frota de veículos automotores e seca no distrito federal: os efeitos sobre a saúde pública
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Artigo publicado na edição Vol. 8 nº 3 - Revista InterfacEHS Publicação Científica do Centro Universitário Senac - ISSN 1980-0894 Acesse a edição na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/?page_id=1353 Resumo A poluição atmosférica e as condições de clima seco são fatores relacionados com o impacto à saúde humana. Dentre as fontes de poluição, os meios de transporte se destacam nos centros urbanos. Portanto, este estudo objetivou avaliar a correlação da frota de veículos automotores do Distrito Federal (DF) e dos dados meteorológicos com o número de pessoas internadas e o número de óbitos por motivo de doenças do sistema respiratório. Para a análise dos dados, além da geração de informações descritivas de cada variável, utilizou-se o teste estatístico de correlação de Pearson de três conjuntos de dados - relacionados à saúde, às condições meteorológicas e à frota de veículos da região do DF nos anos de 2007 a 2009, a cada mês. Foram observadas correlações positivas medianas entre a frota de veículos automotores do DF e o número de óbitos e internações hospitalares, porém com algumas exceções, como a correlação com o número de internações de 2007 e com o número de óbitos de 2009, pois o valor de r foi de -0,43 e -0,17, respectivamente.TRANSCRIPT
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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
FROTA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES E SECA NO DISTRITO FEDERAL:
OS EFEITOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA
NUMBER OF AUTOMOTIVE VEHICLES AND DRY WEATHER
CONDITIONS AT FEDERAL DISTRICT: THE EFFECTS ON PUBLIC
HEALTH
Weeberb João Réquia Júnior1
Resumo
A poluição atmosférica e as condições de clima seco são fatores relacionados com
o impacto à saúde humana. Dentre as fontes de poluição, os meios de transporte se
destacam nos centros urbanos. Portanto, este estudo objetivou avaliar a correlação da
frota de veículos automotores do Distrito Federal (DF) e dos dados meteorológicos com
o número de pessoas internadas e o número de óbitos por motivo de doenças do sistema
respiratório. Para a análise dos dados, além da geração de informações descritivas de
cada variável, utilizou-se o teste estatístico de correlação de Pearson de três conjuntos
de dados - relacionados à saúde, às condições meteorológicas e à frota de veículos da
região do DF nos anos de 2007 a 2009, a cada mês. Foram observadas correlações
positivas medianas entre a frota de veículos automotores do DF e o número de óbitos e
internações hospitalares, porém com algumas exceções, como a correlação com o
número de internações de 2007 e com o número de óbitos de 2009, pois o valor de r foi
de -0,43 e -0,17, respectivamente.
Palavras-chave: Poluição atmosférica, transporte urbano, emissões atmosféricas,
veículos automotores.
1Engenheiro Ambiental; M.Sc. em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Católica de Brasília e
Doutorando em Geociências Aplicadas pela Universidade de Brasília. e-mail:[email protected]
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Abstract
Air pollution and dry weather conditions are factors related to the impact on
human health. Among the sources of pollution, transport stand out in urban centers.
Thus, this study aimed to evaluate the correlation of the fleet of vehicles of the Distrito
Federal (DF) and weather data with the number of people hospitalized and number of
deaths due to diseases of the respiratory system. For data analysis, as well as generating
descriptive information of each variable, we used the statistical test Pearson correlation
of three sets of data - related to health, weather conditions and the vehicle fleet in the
region of DF in years 2007 to 2009, every month. Positive correlations were observed
between the medians fleet of motor vehicles of the DF and the number of deaths and
hospitalizations, but with some exceptions, such as the correlation with the number of
hospitalizations in 2007 and the number of deaths in 2009, because the value of r was -
0.43 and -0.17, respectively.
Key-words: Air pollution, urban transport, atmospheric emission, automotive vehicles.
Introdução
A emissão de gases e partículas na atmosfera pela as atividades antrópicas
pontuais e difusas gera consequências negativas ao meio ambiente (PHALEN, 2012).
Podem-se citar os problemas gerados aos recursos hídricos (WU et al., 2012), ao solo
(WANG et al., 2012), ao clima (SINGH; PALAZOGLU, 2012), à vegetação (SANTOS
et al., 2012), e, sobretudo, ao ar (SOKHI, 2011; FULLER et al., 2012). O crescimento
das cidades atrelado com os sistemas de transportes e a mobilidade urbana são pontos
importantes para ter um melhor entendimento da relação entre as ações antrópicas e a
poluição atmosférica (SOOD, 2012).
A acessibilidade, o conforto, a rapidez, o preço são fatores importantes levados
em consideração pelas pessoas no momento de optarem por qual meio de transporte irão
utilizar (HENSHER; TON, 2002). Esses fatores são conjugados às variáveis
econômicas, políticas e culturais quando se avalia o crescimento dos veículos
particulares em alguns lugares (SONG et al., 2012; KATSOYIANNIS et al., 2012). Por
exemplo, no Brasil, o aumento da frota de automóveis particulares é uma tendência
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ocasionada pela elevação do poder aquisitivo da população, da deficiência do transporte
público, de incentivos fiscais do governo e das facilidades financeiras na aquisição de
veículos individuais (IPEA, 2011).
O predomínio do transporte individual em uma cidade é responsável pela geração
de congestionamento, além da contribuição significativa às emissões de poluentes do ar
(BRONDFIELD et al., 2012). De todas as fontes de emissões atmosféricas, as dos
sistemas de transporte são expressivas para o contexto total. Por exemplo, 25% do
dióxido de carbono (CO2) e do óxido de nitrogênio (NOx) presentes na atmosfera
global são provenientes dos meios de transporte (RAO et al., 2011; HÖNISCH et al.,
2012). Diante desse contexto, com objetivo de gerar uma melhor qualidade de vida para
as pessoas, e de tornar a mobilidade urbana um processo sustentável, econômico e
eficiente, o transporte público e o não motorizado têm sido as opções mais indicadas
(SOKHI, 2011; SANTANA et al., 2012).
Os efeitos desse processo, a ineficiência e a insustentabilidade dos sistemas de
transporte e de mobilidade de uma cidade, é intensificado ao bem estar das pessoas
(CAI et al., 2009; KIMBROUGH et al., 2012). O número de atendimentos hospitalares,
de internações e de óbitos são indicadores dos efeitos negativos da poluição atmosférica
sobre a saúde humana (WILSON et al., 2004; RÉQUIA; ABREU, 2011). Pesquisas
recorrentes mostram que as doenças do sistema respiratório e do sistema circulatório são
as mais representativas nessa análise (NANDASENA et al., 2012; CHEN et al., 2012).
Nesse sentido, percebe-se que o entendimento científico das relações entre os meios de
transporte, a mobilidade urbana, a poluição atmosférica e a saúde pública contribui para
as políticas que visam uma melhor qualidade de vida das pessoas (TRONCOSO et al.,
2012).
Além das justificativas ambientais e do bem estar humano que justificam as
pesquisas relacionadas à poluição atmosférica, vale destacar às de contextos
econômicos. Há uma relação em cadeia que impacta o sistema econômico do Estado. O
aumento das concentrações de poluentes gera mais doenças, mais internações e mais
óbitos, e assim, há um impacto significativo no sistema econômico de saúde do Estado
(ŠAUER; MÁDR, 2012; BRAJER et al., 2012).
O entendimento mais preciso sobre as questões relacionadas à poluição
atmosférica é dependente das características naturais e antrópicas de cada região
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(GALLARDO et al., 2012; MIZOTA et al., 2012). No Distrito Federal (DF) podem-se
citar cinco questões de maior significância, um polo industrial com fábricas de cimento,
o período seco, as queimadas, o relevo do tipo plano e o crescimento expressivo da frota
de veículos. Neste trabalho foram priorizadas as questões referentes aos sistemas de
transporte e à seca. Estudos em outros lugares já encontraram representatividades dessas
em estudos de poluição do ar (CHEN et al., 2012; LINDGREN et al., 2012).
Quanto ao sistema de transporte, o Detran (2012) mostrou que o aumento do
número de veículos do ano de 2008 para o ano de 2009 foi de 8,7%, o que significou
aproximadamente 91489 automóveis a mais. No ano de 2012 a proporção de número de
veículos com o número de habitantes foi de 1:1. Quanto à seca, dados do Inmet (2012)
mostram que na região do DF, nos meses de agosto a outubro a umidade relativa do ar
pode chegar a 10%.
Nesse sentido, este estudo teve como objetivo a avaliação da correlação da frota
de veículos automotores do Distrito Federal (DF) e dos dados meteorológicos com o
número de pessoas internadas e número de óbitos por motivo de doenças do sistema
respiratório.
Metodologia
Para este estudo utilizou-se três conjuntos de dados - relacionados à saúde, às
condições meteorológicas e à frota de veículos da região do DF nos anos de 2007 a
2009, a cada mês. A escolha dessas variáveis foi baseada em estudos similares já
realizados no Brasil e em outros países (CERVERO, 1996; HANSON; GIULIANO,
2004; WILSON et al., 2004; ALMEIDA-SILVA et al., 2011; RÉQUIA; ABREU, 2011;
KHEDAIRIA; KHADIR, 2012; KOO et al., 2012). Destaca-se, que nesses estudos os
autores utilizaram variáveis similares que as definidas pela presente pesquisa.
- Dados de saúde:
A base de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde -
Datasus (DATASUS, 2012) foi a referencia utilizada para a coleta das informações
referentes à saúde como: o número de óbitos e internações por causas de doenças do
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sistema respiratório.
- Dados meteorológicos:
Para a coleta de dados dos parâmetros precipitação (mm), temperatura máxima
(°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento (m/s) fez-se uso da base de
dados do Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet (INMET, 2012). O monitoramento
desses dados é diferenciado quanto a sua periodicidade, ou seja: a precipitação e a
temperatura são amostrados diariamente, a umidade e a velocidade do vento são
amostrados 3 vezes ao dia. Assim, foi gerada uma média aritmética mensal de cada
variável e tabulada de forma mensal.
- Dados de transporte:
Para as informações relacionadas ao transporte, considerou-se o número da frota
de veículos automotores disponíveis na base de dados do Departamento Nacional de
Trânsito - Denatran (DENATRAN, 2012). Ressalta-se, que o Denatran considera os
veículos automotores como todo tipo de veículo a motor de propulsão que circula pelos
próprios meios. Considerou-se nesta pesquisa os: automóveis - veículo automotor
destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para até cinco pessoas;
caminhões - veículo automotor destinado ao transporte de carga com peso bruto total
superior a 3500 kg; camionetes - veículo automotor destinado ao transporte de carga
com peso bruto total até 3500 kg; microônibus - veículo automotor de transporte
coletivo com capacidade para até 20 passageiros; ônibus - veículo automotor de
transporte coletivo com capacidade para mais de 20 passageiros; e motocicletas -
veículo automotor de duas rodas, dirigido por posição montada.
- Análise de dados:
Para análise dos dados, além da geração de informações descritivas de cada
variável, utilizou-se o teste estatístico de correlação de Pearson para identificação da
relação de causa e efeito entre as variáveis do estudo.
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Resultados
Durante o período de 2007 a 2009 teve um total de 45.702 pessoas internadas e
2.116 pessoas que vieram a óbito, tanto as internações quanto os óbitos por motivos de
doenças respiratórias na região do Distrito Federal. A média de internações do ano de
2007 foi de 1.289,25 ± 174,173; do ano de 2008 de 1.252,83 ± 360,815; e do ano de
2009 de 1.266,42 ± 305,262. Já a média de óbitos do ano de 2007 foi de 61,50 ± 11,905;
do ano de 2008 de 58,42 ± 8,339; e do ano de 2009 de 56,42 ± 11,843. As médias
apresentadas permitem observar que os dados de internações e óbitos não obedecem a
uma padronização mensal, e o coeficiente de variação varia em torno de 15% a 25%, e
mostram que em certos períodos de cada ano as internações e os óbitos apresentam
variações significativas (Tabela 1).
A frota de veículos automotores do DF um crescimento de 21,92% durante os
anos de 2007 a 2009. Em média, o crescimento anual foi de 7,44% e o crescimento
mensal foi de 0,61%. A cada mês, foi acrescentada à frota do DF uma média de 7.202
veículos. Contudo, o ano de 2009 foi o que teve a maior média de frota, 1.109.160,75 ±
28.116,739 (Tabela 1).
O DF possui características climáticas bem definidas quanto às condições
meteorológicas. O período de estiagem na região ocorre entre os meses de julho a
outubro, é um exemplo. Durante a seca no DF, a umidade relativa do ar pode chegar a
valores baixos. Em agosto de 2008 a umidade relativa do ar apresentou o menor valor,
34,46%. Em média, a temperatura no DF foi de 28,22ºC ± 1,31 em 2007; 27,18ºC ±
1,79 em 2008; 26,74ºC ± 1,21 em 2009. Percebe-se que há pouca variação da
temperatura, mostrando uma padronização nos dados (Tabela 1).
Tabela 1 - Estatística descritiva das variáveis em estudo
ANO Mínimo Máximo Soma Média Desvio-
padrão
2007
Intern. 914 1.528 15.471 1.289,25 174,173
Mort. 44 83 738 61,50 11,905
Frota 897.623 973.949 11.224.644 935.387,00 25.312,844
Prec. 0,00 7,64 18,39 1,532 2,530
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Temp. 26,80 31,25 - 28,228 1,318
Umid. 35,07 76,14 - 57,085 13,781
Veloc. 1,29 4,08 - 2,407 0,807
2008
Intern. 592 1.887 15.034 1.252,83 360,815
Mort. 47 78 701 58,42 8,339
Frota 98.1724 1.057.486 12.272.561 1.022.713,42 25.900,912
Prec. 0,00 4,55 8,20 0,683 1,429
Temp. 24,33 30,40 - 27,185 1,792
Umid. 34,46 76,58 - 58,946 15,380
Veloc. 1,39 2,88 - 2,015 0,465
2009
Intern. 680 1592 15.197 1.266,42 305,262
Mort. 39 78 677 56,42 11,843
Frota 1.065.599 1.149.696 13.309.929 1.109.160,75 28.116,739
Prec. 0,00 4,69 12,34 1,028 1,644
Temp. 24,50 28,66 - 26,743 1,217
Umid. 47,51 78,54 - 66,052 9,757
Veloc. 1,11 2,27 - 1,545 0,386
Intern. = internações Prec. = precipitação (mm)
Mort. = mortalidade Temp. = temperatura (ºC)
Umid. = umidade relativa do ar (%) Veloc. = velocidade do vento (m/s)
Observaram-se correlações positivas entre a frota de veículos automotores do
DF e o número de óbitos e internações hospitalares, porém com algumas
exceções, como a correlação com o número de internações de 2007 e com o
número de óbitos de 2009, pois o valor de r foi de -0,43 e -0,17,
respectivamente. Contudo, não houve significância (p>0,005) nas correlações
geradas entre frota e mortalidade, internações (Tabela 2).
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Quanto às correlações com as variáveis meteorológicas, observou-se que a
precipitação e a umidade do ar foram as variáveis que apresentaram maior correlação.
Destacam-se os valores de correlação encontrados entre a precipitação e o número de
pessoas internadas em 2008, -0,759 (p=0,01), umidade e pessoas internadas em 2008, -
0,631 (p=0,05). Percebe-se, também, que em 2009 a variável internação teve um valor
de correlação igual a -0,570 com a temperatura (Tabela 2).
Tabela 2 - Matriz de correlação (valores r de Pearson)
ANO Intern. Mort. Frota Prec. Temp. Umid. Veloc.
2007
Intern. 1
Mort. 0,284 1
Frota -0,432 0,424 1
Prec. -0,467 -0,428 -0,173 1
Temp. 0,118 0,104 0,293 -0,525 1
Umid. -0,416 -0,417 -0,394 0,762** -0,381 1
Veloc. 0,279 0,459 0,230 -0,606* 0,052 -0,788** 1
2008
Intern. 1
Mort. 0,124 1
Frota 0,367 0,281 1
Prec. -0,759** -0,159 -0,556 1
Temp. -0,190 0,384 0,335 -0,021 1
Umid. -0,631* -0,479 -0,511 0,468 -0,291 1
Veloc. 0,151 0,759** 0,246 -0,055 0,200 -0,693* 1
2009
Intern. 1
Mort. 0,285 1
Frota 0,288 -0,175 1
Prec. -0,404 0,004 0,189 1
Temp. -0,570 -0,098 -0,090 0,438 1
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Umid. -0,411 -0,424 -0,113 0,465 0,293 1
Veloc. -0,137 -0,201 0,221 0,018 -0,218 -0,364 1
* p(0,005) Intern. = internações Prec. = precipitação (mm)
** p(0,001) Mort. = mortalidade Temp. = temperatura (ºC)
Umid. = umidade relativa do ar (%) Veloc. = velocidade do vento (m/s)
O presente trabalho utilizou o dado de transporte definido como o número de
automóveis na frota, pois se inferiu que os poluentes atmosféricos emitidos pelos
veículos prejudicam a saúde humana, conforme alguns estudos já realizados (LIPFERT
e MURRAY, 2012; RYAN e GRACE, 2007). Contudo, não houve correlações positivas
significativas do número de automóveis e a saúde das pessoas por esta pesquisa.
Provavelmente, se os dados estivessem mais bem delimitados, como por exemplo, a
estimativa da concentração de poluentes emitidos por meio de um inventário de
poluição atmosférica, as correlações poderiam estar semelhante com os resultados
encontrados em outros estudos (ÁLVARES JÚNIOR; LINKE, 2002; MMA, 2011;
UEDA; TOMAZ, 2011; WILLIAMS et al., 2012).
A elaboração desses inventários de poluição atmosférica a nível nacional no Brasil
já é comum. Órgãos de transporte e meio ambiente tem elaborado esses estudos (MMA,
2011). No entanto, a nível regional, poucos estudos foram desenvolvidos, pode-se citar
o realizado em Campinas-SP que teve resultados com correlações significativas
(UEDA; TOMAZ, 2011). Ambos os inventários identificaram contribuições expressivas
das emissões de gases e partículas na atmosfera oriunda do sistema de transporte. Por
exemplo, no Brasil, em 2010 os veículos automotores emitiram 180 milhões de
toneladas de dióxido de carbono (TOLEDO; NARDOCCI, 2011).
Em relação às variáveis meteorológicas, os parâmetros de maior correção com
os números de internações foram os dados de precipitação e de umidade. Essa relação
mostra a vulnerabilidade da saúde humana aos efeitos meteorológicos, nesse caso, o
clima seco. Estudos atuais encontraram essa mesma relação (PHALEN, 2012; REIS et
al., 2012). No DF, há um aumento maior que 50% nos atendimentos hospitalares no
período seco do ano. Já a relação entre a temperatura e o número de internações merece
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um estudo mais detalhado para a comparação com outras pesquisas que encontraram
influência significativa da temperatura à saúde humana (SAMET et al., 2000; BOKWA,
2011).
Outros estudos no Brasil quantificaram a relação entre saúde humana, transporte
público - metrô, e transporte particular. É o caso da região metropolitana de São Paulo.
Identificou-se que se o metrô da cidade parasse, aumentaria 75% dos casos de óbitos
por doenças respiratórias, o que geraria um prejuízo anual de 18 bilhões de dólares
(SILVA et al., 2012).
Conclusões
O estudo teve o objetivo de avaliar a relação entre a frota de veículo, dados
meteorológicos e saúde humana no DF. Foram encontradas correlações positivas dos
dados meteorológicos com a saúde humana. Quanto aos dados de transporte, devido à
característica da informação utilizada, não foi possível encontrar correlações positivas.
No entanto, não é descartada a hipótese de que a saúde humana é vulnerável ao
aumento do tráfego de veículos em uma cidade. No caso particular do DF ainda merece
ser investigada a relação entre os sistemas de transporte, a saúde humana e as variações
climáticas, que na região tem uma característica de clima seco na maior parte do ano.
Assim, sugere-se para os próximos estudos a elaboração de um inventário de poluição
atmosférica dos meios de transporte. Os resultados desse inventário iriam alimentar a
base de dados para análises mais precisas. Além, também, de ter o conhecimento
referente à concentração de poluente atmosférico de cada fonte, o que aumenta o
controle sobre a variável, permitindo uma melhor análise estatística.
Outra orientação para as próximas pesquisas é a geração de resultados que
representem um modelo espaço temporal do comportamento dos gases e partículas
suspensos no ar. A consolidação de dados históricos, a classificação dos dados
conforme cada estação do ano e a localização dos pontos de emissão na cidade são
variáveis importantes que podem ser utilizadas nessas pesquisas.
Portanto, devido à rede deficitária de monitoramento da qualidade do ar em
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Brasília, e as poucas pesquisas que foram desenvolvidas na região, este estudo inicial
pode ser considerado um motivador para a continuidade de novas investigações
científicas e de investimentos públicos na área. Para gerenciar as atividades humanas no
combate à poluição, os Estados devem se dedicar à elaboração e aplicação de políticas,
planos e programas ambientais que limitam os efeitos e danos provocados pela
poluição, sobretudo do setor de transporte.
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Recebido em 07/10/2013
Aceito em 17/12/2013