globalização e a emergência das novas potências

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Globalização e a emergência das novas potências Davide Morais 30717 Prof. Doutor David Justino e Prof. Sílvia Almeida

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Page 1: Globalização e a emergência das novas potências

Globalização e a emergência das novas

potências

Davide Morais 30717

Prof. Doutor David Justino e Prof. Sílvia Almeida

Page 2: Globalização e a emergência das novas potências

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Índice

Introdução 3

Fim da unipolaridade e início da multipolaridade. 4

Interdependência 4

Vinda da multipolaridade assimétrica 5

Idade da multi-multipolaridade 6

A emergência do poder 8

Softer indicators 9

A União Europeia 10

Conclusão 11

Bibliografia 12

Page 3: Globalização e a emergência das novas potências

3

Introdução

Globalização é por definição a integração de novas economias e sociedades no

sistema mundial pela progressiva (e diferenciada) eliminação de barreiras à circulação e

pela internacionalização de uma maior proporção da produção mundial; pela mobilidade

de bens, factores de produção e informação e pela interdependência e densificação de

redes globais.

O que para nós, Estados ocidentais, vemos nos países do oriente como

crescimentos extraordinários, do ponto de vista dos próprios asiáticos é encarado como

um acontecimento natural, e como diz o autor, “this is a mere return to normality” 1

, e

porque será assim? Bom se considerar-mos a História, percebemos que os europeus

recorriam aos territórios asiáticos para abastecerem os seus barcos comerciais, e para os

venderem. O autor dá o exemplo do almirante chinês Zheng He, que transportou em

barcos de 120 metros de cumprimentos bens alimentares para a costa este de África,

incluindo girafas.

BRIC é um acrónimo criado pelo economista Jim O´Neill, que é economista-

chefe na empresa Goldman Sachs. Este acrónimo surgiu num artigo intitulado “Building

Better Global Economic Brics”. Estas economias destacaram-se pelo seu rápido

crescimento económico. A tese de Jim é a que estes países podem-se tornar as

economias dominantes em 2050. Estes países combinados, envolvem 40% da população

mundial e 25% da terra do planeta.

Estes países não têm uma organização formal como a União Europeia, ou a

ASEAN, mas fazem esforços para formar políticas comuns, formando pressão sobre a

política comercial externa dos Estados Unidos da América.

Uma característica do séc. XXI, é precisamente a cadência dos Estados Unidos

da América, e o surgimento de outros pólos de poder, tais como o BRIC.

Segundo o autor, se a U.E. não mudar de rumo (ter uma só voz, os seus Estados-

Membros estarem juntos), ela poderá ter apenas um papel secundário nesta nova era que

se avizinha2

1 In BRIC in the world; emerging powers, Europe and the coming order, p.9

2 Thomas Renard, investigador

Page 4: Globalização e a emergência das novas potências

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Fim da unipolaridade e início da multipolaridade

Segundo o texto BRIC in the World: Emerging powers, Europe and the coming

order3, o autor indica que a ordem unipolar detida unicamente pelos Estados Unidos da

América está a acabar e que esta ordem está a mudar para uma ordem multipolar. Esta

ordem é detida pela China, Índia, Brasil e a Rússia – estes países formam o denominado

BRIC – e os Estados Unidos da América, estes últimos têm ficado sozinhos enquanto

superpotência solitária, mas para um futuro próximo eles ainda vão manter este título.

No que toca ao papel da União Europeia, esta não é um poder porque não é um estado

no sentido clássico do termo, mas tem uma considerável importância no que toca à sua

influência mundial, no entanto, para reforçar este papel, tem que tomar medidas mais

coerentes, por exemplo, no combate contra o aquecimento global e uma política

estratégica num sentido de integração no plano mundial. No que toca ao papel dos

estados europeus, eles são pequenos, comparando com os outros a nível global, e por

isso vão perdendo a capacidade de defender os seus interesses vitais, para agravar as

suas situações, eles não conseguem falar a uma só voz.

Uma forma de preservar os seus interesses é desenvolverem com os Estados

emergentes políticas de parcerias.

É apontado o ano de 2001 (um ano simbólico, indica o autor) como o ano que marcou o

início do fim da hegemonia dos Estados Unidos da América, e o começo da era da

“multipolaridade”. Como protagonistas estão os seguintes países: Brasil, China, Índia e

a Rússia. Por mais banal que as chamadas de telefone pareçam, elas são uma das formas

de entender e perceber o crescimento da Ásia, e consequentemente, um dos pólos a ter

em conta. Em 1995 elas estavam 5 milhões, passando para 100 milhões no ano de 2000

e actualmente elas estão em 500 milhões.

Interdependência

O autor começa por fazer lembrar que a interdependência das economias não é um

fenómeno recente, mas algo que sempre se observou na História. Como prova disto o

PIB do Reino Unido em 1910 era de 40% no tocante ao comércio, enquanto os Estados

Unidos não vão além dos 25%. O que se apresenta como novo é a interdependência ao

3 De Thomas Renard

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5

nível das funções e ao nível sistémico, cada país vai se especializando em áreas.

Segundo o autor é funcional devido à dependência do destino dos actores às entidades

internacionais; sistémicos porque os actores dependem de um único sistema: o Planeta

Terra. Com um único sistema, e com a sua consequente partilha de recurso, poderá

haver tensão nesta partilha, principalmente se for não renovável, e se o seu “stock” for

muito limitado (caso do petróleo e água, entre outros). Esta “comprehensive

interdependence”, como intitula o autor, é global, porque esta interdependência faz com

que os vários actores estejam ligados uns aos outros; existencial, devido à ameaça que

paira sobre o seu futuro, ao que o autor dá como exemplo as alterações climáticas;

complexa porque há diversas formas de interdependência, as quais co-existem de forma

heterogénea entre os diversos actores mundiais.

Segundo o autor esta globalização não é irreversível. Porque, já no século XIX

havia encontros entre diversos países a fim de debater a segurança e assuntos

relacionados com a economia, no entanto após a II Guerra Mundial, este processo de

globalização parou, visto que as economias fecharam-se sobre si próprias.

Vinda da multipolaridade assimétrica

Os Estados Unidos da América ainda perduram com o título de superpotência,

no entanto este título vai ter que ser repartido com outros países, porque os E.U.A., não

estão a ficar fracos, mas os outros países estão a ganhar mais poder (económico). Este

poder já detém ainda não é suficiente para fazer frente ao poderio militar dos E.U.A..

Mas está também a ganhar poder aqueles que não são países, mas são sub-estados

(milícias, multinacionais, etc.). Os Estados Unidos, embora sendo a potência mais forte,

têm de partilhar poder com os outros países4; por seu turno Richard Haass refere que a

característica do séc. XXI é a “nonpolarity”5. Esta tem por base “a world dominated not

by one or two or even several states but rather by dozens of actors possessing and

exercising various kinds of power”6, colocando uma ênfase nas instituições não

nacionais. Já para Giovanni Grevi, o mundo está com a similitude de interpolaridade, a

qual é para ele a “multipolarity in the age of interdependence”7. Esta interpretação é

4 Tese defendida por Samuel Huntington 5 In BRIC in the World: emerging powers, Europe and the coming order, p. 17 6 Idem, p. 17 7 Idem, p. 17

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para o nosso autor a mais realista, no entanto, ele não a diferencia da interpolaridade

que se fazia sentir no séc. XIX. Em Giovanni podem-se encontrar três dimensões desta

interpolaridade, as quais são: economia, energia e ambiente. O autor explica que as duas

primeiras já estavam desenvolvidas dois séculos antes.

Idade da multi-multipolaridade

Algumas das potências emergentes criam organizações/instituições para “concorrer”

com as já existentes no Ocidente (como por exemplo a Shanghai Cooperation

Organization S.C.O.), visto que eles as consideram ilegítimas. O autor refere que a

criação da S.C.O. é uma rival da NATO, particularmente a Rússia assume esta crença,

mas esta posição não é partilhada por todos os seus Estados-Membros, o qual o autor dá

como exemplo a visão da China ao não considerar esta organização como uma

adversária da NATO. Estes países nem sempre rejeitam as instituições ocidentais, mas

por vezes instalam-se nelas a fim de ganhar mais poder no panorama internacional.

Como exemplo desta atitude pode-se recorrer ao exemplo do autor, quando refere que o

bloco BRIC quando se reuniu teve em conta a reforma das International Financial

Institutions8

Mas afinal o que significa o conceito de multi-multilateralism? Bom o autor define

como sendo “the strengthening of an asymmetrical and dynamic cooperation process in

which (1) countries are becoming members of a variety of overlapping institutions,

creating a new mosaic of multilateral interactions; (2) states meet continuously in

multiple forums hence increasing the density of international relations; (3) formal

institutions (e.g. the UN) cohabit with informal forums (e.g. G-20) in a moving and

overlapping configuration”9

Para o autor o nascimento de uma ordem mundial multipolar está implicado uma

emergência de novos pólos.

8 “However, the two first dimensions were already strongly developed two centuries ago”, in BRIC in

the world; emerging powers, Europe and the coming order, p. 18 9 Idem, p. 18

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Fig. 1 GDP at PPP 1990-2014 (in billion US$)

Neste gráfico podemos observar que houve um acentuado crescimento do P.I.B.

na China, a um ritmo acelerado, enquanto que o mesmo índice, está, para os E.U.A. em

crescimento, mas não tanto quanto o da China que a calcular por uma hipotética

continuação dos anos do gráfico, veríamos a China ultrapassar, tanto os E.U.A., bem

como a U.E.. Os restantes países não ultrapassam os dois mil biliões de dólares de

P.I.B..

De acordo com o economista Jim O´Neill, a China apanhará os E.U.A., mas não

ficará por aqui, ultrapassá-lo-á juntamente com os restantes países que compõem o

BRIC. Mas não serão apenas estes países, o México, Indonésia e Coreia do Sul,

atingirão em 2050 níveis nominais do PIB mais elevados que os G-7. Uma das

características que diferencia os BRIC de outras economias em ascensão é o facto de os

BRIC terem tido um impacto muito maior na economia mundial, contribuindo os seus

membros 27% de crescimento global, ou seja, o que segundo o autor, foi muito mais do

que a contribuição dos E.U.A.. Por seu turno as outras economias em ascensão

encontramos uma contribuição de 5% por parte do México para o crescimento global. O

que fez com que os BRIC tivessem tido um tão grande impacto está relacionado com a

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integração destes países na economia mundial de uma forma mais intensa do que as

outras economias.

A emergência do poder

A grande pergunta deste tema é: “are the Bric coutries (or other) rising?” ao que

o autor do texto G20: Towars a New World Order10

, dá uma resposta positiva, de facto

eles estão a crescer e a um ritmo muito acelerado, no entanto, eles vão começar a

diminuir este crescimento. No entanto estes países que se têm tornado potências

emergentes estão em níveis desiguais de desenvolvimento.

É preciso definir o que é uma potência emergente, indica o autor, visto que as

discussões ao seu redor, apenas de focam no nível económico. A tese que mais é

seguida é a de Paul Kennedy11

, na qual é indicado que é condição necessária ser-se

primeiro uma economia forte e depois é que se pode formar uma potência política e

militar. A título de exemplo é Taiwan, Tailândia, entre outros. Estes apenas têm poder

económico, não detendo, ainda, poder militar.

Há diferença entre emergência económica e emergência de poder, refere o autor.

Ao poder económico basta haver um poder nacional forte. Para reforçar esta afirmação

o autor socorre-se do exemplo, no qual os estados mais fortes economicamente são

aqueles que mais influência sobre os restantes que são menos fortes economicamente. O

poder do Estado está baseado em três níveis12

: (1) resources or capabilities, or power-

in-being; (2) how that power is converted through national processes; (3) and power in

outcomes, or whichstate prevails in particular circumstances”. O poder do Estado, por

seu turno está relacionado com sete factores: (1) geografia; (2) população; (3) recursos;

(4) economia; (5) poderio militar; (6) diplomacia; (7) identidade.

10 Thomas Renard 11 The rise and Fall of Great Powers 12

In BRIC in the world, emerging powers, Europe and the coming order, p. 20

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Fig. 2. Share of Global Hard Power (in %)

Neste gráfico podemos perceber que todos os países perdem poderio, à excepção

da China e Índia, que são os dois países mais populosos do planeta, até a U.E. 27. Não

consegue fazer frente ao poderio chinês e indiano. O Brasil consegue estabilizar o seu

poder, embora baixando ligeiramente.

Softer indicators

Estes indicadores são, segundo o autor, formas de medir o poder de forma não

tradicional. Um dos indicadores é a capacidade que o Estado tem para captar pessoas.

Exemplo disso pode ser a Coca-cola, Voice of America, Hollywood, entre outras, na

Europa está presente o modelo social que todos almejam. Mas não são só os Estados

Unidos que detém este tipo de indicador, e como exemplo disso, o autor, dá o de

Bollywood que se tem popularizado na Ásia e em África, ou até mesmo em alguns

casos, no Ocidente (como é o caso do filme Quem quer ser milionário).

Outro indicador é a percepção do poder, e por fim, o último indicador é a demonstração

da satisfação de vida.

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A União Europeia

A U.E. É um actor global, pois tem presença em todo o globo, mas há diferença entre

ser actor global e ser um poder global, bastando para ser actor global estar presente no

globo de forma significativa, e para ser poder global requer que haja uma influência

significativa ao nível global. Segundo os indicadores que medem o poder, e que já

foram nomeados neste ensaio, a UE parece ser uma potência global, tem a maior

população do mundo, as maiores Forças Armadas (em quantidade e qualidade), mas não

tem a capacidade de falar a uma só voz, alguns dos seus Estados-Membros têm moeda

própria e taxas próprias, entre outros. A UE não fala a uma só voz no que toca à

pesquisa de armamento, sendo que cada país tenta apetrechar as suas Forças Armadas

com as descobertas que se realizaram ao nível europeu (pesquisas em conjunto).

Contribui o facto de a UE não ser um Estado no sentido clássico do termo, e portanto,

não é um poder, explicita o autor. No entanto a UE detém um certo poder global, e

exemplo disso, é a luta das questões ambientais. A era da interpolaridade é, segundo o

autor, uma época essencial para ter acesso às oportunidades (e também é uma era de

desafios à EU), mas poderá terminar com um mundo “europeizado”, pondo fim a

valores e praticas europeias que são executadas no globo. Mas o seu poder tem vindo a

diminuir.

É necessário para a Europa contrair relações com as potências emergentes,

influenciando-as da forma que conseguir. No palco das relações é necessário que todos

os países falem a uma só voz, que tenham relações não assimétricas. As políticas de

estratégia têm sido pouco convenientes, no sentido em que são feitas com países que

não detém influência no palco global, e por vezes nem no regional. Segundo Thomas

Renard, é preciso que se façam pactos de estratégia com a China, Índia, México, entre

outros. Estes começam a surgir das brumas do desconhecido e a começam a ganhar uma

importante influência ao nível global.

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Conclusão

É certo que as regras que governam o mundo estão a ser mudadas com a entrada

em palco de outros actores, como por exemplo a China ou a Índia, os EUA são

obrigados a reconhecer que vão ter que dividir o seu poder com as outras potências

emergentes (mas ainda levará algum tempo até que isto aconteça). Se os nossos países

não criarem politicas estratégicas em que envolvam as potências emergentes, elas

poderão, e terão legitimidade, para criar as suas próprias instituições, e nas quais, sem

duvida, não haverá indícios dos valores ocidentais, ou de sua inspiração.

As potências emergentes têm crescido a um ritmo nunca visto e continuam em

crescimento. O autor refere que os BRIC detinham 7% do PIB global, e passados dez

anos duplicaram para 15,5%. Dentro dos BRIC a China é quem tem crescido mais

rápido, passando da terceira economia mundial, para segunda enquanto o Japão sofria as

consequências da crise económica, mostrando a maturidade e resiliência da economia

chinesa. O autor refere que o crescimento da China e Índia é tão importante como o

crescimento dos EUA quando se industrializaram no séc. XIX. A globalização das

economias da China Índia e Brasil mostram como eles estão-se a tornar potências

económicas. Um dos factores que está a impulsionar a economia chinesa é a êxodo das

áreas rurais para as cidades/zonas urbanas.

O motor da industrialização é o aço, e a China, actualmente é o seu maior produtor e

consumidor, refere Jerry Harris.

A globalização tem trazido crescimento económico aos diversos países, e tem

aliviado a pobreza no globo.

Tem havido no Ocidente um síndroma de Copenhaga, onde mais e mais se

revelam incapazes se se sentarem uma mesa e criar soluções para eles, entre os quais as

questões relacionadas com o ambiente, no entanto, o G20 é um exemplo a seguir, como

sendo uma instituição que saiu de uma crise e que debate e cria soluções para os

problemas, mas ainda continuam sendo excluídos países que poderiam ter um papel

importante, e não entraram ainda neste clube de países mais ricos.

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Bibliografia

1. http://pt.wikipedia.org/wiki/BRIC

2. http://saber.sapo.cv/wiki/BRIC

3. Bric in the world: emerging powers, Europe and the coming order, Thomas

Renard

4. G20: Toward a new world order, Thomas Renard

5. Emerging third world powers: China, Índia and Brazil

6. http://pt.wikipedia.org/wiki/G20

7. http://www.g20.org/about_what_is_g20.aspx