estratégias de comunicação e design que promovem uma moda democrática e mantem a originalidade...
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Este artigo apresenta uma parte da problemática existente no mercado de moda brasileira: a falta de originalidade. Muitas vezes, produtos de moda exclusivos são replicados em nome da democracia da moda, que, na verdade, se trata de algo diferente e será apresentada ao longo deste estudo. Para aprofundar mais no assunto, uma pesquisa de campo foi feita com leitores de blogs de moda, logo consumidores também, relacionando o uso de cópias. O resultado é uma previsão para um futuro próximo com um consumo ainda mais consciente e exigente, já que a informação de moda é cada vez mais acessível.TRANSCRIPT
Estratégias de comunicação e design que promovem uma moda
democrática e mantem a originalidade do mercado brasileiro
Nadima Chalup Ribas [email protected]
MBA Marketing – Instituto de Pós Graduação
Resumo
Este artigo apresenta uma parte da problemática existente no mercado de moda brasileira: a
falta de originalidade. Muitas vezes, produtos de moda exclusivos são replicados em nome da
democracia da moda, que, na verdade, se trata de algo diferente e será apresentada ao longo
deste estudo. Para aprofundar mais no assunto, uma pesquisa de campo foi feita com leitores
de blogs de moda, logo consumidores também, relacionando o uso de cópias. O resultado é
uma previsão para um futuro próximo com um consumo ainda mais consciente e exigente, já
que a informação de moda é cada vez mais acessível.
Palavras-chave: Moda; Luxo; Cópias; Democratização; Originalidade.
1. Introdução
Este artigo faz um breve levantamento do comportamento e consumo de moda, considerando
questões divergentes como a exclusividade e a democracia da moda. Tudo que é novo mexe
com a cabeça dos consumidores. Quando o conceito é bem trabalhado durante o lançamento,
o produto se torna objeto de desejo, geralmente exclusivo, resultando em um custo elevado.
Muitas pessoas querem, mas poucas têm acesso. É quando surge uma oportunidade de
mercado: produzir peças parecidas, tema que divide opiniões e que não valoriza a capacidade
criativa de designers de moda e comunicadores.
O objetivo deste estudo é apontar alternativas para uma moda mais democrática, sem o uso de
falsificação de produtos, que acabam empobrecendo a evolução do mercado de moda no
Brasil. Ações simples, criativas e ao mesmo tempo óbvias que envolvem ferramentas como o
marketing e o design de moda. A pesquisa é feita com base em livros que abordam a história
da moda, comportamento de consumo, marketing e notícias presentes em grandes portais de
moda. O estudo também conta com uma pesquisa qualitativa de campo feita com leitores de
blogs de moda e também consumidores.
2. Moda, comportamento e consumo
Se formos analisar a moda a partir de uma comparação, podemos usar a mesma escolhida por
Pollini (2007): o iceberg. A pequena extremidade que fica do lado de fora representa apenas a
vestimenta, ou seja, a parte visual da moda. Submerso ao mar, com proporções bem maiores
estão as influências sociais, comportamento e valores que dão forma a esse fenômeno
inconstante (TREPTOW, 2007).
A moda surgiu como um fator de diferenciação social, afirma Palomino (2003). O cenário era
o final da Idade Média, século XV. Em meio ao desenvolvimento das cidades, os burgueses
começavam a se enriquecer com o comércio e desejavam o mesmo estilo de vida dos nobres,
o que incluía as vestimentas. A maneira mais próxima era copiar os nobres, que logo tratavam
de inventar uma nova “moda”, dando início ao ciclo que conhecemos hoje.
Miranda (2008) afirma que a moda é o fenômeno que demonstra melhor a capacidade e
necessidade de mudanças da sociedade, o que é refletido no processo de consumo. Se moda
diz respeito a comportamento, o do ser humano sempre passa por uma nova transformação, é
um processo saudável. As escolhas de cada um refletem na maneira com que se vestem
diariamente. Considerando a diversidade de pessoas, a moda tem a função de ser plural,
atender a todos.
"Pode-se presumir que sempre haverá alguma necessidade de vender. Mas a meta do
marketing é tornar a venda supérflua, é conhecer e entender tão bem o consumidor que o
produto ou o serviço se adapte a ele e se venda sozinho". (PETER DRUCKERS).
A conhecida afirmação de Peter Drucker também pode ser moldada à moda. Destacando a
importância de aliar o marketing ao desenvolvimento de produtos de moda, afim de conhecer,
entender e comunicar melhor ao público a ser explorado. Cada público tem uma motivação
para consumir e é, segundo Damazio, Lima e Meyer (2008), uma questão cultural. Como se
fosse criado um rótulo para o indivíduo de acordo com tudo que ele consome.
“Isso nos leva a compreender o consumo como processo cultural ativo, o consumo é visto
como uma forma material de construir identidades: nós nos tornamos o que nós consumimos.
(MIRANDA, 2008).
O ser humano tem a necessidade de expressar a sua individualidade. E a moda é uma ótima
ferramenta para o feito. Por ser um elemento visual, transmite a mensagem para a sociedade
com mais eficiência.
A relação de uma pessoa com um produto pode passar da linha de necessidade básica e ir
além, atingindo a linha dos sentimentos, dentre eles, o mais nobre, o amor. É o que afirma
Russo e Hekkert (2008). Seguindo o raciocínio dos autores, dentre as características que
aproximam as pessoas dos produtos, uma delas é o significado simbólico. As pessoas
adquirem algo para se diferenciar e afirmar a sua auto-identidade perante a sociedade. Em
outras palavras, adquirir status. Consumir marcas conceituadas (e caras) é também adquirir o
mesmo ideal e pertencer a um grupo. Quanto mais seleto, melhor.
Cobra (2008) defende que existem quatro estereótipos de consumidores de produtos de luxo:
os exibidos, que compram para chamar atenção; os utilitários, que pagam mais caro em troca
de durabilidade e qualidade; os desfrutadores, que presenteiam a si mesmos e que adoram
curtir cada momento da vida; e os auto-indulgentes, que se sentem compensados e felizes por
adquirir o que está na moda e é luxo.
Mas para prosseguir este estudo, vamos aprofundar no primeiro perfil: os exibidos. Eles
consomem moda para afirmar o rico estilo de vida e sentem prazer em ostentar. Se
considerarmos o mesmo sentimento que impulsiona pessoas desse perfil a consumir para
pessoas que não possuem condições de adquirir produtos de luxo, podemos observar o
surgimento de um novo mercado: o dos produtos similares.
“A cópia de uma forma geral não é algo legal, mas ao mesmo tempo é uma forma de se
consumir "moda" sem ter que pagar muito, muito mais caro.” (Depoimento de uma leitora de
blog de moda).
Percebendo a necessidade de uma porcentagem de consumidores que não podem consumir
marcas caras em pertencer a um grupo social específico, Strehlau (2004) afirma que muitas
marcas desvirtuam ou nem buscam encontrar a sua própria identidade para copiar o design de
marcas que até então ditam tendência. Ainda segundo a autora, isso pode ser considerado
imitação e oportunismo.
3. Cópia e inspiração
Para entender cópia e inspiração, é importante aprofundar um pouco no ciclo da moda,
conhecendo todas as etapas de vida de um produto, que, segundo Cobra (2008), é dividido em
cinco estágios:
Introdução: o esforço maior é feito para vender mais o conceito que o produto. O custo é
mais alto, o que não é tão ruim considerando que os consumidores inovadores são os
menos sensíveis a preços. O investimento em marketing também é alto.
Crescimento: nesta fase começa a entrada da concorrência, geralmente com cópias.
Portanto, mais investimento em propaganda para orientar o cliente quanto ao diferencial do
produto. O preço também reduz um pouco, já que a escala de produção aumenta.
Desenvolvimento: o mercado permanece aquecido, a concorrência aumenta e é o período
com maior lucratividade. Enquanto isso, para não ficar para trás, a pesquisa para novos
produtos já é iniciada.
Maturidade: a oferta começa a ficar maior que a demanda e o produto já não é encarado
mais como novidade. A diferenciação é menor, baseada em prazos maiores, promoções e
descontos. É o momento em que a empresa deve lançar no mercado uma nova coleção.
Declínio: o investimento na comunicação e também o preço do produto é reduzido. É o
período em que os itens menos rentáveis começam a sair do mercado.
Palomino (2002) acredita que a atitude que os brasileiros têm de valorizar e copiar somente o
que é de fora, seja na moda ou no comportamento, é explicado pela colonização. A autora cita
bizarrices da Belle Époque como capas de pele em pleno verão carioca, usadas sob uma
justificativa de ser moda na França. Uma mulher elegante tinha que ter tudo importado de
Paris.
Em outubro de 2010, o blog Coisas de Dorotte observou uma semelhança entre um vestido da
rede espanhola Zara e da marca goiana Jean Darrot. O fato passou despercebido pela Zara. A
Jean Darrot apenas incluiu o vestido no meio das outras peças que faziam parte da coleção e
que até então eram de design próprio, transmitindo a ideia de que o vestido foi desenvolvido
pela equipe de criação da marca.
Figura 1 – Vestido Zara da coleção Primavera Verão 2010. Fonte: <http://www.paramulher.com.pt/wp-
content/uploads/MODA/ZARA/Spring10/Zara.Spring10.377.jpg>
Figura 2 – Vestido Jean Darrot da coleção Primavera Verão 2011. Fonte: <
http://2.bp.blogspot.com/_dmYqfAcrGmM/TJgcZ4cQKzI/AAAAAAAAAIE/_65RDJNmpmY/s1600/97AF1DA
Ed01.jpg>
Em janeiro de 2011, a marca paulistana 284 foi proibida de comercializar a sua versão feita de
moletom do modelo de bolsas Birkin, graças a uma liminar concedida à Hermès. As bolsas
fazem parte da linha intitulada como I’m Not The Original, na tradução literal: eu não sou a
original. Segundo as empresárias e herdeiras da Daslu Helena Bordon, Luciana e Marceclla
Tranchesi, as bolsas tratavam apenas de uma forma divertida de homenagear grandes ícones
da moda. A peça foi considerada pelo juiz João Omar Marçura, da 24ª vara Cível, como uma
réplica da bolsa da francesa Hermès, fabricada desde 1984. A diferença estava no material
usado: moletom.
Figura 3 – Bolsa Birkin Hermès e Bolsa de moletom da 284. Fonte: <
http://2.bp.blogspot.com/_dmYqfAcrGmM/TJgcZ4cQKzI/AAAAAAAAAIE/_65RDJNmpmY/s1600/97AF1DA
Ed01.jpg>
Ao copiar um design criativo distintivo e fazer referências à bolsa ‘Birkin’
original, beneficia-se a autora reconvinda [a 284] do design e dos
investimentos feito pela ré reconvinte [Hermès] na divulgação da bolsa, e
prejudica-se a reputação da ré reconvinte [Hermès] de fornecer um produto
exclusivo, voltado para um segmento de mercado altamente especializado.
(DESPACHO DO MAGISTRADO, PROCESSO N°
583.00.2010.187707-5, 2011)
Segundo o site Chic, caso a 284 não cumprisse a ordem, teria de pagar uma multa diária no
valor de R$ 10 mil, limitada a R$1 milhão.
Em abril do mesmo ano, o portal Moda Spot noticiou mais um caso semelhante. O designer
francês Christian Louboutin, famoso por usar solas vermelhas em suas criações, acusava
Carmem Steffens por produzir calçados parecidos. A questão envolveu uma polêmica maior,
pois segundo a estilista da marca, não é possível reservar os direitos de uma cor em especial.
As reclamações de Louboutin foram dirigidas apenas ao mercado francês, território que a
Carmem Steffens também atua. A marca brasileira ainda afirmou que os solados não tinham o
mesmo tom, que vários calçados eram fabricados com solados de diversas cores, incluindo o
vermelho, o que poderia ser observado no catálogo. O site Moda Spot realizou uma pequena
enquete com os leitores com a seguinte pergunta: Christian Louboutin está certo em processar
outras marcas que usam solados vermelhos? 69% afirmaram que não, enquanto 31%
responderam que sim.
Figura 4 – Sapato Christian Louboutin e Carmen Steffens. Fonte: < http://2.bp.blogspot.com/-
B_FuRGS58To/TaUTeC7L0_I/AAAAAAAABgE/EIZqGwnkCC8/s1600/Christian-Louboutin-Steffens.jpg>
Fatos envolvendo cópias acontecem frequentemente com marcas brasileiras e não são
novidades. Paulo Borges (2003) conta que qualquer pessoa que falasse a língua portuguesa
era vista com desconfiança na fila dos eventos de moda, a exemplo da Kenzo, que proibia a
entrada dos brasileiros em seus desfiles internacionais, na década de 80. Na época, não existia
internet e os modelos eram fotografados de todos os ângulos possíveis.
Mas também já aconteceu o contrário. Em janeiro de 2011, o site Chic fez uma matéria
contando que o departamento jurídico da marca brasileira Melissa estava atrás da loja de
departamento norte-americana Macy’s. Tudo porque a mesma sandália conhecida como Zig
Zag, criada pelos Irmãos Campana para a Melissa, foi reproduzida para a linha Material Girl
feita em parceria com a cantora Madonna. Não houve mais novidades sobre o caso.
Figura 5 – Sandália Melissa e sandália Macy’s. Fonte: <
http://chic.ig.com.br/system/assets/2011/1/26/81367/gallery/melissacampana.jpg>
Outro item que pertence ao Brasil e é bastante copiado é a moda praia. Na reportagem para o
site Piauí, o sociólogo Dario Caldas afirma que o sucesso da moda praia é devido ao produto
ser um dos mais “verdadeiros” produzidos pelos estilistas. Ele ainda afirma que os brasileiros
aprenderam a fazer bem a moda praia por causa da necessidade, demanda e o produto fazer
parte do cotidiano, da cultura de praia que existe no Brasil.
Cópia ou inspiração? O questionamento foi tema de uma reportagem do site da revista Istoé,
em fevereiro de 2011. Antes de discorrer sobre a matéria, é importante relembrar o
significado das duas palavras, pois há uma tênue distinção entre elas. Segundo o dicionário
on-line Aulete, a cópia pode ser a reprodução de original de obra de arte, texto, gravura,
fotografia, gravação musical, etc. Também é falsificação, contrafação, plágio e o oposto de
original. Já inspiração se remete ao estímulo de pensar, pode ser também uma impressão forte,
marcante, pessoa, coisa ou objeto que desperta em alguém novas ideias ou vontade de criar.
Em entrevista para a Istoé, o advogado Jacques Labrunie, que é professor de direito da
Pontífica Universidade de São Paulo (PUC-SP), explica que o produto pirata é aquele que se
faz passar pelo original. As cópias declaradas, ou imitações e homenagens são consideradas
por ele menos ‘cara de pau’. Suzane Strehlau, que é professora o curso de marketing de luxo
da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), recorre ao início da moda para
comentar a reportagem sobre o assunto. “As tendências de vestuário são passadas dos líderes
para a massa em um processo de difusão, que inclui versões e imitações. Sem essa
popularização, não haveria a moda.”
4. O que os consumidores pensam sobre o assunto
Os diálogos apresentados neste tópico foram retirados de uma pesquisa de campo qualitativa
feita com 44 pessoas, leitores de blog de moda. O formulário ficou disponível no período de
uma semana no blog Pérolas ao Chocolate, aberto para participações espontâneas de pessoas
que se enquadrassem no perfil da pesquisa, que no caso, são consumidores de moda. 95% das
pessoas que responderam ao questionário são mulheres. A média salarial familiar da maioria
(41%) é de quatro a dez salários mínimos, 25% na média de dois a quatro salários mínimos,
18% na média de dez a 20 salários mínimos e 14% acima de 20 salários mínimos.
A pergunta introdutória ao assunto na pesquisa era a seguinte: você tem alguma peça que é
considerada inspired, cópia ou réplica de alguma grife famosa? 64% responderam que não, o
que corresponde a 28 pessoas, enquanto 36% ou 16 pessoas que afirmaram que sim. Poderia
ser óbvio pensar que pessoas pertencentes a uma classe social mais alta não teriam em casa
uma peça considerada cópia, por ter condições de adquirir a original, enquanto pessoas com
baixo ou médio poder aquisitivo fossem adeptas às cópias. Mas baseando-se na pesquisa, a
relação dinheiro x uso de cópias não tem fundamento, levando a crer que, na maioria das
vezes, as pessoas consomem ou deixam de consumir por uma questão cultural, e não
necessariamente por causa do dinheiro.
Com base na pesquisa, observa-se três comportamentos diferentes em relação às cópias,
inspirações e réplicas.
a) Muitas vezes, o consumidor não está ciente que o produto que está comprando é inspirado
ou copiado de uma marca famosa. E mesmo quando está ciente (até porque o consumidor não
é obrigado a saber, mas sim a marca informar) o que importa ali são outros atributos como
beleza, preço e qualidade.
Os textos abaixo foram retirados das entrevistas para ilustrar essa situação:
Acho bacana pra quem não pode comprar uma original. Não vejo mal algum, pois
geralmente as cópias são de grifes famosas e não acho que atrapalhe a economia
dessas grifes, fora que uma bolsa, por exemplo, é feita pra carregar coisas e acho uma
pena tanta gente usá-las com ostentação, querendo "aparecer". Se eu acho uma coisa
bonita, não existe motivos pra não comprar, mesmo que seja inspired.
(DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
“Acho legal, porque às vezes o modelo ou estilo é o que importa. E como muitas peças são
vendidas a preços exorbitantes, só pela marca, as inspired são uma ótima opção.”
(DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
“São uma forma mais acessível de estarmos na moda, afinal, moda não é só para quem tem
dinheiro!” (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
b) Já alguns consumidores conseguem identificar e fazem questão de explicar a diferença
entre uma peça falsificada, aquela que se passa pela original e peças que carregam apenas
referências de outro produto existente. Em todos os casos, existe um repúdio a falsificação.
Os textos abaixo foram retirados das entrevistas para ilustrar essa situação:
Na situação que nos encontramos hoje, onde principalmente devido aos blogs que
foram crescendo desenfreadamente e, em minha opinião, passaram de um diário onde
a pessoa expõe sua opinião sobre um determinado assunto para um folhetim de
propaganda, como aqueles de supermercado que tem propaganda de todo tipo de
produto e as promoções que favorecem a própria loja, temos uma moda "ditada" onde
é erroneamente associado o que é caro ao que é bonito, ou seja, a réplica nada mais é
que uma forma de tentar se destacar em mundo de futilidade. Enganando os outros e a
si mesmo, como se estivesse status usando uma peça cara. Pois eu não conheço
nenhuma inspired de uma bolsa de marca vendida na Marisa, por exemplo. Acredito
que a inspired é válida quando a achamos realmente muito bonita, mas a usamos
como ela realmente é, como uma referência a original, sem o intuito de se passar por
uma verdadeira. (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
Não compraria réplicas, mas compraria inspired sim, pois elas, na minha visão, nada
mais são do que uma NOVA peça baseada em uma já existente a que nem sempre
aqueles que aspiram por ela têm acesso. Réplica já é algo que não curto mesmo já que
é o fingir que é original, se eu não tenho o dinheiro para comprar original não compro
a réplica porque além de ilegal (com o perdão do trocadilho) não é legal, é uma
imitação para enganar que você tem algo que não tem. Prefiro assumir uma bela
inspired porque gosto do modelo, mas não tenho o suficiente para comprar do que
"fazer a rica" com uma réplica. (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE
MODA)
Não gosto de réplicas. Já usei, mas hoje em dia não uso mais. O inspired eu até encaro pois
acho que a partir de um elemento comum pode ser desenvolvida uma outra peça
completamente diferente e original. (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE
MODA)
“Inspired não me incomoda, mas replica não compro.” (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE
BLOG DE MODA)
“Nada contra, desde que mesmo sendo inspired, tenha algo que possa diferenciar do original.
Não falo do material, pois com certeza vai ser diferente, mas sim de um detalhe específico.”
(DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
c) Também foram identificados na pesquisa consumidores que consideram falsificações e
produtos inspirados em outros já existentes a mesma coisa e não usam. Design original,
qualidade e preço fazem parte de suas preferências. Defendem que nem sempre a peça precisa
ser de grife para ser bonita e acessível. Têm a personalidade forte e, independente de estar na
moda ou não, o que importa é se o produto vai agradá-los. Muitas vezes, sentem-se lesados
quando pagam caro por um produto que não é 100% original.
Os textos abaixo foram retirados das entrevistas para ilustrar essa situação:
São desnecessárias para mim, porque não compro nem as originais. Elas servem
apenas para satisfazer quem gostaria de ostentar um perfil que não tem condições de
manter. As pessoas gostam de se sentir "parte de algo" e então consomem esse tipo de
produto. Na real, não ligo pra marcas, eu só compro se realmente gostar e não importa
a marca e sim se o preço é justo ao que o produto se propõe. Senão prefiro eu mesma
costurar minhas roupas. (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE
MODA)
Não gosto de cópias. Sinto-me enganada pela equipe de criação da empresa. Parece
que fazem a peça só para garantir vendas. Infelizmente o público brasileiro é muito
habituado às cópias. Sofremos o mal do status e dos resquícios da logomania, na qual
o importante é ser "grifado". Eu ainda prefiro o design autêntico, em que sinto que
estou pagando aos designers criadores. É preciso ser novo para merecer o meu suado
dinheirinho. (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
“Compro coisa muito bonita e original sem ser inspired no mesmo preço ou até mais barato
do que essas falsifica... ops, inspired.” (DEPOIMENTO DE UMA LEITORA DE BLOG DE MODA)
5. Democratizando a moda
De acordo com o dicionário on-line Aulete, democrático é o que denota sentimento de
igualitarismo. Fazendo um paralelo com o comportamento que originou a moda, que tem a
ver com exclusividade, unir democracia e moda parece ser algo irreal.
“Embora a noção de luxo seja em parte uma percepção individual e subjetiva, tem na
interação social seu lado mais importante. O produto de luxo deve ser objeto do desejo
de muitos, embora seja obtido apenas por alguns, que receberão reconhecimento
social.” (SUZANE STREHLAU)
Muitas vezes, entende-se que para estar na moda, é preciso consumir grifes, pois muitas
vezes, são as primeiras a lançar uma tendência. Mas também não são as únicas. Segundo
Treptow (2007), existem duas maneiras de explicar uma tendência: o efeito trickle down, em
que as grandes marcas lançam uma ideia que leva um bom tempo até popularizar, e o efeito
bubble up que é a moda que nasce das ruas, populariza e inspira grandes criadores, a exemplo
da mini-saia. Ou seja, ter o que está usando no momento, artigos que são tendência, não
significa necessariamente gastar muito dinheiro ou investir em um produto de luxo.
"Minha ideia era fazer moda para as mulheres que gostam de moda, mas que não têm dinheiro
para comprar o que desejam". É o que afirmava Aenne Burda ao lançar a revista Burda
Moden, em 1950, que passou a vir com moldes em 1952. A reportagem do site Deutsche
Welle Brasil conta a história da mulher que revolucionou e colaborou para uma moda
democrática. Com a revista, as mulheres podiam cortar os moldes e depois de horas de
trabalho na máquina de costura, vestir então sua própria roupa, a um custo acessível.
A revista Veja cita em sua reportagem sobre os 50 anos de Brasília o lançamento da revista
Manequim, da Editora Abril, que era então a primeira revista de moda do Brasil, com a
proposta parecida com a Burda, propiciando a difusão da informação de moda e a
popularização dos moldes. Essa tradição é preservada até hoje, mas sempre perdendo bastante
força para lojas que vendem roupas prontas, devido à praticidade. Por se tratar de uma
produção em série, o preço das peças acaba diminuindo.
Em novembro de 2011 a Riachuelo lançou o projeto Five Fashion, cinco coleções criadas por
designers famosos com um preço acessível: André Lima, Maria Garcia, Huis Clos, Juliana
Jabour e Martha Medeiros. Segundo a entrevista da gerente de marketing da Riachuelo
Marcella Martins de Carvalho concedida ao portal FFW, existem três tipos de consumidores
para este produto: aquele que tem alto poder aquisitivo e quer consumir moda; o de baixo
poder aquisitivo que consome roupa; e por último o grupo que tem pouco poder aquisitivo,
mas é bem informado e quer consumir moda.
Figura 6 – Coleção Fashion 5 da Riachuelo. Fonte:
<http://todaela.uol.com.br/images/assets/pictures/000/007/764/content_7764.jpg?1322135413>
Ainda na reportagem do portal FFW, uma das designers participantes do projeto, Clô Orozco,
comenta sobre a sua expectativa:
Que mais pessoas tenham contato com nossas marcas. Teremos a Huis Clos e Maria
Garcia em território nacional, seja para pessoas que não conhecem a marca e passarão
a ter contato, como para admiradores que não conseguem comprar em nossas lojas por
pertencermos a um segmento de luxo. A ideia de democratização da nossa história é o
que mais gostamos nessa parceria. (CLÔ OROZCO)
Esse não é o primeiro projeto da Riachuelo nesse sentindo. O pioneiro foi em outubro de 2010
em parceria com Oskar Metsavah, e logo depois com Cris Barros e Pedro Lourenço. O
resultado deu tão certo que as peças esgotaram rapidamente nas araras, como afirma a
reportagem “O luxo é pop”, da Istoé. A mesma reportagem ainda destaca outra rede de varejo
que também leva o conceito de moda democrática: a C&A, que exibe um portfólio com
grandes marcas, a exemplo de Maria Bonita Extra, Isabela Capeto, Amir Slama, Gloria
Coelho, Espaço Fashion e a inglesa Stella McCartney.
A primeira ação que teve destaque na mídia foi em 2004, entre a sueca H&M e o designer da
Chanel Karl Lagerfeld. Ele afirmou que apesar do sucesso da coleção, não faria o trabalho
novamente. Já que questões como a pequena quantidade de peças produzidas não poderiam
atender a demanda que esperava ansiosamente por elas, muitos se decepcionaram por não
conseguir comprar. As peças acabaram se tornando exclusivas, que era justamente o oposto da
proposta, noticiou o site da Vogue inglesa.
Figura 7 - Coleção Karl Lagerfeld para H&M. Fonte: <
http://www.moda.ru/files/user/02/84/54/content/17463/800x800x85_b095785a99286fd56397f13aeb99c9a9.jpg>
Após o acontecido, vieram novas coleções com a colaboração de grandes nomes da moda e
uma estratégia já mais madura da H&M, mas não menos concorrida. Longas filas se
formavam e cada cliente só podia levar uma peça de cada modelo da coleção da Lanvin, de
Paris, e em poucas horas tudo estava esgotado. Stella McCartney, Jimmy Choo, Comme des
Garçons, Roberto Cavalli também já desenvolveram roupas e acessórios para a loja, de acordo
com a reportagem da Istoé.
Figura 8 - Fila na porta da loja H&M para o lançamento da coleção da Lanvin. Fonte: <
http://www.fashionspace.ru/news/img/596_big.jpg>
Tudo aponta para novas parcerias e uma roupa com informação de moda a um preço
acessível. Se as pessoas passam a ter cada vez mais informação de moda, como afirma o
diretor de marketing da C&A, Elio França, logo também se tornam mais exigentes, e quem
tem que se adequar a isso é o mercado, com propostas originais e inovadoras.
5. Conclusão
Fazendo uma breve previsão para o futuro da moda com base no estudo apresentado, podemos
imaginar um consumidor ainda mais bem informado sobre moda, graças ao fácil acesso a
revistas, sites e blogs de moda. O resultado disso é um público cada vez mais exigente,
independente da classe social.
Moda é comportamento e com a informação cada vez mais veloz, ele poderá sofrer mudanças
em períodos mais curtos. Pode chegar um tempo em que cópias de produtos de grifes poderão
não mais satisfazer o consumidor que tem a tendência a se cansar cada vez mais rápido.
Caso o mercado continue a investir em design e comunicação baseados no sucesso de outras
grifes, não praticando o exercício da criatividade e originalidade, poderão ser engolidas por
grandes redes de varejo, as mesmas que abrem espaço para contribuições de grandes estilistas,
a fim de criar moda a um valor acessível. Existirá um tempo em que a grande vantagem, a
grande diferenciação será pela criatividade ao se vestir e não tanto pelo valor gasto na
produção.
Referências
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