fan falso positivos

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Para evitar as armadilhas da síndrome do FAN positivo idiopático A presença de uma doença autoimune só pode ser cogitada diante de clínica sugestiva. crioglobulinas autoanticorpos interpretação do FAN O fator antinúcleo, ou FAN, é o principal exame usado na triagem das doenças reumáticas autoimunes. Mas a positividade do teste não determina a presença desse tipo de afecção. Afinal, o FAN costuma ser positivo em 10% a 15% da população normal e sua ocorrência pode aumentar devido ao uso de certos medicamentos, à presença de neoplasias e à vigência de algumas infecções. A valorização desse resultado, portanto, depende da história pessoal e familiar do paciente e, sobretudo, do contexto clínico. Padrões e títulos Outro aspecto a considerar é de ordem mais técnica. Alguns padrões geralmente observados no teste não estão associados a doenças autoimunes sistêmicas, especialmente o pontilhado fino simples em títulos baixos (até 1/160) e o pontilhado fino denso (PFD) em qualquer título. Em contrapartida, o encontro de um FAN em título moderado ou alto, com padrão homogêneo, pontilhado grosso, nucleolar ou centromérico, remete a uma maior possibilidade de afecção autoimune manifesta ou incipiente. Marcadores específicos Um elemento útil para melhor valorizar a positividade do FAN é o rastreamento de autoanticorpos específicos, fortemente associados a doenças autoimunes (veja páginas centrais). edição 1 - ano 1 - junho de 2011 saiba + Pesquisa de anticorpos anti-LEDGF: nova aliada para interpretar um FAN positivo com padrão PFD Num estudo publicado em janeiro na Arthritis & Rheumatism, que comparou o FAN em indivíduos hígidos e em pacientes com doenças reumáticas autoimunes, o PFD ocorreu somente nas pessoas sem processos de autoimunidade. Embora o trabalho tenha demonstrado que esse padrão, mesmo em títulos iguais ou superiores a 1/1.280, possa sugerir a ausência de afecção autoimune, tal resultado, sozinho, não pode ser considerado um parâmetro definitivo, devido ao caráter subjetivo do FAN. Para fornecer uma resposta mais precisa ao clínico, há um novo teste que pesquisa os autoanticorpos associados ao padrão PFD, os quais reconhecem um fator de crescimento celular derivado do cristalino, cuja sigla é LEDGF, do inglês lens epithelium- derived growth factor . Os anticorpos anti-LEDGF são encontrados quase exclusivamente em indivíduos hígidos ou com enfermidades não autoimunes, razão pela qual a identificação de sua reatividade em um caso de FAN positivo com PFD torna improvável o diagnóstico de lúpus e de doenças similares. medicina diagnóstica FAN com padrão pontilhado fino denso

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Diferencia os resultados de FAN

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  • dobr

    a

    Para evitar as armadilhas da sndrome do FAN positivo idiopticoA presena de uma doena autoimune s pode ser cogitada diante de clnica sugestiva.

    crioglobulinasautoanticorposinterpretao do FAN

    O fator antincleo, ou FAN, o principal exame usado na triagem das doenas reumticas autoimunes. Mas a positividade do teste no determina a presena desse tipo de afeco. Afinal, o FAN costuma ser positivo em 10% a 15% da populao normal e sua ocorrncia pode aumentar devido ao uso de certos medicamentos, presena de neoplasias e vigncia de algumas infeces. A valorizao desse resultado, portanto, depende da histria pessoal e familiar do paciente e, sobretudo, do contexto clnico.

    Padres e ttulosOutro aspecto a considerar de ordem mais tcnica. Alguns padres geralmente observados no teste no esto associados a doenas autoimunes sistmicas, especialmente o pontilhado fino simples em ttulos baixos (at 1/160) e o pontilhado fino denso (PFD) em qualquer ttulo. Em contrapartida, o encontro de um FAN em ttulo moderado ou alto, com padro homogneo, pontilhado grosso, nucleolar ou centromrico, remete a uma maior possibilidade de afeco autoimune manifesta ou incipiente.

    Marcadores especficosUm elemento til para melhor valorizar a positividade do FAN o rastreamento de autoanticorpos especficos, fortemente associados a doenas autoimunes (veja pginas centrais).

    edio 1 - ano 1 - junho de 2011

    saiba+

    Pesquisa de anticorpos anti-LEDGF: nova aliada para interpretar um FAN positivo com padro PFD

    Num estudo publicado em janeiro na Arthritis & Rheumatism, que comparou o FAN em indivduos hgidos e em pacientes com doenas reumticas autoimunes, o PFD ocorreu somente nas pessoas sem processos de autoimunidade. Embora o trabalho tenha demonstrado que esse padro, mesmo em ttulos iguais ou superiores a 1/1.280, possa sugerir a ausncia de afeco autoimune, tal resultado, sozinho, no pode ser considerado um parmetro definitivo, devido ao carter subjetivo do FAN.

    Para fornecer uma resposta mais precisa ao clnico, h um novo teste que pesquisa os autoanticorpos associados ao padro PFD, os quais reconhecem um fator de crescimento celular derivado do cristalino, cuja sigla LEDGF, do ingls lens epithelium-derived growth factor.

    Os anticorpos anti-LEDGF so encontrados quase exclusivamente em indivduos hgidos ou com enfermidades no autoimunes, razo pela qual a identificao de sua reatividade em um caso de FAN positivo com PFD torna improvvel o diagnstico de lpus e de doenas similares.

    medicina diagnstica

    FAN com padro pontilhado fino denso

  • triAGEM

    Fator antincleo (FAN) Utiliza clulas derivadas de carcinoma do epitlio larngeo humano, ou seja, as clulas HEp-2, e feito por imunofluorescncia indireta, um mtodo que tem grande sensibilidade, mas baixa especificidade. Por isso, o FAN um exame de triagem na pesquisa de uma afeco autoimune. Na suspeita de doena mista do tecido conjuntivo ou de lpus eritematoso sistmico, um FAN negativo quase sempre afasta essas possibilidades. J na hiptese de esclerodermia, sndrome de Sjgren, polimiosite e dermatomiosite, um resultado negativo torna tais doenas menos provveis, mas no as exclui totalmente. Ademais, a presena de alguns autoanticorpos, como anti-SS-A/Ro, anti-Jo-1 e antiprotena P ribossomal, nem sempre ocasiona positividade no teste de FAN, razo pela qual, diante de quadro clnico muito indicativo de autoimunidade, convm considerar a pesquisa especfica desses marcadores.

    FAN POSITIVO

    Quadro clnico sugestivo da doena?

    AMPLIAR A INVESTIGAO

    SIM

    Pontilhado fino denso Pontilhado fino (

  • DOENA MiStA DO tECiDO CONJUNtiVO

    Anti-RNP A presena de anti-RNP em altos ttulos (>1/1.600), na ausncia de outros autoanticorpos, est particularmente associada doena mista do tecido conjuntivo, mas esses marcadores tambm aparecem em pacientes com lpus e esclerodermia.

    POLiANGiitE MiCrOSCPiCA

    Antimieloperoxidase Os autoanticorpos antimieloperoxidase (MPO) correspondem aos anticorpos anticitoplasma de neutrfilo com padro perinuclear (p-ANCA) na IFI. So detectados em 50% dos casos de poliangiites microscpicas e glomerulonefrites rapidamente progressivas com crescentes, em 30-40% dos portadores de sndrome de Goodpasture e em 35% dos indivduos com sndrome de Churg-Strauss. Podem ainda estar presentes na nefrite lpica, na poliarterite nodosa, em sndromes vasculticas induzidas por drogas e, raramente, na doena de Wegener. A investigao de MPO deve tambm ser feita pela combinao de IFI com Elisa, pois alguns soros reconhecem o antgeno em apenas um dos exames. O mtodo enzimtico fundamental para os casos com FAN positivo, que mascara a interpretao do teste de imunofluorescncia (ANCA). Por outro lado, a IFI identifica um outro padro, o p-ANCA atpico, que est fortemente associado hepatite autoimune tipo I, retocolite ulcerativa e colangite primria.

    POLiMiOSitE E DErMAtOMiOSitE

    Anti-Jo-1 observado em cerca de 25% dos indivduos com polimiosite e est associado sndrome antissintetase, que rene caractersticas como miopatia inflamatria, pneumopatia intersticial, poliartrite, erupo hipercerattica e descamativa na palma das mos e na face lateral dos dedos e fenmeno de Raynaud. Em alguns raros casos, encontra-se o anti-Jo-1 em pacientes com pneumopatia intersticial isolada, o que pode representar uma manifestao inicial da polimiosite.

    Anti-Mi-2 Identificado em 20% dos casos de dermatomiosite, esse marcador especfico da doena.

    LES E SNDrOME DE SJGrEN

    Anti-SS-A/Ro e anti-SS-B/La Os autoanticorpos anti-SS-A/Ro so encontrados em 35% dos indivduos com LES e os autoanticorpos anti-SS-B/La, em 15% dos lpicos, sendo, porm, mais frequentes nos pacientes com sndrome de Sjgren. O anti-SS-A/Ro, em particular, tambm est associado esclerose sistmica, polimiosite e cirrose biliar primria, embora mais raramente. A pesquisa do anti-SS-A/Ro serve como recurso auxiliar na investigao de lpus neonatal e em recm-nascido com bloqueio atrioventricular total.

    ESCLErOSE SiStMiCA

    Anti-Scl-70 Voltado contra a enzima DNA topoisomerase I, est presente em cerca de 20% a 30% dos pacientes com esclerodermia, sobretudo nos que apresentam a forma difusa da doena. O encontro do anti-Scl-70 se associa a envolvimento visceral mais proeminente, sobretudo de pulmo e corao.

    Fibrilarina De 8% a 10% das pessoas com esclerose sistmica apresentam autoanticorpos contra a fibrilarina, o principal componente proteico do complexo U3-RNP nucleolar, o qual participa do processamento de RNA ribossomal recm-transcrito. Esses marcadores se relacionam com a atividade cardiopulmonar da doena e sua presena suspeitada por um padro de imunofluorescncia peculiar no FAN, em que o nuclolo corado de forma grumosa. A identificao definitiva dos anticorpos antifibrilarina pode ser feita por Western blot.

    GrANULOMAtOSE DE WEGENEr

    Antiproteinase 3 A proteinase 3 uma protena contra a qual reagem alguns dos autoanticorpos anticitoplasma de neutrfilos. Caracteristicamente, observa-se imunofluorescncia indireta (IFI) um padro citoplasmtico perifrico, com acentuao da regio central (padro c-ANCA). O anticorpo antiproteinase 3, pesquisado por Elisa, costuma ser detectado em 80-90% dos portadores da forma sistmica e ativa da granulomatose de Wegener. Seus nveis sricos podem refletir o grau de atividade da doena em alguns pacientes, mas no devem ser considerados um parmetro absoluto nesse sentido. Preferencialmente, convm combinar IFI e Elisa, pois 10-15% dos casos so positivos apenas por IFI e 5%, somente pela metodologia imunoenzimtica. Por outro lado, em pacientes comFAN positivo, o mtodo Elisa o de escolha, umavez que a reao de imunofluorescncia do FAN pode mascarar o reconhecimento dos padres p-ANCA e c-ANCA. Vale lembrar que indivduos com outras formas de vasculite de pequenos vasos podem apresentar raramente esses anticorpos.

  • saiba+ uma publicao da a+ medicina diagnsticaresponsvel tcnico: Dr. Rui M. B. Maciel (CRM 16.266)

    Editoras cientficas: Dra. Kaline Medeiros Costa Pereira / Dra. Ana Lcia Ippolito Carbonell Editora executiva: Solange Arruda Produo grfica: Solange Mattenhauer Candido

    As crioglobulinas formam um grupo de protenas que se precipitam no frio, constitudo por imunoglobulinas monoclonais ou, mais frequentemente, por complexos mistos de imunoglobulinas em que um componente, em geral uma IgM, IgA ou IgG, reage contra uma IgG.

    tipos de crioglobulinemiaDo ponto de vista clnico, a crioglobulinemia pode causar dois tipos sindrmicos. Na crioglobulinemia monoclonal em alta concentrao, usualmente se observa um quadro de hiperviscosidade capaz de provocar sonolncia, torpor, coma, petquias planas e acidente vascular cerebral. Na crioglobulinemia mista em menores concentraes, costuma haver um quadro semelhante ao de vasculite de pequenos vasos, com artrite/artralgia, prpura palpvel e glomerulonefrite.

    Cuidados pr-analticosA caracterizao das imunoglobulinas que compem um crioprecipitado realizada pelo mtodo de imunofixao, com o uso de antissoros especficos anti-IgG, anti-IgA, anti-IgM, anti-kappa e anti-lambda. O procedimento para a coleta de sangue precisa ser realizado com tubo pr-aquecido a 37oC. A manuteno dessa temperatura durante o processo de coagulao, retrao do cogulo e centrifugao tambm imprescindvel. Sem esse rigor, pode haver precipitao dessas imunoglobulinas, que, assim, ficam aprisionadas no cogulo e no so detectadas no soro, subestimando o valor final da dosagem.

    Classificao das crioglobulinemias

    Tipo Composio Condies clnicas associadas

    I IgG ou IgM monoclonaisMacroglobulinemia de Waldenstrm, mieloma mltiplo ou leucemia linfoctica crnica

    II

    Imunoglobulinas policlonais e IgG ou IgM monoclonais

    Doena do tecido conjuntivo, manifestaes autoimunes e infeces crnicas

    III ou mista

    Imunoglobulinas policlonais

    Doenas inflamatrias crnicas (como as do tipo II), mas frequente sua associao com a infeco pelo vrus da hepatite C

    Passo 1

    Passo 2

    Passo 3

    Passo 4

    Passo 5

    Fluxo de processamento da amostra para a dosagem

    de crioglobulinas

    atualizao laboratorial

    Dosagem de crioglobulinas requer cuidados diferenciados na fase pr-analticaO objetivo evitar a precipitao dessas imunoglobulinas, que ocorre quando elas so expostas a baixas temperaturas.

    Coletar 10 mL de sangue em tubo seco e mant-lo aquecido

    a 37C

    Preaquecer a 37C todo o

    material de coleta

    Retrair o cogulo, mantendo o tubo aquecido a 37C

    Retirar o soro e centrifug-lo em

    caapas preaquecidas a 37C

    Fracionar o soro e acondicionar a

    amostra conforme a necessidade