evans-pritchard - bruxaria oraculos e magia

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Page 1: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

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- E.E. Evans-Pritchard

Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande

Edição resumida e introdllção: Em Gillies

Tradllçtlo: Edl/ardo \fil 't' iroS de C,btro

h)rgl' Z lhar hhtor RIO ,I ' .U1t"lr,

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Page 2: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

(.t.PI/'/o/

A bruxaria é Ufn fenômeno

orgânico e hereditário

I

Os Azande acreditam que certas pessoas são bruxa,; e podem Ih fazer m' J m virtude de uma qualidade intrínseca. Um bruxo não pratiu nto nau pr r encantações e não possui drogas mágicas. Um ato de bruxaria e um aí J>\­quico. Eles crêem ainda que os feiticeiros podem fazé-Ios adoecer por meIO d.t execução de ritos mágicos que envolvem drogas maleficas. O Azande do. Ín­guem claramente entre bruxos e feiticeiros. Contra ambo empregam :iI nhos, oráculos e drogas mágICas. O objeto deste li, ro são a R,a_o~ entr essas crenças e ritos.

Descrevo a bruxaria em primeiro lugar, por se tratar de uma base ind ~ pensável para a compreensão das demais crenças. Quando o Azande alD.Sill­tam os oráculos, sua preocupação maior são os bruxos. Quando empreg m adivinhos, fazem-no com o mesmo objeti,"o. O curandemsmo e a confrana que o praticam são dirigidos contra o mesmo inimigo:

Não tive dificuldade em descobrir o que pensam os Azande sobre a bru­xaria, nem em observar o que fazem para combatê-la. Tai -idei~ e prau .. a5 J.l-

7em à superfície de sua vida; elas são acessín'i~ a quem quer que vi, a om d em suas casas por algumas semanas. Todo zande e uma autoridade em brm .I­

ria. Não ha necessidade de consultJr especiali.~tas. '\em me. mo e preci - ÍD­

terrogâ-Ios sobre esse as~unto, porque as informaçõe~ tluem li\Temen > d situações recorrentes em sua "ida social, e tudo o que \e tem a faz r ob ~'f\ar e ouvir. Mangll, "bruxaria", (01 uma das pnmelra~ p.l!Jwa que oun na t rr.

lande, e continuei a OU\ i 1.1 dia após dia no correr do:. me ..

Os Alanue acreditam que.! brux.ni.1 é um.! \Ulh(.'in"i.1 e i tt'nt n . rp<'

d()~ bru\()~ . Fsta t:' uma cren<,.1 encontr.1d.1 entn.: mLito'i p)\" dJ \tOdo Ct.D­

tr.I1 e Ocilknt,11 O território z.lJ1de 0 o limite Ilorde~te d ,ua di tribut,j . E

() Íl'ltOI ,Ie\l' l.UlhUh.lI ti ,\pt'rtd", I, qUl rr ~ Ulll ~Ill .. \ J t nn

J \.111, J'flt,h.lld II.' tr.,dll\.," d,' "'rI,,, "lIIu~,h\ r.ltl It;: .. I" I l

A/.ll1d, ('I I )

Page 3: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

,fifi 11\ r ~I Ir \jU I ,I~\ 1~lllIl\ ll.I' (\ 1.1111.11 ru .lIi.1 . Ulh.' \'i l' S.I suh, t n I llru ,111,1 hun n I nu ti III 1.11 til'" nt,l \.lllllllUIll.II'CqUUl.1 b .. b.I .. 1I

m hil ao UI II: 1.1 Il lI\ II Ic:ntro d.1 YII.I' li tU1ll,1 \l'r l'llllllltr.HI.1 UIll.1 V.I

ri lad dl pt'\lUllIll III, t). )u,mdo os A/,lI1dl' dCSl H'\'l'1ll SU.l form.l, cm

~t:ral \'1( nt m I .u. o uh \,dl) do br,l\ u I1l' 1011.1.10. l' lju.lI1do dl'\l H'\'l'm ~U,I ln 111 .U m I Ir.\llI ,I Jrc.1 10gll .lh,lixo d.1 lartilagl'm xifoide.I,' que. di/l'Jll, r ohr uh 1.1Ilu.1 hruxarla", l'gllndo eles: "I'~,t.í prc\,1 :1 beir.1 do flg.ldo, )uando .. br 1 h.lrrig.l, h.lsl,1 fur,lr ,I subslalllia-brux.lri,I, ljUl' da l'\plllde \m um I: tal I,

)U\ I 0.1 dlzc:rem que doi ,lpresent,1 U)f ,I\'crmclhada l' conlem se-m nt d ahubora, g rgelim ou quaisquer outras plalllas ljue lenham sido d \orada por um bruxo nas roças de \eus vizinhos, <.h Azande conhl'cem a I xahza ão da uh tancia-bruxaria porque, no passado, eI,1 coslumava ser ex­tr.uda em autóp ias. 'uspeito que sej.l o inleslino delgado cm cerlas fases di­g t"'a, E te orgão foi-me sugerido pel.1s descriçúes ,lzanJe da\ aut6psias l' por aquilo que me foi apontado como contendo suhsláncia-brux.lria no ven­tr de um bode.

l m bruxo não apresenta sintllma\ exteflHh de sua condiçao, embora o pO\o diga: "I: pelos olhos vermelhos que se conhece um bruxo."

2

A bruxana não é apena:. um traço físico, mas também algo herdado. É trans­mitida por descendência unilinear. dos genitores a seus filhos. Os filhos de um bro o são todos bruxos, mas suas filhas, não; as filhas de uma bruxa são todas bruxas, mas seus filhos, não. A transmissao biológica da bruxaria - de um do gemtore para todos os filhos do mesmo sexo que ele - está em comple­mentaridade com as opiniões azande sobre a procriação e com suas crenças escatologica . COll5idera-se que essa concepção deve-se a uma união das pro­priedade p íquicas do homem e da mulher. Quando a alma do homem é mal forte, nascerá um menino; quando a alma da mulher é mais forte. nasce­ra uma menina. Assim, uma criança participa das qualidades psíquicas de .Imbos o pai, mas uma menina tem mais da alma da mãe, e um menino. mal da alma do pai. No entanto, certos atributos são herdados e c1usiva­mente de apena um dos genitores, como as características sexuais, a alma wrporea e a ub tanCla-bruxaria. Há uma crença vaga, que dificilmente se

oI ... nJ!,olIk .... rtaJ .. yn< w qu I rffillla IIIlrnunll~nle o eikTno (N 1 )

pode"J (k" rC\ia "'lIlO IIOld duulrnu W1!~ndo du.ls "lfIl.l , um .• t.orpilr.l uUlra t.orpor .1 tr.lIl\fOrlll.1 !>C Jlum anunallollál,*o 1J.1 ~e UIll e~pcllrn e leva uma eXI I "'Ia .m ... lpjwd_.CI ..... ~ d'.Igu.I.r..luit.Isenledl7.4Uea Ima orpóradc toléllllUI do d.1 de seu pai, ao pas50 q~ a aJmaOJl". .... 41IIt1~ ... IlJ sc II .lnilll.11 loternlLO do I de .ua mJe

A primcir.1 VlstJ, pode parecer tranho aljamlf •• miss.1\I m.lIrilinear numa ouedade mar ada por ncar, m.ls a bruxaria, como a aJma corpórea. faz pade .f ... tt. <H,omp.lIlha .1 tran missao de caractensticas m C" U

ou d.1 m.lc.

Em nm o modo de ver, seria e Idente que, se um hOIllClul" ..... 1i mente bruxo, entao todos os de seu da ao 'pso facto brux UIl1 grupo de pe soas ligada biologicamente entre ,em lintu m.;u,çulÍlna.

Az.lllde ~ nlendem perfeitamente o argumento. ma refubm ,IS qUJI , c ,H:eitJs, torn.lri.un contradllória toda a noçao de bru J1il

tiLa, ao considerado bruxos apena o parente paterno mal pr'osjftll(K um bruxo rewnheLido. E omente em teoria que des ~tendem u.I imlpcl~;.ão ,I todos os membro do ela do brw'o. Se, para a opinião publica , pa;~DelIIIo de homicídio por bruxaria marca o parentes do culpado mo bnD~

exame post-mortem que não revele a e 1 tência de substincia-bruxuia ... homem isenta de suspeita seus parentes paterno. Aqui novamenk ra:iocú ... ríamos que, se o exame post-mortem não descobre a substãncia-b .......... todo o clã do morto seria imune, ma o Azande não agnn como tIC bllaa desta opinião.

Elaborações adicionais da crença libertam o Azande da neo ta+ dr admitirem aquilo que pard nós seriam as consequências Ióp da ..... uma transmissão biológica da brw aria. ficar indubitudmm e Pl'lJQdo

que um homem é bruxo, seus parentes podem, para Rivl .. diar _:Jd-=u para si mesmos, lançar mão do proprio prindpio ~ro qur sob suspeita. Ele admitem que o homem é um bruxo. mas Mpll1

membro do clã deles. Dizem que era um bastardo, pois mIR Azaack homem é sempre do clã de seu gmitor. e não do u píltn"_ tanm-

bém que ele podem então forçar a mãe ( amda esta

era u amante, espancando-a e pergunt ndo; que """Vo

para arranjar bruxaria om adult rio1 . tnquentftDeoIt. POR:" .. ;ta-

ram apena que o bru o de e ter ido um bas,tlrIiIo. na em eu corpo, portanto ele alega 0, CItam a em que memb

Page 4: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

Il\n: d~ hrll '.trI.i • .lO t. prcn.l\·ej quI.' oulras peS~(I.h .Ileltem lal .Irgll-11 nlo mJ' na<' II e, c I'l'dldo que o .ldmital11 Oll releltem.

dl utnn.l z.mdc mc.lUl 1,lInbem.1 noç.lo de ljllC.I1ll"mO <file um I I< li 11 em t.)a filho de um bruxo e ll'nhJ sllb~tjncl.l-hrux.lrla em ,eu corpo. de pode

nao 11"1 b, Ela permJn~(erj lI1oper,lnte, "fria", corno dl/,cm eh Alande. du­r Jllte lod.l J 'UJ \ ida. e um hOl11ul1 dificilmente pode ser cl.1s~ific,ld() LOmo bru II se sua hruxJrta nunC,i func lon.l. • .1 \'erd.tde. oç A/.Inlk geralmente en­wr.lm ,I brux.lria corno lima c.uaderística JIldi\'idudl. e .lssim d.1 ~ tratad,l. a

despl'lto de ~ua .1~S<Ki,l~O com o parcl1tôco. [)e~ e modo. 110 tempo do rei <..bud\\e. certo:; dãs tJl1ham .1 reputação de hruxo~. MJ~ ningucm pensa mal de um homem pelo simples f,lto de ser membro de um dôscs dã~.

Os AlÀndc nao pen,ebem a lont radl\Jo como nós a percebemos. porque nJO pmsuem um intefl'Sse teúrico no a~sunto, e a'i situaçóe~ em que manifes­t,lm su ..... crenÇ<l~ nd hruxaria ndO Ihe~ obrigam a enfrentar o problema. Um homem nunw pergunta aos oráculo - único poder capaz de detectar a loca­hzaÇ.1O da 'iul> tanóa brux.trla nos \ i\ entes - se um determinddo indivíduo e ou não bruxo. O que de paguntd é se, IKsse momento. 'Il]uele homem lhe e tá fd;rendn brux.m.1. O que St; prolllra ~abel e se um indivíduo está fazendo bruxdrJa para alguem em ClrcumlallLias determinada\, e não se ele é um bru­xo de IldSCenç-.l. Se ()~ orállllo~ dI/em que ccrto homem está fazendo mal a "océ no pre<ente. vOlé entao Jhe que ele é um bruxo; mas se os oráculos di­/em que, naquele momento. ele nao está lhe fazendo mal, você não sabe se ele e um bruxo ou nao, e nao tem o menor interesse em aprofundar o assunto. Saber:;e ele é um bruxo rouco lhe importa, desde que você não seja sua víti­ma. Lm lande se interessa pela bruxaria apena!> enquanto esta é um poder agente em OL1SioC$ definidas. e apenas em relação a seus próprios interesses, e nao como uma LOlldiçao perm,\J1ente de alguns indivíduos. Quando adoece, ele normalmente n.to dll: "Bem, vam05 ver quem são os bruxos notórios da \ lIinhan'ra, para culocar seus nomes diante do oráculo de veneno." A questão nao é t;onsiderada de !>e ponto de vista; o que ele se pergunta é quem. dentre

us vlllnhu~. tem queixas contra ele. e entao procura saber do oráculo de ve­nrno se algum deles está neste momento lhe fazendo bruxaria. Os Azande in­teressam-se dpenas pela dinamica da bruxaria em situações particulares.

Pequenos infortúnios sao rapidamente esquecidos. Aqueles que os <:au­\ardm .10 tidm pela vítima e I>ua família como tendo-lhes feito bruxaria na­qut:la oca 1.10, e ndO l.omo bruxos comprovado. Somente pe soas que sao con tantemente denunciadas pelolO oráculos como responsáveis por doenças )U ptrda S,IO tIda por bruxm confirmados' e nos velhos tt'mpos, era apen.t\

(jL Jlldo um bruxo matava alguém que se turnava um humem mMl.ado na lO

I uJ1ldad .

3

A morte é resultado de bruxaria, e deve ser vmpda Tocbs.ck .... pr.ICíICII ligadas ii hruxaria se acham resumidas na açJo da vinga~. Em no ii L) ce.=s­to de discussão, é suficiente indicar que. na q,oca pré-europér.a. ii "''Fqz podia ser perpetrada tanto diretamente-àsvezespel(UMM.IPIfcHtobnao outras vezes aceitando-se uma compensaçao - como por magJa leal Só muito raramente um bruxo era assassinado; isso acont«la quando um h0-mem cometia seu segundo ou terceiro homicídio. ou quando matava uma pessoa importante. O príncipe então permitia sua exea.ção. Sob o dom-uo britânico. apenas o método mágico é empregado.

A vingança parece ter sido menos o resultado de um sentimento de raiva ou ódio que o cumprimenro de um dever piedoso e uma fonte de lucro. 'un­ca ouvi dizer que, ttôjeem dia. os parentes de um homem morto, após realiza­da sua vingança, tenharri demonstrado qualquer rancor com relação a família do homem cuja magia o abateu, nem que no passado houvesse hostilidade prolongada entre os parentes do morto e os parentes do bruxo que pagaram indenização por seu crime. Hoje em dia. se um homem mata uma pe oa por bruxaria, o crime é de sua única responsabilidadt', e seus parentes não est.io vinculados à culpa. Antigamente eles o ajudavam no pagamento da indeníza­ção, não em virtude de uma responsabilidade coleti\'a. mas pela ohrigacões sociais que se devem a um parente. Seus parentes por afinidade e irmãos de sangue também contribuíam para o pagamento. Atualmente, tão logo um

bruxo é abatido pela magia - 011, no passado, quando morria a golpes de Ia.n­ça ou pagava indenizaçãu -, o a~sunto e (on~iderado t'ncerrJdo. Alem do mais. trata-se de uma questão entre a part'ntela do morto e a parentela do bru­xo. e outras peSSOdS nada têm a ver com isso. porque seuç \'In(ulos com ambJ. as partes !><lO os mesmos.

Hoje em dia é extremamente diflcilllhter informaçóe, ~ohre \'lIim.1 de magia de vingançJ. th próprios A/,1I1de n.lda ~abem a respeito. J. n.lo r que sejam membro~ do cm:ulo mai., Intimo dm p.lrente, de um homem a 1 í­nado. Quando se lIot.l que e"e\ r.lrente~ ce"'.If.Il11 de oh~er\'ar o tabu do IlIto. is.,o illdil,i que '>11.1 m.lgi.l 1'1I111prill a mi.,,>.\n, nu, de nad.1 .ldl.lOta pe-r­gllnt.lf Ih~'~ quem foi ,I \,lIil11.l. I'0i, ~Ie~ n,IJ,1 dlr.lO. Trata- t' de um J.; unt LJue UJnUTI1~ apl.'l1.1\ ,I ele .. ,~, .I/cm dISSO. de UJll ,egredo entre ele e u pnn lIpe. !-stl' de\ e ser IIlform<ido do l'f~lt() ti I 1ll,lgIJ. poi (: n .lHO qu e'lI IIIdudodtvelltlJ(lconfilll1('lI01.icu!o(k,enellotlo p.H~nt' ant q" t, P()~'.111J ~\I~pt'ndt'r o luto Além do 111.lb tr.II.1 ~ de l!JIl \tr lidl ,t I r de \l'11~110, l' 11,10 se d~Vl' Li/.lr de Sll~ re\c1.I~.ll',.1 n peno J ~ km.l

Page 5: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

,eoutr.IS pô (l.l · conh~u: , el11 os nomes ll.Jqueles q UI? c.lI rJm \'Jtilll ,h d,] m,l!!',] de \ IIlgJn\J. h1do o proCÔSIl tai,l SU,l pre~-Jnedade exposta C,h O .~e

.;ouhes,e que a morte de um homem \ fOI nngada sobre Ulll bnl\o ) , entao todo o pnKe .. so e tana redUZIdo ao absurdo, porque a m orte de ) esl<í sendo

\ ingada por seus p.Hentes contra um bruxo z. Algu m ind i\ Iduos chegaram f']e~mo a confidenc 12r-me sua~ dú,idas qlnnt0 à ho nestid ,lde de)'; pnllclpes

que cOntrol.Ull os oráLulo .. . e uns POUc()~ eslão cien tes de que o ,islema ,1lu.11 é

talaclO~o. De qualquer modo. essa faUcia é encoberta, pOIS (1S enn1hidos

f!uJrdJIl1 segredo ~ohre a identidade das ntimas de sua vingança magica. No pJs~ado as coisa~ eram diferentes; entiío. quando uma pessoa era acusada pe­

los oráculos do príncipe de ter as ,1ssinJdo alguém por brux,ma, ela pagava

IJ1delllza .ao Imediatamente ou era execut.lda. Em ambos os casos o assunto

e ta\'a encerrado. porque o homem que paga\'a a compensaç,lo não dispunha

de meios para provar que nao era um bruxo, e se fosse executado por ordem

do príncipe, ~ua morte mio podia ..,el vingada. Nao se concedia permissão

para a autópsia do L.l d:Í\'e r de tom1J.J ~Jber ~e de continha Oll na<1 a substan­~Ia bruxarIa

Quando eu de:.aIJa\'a m A/;Inde a justificarem ~eu ~i stema de \'ingança,

em geral me respondiam que um pnnLlpe <.UIOS o raculos dec.lar,lssem que Y

morreu rela magia dm parentes de X não coloca ria <1 nome de Z diante de seus

oraculo para de~(}bnr se e1l' morreu pela magia dos parenks dl' Y. Quando

os parente~ de y pedi~5ern ao pnnClpe para J presentar o nome de Z diante de

seu oráculo dl' \'eneno, ele se re(Usaria a fa7ê- lo , dizendo saber que Y tinha

mOrrIdo em expiaçao de um cril11~, l que sua morte nao podia, portanto, ser

vlIlgada. Alguns indi\'lduo explic...l\am o slstl'ma atual dizendo que 1.11\'1.'1

a vlIlganç.1 mágica e a hruxal ia parliClp m nas cau~a~ das morll's. A parLt~la d<l magia de vlIlganlrd explÍla o lt:rmlno d o luto dl' uma f.lnllIJa . l' a par(ela

da hruxaria expliLJ o illlclO da \"lnga nça por outra IJ111IlJa. Isto é, os A:tande

prol.uram explJ ar umJ l.ontra hç.ao /la:. uas uen\3S por 1I1elO do Idioma

místico dessas propn.Js <' lell Ç-Js. Mas a ~xplic.açao 50 Ille fOI uferecid,1 L0ll10

uma po sibi lidade g ral e ll o n c.1 tendo sido susLitada pur millh,1 objl:\(le ~.

Umd vez q ue O~ lIome d,l s ,ltimas delllg.mç.a são guarJad()s em ~egred() . a

contradiy.jo não • p.lrente, () qUl 50 UCOITt'IIJ se IOd,l ~ dS lIlolleS fu s>cll1

le 'adas tm (.ollSlder.I ç..lO, e n.lCI dp('nd ~ uma 11)1)) k ellll" rliLlil.lI . 1 )esdt que e jalll (,lpaZÔ de ,lgn ..,egulldll o L(lsIUIIlL' e J( 111.111 tel a III ,lIl d (alll i li :-u os AI,lIld l:'

nao est lO inter s,ldo~ no ,lspeLlos 1I1,1I~ ,1l11plo, d.l \·illgan.,." em gel ,do h~l Le

hiallj L obJeç.a' l qu ndo eu a It \dllt ,IV.1, 111.1 \ n,l(. \C IIl llll11Ud,l\ .1 11 1 d 'l ll d.1

() pnnup de em c~ llr Llenl c d .! contradiçao, pOfLl uL s.lhelll os de

dobr mento~ de q UJlquer Illort ocornda em SIIJ prO\ 1I1L 1.1' <) lI ando pel-

guntei .10 pnnLlpc (J .lIlgura como ele podia .lceJtJr que a mo rto.: de um homcm fO S.\L .10 me~lll(J tempo re~lIlt.ld() da magld de vlIlgança mJgl tJ e de bru\.lI"1a, elc sorriU, ddmilindo que nem tudo era perfeito no ~lstemd Jtwl. Algum pnnClpes me dissel.ll11 que não permitiam que um homem fos:;e VIIl­

g.ldo quando sahiam que morrera por \lIlgança mágica; ma, pemo que esta­\ ' .1 m menti ndo. N II1gucm pode saber ao ccrto, pois mesmo se um prínCIpe conta,se aos p,lrentes de um morto que ele fora \'Ítlll1a de vingança mágICa ­c portanto não poderia ser ving,ldo -, cle contaria ISSO em segredo, e o s PJ.­rentes do morto guardariam em 5igilo suas palavras. l·inginam. diante dos \ 1-linhos, que esta\am vingando o parente morto; e assim, depois de alguns meses, em sinal de vi ngança cumprida, guardariam a cinta de entn-:LJ5Ca que indicava luto. pois jamais deixariam os \'Ilinhos saberem que seu parente era um bruxo.

Consequentemente. se os parentes de A vingam ~ua morte por meio de mágica contra B, e então descobrem que os parentes de B também suspende­ram o luto em sinal de vingança cumprida, eles acreditam que esta segunda vingança é uma farsa. Dessa forma. eVita-se .1 contradição,

Sendo uma parte do corpo, a substúnCla-bruxana cresce com ele. Quanto mais velho um bruxo. mais potente e sua bruxaria, e mais lIle~crupulo o seu

uso. Esla é uma das razõe~ que fazem com que os Azande freqüentemente de­monstrem apreensão diante de pesso,ls idosas. A subst.incia -feiti c,. .l na de uma criança é 1:\0 pequena que n.10 pode causar grande dano a ou trem. Por i: 'L)

um,1 criança nunca e acusada de a~S.lSSIl1.lto , e nem mesmo moças t rapau.

uesudos S,1O suspcitO'. de bruxari .1 sena, embora possam C.llIS.lf pequeno_ in­fOllunlo~ a pessoas de sua propna 1,1Ixa et,ln.1. Como \'cremos adhll1te, a bru­xan.l opera quando eXiste ,lI1immld,!de entre bruxo e vÍllln,l, e n.10llbtullla h,1\"L' f ,lntagonismo entre l nanç,lS e ,1dultllS. Apenas os ad ultos pl)lit'm con­sultar o or.ü:ulo de veneno, L' eles no rmal me nte n,lO apresentam 11 nome de c ri,lI1 ~ ,h lju.lI1do ,ao consultados sobre brux.ln,l . A ~ cn.lIlÇ".l s !l,h) plhk n L x­

pi imir sua \ Il1lml / ,ldes e pequenos II1 lll rtunllh em termos de re\el.h;óes 01,1-l ula Irs ~ob l e blll X,ln,] po rq ue eJ,1 s n.1O podem co Il ~ul !.l r o ora.:uh1 de' 'L'L 1l1.

( lllltudo, .. 'll1e ~e de l,I"OS raros cm que, d epOIS de , e CllllslIll,lr em \ ,h) o

(l I .í~ ulo ,1 re~pe lto de todos os ,Idultos suspe lt n~. um IH1111t' de cri.IIl~-a rlli ~'lh­to dl.lllle dele, sendo LOllhrm.Hlo C01110 bru'o ~\.h dissl·r.ln1 me qUt', I o .luHlIClel, UI11.lIlCi,lll il.í sugenr Ulll erro,llI/endn: "l'm bm ( p 'goll.llll.m

\,1 l' ullo(ou-a Jl.I frl'ntt' tk lL' Ulmo eSLlldll p.II.1 pl\ltt~~'r , .'

Page 6: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

D de cedo a Cn.1lh,aS fi':,lm ahendo ~ohre bruxaria. Con\'er~ando com

memna c m ninos pequeno, .1te me,mo de :>el~ anos, constatei que com­preendem o que o mal \"e1hos ('\tao dizendo quando talam dJ~so. Disse­

ram-me que, numa briga, uma criança pode vir a mencionar a ma reputação

do pai de outra cnança. Entretanto, as pessoas não compreendem a verdadei­ra naturv.a da bruxaria até que sejam capazes de operar com ~egurança os oraculo ,de agir em .~ituaçõe~ de IOfortúmo conforme as re\'e1açoes oracula­

res e de praticar a magIa. O conceito se expande junto com a experiéncia so­cial de wda indivíduo.

Homem e mulheres podem igualmente ser bruxo!>. Os primeiros podem ser vítimas de bruxaria praticada por homens e mulheres, mas estas geral­

mente são atacadas apenas por membros de seu próprio sexo. Um homem doente de hábito consulta os oráculO!> sobre seus vizinhos homens, mas se os

consulta por causa de uma esposa ou parenta doente, normalmente pergunta

sobre outras mulheres. Isso porque a animosidade tende a surgir mais en tre homem e homem, e mulher e mulher, do que entre homem e mul her.

Um homem está em contato regular apenas com sua esposa e parentas, tendo

portanto pouca oportunidade de despertar o ódio de outras mulheres. Provo­

cana uspeitas se, em seu próprio benefício, consultasse os oráculos sobre a

esposa de outro homem. O marido ~eria levado a presumir um adultério, per­guntando se que contato teria tIdo sua mulher com o acusador que pudesse

ter levado ao desentendimento. ontudo, um homem freqüentemente con­

sulta 05 oráculos sobre sua~ próprias esposas, pois pode ter certeza de que as desagradou alguma vez, e é comum elas o detestarem. Nunca soube de casos

em que um homem fosse acusado de ter feito bruxaria para sua esposa. Os Azande dizem que ninguém faria uma coisa dessas, pois ninguém quer matar

ou faler adoecer a esposa, Já que o próprio marido seria o prinCIpal prejudica­do. Kuagbiaru disse-me que ele nunca seJUbe de um homem ter pago indeni­

zaçao pela morte da esposa. Outro motivo pelo qual nunca se ouve talar em asas de galínha cndo apresentadas a maridos, wmo acusa~ão de bruxaria I li­gada aos males de suas e!ipo<;a~, e que uma mulher ná() pode consultar direta ­

mente o oráculo de velleno, geralmente confiando essa tarefa ao marido. Ela pode pedir ao irmao que faça a cOllSulta em ~eu benefício. mas este provavel­

mente não apn:sentará o nOllle de seu cunhado diante do oráculo, porque um mando jamais de.'>eja a morte da espo,a.

l o u ne 't undo M t. ,peltJ d, l.rUX""d, pedu de r'flno!,,, lo .... .! ou fIl.1 f"'ljUe/l'clllCJlIl' ,I ,eu

1 19') lU (/ U II. J J de d\'< JO pr' UI '11 cll·rUK/J " ,11< It,lIIdo <.01"'" 1Il< nle 'lU'- de ,I ~'''I' rc /'0 o: reJ,' •• Otnn ln lei boa onl,lde(II II11c1J JO"P'-SMlJIr.)UJIJd. Iml rUIu

d d I \J mequhdle l'(jrLallto,auma.lcus~ d,.del.rux.trtd

-\ brlt "m" (' 1//1/ I Il n J Qr

I unea soulw de algum l.ac;o cm que um hom-:m tenh idCJ em ru d

por lima pJrenta, ou em que uma mulher tenha Ido mi ruUdd ror mem aparentado. AdemaiS, '>0 tive notiCIa de um UlllW U J 00 <.j'J.l um

homem foi embruxado por parente .,eu. Cm parente pode prejudicar um h, mem de outros modos, mas não o iria embruxar. 1-. <.Iaro que um dex;nte rLlo

vai perder tempo inquirindo o oráculo sobre seus irmat)~ e pnmo patem porque, se o oráculo de veneno declarar que um dele<; o embruvou, ec;ta me

ma decla ração o tornaria um bruxo, uma vez que a bruxaria é herdadi em J: nha masculina.

Os mem bros da classe aristocrática, os Avongara, nao são acusad de bruxaria, po is se um homem dissesse que, segundo os oráculos o filho de um

príncipe usou bruxaria contra ele, estaria afirmando que o rei e os príncipe<; são bruxos. Por mais que um príncipe possa detestar os membros de sua lI­

nhagem, jamais permitiria que fossem acusados por um plebeu. Assim. em­

bora os Azande digam à boca pequena acreditar que alguns nobres s.: bruxos, raram en te consultam os oráculos sobre isso, e de~!>C modo 0- n bre não são acusados de brux.aria. 1 o passado os oráculos nunca eram con ulta­

dos a p rop ósito dos nobres. Há uma ficção estabelecida de que 05 .\\on,:.ara

não são b ruxos, e esse consenso é mantido pelo grande poder e presógio dos

pr íncipes governante.

Governadores de província, delegados distritais, cortesãos, comand3.ntê

de companhias militares e outros plebeus de riqueza e posição não co~tumam

ser acusados de bnL'<:aria, a não ser por um pnncipe - moyido por Sll:b pro­

prias razões ou pela necessidade de reagir à morte de algum outro plebeu in­

fl uente. Em geral pessoas de pouca projeção não ousam consultar o: oracul ,

sobre indivíduos de prestígio, pois suas vidas não valeriam mai- nada Se insul­

tassem os homens mais importantes da vizinhança. Portmto, podemo: diz",r

que a incidencia de bruxaria numa comunidade zande di-tribui-seeq~itati ~­

mente entre os sexos, na classe dos plebeus, enqumto os nobres, mtetr:unen­

te, e os plebeus poderosos, em larga medida, são imunes a acusações. Toda. a

crianças estão normalmente isentas de suspeIta.

As relações dos prlllcipes governantes com a brm.:aria .31.. p -u1i.1re::..

r..mbora imunes a acusa<,.ões, eles crêem em bru.\.o~ t.lt) t1nndH • lL Y Imt

qualquer outra pessoa c consultam constantemente o l)r.h. ulo d ,,,nln para de~l.obrir quem os está cmbruxando. Tcmem e~pe.:ialm<.:nte ,ua. r: ro~a5.

Além dis~o, o oraculo de um pnncipe é a autoridade fin.ll cm todü' - ,-.l·O~ de

bruxaria que envolvam honlludio, c no p.h"hl11 er.l LI 110 r r.~ pr t ;er 0"

,>lIdltos contra a bruxaria durante lima gUerra. A 1110rt<. de um III II Id dJ pequena nobrez.1 é imputada.1 um bruxd l \"inf!Jd.1 ~I.lll1e m.1 man 'Ira que 1

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,

POdl' f.llc-Ins re~pol1dcr por 1,,0, i,\ que eles 11,10 a protegeram COll1 uma COI1-

\ult .1tl~ ,lr.íl ulo~ \llbre ,eu bcm e,tar. Qu,l11to m,llS di,tal1k de quai\quer ,ülllhos estl\'t?r ,1 resldênLl,\ de um

homem, maIs a ~\'o ele estar,j de bnI~aria. Qu,mdo os Azande do ~ud,io allglo­cglpuo tÍ1ram forçados a ,i\'er em aldeamentos à beira das estradas, eles obe­deceram com mUlt,1 apreemao, e mUItos fugiram para o Congo Belga para e\ itar l.ontato tao estreito com ,eus \'Izinhos. Os Azande afirmam que IlJO

go\tam de vi\'cr mUIto prÓXInlO, um dos outros, em parte porque convem ter uma boa faixa de terra entre ,uas esposas e os possí\'eis amantes, em parte porque, quanto mais perto de um bru:\o, maior o perigo.

So é o "erbo zande corre~pondente ao "embrlLxar"; em seu único outro contexto de emprego, traduZlríamo, essa palana por "atirar". Ela é usada para designar o ato de atirar com arco-e-flecha ou com uma arma de fogo. Com um movimento brusco da perna, os adi\"inhos atiram (/la) pedaços de osso nos outros adiyjnho~, de longe. Deve-se notar a analogia entre esses dife­rentes "atIrar" a partir de um fator comum, a ato de fazer mal a distância.

6

Ao falarJe bruxos e bruxaria, é preci~o esclarecer que os Azande normalmen­te pensam em bruxaria de uma forma mUIto impe~~oal, sem reterenCla a qual~quer bruxo ou bruxos em particular. Quando um homem diz que não pode \'l\'er em certo lugar por causa de bruxaria, isso significa que os oráculos alertaram-no contra esse lugJr, declarando que, se ele for morar lá, será ataca­do por bruxos, e ele assim «)ncebe este perigo como um risco geral ligado à bruxar~a. Por isso está sempre falando de mangu, bruxaria. Essa força não eXIste fora dos indivíduo; ,10 contrário, ela é uma parte orgânica de alguns deles. MJS quando indivlduos em particular não são especificados e não se procura Identifi~á-Ios, a bruxaria l·~tá sendo concebida como uma força gene­ralIzada. Bruxana, portanto, SIgnifica alguns bruxos - qu.lÍ~quer um. Quan­d? um L.lnde COllll'nta um reves dIZendo "isto é bruxaria", ele est.í querendo dl7er que ISSO se de\'e a algum bruxo. mas nao sabe eXiltamente qual. No mes­mo enlido ele dirá, numa encantal,Jo, "que morra a brux,\ria", refeIindll-se a quem quer que tente embrux,l lo. O conceIto de brux,!fi" n,lo é o de uma força Impes oal que pode \incular-se a pe5SO,15, ma, Itim I1II1J for\<1 pl'\~o,11

T ~ Jll11 ii t I'I It'tlt I, pOf • cmbru .. u p.11 I e\' LU o \ ",rtul .. t ntlltlç...lf • "I ln' I Odl flol C ,I lI'i.l I l lIlf 1

. um "lU I"van l'f1tdlarJd'lllllgllC IlIlIct.lll1fllkrlltT\: 'blux. 'u/tthl1,'4fl.'lt i. Ir,,/', OIU',

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\ II, lI\tlrlll f' lU" lou t"rno l r tHI4.' I rrJ' r

que e genCJ',llllada n,\ linguagem, pOIS se os A/..tnde nao pdrtu;ularll-<lrn m') tr,\m, ao (ont l,lrio, uma tendcll(ia a gelleralI/<\r

7

U ll1 bruxo não destrÓI Imediatamente sua vItima . Pelo contrário; e um h, mem (,11 rápida e gravemente doente, ele pode ter certeza de que fOI vítnn de feiti ça ria, não de bruxa ria. O~ efei tos da bruxaria acarretam morte lenta, pot:

co a pouco, pois é somente depOIS que um bruxo de\orou toda a alma d.: um órgão vital que a morte sobrevém. Isso demora, porque o bruxo faz Vl>lta constantes, durante um longo penodo de tempo, consumindo apenas Uffi)

pequena porção da alma do órgão de cada vez; ou, se ele retira uma larga por ção, esconde-a no teto de sua casa ou num oco de árvore, e vai comendo-a aos pouquinhos. Uma doença prolongada e debil itante é o tipo da.-; que são ousa­das por bruxaria. Pode-se perguntar se os Azande consideram que o consumir da alma de um órgão leva necessariamente à sua deterioração física. Certa­mente algumas vezes parecem ter tal opinião. Os bruxos também disparam objetos - chamados mJll /1/(lIlgu, coisas de bruxana - no corpo daqueles que querem ferir. Isso causa dores no local em que se alojou o míssil, e um adiVI­nho, em sua função de curandeiro, é solicitado a eXlrair os obietos patogêm­cos, que podem ser coisas inanimadas, vermes ou lan'as.

Os bruxos costumam congregar-se para suas atividades de truidoras e subsequentes festins macabros. Ajudam-se em seus crimes, coordenando seus planos nefandos. Po suem um tipo especial de unguento que, fricciona­do na pele, torna-os invi Iveis durante suas expediçõe noturnas. Essa atlrma­ção sugere que às veze~ se considera que os bruxos vão em carne e osso atacar suas vitimas. Eles possuem também pequenos tambores que soam para con­vocar J seus congressos, durante o~ quai~ as di,cussõesão pre~ldida~ pelo.; ml'mbro~ mais velhos e e:\perientes da irmandade; poi, h.1 status e lideranca: entre 0\ bruxO\. P<lr,l que um homem e teja qualificado a matar ,em dzinh'L, é prel.l~o que tenha at!qulfldo expenrncia sob a supen'i ão do bru:\o~ mal. velhos. O g.llIho de e~peri':nci.1 se faz acompanhar por um [flaemento da slIbstanchl-brux,lria. DI/-se t,1mbcm que um bruxo não pode matar um ho mem por SU,I plOpria e exdusl\ ,1 cont.1, n1>1' que, ao contr.lriú, de\ e Ic'.u . U,)

propo~ta" uma reunlao de (olegas, presldld,1 por um brll~o-hder..\ '1ue.l.io.:

deLithd,1 entre eles. ( nlo ou tarde um bruxo (.11 \ Itlm,\ dl vingan\,l, ou, sc ti, erillo e. P 'rto

() h,lst,l11te para escap<lr ,I rl't,llia~,i(), al,1b,1 por ,cr mlHto P{l[ ,lUthl bn o ou pOI um Jeltlcelnl (,\beri,l perguntar a dlStll1'r'\{) l'ntl (' bm\ )', lb, nJ III< _ ' ••

Page 9: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

·1'

IUO bru\ l1\, ,11l/(l"llIldll, pl'r ~l ~tl' akm-tul11u lo? 'unca Lon ~cgul ob ter lima

.lfirma ao l: pont.l11lJ ~l)brc I~~{). Il1J~, l'm re,.,p()~til a qucstões dlrigld.l~ , o ht l­

\ uma ou du.1 Y zr'.1 II1form.I\'JO de quc .• 10 morrer, L)'; hrll).O~ se tr,l11sfo r­

l11JIll em l"l'l!ltl)~ malignos (agm,a). Aforo. O~ e~pí ritos d os mortos C01l1 un~, ~ão ,erô benc\ okntes, pclo meno~ tanto quanto pode ~er, digamos, um p.li de famlli,} ZJndc. e sua partlupação oc,lsiona l no mundo que deixaram é tran ­

quil,1 e \ olt.ld.l pMa o bem-estar de seus de~c('lld entes. Os agirisfl, ao contrá­

rio. demonstram um ódiO mortal pela humamdade. Assombram viajantes no mato e l.lusam estados tramitórios de dissociação mental.

8

A existéncia de substáncia-bruxaria numa pessoa viva é conhecida por m eio

de \eredictos orawlares. Nos mortos, ela é descoberta pela abertura do ven­

trc, e é este segundo método de identificação que interessa para a prcsente descrrç.lO da base física da bruxaria. Sugeri an ten o rmente que o órgão em que

~e acha a ~ubst.incia-bruxaria está localizado no intestino delgado.

São obscuras as condições de realização de uma autópsia na época

pré-européia. ~egundo um informante, Gbaru, elas eram um antigo costum e dos Ambomu, e a~ dificuldades CC'm t~ç,Ham a aparecer 'l penas no tempo de

Gbudwe. E provável que se tratas~e de UIlla prática antiga, que desapareceu quando o controle político exerc ido pelos Avongara aumentou, para reapare­

cer com todo ~eu vigor depois da conquista curopéia . O rei Gbudwe desenco­raJava sua prática, segundo m I.' disseram tudos os informantes.

Cont udo, quando um bruxo era executado sem sanção real, por \'e7eS realizavam se. Ocasionalmente os parente~ de um homem morto agiam con ­

forme o vcredido de seu próprio oraculo de veneno, vingando -~e de um bru ­

xo sem esperar confi rmação do oráculo de veneno real. Em tai s casos, a açao deste parente era II /Ira VI res, e se o s parentes da vÍUma da vinga n ç..l conse­

gUI sem provar que nào ha via substância- bruxari a em seu ventre, podiam exigir rompemaçao, na corte do rc i, por parte do grupo que fi za a jus t iça com

a propnas mao . Por sua vez, as aut ó psias destinadas a limpai o 11 0 me de uma linhagem que. t i \' es~e um mcmbro aLu~ado dc atos m enurcs de bruxa n a, sem lmplic.!r indenll.açao, dcve m ler Sido bem freq Lientes ,1Illes d" L011l) LJ ls ta europeia, tonJO () foram com certl'za depOI S dda.

Um homem que cm vida tlveSSl' Sido freqLicnt t' lIlent e ,1l usado de b rux,l ­ria. JII.da que Jam<ii~ de 11llJll ic ldlo , tinha o d irei to de sentir \e 1I1s lI II.1do sem r .1ZJU de (onsidt ra r que o nome d L' SU J 1:Il11ílIa fo ra .lrra'l.ldo a 1.II11a. I:111 \'l~ ­ta di 'o, dO morrer, poden a Instruir o s fi lhos p.lI a que lhe ,"llissem o .tbd(J -

\ f" II)"II( td I~ 11111 I I 110/111 fiO

" f II r I Wf

lIl en an tes d o en terro l' \'erifila ~se llJ se t!ra/ll Ju~tlfI<.ada qu cI ai 1 o 1

lon tra a ho n ra da lin hagem . Poderia t,ll11bém l'XeLutclrC'i op rJ.Ç.Io nu f lho f~ll ec id () prem aturamente. Poi s a m ent alidade l.a nde é lóg.l<.a e mqul ltl

dentro d<is prem issas de sua p rópria cultura , e Im/ ~ te na coeren<.ià de ~u pro­prio idio ma. Se a bruxa ria é uma substância orgâ nica, sua presença pode r

ve rificad a po r um exame p OSI -mortem. Se ela é hereditá ria. pode serdec.t.ober

ta no ventre de um pa ren te próximo em linha mascuhna de um bruxo tao ce rtamente quanto no ventre do próprio bruxo.

U ma autó psia é realizada em público, a beira do túm ulo. Os assistente. são os parentes do morto, seus afin s, amigos, lrmaos de sangue e homeno; Ido­

sos e de prestígio das redondezas. q ue geralmente assistem aos funeraIS, \ 1-

giando o trabalho dos coveiros e out ro~ p reparativos para o enterro. MUltos desses anciãos já assistiram a situações idênticas, cabendo-lhes decidir sobre a presença ou ausência da substância-bruxaria. Eles detectam sua presen~a pela forma como os intesti nos saem do ventre.

Dois talh os laterais são feitos no ventre, e uma ponta dos intestino é pre­

sa na fenda de um ramo, em torno do qual eles são enrolados. Depois que a

o utra po nta é seccionada do corpo, out ro homem desenrola 05 mte. tinos

afas tando-se do companheiro que segura o ramo fen dido. O~ velhos cam]­

nham ao lo ngo das entranhas esticadas no ar, examinando-a. em busca de

substância-bruxaria, Terminado o exame, os in testino são repu~to~ no \en­

tre, afim de que o corpo seja sepultado. Disseram-me que, quando não "e

encont ra q ualquer substância-bruxaria no ventre de um homem, seus paren­

tes podem ch icotear com os intestinos o rosto do acusadore, ou fazer _ecar

as víscera s ao sol, para sere m m a is ta rde levadas à corte, onde os pJrente ­

do m orto se vangloriam da vitó ria. Também OLl\ i dizer que, se for de~coberta

a substüncia -bruxari a, os acusadores podem tomar as entranha, e pendu­

r<\ las a uma árvore na beira dos prinLipais ca m inhos que le\'am à corte de um

príncipc.

O co rt e do \ entre e o sepultamento devem ser levados.l cabo por um ir­

Jl1 J O dc sanguc, pois cs te é u m d(h deveres da fraternidade de angu (h/oo f­bro t/J erhoorf ). U mlll fo rm,lIl te explIco u-me que, se um homem que njo L ta­

bc leu~ lI o paLI O de sangue com os parentes do morto re.lhz.lr.1 cenmóma do

• "1, m.l()') dl' ',lngUl:' ,1,.10 1I1J iv 1(.1 110~ IlJu .1p.1I L'lll~Il.111~ li ue ~!'.t.lh\.· kl..C.. lU um.! ah.!n .1

gr .lda por UIll IlftJ lo: 111 q til' .1 IIlgl· ... I.IO J t.' UIll pt )UU) ..II..' .... mgul· til ) pJ.h l"1 rn , ~1l11~f.. I t

.... 10 podt' C It.' ulil-r ... ,' J l t' ll\ d .l\ dl~ l.ld " HIll .ln dt' ... . ll1g u, 11.1 ~t' 0P0'- l nl Inta \.

l' I1IH' 1t1l1.1lJ'" " 'l",1I ... " I Vt" r\.II1\ Plltdl .Hd , 'l' .lIh.le BI ~l(ld Brnllh?'rb\.\t.ki ~ lO f \ ,.o'ogr. I "I>lI & I "bl'r IlJt>l I. (. , I I

Page 10: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

enterro, ele se torna pl'lo ato seu irmão de sangue. Sendo encontr,lda a subs­t~ncia-brU\",lria, o operador de\"erá ser regiamente pago por seus serviços. Ha\'t'ndl) substáncia-bru"\ana ou não, ele precisa submeter-se a uma purifica­ção ritual após a operação. Carregado nos ombros de um parente do morto, é

saudado com gritos cerimoniais e bombardeado com torrões de terra e com o~ frutos vermelhos de l1011ga (Amo1nU/1I korarima), "para que a friagem o abandone". É ievado em seguida a um curso de água, onde os parentes do morto lavam-lhe as mãos e lhe dão de beber uma infusão feita de raízes, cascas ou folhas de várias árvores. Antes da punficação, esse homem não pode co­mer ou beber, pois está contaminado, como uma mulher cujo marido mor­reu. Finalmente, se não foi encontrada a substância-bruxaria, prepara-se uma festa na qual o homem que fez os cortes e um parente do morto partem ao meio uma cabaça de cerveja. A seguir os parentes do morto e os do operador trocam presentes: um homem de cada grupo a\'ança até o outro e atira seu presente ao chão, e assim sucessivamente.

I I ( '\!'II lILO II

A noção de bruxaria como explicação de infortúnios

I

Da forma como os Azande os concebem, bruxos não podem evidentemente existir. N o entanto, o conceito de bruxaria fornece a eles uma filosofia natural por meio da qual explicam para si mesmos as relações entre os homens e o in­fortúnio, e um meio rápido e estereotipado de reação aos eventos funestos. Ao; crenças sobre bruxaria compreendem, além disso, um sistema de valores que regula a conduta humana.

A bruxaria é onipresente. Ela desempenha um papel em todas as ati\ ida­des da vida zande: na agricultura, pesca e caça; na "ida cotidiana dos grupo~ domésticos tanto quanto na vida comunal do distrito e da corte. É um topico importante da vida mental, desenhando o horizonte de um ,"as to panorama de oráculos e magia; sua influência está claramente estampada na lei e na mo­ral, na etiqueta e na religião; ela sobressai na tecnologia e na linguagem .• '50

existe nicho ou recanto da cultura zande em que não se insinue. Se uma praga ataca a colheita de amendoim, foi bruxaria; se o mato é batido em "ão em blb­ca de caça, foi bruxaria; se as mulheres esvaziam laboriosamente a água de uma lagoa e conseguem apenas uns míseros peixinhos, foi bnn:aria; se as t~r­mitas não aparecem quando era hora de sua revoada, e uma noite fria é perdi­da à espera de seu vôo, foi bruxaria; se uma esposa está mal-humorada e trara seu marido com indiferença, foi bruxaria; se um príncipe e~tá frio e dist..lme co m seu súdi to, foi bruxaria; se um rito mágico fracassa em eu proposito, roi bruxaria; na verdade, qualq uer insucesso ou infortúnio que se ab.u.1 :obre qualquer pessoa, a qualquer hora e em relação a qualquer das múltiplas atiú­elades da vida, ele pode ser atrib uído à brm::aria. O l.1nde atribui todo- e "'e infortúnios à bruxaria, a menos que haja forte e\'idenCla, e sub~equente con­firmação oracular, de que a feitIçaria ou um outro agente 111.1ligno 't3\am envolvidos, ou a menos que tai ~ J esveIltur,l~ possam ser cbramenre .ltribUl­da~ à incompelência, quebra de um tabu, ou ao não-cumpruuelltü de uma r'­

gra moral. Dizer que a bruxaria estragou ,\ colheIta d,' amend'Hll1, que esp.lIlhlU ,\

caça, que fez fulano (il.lr doente eljlll\,llc.l dIzei, em tal1h), ti" I1th ... a propri,l

Page 11: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

\". t til I ("" III

Lultura, quc .1 Ú 1Ih'1t.\ de .\llle.'llduim fl.K.I\'I'lI por CJusa tI.IS pr.lg.IS, que .1 c.1 .1 CC l,bS.ll1C' .1 '-'P\k.1 e qUI tul.mo peg,lllullla gripe. t\ brU'\.ln.1 partlcip,1 de todo o Il1fllrtUIll ., e é \I Idwl11.! 10'111 quc' m Az.lnde.' fllJI11 ,obre ele, I.'

por meio d qu.ll de, ,ao cxpliLJdm. PJr.1 nos, bru'\Jria é .llgo que prmocav.! pa\or ( rC'pugnancia em nos,>os crédulO'> antepJssado". I\las o zande espera

ruzar COI11 a bruxaria a qu,IJqucr hora do dia ou da noite. hcari,1 tJO surpreso , 11.10.1 enlontr.\"e.' diarialllente quanto no\ o Jlcanamos se.' IOr,1\se1110S CO Il1

da. P.lra d ,nada lü de milagroso a ,eu fl'spCiln. E de se esperar que Ulll,1 ca­ç.1da ,eja pn:judicad.! por bruxos, e () zande dispi)e de llll'ios p,lra l'nfre.' n­ta los. Quando ocorrl'm infortunios, de nJO tica paralisado de.' lllcdo diante da a ao dc força~ <,obrenatllraIS; não "e.' püe aterrorizado pela presença de llll1 inimigo oculto. O que ek fica é extrem.unente aborrecido. Alguém po r maldade arruinou ~eU5 amendoins, ou e.'stragoll a caçada, ou deu um susto em sua mulher, l' isso certamente é pJra sl' ficar com raiva! Ele nunca fez lllal .1 ningueJll, então que direito tem alguem de se meter nos ~eus negócios? É

uma Impertinência, um JJl~llllo, UIll.! manobra ~uia e insultuosa, f a agressi­\ Idade, e nan a estranhe/a sobrenatural des,as .Içôes, que os A/ande subli ­nham quando falam delas, e.' e raiv,I, e n.lo temor, o que se observa cm sua resposta a elas.

A bruxaria nau e menos esper,ldJ que O adlllt~no. Está tão entrelaçada ao curso do~ acontecI JlJl'ntm LotidlJnos que é parte do mundo ordmário de um zande. Nad,1 ha de extraordinaflo num bmxo - você mesmo pode ser um, e com certeza muit()', de seus vizinhos mai~ próximm, Tampouco existe algo de atemmizante na bruxaria, NO'. nao ficamos pSIcologicamente transtornados quando ouvi1lJ(I~ dJll'r que alguém está dOt:nte é de se esperJr que pessoas fiqul.'l1l doentes ,e da-se o JlleSJllO L0111 m A/ande. Eles l'speram que ,IS PCS-oas fiquem doentes, isto e, sepm elllbru: ada~, e ISSO n,10 é .lIgo que cause sur­

presa ou ,\ ~ol11br\).

AcheI a prinupio estranho 'I\'el entle O) Azande e ouvir explic.l'roe.'s Jll­genllJS ~obre mfortúnios que, ,\ nosso vel, tlllham \.ausas e\ ideHks. 1\1.15 em pouco tempo aprendi () idioJll,\ de seu pl'nsall1ento e passeI a '\Jllic.lI a~ llO'r0l'S debruxana tao espont.JlJ(°aJllentl' qUJnto des, H.IS c,ltuaç(ll's t'm qUl' o LUJl\.ei· to era rdevante. ( crIa ve/ UIll r'ljl,ll deli UIll,I top,lda num peqUl'no toco de arvort no meHl de um,1 tnlhJ IlO lluto ,lcolltec.lllll'nto fiequl'nll n.\ À/I iL,1

c 'CIO a sentIr dores e de UlJ1/0rto ell1 COJl~l'quen(JJ dl~~U, hJJ ill1p(ls~lvd, pela SUJ IU\..1liu\-<l0 no artelhlJ, Jl1,lllter () Lmll limpo, e de c.()l1le~ou iI J11ll'L (. (( J1Jr. O r .IpM dl~I.lrou que' J bl ti .11 i.lo fill'l.! dllll,1I II tOLO 1 u 1'llIpre dl~­lU la \.om () Az.tndc l' .. ntIL,I\J ~lI.l' .l/Jrlll.l<.O('), l: assIm fil JIt'SS.l (lLdM,III, [J1 ,t dO I "I' Jl.ljut' ele h.lter.1 ((1m o pt no LOlO fll)J(IUI' tmll.! ~Idll de~luld,ldlJ

L IJ ue 11,10 for.l bru X.11 i.l que \.olol.lr.1 () to\.,) na tnlt.J l'( I) fI (ft Á fll n .. t r,llmenlc 1.11' UJlllOrdol1 que ,I fJfu .ln,l 1l,ld I tinha a .er \.om o (r)lf, tM Il tnlh,l, mas llbsernlu que tInha tiL,l\lodculho~Jb(fto'i par.J toco ,\.')0) rea mente todo Z.Jndl' laz, e quc, portanto, SI: nao 1 I\'e~.,e sldo embru ado, te I ) I

\l stO. Co mo argulllento defin it ivo, a ~eu ver, lembrou que oe; cones nau It>vam d l,ls pMa licatri zar - ao contrario, fechJI11 logo, pOIS est,! e ,I r .. lturez<I do c() rt c~. Por que en t,lO !>U,I ferid,llllfeccionara c LOntinuJva aberll, e nJ J t .1\ J

bru x.lria po r trá!> dela? Como não t.Jrdel .1 de~Lobrir, es~a pode SEr <:.on idera da a explicação za nde básica para as docn<,as.

Pouco depois de minha cheg,\da ao país zande, ao pa'sar por um aldea lllento do governo, vimos uma cabana que tinha sido de!>truída pelo fo~o na noite anterior. O proprietário estava JCJbrunhado, poi!> ela abriga\a a len eld que estava preparando para uma fes ta mortuária. Ele nos contou que na noite do acidente fora até lá examinar a cerveja. Acendeu um punhado ue palha e

Ievantoll -o sobre a cabeça para iluminar os potes, e com isso incendIOU o te­lhado de palha, Ele - assim como meus companheiro~ - e~ta\'3 clllwen.:id

de que () desastre fora causado por brux.!na.

Um de meus principais informantes, ki anga, era hábil entJlhauor, um dos melhores em todo o reino de Gbudwe. De \·ez em quando, como bem ~e pode imaginar naq uele clima, a~ gamelas l' bancos que e~.:ulpia rachavam du­rante a operação, Embora se escolham as madeiras mais duras, elJ~ a, "ezes racham dura nte o enta lhe ou no processo de acabamento, mesmo qu.mdo o arlesão é cuidadoso e esta bem familiarizado com as regras tecnica deua arte, Qua ndo isso ocorria com as gamelas e bancos desse artesão em particu­lar, ele atribU la o acidente J bruxaria, e ostumava reclamar comIgo sobre u

despeito e \.iúme de seus vizinh()~. Quando eu re'plllldla que '1I.havJ e,tar ek engdnado, que as pesso.ls go,t,l\ ,nll dele, br,lndi,\ o b.lJlco ou gamel.l ra had . em millh,1 dlleçao, como pnw,1 conLreta de SU.IS condu~óe,. "e n.'iü ti\e. genle embruxando seu tl,lb,\lho, llHllO eu Iria e'\phcar aquilo~ -\S~I:"l tJmbem um oll'lrtl ,lInblllra ,I quebr,1 de ~e.'us poles dur,lIlte ,lloLedur.l ii bru .ln.l. Um oleIro expl'nenll' n,lt) preu~" LUllel que O~ pote\ raLhem pllr cm,.\ lle ~rr '. I Il' sl'Il'Clon,1 a argrl,! 'ldequ,ld.1, <1111<1"s<1-,l bem ak que.' tenh,l <"\tr.lldo tod.1 .1' pL'dnnh<1~ e ImpUrl'/,IS L' mold.1 .1Ient.1e LUlliadoS.lllll'ntl'. Un1.llhllte Jnk de ir hUSL.lI .\ argrl,\, ele .,e .lbste.'J11 de leI,IÇlll" se.'\U.lIS l'urt.lIlto de I\.lU ,I '\ 'r~. ICI 1l,ld,1 a tel11el, I no e.'1l1,mto ,tlgUIlS pOlc's 1.llh,II11, Ille,mo ll.\~ m.\ll~ til (l!t'I-ros c'XIJ11I0", e ISSO ~Ú pode Sl'1 e.'xphc,ILlo POI blu,\.ln.1. "QUl'br'IlI-'" .lI tem bnlJo"lJ ia", dil slJnpll'smlnlc' o olulO I\lul!." SI(U.h,lll· llllil.Hl" .1', 'll1 que .1 blU \,ui.l L llt,ld,1 <':Olll\l UIll ,\gc nll', 'I r,IU Il'knd.h n tl c f Itul ) ln)

sl'guiJltl",

Page 12: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

" ,

Ao (,OI1\"l.:r'.lI·(ol11 II Az.ll1,k sohrL' hrux,ni.l, e llbscr".lIldn SlI.IS rCd(11CS em si tU.1Úh? dI.: infortúnio, tllrIlOU-SC úb\ io par.1mim que eles não pretendi.lIl1 e. plJC~1 a existênCl.l de fenômenos, nu mcsmo a ação de fenómcnm, por uma <.aUS,1\.10 mbtila cxdusl\·a. O que exphc.wam com a noção de bru:-..ana eram as (ondlç'ol'S parti(lllare~, num,l l.ldeia c.lusal, que ligaram de tal (onn,l um IIldl\>íduo a acontecimentos n.ltur.lis que de sofreu dano. O rapa7 que deu uma (0p.lda no toco de ár\'nre não justificou o toco por referenLl<1 a bru:-",Iria, e tampnuLo >ugeriu que scmpre que alguém dá uma topada num toco I~SO acontcce necessariamente por bru:-",lfia; também não explIcou o corte como :. tl\'esse :,ido causado por bruxaria, pois ~abia perfeitamente que fora causa­do pelo tOLO O que de atribuiu à feitiçaria foi que, nessa ocaSIJO em parti ­cular, enquanto exercia sua cautela costumeira, ele bateu com o pé num toco de árvore, ao pa~so quI.' em centenas de outras ocasiões isso nao acontecera; e que m':,".1 ocasiao em particular, o corte, que ele esperava resultar natural­ml'nte da topada, infeccionou. ao passo que já <,ofrera antes dúzias de cortes que IMO h.l\iam infl'<.cionado. Certamente t:ssas condiçües peculiares exigem uma exp!Jca\.lCJ. Ou ainda: todos os anos centenas de Azande inspecionam !>ua cerveja à noite. e eles empre levam um punhado de palha para iluminar a cabana de fCflJ1entaçao. Por que e se homc'll em particular. nessa única oca-iao, II1cendiou () tcto de sua cabana? Ou ainda: meu amigo entalhador fizera

uma quantidade de gamebs e bancos sem alidentes, e ele sabia tudo o que é preci~o sobre a madeira apropriad:r, o uso das ferramentas e as condiçoes de entalhe, Ud,> gamelas e b.1I1cos nao racham como os produtos de artesãos iná­beIS; portanto, por que em certas rara~ oCJsioes as gamelas e hancos racham, se usualmente i,so não dcontele e .se ele tinha exerl .. ido todo seu cuidado e co­nheClfllento usuais? <'ahia multo bem a rL'sposta, como também sabiam mui­to bem, em su:r opini,lO, s~us imejosos e traiçoeiros vllinhos Do mesmo modo um oleiJO fal ljuestao dL' ~,Iber por que seus potes quelllar.lm Illlm,1 ocaSlaO parliudar, vi~to que ele usou o, 1lll'5mOS materiaiS e klnic.l~ que d.l~ outra ezes; ou melhor. ele j,1 s.lb pur LI ue - a rc,pmta e lllmo que sabIda de .mtemao, Se os potes se quehrM.lI11, 1m por (au,.1 d\.' hruxal 1.1.

htanamos dando Ull1d in1.lgl'll1 LI).,.! LI.I lilo~()fi,1 lallllL' SI.' di sé5~ell1m que ele~ acredlt,lm que" brux.lri.1 L' a uniLa <..Iusa dos knÚlllelltls. h,,1 pi opo­'1\.10 na() esta contida 110S L·squeIl1.l~ .II,\Ilde dL' pel1~,IIIlL'nto, 0\ quais afinlldl11

apena que a brllxalla pllL' um hOI111'm em rel.\f;.\O (1I1ll (IS eventos de UIll.IIIl.I­/lClra qUl o f.II sofrer ,llgUIll d,1l1o.

o paI zande, ,IS eles um \ e1ho ll'lell o de~\I1()nln,1. N,1dd h:1 dL' notavcl 111 o ] odo I.Indt .,abt LJue d telllllt,l" dc\'or.lI11 os lstt'ln,> LUl!1 () 1('IIIPO, L' qUL'

.I t é .h Ill.ldei ra ~ Jl1,1 i ~ re~i ~!(~Il t L'<; .11 li ,d rl'u.'1J1 aJ.>os aJlOS de li o • 1.1, o celeuo t' .. IT\idél1L1.1 de vcrao dc um grupo d(Jl1ll;~tll.O land!!; as pes oa~ c;entam J '>u ~()lllhra Ila~ horas qU(;lltc~ do dia p,lra (/)l1\er'>,lr, Jogar (lU faler algum tr ba

lho manual. Portanto, pode acontccl'r que haja pc,>soas senwda, d banco do celeiro quando ele deslllorona; e ela~ ~e madlLlC.1m. pOIS trJta-5e de uma eo; tru tu ra pes,lcla, fei ta dc grossa\ viga\ e de harro. que pode alem di w e.,tar ur­regada de eleusina.l\las por que estariam essa~ pe~ oa') em pJrtiwldr sentadJ debaixo des5e celeiro cm particular, no exato momento em que ele desabou' E facilmente inteligível que ele tenha desmoronado - mas por que ele unh que desabar exatamente naquele momento, quando aquelas pessoas em p rtl­cular estavam sentadas ali em baixo? Ele já poderia ter caído há anos - por que, então, tinha que cair justamente quando certas pessoas bu cavam seu abrigo acolhedor? Diríamos que o celeiro desmoronou porque os esteio fo­ram devorados pelas térmitas: essa é a causa que explica o desabamento do ce­leiro. Também diríamos que havia gente ali sentada àquela hora porque era o período mais quente do dia, e acharam que ali seria um bom lugar para com'er­sar e trabalhar. Essa é a causa de haver gente ~ob o celeiro quando ele desabou. Em nosso modo de ver, a única relação entre esses dOIS fato) independente­mente causados é sua coincidência e paço-temporal. 1\ão somos capazc de explicar por que duas cadeias causais interceptaram-se em determinado mo­mento e determinado ponto do e paço, já que elas não são interdependente-.

A filosofia za nde pode acrescent.u o elo que f.l!ta. O zande sabe que o~ e­teios foram minados pelas térmitas e que as pessoas estavam ~entada~ debai.~o do celeiro para escapar ao calor e à luz ofuscante do sol. ~1as também sabe por que esses dois even tos ocorreram precisamente no mesmo momento e no mes mo lugar: pela ação da bruxari.1. Se náo tivcs,e havido bm:-..aria,.lS pe 'oO.E

es tariam ali sentadas sem que o celeiro lhes C<llsse em Clm.l, l)U ele teria de-..l­bado num momento em que as pessoas não csti\'cs,em alI debai:-..o. A. bnn.:ari.l

expli la a coincidência dessc, dOIS acontecimentos.

Fspero 11,1O,cr lll'leSSann ~,lltl'nt,1I que o I,1I1dc 11,\0 ... (',lp.IZ de ,1I1.1li ,lr ~llJ.s doutnl1,lS tI,1 forma llll110 eu fi l por ele. N.JO .Idl.lnt.l dIzeI p.Ha um Z.II1Je':

"Agora me lltg.1 o que voc6 A/.lllde pel1S,ll1l d.1 brll:-...lna". pt)rque 0(\:111.1 ('

demasi.ldo gera l e IIldetelJl1ln,ldo, ,I um só tcmpo \,.lgt) l' inll'11 t) dLnl.lls p,lr.1 sl' I L o n lisa mCIl te tkSlf i t () 1\ 1.1' L' pOSSI\ d l \.t r.llr os pri Ildl ilh do I' 11 .Iment 1,lIlde a pa rt i r dl' dl' IL'I1.1s dL' ~i t U,IÇIll''' t'm q ue ,I bru \..UI,l i 11\' ca L1 L OJll ) e pliL,H,,\O, L de detell,IS de outras L'1ll que l) tl,lê,hsl\ l' .l!n!lIIdl).1 ,llgU!l1.1 outr.l

Page 13: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

, I /"I '\t1 111 (\t l til, ( rtlilCUI

.HlsJ, • U.\ íilt) 1111.\ ~ LXi'hL il.\, 11I.\s n.1I1 Il1l'11I.\111l('nle .llirll1.\d.\ lIlIlHl Ull1,1

dllutrm.\. l'mz.mde n,1O dlri,\: "A'lnlll\l H.I L.ws.\\.ll) ll.lIm.ll, 111." n.lI) .Idw qu d.\ t' pli'lul mltir.lIlwntc .I~ lOlllutlCIlLi.b, C mc p.lICLC quc .1 teoli.1 d,1 brllx.ma lorntL UIlU C:-..phL.I\'.IO ,,11 i,C.\llll" ia ~obre d.ls", Fll1 \1.'1 di\\ol'\pn nll' 'lU pCI1 ,lIncnto cm tcrnllh dc. itu,IÇ(lCS rL\lI, c partllld.1rc,. fie dl/: "um bufa ln .\t,k.t ", "um.l .In OIC L.li", ",I' tcrmit,ls \l.lo C,t~lO I:llendo scu \ (111,.1/0

n,11 lju,\Ildo (k\'l.'rJ.lll1", l .\s,im pm di,l11ll', I·s!.\ sc prnnunLi.1l1do sobrc f.l to,

emplrllamente atc~t.lJ()s. M,I' t,lInbém dll' "L m bul.llo at.ILOlle t\:riulul.1l1o". "um,\ .lrH)(l L.tiU n,1 ubcc,.a dl' ,IG,lIlO e o Jl1,lIou ", "minh.l' tL'nnil,ls H:'LlI -

an1- . \O,lr l'm ljuJ\ltid,lde sulillcntl" 111,1\ outra, pesso,b I:'st,lO Lolet,l11do.IS

110rm.llmentl''', e .1S,im por di,lI1te. I:k \.lI dizeI' que e,S,IS loi"IS deleJl1 se .1

bruxaria, cO/llent,lI1do, para cada l'\'l'nto: ·'Ful.lno foi cmbnr\ado". Os 1:ltos

n,1O" e placam a SI mesmos, ou fazem no apl'n.l' parei.11mel1tL', Eles so po­dem ser integralmente expIaLad()\ Ie\ando· se el11 comider,l.;,j() .1 bru \clf i.\.

Podemo, (,lpt,lr.1 e temão total d,1S idéicls dl' uI111,1l1dl' sobrl Lausalida ­

de apena se () delxnrmm pr l'n,her ao, 1,ILUI1.lS sozinho; (aso cont rúio nos

perdell,unos l'/Il (om en~ol', Illlgli"ta';h II diz: "I'ulano Illl embruxado e ~e matou" Ou, n\.lÍ~ ,imple!>lllente: "lul,uIO fOI morto por bruxan,I," t-. !J~ d e

('stá ai ndo d,1 cau .1 ultlllla d.1 mortl dl' fulano , nao d,l, e,lm,l~ "cLun d.ui"s,

\'OCl- pode perguntar: "Como cI e matou?' ,e seu II1tCrlocutor did q ue ful.! ­

no wml'lcu uic idlO enfürcand, , niJm g.llho d árnlft.:'. Você pode t,lm bém

inquinr: "Por que ele e matou? ,e de dlra que foi porqul.' fulano esta\',1 za n­

gado lom o~ IfIllJO . A cau~a da mort l' fOI enforcamento numa <Í r\'orc, e a

cau a do t:nIOIc.II11 nto foi a ral\,1 do irrllao. Se cntão \océ perguntar a um

zande por que de disse que () homem csla\'a embruxado, ~l' (omell'u SUICídIO

em razao d~ uma bnga LOIJl o mnam, ele lhe uir.í que SOl11en te m lou(os LO­

metem SUIcídio, l' quc se Inuo mundo que se zangasse LOI11 ~eu, II mao~ Lome

k se I>UiCldlO, em hr~\'t' \l.\ll ha\ en.1 mal~ gente no mundo; ,e ,Iquelc homelll

nao ti\e se ido ernbnlxado, n,1O lalia n que It/. ~e llce persislir l' p~rgunt,lr

por que a hrUX.HI,llc\i(HI o hOlllllll ,I ~e m.llal, o l.lIlde lhe dlLI qu~ ,Iclla que

algu m ()dJ.lva aqude homem; e ~e \Ou p 'guntar pOI qUl alguélll o odi,\lI,I, cu mfOlm,mtt "ai dizer que as 1m e a 1 .. \lurl/.1 hUll1ana

os Az,mde 11M) )lOdllTl (IllInC i ,11 UIIl.! t ora.1 d,1 l.llIs,l!Jd,lde elll t('11l10 ~ a It.1\lis polI..! 1\0 ,elc de"ul'\cll1, elltll't,IIl((I, os .lulIltelill!t'nl(l lIum idio­

ma q ue e e r IJna torio. 1 st.ío lil'lllt: de que '>,10 li rl.Ull t .llIll,h p.IIIJ ( ul.1I L'~ ue

t nto~ cm U.I Id"Ir.IO lom li 1t0JIIl'lll, ~lhIIHlLl\ id.lde p,II.1 1I11l.l Pl'~S(J.I l'lll

P rtllular, qU( unstllUt m ,I \'lduIlld d,llllll ,II i.1. A I)) lIX.III,Il'Xplil.1 /lUI I/II"

o anlllt J1nento~ .10 1I01l\OS, lll.IO{o/lIocle'i.ILlI\lltLCIll 1'1l1/dlllll' ptrll

COInO le .11lmtU .. l'm d.1 mI: m,J fol'lll.l que no' .lO H UIll bru o ..!1.IL..Ill

do u 110111 111 IllJ um dctJIIll. '.lO \C llllll>ru ,\ dl'l rubJr UIlI LLlcllO, IlId~

tCl ml l,IS l'Oe ndo o,c u, l' .. ILi()~. N,IO \'l' lima 1.Ibared.l p í/lUI(J IIktndldndo , t

Ih,ldo , lll ,lS'\pl'll,l\ lI mfc lxt'dcp,) lh.I.l(l'O .... uapcr<.cp JOdtlOmun n, OlO ITelll e t,1O d.lra l]u,l nt () il nOS",I.

4

A crença la nde na bru \,lria nao contradi!. .1bsolul,lmente o cunhec.lmento

empíri co de GllI",1 ( efeito. O mundo do .. SLl1tido~ é tao re-al para ele<> com

pal .1 nós. Nao \l OS devemos d eixar enganar por seu modo decxprimlc a causa­lidade e imagina r q ue, por d ll.e rem que um homem foi morto por bruxana,

negligenciem Illtem\mente a~ caus,ls ~ecundárias que, em no 50 modo de ler, S,10 as razôes reais daquelJ m o rte. O q ue eles estão fJzendo aqUI e abreVIando

a cadeia de eventos e seleciondndo a causa socialmente rele\'ante numa Sltua­

çao social particular, deixando o restante de lado. Se um homem e morto por

uma lança na guerra, uma fe ra numa caçada, ou uma mordIda de cobra, ou de uma doença, a bruxaria é a l.lUsa ~oclalmente rele\'ante, pois é a úmca que

permite inlervenção, determinando o comportamenlo social.

A crença na m o rte po r ca usas naturais e a crença na morte por bruxana

não sao mutuam ente exclu~i\'as, Pelo contrário, elas 'e suplementam, cada

uma justificando o q ue a ou tra nao ex.plica. Alem disso a morte nau é ~m nte

UI11 fato n.1tllral - é também um fato ~ocial. Não se trata implesmente de um

coração ter pa rado de b,lter, e dos plllmães não mais bombearem ar para o in­ten or de um orga nism o; trata-se também da destruição de um membro de uma (amal ia e gru po de p,Hl'nt esco, de uma comullId,lde e uma tribo, A mort

leva J consul ta d e or.ícu los, J realila",lo de rito~ mágICOS e" \'ingança. Dentre

lod ,lS a~ causas de morte, ,I bruxaria e a unlC,1 que po~sui alguma rele\ in(ia

par,1 II LOl11pOrl,lmen to soei,ll. -\ atribuiçao do II1fortulllo a bru..\Jn.1 não te '­

LllIl o que nós chamamos de '\aus,ls re.lls", mas superpôe .. se.1 e t,I., dan,i

.lOs l'\'enlo~ SOO,IIS () \'.1101 mor,11 que lhes é própno.

O pcm.lmenlo /,Inde c e.!p,lI de e\pnmir com muit,1 c/.lrt'l,\.h r'1.1~ -

I.'l1tn' ,IS noçôe .. de L,lll''Hllrd,lde I11l\tl, .l e L,lU,.llid,lde n,ttUf,11 pt)r meio d um.l

IIll'l,llora venatona. Os \ /,1I1de sempre di /em d ,1 blll\:.ui,\ que el,1 ,111mb". /1

\\lI ''segund,1 1.1I1~a ". Qu.lIIdo o, r\1,1I1de nl.lt,ull ,}l.,I';,l, h,1 Ull1<1 di\"i..lo d.l car­

m' l'lI t re () h 01111.' 111 q Ul' P IImC1 ro ,It 111 glU II ,1\1 i 111.11 e o q ue lhe (r,1\cHI ,1 ,gul1,b 1,11I ~"1. Esses dOI .. ":iu lllnSltlel,ldos os 11\,1\,ldorL" do ,lnim.ll. l' t) Li mo da ,­

gUlld,ll.lII~.ll' dl.Ul1,lt!u l) /ll/lllcl~/I. J\"illl, ... l' lIm hom,m,' morto l r t m d ... 1.1111<.', ()<, A/,lI1dt' dlzelll que () ekl:lI1tl' e .1 PI i llh'ir,1 1,lIh.\, 'lU, ,I bru ,In,\

segund.\ 1,ln"I, l que, jUllt,I'>, d.\'> o 1Il,lt.ILlIl1. "l 11m hl)lIlL'!l\ III (,1 )Ut o, m

Page 14: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

unt.llun\Jd.1 11.1 guerra, o hOlllllld.1 t'.1 pnmllr,1 1.11\\.1. .1 hruxa li.! l'.1 'C1~Ullll.1; Iunl,~, a~ dUJ' o !TI Ilal ,1111.

<. omo ,l~ Al~lI1de ret.{Inhetem a plllrJhd.lde da, l.\lI'.1 ,e e.1 '1Iu.I~".11l '0

tI.11 que II1dK.1 qual ,ll.IlI~.1 rdl'\.lIlle, rOdllJ1(l~ enlcndl'1 por qlle.1 doullln.1

d.1 br li ".lIl.1 11.10 r lhada p.lI a ex p" (.11 li tI.11 q IIt'l fI.ll.1 ,~n o II i nl o rt ti nr o. Pn r \e le a '1Iu.1 .\(1 ~olial eXIge UIll /ldc.lIllento l.lU,.11 d, ,ell'O COlllum, n.\() 1111' IllO. AS\IIIl. \e \Olt· tonl.1 um. lllUlllra. lomtle ,ldultlrlO, n,uh.1 ou Ir.1I ,eu pnllclp e e de!)lOherlo, lIao pode l' (.lpar.l punh •• H) dlll'fldo que t01emhru-

.Ido. A doUlnna 1.lI1dedld.lraenf.lli menlequl "bruxaria II.HI fú IIm.1 pc,· ,oa dller rnentlla~", "llIu .Ifld 11.10 I,tl um.1 pe""d ("meter .Idulterio". "A hruxaria 11.\0 tolo a o .Idulteuo delllro d UI11 h. rnel11; e".1 hrll\.lri.I' e,tü em

\(lU: me~rno (VOU! o rcspon .lHO, i~to e, !>cu J1eni, fila Ul'to; ~k \ê 0' ca helo, da ('~pO~ d um hornl'lJ1 L' fiL.t l reIO, porque a UllIt.1 ·brlL'"lrl.I' l' ele Illes-

1110" ('bruxal la' JlJUI esla sendo u~Jd.l metdfof!(JIllCnl ) "BIlI"ana n.lo l~lZ

Ullla pe,so.1 wuh.lr"; "bru).,ana nao 101 na urna pe"oa .ksleal". Apen.l' ull1a \'0

oU\'i Ulll l~/Idt legar quc nl.I\J cmbfllx.ldo quando h.1\ iJ (Olllelido uma ofem,I,l I~SO 101 qUJlldo 'TI nliu para mim, me~l1\o nL~~,1 (K.l~I.IO,lodll' m pre­

sente ruam dde e lhe dl~ lr.lm qu~ hruxauJ n.Hl taz Illllguclll dl/cr Illenlira~.

':li' um homem J S.I ~1I1.1 outro membro d~ tribo 0111 hn\.1 ou faLa. ele e l)., llll,ldo. 'UIIl <..I!>O dlmo t, nao e pre,iso prOtur,lr um hruxo, poi, ia se

tem o ah \I (OIhr .. o qual ,I \ ing.ln\-a pode ser dlrlgld.1 )C, por Olll ru latiu, t! um

membro de uma outrJ tnbo qUl I.II1CloU um hor'lem, seus parcnte~ ou 'cu

pnn':l)le tOl11arao medld.l~ rar d c.ohrir () bruxo respomj\ el pelo fato.

'ol r1,1 tr.llçJo firm...r que um homem exec utado por ordem dc ~eu rci,

por orem.1 a .lUtoridadc rL.I fOI mono por bruxari.l. Se um homl"lll (OI1sul­

tils!>e o~ or J ulo p.lr.l deSlolmr. I urux. I respoma \'c1 pela 1110 rt e dl um p.1 rCII­

te 'lU 101 eXtllJt.IJo I ()/' orJem do reI, l'SI,InJ l rrendo o n,c() de Sl'r ele

propno xuulJdo. POI .Iqlll ,I '>ltUdÇJO sOllallxdUl .1 IWÇJll d~ brux,ui,l,

tomo em outr.1 Ol,1 I. l' Iltghgclllla o agente~ Ilatur.li t.' 10(.1117.01 .lpcn,IS ,I

11rux• na J)o me mo lIIodo, l um hll/lH m for morto ror \'lI1gall~J pDI qUl os orá(ulm dls t r alllljlll: era um hru IJ l" ,I~sa mara outro hOJlwl11 com ~lld Inu

.Iria, enlao 'lU ll.lrUIIt: n.lo poder,1O dlll r qUl til' Illll\lorto por hlu .If1J A doutrlll 1~1I1dt' d~ Idl <jut' eI morrlll 1\,1 01.10' J.. \ lI,g.ldOl \ porque er.l

um hOlllltida. l' UIlI dt 'til p.Htlllt lIl'I~1I se qUl, 1\,1 'tfd.ld ,alJlI le hll

mcm morrer.1 porlllU JfI.I, t It'\ .I,sr o LJ (I Jd"lIllt' ,li CUIl\lIlr.1r (101 alulo de

\ e!H'no, poderlJ \d pUIlH!\' pOI rJllll UI,1II1JI o <lr at ulo, 1:.11 plm fOI a () 01 d

Lulo de \ IlUIO rt:.11 que ,-lIl1flrlll,lf.1 llfiCl,lhn ntl.l ulpJ do bru o. c flllL (J

propuo III Ut' permlllr.I.1 H' . .Ill.I ao dJ \lllg.IIl'r,1

e 01 lIua~Ot .I hru .lrl.1 e Irrele \ anil {, ln Oe lPlll'I.IIT ent e dUI d j () l I ldl ,Id. (on1l, II I,nllllpall lor L ,lU .11 A~~lm l flllll), un nos,.1 pi o

pi i,1 sOLied,lde, Ull1.! leon,llll'nllllL.1 da ldu,>.lhdilde é, embora nJO exc1U1d 1

lllll\lder.ld.1 !lrde\ ,mle cm quc,>loc, de resp(Jn~ah"ldJdc moral e l!!gJI aJslrn

l,unhelll 11,1 sOLlcd.lde 'dlllk .1 doutrin.1 d.1 bruxari,I, embora Ino eXdUldJ, e

tid,l por ii relcv.lIlte n.ls me'111.1S 'lIua~()es. Nó, acellamO\ cXl'hCJ'rllCS cientlfi­

L.I\ d,l' l,IUS.!' d.l~ docn".ls c ll1c,mo d.l~ C.lUsas d,lloucurJ, mas nL'gamoseo; a,

l'\plil'll:ôe, 110S La,>o'> de lflllle l' pecado, porque ,lqUI CI.IS cnlr.lnl em confhto

lOll1 ,I lei e ,I moral, que S.IO .1.\I0ll1aticas.l) lande .ILell.IUl11a (XphC3\-JO mbt;­

ca d,l' (,llI~.!S de inforlunlO\, docnç.ls c mortes, m.15 reCU'.1l:,sa cxpli ... açao t

cl.1 'L' Lh<lL.1 lOll1 a~ exigên(i.l' '\Kiais C\.pre\s.1' na lei c na moral

Port.lllto, a bruxaria n.lo é ulllsiderad.1 como UIll.! CJusa do fral.lSSO de

algo, ~e Ulll tabu foi quebrado. Se uma cri.lIl'ra .ldoe(c, e e sabido quc ,eus pJi

liveram rel.lç()e~ sexuais antes que da fmse dcsmamada, a ~ausa da morte ja

eSlá contida na ruptur.l de um interdito ritual, e a que'lâo da bruxaria não e

coloca. Se um homem contrai lepra, c existe, no seu (a,o, uma historia de in­

cesto, então ° inc!!sto é a C.lUS.1 da lepra, não a bruxaria. Nesses C<bO~, por~m,

dá-se uma situa~.lo (UnOS,I, porque se.l Ln.lIlça ou ti lepro'io morrerem, fa7-

ne(ess.írio ving.lr su.lmorle, e ti Jande lião \'lo ,I menor ditlLlddade eln explicar

o que para nós p,lrc(e ser um Clllllport.1mento extremamente ilogi(o. E faz 'e­

gundtl m mesmos prinClplos aplrc.ldos quando Ulll homem e morto por um

anim.ll fcroz, e cle inVllLa .1 mcsma lllet.lfor.l d.1 '\egunda lJnça". I TO\ Gl.(l~

.Icima mencion.ldos, h,1 re.llmente três L<lUS.b da morte de uma peSSII.l. EXL te

a docn~.1 de que el.J morreu lepr,I, no L.ISO do hllmcm, e '1lguma f!!bre, t.lI­

\'C/, no L,I~O da cri<ln\a f~S,l, docnç.l\ n,IO s.IO em '>1 produto~ de bruxaria,

11IlIS exi,tem nelas mesnl.l', ex,lt.lmente C0l110 UI11 buf"alo ou UI11 (eleiro exis­

tem elll SI mesmos. 11,1 aind,I, l'lll segllld,l, ,I quebra liL UIll tabu, no L',hO do

deSlllallll' c no L.ISO do lIllesto, A lrIJn~.1 l' o homem lI\'eral11 febre c lepra

pmque um t,lbu 101 quebradll. ,\ quebla do t,lbu tOI a Lam.1 d.\'> dllenç.ls, m.b

,IS doell\.1'i n.lo os tl'1'l,1l111110rtO ~l'.1 brU\.JrI.1 n,IO l'.,tl\l"Sl' agindo t,lmbcm.

"t' ,I brU".lfI,11I.10 estl\e'i'l' prl'\L1ltt' lOlllO "sl'gullda I,lll\a ,de., tl'ri,lm tido le­bre l'lepr.1 do lllc,>nlll lllndo, 111.ls 11.\0 nlllrren,llll por 1,.,0. ~l'"e~ e"l'mplo

h.1 du.l,> L.IU~,IS SOLl,llml'lIlL' signifil.lnks: qUl'br.1 de labu l' bru".lfl.I, ,1I11hJ

rL'1.lIi\',h .1 lillL'rcntl'S Prull""ll\ '>llêiú" l' l,ld.1 lima ~ sublinh.ld.l por ~~"ll,h

di fe rl' n te"

l\1.1' qu,lndo h,í qucbr,1 dl' Ul1ll,!lHl L ,I 11llHIl' n,llll)Lllne, ,I blllx.ln.1 n.h'

Sl'r.l JIll'l1lion.ld,lull1111l,llIS.1 d,' inl\ll tUI1I\l. Sl' UIll hOI11l'lllltlllll' Ulll,llimcn·

tu pllllhldll t1l'plll,> de tl'l Il"dl/,Id,) Ulll'! podt'rll.,.1 m.l~i,1 punitlv,I, el~ Pllde

/1IOITt'r t lIe~,l' l.l'O .1 1.1/.1<) dl' 'U.I morte L' (onhúid.1 de .lIlt m,IO, P' I l.I t: t.ll,)lItld,1 Il.I~ (Ondl\lll, d,1 .,ilu.I\.1O ell! ljUl' l'le l1llHreU, me,mo 'lU '.1 bru

MI I t .1111 bc III e'>t I \ t'S~l' opu ,Illdo. ~ I.I~ IS'" ll.\lll) uer ,hlt r ct Ul' ti l110er r.1 '-)

Page 15: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

qUt' me\ 11.1\ el1111'nte ~uLeder<i ~ qUl' ,I dll)g,1 m,lgica que de prep,lnH1 dei",ara de iUJlllO\ur Lontr,) ii pt "0,1 ,1 qUl' ~l' de~t in;l\ ,I, L de, e ~er dest ru Id,) ,oh pen,1

dc 'L ,oh,H LOlltr,ll) Ill.lgo qUL J emiou. O tra(,I~~O da drog.1 em ,1linglr ~l:U

ob,t.'t" l) dc,"l'-' ,I quehr J de um t,lbu L' Jl,10 a bruxana. ~e um ho mem ten : re­

I.I\ôe, "exllal' u1111 a e'posa e no dl,1 \egull1te consu lta o orando d e veneno , c~te não re\ dará a verdadl', e \UJ elldClJ oracular l'stara permanentemente preludILad,l. Se Ulll tabu llJO ti\l'~,e sido quebr.ldo, dir-~e- IJ q ue a bru",ariJ fez o nraculo mentir, ma, o e,tado d,1 peS,OJ que assistiu a se<,s,\o da uma

raldO para ~eu malogro em ouvir a \erdade, ,em que seja preCiso in vocai a no­

çau dL bruxana ltlmo agente caus,11. Kl!1guém vai admitir que tenha quebra ­

do um tabu ante, de comultar o or,Í(ulo de \ eneno, mas qua ndo um oráculo

mente todo~ estão pronto~ a admitir que algum tabu deve ter sido q uebrado

por alguém.

Do mômo modo, quando o trabalho de um ceramista se q uebra na coze­

dura, a bruxaria não é a única (ausa pO~~l\el da calamidade. Inexperiência e

fàlta de habilidade artesanal podem ser outras razões do fracasso, ou o cera­mIsta pode ter tido relaçôe~ ~e. uais na nOite anterior. O próprio artesão a tri­

buira seu frac<\s<,o à bruxaria, mas outra., pessoas podem não ~er da me~ma . . -

opwlao.

• 'em me~mo toda~ as mort~, sao im·ariável e unanimemente atribuídas à bruxaria 0U à quebra de um tabu. As 11í()I"te~ de bebés causadas po r certas doenças :.ão vagamente atribuídas ao Ser ~upremo. A~sim também , se um ho­

mem c.ai repentina e violentamente doente, morrendo logo a seguir, seus pa­

rentes podem ter (ertela d~ que Ulll feIticeiro fel magia contra ele, e não qu e

um bruxo o matou. Uma quebra da~ obn gações entre irmaos de sa ngue pode extermlllar grupos inteiros de parentes; assi m , quando irm ãos e primos vão

morrendo um apos 0' outros, é ao sangue, e não a bruxaria que as o utras pes ~oas atrilllurao a~ mortes, embor,1 (IS IJ.lrenll's dos mortm procurem vingá -los

nos hruxos. Quando morre um hOll1emllluito IOUSO, os nao-aparentados di'

leln que ele morreu de velhice, Illas nilU () lazem em pre~elll.,1 de parenlL's, pUl~ estl declaram que a hl UXaflJ fOI r~~pomá\e1 pela morte

Acredlta- e tambem que o adu ltcrio possa cau~ar II1fOltúnio, embor,1 seJd dpenas um I,Hor um Urrl'n tL', ,á que .1 IHuxana lamhem est.i presentl'.

DIl-seque um homllll pode sei murto n,) guel ra OllnUIll ,IL idenlL' de L,\\,I Plll lJU a da~ IJ)fidelidades de SU,\l'SPOS,I. 1'<H 1,lnto, .IlHes de Ir ,I gUl'II,1 ou JlMlil

pard uma glaJHit e ·pedh,ao dL C,\\,I, IIIll hOlllelll Jlode' pedll ,I espos.! qUl' di­\ ul!:,ul II r.01l1e de seus .1l11.inlL',.

Mr. mo qu,mdo nall Oe () fi e 111 1I1 t I a~oes .'1 Il i Oll "mnr,JI .I [,," XMi,1 n,ltll' .!

unI{ I aLao a <!Ut; ~ atribUI UllI ti ,1t.IS~() I T!(.OlllP tellL 1,1, preglllç,I, IglHJl "IlU,1 prJdtn!' H!l1ILadJ~ Lfll1l11 L.1It~<l5 ()uallt!o Ul1\,1 1l1l'llin.1 ljllLhr,1 .1 hilll,1

d 'agua , 01l1l11l l1111lIllO eSljuece de fedl.H a porta do g.lhnhlro a rWllt:, ele;, rJO seVe r,\lll enll' rl' preelldid m pe l {)~ pal~ por ,>ua l."tuplde/. (), t rro dei LlIJll Ç,I~ ~ao .l tribllíd() ~ ,\(1 desc uido ou ,llgllllranlla, c <linda pequ<.'n, ti ) ell~ ll1 ,\da s ,1 eVitá- lo, . O s A/ande llao d i/ cm que esses erros \30 (.du,ado,> por

bruxa ria, ou , mesmo que d i ~ pmto 'i a Jceit ar ,\ possibilidade da bruxa na, \.on

sideram a estupide/ ,\ G1U!>J prinCipal. Ade mais, o zande n.w e ingcnuo cl pon

lo de culpJr a bruxana pela quebra de um pOle durante a cozedura se me

posterio res revelam que um seixo fOI delxdd o na a rgila; ou pel.l fuga de um

,111 i mal de ~ U .l armadi lha se alguém o e~pantou com um movimento ou baru

lho. As pessoas não culpam a bruxaria se uma mulher queima () mingau, ou se o serve cru ao marido. E quando um artesão i nab i lido~o faz um banLO ~ro5 seiro, o u que racha, isso é atribuído à sua inexperiência.

Em todos esses casos, o homem que sofre o infortúnio possnelmente

dirá que ele se deve à bruxaria , l11a~ os ou tros não farão o mesmo. Devemo

lembrar contudo que um info rtúnio séno, especialmente se re~ulta em morte,

é no rmalmente atribuído por todos a ação da bruxaria - e e~pecialmente

pela ví ti ma e seus pdrentes, por mais que tal desgraça tenha ~ido causada pda

incom pe téncia ou falta de autocontrole. Se um homem cai no fogo e se qUet­

m a seriamente, o u cai num fOlo e quebra o pescoço ou a perna, isso será auto­

m aticamente atribu ído à bruxaria. Assim, quando seis ou sete filho\ do

príncipe Rikita fi car,lm encu rralados num anel de fogo ao caçar rato~ do bre­

jo , morrendo queimad os, suas mortes foram indubitavelmente cau~ada por

bruxaria .

Desse modo, ve mos q ue ,I bruxana tem sua propria lógica, . uas próprias

regras de pensamento, e que estas nJO excluem a causalidade natural. A cren­

ça na bruxaria é baSlante consistente com a rc pon abilidade humana e com

um,\ aprec iação raciona l da 1l,llurelJ. Ante de mais nada, um homem de\e

d e\e l11 pe ll h,lr qua lquer .1lividade conforme as regras técnicas tradicionai ,

q ue consi~lem no con heLllllento teslado por ensaio e erro a c.ld,1 geração. E ,1penas q Ucllldo ele fraGISS,I, ,lpeS,\f de sua ,ldesdo a ÔS,h regras, que \'JIIIl1pU­

lar a ~ u a falt,1 de Sllce~so ii bnr\.Il"IJ.

s

h eqlll'l1telllenll' ind,lg,l-se Sl' os pO\lh primiti\'os disungu 1\1 <?ntrL. l) n.ltur.11

l' () \obren,ltul,ll F\S,I l]llest.1O pode ~er respondllb dL' Illfll1.1 prdllllm r n

qUl UlnClTl1l' ,lOS A/ande t .OIllO 1,11 .I que~t.hl pode qULrL'r diler o l"l\ ,

pril1\itivos dlstinguclll entre o 1I,ltULII L' o "lbrcl1.11ur.ll III t rnll ab trahl ? Nú\ Pll\SllllllOS a 11tH;,\() de' Ul1\ 111l111lIl) III dL'lI.lei,) dl' .h oreil) " m o qu eh.1

Page 16: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

1 ]C I I pHu" 1Il1 .1 11ll" I ' ll.htIllIlOS .1 Olll'd,ldl'illlnIU,1J11l11l(' rt I lOI I 11'1 ttllO .I~ 'lUl n.1O I'"delll ~('I C\l'lIl.I<I.1 I'"I

mil n tur.1I l lIUt' I tlrt II I ( " '~ ,(lI' ,IS 11.111 U ' I1lkIll SIII'0\I.I ­

m h,\l11JI111" l' l' ' \ cllIo de 'llbr~I1,\1 ur.li, . P.II.1 111 '\S, :.obre­I n fi • qUJ't' o I1Il~mo qUl .1I1Ilr111Jl ou txlr.wrdin.írill. (h A7ande

o r ~Ul'l11 1.11 n 'Ç''' l' ' .1 le:<l'eiln d,1 fe did.ldc. Ele, 11.\0 têm 11ll li 1.1 dl) "n.1lur.11' '.11 C0l110 /ll) ' \l cnl,'lldeI11os, l'.por cOl1sl'guinle,

mp u, d) ~ brenatllrJI 1.11 , 01110 I1 l)' n ellkndenlO\. A bruxaria repre­nl r r o. ndl um,'\ ento 'lUl', l' l11ho ra 1,lh l'7 IIlfreqüenle, é ordinário, nJ tr.1 rdm.lno. E um a,oll lcLÍ mcnlo normal , l' n,'lo anormal. Mas em-

.Itnbuam a natural e , ohren.ltllr.lllh ,ignitIcadns que os europeus luh - n ld<:m a l' -a, nocôe ,di,tinguem 0' dois domínios. Assim, nossa ,

pe!J!.unta pode 'r formulada, e de\ e ser formulada, de outra maneira. O que d en.lmo perg.untar é se m ponJs rrimit i\"O . n~em alg.uma diferença entre

ont amento, qUl' nO -- os observadores - classificamos como na-

ur.lJ- o atonte Imentos qUl' ,1a" ifl c.ll11m como místicos. Os Azande per-, m mdublta\'elml'nle uma diferença entre aquilo que consideramos como a õe da natureza, por um L1do, e a a oe da magia, dos espíritos e da bru­

'\.ana, por outro, embora, na au~ênc ia de uma doutrina formulável sobre a le­:; hdade natural. não po" am exprimir a diferença tal como nós o fazemo.

~ no ão zande de bruxana é incompati\'el com nossos modos de pensar. ia! me<;mo para o, Azande exi te algo de peculiar na ação da bruxaria. Ela só

pod er percebida normalmente em onhos. Não se trata de uma noção evi­d nu:; ela tran cende a experiência sensorial. Os Azande não afirmam que wmpreendem perfeitamente a bruxaria_ Sabem que ela existe e age male­fi mente, mas podem apenas conjeturar sobre a maneira pela qual age. E r lmente, sempre que eu discutia sobre bruxaria com os Azande, surpreen­di -me pela atitude dubitativa e hesitante que assumiam frente ao assunto, I apena no que diziam, mas sobretudo em sua maneira de dizi'-III, em 01 tra te com o conhecimento desembaraçado e fluente que dcmonstr.l1n ,\

r I CIto do~ C\entos sociais e das técnicas económicas. Eles se sentiam perdi ­d I ao h:ntar explicar de que forma a bruxaria alcança seus objetivos. 0uc d ,1 II t pe a é ob 'io, mas Lomo as mata, não se sabe exatamcllt e. ~u g('

rme que tal ez fosse melhor consultar um homem mais velho , 011 11111

dI mI J, par.! maIOres informaçoes. Mas os homens mais \e1ho, l ' m .tdivi fi "apazes de dizer pouco mais que os jovem e os leigos, Hes ~.lhe Il\

e todo sabem: que a alma da bru ar i,1 \ag.l a noi te (' que dt'\Ola.1 IlIma Só () proprio bruxo entendem de (~.1 ~unto l'1ll

,lu d iA L-rdade o Azande experimentam ~cnIIIll t'n l m, Ill.m l ]lI t

Idel.I ~1 !!Obre bru na, elc~ ~.Ihem lna oq fuerqua A rc\ptllta • nIo a _Uíle.

Nao te uma reJ1traent.çi"ellIbI ....... ~ __ ..... t_ ... . con t.1 detalhadamente de seu IUltlCÍGrnAllIIII_~CIIl_ ..... _ ... ..

scntaçao elaborada e conàlteate da naturaa com seq~ias e anta' relações ÍWlcIOlWL O z..-.fIe __ ~ e_ai .. .. ma is que as antelectualiza. e prindpãos do eq_"_ ... ' .... ... portamen socialmente controladas que em ....... cm se bruxaria cem Az .. ,Il'0l • • _~ídleit. _._ peito

Page 17: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

( \!'lllllllll

As vÍt i11las de i/~fo rtlÍllios lJll5Cl1 11l os bruxos elltre os inimigos

I

D<.:\emos agora abordar a bruxaria de uma form a mais o bJeti\'a, pois ela é um

modo de comportamento, tanto quanto u m m odo d e pens,lmento. O leitor

tem o dIreIto de perguntar o q ue faz um zande q uando é embruxado, C0l110

des(obre quem o está embruxando, como m an ifesta se u ressentimento, que

medidas toma para ,e proteger e que sistema de con trole inibe uma reta liação

VIOlenta. Somente se pode exigir \'ingança oUllldenização po r d .1I1m causados pela

bruxa na quando o IIlfortúnio sofrido é a mo rte de alguém . Nas perdas meno­

res, tudo o que se pode fazer é apontar o bru\.o e per~uadi-Io a interromper

,ua IIlfluéllcia nefasta. Quando um homem sofre uma perda irreparável, por ­

tanto, e inutil le\'ar a questao adiante, Já que não pod e obter compensação, e

que um bruxo não pode desfa7er o que já foi feito. Em tais circunstâncias, um

zande lamenta sua de~\'entura e culpa a bruxaria em geral; mas é improYável

que ~e esforce por Identificar um bruxo d eterminado, pois o acusado nega rá

~ua re~ponsabilidade ou dirá que não tem consciência de ter feito mal a .11-

guém~ e que, ~e o fez, fOI involuntariamente, o que ele lamenta muito; de qual­

quer forma, a vítima fica na m esm a.

Mas quando o II1fo rtún io é ainda IIlcipi ente, há boas razões para uma

Identifica~.1(J IIned lJ ta do bruxo , poi s cste pode 'ler per~uadido a interromper

sua bruxaria antes que as coi~as ~e agravem. Se a caça esc.a~seia no final da es ­

taçao, {> inuttl de~cobrir O!i bruxos quc a espantaram; Illa, no auge da estaçáo ,

a IdentJficJ~ao do~ bru xos pode assegur.!r Ulll bom resultado. Se Ulll homem {­

mordIdo por um a (ohra \'enenosa, ele fica bom logo ou morre. Qu,lJ1do se

Lura, de nada adlJn ta ( omultar os or.1culo$ par.! saber () nome do bruxo re,

ponsá\(~1 peja m ordld.l Mas se UIIl homt'1l1 Lli doente, e a doenç,1 promete SL'I

ena edemorad.l, então se us parentes hU\lJm o bruxo re~pom.I\'l'1 P,H,I que.l

balançil pese ma Is do 1,ldo d.1 LUTa que d.l morll' .

i.lÍs ad 1.111 t e e phC.lI"CIl)( " .Imallura pda tlllJ I OPU,lI1l li o r.1Cldos. Aq ui

*alaremu ,IP nas do, vCTedi ctos como p.H\c do m eLan lS II10 SOL 131 de L o n t ro le

d b uxarl. I eViden te q ue, qu ando um bruxo l (it'nulhlddo pelo> ol .llul 'h,

\ t ll/NUI iiI.. , I, ti "J, bu tl IIr

'ie cri,l um,l ~llu ,IÇ,IO perigo ,I, I'lJI~ li homcm p reJudJ(..tdo

l,lm lunm()~ lom Ulll" .Itronl.l .J ~ua dlgll ldJde tum .11 u ,I(}

pOI p.1 rtl dL UIIl \'l/lI1ho -< lIlgUCIII ,lCClla Iran~ujlamente qu o r

guelll ~U<l L<I<,<lda ou prejudlqucm ~u.! 'i.lúde por de peito e Invqa, n Iv. n

co m certeza agrcdiriam pc~soalmcnle o s bruxos que lht) preJudlL~m, r eX I ., ll s~em (,lna l, t rad IUOnal'i, ,lpolaJos II.! autu ridade pohu ... a de ... Q tro d, 1"\:,Se l1 ti m en to.

Devo IHlvJmentc Icmbrar quc 11.10 e~tJmos tratando de eflm ) pa

de serem levados a tribunais c punidos, nem d e delitos UV'S par o qw. ..

P()s~.1 ex igir uma II1denizJçao legal. A nao ser que um bruxo n:..Jment~

u m ho mem, é im possível processá -lo no tribunal de um príncipe; e lidO r

tre i qualquer Laso de bruxos punidos por terem ca usado outro dano. Al­

gu m anciãos, po rém , d isseram-me qUL antigamente um fa\'onto da corte

podia persuadir um príncipe a conceder-lhe indenizaçao pela perda tOl F r

fogo o u praga, de sua colhei ta de eleusina.

O processo d escrito neste capítulo é portanto o ,-o stumelro, no qual a

questão d a reta li ação não ,e coloca. De~de que a parte o fendida e o brux , servem as fo rmas corretas de comportamento, o incidente e.tar.l encerrad

se m qu alquer t roca de pala\T.ls asperas e muito menos golpe~; na \'erda­

d e, ~em que nem mesmo as relações entre as partes fiquem estremeCIda. "o ê tem o direito de pedir a um bruxo que lhe deixe em paz e pode inclusiw a\l.­

sá-lo de que, caso seu parente morra , ele ~erá acusado de assa~sinato; mas não

deve insul tá- lo ou fazer-lhe mal. Pois um bruxo e tam bém um companheuo

d e tribo que, enquanto não estiver matando as pe~soas , tem o direito de ;\('r

sem ser molestado. O bruxo, por seu lado, deve seguir o co~tume e de fazer

ua b ruxaria quando assim solicitado por aqueles a quem ela e~tj pr iudican­

do. Se U I11 hOl11em agredisse um bruxo, perderia p restígio, poderia ser proct' -

s.ldo por danos no tribunal e aind,l por Ci m a estaria despertando mal- ran or

por parte do bruxo; o objeti\'o de todo o p rocedimento (()~tumelro, ao con­

tI Mio, e ,1c.llm,H ressentlmento ~ e fa ler com que o bm~l.l) rdire ~ua blUl an.!

pOI meio de UI11 pedido cortês p ,l ra q ue cesse de mole,tar . ua vitima 3 partir

d,lquL'le momento . Por ou tro lad o, ~e Ulll bru\.o recu\ar-,e a atendt'r a um.!

sollcltaç .lll fell ,1 nos termo\ tr,ld icionais, ele perdera pre_ tigil), e t ra admItIn-

do ,1hertal11l ntt' sua CulP,l L LlHrer,í gran' fiSCO, rOi . e .... lU, Ir a mort u

\ Itll11 ,lS ~ofre r,1 In e\ It ,nel let.l l i,l~ao.

N,\O >l' d eve il11,lgin,H que os Az.lJ1dt' dll1\ultem Ll ora :l.lJ mo or,lodos 111,IIS b,lr,llll~ t' ,1u'''I\'tl\ p,n l]li ,1 Ic]lItr ,iu 1 i

li

II t 11m

Page 18: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

\ Id.le < url,1 delll,lI' p,lra e,t,lr , clllprt' ,I n)ll~ldtJr o r,\< Ul(h, e ,Ikm dISSO, par.I

ljue? H.I el11l're bru",ln.ll"lr .11, t' Impm'l \ d t'IT'ldil,I· I,1 da \ id.l L1m hnlllL'1l1

, empre t.llll1JJlllgO .. e n:wl'nde esl .lr II lem po lodo ,I d enuIlLi,i 1m por bru "J

n •. [. prL'd ' o aprender ,1 (on\ i\ er COI11 o ri 'L O. Po r is, o, ljualluo um 7dlld e dl l

que detennin.lda pt'rd,lljul' sofreu , e deve à blU"all,l, de c,> la sim ple~mcn te

n Jl1If ... ,tantlo SC'I desapontamen to p(' r meIO das nl,llllfes t.lçôes ll\ ua is que

tal ' , itua\() ... s e\ OC31l1; não se de\ e supor que d e estei,1 ... nHKlo ll .l ll11cnte ,Ibal.l ­

do, ou que vai correr para de.,cobri r q uem .. ao os bru"o, respom,ivel'" por ~L' U

mfortúnio.l:m nO\l'llla por (en to d m casos, nada fa l. !:.1e é u m filó so fo c sabe

ljue, na \Ida, o Illal de\'e ~cr a((~lto Junto lom o bem.

O lande sÓ comulta oráculm e ad ivinhos sobre a brm.aria quando sua

'>aude é afetada e em seus empreend im entos 50uais e económicos mais sérios.

bn geral de Os comulta a respei to de pOSSI\eIS infórtún ios vind o uros, pois

...... tá preoLupado sobretudo cm q ber se determinadas empre~as podem ser

lI1iciadas (om ~egurança, ou se já eXIste alguma bnl\arid ameaçando-as mes­

mo ante:: ... de come~adds. Por exempl o: um homem de~ejd elwiar seu filho pdra

ser ed uLado como pajem na co rte do rei , ou deseja fuer um,1 viagem até os

Bongo, ao norte do reino de (,budwe, para conseguir carne ou óleo da árvorc­

ma nteIga; Os projetos podem tl! rm inar em desastre se a bruxa n ,l os ameaça.

Caso o oraculo d iga q ue ta Is pro)etos não são auspiciosos. ele os abandon a.

Ninguém o censurará por ta l desi~t ência, uma vez que seria suicídio prosse­

gUir quando o oráculo de \'eneno pronunciou um veredICto adverso. Nos

exemplos citados, ele tan to pode desistir de seus proJetos q uanto esperar um

ou dois meses, e en tão consultar novamente os oracu l o~; aí talvez eles forne­

çam um veredicto d iferente, pois a bruxaria pode não mais estaI ameaçando

seus pla nos. LJm ho mem pode all1da , digamos, desejar mudar sua residênCIa ,

semea r sua prinCIpal roç,l de e1eusina , ou cavar um foju para caça, e co nsulta

os o rác ul os , obre os locais mais mdicados. Ele pergun ta: devo wnstrulr mi ­

nha casa neste lugar? Devo preparaI este pedaço de terra para I11 l1llu pl .1I1ta­

çao de eleusina? De\'o cavar um tojo neste pun to' ~e o orácul o ue ve neno se

pronu lI Lia contra uml(llJI, ele pode pl'rguntar ~obrl' ou tro,>, até surgn o vere ·

dicto de que um dcles e ,1lIspiuo.,,, e lJao ha\ l'fá pL'rigo p.1I a ,1 ,.lúdl' dL' W.J 1:1

Imlia ou para II sucesso d,l empre~.I. I>C nada .Idianta t'sfal far se em comtruil

uma nm a rL'sldl'IlClJ , derrub.lr ma to pM.I .Ibr ir dS flI\<lS, ou C.1\.t 1 um fOJo \;11

go e fundo p.lra elefantes se ,I pesso.l s.thL' que a emprÔJ l"s t,1 ulIIdt'II,ld,1 ,1I1tes

mesmo de começaI . t,e a hruXima ,I',~t.'gu ra de JntLln,lO o fral,lsso IHlI qlll'

n, II es,-olll cr o ut ro ~ ItI O, IJO <tu,11 o Lslor~() ~(llhLlá ~cu justo prUlllot Lili ho

mf m quer L< S.H COIllUIIl.! Jovem e (ollsulta o or,ILulo de \'enello p.lr,1 <"tlll'r se

o (.d~al11ellto , era um ~U(L'l>So, ou ,>e.1 C~pO'i,1 IlllllTt.'r.í ll11 '>U,I L.I,a logo IlOS

, ",

plJl)J e Jl O~ ,II1 OS de (o l1 vivéllliJ . NeslL' C.hO , <I vcredld<> ad\cr ) do ur-i ulo

eu \"(l l Vl' LI J1l p rnu: .... o 111 ,11 \ tO Ill plexo, p<ll\ 11111.1 J( N e ll1 nao <. 11m.! roçJ de d LI

SIll ,1 Olllll11 \ itlO d e 111 0 1 ad ia; e 11 ,10 '>l' pode interrogar o\oraculo, wbr um

... élie de l11ul heres como é poss í vt:\ fMer .J re'>pelto d( lugare'ó no ma o O /.ande

de\e ,lq u i de.,>cohrir quais bruxo\, cm part icu lar estao amedçando seu futuro

(;"1'>,I I11 (,l1 tO. pa ra então persuadI lo,> a Lessarem sua animOSIdade contra

DepO IS d e ter (o ll vers,ldo com 05 bruxo s, deixa a\ loisas e~fnarcm um poJeo e en t,10 vo lt a a consu ltar 0 5 o r.ícu los para saberse ainda há perigo a vi ta , ou se () caminho est.l limpo para o casamento. POIS é inú til caSdr-se com umA jo\em

q ue, sabe-se de antemao, vai morrer se desposá- lo

Cabe observar que, quando um zande afirma que um empreendimento

está embruxad o, e le pode estar mentindo . Com o não se L'spcra que alguem

cumpra uma o brigação se isso acarretar d esastre, o jeito mal fácil de fugIr

dela é di zer que o s oráculos in formaram que você m o rrerá se insi tir na em­

presa. Ninguém po d e espera r que vocé corra o risco. Em vI,ta disso, as vezes abusa-se da boa-fé a lheia. Se você não quer m andar seu fi lho pa ra ,er pajem

na corte real, acompanha r um amigo até os Bo ngo, dar sua filha em casamen­

to ao homem a quem você a prometeu, ou d eixar sua esposa \'i~itar os pJren­

tes, basta- lhe alegar q ue os oráculos pressagiam a morte como resultado

desses empreendimentos. Esses circunlóqu ios, porém, permitem-lhe adiar,

m as não fu gir definitivamente d e suas obrigações; as pessoas com quem VOLe

está comp rom etido - o rei, o a migo, o futuro genro, os sogros - , todas ela ,

irão con sultar os próprios orâculos para venficar a a legadas declaraçãe do

seu oráculo . E m esmo que as d eclarações dos oráculo delas concordem com

o que você mentirosamente afirmo u serem as declarações do seu oráculo, is,o

o liberará de suas obrigações apenas por algum tempo. As pes~oas em oh"idas

logo tomarão providências para descobri r o bruxo que ameaça seu futuro, e quando tiverem co nve ncido esse bru ma retirar a influência, você \ai te r q ue

in ventar o utra d escul pa. Assi m , Y~mos que os oráculos são m eios de lmpor

compo rtamentos, mas ~ua autondade pode ser impropriamente u~"3da pJ.rJ.

Sl' fu gir ao d ever. Não o bstan te, nenhum ,ande afirman.l que um oráculo

di sse al go diferente do q ue rea lment L' d Isse. Se um ind" iduo quer J11tntir,

prete nd e te r obt id o uma ded araçüo orJCUI,lr sem ter dL' fato \.o mult.ld t) ora­

n do .llgum .

3

Em geral o lande comulta m orautlo s ,1 respeito d e 'lU prnpna SJlId 'entr,l

el1l Cllllt,tto lom os bru\os segundo Lcrt ,ls etap,lS l ostulll ... ira , ) I Jrlnt u

Page 19: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

a famtli,1 de um Lh)cntL' dL"Lohnl,Jl) qucm (l est,1 embru\,mdo e \OIILlt,H,io do

bru o que (e"l' '"·U I'llKl'dimcnto. l\ la, mUitos Aza llde quc est,jo em pu telt,1 ',JULie co tumam llltl\ult,lr um do, or,lllllos no inICIO de cada me, p.1I ,I ~,I bcr

LIHl1,le,t,lr,1 '>ua \,Iude n'lqude período; pude notar que, em cada lomulta,Jo or:Jculo de atrito, um homem q ll'\~e im anJ\'elmente pergunt,1 \e mor rer,l cm futuro próximo "e o 1l1,iculo d l\\e r q ue alguém esta ame.lç,llllio , lI ,1 s,J ud e e quc ele morrer,i em breve, o homem \ohar,l para ca~a ab,lt ldo, poi~ m A7.1 n­dc n.1O dissimulam ,ua ansiedade em t al~ circunstâncias. O maib alegre de mcu\ amigos lande fiL'ilfia depfJJl1ido até que tivesse anulado o veredi cto do oráculo, t~zendo com que o bruxo que o ameaçava se aqulet,lsse. Duvido, contudo, que jamais algum zande tenha morrido ou fic,ldo séria e demorada ­mente perturbddo pelo conhecimento de que esta\a embruxado; nunca depa­

reI com um caso de morte por sugestâo desse tipo.

Um zande que está doente ou fo i informado pelos oráculo\ de que esta prestes a (air doente \empre dispôe de meios para enfrentar a situaçâo. Consi ­dcremc):, a atitude de um homem que est,) perfeItamente bem de saúde, mas qu(' ,\abe de antemão quc irá adoecer, a menos que reap à bru \ ana . Ele n<io (OI1\'o(a um curandeiro nem toma remédiO" mas todo o res to de seu com­portamento ritual é o mesmo que seguiria (aso estivesse rea lmen te doente. Ek proLura um parente ou amigo que poss ua algum oráLulo de veneno e pe­de-lhe que o consulte cm seu nome. Apó~ conseguir algumas galinhas, ele e beu amigo esgueIram-se para um lugar sossegado no mato, onde realiza m uma se~são oracular. O hom~m cup sa úde está ameaçada trouxe consigo uma asa da ave que morreu como prognostico nefasto para o mês entrante. Coloca a asa no chão, diante do oráculo de "eneno, para mostrar concretamente a e.,te a natureza das qucstôéS que lhe i>erão colocadas. Os dois amigos d Izem então .lO oráculo de "eneno que desejam um prognóstico mais de talhado do que uiá di\pnnível, que vieram apre.,entar certos nomes thantl' dde e quere m saber qual dessas pe "OJS pretende prejudIcar a saúd~ do consulente. Tomam de uma ga linha, em nO l11e de uma pe'osoa , de .. pejam o veneno em sua goela e pcrguntam ao oraculo de ven~ no se é e~ .. e homem () bruxo ou n,Hl , Se o Orál LI ·

lo dl7 que aq uclJ pessoa ('JJ1 partÍLul.u nada tem a \'l'r rom a s,lüde do COl1\U · lente, ent.lo tOIllJJ11 de UJJ1a ,>cgunda g.llinha , em no III l' de UJJ1,1 s('~und ,1 pe ~()a, e repetem (J tes tL'. l)ualldoo ol<1culo J11dt.l uma .IW hg,ld,1 ,10 nome de um homem, ou ,>eja, deLlJr,1 que t' este u homelll que "ai l,llI S,H ,I doeJl \ ,1 do consulente no me qlll' ((1111(' \,1, eles cntau pt:Jgunt,ul1 \l' e .. 1l' e o únl l O bl U \ O

J .lme.lçdr ~eu hL'1Il estar , ou se h.l outros no hOJIIOllte. "e () or,Ít ulo dil qUl'

\ l' /IIf IlO 1ft lu lurll/;1 t. hUSl.fU" "

h,i outro\, ek\ develTl efltdo descobri lo,> ate qUl o orá, o dI" n ,h r 111,11\ nl:u.'\ \ ld,lde de pergunta" pOI S el es l tdO dl Pl l se do nom d t

bru xo.\ q ue CdU\M<lO a doenç,1 do l!JIIsul entt. f vldenten 'nt I

uma sén e de c()nsu lt a~ cm v,íri()~ dias CO!l e,ut l\'O ,on um1Jldo hor preparativo~ e na exeuu;ao. ~I a~ um zande não con\ldcra e<>1e um tem per dido, pOIS est,í proc ur,1J1do ev itJr male:. e desventura, ulvez ate d mort qu seriam inevit áveIs em quaisquer ()utra~ circunstáll Clas.

Um ho mem que está realmente doente, e não apena apT n, o com Cuturo, muit as veles se recolhe a uma cabana de palha no ma o onde pode

esconder da bruxari a. E a parti r desse abrigo secreto q ue organtza ua de Pede a um parente prÓXImo, a um genro, ou a alguma o ulra pessoa em quem

confie que consulte o oráculo de veneno em seu nome. Essa pes a rua ao

oráculo as mesmas perguntas que ind iquei acima, ~al\'o q ue, .agora, o que ~ pergunta é quem está realmente prejudicando o doente, e nao quem Ira fa­zê-lo no futu ro.

Eu disse que os Azande consultam o oráculo de veneno, mas o prO\j\d é

que as pesquisas se in iCIem com uma consulta ao oráculo de atrito, o qual apontará, dentre um grande numero de nomes, \ ário, bruxo.,; que podem ser

responsáveis pela doença. Se o homem é pobre, ele vai então colo.:ar os nomes

~elecio nados pelo oráculo de atrito diante dos oráculos das termita, . mas. se

conseguir obter veneno oracular e galmhas, utilizará o orá.:ulo de \'em'no.

Não quero entrar aqui nos complicados detalhe técmco~ do ora ... 1 mas suponhamos que o or,lculo do atrito tenha escolhido o nome do brw o

respo nsável. que o o raCldo de \ eneno tenha contlrmado e 'se \'eredi.:to e que ambos tenham declarado que apenas .Iquele homem está causando .1 d en a

sobre a qual se busca Il1formaç<io . E:\lstem entJO dua~ linha, de a ~JO a na:

,10 doente e seus parentes. Desu everei pri meiro ,I meno, U\ual. D em

lembrar que o~ Az,lI1de precisam e\'ltar uma brIga aberta .:om ti oro: ti , poi ISSO ~Ó o irnt.lria mais, e [<lh el tlzesse com que ele le\"a ~ e o doente j m ne; d, qu,tlquer forma , isso en\'o lvena os ag res~orô em 'éria~ difi.:uldad , _ d.US L

,1Ié legai s

~endo ,1~ Slm , l'le\ podcm til' Állhtl , proferir UIll,1 ora -jo publka, Lm

deLl,lram \ ,Iber o nome do bru\o que est,1 preludi.:ando o p.lf~'nle dei _ m que n,1O quercm de~m,l \l,lf,I - lo e, lll lll I S~O, emergonl1.l-lo; pllrt.lllt , ,- m

c~ t ,1O I l'spclt andll , cspera m qu c ele re tribu,1 ,I gcntill'7.1 Jti .llldo u 1'. r:'lll l'm P,1I hsl' prOLl'dlll1 Cnt o c l'spcuall11entc aJcqu.ldo qU31hio n bru n um pes\(),1 liL> pllsi~,lll sol ial qUl' clt', Ilan desL·J.IJ11 .1lmntJr, ou .Ikuem LJ d,ILo nsldcl .l\,1l) l cs tlm,1 dl SL'U, llllllp.l1lht'Ifl), , de 11.10 li. j.lm hlUn Ih r. U blU\O lom prú·ndcJ.I pl.'l,1 OJ.I\.1l1 qUL ,<' Ir,II.1 ,id , L'nqu III,) 111,11

Page 20: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

continual.1O ignorJnJo ~\I.I idcntid.lde. () dbCur~(l e pronunciado cm cslilo dr,1Il1.ltlco, logn JLl'oi, do pór-dl1 '010\1 ao Jlvorecer. O orador ,oh\.' num ni ­n11l) de t\.'nnitJs e 1.1Il\-a um gnto agudo: "J ia i! H.li! Hail", P,H,) atr,1II ,I alenl,-'lO do~ \ lI111ho,. ToJo~ acorrem il11cdialamente, pOIS e~,c grito é O mcsmo que se d.1 qu.lJ1du dlgul11 anim.11 é a\"l!>tado, nu quando um homcm .1rm.ldo é desco­berto dL' L'mhn'Lad.1 no matagal O orador repete seu gn lo v,lrias veles e en!<'io dila ,l'lI\ OU\ 1I1tl'S ljue não 0 por GIU,a de um .1111111.11 qUL' os esla chamando, m,IS ,im porque lhe~ qul.'r fal.lr de bru:-..lIia. () textll .I'egull· é um exemplo do qllt: ,I.' Ila".I ;

H<1I! l!ai! Hal' Não e um ilnilllJI, Oh! Nao e um ammal, Oh! I:u hoje Lonsultei () nf.!Lulo de ,unto, e ele me di"e que a4ude~ hOIll\!ns que eslao mal.mdo meu pJ­rente nJO ,',t.lO longe, de~ and.llll por perto, e que ,.lo ôses meus VIZlIlho, que eslao mJlando Illeu p.lrente. Agora eu quero honrá-los, dizendo .1 todo~ \'oLês que n.lo I en:IJrei s('u nOllle lo nome do brm.o I. ]\;,10 ° denunciarei. Se ele tem Oli\ Idos, ouvira o que l·,tou dizendo. Se Illt::U pJn:nte morrer, eu (,IreI magia, c

lnljoalguclll nWlfCrJ, L' IllL'U n<1I11C !icar.l IllJIKh,ldo porque guardei silencio. E plll I."" que l'stou Ihc, dlll'ndo qur, se I11~U 1'.llcnll.' 1I111ttnuar dornl~ até mor­fl'r , LLIl.lIlJCnte I e\'dàrd OIl"Illl' de"e homem, p.lra que todos o s.lÍbam. Desde qUL' ~ou \ IIlnho de \"ll«:~, IIUII(.1 senli loblça pdo qUL' lêm em SU.I" (a'oa~; nunca nIuslleJ ma \ OIlIJOl"(ontr,1 honll"lI1 nenhum; IÜO Lom':ll adultério Lom a e~posa

dr ninguém, lidO mJtel o filho de ningu~lll; n:io !<Iubei m bens de oulros ho­IIIlns; não fiz nenhulllJ des~.ls (OIS.1S que de'pert.HIaIll o rancor de um homem Ullllra mll11. (lh, súdltos dl' Chudw ,VOles sao llle~1I10 hOllwn'o d~ m,i vontade! Por 'Iue esl.lO malJndo II\< u parl"IlIL" Se dI: la .llgo de mal, de\'I,11ll ler "indo a

mllll, di/L ndo: '<;l u p.lrellle I'IOVOCOU \'ing,l1lç3 ulnlra ~I mL'mlO'. N,lO .1."assi 11':111 IIllU p,lIelllL' I !li a~~lIIl qUl' f.tll i. I'.tll'i ale dl·lll.l1~. !'.n.1 o hOll1em que t~111 0\1\ IdllS, h.l\la lfU se dlg,lIl1 UIlJ.I~ poucas p.lla\ r,I\, L' de .IS <,slul,l. I Jepui, do que IJlcII'JI.1 \OlC"lJJO \'OllIIlJI sohre'c,1I1" g.lIl11l11h.1 hOL.1 111,1 .. daqui 1'01 Lh,lIltr iiI' HllalL'1 quel1J ~ SSl ""I1Il"1I1 l l').POltl _eu loSlo. lodo, VOlL'S OU\'il.lIl1 belll Inll1h.IS p.1IJ\'1.1'. I sl,\ 11l1ll1ll.I<lo.

SL' o hruxo Il<lO IIL.II Ul[J\ efludo por 1I1lld ora~.1O dL's,a, dL' que dl'vL'le., sal 'iu.l.,.H I \ id.lLk~, 11' pa Il'll te .. do doen Il' IL'UlI Ir !II ,I UIll P!()Ll'S~O q ue é gCI .. 11 mente em[lll'gddo logo dL·lll)i., qur () III ,IL ulo dl' \ L'llel\O o ident lIiulll, ~em ser prcudido por li II \.1 UJ,I~.I0 PllbhL,l.l'oi., 111\1.1 O!,I\;\II só L' fell,l,e jl,\!l'Ll'r tlI,li, (oJlH'nientL' L' tl"L'! ~Id(l prL\'I,1I11entl' .lll!llllz,ld,1 pe!Olll.lllllo de .1\1110. () IHoLcdimellto 1I0rm.ill llllo ,\I \I~ 1I01l1l'~ dl' t()d(l~ () SlI jleito di 1I1tl do (lI ,í ulo dt atrito l' dtlx.1! qlll l·k ScllllOlll os llilp, do\ li 1c1l'lIll,IU Ido.1 t!Ol' ll ­,I '-" U n. ht) !li li 11 L .,1.1 gl.1\ l IIIL III<." L'lIll r I1Il1, 0\ p.Ill'1I t es Il1Iull.l t.lIIlL'11 te d.1U .1

h l'lt",,,1S .II IIIfp"IiIIIO hflullm () I rUl "Cre ,,"" (

con hecer o vcredlcto do or.KI!lo de atrito, <...ISO contráriO (.olocam o, nome ,deLionado.., por esse or,iLl!lo diante do orJ{lllo de veneno pOIS C'>te e on j

dcrado o n1.1l ' (hgno de con fiança, e cm ger,II a denúnc.la de brux(J~ o e feita a pall1r de suas declaraçôes. O orác.ulo de veneno pode apontar um ou ano bruxos como responsáve i ~ pel.1 doença, ma~ o procedimento e o me mo, <>eJa qual for o número de acu,ados. Corta-se a a~a da ave que morreu qu,lOdo e enunciou o nome de um bruxo e esprta-~e ela num grdveto pontudo, arru mando as pena~ em forma de um leque, que os consulentes levam para Cd>J. ,IPÓ\ a sessão. Um dos p3rente~ do doente Ir\'3 a a\a entao ao delegado de um príncipe - nem sempre um pnncipe e tã ace!>sível; alias, ele não go taria de ser importunado com qualquer pequeno caso desse tipo. Um delegad nào o;e

importa de ser de vez em quando assediado com tais pedido\. Embora OJ.O re­ceba honorários por esse trabalho, as solicitações são um tributo à ~ua impor­tância, e assim ele tem prazer em atendê-Ias.

O mensageiro deposita a asa aos pés do delegado e agacha-se para mfi r­m<Í-lo do significado del.1. No est ilo zande, ele começa bem do prinCipIO, LOn­tando .10 delegado C01110 o parente ficou doente, quais foram as declara"ões do oráculo de .Itrito e finalmente qual o \t'fedicto do oráculo de \'eneno. P de então ao delegado que emie alguem com a asa para notificar <.> brmo dequeo oráculo de veneno o denunLiou e pedir-lhe para de\i ttr de péf eguiro p.ueo te em questão. E pOSSI\'eI que os interessados entrem diretamente em contato LOI1l o bruxo, sem o intermedlO do delegado do prinLlpL, ma~ . e a.jm fize­

rem , pedirão ante ao orüculo de atrito que escolha um men-.ageiro adequado para tr,ltar COI11 o bnl"\.o. E mais avisado que eles atuem com a intemledla.:ào do delegado do [lrlllLipc, LUj,1 posição oficial d.1 peso J ,Içáo ddes O dei ~.ldo., pOI ~u a \ ez, mand,1 um homem entregar a a,,1 de g.llinha .10 bru"\o; o m n~­gl.'1I0 deYt' em 'oeguida leI.lt,lr o comportamento do Dnl"\o .10 rect:b2-1a. l.b

,Intes de envi,lr ,I ,h.1 ,10 aLm,ldo, o deleg.llk) pro\'.l\elmenlL' ~Llt1UIt.1 o r.h 1-

lo de ,1Irito par,1 "Iher quem ~ ,I pessoa m.lIs II1diL,lll.l p.lr.1 .1 mi, 50. f: b m l1.m tomar deLi,,)o algum,1 nesse~ .!s~untlh sem .1ntD Llhtll lImJ dt'Cl.1ra .io

01 ,IL ul .1I sobre ~L'U SULe\SO 12U.lI1dll o ddeg.ldo ,e .Iswgu m, pelo <lr:kulo d' atlllo, de qUL' dL'tl'll1l11l.ldo hOI11L'11l ~ um mL'I1~.lgello .1l1,PKILI l). c!L- o :ie, (1.1

d1.l Lom ,I ,ls.1 de g.dlllh.1 p.lr,1 .1 I L'SldenLl.I do hlll\.O, \Ll ,h<:g.lr. llmen • l"elr:'l deposl t ,I ,I ,I S,I 110 L h,h), lkm t L' do b ru \.0, t' di ,1111 plcSI11l'n It' 'luC () ctd<"t,.h o l'l1\ 10U pOI L,llIS,1 d,l duel1\.1 dL' lul.lI1o dL' 1.11 l'k tra!.lll brU"\ll úHl1 rI.: I ,\to 11Im L'~IL' L' o LoslumL, L' .11111.11 n.ld.1 d.lquilllL· da 'u.! ,,)l1t,1. QlI,l l' im.ln.nd

IIlcllle o bru\.o rL'pIiL.ILorte~IllL·lltL' que n.iL) tem úHl LI II< i,1 de t 'f I'rll Idl • -

do Ilinguem, L qUL', 'l L' \l.'rd.ldL' que kl 111.11.1<) hlllll< lU l m lU" t.lll " nt mUltI); e que ~l 101 \llllll'llIe dl' qUl l"I.II'c'tlurb.\Ilcl,) <. 'hOI\1'III, l lU t .1

Page 21: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

\.erteza e\te \ aI reLUperJl-~c, pOHluC' do fundo de ,eu cora.;,\() ele deseja toda .Illdc e feh(ld.lde para o doC'nte; c (.(lmo ,inal de ~ua bOa-\Ol1l.ldc ~()prará

agua. Pede.1 e~po'J um.1 lah,l~a de agua, tOll1a um gole, enxagua a boca com eI.1 e dcpoi\ ~opra-a em cl1U\ ciro fino ,obre a ,I'a de galinha a seu~ pés. Em se­guida declara em \'oz alta, para que <) men ageiro ou\-a e comunique suas pa­lanas, que se ele e um bruxo. ignora\J tal condição, e que não está fazendo mJI ao doente pur querer. Di, qut' esta interpelando .1 bruxaria em seu pró­pno ventre, ~uplila11do-lhe que 'e lornL' fria (inativJ), num apelo que parte de seu cura~.j(l. e 11.10 .Ipcna de SUIS lablus.

O men~geiro uJl.1O retorna ao delegado, conta-lhe o que foi feito e o que t~temunhou, e o delegado informa .10 parentes do doente que a tarefa de que o incumbiram foi de empenhada. O mensageiro não recebe pagamento; seu sen'iço é (011 iderado um ato de cortesia com o delegado e os parentes do doente. A \ Itima e seus .lJlllgll~ esperam .111 iosamente alguns dias até saberem "efcitoda entrega da a .1 de galinha ao bruxo. Seo doente mostra sinais de re­Lupera'rao, eks enaltecem () orac ulo de veneno por sua presteza em revelar o II 0111 e do bruxu . assun, ter pemlilldo o restabelecimento do doente. Mas sea doença per!oiste, ele illlClam urna no\ a rodada de con ultas ao oráculo. Agora desejam s.lber ~e o hruxu estava apena simulando arrependimento e conti­nua tdO hostil (omo ant • ou M!, ne~se meio tempo. outro bruxo entrou QJ1

.. ena pdrJ uKo11.udar eu parente e agravar-lhe a doença. Em ambos O'~f9l~ a aprcsc11tafrdO formal de asas de galinha continua sendo fCltacomamtJd'.~ do delegado de um prmLip . '

. Embora 110 pa sado os pnncipes por vezes tenham toIQadomrdidN II)8IS dra tlcaS para garantir ~ua própria segurança.osprPCe!d,"leatOladmiJ~-tos ao de uso rotineiro em cada seçao da soa ... ,.,. MltaçOe$ de doenÇ<l .. Al>. chances de uma açlo vioJenr. do e.ofenno ~ao oulllml7.ada pela rotina FeRdo cues mo-dos de agir e tabelecido e de valor _u.... __ _

r_··,N1VO mUIto raramente, em atuar de outlQ •• ,.

Além do comportamento cor"" umetra, tendo portanto a natureza compulillhiule ".ldehabilu.t. exiStem outro fato-res que contnbuem para ........... • srandt autoridade do orálUlo de veneno mútil P declarações; o mprego de inter medaanos entre ,..... de encontrarem nu decorr r de todaaq deumpnn Ipe, ~toqUt UIJIIll-

~< l/I""" d,' ",r"rlllll/OS busca",,, bruxo mtre m""

su!to a seu mensageiro é um insulto ao própno prlnclpe;eas IlnolCllÇlÇ.,ee",.z_~.· bruxaria, que tornam o procedimento vantajoso para ambas as pai"

Mas, se o veredicto do oráculo de veneno é sufiCiente para dia •• r. antemão qualquer negativa ou oposição. é precIso ser capaz de pro+m ...... declaração oracular válida. Se um homem acusasse outro de bruxaria scat" sear sua denúncia num veredicto do oráculo de veneno, ou pelo metJ05 110

oráculo das térmitas, todos zombariam da tentativa. e talvez ele até sal .. ma­chucado da história. Por isso, os parentes de um enfermo em geral conmam

alguém que nao seja da família para estar presente quando consultam o ora­culo de veneno. Essa pessoa poderá. assim, atestar que o oráculo foi rca1mcnte consultado da maneira correta.

~;lmll)as as partes não criar animosidade recíproca

&Ol=Ui4~ ~:YerKiojuntas., como vizinhas, .~nc de mteresse mútuo que eYÍ­

_epltiB'lenl:O por uma razão mais imediata e direta.. )IQj~io é colocar o bruxo em boa disposição de ânimo

tMJ:.~unen1to cortês. O bruxo. por sua vez, deve sentir-se agra­~'Id~,o às pessoas que o preveniram tão educadamente do perigo

.ât4l~UTendQ. Devemos lembrar que, como a bruxaria não tem existência ~~11QIh4Jmlem não sabe que embruxou outrem, mesmo quando tem cons­_da de que lhe quer mal. Ao mesmo tempo, acredita firmemente na exi -tência da bruxaria e na precisão do oráculo de veneno, de forma que, quando o oráculo diz que ele está matando um homem por bruxaria, ficará pro­vavelmente agradecido por ter sido avisado ii tempo. Se o deixassem matar o homem, ignorando o que fazia, ele inevitavelmente seria vítima de uma vingança fatal. Pela polida indicação de um veredicto oracular, feito pelos parentes do enfermo ao bruxo que o fez ficar doente, salva-se d \ida tanto do enfermo quanto do bruxo. Daí o afllrismo lande: "Aquele que sopra agua

não morre."

Essa máxima refere-se a açao de um bruxo qUdndo sopra um jorro d'agua de sua b()~a sobre a a~a de g,llinh.1 coloc.lda .1 scus pés pelo mensageiro de um delegado. Quando o bruxo sopra .ígua, ele "esfria" sua brux.uia. Em razão desse rito simples, garante que o enfermo ~e recobrará t' que ele me mo e -a­p.mí d.1 ving,I1I\.l. Porém os A/.l1Ide ~ustent.lIl1 firmL'lI1ente que a merd. \-3 )

de sopr,lr água n.\o tem v,llllr ClIl si, (aso () bruxo 11.10 deseje si 11cerd mente que o doente SL' reLupere. (,OJl1 I'SO ,ISse\'L'r,lIl1 () l.u.íter l1Ior.11 e volitho 1I.1 bruxa­I ia. I )i/l'llI: "Llu) homem de\'l' \oprar .ígll.) ~OI1l II lora ao. nao .Ipt: 11.1 lO11l o láhios", e que "slJl'r.1r .lgll.l d.1 hOL.I 11.\0 eIlLL'rr.lll,lssunto; 111.1 se ,\ agu.1 \ m d,1 barrig.l. eI.) esfri.1 o (Or.I,.ltl, (' L·,te e o \'cld.ldciro soprM .Iglld."

Page 22: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

I

1.11 proLe"o de umlr.! .11 qu~ a bruxaria que de.;cre\l e Illlrm.llmenle

ulllllado em -illia oe de doen~a. ou qu.mdo (l or.1ullo prcdll docn J p.lr.1

um homem qUI: no momcnto Iode c,lar em perfeila , aude. l le 1.lmhC'm e

u'),ldo para o in,uce"o na La\a ou cm oulr.1 aliyidade clOnÚm lcJ, e,lela ,' ,tol

em c ur'o ou ,eia planeladd quando O~ or,l( lll(l~ rredl7cm .. eu f r.lca~so ,lI1le(i­

rad.l1nenle . .... em dU\'lda .1 grandt' m.liona de as,l~ de g,llinha .11'1 e,cnl.ld.h .10s

bruxo~ \.ln por moll\ o de L.\,O de docll\a. Enqualllo (l docnle (llnlll1u,1 , '1\ o,

sem parente, ratem todo~ os t:,forç(1~ polido, par,l per<;u,ldlr 0' bru ... o~ re, ­

rons,h'els a de\lstlrcm dl ,ua preda(Qes nolUrn.l', té .ll ncnhumJ inir.l\,io

legJlmente rcconheuda fOI comeltda. 10rrendo o docnle, porem, a 'ltu.I".io

muda ,-ompletamenle. pOI ent o ,eu~ parente, , e " êem Lompelido, a se \ in­

gar Interrompem 'e lod.\ .1 negona oe, com o ' b ruxo- e tomam-se pnn i­denLias imediata~ par a a exeL u ao dl 'lIlg.lIlça.

5

1\llIlha wmprel'mao do nlimenlos do Aunde 'lu.mdo ~mbruxadns fo i ludada por umJ partiL.pa'r.!o, .10 menos relatIva. cm experiências semeI h,m ­

!t . Tentei .ldaptar me J ~U,I Lultura, levJndo a \ ld,1 de meu,> .1nfitni'ies tJ nl n

quanto (os e Lom enient • Ilarhlhando suas e~peran~ as e alegrlJs, desâni mos e

,o(rim nto,>, Sob multo J peLto , mmha \'Ida era Igual a deles: Lontral suas

doen".l usei de ua fonl d Jlimento e adotei ao nJáxlmo pmsíwl seus

prtlpnos padro s de comportamento, 0111 as resultanles anllzade e in imilJ­

de. Mas foi na e~ferJ da bruxan.l que ti ve mais ucesso em "pt'mar como ne­

gro", ou melhor dll.endo, .. enllr Gomo negro : Eu tambem me Jcos tumei .1

I eagir ao II1l0rtUnto~ no IdIOma da bruxan. t' trequentemlnle preei,t'1 mI: t'S

forç.a l pJIJ Lontrolar meu !ln)\ no apeio ii d r .lLJO.

VImo ntellorrn nle Lomo a bluxJna p'Hltlipa de todo os intortúlllOS.

Info[\ ulllo e IHu ana ao b,m ment J mesma Loisd para um l..tnde, pois l'

apena em Slt UdÇO ~ d II1f .,rtUI\l f) ou em dntellpalrJO a eI que a noçao de

bruxanJ (' e\'owdn. Lm Lert o nudo, pode se dller que bruxJrJJ é infol tu ­

nio. que l: melOdo de (.on~ l1lt.l o ralulard l apre entJçJo de ii J de .I\es é o

un J sou,llmenle pr~ CC lto doi rc I o la .10 IIIfortunlo t' que a nO\JU de lImJ

.. 11\ idade bruxarid e o ub~tr.lt() Id ologlLl' nele%arlO I ara ddr Loer nua lo glw 3 tal re~po 1.1

uClg t • • 111 bli. #... c 'j "' ! la ~ I

'1"

l' m brU'l.ll.ll.lL.l Ulll hOlllem qll,llldo 1Jl()1J\,ldo por udt I , IIl\{JJ (!Um'

lOh l\.I. hn gCI.ll. se ele n.io ~enle mlllll/ade por uma pt. II.I n30 a ,ll .. ura I'nrl.lIlto, um 1.1I1de que ",fr,' UIll IIltortunto imc(hal,lmtnle t"pCLulJ obr quem lem probJbllld,lde, de Odl.1 lo, l-II' ~,lbe mUllo b~m qu~' outro ">t:ntem

,alis!a\·.lO Lom \eu\ proh\c lll a~ \? \oln men tos, 1I1\eJando mJ boa o,()rte. FIe ,.lhe que, ,e ficJr riCO, 0\ pobres ir.lO odi.I -lo; que 'e ublr de po i~a , ')oLlal

seus IIlfe n ores lerao 111 \'('1.1 dc 'U.I ,1lI tond.ldc; ' e é bOIllIO, que o~ menos fa o reL ldo\ te r.lo ci um e de ,UJ .lp.HcnllJ; , e c um ca~.ld()r, OlU kO. IUlador ou

llr.ld nr t,l!en lo,o, que saa ob}l: tn da m.l \ onladc dI)' menos dotado e 'ie tem

01' bnas grJça' d t' seu pnnL ip~ e de scu, \ Izinhu" que serJ delt' udo por '>Cu pre\tl gHl e po puIJrid .lde.

Nas tarefJs rolineir,ls d ,1 \'Id.1 h,l m uil.l oportunidJde pJr.1 atritos. Dentro

do grupo doméstico. '.10 frcqu entes .1 ' po so;lh iltd.ldt'<o de IllJI-estJr entre marido e mulher e enlre co-esposa\, em fun .. ·.io da dl\'IS.IO do trabalho c d o

ciümes sexuais, Denlre seus "i7i nho 'i, um homem r\lde e,tar u~rto de ter im­migo, IJnto secreto, quanlo decl ar.u]os; tal\'ez tenha hJ\ Ido d"puta .. , ob re

.irt'J' de fllça ou de L.lça; 1.lh'o tenh,lm ,urgido , uspeilas ,obre JS mtençoe'i de

uma espo,a , lalyez alguma ri\'.! lid.ldt' n,l'> d.lIlça" 1.11\'0 st' tenh.lm pronun"ia­

do pahl\TJS irrefletidas que dt'poi, foram rt'pelld.l' .1 llulrüs. Um homem

pode pensar que certa CJnçaO 'c reteria a ele. Ou t.l"ez lenh,l 'Ido lIl,>ult.ldo

ou espancado nJ corte. O u pode ter um rival dispuI.\ndo o, ti.l"Ü[t'S de u m

prlncipe. Qualquer p,lla"r.! n1.lIdos,l, alo pena,o ou immUaLJO SJO gu,lrda­

dm na memó ria p.Hol poslerior retali.1\Jo. B.lst.l que um pnnLlpe demonstre favoriti smo por um de selb (ortesaos, um marido por uma ti.h e'pl),J~ , p.\ra

que 0' desprezados deteslem n escolhido. lnuml' r.l' \elt' , ~onst.ltei .que b.ht.l­

V,l CU ~c r ~eneroso o u apenas multo amig.l\'el (om um dc meu, \'I711lhos p.l ra

qu~' ~Ie fj ca'ise imedl.lt.1men IC .lpret'nsinl qu.1nlo ,I bru"',Hi ,l ~ e qUJIl.}uer 1m pre\,\ ,to qu C' o atlllglsse er.l ,lInbllldo.lll Llllmc qUl mmh.l amll .llit' dt'sl'crt.lfJ

no (Ora~,Hl do.' ,elh \'Il1n ho, FIl1 gl'l.ll , no ('nt,mlO, um homem que ,lcre:dit.1 que: os \Hltrtls sentem .: iu

me, dl'le n,ío faz n,ld.!. t ontinu.l a ' l' I pnlidnlllll1 todlb e pfllLlIf.l m .lI1td- <

.lmi,tllsO. H.1st.l, porem, que ,urra um infllrtul1lo p.lr.1 ,ILrl'Lht.1 r que Ulll da

quek, homens li embrll'l.oll . l' .Iprt', .. nu ra 'cus nlHlle, dl.lIlll' do \~r.kul() de

\elll' IHl poHJ ,.lha qll.ll <' o rt'splln.,.I\ d As llm.,IIIt.I' tlr.llul.lre" :h'l~n .l' 'l.l' n Illl'lll hl,tOrl.l' do.' rl'l ,lllllll;lllllntl" Pl'SSll.li" Plll' cm gCI .llllm IIldl\lduo ' o ,010L .1 ,h.lIl te do nr,l,ulo os nllme, d,lq lIl'lcs que II pOlkn.lI11 1,'1 prl') 11.1 h. ado

elll r. ll.HI do.' .t1gul11 .lulllh'CIIl1l'IlI\) t1l' terll1in.ldo que, em \11.1 Opll1."lll. 1110 11

\ "II .1 III i n I iI ,Ide d e t.1I s peS'n. I,. I Il'q Ul' n tl' Ill C n t e e po,s l\ ti 1 o r Ill C\l1 da . 1 t' . gUIlI .IS l()ll e l , l ~ t.1Il'r rl' lllont.1I .1 .II"esc'nt,I\.lll de IIIll nOlll l dl.lllt e do o r.h u lo

.1 algum IlIllcll'nt, p.l\s,ldll .

Page 23: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

4

6

Uma \el que ,1 ,lLu~.lç0e!> de bruxaria 5:10 sw,litad,l s por inimizades pcs~oais,

e eViUl'l1tl a ra7dO pela qual certas pessoa" nem chegam a ~er u)nsidcrada;" quando um doente p,lssa em re\ ista os l1ome~ daqueles que lhe poderi,lJll es­

lar fatendo mal de forma a apre;,entá-Ios ao o ráculo. Não se acu~al11 os nobres de bnL\,lria, e r ar3t11t?nte se acu ~am pkbell" intluente~; não apenas porque

não ~eria acomelhá\'elll1~ulta- l os, com o t,lll1bém po rque o cantata social das pessoas comum com gente deS$a~ categorias limita-se a situações em que o comportamento recíproco esta determinado por noções de stalus. Um ho­

mem briga com seus iguaIS e deles sente iIweja. Um nobre está socialmente t.lO separado dos plebeus que, se um desk s fosse brigar com ele, o caso seria antes de traição. Plebeus detestam plebeus, pnncipes odeiam pnJ1cipes. Da mesma forma, um plebeu rico funciona como patrão de um plebeu pobre; di­ficilmente surgirão o incentivo e as opo rtunidades para haver suspeita entre eles. Um plebeu rico inveja rá outro plebeu rico, um pobre terá ciúmes de ou­tro pobre. f muito mai~ fácil J lguém sentir-. .,e ofendido por palanas ou atos de um igual que de um superior ou inferior. Do mesmo modo, as mulheres entram em con tato com outras mulheres, e não C0111 homens, salvo seus ma­ridos e parentes, de forma que é a respeito de outras mulheres que elas pedem que se co nsultem os oráculos; desde quI.' não há intercursll social entre ho­mem e mulheres não-aparentadas, é diflcil surgir inimizade entre eles. Igual­mente, como já vimos, crianças não embruxam adultos. Isso significa que uma criança não costuma ter relações com outros adultos, além de seus pais e parentes, capazes de despertar rancor em seu coração. Quando um adulto embruxa uma criança, é geralmente por ódio ao pai dela. A maior oportuni ­dade de surgirem conflitos da-se entre líderes de grupos domé~ticos que mantêm contatu cotidiano, e são essas pessoas as que maIs freqüentemente aprl!sentam os nomes umas das outra~ diank do~ oráculos, quando um deles ou um membro da família está doente.

<. ollludo, as noçoes de bruxaria são evocadas fundamentalmente por Clma dl~ infortúnios, e não dependem inteiramente de ll1imizadl!s, Quando um homem sofre um infortúnio, ele sabe que foi embruxado, e é so aI que lisa a memória para descobrir quais bruxos lhe delicjam mal e poderi,lm té-Io e111 -bruXddo. Se ele não consegue lembrar-se de nenhum incidente que tivesse le ­... .Ido alguém a udiá-Io, e se nao tem nenhum inimigo em espelÍdl, ainda as~im deve LOmuJtar o oráculo para encontrar um bruxo. Por isso, até um prl1Jcípe lrJ por vezes acusar plebeus de bruxaria, pois seus infortúnios devem ser e:>.. plil.adm e evitados, mesmo quando .Iqudes que ele acusa de bruxari<lll<lo SJO

f.eu 101111lg0l>.

\ lillllltl de Inlo1 JÚflW I,u iCltn 11< "rll J II(r-- I ."

Já foi observ,ldo que os bruxos so falerr mal a pe,:"oa, da redonda.}, e q lIe, q ua n to ma is perto e~tã() de sua" ítlma >, nJ,li, serio, <;,10 :;eu,; atdque,> l' ) demos sugerir que a ra7âo dessa crença se deve ao fato de que pe;<;< ... .h que vivem longe uma!> da~ outras não têm conta tos souais suficientt"i para de-,prr tar ódio mútuo, ao passo que há amplas possibilidades de at rito entre pes;'O.b

que têm .suas casas e rf\ças em contigüidade. Os Azande tendem a en tía r em disputa com aqueles que estão mai5 próximos quando essa proximidade naoe atenuada por sentimentos de parentesco ou tornada irrele\'ante por di<;tm

ções de idade, sexo ou classe.

N um estudo da bruxaria zande, o que se deve ter em mente é, em primei­ro lugar, que essa noção é função de situações de infortúnio; e em segundo~u­

gar que ela é função de relações pessoais.

7

A nocão de bruxaria não é apenas uma função do infortúnio ou das relaçóes pesso'ais; envolve também juízos mora is. Com efeito, a moralidade za~de ola tão intimamente relacionada à noções de brlL';:aria que podemos dIZer que ela as determina. A frase zande " isso é bruxaria" pode quase sempre ser tradu­

zida simplesmente po r " isso é mau". Pois, como vimos, a bruxaria não age

aleatoriamente ou sem propósito, mas é um ataque calculado de um homem sobre outro homem, a quem o primeiro odeia . Os Azande dizem que ódio, ciúme, inveja, traição e calúnia vão à frente, e que a bruxana segue atraso l'm homem deve primeiro odiar seu inimigo, e depoi o embru.xará; e a menos

que o bruxo seja sincero quando sopra água , a ação não t~m efe~to. 0:a' como os Aza nde não se in teressam pelos brm::os em S1 - quer d Izer, nao ha Il1tere:s~i'

pela condição estática de ser um possuidor de bru~anJ -, n:a~ ~penJ.~ pd.l atividade-bruxaria, e1al decorrem duas consequêncl.ls Em pnmelro lugJI a bruxaria tende a tornar-se sinónimo dos <;entlmentos que SUplYtamente .1 despert,ml, de forma que lh Azande pensam em ódIO, inyei.l e cobiÇ"3 em ter­IllOS de brux.uia, e igualmente pensam em bruxari.l em temlO, do, 'ennmen­tos que ela revela. Em ~cgundo lugar, uma pes~o.l qut: embruxou um hO~lem nüo é considerad,l por e,te como UIll brm.o par.! \t'mpre, m~, .Ir 'n,\. 110 \. 0 11 -

texto do infortúnio que l'1I1Wll. Ndn e'\i,h? UIll.l po,tur.1 tD .• 1 .l . 'r adOl.ld,1

di,lIlte dos bruxo" ,Is,im como há par.l o C.bO dI)', Iwbrc" l:~lr e~t>l1lrlo l ~n nobre é sempre um nobre, t' LOlll0 t,lll' tratado ('111 hlt!J, .1' ,I1lhlÇ"nc ; nu" n,hl ha semelhante nitidel ou lon,t,illlla qu.llltt) .1 l'd,~ ) n.lh,l.ld ' 'lld,ll k tlm bruxo, poi, t',te só t' Lllllsílkr.ldo bw\o ell~ LCrI,l' 'llll,IL ll .' .\ ~ n l\' le, .lz,md<.. de bruxaria exprimem rel.l\"úe, diu.imlt.l' II1ll'q'e,'(\,1I ,111 'IUM lI.: n lO .IU -

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I IdO eu I~míicddo depende em t.11 medldJ de contexto P,IS 3gelro~ que um homtm dlllulmente e enc.dr,ldo como bruxo qUdndo d itudção que pro· \ ou umJ .leu leão ontra ele i.1 de apJre<.eu.

O.. nnde não aceitam a Ideia de que qualquer pe ~oa que odeia outrem Ja um bruxo, ou que bruxana eodlo \epm sinónimo~. Todl1~ o hnmen, são

c.apaze de ter entlmento' ho~tl' contra "ell úzinhos, m,IS, a n.lo ~er ljue te­nhJm realmente na . ..-ido com bruxana na harn~a, nao podem (amar d.mo!)

a II1lml&o ' implesmente por detesta-lo. [ \ rdade que um \ elho pode dizer, por exemplo, que um rapaz está ar­

n ado a ficar doenle de ;ma abakumba, a con,eqüénóa da ira de um ancião.

ta o Az.ande não crêem que a irrita~o de um velho po ~a em si fazer muito mal um homem ido o fala de. e modo, o Azande dizem que está insi­nuando que o embruxara e o perturbarem. POJ. , a meno que o velho seja

bruxo ou feiu eiro, nada de mal pode acontecer a alguem que o irritou. Seu mau humor laheL pudes~e dusar dlguma pequena perturba.,ão, e pode ser que o ora<.ulo ficassem mdeci~o entre os diagno ·tico~ de raiva e posse de bruxana, wso nao fo em J\lsad para o lC\arem eonU que~tõe~ de bruxa­ria real

ímpl mente sentir r .11\ a e dizer palavras asperas contra alguém não pode UU! ar qualquer mdleficlO eno, a menos que haja algum laço social defi­nido entre as partes em di puta. A maldi -óes de um homem não-aparentado njl) podem fazer mal, ma. nada e mal a ustador que a maldições (motíwa) lanç.lda por pai e mae, lio e tias. Me mo sem proferir ritualmente uma mal­

diç."lo, um pJI pode causar de ventura a seu filho apenas por raiva e res enti­mento. DIZ-se tambem que, se um príncipe está irado e triste com a ausência de um udlto,ascolSJ não irao bem para e te. Um informante di se-me tam­bem que, uma mulher vld;a Lontra a \ontade de seu marido, e esle fic.a .lU­doso etnste, .IS wisas podem sair mal pard ela durante a \iagem.

Se u est.l em dU\ida ~ um homem que não go tade \oee c;implesmen tt: o esta odl.lndo ou realmente o embruxando. pode Ilrar e d dU\')da por

meIO d umJ con ulta ao orol ulo de \em'nu ou .I algum do or.llulo meno r o t ad\erteooraLUlo para que não pre teatençao a maldJde, masquese c nLentre unicamente na que tão da bruxaria. \' oce diL a ele que n,1O quer 5J

r ~ o homem lhe odeIa. ma se ele esta lhe embruxando. Por exemplo, \,Ole diZ .l or.lculo de atnto: Observe a calunia e deixe-a de lado. ob~ef\ e u odlO {' de o de lado, observe o ciume e deixe-o de lado. Bruxaria de enfade - U)fi .

rt pena ela Se ela vai me matar orác.ulo dt atrito. pare r ponda' im' J.

A re e que, seguodo ldí-ias UIftde. ..... bruxo não prejudIca nece _ r am nlt" (lfiSOa' 10 porque ... 1Iomem pode ter nascIdo

hruxo, 111.15 ~U.l ~lIb~t.lnlla· brUXJn,l permanecer fn; . ) lan-

de, i\sll signlflc.J que, embora e .. e mdividulJ" '1.1 um br o Ir I de um

sujeito decente. que não gU.Jfda rancor de <;(.us villnho r. m em oúme<; da felicidade alheia. f um bom cidadão, e isso par o.., A/..ande ,>ií;l1!fica dewm­

penhar ,llegremente suas ohrigaçóes e viver cm boa pa? e cnoperaçao c.om r vi7inhos. Um homem bom é bem-humoradn e generoso bom filho marido

e pai, é leal com seu principe. justo no tr.lto c<lm seus igual';, hon em seus negócios, respeitador da lei e amante da paz, não comete adul éno [; b bem dos vizinhos, é sereno e cortês. ,'.io e espera que ele .lme seu immi o nem que seja condescendente com os que prejudicarem sua família e paren­

tes, ou cometerem adultério com suas espo'>as. Ma se um homem não so­freu agressão alguma, então não deve mostrar hostilidade para com o

outros. Igualmente o ciúme e a inveja são males, a menos que seJam cuI u· ralmente aceitos, como no ea,o da rivalidade entre príncipes, ddn-mhos ou

cantores. Todo comportamenro que se choca com a IdéIas azande sobre o que e

direito e próprio, embora não seia por si ~o bruxaria, é o Impulso que esW por trás dela, e as pessoas que infringem as regras de conduta ~ao as mal frequen­

temente acw,adas. Se examinarmo~ as situações que e\·ocam no. ões de bru.n­

ria e o método de identificação de bruxos. fica claro que ele. irnplteam

caráter \'oliti\"O e moral da bruxaria. A condenação moral e prt:determuu a,

pois quando um homem sofre um infortúnio, ele medna "obre ')ua ma~ a e comidera quem, dentre seus \'izinhos, lhe demomtrou ho tilid d imerectda

ou ressentimento injustificado. Es .. as pessoas o prejudiCaram e lhe querem mal, e portanto ele deduz que e1a~ o embruxaram - poi~ um homem não ma embruxá-lo e não o dete~tas~e.

As IHH,OeS morais aLande, em "ua di\·i~;ao da onduta em boa e m nâ

são muito diferentes das no,~as, mas, como elas não '>e exprimem em tcrm lei tielh, sua semelhança com os ~odigo Ja rehgioes mal> \.onheoru nao e aparente de IIllt:JiJto. O, ópmto do, morto n30 podem er on do

como árbitros da Illoral e annonadores da conduta, I rqu I bro de grupos de parente,co e so ~xer em autondade d ntro d obre.1 me nu pe soas que lhe, e tJ\am submetida· quand ram,

~er 'lupremo ê Ullld IIItluent..l.l mUIto "aga, n.lO . endo nado rei z:ande .01110 gu,lrdl.lo de um.1 lei moral que de\'a ser ob decida Olpl m nt r­que Ile t: o eu autor. l~. no Idioll1.l da hruxana que o 7.and :pnm m d re­

grJ morai que e'>L.lpam J t:sfera da lei <.1 11 e Lnmll1,ll" 10 r

lauSd da bru aria; um homem 1m eio o pode matar algu m d 1m falam também de outro nUmento dnli- 1.11

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l're nda UIll.1 rt'l.lh.I\.io.!'llr ,.1Il.li~ prl'\Lnt(l~. cnnt l .1 O" re~pon~.1\ li .. , \)oen ­~J. OU Ira,.I' II Cllll'llll're,.h lll)JWJl1IC.l' n.ío ,.10 (on'lder.uln, lllnHl d.lJlo,.1

no~ 1I1t1lpdo~ por nutr." jll'''O.I,. ~l' um hOJl1elll lai l'nfamo ou SU.l ell1pre~.1

\.11 .1 f.11.:110.1, de nan pode m.lr de rctJhaç.1o contra nl11guem. C0\l10 poderia 'l ~l U relógIO tl\"C, .. e ~Id() roubado ou se ele fos~e agredido. t-.las no p.lb I.1 Jlde

• h,do, lb Il1f()rtúnIO~ 'c devem à bruxana. permitll1dn que a pe~so.1 que \nfreu t) d.mo empreenda rt'l.1ltJçao por Lanai., costumetnh, porquc o d.lno é .1tri­

btlldo ii uma pe"oa. Em .,ituaçoe\ (01110 roubo, .Kiultc::rio, nu homiLldlO com \ iolência já eXI.,te uma pessoa el1\ oh Ida, que collvid,1 à ret,lliaçáo; se ,ua iden ­

tidade é conhecida, o culpado e le\'ado am tribunais; ca~o contrario, ele e pcr­

\L'gUldo por magia puniti\'a. Quando essa pes.,oa e~t,i ausellte, porém, as no\oes de bruxaria oferecem um al\"o alternativo. Todo infortunio supôe

bruxarIa, e toda inmllzade ~ugere um autor.

Considerando a questáo por este lado, fica mais facil entender C01110 os

Alande deixam de observar e explicitar o fato de que não só qualquer pessoa pode ,er UI11 bruxo - o que eks admitem facilmente -, I11as que a maioria

dos plebeus é comtituída de bruxos. Se \'ocê disser que a I11aior parte das pes­

~oas e formada por bruxos, lh Azande negam imediatamente tal afirmação. Porem, na minha experiência, todos, exceto o~ nobre~ e o~ plebeus influentes

d,1 corte.:, foram uma \'1.'1 ou outra acusados pelos oráculos de terem embruxa­

do ~l.b VIzinhos - e portanto sao bruxos. Isso tem necessariamente de ser as­

Slm,).í que todos os homens sofrem infortúnios, e que todo mundo é sempre

mllTIlgo de alguem. Mas. em geral, apena~ aqueles que se fazem detestados

pela maioria dos vizinhos são acusados com frequência de bruxaria, adquirin­do reputação de bruxo~.

Se fi armm atentos ao iglllticado dinámico da bruxaria, reconhecendo

portanto sua uni"ersalidade. cntl'ndl'remos mdhor por que os bruxos não ~ao per~l'guld(h nem sofrcm ostr,ILlsmo: pois o que é uma fu nção de estados

passagellos e é LOl11Um ,I multO', n,IO pude ser tratado com sC\'Crtdade. A pml­

çao de um bruxo nada tem de ,lllalogo a do Lrtl11mOSO cm nossa sociedadc; ele c.ertalllCllte não e um pari,1 ,Illngido pela desgr,lça e cvitado pelo, vi,inhm.

Pelo contráno, bruxos relonheudus, fal11(hus como lal por n:giül's Inteira" \ Ivem C0l110 C1dadaos col11uns. Podem ser pais c m.llidos respelt,ldos, visi­tantes blffi· nndos as reside J)C!,ls , convidado, a,> fest,ls e ,IS Wles melllbros in

fluent do comclho informal da Lmle de um príllupe. ,\lgullS de llleu, lOllh( Lidos eram bruxu,> lIot,'JlJ( IS

l 'm bruxo pode g()l.lr de lerto prl'stlgio em ralao de seus poderes, pOIS

'oti J ~lId,lln de nao oknJt lo - ningucll1 prolur,1 ddiberadallll'lItl' o de

~ trL. I pur 1 so qUt (I hdn de um grupo domestico que C,H,.I UllI ,Inlllhd malld.\ um pUUlO da .Ime L01110 pn .. sl'nte p.tra os velhos qu\:' vi\l'1I1 1l0S ,ítl<)~

h l'fl''''11 de ",/(lrIJlIIII I,:., (I "" "

\ III Ilho ,>. <.,t; um ve lho bl uxe, llal) Icu:ber rnL, unped rol qu U( ÇJ Jr II

(julIO" .1 n 1111 .11., se d e tIver suo! 1'01\<111, porl'm deslpra q J no o .ln m

1,1111 11101 to" e a,SllI1 ~c o!b~ter,1 dc IJlterferlr. /Jo mc,mo modo um I ü ;r

tom,1 cuidado de nao IrntJr gratuItamente SlI..IS e'ip() a pOl ')(' um.! de hruxa , ele pode es tar Lhamando de'>grat,-a para <;1 num atc '>O de mau humor.

Um homem deve dl~tribuir a carne eqüitati\JJtlen e entre aó e<:pos.i5 ou urr J

dela .. , ofendida por ter n:cebldo pOr\dO menor, poderá Caler com qu I n..1 consiga l11al~ caçar.

A crença na bruxaria é um valioso corretinJ (.(mtra Imruho n.lO "an ~

~o~, porque uma demomtrac,<Í{) de mJU humor, mesquinharia ou ho,t Idade

pode acarretar séria~ conseqüências. Como os Azande não sabem quem e uU

não bruxo, partem do prinCipio de que todos os sem vizinhos podem se-lo, e

assim cuidam de não os ofender a toa. A noção funciona em duas di!';: Oõ.

Um homem invejoso, por exemplo, será suspeito de bruxaria ao olhos da­queles a quem inveja e procurará evitar suspeitas controlando ua mvelJ.. P r

outro lado, aqueles de quem ele tem inveja podem ser bruxos e tent .. r feri·l)

em retaltação à sua inimIzade, de forma que () homem \'dI controlar UJ imc:i

para não ser embruxado. Os Azande falam que nunca pode haver certeza sobre se alguém é inocen­

te de bruxaria. Assim, dizem: "Quando se consultam os oráculo~, não se deixa

ninguém de fora", querendo dizer que é melhor perguntar aos oráculos sobre

todo mundo, sem exceção. D,lI o aforismo: ":--Jão se pode ver dentro de um homem como dentro de um cesto de malha larga" - e IlnFOs~íYel enxergar a bruxaria dentro de um homem. O melhor, portanto, é não conqui~tar a ffil­

mizade de ninguém, poi o ód io é o motivo por trás de todo ato de bruxaria.

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\1'. Il l ) 1\

l1 '11 \05 tt'1ll cOlcciéllcia

tit' :CUS lltOS?

I

l"ma da ~aract 'ri t l ~""'J ll1.l i. n t.1\ \?I' da bruxaria eurl'pei,1 l'f a .I t:1Cilidade

~om que o bruxo. as \ el e ~onk, a\"am ,ua -:UlP,l ~el11 uso de tort ur.] e torne­

uam longa. de criçõe dc eu crime e de ~ua llrganila,Jtl . Tudo indi-:a que,

em algum gra u pelo meno ,a~ pe. oa. que \wem n um.l comunidade onde o fato da bnLuna nun~a e po,to cm dúvida , ão (ap.lle, de ~e ({lll\"t:n(er de que

po uem o poder que o outro lhe .ltribucl11 "e,a ( omo for. eria interessante abcrmo e o \z,mde lamal . cOllfe' 'am qllL ~,lO h ruxo ,.

Par.I o ALlndt: . a que~tdo da LUlp.l nao ,e colo-:a da Illoma forma que

rara no . Como ja expliquei. eu II1tere"~e pda b rux.lria só é dôpertado em

caso~ e~pedfico de infortunio e .lpena perdura enquanto perdurar o infor­

tiO. <.) unlCo brux m qll pre tan1 at\?/lção e aquele qUL lhe, esta no mo­

mento lau; ando infortumo. Quando o d i. ~abor termina . e1e~ deixam de

narar o re<;pon a\el como bru.·o, pOI • como vimos. q ualquer pessoa pode

er bru a, mas um zande ~o e ta inten.·" ado no b ruxo cuja bruxan a lhe diz

respeito. Assim, a bruxana e algo .l que reagem quando atingldo~ por ela - e

t t e o Igmficado pnnlip.1l que tem para d es. Ela é uma re'po.,ta a certas SI­

tuaç-t>S. nao um intriLado lon.:elto m teIL'ctual. Por i 'so, quando um lande c

a u')J.do de bruxaria. fi.:a perple o. fie nunLa linha comiderado a bruxaria

de te ponto dL \ IstJ. Para um 1.lI1de. ela tmha 5ido scmpre UI1l.l rL"II ... ío contra

(I outro quando o inlon umo o atingia, d forma que lhe e peno (I aprcendel

e<; n II quando e de prol'no o ah o \ I~ do, a cau~a do infortunlo .llhelO.

O problema e ext remamente Lomplc o . Algun pO\ os ,II riLano5 p.lrelCIll rt.'>Ol\ r d dificuldade sU<'Litdda por .!to <. omprO\ados de bruxari ,l, ,I LOl1lp ~l nhado de uma confe ada ignorancia de~ e~ atm por pari do blll XO, ill1pli -

ado. po tulando que as a\(lC de um bru 'o podem ~Lf indepelldelllL ' de SU,I \ontade. Ma .IS no oe ... azande nao f.h:ltltam cst,] te~e . .... e pe rguntarfllu s dlre

t mente d q ualquer Zàndt: um homem .lhe 4ue e bruxo c c Us.1 ~ U.l Inu .1

r a ~om plelJd ( 0 0 â l'nCla

ndl ..... l ' (: ua!. agre

nel Ild mUlt~ o<.a~lO(

a r~' po t,l t: qUt l' Ilnpo 1\ cl J um bru I) igno l.lI

.... contra o outro . Em rt'\I)()~t.l .1 C,SJ perguntd

cm qUl' a!>slsll J LClIlsuhJ\ or aL1Udrc~ e .l ~ .Ifll C'ien

(J I r ll ,. til n J UI J u a"

t,lÇ lW '" de .IS,I'" de g.lhnh .I .l o ~ alousado pelo ora<.ulo de 'nl n IIlla ( u

.1 ,ugc ... t,l<l de que UIll hO/llem plldC'i~ Ignorar que fm u-n bru o ~ J II n :ssc m ,ldo ... eu, poderes inCOIl\C lt ll tcClIelltc I~so porqoJec}S \LJ dt. _h ffi4 m bruxos têm uma ,id.l secrdd em comum, troundo (<-nlid n la olre I,

rindo juntos de "'U.IS Illdlkltori,l\ e \'anglonando se d '>CU. dta~ ue (mtra quelll odeiam.

l\.las neste assunto m AZJnde não são mUlto con i,ttnlcs f mbora aflr

mem a culpa moral d os o ut ros, pro tc~tam inocênCIa quando ao MOS tU ~

dos, se não do ato - po is não podem faze-lo em público , pelo mt.n da intenção. Para um estrangeiro, pa rece ha\ er conflito entre a neglç.!o 'oh ção no próprio caso e a insi~tênc i a numa volicão no (a o do outro. tas a . ,itu.lção em que um zande se acha que vai dderminar quai eren .a entram em iogo, e o fato de detenmnada crença contradizer ~U.b ideias usuai nao o

perturbam. Ele pre\supõe que os bruxos sao responsáwi..; por eu ato exata­

mente como pressupomos que um criminoso e re~pon á\cl por seu; cnme<.

Quando e ele próprio o acmado de bnL\:aria, aí trata-se de um ca o peculIar e

muito especial.

De\'em o. ter em mente que um zande 50 tem com,l gUIJ Ua expenênoJ

individual, pois não se discu te ese tipo de assunto com 0 ' aml~o:. A opmIão

pública admite q ue u m bruxo é um agente comciente; ma . n uma oca ião par­

ticular, quando o oraculo de wneno denuncia um certfl indiYld uo co mo res­

ponsáwl por u m ato de bnLxaria, esse homem ,e dá LontJ d e ,ua pr pria não-intencionalidade. Tanto quanto ele possa ,aber, nunca üitou .I , asa d doente a quem supostamente fa mal; ,1551111, e obrigado a concluir qu hou e um engano, ou q ue agiu incollbcientemente. l\las de pen .... ,] que . eu (.1-) e t' -

cepclOna l e que os outro, s.lo respoma\'eis por ~em pnipri,), .lto . . T do mun­

do ,empre <lcreditou que os bruxos pl.lI1el.lm seus ,Iraquc' , e o !:lto de qu d propno tenha .lgldo sem JIltel1\<ltl n,lO e mollnl p.lr.] ' I P,1[ lJue o. out[ , n .:!

.lj.lIl1 Llll1~lientemente. Re,]lmt:nte, um homem ne",!'. ir 'un, t,lI1.:ü d

~en t ir q ue, , e t: \ erd.lde que d t' e um bruxo, 11âl) é Ulll bruxo comum pOl '

b ruxos se re(onhelt~111 mut u,lmente e cOllper.lIl1 em ,U,b mpr

que ninguclll o tCIll o.'m úlI1 fidcnLÍ,I. nClll prtlLurou ,l'u aUXIlio.

Pudc ob~en'ar (Olll frcqu cn.:i,l que a .lli tude de m IIs .1m.", a .ln .~ -

1ll.1I11t"est.lda 111.11, por "'t' UlOIllPUl t,lIlIento que po r sua .• liirnlJ l rI I J

qu,lIldo "'t' tr.lt,I' ''llk ,llgllL'm "'c'ndll .Illh,ldl) d, I' r" ud l, a Il) ~ r brux.lfl.l,l u de um.1 ,IlUS,I"IO Llll1tr.l l'k ... d l' preludi~.ll llut r,m. , l ' te ult1l11O .1- ,a r~

p O ... t.l que me tI,11 .llll.l quc ~t,lll de UIlI nrux,l ulIlh l d a. rr pn (n" I I t

l er 1ll,11 .ll)~ outr,IS por ~1I.11l\ [l' l' ""pl) nt ,\I1 ' .1 \ ont.1 lt' I l li \ ~ ... 111

Upllll.IO .1(eItJ) l'r.1 dikrentc d ,l IIlfl)fIl l.I\ .Ii.\ lju \ll tl.lO n Itl m II, ti a

Page 28: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

I'er~unt,\ n,h1 era tt.'lt,\ üpli~it.\l1lel1k .. \ \Ituaç,lo e,>peLi,llem qUe ~e ach,lv,\1l1 Illo(h fi C,l\ ,1 \ua~ ,liirll1a\i)e~ e colon.! \U,h opllllúes.

, ' o decorrer de dls(u~soe.' .\obre outros ass unto\, comt.lkl que ,IS \ 'C7e~

o. mlornl.lntes admitiam que alguns bru:>.o~, em certas Llrcun~t<lnLi,ls, po­diam Ignor,u' ~ua condição. Essa ignorância era geralmente aceita nm ~,Ism de LrJ,ln\,ls -bruxas e de ,1dultm ,ILusados apenas uma ou duas \'e7e .. na \ ida . Quando a bruxaria de um homem L; "fna ", como dizem os Azande, Isto é,

qu,lI1do ela nao é operatl\a, ele pode mUIto bem ignorar sua LOndiç,'io.

Penso que, na \ erdade, não seria demais descre\er as idél,l~ z,lIlde sobre osa questão da seguinte forma: um homem não pode entar ser um bruxo; nao é por sua culpa que nasccu com oru:>.aria na barriga, Ele pode ser perfeita­mente ignorante dc que e bruxo c inocente de atos de bruxaria. Nesse estado de mocênCla, pode fazer mal a .lIguem sem querer; ma~ quando já foi várias \'e7es e>..posto pelo oráculo de \eneno, entao está conscien te de seus poderes e começa a usá los com malícia.

Quando um homem fica doente, ou alguém de sua família ou parentela, ele fica profundamente Irritado. Para quc entendamos seus sentimentos a res­pello da responsabilidadc moral do hOlllem II1dicado pelo oráculo como ge­rador dd doença, é preLlso Icmbrarmos que o consulente apresentou ao oráculo o nome da~ pe~so,h que mais detesta, de forma que o bruxo será pro­,'a\'dmentL .lIguem com quem ja linha pé~~ima~ reiaçôes, A velha animosida­de é reforçada por um no\'o re"entimento. E portanto inútil wgerir ao Il1tere5~ado que o bruxo não tem cnnsClencia da bruxana, pois ele não está in­clinado a considerar tal possibilidade, uma vez que sabe há muito tempo do ódio do acusado e de seu de,elo de j~17cr-IhL' mal. Numa situação como esta, a re ponsabilidade moral dos bruxo~ é pressuposta incondicionalmente; está ~ontlda nos pro.:esws de sc!el,.Hl e Jcus,l\ào, não prcusa ser explicitada

M,IS a mesmas pe,>so.ls ljUL', quando preJudiLadas, afirmar,lm \'ecmente­menk a I1lallL1J delibérada dos outros, bIJm de outra form a quando ,.10 elas a rn,dler as aS.ls de galinha, Pude mUIt.ls veles obStrv.lr as me mas pessoas em amh.l as situaçoe~. Tendo des( nto ,IS (Ipinioes usuais dos A/ande sobre a responsabilidade dos bruxos, e conll) sua rea.,.ao ao IIlfortunio 1,11\(;,\ 111,10 da nO\JO de re ponsabiliJ.lde ell1 sua forma m;m intranSigente, devemo'i agol'tl oh en.lr Lomo o bruxo re ponde.1 ulIla .lcu açao.

')e elt for uma pessoa Lllm pOULO autocontrole, Pllde 1,l/el uma Lena quando d .Isa de g,Jlinha c (010 dda a seus pés. Pode dizer .10 lllens.lgeiro qUl' a lt'\e emhora, dmaldH,oilndo 'Iljueles que a enviaram, dell.lrando ljue IjUtlell1 Jpula hUITIllhà lo por ITIdldaut'. rals tenas são raras, 1ll.IS .IS 1St I ou soul.e dt afias, t sabe se de gente que atacou o mensageiro. Um homem que ~c (UIII

porta d ~ modo esta IOdo contri! o lostume, ao insultar o delegado do Lhcfe

(J J,ruxo 'l'''' 011 f't:'1I dr I alo

que ordenou .1 ,Iprc,entcl~.i() dd .1 a. He sera obJeto de 10mb na I °0 om I

UIll prm InuallO Ignora nte dcl s manei ras da sl)uedadc t'.duc.sda e pode d I

rir a reputaç..io de bruxo empedernido que admite sua bruxana ,u amen e pela raiva que demonstra ao ser denunciado. O que ele devena fazer era ) prar ngua e dizer: "Se possuo bruxaria em meu ventre, dis o nao tenho \.0"1

ciência; quI' ela c~frie, Por ISSO, ~opro água."

t. difícil perceber os sentimentos reais de um homem partIr de .ua rei! ção pública quando reLebe a asa, pois mesmo que ele e~teja certo.de rua II! cência, realilará a cerimonia, ja que i~so é o que um cavalheiro deve fazer. O costume não apenas prescreve que se sopre água, mas a!i frases com que acusado deve exprimir sua contrição são mais ou menos estereotipadas; e o tom mesmo, desculposo e sincero, em que ele as profere é determinado pela tradicão . .

Quanto eu tinha oportunidade, falava com um acusado o mais rapida­mente possível depois da apre entação da asa, para ter suas impressocs. Mm­tas vezes era um de meus criados, info rmantes ou amigos pessoal~, de forma que podia conversar com ele privada e livremente. Constatei que ou dcda­ravam ser a acusação tola, talve7 até maldosa, ou então a aceitavam re­signadamente. Os que a rejeitavam diziam que os acusadore~ não rinham absolutamente consultado os oráculos, mas somente morto galinhas e enfia­do as asas num pau; ou que, se consultaram o oraculo de veneno, este dC'\ia ter-se enganado, por uma bruxaria que influenciara o veredicto, ou a al~m tabu que fora quebrado. emelhante~ sugestões não 'eriam feita~ em publico. Um homem pode acre centar entre amigos que nunca foi acusJdo de bru. ... a­ria ante, e que portanto não faz sentido que começas~e a embruxar pe oa agora. Aquele que puder demonstrar que "lrio~ de ~eus parentó pró\.im foram autopsiados e n,lo revelaram subst,incia-bruxaria no ventre, recorrera a tais exemplos para cond uir que é absolutamente impo,sl"t'\ que elt' ].I um bruxo. t-..lesl11o assim, porem, wprar.i sobre a ,1~a par.l eneerr.lr o 3.' unto e e\ Itar mal-estar. Ele me dtrla, depOIS: "Se sou um bruxo, n.lo ei. Por que u d e~eJ<l fla tem alguém? t-la, J.l que eles me deram a ,1'hl, 'llprl1 ,obre !J par.t

mmtrar que n,lll quero m.II.1 I1Inguém '

A. p,lrtll de~sa~ con\'er<;,ls pri\'ad.l~ com 0\ Az.lIlde que r~~eb~'Tam.l.1 Je g,tlll1h.l,eu dl/l,l que () que decide a re..1\,lo enllki'll1,ll.l um.l.leu 3 -.1 de oru "m.1 t' 'Ohl etudo .J ditelen~.1 til' tt'mper.ll1lt'nto. I'm publico, tl do mund) reage de n1.lneircl Igu.II, poi" 1'01 l11.lÍ\ que um hl1tl1Ull ll'nh.1 d, 1I1 ultJd , dt'\'l' Ulmpllrtar ·,e tom ,I humild.1lle t"per,ld.1

Cert,1 vez ouvi Ulll homem tI,H UIll ,.1\110 .on dh) a ,LI lilh br ... questJIl () r,lp.II. \inh.llelcl1l'ntlo Lt'Jll ,llgum.1 frL'qu~nLl,1 a d' IltnhJ n \'lad.l~ poc UIll vilinho, e protl'~t,I\.1 \ IgOfll,.lIl1 nt' "ontra o qu~ ton'Ü:I ra .J

Page 29: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

( ,

,<'I II1'>Ult ) Pllllll' \Il1ll'k\ , .... eu )'.11 111l' di",,, ent.io, que .1'> aul .... I<,oes l'r,ll11 oh­\,/,lllllntl ab'>urd.1'>: \ nlo~ dl' 'l'lI'l'.lrentl's h.l\Í.lm ,ido .1lItoPSI.ldos l' nao Sl' .Ilhar,\ llenh lIm.l '>\ bst.IIlLl.I brm . .1rt.1 . A )1l'S.1 r d I~SO, 1'0 rl'm, IUO 1.1/1,1 m.11 ,11 gUI11 ,>opr.lr .1gt .. l, 11.11) ,1)'el1.l\ ela eJuc.1do f,ller 15,0 qu,lndo sn!tu!.ldo, IlldS

'llhfl'tu,kl JL'nlOnstr.wa ,I .lll\en~id de r,1I1cor que di~tll1guL' todo bom (id.1 d.lO. I mi lIwr Pdr.l lIIll il10cente Jccitar dL' bn'n grado a acu,aç,lo.

1\1.1'>, el11bor.l mUIto, dedarem cm ,egredo que nJO "lo bnL\os, e que dr\ ~ kr h,1\ ido um eng.mo, mll1h.leXpertenCIJ C0111 os A7,lnde que releberam ,h.h de galinh.l con\"enleU-llle de que alguns pensam- por algum tempo .10 111,'no. - que afinal !:>.lo me. mo brm.os. A tr.ldição sobre a bru\..1ria, que e t,10 ~lefinrda sobre o que não pode normalmente ser \'erificado - por exemplo, a nature7a da ,ubstância-bruxaria -, é Yaga e indeterminad,l a respeito daquilo

que podena ,er confirmado ou mfirmado, a saber, a operação da brm.aria. A maneira pela qual o~ bruxos reJlizam seus feitos é um mistério para os Azan­de, e como eles não podem derivar das ati\'idades normais da vigdiJ nenhum matenal sobre o qual basear uma teoria da ação da bruxaria, terminam .11'ol.1I1do-.,e na noção transcendental de almJ. Os sonhos são sobretudo pcr­le1'ções de bruxanas; em .'>onho" um homem pode ver e falar com bruxos. Ma, para um zande a \ ida onlrica e um mundo de nebulosa, interrogações. Por isso ,e pode entendcr por que um homem acusadu de embruxar Jlguém heSita cm"11egar a acusação, Lhegando até a se convencer por algum tempo dô,a endente ill\erdade. 1:le sJhe que muitas \'ezes os bruxos estão dormin­do quando a alma de sua substánlia-bruxana parte em sua empresa macabra; tahez quando ele estaya dormllldo, inconsciente, algo desse tipo tenha acon­tecido, e sua bruxaria funcionara independentemente de sua consciênclJ. Fm tais circunstâncias, um homem pode perfeitamente ser um bruxo e não saber disso. Contudo, nunca soube dc um zande que admitisse sua bruxarta .

Um homem tem muIta sorte, porém, se sempre conseguIu esc,lp.u- de cusaçóes eventu.lis. E se o oráculo de veneno declarou por várias VCICS que leembruxou outras pes~()as, pode chegar 3 dUVidar da pnípria inOLência. "O

oraculo de veneno não erra" ·e\te e o credo de todo zande. Sua .1lIturid.1de e~ta apolad.J no poder POlIIIlll do~ prínCIpes l' na tradlçao. I- no final das conta. o {dto de um homl'm ter dl' cnccnar publIcamente UIll.I (onli\S.io de culpa oprando .!gua ~obre uma asa dc g.t1inha, de\e.1O lllellO, dei xa- lo e~pe ul,mdo sobre a l'XiSIl~nClJ de brux,IrI.\ na prúpri.1 barng.l.

2

,(IC\ (oqumava pcrgunl,jf J um homem, quando li conlIell.1 belll: "Vole

( um bruxo" hper.1ndo uma Ilegatlva rápida e ofendida, rl'lchia ,1 humilde

(J r,ru I III

11'plil,l: "AI1, doutor, ~e II I bruxJrla em mlllha !>arrl' u r

hruxo, porl)lH' .I~ p('~~oa ~ n.lo Vlr.1I11 bru"4!fla na b rr '

1\ klHh J~ n~\p()q.l~ que eu rnelll.l. porem, e mUIto m 15 rJ t l()rll1ul,j - la~ é qUL 1111: d.l\am a illlpre~~.1() dedúvu.ia."' 1\ U

eram 1,ldmes, o tom da f'~post.t ~eri I deCIdido e Irado

Num d()~ textos que Lolhi, um velho fM 'ua or3ÇJo d

m n, de m,ld rug.rda, a n t es da ~ .rbluçoe~ mat IlIais; de dl/ que n ro

priedade de nInguém, Il,ln cometeu adulteri() com a mulher de nin

nao desep o mal a homem <llgum e que deseja vi\'er em paL (.om <:.eL li

I- acrescenta: "Mesmo que eu possua bruxaria em mll1ha b rrjga n,\o fazer mal as roças de ninguem. Que a boca de minha bruXdna t"l t

peje ela antes seu rancor sobre os al1lmais do mato que danç.dm d fi t.T.

sobre os túmulos de meus parentes."

É costumeiro - e conSIderado polido e amigjn~1 - que, quando uma

pessoa va \isltar um amigo enfermo, pare à porta da cabana deste e peç w esposa que traga água numa cabaça. O \'isitante toma um gole, bo h ha e

sopra a água em jorro ,obre o ~olo, diLendo: "('), l',[bori, este homem e

doente, se sou eu que o está matando com minha bruxaria, que ele ~

recupere." Deve-se observar, contudo, que tal discurso é mera formahd de, e

embora ele sugIra o reconhecimento cultural da po,,~ibilidade de um ho mem prejudicar outrem II1conscientemente, sena erradl) deduzir que o

homem que disse aquelas palanas tenha alguma dÚ\lda ,obre ~ua prõpru inocência no caso. Segundo as noções azande, é quase certo que um bruxo

não iria visitar um homem que ele proprio embruxou.

Ao comultar o oráculo de atrito a respeIto de um parente ou c -po;;a doente, um homem pode perguntar ,obre seu,> \1l1nhos, para ,aber quem ta

elllbnL\ando o enfermo. ,\s \'ezes, ante, de apresentar os nome, d

soa, diante do oraCldo, pode-se OU\ I-lo dizer: "Sou eu () culpado?, .1-

mente .1 questJo sugere um reconhe(Imento dJ po~,ibihdade de b ".-,," , IIlLonSLlente, m.1S náo h.i r.l/Jo p.lr.l se ,>upor que o homem <.jue .I Ic .1m u

lhegue" pemar ser ele PI opno respom.1\ e!. <'ua pergunta é pura torm.tl t d •

é de bom-tom mostrar-se de'Lompwmetido, e ele pl)de f.lZê lo m mt :l d Ot.1LltlO de .Itl ito .llm.I-ll), pOI' de ou um .1lllign ótJo l)per.lnd, o rJ,uI ,_

Note se que ninguem LolOlal la t.tI qUt',>t.\ o dl.mte do or,h:ull) d,' n n

I )IL - ,>e que, l)uandu Ulll hOlllem \.11 .1 guerr.l, ,U.b OPl , _ J

.\()<, I'e~ dl! ,>.lI1tU.lltO dos espírtl<h qUl' '>c ergue 11<) 1'.1l1L1 til' sUJ. I leI. 1.1 tJ

1.lndo, "(Juc !l.lda .lllllltl'\a.1 ele lJUl Illlnha brux,1fIJ., Hll

AlIllg.IS UI npos.IS, Ljue n.ld.1 .IUlntl\,1 Lom IH .. " 111.1rt i I " ",m t' t'.

Page 30: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

[)e\ e e kmbr,lf tJmbl'lll quc, .lllte~ de lazer J autóp~IJ de um p.uente

morto, ()~ oper,llh)r~, primeiro dlrigl'lll-'l'.lO orauilo ~k \ enl'nOl'lll bU'C.l d.\ certl'l.a dl: que o \l'ntrc ~hl morto n,\O (onlt:m 'Ubq:lllCi.l-blll:\.\rI.l.

3

~{'ri.l bóto \upor que, ~e a bru>.aria é hereditárIa, entao um homem certamen­te lem um.l boa idéia ~(lhre ~e é ou náo um bruxo lembr.mdo-se dos antece­

dente':> de ~eu p.lI, tiOS e avó paterno. Ele deve saber ~e alguma vez eles

p.\garam indenização por a~sa~~inato, receberam asas de gallI1ha e se foram '>ubmetidos, com ou ,em re\ullado positivo, a um exame posl-lIIorlc/Il. l\las,

embora um homem recorde çasm em que os cada\"Cres de seus paren tes fo­

ram examinados e se verificou nada conterem, o fato de que seus ancestra is

eram bruxos náo será realçado. Tah'ez nem seia conhecido, pois não tem im­

portáncia para os descendentes nem para outras pessoas, já que ninguém está

II1tere~sado em saber se um homem é um bruxo ou não em termos abst ratos.

Para um zande, essa é uma quest.1O totalmente teónca, e ele não é capaz de

responder a ela. O que ele quer saber é se determinado homem lhe está fazen­do mal numa situação partICular, numa oca ,ião especifica. Assim, a doutrina

da bl uxaria hereditárü provavelmente não influi muito num autodiagnóstico de bruxana.

Essa falta de preci,ao na identificação da bruxaria fica ainda maIs eviden­

te com a presença da lei britânica, que não permite vingança direta contra um

bruxo, f.' tampouco aceita a legalidade de se pagar indenizaçao por um crime

imaginário. Nm vdho~ tempos , quando a bruxaria se convertia em acusação crimll1al- isto é, quando um assassinato havia sido cometido -, nao havia

dm Id,lS sohre quem eram os bruxos, Se um homem fosse executado ou pa­

gasse II1denizal,.30, era um bruxo; ele ~l' senttria certo da própria culpa, e seus parentes Jl.el tariam o estigma criado - pelo menos por algum tempo - por (sse proc(.'sso Judicial. Ma ... hoje em dia U/Il bruxo nunca e acusado de crime.

'o maXlmo pode ser informado de que sua bruxaria e~tá prl'judilando ,II guem,mas nao lhe dlrao que mdtllu alglll;m; e nao há l1lotivm para supor que (J homem ,lCu~ado peltlllráculo de veneno de ter Glu$ddo a dOC/II,.,1 de outro

homem !>eia o mesmo que realmente o matou - aind.1 qUl' a rnorll' tenha ~Ido provoc<lda por Jquda doença. Assim, um bruxo e seu~ part'nte~ perm.lIlele­rao em cl)lllplrta ignorancia quanto ao as~assinato cometido. (>s parcnte~ de 1m humem morto poderao eventualmente mdtar dlguém por Villg,\I1'r.1 Illagi la md~ (I público em geral e os parentes do bruxo a~sassillo nao saher.1O J C.IU-d de ua lIIol1e. (>s parente:; desse bruxo imaginarao yue ell.' tdmbém mont'U

(J /t, Lil. I , •• (01r '" ta ,1 aI

de hruxaria e tentarao p"r su,\ \el \ Illgarse de outro nru r, I h>Je t'Tll dia I nhuI1l homem ou mulher tem de enfrentar urr.a a u d u d ii :.a in t(J f r bruxan.l, ou ~e l a, lima ilcu.,açjo felt.! pelo oráculo de um pnn Ipe, d mod,

que es~e Cator na criação de lima aulocol1S(IénCla da bruyna nao m.!1 eXL te

Atua lmenle não há meios de revelar um bruxo por melO de um to pu~h

LO de vlIlgança. Tudo é névoa e confusão. Cada pequeno grupo de parenk age de modo pnvado, matando magicamente os bruxo>, sem o (onhellmen1:l

do resto do mundo. Somente o príncipe sabe o que esta ocorrendo, e e'le li.tGa d ilo A mesma morte é considerada pelo~ vizinhos como uma morte e '>O I )'

pelos parentes do morto, como um ato de bruxa ria ; e pelos parente'> de outros

ho mens mo rtos, como o resultado de sua vingança mágica, Em asosquer..Jo

sejam de m o rte, é possível para um grupo de pessoas dizer que seu oráculo de­nuncio u um ho mem por embruxar seus parentes, enquanto os amigos e pa

rentes d o acusado podem facilmente negar a imputação e dizer que elesopro!l água por simples formalidade, porque não há certeza de que o oráculo ter.ha

fa lado a verdade, ou mesmo que tenha sido consultado - pois não é o oracu­

lo de um príncipe. Talvez por isso não seja extraordinário que eu .iamai tenha

ouvido uma confissão de bruxaria.

Page 31: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

1\l'lllll)\

Os adi1'inhos

r

faha tenha ocorrido ao leitor que ha ulll a ana logia entre o conceito zandc de bruxari,l e no~~o conceito de azar. Quando, apesar do seu conhecimento, pre­\' id~ ncia e diuéncla téc.l1Ica, um homem ~o fre um revés, dllelllo~ que isso se de\' à má sorte, enquanto os Azande dizem que ele foi embruxado. As si tua­çôes que evocam essas duas categona~ são similares. Quando o mfortunio já aconteteu, e,tá encerrado, e m Azande con tentam-se em atribui-lo à bruxa­ria e).,llamente como nós nm contentamos com a idéia de que nosso fracasso se dew à pouLa sorte. Nessas situ,l<,ôes, não há grande diferença entre as nO$­.»as reaçües L' as deles. Ma, quando um llltê.lrtúnlO está em processo - como na doen,a ou e comiderado antecipadamente, nossa resposta é diferente da deles. Ellcmm todo esforço pmsl\d pa ra nos linar ou e~capar do infortú­n;o pt1r mcio de no~s() L<Hlheu mento das condições objetivas que o causam. O zande age de modo ~emclhante, mas, como em seu modo de ver a causa primipal de todo mfortúnio é a bruxaria , ele concentra sua atenção nesse fa­tor de uprema importáncia . ( ' omo nm, ele usa meios racionais de controle da .. condições que produ/em o infortúniO, mas nó~ concebemos tais condi ­çües de ou tra forma.

Como créem que os hruxo5 podl:lll a qualquer momento tra7er-Ihes doelJl,a e morte, os Azande nell:Ssitalll manter contato com esses poderes ma­hgnos pa ra, contra atacando-os, controlar seu próprio destino b n bora a bruxana possa feri - Io ~ ineSpn,ldJlllen1e, eles não desesperam. Lo nge de ~e­rem mebncoltcos, os Azant!l'. COIJl O tudo ,> os ohservadores os desc rl'veram, áo um povo alegre, M/rndente e hnnc:llhao. Não precisam Vl\'l'r no temor

c.onstel nte da bruxa ria , lá que podelll entrar elll cont.llo (om ela e con trolá- la por lllelO do~ oráculos l ' da Ill.tgia. (om m (lr,lculos podem prl'\'l'1 as fUtUr.1S Itu.l~oes de bru xa ria l' mudá 1.1 ~ ,\11 te, q ue "e de\em ul v ,1111 Cu III ,I 111:1 gJa, po ­

dem r rotegel se da bruxaria c' dc'strui· !J.

() .Idi vinho zande é também UI11 m,ígico . N.I condis"l\llk ,Ilininho, imli LI o bruxm : UJIll(l magilo, impede ·os de fazer m,d. l\I.h d e c' b,l\ll,l lll entc' um adl\ mho. 'esta condiçao, e l(mhecido cu mo mi ílI'/ln, pmsuldor dt' ti 1' 11

(C;.1 pala rol m "urc surge lambem na expressao d(l m'l/r!', "d,1I1\J/ 111'11,.\,", qUl'

() ,,/ "'''

de\cre \'1: <1 d,ln \ .1 do ,> ,1(jl \ inho ~ e, IIUIll sentido mal> amplo,,, towhd d d.l ~L'\\,lO em que a dall~a tel11 lugar. Q u,lIldo I) "dl~lIlh() .lgc (..,mo (ur do·, .... )­nheudo COmObll1ZlI , l11a~ e~te termo c tro tJI'urr sal) IIlltTl.dmblav una d I na\ão de ~uas funçoe,> dlvlI1atorias, enquantu apenas blllzu t usado se referir J ,>ua funçao de curador. Em amho ~ o,> papéis, sua fun~ao é a mt: mel combater a bruxana. Corno adivlIlho, ele descobre onde e<JW bru ,;.\, C0 l11 0 curador, repara os dano~ c.lUsat!o5 por da.

Os A/ande concebem os adivinhos como um de seu> mU/tm oral.ulos, embora não se refiram a eles desta form a. Consideram que suas profeLias re· velações são de valor igual as respostas do oráculo de atri to, mas menos dIgnas de confiança que o orácu lo de veneno ou o oráculo das térmitas. Ja dt"iCre\ i como um enfe rmo (ou parentes agindo em seu nome) con ulta su<.essl,a­mente vá rios o ráculos, culminando no oráculo de \"eneno, para determmar quem dentre seus inimigos o está embruxando. Mas, em vez de <;e InICIarem a operações terapêuticas pelo oráculo de atrito, um ou vários adivinhos podem ser convocados para consultas sobre o enfemlo, ou sob re algum fracasso eco­nómico. Embora se preste muita atenção as re\elações dos adi\'inhos, sem pro nunciamentos não têm valor legal, e não é aconselhável abordar um bruxo da fo rma costumeira baseado nas afirmações de um adivinho que não tenham sido corroboradas por um veredicto do oráculo de veneno.

A corporação zande de adi\'inhos congrega profissionaiS especializado!>, com o monopólio do conhecimento de d rogas mágicas, de fornla que muita, de suas ati vidades não são fa cilmente obse rvavei . Assi m, minha descrição do' .ldivinhos deve ~e r prefaciada por uma anali se da for ma pela qual colhI 3.' m­lonnas,ôes.

Ao estudar a corporação de adi\' lllhos, foi necess,lrio di\"idlr o , amp de invesli g,lç.lO em duas p,utes e empreg,!r metodos di fere ntes em C,d,l unu, e­las. Uma parte compreendi,1 as ,1li\lt!ades dess,l corporaç,lo un re!J \ Jo .10 r , ­to d,1 soc iedade f ,lllde, seu papel na vlLh l omullltan,l , , eu lugar na tradl ' ,lo naoon,ll, sem cont,ltos com os pnnupes e ,IS cren\ ,l' l' hi,tnria rré'nt li­g,ld", a ei.J entre ,I npII1I,10 pubhL,1. h li j,lulllbter inlo rlll.lç,ll) ,obre' ,p.lrt<' dc' ~1I,1 vld,l , pois n,IO haVia problem,1 t'lll .l,si,tir JS dt' lllt)J1 , trat: ú,-' pubh, a" ,lbert,l\ ,! todos. r.lmbém fOi j,lulobter COIlll'nt,lrllh ,nbrt' n que a,l l h.,curo III) ntll,d , [lllneLldos por lIltllrlll.ll1k, regul.nt" ou Pllr .h' l, tUI! , ':.1 u Nl'st,1 \l,\,II), dl' !.lto. er.l pm\lwlt' llIprl'g.n 11\ meto,l'l" li 1M h J~ tr,lb.tlht d .. l,lIl1PIl -- llb,erV,I\,lIl dlll'\,1 e It'Pl' lI'!.1 dtl U)mpllrt,\1l1 I\to. l ntr'\ I t,1 ~om

Page 32: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

o l1.1tI\O \, tanto 11,1 \ltlhl ,10 do ritu,11, qUJndo ~U,I aten~án e\t ,]\ ,l d irigidd

r lrJ () dl.'~mp~nho d~l ,1dl\ inho~, ljuJnto cm LllnYcr"I\ mai, t ranqud,l' em

mlllh,1 tenda \lU Clll ua~ Lah,lIl as; ü lletJ de tc.\los; e ate U.' IÜ p.ut ilip,lI"lo do etnografo n,l, allnd,ldes dl)~ nati\'()s.

j la, ,1 corp0rat,ãn po\~ui também uma \ida esolé rica que e\clUl os

não Il1ICladn~; i"o tnl ma a ~egund,l parte de meu estudo. ()~ estranho~ ,i COI ­

r ora\ão não apena\ \ .10 e.\d uído \ do conhecimento das d rogas e dos tlllques

do off(io, mas tambem Ignoram muito de ccrt,lS crenç,ls e d a Ild,1 social inter­

na da confraria. Os método, u\uals de pesquIsa são aqu i inefi cazes, .1\,1111

como o ,istema comum de conlrole e teste da lIlformação obtIda . A unica for­

ma de realizar observações d ireta, era tornando-me eu me,mo um adivinho;

embora entre os Azande isso não fo \,e impossll'el, tenho m inhas dúvidas so­bre se sena \·alltajoso. Experiências prénas de participação em allvidades des­

se tipo !t~\'aram-me à concl usao de que um antropólogo pouco lucra em

II1tromeler-se como ator em certa, cerimónias, pois Ulll europeu jamais é considerado seriamente membro de um grupo esotér ico, tendo assim poucas

oportunidade, de venfic.l r a te que ponto um desempenho fo i m odificado em

~eu benefkio. del iberadament e ou (omo reat,.i.o p~lCol ogica dos participantes

do ntos, que se ~en tem afetado por sua presen«ya. Além disso, é difícil usar os

metodo~ o rd mários de in l'e~tlgaçao crítica quando es t amo~ realmente enl'ol­

\ Idos nú leiimonial e no~ lorllamos um membro ati\"o d e uma instituição . As inumeras dificuldades prátilas que se colocanam para um europeu que qui ­

~e l' envolver ~e ,ill\'amellte no ofíuo de adivinho também pesaram n a d eci­

sao de e \'itar esle modo de pesquisa, especia lmen te po rquc os m embros da nolm:/Al (AvolIgara) não se tornJm adivin hos.

A alternatll'a que se colol.Jv.l lmedia lamente era tentar ganhar a con fian­«ya de um ou dois pratiwntes e persuadI los a di\u lgar seus segredos confíden ­

.. ial mentc. r cntellSSI) e tl\e UllJ pequeno pf(Jgres~o em Illl nha .. inve~tigaçôe\, ate q ue ficou e\ldellle que eu lIao lhegaria mlllto lunge. Meus infofl n,mles es ­tavam dlsposlos ,\ dar as II1f(Jrl11a,,(Je~ que dblam puderem sel obtid,IS sem

grande dlfi(.Uldades dl'l)utr,l~ fontes, mas eram reticentes quanlo aos pnncI­

paIs segredos, ti ponto de se rec us.nem J d isc uti lus. Crl'Ío que Icri.! SIdo pos lin d , por meIO de vario arti ficios, d ese nwvar todo, os segred lJ~, Illas I ~\() Illlplrwn.1 uma press.lO injustifi l ,lvel ~llbr(' as pe,so.ls P,lI,l fÚ l' !.IS di n dg.1l aqUIlo qUt deSl:jdVam ()(.U ltar, dc furma lIue abandunei a ~ ill\e, tig.l .. oe~ , ourl'

(."~Ja partt da ~ Ida l.ande por \ ,triOS meses. blllullsequêllu.l, ,Idoll'i .I lrlll l ,ltJ­IlLd altemall\'a. US.1 r U lll sub, tituto no aprendIzado d.1 télJlic,1 do,> tldjl illlj() \.

, u lfl.ldo pe, 0.11, Kalllangd, fui iniciJdo na corpora\Jo ~ tOfllO ll ~l' 11111

dI II1h~1 prJtlldnte. I·le furn eceu · me relatório lompl(."to~ de todo, os pa s ~\) ~ dt J (Int Ir .1, Je,d~ o I/IIClO

(J adll .,ho

!-stc pode náo ser UJJ1 do,> melhorc') método d e p ;qUI • e li d.! i " d

dL' sU.l efic.!ua quando C()IllL'lCI .1 elllprcgd h , ma , ele acabou por r I r

frutíf e ro. A m edid a qu c l\..\I11.1nga id sendo lentamenle 1Il1(J.1do por um C I

Jl 110, eu utilitava sua , i n f() rl1l a«y{)e~ p,l ra fater falar adivinhos riVal , espluÇ..ln

do .,ua in veja e vaidade. Pod ia confi ar em que Kamanga wntaria tudo que lé1

aprendendo cm seu curso, mas tmha certel a de que, embora ele tlVe-;se a o a muito mai s do que eu mesmo poderia obter, parte de ~u treinamento 01

omiuda pelo profe,>sor, pOIS nós dis,>emos sinceramente a este que <;eU aluno

ina Iral15mitir as informaçõe~ para mim. Era difícil ao profe or mentIr para

Kamanga, pois estava ciente de que ~e u ~ ensinamentos seriam tesudos Junto

adivinhos rivais das vizinhanças e de o utros d istritos; mas ele pod ia fa~tl ­

mente sonegar inform.1ções, e fo i o q ue fez. i 'o final das contas, po rém, o et­

nógrafo tende a triunfar. Dispo ndo de con hecimentos preliminar~, nada

pode impedi-lo de enfia r sua cunha cada vez mais fundo , se é in teressado e

persistente.

Esse tipo de pesquisa eX Ige uma abordagem paciente, u m a longa e pera até que .. urjam condi ções f.l\'or.íwi'ó. Nunca me intro meti nas com'eLa pn­I'adas entre Kamanga e seu profe ~or Badobo, por m ais d ilatór io que ~ . eu comportamento . Teria ficado mais surpreso com a astúcia d o profe Dr se n ão esti vesse bem fam iliarizado com a extrema credulidade de seu pupd cuja pro fund a fé nos mágicos nunca deixou de me maraYilhar, emb ra eu a testemunhasse di aria mente. As utis tecnica de procrastinação do primeiro

quase m e fizeram abandonar a pesquisa sobre o saber do, mágicos em ra\or

d e o ulros tó picos an lropológicos, n:io tivesse ocorndo a l.hegada de um fa ­moso ad ivinho no distrito, em viagem profission,ll. S~e homem , chamado

Bügwü7 u, era arrogan le com o~ pratlcos locais, a quem tratal'a com u m mi to

de d es p relO e co ndescendénCla . 8.ldobn suportou ó'.l pre,unção c mm nor

L1L ilid,lde q ue os o ut ro, adi, IJlho~, plm est.l\.1 aco~tum.l,lo a det~r('nci

era agora p restad.l .1 seu ! lIal.

AI es l.l\ a lima opor! uI1lJ.ltie.1 ser agarrada de pront~), púlS pod rI ,l nJ

re pl' l" r sI IJ11u lu o orgulho de Bog\\"o/u, sugenndo que ek se ~"lCJrTL .. a • da

edlll .1t"w de K.lm,lJ1ga, L lhe ,1Lenel com um pag,lJ11~'nll\ li sI1J1d,\1 n i­

Jl, I ~"l'.1 .,l' lI aluno tudo o qUL ,>,!ln.l. I )I"e lhe q Ul'C\t.l1 ,1 c,m . d d,\ lUanh.1

ex tOl sOL'S de Badobo e qUe' L'\ per,ll .1 qlle 1111l1h,l gel1C:W iJaddo'~l' rl ~omp"n­, ada pelo .1parelh,lIl1ento de Kam.lI1g,1 LO!l1 ,llg,) m,lh do qu UIll (onh Cl­

Illt'nlo l'xolerico li.1 léuliL.1 dll'> .ldivinIH\\ . 1 li,m tl' d l' n.hioho, d ~ Ulp~l m

dl/l'lldo que o nO\o espl'l i,llr st,l l' l.IUIIl .l lllUn 'nLl,1 ,I~ ll.1l'r)h .h), t n I dlsllllguido 1,lnlo l'Jltrl' o, A/ ,lIldl qu,lIlto l lltn l H,lk,\ I lllh .ln1)

por '1I,1 magia, e que assim de poJni,1 l' n In,H ,1 " ,nH,1n a a dr to,1 ma I J.

Page 33: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

d amba J \.ultura Propu J nll. /1l I lempo qu H dllb onl111 u.\ ~ 1

tuno 10 r \.0010 prof or (: .1 r J go ror u cn I , .

Quando o mfonn nl d nlende /1l , o .lI1tropologo ".11 g.mhando. malldadeenlr e dOI pr II 1 tTan\lll rmOU numa dmarga e mal dI tanrJdJ h 1111Jade Bo '\\ )lU d u me IIlfonn \1 <; obre drogd magiat e ri­to d .. modo .1 pro .H '1" li rl\ I I!!n r primeira c rol ,"competente no d rnpcnho d( und (1111 o B doho a ordou, mo trando e nao meno .ln 10 o em dem n Ir r li nh ·Im nlo de magIa para Kamanga e p.lrolmlm.( di .1l11\1Ilho dl l ut \ n akmdl o,paraganharascend~-

I I r o pr II (I II J lu k man a I rO\eltam ao má imo a bnga todo • n 10 so do pro~ fiO J rol om ta I md também d outro adivinhos da \ IlInh 11 I d( 1 J I ii

(OIl1udo, P f d u fI\ hd.ld dI' nllnha per I t&1 la, os do· adM­Ilho men IOIlJd ndO Ir.\! 1l1lliJ rn a J\.amanga o metodo de extraçio de oh) o d( IOq o di r I III um 0 1 la ao I.Irurgica r altzada por CUraD-

d 110' m todJ Jbl l1l muito bem que Kamanga era uma r II) d I lUlU tod I u o da IIltorma\ que eles ali d pt m tJIl r ' rqu ,emhora uo tenhacolocadoem i-I lI.1 lo a rc lar o truque to. pareoe que meus m( rm II ti n n It ll III li unhe Imento Integral pua mim. mesmo

r pO Ibilidade ck ha oultoi departamento J m fr.mqu ramo mevrtá elquecedo utardeeu

a r mo Ido do corpo enfermos, poi sabia d anlcma( o qu u ed u mas po el que, em ouln ~ unto eu alo cAM'''''' de um ba&e pre ia -, ~e o di lIIh qUI~oem . . mm com m lor u ~ sOo

l.um I l m um

.,aK:açiock manga pcrmitlrdm-me naa elQlM!'I~nu num bom numer de t lo ndti\ o ,

manalmm por muitclfi n~~., ~ que nunh con lante a ~o íd\-30 mou po;sshrel uma dÍliCll!ssjio informai tranquil d t.lI matt'nd . mft rm n qur nh antunament ostuma er uma fonte

dI:' Ulform o mal que um o d afirm.l Ot: j 11.1 por mUito mformant

o .WIVIII/IO

bli~()s s.lll Jwntel.ím nto~ de certa importAn ia local. ~ aqu~lesqueYlvtm nos .lfrcdore~ \.on ídemm-nos e~peta\.ulo interessantes, que bem valem urna Lllr!a l.arninhdd.l. Podemos me mo supor, de falo, que a familiaridade com e sas se oe tem important influência formativa no desenvolvlln~nto ele

renç.\s obre bru aria na mente da. crianças; poi esta fazem questão de as­i ti-Ias e nela. tomar parte, como e peltadora e como membros do coro.

Essa é a primeir.1 oca iao em que demon tram ua crença, mais dramáttca e publi amente afirmada em tai es õe que em qualquer outra ituação.

sessõc e reahzam numa ariedade de ocasiõe ,ma em geral são fci-apedido de um Ifder de grupo doméstico que esteja ofrendo de um infor-

OU t lo. Talvez ele ou ua mulher estejam doentes, ou temam adoeça. Tal ez uas caçadas estejam fracassando siste­

iJAlatic:anaente. ou talvez ele queira aber em que lugar do m.lto se escondem os bicho. Talvez a pc te tenha começado ii assol.lr Slhl pl.1Ilt.lção de amendoins, ou talvez esteja apenas incerto lj U.1Il to .10 ~Itio l'm lllll dc\"\.' SCIllC,Ir ~l"l elcusi­na. Talvez sua mulher nau lhe tenh.1 d.ldll um filho, ou t.II\"\.'L de ,\Ch~ ljue al ­guém vai difamá-lo per.mte o ~Ogfll .

Ê possível depilr.1r COIll o, adivinho, qll,lIldllCk~ l'\I.IO se dirigllldll, \uzi­nhos ou ~m dupl.ls, p.tr.1 um,1 residênci,1 .llingid.1 pelo illforlunio. PllrlanJ{l seus ch.lpéus emplumados.l.lrrl'g,lIl1 grJlldl'" .,alO\ de lOUro contendI) pd~~, chilres, .Ipilos rnagilm, l intos, j.lfrctt' tr .l~ e br,lldl'tCs kilo, de fruhl .. e se­menle .. silvcslres. No\ \Tlhos Il'mpm, .\llte, d,I .lllmini,lr.I\Jll curopéi.l, Sl)­

mentl' dni~ ou três .Idi\'inhm i.IIll .1 lIm,1 ml',nl.l reunI.\(}, 1\1,1' hllie a mJiori,1 do, .lldc.lIllCnl(lS do gO\"l'I no d1l'g,I .t lllngll'g,Ir ml'i,1 dÚ 7. i.l, ;" ve]l', ,lIl' l\l1U

lIlI/i.l , cSpcli.llml'llte n.I\ ,e"ocs m,Ii, pllpul,Irl" - 1'1lIcAl'mpl\l, I.jU.lIldllUIl1 nO\ \l l11.lgico C,t,1 'l'ndo illlll.ldll 11,1 (Orpllr.I\.IU .

l )u,IlIdolJ ,Idl\ ",hm \l' Cllllllltr.IIll 11l) 111(,11 d.1 ,C,sJU, tWl.\lll (lImpri­l\I~nh) e disülll Il1CIll \ \lI h,li . • 1 lh .IS .. \llltu, d.I rl'uni.lo cllqualllo prcp.lram o

te, fciro par.I.I d.m.,:.I . Nl's~.l s lOIlVd .IS l' prcp.lr.lli\'os .• 1 ildcl.lIl\i1 l\ .b~urniJ.I

por Ulll mágil.o expcfIIllenl.ldll. ger.llmcllll' .llgul1l qlll' 'C;,I .Idi\ inho hJ mais tempo que 0\ oulro l' 'I"l I.II\'l'zll'nh.I IIlÍli,lllllllllllfllill ,I v.lrio .. do demais partlllpJllles. ~UJ dulond.IJc, ullltudo. 11.10 c: gr.lIlde.

Os membro~ da classe governante, que eu saiba. jamais se tornam adi i­nho . Um nobre perderia Imediatamente prestígio I.: 50 se associasse a ple­bela na ingestão <.:oktiv de drogas e na danças publi hegttel m mo a OUVll comauário5 . lavo brc um hefe pi beu qu toma parte

hom ....

Page 34: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

n.1' um cspuJadol dl' I.lis .1\1\ id.ldc~, plll~ .1 p.lrtiLlp'lI,.lO Ilela, dimillLlla ,I

di,I,lIh i.1 ,od:tl quc li 'Cp.H.l\'.1 d,lquck~ que lhe de\ 1,Im kald .llk UllllO rl'Jlre­

,<,nl.mll dI) pnnllpl' POrt'lIhegllinlc,.1 e,trulllr.1 pOIlIIL.I da "ida ,ou,11 ,7all ­

dI' n.lo m.trcou a ImtltllÍção dos adi"lI1hos, pOI' se os pnllClpes fi/esselll parle d.1 lorl'0r.I~Jo ,eriam nece\,ari,lmcnle lideres.

É muito raro qlll: mulheres ,e lornem adl\ IIlhas. Algulll.ls ,ao ,lUtOIJZ1-

d.ls a atuar como Luradoras, e OL,lslonallllente um.l mulher adqUlre Lonslde­

r,l\ d reputaçJo entre seus paCientes - geralmen te pessoa\ do l11e,I11O sexo

-, sendo ent,lo deSignada para praticar 110 harem de um príncipe. Alguns ho­

mens também procuram curadora, para tratar-se, E muito raro, contudo,

que uma mulher tome parte na dança dos adivi nhos; elas nJO participam das

refeições comunais, nem são iniciadas no ofício por meio do sepultamento ri­

tual.l\lulheres que atuam como adi\'lI1has e curadoras em geral são velhas, em sua maioria "iúvas.

4

0, preparativos para umd dan~a consIstem na demarcaçJo de uma .üea de

operação e, em !teguida, na paramentação cerimonial. Começando nos tam­

bores, um grande círculo e desenhado no chão, sendo ressaltado por cinza branca espalhada em cima. , Tenhum leigo pode entrar no círculo reservado para a dança dos adivinhos, sob o risco de ter o corpo penetrado por um be­

:touro ou pedaço de 05S0 atirado por um mágico enfurecido. Cada adivinho,

tirando do ombro seu saco de couro, dele extrai uma variedade de chifres de vári~s esp~cies de antílopes c de outros animais, fincando-os no chão ao longo

da hn~a Circular de cInzas. Sobre um desses chifres costull1a ficar UIll pote

com agua, para dentro do qual olham os adivinhos que descjam ver a bruxana. Entre os chifres no Lhão erguell1-!>e pedaços retorcidos de madeira

n:ágica, do~ quai~, LOIllO dos ch ifres , pendem os apitos mJgicos. Cada adi ­\Jnho considera o espaço diante dos chifres que cra vo u no LhJO como seu

pró~rio campo de opcraçoes, que não pode ser II1vadido por Ilcllhum outro partiCIpante.

Os dll,fres, primeiramente endireitados por aqullimento, sao rntao rc­curvados amda quentes no chao e enchidus com uma pasta feita das cilllas e sumo de várias ervas e arbustos misturados lom óleo. Eles voltam a srr rnchi ­

dos cada vel que se es.\'a;iam ou .quando seca () conteúdo. 'I ais drog.ls sau mUltu Il11po~ta,ntes, pOIS o conheumento sobre elas significa o lonheLÍmento d..a arte da ddIVlllha~J(), A il1\liaçao na wrporação de adivinhos IIJO estJ foe.1 IJzada em palavras mágiLas ou sequências rituais, mas em árvores e ervas. Um ddlvmho lande e essellcialmente um humem que conhece as plantas e árvores

II IlJI

que elltr.lI11 1l,1 COIll!lr/Sl'r,IO das droga qu ,lI1gCCl:Li J

a hrUX,lri.l ((1J1l seus pJ(°)jlnosolho .'>db 'rundl: t r

lIl11a ,. () adlvlllllo / ,lIlde excrü. poder S oLrenat r

quc conhccl' a ~ drog,l 't lcrt.IS c port(ue a., 1117 riU dJ .ln Hd r

proIcCl.t\ den\'J m d ,1 magÍLJ quc traz dentru d· I do '-lcr Suprcmo nem do\ c\pínt(J~ dos lI1orto~.

O., paramentos pr()fis ~i {)nai s lOJ1lljue!)\ ddl\'.n o~ rc

I

tn () terreiro de dan~a estJ sendo prcp.lrado Lono tem em du encimados por grandes feixe~ de penas de ganSú p pag.:' ,e o r pántano c do J1Iato, Fieiras de apitos máglCo~, feitos de madeiras ~ pas~ada~ à bandoleira no peito e atadas nos braços. Pele<; de u et.a. ",-",LV

mato, gato almiscaradn e senal, além de outros urnl\oros, roed r LOS (especialmente Colobus), ~ao enfiadas no cinto, fonnando uma

cobre inteiramente a tanga de entrecasca usada por todos o homensdLl

Sohre essas peles atam -~e cordões com os frutos da palmeira d letb Bo j1nucllifer). Um badalo de madeira JI1serido na ca\ldade de fru os 7ell1-nOS soar como chocalhos ao menor Jl1!wimento da cintura. as ~ tornozelos e as ve7es nos bracos amarram-se molhos\\' de '>emente ,

das. Nas mão trazem chocalho~, sinos de ferro com cabo de madeira, q el;,l

codem para cima e para baixo duranlt: a dança. A \Im, quando d.m,ça .. <lu.>

adivinho é uma orquestra completa que chacoalha, retine e estrepita ritm dos tambores.

Alem dos adl\ inhos, há mUltas outras pesoas presente· a cada li.. UID-

pnndo as [unções de espectadores, tamhorileiro~ e, no ca o do memllO.

coro. Os homem e menJllO, ,entam-se debaixo de uma an reou

'(Imo aos tambores. As mulheres .,entam-~e longe do homen, po sexo, J.lJn al~ sen t,lm junto., cm pubheo. A \'izinh.m01 gt:ralm nte c m.lSsa .IS se,.,ões, com pesso.\s qut' \ '&111 tà7er con,ulta, al .ldl\'lIlh

que "el11 OU\ Ir 0' e,ul1t1.1hh IOl.lJ~ ou ~ill1pk,m~l1t > .lpr~ IJr .. dJ

mulhere." e~peci.llml'ntt" e ullla fugJ tI.1 Il1tllllltt)niJ ,la \lda iam I r

rotlJl.\ dOl11é,tlla ,I que l', t.lll ,11l1.1rrad.h ['tll" .. U,b tard.l' ~ cl ntln

mc dll~ maridll., . O líder tln grupo dtllllesliúl qUl patrt ma.l .m L,I,a .1 qucm qlllscr (OJl1P.lIl'Lt'r, ptH" unl.l gr,lI1d' .1udl Ikl.l

l' ao .lJlfitri.\O.

Aquele .. que de'l'j,IJIl "111 ult,l[ tl. Jdl\ ính trJ c;m f'<o'tJ,ucn('><;

qUL' loloL.l1lt diantc do hOIllc.'1lI dc .. uill' podnc \' r,llulu

r.,~e., prc,ellk, pudun ~er pequena 1.lla an I pu tr

Page 35: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

111.1' ()lhl~tel11 mai~ frequentel11ente em pequt'na, medid.1~ de deu,ína, tel'\C~

dl e plg.l" de milllLl l' pratos de b,llata-doce.

O anfitl 1.10 de\<e fornecer o gongl) t' O~ tamborc .. ; (01110 ,Irellas algum,ls

residenuas pos,uem tais Instrumentos, ele quase certamente ter.i de perder

parte d,1 manhã pedindo-m emprestado aos ,izinhos e tran,porl,lI1dll-O~ até slIa lasa. Deve tamhém ~upeni,ionar as dl\er,a, provid~l1Li,ls exigIdas pela

\lsIta dos adinnh'h. '>eVl:m apenas um ou dOIS adi\'inhos, uIll.II1f1tri.lO gene­roso ofáece-Ihe~ UIlla refeiçáo, convidando talvez UIll ou outro espectador

maIs influente. Deve também arranjar algum presente~ para m ddlvinhm como pagamento por seu .. ~en'iços apó~ o trabalho da tarde. r le pass,1 ,ll1laior

parte da tarde con\'er:.ando l.0111 sem hóspedes.

o~ tamborileiros nall sao espeóalmente Lon\"ocados, mas apenas recru­

tados na hora dentre jovem e meninos. 5ao e colhidos (quando o são) por sua

habilidade na arle, m.1 el11 geral ndo ha .. deçáo de tamborileiros, e toca aquele que primeIro se aposs.l dnt,lIl1bor. ( mt uma ha\ er muita competição entre os

rapMes p.lla \er quem bate () t.ll11hor, () que á~ \<eles redunda em discussões e

hrig.13. lTm (,lmhorileiro so e \Ulhtitllldo quando se l.,lI1~.I ou ~e mostra inep­

to, .1 mcnos que, como ,IS \ l'Ies ,lconlL'ce, ele estabeleça um revelamento com

um amIgo. Em troC.l dos sen'lço~ do~ t<lmhorileirns, os adivinhos lhes fazem

um.1 ou du,ls revd.tçocs inspiradas, de gra«,a.

Antes de Ulllle ar .1 d.lI1çJr e cantar, os adivinhos ~eparam da multidão

de espectadores todos os mcnInOS pequenos e os alinham ~entados, perto dos

tamborcs, para a~ol11pal1har as CJn\oc,. 'Ioda a multidão .Icompanha mais ou

menos a~ L.lI1C,OCS dos parti(lpante~, mas esses meninos deycm ser considera­

dos um coro especial, p()i~ são (.(JJ{)(ados num lugar onde possam ser facil­

mcnte vistos pelos .Idivinhos e repreendidos, se nao cant,lrem com brio

sufiCIente. Quando um l11agl(o ~e nnga com des, atira um ossu ou besouro

num dos menll10s l depois o e 'traI, par.l dcmllllstrar do que e lap.lI se fll.Ir

re,lllllellll' 1.lI1gado COIll sua negligenuJ

6

Uma "('~Sdl) Lon Iste de um .Idl\ IIlho ou ,Idl\ illhllS a dall~,ll t' (,111 t ,11 , .!lOIl1P,I­

nhado por tdl11bor('s~ gongo, enl)u,lllto rl,.,p{JlHlc.1 pcrgullt.IS Il'it.h pel"., e:.

p dadol r\. I eV.l algum tempo ate 'lue lJ'i parllClp,lJIlrs 5t .1Ili1l1C11l l ()llIl'~.lIn

aos rOLIlO." dando pulInhos dlSclctm,l' \.1(1 g.lI1h.llldollllpeto, LUIIII.\.llIdo a

'>ilhar e rodopIar COIll ullla forc,:a l Jglhdade not.l\'Lis. ~UI()l,ldo!' P()! UIIl l

c(',so de vesHs t: expostos dlrl!tJmcntt' ao (.dor do sol, l.!llne".lI11 J lr,lII"plr,\1

abund.lIlt, mentc. lkpois de uma curtJ dall'rJ, UIIl deles (.('11 e .1Ic os t.lll1boll ';

e .. ,Icode ,IS G1lllpalllh.l\ que tr<ll à mao par.! que parem. ()uando estes Lt:'iSclm,

ele ,Idllloesla o' t.llllborik'lro .. , dl/endo que dtVl'm tocar melhor do CjUC vi

nhalll r,l/endo. Recollleçam. T.II11hores c gongos re,~J,lm, as (amp.llnha, fa

{elll "wnlll lI'rlln", replcalll m SIIIOS de madeira pendentes da untura dos

d.1 nt,.ari nos, reli nem as torno/elei ra\, 11 u ma c011fu~ão de ()n~ que no entanto

obedece a um padrao nt1l11CO, pOIS os dançarino\ movem \U.lS mao<;, pernas e

torsm segundo a batida de gongo e lamb{)re~. Um dos adlvmhos vai até os tamborileiros e ordena-lhes que parem. Vira-se para a multIdão e faz uma

arenga. dirigida especialmente para o coro de meninos: "Por que voce nau

e~tão acompanhando minhas canções dIreito? Todos devem cantar em coro;

se eu vir alguém relaxando, vou atacá-lo com minha magIa: vou agarrá-lo

como a um bruxo. Entáo. lodo mundo e~tá ouvindo o que estou dIzendo?"

Essas manifestações preliminares ~empre ocorrem antes que os adivinhos co­

mecem a revelar as coisas ocultas.

Recomeca o canto e a dança. Enquanto um mágico de cada vez dança na , frente dos tambores, pulando e girando (om todo \ Igor, os demai., ficam em

fila atrás dele, dançando com menos IInpeto e Jcompanhando a~ cançõc < do

solista. Por vezes dois ou tres <lVanç.1m juntos até os tambores, dançando em

grupo. Quando um membro da audiência deseja fazer uma pergunta. ele ou

ela se dirige a um adi, inho em particular, que responde dançando sozmho

diante dos tambores, num solo garbmo. Quando esta sem fôlego a ponto de

não conseguir mais dançar, sacode sua c1mpainha para que os tamboril ir~, parel11 as batidas, curva-se para recuperar o fólego, ou tropeça e Lambalela

C0l110 se estivesse intoxicado. Es~e é o momento para dar a respost,l oracular a

questào colocada. O adivinho geralmente começa a f~/ê-lo LOm un~J \"oz lo~­g\l1qU,l e incerta; C0l110 se as p.1lavras lhe viessem de tora, como !'te tl\'óse liIfi­

cll ld,lde em 011\ i-Ias e retransmItI I,IS. A medid,1 que pro\segue em sU.b

revelações, o ,1divinho \aI perdendo scu ar de SCmlltlnsll~nL~a e paSS,l a pro­nunu.lf-sC com viv.lud.lde. e C\ entll,lllllenlt? (om lru~ulenC\.l. Quando tcr­

mlllOll o que tinh.1 .l liller, dan~a no\amente par,1 obter Lonht'~imento .ldllio\1,llsobre o .15S\llltO.\ re,pello do qual e .. ta ,end,) lOlhUlt,ldo, pl)I~.e Pt),­

SIVe! que uma inforl1l.I~.1O .;omplet.l n,1O tenha ~IJllllbtid,1 durante.1 pnmclr.l

dall~,l. ()u entao, se lll\1S1der,1 que tl.llou ,.ltlsf.llllrI.lIl11'nlt· d,1 pergunt,l, pü,le

P"'S<11 " d,ll1~ar p.lr.1 .1 qucst.1ll Sl'gUllllL. . pO! veles, Ill'SS.I' reUIlIllC<S, os p.lllIup,lntô d,lll~.11ll ,lte ,ltIngllt'1ll um "'­

t,ldo liL' IÚII.l, lalcr,lIldo .1 líllgll.1 e Il pCltl) UHl1 1.1L'I\. 'lcsll'lllUnhel ,('na, ljUl'

1l'L Ol cI.! \"1I n lJ<~ S,tl ndlJtl'" de 11.1.11 ... q ue d.1I n,1 "1ll1 l' ~c lllll,1 .\lU ,1 ,u~ m,,,,n <I

I I ,IIII'l'l IS ll'~ que tl ,>,II1"IIC 0\ ll)bll\~t' .10\ hl\fbotll - \ I hll r.1 l.0111 .ll., ~ l , l. I ) I '- ("I

t J d' "llta. 10 sc!va,'clll e 111 h I ia"adlh ulIll d mtl1\.K,lJ1tc IlIC!nS nUll1 es alio l e., " C" '"

Page 36: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

mUSIl.1 orque'itral dm gongo c do~ tJmbor .. " ,ino~ c Lhocalho<;, log,lndo 'lI.l'

Lab .I, para tra, e golpeando o peito (0111 fac.1s. Jte que o ,lJIgue lOf(.1\',1 CI11 torrente, !>obre eu corpo, Outro corta\ am ,I hngu.I, e o ~.l/lglle l11i,lur,ldn j

&11i\'a e!>puma\'a 110 canto de suas bO(d ,esLorrendo pelo queixo .1I~ (unthr , ..

cOI11 o suor. Os que lac:cram a hngua dJn~am ClII\ dJ pllldlll.ld.1 p.lr.1 for.l,

rara mostr,u sua arte, Adotam .Irc \ fLroze • moslram (1 br,llIl0 do, olho, l fJ­

zem esgarC'i tom a uoe.l. corno e as Lontorçoes CJus,llb, pel.1 grJllde Icn,.1O

fi i(d e a ex.:lUstJo la n 10 fos tln repul 1\ a~ o bJ 0;(,111 te.

Qual o Mgnlfleado de t da es .I (urj,1 c expres .10 grotL'se .. as? ~o UIll.I dis,c­

edçdO an h~e cuidados.! d tod s a uas partcs no~ pCnl1l1lra de,(Obrir.

,se-so s <,,10 re,t117.ld.IS quando uma I'esso.! ~ofrl um IIlfortllllio, F () caso de

pergunturmos por qu II( ti Uft un~lanll.I\, ela lIao consulta um d(h or.Í(u­

lo de forma pn\ .Idd cm el de ddl ao trdhdlho de (Oll\oL.lr, .!flm at()re~ 10 ,Idl\ IIlhml para Ul11,l rl.:pl tScnt.l.,.ao pubhla mais wrJ. hpec i.lllllcnlL por­

qu • UJIll' eremo. o outro or.ILulo 'iJO em gerallolmder.ldos mai, dig

no d <.on(lan" (omq fonlt~ de: rl·\{:I.l,.aO do que os adivlIlhm; e, de

'1 U•1,QUlf forma, ele tua o Jt r (OU ult.ldo parJ Lou1Írrn.lr ,h dcd.lraçúes

do .Idl\ mito JUI<:S que qualquer .11,.10 p(})~a ltt'r lnle iada COIl1 C%l f undamen­

til, [,lha o 1I10tl o ejJ porljU • se 't,e., publild~ Jumentam II pre\tígio d.1

que! qu a palnxlIla ~ pllrqu~ J~ rtvdJc,oe dm .1dl\"inhos )lo\suem lIm \ alor ~OUJI pt Uh,Ui lmhoT.1 (omldl r<ld.1 mai expo<tJs dO erro que m dc­

Illal or.H ulo ,tcm J \anla '01 peo.11 de que. (111 .1~'lInto~ dcltcadm c pe.,­

~OJI , Ull,a IIlVl~.,llga ... lo .1hertJ e e. pu de fornecer, <;'obrl'lud .. , o .Idivinho

flol1 lOna ne' ,I s~ '" n.11) .1))r/1 LIlIllP um agt /1lc nrae.ul.u, 111.1'> 1.1lilbem

lomo 11m gu Ht'lro lontrJ brUXJlI,1 I k IIJO apena,> mdl"l ii p SSIl.1 CIII que

dlfl o Itll~e.a 1.ll quC' nlcdld. tomaI p. r J .mulJ 1.1 LOIllO t,llllhelll, por lIlelll

d,l dan'rJ d{daTJ gUlrrJ lI11edlOlt .lO hruxo f,odendll ter )ue. o CIIl ,If.ls­

lJ lo do pJclcnh • .lO mo I r .Ir ..10\ bl li " que (',1..1 ULll!C d u .. Idelltid.ld • (I

d !tI IIlho 1.1 r j tom qu de Jhandollt III dtlll1lll\ aml nlt .1 n .,id nl i,l do lllfll

JlIO. 1.1 Lnu, qUI; o pllfllUfl) Illllll\ o o dc,>eJo d .Iument.lr .11 mpna r [lU

tJ .10 I elo [latroLlnio de um espet.ltu!" pubhco· t· () 111.\1', Jlnport.lI1ll' !'.IIa o c pl:d.:ldore • uma ses~ao c algo dlvertidn de \ r," \(?e~ c (lI,lIlle e sem pn fornecc d suuto pard (0111 ntano e fof(lLJ~ por mUIto te rnpo 1'.lr,l. I d,)"o

dJ J .1, l um I11CIO dt dt: obnr quem t:.,ta perturb.mdo 'l'lI b '111 t 1M, UIll

mI dl> de ad, rtlr o bru o (pro a dmenlt' um do e Pld,ldoft· ) d· tl Ut ~l' ( t .. na pi ta dde um melO de obkr o apoICH: reconhl' illlento pubh 0\ pâfd

,I' diflnlldade, 4LH: enfrcnt.l , ,lléll1 da e.,III11.1 c d.1 publiud,Hle granJeadas. por .Ihril .,U.I rc.,idenci,1 .Im VIIIIIII<)., c pelo emprego de .!tores

A de.,ui".io de uma Sl'SS.IO a .. eguir. e.,cflta quando eu \011.1\'<1 p;trJ ea~.1

UIll,1 noile, .lpÚ~ tê 1.1 ,I.,.,i .. tido, pen11ltlrá um.! ilu.,trJc"io adiCIonaI do que

prcccde. cont.lndo o que aconleccu dc um ponto de VI\I.I europeu.

L' 1ll dos .Idivinhm d.lul11 passo.l frente depoi., de UIl1.1 dan\J r.lpida. pe. dindo ,ilenLlo, (Trila (l nome de um dos prc',entc~ -- "Zinghllndll) Zmgbon­

do, c,sa morte dc .,eu .. ogro, OUçJ, essa morte de seu sogro, i\tugadi, Mu~adi

cstá morto, é vcrdade que i\lug.ldi e~t.í morto, vOLé e.,t.í olJ\'lIldoí " Ele fah

como sc estivesse em trame, i,to e, (om dlficuldJdc e dc forma incoerente.

"~Iug.tdi está morto, ,I filha dele (.,U.l mulher) está em SUOl casa, J mãe deIJ

veio viver com ,'océ." OUÇ,I, el.ls n<Ío dC\'cm ir chordr junto.lo túmulo de [u­

gadi. Se continuarem a falcr ISSO, um de \'()(ês morrerá, cstão ouvindo?"

Zingbondo replica. humildemente: "Sim, mestre, eu ouço, e é Lomo VOLé fa­

lou , \oce falou a verdade," (Lingbondo fica muito ~atl~felto COIl1 e~sa re\ da­~áo, poi~ não goc,ta\'a que ~ua mulher tive~se uma de~lulp,l inque,tlon,Í\'d

p.lra au~entar-,e frequentemente de casa.)

Outro adi\'lIlho se adlanta, .. orrindo de modo confiJnte - trJta-se de

um profission,11 traqueJado - e, voltando-se p,lr.1 o chefe 10c,II, Bel1\Ufu, di­

rige-lhe a pala\ra: "Chefe, scu, companhclrm e,t,io-Ihe Laluni,mdo. e,t:lO f.1-

I<lndo mal de \'oce e querem fen-Io; trate de consultJr II or,iculo de atrito J

respeito deles com fre4üenu<! " O Lhefe n lO repltL.1, mas .lIguem, que dc: .. ep

<Igrad.í-Io e mO'ilrJr que n<Íll é d.lqut:le~ qUt o trJun, gnt,l "Dig,l:nll'. o nome

de .... e .. homem." (I .. 'io e m.lI' dillul, porque o .Idl\ II1ho prefere (,\'It.lr ta7cr 1111-

migo" acusando ,liguem pes,oalmcnte.) () adl\lnhll recua, lli/endo que Ira

d.II1~.lr a 4"(''ot<10. I·at um slI1.11 p.lr,l que m t,lmhonlclros rL'Ull11elem ii tllL.lr; .lO ,0111 do., tambores, tI,1I1~'a L S,l ll,1 frenl'lIL.ll1lrntl'; ,eu .. .,inll'o t.llCIll "\I',11a

11'1/111 lI'tlltI', ()', fi uto., tI.1 p,lImllr,1 tlolei/, el1tredlOl.lI1l· .. e em .,U.ll'lIltur.l; '>C_LI

ulrpo porel.1 de .,um elL l' .,cu., uJlnp.lnhcllo., d,1O grilns .. eh .lge.n." Arljll "a

ex.lu,t.), t lope~a c:111 dll C\.1tl .10' t,lInbllre~, LJUt' um toqUl' de , .. u "1I1~') ,dl'lkIJ.

1111 .,uhito .,ikl1lio, CSI,ll.lth.1I11l' dlllhete. :--J.ld.lt.d.l Dc rcpente l,lIl'nr tl'rr,1

Lllmo .,e II\l· .... e dc,m,li,ltlll , ,di til.lndo por \.trios 1l111111tlh, ,I LlllllllrU'r ,e

lllnlll ~l' sol! l',Sl' gr,lI1dl''> dllle .. , tlIm ,I l.ll.1 110' h,lO . Iklll[ll'I.I-,>" cl1t,io dr.l­

m.1I IL.llIlll1te, d.lIldolllll S.lltll, l' j11111t:1 e UIll.! Il'\' cI.I~,\(1: "t l., hllml'll'> 'llIl' o e,

1.10 tClll1do ltlln hrux.III.I, '1uc li "'01.\0 ,.llulli.lI1dll, ~.I(1 tubllo (ll1l'IILlon.1 II

1I01llC d" Lhek que .lntc(l'dl'lI o ,llu,1I mup.lIlll' do l,lIg0) l' ,ia,lI1o ld.1 II

\lUllle dI: um hlll11CIl1.llIlIlllI (I elide IClelltl'l1lCnte rCLlI~,lr,1 ,I filh.l. p.lrJ d.1 1.1 t I11l,l~Jl1lellto a um outro)" O adivinho he,itJ; .lrllcul,l: ,. ' .. ", l' p,lr,l, 01h,1I1-

doI! 31llel1k para o lhao, como ~e bu la~se algut'IllIllJis, enqu.lIlto IUd,) e~·

Page 37: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

I '

pc JIll por um,l 1I!)\,,1 ,1Lll';a\,lO_ ()utro ,ldinnho ,ldi,lIlt,1 ~c L dll, COI11

egur.lIl ,I: "I' bcltranll, de t,1I1l1ll'm () ('~t,l preJudlC,lIldo, h,l trê~ dele,. l\1en­

UOIIJ ,]\ dUJ~ pe"oJ' i,1 ,kll',ld,l\ e e,ta que ,Iere'lelltou a li,ta ()utro ,Idl­

,'inho o IIlterrompe. ", "10", dll, '\'Ies ,ao quatro, ful,lIlo t,lmbeIll o está

embru:\ando" (menciona o nome de um de seus lIlimigo, pe"oals, que quer depreciar juntt' ,10 lhefe l'm henefkill própno. Os outro~ ,Idi\ inhos com

prLendefl1 \uallltenção, m,l~ 0\ adl\'inhos jamais se contr,ldllel11 em uma ses­

Sàll públIca, apresentando lima falhada unicJ dl,lnte dos nâo-lJ1lC1ados.)

O chefe, por seu lado,esluta n que lhe rói dito mas não f.lla uma ~Ó pala­\Ta. MaIS tarde ele irá apresentar esses quatro nomes dIante do orúculo de ve­neno e descobnr a \-erdade. Fie pensa - di,sc-me um zande - que os adi\-inhos de\em, afinal, estar com a ra7ão, pois são hru:\os também e conhe­(em m de SUJ laia.

Após terem .,ido feItos os pronunciamentos oraculares em benefício da pnncipal pessoJ presente, J dJn\-a é n:tomada, contlJ1uando por horJs a fio. Cm \'elho chama um dos ad"'lnhos e lhe da algumas espigas de milho. Ele quer sabL'r se sua safia de dL'u,ina v,li .,er boa l'ste ano. O adivinho corre até o

pote (o~l drogds, paI a olh,lr. Obse[\'<l por um instante a água mágica e então pula adlal~te, d.ln~ando. Dan~a porque e na dança que as droga~ dos adivi­nho~ funCIOnam, talendo-m \l'f J~ lOi~"lS ocultJ~. A dança mistura e atlva as droga~ que dl's trazem dentw de SI, dl' formJ que, quando OUW01 umd per­gunta, sempre danç.am, elll 'l'I dl' retletir em busca da resposta, O adivinho condui sua dança, silencia m tambores e ~e dirige para onde seu interlocutor está sentado. "Voce me I,ergunta ~obre sua eleusina, se ela vai dai certo este ano;onde \'ocê a plantou?" "Doutor", replica o outro, "plantei-a acolá do ria­(~1O Bagomoro," O adivinho fala como que para ~I: "Você a plantou além do nacho Bagon~()ro, hum! hum! Qu,lJ1la, eSJ1{Jsa~ você tem?" "'I rês." "Vejo bru -dfld, bruxaria, bruxana ,\ fn.'nte: tome cuilbdo, porque ~ua, mulheres vão

embruxar Ui! ~afra de eleuSIIlJ. A L'Spmd prinCIpal, nao é ela, eh, eh! Não, náo t' ela, \'oce est,lll1e ouYindo? N~I() e ~ua e,posa prinôpal. Po~~() ver is~o el11 mi­

nh.l barriga, porqUL' mlllhas drogas $,10 fortes. Não é a e P()~,I principal, a e posa prInCIpal, a espo',1 principal. bt.i JlJe ou\'indo( N:!o t.' a esposa prinu ­polI." () Jdl"inho esta agora ~ntr,lJ1do num.1 L'specie dL' transe, COJ1l ddlculdade de f"lar mais do que pala\'felS 1~()l.llbs L frases entrl'Lurt,lda,. 'A e'I)(Js,1 princi­p.ll, n.lO e ela, t>.l.tlthde, t>.l,lldade. t-.-laldade. As oulJas dlJ.IS espos.ls t0m Liú mes dela. ,".laldade. Maldade ~. \OLé me ouve? \'OLt- deve gu,ml.lr se wntrd tla~, LI,ls de\em soprar ág~.1 sohre sua eleusina. VOlC ouviu? ()l1e ela., ~()prel1J ,lgUJ, para (sfnar a bruxarl,l. \ oc.é me OU\ iu? U CIume e llllhl coi.,,1 fuillJ. t) li

um"L WI~.l ruim, é fome. ~ua eleu!>ina 'ai fracassar. VOLe Sl'I,1 ,lss,tlt,ldo pela filme \ o(e t'~tj OUVJJldo o que digo - tome?"

I, m/ fI/h

f'mbllla tel1h,1 reulJ1~truído l'~S.l ~essao a partir de not qUt' lo 1 flI. ,I\t lr a Ull1d delas, 11.10 proLurei tI ,111~ut'\'cr tod~ as pergunta feltol r ( da, dur,l11te uma !.lrdc. 11,1, ,JO IlUIJ1L'rOS<1 , c nau e pu I d tomar n d tod.as <IS ~kclaraçóes dm adl\'inhos nessas reuniões, pOIS e c.omum qu' do" o 1

m,1I\ esteJam dando consultas a um só tempo, E, mesmo qU<lndO se trdU d pc

n.J s um, e difícil entender de que fala quando nao se .,ahe e'l:atamente qut: per gunta fOI (elta; suas respostas não S,IO concisib e dlreta , ma,> dl,cur tortuo ws, longos e entrecortadm. Os adIvinhos também costumam fazer re ela sobre membros da audIência ~em tl'rem sido explicitamente soh(ltado.11 .­costumam ainda fornecer informaçoes gratuitas sobre inforlumo pendentes.

Uma represent<lção na corte é um pouco diferente de uma essao na resi­dência de um plebeu. O prínCipe em geral senta-se sozinho, talvez com algun filhos pequenos e pajens no chão a seu lado, enquanto os homens de boa;o 1-

ção social que se encontram na corte sentam-se no lado oposto, J uma boa distância. As mulheres não podem estar presente. r\ão há um coro e peeial de men inos, e embora os espectadores - com exeeção do príncipe - po sam acompanl1<lr as canções em voz baixa, geralmente o adi, inho cant,l em lo. Nunca vi mais de um adi\ inho de cada \'ez apre\entando-se num,1 ,-one_ l'm

príncipe tem um ou dois profi si()J1.1is entre seus súdlto" e o~ rl'qui~it.l quan­do precisa de seu serviços. A sessão e uma representação de gala, ~ o compor­tamento de todos os presentes se caracteriza pela quietude e compostura exigidas na corte. O adivinho dança apenas a re~peito do assunto do pnncipe, e qU<lndo descobre o nome do bruxo ou traidor, caminha ate o pnncipe e su -surra este nome em seu ou\'ido. A fanfarronadas e demonstraçõe que d­crevi nas sessões transcorrida em casas de plebeu não têm lugar aqui, e o adivinho jamais usa o tom arrogante com que se dinge aos plebeus. Tanto quanto pude observar, os cortes,lOS não fazem c:onsult.h .10 adi\;nho obre seus próprios negócios, embora po.,~am encoraja-ll" e\.lginJo em \ 0Z alu, para I11thtrar leald,lde ao pnnupe, que ü,ponh.1 o~ nome, d,l~ pe ~ 3, qu' ,ll11e'](,,1111 o bCI11-estar do pnncipe. ~er 'oollLitado a ,1di\ inhJr n3 cort" l um gr,lIldl' hOllra, e th adi\'lnhos queJ,l o fizer,lm s,10 Lon,idl'raJo, pllr tOd..l .l

prm lllLl,1 pes,o,1'o el11 L U),1\ re\-cl,l.,oc, se podl' lontlJI.

l.lllltudn, as tleSLI"I\OL'S lt'lt.l'o neo,te (,Ipltulo S,lll Je l'''lI . rL,thz.hb_ ~m L,IS,I\ de pleheU'>, c ,I ,lJ1,llI,e que se segue refere-se ,10 lOmpL)f(,11l1('Jltl) d .ldJ

unhos e de 'U,I ,luLlIeIlLl,1 longe tI,h lOrll'., .

()ml,1I i,1 de fi)l,IIII,lr ,I ,llenç.1O snhre ,I 1!1fll1.le l) ,onkudl Li UIlJ adIvinho. I )e\'l'-"" tOIll.!r IIlHa <">PÚ 1,llllll'lltl' tlll mo Il' I ,lo <Iual t,1 a

Page 38: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

~U,IS dn:l r,lçÚt'" Pl1l' \ 'OU r~knr-l1le a 1"0 qu,mdo analis.n todo n lOl11ple:\l) dt: trcn"I~ rel,ldon,Hla, ulIll ,U,IS ,1IIvid,lde .. , O~ adivinho, utili;,\m du,\ .. fil! Illas de enUl1U,l\,jLl, Jmb,I, diferentes d,b formas ulIldian,l" A pnmelra e ,\

cnun ... ia\,!o truculent.\. Ele ... sublugam suas audiellLia" tomando liberdades qUt' em contc:\to ordin,nin pro\'t)L.lriam reação. Afirmalll-Sc de um modo presuncoso e e:\.lgerado, IIItlmld,lIldo os tamborileiros, o coro de meninos e os cspedadores, orden,lIldo-lhes que p,lrem de falar, que se sentem, que pres­tem at~nção e assim ror diante. Ninguém se ofende com t,lis ,ltos, que em ou­tras o ... asiões ,eflam comideradm de uma rudeza imperdoá\'el. A mesma auto..:onfiança espalhafatosa envoh'(' os pronunciamentos or,lculares, que são

acompanhadm de todo~ os tipos de gestos dramáticos e poses e:\travagantes, marcados pelo abandono da fala ordinária em famr de um tom fanfarrão de .llguelll imbuído de poderes mágicos e de cujas pala \Tas não se deve duvidar. 1:les impüem suas re\'claçôes sobre os ouvintes com muita veemência e re­dundáncla.

Quando abandonam o tom arrogante, adotam atitudes ainda mais anor­mais. Depoi\ de uma danç.l Impir.lda, re\ elam ,egredos e profcLias na voz de

um ml?dium qUl enxerga e oll\e algo que vem do Além. Transmitem tais mensagem psíquicas por melO de sentenças dt:sconexas - em geral, seqüên­Clas de palavra, não-articul.lda\ gramaticalmllltc - pronunciadas com uma \01 sonhadora e longínqua. ralam (f)m dificuldade, como homens em transe ou adormecidos. '{ udo is,o, como veremos, é apenas em parte uma repre­~entação, pois se deve também a exau,tão fíSica e a fé que depo~itam em suas drogas.

De que forma ôsa maneira de comumcaçao afeta o conteúdo das mensa­gens? Suas rnela\-ões c profecias baseiam-se num conhecimento dos escânda­los l!lL,\i\. DevcllHh lembrar que, na Lrença zande, a posse de bruxaria dá a um

hO/1lem () poder de ferir ~eu\ 'l"melhante~, mas nao é o motIvo do crime. Já vi­

mos como o impulso por tra\ de lodos os atm de bru:\aria deve ser buscado nas emo~ôes e \l'ntilllentm COIJlUIlS ans homens - lllJldade, inveja, ciúme, calúm,l, traiçao, rancor dc. Ora, o escândalo, ne~sa sociedade, é como uma

propriedaJl' \.olJlul1,\I, e os adl\ inlws, rCl rutados nas vi/inhanç,ls, sl.'mpre es­tão bem ln! rmados subre .15 inillli;ades e nxas IOL,lIS Um adivll1ho cm visita a um,1 provínCia di tank se acoll$elhará sobre esses assuntO'> com m profis­~IOnJIS I(}cais, antes c durante a SCSS.lO. Assilll, quandu um homem o Lonsultar sohre ,dgulll.l dOl'nça ou in!ortllnio qll o .tlmglu, !o[J)t'lcrá o nomc de aI

f:Uélll que deseja mal ao cOJlsulente, real ou imaglllalldfllellte. UIll .ldivlIlho t ln suce~~{) porque diz o que !>eu ou\'illte quel ouvir e porque' ,\ge (11m tato

bso e !ácil para o adivinho, pOIS ha inúnH:ra~ il\lI1lÍ;ades pddmlll/JdJ~ /l,1

(ultura /.lnde: entre vizinhos, porque mantem mUHo lontdto l: p(Jlt.lnto km

111.11' oportunidades dl" brig.ll que .\~ peSSOJS apartadJ5 entre .; tntre (')po " pOft] ue, 11m Al<lnde () ,\I nto el1t re l11emhro~ de fam!.ha pohgmiu e (,!to ,-or

nqueiro; e el1trL cortes,lOS, cUI,IS ,11lJ!)I\;Oes po!JUC<l tendl:m 3 entrar t.m lon

fllto. Um adi\ inho pergunt,1 ao comulente o nome de eus vllinhos, ~pm.J\

oucompanhe!ros de corte, conforme o laso. Ao dançaf, tem em mente o no,

l11e~ de,sas pessoas e revl'la UIll deles - 'ie pmsível por imphcaçao e nao dlre

tamente - como sendo () do bru:\(). A .. sim, é errado SUpOf que um adlnnho

procure ao acaso o nome do bruxo; isso seria ab~urdo do ponto de \lsta lJll­

de, visto que algum tIpo de rancor é sempre o motivo e" cneia! de um ato de

bruxaria, Assim, o adivinho toma os nome!> daqueles que desejam ma! a :;eu

consulente, ou tem motivos para fazê-lo, e deCIde magicamente qual deles

tem o poder de preludicá-Io, e o está fazendo -Isto é, qual deles po ui subs­tãncia-bruxaria na barriga. Os adivinhos não estão simplesmente sendo es­

pertos ao descobrir quem está em más relações com ~eu~ clientes e re\el~r esses nomes como sendo dos bruxos, de modo a agradar aos clIentes que nao

se dariam conta do que se passa. A.o contráno, todo mundo está perfei­

tamente ciente da maneira pela qual eles descobrem os bru:\os, e .,eu procedl­

men to é uma decorrência necessária das Idéias sobre bruxaria pre\'alect'nte5

nessa cultura.

É importante observar como um adi\'inho produz suas revelaçõe . Em

primeiro lugar, ele sabatina seu cliente, procura?do saber, por ex.e.~Flo, os nomes de seus vizinhos, e posas, ou companheiros de alguma a~l~ Idade.

Note-se que estes nomes são apresentado pelo ~lie~te, não pelo adnlnho, e que portanto existe uma seleção por parte do pnmelro. .

O adivinho, além disso, por um recurso abl1ndant~~10 dognutl,mo pr;­

fi , sional , dispõe o cliente favoravelmente as suas re\'ela'roes. Tendo obtido o conwlen te os l1omes, diZ que vai dançar sobre ele ... DepOIS das .duJS ou tre

primeiras dançJs, repete a questJo colocada, ,lS~egurJnd,) ,10 .Lltentt' que l~

i b · t d) en1 bl"'\'" P'lvoneia-se diante da audlên ... i.l, dIzendo que e a l esco nr u l ~~.. _ J ouvlr,j a verdade hoje, porque ele pOSSUI um,\ m.lglLa pl:dero,.l, qu: na P'-l e

falhar, c \embr.lfa as profeLl,ls ,1Iltenorl''> que ,e CUll1pnf,lIl~. Derl)h dL u:a

d.lI1ça, fornece um,] respo .. t,l p,uL!,ll, de torm,]l1eg,ltl\ ,1. ":"\Il1, ~u.ln~o ~ t -

t.l de uma lomult,] sobre doen'r,1 de UI1l.1 CI"I.1nç.l, l'k diZ .10 1',\1 qu~ du.l J, ,U.1' espos,!,> n,IO <"lO le'pom,wc!'" t' que d.1Il~,u.1 .\gor,1 \l,brc .1, lHltr h. Quan

do se ti ,lia d,1 safl a nllm de ,dgum,! lultura, g,u·.lIltlr.l .lll lllllW d,1 plJ.ntJ ao

que m ,Iclivlnho, que vIvem em terta dire\Jo n.\Il s.l\l rC'l'l)11 ,IH'!', n.lJ.' que

dL',lgOl,\ v,ti d,\I1."l! S()hIL'Olltl,\ dll'e'r,Hl . ( hq~lIll de''',1 formJ.! \cr.1 il\lOho

I iur \I1tl' Illl'tldl' dt' UIll tli.! ~llbl(, 1I1lI.1 LIlnsu!ta .1 Il'P Itll de ... a a l ,1ll,.!It'llI l, , f rro IIltrutJkra. Depois de d,II1'r.trcm por IIIll 111Il~11 tempo, III Orlll,lr.lm .10

Page 39: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

pn 'I, nll d.! .lIT.llk t,h. (eu me'II111) qUt' tinh.11ll de'Ulhcrtn qlle' Il.IO l'\,II11 n m L mulht'r" nt'lllll'> I,n el1' ll\ tldp.ldo" \11.1' qul' in.l1ll dt',u)hl i-lo, .1llIe, li Pl'l-d,)-,ol.l ),m(,Il.II11 111\\ .1I11ente, e p,)r fim dl.,sef.lm qul' lI, rL"pll\1'..lveIS t'ram e r!t) hllll1en, l.l,ad,l" 111.11' t.lrdt·, ~lfirmar,lm que ,I mc'm.l bru'\,ll i,1 qu ~,trog.lf.l.1 l.lç'ano alw 1'.I"ado ,linda ronda\ ,10 ICITl'nO, de {"(lima que os hOIl1{, "L,I ado, quI;' \"it'r.11ll para n dl~trito depcI~ di~\() podt'ri.lIl' ser excllll­do .. De!,lll, Ut nui, d.llka" p,lr,lram o .. tamborc~ é ,1I111nCi,lr,lm que tinham d< -oh rw ,ro húmen,- njo deram o: nomes - re~pons,l\ci, pel.l" mas C,I-ada,. D.lnC.lram de nO\ o e anunLiaram ,1 ,lUdiéncia ,I de,coberta de um qu,lr­

to e ulpado tendo certa.1 de quI;' não ha\"ia ()utros alem desse~ qU,ltro. Ja de nOltc di\'ulgaram a atlrnu\-jo de que o motivo que fez com que c .. ses quatro hOl11en, u. as\em bruxaria para e. tragar as caçadas era que, no ,1110 anterior, de nao ha\iam Sido comidado .. a tomar parte nessa ati\·idade. Fora isso quc lhe causara 1I1\"cja. Embora a pergunta tiwsse .. Ido feita pela manhã, só dc­pois do por-do-sol os nomc .. dos responsa\'eis foram ~u~surrado~ ao cliente (o proces'o normal na corte).

IUita, \'ezes os ati 1\ 1I1ho .. e\'J(am ,1Ie me,mo .. w>surrar o., nomes, e trans­

mitem a. intormaçóes por msinuJ\,lo - por sanztl, como dizem os Azande. Para num, era multo difíCI! ~egll1r e .. sa comunicação do significado por meio de pi tas e alusões, 13 que eu era até certo ponto um estranho a "ida íntima da

(o.~ul1ldJde. I\leu ,onheomento do .. usos linguísticos ordinários só me per­mItia entender parLla/menll: es .. e lipo de discurso. Mesmo os oU\'intes natl\'OS à \'eze não captam o slgl1lficado integral das palavras de um adiúnho, que só e realmente a(e~"I\d ao homem que o consultou sobre m próprios proble­mas. P ala\ rJS que para II etnologo não têm ,entidLI, e para Os demais assisten­te o tem apena, em partc, s;io faLilmente interpretadas pelo consulente, o unkO que pOSSUI \"isão completa da s!\uaç,'io. As~im, por exemplo, um ho­mem pergunta ao ad" inho quem e~tá Colmando a praga de seus al11endo\l1s, e e mformadll de que nao é ninguemL'stranho ao ~eu grupo dOl11é~tiLu, nem é a e po a pnncipal, mas uma das outra e"posas, que quer m.l1 a e~posa princi­paiO 3d" mho pode nau dar ~lIa opllllao .. ubrc qual des,as olltra~ C\PllS.1S é a rc pon .hel, mas o maridu naturalmente terá suas plOpnas idel,!' ... obre o as. unto. conhecend~ bem os SCnl1l11ento~ de ada membro de seu grupo do mestl~o, a hlstóna complel.t tI,h rela~oes ali estabelecida, l' os l'velllm n t.nles que perturbam a Lalma de sua Vida dom':st!eJ. Qll,lI1do e illfOlmado de que IIJO e um estranho quc lhe l";t.í preludicando, 1ll.1~ ~Im lIm,1 de '1I.1\

rrul'1erL. /ogc, desconfia de quem ~e Irata, podendo eU!.lc) \critllar su,,, SlIS­P 11 por mclO de uma consulta ao oráculo de \'eneno. Ia JS pe, oas estranha .. o CJSu, t'm o mesmo conhe imellto de~~as condl\oes, filam no esc LHO. ht.1

1/ • I

illl~lr,,,,.í() L' impk\, 111.1~ ~ufILlent. lal fr li J 111 \Il5il1u."ol'sJ().ldl\il1h()e.ISll1terprctJ~o .. dodJ nt rru ( ,

J\~,IIll, \'emo, como () loO\ultnte LolJbora (.om o adi 1/

d.1 (omull ... ele alL' certo ponlil scltX.lon os nomc.-s d.I adivinho \"11 d,In\;!r; no tin,tI, LllIllribUl parLlalmen c(.om do, pr(lnun(i.lmento~ do segundo, a partir de ~ua') propn ~ociai~ e conhecimento. lle~confio tamhem que, <.OInO um adl\ rl?\ el,lçôes .1m bocados. qua\e como ~ugest()es (ou mesmo ( ec 'ur.' ~erv'\ cuid.ldo\amenle o interloculor para saber se sua rI.' po a ,uspella~ do (omulentc. Quando adquire tal certeza, tomJ em

Um adivinho raramente acu~ará um ari\tocrata de bru 111,IS razões que fazem com que um plebeu não con ulte or3cu! ari~tocratas. Ele pode d.lr informaçoc, a um pnncipe Importante a r pet

certa, tentati\"'\s de mar feitiçaria wntra ele, por parte de membro de propna famllia ou clã. ma, sem lamalS sugerir que 'Clam bru c . p J

pe~, por mais \O\'e10505 que se)<lm uns em rdação a()~ outro. pcs u m .. olid.lfiedade de clas~e que não permite a qualquer plebeu afr n :- um ,eus parentes., ão creio que no passado um adiúnhtl tenha laffi.l r.lI J .I

baila o nome de U1ll nobre como bruxo; hojr: em dia, ob~cf\'el em rar. iões nobres acusados de bruxaria, mas e,tes não eram aparentado de mu.

perto com os pnncipes gO\ ernantes, A di,crição também se f.1z recomend,hel ao se [c\'e!arem o n m d:­

plebeus, pois os Azande nem ~empre aceitam calmamente uma acu a-i \1 um homem "tltar de seu lugar n,1 audiênCIa e ameaçar esfaquear um adi\ID que fora temerario o ba tante p,Ha ,1cusa-Io dr: brlLxaria; ,eu prot to f 11-convincente que o adi\'inho dançou de novo e admitiu eu erro. i 1 t rdr: estc confidencIOU que não tinha realmente e enganado, ma, arena r lU

para evitar uma cena. O homem I:'ra mesmo um brm.o e dcmon tr

pa pelo comportamento nolento, E comUlll que o, adl\ II1hos tr,1I1,mltam coniidl:'Ilcialmcnt

bruxos a ,I:'US clientes depoi, que a ,ô,jo It'n11inou I:' l e pcd para L.Isa. Em publIco, ele, prolur,lm t'ntar Jfirma.;-t"x ,im:u . nOllles. "Llmcnte.lll dcnuncl.lr Pl"V'L).I' ti:.lla" ou mulh rte ,~ l 1

I11Clllh e'Clupulo'o,. DI:'\" c' .,1:' ta em mente que, .ldeul.1i da l um,1 re,lç,ll) Imcdi.lla, um adl\ inhLl e um L1dad:w (llnHUll q I i lI1tlll111 c (lltldl,1I10 cum ~ew, \;,inhos, e n.ll) lel11l) n1L1l1 rde Ilh Ill'>ult.lIldo os puhlil,lInenll'. r.1l11b~m n.'l<) ,I:' 1 od li

nho., .\(redltam CI11 hru),lh l.mll) qu.l\1to o lei, o . Eml>or :>1:' .... ,\0, ,inl,II11-'l' \eguHh. pn\legllh) ,01110 l t.lO 1 -1.1 Ir;~. .1

Page 40: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

'1 l1 I~u I • t 'lll • ~llI.l\ldll h,1I .\lll SlI.1 gll.lr.!,l no (Iltidianll \.orrt'l1l alto riSCO

d (lll 111111 I~ UlIl blu II \lIlg,ltl\\I, ('tll O\ltro I.\tlo, s su surraram O

n n dllllll l l\lIlHI\ldo do dll'ntl',.I ,OiS,I ( n1.li~ s{'gura. pOIS o con ulcm I 11,1) I .1" 1I1~1l11 IIlIl dlat,lJll IIt ,slIhmetendo-o antes ao orá ulo de vcnc~-11 ) I .U.\ on bor,1 ,1o. d~ lorlll,1 liUl' {' por meio do veredicto do or ulo. e n, I do Id" II\hll. qu II [\{IIlII' ,<' torn,lpllhli\.o, Mesmo quando o nome de ai­gll m l\I III. illl1.ld" l'1Il pllhlilll por 11m adivinho. dificilmente este afirma t I I. r I, um bru n. I It· di, .Ipl·na~ que o homem desc;a mal a outrem, ou t.ll,\ 1ll.l1 I· .tlgUl·l\1. I odo\ \,1\11.'111 qm' de está acusando o homem de bruxana, m I propnn 11.10 <\firma isso,

.'.10 l' dlfiul \ I.'r que ,\~ re\'l'I,lçôes de um adivinho se baseiam amplamen I • n (.ind,llo~ I'Il.tis; e que ele calcula as respo ta a dar à on ui • quanto dança t' se ex.ibl.'. eh Azande e tão perfeitamente dent do 'onludo, ,ou da opinião de que se deve atribuir ao adivinho zande

do\e de inlui\·âo. sem reduzir seus pronunciamentos apenas a um dI.::a .. ional. O .Idi\·inho e seu cliente sdecionam con cientemente pe •• '4tIi" pro\',I\·e1ml.'nle cau aram a doença ou os pre;Ulzos; o primetro com mOo a dançar (om o nome des as pessoa na mente. até decidir qual delu estf pre_ ,udiL,mdo o consulente; creio que este segundo processo de seleçIo ~ mUito pOULO inflJenciado pela lógica. Quando se pergunta I um zande, leigo ou profi ional, 'Subre isso, ele diz que o adivinho começa I dançar com o nome de tr ou quatro pes oas na cabeça. e dança a~ que as drogas ingeridas antes da sessao revelem qual delas está associada à bruxaria. ~ realmente quase im­po í eI ser mai explícito, mas estou convencido de que a sdeção dos nomes

faz por uma atividade mental basicamente inronsciente. Em primeiro lu­gar, o. adivinhos dançam ~ atingirem uma condição próxima à dissociação; lDtoX1cam-se com I música criada por outros e por eles mesmos, e atingem um ~ ~ grande prostração ftsica. Tanto quanto posso aber, a partir do que os adirinhos me contaram, e1es guardam os nomes na memória e ficam a repeti-los enquaotD dançam; mas fora isso procuram deixar a mente inteira­mente livre_ ubltamente, uma das peuoas sobre quem ele e tá dançando im­põe- à c:onsc:ilnaa do adivinho, às vezes como uma imagem visual, ma em geral pela anonaçio de seu nome a algum distúrbio fisiológico, principal­RICllk por uma repentina aceleração do ritmo cardíaco.

um a dan ( amoR

t.III\.,t. a qunda dual. orgamzado Ipc ..... pãlJf 11 ___ _

uma perfonnance cold vadacIt me mo tl!mpo. e qut quando o ("'1m ........ 1 __ ....... __ _

mantendo se em fila e .,umando Ma n l:a50 eln se organaum nWll COI'O prol __ 1I

apóIa um solista ormalmmte apma6 um. mamo kmpo QwlIW IC .... ~ -- te ..

~io-' 7

em q1ie um o ftmiruno part" em squndo plano e e ceuta uma <bnça Imt q mm&..

curar Imitar a dança VIolenta do homen o portammto totalmente inadequ d I

~ Importante ob rvJr que l adi mh o btm fazem ua propria mu [~,I com ~olmp mh.1 e lhCK..:tlb1C5

e Ito di o, omado au do gongo e d lambores e (ntOAJI~.scULr os participantes, ma para d própna dudien u. e es IOlu-'oJ ...... ..-. dit;ão apropriada para a adivinhaÇ.1o. , tu m t nUll.1UJ"" U:'Il!J.'!

çoes faciai • roupas grot ca - tudo coo orre na (na -própria a mamfe tação de poderes len - A udlen -ia ticamenle a reprt"'ienIJçao. mO\endo a cabeyl ~ n!p~U \·oz baixa, mais .:omo fomu d auto-entretenimento e Seria um erro supor qu hJ}-\umJ .ltmo fera de /'e')-pe1 e':OiIltr~., (erimonia; pelo contrc1rio. Iodo edin'rt m ebnn .un .1D:1ID.a.J;j-

mente. 1e~mo .. ~im. n.lo r~ 1,1 du\ Ida de 'lu o SUI.:ess.o

nho de\ e· e ao falO dl qUe el n.lO lontiam em J

~eduzindlhl t: e limuland ua -r n .1 pc r m d l>e\elllO lembr,u, llelH d[ l.l, qu a .lud1Cl1-1

islmdo a uma perfnrnl.lnLe IHU K.lI, Illas d um m~ruLlei~;~'-'

gia. Tr,tl.l- e de algo mai .. 'lu umJ dolO a - tr t

diTela, t:m parte imboh(J, \.ontr.l pod • t ~e.s .lo (UIHO demonstra.,ao .lnllbru uia r ülllllJ't«!m-hdu .. u.AoJü

dan\.1 i: levada em unIa. Um ob rvador q tr~ns.cn::W"i>.'<.In~1Ii las f ei 1.1 ao ad 1\ i nho ua r llh ru ne:gll!~'''' -..1Ihl1ú loL)dl(t u 1Q(-..M1Iao·

mo de produção da r pust disse. o adi iMo peq.-'.

Page 41: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

"

\n!t:~ d~) i 11 II.: ill de um,1 ,e~~,\l), O~ p,lrticip,\I1lL'~ ingerem ,dgul11,IS d,l~ dro­g,l ~ que Ihc~ ti,io n poder de' er () il1\'isín:l, permitindo que reSlst.llll ,\o Call5,l 'Il . Igun, adi"i ho~ dis~eram-l11e que não senam caj1.l1es de ,lguent ,lI tanto ~'~rorco \t nao tl\'es~em antes Jl)gerido as drogas, que lhes confe rem o poder de resl,tir a brux.lria. bte poder \'.11 para o eSlomdgo jun to CO I11 ,IS drogas; é

,lgltado pela dança, que o trammite ao corpo todo, ati\a ndo ass im o dom d,1 protecJ.L 'esse estado ati\'o, as drogas re\'elam quem SJO os bruxos e chegal11 ate a faze-los ver as emanaçóes espirituais d,l bnLxana flu tu,1I1do no ar, como luzinhas. Contra tais poderes malignos, os adivinhos em preendem uma lula ternvel. Correm de um lado para outro, estacando bruscamente à espreita de algum som, de alguma luz; de repente um deles \ 'ê bnLxaria numa roça próxi ­ma - embora ela seja invisi\'el ao não-iniciado - e corre até lá com gestos ao mesmo tempo de resolução e repugnância. Retorna rapidamente para pegar alguma droga guardada em seu chifre, aplicando -a sobre a planta ou árvore em que ,'iu pousar a bruxaria. Essas corridas ao mato são muito freqüentes quando os adivinhos buscam amiosamente a bruxaria ao longo de picadas no (apin?al ou no alto de uma termiteira,

Cada movimento da dança tem tanto significado quanto a fala, Todos es­~e~ salto~ e pirueta~ en\'ohem um mundo de insinuações. Se um adivinho dança el11 frente a um espectador, ou olha fixa mente para um outro, logo as pessoa ~it:mam que ele adiOu um bruxo, ou o indivíduo foca liLado sente-se mal. Os espet.tadores nunca podem ôtar certos do significado do comporta­mento do adivinho, mas podem interpretá-lo a partir de was ações e deduzir o que ele sente e vê. Cada movimento, gesto, o u esga r exprime a luta que está sendo travada contra a bruxaria, e é preciso que o significado de uma dan ça ~eja explicado pelos adivin hos e pelos leigos para que se possa aprec iá-Ia em todo o seu rico ~imbolismo.

( Pllll'

o treinamento de um noviço na arte da adivinhação

I

Pelo que pude observa r, é comum que um jovem manifeste o de ejo de 'õe tor' nar adivinho para um membro mais velho da corporação em seu dlStntO. e solicite que este seja seu patro no. As 'im, ao falar do modo pelo qual os 1100i­

ços são instruídos, tenho em mente a transmissão normal de magta de um adivinho para seu jovem aprendiz. Cheguei a "er, contudo, rapaze~ de meno de 16 anos, e até mesmo crianças de quatro ou cinco ano,. receberem drogas para ingerir. Em tais ca os, trata-se em geral de um pai ou tio materno que de­seja ver seu filho ou sobrinho seguir a profissão, e que começa a treina-lo de:­de a infância, além de buscar fortalecer seu esplrito com as droga. Vi FaToto pequenos dançarem a dança dos adi\'inhos e ingerirem suas drogas, copiand os movimentos dos mais \'elhos nas sessões e nas refeições mágicas coleti .1.> .

Os adivinhos encorajavam-nos de modo jovial, e os garotos trata, -am aquilo tudo com o se fosse uma brincadeira. Esses garotos vão- e ac ~tumando b ra-dativa mente a representar, e quando chegam aos 15 anos seu~ pai~ o!> lC'\"Jll1 quando vão visitar alguma casa para dançar, permitindo que parti -irem da cerimónia, embora nuo possam us,lr os paramentos do OfidO De:ta fonna,o conhecimento das droga, e do ritual e trammitido pouco a P~)uCO, ao I 11"

dos anos, de pai para filho, Quando um r,lpJI se inscreve como aprendiz dL um adl\'inho, a tran,­

miss,\o é muito mais ulrta, fic.lI1do JlI1d,1 ao ~,lbnr do~ pa",amento. feitL e J

formação de atitude~ pessoal" que devem ,er cnnstnlldJ~ for.1 d.l úmt11J d glLl po doméstico, O jovem e IIlterrogado por ,eu futUfn prllic ~ r, 'lu> P 1',1 ~,Iber se ele e,t,l (crto de que de,ep ser iniciado, e'\lHt.lIldo· t) J " n I erJr os pe llgos que ,1I11e.l~,1I11 SU,I "lI,1 e tUllih,1 ~e tent,lr ,ldquirir J m. ~ J k'\ iallJ­mente. ~er.í também ,Hh er lldl) de que ,\ m.lf,l,ll' .1Is" 1m ~ ~.lf) t: li, U pi nfcssor eJ>dglra presen tes comt,lIllc, e sUb,t,llIl j.l . ., "L 1 npJl in. 1,1 m, li

lle'l'jO de torn,ll 'c Ulll plllfi"wn II (l!WJ.ILIll111a, \L n ntu,mLh ,ill.1I ,I arte. Seus parL'ntes n,ll) flr,ll) nble\,\() - ,e () l[ ul, !e ... n n n.1 1

prc' ir ~llll ,eq uênll ,l' nel:l\t ,ls p.\I ,I ,) 1,1\ CIllIlll p.H,\ k,

Page 42: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

"

L'O] nO\l o l.onllc,,1 mgerl! .IS droga~ junlo COI11 oulrm .Idi\'inhm par.! f rlaleu'r a alm ~ ganh.u o poder de I'roft:l17,lr Illill,I -~ l' 1I,llllf(l()r.lI,ao pOI um pultamenlo puhhlO; rel~be IlIlJ(O de hrux,ITI.1 par,1 ellgolir; (' ~ Il'I',ldo ,I na ente de um no e tn\tTllído nas \',ína~ er\'.!~ e arhU"los dl' qUl' ~,\() (l'I 1,1\ a~ drogas las nao ha lIl11J ~equcnCJ.1 fix,1 para l's~c\ rJl()~.

2

tUJlas \en's ,IS~ISII a ItUIliJO de três ou 'lu,lIra <ldII'Íllho .. , moli .. raramcnlc sele ou 0110, CJIl (asa de um (olega expenenll' - conhccedor doiS er\'a~ c plan­las med 1l.lI1a is com qUt se fal a ~IJl'a lllJgicl p.lr,1 pJrtilholr de um,l rdcu;;lO (omunal O adiVinho mais ,'dho, ge ralmenle o dono da caSolClll quc lem lu ­gar a ceflmóilla, d~cnterrou para lal fim ("erla~ raí/es no maio, r,lspou a~ e lavou-as para cO/inhá las, EJ.ls liilO colOlad,ls num porle com água, e os con\'i­dado reunem se a volta do fogo r.lr.1 \'ê-b~ (o/er, enqu,lIllo (()Il\'er\am e hrillcam sohre assunlm prof.lOos, emhora por "l'/{'s sejam dl'CUlldo, os ne­gO'-losda rrofis'>do, lIao 'iI,; demonslra explicit.lillenle nl'nhllJll respeilo ou re­verénuJ.lJcpuis qUt J .lgUJ ferveu por 'llgulll tcm!,o, lingindo ~c do ~uco da~ planld\, o adlvlI1ho que ,IS (ollleut as está cOIelldo ~ que doravanle de~igna ­rei corno ... cu propm.'lano IlrJ o polc do (ligo l' JC~pl'ji1 (J líquido cm oulra \a~llhJ, {olol,(ldJ no fogo !"Ira um segundo {o/Jlllenlo. A~ raÍ/c~ ,-ujo suco foi cxtraído 'idO levada, para um,l (abana prúxima, (Hldl' ~.J() guardada, para ou ­tra ola~i.lO,

A partIr d~sl lIlomento, os adivUJllos cOIllcçaill 01 se lO/llelllrar ~obre (J

,I ~ullt(llIn pauta , IJ1ltrr(Jillp":Jldo as C()III'('r~olS profanJs l' d(',>clJvÍllvcndo um

nolh I grau de ,lten~i'1O .lO'i "u{()51lll'(iic.inai~ que leI Vl'1lI110 (og(), 1..,1(' é () pri melro lJ1al de que t"l"olr,lt.lIIdo (,('111 ((Irça" m:ígi",ls, A~ v.íri,l~ law,> do lO/I ­IlIl'nll1 ,,10 agor,1 .lu'JJljl,l/Ih. das por eIlWlltJ<,t)C" .Itl ÍI fllll doi ccrill1{llIi,1. r nqual,lo (J pr 'pra:l.irio dl "peja ~eLJ~ '>1I(m lIledILIII,II'> II.! .,Cglllld'l v,l~iJha, dmgt '>e ,10 me 1110', UII pOlllJ<; p,daVTas, pedllldo pelo hl'111 e~lar dos .Idlvi­ilho ceJlllO um lodo ('pelo hum (Xllo dI' ~eus Illlea'\Ses PlofJ",IOIl.lis, I ill.\() dlvldc LJllld boli! de P,I'.td Illolgild feil.1 de ,elll t'lIle, ole.lgJfj(I~,ls IJJISIIJI.J(I.I ~ com uma r IlITl.ígic..I , cm peyllcnas holola,>, uma ('M,I L,ldrl .lIlil'ilJl .. , PIC'>l'll ­h () propn tari" <.",10(,1 ,1\ (1lJ voh.1 do I'(}\l' l', PI J/1lt'lro dt', deplll'o l,1<1.1 ,\lI I Vlllh(J elllOldl'1TI de ,lJlllgulJdde, allr.1 sua holol,1 dClIlrll do pnt ', I ) jlllllH 1111

toma ell l.!(. de Uni I (I)I her de (lilU l' III i I II r .. () (',Il'fl ( III I I IIS SI I 1I1\, d i I 1j.\IJIlJ .. 'ot'

J drog,' ,C III ,cu IHlJI1l l ~m rrllllll' dI) ,"VCIIJ que (",1,1 ~l'lJd() lIIiUoId"

() 1 It'"hum Inal l I ... , .. hrt' nUJIl', 'jll~ ell fIque (111 1',17 1'(',s.1 U n lo IlIlIrltl. '1U( fI. (f rH/U .. fI" I "nllllh" h.lllJlidold ... prol I' 1011 I. QIIC 1H"IIItUIJII'.IHIlIL

111<'11 lJIorr,1 dll oII,tr ,k IlJlnhJ\ drtJg.I. I)u ouohJ mui er n O'J' r r

rcnlcs ~,]() .1IlITll,II", 1I1('U l',m:lllt c ,I eI II ,moi quI." Olln .• d I I • fr Itl ~

'''ollll' "'11 pupilo) (jll.lmJ) ..... ,,1." dançolr, d3 .1 dO' ti.1 j ~

nao morrer. (JUl' ~ 1I,ll.I ~,1 prospere, l' que a hru:Urlj n....!) f rOl II .um " {)

nhullI dI.' ,>('U' par('nl('~ IllOrr,1. Seus (lMenlC'i \,lO aOlmJ, <;eu foi) urr drn.I!7I

IfIn<!o m,m \elho de \l'll poli é um porco v(;'mlclho. SUol, r~ .lO ui do.

'011.1 m,ll' l' 11111 ,1I11l1op", 'ol'll"lios matcmIJS SJI} dluker' II 01 o um rrnCJ(.tT)

[~ohrl' SI 111(,,111<11 ~e a brllxan.1 vIer a mmha ca\,l qil volte plor ond

Sl' UI11 homel11 fin:r fclllÇolrí.1 , .. nlr,1 mll11, que ele morrA c;e;.m h mero

mJI a mrnha casol, 4ll(: fique J dl~ldn(Ja, e que todus aqudes que vierem d

\eu rancor sobre flllnha (;l~J recebam uma surpr .J de5<lgrdd eJ Q l.a~a prospere,

r

n

o

[Sobre \l'U pupilol (~ut: () mal pas~e purJ la, para 1.1, que droga t H

co ... a~ prCJ~perJrcm par.1 VOle "e Jlguem recusar-se a pagar ror seus senl~, que nJO se recupere d,] doença, Quando \'ol..ê for dançar com (l Jdl\ IIlho (' elo olhar~m \l'U rCJ\to, que n,JO .. c languem com \OCC, ma, liquem alegres para

.I, outr.l" pt:~'O"S lhe dêem pre,cnteo,. QUJndo \ Olé (ur a uma se~ ,nao

loca lll,lçilo da hruxan,1. (~u ,lnd(J \,0(1." soprar \.:u .Ipito conlr o gal <;('1 r

gem, I 4ut: voci.' nJO Jllorra , Qu.llldo \ ou: ,oprJr seu apuu zmga, que dai

um homel11 retorne J ele p,l ra que ele nau morrJ.

o adJ\'Jnho mais ,·clho passa agora a (lllher para \cu aluno, que profere algumols palavras ~obre a b..:herag..:m, enquanto ol mexe:

Droga qu e collnhu, tLllde ,>cmprc de Jlle r .. I.lr a \ erdadt', 'ao permlla qu nm

gllém me ii r .. com hru x.trI.] , m.l\ dci\e-mt' n:conheccr lodos tlS bru os. a per­

tu rhe I11l'U!o p,lrcn les, porq ue \1 ,]0 m len ho, 1\ lrus pMen".''> \ 1\ em no m I e ~

l'k.f.1I11 Co, c OIl1ll1opc .. ; Ill ClI'> ,lVÓ" ... \0 buLtlos l' tlldllo,l1S r.\ .HOS. Quando eu d ... 11 lUI11 os ,ldl \' lnhn .. rn .lI " velho .. , n.lo (lo, del\e ft:nr me com

l' lI o,Cj,1 o pulo 110 o nuo dl' ,Idi\ inho, PJr,1 qUl'.] .. Pl' soa ml."d~

u dard

mo ulla Lm

( lu I ro ,\lI I I' I II ho lom,1 .1 lol hl I dl' 'U,l' 1lI .1O .. l' li lI11t\a .1 me ~'r <: Orl.lr dlog,l s'

(lIll' 11.10 1,li,1I11 1111111 tUIII'" ~oIHl' 1111111. (lue lI ellhum d< 111 li

1111'(1 .. ",111111,\ ~.I" I"dn , 01111111,11 1.1\,111, ,Intil0l'c I 1.1'1t t

J t qUt Jhl .11111 1.,» ... II.h ... lnil ti' II III (f'l"hl/"rhl' 1\ <, '1'111011" III

\/11/"1141", llllllllll l pu Il ..tt lil1llh;pt I I)

Page 43: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

11 h ... , '\C, unme,uc.l' "jn perdlze" 'ie .llguem , 'ler krll-me ':0 111 bru"<In,l , que

1110 • t ",<!Ul'l'l 'ler u)11l1ll\'ci,1 111.111(1,1.1 mll1h,1 (,1\.1, pll" il m ,III1\TJ,I e ,1111,1-

h,l.. 'l~ ~ 'l'U d.lno, Que tU \i, .1 mullo Lom .1' d rogJ ' dn, adi, 111 h,,,, p,trJ

dantar LII1Ü) an'h, dez amh, vinte .1I1(h, pnr ano~, ,1Il0 ~ e .ln (" , Que ('u 1'0",1 cn ~

,dheu'r dançando a d.1I1.;a da adl\ IIlhaçáo, Qu(' os o ulro, ,Idl\ 11111(\' n,1(' me

odel m nem me firal11 Lom 'u.!, drng.!" PCI"em quc lod" , o, hOl11ens venham

Oll\ ii minha, profeClJ", Quando cu d,1J)c.lr (om a droga dcntlll de mim, pO\S,lI11

de, chegar u)mlJn -J e fJ(as , anei, e riJ,tra" com d cu"na, milho c amendOim

rarJ eu comer, e L('[\ ela r.lra eu beber Que eu rO~,.1 d.1n';J r no leste, no rell10 de

t.1ng'" e no oe~te, no reino de I l'mbur J , Que meu no me ,tJ.! oU\ldo no rell10

de Renzi ao >ul, t no dl,l.!nte norte, entre os e~t range i ros em \,'.!u , I Der>;J a

colher bater no lado do role \oltado rara a d1ft~ÇãO mencionadJ -leste, oeste, ,uI c norte.)

Cada adi\ IOho qUL' de~eja mexo:r t' exortar a, d rogas no fogo pode f.lzê-Io enquanto o proprietário poe sal na nmtura, [)epoi,s de algum tempo, o óleo ferw c ,nbe ato: a borda do pOl<?, que e então remo\Jdo do fogo. O óleo é de­cantJdo dentro de uma l..ah.J~a, e n pote L' repo\to no fogo, pOI~ ainda contém ullla p.lsta e~pc~ -a c olclha. A mistura e mexida e exortada pelos adivinhos

~ue .. qui~erem fazer. Quandl) ~o e~tjo pre~enlL'S do;' ou três adivinhos quali­Ileado., e nenhum novi 0, cada um mexe c e},.ona as droga~, ~em ter necessa­riamente que fazer um pagamento pré\ io ao prop;ietário para poder ome-Ia ; ma quando há um numero maior de adivinhus e muitos noviços

pre~cntcs, e c~stume que o dono das droga~ eXlJa uma taxa de cada um que qUIser profL'rlr as L'nLan ta\Oe~ e partilhar da refei t,. ão comunal. Ele avi sa que 11.i~ \ai tirar o pote do fogo até que todos IL'nham pago alguma COIsa, Aí cada ad" mho apre ent,l ll1el<l !,l.1stra , uma faquinha uu um anel , que deposita no duo dlJllle do pote ou dentro dele. 1 ai s pagamentos dL'\'em ser fe itos à VI tJ das drogJ ,lUJa potcn<.ld depende de terem SIdo compradas;.1 compra é

parte: do ntu.ll que labn ca o poder da magIa Cheguei até J ver um adi \ ính o que, tr.lIdndo grdtUltdll1ente de um dlt;J1l ,cololou uma pi.l~tr,1 de SUJ pro­rned,ld no ch.1o; quando perguntei o que fa7 lJ, d is~l me qUt cria ru im se a droga naO testemu nhasse o pagamento de uma laxa, !,<li poderi,1 perder SU.l potenuJ ~e .lIguem (.Ilha em (ontflbulr COIl1 UlJl I're ente, ° dono pode am,açJr deIXar.1 drogas quellllarem, ou podt' remm e LIs do fogo e 11,10 dei, urnenhumdeseu lo legaslomcl .J te quf' tlldo tenhalll ~),Jgo()!>ufll.ilnte , As drogas sao dele' Lolh( u ,l~ 11 0 J11,ltO, PI ep.mlu as l' dl71 nhou a~ (om Sl'lb

ultn lhu~, t ~u prupnetdrio, cid de\1'1ll StJ L()Ill Jl rad.t~ d...! (,lhe rCLuldal que Lomo a magia nao obtl d,1 des .l forma tem potenLlJ dlJ\ Ido .1, é do ilHe,

rl e dJ<.j }f'1t 'lut' \all.Olm la pagar 1I1llâ peljlJt'na lJXJ, il"SlIn lIIJ1l() e do in

terL'\se do dono l'L'lL'ht:r t,11 pag,t111l'llto, pOIS l',te<> formam partt mt gIdi do ntuall11agl((); o: ~OhrL'1 udo, n,l tt:rra 1<lI1dc, I. (ms lder~- e c n\..I.1I qu ,'} andu podere~ 111,lglcm s,io transmitido, dL' uma pe~s()a para outrd, o I.ndcd r fi que ~,Itlsfeito com o negócio; ca~o contrario, as d n.gas perdem !)eU poder n I r,lIlsfcrencia . A hoa-vontade do proprietário e uma cond í~ao relevante para.l \'cnda de magia, e essa boa-vontade pode ~er ( ()J1 ~egUldd po r meIo de um pe queno pagamento.

Assim que 0\ pre\entes lhe forem oferec idos, () dono remove o pote d

fogo e deCanlJ o óleo que exsudou da pa~t<l durante a segunda fervura colo­cando o pote de lado para esfriar o resíduo. Se há um no\ iço presente, e~ CUJO benefício especial estão sendo cozinhadas as droga s, o pote e apresentado a ele, que deve aproximar a face do vapor, cuidando de manter os olhos abertos para que as drogas penetrem. Outros adivinhos fazem o me mo, e algun. de­les pronunciam determinadas palavras para a magia enquanto mantêm seu

rostos na boca do pote.

Quando a pasta esfriou , seu dono a serve, em primeiro lugar ao novico,

depois aos demais. A forma de sen'ir é uma característica recorrente da refei­ções mágicas entre os Azande. O que sen 'e ra pa um pouco da droga do fundo do pote com um gra\'eto e o aproxim a da boca de um homem; mas quando

este está para comer, o bocado é-lhe bruscamente retirado e colocado na boca de outro homem. O que serve ali menta o participantes dessa maneira, e quando todo foram sen ·ido , reú nem-se a volta do pote e comem a, sobra:

da pasta mágica com as mãos, como se faz com qualquer comida.

Quando se acabou de comer, o dono traz o oleo que tinha decantado e

acrescenta -lhe um pouco de CIl1 Z.1 de 11gb i III i .::ml'll queimada (um para, ita de

l ophirn o/ata), produzindo um flU ido negro. O oleo que sobrou é dado de be­ber aos adJ\ inhos, O do no toma então de um,l faca e faz inci,õe~ no peito,

o mo pl .1 t,ls, pubo e [,ICe dos ,1dl\lnhos, esfregando um pou.:o do tluid o n.gro

nos cort e~ , Enq uan to e,,frega o pubo de um homem com i~"o, dIZ:

Que e,te hllm.:m I r.H.: de 'cu,> p,1Llenle" lom ,U(.:"o. e n.ío 'l' deLXe < Il.=-anar per

ob)clOS de bru '\.,ln,1

Fnlju,lIltl) esfreg,1 II pei to de um hOJl1t'm, diz.

Page 44: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

• .lU J~I l qu~ nlllf,UCI1l.llIrL d.l!d'h 1l1.lgll<h pd." (O'l.1 de,lL' hOI11L'Il1; L' 'L'.tI

gUlIn lcn lo pd.1 LO l.l~. qUL'" a ,.tlt.lllh' 11l0Ir.!.

. qucll quc daram.1I () ,.mguc deslL' homl'111 1ll0l ra 1\l1L'llt.llaI11L·l1 lc. ~L' UIll

hnl o \Il'l fen lo a 1l00h.\ 1Ill"11I0 qll~ 'L' .ll'rtl'\ime pel." (o,l~" 1'0".1 l',lc' ho

mcm \c I .. ; 11.10 pcrml1a que () bnl\o oLlllte J I,KC

I o.:los h~hemt"lIllhem de~se fluido ncgro, c "e sobra ainda a lgulll, de .. pc­,am-no nos chilres. onde guard.ull um estoque permancnte de drogas.

j)epms que um adivinho mal., ,'dho tratou de ,eu .. colegas dc~sa m,lOe l­

ra. f.u \ er a estes a necessidade de lhe fJ/erem pagamcntm frequente~, .Idver­

tll1do-os para não brincarcm COIll a Illagia que trazcm dentro de si. ou ela n.1o ficará firme dentro do corpo. pcrdcndo I>CU poder.

3

III no, iço lOll1Cça a tomar parte Ilc~sas releições comunai~ - gera lmente n.ali7..adas na manhã de umJ se~\.lo desde <) JI1lCio de scu apr~ndi/ad(), , isto

que () ohjetivo b;bico de sua c.llTeirJ .: clJlbebt:I-~e de droga, que o capacitem a Identific.u a bruxari.l. í· bOll1lclllbrar nO\'alllente quc se trata de um sim ples

procc!>so mágllo. A pL'S~OJ ingere Lcrl.15 drogas c se torna fisicamente for te, de (orllla a poder resistir ao (ama~o de uma ~essào. c espiritualmente fone, pa ra

resistIr a~ arreml'lldas dos brux()~. As drugas cm si produZCJ11 resultados mes­

mo que o wDSuJ11idor nâo tenha sido lompletamentc lDiciado. e mesmo quc

le Ignore sua composiçao. Quando um l1leninote as come. por excmplo, JLrcdi ta -sc que d,lS o fazem saral<)(car Lomo um adivlI1ho; e um adulto que

km tais drogas no corpo as \'e/CS treme. ,alta e arrula violentamente. J,í vi Jdivlllhos se contoru:rem t ~pa~lI1odicallll'Jltc c arrotarcm dc~~c jcito. mas

n,lO duvido de 'lue lJ façam parJ Impl cssioJlar (JS leigo,. embora p() s~a !t.lvel'

umJ perturba'rao PSlcofj"ca genuína. indu/id.1 por ~ugt'~tao c pela a~a(J da~ drogas I ~Ias drog,l~ sao CXJt,ll11eJlIl' as Ille'illl;l~ que se usalll par,1 tral.lr dos docntls

o eJltan to, um hlJllle/ll tjllC tenh,1 lJl{'.LI alo drogas ,IPCI"lS algulll.ls ve/cs naG e~ta ljudllfll<Jdo pala ,ISSLJllli, li 111 papel importante lias ,ltl\'id,ldL'~ de UIll,1

'>C~ ao ou IMrJ profell/.lr. OC,I i(IIl.t1lllclIlL' (J S aJivJldj()~ l·lI\.IÍ.lIl1 a d.lll~.1 11.1

lJ~a dl um del('~. a fl111 de trclll.u lllll 1I0VII,O l'lIl 511il .Irte.

I ogo depoi~ que 1llgL'flU .I S d"'gJ 'I pd.l pi illlCil,1 \'t'/, o r.lp.1I l()Jlle~.1 a dall<,.ar. de l/H/do que vall,l~ VC/L'S ,i LIlIl ou dOI S nO"lç() dall,and() II III 11,1 \l'S­

,\O (mbor.J JlJf) 11HS5l111 tent,ldo adi, lJLh,u. N.lO 1l() "~Ul.l1ll l'Xp~lll'lIli,1 .,ufi

It'nte: pOIS h,I\'IJI\1 illgerldo ,IPU"l" li 1 11.1 ptIJU{'II.1 l'0r'r,lo de dHlg,l. 11,10 lia ' ndo alndJ 'I do lJlIlI.ldo 1I~ Jll ,I pr U Id 1,111 SO!JIl' à., l.ll/l'S dL' ollde .1., d I\Ig.l~

" ~.I() ex t 1.l1d,I\. J odo n()\'lI,o c~pl'ra q uc cedo ou l.lrde (hegue a a. mlr um po\i~' ao 11,1 c.orporaçaCJ. qllando poderá lOiLÍar :;eu, pfllpno nuvlço.... o,{)

podc adqUirir e~~c ~t.ltll~ dq)ols de ter aprendido !)obn.·.I erva, e pI n\.l a pl'()pn.ld J~.

N.lo é posslvel rcconhecer es~as planta., pela simplL<; obser ... a~o de ua. ra í/e~ duran tc a refeiçao LOITI unal. e por i~ so nao se fdl obJec,.ao a que leigo t"';­

telam p re~enles cm tais oca~lÔes. Era comum vcr amigo dos magico sent.! dos a ~e u lado enquanto estes Lomiam a pasta; mas nunw VI o,> pnmclro compartilh ando a refeíçao.

Di/ -sc que os adlVlnhos devem ser muito cuidado50s para que mnguem descubra as plantas qu e colhem para uso mágiCO. Removem os wuJes e fonu c escondem -nos no mato, longe dc onde os arranc.aram, para que ninguem siga sua pi sta o u conheça suas drogas. Uma planta é identificada pelo Laulee folha s, não pelas raízes.

4

A magia deve ser comprada como qualquer outro bem, e a parte realmente

signifi cativa na iniciação é a lenta transmissão de conhecimento ~obre a

plan tas do professor ao aluno, em troca de uma longa ~érie de paga?lento . O professor pode mostrá -Ias casualmente. quando passeia pelo mJto Junto com

o aluno - por exemplo, numa caçada -, ou pode sair com ele 6peClal~ente para isso. A menos que as drogas sejam de\'id.lmente pagas, h.,i ~ p~r~go de perderem ~eu poder no processo de transmissão. pois o propndano lJC'a de m,) vontade com o comprador. Igualmente é sempre posslvel para um profe,­

~or, se acha que não recebeu pagamento suficiente por ~uas ~r?gas, fazer ~ma ll1.ígica quc as inutiliza dcntro do corpo do comprador O adl\'l~ho pode razer i~so . ~ej.1 pelo (07 imento de droga~ c mo de encanta~õe~ que ~n\'a,m o 110\ l-O

do poder d,IS drogas que consumiu. se;.l por um fito especial. Ele toma de

uma trepacleil a d.1 Oore, ta cham,ld.l tlg/ltltlza. amarra um.1 de ~UJ' extrenu~­d c~ n.1 p0l1t ,1 de uma \,11.1 OL''\ l\'eI L r,l\.l ti a no chão e rre~dl a o~tr.1 e'\:trem~­d.lde no so lo. fmm,\I1do .l lgo como a cord,1 de um .lreo,l r.lZ cnt,lo um p U~O

dc magia do tnlV;lO c pll1g.hl na extremidade inf:nor d,1 lfep.ltieira. rJ~.1 qu'

,I tcm pc\t.lde desa he c diVida ,I trcp~ltlel r,1 cm dOl".1 p,ntt' d~ lImJ prnl tJll~ do se p.u.1 o léu. a parte de b.ll\C1 fll,llldo prc,.1 .1 t~rr.1 A"lm ,-om .l p n~

supertor VO.I, voar<i " di og,1 p.lra for ,1 do homem que ,I l.lllll. ~l . No L.1SO de Kall1anga. () p.lg.lllll·nt o d.1S .ud,,, n.Hl hl1 nuulO n )mul. p "

cu IIllS1ll0 pll'Sl'ntecl seu plllk,sol' lIllll lall\.h. l'mbora h.am,ll1g.1 tenh.1 u­

pk nlLlltado l~S() com bens dl' SU.I pmpnúl.Hle. () prof\: lJ r ti·\ r~ Ix'r

llw.tIlllL'ntL' ,illte !JI/SO. !ll/.'" e .1 p,d,l\ 1.1 /.llldl ,.lr.1 1.\11 .1, ma l.lhtl nu cr

Page 45: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

u.,ld,l, l1e\\r conte:\tn, P,ILI tju,llqut'r lIpll de bem. ,1 PI,llIC,l, UI11 ,l luno, ge­r,11lllelltr um rap,11 quclt'm pnuc,1 ~()i',1 de 'cu, p,lga ,I pre,tJ\Jl1 no ulrrerdm, aI1O', enqu,lIltl) elr r o prt)fr"l1r \ ,10 regi~tr,lndo na memOrI,1 o que ),1 fOI l'ago.I\lde Lheg,H ,lle\<ll1t,lr uma ou dUJ' lanças, mas a maioria de ,eu:, blbO

~on,i~te em anéis, faca" plastras, pote~ de cervejJ, ce,to .. de C0l11ld,l, larne e llutros obJetm de pequeno ulor.-\Iguma, de~sas cois,l, Lhegaram J\ ~uas 111.10\ por troca ritual ou pre,ente em OGI~IÓe~ cerimonial'>, ou tras foram pe­dida, ,lOS parentes, outra,>, JlIld,l, adqUirida, ao trabalh,lr para (J governo, em ,en'lço,> como o de carregador. A maior parte desses bens é en tregue ao pro­fó~or quando da 1I11C1aç,10 do no\'iço.

~e um nO\iço é hjbil e sagaz, pode rapidamente começar a praticar por conta própria, mas espera- .. e que ele dê o .. primeiro, pagamentos recebidos a ,eu professor, e de\e continuar a dar lhe prôentes ocasiol1ai~.

Um homem nao aprende de .. eu mestre wbre todas JS drogas que é possí­vel conhecer, pois ninguém ~onhece todas elas. Pessoa, diferentes sabem de droga, diferentes, e quando um homem encontra alguém que conhece uma planta que ele Ignorav.l , pode tentar lomprar e"e conhecimento. Se ° conhe­(edor da planta for um amigo, e 3 planta não for muito importante, ele pode mostr,l-Ia de graça, ma:, cm outra, órcunstânclas espera um pequeno paga­mento. A medida que manos pa',3m, l' um adivinho vai ampliando seU5 con­tato, ~oclai .. (om outro~ membros da profissão, \'ai aumentando seu estoque de droga~. hso tudo permite-no, entender até que ponto os dois adivinhos ri­vais, Badnbo e BÓg\\ÔZlI, e .. ta\'.Im amiosos para conhecer as drogas um do outro, e por que cada um pedia a K31l1anga para mostrar as plantas que o ou­tro lhe ensmara. As planta~ mencionadas nas páginas que se seguem são as maIs conhecidJ~, e a maioria delas é mostrada ao noviço poum ante .. ou de­pois de sua miciaçâo.

Badobll e Kamanga costuma\'am mo .. trar-me as plantas madas pelos adlvmhO'> quando eu ca.;.a"a com ell'S na lloresta, mas nJo as (oh:tu para Identificação. Apena, uma \'l'/ l'sti\<' COIl1 Badobo quando este mostra\'a a Kamanga algumas dessas plant.ls, e ne~~a Ol,ISião ele deu, em pOllLJS pal,lVras, seus nomes e fmalidades. '1 ('rei, port,mto, que me basear quase IIlteiramente na de criç.ao de Kamanga de um,1 expediç,lo feita a nascente de Ulll riacho para aprender sobre as drog.l' dm adivinho,.

'i

() paI' zdllde e <.oh ... rl II por um,1 red ... de (ursm d' agu.1 q ue L( lrrCIll p,lI.t .lInbO'. o lados do divisor Nilo-( ongo. I s\.I~ ,lgU,IS 11.1 Lt'lIl em fontes que ,lhrel\1 no ()!o gr.lOde~ dq,lrl"sslIt's l"lUlas, s<llllhlead.ls por ,tll.t~ .1[\ ores l'lohertas por

denso m'ltagal. Algumas veles a ermao cava pequeno'i tunt. n t rra que saem da (,IVern,1 principal, de p.Jredes es(Or.1(1a5 por rall. gIg:.tnt t f)

loberto da folhagem de arbustos c trepadeiras. () A/..Jnde temem (.d cr

nas, que abrigam serpente, c são a re,idênCla de espírito<; e do ~r 'mpremo. Antes de partir, Kamanga disse-me que ifla com Badobo e Al nvo He e

Barloho iriam arrastar-,e de quatro pelo chão, e os espíritos \"lfl.lm mos­trar-lhes as plantas que buscam. Disse que teriam que entrar em mUito da queles túnei s escuros para achá-Ias, mas que os espírito~ os guiariam. Ambo deveriam então arrancar as planta~ do solo e retirar-~e andando de c.osta, c.om elas. Badobo iria mostrá-Ias a Kamanga, para que este, por sua vez. pooe:c;..e um dia mostrá-Ias a seus próprios alunos. Alenvo ficaria do lado de- fora da.:a vema, tocando suas sinetas para orientar os dois no escuro; ~em o som des~ sinos eles se perderiam.

Dou aqui a descrição de Kamanga sobre o que ocorreu:

Andamos um bocado dté a na cente de um regato, por um atalho estrc=tlo. Fo-, mos até aquela ánore lá , então eleç p.Haram e Ut seram que tam ~ntrJr na lerra

comigo, no lugar onde \Oivem os esptritos das drogas e o Ser Supremo, e pergun­

taram que tal se eu desse a eles um pre'iente. Eles não iam entrar la corru;;o de

mãos vazias. Parei e pensei um pouco. então det-Ihes uma pta,tra. BJdobo enlao

disse que ele:, iam continuar e me mostrar as drogas. Andamo, mal' um pouco

até chegar à boca de uma caverna, umJ caverna enorme, e então el dL,erarn'

"V " amos entrar.

Badobo disse-me para montar em ~uas costas enquanto ele ia de qualro, en­

tão montei e agarrei -me nele com as m.ios. Ele me disse que tJ me Ie\ ar e que eu

não precisa\ a ter medo. Entramos nessa caverna. Então ele pó, a cabe.à no (hão,

apOIada nas mãos. Esse tempo todo eu esta\ a nas suas cmtas. Fomo mal' I nge

e Badobo apoiou de novo ,ua cabeça nas m;]os. Todo o chão da C3\erna ',00 :1"

"II, II, 11, ii, li". Contll1uamo~ e Lhegamos a um.l outr.1 entr.ld.l d,l • .l\ern.l, onde

ele se agachou ue novo. Ent,1O me lh"e: "Quando eu der um I'ulu de repent

pegar uma pl.mta, f,l~a o mesmo." ·\qmescl .

,°lr \e .lba t'l.llU ,l'i,lm, de repente deu um ,alto, corn.·u " ag,ur u uma pUnlil

no meIo tI,t L.ll'ernJ, e eu J ag,lrtei t.1l1lb~m Ele me dt,,;c: "r,ta e planta q , u

1.1 lhe mostrar." UI"e l11e que ,e I"os"" p.Ira outr.l pe",)a, de ú'rtam nl r ln

UI11 p,tgamento, .1Inda m.tlS porque l1\ e'ptritll' nJl) nlh linh, m ii?"ll mal e m

110 ~h,lO d.1l.l\'ern.1. e não llll\ unos lll'nhul11 choro cnqUJnlll dt' e la a m, m

tl\tndn .1 dlllg.l , e .l'Slm tudo Indll,I\'.1 que minh.llllkl.l\.lo la ler 'u 'l,rol

Page 46: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

l

l'I,\ não h.1~se d,lf «'rIo, <,nl:\o O~ e'>pmto'o tcriam ficado l.lnp:,ldo5, e eu os te ria

0\1\ Ido 1.1ment,lr- e' "HIl::(IP.,I/,' 11<'00."\ r ,CI11 duvida eutambC'm teri,1 vi .. to um,1

lohra na ca\'erna 1\1.1, como ele me linha acompanhado, me tinha Iev,1do com

ele ao lug,lr do Ser Supremo, eu não tinha ouvido nenhul11 lamen to, não tinha

ou\ Ido a fala dos e'opíritos. ;-':enhumJ grande cobra nos tinha atacado. Entao ele

me dl'o~e: ''Esta ~)lantd que eu e .. tou lllL mostrando e uma drog,1 muito poderosa

dCh adivinho,." Ele então mandou-me curvar a cabeça e olha r para o chão, para

um poço fundo que lá havia.

Perguntei a ele: "Qual o nome dessa droga que \'oee arrancou?" Ele respon ­

deu: "Ela se chama bagll porque não dorme quieta, suas fol has murmuram a

noite inteira: 'guuuuuu'." Dis,e-me que há outra droga poderosa chamada mie­

roko na beIra dos regatos, que eu irIa \er suas raízes tentaculares se espalhando

na entrada da caverna, e ele pedIU a Alem'o que cortasse uma dessas raízes com

sua faca Alen\'o cortou e gritou: "Lanças, lanças, lanças!" Sem pre que colhemos

uma planta ne"e regato eles dl7.iam, enquanto a arranca\'a m: "Lanças, lanças,

lança\I,,4 D('s~(' jeito, ele5 falar,lm de todas as drogas dos adiú nhos.

l1adobo mostra a Kamanga outras drogas.]

Então f()mo~ e ficamo\ no meio do riacho, onde Badobo me disse: "Quero

ql,<' você m<: mostre, enquanto c~tamos .lqui junto~, quais as ? Iantas, destas que

estão Jqui, que Bogwozu lhe <:minou, que os adiyinhos baka usam." Eu contei a

el<: os nomes das planta, que Bogwbzu m<: eminou, e aI Badobo me dls,e: "Sim.

fie lhe emlJlOU muito, Tod3~ as nm,as droga, ,ão as mesma,. Essas drogas

que ele lhe ensinou também são minhas drogas, ma5 existem all1da três outras

drogas dl' que ele não lhe falou." Badobo entâo começou a me ensinar ma i, dro­

ga~: a ziga dos adivinhos, que é a zClcngbondo.5 Ele me dIsse que estava me mos­

trando J Zlgll dos adivinhm para qUl, quando eu começasse a cozinhar drogas e

me tornasse UIll adi\'lnho Importante, re(unhecesse e\sa folha dentre as outras

pLl/1tas. I )I~~c·mc para n.10 r,l'pal sua CJsca voltada p.lra leste, só para oeste.

()uJndo eu a lozinhassl.', devl'ri.1 dlz!!1 d scgullltc enlanta\ão: "Que ninguém me

JIlatl pUI l.lUSa de minha, atlvid:lLks pllI!issionais. l.!ue minh"s mulht'fes nao

abandoilem minlu caSd. Que IJIlnha mulher nau mort i1 pOI CllI,,1 de meu ofí

(iO,~ I.I~ me disse que eu dneria Il'/JI dÔSl' jeito, e que quando lO/inh" ... se a~

LlIllelltaç"" fUlldl[(: ,14s rnullll'fCS.

Ijl~kr<n(l",)o 1',1!\,lIl1enlOs ft'll0 pd,) alullo tio prnk .. 01.

.tu,!.1 dlo~.l' ldlldt !elIl umJ Zlg,I, ou ,lIllldolo Nrs\< L •• >O, (l.lntlllolU t III~Clld" IMrJ t"\It.1I qll~

I ,um IIlforl UIllO dhata 'óobr .. dl,lJl1IlIJ do nm IÇO.I'0'S' <I,m"IJ eXl'li'llle".tLl edil,'" 'lu, ",I'lU"" "'. C) Ot "-11111 nla~1J p(,dt:ro~ pO!l\Ol L.JU~i11 d IlHlrh- de UIIl I'Jltntc.: I 'pCIJ "L llllt li Jhll d,) .ll~tr 't"

h, J lf ' J~ um p IHI1I< di~lantt',

() 1"'/II'"/11"'(U d,' "'1/ ",1>",,, tlil tinI! dtl a,lrl'lllha~" t • J

drog.l~ eu dcven,1 r<:colher o re\íduo (" madelf.t que 101 fl'rvlda para l"Xtralr li

SUCO) e entt:rra- Io n,\ cntrJdJ de minha (a[,ana e no lugar em queestJ meu to~o

domé>t lco. Disse C!lI ,1O que eu devcna comer a pdst" mcdKJ/lal t: lJnldr mmhJ,

mulheres e fi lhos COIll ela. Disse que, quando eu fo\se ddnÇ3r a d.ln\-<l doi. ddl\1

n hação, nen hu III Ill al deveria ocorrer, a mim e a minha mulher, por «lusa de rr I

nha ati vidade pro fissiona l, é que é para ISSO que ~e uJllllha a zlga, ou I) azar d.L

d rogas se abale sobre a esposa do adIVinho. I:le terminou ma aula sobre dS dro

ga~ com o que disse ~ob re a zlga,

Não transcrevi os even tos da in iciação de Kamanga na ordem em que se deram, pois el e foi sepultad o ri tualmente antes de engolir o muco da bnL"Y­

ria, e o engoliu antes d e fazer sua visita as nascentes do regato; ma a ordem

em que apresen te i os fatos é mais adequada à textura de minha narrativa. e a cronologia exata n ão é importante. Cada rito é um processo autocontido de

investim ento d e p o deres mágicos, os quais compõem o equipamento com­

pleto d e um adivinho.

6

A fo rmação d e Kamanga avançou gradualmente. Ele aprendia sobre uma

droga h oje, sobre o u tra daqu i a um mês ou dois; e como Badobo em geral

con seguia extrair um pequeno pagamento a cada porção de saber tran. miti­

d o, o en sino caminhava o mais lentamente possível. Podem se passar anos até que o professor tenh a esgotado toda a sua informação sobre ervas e aryore • e

pa rte d ela só é tran smitida muito depois da iniciação pública; no caso de Ka­m an ga, po rém, fiz pressão para que seu curso durasse apenas cerca de dois

anos, caso contrário eu não poderia vê-lo terminar. Alem de emmar sobre a..;

drogas, Ulll adivinho deve dar a seu aluno algumas peles e chocalhos rar,l co­

meçar seu equipamento profission al. Acredito que os ensinamentos de Badobo e B6gwi.'izu sobre droga er.lID

perfeitamente genuínos, e em geral me foi pOSSIVel conferir iunto .1 o JtrJ.~ fontes a informação dada ,\ Kamanga. Ademai~, o própno h..l11unga e,>I.l\,\

ansioso para verificar as Informações com outros adIvinho", r(,1i~ su~p<:'it,\­va q ue seus professores lhe estavam sonegando emin.lmçnll)~. Ele (t'\'C opor­tunidade de trocar il11pressõe~ CO I11 outros profis~ioJ1,lIS Illclependentt'"

que passou a conhecer após ter cO l1l eç,ldo d p,lrtllip,1[ d,b rdei -Oe.., e 'oe:,>,>,)e,

mágicas. Nm~.l pe~q llj~a) contudo, deteVt~ se num plHltO.l\:'Cl1l KJlltlbo nem Küg-

WÜ/U es tavam dispostu~ a lhe CJ1 SlI1a r conHl ICJ111l\l'r o~i to~ de bnn:.lfla do cor po d o s pacientes. Falavam -lhe J,IS d rog,l, que pcrmítllulll rc.III Jr I.u~

Page 47: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

llper.l\()l'S, ti.mJo .1 illl press.lO d e que a 1l1gest:1O tk .. ... I\ d rog.lS C.lp.lul.l\ J o

.lluno.l f.ll er lllllJ illl·I \.i ll nll lorpo do p.lc lenle, (ololJr 1lIll l .1l .lpl.lsma sobre

ela e m .lSs.lgea-l.1- e ent.lO 'I libidO da bnl'\,lr i.1 ,Ip.trecefl ,l. ,

.. t,i fo r-a de d ll\ ida que os ,ldl\'inho~ Ir i.! m complelar o I re in,lmcnto de

K.lmang.l depoi .. que cu dei".! .. , c o pal\, poi~ é ó bvio qu e, se algo nao Imsc rei ­

tn, dE' in.l sorrer uma ~,aie de tracas~os refumba nte~ .ln tent.l r retirar objctos

dos corpo s d e ,eus paCientes. l\IJ~ eu la est.! \ a cansado d;!, lhi c,lniccs dc Ba­

dobo t: do s blefes de BOgWi'i7U. lá t1l1ha pa rado de d ar presenles ao primeiro,

ma llllha uma divida à parte com Bogwozu, a quem p rometera o principesco

dom d e dez lança~ se ele treinasse Kamanga in tegralmente. Bogwozu queria

volta r p ara sua ca~, a um dia I.' meIO de viagem , e cob rou seu presente. Quan­

do argumentei que Kamanga nao estava ad equadamente treinado, infor­

mou-me que seu aluno sabia tudo que ha\'ia para saber.

Como um menll10 de mll1ha casa estivesse um pouco adoentado naquele

momento, \ugeri que Kamanga o operasse, di zendo a B6gwüzu que, se seu

.ll uno f() s~e c.lpaz de realI7ar com suc('~~o a o peração, eu de bom grado lhe d,l­

ri.l a~ de/lanças e deo,ana que vol tassc para casa na manba ,eguinte. Bogw()zu

preparou um cataplasma com a ~ ast.a d e !...po)'o, e, enquanto Ka manga tàz i;!

uma incisão no ahdômen do :11enin o, imeriu no cataplasma u m pedacinho d e

carvao Fu esta\a ~entadn entre Kamanga e Bogwozu. Q uando o professo r

pa~sou o cataplasma para seu alu no, peguei-o para passá-lo a Kama n ga, e ao

fazê-lo procurei o ohjeto que LOntinha e o removi, fingindo examinar o tipo

de material de q ue era fei to o cataplasma. Não tenho certeza se Bogw·ozu viu o

que eu tinha feito, mas acho qut' suspeitou de minhas intenções ao pegar o ca ­

taplasma, pob ele certamente pareceu desconfiado. Kamanga teve uma desa­

gradàwl surpresa quando, depois de massagear o abdômen de seu pac ien te

por ~ill1a do cataplasma, dOll1odo usual, não encont rou ali nenhum obje to de

bruxaria. Enquanto Kamanga pro~ura\·a Identificar qualquer pedaunho d e

maléna vegetal no Gl lapla .. ma ~OIl1() um obJeto de bruxana, \'1 com o canto

do olho Bogwozu movendo a palma da mao no solo, pro~ufando outro peda ­

rro de canao pa ra S,ll1Jr ,j defluênlla . ALllei que erd chegado o momento d e

parar com a operação, e pedi .1 Kamanga e a ~eu profl:~SOf que \' Iessem a mi ­

nha .... lbanJ, onde lhes disse que t inh .l felllovido o carvao do lat.lpI.ISlll.L e pedi

a Bogwozu que ex p lilasse LCI/lJ() ele tmbd ido P,\l ai ali. POI ,I1gUll'> iml ,lIlIL'S

fingIU tJl(.redulidade e ped iU pdfa ver o obJetll, dize ndo que t,Ii LOis,1 Cl,1 illl ­

possi\el; mas e la esperto d em ais p.lra um ti nuar tingindo e, lOl1l0 e\ l i\'(? s~l' rno~ a sos, aC.lbou ad m itind o \ 1I .1 Ilnp{j~ t ur, l . !{ccehl'lI dll.!s lan\.ls pdo \l' U

trahalho, \olt ando pa ra casa fi O d i,1 scgu lIlte ~em a\ o ul r.l' oi to, que perde u por nao ter cump rido ~UJ parte no umtral o.

( J l u I1la lll ,''' ( j Jt' "11' III 't "d ar', tL I

() Cle lto des\.Is revcl,lçoes , ohre KJ m allga fOldc\.l .ldor Q J ndo \ It '" ,1 ' I d o c"pan lo, p.lSSIIU ,\ dllvldar sen amente d cun rOI nu'! d r

., LI a i nl ci,lçao. No começo nao podia aL redIta r no lJue \ I r.l e uu ,r I num

ti i,l o u do is recobrou sua serellldade e d eseIlvolveu uma auto<.onf an'j.4 q ~ SJlvo engan o, não m os trava antes do Illudente. 'o fu turo, ele, como w. ') legcls, d esculparia sua p re~ tIdlgi ta çao di/endo que I) que cu ra\ a '>Cu ra I n nao e ra a fin gida extr,lçJo de ossos, pedaço de ca r . ao, a ranha. J)C;oUr

o ulros obje tos d e bruxa n ,l , mas sim a droga mbrro que e ra ad m lfll tra por

via interna e externa. ')1.' sua Ci rurgia é falsa , sua clílllca é hon~.

7

Depois desse episódIO Bogwozu nos deixou e yoltamos a recorrer a Badobo. Como n ão fo sse m ais necessário esco nd er seus t ruques, acedeu faç.ilmente

e m ensiná-los a Ka m anga. Tran screvo seus ensinamentos nas pala\.as deste ú ltimo:

Badobo disse-me que, antes de começar a tratar de um pacit'nle, Je\o COTUI um

pedaço de togara muga e entalha-lo com a faca até que pareça um obJe1o d bru­

xaria. Devo escondê-lo entre os dedos ou debai. .... o da unha. Ele dL.,.,e que de\ fi­

car entado qUieto e não fazer nada, dei. .... ando quc um leigo prepare

cataplasma. Quando ele pa sa- Io para mim, de\O pegá-lo rapldament e o1're­

mê-Io entre os dedos par,1 enfiar nele o pequeno objeto qut' lenho deb.:m dI

unha. Devo cUidar para que esteja bem enfi ado no catapla~ma, e então aplko

este na parte afetada do paciente.

PIimeiro devo esfregar um pouco de /Ilbir,' na boca do paciente, derol en­

cho a boca com agua, garg,lrelo e lllSpO. De\'o entao m.D'JgC.lr o paciente, re­

mover o cataplasma e, ,>egur.ll1do -o na nüo, ímpccion.llü JI.! J copnr o b t

de bru'\ana. Qu.llldo .Ilh.lr um objeto, de\·o mo,trj-Io .lO, a" htt'nt p foi _ e

\'cpm c digam: "Oh I Qut'm dIrla l [ntall t' JI"ll que ele otJ\,! morrendo'

De\·e-se utlhz.lr o mt" Ill O ob,eto p.lfJ lada tn: , ,lp<.'raçõc, . Qu mi eI~ ft)f

rcmo\ Ido du L.H.lpla,m.I, de\l' ser le\·Jdo ao OlO dt' um.1 .inore pr Uffi..l, 01\1·

'.I se.1 tod'h que n.lO o toqut'm, porqul' e,ta lig.ldo.1 hrUX.HI.I, Em.l de U k

de 110\ 0 , e,,:ondendn o m.ll' um.1 vcz 11.1 unh.l , rc.lhz.lndo um. un ia ::>ef.1

~.Hlllru l gIL.1 (om ele Um.1 pe"n.1 que e b'l.1 n,) truqul'l ode \ .Ir o m

lo .He II e, \ 'Cle,

1 nl .ln d,', IllC dk .. l'r.l lll: "t h .ld l\ lllh", tI a!.un tI um ti dl /u ldo qUt' tnJIJ IlI UIll llbjdo dr hnl\J.rl>l .I, \C II" rp,I, q I

n.I<1.1 disso ; m.I ,", por nu! rn 1,1.10, .lplI,.lrJm rt·m~ ... II,l nJ h< :I ram 'LI.! pelt' olldl' Ihl' dOI c l'\/ reg.lI.1111 r,'llll'llhl 1111 "Ir!

n .. n\

Page 48: Evans-Pritchard - Bruxaria Oraculos e Magia

4

tiL' hom, .1' 1'<.'\" ,I~ .II' 111 '1Ul' (1\ ,1.11\ IIlho~ S.\II h.li1Ch lIlI.ldO IC." 111.1' 11.1 "'1.1.1

d l' (' .1 dr(\~a '1IIl' I c.1lnll'11 I e ." II ,I. <.' " por., .111'.1 dela q II" .1' I'L'''''." I r.1I .ld.l' I'c lo., di' II1h05 1I1o11l1 I",.I~ """"O.IS 1','11,,1111 'l"~ ,ILUI.I se 1.III'LI.IL·\I r.l\ .10 d,' obl~

III' e ~o ,I~ adl\ Il1ho~ ~.lh{ll1 que l' ,I drog.1 qlle L 111.1 .h I'l'"".", II.I' 11 ,111 ',lhe l11 d.1 , .: rd.l,k 1'0 rq ", .ll'el1,l" I" .HII \' 111 h'h .1 delel11. " gll.1 rd.1111 .,cgrl'do N.1O fi (.1111 l',,, p.llh,II11lo "ClI, \lnhC'lil11"III", 11',1', ('OI1I.1nl no Jpell.l' p,II.1 .1'l IlCk , que .111 I e., (O

rn,'rJI11 d.h dlog.IS,I"lr'llll· "'UII.II.lI11l'olll L' fi O);Il)."

<;l'nllUll1 POUlO de I'cn.1 de K.lIn.lI1g.1 nL's.,,1 (ll.lsiJO, H L' sCl11prc 1110, trar<1 UI11J Il' \uhlIl11l' no~ ,Hli, Illhll'o; n,\O h,l\i,1 argul11ento., qut' () imprcssionassem,

pOIS .,cl11pre rl'lorqui,1 que ,I \ugL'SI.H1 dL' frJulk era \'(' lh .I ,' cobri.! apenas uma

parle do Il'nÍllllcno" AIL III disso.l'Ie I1UllL,1 se U)I1\'eI1CCU dc que os adivinhos I r,lp.1lea.,Selll, Jtt' que ~L' lornou ele ll1esmo Ulll ,Idl\'inho, Então soube que to­

dos ilqlll'les que li IlIhCll,1 eng,m,l\',lm m pa(icntes, mas ainda assim remJya

eXI~llrCl11 ,Idi\'inhm quc POS'lIJ.IIll uma mágica suficient emenle fo rt e para de"Lohnr e exII,Il/, Obll'los de hluxari,1.

I le'Vl' Sl' consideraI, porelll, que ha grande~ dikren~a\ de men tali dade entn' dl\er,m leigos; e n.1 \'l'rdadl' dIfl'renças de ,ltitlld~ da l11e~I1lJ pe~\oa em

dlvcrs.ls ~itu.l\ol'S, ( 01110 illl.,tl,lI,.ao, cito a fala dl' outro Infolmante, Kj~anga:

QU.lIldo um hOIlll'1fl lí<.J dOCI1 II.", h'''La 'oe um adi, IIIh .. , Anil''' Je \ cr o doe n tt!, o

,lIlivmhn raspa c martelJ um '1'SO de ,BIIIIUI alL' IlLar pequeno, e cnlJO o mlslura .IS Jrog,IS de seu .,Jlllre, l)epol chega nJ L.l'>J d" docllIe, loma um bocado

d JglI.I, lava slIa bol.d ~ .1 C lalll,][J p~ra qUl' lodos \t:jollll '1Ul' nao h.i nad,l nela,

Abre ,h ma", 1"lllbLm I',ua que lodos \'ej,IIH, l' fal,!. "( >fllcl11 bt:1ll para 1111111,

na!) sou UIll Ir.lI'JL<'lro. porque 11.1" quno tirar n,ldJ dl' IIl11guém por meIO dr fr.lUdc,"

IIL' ~L'Il'\,lntJ e plf\d SU.I drog.h no dllfrl' l"I"L;IlIdo o ,I wu I,ldo; enfi,l IIclt- um grJ\L lo, 1.11lI1l<' L'pUL "os~IIII111Il.1 hOl.1. (_01, I(a ,I hOL.ln.! P,IIIC ollel,ld.1

do dncnlt-, ~ugJ p"r um bOIll ILlllp" ( enl.l" C"'PL' o o,slnho nJ p,IIIllJ doI lll.1O l' m"'llill"O I'JI,! 10.10\, lhlt'ndu "I, I lo qlle lsla .... lusJndo ,I dOell\,1 ndL' " V.1I

fJZ 'ndo, "~11l1 ate '1m d ,I"elel t"d", ,,, (JS 11111(1' qUL' po lI,l bOl.I

M,h .Iylldes ,HllIlIlhllS quc 1.llnl'{"1I1 ~,'" IlIuxo sa"L'11I 4l1ClllL',I,I I.llcnJo l11al.lo dorllle Anil' d, II Vl'1 o doelll ,o .ldIVIII"" \,11 .lIl' (l III liXO L' ~OI1I'l'r~.l

1I11ll de, dll(,lIdll:l.I~.1 10(' (l Inol d, delx.1I ,IL III'IIILII1 "1111'.11.".11.1 'lu,' dL'

"que 110111 d.l dOl'II\J e 1',11.1 <JII' lod" nllll1d" 1,11, " 111 d, lIllIlI L dlg.1 'III" Soll

re.lll11entc UITI veld.ld"IICl .1l11l1l"1O •

O "ru o f.II. pJI.! til' 1\1.1 "un, "~ILI li, IKIO''',''L ",,\L' 'l1l.II'llltl olll,o Jd II j 11 Iw, lU n l li ,ln.I o I'l'd I do M.I., q 11.11111" \ "lL" volt.1I ,k 'U,I \ I ~ i 1.1 .H) d""lIlc, IUlIhlL' e dr Ir.!ln lodn, fl' I'Il ,('lItn 1'.11,1 qu, 1''' S.1I1 II " dllldl I,,, I I ,1'/11 i

nho l"eph,.1 .. J't.lrl'l lodo, ", prl''<'1111 , para '{'U:, (' Vdmo di Idl 'o

,I Unll1llJ r ln i n h,l rq' 11\'1\,111 ('II Ire" pu, q ... e f''1r I "lU I '1l

\'on~ m~ l,l~ ,1 l,.,1 (' 1.1 vor, l' '1u(' depo i, '1ue lU Ir d Id r d<J d()~n • ri Illl'nlc cur,ldo.

r •

IITr'

() bruxo loncord,l COIll a proposlJ do ddlVl11hc tele \ I mi ~"rr. u,

ohlL'lo" f.l l.,os .11(- o d()~nlL', eng.ln,1 () l' \'"lld para cd '.l O dOFott fi Ix,rr, e

(1I.1lalllcnlc porque (J hruxo II I.lrgou, () .ldl\lllho ou,e duer qu o doente r

pl' roll ~l' r mJndJ UI1I Illcm,lgclr<> receber ()~ pre'>C!ntC'i de\ ,do<;, O ra'er::" do enfermo lião \'<lO ,e rlU!'>,lr.I d.lr·lhe um pre<icnle porque pensam <t~ fOi ele

qu em sa lvou seu p,Irenk D.lo l) que ele quist'r, até me~mo dlllS' Jl\.<I Os dlVl

nh m sempre ~e manC0l11Un3m com o~ bruxm para ganhar presente<; do ('0'0,

Ma, um adil'lnho que não c de me\I11O um bruxo não ~I-,ede n3d.! e as pes \cmprc o chamar.io dL Irapaceiro,

Esta explIcação foi-me dada por um homem de inteligenl.la incomum. m dS representa J opil1lão popular. Dois pontos filam claro,. O primeiro eque

as pessoas não apenas ',Ibem qUI? os adi\lnhos podt:m extrJir fraudulenLl­l11en te objetos do corpo de seus pJcien tes, mas e tão Llentl?~ do tipo do truque

empregado, O segundo ponto é que esse conhecimento não entra em contra­dição com uma grande fe nos adl\inhos, porque ,e acredIta que um grand~ número deles realiza curas notá,·els por meIo de um entendim~nto com os

bruxos, A habilidade de um adl\ 1I1ho depende da qualidade das Jro~a., que

comeu e de sua posse de tnrll/gll, '>e ele não é ele proprio UJll "bru.o", nem in­

geriu drogas eficientemente poderosas, e adIvinho arena, doi bOloa paralofJ. Portall to, se você critlLar os adl\'lnhos, os Azande concordarão inkirarnt"nte_

~~ Ill1pOrt.llltl? not.u que o Leticismo quanto aos adl\ inho., não e, cial­men te reprimido, A .Iusência dt: doutrinas formaIS e coercltnas pt:rmite que

Ü'> A/ande afirmem que I11UltOS, t,llvel a m.llona, dos ,ldi, 1I1h"., ,.lu 'rapacel­\()., COlllO 1lc10 h,1 llposi~,\o a tais ,11'irmati\as, .l Lrenç.l h.lsiLa no .. ~', dere te­

rapeutllo'o (' profetlUl., do., ,Idl\ II1ho, perlllJnCCl' II1llllunk aJaei , o lellllSn1l1 é p.lrte (omponenle' do .,htcm.1 d.llren~.l cm .ldi\'1l1ho,_ Tanto a t

qU.ll1tO o Letic"mo sao tradlCIOn,ll\, O lt:tlusmo e'XpItL.l \lo, Ir.1C3 'l)~ ,io adl­linhos c, dlll)\ldn (ontra .11)\1111\ delcs ludl\ Idu.1lmcnte, rdor,.1 a f em outro .

Os A/,1l1de' lL'm dL' l'Xprtl11Ir ,,",1, dll\ Id.I\ ,obrc ll' pl)der nU,lhO J ,1<11\'111110' el11 1l'rl11m ll11,tllll'>, UllI ,ldl\'ll1ho l' um tr.lp. um lorqllt" lia

di og.l\ "lO fl.ILa." I 1I111 lllenlllll'>O pnrquc n,IO po"ui "bruun.\ JlgUlI1,l E ,t Idlom.ll ,\ t,tI P,11110 dL' ordclll 1III,liL.I que ,I cntIL.\ d,'um.1 Lrl',h.l II I de 'r

Ic,tllI,lda CJIl telmm de OUII.1 Lllll~,I, qUL' l.\rl'LC igll.llmLllt k UIll,! tund.

IIIl'I1I,I\,1O f.\LfU.tI. A"illl, Ki."lng.ll'\l'h"l I'" lexl,).1 im Ill11l0 '.Idl mhll II.lp.ILei.II11; 11,I!l so ex pliL,! pl'LLi,.II11l'lIIC uI111l1 Irap.k,·lalll lT1 h,"a .I1t' .I

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t'\pli'olr é'omn ().- dOl ntc, ',l(l Ic\ ,Ido, ,1lTer (l'relll 'Ido cUI,ldo.' por UIll (11,11'-

1,11.\0 \ 1 J dl' ("te\ L' dt ll'n te, fOI t r,H,ldo e ("1.1 bl'lll ; e ,I( red i ta q ue o (I a (a l11en

to o lUr1ll. ~oi LIlIJdo. n,jo pel,1 tl'1.lpeutlc.) do ,Idi\'inho, 111,1~ por ullla b"rgJnhJ entre este e ti bnl\o.

8

\'Imo, que lh Al<lIlde tém dll1,ClenLlJ d(l~ truques praticJdos por seus adivi­nho, na função de curadores e dl' SUJ inetici~nciJ nJ lunç,ío de adivinhos. Como em muitos outro, de st'U, co~tullles, encontramos aqui uma mescla de

\elhO Lomum e pemamen(o místiCO. Podemo~ então perguntar por que o sen­'o comum não \ entC a superQi\.1o.

lima t'xpliLação parcial, ,em dul'ida. de\"(> ~er buscada no treinamento de,crito por Kamanga. Esse Irc inamento é cssencial por dois motivos. O pri­meiro c que' o 7ande mostra uma ampla dosl' de ceticismo em sua atitude para (om {l\ III rado! l's; estes, portanto, dewlIl ~er cuidadosos t'm sua, prest idigita­çol' . [:m ,egundo lug,lr, para o trJtaml'nto ser eficaz é preClm que ,ela realiza­

do a lllanl'lra tr,ldicional, que se acrcdlta eliminar qualquer possibilidade de charlatamce, uença que estllllula a te do paCIente no médico. \'imos que o

l.lnde n.lo aLredita no poder terapêulico dos adIvinhos simplesmente porque

(ena uma ~ ropensao e peClal a crer cm coisas sobrenaturai~; pelo con trário,

ele cmpre remek qualquer ceI 11I~mu ao leste da experiência. Se o tratamen to e reallz.ado de umJ certa maneIra por exemplo, quando o capim bmgba é u ado COJllO catapla~ma -, ele lic.lTá francamente desconfiado. Mas ~e o adi­

vinho sen ta se Ilum banco e requI~lt.1 uma outra pessoa p,lra cortar casca de kpoyo e fazer um c.llapldsma, e cnxágua J boca cum água e e~palmtl as mãos

r JrJ inspe"ao, lodàs as ~w,pell,l~ ~t'I.I" al~htadas. O zandl' replila o~ JUílOS ré lILOS de umJ forma expertll1l'ntal l' ralional, filTnecendo um.! h.,ta de casos que conhete em que as cllras 1I\'er,lI11 ~uces~(j.

Se Jlguem 3(ompanh,lr um .ldl\'1llho IlUllld de SlJ.IS \ i5it,ls, fkMa tom'en­odo, Sl nao dà validade de suas LlHLI'>, .10 Illenos de SU,1 h,lbilldade. 'J anto quantu se pode observar, tudo o que ele 1M p,lrele ser as claras, c nad.1 se /lota

que pOS~J permlllJ ,I desLohert.l de Ir,ludt J)t'polS que 'llgullll "I\'('U ,llgul11 tempo no pal~ lJnde, lera ,Ilunllll.ldo prO\'dS dll 'alol tl'I.lp':utiu) do (lat.l ­mento emprl'gadu pdm adivinhos { .id.l llallVO e upal de extl ,til' til' '>L1,1 prc'l pna experiel1CJa v,lnm relato COm intentes de tOJllO de nlJ l'U, p.lIentes l'

tlmlgus foram Lur,ldo pel,1 ex(I'.1\,1O de os 'o l' mJJlho[.)~ do ... orp" ::'c UIII ddi

~ mho nao con egue lurar Ulll 1.lIlel ,esle hu ..... 1 OUI ro, ex.ILIIIIC ntc (lIIIlO LI/l' mo quando nao e tamos ~atjsfeJl(J~ U)l1I () Iral.J1lIt'1110 do pllllleiJO médiu)

procurado. [)o memw lIlodo, 0\ AL<tllde de {jUefll trateI de um <;em numero de doenC; ,I" frcq iJenll'llll'n((: ab.1Jldonav,UTJ meu tratamento e VI Ita .1m u, pr{)[1nm profl\SIOnill." em cUJa, droga~ depo,ita\'am mal .. fe. I-m \ar as <xa siôl''> tratei de paCJen(e~ COIll dor de (;~tômago, sem conseguir dlmmulr seu desconforto; \' i - o~ cm 'l'gllldJ viSitarem ~eus proprio~ curadorec; e voltarem grandemente aI i\ i,ldm, ~e nilO curado~. Portanto, devemos ter em mente que. a despel(o dd charlatanice dos adivinhos, seus métodos tem um suc.esso reuII o.

MJS essa fé é sustentada (ambém de outrJ~ maneiras. O ritmo, ii forma de enunciação, o conteudo das profeC Ia s, tudo 1.'>50 aluda a cflar a fe nosadJ 1-nhos; mas não explica inteiramente a crença. Apenas o peso da tradiçao pode fa7ê-lo. Os adiYinhos sempre fizeram parte da cultura zande. Eles figuram na~ mais antigas tradições nacionais. As sessões que promO\'em são um dos pou­

cos tipos de reunião social mais ampla que a vida em família, e de~de peque­nas as crianças tomam parte nelas, como espectadoras, coro, tamborileua . Os Azande não concebem se u mundo sem os adivinhos, assim como nós não

conseguimos co nceber o nosso sem médicos. Ja que existe bruxaria, natural­mente ex istem ,ldivinhos. Não ~e incentiva o agnostici mo; toda:. as crença e

reforçam mutuamen te, e se um zande ti\'esse que desacreditar dos adl"inho-. teria igualmente que abandonar sua fé na bruxana e nos oráculos. L'ma o;e são

de adivinhação é uma afirmação pública da existência da bruxaria; é uma das formas pelas quais se inculca e exprime a crença na bruxaria. Igualmente o

adivinhos são parte do sistema oracular. Tunto com o or,lCLJlo de atrito, ele­

forn ecem questões para o oráculo de veneno, que corrobora ~UJ5 re\ elaçõe-;. Ne~sa teia de crenças, cada fio depende dos outros, e o zande não rode ,.ur do

emaranhado porque esse é o un ico mundo que conhece. A teia não é uma e.-­

(rutura e}.. tern a em qu e ele l's tej.l encerrado; é a te\.rur,l mesm,l de ,eu ren J­

men(o - l' ele não pode pensar que ~eu pensamento está errado. Contudo, suas lIen~,l'i n,]o e,t,lo dad,ls abso lut amen te. mas são Van,l\els l' t1utllJm para aJust,lr-se a difert'nte, o,ltu .lçôes, permitindo a obsen a\-ão emplne,l e ate 111 ,­

mo a duvida

A ult ima p.trle doi 1111L1,I\,Ít) de UJ1\ adl\ IIIho l.jUt' dL'\ n til ,([L'\ <'r e 1IIl'lIto "'(U,II. J c,tel11Ullhcl l'",llClllllonia cm dua, llC.hllll ,,\ qu,li, qllalldu h,lIll.lIlg,1 fOI IniCiado.

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