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    Diretora

    Conselho Editorial

    Maria Helena de Moura Arias

    Abdallah Achour JuniorEdison ArchelaEfraim Rodrigues

    Jos Fernando Mangili JniorMarcia Regina Gabardo CamaraMarcos Hirata SoaresMaria Helena de Moura Arias (Presidente)Otvio Goes de AndradeRenata GrossiRosane Fonseca de Freitas Martins

    Ndina Aparecida Moreno

    Berenice Quinzani Jordo

    Reitora

    Vice-Reitor

    Universidade

    Estadual de Londrina

    Editora da Universidade Estadual de Londrina

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    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Depsito Legal na Biblioteca Nacional

    2013

    Catalogao elaborada pela Diviso de Processos Tcnicos da Biblioteca

    Central da Universidade Estadual de Londrina.

    Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    Direitos reservados

    Editora da Universidade Estadual de LondrinaCampus Universitrio

    Caixa Postal 6001

    Fone/Fax: (43) 3371-4674

    86051-990 Londrina PR

    E-mail: [email protected]

    www.uel.br/editora

    G345 A geolingstica no Brasil : trilhas seguidas, caminhos a percorrer

    [livro eletrnico] / Vanderci de Andrade Aguilera (organizadora).

    Londrina : Eduel, 2013.

    1 Livro digital : il.

    Vrios autores.

    Inclui bibliografia.

    Disponvel em :http://www.uel.br/editora/portal/pages/livros-digitais-

    gratutos.php

    ISBN 978-85-7216-687-4

    1. Lngua portuguesa Dialetos Brasil. 2. Geografia

    lingustica. 3. Dialetologia. I. Aguilera, Vanderci de Andrade.

    CDU 806.90(81)-087.9

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    SUMRIO

    APRESENTAO ........................................................................................................ix

    O ATLAS LINGSTICO DO BRASIL: DE NASCITUROA ADOLESCENTE ....................................................................................................1Suzana Alice Marcelino Cardoso

    A DIALECTOLOGIA NA BAHIA ............................................................................. 13Jacyra Andrade Mota

    OS FALARES MINEIROS: ESBOO DE UM ATLAS LINGSTICO DEMINAS GERAIS .......................................................................................................... 45Mrio Roberto L. Zgari

    ATLAS LINGSTICO DA PARABA .....................................................................73Maria do Socorro Silva de Arago

    SERGIPE: UM ESTADO COM DOIS ATLAS ......................................................... 101Suzana Alice Marcelino Cardoso

    ATLAS LINGSTICO DO PARAN: GNESE EPRINCPIOS METODOLGICOS ........................................................................... 137Vanderci de Andrade Aguilera

    REAS LINGSTICAS DO PORTUGUS FALADO NO SUL DO BRASIL:UM BALANO DAS FOTOGRAFIAS GEOLINGSTICAS DO ALERS .........177Clo Vilson Altenhofen

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    ATLAS LINGSTICO SONORO DO PAR: UMA NOVA PERSPECTIVAPARA A ORGANIZAO DE CORPUS GEOLINGSTICOS ...........................209

    Abdelhak Razky

    ATLAS LINGSTICO DE MATO GROSSO DO SUL:GNESE E TRAJETRIA ........................................................................................229Albana Xavier Nogueira; Aparecida Negri Isquerdo

    O ATLAS LINGSTICO DO MARANHO: OS CAMINHOS DO PORTUGUS

    FALADO NO MARANHO ..................................................................................... 251Conceio de Maria de Araujo Ramos; Jos de Ribamar Mendes Bezerra; Maria deFtima Sopas Rocha; Mrcia Manir Miguel Feitosa; Manuela Maria Cyrino Viana;Teresinha de Jesus Baldez e Silva; Antonio Cordeiro Feitosa

    ATLAS LINGSTICO DO RIO GRANDE DO NORTE : UM PROJETO EMDESENVOLVIMENTO ............................................................................................. 285Maria do Socorro Silva de Arago; Maria das Neves Pereira

    UM ESTUDO CONTRASTIVO SOBRE AS VOGAIS MDIAS PRETNICASEM FALARES DO AMAZONAS E DO PAR COM BASE NOS DADOS DOALAM E DO ALISPA ................................................................................................299Silvia Figueiredo Brando; Maria Luiza de Carvalho Cruz

    ATLAS PRVIO DO ESPRITO SANTO (APES) :PRIMEIRAS NOTCIAS ........................................................................................... 319Catarina Vaz Rodrigues

    ATLAS REGIONAIS EM ANDAMENTO NO BRASIL:PERSPECTIVAS METODOLGICAS.....................................................................333

    Aparecida Negri Isquerdo

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    A HISTRIA E AS CONTRIBUIES DE UM PROJETO NA LINHAGEOLINGSTICA ...................................................................................................357

    Silvia Figueiredo Brando

    METODOLOGIA DA PESQUISA DIALETOLGICA..........................................371Pedro Caruso

    O ESTUDO DIALETOLGICO NO BRASIL: A VOLTA OU ASEDIMENTAO DE UMA METODOLOGIA DE TRABALHO? ......................381

    Dercir Pedro de Oliveira

    TCNICAS DE TRANSCRIO GRAFEMTICA PARA O ALiB:REFLEXES .............................................................................................................. 391Irenilde Pereira dos Santos

    A LATERAL POSVOCLICA NO NORDESTE PARAENSE:UMA DESCRIO GEO-SOCIOLINGSTICA ...................................................405Marilucia Oliveira; Cliane Costa; Maria A. Faria

    MTODOS E PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NO ESTUDOGEOLINGSTICO DE ALGUNS MUNICPIOS DO LITORAL SUL PAULISTA:ABORDAGEM DE ASPECTOS SEMNTICO-LEXICAIS...................................431

    Lgia Maria Campos Imaguire

    O LEXICAL NOS EIXOS HORIZONTAL E VERTICAL ...................................... 463Harumi Pisciotta (in memoriam)

    PELOS CAMINHOS DA GEOLINGSTICA PARANAENSE: EM ESTUDODO LXICO POPULAR DE ADRIANPOLIS....................................................... 475

    Fabiane Cristina Altino

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    APRESENTAO

    Algumas datas so bastante significativas para a histria da lingstica epara os estudos geolingsticos do Brasil: 1991, 1996, 1998, 2001.

    O ano de 1991 marca o lanamento do livro A geografia lingstica noBrasil, pela Editora tica, da professora doutora Slvia Figueiredo Brando,

    que, numa obra sinttica, condensa as informaes fundamentais para os quese iniciam nesse ramo dos estudos lingsticos. Trata-se de refernciaobrigatria a todos aqueles que se dedicam aos estudos da variao diatpica.

    Em seguida, o ano de 1996 vai marcar uma nova era para os estudosgeolingsticos, com o lanamento do Projeto do Atlas Lingstico do Brasil ALiB - na Universidade Federal da Bahia, e a indicao de um Comit Nacional

    formado por pesquisadores de Instituies de Ensino Superior de diversosestados brasileiros: Bahia, Minas Gerais, Paraba, Cear, Paran e Rio Grandedo Sul. Era o impulso que faltava para que a Dialetologia deslanchasse epassasse a ocupar um lugar de destaque no cenrio acadmico nacional.

    O ano de 1998, com o lanamento deA geolingstica no Brasil: caminhose perspectivas, retrata-se o cenrio da poca: o estgio em que se encontravam

    esses estudos em nossa terra. Os atlas publicados ou em andamento soapresentados e discutidos pelo autor ou autores, ou por integrantes da equiperesponsvel por eles.

    2001 registra a publicao da ltima verso dos Questionrios do ALiB,trabalho construdo, revisto e reformulado exaustivamente pela equipe desseProjeto aps centenas de aplicaes em boa parte do territrio nacional para a

    verificao de sua exeqibilidade independentemente do contexto geo-scio-histrico.

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    Esses quatro fatos: o livroA geografia lingstica no Brasil, o Projeto do

    Atlas lingstico do Brasil ALiB , os Questionriose a coletnea de artigos

    constantes doA geolingstica no Brasil: caminhos e perspectivas, podem ser

    considerados as sementes da germinao e da proliferao de pesquisas, nos

    ltimos anos, sobre a variao diatpica nos quatro cantos do Brasil.

    Para satisfazer aos anseios de docentes e de alunos da graduao e da

    ps-graduao em Lingstica, que continuamente vinham cobrando uma

    publicao que reunisse os novos projetos de atlas e de estudos geolingsticos,vem luzA geolingstica no Brasil: trilhas seguidas, caminhos a percorrer.

    bem verdade que, decorridos catorze anos do primeiro evento acima

    mencionado, e ampliando-se o campo dos referidos estudos, fez-se necessrio

    voltar os olhos para a atualizao dos dados e oferecer ao pblico uma obra

    que espelhasse os avanos nos ltimos anos. Assim, desta obra, alm de alguns

    textos da edio de A geolingstica no Brasil: caminhos e perspectivas,constam os artigos dos autores dos recm-publicados Atlas lingstico e

    etnogrfico da Regio Sul (Altenhofen), Atlas Lingstico Sonoro do Par

    (Razky) e das recm-concludas teses Atlas Lingstico de Sergipe, vol. II

    (Cardoso) e Atlas Lingstico do Amazonas (Cruz) e dissertao Atlas

    Lingstico de Adrianpolis(Altino). E mais ainda: traz ao pblico i) a notciados atlas em andamento: do Maranho (Ramos et alii), do Rio Grande do

    Norte (Arago e Pereira), do Mato Grosso do Sul (Nogueira e Isquerdo) e do

    Esprito Santo (Rodrigues); ii) estudos comparativos de dados de atlas

    concludos (Brando e Cruz; Oliveira, Costa e Faria) e iii) discusses de

    aspectos terico-metodolgicos adotados na geolingstica brasileira ao longo

    dos ltimos anos (Imaguire; Isquerdo; Santos).Espero que a leitura desta obra, alm de apresentar uma fotografia dos

    primeiros e dos ltimos estudos geolingsticos, possa servir de incentivo a

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    pesquisadores das demais regies, onde ainda no se formaram equipes voltadas

    descrio da fala regional, para que venham somar conosco os esforos rumo

    coleta e descrio da multiplicidade dialetal da lngua portuguesa falada

    no Brasil, pois como to bem explicitou Gaston Paris (apud CUNHA, 1986):

    se no podemos impedir a flora de nossos campos de perecer em face da

    cultura que a substitui, devemos antes que ela desaparea totalmente, recolher

    com cuidado seus espcimes, descrev-los e classific-los piedosamente num

    grande herbrio nacional.

    Vanderci de Andrade Aguilera

    organizadora

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    A idia de um atlas lingstico geral do Brasil, no que diz respeito lngua portuguesa,aflora no Pas, pelos meados do sculo XX, momento em que a Europa j incursionava

    pelos caminhos da Geografia Lingstica, com o seguro passo dado por Gilliron, aotrazer a lume oAtlas Linguistique de la France(1902-1910).

    Figuras exponenciais manifestam-se sobre a necessidade de uma visogeolingstica do portugus brasileiro Antenor Nascentes, Serafim da Silva Neto,Celso Cunha, Nelson Rossi e se somam queles que, j no incio do sculo,reclamavam por descries da realidade nacional a partir de dados coletados inloco, como o fizeram Amadeu Amaral (1920) e Mrio Marroquim (1934).

    PRELIMINARES HISTRICAS: NASCITURO

    Nesse clima de interesse geolingstico, o Governo brasileiro publica o

    Decreto n. 30.643, de 20 de maro de 1952 promulgado no 131 ano daIndependncia e no 64 da Repblica por Getlio Vargas, tendo como Ministroda Educao e Cultura Ernesto Simes Filho , que, ao definir as finalidadesda Comisso de Filologia da Casa de Rui Barbosa, que vinha de ser criada,assentava como a principal delas a elaborao do atlas lingstico do Brasil,

    como consta do pargrafo 3:

    3 A Comisso de Filologia promover pesquisas em todo o vasto campo de filologiaportuguesa-fonologia, morfolgicas, sintticas, lxicas, etimolgicas, mtricas,onomatolgicas, dialetolgicas bibliogrficas, histricas, literrias, problemas de texto,de fontes, de Autoria, de influncias,sendo sua finalidade principal a elaborao doAtlas Lingstico do Brasil (grifo nosso).

    Essa prioridade retomada pela Portaria n 536, de 26 de maio do mesmoano, que, ao baixar instrues referentes regulamentao do Decreto, pe

    nfase na elaborao do atlas lingstico do Brasil.

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    Posta na letra da lei, no bastaria isso para que se viesse, de fato, a ter um

    outro momento na histria dos estudos dialetais no Brasil. Era necessrio que uma

    nova viso se introduzisse na abordagem dos fenmenos da variao lingsticano pas. E isso aconteceu graas ao trabalho de figuras pioneiras que se empenharam

    na implantao de um novo momento para a dialectologia brasileira: AntenorNascentes publica asBases para a elaborao do atlas lingstico do Brasil(1958,

    1961), Serafim da Silva Neto se empenha na criao de uma mentalidade

    dialectolgica , exortao que aparece na Introduo do seuGuia para estudosdialectolgicos (p. 9), Celso Cunha defende a realizao de atlas regionais,

    reconhecendo a impossibilidade, naquele momento, de realizao de um atlas

    nacional, e Nelson Rossi d o passo inicial para a Geografia Lingstica do Brasil

    com a publicao doAtlas Prvio dos Falares Baianos(1963).

    Passados quase cinqenta anos, e ao findar-se o sculo XX, renem-se na

    Universidade Federal da Bahia, lugar do primeiro atlas lingstico brasileiro,por ocasio da realizao do Seminrio Caminhos e perspectivas para a

    geolingstica no Brasil, dialectlogos brasileiros e pesquisadores da rea de

    dialectologia, com a presena do dialectlogo Michel Contini, do Centre de

    Dialectologie de Grenoble, diretor doAtlas Linguistique Romane membro do

    Comit Diretor do Atlas Linguarum Europae, para repensar a idia de um

    atlas lingstico do Brasil no tocante lngua portuguesa. Retoma-se a idia,reanima-se o desejo, concretiza-se o desiderato: nasce o Projeto Atlas

    Lingstico do Brasil.

    Duas perguntas, pelo menos, podem vir, nesse momento, mente dos

    leitores: Por que no se fez o atlas lingstico do Brasil, em 1952? Por que ao

    pensar, hoje, em concretiz-lo parte-se de um novo projeto e no se utilizam

    os atlas regionais j publicados como ponto de partida e, assim, de certo modo,

    j se contaria com meio caminho andado?

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    Para a primeira pergunta, vamos recorrer aos nossos maioresno campo

    da dialectologia. Reconheciam, todos, que naquele ento as condies eram

    ainda imprprias, para no dizer adversas, para a realizao de uma empreitadado porte da que representa um atlas lingstico nacional. Nascentes (1958,

    p.7-8) aponta as longas distncias a serem percorridas e a ausncia de estradasque favorecessem o deslocamento, a que adjunge a inexistncia de

    pesquisadores na rea devidamente preparados para cobrir tamanha vastido

    e a dificuldade de financiamento especfico para pesquisa nesse campo doconhecimento cientfico.

    Com isso, esboava-se uma opo como a mais apropriada e convincente:

    iniciar-se a Geografia Lingstica no Brasil com a feitura de atlas regionais. E

    esse foi o caminho seguido com empenho de que resultaram, no presente, oito

    atlas publicados e mais outros oito atlas em andamento e em diferentes estgios

    de execuo.A segunda pergunta decorre dessa inicial. Se temos atlas regionais

    publicados e atlas em curso, melhor no seria aproveitar esses dados j

    existentes, fomentar a feitura de atlas de regies ainda no trabalhadas e com

    esse apanhado final construir-se o atlas geral do Brasil?

    Teoricamente a questo plausvel e apresenta-se como tentadora alm de

    facilitadora da concretizao do desiderato. Do ponto de vista prtico e considerando-sea metodologia do trabalho dialetal, tal procedimento oferece senes.

    Preliminarmente, esses atlas publicados, embora todos pautados pelos

    princpios da Geografia Lingstica e no poderia ter sido outro o caminho

    seguem metodologias prprias na escolha de informantes, no tipo de

    questionrio aplicado, na forma de registro dos dados, nas prioridades

    estabelecidas. Em segundo lugar, os dados vm sendo recolhidos em diferentes

    momentos de que resultam diferentes sincronias espelhadas nos resultados

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    cartografados. Uma evidncia, decorrente do exame das cartas lingsticas

    que integram cada um desses atlas, vem ao encontro da atitude adotada no

    partir dos atlas regionais publicados para a concretizao do atlas nacional:considerando-se os cinco primeiros atlas regionais publicados Bahia, Minas

    Gerais, Paraba, Sergipe e Paran , temos apenas quatro cartas semntico-lexicais coincidentes as cartas que se referem a arco-ris, estrela cadente,

    nevoeiro e cambalhota. Essa constatao, por si s, j bastante significativa

    para a decisso tomada e para a poltica adotada. Em terceiro lugar mas noem ltimo a palavra sempre valiosa de Serafim da Silva Neto (1958, p. 12)

    que d fora e sustentao deciso tomada :

    [...] Imagine-se como ser difcil e demorada, com a imensa extenso do Brasil, com asdificuldades de comunicao e sem as tomadas prvias, a realizao do atlas lingstico.Podia pensar-se que se fugiria a tais dificuldades e incovenientes organizando uma

    srie de atlas regionais. Todavia, como ainda agora nos adverte Jaberg1, com a suaindicutvel autoridade, os atlas regionais no substituem os atlas nacionais : sodiferentes os objetivos de uns e de outros e eles, por isso, se completam, mas no se

    excluem(grifo nosso).

    E, assim, se chega ao ALiB com a sua metodologia e a sua poltica de

    constituio dos dados.

    ESTGIO ATUAL DO ALiB: ADOLESCENTE

    Decorridos oito anos, o Projeto ALiB est hoje consolidado e em franco

    desenvolvimento, nada obstante as dificuldades de financiamento com que

    todos ns nos debatemos, dificuldades que no arrefecem o nimo dos

    1Em nota, assim se expressa : Cf. o seu magistral artigo Grossraumige und Kleinraumige Sprachatlanten, publicadoem 1953 (sep. da Vox Romanica, XIV).

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    envolvidos com o trabalho, mas, ao contrrio e paradoxalmente, aguam o

    empenho em concretizar o que se tem planejado.

    A histria do ALiB segue, assim, os seus passos:a) Cria-se um Comit Nacional, com representao de todos os atlas j publicados

    e de um representante dos atlas em andamento. Atualmente constitudo de oitomembros : sete representando atlas publicados Bahia, Minas Gerais, Paraba,

    Sergipe, Paran, Regio Sul do Brasil, Sergipe II e Par e um trazendo a

    presena dos atlas em andamento Mato Grosso do Sul.b) Define-se a rede de pontos, procedendo-se aos ajustes necessrios: 250

    pontos que incluem as capitais de Estado, exceo de Palmas (Tocantins)

    e do Distrito Federal.

    c) Estabelece-se o perfil dos informantes: 1.100 informantes, distribudos

    eqitativamente entre homens e mulheres, integrantes de duas faixas etrias.

    d) Fixa-se o conjunto de questionrios a serem aplicados os quais, apscontinuadas discusses e depois de testados, por duas vezes e em duas

    verses, em diferentes partes do Pas, passa a ser aplicado aos 1.100

    informantes.

    e) Inicia-se o processo de formao, a ser mantida de forma continuada, de

    um corpo de inquiridores que no deve ultrapassar a casa dos trinta.

    f) Realizam-se workshopsnacionais para discusso e avaliao do Projeto,treinamento da equipe, definio de polticas de conduo e sustentao do

    trabalho.

    g) O Comit Nacional rene-se, regularmente, tendo j atingido a sua XIV

    reunio nacional.

    Nesses oito anos o Projeto ALiB caminhou solidamente:

    1. Afirmou-se como um projeto estruturado, definido na letra de sua

    formulao, mas, principalmente, acolhido pela comunidade cientfica.

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    2. Definiu a sua metodologia. Criaram-se os parmetros de seu funcionamento:os critrios para estabelecimento da rede de pontos, o perfil dos informantes,

    os questionrios a serem aplicados; uma metodologia prpria para a coletade dados e arquivamento dos materiais.

    3. Estruturou-se como trabalho de carter nacional, dirigido por um comitconstitudo com a representao de sete universidades brasileiras, e temalargado o comprometimento de instituies com a sua realizao mediantea assinatura de um convnio inter-universidades que conta, hoje, com aparticipao de dezesseis instituies.

    4. Tem mantido coordenado o trabalho desenvolvido com a realizao dereunies nacionais do Comit Nacional, das quais a XIV aconteceu noprimeiro semestre de 2004, em Salvador. So momentos de avaliao doandamento do projeto. So ocasies de planejamento de atividades. So,por outro lado, encontros muito fraternos do que j se convencionou chamara famlia ALiB.

    5. Tem assegurado a formao do seu corpo de inquiridores e auxiliares depesquisa de campo, com a realizao de verdadeiros encontros de trabalhoe treinamento, os workshops, dos quais o ltimo, o quarto, se realizou emSalvador, em abril de 2004. Esses encontros tm cumprido alm da funo

    para a qual proritariamente so programados a de preparar os seuspesquisadores para a ao em campo e para o tratamento dos dados reunidos,avaliar o andamento da pesquisa, direcionar o trabalho , uma outra derelevncia para os estudos dialetais no Brasil: tem estimulado equipesestaduais e regionais a desenvolverem pesquisas na rea da geolingstica.

    6. Vem sendo divulgado, no mbito nacional e internacional, por meio de

    artigos, livros, captulos de livros e comunicaes a congressos. Tem, poroutro lado, aproveitado das discusses havidas nas apresentaes emcongressos nacionais e internacionais e incorporado reflexes que

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    contribuem para o aprimoramento do trabalho que se desenvolve, com vistasa alcanarem-se os objetivos desejados

    O trabalho de campo comeou como tinha sido planejado, em 2001,quando j se havia fixado a metodologia e estavam estabelecidas as condiesnecessrias efetivao da pesquisa.

    No momento, so dois os estados com inquritos integralizados: Amap,com dois pontos, e Paran, com dezessete pontos. Esses dois estados estosob a coordenao da nossa diretora cientfica Vanderci de Andrade Aguilera.

    Na XII Reunio Nacional do Comit (Rio de Janeiro, 13/14.maro.2003)tomou-se a deciso de implementar a coleta de dados nas capitais de Estado,pontos da rede que se constituem num conjunto especfico pois, alm dasvariveis que se mantm sob controle em todos os pontos diatpica,diagenrica, diageracional , inclui-se, para o caso das capitais, o controle dograu de escolaridade, tomando duas categorias aqueles com o cursofundamental e aqueles outros com curso universitrio completo.

    Essa deciso de avanar, prioritariamente, pelas capitais vem sendocumprida: so j, conforme balano feito em abril de 2004, dez capitais comos inquritos integralizados, cinco outras com documentao j iniciada e, nototal da coleta de dados, chegou-se a quarenta e trs pontos da rede

    documentados integralmente, com outros 13 em andamento.A coleta de dados vem sendo feita com rigor. Os informantes do ALiB

    tm os seus dados coletados, pela equipes especficas de cada rea, com a

    finalidade nicade integrao ao corpusdo ALiB, para a produo de umatlas geral do Brasil no tocante lngua portuguesa, observando-se o

    compromisso de assegurar a originalidade e a privacidade dos dados que se

    tem e se ter para com as instituies financiadoras do Projeto. E isso no s compreensvel, como tambm necessrio salvaguarda do trabalho e

    manuteno da coerncia com a metodologia aplicada.

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    NAS PEGADAS DE UM ALiB ADULTO

    Caminhando como tem feito at o presente, que perspectivas se abrempara os passos futuros?

    A grande meta , sem dvida, termos documentado todo o Brasil,representado pelos 250 pontos da rede estabelecida e com o registro de 1.100informantes. A partir da, cumpre fazer retornar comunidade cientfica e sociedade interessada, os resultados do trabalho que mostraro os veios doportugus brasileiro, as reas em que podemos nos dividir e nos identificar, asinterfaces desses resultados com outros ramos do conhecimento cientfico e,por ltimo, mas no em ltimo lugar, mostrar, esperamos, que somosdiversificados no uso da lngua, que os direitos lingsticos do cidado devemser respeitados, que a escola no pode ignorar as diferenas, mas tambm que,

    por sobre tudo, somos usurios da lngua portuguesa.A consecuo desse desiderato maior, passa por etapas que se constituemem metas a cumprir.

    Primeiramente, o grande objetivo a constituio desse vasto corpus,que vai do Oiapoque ao Chu lembrando Nascentes que nos possibilitaruma viso global do portugus brasileiro. Para tanto, todo o investimento do

    presente no sentido de avanar nessa direo. Os dados atuais 43 pontosintegralizados e 13 em andamento, dos 250 que temos a cumprir estimulama ao. Todo esforo deve concentrar-se na consecuo desse objetivo.

    Nessa linha, um destaque especial para as capitais. Constituindo elas ospontos da rede nos quais ao controle das variveis diatpica, diagenrica ediageracional se acrescenta a considerao de uma outra varivel a

    diastrtica , decidiu-se por priorizar a coleta de dados nas capitais e isso nocurso de 2003/2005. Considerando-as um subconjunto dentro do conjuntoamplo de pontos da rede, espera-se iniciar a divulgao dos resultados com a

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    publicao do primeiro volume do ALiB que contemplar as capitais brasileiras,entre as quais no se incluem Palmas (Tocantins) e o Distrito Federal, Braslia,

    por razes de sua histria cidades recm criadas. Essa , assim, uma segundameta a ser vencida a mdio prazo.

    Na consecuo desses objetivos, etapas complementares se fazem, deimediato, necessrias :a) O treinamento continuado das equipes regionais com vistas execuo da

    transcrio dos registros feitos.

    b) A criao dos comits especializados para transcrio fontica dos dados,elaborao das cartas e redao dos comentrios s cartas.

    c) A continuada luta na busca de apoio e procura de financiamento que dsustentao execuo do Projeto.

    PARA CONCLUIR

    Esse tem sido o caminho do ALiB. Essa a trilha dos que secomprometeram e de outros que, por certo, viro a se envolver com o Projeto.E o sucesso da caminhada est relacionado diretamente fidelidade aosprincpios assumidos, ao de reflexo crtica que tem e ter de ser exercida

    continuadamente, capacidade de avaliar e rever, com rigor, com clareza ecom a simplicidade dos sbios, cada passo.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AGUILERA, V. de A.Atlas Lingstico do Paran. Curitiba: Imprensa Oficial do

    Estado, 1994. 2 v.AMARAL, A. O dialeto caipira. 2. ed. So Paulo: HUCITEC; Secretaria de Cinciae Tecnologia, 1976.

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    ARAGO, M. do S.; MENEZES, C.Atlas Lingstico da Paraba. Braslia: UFPB/CNPq, Coordenao Editorial, 1984.

    Atlas Linguarum Europae (ALE).Assen-Maastricht: Van Gorcum, 1983-1990. v. 1-4. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1998. v. 5.

    Atlas Lingstico de la Pennsula Ibrica. (ALPI). Madrid: Consejo Superior deInvestigaciones Cientficas, 1962.

    Atlas Linguistique Roman (ALiR). v. 1.Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato;Libreria dello Stato, 1996.

    BRASIL. Decreto n. 30.643, de 20 de maro de 1952. Institui o Centro de Pesquisasda Casa de Rui Barbosa e dispe sobre seu funcionamento.

    CARDOSO, S. A. M. da S.Atlas Lingstico de Sergipe II. 2002.2 v. Tese (Doutoradoem Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002.

    FERREIRA, C.; FREITAS, J.; MOTA, J.; ANDRADE, N.; CARDOSO, S.;ROLLEMBERG, V.; ROSSI, N.Atlas Lingstico de Sergipe. Salvador: UniversidadeFederal da Bahia; Fundao Estadual de Cultura de Sergipe, 1987.

    KOCH, W.; KLASSMANN, M.; ALTENHOFEN, C.Atlas Lingstico-Etnogrficoda regio Sul do Brasil. V. I e II. Porto Alegre/Florianpolis/Curitiba: Editora daUFRGS/Editora da EFSC/Editora da UFPR, 2002.

    MARROQUIM, M.A lngua do Nordeste. 3. ed. Curitiba: HD Livros, 1996.

    NASCENTES, A. Bases para a elaborao do atlas lingstico do Brasil. Rio deJaneiro: MEC; Casa de Rui Barbosa, v. 1, 1958. v. 2, 1961.

    RAZKY, A.Atlas Lingstico Sonoro do Par. Belm : CAPES/UFPa/UTM(RobertGauthier), 2004. CD. ISBN 85904127-1-7.

    RIBEIRO, J.; ZGARI, M. R. L.; PASSINI, J.; GAIO; A. P. Esboo de um AtlasLingstico de Minas Gerais. Rio de Janeiro: Ministrio da Educao e Cultura;Casa de Rui Barbosa; Universidade Federal de Juiz de Fora, 1977.

    ROSSI, N.; FERREIRA, C.; ISENSEE, D.Atlas Prvio dos Falares Baianos. Rio de

    Janeiro:Ministrio de Educao e Cultura; Instituto Nacional do Livro, 1963.SILVA NETO, S. da. Guia para estudos dialectolgicos. Belm: Conselho Nacionalde Pesquisas; Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia, 1957.

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    PRELIMINARES

    As atividades de pesquisa de natureza dialectolgica se iniciam, na Bahia,na segunda metade da dcada de 50 do sculo passado, ou, mais precisamente,

    em 1955, como se l no volume de Introduo ao Atlas Prvio dos Falares

    Baianos(APFB), nas palavras de seu autor (ROSSI, 1965, p.13): A histria

    do APFB a rigor remonta a 1955 ano de nossa chegada Bahia, j com a

    pretenso e esperana de fazer Dialectologia.

    Tomando como base a realizao da 1. pesquisa in loco, observa Nadja

    Andrade (1959, p.3), em comunicao apresentada ao Primeiro Congresso

    Brasileiro de Dialectologia e Etnografia, em Porto Alegre, em 1958.

    O marco inicial das pesquisas dialetais que se vm fazendo na Faculdade de Filosofiada Universidade da Bahia foi um exerccio de campo realizado em Porto, no dia 1 de

    novembro de 1957.Tratava-se da primeira aplicao de um questionrio lingstico experimental constantede 2.965 (duas mil novecentas e sessenta e cinco) perguntas, elaborado com acolaborao dos alunos, num desdobramento a um outro apresentado que apenasenumerava as reas semnticas a abordar.

    Ao Primeiro Congresso Brasileiro de Dialectologia e Etnografia, a equipe

    da Bahia levou mais trs comunicaes, entre as quais vale destacar a que seintitula Comrcio de ervas medicinais na Feira de gua de Meninos, pela

    participao efetiva, pela primeira vez, de um grupo de estudantes de Letras1

    1Desse trabalho participaram, juntamente com Nelson Rossi e Nadja Andrade, os estudantes: Antnio Matheus doAmaral Leal, Denise Santos Drummond, Dilce Snia de SantAnna, Etienete Marilza Guimares, Lenna MariaSimes, Linda Jereissate Mujaes, Lcia Maria Pereira, Lya Lins de Arajo, Maria Antonita Frank, Maria deLourdes Rocha, Regina Tosta de Oliveira, Renilda Maria Reis Argollo, Solange da Silva Rgo, Terezinha Ferreirade Almeida, Yda Antonita Carneiro Pessa e Yoni Ribeiro da Silva Gomes. Os outros trabalhos so: Cantigas deRojo e Quadras Populares no Serto Baiano, apresentadas por Rossi, essa ltima publicada em Arquivos daUniversidade da Bahia Faculdade de Filosofia, v. VI. Salvador, 1961, p. 85-134.

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    em trabalho dessa natureza. A pesquisa lingstico-etnogrfica na Feira de

    gua de Meninos, em Salvador, realizou-se em dez barracas especializadas

    na venda de ervas medicinais e teve como objetivo o estudo lxico-semnticodos nomes das ervas e de fatos fnicos, como a iotizao da consoante lateral

    palatal (canela de vio(= velho),foia (= folha) de So Cipriano, oreia (=orelha)

    de pau), a reduo de ditongos (aroera(=aroeira), catinga de chero(=cheiro),

    vassurinha(= vassourinha) de Nossa Senhora), a neutralizao entre / l / e / r

    / em coda silbica (marva(= malva) branca), ao lado do levantamento das

    indicaes teraputicas das ervas, fornecidas pelos informantes, das quais se

    recolheram amostras de sessenta espcies.

    A importncia do Primeiro Congresso Brasileiro de Dialectologia e

    Etnografia, assim como de outros que o antecederam ou que o seguiram entre

    1957 e 1959 III e IV Colquios Internacionais de Estudos Luso-Brasileiros

    (em 1957 e 1959, respectivamente) e 1. Simpsio de Filologia Romnica (em1958) para a dialectologia brasileira ressaltada por pesquisadores

    contemporneos, como Brando (1991) que, ao dividir a histria da

    dialectologia no Brasil em duas fases, prope como marco divisrio o perodo

    que se estende de 1957 a 1959 (p. 42), em funo dessas reunies cientficas

    e da publicao, em 1958, do 1. volume das Bases para a elaborao do

    Atlas Lingstico do Brasil, de Antenor Nascentes.Como data inicial das pesquisas para a elaborao do APFB, pode-se,

    ainda, de acordo com Rossi (1965, p. 13) tomar como ponto de partida o ano

    de 1959 [...], por serem mais estreitas as ligaes entre os acontecimentos

    dsse ano e a elaborao do Atlas.

    Os acontecimentos referidos so, principalmente: (a) a realizao, em

    Salvador, em agosto de 1959, do IV Colquio Internacional de Estudos Luso-

    Brasileiros, com a apresentao, pela equipe baiana, de trs comunicaes,

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    duas das quais Aspectos do lxico regional da Bahia e Textos cantados numa

    localidade rural da Bahia ( margem de um inqurito lingstico) , a partir de

    inquritos lingsticos realizados, como sondagem, em Bom Despacho,municpio de Feira de Santana, em 1958; (b) a realizao de inquritos em

    So Jos das Itapororocas, Tanquinho e So Vicente que, juntamente com osde Bom Despacho, iro fornecer elementos para a elaborao do Extrato de

    Questionrio a ser aplicado na Bahia.

    A OPO POR ATLAS REGIONAIS

    Apesar de, pelo Decreto no. 30.643, de 20 de maro de 1952, e a Portaria

    no. 536 de 26 de maio do mesmo ano, que o regulamentou, o governo brasileiro

    haver-se pronunciado em favor de um atlas lingstico do Brasil, considerando-

    o como um dos objetivos da Comisso de Filologia da Casa de Rui Barbosa,dificuldades de toda ordem dificultaram a sua execuo, levando Serafim da

    Silva Neto, Celso Cunha, Antenor Nascentes e Nelson Rossi concluso de

    que um atlas lingstico que recobrisse todo o territrio nacional deveria ser

    precedido por atlas regionais.

    Essa idia est exposta no Guia para Estudos dialectolgicos, cuja

    1.edio data de 1955, quando Silva Neto arrola como tarefas urgentespara o avano da dialectologia no Brasil:

    a) sondagens preliminares, criao de ambiente, difuso do mtodo;

    b) recolha de vocabulrios com todas as exigncias da tcnica;

    c) monografias etnogrfico-lingsticas sobre determinadas esferas

    semnticas;

    d) monografias etnogrfico-lingsticas sobre falares;e) atlas regionais;

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    f) inqurito nacional feito com questionrio uniforme e distribuio geogrfica

    dos materiais recolhidos, em mapas (Atlas Nacional).

    E observa, logo a seguir:

    De propsito colocmos no fim o Atlas Nacional, objetivo insubstituvel, porque eleexige, e at pressupe, as pesquisas que colocmos nos itens a), b), c), d), e). Nopodemos partir do estado atual diretamente para oAtlas, cuja elaborao demanda umabem treinada quipede investigadores e uma srie de tomadas preliminares (SILVANETO, 1957, p. 11)

    Do mesmo teor a proposta que Silva Neto e Celso Cunha apresentam ao3. Colquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, em Lisboa, em 1957:realizao de um Atlas Lingstico-Etnogrfico do Brasil por Regies.

    Esse tambm o pensamento de Nascentes (1958, p. 7), que assim seexpressa:

    Embora seja de toda vantagem um atlas feito ao mesmo tempo para todo o pas, paraque o fim no fique muito distanciado do princpio, os Estados Unidos, pas vasto erico e com excelentes estradas, entregou-se elaborao de atlas regionais, para maistarde junt-los no atlas geral.Assim tambm devemos fazer em nosso pas, que tambm vasto e, ainda mais, pobree sem fceis vias de comunicao.

    A idia de que a dialectologia no Brasil deveria, realmente, preocupar-seantes com atlas regionais para, s posteriormente, chegar ao atlas nacionalrequerido pela comunidade cientfica interessada no conhecimento dadiversidade lingstica brasileira e as dificuldades para a realizao de umatlas nacional em um pas das dimenses do Brasil, em uma poca em que as

    comunicaes eram extremamente precrias e que as Faculdades de Letrasestavam comeando a aparecer, levaram Nelson Rossi realizao de um atlasrestrito apenas a uma rea.

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    Em 1960, iniciam-se os inquritos para a constituio do corpusdoAPFB,

    fase que se conclui em abril de 1961, concomitantemente ao incio da etapa de

    elaborao das cartas lingsticas.Em 1963, publica-se o APFB, que tem como colaboradoras principais

    Carlota Ferreira e Dinah Maria Isense.2

    A CONTINUAO DA PESQUISA DIALETAL

    EM REA DO FALAR BAIANOAinda em 1963, o grupo baiano ento constitudo por Nelson Rossi,

    Carlota Ferreira, Judith Freitas, Nadja Andrade, Suzana Cardoso, Vera

    Rollemberg e Jacyra Mota amplia a rea de pesquisa, dirigindo-se ao limite

    norte do chamado falar baiano, na diviso dialetal proposta por Nascentes

    (1953) e realizando uma primeira sondagem em quatro localidades sergipanas Santa Luzia do Itanhi, Estncia, Itaporanga dAjuda e Laranjeiras. Analisados

    os dados recolhidos nessas quatro localidades e elaborado um novo

    questionrio, o grupo realiza, em 1964, outra srie de inquritos preliminares

    em Sergipe, j nos quinze pontos selecionados para representar o Estado. Entre

    1967 e 1968, realizam-se os inquritos definitivos em Sergipe.

    OAtlas Lingstico de Sergipe(ALS), segundo na ordem de elaborao

    dos atlas lingsticos brasileiros por Estado, fica pronto para a impresso em

    1973, mas, por falta de financiamento, somente vem a ser publicado em 1987,

    2OAPFBcontou ainda, na fase de realizao dos inquritos e de preparao das cartas, com a colaborao de: AnaMaria Garcia, Cyva Leite, Edelweiss Nunes, Josefina Barletta, Judith Freitas e Tnia Pedrosa.

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    aps oEsboo de um Atlas Lingstico de Minas Gerais(EALMG), em 1977,

    e oAtlas Lingstico da Paraba(ALP), em 1984.3

    Na elaborao do ALS, priorizam-se as cartas coincidentes com as doAPFB, de modo a fornecer dados para o conhecimento e a delimitao dessa

    rea do falar baiano, utilizando, assim, apenas cerca de 1/3 do total das,

    aproximadamente, 150 horas de registro magnetofnico recolhidas em Sergipe.

    Os dois teros restantes vm sendo analisados para a elaborao de teses,

    dissertaes e de inmeras comunicaes a congressos e artigos em revistas

    da especialidade.

    De referncia anlise dos dados inditos de Sergipe, destaca-se,

    especialmente, oAtlas Lingstico de Sergipe II, de autoria de Suzana Cardoso,

    tese de Doutorado apresentada Universidade Federal do Rio de Janeiro4, que

    analisa a parte da rea semntica Homem no contemplada, anteriormente,

    nas cartas doALS.As questes sobre a subrea semntica cavalos que no foram

    aproveitadas como cartas do ALS so objeto da dissertao de Mestrado O

    cavalo em Sergipe: um estudo geolingstico, de Maria Eline Campos

    Mendes, desenvolvida com a orientao de Suzana Cardoso e defendida em

    1992, no Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingstica da Universidade

    Federal da Bahia.Utilizam tambm parte dos dados recolhidos em Sergipe que no integram

    o ALS: (a) as teses para Professor Assistente do Instituto de Letras da

    3Como atlas circunscritos a um Estado, seguem, em ordem cronnolgica: oAtlas Lingstico do Paran(ALPr),publicado em 1994, oAtlas Lingstico de Sergipe II, em 2002, e oAtlas Lingstico Sonoro do Par, em 2004,

    ao lado de muitos outros que se encontram, atualmente, em andamento. Abarcando uma regio compreendidapelos Estados de Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul desenvolve-se oAtlas Lingstico-Etnogrfico da

    Regio Sul do Brasil cujos primeiros volumes se publicam em 2002.4Cf, adiante, neste volume, p 106-139 Sergipe um estado com dois atlas, de Cardoso.

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    Universidade Federal da Bahia, em 1973, de Suzana Cardoso O verbo e suaestrutura em Gararu(Sergipe) e de Jacyra Mota Sobre o trao palatalidade

    em Ribeirpolis(Sergipe); (b) as dissertaes de Mestrado de Carlota FerreiraA adjetivao em Sergipe, Suzana Cardoso Processos de negao no dialetode Gararu (Sergipe) e Jacyra Mota Vogais antes de acento em Ribeirpolis(Sergipe), realizadas sob a orientao de Nelson Rossi.

    OAPFBE OALS: DADOS METODOLGICOS

    O surgimento dos atlas regionais brasileiros, a partir dos anos 60 do sculopassado, deu-se dentro do que se pode rotular hoje de dialectologiamonodimensional, ocupando-se, exclusiva ou sistematicamente, da dimensodiatpica e deixando de lado outros parmetros, como, por exemplo, asvariaes diagenrica ou diassexual, diastrtica, diafsica, entre outras.

    Dentro dessa perspectiva situa-se o APFB, que prioriza a distribuiodiatpica, e que, apesar de haver procurado incluir, em todas as localidades,informantes dos dois gneros e de idades diferentes, no atinge, de modosistemtico, a distribuio diagenrica, dadas as condies da poca,especialmente quanto a deslocamento de inquiridores e permanncia por maistempo em localidades afastadas ou de acesso difcil.

    REDE DE PONTOS

    O corpusdoAPFBfoi recolhido, in loco, em 50 localidades do Estado da

    Bahia, selecionadas segundo critrios de antiguidade, afastamento de grandes

    centros e nmero de habitantes e distribudas, geograficamente e em funo

    da densidade demogrfica de cada regio, pelas 16 zonas fisiogrficas em que

    se dividia o Estado.

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    Entre as localidades h trinta sedes de municpios treze das quaiscoincidentes com as propostas por Nascentes (1958, p. 20) , quinze vilas e

    cinco povoados. Oito vilas e dois povoados pertencem a municpios tambmindicados por Nascentes. Cf. Quadro 1.

    Para oALS, seguindo os mesmos critrios doAPFB, foram selecionadasquinze localidades, distribudas por cinco zonas fisiogrficas, numeradas de51 a 65, no sentido sul-norte, em prosseguimento numerao dos pontos daBahia. Entre as localidades de Sergipe, apenas uma no sede de municpio

    Curralinho, ponto 65, distrito pertencente ao municpio de Poo Redondo.Dentre os pontos que constituem a rede do ALS, sete Estncia, So

    Cristvo, Brejo Grande, Divina Pastora, Prpria, Gararu e Simo Dias estoentre os dezesseis sugeridos por Nascentes (1958). Cf. Quadro 2.

    INFORMANTES

    Os informantes doAPFB, em nmero de 100, so naturais da localidadee filhos de pais da localidade, ligados a atividades rurais, com pouco ou nenhumafastamento do local em que nasceram. Quanto escolaridade, 75 socompletamente analfabetos. Enquadram-se, assim, exceto quanto ao gnero,no tipo que Chambers e Trudgill (1994, p. 57) identificam como NORMS(nonmobile, older, rural, males) e que Zgari (1998, p. 36) denomina HARAS(homem, adulto, rurcola, analfabeto e sedentrio).

    Com relao ao gnero, em sete localidades no h informantesmasculinos, predominando, no total, os femininos, em nmero de 57.

    Alm dos informantes, foram ouvidos quatro circunstantes, cujas respostas

    se incluem noAPFB.Os informantes, em geral dois por localidade (em 41 localidades), soidentificados com as letras A e B, considerando-se como A aquele que mais se

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    aproxima do perfil de informante ideal ou cujo inqurito se desenvolve sobcondies mais favorveis. Em duas localidades Rio Fundo, ponto 03, e

    Velha Boipeba, ponto 06, em que se inquiriram trs informantes, aidentificao se faz com as letras A, B e C. Em Abrantes (ponto 05), quefuncionou como ponto teste e onde se realizaram os seis primeiros inquritosdefinitivos, os informantes se identificam com as iniciais dos dois inquiridoresresponsveis pelo inqurito.

    Em seis pontos mais afastados, situados na parte oeste do Estado, nas

    zonas do Mdio So Francisco (pontos 44 e 45) e de Barreiras (pontos 46, 47,48 e 49), o trabalho de campo foi feito apenas por Nelson Rossi, que inquiriuum informante em cada um deles.

    Os informantes do APFB se distribuem, quanto idade, entre 25 (quatroinformantes) e 84 anos (um informante), situando-se, em geral, entre 39 e 69 anos.

    No ALS, diferentemente do que ocorre no APFB, incluem-se,

    sistematicamente, informantes masculinos e femininos, em todos os pontos,identificando-se com A as mulheres e com B os homens. OALSapresenta-se,assim, como o 1. atlas bidimensional brasileiro.

    Os informantes do ALS tm, predominantemente, entre 35 e 52 anos,havendo um de 30 anos e trs mais velhos, um de 59 anos e dois de 65 anos.Em geral, analfabetos, apenas oito informantes so semi-alfabetizados e um alfabetizado.

    So naturais da prpria localidade ou de reas prximas, assim comoseus pais, e se dedicam, principalmente, atividade agrcola.

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    Quadro 1. Rede de pontos do APFB(distribuio por zonas fisiogrficas).Confronto com a proposta de nascentes (1958).

    Fonte: Rossi (1965), Quadro 2, com adaptaes. Marcam-se com * os pontos coincidentes com ospropostos por Nascentes (1958). As vilas e povoados pertencem a municpios por ele indicados.

    ZONAS FISIOGRFICAS NO. / NOME DO PONTO NOAPFB

    I Litoral Norte 1. Abadia (vila)2. Apor

    II Recncavo 3. Rio Fundo (vila)4. Santiago do Iguape (vila)5. Abrantes (vila)

    III Zona do Cacau 6. Velha Boipeba (vila)7. Faisqueira (povoado)8. Poxim do Sul (vila) *

    IV Extremo Sul 9. Sta. Cruz Cabrlia10. Buranhm (vila) *11. Prado

    12. Mucuri *50. Ibiranhm (vila) *V Nordeste 13. Jeremoabo *

    14. Monte Santo *15. Mirandela (vila) *16.Vila Velha (povoado)17.Conceio do Coit

    VI- Zona de Feira de Santana 18. Ipir19. gua Fria (vila)20. Pedra Branca (povoado)

    VII Zona de Jequi 21. Maracs22. Jiquiri

    VIII - Zona de Conquista 23. Boa Nova24. Vitria da Conquista *25. Encruzilhada

    IX Zona de Senhor do Bonfim 26. Campo Formoso

    X Encosta da Chapada Diamantina 27. Jacobina *28. Mundo Novo *29. Itaberaba

    XI Chapada diamantina 30. Morro do Chapu31. Brotas de Macabas32. Iraporanga (vila) *33. Mato Grosso (povoado) *

    XII Serra Geral 34. Macabas35. Caetit *36. Condeba

    XIII Serto do So Francisco 37. Rodelas (vila) *38. Pambu (povoado) *

    XIV Baixo-Mdio So Francisco 39. Carnaba do Serto (vila) *40. Sento S41. Pilo Arcado *42. Barra *43. Paratinga *

    XV Mdio So Francisco 44. Santana45. Carinhanha *

    XVI Zona de Barreiras 46. Ibipetuba *47. Tagu (vila) *48. Correntina *49. So Desidrio (vila)

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    Quadro 2. Rede de pontos do ALS (distribuio por zonas fisiogrficas).Confronto com a proposta de Nascentes (1958).

    Marcam-se com * as sedes de municpios coincidentes com as propostas por Nascentes (1958).

    ZONAS FISIOGRFICAS NO. / NOME DO PONTO NOALS

    I Zona do Litoral 51. Santa Luzia53. Estncia*54. Pedrinhas55. So Cristvo*56. Itaporanga dAjuda

    61. Brejo Grande *II Zona Central 57. Laranjeiras

    59. Divina Pastora *

    III Zona do Baixo So Francisco 62. Propri *

    IV Zona do Serto do So Francisco 64. Gararu *

    65. Curralinho (distrito)

    V Zona do Oeste 52. Tomar do Geru58. Simo Dias *60. Ribeirpolis63. Nossa Senhora da Glria

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    QUESTIONRIO

    Sobre a elaborao do questionrio utilizado na constituio do corpusdoAPFB, assim se expressa Ferreira (1998, p. 17):

    Sem modelo precedente no Brasil para espelhar-se, adaptando-o realidade baiana, oquestionrio usado para oAPFBfoi elaborado a partir de experincias dialetais anterioresfeitas por dois grupos distintos de estudantes.Foi este o procedimento:Nos anos de 1958 e 1959 aplicaram-se questionrios de mais de 3.000 perguntas,divididos em quatro grandes reas semnticas: Terra, Vegetais, Homem e Animais, ainformantes rurais de quatro localidades do interior do Estado: Bom Despacho (1958),So Jos das Itapororocas, Tanquinho e So Vicente (1959). A partir da anlise dasrespostas fornecidas pelos informantes nestas quatro localidades, o que proporcionouum estudo detalhado de vrias lexias, elaborou-se o propriamente denominado Extratode Questionrio (EQ).

    O EQ doAPFBconsta de 182 questes5, contemplando, principalmente,o nvel semntico-lexical, embora haja algumas de interesse fontico, como a

    questo 1 Lua , includa a partir da ocorrncia da variante luma, em inqurito

    preliminar, em So Vicente; a questo 40 [Indivduo] que enxerga pouco ,

    cuja incluso se d em virtude da variante mircopara mope, documentada em

    Bom Despacho; a questo 55 Hidropisia , em que as variantes hisdrupisia

    e hisdrope, foram registradas nas quatro localidades em que se fizeram

    inquritos-sondagem.

    O questionrio utilizado para a constituio do corpusdoALSconsta de

    687 perguntas, incluindo as 182 do EQ aplicado na Bahia, e foi precedido de

    dois outros, aplicados nos inquritos de sondagem, o primeiro, bastante amplo,

    5As questes so numeradas de 1 a 164, mas 16 delas so desdobradas, recebendo a questo seguinte o mesmonmero com o ndice a.A questo 19 acompanhada das questes 19 a, 19b e 19c.

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    com mais de 3.000 questes, e o segundo, mais reduzido, com 800 perguntas,

    que, cuidadosamente analisadas, vo fornecer os elementos necessrios

    elaborao do questionrio definitivo.Para que se alcanasse maior homogeneidade nos inquritos de Sergipe,

    a maioria das questes apresentava uma formulao inicial, como, por exemplo,para a pergunta 337, referente a Feiticeiro: Uma pessoa que faz coisas escondido

    pra fazer mal aos outros, bota coisas na rua sem ningum ver, dizem que no

    bom passar por cima delas, como que chama essa pessoa?

    Na realizao dos inquritos, tanto do APFBquanto doALS, ao lado daformulao indireta, utiliza-se o que se convencionou chamar de teste de

    identificao, procedimento no usual em pesquisas dessa natureza,

    heterodoxia consciente e deliberada, segundo Rossi (1965, p.35): aps a

    aplicao integral do questionrio, quando uma determinada questo no

    respondida pelo informante ou quando a resposta se afasta das anteriormenteobtidas em inquritos preliminares, pergunta-se, em interrogao direta, ao

    informante, se ele conhece determinado vocbulo, solicitando-lhe informaes

    sobre o seu significado e/ou a sua utilizao, com o objetivo de verificar a

    existncia da forma em questo no seu vocabulrio passivo ou corrigir enganos

    na formulao da pergunta.

    Na constituio do corpusdoAPFB, tal procedimento levou em conta:1) que mesmo o homem urbano culto muitas vzes esquece principalmente

    quando perguntado palavras que usualmente emprega;

    2) que pairavam dvidas sbre o valor significativo de algumas das formas

    cuja rea no s de uso corrente mas tambm de conhecimento

    procurvamos delinear, o que podia levar-nos e quantas vzes levou! a

    uma formulao inadequada da pergunta;

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    ..

    3) as limitaes de tempo e numerrio que nos impediam de permanecer na

    localidade o tempo que julgssemos necessrio [...] (ROSSI, 1965, p.35-36).

    No caso do ALS, os argumentos a favor da incluso do teste deidentificao so assim apresentados por Rossi (1969, p. 267):

    1) apesar de todas as localidades j terem sido previamente sondadas, algumas delasmais de uma vez, os inquritos continuariam tendo muito de exploratrios; 2) dadas asligaes entre o que propnhamos em Sergipe e o que havamos feito na Bahia,recomendava-se no por um apego feiticista a abstratas uniformidades de mtodo

    mas por uma questo de coerncia nos objetivos submeter aos mesmos testes deocorrncia ou identificao pelo menos as formas includas no Extrato de Questionrioaplicado na Bahia; 3) com as excees mencionadas, o que nos decidiu peloprocedimento na Bahia aplicava-se tambm a Sergipe.

    Um dos exemplos citados por Rossi (1967) em que a utilizao do testede identificao serviu para dirimir dvidas e complementar uma informao

    anteriormente obtida refere-se s cartas 26 doAPFB (Cova para semear) e 27do ALS (Pequeno monte de terra acumulada por raspagem, destinado plantao). A carta do APFBteve como base as respostas pergunta 116 doEQaplicado na Bahia Cova redonda para semear , em que constava a formamuuca, anteriormenteouvida em inquritos-sondagem, realizados em BomDespacho, para ser submetida ao teste de identificao final. As respostasobtidas, em interrogao indireta ou direta, embora no tenham fornecido outrossemas identificadores, como se observa nas notas carta 26, levaram os autoresa retirar a referncia ao sema redondo do ttulo da carta doAPFB.

    A pergunta 65 Buraco para a semente foi includa no questionrioaplicado em Sergipe, com a formulao: Onde que bota a semente para

    plantar? E o buraco mesmo, onde bota ela, como que chama? Mantendo-sea forma muuca no teste de identificao, foi possvel, com as observaesque figuram em notas carta, identificar a diferena entre covae muuca(a

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    cova redonda e a muuca se faz raspadacf. ponto 58, inf.B; muuca uma

    cova, agora suspendida como um canteiro [...] chama[= levanta] aquela

    terra para fazer aquela muuca, ali agora planta em cima. Planta a maniva,cf. ponto 63, inf.B).

    Todas as respostas ao teste de identificao so identificadas com asterisco,nas cartas doAPFB, e esto em transcrio fonmica, nas do ALS.

    CARTAS

    O APFB contm 198 cartas lingsticas, 44 das quais so resumos de

    cartas anteriores. NoALS, encontram-se 171 cartas lingsticas, que, em sua

    maioria, correspondem s cartas doAPFB, s quais remetem. Entre as cartas

    lingsticas, quinze apresentam, em resumo, dados de cartas anteriores e doze

    identificam-se como cartas-conjuntas Bahia-Sergipe, por aproveitarem dados

    da Bahia no includos noAPFB.

    So exemplos de cartas-resumo: Cisco que cai no olho (APFB 90R eALS 97R), que reproduz, em conveno, os itens lexicais ciscoe argueiro,

    transcritos nas cartas APFB 90 e ALS 97; Trasanteontem (APFB 8R e ALS

    6R), que resume a variao fnica (tresant-, ternant-, ternont-) observada nas

    primeiras slabas do vocbulo; Pea do arreio que passa pela barriga do animalpara segurar a sela ou a carga (APFB 145R), com apresentao, em conveno,

    dos vocbulos cilha, cincha, barrigueirae de outras denominaes; Peas do

    arreio que passam pela barriga do animal para segurar a sela ou a carga (ALS

    149/150 R), que resume as informaes contidas nas cartas 149 (Pea do arreio

    que passa pela parte dianteira da barriga do animal para segurar a sela ou a

    carga) e 150 (Pea do arreio que passa pela parte traseira da barriga do animalpara segurar a sela ou a carga).

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    ..

    As cartas que renem informao das duas reas (cartas-conjuntas Bahia-

    Sergipe) delineiam subreas dialetais, como, por exemplo, Vomitar (sinonmia

    para), com as respostas provocar, em seis localidades de Sergipe e duas daBahia, em zonas prximas a Sergipe; lanar, variante caracterstica da rea do

    Rio So Francisco, tanto na Bahia quanto em Sergipe, embora tambmdocumentada em outras zonas, e arremessar, apenas na Bahia, em localidades

    das zonas de Feira de Santana e Jequi, estendendo-se para o sul at a Zona do

    Cacau e para o oeste, at a Encosta da Chapada Diamantina (ALS, 91).

    Em ambos os atlas, as cartas, em sua maioria, apresentam, em transcriofontica, diversas variantes, como, por exemplo, sarolha, saroia, sarora,

    saroiada, sarobada, insombrada, mida, barrufada, ovalhada, serenada, etc.,

    em Umedecida (terra) pela chuva (APFB22 e ALS23); lavrad, ganhad,

    giad, diarista, pataquero, macaquero, jornalero, etc., em Trabalhador de

    enxada (APFB23) e em Trabalhador de enxada em roa alheia(ALS24); buza,buzo, buzina, corao, imbigo, ombigo, ingao, ingacho, ingasto, baguno,

    banguo, baguo, etc., na carta Parte terminal da inflorescncia da bananeira

    (APFB32 eALS33). H, porm, cartas exclusivamente fonticas, como Lua

    (APFB1 e ALS1), Arco-ris (APFB3 e ALS3), Trasanteontem (APFB8 e

    ALS, 6) ou lxico-semnticas, como Nociva (fruta, comida, etc. ) (APFB42),

    Verbo utilizado de referncia ao fenmeno conhecido como estrela cadente(ALS2 ) e Trovoada (semasiologia de)(ALS8).

    Em algumas cartas, principalmente nas notas, ao lado dos dados

    lingsticos fornecidos pela transcrio grafemtica da fala do informante,

    encontram-se dados socioculturais ou etnogrficos. Alguns exemplos so:

    a) A descrio sobre o tringulo ou o estaleiro,na carta Onde se pe o

    feijo a secar (ALS37): os triangui, a gente finca umas forquilha e botauns pau dentro das forquilha, fica aquela enfieira, agora amarra os

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    encambe[= molhos?]de feijo com pindoba(ponto 60, inf. B); bota unspau, faz uns estalero assim e pendura, fica l o ano todo(ponto 55, inf. A).

    b) A explicao do que e como se faz a bingapara guardar rap, na cartaOnde se guarda rap (APFB53):pontinha de chifre de boi, faz um chifre

    bem feitinho e bota uma tampa de cabaa(ponto 28, inf. A).

    c) A descrio do processo utilizado para transportar galinhas para levar avender, em um engradado (galinheiroou gigo) ou penduradas pelos psnas extremidades de um pau que se atravessa nos ombros ou no pescoo,

    na carta Onde se transportam galinhas para vender (ALS117).d) A informao sobre como se distribuem as tarefas nas casas de farinha, na

    carta Pea de madeira, esfrica ou cilndrica com dentes de metal, doaparelho de ralar mandioca: aqui a mulher quem seva; senta no banco,bota a mandioca no caititu, ele vai rodando, ela empurrando a mandioca ;outros chamam a bola(ALS, 35, ponto 59, inf. B):fica uma mulher sentadana frente, a gente bota a mandioca no colo dela e ela fica assim empurrando

    em uma bola cheia de dente. [...]. Nas casas de farinha que tm motor,quem rala o motor. O motor vira aquela bola e a mulher s empurrando

    a mandioca(ponto 55, inf. B).e) Dados sobre a variao diastrtica ou diageracional, como se observa na

    carta Verbo utilizado de referncia ao fenmeno conhecido como estrelacadente(ALS, 2): aqui o povo diz: desceu uma estrela e aqueles mais bestodiz: ali correu uma estrela(ponto 60, inf. A); e na carta Abortar (ALS, 95):moveu palavra do tempo do jebe-jebe, agora mudou, agora no tem esse

    nome mais no, aborto(ponto 59, inf. B).As notas podem explicitar tambm procedimentos metodolgicos adotados

    na elaborao do questionrio, na realizao do inqurito ou na prpria seleodas formas cartografadas, como:

    ) A f i f l d d i f d

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    ..

    a) A pergunta foi formulada com a apresentao, a todos os informantes deuma prola. As ocorrncias da resposta conta indicam a ausncia, no

    repertrio do informante, de um nome para a espcie prola dentro dognero conta. (ALS67, Prola).

    b) Na formulao inicial da pergunta inclua-se, de incio, o sema para guardargua, que, contudo, foi omitido nove vezes, em duas das quais(pontos 54 e

    57), ocorreudorna.A incluso daquele sema no impediu a ocorrncia de

    dorna nos pontos 53 e 62, tendo-o os prprios informantes excludo, com o

    esclarecimento de que em dorna no se guarda gua. Faltam elementos

    para saber se nos outros casos a incluso do sema impediu a ocorrncia

    dedorna. (ALS49, Recipiente para lcool, cachaa, etc.).c) Nos casos em que a resposta ocorreu com o artigo, este figura na transcrio

    fontica, por falta de elementos que permitissem proceder com segurana

    delimitao vocabular. (ALS66, culos).d) Em virtude do interesse predominante e prioritariamente lexical da

    informao contida nessa carta, no se leva em conta a diversidade de

    formas flexionais anotadas.(ALS95, Abortar).

    e) A exegese das respostas permitiu, exceo de 52 (inf. A) em que faltam

    elementos para concluir, estabelecer trs delimitaes para o campo

    semasiolgico de coit: 1) utenslio feito de um fruto; 2) o utenslio e umfruto de que feito; 3) um fruto de que se faz o utenslio. (ALS, 48, Utenslio

    domstico feito de casco de fruto seco (ou o fruto de que feito)).

    f) Com/ m / nitidamente fricativo, a propsito da resposta tramela(ALS72).

    g) O/ u / da slaba inicial realizado sem arredondamento dos lbios, a propsito

    de soutien (ALS69).

    As notas s cartas do APFBforam analisadas por Nadja Andrade para aelaborao da dissertao de Mestrado Lxico e explicao interdialetal no

    APFB t d li ti tili d l

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    APFB, em que a autora descreve os processos explicativos utilizados pelos

    informantes durante o inqurito, assim como alguns procedimentos gramaticais

    presentes nas explicaes.As cartas lingsticas, tanto no APFBquanto noALS, so precedidas de

    onze cartas introdutrias que fornecem dados sobre: o falar baiano na divisodialetal proposta por Nascentes; as localidades que constituem a rede de pontos

    (nomes oficiais, regionais, anteriores, populao e situao administrativa,

    freguesia a que pertencem); os inquiridores e transcritores de cada inqurito.

    TRANSCRIO FONTICA

    Em virtude da poca em que foi elaborado, oAPFBressente-se da ausncia

    dos atuais recursos de registro magnetofnico as respostas foram diretamente

    transcritas, in loco, pelos inquiridores e da possibilidade de utilizao da

    informtica no s na preparao das cartas como na reproduo em CD-

    ROM, como nos atlas modernos, identificados como de 3. gerao ou atlas

    falantes que, ao lado do suporte grfico, podem apresentar a prpria

    reproduo da fala do informante.

    NoALS, os inquritos puderam ser integralmente gravados em fitas de rolo,

    em aparelhos portteis com autonomia de corrente. Foram transcritos,posteriormente, em timas condies acsticas, em cabine apropriada, no

    Laboratrio de Fontica do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.6

    6O 1 Laboratrio de Fontica Experimental do Brasil, implantado por Nelson Rossi, em 1955, segundo o modelodo Laboratrio de Fontica Experimental de Coimbra, dirigido por Armando de Lacerda, esteve em funcionamentode 1955 at 1960. Mas, mesmo aps a desativao do Setor de Medies e Anlises, em razo das dificuldades

    para a sua manuteno, o Setor de Registro e Arquivo Sonoros foi mantido. Suas instalaes foram definitivamentedesativadas, em setembro de 1986, quando o prdio do Instituto de Letras da UFBA, em que o Laboratrio deFontica funcionava, teve de ser abandonado, por problemas em sua estrutura fsica. O Arquivo Sonoro foi preservadoe, em novas instalaes, continua a ser implementado.

    Para a transcrio dos dados foi utilizado tanto no ALS como no APFB

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    Para a transcrio dos dados, foi utilizado, tanto noALScomo noAPFB,o sistema Lacerda-Hammarstrm para o portugus, acrescido de novos sinais

    que a aplicao do sistema ao portugus do Brasil revelou necessrios, comose diz noAPFB, p. 9.Em Sergipe, a transcrio indireta, a partir do registro magnetofnico dos

    inquritos, possibilitou um maior grau de pormenorizao fontica, tornando-se necessria a introduo de novos sinais ou de alguns diacrticos.

    A deciso pelo sistema Lacerda-Hammarstrm explica-se no s pela

    aproximao entre Nelson Rossi e Armando Lacerda, mas tambm pela poucadifuso, quela poca, do alfabeto fontico internacional em anlises doportugus e pela sugesto de alguns especialistas, no citado Primeiro CongressoBrasileiro de Etnografia e Dialectologia, de que se deveria adotar um sistemade transcrio comum ao portugus e ao espanhol, que facilitasse o confrontoentre os fatos lingsticos ibero-romnicos.

    PREPARAO DAS CARTAS

    Sem os recursos computacionais de hoje, as transcries dos originais doAPFBforam elaboradas por desenhista, com ajuda de normgrafo, fotografadase coladas nos pontos respectivos de cada carta.

    Sobre a preparao artesanal desses originais l-se em Rossi (1965,p. 39-40):

    No fcil, contando assim, dar uma idia do que custava descobrir como utilizar osnormgrafos disponveis para chegar a um desenho aceitvel dos sinais de transcrioque les no continham.Foi necessrio, muitas vzes, conjugar duas e at trs rguas,25 AB, 35 AB e 45 AB (Rosenhain), como se pode ver dos exemplos que se seguem:

    [...]E sinal de etcda rgua 25 AB. oda rgua 35 AB sem fechar.

    E mais adiante (p 40):

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    E, mais adiante (p. 40):

    A montagem definitiva das cartas pareceu-nos durante tda sua execuo trabalho de

    monges. Talvez se possa ter uma idia do que foi ela, considerando o nmero crcade 20.000 de respostas a localizar, recortar, situar no espao da carta e finalmentecolar (deixando os claros para o acrscimo das convenes que identificam osinformantes ou caracterizam as circunstncias em que foram anotadas).

    NoALS, o processo, embora ainda artesanal, j no foi penoso, contando-secom o recurso de mquina eltrica de esferas removveis, uma delas, a Symbol,

    com grande parte dos smbolos utilizados pelo sistema Lacerda-Hammarstrm.Em 1998, decorridos quase quarenta anos da publicao do APFB, cuja 1

    edio j se encontra esgotada, foi preparada uma reproduo das cartas em CD-

    ROM pelos ento mestrandos Amrico Venncio Lopes Machado Filho, SandraCerqueira Pereira Prudncio e Slvia Santos da Silva, sob orientao de Jacyra

    Mota, como atividade de uma das disciplinas da rea Diversidade Lingstica noBrasil do Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingstica da UFBA. Essaedio em CD, inicialmente restrita, dever ser revista e posta disposio deestudantes e pesquisadores interessados em estudos de natureza geolingstica.

    Tambm com o objetivo de permitir, de maneira mais facilitada, oacesso aos dados, sobretudo para os leitores interessados e que no dispem

    das obras originais, como consta da Apresentao da obra, Cardoso eFerreira (2000, p. 7) renem as formas cartografadas no APFBe no ALSem O Lxico rural. Glossrio. Comentrios, conjunto de 800 verbetes,que apresentam um total de 4.106 variantes fonticas. Em cada verbete, asautoras incluem o item lexical, a indicao do atlas e da carta em que ele se

    encontra, de sua classe gramatical e o conceito que lhe foi atribudo, vindo a

    seguir todas as variantes fnicas com a identificao das localidades e dosinformantes em que foram documentadas.

    TRABALHOS DESENVOLVIDOS NA BAHIA A PARTIR

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    ..

    TRABALHOS DESENVOLVIDOS NA BAHIA A PARTIRDOS DADOS REGISTRADOS NOAPFBE NOALS

    Os dados cartografados nos atlas publicados tm servido de base parainmeros trabalhos que ora confirmam os limites do falar baiano, ora apontampara a delimitao de subreas dialetais, ora indicam a continuidade de fatoslingsticos em outras reas, especialmente no Nordeste.

    A delimitao do falar baiano, de acordo com a proposta de Nascentes

    (1953), foi analisada por Cardoso (1986), com base nas ocorrncias de vogaispretnicas, documentadas noAPFBe no Esboo de um Atlas Lingstico deMinas Gerais(EALMG), possibilitando a seguinte concluso (p.53):

    H uma unidade lingstica configurada pelo Estado da Bahia e a parte Norte /Nordeste/Noroeste de Minas Gerais explicitada na presena de vogais mdias abertas pretnicas,documentadas majoritariamente na rea.A linha que demarca a fronteira entre o falar baiano e o mineiro e o fluminense, traadaa partir dos dados fornecidos pelos dois atlas, aproxima-se consideravelmente dos limitesestabelecidos por NASCENTES.Diante de tais evidncias, s nos cabe concluir: TINHA (TEM) NASCENTES RAZO.

    A continuao do falar baiano em direo rea mineira pode ser

    vista tambm a partir das variantes zelao, cozelao, velao, exalao(APFB 2) para o fenmeno conhecido como estrela cadenteno EALMG,

    carta 22, nos pontos 1, 1A, 1B, 1C, 2A, 5, 6, 7,8, 10, 16 e 18, situados no

    norte de Minas Gerais, e 52, ao sul, junto ao limite do falar baiano.

    Sobre as varianteszelao, velaoe exalaonoAPFB,ALSeEALMG

    observam Ferreira e Cardoso (1994, p.13):

    Neutralizadas as trs substncias fnicas possvel delinear uma isolxicaque aponta umasemelhana de grande parte do estado da Bahia, excluindo-se a regio sul, com a rea

    contgua do norte de Minas Gerais, contrastando com Sergipe onde zelao teve ocorrncia

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    nica [...]. Observando ainda as duas substncias fnicas presentes em zelaoe velao,esta ltima documentada apenas na Bahia, tem-se uma isoglossa fnica no muito ntida,

    dentro do prprio estado, que marca alternncia entre as dentais [z] e [v].

    A ocorrncia nica dezelaoem Sergipe (ALS 2, ponto 60, inf. B) vem

    com a ressalva: diz o povo que zelao. Essa e outras variantes, no entanto,

    encontram-se tambm na Paraba, de acordo com os dados do ALP.

    A propsito de outras denominaes para estrela cadentel-se em MOTA

    (2000, p. 152, itens 2 e 3):

    A ocorrncia de me do ouroe estrela de rabono EALMG, principalmente na partecentro-sul do Estado, ao lado da ausncia dessas formas ao norte de Minas Gerais e naBahia vem mais uma vez confirmar os limites do falar baiano.Por outro lado, o fato de se documentarem as formas me de ouro, estrela de rabo,satlite e diamante no EALMG e no ALPR parece indicar uma rea dialetal que seinicia no Estado de Minas Gerais, abaixo dos limites do falar baiano.

    O falar baiano pode dividir-se tambm em subreas dialetais, como

    verifica Ferreira (1998, p. 22-23), a partir da anlise de cartas doAPFB, onde

    se encontram isoglossas de menor amplitude, tais como:

    a) Parte da zona de Barreiras, Baixo Mdio So Francisco e Serto de So

    Francisco:canastrapara cambalhota (APFB109/109R),

    rodelapara rtula do joelho(APFB62/62R)

    nambu/lambupara sem rabo (APFB113/113R);

    b) Zona do Nordeste, atingindo at o sul, com certa penetrao para o centro:

    lambedorpara xarope caseiro (APFB96),

    cacumbu para ferramenta muito gasta (APFB154)ovo de perupara sarda (APFB73);

    c) Zona do Nordeste, Litoral Norte e Recncavo:

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    ..

    )

    pataqueiropara trabalhador de enxada (APFB23/23R)

    cobpara feiticeiro(APFB99/99R)mazpara sanguessuga (APFB128/128R);

    d) Regio Sul:

    mandraqueiropara feiticeiro(APFB99/99R)

    batoeirapara sabugo de milho(APFB28/28R)

    noruegapara nevoeiro (APFB12/12R)

    e) Zona do Mdio So Francisco, Serra Geral e Chapada Diamantina:coxpara pessoa que tem uma perna mais curta que a outra(APFB79/

    79R)patacapara rtula do joelho(APFB62/62R)

    qum-qumpara galinha dangola(APFB114).

    O aproveitamento dos dados cartografados encontra-se tambm na

    dissertao A nasalidade no dialeto rural sergipano, de autoria de Vera

    Rollemberg, a partir das cartas doALS, com a anlise exaustiva das variantes

    nasais ou nasalizadas, ndices de freqncia das ocorrncias e de sua

    distribuio por informante e por localidade, levantamento dos casos de

    desnasalizao.

    Dentro da perspectiva de confronto entre dados recolhidos em duas pocas,situa-se a dissertao de Maria Lcia Souza Castro, Atualidade e mudana

    semntica no lxico rural da Bahia, realizada em 1996, sob orientao de Suzana

    Cardoso. Nesse trabalho, a autora, aps a realizao de novos inquritos em trs

    localidades da rede de pontos doAPFB Velha Boipeba, Abrantes e Santiago do

    Iguape compara os dados obtidos com os de 49 cartas doAPFB(referentes

    rea Homem) e das doze cartas-conjuntas Bahia-Sergipe, observando asmodificaes semntico-lexicais e levantando possveis fatores condicionantes.

    ATLAS LINGUSTICO DO BRASIL (ALIB)

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    Em 1996, mais um implemento para os estudos de natureza geolingsticana Bahia d-se com a implantao, por iniciativa de um grupo de professores

    da Universidade Federal da Bahia, durante o seminrio Caminhos e

    Perspectivas para a Geolingstica no Brasil, do Projeto Atlas Lingstico do

    Brasil (ALiB), em desenvolvimento, hoje, em dezesseis instituies brasileiras.

    O projeto ALiB coordenado por um Comit Nacional que rene,

    atualmente, pesquisadores de sete universidades brasileiras. constitudo porum diretor presidente Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA) , um

    diretor executivo Jacyra Andrade Mota (UFBA) e seis diretores cientficos

    Abdelhak Razky (UFPA), Aparecida Negri Isquerdo (UFMS), Maria do

    Socorro Silva Arago (UFPB/UFC), Mrio Roberto Lobuglio Zgari (UFJF),

    Vanderci de Andrade Aguilera (UEL), e Walter Koch (UFRS).

    O projeto ALiB encontra-se atualmente em fase de constituio do corpus

    e, de acordo com o balano apresentado pelos membros do Comit Nacional,

    durante a XIV reunio, que se realizou em Salvador, em abril de 2004, conta

    com inquritos realizados em 56 das 250 localidades que constituem sua rede

    de pontos.

    Tendo-se decidido, na XII Reunio do Comit Nacional, em maro de2003, no Rio de Janeiro, dar prioridade s capitais de Estado, de modo a utilizar

    os dados a registrados para a elaborao do primeiro volume do ALiB,

    realizaram-se todos os inquritos em dez delas Macap (AP), So Lus (MA),

    Fortaleza (CE), Natal (RN), Joo Pessoa (PB), Recife (PE), Salvador (BA),

    Campo Grande (MS), Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR), tendo-se iniciado

    essa etapa em cinco outras Macei (AL), Aracaju (SE), So Paulo (SP),Goinia (GO) e Cuiab (MT).

    Incluem-se na rede de pontos do ALiB todas as capitais de Estado,

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    exceo de Palmas (Tocantins) e de Braslia (DF), em vista da data muito

    recente de formao dessas cidades, que se afastam, assim, das caractersticasde centros urbanos consolidados do ponto de vista populacional, com vrias

    geraes neles nascidas.

    De acordo com a metodologia do ALiB, registram-se, nas capitais, oito

    informantes, distribudos pelos dois gneros, por duas faixas etrias uma

    mais jovem, de 18 a 30 anos, e uma mais velha, de 50 a 65 anos e por dois

    graus de escolaridade indivduos com curso fundamental incompleto e comcurso universitrio. Nas demais localidades, o nmero de informantes reduz-

    se a quatro, apenas com o fundamental incompleto.

    Seguindo a tendncia da Geolingstica Contempornea, o ALiB pretende

    apresentar-se como um atlas de 3. gerao, isto , mostrar, alm da

    cartografao dos resultados como os atlas de 1. gerao comentrios scartas como nos que se consideram de 2. gerao e apresentao dos

    dados em CD, de modo a facultar aos interessados a audio da prpria voz do

    informante, na localidade que ele representa.

    Considerando que ainda no se dispe de um nmero suficiente de dados

    sobre o portugus do Brasil, espera-se que o Projeto ALiB venha preencher

    uma lacuna importante nos estudos geolingsticos, fornecendo elementosessenciais para a delimitao de reas dialetais e ampliando o conhecimento

    sobre a variao no portugus falado, tanto no nvel diatpico, quanto no

    diastrtico, diageracional, diagenrico ou diafsico, aspectos que os inquritos

    realizados em carter experimental, na fase de implantao do Projeto, com o

    objetivo de testar a metodologia e preparar o corpo de inquiridores necessrio

    ao trabalho de campo, j comeam a revelar.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    O objetivo deste artigo apurar a realidade da lngua falada no Estado de

    Minas Gerais com o intuito de fornecer dados que possibilitem uma descrio

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    Minas Gerais com o intuito de fornecer dados que possibilitem uma descrio

    exaustiva dos traos fonticos, morfo-sintticos e semnticos do(s) falar(es)mineiro(s).

    Trata-se de um levantamento direto, in loco, em diferentes localidades

    das Gerais, precisamente 184 (cento e oitenta e quatro) pontos, atravs de uma

    conversao semi-dirigida, mediante questionrios especficos preparados para

    tal finalidade.

    Importa saber a gramtica de uso do analfabeto e do homem de nvelsuperior: quem fala o qu a quem, onde, como e quando.

    No presente trabalho, tenta-se conciliar, sem se confundir, mtodos

    tradicionais da pesquisa lingstica, tanto aqueles advindos da Geolingstica

    como os mais modernos, procedentes da Sociolingstica norte-americana. A

    constatao da variedade da lngua, objeto da observao sistemtica, tornou-

    se possvel por meio de entrevistas individuais num ambiente que predisps o

    informante informalidade e diante de entrevistadores aptos para atenderem

    ao requisito da naturalidade da fala.

    O informante, aqui observado, pessoa de:

    bom nvel de inteligncia, mesmo quando analfabeto, capaz de manter um

    dilogo com facilidade em temas de sua vivncia quotidiana; variado nvel escolar, segundo o que se quer;

    faixa etria varivel para se observarem ocasionais mudanas geracionais,

    isto , cmbios lingsticos em tempo aparente.

    O resultado dessas entrevistas, aps 10 (dez) anos e mais de 6.000 (seis

    mil) horas de gravao, permite concluir: Minas Gerais apresenta acentos,

    fones, ritmos de fala e preferncias lexicais distintas em, pelo menos, trs de

    suas regies, independentemente de seus estratos sociais. H um falar no sul e

    no Tringulo que se distingue do Norte, os quais, por sinal, se diversificam do

    da regio formada pelas Zonas da Mata, Metalrgica, Vertentes e Belo

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    g p , g ,

    Horizonte e arredores.Esses falares, que possuem caractersticas prprias em seu aspecto fontico

    e no ritmo da fala, no se divergem no aspecto sinttico, cuja gramtica passa

    a funcionar de acordo com os estratos sociais e o maior ou menor ndice de

    escolaridade.

    POR QUE FALARES

    Neste trabalho, no estamos preocupados em definir dialeto, mas

    partiremos da idia de que todos os falantes falam, pelo menos, um dialeto e

    de que no h razo alguma para supor que qualquer dialeto seja,

    lingisticamente, superior a um outro.

    sabido ser o termo lngua, dentro de um ponto-de-vista estritamente

    lingstico, um termo pouco tcnico, haja vista a distino que separa lngua

    de dialeto no ser uma diferena lingstica, mas algo que se determina por

    fatores histricos, polticos, sociais, culturais e, at, religiosos.

    Essas razes, ainda que acima apenas esboadas, nos levam a abandonar

    o termo lngua e a adotar o termo variedade e falares, passando, inclusive, porcima do termo dialeto. Explica-se: considera-se dialeto de uma lngua a

    variedade lingstica de uma determinada rea, o geoleto. O portugus se

    apresenta vivo na sua variedade europia e na brasileira, cada uma delas,

    divisvel em variedades lingsticas menores, numericamente inferiores,

    ocupando zonas geogrficas mais ou menos definidas, mas partilhando um

    conjunto de traos e regras que no se diferem substancialmente.

    Em Portugal, a prtica dialectolgica, segundo o mestre Lindley Cintra,

    denominar dialeto para variedades que definam uma zona maior, reservando-

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    p q

    se falar para variedades que ocupem apenas uma localidade, o localeto.1

    J que a distino entre lngua e dialeto s uma diferena relativa e

    classificaes houve (por ser o pensamento daquele momento histrico) que

    situaram a variedade do portugus do Brasil como dialeto, sendo a primeira

    delas de Leite Vasconcelos (1901), deve-se dizer que, em Minas Gerais, no

    h dialetos se se toma dialeto como forma de uma lngua que tem o seu

    prprio sistema lxico, sinttico e fontico e que usada num ambiente mais

    restrito do que a prpria lngua. (DUBOIS et al., 1973, p. 184).

    O que Minas apresenta so falares, isto , realizaes lingsticas de

    agrupamentos humanos que podem ser associados a uma pronncia

    caracterstica, a um ritmo de fala e a uma que outra definida escolha de um

    item lexical.

    Usa-se aqui falar no sentido de lnguas de pequenas regies, atravs de

    um territrio lingstico dado, que se distinguem uma das outras por oposies

    superficiais dentro do sistema geral de oposies fundamentais que rene

    todas numa lngua comum. (CMARA JR., 1968, p. 151).

    O falar, resultante de uma expanso da lngua comum, fato distinto da

    bimilenaridade do latim em solo lusitano, onde ocorreu, ao longo de algunsdos sculos, falta de contatos e no uma expanso gradativa de uma lngua comum

    vai tomando coloraes locais de acordo com as condies geo-humanas de cada regio[...]. A colonizao, com a pronunciada distncia cultural entre metropolitanos eindgenas, no produziu os mesmos efeitos lingsticos que a romanizao, resultantede uma conquista pelas armas e de uma assimilao parcial dos povos vencid