estudo de caso da agroflor
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Relatório técnico referente a prestação de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso da Agroflor– região da Zona da Mata em Pernambuco.TRANSCRIPT
Julian Perez Cassarino
Articulação Nacional de Agroecologia – ANA
Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar – GT SSA
RELATÓRIO 2
Estudo de caso da Agroflor, Médio Capibaribe – Pernambuco.
Relatório técnico referente a prestação de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso da Agroflor– região da Zona da Mata em Pernambuco.
Curitiba – ParanáSetembro/2010
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO..................................................................................................................32 DESCRIÇÃO, OBJETIVOS E CONTEXTO EM QUE A AGROFLOR EMERGE......................43 SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES........................................................7 Quadro 8. Demonstrativo da divisão de tarefas entre gêneros, exemplo de duas famílias.154 ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................................................................16
4.1 No que se refere ao processo de comercialização de produtos pelas famílias da AGROFLOR..................................................................................................................164.2 – No que se refere aos resultados econômicos da ação da Agroflor no âmbito da comercialização............................................................................................................174.3 Em relação à estrutura necessária e utilizada para a comercialização.................184.4 Relações com governos e com as políticas públicas.............................................184.5 – No que se refere às relações de gênero na comercialização................................20
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................216 CONSULTAS ...................................................................................................................24ANEXO I – Listas de Presença...............................................................................................26ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital).........................................28ANEXO III – Imagens do trabalho de campo........................................................................28
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1 – INTRODUÇÃO
O objetivo deste produto é apresentar Os resultados do Estudo de Caso realizado junto a
Associação dos Agricultores/as Agroecológicos de Bom Jardim – AGROFLOR.
A coleta das informações aqui apresentadas foi realizada durante os dias 18, 19 e 20 de
agosto. As unidades analisadas foram a associação AGROFLOR, através de uma oficina de
sistematização, e algumas famílias entrevistadas individualmente (4 entrevistas individuais). As
técnicas utilizadas na oficina de sistematização são apresentadas no quadro a seguir. Nas entrevistas
individuais a técnica foi a entrevista semiestruturada.
Quadro 1: Técnicas utilizadas na oficina de sistematização da AGROFLOR. Agosto de 2010.
OFICINA DE
SISTEMATIZAÇÃO
AGROFLOR
Técnicas ParticipantesResgate histórico Equipe de sistematização
Técnicos da equipe local
Sócios da AGROFLOR
Desenho do Fluxograma de
comercializaçãoDiagrama de Venn (mapeamento das
entidades parceiras e sua importância no
processo).
Previamente à realização da oficina de sistematização junto aos membros da Agroflor, foi
realizada reunião com equipe técnica de assessoria e direção da Associação, a fim de expor e
debater a metodologia, para adequála a realidade local. Da mesma forma, a reunião serviu para
contextualizar as organizações locais sobre o processo de sistematização e o contexto em que se
encontra inserido, em diálogo com o GT de Soberania e Segurança Alimentar da Articulação
Nacional de Agroecologia (GT SSA/ANA).
Após a realização desta reunião, foi realizada oficina de sistematização que contou com a
participação de representantes dos grupos de base que compõe a Agroflor. A oficina teve duração de
um dia e esteve focada no desenvolvimento das dinâmicas de grupo descritas no quadro acima. O
detalhamento da metodologia e descrição e objetivos das dinâmicas pode ser encontrado no
Produto 2 desta consultoria.
A partir da realização das atividades coletivas, partiuse para a aplicação de entrevistas
individuais (semiestruturadas), feitas com técnicos, dirigentes e agricultores integrantes da
Associação, em sua grande maioria, realizadas nas próprias unidades de produção, de forma a
permitir um maior conhecimento da realidade das famílias da Agroflor.
Este relatório está estruturado nas seguintes partes: Na primeira parte apresentamos uma
breve descrição da AGROFLOR, de seus objetivos, estrutura e do contexto em que a associação
4
emerge. Na segunda parte apresentamos as informações coletadas, organizadas em quadros e
figuras que sintetizam as dinâmicas realizadas na oficina de sistematização e nas entrevistas feitas
junto aos técnicos e famílias. Na terceira parte o objetivo é relacionar as informações coletadas e
apresentar algumas conclusões a respeito do processo de construção de mercados e da relação deste
com os governos e com as políticas públicas. Por fim, são apresentadas as considerações finais sobre
o processo de sistematização realizado.
Compõe este informe a (i) descrição e análise dos dados coletados, (ii) listas de presença das
atividades realizadas, (iii) íntegra das entrevistas realizadas em arquivos de áudio e (iv) imagens
do processo de sistematização realizado.
2 DESCRIÇÃO, OBJETIVOS E CONTEXTO EM QUE A AGROFLOR EMERGE
O município de Bom Jardim localizase na mesorregião Agreste Setentrional, microrregião
Médio Capibaribe, semiárido do Estado de Pernambuco. No que diz respeito aos aspectos
produtivos, esta região se caracteriza pela forte pecuária extensiva de bovinos, caprinos e ovinos, o
que acontece em decorrência da região ter constantemente baixos índices pluviométricos. Na
produção agrícola, predomina a agricultura de produção para utilizado para autoconsumo e
comercializado de excedentes.
Figura 1: Mapa da microrregião Médio Capibaribe/PE.
5
No município de Bom Jardim os principais setores de atividade econômica formais são: a
indústria de transformação, os serviços, a administração pública, a extração mineral, e a
agropecuária, nesta ordem. O Índice de Desenvolvimento Humano MunicipalIDHM é de 0,618.
Este índice situa o município em 940 no ranking estadual e em 43480 no nacional.
A AGROFLOR é uma entidade da sociedade civil, sem fins lucrativos, com sede em Bom
Jardim/PE. Conta com um quadro de 67 associados/as, tendo entre eles homens, mulheres e
jovens. Foi fundada em outubro de 1999 por 21 associados de diversas comunidades do
município de Bom Jardim. Apesar de ter sido fundada em 1999 o alicerce para a sua criação foi
constituído em 1995, quando algumas famílias agricultoras iniciam experiências em manejo de
sistemas agroflorestais com a assessoria do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá e
parceria do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bom Jardim. A partir deste embrião inicial, que
nasce em torno da proposta dos sistemas agroflorestais, outras experiências e movimentos
acontecem, tais como atividades de capacitação, inclusive sobre associativismo, a criação do
Grupo de Difusores Agroflorestais e logo em seguida as primeiras iniciativas de comercialização
através de Feiras Agroecológicas em Recife (de onde surgiu a criação do Espaço Agroecológico
em Recife).
Decorrente deste trabalho/movimento surge a ideia de fundar uma associação de
agricultores/as agroecológicos/as, com a intenção de fortalecer o grupo inicial de
agricultores/as, assim como a proposta agroecológica no município. Com a fundação de uma
associação visualizavase a possibilidade de busca de novas parcerias, de consolidação e
ampliação das iniciativas de comercialização e de expansão da proposta dos sistemas
agroflorestais no município e região.
É neste contexto e com estes objetivos que a AGROFLOR é criada em 1999. Deste ano até
o ano de 2001 a associação trabalha no sentido de aumentar o número de sócios e qualificar a
produção e a proposta dos SAFs. A partir de 2001 a AGROFLOR começa a ampliar e fortalecer
suas parcerias. Em 2003 cria o Fundo Rotativo Solidário, se torna Unidade Executora do P1MC
(Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido: Um Milhão de
Cisternas Rurais) e elabora e executa os seguintes projetos: Disseminação de Experiências em
Agricultura Familiar Sustentável e Melhoramento e Escoamento da Produção, ambos apoiados pela
Agência de Cooperação Alemã Kindernothilfe (KNH).
No triênio 2004 a 2006 um importante passo é dado em direção ao crescimento da
associação e de seu reconhecimento como entidade de destaque no município de Bom Jardim e
região do médio Capibaribe: a AGROFLOR aprova projeto quinquenal de Apoio ao
Desenvolvimento Comunitário Rural Agroecológico e o Protagonismo InfantoJuvenil, aprovado pela
KNH, que foi determinante para o envolvimento dos jovens dos municípios nas atividades de
6
educação ambiental, produção e comercialização agroecológica. Neste contexto o Grupo de
Difusores é ampliado e um Conselho Gestor do Projeto é estabelecido.
É a partir de 2007 que o trabalho da AGROFLOR se expande significativamente, tanto
referente aos objetivos da associação, quanto às parcerias e às novas fontes de financiamentos
que foram conquistadas. É também neste ano que um grupo de novos/as agricultores/as se
inseriu na associação, que novos/as agricultores/as passaram a participar de espaços políticos
municipais e regionais e que a Comissão Territorial de Jovens Multiplicadores do Agreste foi
criada, instância de discussão e encaminhamento das questões relativas a juventude na região.
No ano de 2009 as famílias agricultoras iniciaram a comercialização dos produtos
agroecológicos via CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), através do PAA (Programa
de Aquisição de Alimentos), beneficiando crianças e adolescentes de escolas rurais. Neste mesmo
ano a instituição se tornou UGM (Unidade Gestora Microrregional) do P1MC, o que lhe rendeu
um aumento significativo em sua área de atuação, pois passou de 01 (um) para 12 (doze)
municípios no Agreste Setentrional.
A AGROFLOR tem como objetivo principal/central incentivar a realização de ações de
desenvolvimento rural sustentável para contribuir com a melhoria da qualidade de vida e a
permanência das famílias agricultoras no campo. Como objetivos específicos citam: (a)
Fortalecer o protagonismo infantojuvenil através do desenvolvimento agroecológico, a fim de
contribuir com a permanência da juventude no campo; (b) Desenvolver ações de fortalecimento
da agricultura familiar de base agroecológica, buscando a melhoria na qualidade de vida de
famílias camponesas; e (c) Implementar ações de desenvolvimento institucional, a fim de
fortalecer a função de ator social na disseminação da agroecologia.
No quadro 2, a seguir, apresentamos algumas informações a respeito da AGROFLOR.
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Quadro 2: Algumas informações a respeito da AGROFLOR. Setembro de 2010.
1. Estado PE
2. Região Médio Capibaribe, Agreste
3. Municípios Bom Jardim
Como Unidade Gestora Micro regional do Programa P1MC atua nos seguintes municípios: Bom Jardim, Orobó, João Alfredo, Cumaru, Passira, Surubim, Casinhas, Frei Miguelinho, Vertentes, Salgadinho, Vertentes do Lério, Santa Maria do Cambuca
4. Associações que compõem a organização 1 Associação dos Agricultores/as Agroecológi
cos de Bom Jardim.5. Fundação Outubro de 1999 6. Número de famílias 67 7. Número de famílias que comercializam pela entidade 45
8. Valores de comercialização atualizados/mês R$ 10.400,00
9. Valor médio comercializado/família R$ 700750,00
11. Principais produtos Frutas, verduras e derivados do leite
12. Acreditação/Certificação Não há exigências do mercado consumidor
3 SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES
A fundação da AGROFLOR (1999) procede a primeira iniciativa de comercialização do
grupo, embrião inicial da associação, que ocorreu em 1997, através da implantação da primeira
feira de produtos agroecológicos do Estado do Pernambuco, em Recife. A organização inicial
desta feira foi uma iniciativa do Centro Sabiá e da AMA Gravatá. A partir deste embrião inicial
outros espaços de comercialização são criados e aperfeiçoados.
No diagrama 1, a seguir, mostramos, de forma sintética, a construção das estratégias de
comercialização por parte da AGROFLOR. No diagrama 2 apresentamos os canais de
comercialização atualmente utilizados pelas famílias.
Quadro 3. Síntese da construção de canais de comercialização pela AGROFLOR. Agosto de 2010.
1997 2001 2009 2010
Fundação da Feira de UmariFundação Espaço Agroecológico das Graças
Fundação Feira Agroecológica Boa Viagem
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
Alimentação escolar
8Figura 2. Fluxograma de comercialização da AGROFLOR: principais canais de comercialização e estrutura. Agosto de 2010.
PRODUÇÃO COLHEITASELEÇÃO/LAVAGEM/EMBALAGEM
REGISTRO TRANSPORTE
EM RECIFE
FEIRAS25 famílias nas
feiras
Demais repassam produtosTotal = 45 famílias
CONAB/PAA25 famílias
BOA VIAGEM
ALDEIA
DAS GRAÇAS
EM CAMARAGIBE
CORDEIRO (em planejamento)
5 ESCOLAS
2 CRECHES
1 HOSPITAL
Entregas realizadas pela
prefeitura
ATRAVESSADOR FEIRA LIVRE
FEIRA LIVRE EM BOM JARDIM
EM OROBÉ
Transporte em caminhonetes
(TOYOTA) alugadas pelas famílias (2-3
famílias por transporte)
Transporte em caminhonetes
(TOYOTA) alugadas pelas
famílias (2-3 famílias por transporte)
CALÇADÃO/ALPENDRE DAS
RESIDÊNCIAS
Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização
Canais de venda através
da ECOTERRA
Vendas individuais em FEIRAS LIVRES
LEGENDA:
Vendas individuais para atravessadores
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Figura 3: Estrutura de comercialização utilizada pela AGROFLOR. Agosto de 2010.
10 Quadro 4. Dificuldades relacionadas ao processo de comercialização na AGROFLOR. Agosto, 2010.
Tipo de dificuldades 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 2010
1. Técnicosprodutivas
Beneficiamento de produtos em estruturas inadequadas
2. Na interface com a comunidade/sociedade
Falta de apoio do STR
3. Na interface com EstadoDificuldades com as prefeituras para instalação/liberação dos locais para as feiras em RecifeProibição para circulação das caminhonetes transportadoras de produtos para as feiras em Recife 3. Na comercializaçãoTransporte de produtos: custo elevado (grande distância entre as comunidades) Baixo retorno para as famílias devido aos gastos com transporte
Precariedade das estradas de acesso às comunidades
Precariedade das estruturas das feiras em Recife e Camaragibe
CONAB/PAA: atraso na liberação dos projetos
Pouca divulgação das feiras e baixa demanda de produtos nas feirasFamílias mais recentes no grupo possuem baixa renda e sem condições de investimentos iniciais pra comercialização: caixas, balanças, local adequado, gastos com transporte, etc...
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Quadro 5. Prioridades na solução dos problemas relacionados á comercialização
Dificuldades Soluções Responsáveis Prioridade
Custo elevado do transporte Subsídio para pagamento do transporte
Coordenação: AGROFLORFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal de Bom Jardim Apoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações
1
Aquisição de pequenos veículos (financiamento/subsídio)
Estrutura FeiraDepósito para barracas em Recife, evitando que estas sejam transportadas semanalmente Estrutura fixa e cobertaSanitários e outrosCaixas para transporte dos produtos
Instalação de uma sala/depósito no local das feiras, ou próximo, com estrutura adequada, coberta e inclusive banheiros
Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as feirasFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal do Recife Apoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações
2
Famílias mais recentes no grupo possuem baixa renda e sem condições de investimentos iniciais pra comercialização: caixas, balanças, local adequado, gastos com transporte, etc...
Capacitação em comercialização para famílias iniciantes Recursos para investimentos iniciais
Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as feirasFinanciamento: MDA/SDT Apoio: Assessoria AGROFLOR
3
Precariedade das estradas/acesso as comunidades rurais
Melhoria das estradas Prefeitura municipal dos municípios
4
Apresentação e identificação dos feirantes
Kit uniforme para feira (um/ano)
Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as feirasApoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações
5
Pouca divulgação das feiras e baixa demanda de produtos nas feiras
Produção de material de divulgação: panfletos, faixas Divulgação no rádio e na TV
Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as feirasFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal do Recife Apoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações
6
Beneficiamento de produtos em estruturas inadequadas
Financiamento para equipamentos e estrutura de locais adequados para o beneficiamento dos produtos Custo é alto, projeto teriam de ser a fundo perdido
Coordenação: AGROFLOR Financiamento: MDA/SDT
7
12
Figura 4. Fortalezas/aspectos positivos da AGROFLOR, segundo os associados. Agosto, 2010.
Quadro 6. Geração de renda e volumes comercializados pelas feiras da Agroflor em 2007
Local das Feiras Agroecológicas
Municípios de Origem das
Famílias
Tempo em
Funcionamento (anos)
Número de
Famílias Pesquisa
das
Média Mensal da
Renda Líquida
(R$)
Média Mensal do
Salário Mínimo Vigente1
(%)
Volume Comercializa
do pelas Famílias por
Mês (R$)
Valor Comercializado pelas Famílias por Ano (R$)
Graças (Recife) Bom Jardim 10 7 716,32 189% 5.014,24 60.170,88Boa Viagem (Recife)
Bom Jardim 7 6 756,64 199% 4.539,84 54.478,08
Bom Jardim Bom Jardim 5 4 209,14 55% 836,56 10.038,72 Fonte: Centro Sabiá
1 O Salário Mínimo vigente no período era de R$ 380,00.
13 Quadro 7. Relação com governos e políticas públicas
Política/Programa Nível federação Descrição 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Prefeitura Recife MunicipalResistência em liberar espaço
e licença para a instalação das feiras
Prefeitura Recife Municipal Liberação dos locais e licença para as feiras
Prefeitura Recife Municipal Proibição do transporte alternativo
Prefeitura Recife Municipal Liberação para transporte alternativo
Prefeitura Bom Jardim Municipal Apoio no transporte de produtos para feiras
Prefeitura Bom Jardim Municipal
Apoio no transporte de produtos para PAA (da
AGROFLOR até as entidades)
PRÓ RURAL Estadual Apoio a equipamentos e insumos
CONAB/PAA Federal Doação Simultânea
ATERMDA Federal Formação/capacitação
PNAE Federal Fornecimento para merenda escolar
Legenda:
Relação negativa Relação positiva
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Figura 5. Sugestões de políticas públicas/atuação dos governos. Agosto, 2010
Figura 6. Diagrama de Venn Relações e parcerias da AGROFLOR. Agosto de 2010.
AGROFLOR70 famílias
CENTRO SABIÁ
CONAB
CESE
CONSUMIDORES
ASAP1MC
STR de municípios da região
Diocese CARUARU
Pref.Bom Jardim
Conselhos B.Jardim
KNH
ASSIM
DIACONIA
CAATINGA
CONSEF
ADESSU
AMA TERRA
TERRA VIVA PRO-
RURAL
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Quadro 8. Demonstrativo da divisão de tarefas entre gêneros, exemplo de duas famílias
Atividades na Família
Família 1 Família 2Homens Mulheres Filhos Filhas Homens Mulheres Filhos Filhas
Atividades domésticas
*** *** -- * * *** * --
Cuidado com filhos * ** -- --
Produção *** *** -- -- *** -- ** --
Autoconsumo *** *** * * *** *** *** --
Venda *** *** ** -- -- *** ** --
Comercialização *** *** *** *** -- *** *** --
Colheita *** * -- -- * *** *** --
Preparação dos produtos ** *** -- -- * *** ** --
Transporte/entrega *** *** -- -- ** *** ** --
Negociação *** ** -- -- ** ** ** --
Renda *** *** -- *** * ** * --
Outros
Legenda:
Não Participa Participa pouco *Participa **Participa muito ***
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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 No que se refere ao processo de comercialização de produtos pelas famílias da AGROFLOR.
De forma geral podemos afirmar que a estrutura disponível, os canais de comercialização e
os volumes comercializados pela AGROFLOR são indicadores de resultados positivos no que se
refere à construção de mercados para alimentos agroecológicos pela agricultura familiar. Quando
comparamos os avanços e conquistas da AGROFLOR, no que se refere à comercialização, com as
condições que a agricultura familiar da região dispõe, em termos de acesso a mercados, os bons
resultados tornamse ainda mais visíveis. Pelos relatos dos entrevistados e de acordo com
observações de campo o acesso ao mercado é um dos principais problemas enfrentados pela
agricultura familiar da região, seja devido às precárias condições das estradas, às dificuldades de
acesso a transporte para os produtos ou à dificuldade de comercializar quantidades reduzidas de
produtos.
Desta forma, destacase da ação desenvolvida pela Agroflor no âmbito da comercialização,
os seguintes aspectos, considerados relevantes no processo:
A AGROFLOR inicia a comercialização em 1997 e neste período foram mantidas e
ampliadas as estratégias de comercialização desenvolvidas.
O foco tem sido as feiras produtos agroecológicos em Recife e Camaragibe (3 feiras). Estas
são os principais canais de vendas na AGROFLOR. Nem todas as famílias são feirantes. Das 61
famílias sócias, 25 são feirantes e outras 20 repassam produtos aos feirantes. Isto totaliza 45
famílias comercializando através das feiras.
As inovações mais recentes são as vendas para o PAA e as negociações para entregas para
alimentação escolar (que ainda não se efetivaram).
As vendas para a CONAB/PAA têm início em 2009 e PAA foram fundamentais para a
expansão da AGROFLOR. Segundo relatos dos entrevistados, a possibilidade de um novo mercado,
e de ampliação da demanda, trouxe para a associação famílias que já eram próximas, mas ainda
não sócias, assim como consolidou a participação daquelas famílias que já eram sócias mas que não
comercializavam pela AGROFLOR. Atualmente 25 famílias vendem seus produtos para a
CONAB/PAA. Neste momento, a parceria com a prefeitura municipal de Bom Jardim tem sido
fundamental, principalmente pelo fornecimento do transporte dos produtos da sede da AGROFLOR
até as entidades beneficiárias, que são 8 escolas do município;
A partir de 2010 a AGROFLOR dá início à organização para acessar o mercado da
alimentação escolar, que está em discussão no município e região.
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4.2 – No que se refere aos resultados econômicos da ação da Agroflor no âmbito da comercialização
De acordo com estudos realizados pelo Centro Sabiá e disponibilizados para esta
sistematização, observase que a promoção das feiras agroecológicas tem gerado importante
impacto na renda das famílias. Este impacto pode ser definido tanto pelo ingresso semanal de
recursos financeiros obtidos pela comercialização da produção, mas também pela redução dos
gastos com alimentação na família, dado pela diversificação da produção e pela melhoria na
qualidade desta, a partir de produtos oriundos das próprias unidades de produção.
Para além desta dimensão,podemse destacar os seguintes efeitos/resultados econômicos da
realização das feiras agroecológicas:
A estabilidade e frequência na entrada de rendimentos. Segundo relatos dos entrevistados,
mesmo nos casos em que pequenos volumes são comercializados, a entrada freqüente é positiva
e traz melhores efeitos para as famílias, quando comparada às situações em que somente há
entrada de recursos em uma ou duas épocas do ano, em geral nas safras.
O Centro Sabiá estará realizando neste ano de 2010 uma nova versão do estudo trienal que
avalia o impacto econômico das feiras agroecológicas. Prevêemse aumentos importantes nos
volumes de comercialização e conseqüentemente na geração de renda das famílias, no entanto, o
estudo deve ser concluído somente após o prazo estabelecido para a entrega deste produto de
consultoria. Neste sentido, os dados informados no quadro 2 se referem ao último estudo,
realizado no ano de 2007.
No quadro 6 podemos verificar que a renda média das famílias que comercializam nas feiras de
Recife (renda líquida) em 2007, era de R$ 716,32 e R$ 756,00, o que na época correspondia a
189% e 199% do salário mínimo vigente.
As vendas e a renda obtida na feira de Bom Jardim foi significativamente inferior: R$
209,14/mês, 55% do salário mínimo.
A partir de 2009 agregamse a formação da renda das famílias os valores comercializados com a
CONAB/PAA. Para o ano de 2010 o projeto alcança um montante total de R$ 84.000,00,
beneficiando 25 famílias agricultoras, o que corresponde a média anual de R$ 3.360,00 por
família ou R$ 280,00/mês.
Vale destacar que estes valores são bastante significativos quando comparados com o rendimento
médio dos agricultores residentes no Nordeste (R$ 180,50/mês), região onde, segundo os dados
da PNAD2, moram cerca de 46% das pessoas ocupadas na agricultura brasileira.
2 PNAD de 2001
18
4.3 Em relação à estrutura necessária e utilizada para a comercialização
No que se refere a execução concreta das práticas de comercialização, alguns aspectos de
necessidade de melhoria e avanço foram observados pelas famílias que integram a experiência da
Agroflor, conforme descrito a seguir:
Custos elevados, em função da distância entre as unidades de produção dos
membros da AGROFLOR e do estado de conservação das estradas. O único tipo
de transporte de carga possível de circular nas estradas e vias de acesso de Bom
Jardim são caminhonetes TOYOTAS estendidas (transporte de carga e de pessoas
mais comum na região, inclusive sendo usado para o deslocamento dos alunos
até às escolas/transporte escolar). Este tipo de transporte, por ser pequeno, tem
capacidade de carregar produtos de no máximo três famílias, o que encarece os
custos de transporte.
Apesar da venda de queijos, iogurtes, pamonhas, doces e biscoito ser bastante
comum entre as famílias da AGROFLOR, a maioria das famílias não possui
estruturas específicas para beneficiamento/processamento de alimentos.
Na interface com o Estado ganham destaque duas questões principais: a dificuldade para
instalação/obtenção de licença para instalação das feiras em Recife e, mais recentemente, a
proibição, por parte da prefeitura municipal de Recife, da circulação das caminhonetes que são
utilizadas para transporte dos produtos. Este problema foi solucionado através de uma licença
de exceção que a AGROFLOR recebeu para circular com este tipo de transporte em Recife aos
sábados.
Atualmente as feiras são realizadas em espaços não cobertos e que precisam ser montadas a cada
feira. Apesar disto, ao contrário do proposto pela Ecoterra, estes grupos não consideram como
fundamental a presença de uma estrutura fixa, mas consideram necessário um espaço com
banheiro e depósito de barracas.
De acordo com os feirantes a demanda de produtos é ainda é insuficiente para a oferta
disponível pela totalidade de famílias da AGROFLOR, tanto que nem todas comercializam
através das feiras. Em dias de inverno é comum a sobra de produtos. Atribuem à falta de
divulgação das feiras e dos benefícios do alimento agroecológico.
O grupo ainda destacou uma preocupação em relação ao uso das sacolas plásticas, onde, além do
alto custo, há há geração de quantidades importantes de lixo. Para tanto, tem buscado estimular
o uso de sacolas de pano,mas tem sido difícil a sensibilização, bem como a obtenção de recursos
para a confecção das sacolas.
4.4 Relações com governos e com as políticas públicas
Como aspecto introdutório, fazse necessária uma leitura do Diagrama de Venn, no que se
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refere à influência e participação dos governos locais, estadual e federal no desenvolvimento da
experiência. Se bem observase a presença de uma prefeitura e da Conab dentro do diagrama, estes
são visto como tendo uma relação mais distante com a organização, fato que poderia ser
considerado corriqueiro, porém a ausência de outras instâncias e órgãos de governo que atuam no
campo da agricultura familiar revela a distância e a pouca participação destes no desenrolar e
estruturação das inciativas de comercialização desenvolvidas pela Agroflor.
O grande foco do diagrama está na parceria política com organizações locais e regionais da
sociedade civil e agências internacionais de apoio aos trabalhos da associação. Neste sentido, cabe
realizar uma leitura crítica sobre o papel que o Estado tem cumprido no apoio e fortalecimento
destas experiências inovadoras. Desta forma, podemse destacar as seguintes questões:
✓ Podemos observar que no caso da AGROFLOR a atuação dos governos tem sido menos con
troversa, do que no caso anteriormente analisado (ECOTERRA no RS). Ou seja, apesar do Estado
não ter sido um ator de importância decisiva na formação e trabalho da AGROFLOR, como tem sido
o Centro Sabiá e as entidades de cooperação, de acordo com relato dos entrevistados, também não
atuou, fora em aspectos pontuais, e algumas vezes, atuando como um ator contrário ao trabalho e
às estratégias da associação.
✓ Como atuação negativa destacase a resistência, por parte da prefeitura municipal de Recife,
de liberar espaço e licença para a instalação das feiras (19972000) e mais recentemente, em 2008,
a proibição da entrada das caminhonetes com produtos em Recife. Esta situação em seguida foi re
solvida, através de uma licença em caráter de exceção estabelecida pela prefeitura.
✓ Mais recentemente os governos e políticas públicas têm atuado mais próximo da AGRO
FLOR, no que se refere à comercialização, em função do programa CONAB/PAA e mais recentemen
te das negociações que vêm sendo estabelecidas para a alimentação escolar. As entregas para O PAA
têm sido apoiadas pela prefeitura de Bom Jardim, que transporta os produtos da sede da AGRO
FLOR até as entidades beneficiárias.
✓ A partir desta leitura, destacase, assim como na experiência desenvolvida pela Ecoterra, a
forte demanda por subsídios no transporte de produtos, dada pelas péssimas condições das estradas
e pela dispersão geográfica das famílias, o que eleva significativamente os custos de transporte.
✓ Para além destas questões, aspectos relativos a estrutura para beneficiamento mínimo dos
produtos, bem como de processamento são apontadas como necessárias para qualificar o processo
de comercialização. Aliado a estes aspectos, a viabilização da aquisição de insumos para comerciali
zação tais como embalagens, sacolas e caixas para transporte, são uma demanda frequente para as
famílias da Associação.
✓ Um aspecto relevante observado durante o processo de sistematização realizado com as fa
mílias da Agroflor, é o volume de parcerias estabelecidas pela Associação. Tal aspecto demonstra a
força política que a Associação vem ganhando nos últimos anos, se tornando uma organização de
20
referência no município e região. Tal realidade amplia a capacidade de negociação com o poder pú
blico em geral da Associação, bem como permite maiores possibilidades de ampliação de sua atua
ção, seja no volume de atividades desenvolvidas, seja pela maior adesão de sócios à entidade.
✓ A Associação tem desenvolvido boa capacidade de captação de recursos, o que lhe confere
autonomia em relação aos poderes públicos locais, e até mesmo em relação ás organizações de as
sessoria. Este aspecto é considerado relevante para a sustentabilidade de atuação da entidade, bem
como na gestão das iniciativas de comercialização.
4.5 – No que se refere às relações de gênero na comercialização
O aspecto relativo à construção das relações de gênero dentro das unidades de produção e
das próprias organizações que conduzem a experiência foi apontado como um dos elementos a ser
analisado quando da realização deste processo de sistematização.
No entanto, dada a complexidade do tema, o que se propôs a realizar no âmbito desta siste
matização foi um registro da divisão de tarefas no âmbito da família, que possibilitaria uma leitura
inicial da participação das mulheres no processo de comercialização que, mais do que permitir uma
leitura das relações de gênero, possibilita lançar temas de debate e discussão em torno do tema nas
experiências e neste processo de sistematização.
Cabe ressaltar que optouse por motivar a realização desta dinâmica de gênero em um espa
ço próprio das mulheres, feito por elas mesmas, sem interferência de outros integrantes das famílias
ou de agentes externos.
A sugestão inicial foi de realizar a dinâmica com um grupo de mulheres, no entanto, no caso
da Agroflor, a dinâmica foi realizada com duas famílias, individualmente, que se adaptou melhor ao
contexto local.
A abordagem das relações de gênero no âmbito da comercialização também pode ser feita a
partir das entrevistas realizadas, onde se procurou ter um equilíbrio entre homens e mulheres ou fa
zendoas em família. Neste sentido, apesar do predomínio das mulheres nas atividades mais relacio
nadas aos cuidados da casa, o que se observa nos exemplos descritos no Quadro 8 é um certo equilí
brio na divisão de tarefas dentro da família no que se refere à produção ecológica e as etapas de co
mercialização. Em um dos casos, quase todas as tarefas são realizadas em conjunto, no outro, há
uma divisão maior, porém com uma distribuição que demonstra ser relativamente equânime.
Destacase o fato de que, segundo o observado pelas mulheres, a participação na renda tam
bém é igualitária entre homem, mulher e filhos em geral. Quando das entrevistas, este padrão tam
bém foi observado, o que, na leitura desta sistematização, entendese como este maior equilíbrio
nas relações de gênero já como fruto do resultado realizado pelo Centro Sabiá e pela própria asso
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ciação neste campo, onde se observa um bom acúmulo em relação ao debate de gênero, internali
zando esta discussão na construção das experiências de comercialização.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como na experiência analisada anteriormente, da Associação Ecoterra, o trabalho de
senvolvido pela Agroflor e seus parceiros surge da iniciativa de organizações locais e de assessoria,
sendo que a construção de novos mecanismos de mercado contou com a atuação e recursos destas
organizações, sendo pouco apoiada e influenciada por políticas públicas em qualquer um dos níveis
de governo.
Se bem, considerase fundamental o fortalecimento das iniciativas locais, bem como a aber
tura para a criatividade das organizações que integram as experiências, ganha relevância neste pro
cesso uma quase total ausência do Estado no desenvolvimento de mecanismos inovadores de merca
do, neste caso, para o acesso a alimentos ecológicos oriundos da agricultura familiar.
A experiência sistematizada junto à Agroflor, reforça esta observação, onde, mesmo para a
produção familiar convencional, se observam poucas iniciativas de apoio e fortalecimento a proces
sos de comercialização. Ainda mais, quando se tratar de estratégias inovadoras e diferenciadas, ou
seja, que demandam a reconstrução de relações sociais e o redesenho da estrutura atual do sistema
agroalimentar, caracterizado por uma estrutura vertical de funcionamento, na qual os agricultores
familiares sempre se encontram premidos pelo 'elos' acima da sua atuação, ou seja, a produção pri
mária.
Assim, a experiência desenvolvida pela Agroflor, permite observar indicativos do que podem
ser as estratégias alternativas de comercialização junto à agricultura familiar ecológica, que primam
pelo fortalecimento do campesinato e pela reconstrução das relações sociais nos mercados. Desta
forma, podemse salientar as seguintes dimensões do trabalho desenvolvido pela Agroflor:
A viabilização de formas alternativas de escoamento da produção da agricultura familiar,
em grande parte independente dos canais tradicionais de mercado;
O caráter endógeno da proposta, oriunda dos esforços e iniciativa das organizações locais
de agricultores e de assessoria. Neste ponto destacase a capacidade de mobilização de
recursos e capacidades para viabilizar os processos de comercialização;
Associado ao caráter endógeno o caráter participativo do processo de construção dos novos
mecanismos de mercado e a capacidade da associação em estabelecer parcerias e mobilizar
atores locais e regionais em torno da proposta;
A centralidade na valorização e garantia de autonomia dos grupos locais de agricultores,
dada pela menor dependência dos agricultores a fatores de mercados alheios à sua realidade,
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pela eliminação da intermediação e pela capacidade de gestão e negociação nas estratégias de
mercado estabelecidas;
A evolução institucional da Agroflor enquanto Associação, criando estratégias próprias de
captação de recursos e composição de equipe técnica de assessoria;
A viabilização de formas alternativas de escoamento da produção para agricultura familiar
na região, em grande parte isolada dos canais tradicionais de mercado;
O relevante impacto na geração de renda das famílias envolvidas no processo, possibilitan
do melhoria na qualidade de vida destas;
A mobilização de recursos e capacidades própria para viabilizar os processos de comerciali
zação;
A iniciativa, capacidade de gestão e mobilização política, bem como a criatividade em pro
por estratégias inovadoras de comercialização;
A incorporação da dimensão do consumidor na condução das estratégias de comercializa
ção, buscando a aproximação agricultorconsumidor;
O resgate e valorização da autoestima das famílias envolvidas no processo;
A capacidade da Associação em estabelecer parcerias e mobilizar atores locais e regionais
em torno da proposta;
A incorporação da dimensão da sustentabilidade ambiental no discurso e práticas das famí
lias da Associação, seja no âmbito da produção, seja nos demais aspectos da vida cotidiana
das famílias;
A ausência de políticas de Estado voltadas ao atendimento de ações de promoção do mer
cado local e circuitos curtos de comercialização, evidenciada pelo acesso pontual a políticas
públicas observado na experiência;
A relevância do papel da assistência técnica no processo de construção de novos mecanis
mos de mercado, caracterizada por uma assessoria de caráter participativo, com intensidade
de presença nos grupos acompanhados, promovida por ONG's e organizações locais.
Mesmo sem contar com um leque mais diverso de estratégias de mercado, a história de mais
de 10 anos das feiras agroecológicas promovidas pela Agroflor, demonstram a solidez da proposta,
mais ainda se levada em conta a perspectiva de ampliação da quantidade de feiras com famílias da
Associação. Da mesma forma, a iniciativa da Agroflor exerceu influência positiva na cidade do Reci
fe, onde, a partir da iniciativa pioneira do Espaço Agroecológico das Graças, outras feiras orgânicas
foram sendo criadas no município.
Tal aspecto ganha relevância se ampliada a leitura sobre estes processos inovadores, que am
pliam sua dimensão de influência para além das famílias diretamente envolvidas (agricultoras e
consumidoras) e dos impactos mais facilmente observados, como geração de renda, melhoria na ali
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mentação e etc, para incorporar uma dimensão de influência política local e regional que expande a
proposta da agroecologia no seio da sociedade em geral.
Da mesma forma, a solidez conquistada na estruturação das feiras agroecológicas, permitiu a
condição de acionar novas estratégias, neste caso, a inserção no Programa de Aquisição de Alimen
tos (PAA) há dois anos e a busca pelo acesso ao Programa nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
a partir da aprovação da lei da alimentação escolar (Lei 11.947 – junho/2009).
No que se refere especificamente ao diálogo com as políticas públicas, o quadro abaixo busca
realizar uma abordagem ampliada das demandas apresentadas pelos integrantes da Agroflor, nota
damente voltada para o atendimento à sua realidade específica, como não poderia deixar de ser.
Desta maneira, em articulação e diálogo com os debates realizados no âmbito do GT SSA, buscouse
extrapolar o indicativo destas demandas específicas para o que podem ser políticas de caráter am
pliado para viabilização de mecanismos alternativos de mercado para a agricultura familiar ecológi
ca, com foco na promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional.
Quadro 8. Políticas Públicas propostas a partir da experiência da Agroflor
Dimensão Demanda
Logística e Estrutura de comercialização
Cessão e financiamento de infraestrutura e insumos para processamento mínimo de produtos (limpeza, seleção, embalagem, ...), bem como para industrialização da produção; Abertura de espaços de comercialização direto do agricultor nos municípios; Viabilização de equipamentos e estrutura mínimas especificamente para o estímulo ao ingresso de novas famílias; Capital de giro para aquisição de insumos necessário à comercialização e para garantia de pagamentos regulares.
Transporte Subsídios ao transporte de produtos, pela dispersão das unidades de produção e pelos volumes ainda pequenos; Adequação e melhoria do acesso às unidades de produção (estradas rurais).
ATER Programas de formação e capacitação para estímulo ao ingresso de novas famílias aos processos de comercialização estabelecidos e abertura de novos espaços/estratégias;
Operacionalização Redução de burocracia na elaboração de projetos e prestação de contas para o mercado institucional;
Observase ainda que há um grande potencial ainda por desenvolver dentro da Agroflor no
que se refere às possibilidades de comercialização, com a possibilidade de diversificar e ampliar as
estratégias de comercialização, no sentido de garantir maior estabilidade de autonomia das famí
lias, bem como ampliar o acesso aos alimentos ecológicos por parte da população.
Da mesma forma, tal ampliação pode possibilitar a entrada de um maior número de famílias
no processo, o que já está ocorrendo, porém, pelo que foi observado, com foco no ingresso aos mer
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cados institucionais (PAA e PNAE). Neste sentido, acreditase que a abertura e ampliação dos meca
nismos de mercado construídos e em construção, pode apoiarse em processo mais articulados em
termos de uma ação coletiva mais estruturada, uma vez que os espaços estabelecidos até o momen
to, apesar de se encontrarem no marco da Associação como um todo, ainda se apoiam na comercia
lização individual por famílias.
Por fim, destacase que a leitura aqui apresentada está inserida nos marcos de uma perspec
tiva de enxergar estas inciativas como experiências indicativas das possibilidades de estabelecimen
to de mecanismos de mercado voltado à promoção da soberania e segurança alimentar, via o desen
volvimento da agroecologia enquanto ponto de apoio para o estabelecimento de uma nova perspec
tiva de desenvolvimento rural.
Neste sentido, entendese que é extraindo aprendizados, observando limites e realizando
uma leitura crica da ação do Estado no desenvolvimento destas experiências é que se podem apon
tar perspectivas de políticas de fortaleçam e ampliem estas inciativas, bem como permitam a abertu
ra de perspectivas inovadoras de políticas públicas que primem pela garantia do direito humano à
alimentação adequada, bem como da sustentabilidade ambiental.
6 CONSULTAS
AGROFLOR. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO INSTITUCIONAL. 20102014.
Centro Sabiá de Desenvolvimento Agroecológico. FEIRAS AGROECOLÓGICAS NO
NORDESTE: ENCONTRO SOLIDÁRIO ENTRE CAMPO E CIDADE, AGRICULTURA
FAMILIAR E SÁUDE, ECONOMIA POPULAR E MEIO AMBIENTE. Recife, novembro de
2006. Avanildo Duque. Consultor.
Site da AGROFLOR: www.agroflor.com.br
Apresentações em powerpoint da AGROFLOR e CENTRO SABIÁ
Pesquisa das feiras elaborada pelo CENTRO SABIÁ.
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ANEXO I – Listas de PresençaLista de presença da oficina de sistematização
Lista de presença da reunião de equipe
ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital)
ANEXO III – Imagens do trabalho de campo