 ,018 -5,313 ***

e10 <--> e8 -,056 ,020 -2,833 ,005

e10 <--> e11 ,242 ,023 10,675 ***

e1 <--> e2 ,055 ,010 5,815 ***

e25 <--> e24 ,047 ,012 3,792 ***

e10 <--> e13 ,143 ,021 6,873 ***

e29 <--> e30 ,089 ,020 4,402 ***

e28 <--> e32 -,088 ,016 -5,417 ***

e8 <--> e16 ,081 ,014 5,921 ***

e15 <--> e14 ,097 ,019 5,229 ***

e29 <--> e32 -,080 ,015 -5,263 ***

e31 <--> e19 ,090 ,016 5,815 ***

e10 <--> e12 ,086 ,020 4,360 ***

e10 <--> e7 ,081 ,020 3,958 ***

e16 <--> e15 ,100 ,018 5,615 ***

e19 <--> e1 ,064 ,010 6,644 ***

e36 <--> e22 ,060 ,013 4,507 ***

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171

1.3.5 Correlations

Estimate

ter <--> amb ,299

e2 <--> e3 ,343

e26 <--> e27 ,270

e19 <--> e20 ,205

e23 <--> e22 ,179

e24 <--> e23 ,172

e6 <--> e4 ,149

e31 <--> e20 ,218

e30 <--> e31 ,230

e33 <--> e34 ,264

e12 <--> e11 ,206

e8 <--> e13 -,275

e8 <--> e12 -,128

e8 <--> e11 -,202

e10 <--> e8 -,103

e10 <--> e11 ,357

e1 <--> e2 ,194

e25 <--> e24 ,120

e10 <--> e13 ,212

e29 <--> e30 ,158

e28 <--> e32 -,244

e8 <--> e16 ,219

e15 <--> e14 ,181

e29 <--> e32 -,230

e31 <--> e19 ,175

e10 <--> e12 ,137

e10 <--> e7 ,115

e16 <--> e15 ,217

e19 <--> e1 ,218

e36 <--> e22 ,156

1.3.6 Variances

Estimate S.E. C.R. p-valor

Poder 1,000

ter ,085 ,010 8,771 ***

cul ,093 ,011 8,091 ***

amb ,187 ,019 9,943 ***

seg ,142 ,012 11,350 ***

pol ,020 ,006 3,382 ***

eco ,005 ,004 1,226 ,220

e10 ,797 ,036 22,395 ***

e9 ,440 ,021 21,119 ***

e8 ,369 ,023 16,306 ***

e7 ,617 ,028 22,308 ***

e12 ,499 ,023 21,538 ***

e11 ,577 ,027 21,241 ***

e16 ,367 ,021 17,744 ***

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172

e15 ,579 ,029 19,646 ***

e14 ,499 ,024 20,432 ***

e26 ,489 ,023 21,733 ***

e27 ,552 ,025 22,119 ***

e28 ,295 ,018 16,409 ***

e33 ,613 ,030 20,366 ***

e34 ,651 ,030 21,373 ***

e35 ,350 ,021 16,484 ***

e17 ,716 ,033 21,994 ***

e36 ,414 ,024 17,058 ***

e29 ,271 ,016 16,482 ***

e30 1,179 ,052 22,862 ***

e13 ,571 ,027 20,841 ***

e31 ,702 ,031 22,901 ***

e32 ,447 ,025 18,103 ***

e18 ,612 ,029 21,013 ***

e6 ,350 ,017 21,181 ***

e5 ,516 ,023 22,676 ***

e4 ,392 ,018 21,745 ***

e25 ,422 ,019 22,372 ***

e24 ,360 ,017 21,708 ***

e23 ,285 ,014 20,707 ***

e22 ,363 ,017 21,826 ***

e21 ,395 ,018 21,691 ***

e19 ,381 ,018 21,563 ***

e20 ,306 ,014 21,449 ***

e1 ,229 ,012 18,771 ***

e2 ,358 ,017 21,182 ***

e3 ,418 ,019 22,102 ***

1.3.7 Squared Multiple Correlations

Estimate

Eco_Tec ,988

Pol_Soc ,958

Ambiental ,587

Seg_Nac ,669

Cul_Ide ,802

Ter_Pop ,756

SOC_QV ,486

SOC_SAU ,585

SOC_EDU ,724

CT_TI ,603

CT_INO ,592

POP_PEA ,590

ECO_ENE ,560

ECO_INF ,660

ECO_IND ,565

ECO_RF ,485

POL_EST ,517

POL_INT ,394

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173

POL_GOV ,580

CUL_HIS ,450

VON_AME ,514

CT_ESP ,309

ECO_RN ,413

MIL_NUC ,245

MIL_MAT ,705

AMB_ENE ,599

CUL_INT ,348

AMB_SIS ,618

AMB_ENG ,334

AMB_BIO ,425

MIL_DEF ,708

MIL_EFE ,415

MIL_GAS ,466

VON_ENG ,485

VON_ORG ,487

VON_COE ,622

POP_TOT ,366

POP_URB ,335

TER_LOC ,361

TER_INT ,633

TER_CAP ,498

TER_AREA ,243

1.3.8 Modification Indices

Covariances: (Group number 1 - Default model)

M.I. Par Change

seg <--> eco 17,174 ,015

seg <--> pol 42,973 -,030

cul <--> eco 21,842 -,018

cul <--> amb 20,390 ,034

e3 <--> amb 18,265 ,042

e3 <--> seg 11,770 -,028

e2 <--> amb 37,783 ,055

e1 <--> eco 42,661 ,026

e1 <--> amb 13,735 -,029

e1 <--> seg 22,010 -,030

e20 <--> e1 25,519 ,040

e19 <--> ter 26,635 -,034

e21 <--> seg 11,613 -,030

e21 <--> ter 23,512 ,035

e21 <--> e1 27,009 ,049

e23 <--> ter 18,445 -,026

e24 <--> pol 15,693 -,024

e24 <--> seg 38,786 ,049

e24 <--> e3 16,547 -,045

e24 <--> e22 11,035 ,035

e25 <--> pol 13,946 ,025

e25 <--> cul 11,910 -,032

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174

e5 <--> seg 23,878 ,048

e5 <--> cul 11,614 -,035

e5 <--> e21 17,792 -,060

e5 <--> e25 13,028 ,052

e18 <--> ter 14,619 ,035

e18 <--> e3 11,741 ,052

e31 <--> ter 17,534 ,038

e31 <--> e1 12,961 -,042

e31 <--> e5 21,076 ,080

e13 <--> e19 14,333 -,052

e13 <--> e22 23,051 ,066

e13 <--> e5 11,927 ,058

e30 <--> e1 13,357 ,055

e30 <--> e6 12,935 -,067

e29 <--> amb 13,187 -,034

e36 <--> seg 13,650 -,036

e17 <--> ter 21,657 ,046

e17 <--> e30 15,697 ,107

e35 <--> ter 14,914 -,029

e35 <--> e13 15,667 -,062

e34 <--> eco 36,460 -,041

e34 <--> e23 17,014 -,052

e34 <--> e5 38,628 ,108

e33 <--> e1 13,506 -,042

e33 <--> e22 11,271 ,047

e28 <--> eco 35,272 ,032

e28 <--> e19 14,760 ,043

e28 <--> e23 18,049 ,043

e28 <--> e24 19,376 ,049

e27 <--> eco 21,458 -,029

e27 <--> ter 23,026 ,039

e27 <--> e1 12,691 -,037

e27 <--> e19 16,832 -,053

e27 <--> e13 17,382 ,070

e27 <--> e30 17,259 -,093

e27 <--> e34 12,074 ,060

e15 <--> seg 32,402 ,056

e15 <--> e26 11,571 ,052

e16 <--> e3 11,621 -,039

e11 <--> e28 11,526 -,046

e12 <--> e17 20,206 ,082

e12 <--> e28 14,757 -,051

e8 <--> amb 11,065 -,036

e8 <--> e21 15,604 ,052

e9 <--> amb 11,828 ,039

e9 <--> e2 13,358 ,042

e9 <--> e22 14,515 ,047

e9 <--> e33 11,841 ,056

e10 <--> eco 13,648 -,025

e10 <--> seg 15,638 ,042

e10 <--> e9 13,180 ,060

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175

Regression Weights: (Group number 1 - Default model)

M.I. Par Change

Pol_Soc <--- Seg_Nac 11,237 -,055

SOC_QV <--- AMB_BIO 12,169 ,062

SOC_SAU <--- Ambiental 14,731 ,102

SOC_SAU <--- ECO_RN 12,219 ,059

SOC_SAU <--- AMB_ENE 20,738 ,074

SOC_SAU <--- AMB_SIS 12,388 ,061

SOC_SAU <--- AMB_BIO 20,773 ,073

SOC_SAU <--- TER_CAP 12,882 ,063

SOC_EDU <--- POP_PEA 11,085 ,049

SOC_EDU <--- AMB_ENG 16,158 -,059

SOC_EDU <--- AMB_BIO 22,677 -,067

SOC_EDU <--- MIL_EFE 23,056 -,072

SOC_EDU <--- MIL_GAS 17,552 -,063

SOC_EDU <--- TER_AREA 14,026 -,053

CT_INO <--- ECO_RN 12,696 -,064

POP_PEA <--- TER_INT 13,828 ,072

ECO_ENE <--- ECO_RN 14,760 ,069

ECO_INF <--- ECO_RN 15,349 -,063

ECO_INF <--- AMB_ENG 19,973 -,072

ECO_INF <--- POP_TOT 21,754 -,078

ECO_INF <--- POP_URB 18,774 -,079

ECO_INF <--- TER_AREA 22,588 -,074

ECO_IND <--- CT_ESP 17,682 ,074

ECO_IND <--- MIL_MAT 11,742 ,064

ECO_IND <--- MIL_DEF 21,717 ,083

POL_INT <--- VON_AME 15,450 ,090

POL_INT <--- CT_ESP 26,611 ,112

POL_INT <--- ECO_RN 13,375 ,081

POL_INT <--- AMB_ENG 20,854 ,101

POL_GOV <--- MIL_NUC 17,391 -,060

CUL_HIS <--- AMB_ENG 14,785 ,095

CUL_HIS <--- AMB_BIO 12,184 ,083

CT_ESP <--- POL_INT 17,897 ,109

CT_ESP <--- TER_CAP 12,080 ,088

CT_ESP <--- TER_AREA 15,853 ,092

ECO_RN <--- MIL_EFE 14,175 ,089

MIL_MAT <--- Ambiental 12,254 -,099

MIL_MAT <--- AMB_ENG 12,351 -,062

CUL_INT <--- POP_URB 21,235 ,138

AMB_SIS <--- ECO_RN 14,022 -,077

AMB_ENG <--- ECO_INF 11,761 -,088

AMB_ENG <--- POL_INT 19,292 ,112

AMB_ENG <--- MIL_EFE 11,560 ,083

AMB_BIO <--- ECO_RN 11,557 ,080

MIL_DEF <--- CT_INO 14,958 ,075

MIL_DEF <--- ECO_INF 15,363 ,080

MIL_DEF <--- ECO_IND 19,293 ,091

MIL_DEF <--- POP_TOT 14,375 -,075

MIL_DEF <--- POP_URB 15,949 -,087

Page 176: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA ... · RESUMO TEIXEIRA, A. G. Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da defesa sul-americana 2018. 187 fls

176

MIL_EFE <--- ECO_RN 29,590 ,119

MIL_EFE <--- MIL_NUC 11,468 -,059

MIL_EFE <--- AMB_ENG 13,900 ,081

MIL_EFE <--- POP_TOT 27,743 ,119

MIL_EFE <--- TER_AREA 32,115 ,119

VON_ENG <--- AMB_ENG 13,638 ,081

VON_ORG <--- MIL_GAS 18,293 ,099

POP_URB <--- CUL_INT 16,366 ,081

TER_CAP <--- AMB_BIO 13,106 ,073

TER_CAP <--- TER_AREA 11,207 ,068

1.3.9 Model Fit Summary

CMIN

Model NPAR CMIN DF P CMIN/DF

Default model 108 2,219,030 558 ,000 3,977

Saturated model 666 ,000 0

Independence model 36 24,910,383 630 ,000 39,540

RMR, GFI

Model RMR GFI AGFI PGFI

Default model ,040 ,892 ,871 ,747

Saturated model ,000 1,000

Independence model ,384 ,136 ,087 ,129

Baseline Comparisons

Model NFI RFI IFI TLI

CFI Delta1 rho1 Delta2 rho2

Default model ,911 ,899 ,932 ,923 ,932

Saturated model 1,000 1,000 1,000

Independence model ,000 ,000 ,000 ,000 ,000

Parsimony-Adjusted Measures

Model PRATIO PNFI PCFI

Default model ,886 ,807 ,825

Saturated model ,000 ,000 ,000

Independence model 1,000 ,000 ,000

NCP

Model NCP LO 90 HI 90

Default model 1,661,030 1,519,842 1,809,728

Saturated model ,000 ,000 ,000

Independence model 24,280,383 23,767,632 24,799,465

FMIN

Model FMIN F0 LO 90 HI 90

Default model 1,964 1,470 1,345 1,602

Saturated model ,000 ,000 ,000 ,000

Independence model 22,045 21,487 21,033 21,946

RMSEA

Model RMSEA LO 90 HI 90 PCLOSE

Default model ,051 ,049 ,054 ,163

Independence model ,185 ,183 ,187 ,000

AIC

Model AIC BCC BIC CAIC

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Default model 2,435,030 2,442,342 2,978,363 3,086,363

Saturated model 1,332,000 1,377,091 4,682,551 5,348,551

Independence model 24,982,383 24,984,820 25,163,494 25,199,494

ECVI

Model ECVI LO 90 HI 90 MECVI

Default model 2,155 2,030 2,286 2,161

Saturated model 1,179 1,179 1,179 1,219

Independence model 22,108 21,655 22,568 22,110

HOELTER

Model HOELTER HOELTER

0.05 0.01

Default model 313 326

Independence model 32 33

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6 CONCLUSÃO

O estudo do poder torna-se essencial a todos que buscam a compreensão

das complexas dinâmicas sociais do presente século, sejam elas nacionais ou

internacionais; estatais ou não. Trata-se da “partícula catalizadora” das relações

entre Estados, grupos e indivíduos, cuja conceituação e estrutura têm sido objeto de

análise em amplo espectro disciplinar.

Particularmente, no caso das Ciências Militares e Estudos Estratégicos, a

busca pelo poder (e sua manutenção) permeia os discursos de maneira

generalizada, ainda que, por vezes, nas entrelinhas. O fenômeno das Guerras e

Conflitos seguem despertando o interesse de analistas, que os identificam como

campo fértil para inúmeros estudos científicos, onde o poder é parte intrínseca à

totalidade dos temas: “fazer valer os interesses de Estados, grupos ou indivíduos (ou

frustar o de outros)”, pela força ou consenso, constitui-se no cerne das estratégias,

técnicas e ações. A despeito da multiplicidade conceitual, bem como sua variação

no âmbito espaço-temporal, o poder é a “força-motriz” das interações,

impulsionando-as e moldando-as.

Trata-se de fenômeno complexo e adaptativo, que evolui através dos tempos,

incorporando características específicas de determinada época, local ou cultura.

Além de conceituá-lo, compreender sua composição e sua estrutura é fundamental

para analisá-lo sob a ótica das Ciências Militares, uma vez que impacta diretamente

as políticas e estratégias relacionadas aos temas de Segurança & Defesa.

No período pós Guerra Fria, intensificou-se o debate da evolução da natureza

da Guerra, em que se nota a mudança de um paradigma linear de conflito para um

fenômeno complexo e multiespectral. Os embates duais, entre Estados beligerantes,

deram lugar a novos atores e novas ameaças em um ambiente difuso e

diversificado. Ao lado de componentes tradicionais, meramente estatais, despontam

questões étnicas, culturais e religiosas; atores não governamentais variados e novas

tecnologias, que aumentam o grau de incerteza e demandam olhar amplo sobre o

tema.

Em realidade, as mudanças observadas na “Arte da Guerra” são reflexos das

transformações da conformação do poder ao longo de cenários e conjunturas

diversas. Se, em determinado momento, fatores como a capacidade econômica e

militar eram suficientes para a correlação de forças entre Estados, hoje, novas

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variáveis passam a interagir, alterando a resultante final. Dessa forma, um melhor

entendimento conceitual desse constructo, bem como a análise de seus

componentes e seu inter-relacionamento, indubitavelmente, facilitará a melhor

compreensão dos fenômenos da Paz e da Guerra no século XXI.

É nesse sentido que este trabalho investigativo visou a aprofundar-se nos

estudos do poder, tendo-se em conta seu viés complexo e relacional. Para alcançar

o objetivo geral de pesquisa de obter um modelo teórico que contivesse os fatores e

subfatores componentes do poder do Estado, representantes das peculiaridades da

conjuntura internacional do presente, sob a ótica da defesa sul-americana, o estudo

foi dividido em três partes: inicialmente, intentou-se identificar a visão filosófico-

conceitual mais adequada; após, levantou-se aqueles fatores mais relevantes para

comporem um modelo teórico atual; e, ao final, ajustou-se este modelo segundo

parâmetros estatísticos coletados no entorno regional.

No primeiro artigo, “Poder: analisando o conceito à luz das Ciências Militares”,

entendendo a importância da clarificação do conceito de poder à Ciência Política e

às Ciências Militares, o foco foi estudar as bases filosóficas do constructo, discutindo

seu conceito: “O que é?”, “Quem o detém?” e “Como é exercido?”. Para

tanto, discutiram-se as visões de Max Weber, Hanna Arendt e Michel Foucault,

procurando identificar as peculiaridades de cada teoria, suas aproximações e

afastamentos.

Observou-se que, para Arendt, a capacidade de atração e o consenso

despontam como a origem fundamental do poder, superando a coação e a força.

Segundo a autora, somente o concerto entre as partes, no espaço público, é capaz

de gerar a autoridade e a manter. Por outro lado, identificou-se que, para Weber, a

gênese do poder está no conflito e na coação, e sua manifestação se dará em meio

às disputas naturais, inerentes aos sistemas. O que importa é o cálculo estratégico,

com o objetivo de incrementar capacidades estruturais necessárias à imposição da

vontade. Concluiu-se o estudo conceitual com a visão de Foucault, onde o

constructo atinge elevado grau de abrangência, assumindo caráter omnipresente e

dinâmico. O autor francês destaca seu viés relacional, reforçando que o poder não

existe per si, mas é resultante da complexa interação de forças de determinada

conjuntura. Foucault acaba por sintetizar as visões de Arendt e Weber, explicitando

que o poder alcança o público e o privado, emergindo no conflito, mas também

presente nas expressões coletivas do consenso.

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No segundo artigo, procurou-se avançar além da mera conceituação,

aprofundando-se em sua composição, seus fatores e subfatores e sua forma de

interação. Por meio de um estudo de caso, analisou-se um conjunto de 52 modelos

teóricos do poder/fórmulas, de maneira a identificar as dinâmicas de sua

composição, levantando seus componentes mais relevantes, perenes e aqueles que

se enquadram em determinado cenário espaço-temporal. Notou-se transformação

gradual das concepções do poder, que, a partir da Guerra Fria, evoluíram de uma

composição estritamente “hard power” para a incorporação de fatores afetos ao

“smart power”, alcançando, no presente, uma composição híbrida, típica do “smart

power”, caracterizada pela não-linearidade da relação entre os componentes. Ao

final, obteve-se um modelo que continha tanto os fatores mais tradicionais – o

Econômico, o Militar, o Político, o Territorial, o Científico-tecnológico e o

Populacional - , como outros, indicadores das especificidades do Sistema

Internacional contemporâneo – o Social, o Cultural e o Ambiental.

O último artigo da pesquisa, adotando uma metodologia quantitativa,

modelagem de equações estruturais, objetivou a validação do modelo teórico de dez

fatores, obtidos na fase anterior, ajustando-o de maneira a melhor representar o

constructo poder, segundo a percepção da defesa sul-americana. Para tanto, por

meio de pesquisa eletrônica tipo survey, foram consultados civis e militares da quase

totalidade do subcontinente (excetuando-se Suriname, Guiana, Guiana Francesa),

perfazendo uma amostra de 1.131 respondentes. Ao final do procedimento

estatístico, confirmou-se um modelo de 6 fatores, a saber: Sociopolítico; Econômico,

Científico-tecnológico; Populacional-territorial; Ideológico-cultural; Segurança

Nacional e Ambiental.

Por um lado, a análise atesta, empiricamente, a complexidade do objeto

central da pesquisa, especialmente sob a ótica foucaultiana, na qual o poder advém

de uma intrincada rede de interações em diversos níveis. A fusão de fatores, antes

considerados, em teoria, isoladamente, reforça a não-linearidade e adaptabilidade

do constructo. Na prática, constatou-se que, efetivamente, o poder se exercerá de

maneira relacional e resultará de uma infinita cadeia de correlações entre variáveis

múltiplas. Também, por meio de análise multigrupos, verificou-se, de maneira geral,

certa uniformidade entre o pensamento de civis e militares, apesar de algumas

divergências, fruto de diferenças de princípios e valores organizacionais, reforçadas

por peculiaridades da evolução política sul-americana.

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Encerrando, reitera-se a extrema relevância do tema para a plena

compreensão dos sistemas estatais e suas complexidades. O momento atual,

caracterizado pela volatilidade conjuntural, quebra de paradigmas no campo das

Ciências Militares e adaptabilidades, demanda visão holística sobre a conceituação

de poder e sua análise. O modelo teórico do poder do Estado resultado desta

pesquisa, seus fatores e subfatores, explicita-se, portanto, como importante

ferramenta de análise de cenários, permitindo análise da geopolítica do presente e

suas projeções para o futuro, facilitando a consecução de políticas e estratégias

eficazes e coerentes com a percepção regional. Entretanto, faz-se mister observar

que a análise não esgota o tema, seja pela possibilidade de maior aprofundamento,

seja pela característica complexa do objeto de análise, em constante evolução e

adaptabilidade.

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