estudo da estabilizaÇÃo de solos com cal na regiÃo de...
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CÁSSIO FERNANDO SIMIONI
ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS COM CAL NA REGIÃO DE SINOP-MT PARA FINS DE PAVIMENTAÇÃO
SINOP MATO GROSSO - BRASIL
2011
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CÁSSIO FERNANDO SIMIONI
ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS COM CAL NA REGIÃO DE SINOP-MT PARA FINS DE PAVIMENTAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientador: Prof. Dr. Flavio Alessandro Crispim
SINOP MATO GROSSO - BRASIL
2011
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CÁSSIO FERNANDO SIMIONI
ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS COM CAL NA REGIÃO DE SINOP-MT PARA FINS DE PAVIMENTAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil.
Aprovado: 16 de novembro de 2011.
Banca Examinadora:
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CÁSSIO FERNANDO SIMIONI
Eu, Cássio Fernando Simioni, atesto para os devidos fins que os dados e
informações constantes neste trabalho, intitulado: Estudo da Estabilização de
Solos com Cal na Região de Sinop-MT para Fins de Pavimentação, são
verídicos segundo as fontes utilizadas e originais segundo a abordagem e
tratamento dado aos mesmos por mim, e que a obra em suas partes constituintes e
no seu todo são de minha autoria. Assim, eximo de qualquer responsabilidade o
professor orientador e os demais participantes da banca de defesa de autoria e da
veracidade dos dados e informações apresentadas que possam existir neste
trabalho.
Sinop, 16 de novembro de 2011.
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Aos meus pais,
Ao meu irmão,
Aos meus avôs,
Dedico
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, saúde e proteção.
Aos meus pais, Paulo e Elenir, pelo exemplo de seres humanos que são para
mim, pelos conselhos, confiança e apoio durante todos esses anos.
Aos parentes e amigos que, mesmo distantes, mostraram seu incentivo.
Ao professor Flavio Alessandro Crispim, pela orientação, paciência,
competência e acompanhamento durante a execução deste trabalho.
À Universidade do Estado de Mato Grosso, pela oportunidade de realização
do curso de graduação em Engenharia Civil.
Aos professores André Ferraz, Francisco Lledo, Rogério Dias Dalla Riva,
Kênia Araújo de Lima, André Christoforo, Orlando Carvalho, Jean Lucas, Edgar
Demarqui, Cláudio Paiva, Rodrigo Zanin, Raquel dos Reis Mariano, Dênia Mendes e
Aline dos Santos, pelo conhecimento transmitido.
Aos colegas e amigos Alexandre Zigoski, Phelipe Brustolon, Camila Diel,
Vanessa Pahim, Camila Eberle, Roni de Souza, Gabriel Weber, Juliana Scarpazza,
Ilana Fabris, Daniele Schor, Emanuele Braga, Ana Paula Gonçalves e Jonas
Smaniotto, pelo excelente convívio.
Ao amigo e colega de turma Everton Batelo, pela ajuda e paciência durante
todos esses anos de graduação, mostrando-se como um “irmão”.
Às amigas e colegas de turma Eduarda Lucini e Milene Satiko, que
contribuíram de maneiras diversas na realização do presente trabalho.
Ao engenheiro civil Ronaldo José da Silva, pelo auxílio prestado.
Ao técnico do laboratório de solos da prefeitura municipal de Sinop, Neir
Moreira Franco, pela expressiva colaboração.
À empresa TRANSTERRA, que muito contribuiu para a conclusão do
referente trabalho.
Aos amigos José Sebastião, Soeli Siaska, Ana Carolina e André Luis, pelo
apoio e carinho demonstrados.
Enfim, aos não citados, que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização deste trabalho.
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“Uma vez tendo experimentado voar, caminharás para sempre sobre a
Terra de olhos postos no Céu, pois é para lá que tencionas voltar.”
Leonardo Da Vinci
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RESUMO
SIMIONI, Cássio Fernando. Estudo da estabilização de solos com cal na região
de Sinop-MT para fins de pavimentação. 47 p. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Civil). Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus
Universitário de Sinop-MT, Novembro de 2011. Orientador: Flavio Alessandro
Crispim.
A cal é um material de baixo custo e de fácil aquisição que, quando
adicionado ao solo, pode melhorá-lo quanto às suas características de engenharia.
O presente trabalho buscou utilizá-la como estabilizante químico em um solo do
município de Sinop-MT. O solo foi classificado como siltoso, A-4 (6), segundo o
método TRB. Os teores de cal empregados no processo de estabilização foram de
2%, 4% e 6% em relação à massa do solo seco. As amostras de solo natural e solo-
cal foram curadas em câmara úmida, sendo, posteriormente, submetidas a ensaios
de resistência compressão não-confinada. Os resultados mostraram que aos 7 dias
de cura o solo melhorou consideravelmente para todos os teores de cal adotados,
sendo da ordem de 50%, 27% e 131% para os teores 2%, 4% e 6%,
respectivamente. Aos 28 dias de cura, a resistência para os teores de 2% e 4%
continuou crescendo, porém, para o teor de 6% decresceu. Os ganhos de
resistência em relação ao solo puro foram da ordem de 103%, 62% e 95% para os
teores 2%, 4% e 6%, respectivamente. Devido ao considerável ganho de resistência
à compressão não-confinada, a estabilização com cal mostrou-se bastante viável
para o solo estudado, principalmente para o teor de 2% de cal.
Palavras-chave: Pavimentação, Estabilização solo-cal, Resistência à compressão
não-confinada, ISC.
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ABSTRACT
SIMIONI, Cássio Fernando. Study of soil stabilization with lime in the region
of Sinop-MT directed to paving. 47 p. Course Conclusion Work (Civil Engineering
Graduation). Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop-MT Campus,
November 2011. Advisor: Flavio Alessandro Crispim.
Lime is a low cost material and easy to purchase that, when added to soil, it
may improve soil engineering characteristics. The present study objective was to use
it as a soil stabilizer chemical in the city of Sinop-MT. The soil was classified as silty,
A-4 (6), according to the TRB classification. The lime contents used in the
stabilization process were 2%, 4% and 6% relative to the dry soil mass. The samples
of soil and soil-lime were cured in acclimatized room, and subsequently submitted to
unconfined compressive strength test. The results indicated that after 7 days cure the
soil improved considerably for all lime contents adopted, being the order of 50%,
27% and 131% for contents 2%, 4% and 6%, respectively. At 28 days cure, for
contents of 2% and 4%, was observed strength increase, however, for 6% content
the strength decreased. Gains in strength relative to pure soil were approximately
103%, 62% and 95% for contents 2%, 4% and 6% respectively. Due to the significant
unconfined compressive strength gain, stabilization with lime proved to be quite
feasible for the soil studied, especially for lime content of 2%.
Keywords: Paving, Soil-lime stabilization, Unconfined compressive strength, CBR.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema de seção transversal do pavimento .......................................... 18
Figura 2 - Diagrama da seqüência das principais reações físico-químicas que
ocorrem na estabilização de um solo com cal ........................................................... 24
Figura 3 - Localização do Bairro Jardim das Nações em relação à Unemat ............. 26
Figura 4 – Via rebaixada no bairro Jardim das Nações, Sinop-MT ........................... 27
Figura 5 - Amostra de solo com presença de matéria orgânica (pontos escuros
circulados) ................................................................................................................. 27
Figura 6 – Amostra de solo submetida à secagem ao ar .......................................... 28
Figura 7 - Peneiramento na malha 4,8 mm ............................................................... 29
Figura 8 - Determinação do limite de liquidez ........................................................... 29
Figura 9 - Determinação do limite de plasticidade ..................................................... 30
Figura 10 - Análise granulométrica ............................................................................ 30
Figura 11 - Ensaio de compactação .......................................................................... 31
Figura 12 - Avaliação do Índice de Suporte Califórnia (ISC) ..................................... 31
Figura 13 - Corpo-de-prova submetido ao ensaio de ISC ......................................... 32
Figura 14 - Equipamento utilizado para o ensaio de compactação na UNEMAT ...... 32
Figura 15 - Dosagem de cal em relação ao solo ....................................................... 33
Figura 16 - Acréscimo de água à mistura solo-cal .................................................... 33
Figura 17 – Cura dos corpos-de-prova ...................................................................... 34
Figura 18 - Ruptura de corpo-de-prova ..................................................................... 34
Figura 19 – Classificação dos solos (Transportation Research Board) ..................... 36
Figura 20 - ISC – Amostra de solo natural ................................................................ 37
Figura 21 - Curvas de compactação do solo natural ................................................. 37
Figura 22 - Curvas de compactação das misturas solo-cal ....................................... 38
Figura 23 – Resultado do ensaio de resistência à compressão não-confinada das
misturas solo-cal aos 7 e 28 dias de cura ................................................................. 40
Figura 24 - Resultados de RCNC e ISC para dois solos estabilizados com cal em
Viçosa – MG .............................................................................................................. 41
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos ............................... 19
Tabela 2 - Resumo dos ensaios de caracterização do solo analisado ...................... 35
Tabela 3 - Parâmetros de compactação do solo natural ........................................... 38
Tabela 4 - Dados de compactação das misturas solo-cal para 7 e 28 dias de cura .. 39
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LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
GC - Grau de Compactação
ISC - Índice de Suporte Califórnia
RCNC - Resistência à Compressão Não-Confinada
- óxido de alumínio
- íon cálcio
- carbonato de cálcio
- caloria
- óxido de cálcio
- hidróxido de cálcio
- dióxido de carbono
- água
- íon hidroxila
- dióxido de silício
- peso específico
- teor de umidade ótimo
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 14
1.1. OBJETIVOS ............................................................................................. 15
1.1.1. Objetivo Geral .................................................................................... 15
1.1.2. Objetivos Específicos ......................................................................... 15
1.2. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................ 16
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 17
2.1. PAVIMENTO ............................................................................................ 17
2.2. SOLO ....................................................................................................... 18
2.3. ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS .................................................................. 20
2.3.1. Estabilização Solo-Cimento ............................................................... 20
2.3.2. Estabilização Solo-Betume ................................................................ 21
2.3.3. Estabilização Solo-Cal ....................................................................... 21
2.3.3.1. A cal ................................................................................................... 22
2.3.3.2. Mecanismos da Estabilização Solo-Cal ............................................. 22
2.3.3.3. Resistência à compressão não-confinada das misturas solo-cal ....... 25
3. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................. 26
3.1. MATERIAIS .............................................................................................. 26
3.1.1. Solo .................................................................................................... 26
3.1.2. Cal ...................................................................................................... 27
3.2. MÉTODOS ............................................................................................... 28
3.2.1. Metodologia de Campo ...................................................................... 28
3.2.2. Metodologia de Laboratório................................................................ 28
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................... 35
4.1. CLASSIFICAÇÃO DO SOLO.................................................................... 35
4.2. ÍNDICE DE SUPORTE CALIFÓRNIA (ISC) ............................................. 36
4.3. ENSAIOS DE COMPACTAÇÃO ............................................................... 37
13
4.4. ENSAIO DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO NÃO-CONFINADA ........ 39
5. CONCLUSÕES .............................................................................................. 42
6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................. 43
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente o país experimenta um crescimento expressivo em sua economia,
isso está salientado em regiões como o norte de Mato Grosso. O estado possui a
terceira maior extensão territorial dentre todos os estados brasileiros e é o maior
produtor de grãos do país (IBGE, 2011a). Entretanto, segundo o CNT (2010), 77%
de suas estradas possuem classificação entre regular e péssimo, fator que se torna
um empecilho para o escoamento da produção agropecuária estadual.
No ano de 2010 a imprensa nacional destacou o crescimento expressivo das
cidades de médio porte como é o caso de Sinop, localizada na região norte do
estado de Mato Grosso, a 500 km da capital Cuiabá. Na última década, Sinop
apresentou um crescimento populacional da ordem de 50% e seu PIB cresceu mais
de 150% entre 2003 e 2008 (IBGE, 2011b). O município fechou o ano de 2010 com
a população de 113.099 habitantes.
Nesse contexto, é notável a demanda por construção e manutenção de
pavimentos nesta região. A execução de pavimentação de vias rurais ou urbanas
exige, em muitos casos, materiais trazidos de outros lugares devido à falta de
materiais com características adequadas para uso como base e sub-base para o
pavimento no trecho que está sendo trabalhado, o que acaba gerando custos com
transportes e bota-foras. Além da questão financeira, existe o impacto ambiental
gerado pela extração de materiais de outras regiões.
Diante disso, a estabilização de solos surge como uma boa alternativa. A
aplicação deste método possibilita a utilização do solo peculiar de cada trecho
acrescido de um aditivo que tem a função de melhorar características do solo,
adaptando-o para atender às especificações técnicas de projeto. Assim, espera-se
que o solo resista melhor a esforços e desgastes relacionados ao tráfego e à ação
de intempéries.
Um solo pode ser estabilizado por métodos mecânicos, físicos e químicos. A
estabilização química, em especial, ocorre quando o solo sofre acréscimo de um
material industrializado, como cal, cimento Portland, materiais betuminosos, entre
outros.
15
A cal, por ser um material de baixo custo e de fácil aquisição, se apresenta
como uma boa alternativa na estabilização. Além da viabilidade econômica, estudos
mostram que a cal responde bem como estabilizante de solos em regiões quentes,
como é o caso do norte matogrossense.
Os primeiros vestígios de aplicação da cal como estabilizante químico em
solos para fins rodoviários remontam a época do Império Romano, entretanto, seu
uso em larga escala só teve início durante a Segunda Guerra Mundial, quando
surgiu a necessidade de se construir pavimentos resistentes em tempo reduzido
(SENÇO, 2001).
Nas misturas solo-cal com teores de cal variando entre 5% e 6% predominam
efeitos de cimentação, os quais podem ser decorrentes da pozolanização ou da
carbonatação. Quando o solo é dito melhorado com cal são alteradas, apenas, a
plasticidade e a sensibilidade à água das misturas (DNIT, 2006).
O presente trabalho abordou a aplicação da cal como estabilizante químico
em um solo do município de Sinop-MT, a fim de contribuir com um banco de dados
para futuros estudos na área de pavimentação desta região.
1.1. OBJETIVOS
1.1.1. Objetivo Geral
Verificar o desempenho de um solo da região norte do Mato Grosso, mais
precisamente, do município de Sinop, quando da utilização da cal como aditivo
estabilizante, voltando sua aplicação à pavimentação.
1.1.2. Objetivos Específicos
Caracterizar o solo natural a fim de contribuir para a formação de um
banco de dados de solos da região norte de Mato Grosso;
Testar diferentes quantitativos de cal no solo analisado, verificando o
quanto o teor de aditivo pode influir na resistência à compressão não-
confinada das misturas;
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Analisar a influência do tempo de cura na resistência mecânica das
misturas solo-cal, empregando-se os tempos de cura de 7 e 28 dias;
1.2. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
O presente trabalho está organizado como segue:
No Capítulo 1 é feita uma introdução ao tema, a justificativa do trabalho e
seus objetivos;
No Capítulo 2 é apresentada uma revisão de literatura. São abordados
conceitos sobre pavimento, estabilização de solos e métodos de
estabilização. A estabilização solo-cal é abordada em seus mecanismos e
propriedades;
No Capítulo 3 está descrita toda a metodologia empregada na execução
da pesquisa e a procedência dos materiais utilizados para tal;
No Capítulo 4 são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa;
No Capítulo 5 são apresentadas as conclusões do estudo;
No Capítulo 6 são apresentadas sugestões para futuros trabalhos que
estejam correlacionados a este estudo; e
No Capítulo 7 estão listadas as referências utilizadas no trabalho.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. PAVIMENTO
A evolução do transporte rodoviário é algo que não pode ser datado com
exatidão, mas é sabido que tudo começou com as picadas até chegar ao elevado
nível das estradas de hoje. Com o aumento das necessidades humanas, aumentava
também o volume de cargas e as distâncias percorridas com elas, o que obrigou o
homem a exercer controle sobre o meio, alterando a natureza, de modo a manter as
estradas transitáveis o ano todo. O princípio básico partia da estabilização do solo
misturando areias e argilas, já que os terrenos arenosos respondiam bem nas
chuvas e os terrenos argilosos eram bons na seca. Posteriormente, os
revestimentos foram sendo feitos com pedras, materiais betuminosos ou de
concreto, fixando os conceitos de pavimentação atuais (SENÇO, 2007).
Segundo BERNUCCI et al. (2006), dá-se o nome de pavimento à estrutura
impermeável executada sobre uma superfície de terraplenagem, composta por
várias camadas de espessuras finitas, destinada a resistir aos esforços oriundos do
tráfego e do clima, garantindo boas condições de rolamento aos usuários, com
conforto, segurança e economia.
De acordo com o Manual de Pavimentação do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte (DNIT, 2006), a seção transversal de um pavimento é
constituída por:
Subleito: terreno de fundação do pavimento;
Leito: superfície obtida por terraplenagem ou obra-de-arte;
Greide do Leito: perfil do eixo longitudinal do leito;
Regularização: camada destinada a conformar o leito, transversal e
longitudinalmente de modo a atender as especificações;
Reforço do Subleito: camada de espessura constante, utilizada por
fatores técnico-econômicos, acima da regularização e abaixo do subleito;
seu material possui características geotécnicas melhores que o do
subleito e piores que o da sua camada superior;
Sub-base: por razões técnico-econômicas, é a camada construída quando
for desaconselhável construir a base diretamente sobre a regularização;
18
Base: camada anterior ao revestimento que tem a função de resistir e
distribuir os esforços oriundos do tráfego;
Revestimento: camada destinada a receber diretamente o rolamento dos
veículos, melhorando-o, quanto à comodidade e segurança, resistindo ao
desgaste; deve ser o quanto possível impermeável.
Figura 1 - Esquema de seção transversal do pavimento
Fonte: DNIT, 2006.
A base e a sub-base são muito estudadas pela geotecnia devido às suas
importantes funções na estrutura do pavimento. Durante a execução destas seções,
é importante conhecer os métodos construtivos, bem como, os materiais que as
constituirão, o que garante uma vida útil longa para o pavimento.
2.2. SOLO
No âmbito da Engenharia Civil, o termo solo é compreendido como toda
camada que possui alguma alteração e está localizada acima da rocha-sã, enquanto
que a Ciência do Solo entende como solo a parte mais superficial do manto que
cobre a superfície terrestre, onde podem ser percebidas atividades biológicas
(CRISPIM, 2010).
Por definição, solo é todo material proveniente da decomposição das rochas
por ação de intempéries. Pode ser orgânico ou inorgânico. Desagregável, pode ser
escavado sem a necessidade de explosivos (DNIT, 2006).
19
Para descrever os solos através dos diâmetros das partículas, o DNIT (2006)
e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1995) seguem os critérios
mostrados na Tabela 1.
Tabela 1 - Limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos
Fração Limites (mm)
DNIT, 2006 ABNT, 1995
Pedregulho 2 < < 76,8 2 < < 60
Areia grossa 0,42 < < 2 0,60 < < 2
Areia média - 0,20 < < 0,60
Areia fina 0,075 < < 0,42 0,06 < < 0,20
Silte 0,005 < < 0,075 0,002 < < 0,06
Argila < 0,005 < 0,002
Fonte: DNIT, 2006 e ABNT, 1995.
O solo é normalmente composto por mais de uma fração quando está na
natureza, porém, não se deve levar em conta apenas a distribuição granulométrica
para descrever o seu comportamento, pois, uma dada fração pode influir mais que
as outras. Geralmente, o estudo dos solos se baseia no comportamento argiloso ou
arenoso, apesar de sua composição advir de várias frações (FRANÇA, 2003).
Quando se trata de engenharia, o solo é empregado de diversas maneiras,
seja como base para construções, como no caso das fundações, seja como material
de construção, como é o caso de barragens, tijolos e pavimentos
(FERREIRA et al., 2005).
Na engenharia rodoviária, em especial, o solo é amplamente empregado
devido a sua abundância. Para a regularização de bases e sub-bases, a prática mais
comum é a utilização de materiais granulares, porém, em alguns casos isso não é
possível devido à falta de agregados na região onde o solo está sendo trabalhado.
Sendo assim, faz-se o uso de algumas alternativas para atender as especificações
necessárias à utilização do solo local: dimensionar o pavimento considerando os
limites do solo; trocar o material utilizado por outro de melhor qualidade; ou, fazer a
correção do solo, criando um novo material com diferentes propriedades, processo
este chamado de estabilização (NÚÑEZ apud LOVATO, 2004).
20
2.3. ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS
O processo de estabilização consiste em melhorar as características e alterar
as propriedades de um solo para que este esteja condicionado para resistir às
situações mais adversas empregadas em projeto, seja devido a esforços e
desgastes relacionados ao tráfego ou por ação de intempéries. Para tal, podem ser
empregados métodos de natureza física, química ou mecânica (FRANÇA, 2003).
O método mecânico utiliza-se de solos e rochas alteradas, ou seja, materiais
de diferentes granulometrias, onde a união desses materiais proporciona boas
condições de estabilidade após umedecimento e compactação (SENÇO, 2001).
O método físico se utiliza de técnicas como a estabilização térmica
(tratamento por congelamento ou aquecimento) e a estabilização por eletro-osmose,
cujas aplicações estão voltadas para casos onde a estabilização mecânica não é
capaz de fortalecer o solo. Apesar de ser alvo de muitos estudos, o método físico
tem se revelado inviável economicamente, o que restringe seu uso a casos
particulares (CRISTELO, 2001).
O método químico se utiliza da adição de elementos estranhos ao solo, onde
as partículas do solo são aglutinadas através de reações químicas
(CRISTELO, 2001). Com isso, suas propriedades físicas e mecânicas são
melhoradas. Entre os aditivos empregados no método químico, estão: cimento
Portland, materiais betuminosos, cal e uma infinidade de produtos industrializados
(FRANÇA, 2003).
2.3.1. Estabilização Solo-Cimento
Ao produto resultante da mistura homogênea de solo, cimento Portland e
água, em proporções previamente definidas, dá-se o nome de estabilização solo-
cimento, o qual possui como exigências mínimas: resistência mecânica e
durabilidade (ABCP apud FRANÇA, 1989).
A hidratação das partículas de cimento Portland resulta no seu
endurecimento. Esse processo aliado aos produtos resultantes das reações
pozolânicas ocorridas entre as partículas do solo e a cal, faz com que a mistura de
solo-cimento sofra cimentação. Entretanto, o que mais contribuirá para a resistência
21
final da mistura serão as reações de hidratação do cimento
(SILVA apud FRANÇA, 2003).
Nos solos finos as partículas de cimento funcionam como elementos centrais,
nos quais as partículas vizinhas são aderidas formando um material floculado onde
estão presentes ligações de cimentação. Nos solos granulares, o cimento
proporciona ligações intergranulares que garantem a resistência mecânica do
material através do aumento da partícula resistente relacionada à coesão
(PORTELINHA, 2008).
2.3.2. Estabilização Solo-Betume
Sumariamente, esse tipo de estabilização é aplicável a solos arenosos e de
granulometria fina. Nos primeiros, o betume promove a ação ligante das partículas e,
nos segundos, considerando sua coesão peculiar, age como impermeabilizante,
conservando, assim, as características inerentes às condições de compactação
(SILVA apud ALCÂNTARA, 1995).
Estudos revelaram que com o acréscimo de materiais betuminosos aos solos
argilosos e arenosos não ocorreram variações significativas no teor ótimo de
umidade e no peso seco máximo. Porém, a resistência à compressão não-confinada
variou com o teor de aditivo e com o período de exposição. Em termos de
resistência mecânica, observou-se a redução na capacidade de suporte (ISC) e na
expansão dos solos, principalmente no arenoso (FRANÇA, 2003).
2.3.3. Estabilização Solo-Cal
A estabilização solo-cal para fins rodoviários é atribuída aos romanos, há
mais de 2.000 anos atrás. Apesar do êxito obtido com o uso dessa técnica nos
trabalhos pioneiros, até a segunda guerra mundial seu uso foi mínimo. A partir desse
marco, o estudo de solo-cal com forma de estabilização aumentou
consideravelmente (GATES apud LIMA, 1981).
As propriedades de engenharia da estabilização solo-cal dependem de muitas
variáveis, como, por exemplo, os tipos de solo e cal, porcentagem de cal e fatores
22
que atuam nas condições de cura das misturas, como teor de umidade, temperatura
e tempo (MENDONÇA, 1998).
2.3.3.1. A cal
Cal é um termo empregado para identificar uma variedade de produtos
derivados do calcário. Quando se fala em estabilização de solos com cal, emprega-
se a cal aérea, tanto viva como hidratada, em pó ou na forma de leite de cal. Existe,
também, um segundo tipo de cal, a cal hidráulica, que não possui uso comum na
estabilização de solos. Desprovida de propriedades hidráulicas, seu endurecimento
ocorre devido à carbonatação pelo ar atmosférico (SILVA, 2010).
A obtenção da cal é feita através da calcinação de rochas com carbonato de
cálcio e magnésio ou somente carbonato de cálcio, sendo que os produtos desta
calcinação são respectivamente o cálcio-magnésio (CaO – MgO) e o óxido de cálcio
(CaO) (GUIMARÃES apud LOVATO, 2004).
A eficiência total do processo de calcinação ocorre com temperaturas entre
900º C e 1.100ºC, onde o produto final é a cal aérea que se divide em dois tipos: a
cal viva e a cal hidratada. O que as diferencia é sua susceptibilidade à água. A cal
viva é obtida pela cozedura dos calcários e a cal hidratada se origina do contato com
a água da cal viva através de imersão ou aspersão, processo este chamado de
extinção. As reações químicas da cal viva e cal hidratada são respectivamente
(SILVA, 2010):
e
2.3.3.2. Mecanismos da Estabilização Solo-Cal
Quando se mistura solo e cal ocorrem várias reações químicas, muitas
acontecem ao mesmo tempo, o que torna difícil analisar separadamente cada uma
delas. A partir da identificação de algumas destas reações, são tidas como as mais
23
importantes a troca de cátions e floculação, cimentação (reação pozolânica) e
carbonatação (DNIT, 2006).
A adição de cal em determinada quantidade provoca a saturação dos
minerais de argila do solo pelos cátions e/ou (CHAUVEL e NÓBREGA
apud LIMA, 1995), onde os cátions monovalentes são trocados pelos bivalentes
(CASTRO apud LIMA, 1995), alterando rapidamente as propriedades do solo. A
partir desta troca iônica ocorre a floculação, que consiste na aglomeração das
partículas finas do solo em flocos sólidos. As características do solo alteradas com
este processo são: granulometria, plasticidade, compactação, trabalhabilidade e
resistência mecânica imediata (SILVA, 2010).
Após a permuta iônica completa, inicia-se a cimentação (reações
pozolânicas). Silva (2010) explica a reação de cimentação da seguinte maneira: a
presença da cal aumenta o pH do meio, o que provoca a dissolução da alumina
( ) e da sílica ( ), pois, as duas são altamente solúveis em meios fortemente
básicos. A partir daí são criados novos compostos minerais devido à reação dos
cátions com a sílica e a alumina dissolvidas, os silicatos e aluminatos de cálcio
hidratados. É de se esperar que em solos ácidos a estabilização com cal ocorra
mais lentamente. Segundo a autora, as reações são descritas da seguinte maneira:
e
onde,
= silicato de cálcio hidratado
= aluminato de cálcio hidratado
A reação da cal com o dióxido de carbono do ar atmosférico forma agentes
cimentantes relativamente fracos, os carbonatos de cálcio e magnésio, dependendo
da cal utilizada. Essa reação é chamada de carbonatação e é indesejável para as
24
misturas solo-cal. A minimização desse processo está intimamente ligada á técnica
construtiva (THOMPSON apud LIMA, 1981). Segundo Alcântara (1995), a
carbonatação é identificada pelas seguintes reações básicas (ciclo da cal):
A Figura abaixo apresenta, em seqüência, as principais reações físico-
químicas ocorridas na mistura de solo, cal e água:
Figura 2 - Diagrama da seqüência das principais reações físico-químicas que ocorrem na
estabilização de um solo com cal
Fonte: Adaptado de NEVES apud SILVA, 2010.
25
2.3.3.3. Resistência à compressão não-confinada das misturas solo-cal
Uma das características mais usadas na avaliação das propriedades de
engenharia da mistura solo-cal é a resistência à compressão não-confinada. Até
certo nível ela cresce juntamente com o aumento do teor de cal, decrescendo
posteriormente. O ganho de resistência com o tempo da mistura solo-cal segue o
modelo da mistura solo-cimento, porém, os efeitos da temperatura são menos
marcantes na estabilização com cal do que na com cimento. Isso justifica a
possibilidade de sucesso quando da estabilização solo-cal em climas quentes
(LIMA, 1981).
26
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. MATERIAIS
3.1.1. Solo
Nesse estudo, foi utilizada uma amostra de solo obtida pelo rebaixamento de
via pública no bairro Jardim das Nações, município de Sinop – MT. A amostra foi
extraída entre 0,20 e 0,40 m de profundidade. Por essa razão, devem ser
considerados, nos resultados finais, possíveis efeitos da presença de matéria
orgânica na amostra de solo estudada. Com o uso do software Google Earth
encontrou-se as coordenadas aproximadas do ponto de coleta, mostrado na
Figura 3, sendo 11º51’25,64”S e 55º31’35,08”O.
Figura 3 - Localização do Bairro Jardim das Nações em relação à Unemat
Fonte: Google Earth, 2011.
27
Figura 4 – Via rebaixada no bairro Jardim das Nações, Sinop-MT
Figura 5 - Amostra de solo com presença de matéria orgânica (pontos escuros circulados)
3.1.2. Cal
Foi utilizada cal hidratada do tipo CH III, fabricada pela Empresa de
Mineração Aripuanã Ltda. (EMAL), localizada no município de Nobres - MT. A
designação CH III está em conformidade com a ABNT (2003), onde são
estabelecidos os teores de carbonatos e óxidos não hidratados presentes na cal.
28
3.2. MÉTODOS
3.2.1. Metodologia de Campo
Foram realizadas duas amostragens do solo selecionado para a execução do
referente estudo. A primeira foi retirada do trecho manualmente, sendo armazenada
em embalagens plásticas devidamente identificadas e transportadas até o
Laboratório de Solos da Prefeitura Municipal de Sinop. A segunda amostragem,
aproximadamente 2 m³, foi coletada com pá carregadeira e transportada ao
Laboratório de Engenharia Civil da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT) com o auxílio de um caminhão.
3.2.2. Metodologia de Laboratório
A quantidade de solo necessária aos ensaios foi espalhada sobre lona para
secagem ao ar (Figura 6). Após a secagem, o solo foi destorroado e peneirado na
malha 4,8 mm (Figura 7) e acondicionado em sacos plásticos.
Figura 6 – Amostra de solo submetida à secagem ao ar
29
Figura 7 - Peneiramento na malha 4,8 mm
No Laboratório de Solos da Prefeitura Municipal de Sinop o solo passou pelo
processo de caracterização geotécnica, englobando os ensaios: determinação do
limite de liquidez (ABNT, 1984a), determinação do limite de plasticidade
(ABNT, 1984b), análise granulométrica (ABNT, 1984c), ensaio de compactação
(ABNT, 1986) e Índice de Suporte Califórnia (ABNT, 1987).
Da Figura 8 a Figura 13 são mostradas algumas etapas dos ensaios
realizados.
Figura 8 - Determinação do limite de liquidez
30
Figura 9 - Determinação do limite de plasticidade
Figura 10 - Análise granulométrica
31
Figura 11 - Ensaio de compactação
Figura 12 - Avaliação do Índice de Suporte Califórnia (ISC)
32
Figura 13 - Corpo-de-prova submetido ao ensaio de ISC
No laboratório de Engenharia Civil da UNEMAT foram realizados os ensaios
de compactação para as misturas solo-cal nos teores de 2%, 4% e 6%, tomados em
relação à massa do solo seco, trabalhando-se na energia de compactação do ensaio
Proctor normal (Figura 14), segundo recomendações da ABNT (1986).
Figura 14 - Equipamento utilizado para o ensaio de compactação na UNEMAT
As misturas foram preparadas realizando-se a homogeneização do solo e da
cal (Figura 15), seguido de repouso de uma a duas horas, buscando aproximar o
33
ensaio da realidade do método de execução em campo. Após o período de repouso,
as misturas sofreram adição de água (Figura 16) e, novamente, os materiais foram
homogeneizados. Finalmente, foram compactados três corpos-de-prova para cada
teor de cal e três corpos-de-prova para o solo natural. A cura ocorreu em câmara
úmida com condições de umidade próximas a 100% (Figura 17).
Figura 15 - Dosagem de cal em relação ao solo
Figura 16 - Acréscimo de água à mistura solo-cal
34
Figura 17 – Cura dos corpos-de-prova
Os ensaios para determinar a resistência à compressão não-confinada para o
solo natural e para as misturas solo-cal foram realizados considerando-se os tempos
de cura de 7 e 28 dias, de modo a avaliar o ganho de resistência mecânica das
misturas com o tempo.
Passados os tempos de cura, os corpos-de-prova foram submetidos ao
ensaio de compressão não-confinada seguindo as recomendações da ABNT (1992).
A Figura 18 apresenta um corpo-de-prova na prensa antes da ruptura.
Figura 18 - Ruptura de corpo-de-prova
35
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. CLASSIFICAÇÃO DO SOLO
Para a realização dos ensaios de caracterização foram extraídas quatro
amostras de solo em pontos equidistantes no trecho. O resumo dos ensaios é
exibido na Tabela 2.
Tabela 2 - Resumo dos ensaios de caracterização do solo analisado
Amostra
Média
1 2 3 4
Limite de Liquidez (%) 33,1 31,2 31,8 32,1 32
Índice de Plasticidade (%) 6,8 4,5 5,8 6,2 6
Pedregulho (%) 0,0 0,0 0,0 0,0 0
Areia Grossa (%) 2,0 2,0 2,8 2,0 2
Areia Fina (%) 27,3 27,8 31,0 27,4 28
Passante na Peneira de 0,074 mm (%) 70,6 70,3 66,2 70,5 70
Índice de Grupo
7
Classificação TRB
A-4
Aplicando os dados obtidos a partir dos ensaios de caracterização geotécnica
ao quadro do sistema TRB (Transportation Research Board) de classificação de
solos para fins rodoviários, o material foi definido como siltoso como mostra a Figura
19, possuindo comportamento insatisfatório como subleito.
36
Figura 19 – Classificação dos solos (Transportation Research Board)
Fonte: DNIT, 2006.
4.2. ÍNDICE DE SUPORTE CALIFÓRNIA (ISC)
Para as amostras de solo natural foi executado, também, o ensaio do Índice
de Suporte Califórnia (ISC). Os ensaios registraram valores entre 6,3% e 19,8%,
sendo 12,62 % o valor médio. Segundo o DNIT (2006), para um solo ter aplicação
como sub-base o seu ISC deve possuir valores superiores a 20%. Portanto, o solo
estudado só pode ser utilizado para camadas subjacentes à sub-base. Os resultados
do ISC para as 4 amostras do solo são apresentadas na Figura 20.
37
Figura 20 - ISC – Amostra de solo natural
4.3. ENSAIOS DE COMPACTAÇÃO
A Figura 24 apresenta as curvas de compactação encontradas para as 4
amostras de solo natural ensaiadas.
Figura 21 - Curvas de compactação do solo natural
0 0,63 1,27 2,54 5,08 7,62 10,16 12,70
0
30
60
90
120
150
180
210 Leitura
do A
nel (1
0-3
mm
)
Penetração (mm)
ISC = 6,3 %
ISC = 10,0 %
ISC = 14,4 %
ISC = 19,8 %
13,0
13,5
14,0
14,5
15,0
15,5
18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Peso E
specíf
ico S
eco (
kN
/m³)
Teor de Umidade (%)
Curva 01
Curva 02
Curva 03
Curva 04
Curva de Saturação
38
Os valores do teor de umidade ótimo e peso específico aparente seco
máximo obtidos através da Figura 13 estão sintetizados na Tabela 3.
Tabela 3 - Parâmetros de compactação do solo natural
Amostra de Solo Natural (%) (kN/m³)
1 22,9 14,98
2 23,3 14,97
3 23,7 14,80
4 23,8 14,82
O valor adotado como teor de umidade ótimo para o solo natural foi a média
aritmética do teor de umidade ótimo das quatro amostras, ou seja, 23,4%.
As curvas de compactação obtidas para as misturas solo-cal são exibidas na
Figura 25.
Figura 22 - Curvas de compactação das misturas solo-cal
Pode-se observar que as curvas se deslocam para baixo e para a direita,
efeito este provavelmente causado pela adição de finos ao solo.
11,5
12,0
12,5
13,0
13,5
14,0
14,5
18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34
Peso E
specíf
ico A
pare
nte
Seco (
kN
/m³)
Teor de Umidade (%)
Curva 2%
Curva 4%
Curva 6%
Curva de Saturação
39
Optou-se por adotar como teor de umidade ótimo o valor de 25% para os três
teores de cal (2%, 4% e 6%). Os dados de compactação das misturas solo-cal
submetidas a 7 e 28 dias de cura estão relacionados na Tabela 4.
Tabela 4 - Dados de compactação das misturas solo-cal para 7 e 28 dias de cura
Teor de cal 7 dias 28 dias
% Teor de umidade GC Teor de umidade GC
% kN/m³ % % kN/m³ %
21,98 14,13 104,31 24,50 13,79 101,78
2% 24,21 14,01 103,37 24,28 13,93 102,78
23,42 14,11 104,13 24,37 14,00 103,35
22,83 13,30 98,12 24,39 13,20 97,41
4% 23,14 12,68 93,61 23,98 13,25 97,80
23,08 13,21 97,49 23,36 13,51 99,71
22,11 13,17 97,21 24,07 13,05 96,29
6% 24,19 13,19 97,38 24,56 12,89 95,16
22,56 13,07 96,46 24,77 12,78 94,31
4.4. ENSAIO DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO NÃO-CONFINADA
Os valores encontrados via ensaio de resistência à compressão não-
confinada aos 7 e 28 dias de cura para as misturas de solo-cal e solo natural estão
apresentados na Figura 26. A Figura apresenta também as relações entre as
resistências das misturas e a resistência do solo natural (RCNC/(RCNC 0%)).
O ganho de resistência que o solo adquiriu aos 7 dias de cura devido ao
processo de estabilização solo-cal foi considerável. Observa-se que para o teor de
cal de 2% o ganho na resistência foi maior do que o obtido para 4% e que a
resistência para 6% foi consideravelmente maior do que para os outros dois teores.
Em relação ao solo natural os ganhos de resistência são da ordem de 50%, 27% e
131% para os teores 2%, 4% e 6%, respectivamente.
40
Figura 23 – Resultado do ensaio de resistência à compressão não-confinada das misturas solo-cal
aos 7 e 28 dias de cura
Para o tempo de cura de 28 dias pode-se observar que os ganhos de
resistência, em relação ao solo natural, são da ordem de 103%, 62% e 95% para os
teores de 2%, 4% e 6%, respectivamente. Para os teores de 2% e 4% a resistência
das misturas continuou aumentando, até os 28 dias de cura, enquanto que para o
teor 6% a resistência diminuiu, portanto, o efeito da cura foi positivo ao menos para
os teores de 2 e 4 %.
A partir dos resultados encontrados pode-se dizer que, para o solo analisado,
o teor de 2% de cal seria o mais adequado, pois verificaram-se ganhos
consideráveis aos 7 e 28 dias (50% e 103%, respectivamente) e este é um teor de
cal baixo, ou seja, econômico.
Considerando os resultados obtidos por Lima et al (1993) para dois solos de
Viçosa – MG (Figura 21), pode-se admitir que o ISC aumenta com a adição de cal e
este aumento é pelo menos da mesma ordem que o aumento da RCNC para 2% de
cal. Sendo assim, o ISC deste solo aumentaria aproximadamente 50%, ou seja, de
12,62% aumentaria para 18,93%, atingindo um valor muito próximo do admissível
para sub-base, segundo DNIT (2006).
0 2 4 6
RCNC - 7 dias (kPa) 174,96 263,26 222,82 403,56
RCNC - 28 dias (kPa) 174,96 355,70 283,90 340,84
RCNC/(RCNC 0 %) - 7 dias 1,00 1,50 1,27 2,31
RCNC/(RCNC 0 %) - 28 dias 1,00 2,03 1,62 1,95
0
100
200
300
400
500
RC
NC
(kP
a)
41
Figura 24 - Resultados de RCNC e ISC para dois solos estabilizados com cal em Viçosa – MG
Solo 1: Vila Secundino
Solo 2: ETA
Fonte: Adaptado de LIMA, et al. (1995).
42
5. CONCLUSÕES
A partir dos dados obtidos, pode-se concluir que:
O solo estudado possui baixa resistência mecânica e ISC menor que o
valor mínimo permitido para aplicação como sub-base em pavimentos.
Portanto, a composição natural deste material não é interessante para
engenharia rodoviária;
Aos 7 dias de cura as misturas solo-cal submetidas ao ensaio de RCNC
apresentaram ganhos consideráveis em sua resistência, sendo da ordem
de 50%, 27% e 131% para os teores 2%, 4% e 6%, respectivamente;
Aos 28 dias de cura as misturas solo-cal submetidas ao ensaio de RCNC
apresentaram ganhos da ordem de 103%, 62% e 95% para os teores 2%,
4% e 6%, respectivamente;
Aos 28 dias de cura, para os teores de 2% e 4% de cal a RCNC
apresentou ganhos maiores que aos 7 dias, evidenciando o efeito
benéfico da cura;
Para teor de 6% houve um decréscimo na resistência aos 28 dias de cura;
Considerando os resultados deste trabalho espera-se que o ISC do solo
aumente quando estabilizado com 2% de cal a ponto de ser utilizado
como sub-base.
43
6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Através dos resultados obtidos e das discussões apresentadas, surgem
algumas recomendações para trabalho futuros:
Estudar o comportamento do ISC deste solo, empregando-se os mesmos
teores de cal adotados neste trabalho;
Obter a RCNC das misturas solo-cal para tempos de cura superiores a 28
dias;
Executar este trabalho de forma análoga, porém, acrescentando cal nos
teores 8% e 10%;
Determinar a durabilidade das misturas via ensaio de perda de massa por
molhagem e secagem;
Determinar a absorção d’água das misturas;
Estudar a estabilização deste solo com outros métodos;
Analisar a aplicação deste método de estabilização a solos arenosos
típicos da região.
44
REFERÊNCIAS
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___. NBR 9895: Solo - Índice de suporte califórnia. Rio de Janeiro, RJ, 14p, 1987.
___. NBR 6459: Solo - determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, RJ,
1984a. 6p.
___. NBR 7180: Solo - determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro,
RJ, 1984c. 3p.
___. NBR 7182: Solo - ensaio de compactação. Rio de Janeiro, RJ, 1986. 10p.
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