festival. página 3 magazine leitor consegue nomear sem pensar muito? talvez tenha conseguido juntar...

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MAGAZINE WalterSallesfalade“JiaZhang-ke,umHomemdeFenyang”,documentáriosobreocineastachinêsqueestreiaquinta Televisão CAIO CASTRO Ator cativa como o Grego de “I Love Paraisópolis”. Página 7 Dose absoluta de liberdade CONTINUA NA PÁGINA 2 ¬¬¬ Festival. Fundação de Educação Artística sedia Semana de Música de Câmara. Página 3 Cinema ¬ MANOELLA BARBOSA ESPECIAL PARA O TEMPO ¬ Quantos cineastas brasi- leiros famosos no exterior o leitor consegue nomear sem pensar muito? Talvez tenha conseguido juntar três, quatro nomes. Walter Salles certamente está en- tre eles. Sua trajetória profissio- nal sempre esteve atrelada ao sucesso. Agraciado pelo conjunto da obra com o Ro- bert Bresson no Festival de Veneza (2009) e o Marc’ Aurelio d’Oro no Festival de Cinema de Roma, em 2014, Walter ganhou, so- mente com “Central do Brasil” (1998), mais de 60 prêmios no mundo todo, entre eles o Urso de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata de melhor atriz pa- ra Fernanda Montenegro no Festival de Berlim no mesmo ano, além do Bafta (da Academia Britânica de Cinema) e o Globo de Ou- ro de melhor filme estrangei- ro. Isso para não falar das duas indicações ao Oscar – filme estrangeiro e atriz. Dezessete anos e uma de- zena de produções bem-su- cedidas depois, o cineasta carioca de 60 anos estreia no circuito nacional nesta se- mana sua mais recente obra, um documentário so- bre o colega chinês Jia Zhang-ke (“Um Toque de Pecado”, “Memórias de Xan- gai”, “Plataforma”), conside- rado entre profissionais da indústria cinematográfica como um dos mais impor- tantes cineastas de nosso tempo. “Jia Zhang-ke, um Ho- mem de Fenyang” é o quar- to documentário de Walter Salles (os anteriores foram “Socorro Nobre”, “Krajc- berg – O Poeta dos Vestí- gios” e “Retrato de Tomie”) e estreou mundialmente na Mostra Internacional de Ci- nema de São Paulo de 2014 e foi exibido na Mostra Pa- norama do Festival de Ber- lim de 2015. Filmado por uma equipe brasileira e chinesa (o de- sign sonoro foi feito por um profissional chinês) inteira- mente na China, o documen- tário em estilo road movie marca a primeira colabora- ção de Walter Salles com o renomado diretor de foto- grafia chileno-peruano Inti Briones, que responde pela fotografia de “Sobre a Nebli- na”, de Paula Gaitán. A reportagem conver- sou com Walter Salles so- bre o filme e sobre projetos futuros. Confira trechos da conversa: Você é um grande admirador da obra de Jia Zhang-ke, o que te levou a rodar um docu- mentário sobre o cineasta chinês. Para quem ainda nun- ca ouviu falar do diretor, com qual de seus filmes se deve começar? Os dois pri- meiros filmes de Jia, “Xiao Wu” e “Plataforma”, são um ótimo ponto de partida para mergulhar na obra desse ci- neasta tão especial. “Plata- forma” acompanha a desin- tegração de uma trupe de teatro entre 1979 e 1989 – os dez anos de transição do maoísmo à uma outra for- ma de ortodoxia, a do mer- cado. Jia Zhang-ke foi o ci- neasta que melhor filmou es- sa China em transe, ao mes- mo tempo em que ele nos oferece um dos retratos mais sensíveis da passagem da adolescência para a vida adulta. Para um cineasta tão preocupado com a ques- tão da memória, seja ela pes- soal ou coletiva, penso tam- bém que “Em Busca da Vi- da” é um filme essencial. Ne- le, dois personagens bus- cam seus familiares em meio a cidades milenares que estão sendo desmobili- zadas para dar lugar à gigan- tesca barragem de Três Gar- gantas. Enquanto os perso- nagens tentam resgatar uma parte de suas vidas, é o esfacelamento da memória de todo um país que é regis- trado pela câmera de Jia Zhang-ke. Quando e como foi a primei- ra conversa com Zhang-Ke sobre o projeto para o docu- mentário? Nós nos encontra- mos longamente na Mostra de São Paulo, em 2007, que lhe oferecia então a sua pri- meira retrospectiva no Bra- sil. Leon Cakoff (crítico de cinema, falecido em 2011), que nutria uma enorme admiração por Jia, me convidou para entrevis- tá-lo junto com ele. Ainda me lembro da primeira per- gunta que lhe fizemos: “quais os realizadores que te levaram ao cinema?” Ele respondeu: “Antonioni me fez entender a impor- tância do espaço, Bresson do tempo, e Hou Hsiao- Hsien, das experiências pessoais na construção de um filme”. Foram essas vertentes que eu tentei reencontrar durante o do- cumentário. Jia jamais im- pôs condições para a reali- zação desse documentá- rio. Nenhuma barreira foi colocada como precondi- ção, e filmamos com uma dose absoluta de liberda- de. “Jia Zhang-ke foi o cineasta que melhor filmou essa China em transe” Walter Salles cineasta Encontro. Walter Salles conheceu Jia Zhan-ke du- rante a Mostra de Cinema de São Paulo, em 2007 VIDEO FILMES/DIVULGAÇÃO TV GLOBO/DIVULGAÇÃO www.otempo.com.br O TEMPO BELO HORIZONTE SEGUNDA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2015 O TEMPO BELO HORIZONTE SEGUNDA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2015

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MAGAZINE

WalterSallesfalade“JiaZhang-ke,umHomemdeFenyang”,documentáriosobreocineastachinêsqueestreiaquinta

Televisão

CAIO CASTROAtor cativa como o Grego de “I

Love Paraisópolis”. Página 7

Dose absoluta de liberdade

CONTINUA NA PÁGINA 2

¬¬¬

Festival. Fundação de Educação Artística sedia Semana de Música de Câmara. Página 3

Cinema

¬ MANOELLA BARBOSA

ESPECIAL PARA O TEMPO

¬Quantos cineastas brasi-leiros famosos no exterioro leitor consegue nomearsem pensar muito? Talveztenha conseguido juntartrês, quatro nomes. WalterSalles certamente está en-tre eles.

Sua trajetória profissio-nal sempre esteve atreladaao sucesso. Agraciado peloconjunto da obra com o Ro-bert Bresson no Festival deVeneza (2009) e o Marc’Aurelio d’Oro no Festivalde Cinema de Roma, em2014, Walter ganhou, so-mente com “Central doBrasil” (1998), mais de 60prêmios no mundo todo,entre eles o Urso de Ourode melhor filme e o Ursode Prata de melhor atriz pa-ra Fernanda Montenegrono Festival de Berlim nomesmo ano, além do Bafta(da Academia Britânica deCinema) e o Globo de Ou-

ro de melhor filme estrangei-ro. Isso para não falar dasduas indicações ao Oscar –filme estrangeiro e atriz.

Dezessete anos e uma de-zena de produções bem-su-cedidas depois, o cineastacarioca de 60 anos estreiano circuito nacional nesta se-mana sua mais recenteobra, um documentário so-bre o colega chinês JiaZhang-ke (“Um Toque dePecado”, “Memórias de Xan-gai”, “Plataforma”), conside-rado entre profissionais daindústria cinematográficacomo um dos mais impor-tantes cineastas de nossotempo.

“Jia Zhang-ke, um Ho-mem de Fenyang” é o quar-to documentário de WalterSalles (os anteriores foram“Socorro Nobre”, “Krajc-berg – O Poeta dos Vestí-gios” e “Retrato de Tomie”)e estreou mundialmente naMostra Internacional de Ci-nema de São Paulo de 2014

e foi exibido na Mostra Pa-norama do Festival de Ber-lim de 2015.

Filmado por uma equipebrasileira e chinesa (o de-sign sonoro foi feito por umprofissional chinês) inteira-mente na China, o documen-tário em estilo road moviemarca a primeira colabora-ção de Walter Salles com orenomado diretor de foto-grafia chileno-peruano IntiBriones, que responde pelafotografia de “Sobre a Nebli-na”, de Paula Gaitán.

A reportagem conver-sou com Walter Salles so-bre o filme e sobre projetosfuturos. Confira trechos daconversa:

Você é um grande admiradorda obra de Jia Zhang-ke, oque te levou a rodar um docu-mentário sobre o cineastachinês. Para quem ainda nun-ca ouviu falar do diretor,com qual de seus filmes sedeve começar? Os dois pri-meiros filmes de Jia, “XiaoWu” e “Plataforma”, são umótimo ponto de partida paramergulhar na obra desse ci-neasta tão especial. “Plata-forma” acompanha a desin-tegração de uma trupe deteatro entre 1979 e 1989 –os dez anos de transição domaoísmo à uma outra for-ma de ortodoxia, a do mer-cado. Jia Zhang-ke foi  o ci-neasta que melhor filmou es-sa China em transe, ao mes-mo tempo  em que ele nosoferece um dos  retratos

mais sensíveis da passagemda adolescência para a vidaadulta. Para um cineastatão preocupado com a ques-tão da memória, seja ela pes-soal ou coletiva, penso tam-bém que “Em Busca da Vi-da” é um filme essencial. Ne-le, dois personagens bus-cam seus familiares emmeio a cidades milenaresque estão sendo desmobili-zadas para dar lugar à gigan-tesca barragem de Três Gar-gantas. Enquanto os perso-nagens tentam resgataruma parte de suas vidas, é oesfacelamento da memóriade todo um país que é regis-trado pela câmera de JiaZhang-ke.

Quando e como foi a primei-ra conversa com Zhang-Kesobre o projeto para o docu-mentário? Nós nos encontra-mos longamente na Mostrade São Paulo, em 2007, quelhe oferecia então a sua pri-meira retrospectiva no Bra-

sil. Leon Cakoff (crítico decinema, falecido em2011), que nutria umaenorme admiração por Jia,me convidou para entrevis-tá-lo junto com ele. Aindame lembro da primeira per-gunta que lhe fizemos:“quais os realizadores quete levaram ao cinema?”Ele respondeu: “Antonionime fez entender a impor-tância do espaço, Bressondo tempo, e Hou Hsiao-Hsien, das experiênciaspessoais na construção deum filme”.  Foram essasvertentes que eu tenteireencontrar durante o do-cumentário. Jia jamais im-pôs condições para a reali-zação desse documentá-rio. Nenhuma barreira foicolocada como precondi-ção, e filmamos com umadose absoluta de liberda-de.

“Jia Zhang-kefoi  o cineastaque melhorfilmou essaChina emtranse”

Walter Sallescineasta

Encontro. Walter Sallesconheceu Jia Zhan-ke du-rante a Mostra de Cinemade São Paulo, em 2007

VIDEO FILMES/DIVULGAÇÃO

TV GLOBO/DIVULGAÇÃO

www.otempo.com.br O TEMPO BELO HORIZONTE SEGUNDA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2015O TEMPO BELO HORIZONTE SEGUNDA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2015