formação docente - saberes dos professores

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    Fonte:http://tu

    pinago.blogspot.com/2010/08/mais-arte-como-ex

    periencia-de-john.html-dia25.09.11

    Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESP

    Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

    Rede So Paulo de

    Repertriodosprofessorese

    mformao

    d01

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    Rede So Paulo de

    Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESP

    Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

    So Paulo

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    Sumrio

    1. Relaes Pessoais com Arte .......................................................4

    1. Histrias de relaes com arte ...............................................................5

    1.2. Experincia de vida e ormao ............................................................7

    1.3. Inveno de si e autopoiesis: dois undamentos para ormao do arte-

    -educador ................................................................................................. 11

    2. Memrias de Formao ...........................................................14

    2.1. Narrativas sobre experincias de ormao ......................................... 15

    2.2. Como o proessor aprende? ................................................................ 18

    2.3. Mestres e reerncias gerais para a ormao ...................................... 20

    3. Concepes Fundamentais para o Proessor de Arte ...............26

    3.1. Concepes sobre cultura: refexo introdutria ................................27

    3.2. Concepes sobre arte: refexo introdutria .....................................31

    3.3. Utopias que cercam o ensino de arte: intenes e projetos .................35

    Referncias bibliogrficas ........................................................ 3 8

    Ficha da Disciplina: ................................................................ 4 4

    sumario

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    1. Relaes Pessoais com Arte

    Por que iniciar um processo de ormao voltado para proessores de Artes pelas historias

    destes mesmos proessores sobre suas relaes com Artes e seu ensino?

    Porque todo desenvolvimento de competncias pessoal, est na mo da pessoa que as de

    senvolve e exige prounda pessoalidade para mergulho intelectual e emocional nas aes que

    provocam este desenvolvimento (MACHADO, 2002). Mas este entendimento seria suciente

    para iniciarmos nosso processo de ormao pelas histrias de vida dos proessores? Optamospor um recorte nestas histrias de vida, ocando o olhar e o esoro refexivo em uma relao

    de interesse imediato para a ormao do proessor de artes, ou seja, optamos por perguntar

    logo de incio pelos modos como construram aproximaes, ao longo de sua trajetria, deste

    campo que seu compromisso de ensino e aprendiagem. De que orma as artes comparecem

    na trajetria de cada um e porque oram abraadas como prosso de ensinar e de aprender?

    As trajetrias de relaes com a arte podem ter sido marcadas por processos intuitivos, por

    curiosidade ingnua (FREIRE, 1999) que merece ser contemplada no processo de orma

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    o, merecem ser analisadas, e podem se oerecer como oportunidades de hipteses a serem

    trocadas entre voc proessor (a), com seus colegas e mediadores neste curso. Ao longo deste

    primeiro mdulo, juntamente com voc proessor(a), buscaremos responder a questes como:Quais as motivaes para a carreira docente que esto presentes nas trajetrias dos proes

    sores de arte? E de que orma a arte enquanto campo de conhecimento determinante e a

    mediao para opo pelo magistrio?

    1. Histrias de relaes com arte

    Como reerncia para leitura de imagens e textos que constituem o painel sobre histrias derelaes com a arte, destacase a contribuio de John Dewey lsoo norteamericano que

    props relaes entre losoa, arte e educao na primeira metade do sculo XX.

    John Dewey nasceu em 20 de outubro de 1859 nos EUA onde tambm aleceu em junho de 1952.

    Doutorouse em losoa e em 1884 e dedicouse carreira de proessor. Em 1894, oi

    para a Universidade de Chicago onde exerceu as unes de Presidente do Departamento de

    Filosoa, Psicologia e Pedagogia. Dewey oi militante ativo, liderando movimentos de naturea sindical, em deesa de direitos prossionais de educadores e campanhas por melhores

    condies para trabalhadores. Em 1915, oi um dos undadores da Associao Americana de

    Proessores Universitrios e, no ano seguinte, tornouse membro honorrio do primeiro Sin

    dicato de Proessores da cidade de Nova Iorque. Em 1919, ajudou a undar a Nova Escola para

    a Investigao Social e, em 1933, a UniversidadenoExlio, para estudantes perseguidos em

    pases com regimes totalitrios.

    Interessa a esta refexo pelo menos duas concepes apresentadas por Dewey: o conceitode conhecimento e o conceito de experincia. Esses dois conceitos esto relacionados. Por con

    hecimento, Dewey entende o processo pelo qual se descobre relaes entre inormaes anteri

    ores e novas situaes, processo que permite relaes com atos crus da existncia; processo

    que envolve atividade do sujeito que conhece: atividade de pensamento e de movimento do

    corpo. O conceito de experincia uma mediao undamental para se compreender o conhe

    cimento em Dewey. A experincia no entendida como um mero aer, mas como uma ao

    refetida, intencional, planejada, que requer a percepo dos ns para que seja possvel julgar os

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    meios e os produtos a serem criados. A experincia de conhecimento s de ato experincia

    quando aquele que se pe a conhecer tem a oportunidade de perceber integralmente objeto

    a ser conhecido, de estabelecer relaes diversas com o que j sabe, com outras experincias,

    com signos j construdos e com hipteses que poder ento produir. Requer uma ao ativado sujeito que aprende e um pensar e agir compreendendo o todo. Dewey a uma critica aos

    que acreditam que para aprender preciso primeiro conhecer as propriedades de um objeto ou

    aprender a manusear seus instrumentos, para ele o sujeito que aprende tem que operar com o

    todo e colocar em jogo suas potencialidades corprea, intelectual e emocional. Para que uma

    experincia possa se constituir em uma experincia especca, capa de ser incorporada em

    nosso repertrio cultural, so necessrios trs movimentos do sujeito que conhece: movimento

    do intelecto para pensar, nomear, conceituar o real; movimento prtico para mudar de lugar ede orma de ver o real, para intervir, manipular material e moralmente o mundo e movimento

    emocional para se permitir o padecimento que constitui a sensvel relao com o mundo e com

    a crise provocada pela perplexidade que motiva a busca por novas respostas.

    A experincia, assim, no algo ragmentado e descontnuo, uma totalidade, porque abar

    ca a individualidade de cada sujeito que aprende, as interaes que realia em seu contexto

    cultural, as relaes que estabelece entre seus saberes, seus signos, seus valores e as relaes que

    estabelece produindo sentidos sobre os novos desaos postos pela experincia.

    endo o conceito de experincia como ator central de seus pressupostos, Dewey chega con

    cluso de que a escola no pode ser uma preparao para a vida, mas sim, a prpria vida. Assim,

    para ele, vidaexperincia e aprendiagem esto unidas, de tal orma que a uno da educao

    encontrase em possibilitar quem aprende uma reconstruo permanente da experincia.

    O ragmento que se destaca de Dewey sintetia os undamentos analisados:

    Para perceber, um espectador precisa criar sua prpria experincia. E sua

    criao tem de incluir conexes comparveis quelas que o produtor origi

    nal sentiu. No so as mesmas, em qualquer sentido literal. No obstante,

    com o espectador, assim como com o artista, tem de haver uma ordenao

    dos elementos do todo que , quanto orma, ainda que no quanto aos

    pormenores, a mesma do processo de organiao que o criador da obra

    experimentou conscientemente. Sem um ato de recriao, o objeto no

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    ser percebido como obra de arte. O artista selecionou, simplicou, clari

    cou, abreviou e condensou de acordo com seu desejo. O espectador tem

    de percorrer tais operaes de acordo com seu ponto de vista prprio e seu

    prprio interesse. Em ambos tem lugar um ato de abstrao, isto , de extrao do que signicativo. Em ambos, h compreenso, em sua signi

    cao literal isto , um ajuntar mincias e particularidades sicamente

    dispersas em um todo experienciado. H um trabalho realiado pelo que

    percebe, assim como pelo artista. Aquele que, por ser demasiadamente

    preguioso, rvolo ou obstinado nas convenes, no eetue esse trabalho,

    no ver, nem ouvir. Sua apreciao ser uma mistura de ragmentos do

    saber em conormidade com normas de admirao convencional e com

    uma conusa, ainda se genuna, excitao emocional (DEWEY, 1980).

    Para ampliar conhecimentos

    DEWEY, J. Democracia e educao. So Paulo: Naconal, 1979.

    Esta obra regstra os fundamentos propostos pelo autor para contextualzar a fnal-

    dade da educao no mbto da realzao de uma socedade democrtca. Alm de

    apresentar contrbuo de natureza flosfca sobre educao e democraca, o autor

    detala fundamentos epstemolgcos e de metodologa de ensno em dferentes reasdo conecmento.

    DEWEY, J. Arte como experincia. So Paulo: Martns Fontes, 2010.

    Lro mportante para compreenso sobre o conceto de expernca esttca e sobre o

    entendmento de que toda expernca de conecmento abarca necessaramente trs

    processos: processo ntelectual; processo prtco e processo emoconal.

    1.2. Experincia de vida e ormaoAs teorias que undamentam a opo por estabelecer dilogo permanente entre os saberes

    da experincia e os saberes eleitos para processo de ormao so inmeras e esto presentes

    em dierentes campos desde a psicologia at a antropologia, com paradas signicativas na

    losoa e sociologia. Destacamos quatro autores que undamentam esta opo. So eles: Paulo

    Freire, Nilson Jos Machado, Jorge Larrosa e MarieChristinne Josso.

    Paulo Freire deende, ao longo de toda sua obra, a idia de que o universo cultural de cadaser humano, marcado por valores, teorias, crenas, conscincia ingnua e conscincia crtica,

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    conjunto denso do qual so retirados cdigos e reerncias para leitura do mundo. Cada ser

    humano um ser capa de saber anteriormente escolariao, um ser que elabora saberes

    no cotidiano que o habilitam para ler, interpretar e pronunciar o mundo. Para Freire, no h

    hierarquia entre os saberes: os saberes do cotidiano so to importantes quanto os saberes escolares, cientcos e loscos.

    Entende que todo conhecimento tem incio com curiosidade: exige perguntas sobre a vida,

    sobre o mundo, sobre a prpria experincia.

    Nilson Jos Machado (2002) proessor e pesquisador da aculdade de Educao da USP,

    arma que todo desenvolvimento de competncias pessoal, est na mo da pessoa que a de

    senvolve e exige prounda pessoalidade para mergulho intelecto emocional na ao que provoca este desenvolvimento. er como reerncia a trajetria pessoal de quem est em ormao

    considerar o lugar primeiro no qual se pode deparar com desaos para apereioamento de

    competncias.

    Com Jorge Larrosa, proessor e pesquisador da Universidade de Barcelona, encontramos a

    argumentao de que a ormao processo no qual a pessoa em ormao se permite infu

    enciar pelos mestres, pelas experincias de vida.

    A ormao uma viagem aberta, uma viagem que no pode estar an

    tecipada, e uma viagem interior, uma viagem na qual algum se deixa

    infuenciar a si prprio, se deixa seduir e solicitar por quem vai ao seu

    encontro...a experincia ormativa e a experincia esttica no so tran

    sitivas...no vo de algum para algum, mas acontecem a algum com

    algum (LARROSA, 2003)

    MarieChristinne Josso, proessora da Faculdade de Psicologia e Cincias da Educaoda Universidade de Genebra, tambm prope uma abordagem de ormao experiencial. Se

    gundo a autora:

    Falar das prprias experincias ormadoras , pois, de certa maneira, contar

    sobre si mesmo a prpria histria, as suas qualidades pessoais e sociocult

    urais, o valor que se atribui ao que vivido na continuidade temporal do

    nosso ser psicossomtico. (...) tambm um modo de diermos que, neste

    continuum temporal, algumas vivncias tm uma intensidade particular

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    que se impe nossa conscincia e delas extrairemos as inormaes teis

    s nossas transaes conosco prprios e/ou com o nosso ambiente humano

    e natural (JOSSO, 2004)

    Em sua obra, a autora utilia a imagem caminhar para si. Para ela a ormao uma via

    gem, uma mudana de lugar, na qual viajante e percurso se transormam mutuamente, a partir

    da conscincia de quem viaja sobre seu modo de estar neste percurso e sobre o que este provoca

    e exige de quem nele est.

    Em suma, destacamos que escrever sobre si mesmo e sua trajetria exige do proessor de

    arte um olhar sistematiado e refexivo sobre suas qualidades pessoais, sobre escolhas pros

    sionais quanto pessoais, sobre conhecimentos adquiridos. O proessor, ao narrar suas experin

    cias de vida em arteeducao o a em ao de repensar e dar sentido histria narrada,

    compreendendose como pertencente a um perodo, a uma comunidade, inserido em um meio

    scio cultural, possibilitando, assim, revelarse e revelar os contextos nos quais se orma.

    Com o esoro intelectual e o mtodo necessrio explicitao das questes e concepes

    presentes em sua experincia prossional e pessoal, os proessores elaboram saberes que a

    vorecem o dilogo entre suas experincias prossionais e pessoais e as teorias que oerecemelementos para contextualiao mais ampla das experincias de cada um. ais teorias per

    mitem, ainda, a problematiao do que vivenciado em cada situao particular. Elaboramos

    saberes com a leitura de nossas experincias em dilogo com teorias e com outras experincias.

    Construmos saberes quando aemos perguntas s experincias, aos autores e a ns mesmos;

    quando no nos satisaemos com as primeiras respostas e com as aparncias e comeamos a

    nos perguntar sobre as relaes, os motivos, as conseqncias, as dvidas, os problemas de cada

    ao ou de cada contribuio terica. A construo de saberes exige que coloquemos perguntas nossa prtica. Quo maior or nossa habilidade de ler nossa experincia, maior ser nossa ha

    bilidade pra compreender autores e por outro lado, o conhecimento de outros autores e outras

    experincias auxiliam na compreenso sobre nossa prpria prtica.

    Estas duas armaes parecem muito simples e muito ceis de serem colocadas em prtica.

    Na verdade no o so. Do contrrio no teramos as queixas to reqentes sobre distncias

    entre teoria e prtica. Fato que no vivemos em um ambiente educacional no Brasil que nos

    prepare para construirmos boas relaes com teorias, nossas ou alheias.

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    Longos perodos ditatoriais quine anos de Vargas e vinte e um de governos militares se

    riam sucientes para justicarem polticas educacionais e culturais silenciadoras e bloqueadoras

    de um aprendiado adequado elaborao de teorias particulares ou coletivas sobre a realidade.

    Anal, quem se permite o esoro terico de elaborar saberes sobre a prpria experincia, apresenta maiores condies de anlise e crtica a respeito do real. Ditadura nenhuma admite isso.

    Porm, as ditaduras no respondem soinhas por nossas diculdades relativas construo

    da relao entre teoria e prtica. Nosso ambiente escolar e cultural, mesmo em espaos e

    momentos democrticos padecem de um problema a ser solucionado. ratase da imposio

    subreptcia de algumas teorias, de alguns autores. ratase da valoriao de uma postura que

    impe tradies, pensamentos, teorias, modelos, autores e impede a construo pessoal de cadaestudante ou prossional em processo de conhecimento. Este deve incorporar e repetir teor

    ias, sem ousar elaborar suas questes e suas armaes e sem valoriar seu repertrio cultural

    como lugar privilegiado para elaborao de saberes e para gerar perplexidades e desaos que

    motivem a busca de conhecimentos.

    Assim, o desenvolvimento da habilidade de se ler a prpria experincia, a experincia alheia, o

    mundo e autores em dilogo com nossas questes no privilegiada pela tradio escolar no Brasil.

    Quando insistimos para que os processos de ormao de proessores, em servio ou nos cur

    sos de magistrio e licenciatura, apresentem as condies mnimas para que se relacione teoria

    e prtica estamos sugerindo o sentido da construo do leitor / autor da prpria experincia.

    Experincia que se percebe a si mesma como terica porque refetida, avaliada, recriada.

    Para ampliar conhecimentos

    ChAPLiN, Carles. Minha vida. 10. ed. Ro de Janero: Jos Olympo, 1998.

    Nesta obra, Carles Capln destaca experncas marcantes para sua atuao como ar-

    tsta e cdado. A educadores nteressa partcularmente suas memras sobre nfnca e

    escolarzao, com crtca a respeto da postura de professores que no souberam tornar

    nteressante o conecmento que deeram ensnar.

    NvOA, Antono. Vida de professores. Porto, PT: Porto, 1992.

    Neste lro, o autor enfatza a mportnca de se consderar as dmenses pessoas, afetas

    e tcas dos professores em formao. Stua o debate sobre profssonalzao em contexto

    que alorza formao ntegral com olar especfco para a pessoaldade do professor.

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    1.3. Inveno de si e autopoiesis: dois undamentos paraormao do arte-educador

    Alm de Josso, outro autor ajuda a undamentar a opo por um processo de ormaocomo ponto de partida na experincia de vida dos educadores que se ormam. ratase de

    Humberto Maturana, lsoo e bilogo chileno, proessor da Universidade de Santiago do

    Chile e autor de teoria que alia vida e conhecimento bem como o conceito de autopoiesis,

    destacado neste texto.

    A palavra autopoiesis tem origem na lngua grega antiga e pode ser entendida como cria

    o de si, uma ve que auto signica prprio, reerido a si mesmo e poiesis signica criao.

    A partir de suas investigaes na rea de Biologia, com observao minuciosa de dierentes

    seres vivos, Maturana entende que um sistema vivo est constantemente se autoproduindo,

    autorregulando sua orma de existir em resposta aos desaos que seu meio estabelece. Para

    Maturana, os seres vivos criam a si prprios provocados pelo contexto de vida, mas a partir de

    um movimento interno a estes seres vivos.

    A este processo de reao e autocriao em um meio, Maturana chama de conhecimento,

    pois preciso que os seres vivos tomem conhecimento dos desaos impostos externamentepara inventarem novas ormas de ser internamente. Segundo esta abordagem, a realidade no

    captada por processo mecnico de ora para dentro, mas estimula uma organiao interna ela

    borada autonomamente e capa de apresentar novas relaes entre as partes de cada ser e com

    o meio externo. O ser vivo entendido, ento, como capa de conhecer, renovarse e renovar

    seu meio. O autor argumenta ainda que cada organismo no est aberto recebendo o mundo e

    modicandose diante desta recepo, mas um sistema echado que atua no mundo tomando

    conhecimento deste e a partir da se inventa e se transorma. Se osse um sistema inteiramenteaberto, o processo de mudana seria automtico e imediato sem ao do ser que recebe o mun

    do. Esta relao com o mundo no imediata, mas mediada por processo que se identica com

    conhecimento e requer linguagem. A vida processo de conhecimento e criao permanentes.

    Esta tomada de conhecimento dos organismos a respeito do seu meio sugere uma comuni

    cao e como condio para esta comunicao um processo de linguagem. Maturana entende

    que processos de linguagem so undamentais para a autopoiesis. Para ele, linguagem no

    processo exclusivamente racional e lgico, mas constitudo por tudo o que caracteria o or

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    ganismo em sua capacidade de receber e expressarse no mundo, com o mundo. Linguagem

    resulta da relao com o mundo, de orma que tambm no previsvel e xada para todas as

    relaes. conversa com o mundo que inclui movimento, emoo e lgica no caso dos seres

    humanos. O autor valoria a origem etimolgica da palavra conversa: do latim Cum que signica com e Verso que signicavoltar, revirar, revolver; mudar, alterar e postula que estar vivo

    estar s voltas com outros seres e criarse a partir deste movimento.

    A palavra conversar sugere, assim, estar s voltas em movimento de perceber o mundo e

    voltarse para si mesmo modicandose para continuar no mundo, criando permanentemente

    a vida, o modo de ser e estar vivo entre os demais seres.

    A imagem do caminhar para si proposta por Josso (2004) aproximase da ideia de autopoiesis ormulada por Maturana, uma ve que aprender, conhecer, ormarse requer um

    movimento de voltarse para si investigando condies internas para receber o mundo e para

    colocarse no mundo.

    O que est em jogo neste conhecimento de si mesmo no apenas com

    preender como nos ormamos por meio de um conjunto de experincias, ao

    longo de nossa vida, mas sim tomar conscincia de que este reconhecimento

    de si mesmo como sujeito, mais ou menos ativo ou passivo segundo as cir

    cunstancias, permite pessoa, da em diante, encarar o seu itinerrio de vida,

    os seus investimentos e os seus objetivos na base de uma autoorientao

    possvel, que articule de uma orma mais consciente as suas heranas, as suas

    experincias ormadoras, os seus grupos de convvio, as suas valoriaes, os

    seus desejos e o seu imaginrio nas oportunidades socioculturais que soube

    aproveitar, criar e explorar, para que surja um ser que aprenda a identicar e

    a combinar constrangimentos e margens de liberdade (JOSSO, 2004).

    Para os dois autores, temos a idia de um sujeito que constri sua autonomia em uma di

    altica que abarca o movimento de ir e vir do mundo para si mesmo, processando relaes e

    modos de ser nestas relaes. Josso usa a expresso para que surja um ser que aprenda a iden

    ticar e a combinar constrangimentos e margens de liberdade. O caminhar para si no im

    plica esgotarse em si mesmo, mas ao contrrio, implica analisar as condies de abertura para

    receber e aprender com esta abertura, para tomar conscincia do que me alta e me impele para

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    o outro, para ora de mim. O processo de caminhar para si projeto para o decorrer da vida e

    inclui projeto de conhecimento daquilo que somos, pensamos, azemos, valorizamos e desejamos na

    nossa relao conosco, com os outros e com o ambiente humano e natural ( JOSSO, 2004).

    Para echar este tpico, registramos quatro tomadas de conscincia que resumem o processo

    de caminhar para si, segundo Josso: conscincia dos reerenciais (saberes, ideologias, crenas)

    aos quais aderimos; conscincia da cosmogonia na qual nos inscrevemos e do seu carter

    cultural; conscincia da nossa maior ou menor disponibilidade para com reerenciais novos e

    conscincia das situaes, dos acontecimentos, dos encontros que colocaram em questo ou

    eram evoluir os nossos reerenciais, da crise epistemolgica que eles provocam e reajusta

    mentos que oram eitos.Reerncias bibliogrcas

    DEWEY, J.Arte como experincia. raduo Vera Ribeiro. So Paulo: Martins Fontes,

    2010. (Coleo todas as artes).

    FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. 12. ed. So

    Paulo: Pa e erra, 1999.

    JOSSO, M. C. Experincia de vida e ormao. So Paulo: Corte, 2004.

    LARROSA, J. Pedagogia proana: danas, piruetas e mascaradas. Belo Horionte: Au

    tntica, 2003.

    MACHADO, N. J. Sobre a idia de competncia. In: PERRENOUD, P.; HURLER,

    M. G.As competncias para ensinar no sculo XXI: a ormao dos proessores e o desao

    da avaliao. Porto Alegre: Artmed, 2002. MAURANA, R. H. Emoes e linguagem na educao e na poltica. Belo Horionte:

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    MAURANA, R. H. De mquinas e seres vivos: autopoiese a organiao do vivo.

    Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997.

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    2. Memrias de Formao

    Proessor(a), o contedo principal deste tema reere-se s suas narrativas de

    ormao. O exerccio auto-refexivo sobre as prprias trajetrias de orma-

    o, bem como sobre reerencias e aprendizados conquistados na condio de

    educadores que so mediadores do conhecimento em artes valorizado para

    construo da conscincia sobre necessidades de ormao e sobre o apereioa-

    mento prossional que decorre do apereioamento intelectual e esttico.

    Alm deste contedo principal seu discurso sobre sua ormao registram-se tambm reerncias tericas que undamentam opo por ocar memrias

    de ormao como objeto de refexo.

    No desenvolvimento do tema em questo, voc entrar em contato com suas

    trajetrias enquanto seres capazes de aprender com a experincia, pensar a ex-

    perincia e criar novas ormas de ser prossional e educador no campo de artes.

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    2.1. Narrativas sobre experincias de ormao

    A mediao ormulada por Josso como condio para o caminhar para si est localiada na

    linguagem, por meio do processo de narrarse autobiogracamente. As narrativas biogrcasso ormas que ajudam a compreender o que oi armazenado no espritono processo de histria

    de vida dos educadores.A narrativa sobre a prpria experincia um recurso metodolgico rtil para a compreen

    so de memrias de experincias de educadores. Frtil porque potencialia o entendimento

    e as implicaes de determinadas prticas de trabalho, por parte das pessoas envolvidas nos

    processos de ormao, bem como por parte do sujeito narrador.

    Aquele que narra no ca indierente a sua prpria narrativa. Colocase em contato com

    sua singularidade e mirada interior e ao alo toma para si o contedo de sua experincia

    para questionla e assumir uma posio de aprendi. Portanto, a narrativa se apresenta como

    um movimento de investigaoormao, nas questes que permeiam a pessoa, o prossional

    e sua vivncia sciocultural.

    A narrativa provoca perguntas, espantos, hipteses e inquietaes duradouras que podem,

    em outros momentos, serem revisitadas.

    Elas se assemelham a essas sementes de trigo que durante milhares de

    anos caram echadas hermticamente nas cmaras das pirmides e que

    conservam at hoje suas oras germinativas (BENJAMIN, 1993).

    As narrativas am conexes com outras prticas, com textos tericos, por isso elas se con

    stituem em ormas artesanais de comunicao. Escavam proundidades e traem tona as

    situaes undamentais da condio humana, sejam elas grandiosas ou mesquinhas.

    As narrativas so deslocamentos, pois com elas podemos gerar novas percepes dos out

    ros, de ns mesmos e do modo como vivemos. As narrativas nos permitem viajar para lugares

    especialmente preparados, para territrios desconhecidos ou pouco conhecidos, descobrindo

    novas paisagens e novos modos de habitar. raem tona o desejo humano pelo que ainda no

    se sabe, no se conhece, no se viu.

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    Por mais que tenhamos refetido, lido, visto, vivido, estar rente a uma narrativa muito

    dierente, pois ela nos convida a expedies instigantes. Quais as erramentas undamentais

    do nosso narrador nessa expedio? As erramentas so a palavra, a escrita e a experincia. As

    palavras constituem o nosso mundo, so sinais, smbolos, produem mensagens e alegorias. alcomo nos di Manguel:

    As imagens que ormam nosso mundo so smbolos, mensagens e ale

    gorias. Ou talve sejam apenas presenas vaias que completamos com o

    nosso desejo, experincia, questionamento e remorso. Qualquer que seja o

    caso, as imagens, assim como as palavras so a matria de que somos eitos

    (MANGUEL, 2008).

    Mestres e aprendies esto numa relao de palavra dividida ou partilhada o logos a dois.

    Quando o escritor escreve, o mistrio da palavra que se realia o verbo

    que se a carne e habita entre ns. Como o tecelo que tece pelo avesso, o

    escritor se rodeia e nos rodeia de sinais para que, sem que saibamos onde

    e quando, o sentido se manieste, como o desenho da tapearia, urdidura

    incompreensvel de os. oda arte segredo e mistrio (CHAU, 1982).

    As palavras escritas nas vivncias cotidianas do acesso s explicitaes e expectativas, re

    sultantes de atividades, contextos, encontros, que oram ormadores e/ou transormadores de

    atitudes, de reerenciais tericos e at mesmo de posicionamentos e decises. As palavras

    reinventam o que j oi vivido. Essa construo exige certa disponibilidade para rever e reor

    mular a escrita num processo permanente de tomada de conscincia, para situar os desaos,

    conrmar ideias, abandonar conceitos, conrontar opinies e argumentos. A autoria do texto

    documenta o dilogo entre o pensar e o escrever. E, ao alo, evidencia os componentes dasubjetividade e os ocos de sua construo. Pensar garimpar ideias e compreenses de uma

    experincia obscura que se oerece para ns.

    Escrever tomar posse de um recorte da realidade e deixar marcas. o exerccio ativo de

    movimentar o pensamento.

    O processo da escrita resgata memrias de vrios tempos. Permite que as palavras ganhem

    orma, nome e realidade.

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    E o narrador? Nas palavras de Walter Benjamin:

    O narrador trabalha a matria prima da experincia a sua e a dos out

    ros transormandoa num produto slido e nico (...) Recorre ao acervo

    de toda uma vida (que no inclui apenas a prpria experincia, mas em

    grande parte a experincia alheia). O narrador assimila sua substncia

    mais ntima aquilo que sabe por ouvir dier (BENJAMIN, 1993).

    Imprimese na narrativa a marca do narrador como a pincelada do pintor na tela e o olhar

    do registrador na otograa. O narrador utilia ragmentos e resduos de acontecimentos, o

    que lhe toca, o que guarda em seu repertrio e com ele cria percursos de dier sobre o seu aer.

    Nesse processo de registrar as experincias acrescenta elementos de suas reerncias prticas,tericas e culturais.

    A escritura pode ser comparada aos rios que cortam a terra e se inscrevem

    sobre o seio dos solos... se os rios so escrituras, navegar sobre eles, com

    eles ou contra eles, escritura dentro da escritura. Os rios so escritas

    mveis, a gua que corre sobre a terra, rasgandoa sobre a mata de madeira

    como a tinta que corre sobre o papel, desenhando marcas de sinuosidades,

    deixando a sombra do gesto (MAUCk, 2003).

    Aquele que escreve marca sulcos, deixa cicatries. O escritor constri o texto com o que

    tem, problematia a partir de seu acervo e pesquisa para complementar a narrativa. Abriga

    refexes epistemolgicas e ormadoras das prticas de escrita e narrativa de si, assinala pos

    sibilidades de transormao advindas da experincia e tenta compreender sentidos impressos

    em suas vivncias.

    O narrador, ao inventariar experincias, expressa aquilo que lhe toca e, assim, alimenta a sua

    refexo ormadora atribuindo sentido ao que aprendeu. Aprende com sua viagem memorial a

    tomar distncia das situaes e dos acontecimentos para tornarse leitor de sua prpria escrita

    e potencialiar suas anlises e compreenses.

    Ao transormar a experincia em palavras, a primeira diculdade do narrador esbarra na

    conscincia de que impossvel narrar tudo, narrar a inteirea da experincia. Narrar sempre

    uma deciso que seleciona, prioria, escolhe o que contar. Justamente nesta escolha, neste re

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    corte e no esoro terico por ele exigido reside o potencial refexivo da narrativa. ratase de

    um trabalho que pe em jogo memria e decises sobre o memorvel. ratase de um trabalho

    do pensar, de quem pensa e questiona o vivido.

    2.2. Como o proessor aprende?

    Para iniciar este tpico, vamos registrar algumas reerencias sobre o aprendiado dos adul

    tos. A Andragogia oi denida por Malcolm knowles (19131997), proessor e pesquisador

    norteamericano das Universidades de Chicago e Aransas, como campo de estudos voltados

    para investigar aprendiados de adultos e para ormular princpios que pudessem ajudar o

    adulto a aprender. Ciente de que o aprendiado do adulto no diere substancialmente doaprendiado de crianas, knowles chegou a indicar que os dois conceitos ormariam um con

    tinuum entre educao centrada no adulto e educao centrada na criana. Identicou, pelo

    menos, cinco pressupostoschave para a educao de adultos e que mais tarde transormaram

    se em reerncias de pesquisas. Um primeiro pressuposto reerese ao ato de que os adultos

    so motivados a aprender na medida em que experimentam que suas necessidades e interesses

    podem ser satiseitos. Por isto estes so os pontos mais apropriados para se iniciar a organia

    o das atividades de aprendiagem do adulto.

    O segundo pressuposto arma que a orientao de aprendiagem do adulto est centrada

    na vida; por isto as unidades apropriadas para se organiar seu programa de aprendiagem so

    situaes de vida e no apenas disciplinas clssicas sobre contedos cientcos e loscos.

    Um terceiro pressuposto ou princpio da teoria de knowles tra que a experincia a mais

    rica onte para o adulto aprender; por isto, o centro da metodologia da educao do adulto a

    anlise das experincias.

    O quarto pressuposto di que adultos tambm tm necessidade de serem liderados por me

    diadores; por isto, o papel do proessor engajarse no processo de mtua investigao com os

    alunos e no apenas transmitirlhes inormaes e depois avalilos sem que possam analisar e

    problematiar inormaes.

    E nalmente, as dierenas individuais entre pessoas crescem com a idade; por isto, a educa

    o de adultos deve considerar as dierenas de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendiagem.

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    Podese armar que os pressupostos deknowles no dierem undamentalmente das abor

    dagens da Psicologia cognitiva sobre aprendiados das crianas. Destacamos porem que, se no

    caso das crianas, h grande valoriao do universo cultural e dos saberes da experincia para o

    dilogo com o saber escolar, no caso dos adultos esta valoriao se intensica pelo simples atoque o adulto conta com amplo repertrio de experincias e saberes em dierentes campos do real.

    A partir daqui, ocaremos como o proessor aprende.

    O grupo de pesquisas liderado pela proa. Dra. Vera Placco da PUC de SP pesquisou e

    publicou sua contribuio em 2006, apresentando condies para o aprendiado do proessor.

    Segundo esta investigao, os proessores vivem os seguintes processos para elaborar aprendiados: processos em torno da subjetividade, processos em torno da memria e processos

    de metacognio. odos estes processos so mediados pela intencionalidade de quem aprende

    para se reverterem em aprendiado de ato.

    Subjetividade entendida como caracterstica prpria de cada um em permanente con

    stituio, construda nas relaes sociais, que permite pessoa um modo prprio de agir, de

    pensar, de ser no mundo, modo que a a atribuir signicados e sentidos singulares s situaes

    vividas. (PLACCO; SOUzA, 2006, p. 43). A reerncia para compreenso sobre processo de signicao e sentido est em Vigotsi, especicamente em sua obra Pensamento e Linguagem.

    Para Vigotsi, o signicado de cada palavra uma generaliao ou um conceito e como tal

    atividade do pensamento, pela palavra que signica temos acesso ao pensamento.

    A relao entre o pensamento e a palavra um movimento contnuo de vaivm do pensa

    mento para a palavra e da palavra para o pensamento. A partir da contribuio do lingista

    rancs Jean Paulham (1884/1968), Vigotsi compreende o signicado como o aspecto estveldo pensamento, como o aspecto passvel de dicionariao que resiste aos sentidos. So os

    conceitos produidos em todas as reas do conhecimento e tambm aqueles produidos no

    cotidiano que unicam entendimentos, por isto tem carter mais objetivo. Compreende que os

    signicados ganham sentidos em contextos especcos. O sentido a soma de todos os even

    tos psicolgicos que a palavra desperta em nossa conscincia. todo complexo e dinmico

    que relaciona imagens, emoes, processos inconscientes e undase na subjetividade, no modo

    particular de pensar e alar.

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    Memria uno e recurso para se estar no mundo, com o mundo, entrelaando apren

    diados. uno mental aliada percepo e ateno que permite a construo de repertrio

    continente de signos, signicados, sentidos, nossas histrias. Vigotsi (1999) lembra que a

    memria uno psicolgica complexa que permite a aprendiagem.

    A memria a e rea, aasta e aproxima. Utilia objetos, indcios, ima

    gens, palavras como verdadeiros passaportes para cenrios de praer, de

    alvio e de dor, traidos para situao atual. Ao interioriar estmulos ex

    ternos, por meio da mediao de carter simblico, a memria se amplia

    signicativamente em relao a contedos culturais e emocionais. (Placco;

    Soua, 2006).

    Metacognio processo pelo qual se torna consciente o aprendiado. Quando iniciamos

    este tpico com perguntas sobre como os proessores aprendem, propusemos um exerccio de

    metacognio.

    Metacognio um conceito proposto porJohn Hurley Flavell, psiclogo e proessor norte

    americano nascido em 1928. Dedicouse psicologia cognitiva, introduindo a teoria de Piaget

    na psicologia americana. Os seus estudos ocaram a compreenso da criana nos desempenhosde papis, a sua capacidade de comunicao e o seu desenvolvimento da memria. John Flavell

    desenvolveu teoria sobre a metacognio e metaconscincia, que consiste na compreenso da

    criana relativamente ao uncionamento do pensamento humano e ao seu processo de refexo.

    Flavell (1999) reere se cognio sobre a cognio, entendendose por cognio mais o

    processo de conhecimento do que os conhecimentos resultantes desse processo. Assim, meta

    cognio a atividade mental por meio da qual outros processos mentais se tornam alvo de

    refexo e o sujeito tornase um espectador de seus prprios modos de pensar e das estratgias

    que emprega para resolver problemas, buscando identicar como aprimorlos.

    2.3. Mestres e reerncias gerais para a ormao

    No desenvolvimento do segundo tema, at o momento, valoriouse conscincias sobre o

    sujeito que aprende em movimento de olhar para si mesmo perguntandose sobre experin

    cias consideradas mais relevantes e modos de aprender do proessor. Neste terceiro tpico,

    propesse movimento de sada de si e perguntase com quem aprendemos, onde aprendemos.

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    Perguntase por reerncias externas que nos mobiliam como educadores a procurarmos mel

    hores lugares para aproximar alunos de conhecimentos em arte.

    Se concordamos com Rousseau que, em sua obra O Emilio ou da Educao, escrita em1762, arma que aprendemos com a naturea, com os outros homens e com as coisas (2004),

    temos trs mbitos ou contextos relacionais para aprender.

    A naturea nos oerece o ritmo vital e os desaos de nossa condio biolgica. Com ela

    aprendemos sobre ciclos de vida e de morte, de tempo e espao, de reproduo, de possibili

    dades e de limites de um corpo.

    A tradio losca conta com vasta literatura a nos alertas sobre esta insero. DestacamosDescartes 1596 1650) e Pascal (1623 1662):

    E, primeiramente, no h dvida de que tudo o que a naturea me ensi

    na contm alguma verdade. (...) Ora, nada h que esta naturea me ensine

    mais expressivamente, nem mais sensivelmente do que o ato de que tenho

    um corpo que est mal disposto, quando sinto dor, que tem necessidade de

    comer ou de beber, quando nutro sentimentos de ome e de sede, etc. E,

    portanto, no devo, de modo algum, duvidar que haja nisso alguma verdade.

    A naturea me ensina tambm por estes sentimentos de dor, ome, sede,

    etc. que no somente estou alojado em meu corpo, como um piloto em seu

    navio, mas que, alm disso, lhe estou conjugado muito estreitamente e de

    tal modo conundido e misturado, que componho com ele um nico todo.

    (...)

    Alm disso, a naturea me ensina que muitos outros corpos existem emtorno do meu, entre os quais devo procurar uns e ugir de outros (DES-

    CARES, 1979).

    A primeira coisa que se oerece ao homem ao contemplarse a si prprio,

    seu corpo, isto , certa parcela de matria que lhe peculiar. Mas, para

    compreender o que ela representa a xla dentro de seus justos limites,

    precisa comparla a tudo o que se encontra acima ou abaixo dela. No

    se atenha, pois, a olhar para os objetos que o cercam, simplesmente, mas

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    contemple a naturea inteira na sua alta e plena majestade. Considere esta

    brilhante lu colocada acima dele como uma lmpada eterna para ilumi

    nar o universo, e que a erra lhe aparea como um ponto na rbita ampla

    deste astro e maravilhese de ver que essa amplitude no passa de umponto insignicante na rota dos outros astros que se espalham pelo rma

    mento. E se nossa vista a se detm, que nossa imaginao no pare; mais

    rapidamente se cansar ela de conceber, que a naturea de revelar. odo

    esse mundo visvel apenas um trao perceptvel na amplido da naturea,

    que nem sequer nos dado a conhecer de um modo vago. Por mais que

    ampliemos as nossas concepes e as projetemos alm de espaos imag

    inveis, concebemos to somente tomos em comparao com a realidadedas coisas. (...) Anal que o homem dentro da naturea? Nada, em rela

    o ao innito; tudo, em relao ao nada; um ponto intermedirio entre o

    tudo e o nada. Innitamente incapa de compreender os extremos, tanto

    o m das coisas quanto o seu princpio permanecem ocultos num segredo

    impenetrvel, e lhe igualmente impossvel ver o nada de onde saiu e o

    innito que o envolve (PASCAL, 2001).

    Merecem destaque nos ragmentos dos dois autores:

    Afrmao enftca de que somos um corpo;

    imagem de que a natureza nos ensna;

    ida de que cono com outros corpos;

    ida de que fujo de alguns e de outros me aproxmo;

    ida de que no emos, no compreendemos nossos extremos: nem fm, nem prncpo.

    Se Descartes tra a viso de confito entre os homens, Pascal tra a idia de nossa limitao

    rente naturea. Duas condies bsicas da existncia humana que precisam ser enrentadas

    para compreenso sobre o ser humano. Qualquer projeto educacional com vista preservao

    da naturea, e com esta a preservao da humanidade, requer conscientiao sobre nossos

    limites e nossas necessidades enquanto seres corpreos que at o presente momento nada

    sabem sobre seu incio, seu m e que vivem o dilema, ainda, entre preservase ou destruirse

    mutuamente.

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    Retornando a Rousseau, alm de aprendermos com a naturea, aprendemos com os outros

    homens. Claro que um pensamento mais contemporneo, que no dicotomia homem e na

    turea, entrelaa estes dois mbitos de aprendiados. Porm, h um valor refexivo e didtico

    em separarmos os dois. Neste momento, o que interesse que na categoria outros homenslocaliamos autores, alunos, pessoas de nossos aetos pessoais e colegas de prosso. Localia

    mos, tambm, mestres presenciais em situao mais ormal, como nossos proessores, por ex

    emplo. Localiamos os meios de comunicao e cada ser humano que episodicamente encon

    tramos e pode nos desaar a pensar e buscar ormas de entendimento ampliado da realidade.

    Cada agrupamento ou mesmo cada pessoa est circunscrita a contextos scio culturais, o

    que resulta em uma rede na qual os conhecimentos esto ligados por pontos que se movem acada toque e a cada novo posicionamento da malha: o toque em um dos pontos implica em

    movimento dos demais. O corte em alguma de suas partes provoca uma lacuna a ser costu

    rada, a ser restabelecida. Acompanha a metora de conhecimento como rede a noo de que

    nenhum n univocamente subordinado a outro ou outros, sendo sempre possvel diversos

    percursos alternativos para os trajetos entre os dierentes pontos das redes.

    Esta dinmica de percursos entre os pontos avoreceria a no permanncia em apenas al

    guns, nem a supervaloriao desta ou daquela teoria, deste ou daquele conceito. Esta idia demalha de saberes que se move como um todo e em suas partes parece adequada por sugerir um

    determinado tipo de relao, no hierarquiada, entre os diversos conhecimentos necessrios e

    tambm por sugerir algo que se move e muda de orma para colocar em relao conhecimento

    e realidade.

    A noo de conhecimento como rede amplia os horiontes de um conhecimento estrita

    mente enciclopdico/cientco e permite uma aproximao com a noo de saber que aliado

    da conduta na vida. Que um dilogo entre conhecimento cientco e saberes do senso co

    mum. Que oportunidade de relaes entre saberes necessrios em dado momento e dado

    espao. No corpo desta rede inserese o terceiro mbito citado por Rousseau: o aprendiado

    com as coisas. As coisas criadas pelos homens por meio da arte, da tcnica, da cincia.

    Natureas biolgicas e culturais compondo uma s rede na qual/com a qual se caminha

    para si e para o mundo.

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    Belo Horionte: Autntica, 2005.

    ROUSSEAU, Jean Jacques. Emlio ou da educao. So Paulo: Martins Fontes, 2004.

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    3. Concepes Fundamentais para oProessor de Arte

    rs campos conceituais conguramse como centrais para a elaborao dos saberes dos

    proessores de artes. O primeiro e mais amplo reerese ao campo da cultura. Este campo ser

    trabalhado especialmente no mdulo II, sendo apenas introduido neste momento como um

    dos conceitos centrais para a prtica do proessor de artes. Discutir representaes de senso

    comum e conceitos tericos sobre cultura constitui um dos compromissos iniciais para osproessores de artes, uma ve que toda produo artstica est necessariamente articulada a

    um contexto cultural historicamente situado. O segundo conceito reerese ao termo arte pro

    priamente dito. Como concebem arte os proessores em ormao? Elaborar saberes sobre a

    historicidade deste termo e posicionarse em processo aproximativo do que arte exigncia

    sem a qual os proessores correm o risco de reproduir vises superciais ou mesmo aprisio

    nadoras da experincia artstica junto aos seus estudantes. Compreender a historicidade das

    palavras cultura e arte, deslocandoas do singular para o plural culturas e artes ponto de

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    partida undamental, portanto, em um curso de especialiao cujo objetivo preparar dire

    tamente os proessores para implementao de poltica curricular. odo currculo escolar est

    embasado em viso ou vises de cultura e, no caso deste curso, em vises sobre arte, contedo

    privilegiado de ensino dos proessores participantes. O terceiro campo de saberes relevantepara a atuao dos proessores alia as perguntas: qual conceito de cultura queremos construir

    junto aos jovens da escola bsica no Brasil atual? Os saberes que se articulam para elaborao

    das respostas a estas perguntas compem o conjunto de utopias dos proessores no que di

    respeito sua prosso; constituem o conjunto de argumentos em deesa da prossionaliao

    e do lugar da arte no currculo da educao bsica. Este terceiro tema est subdividido em trs

    tpicos: concepes sobre cultura; concepes sobre arte e utopias que cercam o ensino de arte:

    intenes e projetos. Vamos a eles.

    3.1. Concepes sobre cultura: refexo introdutria

    Algumas representaes de senso comum sobre cultura

    Eu no tenho cultra. Angela tem muita cultra.

    O educador precisapromover o acesso cultra.

    As periferias das cidadesbrasileiras no apresentam vida cultral.

    Os italianos so mais cultosque os moambicanos.

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    fcha sumrio

    Diante das representaes de senso comum, podese perguntar:

    Como foram elaboradas?

    Quas os pressupostos que as motam?

    Um breve panorama histrico sobre dierentes compreenses sobre cultura ajuda a entender

    pressupostos presentes na viso de cultura que comparece em interpretaes do senso comum.

    Vises hegemnicas sobre cultura: uma breve introduo

    Historicamente, a palavra cultura assumiu dierentes conotaes. Na antiguidade grega,

    era associada palavra Paidia. Originalmente, esta palavra signicava educao das crianase evoluiu, a partir do sculo V a. C., ainda na Grcia antiga, para educao dos homens, doscidados. Era marcada por ideal de educao que aliava preparao tica para ser governante epara ser sdito, cidado. Alm do preparo na lngua, na msica e na ginstica, a paidea incluao preparo para exerccio da cidadania, para tomar decises na polis. A partir do sculo VI a.C.passa a designar o ideal de cultura que se amplia para toda a Grcia: o homem civiliado, capade conviver na polis.

    Na antiguidade romana, a idia de cultura era sintetiada na palavra humanitas, cujo ideal

    era tornar o homem civiliado por meio do conhecimento de arte e losoa romanas. A artee a losoa romanas oram marcadas pela cultura grega, uma ve que os romanos dominaramtambm a Grcia, porm, a partir de Ccero, (106 a.C. 43 a.C.), lsoo, orador, escritor, epoltico romano, ormulase o conceito de humanitas para distinguir a cultura romana das demais com empenho de se caracteriar o humano como romano e para universaliar os valoresculturais de Roma. Culto e civiliado assim o homem que ala grego e latim, que conhecee vivencia as leis denidas pelo direito romano, que conhece os textos literrios e loscosproduidos em Roma.

    Com a decadncia do imprio romano durante os sculos III, IV e V d. C, ocorre concomitantemente a consolidao da Igreja Catlica no ocidente europeu. Em 323 o imperadorConstantino proessa publicamente sua converso ao Cristianismo. Em 325, realiase o Conclio de Nicia que xa os principais dogmas da e condena as primeiras heresias. Podeseconsiderlo como o ato de undao da Igreja Catlica. Em 380, por decreto do imperador

    eodsio, o catolicismo tornase religio ocial do estado romano, j em decadncia. Ao nal do sculo IV, j se pode contar com uma Igreja Catlica organiada e ocial que deter omonoplio da cultura em todo o perodo medieval, traduindo os lsoos gregos e romanos e

    disseminando valores de reerncia para denir o homem civiliado ou culto.

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    O perodo medieval europeu marcado por viso de cultura que se expande para os territrios conquistados em Amrica e rica associado ao processo de dominao social do mercantilismo. Culto aquele que domina o latim, que se converteu ao cristianismo catlico e queidentica a Europa como espao de produo da civiliao e o pensamento teocntrico como

    critrio de verdade: Deus e Cristo so ontes explicadoras do mundo e servem de reernciapara ormao humana.

    O perodo renascentista outro momento marcado por viso de cultura que se impe como hegemnica a partir do mundo europeu. Renascimento corresponde a umgrande movimento de mudanas culturais, vivenciado na Europa Ocidental entre os sculos XIV e XVI, caracteriado pela retomada dos valores da cultura grecoromana, com nase em concepo antropocntrica, ormulada como crtica viso teocntrica medieval.

    Da a deesa da rao humana, postulando o homem como critrio de verdade e explicaodo mundo. O mundo no est explicado por Deus e precisa ser conhecido e explicado peloscritrios da rao humana. A idia de que cada um responsvel pela conduo de sua vida,a possibilidade de aer opes e de maniestarse sobre diversos assuntos acentuaram gradualmente um individualismo. Outro valor importante para o pensamento renascentista ouniversalismo, segundo o qual o homem deve desenvolver todas as reas do saber. No decorrerdo sculo XVI a cultura renascentista expandiuse para outros pases da Europa Ocidental epara que isso ocorresse contriburam as guerras e invases vividas pela Itlia. As ocupaesrancesa e espanhola determinaram um conhecimento melhor sobre as obras renascentistase a expanso em direo a outros pases, cada um adaptandoo segundo suas peculiaridades,numa poca de ormao do absolutismo e de incio do movimento de Reorma Religiosa.O sculo XVI oi marcado pelo mercantilismo e grandes navegaes dos europeus em buscade novos mercados e territrios na Amrica e rica, processo que resultou em conronto cultural e imposio violenta dos valores europeus aos americanos e aricanos.

    Herdeiro do Renascimento e do racionalismo que se impe a partir do sculo XVII, outromovimento que serve como paradigma cultural undouse no sculo XVIII e identicado

    como iluminismo. O conjunto de descobertas cientcas empreendidas no perodo que seestende do sculo XVI at o sculo XVII levou convico de que os esoros da rao soresponsveis por progresso histrico da humanidade. Formulase a idia de humanidade comointegrao de todos os povos, acima de dierenas tnicas, temporais e espaciais. Os escritos de JeanJacques Rousseau e dos enciclopedistas ranceses oram os mais divulgados domovimento e Francis Bacon, Descartes, Newton e Loce so alguns dos lsoos e cientistasapontados como precursores. Para todos os iluministas a rao humana tem a possibilidade dedissipar a ignorncia, o erro e iluminar o caminho da cincia que pode conduir humanidadeao progresso e ao bem estar. Os ideais iluministas so associados a uma crtica racional propcia investigao cientca e tecnolgica, ao humanitarismo e aos direitos universais do homem.

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    O iluminismo propagou mentalidade crescentemente orientada para a valoriao da cincia

    como campo de conhecimento exclusivamente autoriado para categoriar o mundo e oer

    ecer reerncias de leitura da realidade, para a crena na possibilidade de dominar a naturea e

    de colocla a servio do homem. A viso de cultura que se unda nestes pressupostos marcada por hierarquiao dos saberes, com os conhecimentos losco e cientco assumindo

    lugares privilegiados em relao aos conhecimentos do senso comum, elaborados no cotidiano

    dos cidados. Com o iluminismo, temse a radicaliao da idia de que cultura patrimnio

    artstico, cientco, losco que exerce papel civiliador para o mundo a partir da cultura eu

    ropia, entendida como depositria das expresses mais avanadas deste mesmo patrimnio.

    Portanto, a cultura europia congurase como aquela que merece e deve ser universaliada

    para realiar sua misso civiliatria.A viso contempornea de cultura contrapese justamente a este processo de universal

    iao cultural com valoriao e imposio de uma determinada cultura sobre as demais.A

    partir das investigaes realiadas nos campos da sociologia e antropologia, possvel uma

    crtica viso iluminista e eurocntrica de cultura. Atualmente, podese armar que cultura

    conjunto dos modos de vida criados, adquiridos e transmitidos de uma gerao para outra, en

    tre os membros de determinada sociedade. ormao coletiva e annima de um grupo social

    e nesta perspectiva todos as sociedades humanas tm cultura e so dotadas de valor existencialno sentido de eetivamente abrigarem as relaes que permitem modos de vida, solues para

    a vida e criao do viver. Se considerarmos a viso de tericos como Stuart Hall e Raymond

    Willians que conceberam em seus trabalhos a cultura como um lugar de dilogo e confito

    entre culturas variadas e associadas a estratos particulares da sociedade, e no apenas como

    um espao simblico de dominao e reproduo das idias dominantes, temos um panorama

    rtil para pensarmos o encontro entre culturas.

    Michel Certeau, lsoo e jesuta rancs (19251986), ao analisar a historicidade da palavra cultura, arma que vrios so seus empregos:

    Modelo de omem: um omem culto

    Patrmno de obras a serem alorzadas

    imagem prpra a certos meos: cultura rural

    Quadro de deologas, mtos, comportamentos e nsttues

    Enquanto dstno em relao ao nato: oposo socedade e natureza

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    endo como undamento a viso de cultura deendida por Certeau, podese armar que a

    cultura humana maior que um tipo de vida: abarca diversos tipos de vida. Ele arma: Pri

    meira impresso, mal estar constante: a cultura fexvel (Certeau, p 233), chamando aten

    o para historicidade da experincia cultural, cada tempo e cada espao abarcam movimentode criao e recriao permanente dos modos de vida em sociedade. Diante de cada dierente

    cultura, vlido perguntar:

    Por sua gnese, sua trajetra

    Por suas possbldades de dlogos com outras culturas e outros contextos

    Por seus momentos e pelos confltos que mpelem seus momentos

    3.2. Concepes sobre arte: refexo introdutriaO contedo apresentado neste tpico apenas um recorte introdutrio para motivar o

    levantamento de suas representaes, proessor(a), sobre artes. A anlise aproundada sobredierentes concepes de arte abarca a disciplina oerecida tambm neste primeiro mdulo eabarca a totalidade deste curso de especialiao.

    Em dierentes situaes de escuta de proessores e estudantes, em experincias de pesquisae de ormao, encontramos as seguintes armaes:

    1. Eu no levo jeito para are.

    2. Grande pare da populaono tem acesso are.

    3. Na aula de are, pode-se descontair eviver um momento mais diverido.

    4. A are popular menos elaboradaque a are erdita.

    5. Na Bienal de ares visuais,muitas obras no podem serconsideradas como are.

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    Sem a pretenso de exibir uma denio nica e restrita sobre o termo arte, vamos realiar

    o esoro de uma aproximao conceitual com o auxlio de autores. O objetivo central deste

    esoro undase na necessidade de superar vises preconceituosas, perpassadas por imagens

    ideolgicas ancoradas no senso comum que possam prejudicar a ormulao de objetivos associados s prticas do ensino de arte. ratase, pois, muito mais de um esoro de desconstruo

    de signicaes atribudas arte do que de uma tentativa de denio.

    A Filosoa da Arte oerece um panorama geral que pode comparecer como inormao

    neste incio de refexo.

    Destacamos dois grupos de teorias: as teorias essencialistas e as teorias da indenibilidade da arte.

    As eorias Essencialistas deendem a existncia de propriedades essenciais comuns a todas

    as obras de arte e que s podem ser encontradas nas obras de arte. A obra de arte teria uma

    objetividade capa de impor critrios universais para sua interpretao e valorao.

    As eorias da Indenibilidade da Arte ou teorias crticas ao essencialismo negam este

    carter objetivo e universal da obra de arte. rs vertentes destacamse nesta abordagem:

    1. A teoria do conceito aberto de Morris Weit (19161981), proessor norte americano daUniversidade de Ohio segundo o qual echar o conceito de arte intil, uma ve que isso seria

    excluir a prpria noo de criatividade na arte e na busca de conhecimento sobre arte. Para

    este autor, cada poca, cada movimento artstico, cada losoa da arte, tentou estabelecer o seu

    ideal que oi contestado por uma nova teoria, alm disso, as teoria no chegam a uma viso

    denitiva sobre arte, porque nenhuma obra de arte tem propriedades necessrias e sucientes

    capaes de silenciar interpretaes que neguem estas mesmas propriedades. Di este autor:

    Pretendo mostrar que a insucincia das teorias no primariamente ocasionada por nenhuma diculdade legtima originada, por exemplo, pela

    vasta complexidade das artes, a qual poderia ser corrigida por uma explo

    rao e investigao complementares. As suas insucincias bsicas resi

    dem antes numa m compreenso undamental da arte. A teoria esttica

    toda ela est errada em princpio ao pensar que uma teoria correta

    possvel uma ve que adultera radicalmente a lgica do conceito de arte.

    alsa a sua principal contenda de que a arte susceptvel de uma denio

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    real ou de outro tipo de denio verdadeira. A sua tentativa de descobrir

    as propriedades necessrias e sucientes da arte logicamente ilegtima

    pela simples rao de que nunca aparecer um tal conjunto de proprie

    dades nem, conseqentemente, a sua rmula. A arte, tal como a lgica doconceito mostra, no tem nenhum conjunto de propriedades necessrias

    e sucientes; logo, uma teoria acerca dela logicamente impossvel e no

    apenas actualmente impossvel. A teoria esttica tenta denir o que no

    pode ser denido no sentido requerido (WEIz, 1956).

    2. A teoria institucional de George Dicie (nasceu em 1926, EUA) proessor da Universi

    dade de Illinois segundo a qual o mundo da arte, as escolas, as sociedades diem o que artehistoricamente, no existindo uma denio universal, vlida para todos os contextos.

    3. A teoria Simblica de Goodman (1906 1998), proessor de Harvard.

    Goodman (1995) no pergunta o que arte, mas quando h arte. arte quando provoca

    sensibilidade, conhecimento e questionamento de padres estticos. Para Goodman todos os

    objetos podem uncionar como smbolos estticos e arte assume vrios modos de ser, assim

    como o mundo. No h uma nica denio de arte porque muitas descries podem dier aarte. Di:

    Desde que o mstico est preocupado com o modo como o mundo e

    ele sabe que o modo no pode ser expresso, sua ltima resposta questo

    sobre o modo como o mundo deve ser, como ele reconhece, o silncio.

    Como eu estou mais preocupado com os modos como o mundo , minha

    resposta deve ser construir uma ou mais descries. A resposta questo

    Qual o modo como o mundo ? Quais so os modos como o mundo ?no o emudecimento, mas uma tagarelice (GOODMAN, 1972).

    Acrescentamos ainda nesta refexo introdutria sobre arte, a contribuio de mais dois au

    tores perlados com uma viso contempornea. So eles Luigi Pareyson e Imanol Aguirre Ar

    riaga em seus respectivos textos: Os problemas da esttica(2001) e Contenidos Y Enoques

    Metodologicos De La Educacion Artstica.(2007)

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    Luigi Pareyson lsoo italiano (19181991) com relevante produo em Esttica. Para

    ele, mais importante do que apresentar uma denio de arte compreender que: arte con

    struo, conhecimento e expresso.

    Construo, pois a palavra latina arsgera em portugus arte e ambas esto na rai do verbo

    articular: unir partes de um todo, construir um todo. Arte produo que exige tcnica, mas

    no se redu tcnica. Supe trabalho de transormao e criao e no de mera cpia do real,

    pois mesmo as cpias recriam, transormam matrias e ormas. Arte aer que contempla

    regras de linguagem, tcnicas de criao para superao de limites, em dilogo com realidade

    para criar outras realidades.

    Arte conhecimento, pois o termo alemo para arte kunst que se aproxima do termo ingls know, do prprio latim cognosco e do grego gignosco. So termos derivados da rai gno

    que signica saber terico ou prtico. Arte tambm expresso, pois criaormas para dier e

    ormas para exterioriar emoes e conceitos. Desta orma, evitando enclausurar a arte em um

    nico conceito, o autor deende que imitar ou transormar o real, criando ormas (construo)

    e signicados que geram sentidos e provocam perguntas (conhecimento), bem como criar or

    mas de dier e externar emoes e conhecimentos (expresso) so atributos do aer artstico.

    Imanol Aguirre Arriaga, proessor da Universidade Pblica de Navarra, Espanha, tambm

    colaborador do Instituto de Artes da UNESP, apresenta duas armaes para uma aproxi

    mao ao entendimento da palavra arte: arte como relato aberto e como condensado de ex

    perincias. Como relato aberto porque construo narrativa que elege certos elementos para

    construir signicados, deixando outros de ora. Este processo seletivo sugere perguntas asso

    ciadas s raes pessoais e culturais que motivam esta ou aquela seleo, mais do que pergun

    tas sobre o que arte em termos de uma denio geral. A partir de John Dewey e Roland

    Barthes, Imanol arma sua convico de que preciso despojar a arte e suas obras da dimenso

    transcendental na qual a tradio moderna as havia colocado e compreendlas como relato

    aberto, como investigao criativa e condensado de experincias que permite compreenso da

    arte como materialiao esttica de todo um sistema de crenas, valores, ormas, projetos e

    sensibilidades individuais e coletivas. (Aguirre, 2007).

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    Diante de cada linguagem ou relato artstico assim entendido, podemos nos perguntar:

    Por sua gnese e sua trajetra;

    Por suas possbldades ntertextuas;

    Pelos questonamentos que prooca;

    Por seus contextos ou redes de alores e relaes que fazem exstr a arte, quem a cra

    e quem a nterpreta.

    3.3. Utopias que cercam o ensino de arte:intenes e projetos

    Para naliar este tema e as refexes da disciplina, convm direcionar o levantamento das

    representaes de vocs, proessores, para identicar suas expectativas relativas prosso e ao

    ensino de arte.

    Dois pressupostos motivam este direcionamento: os proessores elaboram intenes e pro

    jetos sobre sua prosso e cultivam propsitos a respeito de sua rea de conhecimento. Incluir

    tais propsitos e projetos nos debates em torno da construo curricular justicase porque as

    expectativas dos proessores so acionadas, provocadas diante das demandas institucionais quearticulam projetos mais amplos, no apenas para o sistema escolar como tambm para a socie

    dade. A eetiva experincia do currculo em ao entrelaa diversos projetos: de cada educador,

    da instituio, da sociedade e de cada estudante tambm.

    odo processo ormativo voltado para implementao curricular exige a explicitao de tais

    expectativas, ainda que inicialmente no assumam a congurao de um projeto.

    Uma palavra merece ser considerada com mais ateno quando o objetivo evidenciar intenes dos proessores: tratase da palavra projeto.

    Para uma aproximao ao conceito de projeto, convidamos o proessor Nilson Jos Macha

    do com um ragmento que associa capacidade de projetar a uma das marcas do humano.

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    A Idia De Projetode Nilson Jos Machado, proessor da Faculdade de Educao da USP

    Trecho extrado do texto Anotaes para a elaborao de uma idia de cidadania.

    A palavraprojeto costuma ser associada tanto ao trabalho do arquiteto ou do engenheiro quanto aostrabalhos acadmicos ou aos planos de ao educacional, poltica ou econmica. Em todos os casos, dois

    so os ingredientes undamentais sem os quais no se pode ter seno uma plida idia do signicado de

    tal palavra:uturo (antecipao) e abertura (no-determinao).Como esboo, desenho, guia da imaginao

    ou semente da ao, um projeto signica sempre uma antecipao, uma reerncia ao uturo. Distingue

    se, no entanto, de previso, de uma viso prospectiva ou uma conjectura, que so, muitas vees, eetiva

    mente, representaes antecipadoras, mas que no diem respeito, de modo algum, a um uturo a realiar,

    anunciando simplesmente acontecimentos susceptveis de ocorrer, ou uma previso sobre evolues pos

    sveis do real, passveis de serem consideradas na elaborao das estratgias dos atores, mas que no seconstituem necessariamente em realiaes dos mesmos. Por outro lado, uma concepo rigorosamente

    determinstica do real elimina completamente a idia de projeto; o segundo elemento constituinte de tal

    idia a permanente abertura para o novo, para o no determinado, para o universo das possibilidades,

    da imaginao, da criao. Sem dvida, no h projeto sem uturo e, simetricamente, na medida em que

    a realidade uma construo humana, podese armar tambm que no h uturo sem projeto.

    A capacidade de elaborar projetos pode ser identicada como a caracterstica mais verdadeiramente

    humana; somente o homem capa no s de projetar como tambm e primordialmente de viver

    sua prpria vida como um projeto. Marx recorreu idia de projeto para distinguir o trabalho humanoda atividade de uma aranha ou das construes de um castor. Mais recentemente, nos debates sobre o

    signicado da inteligncia e a possibilidade de uma Inteligncia Articial, novamente a capacidade de

    ter vontades, iniciativas, de criar, de cultivar sonhos ou iluses, em outras palavras, de ter projetos, tem

    sido considerada a caracterstica humana distintiva, tanto em relao aos animais como em relao s

    mquinas. Um computador, por mais sosticao que venha a ostentar, ainda que possa vir a realiar cer

    tas operaes similares s realiadas pela mente humana, jamais alimentar sonhos ou iluses, nunca ser

    capa de ter projetos pessoais. Julin MARAS sintetiou tal caracteriao com maestria ao armar:

    La realidad humana es primariamente pretensin, proyecto.

    Sem projetos, no h vida em sentido humano; excluindose o ponto de vista religioso, a morte, seno

    sica, pelo menos mental, o m de todos os projetos. Desde a idia original de religao do ser humano

    com Deus, as religies, em seus mltiplos avatares, buscam projetar uma outra vida, extraterrena, ou aer

    o homem projetarse at ela.

    No sentido acima esboado, os projetos constituem os instrumentos da realiao da liberdade indi

    vidual, os espaos da iniciativa, da maniestao da criatividade, da inveno de possibilidades.

    1. MARAS, Julin. La elicidad humana. Madrid: Alianza, 1988. p. 381.

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    A necessidade de projetar, entendida como capacidade de lanarse ao uturo como sujeito

    que prope o prprio destino deve ser pensada em dilogo com dimenso contextual e relacio

    nal de todo ser humano. Paulo Freire arma:

    No h possibilidades de pensarmos o amanh, mais prximo ou mais

    remoto, sem que nos achemos em processo permanente de emerso do

    hoje, molhados do tempo que vivemos, tocados por seus desaos, instiga

    dos por seus problemas, inseguros ante a insensate que anuncia desastres,

    tomados de justa raiva em ace das injustias proundas que expressam,

    em nveis que causam assombro, a capacidade humana de transgresso da

    tica. Ou tambm alentados por testemunhos de gratuita amorosidade

    vida, que ortalecem, em ns, a necessria, mas s vees combatida esperana (FREIRE, 1977).

    rs outras palavras podem servir de pressupostos para circunstanciar a refexo sobre im

    portncia dos proessores assumirem sua capacidade de projetar no apenas sua prosso, mas

    sua aula e sua insero social. So as palavras historicidade, pluralidade e coletividade.

    Historicidade como pressuposto undamenta construo de nossas trajetrias de ormao,

    sob a conscincia de que somos seres de mudana, retrocedendo e avanando em termos de

    nossos objetivos e aprendiados, porm em mudana constante ao responder pelos desaos

    tambm em permanente mudanas do mundo que nos abarca. empos e lugares distintos

    exigem modos de ser distintos.

    Pluralidade como pressuposto sugere ateno para os conrontos e os confitos que marcam

    nossos encontros com o outro: outra pessoa, outra cultura, outro lugar. A conscincia sobre o

    carter plural de nossa insero no mundo deve contemplar superao da idia de tolernciae aceitao do outro, do diverso. Aceitar e tolerar so termos que ainda preservam armao

    singular. Mais que aceitar, a condio para o eetivo encontro plural com o outro requer aber

    tura para aprender com este outro, com o que diere de ns mesmos. Segundo Larrosa (2003),

    trs so as possibilidades de nosso encontro com o outro: o encontro do reconhecimento, o

    encontro da apropriao e o encontro da experincia. Pelo reconhecimento, vemos a ns mes

    mos no outro. Pela apropriao, convertemos o outro em ns mesmos, dominandoo. Somente

    pelo encontro que experincia de tombamento e aprendiado com o outro somos capaes dapluralidade que ajuda a alargar nosso ser.

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    bibliografa

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    fcha sumrio

    Coletividade como pressuposto alia historicidade e pluralidade e unda produo e criao

    em relao que valoria pertencimento e reconhecimento de nossos grupos, mas se abre para

    aprender permanentemente com novos grupos. A conscincia sobre coletividade amplia ca

    pacidade projetiva para alm de interesses pessoais e pode ajudar a compreender o currculoescolar como contexto retroalimentador para o ensino de arte e para a ormao da cidadania.

    Reerncias bibliogrcas

    AGUIRRE, Imanol Arriaga. Contenidos Y Enoques Metodologicos De La Educacion

    Artstica. In: CONGRESSO DE EDUCAO ARSICA DO COMI LAINO

    AMERICANO DE EDUCAO ARAVS DA ARE, Medelln, Colmbia, 2007.

    Anais... Medelln: CLAEAE, 2007.

    BOSI, Alredo. Refexes sobre a arte. So Paulo: tica, 2003.

    CEREAU, Michel de.A cultura no plural. Campinas: Papirus, 1995.

    DICkIE, G. What is art? In: AAGAARD-MOGENSEN, Lars (Ed.). Culture and art.

    Atlantic Highlands, USA: Humanities, 1976.

    FREIRE, Paulo. Denncia, anncio, proecia, utopia e sonho. In: PIzzIANOO, A.; etal. O livro da proecia: o Brasil no terceiro milnio. Braslia: Senado Federal, 1977. (Coleo

    Senado, v. 1).

    GADOI, Moacir. Histria das idias pedaggicas. So Paulo: tica, 2002.

    GARDNER, H.As artes e o desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes Mdicas,

    1997.

    GOODMAN, Nelson. Quando arte? In: ______. Modos de azer mundos. Lisboa:

    Asa, 1995.

    GOODMAN, Nelson. O modo como o mundo . raduo Celso R. Braida e Noeli

    Ramme a partir do original Te way the world is, publicado em Problems and Projects, In

    dianpolis and New Yor, Te BobbsMerrill Company, 1972

    MARROU, HenriIrene. Educao no mundo antigo. So Paulo: Pedaggica Universitria, 1990.

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    bibliografa

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    fcha sumrio

    PAREYSON, Luigi. Os problemas da esttica. So Paulo: Martins Fontes, 2001.

    VIGOSkI, L. Psicologia da arte. So Paulo: Martins Fontes, 2001.

    WEIz, M. Te role o theory in aesthetics. In: MARGOLIS, J. (Ed.). Philosophy

    looks at arts: contemporary readings in aesthetics. Philadelphia: emple University, 1978.

    WEIz, Morris. O papel da teoria na esttica.Te Journal o Aesthetics and Art Criti-

    cism, South Hadley, USA, n. 15, p. 2735, 1956.

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    TEMAS

    bibliografa

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    fcha sumrio

    Reerncias bibliogrfcas

    1. Histrias de relaes com arte

    DEWEY, J.Arte como experincia. raduo Vera Ribeiro. So Paulo: Martins Fontes,

    2010. (Coleo todas as artes).

    FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. 12. ed. So

    Paulo: Pa e erra, 1999.

    JOSSO, M. C. Experincia de vida e ormao. So Paulo: Corte, 2004.

    LARROSA, J. Pedagogia proana: danas, piruetas e mascaradas. Belo Horionte: Au

    tntica, 2003.

    MACHADO, N. J. Sobre a idia de competncia. In: PERRENOUD, P.; HURLER,

    M. G.As competncias para ensinar no sculo XXI: a ormao dos proessores e o desao

    da avaliao. Porto Alegre: Artmed, 2002.

    MAURANA, R. H. Emoes e linguagem na educao e na poltica. Belo Horionte:

    UFMG, 1998.

    MAURANA, R. H. De mquinas e seres vivos: autopoiese a organiao do vivo.

    Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997.

    2. Memrias de Formao BARROS, Manoel de. Memrias inventadas: a inncia. So Paulo: Planeta, 2003.

    BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasi

    liense, 1993.

    CEREAU, Michel de.A inveno do cotidiano: artes de aer. Petrpolis: Voes, 2009.

    CHAU, Marilena. O que ser educador hoje?: da arte cincia: a morte do educador. In:

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    TEMAS

    bibliografa

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    3

    fcha sumrio

    BRANDO, Carlos R. (Org.). O educador: vida e morte. Rio e Janeiro: Graal, 1982.

    DAVIS, Claudia; NUNES, Marina M. R.; NUNES, Cesar A. A. Metacognio e sucesso

    escolar: articulando teoria e prtica. Cadernos de Pesquisa, So Paulo, v. 35, n. 125, p. 205230, maio/ago. 2005.

    DESCARES, Rene. Obra escolhida. raduo de GilesGaston Granger. So Paulo:

    Diuso Europia do Livro, 1979.

    Flavell, J., Miller, P. H. & Miller, S. A. Desenvolvimento cognitivo. Porto Alegre: Artes Mdi-

    cas, 1999.

    kNOWLES, Malcolm.Te adult learner: a neglected species. Houston, USA: Gul, 1984.

    LARROSA, Jorge. Linguagem e educao depois de Babel. Belo Horionte: Autntica,

    2004.

    LARROSA, Jorge. Pedagogia proana: danas, piruetas e mascaradas. Belo Horionte:

    Autntica, 2001.

    MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma histria de amor e dio. So Paulo: Cia dasLetras, 2001.

    MARINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa. Mediao cultural para proessores

    andarilhos na cultura. So Paulo: RBB, 2008.

    MAUCk, Rubens. Cadernos de viagem. So Paulo: erceiro Nome, 2003.

    PASCAL, Blaise. Pensamentos. So Paulo: Martins Fontes, 2001.

    PLACCO, Vera M. N. S; SOUzA, Vera L. . (Org.).Aprendizagem do adulto proes-

    sor. So Paulo: Loyola, 2006.

    RANCIRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lies sobre a emancipao intelectual.

    Belo Horionte: Autntica, 2005.

    ROUSSEAU, Jean Jacques. Emlio ou da educao. So Paulo: Martins Fontes, 2004.

    ARDIF, Maurice. Saberes docentes e ormao prossional. Petrpolis: Voes, 2006.

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    bibliografa

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    fcha sumrio

    VIGOSkI, L. Pensamento e linguagem. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2000.

    VIGOSkI, L.eoria e mtodo em Psicologia. So Paulo: Martins Fontes, 1999.

    3. Concepes Fundamentais para o Proessor de Arte

    AGUIRRE, Imanol Arriaga. Contenidos Y Enoques Metodologicos De La Educacion

    Artstica. In: CONGRESSO DE EDUCAO ARSICA DO COMI LAINO

    AMERICANO DE EDUCAO ARAVS DA ARE, Medelln, Colmbia, 2007.

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    dianpolis and New Yor, Te BobbsMerrill Company, 1972

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    tria, 1990.

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    looks at arts: contemporary readings in aesthetics. Philadelphia: emple University, 1978.

    WEIz, Morris. O papel da teoria na esttica.Te Journal o Aesthetics and Art Criti-

    cism, South Hadley, USA, n. 15, p. 2735, 1956.

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    Autoria:

    Luiza Helena da Silva Christov

    Ficha da Disciplina:

    Repertrio dos professoresem formao

    Fic a a iscip ina

    http://-/?-http://lattes.cnpq.br/6759357428919652http://lattes.cnpq.br/6759357428919652http://lattes.cnpq.br/6759357428919652http://-/?-
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    fcha sumrio bibliografa

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    A autora possui mestrado em Educao: Histria,

    Poltica, Sociedade pela Ponticia Universidade

    Catlica de So Paulo (1992) e doutorado em Edu-

    cao (Psicologia da Educao) pela Ponticia Uni-

    versidade Catlica de So Paulo (2001). Atualmente

    proessora assistente doutora do Instiuto de Artes

    da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita

    Filho. Realizou estgio de ps doutoramento junto

    Universidade de Barcelona sob a orientao do pro.

    dr. Jorge Larrosa Bondia. Foi assistente de pesquisa da

    proa. Dra. Bernardete Gatti, junto Fundao Car-

    los Chagas. Leciona Psicologia da Educao e Psi-

    cologia e Arte em nvel de graduao e atua tambm

    junto ao mestrado em Artes do Instituto de Artes da

    Unesp. Orientou 16 dissertaes de mestrado j deendidas. Coordena, no Instituto de Artes,

    o Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia, fnanciado pela CAPES, com

    projeto de parceria com rede estadual paulista. Publica na rea de ormao docente. Asses-

    sora a Secretaria Estadual da Educao de So Paulo em dierentes projetos de ormao e

    elaborao de material didtico.

    http://-/?-http://-/?-
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    UNESP Universidade Estadual Paulista

    Pr-Reitoria de Ps-Grad