feira agroecológica: gerando renda e cidadania no sertão central

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O Sertão Central do Ceará abraça inúmeras histórias sertanejas e carrega muito da cultura dos povos do semiárido. Os doze municípios do território têm, no total, 43,75% de sua população no meio rural e servem de palco para que essas pessoas sejam protagonistas de suas histórias, embaladas na força e coragem de cada um e cada uma e abençoadas pelo sol e pela terra do local. Uma dessas inúmeras histórias é protagonizada por famílias sertanejas do distrito de São João dos Queirós, do município de Quixadá, em especial da comunidade do Vale do Cipó, que tem cerca de 120 hectares divididos entre as 32 famílias que ali residem. Ao longo de sua trajetória, essas famílias tiveram várias conquistas graças à organização comunitária, como a energia elétrica trifásica e o acesso a água de um açude que antes era privado, dentre outras. Com esse sentimento de pertença coletivo, a comunidade acolheu, com muito entusiasmo, em 2011, o Projeto PAIS, que envolveu 10 famílias agricultoras, definidas coletivamente na Associação Comunitária dos Pequenos Produtores do Vale do Cipó (ASPROVACI). Dentre essas famílias, estão as de Antônio Cosme da Silva e Maria Margarida Barros, Antônia Marta (Marcinha) e José Carlos Lopes, José Flávio Cavalcante e Aglair Teófilo, Antônio Lúcio (Lucinho) e Maria do Carmo Ferreira, Wilton Gonçalves e Sandra Estevão e João Nilton Alves e Eremita. Para todos eles, a vontade de produzir já existia, mas o que faltava era a estrutura e isso o projeto proporcionou. Hoje, cada um tem o seu quintal produtivo cheio de diversidade. É coentro, cebolinha, cenoura, alface, pimentão, tomate, jerimum, milho, melancia, repolho e várias outras verduras, legumes e hortaliças que agora fazem parte do cardápio dessas famílias, além de que culturas que, antes, eram só do inverno e agora tem várias vezes no ano, como o próprio jerimum, o milho e o feijão. Motivados pela quantidade e qualidade de alimentos produzida nos quintais e o excedente gerado a partir dessa produção, as 10 famílias participantes, com o apoio da Associação Comunitária e das entidades parceiras do Projeto PAIS, resolveram montar uma feira na sede do distrito São João dos Queirós, com um carro de som chamando a população, barracas montadas na praça, muitos produtos a venda e a música do sanfoneiro rolando solta. Com essa animação, no dia 15 de outubro de 2011, teve inicio a Feira Agroecológica. A Feira é organizada de forma coletiva. Eles utilizam duas barracas emprestadas e 10 mesas que pertencem à Associação Comunitária, e, durante a semana, vão se falando: “A gente faz o levantamento: quem tem o quê e a quantidade. Daí se ele tem mais do que eu ou a verdura dele tem que ser tirada essa semana e a minha pode esperar mais uma semana, aí eu deixo para ele vender”, explica Marcinha e acrescenta que eles também compram entre si quando não tem um produto. Todos os excedentes das famílias são vendidos na feira, além de produtos beneficiados como, iogurte, tapioca, doces, caldo e suco. Cada feira gera uma renda de FEIRA AGROECOLÓGICA: GERANDO RENDA E CIDADANIA NO SERTÃO CENTRAL Edição Especial - I Encontro Estadual do PAIS | Itapipoca (CE) - Maio/2012 Tecendo Redes

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Sistematização de experiência do PAIS

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O Sertão Central do Ceará abraça inúmeras histórias sertanejas e carrega muito da cultura dos povos do semiárido. Os doze municípios do território têm, no total, 43,75% de sua população no meio rural e servem de palco para que essas pessoas sejam protagonistas de suas histórias, embaladas na força e coragem de cada um e cada uma e abençoadas pelo sol e pela terra do local.Uma dessas inúmeras histórias é protagonizada por famílias sertanejas do distrito de São João dos Queirós, do município de Quixadá, em especial da comunidade do Vale do Cipó, que tem cerca de 120 hectares divididos entre as 32 famílias que ali residem. Ao longo de sua trajetória, essas famílias tiveram várias conquistas graças à organização comunitária, como a energia elétrica trifásica e o acesso a água de um açude que antes era privado, dentre outras. Com esse sentimento de pertença coletivo, a comunidade acolheu, com muito entusiasmo, em 2011, o Projeto PAIS,

que envolveu 10 famílias agricultoras, definidas coletivamente na Associação Comunitária dos Pequenos Produtores do Vale do Cipó (ASPROVACI). Dentre essas famílias, estão as de Antônio Cosme da Silva e Maria Margarida Barros, Antônia Marta (Marcinha) e José Carlos Lopes, José Flávio Cavalcante e Aglair Teófilo, Antônio Lúcio (Lucinho) e Maria do Carmo Ferreira, Wilton Gonçalves e Sandra Estevão e João Nilton Alves e Eremita. Para todos eles, a vontade de produzir já existia, mas o que faltava era a estrutura e isso o projeto proporcionou. Hoje, cada um tem o seu quintal produtivo cheio de diversidade. É coentro, cebolinha, cenoura, alface, pimentão, tomate, jerimum, milho, melancia, repolho e várias outras verduras, legumes e hortaliças que agora fazem parte do cardápio dessas famílias, além de que culturas que, antes, eram só do inverno e agora tem várias vezes no ano, como o próprio jerimum, o milho e o feijão.Motivados pela quantidade e qualidade de alimentos produzida nos quintais e o excedente gerado a partir dessa produção, as 10 famílias participantes, com o apoio da Associação Comunitária e das entidades parceiras do Projeto PAIS, resolveram montar uma feira na sede do distrito São João dos Queirós, com um carro de som chamando a população, barracas montadas na praça, muitos produtos a venda e a música do sanfoneiro rolando solta. Com essa animação, no dia 15 de outubro de 2011, teve inicio a Feira Agroecológica. A Feira é organizada de forma coletiva. Eles utilizam duas barracas emprestadas e 10 mesas que pertencem à Associação Comunitária, e, durante a semana, vão se falando: “A gente faz o levantamento: quem tem o quê e a quantidade. Daí se ele tem mais do que eu ou a verdura dele tem que ser tirada essa semana e a minha pode esperar mais uma semana, aí eu deixo para ele vender”, explica Marcinha e acrescenta que eles também compram entre si quando não tem um produto. Todos os excedentes das famílias são vendidos na feira, além de produtos beneficiados como, iogurte, tapioca, doces, caldo e suco. Cada feira gera uma renda de

FEIRA AGROECOLÓGICA:GERANDO RENDA E CIDADANIANO SERTÃO CENTRAL

Edição Especial - I Encontro Estadual do PAIS | Itapipoca (CE) - Maio/2012

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aproximadamente R$ 900,00 reais, e, como ela acontece em média 4 vezes por mês, o que chega a acumular é de aproximadamente R$ 3.600,00 por mês, que são divididos entre as famílias participantes feira a feira. O espaço também ganha todos os significados de ambiente lúdico e místico de encontros; tem gente que vai tomar café da manhã na feira e cada venda é uma conversa diferente. Uma vez, seu Antônio Cosme preparou uma degustação de berinjela, pois as pessoas da comunidade não conheciam esse legume. Foi um sucesso e vendeu toda a berinjela que tinha levado. Os agricultores/as aproveitam o espaço da feira para conversam com os consumidores sobre a questão dos agrotóxicos, explicam como é a produção sem o uso de veneno e porque o produto tem aquele preço. Os consumidores também trocam receitas, perguntam, já teve até gente que foi conhecer o próprio PAIS e escolher suas verduras. Todos têm a certeza que é a determinação coletiva que tem gerado conquistas que beneficiam a todos direta e indiretamente e isso tem avançando com o tempo, um exemplo é que mesmo antes de chegar o projeto PAIS, em maio de 2011, a ASPROVACI já discutia entre seus membros o não uso de agrotóxicos e as queimadas. Dentre essas muitas histórias, cresce a vontade de continuar, e envolver mais pessoas da comunidade. Reunido para o dialogo desta sistematização o grupo presente destacou os benefícios em relação a melhoria da saúde, que não se veem comprando alimentos de outros lugares e levando para sua mesa, sem saber a procedência. Agora a Associação está discutindo ir às escolas para falar dessa produção agroecológica, incentivando e conscientizando crianças, adolescentes e a comunidade escolar sobre a importância de comer produtos sem agrotóxicos. Outro ponto de destaque, aponta José Flávio, é aumento na autoestima de cada um deles como agricultor e agricultora, pois “a gente passou a dar mais valor ao que produzia”. Ele ainda adiciona que agora a discussão é montar um calendário de plantio para organizar e ter uma produção contínua dos produtos e conseguir manter a feira agroecológica todos os sábados, ainda mais diversificada.