ficha tÉcnica autor: serhii plokhy copyright © 2018 by serhii … · 2020-03-10 · o acidente,...

21
FICHA TÉCNICA Título original: Chernobyl — The History of a Nuclear Catastrophy Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii Plokhy Tradução © Editorial Presença, Lisboa, 2019 Tradução: Isabel Nunes e Helena Sobral Revisão: Nuno Pereira/Editorial Presença Imagem da capa: Shutterstock Capa: Vera Espinha/Editorial Presença Composição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda. 1. a edição, Lisboa, novembro, 2019 Depósito legal n.° 462 048/19 Reservados todos os direitos para a língua portuguesa (exceto Brasil) à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730‑132 Barcarena [email protected] www.presenca.pt

Upload: others

Post on 13-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

FICHA TÉCNICA

Título original: Chernobyl — The History of a Nuclear CatastrophyAutor: Serhii PlokhyCopyright © 2018 by Serhii PlokhyTradução © Editorial Presença, Lisboa, 2019Tradução: Isabel Nunes e Helena SobralRevisão: Nuno Pereira/Editorial PresençaImagem da capa: ShutterstockCapa: Vera Espinha/Editorial PresençaComposição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.1.a edição, Lisboa, novembro, 2019Depósito legal n.° 462 048/19

Reservados todos os direitospara a língua portuguesa (exceto Brasil) àEDITORIAL PRESENÇAEstrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730 ‑132 [email protected]

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 6 17/10/19 17:18

Page 2: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

99

ÍNDICE

Mapas ............................................................................................. 11‑12

Prefácio ........................................................................................... 13

Prólogo ............................................................................................ 19

I A FLORESTA VERMELHA

CAPÍTULO 1 O Congresso ........................................................ 25

CAPÍTULO 2 Rumo a Chernobyl .............................................. 41

CAPÍTULO 3 A Central Nuclear ............................................... 58

II INFERNO

CAPÍTULO 4 Sexta ‑feira à Noite ............................................... 79

CAPÍTULO 5 Explosão .............................................................. 95

CAPÍTULO 6 O Incêndio .......................................................... 107

CAPÍTULO 7 Negação ............................................................... 121

III NO CIMO DO VULCÃO

CAPÍTULO 8 A Comissão de Alto Nível ................................... 141

CAPÍTULO 9 Êxodo .................................................................. 156

CAPÍTULO 10 A Aplacar o Reator .............................................. 175

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 9 17/10/19 17:18

Page 3: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

10

IV UM INIMIGO INVISÍVEL

CAPÍTULO 11 Silêncio Sepulcral ................................................. 191

CAPÍTULO 12 Zona de Exclusão ................................................. 208

CAPÍTULO 13 A Síndrome da China .......................................... 222

CAPÍTULO 14 Contagem de Vítimas .......................................... 236

V AVALIAÇÃO

CAPÍTULO 15 Guerra de Palavras ............................................... 251

CAPÍTULO 16 Sarcófago ............................................................. 267

CAPÍTULO 17 Crime e Castigo ................................................... 285

VI UM NOVO DIA

CAPÍTULO 18 Bloqueio de Escritor ............................................ 303

CAPÍTULO 19 Revolta Nuclear ................................................... 319

CAPÍTULO 20 Átomo Independente ........................................... 336

CAPÍTULO 21 Abrigo Global ..................................................... 350

Epílogo ................................................................ 364

Agradecimentos ...................................................... 369

Nota sobre o Impacto e a Medição da Radiação ......... 371

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 10 17/10/19 17:18

Page 4: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

CHERNOBYL

SU

BID

A D

A D

OS

E D

E R

AD

IAÇ

ÃO

NA

EU

RO

PA

— 3

DE

MA

IO D

E 1

98

6

Do

se —

ltip

los

do

s ín

dic

es n

orm

ais

100

+

40–1

00

20–4

0

10–2

0

5–1

0

1–5

Se

m s

ub

ida

de

tetá

ve

l

020

0 m

i

020

0 km

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 11 17/10/19 17:18

Page 5: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

Chernobyl

Prypiat

Zona de exclusãooriginal de 30 km

BIELORRÚSSIA

UCRÂNIA Reservatóriode Kiev

>3700 kBq m²

1480 – 3700 kBq m²

555 – 1480kBq m²

1 microcurie (μCi) = 37 kilobecquerel (kBq)

37 – 185kBq m²

185 – 555kBq m²

<37 kBq m²

0 10 mi

0 10 km

DEPOSIÇÃO DE CÉSIO

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 12 17/10/19 17:18

Page 6: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

13

PREFÁCIO

Somos oito na viagem para Chernobyl, referido no meu mapa ucraniano como «Chornobyl». Além de mim, há três estudantes de Ciências e Engenharia de Hong Kong em visita à Rússia e à Europa de Leste. Depois, tanto quanto posso inferir pelo sotaque, há também quatro britânicos — três homens e uma mulher —, todos com vinte e poucos anos. Em breve fico a saber que os homens são, na ver‑dade, britânicos, enquanto a mulher, que se chama Amanda, mostra orgulho em ser irlandesa. Dão ‑se todos muito bem.

Umas semanas antes, quando a Amanda perguntara ao marido britânico, Stuart, o que queria fazer nas férias que se aproximavam, ele respondera que queria ir a Chernobyl. E assim vieram, acompa‑nhados pelo irmão do Stuart e um amigo de família. Dois jogos de computador tinham sido a inspiração da viagem. Em S.T.A.L.K.E.R: A Sombra de Chernobyl, um jogo de horror e sobrevivência, a ação passa ‑se na Zona de Exclusão de Chernobyl, após uma segunda explosão nuclear fictícia. Em Call of Duty: Modern Warfare, a perso‑nagem principal, o capitão Jon Price, desloca ‑se à cidade abandonada de Prypiat em perseguição do líder dos ultranacionalistas russos. O Stuart e os amigos decidiram ver o lugar pessoalmente.

Vita, a nossa alegre guia ucraniana, leva ‑nos primeiro à zona de exclusão de 30 quilómetros e depois à zona mais restrita de dez qui‑lómetros, dois círculos, um dentro do outro, com a antiga central nuclear no centro e um raio de 30 quilómetros e outro de dez, res‑petivamente. Podemos ver o radar soviético Duga ou Arch — uma resposta à Iniciativa de Defesa Estratégica, de Ronald Reagan, conhe‑cida por «Guerra das Estrelas» —, um sistema de baixa tecnologia,

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 13 17/10/19 17:18

Page 7: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

14

pelos padrões atuais. Foi concebido para detetar um possível ataque nuclear vindo da costa leste dos Estados Unidos. Daí seguimos para a cidade de Chernobyl, para a central nuclear e para a cidade vizinha de Prypiat, uma cidade ‑fantasma que em tempos albergou perto de 50 mil trabalhadores da construção e técnicos da central destruída. Vita dá ‑nos contadores de radiação, que apitam quando os níveis ultrapassam a norma estabelecida. Em certas zonas, as mais próximas do reator danificado, apitam sem cessar. Então, Vita guarda os dosímetros e desliga ‑os, tal como os técnicos soviéticos enviados para tratarem das consequências do desastre fizeram, em 1986. Tinham um trabalho para fazer, e os dosímetros indicavam um nível de radiação inaceitável. Vita também tem um trabalho para fazer. Diz ‑nos que durante todo aquele dia na zona receberemos a mesma quantidade de radiação que um passageiro de avião recebe numa hora. Confiamos na sua garantia de que os níveis de radiação não são demasiado excessivos.

No total, a explosão libertou 50 milhões de curies em Chernobyl, o equivalente a 500 bombas de Hiroxima. Tudo o que foi preciso para provocar as catastróficas precipitações atmosféricas radioativas, vulgo chuva radioativa, foi a fuga de menos de 5% do combustível nuclear do reator. No início, conteve mais de cem quilos de urânio enriquecido — o suficiente para poluir e devastar a maior parte da Europa. E, se os outros três reatores da central nuclear de Chernobyl tivessem ficado danificados pela explosão do primeiro, dificilmente algum organismo vivo teria restado no planeta. Durante semanas após o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo de Chernobyl se seguiriam outras ainda mais mortais. Isso não aconteceu, mas os danos causados pela primeira explosão perdurarão durante séculos. A meia ‑vida do plutónio ‑239 libertado pela explosão de Chernobyl — e levado pelos ventos até à Suécia — é de 24 mil anos.

Fala ‑se por vezes de Prypiat como a Pompeia dos tempos modernos. Há semelhanças claras entre os dois locais, mas também existem diferenças, principalmente porque na cidade ucraniana as paredes, os tetos e até uma ou outra vidraça continuam basicamente intactos. Ali, a vida não foi reivindicada nem interrompida pelo calor ou pelo magma de um vulcão, mas sim por partículas de radiação

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 14 17/10/19 17:18

Page 8: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

15

invisíveis, que expulsaram os habitantes, mas pouparam grande parte da vege tação, permitindo o regresso dos animais selvagens que reconquistaram o espaço onde, em tempos, os homens haviam erguido construções e vivido. Há inúmeras marcas do longínquo passado comunista nas ruas da cidade. Ainda são visíveis palavras de ordem da era soviética e, no interior do cinema abandonado, o retrato de um líder comunista. Vita, a nossa guia, afirma que hoje ninguém sabe o nome de quem ali está representado, mas eu reconheço um rosto familiar dos meus tempos de jovem professor universitário na Ucrânia na altura da tragédia — o retrato mostra Viktor Chebrikov, chefe do KGB de 1982 a 1988. Sobreviveu miraculosamente aos últimos 30 anos sem danos, à exceção de um pequeno orifício junto do nariz. Fora isso, a imagem está excelente. Avançamos.

É estranho, penso, que Vita, uma guia excelente, não consiga identificar Chebrikov. Também parece ter dificuldades em explicar os letreiros onde se lê «carne», «leite» e «queijo», pendurados no que fora, outrora, um supermercado abandonado da era soviética. «Por‑que é que dizem», pergunta, «que na União Soviética havia falta de quase tudo?» Explico ‑lhe que Prypiat era, de certa forma, um lugar privilegiado, por causa da central nuclear, e que os trabalhadores dispunham de mais bens agrícolas e de consumo do que a população em geral. Além disso, o facto de haver letreiros a dizer «carne» ou «queijo» não significava que esses produtos estivessem realmente à venda. Afinal, tratava ‑se da União Soviética, onde o fosso entre a imagem projetada pela propaganda governamental e a realidade só era ultrapassada pelas anedotas. Conto uma delas: «Se quiseres encher o frigorífico de comida, liga ‑o à telefonia.» A rádio espalhava a his‑tória de como o nível de vida melhorava constantemente; o frigorífico vazio contava uma história diferente.

Foi durante a minha viagem a Prypiat que decidi que tinha de contar a saga de Chernobyl, em benefício dos que não estavam presen‑tes na altura, mas que queriam saber e compreender o que acontecera naquela fatídica noite de 26 de abril de 1986, e nos dias, meses e anos que se seguiram. Apesar dos esforços iniciais do Governo soviético para ocultar o desastre de Chernobyl e minimizar as suas consequên‑cias, este tornou ‑se bem conhecido na União Soviética e no Ocidente,

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 15 17/10/19 17:18

Page 9: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

16

tendo recebido muita atenção pública, começando com relatos jornalísticos nos primeiros dias após a explosão e terminando com documentários, filmes de longa ‑metragem, investigações e romances. Embora a chave para compreender as causas, consequências e lições do desastre resida na contextualização e na interpretação históricas, até hoje poucos historiadores se debruçaram sobre o assunto.

Este livro é um trabalho de história. Na verdade, é a primeira narrativa abrangente do desastre de Chernobyl, desde a explosão do reator nuclear até ao encerramento da central, em dezembro de 2000, e às últimas etapas de finalização da nova cobertura que tapa o reator danificado, em maio de 2018. Ao dar início à investigação da história de Chernobyl, ajudou ‑me muitíssimo a recente disponibilização de documen tos de arquivo previamente interditos relativos ao desastre. Muitos serviços governamentais abriram as portas mais facilmente do que antes, simplificando a consulta de documentos emitidos pelo Partido Comunista e por agências oficiais, na altura e no rescaldo do desastre. A revolta de Maidan e a Revolução da Dignidade de 2014, na Ucrânia, produziram também uma revolução nos arquivos que permitiu um acesso sem precedentes aos ficheiros do KGB, previamente secretos.

Escrevi este livro como historiador, mas também como contempo‑râneo dos acontecimentos aqui abordados. Na altura da explosão, vivia na Ucrânia, a menos de 500 quilómetros a jusante do rio Dniepre, em relação ao reator danificado. Eu e a minha família não fomos diretamente afetados pela provação, mas, alguns anos mais tarde, no Canadá, quando fui professor convidado, um médico disse ‑me que a dada altura a minha tiroide ficara inflamada, um sinal preocupante de exposição à radiação. Felizmente, a minha mulher e os meus filhos encontravam ‑se bem. Todavia, a radiação age de for mas imprevisíveis: um dos meus antigos colegas da universidade, um polícia, foi enviado a Chernobyl alguns dias após o acidente; ainda hoje passa pelo menos um mês por ano no hospital. Um outro colega que viveu algum tempo perto da central após a explosão parece estar bem; atualmente, ensina História Soviética nos Estados Unidos. Conversar com eles e com outros participantes dos acontecimentos, e recordar as minhas próprias experiências, ajudou ‑me a recriar os pensamentos e os moti‑vos dos que haviam sacrificado a saúde ou até a vida para minimizar as consequências da fusão nuclear em Chernobyl.

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 16 17/10/19 17:18

Page 10: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

17

Quanto mais tempo passa desde o desastre, mais este nos parece um mito e mais difícil se torna compreender as suas verdadeiras cau‑sas e consequências. Ao contextualizar os acontecimentos do ponto de vista histórico, tento facultar uma melhor compreensão do pior acidente nuclear do mundo. A utilização de materiais de arquivo e de documentos governamentais recentemente disponibilizados, para além de entrevistas com testemunhas oculares e relatos de outros escritores, tais como Svetlana Alexievich e Yurii Shcherbak, permitiu ‑‑me apresentar uma perspetiva de longo prazo do desastre e dos seus efeitos políticos, sociais e culturais. Na minha narrativa, passo da sala de controlo do reator danificado às aldeias abandonadas da zona de exclusão e aos gabinetes de quem detinha o poder em Kiev, Moscovo e Washington. Colocar o acidente de Chernobyl no contexto da his‑tória internacional torna possível retirar lições de significado global.

Em termos históricos, Chernobyl é a história de um desastre tec‑nológico que contribuiu não só para o derrube da indústria nuclear soviética, mas também do sistema soviético no seu todo. O acidente marcou o início do fim da União Soviética: pouco mais de cinco anos depois, aquela potência mundial desmoronar ‑se ‑ia, condenada não só pelo peso desmedido da ideologia comunista, mas também pelo sistema disfuncional da administração e da economia.

A explosão na central nuclear desafiou e alterou a velha ordem soviética. A política de glasnost, ou abertura, que deu aos média e aos cidadãos o direito de discutir problemas políticos e sociais e de criticar as autoridades, teve origem nos dias que se seguiram a Chernobyl. À medida que a população exigia ao Governo cada vez mais informações, a cultura de secretismo oficial começou lentamente a ceder. O desastre de Chernobyl obrigou o Governo a reconhecer que as preocupações ambientais eram uma razão legítima para os cidadãos soviéticos criarem as suas próprias organizações, o que quebrou o monopólio do Partido Comunista sobre a atividade política. As pri‑meiras organizações de massas e partidos políticos da era soviética tiveram o seu início no movimento ecológico, que engoliu os centros industriais extremamente poluídos da União Soviética.

Uma vez que a radiação afetava todos, de líderes partidários a cidadãos comuns, o acidente de Chernobyl fez aumentar bruscamente o descontentamento com Moscovo e as suas políticas, atravessando

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 17 17/10/19 17:18

Page 11: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

18

fronteiras entre classes e etnias. O impacto político mais profundo deu ‑se na Ucrânia, a república que albergava o reator danificado. Dois atores políticos opostos — as autoridades comunistas ucra nianas e a incipiente oposição democrática — descobriram um interesse comum na sua oposição a Moscovo, e em especial ao líder sovié‑tico, Mikhail Gorbachev. Em dezembro de 1991, quando os ucra‑nianos votaram pela independência do seu país, também enviaram a poderosa União Soviética para o caixote de lixo da história — foi oficialmente dissolvida algumas semanas após o referendo ucraniano. Embora seja errado atribuir o desenvolvimento da glasnost ou o cresci‑mento do movimento nacional na Ucrânia e outras repúblicas apenas ao acidente de Chernobyl, não será de mais enfatizar o impacto que o desastre teve naqueles processos interligados.

Seria fácil culpar o acidente de Chernobyl e os defeitos na conceção dos reatores pelo fracasso do sistema comunista, dando a entender que esses problemas pertencem ao passado. Essa confiança seria imprópria. As causas da fusão nuclear em Chernobyl são hoje muito óbvias. A existência de governantes autoritários em busca de um estatuto engrandecido ou mais poderoso — ansiosos por acelerar o crescimento económico e vencer as crises energéticas e demográficas, ao mesmo tempo que mostravam uma falsa preocupação com as questões ecológicas — é hoje mais fácil de perceber do que em 1986. Poderia o apocalipse nuclear chamado Chernobyl vir a repetir ‑se? Ninguém sabe a resposta a esta pergunta, mas não há dúvida de que um novo desastre do mesmo tipo tem mais probabilidades de acon‑tecer, se não aprendermos as lições do que já ocorreu.

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 18 17/10/19 17:18

Page 12: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

19

PRÓLOGO

No dia 28 de abril de 1986, pelas 7h00, Cliff Robinson, um químico de 29 anos que trabalhava na central nuclear de Forsmark, a cerca de duas horas de automóvel de Estocolmo, foi lavar os dentes depois do pequeno ‑almoço. Como fizera milhares de vezes, teve de passar por um detetor de radiação entre as casas de banho e os vestiários. Contudo, desta vez foi diferente — o alarme dis‑parou. Não fazia qualquer sentido, pensou Robinson, pois ainda nem sequer tinha entrado na zona de controlo, onde poderia ter absorvido alguma radiação. Passou de novo pelo detetor, que mais uma vez apitou. Só à terceira tentativa é que o alarme ficou em silêncio. Por fim, estava explicado: a maldita máquina tinha tido uma simples falha.

O trabalho de Robinson consistia em monitorizar os níveis de radiação: que ironia, ocorreu ‑lhe, que o detetor o tivesse escolhido para demonstrar quão apertada era a vigilância do sistema. E que bom ter caído em si. Robinson continuou com os seus afazeres, quase esquecendo o alarme inesperado. Mas, quando voltou à zona, mais tarde nessa manhã, viu uma fila de trabalhadores que também não conseguiam passar pelo detetor sem o fazerem disparar. Em vez de verificar o alarme, Robinson recolheu um sapato de um dos fun‑cionários que aguardavam perto do detetor e levou ‑o ao laboratório, para ser examinado. E o que descobriu deu ‑lhe arrepios. «Vi algo que nunca esquecerei», recordou. «O sapato estava altamente contami‑nado. Vi o espectro subir muito depressa.»

O seu primeiro pensamento foi que alguém tivesse detonado uma bomba nuclear: o sapato emanava elementos radioativos que, por

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 19 17/10/19 17:18

Page 13: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

20

norma, não eram detetados na central. Comunicou a sua descoberta ao chefe, e os resultados foram depois passados à Autoridade Sueca de Segurança Radioativa, em Estocolmo. As autoridades da capital pensaram que o problema estava na própria central, e os trabalhadores de Forsmark foram prontamente evacuados. Iniciaram ‑se testes de radioatividade, que não deram em nada, e, algumas horas mais tarde, era claro que a central não era a causa da contaminação. A hipótese de bomba foi igualmente descartada — os elementos radioativos não se adequavam ao perfil de uma bomba. Com níveis de radioatividade também elevados noutras centrais nucleares, era evidente que as par‑tículas radioativas chegavam do estrangeiro.

Os cálculos feitos e a direção do vento apontavam para o sudeste de uma das duas superpotências nucleares, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Teria aí sucedido algo terrível? Mas os sovié‑ticos mantinham ‑se em silêncio. A Autoridade Sueca de Segurança Radioativa contactou as autoridades soviéticas, que negavam ter conhecimento de qualquer ocorrência no seu território que pudesse ter provocado contaminação nuclear. Todavia, os serviços de segu‑rança dos países escandinavos continuavam a registar níveis estranha‑mente elevados de radiação: na Suécia, o nível de raios gama era 30 ou 40% mais alto do que o normal; na Noruega, tinha aumentado para o dobro; e, na Finlândia, era seis vezes superior à norma.

Dois gases radioativos, o xénon e o crípton, subprodutos da fusão nuclear do rádio, deslocavam ‑se pela Escandinávia, uma região que abrangia não só a Finlândia, a Suécia e a Noruega, mas tam‑bém a Dinamarca. Os testes realizados indicavam que a origem da poluição radioativa, onde quer que ela fosse, continuava a emitir subs tâncias perigosas. Os suecos contactaram reiteradamente três orga nismos soviéticos responsáveis por gerir e produzir energia ató‑mica, mas estes continuavam a negar ter conhecimento de qualquer acidente ou explosão. A ministra sueca do Ambiente, Birgitta Dahl, declarou que o país responsável pela dispersão da radioatividade estava a violar acordos internacionais ao sonegar informações vitais à comunidade mundial. Não houve resposta. Diplomatas suecos chegaram à fala com o ex ‑ministro dos Negócios Estrangeiros, Hans Blix, naquele momento a chefiar a Agência Internacional de Energia Atómica, em Viena. A agência também desconhecia o que se passava.

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 20 17/10/19 17:18

Page 14: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

21

Não se sabia o que esperar. Embora os níveis de radiação fossem elevados, não ameaçavam diretamente vidas humanas ou vegetação. Mas, e se a contaminação continuasse ou mesmo aumentasse? E que teria acontecido por trás da Cortina de Ferro, ao longo da fronteira soviética? Seria o início de uma nova guerra mundial ou um aci‑dente nuclear de proporções gigantescas? De uma ou outra forma, o mundo estaria envolvido. Já estava. Mas os soviéticos continuavam em silêncio.

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 21 17/10/19 17:18

Page 15: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 22 17/10/19 17:18

Page 16: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 23 17/10/19 17:18

Page 17: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 24 17/10/19 17:18

Page 18: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

25

1

O CONGRESSO

Era um dia importante. Em Moscovo e em toda a União Soviética, muita gente acreditava que assinalava o início de uma nova era. Na fria manhã de inverno de 25 de fevereiro de 1986 — durante a noite anterior, a temperatura descera aos vinte graus negativos —, perto de 5 mil homens e mulheres muito bem agasalhados, incluindo membros do Governo e do Partido Comunista, militares, cientistas, diretores das grandes companhias estatais e representantes dos operá‑rios e dos camponeses das coletividades (as «massas trabalhadoras»), concentraram ‑se no centro de Moscovo, na Praça Vermelha, deco‑rada com um enorme retrato de Vladimir Lenine. Eram delegados ao Congresso do Partido Comunista, o 27.º desde a fundação do par‑tido por um punhado de sociais ‑democratas idealistas nos finais do século xix. A sua missão era traçar um novo curso para o país para os cinco anos seguintes.

Chegados ao Kremlin, a multidão convergiu no Palácio dos Congressos, um edifício moderno de vidro e betão, decorado com lajes de mármore branco. Fora erguido em 1961 no local de edi‑fícios que haviam pertencido ao czar do século xvi Boris Godunov. O secretário ‑geral da altura, Nikita Khrushchev, queria rivalizar com o Grande Salão do Povo que Mao Tse ‑Tung inaugurara na cidade de Pequim, em 1959. O palácio chinês tinha lugar para 10 mil pessoas. Invejosos, os soviéticos aumentaram os lugares de 4 mil para 6 mil, situando quase metade do edifício no subsolo, onde se localiza a maior parte dos lugares do centro de reuniões. Apenas os lugares do bal‑cão, com camarotes, ficam acima do solo. Quanto aos congressos do Partido, que se reunia de cinco em cinco anos, os líderes soviéticos

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 25 17/10/19 17:18

Page 19: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

26

impuseram um limite de 5 mil participantes, independentemente do número crescente de membros do Partido Comunista — que crescia com rapidez —, uma vez que esgotar a capacidade do salão teria significado sacrificar o conforto dos participantes. À exceção dos estádios desportivos, não havia qualquer local de reuniões que pudesse acomodar mais pessoas.

Khrushchev inaugurou o novo Palácio de Congressos em outubro de 1961, a tempo do 22.º Congresso do Partido. O congresso decidiu retirar o corpo de José Estaline do mausoléu que partilhava com Lenine e ado‑tou um novo programa para a construção de uma sociedade comunista, cujas fundações deveriam estar prontas no início dos anos 80. Agora, em 1986, os delegados ao 27.º Congresso teriam de fazer o balanço do que fora conseguido. O resultado era, no mínimo, desanimador. Enquanto a população aumentava, a economia abrandara, e a possibilidade de um colapso total tornava ‑se cada vez mais provável. O crescimento do produto interno, que os economistas soviéticos haviam estimado em 10% na década de 50 do século xx, caíra para cerca de 4% em 1985. Nos Estados Unidos, a CIA fizera uma estimativa ainda mais negativa, situando o fator de crescimento em 2 ou 3%, mais tarde chegando mesmo a reduzir essa estimativa para aproximadamente 1%.

Com os objetivos do comunismo fora de alcance, a economia em queda, os chineses a lançarem reformas económicas através da intro‑dução de mecanismos de mercado e os americanos a adiantarem ‑se, não só no desenvolvimento económico, mas também na corrida ao armamento, sob a liderança do incansável otimista Ronald Reagan, a liderança soviética perdera o rumo. O povo, cada vez mais desilu‑dido com a experiência comunista, mostrava ‑se desmoralizado. E, contudo, com a religião comunista em crise, parecia ter ‑se encon‑trado um novo messias num líder relativamente jovem, enérgico e carismático: Mikhail Gorbachev.

Iria ser o primeiro congresso como secretário ‑geral para aquele homem de 54 anos, e ele sabia muito bem que os olhos da chefia do partido, dos cidadãos soviéticos e, na verdade, de todo o mundo estavam postos nele. Os três anos anteriores tinham ficado conhecidos como a era dos funerais do Kremlin. Leonid Brezhnev, que governara a União Soviética desde 1964, morrera, muito doente, em novembro de 1982; o antigo chefe do KGB, Yurii Andropov, que herdara

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 26 17/10/19 17:18

Page 20: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

27

a posição, passara metade do seu breve mandato numa cama de hospi‑tal e morrera em fevereiro de 1984; o mesmo aconteceu ao seu suces‑sor, Konstantin Chernenko, um homem enfermo, em março de 1985. Parecia que os líderes estavam prestes a levar o país para o túmulo com eles. Pondo de lado as dificuldades económicas, continuavam a enviar rapazes para o Afeganistão, onde o Exército Soviético se ato‑lava desde 1979, e a prepararem ‑se para um confronto nuclear com o Ocidente. Os postos do KGB no estrangeiro recebiam instruções para largar tudo e procurar sinais de um ataque nuclear iminente.

Agora a esperança ganhava nova vida, tanto no partido como na sociedade. Esperava ‑se que Gorbachev, um homem cheio de ideias, fosse capaz de inverter aquela tendência fatal. Também no Ocidente surgia uma nova esperança de reaproximação. Nos Estados Unidos, Reagan, cansado de líderes soviéticos a morrerem ‑lhe nos braços, procurava alguém com quem pudesse negociar. A sua principal aliada, a primeira ‑ministra da Grã ‑Bretanha, Margaret Thatcher, disse ‑lhe que Gorbachev era esse homem. O primeiro encontro de Reagan com o líder soviético, em Genebra, em dezembro de 1985, não esteve livre de tensões, mas abriu a porta para um diálogo subse‑quente mais produtivo, que foi conduzido não só através de encontros pessoais e canais diplomáticos, mas também por declarações públicas. Em janeiro de 1986, Gorbachev surpreendeu Reagan, apresentando um programa soviético de desarmamento nuclear. Esperava ‑se que aprofundasse o desafio ao presidente americano sobre desarmamento no próximo discurso do congresso do partido.

Preocupado em encontrar soluções para as múltiplas crises soviéti‑cas, Gorbachev pôs um grande esforço de reflexão no seu relatório ao congresso. No final do outono de 1985, convocou os seus dois conse‑lheiros mais próximos — o assistente ‑chefe Valerii Boldin e Aleksandr Yakovlev, antigo embaixador soviético no Canadá — para a estância estatal perto de Sochi, na costa do Mar Negro. A Perestroika — a res‑truturação radical do sistema político e económico soviético — ainda estava para surgir; Yakovlev acabou por ser conhecido como o avô do movimento. Nessa altura, o conceito ‑chave era uskorenie, ou acele‑ração. Acreditava ‑se que o sistema era basicamente sólido e precisava apenas de um impulso por meio do «progresso científico e técnico», o termo soviético para inovação tecnológica.

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 27 17/10/19 17:18

Page 21: FICHA TÉCNICA Autor: Serhii Plokhy Copyright © 2018 by Serhii … · 2020-03-10 · o acidente, os cientistas e os engenheiros não sabiam se à explosão do vulcão radioativo

28

Nos dias que antecederam o congresso, Gorbachev fechou ‑se em casa, lendo o longo discurso em voz alta e ensaiando ‑o. Se fosse lido sem intervalos nem interrupções teria mais de seis horas de duração. Enquanto Gorbachev praticava os seus dotes de oratória, os delegados ao congresso entretinham ‑se a visitar as lojas de Moscovo, em vez de ir a museus e galerias. «Tendo vindo de todo o país, estavam ocupados com os seus próprios assuntos», escreveu o assessor de Gorbachev, Boldin, que fora coautor do discurso. «Tinham de comprar muitas coisas para si próprios, para os membros da família e conhecidos, que haviam feito tantas encomendas que seria difícil transportar tudo, mesmo de comboio.»

A maioria dos delegados vinha das províncias, assoberbadas pela falta de produtos agrícolas e de bens de consumo que se havia tornado uma constante da vida soviética na década de 80 do século xx. A lide‑rança do partido, incapaz de minorar essas faltas junto da população em geral, esforçou ‑se por fornecer a elite do partido. Nos hotéis reservados aos delegados ao congresso, os funcionários do partido abriram secções especiais de mercearias e grandes armazéns, para onde foram levados produtos difíceis de encontrar, vindos de todas as partes da União Soviética. Havia fatos e vestidos de luxo, sapatos, caviar, carnes secas, salsichas e inclusivamente bananas, tudo pro dutos desejados pelos cida‑dãos soviéticos comuns, não só nas províncias, mas também nos centros metropolitanos mais bem abastecidos, como Moscovo, Leninegrado e Kiev. A administração dos correios abriu uma secção especial para tratar das mercadorias que os delegados enviavam de Moscovo.

Para os altos quadros partidários das províncias e diretores de gran‑des companhias que tinham já acesso a bens escassos devido ao seu poder político e às suas ligações, a participação no congresso oferecia um tipo de oportunidade diferente. Utilizavam o tempo para influen‑ciar os potentados e ministros moscovitas, pedindo dinheiro e recursos para as respetivas regiões e empresas. Esforçavam ‑se também por man‑ter as velhas redes de amigos e conhecidos e criar novas ligações úteis. Esta atividade significava beber, por vezes em excesso, uma caracterís‑tica e uma maldição do estilo administrativo soviético. No ano anterior, Gorbachev, alarmado com o nível de alcoolismo entre a população, lan‑çara uma campanha antiálcool. Os membros do partido e do Governo podiam, em especial, ser alvo de perseguição por embriaguez.

Chernobyl-Imac3-5as PDF.indd 28 17/10/19 17:18