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Previsão da vida útil de rebocos de fachadas de
edifícios antigos
Metodologia baseada na inspeção de edifícios em serviço
Paulo Jorge Amaral Anselmo
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Prof. Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito
Orientador: Prof. Doutor Pedro Miguel Dias Vaz Paulo
Vogal: Prof. Doutor Fernando António Baptista Branco
Outubro de 2012
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Título: Previsão da vida útil de rebocos de fachadas de edifícios antigos – Metodologia baseada na
inspeção de edifícios em serviço
Autoria: Paulo Jorge Amaral Anselmo
Curso de mestrado em: Engenharia Civil
Orientador: Prof. Pedro Vaz Paulo
Sumário
O desenvolvimento de metodologias para a previsão da vida útil de materiais e componentes de
construção assume um papel preponderante na conjuntura económica atual. A definição de limites de
degradação aceitáveis e a previsão do tempo até que esses limites sejam alcançados permitem uma
gestão racional e planificada dos recursos financeiros existentes para futuras intervenções de
manutenção e reabilitação, durante o período em serviço, do património edificado.
Na pressente dissertação, propõe-se desenvolver uma metodologia de previsão de vida útil de
revestimentos de reboco de fachadas antigas. Esta metodologia surge na sequência de outras
dissertações que, ao longo dos últimos anos, têm vindo a desenvolver uma metodologia de estimativa
de vida útil de materiais e componentes de construção baseada na inspeção de edifícios em serviço.
Esta investigação pretende analisar, com recurso a gráficos de degradação e modelos
determinísticos, a influência de quatro fatores de degradação, adotados neste estudo, na evolução do
destacamento de rebocos antigos. Para a caracterização destes fatores e quantificação da anomalia
(destacamento do reboco), foram realizadas inspeções a 100 edifícios localizados na cidade de
Lisboa com construção anterior a 1930.
Estas inspeções permitiram verificar a capacidade do método em fornecer ferramentas analíticas
aplicáveis na realização de estimativas de vida útil de rebocos de fachadas antigas, em função dos
diferentes fatores de degradação.
Palavras-Chave: Vida útil, Metodologia de previsão da vida útil, Rebocos de fachadas,
Quantificação de anomalias, Fatores de degradação, Gráficos de degradação, Modelos
determinísticos.
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Title: Service life prediction of mortar coatings in traditional buildings – Methodology based on the
inspection of in-use buildings
Abstract
The development of methodologies for predicting the service life of construction materials and
components assumes a preponderant role in the present economic situation. The definition of
acceptable degradation limits and the prediction of the time until these limits are reached allow a
rational and planned management of the existing financial resources for future maintenance and
rehabilitation interventions, during the in service period, of the built heritage.
In the present dissertation is proposed to develop a methodology for the prediction of the service life of
the mortar coating of ancient facades. This methodology follows in the sequence of other dissertations
that, in the past few years, have been developing a methodology for the estimation of the service life
of construction materials and components based on the inspection of in-use buildings.
This investigation intends to analyze, resorting to degradation graphics and deterministic models, the
influence of four degradation factors, adopted in this study, in the evolution of the spalling of old
mortars. For the characterization of these factors and the quantification of the anomaly detachment of
the mortar, have been made inspections to 100 buildings localized in the city of Lisbon with
construction dates prior to 1930.
This inspections, have allowed verifying the capacity of the method to provide analytical tools to
ultimate the service life of mortars of ancient facades, as a function of the various degradation factors.
Keywords: Service life, Service life prediction methodology, Mortar coatings, Anomalies
quantification, Degradation factors, Degradation graphics, Deterministic models.
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, quero começar por agradecer aos meus pais. O seu apoio incondicional, o seu
incentivo, e os seus sacrifícios em prol do meu desenvolvimento pessoal e humano, e sobretudo o
“acreditar” nas minhas capacidades, foram essenciais para ultrapassar todas as fases deste longo
percurso.
Não poderia deixar de agradecer ao meu orientador, o Prof. Pedro Vaz Paulo, com quem tive o
privilégio de trabalhar no desenvolvimento da minha dissertação, por todo o apoio e disponibilidade
prestada, sua simpatia e paciência, foram fundamentais na conclusão deste ciclo.
À minha restante família e amigos, com quem tive o privilégio de partilhar este trajeto, o meu sincero
obrigado.
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Índice geral
SUMÁRIO .......................................................................................................................................... I
ABSTRACT ...................................................................................................................................... III
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... V
ÍNDICE GERAL ................................................................................................................................. VII
ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................................... X
ÍNDICE DE QUADROS ...................................................................................................................... XIII
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1
1.1. Considerações gerais .................................................................................................... 1
1.2. Âmbito e objetivos da dissertação ................................................................................. 1
1.3. Plataforma BuildingsLife ................................................................................................ 3
1.4. Estrutura da dissertação ................................................................................................ 4
2. CONCEITOS BÁSICOS NA PREVISÃO DA VIDA ÚTIL ...................................................................... 5
2.1. Enquadramento geral do tema....................................................................................... 5
2.2. Conceito de vida útil ....................................................................................................... 5
2.2.1. Critérios de análise de vida útil ................................................................................................... 6
2.2.2. Fim da vida útil ........................................................................................................................... 7
2.2.3. Influência da manutenção na vida útil ........................................................................................ 8
2.3. Procedimento geral da previsão da vida útil .................................................................. 9
2.3.1. Metodologia de recolha de dados ............................................................................................ 10
2.3.2. Metodologia de previsão da vida útil ........................................................................................ 13
2.3.3. Definição do problema ............................................................................................................. 20
2.4. Enquadramento normativo ........................................................................................... 23
3. CONCEITOS GERAIS DAS ARGAMASSAS .................................................................................. 27
3.1. Considerações gerais .................................................................................................. 27
3.2. Enquadramento histórico ............................................................................................. 27
3.3. Materiais constituintes .................................................................................................. 28
3.3.1. Ligantes .................................................................................................................................... 28
3.3.2. Agregados ................................................................................................................................ 31
3.3.3. Água ......................................................................................................................................... 31
3.3.4. Adjuvantes e adições ............................................................................................................... 32
viii
3.4. Formulação de argamassas ......................................................................................... 32
3.5. Exigências funcionais ................................................................................................... 33
3.6. Rebocos tradicionais .................................................................................................... 35
3.7. Patologia ...................................................................................................................... 37
3.7.1. Perda de aderência/destacamento de reboco .......................................................................... 41
3.7.2. Perda de coesão/desagregação de reboco .............................................................................. 42
4. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................... 44
4.1. Objetivo e âmbito do trabalho de campo ..................................................................... 44
4.2. Critérios adotados na seleção de casos ...................................................................... 45
4.2.1. Descrição detalhada dos conjuntos estudados ........................................................................ 45
4.3. Inspeções e trabalho de campo ................................................................................... 46
4.3.1. Registo fotográfico ................................................................................................................... 46
4.3.2. Medição das dimensões da fachada ........................................................................................ 47
4.3.3. Recolha de amostras de reboco ............................................................................................... 48
4.3.4. Dureza do reboco – FD1 .......................................................................................................... 48
4.3.5. Textura da pelicula de tinta – FD2 ............................................................................................ 49
4.3.6. Orientação solar da fachada – FD3 .......................................................................................... 49
4.3.7. Espessura do reboco – FD4 ..................................................................................................... 50
4.3.8. Data da última intervenção de manutenção na fachada .......................................................... 50
4.4. Elaboração da imagem da fachada ............................................................................. 51
4.4.1. Montagem da fotografia da fachada ......................................................................................... 51
4.4.2. Ortogonalização da fotografia da fachada ................................................................................ 51
4.5. Quantificação do destacamento de reboco ................................................................. 52
4.5.1. Plataforma informática BuildingsLife ........................................................................................ 52
4.5.2. Aplicação PhotoMeasure.......................................................................................................... 53
4.6. Análise de dados e ajuste das curvas de degradação ................................................ 54
4.7. Resumo da metodologia .............................................................................................. 56
5. ANÁLISE DE RESULTADOS ...................................................................................................... 58
5.1. Considerações gerais .................................................................................................. 58
5.2. Descrição da amostra e dados base ........................................................................... 58
5.3. Gráfico de degradação geral........................................................................................ 60
5.4. Influência dos fatores de degradação .......................................................................... 63
5.4.1. Influência da dureza do reboco (FD1) ...................................................................................... 63
5.4.2. Influência da textura da pelicula de tinta (FD2) ........................................................................ 65
ix
5.4.3. Influência da orientação solar (FD3) ........................................................................................ 68
5.4.4. Influência da espessura do reboco (FD4) ................................................................................ 71
5.5. Combinação de fatores de degradação ....................................................................... 73
5.5.1. Dureza do reboco e textura da pelicula de tinta (Combinação 1) ............................................. 74
5.5.2. Dureza do reboco e orientação solar (Combinação 2) ............................................................. 77
5.5.3. Dureza do reboco e espessura do reboco (Combinação 3) ..................................................... 81
5.6. Síntese dos resultados obtidos .................................................................................... 84
6. CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 86
6.1. Considerações finais .................................................................................................... 86
6.2. Conclusões gerais ........................................................................................................ 86
6.2.1. Conclusões relativas à influência dos fatores de degradação .................................................. 86
6.2.2. Conclusões relativas à análise combinada de fatores .............................................................. 90
6.2.3. Conclusões relativas à comparação entre estudos .................................................................. 91
6.2.4. Conclusões relativas ao modelo proposto ................................................................................ 93
6.3. Desenvolvimentos futuros ............................................................................................ 94
6.3.1. Melhoria da amostra analisada ................................................................................................ 94
6.3.2. Melhoria na recolha de informação .......................................................................................... 94
6.3.3. Melhorias ao estudo e metodologia proposta ........................................................................... 95
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 96
ANEXO I – FICHA DE INSPEÇÃO ........................................................................................................ A
ANEXO II – FOTOGRAFIAS DAS FACHADAS ........................................................................................ C
ANEXO III – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DO ESTUDO ..................................................................G
ANEXO IV – CARATERIZAÇÃO DOS FATORES DE DEGRADAÇÃO ........................................................... I
x
Índice de figuras
Figura 2.1 – Relação entre a perda de desempenho das propriedades de um elemento e os mínimos aceitáveis,
com identificação daquela que condiciona o fim da vida útil. .................................................................................. 8
Figura 2.2 – Influência das atividades de manutenção no cumprimento dos níveis mínimos aceitáveis. ................ 8
Figura 2.3 – Procedimento geral das metodologias de previsão da vida útil de materiais e componentes de
construção, com indicação do procedimento adotado na presente dissertação. .................................................... 9
Figura 2.4 – Andamento geral de uma curva de Gompertz. .................................................................................. 17
Figura 2.5 – Andamento geral de uma curva potencial. ........................................................................................ 17
Figura 2.6 – Andamento geral das curvas Weibull. ............................................................................................... 18
Figura 2.7 – Exemplo do destacamento de reboco e da película de tinta. ............................................................ 20
Figura 2.8 – Escalas de análise dos materiais e componentes de edifícios. ......................................................... 21
Figura 3.1 – Exemplos de alvenarias de edifícios antigos ..................................................................................... 35
Figura 3.2 – Exemplo de reboco antigo multicamada ............................................................................................ 35
Figura 3.3 – Esquema de principais agentes e causas de degradação. ............................................................... 38
Figura 3.4 – Exemplo de perda de aderência/destacamento de reboco ............................................................... 41
Figura 3.5 – Exemplo de perda de coesão/desagregação de reboco ................................................................... 43
Figura 4.1 – Localização dos edifícios que compõem a amostra .......................................................................... 46
Figura 4.2 – Fotografias parciais do edifício PA059 .............................................................................................. 47
Figura 4.3 – Exemplo das dimensões (m) da fachada de um dos edifícios inspecionados. .................................. 47
Figura 4.4 – Amostras de reboco .......................................................................................................................... 48
Figura 4.5 – Ilustração dos 3 tipos de tinta: a) lisa; b) texturada; c) membranas .................................................. 49
Figura 4.6 – Sistema de classificação das orientações solares das fachadas ...................................................... 50
Figura 4.7 – Montagem da fotografia da fachada do edifício PA059 ..................................................................... 51
Figura 4.8 – Ortogonalização da fotografia da fachada do edifício PA059 ............................................................ 52
Figura 4.9 – Delimitação das áreas com destacamento de reboco utilizando a aplicação PhotoMeasure ............ 53
Figura 4.10 – Exemplo ilustrativo da medição do erro nas abcissas e nas ordenadas do gráfico de degradação. 54
Figura 5.1 – Gráfico de degradação geral. ............................................................................................................ 60
Figura 5.2 – Curvas de degradação gerais. .......................................................................................................... 62
Figura 5.3 – Influência do fator “FD1: dureza do reboco”, modelação com curvas de Gompertz. ......................... 64
Figura 5.4 – Modelação com as curvas de Gompertz com o fator de degradação "dureza do reboco” efetuado por
Paulo (2009). ......................................................................................................................................................... 64
Figura 5.5 – Influência do fator “FD2: textura da pelicula de tinta”, modelação com curvas de Gompertz. ........... 66
Figura 5.6 – Modelação com as curvas de Gompertz com o fator de degradação "textura da pelicula” efetuado
por Garrido (2010). ................................................................................................................................................ 67
Figura 5.7 – Influência do fator “FD3: orientação solar”, modelação com curvas de Gompertz. ........................... 68
xi
Figura 5.8 – Influência do fator “FD3: orientação solar”, modelação com curvas de Gompertz ............................ 70
Figura 5.9 – Modelação com as curvas de Gompertz com a combinação de fatores de degradação "orientação
solar” e “textura da pelicula de tinta” efetuado por Costa (2011). .......................................................................... 70
Figura 5.10 – Influência do fator “FD4: espessura do reboco”, modelação com curvas de Gompertz .................. 72
Figura 5.11 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD2: textura da pelicula de
tinta”, modelação com curvas de Gompertz. ......................................................................................................... 74
Figura 5.12 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD2: textura da pelicula de
tinta”, modelação com curvas de Gompertz. ......................................................................................................... 75
Figura 5.13 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD2: textura da pelicula de
tinta”, modelação com curvas de Gompertz. ......................................................................................................... 76
Figura 5.14 – Comparação entre as várias combinações efetuadas entre os fatores “dureza do reboco” e “textura
da película de tinta”. .............................................................................................................................................. 77
Figura 5.15 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD3: orientação solar ”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 78
Figura 5.16 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD3: orientação solar”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 79
Figura 5.17 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD3: orientação solar”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 80
Figura 5.18 – Comparação entre as várias combinações efetuadas entre os fatores “dureza do reboco” e
“orientação solar”. .................................................................................................................................................. 80
Figura 5.19 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD4: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 81
Figura 5.20 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD4: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 82
Figura 5.21 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD4: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 83
Figura 5.22 – Comparação entre as várias combinações efetuadas entre os fatores “dureza do reboco” e
“espessura do reboco”. .......................................................................................................................................... 84
xii
xiii
Índice de quadros
Quadro 2.1 – Subfactores relevantes na análise dos fatores relacionados com as características intrínsecas das
pinturas .................................................................................................................................................................. 15
Quadro 2.2 – Agentes de degradação que afetam a vida útil dos materiais e componentes de construção ......... 22
Quadro 2.3 – Normas da serie ISO 15686. ........................................................................................................... 25
Quadro 3.1 – Classificação dos ligantes de acordo com a natureza da matéria-prima. ........................................ 29
Quadro 3.2 – Exemplos de adjuvantes e adições ................................................................................................. 32
Quadro 3.3 – Exigências funcionais e requisitos de desempenho de rebocos tradicionais. .................................. 34
Quadro 3.4 – Anomalias predominantes nos rebocos antigos .............................................................................. 39
Quadro 4.1 – Quadro resumo da metodologia adotada. ....................................................................................... 56
Quadro 5.1 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados por intervalos de idade dos rebocos de fachada.
.............................................................................................................................................................................. 58
Quadro 5.2 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados por intervalos de destacamento de
revestimentos de reboco. ...................................................................................................................................... 59
Quadro 5.3 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados pelos fatores de degradação. ......................... 60
Quadro 5.4 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação geral. ................................................................................................................. 61
Quadro 5.5 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD1: dureza do reboco”. .............................................. 63
Quadro 5.6 – Quadro comparativo dos estudos realizados por Anselmo, (2012) e Paulo, (2009). ....................... 65
Quadro 5.7 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD2: textura da película de tinta”. ............................... 66
Quadro 5.8 - Quadro comparativo dos estudos realizados por Anselmo, (2012) e Garrido, (2010). ..................... 67
Quadro 5.9 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD3: orientação solar”. ................................................ 68
Quadro 5.10 – Quadro resumo do andamento das curvas de degradação para o fator “orientação solar”. .......... 69
Quadro 5.11 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD3: orientação solar” (2 conjuntos de fachadas). ...... 69
Quadro 5.12 - Quadro comparativo dos estudos realizados por Anselmo, (2012) e Costa, (2011). ...................... 71
Quadro 5.13 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD4: espessura do reboco”. ........................................ 71
Quadro 5.14 - Quadro resumo do andamento das curvas de degradação para o fator “espessura do reboco”. ... 73
Quadro 5.15 – Quadro resumo das combinações de fatores de degradação considerados. ................................ 73
Quadro 5.16 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD2: textura da película de tinta”. ....... 74
Quadro 5.17 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD2: textura da película de tinta”. ....... 75
xiv
Quadro 5.18 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD2: textura da película de tinta”. ....... 76
Quadro 5.19 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD3: orientação solar”. ....................... 77
Quadro 5.20 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD3: orientação solar”. ....................... 78
Quadro 5.21 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD3: orientação solar”. ....................... 79
Quadro 5.22 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD3: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 81
Quadro 5.23 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD3: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 82
Quadro 5.24 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD3: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz. ................................................................................................................... 83
Quadro 5.25 – Quadro resumo dos resultados obtidos com a aplicação isolada dos fatores de degradação. ..... 84
Quadro 5.26 – Quadro resumo dos resultados obtidos com as combinações de fatores de degradação
consideradas. ........................................................................................................................................................ 85
Quadro 6.1 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados por intervalos de idade dos rebocos e extensão
de destacamento. .................................................................................................................................................. 87
Quadro 6.2 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados pelos fatores de degradação. ......................... 87
Quadro 6.3 – Quadro resumo do andamento das curvas de degradação que caraterizam os fatores considerados
no estudo. .............................................................................................................................................................. 88
Quadro 6.4 - Quadro comparativo dos resultados obtidos nesta investigação e os estudos realizados por Paulo,
(2009), Garrido, (2010) e Costa (2012). ................................................................................................................ 92
1
1. Introdução
1.1. Considerações gerais
As construções antigas, enquanto património e componente etnográfica da vivência dos povos,
constituem uma herança que compete saber respeitar e preservar de modo a garantir que também as
gerações vindouras delas possam desfrutar (Malva, 2009).
A recuperação deste património continua a ser um ramo de atividade da indústria de construção
pouco explorado em Portugal, quando comparado com o investimento médio realizado na reabilitação
por outros países Europeus. De acordo com dados estatísticos, 38.1% do parque edificado nacional
necessita de reparação, sendo que 12.2% tem menos de 10 anos (INE, 2001). A recuperação e
revitalização deste património devem passar pela aplicação de medidas gerais, inseridas em
verdadeiras políticas de manutenção (Flores e Brito, 2003a).
Neste contexto, o desenvolvimento de metodologias para a previsão da vida útil de materiais e
componentes de construção assume um papel essencial na definição de futuras políticas de
manutenção e reabilitação das construções. A definição de limites de degradação aceitáveis e a
previsão do tempo até que esses limites sejam alcançados permitem aos proprietários dos imoveis
otimizar estratégias de manutenção com menores custos associados.
1.2. Âmbito e objetivos da dissertação
A maioria das construções, antigas e mais recentes, apresenta revestimentos em reboco que, com o
passar do tempo e a ausência de manutenção, tendem a deteriorar-se. Sendo o reboco o elemento
mais visível de um edifício, o seu estado de degradação afeta negativamente a sua estética,
influenciando de forma significativa a depreciação do valor do imóvel e do espaço envolvente.
Na presente dissertação, propõe-se desenvolver uma metodologia de previsão de vida útil de
revestimentos de reboco de fachadas antigas. Esta metodologia surge na sequência de outras
dissertações que, ao longo dos últimos anos, têm vindo a desenvolver uma metodologia de estimativa
de vida útil de materiais e componentes de construção baseada na inspeção de edifícios em serviço.
Neste âmbito, o presente estudo enquadra-se numa linha de investigação exploratória, que recorre a
curvas de degradação do tipo Gompertz, potenciais e Weibull, para modelar o desempenho diferido
dos materiais e componentes de construção ao longo do tempo. São exemplos desta abordagem de
previsão da vida útil, as investigações realizadas por Paulo (2009), Garrido (2010), Costa (2011) e
Silva (2012).
2
O objetivo da presente dissertação é dar continuidade a esta metodologia gráfica de previsão da vida
útil, avaliando a capacidade do método em fornecer ferramentas analíticas que permitam a realização
de estimativas de vida útil de rebocos de fachadas antigas.
Deste modo, foi analisada a influência de quatro fatores de degradação no desempenho diferido dos
rebocos. Cada fator pretende avaliar uma ou mais variáveis associadas ao destacamento de rebocos
de fachadas antigas, tais como:
FD1 – Dureza do reboco: a influência das características intrínsecas do material;
FD2 – Textura da película de tinta: a influência da interação com outro material;
FD3 – Orientação solar das fachadas: a influência de agentes externos;
FD4 – Espessura do reboco: a influência do modo de execução.
Para quantificar o destacamento de reboco e identificar cada um dos fatores de degradação, foram
realizadas inspeções a 100 fachadas de edifícios localizados no parque edificado de Lisboa com
construção anterior ao século XX. Estes edifícios apresentam características construtivas
semelhantes (ausência de estruturas de betão) de forma a limitar, tanto quanto possível, os fatores
que influenciam o destacamento de reboco.
Tendo em consideração que vários estudos partilham indiretamente um elemento construtivo comum,
e muitas das anomalias estão inter-relacionadas, pois podem partilhar a mesma origem, e que o
destacamento do reboco pode ser considerado como a última fase de um processo evolutivo de
outras anomalias, foi possível fazer uma análise comparativa dos resultados obtidos com os estudos
efetuados por Paulo (2009), Garrido (2010) e Costa (2011).
Paulo, P. V. (2009), A Building Management System (BuildingsLife): Application of
deterministic and stochastic models with genetic algorithms to building façades, Tese de
Doutoramento em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico.
Garrido, M. A. J. (2010), Previsão da vida útil de pinturas de fachadas de edifícios antigos
– Metodologia baseada na inspeção de edifícios em serviço, Dissertação de Mestrado
Integrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico.
Costa, J. M. M. (2011), Modelos de Gestão da Degradação em Edifícios - Influência de
fatores de degradação no aparecimento de manchas nas fachadas, Dissertação de
Mestrado em Engenharia Militar, Instituto Superior Técnico.
Esta análise comparativa representa uma mais-valia na tentativa de verificar a validade do método
gráfico na modelação do desempenho diferido dos materiais e componentes de construção. Este tipo
de método é baseado na definição de curvas de degradação (Gompertz, potenciais e Weibull) que
podem ser obtidas através do ajuste a gráficos de degradação do tipo T-ED (Tempo – Extensão da
Degradação). Através da análise ao andamento das curvas de degradação, é possível comparar os
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resultados obtidos nos vários estudos, de forma a verificar tendências comuns no desempenho dos
materiais e anomalias consideradas. Esta análise apresenta-se como mais um contributo para o
conhecimento da durabilidade dos rebocos e, consequentemente, para a verificação da metodologia
proposta na presente dissertação.
O objetivo da presente dissertação não é definir estimativas concretas da vida útil dos rebocos de
fachadas antigas, mas sim contribuir para o desenvolvimento de uma metodologia capaz de obter
valores concretos de vida útil para os materiais e componentes de construção que possam ser
utilizados à posteriori em planos de manutenção e de durabilidade.
1.3. Plataforma BuildingsLife
No desenvolvimento deste estudo, foi necessário inspecionar 100 edifícios, com o objetivo de
caracterizar o estado de degradação dos rebocos e os fatores de degradação que contribuem para a
degradação dos mesmos.
Deste modo, foi recolhida uma quantidade significativa de dados referentes a cada edifício. Através
da plataforma eletrónica BuildingsLife, foi possível o registo e armazenamento destes dados, assim
como a quantificação da anomalia em estudo.
A plataforma eletrónica BuildingsLife (http://www.buildingslife.com) foi desenvolvida no âmbito da tese
de doutoramento do Prof. Pedro Vaz Paulo (Paulo, 2009), do Instituto Superior Técnico, com o apoio
da empresa Construlink, Tecnologias de Informação, S.A. A arquitetura BuildingsLife é baseada na
ISO 15686 “Buildings and construted assets – Service Life Planning” podendo ser acedida pela
internet, após a obtenção de um login e respetiva senha.
De acordo com Paulo (2009), a plataforma BuildingsLife constitui um sistema de gestão da
manutenção para o património edificado, que possui as seguintes funcionalidades:
o registo e armazenamento de dados recolhidos em inspeções a fachadas de edifícios
(caracterização dos arruamentos, dos materiais aplicados, do ambiente de exposição e da
degradação existente);
a quantificação de anomalias;
a modelação do desempenho e da degradação de materiais e componentes;
a modelação das condições ambientais e dos fatores de degradação;
a criação e analise de planos de manutenção otimizados para a minimização dos custos.
Esta plataforma teve especial relevo na quantificação das anomalias (área de destacamento do
reboco), obtida através da aplicação PhotoMeasure que será abordada mais detalhadamente no
4
subcapítulo 4.6 do presente trabalho. Para a análise de dados e modelação do desempenho dos
rebocos de fachadas antigas, recorreu-se ao MicrosoftExcel devido à facilidade de utilização.
1.4. Estrutura da dissertação
A dissertação encontra-se organizada em seis capítulos, podendo dividir-se em três fases distintas: a
recolha de informação bibliográfica e state-of-the-art – capítulos 2 e 3; recolha de dados em trabalho
de campo e desenvolvimento da metodologia de investigação – capítulo 4; aplicação da metodologia
e análise de dados – capítulos 5. A informação presente em cada capítulo encontra-se resumida nos
pontos seguintes:
Capitulo 1 – Introdução: objetivos e âmbito da tese.
Capitulo 2 – Conceitos básicos na previsão da vida útil: é elaborado um state-of-art relativo às
metodologias já existentes de previsão de vida útil dos materiais e componentes de construção. É
feito uma contextualização da presente investigação no âmbito geral das metodologias de previsão
de vida útil e respetivo enquadramento normativo.
Capitulo 3 – Conceitos gerais das argamassas: caracterização das argamassas de reboco e
descrição das suas exigências funcionais. Breve descrição dos rebocos tradicionais e das suas
anomalias/causas mais frequentes, com especial enfase para as anomalias estudadas no âmbito da
presente dissertação.
Capítulo 4 – Metodologia de investigação: apresenta-se a metodologia proposta e seguida na
presente dissertação. São descritas as suas etapas, técnicas e equipamentos utilizados. Procede-se
à descrição e caracterização dos fatores de degradação, e exemplifica-se o modo de utilização da
plataforma informática BuildingsLife no contexto da dissertação.
Capítulo 5 – Análise de resultados: descrição dos dados recolhidos e método de análise.
Interpretação e análise dos resultados através de curvas de degradação que mostram a influência
dos fatores de degradação no desempenho diferido dos rebocos de fachadas antigas.
Capitulo 6 – Conclusão: considerações finais, limitações da metodologia e possíveis
desenvolvimentos futuros.
5
2. Conceitos básicos na previsão da vida útil
2.1. Enquadramento geral do tema
A previsão da vida útil de materiais e componentes de construção apenas começou a ganhar
relevância, na indústria de construção, na década de 80. De acordo com Garrido (2010), o aumento
de interesse nesta temática pode ser explicado por uma crescente preocupação política e social com
o conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.
Tendo em consideração que as atividades da indústria da construção têm um impacte significativo na
definição da qualidade de vida e produtividade das sociedades, foram adotadas medidas de
promoção de um “desenvolvimento sustentável” consagradas como uma meta global na cimeira das
Nações Unidas no Rio de Janeiro, Brasil 1993, da qual resultou a Agenda 21 (UN, 1993).
Um vetor de atuação na procura desta sustentabilidade corresponde ao aumento do ciclo de vida das
construções, exigindo que a durabilidade seja uma preocupação presente nas fases de projeto, de
execução e de exploração do património. Tal implica um planeamento cuidadoso e detalhado das
necessidades de manutenção, requerendo o controlo dos materiais e recursos económicos
necessários durante o ciclo de vida do espaço construído, de forma a este ser gerido do modo mais
económico possível (Daniotti et al., 2007).
Para tal, a previsão de vida útil dos materiais e componentes do património construído assume
grande importância, de forma a se alcançar maior longevidade, tornando o investimento mais
rentável, e permitindo uma correta seleção, uso e manutenção destes (Masters et al., 1987). Só desta
forma é possível que o planeamento das ações de manutenção ao longo do ciclo de vida seja
realizada em função dos mecanismos de degradação reais dos materiais e componentes da
construção, tendo em conta os fatores de degradação e as decorrentes vidas úteis expectáveis.
2.2. Conceito de vida útil
A vida útil é definida, segundo a norma ISO 15686 (Service Life planning), como o período de tempo
após a construção no qual o edifício ou parte deste atinge ou excede os requisitos mínimos de
desempenho. Apesar da relativa simplicidade do conceito, este abarca uma grande complexidade de
critérios, variáveis em função da época, do lugar, do avaliador, e do contexto social, político,
económico, estético, ambiental ou normativo que enquadra o julgamento sobre a construção (Gaspar,
2009).
Tendo em consideração o comportamento das construções, Branco (2006) afirma que os
componentes do edifício, como é o caso dos revestimentos de reboco, possuem, na maioria dos
casos, uma vida útil inferior à vida útil global. O autor defende que as construções devem ser sujeitas
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a obras de manutenção regulares durante a fase de serviço e, de facto, diversos autores, tais como
Flores (2002), Takata et al. (2004), Donca et al. (2007), corroboram esta opinião e afirmam que a
existência de manutenção regular prolonga o período de vida útil das construções.
A Canadian Standard Association, 478-95 Guideline in Durability in Buildings (CSA (1995)), descreve
a vida útil como o período de tempo no qual o edifício ou qualquer um dos seus componentes cumpre
os seus objetivos sem custos imprevistos ou alterações da manutenção. Este guia assume a
necessidade de manutenção regular e sistematizada dos diversos componentes que compõem os
edifícios, como fator relevante na quantificação da vida útil do edifício como um todo.
No caso dos revestimentos exteriores de fachadas, estes são os elementos sujeitos ao maior número
de fatores de degradação, sendo que é no revestimento que estes fatores atuam em primeiro lugar.
Deste modo, a vida útil de um edifício encontra-se diretamente relacionada com a manutenção do
desempenho do revestimento acima dos níveis mínimos exigíveis (Layzell e Ledbetter,1998).
2.2.1. Critérios de análise de vida útil
Os edifícios sofrem ao longo da sua vida útil diversos tipos de depreciação. A complexidade do
comportamento das construções ao longo do tempo e a relatividade do conceito de vida útil dificulta a
previsão da mesma. A maioria dos estudos sobre a durabilidade das construções adota um método
analítico, segundo o qual o problema é subdividido e analisado de acordo com duas ou mais
categorias diferenciadas.
Segundo Moser (2004), a vida útil é influenciada por critérios de segurança, de funcionalidade e
estéticos, e considera que o fim da vida útil de um edifício, ou parte dele, acontece sempre que uma
dessas propriedades deixa de cumprir a sua função. Gaspar (2002) agrupou os tipos de depreciação
em três categorias: deterioração física, desempenho económico e obsolescência funcional. Embora
os critérios de análise referidos anteriormente, sejam diferentes de autor para autor, estes estão
relacionados a conceitos como obsolescência, vida útil física, vida útil funcional, e ciclo de vida
económico. Cada um destes conceitos encontra-se desenvolvido em trabalhos anteriores, fazendo-se
apenas uma curta abordagem no âmbito da presente investigação.
A obsolescência é a perda da capacidade de um elemento em cumprir satisfatoriamente as
mudanças das exigências de desempenho, podendo esta ser funcional, tecnológica ou económica
(ISO 15686-1 (2005)).
A vida útil física corresponde ao período de tempo durante o qual o edifício ou parte dele se mantém
num nível requerido de adequação às exigências que lhes são colocadas ou que permita acolher e
responder a novos usos, sem sofrer desgaste físico irreversível para além de uma manutenção
corrente ou de investimentos equivalentes ao custo de reposição do elemento (Gaspar, 2002),
(Gaspar e Brito, 2003b).
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A degradação física dos materiais deve-se essencialmente à ação dos agentes de degradação
(sejam eles físicos, químicos ou mecânicos) e à ação do tempo (envelhecimento natural). Os aspetos
relacionados com a física das construções são geralmente os mais fáceis de quantificar e aqueles
nos quais se têm centrado a maioria das investigações sobre a durabilidade.
A vida útil funcional corresponde ao período de tempo durante o qual uma construção permite a sua
utilização, independentemente do fim para que foi concebida, sem obrigar a alterações generalizadas
(Davies e Szigeti, 1999).
De facto, muitas vezes, a obsolescência apenas reflete a inutilidade, no momento atual, de
determinado edifício ou componente mesmo que este se encontre em boas condições funcionais. A
obsolescência funcional ocorre quando um elemento da construção pode ser substituído por outro
que desempenhe a mesma função de forma semelhante ou melhor.
O ciclo de vida económico de uma construção coloca-se sempre que se analisa o desempenho do
edifício enquanto instrumento, isto é, um bem que gera e consome recursos ao longo da sua vida útil
(Santos, 2000). Assim, ainda que um edifício mantenha a sua integridade física acima dos níveis
mínimos de desempenho, por vezes sucede ser economicamente inviável a sua manutenção pela
insuficiência dos rendimentos gerados ou pela existência de alternativas mais rentáveis de ocupação
do espaço associado à construção (Gaspar e Brito, 2004).
De acordo com Brito (2001), a definição do fim da vida útil de uma construção é na realidade muitas
vezes mais um problema de índole económica do que técnica, pode assim dizer-se que um
revestimento atinge o fim da vida útil económica quando a substituição do revestimento é mais
lucrativa do que a sua reparação.
2.2.2. Fim da vida útil
Todos os métodos de previsão ou estimativa de vida útil pressupõem a definição do fim da vida útil.
No entanto, esta definição não é universal nem facilmente traduzida para um valor. Em termos gerais,
o fim da vida útil de uma construção pode ser descrito como o ponto no tempo quando a função
prevista já não é cumprida (Moser, 2004). Por outras palavras, considera-se que uma construção
atinge o seu fim de vida quando uma das suas dimensões de análise atinge um limite crítico
inaceitável, por obsolescência funcional, falta de rentabilidade económica ou pela degradação física
das suas camadas hierarquicamente mais determinantes (Ang e Wyatt, 1999), (Gaspar, 2001),
(Gaspar e Brito, 2003c).
A Figura 2.1 descreve este conceito graficamente, fazendo uma comparação dos critérios referidos
anteriormente em 2.2.1 que, segundo Moser (2004), influenciam a vida útil das construções.
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Figura 2.1 – Relação entre a perda de desempenho das propriedades de um elemento e os mínimos
aceitáveis, com identificação daquela que condiciona o fim da vida útil (Moser, 2004).
No exemplo apresentado, a segurança é assumido como o critério com maior nível de exigência na
previsão da vida útil. No entanto, este autor apresenta as propriedades estéticas como o grupo que
mais rapidamente atinge os níveis mínimos de desempenho, sendo assumido que estas
correspondem às propriedades condicionantes da vida útil. Efetivamente, alguns autores referem que
sempre que se consideram questões de ordem estética, estas acabam por se constituir como fatores
críticos (Damen e Hermans, 1999).
2.2.3. Influência da manutenção na vida útil
A manutenção de edifícios pode passar por reparações pontuais até a intervenções mais profundas
quando o nível de degradação é significativo. Segundo Takata et al. (2004), a manutenção é vista
como uma ferramenta de resolução de problemas. Os autores defendem que esta influencia o ciclo
de vida útil das construções, sendo necessária perante duas situações distintas:
alteração das condições do edifício devido a deterioração – vida útil física;
alterações das exigências e expectativas da sociedade – vida útil funcional.
Figura 2.2 – Influência das atividades de manutenção no cumprimento dos níveis mínimos aceitáveis (adaptado
de Takata et al., 2004).
Estética
Funcionalidade
Segurança
VIDA ÚTIL PREVISTA
nível mínimo para funcionalidade e estética
nível mínimo de segurança
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As operações de manutenção afetam o comportamento dos elementos ao longo do tempo, alterando
os modelos de degradação (acréscimos de desempenho) e os valores da vida útil (Figura 2.2). A
sistematização de estratégias de manutenção possibilita a gestão racional das intervenções, agindo
atempadamente no sentido de evitar a propagação de anomalias existentes, otimizando os recursos e
minimizando os custos envolvidos (Flores e Brito, 2003c).
2.3. Procedimento geral da previsão da vida útil
De acordo com Garrido (2010), a abordagem geral ao problema da previsão da vida útil de materiais
e componentes de construção pode ser dividida em três fases fundamentais: definição do problema,
recolha de dados e análise de dados. Este faseamento é, de forma geral, semelhante ao sugerido na
norma ISO 15686-1:2000, o qual por sua vez utiliza a estrutura proposta por Masters et al. (1989). Na
Figura 2.3, é apresentada uma esquematização deste procedimento geral, sendo também indicado
nesta figura o procedimento adotado na realização da presente dissertação.
Figura 2.3 – Procedimento geral das metodologias de previsão da vida útil de materiais e componentes de
construção, com indicação do procedimento adotado na presente dissertação (realce com cor).
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Nos pontos seguintes do presente capitulo, apresenta-se uma breve descrição das três diferentes
fases do processo de previsão da vida útil dos materiais e componentes, exemplificado com o
procedimento adotado na presente dissertação. Note-se que nem todas as técnicas, ensaios ou
metodologias apresentadas foram seguidas no desenvolvimento da presente dissertação, podendo
encontrar-se informação mais detalhada nas investigações de Sjöström (1991), Gaspar (2002),
Bordalo (2008), Silva (2009), Paulo (2009) e Garrido (2010).
2.3.1. Metodologia de recolha de dados
A recolha de dados tem o objetivo de fornecer, ao estudo sobre a vida útil de materiais ou
componentes, a informação capaz de caracterizar os mecanismos de degradação e as anomalias do
material, assim como a identificação dos fatores de degradação que influenciam a evolução desses
mesmos mecanismos.
Esta fase, de acordo com Garrido (2010), pode ser efetuada por duas vias: com metodologias de
curto prazo ou longo prazo. Esta designação não se relaciona necessariamente com o tempo que a
fase de recolha de dados consome. As designações de curto ou longo prazo referem-se ao modo de
degradação que é possível observar com a metodologia em causa. Na metodologia de curto prazo,
as degradações ocorrem, de forma induzida num curto espaço de tempo, enquanto na metodologia
de longo prazo as degradações ocorrem naturalmente, num espaço de tempo longo.
Nos pontos seguintes do presente capítulo, é explicado de forma sucinta as referidas metodologias
com exemplos referentes à metodologia adotada.
2.3.1.1. Metodologia de curto prazo
A metodologia de curto prazo é caracterizada por sujeitar os materiais ou componentes a condições
de exposição mais exigentes do que aquelas que seriam expectáveis de encontrar em serviço. Este
objetivo é alcançado, através de ensaios, intensificando os fatores de degradação ou aumentando a
frequência de incidência dos referidos fatores.
Nesta metodologia, distinguem-se dois tipos de ensaios: ensaios acelerados em laboratório e ensaios
acelerados de campo.
Os ensaios acelerados de laboratório tentam criar e simular artificialmente a ação dos agentes de
degradação durante o período de serviço dos materiais. Têm a vantagem de avaliar, em espaços de
tempo relativamente curtos, a ação direta de determinado fator de degradação no comportamento do
material ou componente em estudo.
Apesar das aparentes vantagens, é necessário relativizar os resultados obtidos, uma vez que a sua
correlação com a degradação que ocorre em exposição real nas condições de serviço é questionável.
Alguns autores referem que os ensaios acelerados em laboratório representam uma simplificação da
11
realidade, apresentando resultados sem uma correspondência clara com a complexidade dos
fenómenos associados à degradação natural em condições reais de utilização e exposição
(Gonçalves, 1997), (Botelho, 2003), (Daniotti e Iacono, 2005), (Martin et al., 1994), (Johnson et al.,
1996), (Mallon et al., 2002). De facto, algumas das razões que podem estar na origem do referido,
são o número reduzido de fatores em atuação em simultâneo (geralmente dois fatores) desprezando
a natureza sinergética dos fenómenos de degradação, bem como, o risco de se originarem
mecanismos de degradação que não ocorreriam numa exposição normal. Nesta perspetiva, este tipo
de metodologia apresenta-se como um instrumento muito interessante para a avaliação de relações
causa-efeito entres fatores e mecanismos de degradação.
Os ensaios acelerados de campo consistem na exposição de provetes de teste em determinadas
localizações, onde estes ficam sob a ação dos fatores de degradação aí presentes, os quais devem
ser monitorizados e registados ao longo da duração do ensaio. Este tipo de ensaio pode assumir
várias durações, de acordo com os objetivos pretendidos.
Apesar de as durações típicas dos ensaios serem superiores às dos ensaios laboratoriais acelerados,
estes podem ser considerados ensaios de curta duração. Nesta metodologia, a escolha do local de
exposição é fundamental, o que se pretende é acelerar os mecanismos de degradação para reduzir o
tempo do ensaio, por intermédio de uma exposição dos provetes a um dado fator de degradação com
intensidade e/ou frequências superiores à que é expectável em condições de serviço.
De acordo com Garrido (2010), estes ensaios têm a vantagem de permitir testar os materiais sob
condições de exposição real, com um grau de aceleração inferior, o que à partida permitirá reduzir os
riscos associados à utilidade dos resultados referidos para os ensaios laboratoriais acelerados.
Porém, apesar de aqui serem apresentados como ensaios de curto prazo, os períodos de ensaio
poderão ser demasiado longos quando se pretende obter rapidamente informações sobre o
desempenho diferido de um dado material ou componente.
2.3.1.2. Metodologia de longo prazo
A metodologia de longo prazo caracteriza-se por analisar a degradação dos materiais ou
componentes quando sujeitos a condições reais de exposição. Deste modo, observam-se taxas de
degradação reais ao invés de taxas de degradação acelerada, eliminando o risco de ocorrência de
mecanismos de degradação artificiais. Com a ausência do risco associado aos ensaios acelerados,
que carecem de transposição em taxas reais de degradação, neste tipo de metodologia é possível o
uso direto dos dados recolhidos para a elaboração de previsões da vida útil.
Nesta metodologia, distinguem-se quatro tipos de abordagens básicas para a obtenção de dados de
degradação: os ensaios de campo, a inspeção de edifícios em serviço, a utilização de edifícios
experimentais e a exposição de provetes em serviço (Sjöström and Brandt, 1991).
12
Os ensaios de campo podem ser utilizados como metodologia de curto ou longo prazo dependendo
da sua conceção. Quando os fatores de degradação utilizados e os seus respetivos níveis
(intensidade e frequência) são em tudo semelhantes aos encontrados em condições de serviço, estes
ensaios inserem-se na categoria dos ensaios de longo prazo uma vez que a degradação que irá ser
observada é semelhante à que ocorrerá em serviço.
Na análise dos dados provenientes destes ensaios, é necessário ter em consideração que:
os resultados obtidos dependem fortemente do local de exposição, pelo que a transposição de
resultados para outros locais não é simples;
as condições ambientais não se repetem de período para período, sendo os dados obtidos
característicos do período efetivo do ensaio.
A inspeção de edifícios em serviço pretende caracterizar o comportamento de materiais ou
componentes de edifícios em condições reais de utilização, selecionando para o efeito edifícios reais
que não tenham sido concebidos para utilização em metodologias de previsão de vida útil.
De acordo com Gaspar (2009), esta opção é a mais vantajosa no âmbito de operações correntes de
gestão e manutenção de edifícios, pela simplicidade e facilidade de aplicação, sendo adequada aos
meios técnicos e financeiros geralmente disponíveis em gabinetes e empresas de projeto,
fiscalização, gestão técnica, manutenção e gestão de condomínios.
Apesar das vantagens, Sjöström (1991) refere duas limitações características deste tipo de método,
que se devem ter em conta:
a dificuldade em controlar, medir e descrever de forma concreta as condições ambientais a que
está sujeito o material ou componente durante o seu período de exposição;
a dificuldade na obtenção de dados referentes aos edifícios, como são exemplo a
caracterização dos materiais e componentes inspecionados, as suas condições de aplicação, o
momento da aplicação/instalação, bem como, as possíveis ações de manutenção apreendidas
ao longo do período de exposição.
Esta foi a metodologia adotada no presente trabalho. As informações referentes ao momento de
aplicação dos rebocos e as eventuais ações de manutenção empreendidas sobre estes foram obtidas
nos arquivos municipais. Algumas destas informações também podem ser obtidas noutros serviços
públicos, ou através de interpelação direta dos ocupantes do edifício, neste caso existe o risco da
informação recolhida ser pouco precisa e fiável. Para a caracterização dos rebocos, foram retiradas
amostras para posterior análise laboratorial com o intuito de definir os constituintes das argamassas
de reboco. Estes ensaios de campo, de caracterização de determinadas propriedades, deverão ser
13
preferencialmente não destrutivos e pouco intrusivos, uma vez que os edifícios a inspecionar são
edifícios em serviço.
A utilização de edifícios experimentais difere do caso anterior, pelo facto de existir um controlo
muito maior sobre todas as condições experimentais. Os edifícios experimentais são edifícios
concebidos com o intuito de incorporar e expor materiais ou componentes específicos em condições
de serviço. Assim, é possível saber exatamente quais os materiais ou componentes em estudo, as
suas características, as suas condições de aplicação e a idade destes a qualquer momento.
Adicionalmente, é possível monitorizar, desde o início do ensaio e até à sua conclusão, as condições
de exposição e os fatores de degradação considerados relevantes para a situação em estudo
(Garrido, 2010).
Por último, a exposição de espécimes em serviço consiste na incorporação de materiais ou
componentes para os quais se pretende obter dados de vida útil em edifícios ou infraestruturas que
não foram especificamente concebidas para a execução de ensaios de durabilidade. Este tipo de
abordagem é um procedimento experimental tão controlado quanto possível, particularmente útil
quando a degradação está diretamente ligada a ações e comportamentos dos utilizadores (ensaio de
caixilhos de janelas) (Garrido, 2010).
2.3.2. Metodologia de previsão da vida útil
A estimativa da vida útil de materiais ou componentes de construção é um processo complexo e
moroso que tem associados inúmeros fatores. Existem diferentes métodos e abordagens de análise e
modelação de dados para a previsão da vida útil, dos quais distinguem-se três modelos diferentes:
modelos determinísticos, modelos estocásticos e modelos de engenharia (Daniotti, 2003), (Moser,
2004), (Lacasse e Sjöström, 2004).
O objetivo destes métodos é a modelação do desempenho diferido dos materiais e componentes,
para que seja possível a previsão da sua vida útil. Nos pontos seguintes deste capítulo serão
apresentadas as características gerais destas abordagens.
2.3.2.1. Modelos determinísticos
Os métodos determinísticos utilizam uma função de durabilidade de referência para a determinação
da vida útil de um elemento, que é posteriormente modificada através de fatores que traduzem as
suas condições de serviço expectáveis. Estes fatores são traduzidos em fórmulas que expressam a
sua ação ao longo do tempo, até que o valor mínimo aceitável de desempenho do elemento estudado
seja atingido (Gaspar, 2002).
Apesar da facilidade de compreensão e aplicação deste tipo de métodos, estes são alvos de várias
críticas pela simplicidade com que abordam fenómenos complexos. No entanto, estes métodos são
os que têm produzido mais resultados práticos, servindo de base para a norma ISO.
14
Existe um outro tipo de modelos determinísticos, baseados na definição de curvas de degradação,
nas quais se pretende modelar diretamente o desempenho diferido dos materiais ou componentes em
estudo. Ambos os métodos são descritos, resumidamente, nos pontos seguintes da presente
dissertação.
Método fatorial
O método fatorial foi introduzido pelo Architectural Institute of Japan em 1993 (AIJ, 1993), sendo este
conceito posteriormente adotado na norma ISO 15686-1:2000. Esta metodologia envolve a alteração
da vida útil de referência, de um produto, componente ou um sistema, através da utilização de vários
fatores que caracterizam as suas condições de uso (Davies e Wyatt, 2005). Trata-se de um método
empírico que depende fortemente da informação disponível, não caracterizando o escalonamento da
degradação dos elementos ao longo do tempo.
Pode assim dizer-se que o método fatorial permite determinar a vida útil de um elemento através da
multiplicação da vida útil de referência por fatores determinísticos, tal como indicado na seguinte
expressão:
ESLC = RSLC × A × B × C × D × E × F × G (1)
Onde, segundo a norma ISO 15686-1:2000:
ESLC - vida útil estimada (estimated service life);
RSLC - vida útil de referência (reference service life);
A - fator relacionado com a qualidade dos materiais;
B - fator relacionado com o nível de projeto;
C - fator relacionado com o nível de execução;
D - fator relacionado com as condições do ambiente interior;
E - fator relacionado com as condições do ambiente exterior;
F - fator relacionado com as condições de uso;
G - fator relacionado com o nível de manutenção.
Os fatores corretivos do método fatorial correspondem a índices multiplicativos e variam normalmente
(mas não obrigatoriamente) entre 0.8 e 1.2, para as condições menos e mais favoráveis
respetivamente. Assumem o valor de 1.0 para as situações correntes ou sempre que o respetivo fator
não for aplicável.
Apesar de o objetivo ser a criação de um método empírico para a estimativa da vida útil, a norma ISO
15686 adverte que este não fornece uma garantia à vida útil (Davies e Wyatt, 2005). De facto, o
resultado deste método representa o limite expectável da vida útil do elemento analisado, não dando
a informação da dispersão dos resultados. No entanto, apesar destas e de outras críticas, como a
não hierarquização das variáveis, a pressuposição de um ritmo de degradação constante e
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independência de cada fator, os métodos fatoriais são os que apresentam uma maior aceitação na
comunidade científica tendo sido alvo de inúmeras variações e desenvolvimentos (Gaspar, 2002).
Uma outra abordagem para ultrapassar as referidas limitações, pode passar pela consideração de
cada um dos fatores como sendo uma variável aleatória, à qual pode ser associada uma função de
densidade de probabilidade. Esta abordagem pretende melhorar a qualidade da estimativa de vida
útil, incorporando uma vertente probabilística no método fatorial, mas mantendo a sua simplicidade de
utilização (Moser, 2004).
No Quadro 2.1, são identificados os fatores e subfactores relevantes para caracterização do
comportamento de revestimentos de reboco em paredes antigas.
Quadro 2.1 – Subfatores relevantes na análise dos fatores relacionados com as características intrínsecas das
pinturas (adaptado de Flores, 2002; Teo et al., 2005; Gaspar, 2009; Silva, 2009).
Fator Subfactores relevantes
A - qualidade dos materiais
Tipo de argamassa
Características das argamassas (porosidade, permeabilidade, resistência mecânica, entre outras)
Características e condições do suporte (tipo de suporte - alvenaria, betão)
Tratamento da superfície de suporte (hidrófugos, entre outros)
Suscetibilidade à ação de agentes biológicos (algas, bactérias, fungos…)
B – nível de projecto
Pormenorização do material de revestimento (espessura, dosagem, número de camadas)
Compatibilidade da argamassa com o suporte
Homogeneidade do suporte
Pormenorização das zonas de interação de diferentes elementos construtivos
Pormenorização de elementos que evitam a entrada de agua e escorrências
Adequação da argamassa às condições de exposição
C – nível de execução
Preparação e limpeza da superfície de suporte
Condições de aplicação (temperatura, humidade relativa)
Processo de aplicação (numero de camadas, tempos de presa/endurecimento)
Especialização de mão-de-obra
Fiscalização e controlo de qualidade
D – condições do ambiente interior Não apresenta efeitos significativos em revestimentos exteriores
E – condições do ambiente exterior
Orientação solar, temperatura do ar, acção da chuva, humidade relativa, acção do vento, factores microbiológicos, poluição ambiental, proximidade de fontes poluentes, proximidade do mar
Geometria da fachada (saliências, zonas expostas), orientação, inclinação, altura e volumetria
Exposição da fachada (existência de elementos de protecção)
F – condições de uso
Factores acidentais de origem natural ou humana
Vandalismo (graffiti)
Ataque biológico (vegetação parasitária e aves)
Causas fortuitas
G – nível de manutenção
Inexistente
Tipo de manutenção (inspecções, limpezas, reparações, tratamento de superfície, entre outros)
Periodicidade da manutenção
Acessibilidade para executar a manutenção
Qualidade das acções de manutenção (técnicas adequadas, entre outros)
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Método de “curve fitting”
Este tipo de método é baseado na definição de curvas de degradação que pretende modelar o
desempenho diferido dos materiais e componentes ao longo do tempo. Estas curvas podem ser
obtidas através do ajuste a gráficos de degradação, que representam o tempo decorrido desde a
entrada em serviço dos materiais e componentes no eixo das abcissas, e uma escala de medida da
degradação, dos mesmos, no eixo das ordenadas.
Para a escala de medida da degradação, pode adotar-se diferentes abordagens, podendo esta escala
traduzir uma única anomalia ou uma combinação de anomalias. No primeiro caso, utiliza-se uma
medida da extensão da anomalia, sendo que no segundo caso se recorre, geralmente, à
quantificação de um indicador da degradação que combine as extensões e, eventualmente, a
severidade das várias anomalias.
Adicionalmente, pode-se optar por dois modelos de definição da escala de medida da degradação.
Uma escala em que se representa o valor real da extensão da degradação, e uma escala em que se
subdivide a degradação em vários patamares, denominados níveis de degradação. Este e outros
exemplos de aplicação das referidas metodologias podem ser consultados nas investigações de
Paulo (2009), Garrido (2010), Gaspar (2002), Shohet et al. (2003), Teo et al. (2005) e Gaspar et al.
(2008-B).
Relativamente às curvas de degradação escolhidas para a modelação do desempenho diferido, estas
dependem essencialmente da natureza dos fenómenos de degradação modelados, devendo
apresentar um ajuste adequado ao andamento geral dos pontos do gráfico de degradação. No
contexto de fachadas e mais concretamente de rebocos, há a referir diferentes curvas utilizadas para
a modelação do desempenho, nomeadamente curvas do tipo Gompertz, potenciais e Weibull.
Curvas de Gompertz
As curvas de Gompertz foram utilizadas com sucesso por Paulo (2009) para a modelação da
degradação diferida de pinturas e rebocos de fachadas, e por Garrido (2010) para a modelação da
degradação de pinturas, no que se refere à extensão de destacamento. Em ambos os casos, as
curvas de Gompertz revelaram-se uma opção interessante para a modelação dos fenómenos de
degradação. A expressão geral correspondente a estas curvas é:
(2)
Na equação apresentada, DG corresponde ao valor da extensão da degradação e t corresponde ao
tempo decorrido desde a entrada em serviço do material ou componente. Os parâmetros a e b são
escalares, de sinal negativo para corresponder ao andamento apresentado na Figura 2.4.
17
Figura 2.4 – Andamento geral de uma curva de Gompertz.
O andamento apresentado é caracterizado por dois patamares, originados por assimptotas
horizontais nos limites do contradomínio da curva. De acordo com Garrido (2010), estes patamares
traduzem-se, no contexto da utilização destas curvas, numa fase de iniciação da degradação durante
a qual a anomalia progride muito lentamente, e numa fase de redução da taxa de degradação,
quando a anomalia já afeta uma grande extensão do material ou componente.
Curvas potenciais
As curvas potenciais foram utilizadas juntamente com curvas de Gompertz, no trabalho de Garrido
et al. (2010). A expressão geral correspondente a estas curvas é:
(3)
Nesta equação, DP corresponde ao valor da extensão da degradação e t corresponde ao tempo
decorrido desde entrada em serviço do material ou componente. Os parâmetros a e b são escalares,
de sinal positivo para corresponder ao andamento apresentado na Figura 2.5.
Figura 2.5 – Andamento geral de uma curva potencial.
As curvas potenciais, à semelhança das curvas de Gompertz, apresentam um patamar inicial que
representa um período de iniciação da degradação, seguido de um aumento gradual da taxa de
degradação. Contudo, e ao contrário das curvas de Gompertz, as curvas potenciais não apresentam
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 10 20 30 40 50 60 70
Exte
nsã
o d
a d
egr
adaç
ão
Tempo (anos)
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 10 20 30 40 50 60 70
Exte
nsã
o d
a d
egr
adaç
ão
Tempo (anos)
18
um patamar final. A curva tem um andamento continuamente crescente correspondente à taxa de
degradação, até que seja atingido o valor máximo de extensão da anomalia.
Curvas de Weibull
As curvas de Weibull são muito utilizadas na modelação de processos de degradação, sobretudo no
contexto da engenharia da fiabilidade. A expressão geral destas curvas é apresentada na Eq. 4.
(4)
Na Eq 4, DW corresponde ao valor da extensão da degradação e t corresponde ao tempo decorrido
desde entrada em serviço do material ou componente. Os parâmetros η e β são escalares, de sinal
positivo para corresponder ao andamento apresentado na Figura 2.6. Para este andamento, o
parâmetro β apenas pode assumir valores ímpares, maiores ou iguais a 3.
Figura 2.6 – Andamento geral das curvas Weibull.
O andamento destas curvas é em tudo semelhante ao andamento das curvas de Gompertz. Ambas
as curvas são caracterizadas por dois patamares definidos por assíntotas horizontais nos limites do
contradomínio da curva, que traduzem a progressão lenta da degradação na fase de entrada em
serviço do material ou componente, e numa fase posterior quando a anomalia já afeta uma grande
extensão.
Garrido (2010) modelou a extensão de destacamento de tinta em função do tempo com recurso às
três curvas, tendo concluído que as curvas de Gompertz são as que demonstram, de forma mais
consistente, um melhor ajuste aos dados obtidos.
Para além das curvas de modelação descritas, nas investigações de Gaspar (2002), Shohet et al.
(2003), Bordalo (2008), Silva (2009) e Gaspar (2009), foram utilizadas noutros trabalhos curvas
polinomiais e lineares, tendo-se também revelado adequadas à modelação do desempenho de
alguns materiais e componentes de construção. As curvas de degradação expressas por retas
apresentam vantagens, sobretudo no que se refere à manipulação da função que descreve a reta,
permitindo, por exemplo, passar feixes de retas pela origem e por cada um dos pontos da amostra
para determinar os intervalos de variação superiores e inferiores.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 10 20 30 40 50 60 70
Exte
nsã
o d
a d
egr
adaç
ão
Tempo (anos)
β = 3
β = 5
β = 7
β = 9
19
2.3.2.2. Modelos probabilísticos
Os métodos probabilísticos tentam elaborar modelos que procuram descrever a evolução da
degradação dos materiais ou elementos, através da definição de períodos de tempo. Têm geralmente
como base o cálculo matricial ou probabilístico, e definem a probabilidade de ocorrência de uma
mudança de estado do elemento ou material, procurando assim ultrapassar a incerteza relacionada
com as suas formas de degradação e irreversibilidade das condições de serviço.
Este modelo assenta na aceitação de que a deterioração é um processo estocástico regido por
variáveis aleatórias, que por sua vez definem parâmetros probabilísticos que afetam uma curva média
de degradação (Moser, 2003). Diferem dos modelos determinísticos por incluírem na estimativa de
vida útil, uma componente probabilística, não apresentando somente um valor como estimativa, mas
sim, intervalos de possíveis valores com probabilidades de ocorrência associadas (Garrido, 2010).
Em Paulo (2009), é apresentado um modelo probabilístico de previsão da vida útil, no qual são
utilizadas cadeias de Markov. O Modelo de Markov é um dos exemplos da estimativa da vida útil
através de métodos probabilísticos. Este método baseia-se na hipótese de um modelo de
deterioração poder ser definido a partir de um número limitado de condições.
Desta forma, para cada critério de desempenho, são definidos parâmetros de performance,
geralmente escalonados em níveis de 1 a n (da rotura à excelência) de acordo com a degradação
contínua do sistema. Da combinação do número de parâmetros com o número de níveis por
parâmetro, obtém-se uma matriz que representa o número de estados de determinado elemento
(Leira, 1999).
Posteriormente, para cada estado ou condição, é definida a probabilidade de transição de estado por
unidade de tempo, baseada em observações de campo, em função de cada variável ambiental,
constituindo-se matrizes de probabilidade de transição de estado.
Apesar de promissores, estes métodos ainda não têm uma grande aplicabilidade, dado serem
bastante complexos, necessitarem de grande quantidade de informação para serem fiáveis e terem
uma enorme dependência do trabalho de campo (Gaspar, 2002).
2.3.2.3. Modelos de engenharia
Os métodos de engenharia são utilizados para identificação dos fenómenos de degradação e
diminuição da performance de uma forma mais analítica, possibilitando um controlo melhor destes em
fase de projeto, ou através do planeamento metódico de manutenção (Daniotti, 2003).
Estes métodos encontram-se num nível intermédio entre os modelos determinísticos e probabilísticos.
O objetivo destes modelos é a obtenção de estimativas de vida útil com dados probabilísticos
20
associados, mas mantendo a simplicidade de utilização e menor exigência de volume de dados que é
possibilitada pelos modelos determinísticos (Moser, 2004).
As novas abordagens ao método fatorial, referidas em 2.3.2.1, que definem cada um dos sete fatores
corretivos do método como variáveis aleatórias são um exemplo de modelo de engenharia (Cecconi,
2004).
2.3.3. Definição do problema
Nesta fase da metodologia de previsão de vida útil de materiais ou componentes de construção,
define-se quais são os materiais analisados, as suas características, o seu contexto de aplicação, as
condições ambientais e possíveis fatores de degradação a que estes estão ou estarão expostos,
quais os mecanismos de degradação e as anomalias possíveis, bem como, os ensaios a serem
utilizados na fase de recolha de dados, o tipo de análise de dados e o output desejado.
2.3.3.1. Materiais e componentes em estudo
Na presente dissertação, foi necessário definir antecipadamente quais os componentes que vão ser
alvo de estudo. No caso da previsão da vida útil de revestimentos de fachadas antigas, definiu-se o
destacamento/desagregação do reboco como o foco de análise na previsão da vida útil de rebocos de
fachadas antigas.
Neste contexto, é necessário ter presente a diferença entre o destacamento de tinta e de reboco.
Embora ambos tenham impactos negativos na estética das fachadas dos edifícios, as suas diferenças
são facilmente identificáveis. O destacamento de tinta não implica deficiências na regularidade da sua
superfície da fachada (“planura”), esta caraterística é associada ao destacamento de reboco e
permite, por sua vez, identificar e quantificar a extensão de destacamento correspondente.
De facto, sempre que ocorre o destacamento de reboco, que serve de substrato à pintura, ocorre no
mínimo uma perda de tinta numa área igual à do reboco destacado, no entanto, o contrário não se
verifica (Figura 2.4). Tendo em consideração que uma das funções da película de tinta é a
impermeabilização do reboco, verificou-se que na sua ausência o reboco mostra sinais de
deterioração, sendo desta forma considerado para o estudo, para além do tipo de reboco, o tipo de
tinta.
Figura 2.7 – Exemplo do destacamento de reboco e da película de tinta (edifício PA077).
21
2.3.3.2. Caracterização das propriedades dos materiais ou componentes
As principais características do material ou componente em estudo devem ser identificadas e
definidas, para que a sua influência na durabilidade deste possa ser determinada. No caso em
estudo, foram consideradas para os rebocos, características como a dureza e espessura do reboco.
O tipo de tinta foi definido em função da sua textura superficial.
Conjuntamente com estas características, devem ser considerados outros fatores que não estão
diretamente relacionados com características intrínsecas do material ou componente, mas que têm
influência no seu comportamento futuro, como é o caso da orientação dos edifícios e agentes
exteriores.
2.3.3.3. Identificação do contexto de aplicação do material ou componente
É essencial definir qual o contexto de aplicação do material ou componente. Este contexto refere-se
tanto ao local de aplicação no edifício, como a própria localização geográfica do edifício em si. De
facto, uma completa contextualização será aquela feita nas escalas macro, meso, local e micro, como
apresentadas por Haagenrud (1997).
Figura 2.8 – Escalas de análise dos materiais e componentes de edifícios [Westberg et al. (2001), adaptado de
Haagenrud (1997)].
Esta contextualização irá permitir determinar quais os fatores de degradação mais importantes para o
material ou componente em estudo. É fácil perceber a importância desta contextualização, a
degradação sofrida pelos materiais ou componentes em estudo será diferente se estes se localizarem
numa zona costeira, ou numa zona interior com muito baixa humidade, ou no caso da mesma
localização geográfica, se este elemento se localizar no interior do edifício ou na envolvente exterior
deste.
Na presente dissertação, foi definida uma área urbana homogénea, com as mesmas características
de construção e localização geográfica, de forma a tornar a amostra o mais representativa possível.
Foi também verificada a orientação solar dos paramentos exteriores para analisar a influência desta
na durabilidade dos rebocos de paredes exteriores.
22
2.3.3.4. Especificação dos requisitos de desempenho
A especificação dos requisitos de desempenho de um material ou componente depende das
perceções e exigências de cada indivíduo. É necessário que se defina, deste a sua instalação, quais
são as exigências ou requisitos mínimos de desempenho pretendidos para esse material ou
componente.
A especificação desses níveis mínimos, ou requisitos, de desempenho caberá ao gestor do
edifício/infraestrutura. Dessa decisão dependerá a frequência, o tipo e o custo das ações de
manutenção empreendidas no restabelecimento destes níveis mínimos de desempenho.
2.3.3.5. Identificação dos agentes de degradação
Determinados fatores externos quando agindo sobre os materiais e componentes de construção,
desencadeiam nestes mecanismos de degradação que provocam a sua deterioração e afetam a sua
vida útil. Consequentemente, torna-se importante ter em consideração a influencia destes fatores no
desenvolvimento de metodologias de previsão da vida útil de materiais ou componentes de
construção. Tal significa que estes devem ser identificados e, se possível, o seu efeito deve ser
monitorizado ou controlado. No Quadro 2.2, é apresentada, a título de exemplo, a classificação da
norma ISO 6241:1984.
Quadro 2.2 – Agentes de degradação que afetam a vida útil dos materiais e componentes de construção
(adaptado da norma ISO 6241:1984).
Natureza Classe Exemplos
Agentes mecânicos
Gravíticos Cargas devidas à neve, cargas devidas a água das chuvas;
Forças e deslocamentos impostos ou impedidos
Formação de gelo, expansão e contração, deslizamento de terras, fluência;
Energia cinética Impactos, tempestades de areia, golpes de aríete (canalizações);
Vibrações e ruídos Escavação de túneis, vibrações devidas ao trânsito ou a aparelhos instalados, sismos, explosões.
Agentes electromagnéticos
Radiação Solar / UV, radiação rádioativa;
Electricidade Reações electrolíticas, relâmpagos.
Magnetismo Campos magnéticos;
Agentes térmicos Níveis extremos ou alterações rápidas de temperatura
Calor, temperaturas abaixo de 0ºC, choques térmicos, incêndios.
Agentes químicos
Água e solventes Humidade do ar, água freática, álcool;
Agentes oxidantes Oxigénio, desinfectantes, lixivia;
Agentes redutores Sulfitos, amónia, agentes comburentes;
Ácidos Ácido carbónico, dejectos de aves, vinagres;
Bases Cal, hidróxidos, cimento;
Sais Nitratos, fosfatos, cloretos;
Quimicamente neutros Poeiras, calcário, gorduras, óleos, tintas.
Agentes biológicos Vegetais e microbiais Bactérias, bolores, fungos, algas, raízes;
Animais Roedores, insectos, aves.
23
2.3.3.6. Especificação dos fatores de degradação
O conceito de “fator de degradação” engloba qualquer variável que possa influenciar a durabilidade
do material ou componente em estudo. Estes poderão ser fatores externos ao material ou
componente (ex. agentes de degradação), ou fatores internos, associados a características
intrínsecas do material (ex. porosidade do reboco), ou a sua interação com outros materiais do
sistema construtivo (ex. aderência entre um reboco e o seu substrato).
A especificação dos fatores de degradação a considerar pressupõe que a metodologia adotada tem a
capacidade de os identificar, estimar, quantificar, especificar ou monitorizar, para que seja possível
estabelecer algum tipo de relação entre a degradação do material e a ação desses fatores.
Na presente dissertação, foram considerados quatro fatores de degradação: dureza e espessura do
reboco; orientação das fachadas dos edifícios; textura da pelicula de tinta.
2.4. Enquadramento normativo
Nas últimas duas décadas, devido ao crescente interesse e preocupação com a sustentabilidade na
construção, desenvolveram-se diversos estudos com o intuito de regular a previsão da vida útil e
durabilidade dos edifícios e seus componentes. Destes estudos resultaram diversos textos
normativos, existindo diferentes abordagens.
Como referido, este interesse e consequente normalização pode ser explicado por uma crescente
preocupação política, social e da própria indústria com o conceito de sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável. Este princípio, de sustentabilidade, ficou consagrado na conferência
das Nações Unidas (UNCED – United Nations Conference on Enviroment and Development) no Rio
de Janeiro em 1992.
Os próximos pontos do presente capítulo relatam de forma sucinta a evolução da normalização, e
suas diferentes abordagens na previsão da vida útil.
Reino Unido e Canada, 1992
No Reino Unido, o organismo responsável pela normalização - British guide to durability of building
elements, products and components (BSI, 1992) – publicou em 1992 a norma BSI 7543 para a
durabilidade, que lista diversos métodos para estimar a vida útil de produtos da construção. Segundo
a referida norma, a previsão da vida útil pode ser realizada das seguintes formas:
através da experiência adquirida, com construções iguais ou semelhantes, sujeitas a ocupação
ou condições climáticas similares;
24
através da avaliação do nível de degradação dos elementos num curto período de utilização ou
exposição, estimando o valor para o qual o limite da durabilidade é atingido;
através de ensaios de envelhecimento acelerado - método de complexa ligação à realidade,
devido à necessidade de simular condições reais, que têm inúmeras variáveis associadas.
No Canadá, também é implementada uma norma semelhante - Guideline on Durability of Buildings
(CSA, 1995). Ambas as normas têm abordagens diretamente relacionadas com as preocupações
com a durabilidade e previsão da vida útil nas fases de planeamento, projeto, construção e utilização
dos edifícios e seus componentes.
Japão, 1993
No Japão, a estimativa da vida útil das construções tem sido um tema abordado à várias décadas.
Em 1989 a Ordem dos Arquitectos Japoneses [AIJ] apresenta o Japanese principal guide for service
life planning of buildings. Este documento, que teve grande difusão a partir de uma tradução parcial
(AIJ, 1993), propõe pela primeira vez o Método Fatorial para a previsão da vida útil de materiais e
componentes de um edifício. Segundo Brito (2001), este documento normativo tem o intuito de
adaptar o projeto, construção e manutenção dos edifícios, para os objetivos planeados para os
mesmos em termos de durabilidade. Desde então, no Japão, esta abordagem evoluiu, para a
ponderação mais global da durabilidade e da manutenção, a um nível legislativo (Miyamoto, 2003),
sem que, no entanto, estas práticas tenham tido tanto impacto como o Método Fatorial original
(Gaspar, 2009).
A norma ISO 15686
O desenvolvimento de metodologias de previsão da vida útil de materiais e componentes de edifícios
foi largamente potenciado pelo trabalho de várias comissões técnicas ao longo dos anos. Os esforços
internacionais conjuntos no domínio da normalização, no âmbito da durabilidade dos produtos da
construção, convergiram na elaboração da norma ISO 15686 no seio da TC59/SC14, no qual estão
envolvidas diversas entidades internacionais (tais como: CIB - International Council for Research and
Innovation in Building and Construction, RILEM - International Union of Laboratories and Experts in
Construction Materials, Systems and Structures, EOTA - European Organisation for Technical
Approvals e a ASTM - American Society for Testing and Materials).
Esta série de normas evoluiu em complexidade ao longo dos anos, e é hoje considerada como o
state-of-the-art nas metodologias de previsão da vida útil para materiais e componentes de
construção. No Quadro 2.3, é apresentado as onze partes que constituem a respetiva norma.
25
Quadro 2.3 – Normas da serie ISO 15686.
Norma Título Descrição Notas
ISO 15686-1:2000 General principles
Princípios gerais e procedimentos a
adoptar na fase de projecto, no âmbito
da durabilidade das construções,
incluindo uma visão geral da estimativa
da vida útil;
-
ISO 15686-2:2001 Service life prediction procedures
Enquadramento, princípios e
metodologia para a estimativa da vida
útil; nos métodos recomendados,
incluem-se testes de degradação,
campanhas de exposição prolongada
de amostras e levantamentos de
campo;
(em revisão)
ISO 15686-3:2002 Performance audits and reviews
Abordagem e procedimentos a adoptar
para a implementação do planeamento
da vida útil, nas várias fases do ciclo
de vida do património construído;
-
ISO/AWI 15686-4 Data requirements/data formats
Requisitos e formatos de dados
utilizados na previsão da vida útil,
referentes aos ambientes e condições
em serviço;
(por elaborar)
ISO 15686-5:2008 Life-cycle costing
Guia para o desenvolvimento de
modelos financeiros referente aos
custos do ciclo de vida (gestão e
manutenção) do património construído;
-
ISO 15686-6:2004 Procedures for considering
environmental impacts
Indicações para a avaliação dos
impactes ambientais das várias
alternativas de planeamento da vida
útil, relação com o LCA (Life Cycle
Analysis);
-
ISO 15686-7:2006 Performance evaluation for feedback of
service life data from practice
Indicações para a avaliação de
desempenho e feedback relativo aos
dados de vida útil recolhidos em
situações de exposição real em
condições de serviço;
-
ISO 15686-8:2008 Reference service life and service-life
estimation
Indicações para a obtenção de valores
da vida útil de referência (RSL) e da
estimativa da vida útil (ESL) para
utilizações particulares, e aplicação do
método factorial;
-
ISO 15686-9:2008 Guidance on assessment of service-life
data
Guia para a obtenção e harmonização
de valores de RSL, aplicável a
produtores de materiais e
componentes de construção;
-
ISO 15686-10 When to assess functional
performance
Indicações sobre a necessidade de
especificar ou verificar o cumprimento
de requisitos de desempenho funcional
do património construído;
-
ISO 15686-11 Terminology Terminologia adoptada; (em elaboração)
26
Outros documentos normativos
Holanda: é o país pioneiro na aplicação de legislação baseada em exigências de desempenho,
tendo servido de base ao desenvolvimento da Diretiva Europeia dos Produtos da Construção,
publicada em 1988.
Nova Zelândia: New Zealand Building Code (1992) - estabelece uma vida útil de 50 anos para
os edifícios, podendo os seus componentes possuir uma vida útil diferente, dependendo do
fácil acesso, reparação e deteção de anomalias.
Austrália: Guideline on durability in buildings (2003) - o regulamento aborda a vida útil das
construções em termos genéricos.
Estados Unidos: Partnership for Advancing Technology in Housing (PATH) tem patrocinado
uma série de publicações relativas à vida útil dos edifícios.
Contexto nacional
No contexto nacional e de acordo com o portal do Governo, o antigo RGEU (Regulamento Geral das
Edificações Urbanas), em vigor desde 1951, encontra-se completamente desajustado da realidade
atual. Deste modo, foi elaborada uma proposta de revisão do regulamento existente, substituído pelo
novo regulamento RGE (Regulamento Geral das Edificações). Pretende-se que o RGE seja um
regulamento estruturante e ajustado à realidade atual, que entra em linha de conta com aspetos
como a vida útil, manutenção e durabilidade dos edifícios (Silva, 2009).
O RGE, segundo a proposta de alteração elaborada pelo Conselho Superior de Obras Públicas
(2004), estabelece, relativamente à vida útil das construções, as seguintes considerações:
a vida útil de uma edificação (VUE), corresponde ao período em que a respetiva estrutura não
apresenta degradação dos materiais, em resultado das condições ambientais, que conduzam à
redução da segurança estrutural inicial (Artigo117º, n.º 1);
durante a vida útil das edificações, devem realizar-se atividades de inspeção, manutenção e
reparação, nomeadamente em relação aos diversos componentes da edificação que tenham
durabilidade inferior à vida útil (Artigo 117º, n.º 2).
27
3. Conceitos gerais das argamassas
3.1. Considerações gerais
Uma das atividades mais frequentes para quem lida com a conservação de edifícios antigos é a
conservação, reparação e substituição de argamassas deterioradas.
As argamassas desempenham funções de regularização e acabamento dos paramentos mas é na
proteção e conservação das alvenarias que a sua função é preponderante, pois funcionam como
barreira a ações externas e promovem condições de conforto e habitabilidade dos edifícios.
Sendo os rebocos um dos principais elementos que conferem a imagem arquitetónica dos edifícios e
cidades, a sua deterioração e a consequente necessidade de intervenção, no sentido da
conservação, reparação ou substituição, levou a um avanço no estudo destes elementos dos edifícios
antigos, relativamente a técnicas de diagnóstico, intervenção e materiais utilizados.
O presente capítulo tem como objetivo o enquadramento dos rebocos no universo dos revestimentos
de paredes, bem como, apresentar as principais características e materiais constituintes das
argamassas de reboco, cujo conhecimento se considera indispensável à compreensão do modo de
funcionamento deste tipo de revestimento. Por fim, são abordados os diversos mecanismos de
degradação dos rebocos com especial ênfase ao destacamento e desagregação das respetivas
argamassas de reboco.
3.2. Enquadramento histórico
Os rebocos são revestimentos de paredes, essencialmente de natureza inorgânica, que
desempenham desde a Antiguidade um papel muito relevante na regularização, na proteção face à
agressão dos agentes climáticos, e no acabamento das alvenarias.
A composição das argamassas não é constante, variou ao longo dos anos e de região para região,
em função dos materiais disponíveis. Nas civilizações mais primitivas, as primeiras argamassas de
reboco terão sido formadas à base de barro e argilas misturadas com água. Deste então que as
argamassas experimentam diversas evoluções até chegar à conceção atual. A descoberta de novos
materiais, a associação de calor que permitiu obter novas propriedades dos calcários e argilas, como
a descoberta e aperfeiçoamento das propriedades hidráulicas, juntamente com novos processos e
técnicas de construção que se foram desenvolvendo reciprocamente, conduziram a uma grande
diversidade de argamassas.
28
O conceito atual de argamassa é o resultado da mistura constituída por pelo menos um ligante e um
agregado fino, à qual é adicionada água. Podendo ser incluído ou não na sua composição outros
constituintes, normalmente, com o objetivo de dotar as argamassas de características específicas.
Atualmente, sabe-se que o ligante mais antigo na história da construção é a cal aérea, tendo sido até
à descoberta dos ligantes hidráulicos o ligante usado preferencialmente nas construções. Na
sequência da descoberta da cal hidráulica, atribuída a John Smeaton em 1756 aquando da
construção do farol de Eddystonne, seguiu-se uma evolução em busca de técnicas para desenvolver
ligantes capazes de funcionar a temperaturas suficientemente elevadas, de fazerem presa dentro de
água, e mais resistentes. Assim, obteve-se o cimento Portland e, desse modo, a partir de meados do
séc. XX, a utilização de argamassas à base de cal aérea cai em desuso não oferecendo resposta às
indiscutíveis vantagens dos ligantes hidráulicos, em particular o cimento.
Uma das exceções, no que toca a campos de aplicação da cal aérea, é precisamente no âmbito da
reabilitação/substituição de rebocos de alvenarias de edifícios antigos. Neste tipo de intervenção, é
vantajoso recorrer ao uso deste ligante para se obter melhor compatibilidade funcional e estética
entre os rebocos de substituição e os materiais antigos, bem como uma melhor preservação
histórico/cultural do património edificado [adaptado de Malva, (2009)].
3.3. Materiais constituintes
Uma argamassa é normalmente constituída pela mistura de pelo menos um ligante e um agregado
fino, á qual é adicionada água. A esta mistura podem-se, ainda, acrescentar adições e adjuvantes
com o objetivo de melhorar algumas das propriedades das argamassas, tanto no seu estado fresco
como no seu estado endurecido. A sua denominação depende do ligante utilizado, sendo usualmente
denominadas de “bastardas” quando possuem dois ligantes na sua constituição.
3.3.1. Ligantes
Os ligantes são os elementos com capacidade de aglutinação de partículas constituídos por pós
muito finos que, quando misturados com água, formam um produto final coeso e resistente cujo
endurecimento ocorre por intermédio de reações químicas entre as partículas do ligante e a água
e/ou o ar. Podem ser classificados segundo a sua origem, afinidade à água, e pelo seu
comportamento após o endurecimento e presa.
A classificação quanto ao comportamento dos ligantes após o endurecimento e presa é a
classificação utilizada mais frequentemente. Neste caso, os ligantes são agrupados em ligantes
hidráulicos e ligantes aéreos. Os ligantes hidráulicos caracterizam-se por, após o endurecimento,
manterem a sua resistência mecânica e estabilidade, mesmo imersos em água, e que são exemplos
o cimento e a cal hidráulica. Por seu lado, os ligantes aéreos caracterizam-se por, após o
endurecimento e presa, apenas conseguirem manter a sua resistência mecânica e estabilidade se
29
conservados ao ar, nestes ligantes a função da água de amassadura remete-se essencialmente a dar
trabalhabilidade à mistura. São exemplos deste tipo de ligantes o gesso e a cal aérea.
No Quadro 3.1, apresenta-se a classificação dos ligantes de acordo com a natureza da matéria-
prima.
Quadro 3.1 – Classificação dos ligantes de acordo com a natureza da matéria-prima.
Natureza da cal Teor de argila (%) Índice de
hidraulicidade Tempo de presa
(dias)
Cal aérea, gorda <1 - -
Cal aérea, magra 1,0 a 5,3 - -
Cal fracamente hidráulica 5,3 a 8,2 10 a 6,2 16 a 30
Cal medianamente hidráulica 8,2 a 14,8 6,2 a 3,1 10 a 15
Cal hidráulica 14,8 a 19,1 3,1 a 2,4 5 a 9
Cal eminentemente hidráulica 19,1 a 21,8 2,4 a 2,0 2 a 4
Cal limite ou cimento de presa lenta 21,8 a 26,7 2,0 a 1,5 1
Cimento de presa rápida 26,7 a 40,0 1,5 a 0,8 -
No universo dos rebocos, os ligantes mais comuns são o cimento, a cal hidráulica e a cal aérea,
sendo que o gesso também apresenta alguma aplicabilidade mas mais ao nível dos revestimentos
interiores de que são exemplo os estuques. De seguida, caracterizar-se-á, de forma sucinta, cada um
destes três ligantes.
3.3.1.1. Cal aérea
As principais matérias-primas da cal aérea são, as rochas calcárias e as rochas sedimentares
constituídas fundamentalmente por calcite ou carbonato de cálcio, CaCO3. Nas rochas calcárias,
podem estar presentes outros constituintes, sendo que, os calcários são considerados muito puros
quando o teor de carbonato de cálcio for superior a 95%. A presença de impurezas dita a qualidade
da cal aérea, podendo ser classificadas em cais gordas (<1% argilas) ou magras (1 a 5% de argilas)
consoante a percentagem de impurezas.
De uma forma simplificada, omitindo as reações secundárias que podem ocorrer durante o processo,
devido à presença de impurezas na matéria-prima, pode-se descrever a cal aérea como um ligante
que tem origem na decomposição térmica de calcários puros e posterior extinção em água.
O processo de obtenção da cal aérea inicia-se pela calcinação, que consiste na cozedura do
carbonato de cálcio (CaCO3) a cerca de 900ºC, transformando o carbonato de cálcio da rocha em
óxido de cálcio (CaO) vulgarmente conhecido por cal viva.
A fase seguinte consiste na extinção ou hidratação da cal viva, que se processa por imersão ou
aspersão com água. Este processo provoca uma reação exotérmica na qual ocorre desagregação
com efervescência do óxido de cálcio ao ser transformado em hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), também
denominado cal apagada ou extinta.
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Este composto é comercializado sob a forma de pó ou pasta e ao ser aplicado (mistura de cal viva
com areia molhada), o seu processo de endurecimento ocorre através de dois fenómenos, a
evaporação de água em excesso e a reação de carbonatação estabelecida pelo contacto com o
dióxido de carbono presente na atmosfera que durante a secagem origina novamente carbonato de
cálcio. Este processo ocorre de forma gradual do exterior para o interior da argamassa, determinando
as características físicas e mecânicas das argamassas de cal aérea, com tendência para ocorrer
retração do material que tenderá a desenvolver fissuração.
3.3.1.2. Cal hidráulica
A cal hidráulica é um ligante cujas características e propriedades se aproximam tanto da cal aérea
como do cimento.
As principais matérias-primas da cal hidráulica são as rochas calcárias margosas ou margas, com
teores de argila compreendidos entre os 5 a 20%. O processo de obtenção deste ligante é
semelhante ao descrito para a cal aérea. A matéria-prima é sujeita a temperaturas na ordem dos
1200 a 1500ºC, originando a formação de óxido de cálcio, de silicatos e aluminatos de cálcio. Com a
presença de óxido de cálcio, é necessário proceder-se à hidratação da cal viva, de forma a obter-se a
cal hidráulica.
O processo de endurecimento e presa da cal hidráulica ocorre por reações de hidratação, podendo
ocorrer tanto ao ar como debaixo de água. Este processo é mais rápido que a carbonatação das cais
aéreas o que confere significativas vantagens à cal hidráulica.
Apesar de o processo de obtenção deste ligante ser em tudo semelhante ao da cal aérea, a presença
de argila na matéria-prima dota este tipo de ligante de características hidráulicas. A hidraulicidade é a
característica que diferencia as cais, e é determinante no processo de endurecimento e
características do produto endurecido, conferindo à cal hidráulica um melhor comportamento face à
água e aumentando consideravelmente as propriedades mecânicas.
3.3.1.3. Cimento
O cimento é um ligante hidráulico que pode ser definido como um material inorgânico, finamente
moído, que, convenientemente amassado com água, forma uma pasta que, devido a reações de
hidratação, faz presa, endurece e permanece mecanicamente resistente e estável, tanto no ar como
na água, em condições normais de aplicação (NP EN 197-1:2001).
Para a produção de cimento, é necessário que a matéria-prima seja constituída por carbonato de
cálcio e argilas, sendo que estas deverão representar 20 a 40% da mistura. A cozedura das matérias-
primas, a uma temperatura que deverá rondar 1500ºC, origina o clínquer que após ser moído e com
diversas adições dá origem aos vários tipos de cimento previstos na NP EN 197-1:2001.
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Comparativamente às cais, o cimento possui um elevado índice de hidraulicidade, o que reduz
significativamente os tempos de presa e endurecimento, e aumenta as resistências do material
endurecido. Isto deve-se ao facto de o endurecimento ocorrer exclusivamente por reações de
hidratação dos compostos anídricos (silicatos e aluminatos de cálcio) que, durante este processo,
formam redes cristalinas entrelaçadas responsáveis pelo aumento da velocidade de presa e
resistência da pasta.
No caso português, o tipo de cimento mais utilizado para a produção de argamassas de reboco é o
Portland CEM II de classe de resistência 32.5N, por corresponder melhor aos critérios económicos e
de desempenho.
3.3.2. Agregados
Os agregados normalmente representam, em percentagem, o maior constituinte das argamassas,
muitas vezes designados por “inertes”, dada a sua reatividade química praticamente nula.
Os agregados mais comuns nas argamassas de rebocos são as areias, e são elas que vão constituir
o esqueleto da argamassa. O tipo de areias utilizado, as suas características e dosagem, vão ter
influência direta no desempenho e estética dos revestimentos. Nomeadamente na retração,
resistências mecânicas, módulo de elasticidade, comportamento face à água e ao gelo, coloração,
estrutura porosa, entre outras.
A geometria dos agregados assume grande importante, pois vai influir no comportamento da
amassadura, segundo Coutinho (2002), a escolha de um agregado de granulometria contínua e com
a forma adequada permite a obtenção de uma argamassa mais compacta e resistente, com menor
necessidade de ligante e água o que representa uma menor retração, e torna a argamassa do ponto
de vista económico mais atrativa.
Por fim, no que se refere à qualidade da areia, deve-se garantir um tratamento prévio procurando
eliminar impurezas vestígios de contaminação salina, matéria orgânica e presença de argila, de forma
a minimizar a sua reatividade química.
3.3.3. Água
A presença de água na produção de argamassas com ligantes aéreos e hidráulicos é indispensável
para criar plasticidade na argamassa no estado fresco e garantir capacidade aglutinante, assim como,
para hidratar os compostos anídricos dos ligantes hidráulicos (aluminatos e silicatos) (Cavaco, 2005).
A quantidade de água a utilizar deve ser a estritamente necessária, de forma a garantir a consistência
necessária para uma boa trabalhabilidade sem originar fluidez em excesso, e perda de resistência
mecânica. Outro aspeto a controlar é a qualidade da água, para o efeito, a água utilizada deve ser
limpa e isenta de impurezas, sais dissolvidos (aparecimento de eflorescências), matéria orgânica e
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terrosa (diminui a resistência mecânica do reboco), e ser excessivamente pura, já que tal pode
conduzir à dissolução da cal e ao aparecimento de fissuras.
3.3.4. Adjuvantes e adições
Os adjuvantes e as adições são produtos que podem ser incorporados nas argamassas com o
objetivo de melhorar as propriedades das argamassas de reboco. Segundo Silva (2006), do ponto de
vista conceptual, um adjuvante caracteriza-se por proporcionar uma alteração na argamassa ao nível
químico, enquanto uma adição atua ao nível físico.
De entre os adjuvantes e as adições existentes no mercado, e que são, com maior regularidade,
incorporados nas argamassas de reboco com o objetivo de melhorar as suas propriedades, importa
destacar os presentes no Quadros 3.2.
Quadro 3.2 – Exemplos de adjuvantes e adições
Adjuvantes e adições Função Pigmentos Permitem a obtenção de argamassas coloridas
Plastificantes Melhoram a trabalhabilidade das argamassas aumentando a sua viscosidade e reduzindo a quantidade de água de amassadura necessária
Promotores de aderência Melhoram a aderência sem aumentar o teor de cimento, diminuindo a retracção e a susceptibilidade à fissuração. ex: resinas sintéticas e polímeros
Hidrófugos ou redutores de capilaridade
Promovem a obturação capilar, reduzindo a permeabilidade à água por capilaridade
Redutores de água Diminuem as forças de atracção entre as partículas de ligante, tornando a pasta mais fluida e reduzindo a quantidade de água necessária
Retentores de água Impedem a dessecação prematura da pasta, contribuindo para uma hidratação mais completa
Introdutores de ar
Promovem a distribuição homogénea do ar em pequenas bolhas, tornando a argamassa mais impermeável, homogénea e trabalhável, melhorando a resistência ao gelo-degelo e à acção dos sais e contribuindo para a redução da exsudação e da fissuração
Aceleradores de endurecimento Aceleram o desenvolvimento das resistências iniciais
Aceleradores de presa Tornam as reacções iniciais mais rápidas, reduzindo o tempo de presa
Retardadores de presa Tornam as reacções iniciais mais lentas, aumentando o tempo de presa
Anticongelantes Diminuem o ponto de congelação, evitando a formação de cristais de gelo
Floculantes ou espessantes Reduzem a exsudação
Fungicidas, inseticidas, bactericidas e germicidas
Impedem a fixação de microrganismos na argamassa
Fibras Geralmente de vidro, resistentes aos álcalis, de polipropileno fibrilado ou de celulose, que se destinam a aumentar a resistência à tracção e a ductilidade do reboco
Cargas leves Diminuem o módulo de elasticidade do reboco, originando rebocos muito deformáveis
Pozolanas naturais e artificiais Melhoram a resistência aos sulfatos e às reacções sílica-agregados
3.4. Formulação de argamassas
A formulação de argamassas de reboco para revestimentos exteriores em paredes deverá ser
realizada consoante o objetivo e o tipo de intervenção em causa. Este processo deverá adotar
algumas regras de produção para que as argamassas venham a ter um desempenho eficaz nas suas
funções. Para concretizar de forma eficiente este processo, é necessário ter em consideração: o tipo,
quantidade e dosagem das matérias-primas; o processo de amassadura; as condições de presa e
endurecimento.
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A dosagem das matérias-primas é um elemento fundamental, que satisfaz a seguinte regra para uma
unidade de volume de argamassa Eq. 5 (Gomes et al, 2006):
1 = L + A + a + v (5) em que:
L – volume de ligante;
A – volume de agregados;
a – volume de água;
v – volume de ar.
Na definição da dosagem dos componentes das argamassas, o método mais usado em obra para a
especificação das quantidades de matéria-prima a utilizar é o traço volumétrico. Isto acontece por
motivos práticos, porque embora o traço ponderal seja mais preciso é mais moroso por relacionar as
massas dos diferentes componentes.
O traço volumétrico baseia-se numa relação de proporcionalidade entre o volume dos ligantes e o
volume dos agregados, normalmente designado na forma de 1:p, onde se toma o ligante como a
base unitária da proporção, e p o volume correspondente ao inerte relativamente à base unitária.
As características dos ligantes, assim como a granulometria dos agregados que constituem o traço
escolhido, são fatores importantes para a aplicação e o aspeto final de uma argamassa. A
trabalhabilidade e consistência, características fundamentais nesse sentido, dependem não só das
características e proporções desses componentes, como também, da qualidade e quantidade de
água a usar. A relação água-ligante utilizada, vai originar argamassas mais ou menos fortes em
ligantes, mais ou menos porosas, e com diferentes processos de ganho de presa e endurecimento.
Tendo em conta a finalidade e os objetivos de utilização das argamassas, é possível executar
diversas combinações conjugando as características dos vários intervenientes no traço, constituindo-
se deste modo diferentes tipos de argamassa com comportamentos e propriedades diferentes. Estes
factos conjugados com os fatores relativos aos processos de execução, aplicação e condições de
cura, possuem uma influência significativa no desenvolvimento da carbonatação, na compacidade,
nas resistências mecânicas, no desenvolvimento de maior ou menor retração e fendilhação, bem
como, no comportamento face à água e à presença de sais solúveis, em suma, na durabilidade e
aspeto final da argamassa.
3.5. Exigências funcionais
Todos os requisitos de desempenho das argamassas de reboco estão, inicialmente, dependentes do
processo de aplicação das camadas que constituem um reboco tradicional. Silva (2006) estabelece
cinco etapas para a execução cuidada de um reboco de acordo com as regras de boa arte:
preparação, aplicação, sarrafamento, desempenamento e alisamento.
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A preparação engloba a limpeza do suporte, o encasque ou aferroamento (correção de imperfeições
ou preenchimento de vazios do suporte), e a correção de deficiências de planeza que não sejam
compatíveis com a espessura do revestimento a aplicar.
A aplicação do revestimento deverá ser feita através de três camadas, de espessura, constituição e
dosagem diferentes: o crespido, camada de base e a camada de acabamento. A função e a descrição
das principais características das camadas são apresentadas no subcapítulo 3.6 da presente
dissertação.
O sarrafeamento, o desempeno e o alisamento da superfície são as três últimas etapas e destinam-
se a conferir ao paramento acabado uma superfície regular, plana e com a textura desejada.
A execução destas etapas só deve ser realizada após a argamassa secar e ganhar presa, de forma a
resistir aos diferentes processos. Para tal, é necessário prever um intervalo de tempo que possibilite a
evaporação da água de amassadura, evitando o posterior surgimento de fissuração por retração da
argamassa.
O desempenho das argamassas de revestimento de paredes deve respeitar um conjunto de
exigências funcionais e de durabilidade de forma a garantir a proteção dos estratos subjacentes e a
estética dos paramentos. Estas exigências estão associadas ao princípio de compatibilidade dos
materiais, e a características relacionadas com a formulação da própria argamassa.
De entre estas exigências, merecem destaque as apresentadas no Quadro 3.3.
Quadro 3.3 – Exigências funcionais e requisitos de desempenho de rebocos tradicionais.
Requisitos de desempenho Descrição Compatibilidade mecânica, física e química com os materiais pré-existentes
Evitar transmissão de tensões elevadas que possam deteriorar o suporte; permitir trocas de humidade entre o suporte e o exterior; resistir a ataques de sais existentes no suporte.
Boa aderência ao suporte e entre camadas Tem implicações na impermeabilização do revestimento e do suporte, na resistência e durabilidade da solução construída.
Boa resistência mecânica (Resistência ao choque, à fissuração, aos ciclos gelo-degelo e à colonização biológica)
Capacidade para resistir a esforços internos e externos resultantes do efeito das condições ambientais ou decorrentes de cargas estáticas ou dinâmicas atuantes nos edifícios.
Bom comportamento face à ação da água (estanquidade, permeabilidade ao vapor de água, resistência à colonização biológica, e aos ciclos gelo-degelo )
Capacidade do revestimento em resistir à penetração da água proveniente do exterior e permitir a eliminação rápida, por secagem, da água em excesso, logo que surjam condições atmosféricas favoráveis.
Boa resistência química (bom comportamento à acção de sais solúveis)
Resistência à ação de sais solúveis: eflorescências e criptoflorescências. A degradação por cristalização dos sais é um processo que ocorre por desenvolvimento de tensões nos poros decorrentes do aumento de volume ou mudança da forma cristalina.
Aspeto estético (planeza e coloração)
É influenciado pela fissuração, poluição atmosférica, eflorescências etc. É um fator de elevado relevo, já que condiciona a aparência global dos edifícios, logo afeta a perceção de qualidade dos rebocos.
Conforto térmico (permeabilidade ao vapor de água)
É associada à permeabilidade ao vapor de água para permitir um adequado controlo das condensações e higrometria interior através da libertação do vapor de água gerado no interior dos edifícios.
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3.6. Rebocos tradicionais
As alvenarias de edifícios antigos são estruturas heterogéneas compostas essencialmente por tijolos
cerâmicos ou blocos de pedra (calcários, granitos, xistos, arenitos) e argamassas. Devido à função
estrutural dos paramentos e as características dos materiais que o constituem estes, geralmente,
apresentam espessura, massa e rigidez elevadas, boa resistência à compressão, e reduzida
resistência ao corte, flexão e tração.
Figura 3.1 – Exemplos de alvenarias de edifícios antigos (edifícios PA020 e PA009).
No caso das argamassas de reboco, a sua composição não é constante, variou ao longo dos anos e
de região para região em função dos materiais disponíveis, mas na maioria dos casos era constituída
à base de cal aérea e areia. A formulação das argamassas era feita in-situ tendo por bases técnicas e
tecnologias tradicionais, sendo a aplicação em geral manual. A execução do reboco era feita através
da aplicação de diversas camadas com funções complementares, que no final trabalhavam em
conjunto.
Geralmente, eram realizadas três camadas de espessura, constituição e dosagem diferentes. A
aplicação, de cada uma destas camadas, dependia do tempo necessário para a anterior ter ganho
presa e dessa forma sofrida parte substancial da sua retração. Consoante a zona do país, a
denominação das camadas pode variar, mas o mais comum é serem chamadas de crespido, salpisco
ou chapisco (emboço ou primeira camada), camada de base (reboco ou segunda camada) e camada
de acabamento (esboço, ou terceira camada).
Figura 3.2 – Exemplo de reboco antigo multicamada (edifício PA034).
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O crespido assume funções de aderência ao suporte, a camada de base, assume funções de
regularização e sobretudo de impermeabilização da parede e, por fim, a camada de acabamento, que
confere proteção às camadas anteriores e conforto estético ao paramento.
Como principais características destas camadas, refere-se a:
granulometria decrescente, das camadas internas para as externas;
deformabilidade e porosidade crescente, das camadas internas para as externas, promovendo
assim um bom comportamento às deformações estruturais e à água. De facto, as paredes
antigas eram mais espessas, mais porosas, e mais deformáveis do que as atuais;
resistência mecânica decrescente, do interior para o exterior. A resistência de cada camada era
obtida com diferentes traços, diminuindo a quantidade de ligante respetivamente do interior
para o exterior.
Uma das razões mais fortes para a execução dos revestimentos com várias camadas é a presença
de água, procurando-se maximizar a resistência à penetração de água em estado líquido,
promovendo simultaneamente uma elevada permeabilidade ao vapor de água, que é, de facto,
desejada.
A penetração de água nas paredes antigas era facilitada, através das fundações por capilaridade,
pelo revestimento à base de cal, por outros pontos sem devida estanqueidade, essencialmente
devido à elevada porosidade e ausência de cortes de capilaridade. Porém, devido ao facto de os
rebocos à base de cal serem mais permeáveis à água e ao vapor de água, e como o fluxo de vapor
tende a ser principalmente do interior para o exterior, a água era rapidamente expulsa por
evaporação. Desta forma, era possível estabelecer-se um equilíbrio hídrico razoável, que é perdido
aquando do uso de argamassas recentes sobre os suportes antigos, nomeadamente rebocos de
cimento, dada a sua menor permeabilidade à água e ao vapor de água. Neste último caso, apesar de
se evitar a penetração de água pelo revestimento, a infiltração pelas fundações permanecerá e esta
acumular-se-á na interface do revestimento com a parede ou dentro desta, promovendo mecanismos
de degradação.
O reboco tradicional foi perdendo popularidade ao longo dos tempos, acabando por perder
representatividade para as argamassas constituídas por ligantes hidráulicos. No entanto, a crescente
necessidade de intervenções de reabilitação/conservação de rebocos de alvenarias de edifícios
antigos tem conduzido a que a utilização da cal aérea seja recuperada. Neste tipo de intervenção, é
vantajoso recorrer ao uso deste ligante, eventualmente combinado com um ligante hidráulico, pois
consegue colmatar de forma mais eficiente as exigências de compatibilidade química e mecânica
entre os rebocos de substituição e os suportes antigos. (Veiga e Carvalho,1994).
37
3.7. Patologia
O estudo efetuado no âmbito desta tese tem como base a análise do destacamento e desagregação
de reboco em edifícios antigos. Tendo em consideração que muitas das anomalias estão inter-
relacionadas, pois podem partilhar a mesma origem, e tanto o destacamento e a desagregação do
reboco podem ser consideradas como a última fase de um processo evolutivo de outras patologias,
neste subcapítulo pretende-se, de forma sucinta, apresentar as principais anomalias e respetivas
causas possíveis que levam à degradação dos rebocos antigos.
Os rebocos exteriores são os elementos das construções que mais sofrem os efeitos e
consequências da exposição direta aos agentes agressivos. As anomalias correntemente observadas
são causadas por agentes agressivos químicos, mecânicos, físicos e biológicos que, individualmente
ou em conjunto, catalisam processos de degradação continua.
Tendo por base a consulta da bibliografia apresentada, a Figura 3.3 resume as principais causas e
agentes de degradação dos rebocos.
38
Figura 3.3 – Esquema de principais agentes e causas de degradação.
A água é apontada pelos autores consultados como a principal causa de degradação de rebocos. A
manifestação de humidade pode ocorrer na superfície ou no interior do revestimento de paredes e
podem ter diversas origens - humidade de construção, humidade de precipitação, humidade do
terreno, humidade de condensação, humidade resultante de fenómenos de higroscopicidade –
qualquer delas tem a capacidade de desencadear processos de degradação que afetam, não só, o
aspeto estético do paramento (manchas e eflorescencias), como prejudicam as características
mecânicas dos materiais utilizados na conceção dos rebocos de parede.
Contudo, é importante referir que a maioria das anomalias associadas à humidade resulta de causas
patológicas que se conjugam, fazendo com que uma anomalia tenha impacto no desenvolvimento de
outra e a agrave (ex: a fissuração proporciona o aumento de humidade no paramento).
O ambiente envolvente e as condições climatéricas experimentadas pelo reboco, em particular
durante a sua aplicação, são outros fatores que potenciam o aparecimento e desenvolvimento de
diversas anomalias. Relacionado com estes dois fatores, surge a necessidade de adaptar as
PRINCIPAIS CAUSAS
Água
(principal)
Lavagem
Dissolução
Sais solúveis (nitratos, sulfatos, cloretos)
Elementos químicos (gases poluentes)
Gelo
Agentes
Biológicos
Algas
Bactérias
Fungos
Acções Mecânicas e
Quimicas
Vento
Deformações no suporte
Reacções expansivas
CaO
MgO
Retracção
Temperatura
Acções do
Homen
Manutenção
Poluição
SO2
NO2
CO2 Vandalismo
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características do reboco e da superfície de suporte ao ambiente envolvente e às condições
climatéricas do local de aplicação de forma a evitar aparecimento de futuras anomalias. Outras
anomalias podem ainda ser associadas a causas de origem mecânica (ex: desgaste; choques,
deformações, deslocamentos), à utilização corrente dos locais, e a ações indevidas de manutenção
ou falta desta.
O Quadro 3.4 apresenta uma síntese elaborada por Magalhães (2002), com as principais anomalias e
causas prováveis que frequentemente degradam os rebocos dos edifícios antigos.
Quadro 3.4 – Anomalias predominantes nos rebocos antigos (Magalhães, 2002).
Tipo Causas prováveis
Humidade:
de obra ou construção; Aplicação do reboco antes da secagem adequada do suporte.
de terreno;
Existência de zonas de paredes em contacto com a água do solo; existência de materiais de elevada capilaridade nas paredes; inexistência ou deficiente posicionamento de barreiras estanques nas paredes.
de percipitação; Revestimentos com elevada permeabilidade à água.
de condensação; Condensação do vapor de água que está em contacto com o revestimento ou no seu interior.
devida a fenómenos de higroscopicidade;
Existência de sais higroscópicos no interior dos revestimentos que fixam água em grandes quantidades.
devida a causas fortuitas; Rotura e corrosão de canalizações, entupimento de caleiras, algerozes, tubos de queda, deficiências de remates da cobertura, etc.
Biodeterioração (algas, musgos, líquenes, fungos, plantas diversas e animais de porte)
Presença prolongada de humidade;
Falta de ventilação;
Iluminação;
Acumulação de pó, terra e sujidade na superfície do revestimento;
Acumulação de poluentes resultantes da atividade industrial (óxido de enxofre, óxido de nitrogénio, derivados do petróleo);
Porosidade elevada do revestimento.
Tipo Causas prováveis
Eflorescências e criptoflorescências
Presença prolongada de humidade.
Sais solúveis presentes no reboco, no suporte ou na água infiltrada.
Cal não carbonatada.
Fendilhação e fissuração
causas atribuíveis à constituição do reboco;
Retração do reboco;
Dilatações e contracções higrotérmicas;
Gelo;
Deficiente dosagem na execução da argamassa;
Espessura inadequada do revestimento.
causas atribuíveis ao suporte;
Deslocamentos do suporte;
Reacções com sais existentes no suporte;
Absorção excessiva do suporte;
outras causas; Concentração de tensões junto a aberturas;
Corrosão de elementos metálicos: ligadores, canos, redes metálicas.
Perda de aderência (deslocamento, abaulamento, destacamento)
Presença de humidade;
Presença de sais;
Dilatações e contrações térmicas (variações nas dimensões de reboco).
Movimentos do suporte;
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Erros de execução do revestimento: excesso de água na amassadura, falta de humedecimento conveniente do suporte, falta de limpeza da superfície a ser revestida, falta de rugosidade suficiente do suporte, composição pouco adequada da argamassa;
Elevada impermeabilidade à água do suporte;
Insuficiente permeabilidade ao vapor de água do revestimento.
Perda de coesão ou desagregação
Humidade seguida de cristalização de sais;
Reboco fraco, sem dureza superficial;
Ação de microrganismos e organismos;
Reações químicas entre os materiais que constituem os revestimentos e os compostos naturais ou artificiais (poluição) contidas na atmosfera.
Erosão
Humidade;
Esforços mecânicos de natureza diversa (atritos, golpes, etc);
Ação física dos agentes atmosféricos (vento, chuva, variação de temperatura);
Perda de coesão.
Sujidade
Escorrimento da água da chuva;
Ação do vento;
Textura superficial do reboco (rugosidade).
No contexto dos revestimentos de paredes antigas convêm começar por referir que grande parte das
anomalias que aí se verificam, não são independentes do próprio suporte e que falando-se de
paredes de edifícios antigos, estas possuem tipologias e funcionamentos completamente distintos
das atuais [Appleton, (2003), Veiga, (2006)]. Como referido, as paredes exteriores assumem
conjuntamente um papel estrutural e de proteção do interior das construções, garantindo
respetivamente as exigências de segurança estrutural e de conforto face às condições atmosféricas
do exterior.
De acordo com Gonçalves (2007), a maior parte das anomalias encontradas em edifícios antigos se
devem a falta de prevenção e a uma manutenção insuficiente, inadequada ou de má qualidade
enquanto, nos edifícios correntes as anomalias decorrem normalmente de erros ou omissões nos
projetos de execução. Relativamente às anomalias nos edifícios antigos será ainda de referir que,
uma parte significativa decorre de manutenções indevidas pelo desconhecimento do funcionamento
dos sistemas construtivos.
O estudo efetuado no âmbito desta tese tem como base a análise, apenas, de duas anomalias de
reboco: a perda de aderência/destacamento de reboco e a perda de coesão/desagregação de
reboco.
Estas anomalias são de origem mecânica e surgem associadas ao fim da vida útil dos revestimentos
de reboco. Tendem a ocorrer por deterioração ou mesmo destruição total das ligações entre os
constituintes das argamassas de reboco, sob ação de esforços ou tenções. A origem destas forças ou
esforços pode ser a mais variada, incluindo-se ações estáticas (ex: carregamentos), ações dinâmicas
(ex: pancadas ou choques), deslocamentos impostos (ex: assentamentos) entre outros.
41
3.7.1. Perda de aderência/destacamento de reboco
A perda de aderência/destacamentos é descrita por Gaspar (2009) e Anunciada (2004) como um
fenómeno de degradação que se divide em três fases: descolamento; empolamento; desprendimento.
O descolamento é caracterizado pela perda das ligações mecânicas entre o reboco e o suporte, com
o afastamento daquele em relação à base de assentamento (parede ou camada inferior). Esta etapa
não é detetada em inspeção visual, mas é percetível através do som cavo (ou oco) que se produz
quando a superfície do reboco é submetida à percussão. Nestes casos, a coesão da argamassa é
mantida somente pela sua tensão superficial.
O empolamento é o resultado do agravamento do descolamento do reboco. Esta etapa é
caracterizada por uma variação geométrica do reboco, formando-se normalmente convexidades para
o exterior. Ao contrário do descolamento, esta fase é facilmente identificável através de inspeção
visual.
O desprendimento é a última etapa da perda de aderência / destacamento e consiste na separação
definitiva do reboco em relação ao seu suporte (parede ou camada inferior). Esta etapa é o resultado
do agravamento do abaulamento / empolamento e é caracterizada pela queda de porções de reboco
sob a forma de placas rígidas de geometria irregular. Esta queda de material é causada pela perda de
integridade da camada rígida do reboco resultante das deformações do revestimento associadas ao
efeito da gravidade.
Figura 3.4 – Exemplo de perda de aderência/destacamento de reboco (edifício PA035).
O desenvolvimento desta anomalia tem um leque de causas muito diverso, como já foi referido
anteriormente, esta anomalia não depende somente de fatores isolados, o seu aparecimento resulta
de estados patológicos complexos (combinação de anomalias e de agentes de degradação). A perda
de aderência/destacamento pode ocorrer por descolamento em relação à base de assentamento,
geralmente por questões relacionadas com as características da argamassa, do suporte ou
decorrentes da fase de aplicação da argamassa, ou por retração da argamassa que origine a rotura
por corte relativamente ao suporte (Gaspar, 2009).
42
Nas argamassas à base de cal, o processo de degradação por perda de aderência / destacamento
pode ser precedido de fendilhação na zona afetada. Nestas situações, verifica-se frequentemente o
destacamento da camada de acabamento do reboco (esboço), mais rígida do que as camadas
precedentes devido a uma carbonatação mais prolongada dos seus constituintes. A perda desta
camada deixa exposta aos agentes atmosféricos a camada de emboço, geralmente de maior
espessura e menos rígida, logo mais suscetível à degradação por perda de coesão/desagregação.
No caso dos rebocos à base de cimento, mais rígidos e de menor espessura, a perda de
aderência/destacamento decorre da existência de esforços de corte entre a argamassa e o suporte,
podendo ou não ser precedidos de fendilhação. Nestas situações, dá-se o descolamento e queda de
porções do reboco, ficando exposta a base de assentamento e a camada de salpisco (Gaspar, 2009).
3.7.2. Perda de coesão/desagregação de reboco
A perda de coesão/desagregação é descrita por Gaspar (2009) como a perda de partículas que
compõem a argamassa de reboco, devido à perda de agregação dos diversos constituintes desta. O
mesmo autor refere ainda três tipos de fenómenos associados à perda de coesão/desagregação
distinguindo-os unicamente a dimensão das partículas desagregadas: pulverização, arenização e
erosão.
A pulverização consiste na desagregação dos vários componentes da argamassa, que se esfarela e
conduz ao desprendimento de material sob a forma de pó ou de grânulos.
A arenização ou desagregação granular traduz-se pela perda ou lavagem das partículas finas da
argamassa e pelo fácil destaque de partículas de dimensão da areia mesmo com esforços mecânicos
de fraca intensidade. Este fenómeno dá-se geralmente por ação da chuva e do vento, deixando
expostos os agregados e o suporte de assentamento.
A erosão corresponde à perda localizada de massa da superfície do material por ação dos agentes
atmosféricos, podendo originar um efeito localizado de escavação do reboco.
Uma vez que estes fenómenos são de difícil distinção, em particular quando a identificação das
anomalias é baseada em inspeção visual, e tendo em conta que o que os distingue é basicamente a
dimensão das partículas que se soltam do revestimento, não se pretende fazer a distinção destes três
fenómenos no decorrer da análise e identificação da anomalia perda de coesão/desagregação.
43
Figura 3.5 – Exemplo de perda de coesão/desagregação de reboco (edifício PA011).
A ocorrência desta anomalia é mais frequente em argamassas antigas ou pobres em cimento
sobretudo após a perda de aderência da camada superficial do reboco (Figura 3.5). Uma vez
expostas as camadas interiores do reboco à ação dos agentes de degradação, o progresso da perda
de coesão/desagregação acelera por lavagem do ligante e dissolução de alguns componentes da
argamassa, especialmente na presença constante e em excesso de água na parede.
44
4. Metodologia de investigação
4.1. Objetivo e âmbito do trabalho de campo
No capítulo anterior, estabeleceu-se o panorama geral da origem dos rebocos e suas anomalias mais
frequentes, dando especial ênfase ao destacamento/desagregação e seu desenvolvimento. O
conhecimento desta anomalia e o contexto da sua evolução permite estabelecer uma metodologia,
objetiva e rigorosa, para avaliar a degradação dos rebocos em fachadas de edifícios antigos.
A metodologia para a previsão de vida útil, desenvolvida e adotada no presente trabalho, é baseada
na análise de resultados decorrentes da exposição prolongada, em condições de serviço, dos
componentes e materiais dos edifícios. Neste contexto, foi necessário desenvolver uma metodologia
de inspeção, a edifícios reais, capaz de quantificar o estado de degradação de cada um dos rebocos
inspecionados (avaliando a extensão do seu destacamento) e caracterizar os fatores de degradação
descritos no capítulo anterior.
Numa primeira fase do processo de inspeção, os fatores de degradação foram agrupadas numa
grelha de análise que se constituiu como uma “ficha de inspeção experimental” para testar a
viabilidade do método. Esta ficha foi aplicada a um reduzido número de casos tendo sido
posteriormente corrigida até se atingir uma versão final, que pode ser consultada no anexo 1. Assim
os fatores de degradação considerados na versão final da ficha de inspeção, e que serão objeto de
estudo neste presente trabalho foram: a espessura e dureza do reboco, textura da pelicula de
tinta, e orientação solar da fachada.
Existem muitos outros fatores passíveis de serem considerados. No entanto a escolha foi feita com
base em critérios específicos, tais como:
a sua relevância na prescrição de um reboco para uma fachada;
a possibilidade e facilidade de obtenção de dados referentes aos rebocos, através de métodos
expeditos;
indicações de trabalhos anteriores relativas à influência dos fatores no desenvolvimento das
anomalias consideradas.
Posteriormente, foi escolhida uma zona homogénea em função das principais categorias de análise
(condições de exposição, características construtivas, época de construção e existência de
manutenção), na qual foi desenvolvida uma campanha de inspeção, com levantamento fotográfico e
respetivo registo dos fatores mencionados anteriormente.
Para o efeito, foram inspecionadas 100 fachadas de edifícios antigos, constituindo uma base de
informação para estabelecer padrões de degradação simplificados que permitem fundamentar e
45
testar a quantificação dos fatores a utilizar num modelo de estimativa de vida útil de rebocos
exteriores.
Apesar dos critérios que foram adotados para assegurar o rigor e a objetividade na classificação dos
casos estudados, este tipo de metodologia não ambiciona proceder a uma caracterização
generalizada da situação existente em termos de estado de conservação de fachadas rebocadas,
nem pretende definir curvas de degradação universais em condições reais para este material. Uma
abordagem desta natureza implicaria um levantamento muito exaustivo e detalhado, pouco
compatível com levantamentos baseados simplesmente em inspeções de visuais.
4.2. Critérios adotados na seleção de casos
A escolha dos edifícios a analisar foi determinada em função das principais características
construtivas e de exploração. Como este estudo pretende avaliar a vida útil de rebocos em edifícios
antigos, identificou-se um conjunto de edifícios relativamente homogéneo (condições de exposição,
características construtivas, época de construção e existência de manutenção) construído antes do
século XX, e que tem como principal uso a habitação e o comércio.
Na escolha dos edifícios a inspecionar, procurou-se obter uma amostra de rebocos de fachadas com
uma gama completa de extensões de destacamento, ou seja, desde rebocos sem ocorrência de
destacamento até rebocos com extensões de destacamento próximas da totalidade.
Para o efeito, foram inspecionadas 100 edifícios na colina do castelo de São Jorge, sendo o registo
desta informação feito fotograficamente e através do preenchimento das fichas de inspeção referidas
anteriormente. Para cada edifício foi atribuído um número de identificação (ID) para facilitar na análise
de dados subsequente.
4.2.1. Descrição detalhada dos conjuntos estudados
Os edifícios escolhidos para se realizarem as inspeções localizam-se, na sua maioria, na colina do
castelo de São Jorge em Lisboa, entre o bairro da Mouraria e o bairro de Alfama. O edificado
encontra-se distribuído por 8 freguesias (Sé, Santo Estêvão, São Cristóvão, São Vicente de Fora,
Socorro, Santiago, São Miguel e Graça), a exceção é o conjunto de edifícios localizado na freguesia
do Beato (10 edifícios). A opção por habitações localizadas na freguesia do Beato deveu-se à
dificuldade, a partir de certo momento, de encontrar na encosta do castelo de São Jorge edifícios com
a degradação de reboco pretendida.
Estes bairros são de particular interesse histórico, devido ao vasto património de edifícios antigos. De
facto, Alfama e Mouraria são os bairros mais antigos e tradicionais de Lisboa, sendo possível
identificar construções de diferentes períodos da história da cidade, tendo inclusive grande parte dos
prédios resistido ao terramoto de 1755.
46
Estas construções caracterizam-se, devido à ausência de estruturas em betão armado, por
paramentos de elevada espessura, com funções estruturais, e alvenarias compostas por estruturas
heterogéneas, de tijolos cerâmicos e blocos de pedra.
Para além da semelhança das características físicas dos edifícios, ambas as zonas estudadas
caracterizam-se pela proximidade ao rio Tejo e baixo fluxo rodoviário, fatores relevantes no estudo da
degradação de rebocos.
Figura 4.1 – Localização dos edifícios que compõem a amostra (Google Earth)
4.3. Inspeções e trabalho de campo
As inspeções tiveram como objetivo o registo fotográfico das fachadas dos edifícios, o registo das
dimensões das fachadas (altura e largura), a recolha de amostras de reboco, orientação solar das
fachadas, e a identificação “in situ” da dureza do reboco e textura da película de tinta. Posteriormente,
foi necessário determinar a espessura do reboco e recolher a data da última intervenção de
manutenção da fachada.
4.3.1. Registo fotográfico
Tendo em conta a largura das ruas e a geometria dos edifícios da zona estudada, tornou-se
impossível capturar a totalidade da fachada numa única fotografia. Assim, foi necessário fotografar
parcialmente as fachadas. As fotografias foram tiradas ao nível do arruamento, a partir de um ponto
localizado sensivelmente a meio da fachada e de forma a garantir uma sobreposição de
aproximadamente 50% entre as respetivas fotografias (Figura 4.2). Esta técnica de registo fotográfico
permite a montagem da imagem da fachada através de uma aplicação informático especializada.
Este processo de montagem da imagem encontra-se descrito em pormenor na secção 4.4.1. do
presente documento. O registo fotográfico foi realizado utilizando uma máquina fotográfica digital da
marca “Olympus” com definição de 8.0 megapixels.
47
Figura 4.2 – Fotografias parciais do edifício PA059
Para além do registo fotográfico descrito, foram tiradas fotografias de pormenor importantes para
esclarecer posteriores dúvidas, nomeadamente na identificação de sobreposição de rebocos ou dos
limites de destacamento dos mesmos.
4.3.2. Medição das dimensões da fachada
Para a medição das dimensões da fachada foi utilizado um medidor de distância a laser, da marca
“Stanley”. Foram executadas medições horizontais e verticais, para determinar a altura e largura dos
edifícios.
As medições horizontais foram realizadas posicionando o medidor numa das extremidades da
fachadas e utilizando como alvo elementos salientes, tais como tubos de queda ou cabos elétricos,
situados na extremidade oposta. Nos casos em que não existia qualquer elemento saliente passível
de ser utilizado como alvo para o laser, era colocada no limite da fachada a capa que servia de apoio
ao registo das fichas de inspeção, facilitando desta forma a medição.
No caso das medições verticais, o medidor foi colocado ao nível do arruamento sendo medida a
distância ate à platibanda ou telhado do edifício. Em arruamentos inclinados, onde a altura das
fachadas variam consoante a largura do edifício, as medições foram executadas no ponto mais
central possível da fachada correspondendo desta forma à altura média do respetivo edifício.
Figura 4.3 – Exemplo das dimensões (m) da fachada de um dos edifícios inspecionados (edifício PA059).
48
A determinação das dimensões da fachada é fundamental na quantificação da área de destacamento
de reboco. Estas dimensões permitem, através da plataforma informática BuildingsLife, definir uma
escala para que os pixéis da imagem da fachada sejam convertidos nas correspondentes distâncias e
áreas reais. Este processo de conversão de escala, a quantificação da área de destacamento e a
plataforma informática BuildingsLife estão descritos em pormenor no subcapítulo 4.5. deste estudo.
4.3.3. Recolha de amostras de reboco
A recolha de amostras foi feita por extração direta de fragmentos de reboco dos edifícios, recorrendo
ao auxílio de uma lâmina metálica. As amostras foram colocadas individualmente em saquetas com
fecho “zip”, previamente identificadas com o número (ID) e morada do edifício correspondente.
Figura 4.4 – Amostras de reboco
As amostras foram retiradas ao nível do piso térreo de zonas correntes da fachada, procurando
evitar-se, as zonas adjacentes aos vãos, zonas de interface entre diferentes materiais de
revestimento da fachada, e zonas adjacentes aos elementos salientes nas fachadas. Nestes casos,
devido a questões de aplicabilidade, a espessura do reboco tende a ser diferente da generalidade da
fachada.
Apesar destes cuidados, é difícil assegurar a representatividade da área total de reboco corrente da
fachada, uma vez que a amostragem é pontual e com a condicionante de ser feita ao nível do
arruamento. Para garantir a representatividade, seria necessário retirar uma amostra em vários
pontos distribuídos uniformemente pela superfície da fachada. Como se pretendia adotar uma técnica
não destrutiva e de fácil execução no terreno, não se considerou essa solução.
4.3.4. Dureza do reboco – FD1
Para obter a informação sobre a dureza do reboco, foi necessário recorrer a um método expedito que
consiste na determinação da dureza com base na escala de Mohs. Este método utiliza um grupo de
materiais de fácil acesso que pode ser usado em complemento aos minerais da escala. Estes
materiais são: a unha humana, que possui uma dureza de aproximadamente 2,5 (sulca talco e o
gesso, mas não sulca calcita); uma moeda de cobre, que tem dureza de aproximadamente 3,5
49
(sulca a calcita mas não sulca a fluorita); o vidro comum com dureza de 5,5 (sulca a fluorita e a
apatita, mas não sulca o feldspato); e uma lamina de aço temperado com dureza de 6,5 (sulca
feldspato, mas não sulca o quartzo e restantes minerais).
O teste foi realizado na fachada corrente do edifício, tendo o cuidado de escolher zonas da fachada
onde fossem representativas da totalidade do reboco.
4.3.5. Textura da pelicula de tinta – FD2
A textura da película, por vezes associada à tipologia da tinta, refere-se ao tipo de superfície da
película seca. As propriedades das pinturas obtidas variam significativamente de acordo com a
textura da película, quer ao nível da sua espessura, da rugosidade ou da elasticidade. Por este
motivo será de esperar que diferentes tipos de textura da película possam originar diferentes
comportamentos diferidos das pinturas obtidas (Garrido, 2010).
Para o estudo que se pretende efetuar foi definido previamente que se iria apenas identificar, através
da sua textura, três tipos de tinta. Estas são as tintas membranas, lisas e texturadas. Esta opção foi
tomada, por serem as tintas utilizadas mais frequentemente em pinturas de fachadas de edifícios
antigos na cidade de Lisboa. Os três tipos de texturas de película de tinta acima referida foram
facilmente identificáveis por avaliação visual e táctil (Figura 4.5).
Figura 4.5 – Ilustração dos 3 tipos de tinta: a) lisa; b) texturada; c) membranas
4.3.6. Orientação solar da fachada – FD3
A exposição solar, e em particular a exposição à radiação ultravioleta, são apontadas como
importantes fatores de degradação para os materiais orgânicos. A intensidade e frequência desta
exposição dependem de vários fatores, tais como a localização geográfica dos edifícios, a existência
de sombreamento sobre as fachadas dos respetivos edifícios, e a orientação destas (Garrido, 2010).
Embora reconhecendo a importância dos vários fatores que condicionam a incidência solar, apenas a
localização geográfica foi tida em consideração. Geograficamente, como descrito em 4.2.1, todos os
edifícios incluídos neste estudo localizam-se em Lisboa, pelo que esta variável encontra-se assim
fixada. Desta forma, pretende-se, com a identificação da orientação solar da fachadas, avaliar a
influência real que esta variável tem sobre o desempenho diferido dos rebocos, uma vez que será
50
expectável que essa influência possa ser significativa, dada a sua correlação com a exposição aos
raios UV.
A orientação solar das fachadas foi determinada com a utilização de uma bússola, tendo sido
consideradas quatro orientações principais: Norte, Sul, Este e Oeste. Para esta classificação foram
consideradas como orientadas a Norte as fachadas com orientações compreendidas entre 315º e 45º,
a Sul as fachadas orientadas entre 135º e 225º, a Este as fachadas orientadas entre 45º e 135º, e a
Oeste as fachadas orientadas entre 225º e 315º.
Figura 4.6 – Sistema de classificação das orientações solares das fachadas (Garrido, 2010)
4.3.7. Espessura do reboco – FD4
A espessura do reboco é uma caraterística física deste material de construção que pode ser
associada ao modo de execução. Esta característica está muito dependente do tipo de argamassa
utilizada e do modo de aplicação. Diferentes rebocos exigem modos de execução diferentes, de
acordo com as regras de boa arte (ex: número de camadas). Deste modo, pretende-se verificar a
influência desta característica no comportamento dos rebocos ao longo do tempo.
A dimensão da espessura do reboco foi medida in-situ e confirmada posteriormente através das
amostras recolhidas durante o trabalho de campo, com auxilio a uma régua.
4.3.8. Data da última intervenção de manutenção na fachada
Para obter esta informação, foi necessário consultar no Arquivo Municipal de Lisboa a documentação
referente a cada imóvel inspecionado. Embora os dados relativos a ações de manutenção sobre
fachadas não fossem conclusivos em relação a intervenção sobre o reboco das mesmas, assumiu-se
que todas as obras executadas na fachada implicaram a intervenção no reboco. Tendo este fator em
consideração, foi possível datar a última intervenção de manutenção na fachada através dos pedidos
de licença para ocupação da via pública, associados a montagem de andaimes para trabalhos na
fachada, e os pedidos para financiamento de obras de conservação e beneficiação geral ao abrigo do
programa RECRIA (Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados).
51
4.4. Elaboração da imagem da fachada
A quantificação do destacamento de reboco nas fachadas inspecionadas foi realizada através da
análise dos registos fotográficos recolhidos durante as inspeções. Para a execução desta análise, foi
utilizada a plataforma informática BuilidnsLife mais especificamente a sua ferramenta
PhotoMeasure. No entanto, para a utilização desta aplicação, é necessário ter uma imagem total da
fachada, o que é impossível de capturar numa única fotográfica tal como foi descrito em 4.3.1.
Para contornar esta dificuldade, foi adotado um processo de produção de imagens das fachadas
através de imagens parciais, o qual permite obter uma imagem do edifício com o mínimo de distorção
possível assemelhando-se a um alçado.
4.4.1. Montagem da fotografia da fachada
Com as fotografias parciais e utilizando um editor de fotografias especializado (PTGui), que permite
unir imagens fotografadas em sequência de forma a gerar imagens panorâmicas, foi possível montar
as imagens das fachadas dos edifícios. Esta imagem é obtida por sobreposição e alinhamento das
várias fotografias parciais, resultando numa única imagem com a globalidade da fachada. É
fundamental que a imagem obtida no final deste procedimento tenha uma resolução elevada, de
forma a facilitar a identificação das zonas onde ocorreu o destacamento de reboco.
Figura 4.7 – Montagem da fotografia da fachada do edifício PA059
4.4.2. Ortogonalização da fotografia da fachada
A imagem que resulta do processo de montagem e sobreposição das várias fotografias parciais
apresenta uma grande distorção provocada pelo efeito de perspetiva. Esta distorção conduz a que na
imagem da fachada exista uma redução aparente da largura do edifício. Para corrigir este efeito,
utilizou-se uma outra aplicação informática (Hugin) que, através da definição de alinhamentos
horizontais e verticais na imagem da fachada, consegue corrigir toda a fotografia de forma a reduzir
ao máximo essa distorção.
52
Estes alinhamentos podem ser definidos através das extremidades dos edifícios, parapeitos das
janelas ou beirados das coberturas. As imagens que resultam deste processo devem ter uma
resolução elevada, podendo finalmente ser utilizadas na quantificação do destacamento de reboco,
recorrendo à aplicação PhotoMeasure da plataforma informática BuildingsLife.
Figura 4.8 – Ortogonalização da fotografia da fachada do edifício PA059
4.5. Quantificação do destacamento de reboco
O valor que vai caracterizar os vários edifícios, relativamente ao seu estado de degradação, resulta
do quociente entre a área de destacamento (adestacada), e a área total rebocada da fachada (arebocada).
(6)
Este valor (pdestacamento) representa a percentagem de reboco que se encontra destacada, permitindo
desta forma, uma vez que é um valor relativo, a comparação direta entre vários edifícios com
diferentes áreas totais de reboco e de destacamento (Paulo, 2009).
Para determinar as áreas de destacamento e de reboco, e consequentemente a área relativa de
destacamento, foi necessário recorrer à plataforma BuildinsLife. Nas secções seguintes deste
capítulo, é feita uma breve descrição desta plataforma e suas aplicações.
4.5.1. Plataforma informática BuildingsLife
A plataforma BuildinsLife constitui um sistema informático de gestão e apoio à decisão orientada
para a gestão do património edificado. Integra funções como o armazenamento de dados,
caracterização ambiental e dos materiais de construção, elementos incorporados na fachada,
quantificação e análise de anomalias, bem como a criação de leis e modelos de degradação.
No atual trabalho, esta plataforma foi utilizada para armazenar os dados recolhidos no trabalho de
campo, sendo criada uma ficha para cada um dos edifícios inspecionados com a respetiva fotografia.
53
Serviu também para quantificar, através da fotografia do edifício, o destacamento de reboco nas
fachadas dos edifícios utilizando para o efeito a aplicação PhotoMeasure.
4.5.2. Aplicação PhotoMeasure
Esta aplicação permite medir áreas diretamente sobre uma imagem digital, (Figura 4.9). Esta medição
é efetuada através da definição de polígonos, para os quais a plataforma calcula a respetiva área.
Estes polígonos poderão ser utilizados para delimitar qualquer zona da fachada cuja área o utilizador
queira estimar, sendo deste modo possível medir a área total rebocada da fachada e as áreas
referentes ao destacamento de reboco.
Figura 4.9 – Delimitação das áreas com destacamento de reboco utilizando a aplicação PhotoMeasure
Antes de se proceder a qualquer medição, é necessário definir uma escala para que os pixéis da
imagem sejam convertidos nas correspondentes distâncias e áreas reais. Esta escala é definida com
recurso a distâncias de referência medidas sobre as fachadas no momento da inspeção, obtendo-se
desta forma duas escalas para cada imagem, uma vertical e outra horizontal.
A existência de duas escalas numa mesma imagem deve-se à ocorrência ocasional de distorções na
fotografia, que podem conduzir a um “achatamento” ou “alongamento” da imagem, aparentando
dimensões do edifício diferentes das reais. A definição de escalas separadas procura compensar este
efeito.
Para definir a escala, o utilizador pressiona diretamente sobre a imagem, no ponto inicial do
alinhamento onde foi feita a medição real, o qual tem coordenadas (xi,yi) no referencial da imagem, e
posteriormente no ponto final do alinhamento com coordenadas (xf,yf). A aplicação Photo Measure
define o vetor do alinhamento, (xf-xi,yf-yi), e aguarda o input do utilizador contendo o valor real do
comprimento horizontal ou vertical desse vetor, dh ou dv. A escala horizontal ou vertical é então
definida associando o valor do comprimento do vetor, xf-xi ou yf-yi, em pixéis, à distância real que foi
medida in-situ, dh ou dv respetivamente. Com as escalas definidas, tornam-se assim possível a
quantificação do destacamento de reboco.
54
4.6. Análise de dados e ajuste das curvas de degradação
Ao longo do trabalho realizado no âmbito desta tese, foi produzida uma quantidade significativa de
informação referente aos edifícios inspecionados. É com base nesta informação que é possível
analisar o desempenho diferido dos revestimentos de reboco, em função dos vários fatores de
degradação considerados.
Para a análise desta informação, adotou-se o método de “curve fitting”. Este método pretende
modelar o desempenho diferido dos rebocos através do ajuste de leis, ou curvas, de degradação do
tipo Gompertz, Potencial e Weibull, a gráficos de degradação do tipo Tempo-Extensão Degradação
(T-ED).
Este modelo de análise foi inicialmente executado para um gráfico geral de degradação e, a partir
deste, com a aplicação de filtros de informação, foram obtidos vários gráficos de degradação em
função dos vários fatores de degradação.
Para o ajuste das curvas de degradação aos diferentes gráficos, foi adotado um processo de
minimização do erro quadrático médio (EQM). O EQM das curvas pode ser calculado com base em
erros de estimativa medidos nos eixos das abcissas ou das ordenadas do gráfico de degradação
(Figura 4.10).
Figura 4.10 – Exemplo ilustrativo da medição do erro nas abcissas e nas ordenadas do gráfico de degradação
(Garrido, 2010).
Para o edifício i ( ) representado no gráfico de degradação (Gráfico 5.1), o erro medido no eixo das
abcissas é referente à diferença entre a idade real da pintura desse edifício e a idade da
pintura obtida pelo modelo, dada a extensão de destacamento existente (Eq. 7).
(7)
55
O erro medido no eixo das ordenadas ( do mesmo gráfico, é referente à diferença entre
a extensão de destacamento real do reboco e a extensão de destacamento obtida pelo modelo, dada
a idade do reboco do edifício n (Eq. 8).
(8)
Com base nestes erros, é possível obter valores de EQM, que poderão ser referidos como e
(Eqs. 9 e 10), caso sejam determinados considerando os valores de ou
respetivamente.
∑( )
(9)
∑( )
(10)
Ao efetuar o ajuste das curvas de degradação por um processo de minimização do EQM, importa
definir qual o erro que está a ser minimizado. De facto, não será expectável que uma curva que
minimize o valor do EQM “idade” ( também seja a curva ótima do ponto de vista da
minimização do valor do EQM “destacamento” ).
De facto, segundo Garrido (2010), a minimização individualizada de EQM “idade” tem como
consequência o aumento de EQM “destacamento”, e vice-versa. Por este motivo, procurou-se
otimizar o ajuste das curvas de degradação tendo em consideração ambos os erros. Este indicador,
que considera ambos os erros, é denominado Erro Quadrático Médio Combinado (EQMC) e pode ser
obtido através da expressão apresentada na Equação 11.
(11)
Nota: o fator 103 aplicado ao valor de EQMD destina-se a colocar este valor na mesma ordem de grandeza de
EQMT;
O ajuste de todas as curvas de degradação apresentadas no presente trabalho foi feito por um
processo de minimização do valor do erro quadrático médio combinado (EQMC). Estas curvas e
respetivos EQM são apresentados no capítulo seguinte da presente dissertação.
56
4.7. Resumo da metodologia
As principais etapas e passos que constituem a metodologia adotada no presente trabalho, estão
representadas no quadro resumo apresentado em seguida.
Quadro 4.1 – Quadro resumo da metodologia adotada.
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
MATERIAL: Reboco de fachadas;
CONTEXTO DE APLICAÇÃO: Fachadas exteriores de edifícios antigos;
ANOMALIA: Destacamento/desagregação de reboco (análise quantitativa);
FATORES DE DEGRADAÇÃO: i. Dureza do reboco; ii. Textura da pelicula de tinta; iii. Orientação solar; iv. Espessura do reboco;
ANÁLISE DE DADOS: Modelos determinísticos:
Método de “curve fitting” (curvas de Gompertz, Potenciais e Weibull).
RECOLHA DE DADOS
INSPEÇOES: Registo fotográfico;
Recolha de amostras;
Medição das dimensões da fachada;
Determinação da dureza do reboco;
Determinação da textura de tinta;
Determinação da orientação solar;
Determinação da espessura do reboco;
DETERMINAÇÃO DA DATA DA ULTIMA INTERVENÇÃO NA FACHADA;
MONTAGEM DAS IMAGENS DE FACHADA;
QUANTIFICAÇÕES DE DESTCAMENTO.
ANÁLISE DE RESULTADOS
GRÁFICO DE DEGRADAÇÃO GERAL;
APLICAÇÃO DOS FATORES DE DEGRADAÇÃO;
MODELAÇÃO COM CURVAS DE DEGRADAÇÃO;
INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS.
57
58
5. Análise de resultados
5.1. Considerações gerais
Neste capítulo, é apresentada a metodologia de análise de dados, e é proposto um modelo de
previsão de vida útil de revestimentos de reboco, baseado no método gráfico ajustado ao conjunto de
edifícios descrito em 4.2.1. Este modelo, com vista à obtenção da estimativa da vida útil, é baseado
no conhecimento das características de revestimentos de reboco e nos dados recolhidos no trabalho
de campo.
Os resultados apresentados foram interpretados como uma ilustração do método desenvolvido,
adaptado ao tema da durabilidade de reboco de fachadas antigas. Nesta perspetiva, todos os
resultados obtidos por este método devem ser admitidos sob reserva, até posterior validação
estatística decorrente de amostras mais representativas, através de recolhas extensivas de
deterioração de reboco de fachadas antigas em condições reais de utilização (Gaspar, 2002).
5.2. Descrição da amostra e dados base
Como descrito no capítulo anterior, foram inspecionadas 100 construções localizadas na cidade de
Lisboa. Para facilitar a análise de dados, foi atribuído a cada um destes edifícios um código de
identificação, com o prefixo PA seguido de três dígitos (ex.: PA001). No Anexo 2, é feita a
caracterização geral da amostra (moradas, datas referentes à última reabilitação) e é apresentado o
resultado da quantificação do destacamento de reboco para cada edifício.
No Quadro 5.1, apresenta-se a distribuição dos edifícios inspecionados por cinco intervalos de tempo,
correspondentes à data aferida da última reabilitação envolvendo os rebocos.
Quadro 5.1 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados por intervalos de idade dos rebocos de fachada.
Data de reabilitação (anos) Percentagem da amostra
Depois de 1990 10% Entre 1980 e 1989 18% Entre 1970 e 1979 24% Entre 1960 e 1969 41%
Antes de 1959 7%
Como se pode constatar, a amostra do estudo abrange um espectro alargado de idades dos rebocos,
com maior representação de rebocos da década de 60. Isto deve-se ao facto de o conjunto de
edifícios estudado (4.2.1) ter sido progressivamente abandonado depois da revolução dos cravos, até
meados da década de 90 do século passado, pelas autoridades responsáveis e seus proprietários.
No Quadro 5.2, apresenta-se a distribuição dos edifícios inspecionados por cinco intervalos de
extensão do destacamento/desagregação de reboco.
59
Quadro 5.2 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados por intervalos de destacamento de revestimentos de reboco.
Extensão do destacamento (% da área total de reboco)
Percentagem da amostra
Inferior a 5% 11% Entre 5% e 10% 17%
Entre 10% e 30% 40% Entre 30% e 50% 21% Superior a 50% 11%
Ao analisar-se o Quadro 5.2, verifica-se que a amostra tem uma representação relativamente
equilibrada para cada intervalo de destacamento. Para ambos os casos é importante que a amostra
fosse abrangente de todo o espectro de idade dos rebocos, e extensões de destacamento. A
abrangência e uniformidade da amostra são muito importantes para a qualidade final dos resultados,
uma vez que vai influenciar de forma determinante a “mancha” de pontos que irá ser obtida nos
gráficos de degradação.
Esta premissa foi alcançada, independentemente de a amostra ter uma prevalência de rebocos da
década de 60, e ser muito difícil encontrar edifícios com extensões de destacamento de reboco
próximo da totalidade da área da fachada (100%). Este facto poderá ser observado no gráfico de
degradação geral, que será apresentado posteriormente (Figura 5.1).
Os gráficos de degradação geral, obtidos exclusivamente com os dados referidos nos Quadros 5.1 e
5.2, são, geralmente, bastante dispersos devido à grande diversidade de variáveis que têm influência
nos mecanismos de degradação dos rebocos. Desta forma, a consideração de fatores de degradação
permite segmentar os dados de modo a evidenciar diferentes mecanismos de degradação dos
rebocos, em função de cada fator. Assim, os fatores de degradação funcionam como filtros que
reúnem conjuntos de edifícios de acordo com determinadas características comuns que estes
apresentam (Garrido, 2010).
O uso destes fatores permite ainda perceber a forma como uma dada variável pode afetar, positiva ou
negativamente, a vida útil de um reboco. Com base neste tipo de informação, é possível a adaptação
e correção de práticas existentes, ou até a adoção de novas práticas, num esforço para aumentar a
durabilidade dos rebocos de fachadas de edifícios.
Como descrito no capítulo 4, da presente dissertação, os fatores de degradação considerados no
presente trabalho são:
FD1 – Dureza do reboco;
FD2 – Textura da pelicula de tinta;
FD3 – Orientação solar da fachada;
FD4 – Espessura do reboco.
60
A caraterização detalhada da amostra, descrita no capítulo 4, pode ser consultada no Anexo 3, sendo
apresentado no Quadro 5.3 um resumo da distribuição da amostra do estudo pelas várias classes de
cada fator.
Quadro 5.3 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados pelos fatores de degradação.
Fator de degradação
Classificação Percentagem da amostra
Dureza do reboco
Unha 37% Moeda 41% Vidro 13%
Lâmina 9%
Textura da tinta Lisa 70%
Texturada 21% Membranada 9%
Orientação solar
Nort; 28% Sul 24%
Este 21% Oeste 27%
Espessura do reboco Inferior a 5 mm 59%
Igual ou superior a 5 mm 41%
Nas secções seguintes (5.3 e 5.4), será apresentado o gráfico de degradação geral e é feita análise
dos quatro fatores de degradação aqui considerados no desempenho diferido dos rebocos, referente
ao destacamento/desagregação dos mesmos.
5.3. Gráfico de degradação geral
Com base nos dados obtidos no trabalho de campo, relativos à idade dos rebocos e a extensão de
destacamento destes, é possível construir um gráfico de degradação, contendo a globalidade da
amostra de edifícios estudada. Este gráfico, do tipo T-ED (Tempo – Extensão da Degradação) é
apresentado na Figura 5.1.
Figura 5.1 – Gráfico de degradação geral.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70
Exte
nsã
o d
a d
egr
adaç
ão (
%)
Idade do reboco (anos)
Dados de base
61
Conhecida a nuvem de pontos que traduz numericamente os resultados obtidos em campo, é
possível observar que os pontos constantes do gráfico de degradação geral apresentam uma
dispersão considerável. Esta dispersão é expectável e representativa da diversidade de variáveis que
têm influência na durabilidade e no desempenho dos rebocos ou de qualquer outro material de
construção. De facto, segundo Paulo (2009) e Garrido (2010), a obtenção de pontos sem dispersão
significaria que os mecanismos de degradação e o desempenho diferido dos materiais não eram
afetados por qualquer fator, sendo iguais para qualquer revestimento, independentemente das suas
características e do seu contexto de aplicação o que, na prática, não se afigura como plausível.
A dispersão dos resultados deverá ser mais visível quanto mais heterogénea e aleatória for a amostra
considerada, sendo que, na presente investigação a diversidade da amostra foi uma das premissas
na escolha dos edifícios a inspecionar. Desta forma, quanto maior e mais heterogénea for a amostra
do estudo, mais provável será encontrar comportamentos distintos dos materiais de construção face à
atuação dos fatores de degradação. A aplicação destes fatores na filtragem dos dados tem por
objetivo fragmentar a amostra de acordo com caraterísticas comuns, atenuando assim a sua
dispersão, e permitindo desta modo estudar, de forma isolada ou combinando dois fatores de
degradação, o efeito destes no desempenho diferido do material.
Apesar da redução da dispersão, por aplicação de filtros, esta continua a subsistir pois é indicativa da
existência de fatores de degradação adicionais, não considerados na análise inicial, cuja influência
não é desprezável no desempenho diferido do material. De qualquer forma, é necessário fazer o
ajuste de curvas de degradação aos gráficos de degradação que sejam obtidos.
Na Figura 5.2, é apresentado o gráfico de degradação geral, ao qual foram ajustadas curvas de
degradação do tipo Gompertz, Potencial e Weibull. No Quadro 5.4, são apresentadas as suas
expressões e respetivos valores do erro quadrático médio (EQM).
Quadro 5.4 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação geral.
Equação da curva EQMD EQMT EQMC
Gompertz 40,80x10
-3 90,09 130,89
Potencial 31,22x10-3
122,33 153,56
Weibull
35,75x10
-3 113,71 149,46
62
Figura 5.2 – Curvas de degradação gerais.
De acordo com Gaspar (2009), uma vez que não se distinguem quais os mecanismos de degradação
que afetam os rebocos, nem qual o critério que deixa de ser cumprido, estas curvas representam o
efeito cumulativo da totalidade das ações e mecanismos de degradação que afetam os
revestimentos, ou seja, a perda de desempenho global destes, em condições de serviço.
Analisando o gráfico, é possível observar, tal como foi descrito em 2.3.3.1, que as curvas de
degradação expressam uma tendência dos revestimentos de reboco padecerem de anomalias de
desenvolvimento inicial lento, seguida de uma aceleração da taxa de degradação. Quando a
anomalia já afeta uma grande extensão do reboco, as curvas de Gompertz e Weibull sofrem uma
desaceleração da taxa de degradação, ao invés, a curva Potencial mantém a sua tendência
continuamente crescente, até que seja atingido o valor máximo de extensão da anomalia.
Através dos valores do erro quadrático médio combinado (EQMC) apresentados no Quadro 5.4, é
possível constatar que a curva de Gompertz é a que melhor se ajusta aos pontos do gráfico de
degradação. O valor de EQMC, como referido no subcapítulo 4.6, traduz a combinação dos valores
de EQMD e EQMT, sendo um indicador para os erros cometidos no ajuste global da curva aos pontos
do gráfico. Desta forma, quanto menor for o EQMC, melhor é o ajuste obtido pelas curvas de
degradação.
De facto, e após toda a fase de análise de dados que foi desenvolvida ao longo da presente
investigação, verificou-se que as curvas de Gompertz foram aquelas que de forma mais consistente
obtiveram valores mais reduzidos de EQMC. Por este motivo, no corpo da dissertação apenas será
apresentada, a partir do presente ponto, a modelação efetuada com recurso a estas curvas, como
forma de aligeirar a sua consulta.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
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o d
est
acam
en
to (
%)
Idade do reboco (anos)
Amostra do estudo
Gompertz
Potencial
Weibull
63
5.4. Influência dos fatores de degradação
A análise da influência dos fatores de degradação, considerados neste estudo, na vida útil dos
rebocos de fachada antigas é feita com base em gráficos de degradação do tipo T-ED (Tempo –
Extensão da Degradação), aos quais foram ajustadas leis de degradação do tipo Gompertz para
modelar o desempenho diferido dos rebocos em função de cada fator.
Através destes gráficos, é analisado o comportamento dos rebocos consoante as suas
características, e é feita uma análise comparativa, quando possível, com as investigações realizadas
por Paulo (2009), Garrido (2010) e Costa (2011), abordando a mesma metodologia de investigação.
Para facilitar a interpretação dos resultados, foram criados quadros resumo compostos pelos valores
que melhor espelham o andamento das curvas de degradação.
5.4.1. Influência da dureza do reboco (FD1)
A dureza do reboco foi o primeiro fator de degradação analisado, na tentativa de segmentar os dados
de acordo com características comuns, de forma a reduzir a dispersão dos dados e evidenciar
comportamentos distintos de rebocos com coesão superficial diferente. Para analisar a influência
deste fator no desempenho diferido dos rebocos de fachadas antigas, adotou-se a metodologia
apresentada em Paulo (2009) que recorre à escala de Mohs para agrupar os edifícios por níveis de
dureza.
A definição destes níveis foi feita com o intuito de conseguir a melhor adaptação possível aos dados
da amostra, garantindo desta forma a representatividade mínima de edifícios em cada nível. Com
base nestes critérios, adotou-se a seguinte divisão em três níveis de dureza:
Nível 1 – “Unha” (2,5 na escala de Mohs);
Nível 2 – “Moeda” (3,5 na escala de Mohs);
Nível 3 – “Lâmina” (6,5 na escala de Mohs).
Na Figura 5.3 encontram-se apresentadas as curvas de Gompertz obtidas após a aplicação deste
filtro, cujas equações e respetivos valores de EQM constam do Quadro 5.5.
Quadro 5.5 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD1: dureza do reboco”.
Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Nível 1 43,56X10
-3 62,39 105,95
Nível 2 27,91X10
-3 36,39 64,30
Nível 3 15,89X10
-3 84,33 100,22
64
Figura 5.3 – Influência do fator “FD1: dureza do reboco”, modelação com curvas de Gompertz.
Observando a Figura 5.3, é possível constatar que as argamassas com maior dureza superficial
(nível 3) apresentam o pior desempenho ao longo do tempo. Numa primeira análise, ignorando o
andamento inicial das curvas referentes aos rebocos inseridos no nível 1 e 2 de dureza, poder-se-ia
dizer que o desempenho diferido dos rebocos ao longo do tempo é tanto melhor quanto menor for a
sua dureza superficial. Embora esta afirmação seja parcialmente verdadeira, ignora o comportamento
dos rebocos nos primeiros 45 anos de idade. Durante este período, o desempenho diferido dos
rebocos inseridos no nível 2 de dureza é melhor e só vai ser superado pelo desempenho diferido dos
rebocos inseridos no nível 1, na data referida, quando a extensão de degradação atingir
aproximadamente 30% da área total da fachada (Quadro 5.6).
Estes valores assumem maior importância, ao efetuar-se um estudo comparativo com os resultados
obtidos por Paulo (2009) para a influência da dureza superficial das argamassas no desempenho
diferido dos rebocos (Figura 5.4).
Figura 5.4 – Modelação com as curvas de Gompertz com o fator de degradação "dureza do reboco” efetuado por Paulo (2009).
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
nsã
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o d
est
acam
en
to (
%)
Idade do reboco (anos)
Nível 1
Nível 2
Nível 3
G-Nível 1
G-Nível 2
G-Nível 3
65
Em ambos os estudos, os rebocos com maior dureza superficial (nível 3) apresentam um pior
desempenho, a diferença surge ao comparar-se as curvas de degradação para os rebocos inseridos
nos níveis 1 e 2 de dureza. As curvas obtidas por Paulo (2009) revelam claramente um melhor
desempenho dos rebocos inseridos no nível 2 de dureza, esta diferença pode ser justificada pela
utilização no presente trabalho de uma amostra menor e cingida a edifícios de alvenaria tradicional
sem estruturas de betão. Apesar das diferenças no modelo de estudo, os resultados obtidos no
presente trabalho parecem consubstanciar os resultados obtidos por Paulo (2009) (Quadro 5.6).
No Quadro 5.6, é apresentada uma análise comparativa dos valores que melhor espelham o
andamento das curvas de degradação obtidas nas duas investigações.
Quadro 5.6 – Quadro comparativo dos estudos realizados por Anselmo (2012) e Paulo (2009).
% área
destacada
Anselmo (2012) Paulo (2009) |Diferenças de idade|
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 1 Nível 2 Nível 3
0% até: 21 27 22 22 32 16 1 5 6
10% 37 39 34 36 44 20 1 5 14
30% 45 45 40 41 48 22 4 3 18
50% 51 49 44 47 53 24 4 4 20
70% 58 55 50 70 70 32 12 15 18
Nota: valor aproximados da idade em anos
Tendo em consideração que estes resultados podem estar associados à composição das
argamassas (rebocos com maior dureza – argamassas à base de cimento; rebocos com menor
dureza – argamassas à base de cal) que, consequentemente, influenciam características como a
compatibilidade entre materiais, resistências mecânicas das argamassas, e a capacidade dos
rebocos adaptarem-se às deformações do suporte (característica importante para edifícios sem
estruturas de betão), verifica-se que uma solução intermédia de reboco pode ser a que melhor se
adapta às fachadas de alvenaria tradicional.
5.4.2. Influência da textura da pelicula de tinta (FD2)
Para analisar a influência da textura da película de tinta no desempenho diferido dos rebocos, foi
necessário por questões de representatividade da amostra, ao contrário do que estava previsto na
metodologia de trabalho de campo, agrupar as tintas em dois grupos. O primeiro grupo, que
representa a grande maioria da amostra, é composto apenas por edifícios pintados com tinta lisa-óleo
(70 casos), por sua vez, o segundo grupo reúne os edifícios pintados com tinta lisa-plástica (9 casos)
e texturada (21 casos).
66
Para facilitar a análise deste fator, os grupos foram nomeados da seguinte forma:
Grupo 1 – Tintas “antigas” (lisa-óleo);
Grupo 2 – Tintas “recentes” (inclui tinta texturada e lisa-plástica).
A aplicação deste filtro conduziu às curvas de degradação apresentadas na Figura 5.5, cujas
equações e respetivos valores de EQM são apresentados no Quadro 5.7.
Quadro 5.7 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD2: textura da película de tinta”.
Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Antigas 31,71X10
-3 48,74 80,45
Recentes 24,46X10
-3 104,43 128,89
Figura 5.5 – Influência do fator “FD2: textura da pelicula de tinta”, modelação com curvas de Gompertz.
As curvas de degradação obtidas na Figura 5.5 indiciam um pior desempenho dos rebocos pintados
com tinta lisa-óleo face aos rebocos pintados com outras tintas. Este é um resultado expectável,
tendo em consideração a perceção que existe no meio técnico referente á durabilidade deste tipo de
pinturas.
De facto, ao fazer-se uma análise comparativa com os resultados obtidos por Garrido (2010),
demonstrando a influência da textura da película de tinta no desempenho diferido das pinturas em
edifícios antigos (Figura 5.6), verifica-se que as tintas texturadas apresentam um melhor desempenho
do que as restantes tintas.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
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to (
%)
Idade do reboco (anos)
Antigas
Recentes
G-Antigas
G-Recentes
67
Figura 5.6 – Modelação com as curvas de Gompertz com o fator de degradação "textura da pelicula” efetuado
por Garrido (2010).
Tendo em consideração que Garrido (2010) baseia o seu estudo na extensão de destacamento de
tinta, e que o presente estudo avalia o desempenho diferido dos rebocos, verifica-se que os
resultados práticos estão em consonância com os fundamentos teóricos. Assim, compete às tintas a
proteção do substrato (reboco), o seu destacamento expõe os rebocos aos agentes de degradação e
consequentemente facilita a progressão da degradação dos mesmos.
No Quadro 5.8, é feita uma análise comparativa do andamento das curvas de degradação obtidas
nas duas investigações. A diferença de idade é calculada através do valor médio obtido a partir das
curvas de degradação apresentadas no estudo efetuado por Garrido (2010).
Quadro 5.8 - Quadro comparativo dos estudos realizados por Anselmo (2012) e Garrido (2010).
% área
destacada
Anselmo (2012) Garrido (2010) Diferenças de idade
Antigas (LO)
Recentes (LP + T)
LO LP T Média
(LP + T) Antigas
(LO) Recentes
(LP+T)
0% até: 21 26 26 22 25 22,5 (5) 4,5
10% 36 40 32 28 32 30 4 10
30% 43 46 35 33 39 36 8 10
50% 49 52 38 37 46 41,5 11 10,5
70% 56 59 42 42 52 47 14 12
Nota: valores aproximados da idade em anos
A obtenção deste resultado, concordante e consistente com a perceção geralmente aceite, demonstra
que a metodologia adotada tem a capacidade de representar a influência dos fatores de degradação
considerados no desempenho diferido dos rebocos ao longo do tempo.
68
5.4.3. Influência da orientação solar (FD3)
As curvas de degradação resultantes da aplicação do fator de degradação “Orientação solar” são
apresentadas na Figura 5.7. As respetivas equações e valores de EQM podem ser consultados no
Quadro 5.9.
Quadro 5.9 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD3: orientação solar”.
Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Norte 28,95X10
-3 61,70 90,65
Sul 35,69X10
-3 74,28 109,97
Este 39,61X10
-3 67,37 106,99
Oeste 14,28X10
-3 41,26 55,54
Figura 5.7 – Influência do fator “FD3: orientação solar”, modelação com curvas de Gompertz.
Através da análise das curvas de degradação, é possível observar que a tendência de desempenho
diferido dos rebocos das fachadas orientadas a Sul é melhor quando comparado com o desempenho
das restantes fachadas. Por sua vez, as fachadas orientadas a Norte apresentam durante,
aproximadamente, cinquenta anos o pior desempenho diferido dos rebocos.
As várias tendências de desempenho diferido dos rebocos, tendo em consideração a orientação das
fachadas, podem ser analisadas no Quadro 5.10.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
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est
acam
en
to (
%)
Idade do reboco (anos)
Norte
Sul
Este
Oeste
G-Norte
G-Sul
G-Este
G-Oeste
69
Quadro 5.10 – Quadro resumo do andamento das curvas de degradação para o fator “orientação solar”.
% área destacada
Orientação – Anselmo (2012)
Norte Sul Este Oeste
0% até: 19 24 26 20
10% 35 40 38 37
30% 42 47 44 44
50% 49 53 49 50
70% 56 61 55 58
Nota: valores aproximados da idade em anos
Estes resultados são bastante interessantes. Se, por um lado, é consistente com o estudo efetuado
por Costa (2011), para a influência de fatores de degradação no aparecimento de manchas nas
fachadas, por outro, contrasta com a influência da exposição das fachadas aos raios UV, geralmente
associados à aceleração da degradação dos materiais orgânicos.
Embora o aumento da radiação solar esteja associada à aceleração da degradação, como
demostrado por Paulo (2009), a menor exposição das fachadas aos raios UV é favorável à
acumulação de humidades. Sendo a água apontada por muitos autores como o fator preponderante
na degradação dos rebocos, e tendo em consideração que o desenvolvimento da degradação dos
rebocos tem um leque de causas muito diverso (combinação de anomalias e de agentes de
degradação) onde se inclui a variação da incidência solar, considerou-se interessante estudar o
desempenho diferido do reboco segundo dois conjuntos de fachadas.
“Sol” – fachadas orientadas a Sul, Este e Oeste;
“Vento” – fachadas orientadas a Norte.
Estes conjuntos têm por base o movimento solar. O sol movimenta-se de Este para a Oeste,
encontrando-se a Sul ao meio-dia solar. As fachadas orientadas segundo estas direções
correspondem ao conjunto “Sol”. Viradas para Norte, ficam orientadas as fachadas de “sombra”.
Estas fachadas representam o conjunto “Vento”, pois são as fachadas com menor exposição solar,
mas sujeitas à ação de ventos frequentes com predominância de N e NW, vulgarmente conhecidos
por nortada.
Na Figura 5.8, são apresentadas as curvas de Gompertz para estes dois conjuntos, cujas equações e
respetivos valores de EQM constam do Quadro 5.11.
Quadro 5.11 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD3: orientação solar” (2 conjuntos de fachadas).
Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
“Vento” 28,95X10
-3 61,70 90,65
“Sol” 30,95X10
-3 61,19 92,13
70
Figura 5.8 – Influência do fator “FD3: orientação solar”, modelação com curvas de Gompertz
Como é possível observar, as curvas de degradação indicam um desempenho diferido ligeiramente
superior para as fachadas que formam o conjunto “Sol”. Esta conclusão assume maior importância
quando se compara este resultado com o estudo efetuado por Costa (2011). Na Figura 5.9, está
representada a influência combinada de dois fatores, “textura da pelicula de tinta” e “orientação solar”,
no aparecimento de manchas nas fachadas. Estas manchas estão, em muitos casos, associadas à
humidade. Sendo a água, como referido, apontada como o principal agente de degradação dos
rebocos, os resultados obtidos estão em concordância com os fundamentos teóricos.
Figura 5.9 – Modelação com as curvas de Gompertz com a combinação de fatores de degradação "orientação
solar” e “textura da pelicula de tinta” efetuado por Costa (2011).
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
nsã
o d
o d
est
acam
en
to (
%)
Idade do reboco (anos)
Vento
Sol
G-Vento
G-Sol
71
Embora seja difícil dissociar a ação simultânea dos diferentes agentes climáticos, o resultado obtido
neste estudo parece indicar que o desempenho diferido dos rebocos das fachadas orientadas a Norte
(“Vento”) é o mais condicionantes na manutenção dos mesmos.
No Quadro 5.12, é feita uma análise comparativa do andamento das curvas de degradação obtidas
nas duas investigações. A diferença de idade é calculada através do valor médio obtido a partir das
curvas de degradação apresentadas no estudo efetuado por Costa (2011).
Quadro 5.12 - Quadro comparativo dos estudos realizados por Anselmo (2012) e Costa (2011).
% área destacada
Anselmo (2012) Costa (2011) Diferenças de idade
“Sol” “Vento” LP
“Sol” T
“Sol” Média “Sol”
LP “Vento”
T “Vento”
Média “Vento”
“Sol” “Vento”
0% até: 24 19 5 5 5 4 2 3 19 16
10% 38 35 16 13 14,5 12 8 10 23,5 25
30% 45 42 25 21 23 19 14 16,5 22 25,5
50% 51 49 32 27 29,5 25 18 21,5 21,5 27,5
70% 58 56 40 34 37 32 24 28 21 28
Nota: valores aproximados da idade em anos
5.4.4. Influência da espessura do reboco (FD4)
Como referido no subcapítulo 4.3.7, a espessura do reboco, medida a partir da amostra recolhida
durante o trabalho de campo, corresponde à espessura da camada de acabamento. Para analisar a
influência deste fator no desempenho diferido dos rebocos, a amostra de edifícios foi fragmentada em
dois níveis de espessura.
Nível 1 – espessura inferior a 5 mm;
Nível 2 – espessura igual ou superior a 5 mm.
A definição destes níveis teve em consideração os fundamentos teóricos referentes ao valor mínimo
de espessura para a camada de acabamento de rebocos correntes e tradicionais. A aplicação deste
fator, segundo estes critérios, conduziu às curvas de degradação apresentadas na Figura 5.10. As
respetivas equações e valores de EQM podem ser observados no Quadro 5.13.
Quadro 5.13 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos no
ajuste ao gráfico de degradação com aplicação do fator “FD4: espessura do reboco”.
Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Inf.5 mm 27,23X10
-3 52,46 79,69
Sup.5 mm 34,77X10
-3 90,02 124,79
72
Figura 5.10 – Influência do fator “FD4: espessura do reboco”, modelação com curvas de Gompertz
Analisando o gráfico, é possível constatar que, apesar do melhor desempenho dos rebocos com
camada de acabamento superior a 5 mm, os resultados não são tão conclusivos como seria
expectável. Esta situação pode dever-se à ausência de informação ao nível de:
projeto: pormenorização do número de camadas e espessura das mesmas; processos de
aplicação das várias camadas;
execução: cumprimento do projeto ao nível do número de camadas e dos requisitos mínimos
de espessura e tempo de presa/endurecimento.
De facto, a ausência desta informação pode justificar o desempenho de muitos fatores ligados com as
características físicas dos materiais. Neste caso, o modo de aplicação pode justificar a melhoria de
desempenho do reboco com camadas de acabamento inferiores a 5 mm. Um bom exemplo deste
facto é a aplicação de argamassas por projeção, pois diminui a espessura mínima necessária para a
execução da camada de acabamento. Ao invés, a má execução das camadas subjacentes à camada
de acabamento piora o desempenho dos rebocos. Em todo o caso, apesar da pequena diferença de
desempenho, o Gráfico 5.11 mostra uma tendência de comportamento melhor para rebocos
executados segundo os princípios teóricos.
No Quadro 5.14, estão indicados os valores que melhor espelham o andamento das curvas de
degradação obtidas após aplicação deste fator.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
nsã
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acam
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to (
%)
Idade do reboco (anos)
inf. 5 mm
sup. 5 mm
G-inf. 5 mm
G-sup. 5 mm
73
Quadro 5.14 - Quadro resumo do andamento das curvas de degradação para o fator “espessura do reboco”.
% área destacada
Espessura – Anselmo (2012)
Inf. a 5 mm Sup. a 5 mm
0% até: 20 22
10% 36 38
30% 43 45
50% 50 51
70% 57 58
Nota: valores aproximados da idade em anos
Ao analisar-se o quadro anterior, confirma-se a tendência observada na Figura 5.10. O andamento
das curvas de degradação é praticamente paralelo, separadas no máximo por 2 anos de diferença no
momento da aceleração da taxa de degradação. Esta diferença de valores é pouco conclusiva da
influência deste fator no desempenho diferido dos rebocos, sugerindo-se a sua aplicação em futuras
investigações.
5.5. Combinação de fatores de degradação
Após analisada a influência isolada de cada um dos fatores de degradação no desempenho diferido
dos rebocos, nesta secção é apresentado o estudo combinado dos diferentes fatores de degradação.
A combinação de fatores permite segmentar os dados de acordo com características comuns, e
analisar de forma mais detalhada os padrões de desempenho diferido dos rebocos.
Para definir a combinação dos diferentes fatores, à semelhança do estudo realizado por Paulo (2009),
adotou-se a “dureza do reboco” como o fator que mais influência o desempenho diferido dos rebocos.
De facto, ao fazer-se uma análise comparativa ao andamento das curvas de degradação que
caraterizam cada fator (ver quadros resumo), verifica-se que, a diferença de idade entre as curvas
que compõem o fator “dureza do reboco” é maior do que a diferença entre os restantes fatores. Esta
diferença de valores de idade entre rebocos traduz a grande influência que a “dureza” tem no
desempenho diferido dos mesmos.
Assumindo este pressuposto, procedeu-se à combinação deste fator com os restantes. Por
insuficiência do número de edifícios que compõem a amostra, foi impossível estudar a influência
resultante da combinação de três fatores, sugerindo-se a sua aplicação em futuras investigações.
No Quadro 5.15, são apresentadas as combinações efetuadas no presente trabalho.
Quadro 5.15 – Quadro resumo das combinações de fatores de degradação considerados.
Combinação 1 Dureza do reboco (FD1) + textura da tinta (FD2)
Combinação 2 Dureza do reboco (FD1) + orientação solar (FD3)
Combinação 3 Dureza do reboco (FD1) + espessura do reboco (FD4)
74
5.5.1. Dureza do reboco e textura da pelicula de tinta (Combinação 1)
Pretende-se com esta combinação analisar a influência da textura da pelicula de tinta no
desempenho diferido das fachadas rebocadas, avaliando individualmente esse efeito sobre cada um
dos três níveis de dureza considerados para as argamassas.
Dureza do reboco – Nível 1 “Unha”
Na Figura 5.11, é possível observar as curvas de degradação obtidas para esta combinação, cujas
equações e valores de EQM são apresentados no Quadro 5.16.
Quadro 5.16 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD2: textura da película de tinta”.
Nível 1 Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Antigas 45,80X10
-3 48,97 94,77
Recentes 18,05X10
-3 86,90 104,95
Figura 5.11 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD2: textura da pelicula de
tinta”, modelação com curvas de Gompertz.
Ao analisar as curvas de degradação, verifica-se que, a partir sensivelmente dos 35 anos de idade
(10% da área de destacamento), o desempenho dos rebocos pintados com tintas “recentes” é
tendencialmente melhor do que o desempenho dos rebocos pintados com tintas “antigas”. Este
resultado é consistente com o que seria esperado relativamente à influência deste fator de
degradação na evolução do destacamento de reboco de fachadas, estando em consonância com a
avaliação efetuada no subcapítulo 5.4.2.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
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to (
%)
Idade do reboco (anos)
Nível 1 - "Unha"
Antigas
Recentes
G-Antigas
G-Recentes
75
Dureza do reboco – Nível 2 “Moeda”
As curvas de degradação obtidas por aplicação da combinação destes fatores são expostas na
Figura 5.12. As equações e respetivos valores de EQM podem ser consultados no Quadro 5.17.
Quadro 5.17 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD2: textura da película de tinta”.
Nível 2 Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Lisa 28,84X10
-3 45,62 74,46
Texturada 10,79X10
-3 51,39 62,18
Figura 5.12 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD2: textura da pelicula de
tinta”, modelação com curvas de Gompertz.
Numa primeira análise, observa-se um desempenho inicial ligeiramente melhor das tintas “recentes”
face às pinturas executadas com tintas “antigas”. No entanto, esta tendência das curvas de
degradação inverte-se quando os rebocos atingem, aproximadamente, os 50 anos de idade e 50% da
área degradada da fachada. Contudo, em momento nenhum o desempenho diferido das diferentes
tintas evidência a diferença de comportamento verificada na análise individual deste fator, subcapítulo
5.4.2. Este resultado, pouco conclusivo, pode ser explicado pela dimensão reduzida da amostra
referente às tintas recentes.
Dureza do reboco – Nível 3 “Lâmina”
As curvas de degradação e as respetivas equações relativas à combinação “Lâmina” e “Textura da
pelicula de tinta” estão apresentadas na Figura 5.13 e Quadro 5.18.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
Nível 2 - "Moeda"
Antigas
Recentes
G-Antigas
G-Recentes
76
Quadro 5.18 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD2: textura da película de tinta”.
Nível 3 Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Lisa 11,42X10
-3 35,64 47,06
Texturada 36,31X10
-3 134,19 170,50
Figura 5.13 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD2: textura da pelicula de
tinta”, modelação com curvas de Gompertz.
De forma semelhança ao verificado na análise anterior (“Moeda-Textura da tinta”), constata-se que o
desempenho inicial dos rebocos pintados com tintas “recentes” é melhor durante, aproximadamente,
os primeiros 45 anos de vida do reboco (40% da área destacada). A partir desse momento, o
desempenho dos rebocos pintados com tintas “antigas” é melhor. No entanto, a ausência de pontos
no gráfico com áreas de destacamento elevadas indica que os fatores de degradação aplicados não
são suficientes para evidenciar diferenças de comportamentos para os dois tipos de pinturas.
O facto de ocorrer a inversão de desempenho, pode ser explicado, tanto para este caso como para o
anterior, pela falta de pontos nos gráficos referentes a tintas texturadas. Por este motivo, seria
importante enriquecer estes mesmos gráficos mediante a inclusão de pontos adicionais, os quais
deveriam ser obtidos através da realização de mais inspeções a edifícios com pinturas “recentes”
afetadas por um leque mais abrangente de áreas de destacamento de rebocos.
Na Figura 5.14, apresentam-se as curvas de degradação obtidas para esta combinação.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
Nível 3 - "Lâmina"
Antigas
Recentes
G-Antigas
G-Recentes
77
Figura 5.14 – Comparação entre as várias combinações efetuadas entre os fatores “dureza do reboco” e
“textura da película de tinta”.
No gráfico, não foram incluídos os resultados obtidos com a combinação Lâmina-Textura da película
de tinta, devido à falta de coerência destes com os resultados obtidos no subcapítulo 5.3.4. Por este
motivo, e para servir de referência, optou-se por apresentar a curva de degradação geral para
rebocos com dureza superficial de nível 3 (“Lâmina”).
5.5.2. Dureza do reboco e orientação solar (Combinação 2)
Só foi possível efetuar a combinação destes dois fatores de degradação, através da orientação das
fachadas segundo os dois conjuntos de orientação descritos no subcapítulo 5.4.3. Esta opção deve-
se ao facto de o número de edifícios que compõem a amostra ser insuficiente para garantir a
representatividade dos resultados obtidos para os quatro pontos cardeais.
Nos pontos seguintes, é feita a análise individual, da influência destes conjuntos de orientação no
desempenho diferido dos rebocos, para cada um dos níveis de dureza considerados neste estudo.
Dureza do reboco – Nível 1 “Unha”
É possível, na Figura 5.15, observar as curvas de degradação obtidas por aplicação desta
combinação e consultar, no Quadro 5.19, as respetivas equações e valores de EQM.
Quadro 5.19 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD3: orientação solar”.
Nível 1 Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Vento 44,88X10
-3 68,01 112,89
Sol 32,91X10
-3 60,82 93,73
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
G-Nível 1-Antigas
G-Nível 1-Recentes
G-Nível 2-Antigas
G-Nível 2-Recentes
G-Nível 3
78
Figura 5.15 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD3: orientação solar ”,
modelação com curvas de Gompertz.
Analisando o andamento das curvas de degradação, verifica-se um melhor desempenho do conjunto
de fachadas orientadas segundo o movimento solar (“Sol”), o que era esperado face aos resultados
obtidos na análise individual deste fator (subcapítulo 5.4.3). A principal diferença reside no
andamento inicial das curvas de degradação, que neste caso é semelhante nos primeiros 40 anos de
idade do reboco. Posteriormente, ocorre a aceleração da degradação dos rebocos orientados a Norte
(“Vento”), que aos 60 anos de idade já apresentam uma diferença de degradação significativa, na
ordem dos 15%.
Dureza do reboco – Nível 2 “Moeda”
As curvas de degradação e respetivas equações, relativas à combinação “Moeda” e “Orientação” são
apresentadas na Figura 5.16 e Quadro 5.20.
Quadro 5.20 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD3: orientação solar”.
Nível 2 Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Vento 24,60X10
-3 85,37 109,97
Sol 29,97X10
-3 46,58 76,55
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
Nível 1 - "Unha"
Vento
Sol
G-Vento
G-Sol
79
Figura 5.16 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD3: orientação solar”,
modelação com curvas de Gompertz.
Tal como na análise anterior, os rebocos das fachadas com maior exposição solar apresentam
melhor desempenho ao longo do tempo. Ao fazer-se uma análise comparativa entre este gráfico e o
obtido no subcapítulo 5.4.3, referente à análise individual do fator “orientação”, verifica-se que o
andamento das curvas de degradação é praticamente coincidente. Este resultado deve-se à
heterogeneidade da amostra para estes fatores.
Numa análise mais minuciosa das curvas, constata-se que a partir do momento da aceleração da
taxa de degradação (por volta dos 30 anos) o andamento das curvas, nos 30 anos seguintes, é
praticamente paralelo. Realmente verifica-se, durante este período, que apesar do pior desempenho
das fachadas orientadas a Norte (“Vento”), as fachadas que representam o conjunto “Sol” atingem os
mesmos patamares de degradação sensivelmente 4 a 5 anos depois.
Dureza do reboco – Nível 3 “Lâmina”
A aplicação da combinação destes fatores gerou as curvas de degradação e equações de EQMC que
se encontram apresentadas na Figura 5.17 e Quadro 5.21.
Quadro 5.21 – Equações das curvas de degradação e respetivos valores de EQMD, EQMT e EQMC obtidos com
a aplicação simultânea dos fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD3: orientação solar”.
Nível 3 Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Vento 19,16X10
-3 133,67 152,82
Sol 27,59X10
-3 76,73 104,32
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
Nível 2 - "Moeda"
Vento
Sol
G-Vento
G-Sol
80
Figura 5.17 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD3: orientação solar”,
modelação com curvas de Gompertz.
Ao contrário dos resultados obtidos nos pontos anteriores, o Gráfico 5.18 não evidencia qualquer
diferença de comportamento entre os dois conjuntos de orientação das fachadas. Embora este
resultado não esteja de acordo com o apresentado no subcapítulo 5.4.3, não deixa de ser expectável.
O número reduzido de edifícios que compõem a amostra com dureza de nível 3 (“Lâmina”- 23 casos),
e a grande concentração da mesma, período curto de tempo com baixa extensão de destacamento,
sugere a necessidade de incrementar a amostra com rebocos com este nível de dureza e áreas de
destacamento elevadas. Só desta forma é possível que os gráficos, para rebocos com este nível de
dureza, traduzam resultados em consonância com a análise individual dos diferentes fatores de
degradação.
Na Figura 5.18, apresentam-se as curvas de degradação obtidas para os níveis 1 e 2 de dureza desta
combinação. Simultaneamente, é apresentada, como referência, a curva de degradação geral para
rebocos com dureza superficial de nível 3 (Lâmina”).
Figura 5.18 – Comparação entre as várias combinações efetuadas entre os fatores “dureza do reboco” e “orientação solar”.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
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100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
Nível 3 - "Lâmina"
Vento
Sol
G-Vento
G-Sol
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
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%)
Idade do reboco (anos)
G-Nível 1-Vento
G-Nível 1-Sol
G-Nível 2-Vento
G-Nível 2-Sol
G-Nível 3
81
O gráfico da Figura 5.18 é consistente com os resultados obtidos na análise individual (5.4.1 e 5.4.3)
de ambos os fatores considerados nesta combinação. As curvas de degradação resultantes desta
combinação, voltam a evidenciar o melhor desempenho dos rebocos de fachadas orientadas segundo
o conjunto “Sol”, e uma tendência de desempenho inicialmente melhor por parte dos rebocos
inseridos no nível 2 de dureza (“unha”).
5.5.3. Dureza do reboco e espessura do reboco (Combinação 3)
Com esta combinação, pretende-se estudar a influência da espessura da camada de acabamento no
desempenho diferido dos diferentes níveis de dureza do reboco. A análise é apresentada de forma
individual, para cada nível de dureza.
Dureza do reboco – Nível 1 “Unha”
No Quadro 5.2 e Figura 5.19, são apresentadas as equações, EQM e curvas de degradação,
correspondentes a este nível da combinação 3.
Quadro 5.22 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD3: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz.
Unha Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Inf. 5 mm 38,87X10
-3 51,55 90,43
Sup. 5 mm 19,95X10
-3 48,76 68,70
Figura 5.19 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 1” e “FD4: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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to (
%)
Idade do reboco (anos)
Nível 1 - "Unha"
Inf. 5 mm
Sup. 5 mm
G-Inf. 5 mm
G-Sup. 5 mm
82
As curvas de degradação obtidas para esta combinação traduzem os resultados teóricos expectáveis
para as camadas de acabamento de reboco executadas segundo as regras de “boa arte”. Embora os
resultados estejam de acordo com os fundamentos teóricos, a ausência de um leque mais
abrangente de edifícios com espessura de reboco superior a 5 mm torna evidente a necessidade de
futuras investigações, sobre a influência deste fator no comportamento dos rebocos, de forma a
confirmar a validade dos resultados obtidos.
Dureza do reboco – Nível 2 “Moeda”
As curvas de degradação obtidas por aplicação da combinação destes fatores são apresentadas no
Figura 5.20. As suas equações e respetivos valores de EQM podem ser consultados no Quadro 5.23.
Quadro 5.23 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD3: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz.
Moeda Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Inf. 5 mm 24,03X10
-3 51,59 75,62
Sup. 5 mm 22,62X10
-3 33,11 55,73
Figura 5.20 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 2” e “FD4: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz.
Tal como nas combinações anteriores, é neste nível da combinação que as curvas melhor espelham
os resultados obtidos na análise individual de cada fator de degradação. De forma semelhante ao
verificado no subcapítulo 5.4.4, o gráfico não evidencia nenhuma diferença de comportamento entre
os dois níveis de espessura, nesta combinação, o desempenho diferido dos rebocos é praticamente
coincidente. Uma possível explicação para este resultado é análoga á efetuada para a análise
individual da espessura do reboco. O desconhecimento relativo ao projeto e modo de execução dos
rebocos pode justificar comportamentos semelhantes entre rebocos com características diferentes.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
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80,00%
90,00%
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0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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%)
Idade do reboco (anos)
Nível 2 - "Moeda"
Inf. 5 mm
Sup. 5 mm
G-Inf. 5 mm
G-Sup. 5 mm
83
Dureza do reboco – Nível 3 “Lâmina”
Como é possível observar na Figura 5.21, os resultados obtidos para esta combinação contradizem
os fundamentos teóricos conhecidos para os rebocos. Estes resultados não devem ser tomados em
consideração devido à escassez da amostra referente a rebocos com dureza superficial de nível 3.
Quadro 5.24 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD3: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz.
Lâmina Curva de Gompertz EQMD EQMT EQMC
Inf. 5 mm 5,48X10
-3 37,21 42,69
Sup. 5 mm 50,57X10
-3 174,52 225,09
Figura 5.21 – Combinação entre os fatores “FD1: dureza do reboco – nível 3” e “FD4: espessura do reboco”,
modelação com curvas de Gompertz.
Como foi possível observar para a maioria das combinações referentes a este nível, a carência de
pontos no gráfico gera uma melhoria no desempenho das curvas de degradação em comparação
com as curvas de degradação referentes aos níveis 1 e 2 de dureza. Este resultado contrasta com a
análise efetuada por Paulo (2009) e exposta no subcapítulo 5.4.1, onde os resultados obtidos
evidenciam o pior desempenho dos rebocos com nível de dureza 3. Por este motivo, apenas as
curvas de degradação obtidas para os níveis 1 e 2 desta combinação estão representadas na Figura
5.22. Como referência, é também apresentada a curva de degradação geral para rebocos com
dureza superficial de nível 3 (“Lâmina”).
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
nsã
o d
o d
est
acam
en
to (
%)
Idade do reboco (anos)
Nível 3 - "Lâmina"
Inf. 5 mm
Sup. 5 mm
G-Inf. 5 mm
G-Sup. 5 mm
84
Figura 5.22 – Comparação entre as várias combinações efetuadas entre os fatores “dureza do reboco” e
“espessura do reboco”.
A sobreposição de curvas observada no gráfico anterior espelha o que foi descrito ao longo desta
combinação e referido na análise individual do fator “espessura do reboco”. A influência deste fator no
desempenho diferido dos rebocos foi inconclusiva, reafirmando-se a necessidade de futuras
investigações de modo a verificar a sua influência.
5.6. Síntese dos resultados obtidos
No Quadro 5.25, é apresentada a síntese dos resultados obtidos referente à análise individual dos
quatro fatores de degradação adotados na presente dissertação.
Quadro 5.25 – Quadro resumo dos resultados obtidos com a aplicação isolada dos fatores de degradação.
Fatores de degradação Curvas de degradação Observações
FD1 - Dureza do reboco
Nível 1 – “Unha” Degradação mais rápida para rebocos com maior dureza superficial - Nível 3. Melhor desempenho inicial dos rebocos com dureza superficial intermédia – Nível 2. A partir dos 45 anos de idade inverte-se a tendência e os rebocos com menor dureza superficial – Nível 1 apresentam melhor comportamento.
Nível 2 – “Moeda”
Nível 3 – “Lâmina”
FD2 - Textura da pelicula de tinta
“Antigas” Melhor desempenho dos rebocos pintados com tintas “recentes”, sendo este um resultado consistente com o que seria expectável. “Recentes”
FD3 - Orientação solar
“Vento” (Norte)
Através da análise individual segundo os pontos cardeais, verificou-se que os rebocos orientados a Norte tinham o pior desempenho e que os rebocos orientados a Sul tinham o melhor desempenho. Deste modo o desempenho dos rebocos de fachadas orientadas segundo o conjunto “Sol” é melhor que o desempenho dos rebocos orientados segundo o conjunto “Vento”. Este resultado é consistente com os fundamentos teóricos.
“Sol” (Sul, Este e Oeste)
FD4 - Espessura do reboco
Inferior a 5 mm Embora o desempenho dos rebocos com espessuras superiores a 5 mm seja ligeiramente melhor, como seria expectável, a aplicação do fator de forma isolada é pouco conclusiva.
Superior a 5 mm
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Exte
nsã
o d
o d
est
acam
en
to (
%)
Idade do reboco (anos)
G-Nível 1-Inf. 5
G-Nível 1-Sup. 5
G-Nível 2-Inf. 5
G-Nível 2-Sup. 5
G-Nivel 3
85
Em seguida, é apresentada, no Quadro 5.26, a síntese dos resultados obtidos para as combinações
de fatores consideradas na presente dissertação.
Quadro 5.26 – Quadro resumo dos resultados obtidos com as combinações de fatores de degradação consideradas.
Combinação Curvas de degradação Observações
Combinação 1
Dureza + Textura da pelicula de tinta
Nível 1 “Antigas” Melhor desempenho dos rebocos pintados com
tintas texturadas. “Recentes”
Nível 2
“Antigas” Melhor desempenho inicial por parte dos rebocos pintados com tinta texturada, invertendo-se esta tendência por volta dos 50 anos. Resultado contraditório, explicável pela necessidade de enriquecer o gráfico com pontos referentes às tintas texturadas.
“Recentes”
Nível 3 “Antigas” Resultado pouco fiável, existe a necessidade de
enriquecer o gráfico com mais pontos. “Recentes”
Combinação 2
Dureza+ Orientação solar
Nível 1 “Vento” Melhor desempenho dos rebocos das fachadas
orientadas segundo o conjunto “Sol”. “Sol”
Nível 2 “Vento” Melhor desempenho dos rebocos das fachadas
orientadas segundo o conjunto “Sol”. “Sol”
Nível 3 Vento Resultado pouco fiável, existe a necessidade de
enriquecer o gráfico com mais pontos. Sol
Combinação 3
Dureza + Espessura do reboco
Nível 1 Inf. a 5 mm Os rebocos com espessuras superiores a 5 mm
apresentam um comportamento melhor face aos rebocos com espessuras inferiores. Sup. a 5 mm
Nível 2 Inf. a 5 mm Não se evidenciam quaisquer diferenças de
desempenho. Sup. a 5 mm
Nível 3 Inf. a 5 mm Resultado pouco fiável, existe a necessidade de
enriquecer o gráfico com mais pontos. Sup. a 5 mm
86
6. Conclusão
6.1. Considerações finais
O presente trabalho insere-se no âmbito da vida útil das construções, e tem como objetivo
desenvolver uma metodologia de previsão da vida útil de rebocos de fachadas antigas. A metodologia
proposta enquadra-se nas metodologias anteriormente adotadas por Paulo (2009), Garrido (2010),
Costa (2011) e Silva (2012). Este tipo de metodologia pretende quantificar anomalias, identificar e
caracterizar fatores de degradação com recurso à inspeção de edifícios em serviço. Estes dados,
recolhidos durante estas inspeções, são posteriormente analisados com recurso a curvas de
degradação do tipo Gompertz, Potenciais e Weibull, que seguem uma abordagem determinística ao
estudo da durabilidade dos materiais.
Neste capítulo, apresenta-se de forma sucinta a linha de investigação desenvolvida e os resultados
obtidos ao longo deste estudo. São ainda feitas algumas considerações sobre a metodologia adotada
e sugeridos possíveis desenvolvimentos, baseados nas dificuldades encontradas, com o intuito de
melhorar a metodologia proposta.
6.2. Conclusões gerais
A investigação desenvolvida na presente dissertação pode dividir-se em três fases distintas: a recolha
de informação bibliográfica (state-of-the-art), o trabalho de campo e a aplicação do modelo de
previsão da vida útil.
Após realizado o trabalho de campo, foi possível analisar a influência, isolada ou combinada, dos
vários fatores de degradação (dureza do reboco, textura da pelicula de tinta, orientação solar e
espessura do reboco) no desempenho diferido dos rebocos de fachadas antigas. Estes resultados
são alvo de análise nas secções seguintes do presente capítulo.
6.2.1. Conclusões relativas à influência dos fatores de degradação
Como descrito ao longo desta dissertação, foram inspecionadas 100 construções localizadas na
cidade de Lisboa. Estes edifícios abrangem um espectro alargado de idade dos rebocos e extensões
de destacamento, caraterística muito importante para a qualidade final dos resultados.
No Quadro 6.1, apresenta-se a distribuição dos edifícios inspecionados por cinco intervalos de tempo
e extensão do destacamento.
87
Quadro 6.1 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados por intervalos de idade dos rebocos e extensão de
destacamento.
Data de reabilitação Percentagem da
amostra Extensão do
destacamento Percentagem da
amostra
Depois de 1990 10% Inferior a 5% 11%
Entre 1980 e 1989 18% Entre 5% e 10% 17%
Entre 1970 e 1979 24% Entre 10% e 30% 40%
Entre 1960 e 1969 41% Entre 30% e 50% 21%
Antes de 1959 7% Superior a 50% 11%
A consideração de fatores de degradação permite segmentar estes dados de modo a evidenciar
diferentes mecanismos de degradação dos rebocos, em função de cada fator, ou seja, os fatores de
degradação funcionam como filtros que reúnem conjuntos de edifícios de acordo com determinadas
características comuns que estes apresentam (Garrido, 2010).
No Quadro 6.2, apresenta-se um resumo da distribuição da amostra do estudo pelas várias classes
de cada fator.
Quadro 6.2 – Distribuição da amostra de edifícios inspecionados pelos fatores de degradação.
Fator de degradação
Classificação Percentagem da amostra
Dureza do reboco
Unha 37%
Moeda 41%
Vidro 13%
Lâmina 9%
Textura da tinta
Lisa 70%
Texturada 21%
Membranada 9%
Orientação solar
Norte 28%
Sul 24%
Este 21%
Oeste 27%
Espessura do reboco Inferior a 5 mm 59%
Igual ou superior a 5 mm 41%
A análise da influência destes fatores de degradação na vida útil dos rebocos de fachada antigas foi
feita com base em gráficos de degradação do tipo T-ED (Tempo – Extensão da Degradação), aos
quais foram ajustadas leis de degradação do tipo Gompertz, potenciais e Weibull para modelar o
desempenho diferido dos rebocos em função de cada fator. Tendo em conta o melhor ajustamento
das curvas de Gompertz aos dados, expresso pelo menor valor de EQMC, a análise dos resultados
ao longo desta dissertação privilegiou estas curvas em detrimento das restantes.
No Quadro 6.3, estão indicados os valores que melhor espelham o andamento das curvas de
Gompertz obtidas após aplicação destes fatores.
88
Quadro 6.3 – Quadro resumo do andamento das curvas de degradação que caraterizam os fatores considerados no estudo.
Fatores de degradação % da área de reboco destacada
0% até: 10% 30% 50% 70%
FD1
Dureza
Nível 1 21 37 45 51 58
Nível 2 27 39 45 49 55
Nível 3 22 34 40 44 50
FD2
Textura da tinta
Antigas 21 36 43 49 56
Recentes 26 40 46 52 59
FD3
Orientação solar
“Sol” 24 38 45 51 58
“Vento” 19 35 42 49 56
FD4
Espessura do reboco
Inf.5 mm 20 36 43 50 57
Sup.5mm 22 38 45 51 58
Nota: valores aproximados da idade em anos.
Através da análise comparativa destas curvas, foi possível interpretar os resultados obtidos e desta
forma determinar a influência de cada fator de degradação no desempenho diferido dos rebocos de
fachada ao longo do tempo.
FD1 – Dureza do reboco
Para analisar a influência deste fator, recorreu-se à escala de Mohs para agrupar os edifícios em 3
níveis de dureza superficial:
Nível 1 – “Unha” (2,5 na escala de Mohs);
Nível 2 – “Moeda” (3,5 na escala de Mohs);
Nível 3 – “Lâmina” (6,5 na escala de Mohs).
Através da análise ao andamento das curvas de degradação, verificou-se que o desempenho inicial
dos rebocos inseridos no nível 2 de dureza é melhor, até ao destacamento de reboco atingir,
aproximadamente, 30% da área total da fachada. Este período corresponde a 45 anos de idade dos
rebocos, a partir desse momento o comportamento dos rebocos inseridos no nível 1 de dureza é
melhor.
A principal diferença registada no andamento das curvas ocorre no momento em que se inicia a
degradação. Este é um momento importante no comportamento dos rebocos. O processo de
destacamento do reboco com dureza superficial de nível 2 desencadeia-se, aproximadamente, 6
anos após os rebocos inseridos no nível 1 de dureza.
Por sua vez, o comportamento dos rebocos com dureza superficial de nível 3 é invariavelmente pior
quando comparado com os restantes, atingindo os mesmos patamares de degradação,
sensivelmente, 5 a 6 anos antes.
89
FD2 – Textura da pelicula de tinta
Para analisar a influência da textura da película de tinta no desempenho diferido dos rebocos, foi
necessário por questões de representatividade da amostra, agrupar as tintas em dois grupos:
Grupo 1 – Tintas “antigas” (lisa-óleo);
Grupo 2 – Tintas “recentes” (inclui tinta texturada e lisa-plástica).
As curvas de degradação indiciam um pior desempenho dos rebocos pintados com tinta lisa-óleo face
aos rebocos pintados com outras tintas. Este é um resultado expectável, tendo em consideração a
perceção que existe no meio técnico referente à durabilidade deste tipo de pinturas. De facto, ao
fazer-se uma análise comparativa ao andamento das curvas, verifica-se que os rebocos pintados com
tintas “antigas” atingem os mesmos patamares de degradação 4 a 5 anos antes.
FD3 – Orientação solar
A análise da influência deste fator no desempenho diferido dos rebocos foi feita segundo dois
conjuntos de fachadas:
“Sol” – fachadas orientadas a Sul, Este e Oeste;
“Vento” – fachadas orientadas a Norte.
Estes conjuntos foram definidos com base no movimento solar. Através da análise às curvas,
correspondentes a cada um destes conjuntos, foi possível identificar um desempenho ao longo do
tempo melhor por parte das fachadas orientadas segundo o conjunto “Sol”. Numa análise mais
minuciosa ao andamento das curvas, constata-se que, a partir do momento da aceleração da taxa de
degradação (por volta dos 35 anos e 10% da área de destacamento) o andamento das curvas, nos 35
anos seguintes, é praticamente paralelo. Realmente verifica-se, durante este período, que apesar do
pior desempenho das fachadas orientadas a Norte (“Vento”), as fachadas que representam o
conjunto “Sol” atingem os mesmos patamares de degradação sensivelmente 3 anos depois.
FD4 – Espessura do reboco
Para analisar a influência deste fator no desempenho diferido dos rebocos, a amostra de edifícios foi
fragmentada em dois níveis de espessura:
Nível 1 – espessura inferior a 5 mm;
Nível 2 – espessura igual ou superior a 5 mm.
A definição destes níveis teve em consideração os fundamentos teóricos referentes ao valor mínimo
de espessura para a camada de acabamento de rebocos correntes e tradicionais. A aplicação deste
fator, segundo estes critérios, conduziu a resultados pouco conclusivos que podem ser explicados
pela ausência de informação ao nível de projeto e execução.
90
Ao analisar-se o quadro anterior, verifica-se diferenças mínimas, tanto no momento em que se inicia a
degradação como no desenvolvimento desta ao longo do tempo (aproximadamente 2 anos). Esta
diferença de valores é pouco conclusiva da influência deste fator no desempenho diferido dos
rebocos, sugerindo-se a sua aplicação em futuras investigações. Em todo o caso, os rebocos com
espessuras superiores a 5 mm mostram uma tendência de comportamento melhor comparativamente
com os rebocos de espessuras inferiores.
6.2.2. Conclusões relativas à análise combinada de fatores
Para definir a combinação dos diferentes fatores, foi necessário determinar o fator que mais influência
o desempenho diferido dos rebocos. De facto, ao fazer-se uma analise comparativa ao andamento
das curvas de degradação que caraterizam cada fator, verificou-se que, a diferença de idade entre as
curvas que compõem o fator “dureza do reboco” é maior do que a diferença entre as restantes
curvas. Esta diferença de valores de idade entre rebocos traduz a grande influência que a “dureza”
tem no desempenho diferido dos mesmos.
Por insuficiência do número de edifícios que compõem a amostra (100 edifícios), foi impossível
estudar a influência resultante da combinação de três ou mais fatores, sugerindo-se a sua aplicação
em futuras investigações.
Durante o processo de análise das combinações, a amostra relativa à dureza superficial de nível 3
(22 edifícios) também se revelou insuficiente para avaliar o seu efeito combinado na influência do
desempenho dos rebocos. A carência de pontos no gráfico, referentes a este nível de dureza, gerou
uma melhoria no desempenho das curvas de degradação que contrasta com os resultados obtidos na
análise individual deste fator. Por este motivo, a análise seguinte não leva em consideração este nível
de combinação dos diferentes fatores.
Combinação 1: Dureza do reboco (FD1) + textura da película de tinta (FD2)
Os resultados obtidos por combinação destes fatores ficaram, logo à partida, condicionados pela
dimensão da amostra referente à textura da pelicula de tinta. O número de edifícios pintados com
tintas “recentes” (30 edifícios) foi insuficiente para garantir a abrangência necessária de áreas de
destacamento de rebocos de modo a garantir a fiabilidade dos resultados obtidos. Por este motivo,
seria importante enriquecer os gráficos mediante a inclusão de pontos adicionais, os quais deveriam
ser obtidos através da realização de mais inspeções a edifícios.
A exceção ocorreu no nível 1 da combinação (FD1: dureza do reboco – nível 1 e FD2: textura da
película de tinta). Neste nível, os resultados são consistentes com os obtidos na análise individual de
cada um dos fatores, verificando-se que o comportamento dos rebocos pintados com tintas recentes
é tendencialmente melhor que o comportamento dos rebocos pintados com tintas antigas.
91
Combinação 2: Dureza do reboco (FD1) + orientação solar (FD3)
Os resultados obtidos por meio desta combinação, excluindo o nível 3 da combinação, foram os que
apresentaram os resultados mais consistentes com a análise individual de cada um dos fatores. As
curvas de degradação resultantes desta combinação voltaram a evidenciar o melhor desempenho
dos rebocos de fachadas orientadas segundo o conjunto “Sol”, e uma tendência de desempenho
inicialmente melhor por parte dos rebocos inseridos no nível 2 de dureza (“Unha”).
Combinação 3: Dureza do reboco (FD1) + espessura do reboco (FD4)
Como era expectável, os resultados obtidos através da combinação destes fatores revelaram-se
inconclusivos. A sobreposição das curvas de degradação nos vários níveis desta combinação
traduziu o que foi afirmado na análise individual do fator “espessura do reboco”, e reafirma a
necessidade de futuras investigações, de modo a verificar a sua influência no desempenho diferido
dos rebocos.
6.2.3. Conclusões relativas à comparação entre estudos
O estudo desenvolvido no âmbito desta tese tem como base a análise do destacamento de reboco
em edifícios antigos. Esta anomalia pode ser considerada como a última fase de um processo
evolutivo de outras patologias. Foi a partir deste pressuposto que se desenvolveu uma análise
comparativa entre a presente investigação e os trabalhos realizados por Paulo (2009), Garrido (2010)
e Costa (2012) abordando a mesma metodologia de previsão da vida útil.
Esta análise comparativa só foi possível porque esta investigação, para além de partilhar a mesma
metodologia de previsão da vida útil, estuda, indiretamente, o desempenho de um elemento
construtivo comum, as fachadas dos edifícios.
Paulo, P. V. (2009), A Building Management System (BuildingsLife): Application of
deterministic and stochastic models with genetic algorithms to building façades, Tese de
Doutoramento em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico.
Garrido, M. A. J. (2010), Previsão da vida útil de pinturas de fachadas de edifícios antigos
– Metodologia baseada na inspeção de edifícios em serviço, Dissertação de Mestrado
Integrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico.
Costa, J. M. M. (2011), Modelos de Gestão da Degradação em Edifícios - Influência de
fatores de degradação no aparecimento de manchas nas fachadas, Dissertação de
Mestrado em Engenharia Militar, Instituto Superior Técnico.
Os resultados obtidos nestes estudos permitiram fazer comparações diretas e indiretas com três
fatores de degradação estudados no desempenho diferido dos rebocos.
92
dureza do reboco – comparação direta: Paulo (2009) avalia a influência deste fator na
evolução do destacamento de rebocos de fachadas.
textura da película de tinta – comparação indireta: Garrido (2010) avalia a influência deste
fator na evolução do destacamento das pinturas de edifícios antigos.
orientação solar – comparação indireta: Costa (2011) avalia a influência deste fator na
evolução de manchas nas fachadas.
Ao efetuar-se uma análise comparativa com os resultados obtidos por Paulo (2009), para a influência
da dureza superficial das argamassas no desempenho diferido dos rebocos, verifica-se uma
tendência de desempenho praticamente comum. Em ambos os estudos, os rebocos com maior
dureza superficial (nível 3) apresentam um pior desempenho, a diferença surge ao comparar-se as
curvas de degradação para os rebocos inseridos nos níveis 1 e 2 de dureza. As curvas obtidas por
Paulo (2009) revelam claramente um melhor desempenho dos rebocos inseridos no nível 2 de
dureza, esta diferença pode ser justificada pela utilização no presente trabalho de uma amostra
menor e cingida a edifícios de alvenaria tradicional sem estruturas de betão. Apesar das diferenças,
os resultados obtidos no presente trabalho parecem consubstanciar os resultados obtidos por Paulo
(2009) (Quadro 6.4).
As análises comparativas dos restantes fatores de degradação, “textura da pelicula de tinta” e
“orientação solar”, permitiram confirmar tendências comuns no modo como evoluem as anomalias
consideradas. De acordo com o estudo realizado por Garrido (2010), foi possível observar que o
desempenho das pinturas realizadas com tintas “antigas” (lisa óleo) é pior quando comparado com o
desempenho das fachadas pintadas com tintas “recentes” (texturadas). Por sua vez, o estudo
realizado por Costa (2011) concluiu que as fachadas orientadas a Norte (“Vento”) estão mais sujeitas
ao aparecimento de manchas do que as restantes fachadas.
No Quadro 6.4, apresenta-se a análise comparativa, através das diferenças em anos, do andamento
das curvas de Gompertz que caracterizam os diferentes fatores.
Quadro 6.4 - Quadro comparativo dos resultados obtidos nesta investigação e os estudos realizados por Paulo, (2009),
Garrido, (2010) e Costa (2012).
Comparação com o estudo realizado por:
Diferença de idades por % da área destacada
0% até: 10% 30% 50% 70%
Paulo (2009)
Nível 1 1 1 4 4 12
Nível 2 5 5 3 4 15
Nível 3 6 14 18 20 18
Garrido (2010)
Antigas (4) 4 8 11 14
Recentes 4,5 10 10 10,5 12
Costa (2012)
“Sol” 19 23,5 22 21,5 21
“Vento” 16 25 25.5 27.5 28
Nota: valores aproximados da idade em anos.
93
Ao analisar-se o quadro anterior, é possível observar que as diferenças de idade entre as curvas de
degradação obtidas nos vários estudos, com algumas exceções, são consistentes com os
fundamentos teóricos. Verifica-se que, em média, o destacamento de reboco ocorre sensivelmente 20
anos após o aparecimento das primeiras manchas nas fachadas, e que atinge os mesmos patamares
de destacamento das pinturas 10 anos depois.
Tendo em consideração que muitas das anomalias estão inter-relacionadas, pois podem partilhar a
mesma origem e causas comuns, verifica-se que os resultados práticos estão em consonância com
os fundamentos teóricos. As manchas das fachadas estão, em muitos casos, associadas à humidade
e à perda de desempenho das tintas. Sendo a água apontada, por muitos autores, como o principal
agente de degradação dos rebocos e caber às tintas a proteção do substrato (reboco), o seu
destacamento expõe os rebocos aos agentes de degradação e consequentemente facilita a
progressão da degradação dos mesmos.
6.2.4. Conclusões relativas ao modelo proposto
O modelo adotado para a previsão de vida útil de rebocos assenta numa metodologia que se baseia
no levantamento visual de anomalias, a quantificação destas e a transposição dos resultados assim
obtidos para o modelo proposto.
Esta abordagem ao tema da durabilidade é complementar aos estudos baseados em ensaios de
laboratório ou campanhas de envelhecimento acelerado. A investigação pela via de ensaios é mais
profunda no entendimento dos problemas mas, isolando-os, perde a visão global do problema que, no
mundo real, resulta geralmente de uma combinação complexa de mecanismos (Gaspar, 2009). Neste
trabalho, assume-se que a perda da profundidade na compreensão de problemas pontuais é
compensada por um entendimento global do comportamento dos revestimentos de reboco em
condições de serviço.
Uma das vantagens do método proposto é a sua relativa simplicidade de aplicação, que equilibra
baixo custo e rapidez de execução, tornando viável a sua aplicação prática no âmbito da construção.
Outra das vantagens reveladas por este método refere-se à simplicidade de análise dos gráficos de
degradação. A eficácia do método ficou patente na possibilidade de comparação da influência dos
diferentes fatores no desempenho diferido dos rebocos. Os resultados obtidos por modelação de
curvas de Gompertz não só espelham esta possibilidade como, na maioria dos casos, traduzem os
resultados teóricos expectáveis, como comprovam os resultados apresentados anteriormente.
Esta possibilidade de análise é indicativa da capacidade desta metodologia em fornecer uma
ferramenta analítica capaz de estimar a vida útil dos materiais ou componentes de construção, desde
que seja definido o fim da vida útil desse mesmo material. No caso da metodologia adotada na
presente dissertação, o fim da vida útil traduz-se na definição da extensão máxima de degradação
94
aceitável para um reboco de fachadas antigas. Definido este valor e recorrendo às curvas de
degradação, é possível estimar o tempo necessário até que essa extensão de degradação seja
atingida. Consequentemente, é possível estimar as necessidades futuras de manutenção de um
reboco tendo em conta os fatores de degradação considerados.
6.3. Desenvolvimentos futuros
Apesar de os resultados, de uma forma geral, serem conclusivos e expectáveis, foram detetadas,
durante o processo de aplicação, algumas limitações da metodologia adotada na presente
investigação. Estas limitações estão associadas essencialmente a dois fatores: dimensão da amostra
e recolha de informação relativa.
6.3.1. Melhoria da amostra analisada
A dimensão da amostra utilizada (100 edifícios) condiciona, claramente, o estudo dos efeitos
simultâneos de três ou mais fatores de degradação. Esta limitação está bem patente durante a
análise combinada de rebocos com dureza superficial de nível 3 (“Lâmina”). O número de casos com
este nível de dureza (22 edifícios) revelou-se insuficiente para garantir a fiabilidade dos resultados
quando combinado com outro fator. Embora com uma amostra maior de edifícios (30 edifícios), este
problema foi recorrente na análise combinada das tintas “recentes” com outro fator. Deste modo, para
futuras investigações, sugere-se a definição de um número mínimo de casos para cada fator, de
forma a garantir a fiabilidade dos resultados e possibilitar um número maior de combinações entre
fatores.
6.3.2. Melhoria na recolha de informação
Se, por um lado, as limitações resultantes da dimensão da amostra são contornáveis com o aumento
do número de inspeções a edifícios, a recolha de informações relativas à data da última intervenção
de manutenção das fachadas revela-se uma limitação de difícil resolução. A solução passa por tentar
minimizar o erro através de informações complementares à recolhida no Arquivo Municipal de Lisboa.
Tendo em conta que muitas obras são executadas de forma clandestina, e os registos não
pormenorizam que tipo de intervenção foi efetuada sobre a fachada, sugere-se que se verifique junto
dos moradores dos edifícios a informação recolhida no Arquivo Municipal de Lisboa. No entanto, é
necessário averiguar a veracidade das mesmas informações, para não comprometer a fiabilidade do
método.
Outro ponto importante refere-se à necessidade de elaboração de estudos mais aprofundados sobre
a influência do projeto e da execução na durabilidade dos revestimentos de reboco. A identificação do
tipo de reboco utilizado e da técnica de execução do mesmo auxilia na definição dos fatores de
degradação, permitindo uma melhor segmentação consoante as suas características. Esta
necessidade ficou patente na análise do fator de degradação “espessura de reboco”
95
6.3.3. Melhorias ao estudo e metodologia proposta
Tendo em vista futuros estudos relacionados com a degradação dos rebocos e aperfeiçoamento da
metodologia, seria interessante: a introdução de outros fatores de degradação que influenciam o
desempenho dos rebocos (ex., permeabilidade e composição das argamassas); o estudo de outros
modos de falhas dos rebocos, para além do destacamento e desagregação (ex., fissuração e
empolamento), que conduzem a esses mesmos modos de falha; o aumento da amostra, para permitir
combinar mais do que dois fatores e garantir curvas mais apropriadas às características de cada tipo
de reboco e ambiente de exposição.
Apesar das limitações encontradas, a investigação, desenvolvida ao longo da dissertação mostrou
que esta metodologia faculta uma boa ferramenta analítica para o desenvolvimento de estimativas de
vida útil de rebocos de fachadas antigas, bem como para outros materiais e componentes de
construção.
96
Referências
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Life Planning of Buildings, AIJ, Japão.
Ang, G.K.I.; Wyatt, D.P. (1999), Performance concept in procurement of durability and serviceability of
buildings, 8th International Conference on Durability of Buildings Materials and Component,
Vancouver, Canada, pp. 1821-1832.
Anselmo, P. (2012), Previsão de vida útil de rebocos de fachadas de edifícios antigos, Dissertação de
Mestrado Integrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa,
Lisboa, Portugal.
Appleton, J. (2003), Reabilitação de edifícios antigos - Patologias e tecnologias de intervenção,
Edições Orion, Lisboa, Portugal
ASTM D4258-05 (1999), Standard practice for surface cleaning concrete for coating, American
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A
Anexo I – Ficha de inspeção
FICHA DE INSPEÇÃO DE REBOCOS EM FACHADAS DE EDIFÍCIOS ANTIGOS
IDENTIFICAÇÃO E CARATERISTICAS GERAIS
Data de inspeção: Amostra nº:
Localização:
Data de construção:
Última manutenção efetuada:
Orientação das fachadas:
Fachada Principal Fachada lateral (dir.) Fachada lateral (esq.) Fachada Tardoz
Tipologia do edifício:
Funcionalidade Nº Pisos
Habitação
Comércio/Serviços
Pisos elevados
Tipologia das paredes exteriores:
Tipo de Tinta: Lisa Texturada Membranada
REBOCOS
Dureza:
Escala da Mohs:
Unha
Moeda de cobre
Vidro
Lâmina de aço
B
Níveis de perceção da degradação:
1 2 3 4 5
Observações:
BUILDINGSLIFE
Escala:
Foto Horizontal (x):
Elementos Distancia
Vertical (y):
Elementos Distancia
Áreas (m2):
Área Total
Área Elementos
Área Corrente
Área Destacamento
% Destacamento
C
Anexo II – Fotografias das fachadas
D
E
F
G
Anexo III – Caracterização da amostra do estudo
ID Morada Última Manutenção Destacamento
PA001 Rua Gomes da Silva nº12 1968 18,04% PA002 Rua Ladislau Piçarra nº2 1976 8,11% PA003 Rua Sylvio Rebelo nº4 1976 7,59% PA004 Rua Xavier Cordeiro nº38 1956 30,91% PA005 Calçadinha do Tijolo nº19 1962 72,27% PA006 Rua das Escolas Gerais nº46 1947 20,14% PA007 Rua Guilherme Braga nº20 1969 35,87% PA008 Calçadinha do Tijolo nº31 e 33 1983 12,85% PA009 Rua das Escolas Gerais nº25 1962 27,75% PA010 Largo Marquês do Lavradio nº9 1970 15,60% PA011 Rua Cruz de Santa Helena nº5 1967 57,63% PA012 Vila Castelo nº11 1963 2,75% PA013 Rua Gomes da Silva nº8 1965 2,41% PA014 Rua Vilhena Barbosa nº19 1970 25,80% PA015 Rua Gomes Leal nº12 1985 12,94% PA016 Rua Bernardo de Passos nº6 1965 8,20% PA017 Rua Brito Aranha nº10 1961 5,02% PA018 Rua do Paraíso nº53 e 55 1995 11,38% PA019 Travessa do Zagalo nº3 a 7 1962 22,88% PA020 Travessa do Meio nº7 1968 25,48% PA021 Rua do Vigário nº16 1981 5,29% PA022 Rua do Vigário nº18 1982 17,58% PA023 Calçada de Santo André nº117 e 119 1994 5,96% PA024 Largo Rodrigues de Freitas nº10 1961 1,59% PA025 Escadas do Marquês de Ponte de Lima nº14 1968 52,26% PA026 Rua do Marquês de Ponte de Lima nº18 1964 6,57% PA027 Vila Castelo nº15 1963 1,88% PA028 Beco das Flores nº23 e 25 1962 36,17% PA029 Rua Brito Aranha nº4 1972 34,32% PA030 Calçada de São Vicente nº35 1957 5,25% PA031 Largo de Santo Estevão nº7 1995 7,13% PA032 Escadinhas de Santo Estevão nº15 1969 55,35% PA033 Campo de Santa Clara nº75 a 77 1964 39,93% PA034 Rua da Regueira nº33 e 35 1967 26,64% PA035 Calçada do Forte nº54 1979 9,39% PA036 Beco das Flores nº15 a 21 1968 21,07% PA037 Rua da Achada nº3 e 5 1967 53,10% PA038 Costa do Castelo nº64 1973 6,43% PA039 Calçada do Forte nº14 e 16 1952 17,16% PA040 Rua do Paraíso nº28 1966 16,14% PA041 Rua das Escolas Gerais nº26 e 28 1965 26,63% PA042 Campo de Santa Clara nº48 1971 5,18% PA043 Beco do Jasmim nº23 1970 21,44% PA044 Rua da Guia nº17 a 21 1970 25,35% PA045 Rua da Guia nº29 e 31 1964 34,33% PA046 Costa do Castelo nº67 1966 16,23% PA047 Costa do Castelo nº56 1973 5,92% PA048 Rua das Damas nº3 1988 27,22% PA049 Campo de Santa Clara nº69 a 72 1964 27,03% PA050 Beco do Melo nº9 1955 49,52% PA051 Beco das Mil Patacas nº9 1964 42,46% PA052 Travessa das Mónicas nº67 1973 22,10% PA053 Travessa das Mónicas nº31 a 35 1974 54,51% PA054 Rua da Oliveirinha nº25 e 27 1954 21,61% PA055 Rua das Escolas Gerais nº114 a 124 1977 25,92%
H
PA056 Travessa do Açougue nº2 a 6 1974 33,39% PA057 Largo Rodrigues de Freitas nº1 e 2 1983 21,95% PA058 Largo Rodrigues de Freitas nº6 1964 73,80% PA059 Rua Jardim do Tabaco nº35 a 39 1957 10,07% PA060 Rua Jardim do Tabaco nº59 1995 2,90% PA061 Rua de São Pedro Mártir nº48 1969 31,60% PA062 Rua das Fontainhas nº29 a 33 1962 43,72% PA063 Rua de São Lourenço nº1 1955 42,79% PA064 Rua de Santiago nº10 e 12 1969 20,28% PA065 Rua de Santiago nº2 1989 5,63% PA066 Rua de São Mamede nº22 1973 17,08% PA067 Rua de São Mamede nº18 1970 7,03% PA068 Largo do Marquês do Lavradio nº10 a 12 1972 57,18% PA069 Rua São João da Praça nº59 a 63 1964 49,35% PA070 Campo de Santa Clara nº78 e 79 1971 19,99% PA071 Rua da Verónica nº56 1981 20,42% PA072 Travessa do Rosário a Santa Clara nº29 1969 29,38% PA073 Campo de Santa Clara nº137 a 140 1992 13,78% PA074 Beco da Verónica nº11 e 12 1962 64,36% PA075 Travessa da Pereira nº 30 a 36 1963 13,08% PA076 Rua de Entremuros do Mirante nº2 1966 16,51% PA077 Calçadinha do Tijolo nº6 1994 1,57% PA078 Calçada de São Vicente nº46 e 48 1964 36,43% PA079 Rua de Entremuros do Mirante nº55 1950 53,25% PA080 Rua dos Remédios nº32 a 36 1968 13,28% PA081 Calçada do Olival nº1 1970 15,07% PA082 Calçada do Duque de Lafões nº44 1965 43,06% PA083 Calçada do Duque de Lafões nº46 e 48 1987 7,62% PA084 Calçada do Duque de Lafões nº38 1967 11,05% PA085 Calçada do Olival nº4 e 6 1985 28,60% PA086 Travessa da Alameda do Beato nº4 e 6 1979 37,89% PA087 Beco do Loureiro nº10 a 16 1985 41,30% PA088 Largo da Graça nº64 e 66 1970 32,83% PA089 Rua da Regueira nº87 1973 38,02% PA090 Rua Norberto de Araújo nº2 1961 35,34% PA091 Rua Afonso de Albuquerque nº13 1990 9,86% PA092 Calçada Duque de Lafões nº72 e 74 1968 14,87% PA093 Travessa da Alameda do Beato nº8 1967 21,41% PA094 Travessa da Alameda do Beato nº4a 1982 53,25% PA095 Calçada Duque de Lafões nº16 a 20 1972 34,08% PA096 Campo de Santa Clara nº109 a 112 1981 0,00% PA097 Campo de Santa Clara nº96 a 98 1987 0,00% PA098 Rua do Vigário nº24 e 26 1990 0,00% PA099 Largo do Marquês do Lavradio nº13 e 14 1979 0,00% PA100 Travessa das Mónicas nº63 1995 0,00%
I
Anexo IV – Caraterização dos fatores de degradação
ID FD1 - Dureza FD2 - Textura da tinta FD3 - Orientação FD4 – Espessura (mm)
PA001 Unha Lisa Oeste 3,5 PA002 Unha Texturada Oeste 2 PA003 Moeda Texturada Sul 2 PA004 Unha Lisa Sul 6,5 PA005 Lâmina Lisa Norte 4 PA006 Lâmina Lisa Sul 6,5 PA007 Moeda Lisa Sul 10 PA008 Lâmina Lisa Norte 5,5 PA009 Unha Lisa Norte 4,5 PA010 Moeda Lisa Este 3 PA011 Moeda Lisa Norte 7 PA012 Moeda Lisa Este 4,5 PA013 Moeda Texturada Oeste 4 PA014 Moeda Lisa Norte 4 PA015 Unha Texturada Sul 4 PA016 Unha Lisa Sul 2 PA017 Unha Membranada Norte 4 PA018 Moeda Lisa Norte 5,5 PA019 Unha Texturada Norte 2 PA020 Moeda Texturada Este 5,5 PA021 Unha Lisa Sul 2 PA022 Unha Texturada Sul 4,5 PA023 Moeda Lisa Norte 3 PA024 Moeda Lisa Este 4,5 PA025 Moeda Lisa Sul 2 PA026 Moeda Lisa Sul 2 PA027 Moeda Lisa Este 2,5 PA028 Unha Lisa Oeste 6,5 PA029 Unha Lisa Norte 5 PA030 Moeda Lisa Este 2 PA031 Lâmina Texturada Oeste 5,5 PA032 Moeda Lisa Norte 4 PA033 Moeda Lisa Este 3 PA034 Unha Lisa Norte 2,5 PA035 Moeda Lisa Oeste 7 PA036 Moeda Lisa Sul 3 PA037 Lâmina Texturada Este 7 PA038 Moeda Lisa Oeste 6,5 PA039 Unha Lisa Sul 4,5 PA040 Moeda Lisa Este 3,5 PA041 Unha Lisa Oeste 2,5 PA042 Moeda Lisa Norte 2 PA043 Lâmina Texturada Este 3,5 PA044 Vidro Lisa Sul 3 PA045 Moeda Lisa Oeste 5,5 PA046 Unha Lisa Sul 4 PA047 Moeda Membranada Oeste 9,5 PA048 Unha Lisa Norte 7,5 PA049 Unha Lisa Norte 3 PA050 Moeda Lisa Oeste 5,5 PA051 Moeda Lisa Oeste 2 PA052 Moeda Texturada Este 7 PA053 Unha Membranada Este 6,5 PA054 Vidro Lisa Sul 6,5 PA055 Unha Lisa Oeste 3
J
PA056 Moeda Texturada Oeste 7 PA057 Unha Membranada Norte 2,5 PA058 Unha Membranada Norte 4 PA059 Moeda Membranada Norte 4 PA060 Moeda Texturada Norte 10 PA061 Unha Texturada Norte 11 PA062 Vidro Lisa Norte 6,5 PA063 Unha Lisa Este 4 PA064 Unha Lisa Este 4,5 PA065 Unha Membranada Este 3 PA066 Moeda Texturada Sul 5,5 PA067 Unha Lisa Sul 3,5 PA068 Unha Lisa Este 2 PA069 Unha Lisa Norte 4,5 PA070 Moeda Lisa Norte 3 PA071 Moeda Lisa Sul 4,5 PA072 Unha Lisa Oeste 3 PA073 Lâmina Texturada Sul 3 PA074 Unha Lisa Oeste 3,5 PA075 Unha Lisa Sul 8,5 PA076 Moeda Lisa Oeste 7 PA077 Unha Texturada Oeste 6 PA078 Moeda Lisa Oeste 6,5 PA079 Unha Lisa Norte 7,5 PA080 Vidro Lisa Norte 2 PA081 Moeda Lisa Norte 10,5 PA082 Moeda Texturada Oeste 3 PA083 Moeda Lisa Oeste 3,5 PA084 Moeda Lisa Sul 2,5 PA085 Moeda Lisa Sul 3 PA086 Moeda Lisa Este 5 PA087 Unha Lisa Oeste 11 PA088 Unha Lisa Oeste 2,5 PA089 Unha Lisa Oeste 2 PA090 Moeda Lisa Oeste 5 PA091 Moeda Texturada Norte 6,5 PA092 Unha Lisa Oeste 2 PA093 Unha Lisa Este 3 PA094 Moeda Lisa Este 4,5 PA095 Moeda Lisa Sul 6,5 PA096 Moeda Texturada Norte 6,5 PA097 Moeda Membranada Oeste 6,5 PA098 Moeda Texturada Sul 6,5 PA099 Moeda Membranada Este 3,5 PA100 Unha Lisa Este 5