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2.ª edição 2009 ENSINO FUNDAMENTAL Fundamentos teóricos e metodológicos do Bertha de Borja Reis do Valle Domingos Barros Nobre Eliane Ribeiro Andrade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Miguel Farah Neto Rosana Glat Suely Pereira da Silva Rosa

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Page 1: Fundamentos teóricos e metodológicos do ENSINO … · Rosana Glat Suely Pereira da Silva Rosa. ... Mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação - IESAE

2.ª edição2009

ENSINO FUNDAMENTAL

Fundamentos teóricos e metodológicos do

Bertha de Borja Reis do Valle Domingos Barros NobreEliane Ribeiro AndradeEloiza da Silva Gomes de OliveiraMaria Inês do Rêgo Monteiro BonfimMiguel Farah NetoRosana GlatSuely Pereira da Silva Rosa

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IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

© 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

V242 Valle, Bertha de Borja Reis do. (Org.); Nobre, Domingos Barros; Andrade, Eliane Ribeiro. / Fundamentos Teóricos e Meto-

dológicos do Ensino Fundamental. / Bertha de Borja Reis do Valle (Org.); Domingos Barros Nobre; Eliane Ribeiro Andrade. 2. ed. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.308 p.

ISBN: 978-85-387-0156-9

1. Educação. 2. Ensino Fundamental. 3. Gestão Democrática. 4. Trabalho Coletivo. 5. Ensino-Aprendizagem. I. Título. II. Do-mingos Barros Nobre. III. Eliane Ribeiro Andrade. IV. Eloiza da Silva Gomes de Oliveira. V. Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim. VI. Miguel Farah Neto. VII. Rosana Glat. VIII. Suely Pereira da Silva Rosa.

CDD 375.21

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images

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Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Ja-neiro (UERJ). Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora titular da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente em Formação de Professores, Políticas Públicas, Planejamento e Gestão da Educação.

Bertha de Borja Reis do Valle

Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2005), Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1997), especialista em Al-fabetização pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (1987). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Jovens e Adultos e Educação Indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: educação escolar indíge-na, educação de jovens e adultos, formação de educadores indígenas, formação contínua e currículo. Desenvolve trabalhos de assessoria pedagógica, pesquisa e extensão há 13 anos entre os Guarani Mbya da Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, nas áreas de Educação, Saúde, Autossustentabilidade e Cultura.

Domingos Barros Nobre

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Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora adjunta, coordenadora do Laboratório de Estudos da Aprendizagem Humana (LEAH) e do Curso de Pedagogia a distância da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua na área de Psicologia, com ênfase em Aprendizagem e Desempenho Acadêmicos.

Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002), Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1976). Atual-mente, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino Médio e em Educação Profissional, atuando principalmente nos seguintes temas: Formação Docente, Ensino Médio e Políti-cas Públicas.

Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF-2004), Mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação - IESAE - da Fundação Getúlio Vargas (FGV-1993), Pós-graduada em Avaliação de Pro-gramas Sociais e Educativos pelo International Development Research Center (1985) e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1978) e em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá (UNESA-1980). Atualmente é professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO e Técnica em Assuntos Educacionais. Tem experiência na área da educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, juventude e políticas públicas.

Eliane Ribeiro Andrade

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Miguel Farah Neto

Rosana Glat

Doutora em Psicologia Social pela Fundação Getúlio Vargas (RJ-1988), Mestre em Psicologia com ênfase em Deficiência Mental pela Northeastern Uni-versity de Boston (1978) e Graduada em Psicolgia pela University of the Pacific da California (1976). Principais temas de investigação incluem Educação Especial / Educação Inclusiva, políticas públicas educacionais para alunos com necessida-des especiais, práticas educativas, formação de professores, deficiência mental, e questões psicossociais relacionadas às deficiências.

Suely Pereira da Silva Rosa

Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2002). Especialista em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), licenciatura em Geografia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974) e bacharelado em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (1973). Atualmente é técnico em assuntos educacionais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador qualificado da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Jovens e Adultos e Educação a Distân-cia, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, políticas educacionais, formação, supervisão e avaliação.

Especialista em Supervisão Educacional e Educação, Graduada em Pe-dagogia com habilitação em Supervisão Educacional e Administração Escolar. Professora de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa e Brasileira, autora de textos e livros sobre Educação.

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Sumário

O Ensino Fundamental e a construção da consciência crítica: a visão de Paulo Freire ............... 17

Histórico do analfabetismo no Brasil ................................ 29

Educação de Jovens e Adultos no Brasil .......................... 45

As políticas públicas para a EJA ........................................................................................... 46

Os debates mais recentes ....................................................................................................... 50

Conclusão ..................................................................................................................................... 53

Os desafios da universalização do Ensino Fundamental ......................................................... 59

A educação dos povos indígenas e o Ensino Fundamental ........................................................ 71

A Educação Inclusiva: Ensino Fundamental para os portadores de necessidades especiais ........................ 83

Educação Inclusiva: história e legislação .......................................................................... 83

Educação Inclusiva: afinal, do que estamos falando? .................................................. 84

Adaptações curriculares: do que estamos falando? ..................................................... 85

A controvertida avaliação da aprendizagem diante da “diversidade” .................... 88

Concluindo .................................................................................................................................. 90

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O trabalho coletivo na escola democrática I .................. 99

Revendo a história .................................................................................................................... 99

Em busca de um novo mundo ...........................................................................................101

Construindo um trabalho coletivo ....................................................................................103

Conclusão ...................................................................................................................................105

O trabalho coletivo na escola democrática II ...................111

Organizando a nossa escola: aspectos filosóficos .......................................................112

A questão da gestão ...............................................................................................................114

Criando condições ..................................................................................................................115

Finalizando nosso pensamento .........................................................................................117

O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I .............123

Iniciando o nosso cotidiano ................................................................................................124

Finalizando nossa conversa .................................................................................................129

O cotidiano escolar no Ensino Fundamental II ............135

O cotidiano da escola ............................................................................................................135

Opções metodológicas para os anos iniciais do Ensino Fundamental I ......................................147

Introdução .................................................................................................................................147

Alternativas possíveis ............................................................................................................147

Trabalho individualizado ......................................................................................................148

Trabalho coletivo .....................................................................................................................150

Começando a “fechar” nosso pensamento ....................................................................152

Opções metodológicas para os anos iniciais do Ensino Fundamental II ....................................................159

Diferentes linguagens............................................................................................................159

Espaços escolares e comunitários .....................................................................................161

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O material escolar ...................................................................................................................162

O dever de casa e o dever da sala de aula ......................................................................164

Concluindo ................................................................................................................................165

Avaliação da aprendizagem escolar ................................171

Avaliar: sempre um dilema ..................................................................................................171

Avaliando a aprendizagem ..................................................................................................172

Os erros mais comuns na avaliação da aprendizagem ..............................................178

A avaliação institucional da escola ..................................187

Avaliação institucional: modismo ou prioridade? .......................................................187

As principais iniciativas do Estado avaliador .................................................................190

Princípios da avaliação institucional ................................................................................193

O que avaliar na escola ..........................................................................................................193

Avaliação interna e externa .................................................................................................194

Concluindo ................................................................................................................................196

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ..................................................205

Saeb 2001: O que foi avaliado? Que instrumentos foram utilizados? ..................208

Saeb 2001: Como vai o Ensino Fundamental? ..............................................................212

Como está a avaliação do Ensino Fundamental atualmente? ................................214

Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental I .......................................................221

As discussões em torno da função social da escola ....................................................221

O problema substantivo: os excluídos ...........................................................................223

Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental II ......................................................235

O sistema educacional ..........................................................................................................235

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Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental III ....................................................247

Fatores determinantes da exclusão oriundos da escola ...........................................247

Fatores determinantes de exclusão oriundos das famílias ......................................251

Financiamento do Ensino Fundamental ........................259

Formação de professores para o Ensino Fundamental ................................................271

Os cenários de formação de professores ........................................................................272

As bases legais para a formação de professores ..........................................................276

Gabarito .....................................................................................285

Referências ................................................................................297

Anotações .................................................................................307

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Apresentação

Prezado (a) aluno (a)Você está recebendo os textos relativos à disciplina Fundamentos Teóri-

co e Metodológicos do Ensino Fundamental, nos quais iremos dialogar sobre as bases teóricas e as metodologias que apoiam o Ensino Fundamental para crian-ças, jovens e adultos.

Este material é o resultado de estudos, pesquisas e discussões de um grupo de professores universitários da cidade do Rio de Janeiro, com larga experiência em escolas de Ensino Fundamental que, sob a minha coordenação, organizaram os textos que você lerá e as atividades que você realizará, complementados pelos vídeos que planejamos. São eles:

Domingos Barros Nobre

Eliane Ribeiro Andrade

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim

Miguel Farah Neto

Rosana Glat

Suely Pereira da Silva Rosa

Você verá que, desde a primeira aula, que nos traz um pouco de reflexão sobre as ideias do educador Paulo Freire, tão admirado por educadores do mundo inteiro, até à última aula que remete as leituras para a questão da formação dos professores de nosso país, tivemos a intenção de contribuir para sua formação como professor-educador.

Você se informará e, provavelmente, fará muitas reflexões, sobre o histó-rico do analfabetismo em nosso país, a problemática da Educação de Jovens e Adultos e os desafios para a universalização do Ensino Fundamental para todos os cidadãos, em qualquer idade.

A educação dos povos indígenas, a educação inclusiva, o cotidiano das salas de aula do Brasil, utilizando diferentes alternativas metodológicas, enfati-zando a gestão democrática das escolas e a importância do Projeto Político Peda-gógico foram temas abordados em diferentes momentos dos vários textos.

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É claro que não poderíamos deixar de abordar as discussões sobre a ava-liação da aprendizagem e a avaliação institucional das escolas, bem como as avaliações nacionais realizadas pelo Ministério da Educação.

A escola brasileira apresenta muitos desafios para que realmente promova a difusão do conhecimento e a construção de uma sociedade mais justa e demo-crática, onde todos aprendam, possam ter acesso ao mundo do trabalho e con-tribuam para o crescimento social de nosso país. Esses desafios foram analisados em várias aulas.

No bojo dessas discussões, o financiamento da educação básica, especifi-camente do Ensino Fundamental, que é o foco de nossas aulas, não poderia deixar de ter alguns esclarecimentos para vocês, que estão começando uma carreira de tanta importância social como é a do magistério.

Espero que este estudo possa contribuir de forma interessante e organiza-da para a sua formação como professor do Ensino Fundamental, seja para crian-ças, para jovens e adultos ou para escolas indígenas, ou ainda para pessoas com necessidades educativas especiais.

Seja sempre um educador consciente de seu papel social, comprometido com as gerações futuras.

Bertha de Borja Reis do Valle

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Suely Pereira da Silva RosaPara falar em cotidiano escolar, é preciso que explicitemos o nosso

pensamento sobre o papel da escola e o que entendemos por conteú-do de ensino. Embora não pretendamos nos aprofundar nesses itens, eles servirão de pano de fundo para nossas reflexões. Um outro aspecto que queremos salientar é a nossa visão a respeito de quem são os alunos. Cada aluno faz parte de um grupo social, e cada grupo social tem seu compor-tamento regulado por usos, costumes, tradições e regras que precisam ser observados pelos profissionais que trabalharão com eles.

A escola é o local de encontro dos vários profissionais e recebe uma “clientela” bastante diferenciada. Daí a necessidade de que seja elaborado um trabalho pedagógico coletivo, articulando os diversos segmentos da escola, a fim de sustentar a ação da escola em torno de um projeto.

A explicitação desses conceitos facilita a ação pedagógica do profes-sor, que buscará desenvolver seu trabalho, tendo como objetivo as metas delineadas no Projeto Político Pedagógico da escola. Esse projeto, é claro, deverá estar em consonância com o projeto de vida de seus alunos, porque acreditamos que a escola assume o papel de contribuinte para a constru-ção do processo de consciência e formação da cidadania, entendida como exercício pleno e democrático de seus direitos e deveres.

O trabalho desenvolvido pela escola fará emergir a consciência política, permitindo o desabrochar da participação, cujo resultado será expressado por meio do compromisso assumido, pela comunidade, com a democracia.

Esse compromisso nos revela o comprometimento com a democrati-zação do saber, favorecendo a socialização do conhecimento científico e tecnológico, na luta contra o empobrecimento do currículo. Mitos e pre-conceitos deverão ser desmistificados a favor de se elevar a autoestima do grupo, garantindo um ambiente de liberdade e autonomia, no qual cada um possa assumir compromisso político com seu bairro, sua cidade, sua escola, nossa pátria.

O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I

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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental

Dentro dessa concepção educacional, percebe-se que para alcançar a demo-cratização é importante a seleção de conteúdos universais, permanentemente avaliados, com significação humana e social, e a relação de continuidade entre a cultura erudita e a cultura popular.

Um trabalho dessa complexidade somente dará resultados satisfatórios se pensado coletivamente, para que as atividades de sala de aula sejam planejadas e avaliadas dentro de uma mesma perspectiva, a fim de imprimir um mesmo rumo ao processo ensino-aprendizagem. O professor deixa de ser solitário para tornar-se solidário com os colegas, com os alunos, porque sabe que pode contar com o grupo, com quem poderá partilhar e discutir suas dificuldades na sala de aula, em busca de alternativas.

Iniciando o nosso cotidiano

A chegadaPrimeiro dia de aula! Todos estão em prontidão! Enquanto o portão não abre,

aumentam as expectativas, o pensamento voa... “O que será que mudou? Quem será minha professora? Em que sala vou estudar? Quem serão os meus colegas? E a comida, será que é boa?” Pensamentos fervilham... Curiosidades se aguçam... Corações se aceleram. Olhos brilhantes e desejosos à procura desse novo espaço. Eis que o portão se abre... Todos saem correndo! Ninguém sabe para onde. É a pressa em abraçar, em conhecer, em sentir a sua escola, seu local de amigos, de vida, de trocas.

Assim, inicia-se mais um ano letivo! Não é assim na maioria de nossas escolas? Ah, me esqueci de falar do aluno novo, que pela primeira vez chega à nossa escola. Tonto, temeroso, olhos esbugalhados, tomando conta de todos os movimentos, ansioso em ver se o que contam de nossa escola é verdadeiro. É um sonho! Con-segui vaga nesta escola! Assim, para todos, é chegado o grande momento! O mo-mento de interagir, de perceber como tudo mudou, e para melhor, de conhecer, de vivenciar um novo momento em suas vidas! E como tudo isso é importante!

E, por ser um momento importante, é que a escola precisa se organizar para ele! Não é um dia igual aos outros! Não é a rotina diária da escola! É o encontro de gente conhecida, gente que está se conhecendo, gente formando novos grupos sociais. E a escola, a anfitriã, deve estar preparada para esse grande momento, marcando, com certeza, o coração de nossas crianças e seus familiares.

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O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I

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Esse bom início não só facilita as relações entre a escola e sua comunidade, como a credencia diante de sua clientela.

Organizar atividades de integração, de entretenimento, de conhecimento do espaço físico, de boas-vindas ajuda o trabalho da escola, principalmente se a área física for extensa. Não deixe-os sozinhos! Precisam falar, contar suas histórias, as novidades vividas, os conhecimentos adquiridos. Não iniba-os! Nesse momento o ouvir atento permite ao professor iniciar a descoberta de sua turma. Também para ele é um novo grupo que está chegando. Quem são? O que gostam de ouvir, de ver, de falar, de contar, de fazer, de brincar? Sua forma de falar, de expressar-se, de mostrar afeto, irritação e até raiva. Vejam quanto material à disposição de um plano de trabalho. A análise das questões anunciadas e outras que deixamos de fazer, servirão de dados iniciais para o diagnóstico da turma.

Numa escola comprometida com a democracia, o diagnóstico é peça funda-mental para o planejamento da sala de aula, o qual, por ser de ação continuada, alimenta o processo educativo.

Para que ele se torne eficaz, segundo Gandin e Cruz (1998, p. 50-51), o pro-fessor, junto com seus alunos, precisa levar em consideração “três pontos: um referencial, uma realidade (ou uma prática) e um juízo, [...] pois isso nos leva ao sentido do planejamento, à pergunta sobre a finalidade, isto é, à discussão sobre a serventia do planejamento”.

O planejamento da aula“Para que planejar? Já sei o que vou dar. Trabalho há muitos anos com esta

série. Já está tudo organizado na minha cabeça. Está no diário de classe.” Ou... “É só copiar o do ano passado.” Quem já terá ouvido estas falas? São frequentes? Mudam muito de um lugar para o outro? Pois é... elas servem de justificativa para o não-fazer. Como é possível copiar um plano se cada grupo é distinto do outro, com características próprias, apresentando universos de interesses igualmente distintos. Ou serão também os profissionais das diferentes escolas iguais? Não, não são! Cada grupo é um grupo e, portanto, cada escola tem suas singularidades.

Não se pode, diante desses fatos, pensar em repetir ações, em copiar planos ou deixá-los engavetados na memória. O planejamento necessário é diferente do ato mecânico de preencher formulários, com uma listagem de conteúdos preestabelecidos. Estamos falando de um processo escolar, cujo centro foi (ou será, ou é) a elaboração do Projeto Político Pedagógico, que representa a filoso-fia da escola, sendo a prática da sala de aula seu objetivo.

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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental

O planejamento da aula é o caminhar seguro do profissional. Conhecer bem a sua turma e ter como norte as metas do projeto da escola facilitarão a organi-zação do trabalho de cada professor. Não podemos nos esquecer que a função da escola é difundir conhecimentos, por meio de conteúdos vivos, concretos, li-gados à realidade social do grupo. Nessa visão educacional, o conteúdo assume uma outra perspectiva. Ele fica subordinado à proposta básica da disciplina ou da série, expressa no projeto da escola.

Sabemos que o discurso nos emociona, mas a prática é sofrida, porque exige que comecemos a mexer em nossos conceitos, em nossas crenças, em nosso fazer pedagógico. É preciso que entendamos que cada disciplina, ou área de estudo, ou série, apresenta um conjunto de informações que precisam ser de-terminadas pelo grupo, para que se busquem estratégias capazes de realizá-las. Para facilitar, daremos um exemplo do que estamos falando.

Em Língua Portuguesa, a questão da linguagem é fundamental e, portanto, presente no projeto de trabalho. Nossa meta é promover a conscientização e a democratização do conhecimento. Como juntar as duas coisas? No plano, de-verão ser indicadas as estratégias para se conseguir tal objetivo. Aqui propo-mos que o desenvolvimento da tarefa seja feito por meio de livros, revistas e jornais, utilizados como recursos didáticos para que a linguagem possa ser, cada vez mais, um instrumento de leitura crítica. O conteúdo fica, como dissemos, à mercê da proposta de trabalho, tornando-se vivo e concreto, pois nasce da curiosidade da própria criança, que se sente estimulada a pensar, a pesquisar e a encontrar respostas.

Se propusermos mudanças, precisamos pensar nelas, para não continuarmos com os belos discursos sedutores, mas que não têm correspondência na prática escolar, e portanto caem na triste realidade de que nós não mudamos, de que a nossa prática continua centrada na visão “conteudística” e de que nossos alunos não avançam em sua forma de pensar e de agir.

Não há mágica possível para fazer nossos alunos pensarem, julgarem critica-mente e se comprometerem socialmente se não praticamos ações que permitam essa construção. A natureza da ação corresponderá à natureza da compreensão, por esse motivo, devemos avaliar com urgência os nossos procedimentos, para que não se fique abraçado ao livro didático como se ele fosse a estrutura do processo educativo.

O livro didático é apenas mais um dos recursos que o professor poderá ou não utilizar. O importante é refletirmos sobre a seguinte questão: o trabalho que

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O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I

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executo tem uma finalidade? Possui significância do “para que” se faz o que está sendo proposto? Se a resposta for afirmativa, conseguimos estabelecer a dimen-são crítica e de sentido à ação. Ao conjunto ação-finalidade, denominamos de objetivo dentro de um planejamento participativo.

Fazemos questão de frisar – o livro didático deve voltar a ocupar o seu lugar original – recurso didático – e por isso mesmo, nem sempre será importante no desenvolvimento do trabalho educativo.

Conselho de classeMais uma reunião para nada mudar. Ah, pelo menos podemos chegar um pouco

mais tarde. Não sei o porquê de reunir tanta gente de uma só vez. Não entendo por que os alunos e a comunidade são chamados para participar; é só para nos deixar constrangidos. Eles não entendem nada do ensino. Eu não vou deixar de falar o que penso sobre os filhos deles.

Mais justificativas. De novo os mitos e preconceitos rondando nossa vida escolar.

É verdade que o conselho de classe é mais uma reunião, e possivelmente, dentro da concepção progressista, um espaço de grande valor, se considerarmos que é nesse momento em que se processa a avaliação dos encaminhamentos tomados no período escolar. “Ele é um juízo emitido pelo conjunto de professores da turma sobre a realidade”. (GANDIN; CRUZ, 1998, p.103). É nesse momento que se dá o julgamento sobre a realidade do aluno – sua busca de identidade, seu esforço na instrumentali-zação para a participação, seu novo modo de pensar, fazer e agir, e da realidade do professor – sua relação interpessoal com a turma, a metodologia utilizada e outros aspectos significativos. Esse “juízo” permitirá que se identifiquem as causas do su-cesso ou das falhas atribuídas à sua atuação e à atuação dos alunos. É o momento de ouvir atentamente o que pensam os alunos e como os seus pais, que os acompa-nham no dia-a-dia, perceberam a ação educativa no período escolar.

Se pararmos para pensar, estamos propondo algo muito diferente do que temos vivenciado na maioria de nossas escolas. O enfoque no trabalho de avalia-ção é totalmente diferente do que temos vivido, já que ele não se prende ao do-mínio exclusivo de conteúdos previamente elaborados, mas do conjunto de ações estabelecidas no projeto da escola. Indicar os sintomas – apatia, desequilíbrios, desatenção e outros – sem que se busque as causas e se apresente soluções para eles, é o mesmo que “continuar com a doença”, sem perspectiva de melhoria.

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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental

O que se busca no conselho de classe é que o grupo possa identificar o porquê do insucesso de alguns, o porquê das atitudes identificadas – apatia, de-sinteresse, atos e omissões e outros sintomas demonstrados durante o bimestre. É importante que se avalie onde é que a ação do professor, a linha de trabalho, a estrutura da escola podem gerar os problemas e até se a conduta reflete uma situação externa. Para isso estamos todos juntos.

Convém ressaltar que é nesse espaço que os profissionais podem e devem avaliar seu próprio trabalho, a atuação de sua turma e propor novas ações, atitu-des, rotinas e regras para o próximo período. É importante o registro de toda a discussão e as propostas indicadas, pois elas constituirão o diagnóstico do plano de aula que está sendo desenvolvido.

O conselho de classe, para dar conta de sua nova função, precisa ser organi-zado com tempo suficiente para que os professores tenham condições de sair dele com o plano praticamente reelaborado. Com isso, será preciso que alguns profissionais reflitam sobre a sua postura, já que as chegadas tardias ou as saídas antecipadas dificultam a ação coletiva do grupo. Um conselho, dentro dessa perspectiva, serve de instrumento de crescimento da consciência crítica de todos que participam, como confere à ação pedagógica o rigor metodológico e a dimensão participativa, que têm sido fruto de nossas discussões.

A sala de aulaA sala de aula é um espaço onde o trabalho efetivamente se desenvolve e,

portanto, um lugar que deve ter uma atenção especial por parte dos profissio-nais da escola. A sua organização indica a relação que o professor, junto com seus alunos, estabelece com o conhecimento. A postura assumida indicará o uso do espaço e do tempo, a organização do material e das atividades, bem como o tipo de relação interpessoal.

O ambiente deve se transformar em um lugar agradável, acolhedor e estimu-lante à imaginação e criação do grupo. A sala de aula não deve ter apenas cartei-ras e quadro-de-giz. É importante criar espaços para o trabalho em grupo ou em duplas, um cantinho da biblioteca da turma para o atendimento individualizado. Isso requer um cuidado especial, para que não haja desvio de propósitos do plano de aula. É importante que os alunos encontrem com facilidade o que necessitarão para o trabalho. Esses materiais deverão ser colocados em locais acessíveis, de ma-neira que os alunos tenham livre acesso a eles. O professor não precisa funcionar

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O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I

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como interme diário e distribuidor. Basta criar normas para uso e guarda dos mate-riais, estimulando a responsabilidade pelo material que é de todos. Esses materiais podem ser adquiridos com verba da escola, por doação da comunidade, pelos es-tudantes ou por meio de campanhas de doação.

Deve-se, no entanto, evitar o excesso de estimulação que pode causar a disper-são. Um recurso bastante aproveitado pelos professores são os varais, nos quais se afixam palavras que ocasionam dificuldades ortográficas, mapas geográficos ou históricos, histórias escritas pelos alunos e outros materiais de uso da turma.

Um aspecto observado é como a disponibilidade dos materiais didáticos pode estimular a autonomia, de modo que o aluno não precisa da figura da autoridade para mostrar suas ações. Dessa forma, há de se ter o cuidado na seleção desses materiais que compõem o “cantinho da leitura”, que não precisa ser apenas de livros mas também de outras atividades que envolvam o raciocínio, a lógica, a pes-quisa, a composição e o entretenimento. Outros aspectos também discutidos são a disponibilidade e a necessidade do professor instruir o material numa base indi-vidual, percebendo a importância de desenvolver também a independência.

Como exemplo do trabalho com vistas à independência – o aluno está tra-balhando numa série de problemas de Matemática e tem acesso às respostas corretas e às explicações necessárias, sem recorrer ao professor – não estaríamos reduzindo o grau de dependência da autoridade? Pense sobre essa questão.

Uma situação comum a várias turmas que dividem espaço com outras é a guarda e a organização diária dos materiais da sala, pois é a única saída para preservá-lo. Uma sugestão é a distribuição entre os alunos da responsabilidade dessa tarefa, não sobrecarregando ninguém e permitindo que as crianças sin-tam-se participantes ativos na criação de um bom ambiente em sala de aula.

O uso constante dos recursos disponíveis na turma e na escola possibilita ao professor descobrir novas possibilidades de organizar espaço, tempo e trabalho com os alunos, favorecendo seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.

Finalizando nossa conversaMuitos são os fatores que envolvem o cotidiano escolar. Não tivemos a pre-

tensão de fazer uma discussão teórica sobre cada um deles, até porque cada um teria que ser tratado em sua totalidade e esta não é a proposta desse trabalho. Outras questões ainda serão colocadas em nossa discussão.

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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental

No entanto, gostaríamos de esclarecer o quanto é importante essa discussão sobre o cotidiano. Muitas vezes, velhas práticas se repetem, sem se pensar no sentido que elas possuem. A repetição de normas e procedimentos, por meio do tempo, faz com que tais práticas se internalizem e passem a ser consideradas como “naturais” e “obrigatórias”.

Acreditamos, porém, que muito de nossas discussões neste texto precisarão ser pensadas, avaliadas, refletidas e aprofundadas, considerando que o nosso objetivo é apresentar outras formas do fazer pedagógico e incentivar você a discuti-las com seus colegas de escola, a fim de analisar a viabilidade desse novo pensamento educacional (nem tão novo assim). A verdade é que os discursos foram apreendidos e estão cada vez mais sedutores, mas, quando analisamos a prática, nos vemos no terrível estágio do tradicionalismo.

Texto complementar

O marceneiro e as ferramentasAutor desconhecido

Em uma marcenaria, houve uma estranha assembleia. Foi uma reunião na qual as ferramentas se juntaram. O martelo estava exercendo a presidência, mas os participantes exigiram que ele renunciasse.

A causa? Fazia demasiado barulho. Além do mais, passava o tempo todo golpeando.

O martelo aceitou a sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, alegando que dava muitas voltas para conseguir algo.

Diante do ataque, o parafuso concordou, mas por sua vez pediu a expul-são da lixa, que era muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atrito.

A lixa acatou, com a condição de que expulsasse a régua que sempre media os outros seguindo a sua medida, como se fosse a única perfeita.

Nesse momento, entrou um marceneiro, juntou todas as ferramentas e iniciou o seu trabalho.

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O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I

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Utilizou o martelo, a lixa, a régua e o parafuso. E a rústica madeira se con-verteu em belos móveis!

Quando o marceneiro foi embora, as ferramentas voltaram à discussão.

Mas o serrote se antecipou e disse:

– Senhores, ficou demonstrado que temos defeito, mas o marceneiro tra-balha com as nossas qualidades, ressaltando nossos pontos valiosos... Por-tanto, em vez de pensar em nossas fraquezas, devemos nos concentrar em nossos pontos fortes.

Então, a assembleia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limpar e arrumar as asperezas e a régua era precisa e exata. Então, eles se sentiram uma equipe capaz de produzir com qualidade e uma grande alegria tomou conta de todos pela oportunidade de trabalharem juntos.

O mesmo acontece com os seres humanos. Quando uma pessoa busca um defeito em outra, a situação torna-se tensa e negativa.

Ao contrário, quando se busca com sinceridade o ponto forte dos outros, é onde florescem as melhores conquistas humanas.

É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo.

Mas encontrar qualidades... isso é para sábios!

Atividades1. As rotinas descritas no texto O marceneiro e as ferramentas acontecem no

fazer pedagógico de sua escola? Indique semelhanças e diferenças, conver-sando com seus colegas, sobre a prática de ensino de sua escola.

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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental

2. Aproveite a oportunidade e converse com seus colegas sobre sua experiên-cia no fazer pedagógico.

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O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I

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Dicas de estudoA organização escolar é um grande trunfo para um bom desenvolvimento

das ações educacionais e caminho para o sucesso pedagógico. Entre em contato com o livro de Rubem Alves, cujo título é A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir. 10. ed. Campinas: Papirus, 2001.

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