folha de são paulo e cobertura eleitoral uma comparação entre os pleitos de 2006 e 2010

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XIV Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação Tema: "Mídia, segmentação editorial e grupos sociais" Universidade Estadual de Ponta Grossa 6 a 10 de junho de 2011 Folha de São Paulo e cobertura eleitoral: uma comparação entre os pleitos de 2006 e 2010 Edgar Ribas 1 Leonardo Medeiros Barretta 2 Emerson Urizzi Cervi 3 RESUMO: A relação entre o campo jornalístico e o campo político é um processo de mão dupla (MIGUEL, 2003). A editoria de política tem ganhado destaque nos jornais nacionais, vide seu posicionamento nestes (geralmente o primeiro caderno). O presente trabalho tem como objetivo analisar, a partir de análises estatísticas de dados, a cobertura política das eleições presidenciais de 2006 e 2010, pelo jornal Folha de São Paulo. Tal periódico adota a postura de neutralidade e imparcialidade partidária em sua cobertura eleitoral, expresso pelo seu manual de redação. Mas não é observado este comportamento ao prender a análise às valências negativas dos candidatos do PT e do PSDB. Palavras-chave: cobertura eleitoral, Folha de São Paulo, eleições 2006 e 2010. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho, realizado pelo projeto de extensão mídia política e atores sociais, tem como objeto de análise as eleições presidenciais de 2010, no que diz respeito ao período de 1° de fevereiro até 31 de outubro, em comparativo com as de 2006 (com as mesmas datas). Portanto, busca o supervisionamento da cobertura eleitoral realizada pela mídia, através de um veículo impresso, de maneira a correlacionar o cenário político com o jornalismo. “De fato, a visibilidade nos meios é uma condição importante para o reconhecimento público, em qualquer área de atividade, nas sociedades contemporâneas” (MIGUEL, 2003). A correlação entre o que é divulgado no cenário midiático, neste caso, o periódico Folha de São Paulo, tem certa influência no que vai ser discutido, posteriormente, pelos consumidores da gazeta. A análise a que este trabalho reporta foi aplicada ao jornal Folha de São Paulo, que adotou uma política apartidária nos pleitos de 2006 e 2010. A escolha do periódico justifica-se por sua abrangência nacional que tende a dar mais destaque para as eleições máximas do executivo e ser o jornal de maior tiragem diária nacional. Desde 1980, tem a maior busca pelos leitores se 1 Graduando do primeiro ano de Comunicação Social Jornalismo pela UEPG e integrante do grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais. E-mail: [email protected] 2 Graduando do terceiro ano de Comunicação Social Jornalismo pela UEPG e integrante do grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais como bolsista PIBIC/CNPq. E-mail: [email protected] 3 Professor doutor do departamento de Comunicação Social da UEPG, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do grupo de pesquisa de ‘Mídia Política e Atores Sociais’ pela UEPG do qual faz parte esta pesquisa. E-mail: [email protected]

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XIV Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação Tema: "Mídia, segmentação editorial e grupos sociais"

Universidade Estadual de Ponta Grossa 6 a 10 de junho de 2011

Folha de São Paulo e cobertura eleitoral: uma comparação entre os pleitos de 2006 e 2010

Edgar Ribas1 Leonardo Medeiros Barretta2

Emerson Urizzi Cervi3

RESUMO: A relação entre o campo jornalístico e o campo político é um processo de mão dupla (MIGUEL, 2003). A editoria de política tem ganhado destaque nos jornais nacionais, vide seu posicionamento nestes (geralmente o primeiro caderno). O presente trabalho tem como objetivo analisar, a partir de análises estatísticas de dados, a cobertura política das eleições presidenciais de 2006 e 2010, pelo jornal Folha de São Paulo. Tal periódico adota a postura de neutralidade e imparcialidade partidária em sua cobertura eleitoral, expresso pelo seu manual de redação. Mas não é observado este comportamento ao prender a análise às valências negativas dos candidatos do PT e do PSDB. Palavras-chave: cobertura eleitoral, Folha de São Paulo, eleições 2006 e 2010. 1. INTRODUÇÃO

Este trabalho, realizado pelo projeto de extensão mídia política e atores sociais, tem como

objeto de análise as eleições presidenciais de 2010, no que diz respeito ao período de 1° de

fevereiro até 31 de outubro, em comparativo com as de 2006 (com as mesmas datas). Portanto,

busca o supervisionamento da cobertura eleitoral realizada pela mídia, através de um veículo

impresso, de maneira a correlacionar o cenário político com o jornalismo.

“De fato, a visibilidade nos meios é uma condição importante para o reconhecimento

público, em qualquer área de atividade, nas sociedades contemporâneas” (MIGUEL, 2003). A

correlação entre o que é divulgado no cenário midiático, neste caso, o periódico Folha de São

Paulo, tem certa influência no que vai ser discutido, posteriormente, pelos consumidores da

gazeta.

A análise a que este trabalho reporta foi aplicada ao jornal Folha de São Paulo, que adotou

uma política apartidária nos pleitos de 2006 e 2010. A escolha do periódico justifica-se por sua

abrangência nacional – que tende a dar mais destaque para as eleições máximas do executivo –

e ser o jornal de maior tiragem diária nacional. Desde 1980, tem a maior busca pelos leitores se

1 Graduando do primeiro ano de Comunicação Social – Jornalismo pela UEPG e integrante do grupo de pesquisa

Mídia, Política e Atores Sociais. E-mail: [email protected] 2 Graduando do terceiro ano de Comunicação Social – Jornalismo pela UEPG e integrante do grupo de pesquisa

Mídia, Política e Atores Sociais como bolsista PIBIC/CNPq. E-mail: [email protected] 3 Professor doutor do departamento de Comunicação Social da UEPG, professor do departamento de Ciências Sociais

da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do grupo de pesquisa de ‘Mídia Política e Atores Sociais’

pela UEPG do qual faz parte esta pesquisa. E-mail: [email protected]

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comparado a outros jornais de interesse geral e possui a maior tiragem nacional, que chega a

cerca de 300 mil exemplares por dia4.

O Brasil como um país democrático, termo esse que deriva do grego demos (= povo) e

kratos (= autoridade ou poder), utiliza o voto direto para escolher seus representantes. Logo, as

eleições exigem atos de campanha, ou seja, aparições públicas, seja no corpo-a-corpo com os

eleitores ou através dos meios de comunicação de massa, remetendo ao debate da sociedade

sobre tal tema. Então, é de grande importância a relação entre eleições e mídia, já que essa torna

publico, dando visibilidade a temas políticos e aos atos de campanha, nos períodos eleitorais.

O estudo baseia-se apenas nos dois partidos que concentraram as disputas nacionais nos

últimos 20 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira

(PSDB), sendo que em 2002, 2006 e 2010 os pleitos presidenciais foram conquistados por algum

candidato desses dois partidos.

Um conceito de importância para este estudo é do agenda-setting (agendamento) –

proposta por McCombs e Shaw, em 1972 – segundo o qual os meios de comunicação de massa

teriam o poder de agendar o debate público. Isto é, a mídia teria o poder de pautar o debate

público com os temas vinculados por ela. Desta maneira, no período eleitoral, no qual os atores

do campo político ganham destaque e espaço na mídia, a visibilidade a esses atores e suas

ações pelas pessoas cresça. É importante ressaltar que a hipótese do agendamento não

considera o poder de orientar o debate público (conceito de framing), mas sim, somente de

agendá-lo.

Assim, o estudo de mídia e política é de extrema relevância para o compreendimento da

relação eleitoral/político nacional com as instituições responsáveis pela divulgação de

informações, pois há uma relação direta entre mídia e interação social, onde a lógica midiática

promove as futuras discussões na sociedade. “A mídia deixou de ser um apêndice da vida

contemporânea, e passou a fazer parte dela” (SILVERTONE, 2002).

Em 2006 a disputa eleitoral pela presidência da República aconteceu entre o então

presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo. O

Brasil vivia um cenário político conturbado, devido aos escândalos do „mensalão‟, que ocorreram

em 2005. O „esquema‟ se tratava de uma quantia de dinheiro destinada a alguns congressistas

com o objetivo de conquistar o apoio deles às ações do governo federal. Isto afetou a

popularidade de Lula, que entrou na disputa presidencial com sua imagem e de seu partido

atreladas ao esquema de corrupção.

Lula manteve-se afastado das repercussões do escândalo, e em maio de 2006, a pesquisa

4 Segundo dados do IVC (Instituto de Verificação de Circulação) de 20101. Consultar: www.ivc.org.br.

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de opinião de pública da CNT/Sensus assinalava em 38% a avaliação do governo de Lula como

bom ou ótimo e já indicava a vitória do petista no primeiro turno. No entanto, um suposto esquema

de dossiê sobre o candidato ao governo paulista, José Serra, desvelado pela Polícia Federal,

envolveu o Partido dos Trabalhadores e fez com que a curva de intenção de voto do então

presidente decrescesse, acarretando no segundo turno5. Já nesta etapa, Lula liderou o pleito e foi

reeleito presidente da República.

O segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva teve como característica marcante a

crescente popularidade do petista entre a população brasileira. Em dezembro de 2010, às

vésperas de deixar o governo após oito anos, pesquisa encomendada pela Confederação

Nacional do Transporte (CNT) revelou que o então presidente Lula havia alcançado expressivos

87% de aprovação de seu governo, sendo que em setembro do mesmo ano, o índice era de

79,4%.

Ainda em 2009, institutos de pesquisa realizaram simulações e projeções do cenário

eleitoral de 2010, e em todas elas, o candidato tucano à presidência, José Serra (PSDB), aparecia

na frente, oscilando entre 35% e 47% das intenções de voto, sendo que Dilma não conseguia

ultrapassar o índice de 16%.

A candidata petista começou a crescer nas pesquisas no início de 2010. Segundo dados

do levantamento Datafolha, em março, Dilma estava a onze pontos percentuais de alcançar as

intenções de voto de José Serra. Dois meses depois, o mesmo instituto afirmava o empate técnico

entre os candidatos, ambos com 37% das intenções de voto.

O empate se manteve até meados de agosto, quando a pesquisa Datafolha apontou pela

primeira vez a vantagem da candidata petista, que alcançava 41% das intenções de voto, contra

33% de seu principal rival.

A vantagem de Dilma foi sendo ampliada e cogitou-se a possibilidade de não haver

necessidade de um segundo turno. Nem mesmo as acusações de elaboração de um dossiê

contra Serra por parte do PT e de quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato

tucano, afetavam a intenção de voto dos eleitores. Em setembro, porém, o escândalo envolvendo

Erenice Guerra, substituta de Dilma na Casa Civil, acabou afetando a candidata petista nas

pesquisas de intenção de voto, e as eleições novamente ficaram em aberto.

Mesmo mantendo a ponta nas intenções de votos, Dilma não foi eleita no primeiro turno. A

candidata petista recebeu 46,9% dos votos válidos, contra 32,6% de José Serra.

A campanha de Dilma para o segundo turno teve presença incisiva do presidente Lula e foi

marcada por sua recuperação. Pesquisa Datafolha divulgou, no início da campanha para o

5 Resultado do primeiro turno: Lula, 48,61 % dos votos e Alckmin, 41,64. Fonte TSE.

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segundo turno, a vantagem de sete pontos percentuais de Dilma (48% a 41%), que acabou sendo

eleita no dia 31 de outubro com 55,9% dos votos válidos.

Assim, este trabalho objetiva analisar, de forma quantitativa, como o jornal de maior

circulação no país, Folha de São Paulo, atribui visibilidade aos dois principais candidatos à

presidência da República em 2006 e em 2010. Ou seja, poderá avaliar se existiu algum tipo de

padrão na cobertura eleitoral nesses dois momentos políticos, e se o periódico em questão

privilegia ou não um dos candidatos.

É possível verificar ainda como o jornal portou-se durante o decorrer do processo eleitoral,

observando se ele atribui relevância ao tema – por se tratar do maior processo democrático

sazonal – e se o periódico em voga manteve o princípio da imparcialidade e neutralidade ao qual

se propõe.

3. METODOLOGIA

Neste estudo utilizou-se a metodologia quantitativa de análise de conteúdo da mídia. A

coleta quantitativa de dados, utilizando-se de códigos numéricos, possibilita a análise de

quantidade, de tipo e de qualidade da cobertura jornalística, oferecendo condições para comparar

diferentes veículos da imprensa e o comportamento de um jornal em diferentes episódios

políticos. O método da análise de conteúdo permite o relacionamento entre estatística e análise

qualitativa dos textos de modo complementar (BAUER e GASKELL, 2002). Assim, nesta pesquisa

utilizou-se de uma técnica híbrida muito utilizada em pesquisas de comunicação política.

Quanto às eleições de 2006, foram coletados todos os jornais de 1° de fevereiro a 31 de

outubro, período no qual se desenvolveu a campanha eleitoral para presidente da República.

Nestas eleições, o período pré-eleitoral foi até 1° de julho, iniciando-se, a partir de então, a disputa

do primeiro turno, cujo término ocorreu em 1° de outubro, data da votação. Já o segundo turno se

estendeu até 30 de outubro, data da votação que elegeria o novo presidente.

Nas eleições de 2010 também compreendeu o período entre 1° de fevereiro e 31 de

outubro. Em 2010, o período pré-eleitoral foi até 3 de julho, quando se deu o início do primeiro

turno, que se estendeu até 3 de outubro, o primeiro dia da eleição. Já o segundo turno foi até 31

de outubro, data da votação.

Vale ressaltar que só foram coletadas as matérias jornalísticas que possuíam ao menos

uma citação ou referência (como foto) a algum dos dois principais candidatos à presidência em

cada pleito. Desta forma, foram coletadas todas as matérias (fotos, charges, reportagens, artigos,

textos de colunistas, articulistas ou editoriais) que contivessem, ao menos uma vez, qualquer

referência a pelo menos um dos principais candidatos (Lula e Alckmin, em 2006, e Serra e Dilma,

em 2010).

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A coleta usou como ferramenta um livro código, no qual é possível identificar as variáveis

que sustentarão os dados desta pesquisa. A variável „valência‟ tem por objetivo identificar a

representação positiva ou negativa dos candidatos e/ou de suas campanhas. A valência positiva

foi atribuída a textos sobre ou com o candidato que abordavam favoravelmente ações de sua

iniciativa, podendo ser também auto-declarações ou manifestações, feitas por terceiros, como

avaliações de ordem moral, política ou pessoal, ao candidato ou suas propostas de governo.

Também foram considerados textos a respeito dos resultados das pesquisas de opinião ou

estudos favoráveis aos candidatos/campanhas.

Já a valência negativa era atribuída a textos que reproduziam ressalvas, críticas ou

ataques (contendo avaliação de ordem moral, política ou pessoal) do autor ou de terceiros a

respeito da atuação do candidato, de suas propostas, campanha, ou com a divulgação de

resultados de pesquisas e estudos desfavoráveis a campanha do candidato em questão.

As duas valências anteriores estiveram presentes nas coletas das eleições de 2006 e de

2010. É importante ressaltar, que nas eleições de 2006 o candidato Luiz Inácio Lula da Silva

(Lula) foi coletado como candidato e então presidente da República. O mesmo se aplica ao

candidato Geraldo Alckmin, na ocasião governador de São Paulo, e ao seu sucessor, José Serra –

nas eleições de 2010 – então governador paulista e candidato à presidência. Por sua vez, a

candidata do PT, Dilma Rousseff, aparece como presidenciável e ex-ministra da Casa Civil. Ou

seja, não foi feita distinção na coleta se o personagem se apresentava como candidato ou

qualquer outra profissão no texto.

Para a análise dos dados utilizou-se o programa Excel, no qual foram organizadas todas

as informações que posteriormente foram processadas no programa de pacote estatístico SPSS

(Statistical Package for the Social Sciences). Nele foram gerados os gráficos, sempre utilizando

um banco com datas agregadas, isto é, todos os dados foram gerados por datas, e não por

matérias.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

Eleições 2006:

Iniciando a análise a partir do tratamento dispensado pelo jornal aos candidatos

individualmente, nota-se que a cobertura destinada ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva

aumenta o número de textos com referência ao candidato petista conforme evolui a campanha

eleitoral. Um dia antes do primeiro turno, o candidato apresenta um pico. Com o início do segundo

turno, suas citações apresentam uma queda, só voltando ao topo com a eminência do dia que

decidirá as eleições presidenciais daquele ano.

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Gráfico 1 – Citações de Lula e Alckmin (eleições 2006)

O candidato do PSDB, Geral Alckmin, apresentou comportamento semelhante ao de seu

adversário. As aparições apresentam variações menores entre os períodos: vai de menos de 10 a

cerca de 70, no período pré-eleitoral, apresentando um pico em meados de março, quando sua

candidatura foi oficializada. No primeiro turno, varia de 20 a 70 aparições diárias. Já no segundo

turno, sobe para algo em torno de 40 a 150 citações por dia, com tendência de queda, ou seja, no

início do segundo turno o número de aparições é maior e cai ao se aproximar o dia da votação.

Todavia, as diferenças no tratamento dispensado pelo jornal Folha de São Paulo aos dois

principais presidenciáveis, individualmente, começam a aparecer quando se lança mão de uma

ferramenta estatística mais refinada. Vejamos os dados através da lente fornecida pelos testes de

Regressão Temporal (ver tabela 1).

Os dois primeiros índices indicam a relação entre o número de citações dos candidatos e a

variação do tempo, ou seja, informa se ao longo do tempo houve ou não variação significativa do

número de textos com referências aos candidatos. Os „Sigs.‟ dos modelos de Lula e Alckmin estão

abaixo do limite crítico (de 0,05), possibilitando inferir que, nos dois casos, houve mudança

significativa no número de citações ao longo do tempo (ver gráfico 4)6.

Tabela 1 – Índices das valências de Lula e Alckmin (eleições 2006)

LULA ALCKMIN

Sig R-square F Sig R-square F

Aparições 0,000 0,528 296,404 0,000 0,293 109,646

Valência Positiva

0,000 0,141 43,652 0,000 0,187 60,864

Valência Negativa

0,000 0,332 131,468 0,000 0,281 103,662

6 Índice de Significância (Sig). Para esta pesquisa admite-se como limite crítico do Índice de Significância de 5%

(0,05).

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Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública - UFPR Ainda, as estatísticas F são positivas, isto é, a mudança foi de crescimento e não de

redução nos dois candidatos. Porém, há duas diferenças que se destacam nos índices: a primeira

é na magnitude do índice F. No candidato petista ele é de 294, contra 109 no tucano, o que indica

que a mudança ao longo do tempo foi maior no candidato do PT do que em seu concorrente. A

segunda é conseqüência da primeira e diz respeito ao R-quadrado. O modelo da mudança de

aparições de Lula ao longo do tempo explica 52,8% do total, contra apenas 29,3% em Alckmin.

Assim, infere-se que a Folha de São Paulo deu visibilidade crescente maior ao candidato

do PT, Lula, do que ao candidato tucano, Alckmin, no período analisado.

Gráfico 2 – Valência Positiva para Lula e Alckmin (eleições 2006)

É possível observar outras diferenças ao lançar o olhar para as valências dos textos, ou

seja, o viés positivo ou negativo atribuído aos candidatos pelo periódico em voga. Para os dois

candidatos, houve mudança significativa no decorrer da campanha eleitoral (Sig abaixo do limite

crítico) (ver tabela 1). Analisando o valor de F (positivo) infere-se que há um aumento do número

de valências positivas para os dois candidatos ao longo das eleições. No entanto, o valor de F de

Alckmin (60) é maior do que de Lula (43), isto é, valência positiva aumenta mais para o tucano do

que para o petista, ao longo do período eleitoral.

Gráfico 3 – Valência negativa para Lula e Alckmin (eleições 2006)

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Atentando agora para as valências negativas, surgem algumas singularidades na cobertura

individual dos candidatos. Para ambos os candidatos, os modelos são significativos. A estatística

F de Lula (131) é pouco superior a de Alckin (103). Assim, resulta um R-quadrado de 33% de

explicação para o crescimento da valência negativa para Lula e 28% para Alckmin. Ou seja,

ambos os candidatos apresentaram aumento no número de textos negativos, mas o do petista foi

maior do que do tucano.

Eleições 2010:

Passa-se a analisar a cobertura individual dos dois candidatos presidenciais de 2010

(Dilma e Serra). Complementando o gráfico abaixo, foram realizados testes de regressão temporal

para três variáveis: número de citações, valência positiva e negativa, para ambos os

presidenciáveis. Os testes foram divididos nas três fases das eleições: período pré-eleitoral (até 3°

de julho), primeiro turno (do dia 3 de julho ao primeiro dia de votação, 3 de outubro) e segundo

turno (de 3 de outubro a 31 do mesmo mês)7.

Gráfico 4 – Número de citações de Serra e Dilma (eleições 2010)

7 b1 = é o coeficiente da regressão da série temporal. A equação da regressão temporal é: Y = Constant + (b1*t), onde

Y é a mudança na variável dependente; constant é o ponto de partida para a análise e t, é o tempo.

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Os dados mostram que o comportamento atribuído pela FSP tanto para Serra quanto

Dilma, foi muito parecido no número de citações no jornal. Ambos cresceram um pouco tanto no

período pré-eleitoral, quanto no primeiro turno (b1 de 0,14 e 0,16 para Serra e 0,04 e 0,36,

respectivamente). Todavia, no segundo turno os coeficientes dos dois candidatos foram negativos,

isto é, apresentaram queda no período. O tucano apresentou índice de queda maior (-1,29) do

que a petista (-1,02) (ver tabela abaixo).

Tabela 3 – Coeficiente de Regressão Temporal (b1), para José Serra e Dilma Rousseff (eleições 2010)

José Serra Dilma Rousseff

Período Citações Valência Positiva

Valência Negativa

Citações Valência Positiva

Valência Negativa

Pré-eleitoral 0,149 0,002 0,007 0,041 0,008 -0,0047

Primeiro Turno

0,166 0,003 0,024 0,362 0,024 0,030

Segundo Turno

-1,297 -0,138 -0,026 -1,026 -0,094 0,028

Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública - UFPR

Analisando o comportamento das citações de valência positiva, nota-se que ele é

semelhante ao das citações, ao longo do período. Na pré-eleição e no primeiro turno há um

crescimento para os dois candidatos. Já no segundo turno, as valências positivas diminuem para

ambos. E Serra novamente apresenta a maior queda (-0,138), em relação à sua adversária (-

0,094). Isto pode ser demonstrado pelo gráfico abaixo:

Gráfico 5 – Número de citações positivas, para Serra e Dilma (eleições 2010)

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Quanto às valências negativas, observa-se uma diferença do jornal no tratamento dos

presidenciáveis. Serra apresenta um crescimento desta valência no período pré-eleitoral e

também durante o primeiro turno. Todavia, no segundo turno, o candidato apresenta uma queda

(b1 de -0,026). Para Dilma o comportamento é diferente: ela apresenta uma queda no período

pré-eleitoral (-0,0047), e possui um aumento no primeiro e segundo turno do pleito (0,030 e 0,028,

respectivamente). As informações podem ser observadas no gráfico abaixo:

Gráfico 6 – Número de citações negativas, para Serra e Dilma (eleições 2010)

Desta forma, infere-se que o jornal em questão, a Folha de São Paulo, aumenta o número

de citações tanto para Dilma quanto para Serra, durante o período pré-eleitoral e no primeiro

turno. No segundo turno o número de citações para ambos presidenciáveis cai. Para as citações

de valência positiva, o comportamento é semelhante: crescem as citações positivas para Dilma e

Serra na pré-eleição e primeiro turno, e no segundo turno volta a cair. Para as citações negativas,

Dilma apresenta crescimento delas ao longo do primeiro e do segundo turno, enquanto para o

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candidato tucano, ocorre o inverso: o número citações negativas cai no segundo turno.

5. CONCLUSÃO:

É possível concluir que a Folha de São Paulo deu mais visibilidade as campanhas

eleitorais presidenciais em 2006, do que 2010, vide o número de matérias que referenciavam

algum dos dois principais presidenciáveis.

Lula apareceu mais ao longo da cobertura eleitoral realizada pelo jornal, evidenciando um

tratamento diferenciado na cobertura do jornal. No entanto, o candidato petista teve um aumento

do número de valências negativas, principalmente próximo ao primeiro turno, maior que Alckmin.

Já as valências positivas foram o oposto: mesmo tendo um número maior desta valência para

Lula, o crescimento delas para Alckmin , ao longo das eleições é maior. Isto só se inverte com a

chegada do segundo turno,

Já nas eleições de 2010, tanto Dilma quanto Serra apresentou um comportamento

semelhante no que diz respeito ao número de citação e variação deste ao longo da campanha

eleitoral. Quanto às valências positivas, a petista e o tucano apresentaram um crescimento no

período pré-eleitoral e no primeiro turno (sendo maior para Dilma), e já no segundo turno houve

uma queda para os dois, desta vez, maior para o Serra.

No que diz respeito à valência negativa, ela confirmará o tratamento diferenciado atribuído

pelo periódico aos candidatos. Serra apresentou um crescimento desta valência no período pré-

eleitoral e no primeiro turno, enquanto para Dilma, isto só foi ocorrer no primeiro turno. Já no

segundo turno, a petista mantém o aumento desta valência, ao passo que o tucano apresenta

uma redução dela.

No que diz respeito ao número de citações aos candidatos, a Folha de São Paulo mostrou-

se imparcial em 2010. Quando se observa as valências, nota-se as diferenças: os candidatos do

PT receberam um maior aumento das valências negativas ao longo da campanha. Já os

candidatos do PSDB, receberam um aumento das valências positivas em momentos mais

importantes do pleito, como o primeiro turno e já no segundo turno.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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Page 12: Folha de são paulo e cobertura eleitoral uma comparação entre os pleitos de 2006 e 2010

XIV Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação Tema: "Mídia, segmentação editorial e grupos sociais"

Universidade Estadual de Ponta Grossa 6 a 10 de junho de 2011

MIGUEL,L.F. Capital político e carreira eleitoral: algumas variáveis nas eleição para o congresso brasileiro. Curitiba: Rev. Sociol. Polít., Ed.20, p. 115-134, jun. 2003. SILVERSTONE, Roger. Mediação. In: Porque estudar a mídia? . São Paulo: Loyola, 2002.