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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas UniFMU Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca Marina Peixoto e Silva Arruda Priscila Cruz Silva São Paulo 2008

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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas

UniFMU

Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca

Marina Peixoto e Silva Arruda

Priscila Cruz Silva

São Paulo

2008

Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas

UniFMU

Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca

Marina Peixoto e Silva Arruda

Priscila Cruz Silva

Trabalho de conclusão de curso apresentado como critério de avaliação parcial do curso de graduação em Fonoaudiologia Orientadora: Dra. Paula Nunes Toledo

São Paulo

2008

Arruda, Marina Peixoto e Silva Silva, Priscila Cruz Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca. / Marina Peixoto e Silva Arruda; Priscila Cruz Silva – São Paulo/ S.P., 2008. Trabalho de conclusão de curso – Curso de graduação em Fonoaudiologia – Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU – São Paulo, SP. 1. Fonoterapia 2. Queimaduras 3. Freqüência Cardíaca

Marina Peixoto e Silva Arruda

Priscila Cruz Silva

Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de Queimados:

Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca

Trabalho de conclusão de curso apresentado como critério de avaliação parcial do curso de graduação em Fonoaudiologia Orientadora: Dra. Paula Nunes Toledo Defendido em ____ de ______________ de 2008.

Banca examinadora constituída por:

Dra. Marisa Sacaloski

Dra. Maria Lucy Fraga Tedesco

Dra. Paula Nunes Toledo

Ms. Gino Arrunátegui

Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus pais, Paulo e Rachel, que sempre me

proporcionaram a melhor educação e por me darem a vida.

À minha irmã, Camilla, por sempre me apoiar.

Ao meu avô, Anselmo, que sempre foi meu melhor amigo e conselheiro.

À minha avó, Lourdes, que ajuda a transformar este sonho em realidade.

Marina Peixoto e Silva Arruda

Aos meus pais Elcio e Maria e ao meu noivo Marcio pelo esforço, dedicação e compreensão em todos os momentos desta e de outras

caminhadas.

Priscila Cruz Silva

Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pela vida, pela oportunidade de poder fazer a

diferença no mundo de hoje.

Agradeço aos meus pais, Paulo e Rachel, por todos os ensinamentos,

carinhos, broncas, pela maravilhosa educação que sempre me foi

proporcionada, pelo amor e dedicação eternos, por fazerem questão de estar

presentes em todas as fases da minha vida e acima de tudo agradeço por

serem meus pais e sempre proporcionar o lar em que nunca nos faltou nada.

Obrigada por serem exatamente como são.

Agradeço à minha irmã, Camilla, companheira para todas as horas e que

sempre esteve presente e de braços abertos para me ajudar. Obrigada por ser

a melhor irmã do mundo e me acompanhar na luta cotidiana.

Agradeço aos meus avós, Anselmo e Lourdes, por nos proporcionarem a base

familiar, o exemplo a ser seguido, os conselhos, as oportunidades, as histórias

de vida e por sempre mostrarem o caminho, a luz no fim do túnel.

Agradeço aos meus amigos que sempre me incentivaram a continuar, que me

ouviram nos momentos difíceis e que riram junto comigo. Obrigada por

existirem e por criarmos juntos essa grande família.

Agradeço aos meus professores que sempre nos ensinaram transparecendo o

amor e carinho tanto à profissão quanto a nós. Obrigada por estarem sempre

dispostos.

Agradeço à professora, Marisa, por sempre nos receber de braços abertos, nos

ensinar, aconselhar, nos divertir e nos mostrar que a vida é bela e deve ser

vivida de tal forma.

Agradeço à nossa coordenadora, Lucy, por ser esta mãezona e nos ajudar a

trilhar nosso caminho até aqui. Sei que não foi fácil mas você foi peça

fundamental para que pudéssemos nos tornar os profissionais de hoje.

À minha orientadora, Paula, por abrir este caminho lindo na Fonoaudiologia e

por estar disposta a transmitir seu conhecimento. Obrigada e parabéns por

todas as vitórias.

Agradeço aos colegas pelos momentos de trocas, de risadas, de tristezas e de

discussão que possibilitaram a formação da turma de hoje.

Agradeço em especial aos meus amigos Juvenal, Mônica e Amira pelos

maravilhosos dias de convivência em que pudemos nos conhecer e criar esse

laço de amizade que será eterno. E à Priscila por me ajudar a tornar este

trabalho realidade.

Marina Peixoto e Silva Arruda

Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou meu caminho durante esta jornada.

Aos meus pais e amigos pelo apoio e colaboração. Aos professores deste curso não somente por terem ensinado, mas por terem

feito com que eu aprendesse. A palavra mestre nunca fará justiça aos professores dedicados aos quais, sem nominar, terão meu eterno

agradecimento. Aos Colegas de curso pela troca de experiências, pelos momentos de diversão

e desabafo, e em especial, à minha parceira não só deste trabalho, mas de vida. Obrigada pela confiança depositada.

Priscila Cruz Silva

Resumo

Objetivo: o presente estudo teve por objetivo relacionar os achados sobre

aporte respiratório e freqüência cardíaca em pacientes queimados na fase

aguda. Método: foram avaliados 05 (cinco) pacientes, com queimaduras na

região de face e pescoço, com idade de 15 a 75 anos, sendo 02 (dois) do sexo

masculino e 03 (três) do sexo feminino. Resultados: os tempos de emissão

estão reduzidos, a saturação de O2 não apresentou alteração e a freqüência

cardíaca apresentou redução significativa ao final da emissão. Conclusão: foi

constatado que o trabalho com emissão de fonemas em pacientes queimados

agudos não altera a saturação de O2 e reduz significativamente a freqüência

cardíaca, reduzindo assim o esforço cardíaco após a emissão fonêmica.

Descritores: fonoterapia, queimaduras, freqüência cardíaca.

Abstract Goal: the following study aimed to relate the discoveries about the respiratory

“aporte” and the heart rate in burned patients in the most critical phase. Method:

five patients have been evaluated, with face and neck burns, between 15 and

75 years old, being two of them men and three women. Results: the emission

periods are reduced, the O2 saturation didn’t show any change and the heart

rate had an important reduction in the end of the emission. Conclusion: it has

been found out that the therapy with phoneme issue in critical burned patients

didn´t alter the O2 saturation and decrease significantly the heart rate, thus

minimizing the heart effort after the phonemic issue.

Descriptors: speech therapy, burns, heart rate.

Gráficos Gráfico 1......................................................................................20 Gráfico 2......................................................................................21 Gráfico 3......................................................................................21 Gráfico 4......................................................................................22 Gráfico 5......................................................................................23 Gráfico 6......................................................................................24

Tabelas Tabela 1.....................................................................................16

Sumário Introdução ................................................................................01 Literatura...................................................................................03 Método.......................................................................................16 Resultados................................................................................20 Discussão.................................................................................27 Conclusão.................................................................................31 Referências Bibliográficas......................................................33 Anexos......................................................................................36

Introdução

Pacientes com queimadura de face e pescoço apresentam alterações

funcionais que levam a distúrbios que interferem na qualidade de vida.

Gomes (1995) define queimadura como uma lesão dos tecidos

orgânicos por um trauma de origem térmica, podendo variar desde uma

pequena bolha ou flictena até formas mais graves capazes de desencadear um

grande número de respostas sistêmicas proporcionais à extensão e

profundidade da lesão.

Segundo Toledo (2007), são altos os índices de ocorrência diária de

paciente queimados com traumas na face. As lesões nas regiões de cabeça e

pescoço levam a alterações estruturais que podem interferir nas funções do

sistema estomatognático. Os pacientes queimados de face e pescoço

apresentam retração tecidual e perda de tecido que causam redução das

funções das estruturas anatômicas musculares dessa região.

De acordo com Toledo (2003), a fonoaudiologia preocupa-se com as

queimaduras de cabeça e pescoço, pois quando esta área demonstra

alterações teciduais, devemos verificar as possíveis conseqüências que

possam afetar as funções do sistema estomatognático. É necessário, ainda,

ficar atento às queimaduras que atingem o tórax podendo causar redução da

expansão da caixa torácica, alterando assim o processo de respiração.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi relacionar os achados sobre

aporte respiratório e freqüência cardíaca em pacientes queimados na fase

aguda.

Literatura

Neste capítulo apresentamos os textos da literatura compulsada em

ordem cronológica subdivididos didaticamente segundo as temáticas a seguir:

queimaduras, fisiopatologia das queimaduras, cicatrização, tratamento

fonoaudiológico das queimaduras na fase aguda, atuação interdisciplinar,

respiração, aspectos fisiológicos da produção das consoantes (/s/ e /z/) e das

vogais (/a/ e /i/), tempo máximo fonatório.

Queimaduras

Para Gomes (1995), queimadura é uma lesão dos tecidos orgânicos por

um trauma de origem térmica, podendo variar desde uma pequena bolha ou

flictena até formas mais graves capazes de desencadear um grande número de

respostas sistêmicas proporcionais à extensão e profundidade da lesão.

Segundo Toledo (2003), queimadura é uma lesão no tecido de

revestimento do corpo que pode destruir parcial ou totalmente a pele e seus

anexos assim como atingir as camadas mais profundas, como tecidos

subcutâneos, músculos, tendões e ossos.

A etiologia da queimadura pode ser determinada por agentes físicos e

químicos. Podendo atingir outras partes do corpo, como por exemplo, o tubo

digestivo e a árvore respiratória.

Os agentes físicos são divididos em:

• Térmicos:

Frio: por congelamento, queimaduras raras em nosso país;

Calor: por líquidos aquecidos, chamados escaldo;

Inflamáveis: por álcool, petróleo e seus derivados;

Sólidos: por ferro de passar, chapa de fogão, escapamento

de moto e por atrito, atingindo camadas mais profundas;

Gasosos: por explosão de caldeiras e panela de pressão.

• Elétricos: por passagem de corrente elétrica pelo corpo que, quando

ocorrem, provocam queimaduras graves, não pela extensão e sim pela

profundidade. Neste tipo de queimadura a extensão dos danos é muito maior

que o suspeitado e os fatores que determinam os efeitos da lesão são: a

duração do contato, a intensidade da corrente e a resistência do sistema;

• Radiantes: por exposição ao sol, raios-X e raios Gama.

Os agentes químicos são ácidos que, de acordo com a dose e duração,

determinam os efeitos da lesão.

As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a profundidade,

extensão e período evolutivo.

Quanto à profundidade, classifica-se em relação ao comprometimento

das camadas da pele, tomando-se por base a epiderme.

Podem ser classificadas como:

• Queimadura de espessura superficial leve: atinge somente a

camada mais superficial da pele, a epiderme. A região se encontra

hiperemiada com ausência de bolhas;

• Queimadura de espessura superficial profunda: atinge toda a

epiderme e parte da derme. A região apresenta vesículas, eritema, dor

acentuada, edema e base avermelhada com flictenas ou bolhas;

• Queimadura de espessura total: é a mais grave de todas as

queimaduras térmicas, acometendo todas as camadas da pele

(epiderme e derme) e, em muitos casos, outros tecidos como, o celular

subcutâneo, o músculo e o tecido ósseo. Aspecto esbranquiçado ou

marmóreo, redução da elasticidade tecidual o que torna o tecido rígido.

Quanto à extensão pode-se classificar como:

• Leve ou pequeno queimado: atinge menos de 10% da superfície

corporal;

• Média ou médio queimado: atinge de 10 a 20% da superfície

corporal;

• Grave ou grande queimado: atinge mais de 20% da área corporal.

Deve-se aguardar pelo menos 48 horas, antes de uma avaliação

final, pois as lesões de espessura total podem demorar a se definir.

Quanto ao período evolutivo, sua classificação é dividida em dois

períodos. Eles são:

• Período Inicial, de agressão ou agudo: compreende o período que

vai desde o dia da queimadura até de 7 a 15 dias após o acidente. As lesões

são evolutivas e atuam intensamente sobre todos os sistemas. Deve-se

considerar também fatores como a localização da lesão e a idade do

queimado, assim como as condições clínicas, físicas e a presença de lesões

simultâneas.

• Período Tardio, de recuperação ou clínico: tende a estabelecer

gradativamente o resultado do tratamento, de acordo com o processo de

restauração e cicatrização.

A fonoaudiologia preocupa-se com as queimaduras de cabeça e

pescoço, pois quando esta área demonstra alterações teciduais, devemos

verificar as possíveis conseqüências que possam estar ocorrendo nas funções

do sistema estomatognático. É necessário, ainda, ficar atento nas queimaduras

que atingem o tórax podendo causar redução da expansão da caixa torácica,

levando a alterações funcionais estomatognáticas.

Fisiopatologia das queimaduras

Gomes (1995) descreve a fisiopatologia da queimadura como sendo o

aumento da permeabilidade capilar (A.P.C.) e edema.

Com o trauma térmico há exposição de colágeno no tecido atingido e

consequentemente a ativação e liberação de histamina pelos mastócitos. Esta

por sua vez provoca o aumento da permeabilidade capilar, que permite a

passagem de um filtrado plasmático para o interstício dos tecidos afetados,

provocando importante edema tecidual e também significativa hipovolemia.

Este aumento é temporário durando em média de 18 a 24 horas. Tem

seu início alguns minutos após a queimadura e regredindo até voltar ao normal.

Ainda segundo Gomes (1995), após reposição volêmica é importante a

monitorização do paciente para verificar sua eficácia e um bom método é

através da freqüência cardíaca, que apesar de parecer um dado sem

importância, trabalhos científicos mostraram validade estatística. Freqüências

acima de 120bpm indicam insucesso na reposição, e freqüências abaixo deste

valor sugerem uma reposição adequada.

Para Tanaka (2003), o paciente queimado deve ser capaz de manter

uma saturação de oxigênio a 100% durante monitorização diária.

De acordo com Toledo (2003), considera-se como fisiopatologia da

queimadura o aumento da permeabilidade capilar e do edema. Imediatamente

após a queimadura, ocorre a interrupção do fluxo sanguíneo, provocando uma

exposição do colágeno e liberação de histamina pelos mastócitos. A histamina

provoca um aumento da permeabilidade capilar permitindo o extravasamento

de plasma para o espaço intersticial, provocando importante edema e também

significativa hipovolemia.

Este aumento é passageiro, durando em média, de 18 a 24 horas. Tem

início logo após a queimadura e seu pico máximo ocorre após 8 horas,

regredindo progressivamente.

O início da migração celular nas bordas da ferida dá-se em 24 horas.

Segundo Morais, Corrêa e Rodrigues (2004), logo após a lesão, uma

grande porcentagem do líquido extracelular é seqüestrado para a área da lesão

e esse desvio de líquido pode ser tão severo a ponto de causar falência dos

restantes órgãos e tecidos do corpo. Esse desvio de líquido do espaço

extracelular resulta do aumento da permeabilidade vascular, da oclusão de

pequenos vasos, do edema das células afetadas e do acúmulo de sal e água.

Formando-se, então, um quadro de hipovolemia.

Cicatrização

Para Mandelbaum, Santis e Mandelbaum (2003), a cicatrização de

feridas é um processo dinâmico que envolve fenômenos bioquímicos e

fisiológicos que se comportem de forma harmoniosa a fim de garantir a

restauração tissular. Como desencadeante da cicatrização, ocorre a perda

tecidual, a partir da qual o fisiologismo volta-se completamente para o reparo

de um evento danoso ao organismo.

De acordo com Toledo (2003), a cicatrização é um mecanismo de cura

espontânea que se refere à tentativa biológica de reparar um tecido. A

fisiopatologia da cicatrização é descrita em três fases:

• Fase inicial ou inflamatória aguda: as células epiteliais começam a

migrar a partir das margens nas primeiras 24 a 48 horas.

• Fase de proliferação ou fibroplasia: após três a cinco dias, com o

surgimento do tecido de granulação.

• Fase de maturação ou contração da ferida: fase progressiva de 08

à 12 meses após a queimadura.

Tratamento fonoaudiológico das queimaduras na fase aguda

Segundo Toledo (2003), a primeira preocupação funcional

estomatognática no atendimento do paciente queimado na unidade de terapia

intensiva e na enfermaria é com a respiração.

A técnica do suspiro é uma técnica suave que promove expansão da

caixa torácica, usando significativamente o nariz e a boca, elevando a língua e

os ombros, sem trabalhar tipo respiratório, e sim, estimulando o uso das

estruturas das vias aéreas superiores.

O uso da linguagem do suspirar sugere suavidade e profundidade

promovendo ritmo respiratório sem esforço. O paciente deve estar consciente,

pois ele executa técnicas de respiração voluntária, com a fase ativa da

respiração (a inspiração) e a fase passiva (a expiração).

O trabalho com a fase passiva da respiração (a expiração) ocorre

simultaneamente, utilizando vocalizações, emissões surdas e sonoras dos

fonemas fricativos /s/ e /z/, promovendo o uso, a extensão, a intensidade, a

qualidade vocal, reduzindo o esforço e adequando o ritmo respiratório com o

paciente deitado ou sentado.

Neste momento do processo terapêutico o objetivo maior é promover o

equilíbrio das funções estomatognáticas com a atenção dirigida à respiração e

fonação, e diferentemente de outros processos terapêuticos esta fase é ativa

para o paciente.

As outras funções do sistema estomatognático como mastigação,

deglutição e articulação de fala são trabalhadas contextualmente.

Atuação interdisciplinar

A equipe interdisciplinar que atua com o paciente queimado é composta

de diversos profissionais como, por exemplo, médicos, enfermeiros,

nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas além de

fonoaudiólogos.

Neste momento nossa maior ênfase é relacionada à atuação do

fisioterapeuta.

De acordo com Barguil (1995), o principal objetivo da fisioterapia é tratar

as seqüelas antes da sua instalação, fixação e transformação em retrações. A

terapia física do paciente queimado é feita através de orientação para

posicionamento, cinesioterapia respiratória, motora e postural com o intuito de

atingir o nível máximo de funcionalidade.

Na fisioterapia respiratória é trabalhada a desobstrução brônquica, a

desinsuflação pulmonar, a reexpansão pulmonar e a reeducação da função

muscular respiratória.

A desobstrução brônquica é utilizada para a mobilização de secreções

pulmonares.

A desinsuflação pulmonar é importante na fase em que haja lesões

localizadas no tórax e qualquer infiltrado de líquidos.

A reexpansão pulmonar é uma técnica que deve ser sempre utilizada

aliada à cinesioterapia de membros superiores e postural quando houver

injúrias localizadas em vias aéreas superiores e/ou tronco.

A reeducação da função muscular respiratória tem como objetivo a

normatização da função muscular, força e resistência dos músculos

respiratórios. É feita por meio de aparelhos, sempre com a monitorização do

profissional.

Para Toledo (2003), o fisioterapeuta preocupa-se na respiração com

mobilidade torácica e secreção, escapando-lhe verificar o esforço e o equilíbrio

pneumo-fono-articulatório, local onde a fonoaudiologia encontra seu espaço na

avaliação e atuação da função respiratória, tentando restaurar o equilíbrio com

as outras funções estomatognáticas. Tais funções mantêm um limiar

anatômico- funcional muito próximos, no qual pequenos desajustes de

estruturas de uso comum podem induzir a um conjunto de ineficiências

funcionais estomatognáticas.

Muitos pacientes apresentam redução das atividades das estruturas do

sistema orofacial e do pescoço justificando a intervenção precoce do trabalho

fonoaudiológico afim de minimizar as adaptações funcionais promovidas pela

retração tecidual e promover a suficiência do trabalho estrutural, colaborando

também no processo cicatricial.

A atuação do fonoaudiólogo está situada na atuação preventiva no

equilíbrio miofuncional das funções estomatognáticas, de forma constante,

dinâmica, específica e enérgica.

Respiração

De acordo com Zemlin (2000), respiração é o ar inspirado e expirado

pela expansão e contração do tórax, definida como o processo de troca gasosa

entre um organismo e seu meio. Considera-se essa troca como um processo

físico ou como um processo químico, como a oxidação de alimentos para

produzir água, dióxido de carbono e calor.

A produção da fala parece exigir uma função primariamente “não-

respiratória”, não importando se o ar está carregado de dióxido de carbono ou

não. O mecanismo de fala requer gás sob pressão, sendo necessário examinar

o processo mecânico da respiração.

A Lei de Boyle afirma que se um gás for mantido em temperatura

constante, a pressão e o volume são inversamente proporcionais obtendo um

produto constante. Segundo a teoria cinética dos gases, utilizada para explicar

a Lei de Boyle, os gases são compostos por grande número de moléculas que

se encaixam em movimento incessante. Quando essas moléculas são

confinadas em um recipiente, elas se movem aleatoriamente e em altas

velocidades, colidindo entre si e com as paredes do recipiente, exercendo

assim, força contra essas paredes. As pressões maiores que a atmosférica

geralmente são denominadas pressões positivas, e as menores são chamadas

negativas.

Os pulmões situam-se no interior da cavidade torácica e se comunicam

com o ar através da traquéia, laringe, faringe e cavidades oral e nasal,

constituindo o trato respiratório, que transmite o ar para os pulmões.

A estrutura do tórax pode aumentar ou diminuir para se adequar à fase

respiratória em que se encontra. O aumento dessa estrutura resulta em

pressão negativa dos pulmões, com relação à atmosfera, conseqüentemente, o

ar é impelido até que as pressões externa e interna sejam igualadas; essa fase

da respiração é conhecida como inspiração.

A diminuição torácica resulta em pressão positiva nos pulmões e o ar é

impelido para fora até que novamente as pressões interna e externa sejam a

mesma. Essa fase da respiração denomina-se expiração.

Embora as cavidades nasal, oral e faríngea sejam partes intrínsecas do

mecanismo da respiração, também são órgãos essenciais de articulação e

ressonância, formando um sistema, em conjunto com a laringe, chamado de

trato vocal. Essas cavidades filtram, umedecem e aquecem o ar antes de sua

entrada nas vias respiratórias inferiores.

A laringe é a modificação das cartilagens traqueais mais superiores. Ela

forma um mecanismo valvular que pode abrir ou fechar a passagem do ar. É

um órgão altamente especializado capaz de utilizar o ar expirado para a

produção de voz.

A traquéia é composta por 16 a 20 anéis de cartilagem hialina em forma

de ferradura, dispostos um sobre o outro e separados por um pequeno espaço

ocupado por membrana fibroelástica. Cada anel traqueal é incompleto na parte

posterior, onde a traquéia fica em contato com o esôfago. Essa arquitetura é

responsável pela flexibilidade da traquéia e permite que ela implemente e

retribua as alterações da pressão aerodinâmica que ocorrem no interior do

tórax.

A última cartilagem da traquéia bifurca, dando origem ao principal tronco

bronquial. A armação cartilagínea da traquéia proporciona rigidez para evitar

colapso, enquanto os ligamentos e membranas proporcionam a flexibilidade e a

mobilidade que permitem que ela se estire durante a inspiração, por exemplo.

Os pulmões situam-se na cavidade torácica e são compostos por tecido

esponjoso e poroso, porém, altamente elástico, ou seja, é passivo e não exerce

força alguma, exceto a proporcionada pelas propriedades elásticas do pulmão.

Os alvéolos, pequenas depressões no pulmão, são os responsáveis pelo

restante da elasticidade. Devido às propriedades secretoras do epitélio, esse

tecido é úmido. Em conseqüência, existe uma interface ar-líquido sobre o

revestimento dos alvéolos, permitindo que ocorra um fenômeno chamado

tensão de superfície. A força produzida pela tensão da superfície faz com que o

revestimento líquido dos alvéolos comporte-se como um elástico retesado,

tentando constantemente encurtar e resistir a um estiramento maior.

Existem, também, células alveolares tipo II que produzem uma

substância chamada surfactante (tensoativo pulmonar), que se mistura ao

líquido das moléculas das superfícies alveolares diminuindo a tensão de

superfície. O equilíbrio adequado entre a tensão de superfície do liquido

alveolar e do surfactante é essencial para que a função respiratória seja

normal.

Ainda segundo Zemlin (2000), os músculos que tendem a elevar as

costelas devem ser considerados como inspiratórios, enquanto os que abaixam

são os expiratórios. Essa regra só funciona durante a respiração cuja finalidade

é preservar a vida.

A respiração requer contração muscular ativa durante a fase inspiratória,

mas as forças expiratórias são passivas ou não musculares. Os músculos da

inspiração estão ligados principalmente ao tórax e os músculos da expiração,

principalmente ao abdômen. Os músculos acessórios do pescoço também

contribuem para o aumento do tórax durante a inspiração.

Durante a inspiração tranqüila, a contração dos músculos diafragma e

intercostais aumenta as dimensões do tórax. Uma vez que os pulmões seguem

intimamente os movimentos da parede torácica, expandem-se e o ar flui de fora

para dentro, até que a pressão de ar no seu interior seja igual à do ar externo.

O sistema também é influenciado pela força da gravidade, de modo que

a energia potencial (energia de posição) é recuperada na forma de energia

cinética (energia de movimento).

Denominamos todos os processos implicados nesse ciclo de respiração

tranqüila de inspiração ativa e expiração passiva. Com freqüência, em nossa

vida diária, esse processo é interrompido por uma razão, a produção da fala, e

isso pode ser ainda mais evidente ao cantar.

Para Toledo (2003), a respiração é um processo automático e

involuntário visando a manutenção de pressões parciais de O2 e CO2, no

sangue e nos alvéolos. É resultado da contração coordenada de um grupo de

músculos e exerce uma função vital com papel importante na fonação. O

desequilíbrio da respiração pode causar alterações orgânicas e funcionais em

outros sistemas, como no cardiovascular, o que denota a importância da

respiração em um relacionamento intrínseco no equilíbrio intersistêmico.

Durante a inspiração o ar entra pelo nariz devido a contração dos

músculos respiratórios diminuindo a pressão intrapulmonar. A expiração

normalmente é passiva com retração dos tecidos elásticos liberando energia e,

quando forçada, os músculos expiratórios (abdominais e intercostais externos)

atuam flexionando o tronco, abaixando as últimas costelas e diminuindo o

volume abdominal, acarretando aumento da pressão intra-abdominal.

A função respiratória normal ocorre através da contração diafragmática

ou padrão inferior e, por via nasal. Quando se encontra com padrão superior ou

torácico, temos a respiração ineficiente e quando ocorre obstrução nasal por

fatores orgânicos, a respiração passa a ser bucal.

Aspectos fisiológicos da produção das consoantes (/s/ e /z/) e das vogais (/a/ e

/i/)

Segundo Ferreira (1980), as consoantes são fonemas que só podem ser

pronunciados com o auxílio de uma vogal; são resultantes de um fechamento

momentâneo da boca ou de um estreitamento do canal bucal que possa

oferecer em qualquer dos seus pontos de articulação, um obstáculo à

passagem da corrente de ar que pode ser sonorizada ou não (sonoros ou

surdos) pela vibração das pregas vocais. No caso da emissão dos fonemas /s/

e /z/ há uma aproximação incompleta de dois órgãos da boca permitindo que a

corrente de ar passe por uma fenda estreitada. Esses fonemas são

caracterizados, segundo a região em que se processam, como fricativos

alveolares, produzidos pelo contato da ponta da língua com os alvéolos

dentais.

Ainda segundo Ferreira (1980), vogal é o fonema sonoro que se produz

mediante o livre escape de ar pela boca. Caracteriza-se a vogal /i/ como vogal

alta, pois se articula com a língua protruída, com o dorso elevado, os lábios em

sorriso e uma pequena abertura entre a mandíbula e a maxila. O sopro é

dirigido aos alvéolos dentais superiores e concentrado sobre a parte central da

língua. E a vogal /a/ como vogal média ou central, pois é articulada com a

língua quase plana sobre o soalho da boca, formando um discreto canal

central. A boca fica amplamente aberta, a mandíbula fica relaxada e o sopro é

dirigido e concentrado entre o canal central da língua e a arcada superior.

Tempo máximo fonatório

Segundo Behlau, Madazio, Feijó e Pontes (2001), e também Toledo

(2003), a medição de tempo máximo de fonação é um dos parâmetros com que

se obtém, de modo mais fácil, as medidas respiratórias, podendo ser

empregado tanto como um meio de diagnóstico como de acompanhamento e

evolução de terapia. Este valor é obtido pela medida do tempo máximo que o

individuo consegue sustentar a emissão de um som, numa só expiração,

permitindo uma investigação quantitativa e qualitativa de fonação.

Para a medida de duração, são usados diferentes comportamentos

vocais: emissão das vogais /a/ e /i/, emissão de fricativas /s/ e /z/.

Segundo os autores, os valores encontrados com falantes estão em

torno de 20 segundos para homens e 14 segundos para mulheres, devendo

considerar valores inferiores a 10 segundos como fora dos padrões.

Método

Neste capítulo apresentamos o método utilizado no presente estudo.

Primeiramente foi apresentado aos participantes o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I), para que pudessem ter

conhecimento sobre o estudo e assim autorizar sua participação.

Para a obtenção dos dados foram avaliados 05 (cinco) pacientes

internados na Unidade de Terapia Intensiva e Semi-intensiva do Hospital do

Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), com queimaduras na região

de face e pescoço na fase aguda, com idade de 15 a 75 anos, sendo 02 (dois)

do sexo masculino e 03 (três) do sexo feminino (Tabela 1).

Tabela 1: Distribuição dos indivíduos estudados segundo o sexo e a idade

(N=5)

O protocolo de avaliação (Anexo II) foi aplicado aos sujeitos

individualmente por duas alunas do Curso de Graduação em Fonoaudiologia

sob a supervisão da profa. Dra. Paula Nunes de Toledo.

O registro foi realizado por escrito.

Os dados relativos à identificação e nutrição foram obtidos dos

prontuários.

Posteriormente passamos à mensuração do tempo máximo fonatório

(TMF) que constou da emissão dos fonemas /s/, /z/, /a/, /i/, na posição mais

confortável para o paciente. As emissões foram realizadas três vezes

consecutivas com intervalo de 10 (dez) segundos entre elas. O Tempo Máximo

Fonatório de cada emissão foi aferido por meio de um cronômetro da marca

NIKE WWK - 02.

Antes, durante e depois da emissão dos fonemas foram registrados a

freqüência cardíaca e a saturação de oxigênio (O2) indicados pelo equipamento

MONITOR MULTI-PARÂMETROS DIXTAL.

Posteriormente os resultados coletados foram tabulados e submetidos a

uma análise estatística.

Metodologia Estatística

Utilizamos testes e técnicas estatísticas não paramétricas, porque as

condições (suposições) para a utilização de técnicas e testes paramétricos,

como a normalidade (teste de Anderson-Darling) e homocedasticidade

(homogeneidade das variâncias, teste de Levene), não foram encontradas

(principalmente a normalidade) neste conjunto de dados.

Teste de Igualdade de Duas Proporções

O Teste de Igualdade de duas Proporções é um teste não paramétrico

que compara se a proporção de respostas de duas determinadas variáveis e/ou

seus níveis são estatisticamente significantes.

Wilcoxon

O Teste de Wilcoxon é um teste não paramétrico utilizado para

verificarmos se o tratamento aplicado junto aos indivíduos surtiu efeito ou não.

Esse teste não paramétrico é utilizado quando podemos determinar tanto a

magnitude quanto a direção dos dados (como em nosso estudo) e queremos

comparar as variáveis duas a duas.

Correlação de Spearman

O grau de associação entre duas variáveis é observado a partir da

análise de correlação. A Correlação de Spearman baseia-se na ordenação de

duas variáveis sem qualquer restrição quanto à distribuição de valores, ou seja,

mais utilizado para dados não paramétricos.

Quando são feitas diversas correlações ao mesmo tempo, os resultados

são colocados em uma única tabela chamada Matriz de Correlação.

Essa técnica serve para mensurar o quanto as variáveis estão

interligadas. Os resultados são dados em percentual facilitando a

compreensão. Ressaltamos que os valores encontrados podem ser positivos e

negativos.

Quando a correlação for positiva significa que à medida que uma

variável aumenta seu valor, a outra correlacionada a esta, também aumenta

proporcionalmente. Porém se a correlação for negativa implica que as variáveis

são inversamente proporcionais, ou seja, à medida que uma cresce a outra

decresce, ou vice versa.

Para determinar a qualidade de uma correlação, é utilizada a escala de

classificações abaixo.

Péssim Ruim Regula Boa Ótima

0% 20 40 60 80 100

Teste de Correlação

O teste para o coeficiente de correlação é utilizado como no caso da

média e variância, para testar o coeficiente de correlação entre duas variáveis.

Intervalo de Confiança para Média

O intervalo de confiança para a Média é uma técnica utilizada quando

objetivamos analisar a média de variação de uma determinada probabilidade

de confiança.

Para este trabalho o nível de significância foi de 0,10 (10%). Utilizamos

um erro estatístico um pouco acima do usualmente utilizado (5%), pois temos

uma baixa amostragem. Ressaltamos ainda que todos os intervalos de

confiança construídos ao longo do trabalho foram feitos com 90% de confiança

estatística.

Resultados

Neste capítulo apresentamos os achados do presente estudo ilustrados

por meio de gráficos. Abaixo dos gráficos colocamos as tabelas

correspondentes aos testes estatísticos e assinalamos os valores

estatisticamente significantes com asterisco (*).

Inicialmente demonstramos uma caracterização da população estudada

segundo local da queimadura e tipo de nutrição.

Gráfico 1: Distribuição dos indivíduos estudados segundo local da queimadura

(N=5)

Distribuição do Local

20%

80%

Face Face e pescoço

Local Qtde % p-valor Face 1 20,0% Face e pescoço 4 80,0%

0,058*

A maioria dos indivíduos apresentaram queimadura de face e pescoço,

sendo este achado estatisticamente significante.

No gráfico 2 demonstramos a distribuição dos indivíduos em relação ao

tipo de nutrição.

Gráfico 2: Distribuição dos indivíduos estudados segundo a nutrição (N=5)

100%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Nutrição dos pacientes - sonda enteral

Não houve diferença entre o tipo de nutrição dos indivíduos estudados.

No gráfico 3 apresentamos as médias obtidas durante a avaliação da

emissão fonêmica.

Gráfico 3: Distribuição dos achados da emissão fonêmica (N=5)

Distribuição da emissão fonêmica segundo a média (em segundos)

4,90

6,305,90

5,00

0

1

2

3

4

5

6

7

/s/ /z/ /a/ /i/

Descritiva Média Mediana Desvio Padrão N IC

/s/ 5,0 4,66 4,3 5 3,8 /z/ 4,9 4,33 3,9 5 3,4 /a/ 6,3 5 3,2 5 2,8

Tempo Maximo de Fonação

/i/ 5,9 4,33 3,0 5 2,6

Os tempos máximos fonatórios obtidos apresentaram uma média de 5,0

± 3,8s para a emissão do fonema /s/; 4,9 ± 3,4s para o fonema /z/; 6,3 ± 2,8s

para o fonema /a/ e 5,9 ± 2,6s para o fonema /i/.

No gráfico 4 demonstramos a distribuição da saturação de oxigênio dos

indivíduos estudados de acordo com os momentos de avaliação.

Gráfico 4: Distribuição da média da saturação de oxigênio dos indivíduos

estudados no inicio, após as emissões fonêmicas e ao final das emissões

(N=5)

Distribuição da saturação de oxigênio segundo a média

95,8

95,2

95,8

94,8 95 95,2 95,4 95,6 95,8 96

Início

Durante

Final

Mom

ento

de

aval

iaçã

o

Saturação O2 (%)

Descritiva Média Mediana Desvio Padrão N IC

Início 95,8 96 1,6 5 1,4 Durante 95,2 96 2,0 5 1,8

Final 95,8 96 2,3 5 2,0 Saturação de Oxigênio

Diferença 0,0 0 1,2 5 1,1

A média obtida para saturação de oxigênio antes da emissão dos

fonemas foi de 95,8 ± 1,4%, durante foi de 95,2 ± 1,8% e ao final foi de 95,8 ±

2,0%. Não apresentando diferença estatisticamente significante entre os

momentos.

No gráfico 5 demonstramos a distribuição da freqüência cardíaca dos

indivíduos estudados de acordo com os momentos antes, durante e após a

emissão dos fonemas.

Gráfico 5: Distribuição da freqüência cardíaca segundo os momentos antes,

durante e após a emissão dos fonemas (N=5)

Distribuição da Frequência cardíaca

112,4

113,4

110,6

109 110 111 112 113 114

inicio

durante

final

mom

ento

da

aval

iaçã

o

Frequência cardíaca (bpm)

Descritiva Média Mediana Desvio Padrão N IC

Início 112,4 111 18,3 5 16,1 Durante 113,4 112 19,4 5 17,0

Final 110,6 109 18,4 5 16,2 Freqüência Cardíaca

Diferença -1,8 -2 0,8 5 0,7

A média obtida para a freqüência cardíaca antes da emissão fonêmica

foi de 112,4 ± 16,1 batimentos por minuto (bpm), durante foi de 113,4 ±

17,0bpm e ao final foi de 110,6 ± 16,2bpm.

As correlações entre as variáveis quantitativas apresentaram alguns

valores estatisticamente significantes e outros não.

Quanto maior a emissão do fonema /s/ maior é também a emissão do

fonema /z/ (p-valor 0,037*).

A emissão do fonema /a/ é significativamente maior que a emissão do

fonema /z/ (p-valor 0,037*).

A emissão do fonema /i/ é significativamente maior que a emissão do

fonema /z/ (p-valor 0,054*).

No gráfico 6 apresentamos a comparação entre o momento inicial e final

da saturação de oxigênio e freqüência cardíaca dos indivíduos estudados

segundo a média.

Gráfico 6: Comparação entre o momento inicial e final da saturação de oxigênio

e freqüência cardíaca dos indivíduos estudados segundo a média (N=5).

Comparação entre os momentos de avaliação

95,80

112,40

95,80

110,60

80

85

90

95

100

105

110

115

Saturação (%) Freqüência cardíaca (bpm)

Início Final

Saturação Freqüência cardíaca Momento

Início Final Início Final Média 95,8 95,8 112,4 110,6

Mediana 96 96 111 109 Desvio Padrão 1,6 2,3 18,3 18,4

N 5 5 5 5 IC 1,4 2,0 16,1 16,2

p-valor 1,000 0,041*

Na comparação entre o momento inicial e final da saturação de oxigênio

a média permaneceu inalterada, não apresentando diferença estatisticamente

significante. Já entre o momento inicial e final da freqüência cardíaca a média

apresentou uma redução em seu momento final, sendo este dado

estatisticamente significante.

Discussão

Neste capítulo pretendemos realizar uma análise crítica dos resultados

encontrados no presente estudo bem como confrontá-los, quando possível,

com o que foi compulsado da literatura especializada sobre o tema.

Os tempos máximos fonatórios obtidos durante a avaliação dos

indivíduos estudados apresentou uma média de 5,0 ± 3,8s para a emissão do

fonema /s/; 4,9 ± 3,4s para o fonema /z/; 6,3 ± 2,8s para o fonema /a/ e 5,9 ±

2,6s para o fonema /i/.

Segundo Behlau, Madazio, Feijó e Pontes (2001), os valores

encontrados com falantes estão em torno de 20 segundos para homens e 14

segundos para mulheres, devendo considerar valores inferiores a 10 segundos

como fora dos padrões.

Quanto à emissão fonêmica verificou-se que os tempos de emissão

estão reduzidos.

Tais achados se devem a fato de que as queimaduras de cabeça e

pescoço provocam alterações teciduais acarretando conseqüências nas

funções do sistema estomatognático. Vale ressaltar que as queimaduras que

atingem o tórax causam retração tecidual reduzindo a expansão da caixa

torácica o que afeta a capacidade respiratória do paciente queimado, como é

explicado por Toledo (2003).

A respiração requer contração muscular ativa durante a fase inspiratória,

mas as forças expiratórias são passivas ou não musculares, essa contração

muscular depende também da flexibilidade dos tecidos que envolvem a caixa

torácica, explicado por Zemlin (2000).

Quanto à saturação a média obtida antes do início da emissão fonêmica

de 95,8 ± 1,4%, durante foi de 95,2 ± 1,8% e no final foi de 95,8 ± 2,0%, não

apresentando diferença estatisticamente significante entre os momentos de

avaliação.

Quanto à freqüência cardíaca a média obtida no início da avaliação foi

de 112,4 ± 16,1 batimentos por minuto (bpm), durante foi de 113,4 ± 17,0bpm e

ao final foi de 110,6 ± 16,2bpm. A comparação entre os momentos inicial e final

registrou diminuição da freqüência cardíaca.

Para Morais, Corrêa e Rodrigues (2004), o aumento da permeabilidade

vascular causa um quadro de hipovolemia sendo necessária a reposição

volêmica, que segundo Gomes (1995), é importante a monitorização do

paciente para verificar sua eficácia e um bom método é através da freqüência

cardíaca, que apesar de parecer um dado sem importância, trabalhos

científicos mostraram validade estatística. Freqüências acima de 120bpm

indicam insucesso na reposição, e freqüências abaixo deste valor sugerem

uma reposição adequada.

Como o índice máximo da freqüência cardíaca obtido foi de 113,4 ±

17,0bpm, abaixo de 120bpm, com redução dos batimentos ao término da

emissão fonêmica, isto pode ser um indicador de sucesso de reposição

volêmica, sem esforço cardíaco.

Quanto maior a emissão do fonema /s/ maior é também a emissão do

fonema /z/ (p-valor 0,037*)

Este achado se dá devido ao fato de que os fonemas /s/ e /z/ possuem o

mesmo ponto articulatório, produzidos pelo contato da língua com os alvéolos

dentais, sendo a única diferença entre eles o traço distintivo de sonoridade, no

qual /s/ é surdo, ou seja, não há vibração das pregas vocais e /z/ é sonoro, ou

seja, a passagem de ar provoca a vibração das pregas vocais, como é

explicado por Ferreira (1980).

A média obtida para a emissão do fonema /a/ foi de 6,3 ± 2,8s e para o

fonema /z/ foi de 4,9 ± 3,4s. A emissão do fonema /a/ é significativamente

maior que a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,037*)

O fonema /a/ é uma vogal produzida mediante o livre escape de ar pela

boca. Sua articulação se dá com a língua quase plana sobre o soalho da boca,

formando um discreto canal central. A boca fica amplamente aberta a

mandíbula fica relaxada e o sopro é dirigido e concentrado entre o canal central

da língua e a arcada superior enquanto para a produção do fonema /z/ isolado

é necessário apenas a vibração das pregas vocais sem a amplificação do som

na cavidade oral, como explica Ferreira (1980).

A média obtida para a emissão do fonema /i/ foi de 5,9 ± 2,6s e para o

fonema /z/ foi de 4,9 ± 3,4s. A emissão do fonema /i/ é significativamente maior

que a emissão do fonema /z/ (p-valor 0,054*).

O fonema /i/ é produzido com a língua protruída, com o dorso elevado,

os lábios em sorriso e uma pequena abertura entre a mandíbula e a maxila. O

sopro é dirigido aos alvéolos dentais superiores e concentrado sobre a parte

central da língua, de acordo com Ferreira (1980).

Podemos dizer que os fonemas /a/ e /i/ podem ser mais eficazes que os

fonemas /s/ e /z/, no trabalho fonatório sem reduzir a taxa de saturação e com

redução da freqüência cardíaca, promovendo qualidade dos movimentos

inspiratórios e expiratórios, possibilitando qualidade de sobrevida do paciente,

já que apenas tônus de expansão de caixa torácica, instalados pelo

fisioterapeuta, não é suficiente para uma respiração efetiva.

Conclusão

• Os tempos de emissão dos fonemas /s/, /z/, /a/ e /i/ estão

reduzidos.

• Não há diferença entre os momentos inicial, durante e final da

saturação de O2.

• Há redução significativa da freqüência cardíaca ao final da

emissão fonêmica.

• Quanto maior a emissão do fonema /s/ maior é também a

emissão do fonema /z/;

• A emissão do fonema /a/ é significativamente maior que a

emissão do fonema /z/;

• A emissão do fonema /i/ é significativamente maior que a emissão

do fonema /z/;

Como há redução significativa da freqüência cardíaca após o término da

emissão, podemos supor que há redução do esforço cardíaco após a emissão

fonêmica.

Referências Bibliográficas

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M.C.; PELLON, M.A. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. p. 213 –

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BEHLAU, M.; MADAZIO, G.; FEIJÓ, D.; PONTES,P. Avaliação de voz. In:

BEHLAU, M. (Org.) Voz: o livro do especialista. vol 1. São Paulo: Revinter,

2001. p.105 - 106

FERREIRA, A.B.H. In: Novo Aurélio: dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1980. p. 370.

FERREIRA, A.B.H. In: Novo Aurélio: dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1980. p. 1482.

GOMES, D.R. Fisiologia e fisiopatologia. In: GOMES, D.R.; SERRA, M.C.;

PELLON, M.A. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. p. 15 – 28. cap.3

GOMES, D.R. Ressuscitação hemodinâmica. In: GOMES, D.R.; SERRA, M.C.;

PELLON, M.A. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. p. 29 – 35. cap.4

MANDELBAUM, S.H.; SANTIS, E.P.; MANDELBAUM, M.H.S.A. Cicatrização:

conceitos atuais e recursos auxiliares - Parte I. Anais Brasileiros de

Dermatologia, Rio de Janeiro, v.78, n.4, jul./ago. 2003.

MORAIS, C.C; CORRÊA, U.D.;RODRIGUES, S.D. Tratamento de um paciente

queimado na fase aguda. In: MEDSTUDENTS. São Paulo: UGF, 2004.

Disponível em: < http://www.medstudents.com.br >. Acesso em: 18 set. 2008.

TANAKA, E.D. Atuação da fisioterapia intensiva no grande queimado. São

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São Paulo, 2003.

TOLEDO, P. N. Conhecimentos essenciais parar atender bem os pacientes

queimados. São José dos Campos: Pulso; 2003.

TOLEDO, P. N. Queimados: Atuação interdisciplinar exige presença do

fonoaudiólogo. Jornal do CFFa, Brasília, anoVIII, n. 33, p. 4 – 7, abr/maio/jun.

2007.

ZEMLIM, W.R. Respiração. In: . Princípios de anatomia e fisiologia em

fonoaudiologia, 4.ed. Porto Alegre: Artmed. 2000 p.51 – 116. cap. 2.

Anexos

Anexo I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), em

uma pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso

de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento. Sua

participação não trará qualquer benefício direto ao senhor (a), mas poderá

proporcionar um melhor conhecimento a respeito do assunto em estudo, o qual

em futuros tratamentos fonoaudiológicos poderão beneficiar outras pessoas.

Informo que o sr (a) tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo,

sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Também é garantida a

liberdade da retirada de seu consentimento a qualquer momento e o senhor (a)

poderá deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo a qualquer

atividade que possa estar ocorrendo.

Garantimos que as informações obtidas serão analisadas em conjunto

com outros indivíduos, não sendo divulgado a identificação de nenhum dos

mesmos.

Não existirão despesas ou compensações pessoais para nenhum

participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas.

Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se

existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da

pesquisa.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do Projeto: Fonoaudiologia no Centro de Tratamento de

Queimados: Aporte Respiratório e Freqüência Cardíaca

Pesquisador Responsável : Dra Paula Nunes Toledo

Pesquisadores participantes: Marina Peixoto e Silva Arruda e Priscila

Cruz Silva

A presente pesquisa tem como objetivo relacionar achados sobre aporte

respiratório e freqüência cardíaca em pacientes com queimaduras de face e

pescoço na fase aguda.

Será aplicado um protocolo de avaliação e os dados relativos à

identificação e nutrição serão obtidos através do prontuário.

A mensuração do tempo máximo fonatório constará da emissão dos

fonemas /s/, /z/, /a/, /i/, na posição mais confortável para o paciente. Tal

emissão será realizada 3 (três) vezes consecutivas com intervalo de 10 (dez)

segundos entre elas. O Tempo Máximo Fonatório de cada emissão será aferido

por meio de um cronômetro. Antes, durante e depois da emissão dos fonemas

serão registrados a freqüência cardíaca e a saturação de oxigênio (O2)

indicados pelo equipamento.

Eu, ___________________________________________, portador do

RG _________________, concordo em participar do estudo descrito acima,

como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os

procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios

decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade

ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/tratamento. Ficou claro

também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do

acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas em qualquer tempo.

São Paulo,_____ de ________________ de 2008.

Anexo II

Protocolo de Avaliação da Respiração e Fonação em Pacientes com Queimaduras de Face e Pescoço

Data:______________________ Identificação: Nome: ___________________________Idade:____________ Etiologia:__________ Tipo de acidente:_______________ Data da queimadura: Data de internação:____________________ SQC:__________% Local da queimadura:_______________________________ Leito:_______________________________ Intervenção cirúrgica:_______________________________ Nutrição: ( ) enteral ( ) parenteral ( ) oral Tipo de dieta: ( ) Sólida ( ) Pastosa ( ) Líquida Avaliação Funcional: Tempo Máximo Fonatório: / s / _________ / z / _________ / a / _________ / i / _________ Saturação inicial:_____________ Saturação durante:_____________ Saturação final:______________ Pulso inicial:______________ Pulso durante:_______________ Pulso final:_______________ Observações importantes: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________

Estagiária responsável