fé e transformação de vidas no sertão

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1533 Fé e transformação de vidas no Sertão Ouricuri “Primeiramente Deus, depois água pra gente trabalhar”. É com este sentimento que a família de Jacó Lopes da Silva, de 31 anos, e Simone Viana de Souza Lopes, de 28 anos, encontrou a receita para viver com fartura e tranquilidade, no Sítio Lagoa do Pau ferro, em Ouricuri, Sertão do Araripe pernambucano. O jovem casal de agricultores tem duas filhas: Ester de Souza Lopes, de 9 anos, e Estela de Souza Lopes, de 2 anos. Desde que casaram, há 10 anos, Jacó e Simone moram na propriedade de 24 hectares, mas com uma realidade bem diferente dos dias de hoje. A principal dificuldade enfrentada pela família foi o acesso à água, pois a única fonte existente era um barreiro próximo construído pelo pai de Jacó. Na época, a água era utilizada para beber, cozinhar, saciar a sede dos animais e fins produtivos. A renda familiar era restrita às atividades agrícolas, especialmente a comercialização do gado. Em 2012, a família conquistou uma cisterna de placas, com capacidade para guardar 16 mil litros de água para beber e cozinhar. “Com a chegada da cisterna, muita coisa mudou, principalmente a saúde, já que passamos a beber somente água da chuva”, conta Jacó. A alegria se multiplicou no mesmo ano, com a construção de um barreiro-trincheira, pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada). A tecnologia consegue armazenar cerca de 500 mil litros de água. O barreiro é considerado um marco na vida da família agricultora, já que antes o casal ganhava a vida de uma forma bem diferente. Desmatamento e queimada eram práticas comuns do dia a dia. “Preciso dizer que antes a gente cortava lenha e fazia carvão para vender, era a nossa sobrevivência. Infelizmente o nosso método fugia totalmente da realidade de hoje”, revela Jacó. Para viver feliz e com qualidade de vida, o agricultor e a agricultora tiveram que lutar bastante. A Julho/2014 O segredo de quem trocou o carvão pela agroecologia e no caminho encontrou a felicidade

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O boletim conta a história de Jacó e Simone que durante quase 10 anos sofreu com a falta de água na propriedade, mas que perseverou, e conquistou um barreiro-trincheira. A tecnologia foi considerada um presente pela família agricultora, que não perdeu tempo e logo cuidou de fazer os canteiros para produzir alimentos saudáveis. Hoje em dia, na propriedade do casal são encontradas frutas e verduras e o excedente é comercializado, ampliando a renda.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1533

Fé e transformação de vidas no Sertão

Ouricuri

“Primeiramente Deus, depois água pra gente trabalhar”. É com este sentimento que a família de Jacó Lopes da Silva, de 31 anos, e Simone Viana de Souza Lopes, de 28 anos, encontrou a receita para viver com fartura e tranquilidade, no Sítio Lagoa do Pau ferro, em Ouricuri, Sertão do Araripe pernambucano. O jovem casal de agricultores tem duas filhas: Ester de Souza Lopes, de 9 anos, e Estela de Souza Lopes, de 2 anos. Desde que casaram, há 10 anos, Jacó e Simone moram na propriedade de 24 hectares, mas com uma realidade bem diferente dos dias de hoje. A principal dificuldade enfrentada pela família foi o acesso à água, pois a única fonte existente era um barreiro próximo construído pelo pai de Jacó.

Na época, a água era utilizada para beber, cozinhar, saciar a sede dos animais e fins produtivos. A renda familiar era restrita às atividades agrícolas, especialmente a comercialização do gado. Em 2012, a família conquistou uma cisterna de placas, com capacidade para guardar 16 mil litros de água para beber e cozinhar. “Com a chegada da cisterna, muita coisa mudou, principalmente a saúde, já que passamos a beber somente água da chuva”, conta Jacó. A alegria se multiplicou no mesmo ano, com a construção de um barreiro-trincheira, pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada). A tecnologia consegue armazenar cerca de 500 mil litros de água.

O barreiro é considerado um marco

na vida da família agricultora, já que antes o casal ganhava a vida de uma forma bem diferente. Desmatamento e queimada eram práticas comuns do dia a dia. “Preciso dizer que antes a gente cortava lenha e fazia carvão para vender, era a nossa sobrevivência. Infelizmente o nosso método fugia totalmente da realidade de hoje”, revela Jacó. Para viver feliz e com qualidade de vida, o agricultor e a agricultora tiveram que lutar bastante. A

Julho/2014

O segredo de quem trocou o carvão pela agroecologia e no caminho encontrou a felicidade

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Realização Apoio

família acredita que o barreiro mostrou um conjunto de possibilidades que os fizeram enxergar a necessidade de experimentá-las, melhorando a renda e preservando a saúde e o meio em que vivem.

Além de agricultor, Jacó também é pedreiro há três anos, e essa vivência despertou nele o desejo de apostar numa agricultura familiar sustentável. Ele constrói cisternas de placas, e essa experiência ajudou no desenvolvimento da propriedade. “O primeiro desejo era acumular água do barreiro para plantar hortaliças. Depois da primeira chuva, nunca mais ele secou”, diz Simone. Atualmente na propriedade da família é encontrada uma variedade de frutas e hortaliças, capaz de garantir alimentos saudáveis e fresquinhos na mesa e ainda vender o excedente da produção.

“Antes a gente comprava verduras quando o carro passava. Hoje ele passa e a gente nem olha, pois tudo que precisamos vem da nossa roça, escreva aí no papel que a nossa vida melhorou em 90 por cento”, garante Jacó. Para melhorar ainda mais na alimentação e aumentar a renda, a família foi beneficiada com uma cisterna-calçadão, há três meses. A ideia é ampliar a produção familiar e a criação de porco, ovelha, galinha, gado e bode, na certeza de que aumentando a oferta, aumenta a procura. Simone afirma que os campeões de venda são o coentro e o pimentão, depois vem o feijão, o milho e os animais. A família vende na vizinhança e nas

comunidades próximas, mantendo uma clientela fiel que liga cobrando, quando ocorre de Jacó não entregar.

Durante os momentos de formação, Jacó e Simone aprenderam como economizar água principalmente nos períodos de estiagem, além de práticas agroecológicas, como a compostagem e os defensivos naturais. O casal faz adubação das hortas com esterco de gado e bode. “Agora estamos instalando uma caixa elevada na propriedade, para fazer irrigação por gotejamento, pois mesmo com a chegada da cisterna-calçadão, nosso objetivo é ampliar os canteiros, porém sem desperdício de água”, ensina o agricultor.

A família ainda possui um pequeno apiário e a expectativa é iniciar a produção de mel, pois boa parte da propriedade não foi desmatada, e tem quatro tipos de florada, revelando um potencial para apicultura. A família afirma que muitas mudanças já aconteceram, mas que ainda espera ter mais sucesso com as hortas e também saúde para lidar com elas até os últimos dias de vida.