expressão oral e escrita num contexto de engenharia

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Expressão Oral e Escrita num contexto de engenharia Departamento de Engenharia e Gestão INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Universidade Técnica de Lisboa LISBOA, PORTUGAL JOSÉ FIGUEIREDO IST, DEG, Departamento de Engenharia e Gestão @2011 D R A F T C O P Y

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  • Expresso Oral e Escrita

    num contexto de engenharia

    Departamento de Engenharia e Gesto

    INSTITUTO SUPERIOR TCNICO

    Universidade Tcnica de Lisboa

    LISBOA, PORTUGAL

    JOS FIGUEIREDO

    IST, DEG, Departamento de Engenharia e Gesto

    @2011

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    F T C

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    NDICE

    1. Introduo 3

    2. Discurso, fonte, destino, comunicao tipo 2 6

    3. Eficincia e eficcia 9

    4. Aspectos ticos da comunicao 11

    5. Os diferentes discursos, as grias. Adequao do discurso 14

    6. Preparar um CV 15

    7. Fazer uma apresentao PowerPoint 17

    8. Escrita acadmica (cientfica) 19 9. O tratamento do resumo como exerccio de conciso 23

    10. O processo de escrita 26 11. Double loop 31 Anexo Exerccios 34

    JOS FIGUEIREDO

    IST, DEG, Departamento de Engenharia e Gesto

    @2011

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    Expresso Oral e Escrita, num contexto de engenharia

    1. Introduo

    Esta disciplina pretende conseguir uma sensibilizao quanto importncia da

    expresso e da comunicao, oral e escrita, no contexto da engenharia.

    De facto, havendo diversas engenharias (Industrial, Informtica, Eletrotcnica,

    Mecnica, Civil, Qumica, ...) e diversos contextos para o acto de engenharia, h

    tambm alguns aspectos que no variam nem com a rea nem com o contexto e

    constituem, por assim dizer, aspectos invariveis. Estes aspectos invariveis so da

    maior importncia para a vida profissional de todos os engenheiros. Refiro-me

    obviamente capacidade de expresso e comunicao, assim como capacidade de

    socializao em contexto profissional. Ser capaz de comunicar mensagens rigorosas

    e claras, assim como ser capaz de ouvir e perceber o que os outros (nomeadamente

    clientes) nos dizem absolutamente crucial para praticar boa engenharia.

    pois desses aspectos invariveis que a nossa disciplina se pretende ocupar de uma

    forma leve (usando muito a narrativa, o contar histrias) e motivadora (usando

    exemplos cativantes e reais). Pretendemos abordar todos os temas que constituem

    o corpo desta disciplina recorrendo a factos, histrias e metforas. Aqui chamamos

    desde j a ateno para o que queremos dizer com metfora pois o significado pode

    ser equvoco. Entendemos por metfora toda a referenciao no literal (isto , no

    em sentido exacto e rigoroso) a uma situao de forma a constituir uma imagem

    forte e esclarecedora sobre a mesma. Por exemplo, a corrente elctrica como a

    gua de um rio, desloca-se num sentido prprio, com regras prprias. Neste caso,

    bvio que a corrente elctrica, movimento ordenado de cargas elctricas, no

    como um rio, nada tem a ver com gua, porm, a imagem metafrica pode ser

    esclarecedora para perceber um conceito abstracto, tornando-o mais explcito e

    entendvel. Podemos dizer que, com a metfora, fizemos uma traduo que, no

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    sendo rigorosa em sentido literal, ajuda no entendimento e percepo de uma

    realidade.

    O que ser a engenharia? Engenharia comeou por ser a concepo de tecnologia,

    ou de artefactos tecnolgicos, normalmente num contexto fabril, muito mais

    raramente num contexto experimental, de investigao. Engenheiro, por maioria de

    razo, era um profissional, um especialista, capaz de conceber tecnologias, produtos

    tecnolgicos, enfim, diversos tipos de mquinas e mecanismos, pondo-os a funcionar.

    O engenheiro no um cientista, nem um terico, um prtico que, com uma boa

    formao cientfica e terica, consegue resolver problemas tecnolgicos. Acontece

    que essa definio se adequa mais poca industrial, digamos todo o sculo XIX e

    mais de metade do sculo XX. J no sculo XX, por volta dos anos oitenta o

    extraordinrio e rpido crescimento do sector de servios alterou um pouco estes

    papis, pelo que o engenheiro passa tambm a ser aquele que consegue planear,

    organizar e conceber sistemas complexos que podem ser produtos tecnolgicos,

    podem ser servios que recorrem ao uso de tecnologia, ou, o que mais habitual,

    uma mistura destes dois papis (role, em ingls).

    Mas, para clarificarmos qual o papel que o engenheiro representa no mundo

    profissional das empresas, vamos ver o que isso de praticar engenharia.

    Desde logo o acto de engenharia pode ser abordado de uma forma genrica nos

    termos descritos na Figura 1. Primeiro o engenheiro tem de entender os requisitos

    (isto , o que se pretende fazer), depois e uma vez percebido esse primeiro aspecto,

    tem de ser capaz de especificar (isto , traduzir em termos tcnicos o que se tem de

    fazer), depois h que conceber como se ir fazer, a concepo (o que os anglo-

    saxnicos designam por design e que envolve o planeamento de como se vai actuar),

    depois segue-se a execuo, desenvolvimento ou construo (tendo como guia o

    planeamento e as especificaes), qual se seguem testes de funcionamento e

    eventuais programas de manuteno. Pode-se pois dizer que, de uma forma geral,

    este o acto de engenharia, o que o engenheiro faz quando pratica engenharia.

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    Repare-se que este ciclo que descrevemos e representmos na Figura 1 pode

    apresentar outras caractersticas, tambm relevantes, e pode ser descrito de formas

    alternativas, como por exemplo considerar que no incio se deve proceder

    definio do problema. Qual o problema que se pretende resolver? Depois de se

    chegar a um razovel consenso sobre esse aspecto poder-se-ia seguir com a gerao

    de ideias alternativas para a respectiva resoluo. Como se geraram ideias

    alternativas, depois h que escolher dentro dessas quais as que melhor se adequam.

    Enfim, queremos dizer que estando dentro do mesmo esprito, temos variantes, das

    quais muitas mais haver, e poderamos caracterizar o acto de engenharia de outras

    formas.

    Repare-se porm, que a descrio que fizemos tambm ela uma metfora que

    pretende dar uma ideia geral do que se passa, de uma forma que pode ser

    rapidamente entendida. Em questo de pormenores o referido acto de engenharia

    pode no ser bem assim.

    Desde logo porque a nossa descrio d uma ideia de linearidade que no

    verdadeira. O levantamento de requisitos no algo que represente uma fase que se

    ultrapassa e depois se esquece. No, com o desenvolver das especificaes (que so

    uma traduo tcnica dos requisitos), ou com a concepo, descobrem-se aspectos

    que no estavam a ser bem pensados e tratados, obrigando a revisitar o

    levantamento de requisitos e, por essas razo, este modelo linear pode (e

    normalmente assim acontece) traduzir-se por diversas revisitaes e alteraes que

    se sucedem at que o projecto fique pronto.

    Repare-se que temos usado o termo traduzir. De facto, quando o engenheiro aborda

    o levantamento de requisitos tem de ser capaz de traduzir (interpretar) o que o

    cliente quer de forma a ser capaz de idealizar maneiras de concretizar isso mesmo.

    Haver coisas que no se podem fazer, pelo que haver que dar solues

    alternativas, isto , o engenheiro um elemento activo e dinmico no processo de

    conceber e construir sistemas, sejam produtos, ou servios, ou a mistura dos dois .

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    Assim, regressando Figura 1, o que est representado apenas uma metfora do

    que o engenheiro pratica e, para essa metfora ser mais adequada, haver que se

    considerar diversos feedback de revisitao de uns processos para os anteriores.

    Haver tambm que referir que estudos recentes sobre a problemtica da prtica de

    engenharia nos levam a crer que o engenheiro na sua prtica gasta cerca de 60% do

    seu tempo em actividades de socializao e apenas menos de 40% em assuntos

    tcnicos (Trevelyan, 2009) e (Williams e Figueiredo, 2010). Esta constatao sublinha

    a importncia da matria que aqui queremos leccionar e a importncia daquilo que

    temos vindo a designar por socializao.

    Figura 1 Processo de engenharia

    Reparem que neste processo que acabmos de descrever todas as setas

    representam comunicao, fluxos de informao, discursos e tambm aco na

    sequncia desses discursos. Se o prprio sistema que estamos a abordar j nos

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    obriga a tradues (interpretaes) vejam as implicaes que podem ter ms

    interpretaes devidas no complexidade do sistema, mas nossa incapacidade de

    comunicar de forma clara e rigorosa. que, em termos reais, as interpretaes

    devidas complexidade do sistema somam-se s relacionadas com o processo de

    comunicao dando origem a situaes normalmente mais complexas do que se

    esperava.

    esta a importncia dos temas que estamos a abordar e esta a importncia desta

    disciplina num contexto de engenharia pois estamos a lidar com maneiras de

    melhorar estes aspectos base mas de extrema importncia, que so os veculos de

    comunicao nos processos de engenharia.

    2. Discurso, fonte, destino, comunicao tipo 2

    O discurso muito importante porque o veculo da comunicao. O discurso a

    expresso da comunicao1. H discursos escritos, orais, multimdia, h frases,

    grficos, equaes, tudo isso so formas que usamos para entender as coisas, para

    comunicar, para transmitir, para socializar.

    Na socializao ns interagimos atravs de conceitos, criando novas perspectivas

    sobre a realidade, isto , novos conceitos. A socializao um dos aspectos

    fundamentais na criao de conhecimento (Nonaka et al., 2000). Por exemplo, ao

    tentar especificar um requisito podemos chegar concluso de que poderamos

    fazer mais e melhor e, como tal, alterar o requisito (em dilogo com o cliente) para

    depois avanar com uma especificao mais consistente e inovadora. E isto que

    referimos quanto ao par requisito / especificao, pode acontecer com o

    desenvolvimento / especificao / requisito. Em qualquer destas interaes estamos

    a criar e desenvolver novo conhecimento. A base de trabalho, por assim dizer, o

    1 Para outras pessoas e noutros contextos a noo de discurso pode ser muito mais complexa

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    discurso, pois atravs dele que discutimos pontos de vistas, solues alternativas,

    riscos associados, enfim, atravs do discurso, da comunicao, que socializamos.

    Pois bem, esse discurso tem uma origem (uma fonte) e um destinatrio (destino a

    que se dirige), que pode ser colectivo. Podemos pois ter comunicao de 1 para 1,

    quando esto apenas envolvidos dois indivduos, ou de 1 para muitos que o caso

    mais habitual em termos profissionais.

    Num ambiente profissional, o discurso no deve ser incuo, sem sentido, sem

    significado, sem relevncia, ele deve ser eficaz, deve ter uma mensagem especfica

    que se pretende transmitir e que fundamental que seja correctamente entendida.

    Isto , em termos profissionais, a qualidade ou eficcia do discurso crucial.

    Na comunicao de 1 para muitos, as consequncias de erros na fonte so

    gravssimas, podendo acarretar erros e ineficincias dramticas e, pior, distribudas

    por uma colectividade (empresa). De facto imaginemos que um dos destinatrios

    no percebeu bem e fez mal, como o resultado do trabalho dele a base do trabalho

    de outros, vejam o que sucede. uma espcie de crescimento exponencial do erro,

    com todos os desgastes e prejuzos que tal acarreta para a empresa no seu todo.

    Qual a consequncia relevante deste aspecto que referimos? A comunicao deve

    ser rigorosa, no conter erros, nem ambiguidades. E isso chega? No, para alm

    disso, a comunicao tambm deve ser clara, to simples quanto possvel. S assim

    se consegue contribuir para que um maior nmero de pessoas possa perceber

    exactamente o que ns queramos que se percebesse.

    Perceber mal uma frase, um discurso, extremamente fcil. Talvez mais fcil do que

    parece. Assim o emissor deve pensar bem (planear) na forma de formular o discurso

    para o tornar mais claro e mais simples, sem perda de rigor. Como dizia Albert

    Einstein Tudo deve ser tornado to simples quanto possvel, mas no podemos ser

    simplistas (Einstein, 1995).

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    Outra consequncia importante o facto de, se for na fonte que o discurso

    trabalhado de forma a ficar mais rigoroso e claro, evitando equvocos, quem est a

    gastar tempo com esta purificao apenas um. No caso de o discurso ser emitido

    com ambiguidades, dvidas, incorreces, estamos a exigir que todos os que o

    recebem percam tempo para o entender. Ora isso uma ineficincia dramtica, para

    alm de poder propiciar erros que acarretam perdas graves no funcionamento da

    organizao, como referimos.

    neste contexto que Argyris and Schon (1978) conceberam a noo de comunicao

    tipo 2. Este modelo faz ressaltar a importncia de ns (fonte) validarmos o que os

    outros (destinatrios) perceberam do que ns dissemos. Parece evidente, mas exige

    que se interiorize o conceito. Com esta validao sistemtica detectam-se inmeras

    incorreces no processo de comunicao e transmisso de mensagens, ver Figura 2.

    Ao comunicarmos (tipo 1) temos de conceber mecanismos para receber informao

    de validao (tipo 2) dessa comunicao.

    Figura 2 Comunicao tipo 2, (Argyris and Schon, 1978)

    Mais importante ainda, Argyris e Schon indicam que o nosso ponto de controlo no

    deve estar no emitir, mas sim na percepo de que a nossa mensagem foi bem

    entendida. Por exemplo, um gestor no se deve apenas preocupar com o facto de se

    ter enviado um mail para a empresa X a tratar de um assunto, mas sim em saber se o

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    destinatrio, a empresa X, recebeu e percebeu bem o que se queria com o referido

    mail.

    Reparem que este modelo representa mais um aspecto que contribui para a eficcia

    da comunicao. Dizemos eficcia, mas poderamos dizer qualidade.

    Com inteligncia, sensibilidade e algumas tcnicas simples poderemos melhorar

    muito a qualidade da comunicao na empresa. E quem diz na empresa diz na nossa

    vida, na nossa carreira acadmica.

    Referimos diversas vezes o termo qualidade, mas no sei se o fizemos com a clareza

    necessria. O que qualidade? Embora todos tenhamos uma ideia do que , ao

    tentar dizer o que entendemos que isso seja, deparamo-nos com alguns problemas.

    Desde logo em princpio, se se tratar de um produto, tem de ser algo que o cliente

    julga, ou algo que tem a ver com o que o cliente poder julgar, e nunca algo que ns

    julgamos. Por exemplo, poder ser aquilo que se adequa ao uso pretendido, aquilo

    que alcana, ou excede o pretendido. Edwards Deming, compreendendo a

    necessidade de haver um julgamento exterior (ningum bom juiz em causa

    prpria), definiu qualidade como sendo tudo o que cumpre ou excede o que foi

    planeado (para os destinatrios, ou clientes). Mas reparem, h qualidade de

    produtos, na qual o cliente , de facto, o decisor mais importante, mas tambm h a

    qualidade de processo, e aqui, se se tratar do processo de fabrico, o cliente no tem

    informao. Quem tem de julgar a qualidade do processo produtivo dever ser

    algum exterior a esse processo mas que o saiba julgar, que tenha competncia e

    conhecimentos para emitir o julgamento. Na teoria da qualidade dizia-se que no se

    conhece o que no se consegue medir, e no se pode melhorar o que no se

    conhece. Logo, para melhorar alguma coisa ter-se-ia que ter mtricas que nos

    dessem a conhecer o que essa coisa e que nos permitissem julgar se as alteraes

    que fazemos melhoram ou pioram os comportamentos. Porm Deming dizia que no

    podemos medir algumas das mais importantes coisas relativas ao processo de

    qualidade as representaes das coisas mais importantes para a gesto so

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    normalmente desconhecidas e impossveis de conhecer, o que no implica que no

    se possam gerir (Deming, 2000).

    Em termos de comunicao a qualidade consiste em conseguir cumprir os objectivos

    dessa mesma comunicao. Isto , consiste em perceber bem e com rigor o que os

    outros nos disseram, assim com transmitir com clareza e rigor de forma a que os

    destinatrios percebam exactamente aquilo que ns queramos que eles

    percebessem. Se for cumprido este requisito podemos dizer que a nossa

    comunicao teve qualidade.

    3. Eficincia e eficcia

    J referimos estes dois termos algumas vezes nas pginas anteriores e, como so

    termos que muitas vezes se usam de forma confusa e at errada, confundindo um

    com o outro, vamos passar a clarificar.

    A eficincia tem a ver com a utilizao dos meios usados para alcanar um objectivo.

    Se conseguirmos atingir esse objectivo com menos meios, temos um processo mais

    eficiente. Trata-se pois de um relao entre os resultados obtidos (output) e os

    meios utilizados (input), isto , de um rendimento. Quanto maior o rendimento de

    um processo, maior a sua eficincia. Porm, na senda da eficincia (o como, a

    maneira como se faz) por vezes esquece-se o objectivo, a qualidade daquilo que se

    quer (o qu), o que tem a ver com eficcia. possvel ser muito eficiente sem ser

    eficaz e vice-versa. Portanto, ser eficaz fazer aquilo que preciso fazer, cumprir o

    objectivo (de acordo com as expectativas).

    Como se acabou de ver so dois processos completamente diferentes e convm

    perceber as suas diferenas para melhor se poder actuar em cada um deles de forma

    a melhorar a produtividade da empresa.

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    possvel construir uma matriz eficcia/eficincia que pode contribuir para indicar a

    nossa posio (onde estamos), ajudando-nos a decidir o que fazer para a melhorar,

    ver Figura 3.

    Figura 3 Matriz Eficcia/Eficincia

    Imagine que (a sua empresa) se encontra no quadrante base (1), a operar de forma

    pouco eficaz e pouco eficiente. Pouco eficaz porque o que faz no tem grande

    qualidade, tem pouca procura; pouco eficiente porque o faz de modo pouco racional,

    gastando muito mais do que devia para o que realmente obtm. Assim voc pensa

    que tem de viajar do quadrante base (1) para o quadrante exterior (4). Ser que uma

    linha recta, melhorando ao mesmo tempo a sua eficcia e a sua eficincia ser a

    melhor estratgia? Ningum pode responder em abstracto, pois a evoluo muito

    contextual, mas casos haver em que a empresa dever enveredar pelo padro da

    seta superior, isto , melhorar a eficincia, para depois melhorar de acordo com o

    padro da seta da direita, isto , melhorar em eficcia. Tudo depende dos processos,

    da empresa, dos seus meios, nomeadamente dos meios humanos, capital humano, e

    meios tecnolgicos. Em termos abstractos diremos apenas que, sem olhar para o

    caso em concreto, o mais razovel seria primeiro melhorar a eficcia e depois

    melhorar a eficincia. Esta opo fundamentada pois, se fizer ao contrrio, se

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    comear por melhorar a eficincia, quando depois passar a melhorar a eficcia vai

    mudar o que faz, e como tal vai com certeza ter de mudar a maneira como faz, e l

    se vai o trabalho perdido na anterior melhoria da eficincia.

    Mais uma vez, estas opes, decises e interaces, so baseadas na comunicao,

    na capacidade de traduzir o que se pensa e na capacidade de entender os outros,

    traduzindo o que eles pensam para os nossos modelos mentais, compreendendo

    bem as suas opes e as suas observaes.

    Podemos pois dizer que no possvel conseguirmos eficcia, nem eficincia, nem

    qualidade sem uma comunicao eficaz.

    4. Aspectos ticos da comunicao

    Num mundo globalizado, no qual por vezes difcil estabelecer as fronteiras dos

    sistemas que usamos para comunicar, mundo no qual a comunicao muito

    acelerada (a velocidade da informao muito elevada) e renovada (h muitas

    mudanas), controlar os aspectos ticos representa um desafio empolgante, difcil,

    mas absolutamente necessrio.

    Para tentar explicar o que entendemos por tica vamos usar mais uma vez uma

    metfora que espelhamos na Figura 4.

    Temos na figura quatro quadrantes divididos por um eixo de abcissas em que

    representamos as consequncias de uma aco nossa para ns prprios (se positivo,

    a nossa aco boa para ns; se negativo a nossa aco -nos prejudicial) e um eixo

    das ordenadas no qual representamos as consequncias de uma aco nossa para os

    outros (se positivo, a nossa aco boa para os outros; se negativo a nossa aco

    prejudica os outros).

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    Viajar por estes quatro quadrantes facilmente nos leva a uma nica situao

    sustentvel e, como tal, inteligente. Esta metfora, brilhantemente engendrada por

    Carlo Cipolla (2008) (esta data corresponde a um recente edio portuguesa) por si

    s auto-esclarecedora quanto ao que entendemos por comportamento tico.

    Figura 4 A sustentabilidade, adaptada de Cipolla (2008)

    Kant, um dos grandes mentores da reflexo tica dizia, na sua regra de ouro, que

    devemos fazer aos outros o que gostaramos que nos fizessem a ns e tambm dizia,

    no seu imperativo categrico, que deveramos pautar a nossa aco de tal forma que

    cada uma das nossas aces poderia repetir-se indefinidamente, transformando-se

    numa espcie de lei geral. Reparem que, nesta acepo, a aco em qualquer dos

    trs quadrantes que no o superior direito no cumpre os requisitos Kantianos.

    Podemos pensar que num negcio, se enganarmos os outros para nos beneficiarmos

    a ns (bandido), poderemos lucrar muito, mas essa aco, para alm de antitica,

    ter com certeza benefcios efmeros pois os outros iro reagir, adaptar-se e retaliar.

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  • 14

    No fundo, enganmos uma vez, mas no poderemos nunca continuar a enganar

    eternamente.

    A tica aprende-se? Claro que sim e haver diversas estratgias possveis para o

    fazer. Uma, (a nosso ver pouco eficaz) a estratgia normativa, partir da norma para

    os comportamentos. Estudamos as normas e tentamos aplicar no dia a dia. Trata-se

    de uma abordagem muito racional que falha na interiorizao. difcil interiorizar o

    sentido de uma norma para depois a aplicar em conformidade, tanto mais que na

    vida real cada caso um caso, sempre diferente de todos os outros. Outra estratgia,

    mais interessante (e por exemplo preconizada por Max Weber) aponta para o

    desenvolvimento interno de um julgamento tico a partir da maneira de sentir as

    coisas e da responsabilidade que sentimos perante os outros. Esse desenvolvimento

    interno consegue-se com debate, socializao, discutindo dilemas ticos. S assim

    nos podemos aperceber dos contornos dos problemas, as diversas sensibilidades

    perante os mesmos e construir e interiorizar a nossa prpria linguagem moral.

    Refinar a nossa linguagem moral algo que nos leva uma vida inteira, pois estamos

    sempre a aprender e a ter de reequacionar os nossos julgamentos sobre as coisas e

    os outros.

    Nas diversas correntes ticas h estratgias para tentar ajudar a construir um mundo

    melhor, nomeadamente a perspectiva utilitarista, uma perspectiva de gerao de

    valor, perspectivas de controlo de risco, enfim muitas. E, no fundo, nenhum

    julgamento tico pode ser completamente determinado partida, nada simples e

    linear, haver sempre que ponderar prs e contras, analisar riscos, e decidir, no meio

    de contextos que normalmente no so fceis, nem completamente claros. So os

    chamados dilemas ticos, nos quais temos sempre prs e contras e que nos levam a

    ter de decidir com risco. O comportamento tico impecvel vem com a sabedoria

    para optar por boas escolhas mas sobretudo pela coragem da assuno das

    consequncias das escolhas que fizemos.

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  • 15

    5. Os diferentes discursos, as grias. Adequao do discurso e da mensagem

    ao pblico. Mensagem (contedo, expresso)

    J falmos no discurso e, de facto, no h um discurso, existem muitos discursos

    possveis. Estando particularmente preocupados com o discurso profissional, aquele

    que usado nas empresas, devemos sempre tentar pautar-nos por um objectivo

    definido, a maior eficcia possvel.

    Os acadmicos tm regras para o seu discurso. Estas tm a ver com o rigor, com a

    capacidade de validar, com o cruzamento de diversas fontes. A linguagem acadmica

    pois uma linguagem formal, rigorosa, sinttica e tem sempre a preocupao da

    validao e da credibilidade. A eficcia aqui medida no sentido de conseguir os

    objectivos, conseguir provar as nossas razes e convencer os outros (outros

    acadmicos) das nossas posies (teorias).

    Tambm num contexto profissional, nas empresas, a linguagem no a mesma que

    utilizamos entre amigos. Menos formal que a acadmica, a linguagem profissional

    mais formal do que a usada entre amigos. A eficcia aqui pautada pela cultura da

    empresa, os objectivos da mesma, e conseguir os objectivos aqui tem a ver com

    convencer outros no contexto da cadeia de valor da empresa (colegas, directores,

    outros trabalhadores, clientes, investidores, bancos,...).

    Em qualquer contexto h que adequar o discurso aos objectivos e aos destinatrios.

    A eficcia do discurso mede-se pelos resultados obtidos face s expectativas criadas.

    A ideia cumprir ou, se possvel, exceder as expectativas criadas (nos destinatrios).

    Para alm destes aspectos do discurso temos ainda dois aspectos que devemos ter

    em conta, o contedo e a forma. No contedo revm-se aspectos como o rigor, o

    carcter inovador, a profundidade conceptual. Na forma tratamos da maneira como

    o discurso apresentado. No dizemos que a forma o embrulho do contedo

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  • 16

    porque entendemos que a criatividade da forma pode interagir com o contedo,

    transformando-o, melhorando-o e at criando novos contedos.

    Estes aspectos podem reflectir-se em todos os tipos de comunicao, oral, escrita e

    hbrida, ou multimdia. Em qualquer destes tipos de comunicao h que reflectir,

    trabalhar e decidir sobre os dois aspectos (contedo e forma) enquadrando-os numa

    base conjunta e interligada com a estrutura. A estrutura tem a ver com a

    sequenciao e organizao do discurso (o que se tem de dizer primeiro, o que se

    tem de dizer depois).

    A reflexo sobre o contedo e a forma muito rica e da interligao entre estes

    dois elementos com a estrutura que nascem as comunicaes excepcionais, aquelas

    que no se esquecem. Essas so afinal as que cumprem integralmente a sua funo

    pois as pessoas no s as ouvem, como se interessam e portanto percebem, como

    ainda as integram nos modelos mentais prprios, dando origem ao desenvolvimento

    de conhecimento.

    Lembrem-se do velho ditado chins de Lao-Tse What I hear, I forget. What I see, I

    remember. What I do, I understand (Lao-Tse, 2010), O que ouo esqueo, o que vejo

    lembro-me, o que fao compreendo.

    Esta antiqussima frase de Lao-Tse leva-nos desde logo a perceber que, para

    aprender, devemos tanto quanto possvel experimentar e fazer. Para passar uma

    mensagem, por exemplo com um Power Point, devemos sintetizar as frases com

    maior significado, dando-lhes relevncia e exposio, e usar sempre que for possvel

    imagens que sejam uma boa traduo do que pretendemos transmitir.

    6. Preparar um CV

    O que que se pretende com a apresentao de um curriculum vitae? Pretende-se

    dar a conhecer as nossas capacidades e competncias, aquilo em que somos bons e

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    O P Y

  • 17

    eventualmente aquilo em que somos menos bons. Normalmente, na elaborao de

    um CV temos tendncia para sobrevalorizar aquilo em que pensamos que somos

    bons e omitir aquilo em que pensamos que somos maus, ou menos bons. Ser

    antitico fazer isso? Ocultar aquilo em que somos menos bons e sobrevalorizar

    aquilo em que julgamos ser bons? No necessariamente pois a anlise de um CV

    apenas um dos elementos a serem utilizados num processo de contratao. Nas

    fases mais avanadas de um processo de contratao a entrevista inevitvel e

    nesta ocultar caractersticas torna-se difcil.

    Assim, na elaborao do CV fundamental que sejamos verdadeiros e que

    assumamos com frontalidade e coragem as nossas caractersticas. Mentir proibido,

    ocultar uma estratgia com os seus riscos, mas que se pode explorar.

    A ideia do Curriculum Vitae antiga e originalmente significava percurso de vida.

    Num CV devemos expressar tudo aquilo que achamos relevante sobre ns prprios,

    numa base factual e no num processo de intenes. No tem sentido dizer que

    somos muito bons a matemtica, tem sentido dizer que tivemos as notas que

    tivemos nas disciplinas de matemtica e eventualmente acrescentar que fomos o

    melhor da turma, ou o segundo melhor, pois isso so factos, no so declaraes de

    vontade.

    H algumas regras para se elaborar um bom Curriculum Vitae e convm adoptar

    uma norma para a apresentao do mesmo. A existncia de uma norma

    fundamental para poder comparar CVs de diferentes candidatos. O Parlamento

    Europeu estabeleceu em 2004 uma forma de curriculum vitae unificado que define

    uma norma para o preenchimento do curriculum.

    Se pretender saber mais visite o stio http://europass.cedefop.europa.eu

    Alguns aspectos a ter em conta no preenchimento do CV so de carcter estrutural.

    O CV est dividido em vrias reas, informao pessoal, experincia profissional,

    educao e formao e aptides e competncias pessoais.

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  • 18

    A informao pessoal objectiva e distribui-se da forma apresentada. J a

    experincia profissional deve ser apresentada descrevendo primeiro os factos mais

    recentes e depois seguindo a ordem cronolgica inversa. O mesmo se passa com a

    educao e formao. No tem sentido dizer que fez 1 ciclo no local X, com as

    notas Y, para depois vir a acabar na qualificao na sua licenciatura actual. Tem mais

    sentido dizer que est actualmente a frequentar, por exemplo, a licenciatura em

    Engenharia e Gesto Industrial do Instituto Superior Tcnico, Universidade Tcnica

    de Lisboa e depois referir, eventualmente, aspectos relacionados com o seu percurso

    liceal at a.

    Reparem que houve uma poca em que as notas e os factos que aconteceram ao

    longo da vossa vida escolar eram os mais importantes. Hoje, h tendncia para

    valorizar muito as chamadas competncias sociais, ou soft skills, que do indicaes

    sobre como funcionamos em grupo, se temos iniciativa, criatividade, capacidade de

    liderana, isto , aspectos que para a empresa so fundamentais e transcendem os

    registos escolares puros.

    Da a importncia de, ao longo da vida escolar, ter participao em iniciativas

    diversas, responsabilidades na associao de estudantes, organizao de eventos,

    experincia de Erasmus, entre outras. A experincia de Erasmus, normalmente

    efectuada no incio do mestrado, pode revelar-se primordial. O empregador valoriza

    muito o estudante que, tendo ido estudar para uma universidade estrangeira, teve

    aproveitamento e consegue falar dessa experincia com um sentido integrado, como

    uma boa experincia da vida.

    Portanto, aconselho-os a trabalharem para o CV. Tentem envolver-se em coisas

    que os valorizem como pessoas e aos olhos do eventual (potencial) empregador,

    tentem ir traando uma linha de evoluo coerente, que possa resultar num CV

    interessante. O emprego est cada vez mais difcil e, neste contexto, s os melhores

    vingam. Porm, a noo de melhor ambgua e cada um de vocs pode arranjar

    um espao no qual sejam, de facto, os melhores.

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  • 19

    7. Fazer uma apresentao PowerPoint

    Na nossa vida social temos diversas formas de actuao. Actuao no sentido de

    performance de ser-mos actores a desempenhar um papel. Por exemplo o teatro,

    com os seus cenrios, as tcnicas de dico, colocao de voz e o movimento em

    cena. A pera, em que, para alm dos elementos anteriores, h que considerar a

    msica, a capacidade lrica. E h o cinema que adiciona aos anteriores os efeitos,

    nomeadamente os efeitos especiais conseguidos com o auxlio de tecnologia de

    ponta. Na nossa vida acadmica temos a escrita, um trabalho, um relatrio, um

    exame, mas tambm temos, eventualmente as orais. Uma apresentao em Power

    Point mais complexa, pois exige escrita, oral e efeitos especiais. Uma

    apresentao Power Point pode exigir o grau de complexidade de uma actuao a

    ser filmada para um filme. Estamos a um dos nveis mais elevado de exigncia para a

    actuao.

    Uma apresentao Power Point obriga a uma escolha do fundo (cor, eventuais

    enquadramentos), do tipo e tamanho de letra e das respectivas cores. Exige pensar

    na relao entre o que est exposto no slide e o que se diz. Implica uma conscincia

    de temporizao pois o quando se diz tem importncia, tal como o como se diz e

    quanto tempo levamos a dizer. A movimentao cnica que se usa para dizer e

    para chamar a ateno para pormenores nos slides tambm contribu para o sucesso

    ou insucesso da comunicao.

    As nossas apresentaes so acadmicas mas so para preparar para o ambiente

    empresarial, da ser necessrio cultivar uma certa formalidade. Ser discreto, carregar

    pouco os slides com informao, usar mais imagem do que texto, manter um gosto

    geral discreto, so aspectos normalmente valorizados.

    Mas qual o objectivo? Desde logo envolver e motivar a audincia para que esta se

    interesse pelo que se est a apresentar e possa motivar-se, participando (se assim

    for estamos a facilitar e a motivar a produo de conhecimento). A misso de quem

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  • 20

    apresenta levar a audincia a ouvir e perceber a apresentao, eventualmente

    participando, dando-nos ideias novas, criticando, construindo matria de reflexo,

    isto , de desenvolvimento de conhecimento. Reparem que embora estejam a

    apresentar (comunicao de 1 para n), podem eventualmente lucrar com as ideias e

    comentrios da audincia, pelo que h que saber ouvir, ou, em certas circunstncias,

    fechar o dilogo, por no haver tempo, ou ser inoportuno estar a atender a opinies.

    Enfim, h que gerir a situao.

    H muitos exemplos na Web de boas e ms apresentaes. Se num mesmo slide

    virem muitas cores e diversos tipos de letra e o slide estiver carregado com

    informao literal, esto a olhar para um MAU exemplo de como devem fazer slides

    para uma apresentao.

    No se esqueam nunca de que o gosto discutvel e se querem atingir uma

    assembleia que no conhecem completamente, ganham em no abusar da vossa

    noo de gosto e em apresentar as coisas da forma mais discreta possvel. Descrio

    pode ser eficcia, pois pode haver pessoas que reagem mal a uma apresentao

    demasiado exuberante (demasiado colorida, excessiva na argumentao).

    8. Escrita acadmica (cientfica)

    Pretendemos nesta seco aflorar o tipo de discurso e linguagem usados na escrita

    acadmica, assim como a estrutura de um artigo cientfico ou de uma dissertao.

    Como j dissemos a escrita acadmica formal, factual e directa. Formal na medida

    em que deve permanecer intemporal e comedida, usando termos aceites

    socialmente e uma construo de frases que vale mais pela correco do que pela

    imaginao. Factual na medida em se afloram factos e no opinies. O que se afirma

    deve ser comprovado e verificvel. Directa na medida em que no deve usar

    floreados, sendo to econmica e clara quanto possvel. Isto , deve-se evitar o uso

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  • 21

    de estilos arrojados, poticos, ou outros, pois o que interessa o rigor, a clareza e a

    capacidade de ser validado e comprovado o que se exprime.

    Uma das regras que se devem seguir a da construo de frases curtas. Por vezes,

    sem dar conta, embrenhamo-nos em pargrafos que ficam muito longos e que, por

    isso, resultam confusos e pouco inteligveis. Rever essas construes e optar por

    partir o pargrafo em duas ou trs frases , normalmente, uma boa soluo.

    Sabendo estas caractersticas da escrita em si, do discurso, devemos passar

    estrutura do documento. Qualquer que seja o documento, isto , seja um artigo para

    uma conferncia (proceedings), seja um artigo para uma revista internacional

    (International Journal), seja um captulo de livro, seja uma dissertao (de mestrado),

    ou uma tese (de doutoramento), a estrutura habitual , normalmente, constituda

    pelas seguintes seces: Resumo, palavras chave, introduo, corpo do artigo,

    referncias no texto e na seco de referncias.

    Desde j devemos dizer que no ranking dos valores das publicaes acadmicas, em

    primeiro lugar aparece o artigo publicado em revista internacional (International

    Journal) A. H revistas internacionais que no esto indexadas pela ISI, classificao

    e bases de dados geridas pela agncia Thomson Reuters, e que como tal tm o nvel

    C. De entre as revistas cientficas classificadas na ISI h as que so escolhidas pela

    sua importncia, nomeadamente pelo seu factor de impacto mais elevado ou pela

    sua credibilidade mais sustentada. Essas so as revistas A. As B so as classificadas ISI

    que no foram escolhidas para serem A. Obviamente o posicionamento de

    determinadas revistas nestas categorias dinmico, podendo passar de uma

    categoria para outra.

    Em segundo lugar aparecem os artigos publicados em revista internacional

    (International Journal) B. Depois segue-se a publicao de captulo de livro, edio

    internacional, publicao de artigo em revista internacional tipo C, artigo em

    conferencia internacional com refereeing e, por fim, artigo em conferencia nacional.

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  • 22

    Num outro patamar parte considera-se como topo do valor da produo

    acadmica a produo de uma tese de doutoramento. Numa escala diferente, de

    menor relevncia, tambm temos a dissertao de mestrado.

    Em qualquer dos casos e independentemente do tipo de comunicao, h uma

    mtrica do valor das comunicaes cientficas publicadas internacionalmente que

    tem a ver com o nmero de citaes. Um artigo publicado numa revista

    internacional est sujeito a ser citado por outros artigos publicados tambm em

    revistas internacionais. O nmero dessas citaes que um artigo tem (o nmero de

    vezes que citado por outros artigos) d uma indicao do valor dessa mesma

    comunicao. Assim, cada vez mais o investigador est interessado em que outros

    investigadores conheam o seu trabalho, pois s assim ter hipteses de ser citado,

    melhorando o ranking dos seus artigos e, depois, indirectamente, o seu prprio

    ranking como investigador.

    Artigo cientfico e dissertao

    Qualquer que seja o tipo de produo acadmica, h um conjunto de aspectos

    comuns que devem ser bem assimilados. Desde logo convm ter presente que ao

    escrever um artigo vamos usar, sem qualquer concesso, a linguagem j referida,

    formal, factual e directa. Temos tambm de ter a preocupao explcita de escrever

    de uma forma clara, inteligvel, que no propicie confuses e evite ms

    interpretaes.

    A partir daqui h que conceber a estrutura. J referimos o resumo, as palavras chave,

    introduo, corpo do artigo, referncias no texto e na seco de referncias. Vamos

    ento ver algumas regras e boas prticas para executar esta estrutura de uma forma

    mais correcta.

    Resumo (abstract)

    O resumo deve enunciar o problema estudado, o que se fez, como se fez (mtodos

    empregues) e as principais concluses do trabalho. O resumo no uma introduo,

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  • 23

    uma descrio concisa do todo, sublinhando os aspectos mais relevantes. Deve

    usar um discurso discreto e conciso. No se devem usar siglas nem referncias, nem

    se deve exceder as 200 palavras.

    Introduo

    A introduo contextualiza o problema, a sua natureza, define concisamente a

    questo de investigao e pode incluir o state of the art (pesquisa bibliogrfica

    cheia de referncias bibliogrficas cruzadas) na problemtica contextualizada. A

    introduo deve incluir ainda a estrutura do trabalho (por exemplo, na Seco 2

    tratamos de xxx, na Seco 3 de xxx, ..., e por fim na concluso ...).

    A questo da investigao o que se pretendeu investigar. A produo de qualquer

    artigo cientfico no , normalmente, um fim em si, o passo final de uma

    investigao, isto , uma forma de divulgar a investigao efectuada. A questo de

    investigao o centro, o foco, dessa investigao.

    O state of the art tem como objectivo principal, analisar o que j foi investigado no

    domnio da questo de investigao. uma fase muito importante da investigao

    que nos pode levar a reposicionar a nossa questo de investigao e que nos d a

    conhecer o que j conhecido na rea de investigao em causa, definir e delimitar

    o que nos interessa e como poderemos ser inovadores nesse domnio.

    Corpo do trabalho

    Relato formal da investigao sem recorrer ao uso de termos coloquiais. As frases

    devem ser tanto quanto possvel curtas. Muitas vezes um ponto no meio de uma

    frase transformando-a em duas uma soluo que aumenta significativamente a

    clareza do discurso.

    Concluses

    A Concluso deve incluir o que foi conseguido com o trabalho, sublinhando os

    aspectos mais relevantes e de maior inovao. Dever incluir tambm os pontos

    fortes e fracos percepcionados sobre a abordagem adoptada e indicaes quanto

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  • 24

    aos eventuais passos seguintes (futuros) da abordagem. Se for o caso, dever-se-

    reflectir sobre as possveis aplicaes dos conceitos tratados, assim como

    implicaes da investigao efectuada num quadro mais geral, num contexto mais

    alargado.

    Referncias

    Tudo o que se escrever influenciado por algum aspecto especfico que tenhamos lido

    anteriormente, necessita de ser referenciado.

    Devemos mesmo referenciar no caso de expormos ideias nossas quando estas forem

    construdas com base ou influencia da obra de outros (autores). Por exemplo: Na

    maioria dos projectos h problemas de comunicao que exigem estratgias

    adequadas (Kerzner, 2009). A ideia que referimos ter sido aflorada anteriormente

    num livro de Harold Kerzer, publicado em 2009 e cujas caratersticas (ttulo e editor)

    se pode consultar no fim do artigo na listagem das referencias bibliogrficas.

    Se transcrevemos tal e qual, estamos a fazer uma citao e tal deve ser devidamente

    assinalado com aspas. Nesta situao a referncia deve incluir a indicao da pgina.

    Por exemplo: Na maioria dos projectos h problemas de comunicao que exigem

    estratgias adequadas (Kerzner, 2009, p. 203).

    Quando fazemos referncia a uma obra X mas que tenhamos lido noutra obra Y,

    devemos referir X dizendo que est referida em Y.

    Exemplo: (X, 2007, in Y 2009)

    Se tivssemos lido diretamente em X, a referencia seria, como j vimos

    anteriormente, (X, 2007).

    Num artigo, ou tese, ou projecto, ou trabalho, a correspondncia entre as

    referncias inscritas no nosso texto e as obras referenciadas no fim do texto

    biunvoca, isto , nas referencias bibliogrficas finais do seu artigo no pode estar

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  • 25

    nenhuma que no tenha sido devidamente referida no texto e vice-versa, no texto

    no pode referir nenhuma obra que no esteja devidamente referenciada nas

    referencias bibliogrficas.

    Sublinhando de uma forma mais enftica, sempre que se usam ideias, discursos, ou

    encadeamento de palavras que foram captados numa obra que no nossa e no o

    assinalamos, referenciando convenientemente esse facto, estamos a ter um

    comportamento fraudulento. Se evocarmos algo que j publicmos ns prprios em

    artigo anterior, tambm devemos fazer a respectiva referenciao, seguindo

    exactamente o mesto tipo de referenciao. A esta situao chama-se auto citao e

    vulgar em artigos cientficos.

    Ainda quanto s referncias, h um aspecto importante que o cruzamento ou

    validao das referncias. Referimos este ponto porque por vezes o aluno ao iniciar a

    escrita do seu trabalho tem tendncia a aderir (colar) ao discurso que leu numa

    determinada obra. Comea a expor o seu discurso nesse sentido sem se aperceber

    que est basicamente a copiar as ideias de um autor. Esta situao acontece muito

    em dissertaes de mestrado, pois o investigador normalmente um jovem com

    pouca experincia de investigao e de produo cientfica.

    Ora, ao investigar, o que se l em determinada obra deve ser confrontado com

    outras referncias (cruzamento de referncias) lendo outros autores e outras

    opinies sobre o assunto para depois, fruto de reflexo construtiva do prprio,

    emitir uma posio prpria, validada pelo cruzamento das referidas referencias.

    9. O tratamento do resumo como exerccio de conciso

    Para exemplificar o exerccio de conciso que muitas vezes necessrio na escrita

    cientfica vamos escolher um exemplo ao acaso. Escolhemos um artigo sobre a

    histria de PORTUGAL apenas como exemplo e porque pensamos que o que se diz

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  • 26

    de todos conhecido, servindo assim para nos concentramos no aspecto que

    queremos ilustrar reduzir um texto, tornando-o mais curto. A vermelho

    assinalamos as parcelas de texto que consideramos no serem essenciais e que, por

    conseguinte, depois vamos retirar.

    Resumo exemplo

    Portugal o pas mais ocidental da Europa e foi fundado por D. Afonso Henriques no

    sculo XII. Os Afonsinos, primeira dinastia portuguesa, centram-se na conquista

    territorial e na expulso dos Mouros. Os seus reinados no so muito eficazes em

    termos de fundao, mas sim em termos de afirmao territorial. Portugal foi dos

    pases que mais cedo fixou as suas fronteiras. O ponto mais alto da histria

    portuguesa situa-se nos sculos XV e XVI com os chamados descobrimentos. Nessa

    altura Portugal domina o mundo, descobre novos mundos, domina a cartografia

    (contratando Genoveses e Venezianos) e estabelece redes de relacionamento nunca

    estabelecidas. Portugal cria o caminho martimo entre o oriente e o ocidente e

    detm o maior conhecimento (rede de conhecimento) sobre recursos globais. Os

    historiadores americanos dizem que foram os Portugueses a criar a globalizao.

    Depois, um pouco fruto de ter usado o seu conhecimento centrado em bases

    mercantis (sem mais criao de valor do que as transaces comerciais) Portugal

    decaiu. Depois de uma srie de reinados sem grande histria chega instituio da

    Repblica no incio do sculo XX. Os regimes republicanos foram pouco estveis at

    que Salazar chega ao poder. Salazar imps uma espcie de ditadura na qual no h

    liberdade de opinio, nem partidos polticos e na qual a censura muito apertada. O

    regime de Salazar aposta na defesa intransigente do chamado Imprio (Continente e

    Ultramar) desafiando as tendncias mundiais de descolonizao. Neste contexto

    Portugal acaba por perder as Colnias apenas depois de uma guerra na qual as

    negociaes de transferncia de poder ficaram condicionadas. Com a revoluo do

    25 de Abril negocia-se a perda das colnias e institui-se uma democracia moderna.

    Hoje Portugal faz parte integrante da Unio Europeia e integra-se na globalizao

    moderna.

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  • 27

    Reparemos nalguns detalhes no texto inicial que j teve a preocupao de ser

    conciso e claro. Por exemplo, quando se refere o incio da nacionalidade no se

    precisa que em 1143.

    Quando se fala no caminho martimo do Oriente no se diz que prejudicmos a

    alternativa que era o caminho terrestre, a chamada rota das sedas.

    Quando se fala na fixao territorial no se fala em Olivena, nem em pormenores

    desse gnero, pois estamos a fazer um resumo, a traos largos, que apenas evocar

    o que entendemos como mais importante.

    Mas vamos supor que o texto ainda est longo e que o temos de encurtar. Se fosse

    necessrio reduzir o nmero de palavras, o que fazer? Cortar no que ainda assim no

    essencial a vermelho no texto anterior e como j dissemos. Chegar-se-ia ento ao

    texto que se segue com 229, em vez das 289 palavras. No texto que se segue

    voltamos a assinalar a vermelho o que iremos reduzir numa segunda e ltima

    reduo, para obter o texto final, como veremos.

    Portugal o pas mais ocidental da Europa e foi fundado por D. Afonso Henriques no

    sculo XII. Os Afonsinos, primeira dinastia portuguesa, centram-se na conquista

    territorial e na expulso dos Mouros. Portugal foi dos pases que mais cedo fixou as

    suas fronteiras. O ponto mais alto da histria portuguesa situa-se nos sculos XV e

    XVI com os chamados descobrimentos. Nessa altura Portugal domina o mundo,

    descobre novos mundos, domina a cartografia e estabelece redes de relacionamento

    nunca estabelecidas. Portugal cria o caminho martimo entre o oriente e o ocidente

    e detm o maior conhecimento (rede de conhecimento) sobre recursos globais.

    Depois de uma srie de reinados sem grande histria chega instituio da

    Repblica no incio do sculo XX. Os regimes republicanos foram pouco estveis at

    que Salazar chega ao poder. Salazar imps uma espcie de ditadura na qual no h

    liberdade de opinio, nem partidos polticos e na qual a censura muito apertada. O

    regime de Salazar aposta na defesa intransigente do chamado Imprio (Continente e

    Ultramar) desafiando as tendncias mundiais de descolonizao. Neste contexto

    D R A

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  • 28

    Portugal acaba por perder as Colnias apenas depois de uma guerra na qual as

    negociaes de transferncia de poder ficaram condicionadas. Com a revoluo do

    25 de Abril negocia-se a perda das colnias e institui-se uma democracia moderna.

    Hoje Portugal faz parte integrante da Unio Europeia e integra-se na globalizao

    moderna.

    Como dissemos anteriormente um resumo deve ter menos de 200 palavras, aspecto

    que normalmente considerado nas prticas da escrita cientfica. Para reduzir para

    menos de 200 palavras, vamos facilmente chegar s 178 eliminando as frases a

    vermelho no texto anterior, o que nos leva a um resumo que j cumpre as referidas

    prticas.

    Portugal foi fundado por D. Afonso Henriques no sculo XII. Os Afonsinos, primeira

    dinastia portuguesa, centram-se na conquista territorial e na expulso dos Mouros.

    Portugal foi dos pases que mais cedo fixou as suas fronteiras. O ponto mais alto da

    histria portuguesa situa-se nos sculos XV e XVI com os chamados descobrimentos.

    Nessa altura Portugal domina o mundo, descobre novos mundos, domina a

    cartografia e estabelece redes de relacionamento nunca estabelecidas. Portugal cria

    o caminho martimo entre o oriente e o ocidente e detm o maior conhecimento

    (rede de conhecimento) sobre recursos globais. Depois de uma srie de reinados

    sem grande histria chega instituio da Repblica no incio do sculo XX. Os

    regimes republicanos foram pouco estveis at que Salazar chega ao poder. Salazar

    imps uma espcie de ditadura na qual no h liberdade de opinio, nem partidos

    polticos e na qual a censura muito apertada. Com a revoluo do 25 de Abril

    negocia-se a perda das colnias e institui-se uma democracia moderna. Hoje

    Portugal faz parte integrante da Unio Europeia e integra-se na globalizao

    moderna.

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    10. O processo de escrita

    Comunica-se com base em objectivos. Logo, antes de pensar no que vamos

    comunicar devemos identificar os objectivos e planificar o que queremos comunicar,

    como e para quem. O processo de escrita deve comear por esta planificao da

    comunicao.

    Um dos objectivos a ter em conta o pblico-alvo, quais as suas caractersticas e

    conhecimento que tem.

    O incio do processo de escrita representa a formulao de um problema que

    queremos resolver (concern). A resoluo desse problema passa pelo formulao e

    escolha das estratgias adequadas para o comunicar da melhor maneira. Este

    processo desenvolve-se atravs de dois processos fundamentais: traduo do que

    queremos dizer e construo do contedo e forma pelas quais o queremos dizer

    para um pblico-alvo (leitor).

    O contedo tem a ver com aquilo que queremos dizer, a forma tem a ver com a

    maneira como expomos o contedo.

    Esta separao entre contedo e forma apenas aparente e simplificadora pois a

    relao entre uma e outra que constituem o resultado. Ser atravs do equilbrio

    entre contedo e forma que se consegue a eficcia da comunicao.

    Por exemplo, todas as comunicaes tm uma estrutura que normalmente se

    assemelha. H que definir um ttulo, um enquadramento da problemtica, um

    desenvolvimento e um fecho. De acordo com o tipo de comunicao (artigo

    acadmico, artigo profissional, mensagem, memorando, livro, acta de reunio,

    apresentao pblica com Power Point), esta estrutura base adopta subdivises

    distintas.

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  • 30

    Embora surjam no incio da comunicao, o resumo (abstract) e a introduo so

    normalmente as ltimas partes da comunicao a serem escritas. De facto, ao longo

    do desenvolvimento do tema, surgem normalmente ideias e aspectos que s se

    conhecem depois de se chegar ao fim. Isto porque o processo de escrita um

    processo criativo, aberto a opes e escolhas que nem sempre se podem (nem

    devem) controlar inflexivelmente, pelo que o resultado final , partida e em certa

    medida, uma incgnita. Podemos ir mais longe do que inicialmente pensramos,

    assim como pelo contrrio temos hiptese de ir menos longe. H sempre a

    possibilidade de ter de redefinir aspectos fundamentais do nosso projecto, enfim o

    resultado de algo que est por fazer no normalmente completamente conhecido.

    Da s se poder resumir (abstract) e enquadrar (introduo) depois de se ter

    acabado a comunicao.

    Por estas razes devemos caracterizar o processo de escrita num contexto de

    projecto. O nosso projecto produzir uma comunicao. Seguindo uma estrutura

    semelhante do acto de engenharia, vamos considerar que o processo de escrita

    (produo de uma comunicao com parte escrita, mas que pode incluir mais

    aspectos) se subdivide em cinco subprocessos:

    Incio, Planeamento, Execuo, Controlo e Fecho.

    1 Incio

    objectivos - o que se quer obter com a escrita? Quer-se instruir uma determinada comunidade sobre o funcionamento de algo, dar a conhecer

    uma nova tecnologia, um novo procedimento, um nova estratgia de

    investigao, enfim, h vrias hipteses e vrios objectivos possveis para a

    nossa comunicao.

    mbito - vou escrever sobre o qu? Quais as fronteiras que me interessam definir. O que deve ser includo e o que no deve fazer parte da comunicao

    a desenvolver.

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  • 31

    clientes - a quem se dirige o texto? Qual a audincia e suas caractersticas, qual o grau de profundidade e detalhe a usar na comunicao, o que que se

    considera ser conhecido e o que ter que se explicar para o texto poder ser

    acompanhado.

    vale a pena - comunico, ou no comunico, produzo, ou no produzo este trabalho? Qual a viabilidade desta comunicao. Ganha-se alguma coisa com

    ela, ou no?

    2 Planeamento

    meios - tenho meios para atingir os objectivos, quais? Quero um texto, uma circular, um email, uma apresentao power point, como vou chegar aos

    destinatrios, quais os meios de que disponho para o fazer.

    estrutura como se adequam os meios com o que se quer transmitir ou produzir. A estrutura geral, um resumo, uma introduo, corpo e concluses

    tem de ser adequada a esses dois aspectos e pode ser singularizada caso a

    caso. A estrutura de um artigo cientfico numa revista pode ser semelhante

    de uma tese, ou de uma dissertao, mas tem nada a ver com a

    estruturao de um documento com especificaes tcnicas, ou um

    memorando sobre o funcionamento de determinado sistema, ou um plano

    de negcio.

    3 Execuo

    A execuo, isto , a produo da comunicao, segue normalmente o ciclo de auto-

    ajuste e de melhoramento por etapas descrito na Figura 5. Este ciclo tem a ver com a

    grau de qualidade que se pretende assegurar com a comunicao e um processo

    de tentativas e revises, por vezes com alteraes drsticas.

    Por outro lado, devemos frisar que quem produz um texto no a pessoa indicada

    para o rever, pois h erros que o autor no v, por mais que leia o texto, pois j os

    interiorizou. No s por se tratarem de erros que o autor incorre por

    desconhecimento, mas tambm erros que o autor poderia corrigir, mas no os v.

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    pois bom pedirmos a terceiros que nos revejam os textos que fazemos. Na ausncia

    de terceiros deixe passar um ou dois dias depois do texto pronto para o voltar a ler

    com ateno.

    Figura 5 ciclo de execuo do processo de escrita.

    4 Controlo do processo

    Avaliao do resultado, ser mesmo isto que se quer? teremos de fazer alteraes?

    teremos de acrescentar? teremos de tirar alguma coisa? Temos tambm de tentar

    aferir a eficcia do discurso (nomeadamente fazendo ensaios). Aqui, mais uma vez, a

    ajuda de terceiros pode ser aconselhada. Por exemplo, se preparamos uma

    apresentao Power Point podemos pedir a um conjunto de colegas que assistam a

    uma sesso experimental de apresentao da mesma para darem as suas ideias e

    fazerem as suas crticas.

    5 Fecho (FIM)

    Uma das coisas que preciso aperfeioar o saber acabar ( o problema do fecho).

    Por vezes extremamente difcil acabar, isto , colocar um ponto final no discurso,

    ou na apresentao. Por outro lado tambm difcil encerrar o processo de reviso.

    H at o conhecido sndroma do autor que altera o texto que produziu de cada vez

    que o l para melhorar um pormenor. Esse processo se no se sabe acabar pode

    tornar-se perigosamente tendente para infinito. Por outro lado devemos pensar na

    eficincia dos nossos processos, habituando-nos a produzir bem e depressa,

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  • 33

    apresentando resultados, criando valor. isso que os futuros empregadores mais

    vo exigir e apreciar no futuro.

    A chamada Lei de Parkinson diz-nos que Work expands to fill the time available (o

    trabalho expande-se de modo a preencher o tempo disponvel). Isto um problema

    pois, de facto, poderamos fazer determinada tarefa num dia, mas como temos uma

    semana, acabamos por nos tornarmos to ineficientes que mal conseguimos ter a

    tarefa pronta ao fim de uma semana. Devemos educar os nosso procedimentos de

    forma a no deixar que a lei de Parkinson nos aflija, nos torne menos eficientes e nos

    faa perder o foco naquilo que temos de fazer e no ritmo de produo que vamos

    exigir de ns prprios.

    Tambm j referimos a estrutura tpica de uma comunicao. Esta estrutura pode

    sofrer alteraes profunda para se adequar aos objectivos e aos meios, como vimos,

    mas normalmente a que se segue:

    Ttulo

    Resumo

    Introduo

    Contextualizao

    Desenvolvimento

    Concluso

    Referncias

    Anexos

    Em princpio o resumo e a introduo s se fazem no fim, depois de se ter todo o

    restante pronto, como j dissemos. Tambm o ttulo pode sofrer alteraes para

    propostas melhores no fim. Repare-se que o ttulo pode muitas vezes condicionar a

    procura do artigo que fazemos. Por exemplo um ttulo bem feito, relacionado com a

    questo de investigao a que se refere, que seja muito apelativo, pode levar a um

    maior nmero de leituras do artigo e isso pode levar a aumentar o nmero de

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  • 34

    citaes. Quando esto a decidir o ttulo pensem por exemplo num motor de busca

    tipo Google e quais as palavras que o ttulo deve conter para o Google conseguir

    apanhar o artigo. Mais uma vez o importante rigor, economia e alguma estratgia

    de divulgao.

    As referencias, para alm do que j dissemos na Seco 8 Escrita acadmica,

    devem seguir uma das diversa normas existentes. Existem vrias que se podem

    consultar na internet. Por exemplo da APA, Harvard System, e IEEE referencing

    system, entre outros.

    Normalmente as revistas internacionais e os editores de livros, e at mesmo os

    editores de actas de conferncias, obrigam a que se referencie usando determinada

    norma.

    Por fim, tudo o que no for absolutamente relevante, mas possa contribuir para uma

    melhor compreenso do tema em explorao, pode ir para Anexo. Os anexos

    aparecem depois do trabalho, isto , depois da lista de referencias usadas e devem

    ser evocado no texto principal. Isto , assim como uma referncia inserida no texto,

    do tipo (Figueiredo, 2011), tem de ter a especificao completa no fim, na listagem

    das referncias bibliogrficas, tambm o Anexo 1 e o Anexo 2 que por ventura se

    incluam num trabalho tm de ser referidos no texto, por exemplo com um

    consultar o Anexo 1, e tm depois de ser colocados, de acordo com a ordem de

    evocao, depois da listagem das referencias bibliogrficas.

    11. Double loop

    Na comunicao de mensagens importantes h por vezes que ter a preocupao da

    criatividade. Algumas das estratgias para conseguir ser criativo passam por pensar

    de forma diferente da habitual (think out of the box). Albert Einstein dizia que no

    era possvel resolver um problema usando o mesmo tipo de raciocnio usado para o

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    criar We can't solve problems by using the same kind of thinking we used when we

    created them. Esta citao uma metfora interessante porque nos leva a pensar

    que ns podemos ter encadeamentos de pensamento que nos limitam. Entramos

    num registo e no conseguimos sair desse registo, ficando incapazes de

    compreender novas realidades, ou a realidade vista de outra maneira. Assim sendo,

    se conseguirmos arranjar mecanismos que nos levem a equacionar os problemas de

    maneiras diferentes, seremos capazes de resolver mais problemas e melhor. , em

    certa medida, um problema de contexto. Se formos capazes de alterar o contexto,

    somos capazes de perceber novas realidades.

    Na Figura 6 descrevemos um modelo que nos poder ajudar neste exerccio de

    pensar fora da caixa. Argyris e Schon (1978) criaram este modelo, double loop

    learning, num contexto de aprendizagem organizacional. Este modelo diz-nos que

    qualquer sistema (mecnico, tecnolgico, social, organizacional) tem entradas

    (input) e sadas (output). O ciclo interior, normalmente designado por retroaco

    (feedback) permite, face aos resultados obtidos (output) actuar nas entradas do

    sistema para efectuar as correces necessrias.

    Porem este tipo de actuao no permite introduzir alteraes muito inovadoras no

    sistema, permite apenas efectuar pequenas alteraes, ou afinaes no sistema,

    pequenos melhoramentos.

    Assim, para conseguir actuar de forma mais inovadora necessrio abraar o ciclo

    exterior (double loop). Para o fazer preciso questionar o que se est a fazer, qual a

    razo, quais os objectivos (repensar os objectivos) para quem (repensar os clientes),

    traar eventualmente novas estratgias e, com o resultado desta reflexo fora da

    caixa, actuar ento nas entradas do sistema e eventualmente no prprio sistema,

    provocando a mudana para melhor.

    Um outro exemplo do que queremos transmitir est representado na Figura 7. Tente

    com apenas quatro movimentos da caneta (segmentos de recta) e sem tirar o bico

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  • 36

    da caneta da folha de papel, passar por todos os pontos representados. Se conseguir

    reflicta no que fez e em qual o significado do que fez.

    Figura 6 Double loop learning

    Figura 7 Pensar fora da caixa, alterao do enquadramento

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  • 37

    Este exerccio e o modelo representado so exemplos de estratgias para pensar de

    forma inovadora, ou como forma de promover uma reflexo mais profunda sobre as

    coisas. Em termos organizacionais esta capacidade de pensar lateralmente (De Bono,

    1999) pode ser crucial. De Bono introduziu o conceito de pensamento lateral para se

    referir ao que dissemos.

    Repare-se ainda e tambm que o ciclo interior da Figura 6, de afinao e

    melhoramento contnuo, tem mais a ver com a eficincia, melhorando o uso dos

    recursos e eventuais pequenas alteraes de melhoria de processo, portanto no

    como fazer, enquanto o ciclo externo, double loop, de reflexo e reequacionamento,

    tem mais a ver com a eficcia, com o recentrar no que fazer.

    Devemos referir que para o que nos interessa directamente nesta disciplina, estes

    ensinamentos tambm podem ser cruciais, ajudando a considerar o que se ouve

    (aquilo que transmitido pelos outros) em perspectiva, percebendo bem e sem

    precipitar opinies prematuras, assim como podem ajudar a escolher a estratgia

    para melhor explicar determinada situao numa apresentao ou num documento

    escrito para determinado pblico alvo.

    Em anexo apresentam-se alguns exerccios que podem facilitar a compreenso dos

    conceitos referidos no texto.

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  • 38

    Referncias

    Argyris, Chris and Donald Schon, 1978, Organizational Learning: A theory of action

    perspective, Addison-Wesley, Reading MA

    Cipolla, Carlo, 2008, Allegro Ma Non Troppo, As leis fundamentais da estupidez

    humana, Edies Texto e Grafia

    De Bono, Edward, 1999, Six Thinking Hats, Back Bay Books, 2 edition

    Deming, W. Edwards, 2000, Out of Crisis, The MIT Press

    Einstein, Albert, 1995 (reedio), Ideas And Opinions, Broadway, 3 edition

    Kerzner, Harold, 2009, Project Management: A Systems Approach to Planning,

    Scheduling, and Controlling, Wiley, 10 edition

    Lao-Tse, 2010, Tao Teh King, Mundus [original de 6000 AC]

    Nonaka, Ryoko Toyama and Noboru Konno, 2000, SECI, Ba and Leadership: A Unified

    Model of Dynamic Knowledge Creation, Long Range Planning, vol. 33, pp. 5-34

    Trevelyan, J. P., 2009, Steps Toward a Better Model of Engineering Practice,

    presented at the Research in Engineering Education Symposium, Cairns, Queensland,

    Australia

    Williams, Bill and Figueiredo, Jos, 2010, Engineers and their practice: A case study,

    Proceedings of the IEEE EDUCON Education Engineering 2010 The Future of Global

    Learning Engineering Education, pages 531-535, ISBN 978-84-96737-70-9

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    Anexo - Exerccios

    1. Lendo a frase que se segue, de Albert Einstein, analise-a e expresse o seu alcance

    em termos de significado. Apresenta-se o original e uma traduo muito livre.

    Everything should be made as simple as possible, but not simpler Tudo deve ser

    tornado to simples quanto possvel, mas no podemos ser simplistas.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    2. Lendo a frase que se segue, de Albert Einstein, analise-a e expresse o seu alcance

    em termos de significado. Apresenta-se o original e uma traduo muito livre.

    Not everything that counts can be counted, and not everything that can be counted

    counts Nem tudo o que interessa conta e nem tudo o que conta interessa.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    3. D um exemplo de um processo eficaz e outro de um processo eficiente. Realce a

    diferena.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

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    4. Escreva um pargrafo sobre o que quiser no qual use uma referenciao de uma

    citao de uma obra e uma referenciao a uma obra que nos influenciou.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    5. Diga-nos porque acha que a comunicao importante.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    6. O que significa double loop learning? A que que se pode aplicar este modelo?

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    7. O processo de escrita pode ser visto como um projecto. Descreva as diversas fases

    e respectivo significado.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    8. O processo de escrita pode ser visto como um processo de investigao? H

    muitas obras acadmicas com o ttulo Writing as Inquiry

    ____________________________________________________________________

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    N

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    9.

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    10.

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