fundaÇÃo instituto capixaba de pesquisas em contabilidade ... felipe... · fundaÇÃo instituto...

56
FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE FILIPE BRESSANELLI AZEVEDO EFEITO DA TROCA DA FIRMA DE AUDITORIA NO GERENCIAMENTO DE RESULTADOS DAS COMPANHIAS ABERTAS BRASILEIRAS VITÓRIA 2007

Upload: hoangdat

Post on 21-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE

FILIPE BRESSANELLI AZEVEDO

EFEITO DA TROCA DA FIRMA DE AUDITORIA NO

GERENCIAMENTO DE RESULTADOS DAS COMPANHIAS ABERTAS

BRASILEIRAS

VITÓRIA

2007

Page 2: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

FILIPE BRESSANELLI AZEVEDO

EFEITO DA TROCA DA FIRMA DE AUDITORIA NO

GERENCIAMENTO DE RESULTADOS DAS COMPANHIAS ABERTAS

BRASILEIRAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE) como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – nível profissionalizante.

Orientador: Prof. Fábio Moraes da Costa, D.Sc.

VITÓRIA

2007

Page 3: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da Biblioteca da FUCAPE

Azevedo, Filipe Bressanelli.

Efeito da troca da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das companhias abertas brasileiras. / Filipe Bressanelli Azevedo. Vitória: FUCAPE, 2007.

54p.

Dissertação – Mestrado. Inclui bibliografia.

1. Gerenciamento de resultados 2. Auditoria I.Fundação

Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças II.Título.

CDD – 657

Page 4: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

Dedico este trabalho à minha

esposa, aos meus filhos, aos

meus pais e às minhas irmãs.

Page 5: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus.

À Eliane, minha esposa, pela força e perseverança apresentadas, mesmo nos

momentos mais difíceis vividos durante o período do curso, aos meus filhos Ana

Clara e Filipe Filho, pelo simples fato de existirem, aos meus pais, pelos

ensinamentos passados e pelos exemplos dados, que foram fundamentais na minha

formação pessoal, e ao restante da minha família, pelo apoio e compreensão.

Ao professor Dr. Fábio Moraes da Costa, meu orientador, e ao professor Dr.

Alexsandro Broedel Lopes, pelo incentivo e colaboração na definição e no

desenvolvimento da pesquisa.

Aos professores Dr. Valcemiro Nossa e Dr. Bruno Funchal pelas contribuições

efetuadas nesse trabalho.

Aos demais professores da FUCAPE, especialmente Dr. André Carlos

Busanelli de Aquino e Dr. Marcelo Sanches Pagliarussi, pelo profissionalismo

demonstrado na busca da excelência.

Aos demais empregados da FUCAPE, principalmente os lotados na

biblioteca, que não medem esforços no auxílio aos alunos.

Aos companheiros de turma, pela alegre convivência e pela ajuda e palavras

de apoio que não me deixaram desistir.

À Tereza Pantoja, a quem efetivamente devo a minha participação neste

curso.

Aos meus amigos e colegas de trabalho, pela ajuda direta ou indireta que me

deram e pelo amparo que nem imaginam ter me dado.

Page 6: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

RESUMO

Este estudo examinou o efeito da troca da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das companhias abertas brasileiras. Entende-se que a troca da firma de auditoria contribua para o aumento da independência da relação cliente-auditoria, que pode ter se deteriorado com o tempo de relacionamento. Como se espera do auditor o constrangimento à prática do gerenciamento de resultados, acredita-se que o aumento da sua independência terá como conseqüência um menor nível de gerenciamento de resultados. Usando cinco métricas e dois modelos de gerenciamento de resultados usualmente utilizados na literatura, verificaram-se evidências estatisticamente significantes de que a troca da firma de auditoria diminuiu o nível de gerenciamento de resultados das empresas brasileiras.

Page 7: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

ABSTRACT

This study examined the effect on the audit company changes in the earnings management in Brazilians open capital companies. It is understood that the exchange in the audit company contributes to the increasing interdependency between the client-audit, which may deteriorate as time goes by. As it is expected from the auditor constraints the earnings management, the more independent the auditor, cause the reduction of the level the earnings management. Using five proxies and two models of earnings management commonly using in the literature, there are relevant statistical proofs that the change on the audit firm has diminished the amount of earnings management in Brazilian companies.

Page 8: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Mapa da Troca do Auditor X Qualidade de Auditoria..........................21

Page 9: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tabela Resumo dos Critérios de Seleção da Amostra 33

Tabela 2: Resultado das Regressões 34

Tabela 3: Estatísticas descritivas das Métricas de Gerenciamento de Resultados para os Grupos 1 e 2

35

Tabela 4: Estatísticas descritivas das Métricas de Gerenciamento de Resultados para os Grupos 3, 4, 5 e 6

36

Tabela 5: Teste de comparação de médias (teste t) de dois grupos para as Métricas de Gerenciamento de Resultados – Grupos cujos conjuntos de valores estão distribuídos normalmente

37

Tabela 6: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) de dois grupos para as Métricas de Gerenciamento de Resultados – Grupos cujos conjuntos de valores não estão distribuídos normalmente

38

Tabela 7: Média e mediana de EM1 39

Tabela 8: Estatísticas Descritivas do valor absoluto dos Accruals Discricionários

41

Tabela 9: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) do grupo de empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria e do grupo em que não houve troca – Análise por ano no período de 1998 a 2005

41

Tabela 10: Estatísticas descritivas do valor absoluto dos Accruals Discricionários - Motivação das Trocas de Empresas de Auditoria ocorridas no período de 1998 a 2005

43

Tabela 11: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) do grupo de empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria motivada pelo rodízio obrigatório e do grupo em que houve troca por outros motivos

44

Tabela 12: Estatísticas Descritivas do valor absoluto dos Accruals Discricionários - Análise do Rodízio Obrigatório da Firma de Auditoria (cinco anos de relacionamento com a firma de auditoria predecessora e dos dois anos com a firma de auditoria sucessora)

45

Tabela 13: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) referente a análise do rodízio obrigatório da firma de auditoria

46

Tabela 14: Análise do valor absoluto dos Accruals Discricionários - Tipo da troca (BIG 4 ou NãoBIG 4)

47

Tabela 15: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) do grupo de empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria por tipo de troca

47

Page 10: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................9

1.1 MOTIVAÇÃO ................................................................................................9

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................ ................................................13

2.1 AUDITORIA ................................................................................................13

2.2 TROCA DA EMPRESA DE AUDITORIA .............................................................16

2.3 QUALIDADE DA AUDITORIA E GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ....................22

3 METODOLOGIA ........................................ ........................................................24

3.1 HIPÓTESES................................................................................................24

3.2 MEDIDAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ...........................................26

3.2.1 MÉTRICAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ........................................27

3.2.2 MODELO DE JONES MODIFICADO ................................................................29

3.2.3 MODELO KS..............................................................................................31

3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................32

3.3.1 MÉTRICAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ........................................35

3.3.2 MODELOS DE JONES MODIFICADO E KS......................................................40

4 CONCLUSÃO .......................................... ..........................................................49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... ................................................51

Page 11: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

9

1 INTRODUÇÃO

1.1 MOTIVAÇÃO

A atividade de auditoria surgiu como parte da evolução do sistema capitalista.

As empresas, anteriormente familiares e de tamanho pequeno, ganharam vulto em

virtude da necessidade de se atender a expansão do mercado e combater o

aumento da concorrência. Passaram, então, a buscar fontes de financiamento junto

a terceiros, primeiramente através de empréstimos e posteriormente por meio de

aberturas de capital (ALMEIDA, 1996).

As demonstrações contábeis1 passaram a ter importância fundamental nesse

processo, tendo em vista as necessidades de informação dos credores e

investidores interessados na empresa. Entretanto, essas demonstrações eram

elaboradas pelos gestores, que a princípio eram os proprietários, havendo a

possibilidade de serem manipuladas com o intuito de atraírem capital. Em função

disso, os investidores passaram a exigir que os relatórios financeiros fossem

examinados por um profissional independente da empresa, logicamente de

reconhecida capacidade técnica (ALMEIDA, 1996).

A veracidade das informações constantes das demonstrações financeiras

passou a ser analisada por alguém não ligado aos negócios das empresas dando

oportunidade ao aparecimento do auditor independente (ATTIE, 1998).

Mautz (1980, p. 15) entende que “a auditoria procura determinar se as

demonstrações e respectivos registros contábeis de uma empresa ou entidade

merecem ou não confiança”.

1 Os termos “demonstrações financeiras”, “demonstrações contábeis”, “relatórios financeiros” e “relatórios contábeis” serão utilizados nesse estudo como sendo as informações contábeis obrigatórias e acessórias da empresas.

Page 12: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

10

Atuando de maneira imparcial, a auditoria verifica se os relatórios financeiros

representam adequadamente a situação da empresa, propiciando confiabilidade e

influenciando nas decisões de investimento e de financiamento, funções essenciais

ao desenvolvimento das corporações modernas.

Percebe-se que a independência é atributo indispensável ao trabalho de

auditoria, porém uma questão pode comprometê-la. A contratação e a respectiva

remuneração da firma de auditoria são realizadas pela empresa que terá suas

demonstrações financeiras auditadas, podendo surgir conflitos de interesses.

Uma opinião sobre as demonstrações que, apesar de correta, não agrade aos

contratantes, pode comprometer uma renovação de contrato, e essa conseqüência

pode impactar a independência do trabalho dos auditores.

Por outro lado, sendo a empresa de auditoria conivente com escolhas

contábeis que omitam a realidade e/ou que beneficiem o contratante em detrimento

de outros stakeholders, como por exemplo credores e investidores, pode garantir um

longo período de relacionamento.

A discordância de opinião que leva algumas empresas a trocar de firmas de

auditoria pode estar associada a uma vontade oportunística do gestor, preocupando

os reguladores (DEFOND e SUBRAMANYAM, 1998).

Os longos mandatos também preocupam os reguladores, que visualizam a

possibilidade da diminuição da independência da auditoria. Defensores da

rotatividade obrigatória de firmas de auditoria argumentam que longos mandatos

levam a uma maior intimidade com o cliente, reduzindo a independência do trabalho

(DEFOND e FRANCIS, 2005; GEIRGER e RAGHUNANDAN, 2002; NAGY, 2005).

Page 13: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

11

George (2004) diz que os críticos da profissão de auditoria têm sugerido o

rodízio obrigatório como forma de minimizar a percepção de que longos anos de

relacionamento auditor-cliente impactam na independência dessa relação.

A mudança compulsória de firmas de auditoria ganhou força devido ao

acontecimento recente de escândalos contábeis. Em 1996, em virtude das quebras

dos bancos Econômico e Nacional, ocorridas no ano anterior, o Banco Central do

Brasil instituiu o rodízio obrigatório para as instituições financeiras.

Ainda sob efeito da quebra dos citados bancos, que eram empresas de capital

aberto, em 1999 a Comissão de Valores Mobiliários implantou o rodízio obrigatório

para as companhias abertas brasileiras. Além disso, tornou proibida a prestação

concomitante de serviços de consultoria e de auditoria ao mesmo cliente.

Nos Estados Unidos, após as recentes fraudes contábeis envolvendo

companhias abertas norte-americanas, descobertas a partir de 2001, com destaque

para a falência da Enron, que culminou no desaparecimento do mercado de uma

grande multinacional de auditoria, a Arthur Andersen, foi sancionada a Lei Sarbanes-

Oxley (SOX), que aumentou a vigilância sobre o setor contábil do país, além de

outras providências (BERGAMINI JR, 2002).

O longo relacionamento existente entre a Enron e a empresa de auditoria

Arthur Andersen, uma das cinco maiores do mundo à época, que se aproximava dos

10 anos (FEIGL et al., 2005), trouxeram para o centro do debate a questão da

independência do auditor.

A SOX proibiu a prestação paralela de serviços de auditoria e consultoria,

assim como a norma brasileira, mas não instituiu o rodízio obrigatório, apesar de

haver interessados em fazê-lo (DEFOND e FRANCIS, 2005).

Page 14: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

12

Os opositores do rodízio periódico alegam que existem custos associados a

essa troca, tanto para o cliente como para a empresa de auditoria (GEIRGER e

RAGHUNANDAN, 2002; GHOSH e MOON, 2005). Os custos de start up, como são

conhecidos, se referem basicamente ao tempo gasto, tanto pelo contratante como

pelo contratado, para a firma de auditoria conhecer o novo cliente.

Defendem que a qualidade da auditoria não é apenas decorrente da

independência, teoricamente aumentada pela troca da empresa de auditoria, mas

envolve outros fatores como o conhecimento específico sobre o cliente, diminuído

nesse processo de mudança (DEANGELO, 1981; JOHNSON, 2002 e MYERS,

2003).

Considerando que os gestores possuem incentivos para manipular os

resultados contábeis, objetivando melhorar o valor da empresa e/ou o seu próprio

bem estar (BECKER et al. 1998), entende-se ser função da auditoria independente

coibir essa prática, conhecida como gerenciamento de resultados.

Diante disso, este estudo se propõe a investigar empiricamente a seguinte

questão: A mudança da firma de auditoria impacta no gerencia mento de

resultados das companhias listadas na Bovespa?

Page 15: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

13

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 AUDITORIA

Com o aparecimento das modernas corporações, das quais a separação

entre a propriedade e o controle é a principal característica, surgiram também os

chamados conflitos de agência. Esses conflitos são, geralmente, decorrentes do

desalinhamento entre os interesses pessoais dos proprietários do capital (acionistas)

e dos agentes contratados para administrá-lo (gestores), e, não sendo devidamente

controlados, podem levar, inclusive, ao encerramento das atividades da corporação

(FAMA e JENSEN, 1983 e JENSEN e MECKLING, 1976).

Esses problemas de agência não ocorrem somente na relação entre os

gestores principais e os proprietários, mas em todas as demais relações existentes

na corporação, sejam elas internas ou externas, tais como as com credores, com

fornecedores e com empregados (JENSEN e MECKLING, 1976).

Existem, ainda, os conflitos de agência entre os acionistas majoritários

(controladores) e os minoritários. Como os controladores contratam os agentes,

esses atuam mais alinhados aos seus interesses do que aos interesses dos demais

investidores (FAMA e JENSEN, 1983; e JENSEN e MECKLING, 1976 e ROE, 2004).

Em função desses conflitos de interesses, as organizações incorrem em

custos, conhecidos como custos de agência, que Jensen e Meckling (1976),

observando principalmente os problemas de agência envolvendo stockholders e

agentes, definem como o somatório dos(as):

• Custos de monitoramento das ações dos agentes;

Page 16: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

14

• Custos dos incentivos para alinhamento dos interesses dos agentes com

os dos proprietários; e

• Perdas residuais em razão do desalinhamento entre os interesses dos

proprietários e dos agentes.

A auditoria é amplamente vista como um mecanismo de redução dos custos

de agência (JENSEN e MECKLING, 1976; WATTS e ZIMMERMAN, 1983; FRANCIS

e WILSON, 1988). Isso ocorre por causa da assimetria de informação existente entre

os gestores e os demais stakeholders das empresas, principalmente os externos à

firma.

Os investidores de uma companhia aberta, por exemplo, não sabem se o

capital alocado na empresa está sendo aplicado pelos gestores da forma mais

vantajosa para eles e, por isso, necessitam de mecanismos que minimizem essa

assimetria informacional, sendo as demonstrações financeiras da corporação os

mais comumente utilizados.

Como os relatórios financeiros são os principais meios de comunicação com

os stakeholders externos à firma (JOHNSON et al., 2002) e a auditoria é quem

certifica a fidedignidade das informações constantes desses relatórios, é possível

entender a verdadeira importância dessa função para o mercado.

Segundo Becker et al. (1998), a auditoria reduz as assimetrias de informação

existentes entre os gestores e os demais interessados na empresa, possibilitando

que os externos aos limites da firma acreditem nas demonstrações financeiras.

Essa certificação é realizada por auditores independentes, conhecidos

também por auditores externos, que, como o próprio nome sugere, devem possuir

independência para emitir opinião sobre as demonstrações financeiras de forma

Page 17: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

15

imparcial. A independência existe pelo fato de não serem empregados das firmas

auditadas, não possuindo, dessa forma, vinculo à estrutura organizacional das

mesmas.

Os auditores internos não têm como função emitir opinião sobre os relatórios

financeiros (JUND, 2002), pois, apesar de poderem emiti-la, não são vistos pelos

indivíduos externos à firma como profissionais capazes de dar pareceres neutros,

devido a sua menor independência. Suas funções estão mais relacionadas a

atividades de supervisão interna e de assessoramento da alta direção da empresa

da qual, geralmente, são empregados. Dessa forma, apesar da auditoria interna até

contribuir para esse fim, as citadas diminuições das assimetrias informacionais e dos

custos de agência ocorrem pela atuação da auditoria independente ou externa, que,

por isso, é o foco desse trabalho.

Além de atestar a veracidade das informações constantes das demonstrações

financeiras da organização, os auditores externos têm como obrigação verificar se

as mesmas foram elaboradas observando as práticas contábeis adotadas no

respectivo país.

Apesar da função do auditor independente ser de interesse público, ou seja,

comum a todos os stakeholders da firma, a sua contratação é realizada, geralmente,

pelos gestores da empresa, que nem sempre possuem os mesmos interesses dos

demais participantes dessa relação. Surgem, então, outros conflitos de agência, pois

a atuação do auditor no interesse de todos stakeholders pode comprometer a

renovação de um contrato, com a conseqüente perda de receita.

Por outro lado, a tolerância com algumas escolhas contábeis de gestores

pode garantir, além da manutenção do cliente por vários exercícios, aumentos

substanciais nos honorários no momento das renovações contratuais.

Page 18: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

16

2.2 TROCA DA EMPRESA DE AUDITORIA

As empresas trocam de auditoria por inúmeros motivos. Dentre eles pode-se

citar a mudança do ambiente corporativo, a busca pela melhoria da imagem junto a

investidores e a redução de custos. Geralmente essas mudanças buscam trazer

benefícios para a empresa. Entretanto, uma possibilidade para troca da firma de

auditoria é bastante preocupante: a discordância de procedimentos entre o cliente e

o auditor.

Essa discordância pode ocorrer por diferença de entendimentos, porém pode

ocorrer em virtude de uma vontade oportunística do gestor, que preocupa

particularmente os reguladores. Existem significantes evidências de que, por causa

do risco de problemas judiciais inerente à profissão (litigation risk), os auditores

preferem escolhas contábeis mais conservadoras (DEFOND e SUBRAMANYAM,

1998) e isso faz com que alguns gestores mudem de firma de auditoria, buscando

auditores menos exigentes.

A empresa de auditoria também pode rejeitar-se a prestar serviços a

determinados clientes. Isso ocorre geralmente quando o cliente passa por graves

problemas financeiros (TURNER et al., 2005).

Talvez por esses motivos, essas mudanças não sejam muito bem vistas pelos

investidores e intermediários da informação financeira (GHOSH e MOON, 2005).

Existe, ainda, a rotatividade periódica do auditor imposta pelo regulador, que

tem o propósito de melhorar a qualidade dos serviços prestados pelas empresas de

auditoria, através do teórico aumento da independência.

Page 19: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

17

Defensores do rodízio argumentam que, além do ganho de independência, os

auditores tendem a ser mais displicentes quando auditam a mesma empresa

durante vários anos, aumentando o risco de falha e, consequentemente, reduzindo a

qualidade do serviço de auditoria. Isso ocorre em função do conhecimento que os

auditores acreditam ter da empresa (lower skepticism), levando-os, por exemplo, a

reutilizar papéis de trabalho antigos e a não refazer testes sobre o exercício

atualmente auditado (AREL et al., 2005).

Segundo Myers et al. (2003), a proposta de limitar o mandato do auditor é

baseada na noção de que longos períodos resultam numa maior complacência e na

possibilidade de cumplicidade nas decisões relativas a apresentação dos relatórios

financeiros.

Nagy (2005) afirma que os defensores do rodízio compulsório de firmas de

auditoria argumentam que o novo auditor é mais desconfiado e realiza seu trabalho

com nova perspectiva, que talvez possa estar faltando aos profissionais com longos

anos de relação.

Os opositores do rodízio periódico alegam que existem custos associados a

essa troca, tanto para o cliente como para a empresa de auditoria (GEIGER e

RAGHUNANDAN, 2002; GHOSH e MOON, 2005). Conhecimentos específicos sobre

o cliente, como as próprias operações, os sistemas contábeis e a estrutura de

controle interno, são fundamentais para o desenvolvimento satisfatório dos

trabalhos, constituindo-se, no início do relacionamento, em um custo para a empresa

de auditoria (GHOSH e MOON, 2005).

Caso a recém contratada não possua experiência no setor econômico do

novo cliente, o que geralmente ocorre com as empresas de auditoria menores, esse

custo pode ser ainda maior. E, apesar desse investimento, os pontos críticos de

Page 20: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

18

cada companhia, na maioria das vezes, somente são percebidos após alguns anos

de relação, aumentando o risco do auditor emitir opinião equivocada.

O cliente também incorre em custos adicionais, tanto na seleção da nova

firma de auditoria, como na mão-de-obra destacada para ajudar o novo auditor a

entender a empresa (BLOUIN et al., 2005).

Estudos empíricos internacionais, que não tratam exclusivamente da

independência, buscaram examinar a relação entre a qualidade da auditoria e o

mandato da firma de auditoria.

Nagy (2005) encontrou evidências de que longos períodos de relacionamento

não estão associados à diminuição da qualidade da auditoria, e sim à sua melhora.

Johnson et al. (2002) observaram evidências de que curtos relacionamentos

entre o auditor e o cliente (dois a três anos) estão mais associados à queda da

qualidade dos relatórios financeiros do que médios relacionamentos (quatro a oito

anos). O mesmo teste não encontrou evidências de que longos períodos (nove ou

mais anos) pioram a qualidade das demonstrações financeiras em relação aos

médios mandatos.

Myers et al. (2003) afirmam que os resultados dos testes realizados sugerem

que longos mandatos do auditor causam maiores constrangimentos a

gerenciamentos extremos dos relatórios de desempenho financeiro.

Geiger e Raghunandan (2002), usando uma amostra de empresas que

entraram em falência, indicam existirem mais falhas nos relatórios de auditoria

durante os primeiros anos da relação auditor-cliente do que quando o mandato do

auditor é mais longo.

Page 21: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

19

A percepção da qualidade da auditoria pelos investidores e intermediários da

informação (agências independentes de rating e analistas financeiros) através do

tamanho do mandato dos auditores também foi pesquisada. Ghosh e Moon (2005)

encontraram resultados consistentes de que os investidores e intermediários da

informação acreditam que maiores períodos de relacionamento entre o auditor e o

cliente são salutares para qualidade da auditoria. Sendo a troca do auditor não muito

bem vista pelo mercado, a exigência de rodízio obrigatório poderia até confundir

analistas e investidores, pois o gestor poderia utilizar o prazo do rodízio para

esconder a sua vontade de trocar a empresa de auditoria, sob uma ótica

oportunística, sem sofrer julgamento do mercado por isso.

Entre os poucos estudos empíricos encontrados sobre o assunto, que dão

suporte a existência do rodízio obrigatório estão o de Dopuch et al. (2001), que

encontraram evidências de que o rodízio obrigatório reduz a disposição do auditor

de emitir relatórios enviesados.

Gietzmann e Sem (2002), comparando os custos e os benefícios do rodízio

obrigatório de firmas de auditoria, concluíram que, em algumas circunstâncias, se

trata de um procedimento válido.

Alguns estudos verificados sugerem que o rodízio de firmas de auditoria não

seja o mais apropriado instrumento para a melhoria da qualidade da auditoria.

Um recente estudo do The General Accounting Office (órgão governamental

norte-americano) chegou à conclusão de que o rodízio obrigatório pode não ser o

mais eficiente caminho para fortalecer a independência do auditor (NAGY, 2005).

Acredita-se que ele até tenha impacto na melhora da independência do auditor, mas

não, necessariamente, na melhoria da qualidade da auditoria.

Page 22: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

20

Myers et al. (2003) sugerem que o ponto central da discussão sobre o

mandato do auditor não deva ser a independência, mas sim a qualidade dos

resultados financeiros.

Johnson et al. (2002) entendem que a capacidade do auditor em melhorar a

qualidade dos relatórios financeiros depende da probabilidade de detectar falhas ou

omissões nas informações e o comportamento subseqüente à verificação destas. Se

após a detecção da falha, a mesma é corrigida ou relatada, a qualidade das

informações é melhorada.

DeAngelo (1981) define qualidade da auditoria como a probabilidade de

detectar e relatoriar os erros das demonstrações financeiras, que depende, apenas

em parte, da independência do auditor. Apesar da independência ser usualmente

vista como a característica fundamental do auditor, ela impacta apenas no fato de

relatar ou não os problemas encontrados. Entretanto, para detecção das falhas o

auditor necessita, dentre outros, de profundos conhecimentos sobre os clientes, que

dificilmente são agregados instantaneamente numa troca de firmas de auditoria.

Dessa forma, até entende-se que a troca do auditor impacta positivamente

sobre a independência do auditor, mas, ao mesmo tempo, impacta negativamente

sobre o conhecimento específico que o auditor possui sobre o cliente. Para melhor

entendimento do problema observe a figura 1.

Page 23: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

21

Fonte: Adaptado de Wooten (2003) Figura 1: Mapa da Troca do Auditor X Qualidade de A uditoria

Existem várias outras variáveis que afetam a qualidade da auditoria e

poderiam estar contidas nesse mapa, como por exemplo, a execução de serviços de

consultoria paralelamente aos serviços de auditoria, que, na teoria, tem impacto

negativo sobre a independência e positivo sobre o conhecimento do cliente, mas não

fazem parte do escopo desse estudo. Como foi visto neste estudo, essa atuação

paralela, que também foi observada no caso Enron, foi recentemente proibida tanto

no mercado de capitais americano (Lei Sarbanes-Oxley/2002) quanto no brasileiro

(1999).

Afeta Positivamente

Afeta Negativamente

Troca do Auditor

Conhecimento do auditor sobre o cliente Independência

Encontrar falhas Relatar falhas

Qualidade da auditoria

Page 24: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

22

2.3 QUALIDADE DA AUDITORIA E GERENCIAMENTO DE RESULTADOS

Sabe-se que os gestores possuem incentivos naturais para ajustar os

resultados visando melhorar o valor da empresa e/ou o seu próprio bem estar

(BECKER et al. 1998). Dentre esses incentivos se destacam a remuneração por

resultado, os covenants do passivo e os custos políticos das empresas (WATTS e

ZIMMERMAN, 1986 apud HIRST, 1994).

Aproveitando-se da assimetria de informação existente, os gestores utilizam

escolhas contábeis por razões oportunísticas e acabam por interferir no resultado da

empresa, geralmente expropriando algum outro stakeholder, como investidores,

credores ou governo. A essa prática se dá o nome de gerenciamento de resultados.

Martinez (2001) afirma que o gerenciamento dos resultados contábeis

caracteriza-se fundamentalmente como alteração proposital dos resultados

contábeis, visando alcançar motivação particular. Complementa afirmando não

tratar-se de fraude contábil, pois a atuação ocorre onde a legislação e as normas

contábeis permitem certa discricionariedade ao gestor.

Apesar do caráter legal, espera-se do auditor o constrangimento à prática do

gerenciamento de resultados, visto que essas discricionariedades podem ser

utilizadas pelo gestor em benefício próprio, como, por exemplo, nas bonificações

atreladas ao lucro do exercício, que motivam o gestor a maximizá-lo naquele

período.

Existindo a possibilidade da utilização do gerenciamento de resultados em

benefício dos gestores e/ou acionistas controladores em detrimento dos outros

stakeholders, e sendo objetivo da auditoria independente reprimir esse

Page 25: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

23

procedimento, entende-se que quanto menor o nível de gerenciamento de

resultados apresentado pela empresa, melhor a qualidade da auditoria.

Talvez por isso, o gerenciamento de resultados contábeis tem sido utilizado

como métrica para qualidade de auditoria em vários estudos (BECKER et al., 1998;

DEFOND e JIAMBALVO, 1994; KIM et al., 2003; MYERS et al., 2003).

Martinez (2001) sugeriu a realização de pesquisas visando a verificação da

hipótese de que quanto mais independente for a firma de auditoria, menor será a

propensão para que esta tolere o gerenciamento de resultados contábeis, o que

corroboraria a visão dos reguladores brasileiros quando da instituição do rodízio

obrigatório de firmas de auditoria.

Page 26: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

24

3 METODOLOGIA

3.1 HIPÓTESES

Considerando esses fatos e a carência desse tipo de estudo utilizando como

base informações relativas ao mercado de capitais brasileiro, o objetivo geral deste

estudo é verificar os efeitos da mudança da firma de auditoria no gerenciamento de

resultados das companhias abertas brasileiras e, assim, contribuir para toda essa

discussão, inclusive sobre a conveniência do rodízio obrigatório de auditores.

Especificamente, apesar de não se buscar nesse trabalho a obtenção e nem

a análise do motivo da troca da empresa de auditoria, pretende-se verificar se as

mudanças motivadas pelo rodízio obrigatório apresentaram alguma peculiaridade

em relação às demais.

Da mesma forma, buscar-se-á verificar se as trocas de tipos diferentes

apresentaram resultados diversos, sendo considerados os quatro tipos de mudança

a seguir dispostos:

• De grande firma de auditoria para outra grande;

• De grande firma de auditoria para uma pequena;

• De pequena firma de auditoria para uma grande; e

• De pequena firma de auditoria para outra pequena.

Para efeito desse trabalho serão consideradas grandes firmas de auditoria as

maiores multinacionais do setor, atualmente conhecidas como Big Four (Deloitte

Touche Tomatsu, KPMG, PriceWaterhouseCoopers e Ernst & Young). Como no ano

de 1998, período inicial da nossa amostra, existiam outras duas grandes empresas

Page 27: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

25

multinacionais no setor (Big Six), a Coopers & Lybrand, fundida à PriceWaterhouse

em 1998/1999, e a Arthur Andersen, excluída do mercado em 2002, as mesmas,

quando verificadas, serão consideradas grandes empresas de auditoria. As demais

firmas de auditoria serão consideradas pequenas.

Apesar da maioria dos estudos internacionais pesquisados apresentarem

resultados adversos, visando testar a crença dos reguladores brasileiros de que

assegurando a independência através da mudança da firma de auditoria, a

qualidade dos serviços de auditoria é melhorada, a hipótese principal do trabalho é a

seguinte:

H1: A troca da firma de auditoria diminui o nível de gerenciamento de

resultados das companhias abertas listadas na Boves pa.

Não se rejeitando a hipótese principal, faz-se relevante testar o impacto das

trocas de firma de auditoria motivadas pelo rodízio obrigatório no gerenciamento de

resultados das companhias listadas na Bovespa, sendo uma das hipóteses

complementares do trabalho a seguinte:

H2: A troca da firma de auditoria, ocorrida em função do rodízio

obrigatório, diminui o nível de gerenciamento de re sultados das

companhias abertas listadas na Bovespa.

Essas hipóteses (H1 e H2) se baseiam na possibilidade do ganho advindo da

maior independência, causado pela troca da empresa de auditoria, ter maior impacto

na mitigação do gerenciamento de resultados do que a perda de conhecimento

específico sobre o cliente. Não sendo essas hipóteses rejeitadas, há indícios de que

os reguladores estavam corretos quando impuseram às companhias abertas

brasileiras o rodízio obrigatório de firmas de auditoria.

Page 28: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

26

A outra hipótese complementar deste estudo trata do tipo da troca de

auditoria:

H3: Os tipos de mudança da firma de auditoria apresen tam efeitos

diferenciados na diminuição do nível de gerenciamen to de resultados

das companhias abertas listadas na Bovespa.

A hipótese (H3) será testada visando verificar se existe diferença na

magnitude da diminuição do nível de gerenciamento de resultados entre os tipos de

troca de firmas de auditoria. Espera-se que as trocas de grandes firmas de auditoria

por pequenas apresentem diminuição do gerenciamento de resultados em níveis

mais baixos, enquanto as trocas de pequenas firmas por grandes apresentem níveis

mais altos na diminuição do gerenciamento de resultados, em virtude de acreditar-se

que as grandes empresas de auditoria possuam um maior número de profissionais

qualificados e uma maior probabilidade de conhecerem as peculiaridades do setor

do novo cliente, em função da maior participação no mercado. Nas trocas de

grandes firmas de auditoria por outras grandes e de pequenas por outras pequenas,

esperam-se níveis intermediários de diminuição do gerenciamento de resultados.

3.2 MEDIDAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS

Buscando maior confiabilidade dos resultados, o gerenciamento de resultados

será medido utilizando-se as métricas usadas por Lopes et al. (2007) e dois modelos

de estimação de accruals discricionários. Um deles é o modelo de Jones (1991)

modificado por Dechow et al. (1995), conhecido como modelo de Jones Modificado,

e o outro é o modelo desenvolvido por Kang e Sivaramakrishnan (1995), conhecido

por modelo KS.

Page 29: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

27

3.2.1 Métricas de Gerenciamento de Resultados

Lopes et al (2007) utilizaram cinco métricas, quatro com base no estudo de

Leuz et al. (2003) e uma utilizada no trabalho de Pincus e Rajgopal (2002 apud

LOPES et al., 2007), visando captar várias dimensões do gerenciamento de

resultados. O cálculo da primeira métrica (EM1) é efetuado observando a Equação

1. Foram mantidas as siglas originais, porém com a identificação do nome utilizado

usualmente no Brasil.

)(/)(11

1−−

=t

t

t

t

ATOpCashFlow

ATOpIncome

EM σσ (1)

Onde:

=tOpIncome lucro operacional em t;

tOpCashFlow = fluxo de caixa operacional2 em t;

1−tAT = ativo total em t-1.

Valores baixos de EM1 indicam a prática de suavização de resultados pelos

gestores da empresa (LEUZ et al., 2003 e LOPES et al., 2007), por meio do

gerenciamento de resultados.

A segunda métrica (EM2) é calculada de acordo com a Equação 2 e mede a

correlação entre os accruals e os fluxos de caixa da empresa. Espera-se uma

correlação negativa entre os accruals e os fluxos de caixa, sendo que altos níveis

dessa correlação indicam a prática de suavização de resultados através de

gerenciamento das discricionariedades pelos gestores (DECHOW, 1994; LEUZ et

al., 2003; LOPES et al., 2007).

)( ,11

2−−

∆∆=t

t

tt ATOpCashFlow

ATACT

EM ρ (2)

2 O fluxo de caixa operacional, por não ser de apresentação obrigatória no Brasil, foi calculado subtraindo-se os accruals totais do lucro operacional. Os accruals totais são calculados de acordo com a equação 7.

Page 30: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

28

Onde:

tACT∆ = variação dos accruals totais em t; OpCashFlow∆ = variação do fluxo de caixa operacional em t;

1−tAT = ativo total em t-1.

A terceira métrica (EM3) mede o nível de gerenciamento de resultados

usando o tamanho dos accruals como proxy (DECHOW, 1994; LEUZ et al., 2003;

LOPES et al., 2007) e é calculada através da Equação 3.

tCashFlowACTEM tt /)/(∑=3 (3)

Onde:

tACT = accruals totais em t;

tCashFlow = fluxo de caixa em t; t = nº de exercícios utilizados.

A quarta métrica (EM4) se baseia na possibilidade do gestor utilizar o

gerenciamento de resultados com o intuito de evitar pequenas perdas,

transformando-as em pequenos lucros. Dessa forma, EM4 é calculada pela razão

entre o número de pequenos lucros e o número de pequenas perdas, sendo

considerados assim os valores resultantes da divisão do resultado líquido do

exercício pelo ativo total que se encontrarem entre 0,00 e 0,01 (pequenos lucros) e

entre -0,01 e 0,00 (pequenas perdas).

SmlossSmprofitEM /=4 (4)

Onde:

Smprofit = número de pequenos lucros (entre 0,00 e 0,01); Smloss = número de pequenos prejuízos (entre -0,01 e 0,00).

A quinta métrica (EM5), a única delas baseada nos estudos de Pincus e

Rajgopal (2002 apud LOPES et al., 2007), mostra como as discricionariedades

podem ser usadas para reduzir a volatilidade dos resultados líquidos do exercício.

Page 31: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

29

Se EM5, que é calculada conforme a Equação 5, for maior que 1, existem evidências

de gerenciamento de resultados (LOPES et al., 2007).

)(/)(11

5−−

=t

t

t

t

ATNetIncome

ATomeNonDiscInc

EM σσ (5)

Onde:

ttt ANDOpCashFlowomeNonDiscInc += ;

tNetIncome = Lucro Líquido em t;

1−tAT = ativo total em t-1.

Os accruals não discricionários ( tAND ) são obtidos através do modelo de

Jones modificado (Equação 8). Sabendo-se que ttt ADANDACT += e tAD

(accruals discricionários) são os erros da regressão ( tε ), então tAND será calculado

de acordo com a Equação 6, utilizando os valores dos coeficientes ),( 321 ααα e

encontrados na regressão da Equação 8.

)/()/)(()/( 131211 1 −−− +∆−∆+= ttttt ATPPEATRECREVATAND ααα (6)

Onde:

tAND = accruals não discricionário em t;

1−tAT = ativo total em t-1;

tREV∆ = variação da receita líquida no período t;

tREC∆ = variação de contas a receber no período t;

tPPE = permanente no período t;

321 ααα e, = coeficientes da regressão.

3.2.2 Modelo de Jones Modificado

Apesar do modelo original de Jones (1991) para o cálculo dos accruals

discricionários ser o mais encontrado em trabalhos semelhantes a esse (DEFOND e

JIAMBALVO, 1994; DEFOND e SUBRAMANYAM, 1998), será utilizado o modelo de

Jones modificado por Dechow, Sloan & Sweeney (1995), também utilizado para

medir a qualidade da auditoria (FERDINAND et al. 2003), por ser o modelo mais

Page 32: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

30

comumente utilizado em pesquisas envolvendo gerenciamento de resultado

(ALMEIDA, 2006).

Nesse modelo, assim como no original de Jones (1991), se calculam os

accruals totais da forma exposta na Equação 7. Foram mantidas as siglas originais,

porém com a identificação do nome utilizado usualmente no Brasil, tendo em vista

um melhor entendimento, seguindo Almeida et al. (2006).

1−−∆+∆−∆−∆= ttttttt ATDEPSTDCashCLCAACT /)( (7)

Onde:

tACT = accruals totais em t;

tCA∆ = variação no ativo circulante em t;

tCL∆ = variação em passivo circulante em t;

tCash∆ = variação em caixa e equivalentes em t;

tSTD∆ = variação em financiamento de curto prazo no passivo circulante em t;

tDEP = depreciação e amortização no período t;

1−tAT = ativo total em t-1.

Sabendo o valor dos accruals totais, monta-se a função de regressão,

disposta na Equação 8, para calcular o valor dos accruals discricionários.

tttttttt ATPPEATRECREVATACT εααα ++∆−∆+= −−− )/()/)(()/( 131211 1 (8)

Onde:

1−tAT = ativo total em t-1.

tREV∆ = variação da receita líquida no período t;

tREC∆ = variação de contas a receber no período t;

tPPE = permanente no período t;

tε = resíduos da regressão, acumulação discricionária.

321 ααα e, = coeficientes da regressão

Os accruals discricionários serão os resíduos ( tε ) da regressão. Quanto mais

distante de zero (positivamente ou negativamente) for o resíduo, maior será o nível

Page 33: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

31

de gerenciamento de resultados. Logicamente, quanto mais próximo de zero, menor

será o nível de gerenciamento.

3.2.3 Modelo KS

O modelo KS demanda maior número de variáveis contábeis e é tido como

tecnicamente mais robusto que o modelo de Jones. Porém, esse volume maior de

dados se torna um fator redutor do tamanho da amostra (MARTINEZ, 2001).

Nesse modelo, calculam-se os accruals discricionários através da regressão

da Equação 9.

[ ] [ ] [ ] ttttttttt ATPPEATEXPATREVATAB εδαδαδα +++= −−−− 1331221111 //// (9)

Onde:

tttttt DEPCLOCAINVARAB −−++= = accrual balance no período t;

tAR = contas a receber, excluindo impostos a compensar no período t;

tINV = estoque no período t;

tOCA = outros ativos circulantes excluindo caixa, contas a receber e estoques no período t;

tCL = passivos circulantes excluindo impostos a pagar no período t;

tDEP = depreciação no período t;

1−tAT = ativo total em t-1;

tREV = receita Líquida no período t;

tEXP = despesas operacionais antes da depreciação no período t;

tPPE = permanente no Período t;

tε = resíduos da regressão, acumulação discricionária.

111 −−= tt REVAR /δ

11112 −−−− −+= tttt EXPCLOCAINV /δ

113 −−= tt PPEDEP /δ

321 ααα e, = coeficientes da regressão

Assim como no modelo de Jones modificado, os accruals discricionários

serão os resíduos ( tε ) da regressão. Quanto mais distante de zero (positivamente ou

Page 34: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

32

negativamente) for o resíduo, maior será o nível de gerenciamento de resultados.

Logicamente, quanto mais próximo de zero, menor será o nível de gerenciamento.

3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este trabalho estuda as trocas de firmas de auditoria realizadas pelas

empresas listadas na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA), no

período de 1998 a 2005.

Os dados contábeis foram extraídos no software Economática e as

informações referentes às empresas de auditoria extraídas dos sites da CVM e da

Bovespa.

Foram retiradas da amostra de todas(os) as(os) métricas/modelos

utilizadas(os) as empresas do setor econômico “Finanças e Seguros” devido às

regras específicas a que estão sujeitas, seguindo a maioria dos estudos verificados

sobre o assunto (BECKER et al. 1998; DEFOND e SUBRAMANYAM, 1998; KIM et

al., 2003; MARTINEZ, 2001; MYERS et al., 2003).

Foram retiradas da amostra as empresas que não apresentaram valor para o

cálculo dos accruals totais para, no mínimo, um exercício do período analisado.

A essa amostra foram agregadas as informações referentes às empresas de

auditoria, extraídas dos sites da CVM e da Bovespa entre os dias 07 e 13 de outubro

de 2006 e revisados entre os dias 10 e 20 de janeiro de 2007. Foram excluídas as

empresas-ano onde não se pôde confirmar a manutenção ou a troca da empresa de

auditoria.

Page 35: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

33

Por fim, foram excluídas as empresas que não possuíam no mínimo um ano

com troca de firma de auditoria e valores para o cálculo dos accruals totais. Na

Tabela 1, verifica-se o resumo dos critérios de seleção da amostra.

As amostras ao final dos critérios de corte foram utilizadas para rodar as

regressões para o cálculo dos accruals discricionários, que, no caso das métricas de

gerenciamento de resultados, foi realizada utilizando-se o modelo de Jones

Modificado seguindo Lopes et al. (2007).

Os resultados das regressões encontram-se dispostos na Tabela 2.

Page 36: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

34

Para todas as regressões realizadas, utilizando-se os dois modelos,

considerou-se bons os resultados tendo em vista o Valor p de 0,000, o FIV (Fator

Inflacionário da Variância) próximos a 1, indicando não haver multicolinearidade

entre as variáveis explanatórias, e o teste de Durbin-Watson entre 1 e 2, significando

não haver autocorrelação entre as variáveis independentes.

Page 37: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

35

3.3.1 Métricas de Gerenciamento de Resultados

Buscando confirmar ou refutar as hipóteses desse estudo, inicialmente

verificou-se o efeito troca da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das

empresas, através da utilização das cinco métricas de gerenciamento de resultados

utilizadas por Lopes et al. (2007).

Primeiramente, selecionou-se, das 245 empresas da amostra para esse

método (Tabela 1), aquelas que possuíam dados contábeis nos três anos

imediatamente anteriores à troca da firma de auditoria e nos três anos

imediatamente posteriores. Com isso a amostra desse método foi reduzida para 98

empresas. Montou-se dois grupos com as mesmas empresas, sendo um deles

(grupo 1) com os dados referentes aos anos em que a empresa foi auditada pela

firma de auditoria predecessora e o outro (grupo 2) com os dados dos anos

auditados pela sucessora.

Assim, foram calculadas as cinco métricas para cada empresa dos grupos 1 e

2, estando as estatísticas descritivas expostas na Tabela 3.

Outra análise efetuada por meio das cinco métricas utilizadas por Lopes et al.

(2007) se baseou no entendimento de que, se a troca da firma de auditoria diminui o

Page 38: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

36

gerenciamento de resultados, as empresas que mudaram de firma de auditoria mais

vezes tendem a possuir níveis mais baixos de gerenciamento de resultados.

Dessa forma, as empresas dessa amostra (245 empresas) foram divididas em

quatro grupos, sendo um com empresas que trocaram uma única vez de firma de

auditoria (grupo 3), um com empresas que tiveram duas mudanças de auditoria

(grupo 4), um com empresas com três trocas (grupo 5) e o último com empresas que

mudaram quatro ou cinco vezes de firma de auditoria (grupo 6), todos tomando por

base o período de tempo utilizado nesse trabalho, ou seja, entre os anos de 1998 a

2005.

As estatísticas descritivas dos cálculos das cinco métricas para esses grupos

se encontram disposto na Tabela 4.

Page 39: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

37

Pelo fato de existirem conjuntos de valores para as métricas de

gerenciamento de resultados de alguns grupos que não se encontram distribuídos

normalmente, para efeito de comparação foram utilizados dois testes estatísticos,

um paramétrico e outro não-paramétrico. Para a comparação dos conjuntos de

valores que possuíam valores distribuídos normalmente, foi utilizado o teste t para

comparação das médias (Tabela 5). Para as comparações em que pelo menos um

dos grupos não possuía os valores distribuídos normalmente, foram realizados

testes não-paramétricos de Mann-Whitney para comparação das medianas (Tabela

6.

A comparação das métricas de gerenciamento de resultados do grupo 1 (três

anos com a auditoria predecessora) com as métricas do grupo 2 (três anos com a

auditoria sucessora), tanto no teste paramétrico (Tabela 5) quanto no teste não-

paramétrico (Tabela 6), não apresentaram diferença estatisticamente significante,

indicando, segundo essa análise, que a mudança da firma de auditoria não impacta

no gerenciamento de resultados.

Page 40: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

38

A segunda análise proposta para a utilização das métricas de gerenciamento

de resultados comparou os grupos de empresas por número de trocas de firmas de

auditoria realizadas no período de 1998 a 2005. A grande maioria das comparações

das métricas dos grupos não apresentou diferenças estatisticamente significantes,

sendo que os poucos resultados estatisticamente significantes, com intervalo de

confiança de 95%, encontrados foram as diferenças das medianas entre os grupos

EM1-G3 e EM1-G6, entre os grupos EM1-G4 e EM1-G6, entre os grupos EM1-G5 e

EM1-G6, e entre os grupos EM5-G3 e EM5-G5 (Tabela 6).

Page 41: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

39

Como dito anteriormente, valores baixos de EM1 indicam a prática de

suavização de resultados pelos gestores da empresa (LEUZ et al., 2003 e LOPES et

al., 2007), por meio do gerenciamento de resultados.

Na Tabela 7, onde a média e a mediana dos valores de EM1 dentro de seus

grupos são apresentadas com mais casas decimais do que na Tabela 4, verifica-se

que o grupo 6 (empresas que trocaram 4 ou 5 vezes de firma de auditoria) possui

maiores valores de EM1, tanto da média quanto da mediana, do que os grupos 3

(uma troca), 4 (duas trocas) e 5 (três trocas). As diferenças das medianas se

mostraram estatisticamente significantes (Tabela 6), indicando haver evidências,

segundo essa métrica, de que as empresas que trocaram de firma de auditoria

quatro ou cinco vezes apresentam níveis mais baixos de gerenciamento de

resultados do que as que trocaram uma, duas ou três vezes no período de 1998 a

2005, indo, de certa forma, ao encontro da hipótese principal deste estudo, de que a

troca da firma de auditoria diminui o nível de gerenciamento de resultados.

Na análise da métrica 5, sabe-se que quando EM5 é maior que 1, existem

evidências de gerenciamento de resultados (LOPES et al., 2007). A EM5 referente

ao grupo 3 (empresas que trocaram uma vez de auditor no período de 1998 a 2005)

tem média igual a 1,346 sugerindo gerenciamento de resultados. A EM5 referente ao

grupo 5 (empresas que trocaram três vezes de auditoria no período) tem média igual

a 0,821.

Page 42: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

40

A diferença estatisticamente significante, com intervalo de confiança de 95%,

entre as suas medianas (Tabela 6) sugere que as empresas que trocaram uma vez

de firma de auditoria (grupo 3) gerenciaram mais os resultados do que as empresas

que trocaram três vezes (grupo 5) no período de 1998 a 2005. Com intervalo de

confiança de 90%, a diferença entre as medianas de EM5 dos grupos 4 e 5 é

estatisticamente significante, indicando que as empresas que trocaram de firma de

auditoria duas vezes (EM5-G4) gerenciaram os resultados mais do que as empresas

que trocaram três vezes (EM5-G5) no período de 1998 a 2005. Esses resultados

contribuem para a confirmação da hipótese principal deste trabalho, de que a troca

da firma de auditoria contribui para diminuição do nível de gerenciamento de

resultados.

3.3.2 Modelos de Jones Modificado e KS

Por meio da utilização dos modelos de Jones Modificado e KS buscamos

encontrar maiores evidências para confirmar ou refutar a hipótese principal deste

trabalho, bem como responder às demais hipóteses formuladas.

Inicialmente, separaram-se as amostras, para esses dois modelos, em

empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria e empresas-ano em que

não ocorreu mudança na firma de auditoria, tentando verificar se o comportamento

do gerenciamento de resultados se diferenciava nessas duas situações.

Dessa forma, na Tabela 8, estão dispostas as estatísticas descritivas dos

valores absolutos dos accruals discricionários (resíduos da regressão), calculados

pelo modelo de Jones modificado e pelo modelo KS, distribuídos pelos anos do

período da amostra, separados por empresas-ano em que ocorreu troca de firmas

da auditoria e empresas-ano em que houve a manutenção da firma em relação ao

Page 43: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

41

exercício anterior. Foram utilizados os valores absolutos porque, se usados os

valores reais dos accruals discricionários, as médias tenderiam a zero, dificultando a

análise.

Devido ao fato dos accruals discricionários desses dois modelos (Jones

modificado e KS) não se encontrarem distribuídos normalmente dentro de seus

grupos, para efeito das comparações de dados necessárias às respostas exigidas

neste estudo, foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney, cujos

resultados se encontram apresentados na Tabela 9.

Page 44: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

42

Como se pode observar na Tabela 9, não existem diferenças estatisticamente

significantes entre os grupos de empresas-ano em que houve troca de firma de

auditoria e os grupos de empresas-ano em que não ocorreram troca de auditoria,

utilizando-se os dois modelos, com exceção do ano de 2000, referente ao modelo

KS, que apresentou diferença estatisticamente significante entre as medianas dos

accruals discricionários das empresas-ano em que ocorreram troca e das empresas-

ano em que não houve troca. Esse resultado aponta para um maior nível de

gerenciamento de resultados das empresas-ano em que não houve troca em relação

às empresas-ano em que ocorreram mudanças na firma de auditoria, utilizando o

modelo KS, no ano de 2000.

Apesar de ser única nessa análise, essa evidência ajuda a confirmar a

hipótese de que o nível de gerenciamento de resultados diminui com a troca da firma

de auditoria, mesmo com o fato das demais comparações, utilizando-se os dois

modelos, inclusive do total de empresas-ano em que houve troca com as empresas-

ano em que não houve mudança, não apresentarem diferenças estatisticamente

significantes.

Buscando confirmar uma das hipóteses complementares desse trabalho, de

que a mudança da firma de auditoria imposta pelo rodízio obrigatório diminui o nível

de gerenciamento de resultados, extraiu-se das amostras, para os dois modelos

analisados, somente as empresas-ano em que ocorreram trocas de firma de

auditoria, separando-as em empresas-ano em que houve troca compulsória (rodízio

obrigatório) e empresas-ano em que ocorreram mudanças causadas por outros

motivos.

Na Tabela 10, estão dispostas as estatísticas descritivas dos valores

absolutos dos accruals discricionários, referentes aos dois últimos anos de mandato

Page 45: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

43

da firma predecessora e ao primeiro ano de mandato da firma de auditoria

sucessora, das empresas-ano em que ocorreram trocas de firmas de auditoria.

Além da totalização dos dados inerentes às empresas-ano que houve troca

da firma de auditoria, na Tabela 10 esses dados também estão discriminados por

empresas-ano que efetuaram a troca motivada pelo rodízio obrigatório e empresas-

ano que realizaram a mudança por qualquer outro motivo.

Novamente as análises comparativas foram realizadas utilizando o teste não-

paramétrico de Mann-Whitney, devido ao fato dos accruals discricionários desses

dois modelos (Jones modificado e KS) não se encontrarem distribuídos

Page 46: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

44

normalmente, dentro de seus grupos, estando os resultados apresentados na Tabela

11.

Buscou-se verificar se as mudanças de firma de auditoria ocorridas em função

do rodízio obrigatório possuíam alguma particularidade em relação às trocas

realizadas por outros motivos. As informações estatisticamente significantes

apresentadas foram a diferenças entre os grupos ROD(-2) e OUT(-2) e entre os

grupos ROD(-1) e OUT(-1), conforme a Tabela 11. Na comparação do nível de

gerenciamento de resultados entre o último ano do mandato da firma de auditoria

predecessora com mudança motivada pelo rodízio (ROD(-1)) com o nível

apresentado no último ano de mandato da auditoria predecessora com a troca

motivada por outros motivos (OUT(-1)) e na mesma comparação utilizando-se o

penúltimo ano (-2), utilizando o modelo de Jones modificado, verificou-se que nos

dois anos anteriores à mudança compulsória de firma de auditoria existe um nível de

gerenciamento de resultados superior aos dois anos anteriores às trocas motivadas

por outros fatores.

Esse resultado pode significar que, como a mudança motivada pelo rodízio é

conhecida pelos gestores e pelos auditores em razão do limite de cinco anos,

Page 47: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

45

algumas escolhas contábeis menos conservadoras são toleradas nos primeiros anos

da relação, sendo coibidas apenas nos últimos anos do relacionamento, em virtude

do risco de ter o trabalho questionado pela firma de auditoria sucessora. Esse ajuste

pode impactar o gerenciamento de resultados nesses períodos, pois ocorre através,

por exemplo, de um aumento de provisões.

Por outro lado, motivadas por uma postura mais conservadora por parte da

firma de auditoria em relação às suas escolhas contábeis, as empresas podem optar

pela troca do auditor antes de completar o período de cinco anos, provavelmente,

buscando tratamento menos exigente e, talvez por isso, os dois anos anteriores às

mudanças voluntárias de firma de auditoria apresentem níveis mais baixos de

gerenciamento de resultados.

Visualizando a Tabela 12, observa-se um nível maior de gerenciamento de

resultados, pelo modelo de Jones modificado, nos dois últimos anos da relação (-2 e

-1) em relação aos três anos anteriores (-5, -4 e -3).

Buscando confirmações estatísticas para essa análise, realizaram-se algumas

comparações, também utilizando-se o teste não-paramétrico de Mann-Whitney,

Page 48: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

46

devido ao fato dos accruals discricionários desses dois modelos (Jones modificado e

KS) não se encontrarem distribuídos normalmente dentro de seus grupos. Os

resultados estão contidos na Tabela 13.

A diferença no comportamento do gerenciamento de resultados durante os

anos do relacionamento cliente-auditor não se mostrou estatisticamente significante.

Dessa forma, não encontrou-se evidências de que a troca da firma de

auditoria, ocorrida em função do rodízio obrigatório, diminui o nível de

gerenciamento de resultados.

Por fim, tentou-se buscar subsídios para testar a hipótese complementar

deste trabalho, que trata especificamente dos tipos de troca de firmas de auditoria.

Na Tabela 14, estão presentes os dados dos accruals discricionários, em

valores absolutos, utilizando os dois modelos, referentes às empresas-ano em que

houve troca de firma de auditoria, no período de 1998 a 2005, discriminadas por tipo

de troca, sendo eles a troca de uma grande firma de auditoria para outra grande

(BB), a troca de uma grande firma para uma pequena (BN), a troca de uma firma

pequena de auditoria para uma grande (NB) e a troca de uma firma pequena para

outra pequena (NN).

Page 49: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

47

Essas análises comparativas foram realizadas utilizando o teste não-

paramétrico de Mann-Whitney, devido aos accruals discricionários desses dois

modelos (Jones modificado e KS) não se encontrarem distribuídos normalmente,

dentro de seus grupos, estando os resultados apresentados na Tabela 15.

Page 50: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

48

Nessa análise, verificou-se que as diferenças não foram estatisticamente

significantes, indicando que a diminuição do nível de gerenciamento de resultados

na mudança da firma de auditoria não é influenciada pelo tipo da troca.

Page 51: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

49

4 CONCLUSÃO

Na análise do gerenciamento de resultados através das cinco métricas

utilizadas por Lopes et al. (2007) e dos modelos de Jones modificado e KS, durante

o período de 1998 a 2005, acredita-se existirem resultados estatisticamente

significantes de que a mudança da firma de auditoria diminui o nível de

gerenciamento de resultados, não havendo, dessa forma, evidências para rejeitar a

hipótese principal (H1) desse trabalho.

Complementarmente, verificou-se que as mudanças motivadas pelo rodízio

obrigatório de firma de auditoria não apresentaram diferenças estatisticamente

significantes em relação às demais trocas, rejeitando, dessa forma, uma das

hipóteses complementares desse estudo (H2).

Porém, pôde-se observar que o nível de gerenciamento de resultados das

empresas que realizaram a mudança motivada pelo rodízio obrigatório foi maior, nos

dois últimos anos do relacionamento com a firma de auditoria predecessora (-2 e -1),

do que o nível verificado nas empresas que realizaram a troca de firma de auditoria

voluntariamente, nesses mesmos períodos, sugerindo uma tolerância maior da firma

de auditoria com escolhas contábeis do cliente, nos primeiros anos de

relacionamento, que, provavelmente, são ajustadas nos últimos dois anos de

relacionamento, causando um aumento do nível de gerenciamento de resultados.

Esse assunto aparenta ser uma oportunidade bastante interessante para pesquisas

futuras.

Foi possível verificar ainda, que a diminuição do nível de gerenciamento de

resultados não apresentou diferença estatisticamente significante entre os tipos de

trocas de firma de auditoria (de grande firma para grande, de grande firma para

Page 52: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

50

pequena, de pequena firma para grande e de pequena firma para pequena),

sugerindo que o impacto da troca da firma de auditoria no gerenciamento de

resultados independe do tipo de troca ocorrido. Assim, rejeita-se a outra hipótese

complementar desse estudo (H3).

Page 53: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J. E. F., COSTA, F. M., FARIA, L. H. L., BRANDÃO, M. M. Earnings

Management no Brasil: Grupos Estratégicos como Nova Variável Explanatória. In:

CONGRESSO USP DE CONTABILIDADE E CONTROLADORIA, 6., 2006, São

Paulo. Anais eletrônicos . Disponível em: <www.eac.fea.usp.br/congressousp>.

Acesso em: 11 out. 2006.

ALMEIDA, J. E. F. Earnings Management no Brasil: Estudo Empírico em

Indústrias e Grupos Estratégicos. Vitória, 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências

Contábeis) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação

Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças - FUCAPE.

ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo . 5 ed. São Paulo:

Atlas, 1996.

AREL, B., BRODY, R. G., PANY, K. Audit Firm Rotation and Audit Quality. The CPA

Journal . v. 75, n. 1. jan., 2005.

ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações . 3 ed. São Paulo: Atlas, 1998.

BECKER, C. L., DEFOND M. L., JIAMBALVO J., and SUBRAMANYAM K. R. The

effect of audit quality on earnings management. Contemporary Accounting

Research. v. 15, n. 1. spring, 1998.

BERGAMINI JR, S. A Crise de Credibilidade Corporativa. Revista do BNDES . v. 9,

n. 18. dec., 2002.

BLOUIN J., GREIN B., ROUNTREE B. The Ultimate Form of Mandatory Auditor

Rotation: The Case of Former Arthur Andersen Clients. Fevereiro, 2005 Working

papers series . Disponível em: <http://www.ssrn.com>. Acesso em 03 oct. 2006.

DEANGELO, L. Auditor Size and Audit Quality. Journal of Accounting and

Economics v. 3. dec., 1981.

DECHOW, Patricia. Accounting earnings and cash flows as measures of firm

performance: The role of accounting accruals. Journal of Accounting and

Economics . v. 18. 1994.

Page 54: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

52

DECHOW, P. M., SLOAN, R. G., SWEENEY, A. P. Detecting Earnings Management.

The Accounting Review. v. 70, n. 2. apr., 1995.

DEFOND, M. L., SUBRAMANYAM, K. R. Auditor Changes and Discretionary

Accruals. Journal of Accounting and Economics. v. 25. aug., 1998.

DEFOND, M. L., FRANCIS, J. R. Audit Research after Sarbanes-Oxley. Auditing: A

Journal of Practice e Theory. v. 24. Suplemento, 2005.

DOPUCH, N., KING, R. R., SCHWARTZ, R. An experimental investigation of

retention and rotation requirements. Journal of Accounting Research . v. 39. 2001.

FAMA, E. F., JENSEN, M. C. Separation of Ownership and Control. Journal of Law and Economics . v. 26. jun., 1983.

FEIGL, D. M., REZENDE, I. A. C., FERNANDES, A. L. M., SANTOS, L. S. R. Uma

Investigação sobre o Efeito Contágio nas Empresas Negociadas no Mercado

Acionário Brasileiro Auditadas pela Arthur Andersen. In: CONGRESSO USP DE

CONTABILIDADE E CONTROLADORIA, 5., 2005, São Paulo. Anais eletrônicos .

Disponível em: <www.eac.fea.usp.br/congressousp>. Acesso em: 11 out. 2006.

FERDINAND, A. G., CHARLES, J. P. C., JUDY, S. L. T. Discretionary Accounting

Accruals, Managers’ Incentives, and Audit Fees. Contemporary Accounting

Research. v. 20, n. 3. autumn, 2003.

FRANCIS, J. R., WILSON E. Auditor Changes: A test of theories relating to agency

costs and auditor differentiation. The Accounting Review . v. 64, n. 4. oct., 1988.

GEIGER, M. A., RAGHUNANDAN K. Auditor Tenure and Audit Reporting Failures.

Auditing: A Journal of Practice e Theory. v. 21, n. 1. mar., 2002.

GEORGE, N. Audit Rotation and the Quality of Audits. The CPA Journal . v. 74, n.

12. dec., 2004.

GHOSH, A., MOON, D. Auditor Tenure and Perceptions of Audit Quality. The

Accounting Review. v. 80, n. 2. apr., 2005.

GIETZMANN, M., SEN, P. K. Improving auditor independence through selective

mandatory rotation. International Journal of Auditing. v. 6. 2002.

GUJARATI, D. N. Econometria Básica . 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

HIRST, D. E. Auditor Sensitivity to Earnings Management. Contemporary

Accounting Research. v. 11, n. 1. autumn, 1994.

Page 55: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

53

JENSEN, M. C., MACKLING, W. H. Theory of The Firm: Managerial Behavior,

Agency Costs and Ownership Structure. Journal of Financial Economics . oct,

1976.

JOHNSON, V. E., KHURANA, I. K., REYNOLDS, J. K. Audit-Firm Tenure and the

Quality of Financial Reports. Contemporary Accounting Research. v. 19, n. 4

winter, 2002.

JONES, J. J. Earnings Management During Import Relief Investigations. Journal of

Accounting Research . v. 29. 1991.

JUND, S. Auditoria . 4 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2002.

KANG, S., SIVARAMAKRISHNAN, K. Issues in testing earnings management and an

instrumental variables approach. Journal of Accounting Research . v. 33, n. 2.

autumn, 1995.

KIM, J. B., CHUNG, R., FIRTH, M. Auditor Conservatism, Asymmetric Monitoring,

and Earnings Management. Contemporary Accounting Research. v. 20, n. 2.

summer, 2003.

LEUZ, C., NANDA, D., WYSOCKI, P. D. Earnings management and investor

protection: an international comparison. Journal of Financial Economics . V. 69,

2003.

LOPES, A. B., TUKAMOTO, Y., GALDI, F. C., Earnings Management and Cross

Listing in Brasil. In: CONGRESSO ANPCONT, 1., 2007, Rio Grande do Sul. Anais

eletrônicos . Disponível em: < http://www.furb.br/especiais/interna.php?secao=590>.

Acesso em: 22 jun. 2007.

MARTINEZ, A. L. “Gerenciamento” dos Resultados Contábeis : Estudo Empírico

das Companhias Abertas Brasileiras. São Paulo, 2001. Tese (Doutorado em

Ciências Contábeis) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis,

Departamento de Contabilidade e Atuária, Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade da Universidade de São Paulo.

MAUTZ, R. K. Princípios de Auditoria . 3 ed. São Paulo: Atlas, 1980.

MYERS, J. N., MYERS, L. A., OMER, T. C. Exploring the Term of the Auditor-Client

Relationship and the Quality of Earnings: A Case for Mandatory Auditor Rotation?

The Accounting Review. v. 78, n. 3. jul., 2003.

Page 56: FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE ... Felipe... · FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ... Motivação das Trocas de ... que eram

54

NAGY, A. L. Mandatory Audit Firm Turnover, Financial Reporting Quality, and Client

Bargaining Power: The Case of Arthur Andersen. Accounting Horizons. v. 19, n. 2.

jun., 2005.

ROE, M. J. The Institutions of Corporate Governance. Harvard Law and Economics

Discussion Paper n. 488. Harvard Law School. oct. 2004a. Working paper series .

Disponível em: <www.ssrn.com>. Acesso em: 07 jan. 2007.

TURNER, L. E., WILLIAMS, J. P., WEIRICH, T. R. An Inside Look at Auditor

Changes. The CPA Journal . Special Issue: Auditing Marketplace. nov., 2005.

WATTS, R. L., ZIMMERMAN, J. L. Agency Problems, Auditing, and The Theory of

The Firm: Some Evidence. Journal of Law and Economics . oct., 1983.

WOOLDRIDGE, J. M. Introdução a Econometria : uma abordagem moderna. São

Paulo: Pioneira Thomson Learnings, 2006.

WOOTEN, T. C. Research About Audit Quality. The CPA Journal . v. 73, n. 1. jan.,

2003.