fazendo 36
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boletim doque por cá se fazTRANSCRIPT
espera de D. Sebastio
FAZENDO8 de Abril de 2010 | Quinta | Edio # 36 | Quinzenal | Agenda Cultural Faialense | Distribuio Gratuita
boletim do que por c se faz
Opinio Opinio
02
ficha tcnica - fazendo - isento de registo na erc ao abrigo da lei de imprensa 2/99 de 13 de janeiro, art. 9, n 2 - direco geral: jcome armas - direco editorial: pedro lucas - coordenadores temticos: catarina azevedo, lus
menezes, lus pereira, pedro gaspar, ricardo serro, rosa dart - colaboradores: aurora ribeiro, cludia vila gomes, filipe m. porteiro, genuno madruga, parque natural do faial, sara soares, tiago vouga, toms silva - projecto
grfico: paulo neves, elcubu, contact@elcubu.com - capa: ecce-femina de gil teixeira lopes - produo e paginao: aurora ribeiro - propriedade: associao cultural fazendo - sede: rua rogrio gonalves, n 18, 9900 horta -
periodicidade: quinzenal - tiragem: 400 exemplares - impresso: grfica o telgrapho - contactos: vai.sefazendo@gmail.com, http://fazendofazendo.blogspot.com - distribuio gratuita - apoio: direco regional da cultura:
Entrevista
Transformarte
Genuno MadrugaAurora Ribeiro
Pedro LucasH uma nova publicao nos Aores dedicada s artes e s coisas mundanas. O fanzine Transformar.te foi
recentemente lanado pela Associao Cultural Burra de
Milho, sediada na ilha Terceira, e pretende ser um espao,
no temtico, de interveno e divulgao. Para a elaborao
de contedos a organizao faz um convite aberto
participao de todos os interessados em colaborar ou
promover o seu trabalho, que tm assim um novo meio de dar
visibilidade s suas ideias.
J deu duas voltas ao mundo. Encontrou algum lugar onde achasse que as pessoas fossem especialmente
felizes ou satisfeitas com a vida?
Esta pergunta muito subjectiva, h gente boa e m em toda
a parte do mundo. Mas nas ilhas da Polinsia, nomeadamente
nas Ilhas Marquesas, a forma de vida daquelas gentes tem
pouco a ver com esta daqui dos chamados pases ocidentais.
E perguntamo-nos afinal o que civilizao? a nossa, que
est dando cabo disto tudo, do clima? Esta civilizao do
plstico e das latas de coca-cola, da droga, assaltos a bancos
e bombas? Nessas pequenas ilhas do Pacfico e do ndico no
precisam de polcias. A maior parte delas est livre de drogas
porque tm os seus prprios meios de resolver esses
problemas. Melhor do que tudo: no h gente miservel como
h nos pases ocidentais e l h uma forte e importante
ligao com a Terra e com o Mar.
O que que podia ser feito para que aqui tambm houvesse
uma maior ligao com a Terra e com o Mar?
A Horta um dos maiores portos do mundo em movimento de
iates, mas as pessoas limitam-se a v-los passar. Mesmo assim
j vai havendo um maior nmero de pessoal com barcos, mas
a ligao da Horta com o Mar est principalmente relacionada
com a passagem dos estrangeiros, o que eu no compreendo.
S para dar um exemplo, nas Ilhas Marquesas h um dia por
semana, a sexta-feira, em que todas as crianas da escola
vo aprender a nadar, remar, andar vela, para alm de que
nos outros dias tarde vo todos para o mar, com as suas
canoas, etc. A formao bsica escolar j traz disciplinas
sobre o estudo do mar. Aqui vivemos practicamente de costas
Cada estao do ano trar um novo nmero do fanzine que
ter distribuio regional gratuita em formato fsico assim
como acesso livre na internet:
www.issuu.com/transformarte.
Dos assuntos que preenchem a edio desta primavera fazem
parte, entre outros, os fanzines (em sentido genrico), o
trabalho plstico multidiscplinar prova de fogo e Bala e a
fotografia de Pedro Duarte Jorge. De notar tambm a
excelente apresentao grfica da publicao. O
voltadas para o mar, apesar de que, nos ltimos anos, mesmo
assim, houve alguma melhoria. Fundamentalmente a mudana
na mentalidade tem que passar pela escola, o ensino tm que
estar inserido na nossa realidade: pouca terra, mar e turismo.
Porque carga de gua que tm que vir estrangeiros trabalhar
para esses ferry boats? Porque carga de gua que quem vai
para o mar quem no sabe ler nem escrever?
Houve recentemente um debate no Parlamento onde se
defendeu a construo de uma escola de pescadores nos
Aores. Mas como que isso iria ser feito? E onde? Em So
Miguel? Ir estudar para So Miguel exige quase o mesmo
esforo do que ir estudar para Lisboa. Eu, por exemplo,
estudei em Lisboa. Criar uma escola dessas implicaria custos
enormes. Em vez disso porque no implementar-se logo de
princpio os ensinamentos bsicos sobre o mar, com o intuito
de incentivar a rapaziada a gostar e os entusiasmasse ento a
ir estudar para fora?
Na sua funo, como que contribui para melhorar o nosso
futuro?
Falando de coisas prticas, dando exemplo de vida, utilizando
os conhecimentos das duas viagens de circum-navegao que
realizei, palestrando aos alunos das escolas, tanto os maiores
como os pequeninos. No fao mais porque no tenho
oportunidade de o fazer, sou pescador, vivo no mar, nem
sempre tenho tempo em terra disponvel, mas atendo todos
que vo conversar comigo. E estes so temas que a rapaziada
gosta muito. O importante lanar as sementes. Contar-lhes
sobre o primeiro barco que tive, constru-o com 12 anos, era
uma chata com 2,60m, incentiv-los a realizar seus sonhos,
no s dar a volta ao mundo, mas estudar, comprar uma casa,
formar-se numa profisso, etc.
Estamos melhor hoje que antes?
Claro que sim, falando da pesca, apesar de todos os
problemas que vo condicionando o nosso futuro na pesca,
vive-se melhor do mar. A segurana maior, as condies de
vida a bordo so melhores. Mas tambm facto que no h
muito tempo quem vivia do mar tinha alguma qualidade de
vida, o que hoje j no bem verdade. O futuro tambm
uma incgnita muito grande e as consequncias j a esto.
Na explorao do nosso mar h stocks em ruptura: espcies
demersais como o goraz, a boca negra e em muito pouco
tambm o cherne. Mas ainda se continua a aumentar o
esforo de pesca!!! Os rendimentos esto a diminuir e os
custos, como o combustvel, a manuteno dos barcos, os
aparelhos, entre outros, continuam a aumentar. Cada vez se
ganha menos e vm a caminho srios problemas sociais.
Crianas das Ilhas Marquesas | Foto: Genuno Madruga
MsicaMsica
03
Msica no PapelFaustoA pauta musical, tal como hoje a conhecemos, o conjunto de 5 linhas horizontais, paralelas e
equidistantes que formam entre si 4 espaos onde so
colocadas as notas da partitura. tambm denominada de
pentagrama, no sistema de notao da msica ocidental, e
apesar de ter sido estabelecida no sc. XI, s entrou em uso
definitivo a partir do sculo XVII. Antes deste modelo, usava-
-se apenas uma linha, com o mesmo princpio deste mtodo,
ou seja, a distanciao linha para cima (agudos) ou para
baixo (graves), criava as diferentes notas. Tratava-se de um
mtodo impreciso, pelo que as linhas foram aparecendo,
primeiro num esquema de quatro (tetragrama) e depois cinco
com os respectivos espaos. Na idade mdia, atravs das
pautas era j possvel representar no s a altura das notas,
como tambm a sua durao e os compassos das msicas.
Mas apesar deste percurso lento e fungiforme da notao em
pauta tradicional, sempre houve paralelamente quem
experimentasse novas formas de escrever ou representar
msica, sem msica. Ao longo dos tempos, vrios msicos
propuseram sistemas de simbologia alternativos, sendo que
muitos deles nunca foram alm do interesse esttico. Outros,
apesar de lgicos e intuitivos, no eram precisos, ou seja,
eram concebidos imagem do autor, dando lugar a variadas
interpretaes por parte de intrpretes (o que tambm tem o
seu interesse).
Um dos grandes mestres da desconstruo do sistema
tradicional foi Pierre Schaeffer, msico de Nancy nascido em
1910. Em termos musicais experimentou em Paris tcnicas
pioneiras de gravao e sobreposio de sons, e com eles
compunha peas completas. O seu primeiro trabalho de 1948
intitulou-se tude aux chemins de fer, feito com
equipamentos de uma estao de rdio, onde o msico
subverteu todas as regras at ento estabelecidas com as
suas misturas sonoras (dub). Foi o primeiro compositor a
utilizar fitas magnticas e sintetizou os seus mtodos de
trabalho naquilo que chamou msica concreta, em oposio
msica clssica. O seu gnio inventivo estendeu-se
notao musical, onde experimentou tcnicas de
representao algo bizarras. Estas tcnicas, rompendo com o
paradigma instalado, eram difceis de interpretar e perceber,
e no seguiam uma linha condutora comum, eram esquemas
mentais que obrigavam interpretao emocional de cada
pea atravs da sua representao simblica. Ou seja,
Schaeffer no teve a inteno de criar um novo mtodo que
substitusse o pentagrama, apenas exercia a liberdade de
expressar a sua msica como lhe apetecia.
semelhana de Schaeffer, muitos msicos antigos e
contemporneos apresentaram alternativas escrita musical,
todos eles com conceitos diferentes, mas todos eles
igualmente interessantes. Msicos como John Cage, John
Bergamo, Brian Eno, John Zorn, e Emanuel Pimenta, foram e
so verdadeiros experimentalistas da msica e da sua
representao. Emanuel Pimenta, msico, a