escrescrever com... metodologia de escrita escolar: depois de ler... reescrever os textos...

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Encontro Nacional de Professores de Português e Francês “Ligações dialógicas para a sala de aula do futuro.” Escrever com... Metodologia de escrita escolar: depois de ler... reescrever os textos literários. Mestre Idalina Mª Gonçalves Pereira Agrupamento de Escolas de Maximinos (Braga)

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Page 2: EscrEscrever com... Metodologia de escrita escolar:  depois de ler... reescrever os textos literáriosever com

Escrever na escola?! Problema “sociológico”:

Escrever é uma tarefa, atualmente, desprovida de rigor, banalizada na comunicação social, na redes sociais, nas tarefas quotidianas (textos transacionais)…

Problema “escolar”: Escrever é uma competência transversal, inerente a várias disciplinas, nem sempre coordenada devidamente, em termos didáticos, pelos respetivos professores, valorizando-se o conteúdo face à forma.

Page 3: EscrEscrever com... Metodologia de escrita escolar:  depois de ler... reescrever os textos literáriosever com

Escrever…na disciplina de Português?!

Na perspetiva dos alunos… é uma tarefa…

“solitária” = sem ajuda de colegas, computador….

“constante” = diferentes tipos de texto/objetivos

“ “diversificada” = várias tipologias textuais

“progressiva” = de aperfeiçoamento

“cansativa” = mental e manual

“sem pressas” = exige planificação e revisão

Page 4: EscrEscrever com... Metodologia de escrita escolar:  depois de ler... reescrever os textos literáriosever com

«A arte mais importante do professor é a de despertar a alegria pela criação e pelo conhecimento.» (Albert Einstein)

“Todos que iniciámos esta profissão de professores de língua e literatura, porque disfrutávamos da leitura e sonhávamos contagiar os nossos alunos com a mania de viver em mil lugares diferentes dando voltas às folhas de um livro… o que nos aconteceu?

Em que altura caímos vencidos pela cronologia dos manuais e os planos oficiais (=planificações/metas) e começámos a deambular pelas aulas, frustrados ou ressentidos, tratando de agilizar o programa herdado e escutando os nossos alunos a “vomitar” ideias e datas (…)?

Não terá chegado a hora de animarmos o “famoso” programa, dando enfoque ao leitor-aluno?”

(Pasut, 1986, tradução).

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E na perspetiva dos docentes?

Que problemas? … dificuldades na aplicação de metodologias de ensino da

escrita (em Oficinas de Escrita), partindo de textos não literários (nos vários géneros) e sobretudo literários. …. as metodologias de leitura/interpretação (de textos literários, sobretudo poéticos) nem sempre estão adequadas ao perfil do aluno atual (desconcentrado e com pouca capacidade em reter informação), não funcionado como “suporte” para a escrita.

…. a aplicação dos conhecimentos dos conteúdos gramaticais na escrita do texto raramente é eficiente e explícita para os alunos (que reconhecem a gramática como uma área “estéril”, de pouco valor avaliativo nos testes/exames).

Page 6: EscrEscrever com... Metodologia de escrita escolar:  depois de ler... reescrever os textos literáriosever com

Desafio na lógica dos atuais programas: Articular com as várias competências

(oralidade, leitura e conhecimento da língua)

Leitura

Conhecimento da Língua

Oralidade

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O que a escrita exige ao aluno? Para o principiante leitor, no 1º ciclo, ou para o leitor no final do 12º ano, ler um texto e escrever textos é um intricado processo de desmontagem de códigos:

- fónicos e fonológicos;

- linguísticos (vocabulário, sintaxe, morfologia…);

- semânticos;

- comunicacionais (contextos de comunicação);

- literários (estéticos, retóricos, estilísticos, de géneros);

Mas, ainda…

- históricos e culturais,

- religiosos e artísticos,

- psicológicos e sociológicos,

- biografistas

O trabalho progressivo destes vários códigos, em espiral, baseado num universo de referências que motiva e facilita (ou não!) a leitura e a escrita, torna-se uma tarefa complexa.

Page 8: EscrEscrever com... Metodologia de escrita escolar:  depois de ler... reescrever os textos literáriosever com

Do 5ºano ao 12ºano…uma diversidade de tipologias textuais…

EB-2º ciclo EB-3ºciclo Ens. Secundário

Textos narrativos/ficcionais:

- descrições de espaços;

- descrições de pessoas, animais… = retratos

- autorretratos

- narrações (aventuras, episódios, continuação de textos narrativos

- diálogos

- cartas informais

- diários

- biografias/memórias (episódios de infância)

- poemas

- transformação de texto dramático em texto narrativo e vice-versa

Textos narrativos ficcionais

(os mesmos, com grau de complexidade maior)

(…)

Textos narrativos ficcionais

(Sobretudo no 10ºano;

raramente são pretendidos, mas dada mais ênfase a:

- narração,

- retrato,

- diário,

(…)

Textos informativos/expositivos:

- notícias

- entrevistas (guiões)

- avisos/cartaz

- entrevistas (guião)

- resumo

- anúncio/slogan/cartaz (publicidade)

- definição

- glossário

Textos informativos/expositivos:

(os mesmos, com grau de complexidade maior)

+

- ata

- contrato

- dedicatória

- relatório/investigação

Textos informativos/expositivos:

Sobretudo no 10ºano:

- contrato;

- carta de reclamação;

- relatório,

- discurso;

- síntese

- artigo científico/técnico

Textos instrucionais:

- receita

- convite/recado

Textos instrucionais:

(os mesmos, com grau de complexidade maior)

Textos instrucionais:

- requerimento;

- regulamento;

Texto poético

Texto poético Texto poético (sobretudo 10º)

Textos de apreciação:

- textos de opinião/comentários

Textos de apreciação crítica:

- textos de opinião/comentários

Texto de apreciação:

- texto de opinião/argumentação (artigo);

- discurso;

- crónica,

Textos

expositivos/argumentativos

Textos expositivos/argumentativos

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Depois da leitura…escrever (em Oficinas de Escrita)?

Progressivamente, vai-se exigindo que o aluno consiga escrever, num processo de experimentação pessoal, em Oficinas de Escrita, permitindo completar a leitura (pessoal, reflexiva ou crítica) de textos literários ou não literários. Espera-se que este aplique temas, intencionalidades, estruturas linguísticas… nos seus próprios textos.

As diferentes etapas da construção do texto (planificação, escrita ou reformulação e reescrita) tornam-se etapas que, progressivamente deverão ser automatizadas. Serão?

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Diferentes etapas da escrita

Planificar = pensar + escolher + organizar + adaptar (o exigido ao inventado)

Escrever = recuperar (o planificado) + completar + aplicar (regras linguísticas/semânticas)

Reescrever = detetar (erro, ausências) + corrigir + aperfeiçoar + lutar contra o tempo

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Planificar…dificuldades… ... os alunos ainda não concebem a aplicabilidade da estrutura-base, o “alicerce” do texto (como uma “lista de compras” que não levará a uma busca “tonta” e caótica) ou já a concebem como…o próprio texto? … não organizam ideias estruturantes porque têm uma mente que privilegia o pormenor fútil, reflexo, talvez, de um excesso de informação ou de uma sociedade …superficial? … não adaptam, ao que é pedido/”exigido” (no exercício, na Oficina, no teste, no exame), ideias lógicas com alguma criatividade? … não antecipam sentidos (ações, personagens, espaços, argumentos…) porque não os concretizam mentalmente? … não adaptam, não “arrastam”, não atualizam saberes (de outras áreas ou disciplinas, de outros domínios ou situações, de outras fontes de saber) porque os veem como estanques, desnecessários?

… “perdem-se” na imensidão de tipologias textuais e não as distinguem? … têm a sensação que estão a repetir as tipologias textuais, do 2º ao 3ºciclos (ainda que o 3º seja a sedimentação e o aperfeiçoamento dos textos escritos no 2º)?

… não recuperam/”copiam” o que leram nos textos (literários ou não literários): estruturas linguísticas (expressões, vocábulos…); variedades semânticas e estilísticas (sentidos irónicos e metafóricos…); universos referenciais (personagens, espaços, ações, perspetiva do narrador…); argumentos e opinões…

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Escrever com… = “aproveitar”, de forma sistemática e

pragmática, reescrevendo o que se leu nos textos de leitura escolar/obrigatória

Metodologia que pressupõe o conceito didático de “imitação” ou reescrita de um texto-modelo, de conceção

clássica.

Pressupostos básicos

=

aprendemos por repetição e imitação

a criação artística faz-se por adaptação ou rejeição

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Depois de ler…escrever poesia…

Antes de escrever, ler variados poemas, com formas, linguagens, intencionalidades diferentes…

Antes de escrever, os alunos deverão perceber a intencionalidade do poema (…mais descritivo?…mais narrativo?

…explicitar sentimentos?…associar objetos, animais, espaços a sentimentos?…definir um sentimento?)

Antes de escrever, os alunos terão de recordar vocábulos, expressões…que leram noutros poemas…

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Poema descritivo/evocação de sentimentos a partir de um modelo… “Amor é fogo que arde”;

“Magro, de carão negro…”, “Ser peta é ser mais alto”… e tantos, tantos outros

Poema “A lâmpada” de Mário Castrim

Onde estás?

- No teto

Na rua

No avião

No barco

De que é feito o teu corpo?

- De vidro

De fio

De nada

Qual a tua profissão?

- Dar a ver

Que dás ao mundo?

- A prova

A sombra.

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Planificar o poema… 1ª tarefa: Escolher um elemento… - objeto (lâmpada, mesa, janela, porta, bola, brinquedo… - animal (cão, gato, pássaro, baleia, golfinho… - elemento da natureza (árvore, flor, sol, chuva, vento, nuvem… - sentimento (amor, amizade, guerra, ódio… - estado de espírito (calma, paz, ansiedade… - desporto (bola, campo de futebol…

2ª tarefa: Atribuir/associar características (inferir vocabulário associado ao campo lexical e campo semântico. Ex: árvore: cor, ramos, sombra, idade, vida, companhia, pureza, parque/bosque/floresta, frescura…

3ª tarefa: Construir expressões (com adjetivos, advérbios, verbos, comparações…) com cada um destes elementos: - Cor… estranha, verdejante, que consola… - Sombra…escura, que esconde, confidente… - Ramos…que embalam, baloiçam, dobram… - Idade…és velha, és jovem, tens rugas… - Bosque…escondido, perdido, ao fundo da estrada… - Frescura…dos teus ramos, embalas…

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1ª tarefa: A partir do modelo proposto, começar por completar, “aproveitando ” certas

expressões…para a 1ª versão”

2ª tarefa: “estender” as expressões iniciais… para a 2ª “versão”

3ª tarefa: “alongar” cada verso, com expressões mais completas/metafóricas (3ª versão

Onde estás?

De que é feito o teu corpo?

Qual a tua profissão?

Que dás ao mundo?

Onde estás?

No bosque…

Na floresta…

No jardim...

(…)

De que é feito o teu corpo?

De raízes…

De madeira…

De água…

De terra…

De ramos…

(…)

Qual a tua profissão?

Dar…

Esconder…

Ver…

Lembrar…

(…)

Que dás ao mundo?

A sombra…

O conforto…

As lembranças…

(…)

Onde estás?

No bosque da minha infância

Na floresta encantada dos contos

No jardim da minha rua.

(…)

De que é feito o teu corpo?

De raízes que crescem

De madeira envelhecida

De água que bebes

De terra aos teus pés

De ramos longos e esguios

(…)

Qual a tua profissão?

Dar paz, sossego, ar puro

Esconder as crianças, os bichos, os namorados

Ver quem passa, quem brinca, quem adormece

Lembrar quem te plantou

(…)

Que dás ao mundo?

A sombra da tarde de verão

O conforto de um picnic em família

As lembranças de quem te olhou e amou

(…)

Modelo inicial proposto… 1ª “versão” 2ª “versão”

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Outras propostas (8º, 9º ou 10ºanos)

Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se e contente;

É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Adolescente é….

É ….

É um…

É uma...

Mas é…

Mas é…

Mas é…

Mas…

É querer …

É amar…

É ter …

Mas como …

…………….

Se…… ?

Adolescente é ser projecto de alguém

É uma mudança constante

É um estar confiante

É uma vontade de ser mais livre

Mas é ser consciente

Mas é ter melhor, pensar

Mas é compreender o outro

Mas saber ouvir, esperar

É querer tudo num só dia

É amar tudo de uma vez

É ter sonhos, vontades, ilusões

Mas como cresceremos,

Nós, adolescentes eternos,

Se nos pedem sempre para crescer?

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Magro, de olhos azuis, carão moreno,

Bem servido de pés, meão na altura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,

Mais propenso ao furor do que à ternura,

Bebendo em níveas mãos por taça escura

De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades

(Digo, de moças mil) num só momento,

E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

Saíram dele mesmo estas verdades

Num dia em que se achou mais pachorrento

….., de olhos…, pele…,

Bem … e….

De sorriso…

Olhos…

Incapaz de….

Gostando mais…

Sendo…

Quando…

Dizem ser…

Ou talvez…

E somente ….. quando…

Eis … (nome) nascido…

Que aqui deixa…

Num dia em que...

Alto, de olhos…, pele…,

Bem magro e decidido

De sorriso fácil ou desconfiado

Olhos verdes que encantam

Incapaz de magoar ou mentir

Gostando mais de falar que ouvir

Sendo feliz pelo que tem

Quando pouco pede ou exige

Dizem ser o líder,

Ou talvez o mais decidido

E somente positivo quando quer

Eis … (nome) nascido na primavera

Que aqui deixa algumas palavras

Num dia que a professora pediu!

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Sugestão: o professor pode vai construir o seu texto/poema… melhor

incentivo para o aluno

Para os valentes professores de hoje…

Professor, sobrenome, luta!

«(…)Mas quando ainda rimos,

Livres de cómodos medos,

Soltos em nós,

Nada incomoda

E nada (ainda) perdemos.

Recuperamos risos já vividos

Forças perdidas

E sempre algo prova

Que nada, enfim, se perdeu!» (Idalina Pereira)

Braga, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva

23 de julho de 2015