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FREQUÊNCIA DOS ALELOS HLA EM PACIENTES COM LEUCEMIA E DOS DOADORES VOLUNTÁRIOS DE MEDULA ÓSSEA, ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO HOSPITALAR DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DO AMAZONAS MIRIAN RODRIGUES RIBEIRO SANTIAGO MANAUS 2015 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEMATOLOGIA MESTRADO EM CIÊNCIAS APLICADAS À HEMATOLOGIA

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FREQUÊNCIA DOS ALELOS HLA EM PACIENTES COM LEUCEMIA E DOS

DOADORES VOLUNTÁRIOS DE MEDULA ÓSSEA, ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO

HOSPITALAR DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DO AMAZONAS

MIRIAN RODRIGUES RIBEIRO SANTIAGO

MANAUS

2015

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DO AMAZONAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEMATOLOGIA MESTRADO EM CIÊNCIAS APLICADAS À HEMATOLOGIA

MIRIAN RODRIGUES RIBEIRO SANTIAGO

FREQUÊNCIA DOS ALELOS HLA EM PACIENTES COM LEUCEMIA E DOS

DOADORES VOLUNTÁRIOS DE MEDULA ÓSSEA, ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO

HOSPITALAR DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DO AMAZONAS

Orientador: Prof. Dr. Daniel Saito

Co-orientadora: Profa. Dra. Aya Sadahiro

MANAUS

2015

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Hematologia da Universidade do Estado do

Amazonas em Convênio com a Fundação

Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do

Amazonas, em cumprimento a requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em

Ciências Aplicadas à Hematologia.

APRESENTAÇÃO:

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária da Fundação Hemoam: Ana Cristina

Chagas Sena CRB-11/348

S135f Santiago, Mirian Rodrigues Ribeiro.

Frequência dos alelos HLA Classe I e II em pacientes com leucemia e doadores voluntários de medula óssea atendidos na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas. Mirian Rodrigues Ribeiro Santiago. Manaus: UEA/FHEMOAM 2015. 72p. Ilust. Dissertação (Mestrado em Ciências Aplicadas em Hematologia) – Universidade do Estado do Amazonas e Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas. Escola de Ciências da Saúde (ESA). Orientador: Prof. Dr. Daniel Saito Co-orientadora: Profa. Dra. Aya Sadahiro 1.Leucemias, 2. Alelos HLA, 3. Suscetibilidade, 4. Resistência. I. Título.

CDU: 616.155.392

FOLHA DE JULGAMENTO

FREQUÊNCIA DOS ALELOS HLA EM PACIENTES COM LEUCEMIA E

DOADORES VOLUNTÁRIOS DE MEDULA ÓSSEA ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO

HOSPITALAR DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DO AMAZONAS

MIRIAN RODRIGUES RIBEIRO SANTIAGO

“Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em

Ciências aplicadas a Hematologia, aprovada em sua forma final pelo Programa de

Pós-Graduação em Hematologia da Universidade do Estado do Amazonas em

convênio com a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas”.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Daniel Saito, Dr.

Presidente

_____________________________________ Profa. Mariane Martins de Araújo Stefani, Dra.

Membro

______________________________________ Profa. Leny Nascimento da Motta Passos, Dra.

Membro

Dedicatória

Aos meus pais, Raimundo e Graça, meus

exemplos de vida e dedicação, graças a eles

pude chegar aonde cheguei e conquistar o que

conquistei.

A meu esposo Jacob e minha filha Thalyssa

pelo apoio, dedicação e amor dedicados a

mim.

A vocês, meu AMOR, CARINHO, RESPEITO e

GRATIDÃO.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a DEUS, criador de TUDO e de TODOS.

Graças a ELE, pude desenvolver meus conhecimentos e aprimorar minhas aptidões

profissionais. Obrigado Deus Pai! Pela vida, saúde, vitória e, acima de tudo, pela

força, para sempre me erguer nos momentos difíceis.

Ao meu esposo Jacob e minha filha Thalyssa que sempre estiveram ao meu

lado, obrigada pelo carinho, incentivo, amor e paciência.

Aos meus pais Raimundo e Graça Ribeiro que continuam nessa mesma

filosofia e me incentivam até hoje, a eles minha eterna gratidão não só pela

formação profissional, mas pelos ensinamentos para a vida.

A minha família Ribeiro que sempre estiveram presentes dando todo o apoio

necessário para que pudesse vencer os obstáculos do dia-a-dia;

Aos meus orientadores e mestres Dr. Daniel Saito e Dra. Aya Sadahiro, pelo

apoio, disponibilidade e carinho que sempre demonstram a mim.

A todos esses professores em especial, minha gratidão, nossa convivência

durante esses anos contribuiu muito para meu crescimento profissional.

Agradeço também aos pacientes, que foram essenciais para realização

deste trabalho.

A toda equipe do Laboratório de HLA (Adriana, Lorena, Nandara e William) e

a todos os funcionários do LAC por toda ajuda dada;

A equipe do setor de estatística da Fundação HEMOAM pela ajuda no

projeto.

Enfim, a todos que contribuíram para que essa dissertação de mestrado se

tornasse uma realidade, muito obrigada.

RESUMO

O desenvolvimento das leucemias está relacionado a diversos fatores, tais

como a predisposição genética, exposição a produtos químicos e irradiação. No

Brasil, embora muitas pesquisas sobre antígenos leucocitários humanos (HLA)

associados às doenças tenham sido conduzidas, ainda existe uma grande lacuna de

conhecimentos sobre a participação do HLA nas leucemias. Por este motivo, o

presente estudo teve como objetivo a investigação da frequência dos alelos HLA

Classe I (A e B) e II (DRB1) em 177 pacientes com diagnóstico de leucemia: linfóide

aguda (LLA, n=105), mieloide aguda (LMA, n=42) e mieloide crônica (LMC, n=30) e

em 1.200 indivíduos saudáveis, atendidos na Fundação Hospitalar de Hematologia e

Hemoterapia do Amazonas (FHHEMOAM). A tipificação de HLA foi realizada pela

técnica multiplex com sondas únicas de oligonucleotídeos de sequências específicas

para alelos e grupos alélicos (PCR-SSOP). Neste estudo, os alelos HLA mais

frequentes (≥10%), tanto nos pacientes quanto nos controles, foram: A*02, A*24,

A*31, B*15, B*35, DRB1*04 e DRB1*08. Além disso, os alelos HLA-B*39 (p=0,0246;

OR=1,725; IC 95%=1,10-2,72) e HLA-B*44 (p=0,0069; OR=0,347; IC 95%=0,16-

0,75) foram associados, respectivamente, à suscetibilidade e proteção para LLA,

enquanto que o alelo HLA-A*03 (p=0,0559; OR=2,071; IC 95%=1,05-4,09) foi

associado à suscetibilidade para LMA. Os resultados obtidos sugerem que alguns

alelos HLA classe I têm participação relevante no desenvolvimento de LLA e LMA na

população-alvo do estudo.

Palavras-chave: leucemia, HLA, suscetibilidade, resistência.

ABSTRACT

The development of leukemia is related to several factors such as genetic

predisposition, exposure to chemical products and radiation. In Brazil, although a lot

of research have been conducted on the impact of human leukocyte antigens (HLA)

in a variety of diseases, there is still a huge gap of knowledge about the participation

of HLA in leukemia. In this reality, this study aimed to investigate the frequency of

HLA Class I (A and B) and II (DRB1) in 177 patients with acute lymphoblastic (ALL,

n=105), acute myeloid (AML, n=42) and chronic myelogenous (CML, n=30) leukemia,

and 1,200 healthy control subjects, all attended at the Hematology and Hemotherapy

Hospital of Amazonas Foundation (FHHEMOAM). HLA typing was performed by

multiplex polymerase chain reaction, based on sequence-specific oligonucleotide

probes (PCR-SSOP). In all, the most frequently detected alleles (≥10%), both in

patients and in controls, were A*02, A*24, A*31, B*15, B*35, DRB1*04 and DRB1*08.

In addition, alleles HLA-B*39 (p=0.0246, OR=1.725, 95% CI=1.10 to 2.72) and HLA-

B*44 (p=0.0069, OR=0.347; 95% CI=0.16 to 0.75) were associated, respectively,

with susceptibility and protection for ALL, while HLA-A*03 (p=0.0559; OR=2.071;

95% CI=1.05 to 4.09) was associated with susceptibility to AML. The results suggest

that specific HLA class I alleles have a relevant participation in the development of

ALL and AML, within the target population of the study.

Key-words: leukemia, HLA, susceptibility, resistance.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição geográfica das taxas de incidência das leucemias segundo

unidades da Federação Brasileira, a cada 100 mil habitantes para o ano de 2014. . 13

Figura 2. Distribuição das regiões HLA classes I, II e III ao longo do cromossomo 6 e

respectivos lócus gênicos.......................................................................................... 15

Figura 3. Estrutura da molécula HLA de classe I e classe II..................................... 15

Figura 4. Procedimento técnico da etapa de hibridização. ........................................ 29

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Características dos pacientes com Leucemia (LLA, LMA e LMC) e do grupo controle. .......................................................................................................... 31 Tabela 2. Frequência dos alelos de HLA-A*, em pacientes com Leucemia e suas diferentes formas clínicas (LLA, LMA e LMC) e nos controles. ................................. 34 Tabela 3. Frequência dos alelos de HLA-B*, em pacientes com Leucemia e suas diferentes formas clínicas (LLA, LMA e LMC) e nos controles. ................................. 35 Tabela 4. Frequência dos alelos de HLA-DRB1*, em pacientes com Leucemia e suas diferentes formas clínicas (LLA, LMA e LMC) e nos controles. ........................ 36

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Classificação das LLCs ............................................................................. 6 Quadro 2. Classificação da Organização Mundial de Saúde (2008) das LMAs. ........ 9 Quadro 3. Classificação Franco-Americano-Britânica (FAB) das LMAs. .................. 10 Quadro 4. Estudos em HLA, em pacientes com Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) e em controles. .......................................................................................................... 18

Quadro 5. Estudos de HLA em pacientes com Leucemia Mieloide Aguda (LMA) e em controles. ............................................................................................................. 20 Quadro 6. Estudos de HLA em pacientes com Leucemia Mieloide Crônica (LMC) e em controles. ............................................................................................................. 21

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDAS

BCR-ABL Translocação dos cromossomos 9 e 22

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CD Cluster of Differentiation

DNA Ácido Desoxirribonucleico

DVMO Doador Voluntário de Medula Óssea

dNTP Desoxirribonucleico Trifosfato

EDTA Ácido Etileno Diamino Tetracético

EUA Estados Unidos da América

FAB-LMAs Classificação Franco-Americano-Britânico das LMAs

FHHEMOAM Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas

HLA Antígeno Leucocitário Humano

IMGT International Immunogenetics Information System

INCA Instituto Nacional do Câncer

kDa Kilo Dalton

KIR Immunoglobulin-like receptor

LLA Leucemia Linfoblástica Aguda

LLC Leucemia Linfoblástica Crônica

LMA Leucemia Mielóide Aguda

LMC Leucemia Mielóide Crônica

MHC Complexo Maior de Histocompatibilidade

mg Miligrama

mL Mililitro

NK Células Natural Killer

OMS Organização Mundial de Saúde

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

PE Ficoeritrina

RPM Rotação por minuto

SAPE Estreptavidina Conjugada com R-ficoeritrina

SSOP Sequência Específica de Sondas de Oligonucleotídeos

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCR Receptor de Célula T

TMO Transplante de Medula Óssea

UEA Universidade do Estado do Amazonas

UFAM Universidade Federal do Amazonas

SUMÁRIO 1. INTRODUCÃO ........................................................................................................ 1

1.1 Tipos de Leucemias ........................................................................................... 2

1.1.1 Leucemia Linfóides .................................................................................................................... 2

1.1.1.1 Leucemia Linfóide Aguda ................................................................................................ 3 Linfoma não Hodgkin em fase leucêmica ................................................................ 6

Linfoma de zona marginal esplênico/Linfoma da zona marginal nodal .................... 6 1.2 Neoplasias Mieloides ......................................................................................... 7

1.2.1 Leucemia Mieloide Aguda ....................................................................................................... 8

1.2.2 Leucemia Mieloide Crônica .................................................................................................. 11 1.3. Epidemiologia das Leucemias no Brasil ......................................................... 13 1.4 Complexo Principal de Histocompatibilidade ................................................... 14 1.5 Leucemias e HLA (Antígeno Leucocitário Humano) ........................................ 16

1.5.1 HLA e LLA: ................................................................................................................................... 17

1.5.2 HLA e LMA: ................................................................................................................................. 18

1.5.3 HLA e LMC: .................................................................................................................................. 20 2. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 23 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 24

4. MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 25 4.1 Modelo de Estudo ............................................................................................ 25 4.2 Universo de Estudo ......................................................................................... 25

4.2.1 População de Referência ....................................................................................................... 25

4.2.2 População de Estudo ............................................................................................................... 25

4.2.3 Critérios de inclusão e exclusão .......................................................................................... 26 4.3 Procedimentos ................................................................................................. 26

4.3.1 Coleta da amostra clínica....................................................................................................... 26

4.3.2 Tipificação HLA ......................................................................................................................... 27

4.3.3 Extração de DNA ....................................................................................................................... 27

4.3.4 Amplificação de DNA ............................................................................................................... 28

4.3.5 Hibridização ............................................................................................................................... 28 4.4 Interpretação de dados e análises estatísticas ................................................ 29 4.6 Considerações Éticas ...................................................................................... 30

5. RESULTADOS ...................................................................................................... 30 5.1 Características gerais e clínicas da população estudada ................................ 30

5.2 Identificação dos alelos HLA classe I e II nos pacientes com leucemias e controles saudáveis ............................................................................................... 32

6. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 39 6.1. Resultados gerais ........................................................................................... 39

6.2. Frequência alélica e análise de associação nas leucemias ............................ 40

6.2.1. Leucemia Linfóide Aguda (LLA) ........................................................................................ 41

6.2.2. Leucemia Mieloide Aguda (LMA) ...................................................................................... 43

6.2.3. Leucemia Mieloide Crônica (LMC) .................................................................................... 44 7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 46 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 47

9. ANEXOS ............................................................................................................... 55

1

1. INTRODUCÃO

Historicamente, a leucemia foi originalmente evidenciada há mais de 200

anos por Peter Cullen, em um caso de esplenite aguda associada ao ―sangue

leitoso‖ (CULLEN, 1811). Alguns anos após, Alfred Velpeau (1827) observou pus

nos vasos sanguíneos de um paciente, cujos sintomas eram característicos do que

seria conhecida, futuramente, como a doença leucêmica. Contudo, o

reconhecimento da leucemia como doença humana distinta somente ocorreu no ano

de 1845, quando os pesquisadores Rudolf Virchow, na Alemanha, e John Bennett e

David Craigie, na Escócia, descreveram a ―doença do sangue branco‖ (VIRCHOW,

1845; BENNETT e CRAIGIE, 1845). Esta foi, posteriormente, denominada

―leucemia‖ por Rudolf Virchow (1856), sendo este termo amplamente aceito pela

comunidade científica e utilizado até a atualidade.

As leucemias constituem o tipo mais comum de câncer em crianças e

adolescentes, sendo representadas por um conjunto de doenças caracterizadas pela

proliferação neoplásica das células brancas da medula óssea. Esta proliferação

celular, por sua vez, interfere diretamente na hematopoiese, causando

anormalidades no sangue periférico e, por vezes, infiltrando em tecidos não

hematopoiéticos. Tais alterações acarretam, habitualmente, em sangramento,

infecções e anemia, dentre outras complicações sistêmicas importantes (LORENZI,

2006).

Nos Estados Unidos, estima-se que aproximadamente 13,9 indivíduos por

100 mil habitantes desenvolverão algum tipo de leucemia, com uma taxa de morte

de 6,8 pacientes em cada 100 mil habitantes. Em números absolutos, esta

estimativa equivale um total de 54.270 novos casos (3% do total de casos de

câncer) e 24.450 mortes (4,1% do total de mortes por câncer), no ano de 2015. No

Brasil, o levantamento epidemiológico mais recente indicou um total de 11.370

novos casos e 6.187 mortes, entre homens e mulheres (INCA, 2014).

As leucemias podem ser classificadas em agudas ou crônicas, conforme a

velocidade de evolução da doença, e em linfóide ou mieloide, dependendo da

linhagem celular envolvida. Dentre os principais tipos de leucemia encontram-se:

2

leucemia linfóide aguda (LLA), leucemia linfóide crônica (LLC), leucemia mieloide

aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC) (BARION et al., 2007). Porém,

salienta-se que as leucemias diferem não apenas quanto ao seu perfil

citomorfológico, como também quanto aos aspectos clínicos, incluindo o quadro

evolutivo e a resposta ao tratamento (ZAGO et al., 2013).

Atualmente, a classificação das leucemias (bem como o seu diagnóstico e a

avaliação das terapias) é realizada por uma abordagem multifacetada. De fato,

ensaios imunofenotípicos, citogenéticos e de genética molecular vêm sendo

gradativamente utilizados, contribuindo com informações adicionais aos métodos

tradicionais e resultando em um aumento na confiabilidade do processo de

classificação (HUTCHISON e DAVEY, 2008).

Muito embora os mecanismos de origem das leucemias permaneçam, na

maioria dos casos, desconhecidos, existem evidências de que alguns fatores

possam estar associados ao risco para o desenvolvimento de variantes específicas

desta doença. Dentre eles, podemos citar a predisposição genética, a exposição à

radiação ionizante, o uso de medicamentos quimioterápicos e a exposição

ocupacional a produtos químicos, como o benzeno (INCA, 2014).

Dentre os genes já implicados como fatores de risco às leucemias, aqueles

pertencentes ao grupo Antígeno Leucocitário Humano (HLA) - sistema altamente

polimórfico e crucial durante a resposta imunológica – tendo relevância em diversas

populações do mundo (BARION et al, 2007).

Nesse contexto, estudos de associação entre HLA e leucemias também têm

sido conduzidos no Brasil, muito dos quais com resultados conflitantes, havendo

necessidade de confirmá-los com pesquisas epidemiológicas complementares.

Diante disto, descrevem-se os tipos de leucemias, alvos do presente estudo,

incluindo suas características clínicas, critérios de classificação e diagnóstico.

1.1 Tipos de Leucemias

1.1.1 Leucemia Linfóides

3

Compreendem neoplasias linfoblásticas que apresentam características

clínicas e morfológicas bastante variáveis, originárias da proliferação de linfócitos

das linhagens T, B ou natural killer (NK), em diferentes estágios de maturação

(ZAGO et al., 2013).

Deve-se considerar que as doenças proliferativas da linhagem linfoblástica

também podem estar associadas a quadros clínicos agudos ou crônicos. As

linfoproliferações agudas são denominadas leucemias linfóides agudas (LLA) e são

caracterizadas pela elevada porcentagem de blastos linfóides ou linfoblastos (>20%)

no sangue periférico e na medula óssea (LORENZI, 2006).

1.1.1.1 Leucemia Linfóide Aguda

Definição da LLA

A leucemia linfóide aguda (LLA) é uma desordem maligna de células

progenitoras linfoblásticas na medula óssea e outros órgãos, principalmente baço e

fígado, afetando tanto crianças como os adultos acima de 60 anos. É mais comum

em homens, com pico de prevalência entre as idades de 2 e 5 anos (PUI et al.,

2004; PUI, ROBINSON e LOOK, 2008; SCHUMACHER et al., 2002). Atualmente, a

taxa de cura (ausência de evidência de doença em 10 anos) é de 80% para crianças

e 40% para adultos (PUI et al., 2004).

A LLA é considerada a leucemia mais comum na infância, perfazendo 80%

dos casos. Em contrapartida, é responsável por apenas 20% das leucemias agudas

no adulto. Uma avaliação diagnóstica ampla e precisa é necessária para uma

correta avaliação prognóstica, bem como para fundamentar as decisões

terapêuticas. Ela pode ser alcançada com base na morfologia celular, citoquímica,

imunofenotipagem e, cada vez mais, nas anormalidades citogenéticas e análise de

expressão de genes híbridos resultantes de translocações (ZAGO et al., 2004).

A etiologia da LLA encontra-se estreitamente relacionada a mutações

genéticas secundárias a infecções, a ação de agentes físicos ou químicos

4

(radiações ionizantes, agentes quimioterápicos e o benzeno), sendo que uma

pequena porcentagem dos casos (<5%) está associada a presença de alguma

síndrome genética (Síndromes como de Down, de Bloom, de Nijmegen (PUI,

ROBINSON e LOOK, 2008; CRANS e SAKAMOTO, 2001).

Classificação da LLA

A classificação da LLA baseia-se em critérios morfológicos, imunofenotípicos

e citogenéticos, e tem como objetivo facilitar o diagnóstico, aumentar a

reprodutibilidade entre os estudos, identificar fatores prognósticos favoráveis e

desfavoráveis e permitir a detecção precoce da recaída da doença. Com esses

critérios, é possível identificar diferentes subgrupos prognósticos e,

consequentemente, utilizar abordagem terapêutica específica para cada um dos

subgrupos (WHO, 2012).

Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou as leucemias

linfóides agudas (LLAs) foram subdivididas em duas categorias: Leucemia/linfoma

linfoblástica T (LLLA-T) e Leucemia/linfoma linfoblástica B (LLLA-B).

A Leucemia/linfoma linfoblástica B (LLLA-B) foi subdivida em duas

subcategorias, também descrita por Swerdlow et al., 2008:

1. Leucemia/linfoma linfoblástica B associada a anormalidades genéticas

recorrentes.

2. Leucemia/linfoma linfoblástica B não categorizada nos itens anteriores.

Manifestações clínicas e Diagnóstico da LLA

As manifestações clínicas na LLA decorrem do acúmulo das células anormais

(blastos) na medula óssea impedindo a produção das células normais (hemácias,

leucócitos e plaquetas), com a diminuição dos leucócitos (glóbulos brancos)

propiciando o aparecimento de infecções; a diminuição do número de hemácias

provoca anemia, e a redução da contagem de plaquetas ocasionam sangramentos.

5

Além de outras manifestações clínicas da LLA secundárias à proliferação excessiva

das células imaturas da medula óssea (blastos), que infiltram os tecidos do

organismo, tais como: amígdalas, linfonodos, pele, baço, rins, sistema nervoso

central (SNC) e outros. Mostrando também os sinais e sintomas mais freqüentes

como a febre, adenomegalias (aumento dos gânglios), manifestações hemorrágicas,

palidez, esplenomegalia (aumento do baço) e hepatomegalia (aumento do fígado),

fadiga, e dor óssea (BARBOSA; NAKAMURA; TERRERI, 2002; RODRIGUES;

CAMARGO, 2003).

O procedimento de diagnóstico da LLA é feito por meio de punção óssea

realizada com agulha própria. Em seguida, os procedimentos de diagnóstico, que

inclui o mielograma, com a análise morfológica complementada pelos exames de

imunofenotipagem, citogenética e biologia molecular. Estas técnicas mais

específicas e sensíveis para a classificação da leucemia, com fundamental

importância para a escolha do esquema terapêutico (BRAGA; TONE; LOGGETTO,

2007).

1.1.1.2 Leucemia Linfoide Crônica

Definição da LLC

A leucemia linfoide crônica (LLC) é constituído por um grupo heterogêneo de

neoplasias formados em média por 12 diferentes patologias, tendo em comum à

origem a partir de células linfoides maduras (periféricas), que apesar de infiltrarem

os órgãos linfoides (gânglios linfáticos e baço), também estão presentes na medula

óssea e no sangue periférico. Trata-se de uma neoplasia de célula B monomórfica

de pequeno tamanho que usualmente expressam antígenos CD5 e CD23 na sua

superfície (ZAGO et al., 2013).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a LLC entre as doenças

linfoproliferativas crônicas de células B maduras, junto do linfoma de pequenos

linfócitos (LPL). É uma leucemia freqüente nos países do Ocidente, entre a

população de caucasóides, correspondendo entre 25 a 30% de todas as leucemias.

6

É mais comum no gênero masculino (2M:1F) e acomete indivíduos idosos (média de

68 anos no diagnóstico; sendo 90% dos casos >50 anos de idade (YAMAMOTO et

al., in FIGUEIREDO et al., 2011).

Existem questões a esclarecer em relação a etiologia da doença, como a

incidência de LLC com a exposição à radiação ou a substâncias químicas

(DIGHIERO; HAMBLIN, 2008).

Classificação da LLC

A classificação das LLCs segundo a linhagem celular de origem: células B,

células T ou NK. Os critérios diagnósticos consideram as características

morfológicas, imunofenotípicas, citogenéticas e as alterações moleculares, segundo

a linhagem celular de origem (Quadro 1) (ZAGO et al., 2013).

Quadro 1. Classificação das LLCs Células B Células T ou NK

Leucemia linfoide crônica Leucemia prolinfocítica Tricoleucemia

Clássica

Variante

Linfoma não Hodgkin em fase leucêmica

Linfoma de zona marginal esplênico/Linfoma da zona marginal nodal

Linfomas foliculares Linfoma linfoplasmocítico Linfoma de células do manto Outros

Leucemia prolinfocítica

Clássica

Variante de células pequenas

Doenças linfoproliferativas de linfócitos granulares

Células T

Células NK

Sindrome de Sézary

Leucemia-Linfoma de célula T do adulto Linfomas T-periféricas Outros

Fonte: Zago et al., 2013

Manifestações clínicas e Diagnóstico da LLC

No diagnóstico a maioria dos pacientes com LLC é assintomática e a doença

é detectada em exames de rotina, com os achados mais comuns: a linfoadenopatia

generalizada, perda de peso e cansaço. Geralmente apresentam gânglios

7

pequenos, mas podem ser muito volumosos, mas ambas com consistência normal,

sendo móveis e indolores. Na metade dos pacientes é detectada a presença de

esplenomegalia sendo em geral não volumosa. Pode ocorrer a infiltração leucêmica

em todas as partes do corpo incluindo as tonsilas, meninges e pele, com os

sintomas e sinais de anemia presentes, mas raramente são intensos. Petéquias e

equimoses são raras. Observam-se infecções bacterianas com frequente

desenvolvimento de pneumonias (ZAGO et al., 2013).

Geralmente o diagnóstico da LLC se dá pelas características morfológicas

das células neoplásicas no sangue periférico e nos esfregaços de medula óssea,

entretanto, a análise da morfologia da medula óssea, gânglios linfáticos e baço são

indispensáveis para o diagnóstico. Como exame complementar, os estudos

citogenéticos e de biologia molecular podem ser necessários para se estabelecer um

correto diagnóstico (ZAGO et al., 2013).

1.2 Neoplasias Mieloides

As neoplasias mieproliferativas clonais são resultantes da mutação de uma

célula progenitora pluripotencial com capacidade, embora de maneira imperfeita, de

diferenciação e maturação para cada uma das linhagens mieloides (ZAGO et al.,

2013).

As anomalias proliferativas podem manifestar-se desde o início da doença,

encontrando-se no sangue um número elevado de células indiferenciadas,

denominadas blastos mieloides, como acontece nas leucemias mieloides agudas

(LMA), já nas leucemias mieloides crônicas (LMC) a proliferação dos granulócitos

também é evidente, mas no sangue e na medula óssea são encontradas células

maduras e há raras formas blásticas em circulação (LORENZI, 2006).

8

1.2.1 Leucemia Mieloide Aguda

Definição da LMA

A leucemia mieloide aguda (LMA) é uma doença clonal do tecido

hematopoiético caracterizada pela proliferação anormal de células progenitoras da

linhagem mieloide, eritróide, células megacariocíticas e monocíticas, ocasionando

produção insuficiente de células sanguíneas maduras normais (RUBNITZ, GIBSON

e SMITH, 2008).

A LMA representa cerca de 15-20% das leucemias agudas da infância e 90%

das leucemias agudas que ocorrem entre os adultos. Na maioria dos casos, não há

evidencia da influência de fatores genéticos e raciais, ao contrário da LLA (ZAGO et

al., 2013).

Alguns fatores de risco para o desenvolvimento desse tipo de leucemia são:

uso frequente de tabaco, tratamento prévio com quimioterápicos ou radioterapia e

desordens sanguíneas como a síndrome mielodisplásica (McKENZIE, 2005).

Classificação da LMA

Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou a classificação

das LMAs, na qual é destacada a importância das alterações citogenéticas e

moleculares nos algorítimos para o diagnóstico, resposta ao tratamento e sobrevida.

Nessa classificação, são listadas 07 (sete) categorias principais que, por sua vez,

são divididas em subcategorias (Quadro 2) (VARDIMAN et al., 2009; ZAGO et al.,

2013).

9

Quadro 2. Classificação da Organização Mundial de Saúde (2008) das LMAs. Características

Leucemia mieloide aguda com anormalidades genéticas recorrentes:

LMA com t (8; 21) (q22, q22), RUNX1-RUNX1T1

LMA com inv (16) (p13.1q22) ou t (16, 16) (P13.1; p22); CBFB-MYH11

Leucemia promielocítica aguda, com t (15, 17) (q22, q12); PML-RARA

LMA com t (9; 11) (p22, q23) MLLT3-MLL

LMA com t (6:09) (p23, q34); DEK-NUP214

LMA com inv (3) (q21q26.2) ou t (3,3) (q21; q26.2); RPN1-EVl1

LMA (megacarioblástica) com t (1:22) (p13, q13); RBM15-MKL1

LMA com NPM1 mutado

LMA com CEBPA mutado

Leucemia mieloide aguda com alterações relacionadas à mielodisplasias

Neoplasias mieloides relacionadas à terapia

Leucemia mieloide aguda não especificada nos itens anteriores:

LMA com diferenciação mínima

LMA sem maturação

LMA com maturação

Leucemia mielomonocítica aguda

Leucemia monocítica e monoblástica aguda

Leucemia eritróide aguda

Leucemia megacarioblástica aguda

Leucemia a basófilos aguda

Panmielose aguda com mielofibrose

Sarcoma mieloide

Proliferações mieloides relacionadas à Sindrome de Down

Mielopoiese anormal transitória

Leucemia mieloide associada com a síndrome de Down

Neoplasia blástica de células dendríticas plasmocitóides

Fonte: Zago et al., 2013 (Adaptado de VARDIMAN et al., 2009).

10

A classificação Franco-Americano-Britânica (FAB) das LMAs (subtipos) tem

como base as características morfológicas e citoquímicas, para a determinação da

linhagem e do grau de maturação das células blásticas. A LMA apresenta-se com

uma variedade de tipos de células que podem ser observados no sangue periférico e

na medula óssea (Quadro 3) (HAMERSCHLAK, 2008; ZAGO et al., 2013).

Quadro 3. Classificação Franco-Americano-Britânica (FAB) das LMAs. Subtipos de LMA Características

M0 LMA sem diferenciação morfológica

M1 LMA com mínima diferenciação morfológica

M2 LMA com diferenciação (componente monocítico < 20%)

M3 LMA promielocítica hipergranular

LMA variante hipogranular

M4 LMA mielomonocítica (células monocíticas ≥ 20%)

M5 LMA monocítica (com células monocíticas ≥ 20% das células

leucémicas)

M5a LMA monoblástica (sem diferenciação, blastos ≥ 80%)

M5b LMA monocítica (com diferenciação, blastos < 80%)

M6 Eritroleucemia

M7 LMA megacarioblástica

Fonte: Zago et al., 2013 (Adaptado de VARDIMAN et al., 2009).

Manifestações clínicas e Diagnóstico da LMA

Na sua totalidade os casos, o diagnóstico de LMA inicia-se a partir de uma

suspeita clínica com características que incluem: palidez, hepatomegalia,

esplenomegalia, linfadenopatia, febre em consequência de infecções, faringite,

petéquias e outras manifestações hemorrágicas, dor óssea, hipertrofia gengival,

lesões cutâneas. No Geral, os exames de laboratório apresentam no hemograma a

contagem de plaquetas e hemoglobinas baixas, contagem de leucócitos com

variação de <1.000/μL a 200.000/μL, contagem diferencial de células brancas

anormais com neutropenia e presença de blastos, anemia normocrômica e

normocítica, trombocitopenia podendo ser severa, baseando-se na avaliação do

sangue periférico e da medula óssea (BAIN, 2003).

11

1.2.2 Leucemia Mieloide Crônica

Definição da LMC

A leucemia mieloide crônica (LMC) é uma doença maligna de expansão clonal

da célula progenitora hematopoiética que ocorre principalmente na quarta e quinta

décadas de vida. A existência da translocação em 90% dos pacientes pode ser

facilmente diagnosticada por cariotipagem. Esta alteração da translocação de t

(9;22) (q34;q11) resulta na formação do cromossomo Philadelphia (cromossomo Ph

ou Ph+). Dois genes fundidos (BCR e ABL) codificam a proteína de fusão P210 com

uma elevada atividade tirosino-quinase que tem um papel importante na patogenia

da LMC (AMIRZARGAR et al., 2007).

A LMC era fatal na década de 1980, apresentando sobrevida média de 48

meses. Porém, o surgimento das técnicas de transplante de medula óssea (TMO)

permitiu que alguns doentes atingissem a cura. Atualmente, o uso da terapia

molecular com a inibição da proteína tirosino-quinase tem promovido um

prolongamento importante da sobrevida dos pacientes (CHAUFFAILLE, 2010).

A incidência da LMC é de um a dois casos para cada 100 mil habitantes por

ano, representando cerca de 15% de todas as leucemias. Achados mostram que a

mediana de idade ao diagnóstico é de 55 a 60 anos, com menos de 10% dos casos

em pacientes com menos de 20 anos (TEFFERI et al., 2005). Ultimamente, houve a

diminuição do número de indivíduos acometidos com idade superior a 60 anos, o

que se sugere que muitos dos relatos da literatura sejam de estudos clínicos que

excluíram os pacientes mais idosos (BORTOLHEIRO e CHIATONE, 2008).

Classificação da LMC

A classificação da LMC é de acordo com os exames clínicos e de laboratório

definindo em fases: fases inicial crônica, acelerada duradoura e final aguda. Na

última fase, pode ocorrer a crise blástica, sendo esta considerada a mais grave

(DOBBIN e GADELHA, 2002; LOPES e ABREU, 2009).

12

Manifestações clínicas e Diagnóstico da LMC

A LMC é inicialmente de progressão lenta; sendo assim, a especificidade do

tratamento para estes pacientes é importante, uma vez que esta doença pode

evoluir para as fases acelerada e aguda, arriscando a vida do paciente (LOPES e

ABREU, 2009).

De acordo o protocolo de condutas do Instituto Nacional do Câncer (INCA,

2002), a evolução clínica da LMC apresenta as seguintes fases, podendo ser o

diagnóstico dado em qualquer uma delas:

Na fase crônica da LMC, com duração mediana entre 3 a 5 anos, as

manifestações clínicas incluem sintomas constitucionais como fadiga, perda de

peso, sudorese, febre e os achados ao exame clínico de palidez e esplenomegalia,

sendo que a intensidade das manifestações clínicas depende do volume da doença

existente. Os exames de laboratório apresentam leucocitose que é caracterizada por

marcada hiperplasia medular e capacidade de maturação das células mieloides.

A fase acelerada da LMC tem duração de alguns meses e caracteriza-se por

resistência terapêutica citorredutora, aumento da esplenomegalia, basofilia e número

de células blásticas, trombocitose ou trombocitopenia, mielofibrose, sendo que

nessa fase os pacientes podem ser assintomáticos ou pode apresentar febre,

sudorese noturna, perda de peso e dores ósseas, o paciente é resistente à terapia

medicamentosa, tendo por características a evolução clonal citogenética e, no

sangue periférico, ≥15% de blastos, ≥30% de blastos e pró-mielócitos, ≥20% de

basófilos e, não relacionado à quimioterapia, <100.000 plaquetas/mm3 .

Finalmente, na fase blástica da LMC é comum a presença de febre,

sudorese noturna, anorexia, perda de peso e dores ósseas. Trata-se de uma fase

agressiva, com quadro clínico da leucemia aguda e permitindo ao doente uma

sobrevida muito curta com expectativa de sobrevida sem tratamento é de 3 a 6

meses após o início da crise blástica, caracterizada por ≥ 30% de blastos no sangue

periférico ou na medula óssea, seja por infiltrado extramedular de células blásticas.

13

1.3. Epidemiologia das Leucemias no Brasil

Assim como ocorre em vários países desenvolvidos, não se conhece o

número real de casos novos de câncer diagnosticados a cada ano pelos serviços de

saúde no Brasil, devido à ausência de um sistema de registro que cubra todo o

território nacional (LEITE, 2012).

Em relação aos registros brasileiros, as estimativas anuais de incidência

continuam apresentando grande importância, pois, de acordo com dados do Instituto

Nacional do Câncer, para o ano de 2014, foram estimados 5.050 casos novos de

leucemia em homens e 4.320 em mulheres que corresponderiam a um risco de 5

casos novos/100 mil homens e 4/100 mil mulheres (Figura 1) (INCA, 2014).

Segundo os dados do mesmo Instituto, na região Norte, a leucemia em

homens é a quinta neoplasia mais freqüente (3 casos/100 mil habitantes) e o sétimo

mais frequente em mulheres (2 casos/100 habitantes), excluindo-se os casos de

tumores da pele não-melanoma. No Estado do Amazonas, foi estimada uma taxa

bruta de 3,65 casos em 100 mil homens e 2,31 casos em 100 mil mulheres (INCA,

2014).

Figura 1. Distribuição geográfica das taxas de incidência das leucemias segundo unidades da Federação Brasileira, a cada 100 mil habitantes para o ano de 2014.

Fonte: MS/INCA, 2014.

14

1.4 Complexo Principal de Histocompatibilidade

O Complexo Principal de Histocompatibilidade ou ―Major Histocompatibility

Complex‖ (MHC) representa o conjunto de genes responsável por codificar as

moléculas de histocompatibilidade em uma determinada espécie, sendo chamado no

ser humano de sistema Antígeno Leucocitário Humano ―Human Leukocyte Antigen‖

(HLA), o qual é controlado por genes do braço curto do cromossomo seis (6p.21.3) e

apresenta um número excepcionalmente grande de genes, os quais são agrupados

em três regiões (SHANKARKUMAR, 2004).

Os genes do sistema HLA são altamente polimórficos, isto é, possuem alta

variabilidade alélica. A maioria dos genes do HLA codificam proteínas envolvidas no

sistema Imune (http://hla.alleles.org/). O HLA pode ser dividido em três classes: I, II e

III, sendo que os de classes I e II estão diretamente envolvidos na apresentação de

peptídeos aos linfócitos T. Além disso, as moléculas de HLA apresentam diferenças

estruturais e funcionais importantes. A distribuição e organização dos genes de HLA,

no braço curto do cromossomo 6, podem ser observadas na Figura 2 (KLEIN e

SATO, 2000).

A molécula de HLA classe I é formada por duas cadeias polipeptídicas ligadas

não-covalentemente: a cadeia mais pesada, de 44 kDa a 47 kDa, e a cadeia 2-

microglobulina de 12 kDa (Figura 3). Somente a cadeia é transmembrana. O HLA

de classe I está presente na maioria das células somáticas, embora o nível de

expressão dessas moléculas possa ser diferente dependendo do tecido. A molécula

de HLA classe I participa do processo de apresentação de antígenos citosólicos aos

linfócitos T citotóxicos (CD8) (KLEIN e SATO, 2000).

A molécula de HLA classe II é composta por duas cadeias polipeptídicas

ligadas não covalentemente, a cadeia de 32 kDa a 34 kDa e a cadeia de 29 a 32

kDa, sendo que as duas apresentam domínios transmembrana (Figura 3). O HLA

classe II, normalmente está presente na superfície de células que incluem: células

dendríticas, macrófagos, linfócitos B, linfócitos T ativados e células do epitélio tímico,

15

sendo que as três primeiras células atuam como apresentadoras de antígenos

endocíticos aos linfócitos T helper (CD4) (KLEIN e SATO, 2000).

Figura 2. Distribuição das regiões HLA classes I, II e III ao longo do cromossomo 6 e respectivos

lócus gênicos.

Fonte: Klein e Sato, 2000.

Figura 3. Estrutura da molécula HLA de classe I e classe II.

Fonte: Klein e Sato, 2000.

16

Conforme a última estatística realizada pelo Banco de Dados do projeto

Internacional em Imunogenética (IMGT/HLA) em colaboração com o ―European

Bioinformatics Institute‖, mais de 12.672 variantes alélicas já foram identificadas até

o momento nestes múltiplos loci MHC humanos (HLAs), incluindo cerca de 9.437 de

classe I e 3.105 de classe II (IMGT/HLA Database).

A variabilidade observada nos genes HLA, que cresce continuamente pela

descoberta de novos alelos, têm como resultante a codificação de proteínas que

diferem umas das outras em um ou mais resíduos de aminoácidos, resultando em

funcionalidades distintas com implicações diretas na dinâmica do sistema

imunológico como, por exemplo, na compatibilidade doador-receptor nos

transplantes heterólogos de órgãos (VOLTARELLI, PASQUINI e ORTEGA, 2009).

1.5 Leucemias e HLA (Antígeno Leucocitário Humano)

As leucemias fazem parte de um grupo importante de doenças

hematopoiéticas que, apesar de constituírem alvo de diversos estudos científicos,

ainda exigem investigações complementares, para se elucidarem aos seus

verdadeiros mecanismos etiológicos. Dentre estes estudos, os imunogenéticos têm

obtido especial atenção, uma vez que a interação entre as moléculas do sistema

imune e as células neoplásicas pode ter um papel importante na gênese destas

enfermidades (BARION et al, 2007).

Pelo fato dos genes do sistema HLA serem altamente polimórficos, análises

das associações entre estes e as diferentes variantes de leucemia, em diferentes

raças ou grupos étnicos, são especialmente importantes, na medida em que

possibilitam uma definição mais clara quanto à distribuição da doença na população

humana, possibilitando, também, o estabelecimento abordagens terapêuticas mais

específicas no futuro a médio prazo (GHODKE et al., 2005).

A vigilância imunológica contra as células tumorais depende do

reconhecimento de antígenos, no contexto do HLA classe I, por linfócitos T

citotóxicos via receptor da célula T (TCR) e por células Natural Killer (NK), via

receptores KIR (immunoglobulin-like receptor). Ademais, sabe-se que, para

17

respostas envolvendo ação de células T helper, são necessárias as moléculas de

HLA classe II (GUILLAUME e MAROLLEAU, 2013). Assim, não se descarta a

possibilidade de os genes HLA classe I e II estarem diretamente envolvidos no

desenvolvimento das leucemias.

1.5.1 HLA e LLA:

Em estudos realizados sobre LLA, no período de 1996 a 2011 (Quadro 4),

três associaram HLA-DRB1*04 ao desenvolvimento das leucemias. Em

contrapartida, em dois outros estudos, HLA-DRB1*13 foi associado à proteção à

doença. Esses dois alelos pertencem ao HLA classe II e, certamente, respostas

imunológicas envolvendo apresentação de peptídeos (próprios ou não) aos linfócitos

T devem participar na regulação da doença, tanto para um maior risco à LLA, como

para proteção à mesma.

Barion et al. (2007) conduziram uma investigação em uma população

brasileira de etnia mista, a partir da qual foi possível observar os alelos HLA classe I

HLA-B*45 e HLA-B*56 em associação à LLA (Quadro 4). Similarmente, Fernandes

et al. (2010) desenvolveram estudo, em indivíduos brasileiros, constituído por

pacientes com leucemias agudas. Os autores sugeriram que o alelo HLA-DRB1*07

confere suscetibilidade à LMA e HLA-DRB1*03, à LLA, e o alelo HLA-DRB1*04

confere proteção à LLA. Os mesmos alelos HLA de classe I também foram

associados positivamente à LLA e LMA, no trabalho realizado por Mundhada et al.

(2004), numa população mista dos EUA.

Orgad et al. (1988), em estudo com crianças judias diagnosticadas com LLA,

sugeriu a existência de possível associação entre antígenos HLA e leucemia, a partir

da observação de frequências mais elevadas de HLA-A30 em pacientes doentes,

sugerindo suscetibilidade, e mais baixas de HLA-B14, sugerindo proteção à LLA.

NG et al. (2006), em um estudo em crianças chinesas, encontrou uma

correlação significativa entre os antígenos HLA e LLA, onde HLA-A33 (p=0,006) e

HLA-B17 (p<0,001) apresentaram correlação estreita com a presença de leucocitose

elevada. Similarmente, Gao et al. (2005) demonstraram que os alelos HLA-A*26,

18

B*56 e DRB1*09 parecem contribuir para a suscetibilidade genética à LLA. No

entanto, os alelos HLA-A*30, A*33 e B*58 parecem ter papel protetor.

Luo et al. (2008), em estudo na população de uma província chinesa, com

leucemias (LMC e LLA) na população chinesa de Han na província de Hunan,

observaram que os alelos HLA-B*58, DRB1*12, DRB1*14 parecem contribuir para a

suscetibilidade genética de pacientes com LMC, enquanto que HLA-B*58 pode estar

associado à suscetibilidade genética à LLA. Tais resultados corroboram os de Wang

et al. (2009), no qual se evidenciou o alelo HLA-DRB1*15 como um dos fatores de

risco à LLA em crianças chinesas.

Quadro 4. Estudos em HLA, em pacientes com Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) e em controles.

Autor (es) Ano Local Alelo HLA Caso (n) Controle (n) P

Valor

Dorak et al. 1999 País de

Gales DRB1*04 47/114 96/325 0,029

Dorak et al. 2002 Turquia DRB1*04 41/86a

13/57a

0,003

DRB1*13 11/86a

18/57a

0,010

Barion et al. 2007 Brasil B*45 c

3/35 72/2.472 0,020b

B*56c

1/35 20/2.472 0,030b

Fernandes et al. 2010 Brasil DRB1*03 6/15 13/100 0,008

Ozdilli et al. 2010 Turquia A*23 18/110 8/100 0,050

B*07 6/110 14/100 0,035

DRB1*04 38/110 20/100 0,019

Uçar et al. 2011 Turquia A*11 18/103 29/360 0,010

DRB1*01 20/103 27/360 0,001

DRB1*13 19/103 129/360 0,003

a Análise de pacientes portadores de LLA somente do sexo masculino.

b HLA associado à proteção à LLA.

c Análise estatística corrigida pelo número de antígenos testados.

1.5.2 HLA e LMA:

Nos estudos sobre LMA, os alelos HLA associados à doença foram distintos

em cada população (Quadro 5) e dois deles, HLA-B*07 e HLA-DRB1*11, que

haviam sido associados à suscetibilidade à LMA, apresentaram evidências de

19

proteção à LLA (Quadro 4) e observada em outros estudos com leucemia. A

identificação dos subtipos desses alelos seria fundamental para que fosse possível

conhecer o alelo específico associado às condições de risco e proteção, bem como

o papel dos mesmos na imunobiologia das leucemias.

Sarafnejad et al. (2006) estudaram as freqüências alélicas HLA classe II em

pacientes LMA iranianos, observando uma associação positiva significativa entre a

doença e o alelo HLA-DRB1*11 (p=0,033). Sugere-se, portanto, que este constitui

um fator de predisposição genética à doença. Por outro lado, o alelo HLA-DRB4

mostrouse significativamente diminuídos nos pacientes, sugerindo conferir proteção

à mesma.

O alelo HLA-B*07 foi previamente associado à suscetibilidade a LMA em uma

população do Brasil de etnia mista (BARION et al., 2007). Ainda neste contexto,

outros genes investigados, e que devem estar envolvidos diretamente ao HLA, são

os genes que codificam para o KIR (immunoglobulin-like receptor), presentes em

células NK, os quais também são altamente polimórficos (BABOR et al., 2013).

Estas células possuem fundamental papel no combate às células neoplásicas

(ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2012).

No entanto, tem sido demonstrado que a ação das células NK no sangue

periférico de pacientes com leucemias é significativamente reduzida (COSTELLO et

al., 2002; FAURIAT et al., 2007; BABOR et al., 2013). Uma das explicações seria o

aumento expressivo das moléculas de MHC de classe I nas células blásticas

leucêmicas, ou a reduzida expressão dos receptores ativadores nas células NK

(NOWBAKHT et al., 2005).

20

Quadro 5. Estudos de HLA em pacientes com Leucemia Mieloide Aguda (LMA) e em controles.

Autor (es) Ano Local Alelo HLA Caso (n) Controle (n) P

Valor

Barion et al. 2007 Brasil B*07 12/50 286/2472 0,01a

Khosravi et al. 2007 Irã DRB1*11 42/120 88/360 0,033

Fernandes et al. 2010 Brasil DRB1*07 13/30 20/100 0,01

Ozdilli et al. 2010 Turquia A*11b

4/90 14/100 0,027

B*11b

2/90 10/100 0,036

B*49 12/90 5/100 0,044

DRB1*15 23/90 13/100 0,027

Uçar et al. 2011 Turquia A*03 42/268 74/720 0,019

B*51 52/268 82/720 0,001

a Os autores utilizaram probabilidade corrigida pelo número de antígenos testados.

b HLA associado a proteção.

c Valor P corrigido.

1.5.3 HLA e LMC:

Na LMC, o HLA-DRB1*04 foi associado à doença (Quadro 6), assim como

observado na LLA em três populações investigadas (Quadro 4). No entanto, o

subtipo HLA-DRB1*0405 foi mais frequente nos controles, sendo associado à

proteção a LMC (Quadro 5). Estes resultados podem ser atribuídos às diferenças

nas frequências desses alelos de HLA-DRB1*04 em populações distintas e pelo fato

deste HLA ter mais de 200 subtipos já descritos no mundo (IMGT/HLA Database).

Estudos de frequência dos alelos HLA têm demonstrado que o HLA-DRB1*04

está entre os mais frequentes na população brasileira (VISENTAINER et al., 1997;

MONTE et al., 2004; BARION et al., 2007). Da mesma forma, em levantamento

realizado por Sacramento et al. (2011) em 1.200 candidatos a doadores de medula

óssea, identificou-se que HLA-DRB1*04 está entre os alelos mais frequentes na

população residente no Estado do Amazonas. Outro alelo frequente em pacientes

LMC na população brasileira é HLA-B*45 (Quadro 5), que também apresentou

resultados significativos de associação à LLA, com os valores de probabilidade

corrigidos (Quadro 3).

21

O número avaliado de pacientes com a presença do HLA-B*45 foi muito

pequeno, sugerindo a necessidade de estudos adicionais com a inclusão de mais

casos para confirmar os resultados. Por outro lado, o alelo HLA-B*45 está entre

aqueles com frequência menor que 1% (SACRAMENTO et al., 2011).

Quadro 6. Estudos de HLA em pacientes com Leucemia Mieloide Crônica (LMC) e em controles.

Autores Ano Local Alelo HLA Caso (n) Controle (n) P

Valor

Yasukawa et al. 2000 Japão DRB1*0405b

6/50 40/127 0,005

Rosas-Cabral et al. 2003 México DRB1*14 2/63 2/746 0,03

DRB1*03 13/63 62/746 0,000

Oguz et al. 2003 Turquia B*35b

45/169 86/213 <0,01

B*37 12/169 3/213 <0,01

DRB1*11b

62/169 103/213 <0,05

Barion et al. 2007 Brasil B*45 7/78 72/2472 0,01a

DRB1*04 30/77 562/2472 0,002a

DRB1*08 16/77 247/2472 0,004a

a Os autores utilizaram probabilidade corrigida pelo número de antígenos testados.

b HLA associado à proteção.

Chhaya et al. (2006) investigou pacientes indianos diagnosticados

clinicamente com LMC com idade entre 17 a 54 anos e revelou que os indivíduos

que expressam HLA-A3, -B8, -DR4 tem risco diminuído para o desenvolvimento de

LMC, em populações caucasianas. Na distribuição dos antígenos HLA de classe I,

as diferenças para o HLA-A11 (p(C)=0,351) e DRB1*13 (p(C)=0,403) não

permaneceram significativas após a aplicação de um fator de correção para o valor

p. Estes resultados sugerem que o desenvolvimento de LMC está aparentemente

associada a fenótipos HLA específicos para cada população.

Num estudo incluindo a população canadense, os pesquisadores Naugler e

Liwski (2009), investigaram a associação dos alelos HLA em pacientes com LMC e

concluíram que HLA-B*13 (OR=4,92), HLA-B*55 (OR=4,50) e HLA-DRB1*16

(OR=4,07) eram marcadores de risco para a doença. Não se observou, contudo,

quaisquer alelos associados à proteção.

22

Um estudo realizado por Wang et al. (2014), na população chinesa, mostrou

relevante associação entre HLA e leucemias. Para tanto, avaliaram as categorias

clinicas de leucemias, incluindo LLA, LMA, LMC e observaram relação negativa

entre LLA e DRB1*09, o que pode desempenhar um papel importante por uma

resposta imunitária de células T restrita na gênese da leucemia, ao passo que a

relação positiva entre LMC e HLA-B*18 sugere não ativar antígenos específicos

presentes na leucemia resultando em escape imunológico.

Em outra investigação, sugerindo que determinados alelos HLA podem estar

associados com a patogênese da LMC na população chinesa, os pesquisadores

Zhang et al. (2011) demonstraram que os alelos HLA-A*11, A*74, B*40, B*47, B*55

e B*81 foram correlacionados com o risco crescente de LMC, porém o alelo

DRB1*13 confere proteção genética à doença.

1.6 Registros de doadores e receptores de Medula óssea no Brasil

A existência dos Bancos de registros de doadores e receptores no Brasil tem

sua grande importância para busca de doadores compatíveis com receptores para o

Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH), para isso criou-se em 1993,

o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME/SP), e em 1999 no

INCA/RJ, ampliou-se a aplicação de recursos específicos na busca de doadores não

aparentados de medula óssea que não possuía doador compatível na família. De

acordo com o INCA, existem mais de 4.000 milhões de doadores cadastrados,

classificando o Redome como o terceiro maior banco público de doadores de

medula óssea do mundo, reunindo todos os dados dos voluntários à doação para

pacientes que não possuem um doador na família (INCA, 2014)..

No Redome incluem-se 300 mil novos doadores/ano, onde a probabilidade de

se identificar um doador aumenta se o doador e o paciente possuem a mesma

origem étnica ou racial, para isso o INCA criou o Registro Nacional de Receptores

de Medula Óssea (REREME), a fim de organizar o cadastro de pacientes, para os

quais a única alternativa de cura da doença imuno-hematológicas para o TCTH

(INCA, 2014).

23

2. JUSTIFICATIVA

No Estado do Amazonas há poucos registros de investigação científica sobre

as leucemias, principalmente, no que se refere aos aspectos imunológicos da

doença. Neste aspecto, a proposta de realizar um estudo sobre a frequência dos

Antígenos Leucocitários Humanos (HLA) nos pacientes com leucemias, foi

considerada relevante, nas quais foi estimulada pelas evidências científicas

nacionais e internacionais sobre os estudos com peptídeos ligantes as moléculas do

HLA e que podem estar diretamente ou indiretamente associadas ao

desenvolvimento das leucemias. Neste contexto, decidiu-se investigar a frequência

dos alelos HLA classe I (A e B) e classe II (DRB1) nas leucemias (LLA, LMA e LMC),

em pacientes atendidos na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas.

O estudo visa, em última instância, contribuir para a identificação dos marcadores

imunogenéticos que possam estar associados às leucemias, além de investigar o

perfil dos alelos HLA em doadores de sangue/medula óssea saudáveis na

população amazonense, possibilitando um melhor entendimento dos fatores

envolvidos na imunobiologia das leucemias.

24

3. OBJETIVOS

Objetivo geral:

Avaliar a frequência dos alelos HLA Classe I e II em pacientes com

diagnóstico de leucemia e em doadores saudáveis, atendidos na FHHEMOAM.

Objetivos específicos:

- Determinar a frequência dos alelos HLA classe I (A e B) em pacientes portadores

de LMA, LMC e LLA e em doadores voluntários de medula óssea saudáveis

(DVMO);

- Determinar a frequência dos alelos HLA classe II (DRB1) em pacientes portadores

LMA, LMC e LLA e em DVMO;

- Comparar as frequências dos alelos HLA identificados nos pacientes leucêmicos

e nos DVMO;

- Identificar os possíveis alelos associados à suscetibilidade ou à resistência ao

desenvolvimento de LMA, LMC e LLA.

25

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Modelo de Estudo

Este é um estudo do tipo transversal descritivo, em perídodos retrospectivo e

prospectivo realizado em pacientes com diagnóstico de leucemia (LMA, LMC e LLA)

que procuraram a Fundação HEMOAM e que concordaram em participar do estudo,

após prévia explicação deste por um responsável.

4.2 Universo de Estudo

4.2.1 População de Referência

O presente estudo teve como alvo os pacientes com diagnóstico de leucemia

atendidos na Fundação HEMOAM, na cidade de Manaus/Amazonas.

4.2.2 População de Estudo

A população de estudo foi constituída de 180 pacientes portadores de

leucemias encaminhados ao Ambulatório da Fundação HEMOAM, instituição de

referência para elucidação diagnóstica de doenças benignas e malignas do sangue.

Para o estudo retrospectivo, foram incluídos pacientes atendidos no período de

janeiro de 2011 a agosto de 2013. Para o estudo prospectivo, foram incluídos

pacientes atendidos no período de setembro de 2013 a dezembro de 2014 por

outros serviços de saúde ou por outros especialistas em hematologia.

Características gerais e clínicas dos casos antigos e casos novos de leucemia

atendidos na Fundação HEMOAM foram obtidas dos prontuários médicos e

compiladas num banco de dados. A população do estudo prospectivo foi contatada

para assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para inclusão no

estudo.

26

O grupo controle foi constituído de 1200 voluntários saudáveis, doadores de

sangue e medula óssea, atendidos na Fundação HEMOAM (fevereiro de 2009 a

dezembro de 2010), os quais assinaram o TCLE. Características gerais (variáveis)

foram obtidas do software Redomeweb do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

4.2.3 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos pacientes com diagnóstico de leucemia (LMA, LMC e LLA)

com indicação para o transplante de medula óssea, de ambos os sexos, com faixa

etária de 6 meses a 70 anos, atendidos na Fundação HEMOAM de 2011 a 2014.

Pacientes com diagnóstico de leucemia e outras comorbidades e indígenas foram

excluídos.

Para inclusão dos pacientes no estudo, estes foram submetidos a avaliação

no ambulatório médico e foram solicitados os exames complementares para

confirmação do diagnóstico leucemia: exames hematológicos (hemograma,

mielograma, imunofenotipagem de leucócitos e análise citogenética), além de

exames bioquímicos e sorológicos. Para imunofenotipagem de leucócitos, foi

utilizado um painel de anticorpos como marcadores celulares para a identificação do

tipo de leucemia, principalmente para as variantes agudas (LLA ou LMA). Nos

exames citogenéticos, a presença da mutação do cromossomo Filadélfia constituiu

sinal patognomônico para o diagnóstico de LMC.

4.3 Procedimentos

4.3.1 Coleta da amostra clínica

Os pacientes portadores de leucemia encaminhados ao Laboratório de HLA

para realização da tipagem de HLA receberam orientação sobre a rotina dos exames

para o transplante de medula óssea e seguiram o protocolo de atendimento do

Departamento de Análises Clínicas da Fundação HEMOAM. Já os doadores

voluntários de sangue receberam orientação sobre a doação de medula óssea. Em

27

ambos os casos, após a explicação do projeto por um profissional responsável e da

assinatura do TCLE pelo participante (pacientes ou DVMO), foi obtida uma amostra

de sangue de 5 mL por punção venosa colhida em tubo a vácuo contendo

anticoagulante EDTA (Vacutainer®) para realização da tipificação HLA, sendo esta

devidamente armazenada até a sua análise.

4.3.2 Tipificação HLA

Os pacientes e doadores do estudo foram tipificados no Laboratório de HLA

da Fundação HEMOAM. Para os alelos HLA Classe I (A, B), e para os alelos HLA

Classe II (DRB1). As tipificações HLA de Classe I e II dos pacientes e doadores

foram realizadas com o kit LabType SSO, utilizando-se sondas de oligonucleotídeos

de sequência específica (SSO) ligados à microesferas marcadas fluorescentemente.

Para tanto, utilizaram-se marcadores para os genes HLA de classe I e II dos loci A,

B e DRB1, conforme a nomenclatura de HLA mais recente: A*01, A*02, A*03, A*11,

A*15, A*18, A*23, A*24, A*25, A*26, A*29, A*30, A*31, A*32, A*33, A*34, A*36,

A*43, A*66, A*68, A*69, A*74, A*80, B*07, B*08, B*13, B*14, B*15, B*18, B*27,

B*35, B*37, B*38, B*39, B*40, B*41, B*42, B*44, B*45, B*46, B*47, B*48, B*49,

B*50, B*51, B*52, B*53, B*54, B*55, B*56, B*57, B*58, B*59, B*62, B*67, B*73,

B*78, B*81, B*82, B*83, DRB1*01, DRB1*03, DRB1*04, DRB1*07, DRB1*08,

DRB1*09, DRB1*10, DRB1*11, DRB1*12, DRB1*13, DRB1*14, DRB1*15, DRB1*16.

4.3.3 Extração de DNA

A extração foi realizada a partir do sangue total dos pacientes e voluntários. O

DNA genômico foi extraído pelo kit IllustraTM Blood GenomicPrep Mini Spin (GE

Health Care), com modificações. Para a extração, adicionaram-se 200µL de sangue

total a 20µL de Proteinase K em um microtubo de 1,5 mL. Em seguida, adicionaram-

se 400 µL de solução de lise, homogeneizando-se em vórtex por 15 s. Após um

período de incubação de 10 min em temperatura ambiente (sob ação de vórtex a

cada 3 minutos), o tubo foi centrifugado a 14000 rpm. Em seguida, o material foi

transferido a um frasco com coluna e novamente centrifugado, por 1 min, a 14000

28

rpm. Após esta centrifugação, o conteúdo do tubo foi descartado e 400 µL da

solução de lise foram adicionados, sendo a mistura submetida a nova centrifugação.

O conteúdo do tubo foi descartado e 500 µL de tampão de lavagem foram

adicionados. Esta solução foi então centrifugada por 3 minutos, a 14000 rpm, e o

conteúdo do tubo foi descartado. Em seguida, a coluna foi transferida para um novo

tubo, com a identificação do paciente/doador. Foram adicionados 130 µl de água

ultrapura a 70º C e a solução foi submetida à centrifugação, por 1 minuto, a 14000

rpm. Por fim, a coluna foi descartada e o frasco com o filtrado foi guardado a -20º C

para o diagnóstico molecular.

4.3.4 Amplificação de DNA

O DNA previamente extraído foi submetido à Reação em Cadeia da

Polimerase (PCR), conforme as seguintes condições: 1,5 µL de DNA, 2,0 µL de

primers HLA A, B e DRB1, 6,9 µL de D-mix (Tris-HCl, KCl, MgCl2 e desoxinucleotídio

trifosfato - dATP, dCTP, dGTP, dTTP) e 0,1 µL de Taq polymerase (Invitrogen Life

Technologies). A reação foi conduzida em um termociclador Veriti 9200 (Applied

Systems) conforme o seguinte ciclo de temperatura: desnaturação inicial do DNA a

96ºC, seguida de 36 ciclos de: desnaturação a 96ºC, anelamento de primers a 60ºC,

elongação a 72ºC. Por fim, realizou-se uma extensão final e resfriamento a 4ºC.

4.3.5 Hibridização

A primeira etapa da hibridização correspondeu à desnaturação do DNA. Para

isso, adicionaram-se 2,5 µL do produto da PCR (DNA previamente amplificado) em

1,25 µL do tampão de desnaturação. Nesta etapa, o produto da reação permaneceu

em temperatura ambiente por 10 minutos. Após o período de incubação,

adicionaram-se 2,5 µL do tampão de neutralização. O produto da PCR desnaturado

foi submetido à hibridização com sondas complementares ao DNA-alvo, marcadas

fluorescentemente e aderidas à superfície de microesferas (beads). Para tanto,

alíquotas separadas do DNA foram misturadas a 2,0 µL de beads específicos para

cada um dos loci (A, B e DRB1) e 17 µL do tampão de hibridização. A mistura foi

29

submetida a um termociclador Applied Systems Verity 9200, a temperatura de 60ºC,

por 15 minutos.

Após sucessivas lavagens e centrifugações, o produto foi marcado com

biotina, permitindo a posterior análise com estreptavidina conjugada a R-ficoeritrina

(SAPE). Por fim, o produto desta última reação foi transferido para uma placa de

leitura e processado no Analisador Luminex, que identifica a intensidade de

fluorescência de ficoeritrina em cada microesfera (Figura 4).

Figura 4. Procedimento técnico da etapa de hibridização.

4.4 Interpretação de dados e análises estatísticas

A etapa de aquisição dos dados foi realizada após leitura da placa pelo

equipamento LABScan 100 (Luminex da One Lambda). A interpretação dos

30

resultados se deu pelo software HLA Fusion versão 3.0 (One Lambda). Os

resultados da tipagem HLA classe I e II, bem como os demais dados (identificação

do paciente/doador, data do nascimento, data da coleta, município, sexo, idade)

foram armazenados em um banco de dados do Laboratório de HLA da Fundação

HEMOAM.

As freqüências alélicas foram obtidas por contagem direta dos alelos

observados. A análise da associação entre as variantes HLA e a ocorrência dos

tipos de leucemia foi realizada pelo Teste do Qui-Quadrado, com correção de Yates

ou Teste Exato de Fisher dependendo da natureza dos dados, através do programa

QuickCalcs, GraphPad Software. Os valores de probabilidade (p) foram

considerados significativos quando inferiores a 0,05. Valores de p superiores a 0,05

foram considerados como tendência para a associação com a doença. Por fim, o

valor de OR (odds-ratio) e os intervalos de confiança (IC) ao nível de 95% foram

calculados para avaliar o risco de o indivíduo desenvolver a doença possuindo um

tipo de HLA.

4.6 Considerações Éticas

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Fundação HEMOAM, obedecendo às diretrizes e normas que regulamentam as

pesquisas envolvendo seres humanos, a Resolução 196 de 10 de outubro de 1996

(Anexo 1). Para os pacientes participantes do estudo retrospectivo, o

CEP/FHEMOAM autorizou a dispensa do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo 2). Os pacientes e/ou responsáveis pelos pacientes referentes

ao período prospectivo foram informados de todos os critérios para a inclusão no

estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 3).

5. RESULTADOS

5.1 Características gerais e clínicas da população estudada

Dos 177 pacientes portadores de leucemias, selecionados neste estudo, 105

(59,3%) eram portadores de LLA, 42 (23,7%) de LMA, e 30 (17,0%) de LMC. As

características gerais dos participantes demonstraram que, entre os pacientes com

31

leucemia, a maioria (60,5%; 107/177) era do sexo masculino. No grupo controle, o

resultado foi semelhante, observando-se o sexo masculino como sendo o mais

frequente (68,7%; 824/1200) (Tabela 1).

A idade dos pacientes com leucemia variou de 5 meses a 66 anos. Nos

pacientes com LMA, idades inferiores a 18 anos foram mais frequentes (31,0%;

13/42) (Tabela 1). Ainda nos pacientes com LMA, outra faixa frequente foi de 46 a

55 anos de idade (26,2%; 11/42). Em relação ao grupo dos pacientes com LMC, a

faixa etária mais frequente foi entre 36 a 45 anos (30,0%; 9/30). Nos controles

saudáveis a faixa etária variou de 16 a 59 anos, sendo que as faixas mais

frequentes foram de 18 a 25 anos (33,2%; 398/1200) e de 26 a 35 anos (32,0%;

384/1200).

A maioria dos pacientes com leucemias era proveniente do Estado do

Amazonas (91,0%; 161/177). No entanto, aproximadamente 20,0% (10/42) dos

pacientes com LMA eram oriundos de outros Estados. De maneira similar, a maioria

dos doadores saudáveis eram originários do Amazonas (95%; 1140/1200), conforme

dados descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Características dos pacientes com Leucemia (LLA, LMA e LMC) e do grupo controle.

Características LLA

n=105 (%) LMA

n=42 (%) LMC

n=30 (%)

Total n=177

(%)

Controles DVMO

n=1200 (%)

Gênero

Masculino 64 (61,0) 25 (59,5) 18 (60,0) 107 (60,5) 824 (68,7)

Feminino 41 (39,0) 17 (40,5) 12 (40,0) 70 (39,5) 376 (31,3)

Faixa etária (anos)

<18 66 (62,9) 13 (31,0) 4 (13,3) 83 (46,9) 0

18 a 25 14 (13,3) 1 (2,4) 2 (6,7) 17 (9,6) 398 (33,2)

26 a 35 10 (9,5) 6 (14,3) 4 (13,3) 20 (11,3) 384 (32,0)

36 a 45 12 (11,4) 4 (9,5) 9 (30,0) 25 (14,1) 270 (22,5)

46 a 55 2 (1,9) 11 (26,2) 5 (16,7) 18 (10,2) 144 (12,0)

>56 1 (1,0) 7 (16,7) 6 (20,0) 14 (7,9) 4 (0,3)

Naturalidade

Amazonas 100 (95,2) 32 (76,2) 29 (96,7) 161 (91,0) 1140 (95,0)

Pará 3 (2,9) 8 (19,0) 1 (3,3) 12 (6,8) 40 (3,3)

Roraima 1 (1,0) 1 (2,4) 0 2 (1,1) 5 (0,4)

Outros 1 (1,0) 1 (2,4) 0 2 (1,1) 15 (1,3) LLA: Leucemia Linfoblástica Aguda; LMA: Leucemia Mieloide Aguda; LMC: Leucemia Mieloide Crônica; DVMO:Doador Voluntário de Medula Óssea.

32

5.2 Identificação dos alelos HLA classe I e II nos pacientes com leucemias e controles saudáveis

Na análise dos alelos de HLA, foram considerados o dobro do número de

alelos para cada indivíduo, pois os genes de HLA são codominantes, ou seja, o

fenótipo do indivíduo é sempre determinado pelos dois alelos presentes em cada

locus. Desta forma, o número avaliado foi de n=354 para os pacientes com

leucemias e n=2400 para os controles.

Quanto ao HLA-A*, três alelos foram os mais freqüentes, tanto entre

pacientes com leucemias, como entre DVMO: HLA-A*02 (25,6%; 92/354 nas

leucemias e 27,7%; 665/2400 nos DVMO; p=0,4293) seguidos do HLA-A*24 (15,3%;

55/354 nas leucemias e 14,9%; 357/2400 nos DVMO; p=0,9039) e HLA-A*31

(14,4%; 52/354 nas leucemias e 11,4%; 273/2400; p=0,1102) (Tabela 2). Entre

pacientes com leucemias, não foram identificados os alelos HLA-A*43, A*66 e A*69.

Já entre os DVMO, não houve a ocorrência do alelo HLA-A*43.

Na estratificação das formas clínicas das leucemias, a LMA, a LMC e a LLA,

os mesmos alelos HLA-A*, anteriormente citados, foram os mais freqüentes: LMA:

A*02 (27,4%; 23/84), A*24 (17,9%; 15/84) e A*31 (16,7%; 14/84); LMC: A*02

(31,7%; 19/60), A*24 (6,7%; 4/60), A*31 (11,7%; 7/60); LLA: A*02 (23,8%; 50/210),

A*24 (17,1%; 36/210), A*31 (14,8%; 31/210). Na comparação entre os grupos de

pacientes com LMA e controles saudáveis, foi identificado uma possível associação

entre a presença do alelo HLA-A*03 e o risco no desenvolvimento da LMA

(p=0,0559; OR=2,071; IC 95%=1,05-4,09). Na comparação entre LMC e doadores

saudáveis, observamos também possível associação do alelo HLA-A*74 (p=0,0557;

OR=3,775; IC 95%=1,13-12,67) com suscetibilidade para o desenvolvimento da

LMC.

Quanto aos alelos HLA-B*, três foram os mais frequentes tanto entre os

pacientes com leucemias como entre os controles: HLA-B*15 (10,6%; 38/354 nas

leucemias e 10,5%; 253/2400 nos DVMO; p=0,9330) seguidos do HLA-B*35 (15,6%;

56/354 nas leucemias e 14,7%; 352/2400 nos DVMO; p=0,7162) e HLA-B*44 (5,8%;

21/354 nas leucemias e 9,0%; 217/2400; p=0,0547) (Tabela 3). Entre os pacientes

33

com leucemias não foram identificados os alelos HLA-B*46, B*47, B*54, B*59, B*67,

B*73, B*81, B*82 e B*83. Já entre os DVMO não foi observada a presença dos

alelos HLA-B*46, B*54, B*59, B*62, B*73 e B*83.

Na LMA e na LMC, dois dos alelos HLA-B* anteriormente descritos foram os

mais freqüentes: LMA: B*15 (13,0%; 11/84) e B*35 (19,0%; 16/84); LMC: B*15

(16,7%; 10/60) e B*35 (13,3%; 8/60). Já na LLA os três alelos mais frequentes foram

os B*35 (15,2%; 32/210); B*39 (11,4%; 24/210) e B*51 (9,5%; 20/210). Na

comparação entre os grupos de pacientes LMA e controles saudáveis foi identificada

a presença do alelo HLA-B*62, possivelmente associado ao risco a doença

(p=0,0338; OR= 86,250 e IC 95%=3,49-2135). No entanto, a presença deste alelo foi

em apenas um paciente e nos controles não observado o HLA-B*62. Na

comparação entre LLA e doadores saudáveis foi observada associação entre o alelo

HLA-B*39 (p=0,0246; OR=1,725; IC 95%=1,10-2,72) para suscetibilidade a LLA.

Enquanto o alelo HLA-B*44 foi fortemente associado à proteção para LLA

(p=0,0069; OR=0,347; IC 95%=0,16-0,75).

Em relação ao HLA-DRB1*, três alelos foram os mais frequentes nos dois

grupos avaliados (pacientes e DVMO): HLA-DRB1*04 (18,3%; 66/354 nas leucemias

e 18,4%; 442/2400 nos DVMO; p=0,9722) seguidos do HLA-DRB1*08 (12,2%;

44/354 nas leucemias e 11,9%; 286/2400 nos DVMO; p=0,936) e HLA-DRB1*13

(9,7%; 35/360 nas leucemias e 11,6%; 278/2400 nos DVMO; p=0,3424) (Tabela 4).

Na LMA e na LMC os alelos HLA-DRB1* anteriormente descritos foram os

mais frequentes [LMA: DRB1*04 (17,9%; 15/84), DRB1*08 (16,7%; 14/84) e

DRB1*13 (10,7%; 9/84); LMC: DRB1*04 (18,3%; 11/60), DRB1*08 (8,3%; 5/60) e

DRB1*13 (16,7%; 10/60)]. Na LLA os alelos mais frequentes foram DRB1*01 (7,6%,

16/210), DRB1*04 (18,6%; 39/210), DRB1*08 (11,4%; 24/210) e DRB1*13 (7,6%;

16/210). Para HLA DRB1* não foi encontrado nenhum alelo associado às leucemias.

34

Tabela 2. Frequência dos alelos de HLA-A*, em pacientes com Leucemia e suas diferentes formas clínicas (LLA, LMA e LMC) e nos controles.

Alelos HLA-A*

Pacientes Leucemia n=360(%)

Controles DVMO

n=2400(%)

p valor

OR IC 95% Pacientes

LLA n=210(%)

p valor OR IC 95% Pacientes

LMA n=84(%)

p valor OR IC 95% Pacientes

LMC n=60(%)

p valor OR IC 95%

A01 20 (5,6) 159 (6,6) 0,5134 0,829 0,51-1,34 15 (7,1) 0,8853 1,084 0,63-1,88 3 (3,6) 0,6790 0,522 0,16-1,67 2(3,3) 0,4312 0,486 0,12-2,01

A02 92 (25,6) 665 (27,7) 0,4293 0,896 0,70-1,15 50 (23,8) 0,2567 0,815 0,59-1,13 23 (27,4) 0,9537 0,984 0,60-1,60 19 (31,7) 0,5961 1,209 0,70-2,10

A03 25 (6,9) 147 (6,1) 0,6292 1,144 0,73-1,78 11 (5,2) 0,7144 0,847 0,45-1,59 10 (11,9) 0,0559 2,071 1,05-4,09 2 (3,3) 0,5812 0,529 0,13-2,19

A11 10 (2,8) 103 (4,3) 0,2266 0,637 0,33-1,23 7 (3,3) 0,6286 0,769 0,35-1,68 1 (1,2) 0,2637 0,269 0,04-1,95 2 (3,3) 1,0000 0,769 0,19-3,19

A15 1 (0,3) 0 0,1304 20,030 0,81-493,1

1 (0,5) 0,0805 34,370 1,39-847,1 0 — — — 0 — — —

A18 1 (0,3) 0 0,1304 20,030 0,81-493,1

1 (0,5) 0,0805 34,370 1,39-847,1 0 — — — 0 — — —

A23 16 (4,4) 97 (4,0) 0,8282 1,104 064-1,90 9 (4,3) 0,9916 1,063 0,53-2,14 2 (2,4) 0,7729 0,579 0,14-2,39 4 (6,7) 0,3090 1,696 0,60-4,77

A24 55 (15,3) 357 (14,9) 0,9039 1,032 0,76-1,41 36 (17,1) 0,4350 1,184 0,81-1,73 15 (17,9) 0,5503 1,244 0,70-2,19 4 (6,7) 0,0941 0,409 0,15-1,13

A25 2 (0,6) 18 (0,8) 1,0000 0,739 0,17-3,20 2 (1,0) 0,4350 1,184 0,81-1,73 0 1,0000 0,762 0,05-12,76 0 1,0000 1,064 0,06-17,88

A26 9 (2,5) 47 (2,0) 0,6317 1,284 0,62-2,64 6 (2,9) 0,9282 1,272 0,29-5,52 0 1,0000 0,762 0,05-12,76 2 (3,3) 0,3371 1,726 0,41-728

A29 8 (2,2) 82 (3,4) 0,3027 0,643 0,31-1,34 2 (1,0) 0,0626 0,272 0,66-1,11 3 (3,6) 0,7634 1,047 0,32-3,39 2 (3,3) 1,0000 0,975 0,23-4,01

A30 17 (4,7) 94 (3,9) 0,5608 1,216 0,72-2,06 8 (3,8) 0,9388 0,972 0,47-2,03 4 (4,8) 0,5718 1,277 0,44-3,42 5 (8,3) 0,1655 2,230 0,87-5,70

A31 52 (14,4) 273 (11,4) 0,1102 1,315 0,96-1,81 31 (14,8) 0,1754 1,349 0,90-2,02 14 (16,7) 0,1876 1,588 0,87-2,08 7 (11,7) 0,9440 1,029 0,46-2,86

A32 8 (2,2) 51 (2,1) 0,9391 1,047 0,49-2,23 5 (2,4) 0,9977 1,123 0,44-2,85 1 (1,2) 1,0000 0,555 0,08-4,07 2 (3,3) 0,3729 1,588 0,38-0,70

A33 11 (3,1) 55 (2,3) 0,4841 1,344 0,70-2,60 6 (2,9) 0,7780 1,254 0,53-2,94 3 (3,6) 0,4452 1,579 0,48-5,16 2 (3,3) 0,6487 1,470 0,35-6,18

A34 1 (0,3) 9 (0,4) 1,0000 0,740 0,09-5,96 0 1,0000 0,598 0,03-10,32 0 1,0000 1,490 0,98-25,89 1 (1,7) 0,2192 4,503 0,56-36,14

A36 1 (0,3) 10 (0,4) 1,0000 0,666 0,08-5,22 1 (0,5) 0,6033 1,144 0,15-8,89 0 1,0000 1,347 0,07-23,20 0 1,0000 1,882 0,11-32,50

A43 0 0 — — — 0 — — — 0 — — — 0 — — —

A66 0 23 (1,0) 0,0626 0,140 0,01-2,32 0 0,2519 0,240 0,01-3,97 0 1,0000 0,599 0,04-9,95 0 1,0000 0,836 0,05-13,94

A68 24 (6,7) 170 (7,1) 0,8589 0,937 0,60-1,46 15 (7,1) 0,9743 1,009 0,58-1,75 5 (6,0) 0,8562 0,830 0,33-2,08 3 (5,0) 0,7967 0,690 0,22-2,23

A69 0 3 (0,1) 1,0000 0,950 0,05-18,44

0 1,0000 1,627 0,08-31,63 0 1,0000 4,053 0,21-79,15 0 1,0000 5,661 0,29-110,9

A74 6 (1,7) 33 (1,4) 0,8432 1,216 0,51-2,92 3 (1,4) 0,7639 1,040 0,32-3,42 0 0,6266 0,418 0,03-6,88 3 (5,0) 0,0557 3,775 1,13-12,67

A80 1 (0,3) 4 (0,2) 0,5031 1,669 0,19-14,98

1 (0,5) 0,3428 2,866 0,32-25,77 0 1,0000 3,151 0,17-59,04 0 1,0000 4,401 0,23-82,72

TOTAL 360(100%) 2400(100%) — — — 210(100%) — — — 84(100%) — — — 60(100%) — — —

Teste Qui-quadrado ou Teste exato de Fisher, dependendo da natureza dos dados. n=número de alelos; OR=Odds Ratio; IC=Intervalo de Confiança; LLA:Leucemia Linfoblástica Aguda; LMA:Leucemia Mieloide Aguda; LMC:Leucemia Mieloide Crônica.

35

Tabela 3. Frequência dos alelos de HLA-B*, em pacientes com Leucemia e suas diferentes formas clínicas (LLA, LMA e LMC) e nos controles.

Teste Qui-quadrado ou Teste exato de Fisher, dependendo da natureza dos dados. n=número de alelos; OR=Odds Ratio; IC=Intervalo de Confiança; LLA:Leucemia Linfoblástica Aguda; LMA:Leucemia Mieloide Aguda; LMC:Leucemia Mieloide Crônica.

Alelos HLA-B*

Pacientes Leucemia n=360(%)

Controles DVMO

n=2400(%)

p valor

OR IC 95% Pacientes

LLA n=210(%)

p valor OR IC 95% Pacientes

LMA n=84(%)

p valor OR IC 95% Pacientes

LMC n=60(%)

p valor OR IC 95%

B07 16 (4,4) 108 (4,5) 0,9622 0,987 0,58-1,69 8 (3,8) 0,7711 0,841 0,40-1,75 5 (6,0) 0,7897 1,061 0,38-2,95 2 (3,3) 1,0000 0,732 0,18-3,04

B08 11 (3,1) 72 (3,0) 0,9541 1,019 0,53-1,94 9 (4,3) 0,4106 1,448 0,71-2,93 1 (1,2) 0,5159 0,390 0,05-2,84 1 (1,7) 1,0000 0,548 0,07-4,01

B13 5 (1,4) 24 (1,0) 0,9141 1,019 0,53-1,94 2 (1,0) 1,0000 0,952 0,22-4,05 2 (2,4) 0,2188 2,415 0,56-10,39 1 (1,7) 0,4623 1,678 0,22-12,62

B14 14 (3,9) 105 (4,4) 0,7762 0,884 0,50-1,56 10 (4,8) 0,9309 1,093 0,56-2,12 2 (2,4) 0,5824 0,533 0,13-2,19 2 (3,3) 1,0000 0,754 0,18-3,13

B15 38 (10,6) 253 (10,5) 0,9330 1,001 0,70-1,44 16 (7,6) 0,2234 0,699 0,41-1,19 11 (13,1) 0,5712 1,279 0,67-2,44 10 (16,7) 0,1919 1,697 0,85-3,39

B18 11 (3,1) 72 (3,0) 0,9141 1,019 0,53-1,94 8 (3,8) 0,6571 1,281 0,61-2,70 2 (2,4) 1,0000 0,789 0,19-3,27 1 (1,7) 1,0000 0,548 0,07-4,01

B27 7 (1,9) 32 (1,3) 0,4986 1,467 0,64-3,35 5 (2,4) 0,3539 1,805 0,70-4,70 0 0,6253 0,431 0,03-7,11 2 (3,3) 0,2005 2,552 0,60-10,91

B35 56 (15,6) 352 (14,7) 0,7162 1,072 0,79-1,46 32 (15,2) 0,9024 1,046 0,71-1,55 16 (19,0) 0,3397 1.369 0,78-2,39 8 (13,3) 0,9174 0,895 0,42-1,90

B37 2 (0,6) 19 (0,8) 0,8764 0,700 0,16-3,02 2 (1,0) 0,6839 1,205 0,28-5,21 0 1,0000 0,723 0,04-12,08 0 1,0000 1,009 0,06-16,92

B38 4 (1,1) 43 (1,8) 0,4763 0,616 0,22-1,73 3 (1,4) 1,0000 0,794 0,24-2,58 1 (1,2) 1,0000 0,660 0,09-4,86 0 0,6251 0,448 0,02-7,36

B39 36 (10,0) 167 (7,0) 0,0508 1,486 1,02-2,17 24 (11,4) 0,0246 1,725 1,10-2,72 5 (6,0) 0,8900 0,846 0,34-2,12 7 (11,7) 0,2501 1,766 0,79-3,94

B40 30 (8,3) 169 (7,0) 0,4388 1,200 0,80-1,80 20 (9,5) 0,232 1,390 0,85-2,30 7 (8,3) 0,8125 1,200 0,55-2,64 3 (5,0) 0,7964 0,695 0,22-2,24

B41 4 (1,1) 22 (0,9) 0,9493 1,215 0,42-3,55 2 (1,0) 1,0000 1,039 0,24-4,45 1 (1,2) 0,5483 1,302 0,17-9,78 1 (1,7) 0,4348 1,832 0,24-13,83

B42 2 (0,6) 30 (1,3) 0,3768 0,441 0,11-0,86 2 (1,0) 1,0000 0,760 0,18-3,20 0 0,6637 0,460 0,03-7,59 0 1,0000 0,642 0,04-10,63

B44 21 (5,8) 217 (9,0) 0,0547 0,623 0,39-0,99 7 (3,3) 0,0069 0,347 0,16-0,75 6 0,6860 0,774 0,33-1,79 5 (8,3) 0,9689 0,915 0,36-2,31

B45 4 (1,1) 33 (1,4) 0,8727 0,806 0,28-2,29 1 (0,5) 0,5181 0,343 0,05-2,52 2 (2,4) 0,3329 1,747 0,41-7,42 1 (1,7) 0,5706 1,216 0,16-9,04

B46 0 0 — — — 0 — — — 0 — — — 0 — — —

B47 0 9 (0,4) 0,6157 0,349 0,02-6,02 0 1,0000 0,598 0,03-10,32 0 1,0000 1,490 0,09-25,82 0 1,0000 2,080 0,12-36,18

B48 7 (1,9) 46 (1,9) 0,8649 1,015 0,45-2,27 4 (1,9) 1,0000 0,994 0,35-2,79 2 (2,4) 0,6766 1,248 0,30-5,23 1 (1,7) 1,0000 0,867 0,12-6,40

B49 10 (2,8) 50 (2,1) 0,5165 1,343 0,67-2,67 5 (2,4) 0,9701 1,146 0,45-2,91 3 (3,6) 0,4239 1,741 0,53-5,70 2 (3,3) 0,3640 1,621 0,38-6,82

B50 8 (2,2) 59 (2,5) 0,9300 0,9018 0,43-1,90 5 (2,4) 0,8704 0,9678 0,38-2,44 3 (3,6) 0,4654 1,470 0,45-4,79 0 0,4014 0,325 0,02-5,33

B51 30 (8,3) 213 (8,9) 0,8115 0,933 0,63-1,39 20 (9,5) 0,8493 1,081 0,67-1,75 5 (6,0) 0,4627 0,650 0,26-1,62 4 (6,7) 0,8163 0,733 0,26-2,04

B52 13 (3,6) 103 (4,3) 0,6461 0,836 0,46-1,50 7 (3,3) 0,6286 0,769 0,35-1,68 3 (3,6) 1,0000 0,847 0,26-2,728 3 (5,0) 0,7426 1,174 0,36-3,81

B53 12 (3,3) 62 (2,6) 0,5179 1,300 0,69-2,44 7 (3,3) 0,6706 1,300 0,59-2,88 4 (4,8) 0,2822 1,885 0,67-5,31 1 (1,7) 1,0000 0,639 0,08-4,70

B54 0 0 — — — 0 — — — 0 — — — 0 — — —

B55 2 (0,6) 23 (1,0) 0,6499 0,577 0,14-2,47 2 (1,0) 1,0000 0,994 0,23-4,25 0 1,0000 0,599 0,36-9,95 0 1,0000 0,836 0,05-13,94

B56 1 (0,3) 8 (0,3) 1,0000 0,833 0,10-6,68 0 1,0000 0,669 0,04-11,63 1 (1,2) 0,2666 3,602 0,45-29,15 0 1,0000 2,326 0,13-40,79

B57 8 (2,2) 43 (1,8) 0,7220 1,246 0,58-2,67 7 (3,3) 0,1935 1,890 0,84-4,30 0 0,4010 0,321 0,02-5,26 1 (1,7) 1,0000 0,929 0,13-6,86

B58 5 (1,4) 58 (2,4) 0,3038 0,569 0,23-1,43 1 (0,5) 0,0855 0,193 0,03-1,40 1 (1,2) 0,7213 0,487 0,07-3,56 3 (5,0) 0,1848 2,125 0,65-6,99

B59 0 0 — — — 0 — — — 0 — — — 0 — — —

B62 1 (0,3) 0 0,1304 20,030 0,81-493,1

0 — — — 1 (1,2) 0,0338 86,250 3,49-2135 0 — — —

B67 0 1 (0,0) 1,0000 2,219 0,09-54,61

0 1,0000 3,800 0,15-93,64 0 1,0000 9,579 0,39-237,1 0 1,0000 13,220 0,53-328,10

B73 0 0 — — — 0 — — — 0 — — — 0 — — —

B78 2 (0,6) 1 (0,0) 1,0000 2,219 0,09-54,61

0 1,0000 0,193 0,03-1,40 0 1,0000 9,579 0,39-237,1 0 1,0000 13,220 0,53-328,10

B81 0 3 (0,1) 0,1298 4,464 0,74-26,82

1 (0,5) 0,2852 3,823 0,40-36,94 0 1,0000 4,053 0,21-79,15 1 (1,7) 0,0941 13,54 1,39-132,2

B82 0 3 (0,1) 1,0000 0,950 0,05-18,44

0 1,0000 1,627 0,08-31,63 0 1,0000 4,053 0,21-79,15 0 1,0000 5,661 0,29-110,9

B83 0 0 — — — 0 — — — 0 — — — 0 — — —

TOTAL 360(100%) 2400(100%) — — — 210(100%) — — — 84(100%) — — — 60(100%) — — —

36

Tabela 4. Frequência dos alelos de HLA-DRB1*, em pacientes com Leucemia e suas diferentes formas clínicas (LLA, LMA e LMC) e nos

controles. Teste Qui-quadrado ou Teste exato de Fisher, dependendo da natureza dos dados. n=número de alelos; OR=Odds Ratio; IC=Intervalo de Confiança; LLA:Leucemia Linfoblástica Aguda; LMA:Leucemia Mieloide Aguda; LMC:Leucemia Mieloide Crônica.

Alelos HLA-

DRB1*

Pacientes Leucemia n=360(%)

Controles DVMO

n=2400(%)

p valor

OR IC 95% Pacientes

LLA n=210(%)

p valor OR IC 95% Pacientes

LMA n=84(%)

p valor OR IC 95% Pacientes

LMC n=60(%)

p valor OR IC 95%

DR01 20 (5,6) 176 (7,3) 0,265 0,743 0,46-1,20 16 (7,6) 0,9886 1,042 0,61-1,78 2 (2,4) 0,0867 0,308 0,08-1,26 1 (1,7) 0,1243 0,214 0,03-1,56

DR03 29 (8,1) 172 (7,2) 0,6196 1,135 0,75-1,71 20 (9,5) 0,2640 1,364 0,84-2,22 4 (4,8) 0,5186 0,648 0,23-1,79 4 (6,7) 1,0000 0,925 0,33-2,58

DR04 66 (18,3) 442 (18,4) 0,9722 0,995 0,75-1,32 39 (18,6) 0,9702 1,010 0,70-1,45 15 (17,9) 0,9895 0,963 0,55-1,70 11 (18,3) 0,8791 0,995 0,51-1,93

DR07 29 (8,1) 259 (10,8) 0,1359 0,724 0,49-1,08 16 (7,6) 0,1872 0,682 0,40-1,15 9 (10,7) 0,8757 0,992 0,49-2,01 4 (6,7) 0,3994 0,591 0,21-1,64

DR08 44 (12,2) 286 (11,9) 0,0936 1,029 0,73-1,44 24 (11,4) 0,9216 0,954 0,61-1,48 14 (16,7) 0,2531 1,478 0,82-2,66 5 (8,3) 0,5170 0,672 0,27-1,69

DR09 12 (3,3) 62 (2,6) 0,5179 1,300 0,69-2,44 8 (3,8) 0,4054 1,493 0,71-3,16 1 (1,2) 0,7228 0,454 0,06-3,32 2 (3,3) 0,6686 1,300 0,31-5,45

DR10 5 (1,4) 39 (1,6) 0,9141 0,853 0,33-2,18 4 (1,9) 0,7741 1,176 0,42-3,32 0 0,6412 0,354 0,02-5,81 1 (1,7) 1,0000 1,026 0,14-7,60

DR11 30 (8,3) 173 (7,2) 0,5129 1,170 0,78-1,75 16 (7,6) 0,9351 1,062 0,62-1,81 7 (8,3) 0,8596 1,170 0,53-2,60 7 (11,7) 0,2897 1,700 0,76-3,80

DR12 6 (1,7) 32 (1,3) 0,7921 1,254 0,52-3,02 3 (1,4) 0,7574 1,072 0,33-3,53 3 (3,6) 0,1126 2,741 0,82-1,14 0 1,0000 0,602 0,04-9,96

DR13 35 (9,7) 278 (11,6) 0,3424 0,822 0,57-1,19 16 (7,6) 0,1034 0,630 0,37-1,06 9 (10,7) 0,9432 0,916 0,45-1,85 10 (16,7) 0,3142 1,527 0,77-3,05

DR14 30 (8,3) 156 (6,5) 0,2375 1,308 0,87-1,97 20 (9,5) 0,1255 1,514 0,93-2,47 7 (8,3) 0,6579 1,308 0,59-2,89 3 (5,0) 1,0000 0,757 0,23-2,45

DR15 30 (8,3) 169 (7,0) 0,4388 1,200 0,80-1,80 14 (6,7) 0,9496 0,943 0,54-1,66 7 (8,3) 0,8125 1,200 0,54-2,64 8 (13,3) 0,1074 2,031 0,95-4,35

DR16 24 (6,7) 156 (6,5) 0,9860 1,027 0,66-1,60 14 (6,7) 0,9586 1,027 0,58-1,81 6 (7,1) 0,9922 1,107 0,47-2,58 4 (6,7) 0,7949 1,027 0,37-2,87

TOTAL 360(100%) 2400(100%) — — — 210(100%) — — — 84(100%) — — — 60(100%) — — —

39

6. DISCUSSÃO

6.1. Resultados gerais

Dos tres tipos de leucemias diagnosticadas no presente estudo, a maioria foi

representada por LLA (59,3%), seguida de LMA (23,7%) e LMC (17,0%). Segundo

Pollock et al. (2006), a distribuição mundial das leucemias nas formas mais comuns

são: 29% LLC, 14% LMC, 40% LMA e 17% LLA, sendo esta última mais comum

entre crianças, enquanto que as outras formas têm suas incidências aumentadas

nas outras faixas etárias. Estas frequências são diferentes das observadas em

nosso estudo, principalmente com respeito aos casos de LLA. De fato, existe uma

variedade de estudos populacionais sobre associações de alelos HLA e doenças

humanas (GHODKE et al., 2005). Os resultados destas pesquisas indicam que a

miscigenação racial, aliada ao elevado polimorfismo genético do sistema HLA, pode

gerar frequências alélicas bastante distintas nas diferentes populações de estudo

(MONTE et al., 2004; BANDEIRA et al, 2006; BORTOLOTTO et al, 2012).

Entre os pacientes com leucemia, a maioria (61,0%) mostrou-se como sendo

do sexo masculino. O grupo controle apresentou resultado semelhante, com 68,7%

dos indivíduos do sexo masculino. Estudos epidemiológicos sobre o câncer

pediátrico, em todo o Brasil, são escassos (RIBEIRO, BUFFLER e METAYER, 2008;

CURADO, VOTI, e SORTINORACHOU, 2009). Não obstante, dentre os dados

disponíveis, também observa-se predominância do sexo masculino (SANTANA,

ALMEIDA e PORTUGAL, 2007).

A idade dos pacientes com leucemia variou de 5 meses a 66 anos. No grupo

LLA, a predominância foi de idades inferiores a 18 anos (62,9%). Este resultado

corrobora os estudos realizados por Ecker et al. (2009), que encontraram 70% dos

casos de LLA em crianças menores de 15 anos. Além disso, dentre as leucemias em

crianças, verifica-se que 85 a 90% dos casos são do tipo LLA, sendo 10% não-

linfoblástica aguda e 5% do tipo LMC (SILVA, PIRES e NASSAR, 2002). Pui et al.

(2004) também relataram a LLA como sendo mais freqüente em crianças. Contudo,

cabe salientar que esta doença pode se manifestar em qualquer faixa etária,

especialmente em adultos acima de 60 anos, sendo um pouco mais comum em

40

homens que em mulheres. No adulto, a LLA apresenta pior prognóstico clínico, com

uma taxa de cura de apenas 25-40% (MELO, 2008).

Similarmente, em nosso estudo, 31,0% dos pacientes LMA tinham idade

inferior a 18 anos, contrariando os resultados de outras pesquisas, as quais

demonstram que LMA é mais comum em pacientes de aproximadamente 60 anos de

idade (BAIN, 2003). Apesar deste fato, a segunda faixa etária mais frequente foi de

46 a 55 anos (26,2%), de acordo com a citada na maioria dos estudos de LMA. Em

relação ao sexo na LMA, também foi mais frequente o masculino (59,5%),

confirmando os dados de outros trabalhos (SARAFNEJAD et al, 2006; KHOSRAVI et

al, 2007; OZDILLI et al, 2010; UÇAR et al, 2011).

Finalmente, com respeito ao grupo de pacientes com LMC, a faixa etária

mais frequente foi de 36 a 45 anos (30,0%). As casuísticas nacionais, dos anos de

2005 e 2006, mostram a mediana de idade ao diagnóstico dos pacientes com LMC

entre 40 e 46 anos (LORAND-METZE et al., 2005; FUNKE et al., 2005; CAMPOS et

al, 2006; BANDEIRA et al., 2006). Tais resultados confirmam os dados observados

em nosso estudo, apesar das limitações descritas em relação ao recrutamento dos

pacientes do Laboratório de HLA da Fundação HEMOAM apresentarem faixa etária

inferior a 18 anos. No caso dos controles saudáveis, a faixa etária variou de 18 a 59

anos, sendo que as mais frequentes foram de 18 a 25 anos (33,0%) e de 26 a 35

anos (32,0%).

6.2. Frequência alélica e análise de associação nas leucemias

No presente trabalho, foi possível identificar seis alelos apresentando

resultados estatisticamente significativos de associação para algum tipo de

leucemia: HLA-A*03, HLA-A*74, HLA-B*39, HLA-B*44, HLA-B*62 e HLA-B*81. Os

alelos HLA-B*39 e o HLA-B*44, em especial, foram considerados potencialmente

associados à LLA, para suscetibilidade e para a proteção à doença,

respectivamente. Contudo, embora os demais alelos tenham apresentado resultados

estatisticamente significativos, o número de casos da doença foi relativamente

pequeno, o que limitou a confiabilidade dos resultados. Cabe salientar que cinco

41

destes alelos já foram identificados em outras populações e envolvidos a algum tipo

de leucemia, não descartando o seu possível papel na etiologia das leucemias.

As frequências dos alelos entre pacientes e controles apresentam uma

distribuição muito semelhante, apenas dois alelos encontrados nos controles

(DRB1*07 e DRB1*13) não tiveram frequências superiores a 10% nos pacientes,

mas os valores foram próximos. Estes dados representam a frequência dos alelos

mais comuns na população investigada. No entanto, os alelos A*02, A*24, B*15,

B*35, DRB1*04, também são frequentes na população brasileira (PRADO, 1999;

PROBST et al., 2000, GRUMET et al., 2001; RUIZ et al. 2005; BORTOLOTTO et al.

2012; MONTE et al., 2004; OLIVEIRA, 2014), confirmando os dados observados no

nosso estudo.

Quanto à análise da possível associação de HLA com as leucemias, conforme

comentado anteriormente, dois alelos HLA, B*39 e B*44 foram significativos, o

primeiro para suscetibilidade e o segundo, para proteção. No entanto, após

estratificação das formas clínicas das leucemias, verificou-se que estes dois alelos

estavam associados especificamente à LLA. Revelou-se, também, que os alelos

HLA-A*3 e A*74 mostraram-se associados à suscetibilidade a LMA e LMC,

respectivamente.

Para uma abordagem mais aprofundada, as frequências alélicas serão

abordadas segundo as diferentes formas de leucemia avaliadas no estudo: LLA,

LMA e LMC.

6.2.1. Leucemia Linfóide Aguda (LLA)

Nesta investigação, os alelos de HLA mais frequentes (≥10) nos pacientes

com LLA foram: A*02 (23,8%), A*24 (17,1%), A*31 (14,8%), B*35 (15,2%), B*39

(11,4%), DRB1*04 (18,6%) e DRB1*08 (11,4%). Estes mesmos alelos também foram

frequentes no grupo controle, com exceção do HLA-B*39, que foi associado a

suscetibilidade para LLA, colaborando com os resultados descritos por Klitz et al.,

(2012) em uma população de crianças. No entanto, um estudo realizado no México

42

encontrou este mesmo alelo associado a doença, porém para proteção

(FERNANDEZ-TORRES et al., 2013). Estes resultados controversos podem ser

atribuídos ao sistema HLA ser altamente polimórfico e a distribuição dos alelos ser

diferente de uma população para outra, assim como a presença de subtipos que

podem ser investigados, dependendo do tipo de HLA.

Além disso, o alelo HLA-B*44 apresentou dados significativos para proteção à

LLA. Este alelo também foi detectado como protetor em estudo realizado por Klitz et

al., (2012). Estes fatos sugerem que as moléculas de HLA devem exercer funções

cruciais na resposta imunológica para LLA. Neste mesmo contexto, Greaves (2006)

relatou que as crianças que receberam baixos estímulos imunológicos, durante a

infância, desenvolveram riscos maiores para leucemia e postulou que o curso

natural das infecções por contato com outras crianças parecer ser protetora para

leucemias.

Neste aspecto, é de conhecimento que a participação do HLA é crucial para a

apresentação de antígenos às células T, sendo importante o grau de ligação entre a

molécula de HLA e o peptídeo, ambos reconhecidos pelos receptores de célula T

(TCR), para obtenção de uma resposta imune adequada. Os peptídeos ligadores de

HLA podem ser de agentes infecciosos, mas também de proteínas anormais, como

produtos de genes mutados, ou de proteínas fusionadas como Bcr/Abl, presentes

em células neoplásicas. Neste último caso, podem ser reconhecidos por linfócitos T

citotóxicos, gerando resposta contra tumores (ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2015).

Em relação aos alelos de HLA classe II, HLA-DRB1*04 foi associado à

suscetibilidade para LLA, em três trabalhos científicos distintos (DORAK et al., 1999;

DORAK et al., 2002 e OZDILLI et al., 2010). Embora, em nosso estudo, não tenha

sido observada associação com DRB1*04, não podemos descartar essa

possibilidade, considerando que existem mais de 200 subtipos de HLA-DRB1*04

(IMGT/HLA Database) e que a sua frequência foi elevada nos grupos investigados.

Neste aspecto, a genotipagem, por técnicas de alta resolução, definiria os subtipos

de DRB1*04 e permitiria identificar subtipos que pudessem estar associados à LLA,

seja para proteção ou suscetibilidade.

43

No Brasil, estudos de HLA e leucemias têm sido conduzidos por Barion et al.

(2007) e Fernandes et al. (2010), mas os alelos associados à LLA, por esses

autores, não foram evidenciados no nosso estudo, provavelmente pelo mesmo fato

da população ser miscigenada. Neste caso, uma genotipagem mais detalhada e a

pesquisa de epítopos compartilhados nos diferentes HLA poderiam ser investigadas

para esclarecer estas associações.

6.2.2. Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

Para o estudo dos alelos de HLA nos pacientes com LMA os mais frequentes

(≥10%) nos foram: o A*02 (27,4%), A*03 (11,9%); A*24 (17,9%), A*31 (16,7%), B*15

(13,0%), B*35 (19,0%), DRB1*04 (17,9%), DRB1*08 (16,7%) e DRB1*13 (10,7%).

No entanto, somente o HLA-A*3 (11,9%) foi associado à LMA. Conforme comentado

anteriormente, o ideal é que os alelos mais frequentes na LMA sejam genotipados

por técnicas de alta resolução, que certamente ajudarão a revelar outros possíveis

alelos envolvidos na doença.

O alelo HLA-A*03 foi associado à suscetibilidade à LMA, corroborando o

resultado observado por Uçar et al., (2011) que também encontrou este alelo e o

HLA-B*51 associados à LMA, em estudo realizado com pacientes da Turquia. Em

outra investigação, em crianças turcas com LMA, foram identificados HLA-B*49 e

DRB1*15, para suscetibilidade, e HLA-A*11 e B*38, para proteção (OZDILLI et al.,

2010).

Em 2013, Bai et al., identificaram 3 (três) peptídeos (UBA1, Isoforma 1 of

fibrinogen alpha chain precurson e PAF4) produzidos por células tumorais em

pacientes com LMA, que podem ser considerados biomarcadores para esta doença.

Neste sentido, podemos sugerir que os HLAs que foram associados à

suscetibilidade para LMA não devem ter uma boa ligação com os peptídeos citados

e, consequentemente, não conseguem induzir uma resposta imune de células T

contra as células tumorais. No entanto, os indivíduos que expressam os HLAs

protetores para LMA devem ter uma alta afinidade para esses peptídeos,

conduzindo uma resposta eficiente de linfócitos T citotóxicos (CD8+), favorecendo

uma eliminação mais eficiente das células tumorais.

44

Além disso, foi identificada presença do alelo HLA-B*62, possivelmente

associada ao risco à doença (p=0,0338; OR= 86,250 e IC 95%=3,49-2135). No

entanto, HLA-B*62 estava presente em apenas 1 (um) paciente com LMA e, no

grupo controle, este alelo não foi encontrado. A baixa freqüência deste alelo nos

grupos estudados limita a inferência estatística quanto à possibilidade de associação

à doença.

6.2.3. Leucemia Mieloide Crônica (LMC)

No presente estudo, foi observado que os alelos HLA mais frequentes nos

pacientes com LMC foram: A*02 (31,7%), A*31 (11,7%), B*15 (16,7%), B*35

(13,3%), DRB1*04 (18,3%) e DRB1*13 (16,7%). Destes, nenhum apresentou valores

estatisticamente significativos para uma associação à LMC. Porém dentre os alelos

genotipados, o HLA-A*74 foi associado à suscetibilidade para LMC. Embora este

alelo tenha apresentado baixa frequência nos pacientes (5,0%), esta foi ainda menor

no grupo controle (1,4%). No estudo de metanálise realizado por Zhang et al., (2011)

sobre polimorfismos genéticos de HLA em LMC, identificaram-se 6 (seis) alelos HLA

associados à suscetibilidade (A*11, A*74, HLA-B*40, B*47, B*55 e B*81). Dentre

estes, cita-se o A*74, sugerindo que este alelo possa, de fato, estar associado à

LMC. Ressalta-se, contudo, que estudos complementares baseados em um maior

número de casos serão necessários para confirmar tal hipótese.

Ainda na metanálise realizada por Zhang et al., (2011), os autores descrevem

que o HLA-DRB1*13 parece estar associado à proteção para LMC. Porém, em

nosso estudo, o DRB1*13 foi frequente tanto nos pacientes, quanto nos indivíduos

saudáveis. Ademais, a existência de uma possível associação não pôde ser

comprovada, devido ao fato deste alelo apresentar vários subtipos. Outro alelo

relacionado à proteção a LMC foi descrito por Oguz et al. (2003); porém, em nosso

estudo, nenhuma associação foi observada.

Barion et al., (2007), em trabalho realizado no Brasil, identificou dois alelos de

HLA classe II associados à suscetibilidade para LMC: HLA-DRB1*04 e DRB1*08.

EM contrapartida, em nosso estudo, não foi observada nenhuma forma de

associação. Vale salientar que, para o HLA-DRB1*04, conforme comentado para

45

LLA, é necessário realizar uma genotipagem de alta resolução, a fim de determinar

se os subtipos desse alelo estão associados à LMC.

Além disso, nos pacientes com leucemias selecionados no presente estudo,

não foram encontrados os seguintes alelos: A*43, A*66, A*69, B*46, B*47, B*54,

B*59, B*67, B*73, B*82 e B*83. Já entre os DVMO não foi observada a presença dos

alelos A*43, B*46, B*54, B*59, B*62, B*73 e B*83. Com base nas evidências

apresentadas na literatura, observa-se rara ausência de certos alelos HLA na

população humana (Rede Brasil de Imunogenética). Dessa maneira, é plausível se

considerar que exista uma baixa frequência dos referidos alelos na população-alvo

de nosso estudo.

Finalmente, é importante esclarecer que este estudo deve ser

complementado com pesquisas adicionais, utilizando-se um maior número de casos

e, preferencialmente, baseadas em técnicas de genotipagem de alta resolução, para

se investigar o impacto dos vários subtipos dos alelos nas leucemias. Prevê-se que

tal abordagem possa abrir portas para investigações mais específicas dos

biomarcadores associados às leucemias, como a predição in silico de estruturas

protéicas e a análise in silico de interação molecular (―molecular docking‖), com o

intuito de se avaliar o grau de afinidade das moléculas HLA aos peptídeos tumorais.

Em última instância, tais estudos permitirão a obtenção de uma compreensão mais

aprofundada dos mecanismos imunológicos envolvidos nas leucemias.

46

7. CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos no estudo, é possível concluir que:

1. Os alelos HLA-B*39 e HLA-B*44 estão associados, respectivamente, à

suscetibilidade e proteção para LLA, indicando que podem ter envolvimento

importante na resposta imune contra as células tumorais.

2. O alelo HLA-A*03 está associado à suscetibilidade para LMA, sugerindo que a

molécula codificada por este gene não apresenta boa afinidade aos peptídeos

tumorais, não induzindo, portanto, uma boa resposta imunológica contra as

células tumorais.

Considerações Finais:

O presente trabaho permitiu uma visão geral da distribuição genérica dos

alelos HLA classe I (A e B) e II (DRB1) numa parcela restrita da população do

Amazonas, contribuindo para o conceito de que a freqüência dos alelos HLA pode

estar relacionada a fatores raciais ou sócio-demográficos. O estudo também, foi

possível determinar associações dos alelos HLA classe I com LLA e LMA,

contribuindo para ampliar o conhecimento a respeito dos fatores imunogenéticos

envolvidos nas leucemias.

47

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9. ANEXOS