faculdade de medicina da universidade do porto...
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1) INTRODUÇÃO
Vamos começar a estudar fungos patogénicos para o Homem, mas um tipo
muito particular.
Quando pensamos em fungos, pensamos num cogumelo. É extremamente
patogénico para o Homem, extremamente tóxico, sendo a causa mais frequente de
insuficiência hepática. Os transplantes hepáticos por toda a Europa, mais
concretamente em França, estão relacionados com a hepatotoxicidade dos
cogumelos, os Hemanitas.
Não é este tipo de fungos que vamos falar, mas, apesar de tudo, serve para
relembrar algumas noções fundamentais:
▪ Os fungos reproduzem-se por esporos (não é verdade em 100% dos
casos);
▪ A estrutura básica é formada por:
▫ Um pé através do qual o fungo recebe nutrição do solo onde está
implantado;
▫ Uma porção aérea que tem lamelas onde há formação dos esporos
que caem e depois formam uma nova estrutura.
2) CLASSIFICAÇÃO TAXONÓMICA
Ouvimos falar em subdivisões, classes e depois há vários nomes para o mesmo
fungo. Há que ter atenção às ambiguidades.
NOTA:
A taxonomia fúngica não é tão consensual como acontece com a classificação das bactérias, uma
vez que o mesmo fungo pode ter mais do que um nome, como veremos mais à frente quando falarmos
dos esporos.
FFaaccuullddaaddee ddee MMeeddiicciinnaa ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee ddoo PPoorrttoo MMiiccrroobbiioollooggiiaa
Introdução à Micologia. Estrutura, metabolismo, crescimento e
mecanismos de reprodução dos fungos. Mecanismos de patogenicidade. Classificação das micoses.
Prof. Dr. Acácio Gonçalves Rodrigues 9/2/2007
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3) CLASSIFICAÇÃO DAS MICOSES
Quando falamos em patologia micológica, falamos em micoses.
a) Tíneas
Como micoses clássicas temos as tíneas (micoses do cabelo), sobretudo nos
miúdos nas aldeias (mais raro) ou nos bairros suburbanos (actualmente mais
frequente).
Na fig.1 existem lesões que não fazem cair o cabelo, não causam alopécia e a
lesão da fig.2 constitui aquilo que o povo chama de peladas.
Fig.1 Fig.2
b) Micoses cutâneas
Estas micoses são cutâneas, pois atingem fundamentalmente a pele.
Reparem aqui nesta zona do pescoço e nas virilhas:
provavelmente o fungo é diferente, mas não pelo aspecto da lesão.
O primeiro atinge uma zona da pele com
poucos pêlos e relativamente mais seca
do que aquela das virilhas. Nestas já
existe mais humidade, mais calor e, provavelmente, a
fisiologia deste agente patogénico é diferente daquele
que está a causar a lesão no pescoço.
Nos espaços interdigitais há também um aspecto que não é normal: a pele está
seca e descamada, significando que este fungo tem um
tropismo muito especial para a pele, sobretudo desses
espaços, uma vez que não vai para a planta do pé, nem
para o dorso dos dedos do mesmo. Esta capacidade de
observação é muito importante, não só na Microbiologia,
mas também na Medicina, na clínica.
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As lesões seguintes têm um aspecto mais húmido, mais eritematoso, com
algumas vesículas pequenas, surgindo onde existe calor e humidade:
▫ Axila, sobretudo na prega axilar (fig.3);
▫ Sulco infra-intermamário (fig.4);
▫ Espaço interdigital da mão (pode aparecer um pouco seca à periferia,
mas há, fundamentalmente, um aspecto eritematoso e com algum
edema) (fig.5).
Fig.3 Fig.4 Fig.5
Este é um caso muito grave de um indivíduo com uma imunodeficiência de tipo
T (tema que será abordado numa próxima aula teórica).
Não desenvolve uma micose sistémica ao nível dos órgãos
profundos, mas a nível cutâneo tem estas lesões que são
destrutivas e infectam secundariamente por bactérias
piogénicas (exemplo: cocos Gram+ que fazem parte da PMN da
pele).
Sobretudo porque esta senhora é obesa, diabética e passava
muito tempo deitada, a micose que surgiu ao nível da mucosa genital
sofreu uma rápida progressão e casou lesões cutâneas extensas.
c) Onicomicoses ou oníquias
Isto representa unhas atingidas por aquilo que se
chama uma onicomicose. Reparem que já se vê pouca
unha e está a ser atingida do sentido distal para proximal.
Existe um pouco de pele íntegra na base da unha, ou seja,
há uma porção macerada no leito ungueal, mas este fungo não tem tropismo para
a pele.
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Reparem nesta unha: tem um atingimento completamente diferente. Só está
poupado uma pequena porção distal da unha, pois o
atingimento começou no sulco ungueal e progrediu em
sentido distal. Outro aspecto é que esta pele, este sulco
ungueal, também está atingido (com edema e rubor), ou
seja, constitui uma perioníquia (oníquia com atingimento
do sulco ungueal).
d) Evolução das micoses humanas
Até aos anos 70, os principais tipos de micoses eram todas as referidas
anteriormente.
A partir dos anos 80, começamos a fazer transplantações de órgãos e a manter
vivos os doentes críticos durante semanas a fio logo, se as UCI não fossem muito
ricas, se houvesse muita contaminação ambiental, aquilo que dominava eram as
infecções por Enterobacteriaceae ou bacilos Gram- (cruzadas de doente para
doente). Mas a partir do momento em que conseguimos ter um bom controlo da
higiene ambiental, começam a predominar as infecções endógenas. A grande fonte
de microrganismos no corpo humano é o tubo digestivo onde predominam, para
além dos anaeróbios, bacilos Gram-. Portanto, estes doentes desenvolviam uma
sepsis causada por estes últimos microrganismos.
No final dos anos 80, com uma melhor política de gestão de antimicrobianos, o
doente consegue sobreviver aqueles 8-10 dias críticos, sobrevive à primeira sepsis
por bacilos Gram- e depois desenvolve uma infecção por um coco Gram+ (exemplo:
Staphylococcus aureus ou Staphylococcus coagulase negativo multirresistente).
Quando passamos da transição da 2ª para a 3ª semana de vida, o doente
sobreviveu a tudo isso e posteriormente desenvolve uma infecção por agentes que
muitas vezes até são tipicamente endógenos, ou seja, as leveduras que aproveitam
o desequilíbrio do ecossistema das PMN e que agora proliferam. Isto acontece
porque estes doentes têm muitos implantes médicos e recebem uma série de
fármacos que interferem com a fisiologia dos microrganismos (promovem o seu
crescimento ou alteram a sua susceptibilidade aos medicamentos usados).
Dos meados da década de 80 até ao fim do séc.XX (agora ainda continua, mas
já com algumas mudanças), surgem as micoses disseminadas relacionadas com:
▫ Implantes médicos;
▫ Administração maciça de antimicrobianos;
▫ Imunossupressão;
▫ Manobras farmacológicas de ressuscitação cardiovascular e hemodinâmica
(exemplo: catecolaminas) que estimulam directamente o desenvolvimento
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de alguns agentes fúngicos ou promovem a sua resistência aos anti-
fúngicos.
e) Frequência das micoses
A frequência das micoses é de 10-30% na última década e, em alguns casos, a
mortalidade atinge os 95%, mas de um modo geral é de 35-60%.
Um doente destes, que tenha esta mortalidade, é capaz de fazer por dia €1500
a €2000 de custo só em anti-fúngicos (é apenas a terapêutica de base).
4) CLASSIFICAÇÃO DOS FUNGOS
a) Fungos unicelulares Quais são as células fúngicas mais simples, mais básicas que existem? São as
leveduras ou fungos leveduriformes.
A levedura reproduz-se por gemulação: forma-se uma gémula que é um
esporo, ou seja, também tem reprodução por esporos. Estas células podem ter uma
forma cocóide, umas mais arredondadas, outras mais piriformes (não é isto que é
crítico). A levedura não é uma bactéria: se fosse, formava-se outra exactamente
igual, do mesmo tamanho e com um septo intercalar.
Mas nesta situação, forma-se uma célula mais pequena que, em princípio,
separa-se da mãe (cada célula-mãe dá origem a só uma célula-filha, mas até pode
surgir mais do que uma) e depois vai crescer até atingir o tamanho adulto.
Muitas vezes quando a própria gémula aparece, o início da sua gemulação
também já está a ocorrer (“as leveduras já nascem grávidas”). Portanto, a própria
gémula já tem activado, na parede, o local que vai dar origem à sua própria célula-
filha.
Esta gémula é, no fundo, um esporo. Não é um esporo no sentido de uma célula
que está quiescente. É importante estabelecer a seguinte distinção:
▪ O esporo bacteriano representa a forma de resistência da célula,
estando quiescente;
▪ O esporo fúngico é uma célula que, em alguns casos está quiescente,
mas noutros casos está viva, tem metabolismo e cresce
imediatamente. Também há quem chame a estas células,
blastoconídias.
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Às vezes, a gémula não se separa da célula-mãe (muito embora este septo seja
completo), começa a crescer e a alongar-se. Depois forma-se uma nova gémula,
dando origem a uma estrutura mais ou menos alongada, e vai parecer uma hifa
verdadeira, mas a isto chamamos pseudohifa (as células que a constitui são
independentes): se injectar um marcador numa extremidade é improvável que ele
apareça na extremidade oposta, porque o septo está completo. Esta célula
alongada também pode sofrer uma nova gemulação.
As leveduras fazem isto com extrema facilidade in vivo, sendo uma capacidade
de alterar a sua superfície celular, a sua forma, o que constitui um bom mecanismo
de escape imunológico.
Às vezes as leveduras fazem outro processo: forma-se uma hifa verdadeira,
geralmente são microscópicas, mas este septo não é completo, existindo uma
estrutura contínua.
Estes microrganismos, em qualquer ponto, podem voltar à sua forma inicial e
começar a gemelar. Este polimorfismo confere várias capacidades à célula, entre
elas, de baralhar o sistema imunológico.
Isto acontece in vivo.
Vemos aqui uma imagem de uma cultura que tem as pseudohifas, mas também
uma hifa contínua, e as células a gemelar. Estamos a
ver um exsudado de um esfregaço vaginal corado
pelo método de Gram: células do epitélio
pavimentoso, bacilos que, provavelmente,
correspondem a Lactobacillus (Gram+) e hifas a
gemelar (Candida albicans).
Mais uma vez insisto e é importante: isto tem tudo dimensões microscópicas,
não as vemos a olho nu. É importante que se lembrem disto.
Numa imagem da superfície de um cateter venoso central tratado e observado
por microscopia electrónica de scanning vêem-se alguns leucócitos, sobretudo
neutrófilos, a tentar fagocitar as leveduras. Estas deixam-se fagocitar calmamente
e, no interior do neutrófilo, emitem o tubo germinativo que o fura, permitindo que
elas “saltem cá para fora”.
Há leveduras que, perante condições adversas, como em termos de carga
osmótica, salinidade, desidratação e condições agressivas de temperatura, são
capazes de formar um esporo, uma estrutura quiescente e extremamente densa;
tem uma parede tão dura de cortar que, quando está incluída no epon, saltam
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deste no momento em que a lâmina de diamante tenta fazer os cortes para
microscopia electrónica. Este esporo, como forma de estrutura quiescente e
resistente, é diferente daquele que representa o modo de reprodução dos fungos.
Cerca de 0,001% dos fungos não se reproduzem por gemulação. O
Schizosaccharomyces pombe divide-se, tal como uma bactéria, por divisão binária
(não vou perguntar isto, não tem importância).
b) Fungos pluricelulares Excluindo os cogumelos, toda a gente lá em casa já viu no pão, na fruta ou até
nos livros se não os abrir muito, o crescimento de bolor. Estes fungos são visíveis
macroscopicamente.
Características de um bolor:
▪ É extremamente frágil;
▪ Desenvolve-se rapidamente (ele desenvolve-se lentamente, nós é que
nos apercebemos dele quando ganha cor);
▪ Adquire cores variáveis.
Têm um crescimento completamente diferente: parece que crescem do centro
para a periferia. Isto é aquilo que se chama um fungo filamentoso ou bolor.
Aqui se vê, em mais detalhe, o aspecto da colónia de um
fungo filamentoso. As margens são brancas, porque o fungo
ainda está imaturo. Ele provavelmente está na zona central,
onde as hifas estão mais maduras e onde há maior
quantidade de esporos.
Qual é a estrutura básica deste fungo filamentoso?
É uma hifa que se origina de um esporo (que está quiescente), vai crescendo
por um mecanismo de germinação e de alongamento, como nas leveduras. A partir
de uma determinada altura torna-se macroscópico.
Quais são os tipos de hifas que caracterizam estes fungos?
▪ Hifa septada;
▪ Hifa não septada – corresponde a várias células; em cada uma destas
divisões incompletas existe um núcleo1 ().
1 Onde é que nós temos uma estrutura deste género no corpo humano? Nos tecidos musculares mais antigos.
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Contrariamente às leveduras e às bactérias, que quando crescem em meio de
cultura, crescem à superfície e fazem relevo para a parte aérea, os fungos
filamentosos têm um micelo (conjunto de hifas) com relevo para a parte aérea e
um crescimento para a profundidade, no meio de cultura.
Quem diria que este micelo que é branco (em termos de micelo aéreo) iria ter,
no reverso, um micelo vegetativo com pigmento acastanhado. O relevo não tem
rigorosamente nada a ver com a profundidade, tendo características morfológicas
distintas, nomeadamente a nível de cor e textura (isto é muito importante).
Ambos permitem a caracterização e identificação fúngica.
O que é que acontece na porção central do fungo?
Destas hifas estão a emergir esporos e estruturas especializadas (estão na base
da sua origem) que, à medida que vão amadurecendo, vão dando cor ao fungo.
Vejamos dois exemplos:
Dois fungos, com a mesma cor, têm texturas diferentes. Não é de certeza o
mesmo fungo se o meio de cultura for o mesmo e preparado com os mesmos
constituintes, como os metais.
O mesmo fungo preparado com água do Porto e com água de Coimbra pode
aparecer azul no primeiro e verde no último, resultando da “dureza” da água e das
suas características químicas.
As estruturas especializadas na reprodução de esporos estão no micelo aéreo. A
imagem representa micelos aéreos, mas as estruturas especializadas são
completamente diferentes: aquelas do Aspergillus fumigatus e do Aspergillus
terreus têm um aspecto de “alho-porro”, enquanto que as do Aspergillus niger e do
Aspergillus flavus têm uma aparência digitiforme. Isto põe-nos logo na pista de
fungos completamente diferentes, pertencentes a espécies distintas.
Micelo aéreo Micelo vegetativo
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5) DIMORFISMO, POLIMORFISMO E PLEOMORFISMO (atenção aos termos!)
Na Micologia existem termos que estão associados a definições muito concretas.
a) Dimorfismo
Há raros fungos que em condições culturais e temperaturas diferentes podem
apresentar-se ou na forma de levedura ou na forma de fungo filamentoso, mas
nunca as duas em simultâneo.
Geralmente estes fungos são ubiquitários e, portanto, a forma mais fácil de
conseguirem resistir no ambiente é como fungos filamentosos: produzem
esporos que estão quiescentes, tendo uma grande capacidade de resistência.
Mas quando entram no meio interno do hospedeiro (corpo humano ou um
animal) – habitualmente, a porta de entrada é o pulmão, mas também pode ser as
escoriações em feridas cutâneas – chegam a um meio rico e com uma temperatura
superior à que existe na Natureza (10-12ºC � 37ºC). Consequentemente,
convertem-se à forma de levedura.
Tudo isto tem lógica. Não fazia muito sentido o fungo crescer no meio do baço
ou do fígado e estar a formar todas aquelas hifas complicadas. É melhor que só se
consiga dividir em poucas células: 2 a 2 ou 3 a 3.
Como é que posso reproduzir isto no laboratório?
Se semear este fungo ou o produto biológico da amostra humana num meio de
cultura rico (que usamos para muitas bactérias) e o incubar a 37ºC, ele cresce na
forma de levedura, exclusivamente. No entanto, se fizer uma repicagem para um
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meio de cultura não tão rico em nutrientes e o incubar a 18-20ºC, ele cresce na
forma de fungo filamentoso. Isto é que é um fungo dimórfico.
Relembrem que nunca se converte às duas formas em simultâneo.
b) Polimorfismo
Por exemplo, aquela levedura que pode constituir hifas, pseudohifas e pode
formar-se por gemulação, faz tudo em simultâneo num meio rico a 37ºC.
É uma situação claramente distinta daquela do caso anterior.
c) Pleomorfismo
Se realizarmos várias repicagens no laboratório, o fungo filamentoso vai
alterando as suas características macroscópicas, o seu aspecto típico. Podemos
dizer que é uma capacidade de “degenerescência”.
Há, então, uma variação morfológica em função das condições de cultura do
meio no qual o fungo está inserido.
6) MECANISMOS DE REPRODUÇÃO
Como é que os fungos se reproduzem? Basicamente, há três formas a
considerar.
a) Reprodução vegetativa
É verdade sobretudo naqueles que formam hifas e pode acontecer com algumas
plantas.
Plantas – se cortarem um raminho e introduzirem-no num substrato
nutritivo, conseguem reproduzir uma nova planta, porque enraizou.
Fungos – se partirem o topo de uma hifa (que não seja intercalar para não
quebrar duas células), as células intactas são capazes de originar um novo fungo.
Há no género Mycelia a espécie Mycelia sterilia que tem, exclusivamente,
reprodução vegetativa.
b) Reprodução assexuada
A maioria dos fungos patogénicos para o Homem tem só este tipo de
reprodução. Chamam-se fungos imperfeitos e a forma resultante da reprodução é o
anamorfo.
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Pode resultar de dois processos:
▪ Fragmentação das hifas (como na reprodução vegetativa);
▪ Formação de esporos, denominados por conídios (mas há excepções), a
partir de hifas diferenciadas.
Os esporos assexuados formam-se dentro de estruturas unicelulares ou
externamente a partir do talo (hifa).
O mesmo fungo pode produzir, simultaneamente, macro ou microconídios,
como acontece com os agentes que causam tíneas no cabelo.
Os conídios resultam de um processo que conidiogénese que pode ser tálica
ou blástica.
Estes fungos produzem hifas especializadas, porquê?
O micelo vegetativo é quase como se fosse uma planta que é a evolução directa
de um fungo filamentoso. No micelo aéreo, forma-se uma hifa (uma cogumela) e
depois uma membrana, que mais tarde há-de romper, envolvendo muitos
esporangiosporos.
Há algumas plantas, como os dentes-de-leão, cuja produção de sementes e
forma de disseminação são análogas aquelas dos fungos.
▪ Conidiogénese tálica
Os exosporos que se formam directamente do talo, podem formar-se por
vários mecanismos: num fungo filogeneticamente mais antigo, cada uma das suas
células correspondentes aos septos separam-se e cada uma delas é um conídio
(neste mecanismo existe uma perda).
O conídio típico dos Dermatófitos é muito especializado e é um
macroconídio intercalado.
Os esporos que vimos anteriormente a propósito das leveduras, tendo
referido que são esporos de resistência, é mais um exemplo de conidiogénese tálica.
▪ Conidiogénese blástica
É uma forma mais exuberante (do Inglês blast) e significa que, na hifa,
aconteceu algo que implicou um grau de diferenciação mais avançado para originar
Endosporos ou esporangiosporos Exosporos ou
conídios
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esporos e, vulgarmente, formam-se mais do que um. Isto é importantíssimo na
classificação fúngica.
Representa um mecanismo extremamente eficiente: a partir de uma única
estrutura produz-se uma grande quantidade de esporos.
A classificação dos fungos filamentosos é muito morfológica e não é
compatível com o diagnóstico microbiológico clínico, dado que:
▫ Passa por observar estas estruturas durante horas ao microscópio,
levando vários dias;
▫ As células de onde se originam são diferentes: bisseriadas ou
unisseriadas, implicando um grande pormenor de observação;
▫ O agrupamento das células conidiogéneas pode formar um
corémio, picnídio ou acérvula.
Há pouco, na descrição da gemulação, referi que à gémula também se chama
blastoconídia: quando surgiu a teoria de que os esporos resultantes da
reprodução assexuada, desde que não se formassem dentro de estruturas (dentro
do tal esporângio), poderiam chamar-se conídios; alguém decidiu olhar para uma
levedura e entendeu que, isolada, quase que funcionava como um talo e que era
um exemplo de uma codiniogénese blástica.
c) Reprodução sexuada
Alguns fungos também podem ter, independentemente da reprodução
assexuada, a forma sexuada e o fungo continua a ser o mesmo, sendo o
teleomorfo. O que pode baralhar a classificação taxonómica é a sua mudança de
género ou de espécie, adquirindo um novo nome.
Anamorfo Teleomorfo
Cryptococcus neoformans Filobasidiela neoformans
Pseudoallescheria boydii Sudosporium apiospermum
Alguns destes aspectos só são descrições de laboratório e faz todo o sentido: o
microrganismo está a tentar ser patogénico para um hospedeiro e este tenta
defender-se o mais possível. Portanto, a corrente sanguínea ou o pulmão não são
bons locais para que as hifas se reproduzam assexuadamente. É mais fácil ter uma
reprodução sexuada. No entanto, não é totalmente um artefacto; isto acontece
realmente, mas alterou a sistematização que havia na taxonomia fúngica.
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Dos fungos que vamos estudar e que são patogénicos para o Homem,
geralmente estão nestas divisões:
▪ Zigomicota;
▪ Ascomicota;
▪ Diziriomicota;
▪ Zeuteromicota.
São termos correntes que se devem utilizar, embora as pessoas ainda utilizem
muitas vezes os conceitos de Zigomicetos, Astomicetos e Basidiomicetos. Não é
uma designação tão correcta (no entanto, o professor utilizou, algumas vezes, estes termos
durante a aula).
Cada uma destas divisões têm muitas espécies e normalmente só cerca de
cerca de 150 é que são patogénicas específicas ou primárias para o Homem e para
os animais.
Mas é das áreas da Microbiologia em que estão a aparecer cada vez mais
espécies emergentes. Cada vez mais se descreve patogenicidade humana, grave e
séria, que curiosamente não é tíneas, nem lesões cutâneas; é lesões fulminantes
por agentes que eram antes considerados não patogénicos para o Homem.
A reprodução sexuada implica a existência de um
terminal masculino e outro feminino: nos fungos
imperfeitos pode ser dentro da mesma hifa, tendo
polaridades diferentes, mas nos fungos mais
desenvolvidos há uma estrutura na hifa que tem
características diferentes, ou seja, uma tem propriedades
masculinas e a outra possui as femininas.
Na reprodução sexuada resultam esporos sexuados e adquirem o nome da
estrutura onde eles são formados:
Divisão Estrutura Esporos
Ascomicetos Ascos Ascósporos
Zigomicetos Zigosporângio Zigósporos
Basidiomicetos Basídeo Basidiósporos
Este tipo de reprodução é dividido em três fases distintas:
▪ Plasmogamia - união de protoplamas de duas células sexualmente
compatíveis, dando origem a uma única célula com dois núcleos;
Mating-type
▪ Homotálica
▪ Heterotálica
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▪ Cariogamia – fusão dos dois núcleos, originando o zigoto;
▪ Meiose2 - origem a 4 células haplóides, mas, muitas vezes, dentro de
algumas estruturas formadoras destes esporos não existem só 4
células: podem existir 8 ou 12 células, porque cada uma delas pode
sofrer mitoses sucessivas, mas, no mínimo, tem que haver inicialmente
formação de quatro resultantes do processo de meiose.
Os zigomicotas constituem o grupo no qual há poucas espécies descritas. São
os fungos onde se tem verificado a escalada de violência, nova patogenicidade em
espécies consideradas inofensivas para o Homem.
Os ascósporos formam-se dentro do asco que é uma estrutura tubular,
geralmente saculiforme com 4, 8, 16,… esporos. É o processo mais eficiente de
produzir uma grande quantidade de esporos. Esta reprodução é mais eficaz do que
a gemulação das leveduras que pode dar origem a 1, 2 células, mas em cada caso
formam-se, no mínimo, 4 esporos. Se este fungo conseguir encontrar um local
onde se formem vários ascos e se estes estiverem protegidos por uma estrutura
externa, mais facilmente asseguram a disseminação da espécie. Os ascos formam-
se (nem sempre) dentro dos ascocarpos que podem ter o nome de peritécio ou
cleistotécio conforme está aberto ou fechado (pessoalmente, apresento isto para
perceberem as figuras dos livros; não considero isto relevante, mas sim saber por
que motivo é basidiomicota ou ascomicota, por exemplo).
In vivo, numa amostra biológica, não conseguem ver os ascocarpos, os
peritécios ou os cleistotécios e mesmo isto não tem interesse em diagnóstico
micológico clínico/laboratorial, porque seria preciso perder muito tempo a esperar
que eles se formassem.
Há um aspecto muito importante que podemos observar directamente num
produto biológico: posso ter um fragmento de uma hifa septada de um ascomicota
e se conseguir ver no septo incompleto um poro com um corpo que parece obliterar
parcialmente o seu centro constitui o corpo de Woronin. Este tipo de septo é típico
dos ascomicotas. Basta uma observação destas para dizer que este fungo pertence
à divisão dos ascomicotas.
Os basidiósporos formam-se no basídeo, uma estrutura que resulta da
conjugação de duas hifas. É nas lamelas dos cogumelos que estão os basídeos onde
se depositam os basidiósporos: os cogumelos típicos reproduzem-se pela formação
2 Obrigado pela pesquisa, Guida ☺
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de basidiósporos. Mais uma vez, não tem relevância em termos de diagnóstico
clínico o termo basídeo, pois, provavelmente, ele não está presente.
Estes fungos também se reproduzem assexuadamente e, quando estão a ser
patogénicos, não passam pela forma sexuada da reprodução.
O que é típico destes fungos é produzirem hifas septadas em túnel ou em barril:
o esporo que está a ser libertado passa pelo meio da estrutura. Isto põe-nos na
pista de um fungo basidiomicota.
7) RECOMBINAÇÃO MITÓTICA
Qual é a grande vantagem da reprodução sexuada em relação à reprodução
assexuada?
Dizem os geneticistas que a partir do momento em que surgiu a cariogamia na
reprodução sexuada, houve um grande contributo para a diversidade das
espécies. Há também trocas genéticas, segregação de caracteres, etc.
Apesar de tudo, nos fungos, pode acontecer recombinação mitótica sem haver
reprodução sexuada – ciclo parassexuado: o mesmo fungo, com genoma
haplóide, pode tornar-se diplóide (em alguns casos, até mesmo tetraplóide) e
depois dá-se a segregação de caracteres. Isto acontece em fungos que podem ter
reprodução sexuada, nomeadamente, Aspergillus, Sacharomyceas e Candida
albicans.
8) ORGANISMO HUMANO E PATOGENICIDADE FÚNGICA
Para os fungos com grande impacto patogénico humano, sobretudo em termos
de micoses disseminadas, não existe um único mecanismo de patogenicidade ao
qual podemos atribuir relevância. Parece que é da conjugação de várias pequenas
alterações, como a imunossupressão (incapacidade de defesa por parte do
hospedeiro), mas principalmente a capacidade de iludir o sistema imunológico, de
alterar as suas características fisiológicas, conferindo uma grande aptidão para se
ajustar a ambientes adversos, como o meio interno do hospedeiro (não é fácil uma
bactéria, fungo, parasita ou vírus aderir à parede dos vasos ou tentar invadir um
órgão).
A grande porta de entrada dos fungos (a não ser aqueles que causam lesões
pequenas) é classicamente o pulmão, sobretudo para aqueles que produzem
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esporos que se disseminam pelo ar. Mal entra no organismo, o fungo tem que
ultrapassar logo, por exemplo, a barreira alvéolo-capilar com pneumócitos tipo II.
9) FISIOLOGIA DOS FUNGOS
Isto é o aspecto que tem uma cultura de leveduras. Se eu
vos perguntasse “descreva as colónias de Staphylococcus
aureus”, vocês diriam que têm um aspecto leveduriforme.
Olhando para a imagem, não sei se é uma levedura ou uma
bactéria, a não ser que conheça o meio de cultura ou realize um
esfregaço, um exame a fresco.
Enquanto que é muito fácil preparar uma suspensão de leveduras, porque é
igual à de bactérias, todos vocês já se aperceberam o que acontece quando cai
água em cima do bolor: parece que a água escorre à sua superfície, pois os
esporos e as hifas são extremamente hidrofóbicos. Para observar a cultura há que
aplicar a técnica de cultura em lâmina (não foi explicada).
a) Distinção de outras células eucariotas “mais evoluídas”
Seja um fungo unicelular ou pluricelular, é sempre eucariota, mas há que
apontar as principais características que os distingue das restantes células
eucarióticas:
▪ Membrana plasmática – os fungos têm tipicamente esteróides, não
propriamente colesterol, mas ergosterol;
▪ Parede celular – ultraestruturalmente é semelhante a uma Gram+3,
mas tem maior teor de hidratos de carbono do que proteínas,
sobretudo de quitina (confere rigidez estrutural) e é mais robusta.
b) Levedura vs fungo filamentoso
▪ Levedura
É a primeira célula eucariota na evolução das espécies, em quase tudo
semelhante às células que constituem o organismo humano e cuja fisiologia ainda
está programada para habitar na água. Se nasceu na água, é muito sensível à
3 Às vezes podem corar como Gram-, mas como?
▪ Se estiver muito velha e a parede já está fracturada;
▪ Se houve alguma agressão durante a fixação.
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desidratação, necessitando de um ambiente mais conservador e acolhedor do que
um fungo filamentoso.
Não tem boas condições para causar lesões ou atingir a superfície dos
cabelos ou das unhas, mas não quer dizer que não o possa fazer. Aquelas lesões
que vimos anteriormente com uma aparência húmida e eritematosa,
presumivelmente, terão como agente patogénico um fungo leveduriforme.
▪ Fungo filamentoso
Independentemente do grau de evolução, é o primeiro ser vivo que
colonizou a terra sólida, mas há um problema muito crítico: os fungos são
heterotróficos, muito pouco exigentes, mas precisam de matéria orgânica. A Terra,
depois de arrefecer, não tinha matéria orgânica à superfície, apenas minerais.
Um líquen resulta da simbiose entre um fungo filamentoso e uma levedura
fotossintética (alga): o fungo filamentoso fornece à alga a superfície física para
permanecer “cá fora” e uma cerca humidade que retém do ambiente, enquanto que
esta disponibiliza matéria orgânica para o fungo filamentoso sobreviver e crescer.
A partir do momento em que a Terra começou a ter matéria orgânica
suficiente, passou a ser colonizada por fungos filamentosos que evoluíram para
plantas.
Tem uma capacidade muito maior, em relação às leveduras, para resistir a
condições ambientais adversas, embora haja algumas excepções à regra.
Para ser patogénico no meio interno (a não ser que exista uma cavidade
natural), o fungo filamentoso não tem grandes condições para formar uma hifa
muito comprida, esporângios, etc. Se percorresse a circulação sanguínea nesta
forma era capaz de entupir em qualquer local. Portanto, é melhor andar como
célula-a-célula.
Sónia Marina Rocha
Turma 4