final história
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FERNANDES, Gabriel (77350)
FRANKLIN, Arthur (77377)
GUEDES, Marina (77355)
LUCARELLI, Caio (74195)
MAGALHÃES, Mayra (77349)
MARQUES, Matheus (77367)
a década de 60, na Itália, o movimento de reformulação da arquitetura que vinha sendo
desenvolvido desde a segunda guerra
culmina em uma nova geração de arquitetos
comandados por Ernesto N. Rogers. Esta nova
geração desenvolve novas teorias e novas
atividades acerca da disciplina arquitetônica,
buscando assim, construir uma teoria para
arquitetura contemporânea em resposta às
exigências internas da disciplina. Desde o final da segunda guerra, surgem vários
movimentos na arquitetura italiana que são
potencializados pela diversidade cultural e política
recém-chegadas ao país que por 20 anos ficou a
mercê de Benito Mussolini e do movimento fascista.
Dentre os movimentos, destacam-se os
neopopulares, neoliberais e neorracionalistas.
Ernesto N. Rogers foi um arquiteto italiano e editor
da revista Casabella Continuitá, uma das principais revistas de arquitetura da época. Suas publicações
eram propositoras e tinham como foco fomentar
discussões. Suas ideias eram muito sólidas, da
primeira à última edição, a revista manteve tudo
que pregava. Suas ideias centrais giravam em torno
da visão da arquitetura e cidade como algo único e
da continuação do trabalho dos mestres do
modernismo, de forma contextualizada e atualizada
para a Itália, mantendo a didática metodológica e
moral, culminando em uma arquitetura mais ética,
humanizada, contextualizada e que considerasse a
tradição, já que a mesma é uma inesgotável fonte de conhecimento acumulado. Para Rogers, para
manter a revolução que o movimento moderno
trouxe, era necessária uma grande crise, já que “a
modernidade exige uma contínua crise e revisão”
(MONTANER, pg. 96).
Esta linha de arquitetura proposta pelo arquiteto
italiano foi seguida por jovens arquitetos da época,
oferecendo apoio necessário para que Rogers
construísse uma “teoria necessária para a arquitetura contemporânea como resposta às
exigências internas da disciplina, ao mesmo tempo
a favor dos objetivos sociais, culturais e políticos da
oposição de esquerda contra o crescimento
especulativo do capitalismo do pós-guerra”
(MONTANER, pg. 136).
As propostas do movimento neorracionalista,
conhecido como La Tendenza, partiram de
conceitos propostos por Rogers, tais como as preexistências ambientais, o papel crucial da
história da arquitetura, o centro da discussão sobre
a tradição na cidade europeia, a ideia de
monumento, a responsabilidade do artista e do
intelectual dentro da sociedade moderna e o dever
de continuar com o ensino dos mestres do
Movimento Moderno.
Esta geração considera a crítica e a história não
só como algo dissociado da prática arquitetônica, mas como base fundamental para a produção e o
processo de projeto, entendendo a arquitetura
como processo de conhecimento intrínseco entre
realidade e teoria, fazendo também com que as
ideias democráticas, sociais e culturais que
chegaram na Itália após a queda do fascismo sejam
mantidas.
O panorama dos anos sessenta gerou uma
abundante quantidade de textos, críticas,
manifestações e obras emblemáticas. Textos esses que são influências na arquitetura até os dias atuais
e são complexos e densos, abordando não só a
questão da arquitetura em si mas também fazendo
paralelos com outras áreas do conhecimento
teórico como a psicologia de Carl Jung e Sigmund
Freud, a filosofia e sociologia de Lévi-Strauss e
Engels, a semiótica de Umberto Eco, o
estruturalismo e outras correntes.
A escola regionalista, a Tendenza, encontrou fundamento em dois textos teóricos de especial
importância, publicados respetivamente em 1966 e
1967: ‘A arquitetura da cidade’ de Aldo Rossi e ‘A
construção lógica da arquitetura’ de Giorgio Grassi.
A publicação de Aldo Rossi se tornou sua obra
mais conhecida e em um dos livros mais influentes,
no campo da arquitetura, no século XX. A
Arquitetura da Cidade pretende “entender a
arquitetura em relação à cidade, a sua gestão política, memória, diretrizes, traçado e estrutura da
propriedade urbana”. (MONTANER, pg. 139)
A cidade no contexto cultural e geográfico europeu
se torna um bem escasso e enfermo e necessita
ser reconstituído após a Segunda Guerra Mundial.
Rossi entende a cidade como um bem histórico e
cultural e traz à tona o conceito de tradição
entendido como uma ordem para alcançar à
memória. A arquitetura da cidade propunha uma série de
critérios metodológicos aplicáveis. Um dos
conceitos iniciais é a crítica ao ‘funcionalismo
ingênuo’ que “demonstra que não existe uma
relação unívoca e linear entre as formas e as
funções” (MONTANER, pg. 139) tendo em vista que
a forma vai além das restrições da função. Para
Rossi, “a forma é mais forte que qualquer atribuição
de uso e, inclusive, a máxima precisão
arquitetônica favorece uma maior liberdade funciona, uma posterior mudança de destino”.
(MONTANER, pg. 140)
Condicionada à função, a forma arquitetônica é
destituída de suas razões mais complexas, por um
lado, o tipo se reduz a um mero esquema
distributivo, um diagrama de fluxos; por outro, a
arquitetura perde sua autonomia. Ao estudar a
cidade a partir de sua arquitetura, Rossi aponta
questões como a individualidade, o locus, a memória, o desenho, mas não se refere a função e
para justificar sua posição faz menção a fatos
urbanos preeminentes cuja função mudou ao longo
do tempo, ou mesmo em que não existe função
específica. O argumento utilizado por Aldo Rossi é
endossado pelo fato de a arquitetura das últimas
décadas se distinguir pela sua capacidade de se
reconverter para novos usos.
Outra contribuição presente no texto de Rossi é a consideração de dois elementos chave para a
cidade, a classificação entre a esfera pública e a
esfera privada. A primeira classificação é composta
por monumentos, elementos primários, edifícios e
espaços públicos e crescem de forma pontual
através de esforços coletivos. A segunda
classificação é formada por áreas residenciais que
crescem em conformação com o tecido básico da
cidade usando a lógica da repetição. A divisão entre monumentos e tecido residencial
teve uma enorme transcendência e é instrumento
básico para intervenção na cidade histórica. A
revalorização do monumento como marco
privilegiado que define a imagem de uma cidade
surge nos anos quarenta com arquitetos críticos e
gera uma visão oposta ao Modernismo, numa ideia
de cidade racionalista. Se no esquema de cidade
racionalista, baseado no processo somatório linear,
o monumento não é levado em consideração, o sistema maquinista do racionalismo desaparece
completamente.
Rossi mostra que a cidade histórica é projetada na
ordem inversa ao proposto pelo urbanismo
racionalista. Apesar disto, recuperar a ideia da
monumentalidade significa também recuperar a
carga unida a ela, caracterizando um retrocesso às
propostas vanguardistas, portanto “voltaríamos à
visão estática e ao desejo da monumentalidade, solidez e permanência […] evitando a arquitetura e
transformação, leveza e de transparência”
(MONTANER, pg. 140) a fim de evitar a arquitetura
efêmera e ligeira proposta pelo Movimento
Moderno.
Os projetos desenvolvidos por Rossi, como o
conjunto de habitações Gallaratese, construído em
Milão, apresentavam soluções volumétricas
simples, com tendência para o uso de geometrias e formas primárias (prismas, cones e cilindros) e
composições simétricas, de grande rigidez
expressiva e despidas de ornamentos.
Os arquitetos italianos da Tendenza construíram
pouco, reduzindo a sua ação aos limites
geográficos do país, embora os seus trabalhos
teóricos e os estudos de morfologia urbana e
planificação territorial tenham conhecido ampla
divulgação. Desenvolveram um urbanismo baseado em tipologias tradicionais como a rua, a parede, a
fachada, a janela, a ideia do lugar, do monumento,
do tipo.
Para Aldo Rossi, a tipologia nasceu de um ser
preexistente. Era necessária a existência de várias
construções com uma evidente analogia formal e
funcional. Nada viria do nada e este conceito tinha
de ser aplicado a todas as coisas criadas pelo
homem. A arquitetura para Rossi não deve ser diferente das ciências naturais e humanas. Assim
também acontece com os conceitos formulados por
ele de tipo que podem ser entendidos como a
eliminação das características individuais de cada
unidade construída.
A palavra tipo não caracteriza um modelo para
Rossi. Também não representa o rigor de modelo,
a cópia idêntica.
No que tange o planejamento urbano, as análises da época apoiavam-se sobretudo em bases
quantitativas e era dominado por disciplinas
variadas tais como a sociologia, a geografia, a
economia, e a engenharia de tráfego. Em oposição
ao primado de tais abordagens, a Tendenza
defende a insubmissão da ciência urbana e sua
recuperação, na medida em que a cidade é
estudada a partir de seus dados formais, como uma
arquitetura, uma construção ao longo do tempo, ligada à cultura da sociedade.
Em oposição às análises quantitativas, a
metodologia propõe o estudo de dados qualitativos
como o parcelamento do solo e as constantes
tipológicas na configuração dos tecidos urbanos.
Há também uma mudança de escala no projeto
urbano na qual o fragmento volta a ter relevância. O
projeto de partes da cidade deveria então
encaminhar-se como desenho urbano levando em consideração os parâmetros de regulação da
arquitetura dos edifícios. Seguindo esta abordagem
a qualidade arquitetônica da cidade não se
restringiria à realização de obras isoladas.
A morfologia urbana é considerada um estudo das
formas da cidade, enquanto a tipologia construtiva
é o estudo dos tipos de construção. Ambas as
disciplinas estudam duas ordens de fatos
homogêneos, além dos tipos construtivos que se
concretizam nos edifícios e são os constituintes físicos da cidade.
Para entender a relação entre tipologia
arquitetônica e morfologia urbana é necessário
definir o conceito de tipo e suas acepções ao longo
do tempo. Não existe uma única definição de
tipologia construtiva, ao contrário, tal conceito é
redefinido sempre em função das investigações que
se pretende realizar: o tipo é, portanto um
instrumento e não uma categoria. Em 1825, o teórico francês Quatremère de Quincy
define formalmente tipo e introduz o conceito ao
campo disciplinar da Arquitetura. A consolidação do
conceito ocorre apenas no século XVIII e abrange
noções de caráter, imitação, decoro e origem da
Arquitetura.
Tipo, do grego typos, significa matriz, impressão,
molde, figura em relevo ou em baixo-relevo e
distingue-se de modelo, do latim modellum, que implica em uma cópia literal e possui conotações
empíricas, físicas e miméticas. O tipo é a ideia por
trás da aparência individual do edifício, da qual
muitos edifícios dissimilares podem derivar.
Distingue-se do modelo, objeto específico que pode
ser copiado identicamente.
O tipo é um elemento importante da dimensão
conceitual da Arquitetura. A relação entre
arquitetura antiga e moderna não era outra coisa
senão a modificação do tipo, uma transformação
conceitual requerida cada vez que um edifício é
projetado.
No século XX, as noções de tipo e tipologia como
ponto de partida para o projeto arquitetônico são
rechaçadas pela vertente do Movimento Moderno
dita funcionalista que defendia da individualidade
do objeto arquitetônico e a rejeição da teoria acadêmica. O funcionalismo parecia oferecer
naquele momento um método que eliminava
totalmente o recurso à tipologia.
A produção em série da arquitetura assume papel
relevante para o Movimento Moderno. A habitação
estandardizada, seria a resposta programática às
transformações pelas quais a sociedade urbana e
industrial passava. O tipo deixa de ser um conceito
abstrato para se tornar uma realidade concreta nos processos industriais viabilizando a reprodução
exata do modelo.
Ao analisar a tipologia dos edifícios e sua relação
com a cidade, Aldo Rossi recupera a definição de
tipo formulada por Quatremère de Quincy. Rossi
afirma que o tipo se constitui de acordo com as
necessidades e com as aspirações de beleza das
diferentes sociedades, ligado à forma e ao modo de
vida. Por conseguinte, o conceito de tipo se constitui em fundamento da arquitetura e retorna
tanto na prática quanto nos tratados. O tipo é
constante e se apresenta com características de
necessidade; mas mesmo determinadas, elas
reagem com a técnica, com as funções, com o
estilo, com o caráter coletivo e o momento
individual do fato arquitetônico.
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