família da consolata

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ANO LVII – N.º 3 MARÇO 2011 ASSINATURA ANUAL | Nacional 7,00 € l Estrangeiro 9,50 € Da Tunísia ao Egipto Queda do «Muro do Medo» Venezuela Índios resistem à mudança Do pão que sobra ao pão que falta Um mundo de jovens, um país de velhos

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21ª Peregrinação a Fátima

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Page 1: Família da Consolata

ANO

LVII

– N.º

3 MA

RÇO

2011

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SINAT

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NUAL

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nal 7

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9,5

0 €

Da Tunísia ao EgiptoQuedado «Murodo Medo»

VenezuelaÍndiosresistemà mudança

Do pãoque sobraao pãoque falta

Um mundo de jovens, um paísde velhos

Page 2: Família da Consolata

Apoie a formação de jovens missionáriosFunde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250€ e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar.São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: 8fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; 8participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; 8beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATARua Francisco Marto, 52 – Ap. 5 – 2496-908 FÁTIMA | T. 249 539 430 | [email protected] Rua D.a Maria Faria, 138 – Ap. 2009 – 4429-909 Águas Santas MAI | T. 229 732 047 | [email protected] Quinta do Castelo – 2735-206 CACÉM | T. 214 260 279 | [email protected] Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 – 1800-048 LISBOA | T. 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 – 4700-713 PALMEIRA BRG | T. 253 691 307 | [email protected]

Consolata é cheia de graça, por Deus agraciada para levar ao mundo a consolação de JesusConsolados são os evangelizados, porque amados de DeusConsolar é levar a toda a parte a consolação de Deus salvadorComo Maria tornamo-nos solidários com todos. Solidariedade é o outro nome da consolaçãoComo Ela somos presença consoladora em situações de afliçãoPor seu amor colocamos a nossa vida ao serviço do homem todo e de todos os homensAllamano deu-nos Maria por mãe e modelo. Por isso chamamo-nos Missionários da Consolata

Nossa Senhora da Consolata

Page 3: Família da Consolata

MARÇO 2011 03 FÁTIMA MISSIONÁRIA

EA

EDITORIAL

O alastrar de tumultos e convulsões no norte de África saltou, inesperadamente, para a primeira página da actualidade. Tamanha explosão tem o condão de fazer emergir problemas latentes que foram desvalorizados ou adiados, ou até mesmo ignorados deliberadamente. As manifestações que,a partir da Tunísia e do Egipto, têm alastrado, de uma maneira quase contagiosa, a diversos países da costa mediterrânica e da Ásia, põem a descoberto velhos problemas, embora silenciados e esquecidos.

As ondas de imigração ilegal, provocadas pelo maremoto políticodo norte de África e do Médio Oriente, estão a causar apreensão na União Europeia. Mais de cinco mil tunisinos e dezenas de egípcios rumaram a Itália, na sequência das revoltas nos seus países. Um novo fluxo que se junta aos milharesde imigrantes que todos os anos batem às portas da Líbia ou da Tunísia, na tentativa de embarcarem para a Europa em busca de uma vida melhor. Se a barreira líbia ceder, poderemos vir a assistir a um êxodo de grandes proporções, protagonizado por centenas de milhares de africanos. Muitos deles trabalham como escravos ou são mantidos em centros de detenção. Os traficantes de seres humanos preparam-se para embarcar estes desesperados para a Europa, podendo vir a criar instabilidade e caos nas suas fronteiras.

Estes desembarques sucessivos põem em evidência as carências graves que abundam a sul das margens do Mediterrâneo e que afectam milhões de pessoas. Sujeitas a sistemas políticos que pouco ou nada têm a ver com os padrões da democracia e da liberdade, são vítimas de uma pobreza largamente difundida, causadora de doenças e atrasos educacionais intoleráveis, enfrentam dificuldades de convivência entre etnias e religiões diferentes. Em suma, vivem em condições que fragilizam a dignidade da pessoa humana. Apenas a um pequeno passo da revolta e da violência, correm o risco de resvalar para regimes autoritários ou militares.

Neste cenário, as carências e fragilidades da política migratóriada União Europeia tornam-se por demais evidentes. Hesitações e silêncios cúmplices, mais cedo ou mais tarde, criam embaraços e impedem um caminho solidário, capaz de criar um espaço de paz e democracia, de cooperação e prosperidade. Tratados internacionais, como a «União para o Mediterrâneo», uma organização transcontinental vocacionada para projectos regionais geradores de solidariedade e de paz, não podem permanecer letra morta, apenas evocada em casos de emergência. De pouco ou nada vale, erguer muralhas fortificadas à volta da Europa para garantir a legítima segurança dos seus cidadãos, se não nos preocuparmos com o bem-estar daqueles que batem à nossa porta, até mesmo antes de saírem dos seus próprios países. Atentas e oportunas, as Igrejas da Europa continuam a insistir na necessidade de uma política migratória que saiba responder aos desafios do mundo cada vez mais interdependente e complexo.

Mão na consciência

Atentas e oportunas,

as Igrejas da Europa

continuam a insistir

na necessidade de

uma política

migratória que saiba

responder aos

desafios do mundo

cada vez

mais interdependente

e complexo

Page 4: Família da Consolata

Pagamento da assinaturamultibanco (ver dados na folha de endereço),transferência bancária nacional (Millenniumbcp)NIB 0033 0000 00101759888 05transferência bancária internacionalIBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05BIC/SWIFT BCOMPTPLcheque ou vale postal

Assinatura AnualNacional 7,00€Estrangeiro 9,50€De apoio à revista 10,00€Benemérito 25,00€Avulso 0,90€(inclui o IVA à taxa legal)

Nº 3 Ano LVII – Março 2011Tel. 249 539 430 / 249 539 460Fax 249 539 429 [email protected]@fatimamissionaria.ptwww.fatimamissionaria.pt

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da ConsolataContribuinte Nº 500 985 235Superior Provincial Norberto Ribeiro LouroRedacção Rua Francisco Marto, 522496-908 FátimaImpressão Gráfica Almondina,Zona Industrial – Torres NovasDepósito Legal N.º 244/82Tiragem 28.400 exemplaresDirector Elísio AssunçãoRedacção Elísio Assunção, Manuel CarreiraConselho de Redacção António Marujo, Elísio Assunção, Manuel CarreiraColaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Cristina Santos, Darci Vilarinho, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Quénia, Álvaro Pacheco – Coreia do SulFotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunçãoe ArquivoCapa e Contra-capa Ana PaulaIlustração H. Mourato, Mário José Teixeirae Ricardo NetoComposição e Design Ana Paula RibeiroAdministração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Rua Francisco Marto, 52Apartado 52496-908 FÁTIMA

Tem a sua assinatura da revista

atrasada? Com apenas 10 eurospode actualizá-la para 2011Porque continua à espera?Não perca tempo!

803 EDITORIAL 805 PONTO DE VISTA Um mundo de jovens, um país de velhos806 LEITORES ATENTOS 808 MUNDO MISSIONÁRIO 811 AVENTURAS Pipo fala do Gurué 812 APóSTOLOS MODERNOS Acendedor de fogueiras

FÁTIMA MISSIONÁRIA 04 MARÇO 2011

822 GENTE NOVA EM MISSÃO Uma catequese diferente824 TEMPO JOVEM Vida afectiva e efectiva826 SEMENTES DO REINO Do pão que sobra ao pão que falta8 28 O QUE SE ESCREVE8 30 O QUE SE DIZ8 31 VIDA COM VIDA Apóstolo entre os estudantes8 32 OUTROS SABERES Memórias guardadas8 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo8 34 FÁTIMA INFORMA Itinerário do peregrino

CAPA

07 HORIZONTES

Quero voltar a ser pai

10 A MISSÃO HOJE

Repensar a Missão

13 DESTAQUE

Queda do «Muro do Medo»

Povo que se alimenta do rio14

18 Família Missionária da Consolata

Povo da Consolata celebra Ano Europeu do Voluntariado

SUMÁRIO

Page 5: Família da Consolata

MARÇO 2011 05 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA

PONTO DE VISTA

Por volta do Verão seremos sete

mil milhões de seres humanos. Boa

parte da população do planeta será

jovem, mas concentrada sobretudo

nos países do Sul. Contudo, Portugal,

tal como o resto da Europa, os

Estados Unidos e o Japão, caminha

em sentido contrário: a fraca

natalidade (1,3 filhos por mulher no

nosso país) e a elevada esperança

de vida (mais de 80 anos em regra)

aliaram-se para fazer do mundo

desenvolvido um mundo envelhecido.

E isso traz desafios imensos, que

vão desde a sustentabilidade da

segurança social até ao problema das

famílias diminutas, onde as situações

de solidão se vão avolumar. O peso

dos idosos na população portuguesa

vai já nos 17,5 por cento e não pára

de aumentar. Somos, aliás, o sexto

país mais envelhecido do mundo,

numa lista em que o topo é ocupado

pelo Japão, famoso pela quantidade

de centenários. Surpresa – Portugal

também não se comporta mal nesse

capítulo: o número de pessoas com

mais de 85 anos quadruplicou desde

o 25 de Abril de 1974, passando de

perto de 50 mil para quase 200 mil.

É muita gente sábia, mas a quem a

sociedade tende a dar escasso valor.

O início de Fevereiro foi marcado

por uma notícia insólita: uma senhora

de 95 anos foi encontrada morta

numa casa na zona de Sintra. Mas

não se tratava de uma morte recente.

Afinal, Augusta Martinho (e aqui é

importante destacar que tinha um

nome, que era gente) deixara de ser

vista há nove anos, data provável

do seu falecimento. Uma vizinha

ainda estranhou o desaparecimento e

familiares tentaram perceber o que se

passava, mas como a lei não autoriza

arrombar portas por mera suspeita de

morte, o tempo foi passando e toda a

gente se esqueceu de Augusta, menos

as Finanças que vendo acumular

dívidas penhorou a casa e a vendeu.

Foram os novos proprietários que

descobriram o corpo, já só esqueleto.

Desde então, os jornais têm contado

vários casos do género, ainda

que com muito menos tempo de

desaparecimento. E dá para perceber

que a solidão é a regra para muitos

milhares de idosos em Portugal.

Vivem sós, morrem sós, algumas vezes

mesmo esquecidos por todos.

Seremos todos um dia velhos.

É o destino. Mas tendemos a

desvalorizar a velhice. Ora, há que

mudar essa atitude e depressa. Graças

à ciência, vive-se até mais tarde e

com mais qualidade. E já que somos

considerados aptos a trabalhar mais

(aumento da idade da reforma), que

essa valorização se transponha para o

geral da vida social. Uma pessoa com

70 anos acumula muita experiência e

saber, uma com 80 ou 90 ainda mais.

Talvez não tenham família ou sejam

ignorados pelos vizinhos, mas não

as ignoremos todos nós, seja como

sociedade, seja como instituições

públicas. Um dia, se tudo continuar

assim, seremos nós também a ser

ignorados e não gostaremos nada.

Um mundo de jovens, um país de velhosUm dia, se tudo

continuar assim,

seremos nós

também a ser

ignorados e não

gostaremos nada

Page 6: Família da Consolata

AgrAdecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2011.só As AssinAturAs actualiza-das poderão usufruir do peque-no apoio do estado ao porte dos correios.nA folhA onde vai escrita a sua direcção, do lado esquer-do, poderá verificar o ano pago e o seu número de assinante.

o pAgAmento da assinatura poderá ser feito através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da consolata, ou através de multibanco, che-que ou vale postal. ou ainda por transferência bancária: niB 0033 0000 00101759888 05importAnte refira sempre o número ou nome do assinante.

os do­­na­tivo­­s para as missões são dedutíveis no irs.se desejAr reciBo, deverá enviar-nos o seu número de con-tribuinte.

renove

muitos leitores chamam à fÁtimA missionÁriA «a nos-sa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil as-sinantes. ela é mesmo nossa! somos uma grande família.

a assinatura

fÁtimA missionÁriA 06 Ma­RÇo­­ 2011

estAtuto editoriAl

LEITORES ATENTOS

Fátima missionária assume-se co mo uma publicação de infor-mação geral com a missão de promover os autênticos valores humanos e cristãos, tais como a paz, a solidariedade, a justiça, a fraternidade e a defesa do ambiente.Fátima missionária tem como objectivo informar os leitores sobre os mais diversos temas que dizem respeito sobretudo a Fátima e aos povos do Terceiro Mundo, nomeadamente aos de língua portuguesa. Pretende ser um veículo de notícias e iniciativas que circulam em ambos os sentidos.Fátima missionária pretende chegar às cidades e às aldeias, den-tro e fora do país; dirige-se a um público muito variado: crianças, jovens e adultos sem distinção de raça nem credo – usando para isso mesmo um estilo simples e acessível a todos.Fátima missionária nasceu e mantém a sua sede na cidade de Fátima, cada vez mais um ponto de encontro de povos e culturas, a nível mundial. Como o seu nome indica, quer informar sobre a Mis-são em geral, desenvolvendo as potencialidades que o tema encerra: evangelização e promoção dos povos; direitos humanos, incluindo a denúncia dos seus atropelos, violações e injustiças; relações entre o

Norte e o Sul do planeta, batendo-se por uma justa cooperação entre as nações; cultura, usos e costumes dos povos, sociedade, religiões e missão da Igreja; divulgação de notícias de todo o mundo, com prio-ridade para os países menos desenvolvidos; formação para a mundia-lidade, e apoio a campanhas de solidariedade para com as minorias e grupos humanos mais desfavorecidos, designadamente refugiados e povos ameaçados de extinção.Fátima missionária é propriedade da Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata. Não tem fins lucrativos, não tem vín-culos partidários, nem é órgão oficial de qualquer instituição ou religião. Dirigida pelo seu director, equipa de redacção e administrador, propõe-se colaborar com os órgãos de comunicação afins e com associações cujos objectivos sejam a defesa dos seus interesses e finalidades.Fátima missionária compromete-se a respeitar os princípios deontológicos e a ética profissional dos jornalistas, assim como a boa fé dos leitores.Fátima missionária é mensal e é distribuída por assinatura, vivendo exclusivamente da contribuição generosa dos seus assinantes, leitores e amigos.

Boa liçãoCaros missionários da Consolata,Venho, eu e os meus netos – Mariana, Ra-quel, Maria, Inês e António – colaborar no projecto Gurué 2011, com a quantia de 50,00€. Tenho grande pena de não poder ajudar mais, mas há muitas obras a ne-cessitarem das nossas migalhas e, como a minha reforma é pequena, é mais compli-cado. Rezo para que Deus e a Virgem Mãe vos dêem força e luz para o desempenho da vossa grande missão: ser missionário.delfina

NR Admiramos e louvamos a «esperteza» desta senhora: pôr os netos ao barulho, para eles irem aprendendo como se faz missão, a partir do mealheiro.

notícias e históriasÀ direcção da FÁTIMA MISSIONÁRIA,Junto envio o comprovativo do pagamen-to relativo à assinatura para o ano de 2011. Muitos parabéns pela «nossa» revista. Ela traz notícias e histórias de outras partes do mundo que enriquecem a nossa vida através da sua leitura. Continuem o bom trabalho!Ana

uma pela outraCaríssimos irmãos da Consolata,Aqui estou mais uma vez para vos dar contas da minha lista de assinantes. A dona Marília Gala deu 20,00€ para pagamento da sua as-sinatura e o resto que fica ao vosso critério: ou para as crianças de África ou para onde haja mais necessidade. Também quero par-ticipar que a dona Célia já faleceu com 89 anos de idade. Mas não perdi a assinatura, graças à irmã mais nova que já aceitou ficar com a assinatura dela. Aqui envio em vale

de correio a quantia do dinheiro que con-segui juntar: 306,50€. Um saudoso abraço para todos vós; que Deus vos dê muita saú-de para continuardes a vossa missão.fernanda

NR O conselho que nós costumamos dar é mesmo esse: pedir aos familiares que to­mem conta da assinatura da pessoa que faleceu. É uma maneira de honrar a sua memória e é uma obra boa.

gota de águaAos missionários da Consolata,Envio esta quantia para pagamento da assinatura da revista FÁTIMA MISSIO-NÁRIA e o restante é uma pequena gota no mar para as vossas despesas. Aprovei-to para vos desejar as bênçãos do Céu e que o Espírito do Senhor vos fortaleça na missão que realizais.maria josé

colaboradora doenteNesta data remeto a vossa reverência o cheque referente ao pagamento da revis-ta e ajuda para as missões. Estou a subs-tituir a senhora dona Ana Boura Moreira no serviço de colaboradora. Ela encontra--se muito doente e pediu-me para eu pro-ceder ao envio da importância que ela me deu para tal fim. Ela faz hemodiálise três vezes por semana e está muito fraquinha. Faço por ela o que posso.maria rosário

NR Aqui está um bom exemplo que tem duas vertentes: ajudar uma pessoa doen­te e substituí­la no serviço de colabora­dora da revista. Nós, claro, admiramos e agradecemos os bons serviços.

Page 7: Família da Consolata

texto TERESA CARVALHO ilustração MIGUEL CARVALHO

MARÇO 2011 07 FÁTIMA MISSIONÁRIA

HORIZONTES

ais uma vez, Leonel não consegue abrir a porta de casa. Não pelo escuro da noite, mas porque o seu corpo em desequilíbrio

não lhe permite colocar a chave no bu-raco da fechadura. Dá uns murros na porta – com cuidado para não acordar o seu menino. Rosa vem de imediato abrir. Não são saudades do marido, mas para que não acorde Afonso.Trôpego, de voz arrastada, cabisbaixo, Leonel pede desculpa a Rosa, mais uma vez. Doía-lhe sentir a recusa do olhar e o silêncio da esposa. Era cada vez mais um Zé-ninguém, desde que fora despe-dido da empresa. Que podia fazer senão

Quero voltar a ser pai

“tentar esquecer?”. Longe iam os dias em que ambos trabalhavam, em que ha-via gargalhadas em casa. Longe iam os dias em que Afonso ia para junto do pai, para mexer nas ferramentas ou contar histórias da sua escolinha. Longe iam os dias em que Leonel se sentia realizado e encantado no papel de marido, de pai e de profissional. Longe! Há muito tempo, a vida era muito boa!Leonel entrou no quarto do filho para lhe dar um beijo. Graças a Deus, Rosa ainda não o proibira. Afonso estava sentado na cama. Quando viu o pai a entrar, cambaleando, escorregou en-tre os lençóis e cobriu-se todo. Com a vozinha aflita de cinco anos, gritou:

– Mãe, vem cá! Depressa!Enquanto Rosa já se colocara entre ambos, Leonel explicava que só queria dar um beijinho de boa noite. Mas não deu. Saiu do quarto sem olhar para trás, deixando Rosa e Afonso abraça-dos para acalmar as dores reabertas naquele momento.Leonel deixou-se cair pesadamente no sofá da sala. A noite estava fria e nem sequer conseguiu ir buscar um cober-tor. Rosa estava cansada de acreditar em vão. Agora, desistira. A anestesia do álcool não conseguiu ajudar Leo-nel a dormir. A imagem e a vozinha de Afonso assustado a pedir ajuda à mãe não o largavam. As lágrimas foram a sua companhia da noite. Não era esta a vida que queria dar a Rosa e a Afonso. O filho merecia um pai a sério. E ele era capaz de ser um “pai a sério”. O dia nasceu em silêncio, mas com nova cor. Rosa e Afonso levantaram-se e fala-vam baixinho para Leonel não acordar. Saíram e fecharam a porta. Do lado de dentro, ficou um homem, que gritou bem alto, para que ele próprio se pudes-se ouvir e recuperar o seu orgulho:– Este é o último dia! Faz hoje o que só tu podes fazer, Leonel!Arranjou-se com o melhor fato e saiu. Com um saco de viagem, dirigiu-se ao Serviço de Urgência. Pediu para ser hos-pitalizado para fazer tratamento. Ao fim da tarde, Rosa recebeu uma mensagem: “Estou internado a fazer tratamento. Preciso de ti e do Afonso. Espero que ainda precisem de mim!”Rosa e Afonso dançaram de alegria. Ambos começaram a fantasiar sobre a vida dos três, quando o pai já estiver curado. Foi isso que, no dia seguinte, à hora da visita, Afonso contou ao pai, a saltar de entusiasmo.Passou um mês e o Leonel entrou em casa, sem precisar de ajuda para abrir a porta, embora Afonso, empoleirado às cavalitas, dificultasse a tarefa. Naquele cair da tarde, havia mais uma família feliz na cidade. Havia um pai a abraçar o filho, redescobrindo o tamanho do mi-lagre que o amor faz acontecer.

Page 8: Família da Consolata

FÁTIMA MISSIONÁRIA 08 MARÇO 2011

MUNDO MISSIONÁRIO

AFegANISTãO Menina afegã em frente do seu abrigo num campo de deslocados em Cabul. As Nações Unidas e o governo afegão lançaram vários projectos para combater o analfabetismo no país, que regista uma das mais baixas taxas de alfabetização do mundo.

Menino indonésio come uma refeição sóbria e pobre num bairro de Jacarta. O preço dos alimentos não pára de subir, atirando para a pobreza milhõesde pessoas nos países em desenvolvimento. Segundo o Banco Mundial, este número pode atingir 50 milhões de pessoas na pobreza em países em desenvolvimento desde Junho de 2010.

MéxIcOUma celebração assinalou o encerramento da «Marcha

Migrante» que, desde 2001, vem chamando a atenção

da opinião pública para as dificuldades e violação dos direitos humanos dos

migrantes indocumentados que atravessam a fronteira

entre o México e os Estados Unidos. A caravana

percorreu a fronteira entre os dois países, exigindo

justiça e lembrando histórias em que os direitos

humanos e civis foram lesados e espezinhados.

PORTugAlA crise vai aumentando o

número de vítimas. São cada vez mais numerosos os

imigrantes que, perante as dificuldades, pretendem

abandonar Portugal.A viver no nosso país,a imigrante brasileira,

Naiara Moreira, ficou sem emprego e está a ponderar regressar ao Brasil, com a

família. Registam-se casos, cada vez mais frequentes, de imigrantes que, face ao

desemprego, procuram ajuda para regressarem aos

seus países de origem.

MOçAMbIqueAs cheias ameaçam ciclicamente a população moçambicana residente nas margens do rio Limpopo. A chuva forte e o aumento dos caudais dos rios já provocaram a morte de oito pessoas em Moçambique e afectaram 12 mil. A zona mais atingida situa-se junto à cidade de Xai-Xai, capital da província de Gaza.

África ganha um novo país. Uma vitória maciça a favor da separação, com 99 por cento de votos favoráveis no referendo

de 9 a 15 de Janeiro, ditou a independência do Sul do Sudão. Está aberto o caminho para a criação de mais um país africano, prevista para 9 de Julho, resultante do acordo de paz assinado entre o Norte (muçulmano) e o Sul (cristão), em 2005. Espera--se que seja o ponto final de uma guerra civil que durou um

quarto de século e causou milhões de mortos, abrindo um fosso entre duas culturas segregadas territorialmente. O ainda vice-

-presidente do Sudão e presidente do Sudão do Sul deverá ser o novo chefe de Estado. Salva Kiir Mayardit, de 60 anos, casado

com oito filhos, tem um longo caminho de guerrilheiro e militar. A sua luta ficou marcada por uma sua afirmação célebre: “Neste

referendo a escolha é entre ser um cidadão de segunda no próprio país ou ser um homem livre num estado independente”.

Sul dO SudãO

INdONéSIA

Page 9: Família da Consolata

Tobias oliveira,

Nairobi, Quénia

MARÇO 2011 09 FÁTiMa MissioNÁria

Construir juntosEstive há dias na inauguração duma nova igreja paroquial nos arredores de Nairobi. A paróquia de Githurai foi criada há 11 anos e com os seus mais de 100 mil habitantes, com cerca de 10 mil católicos, é uma messe prometedora, embora os trabalhadores sejam poucos.Os missionários da Consolata Lucas Ogola e José Kihwaga, ambos quenianos, são os pastores desse rebanho e, para além de alimentarem e fortalecerem a fé dos fiéis, compete-lhes ainda trabalhar para a evangelização da grande maioria que ainda não ouviu a palavra da Salvação. Além disso, tanto no centro da paróquia como nas comunidades satélites, é urgente construir as estruturas mínimas para que as actividades paroquiais possam funcionar. Falamos de capelas, salas de catequese, dispensário, escola e assim por diante.É aqui que a frase “construir juntos” vem ampliar o seu significado cristão de construção da família de Deus com um outro significado que se refere às obras materiais. Um grupo de italianos, familiares e amigos dum nosso missionário, adoptou esse lema e a eles se devem, em grande parte, as actuais estruturas paroquiais de Githurai. O cardeal João Njue, arcebispo de Nairobi, na inauguração do novo templo frisou também esta faceta da colaboração entre Igrejas. É maravilhoso que um grupo de crentes lá longe dedique parte do seu tempo e dos seus bens para que uma jovem paróquia do Quénia tenha a sua igreja dotada de espaços pastorais e sociais. O Senhor da messe vai pagar a cem por um. Também isto é missão!

iTÁliaVindos da Tunísia, cerca de três mil

imigrantes conseguiram chegar de barco a uma ilhota do sul de Lampedusa,

Itália, que declarou o estado de emergência humanitária. Os tunisinos

escaparam do país norte-africano, na sequência da recente agitação política, e

surpreenderam as autoridades italianas, que reabriram campos de refugiados

recentemente encerrados.

PeruNo bairro da capital El Agustino, o

arcebispo de Lima, Juan Cipriani, entrega a uma família pobre uma das várias casas, oferecidas pela Cáritas. O Peru

não é só belezas naturais, ruínas Incas e Machupicchu. A pobreza é impressionante e atinge mais de um quinto da população, que sobrevive da agricultura familiar e do turismo. Fenómenos naturais como

El Niño, o furacão Mitch e a erupção do vulcão Ubinas, contribuíram para o

agravamento da situação.

PaQuisTãoUm trabalhador da saúde vacina uma

criança, contra a poliomielite, em Chaman, Paquistão, junto à fronteira com o

Afeganistão. Está em curso uma campanha de vacinação, que vai desenrolar-se

por fases, para tentar erradicar a poliomielite no país, que atinge milhõesde crianças, com menos de cinco anos.

Page 10: Família da Consolata

FÁTIMA MISSIONÁRIA 10 MARÇO 2011

texto MANuel A. FeRReIRA * fotos ANA PAulA

A MISSÃO HOJE AVENTURAS

primeira palavra a dizer aos nossos bispos é que nesta procura de uma «compreensão comum da missão da Igreja» po­

dem contar connosco. Podem contar com os valores e as dinâmicas que as nossas tradições missionárias consa­graram em vidas de dedicação à missão da Igreja, em Portugal e no mundo.Gostaríamos de evidenciar o contributo que missionários e missionárias pode­rão dar neste processo para definir uma compreensão partilhada da missão cris­tã hoje. Contributo, aliás, já evidenciado na carta pastoral «Como Eu vos fiz fazei vós também: para um rosto missioná­rio da Igreja em Portugal».

Os missionários e missionáriaspoderão ajudar a devolver à nossa Igre­ja a capacidade de ser missionária, de se situar nas fronteiras. Hoje elas não são geográficas nem estão longe, mas cru­zam a nossa sociedade nas correntes do pensamento laico, da cultura desinteres­

sada de Deus, na vida das pessoas que perderam as referências religiosas, nos povos e religiões que para nós migraram.O missionário está certamente no co­ração da Igreja local, no sentido que faz dela preciosa parte. Mas o missio­nário vive essa identidade nas frontei­ras da Igreja, abraçando as dinâmicas do encontro com os outros – povos, culturas, religiões. Esta capacidade de viver na fronteira e de assumir a ten­são para mediar o encontro do Evange­lho com as pessoas, com todos, é vital para o futuro da Igreja e é um dom que os missionários podem e devem renovar na nossa Igreja.

em segundo lugar, o sentido de «Igreja­comunhão, comunidade de co­munidades». Ao convocar pessoas para um caminho em Igreja, os missionários cunharam tradições de vida eclesial marcadas pela comunhão e pelo plura­lismo de ministérios. Os nossos bispos guardam silêncio sobre o futuro, mas é evidente que, em menos de uma gera­

ção e pelo envelhecimento do clero, o modelo de Igreja à volta do sacerdote, como o conhecemos, não será sustentá­vel. Os missionários só poderão ajudar a promover uma eclesiologia de comu­nhão, que valorize os dinamismos novos que grupos e movimentos estão a trazer à missão cristã no mundo de hoje.

Por fim, a capacidade de unira fé à vida com um renovado empenho nos processos de transformação social. A missão cristã sempre se interessou pelas condições de vida dos povos, pelo seu desenvolvimento humano integral. Os missionários só podem potenciar a capacidade da nossa Igreja se envolver na transformação da sociedade segundo os valores do Evangelho. Em muitos lu­gares, eles foram o rosto de uma Igreja profética: é esse rosto de proximidade, profético e belo que os missionários têm que ajudar a dar à nossa Igreja, no meio da crise que vivemos e para além dela.

* Director de Além-Mar

Bispos portugueses confiam-nos uma importante tarefa: «Repensar Juntos a Pastoral da Igreja em Portugal». Se o desafio é grande, o

objectivo é ainda mais aliciante: «Encontrar uma compreensão comum dos caminhos da missão e enunciar prioridades e dinâmicas de acção».

As revistas missionárias, agrupadas na Missãopress, levam o desafio aos seus leitores. Estamos empenhados em «informar para formar»

para uma vivência mais comprometida da vida cristã e da cidadania

Repensara Missão

Page 11: Família da Consolata

MARÇO 2011 11 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto CARReIRA JúNIOR ilustração H. MOuRATO

A MISSÃO HOJE AVENTURAS

ipo, há tanto tempo que não te vejo! Ainda não me disseste se foste à peregrinação da Consolatao mês passado e se gostaste.

Fui e gostei. Aponto duas coisas em particular:Gostei de ver aquela multidão de gente dentro da igreja nova. Todos alegres, todos a cantar os mesmos cânticos, a rezar as mesmas orações à Consolata e ao Allamano.Gostei muito de ver a alegria e o sorriso do bispo que presidia. É missionário da Consolata e chama-se Francisco Lerma. Tem jeito de ser um grande missionário, mesmo que não use barba nem outras peneirices. É ele que deseja construir um pavilhão para resguardar os doentes que esperam vez para entrar no hospital da sua diocese. Agradeceu a todos os portugueses que participam no projecto Gurué que os missionários da Consolata escolheram para este ano. O bispo entusiasmou os ouvintes e, certamente, eles vão aumentar ainda mais a sua colaboração. Deram a entender isso mesmo, quando ao fim da missa bateram palmas e deram vivas ao Dom Francisco Lerma.

Pipo fala do Gurué

“O que é que a Missão e a Igreja exigem de nós, hoje?”, foi a questão apresentada aos vários grupos da Família Missionária da Consolata, da zona sul, num encontro que teve lugar no Cacém, a 30 de Janeiro último. Meia centena de membros dos vários gru-pos reuniram-se durante uma jornada de reflexão, em casa dos Missionários da Consola-ta. «Ajustar o nosso modo de ver a missão, vivendo o mes-mo espírito de família» foi o primeiro desafio apresentado aos participantes. Além dos Missionários, Missionárias, Amigos, Mulheres Missioná-rias, Jovens e Leigos da Con-solata, participou um grupo de cristãos do Bairro do Zam-bujal, Buraca. «Ver ao longe exige concre-tizar» desejos e esforços a partir das situações reais da vida, constataram estes vá-rios grupos. Torna-se neces-sário abrir «os olhos perante os problemas», à procura de soluções novas e actuais. A re-flexão levou os participantes a concluir que é urgente «ver ao longe», pondo de lado «todo o tipo de preconceitos». Várias decisões têm a ver com a missão no Bairro do Zam-bujal. Num ambiente com-

plexo, onde os problemas abundam e várias etnias con-vivem lado a lado, a equipa missionária da Consolata de-senvolve aí a sua actividade, especialmente entre a comu-nidade cabo-verdiana. «Exis-tem preconceitos», afirmou um dos residentes do bairro, que resultam da presença de «várias etnias». Daí que haja necessidade de «alargar ho-rizontes». Outro sublinhou a necessidade de haver maior interacção entre as diversas comunidades do bairro, a partir de um projecto concre-to de evangelização. «Abrir caminhos» e «abrir o diálogo para reflectir a presença da Igreja no bairro», são desa-fios que os participantes aco-lheram. Além da participação nas festas do bairro, os vários grupos da família da Conso-lata pretendem envolver-se, sucessivamente, nas activi-dades e celebrações num fim--de-semana de cada mês.O encontro do Cacém segue--se à assembleia nacional, que teve lugar em Fátima, no início de Novembro de 2010, onde foi tomada a decisão de realizar mini- -assembleias locais. A pró-xima terá lugar na zona norte, a 20 de Março.

Bairro do Zambujalabana Família da Consolata

“Ajustar o nosso modo de ver a missão, vivendo o mesmo espírito de família”foi o primeiro desafio apresentadoaos participantes

texto e foto e. ASSuNçãO

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 12 MARÇO 2011

texto JOãO NAScIMeNTO fotos ANA PAulA

APÓSTOLOS MODERNOS

A vocação missionária, como relação de amizade com Deus, só pode ser com­preendida desde uma atitude de fé. Não é aquilo que o missionário faz que é im­portante. Importante é aquilo que ele permite que Deus faça por meio da sua vida. A missão nunca se identificou com um lugar ou um empenho, mas sim com uma forma de ser e de estar. Mais impor­tante que o lugar onde está e aquilo que faz o missionário, é o “como”, o “porquê” e o “para quê” da sua presença e da sua missão que conta. Jamais o missionário poderá ser reduzido a um funcionário, um técnico ou um executivo, mas será sempre um profeta, um poeta, um médi­co, um acendedor de fogueiras, um abri­dor de poços e de janelas, um construtor de pontes, um pássaro que não troca a

liberdade e beleza do seu canto pela se­gurança de uma gaiola, mesmo que seja de ouro. O missionário será sempre, em última instância, o “mensageiro univer­sal”, amigo de Deus e amigo de todos.

Ao longo da minha vida, como mis­sionário, tive a oportunidade de passar por diversos países, e de conviver com imensas pessoas e suas respectivas culturas e tradições. Desde as crianças e ciganos dos bairros periféricos de Madrid, quando era ainda estudante de Teologia, até às comunidades imi­grantes na Suíça, com as quais estive recentemente, compreendi perfeita­mente que ser missionário é sobretudo tornar­me seu amigo, para que eles setornassem amigos de Deus. Em Mo­

Acendedor de fogueiras

Ser missionário é seguir um ideal que tem

como fundamento uma relação íntima

de amizade com Deus. O missionário,

prioritariamente, é uma pessoa enamorada

de Deus e, da abundância desse amor, tal como

da abundância de uma fonte, gera-se vida

çambique, onde estive durante 15 anos, esta convicção tornou­se ainda mais for­te. A relação de proximidade que criei com aquele povo, de modo particular com as crianças, fez­me compreender que a amizade é a energia vital ou a sei­va pela qual a missão se torna fecunda. O missionário, sobretudo nos tempos modernos, corre o risco de se isolar ou se atrincheirar por detrás dos muros e dos medos modernos, mas também de se deixar levar pela agitação frenética de empenhos e actividades incessantes que lhe impedem de ser esse elo de ligação entre Deus e a humanidade.O mundo de hoje, mais do que nunca, precisa de sentir a proximidade de Deus, a sua encarnação. Ser amigo significa estar vivo, tornar­se sensível, deixar­­se tocar pelos que choram e pelos que riem, pelas crianças e pelos velhinhos, pelos toxicodependentes e migrantes, pelos que sonham e pelos que cantam a esperança. Ser amigo significa ser cora­joso, desafiante, provocador a partir do próprio testemunho de vida. Mais que uma árvore frondosa plantada à beira do rio, o missionário no mundo de hoje é chamado a ser o próprio rio, a trocar a estabilidade e a segurança do lugar, e dos próprios frutos, pela vulnerabilida­de e insegurança do coração peregrino. Ser missionário é ser o amigo de Deus e da humanidade, sem qualquer garantia que não seja a pobreza da sua própria fé. Tal como uma vela exposta ao vento, a vida do missionário pode apagar­se, mas permanece a sua vontade de ilumi­nar o caminho pelo qual avança. É im­portante proteger essa chama para que nada nem ninguém a possa apagar. catedral de Massangulo, Niassa, Moçambique, por onde passou João Nascimento

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MARÇO 2011 13 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

DESTAQUE

e Túnis ao Cai-ro, são muitas as proximidades e as distâncias entre as duas revoluções. As

causas que alimentaram as duas revoluções são idênticas. Sociedades com um elevado número de jovens, inquietos perante um futuro sem espe-rança, governos autoritários, no mínimo, tolerados pelo Ocidente, em nome da neces-sidade do controlo do funda-mentalismo islâmico, um po-der corrupto e uma crise eco-nómica e social que aumenta a coluna dos excluídos e en-riquece um pequeno número de privilegiados. Perante os protestos do povo, o presiden-te egípcio, Hosni Mubarak, tal como Ben Ali, prometeu pôr

termo a 29 anos de poder, re-tirar-se nas próximas eleições e iniciar reformas políticas. Reorganizou o Governo, pro-curou resistir, em nome da estabilidade, mas cedeu pe-rante a pressão da rua e teve de partir sem glória.

Uma “revolução”diferenteEntre os acontecimentos da Tunísia e do Egipto são tam-bém muitas as diferenças. A Tunísia é o país árabe mais pe-queno do norte de África, en-quanto o Egipto é o país mais povoado do mundo árabe, com uma população de cerca de 80 milhões de habitantes e um dos maiores exércitos da região. Além disso, ao contrá-rio da Tunísia, tem um papel geoestratégico fundamental

entre o continente asiático e o africano, entre o Mar Verme-lho e o Mediterrâneo, e detém o controlo do canal do Suez, uma via fundamental para o abastecimento energético da Europa. Ao contrário da Tu-nísia, tem uma oposição dos sectores religiosos islâmicos importante (na ordem dos 20 por cento), nomeadamen-te os irmãos muçulmanos, considerados um movimento inspirador do Hamas, na Pa-lestina, e da Al-Qaeda. Finalmente, mas não por último, a possibilidade de o Egipto irradiar a sua revolu-ção para os países vizinhos é, por tudo isto, evidente: Argé-lia, Marrocos, Iémen, Jordâ-nia, Líbia, são apenas alguns dos países que poderão vir a confrontar-se com crises so-

Da Tunísia ao Egipto

Queda do «Muro do Medo»Depois da Tunísia, o Egipto. Os especialistas de assuntos internacionais consideram que podemos estar a assistir, nos países árabes, a um acontecimento idêntico àquele que derrubouo Muro de Berlim e levou a democracia ao leste europeu.Não de um muro físico, mas do muro do medo a que estão submetidos os povos árabes por décadas de poder autoritário

ciais e políticas, caso a derro-cada do Muro do Medo con-tinue a fazer o seu caminho.

Mudanças estratégicase diplomáticasAs mudanças no Egipto po-derão provocar importantes alterações na região. Basta pensar que ele tem sido um factor importante na deno-minada “estabilização” do conflito israelo-árabe. Com a queda de Mubarak, Israel passará a ser um país isolado, sem nenhum aliado na re-gião, após o desmoronamen-to da aliança com a Turquia.Se concordarmos com o co-lunista Victor Ângelo, na revista Visão, de que a di-plomacia ocidental no Mé-dio Oriente tem tido como principal linha de orientação a segurança e a conveniência do Estado hebreu e os inte-resses económicos, as ma-nifestações na Tunísia e no Egipto dizem-nos que esta situação não pode continuar por mais tempo. A questão dos direitos urge entrar na agenda política sob pena de os países ocidentais perde-rem toda a sua credibilidade perante os povos árabes.

Na praça Tahrir, Cairo, o povo explodiu de alegria ao tomar conhecimento da queda do presidente egípcio, Hosni Mubarak

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 14 MARÇO 2011 FÁTIMA MISSIONÁRIA 14 MARÇO 2011

Índios resistem à mudança

Povo que se alimenta do rio

Habitam em palafitasde madeira, vivem

da pesca e do queconseguem recolher

da floresta, nonordeste da Venezuela.

E ao contrário deoutras tribos indígenas,

os Warao não lutampela demarcação das

terras, mas pelo resgate da identidade cultural

chuvada forte que desaba, sem aviso prévio, parece não in-comodar o grupo de crianças que brinca nas águas barrentas do rio. À vez, atiram-

-se do pequeno porto em madeira, cons-truído pelos missionários, e riem-se, riem-se muito. Há gargalhadas naturais. Outras servem apenas para disfarçar a timidez natural dos jovens indígenas perante a presença de estranhos. Afinal, não é todos os dias que recebem visitas na aldeia de Nabasanuka, um dos berços do povo Warao, no nordeste da Venezuela.Situada a mais de 700 quilómetros de Caracas, para se lá chegar é preciso

apanhar um barco em Tucupita, onde acaba a estrada e começa o grande Delta Amacuro, através do qual o rio Orinoco se lança no oceano Atlântico. É uma viagem de seis horas por um gi-gantesco labirinto de ribeiros e canais, que serpenteia a selva.

Divisões e desentendimentosNabasanuka não consta nos mapas. Mas acolhe, há várias décadas, uma das muitas comunidades da tribo Wa-rao. Primeiro, instalaram-se duas ou três famílias. Hoje, a população total ultrapassa as 500 pessoas. Vivem em palafitas construídas à beira rio: umas à maneira antiga, com chão de tron-cos de árvores e telhado com folhas

VENEZUELA

texto e foto FRANcIScO PEDRO

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MARÇO 2011 15 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Povo que se alimenta do rio

de palmeira; outras, mais modernas, fechadas com tábuas e cobertas com chapas de zinco. Não há estradas, car-ros ou bicicletas. Um gerador, finan-ciado pelo governo de Hugo Chávez, garante o fornecimento de electricida-de, quando há combustível. No centro da povoação, ergue-se uma estrutura em madeira, que serve de abrigo aos missionários da Consolata, uma pe-quena igreja, um rudimentar centro de saúde, um recinto de jogo e uma escola. Sinais dos tempos, que abriram caminho à entrada da civilização, mas ‘sequestraram’ a identidade indígena e minaram a unidade comunitária. “Vi-vemos um pouco melhor. Quase todas as famílias têm um salário [atribuído

pelo governo]. Só que, desde que veio a política, aumentaram as divisões e os desentendimentos. Os mais novos já não respeitam os mais velhos e isso é muito perigoso para o futuro”, queixa--se Quintiliana Garcia, 61 anos, rosto vincado pelas agruras da vida. O dile-ma deste povo não é muito diferente do vivido pelas restantes comunidades indígenas influenciadas pelo ‘homem branco’, ou neste caso, pelos crioulos, os que não são indígenas.

Repartição de tarefasConhecidos como “os habitantes da água” ou “donos das canoas”, os Wa-rao sempre se fixaram nas margens dos rios. Para eles, a água é quase

uma segunda casa. Serve para as deslocações, para matar a sede, para assegurar a higiene diária, para as brincadeiras dos mais pequenos e para fornecer alimento. O resto vem da floresta: algumas peças de caça, frutos silvestres e tudo o que dá a palmeira de moriche: frutos, semen-tes, caule, seiva, folhas e farinha. Dos troncos tombados e apodrecidos ex-traem ainda gordas larvas brancas (gusanos), que devoram com grande avidez e contentamento. Os madeiros de mogno servem para construir as canoas, a que dão o nome de curiaras. Nas proximidades das habitações, há quem tenha uma pequena área de cul-tivo, sobretudo para produzir inhame.

Conhecidos como “os habitantes

da água” ou “donos das canoas”,

os Warao sempre se fixaram

nas margens dos rios. Para eles,

a água é quase uma segunda casa

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 16 MARÇO 2011

As ocupações das comunidades tradi-cionais resumem-se às actividades de subsistência e as tarefas familiares es-tão bem definidas. A mulher cuida dos filhos e da cozinha, e aproveita os tem-pos livres para fabricar redes ou peças de artesanato em fibra de palmeira. O homem constrói a curiara, pesca, caça e recolhe a matéria-prima necessária para os trabalhos femininos.

Hábitos alteradosMas nos locais onde já chegou a elec-tricidade e o salário mínimo, como é o caso de Nabasanuka, os hábitos transformaram-se. “Muita gente dei-xou de pescar, caçar e cultivar”, refere o padre K’Okal Asa, responsável pela delegação dos Missionários da Conso-lata, presente no Delta Amacuro desde 2005. A maioria das famílias já tem te-levisão, conseguiu comprar um barco a motor, mas as dificuldades continuam a ser muitas. “Pensa-se que o facto de ter um salário é sinónimo de comodidade, mas não é assim, pois os 920 bolívares mensais [pouco mais de 100 euros] não dão nem para metade do que comem”, adianta o missionário.Os bens alimentares e os combustíveis têm que ser adquiridos em Tucupita, e transportados por via fluvial, o que encarece os preços. Por outro lado, “a existência de mais motores no rio, o au-mento da poluição e do ruído, prejudica a pesca e a caça”, acrescenta K’Okal Asa. Na verdade, Nabasanuka está rodeada de selva, mas o cheiro a combustível queimado sobrepõe-se com frequência ao aroma fresco da terra. E o chilrear dos pássaros é constantemente abafado pelo roncar dos motores. A água do rio vai

acumulando resíduos oleosos e os pro-blemas de saúde agravam-se. Segundo Lubin Morales, o médico estagiário des-tacado para assegurar temporariamen-te o funcionamento do centro de saúde de Nabasanuka, a taxa de mortalidade infantil situa-se nos “40 por cento”.

Pequenas comunidadesO último recenseamento, realizado em 2001, identificou 36 mil índios Warao na Venezuela. Vivem sobretudo nos es-tados Delta Amacuro, Monagas, Sucre e Bolívar. Destes, 28 mil declararam fa-lar o idioma nativo. Os restantes já só comunicam em castelhano. Dado que a sua história é feita por transmissão oral, tem sido muito difícil determinar a data em que se estabeleceram pela primeira vez no Delta. Sabe-se apenas que deverá ser uma das raças mais an-tigas da Venezuela e que os primeiros elementos terão chegado àquela zona 17 mil anos antes de Cristo, tendo em conta os estudos efectuados a algumas peças de cerâmica encontradas em La

Horqueta, nas proximidades de Tucu-pita. Por tradição, levavam uma vida nómada. Nas últimas décadas, os hábi-tos alteraram-se. Têm-se sedentarizado e fixado em pequenas comunidades.

Peixe em vez da canaO presidente Hugo Chavez prometeu ajudá-los e cumpriu uma parte da pro-messa: deu-lhes o peixe, mas não os en-sinou a pescar. Em 2006, foram criados os Conselhos Comunais, que têm por missão gerir um orçamento comunitário e fazer chegar às autoridades as necessi-dades manifestadas pela população. Nas comunidades mais populosas, como é o caso de Nabasanuka, foram instalados depósitos para recolha e distribuição de águas pluviais, gerado-res para fornecimento de electricidade, pequenos centros de assistência médi-ca e centros escolares. No início, as in-fra-estruturas funcionaram como uma mais valia. Depois transformaram-se em mais uma dor de cabeça. “O proble-ma dos projectos do governo é que não

Mergulhadas num clima dominado pela perda de identidade

cultural e auto-estima, muitas famílias Warao partem para

a cidade em busca de melhores oportunidades, mas acabam

por afundar-se na indigência e na miséria

VENEZUELA

Page 17: Família da Consolata

MARÇO 2011 17 FÁTIMA MISSIONÁRIA

têm continuidade. Monta-se e já está. Se alguma coisa avaria, é muito difícil de recuperar”, refere o padre K’Okal.

Miragem da cidadeMergulhadas num clima dominado pela perda de identidade cultural e auto-estima, muitas famílias Warao partem para a cidade em busca de me-lhores oportunidades, mas acabam por afundar-se na indigência e na miséria. O bairro de Jacarygyene, nos arredo-res de Tucupita, é um bom exemplo disso. Acolhe 48 agregados familiares, que se amontoam em pequenas casas, construídas com chapa metálica on-dulada. À entrada existe uma torneira comunitária para abastecimento de água potável. Não há casas de banho e o lixo acumula-se ao longo do carreiro que dá acesso ao rio. O ‘mobiliário’ re-

sume-se às redes para dormir, uma ou outra cama e a meia dúzia de utensílios para confeccionar as refeições (quan-do é possível ter refeições). Como têm de mendigar ou esperar por pequenos trabalhos para conseguir algum ren-dimento – como descarregar camiões – nem sempre podem confortar o es-tômago como desejariam. “Há índios que passam dias inteiros alimentados a manga, que é o que conseguem reco-lher quando não têm dinheiro”, lamen-ta o missionário Zacarias Kariuki, res-ponsável pela paróquia de São José.Apesar das dificuldades e das incerte-zas quanto ao futuro, há hábitos que os Warao não perdem. Estejam na dis-tante aldeia de Nabasanuka ou nos ar-redores da cidade, continuam intima-mente ligados ao rio. E é lá que adultos e crianças se banham todos os dias.

As ocupações dentro das comunidades tradicionais estão reduzidas às actividades de subsistência e as tarefas familiares estão bem definidas entre os seus membros

A presença dos missionários

no Delta Amacuro exige um

grande esforço financeiro e obriga

os religiosos a grandes privações.

Não há água potável, o isolamento

é total, a alimentação obedece

a critérios de racionamento e o

acesso aos cuidados de saúde é

quase inexistente. Ainda assim,

a congregação dos Missionários

da Consolata decidiu abrir uma

delegação há cinco anos, em

Nabasanuka, chefiada pelo padre

queniano K’Okal Asa.

Impulsionado pela ideia de que

a Igreja católica além de urbana

e rural também é indígena,

o missionário tem conseguido

aglutinar esforços em torno de

projectos destinados a recuperar

e reforçar a identidade Warao.

Em 2007, promoveu o primeiro

encontro pastoral, entre três

paróquias. Este ano, a iniciativa

contou já com a participação de seis

paróquias, de duas dioceses.

No final, foi elaborado um plano

de trabalho para os próximos cinco

anos, tendo como princípio base

o resgate da cultura Warao.

“O ritmo dos indígenas é muito

lento e é preciso ter paciência. Mas

tenho esperança que as coisas vão

mudar”, conclui o sacerdote.

FP

Missionáriospersistentes

Page 18: Família da Consolata

texto E. Assunção fotos AnA PAulA

Início da 21ª peregrinação em frente do seminário da Consolata. Aqui, bem pertinho do lugar onde apareceu nossa senhora, o padre João De Marchi plantou, em 1943, a árvore da Família Missionária da Consolata que cresceu cheia de vida e dinamismo missionário

FÁTIMA MIssIonÁRIA 18 MARÇO 2011

no caminho da via-sacra para os Valinhos, o tema do voluntariado “Vai e faz o mesmo” animou a reflexão e a oração dos peregrinos, terminando com uma encenação no Calvário realizada pelos jovens

Presença significativa e contagia nte de jovens nos vários momentos da 21ª peregrinação, vindos do norte e do sul

ACTUALIDADE

O povo da Consolata não se intimidou com a chuva. Como Moisés, peregrinou ao encontro de Deus, a partir das suas terras. Procurou fortificar os laços da comunhão que une a Família Missionária da Consolata. A sua missãoé espalhar consolação, na simplicidade da Senhora de Fátima, vencendo

Família Missionária da Consolata em Fátima

Page 19: Família da Consolata

Nem mesmo a chuva persistente e arreliadora, que caiu ao longo de todo o dia, conseguiu esmorecer a alegria e o entusiasmo missionário dos nove mil peregrinos

Francisco Lerma Martinez, bispo de Guruéacompanhou e presidiu à peregrinação

MARÇO 2011 19 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Presença significativa e contagia nte de jovens nos vários momentos da 21ª peregrinação, vindos do norte e do sul

No Calvário Húngaro, da colina dos Valinhos, jovens da Consolatado norte representam para os nove mil peregrinos cenas evangélicas

Reunidos na Capelinha das Aparições, os peregrinos saúdam Nossa Senhora

obstáculos, com redobrado espírito missionário. A partir do seminário, às 10horas, o cortejo seguiu para os Valinhos, à procura dos sinais de Deus, no caminhodo Calvário. Na parte da tarde, após saudar Nossa Senhora na capelinha das Aparições, celebrou a Eucaristia na igreja da Santíssima Trindade

Família Missionária da Consolata em Fátima

Page 20: Família da Consolata

FÁTIMA MISSIONÁRIA 20 MARÇO 2011

ACTUALIDADE

FÁTIMA MISSIONÁRIA 20 MARÇO 2011

ACTUALIDADE

a homilia da Eucaristia sole-ne da peregrinação, o bispo da mais jovem diocese de Moçambique e missionário

da Consolata, no país há mais de 40 anos, exortou os fiéis a fazerem uma verdadeira experiência de encontro com Deus. “Para nós não é suficien-te [o voluntariado]. Temos de ir além desse sinal bom e fazer a experiência de Deus que é amor”. Apesar dos tem-pos difíceis, da sociedade laica num Portugal cristão, com falta de voca-ções sacerdotais e religiosas, este é o “momento de Deus”. É o momento de

“fortificarmos os laços que nos unem na Família Missionária da Consolata”.Durante a manhã, os peregrinos fizeram uma experiência de encontro com Deus, percorrendo a via-sacra dos Valinhos, subordinada ao tema do Ano Europeu do Voluntariado: “Vai e faz tu também o mesmo”. Usando os sinais de trânsi-to, os Jovens Missionários da Consolata expuseram aos fiéis o código do volun-tariado: “Parte em missão”, “Promove a justiça”, “Dedica-te aos outros”, “Cons-trói a paz” são algumas das mensagens que foram apresentadas em cada passo da via-sacra. Testemunhos de volun-

“Sem experiênciaforte de Deusnão há missão”A chuva que teimou em cair durante todo o dia, não assustou os nove mil peregrinos da Família Missionária da Consolata que, a 19 de Fevereiro, participaram na 21ª peregrinação a Fátima. Pela primeira vez, dois autocarros de Palmeira, Braga, além dos habituais vindos de Águas Santas, Figueira Foz, Lisboa e Cacém, ondeos missionários da Consolata têm comunidades.Até Cantanhede se fez representar com um autocarro

texto LUCÍLIA OLIVEIRA * foto ANA PAULA

Urgência GuruéFrancisco Lerma é bispo do Gurué, em Moçambique. Para a sua diocese reverte o projecto do Instituto Missionário da Consolata de 2011. “Ele está confiante na nossa generosi-dade”, afirmou o superior provincial Norberto Louro quan-do o apresentou aos fiéis no Calvário Húngaro. A construção de um centro de acolhimento, onde doentes e acompanhantes se possam abrigar, enquanto esperam por uma consulta, é um projecto que deve envolver a solida-riedade de todos. Um tijolo custa um euro, uma porta 25 euros. Saiba mais em www.fatimamissionaria.pt

Aposta na ChinaNo Ano Europeu do Voluntariado, Francisco Lerma, bis-po do Gurué, Moçambique, defendeu que “o missionário é voluntário, por excelência, para toda a vida”. Despojar-se e dar-se à missão leva-o além-fronteiras, em contacto com outras línguas e culturas, para servir os mais pobres e mar-ginalizados e anunciar-lhes o Evangelho. O bispo anunciou que a China poderá ser o próximo local de missão da Consolata. Mais um país de missão na Ásia, depois da Coreia do Sul e da Mongólia. “Estamos a prever ir para a China, no espírito de contemplar o irmão que sofre”.

tários, em diferentes campos, foram motivo de reflexão, em cada paragem. Olhares atentos para o momento céni-co, no largo do calvário, com base na parábola do Bom Samaritano, puderam contemplar a representação de atitudes de quem corresponde ou não ao desafio de Jesus: “Vai e faz o mesmo”. O grupo dos Jovens Missionários da Consolata representou cenas de situações actuais do “Tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber; era es-trangeiro e hospedaste-me; estava nu e vestistes-me; adoeci e visitastes-me; estava na prisão e foste ver-me”.

Page 21: Família da Consolata

MARÇO 2011 21 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Se fosse uma criança estaria a caminho dos cinco anos e seria chamado carinho-samente pelo diminutivo de GRA: Grupo de Reflexão Allamano. É o rebento mais novo da grande Família Missionária da Consolata. Escolheu o nome do funda-dor do Instituto, José Allamano, como garante da sua própria identidade.É um grupo de reflexão sobre a missão e temas actuais. Neste ano pastoral, o ca-minho percorrido é duplo: por um lado, a reflexão a partir da nota pastoral dos bispos portugueses sobre a missão, já que é um grupo missionário. Por outro lado, vai descobrindo Allamano através dos seus ensinamentos escritos.

Para o GRA, a 21ª Peregrinação da Família Missionária da Consolata ofe-receu-lhes um presente. Coube aos seus membros transportar os estandartes de Nossa Senhora da Consolata e do Beato Allamano, da capelinha das Aparições até à igreja da Santíssima Trindade. Este gesto simbólico “exige compromis-

Grupo mais jovem da Família Missionária da Consolata

Allamano e a missão no centro so”, salienta Nuno Prazeres, animador do grupo. “É o reconhecimento de que há lugar para nós”. A apresentação ofi-cial do grupo aconteceu na assembleia da Família Missionária da Consolata, em Novembro de 2010, se bem que já anteriormente o grupo tivesse desen-volvido diversas tarefas.O GRA nasceu a 13 de Outubro de 2006, fruto da exigência de algumas pessoas próximas da Consolata que, não estando ligadas a nenhum outro grupo, procura-vam um espaço de encontro e de refle-xão. “Achamos que temos de criar tempo e espaço de formação para os elementos do grupo”, inspirado no carisma do beato José Allamano, afirma Nuno Prazeres.“O grupo pretende que a sua reflexão saia para fora” do seu ambiente. “Temos feito actividades para que a sociedade civil possa vir ter connosco e reflectir”, salienta o animador. A primeira dessas actividades ocorreu em 2008, com um debate sobre a lei do divórcio, então re-centemente aprovada. Em 2010 e ante-

cipando a vinda do Santo Padre a Por-tugal, o grupo promoveu um encontro com a vice-postuladora da canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto, irmã Ângela Coelho, sobre a mensagem de Fátima, no contexto de crise actual.Além de promover debate e reflexão missionária, o GRA partilhou, ao longo de quatro anos, as suas reflexões, atra-vés do site da Consolata. Enquanto gru-po da Família Missionária da Consolata, tem tomado parte em várias actividades e celebrações, como a festa da Conso-lata em Águas Santas, visita ao bairro do Zambujal, e esteve representado na mini-assembleia da zona sul da Família Missionária da Consolata.Com 13 elementos, de idades entre os 30 e os 48 anos, o grupo tem como assis-tente espiritual o padre Elísio Assunção. Para além dos encontros mensais pre-senciais, utiliza as plataformas digitais para se animar espiritualmente, entre o tempo que medeia os encontros.Consultar: www.fatimamissionaria.pt

Sob uma chuva persistente, a caminho da igreja da Santíssima Trindade para a celebração da Eucaristia

Page 22: Família da Consolata

FÁTIMA MISSIONÁRIA 22 MARÇO 2011

Gente nova em missãoGente nova em missão

Olá, pequenos missionários!Estamos em Março. Está chegar a Primavera e também o Carnaval. Queremos que vocês aproveitem esta festa para se divertirem e usarem a vossa imaginação para fantasias bonitas e originais. Hoje, trazemos a história do Manuel, um rapaz simpático, como vocês. Desejoso de mudar o mundo para melhor.

Uma catequese diferenteChama-se Manel, para os mais próximos. É um rapaz lisboeta, de 10 anos, bem-disposto e de bem com a vida. Adora os seus pais, enfermeiros de profis-são. Juntos, vivem felizes, nos arredores da capital. O pai do Manel trabalha num hospital central de Lisboa e a mãe num centro de saúde de uma das zonas mais po-bres da cidade. No bairro

vivem muitos emigrantes de diferentes países. É um bairro muito complicado, onde existe um gabinete de enfermagem ligado ao centro de saúde e à comu-nidade paroquial. A mãe do Manel chama-lhe a sua se-gunda casa, pois está lá des-de o seu começo e conhece bem os utentes todos.Desde pequenino, o Manel adora ir com a mãe para

este gabinete, durante os tempos livres. Tem aí mui-tos amigos da sua idade, com quem brinca. Ao longo do tempo, o Manel já viu histórias felizes e outras tristes, umas com finais fe-lizes e outras nem por isso.Como é baptizado, discípulo de Jesus, o Manel frequenta a catequese e encara com res-ponsabilidade esta sua cami-nhada. Ajuda-lhe a compre-

texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

Page 23: Família da Consolata

MARÇO 2011 23 FÁTIMA MISSIONÁRIA

ender melhor muitas coisas, assim como os Evangelhos.

Num sábado frio mas so-larengo, a catequese era so-bre as palavras de Jesus: Vois sois o sal da terra e a luz do mundo. A catequista expli-cou que é sal e luz do mundo quem ajuda os que mais pre-cisam de comida, de medica-mentos, de cuidados de saú-de. Desde que a criança está

na barriga da mãe, a saúde é muito importante. Aqueles que gostam da vida com mais sabor, ou seja, com mais “sal”, dedicam parte do seu tempo a ajudar e a melhorar os cui-dados de saúde. Isto é fazer o que Jesus pede. O Manel está muito entusias-mado a ouvir a catequista. Porque não fazer uma visita ao gabinete de enfermagem onde trabalha a sua mãe? Ela

poderia falar da sua expe-riência com os seus colegas.E assim aconteceu. Foi uma visita maravilhosa. Os cole-guinhas do Manel puderam ver e ouvir que há meninos com dificuldades económi-cas, que têm uma má alimen-tação. As mães não podem faltar ao trabalho quando estão doentes e não podem comprar coisas que melho-rem a sua qualidade de vida.

É preciso que haja quem seja luz do mundo, para que não faltem cuidados de saúde e alimentação apropriada a estes meninos e eles possam crescer fortes e saudáveis. É muito importante dar a co-nhecer estas situações. Por isso o grupo organizou uma exposição no Centro de Ca-tequese a que chamaram: “A nossa PPE” – a nossa primei-ra pequena evangelização.

Actividade1º Usado para dar

mais sabor 2º Tor-

nam o organismo re-

sistente às doenças

3º O que ilumina

4º A ciência que cura

5º Nome da persona-

gem da história

Princípio 4.ºAs crianças têm direito a crescer e criar-se com saúde. Para isso, as futuras mães também têm direito a cuidados especiais, para que os seus filhos possam nascer saudáveis. Todas as crianças têm também direito à alimentação, habitação, recreação e assistência médica.

O meu momento de oração:Querido Jesus:

Obrigada por me dares a vida. A vida é um dom, deve ser cuidada e tratada com carinho. Por isso a minha oração de hoje é por todos os meninos e por todas as grávidas que não têm

os cuidados de saúde e a alimentação necessários. Que eles saibam que tudo

fazes para que outros, como eu, possam ir ao seu encontro levar-lhes o que precisam. E que estás sempre ao seu lado. Que a minha vida seja mais saborosa, porque deixei entrar no meu coração a tua Palavra e a tua Luz.

Solução do número anteriorBrAsIL

COrEIADO sUL

ITáLIA POLóNIA

MOçAMBIQUE

VENEzUELA

DJIBUTI

ETIóPIA TANzâNIACOLôMBIA

EsPANhA POrTUgAL

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 24 MARÇO 2011

TEMPO JOVEM

Vida afectiva

e efectiva

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MARÇO 2011 25 FÁTIMA MISSIONÁRIA

“Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o que quer que

seja. Compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não

há vendedores de amigos, os homens deixaram de ter amigos”In “o Principezinho”, A. Saint-Exupéry

sociedade actual é caracterizada pela ideologia do individualismo e pela cul-tura do consumismo. A fraqueza dos laços afectivos em conjunto com a racio-nalização excessiva, levam a um esvazia-mento afectivo da existência.Muitas pessoas andam constantemente à procura de sensações fortes, através de actividades radicais, consumo de substâncias, consumo compulsivo de distracção e divertimento, onde se pro-jectam para o mundo externo (concur-sos, reality shows, etc) para colmatar o esvaziamento afectivo que sentem.Quando, nos dias de hoje, questionamos jovens acerca do futuro, obtemos respos-tas tais como: “sei lá”, “não penso nisso”, “ainda sou novo para me preocupar com isso”, “primeiro quero gozar a vida”. São afirmações que, na maioria das vezes, revelam apenas uma única problemáti-ca: a perda do sentido da vida.A sociedade de hoje, onde predomina a cultura do consumo excessivo, rápido e imediato, leva a uma perda de valores que influencia o jovem na valorização do ter em detrimento do ser. As dinâmicas sociais de consumismo originam uma postura individualista, onde os jovens se distanciam dos grupos de pertença perdendo os vínculos face-a-face, do “estar com”, iludidos com relações esta-belecidas através das novas tecnologias.

Os jovens de hoje são exímios tecnólo-gos, lidando com destreza com teclas e teclados, contudo, não conseguem ler as emoções e os sentimentos do outro.A cultura latente é a do narcisismo, onde a finalidade é a valorização do Eu, onde a obtenção de satisfação sur-ge nas relações utilitárias, de carácter precário e efémero. Há um desinteres-se e uma desvalorização da interiori-dade, predominando a exterioridade do existir. Com a diminuição do in-vestimento em trocas afectivas e uma auto-centração feita do enaltecimento de si, surge a experiência da falta de sentido e de vazio existencial.A aparência e a exibição são hoje mais importantes do que o projecto existen-cial como procura de significado para a existência. Muitos vivem sem direcção e sem expectativas, revelando assim uma atitude niilista face ao futuro. A força e a envolvência do consumismo levam a um sentimento permanente de insatis-fação, porque a felicidade atingida não é duradoura, é momentânea e leva a que a pessoa procure constantemente novos objectos de satisfação.A verdadeira felicidade na sociedade contemporânea tende para o infini-to, surge quase como inalcançável, o que leva a pessoa a não conseguir colmatar a sua falta, tornando a vida

sem sentido, levando ao isolamento, à angústia, e mergulhando no vazio.Entende-se assim, como é que numa sociedade que se apresenta como a “civi-lização da felicidade”, surgem e aumen-tam, simultaneamente, problemáticas como a depressão, ansiedade, stress; sobretudo nas faixas mais jovens. Ter acesso a muita coisa não é representa-tivo de maior felicidade.

Uma porta de esperançaPara combater este problema, há que ajudar os jovens, em especial, na abor-dagem da sua situação existencial e a explorar o valor de viver em maior autenticidade, de acordo com os seus ideais, prioridades e valores. As pesso-as devem reorganizar a sua existência, procurando a veracidade a partir de si, para que possam compreender os seus valores e projectos. Devem também questionar o seu projecto existencial.O foco desta abordagem deverá ser a auto-consciência. Deve ser promovida nas pessoas uma atitude activa perante as situações que constituem o estar-no--mundo. Devem levar-se a questiona-rem-se acerca do propósito da sua vida: qual tem sido a maior fonte de encora-jamento da minha vida? Quais foram os melhores e/ou piores momentos da minha vida? O que é que já fiz pelos ou-tros que me fez sentir bem? O que quero realmente da vida? E outras questões.O objectivo é o verdadeiro compro-misso com as respostas escolhidas, o compromisso com o seu projecto exis-tencial e o compromisso com os outros de forma mais profunda e verdadeira. Esta será a mola propulsionadora para a mudança individual; para a valori-zação de valores, como o bem, o mal, o amor, a generosidade e a solidarie-dade, como bens de consumo para o alcance da verdadeira felicidade e não como bens mercantis.

texto PATRÍCIA CHAPELAS foto LUSA

Deve ser promovida

nas pessoas uma

atitude activa

perante as situações

que constituem o

estar-no-mundo

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 26 MARÇO 2011

texto DARCI VILARINHO foto ANA PAULA

SEMENTES DO REINOSEMENTES DO REINO

Do pãoque sobra

ao pão que falta

em só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”.A quaresma abre com este convite de Jesus, como um

tempo único de escuta quotidiana da Palavra do Senhor. Há que extrair desse poço profundo a água pura que refresca a nossa vida. “O pão que sobra da vossa mesa é o pão do esfomeado; o vestido pendurado no vosso armário é o vestido de quem vai nu; os sapatos que não calçais são os sa-patos do descalço; o dinheiro que guar-dais escondido, é o dinheiro do pobre; as obras de caridade que não fazeis são ou-tras tantas injustiças que praticais”. São palavras de São Basílio, com 1.600 anos, mas que, ainda hoje, revelam as nossas grandes omissões. E se fizéssemos um exame de consciência sobre esta doloro-sa matéria? Na sua dimensão baptismal e penitencial, a quaresma é tempo ím-par de conversão pessoal e comunitária. Conversão, neste caso, quer dizer esco-lha consciente e convicta do Evangelho como norma de vida e como critério das nossas relações e do nosso empenha-mento a favor da comunidade humana. Há pessoas que vivem só para si mes-mas, sem se incomodarem com os pro-blemas dos outros. Mas há também muita gente que, sem dar nas vistas, dis-tribui calor, apoio, conforto e simpatia.

Que a quaresmanos inspireum estilo de vida mais sóbrioe austero e nos abra os olhos paraas necessidadesdo nosso mundo

Quantas e quantas pessoas há por aí que se dedicam, por exemplo, à recuperação de outras pessoas? Quantos e quantos “voluntários”, de olhos abertos sobre o mundo, a repartir com os outros o seu pão, o seu tempo, a sua vida!

Os testemunhos falamNunca esquecerei o testemunho daquela freira de 60 anos, a simpática Irmã El-vira, numa comunidade de recuperação de drogados. O seu método? Incrível, mas verdadeiro: a oração. Sair da droga através da fé: “Trabalho empenhativo: na cozinha, no campo, no jardim. Tudo organizado por nós. Regras claras: não se fuma, não há televisão. Aprendemos o valor do sacrifício para nos libertarmos da mentalidade errada do «tudo e já». E,

depois, a oração que ritma os vários mo-mentos do dia. A minha fé, vivida com autenticidade, torna-se terapia para estes rapazes. Não faço mais do que distribuir o amor que Deus me deu. Ensino a viver a vida assim como ela é, com sombras e luzes, vitórias e derrotas... A religião é fundamentalmente uma pessoa: Cristo. Podes confrontar-te com Ele, com a sua Palavra, e mudar de vida”.E não fica por aqui. A sua acção toca também as famílias, porque os proble-mas dos jovens desorientados estão muitas vezes na sua situação familiar. Faz encontros regulares com os pais e diz-lhes simplesmente: “Convertam-se, mudem de vida!”. No princípio, pergun-tavam: “Que quer dizer converter-se?”. Ela olhava-os de frente e respondia-lhes: “Converter-se quer dizer que se tens uma amante deves deixá-la, se roubas não deves voltar a roubar, se tratas mal a tua mulher ou os teus filhos deves começar a respeitá-los, se a tua vida é uma mentira, deves ter a coragem de tirar a máscara diante deles e dizer-lhes que também tu és um fraco, tens medo, precisas de ser perdoado, compreendido”. É apenas um testemunho, mas pode ajudar.Que esta quaresma nos ajude a partilhar a nossa vida, esvaziando-nos de tanta coisa que entope os canais das nossas relações com Deus e com os outros. Que a quaresma nos inspire um estilo de vida mais sóbrio e austero e nos abra os olhos para as necessidades do nosso mundo.

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MARÇO 2011 27 FÁTIMA MISSIONÁRIA

A palavra faz-se missãoEM MARÇO

INTENçÃO MISSIONÁRIA

9º Domingo Comum

Dt 11, 18-28; Rom 3, 21-28; Mat 7, 21-27

“A casa não abateu”De nada valem fórmulas, ritos ou observâncias se não forem acompanhados

por atitudes de sintonia com o Evangelho. São estas que mais agradam ao

Senhor e testemunham a nossa fé. Tudo o resto é castelo construído sobre

a areia que o mínimo contratempo fará desabar. Constrói sobre rocha firme

quem cumpre os mandamentos, quem é fiel na luta e constante na fé.

Ajuda-me, Senhor, a compreender que no projecto do Reino cada um de nós é construtor e construção.

1º Domingo da Quaresma

Gen 2, 7-9; 3, 1-7; Rom 5, 12-19; Mat 4, 1-11

Viver da Palavra“Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de

Deus”. Vai certamente sair muita palavra da boca de Deus nesta quaresma.

Vão surgir muitos convites a mudar de vida, a procurar o essencial e a

confiar novamente no Senhor.

Que este tempo sagrado me renove e faça crescer na comunhão com Deus e os irmãos.

2º Domingo da Quaresma

Gen 12, 1-4; 2Tim 1, 8-10; Mat 17, 1-9

Subir ao monteSubamos ao monte com Jesus. Com Cristo andemos pelos caminhos

da Páscoa: escutando a Palavra de Deus, despojando-nos daquilo que

não serve, cumprindo a vontade do Pai e entrando na nuvem da nossa

comunhão com Deus. Levemos ao mundo sementes de transfiguração

pela luz das boas obras e pela veste branca da nossa vida.

Que a luz da tua Palavra, Senhor, inunde todo o meu ser e me faça no mundo reflexo da tua claridade.

3º Domingo da Quaresma

Ex 17, 3-7; Rm 5, 1-8; Jo 4, 5-42

Fonte de água vivaÉ tempo de à ir fonte. Com o nosso cântaro vazio a precisar de uma água viva

que nos mate a sede. “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba”. Talvez

andemos perdidos ou afogados noutras águas. Talvez bebamos águas sujas

de cisternas rotas. Só Deus, fonte de água viva, nos pode saciar. Quem é

Deus? Como é Deus? Onde está Deus? Ter sede de Deus e procurar essa

fonte é já encontrá-lo e com Ele saciar a nossa sede.

Dá-me, Senhor, da tua água que refresque toda a minha vida.DV

Acabámos há pouco de celebrar a semana de oração pela unidade dos cristãos? E andamos a fazer isto há largas dezenas de anos, sempre nomês de Janeiro. Podemos interrogar--nos porque é que ainda não chegámos à unidade. Será que as nossas orações são mal feitas ou são insuficientes? Só Deus sabe ao certo qual é o motivo. Mas nós baseados na experiência também podemos tirar algumas conclusões. A primeira é a falta de diálogo sério. Partimos do princípio infalível de que a nossa fé (religião) é rigorosamente a verdadeira e, por isso, os «outros» é que devem dar o primeiro passo e vir ao nosso encontro. Quer dizer, têm de se converter à nossa religião. Mas os «outros», os da outra religião, dizem o mesmo. Estão convencidos de terem a verdade total e somos nós que devemos dar o primeiro passo e ir ao encontro deles. E assim jogamos ao pingue-pongue como se tudo não passasse de uma brincadeira. Ora isto vem acontecendo há muitos anos e acontece ainda hoje, sem esgrimas nem outras armas. Mas antigamente, aqui há uns séculos atrás, a «coisa» era mais séria. Tocavam-se os clarins e gritava-se: “Às armas!”. Que a guerra é santa! E prendia-se, torturava-se e matava-se muita gente. Foi assim do lado de cá e foi assim do lado de lá. A História é mestra, mas nós não aprendemos a lição.

MC

Para que o Espírito Santo infunda luz e força nas comunidades cristãs e nos fiéis perseguidos por causa do Evangelho onde quer que se encontrem

Religiõesque matam

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O QUE SE ESCREVE O QUE SE DIZ

Sal e LuzUm título bonito, tirado do Evangelho. É apelativo, abre o apetite e convida à

leitura. Ser sal e luz abrange uma forma de pensar e sentir, uma atitude, um

modo de comunicar consigo próprio e com a humanidade. Este livro,

diz-se, pretende ser um manual que aborda de forma bíblica a “assertividade”

contribuindo também para o crescimento pessoal de cada indivíduo.Autora: Cláudia NG Deep | 216 páginas | preço: 14,75€ | Paulus Editora

Agora que o bispo do Gurué, Francisco Lerma veio a Fátima presidir à peregrinação da Família Missionária da Consolata, em

Fevereiro, poucos meses após a sua ordenação episcopal, fica bem apresentarmos aos nossos leitores este livro da sua autoria. Trata-se de um manual de estudo, rigorosamente científico, para alunos do ensino superior em Moçambique. Mas o livro é interessante para todos os leitores, qualquer que seja a sua nacionalidade. Bem apresentado e agradável de ler. E já vai na sexta edição, o que é muito bom sinal. Autor: Francisco Lerma Martinez, IMC204 páginas | preço: 8,00€Paulinas Editorial – Maputo

Antropologia CulturalA propósito deste documento, o próprio Santo Padre escreve: “Desejo que, através desta exortação apostólica pós--sinodal, as

conclusões do Sínodo dos Bispos influam eficazmente sobre a vida da Igreja e sobre a relação pessoal com as sagradas Escrituras, “para que a Bíblia não seja apenas uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e actual”.Autor: Bento XVI216 páginas | preço: 5,50€Editorial A.O.

A Palavra do Senhor

Alguém escreveu que “Anel e Sandálias” é um livro fascinante, escrito por um homem cativante, que é o cardeal Sean. Embora trate coisas de Deus,

da fé e da doutrina Católica, o livro lê-se como se fosse um romance. Cada página puxa pela outra no desejo constante de saber o que vem a seguir. É que a seguir vem sempre alguma novidade: um dito, um testemunho, uma citação espirituosa que alegrae faz bem. Excelente tradução.Autor: Sean O’Malley168 páginas preço: 11,50€Paulinas Editora

Anel e Sandálias

Um livro cheiode curiosidades que despertama nossa atenção a partir do título. São receitas, mas receitas especiais. Referem-sea Deus, mas

também se referem aos homens;por isso são receitas de humanização.Além do mais, o texto é provocatório.O autor, usando diferentes tipos de letra, quase nos obriga a ler o quea ele lhe parece mais importante.O resto, e é muito, só vendo, só lendo. Recomendável para todos, sejam eles quais forem.Autor: Manuel Morujão, S.J.216 páginas | preço: 10,00€Editorial A.O.

Receitas de humanização

Educação sexual dos 0 aos 6 anosUm tema que se tem tornado nos últimos tempos cada vez menos tabu – a sexualidade – é tratada neste livro com sabedoria

e delicadeza, mas também com profundidade, chamando as coisas pelo seu próprio nome. Este projecto oferece um contributo de grande interesse para os pais e para todos os docentes que trabalham nesta área.Autora: C. Hernández Sanchez del Rio112 páginas | preço: 12,50€Papa-Letras Editora

Trinta páginas do tamanho de uma palma de mão, escritas de forma um tanto «misteriosa»são afinal o produto de uma reflexão sobre a Paixão e

Ressurreição de Cristo e um milagre subsequente.Autora: Teresa Vinagre30 páginas | preço: 5,00€Editora Lucerna

Ana, a Paixão e a Ressurreição

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 28 MARÇO 2011

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MARÇO 2011 29 FÁTIMA MISSIONÁRIA

O QUE SE ESCREVE O QUE SE DIZ

O que me acontecena puberdade?

Em geral todas as crianças ou adolescentes contam uns aos outros o que lhes aconteceu quando entraram na puberdade,

entre os 10 e os 12 anos, mesmo sem saberem o que significa esta palavra. E contam baixinho como se fosse um segredo. A autora deste livro ajuda os adolescentes – rapazes e raparigas – a compreender o que se passa com eles nessa idade, sem complexos, mas com muita delicadeza. Ajuda também os pais e educadores.Autora: Mariela Castro Espín128 páginas | preço: 10,00€Editorial Presença

A recepção do ConcílioVaticano II na diocese da Guarda

Para ser uma tese de doutoramento em história da Igreja não fica nada mal este volume de 800 páginas, óptima encadernação e apresentação.

O tema central, como se escreve no título, é o Concílio Vaticano II, considerado como um dos mais significativos acontecimentos da Igreja católica nos últimos tempos.Ao autor resta-lhe vasculhara história, indo aos arquivose bibliotecas ver o que, acercado Concilio, se escreveu e se cumpriu ou não cumpriu.Claro, o autor como bom observador vai buscar dadose situações a uma Igreja muito mais antiga que a nossa, a fimde ganhar fé para justificar assuas asserçõesAutor: Henrique Manuel Rodrigues dos Santos802 páginas | preço: 32,00€Paulus Editora

Optimismo no Sudão“O que se está a passar no Sudão traz uma onda de optimismo e encoraja-nos a olhar para a África com esperança, a reconhecer sem preconceitos as surpresas agradáveis com que as gentes de África nos podem brindar, apesar dos problemas velhos e novos que o continente enfrenta”.Manuel FerreiraAlém-Mar | Fevereiro 2011

Desafio aliciante“A família é o lugaronde se aprende a viver o amor incondicional, imagem do amor de Deus. Por isso, ela constitui um desafio difícil mas, ao mesmo tempo aliciante, quefaz dela um lugarde excelência,de aprendizagem e preparação para a vida”.António Coelho, S.J.Mensageiro Coração JesusFevereiro 2011

O mesmo Cristo“O ano entrou já em velocidade de cruzeiro. Acabou-se a euforia das festas, agora é arregaçar as mangas e meter-se em cheio no trabalho e percorrer, com entusiasmo, os caminhos da vida e da fé. E sobretudo fazê-lo com muita confiança, porque o Deus nascido em Belém, apresentado no Templo, baptizado no Jordão, é o

mesmo Senhor que agora nos anuncia a Boa Nova do Reino”. José Agostinho SousaValentes | Fevereiro 2011

Marginalização“Hoje vivemos, sobretudo nas sociedades mais avançadas, uma condição muitas vezes marcada por uma pluralidade radical, por uma marginalização progressiva na religião da esfera pública, de um relativismo que atinge os valores fundamentais”.Bento XVIO. R. | 5 Fevereiro 2011

Espírito e missão“A missão, da qual o Espírito é protagonista, tem de responder a alguns desafios lançados pelos tempos que correm: a coragem da criatividade apostólica; a solidariedade e o diálogo; o apelo das fronteiras; o risco e a insegurança”.Tony NevesBrotéria | Janeiro 2011

Dinamismo“Precisamos de recuperar o dinamismo missionário da fé e sermos missionários pelo contacto pessoal e pelo contágio das nossas vidas. Foi esse dinamismo que fez com que os Apóstolos se lançassem no anúncio do Evangelho”.António FariaAcção MissionáriaFevereiro 2011

Vivemos como objectos“Movemo-nos hoje no tempo mais ou menos como os objectos se deslocam no espaço, e os acontecimentos de que somos em parte sujeito e em parte objecto são todos mais ou menos explicáveis pelas leis da natureza, sem liberdade nem responsabilidade”.António CoutoVida ConsagradaFevereiro 2011

Ataques à Igreja“Alguém duvidará que os ataques e cortes orçamentais à imprensa local, às instituições de solidariedade e agora ao ensino privado são, no fundo, ataques à Igreja e aos cristãos? Os últimos anos têm sido muitos pródigos em leis e legislação contra a Igreja Católica e em alguns casos contra a liberdade religiosa”.Rui RibeiroO Mensageiro10 Fevereiro 2011

Novos conhecimentos“Faça tudo o que estiver ao seu alcance para conhecer pessoas novas. Estabeleça uma alargada rede de suporte. Deixe que as pessoas o/a ajudem. Elas sentir-se--ão bem e você e a sua família também”.Autora: Helena Águeda MarujoFamília CristãFevereiro 2011

Novos talentos“No vasto universo do voluntariado não podíamos deixar de salientar o voluntariado missionário. Cada vez em maior número, voluntários leigos partem em missão, oferecendo o seu tempo e os seus talentos para erguer projectos em países onde faltam as condições básicas para uma vida digna”.José Antunes da Silva | Contacto svd | Jan./Fev. 2011

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 30 MARÇO 2011

8 Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | [email protected] 8 Rua D.a Maria Faria, 138 Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | [email protected] 8 Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM Telefone 214 260 279 | [email protected] 8 Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | [email protected] Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | [email protected]

Donativos de apoio aoCentro de Acolhimento

Gurué, Moçambique

Solidariedadevários projectos

Gurué

tijolo 1 euro

porta 25 euros

Acolhimento a doentes e acompanhantesParóquia do Gurué, MoçambiqueImagine-se doente, a dormir ao relento, ou ter um filho hospitalizadoe não poder estar perto dele. Isso acontece na diocese de Gurué,que tem dois milhões de habitantes e apenas um hospital.O bispo da diocese, Francisco Lerma, missionário da Consolata,pretende construir um centro de acolhimento paradoentes e acompanhantes.

pregos 5 euros

sacos de cimento15 euros

telhas 10 euros

Projecto 2011

viga de madeira20 euros

GESTOS DE PARTILHA

Escola sEcundária dE Em­pada Guiné­Bissau Anónimo – 20,00€; Manuela Ferreira – 20,00€; Manuela Bravo – 493,00€; Matil-de Claro – 67,00€; Leonor Santos – 13,00€. Bolsas dE Estudo Missão Católica (Nürenberg - Ale-manha) – 500,00€; Teresa Silva – 50,00€; Ramiro Martins – 250,00€; Arnaldo Silva – 250,00€; José Gonçalves – 250,00€; Cidália Viei-ra – 250,00€. padrE amadEu

Paróquia do Gurué, Moçambique Cabaz de Natal (Mulheres Missionárias da Consolata – Mem Martins) – 500,00€; 9º ano da catequese (Chainça) – 15,00€; Rosa Pinheiro – 20,00€; Virgínia Santos – 20,00€; Júlio Tomás – 10,00€; Guilhermino Marques – 250,00€; Jeanice Coelho – 25,00€; Lurdes Pinto – 5,00€; Florinda Garrochinho

– 5,00€; Anónimo – 5,00€; Filipa Durães – 10,00€; Anónimo – 5,00€; Ventura Santos – 10,00€; Piedade Mateus – 45,00€; Susete Teixeira – 6,00€; Anónimo – 100,00€; Ricardo Carreira – 30,00€; Lucinda Silva – 15,00€; Teresa Capucho – 30,00€; Isaura Santos – 25,00€; Conceição Carrasqueira – 30,00€; Amélia Gomes – 100,00€; António

Dias – 25,00€; Maria Fernandes – 100,00€; Luzia Carvalho – 25,00€; Maria Gomes – 200,00€; Helena Barros – 60,00€; Rufina Covas – 20,00€; Isabel Martins – 100,00€; Quitéria Silva – 15,00€; Conceição Marques – 20,00€; Rosalina Correia – 20,00€; Luísa Salvador – 50,00€; Anónimo – 10,00€; Vitória Sousa – 15,00€; João Costa – 30,00€; Helena Nogueira – 20,00€; Arminda Vasconcelos – 50,00€; Júlia Pires – 25,00€; José Soares – 25,00€; António Ribeiro – 50,00€; Rosa Adriano – 20,00€; Anónimo – 25,00€; António Cardoso – 25,00€; Solange Maximiano – 100,00€; Domingos Xavier – 20,00€; Auto São Pedro – 10,00€; Alípio Morais – 20,00€; Leonor Rodrigues – 30,00€; António Gonçalves – 25,00€; Alice Queirós – 3,00€; Irene Ponte – 6,00€; Maria Menina – 3,00€; Madalena Margarido – 3,00€; Fernanda Santos – 13,00€; João Dias – 18,00€; António Gaspar – 6,00€; Margarida Soares – 50,00€; Rosa Reis – 13,00€; Isaura Fonseca – 13,00€; Júlia Rodrigues – 10,00€; Amália Duarte – 5,00€; Fernanda Baptista – 5,00€; Conceição Ferreira – 40,00€; Mariana, Raquel, Maria Inês e António Pedro – 50,00€; Manuela Freixial – 15,00€; Josefa Dinis – 13,00€; Emília Cardoso – 15,00€; Raul Fernandes – 15,00€; Tarcílio Rodrigues – 3,00€; Elisa Mendes – 30,00€; Lourdes Amaral – 30,00€; Armanda Pereira – 15,00€; Glória Carvalho – 5,00€; Dulce Ribeiro – 40,00€; Filomena Neto – 43,00€; José Vilão – 13,00€; Natália Costa – 10,00€; Lúcia Oliveira – 50,00€; Purificação Carvalho – 50,00€; Alexandrina Sousa – 20,00€; Elvira Pereira – 10,00€; Joaquim Castro – 20,00€; Eugénia Marques – 18,00€; Cidália Vieira – 20,00€; Cristina Saraiva – 100,00€; Cândida Barros – 120,00€; Idalina Vinhas – 10,00€; Luís Francisco – 20,00€; Júlia Guimarães – 40,00€; Teresa Silva – 6,00€; Eduardo Alves – 20,00€; António Bernardo – 10,00€; José Lourenço – 20,00€; Anónimo – 20,00€; Anónimo – 10,00€; Alcina Guedes – 10,00€; Hermínia Rosado – 10,00€; Anónimo – 200,00€; Maria Calado – 10,00€; Anónimo – 20,00€. Total geral = 9.766,00€.

marchiol Irene Lopes – 98,00€. padrE José nEvEs – moçam­BiquE Francisco Soares – 500,00€. padrE José salGuEiro – moçamBiquE João Ferreira – 100,00€. padrE toBias oli­vEira – quénia José Palinhos – 250,00€. crianças do padrE paulino – tanzânia Purifica-ção Carvalho – 40,00€. crianças dE mEcanhElas – moçam­BiquE Manuela Ferreira – 30,00€. ofErtas várias João Costa – 43,00€; Maria Dias – 25,00€; Antó-nio Lopes – 40,50€; Celeste Duarte – 43,00€; Manuel Felizardo – 43,00€; Luís Castro – 43,00€; Rosa Valinhos – 118,00€; Manuel Silva – 93,00€;

Fernanda Cunha – 36,00€; Augus-ta Morais – 28,00€; José Palinhos – 43,00€; Lurdes Andrade – 36,00€; Dionísio Salgado – 43,00€; José Al-meida – 93,00€; Rosária Francisco – 100,00€; Helena Ferreira – 29,00€; Fátima Domingos – 65,00€; Manuel Domingos – 65,00€; Carlos Silva – 49,00€; Eugénia Vicente – 43,00€; Aurora Alves – 100,00€; Maria Bor-ges – 50,00€; Casa Rossio – 73,00€; Fátima Carvalho – 131,00€; Anónimo – 93,00€; Lurdes Rosa – 200,00€; Gonçalo Nunes – 43,00€; Manue-la Queiroz – 93,00€; Estrela Cainé – 29,00€; António Guerra – 50,00€; Edith Santos – 32,00€; Sofia Vicente – 93,00€; Amélia Moreira – 43,00€;

Manuel Matos – 43,00€; Hernâni Martins – 46,00€; Matilde Claro – 26,00€; Elisabete Silva – 27,50€; Rosa Rocha – 25,00€; Lurdes Rosa – 143,00€; António Matos – 43,00€; Lúcia Simões – 36,00€; Fátima Ta-vares – 43,00€; Ester Cerveira – 93,00€; Lucinda Caldeira – 53,00€; Conceição Branquinho – 43,00€; Amélia Leandro – 30,00€; Suce-na Bento – 61,00€; António Santos – 27,50€; Maria Rodrigues – 29,00€; Antónia Borges – 33,00€; Fátima Gomes – 33,00€; Assinantes que per-tencem à lista de Alice Rodrigues Pais – 147,00€; Alfredo Nunes – 93,00€; Emília Duarte – 55,00€; Maria Car-doso – 193,00€.

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MARÇO 2011 31 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

VIDA COM VIDA

ais outro mis-sionário que tão cedo par-tiu para Deus, que mal deu

tempo para que se falasse de si. Nasceu em 1911 e só durou até 1951. 40 anos de vida e apenas 15 de sacer-dócio. Mesmo assim, estes 15 anos, aproveitou-os bem. Sendo ainda estudante, ma-triculou-se numa escola do magistério, onde obteve o diploma de professor. In-terrogamo-nos: para que lhe servia tal diploma, se ele estava destinado às missões, onde se falavam outras lín-guas? Que disciplinas iria ele ensinar? Em que língua daria as aulas?A explicação é-nos dada pelo provérbio que diz: “O saber não ocupa lugar!”. E o fun-dador, Allamano, aproveita-va-se desse provérbio quan-do exortava os estudantes do seu seminário: “Rapazes, estudem, estudem, que um missionário vale tanto mais quanto mais línguas souber. E quem diz línguas, diz tam-bém outros saberes, porque na África não tereis biblio-tecas para consultar, nem tempo para isso”.O jovem missionário Suno foi destinado às missões da Etiópia. Para lá partiu em Fevereiro de 1938. Nem por aposta! Apenas che-gou, foi logo encarregado

de dar aulas numa escola em Gimma, que era a sede da diocese local. A seguir, trabalhou com grande en-tusiasmo numa missão que ficava nos arredores da ci-dade. Devido ao seu espírito aberto e conciliador, soube conquistar a amizade do grande sultão muçulmano,

Abba Gifar, de quem obteve muitos favores em prol da missão católica onde tra-balhava. O seu intento não era apenas alcançar favores, mas compreender a religio-sidade dos muçulmanos e, eventualmente, levá-los ao conhecimento do Evange-lho e à fé cristã. Os poucos

Apóstolo entre os estudantes

anos de trabalho em comum não deram para muito, por-que a guerra estragou todos os planos, não só do padre Suno, mas de toda a activi-dade missionária da Conso-lata na Etiópia.Entretanto o padre Suno foi preso e levado para os cam-pos de concentração ingle-ses, donde foi repatriado em 1943. Uma vez na Itália, de-dicou-se com grande suces-so à animação missionária nos seminários diocesanos. Falava aos jovens semina-ristas não tanto da teoria da missão, mas da sua pró-pria experiência missionária que, embora não fosse mui-to longa, era contagiante.Muitos estudantes deixa-ram-se cativar por este ideal e pediram a sua admissão no Instituto da Consolata. Ou-tros ordenaram-se padres diocesanos e tornaram-se párocos zelosos, seguindo um tipo de pastoral imbuída de espírito missionário.Toda esta azáfama do correr para aqui e para ali deu cabo dele em pouco tempo. O cora-ção foi-se abaixo e ele, que já de si era de constituição fra-ca, teve de abrandar o ritmo de trabalho e, passado pouco tempo, teve mesmo de se reti-rar de todo. Fizeram-se várias tentativas para o recuperar, mas foi tudo em vão. Faleceu na sua própria terra natal em Novembro de 1951.

José Suno nasceu a 4 de Fevereiro de 1911, em Novara – Itália. Ordenou-se sacerdote

em 28 de Junho de 1936. Partiu para a Etiópia em 1938. Exilado em campos de

concentração ingleses, durante a guerra, regressou a Itália, em 1943, onde faleceu

a 4 de Novembro de 1951

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 32 MARÇO 2011

OUTROS SABERES

Quando em África morre um ancião é como se ar-desse uma bibliotecaApoio à compreensão: Este provér-bio faz o elogio da sabedoria dos mais velhos, sobretudo nos povos onde se privilegia a cultura da oralidade em detrimento da escrita ou da virtual. Não é difícil compreender que os ve-lhos, sobretudo os que têm boa memó-ria, sabem coisas que os mais novos nem sonham. Até há um dito portu-guês que, pela negativa, enuncia uma verdade: “Muito mente o velho na sua terra (não tem quem o desminta) e o jovem em terra alheia”, porque os de longe não sabem o que se passa nou-tra terra distante. Isto acontecia assim porque antigamente não havia rádios, nem televisões, nem outros meios de comunicação. Era tudo de viva voz.Provérbio Mali

Quando um elefante mata outro elefante, ocorrem duas mortes, ao mesmo tempo: a morte do que morre e a morte do que mataApoio à compreensão: Para entender bem este provérbio, cheio de sabedoria, é preciso transpô-lo do elefante para o homem, pois trata-se de uma alegoria onde está subentendida uma virtude

Os macuas são um povo agrícola, originário de Moçambique e da Tanzânia. Com mais de três milhões e meio de pessoas, é o grupo mais numeroso dos povos que integram Moçambique.Os macuas são naturalmente religiosos. Veneram um só Deus, presente em todas as suas manifestações culturais.

Acreditam no mito do Monte Namuli, segundo o qual, Muluku, Deus, é a Força-vital que criou os homens e os animais. O povo macua é naturalmente inclinado para o sorriso. Sorrir é sinal de amizade e favorece o início de uma boa relação. Quem chega, mesmo que seja

desconhecido, é acolhido com o sorriso, sinal de que não tem nada a temer.A hospitalidade é um valor muito importante entre os macuas. Mesmo as famílias mais pobres dispõem sempre de uma habitação reservada aos hóspedes, com quem partilham o que têm.A saudação obedece

a um ritual. Quando se aproximam, acompanham as palavras de saudação com um bater das mãos. Ao chegar junto de um grupo, o macua pousa no chão o que tem consigo, para saudar os presentes, sempre com a mão direita, a mão forte, para mostrar que não guarda nada contra a pessoa que saúda.

Memórias guardadastexto MANUEL CARREIRA foto FM

Retrato do povo Macua

que o elefante não tem, mas tem-na o homem: é a consciência dos seus pró-prios actos, bons e maus. Depois de os praticar eles ficam a pesar durante toda

a vida. Se forem bons, serão para ale-gria; se forem maus serão para tristeza.Provérbio Macua

Uma boca pode secar uma árvore verdeApoio à compreensão: Tem a ver sobre-tudo com as críticas. Nada mais perigo-so do que a má-língua, ou pior ainda, o falso testemunho. Diz-se: “Palavra fora de boca é pedra fora de mão”. Depois de partir já se não sabe onde vai parar. Em geral, os resultados são negativos e qua-se sempre irreparáveis. Neste provérbio do povo Samburu, a última parte, “fazer secar uma árvore verde”, pode significar estragar a vida de alguém para sempre.Provérbio Samburu

Deus mastiga o milho para as galinhas comerem, por-que elas não têm dentesApoio à compreensão: Deus vela por to-dos os seus filhos, mas tem um carinho muito especial para com os mais pobres e fracos. Na Bíblia estes estão represen-tados pelos órfãos e viúvas que eram os mais abandonados e oprimidos. A inter-venção de Deus está bem patente na maior parte dos milagres que Jesus rea-lizou em favor dos pobres. As bem-aven-turanças são outro exemplo bem claro.Provérbio da África Ocidental

Idoso é uma biblioteca ambulante

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MARÇO 2011 33 FÁTIMA MISSIONÁRIA

A MISSÃO É SIMpATICA

Pode acontecer que, depois dum aci-dente grave relacionado sobretudo com viagens, apareça alguém enorme-mente aliviado, narrando que, mesmo em cima da hora de partida, decidira não ir. E nascem as hipóteses mais variadas para explicar o caso: Ou que foi sorte, ou que foi o destino ou mero acaso, ou então uma intervenção de Deus. A salvar um e a punir os demais que pereceram? Eis o mistério!Eu próprio quase estive envolvido, há vários anos, num acidente parecido. En-contrava-me de férias, com os meus co-legas de seminário, num antigo conven-

Ao menino e ao borrachopõe Deusa mão por baixo

to de monges cartuxos, nos Alpes maríti-mos do norte de Itália. Todo o tempo era pouco para poder desfrutar à saciedade a imensa beleza envolvente. Fazíamo--lo frequentemente com caminhadas, montes acima, alguns com altitude su-perior aos dois mil metros, praticando montanhismo e, no caso, alpinismo.Num desses passeios, após acampar, estava eu entretido, jogando às cartas com outros três companheiros. O rei-tor abeirou-nos e, sem delongas, assim nos desafiou: “Amanhã vocês os quatro irão participar numa celebração que terá lugar na Bisalta (2.200 metros), com a

presença do bispo. A partida de casa será às quatro da madrugada”. Exultaram os meus colegas, retraí-me eu, devido a uma dor persistente num pé. “Sendo as-sim, tu ficas”. Bem pena tive!A celebração realizou-se perante uma multidão orante. Pela tarde, sobre-veio uma trovoada impressionante. As pessoas abrigaram-se como puderam. Muitas encostaram-se a um paredão enorme, encimado por uma cruz de ferro. Inesperadamente caiu um raio e quatro pessoas morreram. Dois eram meus colegas. Muitas sofreram quei-maduras mais ou menos graves, entre elas o terceiro colega.Veio-me logo à mente pensar que pode-ria ter-me acontecido a mim. Mas daí a concluir que tinha sido poupado por uma especial preferência divina, não me atrevi a tanto. Seria um insulto aos meus caríssimos colegas que partiram.De igual modo, não considerei desaten-ção ou abandono de Deus um acidente que sofri recentemente. Numa recen-te ida ao médico, saí de casa um pouco atrasado e corri, mais do que aconselha a idade, para apanhar o único táxi que estava na praça. A pressa resultou num valente trambolhão que originou a des-locação do metacárpio de dois dedos da mão esquerda. Com outro táxi, ainda cheguei a tempo ao hospital, mas a san-grar. Expliquei à médica que a culpa fora de uma pedra sobressaída da calçada, da idade e da pressa. Com muita graça e o devido respeito, ela insinuou que Deus também podia tratar um pouco melhor os seus padres. “Ele que ao menino e ao borracho até costuma pôr a mão por bai-xo”. Rimos ambos a bom rir.Eu preferi encontrar uma explicação em Santa Teresa de Ávila. No auge da missão pouco simpática da reforma dos mosteiros que tinham caído na devassidão, a santa caiu duma mula e partiu uma perna. Queixou-se a Jesus, perguntando-Lhe se era aquela a con-sideração que Ele tinha pelo seu traba-lho. Jesus respondeu-lhe: “É assim que trato os meus amigos!”. E ela retorquiu: “Se é assim, agora compreendo porque tens tão poucos!”.

texto NORBERTO LOURO ilustração MÁRIO JOSÉ TEIXEIRA

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 34 MARÇO 2011

FÁTIMA INFORMA

É um convite à oração, penitência e con-versão, a mesma proposta que o Anjo da Paz fez aos Pastorinhos. O Santuário propõe aos fiéis que se dirigem a Fáti-ma, o “Itinerário do peregrino”. Pode ser feito em grupo ou individualmente.O reitor do Santuário de Fátima explica que esta proposta visa alterar as “roti-nas dos peregrinos”, chamando-lhes a atenção para algo diferente. Neste pri-meiro ano do ciclo comemorativo dos sete anos que nos separam do cente-nário das Aparições, dedicado às apari-ções do Anjo, este percurso, mais espi-ritual que físico, pretende ser vivido em atitude de adoração a Deus. Passa pelos lugares das aparições do Anjo aos videntes: Caminho dos Pastorinhos, Loca do Cabeço, Poço do Arneiro, e ter-mina na Capela do Santíssimo Sacra-mento e do Lausperene, junto à igreja da Santíssima Trindade. Em cada momento de paragem é “proposta a evocação de cada uma das três aparições do Anjo”. No final do percurso, os peregrinos poderão deixar um testemunho ou oração, no destacável do folheto que

Itinerário do peregrinoSantuário convidaà adoração a Deuspelos caminhos do Anjo

texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto E. Assunção

Março em agenda

05/08 Semana de estudos da vida consagrada 10/13 Retiro de doentes 12/13 Peregrinação dos

missionários do Verbo Divino

12/13 Congresso do Centro de Preparação para o Matrimónio - CPM 13 Via-Sacra: Percurso Olivais — Fátima 19/20 Peregrinação do laicado carmelita

Atitude crente«Atitude crente» é o tema da confe-rência que decorre a 13 de Março, na basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pelas 16h. O orador é o có-nego Nuno Brás, do Patriarcado de Lisboa. Esta é a quarta conferência do primeiro ano do ciclo comemorativo do centenário das Aparições, no San-tuário de Fátima. A entrada é livre.

SRU em toda a freguesia A Sociedade de Reabilitação Urbana de Fátima (SRU) vai alargar o seu es-paço de intervenção a toda a freguesia. Esta medida visa conseguir uma visão global da freguesia. Aljustrel, definida

até agora como Área Crítica de Recu-peração e Reconversão Urbanística (ACRRU), passa a chamar-se Área de Reabilitação Urbana (ARU). O objecti-vo é intervir para corrigir e preservar a originalidade da localidade.

João Paulo II lembrado em Fátima A Igreja portuguesa vai “viver em fes-ta” a beatificação de João Paulo II, a 13 de Maio, com uma celebração no Santuário de Fátima. O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa recordou o novo beato como “alguém exemplar na santidade”. A beatifica-ção ocorrerá a 1 de Maio, em Roma e será presidida por Bento XVI.

Conjunto em mármore assinala o local da visita do Anjo aos Pastorinhos nos Valinhos

os guiou na caminhada, e depositá-lo em locais assinalados, junto à Igreja da Santíssima Trindade. O guião pode ser

levantado, antes do início da percurso, no Santuário, no início da Via-Sacra e no Posto de Informações de Aljustrel.

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Apenas 7 euros por anoMISSIONÁRIOS DA CONSOLATA | Rua Francisco Marto, 52 | Ap. 5 | 2496-908 FÁTIMATelefone 249 539 430 | 249 539 460 | [email protected] | www.fatimamissionaria.pt

un’altra visione del mondo mwingine mtazamo wa dunia another view of the world otra visión del mundo inny pogląd na świat une autre vision du monde wona wunyowani wa elapo eine andere sicht der welt djôbe mundu di oto manêra

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ProcuropalavrasProcuro palavras certasPara compor um poemaPalavras simples e abertasSem maldades encobertasNem servas de qualquer esquema.

Palavras para rimarCom verdades corajosasCapazes de enxertarNos ânimos a definharEscaladas audaciosas.

Se algumas tens escondidasPorque não as pões aqui?Mais tarde as verás floridasNa seiva de tantas vidasQue dependiam de ti.

João Nascimento | Fevereiro 2011