frutose e a síndrome metabólica fructose and the metabolic...
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Frutose e a Síndrome Metabólica
Fructose and the Metabolic Syndrome
Susana Sousa Ferreira
Orientado por: Professor Doutor José Alejandro Ribeiro dos Santos
Co-orientado por: Dra. Carla Pedrosa e Dra. Manuela Ferreira
Monografia
Porto, 2010
i
Dedicatória
A todos aqueles que apoiaram o meu percurso académico…
…deixo esta frase de reflexão.
"O génio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não
é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada."
(Johann Goethe)
iii
Agradecimentos
Ao Doutor Alejandro Santos, meu orientador, pela sua serenidade, paciência e
disponibilidade permanente; pelos seus sábios conselhos e sugestões, essenciais
na construção desta tese.
A TODAS as pessoas que me apoiaram e que se dedicaram para que a
realização desta tese fosse uma realidade.
v
Índice
Dedicatória ............................................................................................................... i
Agradecimentos ..................................................................................................... iii
Lista de Abreviaturas ............................................................................................. vii
Resumo ................................................................................................................... 1
Abstract ................................................................................................................... 2
Introdução ............................................................................................................... 3
A Síndrome metabólica ........................................................................................... 4
Definições ..................................................................................................... 4
Epidemiologia ............................................................................................... 7
Fisiopatologia ............................................................................................... 9
o Obesidade visceral .................................................................................. 10
o Resistência à insulina .............................................................................. 11
o Dislipidemia aterogénica ......................................................................... 12
o Disfunção endotelial ................................................................................ 13
Caracterização da frutose e suas fontes alimentares ............................................ 14
Consumo de frutose – perspectiva histórica ......................................................... 15
Recomendações de ingestão de açúcares de adição ........................................... 18
Metabolismo da frutose ......................................................................................... 19
Metabolismo hepático ................................................................................. 19
Papel da frutose na indução das características da SM ........................................ 23
Evidência de estudos experimentais .......................................................... 23
vi
Frutose e obesidade visceral ...................................................................... 26
Frutose e hipertensão arterial ..................................................................... 27
Frutose, dislipidemia e NAFLD ................................................................... 29
Frutose e insulino-resistência ..................................................................... 30
Análise crítica e Conclusões ................................................................................. 32
Referências Bibliográficas .................................................................................... 35
vii
Lista de Abreviaturas
Acetil-CoA - acetilcoenzima A
ADA - American Diabetes Association
AGL - ácidos gordos livres
Akt - cínase B
AMP - monofosfato de adenosina
apoB - apolipoproteína B
ATP - trifosfato de adenosina
CETP - proteína de transferência de ésteres de colesterol
ChREBP - proteína de ligação ao elemento de resposta aos hidratos de carbono
CO2 – dióxido de carbono
CPT1 - carnitina palmitoil-transferase 1
DAG - diacilglicerol
DCV - doenças cardiovasculares
DECODE - Diabetes Epidemiology: Collaborative Analysis of Diagnostic Criteria in
Europe
DM2 - diabetes mellitus tipo 2
DNL - lipogénese de novo
DRI - Dietary Reference Intakes
EGIR - Grupo Europeu Para o Estudo da Insulino-resistência
eNOS - síntase do óxido nítrico endotelial
ET-1 - endotelina 1
EUA - Estados Unidos da América
GLUT - transportador de glicose
viii
H2O – molécula de água
HDL - high density lipoprotein
HFCS - xarope de milho rico em frutose
HTA - hipertensão arterial
IDF - International Diabetes Foundation
IL-6 - interleucina-6
IMP - monofosfato de inosina
IR - insulino-resistência
IRS-1 - substrato 1 do receptor da insulina
LDL - low density lipoprotein
MAPK - cínase de activação mitogénica
MAPK8 - cínase 8 de proteínas activadas por agentes mitogénicos
MKK7 - cínase 7 activadora de proteínas da família da MAPK
NAFLD - doença hepática gordurosa não alcoólica
NASH - esteatohepatite não alcoólica
NCEP:ATP III - National Cholesterol Education Program: Adult Treatment Panel III
NHANES - National Health and Examination Survey
NO - óxido nítrico
OMS - Organização Mundial de Saúde
oxLDL - partículas LDL oxidadas
P - fosfato
PAI-1 - inibidor do activador do plasminogénio
PDK1 – proteína cinase 1 dependente do fosfoinositídeo
PI3K - cínase do fosfatidilinositol 3
PKC - proteína cínase C
ix
sdLDL – partículas LDL pequenas e densas
SM - Síndrome Metabólica
SREBP1C - proteína 1 c de ligação ao elemento regulador dos esteróides
TAG - triacilglicerol
TNF-α - factor de necrose tumoral
USDA - Departamento de Agricultura dos EUA
VALSIM - Estudo Epidemiológico da Prevalência da SM na população portuguesa
VET - valor energético total
VLDL - very-low-density lipoprotein
VLDL-TAG - VLDL ricas em TAG
1
Resumo
A Síndrome Metabólica (SM) consiste numa constelação de factores de risco
cardiovascular de origem metabólica e a sua prevalência tem vindo a aumentar
em todo o mundo como consequência da contínua epidemia da obesidade.
A frutose é um açúcar simples que se encontra naturalmente em apenas alguns
alimentos, nomeadamente a fruta, o mel e alguns vegetais, sendo tipicamente
consumida como sacarose (açúcar de mesa) ou como componente do xarope de
milho rico em frutose (HFCS do Inglês High-fructose corn syrup).
Existe evidência crescente de que a ingestão elevada de frutose pode ser um
factor causativo importante no desenvolvimento da SM; o seu consumo tem
aumentado drasticamente ao longo das últimas décadas, coincidindo com a
incidência crescente da SM; além disso, devido às características peculiares do
seu metabolismo, a frutose pode induzir cada um dos fenómenos associados com
esta síndrome, nomeadamente, obesidade visceral, insulino-resistência (IR),
dislipidemia e hipertensão arterial (HTA).
São necessários estudos dose-resposta que determinem os níveis a partir dos
quais se pode associar a frutose com os seus efeitos metabólicos nocivos.
A evidência de estudos clínicos e epidemiológicos recentes sugere que existem
riscos associados com a ingestão de açúcar que vão para além do ganho de
peso, cáries dentárias e deficiências nutricionais sendo, por isso, necessário
reavaliar as recomendações nutricionais para os açúcares de adição e delinear
estratégias que estabilizem a crescente utilização industrial e consumo de frutose.
Palavras-chave: Frutose, Síndrome Metabólica, lipogénese de novo, insulino-
resistência, hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade visceral.
2
Abstract
Metabolic syndrome (SM) represents a constellation of risk factors of metabolic
origin and is rapidly increasing in prevalence worldwide as a consequence of the
continued obesity epidemic.
Fructose is a simple sugar that occurs naturally in only a few foods such as fruit,
honey and some vegetables, and is typically consumed as sucrose (table sugar)
or as a component of high-fructose corn syrup (HFCS).
There is a growing body of evidence suggesting that high dietary intake of fructose
may be an important causative factor in the development of the SM; its
consumption has increased dramatically over the past several decades, and with it
the incidence of the SM; moreover, due to its peculiar metabolism caracteristics,
fructose, can induce each of the phenomena associated with the SM such as,
visceral obesity, insulin resistance, dyslipidemia and hypertension.
Dose-response studies are needed to determine the levels from which we can
associate fructose with its adverse metabolic effects.
Recent evidence from clinical and epidemiological studies suggests that there may
be risks associated with sugar consumption beyond weight gain, dental caries and
nutritional deficiences and because of that, dietary guidelines for sugar
consumption need to be reevaluated. It is necessary to delineate strategies that
stabilize the growing industrial use and consumption of fructose.
Keywords: fructose, metabolic syndrome, de novo lipogenesis, insulin resistance,
hypertension, dyslipidemia, visceral obesity.
3
Introdução
Os avanços tecnológicos e a melhoria da economia que ocorreram nos países
ocidentais ao longo do século passado resultaram numa variação positiva do
balanço energético, resultado de um estilo de vida mais sedentário acompanhado
por uma maior ingestão energética. Esta mudança levou ao aumento da
incidência da SM, uma epidemia que ameaça já os países em desenvolvimento
(1). Uma das alterações nutricionais importantes que decorreram ao longo das
últimas décadas foi o aumento substancial da ingestão de frutose (2), coincidindo
assim com a incidência crescente de SM (3).
Estudos epidemiológicos e bioquímicos recentes sugerem claramente que uma
ingestão elevada de frutose pode ser um factor nutricional importante no
desenvolvimento da SM (2). Este açúcar simples pode induzir cada um dos
fenómenos associados com esta síndrome (4).
O objectivo deste trabalho é analisar a evidência que interliga o consumo de
frutose com os referidos fenómenos, nomeadamente, obesidade visceral, HTA,
dislipidemia e IR, tendo por base as características peculiares do seu próprio
metabolismo.
Deste modo, será feita inicialmente uma descrição da SM, com referência às suas
diferentes definições, epidemiologia e fisiopatologia; posteriormente é feita uma
descrição da frutose mencionando-se as suas principais fontes alimentares,
consumo, recomendações nutricionais e metabolismo e, por fim, é feita uma
abordagem da evidência que interliga o seu consumo com a indução das
características da SM, bem como dos potenciais mecanismos explicativos.
4
A Síndrome metabólica
A SM é uma constelação de factores de risco cardiovascular de origem
metabólica (5) que inclui obesidade abdominal, IR, dislipidemia aterogénica e
elevação da tensão arterial, estando associada a outras co-morbilidades,
nomeadamente, um estado pro-trombótico e pro-inflamatório, doença hepática
gordurosa não alcoólica (NAFLD - Nonalcoholic Fatty Liver Disease),
hiperuricemia (6) e alterações reprodutivas (7).
A maioria dos estudos mostra que a SM está associada a um risco 2 e 5 vezes
maior de vir a desenvolver doenças cardiovasculares (DCV) e diabetes mellitus
tipo 2 (DM2), respectivamente (7). Neste sentido, o conceito de SM é muito
importante por permitir identificar os doentes com os referidos riscos elevados e
assim possibilitar uma intervenção preventiva (8).
Definições
Pelo facto da SM ser um conjunto de diferentes condições e não uma simples
doença, foram sendo desenvolvidas várias definições (7). A SM foi primeiro
nomeada de “Síndrome X” em 1988 por Reaven, para descrever as inter-relações
propostas entre IR, HTA, DM2 e DCV (9). Durante os 10 anos seguintes foram
surgindo novos termos, nomeadamente, “Quarteto Mortal” (10) e “Síndroma da
Resistência à Insulina” (11). A Tabela 1 sumariza 4 das definições de SM mais
comummente utilizadas. Apesar de existirem critérios divergentes para a
identificação da SM, todos tendem a concordar que as suas componentes
centrais incluem a obesidade abdominal/central/visceral (perímetro da cintura), IR,
dislipidemia e HTA (12).
5
NCEP: ATP III (actualização 2005)
OMS (1998) EGIR (1999) IDF (2005)
Requisitos obrigatórios
Nenhum IR* Hiperinsulinemia£
Obesidade central (PC)
¥: ≥94cm (M),
≥80cm (F)
Critério Quaisquer 3 dos 5
critérios abaixo IR ou DM2, mais 2 dos
5 critérios
Hiperinsulinemia, mais 2 dos 4
critérios abaixo
Obesidade central mais 2 dos 4 critérios
abaixo
Obesidade (visceral/central)
PC: >102 cm (M), >88 cm (F)
Razão cintura/anca: >0,90 cm (M), >0,85 cm (F); ou IMC > 30
Kg/m2
PC: ≥94 cm (M), ≥80 cm (F)
Requisito obrigatório
Hiperglicemia Glicose em jejum ≥ 100
θ mg/dl ou TF
IR é requisito obrigatório
IR é requisito obrigatório
Glicose em jejum ≥ 100 mg/dl
Dislipidemia TAG ≥150 mg/dl ou
TF
TAG ≥150 mg/dl ou HDL: <35 mg/dl (M),
<39 mg/dl (F)
TAG ≥177 mg/dl ou HDL <39 mg/dl
TAG ≥150 mg/dl ou TF
Dislipidemia (critério separado)
HDL: <40 mg/dl (M), <50 mg/dl (F); ou TF
X X HDL: <40 mg/dl (M), <50 mg/dl (F); ou TF
Hipertensão > 130 mmHg sistólica
ou > 85 mmHg diastólica ou TF
≥140/90 mmHg ≥140/90 mmHg ou
TF
> 130 mmHg sistólica ou > 85 mmHg diastólica ou TF
Outros critérios X Microalbuminúriaψ X X
Tabela 1 Definições da SM. Adaptado de Huang et al, 2009 (8)
*Pode ser evidenciada pelo aumento de glicose em jejum, pela intolerância à glicose ou pelo próprio
diagnóstico de DM2. £Valor de insulina em jejum superior ao percentil 75 entre indivíduos não diabéticos.
¥PC - Perímetro da Cintura. Critérios específicos para cada população; os valores representados dizem
respeito à população Europeia θ
O valor original era 110; em 2003 a American Diabetes Association mudou o critério de hiperglicemia para
100. ψExcreção urinária de albumina ≥ 20μg/min ou razão albumina/creatina ≥ 30 mg/g.
TF - Tratamento farmacológico.
M – Sexo masculino; F – Sexo feminino.
A primeira definição formal de SM surgiu em 1998 pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) (13). Nesta definição, a IR é um requisito obrigatório pelo facto de
ser considerada central na fisiopatologia da SM e pode ser evidenciada por
exemplo pelo aumento de glicose em jejum (geralmente acima de 100mg/dl), pela
intolerância à glicose (nível de glicose acima de 140 mg/dl, 2h após a ingestão de
75g de glicose durante um teste de tolerância oral à glicose) ou pelo próprio
diagnóstico de DM2. Em adição a este requisito obrigatório, dois dos seguintes
6
critérios teriam de estar também presentes: obesidade, dislipidemia, HTA e
microalbuminúria (8).
Em 1999 o Grupo Europeu Para o Estudo da Insulino-resistência (EGIR) propôs
uma modificação à definição da OMS (14). A IR é também um requisito absoluto,
mas neste caso é definida por um valor de insulina em jejum superior ao percentil
75 entre indivíduos não diabéticos. Similar à definição da OMS também a
definição da EGIR requer dois dos seguintes critérios: obesidade, HTA e
dislipidemia. No entanto, o critério de obesidade foi simplificado para o perímetro
da cintura e a microalbuminúria foi eliminada como critério de diagnóstico (8).
Em 2001 o NCEP: ATP III (National Cholesterol Education Program: Adult
Treatment Panel III) elaborou nova definição (15), a qual foi actualizada em 2005
pela American Heart Association e pelo National Heart Lung and Blood Institute
(16). De acordo com esta definição, a SM está presente quando se verificam 3 ou
mais de 5 critérios. Esta definição difere das 2 anteriores principalmente pelo facto
da presença da IR não ser um critério obrigatório para fazer o diagnóstico (7).
Finalmente, em 2005, foi a vez da International Diabetes Foundation (IDF)
publicar nova definição (17). Apesar de incluir os mesmos critérios gerais das
outras definições, esta enfatiza a obesidade central como condição necessária
para o diagnóstico, em detrimento da IR (7). Para além disso, usa critérios de
perímetro da cintura específicos para diferentes populações (8). Apesar da
obesidade visceral ser reconhecida como um factor importante, a definição da IDF
tem sido criticada pela sua ênfase na obesidade no que respeita à fisiopatologia
da SM, em detrimento da IR (7).
Actualmente, a definição do NCEP: ATP III é uma das mais usadas para definir a
SM: incorpora características-chave como a hiperglicemia/IR, obesidade visceral,
7
dislipidemia aterogénica e HTA; usa medições e resultados laboratoriais
facilmente acessíveis aos profissionais de saúde, facilitando a sua aplicação
clínica e epidemiológica; e é simples e fácil de memorizar. Este conceito não
requer a presença de nenhum que critério específico e, portanto, não assenta em
nenhuma noção pré-concebida da causa basilar da SM, quer seja a IR ou a
obesidade (8).
Epidemiologia
A prevalência da SM tem vindo a aumentar em todo o mundo como consequência
da contínua epidemia da obesidade, principalmente nos grupos etários mais
jovens (18). No entanto, as estimativas da referida prevalência dependem da
definição de SM utilizada e da composição da população em estudo (ex. sexo,
idade, etnia). A prevalência da SM aumenta com a idade independentemente do
sexo (7).
De acordo com 2 estudos NHANES (National Health and Examination Survey),
verificou-se que nos adultos dos Estados Unidos da América a prevalência de SM
ajustada à idade, aumentou de aproximadamente 24,1% (1988-1994) para 27%
(1999-2000), tendo em conta os critérios ATP III originais. Quando se consideram
os critérios NCEP: ATP III actualizados (valor limite de glicose em jejum passa de
110 para 100 mg/dl), os valores aumentam para 29,2 e 32,6%, respectivamente
(19). Em relação aos adolescentes (12-19 anos), a prevalência aumentou de 4,2
(NHANES III 1988-1992) para 6,4% (NHANES 1999-2000) (19), o que não
surpreende dada a crescente prevalência de obesidade nos mais jovens e a forte
relação entre esta e a SM (7).
8
Através do DECODE (Diabetes Epidemiology: Collaborative Analysis of
Diagnostic Criteria in Europe), um estudo prospectivo que envolveu 10269
indivíduos não diabéticos (30-89 anos) residentes em 6 países europeus,
concluiu-se que a prevalência de SM foi de 25,9% nos homens e 23,4% nas
mulheres (critérios NCEP: ATP III originais) (20).
Em relação a Portugal, o estudo VALSIM (Estudo Epidemiológico da Prevalência
da SM na população portuguesa), realizado em 2006-2007, permitiu avaliar a
prevalência da SM na população adulta (16856 pessoas) seguida nos centros de
saúde. O resultado, ajustado ao sexo, idade e dimensão das regiões foi de 27,5%
(critérios ATP III originais), verificando-se um aumento progressivo com a idade e
maior prevalência global no sexo feminino (figura 1) (21).
Figura 1 - Prevalência da SM por sexo e idade em Portugal (Fiuza, 2008) (21)
.
9
A prevalência de SM exibiu variação regional, sendo maior no Alentejo e menor
no Algarve (figura 2) (21).
Figura 2 - Mapa da prevalência da SM, expressando a prevalência global e por sexo,
ajustadas à estrutura demográfica de cada região de residência (Fiuza, 2008) (21)
.
Fisiopatologia
Factores genéticos e ambientais como a inactividade física e o aumento da
ingestão energética são responsáveis pela predisposição para a SM (22). Os
estudos sobre a fisiopatologia da SM são discrepantes não tendo sido ainda
identificada nenhuma causa fisiopatológica que explique a origem desta síndrome
e as interligações entre os seus componentes (18). No entanto, a obesidade
abdominal e a IR parecem ser as causas dominantes da SM (7). A dislipidemia
aterogénica e a disfunção endotelial (mensurável através da HTA) são
10
consequências destas 2 causas e contribuem para o desenvolvimento de
aterosclerose e DCV.(8). Estas condições representam as 4 componentes centrais
da SM e estão relacionadas entre si, partilhando mediadores, vias e mecanismos
comuns (8).
o Obesidade visceral
A gordura visceral está mais relacionada com a doença metabólica (como a DCV
e a DM2) do que a gordura subcutânea (23). A obesidade visceral causa uma
diminuição da captação de glicose mediada pela insulina e está claramente
relacionada com a IR. Os mecanismos subjacentes envolvem provavelmente
adipocinas, que são produzidas pelo tecido adiposo (24). Estas incluem, entre
outras, o factor de necrose tumoral (TNF-α) e a interleucina-6 (IL-6), as quais são
pro-inflamatórias e contribuem para a IR e disfunção vascular (8) e promovem a
lipólise do tecido adiposo, resultando num aumento de ácidos gordos livres (AGL)
na circulação (25). O sistema renina-angiotensina é também activado no tecido
adiposo, levando à HTA e IR. Pelo contrário, a adiponectina é uma adipocina anti-
inflamatória que melhora a sensibilidade à insulina; no entanto, os seus níveis
encontram-se diminuídos na obesidade, DM2 e SM (8).
Os AGL que são libertados em abundância da gordura visceral expandida e os
seus intermediários bioactivos lipídicos actuam em conjunto para alterar a via de
sinalização da insulina e aumentar o stress oxidativo (8).
As citocinas e os AGL também aumentam a produção de fibrinogénio e do inibidor
do activador do plasminogénio (PAI-1) pelo fígado, complementando a
superprodução de PAI-1 pelo tecido adiposo, resultando assim num estado pró-
trombótico (7).
11
o Resistência à insulina
A insulina é produzida pelo pâncreas em resposta ao aumento de glicemia, e
estimula o uso de glicose de diferentes formas nos vários tecidos: no tecido
músculo-esquelético e adiposo, estimula a captação de glicose através da
translocação do transportador de glicose 4 (GLUT4) para a superfície; nos tecidos
músculo-esquelético e hepático, estimula a síntese de glicogénio a partir da
glicose e inibe a glicogenólise; no fígado também inibe a gliconeogénese
hepática, evitando um maior fluxo de glicose para a corrente sanguínea; e no
tecido adiposo, inibe a lipólise e estimula a captação de glicose. O efeito global de
todas estas alterações é o aumento da captação de glicose, a redução dos níveis
de glicose circulantes e o aumento da conversão da glicose nas moléculas de
armazenamento, glicogénio ou gordura (8).
A IR ocorre quando há uma diminuição da sensibilidade dos tecidos periféricos
(muscular esquelético, adiposo e hepático) às acções da insulina, sendo um
importante preditor da DM2 (8).
A via de sinalização da insulina ocorre quando esta se liga ao seu receptor, o qual
vai fosforilar os seus substratos, resultando na activação de 2 vias paralelas: a da
cínase do fosfatidilinositol 3 (PI3K) e a da proteina cínase de activação mitogénica
(MAPK). A primeira leva à activação da proteína cinase 1 dependente do
fosfoinositídeo (PDK1) e da proteína cinase B (AKt). Na resistência à insulina, a
via PI3K-AKt está afectada, ao contrário da MAPK, resultando num desequilíbrio
entre as 2 vias paralelas. A inibição da via PI3K-AKt resulta numa diminuição da
fosforilação e actividade da sintase do óxido nítrico endotelial (eNOS). Como
consequência há uma redução da produção do óxido nítrico endotelial (NO), um
potente vasodilatador, ocorrendo assim vasoconstrição e diminuição da chegada
12
de glicose e insulina aos tecidos. A inibição desta via também resulta na redução
da translocação de GLUT4, levando à diminuição da captação de glicose pelos
tecidos muscular e adiposo. Por outro lado, o facto da via MAPK não ser afectada
faz com que haja uma contínua produção de endotelina 1 (ET-1), levando à
vasoconstrição, e de moléculas de adesão celular (VCAM e E-selectina),
resultando num maior número de interacções entre os leucócitos e o endotélio.
Para além disso, ocorrem também estímulos mitogénicos contínuos nas células
musculares lisas dos vasos sanguíneos. Desta forma, a IR leva à disfunção
endotelial que, por sua vez, predispõe para a aterosclerose (8).
Os mecanismos que levam à IR podem assim afectar também a função vascular,
incluindo a hiperglicemia, a toxicidade dos AGL, a obesidade, a dislipidemia e
outras condições pró-inflamatórias (8).
o Dislipidemia aterogénica
As características-chave da dislipidemia aterogénica são níveis elevados de
triacilgliceróis plasmáticos (TAG), baixos níveis de colesterol HDL (High Density
Lipoprotein) e um aumento das partículas LDL (Low Density Lipoprotein)
pequenas e densas (sdLDL). A IR e a obesidade visceral estão associadas com a
dislipidemia aterogénica (26).
A IR leva à dislipidemia aterogénica através de vários mecanismos. Primeiro, a
disfunção da via de sinalização da insulina vai aumentar a lipólise nos adipócitos,
resultando num aumento de AGL que no fígado vão servir como substrato para a
síntese de TAG. Os AGL também estabilizam a produção de Apolipoproteína B
(apoB), a maior lipoproteína das partículas VLDL (Very-Low-Density Lipoprotein),
através da inibição da sua degradação, resultando numa maior produção de
13
VLDL. Em segundo lugar, a insulina normalmente degrada a apoB pelo que a IR
aumenta directamente a produção de VLDL. Finalmente, em terceiro lugar, a
insulina regula a actividade da lípase de lipoproteínas, que é a maior mediadora
da depuração de VLDL. Portanto, a hipertrigliceridemia na IR resulta não só do
aumento da produção de VLDL mas também da diminuição do seu metabolismo.
As VLDL são metabolizadas em lipoproteínas remanescentes e sdLDL, ambas
promotoras da formação de ateroma. Os TAG das VLDL são transferidos para o
colesterol HDL através da proteína de transferência de ésteres de colesterol
(CETP) em troca dos ésteres de colesterol, resultando em partículas VLDL ricas
em ésteres de colesterol e partículas HDL ricas em TAG. Estas últimas
constituem um substrato melhor para a lípase hepática e por isso sofrem rápida
depuração da circulação, deixando poucas partículas para participar no transporte
reverso de colesterol (8).
o Disfunção endotelial
A disfunção endotelial pode ocorrer quando as respostas normais do endotélio
são afectadas por exemplo pelo stresse oxidativo, hiperglicemia, produtos finais
de glicação avançada, AGL, citocinas inflamatórias ou adipocinas. Uma
característica comum da disfunção endotelial é a reduzida biodisponibilidade de
NO nos vasos sanguíneos, a qual pode resultar de uma produção diminuída de
NO e/ou inactivação aumentada pelas espécies reactivas de oxigénio. A
diminuição da fosforilação da eNOS parece ser um ponto de integração comum
para as várias causas de disfunção endotelial. A IR causa disfunção endotelial
pelos mecanismos já anteriormente descritos aquando da explicação da via de
sinalização da insulina. A adiposidade visceral causa disfunção endotelial através
14
dos efeitos da resistina, IL-6 e TNF-α na diminuição da fosforilação da eNOS. O
TNF-α também aumenta a produção do ião superóxido, uma espécie reactiva de
oxigénio que vai reagir com o NO para formar peroxinitrito, diminuindo assim a
sua disponibilidade nos vasos sanguíneos. Por contraste, a adiponectina, que
estimula a fosforilação da eNOS, está diminuída na SM. Os AGL contribuem para
a disfunção endotelial através da diminuição da sinalização PI3K-AKt e aumento
da produção de espécies reactivas de oxigénio e ET-1 (8).
Caracterização da frutose e suas fontes alimentares
A frutose é um açúcar simples (monossacarídeo) cuja fórmula química (C6H12O6)
é igual à da glicose. Este monossacarídeo difere da glicose apenas pela presença
de um grupo cetónico na posição 2 da sua cadeia carbonada versus um grupo
aldeído na posição 1 da cadeia carbonada da glicose (27). A frutose, também
designada de levulose ou açúcar da fruta, tem o maior poder edulcorante de todos
os açúcares (28) e a nível da indústria alimentar contribui para várias
características vantajosas nomeadamente, o poder edulcorante, humectante (por
exemplo para manter uma humidade de longo prazo em produtos de
padaria/pastelaria industrializadas), o desenvolvimento de cor e aroma, a
depressão do ponto de congelação e a estabilidade osmótica (29).
A frutose encontra-se naturalmente em apenas alguns alimentos, nomeadamente
a fruta, o mel e alguns vegetais (28), sendo tipicamente consumida como sacarose
ou HFCS (30). A sacarose, comum açúcar de mesa, é um dissacarídeo composto
por uma molécula de glicose e outra de frutose ligadas entre si por uma ligação
α1-2 glicosídica (31). O HFCS é um adoçante nutritivo produzido através da
isomerização de parte da glicose existente no xarope de milho em frutose. Este
15
adoçante pode ser produzido com vários rácios de frutose: glicose, sendo que o
mais frequentemente utilizado é o HFCS-55, que contém 55% de frutose e 45%
de glicose, isto é, um rácio frutose: glicose próximo do da sacarose (50% de
frutose, 50% de glicose) (27). O HFCS é extensivamente utilizado em refrigerantes,
produtos de padaria/pastelaria, fruta enlatada, geleias, compotas e lacticínios. A
facilidade de manuseamento deste adoçante líquido e o seu baixo preço fizeram
com que o seu uso aumentasse em comparação com o da sacarose (29).
Consumo de frutose – perspectiva histórica
Toda a evidência sugere que a ingestão de frutose tem vindo a aumentar
continuamente ao longo dos anos (32). O consumo mundial médio de açúcar per
capita aumentou de 56g/dia em 1986 para 65g/dia em 2006 (tabela 2) (33).
Tabela 2 - Consumo mundial de açúcar per capita. Adaptado de ISO, 2008 (33)
.
Os valores não incluem o HFCS.
*Valores inferiores aos da Europa essencialmente devido a um maior consumo de HFCS.
Consumo de açúcar per capita,
g/dia
Continente 1986 2006
Europa 107 124
América do Norte* 83 88
América do Sul 117 143
Ásia 30 45
África 40 46
Oceania 122 118
16
No entanto, os humanos nem sempre foram os grandes consumidores de
açúcares que são hoje em dia. O consumo de açúcares permaneceu bastante
baixo até ao século XVIII, altura em que se tornou possível o desenvolvimento do
comércio intercontinental com países distantes onde o açúcar de cana abundava,
e ocorreu melhoria do processo tecnológico para extrair e refinar os açúcares.
Inicialmente o açúcar era consumido como adoçante no chá e no café, mas o seu
uso estendeu-se rapidamente para a preparação de novos alimentos como os
doces e os produtos de pastelaria. A sacarose permaneceu como adoçante quase
exclusivo até aos anos 60, altura em que a indústria desenvolveu tecnologias que
permitiam a extracção do amido de milho e a sua transformação em adoçantes,
nomeadamente o HFCS. A Figura 3 mostra a evolução do consumo de sacarose
e HFCS nos Estados Unidos da América (EUA), de acordo com o relatório do
Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) (27).
Figura 3 - Consumo de sacarose e HFCS nos EUA. Sucrose – sacarose (Tappy et al, 2010)
(27).
17
O crescimento e a melhoria da indústria de processamento e serviço alimentar
tornaram disponível para o consumo diário um conjunto de alimentos muito
saborosos, mas que são pobres em nutrientes e ricos em açúcar e/ou gordura (34).
Tem sido sugerido que os consumidores escolhem comprar estes alimentos em
detrimento dos mais saudáveis pelo facto de estarem mais disponíveis, serem
mais baratos e simplesmente porque são mais apreciados (34).
Antes de 1900, os americanos consumiam aproximadamente 15g de frutose por
dia (4% do valor energético total - VET), aumentando para 24g (5% do VET) no
período que antecede a Segunda Guerra Mundial e 37g (7% do VET) em 1977 (4).
No período de 1988 a 1994, a ingestão média de frutose foi estimada em
54,7g/dia (10,2% do VET), tendo sido mais elevada nos adolescentes (12-18
anos) com um valor de 72,8g (12,1% do VET). Os refrigerantes foram a principal
fonte de frutose, fornecendo cerca de metade da quantidade ingerida pelos
adolescentes (32). O consumo deste tipo de bebidas aumentou drasticamente nas
últimas décadas passando de aproximadamente 2 porções/pessoa/semana em
1942 para 2 porções/pessoa/dia em 2000 (35). A maioria da frutose na dieta
americana não provém assim da fruta fresca, mas sim do HFCS e da sacarose
que se encontra nos refrigerantes e doces, os quais são praticamente
desprovidos de outros nutrientes (36).
Em relação a Portugal, não existem dados sobre o consumo específico de frutose.
No entanto, pode-se inferir um consumo também crescente através da evolução
do consumo de açúcar (Figura 4).
18
Figura 4 - Consumo anual de açúcar per capita em Portugal (37)
.
No período de 2008/2009 verifica-se uma ingestão anual de açúcar de 34,5 Kg
por habitante, o que significa aproximadamente 94,5 g por dia, metade das quais
são de frutose (47,25g).
Dada a importante participação da frutose na nossa alimentação diária, torna-se
fundamental delinear as suas consequências e efeitos metabólicos.
Recomendações de ingestão de açúcares de adição
Os açúcares de adição são os açúcares que são adicionados aos alimentos
aquando do seu processamento ou preparação. Nas DRI’s (Dietary Reference
Intakes) de 2002 concluiu-se que não existia evidência suficiente para estabelecer
um nível máximo de ingestão diária para os açúcares de adição, uma vez que não
se tinham verificado efeitos adversos específicos associados com a sua ingestão
excessiva. Ainda assim foi sugerido um nível máximo de ingestão diária de 25%
do VET (38). Em 2003 a OMS recomenda um limite de ingestão muito mais baixo,
de apenas 10% (39). As recomendações nutricionais americanas (U.S. Dietary
19
Guidelines) de 2005 apresentam um conceito novo, limitando as discretionary
calories1 consoante as necessidades energéticas (por exemplo 13% de 2000
calorias) (40). A razão desta restrição que se tem vindo a promover consiste na
prevenção do ganho de peso, das cáries dentárias e das deficiências nutricionais
(34).
Metabolismo da frutose
Para perceber melhor como é que a frutose actua na indução das características
da SM, é importante conhecer a forma como é metabolizada no nosso organismo
(41). A frutose é absorvida no intestino, sendo transportada para o interior do
enterócito através de um transportador específico – GLUT5 (transportador 5 de
glicose) –, difundindo depois para os vasos sanguíneos através do GLUT2 (27). A
maior parte do metabolismo da frutose ocorre no fígado (50-75%), sendo a
restante parte metabolizada principalmente pelos rins e adipócitos (42, 43).
Metabolismo hepático
Após absorção, a frutose presente na circulação portal é rápida e eficientemente
extraída pelo fígado (GLUT2), sendo metabolizada em frutose-1-fosfato (P) pela
enzima frutocínase (Figura 5) (27). A frutose-1-P pode depois ser convertida em
várias trioses-P, nomeadamente, gliceraldeído, dihidroxiacetona-P e gliceraldeído-
3-P (2).
1 Parte das necessidades energéticas totais estimadas, de que se pode usufruir após as
recomendações nutricionais terem sido alcançadas e que incluem as que provêm dos açúcares de adição, gorduras sólidas e álcool.
20
Figura 5 - Metabolismo hepático da frutose. Adaptado de Rutledge et al, 2007 e Tappy et al,
2010 (2, 27)
.
A maior parte das trioses produzidas pelo metabolismo da frutose são convertidas
em glicose e glicogénio através da gliconeogénese (44, 45). As trioses-P podem
também ser convertidas em piruvato e oxidadas em CO2 e H2O (dióxido de
carbono e água, respectivamente) no ciclo de Krebs (27). No entanto, parte é
convertida em lactato, o qual é libertado na corrente sanguínea (46). Finalmente,
21
parte dos átomos de carbono da frutose pode ainda ser usada para a síntese de
ácidos gordos e glicerol nos hepatócitos, através do processo de lipogénese de
novo (DNL) (27). Para além disso, a frutose inibe a oxidação lipídica hepática,
favorecendo assim a reesterificação dos ácidos gordos com o glicerol para formar
TAG, e a síntese de VLDL ricas em TAG (VLDL-TAG) que são depois libertadas
para a corrente sanguínea (47).
A Figura 6 resume os vários destinos metabólicos da frutose e a proporção em
que ocorrem.
Figura 6 - Destinos da frutose metabolizada a nível hepático. Adaptado de Tappy et al, 2010
(27).
No fígado, a maior parte da frutose é convertida em glicose, que pode ser
armazenada como glicogénio hepático (>15%) ou libertada para o plasma (50%).
Parte da frutose é convertida em lactato (25%) e apenas uma pequena porção é
convertida em ácidos gordos; apesar de ser quantitativamente menor, após
ingestão excessiva de frutose esta via pode ter um papel importante no
22
desenvolvimento de esteatose hepática e dislipidemia, ambas características da
SM (27).
O metabolismo hepático da frutose difere consideravelmente do da glicose por
várias razões. A entrada de glicose na via glicolítica é controlada pela glicocínase,
enzima que possui um elevado Km2 para a glicose e, portanto, a taxa de
fosforilação da glicose varia com as alterações da sua concentração portal (48). A
glicose-6-P é convertida em frutose-6-P e depois em frutose-1,6-bifosfato através
de uma reacção catabolizada pela fosfofrutocínase. A actividade desta enzima é
inibida pelo ATP (trifosfato de adenosina) e citrato, o que permite a regulação da
reacção de acordo com o estado energético da célula (49). A frutose-1-6-bifosfato é
posteriormente convertida em piruvato antes de entrar no ciclo de Krebs. A
conversão de glicose em piruvato é inteiramente regulada pela insulina (estimula
a expressão genética da glicocínase e activa as enzimas glicolíticas) e pelo
estado energético da célula (27).
Por oposição, a conversão de frutose em trioses-P ocorre de forma independente
da insulina e é um processo extremamente rápido devido ao baixo Km da
frutocínase para a frutose e à ausência de feedback negativo pelo ATP ou citrato.
Esta absorção e fosforilação massivas de frutose pelo fígado podem deste modo
levar à depleção de ATP, o qual é degradado em AMP (monofosfato de
adenosina) e ácido úrico (27). Por outro lado, permitem um fluxo desregulado de
carbonos para a DNL, aumentando assim a produção lipídica em maior extensão
que a glicose (2).
2 O km é uma medida de afinidade da enzima para o seu substrato; Quanto maior é o valor de km,
menor a afinidade e vice-versa.
23
Para além de ser insulino-independente, a frutose pode baixar a glicose
plasmática devido à estimulação da glicocínase e consequente aumento da
absorção de glicose a nível hepático (49-51). Tal facto levou ao conceito de que
doses catalíticas de frutose poderiam ser benéficas nos diabéticos,
nomeadamente através do uso deste açúcar como adoçante. No entanto, os
outros efeitos da frutose, particularmente a indução de IR e aumento dos TAG,
levaram algumas entidades como a ADA (American Diabetes Association) a não
recomendar a sua suplementação neste tipo de doentes (50).
Tal como se poderá ver nas secções seguintes, são as características lipogénicas
da frutose, em associação com a sua capacidade para provocar depleção de ATP
e produção de ácido úrico, que são maioritariamente responsáveis pela sua
capacidade de induzir a SM (41).
Papel da frutose na indução das características da SM
Evidência de estudos experimentais
Existe bastante evidência, tanto em modelos animais como em estudos em
humanos, que suporta a noção de que a ingestão excessiva de frutose constitui
um factor nutricional importante no desenvolvimento da SM e das suas
complicações associadas (3). Os estudos experimentais em animais têm
demonstrado claramente esta ligação; para além de causar hipertrigliceridemia
(51), baixo colesterol HDL (52), hipertensão (53), e IR (51, 54), a administração de
frutose em ratos pode ainda resultar noutras condições associadas com a SM,
nomeadamente, NAFLD (55), aumento da acumulação de gordura intra-abdominal
24
(56), disfunção endotelial (54, 57), stress oxidativo (58) e inflamação sistémica (59),
entre outras.
Em relação aos humanos, há muito que se reconhece que a ingestão elevada de
frutose durante um período superior a uma semana, aumenta os TAG plasmáticos
(totais e VLDL-TAG) em voluntários saudáveis e em doentes com IR ou DM2 (27).
Recentemente, verificou-se uma diminuição da oxidação lipídica e o aumento dos
TAG em jejum em homens saudáveis, em resposta a uma excessiva ingestão de
frutose (3 g frutose /kg/dia e 3,5 g frutose /kg massa magra/dia) durante
aproximadamente uma semana (60, 61). Noutro estudo, além de aumentar os TAG
em jejum, a administração aguda de frutose elevou também os níveis de TAG
pós-prandiais devido a uma menor depuração das VLDL-TAG (62). Uma vez que a
maioria dos estudos usam uma elevada quantidade de frutose, os efeitos da sua
ingestão habitual nos TAG plasmáticos são ainda controversos (27). No entanto,
uma meta-análise que compilou os resultados de todos os estudos publicados
que avaliaram os efeitos da frutose, permitiu concluir que uma ingestão de frutose
superior a 50g/dia (isto é, próxima da ingestão média diária nos EUA) está
associada com o aumento dos TAG pós-prandiais, ao passo que uma ingestão
superior a 100g/dia se associa com o aumento de TAG em jejum (63). Para além
destes efeitos da frutose nos TAG, um estudo publicado em 2007 permitiu
observar que uma maior ingestão de frutose se relaciona com um menor tamanho
das partículas LDL em crianças com excesso de peso (64).
A acumulação de gordura intra-hepática (esteatose hepática) como consequência
da ingestão de frutose tem sido menos documentada em humanos do que em
animais (27). Verificou-se que uma ingestão de 1,5 g de frutose/kg/dia em homens
saudáveis não alterou significativamente o conteúdo lipídico do músculo ou do
25
fígado (65). No entanto, a administração do dobro de frutose em apenas sete dias
induziu um aumento significativo do conteúdo lipídico hepático e intramiocelular
(66). Este aumento estava positivamente relacionado com o aumento das VLDL-
TAG em jejum, sugerindo que estes dois mecanismos possam ter origem num
mecanismo comum, presumivelmente na estimulação da DNL hepática (27).
Vários estudos têm salientado o efeito prejudicial da frutose no metabolismo da
glicose e na sensibilidade à insulina (27). Verificou-se, por exemplo, que uma
elevada ingestão de frutose (3,5 g frutose /kg massa magra/dia ou 3 g frutose
/kg/dia) durante seis dias causa IR hepática (61) e IR a nível do tecido adiposo (67)
em homens saudáveis. No entanto, uma ingestão mais moderada (1,5 g frutose
/kg/dia) durante quatro semanas não conseguiu induzir IR (65). Apesar de nos
animais não existir dúvida de que a ingestão elevada de frutose causa IR, no
humanos a evidência é menos impressionante: a frutose induz uma leve
disfunção das acções hepáticas da insulina, mas não reduz a sensibilidade global
à insulina (27).
Ao contrário do que acontece nos animais, existe pouca evidência de que a
frutose por si só aumente directamente a pressão arterial em humanos (27). A
maioria dos estudos a curto prazo não conseguiu demonstrar o efeito da ingestão
elevada de frutose na pressão arterial (27). No entanto, tem sido repetidamente
observado que uma ingestão elevada de frutose aumenta os níveis de ácido úrico
plasmático (27) e, mais recentemente, o ácido úrico tem sido implicado na
patogénese da HTA (68); concluiu-se em vários estudos que um nível elevado de
ácido úrico constitui um factor de risco independente para a HTA (68).
26
Com o objectivo de comparar os efeitos da ingestão de frutose com os de glicose
em humanos, Stanhope e os seus colaboradores (69) realizaram um estudo no
qual indivíduos com excesso de peso/obesidade consumiram bebidas adoçadas
com frutose ou glicose, fornecendo 25% das suas necessidades energéticas
durante dez semanas. Este é o primeiro estudo a demonstrar que o efeito do
consumo prolongado de frutose, mas não de glicose, aumenta a DNL hepática em
humanos, quando medido durante uma alimentação energeticamente equilibrada.
Ambos os grupos de indivíduos exibiram um aumento significativo do peso
corporal; No entanto, o tecido adiposo visceral aumentou significativamente
apenas nos que consumiram frutose, ao passo que nos que consumiram glicose o
aumento de deposição de gordura se deu maioritariamente no tecido adiposo
subcutâneo. Ao contrário da glicose, o consumo de frutose também induziu um
aumento significativo de TAG pós-prandiais, menor actividade da lípase das
lipoproteínas, diminuição significativa da sensibilidade à insulina e aumento
significativo das concentrações plasmáticas de LDL, apoB, sdLDL, oxLDL
(partículas LDL oxidadas), glicose e insulina em jejum (69).
Apesar dos efeitos nefastos da frutose estarem bem demonstrados, os seus
mecanismos só recentemente estão a ser descobertos (3). Têm sido propostos
vários mecanismos, alguns dos quais serão abaixo discutidos.
Frutose e obesidade visceral
A absorção e fosforilação massivas de frutose pelo fígado fazem com que pouca
frutose chegue à circulação, ao contrário do que acontece com a glicose. Como a
glicose estimula a libertação de insulina pelo pâncreas e a frutose não, a ingestão
27
excessiva de frutose vai então resultar numa menor resposta insulinémica pós-
prandial quando comparada com a da glicose (34). A insulina aumenta a expressão
e actividade da lípase das lipoproteínas e tem sido demonstrado que no tecido
adiposo subcutâneo a lípase é mais sensível aos efeitos da insulina do que a
lípase do tecido adiposo visceral (70). Assim, o aumento de insulina após ingestão
de glicose leva a uma maior actividade da lípase das lipoproteínas e consequente
aumento da captação de TAG no tecido adiposo subcutâneo. Pelo contrário, a
diminuída resposta insulinémica após o consumo de frutose resulta numa baixa
actividade da lípase no tecido adiposo subcutâneo, permitindo assim uma maior
captação de TAG pelo tecido adiposo visceral (34).
Frutose e hipertensão arterial
A frutose tem a capacidade única de elevar os níveis plasmáticos de ácido úrico,
quando comparada com os outros açúcares (6, 71): é rapidamente fosforilada pela
frutocínase, que usa o ATP como dador de fosfato resultando na sua deplecção
intracelular (4); À medida que o ATP é consumido, o AMP acumula e estimula a
deaminase do AMP, resultando na produção de IMP (monofosfato de inosina) e,
finalmente, ácido úrico (72). Este inibe a eNOS e consequente produção do
vasodilatador NO, promovendo assim a HTA (Figura 7) (73).
Para além do ácido úrico, a frutose também induz a produção de produtos finais
de glicação avançada, os quais promovem a aterosclerose, inflamação e stress
oxidativo, contribuindo para a HTA e progressão da SM (3).
28
Figura 7 - Mecanismos propostos para a indução de características da SM por parte da
frutose. GLUT-5 – transportador de glicose 5; ATP – trifosfato de adenosina; AMP –
monofosfato de adenosina; IMP – monofosfato de inosina; Pi – fosfato inorgânico; MAPK8 -
cínase 8 de proteínas activadas por agentes mitogénicos; MKK7 - cínase 7 activadora de
proteínas da família da MAPK; IRS-1 - substrato 1 do receptor da insulina; pSer-IRS-1 – IRS-
1 fosforilado em serina; Hepatic; PKC - proteína cínase C; DAG - diacilglicerol; PGC-1β –
peroxisome proliferator-activated receptor γ coactivator 1β; PP2A – proteína fosfatase 2A;
ChREBP - proteína de ligação ao elemento de resposta aos hidratos de carbono; SREBP1c -
proteína 1 c de ligação ao elemento regulador dos esteróides; Acetyl-CoA – Acetilcoenzima
A; ACL – ATP citrato líase; ACC1 – Acetil-CoA CarboxIílase 1; FAS – sintase dos ácidos
gordos; MTTP - proteína microssomal de transferência de triacilgliceróis; ApoB -
Apolipoproteína B; Malonyl-CoA – malonil-coenzima A; CPT-1 - carnitina palmitoil-
transferase 1; LPL – lípase das lipoproteínas; Adaptado de Lim et al, 2010 (4)
.
29
Frutose, dislipidemia e NAFLD
O mecanismo pelo qual a frutose induz dislipidemia é através do aumento da DNL
hepática (69). Por um lado, tal como referido anteriormente, o aumento da DNL é
devido ao facto da absorção e metabolismo hepáticos de frutose não serem
limitados pelo estado de energia da célula (74). Isto faz com que seja produzida
Acetilcoenzima A (Acetil-CoA) em demasia na mitocôndria, excedendo assim a
capacidade do ciclo de Krebs para a metabolizar. A acetil-CoA é então convertida
em citrato e sai para o citosol, servindo de substrato para a DNL (4). Por outro
lado, a frutose tem a capacidade de, directa ou indirectamente através dos seus
intermediários, activar factores de transcrição (proteína 1 c de ligação ao
elemento regulador dos esteróides - SREBP1c - sterol receptor element-binding
protein-1c e proteína de ligação ao elemento de resposta aos hidratos de carbono
- ChREBP – carbohydrate response element binding protein, respectivamente)
responsáveis pela activação de genes que codificam enzimas da DNL (ver figura
7) (4).
A elevada taxa de DNL induzida pela frutose produz um aumento dos TG
hepáticos, quer pelo aumento da produção de ácidos gordos, quer pela
diminuição da sua oxidação mitocondrial através da malonil-CoA. Esta molécula
deriva da Acetil-CoA e inibe a carnitina palmitoil-transferase 1 (CPT1 – carnitine
palmitoyl transferase 1) diminuindo assim a entrada de ácidos gordos na
mitocôndria. (75).
O aumento dos lípidos hepáticos está associado a uma diminuição da degradação
de apoB e consequente aumento da síntese e secreção de VLDL ricas em TAG
para a corrente sanguínea (76). A secreção aumentada de VLDL-TAG associada à
reduzida activação da lípase das lipoproteínas pela insulina resulta em
30
hipertrigliceridemia e consequente dislipidemia aterogénica – aumento das
lipoproteínas remanescentes, sdLDL e oxLDL e diminuição das HDL (34).
A NAFLD é considerada a manifestação hepática da SM e consiste num conjunto
de alterações hepáticas desde a simples esteatose (acumulação lipídica) à
esteatose mais severa associada com inflamação marcada – esteatohepatite não
alcoólica (NASH) -, podendo progredir para cirrose, falência hepática e carcinoma
hepatocelular (18). Os TAG formados pela DNL podem sobrepor-se à maquinaria
de exportação de lípidos hepáticos e precipitar no fígado, levando à acumulação
de lípidos intra-hepáticos e esteatose. A frutose tem a capacidade de produzir
espécies reactivas de oxigénio que, quando associadas com deficiências de
micronutrientes podem diminuir a disponibilidade de glutationa e possivelmente
outras reservas hepáticas antioxidantes, podendo assim contribuir para a
inflamação e evolução de esteatose hepática para a NASH (4).
Frutose e insulino-resistência
Têm sido propostos vários mecanismos pelos quais a frutose pode induzir IR. No
fígado, o diacilglicerol (DAG), um intermediário lipídico que acumula durante a
DNL, tem a capacidade de activar a proteína cínase C (PKC) hepática (77).
Adicionalmente, a frutose-1-P activa a cínase 7 activadora de proteínas da família
da MAPK (MKK7) (78), que por sua vez estimula a cínase 8 de proteínas activadas
por agentes mitogénicos (MAPK8) (79). Ambas, a PKC e a MAPK8 induzem a
fosforilação em serina e subsequente inactivação do substrato 1 do receptor da
insulina (IRS-1), levando assim à alteração da sinalização da insulina e
consequente IR hepática (80-83).
31
Em relação ao músculo, o excesso de lípidos na circulação sanguínea derivado
da elevada taxa de DNL pode levar à sua deposição intramiocelular (84, 85),
causando IR pelo já referido mecanismo despoletado pelo DAG (77).
Outro dos mecanismos propostos para a indução de IR pela ingestão excessiva
de frutose é através da inibição da eNOS pelo ácido úrico e consequente
diminuição dos níveis plasmáticos de NO (3). Normalmente, a insulina aumenta a
biodisponibilidade endotelial de NO, dilatando os vasos sanguíneos e permitindo
assim que a glicose chegue ao músculo com facilidade. Assim, quando há
diminuição de NO, a captação de glicose diminui e mais insulina é segregada
para compensar, ocorrendo hiperinsulinemia e IR (6, 71).
Pensa-se que o ácido úrico também pode induzir IR pelos seus efeitos directos no
adipócito, nomeadamente, o aumento do stress oxidativo, a resposta pró-
inflamatória e a diminuição de adiponectina (41).
32
Análise crítica e Conclusões
Existe evidência crescente de que a ingestão elevada de frutose constitui um
importante factor nutricional no desenvolvimento da SM e suas condições
associadas; primeiro, o consumo de frutose tem aumentado drasticamente ao
longo das últimas décadas, coincidindo com a incidência crescente da SM (3);
segundo, a ingestão excessiva de frutose, ao contrário dos outros açúcares, induz
características da SM, tanto em animais de laboratório como em humanos;
finalmente, em terceiro lugar, a frutose parece mediar a SM em parte pela
capacidade de aumentar os níveis plasmáticos de ácido úrico, existindo
actualmente bastantes dados clínicos e experimentais que implicam o ácido úrico
na patogénese da SM (41).
No entanto, a maioria dos estudos realizados com o objectivo de avaliar os efeitos
da frutose utiliza grandes doses deste açúcar, muitas vezes como suplemento a
uma dieta isocalórica (27). Não existe evidência suficiente de que a ingestão
moderada de frutose, ou de frutose proveniente da fruta seja insegura do ponto de
vista metabólico (27), sobretudo se respeitadas as recomendações de ingestão.
Além disso, a fruta tem uma grande importância nutricional, e o consumo
insuficiente de hortofrutícolas aumenta o risco de doenças crónicas não
transmissíveis, como as cardiovasculares e alguns tipos de cancro, para além de
estar entre os 10 factores de risco causadores de maior mortalidade e morbilidade
a nível mundial (86). Por estas razões, não seria sensato recomendar uma menor
ingestão de fruta com base na prevenção dos eventuais efeitos deletérios da
frutose.
Não há evidência de que os efeitos da frutose livre (como no HFCS) sejam
diferentes dos da frutose ligada à glicose, como acontece na sacarose (27).
33
O único estudo que compara directamente os efeitos da frutose com os dos
adoçantes nutritivos comuns, HFCS e sacarose, indica que estes últimos
aumentam os TAG pós-prandiais de forma comparável à da frutose pura. Como
estes adoçantes contém aproximadamente metade da frutose que foi
administrada isoladamente, isto sugere que a glicose pode de alguma forma
potenciar os efeitos da frutose (34). São, portanto, necessários estudos dose-
resposta que determinem os níveis a partir dos quais se pode associar a frutose,
quer isolada, quer em combinação com a glicose na forma de HFCS e/ou
sacarose, com os seus efeitos metabólicos nocivos, em normoponderais e em
obesos. Além disso, é preciso ter em conta que um elevado consumo de frutose
muitas vezes está associado com outros comportamentos de risco para as
desordens metabólicas, nomeadamente uma dieta hipercalórica e/ou rica em
gordura saturada ou a baixa actividade física. É, portanto, importante perceber
que parte das alterações metabólicas pode ser atribuída à frutose e quais
resultam de interacções com outros factores de risco (27).
A evidência de estudos clínicos e epidemiológicos recentes sugere que existem
riscos associados com a ingestão de açúcar que vão para além do ganho de
peso, cáries dentárias e deficiências nutricionais sendo, por isso, necessário
reavaliar as recomendações nutricionais para os açúcares de adição (34) e delinear
estratégias que estabilizem a crescente utilização industrial e consumo de frutose,
quer seja na sua forma pura ou em combinação com a glicose, na sacarose e no
HFCS.
35
Referências Bibliográficas
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