falando de axé - edição maio/junho de 2012

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ANO 2 - EDIÇÃO 08 Maio/Junho de 2012 Falando de Axé com Ìyá Elza D’Òs un Òrìs à do Mês: S àngó, Aláàfìn Ò Ewé Akòko, a Folha da Realeza Ò bàrà no dia 06/06. Certo ou errado?

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Tudo sobre Umbanda, Candomblé e Cultos Africanos. Cultura Afro e Afro-Brasileira.

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Page 1: Falando de Axé - Edição Maio/Junho de 2012

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ANO 2 - EDIÇÃO 08 Maio/Junho de 2012

Falando de Axé com Ìyá Elza D’Òsun

Òrìsà do Mês: Sàngó, Aláàfìn Òyó

Ewé Akòko, a Folha da Realeza

Òbàrà no dia 06/06. Certo ou errado?

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EDITORIAL Olá Amigos, saudações!!! Chegamos com mais uma edição fresquinha para vocês. Um pouco atrasadinha, como sempre, rsrsrs, mas estamos nos organizando, pedimos desculpas pelo atraso e mais uma vez que vocês entendam o mesmo. A Falando de Axé está passando por uma reorganização neste segundo semestre. Estamos indo em busca de mais colaboradores, para que possamos proporcionar mais matérias à vocês leitores. E buscando sempre o melhor, para ser apresentado. Agradeço a todos os colaboradores e leitores de nossa Revista. Nesse segundo semestre, além do compromisso com a divulgação da cultura e religiosidade Afro e Afro-brasileira, gostaríamos também de trabalhar na divulgação das Casas e Templos religiosos, de Umbanda, Candomblé e etc. Entrem em contato conosco e divulguem você também. Uma ótima leitura amigos e mais uma vez, espero que gostem...

Por Hérick Lechinski - O Editor

EXPEDIENTE

Idealização: Hérick Lechinski

Proprietário:

Hérick Lechinski

Diretor Geral: Wemerson Elias

Diretora de Publicidade:

Jéssycka Rayanna Sampaio

Diretora Jurídica:

Drª. Paula Florentino

Editor: Hérick Lechinski

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ÍNDICE Òrìsà do Mês: Sàngó, Aláàfìn Òyó Pág. 04 Santo do Mês: Santo Antônio Pág. 07 Odù do Mês: Òbàrà méjì Pág. 10 Folha do Mês: Ewé Akòko Pág. 12 Entrevista do Mês: Ìyá Elza D’Òsun Pág. 14 Personalidade Negra do Mês: O Grande Otelo Pág. 18 Livro do Mês: Ìyánlá Pág. 20 Itália e sua Ligação com a África Pág. 22 Ìkómojáde Pág. 24 Cultuar Òbàrà no dia 06/06. Certo ou errado? Pág. 25 Vòdún Fá Pág. 27 A Encruzilhada para o Povo Bantu Pág. 29 A Tríade Musical de Sàngó Pág. 30 A Arte da Defumação Pág. 33 As Sete Lágrimas de um Preto Velho Pág. 37 Os Sete Sorrisos de um Preto Velho Pág. 38 Jongo, o Avô do Samba Pág. 39 Contatos Pág. 42

Ìbà Olódùmarè Elédà mi - Saudações a Olódùmarè, O meu Criador.

Ilè Ògéré Ìbà - Terra, cujo poder se espalha por todo o Universo, Saudações.

Mo júbà Èsù Alágbára Irúnmolè - Eu respeitosamente saúdo Èsù, o Poderoso dentre as Divindades.

Ìbà gbogbo - Saudações a Todos!!!

Kò sí èyí ti yóò móo jeun Tàbí yóò móo se ìgúnwà

tí kò Ní fi ti Èsù síwájú

Não existe ninguém que

coma. Ou esteja instalado com

realeza. Sem que haja recorrido a

Èsù primeiro.

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ÒRÌSÀ DO MÊS

SÀNGÓ - ALÁÀFÌN ÒYÓ¹ Sàngó, o quarto rei (Aláàfin) de Òyó, pertencia a uma família temida e res-

peitada. Governava a cidade de Eyeo (Katunga). Filho de Òránmíyàn, o poderoso

guerreiro, por sua vez, filho de Odùdúwà, teve muitas esposas, entre as quais O-

ya, Òsun e Obà. Destemido, poderoso e grande conhecedor de magia, gostava de

exibir seu poder, por exemplo, lançando labaredas de fogo pela boca, ao falar. De

índole irascível, seu procedimento o levou a perder o respeito de seus conselheiros

e do povo em geral.

Tendo causado desentendimento entre dois de seus conselheiros estimulou a

discórdia gerada, provocando uma briga que culminaria na morte de um deles. Es-

se fato repercutiu e ele tornou-se odiado por seus súditos. Não podendo suportar

tal situação, fugiu da cidade de Òyó, sem destino. Andava a esmo acompanhado

apenas por Oya, Òsun e Obà, pois seus mensageiros, entre os quais, Òsùmàrè,

Dàda, Oru e Tìmì, já o tinham abandonado. Ao chegar ao limite da cidade, antes

de deixar Òyó, voltou-se para trás e viu que apenas Oya o acompanhava. Sua tris-

teza aumentou e, sem saber o que fazer, aproximou-se de uma árvore chamada À-

yàn, plantada à beira da estrada e ali se enforcou. Esse lugar viria a ser chamado

Kòso (não se enforcou). Após sua morte, Oya caminhou rumo à cidade de Irá e

no caminho transformou-se no rio que ficaria conhecido como rio Oya (Odò Oya). Quando a notícia de que o rei se enforcara chegou à cidade, o povo clamava: "Oba so! Oba so!" - O rei se enforcou! O rei se enforcou! Isto provocou irrita-ção nos amigos que haviam permanecido fiéis ao rei.

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Porém, estes constituíam minoria, sem poder de revide. Dirigiram-se então à

cidade de Ìbàrìbà, aprenderam artes de magia e voltaram para vingar o nome do

amigo. Capazes agora, de provocar fogo espontâneo, começaram a incendiar as

casas dos ofensores. A situação se agravava quando ao fogo associavam-se venda-

vais, aumentando o número de casas destruídas. Atemorizados e desejando apazi-

guar o furor de Sàngó, os cidadãos de Òyó mudaram a expressão Oba so - O rei

se enforcou, para Oba kò so - O rei não se enforcou.

Sàngó tornou-se Òrìsà em Òyó e seu culto espalhou-se rapidamente pela ter-

ra dos iorubás, vindo ele a ser um dos orixás mais cultuados. Considerado não ape-

nas feroz, mas também generoso, provedor de filhos, dinheiro, curas e, especial-

mente, justiça, abomina falsidades, mentiras, roubo e envenenamento.

É geral, entretanto, sua identificação com Jàkúta - aquele que briga com pe-

dras - a primitiva divindade dos raios, relâmpagos e trovões.

Somente os Bàbá Mógbà, sacerdotes de Sàngó ou as Ìyá Sàngó, suas sa-

cerdotisas, podem responsabilizar-se pelos ritos fúnebres realizados para as vítimas

de raio. As punições de Sàngó são consideradas nobres e as mortes por raio não

devem ser lamentadas. Sendo a casa atingida por um raio, seus moradores se a-

fastam dela temporariamente, cedendo lugar aos Bàbá Mógbà para que ali reali-

zem os rituais necessários.

Os devotos de Sàngó usam colares de contas vermelhas e brancas e seu sa-

cerdote, que geralmente não corta o cabelo, trança-o como as mulheres. Sàngó a-

ceita em sacrifício, búzios, cabras, carneiros, touros e aves. Diz um mito que Sàngó passou a comer carneiro após o seu retorno do reino de Ikú, pois ele havia suicidado. Após um pacto feito entre Ikú e Ìyá Odù, foi permitido que Sàngó voltasse do reino de Ikú, pois o mundo se tornaria o caos e nada iria evoluir sem a presença de Sàngó. O carneiro até então era servido como oferenda somente aos Egúgún em suas diversas formas. Sàngó voltou da morte após comer juntamente com Alapala o carneiro que lhe fora oferecido, para que este tivesse força para atravessar o reino de Ikú e voltar à vida em forma de “espírito”, onde até hoje se manifesta em seus filhos. O povo lhe pede paz, vida longa, bem-estar material, prosperidade e prote-ção contra o perigo de males ocultos.

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Sàngó Arékùjayé!2

Sàngó, aquele que realiza o Culto Egúngún, a fim de aproveitar a vida. É vital relembrarmos que o Ebora Sàngó, representa dinastia, neste sentido simbolizando a imagem coletiva dos Egúngún, enquanto que Egúngún represen-ta a Ancestralidade em si, assim sendo podemos facilmente concluir que são duas faces da mesma moeda. Algumas pessoas afirmam que Sàngó teme Bàbá Egún, isso é no mínimo hilário, pois este poderoso Ebora não teme nada! O que aconte-ce é que ele representa o elemento fogo, assim sendo, o que ele evita é o frio, re-presentado pelos Egúngún. Podemos observar ainda que as vestes dos Ancestrais são na verdade, as vestes do Ebora Sàngó, como podemos notar há sim grandes ligações entre eles e diferentemente do que pensam alguns, Sàngó é parte funda-mental e integrante do Culto, tanto que os ritmos mais apropriados são o Àlúja e o Bàtá. Sàngó e Egúngún, percebemos então que são dois níveis similares e opos-tos, mas que representam a Ancestralidade [Dinastia e Antepassados]. ¹Fontes: Awolalu & Dopamu, 1979 e Salami, 1990. 2Fonte: Fagbenusola.

Por Wemerson Elias (T’Sàngó)

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SANTO DO MÊS em vários aspectos.

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

História Protetor dos pobres, o auxílio na busca de ob-jetos ou pessoas perdidas, o amigo nas causas do coração. Assim é Santo Antônio de Pádua, frei franciscano português, que trocou o con-forto de uma abastada família burguesa pela vida religiosa. Contam os livros, que o santo nasceu em Lis-boa, em 15 de agosto de 1195, e recebeu no batismo o nome de Fernando. Ele era o único herdeiro de Martinho, nobre pertencente ao clã dos Bulhões y Taveira de Azevedo. Sua in-fância foi tranquila, sem maiores emoções, até que resolveu optar pelo hábito. A escolha reca-iu sobre a ordem de Santo Agostinho. Os primeiros oito anos de vida do jovem frei, passados nas cidades de Lisboa e Coimbra, foram dedicados ao estudo. Nesse período, nada escapou a seus olhos: desde os tratados teológicos e científicos às Sagradas Escrituras. Sua cultura geral e religiosa era tamanha que alguns dos colegas não hesitavam em chamá-lo de "Arca do Testamento". Reservado, Fernando preferia a solidão das bibliotecas e dos oratórios às discussões religi-osas. Bem, pelo menos até um grupo de fran-ciscanos cruzar seu caminho. O encontro, por acaso, numa das ruas de Coimbra marcou-o para sempre. Eles eram jovens diferentes, que traziam nos olhos um brilho desconhecido. Se-guiam para o Marrocos, na África, onde pre-tendiam pregar a Palavra de Deus e viver en-tre os sarracenos. A experiência costumava ser trágica. E daquela vez não foi diferente. Como a maioria dos an-tecessores, nenhum dos religiosos retornou com vida. Depois de testemunhar a coragem dos jovens frades, Fernando decidiu entrar

Santo Antônio, O Santo Protetor dos

Pobres e das Coisas Perdidas Nesta Edição, na coluna Santo do Mês, falare-mos sobre Santo Antônio, santo que muito é cultuado no Brasil e em outras partes do Mun-do. Padroeiro dos Pobres e também considera-do por muitas pessoas como o Santo Casa-menteiro. Este santo também é muito cultuado na Um-banda e em alguns Candomblés que aderem o sincretismo afro-católico, sincretizando-o com Ògún, o Orixá Guerreiro. Inclusive, é do sin-cretismo afro-católico de Ògún com Santo An-tônio, que nasceu o hábito de se oferecer pãe-zinhos de sal nas festas de Ògún. Como é nossa obrigação sempre, desmistificar o que preciso for, mais uma vez deixamos cla-ro, SANTO ANTÔNIO NÃO É ÒGÚN, é apenas um sincretismo. Para aqueles que ainda con-fundem-se um pouco, (risos), ai vai a história de Santo Antônio, para que possam comprovar que o mesmo é bem distinto de Ògún,

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para a Ordem Franciscana e adotar o nome de Antônio, numa homenagem à Santo Antão. Disposto a se tornar um mártir, ele partiu para o Marrocos, mas logo após a-portar no continente africa-no, Antônio contraiu uma fe-bre, ficou tão doente que foi obrigado a voltar para a ca-sa. Mais uma vez, os céus lhe reservava novas surpre-sas. Uma forte tempestade obrigou seu barco a aportar na Sicília, no sul da Itália. Aos poucos, recuperou a sa-úde e concebeu um novo plano: decidiu participar da assembleia geral da ordem em Assis, em 1221, e deste modo conheceu São Francis-co pessoalmente. É difícil i-maginar a emoção de Santo Antônio ao encontrar seu mestre e inspirador, um ho-mem que falava com os bi-chos e recebeu as chagas do próprio Cristo. Infelizmente, não há registros deste mo-mento tão particular da his-tória do Cristianismo. Sabe-se apenas que os dois santos se aproximaram mais tarde, quando o frei português co-meçou a realizar as primeiras pregações. E que pregações! Santo Antônio era um orador inspirado. Suas pregações eram tão disputadas que chegavam a alterar a rotina das cidades, provocando o fechamento adiantado dos estabelecimento comerciais. De pregação em pregação, de povoado em povoado, o santo chegou à Pádua. Lá, converteu um grande núme-ro de pessoas com seus atos e suas palavras. Foi para es-ta cidade que ele pediu que

Homem de oração, Santo An-tônio se tornou santo porque dedicou toda a sua vida para os mais pobres e para o ser-viço de Deus. Diversos fatos marcaram a vida deste santo, mas um em especial era a devoção a Ma-ria. Em sua pregação, em sua vida a figura materna de Maria estava presente. Santo Antônio encontrava em Maria além do conforto a inspira-ção de vida. O seu culto, que tem sido ao longo dos séculos objeto de grande devoção popular é difundido por todo o mundo através da missionação e miscigenado com outras cul-turas (nomeadamente Afro-B r a s i l e i r a s e I n d o -Portuguesas). Santo Antônio torna-se um dos santos de maior devoção de todos os povos e sem dú-vida o primeiro português com projeção universal. De Lisboa ou de Pádua, é por e x c e l ê n c i a o S a n t o "milagreiro", "casamenteiro", do "responso" e do Menino Jesus. Padroeiro dos pobres é invocado também para o encontro de objetos perdi-dos. Sobre seu túmulo, em Pá-dua, foi construída a basílica a ele dedicada.

Fonte: www.angelfire.com

o levassem quando seu esta-do de saúde piorou, em ju-nho de 1231. Santo Antônio, porém, não resistiu ao esfor-ço e morreu no dia 13, no convento de Santa Maria de Arcella, às portas da cidade que batizou de "casa espiritu-al". Tinha apenas 36 anos de idade. O pedido do religioso foi a-tendido dias depois, com seu enterro na Igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Anos de-pois, seus restos foram trans-feridos para a enorme basíli-ca, em Pádua. O processo de canonização de frei Antônio encabeça a lista dos mais rá-pidos de toda a história. Foi aberto meses depois de sua morte, durante o pontificado de Papa Gregório IX, e durou menos de ano. Graças a sua dedicação aos humildes, Santo Antônio foi eleito pelo povo o protetor dos pobres. Transformou-se num dos filhos mais amados da Igreja, um porto seguro a qual todos – sem exceção – podem recorrer. Uma das tradições mais anti-gas em sua homenagem é, justamente, a distribuição de pães aos necessitados e à-queles que desejam proteção em suas casas.

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Orações a Santo Antônio - Para pedir uma graça Bem aventurado Santo António de Lisboa, eu, confiante na Vossa bondade, nos Vos-sos méritos perante a Justiça e a Misericórdia Divina, contrito dos meus pecados ajo-elho-me diante da Vossa santa imagem, suplicando-Vos uma graça, de acordo com os meus merecimentos. Santo António de Lisboa, sois o patrono dos aflitos, dos pobres e dos que esperam em Vossa santidade. Defendestes o Vosso pai de uma acusação injusta, falastes aos peixes, aos animais, que entendiam a Vossa palavra, inflamada no amor a Deus, Nosso Senhor Jesus Cris-to. Pelo Vosso amor a Deus, pela Vossa fé inquebrantável em Nosso Senhor Jesus Cristo, pela Vossa pureza eu Vos peço que atendais ao meu pedido (fazer aqui o pedido).

- Para achar coisas perdidas Grande Santo Antônio, apóstolo cheio de bondade, que recebestes de Deus o poder especial de fazer achar as coisas perdidas, socorrei-me neste momento para que, por vosso auxílio, encontre o objeto que procuro. Obtende-me também uma fé ardente, a perfeita docilidade às inspirações da graça, o desejo de levar uma vida de verdadeiro cristão, e uma esperança firme de alcançar a bem-aventurança eterna. Amém.

- Para achar um bom namorado Grande amigo Santo Antônio, tu que és o protetor dos namorados, olha para mim, para a minha vida, para os meus anseios. Defende-me dos perigos, afasta de mim os fracassos, as desilusões, os desencantos. Faze que eu seja realista, confiante, digno (a) e alegre. Que eu encontre uma pessoa que me agrade, seja trabalhadora, virtuosa e responsável. Que eu saiba caminhar para o futuro e para a vida a dois com as dis-posições de quem recebeu de Deus a vocação sagrada para formar uma família. Que meu namoro seja feliz e meu amor sem medidas. Que todos os namorados busquem a mútua compreensão, a comunhão de vida e o crescimento na fé. Assim seja.

"Ó meu Senhor Jesus, eu estou pronto a seguir-te mesmo no cárcere, mesmo até a morte, a imolar a minha vida por teu a-mor, porque sacrificaste a tua vida por nós."

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ODÙ DO MÊS Sàngó, Õÿöõsì e Ôlöògùn Çdç. - Suas cores = O azul cla-ro, cor do céu de dia. - Suas folhas = Ewé Iyá. - Corpo Humano = Òbàrà méjì rege os pulmões e os rins. - Os filhos deste Odù = As pessoas nascida sob este Odù (signo) são nervo-sas, estouradas, irritadas, irritam-se por pouca coi-sa. Muitas das pessoas nascidas neste Odù pos-suem personalidade múl-tipla, variando de acordo com suas necessidades particulares, mudam fa-cilmente de personalida-de, quando é para tirarem proveito de alguma situa-ção. Grande maioria dos políticos bem sucedidos, possuem certa influência de Òbàrà em sua perso-nalidade. Grande parte das pessoas bipolares nasceram sob a regência deste Odù - Èwò’s deste Odù = As pessoas nascidas neste Odù não podem comer melão e nem abóbora. Também não podem co-mer qualquer tipo de pei-xe defumado, àkàsà (èko enrolado em folha), carne de tartaruga (para afas-tar males no seio/peito) e carne de galo. Não po-dem vestir roupa de pa-lha, nem devem ajudar pessoas a levantarem

Òbàrà méjì é o 7º (sétimo) Odù (signo de Ifá) na ordem de seniori-dade de Ifá, fala no Mérìndínlógún Ifá (jogo de búzios) como 6 (seis) búzios abertos e 10 (dez) búzios fechados. É um Odù masculino. Relacio-nado ao elemento ar.

Dentro deste Odù foi cria-do o Ar (Òfúrufú), os Ven-tos (Aféfé), as Árvores (Igi) e Florestas (Igbó). Rege as forquilhas e toda madeira bifurcada. É nes-te Odù que Ifá ensina que: “Para cada ser humano criado por Obàtálá, o mesmo criou também u-ma árvore.”

Foi neste Odù também, que a Riqueza e a Mentira foram criadas, a necessi-dade do ser humano usar joias. Muitos acham que este Odù só fala de prosperida-de e riqueza, mas ele fala também de mentira e principalmente de adulté-rio. Não é apenas um Odù po-sitivo, como muitos sacer-dotes erroneamente pen-sam. Todos os Odù falam de positividade (Ire) e ne-gatividade (Ibi). - Àwon Òrìÿà que falam neste Odù = Èÿù, Ôbàtálá, Ifá, Olókun, Ajé, Òÿùmàrè,

Òbàrà méjì – O Odù qual nasceu a Riqueza e a

Mentira

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qualquer objeto que esteja no chão. Não podem fazer fofocas, mexericos, não podem ficar falando de maneira negativa da vida dos outros. - Odù em Ire – Positivo = Quando Òbàrà sai em ire, fala de saúde, fim de enfermida-des, principalmente as enfermidades de pulmão e rins. Quanto ao lado financeiro, Òbàrà fala de riqueza, sortes em jogos de azar, dinheiro inesperado, riqueza inespe-rada, prosperidade, aquisição de bens materiais, pagamento de dívidas, bom empre-go, realização profissional e financeira. No lado amoroso e familiar, Òbàrà fala de a-mor correspondido, casamento feliz, prosperidade advinda do conjugue, família em ordem. Fala de grande força e equilíbrio espiritual, a necessidade de cultuar Èsù, Ifá ou Ajé para realização plena. Fala também de vitórias sobre os inimigos, principal-mente vitórias sobre Òsì (miséria). - Odù em Ibi – Negativo = Òbàrà méjì em Ibi fala de muitos obstáculos, de doença, principalmente doenças respiratórias, de pulmão e rins. Perca de dinheiro, traição por sócios, mentira e fofocas em ambiente de trabalho. Pessoa possui grandes ideias, mas não consegue realizá-las. No amor fala de traição, adultério, rompimento amoro-so por causo de traição, mentiras, etc. Em relação a família, fala de brigas em casa por causo de mentiras. Espiritualmente falando, Òbàrà fala de loucura, pessoa desori-entada. Pessoa orgulhosa, com mania de grandeza, mas está pobre e perderá mais dinheiro ainda. Fala de pessoa teimosa. Pessoa angustiada e fracassada.

Òbàrà méjì mo júbà o!!!!

Por Hérick Lechinski

(Ejòtolà T’Òsùmàrè)

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FOLHA DO MÊS

Ewé Akòko, a Folha da Prosperidade e da Realeza

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè) Nome Yorùbá = Ewé Akòko. Nome Popular = Acocô. Nome Científico = Newbouldia laevis. Ewé Akòko é uma folha masculina, de gún (excitação), ligada ao elemento terra. Sua

origem é africana, mas é uma árvore que muito vem sendo disseminada no Brasil, principalmente pelos africanos. É uma folha de prosperidade e multiplicação. De grande importância na liturgia dos Cultos Indígenas Africanos (Iorubá, Fom e Bantu).

É uma árvore abundante em terras africanas. Na Nigéria, os Iorubás consideram-na uma arvore de prosperidade (dinheiro=Owó) e

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multiplicação (filhos=Omo). Os troncos desta árvore eram e são muito utilizados pelos Io-rubás em feiras/mercados (lugar que gera o movimento de dinheiro), em forma de estacas e o comum é que os mesmos brotem, gerando outras arvores, por isso está associada à multiplica-ção (filhos) e a prosperidade (feira/dinheiro).

Está associada aos Òrìsà Èsù, Ògún, Òsanyìn, Egúngún e Oya. Suas folhas representam o reconhecimento e a realeza. Pequenos galhos desta árvore são

utilizados em cerimônias reais e de recebimento de títulos honoríficos na sociedade Iorubá. Os Iorubás falam: “Nenhum Rei (Oba) é considerado Rei, se em sua cabeça (Orí) não tiver levado Akòko”.

Em Iré, Cidade do Estado de Ògún, na Nigéria, onde o Culto ao Òrìsà Ògún é de grande

força, o Ojúbo (elementos de culto) desta Divindade encontra-se sob a copa desta árvore, que muitas vezes é ornada com pano branco.

Esta árvore também está associada ao Culto dos Ancestrais Ilustres (Egúngun) e a Oya,

que possui o título de Ìyá Aláakòko. Entre os Jèjí, o Akòko é conhecido como Ahoho pelos Mahi e Hunmatin pelos Mina. É uma

Huntingome/Jassu (Árvore Sagrada) e é o principal Atin-sa do Vòdún Gún. Os Mahi acreditam que galhos desta árvore devem ser levados junto ao corpo por pessoas que vão fazer viagens longas ou que ofereçam algum tipo de risco, o mesmo gera grande proteção aos que a possuem junto ao seu corpo. Isso se dá proveniente a regência de Gún nesta folha.

No Brasil, as Casas de Candomblé utilizam o Akòko em rituais de iniciação (Igbèrè), em

obrigações de sete anos (Odún méjè Igbèrè) e na composição de banhos sacros (Àgbo), inclusi-ve, em algumas casas, esta folha entra como uma das 16 principais folhas deste banho.

Esta folha por ser um símbolo de multiplicação, prosperidade e realeza, pode ser utilizada

na liturgia de qualquer Òrìsà, principalmente os já mencionados. Muitas pessoas confundem o Akòko com o Akosí (Polyscias guilfoylei), cuidado.

Orin Ewé Akòko

Ewé òfé gbogbo akòko Ewé òfé gbogbo akòko

Àwa lí lí àwa orò Ewé òfé gbogbo akòko

Akòko é a folha de todas as pessoas inte-

ligentes Akòko é a folhas de todas as pessoas in-

teligentes Nós temos, nós somos, riqueza e saúde.

Akòko é a folha de todas as pessoas inte-ligentes.

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ENTREVISTA DO MÊS

Falando de Axé com Ìyá Elza D’Òsun

Falando de Axé Ìyá Elza, a senhora

poderia nos falar como e quando conheceu o Candom-blé, e o que lhe levou a esco-lher a mesma como Religião?

Ìyá Elza D’Òsun Conheci o Candomblé

quando eu tinha entre 8 e 9 anos. Fui iniciada em 1950. Eu desmaiava muito, inclusi-ve nas Igrejas Católicas que frequentava enquanto crian-ça. Quando se intensificaram os desmaios, orientaram mi-nha mãe a buscar ajuda em uma casa de Axé. Logo de imediato, Ìyá mi Òsun pediu para ser iniciada. Como eu era criança, e naquele tempo era proibido pela justiça a iniciação de menores, minha mãe entrou junto comigo, ela era de Nàná.

Fui iniciada num barco de quatro pessoas, por um casal de filhos de santo do Sr. Mi-guel Grosso – Dewandá e do Sr. Monasandaió; que era do bairro de Plataforma em Sal-vador. Mas fiz santo em Ita-buna - BA, em uma Casa de Angola, mas não fui iniciada em Nkisi e sim em Òrìsà. Para confirmar, outros pais de san-to jogaram para saber se eu era realmente de Òsun, foi confirmado por Sr. Severiano de Ìjèsà. Antes as pessoas se ajudavam mais, não era co-mo hoje. Antigamente quan-do um ajudava o outro era com o interesse único de cul-tuar o Òrìsà. Fui iniciada pela Sra. Juraci de Obalúayé (filha do Sr. Mi-guel Arcanjo Paiva – Dewan-dá) e pelo Sr. Antonio do Car-mo (filho do Sr. Manoelzinho

- Monasandaió). Quando completei 12 anos de santo, passei a ser filha de meu a-vô, Dewandá. Que por sua vez, era filho do Sr. Olegário de Òsun, do Gantois (Ilé Ìyá Omi Àse Ìyámase, Salvador-BA); embora tenha sido inici-ado no Terreiro do Sr. João-zinho da Goméia. Viu como antigamente as pessoas se ajudavam mais? Fiquei com Sr. Miguel Grosso até o fim da sua vida e após o falecimento dele, fui para o Ilé Àse Ìyá Nàsó Oká (Casa Branca do Engenho Velho), onde estou até hoje.

Falando de Axé A senhora poderia di-

zer para nossos leitores, de acordo com sua visão e vi-vência, o que é Candomblé e o que esta magnífica Religião Afro-Brasileira representa pa-ra senhora?

Ìyá Elza D’Òsun O Candomblé é minha

vida! Fiz-me gente dentro do Candomblé. Cresci, casei, criei meus filhos, fiquei viúva e continuo aqui, vou até o fim. O candomblé é de uma força muito grande. Se se-guirmos os ensinamentos de nossos ancestrais vivemos bem. Não estamos livres dos problemas da vida, mas se tivermos fé e andarmos de acordo com as nossas cren-

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ças teremos equilíbrio para lidarmos com a vida, inclusive com as adversida-des. Candomblé é meu porto seguro, minha paz, meu lu-gar.

Falando de Axé Como à senhora des-

creve o Candomblé de hoje, será que possui diferença em relação ao Candomblé de an-tes?

Ìyá Elza D’Òsun O Candomblé de hoje

é muito diferente do de anti-gamente. Como falei antes, antigamente tinha mais res-peito e mais amor. Mais res-peito com os mais velhos, mais respeito com os mais novos, com Ògáns e Ekéjìs. Àbíans eram respeitados. As pessoas não tinham medo de passar seu conhecimento, eu ensino meus filhos para que não sejam enganados e sai-bam andar. As pessoas se ajudavam mais.Os Òrìsà e-ram mais firmes nas cabeças das pessoas, e as pessoas tinham mais fé, e talvez por isso (as pessoas) eram mais fortes. ÒRÌSÀ é sempre bom, muito bom, é sopro de vida, força que anima a gente.

dentro do Candomblé? Ìyá Elza D’Òsun O sacrifício dos ani-

mais é fundamental. Através deles é que nós temos a di-vindade perto de nós. Mas acredito que essa ques-tão deva ser explicada por-que ninguém sacrifica o bi-cho e larga ele lá. Tudo é aproveitado, a carne, o cou-ro, no candomblé não existe d e s p e r d í c i o . Nós comemos os “restos” dos animais que foram sacri-ficados para nossos Orixás; compartilhamos com eles, com nossa família, com nos-sos amigos.

Falando de Axé Em sua Ilé Àse

(Templo Religioso de Culto aos Òrìsà – Divindades ioru-bás), é realizado algum pro-jeto social?

Se sim, por quê? Se não, por quê? Ìyá Elza D’Òsun Como estou em fase

final da (re)construção da minha nova roça de candom-blé (em Franco da Rocha),

Falando de Axé Para senhora, qual é a

Importância das Crianças e dos Jovens dentro do Can-domblé?

Ìyá Elza D’Òsun As crianças são o futu-

ro do Axé, por isso elas são fundamentais para a manu-tenção da tradição. Crianças aprendem com facilidade, não tem a vaidade dos adul-tos, aprendem a respeitar a hierarquia sem se sentir “humilhados”. Eu mesma “fiz santo” criança, e o candom-blé não me impediu de nada. O candomblé não impede que a pessoa tenha uma vida completa, todo mundo preci-sa ter uma vida completa, todo mundo precisa estudar, trabalhar, namorar, passear e ter fé, vivenciar sua fé. Crian-ças também trazem alegrias para o Axé, são mais espon-tâneas, mais livres, obedien-tes, e podem ser excelentes sacerdotes no futuro.

Falando de Axé Ìyá, qual sua visão e

explicação em relação ao sa-crifício de animais, a real im-portância desta liturgia

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ainda não me dediquei a e s s a q u e s t ã o . Mas hoje em dia, é importan-te que tenhamos esses pro-jetos, não só para ajudar as comunidades que nos cer-cam, mas também para que as pessoas de fora tenham uma visão menos preconcei-tuosa sobre nossa religião. Assim que a Casa for reinau-gurada, colocaremos em prá-tica alguns dos projetos que estou estudando.

Há 49 anos abri minha pri-meira casa de candomblé, na Rua Isaac Tabacow, na Pe-nha e desde aquele tempo já havia pequenos projetos so-ciais, não com esse nome, mas a comunidade, a vizi-nhança se fazia presente em

pode ser taxado. Òrìsà não precisa disso, a gente é que gosta, enche os olhos. Ele pode estar vestido de ou-ro e diamantes e vai estar de pés descalços.Fico pensando nas saídas de Ìyàwós de an-tigamente, eram festas sim-ples, não tão concorridas, estavam presentes a família de santo, a família carnal e alguns amigos bem próxi-mos. Hoje não, hoje tem saí-da de Ìyàwó que parece obri-gação de 7 anos. Acho bom as pessoas terem vontade de dar o melhor ao Orixá, mas o melhor ao Orixá não é o lu-xo, o melhor sai do coração. É ser honesto, ser integro, ser leal. Não sair culpando seu Orixá pelo que você faz de errado. O que adianta não estar com o coração e a cabeça voltados pro Orixá e gastar tudo o que pode nu-ma roupa?

Falando de Axé Ìyá Elza, a senhora

poderia nos falar alguma coi-sa sobre a Divindade (Iorubá) Òsun (Oxum), que é sua divindade regente e tam-bém a divindade regente de seu Templo e o que ela re-presenta em sua vida?

Ìyá Elza D’Òsun (Silêncio) Oxum repre-

senta tudo pra mim! Oxum é o ar que respiro, a água que mata minha sede e me lava, me cura. Oxum é tudo pra mim. Minha Deusa, minha senhora, meu amparo. Tudo que eu tenho, tudo o que s o u d e v o a e l a ! Oxum é quem me dá saúde, quem me dá força, Oxum é m e u c a m i n h o .

algumas ações.

Falando de Axé Ìyá, qual sua opinião

em relação às belas e alegóri-cas roupagens dos Orixás, vistas hoje nos candomblés modernos?

Ìyá Elza D’Òsun Os Òrìsàs não pedem

esse luxo todo nas roupas, nos adês, nas paramentas! Isso é coisa da gente, vaida-de da gente! Quando eu fiz santo usavam morim, tecidos estampados, cetim, veludo era luxo demais. Os adês e-ram pequenos, delicados; quase todos feitos em casa. Hoje, os adês parecem fanta-sia de carnaval, mas as pes-soas gostam; e quem não usa

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Falando de Axé Para finalizar essa nos-

sa maravilhosa conversa, qual é a Mensagem que a se-nhora deixa para os nossos leitores, para os candomble-cistas e para aqueles que lhe admiram e veem na senhora em exemplo a ser seguido, seus descendentes?

Ìyá Elza D’Òsun Minha mensagem é

para que exista mais união, mais respeito entre os irmãos da mesma nação e também com as demais. Os mais ve-lhos devem servir de exemplo para os Ìyàwós e Àbíans, pa-ra que o conhecimento não se perca, para que as pesso-as entendam a necessidade do aprendizado na casa onde foi iniciado. É preciso respei-tar os sacerdotes, o Àse, res-peitar acima de tudo o seu Òrìsà e o do outro, respeitar inclusive o que não conhece; as nações são diferentes, ca-da um tem seu caminho, sua

sua maneira de chegar a t é o d i v i n o . São as diferenças que fazem o candomblé tão rico. Somos de uma religião linda e rica, onde cada um é especial. O Àbían que nada sabe, o Ìyàwó que foi iniciado e está começando sua caminhada, os Ògáns e Ekéjìs, nossos pais e mães escolhidos pelo Òrìsà; nossos Ègbónmi que já passaram por muitas coi-sas e ensinamentos, nossos sacerdotes que são pais e mães que acolhem, enten-dem e respeitam as diferen-ças de cada filho. E o amor, sem amor, não tem nada.

Estou há mais de 60 anos nesta religião, sobretu-do por amor e fé a Ìyámi Òsun, que nunca me desam-parou e acolhe cada filho, cada pessoa que busca ajuda e tem fé nela.

Deus abençoe a todos. Ègbónmi Elza T’Òsun

Nunca dependi de nin-guém, Oxum nunca me de-samparou. É minha mãe. Oxum é mãe que nunca de-sampara seu filho, se andar direito com ela, estará sem-pre presente, cuidando, am-parando, acarinhando. So-mos jóias da rainha e a ela devo todas as honras.

Falando de Axé A Falando de Axé co-

nhece o CD (Canto de Oxum) lançado pela senhora, já há alguns anos, e gostaria de saber da Senhora, qual a Im-portância dos Cânticos e Re-zas dentro do Candomblé?

Ìyá Elza D’Òsun T r a d i ç ã o .

As rezas e cânticos são fun-damentais para entrarmos em contato com nossos an-cestrais. As palavras são muito importantes para evo-carmos as energias. É neces-sário que o ìyàwó aprenda a rezar, aprenda a cantar as cantigas de xirê e de run pa-ra que não se perca a tradi-ção.

Os CD's desde que tenham origem são bem vindos, já que ajudam a difundir e fa-zer com que os nossos pe-quenos aprendam as canti-gas. Hoje tem muita coisa sendo vendida, mas nem tu-do é seguro. Tem a internet, onde todo mundo sabe tudo e de alguma maneira acaba atrapalhando o aprendizado no dia a dia da casa de Axé. As rezas não devem ser di-vulgadas, ela pertence aos iniciados. Só os iniciados no segredo, devem saber as re-zas.

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PERSONALINADE NEGRA DO MÊS

Mas ele fugiu de novo e, após várias entradas e saídas do Juizado de Menores, foi adotado pela família de Antonio de Queiroz, um político influen-te. A mulher de Queiroz, Dona Eugênia, tinha ido ao Juizado para conseguir uma ajudante na cozinha. Mas foi convencida a levar para casa o menino que sabia declamar, dançar e fazer graça.

Sebastião estudou no Colégio Sagrado Coração de Jesus, onde cursou até a terceira série ginasial. Nos anos 20, integrou a Companhia Negra de Re-vistas, cujo maestro era Pixinguinha. Em 1932, entrou para a Companhia Jar-del Jércolis, pai de Jardel Filho e um dos pioneiros do teatro de revista. Ga-nhou o apelido de pequeno Otelo, mas ele preferiu "The Great Otelo". Depois traduziu para o português, virando o Grande Otelo.

O ator passou pelos palcos dos cassinos, dos grandes shows e do tea-

tro. Trabalhou no cinema em "Futebol e Família" (1939) e "Laranja da China" (1940), e em 1943 fez seu primeiro filme pela Atlântida: "Moleque Tião". Jun-to com Oscarito, participou de mais de dez chanchadas como "Carnaval no Fogo", "Aviso aos Navegantes" e "Matar ou Correr". Em 1942, participou de "It's all true", filme realizado por Orson Welles no Brasil. Uma grande tragédia viria a abalar a vida de Otelo nessa época: sua mulher matou o filho do casal, de seis anos de idade antes de se suicidar.

O Grande Otelo Sebastião Bernardes de Sousa Pra-ta era o nome verdadeiro de Grande O-telo, um grande ator com uma vida mar-cada pela superação de tragédias. Seu pai morreu esfaqueado e sua mãe era uma cozinheira que não largava o copo de cachaça. Sebastião fugiu com uma Companhia de Teatro Mambembe que passava por Uberlândia, e foi adotado pela diretora do grupo, Abigail Parecis, que o levou para São Paulo.

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Em 1969, fez "Macunaíma", sendo inesquecível a cena de seu nascimen-to. Como ator dramático, marcou presença em vários filmes, dentre os quais "Lúcio Flávio - Passageiro da Agonia" e 'Rio, Zona Norte". Em "Fitzcarraldo" (1982), do alemão Werner Herzog, filmado na selva do Peru, Otelo precisava fazer uma cena em inglês, mas resolveu falar espanhol. Quando o filme estreou na Alemanha, aquela foi a única cena aplaudida pelo público. Em 1993, Grande Otelo morreu de enfarte ao desembarcar na França, onde receberia uma homenagem no Festival de Nantes.

Por Wemerson Elias (T’ Sàngó) Fonte de pesquisa: Internet

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LIVRO DO MÊS Ìyá Nlá, a Mãe Primordial Yorùbá Centra-se na presença e na essência do culto das diversas manifestações de ambos os reinos espirituais e materiais. O Livro dá-nos uma abordagem intelectual de nossa ascendência matrilinear. Fala dos mistérios da natureza e da existência, que foram cultivadas e adorados em uma tradição religiosa dos primeiros antepassados humanos, os yorùbás. Através de seus ancestrais, a fim de honrá-los e continuar seus costumes. A mãe Primordial, a força vital para a existência. Ìyá Nlá que desce à noite, Ìyá Nlá que desce de dia, Ìyá Nlá, mãe de todos. Vamos viver suavemente neste mundo. Boa Leitura Por Wemerson Elias (T’Sàngó)

The Sorce

Ìyá Nlá Primordial Yorùbá

Mother

Ìyálájà Ileana Alcamo

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Itália e sua ligação com a África

Apesar de ser um país totalmente católico, a feitiçaria exerce um grande fascínio no italiano. Sua busca pela 'streghoneria' (feitiços) é muito presente em seu cotidiano. Entretanto, em completa discrição. Visitando o Museu de um renomado escritor, Emanuele Cavallaro que inclusive me mostrou as fotos dele com Jorge Amado e alguns presidentes de vários países africanos. O Mesmo relata em sua publicação chamada “África, miti favole leggende costumi sessuali magia". Publicação esta, onde é relato a sua vivência em diversas comunidades africanas. O autor relata que, ainda é muito perigoso adentrar no interior da África, por ainda existir a prática do canibalismo (página 837). São diversos os feitiços descritos nesta obra: favores políticos (mais comuns), cura de enfermida-des, fartura e as mais diversas formas de cultura africana. Como meu caminho é dentro do Kongo, por isso pesquisei mais nessa área, área onde ele mos-tra diversos 'fetiches' de fertilidade (vide foto), pele de cobra, osso humano (uma faca feita do antebraço humano), falos de diversas maneiras e até um pequeno boneco (Nkisi) de poder malé-fico avermelhado que quando invocado pode matar a pessoa solicitada, sendo que uma vez ad-quirido este 'fetiche', nunca mais poderá ser descartado sob pena do mesmo ir contra quem o

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adquiriu. Máscaras de cunho religioso e circuncisão tanto masculina quanto feminina. Relatando inclusive, que em algumas situações o clitóris feminino depois de arrancado é cozinhado e ofere-cido entre eles. Conta-se também, um caso interessante em que o sacerdote encomendara uma pessoa na vila, seus filhos foram buscar e teriam de trazer ainda com o sangue quente. Uma vez ritualizado e com as rezas recitadas, era retalhado e certas partes oferecidas entre eles como refeição. O 'fetiche' da fertilidade é uma estatueta a qual a pessoa em posse da mesma dava várias voltas em torno da casa em que mora e dentro a esposa que deseja fertilizar. Feito o rito, de posse do 'fetiche' se entra pra casa e tempos depois a dádiva da reprodução era beneficiada. Relatos sexuais sem distinção ou tabu são muito comuns na obra. Entretanto, nas capitais dos países africanos são proibidos cultos tribais e estrangeiros são mui-tos visados pelas autoridades. Tudo é de muito difícil acesso e perigoso. A maioria dos países africanos professam o islamismo, um pouco o cristianismo e seus ritos tri-bais são concentrados mais a linha do equador. Em breve uma pequena entrevista por mim feita, com Emanuele Cavallaro. Aguardem...

Por Muloji Luvembo http://www.luvembo.org/

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A criança, desde o útero ma-terno, participa ativamente da Religião. O oráculo é consultado na gestação para saber quais os ebo necessários a fim de que o bebê faça uma boa escolha de destino, seja saudável e que a mãe tenha um bom parto. No dia de seu nascimento, a placenta e o cordão umbilical são enterrados em um vaso e s p e c i a l c h a m a d o "Ìsasùn" (que foi previamen-te pintado por seu pai ou pe-lo homem mais velho da fa-mília nas cores branca, azul e vermelha, com símbolos de ancestralidade), em um ritual chamado "Iwo", que significa a devolução à mãe Terra da força vital que o criou, como a busca pela fonte de vida, pela foz de um rio. E neste local, mais tarde, du-rante sua vida, "ebo" serão feitos, e dali, daquela terra, sairá um "onde" (amuleto) que o protegerá durante to-da a sua existência.

e netos, daí as manifestações de satisfação com a chegada de cada novo bebê. A criança é a primeira a ouvir seu nome completo da boca do Sacerdote ou do mais ve-lho da família. Os ancestrais são chamados a compartilhar desta hora de congraçamen-to familiar, e se manifestarão através do "obì" (kola akumi-nata), fruto de origem africa-na usada como alimento de deuses e homens e como ve-ículo da adivinhação, um dos ramos do oráculo Ifá. A partir de então, o bebê es-tá inserido no círculo familiar, tem seu lugar na hierarquia tribal.

Fonte: Ìyá Sandra Epega

A consulta ao oráculo Ifá será feita pelo Sacerdote até o quarto dia de vida do bebe, e a família será informada so-bre qual o antepassado que está de volta, o destino da criança, suas interdições an-cestrais e religiosas, a que Òrìsà pertence sua cabeça e para o qual, no tempo certo, deverá ser iniciada. Neste dia, pela primeira vez, a Mãe ergue o bebe em suas costas, modo fácil de carregá-lo, que cria um liame de a-mor e confiança entre mãe e filho e, na prática, libera suas mãos para os deveres do quotidiano. No sétimo dia para uma me-nina, no oitavo dia para gê-meos, no nono dia para um menino, uma cerimônia cha-mada "Ìkómojáde" (dia de dar o nome a um recém-nascido) será realizada, reu-nindo a família e amigos, em uma festa de alegria e felici-dade por mais um filho que chega. Para um yorùbá, im-portante é ter descendência, é realizar através de filhos e

Ìkómojáde O Rito de

dar o Nome à Criança, na

Religião Yorùbá

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Cultuar Òbàrà no dia 06/06.

Certo ou Errado?

É uma tradição de inúme-ras Casas de Candomblé (Ilé Àse) e seus adeptos, fazerem festas, homena-gens e oferendas para Òbàrà méjì (Odù), todos os anos, no dia 06/06. Mas pergunto a todos es-tes que realizam essas “comemorações”, de on-de veio esta tradição, qual é a origem dela? Isso é certo ou errado? Para podemos chegar a uma explicação conclusi-va se isso é correto ou não, temos antes que ter o conhecimento de al-guns temas. O primeiro deles, o que é ou são Odù’s?

Odù’s são “signos” de Ifá. São “capítulos” de uma Tradição Oral Nigeri-ana, chamada e conheci-da por IFÁ. Em alguns ìtàn’s (relatos antigos, sagrados e orais desta Tradição Cultural) esses Odù’s são personificados, mas é algo simplesmente simbólico, e acredito eu, é o que gerou a grande confusão na cabeça de algumas pessoas (alguns sacerdotes e adeptos do

Candomblé), que passa-ram a acreditar que os Odù’s são Divindades, as-sim como os Òrìsà. E no Brasil, criou-se o há-bito de “assentar” os Odù’s, principalmente Òbàrà (por acreditarem que o mesmo traz riqueza e prosperidade), fazer o-ferendas, festas e etc., há alguns Odù’s que certos sacerdotes dizem que é até melhor “despachar”. Mas temos que deixar cla-ro que: essas concepções são totalmente ERRÔ-NEAS. - Odù’s não são Divinda-des iguais aos Òrìsà. - Não se assenta Odù’s, assim como se assenta os Òrìsà. - Não devemos alimentar Odù’s, muito menos des-pacha-los. Outra coisa, os Odù’s são em um total de 256, 16 primários (Mérìndínlógún Odù Àgbà) e 240 secun-dários (Om’odù) e nosso Ano possui apenas 12 me-ses, e ai? Como fazemos? Só festejaremos até o 12º Odù? Bem complicado isso né?

Para deixar mais compli-cado ainda e mostrar que essa comemoração é in-fundada, vamos lá, Òbàrà (méjì) na ordem de seni-oridade de Ifá, ocupa o 7º lugar e não o 6º, en-tão, se realmente existis-se uma comemoração pa-ra o mesmo, algo que não existe dentro de sua tra-dição original, o mesmo deveria ser comemorado no sétimo mês do ano e não no sexto. E mesmo assim, continua a pergunta, se são 256 Odù’s e apenas 12 meses, como faríamos? A resposta mais tradicio-nal para essa pergunta é: NÃO FARIAMOS. Não fes-teja-se ou comemora-se Odù.

Odù’s são também con-figurações oraculares, utilizadas nos oráculos sagrados dos Iorubás e dos Fons, em oráculos como Ikin Ifá, Òpèlè Ifá e Mérìndínlógún Ifá (Jogo de Búzios).

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Òbàrà (Méjì), como vocês puderam ver em outro ar-tigo desta mesma edição, não é apenas o Odù da prosperidade, é também o Odù que fala de misé-ria, mentira e outras ne-gatividades. Através deste “signo”, se assim podemos descre-ver, falam inúmeros òrìsà, como Èsù, Obàtálá, Sàngó, Òsóòsì, etc., en-tão, o que seria correto é alimentarmos estes Òrìsà, dentro deste Odù, ou seja, pelas indicações deste Odù. Isso é o corre-to de acordo manda a tra-dição original. As pessoas que fazem o-ferendas e festas a Òbàrà, estão na verdade alimentando Èsù e algu-

Bom caro leitores, acredi-to que depois desta ex-planação, podemos con-cluir perfeitamente que: NÃO COMEMORA-SE ÒBÀRÀ no dia 06/06 (Seis de Junho). Òbàrà não é uma Divindade, também não é um Èsù. Òbàrà é um “signo” de Ifá. Uma configuração o-racular. O capítulo de u-ma Tradição Oral Iorubá, que narra inúmeros mitos antigos (ìtàn’s). Espero com este pequeno artigo, ter contribuído pa-ra a finalização deste cos-tume infundado existente no CULTO A ORIXÁ NO BRASIL.

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

mas vezes Òsóòsì. Acredi-tando que estão alimen-tando Òbàrà. Se o leitor for até alguma Casa de Candomblé e fa-larem que você deve as-sentar Òbàrà para ter prosperidade ou dar ofe-rendas para o mesmo, procure outra casa, com certeza o sacerdote desta casa não conhece o que é Òbàrà. Existe sim, oògùn (magias, medicinas, pre-parados) que são feitos dentro deste Odù e ficam em nossa casa, para que nos gere prosperidade, mas não são assentamen-tos (Ojúbo, Àmì Òrìsà), são oògùn (medicinas, magias, amuletos).

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Vòdún Fá - A Divindade Fòn do Destino

Na Vòdúnsìnsɛn (religião Vòdún) o título mais célebre, honroso e mais divulgado do Vòdún Fá é Ɔlúnmìlá ou Ɔlónmìlá (termo oriundo de Ọrúnmìlà pertencente a lingua Ànàgógbè ou Yorùbá). Ɔlúnmìlá é também chamado de Àgbónmìlégú ou Àkɔgúlɔgbòn expressões origi-nadas do Yorùbá (Àgbónmìrégún) e também aclamado como Wèzízá (O equiva-lente a Ẹlà). A especificidade de Ɔlúnmìlá é o destino, a de Lεgbà é o imprevisto. Embora con-trapostos quis o criador que os dois se tornassem amigos íntimos. Todo ser humano nasce ligado a um dos 256 Fádù. O Fádù revela a identidade profunda de cada ser humano, servindo-lhe de orientador na vida, revelando-lhe o Jɔtɔ (ancestral particular ao qual o mesmo deve ser dedicado ou consagrado), e fornecendo outras indicações que ajudarão o ser humano a comportar-se com segurança e sucesso na vida. Ɔlúnmìlá também é consultado em caso de dúvi-das, quando as pessoas têm decisões muito importantes a tomar ou ainda por aquelas que procuram determinar a causa de infortúnios e doenças. O Vòdún Fá revela à humanidade, através de Lεgbà, os ensinamentos de Ɔlú-nmìlá.

Ɔlúnmìlá é frequentemente associado como a divindade, mas Fá é sua palavra. Ou seja, Fá é a personificação de Ɔlúnmìlá no oráculo.Tal qual um desdobramento.

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Por Mὲjìtɔ Dànsú Ronne

(Àyìɖóhwὲɖó)

Fá e Lεgbà são intimamente ligados, pois a transmissão é feita por Lεgbà a "

tà" (cabeça) do consultor.

Faz necessário insistir que Ɔlúnmìlá utiliza-se do Àcɛ de Lεgbà, isto é, do poder,

da força e do atributo de wɛnsàgùn (mensageiro) para atuar e se expressar.

Um Fáví (Discípulo de Fá) atua como orientador, propagador e divulgador das

vontades de Ɔlúnmìlá, pois em verdade atua como intérprete revelando as suas

determinações. Sendo, por tanto, considerado como um portal de luz.

* Àgbónmìlégú ou Àkɔgúlɔgbòn: Você deu a Gú conhecimento.

Cabe informar que estas nomenclaturas são muito utilizadas pelos Yorùbá e pe-

los Fɔn.

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“Quem se encontra em u-ma encruzilhada é, neste momento, o verdadeiro centro do mundo.” A encruzilhada liga-se à situa-ção de cruzamento de cami-nhos que a converte numa espécie de centro do mundo. Lugares onde ocorrem apari-ções. As encruzilhadas costu-mam serem assombradas por gênios ou espíritos geralmen-te temíveis, com os quais o homem tem interesse em se reconciliar. É igualmente um lugar de passagem de um mundo para o outro, de uma vida a outra, passagem da vida à morte. Nas regiões de florestas e savanas, a encru-zilhada assume a importância de algo sagrado. Costuma-se batizá-la de encruzilhada do encontro ou da residência. O local torna-se sagrado após um ritual específico.

A encruzilhada encarna o ponto central, o primeiro es-tado da divindade antes da criação, é a transposição do cruzamento original de cami-nhos que o criador traçou no começo de todas as coisas com sua própria essência pa-ra determinar o espaço e or-denar a criação. Para os ban-tu, quando uma pessoa não sabe qual caminho seguir diz estar em estado de PAMBWA (ENCRUZILHADA). NJILA vai conosco aonde vamos, está em todos os lugares, porque está dentro de nós, vê tudo que vemos, pois vê com nos-sos olhos, sabe o que vai a-contecer, pois conhece todos os caminhos e faz parte da arte divinatória. Sem NJILA todos os elementos do siste-ma e seu dever ficariam imo-bilizados. NJILA tem a ver com a criação. NJILA leva a propulsar (impelir para fren-te), a crescer, a transformar, a comunicar, ajuda as pesso-as a se desenvolverem e a adquirirem um bom nome. NJILA está relacionado com as cavidades do corpo (mukutu), cabeça (mutue), cavidade da boca e estômago (muzumbu e dikutu), umbigo (tumbu), cavidade do útero (kivaji).NJILA nunca existiria se o mundo não fosse criado em uma encruzilhada, a ver-dadeira cruz bantu.

Matéria do Livro: Costumes e Misté-rios do Candomblé

Angola/Kongo. Fonte dessa pesqui-sa: Comunidade do

orkut COBANTU

Em um cruzamento de cami-nhos de caminhos, costumam batizá-la encruzilhada do en-contro ou da residência. É nas encruzilhadas, que as mulheres BALUBAS e LULUAS (incumbidas do cuidado das plantações) costumam depo-sitar os primeiros frutos da colheita. Se a cidade estiver ameaçada pela fome, a população intei-ra se dirige em procissão às encruzilhadas mais próximas a fim de depositar ali oferen-das de víveres ou de velhos utensílios domésticos, desti-nadas às almas dos ances-trais. Nas encruzilhadas, ain-da, é que as mulheres aca-bam de desmamar um filho, ficando assim dispensadas da proibição costumeira de te-rem relações sexuais durante o período de aleitamento, sa-crificando uma galinha branca às almas das crianças mortas.

A Encruzilhada para o Povo Bantu

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A Tríade Musical de Sàngó

Hoje vou escrever sobre três importantíssimos toques da c u l t u r a K é t u -Nàgó, a Tríade Musical de Sàngó, que são ritmos de atabaques consagrados ao Rei de Òyó e que, devem ser executados subsequentes um ao outro e sem cânticos. Mui-to embora seja uma tríade (que alude ao número três), dois desses toques estão sen-do esquecidos pela maioria dos Ògáns, Bàbálóòrìsàs e Ìyálóòrìsàs. Primeiramente, quero chamar atenção para um fato. A mai-oria dos Deuses Africanos, possuí um toque que lhe per-tence, sendo esse usado so-mente para ele e para nenhu-ma outra Divindade, por e-xemplo, o caso do Ìgbín de Òsàlá. Mas no caso do temi-do Sàngó, são três os toques que lhe pertencem (na verda-de há outros, mas também executados para mais alguma

Deidade, à exemplo do Bàtá, razão pela qual vou me ater somente a tríade). Isso mos-tra-nos a importância que es-se Òrìsà confere ao som do tambor e, obviamente ao tambor propriamente dito. Isso é corroborado ainda, ao pensarmos que, em algumas casas, Sàngó é considerado o Òrìsà dono do som (basta dizer que, o som que brada dos trovões, é uma das prin-cipais hierofanias - manifesta-ção do sagrado - de Sàngó). Dos Deuses cultuados no Bra-sil, muito provavelmente, ele é um dos poucos, senão o único que, em vida no Àiyé, tocou tambor, no caso o Bàtá (não confundir o tam-bor Bàtá, com o ritmo Bàtá). H á d i v e r s o s Ì t à n Yorùbá (histórias africana), que explicam a ligação de Sàngó com o Tam-bor Bàtá.

Sàngó, sem dúvidas, é um dos Òrìsàs mais representa-do por meio do som. Além dos toques do atabaque, é invocado pelo som da chuva, emitido pelo Sééré, devida-mente preparado pelos seus Sacerdotes. Tudo isso eviden-cia, quão importantes são os toques de Sàngó e quão im-portante são os toques pa-ra Sàngó. Algumas histórias, narram que antes de partir à guerra, Sàngó, dançava fre-neticamente ao som dos tam-bores, potencializando seus poderes, mantendo uma liga-ção da musica com o univer-so sacro. Destarte, toca-se muito para Sàngó, correto? Errado! (errado na crença de que isso ocorra e não na constatação de que isso de-veria sim ocorrer). Por incrível que possa parecer, muito em-bora Sàngó goste do som do tambor e, nesse aspecto, refi-ro-me somente ao som do tambor (solo – sem cânticos),

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quase não escutamos mais o solo da sua tríade musical. Em verdade, duas coisas es-tão ocorrendo de forma muito comum sobre os toques de Sàngó. A primeira é que, quase não se “sola” mais o Àlúja. Quando digo “solar”, digo Atabaques (Hun, Hun-p i e Hu n l e ) , ma i s o Agogo (no caso de festas, como as de Sàngó, os ataba-ques são acompanhados pe-lo Sééré, por exemplo) – Sem cânticos e, é claro, com as palmas dos devotos que estão presentes para render homenagem ao Rei, proferin-do a expressão Kawòó Kábíyèsilé! A segunda constatação nega-tiva que observamos é que, quando há o solo do Àlúja, dificilmente o mesmo é acom-panhado pelos seus dois to-ques contíguos. Nesse aspec-to, é salutar destacar que, a Tríade de Toques de Sàn-gó é solada e, não cantada! Recordam-se do valor que Sàngó confere ao som do tambor? Vale destacar, i g u a l m e n t e q u e , o Àlúja de Sàngó, é essenci-almente um toque com poder evocativo (o mesmo ocorre com o Agèrè, além, obvia-mente do Adahun) – outro valor intrínseco deste toque. Muitos devem estar se per-guntando, mas e as cantigas de Àlúja? Sim, são dezenas, todas lindas. Mas nessa pos-tagem, não estou me referin-do unicamente ao Àlúja e, sim, ao conjunto de toques que está atrelado ao mesmo e, que não são cantados, so-mente tocados.

Quando tocamos Àlúja (solo), estamos evocando os poderes do Deus (lembram-se de que, antes de partir para guer-ra, Sàngó dançava para potencializar seus poderes?) e, princi-palmente começando pelo início, pelo início de uma história. Toda cantiga conta uma história, seja boa, seja ruim. No caso do solo de toques da Tríade de Sàngó, à exemplo dos cantos, também estamos contando uma história. A relação dos três toques, executados um subsequentemente ao outro não é ao acaso e, sim intencional. Os três toques iso-ladamente não refletem a importância dos três concomitantes. Afirmo isso, pois somente os três toques executados subse-quentemente, conseguem contar uma parte do início da vida real de Sàngó e, se tocados em momentos distintos, não refle-tem o mesmo. Um Ìtàn Yorùbá discorre

“Em um determinado reinado, Sàngó ainda pobre, tocava freneticamente seu tambor, fazendo com que todos da cidade ficassem lhe ouvindo, admirados. No entanto, o então rei da cidade havia proibido tal prática. Ao ser comunicado que Sàngó estava tocando tambor em seu reinado, o mesmo foi pesso-almente conferir. Diante do virtuosismo de Sàngó, o Rei começou a dançar, deixando sua coroa cair de sua cabeça, sendo então, imediatamente tomada por Sàngó”.

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Por Ògán Carlos Vinícius (Òpótún do Ilé Àse Ibùalámo – SP)

Assim sendo, quero chegar ao ponto de que a Tríade de Sàngó, faz justamente alusão a essa história. O som fre-nético do Àlúja, a coroa caindo e Sàngó tomando a mesma para si! Nada no Candomblé é ao acaso e tudo tem sua fundamenta-ção! Espero, sinceramente, ter contribuído um pouco, para a elucidação dos toques do chamado Candomblé Kétu-Nàgó. Por fim, objetivando ilustrar esse artigo e disseminar esses três importantes toques, compartilho aqui, essa primorosa trí-ade musical, executada por quatro dos maiores tocadores da atualidade (Gamo da Paz, Iuri Passos, Yomar Asogba e Rob-son).

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Deus, perfeito em sua criação, dotou o homem de vários sentidos, para que seu espírito tivesse assim, portas de comunicação com o mun-do físico ajudando-o a viver, integrar-se e a evoluir nesta escola chamada Terra.

Entre os sentidos está

o olfato, que através do qual, podemos captar os aromas, podemos ficar relaxados, agi-tados, próximos ou afastados das pessoas, coisas ou luga-res, por esse motivo desde os tempos antigos todas as civilizações se utilizavam de-les para, sensibilizar e au-mentar o teor das vibrações psíquicas, produzindo condi-ções de recepção e inspira-ção nos planos físico e espiri-tual.

espiritual e material. Ao queimarmos as ervas, liberamos em alguns minutos de defumação todo o poder energético aglutinado em meses ou anos absorvido do solo da Terra, da energia dos raios de sol, da lua, do ar, além dos próprios elementos constitutivos das ervas. Deste modo, projeta-se uma força capaz de desagregar miasmas astrais que dominam a maioria dos ambientes humanos, produto da baixa qualidade de pensamentos e desejos, como raiva, vingança, inveja, orgulho, mágoa, etc. Existem, para cada objetivo que se tem ao fazer-se uma defumação, diferentes tipos de ervas, que associadas, permitem energizar e harmonizar pessoas e ambientes, pois ao queimá-las, produzem reações agradáveis ou desagradáveis no mundo invisível. Há vegetais cujas auras são agressivas, repulsivas, picantes ou corrosivas, que põem em fuga alguns desencarnados de vibração inferior.

Os antigos Magos,

graças ao seu conhecimento e experiência incomuns, sabiam combinar certas ervas de emanações tão poderosas, que traçavam barreiras intransponíveis aos espíritos intrusos ou que tencionavam turbar-lhes o trabalho de magia. Apesar das ervas servirem de barreiras fluídico-magnéticas pra os espíritos inferiores, seu poder é temporário, pois os irmãos do plano astral de baixa vibração são atraídos

Nenhuma ação de lim-peza ambiental é mais com-pleta que uma boa defuma-ção, pois, o ar concentrado de energias elementais entra e penetra em todos os cantos e brechas da casa envolven-do as paredes, o teto, o chão, os móveis, enfim, tudo. Além disso, a defumação também descarrega o corpo mediúnico das pessoas e suti-liza suas vibrações tornando-as receptivas às energias de ordem positiva fazendo, as-sim, com que a comunicação com o Plano Astral Superior se torne mais fácil e em per-feita harmonia. Tudo isso fa-cilita a imantação positiva que as Entidades de Luz irra-diam sobre o nosso corpo fí-sico, irradiação esta capaz de eliminar as doenças de fundo

A ARTE DA DEFUMAÇÃO

“...PARA O MAL SAIR E O BEM ENTRAR...”

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novamente por nossos pensamentos e atos turvos, que nos deixam na mesma faixa vibratória inferior (Lei de Afinidades). Portanto, vigilância quanto ao nível dos pensamentos e atos.

“...A UMBANDA TEM FUNDAMENTO É PRECISO PREPARAR...”

A de fumação é

essencial para qualquer trabalho num terreiro de Umbanda. É também uma das coisas que mais chamam a atenção de quem vai pela primeira vez assistir a um trabalho.

Em geral a defumação

na Umbanda é sempre acompanhada de pontos cantados específicos para defumação. Em termos de finalidade, o processo de defumação pode ser feito para retirar, ou seja queimar, a energia ruim como também preencher com energia boa. Geralmente quando se encontra um ambiente carregado usa-se um ou mais defumadores de limpeza, que irão "queimar" ou esterilizar as energia ruins.

Depois do ambiente

ruim faz-se uma nova defumação com outro defumador "doce" que irá preencher o ambiente com a energia que se quer deixar evitando assim um vazio que é a oportunidade para coisas indesejadas ou mesmo um ambiente estéril e que não traga conforto aos ocupantes do lugar.

para afastar seres do baixo astral, e dissipar larvas astrais que impregnam um ambiente, tornando-o pesado e de difícil convivência para as pessoas que nele habitam. Pois bem, a defumação tem o poder de desagregar estas ca rgas , a t r avé s dos elementos que a compõe, pois interpenetra os campos astral, mental e a aura, tornando-os novamente "libertos" de tal peso para p r o d u z i r e m s e u funcionamento normal. Deve ser feita da porta dos fundos para a porta da rua. Não esquecer de alguem que o acompanhe com um copo de agua com sal grosso. Que no final servirá para apgar o d e f u m ado r , c o r t a n do definitivamente os maus fluidos.

Defumação Lustral Além de afastar

alguns resquícios que por ventura tenham ficado depois da defumação de descarrego, ela atrai para estes ambientes, correntes posi t ivas dos Or ixás, Caboclos, Pretos Velhos, que se encarregarão de abrir, caminhos , harmon izar energias e e direcionar seus intentos. Acenda uma vela para o seu anjo de guarda (que já deve estar firmada para qualquer das situações). Levando um copo com água, comece a defumar sua casa ou o seu local de trabalho, da porta da rua para dentro. Não esqueça que a defumação lustral deverá ser feita s emp re apó s a de descarrego. Ou poderá ser feita somente ela, sem a

Existem dois tipos de defumação; a Defumação d e d e s c a r r e g o e Defumação lustral:

D ef u maç ã o d e Descarrego

Certas cargas pesadas se agregam ao nosso corpo astral durante nossa vivência c o t i d i a n a , o u s e j a , pensamentos e ambientes de vibração pesada, rancores, invejas, preocupações, etc. Tudo isso produz (ou atrai) certas formas-pensamento que se aderem à nossa aura e ao nosso corpo astral, b l o q u e a n d o s u t i s comunicações e transmissões energéticas entre os ditos corpos.

Além disso, os lares e

os locais de trabalho podem ser alvos de espíritos atrasados, que penetram nes se s amb ien t e s e espalham fluídos negativos. Para afastar definitivamente estas entidades do nosso convívio, teremos primeiro que mudar em atos, gestos e pensamento, afastando de nossas mentes aquela corrente que nos liga a estes seres. A defumação serve

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necessidade prévia da de descarrego. Ao fim pode ser deixada queimando sozinha com o copo com agua ao lado.

C o m q u e Finalidades se Defuma? Para honrar os Deuses,

Orixás, Mentores e/ou entrar em contato com o mundo espiritual;

Para execução de rituais m á g i c o s , a f a s t a r influência negativa de ambientes, objetos, pessoas, acompanhar preces, preparar o ambiente para exercícios meditativos;

Para a desinfecção de ambientes fechados por m u i t o t e m p o e contaminados com fungos, bactérias e larvas astrais;

Defumamos também para alcançar um estado vibratório adequado para os trabalhos espirituais, trazendo ao ambiente a força das ervas, a força viva de Jurema;

Defumamos para curar espíritos sofredores e obsessores; e também para dissolver acúmulos energéticos negativos alojados em nosso espírito, cuja natureza da atuação a torna resistente aos banhos;

Para sessão de cura ou reforçar determinados efeitos terapeuticos;

Para incentivar, equilibrar, h a r m o n i z a r , proporcionar e o que mais for o seu intuito e necessidade.

gosto dos de barro. Para que não se use o mesmo turibulo com defumadores diferentes. O incensário, o qual possui a forma de um coração, representa o homem e seu progresso na vida espiritual. Um incensário ainda apagado e frio dá muito trabalho para ser aceso: é necessário preparar os carvões para que o fogo se torne mais intenso e depois escolher algumas brasas para colocá-las dentro do turíbulo. Mesmo com as brasas se o incensário permanecer parado ele apagará. O facilitador da Defumação precisa agitá-lo constantemente. Assim é também o homem, no início de sua vida espiritual precisa de muito apoio, porém, durante toda a sua vida precisa se manter em progresso, pois, parando apagará como o turíbulo. O uso do preparado de ervas representa a oração, que não deve ser ousada e nem covarde e pouco confiante. Deve ser como a fumaça do turíbulo que vai aos céus produzindo perfume, não de forma “ousada”, diretamente, mas descrevendo curvas enquanto sobe confiante, sem parar. Sua vela de anjo de guarda deverá estar firmada, fazer uma oração de firmeza e so-licitar a presença de suas en-tidades pra lhe proteger e que lhe ajudem a orientar aqueles que ali estejam e que necessitem ser encami-nhados, doutrinados..., Para defumações de limpeza e descarga de ambientes,

Seus Utensílios/Preparação:

As ervas, que tem que

ser secas, pois, ali temos todo o poder energético aglutinado em meses ou anos absorvido do solo da Terra, da energia dos raios de sol, da lua, do ar, além dos próprios elementos constitutivos das mesmas, já devem estar separadas na quantidade necessária para a defumação, ou seja, um punhado de cada ou mais dependendo do tamanho do lugar a ser defumado e do n ú m e r o d e p e s s o a s presentes. O número de ervas a ser utilizado depende da finalidade da defumação. Um preparo limpador de ambientes e de pessoas sempre deve ter número ímpar de ervas, por se tratar de desfazer algo, o ímpar é o número da desagregação. Um preparo harmonizador e equilibrador pode ter número impar ou par. Um preparo atrator de sentimentos, prosperidade, energético, deve ter sempre número par. Sinta as Ervas na sua mão, toqueas, faça um ativação, direcionada para o intuito da defumação que você estará realizando, mais uma vez aqui reforço a força do Poder do Verbo que precisa se fazer presente para desde já estar reverberando em uma egrégora, junto a todos os nossos mentores para que o ato da defumação seja realizado e alcance o seu propósito. Para poder passar isso tudo é bom ter uma boa quantidade de carvão em brasa e ter ao menos dois turíbulos,(incensários) eu

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sempre caminhar com a fumaça de dentro para fora da casa. Solicitar a presença de suas entidades pra lhe proteger e que lhe ajude a ampliar a força para aquilo que necessite, a firmeza de p r o p ó s i t o s a s e r e m alcançados. Concentração é um elemento muito importante neste trabalho. Assim deve-se rezar antes de iniciá-lo pedindo a proteção dos seus mestres, deve cantar durante e deve-se encerrar com uma

sempre deve se preparar. Desta forma para executar essa liturgia é necessário al-guma maturidade na magia, conhecimento e também pro-cedimentos de preparação e auto-limpeza que para quem faz vai mais além do que o ato de defumar. Em termos da maturidade na magia, sig-nifica uma sintonia com os mestres e entidades que tra-balham junto com ele. O co-nhecimento diz respeito ao método de fazer e elementos a serem utilizados tanto no defumador ou defumadores como também em procedi-mentos complementares. Boa Defumação a todos!

Por Elis Peralta

reza ou can t iga de a g r a d e c i m e n t o o u fechamento. Todo local onde se vive, seja um templo, sua casa ou local de trabalho, pode e deve ser defumado. Assim, ao defumarmos, nem sempre estamos tratando de afastar demandas contra nós, mas também de manter o equilíbrio de nossa própria casa. Qualquer pessoa com ou sem uma mediunidade ativa, pode perceber quando ha uma alteração no ambiente e nesses casos deve se recorrer a uma defumação. Considero que defumar não é um processo formal ou ordi-nário e sim uma liturgia e quem defuma algum lugar

Espaço Holístico Estrela Cigana 21 3471-2114

Proprietária e Administradora: Elis Peralta

ATENDIMENTO

Consultas com o Baralho Cigano. Oraculísta: Elis Peralta (Agende o seu horário - Cascadura/RJ)

CURSO

A Força das Erva na Umbanda. Facilitadora: Elis Peralta (Sacerdotisa da Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda

- Cascadura/RJ)

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As Sete

Lágrimas de

um

Preto velho

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto velho cho-rava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces, não sei por que, contei-as… Foram sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei. Fala meu Preto Velho, diz ao teu filho por que externas assim uma visível dor? E ele, suavemente respondeu: “Estás vendo esta multidão que entra e saí? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas”. - A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aqui-lo que suas mentes ofuscadas não podem conceber… - A segunda, a esses eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam. - A terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, dese-jando prejudicar aos seus semelhantes. - A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual, e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma, e não conhecem a palavra gratidão. - A quinta, aos que chegam suaves, com risos, o elogio na flor dos lábios, mas se olharem bem o seu sem-blante, verão escrito: “Creio na Umbanda, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso ou me curarem disso ou daquilo.” - A sexta, eu dei aos fúteis que vão de centro em centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente. - A sétima, filho, nota como foi grande e como deslizou pesada: Foi a última lágrima, aquela que vive nos “olhos” de todos os Orixás. Fiz a doação dessas aos médiuns vaidosos, que só aparecem no centro em dia de festa e faltam as doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade e tantas crian-cinhas precisando de amparo material e espiritual.

Assim filho meu, foi para esses todos, que vistes cair uma a uma as sete lágrimas de um Preto Velho.

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Os Sete

Sorrisos de

um

Preto velho

Estava eu pensando nas sete lagrimas de um Preto Velho quando me veio em mente, temos nós como fazer um Preto Velho sorrir? Foi quando um Preto Velho sentado em um toco me chamou e disse: Sim filho, temos também motivos para termos nossos sete sorrisos, e começou: - O Primeiro sorriso vai para as pessoas que verdadeiramente vem em busca de Zambi e ver-dadeiramente o colocou em seu coração, vai para o médium que está sempre zelando por sua conduta e equilíbrio espiritual, quando um preto velho ou outra entidade chega no terrei-ro, o mesmo trata com tamanho carinho. - O Segundo sorriso é pelas “crianças” que em muitas ocasiões estão presentes nas giras, ambiente de alegria, amor e muito carinho, vai para aquelas pessoas que vem em busca da Paz para si e a todos os que estão a sua volta. - O Terceiro sorriso é pelos médiuns que estão dispostos a ajudar e zelar pela casa de nosso Pai – Olórum, que chegam cedo para ajudar, os que vêm fora dos dias de trabalho para orga-nizar a casa pela sua própria vontade e que muitas das vezes são os primeiros a chegarem nas giras e os últimos também a saírem. - O Quarto sorriso é pela assistência, quando olhamos para eles e vimos através de seus o-lhares, humildade, solidariedade, igualdade e vontade de receber a caridade, pois, estes olha-res são de sentimentos que brotam em nossos corações. - O Quinto sorriso é pelo consulente que vem até junto de nós e fala: HOJE MEU PRETO VELHO, NÃO VIM PARA PEDIR E SIM PARA AGRADECER AO NOSSO PAI OXALÁ POR TUDO QUE RECEBI. - O Sexto sorriso é pelo zelo com que o dirigente, tem por nossa mãe UMBANDA, pelos seus irmãos, por muitas vezes, por sua tamanha humildade não sabem a tamanha referência que é. - O Sétimo sorriso é por agradecimento aos Orixás e seus mensageiros, pois, é por intermé-dio deles que Zambi, nos da oportunidade de poder-mos praticar a caridade e elevar-nos em nossa vida espiritual.

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O Jongo é uma manifesta-ção cultural. Essencial-mente rural, diretamente associada à cultura africa-na no Brasil e que influiu poderosamente na forma-ção do samba carioca e da cultura popular brasileira como um todo. Segundo os jongueiros, o jongo é o "avô" do samba.

Origens Inserindo-se no âmbito das chamadas 'danças de umbigada' (sendo portan-to aparentada com o 'Semba' ou 'Masemba' de Angola), o Jongo foi trazi-do para o Brasil por ne-gros bantu, sequestrados para serem vendidos co-mo escravos nos antigos reinos de Ndongo e do Kongo, região compre-endida hoje por boa parte do território da República de Angola.

afinar os instrumentos e também para iluminar as almas dos antepassados; os tambores são consa-grados e considerados co-mo ancestrais da própria comunidade; a dança em círculos com um casal ao centro remete à fertilida-de; sem esquecer, é claro, as ricas metáforas utiliza-das pelos jongueiros para compor seus "pontos" e cujo sentido permanece inacessível para os não-jongueiros. Há comunidades, como a favela da Rocinha, que re-latam que antigamente não poderiam participar do jongo mulheres e cri-anças. Outras comunida-des relatam que a partici-pação sempre fora aberta a homens e mulheres. Dentre as importantes jungueiras mulheres, cita-se Clementina de Jesus. Em qualquer caso, a valo-rização da ancestralidade toma forma de um grande respeito aos mais velhos, também chamados "jongueiros cumba", pois a idade é relacionada, nesse contexto, à grande sabedoria e poder. Isso é dito em metáforas como a qual narra que um jon-gueiro cumba, certa vez, plantou uma bananeira no início da noite da festa do jongo e, ao amanhecer, todos colheram bananas maduras. Pesquisas históricas indi-cam que o Jongo possui, na sua origem, relações com o hábito recorrente das culturas africanas de

Composto por música e dança características (jongoo), animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação, a l i , n o mo m en t o , com cantigas ou pontos enigmáticos, o Jongo tem, provavelmente, como u-ma de suas origens (pelo menos no que diz respeito à estrutura dos pontos cantados) o tradicional j o g o de adivinhas angolano, denominado Jinongonon-go. Apesar de ser uma ex-pressão da religião, man-tém como um traço es-sencial de sua linguagem a presença de símbolos que possuem função su-postamente mágica ou sa-grada, provocando, se-gundo se acredita, fenô-menos mágicos. Desse modo, o fogo serve para

Jongo - O Avô do Samba

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expressão bantu, durante o período colonial, de cri-ar diversas comunidades organizadas internamen-te, dentre as quais pode-mos citar até mesmo ir-mandades católicas, como a Congada. Estas fraterni-dades tiveram importante papel na resistência à es-cravidão, como modo de comunicação e organiza-ção, até mesmo compran-do e alforriando escravos.

Características Dançado e cantado outro-ra com o acompanhamen-to de urucungo (arco mu-sical bantu, que originou o atu-al berimbau), viola e pandeiro, além de três tambo-res consagrados, utiliza-dos até os nossos dias, chamados de Tambu ou 'Caxambu', o maior - que dá nome a manifestação em algumas regiões - 'Candongueiro', o menor e o tambor de fricção 'Ngo-ma-puíta' (uma espécie de cuíca muito grande), o Jongo é ainda hoje bas-tante praticado em diver-sas cidades de sua região original: o Vale do Paraí-ba na Região Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo e Região das Minas e das fazendas de Café

Seba st ião Mul equ i -nho e Tia Eulália, todos eles intimamente ligados a fundação da Escola de Samba Império Serrano, sediada no Morro da Ser-rinha.

A partir de meados da dé-cada 70, no mesmo Morro da Serrinha, o músi-co percussionista Darcy Monteiro 'do Império' (mais tarde conhecido co-mo Mestre Darcy), a partir dos conhecimentos assi-milados com sua mãe, a rezadeira Maria Joana Monteiro (discípula de Vó Teresa), passando a se dedicar à difusão e a re-criação da dança em pal-cos, centros culturais e universidades, estimulan-d o p o r m e i o de oficinas e workshops, a formação de grupos de admiradores do Jongo que, embora praticando apenas aqueles aspectos mais superficiais da dan-ça, deslocando-a de seu âmbito social e seu con-texto tradicional original, dão hoje a ela alguma projeção nacional.

Ainda no âmbito da cida-de do Rio de Janeiro, é digno de nota também o 'Caxambu do Salgueiro', grupo de Jongo tradicio-nal que, comandado por

em Minas Gerais, onde também é chamado "Caxambu". Entre as di-versas comunidades que mantêm (ou, até recente-mente, mantiveram) a prática desta manifesta-ção, pode-se citar, como exemplo, as localizadas na periferia das cidades de Valença, Vassouras, Paraíba do Sul e Barra do Pi-raí (Rio de Janeiro) além de Guaratinguetá e Lagoinha (São Paulo), com re-flexos na região dos ri-os Tietê, Pirapora e Piraci-caba, também em São Paulo (onde ocorre uma manifestação muito se-melhante ao Jongo conhe-cida pelo nome de 'Batu-que') e até em certas lo-calidades no sul de Minas Gerais.

Na cidade do Rio de Ja-neiro, a região compreen-dida pelos bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, já nos anos imedia-tamente posteriores à- abolição da escravatura, centralizou durante muito tempo a prática desta ma-nifestação na zona rural da antiga Corte Imperial, atraindo um grande nú-mero de migrantes ex-escravos, oriundos das fa-zendas de café do Vale do Paraíba. Entre os precur-sores da implantação do Jongo nesta área se des-t a c a r a m a e x -escrava Maria Teresa dos Santos muitos de seus pa-rentes ou aparentados a-lém de diversos vizinhos da comunidade, entre os quais Mano Elói (Eloy An-thero Dias), Sebastião

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por Mestre Geraldo, animou, pelo menos até o início da década de 1980, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca e era composto por figuras históricas daquela comuni-dade, entre as quais Tia Neném e Tia Zezé, famosas integrantes da ala das baianas da Escola de Samba G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro.

Encontros de Jongueiros Em 1996 aconteceu no município de Santo Antônio de Pádua (RJ), o I Encontro de Jongueiros, resultado de um projeto de extensão da Universidade Federal Fluminen-se (UFF), desenvolvido pelo campus avançado que a universidade possui neste muni-cípio. Deste encontro participaram dois grupos de jongueiros da cidade e mais um de Miracema, município vizinho. A partir daí, o encontro passou a ser anual. Hoje, cerca de treze comunidades jongueiras participam deste Encontro.

O XII Encontro de Jongueiros, realizado nos dias 25 e 26 de abril de 2008 em Piquete (SP), recebeu a participação de 1000 jongueiros das cidades de Valença (Quilombo São José), Barra do Piraí, Pinheiral, Angra dos Reis, Santo An-tônio de Pádua, Miracema, Serrinha, Porciúncula, Quissamã, Campos dos Goytaca-zes, São Mateus, Carangola, São José dos Campos, Guaratinguetá, Campinas e Pique-te.

Em 2000, durante a realização do V Encontro de Jongueiros, em Angra dos Reis, foi criada a Rede de Memória do Jongo e do Caxambu, com o objetivo de organizar as comunidades jongueiras e fortalecer suas lutas por terras, direitos e justiça social.

Fonte Wikipédia

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