Ética na imprensa - relatorio final caso escola base (veja isto É folha estadão são paulo rede...

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TGI - Escola Base UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE JORNALISMO É TICA NA IMPRENSA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 90 E AS LIÇÕES DO CASO ESCOLA BASE GUSTAVO GUEDES BRIGATTO PAULO RODRIGO RANIERI DIAS MARTINO PINTO THIAGO RAFAEL DOMENICI São Paulo 2004 Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

CURSO DE JORNALISMO

ÉTICA NA IMPRENSA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 90 E AS LIÇÕES DO CASO ESCOLA BASE

GUSTAVO GUEDES BRIGATTO PAULO RODRIGO RANIERI DIAS MARTINO PINTO

THIAGO RAFAEL DOMENICI

São Paulo 2004

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GUSTAVO GUEDES BRIGATTO PAULO RODRIGO RANIERI DIAS MARTINO PINTO

THIAGO RAFAEL DOMENICI ÉTICA NA IMPRENSA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 90 E AS LIÇÕES DO

CASO ESCOLA BASE Trabalho de Graduação Interdisciplinar

apresentado à Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Presbiteriana Mackenzie

para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo, sob a orientação do Prof. Ms.

Vanderlei Dias de Souza

SÃO PAULO

2004

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REITOR DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Prof. Dr. Manasses Claudino Fonteles

DIRETOR DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES Prof. Ms. Osvaldo Hattori

CHEFE DE DEPARTAMENTO DE JORNALISMO Prof. Ms. Vanderlei Dias de Souza

COORDENADORA DO TGI Prof. Dra. Angela Schaun

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Gustavo A meu pai que sempre me apoiou, minha mãe que soube agir com sapiência em um momento

difícil, amigos e professores que fizeram de mim o que sou hoje.

Paulo Rodrigo Ranieri A Deus que sempre é fiel para os que o são com Ele e esteve ao meu lado para me orientar

nos momentos decisivos, a minha mãe Zuleide que jamais esmoreceu e sempre me apoiou em cada fase da minha educação, a minha tia Selma que foi minha primeira professora e a todos

os meus amigos, familiares, demais professores e ao Programa Dogão Prensado.

Thiago Domenici A minha mãe Zilda que sempre me apoiou e foi a principal responsável por minha formação educacional, aos amigos do grupo pela paciência e companheirismo e a cada pessoa que de

alguma maneira participou desses momentos.

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Agradecemos a todos os amigos estudantes de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie em especial José Renato de Luca,

que certamente estaria presente conosco em mais essa etapa da vida, Barba, Batata e Thiago Manolio. A toda equipe do CRT, em especial

Reginaldo, Ronaldo, Ricardo, Paulo e Guga e aos professores que nos foram fundamentalmente importantes para caminhar e crescer pessoal e

profissionalmente: Alberto Chammas, André Santoro, Cicélia Pincer, Esmeralda Rizzo, Eun Yung Park, Fernando Salinas, Francisco Periago, João Manoel Barros, Luciano Maluly, Malena Contrera, Oscar Roberto

Junior, Paulo Roberto, Rosali Figueiredo e Vanderlei Dias.

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“O Jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”. Cláudio Abramo

“Há certos furos que é melhor publicar só quando todo mundo tiver”.

Carlos Laino Jr.

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Resumo

A pesquisa Ética na Imprensa Brasileira na Década de 90 e as Lições do Caso Escola Base trata dos erros da imprensa brasileira e sua relação com a ética profissional, tomando como norteador o livro Jornalismo nos anos 90 do jornalista Luís Nassif, e a análise do caso da Escola Fundamental de Base, expoente máximo da negligência da imprensa policial que não desempenhou seu papel e simplesmente não apurou, não ouviu todas as partes envolvidas e se restringiu a confiar nas declarações do delegado que cuidava do caso. Irresponsabilidade que gerou danos irreparáveis aos envolvidos. Os principais deles Icushiro Shimada e sua esposa, que ainda sofrem as conseqüências psicológicas e financeiras dos acontecimentos de 1994. O assunto tem grande relevância no universo das ciências sociais e políticas, mais precisamente na história da comunicação no Brasil e para avaliá­lo foram entrevistados profissionais da imprensa que apresentam discursos variados sobre o tema. São eles: Bóris Casoy, Marcelo Tas, Luís Nassif e Laurindo Leal Filho. Além destes, foram entrevistados também Icushiro Shimada e seu advogado Kalil Abdala. A análise das entrevistas foi realizada cruzando­as com material publicado pelos jornais Folha de São Paulo, Notícias Populares, Estado de São Paulo, e revistas Veja e IstoÉ na época do caso. A opinião de escritores como Michael Kunczik, Clóvis de Barros Filho e Francisco José Karam também foi usada na análise. A disputa por mercado entre os veículos e a conseqüente aceleração da rotina nas redações relacionamento são apontadas por todos os entrevistados como as grandes causadoras dos erros da imprensa. A partir do momento que parte da mídia se transformou em grandes empresas de comunicação, os jornalistas se tornaram grandes burocratas e passaram a seguir a “Ética do Furo”, deixando de lado as regras básicas do jornalismo. Palavr as­Chave: Jornalismo. Imprensa. Ética. Anos 90. Escola Base.

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Abstr act The research Ethics in Brazilian Press and the Lessons from Escola Base case is about the mistakes made by Brazilian press and their relation with professional ethics, based on the book by Luís Nassif “Jornalismo nos anos 90”, and the analysis of the Escola Base case, maximum exponent of presses negligence in hearing both sides of a story, which made clear its tendence to base the coverage only in official sources. Irresponsibility that caused great damage to people’s lifes. Most of it to Icushiro Shimada and his wife Aparecida, the school owners, who still feel the psychological and financial consequences of 1994 events. The matter has great value in the universe of social and political sciences, more specifically in the history of media in Brazil and, to analyze it, interviews with journalists with different opinions about the case we’re made. They are: Bóris Casoy, Marcelo Tas, Luís Nassif e Laurindo Leal Filho. Icushiro Shimada and his lawyer, Kalil Abdala were also heard. The analisis of interviews were made by crossing them with articles published by newspapers Folha da Tarde, Notícias Populares, Estado de São Paulo, and magazines Veja and IstoÉ during the period. The opinion of writers Michael Kunczik, Clóvis de Barros Filho e Francisco José Karam was also used in this process. All professionals interviewed pointed out that the dispute by market between vehicles and the consequent acceleration in journalistic routines are to be blamed for media mistakes. From the moment media turned into big communication companies, journalists became bureaucrats, leaving aside basic journalism rules.

Keywords: Journalism. Press. Media. Ethics. Ninetees. Escola Base.

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Sumár io

I. Introdução ................................................................................................................... 10 1. O Jornalismo e a Ética ........................................................................................... 13

1.1 O que é Jornalismo ........................................................................................... 13 1.2 O que é Ética ....................................................................................................... 14 1.3 Ética no Jornalismo ........................................................................................... 15

2. O Caso Escola Base .................................................................................................... 19 3. Comportamento da imprensa ..................................................................................... 24

3.1 Diário Popular ..................................................................................................... 24 3.2 Revista Veja ....................................................................................................... 26 3.3 Revista IstoÉ ....................................................................................................... 28 3.4 O Estado de S. Paulo ........................................................................................... 29 3.5 Folha da Tarde e Agora S. Paulo ........................................................................ 30 3.6 Notícias Populares ........................................................................................... 31

4. Atividades Desenvolvidas ........................................................................................... 32 5. Conclusão ................................................................................................................... 35 6. Referências ............................................................................................................... 40 7. Apêndice ................................................................................................................... 42

7.1 Roteiro de perguntas ........................................................................................... 42 7.2 Análise das entrevistas ....................................................................................... 43

7.2.1 Luis Nassif ................................................................................................. 43 7.2.2 Boris Casoy ................................................................................................ 43 7.2.3 Laurindo Leal ........................................................................................... 44 7.2.4 Marcelo Tas ................................................................................................ 45 7.2.5 Kalil Rocha Abdala ................................................................................... 46 7.2.6 Icushiro Shimada ....................................................................................... 46

7.3 Roteiro do Vídeo­Documentário ........................................................................ 47 8. Anexos ...................................................................................................................... 54

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Introdução

Esta pesquisa se dispõe a discutir o modelo de jornalismo praticado no Brasil durante a

década de 90 à luz da cobertura realizada no Caso da Escola Fundamental Infantil de Base,

em março de 94, mostrando o quanto é difícil ser ético no exercício da profissão e, na medida

do possível, apresentando alternativas para que erros como esse não sejam mais cometidos.

Tendo em vista a insensibilidade em se criticar apenas pelo prazer de contestar, e como diz

Christofoletti (2001, p. 20), mais do que apontar deslizes éticos, é preciso dispor de

mecanismos para avaliação da mídia, sedimentando novas práticas sociais de

acompanhamento dos veículos de comunicação, tentou­se encontrar respostas para perguntas

clássicas da prática jornalística, como por exemplo: de que forma as faltas de ética e apuração

podem influenciar os erros de reportagens em publicações da mídia? Seria a imprensa

prepotente e detentora de uma incorrigível auto­suficiência? Por que a “confissão de culpa”

fica restrita à grafia de nomes, erros conceituais ou datas nas colunas “Erramos”? Por quê não

há espaço para uma detalhada análise da cobertura, onde possa entrar um “sim, causamos

prejuízos com nossa cobertura e queremos nos retratar”?

Os métodos utilizados para a busca de respostas às problemáticas apresentadas foram as

pesquisas exploratória, bibliográfica e de campo, passando pelo estudo observacional e

entrevistas estruturadas (com roteiro de perguntas em comum) com profissionais direta e

indiretamente envolvidos no caso citado.

Com a pesquisa exploratória, buscou­se esclarecer conceitos e idéias, destacando­se a ênfase

dada à descoberta de práticas ou diretrizes que precisam modificar­se e a elaboração de

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alternativas que possam substituí­las. A pesquisa, portanto, pretendeu não só mostrar, mas

apresentar alternativas aos erros da imprensa.

Com a Pesquisa Bibliográfica, pôde­se desnudar um dos mais conhecidos erros da imprensa,

analisando fitas de vídeo, livros, revistas e jornais da época em que este se desenrolou ­ 1994.

Para complementar as pesquisas foram realizadas entrevistas pré­estruturadas com jornalistas

e personagens envolvidos no Caso Escola Base, inclusive Icushiro Shimada, ex­dono da

escola.

A priori, a pesquisa remete o leitor a uma discussão acerca do jornalismo, que,

intrinsecamente, deve carregar a Ética. Muitas são as definições acadêmicas para o

jornalismo, mas é inegável que se trata da profissão do convencimento. “É uma fascinante

batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou

ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente

inofensiva: a palavra, acrescida de imagem, no caso da televisão” (ROSSI, 1994, p. 01).

A discussão ética sempre esteve presente nos meios de comunicação. Ética deriva do grego

éthos, que está relacionado aos costumes, ou seja, caráter individual que deve ser educado

para os valores da convivência em sociedade. Todavia, tomar decisões em nome da ética não

é algo muito simples para o profissional de imprensa. No exercício da profissão, diariamente,

os jornalistas enfrentam problemas e as soluções nem sempre são simples de serem

encontradas.

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Mesmo em assuntos de pouca influência política, por exemplo, o futebol, a imparcialidade é

quase inatingível. Até porque, não há como ignorar que a enorme maioria dos jornalistas

esportivos torce por algum time.

Entretanto, mesmo consciente de que há inúmeros casos de erros cometidos pela imprensa, a

pesquisa decidiu­se focar única e exclusivamente, com detalhes, no Caso Escola Base que,

neste ano de 2004, completa 10 anos e ainda traz máculas irreversíveis aos injustiçados

diretamente envolvidos.

O vídeo produzido (roteiro anexo) contém imagens de 1994 ­ ano em que a Escola os fatos

aconteceram ­ sua depredação e como está o local agora. Traz também declarações

importantes de Icushiro Shimada e dos jornalistas Boris Casoy e Luis Nassif, que viveram

ativamente aqueles tenebrosos dias que a imprensa gostaria de esquecer.

Partindo­se do pressuposto dos manuais de redação da grande mídia e das condutas éticas e de

abordagem ensinadas nas faculdades de jornalismo, concluiu­se que o caso da Escola de

Educação Infantil Base foi um show de equívocos e despreparo na apuração, checagem e

redação das matérias.

A grande pergunta é: como fazer para evitar que essa manipulação ou essa falta de

investigação e apuração, muitas das vezes irresponsável, seja evitada ou tenha seus efeitos

minimizados? Uma tentativa de controle vem da Inglaterra. Os Monitores de Mídia são

órgãos especializados em policiar o que é veiculado na imprensa e vem dando certo por lá. No

Brasil já existe uma tímida manifestação nesse sentido com o surgimento do cargo de

ombudsman.

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1. O Jornalismo e a Ética

1.1 O que é Jor nalismo?

“O jornalismo é uma arte pragmatista. Não se pode desprender nunca do seu resultado, nem se

desligar do seu objeto. A veracidade, o realismo é a sua grande força” (ARBEX, 2001, p.

104).

Na visão ocidental o jornalismo tem essa função de “esclarecer os cidadãos”, um conceito

forjado no quadro das revoluções liberais do século XVIII, existindo para informar,

comunicar utilmente, analisar, explicar, contextualizar, educar, formar etc., mas também para

tornar transparentes os poderes, para vigiar e controlar os poderes de indivíduos, instituições

ou organizações, mesmo que se tratem de poderes legítimos, manifestados no sistema social.

Daí a conclusão de que:

“Os meios jornalísticos atuariam sobretudo através do ato de informar os cidadãos, no

pressuposto de que estes são atores responsáveis num sistema social de que fazem parte e

sobre o qual devem intervir. Informar jornalisticamente será, assim, em síntese, permitir

que os cidadãos possam agir responsavelmente” (SANTOS, 2001, p. 58).

Para que esse exercício iluminista seja praticado da forma mais correta, deve­se ter noção das

grandes responsabilidades e afazeres envolvidos, da responsabilidade social que uma simples

notícia tem, e procurar nunca deixar de lado os princípios que norteiam a profissão. Esse

conjunto de princípios e regras de conduta do profissional são os formadores da tão procurada

­ mas sempre aviltada ­ ética jornalística.

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1.2 O que é Ética?

“Ética é o estudo dos juízos de valor (bem/mal) aplicáveis à conduta humana, no todo ou em

um campo específico” (LAGE, 2001, p. 89).

Seu sentido está relacionado aos valores e costumes de uma sociedade e ao caráter individual

que deve ser educado para os valores da convivência nela.

“Em sua origem, ética e moral tinham significado quase idêntico, o de cará ter, costume,

maneira de ser, sendo que o primeiro termo é derivado do grego ethos, enquanto o

segundo é orginá rio do latim moralis. Deontologia, derivado do grego deontos, significa

o que deve ser, isto é, a cr istalização provisória do mundo moral, validado pela reflexão

ética, em normas sociais concretas, em princípios formais e, em alguns ca sos, em normas

jurídicas. A normatização deontológica de regras e condutas morais reflete, portanto, a

sistematização social daquilo que existe na esfera moral e é objeto da reflexão ética”

(KARAM, 1997, p.33).

O que é ser ético? Como ser ético? Quando ser ético? Quais códigos são relevantes para o

exercício do jornalismo? São questões que sempre estiveram presentes nas redações e nos

debates entre profissionais, sejam estes realizados em grandes auditórios ou em conversas do

dia­a­dia. Tomar decisões em nome daquilo que se julga ser uma conduta ética, que analisa os

acontecimentos e não se deixar influenciar por interesses diferentes do de informar com

qualidade, não é algo muito simples para o profissional de imprensa. No cotidiano da

profissão, os jornalistas enfrentam grandes dilemas, e as soluções para eles nem sempre são

simples de serem encontradas.

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1.3 Ética no Jornalismo

Durante a década de 90 ­ período em que estão inseridos os acontecimentos do Caso Escola

Base ­ com o fim da Guerra Fria e a franca expansão dos ideais liberais e seu conceito de fim

de barreiras entre nações, as notícias passaram a fluir com muito mais rapidez de seu local de

origem até seus receptores. Iniciou­se com isso um forte processo de profissionalização, ou

melhor, burocratização da atividade jornalística, com o estabelecimento de rígidas rotinas de

fechamento, culminando na queda da qualidade das notícias pela falta de tempo para apuração

e pela incorporação da prática de se consultar sempre as mesmas fontes, evitando assim

“perda de tempo”.

“Um efeito imediatamente visível [da burocratização] é a adoção de cores, diagramação

mais “leve”, a ampla utilização de mapas e boxes didáticos, o aumento no tamanho do

corpo dos caracteres, a recomendação aos colaboradores no sentido de escreverem

parágrafos mais curtos etc. em outros termos, a transformação de “fato” em “notícia”

passa pela sanção do mercado” (ARBEX, 2001, p. 97).

A informação transformou­se, mais do que nunca, em sinônimo de poder. Não aquele poder

transformador de antes, mas o poder econômico, pois, a empresa que a produzisse em maior

quantidade, tornar­se­ia mais conhecida, ganharia mais credibilidade e, conseqüentemente,

lucraria mais. A capacidade de produção, leia­se velocidade na produção, tornou­se predicado

fundamental para um profissional “empregável” no século 21.

Na briga para “construir carreira” dentro de um meio tão competitivo, os jornalistas

abraçaram esse ideal de maior produção em menor tempo e passaram a valer­se de tudo (ou

quase tudo) para se destacar. A concorrência entre profissionais e a sede pelo “furo de

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reportagem” passaram a superar os valores éticos, e artifícios um tanto quanto duvidosos e

passíveis de longas discussões (como o famoso “copiar e colar”) passaram a ser utilizados,

eliminando o princípio básico para a produção de uma reportagem: a investigação.

A pressa em perseguir os furos e o receio de que a concorrência se antecipasse estimulou o

estilo do ´atire primeiro, pergunte depois´. “A pressa pelo furo fácil fez com que por aqui, se

abrisse mão dos cuidados mínimos requeridos para uma boa apuração. E é aí que deve se

tomar cuidado” (NASSIF, 2003, p. 28).

Se esse interesse é valorizado pelos jornalistas e incentivado pelos donos das empresas para

alavancar a venda de seus produtos, o que acontecendo é uma deturpação do noticiário ou

uma cobertura que culpa sem provas e condena sem julgamento. Em suma, os resultados

podem ser desastrosos. Em um primeiro momento, surge o sentimento de “fazer justiça com

as próprias mãos”, a vontade de pressionar e o clamor para que os supostos culpados sejam

punidos o mais rápido possível.

Depois, à medida que vão surgindo fatos novos, e os assuntos vão ficando “ultrapassados”,

vem o total esquecimento. Então, a imprensa que se proclama ética e diz­se preocupada em

desempenhar seu papel de formar e informar, interpreta papel contrário, pois, a partir do

momento em que um acontecimento torna­se “frio” (vai deixando o noticiário por não vender

mais), não há muito interesse em retomá­lo para explicar seu desfecho.

E as falhas da imprensa são mais comuns do que se pensa, ou se tem notícia, já que não há

grande interesse em dizer onde elas estão e quais foram as circunstâncias que as causaram. O

tempo fica a cargo de apagá­las da memória.

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Para Bucci (2000, p. 02), não é preciso ser um estudioso da mídia para perceber os pecados da

imprensa: “É a rede de televisão que apóia um candidato à Presidência da República,

distorcendo o noticiário; é o colunista que, em época de eleição, ganha ´um extra

assessorando o político sobre o qual publica notas favoráveis (...)”. É também o repórter que

confia integralmente na versão oficial de um caso e não se preocupa em falar do “outro lado”

até que todo o noticiário se mostre escancaradamente controverso.

Na guerra do poder, da qual a informação é elemento essencial, vale tudo ou quase tudo, nada

é desprezado. A briga entre os jornalistas pelo furo de reportagem muitas vezes supera os

valores éticos e alguns artifícios duvidosos são utilizados. A manipulação da informação é um

deles.

O jornalista, editor ou produtor, tem o poder de manipular um discurso e criar uma ilusão

daquela história que você está captando, ou seja, você capta um assunto qualquer, vai para

uma ilha de edição e ali você cria uma outra história que pode não ter nada a ver com aquela

que você acabou de viver naquele lugar com a câmera.

A rotina do jornalismo é quase sempre apontada como a grande causadora dos erros e deslizes

dos profissionais e dos veículos. Por causa dos prazos curtos e do acúmulo de trabalho, a

edição é feita às pressas para que não atrase o fechamento. As cobranças são muitas e é sob

pressão que a jornada cotidiana é vencida. Não é à toa que o momento mortal, a hora em que

o tempo se esgota seja chamada de deadline. Dar a matéria ou não, furar a concorrência ou

segurar a reportagem até que o outro lado seja ouvido, divulgar os nomes dos suspeitos ou

omiti­los. Os dilemas éticos fazem parte da rotina do jornalismo. O debate sobre a atuação dos

meios de comunicação e a intervenção que devem sofrer é contemporâneo à explosão mundial

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do uso da informação. É necessário acompanhar seus passos e sua evolução, analisar a

influência dos meios na sociedade, e construir mecanismos que os monitorem

(CHRISTOFOLETTI, 2001)

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2. O Caso Escola Base

“Fatos” e “notícias” não existem por si só, como entidades “naturais”. Ao contrário, são

designados por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos (culturais, sociais,

econômicos, políticos) que nem sempre são óbvios. Mas essa operação fica oculta sob o

manto mistificador da suposta “objetividade jornalística” (ARBEX, 2001, p. 111).

Será mesmo que tudo que é noticiado é de “interesse público”? Toda matéria selecionada

dentre as centenas de outras que entopem as redações todos os dias é de suma importância

para o cotidiano dos leitores?

Nessa discussão, um dos casos mais conhecidos no jornalismo brasileiro é, definitivamente, o

Caso Escola Base. O caso sem provas onde, no primeiro dia, haviam declarações do delegado

responsável pelo inquérito sobre supostos abusos sexuais contra crianças de quatro anos e a

imprensa as ecoou em coro. Pouco espaço era dado aos acusados e a mídia se mostrou

antiética, ou no mínimo incoerente, por não dar o devido espaço para a versão dos suspeitos.

Era mesmo necessário dar tintas a um fato que nem havia sido comprovado ou dado como

comprovado por um laudo ambíguo?

No dia 27 de março de 94, Lúcia Eiko Tanoue, mãe do menino Fábio, na época com quatro

anos, e Cléa Parente de Carvalho, mãe da menina Carla, também com quatro anos, foram ao

6º DP, no Cambuci, bairro da zona sul de São Paulo, para registrar queixa contra os diretores

da Escola de Educação Infantil Base. Segundo elas, Icushiro e Aparecida Shimada, Maurício

e Paula Alvarenga, os donos da Escola, organizavam orgias sexuais com a participação das

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crianças, filmando e fotografando tudo. Lúcia ouviu seu filho dizer que, junto de Carla, foi à

casa de um coleguinha da escola, Ronaldo, 4 anos, filho do casal Saulo e Mara Nunes. Contou

ter visto filmes de “gente pelada”, que batiam “fotos” e havia cama redonda. Tudo isso

aconteceria durante o horário das aulas, e as crianças seriam levadas para fora da escola na

Kombi de Maurício. A apuração foi deixada para o dia seguinte.

Quem dava plantão naquela segunda­feira, 28 de março, era o delegado Antonino Primante.

Após encaminhar as duas crianças para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal

(IML) e conseguir um mandato de busca e apreensão, Primante dirigiu­se ao apartamento dos

pais de Ronaldo, acompanhado de seis policiais, Cléa e Lúcia.

No apartamento a comitiva achou uma cama retangular, uma fita de vídeo com um show do

cantor Fábio Jr. e filmes da máquina fotográfica do casal. Em seguida foram à escola. A essa

altura, a imprensa já sabia sobre o caso. O repórter Antônio Carlos Silveira dos Santos, do

Diário Popular acompanhou a revista na escola.

A escola foi revirada. Uma coleção com fitas de Walt Disney foi levada e nada mais foi

encontrado. O delegado e os policiais, sem provas de que um crime havia acontecido,

retornaram com as mães para a delegacia. Achando que o caso não havia recebido a atenção

necessária, Cléa telefonou para a Rede Globo.

Com a chegada do repórter Valmir Salaro, a polícia se mobilizou a escutar os acusados. Todos

alegaram inocência. No dia seguinte, uma novidade: um telex do IML adiantando o resultado

do exame do menino Fábio.

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Referente ao laudo nº 6.254/94 do menor F .J.T. Chang, BO 1827/94, informamos que o

resultado do exame é positivo para a prática de atos libidinosos. Dra. Eliete Pacheco,

setor de sexologia, IML, sede.

Naquela mesma noite, o Jornal Nacional noticiava o acontecido. Nada havia sido

comprovado, mas todos os grandes veículos de São Paulo abraçaram as denúncias e deram

manchetes sobre o caso a partir do dia 30.

As primeiras matérias podem ser consideradas corretas do ponto de vista técnico. Como não

havia muito a noticiar, as acusações eram creditadas ao delegado encarregado do caso,

Edélcio Lemos.

Notícias como essa, de abuso sexual, principalmente envolvendo crianças, têm grande

repercussão e, apesar de todo o rigor das matérias, que procuravam não acusar ninguém, surge

a vontade da população de fazer justiça com as próprias mãos. Resultado: a escolinha foi

depredada. Começava também o linchamento moral dos envolvidos. Todos tiveram que

abandonar suas casas para não receber castigos físico por um crime que não haviam cometido.

O feriado da Páscoa se aproximava, e a abordagem da imprensa começou a mudar, deixando

de lado o relato formal para mergulhar no sensacionalismo. Percebendo isso, o delegado

Edélcio Lemos começou sua busca por 15 minutos de fama, passando informações

desencontradas para uma imprensa deslumbrada com a potencialidade do caso. Tornava­se

muito mais fácil acreditar na versão oficial do que correr atrás dos envolvidos, que se

escondiam, não por assunção de culpa, mas por medo dos juízes da opinião pública. Ninguém

percebeu isso.

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Mais três denúncias surgiram. Os jornais se adiantavam ao inquérito policial, ou até traziam

informações que nem lá constavam. Como na matéria do dia 31 de março do Jornal Nacional,

que sugere o consumo de drogas durante as supostas orgias, ou a possibilidade de contágio

com o vírus HIV, em decorrência dos abusos. O caso havia tomado dimensões estratosféricas.

Inicialmente com acusações de molestar sexualmente duas crianças, os acusados terminaram a

semana drogando, e possivelmente transmitindo Aids para sete. Novamente a Base é

saqueada. A casa de Maurício e Paula também.

O silêncio precisa ser quebrado. Icushiro, Cida e Paula resolvem falar à imprensa. Mas a

percepção do erro veio tarde. O delegado já havia ganhado bastante espaço e achava­se

amparado em qualquer atitude que tomasse. Foi assim que no dia 5 de abril ele decretou a

prisão preventiva de todos os suspeitos. Saulo e Mara se apresentaram para depoimento na

polícia e ficaram presos. A advogada do casal teve acesso ao laudo final do IML. A vista

aconteceu acidentalmente uma vez que Edélcio não mostrava para ninguém a pasta do

inquérito. O resultado do exame: inconclusivo. As lesões encontradas poderiam ser atribuídas

tanto a coito anal quanto a problemas intestinais (mais tarde, a segunda explicação seria

confirmada). Os Nunes foram soltos três dias depois.

Lemos foi afastado do caso. Em seu lugar assumiram Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho. A

investigação foi reiniciada. Novas e velhas testemunhas foram ouvidas, as residências dos

suspeitos foram visitadas, tudo com calma e em silêncio. A imprensa começava uma trégua e

o caso finalmente seria explicado.

Novo revés. A partir de uma denúncia anônima, a casa do americano Richard Pedicini foi

invadida pela polícia e ele preso por pedofilia. Ele seria o contato internacional dos

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molestadores da Base, promovendo orgias em seu casarão e filmando e fotografando crianças

de várias idades. Mais uma vez os jornais se apressaram e colocaram Pedicini como vilão da

história.

Nada ficou provado. Carvalho foi a público desmentir a ligação entre um caso e outro. A

imprensa voltou atrás. O americano foi solto depois de nove dias.

No dia 22 de junho Gérson inocentou os seis acusados. O inquérito do Caso Escola Base foi

arquivado. A conclusão: se houve crime, este ocorreu em outro lugar, com outros

personagens. Pedicini só viria a ser inocentado um ano depois.

Apesar da absolvição legal, os acusados deste episódio nunca mais tiveram paz. Suas vidas

foram destruídas e nenhuma compensação financeira foi paga até hoje, dez anos após a

comprovação de sua inocência.

Nenhuma rede de televisão, rádio, ou impresso se retratou formalmente pelos erros cometidos,

nem procurou tocar no assunto. Com exceção da Folha de S. Paulo que lançou uma série de

palestras e editorias de mea culpa.

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3. Compor tamento da Imprensa

A seguir segue uma pequena análise da cobertura do Caso Escola Base feita pelos principais

veículos: revistas Veja e Istoé e jornais O Estado de S. Paulo, Folha da Tarde, Agora S. Paulo,

Notícias Populares e Diário Popular.

3.1 Diário Popular

O Diário Popular ­ atualmente Diário de S. Paulo ­ foi o único a não publicar matérias sobre a

Escola Base, mesmo tendo sido o primeiro veículo a receber a notícia sobre os possíveis

abusos sexuais e com um possível furo nas mãos.

Paulo Breiten Vieser era o editor de polícia do Jornal à época. Em dúvida sobre a veracidade

das informações dadas pelo delegado Edélcio Lemos, desconfiança gerada por uma rusga

entre os dois (uma semana antes do desenrolar dos acontecimentos da Escola Base Edélcio

havia apreendido de forma arbitrária o filme de um fotógrafo do Diário), Paulo pediu para seu

repórter Antônio Carlos Silveira dos Santos redigir uma matéria bastante técnica com as

(poucas) informações que tinha. De posse desta, ele a levou para Jorge de Miranda Jordão,

diretor responsável do jornal. Não publicar foi a sua opção. Ele fez o que ninguém

“percebeu”: analisar as contradições do caso.

Primeira: Um delegado afirma que tem fotos e fitas de vídeo que mostram adultos fazendo

sexo com os alunos, mas não mostra o material alegando que poderia prejudicar as

investigações. Princípio único de qualquer acusação: quem acusa deve provar o que diz. A

imprensa noticiou mesmo assim.

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Segunda: As crianças foram interrogadas (crianças de quatro anos) sem a presença de um

psicólogo e suas declarações tomadas como verdades absolutas e noticiadas sem o menor

critério de apuração.

Terceir a: O laudo do Instituto Médico Legal (IML) utilizado pelo delgado Edélcio Lemos

como prova cabal dos abusos era ambíguo, dizendo ser “compatíveis com a prática de atos

libidinosos” as lesões no ânus de uma das crianças. Lesões estas que, tempos depois se

cogitaria, eram também compatíveis com a excreção de fezes ressecada e mais tarde se

confirmaria eram conseqüência de um sério problema intestinal do garoto. Mas isso ninguém

quis destacar.

Essas foram as três contradições principais do Caso Escola Base que o Diário Popular

questionou. A pressão que a redação do jornal sofreu por não noticiar nada a respeito não foi

pouca. Leitores suspeitaram até de um acordo entre o Diário e a Escola para abafar o caso. O

Diário percebeu equívocos, analisou os dados, confrontou informações e não noticiou os fatos

falsos, como deve ser a conduta de um veículo de comunicação.

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3.2 Revista Veja

Veja se equivocou tanto quanto as outras publicações jornalísticas que cobriram o Caso

Escola Base. Em reportagem publicada no dia 06 de Abril de 1994 (cópia em anexo), a

Revista trouxe aos leitores uma reportagem de aproximadamente duas laudas intitulada Uma

escola de horrores. Apesar da manchete causar impacto, o leitor mais atento pode perceber

que, já no olho da matéria, a Revista não afirma a culpa dos donos da Base e apenas diz que

eles são acusados por alguém: “Mães acusam uma creche de São Paulo de promover orgias

sexuais com crianças de 4 anos de idade”. A sutil diferença na interpretação está no fato de

Veja dizer que “mães acusam” ao invés de afirmar com convicção que “orgias sexuais são

promovidas”.

Na semana seguinte, na edição do dia 13 de Abril, a mesma Revista Veja produziu uma

reportagem completa, com exatas 6 páginas, intitulada O drama dos inocentes. Nessa

reportagem, baseada em dados estatísticos oficiais, Veja afirma que o abuso sexual vitima

15% das crianças do país e atinge todas as classes sociais. Essa matéria sobre pedofilia não

envolvia apenas a Escola Base, mas cobria o assunto de maneira abrangente. Estava aberta a

temporada de denúncias sobre abuso sexual no Brasil, mesmo sendo a Escola Base, segundo

Icushiro Shimada, apenas um “bode expiatório”.

Vale ressaltar que, pouco mais de dois meses após essas primeiras publicações, mais

precisamente no dia 29 de junho do mesmo ano, Veja apresentou na editoria Comportamento,

a matéria Tragédia de horrores – Como a falsa acusação de abuso sexual numa escolinha

destruiu a vida de três casais inocentes, onde a jornalista Angélica Santa Cruz afirma em

determinado momento do texto: “(...) Chegaram a ser citados na CPI sobre a Prostituição

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Infantil na Câmara dos Deputados. A escola foi saqueada. Quebraram­se vidros, levaram­se

móveis e equipamentos e espalharam­se fezes pelo chão. A casa de um dos acusados ganhou

uma pichação em que se exigia a ´morte do estuprador . Na semana passada, dois meses

depois que a investigação foi entregue a outro delegado, a polícia encerrou seus trabalhos. Sua

conclusão: todos são inocentes”.

Interessante frisar que naquela primeira reportagem, do dia 06 de Abril, um dos trechos da

matéria dizia: “As duas crianças foram examinadas no Instituto Médico Legal. O resultado

inicial comprovou que o menino foi submetido a coito anal”. As reportagens destacam ainda

informações secundárias como o valor das mensalidades – 38 mil cruzeiros reais e o número

de alunos matriculados na escola – 72 crianças.

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3.3. Revista Istoé

Revista ISTOÉ, 20 de Abril de 1994. Nessa edição, número 1281, a Revista destaca “os riscos

que se corre quando um investigador, seja ele credenciado ou não por função pública,

antecipa os resultados do seu trabalho”.

ISTOÉ apresenta ao leitor uma matéria abrangente sobre os prejulgamentos e alguns erros

graves cometidos pela imprensa e cita outros casos além da Escola Base. Por exemplo o caso

Alceni Guerra. O ex­ministro foi investigado durante onze meses pelo suposto “escândalo das

bicicletas” e nada foi encontrado contra ele.

A Revista destaca uma foto do muro da casa do perueiro Maurício Alvarenga, que foi pichado

com os dizeres Maurício estuprador de crianças e alerta para as ações do delegado

responsável pelo caso: “No caso da denúncia de abuso sexual praticado pelos responsáveis

por uma escola, num bairro classe média de São Paulo, esse mesmo açodamento, estimulado

por um delegado decidido a viver seus 15 minutos de fama, quase provocou um linchamento

físico dos acusados. Se não foi físico, houve pelo menos um linchamento moral”.

Diz ainda: “O delegado Edélcio Lemos declarou que a prisão era baseada nas provas que

tinha, mas o fato é que ele contava apenas com o testemunho das crianças.”

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3.4 O Estado de S. Paulo

Quarta­feira, 30 de Março de 1994. Um dia após as denúncias de abuso sexual terem sido

apresentadas por Lucia Eiko Tanoue e Cléa Parente de Carvalho, o jornal O Estado de S.Paulo

buscava cobrir o caso. O repórter Renato Lombardi apenas se limita a publicar que “mães

afirmam que meninos de 4 anos participaram de filmes pornográficos”. Utilizando­se do

mesmo recurso que a Revista Veja, o Estado de S. Paulo não acusa com convicção os donos

da Escola Base, mas não descarta a possibilidade das acusadoras terem razão, como mostra

um olho da matéria: Crianças podem ter sido violentadas.

O caso estava apenas começando e o tema era uma grande novidade a todos os jornalistas que

cobriram. Algumas reportagens já começavam a trazer implícitas um certo ar de culpa aos

acusados. A matéria do dia 31 de Março de 1994, por exemplo, afirma no olho: “Mãe vive

sob efeito de calmantes, depois de descobrir o que se passava na escola do filho”.

Em 4 de Dezembro de 1999, depois de ter sido provada a inocência dos acusados de abuso

sexual, O Estado de S. Paulo divulgou nota informando que o delegado Edélcio Lemos foi

transferido de posto dentro da Polícia Civil ­ foi para o Denarc, e o advogado dos acusados

processou o Governo: “O Estado foi processado porque o advogado das vítimas, Kalil

Abdalla, considerou que o delegado – funcionário público paulista – foi o principal

responsável pelos danos causados a seus clientes”.

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3.5 Folha da Tar de e Agora S.Paulo

O Jornal Folha da Tarde cobriu o caso com mais intensidade. No início do caso, foram mais

de 10 matérias em pouco mais de uma semana. Apesar da quantidade de matérias publicadas,

o contexto apresentado pela Folha não fugiu aos outros periódicos e os textos continham

declarações das acusadoras, do delegado Edélcio Lemos e de todos os outros envolvidos.

Vale ressaltar que Folha da Tarde publicou no dia 31 de Março um Box informando a

clandestinidade da Escola Base. De acordo com o texto assinado pelo jornalista Marcelo

Rollemberg, a escola era clandestina e funcionava sem ter a autorização do Conselho Estadual

de Educação ou ter passado por vistoria da delegacia regional de ensino.

O jornal Agora S.Paulo ainda não havia sido criado nos primeiros meses de 1994, período das

acusações. Em 10 de Outubro de 1999, no entanto, pouco mais de 5 anos após os

acontecimentos, o Agora publicou uma nota informando o leitor que o local onde funcionava

a Escola Fundamental Infantil de Base transformou­se em uma unidade da Febem. A casa

abrigava 11 meninas que estavam em regime de semi­liberdade.

Hoje em dia, sabe­se que o local é uma casa abandonada.

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3.6 Notícias Populares

O jornal Notícias Populares cobriu o caso seguindo uma linha editorial considerada

sensacionalista. As manchetes que mencionavam o local dos supostos abusos davam um tom

agressivo aos acusados e à escola. Algumas delas:

30 de Março de 1994 ­ “Escola usava crianças para filme pornô”

31 de Março de 1994 – “Kombi era motel na escolinha do sexo”

31 de Março de 1994 – “Perua escolar levava crianças pra orgia no maternal do sexo”

1º de Abril de 1994 – “Exame procura a Aids nos alunos da escolinha do sexo”

13 de Abril de 1994 – “Americano taradão ataca na Aclimação”

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4. Atividades Desenvolvidas

Os acusados da Escola Base seriam de fundamental importância para o vídeo­documentário a

ser produzido e, para tanto, buscou­se instrumentos literários ocasionados por uma longa

pesquisa e uma investigação bibliográfica e de campo. “Ayres continua trabalhando no quinto

andar de um prédio da Praça da Sé”, (RIBEIRO, p. 164, 2003). Este trecho engendrou o início

da busca por Icushiro Shimada – cujo nome de batismo católico é Ayres. Em pesquisa na

internet, chegou­se, por acaso, no e­mail de uma repórter nissei que à época havia

entrevistado Ayres. O contato foi estabelecido por e­mail sem saber se haveria um retorno

positivo. Dias depois, por telefone, o dono do jornal (o grupo se deu conta que o e­mail era do

jornal) e não a repórter passou ao grupo o contato mais importante do projeto.

Antes de desligar o telefone um alerta: “quando ligar seja cauteloso, pois ele não fala com a

imprensa, afinal, o que aconteceu, em parte, é culpa dela”. Antes de estabelecer o primeiro

contato com Ayres o grupo certificou­se de que o número era realmente da loja de xerox na

Praça da Sé. Na ligação feita, realmente a voz do outro lado da linha era de Shimada. Foram

três ligações até agendar a entrevista. Nas três o tom crítico e aversivo de Shimada era claro.

Não queria falar sobre o assunto, não tinha interesse, não agüentava mais ser explorado e

“ajudar e nunca ser ajudado”, como ele mesmo disse. A entrevista foi possível devido a dois

fatores: o primeiro, por sermos estudantes e objetivar um vídeo no qual seriam discutidos os

erros cometidos e não corrigidos pela mídia. O segundo, o pagamento de R$ 150 reais pela

entrevista concedida. A princípio, Shimada pediu R$ 300,00, mas com muita conversa e

negociação, chegou­se a um valor comum de R$ 150,00.

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Os outros contatos foram feitos de forma mais simples, todos por telefone ou por email e não

tiveram custos financeiros para o grupo. A entrevista com o jornalista Luís Nassif da TV

Cultura, por exemplo, foi marcada após agendamento com sua secretária. Ele foi procurado

por ter escrito o livro Jornalismo nos anos 90, principal referência do trabalho.

Bóris Casoy, da Rede Record de Televisão, foi contactado por telefone. A entrevista foi

desmarcada no dia, causando desapontamento no grupo. Duas semanas depois, no entanto, a

entrevista foi concedida.

Laurindo Leal Filho, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC­SP, foi

procurado no dia do lançamento do Instituto Livre de Jornalismo, no Espaço Unibanco. Sua

experiência na Inglaterra e seus trabalhos sobre Ética na televisão foram os norteadores da

entrevista.

Marcelo Tas, da TV Cultura, foi contactado por sua experiência em vídeo­documentário. A

proposta era pedir sua opinião para a produção da peça. Porém, mais importantes do que um

simples auxílio técnico, foram suas declarações sobre ética no jornalismo.

O advogado de Shimada, Kalil Rocha Abdala, foi o último entrevistado do trabalho. A idéia

de procurá­lo surgiu do orientador Vanderlei Dias de Souza para mostrar as providências

legais tomadas para tentar minimizar as conseqüências do caso. Seu telefone foi conseguido

através do próprio Shimada.

O grupo também tentou entrevistar Mino Carta, editor­chefe e dono da revista Carta Capital,

mas no dia marcado o entrevistado não pôde comparecer. Foi programada outra data mas

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decidiu­se que as declarações não seriam mais necessárias, uma vez que os depoimentos

conseguidos em outras entrevistas supriam as necessidades do trabalho.

Tentou­se conversar com o jornalista da Rede Globo, Valmir Salaro, responsável pela

primeira matéria relacionado ao Caso Escola Base e muito citado por Shimada. Foi

requisitado por ele o envio de um email pedindo autorização para a entrevista. O email, no

entanto, não existia, e após o primeiro contato não foi mais possível falar com Salaro.

Marcelo Godoy, repórter do Estado de São Paulo, que em 94 trabalhava no Folha, também foi

procurado, mas não quis gravar entrevista alegando falta de tempo. Porém, concedeu longa

entrevista por telefone, onde afirmou que “o que tornou o caso o que ele é foi a coincidência

de a imprensa estar cobrindo um erro da polícia”.

A etapa final foi a busca por imagens de cobertura e a elaboração do roteiro do vídeo, o que

envolveu visitas à Biblioteca Mário de Andrade e ao arquivo da Folha de São Paulo. Neste

último pode­se ter acesso a praticamente todas as reportagens sobre o Caso Escola Base na

época em que estava acontecendo. São matérias de jornais impressos e Revistas, com datas

entre março e maio de 1994.

Além da Biblioteca Mário de Andrade, os acervos de imagens da Rede Globo de Televisão e

da TV Cultura também foram visitados e a pesquisa pode ser embasada com materiais de

suma importância, além de contribuir de maneira ímpar à qualidade de produção e conteúdo

do vídeo­documentário.

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5. Conclusão

Partindo­se dos pressupostos dos manuais de redação que orientam a forma com que cada

veículo faz suas coberturas e das condutas éticas ensinadas nas faculdades de jornalismo, fica

claro que o Caso da Escola Base foi um show de equívocos e despreparo na apuração,

checagem e redação das matérias. Para que não fique vago, ou mesmo confuso, explicar­se­ão

tais equívocos.

A intenção é mostrar o caminho básico, ou seja, as perguntas e as cobranças que a mídia

deveria ter feito quando o caso estourou. O estímulo é a vontade de aplicar o conhecimento

adquirido na faculdade. Bagagem não tão prática, é certo, e com uma visão romântica de um

jornalismo que não é o vivido no cotidiano. Mas essas limitações são sabidas, e pretende­se

fazer delas motivação.

Analisar o caso 10 anos depois, sob o olhar da história, parece uma tarefa fácil e simplória já

que se tem todo o tempo necessário para cruzar e analisar as informações. No entanto,

menosprezar essa visão com medo de se tornar uma estátua de sal não parece melhor. Afinal,

o que seria da história se não fossem as análises dos acontecimentos?

Certos erros e vivências devem sempre ser discutidos para pautar ações futuras. Claro que não

é garantido que em idênticas condições de pressão as mesmas decisões não seriam tomadas,

mas, segundo Luiz Nassif, a “notícia precisa ter valores, pois uma notícia sem valores vira

produto de supermercado”, aliada à de Marcelo Tas de que “a ética jornalística é uma questão

de postura individual”, parece ser a mais sensata. E o estudo do comportamento da imprensa

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em casos polêmicos como o da Escola Base sem dúvida é a melhor forma de ser chegar a tal

conclusão.

Esse exercício pode trazer apreensão de ingressar no meio jornalístico, mas, sem dúvida,

ajuda a ter consciência, reserva, cautela e respeito pelas informações e pelas figuras humanas

envolvidas em acusações de ordem moral. Respeito pela honra das pessoas como ressaltou

Boris Casoy.

Revendo os fatos, a relação subversiva entre mídia e polícia revelou­se um espetáculo de má

conduta. A fonte oficial, o delegado Edélcio Lemos, ironizava perguntas sobre os acusados

com sorrisos de canto de boca, passava informações mentirosas que a mídia publicava sem

questionar. Ninguém, exceto o Diário Popular, duvidou da suposta eficiência do delegado,

que inventava teorias e soluções em tempo recorde.

Dessa forma, pode­se aceitar a afirmação de Bóris Casoy, de que a culpa não pode ser

atribuída apenas à imprensa já que o delegado é quem provia as falsas informações. Mas não é

papel do jornalista ser um mediador da realidade, ouvindo todos os lados, agindo como um

investigador?

Além disso, essa suposição cai por terra ao lembrar­se que mesmo após o afastamento de

Edélcio Lemos e a entrada de Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho, a mídia mentiu sozinha

quando, a partir de uma denúncia anônima acusou o americano Richard Pedicini de realizar

orgias com crianças no casarão em que morava. “Alunos da Escola Base reconhecem a casa

do americano”, publicou o Estadão; “Criança liga americano a abuso de escola”, manchetou a

Folha. “Americano taradão ataca na Aclimação”, publicou o Noticias Populares. A fonte? O

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advogado das mães acusadoras, Artur Proppmair. Até a polícia concordou que não havia

relação entre os acontecimentos e a mídia, em seu surto de criatividade deu a notícia.

No final das contas, depois de todo o estrago, dos veículos, o único que procurou debater o

tema foi a Folha de S. Paulo. O jornal também fez um mea culpa em seu editorial de 19 de

dezembro de 1994, mesmo assim pouco ficou esclarecido.

Essa pretensão seria fruto de ingenuidade? Falta de critério? De caráter? A única certeza é:

quem informa não deve somente registrar fatos, mas investigá­los.

A Escola Base não foi o primeiro nem será único erro cometido pela imprensa. A imprensa é

feita por seres humanos e está fadada ao erro. Todavia, já que estes erros existem, espera­se

que, pelo menos, sejam debatidos e os culpados condenados.

A imprensa não aprendeu nada com esse caso? Nem tanto. Notícias contraditórias ou que

possam gerar dúvidas sobre sua correta apuração são dadas diariamente, mas não ganham

notoriedade.

“O que tornou o caso o que ele é foi a coincidência de a imprensa estar cobrindo um erro da

polícia”, diz Marcelo Godoy, repórter do Estadão que trabalhava na Folha em 94. “Fomos

bode expiatório, fomos assassinados socialmente para gerar uma atenção que até aquele

momento não existia”, lamenta Icushiro Shimada. Só quando “o homem morde o cachorro”,

no sentido de que as peças que compõem a história não conseguem se encaixar, é que

discussões são suscitadas.

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Órgãos como os “monitores de mídia” sugeridos por Christofoletti, que vão de dispositivos

normativos como os códigos profissionais e empresariais a comissões de aconselhamento

ético nos órgãos classistas; de páginas de discussão na internet a seções de cartas nos meios

impressos; de publicações especializadas a serviços de “vigilância” ética nos meios,

realizados por algumas organizações não­governamentais, parece ser uma boa alternativa para

evitar esses tipos de conduta.

Assim como na Inglaterra, onde a mídia é vista como um serviço, um meio que trabalha para

a melhoria da sociedade como um todo, e existem núcleos de discussão sobre o papel da

mídia e a qualidade de seu conteúdo, que envolvem representantes de todas as classes, do

governo e do empresariado, no Brasil, algumas posturas poderiam ser mudadas. Também

seria preciso rever as leis que regem a imprensa. No Caso Escola Base nenhum jornalista foi

punido e todos continuam na ativa como se nada tivesse acontecido.

No Brasil existe a figura do ombudsman (Folha de S. Paulo e Rádio Bandeirantes), uma

espécie de “ouvidor” que estabelece um canal entre o público e o veículo. Ele trabalha como

um leitor, ou expectador, dentro da empresa, vendo de forma crítica todo conteúdo produzido,

recebendo reclamações e com generoso espaço para tratar dos assuntos que avaliar necessário.

Mas ações como são vistas como desperdício de dinheiro pelos donos das empresas de

comunicação, e o debate sobre essas possibilidades não é incentivado nem pelos profissionais

nem pela sociedade.

Em visita ao imóvel onde funcionava a Escola Fundamental Infantil de Base (hoje

abandonado) para a gravação de imagens para o vídeo­documentário, teve­se a certeza de que

esses questionamentos são legítimos e relevantes.

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Ao perguntar a uma vendedora de pastéis que trabalha há mais de 12 anos (o Caso Escola

Base completou 10) na feira que acontece na rua Oliveira Peixoto toda semana, sua opinião

sobre o que aconteceu, a resposta foi surpreendente: “uma vergonha o que fizeram com

aquelas crianças, espero que estejam pagando pelo que fizeram”.

Surpresa maior foi a dela quando soube que os acusados já foram inocentados: “Sério? Eu não

vi nada a respeito, quem disse isso pra vocês? Aí, meu Deus, que história louca”. Depois de

alguns esclarecimentos, ela se comprometeu a espalhar a informação para as pessoas da

região que toda quarta­feira comem seu pastel.

Talvez utópico, mas fica a vontade do grupo de que se um erro foi cometido em uma

reportagem, deve ser feita uma reportagem sobre o erro.

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6. Referências

ARBEX JÚNIOR, José. Shownarlismo: a notícia como espetáculo. São Paulo: Casa

Amarela, 2001. BARROS FILHO, Clóvis. Ética na comunicação: da informação ao receptor. São

Paulo: Moderna, 1995. BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 CONTI, Mário Sérgio. Notícias do Planalto. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Monitores de Mídia: Como o Jornalismo Catarinense

percebe seus Deslizes Éticos. Itajaí: Univali e UFSC, 2001 DAMATA, Roberto. Relativizando. São Paulo: Rocco, 1997. DIMENSTEIN, Gilberto. Armadilhas do poder – Bastidores da imprensa. São Paulo:

Summus Editorial, 1990. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 2001. GABLER, Neal. Vida, o filme. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. KARAM, Francisco José Castilhos. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo:

Summus, 1997. KUCINSKI, Bernardo. Síndrome da Antena Parabólica: Ética no Jornalismo

Brasileiro, São Paulo: Ed. Perseu Abramo, 1998. KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e sul : Manual de

Comunicação. São Paulo, 2001. LAGE, Nilson. A Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa

Jornalística. São Paulo: Record, 2001. MEYER, Philip. A ética no jornalismo, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1985 NASSIF, Luiz Nassif. O Jornalismo dos Anos 90. São Paulo: Futura, 2003 NERY, Sebastião. Os Grandes Pecados da Imprensa. São Paulo: Geração, 2000. OLIVEIRA, Sílvio Luiz de. Tratado de Metodologia Científica. São Paulo: Pioneira,

2000. ORTIZ, Renato. Mundialização da Cultura. São Paulo: Brasiliense, 2000 RIBEIRO, Alex. Abusos da Imprensa: O caso Escola Base. São Paulo: Ática, 1995. ROSSI, Clóvis. O que é Jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1994. SANTOS, Rogério et al. O Jornalismo Português em Análise de Casos, Lisboa:

Editorial Caminho S.A., 2001. SOUSA, Jorge Pedro. Teorias da Notícia e do Jornalismo. Argos: Chapecó, 2002. O QUARTO PODER. [Filme] Direção de Konstantinos Gavras. Warner Bros, 1976.

114 min. EUA: 1997. 114 min. O INFORMANTE. [Filme]. Direção de Michael Mann. Touchstone Pictures, 1999.

160 min. TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE. [Filme]. Direção de Alan J. Pakula.

Warner Bros/Wilwood, 1976. 138 min. Código de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.

São Paulo, 1999. Revista Veja Revista Istoé Folha da Tarde Agora S. Paulo O Estado de S. Paulo

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Notícias Populares Sites: www.bocc.ubi.ptwww.bocc.ubi.pt

www.observator iodaimprensa.com.brwww.observator iodaimprensa.com.br www.igutemberg.com.brwww.igutemberg.com.br www.paremasmaquinas.com.brwww.paremasmaquinas.com.br

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7. Apêndice

7.1. Roteiro de Perguntas par a os Entr evistados 1) Nosso tema trata dos “erros da imprensa na década de 90”. O fato dela cometer grandes equívocos no noticiário, prejudicar pessoas, como no Caso da Escola Base, e não assumir a culpa ou se penitenciar como se deve. Então, farei uma pergunta mais pontual pra começar a entrevista: qual é o limiar entre a ética jornalística e os interesses de sensacionalizar os fatos – talvez levados por interesses comerciais (audiência, venda de jornal, etc...)? 2) O tempo de apuração é muito pouco. Os joguetes e interesses de utilizar a mídia para conseguir espaço são muito grandes. Como ter coerência na hora de analisar uma pauta? Pergunto isso, pois no livro do Luiz Nassif, são inúmeros os erros cometidos. Isso, porque ele citou somente alguns. Então acho bem provável que ou às pautas são mal analisadas e com pouco tempo de apuração ou existe sempre um interesse por trás dos assuntos. O que o senhor acha? 3) Errar é normal. Cometer alguns equívocos também. Agora a mídia errou feio em vários casos, Escola Base, Alcenir Guerra e as bicicletas, o recente episódio do Gugu e do PCC. São erros que mexem com vidas humanas. Nesses casos não deveria haver uma punição exemplar? 4) Em palestra realizada no Espaço Unibanco, o jornalista e empresário de mídia Mino Carta disse que a imprensa brasileira fecha com o poder em qualquer circunstância com raríssimas exceções. É isso mesmo ? Pode ser considerado um erro da imprensa esse relacionamento direto com o poder? 5) O que pensa dos órgãos monitores de mídia como acontece na Inglaterra, mas especificamente com a BBC de Londres? Não poderia ser implantado em todos os veículos brasileiros? 6) Carlos Costa, representante do Brasil no FBI por quatro anos disse em entrevista à revista Carta Capital, que uma das mais importantes missões da embaixada norte­americana é manipular, conduzir e controlar a imprensa brasileira... o que pensar sobre isso?

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7.2 Análise das Entrevistas

7.2.1 Luis Nassif

A entrevista foi fundamental por ser ele o autor do livro Jornalismo nos anos 90, referencial teórico primeiro do projeto de pesquisa. Nassif esclareceu muitas coisas sobre o Caso Escola Base, mas também citou outros casos relevantes para se engendrar debates acerca da ética no jornalismo, como o Bar Bodega, Caso Proer e Alceni Guerra e as bicicletas. Para Nassif, a imprensa errou por conta de um ímpeto pelo furo e falta de responsabilidade no momento da apuração: “o editor olha e fala: é uma baita duma matéria. Se eu vou colocar em dúvida, vou apurar todos os dados, eu tiro o impacto da matéria (...) Daí passam uns dias e a manchete está errada. Você se desmoraliza e começa uma auto­defesa”. O grupo pôde abstrair da entrevista que a proposta de se implantar os órgãos monitores de mídia na imprensa brasileira pode não ser tão eficiente e se não houver um controle do próprio jornalista, a ética passa a ser elemento supérfluo nas redações. 7.2.2 Bor is Casoy O jornalista Boris Casoy falou sobre o Caso Escola Base e a aplicação da ética na imprensa brasileira. Quando veio à tona as acusações de abuso sexual em uma escola infantil da cidade de São Paulo, Boris Casoy estava no SBT, apresentando o telejornal TJ Brasil. Casoy afirmou que cobria o caso porque é um dever jornalístico, mas procurava sempre ser ponderado e imparcial em seus comentários. Assim com Luis Nassif, Boris não sentia confiança nas declarações do então delegado do 6º DP Edélcio Lemos e, enquanto a imprensa acusava veementemente Icushiro Shimada como responsável pelos abusos, Boris remava na contra­mão e tinha suas dúvidas. Em aproximadamente 80 minutos de conversa, Boris também criticou a proposta do grupo para implantar órgãos que pudessem monitorar a mídia, como ocorre na Inglaterra com a BBC. Para Boris, o melhor monitor de mídia é o próprio repórter que deve sempre preocupar­se com o auto­controle (mesmo termo usado por Nassif) e buscar ser ético em todas as situações. De acordo com Boris, é extremamente perigoso a imprensa deixar de apurar detalhes de um caso: “Eu senti na pele isso (...) fui acusado de pertencer ao Comando de Caça aos Comunistas e me viram em lugares onde nunca estive”, finaliza Boris. Veja alguns outros trechos da entrevista com o jornalista Boris Casoy:

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“Eu acho que a ética é móvel. Ela se move de acordo com o momento, de acordo com o tempo e como a sociedade encara os fatos. No fundo a ética é aquele porto onde você aporta o seu barquinho todas as noites e no seu travesseiro você examina os fatos ante a luz do que a sociedade e a tua consciência de propiciam naquele momento” “Então quando surge um fato onde a honra alheia pode ser arranhada e a imprensa pode matar uma pessoa através do assassinato da sua honra a ordem é esperar, porque no seguinte terá mais tempo de analise, mais tempo de apuração, mais tempo de meditação. Eu posso ser furado. Não me interessa se eu sou furado ou não. O que eu não posso é matar um ser humano” “Eu fui vitima disso. Eu fui acusado de pertencer ao Comando de Caça aos Comunistas e eu não me livrei até hoje. Então talvez isso tenha sido uma boa lição e tenha sido colocado no meu destino para que eu sentisse na carne o que significa isso. Tudo isso foi pela imprensa. Tem gente até que me viu em lugares onde eu não estive. Então eu tomo cuidado com a honra alheia.” Sobre a Escola Base: “ Foi um rolo compressor. Eu estava no SBT, no Telejornal Brasil do SBT e foi um rolo compressor inclusive na Redação. Era um delegado ansioso, que, eu acho, tinha algum problema patológico. Mitômano, ele mentiu. Eu não quero perdoar a imprensa, mas tem o fato de que uma autoridade induziu a isso.” “Era um caso na época extremamente sensível, ligado a criança e tudo novo. Se você olhar hoje tem Michael Jackson e outros, então hoje a analise desse tipo de caso é mais comum na imprensa, mas na época era uma grande novidade. O tema era um tema tabu.” “ Não foi um erro só da imprensa. Foi uma conjugação de esforços em direção ao erro. E foi uma “foquice” mesmo. Ninguém foi apurar e as pessoas acreditavam no que diziam.” “ Eu não acho que foi a ânsia pela audiência (...) Houve um emburramento generalizado. As pessoas acreditavam no que aquele delegado dizia porque ele tinha aparência humilde, expressão boa e ele se fazia acreditar.” “Todo mundo acreditava no delegado, todo mundo estava vendo daquela forma. Mas você começa a pensar, pô pêra aí. Olha a declaração desse senhor, olha a declaração dessa senhora, tinha o tio da perua, todo mundo pedófilo e levava pra uma casa de prostituição, etc. etc.. tudo muito fantasioso. Eu parei e pensei: tem alguma coisa errada nessa estória. Nós dávamos a matéria porque tínhamos que dar, mas aí eu entrava e colocava dúvida.” 7.2.3 Laur indo Leal O jornalista Laurindo Leal, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC­SP, falou sobre a aplicação da ética na imprensa brasileira. Laurindo Leal citou com exemplos tudo o que dizia e pode­se caracterizar a importância das suas palavras para o embasamento teórico da pesquisa.

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Entre as muitas coisas importantes expressas por Laurindo, vale­se ressaltar duas delas: “O Cláudio Abramo que falava que a ética dele não era a ética do jornalismo era a ética do marceneiro. Ética você tem aqui na nossa relação, na sua vida. O grande problema é você ser ético em um mundo e às vezes o mundo do jornalismo não é ético. Aí é o problema. A ética vem do berço, você tem toda uma formação ética. O que é uma formação ética: respeito de valores, respeito à verdade, respeito à dignidade, respeito à sociedade e aos problemas sociais. Você tem também esses valores, se você é colocado em uma redação de um jornal, de uma TV que de repente tem outras intenções. Aí é o drama individual, pessoal. O grande conflito ético está em você ser ético e o conjunto o qual você vive muitas vezes não ter essa mesma ética. Está voltado para interesses nos negócios, interesse na política, de favorecer este ou aquele grupo. Como é que você se vê diante disso. Tenho pensado muito nisso desde quando eu era dirigente sindical do sindicato dos jornalistas. Ou você procura desenvolver isso coletivamente com seus companheiros de profissão e discute isso, e tenta enfrentar isso coletivamente ou vai para o divã do analista. Porque não tem muito jeito, é uma coisa muito pessoal de você defender sua ética, seus valores, é não ter onde praticar esses valores. E ainda: “Pode ser que quem está começando hoje possa conseguir isso mais p/ frente, depende do espaço que você tem para colocar sua postura ética a serviço do jornalismo, ou a favor da sociedade. Porque o jornalismo é uma função. O jornalismo é um meio para que a sociedade funcione de uma maneira civilizada com informações variadas para que a pessoa possa ter sua posição na sociedade. O jornalismo é um meio não um fim em si. Então a ética é a ética da sociedade, não do jornalismo em si.” 7.2.4 Marcelo Tas Marcelo Tas é apresentador do programa “Vitrine”, na TV Cultura. Tas falou sobre ética na imprensa, furos jornalísticos, falhas na apuração e manipulação da mídia. Em uma entrevista bastante descontraída, o criador do polêmico entrevistador Ernesto Varela considera a televisão burra e conservadora: “Faz­se programas ruins, buscando audiência.”, relata o apresentador, que diz gostar do apresentador Ratinho, pois, segundo ele, soube “transformar tudo em um grande circo popular, onde as pessoas que não têm lugar na tevê conseguem se expressar” Leia alguns pontos a serem destacados na entrevista, relevantes para a pesquisa: “O furo é até uma coisa saudável no jornalismo. É uma briga pela informação, enfim, por saber uma coisa antes. Agora, você extrapolar um fato, você dar tintas a um fato que não tem, isso é uma coisa que se tornou muito freqüente por conta de uma briga por aparecer mesmo, de chamar atenção.” “A briga pela atenção do público ela é saudável até o limite da honestidade, até o limite da ética, até o limite de você ser um grande contador de história. É importante que você seja um grande contador de história, mas que você não altere a história em seu próprio benefício.” “Eu acho que o jornalismo distorce sim a história que ele ta contando, sempre. Não existe jornalismo imparcial, isso é uma bobagem, é papo furado, isso é populismo. O jornalista ele

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botou uma câmera, o jeito que ele vai me olhar, por exemplo, pra fazer essa entrevista, o fundo que ta ali atrás, tudo isso já é uma manipulação desse espaço que a gente ta aqui. Mas tudo bem.” “Eu sempre tive isso em todos os veículos que eu trabalhei. Todos os veículos que eu trabalhei existia um limite pra essa liberdade. Eu acho que o papel do jornalista é esticar esses limites ao máximo e mostrar que a liberdade é a maneira como você lê a realidade, com maior liberdade possível, é uma coisa que interessa quem ta do outro lado. Esse é o ponto.” 7.2.5 Kalil Rocha Abdala O advogado de Icushiro Shimada teve importância para pesquisa em relação aos assuntos jurídicos. Kalil informou ao grupo detalhes dos processos em andamento e algumas das suas declarações puderam ser inseridas no vídeo­documentário. 7.2.6 Icushiro Shimada O principal acusado do caso Escola Base, hoje em dia, é um senhor de meia idade tentando ainda reconstruir sua vida. 10 anos após o incidente, Icushiro ainda carrega uma tristeza muito grande e um sentimento nítido de revolta em relação à cobertura da imprensa no período das acusações: “Acaba com um sujeito. Você não levanta mais não amigo. Você não levanta mais. Que nem eu, eu to com 60 anos rapaz e tô aqui engatinhando. Estou pendurado no banco e até hoje estou pagando. Não tenho conta, não tenho cheque, não tenho porra nenhuma”, disse Shimada. A entrevista de 2 horas, imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa e para a confecção do vídeo­documentário, foi realizada no seu atual local de trabalho, uma pequena loja de xerox no centro de São Paulo. Icushiro detalhou momentos vividos no turbulento período das acusações e também falou sobre o motivo que o levou a comprar uma escolinha infantil: “o sonho da minha esposa era montar uma escola. Ela sempre lecionou, foi funcionária da prefeitura e dava aula no estado”, afirmou.

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7.3 Roteiro do Vídeo­Documentário

Ética na Impr ensa Brasileira na Década de 90 e as Lições do Caso Escola

Base

IMAGEM TC TEXTO SOBE BG

GC FADE IN

GC FADE OUT

Código de Ética do SJSP Artigo 7 O compromisso do jornalista é com a verdade dos fatos e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.

DESCE BG FITA 8 – Repórter Cultura

O exame de corpo delito feito no

garoto pelo IML constatou realmente que ele foi vítima de abuso sexual. A

polícia está esperando agora o resultado de um outro exame feito em

uma outra garota da escola. SOBE BGS GC FADE IN GC FADE OUT

Ética na Impr ensa Brasileira na Década de 90...

FADE IN FITA 1 ­ SHIMADA E 0:49:23 Acaba com um... S 0:49:32 ... não levanta mais

FLASH FRAME FITA 1 ­ SHIMADA E 0:49:39 não tenho conta... S 0:49:40 ...porra nenhuma!

Acaba com um sujeito. Você não levanta mais não amigo. Irresponsável né? Você não levanta mais. Não tenho conta, não tenho cheque, não tenho porra nenhuma!.

SOBE BGS GC FADE IN GC FADE OUT DESCE BGS BLACK

... e as lições do Caso Escola Base

SOBE TRILHA: HINO NACIONAL BRASILEIRO SOLO DE GUITARRA

OFF1

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IMAGENS: * Pouco mais // consolidada FITA 7 ­ COLLOR E 00:16:43 S 00:16:53 *A corrida // acirrava FITA 7 – LULA, FHC E 00 :17:13 S 00 :17:24 * Os preparativos // próximo FITA 7 – COPA

1994 Início de 1994. Pouco mais de um ano depois do impeachment de Fernando Collor , a democracia parecia, enfim,

consolidada. A cor rida para as eleições presidenciais de outubr o se

acir rava e os preparativos para a copa do mundo de futebol nos Estados Unidos estavam adiantados. O tão

sonhado tetr a estava próximo.

IMAGENS: FITA 6 ­ Fotos Shimada e Cida E 01:09:51 S 01:10:05 FITA 6 ­ Fotos Maurício e Paula

E 01:07:00 S 01:07:09 FITA 7 ­ Fachada Base Cultura E 00:05:00 S 00:05:08 DESCE TRILHA

OFF2 16s

O casal Icushiro e Aparecida Shimada e seus sócios Maurício e Paula Alvarenga colhiam os frutos de um investimento feito dois anos antes. A compra da Escola de Educação Fundamental Base. Era a realização de um sonho.

GC Icushiro Shimada Dono da Escola Base FITA 1 ­ SHIMADA E 0:03:44 A minha esposa S 0:04:01

FLASH FRAME FITA 1 ­ SHIMADA E 0:03:17 S 0:03:34

A minha esposa o sonho dela era montar uma escola. Ela sempre lecionou, foi funcionária da prefeitura, dava aula no estado, em particular também A gente comprou a escolinha porque tava anúncio no jornal, quebrada, não tinha nenhum aluno. Mas por causa do nome a gente foi lá. Como era barato eu vendi o carro. Vendi tudo que tinha, meu sócio também.

IMAGENS: A escolinha // 70 FITA 8 ­ CRIANÇAS No dia // dois casais FITA 8 ­ CALENDÀRIO TRILHA: Giz ­ Legião

OFF3

A escolinha estava crescendo. Em 93 cerca de 30 alunos já estavam matriculados. No ano seguinte já eram mais de 70. No dia 28 de março de 94, no entanto, a sorte mudou para os dois casais.

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FITA 1 – SHIMADA E 0:05:31 S 0:05:35 FLASH FRAME E 0:06:14 S 0:06:18 FLASH FRAME E 0:07:01 S 0:07:08 FLASH FRAME E 0:07:53 S 0:08:08

Era 5:30 da tarde nois tava lá dentro De repente toca a campanhia e desci para abrir o portão Abri o portão e a rua tava cheia Delegado me segurou: polícia

SOBE TRILHA: Introitus – the Truth and the Light IMAGENS: FITA 7 ­ CAPA ISTOÉ E 00:10:34 S 00:10:42

OFF4 5s

Começava um dos casos mais polêmicos da história do jornalismo brasileiro.

SOBE TRILHA: Rage Against IMAGENS: FITA 6 E 1:09:17 S 1:09:31 FITA 6 E 01:08:20 S 1:08:22 FITA 7 E 00:12:17 S 00:12:26

GC FADE IN GC FADE OUT

Código de Ética do SJSP III ­ Da Responsabilidade Profissional do Jornalista Artigo 14 Alínea a Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas.

IMAGENS: FITA 7 ­ Rotativas FSP

FITA 7 ­ Redação FSP FITA 7 ­ Banca Mackenzie

TRILHA: Living In the Past – Jethro

OFF5

O jornalismo é uma profissão de extrema importância social. Sua abrangência e função de mediador da realidade lhe concedem um grande poder de interferir na vida das pessoas através do que noticia se as informações são divulgadas sem seguir os princípios básicos da investigação.

GC Laurindo Lalo Leal Filho PUC­SP FITA 6 ­ LAURINDO E 0:44:26 Jornalismo é uma S 0:44:45 fim em si

Jornalismo é uma função. O jornalismo é um meio para que a sociedade funcione de uma maneira civilizada, com informações variadas para que a pessoa possa ter sua posição na sociedade. O jornalismo é um meio, não um fim em si

IMAGENS:

OFF6

O caso Escola Base é um exemplo clássico do

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FITA 8 ­ TELEJORNAIS TRILHA: The Whistler ­ Jethro

que acontece quando esse meio funciona de maneira irresponsável.

FITA 3 ­ NASSIF E 0:10:13 S : :

FLASH FRAME

FLASH FRAME

FLASH FRAME

FLASH FRAME

Você começa com um erro básico porque o seguinte, vem uma matéria, vem um delegado e diz que ouve lá uma orgia.Isso é uma baita duma matéria. Daí você chega pro editor. O editor olha fala é uma baita duma matéria. Se eu vou colocar em dúvida, se eu vou apurar todos os dados, eu tiro o impacto da matéria. Então você vai naquele ímpeto de eu não quero estragar a manchete. Então você dá a manchete.

IMAGENS: FITA 8 ­ Imagens JN FITA 8 ­ LÚCIA

TRILHA: Mother fuckin´ Racists – Planet Hemp

OFF7

A primeira manchete saiu no Jornal Nacional de vinte e nove de março de noventa e quatro baseada em uma denúncia sobre possível abuso sexual de crianças de quatro anos que estaria acontecendo na Escola Base.

MATÉRIA CULTURA I. OFF repórter e

entr evista Lúcia

IMAGENS FITA 8 – Imagens títulos de jornais

OFF8 A notícia foi repetida por todos os veículos nos dias seguintes, num show de equívocos e despreparo na apuração. Só o Diário Popular não publicou nada sobre o caso

SOBE BG GC FADE IN

GC FADE OUT

Um delegado chama a imprensa e diz que você molestou sexualmente uma criança... e agora? IstoÉ, 20/04/94

FITA 2 – BÓRIS Não desculpo a impr ensa

E 00:13:17 S 00:13:40

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IMAGENS FITA 8 ­ Fotos e muro pichado E 00:30:25 S 00:32:40 FITA CULTURA ­ Prisão Saulo e Mara E 00:15:15 S 00:17:15

OFF9 Além de Icushiro e sua esposa Aparecida, também foram incriminados os casais Maurício e Paula Alvarenga e Saulo e Mara Nunes. O julgamento dos envolvidos aconteceu de maneira prematura. A Base foi depredada, os Alvarenga tiveram o muro de sua casa pichado, e os Nunes foram presos sem provas.

FITA CULTURA Saulo preso injustamente

E 00:15:15 S 00:17:15

FITA CULTURA Edélcio falando das provas

E : : S : :

IMAGENS: Fita Cultur a Ansiedade: mãe na base Contra: mãe pedindo cadeia Favor: mãe na delegacia

OFF 10

Enquanto a imprensa se baseava apenas na fonte oficial, a ansiedade cr escia. Alguns pais de alunos se colocavam contr a e outros a favor dos diretores da escola. O delegado seguia convicto com seu show particular.

FITA CULTURA Edélcio falando das provas

E : : S : :

FITA CULTURA Advogado E 00:25:12 S 00:28:12

FITA 2 – BÓRIS E 00:45:40 S 00:47:52

Todo mundo acreditava no delegado, todo mundo estava vendo daquela forma. Mas você começa a pensar, pô pêra aí. Olha a declaração desse senhor, olha a declaração dessa senhora, tinha o tio da perua, todo mundo pedófilo e levava pra uma casa de prostituição, etc. etc.. tudo muito fantasioso.

FITA 1 – Shimada E 00:36:25 S 00:39:50

FITA 3 – NASSIF Diário E 00:28:10 S : :

IMAGENS:

OFF 11

A falta de ética e a luta pela atenção do público continuaram a todo vapor.

FITA 4 – Tas E 0:29:52 S0:30:16

A br iga pela atenção do público ela é saudável até o limite da honestidade, até o limite da ética , até o limite de

você ser um grande contador de histór ia. É impor tante que você seja um gr ande contador de história, mas que você não altere a história em seu

própr io benefício.

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FITA3 – Nassif Jornalismo nos anos 90

IMAGENS:

OFF 12

Só a partir dia 5 de abril o caso começou a virar. Shimada, Cida e Paula, que até então haviam fugido das câmeras ganharam espaço para se defender.

FITA CULTURA Entr evistas Florestan

IMAGENS:

OFF 13

Edélcio foi afastado do caso. Em seu lugar assumiram Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho. A fonte oficial mudou, mas a imprensa resolveu mentir sozinha

FITA CULTURA Matéria Pedicini

OFF 14

Gérson acionou a imprensa. Dessa vez para desmentir a relação entre os dois casos. No final de junho a convocou novamente para comunicar o arquivamento do inquérito

FITA CULTURA Delegado falando do encerramento

SHIMADA FALANDO Q FOI BODE

EXPIATÓRIO

BÓRIS FALANDO SOBRE LIÇÃO

SOBE BG GC FADE IN

GC FADE OUT DESCE BG

Se um erro é cometido em uma reportagem, deve ser feita uma reportagem sobre o erro.

FITA 7 – Kalil E 00:18:25 S 00:23:35

SOBE GC

Hoje Icushiro trabalha em sua xerox no centro se São Paulo. O imóvel da Base foi usado pela FEBEM durante 5 anos e hoje está abandonado. Edélcio continua na Polícia.

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Lúcia, que fez a primeira denúncia, continua vivendo normalmente e diz ter certeza que seu filho foi molestado. Os outros envolvidos se mudaram da cidade e tentam viver anonimamente suas vidas.

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Ficha Acadêmica

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8. Anexos

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Page 55: Ética Na Imprensa - Relatorio Final Caso Escola Base (Veja Isto É Folha Estadão São Paulo Rede Globo)

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O Estado de S. Paulo

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Folha da Tarde e

Agora S. Paulo

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Notícias Populares

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Revista IstoÉ

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Revista Veja

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