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Escola de Ciências Eugénia Leandro da Silva Araújo Geoturismo: Conceptualização, Implementação e Exemplo de Aplicação ao Vale do Rio Douro no Sector Porto-Pinhão Outiubro de 2005

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Escola de Ciências

Eugénia Leandro da Silva Araújo

Geoturismo: Conceptualização,

Implementação e Exemplo de Aplicação ao

Vale do Rio Douro no Sector Porto-Pinhão

Outiubro de 2005

Escola de Ciências

Eugénia Leandro da Silva Araújo

Geoturismo: Conceptualização,

Implementação e Exemplo de Aplicação ao

Vale do Rio Douro no Sector Porto-Pinhão

Tese de Mestrado em Ciências do Ambiente

Trabalho efectuado sob a orientação do

Professor Doutor Diamantino Pereira

Outubro de 2005

iii

Agradecimentos

Este trabalho foi realizado com o apoio e a ajuda de várias pessoas, algumas das quais

merecem especial destaque e a quem quero expressar a minha gratidão.

Ao Professor Diamantino Ínsua Pereira quero deixar aqui expresso o meu muito obrigado, pelo

acompanhamento prestado desde o início, pela disponibilidade demonstrada, pela sua

paciência, pelos seus ensinamentos, pela sua leitura crítica, pelas correcções, pelas suas

sugestões, concedendo-me sempre a liberdade necessária para eu expôr as minhas ideias e

opiniões, pela simpatia e boa disposição. Quero também agradecer o encorajamento dado ao

longo destes dois anos.

Ao Professor José Brilha quero agradecer o facto de me ter facultado material de apoio,

nomeadamente sobre a temática do património geológico e do geoturismo, sempre que o

solicitei para tal.

Ao Professor Espinha Marques o meu agradecimento por ter-me enviado artigos sobre o seu

trabalho em Caldas do Moledo, bem como pela disponibilidade demonstrada para esclarecer as

minhas dúvidas.

À Professora Graciete Dias agradeço os artigos que me facultou sobre os granitóides.

Ao Paulo pelo seu incentivo e pelos seus ensinamentos sobre o Photoshop.

Aos operadores turísticos Douro Acima e Via D`Ouro que me ofereceram cruzeiros no rio

Douro para que fosse possível realizar o guia geoturístico que apresento.

Aos meus pais e à minha irmã, o meu especial agradecimento, não só pelo incentivo, mas

também pela sua compreensão e apoio nos momentos mais difíceis.

Para o Rui Silva o meu profundo agradecimento por todos os momentos em que disponibilizou

o seu tempo para me ajudar nas mais variadas tarefas, por me ter substituído em actividades da

minha responsabilidade e pelo seu incentivo incondicional.

Para os meus amigos, o meu obrigado pelo incentivo, apoio e compreensão em todos os

momentos.

A todos aqueles, que apesar de aqui não serem citados, contribuíram de alguma forma para

a realização deste trabalho, o meu sentido agradecimento.

v

Geoturismo: conceptualização, implementação e exemplo de aplicação ao vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

Resumo

Palavras-chave: rio Douro, desenvolvimento sustentável, turismo sustentável, turismo da natureza, ecoturismo, património geológico, geoturismo, cruzeiros fluviais, geologia, guia geoturístico. A área abrangida pela presente dissertação está enquadrada na região do vale do rio Douro,

no sector Porto-Pinhão. Pretende-se com a abordagem da geologia deste sector e da

temática do geoturismo a valorização geoturística da sua geodiversidade e do seu Património

Geológico. Com a crescente preocupação da preservação da natureza surgiu o conceito de

desenvolvimento sustentável, que deve ser considerado em todas as actividades humanas,

incluindo o turismo. O sector do turismo, muitas vezes apontado como prejudicial para a

natureza de diversas regiões, deve operacionalizar o conceito de sustentabilidade em todas as

suas actividades, contribuindo assim para um desenvolvimento sustentável global. O interesse

crescente dos turistas pela realização de actividades ao ar livre ou pela mera contemplação

da natureza contribuiu para o aparecimento do turismo baseado na natureza. O ecoturismo,

uma das modalidades do turismo da natureza, integra o geoturismo, que surge assim como

uma actividade importante na conservação, valorização e divulgação do Património

Geológico, parte integrante do Património Natural. O geoturismo é uma forma de turismo

sustentável que pode contribuir para o desenvolvimento económico de muitas regiões,

respeitando os critérios de sustentabilidade. O vale do rio Douro proporciona uma paisagem

única e grandiosa que milhares de turistas contemplam anualmente através da realização de

cruzeiros fluviais com duração variável, dependendo do percurso que é efectuado, bem como

das múltiplas actividades complementares que são propostas aos turistas, para além da mera

viagem de barco. Ao longo do seu vale, muitos são os aspectos geológicos que contribuem

para a singularidade da paisagem. No seguimento deste pressuposto caracteriza-se a geologia

do vale do rio Douro, no sector Porto-Pinhão. É apresentada uma descrição da estratigrafia e

das litologias que afloram no sector referido, cuja idade vai desde o Précâmbrico/Câmbrico

até ao Carbonífero e do Pliocénico ao Holocénico. Os recursos minerais, como as minas de

ouro e as águas termais, e energéticos, como as minas de carvão e as barragens, são também

aspectos geológicos de destaque nesta região. É feita a aplicação do conhecimento

geológico da região através da apresentação de uma proposta de guia geoturístico do

percurso fluvial Porto-Pinhão. Neste guia faz-se referência aos aspectos geológicos mais

relevantes, bem como à cultura e história da região duriense, através de um conjunto de

pontos de interesse desde a cidade do Porto à vila ribeirinha do Pinhão.

vi

Geotourism: concept, implementation and application example to Douro river valley in the Porto-Pinhão sector

Abstract

keywords: Douro river, sustainable development, sustainable tourism, tourism of the nature,

ecotourism, geological heritage, geotourism, fluvial cruises, geology, geotouristic guide.

The area included by the present work is integrated in the area of the valley of the Douro river, in

the sector Porto-Pinhão. With the approach of the geology of this sector and of the theme of the

geotourism this work aims to contribute for the geotouristic valorization of his geodiversity and

Geological Heritage. With to growing concern of the preservation of the nature the concept of

sustainable development appeared that it should be considered in all of the human activities,

including the tourism. The sector of the tourism, a lot of times appeared as responsible by the

destruction of the nature in several areas, should put in action the sustainability concept in all

their actividades, contributing like this to a global sustainable development. The tourists growing

interest for the outdoor activities or for the pure contemplation of the nature contributed to the

appearance of the tourism based on the nature. The ecotourism, one of the modalities of the

tourism of the nature, integrates the geotourism, that appears as an important tool in the

conservation, valorization and popularization of the Geological Heritage, integral part of the

Natural Heritage. The geotourism is a form of sustainable tourism that can contribute to the

economic development of a lot of areas, respecting the sustainability criteria. The Douro valley

provides an only and magnificent landscape that thousands of tourists annually contemplate

through the fluvial cruises, whose duration is variable, depending on the boat that realize them,

as well as of the multiple complemental activities that are proposed to the tourists, for besides

the mere boat trip. Along Douro valley, there are many geological aspects that contribute to

the singularity of the landscape. Continuing this presupposition the geology of the valley of the

Douro river is characterized, in the sector Porto-Pinhão, referring the stratigraphy of this sector. It is

presented a description of the litologies that exist in the referred sector, whose age is going from

Precambrian/Cambrian to the Carboniferous and of Pliocene to Holocece. For besides the

litologies, the mineral resources, as the gold mines and the thermal waters, and energy, as the

coal mines and the dams, are relevant geological aspects in this area. It is made the application

of the geological knowledge of the area through the presentation of a proposal of geotouristic

guide of the fluvial course Porto-Pinhão. In this guide, is made reference to the more relevant

geological aspects, as well as to the culture and history of the Douro region, through a group of

points of interest from the city of Porto to the riverine town of Pinhão.

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Índice Geral

Cap. I – Introdução .............................................................................................................

1.1 Plano geral da dissertação ........................................................................................................................

1.2 Contextualização do trabalho ..................................................................................................................

1.3 Objectivos e Metodologia .........................................................................................................................

1.4 Caracterização da Bacia Hidrográfica do rio Douro ............................................................................

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Cap. II – Conceptualização e implementação do Geoturismo ....................................

2.1 Desenvolvimento sustentável e ecoturismo ............................................................................................

2.2 Geodiversidade, Património Geológico e Geoconservação ...............................................................

2.3 Geodiversidade e Biodiversidade: comparação e integração ..........................................................

2.4 Iniciativas internacionais e nacionais de geoconservação ..................................................................

2.5 Geoturismo ..................................................................................................................................................

2.6 Implementação do ecoturismo ................................................................................................................

2.6.1 Os intervenientes ..............................................................................................................................

2.6.2 A interpretação da natureza ..........................................................................................................

2.6.3 O ecoturismo em Áreas Protegidas ...............................................................................................

2.7 O ecoturismo e o geoturismo em Portugal ..............................................................................................

2.7.1 Exemplos nacionais de iniciativas geoturísticas ...........................................................................

2.8 Os cruzeiros fluviais e o turismo na região do Vale do rio Douro ..........................................................

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Cap. III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão ..................................

3.1 Introdução ....................................................................................................................................................

3.2 Estratigrafia ...................................................................................................................................................

3.2.1 Précâmbrico superior – Câmbrico .................................................................................................

3.2.1.1 Grupo do Douro ...................................................................................................................

3.2.2 Outras ocorrências ...........................................................................................................................

3.2.3 Ordovícico .........................................................................................................................................

3.2.4 Silúrico ................................................................................................................................................

3.2.5 Devónico ...........................................................................................................................................

3.2.6 Carbonífero .......................................................................................................................................

3.2.7 Cenozóico .........................................................................................................................................

3.2.7.1 Pliocénico .............................................................................................................................

3.2.7.2 Pleistocénico ........................................................................................................................

3.2.7.3 Holocénico ...........................................................................................................................

3.3 Granitóides ..................................................................................................................................................

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3.4 Modelo evolutivo no contexto dos Ciclos Varisco e Alpino ..................................................................

3.4.1 Deposição e evolução do Grupo do Douro ................................................................................

3.4.2 A bacia no Paleozóico inferior ........................................................................................................

3.4.3 A tectónica varisca ..........................................................................................................................

3.4.4 A génese e evolução da Bacia Carbonífera do Douro (BCD) e

a instalação de granitóides sin D3 ..................................................................................................

3.4.5 A evolução Meso-Cenozóica .........................................................................................................

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Cap. IV – Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro

no sector Porto-Pinhão ......................................................................................

4.1 Introdução ....................................................................................................................................................

4.2 Recursos minerais .......................................................................................................................................

4.2.1 Ouro ...................................................................................................................................................

4.2.2 Termas ................................................................................................................................................

4.3 Recursos energéticos ..................................................................................................................................

4.3.1 Carvão ...............................................................................................................................................

4.3.2 Aproveitamentos hidroeléctricos ...................................................................................................

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Cap. V – Cheias do rio Douro ............................................................................................

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Cap. VI – Aplicação do conhecimento geológico ao turismo da região – proposta de guia geoturístico ...........................................................................................

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Cap. VII – Considerações finais ......................................................................................... Bibliografia ............................................................................................................................

197

201

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

2

1.1 Plano geral da dissertação

Este trabalho encontra-se estruturado em sete capítulos. No primeiro capítulo é

feita uma descrição sintética sobre a estrutura da dissertação, a sua contextualização

e ainda uma abordagem aos objectivos que se pretendem atingir com a realização

deste trabalho. No fim do capítulo, surge a caracterização da bacia hidrográfica do

rio Douro.

O segundo capítulo é dedicado à valorização turística do Património Geológico,

enquadrando-se o conceito de geoturismo no panorama do desenvolvimento

sustentável e do ecoturismo. Procede-se à definição dos conceitos de Património

Geológico, Geodiversidade e Geoconservação, dado a sua estreita relação com o

geoturismo. O conceito de geoturismo é depois discutido, apresentando-se definições

de vários autores que vão sendo confrontadas. Enfatizam-se de seguida as

interacções existentes entre a geodiversidade e a biodiversidade e as comparações

efectuadas entre os dois conceitos. Depois, destacam-se algumas iniciativas nacionais

e internacionais que visam a conservação do Património Geológico. A integração do

conceito de geoturismo no conceito de ecoturismo pressupõe a existência de

estratégias e metodologias comuns, daí que, de uma forma sintética, é referida a

implementação do ecoturismo, destacando-se os vários protagonistas envolvidos, os

diversos aspectos do processo de interpretação da natureza e a forma como o

ecoturismo é desenvolvido nas áreas protegidas. Posteriormente, o geoturismo é

referido na sua vertente pragmática, sendo dados alguns exemplos nacionais e

internacionais de geoturismo. Por último, faz-se uma abordagem aos cruzeiros turísticos

no rio Douro, nomeadamente à evolução desta actividade turística nos últimos anos e

ao seu modo de funcionamento. É feita também uma referência ao que tem sido

feito e ao que ainda está previsto fazer com o objectivo de desenvolver o turismo na

região do Vale do rio Douro.

No terceiro capítulo dedicado à caracterização da geologia do vale do rio Douro,

no sector Porto-Pinhão, faz-se a descrição da estratigrafia desde o Pré-

Câmbrico/Câmbrico ao Carbonífero e do Pliocénico ao Holocénico. De seguida,

caracterizam-se os granitóides existentes no referido sector. Este capítulo termina com

um modelo evolutivo, onde se integram as litologias anteriormente descritas com os

processos geológicos e tectónicos que ao longo do tempo geológico condicionaram

a sua génese.

No quarto capítulo, dedicado aos recursos minerais e energéticos existentes no

vale do rio Douro até ao Pinhão, faz-se uma abordagem à exploração mineira de ouro

e de carvão, aos aproveitamentos hidroeléctricos e às termas.

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

3

No quinto capítulo é feita uma breve referência às cheias do rio Douro, fenómeno

que afecta frequentemente a população ribeirinha.

No sexto capítulo é apresentada uma proposta de guia geoturístico, onde são

apresentados vários pontos de interesse não só geológicos, mas também culturais e

históricos, no percurso fluvial Porto-Pinhão.

No sétimo e último capítulo são feitas algumas considerações finais, sendo

apresentadas conclusões e sugestões para futuros trabalhos.

1.2 Contextualização do trabalho

A região do vale do rio Douro caracteriza-se por ser uma região com um baixo

nível de desenvolvimento, apesar da constante referência ao seu forte potencial

económico. O reduzido investimento público dificulta a valorização e divulgação da

riqueza do património natural, cultural e histórico que possui. Reconhecidas as suas

potencialidades turísticas, o turismo surge como a actividade económica capaz de

impulsionar o desenvolvimento económico, social e cultural da região do Douro. Uma

das actividades turísticas que mais tem crescido nos últimos anos são os cruzeiros

fluviais. Estes cruzeiros, apresentando várias modalidades e sendo realizados em vários

tipos de embarcações, trazem para a região muitos turistas. No entanto, os cruzeiros

potenciam outras actividades, a sua maioria relacionadas com a viticultura, como as

visitas às quintas e a prova de vinhos. De uma forma geral, o turismo que se

desenvolve na região está direccionado para a história secular da cultura da vinha e

para os vinhos de grande qualidade que aí são produzidos.

No entanto, a geologia e a geomorfologia são igualmente aspectos de grande

relevância nesta região, tendo um papel essencial na beleza e atractividade turística

da paisagem duriense. Na ausência de documentação de suporte no âmbito da

Geologia constatada na realização dos cruzeiros fluviais, elaborou-se um guia do

percurso fluvial Porto-Pinhão em que são abordados os aspectos geológicos mais

importantes, integrando-os sempre que possível com a história e cultura dos locais. A

abordagem da geologia nos cruzeiros no rio Douro contribuirá para aumentar a

qualidade e o interesse deste produto turístico bem como para uma maior satisfação

dos turistas, na medida em que lhes é proporcionada uma experiência mais

enriquecedora. A região do Douro apresenta potencialidades para que o geoturismo

possa constituir uma nova vertente turística, constituindo uma opção alternativa viável

ou explorando a sua associação com o turismo direccionado sobretudo ao produto

Vinho do Porto.

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

4

1.3 Objectivos e Metodologia

Neste trabalho pretende-se, numa primeira fase, que sejam atingidos os seguintes

objectivos:

• aquisição de conhecimentos sobre a temática do geoturismo, reforçando a sua

importância no desenvolvimento económico e social de uma região;

• aquisição de conhecimentos sobre a geologia da região do Douro, nomeadamente

do sector Porto-Pinhão.

Depois de concretizados os objectivos anteriores, o objectivo seguinte é a

aplicação dos conhecimentos adquiridos na elaboração de um guia geoturístico do

percurso fluvial Porto-Pinhão. Por sua vez, com a apresentação de uma proposta de

um guia geoturístico para a região do vale do Douro visa-se:

• sensibilizar para a geodiversidade existente na região do Vale do Douro;

• promover a valorização geoturística da região do Vale do Douro;

• aplicar o conhecimento geológico ao turismo da região do Vale do Douro;

• suscitar a introdução de aspectos da geodiversidade nos cruzeiros fluviais,

permitindo aos turistas um conhecimento mais amplo sobre a região do vale do rio

Douro;

• integrar a geodiversidade com a biodiversidade, a história e cultura da região;

• alertar para as pontencialidades da região do Douro no desenvolvimento do

geoturismo.

Para a elaboração do guia foram previamente realizados cruzeiros no rio Douro. A

realização dos cruzeiros visava, numa primeira fase, definir, no sector Porto-Pinhão, os

motivos de interesse geológico, cultural e histórico, que poderiam ser focados ao

longo do percurso fluvial. Desta forma, ficámos com uma ideia acerca dos motivos de

interesse turístico entre o Porto e o Pinhão para puder determinar os temas que seriam

pertinentes abordar. A realização dos cruzeiros permitiu ainda efectuar a contagem

do tempo que pretendia colocar no guia, ter conhecimento do nível e tipo de

informação que era veiculada aos turistas e o contacto directo não só com os turistas,

mas também com as pessoas que trabalham nas embarcações e que contactam

anualmente com milhares de turistas. Este contacto revelou-se bastante enriquecedor,

na medida em que possibilitou a aquisição de informações acerca da satisfação,

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

5

necessidades e desejos dos turistas, assim como dos que trabalham nesta actividade

turística.

A informação a disponibilizar ao público foi dividida em três níveis: o primeiro nível

que ocupa a página frontal em cada ponto de interesse; o segundo nível que se

encontra no verso da folha nos pontos de interesse em que tal foi considerado

necessário; o terceiro nível de informação, mais detalhado, pode ser encontrado nos

restantes capítulos do presente trabalho, nomeadamente nos terceiro, quarto e quinto

capítulos.

Na elaboração do guia procuramos utilizar uma linguagem acessível, passível de

ser compreendida por quem tem uma reduzida cultura geológica e em introduzir,

sempre que possível, imagens, gráficos ou esquemas ilustrativos que auxiliassem na

compreensão da informação transmitida.

Numa segunda fase, com o guia quase terminado, a realização de mais um

cruzeiro serviu para testar na prática a sua aplicação, para posteriormente fazer os

ajustamentos necessários, nomeadamente no que diz respeito ao volume de

informação fornecida, verificando se era ajustado ao tempo que separa pontos de

interesse consecutivos.

Adicionalmente aos cruzeiros fluviais, realizaram-se saídas de campo pelas

margens do rio Douro, com o objectivo de conhecer e observar com o pormenor que

não é possível a quem viaja de barco, as litologias que afloram nas duas margens.

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

6

1.4 Caracterização da Bacia Hidrográfica do rio Douro

Introdução

A bacia hidrográfica do Rio Douro (BHD) encontra-se localizada entre os paralelos

40º 20` e 43º 10` de latitude Norte, e os meridianos 1º 43` e 8º 40` de longitude Oeste,

cortando longitudinalmente a Península Ibérica com uma orientação dominante Este-

Oeste (Figura 1). A sua área é de 97603 Km2, sendo 78960 Km2 em Espanha (80,9%) e os

restantes 18643 Km2 (19,1%) em Portugal (Plano da Bacia Hidrográfica do rio Douro –

PBHD, 1999).

A BHD é a maior bacia hidrográfica da Península Ibérica e o rio Douro um dos rios

mais extensos (o terceiro maior, depois do Tejo e do Ebro). Do seu percurso total, 927

Km, 208 Km situam-se em Portugal, 122 Km servem de fronteira (Douro Internacional) e

597 Km, situam-se em Espanha (PBHD, 1999).

Figura 1 – Bacia hidrográfica do rio Douro e de outros rios peninsulares. (Fonte: Plano da Bacia Hidrográfica Portuguesa do Rio Douro)

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

7

Ém território português a BHD é delimitada a norte pelas bacias do rio Leça, Ave, e

Cávado e a Sul pelas bacias dos rios Tejo, Mondego e Vouga (Figura 2).

Figura 2 – Bacias hidrográficas que limitam a norte e a sul a Bacia Hidrográfica Portuguesa do rio Douro (Fonte: www.snirh.inag.pt).

Os principais afluentes do rio Douro em Espanha são o Esla, o Valderaduey e o

Pisuerga na margem direita, o Huebra e o Tormes que desaguam no troço

internacional, o Águeda que serve de fronteira, o Guarena, o Adaja e o Riaza na

margem esquerda.

Em Portugal, destacam-se na margem direita temos os rios Sabor, Tua, Corgo,

Tâmega e Sousa e na margem esquerda os rios Côa, Távora e Paiva (Figura 3).

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

8

Figura 3 – As principais sub-bacias da bacia hidrográfica portuguesa do rio Douro. (Fonte: Plano da Bacia Hidrográfica Portuguesa do Rio Douro)

As suas condições geológicas, morfológicas e climáticas, contribuem para uma

assinalável geodiversidade e biodiversidade e para os constrastes existentes no que diz

respeito à ocupação humana.

Geologia

Em Portugal, a BHD está integrada numa unidade morfoestrutural bem

diferenciada na Península Ibérica, o denominado Maciço Hespérico, que é constituído

por um substrato rochoso de idade paleozóica e precâmbrica relacionado com o

orógeno Varisco (Pereira et al., 1996). A Bacia Hidrográfica Portuguesa do Douro

(BHPD) integra-se na Zona Centro-Ibérica (ZCI) e apenas, junto à foz do rio Douro, está

instalada em terrenos do Precâmbrico incluídos na Zona de Ossa Morena (ZOM). A

sua evolução tectónica posterior é imposta pela orogenia Alpina, por reactivação das

falhas tardi-variscas e levantamento orogénico, factos que estão na origem dos seus

actuais traços estruturais. Na BHPD podem ser definidas unidades autóctones,

parautóctones e alóctones hercínicas, bem como rochas granitóides e depósitos de

cobertura cenozóicos(Pereira et al., 1996).

Nas unidades autóctones distingue-se uma pequena porção de terrenos do

Precâmbrico, situada a sul da foz do rio Douro, integrada na ZOM, que inclui rochas de

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

9

alto grau metamórfico como ortognaisses biotíticos, paragnaisses, migmatitos e

anfibolitos. As unidades autóctones integradas na ZCI, ocupam o sector a leste de

Bragança, Douro Internacional, Serra da Marofa e vale do Douro até ao Porto,

interrompidas por granitóides na região entre Lamego e Castelo de Paiva (Pereira et

al., 1996). Quanto às litologias predominantes nas unidades autóctones destacam-se:

- xistos e grauvaques com intercalações de quartzitos e conglomerados (Complexo

Xisto-Grauváquico do Vale do Douro – Grupo do Douro);

- quartzito “Armoricano”;

- xistos ardosíferos;

- xistos negros, xistos carbonosos, filitos esverdeados e quatzofilitos;

- xistos argilosos negros.

As unidades parautóctones e alóctones ocupam grande parte da área de Trás-os-

Montes e correspondem a um empilhamento de unidades separadas por

carreamentos de base e separadas das unidades autóctones pelo carreamento de

base do Parautóctone. Destacam-se das unidades parautóctones as Unidades

Peritransmontanas, onde predominam xistos, quartzitos e grauvaques. Os Maciços de

Bragança e Morais constituem o empilhamento das unidades alóctones média e

superior, onde estão representadas sequências da crusta oceânica e continental.

Os depósitos superficiais são reduzidos e de um modo geral correspondem a

depósitos situados na base das cristas quartzíticas, constituídos por clastos de quartzito

e quartzo mal rolados (Ferreira, 1981), bem como depósitos de natureza fluvial e aluvial

que restam de uma paleodrenagem anterior à actual (Pereira, 1997). Os depósitos de

terraços fluviais são também escassos, devido ao forte encaixe da rede fluvial,

destacando-se no entanto os terraços fluviais associadas à bacia de Chaves (Pereira

et al., 1996).

Os granitóides enquadrados na BHPD, integram os granitos hercínicos

característicos da ZCI, cuja instalação foi sobretudo controlada pela 3ª fase de

deformação hercínica(D3) (Ferreira et al., 1987). Relativamente a esta fase de

deformação, são divididos em três grupos:

- granitóides ante D3;

- granitóides sin D3;

- granitóides tardi a pós D3.

Os granitóides ante D3 correspondem a granitos de duas micas, apresentando

geralmente grão médio a grosseiro, por vezes com tendência porfiróide e um carácter

peraluminoso, sendo a plagioclase pouco cálcica. Os granitóides sin e tardi a pós D3

correspondem a granitos biotíticos com plagioclase cálcica, associados a

cisalhamentos dúcteis, e a granitos de duas micas com restitos (Pereira et al., 1996). Os

granitóides tardi a pós-orogénicos, instalaram-se depois das fases de deformação

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

10

anteriormente referidas, sobre o controlo da fracturação frágil tardia. Correspondem a

granitos biotíticos, apresentando geralmente grão médio a médio-grosseiro, por vezes

porfiróides (Pereira et al., 1996).

Dos elementos tectónicos, destacam-se a falha de Verim-Régua e a falha de

Bragança-Vilariça (Cabral & Ribeiro, 1988). Estes acidentes têm rejogado até à

actualidade e registam actividade sísmica (Cabral, 1995). Encontram-se orientadas

NNE-SSW, segmentando a BHPD em três sectores com a mesma orientação (Ferreira,

1981).

Geomorfologia

A BHPD está instalada sobre a parte norte de uma unidade geomorfológica da

Península Ibérica designada Meseta Ibérica. Esta, corresponde a uma peneplanície,

designada por “Superfície Fundamental da Meseta”, cuja altitude média, na parte

norte da Meseta, é de cerca de 700 m , sendo limitada por grandes alinhamentos

montanhosos (Pereira et al., 1996). É limitada a norte pela Cordilheira Cantábrica

(Picos da Europa – Torre de Cerrado – 2648m), a este pela Cordilheira Ibérica (Serra de

Moncayo – 2313m) e a sul pela Cordilheira Central (Serra de Gredos – Plaza del Moro

Almanzor – 2592m). A expressão mais contínua da Meseta Norte na BHPD situa-se no

Planalto Mirandês, situado a norte do rio Douro entre os 700 e os 800 metros de altitude

e nos planaltos da Beira Alta, terras conhecidas por Beira transmontana, a sul do rio

Douro. Contrastando com esta continuidade, no sector mais ocidental existem apenas

vários retalhos aplanados da superfície fundamental da Meseta, resultado da

dissecação provocada pelo encaixe profundo da rede fluvial atlântica. A oeste, a

Meseta estende-se, na sua maior parte, sobre afloramentos de formações

precâmbricas e paleozóicas do soco varisco, pertencentes ao Maciço Hespérico, mas

a leste também se prolonga pelos depósitos terciários continentais da Bacia do Douro

(Cabral, 1995). Destacam-se acima da Superfície Fundamental da Meseta relevos

residuais, coincidentes com cristas quartzíticas. Alguns relevos quartzíticos apresentam

topos aplanados, sugerindo uma correspondência com a superfície inicial fini-

mesozóica. Nas montanhas, relevos salientes da superfície planáltica, existem por

vezes superfícies aplanadas, relacionadas provavelmente com fases precoces do

desenvolvimento da Meseta, posteriormente levantadas por acção da tectónica

alpina durante o Cenozóico (Cabral, 1995). No sector mais ocidental da BHPD, assiste-

se a uma descida do relevo em patamares, com desníveis da ordem dos 100 m, até à

plataforma pliocénica do Douro, a menos de 100 m de altitude, nas proximidades da

desembocadura do rio (Pereira et al., 1996). Esta forma um patamar com restos de

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

11

depósitos pliocénicos, ligeiramente inclinada para oeste, onde se encaixam os

depósitos quaternários deixados pelo rio Douro (Pereira et al., 1996). A génese desta

superfície iniciou-se no Mesozóico, em que as condições climáticas favoreceram a

meteorização das rochas, com formação de mantos de alteração. Com uma

reduzida acção tectónica, os relevos foram atenuados e os materiais erodidos

depositados em bacias sedimentares, formando-se uma vasta superfície aplanada

(Pereira et al., 1996). Durante o Cenozóico, sofreu a conjugação dos levantamentos

tectónicos, da erosão e da incisão remontante da rede fluvial, que ocorreu nos últimos

2 Ma (Cabral, 1995; Pereira et al., 1996). O processo de incisão dos vales fluviais nos

sectores do Alto Douro e do Douro Superior deve ter ocorrido essencialmente durante

o Plistocénico, depois de os rios que drenavam para o Atlântico capturarem outros

cursos de água, que conduziam os sedimentos resultantes da erosão do Maciço

Ibérico para o interior, em direcção à Bacia Terciária do Douro em Espanha (Pereira et

al., 2000). A erosão regressiva dos rios que desaguavam no Atlântico, dos quais fazia

parte um pré-Douro, com posterior captura da drenagem mais interior (endorreica) foi

impulsionada pela acção simultânea dos movimentos tectónicos de soerguimento,

durante o Neogénico, com o abaixamento do nível médio do mar durante as

primeiras glaciações. A relativa juventude da actual rede fluvial nestes sectores é

apoiada pelo forte encaixe fluvial, sobretudo no troço internacional do rio Douro,

onde ocorre um profundo encaixe do vale, com vertentes de declive acentuado, as

Arribas (Figura 4), numa morfologia do tipo canhão fluvial.

Figura 4 – Arribas do Douro em Miranda do Douro.

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

12

O carácter encaixado do rio Douro nesta região justifica o reduzido registo sedimentar

quaternário, evacuado em sucessivos ciclos de encaixe, ocorrendo associado às

apertadas curvaturas, controladas por alinhamentos tectónicos (Pereira et al., 2000). O

perfil tranversal do rio e das vertentes sofre algumas alterações devido à natureza e

resistência diferencial das litologias. O profundo encaixe no Douro Internacional, onde

dominam os granitos, contrastam com o vale mais aberto e vertentes menos

inclinadas nas zonas onde predominam as unidades metasedimentares do Grupo do

Douro (Figura 5).

Figura 5 – Rio Douro, com a cidade de Peso da Régua na margem norte.

A maioria da área da BHPD, 63239 Km2 , o que equivale a 65% da área total,

encontra-se compreendida entre as cotas de 600 e 1000m, correspondendo à parte

central da bacia. Cerca de 22252 Km2 (23%), encontra-se entre os 1000 e os 1600m,

correspondente aos limites Norte, Sul e Oeste da bacia (Figura 6). A altitude média é

de 891m (PBHD, 1999).

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

13

Figura 6 – Hipsometria da bacia hidrográfica portuguesa do rio Douro. (Fonte: Atlas do Ambiente)

O rio Douro corre a cerca de 115 m de altitude em Barca de Alva, a 200 Km da foz,

e o desnível entre a peneplanície e o fundo de alguns vales chega a atingir, em alguns

casos, 300 a 400 m (Ferreira, 1981). A sul e a norte do rio Douro existem elevações com

mais de 1000 m de altitude, como as Serras do Marão, do Alvão, do Barroso-Cabreira,

da Nogueira, de Bornes, do Larouco e do Montesinho, a norte, e as Serras de

Montemuro e de Arada, a sul.

Clima

A BHD apresenta uma grande variedade de condições climáticas, reflexo da sua

grande extensão e elevada diversidade em termos morfológicos. Podem ser

considerados na BHPD dois conjuntos climáticos com características bem distintas

(PBHD, 1999): o sector oeste, formado aproximadamente pelas sub-bacias do Sousa,

Tâmega e Paiva, que se pode estender até à sub-bacia do Távora, incluindo ainda

toda a faixa litoral da bacia, reflecte as condições associadas aos climas marítimos;

toda a restante área, situada para leste, na qual se destacam as sub-bacias do Tua,

do Sabor e do Côa, aproximam-se mais das condições associadas aos climas

continentais. Os alinhamentos das serras do Marão, Alvão e Padrela, na margem

norte, e das serras da Arada e de Montemuro, na margem sul, fazem a divisão entre

estes dois conjuntos climáticos, constituindo um limite onde ocorre uma variação muito

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

14

significativa dos elementos climáticos. Estes alinhamentos constituem uma barreira às

massas de ar húmido, que ao embater com estes relevos, ascendem, provocando a

condensação do vapor de água com consequente precipitação. Daí, as

precipitações baixarem significativamente para leste desta barreira, onde as

amplitudes térmicas anuais são particularmente bruscas devido aos máximos atingidos

no verão.

A precipitação, distribuída assimetricamente, varia com regularidade ao longo do

ano, com valores maiores em Dezembro e Janeiro (nalguns locais em Março), e com

valores menores em Julho ou Agosto (PBHD, 1999). A precipitação anual média, varia

entre um valor máximo de cerca de 2400 mm e um valor mínimo de 400 mm (Figura 7).

O valor da precipitação anual média é de cerca de 1030 mm. A distribuição sazonal

da precipitação é também muito marcada, ocorrendo entre Outubro/Março cerca

de 72% da precipitação anual. Em ano muito seco, a precipitação anual média

atinge, cerca de 560 mm.

A exposição ao sol, factor fisiográfico de grande importância na caracterização

climática de qualquer região, reveste-se no Douro de redobrado interesse já que

permite uma melhor compreensão do comportamento da vinha nas diferentes

situações. A margem norte do rio está sob a influência de ventos secos do sul, estando

a margem sul exposta aos ventos do norte, mais frios e húmidos, e a uma menor

insolação, daí a temperatura do ar ser mais alta nos locais expostos a sul do que nos

locais expostos a norte (PBHD, 1999). As temperaturas médias anuais variam entre 7,5 e

16 ºC (Figura 8). Os valores máximos das temperaturas médias anuais distribuem-se ao

longo do rio Douro e dos vales dos seus afluentes, em especial os da margem direita

(nomeadamente rio Tua e ribeira da Vilariça). Relativamente às amplitudes térmicas

diurnas e anuais, verifica-se que têm maior valor em Barca d'Alva e menor valor em

Fontelo, facto que é explicado pela distância ao mar.

Eugénia Araújo Cap. I - Introdução

15

Figura 7 – Distribuição da precipitação na bacia hidrográfica portuguesa do rio Douro. (Fonte: Atlas do Ambiente)

Figura 8 – Distribuição da temperatura na bacia hidrográfica portuguesa do rio Douro. (Fonte: Atlas do Ambiente)

Capítulo II

Conceptualização e implementação do Geoturismo

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

18

2.1 Desenvolvimento sustentável e ecoturismo

O crescimento económico e industrial decorreu durante muito tempo sem

qualquer preocupação pela degradação e poluição ambiental. Quando as

consequências desta despreocupação foram constatadas, tornando-se evidentes os

danos causados no ambiente, surgiu a ideia de equilibrar o crescimento económico

das nações com a preservação da natureza, que veio a ser conhecida por

desenvolvimento sustentável. Em 1987, a Comissão Mundial das Nações Unidas para o

Ambiente e Desenvolvimento (UNWCED) apresentou o documento “O nosso futuro

comum”, no qual o desenvolvimento sustentável é definido como um

desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a

habilidade das gerações futuras para satisfazer as suas próprias necessidades.

Em conformidade com estes princípios a Organização Mundial de Turismo (WTO –

World Tourism Organisation) declarou, em 1988, que o turismo sustentável deve ser

encaradoeee como uma forma de gestão de todos os recursos, de tal modo que as

necessidades económicas, sociais e estéticas possam ser cumpridas, ao mesmo tempo

que se mantém a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a

diversidade biológica e os sistemas que suportam a vida.

Posteriormente, na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e

Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, foi adoptada a Agenda 21,

que constitui um programa de acção que visa promover a implementação do

desenvolvimento sustentável em todos os países, conciliando métodos de protecção

ambiental, justiça social e eficiência económica. O desenvolvimento social e cultural,

económico e ambiental devem reger-se pelos princípios da sustentabilidade.

Embora o turismo não seja mencionado directamente neste documento, os

princípios da sustentabilidade podem ser aplicados a todos os tipos de turismo e a

todos os sectores do turismo (Bien, 2003). Segundo Klaus Topfer, Director Executivo do

Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP - United Nations Environment

Programme), “colocar o turismo no caminho da sustentabilidade é um grande desafio,

mas também representa uma significativa oportunidade”. Na Carta Europeia do

Turismo Sustentável para as Áreas Protegidas, o turismo sustentável é definido como

qualquer forma de desenvolvimento, equipamento ou actividade turística que

respeite e preserve a longo prazo os recursos naturais, culturais e sociais e que

contribua de maneira positiva e equitativa para o desenvolvimento económico e

bem-estar das pessoas que vivem, trabalham ou se encontram temporariamente nos

espaços protegidos. Na Conferência Mundial do Turismo Sustentável, realizada em

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

19

Abril de 1995 na ilha de Lanzarote, em Espanha, tendo por base a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, a Declaração do Rio para o Ambiente e

Desenvolvimento, bem como as recomendações da Agenda 21, reconhecendo-se a

ambivalência do turismo e a fragilidade dos seus recursos, foi elaborada a Carta do

Turismo Sustentável. Neste documento é enfatizada a ideia de que o turismo deverá

seguir critérios de sustentabilidade, participando activamente na estratégia para um

desenvolvimento sustentável.

O ecoturismo refere-se a um segmento de mercado no sector do turismo,

caracterizado por pôr em prática os princípios da sustentabilidade, definidos pela WTO

em 1988 (www.world-tourism.org, 2004). Esta forma de turismo expandiu-se

rapidamente nas últimas duas décadas e por ser ainda esperado um maior

crescimento no futuro e ser reconhecida a sua importância, as Nações Unidas

designaram o ano de 2002 como o Ano Internacional do Ecoturismo, em que foram

feitos esforços, nomeadamente pela WTO e UNEP, para que ao longo desse ano

fossem realizadas actividades que possibilitassem uma troca de experiências e

sensibilizassem todos os que estão envolvidos no ecoturismo para os seus benefícios,

promovendo dessa forma o seu desenvolvimento sustentável no futuro (www.world-

tourism.org, 2004; www.uneptie.org, 2004; www.un.org, 2004).

Os princípios que constituem a base do ecoturismo provêm, pelo menos em parte,

do movimento ambientalista da década de sessenta, do movimento de

ecodesenvolvimento que emergiu durante a década de setenta e do

desenvolvimento sustentável, que se desenvolveu durante a década de oitenta

(Fennell, 2002). O ecoturismo é um nicho de mercado em amplo crescimento no

sector da indústria turística, e tal como as outras formas de turismo sustentável, é um

campo dinâmico com surgimento de novas técnicas e abordagens todos os anos,

com potencial de vir a tornar-se uma ferramenta importante no desenvolvimento

sustentável (Wood, 2002). O grande desenvolvimento que o ecoturismo tem vindo a

experimentar deve-se à crescente procura dos turistas pelo contacto directo com a

natureza, por locais ricos em fauna e flora, onde a tradição, os usos e costumes

continuam preservados. É realizado sobretudo em Áreas Protegidas, onde não só as

actividades são praticadas em ambiente totalmente natural como também são

associadas à história, cultura e paisagem das zonas visitadas, em que o alerta para a

conservação da natureza e de todo o ambiente envolvente é uma realidade sempre

presente (http://www.portugalinsite.pt, 2004).

O turismo baseado na natureza é em muitos países uma componente chave da

indústria turística (Eagles, 2001). Segundo o mesmo autor, este sector do turismo

depende fundamentalmente de duas componentes: níveis de qualidade ambiental e

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

20

níveis de satisfação do consumidor, tendo já crescido suficientemente para que possa

ser subdividido em vários segmentos de mercado diferentes. Neste âmbito, Eagles

(1995, 2001) utilizando uma metodologia baseada nas motivações, reconhece pelo

menos quatro nichos de mercado no turismo baseado na natureza: ecoturismo,

turismo de aventura, vida selvagem e campismo (Figura 9).

Figura 9 – Nichos de mercado do turismo baseado na natureza

(Eagles, 1995, 2001).

Estes nichos de mercado encontram-se em diferentes estádios no ciclo empresarial,

encontrando-se o ecoturismo e o turismo de aventura num estádio ainda com um

grande potencial de crescimento, o turismo relacionado com a vida selvagem num

estádio em que já atingiu o máximo potencial de crescimento e o campismo num

estádio em que já se encontra em declínio (Eagles, 2001) (Figura 10).

Figura 10 – Estádios dos diferentes nichos de mercado do turismo baseado na natureza no ciclo empresarial (Eagles, 2001).

Para além dos quatro nichos de mercado identificados no turismo da natureza por

Eagles (1995a), outras sugestões são apresentadas, como a subdivisão deste tipo de

turismo em apenas dois nichos de mercado, sendo eles o ecoturismo e o turismo de

aventura (Figura 11). Nesta perspectiva, o ecoturismo, bem como o turismo de

aventura, são submercados do turismo da natureza, embora só o ecoturismo

Turismo baseado na natureza

Ecoturismo Turismo aventura

Vida selvagem Campismo

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

21

Viagens de negócios

Turismo Praia

Turismo Cultural

Turismo da Natureza

Turismo Rural

estabeleça ligações com o turismo rural e cultural, o que não sucede com o turismo

de aventura (Wood, 2002). Utilizando, tal como Eagles (1995a), o critério da motivação

na distinção dos nichos de mercado enquadrados no turismo da natureza, Wood

(2002) refere que enquanto no ecoturismo a principal motivação é a observação e

apreciação dos elementos naturais e culturais, no turismo de aventura é o exercício

físico e as situações de desafio em ambientes naturais.

Figura 11 – Posicionamento do ecoturismo no amplo mercado turístico

(WTO, modificado por Strasdas, 2001). (Fonte: www.unep.org)

Apesar do ecoturismo constituir a versão mais sustentável do turismo da natureza é

certo que todas as actividades turísticas, sejam elas em férias, negócios, conferências,

congressos, feiras, de promoção da saúde e do bem-estar ou de aventura devem ter

como meta a sustentabilidade (Wood, 2002) (Figura 12).

Figura 12 – Strasdas, 2001 (Fonte: www.unep.org).

Ecoturismo

Turismo sustentável F

orm

as

de

turis

mo

o

su

ste

ntá

ve

l

Turismo

Turismo cultural

Turismo rural

Turismo natureza

Turismo praia

Viagens negócios

Turismo saúde e

bem-estar

Ecoturismo Turismo

aventura

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

22

Muito tem sido escrito sobre o ecoturismo, mas não existe consenso sobre o seu

significado, em parte devido às variadas formas em que são oferecidas as actividades

por um largo número de operadores e pelo facto de ser praticado por um número

ainda maior de turistas (www.world-tourism.org, 2004). Em 1991, a Sociedade

Internacional de Ecoturismo (TIES – The International Ecotourism Society) definiu

ecoturismo como a visita responsável a áreas naturais, que conserva o ambiente e

promove o bem-estar da população local. Esta definição enfatiza o facto de que

deverá haver um impacto positivo quer na conservação quer na comunidade local.

A IUCN, actualmente designada por Organização Mundial para a Conservação,

realçando tal como na definição anterior a importância da conservação da natureza

e da melhoria da qualidade de vida da comunidade local, definiu em 1996, o

conceito de ecoturismo como viagem responsável e visita a áreas naturais

relativamente imperturbáveis, para desfrutar e apreciar a natureza (e algumas

particularidades culturais), promovendo a sua conservação, proporcionando um

benefício sócio-económico para as populações locais e evitar os impactos negativos

dos turistas. Também a WTO partilha da ideia patente na definição de ecoturismo da

IUCN, de que os turistas para além de apreciarem a natureza também contactam

com aspectos culturais das áreas naturais e de que o ecoturismo deve acarretar

benefícios para as comunidades locais. Segundo esta, o ecoturismo é um turismo

baseado na natureza, em que a motivação principal dos turistas é a observação e

apreciação da natureza, bem como os aspectos culturais das áreas naturais,

minimizando os impactos negativos no ambiente natural e sócio-cultural, gerando

benefícios económicos, sociais e ambientais para as comunidades locais, gerando

postos de trabalho e promovendo a consciencialização da população local e dos

turistas para a importância da conservação dos recursos naturais e culturais

(www.world-tourism.org, 2004). Para Weaver (2001), a sustentabilidade do ecoturismo

não deverá verificar-se apenas a nível ambiental mas também a outros níveis,

alegando que o ecoturismo é uma forma de turismo baseado na natureza, que se

esforça para ser ecológica, sócio-cultural e economicamente sustentável, ao mesmo

tempo que cria oportunidades para apreciar e aprender acerca da natureza ou de

alguns dos seus elementos específicos como um animal ou uma planta. De acordo

com Reimold (2001), o ecoturismo é o turismo focado na capitalização do ambiente,

que satisfaz o turista ao mesmo tempo que sustenta o ambiente. Para este autor estas

duas funções têm de andar unidas, caso contrário o recurso colapsará, talvez depois

de ter provido ganhos económicos a curto prazo. Salienta-se nesta definição, para

além do papel do ecoturismo no desenvolvimento sustentável, a satisfação do turista,

que nas definições anteriores não foi referida. Embora seja dado muito enfoque à

preservação da natureza, não podemos esquecer que o ecoturismo, como sector do

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

23

turismo que é, tem de cativar os seus clientes e não há melhor forma do que fazer com

que fiquem satisfeitos e contentes com o que lhes é proporcionado. Este conceito

alberga uma grande diversidade de actividades, tendo sido proposto um espectro de

actividades, onde nos extremos se encontram o ecoturismo activo e o ecoturismo

passivo (Weaver, 2001). No ecoturismo passivo (variante do turismo de massas) são

reconhecidas algumas das características do turismo de massas, nomeadamente no

que diz respeito ao volume e objectivo da viagem (Weaver, 2001). Este mesmo autor

estabelece relações de benefício mútuo entre o ecoturismo e o turismo de massas. O

ecoturismo beneficia o turismo de massas na medida em que contribui para a

diversificação do produto turístico, oferecendo ao turista a oportunidade para

aprender acerca das atracções naturais. O ecoturismo é atractivo para o aumento do

mercado “verde” do turismo de massas e permite uma maior adequação aos

princípios e práticas da sustentabilidade. O turismo de massas também beneficia o

ecoturismo, trazendo mais clientela, nomeadamente ecoturistas passivos. Segundo

Shores (2001), o conceito de ecoturismo deve ser o mais rigoroso possível para que se

estabeleçam as metas e os desafios dos operadores turísticos, dos parques e dos

turistas. Salienta ainda que as definições precisas permitirão comunicar com precisão

entre todos os que estão envolvidos no ecoturismo, podendo as definições latas

transmitir a falsa ideia de que uma viagem é, em termos ambientais, ecológica,

quando na verdade é destrutiva para o ambiente local, regional e global. O termo

tem sido usado com tamanha liberdade que quase todas as viagens se podem

encontrar ao abrigo deste conceito. Na indústria turística, muitos são aqueles que

utilizam o termo ecoturismo para promover os seus destinos sem, no entanto, tentarem

implementar os mais básicos princípios do ecoturismo (Wood, 2002). Bien (2003) vai

ainda mais longe, quando refere que para além da utilização frequente do termo

ecoturismo por parte da indústria turística para parecer ser ecológica sem na

realidade ser sustentável, prática conhecida por “greenwashing”, muitas vezes actua

mesmo em contradição com estes conceitos. Para Wood (2002) trata-se de um grave

problema que deita por terra a legitimidade do termo ecoturismo, mas que é o

resultado de uma lacuna na compreensão dos princípios mais básicos do ecoturismo,

apesar das conferências internacionais, dos Workshops e das publicações

promoverem avanços significativos na educação sobre o ecoturismo. Os negócios

que falsamente utilizam o termo ecoturismo representam uma competição injusta,

danificando a credibilidade de toda a indústria turística. Existem muitos tipos de turismo

sustentável que não são baseados na natureza e também existe turismo da natureza

que não é sustentável, no entanto, nenhum destes deve ser considerado ecoturismo

(Bien, 2003). Uma das soluções apontadas para este problema passa pela

certificação, assegurando a verdadeira prática do ecoturismo, com o cumprimento

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

24

dos seus parâmetros específicos pelas empresas certificadas. Colocar o ecoturismo no

caminho da sustentabilidade é um grande desafio que requer diálogo e cooperação

entre a indústria turística, os governos, a população local e os próprios turistas

(Larderel, 2002). O desafio é difícil pois envolve muitos actores e deve ser encarado

como tal, mas não é uma tarefa impossível. A comprová-lo estão os inúmeros

exemplos de sucesso, onde é praticado o ecoturismo com toda a legitimidade, que

tem provado ser uma importante ferramenta para a conservação, tendo mesmo em

certos casos conduzido ao aumento da qualidade de vida da comunidade local

(Wood, 2002). Todavia, Larderel (2002) alerta que o ecoturismo, apesar de promover a

preservação do ambiente e impactos sociais positivos, pode, infelizmente, ser tão

danificador como o turismo de massas se não for promovido correctamente. As

actividades turísticas não devem destruir a razão pela qual os turistas visitam

determinado lugar, caso contrário põem em causa a continuidade dessas mesmas

actividades (Bien, 2003). De acordo com Shores (2001) é o turista que pode alterar a

forma como a indústria turística trata o património natural, indicando que para isso é

preciso que o turista dê o primeiro passo – manter-se correctamente informado.

2.2 Geodiversidade, Património Geológico e Geoconservação

As paisagens contempladas pelos turistas têm particularidades geológicas que

frequentemente passam despercebidas. Para a satisfação de uma parte dos turistas

basta a simples contemplação da paisagem, mas a oferta de conhecimentos

históricos e científicos relativos ao que observa, é necessária para satisfazer os

interesses de muitos turistas da natureza (Pereira, 2004). Este autor salienta que a base

geológica é o factor mais importante na modelação da paisagem, que evolui em

face da natureza das rochas, da sua deformação tectónica e da forma como se

alteram e evoluem sob determinadas condições climáticas. Evidencia ainda que a

forma das serras, das planícies, dos vales e muitas outras formas de escala variada,

estão fundamentalmente relacionadas com as características geológicas do meio.

Uma vez que o geoturismo é uma modalidade turística que promove a

geodiversidade e sítios com interesse geológico devidamente protegidos e

conservados, é essencial saber previamente o que se entende por Geodiversidade,

Património Geológico e Geoconservação.

O termo geodiversidade é recente, começando a ser utilizado por geólogos e

geomorfólogos na década de noventa para descrever a variedade do meio abiótico

(Gray, 2004). No entanto, de acordo com o memo autor, é difícil saber quando é que

o termo geodiversidade foi referido pela primeira vez. Algumas das primeiras

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

25

utilizações parecem ter sido na Tansmânia (Austrália), em estudos que alguns autores

realizaram sobre geoconservação. Gray (2004) também faz referência a uma

conferência sobre geoconservação, realizada em 1993, em Malvern, no Reino Unido.

Relativamente à definição de geodiversidade, são vários os autores que têm dado

a sua contribuição. Nieto (2001) definiu geodiversidade como sendo o número e

variedade de estruturas e materiais geológicos que constituem o substrato físico

natural de uma região, sobre qual assenta a actividade orgânica, incluindo a

antrópica. A Sociedade Real para a Conservação da Natureza do Reino Unido in

Morris & Parkes (2004) refere que a geodiversidade consiste na variedade de

ambientes geológicos, fenómenos e processos activos que originam as paisagens, as

rochas, os minerais, os fósseis e outros depósitos superficiais que possibilitam a vida na

Terra. Esta definição é mais abrangente do que a anterior, na medida em que inclui,

para além das estruturas e materiais geológicos, os fenómenos e processos que estão

na sua origem. De acordo com Gray (2004), a geodiversidade é a variedade natural

de aspectos geológicos (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicos (formas de

relevo, processos) e do solo. Inclui as suas colecções, relações, propriedades,

interpretações e sistemas. Conclui-se que para alguns autores o conceito de

geodiversidade é mais restrito, incluindo quase apenas rochas, minerais e fósseis, e

para outros o conceito é mais alargado, integrando para além dos aspectos

anteriores os processos que estão na base da sua génese e que actualmente

continuam a actuar. Apesar das diferenças na abrangência do conceito, salienta-se o

facto de todas as definições apresentadas integrarem no conceito de geodiversidade

os seres vivos. Assim, a geodiversidade não inclui apenas a componente abiótica do

nosso planeta mas também a biótica.

À geodiversidade são atribuídos vários valores (Gray, 2004):

• valor intrínseco ou existencial, valor associado à simples existência das coisas (neste

caso da geodiversidade) e não à utilidade que podem ter para o Homem;

• valor cultural, valor colocado pela sociedade em algum aspecto do ambiente físico

devido ao seu significado cultural e comunitário;

• valor estético, valor associado à atractividade visual do ambiente físico;

• valor económico, relacionado com a dependência da sociedade na utilização de

materiais geológicos;

• valor funcional, relacionado com o valor utilitário que a geodiverisdade pode ter no

seu contexto natural e com o seu valor no suporte dos sistemas físicos e ecológicos;

• valor científico e educativo, na medida em que a geodiversidade é imprescindível

para a investigação científica e para a educação em Ciências da Terra.

Os valores atribuídos à geodiversidade são diversificados, mas as ameaças à sua

integridade são mais ainda. As ameças podem estar relacionadas com a ocorrência

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

26

de processos naturais, como a erosão fluvial e costeira, ou com acções humanas.

Gray (2004) salienta as ameças humanas como a exploração de recursos geológicos,

a expansão urbana, a gestão das bacias hidrográficas, a florestação, desflorestação e

agricultura, a colheita de amostras geológicas para fins não científicos, as actividades

recreativas e turísticas, os fogos, entre outras.

Relativamente ao conceito de Património Geológico, segundo Munõz (1988) o

Património Geológico é constituído por georrecursos culturais, ou seja, recursos não

renováveis de índole cultural, que contribuem para o reconhecimento e interpretação

dos processos geológicos que modelaram o nosso planeta, que podem ser

caracterizados de acordo com o seu valor (científico, didáctico), pela sua utilidade

(científica, pedagógica, museológica, turística) e pela sua relevância (local, regional,

nacional e internacional). Valcarce e Cortés (1996) definem o Património Geológico

como um conjunto de recursos naturais não renováveis, de valor científico, cultural ou

educativo, que permitem conhecer, estudar e interpretar a evolução da história

geológica da Terra e os processos que a modelaram. Uceda (1996) refere que o

conceito de Património Geológico pode incluir todas as formações rochosas,

estruturas, acumulações sedimentares, formas, paisagens, depósitos minerais ou

paleontológicos, colecções de objectos geológicos de valor científico, cultural ou

educativo e/ou de interesse paisagístico ou recreativo, podendo também incluir-se

elementos de arqueologia industrial relacionados com instalações para a exploração

de recursos do meio geológico. De acordo com Carvalho (1999) o conceito de

Património Geológico é definido como qualquer ocorrência de natureza geológica,

tal como um afloramento rochoso, uma pedreira, uma mina abandonada, uma jazida

com fósseis, etc., desde que assuma valor documental e/ou monumental que

justifique a sua preservação como herança às gerações vindouras. Tal como Munõz

(1988), Carvalho (1999) também utiliza o termo georrecurso no contexto do Património

Geológico. Segundo o autor um georrecurso é um recurso de natureza geológica, que

pode ser económico, como por exemplo o petróleo, o gás natural, um minério, uma

rocha ornamental, etc., e cultural, como por exemplo uma rocha, uma jazida

fossilífera, etc., de valor documental com interesse no estudo e demonstração de

certos acontecimentos ocorridos no passado geológico da Terra. Nieto (2002) refere

que o Património Geológico é constituído por todos os recursos naturais, não

renováveis, quer sejam formações rochosas, estruturas, acumulações sedimentares,

formas, paisagens, minerais, fósseis, colecções de objectos geológicos de valor

científico, cultural ou recreativo, que representam a memória da Terra, sobre a qual os

seres vivos desenvolvem a sua actividade. Para além das diferenças no que diz

respeito aos aspectos da geodiversidade que os autores incluem nas suas definições

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

27

de Património Geológico, salienta-se o facto de se encontrar referência unânime ao

valor singular desses aspectos no âmbito científico, educativo, turístico ou cultural. Aos

elementos da geodiversidade a que foram atribuídos valores singulares designam-se

por geossítios. Sendo assim, o Património Geológico corresponde ao conjunto de

geossítios existentes numa região (Figura 30).

O Património Geológico engloba o Património Paleontológico, o Património

Mineralógico, o Património Geomorfológico, entre outros. No entanto, é de salientar a

não inclusão do Património Mineiro. Esta separação deve ser mantida dado as

diferenças de conceitos e metedologias (Brilha, 2005), apesar do Património

Geológico puder incluir geossítios correspondentes a antigas explorações mineiras, tal

como defende Uceda (1996) e Carvalho (1999). As colecções de rochas, fósseis e

minerais que se encontram em museus, por já não se encontrarem em contexto

natural e estarem já protegidas, não integram normalmente o conceito de Património

Geológico, apesar de muitas vezes apresentarem inegável valor patrimonial (Brilha,

2005). Este autor sugere a criação de um termo específico para este tipo de

património, o de Património Geomuseológico.

Dado o valor inegável de alguns geossítios, as ameaças que podem pôr em causa

a continuidade da sua existência e a impossibilidade de conservar toda a

geodiversidade, surgiu a necessidade de conservar esses locais. Daí, adveio a

utilização do termo Geoconservação. Como sinónimo deste termo é também utilizada

a expressão Conservação do Património Geológico. A implementação de um

programa de conservação dos geossítios justifica-se na medida em que esses locais

(Uceda, 1996):

• constituem uma base imprescindível para formar geólogos e outros profissionais das

Ciências da Terra;

• possibilitam às gerações futuras aprender acerca da história geológica da Terra;

• são um instrumento de ensino essencial para os ensinos básico e secundário;

• servem para estabelecer a ligação entre a história da Terra, a história do Homem e a

evolução biológica, na medida em que constitui o substrato sobre o qual evoluiu a

actividade biológica e humana, sendo impossível a história do Homem ser

reconstruída sem a base geológica;

• podem ajudar a reconduzir o coleccionismo destrutivo, etc.

De acordo com o mesmo autor, estas razões devem ser amplamente divulgadas,

a fim de que seja reconhecida, considerada útil, necessária e apoiada. De acordo

com Sharples (2002) o objectivo da geoconservação é a “preservação da diversidade

natural (ou geodiversidade) de significativos aspectos e processos geológicos

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

28

(substrato), geomorfológicos (formas da paisagem) e de solo, mantendo a evolução

natural (velocidade e intensidade) desses aspectos e processos”. Citando Sharples

(1995), este autor salienta que a Geoconservação é a conservação da

geodiversidade com valor intrínseco, ecológico e patrimonial.

Para que a Geoconservação seja concretizada é necessária a implementação de

estratégias que assegurem a efectiva conservação e gestão do Património Geológico.

Estas estratégias assentam numa metodologia de trabalho que integra as seguintes

etapas sequenciais: inventariação, quantificação, classificação, conservação,

valorização e divulgação e, por último, monitorização (Brilha, 2005). No âmbito de

uma estratégia de Geoconservação discute-se se é conveniente ou não divulgar

geossítios com valor fundamentalmente científico, com o objectivo de impedir que

sofram acções de roubo ou vandalização que podem ocorrer ainda que tenham sido

previamente asseguradas as condições necessárias de protecção nos locais de maior

vulnerabilidade. Salienta-se que a opção pela não divulgação nega ao público a

possibilidade de tomar conhecimento da existência de algo valioso que também é

seu, pois o Património Geológico é um bem comum da Humanidade. Será isso

legítimo? Embora esta opção constitua uma medida que previna a possível

degradação e destruição dos geossítios, pode ter o resultado oposto, na medida em

que ao não se divulgar o Património Geológico, o público não toma conhecimento

da sua existência, não compreende o seu valor e consequentemente não se encontra

sensibilizado para a sua conservação. A divulgação tem um papel fundamental na

preservação do Património Geológico. O facto de não se divulgar todo o Património

Geológico conduz-nos a outras questões: quem vai proteger esse património? Um

grupo restrito de investigadores, para quem esses geossítios são importantes na sua

formação? como o farão?. São questões particulares que surgem no contexto da

Geoconservação mas que de alguma forma põem em causa a sua importância.

Apesar das razões anteriormente apontadas justificarem plenamente a

necessidade da conservação do Património Geológico, esta não tem constituído uma

prioridade a nível nacional, verificando-se uma tendência para privilegiar a

conservação do Património Biológico. Tal facto, poderá estar relacionado com a

reduzida cultura geológica de grande maioria dos cidadãos do nosso país, incluindo

os responsáveis por deliberar em matéria de conservação da natureza. De acordo

com Uceda (1996), a sensibilidade demonstrada para a conservação da flora e da

fauna poderá estar relacionada com o facto de as pessoas se interessarem mais pelos

seres vivos, na medida em que é algo mais concreto e fácil de apreciar por pessoas

não entendidas, do que os elementos geológicos. Daí, ser imprescindível a

sensibilização, educação e formação geológica do público em geral. Partilhando

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

29

desta ideia está Gordon et al. (2004), onde se salienta que promover a sensibilidade e

apreciação para o Património Geológico e o envolvimento na sua conservação é a

chave para a protecção de todo o Património Natural e para a gestão das nossas

paisagens de uma forma sustentável. Assim, consciencializar e educar o público em

geral é a principal prioridade para o sucesso da Geoconservação, o que é um grande

desafio por várias razões: o conhecimento do público sobre Património Geológico,

geodiversidade e Geoconservação é reduzido; tem de haver um profundo

conhecimento da audiência e a mensagem tem de ser efectivamente comunicada

(Dias & Brilha, 2004).

Aquando da apresentação de definições do conceito de Património Geológico

propostas por alguns autores, surgiu como sinónimo de Património Geológico o termo

georrecurso. No entanto, deve ser enfatizado o carácter particular do Património

Geológico como recurso geológico, na medida em que ao contrário do seu

significado habitual, associado à exploração e aproveitamento económico, e

portanto ao seu gasto e consequente perda, o Património Geológico exige rigorosos

princípios de Geoconservação (Figura 30).

2.3 Geodiversidade e Biodiversidade: comparação e integração

O aparecimento do termo e do conceito de geodiversidade conduziu

inevitavelmente a comparações com o de biodiversidade, apesar dos aspectos da

natureza a que se referem não serem os mesmos. Assim, foram encontrados alguns

pontos em comum (Gray, 2004):

• a utilização de alguns termos como “espécies” e “variedades”, que são há muito

tempo utilizados nos minerais e na paleontologia;

• os factores que ameaçam a integridade da biodiversidade e que podem conduzir à

extinção de espécies animais e vegetais são muitas vezes os que também

ameaçam a geodiversidade e conduzem ao desaparecimento de aspectos

singulares da geodiversidade (Extinção geológica);

• o pressuposto da existência de milhões de espécies ainda por descobrir, descrever e

classificar aplica-se quer a animais e vegetais, quer a minerais, cujo número pode

aumentar através do trabalho de campo, da cartografia geológica ou da

actividade extractiva;

• a necessidade de protecção e conservação.

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

30

No entanto, e apesar de terem em comum o facto de ser necessário proteger e

conservar os aspectos que integram quer a biodiversidade quer a geodiversidade, o

apoio dado ao trabalho no âmbito da biodiversidade é muito superior ao fornecido

para o conhecimento e conservação da geodiversidade. O interesse pela

conservação da biodiversidade e a operacionalização de estratégias de

bioconservação tem globalmente mais adeptos. Face a este distinto tratamento no

que respeita à implementação de estratégias de conservação da biodiversidade e da

geodiversidade, a Geoconservação pode ser considerada a “Cinderela” das políticas

de conservação da natureza (Larwood & Murphy, 2004). Em Portugal, a situação não

é muito diferente dos outros países, e as áreas protegidas são definidas essencialmente

tendo em atenção os seus aspectos biológicos (Dias & Brilha, 2004; Pereira et al., 2004).

Esta desconsideração pelos aspectos geológicos conduz à falta de informação

geológica que ocorre nos parques portugueses, o que é muito negativo no esforço

para alcançar a sensibilidade do público para a geologia (Pereira et al., 2004).

O papel da geologia e da geomorfologia na moldagem da paisagem,

influenciando a biodiversidade e determinando o uso que o homem faz do solo, é

importante, pois existem fortes ligações e interdependências entre o património

cultural e natural e dentro deste entre o biológico e o geológico (Weighell, 2004). A

geologia e a geomorfologia têm um papel importante na distribuição dos habitats e

das espécies, mas esta associação está longe de ser simples, tornando-se ainda mais

complexa pela influência do homem (Larwood & Murphy, 2004). De acordo com

Stanley (2004), a geodiversidade é o resultado de processos dinâmicos interactivos

entre a paisagem, a fauna, a flora e a nossa cultura, que ditaram o local onde as

pessoas criaram as cidades, as indústrias, as estradas e a forma como os recursos

foram utilizados.

As interacções que se estabelecem entre a geodiversidade e a biodiversidade

fundamentam a sua integração nas políticas de conservação da natureza. A

Geoconservação não deve apenas afirmar-se como um domínio independente na

conservação da natureza mas também é necessário estar integrada com a

Bioconservação e ambas estarem incluídas nas estratégias de gestão do território

(Gray, 2004). Partilhando desta perspectiva integradora Dias & Brilha (2004) defendem

que qualquer política de conservação da natureza deve integrar todos os aspectos

da natureza, os biológicos, os geológicos e os sociais, salientando que a

Geoconservação é ainda uma palavra indiferente para políticos e gestores dos

parques, quando a geologia é importante na definição de muitas áreas protegidas. A

adopção de uma gestão integrada de conservação acarreta benefícios mútuos, no

entanto ela é raramente considerada (Larwood & Murphy, 2004). Apesar dos

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

31

benefícios que pode trazer a integração da geodiversidade com a biodiversidade nas

estratégias de conservação é necessária uma melhor compreensão das complexas

interacções entre a geodiversidade e a biodiversidade (Larwood & Murphy, 2004).

Segundo estes autores, essa compreensão conduzirá a uma mais bem sucedida

gestão sustentável do nosso ambiente natural. Para além dos benefícios, a integração

da geodiversidade e da biodiversidade numa estratégia de conservação pode gerar

conflitos, na medida em que em algumas situações os interesses de cada uma

colidem (Gray, 2004). Segundo o mesmo autor, nestas situações tem de se proceder

separadamente à análise dos valores relativos associados à geodiversidade e à

biodiversidade e existirão inevitavelmente situações onde é mais importante conservar

o elemento da Património Geológico.

Nesta perspectiva integradora da geodiversidade com a biodiversidade é

proposta a inclusão na Rede Natura 2000 (iniciativa europeia que visa proteger os

habitats naturais e semi-naturais, principalmente as espécies de animais e plantas que

lá vivem) de uma directiva própria que considere o Património Geológico (Brancucci

et al., 2004). Para os mesmos autores e porque muitos habitats são exclusivos não só

pelos aos animais e plantas que lá vivem, mas também graças às características

geológicas e geomorfológicas do local, a Directiva Habitats da União Europeia,

aplicada em 1992, na medida em que esta desempenha um papel fundamental

quando se discutem as medidas necessárias para a preservação e gestão das áreas

naturais.

2.4 Iniciativas internacionais e nacionais de Geoconservação

Nos últimos anos tem-se assistido a um esforço por parte da comunidade

geológica no sentido de promover a conservação e divulgação do Património

Geológico. Neste âmbito, algumas iniciativas a nível internacional e nacional têm

vindo a ser realizadas.

O Projecto Global Geosites, iniciativa levado a cabo pela International Union of

Geological Sciences (IUGS) em cooperação com a Unesco, teve início em 1996 e

pretende efectuar, numa escala global, a inventariação do Património Geológico. O

inventário poderá vir a servir de base para o apoio à protecção e conservação do

Património Geológico e da geodiversidade (Wimbledon et al.,1998; Theodossiou-

Drandaki et al., 2004). Desta forma, será criada uma Base de dados Global de Sítios

Geológicos, que pretende constituir um instrumento que reúne informações, a nível

internacional, sobre o maior número possível de sítios de interesse geológico

(Wimbledon et al., 1998; Theodossiou-Drandaki et al., 2004). Para a realização deste

trabalho a IUGS criou o Global Geosites Working Group mas na Europa este projecto

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

32

está a ser desenvolvido pelo grupo ProGeo, Associação Europeia para a Conservação

do Património Geológico, nomeadamente pelos grupos de trabalho de cada país

(Wimbledon et al.,1998; Fredén et al., 2004; Theodossiou-Drandaki et al., 2004). Para os

geossítios, Wimbledon et al. (2004) referem a importância da prévia existência de um

plano que permita aplicar uma metodologia de gestão e conservação coerente

destes locais. O plano de gestão constitui uma ferramenta interna essencial na gestão

diária destes locais e deve incluir a monitorização, de forma a manter os geosítios em

boas condições, possibilitando o seu uso científico e educativo (Wimbledon et al.,

2004).

O grupo português da ProGeo, criado em finais de 2000, tem vindo a promover a

inventariação, classificação e conservação de locais com interesse geológico

(www.geopor.pt, 2004). Em Janeiro de 2002, decidiu estabelecer categorias temáticas

para o Património Geológico em Portugal, sendo propostos três locais de relevância

internacional que melhor representassem cada categoria, com vista à integração no

Projecto Geosites da IUGS referido anteriormente (www.geopor.pt, 2004). Como prova

da vitalidade destas actividades, a ProGeo-Portugal juntamente com o Centro de

Ciências da Terra da Universidade do Minho organizou o IV Congresso Internacional da

ProGeo, que se realizou na cidade de Braga, em Setembro de 2005

(www.dct.uminho.pt, 2004). Para captar a atenção dos media para o Património

Geológico, o grupo português da ProGeo, decidiu em Fevereiro de 2004, que no dia

22 de Abril, consagrado internacionalmente como o Dia da Terra, se comemorasse

também o Dia Nacional do Património Geológico (www.geopor.pt, 2004;

www.geopor.pt, 2004). Neste dia é atribuído anualmente o Prémio Geoconservação à

autarquia que se tenha distinguido na salvaguarda e promoção do Património

Geológico do seu concelho (www.geopor.pt, 2004). O Prémio Geoconservação, ao

qual se associou a National Geographic Portugal, foi entregue, em 2004, à Câmara

Municipal de Idanha-a-Nova pelo trabalho desenvolvido na conservação dos fósseis

de Penha Garcia, e em 2005, à Câmara Municipal de Valongo, pela sua dedicação

na criação e desenvolvimento do Parque Paleozóico de Valongo (www.geopor.pt,

2005). Com esta iniciativa, a ProGEO-Portugal e a National Geographic Portugal

pretendem sensibilizar o público e os responsáveis políticos para a necessidade de

desenvolver estratégias para a conservação do Património Geológico

(www.geopor.pt, 2004).

O Programa Geoparques da Unesco, adoptado em Novembro de 1997, visa

salvaguardar em todo o mundo áreas caracterizadas por possuírem um Património

Geológico extraordinário, mas também arqueológico, ecológico, histórico e cultural,

integrando a sua preservação na estratégia de desenvolvimento económico regional

(Patzak, 2001). Um Geoparque é um território que compreende um determinado

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

33

número de geosítios com um significado geológico especial, raridade e beleza, que

são protegidos e cuja gestão é da responsabilidade do governo do país onde este se

localiza (Patzak & Eder, 1998). Os objectivos principais deste programa consistem na

utilização do Património Geológico na educação do público em geral, na pesquisa

científica, no desenvolvimento económico sustentável da população local

(geoturismo) e na conservação do Património Geológico para as gerações futuras

(Patzak & Eder, 1998). Estes territórios assegurarão a protecção e a gestão adequada

do Património Geológico, constituindo uma ferramenta para o melhor compreender e

consciencializar o público em geral para uma relação estável com a Terra (Patzak,

2001).

A rede de Geoparques era inicialmente apenas europeia (Rede Europeia de

Geoparques – REG), mas actualmente, desde Fevereiro de 2004 e sob a orientação da

Unesco, está integrada numa rede mundial (Rede Global de Geoparques - RGG), da

qual faziam inicialmente parte 25 geoparques, dos quais dezassete eram europeus e

oito eram chineses (www.worldgeopark.org, 2004; http://portal.unesco.org, 2004).

Actualmente, a RGG é contituída por trinta e cinco geoparques, dos quais 23 são

membros europeus e 12 são chineses.

Dos geoparques europeus, dois encontram-se no nosso país vizinho. Um deles é o

Parque Cultural de Maestrazgo, situado na província de Aragão, no norte de Espanha,

que ocupa um vasto território, cerca de 270000 ha, entre Saragoça e Teruel, no vale

do rio Guadalope (Veen, 2001; www.europeangeoparks.maestrazgo.org, 2004). A sua

riqueza patrimonial inclui vários monumentos, áreas etnológicas, depósitos

arqueológicos e paleontológicos, espaços naturais e uma riqueza paisagística

(www.europeangeoparks.maestrazgo.org, 2004).

No interior do Parque Cultural de Maestrazgo existem seis centros de interesse, entre os

quais se encontra o Parque Geológico de Aliaga (Figura 22), inventariado como Ponto

de Interesse Geológico. Neste, é possível contemplar a História da Terra durante os

últimos 200 milhões de anos através de dois itinerários distintos. Um dos intinerários tem

carácter mais científico com um conjunto de onze pontos de interesse e o outro, de

carácter mais turístico, possui nove pontos de interesse, alguns coincidentes com os do

itinerário científico, onde se encontram quadros e painéis interpretativos, para além da

existência de panfletos e guias que auxiliam a visita a crianças, estudantes ou

cientistas (Veen, 2001; www.europeangeoparks.maestrazgo.org, 2004;

www.turismomaestrazgo.com, 2004; www.parquegeologicoaliaga.com, 2004).

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

34

Figura 22 – Parque Geológico de Aliaga. (Fonte: www.parquegeologicoaliaga.com/galeria, 2004)

Existem quatro aspectos nucleares de interesse no interior do parque: os estratos do

período do Cretácico, com alternância de formações calcárias marinhas (Figura 23) e

formações arenosas e argilosas depositadas em rios e lagos; formações continentais

da Era Terciária; deformações tectónicas ocorridas durante a Orogenia Alpina e

formas de relevo singulares, resultantes dos processos erosivos que modelaram a

paisagem (Simon, 1995; www.europeangeoparks.maestrazgo.org, 2004;

www.turismomaestrazgo.com, 2004).

Figura 23 – Camadas de calcário. (Fonte: Robert van der Veen, in European Geoparks Magazine,

issue 1, November, 2001)

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

35

Um outro geoparque europeu é o Parque Natural Psiloritis, situado na zona central

da ilha de Creta, na Grécia, que inclui a cadeia montanhosa Psiloritis e as colinas do

norte (Koziol e Koziol, 2001; www.psiloritis.net.gr, 2004). É uma área com uma excelente

beleza natural, um lugar histórico de grande valor cultural, um símbolo de Creta, com

características geomorfológicas, ecológicas e culturais (www.psiloritis.net.gr, 2004).

Milhares de pessoas vivem e trabalham neste lugar de cultura e entretenimento, onde

um modo de vida pastoral que permaneceu inalterável até à actualidade atrai

milhares de visitantes todos os anos (www.psiloritis.net.gr, 2004). No interior do parque

existem excelentes afloramentos, onde é possível observar em bom estado de

conservação a maioria dos diferentes tipos de rochas presentes na ilha e encontrar

conchas fossilizadas (Koziol e Koziol, 2001; www.psiloritis.net.gr, 2004 . Para além disso,

caracterizam a paisagem todo o tipo de estruturas geológicas, numerosas cavernas,

desfiladeiros impressionantes e estruturas geomorfológicas (Figura 24)

(Koziol e Koziol, 2001; Charalampos, 2003; www.psiloritis.net.gr, 2004).

1 2

3 4

Figura 24 – Parque Natural Psiloritis: 1 - Falhas de Kroussonas; 2 - Dobras de Vossakos; 3 - Kamariotis Karst ; 4 - Caverna de Sfentoni.

(Fonte 1 e 4: Barbara Koziol e Martin Koziol in European Geoparks Magazine, issue 1, November, 2001; Fonte 2 e 3: C. Fassoulas)

De grande valor científico é o Planalto de Nida (Figura 25) e as secções de Damasta,

para o aparecimento sem igual da falha que trouxe até à superfície as rochas das

montanhas de Psiloritis (Koziol e Koziol, 2001). Para além dos aspectos geológicos,

existem muitos locais de valor arqueológico, como a caverna de Ideon Andron (Figura

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

36

26), onde se acredita que Zeus, o rei dos deuses gregos, terá crescido e que a este

local chegariam muitas pessoas para oferecer sacrifícios e adorar Zeus (Koziol e Koziol,

2001; Kaloust, 2003; www.psiloritis.net.gr, 2004).

Figura 25 – Planalto de Nida. Figura 26 - Caverna de Ideon Andron. (Fonte: C. Fassoulas) (Fonte: Barbara Koziol e Martin Koziol in

European Geoparks Magazine, issue 1, November, 2001)

Para além dos aspectos geológicos, culturais e históricos salientam-se ainda os

aspectos ecológicos, na medida em que a cadeia montanhosa Psiloritis abriga um

grande número de espécies endémicas de fauna e flora, sendo também amplamente

conhecida pela sua riqueza de ervas aromáticas com qualidades terapêuticas (Koziol

e Koziol, 2001; Kaloust, 2003; www.psiloritis.net.gr, 2004).

Para desenvolver o geoturismo na Europa, relacionando o Património Geológico

existente nos diferentes países europeus, surgiu a ideia, conhecida por “Geopark Trip”,

de disponibilizar viagens através da Europa que ligassem todos os geoparques,

possibilitando aos turistas desfrutar do Património Geológico europeu (Frey, 2001). No

entanto, dado o pragmatismo económico do sector do turismo, esta ideia não parece

ter aplicabilidade por motivos de viabilidade económica (Frey, 2001).

Nos EUA existem muitos parques nacionais, que embora não pertencendo à rede

mundial de geoparques, possuem uma forte componente geológica. Talvez um dos

mais conhecidos internacionalmente seja o Parque Natural de Yellowstone. Criado em

1872, foi o primeiro Parque Nacional dos EUA. Possuidor de uma grande diversidade e

riqueza natural, é o parque dos EUA que recebe mais visitantes. Ocupa uma área de

28 000 metros quadrados, onde é preservada uma grande variedade de espécies de

vida selvagem e os processos naturais que os sustentam (www.nps.gov/yell, 2004).

Existindo na área do parque evidências da ocorrência de extensas erupções

vulcânicas (Figura 27) e da presença de glaciares, os aspectos que mais se destacam

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

37

neste parque são os géiseres, a vida selvagem, os lagos, o canhão do rio Yellowstone

e as árvores petrificadas (www.nps.gov/yell, Setembro, 2004).

Figura 27 – Colunas basálticas. (Fonte: http://volcanoes.usgs.gov/yvo/gallery, 2004)

O Parque Natural de Yellowstone fica situado no canto noroeste da fronteira de

Wyoming e é aqui que existem mais géiseres que em qualquer outro lugar do globo

(Figura 28), incluindo o mundialmente conhecido Géiser do Velho Fiel, para além de

milhares de outras manifestações vulcânicas como fontes termais e fumarolas

(www.nps.gov/yell, 2004).

1 2

Figura 28 – Géiseres do Parque Natural de Wellowstone: géiser Steamboat (1) e géiser Fountain (2).

(Fonte: http://volcanoes.usgs.gov/yvo/gallery, 2004 e www.geyserstudy.org, 2004)

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

38

É também muito conhecido pela existência do espectacular Canhão do rio

Yellowstone, com 1200 pés de profundidade, realçada pelas magníficas quedas de

água (www.nps.gov/yell, 2004) (Figura 29).

.

Figura 29 – Canhão do rio Yellowstone. (Fonte: http://volcanoes.usgs.gov/yvo/gallery, 2004)

A nível nacional salienta-se a iniciativa Geologia no Verão da responsabilidade da

Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e

patrocinada pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior, que tem contribuído para

a valorização e divulgação da Geologia e do Património Geológico. Esta iniciativa

tem fomentado junto do grande público, o interesse e conhecimento da Geologia e

do Património Geológico. Tem igualmente captado a atenção do público para o

significado dos objectos geológicos, para a sua utilidade e importância e em alguns

casos tem sensibilizado para a geoconservação.

Merecem também destaque alguns projectos que foram desenvolvidos nos últimos

anos, nomeadamente o que se desenvolveu na Universidade do Minho, ao abrigo de

um projecto conjunto da Fundação Ciência e Tecnologia e do Instituto da

Conservação da Natureza. Este projecto consistiu na realização de um estudo da

geologia e do Património Geológico em dois parques naturais do NE do país, o Parque

Natural do Douro Internacional e o Parque Natural do Montesinho, procedendo-se à

sua inventariação, caracterização e divulgação ao público. O trabalho desenvolvido

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

39

nestes parques poderá desempenhar um papel importante, pelo exemplo que poderá

constituir quanto à importância do Património Geológico nas políticas de conservação

da natureza destes parques, na medida em que é a geodiversidade que suporta a

biodiversidade que os caracteriza (Dias & Brilha, 2004; Alves et al., 2004; Pereira et al.,

2004). Este trabalho tem vindo a promover a defesa da geoconservação e sua

integração na conservação da natureza. O Departamento de Ciências da Terra da

Universidade do Minho destaca-se ainda por ser pioneiro na estruturação de uma pós-

graduação em Património Geológico e Geoconservação, que teve início em Outubro

de 2005. Segundo a brochura promocional, este visa o desenvolvimento de

capacidades em geoconservação, aumentar a consciência dos professores na

educação para temas de sustentabilidade, permitir trocas de experiências,

desenvolver pesquisa nesta área, etc.

O Museu Nacional de História Natural tem desempenhado também um papel

importante na defesa do Património Geológico português. A título de exemplo cita-se

o projecto de criação de um Exomuseu da Natureza, que inclui um Exomuseu

Geológico (Carvalho,1999). Este corresponde a um conjunto de geossítios localizados

em várias regiões do território português, que constituem pólos do Exomuseu com

elevado valor científico, pedagógico e cultural. Sendo assim, as peças geológicas do

museu serão observadas em contexto natural, integradas na paisagem de que fazem

parte.

A Associação Portuguesa de Geólogos (APG) e o IGM (actualmente integrado no

INETI) são entidades que se têm destacado, nomeadamente pela promoção de

congressos e seminários. Salienta-se o I Seminário sobre Património Geológico,

realizado em Junho de 1999, em Alfragide, e o Congresso Internacional sobre

Património Geológico e Mineiro, realizado em Outubro de 2001, em Beja, para além

dos congressos nacionais de Geologia, onde tem sido feita uma abordagem à

conservação e valorização do Património Geológico.

2.5 Geoturismo

A protecção do Património Geológico para além da sua conservação, deve

igualmente promover o desenvolvimento sustentável e sua possível utilidade para a

sociedade (Nieto, 2002). De acordo com o mesmo autor, o Património Geológico

pode ter uma utilidade científica, educativa e turística/geoturística, sendo a sua

utilização com fins turísticos a que proporciona maior valor económico ao Património

Geológico, pressupondo no entanto, a construção de infra-estruturas e criação de

postos de trabalho, quer relacionados directamente com a divulgação do Património

Geológico exposto, quer com a hotelaria e restauração, potenciando desta forma a

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

40

economia local. Quando o turismo e a ciência se associam novas oportunidades

emergem, quer para a ciência porque alcança nova audiência, quer para o turismo

porque proporciona novas oportunidades para melhorar a experiência dos turistas ao

oferecer uma visão diferente da paisagem e ao dar novas razões para explorá-la,

fazendo com que permaneçam mais tempo numa região e gastem

consequentemente mais dinheiro, o que estimula a economia local (Monro, 2004).

O geoturismo é considerado uma vertente do ecoturismo, pelo que deve assentar

nos princípios do turismo sustentável. O seu desenvolvimento tem por base a

geodiversidade e/ou o Património Geológico de uma região (Figura 13). A primeira

definição de geoturismo a ser amplamente publicada foi a de Hose (1995), segundo a

qual o geoturismo permite aos turistas a aquisição de conhecimento e compreensão

da geologia e da geomorfologia de um local, para além do nível de mera avaliação

estética. O geoturismo constitui um meio para promover o valor e benefícios sociais

dos locais de interesse geológico e geomorfológico, os seus materiais e para assegurar

a sua conservação, para o uso de estudantes, turistas, etc. Na Malásia, foi sugerido

que este termo, seja um novo ramo da geologia, que deverá suportar mundialmente o

crescimento do ecoturismo (Patzak, 2001). Para a TIA (Travel Industry Association of

America), o geoturismo combina os aspectos culturais e ambientais, que fazem com

que um lugar seja diferente de outro, tendo a preocupação do impacto local do

turismo nas comunidades, na sua economia e estilo de vida. Segundo esta

associação, o geoturismo também deverá integrar aspectos culturais e não somente

os aspectos geológicos de um local. Esta ideia da integração de outros aspectos que

não apenas os geológicos no geoturismo é partilhada por Matthias & Andreas (2003),

que referem que o geoturismo é uma forma de turismo baseada no Património Natural

de uma região, incluindo os aspectos geológicos, botânicos ou arqueológicos, onde o

conceito de desenvolvimento sustentável tem um papel essencial. Desta forma, é

essencial que a geologia, em vez de ser considerada isoladamente, seja abordada no

geoturismo num contexto mais amplo, devendo ser desenvolvida uma abordagem

integrada das paisagens, como fazendo parte de um único mosaico onde se

encontram as características culturais, biológicas e geológicas (Larwood & Prosser,

1998).

O geoturismo oferece uma oportunidade para que a conservação do Património

Geológico aconteça quando o impacto do seu uso é cuidadosamente gerido, mas

também é, em parte, uma consequência de uma bem sucedida conservação do

Património Geológico, assegurando a sua preservação para que seja possível aos

turistas desfrutar e aprender acerca dele (Larwood & Prosser, 1998). Desta forma, o

geoturismo e a Geoconservação têm uma relação ambivalente, uma vez que o

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

41

geoturismo pode promover a Geoconservação e a Geoconservação pode por sua

vez promover o geoturismo(Figura 30).

científico ou outro

Figura 30 – Esquema representativo das interrelações que estabelecem os conceitos de

Geodiversidade, Geossítios, Património geológico, Geoconservação e Geoturismo.

O geoturismo é assim a melhor oportunidade que existe para promover o Património

Geológico e sensibilizar o público em geral e as comunidades locais para a

importância da sua conservação (Larwood & Prosser, 1998; Patzak, 2001). Para além

do papel importante que o geoturismo desempenha na Geoconservação, este

constitui uma actividade económica interessante, que, sem dúvida, pode ajudar ou

potenciar a economia de áreas rurais economicamente desfavorecidas (Nieto, 2002).

Pode trazer vantagens como a venda dos produtos locais, a promoção de novos

produtos com conotação geológica, crescimento dos negócios de hotelaria e

restauração, criação de empregos, apoio ao transporte local, etc (Patzak, 2001). No

entanto, as actividades turísticas podem também acarretar impactes negativos sobre

a geodiversidade e sobre o Património Geológico, que devem ser evitados a fim de

impedir a destruição dos objectos geológicos, que constituem a razão pela qual

muitos turistas visitam determinadas regiões. Os impactes negativos também se podem

verificar em sentido contrário - o Património Geológico sobre o turismo. Um exemplo

Geoturismo

Ecoturismo

Turismo

sustentável

Geoconservação

po

de

am

ea

ça

r a

o s

eu

va

lor

eco

mic

o p

od

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on

du

zir

à

pode promover

pode promover

constituem os

locais com significativo valor

turístico

educativo

para serem utilizados na

Indústria

Produção de energia

deve ser conservado

Património Geológico

Exploração de recursos minerais e

energéticos

Geodiversidade

o seu conjunto constitui o

Geossítios

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

42

disso foi a diminuição da frequência turística em algumas regiões dos Alpes, depois

das avalanches ocorridas em Fevereiro de 1999 (Reynard et al., 2003).

Apesar de ser mais comum o desenvolvimento do geoturismo em áreas afastadas

das cidades, destaca-se a sua aplicação em centros urbanos, através da criação de

itinerários geoturísticos. Estes itinerários integram os locais mais importantes,

proporcionando a compreensão da sua história geológica e a forma como ela

condicionou o desenvolvimento urbano (Auteri, 2004). O mesmo autor refere que a

promoção do geoturismo em centros urbanos é uma forma de sensibilizar o público

para a evolução natural e antrópica das cidades e que pode servir de catalizador

para o desenvolvimento do turismo sustentável.

São muitas as regiões que têm a possibilidade de promover o geoturismo. Estas

regiões, devidamente geridas, podem gerar emprego e novas actividades

económicas, especialmente nas regiões onde são importantes as fontes de

rendimento adicionais (Patzak, 2001). O programa Leader é um programa da União

Europeia que teve início em 1991 com o programa Leader I, ao qual se seguiu o

Leader II, encontrando-se agora em vigor o Learder +. Este visa promover o

desenvolvimento económico das zonas rurais do território europeu e onde o turismo,

nomeadamente o geoturismo, pode surgir como um instrumento importante para o

desenvolvimento económico sustentável dessas zonas.

2.6 Implementação do ecoturismo

2.6.1 Os intervenientes

A implementação do ecoturismo não é uma tarefa fácil, mas para que seja

facilitada deverá existir a cooperação entre os vários intervenientes, nomeadamente

entre as entidades governamentais, a indústria turística, os operadores turísticos, as

agências de viagens, as organizações não governamentais e as comunidades locais

(Wood, 2002). Para além da cooperação entre os muitos intervenientes neste

processo, que é essencial, a forma como é efectuada a planificação e a gestão de

um local que se pretende que seja um destino ecoturístico, determinará a forma como

o ecoturismo poderá aí prosperar.

Os gestores do ecoturismo nos diversos países estão dependentes dos governos,

nomeadamente dos Ministérios do Turismo e do Ambiente, para desenvolver políticas

que protegerão e administrarão as áreas naturais, e da indústria turística, para

transportar e acomodar os ecoturistas (Wood, 2002). Por isso, os governos e os

ministérios são actores cruciais para estabelecer o reconhecimento do seu país como

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

43

um ecodestino, devendo as suas políticas de turismo promover uma experiência de

qualidade ao turista e não apenas divulgação a um número elevado de turistas

(Wood, 2002).

A indústria turística promove o turismo da natureza com uma variedade de nomes,

mas é geralmente referido como a oportunidade para observar e experimentar

ambientes naturais e os seus habitantes locais de formas que não são viáveis no

turismo de massas (Shores, 2001). Em 1993 foram publicadas pela TIES (The International

Ecotourism Society) as directrizes que os operadores turísticos da natureza devem

seguir. De uma forma resumida, estas directrizes passam pela preparação dos turistas,

pela minimização do impacte provocado por estes, bem como dos operadores

turísticos, por providenciar formação adequada, contribuir para a conservação,

promover a empregabilidade local, oferecer alojamento local que não seja destrutivo

para o ambiente, não desperdiçar os recursos locais, etc. No entanto, nem todos os

operadores ecoturísticos são responsáveis, não seguindo na totalidade as directrizes

referidas. Wood (2002) também faz referência aos requisitos que um bom operador

ecoturístico deve cumprir e especificando a preparação dos turistas que a TIES

destacou, salienta que um operador ecoturístico deverá providenciar informação

acerca da região e da cultura local antes da visita, acerca do vestuário e

comportamento apropriado antes da partida e também ao longo da visita, para além

de fornecer informação detalhada ao longo da visita transmitida por guias locais bem

treinados, de promover a interacção dos turistas com a comunidade local, de

assegurar a liquidação das taxas de entrada, etc.

As agências de viagens têm um papel importante no marketing dos produtos da

indústria turística, embora não tenham desempenhado ainda um papel de relevo na

divulgação e vendas para o mercado do ecoturismo (Wood, 2002).

As organizações não governamentais desempenham também um papel

importante no desenvolvimento do ecoturismo, estando geralmente envolvidas por

duas razões: protecção da biodiversidade e do ambiente e pelo desenvolvimento

sustentável da população local (Wood, 2002). Este tipo de organizações têm

trabalhado activamente, quer a nível nacional quer a nível internacional, para

assegurar o desenvolvimento do ecoturismo de acordo com as directrizes do

desenvolvimento sustentável, daí realizarem os seus próprios programas ecoturísticos

dado o seu grande desejo de utilizar o ecoturismo como uma ferramenta na

conservação e desenvolvimento sustentável (Wood, 2002).

As comunidades locais têm um papel vital no desenvolvimento do ecoturismo na

sua região, pois a sua participação e envolvimento são críticos neste processo e daí a

importância das entidades governamentais, quer regionais quer nacionais, facilitarem

a integração das comunidades locais (Wood, 2002). A comunidade local pode não

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

44

compreender o valor do património que tem, que para ela é trivial, mas pode ser

receptiva e encorajada a valorizá-lo. Assim, as entidades públicas e privadas devem

considerar a colaboração com a comunidade local e compreendê-la, pois é o seu

ambiente, é ela que trabalha com e na paisagem, é preciso dar-lhe a capacidade

para gerir o seu ambiente e os meios para o fazer, senão de outra forma não o farão

(Faulkner, 2004). Deverá por isso, nos procedimentos para a implementação do

ecoturismo, estar incluída uma avaliação realizada com as comunidades locais

acerca dos benefícios e dos potenciais impactes negativos que o projecto pode

acarretar (Wood, 2002). As comunidades locais devem ter o poder de escolher o seu

próprio destino e para isso, devem possuir toda a informação necessária para decidir

se os impactes negativos do projecto não excedem as vantagens, antes de se realizar

um novo projecto (Wood, 2002). Neste processo com as comunidades locais é

aconselhável utilizar intermediários qualificados com o intuito de facilitar a

comunicação entre ambas as partes (Wood, 2002). Se o projecto for aceite pela

comunidade, os seus representantes deverão então ser integrados nos processos de

tomada de decisão em todas as fases do projecto (Wood, 2002). A realização de um

acordo escrito entre a comunidade e o projecto ecoturístico pode ajudar ambos ao

lados a sentir-se mais seguro, uma vez que todas as regras e responsabilidades ficam

claramente definidas desde o início (Wood, 2002). Para que o projecto se torne um

sucesso, a comunidade local tem de investir nele, utilizando os recursos que têm

disponíveis como o seu trabalho, os recursos renováveis locais e a terra (Wood, 2002).

Podem ainda estabelecer parcerias, convidando grupos ambientalistas para

trabalharem em conjunto e encontrarem as soluções e o capital necessário para as

concretizar (Shores, 2001).

Para além dos actores atrás referidos, cujo papel desempenhado no ecoturismo já

foi salientado, não se pode esquecer de maneira alguma quem procura ou poderá

procurar este sector do turismo, os turistas. O desafio do ecoturismo depende muito

dos turistas, pois estes podem mudar a forma como a indústria turística trata as áreas

naturais (Shores, 2001). O mesmo autor defende que os turistas antes de viajar devem

ser encorajados a informar-se acerca do local que pretendem visitar, bem como

acerca dos operadores turísticos, para que ao serem confrontados com uma oferta

variada de turismo da natureza, a tarefa de seleccionar uma viagem e um operador

turístico esteja facilitada. A progressiva adesão dos turistas a operadores que seguem

os parâmetros do ecoturismo, promoverá a adesão dos restantes às boas práticas

(Shores, 2001).

A identificação dos turistas é fundamental para a planificação e gestão do

turismo. Alguns estudos foram feitos no âmbito da tipologia dos turistas, que incluem a

identificação dos ecoturistas, fazendo a distinção entre estes e outros tipos de turistas.

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

45

Nestes estudos, os critérios utilizados para identificar os ecoturistas relacionam-se com

o local visitado, as actividades desenvolvidas, ou ainda as motivações que este tipo

de turistas possui quando planificam uma viagem.

As regras são diferentes para cada um dos intervenientes referidos, mas em

conjunto podem encontrar os métodos e as práticas ambientais economicamente

viáveis, de forma a assegurar a manutenção das atracções naturais e culturais sem

prejudicar os seus recursos (Shores, 2001). Destaca-se a insistência dos vários autores na

importância da cooperação e comunicação entre todos aqueles que intervêm

directa e indirectamente para o sucesso do ecoturismo, uma vez que existem relações

de dependência entre eles. Baseada na cooperação de todos os intervenientes, a

planificação e gestão que é realizada nos ecodestinos deve ocorrer de tal forma que

a longo prazo evite a sua massificação, os impactes ambientais e a perda de

integridade biológica e cultural Wood (2002). A massificação do ecoturismo deve ser

evitada a todo custo devido às consequências negativas que acarreta.

Os roteiros construídos para o turismo de massas estão geralmente dirigidos para os

interesses daqueles, nomeadamente para os serviços que os turistas vão desfrutar

como restaurantes, piscinas, praias, ginásios, desportos aquáticos, etc. Esses roteiros

são bem diferentes dos roteiros ecoturísticos que obedecem já a regras básicas

estabelecidas e que devem se cumpridas: as cores utilizadas, a segurança, os

materiais utilizados, o número de infra estruturas, a sinalização, a largura dos caminhos,

e a originalidade (Chávez, 2004).

2.6.2 A interpretação da natureza

Como a grande maioria das pessoas vive nos grandes centros urbanos, não tendo

muitas oportunidades para estar em contacto com a natureza, a interpretação

ambiental tem um papel muito importante num roteiro ecoturístico (Chávez, 2004). A

importância atribuída à interpretação ambiental advém do facto, e de acordo com

Wood (2002), do ecoturismo permitir aos turistas em primeiro lugar compreender

melhor os ambientes naturais e culturais únicos que existem no nosso planeta. Netto

(2000) distingue a interpretação ambiental de educação ambiental, salientando que

a educação ambiental promove o desenvolvimento do conhecimento e um

comportamento positivo perante o ambiente, perseguindo objectivos educativos

muito específicos, ao passo que a interpretação ambiental é provocação, revelação,

enriquecimento da experiência do visitante, com respeito pelo lugar ou objecto que é

interpretado, desenvolvendo também atitudes positivas para a conservação do

património. Desta forma, os principais objectivos da interpretação ambiental são

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

46

diferentes dos da educação ambiental, mais amplos, dirigidos a um destinatário mais

heterogéneo, que se pretendem atingir num contexto não escolar, muito embora

possam estar na interpretação alguns dos objectivos da educação ambiental, estes

nunca são os seus principais objectivos (Netto, 2000). Apesar dos seus principais

objectivos serem diferentes, para o mesmo autor a interpretação ambiental relaciona-

se com a educação ambiental, quando se consideram os aspectos da influência

sobre o conhecimento e o comportamento das pessoas e daí a interpretação pode

ser o ponto de partida para a educação ambiental. Hose (2000) in Dias & Brilha (2004)

define a interpretação ambiental como a “revelação do significado e valor de um

local, traduzindo a linguagem geológica e científica, dados e conceitos em factos

comuns, termos e ideias, baseadas nas experiências, conhecimento e compreensão

de pessoas que não são especialistas”. Em Nykanen (2001), está também patente a

ideia da descoberta da natureza, em que esta se é dada a conhecer no processo de

interpretação. O autor salienta que o papel da interpretação da natureza é expor as

pessoas à natureza, mostrar os significados e a interdependência entre elas e a

natureza. Neste processo, os visitantes constroem o significado das experiências que

tiveram no lugar que visitaram, dos pensamentos, das recordações e dos sentimentos

que trazem consigo; as palavras e as imagens que lhes são oferecidas são apenas

uma parte dessa experiência (Carter, 2004). Este autor refere ainda, e relacionando

com a ideia de Netto (2000) de que a interpretação ambiental é provocação, que os

visitantes devem ser estimulados e que a sua resposta emocional é a verdadeira razão

da interpretação, pois este é um processo essencialmente criativo, em que se deve

“semear nas cabeças da nossa audiência”. De acordo com Bini & Poli (2004) o

processo de interpretação e comunicação deve habilitar cada um de nós a observar

conscientemente o mundo físico e os seus fenómenos, observando de diferentes

perspectivas o mundo que nos rodeia e que normalmente não estamos habilitados a

compreender e assimilar.

A existência de um processo de interpretação da paisagem é justificada por Bini &

Poli (2004), que referem a sua necessidade para que os turistas desenvolvam uma

percepção consciente da paisagem, para que não fiquem apenas com uma

memória daquilo que observaram, que descodifique os seus significados e revele as

suas complexidades particulares, capaz de dar uma identidade precisa e uma

unicidade aos diferentes lugares. Enfatizam ainda que apenas um processo de

interpretação e de transmissão do conhecimento eficiente pode tornar a maioria dos

locais únicos, transformando-os numa mais valia para o desenvolvimento social e

económico do local. Um puzzle pode representar o que deve ser reproduzido no

processo de interpretação, uma vez que ao recompor certas peças numa imagem, o

verdadeiro significado do que estamos a observar é revelado (Bini & Poli, 2004). A

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

47

interpretação assistiu a um desenvolvimento, sendo considerada uma disciplina, que

possui já um plano metodológico, um conjunto de procedimentos e técnicas,

transformando numa verdadeira profissão a tarefa de quem comunica com os

visitantes, muitas vezes de uma forma instintiva e desorganizada (Netto, 2000). A

justificação para a ascensão da tarefa de quem comunica com os turistas a um

estatuto de verdadeira profissão poderá encontrar-se em Loikkanen (2001), quando

este refere que os intérpretes são aqueles que agem para estabelecer a ligação entre

a população local, os turistas e os locais que estes visitam. No processo de

interpretação, a escolha das técnicas mais adequadas dependem do público que

integra a audiência, com quem se vai estabelecer uma relação e obter um feedback,

dos objectivos previamente estabelecidos e obviamente daquilo que os locais nos

oferecem (Bini & Poli, 2004) (Figura 31).

Figura 31 – Modelo de interpretação de Cherem (1977) in Bini & Poli (2004).

A interpretação é um processo de comunicação específico, onde é importante

“vestir” os conceitos, tendo em atenção os meios de comunicação a utilizar, que são

variados e que podem ser combinados, para que melhor se possam satisfazer os

objectivos estipulados (Bini & Poli, 2004).

A interpretação do Património Geológico é geralmente baseada em quadros e

panfletos, escritos frequentemente por cientistas, que assumindo um bom

conhecimento técnico da sua audiência têm tendência para veicular muita

informação em vez de interpretação (Gordon et al., 2004). No entanto, segundo os

Ob

jecti

vo

s

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

48

mesmos autores, assiste-se hoje a uma tentativa de largar esta abordagem muito

científica para a interpretação e veiculação de informação aos turistas utilizando

vários tipos de abordagem, com meios específicos, dependendo da audiência,

baseadas em princípios de interpretação. Uma das maiores dificuldades com que se

deparam é a transformação da linguagem científica numa linguagem acessível e

compreensível para o público em geral, embora compreender a informação seja

apenas o primeiro passo no processo de interpretação (Bini & Poli, 2004). No entanto, a

transformação do complexo, a linguagem científica, em simples, a linguagem clara

para toda a gente, é segundo Summermatter (2003) um processo com uma

metodologia, que implica a observação das técnicas utilizadas e uma profunda

reflexão sobre os processos usados ou a ser adoptados, para que se possa descobrir

um caminho através da nébula que é a vulgarização científica. Os geólogos têm a

fama de serem uma classe que não comunica muito bem entre si e muito menos com

o público, mas esta situação tem-se alterado e há um desejo crescente dos geólogos

partilharem com as pessoas o conhecimento que possuem acerca da evolução das

paisagens (Monro, 2004).É importante que os geólogos continuem a trabalhar de perto

com os profissionais da interpretação, de forma a assegurar que a mensagem

transmitida seja clara e compreensível para a audiência e que é transmitida de uma

forma atractiva (Gordon et al., 2004).

2.6.3 O ecoturismo em Áreas Protegidas

O ecoturismo necessita de áreas naturais acessíveis, encontrando-se muitas delas

nos parques naturais ou em outras áreas protegidas, locais que servem para a

conservação e recreação e não para o turismo (Buckley, 2002). No entanto, segundo

o mesmo autor, o turismo em áreas naturais protegidas está a crescer, uma vez que

possuem muitos atractivos como a paisagem, a fauna e flora selvagem e actividades

ao ar livre. Apesar de se encontrarem também em outros locais públicos e privados, os

mais conhecidos e acessíveis pontos de atracção estão nos parques nacionais. Para

além da acessibilidade constituir um factor importante para o desenvolvimento do

turismo nestes locais, também o turismo da natureza é apontado por muitos como a

solução para o subfinanciamento dos parques naturais e áreas protegidas (Shores,

2001). A maioria dos parques têm financiamentos públicos muito baixos, que não

chegam para colmatar as despesas de gestão e o aumento do número de visitantes,

o que os leva a recorrer aos operadores turísticos para obterem ganhos extra, que lhes

permita fazer frente às despesas (Buckley, 2002). Desta forma, o ecoturismo é vital para

muitas áreas protegidas, gerando lucro e benefícios para a população local. As

WCPA`s Task Force on Tourism (uma das seis comissões da IUCN) auxiliam as áreas

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

49

protegidas a fazer o melhor uso do turismo, sem provocar danos (World Comission on

Protected Areas (WCPA), 2000). O modelo de gestão dos parques, em que a

administração está a cargo dos governos de cada país, não é normalmente

problemático quando o governo central providencia anualmente um orçamento

suficiente (Eagles, 2001). De acordo com o mesmo autor, quando tal não acontece, e

existe um poderoso sector privado que pressiona para atingir os seus objectivos

individuais, ocorre geralmente a degradação ambiental, na medida em que a falta

de orçamento conduz à incapacidade da administração em controlar as pressões de

turismo. No entanto, os governos de muitos países apesar de não financiarem os

parques com verbas adequadas também não vêem com bons olhos o turismo em

parques públicos, na medida em que se geram lucros privados com base em

financiamentos públicos (Buckley, 2002). Os parques e as empresas de turismo têm

objectivos diferentes. Para as empresas o principal objectivo é o lucro, enquanto que

para os responsáveis pelos parques um dos principais objectivos é a conservação. Sem

os princípios adequados podem ocorrer alguns conflitos entre os gestores dos parques

naturais públicos e os interesses comerciais privados. Por isso, foram criados alguns

princípios adequados para a categoria II (Área Protegida para conservação de

ecossistemas e recreação) das Áreas Protegidas da IUCN (Buckley, 2002). Alguns

destes princípios referem que:

• o objectivo primordial dos parques é a conservação e o objectivo secundário a

recreação;

• o turismo não tem um direito especial nos parques;

• o impacte provocado pelo turismo tem de ser mínimo;

• os operadores turísticos devem pagar uma taxa pelo usufruto dos parques nas suas

actividades, entre outros.

2.7 O ecoturismo e o geoturismo em Portugal

Apesar de termos assistido a um crescimento considerável nos últimos anos e ainda

ser esperado um maior crescimento no futuro, o ecoturismo não teve em Portugal o

desenvolvimento que seria desejado. Embora sejam conhecidas as vantagens da sua

implementação e existir no nosso país áreas menos desenvolvidas, muitas delas

afectadas pela desertificação, que poderiam impulsionar a sua economia através do

ecoturismo, este tem tardado em desenvolver-se. Existem em Portugal muitos locais em

que o ambiente, a população e a sua cultura são únicos e que atrairiam muitos

turistas, que anseiam cada vez mais por terem novas experiências e visitarem locais

singulares. O nosso país, pela existência de paisagens atraentes e diversificadas, pela

extensa costa litoral, pela variedade da fauna e flora que se pode encontrar de norte

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

50

a sul do continente e ilhas, pela existência de espécies protegidas, pelos usos e

costumes de populações ainda preservados, pela gastronomia e produtos artesanais,

pela realização de eventos de raiz ancestral, é um destino de eleição para a prática

do ecoturismo (http://www.portugalinsite.pt, 2004). No entanto, em Portugal, têm sido

desenvolvidos poucos projectos capazes de fomentar efectivamente o ecoturismo e

os que vão sendo realizados, ficam na maioria das vezes no papel. Seria desejável que

o país se preparasse para receber um número crescente de turistas que procuram este

sector do turismo, pois de outra forma poderá estar arredado do circuito dos destinos

ecoturísticos. A Resolução do Conselho de Ministros (RCM) de 25 de Agosto de 1998,

tendo por base um protocolo de cooperação entre o Ministério da Economia e o

Ministério do Ambiente, produziu o Programa Nacional de Turismo de Natureza (PNTN),

onde são definidas algumas directrizes para o desenvolvimento de uma actividade

turística, que denominaram “Turismo de Natureza”, em áreas nacionais protegidas, na

medida em que consideram que estas áreas apresentam muitas potencialidades para

desenvolver esta actividade. Segundo o mesmo documento, o PNTN deve

desenvolver-se no sentido de integrar a conservação da natureza, o desenvolvimento

local e a qualificação e diversificação da oferta turística. Posteriormente e baseando-

se nesta RCM, foram elaborados alguns decretos, que versam sobre o regime jurídico

do Turismo de Natureza, a definição e regulamentação das modalidades de

alojamento e das actividades de animação ambiental.

Naqueles documentos, infelizmente, a referência ao Património Geológico é quase

inexistente. Salienta-se o facto de o próprio termo “ecoturismo” não ser utilizado nos

projectos políticos, em vez deste utilizam “turismo de natureza”, onde apesar do

ecoturismo estar incluído, alberga outro tipo de actividades distintas do ecoturismo.

Em 2003 foi aprovado o Plano de Desenvolvimento para o Sector do Turismo, onde

não é feita qualquer referência ao Turismo de Natureza. Alguns passos já foram dados,

criando nomeadamente alguma legislação, mas seria importante efectuar estudos

sobre os turistas para poder dar uma resposta que vá ao encontro das suas pretensões

e necessidades e para auxiliar na formulação de estratégias que permitam a Portugal

adquirir confirmação, qualidade e competitividade neste sector do turismo nacional.

No Plano de Desenvolvimento para o Sector do Turismo uma das medidas diz

respeito ao reforço da informação e do conhecimento do sector, que de acordo com

o mesmo plano será operacionalizada através da reformulação do sistema de recolha

e tratamento de informação estatística e apoio ao desenvolvimento de estudos

turísticos e investigação aplicada ao turismo e lazer. O governo reconhece a

importância desta medida, que considera um requisito essencial para a formulação

de políticas para o sector. Contudo, segundo a Associação Portuguesa de Turismo

Sustentável e Ecoturismo (ATECO) e a Liga Portuguesa para a Conservação da

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

51

Natureza (LPN) assiste-se em Portugal a um retrocesso no que respeita à

implementação do ecoturismo, verificando-se a ausência de uma estratégia nacional,

o que acaba por condicionar também as iniciativas privadas que pretendem

promover este sector do turismo. O sector privado, ao contrário das entidades

governamentais, tem revelado um maior interesse e dinamismo. No entanto, sem a

cooperação e diálogo com os órgãos do governo é difícil desenvolver projectos. Seria

aconselhável que o desenvolvimento do ecoturismo no nosso país não se limitasse às

áreas protegidas e que se desenvolve-se também fora destas, pois existem locais

igualmente interessantes, que apresentam as características que possibilitam o

desenvolvimento deste tipo de turismo. No entanto, se o ecoturismo for bem

implementado nas áreas protegidas é um bom começo, pois poderá incrementar a

sua expansão generalizada.

Em Portugal, tal como em outros países, a implementação de estratégias

geoturísticas não é fácill. Sendo o geoturismo uma modalidade turística que se baseia

na geodiversidade, este tipo de turismo poderia apresentar um amplo crescimento no

nosso país se dependesse apenas deste factor, visto Portugal apresentar uma vasta

geodiversidade. No entanto, assim não acontece porque a geodiversidade tem ainda

na nossa sociedade um reduzido reconhecimento. Daí que, num país como o nosso,

onde a consideração da geodiversidade e da sua conservação é reduzida, embora

com alguns avanços nos últimos anos, acarreta consequentemente muitas

dificuldades no desenvolvimento do geoturismo. Face a esta situação, poucos são os

locais que tendo por base uma adequada estratégia de Geoconservação e

condições de acessibilidade ao público são valorizados e divulgados. O geoturismo

não se desenvolverá se o público em geral e o governo desconhecerem a existência

da geodiversidade e do seu valor, nomeadamente turístico e económico. É o

desenvolvimento desta cultura científica no domínio das Ciências da Terra que poderá

potenciar a protecção e conservação da geodiversidade e por sua vez promover o

geoturismo no nosso país.

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

52

2.7.1 Exemplos nacionais de iniciativas geoturísticas

Em Portugal, o Património Paleontológico e o Património Geomorfológico, partes

integrantes do Património Geológico, são aqueles que têm tido uma mais ampla

divulgação turística, talvez por serem aqueles que mais atraem o público em geral. No

entanto, deverão ser feitos esforços para que outros aspectos do Património

Geológico português possam ser valorizados no âmbito do geoturismo.

Referem-se em seguida alguns exemplos de locais onde se assiste a um

aproveitamento pedagógico e turístico do Património Geológico em que a sua

valorização e divulgação é suportada por uma estratégia de conservação.

No Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, no extremo oriental da Serra

de Aire encontra-se o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de

Aire, situado a cerca de 10 Km de Fátima, na localidade de Bairro, entre Ourém e

Torres Novas. A jazida paleontológica da Pedreira do Galinha (Figura 32), descoberta

em Julho de 1994 e classificada como Monumento Natural em 1996, contém um

importante registo fóssil do período do Jurássico médio, Bajociano-Batoniano, de

pegadas de dinossáurios saurópodes, animais herbívoros, quadrúpedes e muito

corpulentos, que constituem um dos registos mais antigos de saurópodes. No calcário,

onde ficaram registadas as pegadas podem ser observados cerca de 20 trilhos ou

pistas, uma delas com 147 m e outra com 142 m de comprimento

(www.pegadasdedinossaurios.org, 2004). Os turistas efectuam um percurso pedestre

com cerca de 1500 metros com acesso à laje onde se encontram as pegadas dos

dinossáurios. A cada visitante é disponibilizada um folheto informativo de apoio à visita

e ao longo do percurso existem painéis informativos e leitores de paisagem que

complementam a informação, adicionando aspectos da História da Terra, dos

dinossáurios, da formação das pegadas, da interpretação da paisagem passada e

actual, entre outras. Podem ser efectuadas visitas de grupo, que se forem marcadas

previamente, terão o acompanhamento de um guia

(www.pegadasdedinossaurios.org, 2004). O visitante também pode conhecer o Jardim

Jurássico (Figura 33), onde se pretende fazer a reconstituição da flora existente do

período Jurássico com fetos arbóreos e não arbóreos, cicas, araucárias, ginkgos,

zimbros, teixos e cavalinhas e onde também existe um painel de grandes dimensões

que apresenta, de uma forma simples, a evolução da vida na Terra ao longo de

milhões de anos (www.pegadasdedinossaurios.org, 2004).

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

53

Figura 32 – Pegadas de dinossáurios da Pedreira do Galinha, Serra de Aire. (Fonte: www.pegadasdedinossaurios.org )

Figura 33 – Flora do jardim Jurássico. (Fonte: www.pegadasdedinossaurios.org/html/home.htm)

O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros disponibilizam ainda outros percursos

pedestres, onde são integrados aspectos biológicos, culturais e geológicos,

destacando-se para além das pegadas de dinossáurios do Pedreira do Galinha,

aspectos variados da morfologia cársica (www.icn.pt/areas_protegidas, 2004).

Segundo uma brochura deste parque, o calcário é a litologia dominante que devido à

acção erosiva da água foi moldado tendo originado diversas formas cársicas como

dolinas, uvulas, polje, lapas, grutas, lapiaz, etc.

O Património Mineiro pode também ter valor turístico, e um exemplo disso é o caso

do Parque Mineiro Cova dos Mouros, localizado na Serra do Caldeirão, próximo de

Vaqueiros, no concelho de Alcoutim, no Algarve, encontra-se aberto ao público

desde 1998 (http://minacovamouros.sitepac.pt, 2004; Guia Didáctico Parque Mineiro

Cova dos Mouros). De acordo com Martins et al. (2001) e com a página web do

Parque Mineiro Cova de Mouros este é o primeiro e único parque mineiro temático

deste género em Portugal, onde os visitantes podem efectuar um percurso de 750 m a

céu aberto e conhecer a evolução da história da mineração e da metalurgia. Neste

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

54

parque existem reconstituições de habitações pré-históricas e utensílios primitivos,

incluindo representações de figuras humanas (Figura 34 e 35), que dão ao visitante a

sensação de viajar até épocas remotas desde o Calcolítico (2500 a.C.) até à

actualidade. O percurso dispõe de um sistema de guia-áudio, disponível em cinco

línguas (Português, Espanhol, Inglês, Alemão e Holandês) (roteiro mineiro Algarve-

Andaluzia).

Figura 34 – Representação de figuras humanas e

de habitações do Calcolítico.

Figura 35 – Trincheira a céu aberto onde se podem observar escravos e a reprodução de uma grua que representam a época romana. (http://minacovamouros.sitepac.pt, 2004)

Neste projecto, é feita a integração de uma forte vertente arqueológica, em que um

dos aspectos mais importantes é o estudo da evolução do conhecimento metalúrgico

do Homem primitivo, baseado no estudo dos fornos primitivos onde se fazia a fundição

dos minérios dos quais existem no parque réplicas (Figura 36), com vários domínios das

Ciências da Terra como a Estratigrafia, a Mineralogia, a Paleontologia, a Geologia

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

55

Estrutural e a GeomorfologiA (Martins et al., 2001). No Parque são evidentes diversos

vestígios dos trabalhos mineiros mais recentes (século XIX), destacando-se pequenas

escombreiras, blocos de grauvaque com malaquite e óxidos de ferro, galerias e os

poços mineiros (Figura 37).

Figura 36 – Réplica dos “fornos tipo túnel” da Idade do Ferro. (Fonte: http://minacovamouros.sitepac.pt, 2004)

Figura 37 – Poços do núcleo mineiro Cova de Mouros. (Fonte: http://minacovamouros.sitepac.pT, 2004)

Para além dos aspectos intimamente relacionados com a exploração mineira, os

visitantes podem também apreciar a paisagem , a fauna e flora e as piscinas naturais

da ribeira da Foupana (brochura; roteiro mineiro Algarve-Andaluzia). O parque

possibilita aos visitantes um passeio à volta do parque em burros ibéricos, cuja espécie

que se encontra em declínio o parque tem ajudado a perpetuar (Martins et al., 2001;

brochura; roteiro mineiro Algarve-Andaluzia).

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

56

O Parque Paleozóico de Valongo, criado em 1998, foi um projecto onde a Câmara

Municipal de Valongo e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

trabalharam em parceria, tendo tido a colaboração e assessoria científica e técnica

dos Departamentos de Geologia, Zoologia e Botânica da UP (Couto et al., 2000;

Couto, 2001; www.paelozoicovalongo.com, 2004). Actualmente o Centro e o

Departamento de Geologia da UP prestam assessoria e apoio científico para

dinamização, conservação e divulgação do Património Geológico do parque (Couto,

2001; www.paelozoicovalongo.com, 2004). O Parque localiza-se numa área a norte do

concelho de Valongo, que abrange a Serra de Sta. Justa, parte da Serra de Pias e do

vale do rio Ferreira (www.paelozoicovalongo.com, 2004). Possui três percursos

interpretativos distintos, devidamente sinalizados, que permitem aos visitantes

contactar com os diferentes aspectos do Património Natural do parque (Couto & Dias,

1998; Couto et al., 2000; www.paelozoicovalongo.com, 2004; brochura). No vasto

Património Geológico incluem-se aspectos de grande interesse relacionados com a

Estratigrafia, Paleontologia, Tectónica, Geomorfologia e Recursos Minerais (Couto &

Dias, 1998; Couto et al., 2000; Couto, 2001; www.paelozoicovalongo.com, 2004;

brochura). Dos vários motivos de interesse que caracterizam cada um dos percursos

destaca-se:

• o registo da Era Paleozóica, do Precâmbrico e/ou Câmbrico e Ordovícico;

• fósseis;

• estruturas geológicas como dobras e falhas;

• trabalhos mineiros, onde se destacam os vários “fojos” resultantes do desmonte dos

filões auríferos que remonta ao tempo da ocupação romana, minas de ouro do séc.

XX abandonadas e poços de antigas explorações mineiras;

• o vale do rio Ferreira e alguns dos seus aluviões e terraços do Quaternário (Couto &

Dias, 1998; Couto, 2001; www.paelozoicovalongo.com, 2004; brochura) (Figura 38).

Para além dos aspectos de carácter geológico, é também possível visitar moinhos

hidráulicos em funcionamento, a aldeia rústica de Couce, observar exemplares

representantes da fauna e flora endémicas e ainda praticar desportos radicais, como

alpinismo e escalada (brochura; www.paelozoicovalongo.com, 2004). Existe ainda um

Centro Interpretativo, onde é possível observar uma maqueta representativa da

evolução geológica e geomorfológica da área do Parque, consultar publicações

científicas numa biblioteca temática, visitar uma exposição de exemplares fósseis,

outra exposição sobre os recursos minerais da região, consultar mapas geológicos e

topográficos, etc (Couto et al., 2000; brochura; www.paelozoicovalongo.com, 2004).

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

57

1 2

3 4

5 6

Figura 38 - Alguns aspectos geológicos do Parque Paleozóico de Valongo

(Couto & Dias, 1998; Couto & Dias s/d). 1 - Pistas de locomoção de trilobites em quartzito da base do Ordovícico; 2 - Camada de quartzito dobrada; 3 - Entrada do Fojo das Pombas, exploração aurífera romana; 4 - Galeria de mina de antimónio e ouro; 5 - Fragas do Castelo - encaixe do rio Ferreira nas cristas quartzíticas do Arenigiano do flanco normal do Anticlinal de Valongo; 6 - Aluviões do rio Ferreira utilizados para a agricultura.

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

58

2.8 Os cruzeiros fluviais e o turismo na região do Vale do rio Douro

Na área em estudo, o vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão, cerca de 125,8 Km,

vários operadores turísticos privados sedeados na sua maioria nas cidade do Porto e

Gaia, realizam cruzeiros turísticos de subida e descida do rio Douro. No entanto, estes

cruzeiros são realizados para além do sector referido, nomeadamente até Barca

d`Alva, a cerca de 209 Km da cidade do Porto. Os cruzeiros apresentam várias

modalidades, associando por vezes à viagem de barco uma viagem de comboio na

Linha Ferroviária do Douro, uma viagem no Comboio Histórico do Douro, uma

passagem por caves do vinho do Porto de algumas quintas com prova de vinhos,

excursões a outras localidades fora do âmbito ribeirinho, alojamento e realização de

passeios e de algumas refeições. A duração dos cruzeiros também é variável,

podendo durar um ou mais dias, estando condicionada pelo tipo de embarcações

que realizam os cruzeiros. Estas, podem ter a forma de barcos rabelos, inspirados nos

tradicionais barcos que faziam o transporte do vinho ou embarcações mais modernas,

de maiores dimensões e mais luxuosas que oferecem aos turistas maior conforto. Estas

proporcionam dormidas a bordo e funcionam como verdadeiros hóteis flutuantes

(Figura 39).

Figura 39 – Embarcações que realizam cruzeiros no rio Douro: rabelo (1) e barco-hotel (2). (Fonte: www.douroazul.com/Main/MainFS.asp, 2004)

A oferta é feita sob a forma de pacotes mais ou menos rígidos, que incluem todo o

apoio logístico necessário, nomeadamente para as refeições que são realizadas a

bordo dos barcos. A realização dos cruzeiros fluviais desde 1986 tornou-se possível

graças à prévia construção das barragens, quer porque regularizaram o leito do rio e

melhoraram a navegabilidade, quer devido ao facto com segurança e ao facto de

todas elas possuirem eclusas de navegação, que funcionam como um elevador de

2

1

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

59

água, possibilitando às embarcações a transposição das mesmas (Figura 40).

Figura 40 – Barragem de Crestuma-Lever.

O número de passageiros dos cruzeiros fluviais no rio Douro, tem vindo a registar um

aumento significativo nos últimos anos (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Evolução do nº de passageiros dos passeios fluviais no rio Douro, 1997-2003 (Fonte: RTDS/GAI em PDTVD)

Segundo dados fornecidos, entre Janeiro e Setembro de 2004 realizaram cruzeiros no

rio Douro 145.846 turistas, mais 7% do que em igual período do ano de 2003, entre os

quais 124.979 turistas são de nacionalidade portuguesa. Até 15 de Novembro, altura

prevista para o fecho da navegação no canal, as estimativas totais apontam para os

185 mil turistas, o maior valor de sempre. Comparando com os valores do gráfico, e

tendo em conta que esta estimativa para 2004 se irá verificar, irá registar-se um

aumento de cerca de 10% relativamente ao ano de 2003 e de cerca de 60%

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

60

comparando com ano de 2002. Em 2005, até 14 de Outubro tinham realizado cruzeiros

no rio Douro 156000 turistas, estimando-se que até ao fim da época este número

aumente até aos 190000. De acordo com Francisco Lopes, responsável pela

delegação do Douro do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM), esta

actividade turística irá continuar a crescer, como resultado de investimentos que os

operadores turísticos estão a fazer, sendo os cais mais visitados os da Ribeira, Gaia,

Régua e Pinhão.

O apoio e a informação que é fornecida ao longo dos cruzeiros varia com o

operador turístico em que se viaja. Existem cruzeiros onde não é dada qualquer

informação, outros em que é veiculada alguma informação, nomeadamente sobre as

pontes construídas sobre o rio, as barragens e algumas das localidades localizadas nas

margens do rio Douro. Esta informação é essencialmente sobre dados históricos, como

por exemplo as datas de construção das barragens e das pontes. Nas subidas que

realizámos não foi feita qualquer referência à paisagem magnífica do vale do rio

Douro, respeitante quer a aspectos de natureza cultural, biológica ou geológica

(Figura 41).

1 2

3

Figura 41 - Alguns aspectos geológicos observáveis no percurso fluvial Porto-Pinhão. 1 - Quartzitos do Ordovícico; 2 - Poço mineiro de Germunde; 3 – Granitos.

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

61

Numa destas subidas até ao Pinhão, um turista estrangeiro questionava-nos

apontando numa Carta Geológica à escala 1/500000 de Lamego que observavamos,

se o local onde nos encontravamos já era Espanha, pois esperava que o cruzeiro iria

também efectuar-se em território espanhol. Esta situação revelou que estes turistas não

estavam sequer informados sobre a contextualização geográfica do cruzeiro, não se

conseguindo por isso situar no território nacional e ibérico. Salienta-se que neste

cruzeiro não foi distribuído nenhum suporte informativo. Contudo, diversas abordagens

revelaram o interesse dos turistas em possuir mais informação. Em conversa com alguns

turistas estrangeiros num dos cruzeiros, observámos a admiração pela total ou quase

ausência de informação e o seu interesse relativo aos aspectos geológicos e

paisagísticos. Julgo mesmo que os turistas ficaram um pouco desiludidos, pois as suas

expectativas em relação ao cruzeiro não foram suplantadas.

Ao longo dos últimos anos, foram várias as acções e os documentos elaborados

com o objectivo de desenvolver a região do Vale do Douro, nomeadamente no que

diz respeito ao sector do turismo. Destacam-se os estudos “Contribuição para o

inventário das potencialidades turísticas da área do Douro” e o “Estudo de

desenvolvimento da Região Douro”, o programa PRODOURO – Programa de

Desenvolvimento do Douro e o plano PROZED – Plano Regional de Ordenamento da

zona envolvente do Douro. No entanto, e apesar dos estudos e programas realizados

a oferta turística desta região continua a ser muito inferior às suas reais

potencialidades.

Para valorizar toda a riqueza da região diriense, foi criada em 1996 a Rota do

Vinho do Porto. Esta organização é constituída por 49 locais, ligados em rede e directa

ou indirectamente relacionados com a produção do Vinho do Porto e Douro

(www.rvp.pt, 2004). Para atingir o seu principal objectivo, que visa o desenvolvimento

regional, é proposto aos turistas a realização de um conjunto de itinerários pela região,

possibilitando-lhes o contacto com a cultura da vinha e produção dos Vinhos do Porto

e Douro, bem como com as suas gentes e costumes (www.rvp.pt, 2004). Os visitantes

podem realizar provas de vinhos nas quintas produtoras, saborear a gastronomia

tradicional tendo a possibilidade de ficarem alojados nas belas quintas existentes na

região do Douro (www.rvp.pt, 2004).

Mais recentemente, a RCM n. 139/2003, de 29 de Agosto determinou a elaboração

e execução do Plano de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro (PDTVD), que de

acordo com Arlindo Marques, encarregado de Missão do PDTVD, apresenta uma

estratégia integrada de desenvolvimento turístico para o Vale do Douro, que define os

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

62

grandes objectivos a atingir, os tipos de investimento privado a apoiar e apresenta um

quadro de programação dos investimentos públicos mais urgentes. Este plano visa

genericamente estimular e desenvolver o aproveitamento das potencialidades

turísticas, através do reforço das suas estruturas, dos recursos humanos e da sua

capacidade de promoção. Grande parte do conjunto de projectos preconizados no

PDTVD e considerados fundamentais para o desenvolvimento turístico do vale do rio

Douro deverão ser operacionalizados no período 2004-2007. Estes projectos,

considerados prioritários, estão enquadrados em grandes temas que incluem:

acessibilidades rodoviárias; acessibilidades e projectos ferroviários; navegação fluvial;

infra-estruturas aeroportuárias; património natural e ambiental; património histórico-

cultural; ruralidade e desenvolvimento local; alojamento turístico tradicional e

termalismo; formação em turismo; marketing, promoção e animação; itinerários

turístico culturais e informação e sinalização turística. Pretende-se com a

concretização deste conjunto de medidas que o Vale do Douro se venha a tornar um

grande destino turístico de qualidade, quer no mercado nacional, quer internacional.

Espera-se que todas estas boas intenções sejam efectivamente operacionalizadas e

que não fiquem uma vez mais apenas no papel. De acordo com o PDTVD, são

destacados como pontos fortes para o desenvolvimento turístico da região quer o rio

Douro e o seu canal navegável, quer o Património Natural, Paisagístico, Histórico e

Cultural. Como oportunidades salientam-se as novas motivações dos turistas, que

privilegiam destinos com elevado grau de autenticidade e qualidade ambiental e os

novos produtos turísticos como os cruzeiros fluviais. Estes surgem como um dos

principais produtos turísticos do vale do Douro com maior interesse para o destino em

termos de potencial de crescimento (nível de despesa e atractividade local). Os

principais mercados emissores de turistas com motivações que vão ao encontro das

características do vale do Douro, são a Alemanha, Reino Unido, EUA, Holanda e

Espanha (Gráfico 2).

Gráfico 2 - % de turistas com motivações Vale do Douro, por principais origens (Fonte: Deloitte Consulting/Neoturis, 2003 em PDTVD).

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

63

Sem dúvida que o conhecimento destes dados são essenciais na definição das

estratégias de desenvolvimento turístico a implementar, na medida em que ao

conhecer os potenciais turistas podemos desenvolver um produto que melhor

responda às suas expectativas. Salienta-se o facto de Portugal ser o país que

apresenta menor percentagem de turistas com motivações Vale do Douro, apesar da

região apresentar características de eleição do mercado português, em que a

paisagem é apontada como a principal preferência de 30% dos turistas. No entanto,

assiste-se desde 1994 a uma procura crescente por parte dos turistas portugueses pelo

turismo fluvial no rio Douro, tendo sido entre Janeiro e Setembro de 2004 os que mais

procuraram esta actividade (cerca de 125 mil). Do conjunto de medidas incluídas no

PDTVD, destaca-se a medida relacionada com o Património Natural e Ambiental, que

inclui um conjunto de projectos que visam requalificar, preservar e valorizar o

Património Natural e Ambiental. Enquadrados nesta medida, são considerados

prioritários projectos relacionados com a sensibilização dos agentes regionais e locais,

das populações residentes e dos turistas para a preservação do Património Natural

bem como com estudos e inventários do Património Natural. São referidos ainda nesta

medida, embora considerados não prioritários, os projectos da construção do Centro

de Interpretação e Animação das Arribas do Douro e o Centro de Interpretação e

animação do Parque do Alvão, promovidos pelo Parque Natural do Douro

Internacional e Parque Natural do Alvão, respectivamente. Para além da medida

anterior, existe uma outra, intitulada “Itinerários turístico-culturais e

informação/sinalização turística” que deverá promover percursos temáticos (rotas e

itinerários) que deverão assentar num conjunto de valores histórico-patrimoniais,

culturais, naturais e vitinícolas, representativos do potencial endógeno do Vale do

Douro. Os projectos enquadrados nesta medida estão relacionados na sua maioria

com o vinho e as vinhas, mas incluem também a execução de uma rede de

miradouros. Do PDTVD, destaca-se o elevado número de projectos relacionados com

as acessibilidades, nomeadamente rodoviárias, ferroviárias, fluviais e aéreas, quando

comparados por exemplo com o número de projectos no âmbito do Património

Natural. No entanto, nem sempre um vasto leque de infra-estruturas de comunicação

é sinónimo de desenvolvimento turístico. A sustentabilidade surge neste plano como

condição essencial no desenvolvimento turístico no vale do rio Douro, assegurando a

preservação do Património Natural, Cultural e Ambiental, contribuindo assim para um

desenvolvimento turístico ambientalmente sustentado. Com todas as alterações

previstas para a região, nomeadamente em termos de infra-estruturas, a tarefa de

fazer cumprir os critérios de sustentabilidade não vai ser fácil e os possíveis impactos

negativos destas alterações na qualidade da paisagem podem pôr em causa a razão

pela qual os turistas visitam o Vale do Douro. Esperemos então que para se valorizar

Eugénia Araújo Cap. II - Conceptualização e implementação do Geoturismo

64

não se danifique. É ainda de destaque a preocupação presente no PDTVD na

participação das populações locais, bem como pela melhoria do seu bem-estar.

Neste plano, destaca-se a ausência de uma referência directa à geodiversidade e

ao Património Geológico da região e a inexistência de medidas que visem a sua

preservação, valorização e divulgação, com excepção da medida não prioritária da

construção do Centro de Interpretação Ambiental das Arribas do Douro. No entanto,

poderão estar implícitas em alguns projectos enquadrados na abrangente medida

Património Natural e Ambiental. Salienta-se a alusão ao ecoturismo, quando se refere

que o Património Natural, Cultural e Histórico da região, constitui um conjunto único

para a implementação de intervenções na área do ecoturismo.

Capítulo III

Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

Eugénia Araújo Cap. III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

66

3.1 Introdução

A geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão abrange aspectos

diversificados como a estratigrafia, as rochas ígneas, os recursos minerais e energéticos

e outros como os impactes dos processos geológicos, nomeadamente as cheias.

Neste capítulo faz-se a caracterização e descrição sintética da estratigrafia desta

região, que abrange terrenos desde o Pré-Câmbrico até ao Carbonífero e do

Pliocénico ao Holocénico, bem como das rochas ígneas (Figura 42). Por último, é

apresentado um modelo evolutivo no contexto dos Ciclos Varisco e Alpino, com

referência aos ambientes deposicionais, bacias sedimentares, registos estratigráficos e

sedimentológicos, bem como à actuação de processos tectónicos. Desta forma,

pretende-se fazer uma abordagem dinâmica dos processos geológicos que ao longo

do tempo se conjugaram, condicionando a formação e evolução das litologias e das

estruturas geológicas que caracterizam a região do vale do rio Douro.

Em capítulos posteriores serão abordados os temas referentes aos recursos e às

cheias.

3.2 Estratigrafia

3.2.1 Précâmbrico superior – Câmbrico

As formações geológicas regionais com esta idade pertencem na sua maioria ao

tradicionalmente denominado Complexo Xisto-Grauváquico (CXG), designação da

autoria de Carríngton da Costa (1950). Surgiram outras designações como “Formação

xistosa das Beiras” e “Formação argilo-gresosa das Beiras” (Teixeira, 1981).

Posteriormente, Sousa (1982) na sequência do estudo do CXG na região do Vale do

Douro atribui-lhe a designação de “Grupo do Douro”. O mesmo autor propõe a

subdivisão do CXG em dois grandes grupos que incluem a maioria dos afloramentos

do CXG: o Grupo do Douro e o Grupo das Beiras. Estes dois Grupos estão incluídos no

Super-Grupo Dúrico-Beirão (Sequeira & Pereira, 2000).

Na região do Vale do Douro tem grande desenvolvimento o Grupo do Douro, do

qual se faz em seguida uma síntese.

Figura 33 – Extracto da carta geológica de Portugal à escala 1:500 000 (Oliveira et al., 1992b).

Legenda:

GRANITÓIDES RELACIONADOS COM FRACTURAS FRÁGEIS

GRANITÓIDES RELACIONADOS COM

CISALHAMENTOS DÚCTEIS

GRANITÓIDES DE DUAS MICAS COM RESTITOS

Holocénico

Devónico Inferior

Câmbrico (Grupo do

Douro e

Grupo das

Beiras)

Granitos

biotíticos em

geral porfiróides

Granitos

moscovítico-

biotíticos

Granitos e

granodioritos

porfiróides

Granitos

geralmente

porfiróides

Plistocénico

Silúrico

Granitos

monzoníticos

Granodioritos

biotíticos

Granito de duas

micas

indiferenciado

Pliocénico

Ordovícico inferior

Ordovícico médio

Ordovícico superior

Granitos

monzoníticos

porfiróides

Granitos

gnáissicos

Carbonífero

Quartzodioritos

e granodioritos

biotíticos

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

69

3.2.1.1 Grupo do Douro

O Grupo do Douro localiza-se geograficamente no vale do rio Douro (Figura 33) e

a norte da província da Beira Alta, estendendo-se para a província de Salamanca e

Las Hurdes, em Espanha. Apresenta uma individualidade própria e constitui uma

sequência de metassedimentos com uma homogeneidade geográfica, que traduz

uma génese comum (Coke et al., 2000). Está representado por um conjunto de seis

unidades litoestratigráficas, constituídas por alternâncias de grauvaques e pelitos com

características turbidíticas e para o topo por grauvaques e conglomerados, que no

conjunto apresenta uma espessura da ordem dos 2000 m (Sousa, 1982, 1985; Oliveira et

al., 1992a).

A sequência litoestratigráfica do Grupo do Douro, foi inicialmente definida na

região de Pinhão-S. João da Pesqueira por Sousa (1982). No entanto, trabalhos de

cartografia geológica posteriores, permitiram cartografar o Grupo do Douro noutras

regiões, nomeadamente no núcleo do anticlinal de Valongo e na região a oeste do

Sulco Carbonífero Dúrico Beirão (SCDB) (Pereira & Ribeiro, 1992) (Figura 43).

Figura 43 – Afloramento do CXG nas proximidades de Melres.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

70

Foram cartografadas e definidas

seis Formações, da base para o topo

(Sousa, 1982, 1985) (Figura 44):

- Formação de Bateiras

- Formação de Ervedosa

- Formação Rio Pinhão

- Formação Pinhão

- Formação da Desejosa

- Formação de S. Domingos

Figura 44 – Coluna estratigráfica do

Grupo do Douro

(Sousa & Sequeira, 1989).

Faz-se em seguida uma descrição sucinta das seis Formações com base em Sousa

(1982, 1985) e Sousa & Sequeira (1989).

Formação de Bateiras

Esta Formação pode ser dividida em dois membros: um Membro Inferior,

caracterizado pela presença de xistos negros com intercalações de leitos muito finos

esbranquiçados de metagrauvaques e de quartzo-filitos; um Membro Superior com

níveis calcários a que se sobrepõem espessos metagrauvaques com intercalações

filitosas cinzento e cinzento-escuras, listrados. O Membro Inferior, apresenta localmente

metaconglomerados para a base. Os xistos negros são constituídos principalmente por

quartzo, grafite, clorite, moscovite e albite, contendo por vezes pirite visível. Os leitos

esbranquiçados intercalados são essencialmente quartzosos. Os calcários são

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

71

constituídos por cristais de calcite e dolomite, encontrando-se por entre estes cristais

grãos de quartzo, moscovite e plagioclase. Os metagrauvaques são feldspáticos, com

clastos de quartzo, plagioclase e mais raramente moscovite. Os clastos apresentam

dimensões mais pequenas no Membro Inferior. Nos conglomerados, os clastos são

essencialmente de quartzo e a matriz é quartzítica, por vezes carbonatada. A

espessura desta Formação é de cerca de 900m. O limite desta Formação é marcado

quando os filitos escuros, listrados, do topo da Formação, passam a uma sucessão

finamente estratificada de cor verde.

Formação de Ervedosa do Douro

É caracterizada pela presença de bancadas finas de metaquartzovaques verdes

e xistos cloríticos, apresentando um nível com cristais de magnetite bem desenvolvido

de 20-25 cm de espessura, que foi utilizado como camada guia na cartografia

regional. Localmente, apresenta intercalações de metaconglomerados e

metagrauvaques. A espessura desta Formação é de 250±50m. A passagem à

Formação de Rio Pinhão identifica-se pelo aumento dos termos metagrauváquicos,

que passam de um modo rápido a bancadas espessas.

Formação de Rio Pinhão

A base desta Formação consta de uma sucessão de bancadas centimétricas (10-

20 cm) de metagrauvaques e/ou metaquartzovaques, alternando com intercalações

filitosas finas. Cerca de 70 a 80 m a partir da base as bancadas tornam-se mais

espessas, atingindo espessuras de 70 cm a 1 m. Geralmente, entre as bancadas de

metagrauvaques há intercalações de xistos listrados, com espessuras muito menores

(10 a 30 cm). No interior da Formação, em posição variável, ocorrem níveis de

microconglomerados e conglomerados. As bancadas metagrauváquicas mostram

com frequência diversas estruturas sedimentares: figuras de carga, estratificação

gradativa, laminação oblíqua. Os metagrauvaques desta Formação são rochas

geralmente de cor cinzenta-escura, de granulometria relativamente fina quartzo-

feldspáticos. Os clastos dos microconglomerados e dos conglomerados são

principalmente de quartzo, apresentando-se muito arredondados. A matriz é

constituída por microclastos de quartzo e plagioclase e mais raramente de moscovite.

No Sector do Pinhão apresenta uma espessura de cerca de 250±50 m. A passagem à

unidade seguinte considera-se quando se perde o carácter metagrauváquico,

geralmente com uma tonalidade cinzenta escura e se passa a uma sucessão de cor

verde, finamente estratificada.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

72

Formação de Pinhão

Esta Formação apresenta uma sequência finamente estratificada de cor verde,

onde alternam metaquartzovaques com xistos. Salienta-se a ocorrência de dois níveis

de cristais bem desenvolvidos de magnetite. A acompanhar a magnetite, aparecem

esporadicamente cristais de pirite bem desenvolvidos. Os metaquartzovaques são

constituídos por quartzo, plagioclase, clorite e moscovite. São frequentes zonas

carbonatadas com calcite. Os xistos, em análise microscópica correspondem a filitos

cloríticos e quartzosos. A espessura desta Formação, na região do Pinhão é de 350±50

m. A passagem à Formação de Desejosa ocorre de uma forma gradual mas rápida,

transitando-se para uma sequência de xistos de cor escura, onde intercalam

metassiltitos claros, que lhe confere um aspecto listrado.

Formação da Desejosa

Nesta Formação ocorrem alternâncias milimétricas a centimétricas de xistos

cinzento escuros e finos leitos de metassiltitos claros. Localmente, observam-se

bancadas de metagrauvaques e metaconglomerados. As estruturas sedimentares

mais frequentes são as figuras de carga e a estratificação entrecruzada. Os

metagrauvaques são feldspáticos, sendo os clastos essencialmente de quartzo e

plagioclase e a matriz constituída principalmente por quartzo, clorite, mocovite e

calcite. Os xistos são sericítico-cloríticos e quartzo-sericítico-cloríticos. Apesar desta

Formação constituir uma unidade homogénea e monótona, é possível em algumas

localidades observar por exemplo a ocorrência quer de leitos quartzosos com

contribuição carbonatada, assemelhando-se por vezes a calcários cristalinos, quer de

bancadas de metagrauvaques com mais frequência e mais espessas, desaparecendo

o carácter listrado. A espessura desta Formação é de cerca de 300m. A passagem à

Formação de S. Domingos é assinalada pela passagem rápida e progressiva a finas

bancadas de metaquartzarenitos pelito-psamíticas, que se tornam cada vez mais

espessas para o topo, com desaparecimento dos xistos.

Formação de S. Domingos

Nas finas bancadas de metaquartzarenitos, que para o topo passam a bancadas

métricas, ocorrem intercalações de níveis conglomeráticos espessos, com variações

laterais de espessura. Os conglomerados possuem clastos principalmente de quartzo e

mais raramente de calcário cinzento, filito, metagrauvaques e metaquartzovaques. A

matriz é constituída essencialmente por quartzo, plagioclase, calcite, clorite, moscovite

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

73

e biotite. Observam-se nos conglomerados figuras de erosão nas base das bancadas

e estratificação positiva, com diminuição do tamanho dos clastos. Os

metaquartzarenitos apresentam uma cor clara e granulometria grosseira, sendo os

minerais principais o quartzo, plagioclase, moscovite, clorite e biotite. A espessura

desta Formação é de 50 m.

Na região de Moncorvo, foi definida a Formação Quinta da Ventosa, que assenta

sobre a Formação de Desejosa e que passa em concordância cartográfica ao

Ordovícico (Silva et al., 1989). De acordo com Sousa (1985) a Formação Quinta da

Ventosa poderá ser um equivalente lateral da Formação de S. Domingos. Na zona de

Castelo Melhor foi ainda definida uma outra Formação, a Formação de São Gabriel

(Silva & Ribeiro, 1991), que assenta na Formação de Desejosa e que faz a transição

gradual para o Ordovícico sem discordância angular aparente. A estratigrafia relativa

destas unidades -Formações de S. Domingos, de Quinta da Ventosa e de São Gabriel,

é considerada discutível, sendo ainda expressa a convicção de que possam

corresponder a passagens laterais de fácies de idade semelhante (Silva & Ribeiro,

1991, 1994).

Esta sequência estratigráfica proposta para o Grupo do Douro foi posta em causa,

quando foi inferida a presença de um acidente cavalgante na região da Sra. do Viso

(Silva & Ribeiro, 1985) – o carreamento sinsedimentar da Sra. do Viso – cuja

responsabilidade é atribuída aos movimentos da fase Sarda. A identificação deste

acidente sugere a existência para W de uma duplicação tectónica no Grupo do

Douro, existindo uma equivalência lateral entre a Formação de Ervedosa e Formação

de Pinhão e entre a Formação de Bateiras e a Formação do Rio Pinhão (Figura 45).

Figura 45 – Esquema de duplicação tectónica no Grupo do Douro (Sousa, 1985).

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

74

Estes movimentos teriam favorecido deslizamentos E-W, de materiais mais proximais

sobre materiais distais, situados a oeste (Silva & Ribeiro, 1994). A duplicação tectónica

terá ocorrido devido a um deslizamento por gravidade sinsedimentar, de idade sarda,

gerado durante a deposição da Formação de São Domingos (Sousa, 1985). Desta

forma, teríamos a sequência estratigráfica do Grupo do Douro constituída por uma

sequência autóctone envolvendo as F. de Bateiras e F. de Ervedosa do Douro e uma

sequência alóctone incluindo as F. Rio Pinhão, F. Pinhão, F. Desejosa e F. S. Domingos

(Sousa & Sequeira, 1989). Opinião em favor do carácter alóctone das Formações de

Desejosa e de S. Domingos foram ainda emitidas mais recentemente por Sequeira &

Pereira (2000). No entanto, outros investigadores indicam a ocorrência dos

carreamentos durante a sedimentação da Formação de Desejosa (Silva & Ribeiro,

1985), pelo que as Formações de Desejosa e de S. Domingos seriam assim, no todo, ou

pelo menos em parte, autóctones (Silva & Ribeiro, 1994). Esta opinião é também

partilhada por Coke et al. (2000) que atribui um carácter sinsedimentar aos

cavagalmentos. A sua causa não é atribuída à fase Sarda, que só terá actuado

depois da sedimentação da Formação de Desejosa e que conduziu em muitos locais

à sedimentação de uma sequência conglomerática que se sobrepõe à Formação de

Desejosa. Por fim, deve salientar-se que aquando da definição do Grupo do Douro

(Sousa, 1982) o autor tinha já indicado semelhança de fácies entre a F. Ervedosa e a F.

Pinhão, que encontrou explicação através deste modelo de duplicação tectónica.

Todavia, a passagem gradual da Formação de Ervedosa à Formação do Rio Pinhão e

a ausência de indícios de acidente entre as duas unidades não conduziram o autor à

suposição da existência de uma duplicação tectónica (Sousa, 1985; Sousa & Sequeira,

1989). Desta forma, na região do Pinhão o acidente é inferido, na medida em que os

trabalhos de campo não permitiram detectar evidências da ocorrência da

duplicação litostratigráfica (Sequeira & Pereira, 2000). Os carreamentos sin-

sedimentares também não foram identificados no levantamento geológico da área

correspondente (Silva & Ribeiro, 1994).

É problemática uma atribuição cronostratigráfica para o Grupo do Douro, dado a

escassez de fósseis, no entanto correlações litoestratigráficas com outras áreas

apontam uma idade câmbrica inferior (Sousa, 1982; Schermerhorn, 1956; Martinez

Garcia, 1973; Iglésias & Ribeiro, 1981 in Sousa, 1985). A atribuição desta idade para o

Grupo do Douro foi apoiada por fósseis de trilobites encontrados no topo da F.

Desejosa, na região de Moncorvo (Rebelo, 1985), que não permitindo uma datação

exacta, devido ao seu mau estado de conservação, apontam para uma idade

câmbrica.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

75

Para Teixeira (1981), o CXG na região do Porto tem uma idade précâmbrica

superior. Uma outra indicação advém da presença de rochas granitóides caledónicas

próximo da fronteira da ZCI com a ZOM (granitos de Figueiró dos Vinhos, Pedrógão,

Vila Nova, Coentral, etc.) de idades compreendidas entre os 500 Ma e os 530 Ma, que

metamorfizaram o CXG, factos que sugerem uma idade precâmbrica superior para

uma parte do CXG (Pereira & Macedo, 1983 in Sousa, 1985). Na Carta Geológica de

Portugal à escala 1:500 000 (Oliveira et al., 1992b) e na Folha 1 da Carta Geológica de

Portugal na escala 1:200 000 (Pereira & Ribeiro, 1992) é atribuída ao CXG/Grupo do

Douro uma idade câmbrica inferior. Após uma indicação para limite Precâmbrico-

Câmbrico que se poderia situar intra F. Bateiras (Sousa, 1985), foi posteriormente

indicado que a passagem ao Câmbrico poderá estar localizada entre a deposição

das Formações de Ervedosa e de Pinhão (Sousa & Sequeira, 1993 in Sequeira & Pereira,

2000).

3.2.2 Outras ocorrências

Existem unidades localizadas a oeste do Sulco Carbonífero do Douro, nas

proximidades do Porto, para os quais não se encontrou paralelo com as unidades do

Grupo do Douro definidas por Sousa (1982), mas cuja constituição litológica permitiu

que surgissem na cartografia sob a designação do CXG e incluem os xistos de

Fânzeres, migmatitos, gneisses, micaxistos, xistos luzentes, etc. (Costa & Teixeira, 1957;

Medeiros, 1964; Teixeira & Perdigão, 1962). Estas ocorrências surgem mais

recentemente sob a designação de CXG indiferenciado pelo facto das condições de

metamorfismo não permitirem distinguir formações. (Pereira & Ribeiro, 1992).

Migmatitos, gneisses, micaxistos e outras litologias (Complexo Xisto-grauváquico

indiferenciado)

Entre estas litologias aparecem manchas isoladas de granitos, responsáveis pela

sua intensa metamorfização. Nas zonas de contacto com as rochas graníticas

observam-se quase sempre estruturas migmatíticas (Costa & Teixeira, 1957; Medeiros,

1964). A passagem gradual de umas rochas às outras e o seu estado de alteração

dificultam a sua cartografia (Costa & Teixeira, 1957; Teixeira & Perdigão, 1962).

Os migmatitos são ricos em quartzo e feldspatos, contendo também biotite,

moscovite e ainda raros cristais de zircão, apatite e magnetite. Os gneisses são pobres

em quartzo e feldspatos, com moscovite, biotite, silimanite e cordierite (Costa &

Teixeira, 1957) (Figura 46).

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

76

Figura 46 – Gneisses e micaxistos na zona de Atães - Jovim.

Xistos de Fânzeres

Os xistos de Fânzeres dispõem-se numa faixa localizada a oeste do Anticlinal de

Valongo, que se estende desde as proximidades de Ermesinde e atravessa o rio Douro

na zona da foz do Sousa e de Zebreiros (Costa & Teixeira, 1957; Teixeira & Perdigão,

1962; Medeiros, 1964; Fernandes et al., 1998) (Figura 47).

Figura 47 – Xistos de Fânzeres, nas proximidades da Foz do rio Sousa.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

77

Figura 48 - Coluna estratigráfica da Carta Geológica à escala 1:50 000 de Penafiel, com representação de unidades litostratigráficas do Ordovícico (Medeiros et al., 1980).

Trata-se de uma unidade constituída por xistos micáceos porfiroblásticos, com

quartzo, biotite, moscovite e andaluzite, atingindo os porfiroblastos de estaurolite

dimensões na ordem dos 5 cm (Fernandes et al., 1998). Estes xistos estaurolíticos

apresentam-se moderadamente alterados nos afloramentos, sendo frequente os

cristais de estaurolite, por vezes maclados, se encontrarem soltos e espalhados pelo

chão (Medeiros, 1964; Fernandes et al., 1998). São frequentes os filonetes de quartzo

intercalados nos xistos (Teixeira & Perdigão, 1962).

3.2.3 Ordovícico

A transição do CXG para o Ordovícico é

marcada pela existência de uma

importante discordância angular, bem

evidenciada no bordo sul do Domínio

Dúrico-Beirão, que aparentemente se vai

atenuando para nordeste, podendo ocorrer

localmente no Vale do Douro passagem

gradual entre os sedimentos do CXG e os do

Ordovícico (Oliveira et al., 1992a).

Segundo Romano & Diggens (1974) in

Couto et al. (2000), o Ordovícico

compreende, da base para o topo, as

seguintes formações (Figura 48):

Formação de Santa Justa

Esta formação é equivalente da

Formação do Quartzito Armoricano que

ocorre em toda a Península Ibérica (Pereira

& Ribeiro, 1992). Em Valongo é usada a

designação de Formação de Santa Justa e

em Trás-os-Montes a designação de

Formação Quartzítica. Foi também

anteriormente designada por Quartzitos

com «Bilobites» e xistos intercalados

(Medeiros, 1964).

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

78

Na base desta formação predominam conglomerados do Tremadociano, constituídos

por calhaus rolados de quartzo, de dimensões variáveis, que estão relacionados com

o movimento transgressivo do Ordovícico (Medeiros, 1964). Os quartzitos sucedem aos

conglomerados e aqueles sebrepõe-se uma sequência finamente bandada

constituída por alternâncias de sedimentos gresosos claros e sedimentos pelíticos

escuros do Arenigiano, em que foram identificados níveis vulcano-sedimentares

(Couto 1993, 1995). No contacto das alternâncias gresosas-pelíticas com as litologias

da Formação que lhe segue(Formação de Valongo), ocorrem níveis fosfatados (Couto

1993, 1995). As bancadas de quartzitos têm uma orientação NW-SE. As rochas

quartzíticas atravessam o rio Douro nas proximidades da Quinta da Varziela e

continuam em direcção ao rio, através da região da Lomba, onde desaparecem,

reaparecendo na margem direita do rio parcialmente cobertas por areias fluviais

(Medeiros, 1964). As assentadas quartzíticas voltam a cortar o vale do rio Douro a

montante, no sítio da Abitureira (Figura 49), inflectindo na margem esquerda do rio

para este. Devido a uma falha nas proximidades de Barqueiros, situado a montante da

Abitureira, a faixa de quartzitos é desviada cerca de 1 Km para NE (Teixeira et al.,

1967).

Figura 49 – Cristas quartzíticas na região da Abitureira, margem direita do rio Douro.

Formação de Valongo

Esta formação, datada do Lanvirniano e Landeiliano, é referida nas cartas

geológicas à escala 1/50000 do Porto, Castelo de Paiva e de Peso da Régua como

xistos argilosos finos, escuros, ardosíferos, com fósseis (Xistos de Valongo). No Douro

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

79

inferior esta sequência é conhecida por Formação Xistenta e no Marão por Formação

de Pardelhas (Oliveira et al., 1992a). Em termos litológicos esta formação é constituída

por siltitos de cor rosada, seguidos por siltitos cinzentos e xistos. Os fósseis abundantes

existentes nestas rochas indicam uma idade de Lanvirniano a Landeiliano (Couto et

al.,2000). Esta formação encontra-se metamorfizada dando origem a corneanas

pelíticas e quartzo-pelíticas e xistos quiastolíticos, mosqueados, granatíferos,

cordieríticos (Medeiros, 1964).

Formação de Sobrido

Esta unidade foi designada por Nery Delgado (1908) por “Grauvaques de Sobrido”,

sendo mais tarde redefinida por Romano & Diggens (1974) (Pereira & Ribeiro, 1992). Na

carta geológica à escala 1/50000 do Porto e de Castelo de Paiva, esta unidade não

tinha esta designação, sendo referida como xistos e grauvaques com quartzitos. A

Formação de Sobrido é composta por dois membros: no inferior ocorre uma bancada

de quartzitos do Caradociano, que forma relevos ou pequenas cristas; o membro

superior é formado essencialmente por grés argilosos ou grauvaques de tons claros,

micáceos e com níveis de diversos materiais detríticos de variadas dimensões e

também concreções carbonatadas ricas em matéria orgânica (Pereira & Ribeiro,

1992). No Anticlinal de Valongo, o membro superior é constituído por arenitos e siltitos,

sendo-lhe atribuída a idade provável de Ashgiliano superior ou Silúrico inferior (Oliveira

et al., 1992a). De acordo com Couto (1993,1995), na base da Formação de Sobrido

ocorre um horizonte ferruginoso, que coincide com uma descontinuidade

estratigráfica, pondo em contacto materiais do Ashgiliano com materiais do

Landeiliano.

3.2.4 Silúrico

Apesar do Silúrico não cortar o vale do rio Douro no sector em estudo, encontram-

se sedimentos datados desta idade na região do anticlinal de Valongo e do Marão.

No anticlinal de Valongo, o Silúrico, que se encontra em duas faixas extensas, uma de

cada lado da dobra, é constituído por três unidades: Unidade dos Xistos Carbonosos

Inferiores, Unidade dos Xistos Carbonosos Superiores e Formação de Sobrado (Pereira

& Ribeiro, 1992). Na região do Marão encontra-se a Formação de Campanhó, onde

predominam xistos grafitosos e liditos, ocorrendo na parte superior calcários e um nível

quartzítico de espessura métrica no topo. Nesta Formação foram encontrados

graptólitos de Venloquiano Superior (Oliveira et al., 1992a).

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

80

Figura 50 – Ocorrências do Carbonífero terrestre em Portugal: 1- Criaz-Serra de Rates; 2 – Casais-Alvarelhos; 3 – Ervedosa; 4- Bacia do Douro; 5 – Bacia do Buçaco; 6 – Bacia de Santa Susana (Wagner & Sousa, 1983).

3.2.5 Devónico

Tal como no caso das unidades do Silúrico, as unidades do Devónico não

intersectam o vale do rio Douro, no sector em estudo. No entanto, o Devónico inferior

(Gediniano e Coblenciano) encontra-se associado ao flanco ocidental do Anticlinal

de Valongo, estendendo-se ao longo de uma faixa de largura variável, com algumas

interrupções e orientação geral NW-SE, acompanhando a oeste o Carbonífero

(Medeiros, 1964; Medeiros et al., 1980). As litologias predominantes de Ervedosa a St.ª

Justa, são os xistos cinzentos, intercalados com leitos de arenito fino que passam a

quartzitos (Medeiros et al., 1980). Na região de Midões, a faixa devónica, é constituída

por xistos finos, de cor amarela, amarelo-avermelhada, e por vezes, cinzento-azulada

(Medeiros et al., 1980).

Encontra-se definida a Formação de Telheiras, onde é possível distinguir dois membros:

o membro inferior, constituído essencialmente por quartzitos e o nível superior

constituído por xistos argilosos, avermelhados, amarelados ou arroxeados (Pereira &

Ribeiro, 1992).

3.2.6 Carbonífero

Existem em Portugal três afloramentos

principais de carbonífero de fácies

continental (Wagner & Sousa, 1983) (Figura

50):

• Estreita faixa muito alongada, com

orientação geral NW-SE, que se estende

por cerca de 130 Km entre Criaz

(Conselho da Póvoa do Varzim) e Mioma

(Nordeste de Viseu). Esta faixa é por sua

vez constituída por retalhos, de diferentes

idades, fortemente laminados entre

afloramentos de rochas do Paleozóico

Inferior:

Criaz – Serra de Rates (Vestefaliano

?);

Casais – Alvarelhos ( Vestefaliano

C ?) – Unidade do Bougado

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

81

Faixa Carbonífera Dúrico-Beirã ou Bacia Carbonífera do Douro (BCD). Dispõe-se

ao longo de cerca de 90 Km entre São Pedro Fins (Conselho da Maia) e Mioma.

Está datada do Estefaniano C inferior – Unidade de S. Pedro Fins-Midões;

Ervedosa (Vestefaliano D superior) - Unidade de Ervedosa;

• Bacia do Buçaco a norte de Coimbra (Estefaniano C mais superior);

• Bacia de Santa Susana no Alto Alentejo (Vestefaliano D superior).

O Carbonífero que corta o vale do rio Douro próximo de Medas enquadra-se na

BCD (Figura 51) e corresponde a terrenos muito fossilíferos, quer em fósseis animais quer

vegetais. Foi inicialmente atribuída à Bacia Carbonífera do Douro, uma idade do

Estefaniano B-C (Medeiros, 1964). No entanto, estudos mais recentes, paleobotânicos

(Wagner & Sousa, 1983), paleozoológicos (Eagar, 1983) e palinológicos (Fernandes et

al., 1997 in Jesus, 2003), limitam a idade ao Estefaniano C inferior (Jesus, 2003).

Figura 51 – Enquadramento regional da Bacia Carbonífera do Douro (Jesus, 2001).

A BCD estende-se ao longo de 53 Km, desde a localidade de S. Pedro Fins, a noroeste,

até Janarde, a sudeste, como uma faixa que raramente ultrapassa os 500m de largura

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

82

(Jesus, 2001). O muro da BCD corresponde a uma descontinuidade por

inconformidade com discordância angular, encontrando-se delimitado a SW pelas

formações do CXG em quase toda a extensão da BCD à excepção do extremo SE,

em que o contacto é feito com sedimentos do Silúrico. O tecto da BCD encontra-se

cortado por importante falha inversa que coloca as formações do Paleozóico inferior,

no flanco inverso do Anticlinal de Valongo, sobre os terrenos da BCD (Domingos et al.,

1983; Sousa, 1984b; Jesus, 2001, 2003). Na sua sequência apresenta camadas de

carvão do tipo metantracite, que foram exploradas principalmente em duas áreas, os

Coutos Mineiros de S. Pedro da Cova e do Pejão. A BCD, à qual se atribui a

designação de Unidade de S.Pedro Fins-Midões, compreende da base para o topo

(Costa & Teixeira, 1957; Medeiros, 1964; Medeiros et al., 1980; Pereira & Ribeiro, 1992)

(Figura 52):

! conglomerado-brecha, com elementos sub-angulosos e sub-rolados de granito,

quartzito e micaxistos, provenientes de rochas vizinhas mais antigas, sobretudo do

CXG;

Figura 52 – Registo estratigráfico simplificado da BCD (Jesus, 2003).

! intercalações de xistos argilosos negros e finos com bancadas de metantracite.

Existem também níveis conglomeráticos e várias camadas de grés e arcoses

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

83

associados aos xistos negros. Os conglomerados são constituídos

predominantemente por calhaus de quartzito, quartzo e lidito. Os calhaus são bem

rolados e apresentam dimensões que variam entre 1 e 5 cm. O cimento que os liga é

sílico-argiloso, de cor cinzenta, e em certos pontos, de cor avermelhada devido a

impregnações de óxidos de ferro.

3.2.7 Cenozóico

3.2.7.1 Pliocénico

Estes depósitos que foram genericamente considerados por Oliveira et al. (1992b),

na Carta Geológica de Portugal à escala 1/500 000, e nas cartas geológicas à escala

1/50 000 por “plio-plistocénicos” (PQ) ocupam a plataforma litoral e as áreas

aplanadas na proximidade do vale do rio Douro (Araújo et al., 2003). A plataforma

litoral corresponde a uma faixa aplanada existente ao longo do litoral português,

limitada para o interior por um relevo alinhado, o “Relevo Marginal”, com orientação

NNW-SSE, que contrasta com a área aplanada. Outra interpretação feita acerca da

plataforma litoral considerava que os depósitos que ela suporta correspondem a níveis

de praias antigas que se encontravam organizados em patamares e que eram

testemunho das variações eustáticas, sendo limitados para o interior por uma arriba

fóssil. A definição destes depósitos tinha por base exclusivamente critérios altimétricos

não considerando possíveis desnivelamentos por acção da tectónica devido ao

desconhecimento de acidentes tectónicos recentes (Teixeira, 1979). Em estudos

posteriores onde se efectuou uma comparação destes depósitos no que respeita à

altitude, cor, alteração do substrato, calibragem e onde se considera a influência da

tectónica, veio-se comprovar que alguns depósitos da plataforma litoral são de

origem continental e não marinha, ou seja, praias levantadas, como foram

considerados por Ribeiro et al. (1943) e por Teixeira (1979) (Araújo, 1997, 2000; Araújo et

al., 2003). No seguimento dos estudos referidos, estes depósitos foram agrupados

(Araújo, 1991) em (Figura 53):

- depósitos fluviais da fase I;

- depósitos fluviais da fase II;

- depósitos quaternários, essencialmente marinhos.

Como poderá ser constatado, parte destes depósitos relacionam-se com a

organização da rede fluvial regional, possivelmente numa fase anterior à instalação di

rio Douro.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

84

Figura 53 – Localização dos depósitos plio-plistocénicos (Araújo, 1997).

A atribuição de fase I e fase II a estes depósitos deve-se ao facto de se admitir a

existência de duas fases de deposição em condições muito diferentes (Araújo et al.,

2003). Correspondem a fases diferentes da evolução do relevo, separadas entre si por

um longo período de tempo, ou por um acontecimento relevante, de origem

tectónica ou estática (Araújo, 1997).

Os depósitos da fase I, designados como aluviões antigos por Cabral (1881), um

dos primeiros investigadores a estudar os depósitos na região do Porto, foram

considerados plio-plistocénicos e identificados nas cartas geológicas do Porto (Costa

& Teixera, 1957) e de Castelo de Paiva (Medeiros, 1964) à escala 1:50000, como

depósitos de praia e de terraço do rio Douro. Na folha 1 da carta geológica de

Portugal à escala 1:200 000 (Pereira & Ribeiro, 1992) estes depósitos são identificados

pela sigla PQ, sendo considerados depósitos fluviais. Nestes depósitos, foi possível

identificar diversas unidades que aparecem associadas na maioria dos afloramentos.

No entanto, a sequência completa não está presente em todos os afloramentos, o

que implica que nem todas as unidades se depositaram em todos os locais ou que

algumas foram destruídas pela erosão (Araújo et al., 2003). Os afloramentos onde se

encontram depósitos desta fase localizam-se em Rasa de Baixo ou Telheira, Aldeia

Nova de Avintes, Esposade, Gandra e Medas. O afloramento da Rasa de Baixo situa-se

a oeste do relevo marginal e os restantes a este (Figura 44). Este afloramento, local

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

85

onde funcionou uma exploração de caulino, constituía o local onde era possível

observar a sequência das unidades da fase I, que apresentava de baixo para o topo:

- base de blocos que podem ser de granito alterado ou de quartzo filoniano;

- camada rica em elementos micáceos, com cor cinzenta esverdeada;

- camada mais grosseira (areão e seixos) com estratificação entrecruzada. No topo do

depósito surge frequentemente um forte encouraçamento, com uma cor

avermelhada/acastanhada, que contrasta com a cor branca das unidades inferiores

do depósito. O substrato apresenta-se intensamente caulinizado e daí as exploração

de caulino. A base deste depósito encontra-se basculado para este (Ribeiro et al.,

1943), cuja génese poderá estar relacionada com actividade tectónica pós-

deposicional. O afloramento de Aldeia Nova de Avintes encontra-se na margem

esquerda do rio Douro, desenvolvendo-se ao longo de uma faixa, com cerca de 4Km,

embora com algumas interrupções, desde Cabanões, em Avintes, até Arnelas,

reaparecendo em Lever (Figura 44). Estes depósitos, quando comparados com o

anterior, apresentam algumas diferenças, nomeadamente um maior calibre dos

blocos da base, uma composição litológica com quartzo e quartzitos, um

encouraçamento mais intenso e a existência de níveis finos cinza-esverdeados menos

espessos, que se encontram inclinados para oeste, o que sugere também actividade

tectónica pós-deposicional (Araújo, 1997, 2000, 2003). O depósito da Gandra,

localizado na margem direita do rio Douro (Figura 44), apresenta elementos muito

grosseiros e fenómenos de intenso encouraçamento, que conduzem à existência de

arenitos e conglomerados ferruginosos, com uma espessura superior a 1,5 m. Em

Medas, encontram-se dois depósitos escalonados, em que o mais alto encontra-se a

162 m (Figura 44). Da observação que efectuámos destes depósitos sobressai o

carácter grosseiro, com blocos de cerca de 30 cm e o carácter subanguloso da

maioria dos clastos, grande parte de quartzitos e quartzo (Figura 54).

Figura 54 – Depósitos de Medas.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

86

Os depósitos da fase II são, tal como os depósitos da fase I, referidos na folha 1 da

Carta Geológica de Portugal à escala 1:200 000 (Pereira & Ribeiro, 1992) pela sigla PQ.

Na Carta Geológica à escala 1:50 000 do Porto (Costa & Teixera, 1957) estes depósitos

foram considerados como depósitos de praia e de terraço e também sob a

designação de formação areno-pelítica de cobertura, ao passo que na de Castelo de

Paiva (Medeiros, 1964) foram cartografados como depósitos de terraço. Os depósitos

da fase II são muito mal calibrados e apresentam blocos muito grosseiros na base,

podendo ocorrer cristas ferruginosas com espessuras que não ultrapassam 1 cm,

nunca tendo sido encontradas as couraças que existem nos depósitos da fase I. Estes

depósitos não se sobrepõem aos da fase I, situando-se geralmente mais para oeste, a

altitudes compreendidas entre 50 e 100 m (Araújo, 1997, 2000; Araújo et al., 2003).

Encontram-se em duas zonas principais, próximo do vale do rio Douro e numa faixa

paralela a oeste do relevo marginal. Na proximidade do vale do rio Douro encontram-

se os afloramentos da Pedrinha, Valbom e na proximidade de Medas. A oeste do

relevo marginal existem os afloramentos de Coimbrões, Ponte da Arrábida (Candal),

Boavista e da Avenida Marechal Gomes da Costa. Apresentam sequências

granodecrescentes com elementos mais grosseiros na base e mais finos no topo, o que

sugere tratar-se de leques aluviais. Na Pedrinha podem observar-se blocos com cerca

de 0,5 m de diâmetro. Em Coimbrões a granulometria é menos grosseira. Em alguns

locais, observam-se no topo das formações melhor calibração dos materiais. Devido à

ausência de fósseis nestes depósitos, foram efectuadas correlações através de

semelhanças de litofácies. Desde sempre que se considerou a inexistência de

depósitos paleogénicos e miocénicos na região do Porto, não podendo correlacioná-

los com os depósitos desta idade existentes em Trás-os-Montes (Araújo, 2000; Araújo et

al., 2003).

Nas cartas geológicas à escala 1/50 000 e em Teixeira (1949, 1979) os depósitos

mais antigos eram datados do Pliocénico. Excluída a hipótese destes depósitos serem

atribuídos ao Paleogénico e ao Miocénico, surge a hipótese de considerar os

depósitos da fase I pliocénicos, que podem ser correlacionados com as “fases ocres”

do interior da Península, atribuídas ao Pliocénico (Araújo, 2000; Araújo et al., 2003). É

feita ainda uma correlação dos depósitos da fase I com os depósitos da Formação de

Mirandela que se enquadra no episódio 3 da sedimentação cenozóica em Trás-os-

Montes, que é atribuída à unidade alostratigráfica SLD13 (Pereira et al., 2000; Araújo,

2000; Araújo et al., 2003). Esta correlação, efectuada com base nas semelhanças

existentes entre os dois depósitos, nomeadamente o carácter conglomerático, com

clastos quartzosos e quatzíticos numa matriz arenosa quartzo-feldspática e com

caulinite abundante, implicaria considerar os depósitos da fase I do Pliocénico superior

(Placenciano?) e é (Araújo, 2000; Araújo et al., 2003). Os depósitos da fase II são

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

87

correlacionados com os depósitos, possivelmente de leques aluviais, do episódio 4 do

Terciário de Trás-os-Montes cuja idade pode estar próxima da transição Gelasiano-

Pleistocénico (Pereira et al., 2000).

3.2.7.2 Pleistocénico

O início do Quaternário foi, no passado, considerado coincidente com o início da

regressão pós-pliocénica e dividido em Quaternário antigo (Qa), correspondente ao

Pleistocénico inferior, e em Quaternário moderno (Qm), que abrangeria o

Pleistocénico médio e superior (Teixeira, 1979). A última actualização da Tabela

Estratigráfica da responsabilidade da International Comission on Stratigraphy, indica o

Quaternário como o conjunto do Gelasiano, Pleistocénico e Holocénico, com base a

2.588 Ma.

A representação cartográfica do Quaternário era, no passadso, baseada na

altitude dos terraços, tendo-se definido quatro níveis de terraços, em função da “sua

altura acima do nível do rio na estiagem”: Q4 (8-15m), Q3 (25-40m), Q2 (50-65m) e Q1

(75-95m). Aos depósitos de praias antigas aplicou-se um sistema análogo (Daveau,

1993). Nestes, a altitude do topo dos depósitos relacionava-se com um determinado

nível do mar, aquando das variações eustáticas no decorrer das oscilações climáticas

durante o Pleistocénico. Em algumas cartas geológicas à escala 1:50 000 modificaram-

se as altitudes de referência e subdividem-se certos terraços, sem nunca explicar o

significado científico das alterações introduzidas (Daveau, 1993).

Actualmente, os depósitos de terraço que foram sendo abandonados a diferentes

altitudes à medida que ocorreu o encaixe do rio Douro, encontram-se fora do alcance

da sua acção e existem em vários locais na forma de pequenos afloramentos, quer na

margem esquerda quer na margem direita.

3.2.7.3 Holocénico

Os depósitos fluviais atribuídos ao Holocénico correspondem a aluviões, depósitos

de vertente, a areias e cascalheiras fluviais, bem como depósitos areno-argilosos de

inundação. Deste conjunto, destacam-se os depósitos de vertente gerados nos relevos

residuais e cristas quartzíticas. Os depósitos de inundação, raros mas de grande

significado, ainda se encontram em pequenos afloramentos em Vila Nova de Gaia,

muito antropizados, em Peso da Régua e Pocinho, aqui menos afectados pela

ocupação humana (Aires et al., 2000a). As areias e cascalheiras preenchem em

alguns locais o leito do rio e são por vezes dragados e explorados comercialmente.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

88

3.3 Granitóides

Nas cartas geológicas à escala 1/50 000 mais antigas fazia-se uma descrição

exaustiva das características petrográficas e mineralógicas dos granitos (Medeiros,

1964; Teixeira et al., 1967; Teixeira et al., 1969). No entanto, com o aparecimento de

novos métodos de estudo, nomeadamente geoquímicos e isotópicos é possível ir para

além dessa descrição e propor modelos explicativos detalhados para a sua génese.

A instalação dos granitóides que afloram no vale do rio Douro está

maioritariamente associada à orogenia varisca, nomeadamente à terceira fase de

deformação dúctil, tendo ocorrido grande parte do plutonismo durante e após a 3ª

fase de deformação (D3). O facto mais marcante na distribuição geográfica das

principais fácies graníticas da Península Ibérica é a sua concentração segundo zonas

de cisalhamento dúctil, como é o caso do cisalhamento do Sulco Carbonífero Dúrico-

Beirão (SCDB) e do cisalhamento Vigo-Régua e de zonas de falha, como a falha

Régua-Verin (Ferreira et al., 1987) (Figura 55). Trata-se de plutonismo granítico, por

vezes associado a rochas de composição básica e intermédia, definindo alinhamentos

em estreita relação com zonas de cisalhamento (Ferreira et al., 1987).

Os granitóides existentes ao longo do vale do rio Douro, enquadram-se na Zona

Centro Ibérica, onde ocorre um importante volume de granitóides, instalados na

etapa pós-colisional da orogenia Hercínica (sin a pós-D3, a última fase de deformação

dúctil) e caracterizam-se por uma forte variabilidade composicional e tipológica (Dias,

2001). A caracterização dos reservatórios envolvidos na génese destes granitóides é de

significativo interesse na reconstrução geodinâmica da Cadeia Hercínica Ibérica,

fornecendo o estudo isotópico destes granitóides importantes indicações

relativamente ao papel da reciclagem crustal e dos processos de acreção (Dias,

2001). Instalaram-se granitóides que se enquadram no grupo dos granitóides sin-D3

(320-310 Ma), tardi- D3 (310-305 Ma) e dos granitóides tardi a pós-D3 (300 Ma). Nos

primeiros predominam leucogranitos de duas micas fortemente peraluminosos e

monzogranitos/granodioritos biotíticos fraca a moderadamente peraluminosos, nos

segundos monzogranitos/granodioritos essencialmente biotíticos, fraca a

moderadamente peraluminosos, por vezes associados a rochas de decomposição

básica a intermédia e nos terceiros leucogranitos de duas micas fortemente

peraluminosos (Ferreira et al., 1987; Dias et al., 1998). Os granodioritos e os

monzogranitos biotíticos são as rochas graníticas mais abundantes na ZCI, por vezes

associados a encraves microgranulares máficos e a rochas de composição básica a

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

89

intermédia (Dias, 2001; Dias et al., 2002). Os granitos biotíticos tardi-F3, são porfiróides

de grão muito grosseiro e distribuem-se em largas faixas lateralmente aos

cisalhamentos correspondentes aos sulcos Carbonífero Dúrico-Beirão e Vigo-Régua

(Ferreira et al., 1987). Os granitóides biotíticos tardi a pós-F3 constituem uma série

intrusiva na anterior, ocupando a parte mais interna entre as zonas de cisalhamento

mais importantes como as do SCDB e de Vigo-Régua (Ferreira et al., 1987).

Figura 55 - Distribuição dos granitóides Hercínicos sin a pós-tectónicos da Zona Centro Ibérica, Norte de Portugal (Ferreira et al., 1987 modificado). A- Cisalhamento do SCDB; B- Cisalhamento

Vigo-Régua; C-Cisalhamento Moncorvo-Bemposta; D- Cisalhamento Traguntia-Penalva do Castelo; I- Falha Gerês-Lovios; II- Falha Régua-Verin; III- Falha da Vilariça; D3- Última fase de

deformação dúctil.

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

90

3.4 Modelo evolutivo no contexto dos Ciclos Varisco e Alpino

3.4.1 Deposição e evolução do Grupo do Douro

Os trabalhos que na década de oitenta se realizaram sobre o Grupo do Douro

sugerem um ambiente deposicional de fácies turbidítica (Sousa, 1982, 1985; Sousa &

Sequeira, 1989). As sequências encontradas e as associações de fácies existentes,

conduzem à atribuição de ambientes deposicionais equivalentes a um “fan”

submarino (Sousa, 1985, Sousa & Sequeira, 1989). Os afloramentos de idade câmbrica,

com características de plataforma continental, do norte e centro da Península Ibérica

definem uma região onde se poderia localizar a plataforma e o talude que limitariam

o “fan” submarino e cujos sedimentos constituiriam os equivalentes laterais do CXG

(Sousa, 1985). Posteriormente, surgiu a possibilidade do Grupo do Douro ter-se

depositado segundo um modelo de bacia sedimentar do tipo aulacógeno (Ribeiro et

al., 1991) estruturada num fosso marinho intracontinental correspondente à Zona

Centro-Ibérica, enquadrado por duas plataformas carbonatadas equivalentes à Zona

Cantábrica e à Zona de Ossa-Morena. O fosso maior englobaria vários fossos

circunscritos onde se terão depositado diferentes conjuntos de unidades

litostratigráficas, um deles conferindo individualidade ao Grupo do Douro (Sequeira &

Pereira, 2000). Esta unidade também foi relacionada com o preenchimento de uma

bacia tipo “foreland” (Oliveira et al., 1992a). Mais tarde, com base em propriedades

geofísicas, dado a impossibilidade de identificar grandes acidentes a nível do soco

precâmbrico apenas com critérios geológicos, devido à quase ausência de

afloramento câmbricos na Zona Centro-Ibérica, foram definidos dois planos de

anisotropia principais (falha Porto-Viseu-Guarda e Mondim-Murça-Moncorvo) que

separam três tipos diferentes de soco (Coke et al., 2000). Segundo este modelo, a

bacia em que se depositou o Grupo do Douro terá sido o resultado de um half-graben

associado ao abatimento do bloco situado a nordeste da falha Porto-Viseu-Guarda, o

qual integraria o rift intracontinental. Assim, no bordo mais a SW, existiria uma

discordância de alto ângulo entre os metassedimentos e o soco, enquanto que a NE,

a discordância seria de baixo ângulo, com ligeiro declive para SW. Esta situação

poderia ter despoletado instabilidades gravíticas que originaram cavalgamentos

(cavalgamento da Senhora do Viso), cujo carácter sinsedimentar é apoiado pela

ocorrência de frequentes slumps na Formação da Desejosa (Coke et al., 2000). Outros

autores (Sousa, 1985; Silva & Ribeiro, 1985; Sousa & Sequeira, 1989) atribuem a

ocorrência do carreamento sinsedimentar da Senhora do Viso à fase de deformação

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

91

sarda, que terá provocado instabilidade na bacia. Este carreamento conduziu à

duplicação do Grupo do Douro, existindo uma equivalência lateral entre a Formação

de Ervedosa e Formação do Pinhão e entre a Formação de Bateiras e a Formação do

Rio Pinhão. A fase Sarda, curto episódio compressivo anteordovícico da orogenia

Caledónica, teve início no final da sedimentação da Formação de Desejosa.

Esta inversão tectónica estará provavelmente relacionada com fenómenos de

reajuste isostático e terá provocado o rejogo dos acidentes que afectavam o soco,

induzindo a formação de dobras. A deformação foi heterogénea, existindo regiões

com discordâncias angulares de alto ângulo e outras regiões com desconformidades.

A existência de discordâncias implica a ocorrência de um período erosivo, que terá

originado a sequência conglomerática (F. S. Domingos e F. Quinta da Ventosa), que

em muitos locais se sobrepõe à Formação de Desejosa (Coke et al., 2000). Na base

deste nível de conglomerados foram descobertos calhaus da Formação de Desejosa,

o que indica que este processo de inversão tectónica estaria já a afectar uma

sequência litificada (Coke et al., 2000). Terminada a fase sarda, ocorre um episódio de

vulcanismo ácido, que originou uma espessa cobertura de material tufítico, cujos

canais alimentadores se encontrariam nas proximidades das falhas que limitavam o rift

intracontinental (Coke et al., 2000).

3.4.2 A bacia no Paleozóico inferior

O espaço temporal correspondente ao Paleozóico inferior é caracterizado por um

regime transgressivo da sedimentação, com ambientes deposicionais de baixa

energia no Ordovícico médio a superior que conduziu à sedimentação de materiais

finos pelágicos (xistos ardosíferos) (Pereira & Ribeiro, 1992). Como consequência do

paleorelevo herdado da fase sarda associado ao jogo de falhas activas, a

sedimentação inicial, no Tremadociano, teve variações locais importantes, desde a

passagem gradual dos sedimentos do CXG, subjacente, até ao desenvolvimento de

leques aluviais, fluvio-marinhos ou submarinos, e mesmo mistura de materiais

vulcânicos provenientes do vulcanismo associado às falhas activas que bordejavam a

bacia sedimentar (Oliveira et al., 1992a). A partir do Arenigiano deu-se a colmatação

da bacia, tendo a deposição ocorrido em ambiente litoral marinho, passando esta a

estar principalmente dependente das variações eustáticas do nível do mar. A

sedimentação ocorreu portanto em águas pouco profundas (Meireles, 2000). Supõe-se

a existência desde o Arenigiano de uma área emersa no bordo sul da bacia e o

aparecimento durante o Landeiliano de uma outra área emersa a nordeste, sugerida

pela ocorrência de abundantes depósitos de óxidos de ferro na Formação Xistenta em

Trás-os-Montes (Meireles, 2000). Durante o Landeiliano o ambiente deposicional é de

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

92

baixa energia (Meireles, 2000). No Caradociano, parte do bordo norte da bacia

estava emersa enquanto no bordo sul continuava a sedimentação na plataforma

litoral. No final do Caradociano e início do Ashgiliano ocorreu vulcanismo

predominantemente básico em ambos os bordos da bacia. No Ashgiliano ocorreu

importante alteração nas condições de sedimentação, em parte devido à glaciação

ocorrida no final do Ordovícico (Oliveira et al., 1992a). Esta glaciação conduziu à

deposição de materiais glaciogénicos e correspondem a uma brusca regressão que

assinala o final do Ordovícico ou a transição Ordovícico-Silúrico (Pereira & Ribeiro,

1992).

No Silúrico tudo aponta para a existência de uma bacia confinada entre os

terrenos da ZOM, a oeste do Porto e os terrenos a NE de Trás-os-Montes (Pereira &

Ribeiro, 1992). No Silúrico inferior (Landoveriano, Venloquiano inferior), as condições de

sedimentação eram predominantemente euxínicas, tendo ocorrido no bordo norte

episódios distensivos que provocaram vulcanismo predominantemente ácido e alguns

carbonatos locais. A partir do Venloquiano médio passou-se novamente para

condições de deposição em mar aberto, com desenvolvimento gradual de

sedimentação terrígena, sucessivamente mais clástica (arenitos), mas sempre em

condições litorais, em ambientes pouco profundos (Oliveira et al., 1992a). Segundo os

mesmos autores, a partir do Silúrico superior, passaram a vigorar condições de

sedimentação de mar aberto, provavelmente induzidas pela aceleração da distensão

crustal. A génese do oceano silúrico (Paleo- Tethys) tem início com a formação de um

rift oceânico, por adelgaçamento da crusta continental devido aos episódios

distensivos que ocorreram neste período.

3.4.3 A tectónica varisca

No início do Devónico, estaria já consumada a abertura do oceano varisco

(Paleo-Tethys), que teria atingido expansão máxima no Devónico inferior. A partir do

Devónico médio, inicia-se um regime compressivo induzido pela actuação da fase D1

da orogenia varisca, que provocou o fecho do oceano varisco por colisão das placas

Laurentia-Báltica, Armórica e Gondwana. Este processo inicia-se com a delaminação

da crusta oceânica, verificando-se simultaneamente subducção e obducção da

placa oceânica no sentido E-W, seguida de colisão entre os dois continentes limítrofes

do oceano. O resultado é um empilhamento de mantos do topo para a base:

unidade proveniente do bordo adelgaçado do continente situado a oeste; unidade

correspondente ao complexo ofiolítico; unidade correspondente ao complexo

sedimentar e vulcânico que constitui o bordo do continente situado a leste (Pereira,

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

93

1988). No Devónico superior o fecho do ramo norte do oceano varisco já estaria

consumado e os blocos continentais envolvidos soldados. No contexto geodinâmico

do fecho do oceano varisco ocorreu a instalação de granitóides. O ramo subductado

originou granitóides que se hibridizam ao atravessar a crusta no período distensivo

ocorrido entre as fases D2 e D3 variscas. O calor desenvolvido induziu a fusão de

granitóides pré-existentes e de materiais crustais (Pereira, 1988).

3.4.4 A génese e evolução da Bacia Carbonífera do Douro (BCD) e a

instalação de granitóides sin D3

Durante o ciclo varisco, a actividade do Sulco Carbonífero Dúrico-Beirão (SCDB),

que delimita a SW o flanco inverso do Anticlinal de Valongo, foi particularmente

importante, controlando a abertura e sedimentação de várias bacias sedimentares

continentais intramontanhosas durante o Carbonífero, tendo a BCD sido a última a

formar-se, já durante o Estefaniano C inferior (Wagner & Sousa, 1983; Jesus, 2003). Em

Jesus (2003) encontra-se descrita de uma forma sintética um modelo bastante

complexo da evolução sedimentar e tectónica da BCD que de seguida se faz

referência. De acordo com este autor, a BCD encontrava-se controlada por falhas

inversas cuja actividade tectónica era superior na margem NE relativamente à

margem SW. O tipo de bacia formada corresponde a uma bacia do tipo foreland,

cuja subsidência teve início em D1 e terá continuado em D3 varisca. O substrato da

BCD adquire uma configuração transversal assimétrica devido à maior velocidade de

subsidência no sector a NE que a SW, encontrando-se este último em levantamento. O

produto sedimentar resultante deste período tectónico activo nas duas margens são

as brechas de base que forram o substrato da BCD e para as quais é proposto um

modelo deposicional de leques aluviais constituídos por sedimentos do tipo debris flow,

estruturados nas margens da bacia. Segue-se uma acalmia tectónica que conduziu a

uma diminuição da energia nos meios sedimentares que passam a meios palustres e

lacustres. Posteriormente, inicia-se a implantação dos granitóides tardi a pós-D3, que

conjugada com o basculamento e incremento da subsidência da BCD, conduz

incarbonização dos depósitos orgânicos. O aumento da energia nos meios

sedimentares, relacionada com a reactivação tectónica inerente à granitização,

provocou a instalação de sistemas fluviais entraçados que passam lateral e

verticalmente para sistemas palustres. Com a diminuição da energia nos meios

sedimentares, relacionada provavelmente com uma nova acalmia tectónica, o meio

passa a ser dominado por ambientes lacustres. Com a continuação da instalação dos

granitóides variscos pós-fase D3, aumenta o grau de incarbonização dos carvões da

BCD e o basculamento da bacia, com mergulho da inclinação de SW para NE. Depois

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

94

da instalação dos granitóides pós-fase D3 e consequente conclusão da

incarbonização da BCD, ocorre a sua escamização. A fase D4 varisca, que actuou

após a formação e a consolidação das rochas sedimentares da BCD, simultânea com

o processo de escamização, provocou nas litologias mais frágeis, principalmente no

carvão, microdobramentos.

Durante a fase de deformação D3 da orogenia varisca instalou-se um importante

volume de granitóides na ZCI. Instalaram-se leucogranitos de duas micas (320-300 Ma),

aluminopotássicos, fortemente peraluminosos e monzogranitos/granodioritos

essencialmente biotíticos (320-305 Ma), moderadamente peraluminosos,

aluminopotássicos, para os quais se admite uma origem puramente crustal ou

essencialmente crustal (Dias, 2001). Assim, para os leucogranitos de duas micas

admite-se uma origem por fusão parcial de rochas predominantemente metapelíticas

a diferentes níveis crustais (crusta média e inferior) e para os

monzogranitos/granodioritos biotíticos é proposta uma origem por fusão parcial de

materiais metassedimentares (metagrauvaques) e/ou metaígneos félsicos da crusta

inferior (Dias, 2001). No período compreendido entre 320-305 Ma, para além da

formação de monzogranitos/granodioritos biotíticos formaram-se também granitóides

híbridos, resultantes de um processo petrogenético complexo, envolvendo

cristalização fraccionada e hibridação entre magmas crustais e mantélicos

(equivalentes às rochas gabróicas aflorantes) (Dias, 2001; Dias et al., 2002). A

ocorrência significativa destes granitóides híbridos do tipo monzogranitos/granodioritos

biotíticos calcoalcalinos e monzoníticos, que têm grande quantidade de encraves

microgranulares máficos e que se encontram associados a corpos de composição

básica a intermédia, indicam que os processos de reciclagem crustal foram

acompanhados por importante episódio de acreção crustal (Dias, 2001; Dias et al.,

2002).

3.4.5 A evolução Meso-Cenozóica

Ao longo do Mesozóico o Maciço Hespérico foi sujeito a uma forte erosão,

predominando um clima quente e seco durante o Triássico e quente e húmido durante

o Jurássico e o Cretácico. Durante o Cenozóico, o norte de Portugal continuou a ser

sujeito a processos predominantemente erosivos, relacionados com uma tendência

dominante de soerguimento (Pereira et al., 2000). Os episódios sedimentares

cenozóicos do norte de Portugal foram principalmente controlados pela tectónica,

mas nos últimos tempos (Placenciano-Quaternário) também pelo eustatismo (Pereira

et al., 2000). Na região do Porto, os depósitos cenozóicos pré-quaternários

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

95

depositaram-se em duas fases, provavelmente separadas por um importante evento

tectónico e climático (Araújo, 2000; Araújo et al., 2003). Os depósitos da fase I ter-se-

iam depositado num contexto de planície litoral, por cursos de água de baixa energia

(Araújo, 1997, 2000; Araújo et al., 2003). Os afloramentos situados a leste do relevo

marginal parecem ligados a uma drenagem fluvial com um traçado semelhante ao

do Douro actual (Pereira et al., 2000). Próximo do limite Plio-Plistocénico, as condições

climáticas e principalmente morfotectónicas favoreceram a génese de corpos do tipo

leque aluvial a partir quer de relevos residuais quer no contexto de depressões

tectónicas (Pereira, 1997, 1999a, 1999b). A modificação das condições climáticas no

fim do Pliocénico (Gelasiano), no sentido de maior aridez e frio, bem como a

ocorrência de uma nova fase tectónica intensamente compressiva segundo WNW-

ESSE, devem ter conduzido ao desenvolvimento de leques aluviais na periferia de

alguns relevos em soerguimento ou já salientes (Pereira, 1999a, 1999b; Pereira et al.,

2000). Nesta fase de deposição devido às características torrenciais, originaram-se os

depósitos da fase II na plataforma litoral do Porto, com elementos de grande calibre

(Araújo, 2000; Araújo et al., 2003). A actividade tectónica poderá ter condicionado o

levantamento do relevo marginal, que constituiria a origem dos depósitos da fase II

que posteriormente formaram depósitos do tipo leques aluviais, na proximidade do

relevo marginal a leste do Porto (Araújo, 2000; Araújo et al., 2003). A melhor calibração

dos materiais no topo dos depósitos do tipo leque aluvial da fase II poderão

corresponder ao início de uma drenagem regularizada (Araújo, 1997, 2000; Araújo et

al., 2003). Estes depósitos têm sido relacionados quer com uma ruptura tectónica

conhecida por Ibero-Manchega II, com aproximadamente 2 Ma, quer com condições

de clima mais frias e secas que contrastam com as condições quentes e húmidas

precedentes (Pereira, 1997). No sector de Trás-os-Montes e do Alto Douro, dominaram

os processos erosivos durante este período de tempo e a evacuação de grande parte

dos sedimentos resultantes para leste, em direcção à Bacia Terciária do Douro (BTD)

(Pereira, 1997). No entanto, em algumas etapas foram criadas condições

morfológicas, fundamentalmente devido à actividade tectónica, que permitiram a

deposição de sedimentos nesta região. Com os primeiros episódios de arrefecimento

(2.5 Ma), terá ocorrido uma erosão remontante, a partir de uma drenagem limitada à

franja atlântica (Pereira, 1997, 1999b). Até ao Plistocénico ter-se-á chegado à captura

progressiva pelo Douro dos sectores mais interiores do norte de Portugal e

posteriormente do sector correspondente à Bacia Terciária do Douro, no interior da

Península (Pereira et al., 2000). Assim, é admissível que no Pliocénico um pré-Douro terá

capturarado sucessivamente, anteriores drenagens endorreicas (Pereira et al., 2000).

Com o início do Pleistocénico, há cerca de 1.8 Ma, registou-se um novo arrefecimento

acentuado do clima, ocorrendo a partir daí uma alternância de períodos glaciares

Eugénia Araújo Cap.III - Geologia do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

96

com períodos interglaciares menos frios. Durante os períodos glaciares as massas de

gelo continentais expandiram-se e nas zonas montanhosas acumularam-se massas de

gelo. As regiões que se encontravam no limite dos glaciares, designadas de

periglaciares, apresentavam condições de frio e aridez acentuada. Estas oscilações

parecem estar marcadas nos vales minhotos, onde estão registados quatro ciclos

principais de gliptogénese/sedimentogénese quaternária que sucedem aos vestígios

da sedimentação pliocénica e que conduziram ao seu encaixe sucessivo (Alves &

Pereira, 2000; Pereira et al., 2000). Estes aspectos não são observáveis no Douro em

território nacional, devido ao forte encaixe fluvial. O rio Douro, nos sucessivos

embutimentos da sua rede hidrográfica, evacuou as aluviões, entretanto acumulados,

pelo que se observa um limitado registo sedimentar associado ao seu encaixe,

restando somente pequenos retalhos, em geral situados em apertadas curvaturas,

controladas por alinhamentos tectónicos (Pereira et al., 2000). A partir do máximo de

frio da última glaciação (!20 000 anos), verifica-se um lento e progressivo

aquecimento, que possibilitou o desenvolvimento de florestas e que atinge condições

de clima semelhantes ao actual à cerca de 10 000 anos (Holocénico). No Holocénico

inferior o clima e a vegetação não favoreciam a erosão, no entanto a partir do

Neolítico médio (Holocénico superior), com a introdução do factor antrópico, os

processos erosivos vão conhecer uma nova dinâmica, em que o Homem tem uma

influência crescente e decisiva no desencadeamento e intensificação da erosão

(Cordeiro, 1990). A acção antrópica pode ser dividida em dois momentos distintos: o

primeiro é caracterizado pela conquista de espaços para a prática da pastorícia; o

segundo momento e no segundo momento, que se desenrola provavelmente desde a

instalação romana, é caracterizado por uma acção antrópica mais evidente,

causando a modificação quase completa da paisagem natural holocénica (Cordeiro,

1990).

Os depósitos holocénicos conservam indicadores sobre a recente transformação

global, como as variações climáticas, as variações do nível do mar, dos limites dos

ecossistemas não marinhos e dos processos antrópicos (Granja, 1993). O Homem, na

sua evolução, induziu impactes negativos nos seu próprio ambiente ao dispor de maior

capacidade de exploração dos recursos naturais do planeta (Granja, 1993). Existe

uma relação dialéctica entre homem e meio, na medida em que o homem é um

agente que directa ou indirectamente transforma o espaço, no contexto das

actividades que realiza quotidianamente, por outro lado o homem também é

profundamente influenciado pelo meio (Bettencourt et al., 2003).

Capítulo IV

Recursos Minerais e Energéticos

do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

98

4.1 Introdução

O abandono quase generalizado da exploração mineira em Portugal e em

especial na região do Vale do Douro, conduz à perda gradual de um património

colectivo importante que urge manter. Contudo, no caso dos recursos energéticos e

termais, o seu interesse sócio-económico é actual. No sector em estudo assume

grande importância o distrito mineiro Dúrico-Beirão, onde foram importantes as

explorações mineiras com as associações paragenéticas de Sb-Au, Au-As, Pb-Zn (Ag)

e Sn-W (Couto, 1993, 1995, 1997; Couto et al., 2000). O distrito mineiro Dúrico-Beirão

localiza-se nas proximidades do Porto, estendendo-se por uma faixa de cerca de 90

Km, com orinetação NW-SE, desde Esposende até próximo de Castro Daire (Couto,

1995; Couto & Dias, 1998). Para além da exploração mineira de metais foi ainda

importante a exploração de carvão. Na actualidade, a actividade mineira é

inexistente, mas ocorre o aproveitamento dos recursos hídricos na produção de

electricidade, através das barragens construídas ao longo do troço do rio e dos

recursos hidrotermais, tendo sido construídas estâncias balneares a que a população

recorre para tratamentos variados que são aconselhados para alguns problemas de

saúde.

4.2 Recursos minerais

4.2.1 Ouro

Nas proximidades do Porto, o distrito auri-antimonífero é constituído por mais de

uma dezena de jazigos, explorados desde a época da ocupação romana até ao

início do nosso século (Couto, 1995, 1997). As mineralizações exploradas pelos romanos

foram essencialmente as do tipo Au-As. Dos trabalhos mais antigos, que geralmente

não ultrapassam os 100 m de profundidade, destacam-se os fojos, que correspondem

a cavidades estreitas e profundas para efectuar o desmonte dos filões auríferos na

época da ocupação romana, os poços e as galerias (Couto & Dias, 1998; Couto et al.,

2000). As mineralizações auri-antimoníferas (Sb-Au) ocorrem preferencialmente no

flanco oeste do Anticlinal de Valongo em formações do Precâmbrico e/ou Câmbrico

(?) e em formações do Carbonífero (Couto, 1995, 1997). A maior parte dos jazigos

auríferos (Au-As) localizam-se no flanco normal do Anticlinal de Valongo e ocorrem em

formações do Arenigiano, mais precisamente na zona das alternâncias de pelitos e

arenitos(Couto et al., 2003), onde foram identificadas camadas negras (Combes et al.,

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

99

1992) e níveis de origem vulcano-sedimentar (Couto, 1993) (Figura 56).

Figura 56 – Localização das minas (modificado depois de Couto et al., 1990 in Combes et al., 1992).

Das minas localizadas a oeste do Anticlinal de Valongo, de onde se procedeu à

extracção de antimónio e ouro, salientam-se as mais importantes: Montalto, Corgo,

Ribeira, Tapada, dos Pinheirinhos, Alto do Sobrido, etc. A exploração destes jazigos

atingiu o seu auge entre 1870 e 1890, tendo cessado por completo a sua actividade

em 1971 (Couto & Dias, 1998; Couto et al., 2000). A produção global foi

aproximadamente 12 000 t de antimónio com cerca de 2t de ouro (Couto, 1995, 1997).

Tendo sido definidas duas fases principais de deformação, uma anterior e outra

posterior ao Estefaniano C inferior, as mineralizações são posteriores à última

deformação, tendo-se os filões instalado em fracturas de tracção ou de corte geradas

durante esta fase ou em fracturas mais antigas geradas durante a deformação ante-

Estefaniana, que rejogaram durante a deformação pós-Estefaniana (Couto, 1995,

1997; Couto et al., 2000).

Das minas situadas em formações do Ordovícico é de referir a mina das Banjas.

Nesta mina, as mineralizações estão principalmente associadas às camadas negras

com veios de quartzo interestratificados, que ocorrem em anticlinais relacionados com

a 1ª fase da orogenia hercínica (Combes et al., 1992; Couto, 1993). Nestas, o ouro está

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

100

concentrado em veios de quartzo associado a arsenopirite de baixa temperatura, não

relacionada com os processos hidrotermais que geraram os filões, tendo possivelmente

uma origem vulcânica e/ou metamórfica(Couto et al., 2003a, 2003b). A relação entre

as mineralizações e as alternâncias do Arenigiano poderá ter sido condicionada por

alguns factores, nomeadamente (Couto et al., 2003b): a sequência das alternâncias

do Arenigiano apresenta uma heterogeneidade litológica que pode facilitar a

fracturação frágil, dado que os contactos entre camadas mais e menos competentes

constituem planos de fraqueza, possibilitando a drenagem de fluidos para zonas mais

fracturadas e mais permeáveis; reacção topoquímica entre os fluidos mineralizantes e

a sequência de alternâncias do Arenigiano, nomeadamente as camadas negras e

sulfuretos disseminados (pirite e arsenopirite); existência de pré-concentrações em Au,

Sb e As nas alternâncias do Arenigiano do Anticlinal de Valongo. As camadas negras

com intercalações de veios de quartzo aurífero, apresentam evidências de uma

origem detrítica (Couto, 1993; Couto et al., 2003a). No entanto, admite-se que uma

pequena quantidade de ouro tenha sido depositado por processos químicos ou

bioquímicos (Couto et al., 2003b).

4.2.2 Termas

As nascentes termominerais estão, frequentemente, relacionadas com sistemas

hidrogeológicos condicionados pelas condições tectónicas e morfoestruturais

(Marques et al., 2003). No sector em estudo existem alguns locais com ocorrências

termoninerais, cujo aproveitamento e exploração contribuem para o desenvolvimento

sócio-económico da região. São de referir as estâncias termais da Quinta da Torre, em

Entre-os Rios (www.inatel.pt, 2004), Caldas de Aregos e Caldas de Moledo (Figura 57).

De acordo com a sua composição iónica, tratam-se de águas sulfúreas

(www.igm.ineti.pt, 2004).

A estância termal de Quinta da Torre localiza-se a norte de Entre-os-Rios, próximo

da confluência do rio Tâmega com o rio Douro, junto da estrada de Penafiel. Em

termos litológicos enquadra-se numa região dominada por granito porfiróide de grão

fino. As suas águas são bicarbonatadas sódicas sulfúreas e são indicadas para o

tratamento de doenças do sistema respiratório, reumáticas e músculo-esqueléticas

(www.igm.ineti.pt, 2004; www.inatel.pt, 2004).

As termas de Caldas de Aregos localizam-se no concelho de Resende, junto da

povoação de Aregos, na margem sul do rio Douro. O fluxo hidrotermal superficial

ocorre ao longo de fracturas e diaclases do granito porfiróide de grão fino que aflora

na região. A temperatura da água é de 61ºC.

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

101

Figura 57 - Localização das termas de Entre-os-Rios, Caldas de Aregos e Caldas de Moledo (modificado de www.igm.ineti.pt, 2004).

A primeira referência às águas termais de Aregos surgiu na Idade Média.

Posteriormente, no século XII, a rainha D. Mafalda mandou construir no local uma

albergaria que terá constituído a primeira estância termal de Aregos

(www.termasdeportugal.pt, 2004; www.geocities.com/caldas_de_aregos, 2004). O seu

funcionamento foi interrompido devido a falta de condições resultantes da inundação

dos balneários aquando das cheias do Douro de 1962 e 1966 e da construção da

barragem do Carrapatelo. No início da década de 90, foi construído um novo

balneário que deu continuidade à exploração do recurso hidrotermal em Aregos. As

suas águas são, tal como as anteriores, bicarbonatadas sódicas sulfúreas e indicadas

para o tratamento de doenças do aparelho respiratório, reumáticas e músculo-

esqueléticas (www.igm.ineti.pt, 2004).

As termas de Caldas de Moledo, ficam situadas na freguesia de Fontelas, a 4 Km

da cidade de Peso da Régua, na estrada para o Porto, na margem norte do rio Douro

(www.cm-pesoregua.pt, 2004). As suas águas sulfúreas bicarbonatadas sódicas,

emergindo a temperaturas entre 46ºC e 35ºC, estão indicadas para o tratamento de

doenças do aparelho respiratório, da pele, reumáticas e músculo-esqueléticas

(www.igm.ineti.pt, 2004; Marques et al., 2001). A localização das emergências minerais

está fortemente relacionada com as características geológicas da área de descarga

do sistema hidromineral (Marques et al. 2001). A geomorfologia da região é dominada

pelo forte encaixe do vale do rio Douro, que em Peso da Régua se torna mais amplo,

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

102

enquadrado a norte pela serra do Marão e a sul pela serra das Meadas (Marques et

al., 2003). Em termos litológicos, ocorrem fundamentalmente rochas

metassedimentares, de idade câmbrica inferior, pertencentes ao Grupo do Douro. Foi

também identificado um afloramento granítico, junto da localidade de Cidadelhe,

que não se encontra assinalado na cartografia geológica publicada. Ocorrem ainda

numerosos filões e massas aplitopegmatíticas instaladas em zonas de fractura dos

terrenos pertencentes ao Grupo do Douro. As principais estruturas tectónicas da região

são a falha Penacova-Régua-Verin, com a direcção NNE-SSW e a zona de

cisalhamento de Vigo-Régua. orientada segundo WNW-ESE. Salientam-se ainda as

fracturas com orientação NNE-SSW a NE-SW e as descontinuidades de orientação E-W,

paralelas à falha do Douro. O fluxo de água mineral é fortemente controlado pela

geomorfologia, pela tectónica e pelas litologias presentes, entre a zona de recarga e

a zona de descarga. No modelo de circulação proposto por Marques et al. (2003)

(Figura 58), o cisalhamento Vigo-Régua, tem um papel fundamental, sendo através

dele que deverá ocorrer a maior parte da recarga e fase inicial do fluxo hidromineral.

Figura 58 – Tentativa de conceptualização do modelo de fluxo do sistema hidromineral

de Caldas do Moledo (Marques et al., 2003).

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

103

A recarga menos significativa deverá ocorrer junto do vértice geodésico do Rojão. O

armazenamento profundo estará associado ao cisalhamento Vigo-Régua, à rocha

fracturada e ao ramo da falha Régua-Verin que intersecta o alinhamento estrutural

Vigo-Régua. A circulação hidromineral mais superficial nas zonas de recarga e

descarga ocorre, principalmente, através de rochas metassedimentares. No entanto,

estudos efectuados conduziram à hipótese de que a circulação profunda se possa

efectuar através das rochas graníticas subjacentes aos metassedimentos. Na zona de

descarga, o fluxo hidromineral depende fundamentalmente de estruturas paralelas à

falha de Régua-Verin e de forma menos significativa, de estruturas relacionadas com a

falha do Douro. Desta forma, a tectónica, desempenha um papel fundamental na

infiltração, na recarga, na circulação profunda e na ascensão da água mineral.

4.3 Recursos energéticos

4.3.1 Carvão

A extracção de carvão, que se enquadra no agrupamento das metantracites

(Sousa, 1973, 1978), ocorreu ao longo do Sulco Carbonífero Dúrico-Beirão, nos

afloramentos correspondentes à Bacia Carbonífera do Douro, destacando-se o Couto

Mineiro de S. Pedro da Cova e o Couto Mineiro do Pejão. Ao primeiro pertencem as

minas de S. Pedro da Cova, Midões, Gens, Covelo, etc. O couto mineiro do Pejão

estende-se desde Germunde, na margem esquerda do rio Douro, até Paraduça,

numa distância de cerca de 9 Km. Há notícias da descoberta do carvão em Ervedosa,

nos finais do séc.XVIII, tendo início a sua exploração regular em 1804, na região de S.

Pedro da Cova. A partir de 1957 as minas mais pequenas foram abandonadas e em

1972 o Couto Mineiro de S. Pedro da Cova suspendeu a lavra (Sousa, 1984a). No

Couto Mineiro do Pejão, a mina de Germunde, a última onde se procedeu à

exploração por lavra subterrânea, suspendeu a sua actividade em 1994, tendo-se

extraído anualmente cerca de 287 000 toneladas brutas de carvão, das quais

aproximadamente 215 000 toneladas comerciais (Jesus & Gaspar, 1997). As

escombreiras da mina do Pejão foram incluídas num projecto nacional de

recuperação de minas abandonadas que visa diminuir o seu impacte ambiental. A

suspensão da exploração do carvão conduziu a um agravamento da taxa de

desemprego da população, que na sua maioria dependia quase exclusivamente da

actividade mineira devido à ausência de actividades económicas alternativas na

região. Os carvões da BCD foram utilizados como combustível, em usos domésticos e

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

104

industriais, sobretudo durante as guerras mundiais (Sousa, 1984a). Desde 1960, a

principal utilização foi o abastecimento da Central Termoeléctrica da Tapada do

Outeiro, sendo alguma quantidade destinada às cimenteiras, para o fabrico de cal

hidráulica e de cimento, tendo sido também utilizado com sucesso como agente

redutor na indústria metalúrgica (Sousa, 1984a; Jesus & Gaspar, 1997).

4.3.2 Aproveitamentos hidroeléctricos

As características morfológicas do rio Douro, associadas ao regime do rio,

conferem-lhe uma feição excepcionalmente adequada ao aproveitamento

hidroeléctrico (Centro de Produção Douro, 1992). Ao longo do troço nacional e

internacional do rio Douro estão instalados oito aproveitamentos hidroeléctricos:

Miranda, Picote, Bemposta, Pocinho, Valeira, Régua, Carrapatelo e Crestuma-Lever.

No sector em estudo existem quatro barragens, nomeadamente a de Crestuma-Lever,

Carrapatelo e da Régua, localizadas no rio Douro, e a do Torrão localizada no rio

Tâmega, um dos seus principais afluentes (Figura 59).

Figura 59 – Localização das barragens de Crestuma, do Torrão, do Carrapatelo e da Régua (EDP, 1992).

A barragem de Crestuma-Lever, a última a ser construída no troço nacional do rio

Douro, entrou em funcionamento em 1986, a potência instalada é de 105 MW e

produção média anual de 399 GWh. É o aproveitamento hidroeléctrico situado mais a

jusante no troço nacional do rio Douro, a cerca de 13 Km da cidade do Porto. A água

da sua albufeira é utilizada para o abastecimento de água às cidades do Porto e de

Gaia. A sua capacidade total é de 110 milhões de metros cúbicos, sendo apenas de

16 milhões o volume utilizável em exploração normal. A barragem é do tipo móvel, o

Eugénia Araújo Cap.IV - Recursos Minerais e Energéticos do vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão

105

que significa que em situação de grandes cheias as comportas são elevadas acima

do nível das águas, ficando apenas os pilares a obstruir a corrente.

O aproveitamento hidroeléctrico de Carrapatelo foi o primeiro a ser construído no

troço nacional do rio Douro e localiza-se junto do lugar de Mourilhe, no concelho de

Cinfães, a cerca de 8 Km desta vila. Entrou em funcionamento em 1971, com a

potência instalada de 180 MW e uma produção média anual de 949 GWh. Dos

aproveitamentos hidroeléctricos do troço nacional é o que tem maior desnível, cerca

de 36 m. A sua albufeira tem uma extensão de 40 Km e uma capacidade total de 148

milhões de metros cúbicos, no entanto a sua capacidade útil é de apenas 16 milhões

de metros cúbicos.

O aproveitamento hidroeléctrico da Régua (Bagaúste) entrou em exploração no

ano 1973. A potência instalada é de 156 MW e a produção média anual de 738 GWh.

Localiza-se a montante da cidade de Peso da Régua, próximo da povoação de

Bagaúste. A albufeira estende-se por cerca de 43,5 Km e a sua capacidade total é de

95 milhões de metros cúbicos, sendo no entanto utilizados apenas 13 milhões em

exploração normal.

Os três aproveitamentos hidroeléctricos referidos estão equipados com eclusas de

navegação (Figura 60), não impedindo que o rio Douro deixasse de ser uma via de

comunicação e de transporte, e com eclusas de peixes do tipo “Borland”.

Figura 60 - Eclusa de navegação da barragem da Régua (Bagaúste).

A construção das barragens contribuiu para a melhoria das condições de

navegabilidade do rio Douro, tendo promovido o desenvolvimento das actividades

turísticas e de lazer, nomeadamente a prática de desportos náuticos, as regatas e os

cruzeiros e a criação de emprego, potenciando o desenvolvimento económico e

social das regiões onde se encontram.

Capítulo V

Cheias do rio Douro

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

108

As cheias do rio Douro, pela sua dimensão, efeitos e espectacularidade,

constituem um tema cuja abordagem se mostra pertinente. A sua ocorrência está

fortemente relacionada com a geomorfologia da Bacia e em particular com a forma

estreita e encaixada do vale. A referência às cheias é feita de uma forma sintética,

destacando-se as principais cheias, o seu período de retorno e a influência da

construção das barragens no controlo das cheias.

Na bacia hidrográfica do rio Douro, alguns locais sofrem frequentemente os efeitos

das cheias. As localidades mais afectadas são as que se localizam em zonas mais

baixas da bacia e que apresentam ocupação urbana. Destacam-se as cidades do

Porto, Vila Nova de Gaia e Peso da Régua. A cheia mais antiga de que há

conhecimento é a de 1526, mas em Espanha existem referências desde o ano de 1256

(Aires et al., 2000b). No Douro Internacional, o limnígrafo mais antigo é o de Bemposta,

que entrou em funcionamento em 1945, e no Douro Nacional é o da Régua, que

remonta a 1944 (Aires et al., 2000b). A maior cheia de que há registo foi a de 1727,

tendo atingido em Peso da Régua um caudal de 14000m3/s (Figura 61) e uma altura

de cerca de 20 m acima do nível de estiagem e no Porto uma altura de cerca de 4 m

acima do cais da Ribeira.

Figura 61 – Cheias históricas na Régua acima do limiar 10000m3/s com sobreposição das cheias no último decénio (Rodrigues et al., 2003).

Pode-se concluir que houveram anos sucessivos em que ocorreram cheias de grande

magnitude (1909 e 1910) (Figura 62) e longos períodos sem a ocorrência de cheias

dessa magnitude (por exemplo, de 1910 a 1962). Salienta-se também o facto que

desde 1989 não ocorrem cheias de magnitude igual ou superior a 10000 m3/s. Os

valores de ponta de cheia registados em Janeiro de 2003 (com cerca de 7400 m3/s)

foram inferiores quer aos da cheia de Janeiro de 2001 (com 8550 m3/s) (Figura 63), ou

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

109

mesmo Março de 2001 (com cerca de 7600 m3/s), que coincidiu com a queda da

Ponte Hintze Ribeiro, quer aos da cheia de 1996 (com cerca de 8900 m3/s).

Figura 62 - A cheia de 1909 no cais da Ribeira e em Miragaia, no Porto (Fotos de Alvão).

Figura 63 – Cheia de Janeiro de 2001 na Ribeira e em Gaia respectivamente

(Fotos de D. Pereira).

O carácter encaixado do rio Douro não promove a acumulação de sedimentos

em períodos de cheia, ocorrendo uma grande subida dos níveis da água e limitada

expressão lateral (Aires et al., 2000a). No entanto, em locais onde existem curvaturas

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

110

controladas por zonas de falha, a probabilidade de encontrar estes sedimentos é

maior (Aires et al., 2000a). O estudo destes depósitos revela-se importante na medida

em que é possível obter dados sobre cheias com largos períodos de retorno, das quais

não existe registo histórico (Pereira, 1999). Com base na totalidade dos registos

históricos das cheias obtidos entre 1727 e a actualidade foi possível calcular o período

de retorno das cheias, relacionando-o com a altura atingida pelas águas e com o

caudal escoado (Figura 64 e Tabela I).

Figura 64 – Altura das cheias do Douro no cais da Ribeira, a apartir de 1727; estimativa da altura atingida para cheias com período de retorno de 20 anos (Rt20), 50 anos (Rt50) e 100 anos

(Rt100) (Pereira, 1999).

Tabela I – Períodos de retorno associados a diferentes caudais de ponta de cheia na cidade de Peso da Régua (Rodrigues et al., 2003).

Caudal (m3/s) Período de retorno

(anos)

10500 10

12000 13

12625 14

13500 18

14125 22

15000 32

15625 45

16500 80

17125 125

18000 245

18625 390

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

111

O elevado valor das pontas de cheia atingidas no rio Douro em território português

deve-se à combinação de vários factores: intensidade de precipitação, forma da

bacia hidrográfica (pouco alongada em relação aos seus afluentes), inclinação do

leito do rio e dos seus afluentes e a constituição geológica da bacia (Aires et al.,

2000a, 2000b). De acordo com a classificação das cheias em função dos seus efeitos,

no Douro designam-se por extraordinárias as cheias que ultrapassam a cota dos + 6,00

m, medidos junto à ponte de D. Luis, na margem direita, por serem aquelas que

galgam o cais da ribeira (Aires et al., 2000b). Na cidade de Peso da Régua, são

consideradas cheias extraordinárias aquelas que inundam a Avenida João Franco, o

que implica uma subida do nível do rio de 13 m (caudal ! 6000 m3/s). As cheias

extraordinárias caracterizam-se por apresentarem um grande volume, rápida

propagação, grande elevação do nível das águas, curta duração de 2 a 3 dias, uma

vez que a descida do nível das águas é relativamente rápida (Aires et al., 2000b).

Segundo os mesmos autores, o regime hidrológico do rio Douro em território nacional é

do tipo pluvial oceânico, ocorrendo as cheias essencialmente no Inverno e as

estiagens no Verão(Figura 65).

Figura 65 – Distribuição mensal da ocorrência de cheias registadas entre 1526 e 1996 (Aires et al., 2000b).

As cheias no rio Douro são agora menos frequentes, tendo-se registado um aumento

do período de retorno para caudais entre os 4000 e os 8000 m3/s (Rodrigues et al.,

2003) (Figura 66). Assim, para caudais de 6000 m3/s ou superiores, que ocorriam em

média três vezes em cada dez anos, ocorrem agora duas vezes em cada dez anos.

Este aumento da recorrência deve-se ao incremento da capacidade de

armazenamento em Espanha, que deixa de ter influência a partir de períodos de

retorno entre os 10 e os 20 anos. As cheias com caudais superiores a 10000 m3/s

continuarão a decorrer com a recorrência anteriormente sentida.

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

112

Figura 66 – Aumento do período de retorno das cheias na Régua nos últimos 30 anos

(Rodrigues et al., 2003).

Aquelas condições reflectem o facto de as condições de escoamento do rio

Douro já não serem naturais, devido a intervenções humanas, como a construção de

barragens, que alteraram o seu perfil e consequentemente o regime fluvial (Figura 67,

Tabela II).

Figura 67 – Perfil do rio Douro. (Fonte: Centro de Produção Douro, 1992)

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

113

Tabela II – Armazenamento teórico disponível nas albufeiras do troço português e internacional do rio Douro (Rodrigues et al., 2003).

Albufeira Capacidade (hm3)

Miranda 28

Picote 63

Bemposta 130

Aldeadavila 115

Saucelle 169

Pocinho 83

Valeira 97

Régua 95

Carrapatelo 148

Crestuma 110

Total 1038

As últimas cheias de 27 de Dezembro de 2002 e de 3 de Janeiro de 2003 mobilizaram

volumes de escoamento de 2125 e 1767 hm3, respectivamente, o que significa que

para reter estes caudais teria de se proceder por duas vezes ao armazenamento, sem

tempo para recuperação, do dobro do que a capacidade teórica das albufeiras

anteriores permitem (Rodrigues et al., 2003). Assim, os dados vêm demonstrar que os

aproveitamentos a fio de água não são albufeiras de armazenamento e daí a sua

reduzida influência no controlo e na minimização das consequências das cheias no rio

Douro. O facto de existir um desnível muito reduzido entre montante e jusante durante

as cheias impede a produção de electricidade, por não haver praticamente altura de

queda para turbinamento (Figura 68).

Figura 68 – Cheia de 1978 na Barragem do Carrapatelo (caudal de ponta – 10170 m3/s). ( Foto extraída de “Aproveitamento Hidráulico do Douro”, EDP, 1986 in Rodrigues et al., 2003)

Eugénia Araújo Cap.V - Cheias do rio Douro

114

No território espanhol apenas as albufeiras de Almendra, no rio Tormes (afluente da

margem esquerda do troço internacional do rio Douro) e de Ricobayo, no rio Esla

(afluente da margem direita do rio Douro, próxima à fronteira de Miranda), possuem

albufeiras com capacidade para reter volumes significativos, com capacidades de

armazenamento de 2586 hm3 e de 1178 hm3 respectivamente. A capacidade de

armazenamento nos dois afluentes espanhóis é cerca de quatro vezes superior à

capacidade de armazenamento nos dez aproveitamentos a fio de água referidos

anteriormente (Tabela II).

Capítulo VI

Aplicação do conhecimento geológico ao turismo da região – proposta de guia geoturístico

Guia Geoturístico

do percurso fluvial Porto-Pinhão

Introdução

O vale do rio Douro proporciona aos seus visitantes paisagens magníficas onde se fundem os

aspectos culturais, históricos e geológicos. O que hoje observamos no vale do rio Douro resultou da

acção conjunta das suas gentes ao longo de gerações, da forma como povoaram e fizeram o

aproveitamento do solo, bem como das caracteríticas geológicas desta região, que influenciaram a

forma como a acção humana decorreu. É nesta região que é produzido o Vinho do Porto, onde a

geologia, entre outros factores naturais, contribui para a excelência deste vinho.

A geologia é a ciência que estuda a Terra e tem grande relevância nesta região, tendo um

papel essencial na beleza e atractividade turística da paisagem duriense. Do conjunto de temas ou

disciplinas que são tratadas no âmbito da Geologia, a Geomorfologia merece destaque nesta região,

pois estuda as formas de relevo e a sua interpretação.

Neste guia, ao longo do percurso fluvial Porto-Pinhão, são abordados os aspectos geológicos

mais importantes, relacionando-os sempre que possível com a história e cultura dos locais. Para uma

melhor compreensão e enquadramento desta região única e particular do Douro, a Geologia será

abordada num contexto mais amplo, em especial do Norte de Portugal. Faz-se referência à formação

das rochas que existem no vale do rio Douro e à sua evolução ao longo do tempo geológico.

Pretende-se que todos os visitantes compreendam o que estão a observar e ir além da mera

contemplação, suscitando-lhes um papel mais activo na interpretação da paisagem duriense, pois um

conhecimento mais profundo desta região, nomeadamente no âmbito da geologia, resultará

certamente numa maior satisfação. Conhecer a história geológica do vale do rio Douro é um desafio

mas de certeza que o vai surpreender!

Este guia está integrado num trabalho de tese de mestrado em Ciências do Ambiente,

efectuado no Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho e constitui o capítulo VI

desse trabalho. Assim, se pretender obter informação mais detalhada sobre os aspectos geológicos da

região, bem como sobre a temática do Património Geológico e do geoturismo, poderá consultar o

referido trabalho intitulado “Geoturismo: conceptualização, implementação e exemplo de aplicação

ao vale do rio Douro no sector Porto-Pinhão”.

121

Considerações iniciais - formato do guia (layout)

Os textos e informações que integram este guia resultam de um trabalho de pesquisa de campo

efectuado pelo autor e de um trabalho de pesquisa bibliográfica. Por uma questão de simplicidade e

facildade de leitura são em geral evitadas essas referências ao longo dotexto. No fim do guia existe

um glossário de alguns termos geológicos.

Tempo aproximado de duração

do percurso, a localidade e o

tema aí abordado.

Numeração dos pontos de interesse.

Áreas temáticas em que se

enquadra a informação que

será abordada em cada ponto

de interesse.

Percurso Porto-Pinhão, com

sinalização do local onde nos

encontramos.

Nos casos em que se justifica,

em alguns pontos de interesse

existirá no verso da página

informação adicional, que é

complementar da informação já

fornecida, onde se aprofundam,

alguns aspectos geológicos.

Espaço destinado para a

informação que será fornecida

em cada ponto de interesse.

123

O percurso fluvial que se irá efectuar é realizado no rio Douro, cuja bacia hidrográfica se

localiza na Península Ibérica, abrangendo por isso quer território português, quer território

espanhol (Figura 69). O trajecto será efectuado apenas em território português,

especificamente entre a cidade do Porto e a vila do Pinhão, numa extensão de cerca de

125,8 Km (Figura 70).

A bacia hidrográfica do rio Douro corta longitudinalmente a Península Ibérica com uma

orientação dominante Este-Oeste. A sua área é de 97603 Km2, sendo 78960 Km2 em

Espanha (80,9%) e os restantes 18643 Km2 (19,1%) em Portugal. A bacia hidrográfica do rio

Douro é a que possui maior área, quando comparada com as restantes bacias

peninsulares. O rio Douro é um dos rios mais extensos da Península Ibérica (o terceiro maior,

depois do Tejo e do Ebro) e do seu percurso total, 927 Km, 208 Km (22%) situam-se em

Portugal, 122 Km (13%) servem de fronteira (Douro Internacional) e 597 Km, situam-se em

Espanha. O rio Douro nasce a cerca de 1700 m de altitude, na Serra de Urbion em Espanha

e desagua no Oceano Atlântico, junto à cidade do Porto.

Figura 69 – Bacia hidrográfica do rio Douro.

Partida

Tempo: 00h:00 min Local: Ribeira Tema: Enquadramento geográfico do percurso

Hidrologia

124

A

B C

Figura 70 – Enquadramento geográfico do

percurso fluvial Porto-Pinhão.

A – Enquadramento da bacia hidrográfica

do rio Douro na Europa.

B – Bacia hidrográfica do rio Douro com

indicação da percentagem que se encontra

em território português e em território espanhol.

C – Enquadramento do percurso fluvial Porto-

Pinhão na bacia hidrográfica do rio Douro em

território português.

C

125

Nas margens do rio Douro, junto à sua foz, estão implantadas duas importantes cidades, a

cidade do Porto, na margem norte, e a cidade de Vila Nova de Gaia, na margem sul. Daí,

existir nesta zona um denso povoamento que assenta em rochas designadas por granitos.

Ao contrário da maioria dos rios e apesar da proximidade da foz, o leito do rio Douro

encontra-se bastante encaixado o que origina margens muito inclinadas, como nos

revelam as escarpas dos Guindais, a norte, e da Serra do Pilar, a sul.

A escarpa granítica dos Guindais tem revelado alguma instabilidade, tendo ocorrido num

passado recente queda de blocos e escorregamentos de terrenos. Este comportamento

relaciona-se com a intensa fracturação do granito. As fracturas são o resultado de esforços

tectónicos que afectaram a rocha. Estes incidentes conduziram à tomada de medidas

para a sua estabilização que culminou com a construção de muros de protecção (Figura

71). Esta medida correctiva promove a segurança dos que utilizam e passam neste local,

prevenindo acidentes que podem causar danos humanos e materiais.

Figura 71 – Escarpa dos Guindais com muros de estabilização.

Tempo: 00:05 min Local: Ribeira Tema: Vale do Douro na foz

1

Tectónica

127

O leito encaixado do rio Douro desde sempre dificultou a comunicação entre as duas

margens, cuja ligação se foi tornando ao longo do tempo essencial. Por isso, foram sendo

construídas várias pontes (Quadro I). Actualmente, existem seis pontes a ligar a cidade do

Porto e de Vila Nova de Gaia: ponte da Arrábida, ponte de D. Luís I, ponte do Infante D.

Henrique, ponte D. Maria Pia, ponte de S. João e ponte do Freixo. Daqui adveio a

designação de “Cidade das Pontes” para a cidade do Porto. Embora estas sejam as

pontes que actualmente podemos observar na cidade do Porto, outras existiram em

tempos mais remotos, como é o caso da Ponte das Barcas (Figura 72) e da Ponte Pênsil

(Figura 73).

Quadro I – Pontes sobre o rio Douro que ligam e ligaram a cidade do Porto à cidade

de Vila Nova de Gaia.

A montante existem ainda outras pontes que permitem a ligação entre as duas margens

do rio Douro.

Nome Data de inauguração

Tipo de circulação

Barcas 1806 Pedonal

Pênsil 1843 Pedonal

D. Maria Pia 1877 Ferroviária

D. Luís 1886 Rodoviária

Arrábida 1963 Rodoviária

S. João 1991 Ferroviária

Freixo 1995 Rodoviária

Infante D. Henrique 2002 Rodoviária

Tempo: 00h:10 min Local: Ponte da Arrábida Tema: As pontes

2

Figura 72 – Pintura antiga onde é retratada a Ponte das Barcas.

Figura 73 – Pintura antiga onde é retratada a Ponte Pênsil.

História

128

Nome

Particularidades

Barcas

Foi a primeira ponte sobre o rio Douro e o seu nome deve-se ao facto desta ponte ter sido construída com barcas, ligadas com amarras de ferro e nas quais assentava madeira. Devido à forma como foi construída e à matéria prima utilizada, esta ponte subia e descia consoante a variação do nível da água e abria e fechava para permitir a passagem dos barcos que navegavam no rio Douro. A esta ponte está associado um acontecimento trágico, aquando da 2ª invasão francesa. A 26 de Março de 1809, as tropas francesas comandadas pelo General Soult realizaram um cerco à cidade do Porto, que pouco tempo resistiu à investida. No dia 29 de Março, os franceses conseguem romper a defensiva portuense e um grande número de populares desesperados, homens, crianças e mulheres, querendo fugir, tentam alcançar a outra margem, atravessando a então existente Ponte das Barcas. Esta, devido ao peso e ao balanço cedeu num dos troços e uma larga abertura na estrutura da ponte fez com que morressem afogadas cerca de quatro mil pessoas. A esta tragédia foi feita uma homenagem através de um painel conhecido por “Painel das Almas”, realizado em 1897 e colocado no cais da Ribeira, no local onde existia a ponte. A Ponte das Barcas foi posteriormente reconstruída e só deixou de existir em 1843, quando a Ponte Pênsil foi inaugurada.

Pênsil

Apesar de ser conhecida como Ponte Pênsil, esta foi oficialmente designada por Ponte D. Maria II, uma vez que as obras de construção tiveram início em maio de 1841, no dia de aniversário de coroação de D. Maria II. Foi desactivada em 1887 e actualmente os vestígios desta ponte reduzem-se a dois obeliscos(pilares de cantaria) existentes na margem direita do rio, junto à ponte D. Luís I.

D. Maria Pia

É a mais antiga das pontes actualmente existentes a ligar a cidade do Porto à cidade de Vila Nova de Gaia. Esta ponte é uma obra da autoria de Gustave Eiffel e esteve em funcionamento durante 114 anos até à abertura da Ponte S. João. Foi encerrada em 1992, mas continua a ser possível admirar a sua beleza, tendo sido classificada como Monumento Nacional em 1982.

D. Luís

A ponte foi construída por um discípulo de Eiffel, o engenheiro Teófilo Seyrig. Tem dois tabuleiros metálicos sustentados por um grande arco de ferro e cinco pilares. O tabuleiro superior mede 392 metros de comprimento e 5 metros de largura enquanto o inferior tem 174 metros de comprimento e 5 de largura. Foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1982.

Arrábida

A Ponte da Arrábida, a segunda a ser construída para circulação rodoviária manteve durante algum tempo o recorde mundial para pontes em arco de betão armado. Constituíu uma das obras de maior importância para o desenvolvimento do país, tendo sido a primeira ponte sobre o rio Douro a ser inteiramente realizada pela engenharia portuguesa.

S. João

A Ponte de S. João foi construída com o intuito de substituir a velha Ponte D. Maria Pia, uma vez que esta não oferecia condições de segurança, para além de limitar a velocidade e a carga dos comboios mais modernos, foi inaugurada a 24 de Junho de 1991, dia em que é celebrado o S. João na cidade do Porto.

Freixo

A Ponte do Freixo, localizada já no extemo da cidade, possui 8 faixas de circulação rodoviária. Distingue-se estruturalmente das outras pontes, possuindo duas vigas gémeas afastadas 0,10 m ao longo da sua extensão, daí muitas vezes se referir esta ponte como se tratando de ponte dupla.

Infante D. Henrique

A Ponte Infante D. Henrique possui duas faixas de rodagem em cada sentido. Apresenta um vão de arco com 280 metros, que constitui um recorde mundial. Um enorme arco de betão une a margem norte à margem sul e foi construída com o objectivo de substituir o tráfego rodoviário que se efectuava no tabuleiro superior da Ponte D. Luís, que vai ser usado para a passagem do Metropolitano de Superfície do Porto.

Quadro II – Algumas particularidades das pontes que ligam e ligaram a

cidade do Porto à cidade de Vila Nova de Gaia.

129

O Palácio do Freixo, localizado na margem norte, é um edifício do século XVIII, da

autoria do arquitecto italiano Nicolau Nazoni (Figura 74 e Figura 75). Constitui um

excelente exemplo do barroco português. O edifício foi mandado construir pelo Cónego

Jerónimo de Távora e Noronha, que queria um palácio de Verão na sua Quinta do Freixo.

Por volta de 1850 foi vendido a António Afonso Velado, um comerciante que recebeu o

título de Barão e mais tarde o de Visconde do Freixo. Este, realizou obras de remodelação

que vieram a alterar significativamente a arquitectura de origem do edifício. Está

classificado como Património Nacional desde 1910. Em 1984, foi adquirido pelo Ministério

do Trabalho e passado dois anos sofreu um grande incêndio, o que levou à realização de

obras de recuperação que foram encomendadas a Fernando Távora, descendente do

primeiro proprietário do palácio.

Figura 74 – Palácio do Freixo voltado para o rio Douro.

3

Tempo: 00h:22 min Local: Campanhã Tema: Palácio do Freixo

! Figura 75 – Sala dos espelhos do Palácio do Freixo (Fotografia de António Amen).

História

130

Museu da Ciência

O Museu da Ciência e da Indústria, contíguo ao Palácio do Freixo, localiza-se no antigo

edifício das Moagens Harmonia (Figura 76). Foi construído em 1891-92 e a Companhia de

Moagens Harmonia SA fundada em 1918. Utilizava um processo de fabrico importado da

Alemanha, caracterizado pela utilização de moinhos que moíam o cereal através de dois

cilindros em ferro fundido horizontais, um liso e outro estriado. A arquitectura do edifício

obedece às características necessárias numa fábrica com este tipo de produção, como a

existência de amplos salões e muitos pisos, onde se localizavam de forma combinada as

várias máquinas, por forma a produzir uma variedade de farinhas. No exterior é possível

observar a verticalidade das fachadas, onde se encontram um conjunto de janelas e portas

e uma grande chaminé. Desde 1998 que neste edifício funciona o Museu da Ciência e da

Indústria onde só posteriormente foram realizadas as obras necessárias para recuperar e

adaptar o edifício ao funcionamento do museu. Este possibilita um percurso interpretativo e

observação da antiga fábrica, onde os visitantes revivem o circuito de laboração. Existem

ainda espaços destinados a exposições temporárias ou permanentes no âmbito da Ciência e

da Indústria, espaços de animação cultural, centro de documentação e arquivo, loja, livraria

e restaurante. No exterior, existem os terraços que constituem um lugar privilegiado para

disfrutar o rio Douro. Desta forma, este espaço é dedicado à história da indústria na cidade

do Porto, salientando o impacto que teve a nível social e económico nos séculos XIX e XX.

Figura 76 – Museu da Ciência e da Indústria na margem direita do rio Douro, junto ao Palácio do Freixo.

131

A praia fluvial de Avintes na margem sul (Figura 77) resulta da acumulação de areia que

ocorre neste local. São várias as praias fluviais existentes no percurso que será efectuado e

ocorrem normalmente associadas à face interna da curvatura do rio, ou seja, à parte

convexa dessa curvatura. Nas zonas do rio onde o trajecto é curvo, a erosão ocorre

preferencialmente na parte côncava e a acumulação dos materias erodidos na zona

convexa, onde podem formar-se as praias fluviais, se a quantidade de sedimentos

acumulados for considerável (Figura 78). O canal navegável está assim deslocado no

sentido da margem côncava como podem constatar ao longo do percurso.

Figura 77 – Praia fluvial de Avintes.

Figura 78 – Nas curvaturas de um rio ocorre erosão (E) na parte côncava e acumulação de sedimentos (S) na parte convexa, onde podem surgir as praias fluviais

(Carvalho, 2003).

4

Tempo: 00h:32 min Local: Avintes Tema: Praias fluviais

Hidrologia

133

Na margem norte encontra-se a foz do rio Sousa, um dos afluentes importantes do rio

Douro. O rio Douro recebe ao longo do seu percurso os caudais de vários rios. Na margem

norte, para além do rio Sousa destacam-se o rio Tâmega, o rio Corgo e o rio Pinhão. Na

margem sul destacam-se o rio Arda, o rio Paiva, o rio Varosa e o rio Távora (Figura 79).

Na margem sul encontra-se a povoação de Arnelas, uma das mais características vilas

ribeirinhas do rio Douro, que tal como outras vilas ribeirinhas, teve uma forte tradição de

pesca fluvial. Esta, foi em tempos, uma actividade importante das povoações ribeirinhas.

Bogas, barbos, escalos, muges e enguias eram as espécies mais comuns, para além da

lampreia e do sável que subiam o rio Douro para desovar. No entanto, esta actividade

entrou em declínio aquando da construção das barragens, que impossibilitaram, por

exemplo, a subida do rio Douro pela lampreia e pelo sável.

As pessoas eram atraídas pela proximidade da água e pelo facto do rio poder constituir

uma via de comunicação. Não foram muitas as populações que se fixaram mesmo junto

ao rio, pois quer as cheias quer as condições extremamente secas que se fazem sentir no

Verão ou ainda o relevo acidentado (Figura 80) funcionaram como factores de repulsão

das populações para fora das margens do rio Douro. Desta forma, os núcleos

populacionais mais antigos da região surgiram no alto das encostas, onde o clima era

mais húmido e onde a terra era mais fácil de cultivar. Só mais tarde, o cultivo da vinha

atraíu a população, originando núcleos populacionais, ainda que raros, nas margens e

uma crescente humanização do vale. As povoações ribeirinhas caracterizam-se por serem

geralmente pequenas e com as habitações concentradas.

Tempo: 00h:57 min Local: Arnelas Tema: Afluentes do Douro Vilas ribeirinhas

5

Figura 79 – Afluentes do rio Douro no sector Porto-Pinhão.

Escala 0 10Km

História

Hidrologia

134

Figura 80 – Mapa hipsométrico do norte de Portugal (Fonte: Atlas do Ambiente).

135

A montante da vila ribeirinha de Arnelas, começam a surgir na margem sul alguns

afloramentos de rochas genericamente designadas por xistos.. Os xistos são rochas

metamórficas que quando observadas à vista desarmada apresentam grão muito fino e

um empilhamento de finas lâminas, característica conhecida por xistosidade, que

promove a fácil desagregação desta rocha.

Existe uma relação entre a largura do vale e as rochas atravessadas pelo rio.

Normalmente as margens são mais abertas quando são atravessadas por xistos, que

decorre do facto de ser mais fácil desagregar esta rocha quando comparada com outras

rochas que nos vão surgir ao longo do percurso e às quais vai corresponder um vale mais

estreito.

Os xistos que observamos têm origem em sedimentos depositados num mar primitivo

durante o Câmbrico, o primeiro período da Era Paleozóica (Figura 81). Salienta-se assim

que estas rochas tiveram origem há cerca de 500 Milhões de anos (Ma) (Para a idade das

rochas é utilizada uma escala do tempo específica, a Escala do Tempo Geológico (Figura

72). Nesta escala o tempo encontra-se dividido em períodos, que por sua vez se agrupam

em eras).

Era

Período

Idade (Milhões de anos – Ma)

Neogénico

Cenozóico Paleogénico Cretácico Jurássico

Mesozóico Triássico Pérmico Carbonífero Devónico Silúrico Ordovícico

Paleozóico

Câmbrico

Pré-Câmbrico

Figura 81 – Escala do Tempo geológico.

Tempo: 1h:02 min

Local: Montante de Arnelas Tema: Rochas Metamórficas

Tempo Geológico

6

23.03

65.5

145.5

199.6

251.0

299.0

359.2

416.0

443.7

488.3

542.0

4600

Rochas Metamórficas

136

Legenda: Xistos, conglomerados e grauvaques Quartzitos, conglomerados e xistos (Pré-Câmbrico/Câmbrico) (Ordovícico inferior)

Xistos, arenitos e quartzitos Xistos (Silúrico) (Ordovícico médio e superior)

Xistos e quartzitos (Devónico) Xistos, arenitos e conglomerados (Carbonífero)

Granitos

Figura 83 – Carta litológica simplificada que enquadra o percurso fluvial Porto-Pinhão. Ciclo das rochas: ver página 138

Tempo geológico

Os processos geológicos não ocorrem à escala do tempo humano e têm estado activos

desde a formação do planeta Terra, à cerca de 4600 Ma. Por isso, como na Geologia não se

pensa no tempo em horas ou semanas mas antes em muitos milhões de anos, os geólogos

criaram a escala do tempo geológico. A definição dos períodos geológicos é baseada na

ocorrência de particulares eventos geológicos, no predomínio de animais e plantas

característicos ou, mais frequentemente, pela combinação de ambos. O Paleozóico inferior,

do qual faz parte o Câmbrico é caracterizado pela abundante ocorrência de trilobites, fóssil

encontrado frequentemente em rochas desta idade e em particular nesta região (Figura 82).

Figura 82 – Trilobite (7cm) do Ordovícico de Valongo.

Classificação das rochas

As rochas são classificadas em ígneas, sedimentares e metamórficas de acordo com o

processo que lhes deu origem. Ao longo do nosso percurso surgem rochas dos três tipos (Figura

83):

- os granitos, que são rochas ígneas, foram consolidados a grandes profundidades a

partir de magmas que se encontravam inicialmente a temperaturas muito elevadas;

- os xistos e os quartzitos, que são rochas metamórficas formadas a partir da

transformação de outras rochas;

- as areias, que são rochas sedimentares resultantes do transporte e acumulação de

materiais resultantes da alteração e desagregação de rochas pré-existentes.

N

Nota: O termo xisto será genericamente utilizado para rochas com as características referidas, apesar de em algumas situações e numa análise mais detalhada não ser o mais correcto.

137

Entre a cidade do Porto e a vila do Pinhão existem três barragens (Figura 84). A primeira

a surgir neste percurso é a barragem de Crestuma-Lever.

Esta barragem foi a última a ser construída no troço nacional do rio Douro, tendo

entrado em funcionamento em 1986. Apresenta um desnível de 13.20 m e tem uma

potência instalada de 105 MW. Na sua albufeira, com uma capacidade total de 110

metros cúbicos, encontram-se as captações para abastecimento de água potável às

cidades do Porto e de V. N. De Gaia.

As barragens estão equipadas com eclusas de navegação, que permitem o tráfego

fluvial no rio Douro, que continua a ser uma via de comunicação e transporte importante.

Para além das eclusas de navegação estas barragens possuem eclusas de peixes do tipo

“Borland”. A construção das barragens regularizou o leito do rio outrora com águas

violentas, responsável por muitos dos naúfragos que ocorreram. Hoje em dia e graças à

construção das barragens ocorreu uma melhoria das condições de navegabilidade do

rio Douro, sendo possível navegar com segurança pelas suas águas. Tal facto, promoveu

o desenvolvimento de algumas actividades turísticas como os cruzeiros fluviais ou os

desportos náuticos, para além de ter criado postos de trabalho, potenciando o

desenvolvimento económico e social das regiões onde se encontram. Contudo, as

barragens, como a maior parte das obras de engenharia, descaracteriza o vale do

Douro, retirando-lhe a beleza selvagem que o caracterizava, como o leito rochoso,

cascatas e vales mais profundos do que hoje é possível observar.

Figura 84 – Localização das barragens no percurso Porto-Pinhão. A barragem do Torrão está localizada no

rio Tâmega, um dos afluentes do rio Douro.

7

N

Escala 0 10Km

Tempo: 1h:15 min Local: Crestuma Tema: Barragens

Recursos Energéticos

138

Os três tipos de rochas referidos anteriormente relacionam-se entre si através de um ciclo,

denominado ciclo das rochas ou ciclo litológico (Figura 85). Este ciclo sintetiza o conjunto de

processos sofridos pelas rochas ao longo do tempo que ocorrem no interior e à superfície da

Terra.

Figura 85 – Esquema representativo do ciclo litológico (as setas representam os processos geológicos referidos pelos números de 1 a 5).

1. Uma vez expostas à superfície, as rochas sofrem meteorização e erosão originando

sedimentos.

2. Estes depois de transportados pela água e pelo vento, depositam-se - sedimentação. São

exemplos as areias das praias fluviais já observadas. Os sedimentos podem ser depois

compactados e ligados entre si – diagénese – originando as rochas sedimentares.

3. Com o afundamento das rochas sedimentares, aumenta a pressão e a temperatura que

conduzem à sua transformação em rochas metamórficas - metamorfismo.

4. Se a temperatura continuar a aumentar pode provocar a fusão das rochas, originando o

magma, que após arrefecimento, solidifica originando rochas magmáticas. Estas podem-se

formar à superfície devido a processos vulcânicos, ou no interior da Terra. No entanto, pode

acontecer, por exemplo, que as rochas sedimentares em vez de originarem rochas

metamórficas originem rochas magmáticas, ou as rochas metamórficas em vez de originarem

rochas magmáticas originem outras rochas metamórficas ou até rochas sedimentares.

4. Fusão

5. Arrefecimento e

solidificação

3. Metamorfismo

1. Meteorização e

Erosão

2. Transporte Sedimentação Diagénese

Rochas sedimentares

Rochas magmáticas

Rochas metamórficas

Magma

Sedimentos

1

1

2

3

4

5

3

139

Na margem norte encontra-se o edifício da Central Eléctrica da Tapada do Outeiro. Foi

construída em 1959 para produzir energia eléctrica em períodos estivais, quando a

produção hidroeléctrica era reduzida, mas actualmente já não está em funcionamento.

Utilizava como combustível o carvão extraído das minas de S. Pedro da Cova e do Pejão.

O transporte do carvão explorado nas minas de S. Pedro da Cova para a central era

assegurado por um cabo aéreo com cestos metálicos, que estabelecia a ligação entre as

minas e esta central. Muito perto do antigo edifício foi construída uma nova central

eléctrica (Figura 86). Esta central, que entrou em funcionamento em 1998, produz energia

eléctrica a partir de gás natural e tem uma capacidade instalada de 990 MW.

Figura 86 – Central eléctrica de ciclo combinado a gás da Tapada do Outeiro.

8

Tempo: 1h:43 min Local: Broalhos Tema: Central

Termoeléctrica

Recursos Energéticos

História

141

Na margem sul é possível observar afloramentos de xistos (Figura 87), pertencentes ao

Complexo Xisto-Grauváquico (CXG), uma unidade geológica mais recentemente

designada por Grupo do Douro, à qual é atribuída uma idade entre o Pré-Câmbrico

superior e o Câmbrico inferior. O Grupo do Douro é constituído por uma sequência de

rochas metamórficas derivadas de rochas sedimentares. Os sedimentos resultantes da

erosão das rochas superficiais acumularam-se num mar primitivo, há cerca de 550 milhões

de anos, vindo a formar as rochas sedimentares. Posteriormente, estas rochas foram

submetidas a condições de pressão e/ou temperatura elevadas que conduziram à sua

transformação em rochas metamórficas. Seguiu-se uma evolução complexa e lenta que

permitiu que estas rochas formadas em profundidade estejam hoje à superfície.

Figura 87 – Xistos pertencentes ao Grupo do Douro, nas proximidades da barragem de Crestuma.

9

Tempo: 1h:57 min Local: Medas Tema: Xistos

Rochas Metamórficas

142

Formação dos xistos

A formação das rochas metamórficas ocorre quando qualquer tipo de rocha é

transformado em outro tipo através da actuação em profundidade dos factores de

metamorfismo como a pressão e a temperatura. O metamorfismo pode ocorrer devido a um

aumento da temperatura provocado pela ascensão de massas magmáticas ou estar

associado ao afundamento de grandes extensões de massas rochosas, que ficam submetidas

a condições elevadas de temperatura e/ou pressão. Neste último caso, as elevadas pressões

conduzem a uma reorganização de certos minerais segundo um plano principal, o plano de

xistosidade, o que origina a estrutura laminar em planos paralelos (xistosidade) que caracteriza

os xistos.

Modelo evolutivo

Há cerca de 550 Ma, o adelgaçamento da crusta continental então existente permitiu a

formação de uma depressão marinha. Aí, começaram a depositar-se os sedimentos

resultantes da erosão dos continentes que limitavam essa depressão (Figura 88).

Legenda: Sedimentos Falha

Figura 88 – Formação de uma depressão marinha onde ocorre deposição de sedimentos. (modificado de Pereira et al., 2004)

143

Os relevos pronunciados que se destacam no horizonte correspondem ao afloramento

de rochas metamórficas muito duras, conhecidas por quartzitos (Figura 89). Os sedimentos

que deram origem a estas rochas depositaram-se no Ordovícico, em ambienta litoral, à

cerca de 495 milhões de anos.

Estes relevos destacam-se na paisagem porque perduram no tempo à medida que as

outras rochas vão sendo erodidas. O quartzito é uma rocha muito difícil de erodir pois é

constituída essencialmente por grãos de quartzo aglutinados por metamorfismo. Assim, à

medida que as outras rochas vão desaparecendo, os quartzitos permanecem como

relevos residuais.

Figura 89 – Quartzito, rocha dura e compacta, na estrada nacional 108,

depois de Melres (ao Km 32).

Tempo: 2h:12 min Local: Lavercos Tema: Quartzitos

10

Rochas Metamórficas

144

Tal como hoje acontece, também no passado os grãos de areia depositaram-se em

ambiente costeiro, nas margens da depressão marinha referida anteriormente (Figura 90).

Legenda: Sedimentos do Câmbrico Sedimentos do Ordovícico Falha

Figura 90 – Mar primitivo onde se depositaram os sedimentos no Ordovícico por cima dos sedimentos do Câmbrico depositados anteriormente (modificado de Pereira et al., 2004).

Esta depressão marinha foi evoluindo por alargamento, até se formar no Silúrico um

oceano, caracterizado pela formação de uma nova crusta mais densa – crusta oceânica

(Figura 91). No Devónico, a bacia oceânica começou a fechar o que provocou a colisão dos

continentes que a limitavam (Figura 92). As rochas aí formadas foram então dobradas e

fracturadas devido ao efeito da compressão.

Figura 91 – Ruptura da crusta continental e formação de crusta oceânica. (modificado de Pereira et al., 2004).

Figura 92– A partir do Devónico, ocorre a deformação das rochas devido a um movimento compressivo que conduz ao fecho do oceano

primitivo (modificado de Pereira et al., 2004).

Modelo evolutivo

Legenda:

Expansão do fundo oceânico

Ascensão de magma

Falha

Legenda:

Obducção

Falha Colisão Subducção

145

Em Melres observa-se uma praia fluvial, onde são visíveis níveis de terraço acima do nível

das areias da praia. Estes níveis de teraço resultam da sedimentação correspondente a

momentos intermédios durante o encaixe do rio Douro, que decorreu desde à cerca de 2

Ma (Figura 93). À medida que o rio se foi encaixando foi deixando acumulados alguns

sedimentos, correspondentes a praias antigas e que hoje se encontram suspensos a cotas

mais elevadas, devido a um actual maior encaixe do rio.

Salienta-se neste local o contraste entre os depósitos de areia da praia fluvial e os relevos

que se observam por detrás, correspondentes aos quartzitos.

1- Preenchimento do vale por aluviões. 2- Fase de encaixe do leito do rio nos aluviões, por efeito, por exemplo, do abaixamento do nível do mar e/ou levantamento tectónico do continente, com a formação do 1º nível de terraço. 3- Fase de novo aluviamento. 4- Fase de novo encaixe, com formação de um 2º nível de terraço.

Figura 93 – Esquema representativo da formação dos níveis de terraço(Carvalho, 2003).

Tempo: 2h:17 min Local: Melres Tema: Praia fluvial – níveis de terraço

11

Hidrologia

147

O Couto Mineiro do Pejão estende-se desde Germunde, na margem sul do rio Douro, até

Paraduça, numa distância de cerca de 9 Km. Ao longo desta extensão ocorreu a

extracção de carvão nos xistos datados do Carbonífero, formados há cerca de 300 Ma

(Figura 94). O carvão é uma rocha sedimentar, sendo também designado por combustível

fóssil por ser utilizado para a obtenção de energia e por resultar da transformação, ao

longo de milhões de anos, de restos de plantas.

No Couto Mineiro do Pejão, a mina de Germunde suspendeu a lavra em 1994. A mina do

Pejão foi posteriormente integrada num projecto de recuperação de minas abandonadas,

de modo a evitar o impacte ambiental negativo das suas escombreiras. O carvão

explorado foi utilizado como combustível na Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro,

sendo para aí transportado através de teleférico a partir de Germunde, e nas cimenteiras,

para o fabrico de cal hidráulica e de cimento.

A extracção de carvão ocorreu em afloramentos do Carbonífero superior na designada

Bacia Carbonífera do Douro (BCD), que se prolonga por cerca de 90 Km, cortando o vale

do rio Douro próximo de Medas. O carvão surge em leitos intercalados nos xistos e é do tipo

antracite. Existem outros tipos de carvão como a turfa, a lenhite e a hulha. A antracite é de

todos os carvões o que possui um maior poder calorífico e é geralmente o que demora

mais tempo a formar-se.

Legenda: Pré-Câmbrico/Câmbrico Carbonífero Granitos Falha

Ordovícico a Devónico Neogénico Falha provável

Figura 94 – Localização das rochas do Carbonífero onde ocorreu a extracção de carvão.

Tempo: 2h:25 min Local: Germunde Tema: Minas de Carvão do Pejão

N

Escala 0 10Km

12

Recursos Energéticos

148

Génese do carvão

No Carbonífero, o clima quente e húmido permitiu o desenvolvimento de florestas

luxuriantes constituídas por fetos arbóreos e outras espécies arborescentes localizadas em

áreas pantanosas ou lagunares. Em determinadas condições os restos vegetais, como folhas,

troncos e raízes, eram arrastados e depositados na água, originando camadas ricas em

carbono orgânico. Por cima destes detritos depositaram-se rapidamente sedimentos

resultantes da erosão das rochas que se encontravam à superfície, fazendo com que ficassem

ao abrigo do ar. Nestas condições, pela acção conjunta de microrganismos (bactérias), do

calor e da pressão, num processo complexo e lento, os detritos vegetais foram transformados

em carvão – incarbonização (Figura 95). Na medida em que são as plantas que estão na

origem do carvão, esta rocha é designada por rocha sedimentar biogenética.

Figura 95 – Esquema representativo da formação do carvão (Jacob, 1973 in Anadón, 1989). 1- Existência de uma planície de inundação fluvial; 2- Início da formação de uma zona pantanosa;

3 – Desenvolvimento de uma floresta e formação de depósitos de carvão; 4- Isolamento dos depósitos de carvão.

Modelo evolutivo

Os restos vegetais que originaram os carvões foram depositados, juntamente com outros

sedimentos, em depressões intramontanhosas formadas na sequência de movimentos

tectónicos (Figura 96). O aumento da temperatura que promoveu a formação dos carvões,

deveu-se para além do afundamento dos sedimentos à ascensão de magmas que ocorreu

nesta altura.

Figura 96 – Deformação das rochas devido à compressão tectónica com consequente formação de

uma cadeia montanhosa no Paleozóico superior. Deposição de sedimentos em depressões intramontanhosas em simultâneo com a ascensão de magmas .

Acções tectónicas posteriores afundaram as rochas da BCD, que assim ficaram

preservadas em profundidade. Após longo tempo, a erosão permitiu que os níveis de carvão

atingissem a superfície, tornando possível a sua exploração.

Legenda:

Ascensão de magma

Obducção Falha Falha provável

Dobras

149

As unidades geológicas pertencentes ao Anticlinal de Valongo, suportam um número

elevado de antigas explorações mineiras. Destacam-se as minas onde ocorreu a

exploração de ouro (Au) e de antimónio(Sb) (Figura 97). Existem minas onde foi explorado

simultaneamente o ouro e o antimónio, outras onde foi apenas explorado o ouro e ainda

outras onde apenas se explorou o antimónio. Estas minas foram exploradas desde a altura

da ocupação romana mas na actualidade nenhuma delas está em funcionamento.

Salientam-se as minas de Montalto, da Tapada, Alto do Sobrido e das Banjas. Estes metais

foram explorados a partir de rochas datadas do Précâmbrico/Câmbrico, Ordovícico e

Carbonífero.

Legenda: Pré-Câmbrico/Câmbrico Carbonífero Neogénico

Ordovícico a Devónico Granitos Minas de Au,Sb

Falha Falha provável

Figura 97 - Localização das minas de ouro e antimónio(modificado de Combes et al., 1992).

N

13

Tempo: 2h:27 min Local: Pedorido Tema: Minas de Ouro e

Antimónio

Recursos Minerais

150

Origem dos jazigos minerais

A origem dos minérios está intimamente associada ao movimento de fluidos, os fluidos

mineralizantes, que podem estar associados a processos magmáticos, metamórficos ou

sedimentares. Assim, os fluidos mineralizantes podem ser líquidos magmáticos, hidrotermais,

água das chuvas, água do mar, água existente entre os sedimentos ou ainda fluidos

metamórficos. Nos processos magmáticos, a constituição do magma é constantemente

alterada e à medida que vai arrefecendo, os minerais que se vão formando através de um

processo designado por cristalização fraccionada vão sendo depositados no fundo da

câmara magmática, processo designado por diferenciação gravítica, o que possibilita a

concentração de elementos metálicos nas rochas magmáticas resultantes. À medida que os

processos anteriores ocorrem, porções de magma ricas em alguns metais podem intruir nas

rochas que estão à sua volta e originar um depósito mineral. No decorrer da cristalização

magmática a concentração de voláteis aumenta. Esta componente rica em voláteis, cujo

principal constituinte é a água, tem a designação de fluido hidrotermal e pode separar-se do

magma e deslocar-se através de fissuras, fracturas ou poros existentes nas rochas. À medida

que migram através das rochas, os fluidos hidrotermais vão dissolvendo metais existentes na

crusta, que podem ser concentrados e precipitados quando ocorrem variações de pressão e

temperatura. Quando a precipitação ocorre em fracturas formam-se veios hidrotermais que

podem ter desde alguns milímetros a metros de largura. Alguns depósitos minerais podem

formar-se por metamorfismo que ocorre ao longo do contacto da intrusão magmática com as

rochas encaixantes (auréola de contacto). Também pode acontecer que as águas das

chuvas que penetram em profundidade possam ser postas em movimento e assim reagir com

as rochas devido ao aumento da temperatura que acompanha as intrusões magmáticas.

Estes fluidos arrastam consigo, ao longo de zonas permeáveis, componentes químicos que

posteriormente podem precipitar e originar um depósito mineral (Figura 98).

Figura 98 – Alguns processos de formação de depósitos minerais (modificado depois Woodcock, 1994 in Gray, 2004).

151

Nas proximidades da povoação de Abitureira observam-se, agora mais de perto, os

relevos pronunciados correspondentes às cristas quartzíticas do Ordovícico e que já há

algum tempo se vinham a destacar no horizonte. A alternância de camadas de quartzo

com alguns níveis de xistos destaca estruturas do tipo dobras, formadas por acção de

compressão tectónica. Estas dobras encontram-se por sua vez integradas numa grande

dobra conhecida por Anticlinal de Valongo (Figura 99).

Salienta-se a quase inexistência de vegetação nos quartzitos, explicada pelo facto desta

rocha ser muito resistente à erosão, o que dificulta a formação de um solo.

Estes quartzitos são os responsáveis pela existência para noroeste de algumas elevações

com cristas quartzíticas orientadas NW-SE, das quais se destacam a Serra de Santa Justa

(367m), a Serra das Flores (mais alta, 519 m) e a Serra de Santa Iria (416 m).

A grande resistência que os quartzitos oferecem à erosão traduz-se no estrangulamento

ou estreitamento do leito e do vale neste local.

1 Km

Xistos (Pré-Câmbrico- Câmbrico) Quartzitos, conglomerados e xistos (Ordovícico inferior)

Xistos (Ordovícico médio) xistos, arenitos e quartzitos (Ordovícico superior)

Xistos (Silúrico inferior) Xistos (Silúrico superior)

Xistos, arenitos e quartzitos (Devónico inferior)

Xistos, arenitos e conglomerados (Carbonífero) Falha

14

W E

Legenda:

Tempo: 2h:42 min Local: Abitureira Tema: Quartzitos do Anticlinal de Valongo

Figura 99 – Perfil geológico Este-Oeste do Anticlinal de Valongo (modificado de Carta Geológica de Portugal à escala 1:200 000, Folha 1).

Rochas Metamórficas

152

Dobras e Falhas

As dobras são estruturas geológicas formadas quando as rochas sofrem a acção de

compressões tectónicas que as forçam a dobrar (Figura 100). Quando possuem flancos

simétricos podem ser de dois tipos: anticlinal, como acontece em Valongo, ou sinclinal.

Figura 100 – Formação de um anticlinal e de um sinclinal.

No entanto, nos casos em que o limite de elasticidade das rochas é ultrapassado ou nos

casos em que as rochas não dobram, estas fracturam e forma-se uma falha, ocorrendo

movimento das partes que se separam.

Algumas das curvaturas acentuadas que o rio Douro apresenta em determinados locais

podem estar relacionadas com o facto de aí existirem falhas geológicas, que o rio Douro terá

“aproveitado” na definição do seu trajecto. Destacam-se as curvaturas que o rio Douro

descreve próximo da cidade de Peso da Régua e na região do Pocinho, fora do âmbito do

sector abrangido por este guia.

Forças compressivas

153

A nova Ponte de Hintze Ribeiro inaugurada a 4 de Maio de 2002 liga Entre-os-Rios,

localizado na margem norte, a Castelo de Paiva, localizado na margem sul. Foi construída

para substituir a antiga e centenária Ponte de Hintze Ribeiro (Figura 101) que caiu numa

noite de temporal. A sua queda, devido á cedência de um pilar, provocou uma tragédia

com a morte de 59 pessoas, ocupantes de um autocarro de passageiros e de três

automóveis ligeiros que atravessavam a ponte na altura. Foi considerado um dos maiores

acidentes rodoviários de sempre em Portugal. A nova ponte começou a ser contruída no

Verão de 2001 à imagem da ponte anterior. Tem uma largura de 11 metros, duas faixas de

circulação rodoviária e uma extensão de 562 metros assentes em sete pilares, dois dos quais

estão no leito do rio. As causas apontadas para a queda da ponte foram os elevados

caudais do rio Douro nessa altura, devido à ocorrência de intensa precipitação nesse

Inverno, e a extracção de areias no leito do rio. O Tribunal de Castelo de Paiva declarou

posteriormente que a queda da ponte deveu-se apenas a causas naturais, não ficando

provada uma relação directa com a actividade dos areeiros, apesar de existir uma forte

convicção pública e ambiental de que esta actividade teve implicações no acidente. Os

areeiros, juntamente com alguns responsáveis de entidades públicas ligadas ao ambiente e

às estradas, que foram constituídos arguidos do processo, não foram incriminados, não

havendo dessa forma julgamento.

O monumento que se localiza na margem sul junto à nova ponte, “O Anjo de Portugal”,

presta homenagem às vítimas desta tragédia.

A montante da Ponte Hintze Ribeiro, a cerca de 15 metros, encontra-se a Ponte do IC35.

Figura 101 – Ponte de Hintze Ribeiro que caiu em Março de 2001 (Alvão, 1935).

Tempo: 3h:02 min Local: Entre-os-Rios Tema: Ponte de Hintze Ribeiro

15

História

155

Na margem norte, junto da povoação de Entre-os-Rios, encontra-se um dos principais

afluentes do rio Douro, o rio Tâmega. O rio Tâmega nasce em Espanha, na Serra de S.

Mamede, próximo da povoação de Albergaria. Apresenta um comprimento de 183,5 Km,

dos quais 46 Km são em território espanhol, 3,5 Km constituem fronteira entre os dois países,

sendo os restantes em território português. A bacia hidrográfica do rio Tâmega possui uma

área de 3252 Km2 e uma forma aproximadamente rectangular, bastante alongada, de

orientação NE-SW.

A cerca de 3,5 Km da confluência com o rio Douro localiza-se a barragem do Torrão

(Figura 102). Foi o primeiro aproveitamento hidroeléctrico construído na bacia hidrográfica

do rio Tâmega. Entrou em funcionamento em 1988 e tem uma potência instalada de 146

MW, podendo produzir em média 228GWh/ano. A cota máxima prevista para a sua

exploração é de 65 m, o volume bruto armazenado de 124 milhões de metros cúbicos e o

volume utilizável em exploração normal de 77 milhões de metros cúbicos. A albufeira tem

um comprimento de cerca de 31 Km, abrangendo os concelhos de Marco de Canaveses,

Penafiel e Amarante.

Figura 102 – Albufeira do Torrão na zona de Canaveses (Fonte: Centro de Produção Douro).

Tempo: 3h:07 min Local: Entre-os-Rios Tema: Foz do Rio Tâmega

e barragens

16

Recursos Energéticos

Hidrologia

157

Na margem norte pode observar-se o imponente edifício do Convento de Alpendurada

(Figura 103). Este convento foi fundado em 1024, no século XI por um sacerdote, tendo sido

um local de acolhimento de peregrinos, mercadores e cruzados. O edifício original foi

depois ao longo dos séculos aumentado. Os monges estiveram em Alpendurada até 1834,

no entanto em finais do século XVI foi esvaziado de quase tudo em favor do Convento de

São Bento da Victória no Porto. Os abades deste convento eram conselheiros influentes do

rei, tendo o abade Afonso Martins participado nas Cortes de Coimbra quando foi

proclamado rei D. João I. O mosteiro foi posteriormente recuperado por D. Frei Jerónimo

Freire, em 1611. Exceptuando a bela igreja e o velho claustro, já pouco resta da

arquitectura original. Este Convento possuía uma das bibliotecas mais importantes do Reino,

pois era aqui que se guardavam, catalogavam e protegiam os documentos mais

importantes. Após o incêndio provocado pelo soldados franceses, a sua documentação foi

distribuída pelos arquivos distritais de Braga, Porto e Tombo. A igreja foi posteriormente

doada aos monges da Ordem Beneditina.

Actualmente o edifício é propriedade privada e encontra-se adaptado a hotel, estando

lá a funcionar o Hotel Convento de Alpendurada, após duas décadas de restauros. Nas

suas paredes encontram-se azulejos originais do século XVII e XVIII, sendo também utilizado

o granito, material abundante na região, e a madeira para forrar os tectos. A cozinha do

convento tem sido o local ideal para a realização de banquetes medievais, com animação

e trajes característicos da época medieval.

O Convento de Alpendurada constitui um local privilegiado para contemplar a paisagem

magnífica que o rio Douro nos proporciona.

Tempo: 3h:30 min Local: Alpendurada Tema: Convento de Alpendurada

17

Figura 103 – Convento de Alpendurada. (Fonte: www.conventoalpendurada.com)

História

159

O Convento de Alpendurada encontra-se instalado em terrenos onde predomina o

granito, rocha ígnea plutónica, que já se têm vindo a observar desde que passámos os

quartzitos do Anticlinal de Valongo.

Os granitos caracterizam-se por apresentarem grãos de diferentes minerais visíveis a olho

nú. Os granitos têm geralmente cor clara, mas algumas variedades aparentadas com

granitos podem ter cores relativamente escuras. Os principais minerais constituintes do

granito são o quartzo, os feldspatos e as micas. A idade dos granitos que existem no vale do

rio Douro varia entre os 320 e 300 Milhões de anos.

O granito que aqui se observa apresenta uma textura porfiróide, com grão grosseiro a

médio.

O granito forma-se quando um magma, material rochoso no estado líquido proveniente

do interior da Terra e que se encontra a elevadas temperaturas solidifica lentamente em

profundidade (em média entre 3 e 7 kms) (Figura 104).

Figura 104 – Génese das rochas ígneas plutónicas: o magma ao solidificar em profundidade, origina rochas magmáticas plutónicas como o granito.

Por ser muito abundante, o granito é explorado no vale do rio Douro para ser utilizado nas

mais diversas aplicações da construção civil. Nas margens é possível observar a sua

utilização na construção das casas e dos muros.

Neste sector do rio Douro o canal é particularmente estreito, estando tal facto associado

à dureza e resistência do granito.

Os granitos ainda nos vão acompanhar nesta viagem até às proximidades de Barqueiros

e por isso falaremos novamente deles mais adiante.

Rochas ígneas plutónicas

18

Tempo: 3h:35 min Local: Alpendurada Tema: Granitros

Rochas Magmáticas

160

Génese dos granitos

A ascensão dos magmas que originaram estes granitos está relacionada com o processo

entre o Devónico e o Carbónico de fecho de um oceano primitivo com, colisão dos

continentes que o limitavam. O mergulho da crusta oceânica por baixo da crusta continental,

processo designado por subducção, conduziu à formação de magmas devido à fusão dos

materiais rochosos mergulhantes, que ao arrefecer em profundidade originam os granitos (ver

Figura 92 e 96). O aumento da temperatura aquando da ascensão destes magmas na crusta

conduziu também à fusão de material rochoso encaixante.

Afloramento dos granitos

Após a instalação destes granitos há cerca de 300 milhões de anos, a paisagem era

dominada por relevos muito vigorosos. O longo processo que permite que estas rochas

estejam hoje à superfície está esquematizado na figura seguinte.

Figura 105 – Esquema representativo do afloramento do granito.

A paisagem granítica é variável devido a factores como a composição mineralógica dos

granitos, estado de fracturação e tipo de meteorização que sobre eles actua. Assim,

observamos em algumas situações uma paisagem granítica com relevos suaves e

arredondados e noutras, relevos abruptos, de picos elevados.

1. Maciço granítico em profundidade, formado a partir da solidificação do magma no interior da Terra.

2. A espessura das rochas que se encontram por cima do maciço granítico diminui. Este facto deve-se ao levantamento geralmente lento dos continentes e à acção dos agentes de meteorização e erosão que ao longo de milhões de anos desagregaram e desgastaram essas rochas, sendo os materiais resultantes transportados para outros locais.

3. O maciço granítico aflora à superfície, uma vez que as rochas suprajacentes foram totalmente erodidas. O maciço granítico uma vez à superfície vai estar também sujeito à acção dos agentes de meteorização e erosão.

161

O aproveitamento hidroeléctrico de Carrapatelo foi o primeiro a ser construído no troço

nacional do rio Douro e localiza-se junto do lugar de Mourilhe, no concelho de Cinfães.

Entrou em funcionamento em 1971, com a potência instalada de 180 MW. Dos

aproveitamentos hidroeléctricos do troço nacional é o que tem maior desnível, 36m. A sua

albufeira tem uma extensão de 40 Km e uma capacidade total de 148 milhões de metros

cúbicos, estendendo-se pelos concelhos de Cinfães, Resende e Lamego, na margem

esquerda, e Marco de Canaveses, Baião, Mesão Frio e Régua, na margem direita.

Encontra-se equipada com eclusa de navegação e de peixes.

A barragem está situada nas proximidades de uma falha geológica, a falha do

Carrapatelo (Figura 106). É por essa razão que a margem norte, à entrada da eclusa, se

encontra toda cimentada, uma medida que tem como objectivo estabilizar a estrutura da

barragem e diminuir a probabilidade desta apresentar algum tipo de movimento causado

pela falha.

Legenda: Granitos

Figura 106 – Localização da falha do Carrapatelo.

Tempo: 4h:12 min Local: Carrapetelo Tema: Barragens

19

Falha do Carrapatelo N

Recursos Energéticos

Tectónica

163

Ao longo do percurso existem alguns locais com ocorrência de águas termais com

características sulfúreas alcalinas (Figura 107), que têm vindo a ser exploradas para o

tratamento de várias doenças. Neste âmbito, destacam-se as Termas de Caldas de Aregos,

localizadas junto da povoação de Aregos, na margem sul do rio Douro. A temperatura da

água é de 61ºC, sendo indicada para o tratamento de doenças do aparelho respiratório,

reumáticas e músculo-esqueléticas. A primeira referência a estas termas remonta à Idade

Média, tendo a rainha D. Mafalda mandado construir no século XII uma albergaria, que

terá sido a primeira estância termal de Aregos. Posteriormente, devido às cheias do rio

Douro e à construção da barragem do Carrapatelo, os balneários foram inundados e não

ficaram em condições de funcionamento, levando ao encerramento das termas. No início

da década de noventa, foi construído um novo balneário que permitiu voltar a usufruir

deste recurso.

A origem das águas termais está relacionada com as características geológicas do

terreno, nomeadamente com a litologia e as condições tectónicas existentes no local, que

são determinantes na criação de zonas de maior permeabilidade por onde a água pode

circular. O fluxo hidrotermal superficial em Caldas de Aregos ocorre ao longo de fracturas

do granito.

Tempo: 5h:17 min Local: Caldas de Aregos Tema: Termas

N

20

Legenda:

Xistos, conglomerados e grauvaques Quartzitos, conglomerados e xistos Xistos, arenitos e quartzitos (Pré-Câmbrico/Câmbrico) (Ordovícico inferior) (Ordovícico médio e superior)

Xistos (Silúrico) Xistos e quartzitos (Devónico) Xistos, arenitos e conglomerados (Carbonífero)

Granitos Termas

Figura 107– Carta litológica simplificada do sector Porto-Pinhão, com localização das termas de Caldas de Aregos e de Caldas do Moledo.

História

Termalismo

165

Viajar de comboio pela Linha do Douro constitui uma opção ou um complemento para

quem pretende disfrutar da paisagem do Vale do Douro (Figura 108). Demorou 12 anos,

desde 1875 a 1887, a construir a linha ferroviária do Douro desde a cidade do Porto até

Barca de Alva, com 60 pontes e 50 túneis. Este sonho surgiu de um grupo de banqueiros do

Porto, que tinham como objectivo ligar, através de Salamanca, o Norte de Portugal ao

resto da Europa, mas o sonho ficou apenas por Barca d`Alva. Actualmente, o comboio já

não chega a Barca d`Alva, vai apenas até ao Pocinho. A viagem do Porto ao Pocinho,

numa distância de 175 Km, demora cerca de quatro horas. Após os primeiros 75 Km, até

Mosteirô, a viagem passa a ser à beira rio, apreciando paisagens com uma beleza

grandiosa numa perspectiva um pouco diferente daquela que é oferecida pelas

embarcações. Ao longo da viagem de comboio passa-se obrigatoriamente pelas estações

ferroviárias, algumas delas particularmente interessantes, com painéis de azulejos que

reproduzem cenas do quotidiano regional. As estações ferroviárias caracterizam-se por

apresentarem as suas paredes caiadas de branco e por ainda hoje manterem o seu antigo

mobiliário de madeira. Neste troço do rio surge-nos primeiro a Estação Ferroviária de Caldas

de Aregos na margem norte e cerca de 6 Km adiante a Estação Ferroviária de Ermida.

A Ponte de Ermida revela-se em seguida na margem norte. É mais uma ponte a

estabelecer a ligação entre a duas margens do rio Douro, neste caso a ligar Resende ao

concelho de Baião. As obras para a construção da ponte de Ermida iniciaram-se em 1996 e

terminaram a 2 de Março de 1998. Apesar da sua construção ser recente, o sonho de a

construir surgiu há mais de um século, embora com características diferentes da ponte que

existe na actualidade. O tabuleiro tem 430 metros de extensão e encontra-se a 73 metros

acima do nível da água, assente em quatro pegões e com uma faixa de rodagem em

cada sentido. No tempo em que Portugal ainda não era um reino independente de

Castela, não existia nenhuma ponte para transpôr o rio Douro, sendo apenas possível

atravessar o rio nas barcas de passagem, que neste local tinha o nome de Barca De Por

Deus.

! Figura 108 – Troço da

Linha do Douro.

Tempo: 5h:39 min Local: Ermida Tema: Linha do Douro e

Ponte de Ermida

21

História

167

Pode-se constatar que o relevo das áreas graníticas é, tal como naquelas onde existem

os quartzitos, mais acidentado, para além de se verificar também um estreitamento do

vale.

Em alguns locais é possível observar sinais visíveis da alteração do granito, resultantes da

sua exposição aos agentes de meteorização como a água, o ar e os seres vivos (Figura

109). Os maciços graníticos apresentam fracturas, também chamadas diaclases, que

surgem por várias razões: pressões orientadas a que estas rochas estiveram sujeitas;

contracção aquando do arrefecimento do magma e descompressão quando surgem à

superfície. Quando o granito, formado em profundidade, passa a estar à superfície, estas

fracturas constituem locais de fragilidade da rocha, por onde a água pode circular e

infiltrar-se no maciço granítico, conduzindo à sua alteração e desagregação . Nas margens

do rio Douro surge uma paisagem tipicamente granítica caracterizada pela presença de

blocos arredondados dispostos de forma caótica, isolados ou empilhados, morfologia

conhecida por caos de blocos.

Figura 109 – Pormenor da alteração do granito caracterizada pela perda de coesão do granito e formação de areia granítica, resultante da

transformação dos feldspatos e das micas, minerais constituintes do granito. Notar a presença de um cristal de maior dimensão de feldspato,

designado por fenocristal, que confere ao granito uma textura dita porfiróide.

Tempo: 5h:47 min Local: Ermida Tema: Granitos

22

Fenocristal de feldspato

Rochas Magmáticas

168

Formação de caos de blocos

O aparecimento de caos de blocos, tal como acontece nas margens do rio Douro (Figura

111), pode ser explicado de uma forma simplificada através dos seguintes esquemas (Alan

McKirdy & Roger Crofts, 1999).

Figura 110 – Esquema representativo da formação de caos de blocos.

1. Afloramento de um maciço granítico, caracterizado pela existência de uma rede de diaclases. Estas expõem uma maior área dos maciços graníticos à alteração.

2. A água pode infiltrar-se através das diaclases e reagir com os minerais que constituem o granito, transformando-os noutros. A água também pode solidificar com o abaixamento da temperatura. Quando a água solidifica, aumenta de volume, o que promove o alargamento das diaclases e por sua vez a desagregação do maciço granítico em blocos. À medida que se verifica a alteração do granito, com formação de uma areia grosseira, os vértices desaparecem, as arestas suavizam-se e pouco a pouco os blocos tornam-se arredondados, formando bolas.

3. A areia grosseira é removida pelas águas das chuvas ou pelo vento. Os blocos podem encontrar-se amontoados ou dispersos ao acaso.

Figura 111 - Caos de blocos na margem sul do rio Douro.

169

Em Barqueiros podemos localizar o contacto entre os granitos, que desde há muito tempo

nos acompanham, e os xistos e quartzitos do Ordovícico, aos quais se seguirão em breve as

rochas xistentas do Grupo do Douro (Câmbrico) (Figura 112). No entanto, salienta-se o facto

da transição dos quartzitos do Ordovícico aos terrenos do Câmbrico não ser evidente.

Devido à presença de uma falha neste local, que mais uma vez o rio aproveitou para

encaixar o seu leito, as unidades geológicas do Ordovícico encontram-se deslocadas para

norte na margem sul.

É a partir de Barqueiros, onde os xistos, em especial os do Grupo do Douro passam a

dominar, que começa a surgir a edificação de socalcos onde se faz o cultivo do famoso

Vinho do Porto e onde se inicia a Região Demarcada do Douro.

A 10 de Setembro de 1756, foi instituída por Marquês de Pombal a Companhia Geral da

Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que demarcou as zonas para a produção vinícola. A

Região Demarcada do Douro foi uma ideia pioneira, sendo a mais antiga a nível mundial. A

área de produção da vinha demarcada não foi sempre a mesma, tendo aumentado ao

longo dos século XVIII e XX para montante, abrangendo actualmente uma área de 250 000

hectares (Tabela III). Encontra-se subdividida em três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo

e Douro Superior (Figura 113). O Vinho do Porto produzido nesta região é o produto

nacional mais conhecido internacionalmente.

Legenda:

Figura 112 – Extracto da Carta Geológica de Portugal à escala 1:500 000 (Oliveira et al., 1992b).

Tempo: 6h:07 min Local: Barqueiros Tema: Região Demarcada do Vinho do Porto (RDVP)

23

História

170

Figura 113 – Região Demarcada do Douro (fonte: www.ivdp.pt).

Tabela III – Caracterização das sub-regiões da Região Demarcada do Douro (fonte: www.ivdp.pt).

Sub-Região Área Total (ha) % Área com vinha

(ha) % da Área total

Baixo Corgo 45.000 18 13.492 29,9 Cima Corgo 95.000 38 17.036 17,9 Douro Superior 110.000 44 8.060 7,3 250.000 38.588 15,4

Escala 0 15Km

171

Os xistos, uma vez à superfície, são alterados e desagregados por acção dos agentes de

meteorização e erosão (Figura 114).

A facildade com que os xistos são alterados e desagregados relaciona-se com o facto

de apresentarem xistosidade, o que se traduz numa erosão mais rápida comparativamente

aos quartzitos e granitos.

Por isso, as margens são mais abertas nos xistos e mais fechadas nos quartzitos e granitos.

Figura 114 – Alteração dos xistos pertencentes ao Grupo do Douro, próximo da barragem de Crestuma. Os minerais primários transformam-se

em minerais secundários – argilas.

A alteração dos xistos resulta da reacção entre os minerais primários e a água, com produção de

minerais secundários e aumento de volume com consequente desagregação dos xistos.

24

Tempo: 6:17 min Local: Rede Tema: Xistos

Rochas Metamórficas

172

Modelo evolutivo

As rochas que temos vindo a observar - xistos, quartzitos e grauvaques- formaram-se no

Paleozóico.

No Mesozóico predominou a alteração das rochas, sob condições de clima quente e

húmido. A alteração dos xistos foi mais profunda, atingindo centenas de metros de espessura

(Figura 115).

Figura 115 – As condições climáticas favoreceram a alteração profunda das rochas, originando-se uma superfície de aplanamento(modificado de Pereira et al., 2004).

Na era Cenozóica, e antes da instalação do sistema fluvial do Douro, uma grande

quantidade de rocha alterada foi removida e acumulada em depressões associadas aos

sistemas fluviais mais antigos (Figura 116) ou atingiram depressões marinhas como o Atlântico.

Levantamento tectónico

Legenda:

Dobras Falha

Falha provável

Figura 116 – Uma grande quantidade de rocha alterada foi removida por acção dos agentes erosivos e em resposta ao levantamento tectónico. Forma-se uma paisagem em que se destacam as rochas

menos alteradas como os quartzitos. Os agentes de meteorização continuaram a actuar até à actualidade (modificado de Pereira et al., 2004).

Legenda:

Dobras Falha

Falha provável

Antiga superfície

de aplanamento

173

Na margem norte do rio Douro encontram-se as Termas de Caldas do Moledo, integradas

num parque com plátanos seculares e tílias que dá aos seus utentes a tranquilidade e

sossego necessários para o seu repouso (Figura 117).

As águas das termas nascem a 41ºC e são conhecidas por serem indicadas para o

tratamento de doenças do aparelho respiratório, da pele, reumáticas e músculo-

esqueléticas. O tratamento é efectuado por banhos de imersão, duches (sub-aquático,

agulheta, escocês) pulverizações, inalações, irrigações e gargarejos. Possui uma piscina

termal com sauna, hidroterapia e hidro-massagem.

Os actuais balneários foram mandados construir por D. Antónia Adelaide Ferreira no final

do séc. XIX, junto à estrada nacional.

A povoação de Caldas do Moledo, situada logo a seguir às termas, nasceu com o

aproveitamento das águas medicinais, no tempo do rei D. Afonso Henriques.

Figura 117 – Termas de Caldas do Moledo.

Tempo: 6h:27 min Local: Moledo Tema: Termas

25

Termalismo

174

Circulação hidromineral em Caldas do Moledo

A nascente de águas minerais das Termas de Caldas do Moledo ocorre em rochas do

Grupo do Douro (Figura 118). A circulação da água mineral em profundidade ocorre mais

superficialmente em xistos e mais profundamente em granitos subjacentes aos xistos. O fluxo

hidromineral ocorre em profundidade através de falhas existentes nas rochas, sendo através

destas que se dá a ascensão da água mineral até à superfície, onde depois é captada para

ser utilizada em diversos tratamentos nas Termas de Caldas do Moledo. Desta forma, a

tectónica desempenha em Caldas do Moledo um papel importante na circulação das águas

minerais.

Legenda: Rochas do Grupo do Douro Granitos

Falha

Circulação de águas minerais

Circulação de águas normais

Captação de água mineral

Figura 118 – Esquema representativo do modelo da circulação mineral em Caldas do Moledo (modificado de Marques et al., 2003).

175

Nas proximidades da cidade de Peso da Régua encontram-se, na margem sul, uma

ampla plataforma com sedimentos depositados pelo rio Douro (Figura 119). A formação

destes depósitos ocorreu nos últimos 2 Ma, durante o processo de encaixe do rio. Mais uma

vez os sedimentos depositaram-se na zona convexa da curvatura do rio, num troço em que

o rio se encaixou numa falha geológica aí existente.

Figura 119 – Depósitos fluviais na margem sul do rio Douro, antes de chegar a Peso da Régua.

26

Tempo: 6h:42 min Local: Peso da Régua Tema: Sedimentos fluviais

Hidrologia

176

Modelo evolutivo

Nos últimos 2Ma (Plistocénico e Holocénico), instalou-se um novo sistema fluvial, que

actualmente se reconhece na paisagem (Figura 120). Estes rios escavaram, a partir do

Atlântico, vales profundos na superfície da Meseta, que dominava a paisagem durante o

Cenozóico. Este encaixe do sistema fluvial deveu-se à continuação do levantamento do

continente por acção tectónica e ao abaixamento do nível do mar nos períodos glaciares

que caracterizaram o Quaternário.

Levantamento tectónico

Figura 120 – Nos últimos 2 Ma instalaram-se os rios, incluindo o rio Douro. Foram-se encaixando

e originaram os vales fluviais que constituem elementos da paisagem actual (modificado de Pereira et al., 2004).

Legenda:

Dobras Falha

Falha provável

177

Na margem norte, um talude da estrada nacional na Régua mostra sedimentos

depositados durante inundações provocadas pelas cheias do rio Douro. As cheias são

fenómenos naturais que são frequentes no rio Douro, sendo as localidades mais afectadas

aquelas que se localizam mais próximas do leito do rio como é o caso de Peso da Régua

(Figura 121). No Porto e em Vila Nova de Gaia, o rio Douro provoca cheias que são

consideradas das maiores da Europa, devido aos elevados caudais escoados. Estes valores

elevados devem-se a vários factores como a intensidade de precipitação, a forma da

bacia hidrográfica, a inclinação do leito do rio Douro e dos seus afluentes e a constituição

geológica da bacia. Verifica-se durante os períodos de cheia uma subida acentuada do

nível da água, pelo facto de o vale ser estreito e encaixado, o que não possibilita o seu

espraiamento. Na cidade de Peso da Régua, tal como em outras cidades afectadas pelas

cheias do rio Douro, existem placas gravadas com a data da cheia e que são colocadas à

altura que a água atingiu (Figura 122). No passado a ocupção destas áreas tomava em

consideração as cheias, como se pode observar por exemplo na Ribeira e em Miragaia, no

Porto. Aí, o piso inferior é aberto e os arcos suportam as habitações elevadas. Neste piso

inferior eram guardados barcos e bens fáceis de remover durante as cheias. Actualmente,

observa-se uma ocupação diferente destes espaços, valorizados pelo turismo, mas em que

períodos de cheias são fortemente penalizados.

! Figura 122 – Placas gravadas com a data de ocorrência da cheia, colocadas à altura atingida pela água em Peso da Régua. " Figura 121 – Cheia de 1989 na cidade da Régua.

27

Tempo: 6h:47 min Local: Peso da Régua Tema: Depósitos de

inundação e cheias

Hidrologia

179

As cheias são fenómenos naturais dos quais nem sempre existiram registos sistemáticos,

apesar de se ter conhecimento da sua ocorrência. Os caudais escoados pelos rios são

registados pelos limnígrafos. O mais antigo limnígrafo no troço português do rio Douro, situa-

se na Régua e entrou em funcionamento em 1944.

No quadro seguinte (Quadro III) encontram-se as 20 maiores cheias do rio Douro com os

caudais escoados e as alturas atingidas pela água, na cidade de Peso da Régua e do

Porto.

Quadro III – As vinte maiores cheias do rio Douro em Peso da Régua e no Porto.

Nota: A altura na cidade de Peso da Régua corresponde à altura acima do nível de

estiagem. Na cidade do Porto a altura corresponde à altura acima do cais da Ribeira.

Como se pode constatar pelos valores do quadro, a água na cidade de Peso da

Régua atingiu em alguns anos, nomeadamente em 1739 e 1909, alturas

impressionantes. Em Peso da Régua a partir da altura de 11,50 m alaga o cais turístico

e a partir dos 12,00 m o rio Douro começa a inundar a marginal. Das cheias mais

recentes destacam-se as de 2001 e 2003. Em 2001 registou-se na Régua um caudal

de 8548 m3/s e em 2003 de 7387 m3/s.

Peso da Régua Porto (Cais da Ribeira) Ano Caudal (m3/s) Altura (m) Altura (m) 1739 18000 25.0 6.0 1909 16700 23.7 5.2 1779 16100 23.1 4.9 1962 15700 22.7 4.5 1823 15600 22.6 3.7 1788 15500 22.5 4.2 1860 15100 22.0 3.3 1727 14000 20.8 3.6 1850 13900 20.7 3.7 1910 13700 20.5 2.2 1887 13500 20.3 3.6 1843 13000 19.7 3.3 1966 12500 19.1 3.8 1855 12500 19.1 2.1 1989 12000 18.6 2.8 1888 11800 18.5 3.0 1978 11600 18.1 3.2 1979 11000 17.4 3.0 1948 9620 15.7 1.4 1996 8900 15.5 1.6

Tempo: 6h:50 min Local: Peso da Régua Tema: Cheias

28

Hidrologia

180

Cheias no Douro

Conhecidos os caudais de cheia num intervalo longo de tempo (Quadro III) é possível

determinar o período de retorno, ou seja, estimar qual o intervalo de tempo esperado para a

ocorrência de uma cheia com determinada dimensão (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Relação caudal/ período de retorno para a cidade de Peso da Régua (Aires et al., 2000b).

Através do gráfico pode-se concluir que, em média, existem cheias como as de 1739 e

1909, num intervalo de mais de cem anos.

Sucessivas cheias deixaram um registo sedimentar em raros locais das margens do rio

Douro. Num desses locais, situados na Régua, datações e estudos efectuados num talude

com uma altura de 10 metros de sedimentos, evidenciaram uma sucessão mais ou menos

regular de cheias desde há cerca de 10 000 anos (Figura 123).

Figura 123 - Depósitos de inundação na margem norte do rio Douro em Peso da Régua.

181

A cidade de Peso da Régua, conhecida como a capital do Douro, fica situada na

margem norte do rio Douro, pertence ao distrito de Vila Real e dista 110 Km da foz do rio

Douro, no Porto.

Pensa-se que o seu nome terá tido origem numa casa romana que aqui existiu "Vila

Regula", outros acreditam que a origem do nome está em “récua”, em virtude dos

conjuntos de récuas ou cavalgaduras que passavam o rio Douro e outros ainda pensam

que o nome pode derivar de “reguengo”, nome dado às terras dos reis. No que diz respeito

ao nome Peso, pensa-se que poderá derivar do lugar onde eram pesadas as mercadorias e

cobrados os impostos ou ter evoluído a partir de um lugar onde os animais de transporte

eram alimentados ou pensados, o “Penso”.

Depois de Marquês de Pombal instituir a Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro em

1756 na Régua, com o objectivo de defender a qualidade dos vinhos da região e

regulamentar a sua produção, esta cidade passou a ser a Capital da Região Demarcada

do Douro e cresceu para junto da margem do rio Douro, tendo-se desenvolvido

economicamente. Este crescimento, foi uma consequência do comércio do vinho da

região, desempenhando esta cidade a função de entreposto vinícola da Companhia,

controlando o transporte fluvial do vinho do Porto. Era a partir de Peso da Régua que as

pipas de vinho eram transportadas em barcos rabelos até Gaia, onde o vinho envelhecia

nas caves, para posterior comercialização.

A vinha cultivada em socalcos domina a paisagem em redor da cidade, sendo possível

em muitas das quintas que aqui existem, onde foram recuperadas as antigas casas

senhoriais, fazer provas de vinhos e visitas guiadas aos locais onde são produzidos. A

belíssima paisagem que cerca a cidade pode ser contemplada em alguns miradouros

existentes nos arredores dos quais se destacam os de São Leonardo, em Galafura, e do Alto

de Santo António, em Loureiro.

Actualmente, a cidade da Régua tem o estatuto de Cidade Internacional da Vinha e do

Vinho. Encontram-se aqui instaladas importantes instituções associadas à produção,

certificação, fiscalização, comercialização e divulgação do vinho e da região como a

Casa do Douro, que possui no seu interior vitrais magníficos alusivos à cultura da vinha

(Figura 124), o Instituto dos Vinhos Douro e Porto (criado em Novembro de 2003, através da

fusão do Instituto do Vinho do Porto com a Comissão Interprofissional da Região

Demarcada do Douro), a Rota do Vinho do Porto e o Museu do Douro. Existem três pontes a

atravessar o rio Douro na cidade de Peso da Régua, uma ferroviária desactivada, datada

de 1872, outra rodoviária, datada de 1932, e uma de recente construção, parte integrante

da A24.

29

Tempo: 6h:52 min Local: Peso da Régua Tema: Cidade de Peso da

Régua

História

182

Figura 124 – Vitrais da Casa do Douro na cidade de Peso da Régua.

A “Ferreirinha da Régua”

Foi na cidade da Régua que nasceu em 1811 Dona Antónia Adelaide Ferreira, conhecida

na região como “Ferreirinha” (Figura 125). Foi uma das mais importantes personalidades da

região do Douro e possuidora de uma das maiores fortunas da época. Defendeu a qualidade

e a credibilidade do Vinho do Porto, tendo superado graves crises económicas do sector.

Para além disso, defendeu os direitos dos vitivinicultores durienses e contribuiu para o

desenvolvimento e prosperidade da região do Douro.

Figura 125 – Pintura de D. Antónia Adelaide Ferreira, conhecida por “Ferreirinha”.

183

A barragem da Régua localiza-se a cerca de 4 Km a montante da cidade de Peso da

Régua, próximo da povoação de Bagaúste. A sua construção iniciou-se em 1967 e entrou

em funcionamento em Junho de 1973. A sua albufeira tem uma capacidade para reter 95

milhões de metros cúbicos e a potência instalada é de 156 MW. Encontra-se equipada com

eclusa de peixes, tipo “Borland”, e por uma eclusa de navegação. Esta barragem é a última

de três barragens que existem no percurso Porto-Pinhão.

Tabela IV – Características gerais dos aproveitamentos hidroeléctricos de

Crestuma-Lever, Carrapatelo e Régua (Fonte: Centro de Produção Douro, 1992).

CRESTUMA-LEVER

CARRAPATELO

RÉGUA

Barragem

Tipo

Fundo móvel

Gravidade

aligeirada

Gravidade

aligeirada

Altura máxima (m) 25.5 57 41

Capac. Max. de

descarga (m3/s)

26 000

22 000

21 500

Potência instalada

(MW)

105

180

156

Queda bruta

máxima (m)

12.60

34.50

28.50

Queda bruta

mínima (m)

5.50

20.00

15.00

Produtividade

média anual (GWh)

399

949

738

Albufeira

Nível máx. Normal

13.20

46.50

73.50

Comprimento (Km)

44.00

40.00

43.50

Superfície inundada

(Km2)

12.98

9.52

8.50

Capacidade total

(hm3)

110.0

148.0

95.0

Capacidade útil

(hm3)

16.0

16.0

10.0

30

Tempo: 7h:10 min Local: Montante P.Régua Tema: Barragens

Recursos Energéticos

A montante da cidade de Peso da Régua a paisagem é dominada pelas famosas e

belas quintas, onde é cultivada a vinha que produz o Vinho do Porto. A designação "do

Porto" advém do facto da armazenagem e comercialização ter lugar no porto existente no

estuário do rio Douro, entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia. Esta designação surgiu

apenas com o início da sua exportação, principalmente para Inglaterra.

O local em que nos encontramos pertence à Região Demarcada do Vinho do Porto

(RDVP) e está integrado na sub-região do Cima Corgo, onde é produzido um Vinho do

Porto de excelente qualidade. A paisagem vitícola singular resultou do esforço humano

levado a cabo ao longo de centenas de anos de trabalho (Figura 126), para transformar

uma região dominada pelos xistos do Grupo do Douro e declives acentuados, pouco

favorável para outras culturas, numa extensa rede de socalcos

.

Figura 126 – Surribas do Douro (Alvão, 1935).

“É o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo português.”

(Jaime Cortesão)

“...uma das mais extraordinárias paisagens rurais construídas que se conhecem no mundo.”

(Orlando Ribeiro)

“Da pedra se fez terra, do sol bravo o licor generoso, que tem um ressaibo de brasa e de framboesa.”

(Aquilino Ribeiro)

“Socalcos que são passadas de homens titânicos, as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir (...). Um poema geológico. A beleza absoluta.”

(Miguel Torga)

31

Tempo: 7h:40 min Local: Montante P.Régua Tema: A vinha

História

186

Os barcos rabelos

O transporte dos vinhos foi inicialmente efectuado através do rio Douro em barcos

rabelos (Figura 127) e, mais tarde, em comboios ou camiões. Os barcos rabelos possuíam

características que lhe permitiam navegar nas fortes correntes que rio Douro tinha no

passado. Não têm quilha, possuem um fundo chato feito com madeiras resistentes, uma vela

quadrada e o leme, que tem o nome de espadela, é uma peça comprida, quase do seu

tamanho, para permitir rápidas manobras. A espadela prolongava o corpo do barco, dando

a impressão que tinha um rabo, daí a designação de rabelo. Muitos foram os náufragos de

barcos rabelos carregados de pipas de vinho devido à difícil navegabilidade do rio Douro.

Estes barcos, que constituem um símbolo da região duriense, transportaram o Vinho do Porto

pelo rio Douro até 1965, sendo actualmente utilizados em regatas e adaptados aos cruzeiros

turísticos de curta duração. Para recordar a sua actividade inicial, muitas empresas do sector

do Vinho do Porto têm junto ao cais de Gaia e Régua, barcos rabelos carregados com pipas

que fazem lembrar tempos passados.

Figura 127 – Barco rabelo a transportar pipas de vinho no rio Douro (Serén, 2002).

187

O Vinho do Porto é o resultado de um conjunto de factores naturais como o clima, a

exposição ao sol, o xisto que acumula calor e permite a infiltração da água, os declives

acentuados, mas também do trabalho árduo do agricultor duriense levado a cabo durante

várias gerações e do aperfeiçoamento das técnicas de produção ao longo dos tempos.

Depois de um ano de trabalho, pois a vinha requer muitos cuidados, as vindimas decorrem

de Setembro a Outubro, a grande festa do ano na região do Douro (Figura 128 e 129).

Depois de produzido, era transportado para os armazéns do Porto e de Gaia, para

envelhecer e para posterior exportação.

O Alto Douro Vinhateiro foi consagrado Património Mundial pela UNESCO, na categoria

de paisagem cultural em Dezembro de 2001, reconhecendo-se internacionalmente a

singularidade da paisagem vitícola duriense, onde está bem patente a interrelação entre os

factores humanos e os factores naturais.

Figura 128 – Vindima (Fonte: Rota do Vinho do Porto).

Figura 129 – Transporte das uvas em cestos (Fonte: Rota do Vinho do Porto).

Tempo: 7h:55 min Local: Montante P.Régua Tema: Vinho do Porto

32

História

188

Os vinhos e outras culturas do Douro

O Vinho do Porto é um vinho licoroso de sabor único e características peculiares. Apesar

de ser o que goza de mais prestígio no mercado mundial, outros vinhos de excelente

qualidade são produzidos na região do Douro. Destacam-se os vinhos de mesa do Douro e

outros tipos de vinho como os moscatéis e os espumantes. Desta forma, os vinhos durienses

não se reduzem ao Vinho do Porto, existindo uma grande variedade de vinhos produzidos na

região do Douro sem a designação “Porto”, mas igualmente de elevada qualidade.

Na bordadura das vinhas existem oliveiras e amendoeiras que descrevem verdadeiras

linhas na separação das parcelas com vinha, fazendo lembrar peças de um puzzle que

encaixam na perfeição. Na época em que as amendoeiras estão em flor, os socalcos ficam

enfeitados e ganham outra cor, numa ilusão de salpicos por algodão.

Na região do Douro são também abundantes laranjeiras, macieiras, castanheiros, e

cerejeiras. Existem ainda terrenos incultos com vegetação natural, nomeadamente em locais

de declive acentuado e difícil acesso.

A vinha

As vinhas do Douro foram parasitadas por várias pragas, salientando-se a partir da

década de sessenta do século XIX, a filoxera, um insecto proveniente da América do Norte

que ataca a raíz das videiras. A morte das videiras conduziu ao abandono de grande parte

dos terraços com apenas uma fila de videiras(Figura 130-A), que vieram a ser designados por

mortórios. Posteriormente, devido à dimensão da destruição e a obras efectuadas no rio que

permitiram a sua navegabilidade para montante, a região demarcada expandiu-se,

passando a incluir o Douro Superior. A vinha começou a ser plantada em terraços mais largos,

onde são plantadas duas ou mais filas de videiras(Figura 130-B). No entanto, este novo

sistema de plantação da vinha não permitia a mecanização. Por isso, no fim dos anos 60 e

início dos anos 70 do século XX, surgiu um novo sistema de plantação, os patamares e mais

tarde a vinha plantada ao alto (Figura 130-C). Com as mudanças na forma de plantar a

vinha, a paisagem vitícola duriense sofreu várias transformações ao longo do tempo.

A B C

Figura 130 – Diferentes técnicas de plantação da vinha. A – Terraços pré-filoxera; B – Terraços pós-

filoxera; C – Vinha ao alto.

189

O Pinhão é uma vila ribeirinha situada na margem norte do rio Douro (Figura 131),

pertencente ao concelho de Alijó.

O nome desta vila deriva do facto de se encontrar aqui a foz do rio Pinhão, um dos

afluentes do rio Douro.

Em tempos remotos, a população dedicava-se à pesca ou à passagem de pessoas e

mercadorias entre as margens, quer do rio Douro, quer do rio Pinhão. No entanto, com o

cultivo da vinha e o incremento do comércio do Vinho do Porto, o Pinhão, devido à sua

localização privilegiada, tornou-se num entreposto importante dos vinhos produzidos na

região circundante. Actualmente, o Pinhão vive sobretudo do comércio e do turismo.

Sobre o rio Douro existe uma ponte rodoviária que permite a ligação entre o Pinhão e o

concelho de São João da Pesqueira. Sobre o rio Pinhão, e a estabelecer a ligação entre o

Pinhão e o concelho de Sabrosa, existe uma ponte metálica ferroviária e uma outra

rodoviária. Foi a partir de Junho de 1880 que o Pinhão passou a ter disponível o transporte

ferroviário.

Figura 131 – Vila ribeirinha do Pinhão (1928). (Fonte: Serén, 2002)

33

Tempo: 8h:10 min Local: Pinhão Tema: Vila ribeirinha do

Pinhão

História

190

A estação ferroviária do Pinhão

Quem visita o Pinhão não pode deixar de visitar a sua estação ferroviária (Figura 132)

para apreciar os seus azulejos que constituem autênticos quadros com panorâmicas do

Pinhão (Figura 133), do rio Douro, de algumas quintas, bem como imagens relacionadas com

a cultura da vinha como a vindima, o transporte dos cestos, a carregação de vinho para os

barcos rabelos, etc.

Figura 132 – Estação ferroviária do Pinhão. Figura 133 – Painel de azulejos com panorâmica

do Pinhão.

O miradouro de Casal de Loivos

Sobre o Pinhão, o miradouro localizado na aldeia de Casal de Loivos (Figura 134),

proporciona um cenário magnífico em que o rio Douro, descrevendo um “s”, corre encaixado

no seu vale com as encostas forradas a vinha plantada em socalcos. Neste local podemos

sentir a calma característica desta região e contemplar uma das mais belas paisagens da

região vinhateira, com panorâmicas de importantes quintas, como a das Carvalhas, a da

Roêda e da Foz. Os socalcos, suportados por muros de xistos para evitar o desabamento dos

terrenos aquando da queda de precipitação, fazem lembrar uma imponente escadaria que

vai desde as margens do rio até ao alto das encostas.

Figura 134 – Panorâmica do miradouro de Casal de Loivos, nas proximidades do Pinhão.

191

Glossário de termos geológicos

a

afloramento - toda e qualquer exposição directa, observável, de rochas na superfície da

Terra, que pode ser natural (em escarpas) ou artificial (em escavações).

afluente - curso de água que desagua num curso maior ou num lago. O mesmo que

tributário.

água mineral - água proveniente de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas,

com composição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas

comuns. Caracteriza-se por possuir uma elevada quantidade de elementos dissolvidos,

acreditando-se vulgarmente, ter efeitos benéficos para a saúde. As águas minerais estão

geralmente relacionadas com a circulação profunda e/ou fenómenos vulcânicos ou

tectónicos.

água termal – água mineral natural cuja temperatura de emergência é 4ºC mais elevada

que a temperatura média anual do local onde emerge. De acordo com a classificação

adoptada pelo Instituto Português de Hidrologia, da autoria de Fraústo da Silva e Maria

Cândida, uma água termal é uma água com temperatura de emergência entre 35 e

45ºC.

aluviões – sedimentos deixados pelos cursos de água no seu leito, mas também fora deste

depois das inundações.

b

bacia hidrográfica - área topograficamente definida, drenada por um curso de água

perene ou temporário e seus eventuais afluentes, de tal modo que todos os caudais

efluentes sejam descarregados através de uma única saída. O contorno de uma bacia

hidrográfica coincide com a linha de separação de águas ou linha de cumeada, que

divide as precipitações que caiem na bacia das que caiem nas bacias contíguas.

bacia de sedimentação – largas depressões na crusta terrestre, onde os sedimentos são

depositados (Ex: mares, oceanos, lagos).

C

câmara magmática – reservatório de magma que existe no interior da crusta.

canal de estiagem - leito de um curso de água ocupado durante os períodos de

estiagem.

192

carbono 14 - isótopo radioactivo do carbono com peso atómico 14 que é utilizado na

determinação da idade de rochas que contêm carbono. A datação por radiocarbono

baseia-se na desintegração radioactiva do 14C, originando 12C que tem comumente um

alcance máximo de cerca de 30000 anos.

caudal - volume de um fluido escoado por unidade do tempo.

cheia - acentuada subida do nível da água num curso de água, lago, reservatório ou

região costeira.

cimentação – a água existente nos sedimentos pode precipitar substâncias que nela

estão dissolvidas, formando um cimento natural que une as partículas.

cristalização fraccionada – processo responsável pela diferenciação de um magma

numa câmara magmática devido às diferentes temperaturas de cristalização dos diversos

minerais presentes na mistura.

compactação – à medida que os sedimentos se afundam, na bacia de sedimentação, a

pressão a que estão sujeitos vai expulsar parte da água existente entre eles, ocorrendo

uma redução do espaço existente entre eles.

d

deformação - por influência das forças terrestres (frequentemente relacionadas com

eventos orogénicos) as rochas podem deformar-se de dois modos distintos:

1. Deformação dúctil: quando as rochas se encontram num estado relativamente plástico

(a grandes profundidades), dá origem ao aparecimento de estruturas como dobras,

foliações, etc.

2. Deformação frágil: quando as rochas se encontram à superfície, ou muito perto dela, a

acção de forças tectónicas pode provocar a ruptura das rochas, dando origem ao

aparecimento de fracturas e falhas.

diagénese – conjunto de modificações que os sedimentos sofrem, desde que são

depositados até se transformarem numa rocha sedimentar compacta.

diferenciação gravítica – transformação progressiva de um magma durante um processo

de cristalização fraccionada por subtracção dos elementos que constituem os primeiros

minerais a cristalizar e que se depositam na base da câmara magmática por serem mais

densos, o que altera a composição mineralógica do magma residual.

193

e

erosão - remoção dos materiais da crusta terrestre quando sujeitos à acção dos agentes

atmosféricos.

escombreira - material solto e estéril proveniente dos desmontes de uma mina.

estrato - formação geológica que se apresenta sob a forma de uma camada e que pode

ser individualizada das que lhe são contíguas.

f

fluido - composto no estado fluido (líquido e/ou gasoso) que pode conter elementos em

solução e que circula nas rochas.

foz - é o local onde o rio desemboca. Pode ser no mar, num lago o ou em outro rio.

Também pode ser chamada de desembocadura.

g

geologia - ramo das ciências naturais que trata do estudo do planeta Terra,

nomeadamente a sua origem, evolução, composição e estrutura, matérias constituintes e

evolução da vida.

h

hidrologia - ciência multidisciplinar que estuda as águas superficiais e subterrâneas da

Terra, a sua formação, circulação e distribuição, tanto no tempo como no espaço, as

propriedades biológicas, químicas e físicas e as interacções com o seu ambiente,

incluindo a sua relação com os seres vivos.

i

inundação – associada à acção de cobrir de água uma determinada superfície por

águas provenientes de cheias.

j

jazigo mineral - acumulação natural de matérias minerais ou orgânicas (sólidas, líquidas

ou gasosas) susceptível de ser explorada.

194

l

litologia - o termo litologia refere-se ao tipo de rocha. Consiste na descrição de rochas em

afloramento ou amostra de mão, com base em várias características tais como a cor,

textura, estrutura, composição mineralógica ou granulometria.

m

magma - material existente no interior da Terra a temperatura elevada (superior a 700°C),

possuindo mobilidade e podendo englobar fases sólida (minerais formados pela

cristalização magmática), líquida e gasosa (essencialmente vapor de água). O magma

poderá migrar e, em alguns casos, ascender até à superfície dando origem a um episódio

vulcânico. Quando o magma atinge a superfície designa-se por lava e solidifica formando

rochas vulcânicas (por exemplo, o basalto). Se o magma arrefece e cristaliza em

profundidade dá origem a rochas plutónicas como o granito.

metamorfismo - reajustamento químico, mineralógico, textural e estrutural, no estado

sólido, de qualquer tipo de rochas quando sujeitas a condições físico-químicas distintas

das condições de formação. O processo metamórfico ocorre, normalmente, em

ambientes endógenos (no interior da Terra) induzido por factores como a temperatura,

pressão, fluidos e tempo.

As novas rochas assim formadas designam-se por rochas metamórficas (por exemplo,

mármores, xistos, quartzitos, gnaisses, corneanas, etc.).

meteorização - conjunto de processos físicos e químicos que afectam as rochas quando

sujeitas à acção dos agentes atmosféricos (água, ar, variações de temperatura, etc.),

conduzindo a modificações a nível mineralógico, estrutural e textural. Assim, podem

formar-se novos minerais à custa de minerais pré-existentes, com destruição da estrutura e

textura iniciais da rocha. Esta perde coerência e ocorrem, frequentemente, mudanças de

coloração.

mineralização - acção de deposição de elementos minerais numa rocha, de forma

natural.

mineral - elemento ou composto químico sólido, inorgânico, de ocorrência natural, com

um arranjo atómico ordenado (estrutura cristalina), composição química definida e

propriedades físicas características (por exemplo, cor, dureza, brilho, hábito, clivagem).

montante - relativo à região compreendida entre um ponto considerado e a nascente de

um curso de água.

195

n

nascente - local da superfície topográfica onde emerge, naturalmente, uma quantidade

apreciável de água subterrânea. Estes locais representam descargas naturais dos

aquíferos que alimentam normalmente os cursos de água, podendo eventualmente ser

utilizadas para consumo humano, rega, etc, através de obras de captação.

p

planície de inundação – planície que se forma quando um curso de água transborda e

inunda as zonas adjacentes.

r

recurso energético – substância natural que pode ser utlizada pelo Homem para a

obtenção de energia.

rocha - matéria natural consolidada ou não, formada por um ou mais minerais, cuja

origem pode ser sedimentar, ígnea ou metamórfica.

s

sedimento - material de natureza mineral ou orgânica que constitui o solo. Os sedimentos

são originados pelo intemperismo e erosão, podendo ser transportados do seu local de

origem por agentes geológicos (ventos, rios, correntes, etc.) e acumular-se em depressões

onde tendem a formar camadas sedimentares.

sedimentação – processo pelo qual os sedimentos deixam de ser transportados,

depositando-se.

t

tectónica - termo relacionado com estruturas produzidas por deformação dos materiais.

Ramo da Geologia que estuda a origem e evolução das estruturas produzidas pela

deformação da crusta terrestre, principalmente os dobramentos e os falhamentos.

textura - refere-se ao tamanho, forma e arranjo dos constituintes de uma rocha. As

designações texturais variam consoante o tipo de rocha.

textura porfiróide – Textura caracterizada por existirem megacristais numa matriz granular,

ou seja, os grãos apresentam sensivelmente as mesmas dimensões.

Capítulo VII

Considerações finais

Eugénia Araújo Cap.VII – Considerações finais

198

Considerações finais

O conceito de geoturismo, enquadrado neste trabalho no conceito de turismo

sustentável e de ecoturismo, é uma actividade que está relacionada com a

geodiversidade e com a Geoconservação.

Em Portugal, o desenvolvimento do geoturismo não tem sido o desejado devido à

falta de sensibilização do público e dos políticos para a geodiversidade e para o

Património Geológico, a razão de ser do geoturismo, dificultando o desenvolvimento

de estratégias de Geoconservação e a integração dos geossítios em iniciativas

geoturísticas. Daí que, seja essencial desenvolver esforços conjuntos para suscitar o

interesse do público para a geodiversidade, para o Património Geológico e para a

importância da Geoconservação para que cada vez mais geossítios no nosso país

possam ser integrados em estratégias geoturísticas.

A caracterização geológica do sector Porto-Pinhão realizada neste trabalho,

apesar de sintética, atesta a diversidade de aspectos geológicos existentes neste

sector. Salienta-se o facto dos aspectos geológicos referidos serem aqueles que no

percurso fluvial Porto-Pinhão se destacam nas margens, para quem realiza a subida do

rio Douro. Este percurso enquadra-se na região do Vale do Douro, visitada anulamente

por milhares de turistas que viajam pela região através dos cruzeiros fluviais. Dado o

aumento significativo nos últimos anos do número de turistas que recorrem a esta

actividade e a ausência de informação de índole geológica constatada ao longo da

realização destes cruzeiros, a sua introdução seria pertinente. As margens do rio Douro

“respiram” geologia e embora seja suspeita, considero que a abordagem da geologia

no vale do rio Douro, integrada claramente com outros aspectos culturais e históricos,

impõe-se e é imperativa. Para Miguel Torga, o Douro é um “poema geológico”. Seria

importante que este “poema” fosse lido em voz alta a todos que lá se deslocam para

observar uma paisagem singular. A veiculação desta informação acarretaria uma

maior qualidade e atractividade aos cruzeiros fluviais e certamente contribuiria para

uma maior satisfação dos turistas, cada vez mais exigentes, na medida em que lhes é

proporcionada uma experiência mais enriquecedora, fazendo-os sentir num lugar

único, diferente de qualquer outro do mundo que já tenham visitado. Os cruzeiros

proporcionam uma paisagem grandiosa, de beleza única, em que os turistas têm

geralmente um papel de meros contempladores dessa paisagem. Julgo que outro

dinamismo seria dado aos cruzeiros se os turistas passassem a ser mais activos, ou seja,

se para além da mera contemplação, se empenhassem em compreender aquilo que

observam. Para que o Vale do Douro seja um destino turístico de referência, impõe-se

que todos os produtos turísticos da região, como os cruzeiros fluviais, se pautem por um

Eugénia Araújo Cap.VII – Considerações finais

199

elevado nível de qualidade. No trabalho apresentado, visou-se sensibilizar para as

potencialidades que a região do vale do rio Douro possui em termos geoturísticos, que

podem constituir uma ferramenta importante no desenvolvimento do turismo da

região. Reconhecendo essas potencialidades e constatada a ausência de

informação, apresenta-se neste trabalho uma proposta de um guia geoturístico. A sua

aplicação em contexto real constituiria uma oportunidade para alertar os turistas da

geodiversidade que os rodeia quando realizam os cruzeiros e para compreender a sua

história, ao mesmo tempo que observam uma paisagem única. Neste guia,

contemplou-se, sempre que foi possível e considerado adequado, aspectos da cultura

e história regional. Saliento o facto da referência aos aspectos geológicos focados no

guia não se limitar à sua descrição, tendo havido a preocupação de fazer uma

abordagem mais dinâmica do que se observa, contextualizando no tempo e no

espaço a sua génese e evolução. Salienta-se que o guia apresentado neste trabalho

é uma primeira proposta, na medida em que outros aspectos podem ser integrados

em trabalhos futuros.

Trabalhos futuros

Verificou-se que a formatação do guia geoturístico que integra este trabalho não

foi a mais adequada, mas por ter de se dispender muito tempo a formatar novamente

o que já estava feito, que era muito, não foi alterada. No entanto, será importante

rever a formatação do guia, adoptando aquela que mais se adeque a futuras

utilizações do guia, nomeadamente a uma possível edição. Para que tal seja

concretizado será necessário procurar as entidades e/ou os meios que promovam a

sua edição.

O presente trabalho abrange o sector Porto-Pinhão mas seria interessante em

trabalhos futuros realizar um guia geoturístico do sector fluvial a montante do Pinhão

até Barca d`Alva que daria continuidade ao guia apresentado neste trabalho. Desta

forma, o percurso que o rio Douro efectua em território português e que milhares de

turistas realizam todos os anos através da realização dos cruzeiros fluviais ficaria

suportado por informação, onde constariam os aspectos mais relevantes da

geodiversidade e do Património Geológico da região do Vale do Douro integrados,

sempre que considerado adequado, com aspectos históricos, culturais e da

biodiversidade. Seria importante fazer um estudo da Geomorfologia da região do Vale

do rio Douro e incluir os aspectos geomorfológicos mais relevantes que por razões de

tempo e complexidade deste trabalho não foi realizado.

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