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Internacionalização do turismo no meio rural
Gabinete de Planeamento e Políticas. MADRP
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ESTUDO SOBRE A
INTERNACIONALIZAÇÃO
DO TURISMO NO MEIO RURAL
para o
Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e
das Pescas
Relatório 1:
Identificação e caracterização do mercado europeu
Elaborado por:
Barcelona, maio de 2012
Internacionalização do turismo no meio rural
Gabinete de Planeamento e Políticas. MADRP
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Sumário
1. Introdução ................................................................................................. 3
1.1. Objetivo .............................................................................................. 3
1.2. Metodologia ........................................................................................ 3
1.3. Limitações .......................................................................................... 3
2. Definição e segmentação ......................................................................... 4
2.1. O conceito de turismo rural ................................................................ 4
2.2. Impacto potencial ............................................................................... 5
2.3. Componentes ..................................................................................... 6
2.4. Segmentação da procura ................................................................. 13
3. O mercado ............................................................................................... 15
3.1. O macro contexto ............................................................................. 15
3.2. A procura. Números-chave .............................................................. 16
3.3. Tendências da procura ..................................................................... 19
3.4. O perfil do consumidor ..................................................................... 21
3.5. A oferta. Números-chave ................................................................. 27
3.6. Destinos excelentes (“best practice”) ............................................... 31
3.7. Concorrentes diretos de Portugal ..................................................... 39
3.8. A evolução do turismo rural em Espanha ......................................... 46
3.9. Os colaboradores ............................................................................. 53
3.10. Market requirements e KSF do turismo rural .................................... 57
4. Considerações finais .............................................................................. 61
5. Referências Bibliográficas ..................................................................... 62
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1. Introdução
O presente documento – Identificação e caracterização do mercado europeu – é o primeiro de três relatórios referentes ao estudo sobre a Internacionalização do Turismo no Meio Rural em Portugal.
Serão analisados os seguintes aspectos:
Definição e segmentação do sector: conceituação de turismo rural, características e elementos relacionados com o sector, além da análise dos diferentes segmentos de procura no âmbito europeu
O mercado: panorama europeu do mercado de turismo rural, incluindo valores de oferta, procura, principais tendências, perfil do consumidor, análise de países considerados best practices internacionais, análise dos concorrentes de Portugal e identificação dos market requeriments e Key Success Factors do sector
Este documento juntamente com o próximo relatório – Determinação do posicionamento competitivo de Portugal – serão usados como base para a elaboração das estratégias de desenvolvimento a ser apresentadas no terceiro relatório.
1.1. Objetivo
Identificar as principais características do mercado europeu de turismo rural internacional, suas tendências e best practices
1.2. Metodologia
A metodologia utilizada para a realização deste relatório baseia-se nas seguintes etapas:
Análise bibliográfica de publicações de mercado: mencionadas nas referências bibliográficas, no final do relatório
Levantamento de informação nas páginas web de entidades sectoriais: mencionadas nas referências bibliográficas, no final do relatório
Entrevistas telefónicas: com representantes de 19 operadores turísticos europeus, realizadas entre fevereiro e março de 2012, pela empresa DJS
1.3. Limitações
Apesar do exaustivo levantamento de informação e das consultas a especialistas do sector, alguns indicadores atualizados sobre turismo o rural internacional na Europa nao foram encontrados. O sector carece de dados oficiais atualizados.
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2. Definição e segmentação
2.1. O conceito de turismo rural
São muitas as terminologias usadas para referir-se a turismo rural, como turismo
verde, de herdades, de campo, agroturismo, entre outras. A diferenciação de cada
tipologia do sector é uma tarefa difícil, pois diversas das suas características são
comuns a distintos subsegmentos. Além disso, turismo rural contempla atividades de
muitas outras tipologias de turismo, especialmente de turismo cultural, gastronómico e
de natureza, incluindo suas inúmeras subtipologias, o que torna ainda mais complexa
a delimitação do que é ou não turismo rural.
Ilustração 01: Conceituação de turismo rural
Fonte: THR, 2012
Segundo a Organização Mundial de Turismo (UNWTO), o termo turismo rural é
normalmente usado quando a cultura rural é um elemento-chave do produto oferecido.
A característica distintiva entre turismo em geral e turismo rural é o desejo de
possibilitar ao visitante um contacto personalizado, uma experiência do ambiente
humano e físico do interior e, na medida do possível, a possibilidade de participar em
atividades, tradições e estilos de vida da população local.
Estar e dormir no meio rural são condições básicas, porém não são suficientes para
praticar turismo rural. A caracterização desse tipo de turismo não se refere apenas ao
local de destino do turista, mas também aos tipos de serviços e atividades por ele
procurados. Trata-se de turistas citadinos de médios e grandes portes que procuram
uma mudança de ambiente, em contato com a população local e com as suas formas
de vida tradicionais, próximo da natureza, num lugar tranquilo e não massificado. É um
regresso às raízes, algo autêntico e natural. Essa procura é constituída principalmente
por um turismo doméstico, de curta distância, praticado nos fins-de-semana e em
períodos de férias curtos.
Estadia num alojamento localizado no campo complementada com um conjunto de atividades e experiências para descobrir e desfrutar da natureza, da cultura e do estilo de vida rural.
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2.2. Impacto potencial
Para real compreensão do conceito e das implicações do turismo rural, também é
importante analisar os benefícios e malefícios comuns ao sector, fatores que devem
ser levados em consideração durante o processo de planeamento e desenvolvimento
da atividade. Tendo como objetivos prioritários o desenvolvimento da região e a
implementação do turismo rural de forma estável, o sector requer a minimização dos
impactos negativos e o aproveitamento dos positivos, agrupando-se em quatro
categorias:
POSSÍVEIS IMPACTOS DO TURISMO RURAL
Po
sit
ivo
s
Económicos Ambientais Sociais Culturais
Geração de riqueza
em complemento à
atividade rural
Dinamização e
estímulo à
economia local
Desenvolvimento
de infraestruturas
Contribuição para o
desenvolvimento
local
Diminuição da
dependência das
atividades agrícolas
Uso sustentável e
conservação dos
recursos naturais
Consciencialização
patrimonial e
ambiental
Preservação
cuidadosa do
ambiente rural, o
principal ativo
Melhoria da
qualidade de vida
Geração de
oportunidades de
emprego
Aumento de
integração social
com os visitantes
Redução de êxodo
rural
Melhoria das vias
de acesso à região
Relação com
pessoas muito
diversas, evitando o
isolamento rural
Conservação e
recuperação de
costumes,
tradições,
artesanato,
gastronomia e
outros aspectos
culturais
Potencialização
da identidade
cultural local
Aumento do
orgulho do
património e
cultura própria
Neg
ati
vo
s
Económicos Ambientais Sociais Culturais
Inflação
Atividade sazonal,
geralmente
insuficiente como
única geradora de
rendimento
Alteração na
utilização dos
recursos naturais,
levando à sua
possível sobre-
exploração
Geração de
impactos
ambientais se mal
planeado, como a
poluição e
contaminação
acústica ou da água
Alteração dos
habitats
Erosão do solo,
construção em
zonas naturais
A atividade pode
situar-se à margem
da dinâmica local
Possível divisão
não equitativa dos
benefícios
Perigo de
artificialização da
cultura local
Possível mudança
da cultura local
para a adaptar à
cultura turística
Possibilidade de
alteração do
equilíbrio social da
comunidade
Possível
sentimento de
repúdio aos
visitantes
Ilustração 02: Possíveis impactos positivos e negativos do sector
Fonte: THR, 2012
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Recursos e atrativos turísticos
Histórico-artístico Naturais Manifestações culturais
• Monumentos • Arquitetura popular • Castelos • Igrejas • Vilas • Escultura • Artesanato • Construções históricas
• Folclore • Gastronomia • Celebrações religiosas • Festivais artísticos • Feiras • Música local • Costumes e tradições
populares
• Paisagens • Clima • Rios e lagos • Parques naturais • Áreas de recreação • Trilhas, veredas e
percursos • Fauna • Flora
2.3. Componentes
O produto turismo rural requer uma completa oferta de serviços de alojamento, restauração, transporte e uma articulação de atividades e experiências que satisfaçam as necessidades e requisitos do grupo-alvo.
Ilustração 03: Componentes do turismo rural
Fonte: THR, 2012
1. Recursos e atrativos turísticos
Os recursos e atrativos turísticos são um
elemento básico do turismo rural. Um destino
terá mais potencial para o desenvolvimento do
turismo rural quanto mais atrativos tiver e
variados forem os seus recursos de base, quer
sejam naturais, culturais, histórico-artísticos ou
enogastronómicos. Desta forma será possível
atrair diferentes segmentos de procura.
Não obstante, observam-se cada vez mais destinos rurais com um marcado acento
numa temática concreta, quer seja o vinho, a gastronomia, a história, etc. O folclore e
a personalidade local são também uma fonte de valor que diferenciam alguns destinos
rurais de outros.
Ilustração 04: Recursos e atrativos do turismo rural
Fonte: THR, 2012
1
Recursos e
atrativos
turísticos
2
Serviços de
alojamento
3
Serviços de
restauração
4
Serviços de
transporte
5
Atividades
6Experiências
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Recursos e
atrativos
turísticos
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Serviços de
alojamento
3
Serviços de
restauração
4
Serviços de
transporte
5
Atividades
6Experiências
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2. Serviços de alojamento
A hospedagem é especialmente importante no
turismo rural já que em muitos casos deveria
constituir uma experiência em si mesma ou ser a
experiência por excelência. Por exemplo, no
agroturismo, o turista colabora nos trabalhos da
granja e integra-se plenamente na família. O tipo
de alojamento escolhido está portanto
estreitamente relacionado com o tipo de
experiência que o turista deseja.
Em relação ao conforto também existem diferentes níveis. Ainda que exista a crença
de que o turista rural é um cidadão de nível económico médio-baixo, os estudos1
demonstram que isso não é verdade, o turista procura cada vez mais alojamento de
qualidade e um elevado nível de conforto.
A tipologia de alojamentos é tremendamente variada, cada região de cada país tem
um tipo de casa rural típica, o que dificulta enormemente a standardização da
qualidade e, portanto, a comercialização em bloco a nível internacional.
Ilustração 05: Serviços de alojamento do turismo rural
Fonte: THR, 2012
Existe um manual a nível europeu, desenvolvido pela Eurogîtes, com standards
internacionais mínimos de qualidade e com a explicação de como se aplica cada
critério em alojamentos de turismo rural (equipamento, ambiente, serviços, atenção e
qualificação do pessoal e segurança). Os fornecedores de turismo rural podem-no
utilizar como orientação durante a sua autoavaliação e as entidades de inspeção como
referência durante as auditorias.
1 Informação com base nas entrevistas realizadas por parte de THR a diferentes atores do sector e na análise de
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Recursos e
atrativos
turísticos
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Serviços de
restauração
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Serviços de
transporte
5
Atividades
6Experiências
2
Serviços de
alojamento
Tipologia de serviços de alojamento
Espanha França Portugal • “Masías” • Casonas • Hospedarias • Posuadas • Cortiços • Hotéis rurais • Apartamentos rurais • Etc.
• Solares ou herdades • Casa rústica • Casa antiga • Casa de Campo • Aldeias • Hotel rural • Alojamento agroturismo • Etc.,
• Gîtes ruraux • Chambre d’hôte • Gîtes d’enfants • Camping à la ferme • Gîtes d’étape • Gîtes de séjour • Chalets-loisirs • Etc.,
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Assim, a aplicação destas normativas procura harmonizar e aproximar as díspares ofertas dos associados devido à diferente legislação de cada país e deve permitir a homogeneização dos serviços de alojamento cross-borders. Enquanto isto não chega, alguns estados emitem as suas próprias normativas para facilitar este processo, como é o caso da Áustria, França ou o próprio Portugal, inserindo labels ou marcas, recurso a que se recorre para dar uma imagem de qualidade e segurança ao turista, o que é especialmente relevante para a procura estrangeira.
3. Serviços de restauração
A restauração é um serviço complementar, mas ao
mesmo tempo importante para satisfazer as
necessidades básicas dos turistas.
Uma insuficiente ou pobre oferta de serviços de restauração é valorizada muito
negativamente, já que dispor de uma gastronomia local de qualidade é um ativo que
contribui decisivamente para o turista rural, sendo um grande elemento de
diferenciação da região.
Ilustração 06: Serviços de restauração do turismo rural
Fonte: THR, 2012
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Recursos e
atrativos
turísticos
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Serviços de
transporte
5
Atividades
6Experiências
3
Serviços de
restauração
2
Serviços de
alojamento
Serviços de restauração
• Restaurantes rurais • Estalagens com comida típica local • Restaurantes em hotéis • Bares e tabernas • Lojas de produtos regionais • Pastelarias especializadas
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4. Serviços de transporte
A conetividade aérea com aeroportos principais
e/ou secundários a partir dos mercados de origem
é básica se se quiser atrair procura estrangeira.
Uma vez no destino, é importante dispor de uma
boa rede de estradas que liguem as zonas rurais
com as áreas urbanas, possibilitando deslocações
rápidas, cómodas e fáceis.
O turista não deve ter a sensação de isolamento ou incomunicação por encontrar-se
num meio rural. É importante uma boa sinalização através de painéis que facilitem a
orientação para aceder e mover-se pela região. A disponibilidade de veículos de
aluguer é outro requisito para o bom funcionamento deste sector.
Ilustração 07: Serviços de transporte necessários no turismo rural
Fonte: THR, 2012
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Recursos e
atrativos
turísticos
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Atividades
6Experiências
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Serviços de
alojamento
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Serviços de
transporte
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Serviços de
restauração
Serviços de transporte
• Estradas e vias secundárias • Aeroportos • Sinalização apropriada • Portos • Empresas de aluguer de veículos
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5. Atividades
Os recursos e atrativos permitem ao turista realizar
atividades de desfrute do meio rural. Em certas
ocasiões isso não é possível de forma independente e
é necessária a existência de empresas de serviços
turísticos (como empresas de animação turística) que
concebem atividades aproveitando os recursos.
Os próprios fornecedores agroalimentares e indústrias vinculadas (queijarias, adegas,
artesãos, agricultores, etc.) devem ter uma orientação para o turista e deixar que este
participe na cultura e na riqueza local.
Ilustração 08: Recursos e atividades inerentes ao turismo rural
Fonte: THR, 2012
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Recursos e
atrativos
turísticos
5
Atividades
6Experiências
2
Serviços de
alojamento
4
Serviços de
transporte
3
Serviços de
restauração
Actividades
Esporte-recreativas Socioculturais Do meio rural Outras
• Montanhismo • Passeios de rio • Caminhadas • Pesca • Caça • Espeleologia • Passeios a cavalo
• Cicloturismo • Etc.,
• Compra de artesanato
• Estudo do meio ambiente
• Danças folclóricas • Eventos tradicionais • Visita a museus
agrícolas • Degustação da
gastronomia tradicional
• Etc.,
• Atividades agrícolas • Pecuária • Oficinas de
artesanato • Fabricação de
produtos locais • Interação com a
população local • Condução de
tratores • Tours por celeiros • Etc.
• Pintura • Fotografia • Termalismo • Atividades
ecológicas • Descanso • Etc.
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6. Experiências
As Destination Management Companies
(DMC’s) são empresas de serviços, em certas
ocasiões unipessoais, que concebem,
organizam e proporcionam experiências ao
turista a partir de atividades que podem ser
realizadas no meio rural.
Estes empresários não devem ser
confundidos com agentes de
viagem já que o seu modelo de
negócio é completamente
diferente. Os primeiros concebem
um produto de grande valor
acrescentado e os segundos são
meros comissionistas.
As experiências podem ser
classificadas em 4 tipos, em
função da forma e intensidade da
intervenção do turista:
Ilustração 09: Tipos de experiências
Fonte: Pine J. & Gilmore, J; The Experience Economy, Harvard Business School Press, 1999
Experiências de entretenimento (descanso/relax): São atividades de lazer
nas quais os turistas se envolvem através dos seus cinco sentidos, mas não
participam no desenvolvimento da atividade, isto é, o protagonista é a própria
experiência, não o turista.
Exemplos destes tipos de experiências seriam aquelas que os turistas rurais
praticam de carácter mais passivo, como contemplar a natureza, assistir a
festas locais ou receber uma massagem.
Experiências escapistas (evasão/esforço): Estas atividades exigem esforço
físico e o praticante é o protagonista da experiência.
Exemplos aplicados no ambiente rural seriam as caminhadas ou percursos
pela montanha em bicicleta, a pé ou a cavalo.
6Experiências
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Recursos e
atrativos
turísticos
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Serviços de
alojamento
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Serviços de
restauração
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Serviços de
transporte
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Atividades
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Experiências estéticas (prazer estético): São atividades em que o
consumidor é fundamentalmente um espetador que se entretém desfrutando
do valor e beleza estética de determinadas manifestações. Em certas ocasiões,
o valor ou componente estético da experiência encontra-se mais na forma que
no conteúdo, como é o caso da arquitetura, decoração e ambientação de um
hotel boutique ou uma estadia rural senhorial.
Num ambiente rural, exemplos deste tipo de experiências seriam um
esplêndido pôr de sol, uma boa paisagem panorâmica, estar sentados num
bonito café ou admirar um monumento histórico.
Experiências de "edutenimento" (aprendizagem/descobrimento): São as
atividades que requerem um elevado grau de envolvimento mental e nas quais
o turista tem um papel ativo como sujeito da experiência.
Exemplos deste tipo de experiências seriam as jornadas de avistamento de
aves, os circuitos ou percursos temáticos de arquitetura, história ou religião, as
oficinas culturais ou as provas de vinho numa adega.
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2.4. Segmentação da procura
A investigação e entrevistas realizadas com especialistas do sector confirmam que
existem dois grandes segmentos muito diferenciados de turista rural: turista passivo e
turista ativo. Por sua vez, dentro do turista ativo distinguem-se dois subsegmentos:
turista explorador e agroturista.
Turista rural passivo (≈50%) Turista rural ativo (≈50%)
Standard (≈30%) Upscale (≈20%) Explorador (≈35%) Agroturista (≈15%)
Ilustração 10: Segmentação do mercado rural
Fonte: Investigação a intermediários DJS, 2012
Turista rural passivo
Turista que se caracteriza pelo seu desejo de descansar e desfrutar da região de uma
forma tranquila, sem se afastar demasiado do estabelecimento onde está hospedado.
São turistas cujas atividades de recreio estão orientadas para a contemplação da
natureza e do património histórico-artístico. Interessam-se por rotas gastronómicas,
lugares de descanso diário, desportos estáticos e todas aquelas situações de baixo
impacto físico. O alojamento é parte do descanso, portanto procuram hotéis de um
maior nível de conforto que o turista ativo.
Dentro deste segmento de mercado distinguem-se dois subsegmentos, standard e
upscale, dependendo do nível de conforto geral desejado, no alojamento e serviços.
Turista rural ativo
Dentro do segmento ativo, diferenciam-se dois tipos de turistas segundo a sua
motivação de viagem:
Turista explorador
A motivação do turista explorador é a de percorrer uma zona geográfica rural
utilizando habitualmente um ponto como campo base. Este viajante gosta de conhecer
e explorar o território onde se encontra e visitar a zona rural que o rodeia, e as
povoações da região, para se impregnar da cultura e saborear a gastronomia típica
local, vivendo experiências e realizando atividades e percursos de intensidade média.
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Agroturista
Este turista interessa-se por conhecer as técnicas produtivas e participar nas formas
típicas, autênticas e tradicionais de vida e de trabalho no campo, recebendo um
tratamento personalizado. Costuma ser a mesma família proprietária do
estabelecimento rural a que, procurando alguns rendimentos extras, recebe os
turistas, às vezes com a ajuda de colaboradores externos.
O turista participa de forma ativa em todas as atividades, assistido por pessoal
capacitado, aprendendo todos os dias a experiência que envolve conviver numa
granja. Estas tarefas são preparadas de forma especial para que os turistas as
realizem, já que o objetivo não é trabalhar, mas sim divertir-se e aprender com a
experiência. Este tipo de turismo permite entrar em contato com a natureza ainda que
se trate de espaços submetidos a processos produtivos intensos, conhecendo os
traços de uma atividade dependente dela e tudo isso sem se afastar muito do
alojamento rural de onde está hospedado.
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3. O mercado
3.1. O macro contexto
Ambiente político e legal
O enquadramento de normativas legais que afetam o turismo rural varia muito entre
países. Isto dificulta a homogeneização das diferentes tipologias de alojamentos e,
portanto, a sua comercialização a nível internacional. Adicionalmente, ocasiona
insegurança no consumidor, já que não permite uma comparação efetiva.
A integração da UE proporcionou diversos benefícios, permitindo à indústria turística
o acesso a fundos como os FEADER ou PRODER para a melhoria das
infraestruturas. Esta integração favoreceu também os movimentos de turistas entre
países europeus, e o turismo rural não é alheio a esta tendência.
Ambiente económico
A economia encontra-se na fase de contração devido à crise. Espera-se que o
consumo retroceda em 2012 devido à incerteza económica e às altas taxas de
desemprego. Não obstante, aparecem sintomas de recuperação para o norte e centro
da Europa para 2013, o que pode beneficiar os movimentos turísticos.
Moderado crescimento da procura internacional de turismo rural em contraposição ao
estancamento deste sector em termos de procura doméstica.
Ambiente social
Aumento da consciencialização da população para cuidar e preservar o habitat rural,
incrementando-se a valoração do espaço.
Contacto humano complicado na sociedade atual. Turismo rural proporciona a
indivíduos e famílias valores e atitudes que não encontramos no dia-a-dia.
Novos modelos e estruturas de famílias que podem encontrar no turismo rural um
meio para cobrir uma série de necessidades diversas.
O ambiente rural é associado ao relaxamento e à desconexão, dois efeitos cada vez
mais procurados numa sociedade que vive sob a constante ameaça do stress.
Ambiente tecnológico
A Internet e as tecnologias de comunicação oferecem excelentes oportunidades para
o turismo rural em aspectos de promoção, comunicação e soluções comerciais,
superando o tradicional isolamento dos negócios e as comunidades rurais.
Ilustração 11: Macro contexto do turismo rural
Fonte: THR, 2012
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3.2. A procura. Números-chave
A procura pode ser dividida em dois grupos, segundo a motivação principal da viagem:
procura direta e procura indireta.
1 Procura
direta
Refere-se a turistas que consideram a visita ao destino
rural a principal razão da sua viagem.
2 Procura
indireta
Refere-se a turistas que visitam atrativos rurais apesar da
principal motivação de sua viagem ser outra (ex.: touring,
turismo de natureza, enogastronómico, wellness,
religioso, etc.). Tais turistas fazem uso dos serviços do
espaço rural, porém não dormem nesses destinos.
Ilustração 12: Tipos de procura
Fonte: THR, 2012
O turismo rural internacional representa 5,4% das viagens de lazer
Segundo IPK International, a procura direta de turismo rural em 2011 foi de 13,4
milhões de viagens na Europa. Isto representa 5,4% do total de viagens de lazer,
sendo todavia um tipo de viagem pouco frequente no turismo internacional, já que o
mercado doméstico é o principal gerador desta procura.
Não obstante, a multiplicação de rotas aéreas e o seu barateamento, juntamente com
a crescente necessidade de realizar descansos pontuais no campo ou na cidade, e
gozar do bom clima dos países mediterrâneos no inverno, faz com que as férias no
estrangeiro para desfrutar do meio e da cultura rural sejam mais frequentes. A crise
económica afetou sem dúvida este mercado. Este efeito é demonstrado pela queda
proncunciada das viagens internacionais entre 2005 e 2010.
Evolução do volume de viagens de turismo rural. Período 2000 – 2011 (milhões)
Ilustração 13: Volume de viagens internacionais de turismo rural
Fonte: IPK Internacional
14,6 17,4
13,9 13,4
0
10
20
2000 2005 2010 2011
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Previsão de um crescimento moderado
Para o futuro, espera-se uma evolução de intensidade moderada, a qual se poderia
situar entre 3% e 4% anual. Trata-se de uma estimativa realizada por THR a partir da
análise do sector, e da opinião dos especialistas entrevistados.
Por outro lado, as tendências na oferta e procura indicam que é um sector com
potencial para continuar a crescer. Aprecia-se uma crescente necessidade das
pessoas em procurar para as suas férias desconexão, descanso e desfrute com a
família, casal ou amigos, valores básicos que o turismo rural oferece. Por outro lado,
observa-se uma importante oferta potencial, quer seja nos destinos atuais ou em
desenvolvimento, o que deve estimular uma maior procura. Adicionalmente, a maior
conetividade aérea gerada pelas companhias low cost facilitam e muito o transporte de
turistas, sendo um importante fator a ter em conta já que pode impulsionar os
movimentos internacionais de turismo rural.
O volume da procura rural ativa é similar à passiva
Segundo expressaram os entrevistados, a dimensão do segmento ativo e passivo é
muito similar. Em relação às expetativas de crescimento, as opiniões não favorecem
claramente um segmento ou outro, ainda que se observe um maior potencial para o
segmento ativo.
A procura indireta é muito importante para este sector
Não existe estatísticas sobre a procura internacional indireta, mas sem dúvida esta é
uma importante geradora de receitas no meio rural, provinda de segmentos como o
turismo de natureza, o touring, a enogastronomia, o turismo de aventura, os city break,
wellness, turismo religioso, cultural, inclusive sol e praia, por mencionar alguns.
Favorecendo estes sectores, gerar-se-á procura indireta para o turismo rural.
É arriscado emitir números, mas a procura indireta poderia situar-se em 39-40 milhões
de viagens. Este número foi alcançado realizando hipóteses conservadoras sobre a
percentagem de viagens dos seguintes produtos que podem gerar despesa para o
sector rural:
Sectores
Total de viagens
internacionais na
Europa (Mil.)
% viagens de
procura indireta
Viagens de
procura indireta
(Mil.)
Natureza 16,6 100% 16,6
Touring 36,6 50% 18,3
Wellness 5 10% 0,5
Sol e praia 74,9 5% 3,7
Total 133,1 29% 39,1
Ilustração 14: Volume de procura indireta
Fonte: Estimativas THR
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Reino Unido e Países Baixos continuam a ser os principais mercados emissores
de turismo rural
Inglaterra e os Países Baixos são os principais mercados emissores de turismo rural
na Europa, seguidos de perto por França, Alemanha e os Países Nórdicos
Viagens de turismo rural ao estrangeiro por mercado emissor – 2010
Mercado emissor
Viagens
totais à
Europa (em
milhares)
% Viagens de
turismo rural
sobre o total
Viagens de
turismo rural
(em milhares)
% Total de
viagens de
turismo rural
Europa 237.516 5,9% 13.903 100%
Países Baixos 14.027 14,2% 2.002 14,4%
Grã-Bretanha 30.127 6,5% 1.968 14,2%
França 16.753 10,1% 1.696 12,2%
Alemanha 45.234 3,6% 1.607 11,6%
P. Escandinavos 22.964 8,6% 1.974 14,2%
Ilustração 15: Principais mercados de origem e evolução do turismo rural internacional
na Europa
Fonte: Estimativas THR com base nos dados de IPK Internacional2010
Despesa dos turistas
A despesa média diária da maior
parte dos turistas situa-se entre 80 e
150€, ainda que caiba destacar que a
maior percentagem deles não supera
os 100€. Não há qualquer dúvida que
este é um sector com gastos superior
ao tradicional sol e praia.
Menos de uma quinta parte dos
viajantes gasta mais de 150€ por dia.
A despesa diária está muito condicionada ao tipo de alojamento escolhido e à
época em que se viaja, sendo maior a despesa na época alta.
A oferta de atividades proporcionadas é uma variável muito importante em relação à despesa. Quanto mais opções de ativididades, maior o volume de consumo.
Ilustração 16: Despesa média diária por pessoa em viagens de turismo rural
Fonte: Investigação DJS, 2012
31%
50%
19% < 80€ p.n.
80 - 150€ p.n.
> 150€ p.n.
Internacionalização do turismo no meio rural
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19
3.3. Tendências da procura
Principais tendências no turismo rural internacional
Mercado
Necessidade de crescimento turístico sustentável a nível global, inclusive no sector
rural
Evolução de uma procura puramente doméstica para uma procura internacional cada
vez maior
Esforços para diminuir a sazonalidade turística
Crescimento de voos intrarregionais na Europa e de companhias aéreas de baixo
custo
Segmentos
Sector em que se podem distinguir dois grandes segmentos e subsegmentos, mas
dentro dos quais se observa uma ampla variedade de perfis
Crescente importância da procura do segmento de maiores de 55 anos (Baby
boomers). Eles estão reformados e terão mais tempo livre para viajar. O seu poder
de compra é superior ao da atual procura
Mais grupos de amigos com interesses específicos viajam para o meio rural
Motivações
Grande diversidade de motivações: natureza, cultura ou autenticidade são as
principais
Maior interesse por conhecer autóctones e suas tradições
Aumento da procura pela autenticidade e elementos únicos
Cultura da procura por viagens incomuns ou com maior diferenciação
“Volta às origens”
Observa-se uma evolução cada vez maior da procura internacional e por férias mais participativas. É esperado um maior nível de conforto do alojamento e um elevado standard de qualidade nos serviços. O turismo rural posiciona-se como uma opção a ser considerada nas férias de curta duração.
Internacionalização do turismo no meio rural
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20
Destinos e produtos
Diversificação e aumento de oferta turística no meio rural
Maior procura por padrões de elevada qualidade em acomodação, restaurantes,
transporte, experiências, etc.
Consciencialização crescente pelos temas meio ambientais
Evolução de férias passivas para férias mais participativas
Mais procura por hotéis boutique (pequenos alojamentos de elevado padrão,
respeito pela arquitetura local, boa hospitalidade e qualidade em conforto e serviços)
Aumento da procura por produtos específicos: tours gastronómicos, de vinho e de
produtos locais
Valorização da relação custo-benefício
Aumento da quantidade de regiões potenciais, desenvolvendo-se projetos de turismo
rural em países da zona dos Balcãs (Roménia, Bulgária, etc.), destinos emergentes
que possuem imensas áreas rurais
Aparecimento de plataformas que unificam a oferta rural de determinadas regiões ou
países facilitando a promoção e a comercialização, como sucede na Áustria
Iniciativas para a homogeneização da qualidade dos alojamentos rurais
Hábitos de Viagem
Aumento da internet como fonte de informação e canal de realização das reservas
Aumento da organização de viagens independentes sem intermediários
Realização de reservas com pouca antecedência
Realização de mais viagens, com menor duração e para destinos de curta distância
Ilustração 17: Tendências globais que afetarão o turismo rural
Fonte: THR, 2012
Dadas às tendências e mudanças observadas na procura intui-se que algumas das
barreiras (falta de infraestruturas, desconhecimento de idiomas, marketing escasso e
ineficiente, oferta complementar, insuficiente coesão sectorial, etc.) que travavam a
internacionalização deste sector podem desaparecer de forma progressiva. Isto, sem
dúvida, estimulará um crescimento moderado nos fluxos de turistas internacionais que
viajarão para desfrutar do meio rural durante os próximos anos.
Internacionalização do turismo no meio rural
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21
3.4. O perfil do consumidor
Interesses e motivações
Diversos fatores são elencados a respeito dos interesses e das motivações gerais do
consumidor de turismo rural:
Desejo de aprender mais sobre a vida e as tradições no campo e de fazer parte
temporariamente da cultura local
Paixão por descobrir e explorar a natureza
Fuga do quotidiano stressante das grandes cidades
Destinos com pouca cobertura pela mídia
Visita a destinos com ritmo tranquilo e estilo de vida simples
Reviver o passado (para a terceira idade)
Interesse por visitar parentes e amigos
Especificamente, em relação a cada um dos segmentos de procura definidos no
estudo, os principais interesses e motivações são apresentados na figura a seguir:
Interesses e motivações Turista
passivo
Turista
ativo
1 Relaxamento e descanso, “fuga do quotidiano”
2 Procura por um tratamento personalizado
3 Especial interesse por natureza e desporto
4 Experimentar formas tradicionais de viver, o
autêntico
5 Contemplação do património histórico-artístico
6 Gosto pela gastronomia caseira
7 Experimentar e aprender sobre o estilo de vida
e atividades próprias do campo e da granja -
8 Procura de romanticismo
9 Desfrute de excursões e realização de
atividades pela zona para a sua descoberta -
10 Estimulação física e mental
Ilustração 18: Interesses e motivações no turismo rural por segmento
Fonte: THR, 2012
Internacionalização do turismo no meio rural
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22
Atividades que realizam
Muitas das atividades possíveis de realização no turismo rural podem ser praticadas
pelos segmentos de procura definidos no estudo. Evidentemente, dependendo do
perfil e dos interesses do turista, algumas têm mais adesão que outras.
A seguir apresentamos algumas atividades para cada segmento de procura:
Turista passivo
Contemplação da natureza e do património histórico
Atividades de descanso e relax como visitar termas ou receber uma massagem
Prática de desportos estáticos
Passeios a pé e a cavalo
Aprendizagem sobre a elaboração de produtos regionais
Degustação de produtos regionais
Turista explorador
Excursões para a descoberta do espaço rural
Percursos de bicicleta e excursões a cavalo
Aprendizagem sobre a elaboração de produtos regionais
Degustação de produtos regionais
Prática de atividades que requerem esforço físico moderado
Agroturista
Realização de atividades típicas de uma granja: ensina-se aos turistas tarefas como
colher frutos, rodear gado, cuidar de animais, ordenar vacas, transformar alimentos,
trabalhar na horta, o processo da vindima, etc.
Elaboração e degustação de produtos regionais como o queijo, vinho ou doce
Montar a cavalo
Conduzir um trator
Expedições de safaris fotográficos
Realização de oficinas e atividades culturais dirigidas ao público infantil
Ilustração 19: Atividades no turismo rural por segmento de procura
Fonte: THR, 2012
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23
Perfil sociodemográfico da procura
Neste segmento, como em muitos outros, o perfil sociodemográfico e os interesses
turísticos podem variar bastante. Entretanto, pode-se afirmar que as principais
características dos dois segmentos de turistas analisados são as seguintes:
Âmbito Os consumidores europeus
Turista Passivo Turista ativo
Com quem viaja
Casados de idade avançada
Terceira idade
Casais jovens
Grupos de amigos
Famílias com filhos
Sazonalidade
Maior procura durante a
primavera e o verão
Relevante procura também na
época baixa
Maior procura durante a
primavera e o verão
Duração da
viagem
Entre 4 e 7 dias Entre 2 e 5 dias
Idade
Mais de 50 anos Entre 35 e 45 anos
Tipo de
acomodação
Estabelecimentos de grande
conforto ou boutique
Estabelecimento de
qualidade standard ou
conforto médio
Classe social
Classe média-alta
Nível cultural elevado
Classe média ou média-alta
Independente
economicamente
Ilustração 20: Perfil do consumidor por segmento
Fonte: Eurogîtes e THR a partir de diversas fontes, 2012
O turista rural tem entre 35 e 55 anos, é de classe média-alta, a estadia média é de cerca de 2-3 dias e provém maioritariamente de zonas urbanas. Atrai-lhe a cultura e a natureza, e segundo o perfil procura atividade ou relax/paz interior.
Internacionalização do turismo no meio rural
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24
Relativamente a algumas das variáveis analisadas sobre o perfil do consumidor de
turismo rural, alguns comentários complementares são relevantes.
Tipologia de turistas
Mais de metade dos turistas
viaja sem filhos.
As famílias são o segmento
que mais férias de turismo rural
realizam.
Apenas 17% da procura
corresponde a estudantes e
jovens profissionais.
Ilustração 21: Turistas rurais internacionais por segmento
Fonte: Investigação DJS, 2012
Duração da viagem
As viagens rurais caraterizam-se por
serem férias de curta duração ou
fins-de-semana.
O tempo médio de estadia é de 2-3
dias.
Pouco mais de metade dos turistas
está mais de 4 dias no destino.
Ilustração 22: Duração da viagem de turismo rural na Europa (noites)
Fonte: Investigação DJS, 2012
Sazonalidade
Apesar de sofrer menos
sazonalidade que outros segmentos
graças à oferta de atividades
durante todo o ano, os turistas rurais
concentram-se sobretudo durante o
verão, quando o clima apresenta
melhores condições:
Ilustração 23: Sazonalidade da procura de turismo rural na Europa
Fonte: Investigação DJS, 2012
0% 10% 20% 30%
Estudantes
Jovens…
Casais sem filhos
Famílias
Adultos sem filhos…
Séniors
3%
14%
17%
27%
17%
21%
0%
20%
40%
60%
1 a 3 4 a 7 8 a 14
42% 32%
26%
0%
20%
40%
60%
Jan. - Abr. Mai. - Ago. Set. - Dez.
16%
50%
34%
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25
Tipo de acomodação
A opção de acomodação
preferida pelos europeus em
viagens rurais são os hotéis
e as casas rurais.
As granjas são uma opção
menos escolhida, em parte
devido à menor presença
desta oferta de alojamento.
Ilustração 24: Meios de hospedagem usados pela procura de turismo rural na Europa
Fonte: Investigação DJS, 2012
Hábitos de reserva
Os hábitos de reserva são
distintos entre países. Em
Inglaterra, Países Baixos e
Espanha a internet e a
reserva direta são os
principais canais, enquanto
em França, Alemanha ou
Itália as agências de
viagem têm um maior peso.
Ilustração 25: Hábitos de reserva da procura de turismo rural na Europa
Fonte: Investigação DJS, 2012
Fontes de informação
A Internet é a principal fonte
de informação usada,
seguida das
recomendações de amigos
e familiares.
Ilustração 26: Fontes de informação usadas pela procura de turismo rural na Europa
Fonte: Investigação DJS, 2012
0% 20% 40% 60%
Outros
Granjas
B & B
Casas rurais
Hotéis rurais
9%
8%
10%
22%
51%
53%
22%
25%
Internet
Agências eespecialistas
Outros
0% 20% 40% 60% 80%
Clubes / associações
Redes sociais
Publicações…
Guias de viagem
Recomendação F&F
Catálogos
Internet
26%
37%
42%
42%
58%
58%
79%
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26
Tipo de compra
Da mesma forma que sucede
com os hábitos de compra,
existem importantes
diferenças entre países. Os
espanhóis, italianos e
franceses compram
maioritariamente o hotel
enquanto os ingleses, alemães
e neerlandeses preferem o
pacote de alojamento +
atividades.
Ilustração 27: Tipo de compra do produto rural
Fonte: Investigação DJS, 2012
N.º de viagens por ano
Quase 90% das pessoas
realiza viagens de turismo
rural entre 1 e 2 vezes por
ano.
Raramente são programadas
mais de duas viagens
internacionais de turismo
rural por ano, por se tratar de
escapadelas de custo
considerável.
Ilustração 28: Número de viagens por ano
Fonte: Investigação DJS, 2012
0%
20%
40%
60%
Hotel Pacote Tudoincluído
Outrosserviços
23%
54%
12% 11%
0%
20%
40%
60%
1 vez porano
1-2 vezespor ano
Mais de 2vezes por
ano
55%
35%
10%
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27
3.5. A oferta. Números-chave
Estima-se que a oferta de alojamentos de turismo rural na Europa seja de 230 mil
unidades
No âmbito europeu, a oferta atual estimada de alojamentos rurais registados é de
cerca de 230.000 estabelecimentos e mais de 2 milhões de camas2, estabelecendo-se
como média 9 camas por casa. Segundo os dados da Eurogîtes, em 2003 havia uma
oferta de 190.000 estabelecimentos e 1,7 milhões de camas, o que quer dizer que se
produziu um aumento de cerca de 20% da oferta rural estes últimos 9 anos, não tanto
promovida pela procura internacional, mas sim pela procura doméstica.
França, Alemanha e Reino Unido concentram 60% da oferta rural
Segundo esta mesma fonte, os 3 países que possuem um maior volume em termos de
hospedagem são a França, a Alemanha e o Reino Unido, os quais são os grandes
players do mercado e representavam à volta de 60% da oferta total, quota que se
estima bastante similar nos dias de hoje.
Portugal representa apenas 1% da oferta de alojamento rural
Neste estudo, Portugal figurava na décima terceira posição, com pouco mais de 1% de
participação de mercado. Segundo os estudos recentes do sector, atualmente (2010)
Portugal possui pouco mais de 1.000 alojamentos rurais, muito abaixo da maioria dos
países europeus com quem concorre. Assim, por exemplo, segundo o INE, em 2010
Espanha contava com cerca de 14.300 estabelecimentos rurais.
Não se prevê um aumento significativo da oferta nos próximos anos
Em geral, face ao futuro não se prevê um aumento significativo da oferta, prevendo-se
em contrapartida um maior aproveitamento da mesma. Apenas nos países da Europa
de Leste se pode esperar um maior aumento nos seus esforços de desenvolver este
sector.
O nível de ocupação média anual dos estabelecimentos rurais é baixo
Por outro lado, segundo os dados da Eurogîtes juntamente com diferentes relatórios
do sector, observa-se que a ocupação desta tipologia de alojamento alcança uma
média anual entre 20 e 25%, ainda que seja menor em muitas áreas.
Esta percentagem reduz-se quando não se trata de fins-de-semana ou períodos de
férias, provocando que em algumas regiões apenas se opere durante certos meses do
ano, constituindo um dos grandes problemas do lado da oferta. Cabe destacar que
35% é considerado um nível de ocupação média positivo, algo que em qualquer outro
sector seria um valor medíocre, e de acordo com um estudo realizado para a União
Europeia3, menos de 10% dos estabelecimentos alcançam este nível de ocupação.
2 Estimativa com base na análise documental de artigos publicados, entrevistas com atores do turismo rural em
Portugal e a opinião profissional de peritos THR 3 http://vioregio.sk/en/education/handbook/persepctives_in_europe.php
Internacionalização do turismo no meio rural
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28
No caso de Espanha, por exemplo, e segundo os dados do INE, a ocupação média é
de 15%, alcançando apenas 25% nos fins-de-semana.
Dificuldade para obter dados estatísticos
Finalmente, cabe destacar que é realmente complicado proporcionar ou inclusive
estimar números exatos de oferta rural. As definições e fontes de informação são
muito heterogéneas entre os diferentes países. A maioria da acomodação rural não
existe de forma oficial, já que em muitos países europeus só uma pequena
percentagem do total de alojamento se encontra registrado.
Internacionalização do turismo no meio rural
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29
Principais destinos de turismo rural na Europa
As três principais áreas de turismo rural na Europa são:
1 Alpes Tirol, Floresta Negra, Alto Adige, Neuchâtel, Lausanne,
Sion etc.
2 Mediterrâneo Córsega, Provença, Beziers, Toscana, Andaluzia,
Catalunha, etc.
3 Atlântico Normandia, Galiza, Astúrias, Ilhas Britânicas, etc.
Ilustração 29: Principais regiões de turismo rural na Europa
Fonte: THR, 2012
Ilustração 30: Mapa com as principais regiões de turismo rural na Europa
Fonte: THR, 2012
Internacionalização do turismo no meio rural
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30
França, Espanha e Alemanha são os países com maior participação no mercado
turístico rural internacional. Juntos, receberam mais de 30% da procura europeia
Ilustração 31: Países com maior market share em turismo rural na Europa
Fonte: Estimativa THR com base nos dados IPK internacional e investigação DJS
Espanha é sem dúvida o principal concorrente de Portugal, seguido de Itália e França.
Internacionalização do turismo no meio rural
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31
3.6. Destinos excelentes (“best practice”)
Para definir a lista de destinos best practice no turismo rural, os seguintes critérios
foram levados em consideração:
Elevados graus de segurança e higiene
Qualidade das acomodações
Existência de guias locais profissionais
Qualidade da gastronomia, com ingredientes locais
Paisagens rurais magníficas
Espaço conservado
Qualidade do património cultural
Contacto direto com a natureza
Possibilidade de observação de fauna
Excelentes experiências
Forte posicionamento de mercado
Marca com prestígio e elevado reconhecimento
Ótimas redes de contacto
Infraestrutura eficiente
Páginas Web funcionais e atrativas
Constante respeito pelas tradições, natureza e vida rural
Com base em publicações analisadas e em entrevistas com especialistas em turismo
rural consultados pela THR, os principais destinos considerados de referência
internacional nesse segmento são:
1 Áustria Tirol
Alpes
Sion
2 Alemanha Baviera
Floresta Negra
Renânia
3 Suíça
Alpes
Génova
Lausanne
Lucerna
Ilustração 32: Destinos best practice no turismo rural na Europa
Fonte: THR, 2012
Internacionalização do turismo no meio rural
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32
A seguir, é apresentado um resumo com as principais características do turismo rural
nos países listados como best practice internacional no segmento, embora não sejam
necessariamente concorrentes diretos de Portugal.
Foi utilizado o modelo canvas para resumir os elementos de negócio do turismo rural
nos três destinos best practices: Áustria, Alemanha e Suíça
Os 9 componentes de um modelo de negócio
Ilustração 33: Modelo canvas
Fonte: Ostelwalder, Alexander & Pigneur, Yves; Business Model Generation, 2010
Segmentos de consumidor. Define os segmentos do público-alvo a quem se deseja
oferecer valor.
Proposta de valor. Descreve o conjunto de produtos e serviços que geram valor para
um segmento de consumidores específico. O objetivo principal: Resolver um problema
ou satisfazer uma necessidade.
Relação com os clientes. Identifica os tipos de relações que uma empresa
estabelece com um específico segmento de clientes.
Sistemas de venda. Descreve os canais que serão utilizados para comunicar e
chegar a cada segmento para entregar a proposta de valor.
Atividades-chave. São as coisas mais importantes que devem ser feitas para produzir
a proposta de valor e para que o modelo de negócio funcione.
Recursos-chave. São os ativos e capacidades mais importantes exigidos para que o
modelo de negócio funcione.
Sócios-chave. Identifica a rede de fornecedores e sócios necessários para fazer com
que o modelo de negócio funcione.
Fluxo de receitas. Enumera as fontes de receitas que serão geradas por cada
segmento de clientes.
Estrutura de custos. Resume todos os custos gerados pelo modelo de negócio.
Internacionalização do turismo no meio rural
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33
ÁUSTRIA4
Segmentos
de mercado
Pessoas que desejam viver a pequena aventura de
passar as suas férias numa granja típica, descobrindo e
desfrutando do estilo de vida rural, descansando ou
praticando atividades de interesse.
Proposta de
valor
Promessa da marca país. “Genuína experiência
granjeira todo o ano com um toque pessoal e familiar”.
A marca Urlaub am Bauernhof (Férias numa granja)
promete viver uma autêntica experiência granjeira com um
toque pessoal. Esta experiência abarca conhecer a
agricultura austríaca, as suas granjas, o seu rico legado
cultural, tradições, artesanato e cozinha. Também se insiste
no tratamento pessoal e em experimentar a hospitalidade
familiar das suas gentes, de forma a sentir-se como na sua
própria casa.
Certificação de qualidade. Sistema de certificação e
classificação (de 1 a 4 margaridas).
Orientação para o cliente. Propostas segmentadas /
variedade / diversidade de preços. Adicionalmente à
experiência básica, são oferecidos diversos tipos de férias
para aqueles que desejam satisfazer um interesse especial:
o Diferentes produtos dependendo da altura do ano, mas
sempre disponíveis: pão, doce e manteiga caseiros,
animais da granja.
o Diferentes preços segundo os níveis de conforto.
o Diferentes produtos para diferentes segmentos (férias
num refúgio, numa granja de vinho, granjas para
famílias, para montar a cavalo, para melhorar a saúde,
etc.).
o Propostas personalizadas graças a um configurador com
base em: prioridades e preferências.
Inspiração, planificação & reserva e recomendação.
Cobre os processos prévios para a viagem e pós-viagem.
Relação
com o
cliente
Atendimento do cliente. Durante o processo de reserva o
utilizador pode entrar em contacto via e-mail ou telefone.
Newsletter. Pode subscrever a newsletter proporcionando
nome, apelidos e endereço.
Redes sociais. Ativo no Facebook, YouTube e Flickr.
Recomendação. Pode acrescentar um comentário, enviar
4 Fonte: www.farmholidays.com. Elaboração própria pela THR, a partir da análise de relatórios e estudos
Internacionalização do turismo no meio rural
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34
uma oferta para um amigo e enviar um postal eletrónico.
Sistemas de
venda
Portal web de inspiração, planificação da viagem e
reserva.
Atividades-
chave
Gestão da marca e do marketing:
o Gestão da oferta. Deteção de oportunidades,
lançamento e classificação da oferta.
o Publicidade. Edição de catálogos / anuário.
o Gestão dos clientes. Atendimento do cliente e envio de
mailings.
Assessoramento e formação de partners associados. O
assessoramento e formação dos granjeiros para oferecer
um melhor serviço são indispensáveis. Urlaub am
Bauernhof encarrega-se desta tarefa.
Controlo da qualidade. A garantia contínua da qualidade
dos estabelecimentos é fundamental.
Manutenção da plataforma. A informação tem de estar
atualizada e ser sedutora, visual e verbalmente.
Recursos-
chave
Marca Urlaub am Bauernhof e selos de qualidade do
alojamento.
Equipa de trabalho. 30 empregados e um bom número de
voluntários. Possuem um Diretor Executivo, Mkt. Manager e
responsável pelos produtos temáticos, Assistente de Mkt.,
Responsável de Marca & Qualidade, Responsável de
Tecnologia e feiras.
Granjas associadas. 2800 granjas organizadas desde
1991 em 8 associações provinciais autónomas e uma
organização genérica para toda a Áustria.
Plataforma de reservas.
Sócios
estratégicos
Granjeiros e agricultores.
Agências de promoção turística na Áustria e Europa.
Promoção do sector nos mercados internacionais.
Ministério federal da Agricultura, Silvicultura, Meio
ambiente e gestão da Água. Impulsiona-se o turismo rural
através de subsídios para comprar material e contratar
pessoal.
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35
ALEMANHA5
Segmentos de
mercado
Famílias com crianças ou casais mais velhos
que querem compreender o estilo de vida rural e
que desejam desfrutar de uma grande quantidade
de serviços culturais, lazer e aventura ao longo do
território.
Proposta de
valor
A Sociedade Agrícola Alemã (DLG) é uma das
encarregadas por estruturar a oferta de turismo
rural, a qual promete uma ampla oferta de serviços
combinados com uma oferta de alojamento e
serviços de qualidade. Cuida-se muito do produto.
Organização nacional. Urlaub auf dem Bauernhof,
estabelecida em Berlim e com sucursais em cada
região da Alemanha, alguns dos seus membros
estão afiliados à DLG e aparecem com este símbolo
no catálogo que publicam.
Relação qualidade preço elevada.
Certificação de qualidade. A DLG distribui três
etiquetas ou selos que abrangem os standards de
qualidade que o anfitrião deve oferecer:
o Urlaub auf dem Bauernhof (férias em granjas)
o Landurlaub (férias no campo)
o Urlaub auf dem Winzerhof
Orientação para o cliente. Propostas
segmentadas / variedade / diversidade de
preços. Adicionalmente à experiência básica na
granja, são oferecidos diversos tipos de férias para
aqueles que desejam satisfazer um interesse
especial:
o Diferentes produtos dependendo da altura do
ano, a motivação, as pessoas com quem se viaja
ou quando se viaja (aventura, natureza, saúde,
gastronomia, animais, etc.)
o Informação ampla e pormenorizada para cada
alojamento rural
o Diferentes preços segundo os níveis de conforto
o Diferentes produtos para diferentes segmentos
(atividades de aventura, caminhada, elaboração
5 Fonte: www.landtourismus.de, www.bauernhofurlaub.de. Elaboração própria pela THR, a partir da análise de
relatórios e estudos
Internacionalização do turismo no meio rural
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36
de produtos agrícolas, visita ao património
cultural)
o Propostas novas e personalizadas: a última
moda consiste em converter os celeiros em
espaços de alojamento e onde os turistas
dormem em camas de palha
Relação com o
cliente
Atendimento do cliente. Durante o processo de
informação e reserva o utilizador pode entrar em
contacto via e-mail ou telefone diretamente com a
casa rural.
Gabinete de imprensa da DLG. Grande
quantidade de informação técnica e imagens e
comunicados das últimas notícias de todos os
eventos e temas.
Referências e testemunhos recolhidos na web.
Redes sociais. Presença no Facebook, Twitter,
Google+ e existência de um blog.
Sistemas de
venda
Promoção e venda basicamente via internet.
Bonos oferta.
Atividades-chave
Gestão da marca e do marketing:
o Concorrência entre regiões. Cada região
procura atrair turistas com a sua própria
identidade
o Publicidade. Publicação de recortes de
imprensa e comunicados na web, além de um
guia informativo
o Gestão dos clientes. Resposta a qualquer
dúvida que o cliente possa ter
Os governos e, sobretudo, as organizações
regionais proporcionam formação em que são
abordados os âmbitos de comercialização,
hospitalidade e financiamento.
Controlos de qualidade. Controlos periódicos
através de 200 pessoas desde há mais de 40 anos
por parte da DLG.
Recursos-chave
Sociedade Agrícola Alemã e certificações de
qualidade do alojamento.
Alojamentos associados. Mais de 5.000
apartamentos e quartos em casas rurais fazem
parte da organização nacional.
Plataforma de reservas muito avançada.
Sócios
estratégicos
Proprietários rurais, granjeiros e agricultores.
Ministério da Agricultura de cada região.
Impulsiona-se o turismo rural através de cursos de
formação.
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SUÍÇA6
Segmentos de
mercado
Pessoas que desejam estabelecer um contacto
direto com uma natureza privilegiada e praticar
o agroturismo ao longo de todo o ano com o
fim de desfrutar e descobrir um ambiente único.
Proposta de valor
Promessa. Oferece-se uma oferta de serviços de
elevada qualidade e conforto em torno da natureza
virgem. A experiência abrange conhecer o espaço
realizando múltiplas atividades típicas de
agroturismo, assim como caminhadas,
birdwatching, aventura, desportos de inverno,
montar a cavalo, etc.
Organização nacional. Desde 2010, o turismo
rural é organizado a nível nacional através de uma
entidade chamada Agrotourismus Schweiz e
agrupa as três associações nacionais existentes,
as quais atuam de forma independente: rural-
tourism.ch, Ferien auf dem Bauernhof (férias no
campo) e Schlaf im Stroh (dormir na praia).
Certificação em forma de flor para simbolizar os
lugares que preservam os espaços naturais
oferecendo elevada qualidade de turismo rural.
Orientação para o cliente. Propostas
segmentadas / variedade / diversidade de
preços. São oferecidos diferentes tipos de férias
para aqueles que desejam satisfazer um interesse
especial:
o Produtos diferenciados segundo se trate de
alojamento, gastronomia ou atividades.
o Diferentes preços segundo o nível de conforto.
o Grande diversidade de tipologia de
alojamentos.
o Diferentes produtos para diferentes segmentos.
o "Aventure sur la paille”: mais de 250
agricultores já oferecem o alojamento de dormir
na palha.
Relação com o
cliente
Atenção ao cliente. Durante o processo de
informação e reserva o utilizador pode entrar em
6 Fonte: www.tourisme-rural.ch, www.bauernhof-ferien.ch, www.bnb.ch, www.myswitzerland.com. Elaboração
própria pela THR, a partir da análise de relatórios e estudos
Internacionalização do turismo no meio rural
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contacto via e-mail ou telefone.
Redes sociais. Presença no Facebook e Twitter
de rural-tourism.ch.
Sistemas de
venda
Portal web com funções de centro de reservas,
reúne a oferta de turismo rural.
Contactos e reservas realizados diretamente
com o fornecedor do serviço.
Atividades-chave
Gestão da marca e do marketing:
o Existência de um centro de competências do
turismo rural.
o Site que reúne os principais organismos e
organizações.
o Representação comum da oferta nas feiras.
o Elaboração de catálogos.
o Coordenação de atividades docentes.
o Publicidade. Promoção via diferentes edições
de catálogos por parte de cada associação.
o Gestão dos clientes. Atendimento do cliente
via telefone e mail.
Formação. Presença de múltiplas organizações
com programas de formação de profissionais no
sector.
Controlo da qualidade. Standards de qualidade
nos serviços oferecidos e garantia contínua da
qualidade.
Recursos-chave
Marca Agrotourismus Schweiz (2010),
organização genérica que agrupa boa parte da
oferta rural.
Membros associados. 250 membros no Aventure
sur la Paille, rural-tourism.ch e 210 em Ferien auf
dem Bauernhof.
Recursos naturais. Ambiente privilegiado, único.
Equipa de trabalho profissional, permitindo
oferecer serviços de elevada qualidade.
Plataforma de reservas.
Sócios
estratégicos
Granjeiros e agricultores que ante a falta de
subsídios, muitas vezes organizam-se por sua
conta.
Organizações e associações: AGRIDEA
(Associação Suíça para o desenvolvimento da
agricultura e das áreas rurais), AGORA
(Associação das organizações de agricultura) e
AGIR (Agência de informação agrícola).
Instituições turísticas fornecedoras dos serviços
que se oferecem.
Internacionalização do turismo no meio rural
Gabinete de Planeamento e Políticas. MADRP
39
3.7. Concorrentes diretos de Portugal
Com base na investigação realizada foi identificado um conjunto de destinos com uma
proposta de valor similar à de Portugal e com os quais consequentemente concorre
diretamente:
1 França
Val del Loire
Provença
Normandia
Pirenéus
Alpes
Bretanha
2 Itália
Toscana
Ligúria
Bolzano
Trentino-Alto
Adige
Umbria
3 Espanha
Castela e Leão
Navarra
Astúrias
Cantábria
Andaluzia
Galiza
País Basco
Catalunha
Ilustração 34: Concorrentes diretos de Portugal
Fonte: THR, 2012
Internacionalização do turismo no meio rural
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40
FRANÇA7
Segmentos
de mercado
Pessoas que desejam receber um acolhimento caloroso,
diálogo e todo um leque de sensações e de emoções
muito autênticas através de uma grande diversidade de
alojamentos.
Proposta de
valor
Promessa. Desfrutar de uma grande experiência através da
agricultura, do património cultural e da gastronomia, dando-
se muita importância ao tratamento pessoal, de modo que
se pode conhecer o país, seus habitantes e paisagens ao
mesmo tempo.
Certificação de qualidade. Gîtes de France funciona
desde os anos 50, classificando as casas com um selo que
garante a qualidade (de 1 a 5 espigas), segundo as
caraterísticas, conforto e serviços, e reclassifica-as pelo
menos uma vez cada 5 anos. Além disso, qualquer
alojamento deve respeitar uma carta nacional de qualidade.
São cofundadores e membros da Eurogîtes.
Orientação para o cliente. Propostas segmentadas /
variedade / diversidade de preços.
o Diferentes tipos de produtos segundo as necessidades e
interesses do turista. Grande valoração dos produtos
locais. Orientação para todos os públicos.
o Diferentes preços segundo os níveis de conforto.
Inspiração, planificação & reserva.
Relação
com o
cliente
Atendimento do cliente. Durante o processo de
informação e reserva o utilizador pode entrar em contacto
via e-mail ou telefone ou com a associação via e-mail.
Newsletter. Pode subscrever a newsletter fornecendo
nome, apelidos e endereço.
Redes sociais. Presença no Facebook.
7 Fonte: www.gites-de-france.fr, www.bienvenue-a-la-ferme.com. Elaboração própria pela THR, a partir da
análise de relatórios e estudos
Internacionalização do turismo no meio rural
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41
Sistemas
de venda
Possibilidade de reserva via internet ou contacto direto
com o estabelecimento através do site da Gîtes de
França.
Atividades-
chave
Gestão da marca e do marketing:
o Gestão da oferta. O site da Gîtes de França oferece
uma ampla e variada oferta de alojamento por áreas de
interesse, tipos de produtos e realização de atividades
rurais. Trata-se de microempresas de carácter familiar.
o Publicidade. Edição de guias e catálogos que reúnem a
oferta de casas e atividades disponíveis
o Gestão dos clientes. Serviço de atendimento do cliente
Sistema de formação através da internet e ampla rede de
centros estatais de cursos de formação para o
desenvolvimento do turismo rural.
Controlo da qualidade. Auditorias regulares de qualidade
do serviço prestado.
Recursos-
chave
A marca Gîtes de France, primeira rede europeia de
alojamentos em família.
Mais de 55.000 estabelecimentos rurais diferentes, únicos
e para todos os gostos.
Grande diversidade de paisagens. 80% do território rural,
gastronomia requintada e património muito bem
conservado. Combinação da área mediterrânea, Pirenéus,
Maciço Central e Alpes.
Recente renovação das granjas e suas atividades.
Plataforma de reservas.
Sócios
estratégicos
Granjeiros e agricultores.
O Ministério da Agricultura coordena os centros públicos
de formação de forma regional.
Internacionalização do turismo no meio rural
Gabinete de Planeamento e Políticas. MADRP
42
ITÁLIA8
Segmentos
de mercado
Destino ideal para o turista passivo ou o agroturismo
com elevado desenvolvimento de serviços culturais e
atividades em granjas que envolvem o desfrute do espaço
rural conjuntamente com um bom serviço de alojamento e
uma cozinha típica de qualidade caraterística de cada
região.
Proposta
de valor
Promessa. A gastronomia e as suas bonitas paisagens são
os principais ingredientes do turismo rural italiano. Oferece-
se alojamento e comida de elevada qualidade. Constante
aumento das atividades de lazer e culturais.
Certificação de qualidade. Cada região tem a sua
normativa particular, não se detectando nenhuma
classificação da oferta de alojamentos. A associação Terra
Nostra atribui um certificado ISO de qualidade aos seus
estabelecimentos.
Orientação para o cliente. Propostas segmentadas /
variedade / diversidade de preços.
o Diferentes produtos típicos locais segundo cada região,
sobretudo gastronómicos.
o Diferentes preços segundo os níveis de conforto.
Relação
com o
cliente
Atendimento do cliente. Durante o processo de
informação o utilizador pode entrar em contacto via e-mail
ou telefone.
Newsletter. Pode subscrever a newsletter de Terra Nostra
para receber informação de oferta, eventos e iniciativas.
Garantia de transparência na comunicação mediante a
adoção de um procedimento ad hoc para a confirmação de
reservas (Terra Nostra).
Avaliação. A Terra Nostra submete-se à apreciação dos
convidados dando-lhes um formulário para avaliar a
satisfação do cliente.
Sistemas
de venda
Sistema de venda. A comercialização é feita através das 3
associações nacionais, a partir das quais se pode realizar a
reserva ou entrar em contacto diretamente com o
proprietário da casa.
8 Fonte: www.terranostra.it, www.turismoverde.it, www.agriturist.it. Elaboração própria pela THR, a partir da
análise de relatórios e estudos
Internacionalização do turismo no meio rural
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43
Atividades-
chave
Gestão da marca e do marketing:
o Gestão da oferta. Deteção de oportunidades,
lançamento e classificação da oferta.
o Publicidade. Edição de livros e guias locais de oferta
rural por parte de cada associação.
o Gestão dos clientes. Atendimento do cliente via e-mail
e telefone.
Assessoramento e formação de partners associados. As
regiões possuem autonomia em termos de formação e
educação rural. Em grande parte das zonas, os granjeiros
que pretendem iniciar-se no negócio têm de realizar de
forma obrigatória o curso em marketing, comunicação,
idiomas, etc. Aumento da presença de centros privados de
formação.
Venda direta de produtos locais.
Sistemas e métodos de produção não agressivos
ambientalmente.
Controlos de qualidade procurados pelas associações.
Recursos-
chave
Organizações nacionais. Presença de três organizações
nacionais que oferecem turismo rural e que fazem parte de
um sindicato agrícola que as engloba chamado
ANAGRITUR (Terra Nostra, Turismo Verde e Agriturist),
onde se organizam eventos, seminários, exibições e se
vendem pacotes turísticos de agroturismo.
o Terra Nostra. Reagrupa 18 associações regionais e 96
provinciais, dispondo de um catálogo de numerosas
casas rurais. Suporte de iniciativas locais, promoção de
guias, sessões de formação, etc. Não é portal de
reservas.
o Turismo Verde. Fundada pela confederação de
agricultura, promove centenas de casas através da
internet e de um guia elaborado por eles. Proporciona
informação a empreendedores que se iniciam no
negócio.
o Agriturist. Promove cerca de 200 casas, edita guias de
alojamento e produtos e organiza eventos e exibições.
Gastronomia e produtos regionais muito valorizados,
com muitas D.O. de produtos alimentares ou vinhos.
Grande quantidade de parques nacionais que abrangem
mais de 10% da superfície do país.
Plataforma de reservas de algumas associações.
Sócios
estratégicos
Granjeiros e proprietários rurais.
Acordos com organizações, instituições e grupos de
compra.
Internacionalização do turismo no meio rural
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44
ESPANHA9
Segmentos
de mercado
Pessoas que desejam obter contacto direto com a
natureza e a população local estabelecendo novas
formas de relações humanas.
Proposta de
valor
Promessa de oferecer natureza, património cultural,
gastronomia e um serviço de qualidade acompanhado de
um clima agradável todo o ano.
Certificação de qualidade. Sistema de classificação de
alojamento através de espigas (ASETUR).
Orientação para o cliente. Propostas segmentadas /
variedade / diversidade de preços. Informação detalhada
sobre atividades e produtos do município, e de transporte.
o Produtos e atividades muito díspares dependendo da
zona do país. A dedicação ao sector rural difere muito
segundo a importância que representa no conjunto
turístico e condiciona a quantidade e variedade da oferta
o Possibilidade de encontrar oferta rural durante todo o
ano
o Diferentes preços segundo os níveis de conforto.
Relação
com o
cliente
Atendimento do cliente. Durante o processo de
informação e reserva o utilizador pode entrar em contacto
via e-mail ou telefone.
Redes sociais. Atividade no Facebook, blogs rurais e
Twitter em certos casos.
Sistemas de
venda
Comercialização basicamente via internet mediante sites
ou através de contacto direto com o proprietário.
Atividades-
chave
Gestão da marca e do marketing.
o Gestão da oferta. Deteção de oportunidades,
lançamento e classificação da oferta.
9 Fonte: www.ecoturismorural.com, www.raar.es, www.redr.es. Elaboração própria pela THR, a partir da
análise de relatórios e estudos.
Internacionalização do turismo no meio rural
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45
o Publicidade. Publicação de um guia comum de turismo
rural, um único stand nas feiras e um site comum que
redireciona para associações regionais (ASETUR).
o Gestão dos clientes. Atendimento do cliente e envio de
mailings.
Assessoramento e formação. Presença de organizações
de formação que oferecem cursos regionais ou locais,
tendo-se harmonizado recentemente as iniciativas de
formação pela Rede Espanhola de Desenvolvimento Rural.
Controlo da qualidade. A garantia contínua da qualidade
dos estabelecimentos é fundamental ainda que cada região
o faça à sua maneira.
Recursos-
chave
Marca. ASETUR, membro da Eurogîtes, é a maior
organização a nível nacional e representa os alojamentos
rurais de todo o país, apesar de cada Comunidade
Autónoma possuir a sua própria normativa, o que provoca
certa confusão no mercado condicionando as políticas
comerciais. Possui mais de 5.000 alojamentos.
Programa europeu Leader deu um grande apoio ao
crescimento do turismo rural.
Grande quantidade de portais web e motores de busca
de casas rurais na internet.
Sócios
estratégicos
Granjeiros e proprietários rurais, juntamente com
pessoas que não se dedicam aos trabalhos do campo, mas
percebem os gostos e as necessidades dos seus hóspedes
urbanos.
Numerosas federações e associações ativas a nível
regional, como a Rede Andaluza de Alojamentos Rurais
(RAAR) ou a Unió de Pagesos da Catalunha.
Ministério da Educação, em matéria de formação.
Internacionalização do turismo no meio rural
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46
3.8. A evolução do turismo rural em Espanha
Em Espanha, as primeiras iniciativas para o desenvolvimento do Turismo Rural como
atividade complementar dos rendimentos agrários foram os Programas de Férias em
Casas de Labranza, entre os anos 1960-80, a cargo do sector público, concretamente
a Agência de Extensão Agrária e o Ministério de Informação e Turismo.
Já então o sector público foi o grande impulsionador da incorporação da atividade
turística no campo, e continua a ser assim ainda hoje através da iniciativa comunitária
LEADER, iniciada em 1991, que Espanha complementou com o programa PRODER
desde 1996. Estes instrumentos contribuíram para o espetacular crescimento da oferta
e da procura espanhola nos últimos quinze anos.
Evolução do n.º de alojamentos em Espanha (milhares)
Evolução do n.º de turistas totais em Espanha (milhões)
Fonte: Instituto Nacional de Estatística de Espanha (INE) 2011
Os investimentos públicos do LEADER, no período de 1994-2007, alcançaram 27,6M
€/ano. O turismo rural recebia 24,3% deste investimento.
Atualmente existem várias iniciativas dirigidas ao aumento da competitividade: a Lei
para o Desenvolvimento Sustentável do Meio Rural (Lei 45/2007) que inclui o fomento
do turismo rural entre as medidas que podem ser adotadas pelos Programas de
Desenvolvimento Sustentável (2010-14) e o Plano Renove Turismo, no qual o sector
do Turismo Rural (tanto alojamentos como empresas de oferta turística complementar)
pode beneficiar-se plenamente.
0
5.000
10.000
15.000
20.000
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Nº de Alojamientos
0
1.000.000
2.000.000
3.000.000
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Nº de viajeros
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47
Os aspectos essenciais da estratégia adotada no Programa de Desenvolvimento Rural
Sustentável são:
Multissectorialidade
O modelo de ação escolhido é um modelo de ação multissectorial, que se estende a
todos os âmbitos de intervenção das Administrações Públicas com efeitos relevantes
sobre o meio rural.
Ação multinível
Também se optou por um modelo de intervenção sobre o meio rural multinível,
baseado na cooperação e colaboração entre a Administração Central do Estado, as
Comunidades Autónomas e a Administração Local, cada uma no âmbito das suas
respectivas competências, sobre a base de uma conceção lógica de ações sob um
enfoque único de desenvolvimento rural sustentável através dos planos de zona, e do
estabelecimento dos necessários enquadramentos de relações e vínculos de
compromissos mediante os correspondentes convénios de colaboração.
Intervenção territorial sobre zonas rurais priorizadas
Esta concentração de esforços materializar-se-á numa maior contribuição económica
para a realização de medidas nas zonas rurais prioritárias definidas.
Atuações à medida para cada zona
Independentemente de o Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável incluir uma
estratégia e alguns objetivos gerais de desenvolvimento sustentável para o meio rural
espanhol, considerado no seu conjunto, devido à extraordinária variedade de
circunstâncias que as zonas rurais espanholas apresentam, foi aconselhado optar-se
por um modelo de conceção de ações à medida de cada zona (Plano de Zona).
Objetivos comuns para alcançar um mínimo denominador comum em todas as
zonas rurais sobre aspectos básicos de desenvolvimento
Sem prejuízo de contemplar a necessária flexibilidade na capacidade de conceção da
estratégia de desenvolvimento e nas atuações a incluir em cada Plano de Zona, em
resposta à extraordinária diversidade que as zonas rurais espanholas apresentam,
também foi considerado necessário que o Programa especifique alguns objetivos
gerais e comuns para todas as zonas rurais de seu âmbito.
Enfoque na sustentabilidade
Tanto na conceção do Programa como dos Planos de Zona devem-se estabelecer
objetivos, definir atuações e realizar o seguimento e avaliação da programação sobre
os três pilares da sustentabilidade: os aspectos económicos, os sociais e os
ambientais.
Enfoque na complementaridade
O Programa de Desenvolvimento Sustentável do Meio Rural não parte do zero, sendo
elaborado num momento em que já existe um grande número de fundos (FEADER,
FEDER, FSE, Fundo de Coesão), planos, programas ou linhas de ação da União
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48
Europeia e das diferentes Administrações espanholas com impacto de diversa
natureza, alcance e intensidade sobre o meio rural.
Intervenções estratégicas, de carácter estrutural
As atuações incluídas no Programa, e as que se incluam no futuro em cada um dos
Planos de Zona, devem ser intervenções com o objetivo de causar impacto estratégico
favorável sobre a sua sustentabilidade.
Participação da sociedade na tomada de decisões
A este respeito, na maior parte das zonas rurais de aplicação do Programa parte-se da
experiência nos processos de participação ascendente derivados da aplicação do
enfoque Leader, e conta-se com Grupos de Ação Local que aglutinam uma parte
importante das iniciativas empresariais locais, e que podem contribuir
significativamente nos processos de participação.
Para um compromisso dos interlocutores territoriais
O Programa pretende que no processo de elaboração dos Planos de Zona todos os
atores e instituições com presença no território, públicos e privados, e num horizonte
temporal de médio prazo, possam chegar a adquirir um compromisso territorial
orientado de forma a garantir uma ação coletiva nos termos mais amplos possíveis.
Os eixos de ação estão resumidos na tabela que se mostra a seguir:
Dentro do eixo da Infraestrutura tecnológica foi lançado em 2012 um programa
denominado “Alojamentos conectados”, promovido pelo Ministério da Indústria,
Energia e Turismo, posto em prática através de Red.es e orientado para a
incorporação da tecnologia nos estabelecimentos hoteleiros e alojamentos de turismo
rural. Salienta-se o Programa Empresas na Rede que é desenvolvido em colaboração
com as comunidades autónomas beneficiárias de fundos FEDER.
As ajudas estão focalizadas em áreas como as reservas, a gestão da estadia, o
marketing e o atendimento pós-venda, além dos serviços para potenciar a atividade
dos seus negócios na internet.
Concretamente, serão oferecidos aos beneficiários três tipos de soluções e serviços
tecnológicos:
Solução de Gestão da Propriedade (PMS), que permita agilizar a execução de
um estabelecimento hoteleiro ou de um alojamento rural
Serviços para melhorar o site através da realização de conteúdos audiovisuais
ou de uma auditoria em usabilidade, posicionamento e estrutura da informação.
Serviços de marketing on-line com a elaboração de um plano estratégico, a
melhoria da gestão de clientes, a adequação das bases de dados à normativa
vigente ou a reputação on-line da marca, entre outros.
Além disso, da oferta de soluções e serviços tecnológicos, o programa completa-se
com a realização de oficinas de formação e com a colocação em prática de um portal
de apoio.
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49
O programa "Alojamentos conectados" irá desenrolar-se em onze comunidades e nas
duas cidades autónomas, enquadrando-se no programa "Empresas na Rede", que a
entidade pública realiza em colaboração com os governos autónomos.
Possui um orçamento total de 8,3 milhões de euros, atribuídos pelo Ministério da
Indústria, Energia e Turismo e cofinanciados até 70% com fundos da União Europeia.
Do valor global, 6,8 milhões de euros correspondem à convocatória de ajudas e o
resto às diferentes atuações do programa.
A Administração Pública Espanhola tentou cobrir o importantíssimo papel que as
associações sectoriais privadas deveriam ter tido.
O futuro do Turismo Rural depende em boa parte do seu tecido associativo. As
associações facilitam a incorporação de empresários individuais nos planos de
qualidade e acesso a novas tecnologias, baseando-se na prática em boa parte no seu
processo de desenvolvimento e da sua sustentabilidade.
ASETUR, membro da Eurogîtes, é a maior organização a nível nacional e representa os alojamentos rurais de todo o país, apesar de cada Comunidade Autónoma possuir a sua própria normativa, o que provoca certa confusão no mercado condicionando as políticas comerciais.
ASETUR concebeu um sistema de classificação de alojamentos e possui mais de 5.000, aproximadamente 30% da oferta.
Os restantes alojamentos associados repartem-se entre as 264 associações
existentes.
Em 1995 forma-se a Rede Espanhola de Desenvolvimento Rural (REDR), uma associação sem fins lucrativos constituída com o objetivo geral de promover um modelo de desenvolvimento rural integral.
A REDR é composta por 12 redes territoriais que englobam quase 200 grupos de ação local GAL (ou grupos de desenvolvimento rural) de toda a Espanha, os quais geram Programas e iniciativas relacionadas com o desenvolvimento rural.
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50
Regiões espanholas que concorrem com Portugal10
Castela e Leão
O turismo rural em Castela e Leão converteu-se numa das regiões que atrai maior
número de turistas.
Nestes estabelecimentos encontra-se algo mais que instalações de qualidade. Os
alojamentos rurais permitem o contacto direto com as pessoas da zona, sua cultura,
tradições, ofícios e o meio natural. Localizados em espaços de claro interesse
turístico, a oferta completa-se, em muitos casos, com diversas atividades que
abrangem desde cursos antisstress até à visita dos monumentos mais próximos,
passando por oficinas de artesanato ou atividades de vindima.
A profissionalização e seriedade destas empresas serviram para que algumas
ostentem o distintivo que o Instituto para a Qualidade Turística Espanhola outorga, o
"Q" de qualidade. Os alojamentos de turismo rural são edificações com especiais
caraterísticas de construção, localização e tipicidade, situados no meio rural
geralmente em municípios com menos de 3.000 habitantes e inclusive em ambientes
isolados.
Em Castela e Leão existem os seguintes tipos de alojamentos de Turismo Rural: Casa
Rural, Pousada e Centro de Turismo Rural.
As Casas Rurais reúnem as caraterísticas próprias da tipologia arquitetónica do
município ou comarca onde estão inseridas e podem ser de dois tipos:
Casa Rural de Aluguer quando a ocupação se realiza em regime de arrendamento
Casa Rural de Alojamento Partilhado quando o proprietário da casa partilha o uso da
sua casa com os hóspedes.
As Pousadas são estabelecimentos situados em edifícios com valor arquitetónico
tradicional, histórico, cultural ou etnográfico.
Os Centros de Turismo Rural são edifícios de arquitetura tradicional onde pode ser
alojado um número elevado de pessoas e, além disso, o turista poderá encontrar uma
oferta de atividades complementares às do alojamento.
Finalmente como marca de excelência em relação à qualidade do estabelecimento, o
turismo rural em Castela e Leão conta com as Pousadas Reais onde o turista mais
exigente vê satisfeitos os seus desejos em ambientes exclusivos. Em qualquer um dos
estabelecimentos disponíveis, o Turismo Rural em Castela e Leão oferece a
possibilidade de desfrutar da tranquilidade da terra, do contacto com as pessoas e
seus costumes, assim como de desfrutar da gastronomia e da riqueza monumental e
paisagística. Para os turistas mais ativos, existem múltiplas possibilidades de
atividades de turismo ativo desfrutando do ambiente rural nas quais podem pôr à
prova as suas habilidades e desconectar da rotina diária.
10 THR a partir da análise de portais web de oferta turística de cada região e estudos do sector
Internacionalização do turismo no meio rural
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51
Astúrias
O Principado das Astúrias encontra-se na vertente setentrional da borda Cantábrica,
enquadrado entre a cordilheira Cantábrica a sul e os leitos fluviais do Eo a oeste e do
Deva-Cares a leste.
O estreito troço entre os cumes e o mar, apenas 55 km, gera uma ampla variedade de
paisagens e profundos contrastes. As montanhas asturianas constituem uma fronteira
física não apenas no aspecto geográfico, mas também no que respeita às
comunicações, cultura ou história. Com um clima úmido e suave, as Astúrias possuem
uma ampla variedade de flora e fauna e mantêm as espécies autóctones de grande
valor ecológico protegidas, sendo a natureza no seu conjunto o seu principal ativo.
A sua variedade torna possível que num curto espaço de tempo se possam visitar
zonas tão diferentes como a costa do mar Cantábrico, que banha toda a região, ou a
alta montanha, cujo máximo expoente, no extremo sudeste da região, são os Picos da
Europa. O Principado das Astúrias possui cinco espaços naturais que foram
declarados Reservas da Biosfera.
Assim, o turista pode percorrer lugares recônditos e sossegados. Poderá conhecer a
sua etnografia e percorrer passo a passo o rasto que através dos tempos os diferentes
povoadores foram deixando: cavernas pré-históricas, castros, arquitetura popular, pré-
românica, românica, gótica, etc. Além disso, podemo-nos perder na tranquilidade das
suas praias, rios, lagos, florestas e montanhas, e desfrutar do bulício das cidades, com
uma ampla oferta cultural e de lazer.
As casas e apartamentos rurais que compõem a marca de qualidade “Aldeias” do
Principado das Astúrias constituem uma referência no mercado turístico graças à
qualidade dos seus equipamentos e instalações e o seu excelente serviço. Os
estabelecimentos que pertencem a esta marca cumprem uma série de parâmetros de
qualidade relacionados com o serviço, gestão ou a satisfação do cliente e estão
sujeitos a controlos e auditorias.
Internacionalização do turismo no meio rural
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52
Andaluzia
As aldeias da Andaluzia formam um panorama de variada e complexa riqueza. Nelas
encontram-se refletidas as civilizações e culturas tradicionais. A sua fisionomia e os
seus atrativos são muito variados, em função da localização e da sua história. Aldeias
de montanha e de planície, de costa, de marisma e de serra. A geografia andaluza
também é rica em aldeias-fortaleza, em castelos e mosteiros medievais, antigas
posições fronteiriças nos combates seculares. Num sentido amplo, as aldeias
andaluzas costumam ser identificadas pela utilização geral da cal, que acabou por se
impor por motivos de higiene e pelo seu passado muçulmano, que deixou a sua marca
em muitos elementos construtivos.
Formando cachos nas ladeiras orientadas a sul, estas aldeias e vilas são um modelo
de microclima criado pelo homem: casas de dois andares para distribuir a vida entre
verão e inverno, dotadas de pátios com fonte e abundante vegetação, com miradouros
envidraçados. A sua imagem converteu-se num arquétipo no qual se consegue
harmonizar a utilidade e o prazer do repouso. Uma experiência adquirida durante
séculos para se adaptar a um clima que tem o sol e a luz como companheiros
inseparáveis.
Cada vez são mais os que desejam o encontro com a natureza, a vida rural, as
pequenas aldeias, os velhos costumes, as tradições. Na Andaluzia pode-se encontrar
a maior oferta de turismo rural. Desde uma excursão de meio dia até uma longa
estadia, desde o hotel com os serviços mais sofisticados até à quinta mais genuína.
Caça e pesca, caminhadas, montanhismo, percursos a cavalo e bicicleta, etc. podem
desenrolar-se como atividades específicas ou complementares.
Mas há algo único, peculiar e diferente nas aldeias andaluzes que é a hospitalidade
dos seus habitantes. Gente amável e acolhedora. Ninguém se sente estranho e um
caloroso ambiente envolve o visitante, proporcionando-lhe recordações inesquecíveis.
Internacionalização do turismo no meio rural
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53
3.9. Os colaboradores
Distinguem-se seis grupos de atores principais, cada um com um papel concreto no
sector:
Ilustração 33: Grupos de colaboradores-chave no turismo rural
Fonte: THR, 2012
A intermediação
A contratação direta por parte do consumidor final é a prática habitual neste sector. Os
clientes dirigem-se ao proprietário do alojamento a partir do site deste ou redirigidos
através de um crescente número de portais que concentram a oferta de alojamento
como TopRural, Portugal-rural, EcoTur ou Allrural.
O turista especializado, sobretudo se for conhecedor da zona e seus atrativos,
contrata diretamente os serviços (caminhadas, excursões, etc.) com o fornecedor, seja
na origem ou no destino. Neste sentido, as associações e os clubes desportivos ou de
interesse especial são ferramentas perfeitas para a oferta e a procura entrarem em
sintonia.
Como já foi referido, alguns destinos como a Áustria, França ou a Suíça possuem
associações sectoriais de carácter público e/ou privado que aglutinam a oferta e
comercializam pacotes e serviços individuais.
6 Grupos de colaboradores-
chave no turismo rural
1.
Intermediários
2.
Transporte
3.
Empresas de serviços turísticos
4.
Entidades sectoriais
5.
Organismos públicos
6.
Comunidade local
No turismo rural observa-se uma complexa estrutura de colaboradores que intervêm para que seja possível oferecer este produto turístico.
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54
Também se incorporou a este panorama algumas agências on-line generalistas como
Viajar.com, que dispõe de uma oferta de alojamentos rurais ou eDreams, que não
intermedeia mas que cobra aos alojamentos que inclui no seu site.
A presença de operadores turísticos e agências de viagens no turismo rural é escassa.
Alguns incluem na temporada baixa uma oferta de alojamentos e os serviços que
estes oferecem, mas são pacotes bastante básicos.
Alguns operadores turísticos generalistas como TUI ou Jahn Reisen (do Grupo Rewe)
reconhecem o elevado nível de rendimento dos clientes exigentes de produtos de
turismo rural e dedicam um catálogo exclusivo ao produto, com oferta em Espanha e
Portugal.
Alguns exemplos de operadores e agências de viagens especializadas são
apresentados a seguir:
Ilustração 36: Exemplos de operadores e agências que comercializam turismo rural
Fonte: THR, 2012
As suas propostas incluem tours ou circuitos temáticos, focados numa atividade ou
tema de interesse específico: natureza, cultura, arte, arqueologia, história, etc.
Os fatores principais que contribuíram para esta situação são:
Compra direta pela internet por parte do consumidor final
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Lacuna normativa e oferta ilegal impedem uma comercialização mass Market
Os produtos de turismo rural comercializados são maioritariamente dirigidos ao
mercado doméstico
Falta de preparação e conhecimento sobre o sector para vender o produto
Não obstante, prevê-se que no futuro estes intermediários incorporem
progressivamente as viagens rurais nos seus catálogos ante a crescente saturação
das viagens mais tradicionais e a progressiva, ainda que lenta, homogeneização da
oferta.
O transporte
No turismo rural internacional o transporte é essencial, e não unicamente o terrestre,
mas especialmente o aéreo. Neste contexto, adquire importância extrema dispor de
um aeroporto principal ou secundário a uma distância máxima de 1 a 2 horas de carro
do destino rural.
Os acordos com companhias aéreas de baixo custo são evidentemente desejáveis
para atrair um fluxo estável de turistas.
Empresas de serviços turísticos
Sem empresas fornecedoras de atividades e experiências no destino, assim como
empresas produtoras agroalimentares e serviços de restauração não existe o produto
turismo rural.
A orientação turística e a profissionalização destas empresas é um aspecto essencial
para o verdadeiro desenvolvimento deste produto.
Entidades sectoriais
Este grupo engloba dois tipos de agentes:
Associações ou entidades sectoriais
Clubes, associações ou agrupamentos de consumidores, praticantes ou
aficionados de determinadas atividades
Os primeiros têm um papel muito importante no turismo rural na Europa, já que salvo
em poucas ocasiões como sucede na Áustria, Alemanha ou França, são as entidades
sectoriais regionais que surgem à cabeça da associação de proprietários de
alojamentos, granjas, etc. impulsionando a criação de uma “identidade” para a zona e
seu desenvolvimento no mercado.
Estas associações operam como uma rede de estabelecimentos, oferecem às casas
rurais promoção e conselho legal e económico e proporcionam garantias ao turista ao
terem alguns valores e standars de qualidade e serviço certificados. Em quase todos
os países europeus podemos encontrar associações de propriedades rurais, quer
sejam públicas ou privadas, básicas ou de luxo. Gîtes de France, Relais & Chateaux
ou Rusticae são exemplos a nível nacional, assim como a Eurogîtes que é a nível
europeu.
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As segundas adquiriram também grande importância já que frequentemente atuam
como organizadoras de viagens, ainda que formalmente a contratação dos serviços se
faça através de intermediários tradicionais (agências de viagens).
Organismos públicos
No âmbito público distinguem-se dois tipos de agentes:
Os organismos nacionais, regionais e locais
Os organismos europeus
Os organismos públicos estatais têm um papel vital em quatro pontos, são eles:
Harmonização de standards de qualidade dos alojamentos
Implementação desta normativa através das entidades de certificação
Impulso ao desenvolvimento de clusters de turismo rural. Este apoio deve ser
orientado para criar facilidades para empreendedores, sua formação,
assessoramento, marketing e comercialização.
Aval de qualidade amparada pela imagem do governo. O logotipo de uma
instituição pública numa página da internet dá ao consumidor uma sensação de
segurança e qualidade em relação ao que se promete.
Os organismos públicos a nível europeu têm um papel muito importante, dirigindo-se
sobretudo no apoio ao desenvolvimento de áreas rurais através de fundos e
investimentos que melhorem a infraestrutura do sector. Algumas das entidades
públicas de turismo rural na Europa são a Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Económico (OECD) ou a Comissão de Viagens Europeia (ETC).
Comunidade local
As pessoas que habitam nas zonas rurais, participem ou não diretamente no negócio
do turismo rural, são um ativo para o sector. O carácter, amabilidade das pessoas, a
sua hospitalidade ou a sensação de pertencer a uma família, são atributos que se
perderam nos núcleos urbanos e que com maior frequência o consumidor procura nas
suas viagens ao meio rural.
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3.10. Market requirements e KSF do turismo rural
Existem uma série de fatores básicos que um destino deve possuir, isto é, requisitos
mínimos necessários para estar presente no mercado. Adicionalmente a estes,
identificam-se um conjunto de fatores-chaves, que fornecem verdadeiro valor
acrescentado e sobre os quais um destino pode construir a sua vantagem competitiva.
A identificação dos requisitos que são necessários cumprir para competir com sucesso
no sector do turismo rural é o resultado combinado dos seguintes fatores:
Uma investigação específica de benchmarking, realizada entre peritos e
especialistas do sector do turismo de natureza, tendo como referências
(benchmarks) os destinos da Áustria, Alemanha e Suíça.
As opiniões de tour operadores especializados, recolhidas no questionário
realizado em 7 países europeus (Alemanha, Reino Unido, Países Baixos,
França, Itália, Bélgica e Espanha) a uma amostra de 20 operadores turrísticos.
A análise de uma ampla amostra da oferta de turismo de natureza
comercializada através de sites de viagens na Internet.
A análise técnica da THR.
Fatores básicos para estar no mercado
No turismo rural, os fatores básicos mais importantes para competir a nível
internacional são:
1) Oferta de alojamento rural. Massa crítica de oferta qualificada.
2) Variedade de recursos naturais a curta distância. Os parques nacionais,
reservas, rios, costa, etc. permitem ao turista realizar atividades durante a sua
estadia ainda que seja de forma independente.
3) Atrativos turísticos de carácter histórico – cultural – enogastronómico. A
visita a aldeias pitorescas, zonas históricas, adegas, lojas de produtos regionais,
restauração, etc. são outras das atividades que o turista rural valoriza.
4) Acessibilidade e conectividade. É necessário dispor de infraestruturas de acesso
terrestres e de uma sinalização básica. O aeroporto de chegada não deve estar a
mais de 2 horas de carro e a combinação de voos deve ser adequada.
5) Oferta básica de atividades a realizar. O turista rural procura destinos que lhe
permitam realizar diferentes tipos de atividades ou uma atividade concreta em
profundidade.
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Factores-chave de sucesso
Para competir com sucesso no turismo rural não é suficiente dispor de recursos e
atrativos, estes devem estar adequadamente organizados e preparados para a sua
utilização turística. Deve existir uma ampla e variada oferta de atividades que possam
ser desenvolvidas, de percursos e circuitos a percorrer, empresas operadoras
especializadas, guias especializados, etc.
Os factores-chave de sucesso mais importantes são:
1) Existência de uma(s) marca(s) / selo(s) de turismo rural que transmita a
proposta de valor e que o consumidor possa reconhecer, com a qual se possa
identificar e associar facilmente atributos e benefícios. Estas marcas, selos ou
conceitos devem abranger não apenas o alojamento, mas também a proposta de
valor global. Os estatutos da marca fixam os níveis de qualidade de serviço
requeridos, assegurando que apenas empresas qualificadas representem a oferta.
Adicionalmente, estas marcas, selos ou conceitos, quando têm um carácter
regional, permitem diferenciar os distintos clusters entre eles, criando uma
sensação de variedade que incita o turista a regressar para experimentar as
diferenças e descobrir o que mais gosta.
2) Produtos, atividades e experiências por segmento / temática. Os destinos de
referência no turismo rural inovaram nos produtos que oferecem, em linha com as
últimas tendências de consumo (granjas orgânicas, granjas de ervas, granjas com
cavalos, dormir na praia, etc.). Ao mesmo tempo também desenvolveram produtos
que oferecem benefícios a segmentos concretos do mercado, como é o caso de
famílias e deficientes.
Por outro lado, são exigidos fornecedores de alojamento, restauração e
agroalimentares com uma clara vocação turística, para quem o turismo rural não
represente apenas receitas adicionais, sendo sim uma parte do negócio.
Posteriormente, têm que surgir empresários que articulem e combinem as ofertas
para oferecer atividades e experiências.
Os recursos exclusivos de cada região também devem ser aproveitados para dar
uma identidade própria e diferenciadora ao produto.
3) Completa oferta de alojamento e restauração que possa satisfazer os turistas
de diferente nível económico, até os mais exigentes. Cada região deve aproveitar a
sua gastronomia típica e recursos enológicos para se diferenciar, transformando-o
num produto que possa ser consumido e admirado por um público estrangeiro.
4) Correspondência qualidade / preço. O preço do estabelecimento, serviços ou
pacotes deve evidenciar a qualidade do produto e as condições do mercado. É
necessário estabelecer uma política de preço progressiva que reflita o que se vai
adquirir
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5) Relação on-line e off-line com o consumidor. Este fator tem três vertentes:
A. Preparação da viagem. O consumidor ao entrar no site deve sentir-se
inspirado, com oferta variada e de qualidade assegurada, junto a ferramentas
que facilitem o planeamento de sua viagem e a realização de reservas. É
necessário investir para dispor de uma plataforma de e-marketing sedutora e
de uma central de reservas on-line ágil.
B. Durante a viagem. O cliente valoriza a relação de proximidade e o domínio
de idiomas é imprescindível no tratamento. Os pormenores inesperados são
também altamente valorizados, especialmente pelo turista estrangeiro.
Outro ponto importante é a constância na prestação dos serviços, tanto a
nível de estabelecimentos como de atividades. A imagem de casas fechadas
e de não ter nada que fazer é prejudicial.
C. Depois da viagem. Realização de campanhas personalizadas com clientes
com quem já estabeleceram uma relação de proximidade.
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Estes fatores são valorizados de forma distinta dependendo de o turista ser de perfil
ativo ou passivo como se pode ver a seguir:
Fatores básicos Passivo Ativo
1 Massa crítica de oferta de alojamento rural
qualificada
2 Variedade de recursos naturais a curta
distância
3 Atrativos históricos – culturais –
enogastronómicos próximos
4 Acessibilidade e conectividade
5 Oferta básica de atividades a realizar
Fatores-chave de sucesso Passivo Ativo
1 Marca(s) / selo(s) de turismo rural
2 Produtos, atividades e experiências por
segmento / temática
3 Completa oferta de alojamento e restauração
4 Correspondência qualidade / preço
5 Relação on-line e off-line com o consumidor
Preparação da viagem
Durante a viagem
Depois da viagem
Ilustração 37: Market requirements e KSF do turismo rural
Fonte: THR, 2012
Os fatores um e cinco são especialmente cruciais para triunfar no mercado, sendo os
fatores dois, três e quatro também essenciais, mas de menor peso.
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4. Considerações finais
Ao longo da última década, o turismo rural internacional na Europa consolidou-se como um sector atrativo e com boas perspetivas de crescimento.
No presente relatório, foram transmitidas importantes mensagens, entre as quais algumas merecem destaque:
Um turista upscale: a procura internacional por turismo rural é composta
maioritariamente por visitantes de elevado poder económico e que exigem um
padrão mínimo de conforto. A crença popular de que turismo rural é somente
para pessoas desprovidas de recursos financeiros é um dos mitos do sector.
Forte procura doméstica: maioritariamente, a procura de turismo rural nos
principais países europeus é doméstica. O crescimento do sector foi estimulado
e viabilizado pensando principalmente neste público.
Taxas de ocupação modestas: devido à elevada sazonalidade do sector, as
taxas de ocupação são mais modestas que as de outros segmentos hoteleiros,
geralmente inferior a 35% ao ano, em média. A forma de cálculo também é
diferente, utilizando-se como base o número de camas, não a quantidade de
quartos ocupados.
Procura por experiências: não basta ter recursos, é necessário criar valor e
oferecer experiências aos visitantes. Turismo rural não é apenas a oferta de
alojamentos no meio rural, outros serviços são fundamentais, com destaque
para a possibilidade de realização de atividades.
Ambiente tecnológico: as possibilidades de uso da tecnologia de informação no
turismo são diversas e em constante crescimento. No sector do turismo rural,
mesmo em países mais desenvolvidos, essa oportunidade não é aproveitada
como o desejado.
Ênfase no ganho de competitividade: passada a fase de investimento no
aumento de oferta, a ênfase atual dos principais países europeus de turismo
rural é no ganho de competitividade,
Essas e outras considerações apresentadas no atual relatório devem ser levadas em consideração no momento de definir as estratégias de internacionalização de Portugal como destino de turismo rural.
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5. Referências Bibliográficas
Principais livros, estudos e relatórios consultados:
The Experience Economy; Pine J. & Gilmore, J; Harvard Business School
Press;1999
Business Model Generation; Ostelwalder, Alexander & Pigneur, Yves; 2010
El turismo rural en España: terminología y problemas de traducción, Andrián
Fuentes; 2009
Estatísticas do Turismo 2010; Statisitics Portugal; 2011
Reportaje del turismo rural español; Hosteltur; 2005
Visit Britain Report; Issue 85; November 2010
Informe estadístico de Eurostat 2010
Euromonitor market analysis Portugal 00/05/10/11
IPK Internacional: World Travel Monitor
Plano Estratégico Nacional do Turismo Portugal
El turismo rural en España; Garay, Lluís y Cànoves, Gemma
Investigaciones DJS Research
Rural Tourism, Travel & Tourism Analyst; Mintel; 2007
Cuadernos de turismo; Garcia Henche, Blanca; 2005
Informe Netsus del mercado de turismo rural; Febrero 2009
"MARM (2009): Tendencias del Turismo Rural en España. Análisis y
Prospectiva - Serie AgrInfo nº14."
RDRS. Programa de desarrollo rural sostenible (2010-2014)
Inputs (artigos, documentos) internos de THR e projetos elaborados com
anterioridade na empresa
Principais páginas web consultadas:
www.eurogites.org
www.ruraltourisminternation
al.org
www.farmholidays.com
www.landtourismus.de
www.bauernhofurlaub.de
www.tourisme-rural.ch
www.bauernhof-ferien.ch
www.bnb.ch
www.myswitzerland.com
www.gites-de-france.fr
www.bienvenue-a-la-
ferme.com
www.terranostra.it
www.turismoverde.it
www.agriturist.it
www.ecoturismorural.com
www.raar.es
www.redr.es
www.hosteltur.es
www.toprural.com
www.allrural.com
www.vioregio.sk