escola de comando e estado-maior do exÉrcito escola ... · resumo teixeira, a. g. modelo teórico...
TRANSCRIPT
Rio de Janeiro
2018
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA
SUL-AMERICANA.
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA
SUL-AMERICANA.
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA
SUL-AMERICANA.
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA
SUL-AMERICANA.
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA DEFESA
SUL-AMERICANA.
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO,
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da defesa sul-americana.
Orientador: Cel. (Dr.) Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon
Rio de Janeiro – RJ 2018
Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.
Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.
Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.
Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.
Tese de Doutorado apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares.
T266m Teixeira, Alexandre Gueiros
Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção
da defesa sul-americana. / Alexandre Gueiros Teixeira. 一2020.
187 f. : il. ; 30 cm.
Orientação: Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon
Tese (Doutorado em Ciências Militares)一Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, Rio de Janeiro, 2020. Bibliografia: f. 179-187.
1. PODER DO ESTADO. 2. FÓRMULAS DO PODER. 3. CENÁRIO POLÍTICO. I.
Título.
CDD 327.1
TC Art ALEXANDRE GUEIROS TEIXEIRA
Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da defesa sul-americana
Aprovado em _____/______/______
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________ EDUARDO XAVIER FERREIRA GLASER MIGON – Cel. (Dr.) – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME
_________________________________________________ WANDERLEY MESSIAS DA COSTA – Prof. Dr. – Membro
Universidade de São Paulo – USP
_________________________________________________ PAULO EVANDRO DA COSTA PINTO – CMG (Dr.) – Membro
Ministério da Defesa
_______________________________________________________________ FRANCISCO MIGUEL GOUVEIA PINTO PROENÇA GARCIA – Ten. Cor. (Dr.)
– Membro Universidade Católica Portuguesa
__________________________________________________ TASSIO FRANCHI – Prof. Dr. – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME
__________________________________________________
HELIO CAETANO FARIAS – Prof. Dr. – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Militares.
Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-
Dedico à minha esposa Danielle e aos meus
filhos Carolina e Daniel, com todo meu amor,
pela paciência sem fim, pelo incentivo
constante e pelo apoio incondicional. Amo
vocês!
Dedico à minha esposa Danielle e aos meus
filhos Carolina e Daniel, com todo meu amor,
pela paciência sem fim, pelo incentivo
AGRADECIMENTOS
Como reconhecimento pelo apoio recebido, durante a realização deste
trabalho, desejo agradecer a todos aqueles que, de forma direta ou indireta,
contribuíram para a conclusão do mesmo.
Primeiramente, agradeço a Deus pela saúde, força e Fé, que me permitiram
chegar até o final desta tarefa.
A minha família, pelo apoio incondicional, pelo amor constante, pela
compreensão e pelo incentivo nos momentos difíceis. Sem vocês nada disso seria
possível.
A meus pais, pelas orientações de hoje e sempre, pela torcida, total apoio e
orações.
Ao meu orientador, Cel. Migon, pela confiança em todos os momentos, pela
confiança, pelo incentivo, pelas orientações precisas e pela paciência nas diversas
fases desta pesquisa.
A minha irmã, Suzana, pelo exemplo, incentivo e orientações.
Aos Professores e auxiliares do Instituto Meira Mattos (IMM), meus
agradecimentos pela retirada de dúvidas, pelo incentivo hodierno, pelo apoio nas
aulas e atividades diversas.
Aos irmãos-de-arma - superiores, pares e subordinados - meus
agradecimentos pela paciência, apoio e incentivo durante todo o período em que me
dediquei a este trabalho.
Aos amigos do CCEM 13-14, bem como integrantes do programa de pós-
graduação do IMM, pelo apoio no preenchimento das diversas pesquisas aplicadas,
bem como pela paciência e ajuda nas diversas atividades deste doutorado.
A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, compartilharam comigo essa
caminhada, meus sinceros agradecimentos.
Nothing in life is to be feared, it is only to be
understood. Now is the time to understand more, so
that we may fear less. Marie Curie
RESUMO
TEIXEIRA, A. G. Modelo teórico do poder do Estado, segundo a percepção da
defesa sul-americana 2018. 187 fls. Tese (Doutorado). Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Instituto Meira Mattos, Rio de Janeiro, 2018.
A presente Tese visa à obtenção de um modelo teórico do poder do Estado,
segundo a percepção da defesa sul-americana, que expresse as peculiaridades do
Sistema Internacional do Século XXI. Para tanto, valendo-se de abordagem
multidisciplinar, tem-se uma sequência de três estudos. O primeiro tem por foco a
base filosófico-conceitual acerca do poder, com o objetivo de analisar seus
diferentes matizes, compreendendo-o e definindo-o. O segundo avança para o
estudo da estrutura do poder, seus fatores e subfatores componentes. Valendo-se
de um estudo de caso, onde 52 modelos teóricos e fórmulas do poder foram
analisados, obteve-se uma estrutura resultante; um modelo teórico com dez fatores
e quarenta subfatores. Por fim, no terceiro, ajusta-se o modelo obtido na fase
anterior, por meio de uma modelagem de equações estruturais. De forma a captar a
percepção da defesa sul-americana, foram ouvidos, por meio de questionário tipo
survey, mais de mil indivíduos, civis e militares, representantes de todo o
subcontinente, com exceção do Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Ao final, além
de se obter um modelo final ajustado de seis fatores, tem-se uma análise
multigrupos, em que se podem identificar as aproximações e afastamentos acerca
do tema entre brasileiros e estrangeiros / civis e militares, contribuindo para ampliar
as discussões e cooperar para a formulação de políticas e estratégicas relacionadas
ao incremento do poder dos Estados, tanto no nível individual como no coletivo.
Palavras-chave: Poder. Estratégia. Complexidade. Fórmula do Poder. Modelagem
de Equações Estruturais.
ABSTRACT
TEIXEIRA, A. G.Theoretical model of State power according to the percepction
of the south american defense 2018. 187 fls. Tese (Doutorado). Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército, Instituto Meira Mattos, Rio de Janeiro, 2018.
This thesis aims to obtain a theoretical model of state power, according to the
perception of the south american defense, that expresses the peculiarities of the
International System of the 21st Century. To do so, using a multidisciplinary
approach, we have a sequence of three studies. The first focuses on the
philosophical-conceptual basis of power, with the aim of analyzing its different
nuances, understanding and defining it. The second advances to the study of the
structure of power, its factors and subfactors components. Using a Case Study,
where 52 theoretical models and power formulas were analyzed, a resulting structure
was obtained; a theoretical model with ten factors and forty subfactors. Finally, in the
third, the model obtained in the previous phase is adjusted by means of a structural
equation modeling. In order to capture the perception of the south american defense,
more than a thousand individuals, civil and military, representing the entire
subcontinent, except Suriname, Guyana and French Guiana, were heard through a
survey questionnaire. Finally, in addition to obtaining an adjusted final model of six
factors, we have a multi-group analysis, in which one can identify the approximations
and departures about the subject between Brazilian and foreign / civilian and military,
contributing to broaden the discussions and cooperate for the formulation of policies
and strategies related to the increase of the power of the States, at the individual as
well as the collective level.
Keywords: Power. Strategy. Complexity. Power Formulas. Structural Equation
Modeling.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL METODOLÓGICO ........................................................................... 13
2.1 O PROBLEMA ......................................................................................................... 13
2.2 EPISTEMOLOGIA ................................................................................................... 14
2.3 OBJETIVOS ............................................................................................................ 16
2.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 16
2.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 16
2.4 SUPOSIÇÃO ........................................................................................................... 16
2.5 METODOLOGIA ...................................................................................................... 17
2.6 ESTUDOS ............................................................................................................... 21
2.6.1 Estudo 1 .............................................................................................................. 21
2.6.2 Estudo 2 .............................................................................................................. 22
2.6.3 Estudo 3 .............................................................................................................. 23
2.7 LIMITAÇÕES ........................................................................................................... 24
3 ARTIGO 1 REVISITANDO O CONCEITO DE PODER À LUZ DA TEORIA DA
COMPLEXIDADE .......................................................................................................... 27
4 ARTIGO 2 ESTIMAÇÃO DO PODER DOS ESTADOS: ESTUDO QUALITATIVO
DOS FATORES COMPONENTES ................................................................................ 53
5 ARTIGO 3 MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO, SEGUNDO
APERCEPÇÃO DA DEFESA SUL-
AMERICANA………………………………………..104
6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 179
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 183
11
1 INTRODUÇÃO
O estudo e as reflexões sobre o poder permeiam amplo espectro disciplinar,
particularmente nas ciências dedicadas ao aprofundamento e à compreensão das
relações estatais, tanto no âmbito interno, como no externo. Como resultado, tem-se
vasta gama de teorias que buscaram compreendê-lo e conceituá-lo, tornando-se
imperioso debruçar-se sobre o tema com uma visão holística, empreendendo análise
plural e integrada do constructo.
O poder é fenômeno complexo e relacional, consubstanciando-se, assim, em
componente “chave” das interações sociais, seja entre indivíduos, seja entre
estados. Compreendê-lo - seu conceito, sua composição e o inter-relacionamento de
seus fatores -, é, portanto, tarefa essencial aos estudos da Paz e da Guerra, das
Relações Internacionais ou da Política e Estratégia.
Não é mera coincidência que, no decorrer da História, identificam-se inúmeros
estudos com o escopo de analisá-lo e utilizá-lo de maneira sistematizada, com fins
políticos e estratégicos. Interessante notar que cada tentativa incorpora as
peculiaridades de uma conjuntura específica, sob influência de determinado contexto
histórico-cultural. Assim, o cálculo estratégico de Sun Tzu difere da fórmula do poder
perceptível de Ray Cline, que contém especificidades próprias quando comparado
ao Indian National Security Index (NSI).
Para sua melhor compreensão, inicialmente, há de se buscar o pleno
entendimento de suas bases filosóficas e conceituais; definindo-o, identificando sua
gênese e percebendo a forma como se exerce. Após, de forma a avançar rumo a
sua instrumentalização operacional, torna-se imprescindível desvendar sua
composição: quais elementos o compõe? Como interagem entre si? Qual o grau de
“rigidez” de sua estrutura e/ou sua “flexibilidade”?
Fórmulas ou modelos teóricos do poder constituem-se em excepcional
ferramenta no nível político-estratégico para analisar o status quo de determinado
Estado, dentro de um contexto específico, permitindo o planejamento e a execução
de ações, endógenas ou exógenas, voltadas ao incremento de suas capacidades
objetivas ou subjetivas.
Importante destacar que, nas Ciências Militares, a decomposição do poder do
Estado alinha-se com a Política Nacional de Defesa (PND), que aponta para a
ampliação do conceito de segurança. Hoje, segurança e defesa (S&D) extrapola o
12
campo militar, alcançando também o político, econômico, psicossocial, científico-
tecnológico e outros (BRASIL, 2012; BRASIL 2012a; BRASIL, 2012b).
Considerando-se a volatilidade e a não-linearidade fenomenológica do
presente século, os formuladores de políticas que possuírem a capacidade de
modelar cenários, analisar conjunturas e projetar o futuro com a maior objetividade
possível trarão enormes vantagens comparativas aos seus Estados no “tabuleiro
global”. Nesse sentido, o presente estudo visou à elaboração de um modelo teórico
do poder do Estado, contendo os fatores e os subfatores que representassem as
peculiaridades conjunturais do século XXI, captando a percepção da defesa sul-
americana.
Para tanto, à luz do paradigma da complexidade, optou-se por metodologia
mista, baseada em métodos qualitativos e quantitativos, adotando-se o modelo de
tese por artigos. O primeiro artigo tem por objetivo principal estudar o conceito de
poder, a partir de visões antagônicas e complementares, procurando estabelecer a
base filosófico-conceitual necessária para a fluidez dos passos subsequentes.
No segundo, busca-se avançar além da definição de “o que é poder”, para
desvendar sua estrutura. Valendo-se de um estudo de caso e empregando-se a
técnica de análise de conteúdo, identificam-se os fatores e subfatores componentes
do poder do Estado mais perenes e representativos através dos tempos, bem como
ressaltam-se os que identificam as idiossincrasias do presente. Por fim, ainda no
segundo artigo, chega-se a um modelo, que se considera capaz de espelhar o poder
do Estado na atualidade.
Na sequência, um terceiro artigo, de caráter quantitativo, emprega a técnica
estatística de modelagem de equações estruturais, para confirmar o modelo anterior
e ajustá-lo, obtendo-se, ao final, um modelo ajustado segundo a percepção da
defesa sul-americana. Além desta introdução, também compõe o estudo, além dos
três artigos mencionados, um capítulo tecendo considerações metodológicas gerais
e uma conclusão, apresentando os resultados de uma maneira global.
13
2 REFERENCIAL METODOLÓGICO
2.1 O PROBLEMA
A capacidade de um Estado de fazer preponderar seus interesses na arena
internacional relaciona-se diretamente a sua sobrevivência (ARON, 1985). O
conceito de poder, portanto, ocupa lugar de destaque no estudo das relações
internacionais, da ciência política, das ciências militares, e outros, suscitando
reflexão e indagações como: qual o seu dimensionamento ótimo? Quais as variáveis
que o influenciam direta ou indiretamente? Como se inter-relacionam os
componentes de sua equação? Tais inquietações, de caráter, aparentemente,
simples, trazem em si a complexidade da natureza e da conformação do poder
estatal:
A complexidade do conceito de poder parece evidente. A natureza e a variedade dos seus pressupostos, [...] nem sempre previsível dos mesmos, as induções automáticas da sua mútua e natural interação, os desvios de percepção que podem acompanhar a sua observação, determinam a dinâmica fluidez do fenômeno e, por isso, a sua ostensiva complexidade. (FONTOURA, 2007, p.6).
As incertezas da exata compleição do poder não devem, no entanto,
constituírem-se em obstáculos ao avanço das tentativas em quantificá-lo, uma vez
que dimensioná-lo é fundamental na busca por seu contínuo aperfeiçoamento.
Hwang (2008) observa que modelos de quantificação do poder visam a um novo
paradigma para o problema de definir, entender e perceber as dinâmicas entre seus
componentes e determinado contexto. Segundo o autor, isso imprime maior precisão
ao processo de tomada de decisão, uma vez que permite um correlacionamento de
dados mais veloz e eficaz, com feedbacks automáticos, que permitem o
aprimoramento sistêmico contínuo.
A dinâmica global do presente século caracteriza-se por volatilidades e
incertezas, onde se observa a ascensão de novos atores (estatais e não-estatais)
que almejam por maior participação e influência, ao passo que aqueles tradicionais
buscam meios de se manterem efetivos e influentes na condução dos rumos da
política internacional. Nesse sentido, o incremento de suas capacidades, sejam elas
14
econômicas, militares, políticas ou científico-tecnológicas, reveste-se de fundamental
importância à obtenção das vantagens comparativas necessárias.
O problema clássico da escolha entre “armas e manteiga” descortina o dilema
dos planejadores da política e estratégia nacional ao buscarem esse incremento do
poder do Estado. Como saber, com menor grau de erro, que setor necessita maior
atenção e esforço governamental para ampliar o poder nacional?
Faz-se mister, então, que, cada vez mais, as decisões políticas e estratégicas
que impactem o poder estatal estejam embasadas em processos metodológicos
claros e precisos, que justifiquem as mudanças apresentadas, minimizando
questionamentos e maximizando os resultados da aplicação dos recursos
orçamentários.
Torna-se evidente que, na atualidade, não estão claros quais os fatores mais
importantes na moldagem deste poder, como interagem entre si e em que medida
interferem no resultado final de sua conformação. Assim, levanta-se a seguinte
situação-problema:
Qual o modelo teórico que melhor representaria o poder do Estado na
atual conjuntura internacional?
2.2 EPISTEMOLOGIA
Entende-se por epistemologia como a teoria responsável pela validação do
conhecimento científico, uma vez que descortina sua origem e natureza, imprimindo-
lhe relevância e coerência. Trata-se do conjunto de crenças que norteiam a ação e
que precisam ser identificadas, já que interferem na prática da pesquisa, ainda que
de forma subjetiva (CRESWELL, 2013).
A produção do conhecimento, segundo Kuhn (1970), é dinâmica e complexa,
advindo da integração de processos reflexivos e investigativos em diversos níveis,
ao contrário de acumulação pura e simples. No transcurso investigativo, cada autor
e cada disciplina devem possuir liberdade para escolher o melhor caminho rumo à
construção de um saber específico, adotando pressupostos epistemológicos
próprios.
Apesar do amplo espectro de interpretações possíveis, há de se ter em conta
que a realidade analisada é única. Diferentes observadores, porém, hão de
interpretá-la distintamente, denotando a pluralidade do sistema: há um mundo único,
15
entretanto, existem múltiplas óticas para analisá-lo e compreendê-lo. O saber
decorre de “rumo” próprio, pelo que o pesquisador intentará descrever, explicar,
inter-relacionar e até prever os fenômenos objetos de análise.
Para a presente pesquisa, optou-se pelo paradigma da complexidade, pelo
qual resultados são produtos da reorganização de um sistema em entropia, fruto da
ação desordenada de inúmeros fatores em constante interação endógena e
exógena. Buscou-se, assim, afastamento de concepções lineares, baseadas
meramente no binômio causa-efeito; ou seja, um alinhamento entre o viés
epistemológico e a realidade da dinâmica internacional do presente.
A partir dos conceitos físicos postulados por Einstein, entende-se que as
estruturas tradicionais do racionalismo newtoniano foram abaladas, uma vez que se
fortaleceu a ideia de que uma realidade pode se explicar por diversas perspectivas.
Pela Teoria da Relatividade, a previsibilidade dos fenômenos deu lugar à
aleatoriedade.
Sistemas complexos, quando em situações de desequilíbrio, próximos ao
caos, desencadeiam processos de auto-organização. São períodos de instabilidade
e de inovação, que conduzem ao aprimoramento e à adaptabilidade dos sistemas,
ampliando ainda mais sua complexidade. Em suma, redes de agentes, por meio da
interação, desenvolvem comportamentos com alto grau de imprevisibilidade, mas
que são reincorporados, tornando os sistemas mais flexíveis e adaptados às
evoluções do meio (NICOLIS; PRIGOGINE, 1977).
Na conjuntura do pós-Guerra Fria, nota-se claramente a explicitação dos
conceitos da teoria do caos e da relatividade, onde a conformação do sistema
internacional, bem como as dinâmicas intraestatais, são caracterizadas pela
incerteza e reorganização constante. O desenvolvimento tecnológico exponencial; a
ascensão de novos atores no sistema internacional (tradicionais e não tradicionais);
a expansão dos ilícitos transnacionais; a assimetria socioeconômica entre os
Estados; as questões ambientais, étnicas e religiosas e seus reflexos, tudo impacta
a estrutura do poder dos Estados, seus fatores, variáveis e resultantes.
Diante de tal quadro, as ciências militares, defendendo a não-linearidade da
interação entre as forças globais, intra ou infraestatais, apontam para um paradigma
de pesquisa que permita melhor representar a complexidade conjuntural do século
XXI. Segundo Guba (1990), torna-se primordial a legitimação de métodos
alternativos de produção de conhecimento, uma vez que estes são respaldados por
16
paradigmas depositários de crenças basilares, norteadores da investigação
disciplinada.
Optou-se, portanto, por um paradigma que valorizasse amplo espectro
acadêmico-disciplinar e que imprimisse o máximo de pluralidade no processo de
aquisição cognitiva, de forma a adequar-se às concepções filosóficas do cenário
global contemporâneo.
2.3 OBJETIVOS
2.3.1 Objetivo Geral
Tendo em vista o problema formulado e a delimitação do tema, o objetivo
geral deste estudo é:
- Elaborar um modelo teórico representativo do poder do Estado, que
espelhe as idiossincrasias do sistema internacional contemporâneo, segundo
a percepção da defesa sul-americana.
2.3.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos são:
1. Estudar as abordagens teórico-filosóficas referentes ao conceito de poder;
2. analisar modelos teóricos do poder do Estado, identificando seus fatores e
subfatores componentes;
3. elaborar um modelo teórico contendo os fatores mais relevantes para a
composição do poder do Estado na atual conjuntura global;
4. captar a percepção da defesa sul-americana acerca desse modelo,
ajustando-o.
2.4 SUPOSIÇÃO
As suposições são a antecipação da resposta ao problema. Todo o estudo e a
pesquisa concorrerão para ratificá-las ou retificá-las ao final. No início do presente
capítulo propôs-se o seguinte problema: qual o modelo teórico que melhor
representaria o poder do Estado na atual conjuntura internacional?
17
Sob o escopo do acima apresentado, formulou-se a seguinte suposição: o
poder nacional pode ser expresso a partir de modelo teórico que contemple as
especificidades do cenário internacional contemporâneo, contendo fatores
tradicionais e outros típicos da conjuntura atual.
2.5 METODOLOGIA
Creswell (2013) destaca a busca por um enquadramento teórico geral como
ponto chave do início do planejamento de uma pesquisa. Tal visão orientará o
pesquisador durante todas as fases do estudo, desde a fundamentação filosófica da
teoria, até as fases mais avançadas do processo investigativo, como a coleta de
dados e sua análise. Esta moldura permite também que o pesquisador organize e
acomode suas ideias e pensamentos de forma ordenada e coerente, encontrando
afinidade com a literatura e obtendo o reconhecimento de audiência específica.
O autor aponta para três molduras básicas para os desenhos de pesquisa:
quantitativa, qualitativa e métodos mistos. Este estudo se aterá mais à terceira
opção, mais recente e ainda em processo de consolidação. Para explicar melhor tal
metodologia, Creswell (2013) sugere que a analisemos a partir de seus
pressupostos, que seriam a presunção filosófica do saber (visão de mundo),
estratégias de investigação e métodos de coleta e análise de dados (figura 1). A
pesquisa, na prática, dependerá, acima de tudo, da perfeita integração entre as
ideias, estratégias e procedimentos.
Figura 1 – Desenhos de pesquisa.
18
Fonte: Creswell (2013).
Os métodos mistos podem ser sequenciais, quando partem de uma das
abordagens (quali ou quanti) e, em seguida, ampliam seus resultados por meio de
outra; concomitantes, quando iniciam-se ambas as abordagens, de forma
convergente, buscando-se uma análise mais abrangente do problema, coletando
dados e analisando-os simultaneamente; transformadores, quando se utiliza da
teoria como perspectiva integradora em meio a projetos quali e quantitativos.
No que tange às estratégias de investigação, Creswell (2013) observa que,
conforme a abordagem do problema, o pesquisador poderá aproximar-se das
estratégias quantitativas (experimentos, pesquisas de opinião) ou qualitativas
(estudo de caso, fenomenologia, etnografia, etc.). Uma terceira via se dá quando se
opta tanto por uma, como por outra, adotando-se, portanto, estratégias mistas que
compreendem juntas as abordagens qualitativas e quantitativas (figura 2).
19
Figura 2 – Estratégias de investigação.
Fonte: Creswell (2013).
Sobre os métodos específicos de coleta e análise de dados, a pesquisa mista
considera todas as possibilidades: emprego de questões abertas e fechadas,
questionários, entrevistas, análises estatísticas ou textuais.
Neste estudo em concreto, tem-se como ponto de partida de alegação de
conhecimento a complexidade, na qual se entende que os fenômenos se afastam da
tradicional linearidade, advindo de complexas interações, cuja real dimensão só
pode ser captada por lentes pluridisciplinares. A partir daí optou-se pelo emprego
dos métodos mistos, por entender-se que a composição do poder será melhor
compreendida a partir de abordagens distintas, qualitativas e quantitativas.
A teoria será o ponto de partida para a identificação das variáveis mais
significativas do poder nacional (endógenas e exógenas) em conformidade com a
evolução do cenário mundial contemporâneo, seguindo-se abordagens quantitativa,
qualitativa e, por fim, quantitativa, cada uma compondo um estudo; dois realizados
no Brasil; outros dois no exterior (figura 3).
20
Figura 3 – Modelo geral de pesquisa.
Fonte: o autor.
Anl, Discussão,
Ajuste
FASE I FASE II
Anl, Discussão, Ajuste
Conceito filosófico
Pesquisa Qualitativa
Revisão Bibliográfica
Pesquisa Qualitativa
Dados: Fórmulas existentes
Técnica: Anal Contd
Modelo 4
Modelo 5
Pesquisa Quantitativa
FASE III
Dados: questionário Técnica: Anal
Fatorial
Modelo Final
21
2.6 ESTUDOS
2.6.1 Estudo 1
A primeira fase do trabalho empregou abordagem qualitativa e tem como
objetivo precípuo apresentar revisão teórico-conceitual acerca da definição do
constructo poder.
Valendo-se de referencial teórico tradicional à filosofia e à ciência política,
selecionou-se rol de autores clássicos e com visões antagônicas, de forma a se
buscar maior amplitude de análise. Assim, inicialmente, foram estudadas as
definições de poder sob a visão de Max Weber e Hannah Arendt, baseadas no
conflito e consenso, respectivamente.
Após, a análise do pensamento foucaultiano imprimiu uma terceira dimensão
conceitual e filosófica ao tema, buscando-se evoluir de uma análise linear e binária
para uma interpretação tridimensional, mais complexa e sistêmica.
A partir deste estudo, chegou-se à uma visão holística acerca das bases
filosóficas do poder, compreendendo as diversas matizes conceituais que envolvem
o tema e percebendo como impactam a modelagem desse constructo.
Figura 4 – Estudo 1.
Fonte: o autor.
Conceito filosófico
Pesquisa
Qualitativa
Revisão
Bibliográfica
FASE I
22
2.6.2 Estudo 2
A segunda fase do trabalho também adotou abordagem qualitativa e tem por
objetivo apresentar um modelo teórico representativo do poder do Estado, contendo
os fatores que melhor espelhem as peculiaridades do cenário global do século XXI.
Para isso, realizou-se revisão teórica acerca de teorias existentes que
buscaram elaborar modelos representativos do poder estatal. Ainda, buscou-se,
paralelamente, analisar as peculiaridades da política internacional, de forma a captar
suas nuances e sua correlação entre a busca pelo incremento do poder dos
Estados, de maneira a compreender sua composição sob enfoques antagônicos.
Por fim, foi realizado um estudo de caso, tendo por dados iniciais modelos
teóricos de amplo espectro espaço-temporal, empregando a análise de conteúdo
para a interpretação dos dados. Dentro do corpo de dados pesquisado, buscou-se
extrair os fatores mais relevantes à constituição do poder do Estado, bem como
aqueles típicos da conjuntura global do presente, correlacionando-os com os
aspectos teóricos pertinentes à evolução do sistema internacional e seus variados
paradigmas e com as nuances das bases filosóficas de poder estudadas.
Figura 5 – Estudo 2.
Fonte: o autor.
Modelo 1
Pesquisa
Qualitativa
Dados: Fórmulas existentes
Técnica: Anal Contd
FASE II
23
2.6.3 Estudo 3
Em uma segunda fase, adotou-se abordagem quantitativa, com a realização
de pesquisa de campo, tendo-se por objetivo ajustar o modelo teórico obtido no
estudo 2, segundo a percepção da defesa sul-americana.
Para tanto, foi considerada a seguinte população como representante da
“defesa sul-americana”: militares das Forças Armadas (Brasil e demais países da
América do Sul) com curso de Estado-Maior ou pós-graduação stricto sensu (ativa
ou reserva) e civis ligados à defesa (Brasil e demais países da América do Sul)
(diplomatas, membros do legislativo vinculados às Comissões de Relações
Exteriores e Defesa Nacional, Agências Nacionais de Inteligência, Policiais Federais,
acadêmicos estudiosos do tema, membros da justiça militar, empresários e
funcionários ligados à Base Industrial de Defesa, etc.) (ativa ou aposentados).
Tendo-se em conta a impossibilidade de mensurar com precisão o universo,
adotou-se o tipo de amostra não-probabilística por quotas, cuja seleção dos
participantes se deu por acessibilidade. No caso dos militares brasileiros, utilizou-se
o banco de dados do Departamento Geral de Pessoal do Exército e das Escolas de
Estado-Maior das três forças. Para os militares estrangeiros, o acesso se deu por
intermédio dos adidos militares, das Escolas de Curso de Estado-Maior e Altos
Estudos. Para os civis, empregou-se a consulta à mídia social Linkedin, buscando-
se alcançar aqueles que se relacionam ao universo selecionado.
Em todos os casos, valeu-se de web survey, contendo perguntas fechadas,
estruturadas em escala likert, cujo link de acesso foi enviado por meio de correio
eletrônico. Para a análise dos dados, intentou-se realizar uma Modelagem de
Equações Estruturais, utilizando análise fatorial exploratória e confirmatória por meio
do software AMOS (v. 22, SPSS, An IBM Company, Chicago, IL). Ao logo de todo o
processo de ajustamento estatístico, valeu-se, também, dos conceitos teóricos e
filosóficos dos estudos prévios.
Como resultado, esperou-se obter um modelo final ajustado estatisticamente,
e em consonância com as bases teórico-filosóficas pertinentes ao tema, que
efetivamente represente o poder do Estado do século XXI, sob a percepção da
defesa sul-americana.
24
Figura 6 – Estudo 3.
Fonte: o autor.
2.7 LIMITAÇÕES
Uma das críticas ao método dedutivo é a de que a dedutibilidade não seria
suficiente para a elucidação, não sendo, portanto, necessária, uma vez que há
explicações que não possuem qualquer lei como premissa (MARCONI; LAKATOS,
2010). Logo, as teorias que regem a relação entre as variáveis podem não ser
suficientes para explicar o constructo poder. Mesmo assim, acredita-se que o
aprofundamento da pesquisa será suficiente para corrigir uma possível distorção
dessa ordem.
O método estatístico, por permitir obter, de conjuntos complexos,
representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relação
entre si, apresenta uma limitação que é a possibilidade de falha na seleção amostral.
Para minimizar esse problema, a obtenção da amostra seguiu rigidamente os
critérios que a metodologia impõe.
Anl, Discussão,
Ajuste
Conceito filosófico Modelo 5
Pesquisa Quantitativa
FASE III
Dados: questionário Técnica: Anal Fatorial
Modelo Final
25
Além disso, também devem ser consideradas as seguintes limitações:
a) dificuldade de comunicação entre entrevistado e entrevistador;
b) incompreensão do significado das perguntas formuladas;
c) possibilidade do entrevistado sofrer influência por parte do questionador;
d) falta de disposição do entrevistado em fornecer informações necessárias;
e) retenção de dados importantes, com receio de revelação da identidade do
entrevistado;
f) pequeno grau de controle por parte do entrevistador dos métodos de coleta
de dados;
g) a entrevista ocupa muito tempo, depende da disponibilidade das pessoas e
é difícil de ser realizada;
h) não disponibilidade ou difícil acesso a documentação de interesse; e
i) baixo índice de retorno dos questionários enviados.
26
27
3 ARTIGO 1
REVISITANDO O CONCEITO DE PODER À LUZ DA TEORIA DA COMPLEXIDADE
REVISTING THE CONCEPT OF POWER IN THE LIGHT OF THE COMPLEXITY
PARADIGM
Alexandre Gueiros Teixeira1 Exército Brasileiro
Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon2 Exército Brasileiro
Artigo submetido em julho de 2017
1 Doutorando em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do
Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME). 2 Doutor em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do
Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME). Pesquisador do Laboratório de Estudos de Defesa (LED/ECEME) e do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do Instituto de Estudos Superiores Militares (CISDI/IESM).
28
Resumo
O presente artigo se propõe a revisitar os fundamentos teóricos e conceituais do
constructo poder, entendendo-o como elemento fundamental na Política. Partindo-se
de referencial teórico da filosofia e ciência política, e tendo por base epistemológica
o paradigma da complexidade, apresentou-se revisão dos pensamentos de Max
Weber, Hannah Arendt e Michel Foucault, analisando-os, em um primeiro momento,
individualmente, para, após, identificar as dinâmicas entre si. Para atingir o objetivo
proposto, a análise foi dividida em seis seções: introdução, discussão
epistemológica à luz das ciências militares, metodologia, as três perspectivas do
poder selecionadas, discussão da teoria e conclusão. Ao longo da análise,
buscaram-se as respostas para os seguintes questionamentos: o que é poder?
quem o detém? por que meios é exercido? Ao final, fica patente o caráter complexo
do objeto de estudo, seus matizes voláteis e relacionais, que impactam diretamente
as dinâmicas e fenômenos políticos.
Palavras-chave: Poder, Ciências Militares, Complexidade, Força, Consenso.
Abstract
The present article proposes to revisit the theoretical and conceptual foundations of
the power construct, assuming it as a fundamental element in the Politics. Initially, it
was presented a review of thoughts of Max Weber, Hannah Arendt and Michel
Foucault. It was held based on the theoretical framework of philosophy and political
science, and based also on the epistemological basis of the complexity paradigma.
First, the three scholars were analized separately, after what the dynamics between
them where the main object of study. To reach the proposed goal, the analysis was
divided into six sections: introduction, methodological discussion in light of the
military sciences, methodology, the three perspectives of the power, analysis and
conclusion. Throughout the analysis, we sought the answers to the following
questions: What is power? Who holds it? By what means is it exercised? In the end,
the complex nature of the object of study, its volatile and relational nuances, which
directly affect the dynamics and political phenomena, becomes evident.
Key words: Power, Military Science, Complexity, Strengh, Consensus.
29
1 Introdução3,4,5
O vocábulo poder, indubitavelmente, consiste em verdadeiro “caleidoscópio
conceitual”, por apresentar múltiplas acepções e matizes. O rol de possibilidades é
tamanho que o termo se confunde com a própria existência da humanidade,
coexistindo com a mitologia e a ciência, e despertando o interesse e a curiosidade
em muitos. Permeia as dinâmicas sociais e, em alguns casos, como na Política, nas
Ciências Militares e na Estratégia, consiste na origem das forças do complexo
dinamismo estatal. Seu estudo e análise permitem melhor compreensão dos
acontecimentos políticos do passado, da evolução dos fenômenos da Paz e da
Guerra e das assimetrias e volatilidades do sistema político do século XXI.
Por esta importância, da antiguidade aos tempos modernos, são muitos
aqueles que buscaram compreendê-lo, defini-lo e exercê-lo, cada qual com sua
ótica, dentro de sua própria realidade histórico-cultural. Uns associam-no ao conflito;
outros, à conjunção de vontades; alguns, à ação exclusiva do Estado; outra parcela,
a variados atores; ora considerando-o como fator de potência, ou seja, mera
capacidade intrínseca; ora, como ação propriamente dita, dinâmica e objetiva.
Por esta razão, para discorrer sobre poder, faz-se mister considerar múltiplas
fontes, analisando as características e as peculiaridades das variadas correlações
de força expostas em cada teoria. Sobretudo em um mundo no qual a diversidade
vigora, a relevância do poder e de sua correta análise, para cada contexto, é de
extrema relevância.
O presente estudo, portanto, tem por motivação revisitar os fundamentos
conceituais e filosóficos do constructo poder, tendo, por base, referencial teórico
3 A presente comunicação de resultados é parte dos esforços dos autores no âmbito do projeto “A
condução da política de defesa no Brasil e em perspectiva comparada”, sob incentivo do Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Assuntos Estratégicos de Interesse Nacional (Pró-Estratégia – SAE/CAPES). Também, e no caso específico do 2º autor, de pesquisa realizada no contexto dos projetos “A Inserção Brasileira em um Sistema Internacional em Transformação”, sob incentivo do Programa de apoio ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica em Defesa (Pró-Defesa – MD/CAPES) e “Rede Nacional de Estudos Estratégicos” (Pró-Estratégia). Os esforços de pesquisa do 1º autor foram conduzidos em conjunto com a frequência ao curso de Doutorado em Ciências Militares (PPGCM/ECEME), no período 2013-2016, sendo parte da tese doutoral associada. 4 Conforme orientação recente da The Scientific Electronic Library Online (SCIELO/FAPESP),
particulariza-se a participação autoral, como segue. O 1º autor participou da concepção da pesquisa, da análise e interpretação dos dados e da redação preliminar e final do texto. O 2º autor participou da concepção da pesquisa, da análise e interpretação dos dados, da revisão crítica do texto e da redação final do mesmo. 5 Os autores agradecem o apoio institucional recebido no âmbito do Instituto Meira Mattos / Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército.
30
tradicional à filosofia e ciência política. Norteado pelo paradigma da complexidade,
apresentou-se revisão dos pensamentos de Max Weber, Hannah Arendt e Michel
Foucault, buscando-se analisá-los individualmente para, em seguida, identificar as
dinâmicas entre cada teoria.
Para o desenvolvimento da proposta, foi adotada uma abordagem dividida em
seis seções. Após esta introdução, segue-se breve discussão epistemológica, tendo
por base a complexidade como paradigma balizador das análises. Na sequência,
apresenta-se o caminho metodológico seguido, após o que, tem-se o estudo
propriamente dito das perspectivas do poder dos três autores citados. Avançando-
se, discute-se o referencial teórico apresentado, identificando-se as aproximações e
afastamentos entre os conceitos analisados. Por fim, tecem-se considerações finais
sobre a revisão apresentada.
2 Complexidade: novo paradigma para as ciências militares
A base epistemológica constitui-se em alicerce fundamental, sob o qual se
constrói determinado conhecimento científico. Trata-se de teoria validadora,
entendida, também, como conjunto de crenças que norteiam as práticas, e cuja
correta identificação é vital, pois impactam diretamente, mesmo que de forma
subjetiva, o transcurso investigativo (Bachelard, 1973; Creswell, 2013).
Importante destacar que, a despeito das múltiplas interpretações possíveis, a
realidade analisada é uma só. Diferentes pessoas acabam por interpretá-la de forma
variada, agrupando percepções distintas, evidenciando uma pluralidade inerente ao
sistema: existe um mundo único, mas diversas óticas de análise. O saber advém,
portanto, de “caminho” específico a ser trilhado, por meio do qual o indivíduo
buscará descrever, explicar, inter-relacionar e até prever os fenômenos objetos de
análise.
Kuhn (1970) aponta para o caráter dinâmico do processo de aquisição do
conhecimento e a sua prevalência sobre a estrutura lógica da pesquisa científica,
negando que o progresso científico se dê por pura e simples acumulação. O autor
introduziu o conceito de paradigma e, assim, reforçou a liberdade da busca pelo
conhecimento, pela qual cada disciplina científica é livre para buscar soluções aos
seus problemas por meio de pressupostos epistemológicos próprios, jargões
31
específicos e experimentos comuns. Segundo ele, nas ciências humanas e sociais,
inexiste modelo único de paradigma de pesquisa.
As convicções existentes antes da investigação propriamente dita tornam-se,
portanto, em pressupostos para que o processo científico avance. A escolha de
determinado paradigma, de visão epistemológica específica, corresponde a uma
maneira particular de ver o mundo e praticar a ciência, e, nesse sentido, mostra-se
fundamental, definindo problemas e a natureza das soluções aceitáveis a estes.
Essa adesão profunda à maneira de observar e investigar a natureza traz
respostas a questionamentos básicos como: que entidades compõem o Universo?
Como se comportam? Como se relacionam? Permitirá ao cientista identificar onde
deve procurar, o porquê e como fazê-lo. Assim, o conhecimento advirá dentre
crenças e verdades justificadas sob fundamento lógico (Kuhn, 1970).
O presente estudo dar-se-á sob o prisma da Complexidade, entendendo esta
como visão epistêmica que, como o pós-positivismo, desponta como meio de reduzir
os desequilíbrios advindos da rigidez do empirismo positivista, marcado pelo
domínio da abordagem quantitativa, pelo controle de variáveis, tudo sob o
pressuposto da existência de relações lineares de causa e efeito.
Segundo Guba (1990), identifica-se nesses paradigmas tendência à busca
por ambientes mais naturais e o afastamento do rigor extremado com a
quantificação, reforçando-se, dessa maneira, a riqueza qualitativa. A descoberta,
juntamente com a verificação, passa a assumir papel relevante em um processo
investigativo sequencial; e a não-linearidade sobrepõe-se à linearidade na
formulação do conhecimento, uma vez que se reconhece a falibilidade dos
mecanismos de análise do pesquisador (sensitivos e cognitivos). Assim, resultados
baseados no maior número possível de fontes (teorias, métodos, especialistas e
dados) têm sua importância destacada.
Como compreender e justificar o colapso soviético de quarenta anos de
hegemonia sobre a Europa Oriental em apenas alguns meses? O que é de fato a
mente humana, o cérebro com suas conexões infinitas produzindo sensações,
memórias, consciência, pensamentos? Como se processa todo este mecanismo?
Por fim, por que existe algo além do nada? O que governa a tendência inexorável de
desordem e deterioração do Universo desde o Big Bang?
Waldrop (1992) afirma que todos estes questionamentos possuem em comum
a incerteza na busca por respostas, constituindo-se em sistemas complexos, ou
32
seja, uma combinação de inúmeros agentes interagindo entre si de diferentes
maneiras, conduzindo o conjunto a uma auto-organização espontânea. Tais grupos,
buscando mutuamente acomodação e consistência, de alguma forma, transcendem
sua própria essência, adquirindo propriedades coletivas, que jamais possuiriam
individualmente. São, portanto, adaptativos, espontâneos, possuindo um dinamismo
intrínseco, que os torna qualitativamente distintos de objetos estáticos.
A partir da não-linearidade deste novo paradigma, o todo, de fato, poderia
efetivamente mostrar-se muito maior que a soma das partes. Por exemplo, o cérebro
humano pode captar sons de distintos instrumentos de uma orquestra
separadamente. Ao se somarem, o conjunto desencadeará reações em cadeia, que
vão muito além da mera identificação de cada instrumento, produzindo emoções
variadas e reativando memórias.
Na Complexidade, portanto, tudo se encontra conectado e extremamente
suscetível às mínimas variações. Pequenas perturbações e incertezas, podem,
conforme determinado ambiente e circunstâncias, conduzir a elevado grau de
imprevisibilidade e caos, seguido por processos de auto-organização. Tal ciclo
promove a inovação e a adaptabilidade, tornando os sistemas mais flexíveis e
evoluídos (Nicolis, Prigogine, 1977).
A esta altura, surge o questionamento: diante de tamanhas incertezas, tantos
padrões de transformações e redes de conexões possíveis, como prever algo? E se
não se pode prever/inferir algo concretamente, como o conhecimento buscado sob
este paradigma pode ser considerado ciência? À luz do mecanicismo newtoniano,
certamente a resposta seria “de maneira alguma!”. Waldrop (1992), porém, reforça
que, a despeito de as predições serem sempre bem-vindas, a essência da ciência
reside no esclarecimento, que desvenda os mecanismos fundamentais da natureza.
Outra importante característica dos sistemas complexos adaptativos, segundo
Holland (1992, cit. por Waldrop, 1992), é sua estruturação por diversos níveis
organizacionais, com agentes de um nível servindo de base para outros em níveis
mais elevados. Indivíduos agrupam-se em bairros, que se agrupam em municípios, e
assim por diante, até se chegar a uma intrincada rede social, cultural e política entre
Estados.
O autor complementa, reforçando os conceitos de Nicolis e Prigogine (1977),
e afirma que tais sistemas estão constantemente revisando e reordenando sua
composição, de acordo com a evolução de sua experiência. Exemplo prático são os
33
países que revisarão alianças e acordos, buscando adaptar-se e evoluir de acordo
com o momento vigente, antecipando-se a possíveis cenários futuros.
A realidade do século XXI, a concepção dos fenômenos, internos e externos,
e seu inter-relacionamento no contexto global parecem encaixar-se a este
paradigma. A evolução tecnológica sem precedentes, a ascensão de novos atores
no sistema internacional (tradicionais e não tradicionais), o enfraquecimento do
Estado (ou não), a multiplicação de ilícitos transnacionais, a crescente assimetria
socioeconômica, as questões ambientais e seus reflexos, tudo enquadra-se no
cenário do pós-Guerra Fria, consequências, diretas ou não, do processo de
globalização.
Na prática, identificam-se, explicitamente, os conceitos da Teoria do Caos e
da Relatividade aplicados à conformação tanto do sistema internacional como dos
cenários intraestatais, nos quais a incerteza e a volatilidade conjuntural passaram a
despontar como característica marcante.
As ciências militares, no geral, e especialmente os Estudos de S&D do século
XXI, norteados pelo pensamento de Kuhn e pela defesa da não-linearidade da
interação entre variáveis, demandam paradigma6 de pesquisa que permita melhor
representar a complexidade inerente ao processo de interação entre os atores
globais.
No passado, o objetivo dos comandantes e estrategistas era preservar, ao
máximo, a ordem, a organização e a coerência de emprego durante o caos
estabelecido no campo de batalha. Keegan (1976) observa que os treinamentos
militares, reduzindo as ações de combate a um conjunto de regras e procedimentos,
visavam tão somente impor uma ordem sobre o caos.
Hoje, nenhuma resposta automática e predeterminada prevalecerá em um
mundo marcado pela incerteza e dinamismo. Entende-se que as estratégias e
planejamentos do presente, incorporando os aspectos da não-linearidade, ao invés
de tentar impor e manter a ordem, devem entender cada peça do campo de batalha
como organismos vivos, nunca em estado pleno de equilíbrio, mas em constante
adaptação ao ambiente operacional (Bousquet, 2008).
A adoção da complexidade como base epistemológica da presente análise vai
ao encontro do objeto de estudo: o poder do Estado. Por um lado, assume-se que
6 Para considerações adicionais acerca da complexidade como paradigma das Ciências Militares e
Estudos de Defesa, ver Ferreira e Migon (2015).
34
poder é tanto um constructo quanto um elemento relacional, isto é, dependente da
existência de duas ou mais entidades para existir, necessitando de abordagem
multidisciplinar.
O que é poder? De que maneira se decompõe? Como se manifesta? Ao se
buscar as respostas a tais questionamentos, fica patente a necessidade de se
enxergar o problema sob um enfoque não-linear, que tente captar o ajustamento do
objeto de investigação à realidade do presente, ou seja, sua adaptabilidade e
evolução ante o caos e desordem do sistema.
Da mesma forma, ao se refazer as mesmas indagações concernentes ao
conceito de Estado, notar-se-á uma imensa riqueza de complexas interações,
endógenas e exógenas, que se adaptam e evoluem, conforme uma escala
assimétrica no espaço/tempo internacional. Optou-se, portanto, por um paradigma
que priorize uma visão acadêmica plural nos processos de aquisição cognitiva, de
maneira a atender às demandas da atual visão de mundo que se descortina.
3 Considerações metodológicas
Uma vez apresentada a visão epistemológica que norteou a presente
investigação, faz-se mister discorrer um pouco acerca da maneira como o problema
foi abordado, bem como o caminho (ou a forma) pelo qual se buscaram as
respostas.
Trata-se de estudo qualitativo, baseado na interpretação e compreensão do
objeto de pesquisa poder, sempre com a finalidade de explicá-lo enquanto fenômeno
de destaque nas Ciências Sociais. Para tanto, o trabalho consistiu
fundamentalmente em pesquisa bibliográfica, cujo principal interesse foi descrever
visões distintas acerca do tema, para posterior interpretação e compreensão
segundo contexto específico (Quezada, 1997).
Segundo Erickson (1976), o ponto forte da pesquisa qualitativa reside em
imprimir relevância funcional a questões chave de caráter subjetivo, situando-as (e
inter-relacionando-as) dentro de contexto social amplo e abstrato. Não existe uma
realidade única e inconteste, mas aquela que se explicita no decorrer da
investigação, segundo a própria ótica e experiência subjetiva do autor. Portanto, as
ideias aqui apresentadas não se constituem em premissas incontestes, mas visam,
tão somente, a ampliar o espectro das discussões sobre poder.
35
Tendo por base as dinâmicas (endógenas e exógenas) que regem os
Estados, e, consequentemente, sua capacidade efetiva de ação, o conceito de poder
desponta como ponto focal da análise, consubstanciando-se em ponto de partida à
definição do problema de pesquisa, linha-mestra das etapas posteriores.
Sua complexidade é evidente, existindo grande variedade de percepções
acerca de sua natureza, seus pressupostos e suas interações. Trata-se de
fenômeno fluido e dinâmico, que nos leva aos seguintes questionamentos: o que é
poder? Como se explicita? No que se funda?
Diante da evidência deste problema, tomou-se por objetivo geral a realização
de estudo comparativo entre distintas visões acerca do objeto pesquisado. Surge,
neste ponto, importante questão metodológica: diante de imensa multiplicidade de
teorias e autores que estudam o fenômeno do poder, quais aqueles a serem
destacados para a pretensa discussão?
Optou-se, inicialmente, dentre aqueles que discorreram sobre o poder, pelo
universo de autores considerados clássicos7 à Filosofia e Ciência Política. A partir
daí, buscou-se selecionar os que possuíssem visões antagônicas, de forma a
imprimir maior amplitude à discussão. Nesse sentido, elencaram-se as concorrentes
de pensamento de Max Weber e Hannah Arendt, consagradas e hegemônicas cada
qual em sua linha teórica.
O primeiro alinha-se ao pessimismo de Hobbes, tendo por base a máxima da
“guerra de todos contra todos” (Hobbes, 1974), associando poder à violência. A
segunda, por outro lado, pauta sua teoria a partir do otimismo kantiano da “paz
perpétua”, considerando que os seres-humanos são capazes não apenas de agir,
mas também de se unirem uns aos outros para “gerar” poder a partir do consenso.
Foucault encerra o rol dos autores escolhidos, trazendo uma terceira
dimensão ao estudo. Entendeu-se que mais um “eixo” de investigação enriqueceria
a discussão, uma vez que se afastaria a linearidade binária de ideias opostas para
um sistema tridimensional, com maiores possibilidades de comparações e análises.
A inclusão do autor francês deveu-se, dentre outros fatores, a sua perspectiva única
e holística acerca do objeto de estudo, distanciando-se da tradicional associação
poder x Estado (público).
7 Para definição de clássico, consideraram-se aqueles autores cuja obra e pensamento revestem-se
de caráter atemporal e universalista. Aqueles que, mesmo tendo suas reflexões datadas em passado longínquo, comunicam-se com o presente de forma criativa e singular, permanecendo sempre atuais e sustentados por premissas sólidas e verdadeiras (Calvino, 2007; Heidegger, 2007).
36
No que concerne à escolha das obras, tem-se que nenhum dos autores
selecionados apresentou seu conceito de poder (ou esgotou a questão) em um
compêndio específico. Ao contrário, o tópico surge ora de forma explícita, ora
subjacente, ao longo da vasta produção científica de cada um. Sendo assim, esta
revisão procurou destacar os principais aspectos de suas teorias, a partir de
publicações diversas, não se atendo a nenhum trabalho em particular.
Por fim, adotou-se um desenho de pesquisa que permitisse atender aos
seguintes objetivos específicos: (i) apresentar as principais características do
conceito weberiano de poder; (ii) apresentar as principais características do conceito
arendtiano de poder; (iii) apresentar as principais características do conceito
foucaultiano de poder; (iv) analisar comparativamente as três teorias, destacando
suas aproximações e seus afastamentos.
4 O Poder
4.1 O Poder em Arendt
O estudo do poder destaca-se como temática central no pensamento de
Hannah Arendt, caracterizando-se, de maneira geral, pela notória crítica à tradição
política ocidental. A reflexão do tema surge, principalmente, como resultado dos
questionamentos advindos da experiência totalitária8, pelos quais a autora busca a
compreensão e o entendimento dos acontecimentos que não se explicavam mais
pela linha mestra do pensamento político tradicional.
Segundo Arendt (2006), a ideia do comum, da ação compartilhada, assume
papel basilar ao exercício pleno e legítimo da política, consubstanciando-se em um
dos elementos gênesis do poder. O espaço público, portanto, é tido como o locus
efetivo da democracia participativa, da liberdade, da ética e da transparência, pois é
nele onde o poder é exercido; não como uma qualidade individual, mas por meio da
ação coletiva.
8 A experiência de Arendt com os campos de concentração e demais arbitrariedades da Alemanha
Nazista impactaram de maneira estrutural o pensamento e a obra da autora. Em Origens do totalitarismo (1990), a autora explicita a emergência de nova modalidade de controle e dominação, crivada pela lógica da violência, da guerra e da morte. O governo totalitário conduz a alteração da essência política propriamente dita, uma vez que abandona a ideia do comum, o agir compartilhado entre os homens, evidenciando clara distensão entre ética e política.
37
Defende-se o respeito aos espaços de livre-circulação, onde os homens
possam sentir-se amparados pela presença dos iguais e, também, dos diferentes.
Nesse ambiente, a qualidade da organização da vida comum passa a ter mais valor
do que a eficácia dos aparelhos burocráticos do Estado.
Para a autora, o espaço público, origem e sustentáculo do poder, não deve se
burocratizar e se enrijecer a despeito do bem-comum. Ao contrário, necessita buscar
adequada separação entre liberdade e soberania. Fica assim evidenciada a
importância do Estado-Nação flexível, que se afasta do ideal de ação ilimitada e
soberana do Estado como instância legítima e uníssona das iniciativas públicas
(Arendt,1970; 2006).
A tradição greco-romana é tida como referência, na qual poder relaciona-se a
consentimento e não à violência. Seja nas Cidades-Estado gregas ou na Roma
antiga, a ideia de poder vinculava-se à obediência às normas coletivas. O que se
buscava era o apoio às leis, cujo consentimento havia sido dado pelo povo, ou seja,
pelo conjunto, legitimando a ação política no espaço público (Arendt, Kohn, 2008).
Ao inter-relacionar poder e bem-comum, Arendt firmava a teoria de que o
primeiro se legitima por meio do contínuo consentimento de todos ao “momento
fundacional” de certa comunidade. O poder emerge a partir da gênese das leis
consentidas, que servem de sólido fundamento à manutenção das instituições. Para
a autora, “a forma extrema de poder é o todos contra um, a forma extrema da
violência é o um contra todos” (Arendt, 2001, p.35).
Neste ponto, fica patente a necessidade de aprofundamento e clarificação
conceitual das diferenças entre poder, vigor, força, violência e autoridade.
O poder, conforme já mencionado anteriormente, advém da capacidade de
agir concertadamente, a partir de uma base legal, estabelecida e ratificada por toda
a coletividade. Ele nunca será exercido por um indivíduo, mas emanará de um
grupo, enquanto perdurarem as razões que o mantém unido; ou seja, o poder
“nasce” a partir da formação de certa coletividade e “morre” ao seu
desaparecimento, reforçando a tese de que está fortemente ligado ao momento da
fundação. Dizer que “alguém” está no poder implica dizer que foi empossado pela
comunidade para atuar em seu nome, enquanto perdurar o interesse do grupo, não
se tratando de fenômeno meramente estrutural, relacionado à posse de recursos
e/ou capacidades.
38
A partir desta definição, nota-se claramente a distinção entre poder e vigor.
Ao contrário da essência coletiva do primeiro, vigor, segundo a ótica da autora
(Arednt, 2001), explicita individualismo e realidade apolítica, constituindo-se em
atributo afeto a uma pessoa ou coisa, que pode ou não ser empregado na relação
com outros indivíduos. O que ocorre, normalmente, é que o poder se levanta contra
o vigor do mais forte, contra sua propriedade individualista.
No caso da força, não se trata de sinônimo de violência, mas da energia
advinda dos movimentos físicos e sociais; seus impactos sobre certa sociedade,
sobre o poder daquele grupo. Vê-se aí nítida diferença entre força e violência. Esta,
por sua vez, vincula-se à coação, estando relacionada à ação agressiva sobre
outrem, sendo também identificada com o ato de “matar” e “violar”. Não diz respeito
a qualquer ato coativo, mas aos que agem sobre o corpo físico do oponente, no
caso das relações sociais.
Por fim, o conceito de autoridade surge como um dos mais suscetíveis a
interpretações errôneas, fruto de seu viés aparentemente paradoxal. Se, por um
lado, não se pode falar em persuasão, por tratar-se de relacionamento
hierarquizado; por outro, tem-se o respeito e o consenso como fundamentos da
relação de mando-obediência, e não a violência (Arendt, 1963; 2002).
No modelo Arendtiano, o binômio poder-autoridade desempenha papel cíclico
e fundamental para o exercício do poder. Se retirarmos o hidrogênio da molécula de
água, esta perderá sua característica, deixando de existir como tal. Da mesma
forma, o poder só será exercido por meio da autoridade. Mas como se dá essa
relação?
Como já apresentado, o poder emerge do concerto do grupo; uma ação
coletiva, de troca de opiniões plurais e igualitárias, estabelecendo um marco
fundacional, que acaba por tornar-se o legitimador das ações subsequentes. Isto é,
as normas e regras são definidas e aceitas no momento inicial de concertação,
dentro das quais a autoridade será reconhecida e exercida.
Sobre tal aspecto, Lafer (2002, p.24) afirma: “o princípio (início) da ação
conjunta estabelece os princípios (preceitos) que inspiram os feitos e
acontecimentos da ação futura”. Para Arendt (1981, pp.212-213), o poder pode ser
considerado um “momento fugaz”, que não garante, por si só, a perenidade da
comunidade política. Mas é a autoridade que permitirá o prosseguimento cronológico
39
ao ato de obediência e o respeito às normas pré-estabelecidas, firmando-se como a
institucionalização do poder (Arendt, 2002).
Em síntese, a construção conceitual de Arendt acerca do poder procurará
refutar o elo estabelecido pelo pensamento político tradicional entre poder x
violência, contrapondo o binômio poder x consenso: “poder e violência são opostos;
onde um domina absolutamente, o outro está ausente” (Arendt, 2001, p. 44). A
substituição do poder pela violência, talvez, pode até conduzir à vitória, mas sob alto
custo, a ser “pago” tanto pelo vencido quanto pelo vencedor, em termos de seu
próprio poder (Arendt, 1970). O poder arendtiano relaciona-se, dessa forma, à
legitimidade, à autoridade, potência e constituição política, advinda do espaço
público.
4.2 O Poder em Weber
Max Weber desenvolveu uma das teorias mais consagradas acerca do poder,
evidenciando seu caráter multidimensional. Como teórico político representante da
tradição clássica, entendia poder como relação de mando e obediência, como ação
estratégica de determinado agente, que visa a empregar, com máxima eficiência, os
meios disponíveis para atingir o fim desejado: fazer valer suas vontades e intenções.
Tem-se, então, um processo peculiar ao pensamento weberiano, no qual
determinado grupo, originariamente fundado na tradição e nos sentimentos
subjetivos (afetivos ou tradicionais), transforma-se em organismo balizado pelo
cálculo compensatório de ações e pela objetividade racional.
Da racionalização e do cálculo estratégico para se impor a vontade de A a B,
ou seja, para A exercer poder sobre B, surge um conceito central na teoria de
Weber: DOMINAÇÃO, que seria toda probabilidade de um mandato obter obediência
entre interlocutores. Assim, o domínio conduz ao poder, manifestando-se de
diferentes maneiras: seja pelo triunfo de um indivíduo de fazer triunfar seus
interesses contra resistências; seja pela oportunidade de encontrar aqueles
dispostos a obedecer ao que lhes é imposto (Weber, 1978).
Em Weber (1983), o processo de racionalização conduz a um Estado forte,
soberano em suas ações, que exerce o poder calcado no domínio. Para tanto, vale-
se de estruturas burocráticas robustas, marcadas por sólido ordenamento jurídico,
40
administrativo e militar e pelo monopólio do poder sobre todos os que nasceram
naquela comunidade, ou que se encontram nas fronteiras do território.
A consolidação dos interesses estatais - seja no plano interno, seja no externo
- se dará, portanto, sempre, sob matizes de violência e conflito. A força seria a base
para a manutenção do Estado e, sem ela, as estruturas sociais se perderiam ante a
“anarquia”. A violência, apesar de não ser o único instrumento de que se vale o
Estado, lhe é específico, é seu “monopólio”; e o poder, por meio dela, efetiva-se
dentro dos limites de determinado espaço. Em Weber, a violência é “legítima”, não
por mera suposição, mas assim “considerada”, efetivamente, por todos aqueles que
se submetem à autoridade do Estado Moderno (Weber, 1979).
O elemento central do poder weberiano é, portanto, caracterizado pela
conjugação da imposição da vontade com resistência, gerando o conflito. A
superação desta é a evidência empírica do poder de fato, que, semanticamente,
acaba por se equivaler (e complementar) ao conceito de luta. Sobre isto, Weber
(1978, p. 31) afirma que “uma relação social é de luta quando a ação se orienta pelo
propósito de impor a própria vontade contra a resistência de outras das partes. É por
intermédio da luta que o poder se torna efetivo, reforçando seu caráter relacional”.
Há de se recordar que tal luta pode ser pacífica, sem a manifestação de
nenhum tipo de violência física efetiva. É fato que a luta poderá redundar em
violência, mas não existe vínculo necessário entre elas. Assim, o que caracteriza a
luta, isto é, o exercício do poder, não é o meio utilizado, mas a natureza de conflito
imanente. Autores da tradição política corroboram o pensamento de Weber,
considerando que a maioria das relações de poder baseiam-se em uma
antecipação, por parte de B, de possíveis ações negativas que poderia sofrer, caso
contrariasse os interesses e vontades de A9 (Bachrach, Baratz, 1962; Bachrach,
Baratz, 1963; Dahl, 1957).
Outro aspecto importante no estudo do poder, em Max Weber, é sua
abordagem multidimensional. Para o autor, o poder pode ser visto como uma força
que, em um processo continuado, estabelece relações e alianças com outras forças
9 Referência à definição de Robert Dahl (1957, pp.202-203): “A tem poder sobre B na medida em que
ele consegue fazer com que B faça algo que B de outro modo não faria” (tradução nossa). Para os autores, um elemento central das relações de poder é o cálculo que gera expectativas com base nas quais os atores agem.
41
históricas e valores, fazendo emergir um conflito multiespectral presente na
sociedade contemporânea (Weber, 1979).
Em sua teoria das esferas da vida social, o autor identifica seis diferentes
domínios (esferas sociais), consideradas por ele como as formas mais racionais da
realidade. São elas: a religião, o erotismo, a economia, a política, a estética e o
conhecimento científico.
Cada esfera possui suas próprias regras, valores e lógica cultural, com os
quais molda sua realidade. Se consideradas isoladamente, o resultado social seria
de normalidade, com apenas uma ou outra divergência. Porém, na prática, apesar
de autônomas, não são independentes, interagindo entre si, normalmente de forma
conflituosa.
Por exemplo, religião e conhecimento científico podem chocar-se em tempos
modernos, assim como política e economia; erotismo e religião. Enquanto violência
e poder circulam pela esfera política, a da religião as rejeita, impondo fraternidade e
amor ao próximo como valores absolutos.
Da tentativa de equacionar esferas e valores incongruentes, o conflito se
explicita por meio de tensões entre grupos sociais e forças históricas, ou, até
mesmo, de dilemas a serem enfrentados pelos próprios indivíduos. Evidencia-se, de
forma clara, a multidimensionalidade da conformação do poder e a condição de
hostilidade sempre presente.
Para Weber (1979), o advento da modernidade ampliou o conflito inerente às
dinâmicas da vida social. A despeito de ações e convicções que individualmente se
possa ter, o conflito e a culpa sempre estarão presentes.
Na prática, o autor compara a racionalidade das ações do político moderno
com a fraternidade prevista no “Sermão da montanha”. Enquanto Cristo pede que se
dê a outra face, quando se é agredido de um lado, e que se “reparta o pão” e
compartilhe seus bens com o próximo; o líder político, ao contrário, empregará força
militar em resposta às ameaças que se apresentem contra seus recursos e pessoas.
Na perspectiva de Weber, o poder emerge do conflito inerente ao próprio
dinamismo da vida em sociedade. Os homens, e a humanidade como um todo,
pautam suas ações por seus interesses, não por ideais. Na política, a “ética da
responsabilidade” se sobreporá à “ética da convicção”, tornando o conflito inevitável.
A luta, seguida de dominação, chancela o pleno e efetivo exercício do poder.
42
4.3 O Poder em Foucault
O filósofo francês Michel Foucault, em suas críticas à teoria política moderna,
buscou empreender uma análise diferenciada do fenômeno poder, ao qual atribuiu
caráter mais abrangente e complexo, ampliando os limites teóricos e as discussões
acerca do tema.
Ao invés de se colocar como objeto central o fato de que alguns indivíduos
(ou grupos) possuem um poder, que a outros falta, dever-se-ia focar nos
instrumentos, estratégias e técnicas que afetam o fenômeno da submissão nas
sociedades contemporâneas. Ele abandonou a crença no equilíbrio do poder e
afastou-se do culto à autonomia do indivíduo, concentrando-se nos mecanismos que
afetam a regularização dos corpos, da conduta e da vida (Foucault, 2003; Foucault,
2010; 2013).
A despeito da variedade metodológica e temática do autor, poder em Foucault
pode ser analisado sob uma linha mestra de pensamento, descrita como princípio da
ubiquidade do poder. Trata-se de ótica universalista, que aponta, dentre outras
coisas, para uma característica marcante do constructo: o dinamismo relacional.
Poder não se exerce diretamente - nem de imediato - sobre outros, mas age
sobre suas ações, só se manifestando após o início de um processo cinético. Não
há de se falar, portanto, em o poder; mas sim em relações de poder, que não se
originam de um ponto focal, do centro, mas de verdadeiro emaranhado de forças em
constante mutação. Segundo o filósofo francês, “o poder está em todos os lugares”,
não porque abarca todas as coisas, mas porque advém de “todas de as partes”
(Foucault, 1998, p.93; Foucault, 1982; 2013).
O poder em Foucault ultrapassa barreiras espaciais e temporais, podendo ser
considerado um princípio fundamental para a vida em sociedade. Para ele, a
humanidade não evolui rumo a um estado de direito, que substituiria as guerras. Ao
contrário, estabelece um sistema de regras pautado no conflito, seguindo de
“dominação em dominação” (Foucault, 1977, p.151).
Surge, neste ponto, outro componente da “equação do poder”, o conflito,
considerado pelo autor como “pedra fundamental” das interações sociais e políticas
na história da humanidade. Importante destacar a distinção entre conflito e violência.
O primeiro remete ao choque entre forças ou interesses antagônicos, tratando-se de
algo no campo abstrato; o segundo, por sua vez, aponta para a ação real e efetiva
43
sobre um corpo ou objeto, para dobrá-lo, forçá-lo ou destruí-lo. Para Foucault, a
violência plena anula o conflito, extinguindo o exercício do poder.
Para melhor compreender o fenômeno do conflito e seu papel nas relações de
poder, o autor propõe o estudo das resistências. Torna-se mister o reconhecimento
(pleno e contínuo) da capacidade de ação (e reação) daquele sobre quem se exerce
o poder, e a consciência de que, uma vez iniciada aquela relação, os resultados
possíveis são inúmeros e aleatórios.
O poder se exerce apenas sobre indivíduos ou grupos livres. No coração das
relações de poder, diante das inúmeras e complexas possibilidades de combinações
comportamentais possíveis, encontra-se presente certa insubordinação e
obstinação, motivadas pelos princípios de liberdade.
O problema crucial do estudo do poder não reside, portanto, na servidão
voluntária, mas no conflito permanente (e paradoxal) da vontade recalcitrante e
intransigente da liberdade, que se levanta contra à relação de poder estabelecida.
Esta não existiria sem as insubordinações, sem as tentativas de se escapar da
influência deste poder, e, até mesmo, “virar o jogo”.
Ao destacar a relevância do conflito para o “DNA” do poder, Foucault, no
entanto, não exclui o consenso. Tanto um como o outro acabam por se constituir em
instrumento (causa) e resultado (consequência), confirmando a essência dinâmica e
complexa do poder, que se renova e se adapta, independentemente de cada um
desses fatores.
Percebe-se que as relações de poder se dão de forma transversal, não
estando limitadas à esta ou aquela classe, a este ou aquele grupo social, país ou
governo. A resistência aos efeitos do poder - o conflito inerente ao processo - será
sempre omnidirecional (Foucault, 1982).
O autor prossegue, destacando que o poder incita, seduz, dificulta, sempre
atuando de forma cinética. Seu exercício consiste em conduzir um processo voltado
à obtenção de resultados específicos, envolvendo não apenas estruturas políticas
oficiais, mas um campo amplo de possíveis vetores. Um tentará impor limites às
ações do outro, não se tratando, simplesmente, de um jogo de soma-zero.
Sob esta ótica, pode-se afirmar que o exercício do poder corresponde
também a um cálculo estratégico, tendo sempre em mente a efetividade dos
instrumentos empregados em relação aos possíveis custos. Não se trata de fato
44
consumado, estanque; tampouco um direito institucional, mas opera por meio de
processos dinâmicos, ajustáveis à cada conjuntura específica.
Conclui-se, por fim, que o poder em Foucault atinge uma amplitude máxima
de atuação. Conforme o autor, “it seems [...] power is ‘always already there, that one
is never ‘outside’ it”10 (Foucault, 1980, p.141).
Não se trata de algo estático, isolado, mas de um complexo conjunto de
relações, profundamente arraigadas no nexus social, perpassando o nível estatal até
atingir as disparidades individuais, seus múltiplos interesse e reações. Por isso,
devem ser entendidas com base na evolução histórica de determinada sociedade,
sob o perfeito entendimento das origens de sua força ou fragilidade.
5 Discussão da teoria
As discussões acerca do constructo poder evidenciam, conforme estudado,
múltiplas óticas de interpretação e análise. De cada um dos autores, extraem-se
modelos teórico-conceituais distintos, que servirão de base para uma melhor
compreensão do fenômeno à luz da complexidade.
As análises de Arendt, Weber e Foucault, cada qual com nítidos pontos de
aproximação e afastamento entre si, ratificam o entendimento de poder como uma
conjugação não-linear de fatores e subfatores, que se conformam e buscam o
equilíbrio em meio à incerteza e à volatilidade situacional. Mas, afinal, quem detém o
poder? Qual sua origem, sua fonte?
Em Arendt, tem-se o “consenso” como o grande “epicentro” do poder. É,
portanto, o GRUPO (de indivíduos, de entidades, órgãos, Estados, etc.) aquele que
efetivamente o possui. No plano interno, o apoio “do povo” mostra sua elevada
capacidade de gerar poder, mesmo em países totalitários. Massas, unidas pelo
descontentamento contra o status quo, imprimem dinâmicas sociopolíticas próprias
e, por meio de ondas de protestos e revoltas, acabam por impactar e alterar cenários
tradicionais.
Questões socioeconômicas, como desemprego, qualidade de vida, segurança
pública, direitos humanos, dentre outros, passam, mesmo que de forma indireta, a
se oporem aos tradicionais aspectos de “força” e “vigor”, seja de caráter militar,
10
“Parece que [...] o poder sempre está presente, aquele (o indivíduo) nunca está ‘fora’ dele”(tradução nossa).
45
econômico ou político. Segundo a visão arendtiana, o aparato militar e a repressão
política dos regimes totalitários não são capazes de conformar o poder de forma
perene e legítima, como o consenso coletivo.
No plano externo, o pensamento de Arendt acerca do “consenso”, formador e
legitimador do poder de um Estado, reforça-se ante teoria do “poder estrutural de
rede” (Kim, 2010). Segundo o autor, trata-se de novo enfoque nas discussões
relativas à construção do poder, diretamente relacionado à capacidade de certo
Estado de ascender de posicionamento na estrutura internacional, fruto de suas
conexões e das redes a que pertence.
Países de maior centralidade, ou seja, aqueles com o maior número de
conexões no sistema internacional, seriam, essencialmente, os mais poderosos, seja
por sua capacidade de influenciar outros agentes, seja pela possibilidade de controle
da maior quantidade de recursos disponíveis em toda a rede. Por exemplo, países
com maior participação em organismos multilaterais, com elevada capacidade de
atração (soft power), seriam, portanto, os de maior centralidade, aqueles detentores
de maior poder.
Já em Weber, ao invés do “consenso” arendtiano, o poder se explicita pela
dominação exercida no ambiente conflituoso. A “fonte de poder” não é coletiva, mas
singular e unidirecional, não importando o interesse do grupo, mas apenas a
vontade e o cálculo racional do ator.
Tanto no campo interno como no externo, a racionalidade estratégica conduz
ao acúmulo de capacidades e ao (re)ordenamento estrutural necessários para que
se estabeleçam os devidos meios de coerção. Como explicar as intervenções
(militares ou não) de certos Estados, ou grupos de Estados, em questões internas
de terceiros? Por que certos atores optam pela demonstração ou imposição de força
ao invés da cooperação e do diálogo? Como entender censuras e controles internos
impostos por certos governos? Qual o interesse de determinados Estados sobre
territórios de localização estratégica ou ricos em matérias primas?
Endogenamente, o “poder do povo” estará limitado pelo rigor burocrático do
Estado forte; exogenamente, prevalecerá o acúmulo de força stricto sensu, ou seja,
o vigor do agente. A visão weberiana de poder evidencia, portanto, de forma
46
explícita, o pensamento da Raison d’Etat11 francesa, onde os fins justificam os
meios, importando sobremaneira o acúmulo/desenvolvimento de capacidades,
indispensáveis para a prevalência do interesse de A ante o conflito com B.
Ao passo que Arendt, inspirada pelo imperativo categórico12 kantiano, funda
seu pensamento na liberdade e ética do espaço público; o pensamento weberiano
se estrutura a partir da visão pessimista de Hobbes, segundo a qual, todos os
homens são inimigos entre si, conduzindo-se constantemente em meio à luta e ao
caos pela sobrevivência e reconhecimento no mundo natural.
Em Weber, a autoridade de A em relação a B (ou C, ou D, ou ambos, etc.), ou
seja, a legitimação de seu poder, não se dá pelo concerto entre as partes (visão
arendtiana), mas pela capacidade de coerção, pelos meios de que se dispõe para
fazer valer seus interesses, segundo a análise estratégica e racional.
Por outro lado, em Foucault, tem-se o caráter omnipresente do poder: sua
gênese não está meramente no consenso coletivo, tampouco nas capacidades
individuais de A ou B; está em tudo, emergindo como resultante de processo -
dinâmico e aleatório -, de interação de forças e vontades diversas. Na teoria do autor
francês, o constructo analisado atinge o máximo de seu viés relacional.
Em comparação com os conceitos da física moderna, o poder, segundo
Foucault, equivaler-se-ia, a grosso modo, aos postulados acerca da energia.
Segundo a Teoria da Relatividade de Einstein, um corpo parado e não submetido à
força alguma já possui uma energia intrínseca pelo simples fato de possuir massa. A
relação energia x massa se alterará conforme varie a velocidade, e, segundo a
famosa fórmula E=MC2 13, quanto maior a velocidade, maior a energia liberada.
Cada ator possui características e capacidades próprias, uma espécie de
poder “potencial”, latente, que se explicitará a medida que a dinâmica entre os
agentes avance. Como a energia, o poder está presente em todas as coisas; e, a
cada resposta à determinada ação, novo cenário se apresenta e, portanto, novos
fatores, subfatores e variáveis se explicitam, interagindo entre si e com o meio de
11
Razão do Estado (tradução do autor): conceito criado por Richelieu, em substituição aos valores morais e universais da Idade Média, segundo o qual, para se promover o bem-estar do Estado, quaisquer meios eram válidos (Bobbio, 1986; Kissinger, 1994; Blanchard, 2011). 12
Teoria desenvolvida por Emmanuel Kant, segundo a qual, há uma obrigação moral geral e única, que explica e norteia todas as demais. Trata-se de dever incondicional ou obrigação, independentemente de vontade ou desejos pessoais (Kant, 1997). 13
Em 1905, Einstein publicou o artigo sobre a Teoria da Relatividade Especial, no qual estabeleceu a famosa equação E = mc
2, sendo E a energia relativística, M, sua massa e C a velocidade da luz
(Einstein, Minkowski, 1983).
47
forma cíclica e extremamente suscetível a variações. Em Foucault, o poder potencial
se tornará em poder efetivo à medida em que se ampliarem as relações de
determinado sistema.
Deste dinamismo advém traço marcante das relações de poder sob a ótica de
Foucault: o elevado grau de imprevisibilidade. É fenômeno complexo, no qual rede
intrincada de agentes reagem diferentemente a diversos estímulos interativos,
desenvolvendo comportamentos incertos e instáveis dentro de uma moldura espaço-
temporal específica. Em Foucault, as relações de poder se darão em todas as
direções. O estatal, o social, o econômico, o político, o militar, o cultural, o ambiental,
etc.; tudo se relacionará, conformando-se em uma sequência adaptativa sem-fim de
forças resultantes.
Importante destacar que, se a imprevisibilidade é total em Foucault, ela é
relativa em Arendt e Weber. Se, por um lado, a interação das variáveis para a
obtenção do consenso arendtiano ou do conflito/domínio weberiano dá-se de forma
incerta e aleatória; por outro, ambos (consenso e conflito/domínio) constituem-se em
pressupostos essenciais para o exercício do poder em suas respectivas teorias,
imprimindo-lhes certo grau de previsibilidade.
Por fim, o pensamento de Foucault se unirá ao de Arendt na crítica à ação
única e suprema do Estado e à rigidez dos limites da burocracia estatal weberiana.
Ambos reforçam o quadro atual de exaurimento do modelo consagrado do Estado-
Nação, advogando o exercício do poder através de espaços de livre-circulação, sob
o escopo da flexibilização do conceito tradicional de soberania.
Hoje, fenômenos transnacionais (terrorismo, crime organizado, deslocados e
refugiados, meio-ambiente, mídias sociais) desafiam a noção clássica de fronteiras e
apontam para uma multiplicidade de agentes capazes de impactar de maneira
complexa a análise do poder dos Estados.
Em Foucault, a “resultante” das relações de poder representa, na prática, algo
como uma síntese da visão de cada autor discutido. Por exemplo, dependerá da
opinião pública de determinada unidade política (ou a nível internacional), uma vez
que se fundamenta sob consensos, constituindo-se em fenômeno coletivo. Isso
exclui da concepção de poder a posse, pura e simples, de determinada riqueza ou
bem que, isoladamente, em nada cooperam ao seu exercício sem a vontade comum
da sociedade.
48
Porém, se, por um lado, a sustentação do poder advém do consenso, é fato
que, vez por outra, prevalecerão o conflito e as visões divergentes. Nestes instantes,
as capacidades militar e econômica, por exemplo, têm seu valor ressaltado, uma vez
que uma das partes conflitantes poderá ceder (ou se sujeitar) aos interesses do mais
“poderoso”, por imposição ou dissuasão.
Sob as lentes dos três autores estudados, a despeito das divergências
naturais, fruto de distintas e anacrônicas experiências pessoais, identifica-se um
núcleo comum de pensamento, de onde extraem-se as seguintes premissas: poder,
stricto ou lato sensu, é, indubitavelmente, um fenômeno complexo; seu pleno
exercício implica consubstanciação de vontade e liberdade para agir; é fenômeno
relacional e, por fim, contará sempre com a presença do Estado em sua composição
e/ou exercício.
6 Considerações finais
O poder é um dos componentes essenciais à Política. É o catalisador de
inúmeras ações e reações, que acaba por moldar cada sistema, interno ou externo,
sempre marcado pela imprevisibilidade e caos. Suas fontes são inúmeras, e sua
conformação, caracterizada pela adaptatividade espontânea, explicita-se como
extremamente suscetível às mínimas variações conjunturais.
Trata-se de conceito difuso, complexo e, muitas vezes, controverso, que, no
avançar da História, revestiu-se de diversas matizes. Seu entendimento implica
perceber as intrincadas dinâmicas das relações sociais, que acabam por moldar
todo o conjunto (de pessoas, Estados, etc.). Sua multiplicidade semântica exige,
portanto, mudança de paradigma no sentido de se abandonar a fidelização a essa
ou aquela teoria, buscando-se uma análise mais holística do constructo.
Norteado por este pensamento, bem como pela importância da clarificação do
conceito de poder à Ciência Política e às Ciências Militares, o presente estudo visou
a ampliar a discussão sobre o tema, buscando respostas para os seguintes
questionamentos: O que é poder? Quem o detém? Por que meios é exercido? Para
tanto, optou-se pela realização de análise comparativa das ideias de Max Weber,
Hanna Arendt e Michel Foucault, tendo por fundamento epistemológico a
complexidade.
49
Em Arendt, o consenso desponta como elemento chave, responsável pela
gênese da autoridade, fundamental para a efetivação do poder e sua perenidade
através do tempo. Segundo a autora, o espaço público assume papel de destaque,
afirmando-se como o verdadeiro e o único locus fundacional do poder. O princípio da
ação conjunta, dessa forma, supera qualquer vigor individual; e a capacidade de
atração de determinado ator supera a de coação.
No polo oposto, Weber reforça o elo entre poder, conflito e coação. Aqui, ao
contrário do idealismo kantiano de Arendt, o singular prepondera sobre o plural,
tendo a racionalização e o cálculo estratégico papel de destaque para a “salvação”
do indivíduo em meio ao ambiente beligerante. A luta inerente à própria natureza
dos sistemas (endógenos ou exógenos) é o meio pelo qual o poder se manifestará
em sua plenitude, importando, acima de tudo, o fortalecimento de capacidades
estruturais indispensáveis à imposição da vontade.
Foucault, em uma terceira via de pensamento, apresenta visão mais
abrangente, segundo a qual, poder assume caráter omnipresente e dinâmico.
Segundo o autor, é elemento relacional, não existindo per si, mas como fruto da
interação de múltiplas forças em determinado universo espaço-temporal. Advém do
Estado, mas também dos indivíduos; reside no público, mas reage, similarmente, ao
privado. A visão foucaultiana aproxima-se de weber ao ratificar o conflito e o cálculo
racional como elementos comuns das múltiplas relações de poder; por outro lado,
considera que sua fonte transpassa a omnipotência estatal, residindo também no
processo de síntese da vontade coletiva, como Arendt.
Na resultante das teorias estudadas, tem-se um quadro claro daquilo que
parece ser, não importando o autor ou corrente de pensamento, a essência do
constructo poder. A incerteza advinda de seu cinetismo e sua não-linearidade causal
tornam-no, indubitavelmente, um fenômeno complexo, cujas fontes e resultantes
estarão sempre em constante mutação autorregulatória. Em sequência, conclui-se
que a liberdade de ação é pressuposto básico para seu exercício, estando para o
poder como o oxigênio está para o fogo. Daí, depreende-se outro aspecto
fundamental para a compreensão do objeto deste estudo, que é seu viés relacional,
segundo o qual, o poder se explicitará a partir da existência de dois ou mais atores,
interagindo sob amplo espectro de variáveis intervenientes. Por fim, para todos os
autores, o Estado será sempre elemento presente, ora representando papel
indispensável, ora subsidiário.
50
Ao vislumbrarem-se as evoluções do cenário político do presente século,
identifica-se um quadro de elevada complexidade, no qual questões antigas e
tradicionais alinham-se a novas perspectivas e conjunturas. Estrategistas, políticos e
militares surpreendem-se em face das ações Russas na Ucrânia e na Síria; assim
como acompanham com apreensão o impacto do fenômeno de refugiados e
deslocados por todo o globo, e, da mesma forma, a ampliação e exacerbação de
questões étnicas-religiosas no cenário mundial, a ameaça terrorista crescente, os
crimes transnacionais e as questões ambientais reforçam a incerteza e a
insegurança do presente e das conjunturas vindouras.
A percepção - nacional e internacional - de tal quadro requer maior
sensibilidade da academia e dos “agentes do Estado”, voltada para reavaliar os
aspectos que, no presente, melhor representam a composição do poder. Para tanto,
compreendê-lo segundo uma visão ampla e livre das amarras impostas pela
fidelização teórico-conceitual, torna-se vital para melhor entender o presente e
vislumbrar o futuro de forma menos incerta.
Referências bibliográficas
Arendt, H, 1963. Eichmann in Jerusalem. New York and London: Penguin. ________, 1970. On violence. New York: Houghton Mifflin Harcourt. ________, 1981. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense-universitária. ________, 1990. Origens do totalitarismo. Traduzido do alemão por de R. Raposo. São Paulo: Companhia das Letras. ________, 2001. Poder e violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará. ________, 2002. O que é autoridade? In: Arendt, H, 2002. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Editora Perspectiva. p. 127-187. ________, 2006. O que é política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. ________, Kohn, J, 2008. La promesa de la politica. Barcelona: Paidos Iberica Ediciones. Bachelard, G, 1973. Epistemología. Textos escogidos por Dominique Lecourt. Barcelona: Anagrama. ___________, 2005. A formação do espírito científico: contribuição para uma
51
psicanálise do conhecimento. Traduzido do francês por Esteia dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto. Bachrach, P, Baratz, MS, 1962. Two faces of power. American Political Science Review, 56 (4), p. 947-952. Bachrach, P, Baratz, MS, 1963. Decisions and nondecisions: An analytical framework. American Political Science Review, September, 57 (3), p. 632-642. Blanchard, JV, 2011. Eminence: cardinal richelieu and the rise of France. London: Walker Books. Bobbio, N, 1986. Dicionário de política. Tradução do italiano por C. C. Varriale et al. Brasília: Editora Universidade de Brasília. Bousquet, A, 2008. Chaoplexic warfare or the future of military organization. International Affairs, 3 october, 4 (5), p. 915-929. Calvino, I, 2007. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras. Creswell, JW, 2013. Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. Los Angeles: Sage publications. Dahl, RA, 1957. The concept of power. Behavioral Science, July, 2 (3), p.201-215. Einstein, A, Minkowski, H, 1983. O Princípio da relatividade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Erickson, K, 1976. Everything in its path. New York: Simon and Schuster. Ferreira, SS, Migon, EXF, 2015. A Estratégia de uma guerra esquecida: fundamentos estratégicos aplicados à questão do Saara Ocidental. Política Hoje, 24 (2), p. 193-217. Foucault, M, 1977. Vigiar e punir: História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes. __________,1980. Power/Knowledge: Selected interviews and other writings, 1972-1977. New York: Pantheon Books. __________, 1982. The subject and power. Critical Inquiry, summer, 8 (4), p. 777-795 __________,1998. The history of sexuality. London: Penguin Books. __________, 2003. Society must be defended: Lectures at the Collège de France, 1975-1976. New York: Picador. __________, 2010. The birth of biopolitics: Lectures at the Collège de France, 1978-1979. London and New York: Palgrave Macmillan. __________, 2013. Microfísica do poder. Traduzido do francês e organizado por R.
52
Machado. 27ª. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal. Guba, EG, 1990. The paradigm dialog. Newbury Park, London and New Delhi: Sage Publications. Heidegger, M, 2007. A origem da obra de arte. Traduzido do alemão por M. da C. Costa, revisado por A. Morão. Lisboa: Edições 70. Hobbes, T, 1974. Leviatã. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural. Kant, I, 1997. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Keegan, J, 1976. The face of battle: A study of Agincourt, Waterloo, and the Somme. New York: Viking. Kim, HM, 2010. Comparing measures of national power. International Political Science Review, 31 (4), p. 405-427. Kissinger, H, 1994. Diplomacy. New York: Touchstone. Kuhn, TS, 1970. The structure of scientific revolutions. Chicago and London: University of Chicago press. Lafer, C, 2002. “Prefácio sobre violência”. In: Arendt, H, 2002. Poder e Violência. Rio de Janeiro: Relume Dará. Nicolis, G., Prigogine, I. 1997. Self-organization in nonequilibrium systems. From dissipative structures to order through fluctuations. New York: Wiley. Quezada, MI, 1997. Notas prácticas para la investigación en la comunicación. Santiago: Universidad Diego Portales. Waldrop, MM, 1992. Complexity: The emerging science at the edge of order and chaos. New York: Simon and Schuster. Weber, M, 1978. Economy and society: An outline of interpretive sociology. Berkeley, Los Angeles and London: University of California Press. ________, 1979. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar. ________, 1983. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix.
53
4 ARTIGO 2
ESTIMAÇÃO DO PODER DOS ESTADOS: ESTUDO QUALITATIVO DOS FATORES COMPONENTES
STATE POWER ESTIMATION: A QUALITATIVE STUDY OF THE COMPONENT
FACTORS
Alexandre Gueiros Teixeira14 Exército Brasileiro
Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon15 Exército Brasileiro
14
Doutorando em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME). 15 Doutor em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do
Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) Pesquisador do Laboratório de Estudos de Defesa (LED/ECEME) e do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do Instituto de Estudos Superiores Militares (CISDI/IESM).
54
Resumo
O presente artigo se propõe a estudar e analisar a composição e a estrutura
fundamental do constructo poder, entendendo-o como elemento fundamental das
dinâmicas sociais. Partindo-se de referencial teórico multidisciplinar, e norteado pelo
paradigma da complexidade, apresenta-se revisão de correntes antagônicas das
Relações Internacionais, bem como revisita-se, de maneira genérica, o tema das
“fórmulas do poder”, tudo com o intuito de ambientar o leitor para as sessões
subsequentes. De maneira a atingir o objetivo principal de analisar os componentes
do poder estatal, o estudo é dividido em seis seções: introdução, visão
epistemológica, considerações metodológicas, referencial teórico, análise de
conteúdo e considerações finais. Trata-se de um estudo de caso, tendo por foco 52
modelos teóricos/fórmulas do poder, empregando-se a técnica de Análise de
Conteúdo para a interpretação dos dados. Ao final, obtém-se, como resultado, um
modelo teórico representativo do poder contendo 10 fatores e 40 subfatores.
Palavras-chave: Poder, Ciências Militares, Complexidade, Modelo Teórico,
Relações Internacionais.
Abstract
The present article proposes to study and analyze the composition and the
fundamental structure of the power construct, understanding it as a fundamental
element of the social dynamics. Based on a multidisciplinary theoretical framework,
and guided by the complexity paradigm, an antagonistic current revision of
International Relations is presented, as well as a general revision of the "formulas of
power" theme, all with the aim of environment for the subsequent sessions. In order
to reach the main objective of analyzing the components of state power, the study is
divided into six sections: introduction, epistemological vision, methodological
considerations, theoretical reference, content analysis and final considerations. It is a
Case Study, focusing on 52 theoretical models / formulas of power, using the
technique of Content Analysis for the interpretation of data. At the end, we obtain, as
a result, a theoretical representative model of power containing 10 factors and 40
subfactors.
Key words: Power, Military Science, Complexity, Theoretical Model, International
Relations.
55
1 INTRODUÇÃO
As discussões acerca do poder ocupam local de destaque nos estudos
voltados à compreensão do inter-relacionamento estatal. Seja na Ciência Política,
nas Relações Internacionais ou, ainda, nas Ciências Militares, compreender a
complexa dinâmica do Sistema Internacional (SI) implica considerar todos os
aspectos da política do poder.
O poder permeia as relações sociais, sejam elas entre indivíduos, sejam entre
Estados, e sua maior compreensão clarifica os fenômenos da Paz e da Guerra. Do
cálculo estratégico-militar chinês, passando pelo “Equilíbrio de Poder”, de
Richelieu16, até à guerra assimétrica e o combate ao terrorismo do século XXI, ficam
evidentes suas múltiplas matizes e seu caráter relacional.
Ao longo da História, são diversas as tentativas de compreendê-lo, analisá-lo
e empregá-lo de maneira sistematizada, cada uma impactada por conceitos teórico-
filosóficos distintos e variadas conjunturas histórico-culturais.
Evidencia multiplicidade semântica, oscilando entre o conflito e o consenso,
entre o estatal e o privado, conforme cada corrente teórico-filosófica17. No atual
quadro de incertezas e transformações aceleradas, analisá-lo de maneira holística e
livre de amarras conceituais permite maior entendimento do presente e dos cenários
prospectivos.
Para além de desvendar a essência de “o que é poder” e “como é
exercido?”18, torna-se essencial maior aprofundamento investigativo sobre o tema,
partindo-se para o estudo de sua composição: quais seus fatores e subfatores
componentes? Como se relacionam entre si? Trata-se de avançar rumo à
instrumentalização metodológica da teoria pura e simples, imprimindo-lhe
concretude e aplicabilidade operacional.
Poder é fenômeno complexo, cujas variáveis estão interligadas, interagindo
entre si, de forma não-linear e evolutiva. Sua estruturação em diversos níveis
organizacionais reforça seu caráter omnipresente, em que a resultante final de suas
16
Para maior aprofundamento sobre o tema, ver Talleyrand (1975), Aron (1985), Schimitt (1988; 1989) e Kissinger (1994). 17
Para maiores detalhes acerca da conceituação teórico-filosófica do construto poder, ver Teixeira e Migon (2017). 18
A discussão mais aprofundada sobre tais questionamentos pode ser encontrada em Teixeira e Migon (2017).
56
forças componentes transforma “poder potencial” em “poder efetivo” na busca pelo
equilíbrio sistêmico.
A volatilidade e a não-linearidade do momento político presente (nacional e
internacional) impõem a necessidade de ferramentas metodológicas eficazes e
eficientes, que permitam uma análise mais objetiva acerca da capacidade dos
Estados. Nessa direção, os modelos teóricos19 do poder têm se mostrado excelentes
opções aos cientistas políticos e estrategos, quando de sua incessante busca pela
interpretação dos fenômenos políticos do presente e sua projeção no futuro.
Este estudo, dessa forma, objetivou explicitar a composição do poder do
Estado, a partir da identificação de seus fatores e subfatores mais representativos,
propondo um modelo teórico final. Sob a ótica da epistemologia da complexidade,
apresentou-se uma revisão da literatura calcada em dois pontos fundamentais:
primeiro, na relação entre poder e visões dicotômicas das Relações Internacionais e
sua decorrência filosófico-conceitual; segundo, na apresentação de modelos teóricos
do poder do Estado, como forma de revisitar o tema e preparar o leitor para o
avanço da pesquisa.
Para o atendimento do proposto, adotou-se abordagem dividida em seis
seções. Subsequente a esta introdução, discorre-se sumariamente acerca da teoria
da complexidade, paradigma norteador desta investigação. Após, discute-se a
metodologia adotada, e, em sequência, apresenta-se o referencial teórico elencado.
A partir daí, tem-se a análise de conteúdo propriamente dita, com as inferências e os
resultados pertinentes. Por fim, tecem-se as considerações finais sobre a
investigação como um todo.
2 VISÃO EPISTEMOLÓGICA
A busca, a produção e a evolução do conhecimento científico dão-se a partir
dos pressupostos filosóficos compartilhados por determinada comunidade científica.
A base epistemológica, portanto, é o fundamento sobre o qual se darão as
19
Algumas literaturas utilizam a nomenclatura “fórmulas do poder” ou “equação do poder”. Entendendo que a conformação do poder é algo volátil, subjetivo e dinâmico, não cabendo uma formulação matemática exata, optou-se pelo termo “modelo teórico”. A despeito de diversos modelos/fórmulas/ equações do poder já testados em teorias prévias (matemática e estatisticamente), os autores entendem que seus resultados são uma impressão aproximada da complexa realidade do SI. Trata-se, portanto, de ferramenta para auxílio nos estudos das dinâmicas estatais, não uma realidade exata do cenário global.
57
dinâmicas do processo investigativo, estabelecendo “trilha” específica para
descrever, explicar, inter-relacionar e até prever fenômenos (KUHN, 1970; GUBA;
LINCOLN, 1994).
É a partir dessa premissa que Kuhn (1970) destaca a liberdade de cada
disciplina para buscar respostas às suas questões, valendo-se de epistemologia
própria, linguagem e métodos específicos. Indivíduos, grupos e comunidades,
balizados por suas crenças, culturas e convicções, refletem visões ímpares sobre a
construção do saber. Apesar dos múltiplos espectros de interpretação possíveis, a
realidade que envolve um problema é única; há um mundo singular, mas de análise
plural. Denzin e Lincoln (1994) ratificam essa questão, afirmando que o processo
investigativo implica distintos objetos e momentos, colocando o observador em um
“mundo de práticas interpretativas” por meio das quais pesquisadores procuram
compreender os fenômenos no seu contexto natural, captando o seu significado do
ponto de vista dos sujeitos que neles se encontram implicados.
No campo das ciências sociais e humanas, o processo investigativo espelha a
multiplicidade de aspectos inerente ao seu objeto de estudo. Cada indivíduo, ou
coletividade, contém, em si, padrões únicos, frutos da diversidade étnica-cultural e
espaço-temporal, sendo, assim, vedada ao cientista social a dissociação de
contextos socioculturais específicos. Tal diversidade se reflete nas abordagens e
paradigmas adotados, constatando-se opções epistemológicas diversas.
O mundo atual observa a emergência de cenários complexos e voláteis, nos
quais os objetos de análise das ciências sociais transformam-se exponencialmente.
Processos e relações tornam-se, a cada dia, mais dependentes das estruturas
políticas, socioeconômicas e étnico-culturais, desafiando as convicções
paradigmáticas das ciências.
Nesse sentido, torna-se fundamental ter em mente que a compreensão dos
fenômenos sociais e políticos afasta-se da linearidade newtoniana, evidenciando
matizes dos sistemas complexos e não-lineares: mudanças pequenas em elementos
de um sistema não produzirão, necessariamente, alterações na mesma intensidade
e tempo esperado em outros aspectos ou no sistema como um todo, sendo todo o
processo marcado pela incerteza de resultados.
Importante, neste momento, clarificar conceitos como “complexidade” e
“caos”. Hayles (1991) chama a atenção para o fato de que, tanto na literatura como
na ciência, o conceito de “caos” vai muito além da “não-ordem” ou “antiordem”. Por
58
um lado, tem-no como sinônimo a aleatoriedade; por outro, o estágio que antecede a
uma determinada ordem, ou, ainda, possuidor de uma ordem intrínseca em meio à
desordem. Já a “complexidade” pode ser entendida como uma “teia” de fatores e
subfatores, verdadeira combinação de múltiplos agentes, que interagem entre si de
diferentes maneiras, conduzindo a uma auto-organização espontânea (HYLES,
1991; WALDROP, 1992).
Morin, Le Moigne e Duarte (2000) destacam o caráter sistêmico do
pensamento complexo, que se afasta de análises reducionistas de unidades
simplificadas – ou de totalizações generalizantes - para voltar-se para as intrincadas
relações entre as partes que compõem o todo. Para os autores, a visão complexa é
ampla, entendendo os fenômenos como conjunto de ações, interações, retroações e
acaso. O mundo é, em verdade, um todo indissociável, carecendo de abordagem
multidisciplinar para a construção de um conhecimento fidedigno.
Outro ponto de destaque acerca dos sistemas complexos é sua capacidade
de auto-organização. Prigogine e Stengers (1997), valendo-se de conceitos atípicos
em meio às ciências sociais, destacam que, em meio às incertezas
fenomenológicas, o sistema buscará, sempre, auto-organizar-se, visando ao
(re)estabelecimento do equilíbrio. Isso reforça a imprevisibilidade situacional, por
meio da incerteza dos padrões comportamentais dos múltiplos agentes durante o
processo adaptativo.
Todo esse processo dá-se em níveis organizacionais variados. Um ser vivo
compõe-se de estrutura óssea, tecidos, sistema nervoso, músculos, órgãos,
estruturas celulares e vasculares, tudo interligado, reagindo diferentemente a
diferentes estímulos. O homem reúne-se em grupos, comunidades, cidades,
Estados, conformando-se em sistemas complexos por si só, que se encontram, a
todo instante, revisando e reordenando sua conformação, fruto de eventos ocorridos
e em vista a prospecções futuras.
A adoção do paradigma da complexidade, dessa forma, serve como facilitador
ao esclarecimento dos processos políticos dos Estados, internos e externos, com
destaque para a temática relacionada ao estudo do poder. Todo o conjunto está
interligado e interdependente, de forma que mínimas alterações de um único
componente sistêmico podem alterar significativamente o status quo e empreender
completa transformação conjuntural nos cenários futuros. Qual o impacto de
possível processo de impeachment no Brasil para a política sul-americana? Qual o
59
desfecho da questão dos refugiados do Oriente-Médio para a União Europeia?
Como o acirramento de questões étnico-culturais e nacionalismos impactará a
política internacional e até mesmo a política interna dos Estados?
Tais questionamentos trazem, implícita, a incerteza, a “ordem em meio à
desordem”, a multiplicidade de agentes, todas típicas aos sistemas complexos.
Compreender os problemas sociopolíticos sob a ótica da complexidade implica
enxergar o “sistema vivo”, ou seja, não há de se “dissecar” as partes, analisando-as
em separado, mas sim contextualizá-las em seu meio-ambiente, físico e temporal,
tendo em conta as inúmeras possibilidades de inter-relacionamento de variáveis
(HYLES, 1991; WALDROP, 1992; BYRNE, 1998).
O viés complexo do objeto de estudo desta pesquisa explicita-se pela
observação de Foucault (1980, 1998 e 2013), que afirma ser o constructo poder
elemento de elevado dinamismo relacional, que não se origina em ponto focal
específico, mas emerge de intrincada rede de forças, atuante em diversos níveis (e
momentos) de determinada estrutura. Ele está em todos os lugares; em tudo. Para o
autor, o poder vai além de barreiras espaço-temporais, consubstanciando-se em
princípio holístico e fundamental da vida social do homem, cujos resultados são
inúmeros e aleatórios.
Se é fato que o conceito de poder per se reveste-se de imenso caráter
complexo, as tentativas de sua mensuração, por sua vez, potencializam ainda mais
esse perfil. Quais são seus componentes? Como clarificar seu inter-relacionamento?
Como evoluem ao longo da evolução de cenários? Qual sua representação atual?
Tudo remete, mais uma vez, a um emaranhado de vetores, interagindo, com certa
ordem, em meio ao “caos” do sistema político contemporâneo.
A opção do paradigma da complexidade como matriz filosófica norteadora
deste trabalho atende à necessidade de se tratar tais fenômenos sob ótica plural,
não-linear, capaz de visualizar o problema de maneira ampla e não-reducionista,
com o foco na construção de um conhecimento adaptado às dinâmicas evolutivas da
sociedade moderna.
3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Após apresentados e discutidos os fundamentos epistemológicos norteadores
do presente estudo, torna-se essencial discorrer acerca da opção metodológica
60
adotada para análise do problema. Segundo Vigotski (2001), a escolha de um
método consiste em um dos pontos de maior relevância em todo o empreendimento
investigativo, consubstanciando-se simultaneamente em pré-requisito e produto;
instrumento e resultado.
Trata-se de pesquisa qualitativa, considerando-se, para tal, algumas
características fundamentais deste tipo de investigação. Primeiramente, tem-se a
participação do pesquisador tida como instrumento fundamental do processo, por
meio da qual se deu a seleção e a coleta dos múltiplos dados analisados, sempre
em ambiente natural. Ainda, ao buscarem-se as respostas para os questionamentos
propostos, procurou-se fazer a partir de embasamento teórico específico, voltado à
melhor compreensão e interpretação do tema. Ao final, optou-se por relato holístico,
por meio do qual múltiplas perspectivas e fatores relacionados ao objeto estudado
puderam ser discutidos (LECOMPTE, 2000; HATCH, 2002; CRESWELL, 2013;
MARSHALL; ROSSMANN, 2014).
O constructo poder ocupou posição central durante todo o processo
investigativo, tendo em conta sua elevada importância multidisciplinar para o inter-
relacionamento estatal ao longo dos tempos. Entretanto, importante registrar
mudança de foco, segundo a qual afastou-se das tentativas em conceituá-lo rumo às
questões relacionadas à sua mensuração: qual seria seu dimensionamento ótimo?
Quais fatores e subfatores melhor o representam?
A partir destes questionamentos, tomou-se, por objetivo geral de pesquisa,
elaborar um modelo teórico do poder do estado, contendo fatores e subfatores de
destaque, representativos das idiossincrasias do cenário global. Nesse sentido,
adotou-se, como ponto de partida, a premissa de que, a despeito da diversidade
conceitual, do caráter evolutivo e das distintas visões acerca da relação poder x
política internacional, há elementos constitutivos do poder que podem ser
considerados como essenciais, mostrando-se perenes no espectro espaço-temporal;
assim como outros que identificam determinado momento histórico e/ou corrente
teórica.
Na quarta seção do estudo, apresentou-se breve referencial teórico com a
finalidade de proporcionar arcabouço teórico-conceitual capaz de orientar a
pesquisa, tanto com relação a posicionamentos quanto ao estabelecimento de ponte
entre dados empíricos e teoria. Complementarmente, a revisão da literatura visou ao
compartilhamento de estudos diretamente relacionados ao tema, de forma a facilitar
61
a compreensão do problema, assim como todas as demais etapas do processo
investigativo (COOPER, 1984; CRESWELL, 2013; MARSHALL; ROSSMANN, 2014).
A revisão da literatura deu-se por meio de dois tópicos, ambos destacados
por sua importância em relação ao estudo: poder e política internacional; e
“formulando” o poder. No primeiro, apresentaram-se, de forma sucinta, as
peculiaridades da política mundial e da relação entre seus múltiplos atores. Em meio
à pluralidade epistemológica das relações internacionais, elencaram-se correntes de
pensamento que possuíssem visões antagônicas, de forma a imprimir caráter
dialético ao estudo e propiciar maior amplitude à discussão.
Inicialmente, caracterizou-se a ordem internacional segundo o pensamento
realista clássico, centrando-se, preponderantemente, no conceito de anarquia
internacional, na maximização do poder, no militarismo e no sistema de autoajuda
dos Estados diante dos dilemas de segurança. Após, a análise deu-se sob o escopo
da tradição kantiana e grociana, fundada na noção de que os indivíduos se
constituem no elemento central de um SI matizado por valores morais e pelo
respeito aos direitos naturais do homem, vitais à construção de uma sociedade bem
ordenada que assegure o exercício da liberdade dos indivíduos. O objetivo precípuo
de ambos os tópicos foi caracterizar a visão peculiar de cada corrente no que tange
ao inter-relacionamento dos Estados e à conformação do poder, de maneira a
estabelecer estrutura basilar às discussões posteriores e à análise de resultados.
Para Cooper (1984), a revisão da literatura pode constituir-se em resumo
integrativo, seja para preparar às sessões futuras, seja para comparar, contrastar e
ajustar resultados. No caso do tópico “formulando” o poder, intencionou-se chamar a
atenção para a temática da mensuração do poder, como forma de revisitar o tema e
introduzi-lo ao leitor, despertando sua curiosidade e interesse e ambientando-o à
sequência da pesquisa. Para tanto, optou-se por exposição breve de algumas
fórmulas, tendo, como principal critério de seleção, a amplitude espaço-temporal
aliada à acessibilidade à bibliografia pertinente. Há de se ressaltar que não foi
objetivo dessa sessão apresentar todos os modelos empregados na análise de
conteúdo, mas apenas motivar o estudo dessa temática.
De acordo com Creswell (2013), a pesquisa qualitativa tem por objetivo
captar, explorar e compreender o significado peculiar que indivíduos (ou grupos)
consignam a problemáticas políticas, sociais e humanas, tendo por base
pressupostos filosóficos próprios, práticas culturais particulares e visões específicas
62
acerca da conjuntura mundial.
Similarmente, variações e multiplicidades decorrentes das evoluções
conjunturais da História enriquecem o processo investigativo, ampliando as fontes
de dados e o processo de análise. Interpretar o passado consiste em ferramenta
metodológica essencial à construção do conhecimento, uma vez que permite lançar
o olhar para aquilo que se julga conhecido, buscando ratificações ou retificações
indispensáveis ao avanço da ciência.
Na esteira destas concepções, foram selecionadas as formulações de Sun
Tzu, Hwang e National Security Council Secretariat, como representantes orientais;
Süßmilch, Cline e Beckman, como ocidentais; e, finalmente, Hafeznia, do Oriente-
Médio. No que tange ao aspecto histórico, os modelos apresentados
compreenderam vasto espectro temporal, incluindo elementos de vários períodos,
desde a antiguidade, com Sun Tzu, passando pelos séculos XVIII (Süßmilch), XX
(Cline e Beckman), incorporando, por fim, visões do presente século. Intencionou-se,
portanto, conferir maior amplitude ao estudo por meio da diversidade histórico-
cultural do rol de autores.
Prosseguindo na descrição dos aspectos metodológicos, Creswell (2013,
p.27) observa a importância de se integrar três elementos base da constituição de
um projeto: a concepção filosófica20, as estratégias de investigação21 vinculadas ao
paradigma selecionado e os procedimentos específicos que imprimem caráter
prático à pesquisa.
A adoção de desenho de pesquisa qualitativo alinhou-se às concepções e
visão de mundo da complexidade, uma vez que não se considera a existência de
verdade única e irrefutável, mas aquela que emerge no decurso investigativo, pela
interação de múltiplas variáveis subjetivas, como a experiência e ótica do autor e
dos demais participantes (ERICKSON, 1976).
No que tange às estratégias de investigação, decidiu-se pelo estudo de caso,
considerando-se ser este capaz de captar as complexidades de um fenômeno
específico, particularmente, a tentativa de identificar fatores e subfatores que
componham o modelo teórico do poder do Estado. A opção por este viés
metodológico justifica-se pelo grau de importância do problema de pesquisa, bem
20
Por concepção filosófica, entende-se também epistemologia ou paradigma (CRESWELL, 2013; GUBA,1990). 21
Por estratégias de investigação, entende-se também abordagens de investigação ou metodologias de pesquisa (CRESWELL, 2013; MERTENS, 1998).
63
como pelo interesse científico que desperta (STAKE, 1995). As singularidades em
torno do constructo poder, no geral, e, em especial, das tentativas de sua
mensuração, ratificam per se a adoção desta estratégia, que, para Eisenhardt
(1989), Merriam (1988) e Yin (2010), permite centrar o foco nas peculiaridades do
objeto investigado, explicitando suas dinâmicas em destacados cenários. Ao final,
buscar-se-á como resultado a compreensão holística de todas as perspectivas e
significados envolvidos na análise.
Conforme a tipificação explicitada por Yin (2010), trata-se de projeto integrado
de casos múltiplos, uma vez que foram elencados vários modelos teóricos do poder,
analisados em diversos níveis, por meio do estudo de seus fatores e subfatores
componentes. Já pela caracterização de Stake (1995), o estudo foi coletivo,
considerando-se que o objetivo da pesquisa foi realizar a introspecção sobre o tema
da mensuração do poder por meio de vários casos, facilitando a identificação dos
seus elementos constitutivos por comparações e aprofundamento do conhecimento
acerca do constructo.
Quanto à disponibilidade de fontes de evidências, o estudo de caso admite a
obtenção de informações a partir de múltiplas origens (BARRAT; CHOI; LI, 2011).
De acordo com Yin (2010), os dados podem advir de seis fontes: documentos,
registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e
artefatos físicos. Para o estudo em tela, a coleta de dados deu-se, inicialmente, a
partir de registros em arquivos22, tendo as fórmulas selecionadas sido consideradas
como dados de levantamento / diversos. Posteriormente, em fase final, foi
incorporada a coleta em documentos (emails e anotações) e entrevistas não
estruturadas.
A escolha das fórmulas a serem consideradas como fontes primárias de
dados deu-se por seleção intencional (CRESWELL, 2013), balizada pelos seguintes
critérios: acessibilidade e amplitude espaço-temporal. Não foi imposto recorte
temporal específico, ao contrário, buscou-se a maior amplitude histórica possível, da
antiguidade até o presente século, tendo apenas como fator limitador a
disponibilidade e o acesso às fontes de informação. Valendo-se de pesquisa
bibliográfica, por meio de consulta a livros (próprios, de bibliotecas e da internet),
periódicos científicos e websites específicos, foram selecionados cinquenta e dois
22
Yin (2010) considera como pertencentes a esta categoria arquivos de registro público, mapas, gráficos, dados de levantamento e/ou diversos, censos, registros organizacionais, dentre outros.
64
modelos teóricos. Essencial destacar que, conforme afirma Creswell (2013), a fase
da coleta consiste em processo permanente e cíclico, que implica reflexão contínua
durante todo o estudo, desde o planejamento da coleta, passando pelas
interpretações empreendidas, até a redação dos relatórios, não se limitando a um
momento específico e estático.
A decisão de estender o espectro amostral ao máximo, incluindo fórmulas
representativas do poder de tantos períodos históricos quanto possível, justifica-se
pelo entendimento de que a avaliação do passado complementa a configuração do
novo. A análise do conhecimento antigo, à luz das reflexões atuais, permite a
identificação de falhas e/ou a confirmação de premissas e teorias, ações cruciais ao
ciclo evolutivo da ciência.
Para a interpretação dos dados, fez-se a opção pela técnica de análise de
conteúdo, empregando-se o programa microsoft excel for Mac, 2011. Como
unidades sintáticas de análise23, adotaram-se os fatores, subfatores e variáveis
coletados das fórmulas do banco de dados. Bauer (2008) afirma que codificar e
classificar é tarefa de construção, a partir do inter-relacionamento entre o material
disponível e a teoria. Nesse sentido, vasto referencial teórico multidisciplinar compôs
o referencial de codificação24, compreendendo aspectos conceituais relacionados às
Ciências Militares, Ciência Política, Relações Internacionais, Sociologia, Economia e
outros.
Para a categorização, buscou-se grupar os elementos em conjuntos
homogêneos, segundo critério de codificação semântico. Chegou-se a onze grupos,
sendo um descartado por se constituir de elementos não enquadrados em nenhuma
outra categoria e que, por outro lado, não foram considerados suficientes para a
composição de nenhuma categoria própria.
No que tange à validade dos resultados, Creswell (2013) assevera que, a
despeito dela ocorrer ao longo de todas as etapas do processo investigativo, faz-se
mister destacar as ações tomadas a fim de se obter dados mais precisos e de maior
credibilidade. O autor destaca, ainda, a diferença entre o conceito de validade nas
pesquisas quantitativa e qualitativa. Nesta, a validade se dá por intermédio da
23
Para maiores detalhes acerca dos tipos de unidades de amostragem/registro, ver Klaus (1980) e Bauer (2008). 24
Bauer (2008) define referencial de codificação como modo sistemático de comparação, com o qual o material de pesquisa é tratado, facilitando a interpretação e a obtenção de respostas, constituindo-se em seleção teórica voltada ao objetivo da pesquisa.
65
adoção de ações específicas, que visam ao incremento da precisão dos resultados.
Na pesquisa em tela, adotou-se estratégia de validação baseada em
procedimentos múltiplos (GIBBS, 2007; YIN, 2010; CRESWELL, 2013): registro
completo e descrição detalhada de cada passo do estudo de caso e revisão por
auditor externo. No primeiro, buscou-se seguir um protocolo de ação para o estudo
de caso e para a análise de conteúdo, segundo o qual, cada ação deveria ser
registrada, bem como os resultados obtidos (intermediários e finais). Tal
detalhamento é explicitado, principalmente, ao longo do item quinto deste trabalho
(A Análise de Conteúdo).
No caso da revisão por auditores externos, a seleção deu-se pelo critério de
capacitação acadêmica e afinidade com o tema. Assim, o julgamento foi feito por
pares experientes, do Instituto Meira Mattos, vinculados a projetos de pesquisas
afetos à Estratégia e Estudos de Defesa, bem como por profissionais militares com
Curso de Estado-Maior, com mais de 25 anos de vivência em temas de S&D. Cada
um avaliou a pertinência entre o “corpus” adotado e o objetivo da pesquisa, a
coerência e a precisão da análise dos dados (categorização, codificação, inferências
e resultados). Ao final, após ratificações e retificações propostas pelos auditores,
confirmou-se o modelo final de onze fatores componentes, com algumas adaptações
nos subfatores.
Ainda, no tocante à validade do estudo, Woodside (2010) ressalta que uma
análise sob múltiplos métodos proporciona maior confiabilidade e precisão aos
resultados, com compreensão holística do tema pesquisado. De acordo com o autor,
combinar a observação direta do pesquisador com a análise externa de pares e sua
pertinência com documentos e teoria amplia a complexidade/abrangência do estudo,
reforça sua precisão e credibilidade. Assim, ao longo de todo o processo
investigativo, além das observações dos autores e auditores externos, buscou-se
confrontar os resultados (parciais ou finais) com vasto arcabouço teórico conceitual
relacionado aos estudos do poder, que ratificaram a pertinência do produto final.
Quanto à possibilidade de generalização dos resultados, Leedy e Ormrod
(2005) asseveram que o estudo de caso, uma vez que identifica as nuances do
contexto do caso analisado, permite a ampliação dos resultados para outras
situações. Segundo os autores, ao longo do processo de análise, o estudo de caso
permite avaliar variações em torno do objeto de estudo através de um tempo
determinado, facilitando a identificação do core que se mantém perene. Sobre
66
generalizações em métodos qualitativos, Yin (2010) e Creswell (2013) também
reforçam a importância de um registro detalhado de procedimentos e de um banco
de dados consistente e o mais abrangente possível.
Acredita-se que o desenho de pesquisa adotado permitiu atingir os seguintes
objetivos específicos: (i) levantar e estudar autores que trataram acerca da
mensuração do poder; (ii) analisar os modelos teóricos de cada um dos autores
elencados, destacando seus fatores, subfatores e variáveis; (iii) levantar os fatores
perenes na composição do poder; (iv) identificar os fatores relacionados ao atual
cenário global; (v) elaborar um modelo teórico do poder do Estado que incorpore
seus principais fatores representativos.
4 REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 POLÍTICA INTERNACIONAL E PODER
4.1.1 A ordem anárquica
A visão de um ambiente internacional anárquico, no qual Estados digladiam-
se entre si por sua sobrevivência, é clássica em meio aos estudos das relações
internacionais. Autores tradicionais como Tucídides, Maquiavel e Hobbes, cada qual
em sua época, vislumbraram a política internacional caracterizada pela rivalidade,
conflitos e guerras, onde se evidencia ciclo contínuo pela prevalência do interesse
de cada agente.
Para Tucídides (1972), a desigualdade é característica marcante do inter-
relacionamento estatal. No ambiente volátil e incerto, poucos fortes sobrepujam
muitos fracos, conforme se explicita no diálogo entre atenienses e melianos: “[...]. O
padrão de justiça depende da igualdade de poder para coagir e, de fato, os fortes
fazem o que têm o poder de fazer e os fracos aceitam o que têm de aceitar [...]”
(TUCÍDIDES, 1972, p. 406). Como na natureza, cada “ser político” difere de seus
semelhantes em termos de poder, capacidade de dominação e autodefesa, devendo
estar apto aos enfrentamentos no ambiente assimétrico.
Maquiavel (1961) corrobora esse pessimismo, mas destaca que, a despeito
dos perigos e incertezas intrínsecos ao âmbito global, são vastas as oportunidades
que se apresentam àqueles mais preparados. Para sobreviver, é imperioso estar
67
cônscio das ameaças, antecipando-se a elas ou reagindo com a maior prontidão
possível. A presteza, fundamental à obtenção das vantagens necessárias para
prosperar e angariar poder, depende, basicamente, de dois quesitos fundamentais:
força e astúcia. A primeira é a responsável pela imposição da vontade do mais forte
sobre o mais fraco. A segunda propicia aos operadores do sistema internacional a
capacidade de prever oportunidades vantajosas, bem como perceber ameaças e
perigos.
Ainda sobre a natureza e características básicas da vida política, Hobbes
(1974) observa que a criação dos Estados, cujo objetivo seria anular o estado de
natureza25, acaba por conduzir a outro estado de natureza, agora não mais entre
indivíduos, mas entre Estados, gerando o dilema da segurança26: a busca pela
segurança e paz individual no seio das Nações é, incontestavelmente,
acompanhada pela insegurança internacional, inerente à anarquia do sistema
estatal. O autor destaca que o estado de natureza internacional evidencia condição
de guerra real ou potencial, sendo utópica a paz entre Estados soberanos.
Morgenthau (1965) reforça o pensamento hobbesiano afirmando que os seres
humanos possuem um animus dominandi27 inato, almejando vantagens que
permitam sua liberdade política em relação ao domínio de outrem, sendo este o
grande motivo para organizarem-se em torno de Estados fortes e capazes de
prover-lhes sua segurança face ao caos. Por meio de seus “seis princípios do
realismo político”, Morgenthau (1985) destaca características fundamentais da
ordem anárquica.
Inicialmente, atesta que as leis que regem a política são objetivas e refletem a
natureza humana. Tal objetividade evidencia o caráter imutável dos fenômenos
políticos, que externam, em conjunto, todo o egoísmo inerente aos indivíduos. Outro
princípio aponta para a autonomia da ação política dos Estados (e dos estadistas),
que não se limita por esferas sociais, morais ou econômicas, mas destaca-se por
seu racionalismo. Como consequência, as expressões do poder e da vontade de
25
Segundo Hobbes (1974), o estado de natureza é a condição pré-civil, extremamente adversa, na qual o estado de guerra é constante de cada indivíduo contra cada indivíduo: todos contra todos, sendo a vida caracterizada pelo risco constante. 26
Termo cunhado por Herz (1950), referente ao ciclo vicioso desencadeado quando determinado ator toma ações voltadas ao seu fortalecimento (ampliação de suas capacidades militares ou alianças diplomáticas com terceiros) em prol de sua segurança, desencadeando reações similares em outros, o que conduz ao acirramento de tensões e ao conflito. Para maiores detalhes, ver Herz (1950), Jervis (1978), Huth (1999). 27
“Desejo pelo poder” (MORGENTHAU, 1965).
68
cada ator revestem-se de dinamismo ímpar, motivadas pelas transformações de
cenários.
Sobre a moral e a ética na política internacional, Morgenthau considera-as
como referências circunstanciais. Isto é, devem ser buscadas, mas nunca
oferecendo risco à segurança da nação, que está acima de quaisquer princípios
universais. A verdadeira ética realista do Estado é aquela que visa à prudência e ao
melhor desempenho rumo à sobrevivência.
Daí advém outra premissa importante da ordem anárquica: a autoajuda. Cada
agente deve ser responsável por sua própria segurança, jamais delegando-a ou
confiando-a plenamente (ou mesmo parcialmente) a alianças e/ou países. O aliado
de hoje pode tornar-se, em curto prazo, o inimigo de amanhã e, dessa forma, a
vigilância e a busca pela potencialização de capacidades tornam-se características
precípuas da política internacional. Porém, o fato dos Estados só poderem contar de
forma integral e plena com suas próprias capacidades não exclui a opção de
alianças e cooperações voltadas ao atendimento dos objetivos e interesses
nacionais, que compõem a estrutura do poder de cada unidade (WIGHT, 2002).
O dinamismo da política internacional imprime ininterrupta busca pela
ampliação do poder dos Estados, evidenciando fluxo intenso de interações regionais
ou globais. A única forma de sobreviver e destacar-se em meio à volatilidade e à
anarquia é definir com precisão e oportunidade os interesses nacionais a serem
buscados, ampliando capacidades e alinhando forças necessárias ao incremento do
poder, cujos fluxos de exercício tornam-se cada vez mais multifacetados e
assimétricos.
4.1.2 A ordem construída
A relação de intercâmbio entre os atores internacionais passa a ser vista por
outro ângulo a partir das teorias liberais. A visão pessimista do sistema passa a dar
lugar a um otimismo que desconsidera a imutabilidade das relações de conflito entre
Estados.
À frente das preocupações políticas mais relevantes, está a construção de
sociedade bem ordenada, capaz de prover e assegurar os “direitos naturais”. O foco
central passa ser o indivíduo, sendo este um dos maiores responsáveis pela
configuração da sociedade internacional, impregnada por política externa promotora
69
da paz, e capaz de apaziguar o estado de conflito potencial do sistema de nações
(KANT,1995; LOCKE, 2006; SMITH, 2008).
Importante ressaltar, porém, que o pensamento liberal, como o realista,
também entende que o conflito e a anarquia são características primárias, afetas à
política internacional. A diferença, entretanto, consiste em que, para o primeiro, o
progresso (comércio), as instituições e a democracia seriam capazes de extrapolar o
quadro pessimista, estabelecendo sistema de Estados cooperativo e integrado.
Corroborando a assertiva acerca da visão liberal, Montesquieu (1996)
assevera que a paz é o resultado natural das relações comerciais, promovendo
relações de interdependência entre as nações. Na mesma linha, Kant (1995) afirma
que o incremento de trocas comerciais entre os países levaria ao desenvolvimento
do princípio de hospitalidade, agente catalisador de uma paz cosmopolita. As
transações, acordos e negociações passariam, pouco a pouco, a substituir o conflito
e as guerras, considerados entraves à geração do progresso. Ao final, as
sociedades mais evoluídas seriam cada vez mais relutantes em arriscar esforços
belicistas em detrimento de soluções pacíficas, reforçando a tese kantiana de que o
progresso se revestia de função civilizatória no seio internacional, já que estimula o
contato e a tolerância entre os povos e imprime a interdependência na arena global.
A democracia seria outra importante e eficiente força motriz capaz de alterar o
caos e a beligerância. Segundo a tradição liberal clássica, os Estados democráticos
apresentam maiores tendências a manterem relações pacíficas entre si. Por outro
lado, formas imperfeitas de governo não respeitariam os valores28 cultuados pelas
repúblicas democráticas modernas, originando desavenças e conduzindo à guerra.
O respeito a um regime jurídico e seu arcabouço legislativo extrapolariam o
âmbito interno dos países, incentivando a todos a reforçarem suas crenças no direito
internacional e a buscarem soluções norteadas pelo compromisso legal e respeito às
instituições, o que reduziria a probabilidade de agressões armadas. Uma vez
fortalecidas a nível mundial, as instituições políticas contribuiriam para facilitar os
diversos fluxos (econômico, cultural, político) internacionais, gerando um ciclo
virtuoso de paz e prosperidade (NYE Jr., 1993; MORAVCSIK, 1997; GROTIUS,
2004).
Sobre o papel das instituições, Keohane, Nye Jr. e Hoffmann (1993)
28
Proteção dos direitos individuais, estado de direito, legitimidade de governo com base na representatividade e consenso, transparência e publicidade das ações do Estado.
70
observam que elevado nível institucional é capaz de reduzir enormemente os efeitos
da anarquia multipolar, apresentando o caso europeu como exemplo concreto. Para
os autores, elas agiram como amortecedores, auxiliando os países do continente a
absorverem os impactos das transformações ali ocorridas com o fim da Guerra Fria
e com a reunificação da Alemanha. Seriam, pois, responsáveis por amenizar a falta
de confiança entre os Estados, imprimindo maior transparência nas interações, além
de se constituírem em foros para discussões e soluções de controvérsias.
A política internacional é, desta feita, “socialmente construída” a partir da
natureza racional e cooperativa do homem, cerne de todo o ciclo. A base das
estruturas sociais humanas está nas ideias e subjetivismos compartilhados, e não
nas forças materiais, como pregado pela tradição realista. Os interesses e as
identidades de cada ator são construídos de acordo com esse intercâmbio de ideias
e conceitos, em oposição ao pensamento de que a “psiqué” dos Estados seria de
composição inata e imutável, sempre voltada para dominar e subjugar (WENDT,
1987; 1999; FINNEMORE, 1996).
O mundo tal qual existe e as interações que nele ocorrem só fazem sentido
quando entendidos como o resultado das complexas e dinâmicas interações
socioculturais da humanidade. Ao mesmo tempo em que os indivíduos moldam a
estrutura, esta acaba por agir sobre aqueles, imprimindo ciclo mutagênico constante
na configuração do ambiente global. O poder, na ordem construída, afasta-se do
mero acúmulo racional de capacidades, da objetiva medição de forças, emergindo
nas subjetividades dos aspectos culturais e sociais que matizam as interações da
política internacional.
4.2 FORMULANDO O PODER
Modelos e fórmulas voltados à mensuração das capacidades de uma nação,
povo ou Estado não são privilégio dos estrategistas modernos, mas retrocedem por
milênios, a despeito de seu caráter controverso, que divide opiniões na academia29.
29
Se, para alguns, o constructo poder foi (tem sido) considerado como passível de alguma forma de
quantificação, para outros, reveste-se de grande subjetividade que, aliada a seu elevado grau relacional, tornam-no impossível de ser mensurado. A presente sessão deste trabalho não visa a discutir ambas as correntes, mas apenas apresentar, de forma sucinta, algumas tentativas (remotas e atuais) de formulação do poder de estudiosos da primeira linha de pensamento. Conforme já mencionado nas considerações metodológicas, o foco não é apresentar volume significativo de
71
Este estudo inicia apresentando um dos modelos mais antigos de
mensuração e avaliação estratégica do poder nacional. Há mais de dois mil anos,
Tzu (1996) afirmou que a “arte da guerra” dos governantes e estrategistas chineses
(militares ou não) consistia em método de análise de risco, cujo objetivo era prever
cenários de risco. O general chinês descreve cinco fatores responsáveis por
influenciar diretamente a vitória ou a derrota. Grosso modo, pode-se traduzir seu
modelo estratégico, a capacidade (ou poder) de uma nação para a guerra, na
seguinte formulação:
Poder (vitória na guerra) = Lm + C + T + L + Met & Discpl
Sendo: Lm – Lei moral
C – Céu
T – Terra
L – Líder
Met & Discpl - Método e Disciplina
A lei moral (Lm) diz respeito à autoridade do governante; sua trajetória e força
moral capaz de amalgamar os súditos em torno de uma causa. Trata-se, portanto,
de uma liderança política, sustentada por princípios e valores inspirados pelo
soberano, por seu exemplo pessoal, fazendo com que o povo siga seus desígnios
acima de sua própria vida. O céu (C) remete às condições físicas como o dia, a
noite, as condições atmosféricas e as estações. A terra (T) refere-se a distâncias, ao
relevo e à soberania. O líder (L) aponta para o chefe militar, o general, e sua cadeia
de comando, não apenas para suas qualidades técnicas e profissionais, mas
também para suas virtudes, como sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e
retidão. Por fim, no último fator, Método e Disciplina (Met & Discpl), Sun Tzu
enquadrou o adequado ordenamento das Forças, a manutenção das estradas de
suprimento, o controle dos gastos e a disciplina militar.
Dessa forma, os estrategistas chineses ponderavam os cinco fatores,
calculando o peso relativo de cada oponente como ação crucial à conquista da
fórmulas existentes, ou discuti-las em profundidade teórica, mas tão somente informar o leitor acerca deste viés dos estudos do poder, por meio de alguns exemplos ilustrativos.
72
prevalência sobre eles. O autor reforça a importância de tal método de mensuração
afirmando:
O general que vence uma batalha fez muitos cálculos no seu templo, antes de ser travado o combate. O general que perde uma batalha fez poucos cálculos antes. Então, fazer muitos cálculos conduz à vitória e poucos à derrota; até onde mais, levará a falta de cálculo! É graças a esse ponto que podemos prever quem, provavelmente, vencerá ou perderá (TZU, 1996, p. 20).
No modelo de Tzu, fica notória a existência tanto de fatores objetivos como de
subjetivos, evidenciando, desde tempos remotos, a capacidade e a importância da
inclusão de variáveis não-empíricas na construção de modelos de poder/capacidade
nacional. Condições climáticas, distâncias e topografia, por exemplo, interagem
simultaneamente com valores volitivos, como autoridade moral, eficácia militar e
habilidade estratégica dos generais.
Após a descrição do modelo proposto por Sun Tzu, destaca-se a formulação
proposta por Johann Peter Süßmilch em 1741. Em “Die göttliche Ordnung”30, o autor
germânico afirmou que a reputação, a segurança e o poder de um país estão
diretamente relacionados à sua população. A relação habitante x dimensão é
fundamental para a prevalência de A sobre B. Hwang explicitou que o pensamento
de Süßmilch poderia, portanto, ser resumido na seguinte fórmula:
Poder nacional = Pop x Denspop
ou
Poder nacional = Pop x Pop
Terras habitáveis
Sendo:
Pop – População
Denspop – Densidade populacional
Nos fundamentos dessa teoria, tem-se o conceito de que elevada densidade
populacional indicava elevado grau de desenvolvimento. Ainda, considerou-se como
premissa básica a ideia de que vazios demográficos seriam atrativos para conquista
30
“A ordem divina” (tradução do autor); obra de Süßmilch (1741) que trata a respeito das questões demográficas sob o conflito da visão intelectual e religiosa.
73
devido à dispersão do povo e dos meios de defesa (SÜßMILCH, 1741 apud
HWANG, 2008).
Süßmilch observou que grandes territórios implicavam maior número de
fronteiras interestatais, o que se constituiria em maior potencial de conflitos. Além
disso, reforçou que, em um país pequeno com elevada população, ações e
estratégias seriam implementadas com muito mais efetividade do que naqueles de
grande extensão e com poucos habitantes.
Importante ressaltar que, apesar de valorizar diretamente a questão
populacional x territorial, o autor também considerava, ainda que de forma indireta e
implícita, a importância de valores intangíveis como fatores impactantes do poder de
um povo. Por exemplo, segundo seu pensamento, grandes adensamentos de
pessoas facilitariam a preservação de costumes e virtudes de determinado grupo,
como a bravura e a disciplina, essenciais à vitória na guerra (HÖHN, 2011).
Já no século XX, em plena Guerra Fria, Cline (1975) explicita a seguinte
formulação:
Poder = (C + E + M) × (S + W)
Sendo:
C - Massa crítica = população + território E - Capacidade econômica M - Capacidade militar S - Coeficiente de estratégia nacional W - Vontade nacional
Em sua íntegra, a equação acima fundou-se no “núcleo duro” dos fatores
componentes do poder nacional: os meios econômicos (e neste contexto inclui-se a
população e o território; mão-de-obra/mercado consumidor, recursos disponíveis) e
os militares. Identifica-se, também, parcela de caráter qualitativo, cuja definição das
variáveis evidencia avaliações com considerável grau de subjetividade (vontade
nacional).
Cline (1975) ressaltou a importância da fórmula como meio de se identificar a
situação do Estado (no caso, os Estados Unidos) em termos de equilíbrio de forças,
desvendando ameaças e oportunidades que se apresentavam no sistema
internacional à época. O autor reforça que a tentativa de quantificação é eficaz em
se medir o poder percebido pelos governos, muitas vezes influenciados por
74
conceitos e doutrinas populares, o que os afasta do poder real. Percepções são
voláteis, implicando, assim, em constantes atualizações na medida do poder
calculado.
Com relação aos fatores componentes da fórmula, Cline (1975) denominou
“massa crítica” a soma das variáveis população e território. Para a primeira,
elaborou-se uma lista de ordem decrescente dos Estados mais populosos, atribuindo
pontuações por faixas de habitantes. Para o território, similarmente, estabeleceram-
se pontuações, levando-se em consideração a área, a localização geográfica e as
potencialidades de cada país. No caso da capacidade econômica, o autor destacou
os aspectos renda (Produto Nacional Bruto), energia, minerais estratégicos,
capacidade industrial, capacidade alimentar e comércio internacional; na militar,
balanço estratégico, capacidades para o combate e bônus por desempenho. Com
relação ao fator Vontade Nacional, de alto valor subjetivo, Cline (1975) destacou,
como variáveis a serem consideradas, o nível da integração nacional (cultural e
territorial), a força da liderança nacional e a coerência entre a estratégia e o
interesse nacional.
Já em meio ao complexo cenário do século XXI, têm-se também várias
iniciativas no sentido de se buscarem modelos representativos do poder dos
Estados. Em 2002, o National Security Council Secretariat, da Índia, elaborou o
National Security Index (NSI), com periodicidade anual (aproximadamente). Em
2007, o ‘poder econômico’ correspondia a 25% da fórmula final; a ‘capacidade de
defesa’, 25%; a ‘segurança energética’, 20%; o ‘poder tecnológico’, 15%; e a
‘população efetiva’, 15%.
Poder (NSI) = 0,25PE + 025CD + 0,20SE + 0,15PT + 0,15Pop
Sendo: NSI - National Security Index PE - Poder Econômico CD - Capacidade de Defesa SE - Segurança Energética PT - Poder Tecnológico Pop - População efetiva
75
Em outro estudo, Hwang (2008) estipulou que o ‘tamanho da economia’, a
‘expectativa de vida’, a ‘educação’ e ‘integridade’ (índice de corrupção) respondem
por 6,25% da fórmula de PN cada um; ‘os gastos militares’ e a ‘produção de armas’,
por 12,50% cada; e a ‘produção energética’ e ‘armas nucleares’, por 25% cada. Para
o autor, o equilíbrio entre todos os fatores é o melhor resultado. Seu Integrated State
Power (ISP) apresenta a seguinte composição:
Poder = 0,25En+0,25AN+0,125GM+0,125PA+
0,0625Ec+0,0625EV+0,0625Ed+0,625Int
Sendo: En - Produção energética AN - Armas Nucleares GM - Gastos Militares PA - Produção de Armas Ec - Tamanho da economia EV - Expectativa de Vida Ed - Educação
Int - Integridade (índice de corrupção)
Por fim, Hafeznia (2008) incorporou variáveis que reforçam a importância do
culturalismo, das idiossincrasias étnicas, religiosas e socioculturais na conformação
das novas estruturas do poder mundial, chegando à seguinte proposta:
P=f (E+S+C+P+M+AS+T+STT)
Sendo: E – Fator Econômico S – Fator Social C – Fator Cultural P – Fator Político M – Fator Militar AS – Fator Aeroespacial T – Fator Transnacional STT – Fator Científico-tecnológico
76
Seja qual for a equação, há de se destacar que a seleção de seus fatores
componentes e suas dinâmicas relacionais refletem a complexidade inerente à
conformação do poder, bem como explicitam as características de determinado
contexto espaço-temporal. Assim sendo, tem-se que as fórmulas do poder
constituem-se em ferramentas de apoio tanto aos estudos teóricos como aos
diversos processos decisórios e de planejamento de políticas públicas do Estado.
77
5 A ANÁLISE DE CONTEÚDO
5.1 PREPARAÇÃO DO CORPUS31
Antes da análise propriamente dita, faz-se necessário um período de
planejamento e organização, cujo objetivo é sistematizar e operacionalizar as ideias
iniciais por meio de um plano de ação flexível. Segundo Bardin (2010, p. 95), é na
“pré-análise” onde se selecionam os documentos, formulam-se hipóteses e objetivos
e elaboram-se indicadores, base da interpretação.
Para a seleção dos documentos, buscou-se levar em consideração alguns
critérios, como representatividade, homogeneidade e pertinência. Sob o escopo dos
objetivos geral e específicos da pesquisa, de elaborar um modelo teórico do poder
do Estado, elencando aqueles de maior relevância e perenidade ao longo dos
tempos, bem como identificando aqueles que representam determinado período
histórico específico, vislumbrou-se a necessidade de ampliar ao máximo o universo
de pesquisa no quesito espaço-tempo.
A partir desta constatação, partiu-se para o trabalho de pesquisa bibliográfica
e documental, elencando a maior quantidade de obras e documentos que
versassem sobre o tema de estudo. Considerando-se as limitações impostas pelo
critério da acessibilidade, entendeu-se que, ainda que não se obtivesse a totalidade
dos modelos teóricos existentes, seria imperiosa a composição de uma amostra
verdadeiramente representativa da pluralidade espaço-temporal pretendida.
Ainda na fase da pré-análise, iniciou-se o trabalho de referenciação de índices
e indicadores, assim como a realização de recortes nos documentos, ações que já
apontam para os procedimentos da análise propriamente dita (codificação e
categorização). Como índice, elencou-se a menção explícita dos fatores, subfatores
e variáveis componentes dos modelos/fórmulas; como indicadores, considerou-se
sua frequência de aparição.
Ao final, obteve-se um conjunto de cinquenta e dois modelos
teóricos/fórmulas, que compunham um amplo conjunto amostral, incorporando
autores da antiguidade até a presente década, orientais e ocidentais, dos
hemisférios norte e sul. A despeito da diversidade de conteúdo, uma vez tendo sido
31
Para Bardin (2010), considera-se corpus o conjunto de documentos selecionados para o processo de análise.
78
submetidos ao mesmo critério de escolha e estando em perfeito alinhamento com o
objeto de análise, imprimem homogeneidade e pertinência ao corpus (BARDIN,
2010).
5.2 CODIFICAÇÃO E CATEGORIZAÇÃO
Para descrever o início da análise propriamente dita, torna-se necessário
discorrer acerca das ações que envolvem a codificação.
Para Bardin (2010), esta envolve três passos: a escolha das unidades, as
regras de contagem e a escolha das categorias. Para a escolha das unidades de
análise, considerou-se o valor semântico das palavras e expressões que
representassem os componentes do Poder do Estado. Para a definição das regras
de contagem, levou-se em consideração um sistema frequencial simples. A partir do
objetivo específico de levantar os componentes de destaque do poder do Estado e
sua perenidade, o que se buscou foi a frequência da aparição dos fatores
encontrados nos modelos teóricos do corpus. Para isso, como ferramenta de apoio,
utilizou-se o software microsoft excel for Mac, 2011.
Inicialmente, listaram-se, em uma coluna (B) da tabela do excel, todos os
fatores, subfatores e indicadores encontrados, associando-os aos seus respectivos
autores, postados na parte superior da tabela (figura 1), perfazendo um total de 229
componentes do Poder do Estado.
79
Figura 1 - Etapa 1: registro dos fatores, subfatores, indicadores e autores
correspondentes.
Fonte: o autor.
Após, iniciou-se a categorização, na qual buscou-se grupar os elementos da
coluna B em conjuntos homogêneos, segundo critério de categorização semântico.
Para Bardin (2010), esta fase, resumidamente, subdivide-se no inventário e na
classificação.
Na primeira etapa, dá-se a passagem dos dados brutos para dados
organizados. Dessa forma, primeiramente, identificaram-se as aproximações
temáticas entre os fatores, subfatores e indicadores, reagrupando-os conforme sua
afinidade semântica. De maneira a facilitar a perfeita distinção entre os grupos e o
prosseguimento do inventário, utilizou-se um código de cores como meio de
codificação (figura 2). É significativo reforçar que a categorização tem por objetivo
precípuo proporcionar uma representação simplificada dos dados brutos. Decompor
o corpus, e sua subsequente reconstrução temática, permite identificar as
correspondências entre as mensagens e a realidade subjacente.
Ao final, após a análise dos 229 elementos, foi possível classificá-los em 11
grupos, sendo 10 homogêneos e 1 heterogêneo, neste, os elementos não foram
enquadrados em nenhuma das outras categorias e, por outro lado, não foram
considerados suficientes para a composição de uma categoria própria.
80
Tendo-se em conta o processo de categorização por “milha”32, chegou-se às
seguintes categorias terminais, correspondentes aos fatores componentes do poder:
Político, Econômico, Populacional, Militar, Territorial, Social, C&T, Cultural, Vontade
e Ambiental (figura 3).
Figura 2 – Categorização por cores (semântica).
Fonte: o autor.
Figura 3 – Definição de cada categoria (nomeclatura).
Fonte: o autor.
32
Bardin (2010) considera o processo de categorização por “milha” aquele cujo sistema de categorias não é fornecido previamente, mas, ao contrário, resulta de classificação analógica e progressiva dos elementos.
81
Na sequência, partiu-se para subcategorização, buscando-se realizar o
agrupamento de elementos (dentro de cada fator) analogamente ao procedimento
feito acima, em conjuntos semanticamente homogêneos. Como exemplo, nota-se,
nas figuras 4 e 5, o caso específico do fator C&T: primeiro, valendo-se de código de
cores, aproximaram-se os itens tematicamente similares (figura 4, coluna B).
Segundo, após ajustes realizados, nomearam-se as subcategorias (figura 5, coluna
D) e buscou-se elencar indicadores objetivos (figura 5, coluna C) que
representassem cada subfator. Durante o processo, conforme nota-se na figura 5,
procurou-se registrar a frequência simples de cada subfator e/ou indicador (numeral
entre parênteses), de maneira a facilitar conclusões futuras. Ao término, foram
elencados 40 subfatores (figura 6).
Figura 4 – Subcategorização.
Fonte: o autor.
82
Figura 5 – Definição de indicadores.
Fonte: o autor.
Figura 6 – Categorias e subcategorias finais.
Fonte: o autor.
83
Destaca-se que a análise, no geral - e a categorização, no particular -, não
segue padrões procedimentais rígidos e estáticos. A todo momento, conforme o
estudo avança, há um dinamismo complexo de descobertas, inferências e reajustes,
como o citado acima. Sobre isto, Bardin (2010) assevera que a análise de conteúdo
pode se dar em mais de uma dimensão, implicando em constantes avaliações e, por
vezes, mudanças. Para a autora, “é possível [...] que outros critérios insistam
noutros aspectos de analogia, talvez modificando consideravelmente a repartição
anterior.” (BARDIN, 2010, p. 118).
5.3 VALIDAÇÃO E AJUSTES
A validação dos procedimentos e resultados obtidos no estudo reveste-se de
significativa importância, uma vez que imprime maior precisão e confiabilidade no
processo investigativo. Para os estudos qualitativos, a validade e a confiabilidade
dos resultados, apesar de distintos, estão intimamente ligados.
Conforme já explicitado na parte metodológica, adotou-se estratégia de
validação apoiada em procedimentos múltiplos, fundada basicamente na descrição
detalhada de procedimentos, na manutenção de banco de dados e na análise de
auditor externo.
Yin (2010) assevera que este registro detalhado de cada passo da
investigação, juntamente com o estabelecimento de um banco de dados apropriado,
elevará o grau de confiabilidade e a consistência do processo investigativo. Nesse
sentido, na presente pesquisa, adotaram-se as seguintes ações: planejamento
prévio do estudo de caso e da análise, com o estabelecimento de protocolo de
ações a ser seguido; registro contínuo e sistemático de resultados em banco de
dados eletrônico; transcrição do passo-a-passo de cada fase, claramente observada
no item 5, “A Análise de Conteúdo”. Sobre a descrição detalhada das ações,
Creswell (2013) reforça sua importância, afirmando que, quanto maior o número de
perspectivas apresentadas, mais realistas e ricos serão os resultados.
Com relação à revisão por auditores externos, adotou-se a seguinte
sequência de ações: planejamento das ações, preparação do material para a
análise, seleção dos auditores, entrevistas, análise das observações e ajustes.
Na fase do planejamento, visualizou-se o processo como um todo,
identificando-se os principais condicionantes das etapas subsequentes, como, por
84
exemplo, as possibilidades e limitações para a escolha de auditores em termos de
distância geográfica; o tempo disponível para a obtenção de respostas; os meios de
envio do material, seja em sua totalidade, seja em parte; dentre outros.
Após análise preliminar, tendo-se em conta a dificuldade de se apresentar a
totalidade dos dados brutos aos auditores externos, optou-se pela preparação de
uma descrição metodológica sumária, de forma a permitir uma avaliação objetiva e
rápida, porém consistente. Confeccionou-se, também, uma tabela contendo a
descrição de cada fator e subfator. Complementando o material a ser enviado a
cada auditor, juntou-se, aos documentos anteriores, a tabela excel, contendo cada
fase da análise e seus respectivos resultados, e um mapa mental com todos os
fatores e subfatores encontrados.
Para a seleção dos auditores, considerou-se o critério de capacitação
acadêmica, afinidade com o tema de estudo, além da facilidade de acesso. Assim,
selecionaram-se cinco auditores externos. Destes, três eram militares, dois civis;
todos doutores, pesquisadores do Instituto Meira Mattos, vinculados a projetos de
pesquisas afetos à Estratégia e aos Estudos de Defesa. Individualmente, avaliaram
a pertinência entre o corpus adotado e o objetivo da pesquisa, a coerência e a
precisão da análise dos dados (categorização, codificação, inferências e resultados).
Três foram ouvidos pessoalmente, e dois, por meio de ligação telefônica,
devido à incompatibilidade de agenda para encontro in loco. Ressalta-se que, antes
das entrevistas, além de contato telefônico, foram enviadas mensagens eletrônicas
(e-mail) com informações iniciais e com o material preparado anexo.
Na comunicação inicial remetida a todos por meio eletrônico, solicitou-se a
cada um que analisassem o material enviado, concluindo acerca dos seguintes
questionamentos: a) os fatores e subfatores elencados no final do Estudo
(constantes do esquema distribuído) representam, com coerência e de forma
abrangente, as 229 variáveis levantadas das teorias existentes?; b) a metodologia
empregada (análise de conteúdo) foi aplicada com pertinência, agrupando os fatores
e subfatores com coerência dentro de categorias de mesmo valor semântico?; c) os
nomes atribuídos aos fatores e subfatores estão coerentes?; d) a descrição dos
fatores e subfatores está clara?; e) outras observações que se fizerem necessárias.
Os auditores “A” (civil), “B” (militar) e “E” (civil) foram ouvidos
presencialmente, confirmaram a aplicação correta da metodologia, entendendo que
os fatores e subfatores encontrados representavam com propriedade as 229
85
variáveis encontradas. Ainda, concordaram integralmente com as descrições
apresentadas.
O auditor “C” (militar), devido à incompatibilidade de agenda para entrevista
presencial, foi ouvido por telefone. Em sua análise, considerou correto todo o
procedimento metodológico, bem como entendeu serem pertinentes as descrições
dos fatores e subfatores apresentados. Entretanto, fez observações acerca dos
indicadores constantes dos subfatores, mas que não impactavam em sua descrição
objetiva.
O auditor “D” (militar), também por incompatibilidade de agenda, não foi
entrevistado, nem pessoalmente, nem por telefone. Porém, enviou observações
escritas, de próprio punho, nos documentos do material enviado eletronicamente.
Concordou com o passo-a-passo metodológico e entendeu que os dez fatores e
quarenta subfatores representavam plenamente, e com coerência, as 229 variáveis
iniciais. Propôs dois ajustes de nomenclatura nos subfatores e um acréscimo
conceitual na descrição de um subfator.
Ao final, após ratificações e retificações propostas pelos auditores, confirmou-
se o modelo final de dez fatores componentes, com algumas adaptações nos
subfatores.
Sobre a validade da categorização, Bardin (2010) explicita a necessidade de
que se busquem as seguintes qualidades no estabelecimento das categorias (e
subcategorias): exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade (e
fidelidade) e produtividade.
No caso da primeira, entende-se que cada elemento não pode existir em mais
de uma categoria, evitando-se ambiguidades. Nesse sentido, ao longo de todo o
processo de categorização, os elementos de todas as categorias e subcategorias
foram analisados e confrontados entre si, buscando-se identificar aspectos de valor
semântico similar que tivessem sido classificados em duas ou mais categorias
(multicodificação).
Exemplificando, o elemento “taxa de desemprego”, inicialmente associado ao
fator Econômico, evidenciou ambiguidade com o elemento “percentual de inflação,
desemprego e índice de criminalidade”, do fator Social. Neste caso específico,
optou-se pela exclusão do elemento “taxa de desemprego” do fator Econômico,
entendendo-se que tal medida estaria mais próxima do fator Social. O mesmo deu-
86
se com outros elementos, como “urbanização”, do fator Territorial, e “população
urbana”, do fator Populacional; eliminou-se “urbanização”.
A homogeneidade, por sua vez, implica que cada categorização se dá em
uma mesma dimensão, ou seja, diferentes níveis de análise devem ser separados
em análises sucessivas. A análise, além de ter sido realizada segundo um único
princípio de classificação, separou os diferentes patamares de avaliação: primeiro,
categorizaram-se os fatores, para, em seguida, classificarem-se os subfatores.
Para a pertinência de uma categoria, ter-se-á em conta sua coerência com o
quadro teórico da pesquisa; um sistema de categorias deve, portanto, refletir o cerne
da investigação, estar alinhado com os objetivos da análise. Tal qualidade foi
constatada ao confrontarem-se todas as 10 categorias (e as 40 subcategorias)
encontradas no decorrer do estudo tanto com os objetivos de pesquisa como com o
referencial teórico, ficando patente seu pleno alinhamento e pertinência com o objeto
e com as intenções de investigação.
A objetividade e a fidelidade são as qualidades que garantem que as distintas
partes de um mesmo material devem ser categorizadas da mesma forma. Os
mesmos critérios de categorização devem ser seguidos, assim como devem-se
buscar índices precisos para a entrada de um elemento em determinada categoria.
Neste quesito, comprovou-se que, para cada classificação categorial implementada
(nos diversos níveis de análise), observou-se a adoção dos mesmos princípios,
índices, códigos e critérios, buscando-se minimizar distorções relativas à
subjetividade do processo.
Por fim, a produtividade refere-se à real capacidade que um sistema
categorial possui de fornecer resultados efetivos (inferências variadas, questões de
estudo novas, dados diversos e outros). Reforçado pela pertinência com o tema de
estudo, nota-se que o processo de categorização desta pesquisa, ao final,
apresentou os resultados pretendidos e explicitados nos objetivos de pesquisa. Após
analisar os 52 modelos teóricos do poder do Estado constantes do corpus inicial, foi
possível identificar aqueles fatores componentes (e subfatores) mais
representativos. Além disso, os dados finais também permitiram a realização de
inferências adicionais sobre o tema, analisadas no subitem a seguir.
87
5.4 INFERÊNCIAS E RESULTADOS
De acordo com Bardin (2010), toda a sistematização de procedimentos e
técnicas da análise de conteúdo visa a identificar as mensagens e conteúdos ocultos
em cada comunicação. O que se busca é explicitar as condições de produção
daquela informação, ou seja, por meio de um processo dedutivo, obter a relação
entre a “superfície dos textos” (ou dados) e os “fatores que determinaram estas
características”. Por meio de deduções lógicas, buscar-se-á compreender “o que”
levou a determinado enunciado? E, ainda, “quais os efeitos desse enunciado?”
(BARDIN, 2010, pp. 39-41).
Para fins didáticos de exposição dos resultados, cabem algumas
considerações para sistematizar a análise. Sabe-se que o processo inferencial não
ocorre em um momento específico e/ou isolado. Na verdade, a identificação dos
significados ocultos dá-se de forma contínua, desde o momento da coleta dos dados
e da montagem do corpus, passando pela fase de codificação e categorização, até,
finalmente, o ordenamento dos resultados finais. Tudo, a todo instante, é objeto de
interpretação, desconstrução e reconstrução.
Neste subitem serão discutidas as inferências afetas ao produto final da
análise, bem como os resultados objetivos alcançados. Considerou-se que as
inferências realizadas durante a montagem do corpus, codificação e categorização
já foram discutidas nos respectivos tópicos.
A primeira observação acerca da tabela final diz respeito à análise do
conjunto de modelos teóricos elencados. Ao dividi-lo nos três períodos históricos,
percebe-se, com clareza, que o emprego de fórmulas, equações ou modelos
teóricos como ferramenta de análise comparativa das capacidades entre dois
Estados é fenômeno antigo, mas que se intensificou, principalmente, a partir do
século XX.
Apesar de não se tratar do objeto central deste estudo, a identificação de
possíveis causas desta constatação acaba por trazer evidências relevantes. A
despeito das diversas teses acerca do surgimento do Estado Moderno, tem-se, a
partir do final do século XVIII, um incremento da complexidade no inter-
relacionamento estatal. As transformações políticas advindas da derrocada dos
sistemas absolutistas, as revoluções burguesas, o nacionalismo, tudo incrementou
as variáveis intervenientes do jogo do poder.
88
Ao analisarmos o conjunto dos 52 modelos selecionados, percebe-se que
98% deles estão compreendidos dentro do período de surgimento do Estado
Moderno. Destes, a quase totalidade (98% também) insere-se no século XX, que
caracteriza-se por um período de grande volume de instabilidade no “tabuleiro
internacional”. Neste período, a simples “equação” Rei – Exército – Riqueza tornou-
se muito mais complexa: crescimento da influência e da participação “do povo”, com
a potencialização da importância das questões sociais; crescimento de variáveis
econômicas advindas da Revolução Industrial; o colonialismo, com seus aspectos
geográficos, étnicos, políticos e econômicos, dentre outros. É natural e evidente que
a ciência buscasse ferramentas metodológicas capazes de facilitar o cálculo
estratégico e incrementar o poder dos atores internacionais.
Dessa análise, infere-se, portanto, o elevado grau de importância dos
modelos do poder como instrumentos facilitadores tanto da compreensão do quadro
global como do incremento da capacidade e da transformação do “poder potencial”
em “poder efetivo”. No que tange às inferências advindas da observação dos fatores
propriamente ditos, o gráfico abaixo (figura 7) evidencia um panorama da evolução
dos fatores ao longo dos períodos elencados.
Figura 7 – Evolução dos fatores por período.
Fonte: o autor.
89
Inicialmente, no período que antecedeu à Guerra-Fria, identifica-se o fator
Territorial como sendo o de maior destaque, seguido pelos fatores Econômicos,
Populacional e Militar. Em menor grau de importância em relação aos demais,
porém presentes nos modelos analisados, estão os fatores Político e C&T.
Em uma análise geral, verifica-se o predomínio da concepção weberiana33 de
poder, cuja “fonte” advém da vontade unidirecional e do cálculo racional dos
agentes. Ou seja, o objetivo precípuo é o acúmulo de capacidades essenciais para
a imposição da vontade de A sobre B em um contexto de racionalidade estratégica
pura. O destaque do fator Territorial no gráfico fica claro quando contextualizado:
territórios e suas riquezas, bem como suas vantagens geoestratégicas estavam,
sem dúvida, dentre os grandes “epicentros” dos embates do período. São inúmeros
os casos em concreto: a expansão dos Impérios Romano, Inglês e Napoleônico; o
controle da estratégica região dos balcãs; o expansionismo turco-otomano e sua
derrocada; o imperialismo europeu e americano, e tantos outros.
Os fatores que se seguem (Econômico, Militar e Populacional), da mesma
forma, ratificam o viés weberiano, segundo o qual, quem possuísse mais meios de
coerção prevaleceria sobre os demais. Partindo-se da “visão de mundo” da “Ordem
Anárquica”34, onde a incerteza e o conflito inerentes conduzem à busca pela força35,
compreende-se melhor o destaque dado àqueles fatores. Quanto maior a população
de um Estado, maior sua capacidade de possuir numerosas forças militares. Quanto
maior forem seus recursos econômicos, mais fácil será armá-lo e mantê-lo.
Nota-se, também, ainda que em menor grau de importância, a presença do
fator C&T, ressaltando a importância do desenvolvimento científico-tecnológico para
as inovações militares e para a Revolução nos Assuntos Militares (RAM)36,
diretamente ligadas ao conceito de “autoajuda” realista. As catapultas medievais, a
pólvora, os canhões raiados, as aeronaves e veículos blindados são a prova de
como o fator C&T teve sua importância para o acúmulo de capacidades, neste caso
militares. Na economia, seus reflexos vão desde o desenvolvimento de instrumentos
33
Para maior aprofundamento filosófico-conceitual acerca das concepções de poder segundo Weber, Arendt e Foucault ver Teixeira e Migon (2017). 34
Descrita com maiores detalhes no item 4.1.1, A ordem anarquica, dentro do Referencial Teórico deste estudo, página 66. 35
Aqui, entende-se por força as capacidades necessárias para impor a vontade de A sobre B. 36
Para maior aprofundamento acerca dos conceitos de RAM e inovações militares, ver Krepinevich (1994); Gray (1998); Murray (1997); Murray e Knox (2001).
90
que impulsionaram às Grandes Navegações ao desenvolvimento das máquinas que
alavancaram a Revolução Industrial.
Sob a perspectiva das Ciências Militares, o episódio da Primeira Guerra
Mundial é um ótimo exemplo das dinâmicas entre os fatores da primeira parte do
gráfico da figura 7, onde se destacam as compleições weberianas da conformação
do poder. Dentre as causas do conflito, sobressaem-se a busca pela expansão
territorial e o imperialismo (fator Territorial); a corrida armamentista e o
desenvolvimento tecnológico (fatores Militar e C&T); a formação de alianças e as
derrocadas do sistema diplomático (fator Político); a busca por mercados e fontes de
matéria-prima (fator Econômico). Tratou-se de um “conflito de massas”, da “era
industrial”37, sustentado por grandes efetivos e imensos recursos econômico-
financeiros (fatores Populacional, Militar e Econômico) (KISSINGER, 1994; GRAY,
2013).
A análise da segunda parte do gráfico, Guerra-Fria, da mesma forma, aponta
para a presença de fatores predominantemente afetos às relações de poder de
Weber. Nesse período, identifica-se, claramente, um dos elementos essenciais ao
exercício do poder weberiano: o conflito, explicitado pela partição bipolar do SI entre
os Estados Unidos (EUA) e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS).
Neste período, nota-se que o fator Territorial perde a importância do período
anterior, dando lugar de destaque aos fatores Econômico e Militar. A objetividade
racional daquela conjuntura conduzia ao incremento das capacidades militares,
cruciais à busca pela hegemonia. O crescimento do fator Militar no gráfico explicita
nitidamente a “corrida armamentista” do período, inclusive com o incremento dos
arsenais nucleares. Nesse contexto, o componente econômico evidencia-se como a
base sólida indispensável para o incremento dos arsenais bélicos. Quanto mais
sólida e dinâmica a economia, maior o potencial de sustentação do crescimento do
potencial militar.
37
Refere-se aqui à definição de Toffler (1994), segundo a qual, o homem, através dos tempos, tem vivenciado uma sucessão de eras, cada qual com características próprias que conduzem a seu futuro. A “Era Industrial” correspondeu a um período de aproximadamente 300 anos, que deu lugar à atual “Era da Informação”. A Guerra da Era Industrial dava-se em um cenário de plena mecanização, produção em larga escala e divisão dos trabalhos, cujo objetivo estratégico precípuo era a redução e a limitação dos recursos de produção do oponente. Caracterizava-se pelos grandes efetivos e pelo massivo emprego de forças e armamentos convencionais. Para maiores detalhes, ver Toffler (1980; 1994).
91
Observa-se, também, crescimento destacado dos fatores Político e
Populacional. Este último diretamente relacionado ao fortalecimento econômico
(mão-de-obra e mercado consumidor) e à ampliação dos efetivos militares, com
reflexos diretos no campo militar. Por sua vez, a Política consubstanciou-se no
verdadeiro “campo de batalha” do período. Diante do eminente “apocalipse nuclear”,
o que se constatou foi uma “guerra” político-ideológica, em que ambas as
superpotências manipulavam as demais “peças” do tabuleiro internacional,
buscando desequilibrar o “jogo” a seu favor.
O fator C&T seguiu crescendo, sendo crucial ao incremento do fator
Econômico e, principalmente, do Militar. São provas o avanço na tecnologia nuclear,
as conquistas nos campos aeroespacial e o desenvolvimento das telecomunicações.
O fator Territorial, a despeito da perda de seu “status” face aos fatores Econômico,
Militar, Político e Populacional, ainda manteve papel relevante na equação final.
Chama a atenção, porém, o surgimento de três novos fatores: Social, Cultural e
Vontade Nacional. Aqui, já se pode identificar uma discreta mudança na concepção
da existência de um poder hobbesiano puro e simples. Os três fatores emergentes
relacionam-se diretamente às concepções arendtianas38, que atribuem às ações
coletivas e ao concerto uma das forças motrizes para o efetivo exercício do poder.
Para Arendt, é a autoridade consentida que dá perenidade à relação de mando-
obediência (TEIXEIRA; MIGON, 2017).
Em outras palavras, valendo-se do momento histórico analisado, era preciso
“conquistar corações e mentes” para vencer o embate ideológico. A propaganda
comunista e a divulgação do “American Way of Life” / “American Dream” são
exemplos claros. No plano interno, era preciso obter o apoio da população, o “marco
fundacional do poder” de Arendt, unindo-os para a “guerra” contra o comunismo (ou
capitalismo). No plano externo, cada potência envidava todos os esforços possíveis
para atrair o maior número possível de Estados para seu “campo gravitacional”.
Nessa conjuntura, ter em conta as questões sociais e culturais, ambas impactando a
vontade nacional, tornava-se essencial na composição final do poder do Estado.
A análise da composição do poder do Estado no pós-Guerra Fria já descortina
uma nova conjuntura. O fator Econômico seguiu crescendo, destacando-se dos
demais. Trata-se do período da globalização onde os fluxos informacionais e
38
Para maior aprofundamento acerca do Poder segundo Hanna Arendt, ver Teixeira e Migon (2017).
92
logísticos, potencializados pelo avanço tecnológico, intensificaram o comércio global.
Trata-se de uma era de domínio do mercado financeiro e da formação de blocos
econômicos, onde os atores privados e transnacionais passam a interferir cada vez
mais na força resultante das dinâmicas internacionais.
Pela análise da figura 7, no último período estudado, o fator Militar também
ampliou sua participação na equação final do poder do Estado, tendo, inclusive, um
crescimento relativo maior que o fator Econômico em relação ao período anterior,
apesar de ainda estar atrás desse em termos absolutos. A despeito da ausência de
Grandes Guerras Mundiais, o que se percebe na prática é a existência de inúmeros
conflitos de amplo espectro no contexto global, que incorporam características
complexas, inerentes à Era Informacional. Conflitos tradicionais, baseados em
Exércitos numerosos, com armamentos pesados e convencionais, travados entre
dois partidos beligerantes, claramente identificáveis, passam a ser substituídos por
embates híbridos, com novos atores, motivados por questões variadas e múltiplos
partidos.
As “novas ameaças”39 transformaram a composição do fator Militar do poder
do Estado, incorporando-lhe aspectos étnicos, culturais, socioeconômicos e
tecnológicos, ampliando sua complexidade e sua importância relativa. Tal quadro
fica evidente quando observamos as ações de combate em torno do Islamic State of
Iraq and Syria (ISIS), envolvendo diversos Estados e milícias regionais, o emprego
de Forças Armadas brasileiras em combate ao crime organizado no Rio de Janeiro,
ao mesmo tempo em que a Rússia expande seu “Hard Power”40 com operações
militares convencionais e com o incremento de seu arsenal bélico.
O fator Político acompanhou o crescimento, mantendo sua posição relativa
em relação aos fatores Econômico e Militar. Concertações no âmbito dos
Organismos Internacionais tradicionais, a criação de blocos e fóruns político-
econômicos regionais e as movimentações diplomáticas bilaterais, regionais e
globais são evidências práticas da manutenção da importância do fator Político. No
atual período, a globalização extrapola o campo econômico e, em um cenário agora
39
Aqui, faz-se referência ao afastamento da Guerra Clausewitziana tradicional, sob a tríade exército-população-governo, para a incorporação de novos atores não-tradicionais e não-estatais. Crescem de importância questões de segurança humana, ambiental e aspectos étnicos-culturais, interferindo de forma complexa na conformação de novas ameaças. Para maior aprofundamento sobre o tema, ver Buzan, Waever e De Wilde (1998); Kaldor (2013). 40
Para maior aprofundamento acerca dos conceitos de “hard power” e “soft power”, ver Art (1996); Nye Jr. (1999; 2009); Cooper (2004); Wilson III (2008) e Gray (2011).
93
multipolar, alcança, endogenamente e exogenamente, o campo da política. No novo
tabuleiro, não atuam mais tão somente Estados-Nação, mais organizações não-
governamentais, instituições religiosas, associações e até mesmo indivíduos, todos
interferindo na parcela política do poder estatal.
O fator Populacional manteve-se no mesmo patamar absoluto, perdendo
importância relativa em relação aos três primeiros já mencionados. Por outro lado, o
fator C&T mais do que dobrou sua importância relativa em relação ao período da
Guerra Fria. Na Era da Informação, as tecnologias (armas inteligentes, drones e a
cibernética) reduziram a necessidade de grandes efetivos “on the ground”, a
despeito de que o tamanho de um mercado consumidor segue sendo variável
importante.
Nota-se um quadro de evolução dos fatores Social e Cultural, que mostra
grande crescimento em relação ao período anterior. No século XXI, a Segurança
Humana, gradualmente, vem ocupando espaço nas discussões e nos planejamentos
das políticas públicas nacionais e internacionais. Epidemias e pandemias, fome,
deslocados e refugiados, conflitos étnicos e religiosos e crimes transnacionais, de
forma crescente, consubstanciam-se em uma rede complexa de variáveis
intervenientes do poder do Estado, conformando uma nova realidade conjuntural. A
internet, o cinema e as mídias sociais despontam como novos vetores, capazes de
desestabilizar governos e alterar o “status quo” regional, como, por exemplo, na
“Primavera Árabe”41.
O fator Territorial, apesar de ainda se caracterizar como um componente
perene, seguiu a tendência de perda de importância na formulação total do poder. A
despeito do real valor do acesso ao mar e de posicionamentos estratégicos (vide a
questão boliviana, o interesse Russo na Criméia e a presença militar chinesa e
americana no Oceano Índico e no Mar do Sul da China), bem como da vantagem
comparativa da posse de terras agricultáveis, a questão territorial tem sido
sobrepujada pelas novas tecnologias e pelos desenvolvimentos na logística e
comunicações, que encurtam as distâncias, reduzem os fretes e facilitam o acesso
aos pontos mais longínquos do Globo.
41
Protestos, manifestações e conflitos internos ocorridos a partir de 2010 em Países do Oriente Médio e norte da África de motivação social e política. As mídias sociais e a internet tiveram papel fundamental na difusão de ideias revolucionárias. Para maior aprofundamento, ver Anderson (2011), Joffé (2011) e Visentini (2012).
94
Vontade nacional é outro fator que permanece identificável na composição do
poder do Estado no período pós-Guerra Fria. Entretanto, como o fator Territorial,
decai de importância, principalmente como resultado do fim do modelo bipolar e do
surgimento de um sistema multipolarizado. Com o fenômeno da globalização, o
“nacional” sofre um esvaecimento em detrimento do “global”, com impacto direto nas
percepções de ameaça e vontades locais. A despeito disso, na última década, os
fenômenos migratórios e o terrorismo, por exemplo, têm amalgamado a opinião
pública dos Estados entorno das questões nacionais e regionais.
A maior novidade da análise dos fatores no último período estudado é o
surgimento do fator Ambiental. A despeito das preocupações com o meio-ambiente
serem tema já recorrente nas discussões científicas, é a partir do século XXI que a
sustentabilidade passa a assumir papel relevante nas Relações Intraestatais. A
segurança ambiental surge vinculando-se diretamente a questões de Segurança
Humana e, por conseguinte, à Segurança Internacional.
Fenômenos como desertificação e falta de recursos hídricos geram
movimentos migratórios, impactando negativamente as políticas públicas dos
Estados e conduzindo ao exacerbamento de questões fronteiriças entre Países.
Fontes renováveis de energia, por exemplo, além de diminuir o custo de vida,
melhorando a qualidade de vida de determinada população, proporcionam
segurança energética e liberdade de ação a Estados, que se veem livres da
dependência do mercado de hidrocarbonetos. Em resumo, as variáveis, subfatores e
fatores ambientais acabam por atuar transversalmente no cômputo total do poder do
Estado, potencializando ou depreciando os demais fatores.
Ao se analisar a composição do poder do Estado ao longo dos três períodos
elencados, constata-se, então, a existência de uma conformação dinâmica e
evolutiva. Verificou-se que, a partir de uma gênese claramente realista, o modelo
teórico do poder evoluiu, incorporando matizes mais holísticas. A partir do término
da Segunda Grande Guerra, a atenção a aspectos socioculturais e a preocupação
com o consenso (parcerias, alianças), interno ou externo, descaracterizou o “DNA”
meramente weberiano dos componentes do poder estatal, fazendo-se notar a
presença parcial da ótica arendtiana. Porém, ao se adentrar no Novo Século, o que
se tem é uma intrincada rede de variáveis, clássicas e outras inéditas, totalmente
interligadas entre si, com características estatais e/ou não. Percebe-se, então, uma
95
base filosófica diferente das demais, o poder foucaultiano, onde o constructo poder
atinge amplitude e complexidade máxima (TEIXEIRA; MIGON, 2017).
Sob a visão do filósofo francês, o poder atinge o máximo de seu viés
relacional: o poder está presente em tudo e emerge a partir das mínimas interações,
endógenas e exógenas. Assim, fatores tradicionalmente “hard power” coexistem e
interagem com aqueles “soft power”, produzindo um modelo teórico do poder
peculiar da Era Informacional. O estatal e o não-estatal coexistem e interagem entre
si, em diferentes níveis, relacionando-se transversalmente com o social, o
econômico, o político, o militar, o cultural, o ambiental e outros, adaptando-se em
uma sequência sem-fim de forças resultantes.
Portanto, o que se obteve, ao final deste estudo e suas inferências, foi um
modelo teórico do poder do Estado, representado graficamente na figura 8,
composto por 10 fatores (e 40 subfatores), conforme se segue:
Poder = ß1.Pol + ß2.Eco + ß3.Ter + ß4.Pop+ ß5.C&T + ß6.Soc + ß7.Cult + ß8.
Mil+ ß9.Von + ß10.Amb + ε
Sendo:
Pol - Fator Político Terr - Fator Territorial
Eco - Fator Econômico C&T - Fator Ciência e Tecnologia
Pop - Fator Populacional Von - Fator Vontade
Mil - Fator Militar Amb - Fator Ambiental
Soc – Fator Social ß (1-n) - Pesos Relativos
Cult - Fator Cultural ε - Erro
96
Figura 8 – Figura esquemática do Poder do Estado.
Fonte: o autor.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do constructo poder é ferramenta-chave à melhor compreensão das
dinâmicas políticas, infra ou supranacionais. De natureza complexa e investindo
múltiplas matizes conceituais, trata-se de conceito basilar às Ciências Sociais,
consubstanciando-se no “epicentro” de infinitas e imprevisíveis ações e reações
responsáveis por moldar os sistemas estatais endógenos e exógenos.
Prova de sua importância é a constatação, ao longo da História, de inúmeras
teorias que visaram a estudá-lo, compreendê-lo e defini-lo. Tal extratemporalidade
de análise, bem como sua multiplicidade semântica demandam postura diferenciada
do pesquisador, rompendo com a adesão a esta ou aquela teoria específica. Como
um legista, buscando o pleno domínio de determinado “corpus”, estudar o poder vai
além de sua definição conceitual, sendo necessário “dissecá-lo” e compreendê-lo a
partir de seus componentes, sua interação não-linear entre si e com o meio.
Tendo por base esta reflexão, e norteado pela importância do
aprofundamento dos estudos do poder no âmbito da Ciência Política e das Ciências
Militares, principalmente no que se refere à sua composição, o presente estudo
97
buscou respostas para os seguintes questionamentos: quais os fatores e subfatores
componentes do poder do Estado? Como se relacionam entre si? Objetivou-se,
portanto, explicitar a conformação do poder do Estado a partir da identificação de
seus elementos mais representativos, propondo um modelo teórico final.
Para tanto, sob o enfoque do paradigma da complexidade, realizou-se revisão
da literatura, orientada, inicialmente, para o estudo do poder em pensamentos
antagônicos das Relações Internacionais, com destaque para aspectos filosóficos e
conceituais. Posteriormente, revisitou-se o tema das “fórmulas do poder” (modelos
teóricos), visando a ambientar o leitor e despertar sua curiosidade para as ações
subsequentes da pesquisa.
Verificou-se, sob a ótica realista, que o poder do Estado se manifesta
segundo a concepção weberiana, incorporando as nuances de conflito e coação.
Nesse viés, o pensamento racional e o planejamento estratégico conduzem à busca
por meios e capacidades que resultem na supremacia em um sistema assimétrico
de forças. Identificou-se, também, um entendimento de poder com matizes liberais,
que considera o SI como uma estrutura resultante das dinâmicas socioculturais da
humanidade. Aqui, o poder assume as características arendtianas, emergindo do
consenso e da racionalidade cooperativa de grupos sociais.
Ainda durante o referencial teórico, discutiu-se, mesmo que sumariamente, o
tema das fórmulas e modelos voltados à mensuração do poder dos Estados,
valendo-se de um conjunto amostral amplo e variado. Constatou-se tratar-se de
valioso instrumento de análise político-estratégica desde a antiguidade e,
independentemente da equação ou modelo, seus fatores constituintes refletirão a
complexidade inerente do constructo poder, incorporando as características de
determinado contexto espaço-temporal.
Valendo-se do estudo de caso como estratégia de investigação, procurou-se
o alinhamento entre o paradigma adotado e o desenho de pesquisa qualitativo,
entendendo-se ser este modelo o mais apropriado a captar as complexidades do
elemento central da investigação. Como técnica de análise dos dados, optou-se pela
análise de conteúdo, partindo-se de um “corpus” inicial de 52 modelos
teóricos/fórmulas, representativos de um conjunto amostral amplo, contendo teorias
da antiguidade ao presente século, orientais e ocidentais, e de ambos os
hemisférios. De forma a ordenar a análise e facilitar as inferências decorrentes, os
98
dados foram separados por períodos históricos: até a II Guerra Mundial, Guerra Fria
e pós-Guerra Fria.
O estudo revelou que, durante o primeiro período, os fatores componentes do
poder mostraram-se, basicamente, de caráter weberiano. Apresentavam elementos
diretamente ligados ao “hard power”, evidenciando a importância do acúmulo de
capacidade para permitir a imposição da vontade em meio ao conflito. No período da
Guerra Fria, a despeito do predomínio de elementos realistas, já foi possível
identificar alguns elementos de viés arendtiano, compondo um modelo misto. Por
fim, o último conjunto de fatores refletiu a complexidade da conjuntura internacional
do presente século. Notou-se a existência de um modelo híbrido, composto por uma
rede de elementos de relação não-linear, típica da visão foucaultiana e
representativa do “smart power”.
Como resultado final, chegou-se a um modelo que contém os fatores mais
perenes e tradicionais das diversas teorias de formulação do poder, como o
econômico, o militar, o político, o territorial, o científico-tecnológico e o populacional;
e outros, que refletem as idiossincrasias do SI presente, como o social, o cultural e o
ambiental. No total, a equação final compôs-se de dez fatores e quarenta subfatores.
Concluindo o estudo, torna-se relevante destacar que a busca pela
compreensão do poder e seu impacto nos sistemas estatais é, ao mesmo tempo,
fenômeno antigo, que auxilia no entendimento de fenômenos políticos pretéritos e na
evolução dos fenômenos da Paz e da Guerra, mas que, por outro lado, segue, no
presente, propiciando as ferramentas essenciais para a análise da conjuntura
política volátil e assimétrica do século XXI. A organização de modelos e fórmulas
que representem o poder do Estado não visam a uma mera simplificação desse
construto complexo e relacional, mas conformam-se como excelente instrumento de
análise e planejamento para cientistas e estrategos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, L. Demystifying the Arab spring: parsing the differences between Tunisia, Egypt, and Libya. Foreign Affairs, p. 2-7, 2011. ARON, R. Estudos politicos. Brasília: Editora UnB, 1985. ART, R. J. American foreign policy and the fungibility of force.Security Studies, v. 5, n. 4, p. 7-42, 1996.
99
BARDIN, L. Análise de conteúdo.4. ed. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2010. BARRATT, M.; CHOI, T. Y.; LI, M. Qualitative case studies in operations management: Trends, research outcomes, and future research implications. Journal of Operations Management, v. 29, p. 329–342, 2011. BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Orgs.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 189-217. BUZAN, B.; WÆVER, O.; DE WILDE, J. Security: a new framework for analysis. Boulder, Colorado: Lynne Rienner Publishers, 1998. BYRNE, D. S. Complexity theory and the social sciences: an introduction. London: Psychology Press, 1998. CLINE, R. S. World power assessment: a calculus of strategic drift. Boulder, Colorado: Westview Press, 1975. COOPER, H. The integrative research review: A social science approach. Beverly Hills: Sage, 1984. COOPER, R. Hard power, soft power and the goals of diplomacy. In: HELD, D; ARCHIBUGI, M. K. (eds.). American Power in the 21st Century. Cambridge: Polity, 2004. p. 167-180. CRESWELL, J. W. Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. Los Angeles: Sage publications, 2013. DENZIN, N.; LINCOLN, Y. “Introduction: The discipline and practice of qualitative research”. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (Orgs.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994. p.1-29 EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of Management Review, Mississipi, v. 14, n. 4, p. 532-55, Oct./Dec.1989. ERICKSON, K. Everything in Its path. New York: Simon and Schuster, 1976. FINNEMORE, M. National interests in international society. New York: Cornel University, 1996. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Traduzido do francês e organizado por Roberto Machado. 27. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2013. _____________. Power/Knowledge: Selected interviews and other writings, 1972-1977. New York: Pantheon Books, 1980. _____________.The history of sexuality. London: Penguin Books, 1998. GIBBS, G. R. Analyzing qualitative data. In: FLICK, U. (Ed.). The sage qualitative
100
research kit. London: Sage, 2007. GRAY, C. S. Hard power and soft power: The utility of military force as an instrument of policy in the 21st century. Carlisle: Strategic Studies Institute, 2011. ___________. RMAs and the dimensions of strategy. Jointy Force Queterly, p. 50-54, Autumn / Winter 1997-1998. ___________.War, peace and international relations: an introduction to strategic history. Abingdon-on-Thames: Routledge, 2013. GROTIUS, H. O Direito da guerra e da paz. Florianópolis: Editora Unijuí - Fondazione Cassamarca, 2004. GUBA, E. G. (ed.).The paradigm dialog. Newbury Park, London; New Delhi: Sage Publications, 1990. GUBA, E. G.; LINCOLN, Y. Competing paradigms in qualitative research. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (Orgs.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994. p.105-117. HAFEZNIA, M. R. et al. Presentation a new model to measure national power of the countries. Journal of Applied Sciences, v. 8, n. 2, p. 230-240, 2008. HATCH, J. A. Doing qualitative research in educational settings. Albany: State University of New York Press, 2002. HAYLES, N. K. Chaos and order: Complex dynamics in literature and science. University of Chicago Press, 1991. HERZ, J. H. Idealist internationalism and the security dilemma. World Politics, v. 2, n. 2, p. 157-180, 1950. HOBBES, T. Leviatã. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974. HÖHN, K. Four early attempts to develop power formulas (1741−1955). Stosunki Międzynarodowe – International Relations, v. 44, p. 3-4, 2011. HWANG, K. New Thinking in measuring national power. In: WORLD INTERNATIONAL STUDIES COMMITTEE (WISC) . 2nd GLOBAL INTERNATIONAL STUDIES CONFERENCE, Ljubljana, Slovenia, 2008. p. 23-26. HUTH, P. K. Deterrence and international conflict: Empirical findings and theoretical debates. Annual Review of Political Science, v. 2, n. 1, p. 25-48, 1999. JERVIS, R. Cooperation under the security dilemma. World politics, v. 30, n. 02, p. 167-214, 1978. JOFFÉ, G. A primavera árabe no norte de África: origens e perspectivas de futuro. Relações Internacionais (R: I), n. 30, p. 85-116, 2011.
101
KANT, I. A Paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 1995. KALDOR, M. New and old wars: Organised violence in a global era. New Jersey: John Wiley & Sons, 2013. KEOHANE, R. O.; NYE Jr, J. S.; HOFFMANN, S. After the cold war: International institutions and state strategies in Europe, 1989-1991. Cambridge: Harvard University Press, 1993. KISSINGER, H. Diplomacy. New York: Touchstone, 1994. KLAUS, K. Content analysis: An introduction to its methodology. Thousand Oaks: Sage, 1980. KREPINEVICH, A. F. Cavalry to computer: The pattern of military revolutions. The National Interest, n. 37, p. 30-42, 1994. KUHN, T. S. The structure of scientific revolutions. Chicago, London: University of Chicago press, 1970. LECOMPTE, M. D. Analyzing qualitative data. Theory Into Practice, v. 39, n. 3, p. 146-154, 2000. LEEDY, P. D.; ORMROD, J. E. Practical research. Planning and Design, v. 8, 2005. LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos: ensaio sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros do governo civil. Petrópolis: Vozes, 2006. MARSHALL, C.; ROSSMAN, G. B. Designing qualitative research. Thousand Oaks: Sage publications, 2014. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Londres: Harmondsworth, 1961. MERRIAM, S. B. Case study research: A qualitative approach. San Francisco: Jossey, 1988. MERTENS, D. Research methods in education and psychology: Integrating diversity with quantitative & qualitative approaches. London: Sage Publications, 1998. MONTESQUIEU, C. L. S. Barão de. O espírito das leis. São Paulo: Saraiva, 1996. MORAVCSIK, A. Taking preferences seriously: A liberal theory of international politics. International Organization, v. 51, n. 04, p. 513-553, 1997. MORGENTHAU, H. J. Politics among nations: The struggle for power and peace. 3th ed. Nova York: Kopf, 1985. _________________. Scientific man versus power politics. Chicago: Phoenix Books, 1965.
102
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991. _________; LE MOIGNE, J. L.; DUARTE, J. C. S. Inteligência da complexidade: Epistemología e pragmática. São Paulo: Petrópolis, 2000. MURRAY, W. Thinking about revolutions in military affairs. Jointy Force Queterly, v. 16, p. 69-76, 1997. ___________.; KNOX, M. Thinking about revolutions in warfare.The Dynamics of Military Revolution, v. 1, n. 5, p. 01-2050, 2001. NYE Jr., J. S. Get smart: Combining hard and soft power. Foreign Affairs, v.88, p. 160-163, 2009. __________. Hard power, soft power. The Boston Globe, v. 6, p. 55-57, 1999. __________. Understanding international conflicts: An introduction to theory and History. Nova York: HarperCollins, 1993. PRIGOGINE, I.; STENGERS, I. The end of certainty. New York: Simon and Schuster, 1997. SCHMITT, C. L’Idée de raison d’état selon Friedrich Meinecke. In: SCHMITT, C. Parlamentarisme et Democratie. Paris: Seuil, 1988. ____________.The nineteenth century system: Balance of power or political equilibrium?. Review of International Studies, v. 15, n. 2, Special Issue on the Balance of Power, 1989. SMITH, A. A Riqueza das nações. São Paulo: Hemus, 2008. STAKE, R. E. The art of case study research. Thousand Oaks, CA: Sage, 1995. TALLEYRAND, C. M. Letter to metternich, 19th December 1814. In: WRIGHT, M. (ed.). Theory and Practice of the balance of power 1486-1914. London: Dent, 1975. TEIXEIRA, A. G.; MIGON, E. X. F. G. Revisitando o conceito de poder à luz da teoria da complexidade. Revista de Ciências Militares, v. 5, n. 2, 2017. TOFFLER, A. et al. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 1980. _________________. Guerra e anti-guerra. Rio de Janeiro: Record,1994. TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Londres: Penguin, 1972. TZU, S. A Arte da guerra. Coleção Leitura. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1996.
103
VIGOTSKI, L. S. A Construcao do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. VISENTINI, P. F. A primavera árabe: entre a democracia e a geopolítica do petróleo. Porto Alegre: Leitura XXI, 2012. WALDROP, M. M. Complexity: The emerging science at the edge of chaos. New York: Simon and Schuster, 1992. WENDT, A. Social theory of international politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. ________________. The agent-structure problem in international relations theory. International Organization, v. 41, n. 03, p. 335-370, 1987. WIGHT, M. A política do poder. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002. WILSON III, E. J. Hard power, soft power, smart power. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 616, n. 1, p. 110-124, 2008. WOODSIDE, A. G. Case study research: Theory, methods and practice. Bingley, Reino Unido: Emerald Group Publishing, 2010. YIN, R. K.. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Ana Thorell; revisão técnica: Cláudio Damacena. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
104
5 ARTIGO 3
MODELO TEÓRICO DO PODER DO ESTADO SEGUNDO A PERCEPÇÃO DA
DEFESA SUL-AMERICANA
THEORETICAL MODEL OF STATE POWER ACCORDING TO THE PERCEPCTION OF
THE SOUTH AMERICAN DEFENSE
Alexandre Gueiros Teixeira42 Exército Brasileiro
Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon43
Exército Brasileiro
42
Doutorando em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) 43
Doutor em Ciências Militares. Tenente-coronel (Exército Brasileiro). Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares / Instituto Meira Mattos / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) Pesquisador do Laboratório de Estudos de Defesa (LED/ECEME) e do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do Instituto de Estudos Superiores Militares (CISDI/IESM).
105
Resumo
O presente artigo se propõe a captar a percepção da defesa sul-americana acerca da
estrutura componente do poder do Estado. Partindo-se de referencial teórico
multidisciplinar, e tendo por base epistemológica o paradigma da complexidade,
empregou-se técnicas estatísticas de maneira a verificar o grau de ajustamento de
modelo teórico do poder previamente levantado em estudo qualitativo. Foram ouvidos,
por meio de questionário eletrônico tipo survey, mais de 1.131 indivíduos, civis e
militares ligados à Defesa, de todos os países da América do Sul, salvo Suriname,
Guiana e Guiana Francesa. Por meio de análise fatorial exploratória e confirmatória,
chegou-se a um modelo final, ajustado, de 6 fatores. Ainda, por meio de uma análise
multigrupos, foi possível verificar as aproximações e os afastamentos das percepções
entre civis e militares / brasileiros e estrangeiros acerca do grau de importância dos
componentes do poder. Ao final, fica patente o caráter complexo do objeto de estudo,
seus matizes voláteis e relacionais, principalmente no presente século, com impacto
direto nas dinâmicas e fenômenos sociopolíticos.
Palavras-chave: Poder, Ciências Militares, Complexidade, Modelo Teórico, Modelagem
de Equações Estruturais.
Abstract
This article aims to capture the perception of South American defense on the component
structure of state power. Based on a multidisciplinary theoretical framework, and based
on the epistemological basis of the complexity paradigm, statistical techniques were
used to verify the degree of adjustment of the theoretical model of power previously
raised in a qualitative study. Over 1,000 civilian and military personnel from the South
American countries, except for Suriname, Guyana and French Guiana, were interviewed
through an electronic survey questionnaire. By means of Exploratory and Confirmatory
Factor Analysis, we reached a final, adjusted model of 6 factors. Also, through a multi-
group analysis, it was possible to verify the approximations and the withdrawal of
perceptions between civilians and military / Brazilian and foreigners about the degree of
importance of the components of power. In the end, the complex nature of the object of
study, its volatile and relational nuances, especially in the present century, has a direct
impact on socio-political dynamics and phenomena.
Key words: Power, Military Science, Complexity, Theoretical Model, Structural Equation
Modeling.
106
1 INTRODUÇÃO
Os estudos do poder permeiam amplo espectro de disciplinas, ocupando
lugar destacado no âmbito da investigação científica. Sua importância advém de seu
viés dinâmico e relacional, que o torna verdadeira “força motriz” para as relações
sociais, entre grupos ou indivíduos, Estados ou estruturas privadas. Conceituá-lo,
compreendê-lo e “dissecá-lo”, portanto, torna-se tarefa essencial e primária para
todos quanto se voltam para a análise dos sistemas estatais endógenos e exógenos.
Poder é fenômeno complexo, isto é, não-linear e adaptativo, cujos
componentes interagem e evoluem conforme determinada moldura espaço-
temporal, ampliando os desafios de sua plena compreensão. Nesse sentido, os
modelos teóricos e fórmulas constituem-se em instrumento valioso para sistematizar
a análise desse constructo em cenários diversos. Por meio deles, pode-se modelar a
interação dos múltiplos atores, auxiliando a compreensão do presente e o
planejamento para o futuro.
Dada sua importância para o planejamento político-estratégico, são inúmeras
as tentativas de mensurar o poder de Estados e Nações através dos tempos. Do
modelo estratégico de Sun Tzu (1996) à fórmula do poder de Ray Cline (1975), cada
qual captou um viés filosófico do constructo, balizando sua análise de acordo com
cenário estratégico de sua época.
Perceber o contexto geopolítico, suas peculiaridades e reflexos é, por isso,
tarefa fundamental para o estudo das dinâmicas do poder. Nessa direção, o século
XXI desafia as teorias clássicas que tentam explicar o comportamento dos Estados,
adicionando novos atores e novas variáveis à intrincada rede de relacionamento dos
sistemas. Os conflitos extrapolam os limites estatais, passando a envolver grupos,
etnias e credos; o espectro cibernético desponta como novo desafio aos
especialistas da Paz e da Guerra; as questões ambientais impactam diretamente o
campo sociopolítico e econômico da conjuntura mundial e tantas outras
transformações que alteram o status quo mundial de maneira exponencial.
Norteado por essas constatações, este estudo teve por objetivo propor um
modelo teórico do poder do Estado que captasse a percepção da defesa sul-
americana e espelhasse as características do momento atual. Sob a ótica da
epistemologia da complexidade, apresentou-se uma revisão da literatura calcada em
dois pontos fundamentais: primeiro, na explicitação do conceito de poder segundo
107
Foucault, base filosófica para a construção do conhecimento desta investigação;
segundo, na apresentação das características da formulação do poder no século
XXI, como forma de revisitar o tema e preparar o leitor para o avanço da pesquisa.
Para o atendimento do proposto, adotou-se abordagem dividida em cinco
seções. Após esta introdução, discorre-se sumariamente acerca de questões
epistemológicas e metodológicas. Subsequentemente, apresenta-se o referencial
teórico elencado. A partir daí, tem-se a análise propriamente dita, com as inferências
e os resultados pertinentes. Por fim, tecem-se as considerações finais sobre a
investigação como um todo.
2 METODOLOGIA
Antes de discorrer sobre os passos metodológicos adotados, faz-se
necessário apresentar, ainda que sumariamente, a visão epistemológica que norteou
a presente investigação, entendendo-a como “pedra fundamental”, sob a qual se
construiu todo o conhecimento científico. Trata-se do conjunto das convicções que
balizam as práticas, impactando diretamente todo o processo investigativo
(Bachelard 1973; Creswell 2013).
Considerando-se as peculiaridades do objeto de análise, optou-se pelo
paradigma da complexidade, onde a não-linearidade sobrepõe-se à linearidade na
formulação do conhecimento. Sistemas complexos podem ser definidos como uma
combinação de inúmeras partes, que interagem entre si de maneiras diversas,
gerando uma auto-organização espontânea. Nesse processo, transformam-se,
moldam-se, deixando de lado suas singularidades em prol de propriedades
coletivas. São espontâneos e adaptativos, de grande dinamismo intrínseco,
diferenciando-os, qualitativamente, de objetos estáticos (Waldrop 1992; Prigogine e
Stengers 1997).
Outra constatação acerca dos sistemas complexos adaptativos é sua
estruturação em múltiplos níveis organizacionais, com agentes de um nível servindo
de base para outros em níveis mais elevados (Holland 1992). Dessa maneira, o
estudo do poder, sua composição e o inter-relacionamento de sua estrutura,
indubitavelmente, demandam abordagem multidisciplinar e relacional, sob a qual se
tenta captar o ajustamento do core de investigação à realidade do século XXI, ou
108
seja, sua adaptabilidade e evolução ante o caos e desordem do sistema
internacional.
Uma vez apresentada a visão epistemológica, torna-se necessário discorrer
sobre a forma de abordagem do problema, explicitando a opção metodológica
adotada. Trata-se de pesquisa quantitativa, segundo a qual buscou-se apresentar
descrição quantitativa de tendência de determinada população por meio de uma
amostra. Entende-se que, uma vez conhecidas as dimensões de um objeto, bem
como suas características, por meios qualitativos, a pesquisa de natureza
quantitativa complementará os dados, permitindo aprofundamento na estrutura
latente de modelos, esclarecendo as dinâmicas de suas variáveis, ratificando ou
retificando-os (Edwards 1983; Babbie 1990; Pestana e Gageiro 2003; Creswell
2013).
O objetivo geral da pesquisa foi captar a percepção da defesa sul-americana
acerca de modelo teórico do poder do Estado (seus fatores e subfatores),
previamente levantado, que representasse as peculiaridades do quadro global44
presente.
Partindo-se para a seleção do universo, considerou-se, como representantes
da “defesa sul-americana”, a seguinte população: militares das Forças Armadas
(Brasil e demais países da América do Sul) com curso de Estado-Maior ou pós-
graduação stricto sensu (ativa ou reserva) e civis ligados à defesa (Brasil e demais
países da América do Sul) (diplomatas, membros do legislativo vinculados às
Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Agências Nacionais de
Inteligência, Policiais Federais, acadêmicos estudiosos do tema, membros da justiça
militar, empresários e funcionários ligados à Base Industrial de Defesa etc.) (Ativa ou
aposentados).
Entendendo-se não ser possível mensurar com precisão o tamanho da
população, inicialmente, adotou-se o tipo de amostra não-probabilística por quotas.
Como segmentação, optou-se por brasileiros e estrangeiros (demais sul-
americanos) e também civis e militares.
A seleção dos participantes deu-se pelo critério de acessibilidade. No caso
dos militares brasileiros, buscou-se o banco de dados do Departamento Geral de
Pessoal do Exército e das Escolas de Estado-Maior das três forças. Para os
44
Para maiores detalhes, ver Teixeira e Migon 2019.
109
militares estrangeiros, buscou-se o acesso por intermédio dos adidos militares das
Escolas de Curso de Estado-Maior e Altos Estudos. Para os civis, utilizou-se
consulta à mídia social Linkedin, buscando-se alcançar aqueles que se relacionavam
ao universo estudado.
Ao final, 1131 respondentes participaram da coleta de dados, sendo 803
brasileiros e 328 estrangeiros; 782 militares e 349 civis. Dos estrangeiros, 6,4% são
colombianos; 18,9%, argentinos; 7,3%, venezuelanos; 17,1%, peruanos; 14,3%,
chilenos; 7,9%, equatorianos; 6,4%, bolivianos; 13,1%, paraguaios; 8,5%, uruguaios.
Não houve respondentes do Suriname, da Guiana e da Guiana Francesa. O mapa a
seguir ilustra a abrangência da amostra.
Figura 1 - Países sul-americanos com respondentes.
Fonte: o autor
110
Ainda sobre o tamanho da amostra, considera-se que a modelagem de
equações estruturais (SEM) requer entre cinco a dez respondentes para cada
indicador (Hair et al. 2009; Byrne 2010; DeVellis 2011). Na presente pesquisa, o
modelo a ser testado possuía dez fatores e quarenta subfatores. Utilizando-se o
número dos subfatores, quarenta, ter-se-ia, pela métrica acima, a necessidade de
uma amostra de 400 indivíduos, inferior ao número de respostas obtidas.
Há de se ter em conta, também, que, além do atributo quantitativo, a amostra
deve possuir qualidade, ou seja, representar bem a população (Mourão Jr. 2009). Ao
se observar a distribuição dos respondentes, tanto por países como por extratos
profissionais (civis e militares), notar-se-á coerência e proporcionalidade das cotas
amostrais em relação à população como um todo. Com exceção do Suriname, da
Guiana e da Guiana Francesa, todos os demais países foram significativamente
representados na amostra. Qualitativamente, ainda há de se considerar presença
expressiva de respondentes do alto escalão da defesa sul-americana (vinte e dois
oficiais generais brasileiros, quinze oficiais generais dos demais países, dezenove
embaixadores brasileiros e três embaixadores dos demais países), cujo elevado
conhecimento teórico e prático sobre o tema agrega grande valor à pesquisa.
Como meio de coleta de dados, optou-se por questionário de perguntas
fechadas, estruturado em escala Likert, constituído de cinco alternativas de
resposta. Para a sua montagem, partiu-se do modelo resultante de estudo qualitativo
prévio45, composto por dez fatores e quarenta subfatores componentes do poder do
Estado.
No que concerne a sua estrutura, foi dividido em quatro partes: uma
introdução, onde se explicava a finalidade do questionário e se forneciam
orientações gerais para o seu preenchimento; questões acerca dos fatores
componentes do poder; questões acerca dos subfatores; e, na parte final, questões
gerais sobre o respondente (nacionalidade, idade e profissão/formação). Após sua
montagem, foi submetido à análise de três especialistas da Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército (professores doutores, civis e militares, das áreas das
Ciências Militares, Relações Internacionais e Economia).
45
Ver Teixeira e Migon 2018.
111
Seguido à confecção do questionário, e antes de sua aplicação, realizou-se
um pré-teste com trinta e cinco indivíduos do universo amostral, de maneira a checar
se as perguntas estavam semanticamente compatíveis, se foram adequadamente
respondidas ou qualquer outro ponto que demandasse ajustes. Ao final, foram
realizados ajustes no layout do questionário, nas informações iniciais e nas
informações gerais dos respondentes (Goode e Hatt 1972).
Tendo em vista o estudo abranger todo o continente sul-americano, de
maneira a alcançar maior número de participantes, com redução de encargos
financeiros e em curto espaço de tempo, optou-se pela coleta por meio de web
survey, utilizando-se a plataforma de formulários da Google (Google Forms). O link
do questionário on-line foi enviado por e-mail, antecedido de breve explicação sobre
a pesquisa (Stanton 1998; Couper 2000; Dillman 2000; Andrews, Nonnecke e
Preece 2003).
Uma vez coletados os dados, realizou-se, inicialmente, uma Análise Fatorial
Confirmatória (AFC) com o objetivo de avaliar a qualidade de ajustamento do
modelo de medida teórico à estrutura correlacional observada entre as variáveis
manifestas. Sobre isso, Marôco (2014) assevera que a AFC pode constituir-se no
primeiro passo da avaliação de um modelo no âmbito da Modelagem de Equações
Estruturais (SEM).
Consideraram-se, portanto, todas as correlações possíveis entre os dez
fatores do modelo proposto, conforme procedimento usual numa AFC de 1º Ordem
(Byrne 2010; Kline 2011; Marôco 2014). A qualidade de ajustamento global do
modelo fatorial foi feita de acordo com os índices e respectivos valores de referência
descritos em Marôco (2014), a saber: X2/df, CFI, GFI, RMSEA, P[rmsea≤0.05] e
MECVI46. O modelo de dez fatores estimado revelou uma baixa qualidade de
ajustamento, mesmo depois de avaliados os índices de modificação e procedidos os
ajustes nos itens saturados em fatores diferentes daqueles sugeridos na versão
original da escala.
No entanto, os outputs do modelo inicial, e mesmo o ajustado conforme os
índices de modificação, indicaram que existem altas correlações entre os dez
fatores: nenhuma abaixo de 0,75; de forma a sugerir uma estrutura fatorial de 2º
46
Não se avançou na análise dos outliers normalidade, fiabilidade compósita e individual, ajustamento local e dos índices de modificação, pois a qualidade de ajustamento global do modelo de dez fatores foi muito fraca e não havia muitas opções de melhora, a não ser, tentando outra estrutura fatorial.
112
Ordem. Nesse sentido, um modelo de 2º Ordem foi avaliado na amostra da pesquisa
com o software AMOS (v. 22, SPSS, An IBM Company, Chicago, IL) de acordo com
os índices e respectivos valores de referência descritos em Marôco (2014). Mesmo
após a AFC de 2º Ordem, o modelo seguiu apresentando baixa qualidade de
ajustamento, o que indicou a necessidade de busca de novos modelos com outra
estrutura fatorial por meio de uma Análise Fatorial Exploratória (AFE) (Aranha e
Zambaldi 2008).
Uma vez obtido novo modelo de seis fatores por meio da AFE, partiu-se para
a execução de uma AFC de 2º Ordem, mais uma vez, com o intuito de avaliar a
qualidade do ajustamento do modelo. Finalizando o processo investigativo, após
realizados substanciais ajustes ao modelo teórico original, executou-se uma análise
multigrupos, cujo objetivo foi averiguar a invariância do modelo final entre brasileiros
e estrangeiros e militares e civis.
Acredita-se que o desenho de pesquisa adotado permitiu atingir os seguintes
objetivos específicos: (i) refletir sobre a base filosófica da composição do poder no
século XXI; (ii) captar a percepção da defesa sul-americana acerca dos fatores e
subfatores componentes do poder na atualidade; (iii) testar e ajustar o modelo
teórico de 10 fatores previamente elaborado em pesquisa qualitativa; (v) elaborar um
modelo teórico do poder do Estado segundo a percepção da defesa sul-americana.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 O PODER FOUCAULTIANO
Dentre as diversas matizes e acepções do conceito de poder, a de Michel
Foucault caracteriza-se pela crítica aberta aos conceitos tradicionais da teoria
política moderna. Sob ótica ampla e diferenciada, o autor francês imprimiu viés
abrangente e complexo, afastando-se da mera constatação da posse (ou não) do
poder com o foco nos mecanismos e dinâmicas de submissão das sociedades
contemporâneas (Foucault 2003; 2010; 2013).
Para o autor francês, o poder é dinâmico e sua gênese depende do início de
um processo cinético. O autor destaca seu viés relacional, refutando o conceito de
poder estático e simplista. O que existe, de fato, são relações de poder, originárias
de complexo emaranhado de forças, que se alteram a cada instante, imprimindo
113
imprevisibilidade à resultante final. A “fonte do poder” não estará, portanto, apenas
no consenso ou, exclusivamente, nas capacidades individuais, mas no resultado da
interação de forças e vontades diversas, marcado pela aleatoriedade e incerteza
(Teixeira e Migon 2017).
O poder em Foucault alcança viés universalista, partindo-se da premissa de
que “está em todos os lugares” e “advém de todas as partes”. As relações de poder,
portanto, perpassam fronteiras espaço-temporais, interagindo de forma transversal,
não se limitando a esta ou aquela classe, a este ou aquele grupo social, país ou
governo (Foucault 1998, 2003; 1980; 1982; 2013).
Assim, cada agente possui um “poder potencial”, latente, que se evidenciará a
partir da interação entre os atores. Pelo “princípio da ubiquidade do poder”, ele está
presente em tudo; e, a cada reação a determinada ação, novo cenário se descortina,
explicitando novos fatores, subfatores e variáveis, que interagem entre si e com o
meio em uma infinidade de possíveis equações e resultantes, onde o “poder
potencial” se transforma em “poder efetivo”.
Seu grau de imprevisibilidade é máximo, tendo-se que a interação de rede
complexa de agentes conduzirá a reações diversas a múltiplos estímulos,
evidenciando comportamentos incertos e instáveis dentro de uma moldura espaço-
temporal específica. Em Foucault, as relações de poder são omnidirecionais. Os
aspectos sociais, privados, públicos, políticos, socioculturais, militares, econômicos e
ambientais, tudo se relacionará, conduzindo a uma sequência adaptativa infinita de
resultantes.
Outro “ingrediente” essencial do poder foucaultiano é o conflito. Foucault não
comungava dos ideais kantianos de que a humanidade avança rumo a um estado de
direito, superando as desavenças e guerras entre os povos. Para ele, as sociedades
interagem sob sistema de regras fundado no conflito, avançando de “dominação em
dominação” (Foucault 1977, 151).
Para a melhor compreensão entre conflito x poder, faz-se importante ter em
mente o conceito de resistência. Para a física, a resistência surge do atrito resultante
da fricção entre dois corpos, onde se tem perda energética. Da mesma forma,
indivíduos (ou Estados), em suas interações socioculturais, políticas ou econômicas,
por exemplo, produzem certo grau de fricção, resultante do choque entre forças e
interesses antagônicos. “A” agirá, levando “B” a (re)agir conforme o meio/cenário
específico.
114
Neste ponto, torna-se imperioso apontar a distinção entre conflito e violência.
O primeiro diz respeito à oposição de interesses; o segundo, refere-se à ação real
sobre um corpo (ou Estado) para forçá-lo ou destruí-lo. Dessa forma, a violência
pura extingue o conflito, anulando o exercício do poder; ou seja, para Foucault, o
poder se explicitará tão somente nas ações sobre indivíduos, grupos ou Estados
livres capazes de (re)agir. No centro das relações de poder, em meio às complexas
e múltiplas combinações comportamentais possíveis, ter-se-á, sempre, a
insubordinação e a obstinação, ambas motivadas pelo livre-arbítrio e pela
capacidade de ação.
A questão basilar do estudo do poder não está, assim, na “servidão
voluntária”, mas no conflito constante (e controverso) do querer inflexível e obstinado
da liberdade, que se opõe à relação de poder em curso. Não existiria o “exercício do
poder” sem as tentativas de “virar o jogo”, de insubordinar-se para escapar de sua
influência. Faz-se digno de nota, porém, que, a despeito de ressaltar a relevância do
conflito para a estrutura do poder, Foucault não desconsidera o consenso. Ambos se
constituem, simultaneamente, em instrumento (causa) e resultado (consequência),
ratificando a natureza dinâmica e complexa do poder, que evolui,
independentemente de cada um desses fatores.
O exercício do poder, segundo Foucault, corresponde a um cálculo
estratégico, que visa à obtenção de resultados específicos a partir da análise do
custo x benefício entre a efetividade dos instrumentos empregados e os custos
possíveis. Para ele, não se deve considerar apenas as estruturas políticas oficiais,
mas um vasto espectro de possíveis atores, que tentarão interferir nas ações uns
dos outros, afastando-se da simplicidade binária do jogo de soma-zero.
Poder, portanto, implica complexo conjunto de relações, profundamente
enraizadas em determinado nexus sociopolítico, ultrapassando os níveis estatais e
alcançando as idiossincrasias de grupos e indivíduos. São interações que devem ser
compreendidas a partir da evolução histórica de determinada sociedade, sob o
perfeito entendimento das origens de sua força ou fragilidade; ou seja: seu
dinamismo.
3.2 FORMULANDO O PODER NO SÉCULO XXI
115
Modelos e fórmulas relacionados à mensuração das capacidades de uma
nação, povo ou Estado, há muito, constituem-se em ferramenta de grande
relevância para a análise de cenários e construção de políticas e estratégias. Por
meio dessas ferramentas, tem-se buscado imprimir relativo grau de empirismo a
questões meramente teóricas e especulativas, compreendendo-se a composição do
poder dos Estados a partir da análise de seus fatores e subfatores componentes,
seus pesos e seu inter-relacionamento.
É fato que o conceito de poder implica considerável grau de subjetividade,
despertando inúmeros questionamentos quanto à possibilidade de sua mensuração.
Sobre isso, porém, Höhn (2014) afirma que, mesmo assim, pode ser bastante útil ao
estrategista aprofundar-se em como o conceito de poder evolui no tempo e espaço,
de acordo com cada cultura, avaliando resultados e considerando as razões para
tais mudanças.
O entendimento de como múltiplos atores possuem percepções diversas da
composição do poder e como tais diferenças impactam as relações interestatais
pode levar a uma melhor compreensão sobre o comportamento de um Estado
beligerante, por exemplo, permitindo traçar estratégias mais eficazes. A mensuração
do poder, portanto, é essencial para a modelagem do comportamento estatal –
endógeno e exógeno –, constituindo-se em elo entre a teoria e a prática.
De Sun Tzu (aproximadamente II a.c.) a Sulek (2010), dentre outros, nota-se
expressiva diversidade dos modelos, marcada pela variedade de fatores e
subfatores componentes, todos explicitando características geopolíticas específicas,
típicas de determinada moldura espaço-temporal.
Teixeira e Migon (2019) apontam para essa evolução, analisando modelos
teóricos do poder de três períodos distintos: período pré-Segunda Guerra Mundial;
período da Guerra Fria e período pós-Guerra Fria. Durante o estudo, fica patente a
influência de cada conjuntura na conformação do poder, seus fatores e subfatores. A
medida em que o Sistema Internacional evoluiu, alterou-se também a base filosófica
da compreensão/percepção do poder e, consequentemente, sua composição e
estrutura.
Tratando-se especificamente da conjuntura internacional do século XXI, o que
se tem é um cenário difuso, onde as concepções clássicas acerca do poder já não
se mostram mais tão eficazes e válidas para explicar os fenômenos globais e
regionais.
116
Sobre isso, Zakaria (2008; 2013; 2016) descortina algumas características do
período que se apresentam como novos desafios para políticos e estrategistas. A
revolução tecnológica, aliada a dos meios informacionais, provocou profundas
mudanças nos fluxos globais, não só nas finanças e na terceirização de serviços,
mas também na difusão de ideias, propaganda e marketing, trazendo consigo
“novos atores” e “novas variáveis” aos estudos das dinâmicas do poder. Questões
demográficas agravadas pelo crescente fluxo de imigrantes, refugiados e
deslocados têm colocado o neonacionalismo como uma das principais pautas das
grandes Nações. Na esteira desse movimento, como consequência, tem-se o
agravamento de tensões étnicas e socioculturais, com o crescimento da xenofobia e
racismo.
Na mesma direção, Kaldor (2013) explicita o surgimento de novos desafios
em questões de segurança e de defesa, um novo tipo de violência organizada: as
“novas guerras”, revestidas de características peculiares que mesclam matizes das
guerras tradicionais com as peculiaridades do crime organizado, conflitos étnicos e
religiosos e violações aos direitos humanos em larga escala, lançando imenso
desafio aos estrategistas e tomadores de decisão da atualidade.
A evolução tecnológica sem precedentes, a ascensão de novos atores no
sistema internacional (tradicionais e não tradicionais), o enfraquecimento do Estado,
a multiplicação de ilícitos transnacionais, a crescente assimetria socioeconômica
entre os Estados, as questões ambientais e seus reflexos, tudo enquadra-se neste
cenário incerto de reordenamento da arena global, consequências, diretas ou não,
do processo de globalização. Tais assuntos evidenciaram o despreparo
tradicionalista para lidar com fatores que perpassam a fronteira estatal, conduzindo a
uma ampliação e aprofundamento dos Estudos de Segurança. Hansen e Buzan
(2012) asseveram que tal processo implicou no alargamento dos setores e áreas
que deveriam ser securitizados, com a inclusão de questões de desenvolvimento,
meio ambiente, economia e bem-estar social.
Nye Jr. (2009a; 2009b; 2011), ao discorrer sobre o “novo século”, reforça a
visão de um mundo complexo e multidimensional. Para o autor, há de se considerar
que o entendimento da distribuição do poder não é mais um fenômeno binário, mas
abrange inúmeros fatores de análise: Militar, Cultural, Social, Econômico, Político,
envolvendo atores estatais e não-estatais, ambos influenciando igualmente o
redimensionamento do Sistema.
117
O autor cita também o terrorismo, o pânico financeiro, as pandemias, os
crimes transnacionais, as ameaças cibernéticas e as questões culturais como novos
desafios aos dirigentes nacionais, a quem cabe a perspicácia de combinar os fatores
tradicionais da aplicação do poder do Estado (hard power)47 com aqueles não-
tradicionais, que visam a atingir os objetivos finais por meio da cooperação e do
convencimento (soft power), buscando-se, ao final, a aplicação de uma “fonte
inteligente” de poder (smart power).
Ratificando as teorias acima, Teixeira e Migon (2019) apresentam modelo
teórico do poder do Estado que representa as peculiaridades do atual cenário
internacional. Após analisar e estudar cinquenta e dois modelos/fórmulas de
períodos distintos (bem como de múltiplas origens regionais), chegou-se a um
resultado que contém os fatores mais perenes e tradicionais das diversas teorias de
formulação do poder, como o econômico, o militar, o político, o territorial, o científico-
tecnológico e o populacional; e outros que refletem as idiossincrasias do SI
presente, como o social, o cultural e o ambiental. No total, a equação final compôs-
se de dez fatores e quarenta subfatores.
Conclui-se apontando-se para o perfeito alinhamento da composição do poder
do século XXI com a base filosófica e conceitual do poder segundo Foucault. O
poder em Foucault agirá como resultante de forças múltiplas, omnidirecionais, que
transpassam governos, Estados, grupos ou indivíduos. Na conjuntura política volátil
e assimétrica do presente, as tentativas de mensuração do poder dos Estados
refletirão a complexidade e adaptabilidade do constructo, aliando “hard power” e
“soft power”, conflito e consenso, em uma nova concepção estrutural (Teixeira e
Migon 2017; 2019; Foucault 1980; 1998; 2013).
4 ANÁLISE MULTIVARIADA
4.1 MODELO ORIGINAL E ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA
Conforme já explicitado anteriormente, o objetivo geral do presente estudo foi
apresentar, segundo a perspectiva da defesa sul-americana, um modelo teórico do
poder do Estado que representasse as peculiaridades do presente século.
47
Para maior aprofundamento acerca do conceitos de “hard power” e “soft power”, ver Art (1996); Nye Jr. (1999; 2009); Gray (2011); Cooper (2004) e Wilson III (2008).
118
Após estudo qualitativo prévio (Teixeira e Migon 2019), chegou-se a um
modelo teórico de dez fatores e quarenta subfatores, conforme a fórmula a seguir e
os quadros subsequentes:
Poder = ß1.Pol + ß2.Eco + ß3.Ter + ß4.Pop+ ß5.C&T + ß6.Soc + ß7.Cult + ß8. Mil +
ß9.Von + ß10.Amb + ε
Sendo:
Quad
ro 1
–
Desc
rição dos fatores.
FATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO
POLÍTICO Político
Engloba todos os aspectos relacionados às instituições formais que regem governos e Estados, alcançando desde questões internas, como a estabilidade política e a governabilidade do País, até externas, relacionadas com sua interação internacional.
ECONÔMICO Econômico
Diz respeito às atividades relacionadas à produção, distribuição e consumo de bens e serviços, compreendendo diversos aspectos macro e microeconômicos, como infraestrutura, energia, indústria, recursos naturais e financeiros.
TERRITORIAL Territorial Relaciona-se aos aspectos vinculados ao território: área total, localização geográfica, disponibilidade de terras e integração regional.
POPULACIONAL Populaciona
l Abarca as questões relacionadas à população dos Estados, qualitativamente e quantitativamente.
C&T CT
Engloba os campos da Ciência e da Tecnologia, incluindo as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), capacidade de inovação, assim como o desenvolvimento de tecnologias estratégicas (astroespaciais, tecnologias da informação e comunicações).
CULTURAL Cultural
Compreende os aspectos relacionados aos costumes, crenças, traços étnicos e religiosos, manifestações culturais e história de uma sociedade, levando-se em consideração seus reflexos internos e impacto em outras sociedades.
MILITAR Militar
Trata da capacidade militar dos Estados, sejam elas tangíveis (materiais e equipamentos, efetivos, indústria de defesa, capacidade nuclear), sejam intangíveis, como liderança militar e moral.
VONTADE Vontade Diz respeito à efetiva participação e ao interesse do povo nas questões do Estado, englobando aspectos como satisfação,
Pol - Fator Político Terr - Fator Territorial
Eco - Fator Econômico C&T - Fator Científico-Tecnológico
Pop – Fator Populacional Von - Fator Vontade
Mil - Fator Militar Amb - Fator Ambiental
Soc – Fator Social ß (1-n) - Pesos relativos
Cult- Fator Cultural ε - Erro
119
orgulho nacional, engajamento e coesão.
AMBIENTAL Ambiental
Considera seus reflexos (políticos, econômicos e sociais) internos e externos. Desenvolvimento de energia limpa e renovável, reservas de água doce, poluição do ar, biodiversidade, são exemplos de aspectos que compõem esse fator.
CULTURAL Cultural
Compreende os aspectos relacionados aos costumes, crenças, traços étnicos e religiosos, manifestações culturais e história de uma sociedade, levando-se em consideração seus reflexos internos e impacto em outras sociedades.
Fonte: o autor.
120
Quadro 2 – Descrição dos Subfatores. (Continua...)
FATOR SUBFATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO
POLÍTICO
Política Internacional
POL_INT
Refere-se aos aspectos de política externa de um Estado, considerando sua participação em organismos internacionais, seu grau de cooperação externa e alianças.
Governabilidade POL_GOV
Compreende as capacidades administrativas do Estado, considerando-se a fluidez de processos, o nível de corrupção, divergências ou convergências partidárias.
Estabilidade Política
POL_EST
Aponta para a regularidade institucional do Estado, dentro de um quadro democrático, levando-se também em consideração a existência de conflitos internos de baixa intensidade ou terrorismo.
ECONÔMICO
Recursos Naturais
ECO_RN Aponta para as matérias primas existentes,
particularmente minerais e produção agropecuária.
Recursos Financeiros
ECO_RF
Engloba os temas relacionados ao comércio, balança de pagamentos, confiança financeira, PIB, dentre outros indicativos econômicos e financeiros.
Indústria ECO_IND Trata da capacidade de produção industrial de um Estado.
Infraestrutura ECO_INF
Engloba a questão da infraestrutura disponível de um determinado Estado, levando-se em conta portos, terminais, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias, rotas aéreas, elementos de Tecnologias da Informação e Comunicação e redes de transmissão.
Energia ECO_ENE
Refere-se aos aspectos relacionados à capacidade energética do Estado, considerando-se a produção total, o consumo e as reservas de hidrocarbonetos.
TERRITORIAL
Área Total TER_AREA Refere-se à dimensão absoluta do território ocupado por um Estado.
Capacidade Alimentar
TER_CAP Diz respeito às terras disponíveis para a produção de alimentos.
Integração Territorial
TER_INT Capacidade de ligação entre as diversas Regiões de um Estado, evitando-se áreas isoladas ou vazios demográficos.
Localização TER_LOC Compreende os aspectos geográficos relacionados à existência ou não de acesso ao mar e dimensões costeiras.
POPULACIONAL
População Urbana
POP_URB Considera o percentual da população urbana em relação ao total.
População Total POP_TOT Refere-se ao número total de habitantes.
PEA POP_PEA Parcela do total da população que está inserida no mercado de trabalho e/ou está procurando inserir-se nele.
CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO
Inovação CT_INO Refere-se às atividades de P&D, relacionadas ao número de pesquisadores, patentes, publicações científicas, dentre outros.
TI & Comunicações
CT_TI Diz respeito à capacidade de um estado em desenvolver tecnologias da informação e comunicação.
Tecnologias Espaciais
CT_ESP Engloba a capacidade de desenvolvimento e lançamentos de foguetes e satélites.
121
(Continuação...)
FATOR SUBFATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO
SOCIAL
Educação SOC_EDU Espelha o nível educacional de um Estado, desde o grau de alfabetização até a quantidade de estudantes universitários existentes.
Saúde SOC_SAU
Refere-se ao grau de saúde dos habitantes de determinada sociedade, sua promoção e assistência, considerando-se desde o número de profissionais de saúde até a expectativa de vida da população.
Qualidade de Vida
SOC_QV
Implica um conjunto de critérios que impactam diretamente na qualidade de vida da população, como saneamento básico, pobreza, inflação, desemprego, criminalidade, acesso à água potável e questões habitacionais.
Tensões Externas
SOC_TEN Trata-se da existência (ou não) de questões externas que tragam reflexos no território de determinado Estado, como refugiados.
CULTURAL
Integração Cultural
CUL_INT Refere-se ao grau de unidade étnica, religiosa e linguística da sociedade de um Estado.
Cinema CUL_CIN Aponta para a capacidade de um Estado de produzir filmes longa-metragem e programação televisiva de repercussão internacional.
Turismo CUL_TUR Trata-se da capacidade de atração de visitantes estrangeiros.
História CUL_HIS Compreende o grau de maturidade de um Estado a importância de seu patrimônio histórico-cultural.
Mídia CUL_MID Diz respeito ao acesso à informação, bem como à capacidade de produção e divulgação de notícias a nível internacional.
MILITAR
Capacidade Nuclear
MIL_NUC Refere-se à posse ou não de ogivas nucleares e seus meios de lançamento.
Material de Emprego Militar
MIL_MAT Engloba os armamentos e equipamentos das Forças Armadas de determinado Estado.
Base Industrial de Defesa
MIL_DEF Diz respeito à existência de uma indústria de defesa nacional e, consequentemente, o grau de
autonomia estratégico-militar de um Estado.
Efetivos MIL_EFE Aponta para o efetivo das Forças Armadas e a capacidade de mobilização de um Estado.
Gastos Militares MIL_GAS Trata-se do percentual de gastos militares em relação ao PIB.
VONTADE
Percepção de Ameaças
VON_AME
Engloba a existência ou não, em graus de intensidade variados, de ameaças externas a determinado Estado, como questões fronteiriças, conflitos interestatais, ameaças terroristas e outros.
Coesão Nacional
VON_COE Implica unidade de pensamento dos integrantes do governo e da sociedade de um Estado em torno das questões nacionais.
Orgulho Nacional
VON_ORG
Referente à forma positiva que a sociedade de determinado Estado o percebe e seu grau de satisfação com sua Pátria. Trata-se de uma “autoestima” coletiva dos integrantes do País, onde destaca-se uma identificação com os valores nacionais.
(Conclusão).
122
FATOR SUBFATOR CÓDIGO DESCRIÇÃO
VONTADE Engajamento VON_ENG
Diz respeito ao grau de interesse e participação efetiva da sociedade nas questões do Estado, refletindo-se no comparecimento às eleições, convocações populares e outros.
AMBIENTAL
Energia Renovável
AMB_ENE
Aborda a existência de fontes de energia renovável em determinado Estado, levando-se em consideração seu percentual em relação à produção total de energia.
Sistemas AMB_SIS
Diz respeito ao grau de sustentabilidade de um conjunto de sistemas, como qualidade do ar e reservas de água doce (qualidade e
quantidade).
Engajamento Global
AMB_ENG Trata da participação de um Estado em fóruns e acordos relativos à questão ambiental.
Biodiversidade AMB_BIO Relaciona-se ao nível de riqueza das espécies animais e vegetais.
Fonte: o autor.
Dessa forma, como parâmetro para os questionamentos feitos na pesquisa,
utilizou-se a lista de fatores e subfatores acima, os quais deveriam ser quantificados
por meio de escala Likert (1 = Muito pouco importante; 2 = Pouco importante; 3 =
Importante; 4 = Muito importante; 5 = Extremamente importante), conforme as
perguntas constantes do quadro a seguir:
Quadro 3 - Perguntas referentes aos fatores.
Perguntas para os Fatores
1) Qual o grau de importância do fator Político na composição do poder do Estado?
2) Qual o grau de importância do fator Econômico na composição do poder do Estado?
3) Qual o grau de importância do fator Populacional na composição do poder do Estado?
4) Qual o grau de importância do fator Territorial na composição do poder do Estado?
5) Qual o grau de importância do fator Militar na composição do poder do Estado?
6) Qual o grau de importância do fator Científico-tecnológico na composição do poder do Estado?
7) Qual o grau de importância do fator Social na composição do poder do Estado?
8) Qual o grau de importância do fator Cultural na composição do poder do Estado?
9) Qual o grau de importância do fator Ambiental na composição do poder do Estado?
10) Qual o grau de importância do fator Vontade na composição do poder do Estado?
Fonte: o autor.
Quadro 4 – Perguntas referentes os subfatores.
123
(Continua...)
Perguntas para os subfatores
1) Qual o grau de importância do subfator Política Internacional na composição do poder do Estado?
2) Qual o grau de importância do subfator Governabilidade na composição do poder do Estado?
3) Qual o grau de importância do subfator Estabilidade Política na composição do poder do Estado?
4) Qual o grau de importância do subfator Recursos Naturais na composição do poder do Estado?
5) Qual o grau de importância do subfator Recursos Financeiros na composição do poder do Estado?
6) Qual o grau de importância do subfator Indústria na composição do poder do Estado?
7) Qual o grau de importância do subfator Infraestrutura na composição do poder do Estado?
8) Qual o grau de importância do subfator Energia na composição do poder do Estado?
9) Qual o grau de importância do subfator Área Total na composição do poder do Estado?
10) Qual o grau de importância do subfator Capacidade Alimentar na composição do poder do Estado?
11) Qual o grau de importância do subfator Integração Territorial na composição do poder do Estado?
12) Qual o grau de importância do subfator Localização na composição do poder do Estado?
13) Qual o grau de importância do subfator População Urbana na composição do poder do Estado?
14) Qual o grau de importância do subfator População Total na composição do poder do Estado?
15) Qual o grau de importância do subfator População Economicamente Ativa na composição do poder do Estado?
16) Qual o grau de importância do subfator Inovação na composição do poder do Estado?
17) Qual o grau de importância do subfator TI & Comunicações na composição do poder do Estado?
18) Qual o grau de importância do subfator Tecnologias Espaciais na composição do poder do Estado?
19) Qual o grau de importância do subfator Educação na composição do poder do Estado?
20) Qual o grau de importância do subfator Saúde na composição do poder do Estado?
(Conclusão).
124
Perguntas para os subfatores
21) Qual o grau de importância do subfator Qualidade de Vida na composição do poder do Estado?
22) Qual o grau de importância do subfator Tensões Externas na composição do poder do Estado?
23) Qual o grau de importância do subfator Integração Cultural na composição do poder do Estado?
24) Qual o grau de importância do subfator Cinema na composição do poder do Estado?
25) Qual o grau de importância do subfator Turismo na composição do poder do Estado?
26) Qual o grau de importância do subfator História na composição do poder do Estado?
27) Qual o grau de importância do subfator Mídia na composição do poder do Estado?
28) Qual o grau de importância do subfator Capacidade Nuclear na composição do poder do Estado?
29) Qual o grau de importância do subfator Material de Emprego Militar na composição do poder do Estado?
30) Qual o grau de importância do subfator Base Industrial de Defesa na composição do poder do Estado?
31) Qual o grau de importância do subfator Efetivos na composição do poder do Estado?
32) Qual o grau de importância do subfator Gastos Militares na composição do poder do Estado?
33) Qual o grau de importância do subfator Percepção de Ameaças na composição do poder do Estado?
34) Qual o grau de importância do subfator Coesão Nacional na composição do poder do Estado?
35) Qual o grau de importância do subfator Orgulho Nacional na composição do poder do Estado?
36) Qual o grau de importância do subfator Engajamento Nacional na composição do poder do Estado?
37) Qual o grau de importância do subfator Energia Renovável na composição do poder do Estado?
38) Qual o grau de importância do subfator Sistemas na composição do poder do Estado?
39) Qual o grau de importância do subfator Engajamento Global na composição do poder do Estado?
40) Qual o grau de importância do subfator Biodiversidade na composição do poder do Estado?
Fonte: o autor.
125
Antes de discorrer sobre a AFE, importante relembrar que, seguindo-se o
prescrito em Marôco (2014), primeiramente, realizou-se uma AFC (1a e 2a ordem),
de forma a testar o ajustamento do modelo teórico inicial. Após todos os testes, não
se alcançando boa qualidade de ajustamento do modelo de dez fatores, optou-se
pela busca de modelos com outra estrutura por meio de uma AFE que, portanto, foi
utilizada como mecanismo de construção e validação de escala (Aranha e Zambaldi
2008).
Em essência, como se trata de estudo de um constructo complexo - poder -,
captando a percepção da defesa sul-americana sob a ótica das Ciências Militares,
procurou-se explorar os dados de forma menos conservadora nos parâmetros de
estimação do modelo e inferência (Byrne 2010). Para estimativas dos fatores,
seguiram-se as orientações apresentadas em Bezerra (2007) e Hair et al. (2009),
que recomendam atenção sobre as seguintes estatísticas de ajuste: a) Medida
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) > 0,70; b) Teste de esfericidade de Bartlett significativo;
c) Medidas de Adequação de Amostragem (MSA) > 0,50; d) Comunalidades > 0,40;
e e) porcentagem da Variância Explicada entre 60% e 70% em estudo exploratório.
De maneira geral, podemos concluir que não houve problemas com as
estimativas dos fatores, sendo que algumas colocações merecem destaques:
1. A extração por Componentes Principais e rotação Varimax para
interpretação dos fatores mostraram-se mais adequadas para os propósitos;
2. A primeira solução indicou uma estrutura de seis fatores, no entanto, dois
itens (SOC_TEN e CUL_MID) apresentaram comunalidades baixas (<0.4), e
um fator com apenas dois itens (CUL_CIN e CUL_TUR);
3. O passo seguinte foi rodar a AFE com a exclusão dos itens SOC_TEN e
CUL_MID, de forma que o procedimento retornou uma solução com cinco
fatores, no entanto, o item CUL_CIN ficou carregado num fator sem sentido
teórico. Como esse item já havia apresentado problemas no passo anterior,
optou-se pela sua exclusão;
4. Sem o item CUL_CIN, a AFE continuou retornando um modelo com cinco
fatores com medidas de ajustes aceitáveis/boas: a) KMO = 0,972; b) Teste
de esfericidade de Bartlett = 25.111,37 (p-valor<0,000); c) MAS’s > 0,50; d)
Comunalidades > 0,40; e e) porcentagem da Variância Explicada = 59,70%;
conforme pode ser evidenciado no apêndice 1.1.
126
As diferenças entre o modelo de seis fatores e cinco fatores são muito
pequenas do ponto de vista estatístico, e a decisão sobre qual utilizar baseou-se na
fundamentação teórica. Apesar de todos os fatores no modelo de cinco fatores
apresentarem confiabilidade muito boa (Alfa de Cronbach > 0,80, vide apêndice 1.2),
nessa estrutura fatorial existe um fator carregado com muitos itens, englobando as
dimensões política, econômica, social e tecnológica. Nesse sentido, com objetivo de
tornar a solução mais adequada do ponto de vista teórico, optou-se por dividir esse
fator em dois: Político/Social e Econômico/Tecnológico. Esses dois fatores
separados apresentaram índices de confiabilidades (Alfa de Cronbach) maiores do
que o fator original (apêndice 1.2.6 e 1.2.7).
4.2 ANÁLISE FATORIAL CONFIRMATÓRIA
A partir das evidências anteriores, cogitou-se testar o modelo de seis fatores
explorado na AFE por meio de uma AFC de 2º Ordem, como visualizado na figura 2.
127
Figura 2 - Modelo de seis fatores para AFC 2 º Ordem.
Fonte: o autor.
A validade fatorial do modelo na amostra da pesquisa foi avaliada como
descrito em Marôco (2014): i) a fiabilidade compósita e a variância extraída média
para cada fator foram analisadas; ii) a existência de outliers foi avaliada pela
distância quadrada de Mahalanobis (D2) e a normalidade das variáveis foi avaliada
pelos coeficientes de assimetria (Sk) e curtose (Ku) uni- e multivariada; iii) a
qualidade de ajustamento global do modelo fatorial foi feita de acordo com os
índices e respectivos valores de referência descritos em Marôco (2014) a saber:
X2/df, CFI, GFI, RMSEA, P[rmsea≤0.05] e MECVI; iv) a qualidade do ajustamento
local foi avaliada pelos pesos fatoriais e pela fiabilidade individual dos itens; e v) o
128
ajustamento do modelo foi feito a partir dos índices de modificação (superiores a 11;
p<0,000) produzidos pelo AMOS e com base em considerações teóricas.
Figura 3 - Modelo estimado de seis fatores (AFC 2º Ordem).
Fonte: o autor.
O modelo hexa-fatorial estimado a partir da amostra, cujas principais medidas
de ajustamento e parâmetros padronizados apresentam-se na figura 3, revelou
pouca qualidade de ajustamento. Partiu-se, assim, para a avaliação dos índices de
modificação produzidos pelo AMOS, obtendo-se um modelo final com melhor
ajustamento (figura 4), que será analisado na sequência (Brown 2006).
129
Figura 4 - Modelo ajustado de seis fatores (AFC 2º Ordem).
Fonte: o autor.
Antes da análise, porém, faz-se mister discorrer brevemente sobre as
alterações ocorridas na estrutura do modelo original (de dez fatores e quarenta
subfatores). No que diz respeito aos fatores, ainda no passo da AFE, verificou-se a
necessidade de agrupar os fatores Político e Social (sociopolítico); e Econômico e
C&T (econômico, científico-tecnológico), que perdeu os subfatores Tecnologias
Espaciais (C&T) e Recursos Naturais (Econômico), recebendo o subfator População
Economicamente Ativa.
130
O fator Vontade Nacional foi extinto, sendo seus subfatores incorporados aos
fatores (originais) Cultural e Militar. No primeiro caso, os subfatores Engajamento,
Orgulho Nacional e Coesão juntaram-se aos subfatores remanescentes do fator
Cultural, Integração Cultural e História48, formando o novo fator Ideológico-Cultural.
O subfator Percepção de Ameaças, inicialmente vinculado ao extinto fator Vontade,
integrou-se ao novo fator Segurança Nacional, que incorporou todos os subfatores
do fator Militar do modelo inicial mais o subfator Tecnologias Espaciais, que
inicialmente compunha o fator C&T. Por fim, fundiram-se também os fatores
Territorial e Populacional, recebendo o subfator Recursos Naturais e perdendo o
subfator População Economicamente Ativa.
Retomando as observações estatísticas, nota-se que distância quadrada de
Mahalanobis (D2) indicou diversos outliers. Com a sua exclusão e a subsequente re-
estimação do modelo, surgiram diversos outros, e assim sucessivamente, o que
poderia levar a um superajustamento. Uma vez que a exclusão dos outliers requer
considerações teóricas e avaliação caso-a-caso, optou-se por trabalhar com a
amostra original (N=1.131), sem exclusão de nenhuma observação.
Os coeficientes de assimetria (Sk) e curtose (Ku) uni- e multivariada
rejeitaram fortemente a hipótese de normalidade multivariada, mesmo que a maioria
das variáveis possuam normalidade univariada (ver apêndice 1.3.1). Como a
estimação dá-se por Máxima Verossimilhança (MV), mesmo com um tamanho de
amostra relativamente grande, optou-se por estimar os parâmetros do modelo final
por bootstrap (N=2000), conforme recomenda Byrne (2010), e comparar seus
valores e significâncias pelos dois métodos de estimação. Os valores estimados
(covariâncias, variâncias e pesos fatoriais) por ambos os métodos (MV e bootstrap)
foram praticamente os mesmos, com viés médio da ordem de 0,001, e tudo que foi
significativo pelo método MV também foi significativo pelo método bootstrap. Dessa
forma, para as análises subsequentes, considerou-se o método MV devido sua
maior parcimônia49.
A qualidade de ajustamento global do modelo hexa-fatorial final pode ser
considerada muito boa pelo índice PCFI (>0,80) e boa pelos índices CFI (>0,90),
48
Os subfatores Mídia e Cinema foram excluídos já na AFE, conforme explicitado anteriormente. O subfator Turismo acabou incorporado ao fator Ambiental para o início da AFC. 49
Por bootstrap haveria diversos outros outputs a serem verificados, sobrecarregando a avaliação dos dados (tempo e travamento do programa). Além disso, algumas análises importantes na Avaliação Multigrupo tornar-se-iam inviáveis.
131
PGFI (>0,60) e RMSEA ([0,05; 0,10] com p-valor>0,05) (apêndice 1.3.9). Ao
comparar a medida MECVI (=2,161) com as dos modelos anteriores também se nota
a superioridade do modelo final (MECVI menor). Apesar das estatísticas X2 (p-
valor<0,05) e X2/df ([2;5]) indicarem um modelo fraco, em grandes amostras, essas
medidas devem ser relevadas devido suas sensibilidades ao tamanho da amostra
(Byrne 2010).
Ao se comparar a figura 3 com a figura 4, percebe-se que o item CUL_TUR
foi excluído do modelo final hexa-fatorial da CPE: a AFE, na seção anterior, já
apontava problemas com esse item, o que se confirmou na AFC. Importante
ressaltar que, na figura 4, tornou-se necessário fixar diversas covariâncias para
aprimorar o ajustamento do modelo. As correlações entre os erros em um mesmo
fator são quase sempre justificáveis, já que se propõem captar a mesma dimensão.
No entanto, as correlações entre os erros dos itens de fatores diferentes demandam
análise e aporte teórico mais cuidadosos, o que será discutido posteriormente.
Cabe salientar que, mesmo depois de ajustar o modelo da figura 4, ainda se
observaram diversos índices de modificação superiores a 11 (apêndice 1.3.8).
Poder-se-ia considerar os caminhos sugeridos por todos os índices de modificação
significativos, porém há de se ter a percepção do momento de parar, pois, em tese,
é possível ajustar um modelo estrutural artificialmente até que fique perfeito na
amostra em questão. Como o que se busca é a generalização dos achados, o
investigador deverá ter a perspicácia de considerar apenas mudanças justificáveis
do ponto de vista teórico, que tornem o modelo aceitável/bom em termos de
ajustamento (Byrne 2010).
Como pode ser observado no apêndice 1.3.3, houve, também, boa qualidade
de ajustamento local (fiabilidade individual): praticamente todos os pesos fatoriais
padronizados são superiores a 0,50, exceto no caso dos itens MIL_NUC e
TER_AREA, que foram muito próximos de 0,50 (0,495 e 0,493, respectivamente).
A fiabilidade compósita (FC) dos fatores, conforme tabela 1, revelou-se
adequada, pois todos os valores foram superiores a 0,70 como recomenda Marôco
(2014)50. Na maioria das situações, a variância média explicada (VME) mostrou-se
50
Ver Marôco (2014, p.183) para como calcular a fiabilidade compósita (FC) e a variância média explicada (VME). A FC substitui o Alfa de Cronbach (α) na AFC devido às fortes críticas que o α tem obtido nos últimos tempos.
132
adequada (VME>0,50), exceto no caso do fator Ambiental, que apresentou VME
muito próximo do recomendado (VME=0,49).
A validade discriminante pode avaliar-se comparando as VME de cada fator
com o quadrado da correlação entre os fatores cuja validade discriminante se
pretende avaliar. Esses valores constam na tabela 2. Assim, sendo VMEEco_Tec =
0,85 e a VMESeg_Nac = 0,76 maiores do que r2 Eco_Tec | Seg_Nac = 0,70, pode-se afirmar
que os dois fatores têm validade discriminante. De forma semelhante, pode-se
demonstrar a validade discriminante de alguns outros fatores, mas não todos, por
exemplo: VMEEco_Tec = 0,85 e a VMEPol_Soc = 0,80 menores do que r2 Eco_Tec | Pol_Soc =
0,97.
A validade discriminante ocorre quando o constructo sob estudo não se
encontra correlacionado, consideravelmente, com constructos que operacionalizam
variáveis latentes diferentes daquela operacionalizada pelo constructo sob estudo
(os dois fatores propõem operacionalizar variáveis latentes diferentes). Nesse caso,
quando não há validade discriminante, como no caso dos fatores Pol_Soc e
Eco_Tec, os dois fatores podem estar mensurando a mesma percepção, que, nesse
caso, é perfeitamente justificável, até porque na AFE os itens pertencentes a esses
dois fatores encontravam-se em um único fator, o que demonstra a forte relação
entre as fontes econômicas, políticas, sociais e tecnológicas do poder do Estado.
Tabela 1 - Fiabilidade compósita (FC) e variância média explicada (VME)
Ambiental Cul_Ide Eco_Tec Poder Pol_Soc Seg_Nac Ter_Pop
FC 0.79 0.82 0.91 0.96 0.88 0.86 0.82
VME 0.49 0.69 0.85 0.95 0.80 0.76 0.66
Fonte: o autor.
133
Tabela 2 - Correlações (r) e correlações ao quadrado (r2) entre os fatores
r r2
Ambiental <--> Pol_Soc 0.77 0.59
Ambiental <--> Eco_Tec 0.74 0.54
Cul_Ide <--> Pol_Soc 0.87 0.75
Cul_Ide <--> Ambiental 0.76 0.58
Cul_Ide <--> Seg_Nac 0.76 0.58
Cul_Ide <--> Eco_Tec 0.86 0.74
Pol_Soc <--> Eco_Tec 0.98 0.97
Seg_Nac <--> Pol_Soc 0.75 0.57
Seg_Nac <--> Eco_Tec 0.83 0.70
Seg_Nac <--> Ambiental 0.59 0.35
Ter_Pop <--> Pol_Soc 0.84 0.71
Ter_Pop <--> Cul_Ide 0.83 0.68
Ter_Pop <--> Ambiental 0.76 0.58
Ter_Pop <--> Seg_Nac 0.73 0.53
Ter_Pop <--> Eco_Tec 0.84 0.71
Fonte: o autor.
4.3 ANÁLISE MULTIGRUPOS
A análise multigrupos tem como objetivo avaliar se a estrutura do modelo
SEM é equivalente ou invariante em diferentes grupos ou populações com
características diferentes (Marôco 2014). Na presente pesquisa, julgou-se
interessante investigar também as percepções de substratos da amostra - militares
versus civis e brasileiros versus estrangeiros – buscando identificar aproximações e
afastamentos de sua ótica acerca do poder do Estado.
O primeiro passo numa análise multigrupo foi procedida nas seções
anteriores, qual seja: ajustamento do modelo aos diferentes grupos em simultâneo.
Na sequência, dado o objetivo primordial da pesquisa, examinou-se a invariância do
modelo ajustado em três aspectos:
1. Invariância configuracional: avaliação da estrutura configuracional dos
fatores e dos itens reflexos dos fatores nos militares versus civis e brasileiros versus
estrangeiros (grupos do estudo);
2. Invariância do modelo de medida: verificação dos pesos fatoriais e as
médias dos itens nos diferentes grupos do estudo;
3. Invariância estrutural: exame dos coeficientes estruturais do modelo
estrutural, com objetivo de avaliar se as pretensas relações causais são invariantes
entre os grupos do estudo.
134
Em termos operacionais, a avaliação da equivalência entre grupos dá-se pela
comparação de um modelo restrito (R) e outro não restrito (U) por um teste Qui-
quadrado (omnibus). Por exemplo, para avaliar a invariância de medida, a estatística
de teste é dada pela diferença dos Qui-quadrado (χ2) do modelo com pesos fatoriais
fixos (iguais) (χ2R) e do modelo com pesos fatoriais livres (χ2
U), com distribuição
assintótica χ2 com graus de liberdade calculados pela diferença dos graus de
liberdade dos dois modelos (número de parâmetros que variam entre os dois
modelos). Caso rejeite-se a hipótese nula, conclui-se que os pesos fatoriais diferem
entre os grupos e o processo de análise de invariância fatorial termina nesse passo:
não faz sentido continuar avaliando os outros aspectos de invariância, tais como a
diferença de interceptos de todos os itens em todos os grupos51.
Adicionalmente ao teste χ2, devido a sua sensibilidade à dimensão da amostra
e a diferentes níveis de especificação errônea do modelo, sugere-se a utilização do
ΔCFI, com redução do CFI superior a 0,01 (ΔCFI < -0,01) indicativo da não
invariância do modelo (Marôco 2014).
4.3.1 Brasileiros versus estrangeiros
Na amostra tem-se 803 brasileiros e 328 indivíduos de outras nacionalidades
latino-americanas. As figuras 5 e 6 apresentam as estimativas estandardizadas do
modelo final ajustado em simultâneo para brasileiros e estrangeiros. Nota-se que os
índices de qualidade de ajustamento são referentes ao modelo ajustado em
simultâneo aos dois grupos, mas que as estimativas dos pesos fatoriais e das
correlações entre fatores são específicas de cada grupo.
De acordo com os índices de ajustamento, o modelo fatorial proposto
apresenta um bom ajustamento, em simultâneo, a brasileiros e estrangeiros,
demonstrando a invariância configuracional do modelo fatorial. Contudo, os pesos
fatoriais e as correlações são invariantes entre os dois grupos? Isto é, a importância
de cada fator em cada um dos itens manifestos é a mesma? Ou não difere,
significativamente, entre os dois grupos? Ou seja, será que o modelo livre tem um
melhor ajustamento do que o modelo com pesos fatoriais fixos (restrito)?
51
Ver Marôco (2014, p.291) sobre a estratégia stepwise de restrições crescentes para avaliar a invariância do modelo fatorial
135
Na sequência (figuras 7 e 8), mostra-se o segundo passo na Análise
Multigrupos, qual seja, a análise da invariância de medida fraca. Mais uma vez, os
índices de qualidade de ajustamento mostrados nas figuras são referentes ao
modelo ajustado em simultâneo aos dois grupos com as estimativas dos pesos
fatoriais fixos. O teste de diferença de χ2 retorna uma estatística de 69,467, com 30
graus de liberdade e p-valor < 0,001 (tabela 3). Nesse caso, pode-se inferir que os
pesos fatoriais diferem entre os brasileiros e estrangeiros e não devem seguir com a
análise das outras invariâncias. A mesma conclusão teríamos pela utilização da
variação do CFI, que, no modelo irrestrito, é de 0,921 e, no modelo com pesos
fatoriais fixos, é de 0,921, ou seja, uma redução do CFI de apenas 0,01, indicando a
invariância de medida fraca do modelo.
136
Figura 5 - Invariância configuracional: Brasileiros.
Fonte: o autor.
Quando comparamos os pesos estandartizados nas figuras 5 e 6, as
diferenças entre os grupos ficam bem nítidas, por exemplo, o peso do item SOC_QV
no fator Pol_Soc do grupo de brasileiros é de 0,62, e do grupo de estrangeiros é de
137
0,79 (Z = 2,265; p-valor =0,011)52, indicando que os estrangeiros dão maior
importância nesse quesito do que os brasileiros como componente do poder do
estado.
Figura 6 - Invariância configuracional: Estrangeiros.
Fonte: o autor.
52
Qualquer Z superior a 1,96 pode ser indicativo de diferenças estatisticamente significativas (5% de confiança).
138
Figura 7 - Invariância de medida fraca: Brasileiros.
Fonte: o autor.
139
Figura 8: Invariância de medida fraca: Estrangeiros.
Fonte: o autor.
140
Tabela 3 - Comparação dos modelos fatoriais: Brasileiros versus Estrangeiros.
Assuming model Unconstrained to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Measurement weights 30 69,647 ,000 ,003 ,003 ,000 -,001
Structural weights 36 124,703 ,000 ,005 ,005 ,001 ,001
Structural residuals 43 154,942 ,000 ,006 ,006 ,002 ,002
Measurement residuals 108 350,928 ,000 ,014 ,014 ,002 ,003
Assuming model Measurement weights to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Structural weights 6 55,057 ,000 ,002 ,002 ,002 ,002
Structural residuals 13 85,296 ,000 ,003 ,004 ,002 ,002
Measurement residuals 78 281,282 ,000 ,011 ,012 ,003 ,003
Assuming model Structural weights to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Structural residuals 7 30,239 ,000 ,001 ,001 ,000 ,001
Measurement residuals 72 226,225 ,000 ,009 ,009 ,001 ,001
Assuming model Structural
residuals to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Measurement residuals 65 195,986 ,000 ,008 ,008 ,001 ,001
Fonte: o autor.
4.3.2 Civis versus Militares
Na amostra tem-se 349 civis e 782 militares. As figuras 9 e 10 apresentam as
estimativas estandartizadas do modelo final ajustado em simultâneo para civis e
militares. De acordo com os índices de ajustamento, o modelo fatorial proposto
apresenta um bom ajustamento, em simultâneo, a civis e militares, demonstrando a
invariância configuracional do modelo fatorial. Contudo, os pesos fatoriais e as
correlações são invariantes entre militares e civis? A importância de cada fator em
cada um dos itens manifestos é a mesma? Ou não diferem, significativamente, entre
civis e militares? Será que o modelo livre tem um melhor ajustamento do que o
modelo com pesos fatoriais fixos (restrito)?
Nas figuras 11 e 12 mostra-se o segundo passo na Análise Multigrupos entre
militares e civis, qual seja, a análise da invariância de medida fraca. O teste de
diferença de χ2 retorna uma estatística de 54,678 com 30 graus de liberdade e p-
141
valor < 0,004 (tabela 4). Nesse caso, pode-se inferir que os pesos fatoriais diferem
entre os civis e militares e não deve seguir com a análise das outras invariâncias. A
mesma conclusão ter-se-ia pela utilização da variação do CFI, que, no modelo
irrestrito, é de 0,927 e, no modelo com pesos fatoriais fixos, é de 0,926, ou seja, uma
redução do CFI de apenas 0,01, indicando a invariância de medida fraca do modelo.
Figura 9 - Invariância configuracional: Civis.
Fonte: o autor.
142
Apenas para exemplificar, vamos avaliar o peso do fator Sec_Nac no
componente de 2º Ordem do Poder, pois, a priori, cogita-se que os militares possam
dar maior importância nesse componente do poder do Estado do que os civis. Note
que, comparando esses pesos nas figuras 9 e 10, encontra-se um valor de 0,623
para os civis e de 0,912 para os militares, que são estatisticamente diferentes ao
nível de 5% (Z = 2,165; p-valor < 0,05) e permite inferir que os militares dão maior
importância do que os civis à Segurança Nacional enquanto componente do poder
do estado.
Figura 10 - Invariância configuracional: Militares.
143
Fonte:o autor.
144
Figura 11 – Invariância de medida fraca: Civis.
Fonte: o autor.
145
Figura 12 - Invariância de medida fraca: Militares.
Fonte: o autor.
146
Tabela 4 – Comparações dos modelos fatoriais: Civis versus Militares.
Assuming model Unconstrained to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Measurement weights 30 54,678 ,004 ,002 ,002 -,001 -,001
Structural weights 36 68,449 ,001 ,003 ,003 -,001 -,001
Structural residuals 43 246,688 ,000 ,009 ,010 ,006 ,006
Measurement residuals 108 739,063 ,000 ,028 ,030 ,018 ,019
Assuming model Measurement weights to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Structural weights 6 13,771 ,032 ,001 ,001 ,000 ,000
Structural residuals 13 192,010 ,000 ,007 ,008 ,007 ,007
Measurement residuals 78 684,385 ,000 ,026 ,027 ,019 ,020
Assuming model Structural weights to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Structural residuals 7 178,239 ,000 ,007 ,007 ,007 ,007
Measurement residuals 72 670,614 ,000 ,026 ,027 ,019 ,020
Assuming model Structural
residuals to be correct:
Model DF CMIN P NFI IFI RFI TLI
Delta-1 Delta-2 rho-1 rho2
Measurement residuals 65 492,375 ,000 ,019 ,020 ,012 ,013
Fonte: o autor.
4.4 RESULTADOS E INFERÊNCIAS
Segundo Creswell (2013), completada a análise técnica dos dados, cabe ao
observador, como último passo do experimento, interpretá-los à luz das questões de
estudo previamente explicitadas, analisando a significância dos resultados, bem
como relacionando-os com a teoria previamente estudada.
Inicialmente, torna-se imperioso discorrer acerca das diferenças entre o
modelo inicial, obtido por meio de pesquisa qualitativa, e o final, resultado de ajustes
quantitativos a partir da percepção da defesa sul-americana. Nota-se que o modelo
de dez fatores (Político, Econômico, Militar, Social, Vontade Nacional, Ambiental,
Científico-Tecnológico, Populacional, Territorial e Cultural) evoluiu para um de 6
fatores (Sociopolítico, Econômico e Científico-Tecnológico, Segurança Nacional,
147
Ideológico-Cultural, Populacional e Territorial, e Ambiental), após ouvidos os 1.131
respondentes de todo o continente.
A primeira razão para a diferença entre ambos os modelos acaba por tornar-
se um tanto quanto óbvia: o primeiro funda-se prioritariamente em conceitos e
teorias, onde há relativa independência entre os fatores, ainda que se entenda que
interagem entre si na conformação do poder do Estado; o segundo, por sua vez, já
explicita maior caráter prático, onde se captou a visão do universo selecionado.
Ficou evidente e comprovada a base filosófica de poder segundo Foucault,
reforçada pela ótica do paradigma da complexidade. O poder, segundo o autor,
advém de interações não-lineares entre seus fatores, subfatores e variáveis, onde se
estabelecem relações multidimensionais (Teixeira e Migon 2017; 2019). De acordo
com Morin (1991), os sistemas complexos afastam-se de análises reducionistas de
unidades simplificadas, voltando-se para as intrincadas relações entre as partes que
compõem o todo.
Após a realização das AFE e AFC, verificou-se que diversos subfatores foram
realocados em outros fatores, distintos do modelo teórico original, explicitando o
elevado grau de inter-relacionamento entre os componentes do poder no presente
século sob a ótica do universo estudado. Observou-se que, no caso da América do
Sul, em particular, sob a visão da Defesa, os fatores políticos e sociais apresentam
grande correlação, levando a uma fusão de seus subfatores em uma única
dimensão sociopolítica. De fato, na prática, nota-se o grande impacto dos aspectos
sociais na conformação da política dos Estados, tanto no campo interno como no
externo. Isto fica evidente, por exemplo, na atual conjuntura venezuelana: a queda
de índices sociais, como qualidade de vida, por exemplo, perpassou o campo social,
levando reflexos na estabilidade política interna, na governabilidade e na política
externa regional.
O mesmo fenômeno de fusão de fatores e subfatores ocorreu com os fatores
Econômico e Científico-Tecnológico, Militar e Vontade Nacional, Cultural e Vontade
Nacional, Populacional e Territorial, reforçando o caráter dinâmico e complexo do
constructo poder na atual conjuntura sul-americana. No caso do campo econômico e
científico-tecnológico, fica notória a característica da Era Informacional, onde a
tecnologia e a inovação impactam diretamente a produtividade das empresas, os
fluxos financeiros e até mesmo a potencialização da população economicamente
ativa. A título de exemplificação, os meios informacionais e o desenvolvimento
148
tecnológico permitem terceirizações de serviços à distância; diminuem os custos
logísticos e operacionais, reduzindo custos e alavancando o ciclo econômico.
A união entre os fatores Populacional e Territorial reflete o elevado grau de
inter-relacionamento entre as dimensões representadas por seus subfatores,
conforme evidenciado no modelo ajustado da AFC 2a ordem (figura 3). De fato, a
população total de um Estado, bem como sua distribuição no campo ou na cidade,
está intimamente relacionada à área do território disponível para acomodar tais
indivíduos, sua integração e a disponibilidade de recursos (alimentares, minerais,
outros).
No caso dos novos fatores Segurança Nacional e Ideológico-cultural, ambos
surgiram a partir da incorporação dos subfatores do antigo fator Vontade Nacional
pelos fatores Militar e Cultural, respectivamente. No primeiro, o subfator Percepção
de Ameaças acrescentou caráter intangível ao core tradicional do Poder Militar. Na
prática, surgem neste item as dimensões não-estatais de S&D, como os conflitos
assimétricos, os crimes transnacionais, o crime organizado interno, as questões de
refugiados e deslocados, o terrorismo e outros, tudo somado às ameaças externas
tradicionais. Ainda, integrou-se, ao fator Segurança Nacional, o subfator Tecnologias
Espaciais, que diz respeito às capacidades de desenvolvimento e lançamento de
foguetes e satélites, de considerável correlacionamento com as questões de
Segurança & Defesa, vide, por exemplo, o Programa Estratégico do Exército
Brasileiro ASTROS 202053.
Os demais subfatores do fator original Vontade Nacional (Engajamento,
Orgulho e Coesão Nacionais) somaram-se aos remanescentes do fator Cultural
(História e Integração), amalgamando-se no novo fator Ideológico-cultural. Neste
ponto, tornar-se importante clarificar que se trata do conceito clássico do termo
“ideológico”, que aponta para o conjunto de ideias e reflexões específicas de
indivíduos, grupos e sociedades. Trata-se, portanto, da “visão de mundo” pura e
original de um povo, que orienta ações e políticas, ao contrário da noção de
“ideologia” da Teoria Crítica, entendida como uma ação que mascara o objeto, uma
falsa consciência no âmbito das relações de dominação.
Identificar a influência e a correlação da construção histórica de um povo com
sua coesão e orgulho nacionais, bem como seu reflexo na “equação do poder” de
53
Programa que objetiva a pesquisa e o desenvolvimento de um projeto de Míssil Tático de Cruzeiro de 300 km e de Foguete Guiado SS-40.
149
um Estado, não é tarefa complexa. Como exemplo claro e evidente, têm-se os
estudos acerca da formação da nacionalidade brasileira. Diversas questões
histórico-culturais contribuíram para a manutenção da unidade do Brasil através dos
tempos: a miscigenação racial, a unidade linguística, a figura do governo central
forte, materializada na figura do imperador, dentre outros.
Aqui, cabe uma observação acerca dos subfatores originais Cinema, Mídia e
Turismo, que acabaram excluídos devido a sua pouca relevância e capacidade de
ajustamento no aprimoramento estatístico do modelo final. Não se pode afirmar que
tais itens não possuem impacto no cômputo final do poder em termos globais.
Porém, para o espectro analisado, defesa sul-americana, não explicitaram
importância suficiente para integrarem a composição final do constructo.
O único fator que se manteve conforme o modelo original foi o fator
Ambiental, mas que, no modelo final, evidenciou relativo nível de integração com o
fator Eco, C&T. Pode-se afirmar que a inclusão do fator Ambiental é mudança de
paradigma nas teorias que estudam a composição do poder, observado,
particularmente, nas formulações do presente século. O fator Ambiental reflete a
crescente importância das questões de meio ambiente e sustentabilidade no âmbito
das discussões sociopolíticas, científico-tecnológicas e econômicas, e que, na
atualidade, alcançam, até mesmo, temas relacionados à S&D (Jacobi 1999; Becker
2005).
Sem dúvida que o contínuo crescimento demográfico global, combinado com
a busca pelo crescimento econômico e a limitação dos recursos naturais, conduz a
maior atenção a temas relacionados à ocupação ordenada do espaço geográfico, ao
uso sustentável da biodiversidade e ao desenvolvimento de “tecnologias limpas”.
Nesse contexto, o “capital natural” cresce de importância na resultante final do poder
dos Estados, impactando outros fatores, como o Sociopolítico e Econômico. Becker
(2005), por exemplo, destaca o valor da água, considerada como “ouro azul do
século XXI”, cuja escassez, aliada ao consumo crescente em termos globais, aponta
para a previsão de disputas e, até mesmo, conflitos armados. Além de sua
importância como meio essencial de vida, a autora chama a atenção para as
pesquisas voltadas para seu emprego como fonte de energia, em razão dos isótopos
de hidrogênio.
Acerca dos inter-relacionamentos entre fatores e subfatores, mais uma vez,
tem-se que as correlações exógenas e endógenas explicitadas no modelo da figura
150
3 reforçam as evidências do poder foucaultiano no modelo final encontrado, segundo
o qual, a resultante sistêmica é fruto de intrincada e complexa estrutura de fatores e
subfatores que interagem entre si em diferentes níveis, adaptando-se e evoluindo.
Portanto, de maneira ilustrativa, a educação impactará a inovação científico-
tecnológica, que, por sua vez, atingirá o desenvolvimento de energias limpas e
renováveis, tudo alterando a composição final do poder estatal, negativamente ou
positivamente.
Prosseguindo na análise do modelo final, observa-se em sua composição a
presença de elementos tangíveis (efetivos militares, população total, área total,
indústria, dentre outros) e intangíveis (orgulho nacional, coesão e história); fatores
tipicamente vinculados ao hard power (Segurança Nacional; Econômico, Científico e
Tecnológico; Populacional e Territorial), como aqueles relacionados ao soft power
(Ambiental, Ideológico-cultural, Sociopolítico), o que aponta para pleno alinhamento
com a configuração do sistema internacional do século XXI. Nele, o grande desafio
para a política e a estratégia é saber empregar o smart power, ou seja, conciliar a
aplicação do “poder da força” e do “poder da atração”, entendendo que o poder se
exercerá tanto no conflito como no consenso (Nye Jr. 1999; 2009a; 2009b; Teixeira
e Migon, 2017; 2019).
Na prática, por exemplo, a “força militar” de um Estado pode ser empregada
como meio dissuasório, ameaça direta ou, ainda, meio de cooperação, como o caso
da “diplomacia militar”. Similarmente, a “força econômico-financeira” aproxima, por
meio de tratados de cooperação e desenvolvimento econômico, zonas de livre
comércio ou construção de infraestruturas; ou impõe interesses pela aplicação de
sanções e restrições econômicas.
Quando se passa a estudar as percepções da composição do poder focando-
se os substratos amostrais, é possível identificar algumas peculiaridades de cada
grupo (civis, militares, brasileiros e demais sul-americanos). Com relação aos
fatores, nota-se unidade de percepção entre brasileiros e demais sul-americanos no
que tange o grau de importância dos fatores. Para ambos, os mais importantes, em
ordem decrescente, são: Econômico, Científico e Tecnológico; Sociopolítico;
Segurança Nacional; Populacional-territorial; Ideológico-cultural e Ambiental.
Importante ressaltar, porém, que, a despeito dos dois grupos possuírem a mesma
valoração relativa dos fatores dentro do modelo, brasileiros consideram os três
151
últimos - Populacional-territorial; Ideológico-cultural e Ambiental - menos importante
que os demais países do continente.
A investigação das diferenças dos subfatores nesse substrato da amostra
apontou para algumas variações significativas em todos os fatores, menos no
Cultural-ideológico. A maior quantidade de variações relevantes pode ser
encontrada no fator Populacional-territorial. Neste, com exceção da integração
territorial, os demais sul-americanos valorizam mais todos os outros subfatores do
que os brasileiros. A maior diferença foi observada nos índices dos subfatores
População Urbana, Área Total e População Total, considerados mais significativos
pelos estrangeiros.
Na sequência, no âmbito do fator Sociopolítico, os sul-americanos denotaram
maior preocupação que os brasileiros no que se refere aos subfatores Política
Internacional, Qualidade de Vida e Saúde. No fator Segurança Nacional, encontra-se
o subfator de maior diferença entre os dois grupos, Efetivos Militares, tido como mais
expressivo pelos demais sul-americanos do que pelos brasileiros. Aqueles,
consideraram, também, como mais significativos, ainda que em menor intensidade,
os subfatores Gastos Militares e Tecnologias Espaciais. Por fim, finalizando a
análise dos subfatores entre brasileiros e demais sul-americanos, estes atribuíram
mais valor aos subfatores Recursos Financeiros (fator Econômico, Científico e
Tecnológico) e Engajamento Global (Ambiental) do que os brasileiros.
Por outro lado, a comparação entre civis e militares já evidencia algumas
percepções diferentes. Ambos compartilham do mesmo entendimento com relação
aos três de maior importância (na ordem decrescente): Econômico, Científico e
Tecnológico; Sociopolítico e Populacional-territorial. Para os demais, explicita-se
divergência de pensamento. Para os civis, após os três fatores acima elencados,
viriam os fatores Ideológico-cultural, Ambiental e Segurança Nacional. Para os
militares, a sequência seria: Segurança Nacional, Ideológico-cultural e Ambiental.
Em ternos de valores absolutos, os militares atribuíram, de maneira relevante, mais
importância que os civis aos fatores Segurança Nacional, Ambiental, Ideológico-
cultural e Populacional-territorial.
Sobre a observação dos subfatores, na comparação entre civis e militares, as
maiores divergências de percepção se dão no grau absoluto atribuído a cada
subfator, principalmente naqueles contidos nos fatores Econômico, Científico e
Tecnológico; Populacional-territorial e Ideológico-cultural. No campo econômico,
152
científico e tecnológico, militares atribuíram valores mais elevados aos subfatores TI
& Comunicações, População Economicamente Ativa e Indústria, evidenciando maior
preocupação com tais temas. Dentro do fator Ideológico-cultural, militares julgam
mais relevantes que os civis54 os subfatores História, Integração Cultural e Orgulho
Nacional, sendo este último a maior diferença de percepção de todos os subfatores
do modelo. Por fim, no escopo do fator Populacional-territorial, militares consideram
mais importantes os subfatores Integração Territorial e Localização.
Em síntese, conclui-se que, de maneira geral, há uniformidade de
pensamento entre todos os representantes da defesa sul-americana, sejam
brasileiros, sejam estrangeiros, em relação ao grau de importância dos fatores
componentes do poder do Estado. Porém, por outro lado, fica evidente relativa
diferença de percepção entre civis e militares sobre o tema. Além das naturais
diferenças de princípios e valores, bem como distinções na estrutura e pensamento
organizacional, as relações civis-militares55, na América do Sul, carregam bastante
influência da evolução política de suas Repúblicas.
Não restam dúvidas que os períodos denominados de “regimes militares”
impactaram diretamente as relações civis-militares da região, conduzindo a visões
político-estratégicas distintas em relação a alguns fatores da composição do poder
do Estado. Tal quadro explica o porquê de os civis sul-americanos considerarem o
fator Segurança Nacional, marcado pela expressão militar do poder, como o de
menos importância, ao passo que, para os militares, o menos relevante seria o
Ambiental. Ressalta-se que, além do fator Segurança Nacional ser o de menor
relevância para os civis em termos relativos dentre os demais, há grande diferença
em termos absolutos entre os índices fatoriais atribuídos, constituindo-se a maior
diferença de toda a análise multigrupos.
Encerra-se esta análise, apresentando o modelo teórico final abaixo,
representativo do poder do Estado no século XXI, segundo a percepção da defesa
sul-americana:
Poder = 0,98 Socpol + 0,99. Eco,C&T + 0,87. Pop-Ter + 0,82. Seg Nac + 0,77 Amb +
0,80 Ideo-Cult + ε
54
A maioria dos subfatores divergem entre os dois subgrupos. Entretanto, para as conclusões apresentadas, selecionaram-se aqueles cuja diferença entre os valores fatoriais ultrapassavam 0,10. 55
Para maior aprofundamento acerca das relações civis-militares, ver Huntington (2016), Feaver (1999) e Lovell e Albright (1997).
153
Sendo:
Socpol - Fator Político
Eco,C&T - Fator Econômico, Científico-tecnológico
Pop-Ter – Fator Populacional-Territorial
Ideo-Cult – Fator Ideológico-cultural
Seg Nac – Fator Segurança Nacional
Amb - Fator Ambiental
ε - Erro
Torna-se imperioso reforçar que não se busca, com a presente formulação,
estigmatizar o poder sul-americano de forma objetiva e imutável. Conforme
explicitou-se previamente, poder é fenômeno complexo, que evolui e adapta-se em
diversas dimensões e estruturas. Assim, o modelo final apresentado constitui-se
apenas em ferramenta de apoio às análises e conclusões político-estratégicas da
conjuntura regional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do poder é essencial para melhor captar o cinetismo da política
internacional. Considerando-o como fenômeno complexo, torna-se necessário ir
além de sua simples conceituação, buscando identificar seus componentes e suas
dinâmicas. Ter a capacidade de mensurá-lo, portanto, torna-se essencial para
modelar o sistema estatal, no âmbito interno ou externo, constituindo-se em
ferramenta valiosa para formuladores de políticas e estratégias.
Partindo dessa premissa, a presente investigação teve por objetivo geral obter
um modelo teórico do poder do Estado, a partir da percepção da defesa sul-
americana, que espelhasse as peculiaridades do cenário global do presente século.
Para tanto, partiu-se de um modelo teórico de dez fatores, obtido em estudo
qualitativo, que, em tese, espelhava os fatores e subfatores mais representativos do
constructo. A partir deste ponto, com o foco no universo selecionado, buscou-se
154
resposta às seguintes questões: todos os fatores e subfatores do modelo inicial
verdadeiramente representam as características do sistema internacional do século
XXI? Qual a relação entre eles e qual sua importância, relativa e absoluta?
Adotou-se, como visão epistemológica, o paradigma da complexidade, uma
vez que se entendeu que o objeto de estudo deveria ser analisado de forma não-
linear e plural, refletindo as singularidades e incertezas de cenários. Assim, sob tal
enfoque, realizou-se revisão da literatura, inicialmente, discorrendo-se acerca do
conceito filosófico de poder sob a ótica de Michel Foucault, segundo o qual, o
constructo atinge o máximo de seu viés relacional e complexidade. Em seguida,
revisitou-se o tema das “fórmulas do poder” (modelos teóricos), visando reforçar a
importância desses instrumentos para a análise de cenários e destacar as
características principais da composição do poder no século XXI.
Verificou-se que, segundo Foucault, o poder se manifesta em diversos níveis,
sendo resultado de interações de múltiplas forças, o que lhe imprime elevado grau
de aleatoriedade e incerteza. Para o autor, o poder está em todas as partes,
evoluindo de poder potencial para poder efetivo, em uma cadeia adaptativa de
resultantes. Ele se exercerá em meios ao consenso, mas também no conflito; estará
presente nas dinâmicas dos Estados, porém contemplará também o privado e não-
estatal.
Em sequência, explicitou-se que modelos teóricos do poder são ferramentas
cruciais para a construção de políticas e estratégias, uma vez que conferem certo
nível de empirismo à subjetividade dos estudos meramente teóricos. Observou-se,
ainda, que se trata de instrumento antigo e que acaba por incorporar as
características espaço-temporais dos sistemas em que se deseja mensurar. Nesse
particular, apresentaram-se as peculiaridade do período atual, marcado por
assimetrias, novos atores e novas ameaças, conformando-se em uma conjuntura
volátil e complexa.
Após revisitar aspectos teóricos fundamentais para a presente análise, partiu-
se para as ações metodológicas devidas, em consonância com o desenho de
pesquisa pretendido: pesquisa quantitativa. Como universo, considerou-se a defesa
sul-americana, composta por militares e civis relacionados a temas de S&D. Por
meio de web survey, contendo perguntas fechadas com respostas baseadas em
escala likert, chegou-se a uma amostra de 1.131 respondentes, entre civis e
155
militares, representantes de todos os países da América do Sul, com exceção do
Suriname, da Guiana e da Guiana Francesa.
Com o objetivo de verificar o grau de ajustamento do modelo de dez fatores
obtido por meio de pesquisa qualitativa anterior (análise de conteúdo), intentou-se
verificar o grau de ajustamento de seus fatores e subfatores por meio de uma
análise fatorial confirmatória. Como o modelo inicial não apresentou boa qualidade
de ajustamento, partiu-se para a realização de uma análise fatorial exploratória, de
forma a verificar a real estrutura da escala, validando-a.
Ao final do procedimento, obteve-se um modelo de seis fatores, que foram
submetidos a uma análise fatorial confirmatória para a checagem de seu
ajustamento. Como resultado, confirmou-se o modelo de seis fatores, com o ajuste
da distribuição de subfatores, que passaram de quarenta a trinta e sete. A fusão dos
fatores e subfatores originais evidenciou claramente a expressão foucaultiana do
poder e suas complexidades, alinhando teoria ao resultado empírico.
Concluindo a investigação, faz-se mister destacar, mais uma vez, que a busca
pela compreensão do poder e sua modelagem são ferramentas essenciais à
compreensão dos sistemas estatais, endógenos e exógenos. A visão de poder sob a
ótica sul-americana, em particular, dos representantes de sua Defesa, espelha as
volatilidades do século XXI e afasta-se de conceitos rígidos e absolutos sobre o
tema. De maneira homogênea, o modelo de poder segundo a defesa do continente
aponta para o exercício do “smart power”, conjugando fatores tradicionais do “hard
power” com aqueles que expressam a vertente do consenso e atração do “soft
power”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Andrews, D., B. Nonnecke e J. Preece. 2003. Electronic survey methodology: A case study in reaching hard-to-involve Internet users. International Journal of Human-computer Interaction 16 (2): 185-210. Aranha, F. e F. Zambaldi. 2008. Análise fatorial em administração. São Paulo: Cengage Learning. Art, R. J. 1996. American foreign policy and the fungibility of force. Security Studies 5 (4): 7-42. Babbie, E. R. 1990. Survey research methods. Belmonte, Calif.: Wadsworth publishing.
156
Bachelard, G. 1973. Epistemología. Textos escogidos por Dominique Lecourt. Barcelona: Anagrama. Bachelard, G. 2005. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Traduzido do francês por Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto. Becker, B. K. 2005. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados 19 (53): 71-86. Bezerra, F. A. 2007. Análise Fatorial. Em: Análise multivariada: para cursos de administração, ciências contábeis e economia. Editado por Corrar, L. J., E. Paulo e J. M. Dias Filho. São Paulo: Atlas. p. 541. Brown, T. A. 2006. Confirmatory factor analysis for applied research. New York: The Guilford Press. Byrne, B. M. 2010. Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming. 2nd. Edition. New York: Routledge. Cline, R. S. 1975. World power assessment: a calculus of strategic drift. Boulder, Colorado: Westview Press. Cooper, R. 2004. Hard power, soft power and the goals of diplomacy. In: Held, D. e M. K. Archibugi (eds.). American Power in the 21st Century. Cambridge: Polity. p. 167-180. Couper, M. P. 2000. Web‐based surveys: A review of issues and approaches. Public Opinion Quarterly 64 (4): 464-494. Creswell, J. W. 2013. Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. Los Angeles: Sage publications. DeVellis, R. F. 2011. Scale development: Theory and applications. 3rd ed. v. 26. Thousand Oaks, CA:: Sage Publications Inc. Dillman, D. A. 2000. Mail and internet surveys: The tailored design method. New York: John Wiley & Sons. Edwards, A. L. 1983. Techniques of attitude scale construction. Londres: Ardent Media. Feaver, P. D. 1999. Civil-military relations. Annual Review of Political Science 2 (1): 211-241. Foucault, M. 1980. Power/knowledge: selected interviews and other writings, 1972-1977. New York: Pantheon Books. Foucault, M. 1982. The subject and power. Critical inquiry, v. 8, n. 4, p. 777-795, summer.
157
Foucault, M. 1998. The history of sexuality. London: Penguin Books. Foucault, M. 2003. Society must be defended: Lectures at the Collège de France, 1975-1976. New York: Picador. Foucault, M. 2010. The birth of biopolitics: Lectures at the Collège de France, 1978-1979. London and New York: Palgrave Macmillan. Foucault, M. 2013. Microfísica do poder. 27. ed. Traduzido do francês e organizado por Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal. Goode, W. J. e P. K. Hatt. 1972. Métodos em pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Nacional. Gray, C. S. 2011. Hard power and soft power: The utility of military force as an instrument of policy in the 21st century.Carlisle: Strategic Studies Institute. Hair, J. F. et al. 2009. Análise multivariada de dados. Traduzido por Adonai Schlup Sant’Ana e Anselmo Chaves Neto. Porto Alegre: Bookman.
Hansen, L. e B. Buzan. 2012. A evolução dos estudos de segurança internacional. São Paulo: Editora UNESP. Holland, J. H. 1992. Adaptation in natural and artificial systems: an introductory analysis with applications to biology, control, and artificial intelligence. Cambridge: MIT press. Höhn, K. H. 2014. Geopolitics and the measurement of national power. PhD Dissertation - University of Hamburg. Huntington, S. P. 2016. O Soldado e o Estado. Teoria e política das relações entre civis e militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora. Jacobi, P. 1999. Meio ambiente e sustentabilidade. Revista de Desenvolvimento e Meio. Kaldor, M. New and old wars: Organised violence in a global era. New Jersey: John Wiley & Sons, 2013. Kline, R. B. 2011. Principles and pratice of structural equation modeling. 3rd ed. New York: The Guilford Press. Lovell, J. P. e D. E. Albright. 1997. To sheathe the sword: civil-military relations in the quest for democracy. Connecticut: Greenwood Press. Marôco, J. 2014. Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software e aplicações. 2nd ed. Pêro Pinheiro: ReportNumber. Morin, E. 1991. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.
158
Mourão Júnior, C. A. 2009. Questões em bioestatística: o tamanho da amostra. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais - Animais e Humanos / Interdisciplinary Journal of Experimental Studies 1 (1):26-28. Nye Jr., J. S. 2009a. Get smart: combining hard and soft power. Foreign Affairs 88 (4): 160-163. Nye Jr., J. S. 2009b. Smart power. New Perspectives Quarterly 26 (2): 7-9. Nye Jr., J. S. 2011. The future of power. New York: Public Affairs, 2011. Pestana, M. H. e J. N. Gageiro. 2003. Análise de dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. Lisboa: Sílabo. Prigogine, I. e I. Stengers. 1997. The end of certainty. New York: Simon and Schuster. Stanton, J. M. 1998. An empirical assessment of data collection using the Internet. Personnel Psychology 51 (3): 709-725. Sulek, M. 2010. Synthetic approach to measurement of national power. Warzawa: Institute of International Relations, University of Warzawa. Teixeira, A. G. e E. X. F. G. Migon. 2017. Revisitando o conceito de poder à luz da teoria da complexidade1. Revista de Ciências Militares 5 (2). Teixeira, A. G. e E. X. F. G. Migon. 2019. Estimação do poder dos estados: estudo qualitativo dos fatores componentes. Carta Internacional (artigo a ser submetido). Tzu, S. 1996. A Arte da guerra. Coleção Leitura. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Waldrop, M. 1992. Complexity: The emerging science at the edge of order and chaos. New York: Simon and Schuster. Wilson III, E. J. 2008. Hard power, soft power, smart power. The annals of the American Academy of Political and Social Science 616 (1):110-124. Zakaria, F. 2008. The future of American power: how America can survive the rise of the rest. Foreign Affairs: 18-43. Zakaria, F. 2013. The rise of the rest. Em debating a post-American world. Clark, S. e S. Hoque. Abingdon-on-Thames: Routledge, 42-51. Zakaria, F. 2016. Populism on the march: Why the west is in trouble. Foreign Affairs 95:9.
159
1 APÊNDICE
1.1 AFE
Teste de KMO e Bartlett
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem. .972
Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 25116.376
df 666
Sig. 0.000
Comunalidades
Inicial Extração
POL_INT 1.000 .522
POL_GOV 1.000 .607
POL_EST 1.000 .558
ECO_RN 1.000 .548
ECO_RF 1.000 .543
ECO_IND 1.000 .623
ECO_INF 1.000 .728
ECO_ENE 1.000 .618
TER_AREA 1.000 .644
TER_CAP 1.000 .547
TER_INT 1.000 .585
TER_LOC 1.000 .452
POP_URB 1.000 .523
POP_TOT 1.000 .635
POP_PEA 1.000 .639
CT_INO 1.000 .668
CT_TI 1.000 .652
CT_ESP 1.000 .454
SOC_EDU 1.000 .777
SOC_SAU 1.000 .669
SOC_QV 1.000 .589
CUL_INT 1.000 .571
CUL_TUR 1.000 .518
CUL_HIS 1.000 .537
MIL_NUC 1.000 .465
MIL_MAT 1.000 .710
MIL_DEF 1.000 .698
MIL_EFE 1.000 .577
MIL_GAS 1.000 .644
160
VON_AME 1.000 .516
VON_COE 1.000 .682
VON_ORG 1.000 .642
VON_ENG 1.000 .575
AMB_ENE 1.000 .563
AMB_SIS 1.000 .608
AMB_ENG 1.000 .590
AMB_BIO 1.000 .613
Variância total explicada
Componente
Valores próprios iniciais
Somas de extração de
carregamentos ao quadrado
Somas rotativas de
carregamentos ao quadrado
Total
% de
variância
%
cumulativa Total
% de
variância
%
cumulativa Total
% de
variância
%
cumulativa
1 15.879 42.916 42.916 15.879 42.916 42.916 8.114 21.929 21.929
2 2.183 5.901 48.817 2.183 5.901 48.817 4.446 12.017 33.946
3 1.738 4.696 53.513 1.738 4.696 53.513 3.609 9.753 43.699
4 1.151 3.111 56.624 1.151 3.111 56.624 3.016 8.152 51.851
5 1.139 3.077 59.701 1.139 3.077 59.701 2.904 7.849 59.701
6 .971 2.624 62.325
7 .800 2.163 64.487
8 .759 2.053 66.540
9 .721 1.949 68.489
10 .661 1.788 70.277
11 .632 1.709 71.986
12 .617 1.669 73.655
13 .581 1.571 75.226
14 .558 1.508 76.734
15 .541 1.462 78.196
16 .528 1.427 79.623
17 .512 1.383 81.006
18 .505 1.366 82.371
19 .486 1.315 83.686
20 .471 1.273 84.959
21 .442 1.194 86.154
22 .441 1.191 87.345
23 .412 1.113 88.458
24 .390 1.054 89.512
25 .386 1.044 90.557
26 .368 .995 91.551
27 .359 .969 92.520
28 .338 .912 93.433
29 .326 .881 94.314
30 .319 .861 95.175
31 .308 .832 96.007
32 .292 .788 96.795
33 .271 .732 97.527
34 .260 .703 98.230
35 .244 .658 98.888
161
36 .230 .622 99.510
37 .181 .490 100.000
162
Matriz de componente rotativa
Componente
1 2 3 4 5
POL_INT .521
POL_GOV .677
POL_EST .665
ECO_RN .409 .456
ECO_RF .630
ECO_IND .629 .404
ECO_INF .751
ECO_ENE .669
TER_AREA .720
TER_CAP .445 .457
TER_INT .527
TER_LOC .476
POP_URB .603
POP_TOT .706
POP_PEA .625
CT_INO .728
CT_TI .702
CT_ESP .562
SOC_EDU .792
SOC_SAU .631 .410
SOC_QV .586 .422
CUL_INT .635
CUL_TUR .621
CUL_HIS .511
MIL_NUC .590
MIL_MAT .716
MIL_DEF .465 .636
MIL_EFE .632
MIL_GAS .719
VON_AME .562
VON_COE .438 .590
VON_ORG .604
VON_ENG .536
AMB_ENE .439 .548
AMB_SIS .411 .581
AMB_ENG .706
AMB_BIO .716
163
1.2 CONFIABILIDADE
1.2.1 Eco_Pol_Soc_Tec
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach N de itens
.944 13
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
POL_INT 51.98 75.024 .603 .943
POL_GOV 51.68 73.179 .735 .939
POL_EST 51.68 73.876 .699 .940
ECO_RF 51.80 74.025 .685 .941
ECO_IND 51.78 73.373 .725 .940
ECO_INF 51.62 72.224 .798 .937
ECO_ENE 51.62 73.420 .723 .940
POP_PEA 51.75 72.461 .723 .940
CT_INO 51.63 71.999 .762 .938
CT_TI 51.65 73.248 .760 .939
SOC_EDU 51.41 71.737 .839 .936
SOC_SAU 51.80 72.875 .743 .939
SOC_QV 51.97 74.205 .675 .941
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
POL_INT 4.05 .923 1131
POL_GOV 4.35 .914 1131
POL_EST 4.35 .901 1131
ECO_RF 4.23 .906 1131
ECO_IND 4.25 .911 1131
ECO_INF 4.41 .917 1131
ECO_ENE 4.41 .909 1131
POP_PEA 4.28 .982 1131
CT_INO 4.40 .972 1131
CT_TI 4.38 .882 1131
SOC_EDU 4.62 .911 1131
SOC_SAU 4.23 .929 1131
SOC_QV 4.06 .902 1131
164
1.2.2 Seg_Nac
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach N de itens
.857 7
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
CT_ESP 3.90 1.010 1131
MIL_NUC 3.82 1.248 1131
MIL_MAT 4.11 .960 1131
MIL_DEF 4.32 1.005 1131
MIL_EFE 3.84 .972 1131
MIL_GAS 3.88 .958 1131
VON_AME 4.00 .959 1131
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
CT_ESP 23.98 21.250 .555 .846
MIL_NUC 24.05 20.190 .507 .859
MIL_MAT 23.76 19.952 .765 .817
MIL_DEF 23.55 19.927 .724 .822
MIL_EFE 24.03 21.180 .593 .840
MIL_GAS 24.00 20.666 .672 .830
VON_AME 23.87 21.288 .590 .841
1.2.3 Amb
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach N de itens
.806 5
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
CUL_TUR 3.21 1.011 1131
AMB_ENE 4.10 1.017 1131
AMB_SIS 3.93 .958 1131
AMB_ENG 3.47 .989 1131
AMB_BIO 3.65 1.033 1131
165
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
CUL_TUR 15.16 10.143 .460 .808
AMB_ENE 14.27 9.264 .619 .760
AMB_SIS 14.44 9.483 .632 .757
AMB_ENG 14.89 9.507 .597 .767
AMB_BIO 14.72 9.001 .655 .748
1.2.4 Ter_Pop
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach N de itens
.835 7
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
ECO_RN 3.91 .987 1131
TER_AREA 3.49 1.029 1131
TER_CAP 3.90 .937 1131
TER_INT 4.14 1.004 1131
TER_LOC 3.91 .983 1131
POP_URB 3.50 .867 1131
POP_TOT 3.54 .954 1131
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
ECO_RN 22.48 17.319 .572 .814
TER_AREA 22.89 16.953 .588 .812
TER_CAP 22.49 17.241 .627 .806
TER_INT 22.25 17.179 .577 .813
TER_LOC 22.48 17.517 .548 .818
POP_URB 22.89 18.149 .554 .817
POP_TOT 22.85 17.146 .625 .806
166
1.2.5 Cul_Ide
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach N de itens
.830 5
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
CUL_INT 3.79 1.048 1131
CUL_HIS 3.88 1.055 1131
VON_COE 4.23 .989 1131
VON_ORG 4.06 1.063 1131
VON_ENG 4.07 .985 1131
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
CUL_INT 16.25 10.951 .534 .823
CUL_HIS 16.16 10.608 .587 .808
VON_COE 15.81 10.262 .712 .773
VON_ORG 15.98 10.018 .685 .780
VON_ENG 15.97 10.712 .632 .796
1.2.6 Pol_Soc
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
POL_INT 4.05 .923 1131
POL_GOV 4.35 .914 1131
POL_EST 4.35 .901 1131
SOC_EDU 4.62 .911 1131
SOC_SAU 4.23 .929 1131
SOC_QV 4.06 .902 1131
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
POL_INT 21.62 14.198 .571 .884
POL_GOV 21.32 13.386 .718 .861
POL_EST 21.32 13.670 .682 .866
SOC_EDU 21.05 13.042 .783 .850
SOC_SAU 21.44 13.128 .748 .855
SOC_QV 21.61 13.677 .679 .867
167
1.2.7 Eco_Tec
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de Cronbach N de itens
.911 7
Estatísticas de item
Média Desvio Padrão N
ECO_RF 4.23 .906 1131
ECO_IND 4.25 .911 1131
ECO_INF 4.41 .917 1131
ECO_ENE 4.41 .909 1131
POP_PEA 4.28 .982 1131
CT_INO 4.40 .972 1131
CT_TI 4.38 .882 1131
Estatísticas de item-total
Média de escala se o
item for excluído
Variância de escala se o
item for excluído
Correlação de item
total corrigida
Alfa de Cronbach se o
item for excluído
ECO_RF 26.13 21.037 .662 .904
ECO_IND 26.11 20.459 .736 .896
ECO_INF 25.95 19.986 .795 .890
ECO_ENE 25.95 20.659 .710 .899
POP_PEA 26.08 20.199 .701 .901
CT_INO 25.95 19.872 .755 .894
CT_TI 25.98 20.555 .752 .895
1.3 AFC
1.3.1 Assessment of normality
Variable min max skew c.r. kurtosis c.r.
SOC_QV 1,000 5,000 -,886 -12,164 ,589 4,046
SOC_SAU 1,000 5,000 -1,441 -19,780 2,175 14,932
SOC_EDU 1,000 5,000 -2,884 -39,602 7,993 54,871
CT_TI 1,000 5,000 -1,879 -25,803 4,008 27,512
CT_INO 1,000 5,000 -1,976 -27,133 3,701 25,408
POP_PEA 1,000 5,000 -1,631 -22,386 2,515 17,262
ECO_ENE 1,000 5,000 -1,990 -27,322 4,172 28,642
ECO_INF 1,000 5,000 -1,966 -26,991 4,026 27,635
ECO_IND 1,000 5,000 -1,544 -21,193 2,728 18,728
ECO_RF 1,000 5,000 -1,364 -18,726 2,004 13,756
POL_EST 1,000 5,000 -1,677 -23,026 2,936 20,157
POL_INT 1,000 5,000 -1,020 -14,003 1,079 7,407
POL_GOV 1,000 5,000 -1,830 -25,120 3,649 25,049
CUL_HIS 1,000 5,000 -,799 -10,973 ,094 ,646
VON_AME 1,000 5,000 -,906 -12,432 ,556 3,817
168
CT_ESP 1,000 5,000 -,642 -8,816 -,199 -1,364
ECO_RN 1,000 5,000 -,821 -11,277 ,458 3,142
MIL_NUC 1,000 5,000 -,775 -10,637 -,449 -3,079
MIL_MAT 1,000 5,000 -1,170 -16,066 1,216 8,347
AMB_ENE 1,000 5,000 -1,207 -16,569 1,090 7,480
CUL_INT 1,000 5,000 -,696 -9,555 -,039 -,268
AMB_SIS 1,000 5,000 -,869 -11,929 ,549 3,771
AMB_ENG 1,000 5,000 -,323 -4,429 -,180 -1,239
AMB_BIO 1,000 5,000 -,515 -7,077 -,255 -1,751
MIL_DEF 1,000 5,000 -1,652 -22,683 2,296 15,762
MIL_EFE 1,000 5,000 -,679 -9,317 ,162 1,114
MIL_GAS 1,000 5,000 -,761 -10,443 ,381 2,616
VON_ENG 1,000 5,000 -1,145 -15,716 1,096 7,524
VON_ORG 1,000 5,000 -1,121 -15,393 ,674 4,627
VON_COE 1,000 5,000 -1,391 -19,100 1,595 10,953
POP_TOT 1,000 5,000 -,338 -4,636 -,161 -1,107
POP_URB 1,000 5,000 -,492 -6,760 ,349 2,395
TER_LOC 1,000 5,000 -,827 -11,350 ,403 2,769
TER_INT 1,000 5,000 -1,240 -17,021 1,227 8,425
TER_CAP 1,000 5,000 -,760 -10,436 ,529 3,633
TER_AREA 1,000 5,000 -,292 -4,005 -,351 -2,411
Multivariate 348,910 112,165
1.3.2 Regression Weights
Estimate S.E. C.R. p-valor
Cul_Ide <--- Poder ,614 ,026 23,373 ***
Ambiental <--- Poder ,516 ,027 19,073 ***
Ter_Pop <--- Poder ,513 ,026 19,591 ***
Seg_Nac <--- Poder ,535 ,025 21,703 ***
Pol_Soc <--- Poder ,681 ,024 28,976 ***
Eco_Tec <--- Poder ,626 ,024 26,090 ***
TER_AREA <--- Ter_Pop ,857 ,059 14,568 ***
TER_CAP <--- Ter_Pop 1,120 ,059 19,008 ***
TER_INT <--- Ter_Pop 1,353 ,068 20,016 ***
TER_LOC <--- Ter_Pop 1,000
VON_COE <--- Cul_Ide 1,134 ,048 23,560 ***
VON_ORG <--- Cul_Ide 1,082 ,047 23,173 ***
VON_ENG <--- Cul_Ide 1,000
MIL_GAS <--- Seg_Nac 1,000
MIL_EFE <--- Seg_Nac ,957 ,041 23,481 ***
MIL_DEF <--- Seg_Nac 1,293 ,052 24,949 ***
AMB_BIO <--- Ambiental 1,000
AMB_ENG <--- Ambiental ,849 ,044 19,340 ***
AMB_SIS <--- Ambiental 1,118 ,053 20,919 ***
CUL_INT <--- Cul_Ide ,902 ,050 18,108 ***
AMB_ENE <--- Ambiental 1,167 ,056 20,724 ***
MIL_MAT <--- Seg_Nac 1,232 ,049 24,933 ***
MIL_NUC <--- Seg_Nac ,945 ,061 15,387 ***
POP_TOT <--- Ter_Pop ,978 ,059 16,507 ***
169
POP_URB <--- Ter_Pop ,850 ,053 15,942 ***
ECO_RN <--- Ter_Pop 1,075 ,062 17,354 ***
CT_ESP <--- Seg_Nac ,856 ,049 17,531 ***
VON_AME <--- Seg_Nac 1,051 ,051 20,616 ***
CUL_HIS <--- Cul_Ide 1,032 ,051 20,422 ***
SOC_EDU <--- Pol_Soc 1,113 ,036 30,512 ***
SOC_SAU <--- Pol_Soc 1,020 ,038 26,815 ***
SOC_QV <--- Pol_Soc ,904 ,037 24,180 ***
POL_EST <--- Pol_Soc ,931 ,034 27,218 ***
POL_INT <--- Pol_Soc ,832 ,039 21,489 ***
POL_GOV <--- Pol_Soc 1,000
CT_INO <--- Eco_Tec 1,180 ,048 24,567 ***
CT_TI <--- Eco_Tec 1,082 ,044 24,825 ***
POP_PEA <--- Eco_Tec 1,196 ,049 24,522 ***
ECO_ENE <--- Eco_Tec 1,078 ,045 23,903 ***
ECO_INF <--- Eco_Tec 1,181 ,046 25,832 ***
ECO_IND <--- Eco_Tec 1,086 ,042 25,592 ***
ECO_RF <--- Eco_Tec 1,000
1.3.3 Standardized Regression Weights
Estimate
Cul_Ide <--- Poder ,896
Ambiental <--- Poder ,766
Ter_Pop <--- Poder ,869
Seg_Nac <--- Poder ,818
Pol_Soc <--- Poder ,979
Eco_Tec <--- Poder ,994
TER_AREA <--- Ter_Pop ,493
TER_CAP <--- Ter_Pop ,706
TER_INT <--- Ter_Pop ,795
TER_LOC <--- Ter_Pop ,600
VON_COE <--- Cul_Ide ,789
VON_ORG <--- Cul_Ide ,698
VON_ENG <--- Cul_Ide ,696
MIL_GAS <--- Seg_Nac ,683
MIL_EFE <--- Seg_Nac ,644
MIL_DEF <--- Seg_Nac ,841
AMB_BIO <--- Ambiental ,652
AMB_ENG <--- Ambiental ,578
AMB_SIS <--- Ambiental ,786
CUL_INT <--- Cul_Ide ,590
AMB_ENE <--- Ambiental ,774
MIL_MAT <--- Seg_Nac ,840
MIL_NUC <--- Seg_Nac ,495
POP_TOT <--- Ter_Pop ,605
POP_URB <--- Ter_Pop ,579
ECO_RN <--- Ter_Pop ,643
CT_ESP <--- Seg_Nac ,556
VON_AME <--- Seg_Nac ,717
170
CUL_HIS <--- Cul_Ide ,671
SOC_EDU <--- Pol_Soc ,851
SOC_SAU <--- Pol_Soc ,765
SOC_QV <--- Pol_Soc ,697
POL_EST <--- Pol_Soc ,719
POL_INT <--- Pol_Soc ,627
POL_GOV <--- Pol_Soc ,762
CT_INO <--- Eco_Tec ,770
CT_TI <--- Eco_Tec ,777
POP_PEA <--- Eco_Tec ,768
ECO_ENE <--- Eco_Tec ,748
ECO_INF <--- Eco_Tec ,812
ECO_IND <--- Eco_Tec ,752
ECO_RF <--- Eco_Tec ,696
1.3.4 Covariances
Estimate S.E. C.R. p-valor
ter <--> amb ,038 ,007 5,396 ***
e2 <--> e3 ,133 ,013 10,165 ***
e26 <--> e27 ,140 ,018 7,915 ***
e19 <--> e20 ,070 ,011 6,158 ***
e23 <--> e22 ,058 ,011 5,405 ***
e24 <--> e23 ,055 ,011 5,222 ***
e6 <--> e4 ,055 ,013 4,376 ***
e31 <--> e20 ,101 ,015 6,932 ***
e30 <--> e31 ,209 ,028 7,597 ***
e33 <--> e34 ,167 ,023 7,335 ***
e12 <--> e11 ,111 ,018 5,983 ***
e8 <--> e13 -,126 ,018 -7,105 ***
e8 <--> e12 -,055 ,016 -3,398 ***
e8 <--> e11 -,093 ,018 -5,313 ***
e10 <--> e8 -,056 ,020 -2,833 ,005
e10 <--> e11 ,242 ,023 10,675 ***
e1 <--> e2 ,055 ,010 5,815 ***
e25 <--> e24 ,047 ,012 3,792 ***
e10 <--> e13 ,143 ,021 6,873 ***
e29 <--> e30 ,089 ,020 4,402 ***
e28 <--> e32 -,088 ,016 -5,417 ***
e8 <--> e16 ,081 ,014 5,921 ***
e15 <--> e14 ,097 ,019 5,229 ***
e29 <--> e32 -,080 ,015 -5,263 ***
e31 <--> e19 ,090 ,016 5,815 ***
e10 <--> e12 ,086 ,020 4,360 ***
e10 <--> e7 ,081 ,020 3,958 ***
e16 <--> e15 ,100 ,018 5,615 ***
e19 <--> e1 ,064 ,010 6,644 ***
e36 <--> e22 ,060 ,013 4,507 ***
171
1.3.5 Correlations
Estimate
ter <--> amb ,299
e2 <--> e3 ,343
e26 <--> e27 ,270
e19 <--> e20 ,205
e23 <--> e22 ,179
e24 <--> e23 ,172
e6 <--> e4 ,149
e31 <--> e20 ,218
e30 <--> e31 ,230
e33 <--> e34 ,264
e12 <--> e11 ,206
e8 <--> e13 -,275
e8 <--> e12 -,128
e8 <--> e11 -,202
e10 <--> e8 -,103
e10 <--> e11 ,357
e1 <--> e2 ,194
e25 <--> e24 ,120
e10 <--> e13 ,212
e29 <--> e30 ,158
e28 <--> e32 -,244
e8 <--> e16 ,219
e15 <--> e14 ,181
e29 <--> e32 -,230
e31 <--> e19 ,175
e10 <--> e12 ,137
e10 <--> e7 ,115
e16 <--> e15 ,217
e19 <--> e1 ,218
e36 <--> e22 ,156
1.3.6 Variances
Estimate S.E. C.R. p-valor
Poder 1,000
ter ,085 ,010 8,771 ***
cul ,093 ,011 8,091 ***
amb ,187 ,019 9,943 ***
seg ,142 ,012 11,350 ***
pol ,020 ,006 3,382 ***
eco ,005 ,004 1,226 ,220
e10 ,797 ,036 22,395 ***
e9 ,440 ,021 21,119 ***
e8 ,369 ,023 16,306 ***
e7 ,617 ,028 22,308 ***
e12 ,499 ,023 21,538 ***
e11 ,577 ,027 21,241 ***
e16 ,367 ,021 17,744 ***
172
e15 ,579 ,029 19,646 ***
e14 ,499 ,024 20,432 ***
e26 ,489 ,023 21,733 ***
e27 ,552 ,025 22,119 ***
e28 ,295 ,018 16,409 ***
e33 ,613 ,030 20,366 ***
e34 ,651 ,030 21,373 ***
e35 ,350 ,021 16,484 ***
e17 ,716 ,033 21,994 ***
e36 ,414 ,024 17,058 ***
e29 ,271 ,016 16,482 ***
e30 1,179 ,052 22,862 ***
e13 ,571 ,027 20,841 ***
e31 ,702 ,031 22,901 ***
e32 ,447 ,025 18,103 ***
e18 ,612 ,029 21,013 ***
e6 ,350 ,017 21,181 ***
e5 ,516 ,023 22,676 ***
e4 ,392 ,018 21,745 ***
e25 ,422 ,019 22,372 ***
e24 ,360 ,017 21,708 ***
e23 ,285 ,014 20,707 ***
e22 ,363 ,017 21,826 ***
e21 ,395 ,018 21,691 ***
e19 ,381 ,018 21,563 ***
e20 ,306 ,014 21,449 ***
e1 ,229 ,012 18,771 ***
e2 ,358 ,017 21,182 ***
e3 ,418 ,019 22,102 ***
1.3.7 Squared Multiple Correlations
Estimate
Eco_Tec ,988
Pol_Soc ,958
Ambiental ,587
Seg_Nac ,669
Cul_Ide ,802
Ter_Pop ,756
SOC_QV ,486
SOC_SAU ,585
SOC_EDU ,724
CT_TI ,603
CT_INO ,592
POP_PEA ,590
ECO_ENE ,560
ECO_INF ,660
ECO_IND ,565
ECO_RF ,485
POL_EST ,517
POL_INT ,394
173
POL_GOV ,580
CUL_HIS ,450
VON_AME ,514
CT_ESP ,309
ECO_RN ,413
MIL_NUC ,245
MIL_MAT ,705
AMB_ENE ,599
CUL_INT ,348
AMB_SIS ,618
AMB_ENG ,334
AMB_BIO ,425
MIL_DEF ,708
MIL_EFE ,415
MIL_GAS ,466
VON_ENG ,485
VON_ORG ,487
VON_COE ,622
POP_TOT ,366
POP_URB ,335
TER_LOC ,361
TER_INT ,633
TER_CAP ,498
TER_AREA ,243
1.3.8 Modification Indices
Covariances: (Group number 1 - Default model)
M.I. Par Change
seg <--> eco 17,174 ,015
seg <--> pol 42,973 -,030
cul <--> eco 21,842 -,018
cul <--> amb 20,390 ,034
e3 <--> amb 18,265 ,042
e3 <--> seg 11,770 -,028
e2 <--> amb 37,783 ,055
e1 <--> eco 42,661 ,026
e1 <--> amb 13,735 -,029
e1 <--> seg 22,010 -,030
e20 <--> e1 25,519 ,040
e19 <--> ter 26,635 -,034
e21 <--> seg 11,613 -,030
e21 <--> ter 23,512 ,035
e21 <--> e1 27,009 ,049
e23 <--> ter 18,445 -,026
e24 <--> pol 15,693 -,024
e24 <--> seg 38,786 ,049
e24 <--> e3 16,547 -,045
e24 <--> e22 11,035 ,035
e25 <--> pol 13,946 ,025
e25 <--> cul 11,910 -,032
174
e5 <--> seg 23,878 ,048
e5 <--> cul 11,614 -,035
e5 <--> e21 17,792 -,060
e5 <--> e25 13,028 ,052
e18 <--> ter 14,619 ,035
e18 <--> e3 11,741 ,052
e31 <--> ter 17,534 ,038
e31 <--> e1 12,961 -,042
e31 <--> e5 21,076 ,080
e13 <--> e19 14,333 -,052
e13 <--> e22 23,051 ,066
e13 <--> e5 11,927 ,058
e30 <--> e1 13,357 ,055
e30 <--> e6 12,935 -,067
e29 <--> amb 13,187 -,034
e36 <--> seg 13,650 -,036
e17 <--> ter 21,657 ,046
e17 <--> e30 15,697 ,107
e35 <--> ter 14,914 -,029
e35 <--> e13 15,667 -,062
e34 <--> eco 36,460 -,041
e34 <--> e23 17,014 -,052
e34 <--> e5 38,628 ,108
e33 <--> e1 13,506 -,042
e33 <--> e22 11,271 ,047
e28 <--> eco 35,272 ,032
e28 <--> e19 14,760 ,043
e28 <--> e23 18,049 ,043
e28 <--> e24 19,376 ,049
e27 <--> eco 21,458 -,029
e27 <--> ter 23,026 ,039
e27 <--> e1 12,691 -,037
e27 <--> e19 16,832 -,053
e27 <--> e13 17,382 ,070
e27 <--> e30 17,259 -,093
e27 <--> e34 12,074 ,060
e15 <--> seg 32,402 ,056
e15 <--> e26 11,571 ,052
e16 <--> e3 11,621 -,039
e11 <--> e28 11,526 -,046
e12 <--> e17 20,206 ,082
e12 <--> e28 14,757 -,051
e8 <--> amb 11,065 -,036
e8 <--> e21 15,604 ,052
e9 <--> amb 11,828 ,039
e9 <--> e2 13,358 ,042
e9 <--> e22 14,515 ,047
e9 <--> e33 11,841 ,056
e10 <--> eco 13,648 -,025
e10 <--> seg 15,638 ,042
e10 <--> e9 13,180 ,060
175
Regression Weights: (Group number 1 - Default model)
M.I. Par Change
Pol_Soc <--- Seg_Nac 11,237 -,055
SOC_QV <--- AMB_BIO 12,169 ,062
SOC_SAU <--- Ambiental 14,731 ,102
SOC_SAU <--- ECO_RN 12,219 ,059
SOC_SAU <--- AMB_ENE 20,738 ,074
SOC_SAU <--- AMB_SIS 12,388 ,061
SOC_SAU <--- AMB_BIO 20,773 ,073
SOC_SAU <--- TER_CAP 12,882 ,063
SOC_EDU <--- POP_PEA 11,085 ,049
SOC_EDU <--- AMB_ENG 16,158 -,059
SOC_EDU <--- AMB_BIO 22,677 -,067
SOC_EDU <--- MIL_EFE 23,056 -,072
SOC_EDU <--- MIL_GAS 17,552 -,063
SOC_EDU <--- TER_AREA 14,026 -,053
CT_INO <--- ECO_RN 12,696 -,064
POP_PEA <--- TER_INT 13,828 ,072
ECO_ENE <--- ECO_RN 14,760 ,069
ECO_INF <--- ECO_RN 15,349 -,063
ECO_INF <--- AMB_ENG 19,973 -,072
ECO_INF <--- POP_TOT 21,754 -,078
ECO_INF <--- POP_URB 18,774 -,079
ECO_INF <--- TER_AREA 22,588 -,074
ECO_IND <--- CT_ESP 17,682 ,074
ECO_IND <--- MIL_MAT 11,742 ,064
ECO_IND <--- MIL_DEF 21,717 ,083
POL_INT <--- VON_AME 15,450 ,090
POL_INT <--- CT_ESP 26,611 ,112
POL_INT <--- ECO_RN 13,375 ,081
POL_INT <--- AMB_ENG 20,854 ,101
POL_GOV <--- MIL_NUC 17,391 -,060
CUL_HIS <--- AMB_ENG 14,785 ,095
CUL_HIS <--- AMB_BIO 12,184 ,083
CT_ESP <--- POL_INT 17,897 ,109
CT_ESP <--- TER_CAP 12,080 ,088
CT_ESP <--- TER_AREA 15,853 ,092
ECO_RN <--- MIL_EFE 14,175 ,089
MIL_MAT <--- Ambiental 12,254 -,099
MIL_MAT <--- AMB_ENG 12,351 -,062
CUL_INT <--- POP_URB 21,235 ,138
AMB_SIS <--- ECO_RN 14,022 -,077
AMB_ENG <--- ECO_INF 11,761 -,088
AMB_ENG <--- POL_INT 19,292 ,112
AMB_ENG <--- MIL_EFE 11,560 ,083
AMB_BIO <--- ECO_RN 11,557 ,080
MIL_DEF <--- CT_INO 14,958 ,075
MIL_DEF <--- ECO_INF 15,363 ,080
MIL_DEF <--- ECO_IND 19,293 ,091
MIL_DEF <--- POP_TOT 14,375 -,075
MIL_DEF <--- POP_URB 15,949 -,087
176
MIL_EFE <--- ECO_RN 29,590 ,119
MIL_EFE <--- MIL_NUC 11,468 -,059
MIL_EFE <--- AMB_ENG 13,900 ,081
MIL_EFE <--- POP_TOT 27,743 ,119
MIL_EFE <--- TER_AREA 32,115 ,119
VON_ENG <--- AMB_ENG 13,638 ,081
VON_ORG <--- MIL_GAS 18,293 ,099
POP_URB <--- CUL_INT 16,366 ,081
TER_CAP <--- AMB_BIO 13,106 ,073
TER_CAP <--- TER_AREA 11,207 ,068
1.3.9 Model Fit Summary
CMIN
Model NPAR CMIN DF P CMIN/DF
Default model 108 2,219,030 558 ,000 3,977
Saturated model 666 ,000 0
Independence model 36 24,910,383 630 ,000 39,540
RMR, GFI
Model RMR GFI AGFI PGFI
Default model ,040 ,892 ,871 ,747
Saturated model ,000 1,000
Independence model ,384 ,136 ,087 ,129
Baseline Comparisons
Model NFI RFI IFI TLI
CFI Delta1 rho1 Delta2 rho2
Default model ,911 ,899 ,932 ,923 ,932
Saturated model 1,000 1,000 1,000
Independence model ,000 ,000 ,000 ,000 ,000
Parsimony-Adjusted Measures
Model PRATIO PNFI PCFI
Default model ,886 ,807 ,825
Saturated model ,000 ,000 ,000
Independence model 1,000 ,000 ,000
NCP
Model NCP LO 90 HI 90
Default model 1,661,030 1,519,842 1,809,728
Saturated model ,000 ,000 ,000
Independence model 24,280,383 23,767,632 24,799,465
FMIN
Model FMIN F0 LO 90 HI 90
Default model 1,964 1,470 1,345 1,602
Saturated model ,000 ,000 ,000 ,000
Independence model 22,045 21,487 21,033 21,946
RMSEA
Model RMSEA LO 90 HI 90 PCLOSE
Default model ,051 ,049 ,054 ,163
Independence model ,185 ,183 ,187 ,000
AIC
Model AIC BCC BIC CAIC
177
Default model 2,435,030 2,442,342 2,978,363 3,086,363
Saturated model 1,332,000 1,377,091 4,682,551 5,348,551
Independence model 24,982,383 24,984,820 25,163,494 25,199,494
ECVI
Model ECVI LO 90 HI 90 MECVI
Default model 2,155 2,030 2,286 2,161
Saturated model 1,179 1,179 1,179 1,219
Independence model 22,108 21,655 22,568 22,110
HOELTER
Model HOELTER HOELTER
0.05 0.01
Default model 313 326
Independence model 32 33
178
179
6 CONCLUSÃO
O estudo do poder torna-se essencial a todos que buscam a compreensão
das complexas dinâmicas sociais do presente século, sejam elas nacionais ou
internacionais; estatais ou não. Trata-se da “partícula catalizadora” das relações
entre Estados, grupos e indivíduos, cuja conceituação e estrutura têm sido objeto de
análise em amplo espectro disciplinar.
Particularmente, no caso das Ciências Militares e Estudos Estratégicos, a
busca pelo poder (e sua manutenção) permeia os discursos de maneira
generalizada, ainda que, por vezes, nas entrelinhas. O fenômeno das Guerras e
Conflitos seguem despertando o interesse de analistas, que os identificam como
campo fértil para inúmeros estudos científicos, onde o poder é parte intrínseca à
totalidade dos temas: “fazer valer os interesses de Estados, grupos ou indivíduos (ou
frustar o de outros)”, pela força ou consenso, constitui-se no cerne das estratégias,
técnicas e ações. A despeito da multiplicidade conceitual, bem como sua variação
no âmbito espaço-temporal, o poder é a “força-motriz” das interações,
impulsionando-as e moldando-as.
Trata-se de fenômeno complexo e adaptativo, que evolui através dos tempos,
incorporando características específicas de determinada época, local ou cultura.
Além de conceituá-lo, compreender sua composição e sua estrutura é fundamental
para analisá-lo sob a ótica das Ciências Militares, uma vez que impacta diretamente
as políticas e estratégias relacionadas aos temas de Segurança & Defesa.
No período pós Guerra Fria, intensificou-se o debate da evolução da natureza
da Guerra, em que se nota a mudança de um paradigma linear de conflito para um
fenômeno complexo e multiespectral. Os embates duais, entre Estados beligerantes,
deram lugar a novos atores e novas ameaças em um ambiente difuso e
diversificado. Ao lado de componentes tradicionais, meramente estatais, despontam
questões étnicas, culturais e religiosas; atores não governamentais variados e novas
tecnologias, que aumentam o grau de incerteza e demandam olhar amplo sobre o
tema.
Em realidade, as mudanças observadas na “Arte da Guerra” são reflexos das
transformações da conformação do poder ao longo de cenários e conjunturas
diversas. Se, em determinado momento, fatores como a capacidade econômica e
militar eram suficientes para a correlação de forças entre Estados, hoje, novas
180
variáveis passam a interagir, alterando a resultante final. Dessa forma, um melhor
entendimento conceitual desse constructo, bem como a análise de seus
componentes e seu inter-relacionamento, indubitavelmente, facilitará a melhor
compreensão dos fenômenos da Paz e da Guerra no século XXI.
É nesse sentido que este trabalho investigativo visou a aprofundar-se nos
estudos do poder, tendo-se em conta seu viés complexo e relacional. Para alcançar
o objetivo geral de pesquisa de obter um modelo teórico que contivesse os fatores e
subfatores componentes do poder do Estado, representantes das peculiaridades da
conjuntura internacional do presente, sob a ótica da defesa sul-americana, o estudo
foi dividido em três partes: inicialmente, intentou-se identificar a visão filosófico-
conceitual mais adequada; após, levantou-se aqueles fatores mais relevantes para
comporem um modelo teórico atual; e, ao final, ajustou-se este modelo segundo
parâmetros estatísticos coletados no entorno regional.
No primeiro artigo, “Poder: analisando o conceito à luz das Ciências Militares”,
entendendo a importância da clarificação do conceito de poder à Ciência Política e
às Ciências Militares, o foco foi estudar as bases filosóficas do constructo, discutindo
seu conceito: “O que é?”, “Quem o detém?” e “Como é exercido?”. Para
tanto, discutiram-se as visões de Max Weber, Hanna Arendt e Michel Foucault,
procurando identificar as peculiaridades de cada teoria, suas aproximações e
afastamentos.
Observou-se que, para Arendt, a capacidade de atração e o consenso
despontam como a origem fundamental do poder, superando a coação e a força.
Segundo a autora, somente o concerto entre as partes, no espaço público, é capaz
de gerar a autoridade e a manter. Por outro lado, identificou-se que, para Weber, a
gênese do poder está no conflito e na coação, e sua manifestação se dará em meio
às disputas naturais, inerentes aos sistemas. O que importa é o cálculo estratégico,
com o objetivo de incrementar capacidades estruturais necessárias à imposição da
vontade. Concluiu-se o estudo conceitual com a visão de Foucault, onde o
constructo atinge elevado grau de abrangência, assumindo caráter omnipresente e
dinâmico. O autor francês destaca seu viés relacional, reforçando que o poder não
existe per si, mas é resultante da complexa interação de forças de determinada
conjuntura. Foucault acaba por sintetizar as visões de Arendt e Weber, explicitando
que o poder alcança o público e o privado, emergindo no conflito, mas também
presente nas expressões coletivas do consenso.
181
No segundo artigo, procurou-se avançar além da mera conceituação,
aprofundando-se em sua composição, seus fatores e subfatores e sua forma de
interação. Por meio de um estudo de caso, analisou-se um conjunto de 52 modelos
teóricos do poder/fórmulas, de maneira a identificar as dinâmicas de sua
composição, levantando seus componentes mais relevantes, perenes e aqueles que
se enquadram em determinado cenário espaço-temporal. Notou-se transformação
gradual das concepções do poder, que, a partir da Guerra Fria, evoluíram de uma
composição estritamente “hard power” para a incorporação de fatores afetos ao
“smart power”, alcançando, no presente, uma composição híbrida, típica do “smart
power”, caracterizada pela não-linearidade da relação entre os componentes. Ao
final, obteve-se um modelo que continha tanto os fatores mais tradicionais – o
Econômico, o Militar, o Político, o Territorial, o Científico-tecnológico e o
Populacional - , como outros, indicadores das especificidades do Sistema
Internacional contemporâneo – o Social, o Cultural e o Ambiental.
O último artigo da pesquisa, adotando uma metodologia quantitativa,
modelagem de equações estruturais, objetivou a validação do modelo teórico de dez
fatores, obtidos na fase anterior, ajustando-o de maneira a melhor representar o
constructo poder, segundo a percepção da defesa sul-americana. Para tanto, por
meio de pesquisa eletrônica tipo survey, foram consultados civis e militares da quase
totalidade do subcontinente (excetuando-se Suriname, Guiana, Guiana Francesa),
perfazendo uma amostra de 1.131 respondentes. Ao final do procedimento
estatístico, confirmou-se um modelo de 6 fatores, a saber: Sociopolítico; Econômico,
Científico-tecnológico; Populacional-territorial; Ideológico-cultural; Segurança
Nacional e Ambiental.
Por um lado, a análise atesta, empiricamente, a complexidade do objeto
central da pesquisa, especialmente sob a ótica foucaultiana, na qual o poder advém
de uma intrincada rede de interações em diversos níveis. A fusão de fatores, antes
considerados, em teoria, isoladamente, reforça a não-linearidade e adaptabilidade
do constructo. Na prática, constatou-se que, efetivamente, o poder se exercerá de
maneira relacional e resultará de uma infinita cadeia de correlações entre variáveis
múltiplas. Também, por meio de análise multigrupos, verificou-se, de maneira geral,
certa uniformidade entre o pensamento de civis e militares, apesar de algumas
divergências, fruto de diferenças de princípios e valores organizacionais, reforçadas
por peculiaridades da evolução política sul-americana.
182
Encerrando, reitera-se a extrema relevância do tema para a plena
compreensão dos sistemas estatais e suas complexidades. O momento atual,
caracterizado pela volatilidade conjuntural, quebra de paradigmas no campo das
Ciências Militares e adaptabilidades, demanda visão holística sobre a conceituação
de poder e sua análise. O modelo teórico do poder do Estado resultado desta
pesquisa, seus fatores e subfatores, explicita-se, portanto, como importante
ferramenta de análise de cenários, permitindo análise da geopolítica do presente e
suas projeções para o futuro, facilitando a consecução de políticas e estratégias
eficazes e coerentes com a percepção regional. Entretanto, faz-se mister observar
que a análise não esgota o tema, seja pela possibilidade de maior aprofundamento,
seja pela característica complexa do objeto de análise, em constante evolução e
adaptabilidade.
183
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, L. Demystifying the Arab spring: parsing the differences between Tunisia, Egypt, and Libya. Foreign Affairs, p. 2-7, 2011. ANDREWS, D.; NONNECKE, B.; PREECE, J. Electronic survey methodology: A case study in reaching hard-to-involve Internet users. International Journal of Human-computer Interaction, v. 16, n. 2, p. 185-210, 2003. ARANHA, F.; ZAMBALDI, F. Análise fatorial em administração. São Paulo: Cengage Learning, 2008. ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense-universitária, 1981. __________. Eichmann in Jerusalem. New York and London: Penguin, 1963. __________. O que é autoridade? In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002. p. 127-187 __________. O que é política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. __________. On violence. New York: Houghton Mifflin Harcourt, 1970. __________. Origens do totalitarismo. Traduzido do alemão por de R. Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. __________. Poder e violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. __________. Kohn, J. La promesa de la politica. Barcelona: Paidos Iberica Ediciones, 2008. ARON, R. Estudos politicos. Brasília: Editora UnB, 1985. ART, R. J. American foreign policy and the fungibility of force. Security Studies, v. 5, n. 4, p. 7-42, 1996. BABBIE, E. R. Survey research methods. Belmonte, Calif.: Wadsworth publishing 1990. BACHELARD, G. Epistemología. Textos escogidos por Dominique Lecourt. Barcelona: Anagrama, 1973. ___________. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Traduzido do francês por Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. BACHRACH, P.; BARATZ, M. S. Decisions and nondecisions: An analytical framework. American Political Science Review, v. 57, n. 3, p. 632-642, Sept. 1963.
184
BACHRACH, P.; BARATZ, M. S. Two faces of power. American Political Science review, v. 56, n. 4, p. 947-952, 1962. BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2010. BARRATT, M.; CHOI, T. Y.; LI, M. Qualitative case studies in operations management: Trends, research outcomes, and future research implications. Journal of Operations Management, v. 29, pp. 329–342, 2011. BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Orgs.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 189-217. BECKER, B. K. Geopolítica da amazônia. Estudos Avançados, v. 19, n. 53, p. 71-86, 2005. BEZERRA, F. A. Análise Fatorial. In: CORRAR, L. J.; PAULO, E.; DIAS FILHO, J. M. (Coords.). Análise multivariada: para cursos de administração, ciências contábeis e economia. São Paulo: Atlas, 2007. p. 541. BLANCHARD, J. V. Eminence: Cardinal Richelieu and the rise of France. London: Walker Books, 2011. BOBBIO, N. Dicionário de Política. Tradução do italiano por C. C. Varriale et al. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986. BOUSQUET, A. Chaoplexic warfare or the future of military organization. International Affairs, v. 4, n. 5, p. 915-929, 3 oct. 2008. BRASIL. Política de Defesa Nacional. Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/ arquivos/2012/mes07/end.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2013. _______. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2012b. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/ arquivos/2012/mes07/end.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2013. _______. Livro Branco de Defesa Nacional. Brasília, DF, 2012c. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/ projetosweb/livrobranco/lbdndigital/#/0>. Acesso em: 21 nov. 2013. BROWN, T. A. Confirmatory factor analysis for applied research. New York: The Guilford Press, 2006. BUZAN, B.; WÆVER, O.; DE WILDE, J. Security: a new framework for analysis. Boulder, Colorado: Lynne Rienner Publishers, 1998. BYRNE, B. M. Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming. 2nd. ed. New York: Routledge, 2010.
185
BYRNE, D. S. Complexity theory and the social sciences: an introduction. London: Psychology Press, 1998. CALVINO, I. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. CLINE, R. S. World power assessment: a calculus of strategic drift. Boulder, Colorado: Westview Press, 1975. COOPER, H. The integrative research review: A social science approach. Beverly Hills: Sage, 1984. COOPER, R. Hard power, soft power and the goals of diplomacy. In: HELD, D; ARCHIBUGI, M. K. (eds.). American Power in the 21st Century. Cambridge: Polity, 2004. p. 167-180. COUPER, M. P. Web‐based surveys: A review of issues and approaches. Public Opinion Quarterly, v. 64, n. 4, p. 464–494, 2000. CRESWELL, J. W. Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods approaches. Los Angeles: Sage publications, 2013. DAHL, R. A. The concept of power. Behavioral Science, v. 2, n. 3, p. 201-215, July 1957. DENZIN, N.; LINCOLN, Y. Introduction: The discipline and practice of qualitative Research”. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (Orgs.). Handbook of Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994. p.1-29 DEVELLIS, R. F. Scale development: Theory and applications. 3rd ed. v. 26. Thousand Oaks, CA: Sage Publications Inc, 2011. DILLMAN, D. A. Mail and internet surveys: The Tailored design method. New York: John Wiley & Sons, 2000. EDWARDS, A. L. Techniques of attitude scale construction. Londres: Ardent Media, 1983. EINSTEIN, A.; MINKOWSKI, H. O Princípio da relatividade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983. EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of Management Review, Mississipi, v. 14, n. 4, p.532-550, Oct./Dec.1989. ERICKSON, K. Everything in its path. New York: Simon and Schuster, 1976. FEAVER, P. D. Civil-military relations. Annual Review of Political Science, v. 2, n. 1, p. 211-241, 1999. FERREIRA, S. S.; MIGON, E. X. F. A Estratégia de uma guerra esquecida: fundamentos estratégicos aplicados à questão do Saara Ocidental. Política Hoje, v.
186
24, n. 2, p. 193-217, 2015. FINNEMORE, M. National interests in international society. New York: Cornell University Press, 1996. FONTOURA, L. O Poder na relação externa do Estado. A Equação de Cline. Negócios estrangeiros. Lisboa: Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, n. 11.2, 2007. p. 91-130. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 27. ed. Traduzido do francês e organizado por Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2013. ____________. Power/knowledge: Selected Interviews and Other Writings, 1972-1977. New York: Pantheon Books, 1980. ____________. Society must de defended: Lectures at the Collège de France, 1975-1976. New York: Picador, 2003. ____________. The birth of biopolitics: Lectures at the Collège de France, 1978-1979. London and New York: Palgrave Macmillan, 2010. ____________. The history of sexuality. London: Penguin Books, 1998. ____________. The subject and power. Critical Inquiry, v. 8, n. 4, p. 777-795, summer 1982. ____________. Vigiar e punir: História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1977. GIBBS, G. R. Analyzing qualitative data. In: FLICK, U. (Ed.). The sage qualitative research kit. London: Sage, 2007. GOODE, W. J.; HATT, P. K. Métodos em pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Nacional, 1972. GRAY, C. S. Hard power and soft power: The utility of military force as an instrument of policy in the 21st century. Carlisle: Strategic Studies Institute, 2011. ___________.RMAs and the dimensions of strategy. Jointy Force Queterly, p. 50-54, Autumn / Winter 1997-1998. __________. War, peace and international relations: an introduction to strategic history. Abingdon-on-Thames: Routledge, 2013. GROTIUS, H. O Direito da guerra e da paz. Florianópolis: Editora Unijuí- Fondazione Cassamarca, 2004. GUBA, E. G. (ed.).The paradigm dialog. Newbury Park, London; New Delhi: Sage Publications, 1990.
187
GUBA, E. G.; LINCOLN, Y. Competing paradigms in qualitative research. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (Orgs.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994. p.105-117. HAFEZNIA, M. R. et al. Presentation a new model to measure national power of the countries. Journal of Applied Sciences, v. 8, n. 2, p. 230-240, 2008. HAIR, J. F. et al. Análise multivariada de dados. Traduzido por Adonai Schlup Sant’Ana e Anselmo Chaves Neto. Porto Alegre: Bookman, 2009. HANSEN, L.; BUZAN, B. A evolução dos estudos de segurança internacional. São Paulo: Editora UNESP, 2012. HATCH, J. A. Doing qualitative research in educational settings. Albany: State University of New York Press, 2002. HAYLES, N. K. Chaos and order: Complex dynamics in literature and science. Chicago: University of Chicago Press, 1991. HEIDEGGER, M. A origem da obra de arte. Traduzido do alemão por M. da C. Costa, revisado por A. Morão. Lisboa: Edições 70, 2007. HERZ, J. H. Idealist internationalism and the security dilemma. World politics, v. 2, n. 2, p. 157-180, 1950. HOBBES, T. Leviatã. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974. HOLLAND, J. H. Adaptation in natural and artificial systems: an introductory analysis with applications to biology, control, and artificial intelligence. Cambridge: MIT press, 1992. HÖHN, K. Four early attempts to develop power formulas (1741−1955). Stosunki Międzynarodowe – International Relations, v. 44, p.3-4, 2011. ___________. Geopolitics and the measurement of national power. PhD Dissertation - University of Hamburg, 2014. HUNTINGTON, S. P. O Soldado e o Estado. Teoria e política das relações entre civis e militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2016. HUTH, P. K. Deterrence and international conflict: Empirical findings and theoretical debates. Annual Review of Political Science, v. 2, n. 1, p. 25-48, 1999. HWANG, K. New thinking in measuring national power. In: WORLD INTERNATIONAL STUDIES COMMITTEE (WISC). 2nd GLOBAL INTERNATIONAL STUDIES CONFERENCE, Ljubljana, Slovenia, 2008. p. 23-26. JACOBI, P. Meio ambiente e sustentabilidade. Revista de Desenvolvimento e Meio Ambiente, 1999.
188
JERVIS, R. Cooperation under the security dilemma. World Politics, v. 30, n. 02, p. 167-214, 1978. JOFFÉ, G. A Primavera árabe no norte de África: origens e perspectivas de futuro. Relações Internacionais (R: I), n. 30, p. 85-116, 2011. KALDOR, M. New and old wars: Organised violence in a global era. New Jersey: John Wiley & Sons, 2013. . KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 1995. ______. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. KEEGAN, J. The face of battle: A Study of Agincourt, Waterloo, and the Somme. New York: Viking, 1976. KEOHANE, R. O.; NYE Jr., J. S.; HOFFMANN, S. After the cold war: International Institutions and state strategies in Europe, 1989-1991. Cambridge: Harvard University Press, 1993. KIM, H. M. Comparing measures of national power. International Political Science Review, v. 31, n. 4, p. 405-427, 2010. KISSINGER, H. Diplomacy. New York: Touchstone, 1994. KLAUS, K. Content analysis: An introduction to its methodology. Thousand Oaks: Sage, 1980. KLINE, R. B. Principles and pratice of structural equation modeling. 3rd ed. New York: The Guilford Press, 2011. KREPINEVICH, A. F. Cavalry to computer: The pattern of military revolutions. The National Interest, n. 37, p. 30-42, 1994. KUHN, T. S. The structure of scientific revolutions. Chicago, London: University of Chicago press, 1970. LAFER, C. “Prefácio Sobre Violência”. In: ARENDT, H. Poder e Violência. Rio de Janeiro: Relume Dará, 2002. LECOMPTE, M. D. Analyzing qualitative data. Theory into practice, v. 39, n. 3, p. 146-154, 2000. LEEDY, P. D.; ORMROD, J. E. Practical research. Planning and design, v. 8, 2005. LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos: ensaio sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros do governo civil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. LOVELL, J. P.; ALBRIGHT, D. E. To sheathe the sword: civil-military relations in the quest for democracy. Westport, Connecticut: Greenwood Press, 1997.
189
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARÔCO, J. Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software e aplicações. 2nd ed. Pêro Pinheiro: ReportNumber, 2014. MARSHALL, C.; ROSSMAN, G. B. Designing qualitative research. Thousand Oaks: Sage publications, 2014. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Londres: Harmondsworth, 1961. MERRIAM, S. B. Case study research: A qualitative approach. San Francisco: Jossey, 1988. MERTENS, D. Research methods in education and psychology: Integrating diversity with quantitative & qualitative Approaches. London: Sage Publications, 1998. MONTESQUIEU, C. L. S. Barão de. O espírito das leis. São Paulo: Saraiva, 1996. MORAVCSIK, A. Taking preferences seriously: A liberal theory of international politics. International Organization, v. 51, n. 04, p. 513-553, 1997. MORGENTHAU, H. J. Politics among nations: The struggle for power and peace. 3th ed. Nova York: Kopf, 1985. _________________. Scientific man versus power politics. Chicago: Phoenix Books, 1965. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991. _________; LE MOIGNE, J. L.; DUARTE, J. C. S. Inteligência da complexidade: Epistemología e pragmática. São Paulo: Petrópolis, 2000. MOURÃO JÚNIOR, C. A. Questões em bioestatística: o tamanho da amostra. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais – Animais e Humanos / Interdisciplinary Journal of Experimental Studies, v. 1, n. 1, p. 26-28, 2009. MURRAY, W. Thinking about revolutions in military affairs. Jointy Force Queterly, v. 16, p. 69-76, 1997. ___________.; KNOX, M. Thinking about revolutions in warfare. The Dynamics of Military Revolution, v. 1, n. 5, p. 01-2050, 2001. NICOLIS, G.; PRIGOGINE, I. Self-organization in nonequilibrium systems. From dissipative structures to order through fluctuations. New York: Wiley, 1977. NYE Jr., J. S. Get smart: Combining hard and soft power. Foreign Affairs, v. 88, n. 4, p. 160-163, 2009a. __________. Hard power, soft power. The Boston Globe, v. 6, p. 55-57, 1999.
190
__________. Smart power. New Perspectives Quarterly, v. 26, n. 2, p. 7-9, 2009b. __________. The future of power. New York: Public Affairs, 2011. __________. Understanding international conflicts: An introduction to theory and history. New York: HarperCollins, 1993. PESTANA, M. H.; GAGEIRO, J. N. Análise de dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. Lisboa: Sílabo, 2003. PRIGOGINE, I.; STENGERS, I. The end of certainty. New York: Simon and Schuster, 1997. QUEZADA, M. I. Notas prácticas para la investigación en la comunicación. Santiago: Universidad Diego Portales, 1997. SCHMITT, C. L’Idée de raison d’état selon Friedrich Meinecke. In: SCHMITT, C. Parlamentarisme et Democratie. Paris: Seuil, 1988. ___________.The nineteenth century system: Balance of power or political equilibrium? Review of International Studies, v. 15, n. 2, Special Issue on the Balance of Power, 1989. SMITH, Adam. A Riqueza das nações. São Paulo: Hemus, 2008. STAKE, R. E. The art of case study research. Thousand Oaks, CA: Sage, 1995. STANTON, J. M. An empirical assessment of data collection using the Internet. Personnel Psychology, v. 51, n. 3, p. 709-725, 1998. SUŁEK, M. Synthetic approach to measurement of national power. Warzawa: Institute of International Relations, University of Warzawa, 2010. TALLEYRAND, C. M. Letter to metternich, 19th December 1814. In: WRIGHT, M. (ed.). Theory and Practice of the Balance of Power 1486-1914. London: Dent, 1975. TEIXEIRA, A. G.; MIGON, E. X. F. G. Revisitando o conceito de poder à luz da teoria da complexidade. Revista de Ciências Militares, v. 5, n. 2, 2017.
______________________________. Estimação do poder dos estados: estudo qualitativo dos fatores componentes. Carta Internacional, 2019 (artigo a ser submetido). TOFFLER, A. et al. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 1980. __________. Guerra e anti-guerra. Rio de Janeiro: Record,1994. TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Londres: Penguin, 1972. TZU, S. A Arte da guerra. Coleção Leitura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
191
VIGOTSKI, L. S. A Construcao do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. VISENTINI, P. F. A primavera árabe: entre a democracia e a geopolítica do petróleo. Porto Alegre: Leitura XXI, 2012. WALDROP, M. M. Complexity: The emerging science at the edge of order and chaos. New York: Simon and Schuster, 1992. WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1983. _________. Economy and society: An outline of interpretive sociology. Berkeley: University of California Press, 1978. _________. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. WENDT, A. Social theory of international politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. _________. The agent-structure problem in international relations theory. International Organization, v. 41, n.3, p. 335-370, 1987. WIGHT, M. A política do poder. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002. WILSON III, E. J. Hard power, soft power, smart power.The annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 616, n. 1, p. 110-124, 2008. WOODSIDE, A. G. Case study research: Theory, methods and practice. Bingley, Reino Unido: Emerald Group Publishing, 2010. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Ana Thorell; revisão técnica: Cláudio Damacena. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. ZAKARIA, F. Populism on the march: Why the west is in trouble. Foreign Affairs, v. 95, p. 9, 2016. __________. The future of american power: how America can survive the rise of the rest. Foreign Affairs, p. 18-43, 2008. ___________. The rise of the rest. In: CLARK, S.; HOQUE, S. Debating a post-American world. Abingdon-on-Thames: Routledge, 2013. p. 42-51.